Manuel Bandeira

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Manuel BandeiraManuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (Recife, 19 de abril de 1886 Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1968) foi um poeta,crtico literrio e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro. Considera-se que Bandeira faa parte da gerao de 22 da literatura moderna brasileira, sendo seu poema Os Sapos o abre-alas da Semana de Arte Moderna de 1922. Juntamente com escritores como Joo Cabral de Melo Neto, Paulo Freire, Gilberto Freyre,Nlson Rodrigues, Carlos Pena Filho e Osman Lins, entre outros, representa a produo literria do estado de Pernambuco.

BiografiaFilho do engenheiro Manuel Carneiro de Sousa Bandeira e de sua esposa Francelina Ribeiro, era neto paterno de Antnio Herculano de Sousa Bandeira, advogado, professor da Faculdade de Direito do Recife e deputado geral na 12 legislatura. Tendo dois tios reconhecidamente importantes, sendo um, Joo Carneiro de Sousa Bandeira, que foi advogado, professor de Direito e membro da Academia Brasileira de Letrase o outro, Antnio Herculano de Sousa Bandeira Filho, que era o irmo mais velho do engenheiro Sousa Bandeira e foi advogado, procurador da coroa, autor de expressiva obra jurdica e foi tambm Presidente das Provncias da Paraba e de Mato Grosso. Seu av materno era Antnio Jos da Costa Ribeiro, advogado e poltico, deputado geral na 17 legislatura. Costa Ribeiro era o av citado emEvocao do Recife. Sua casa na rua da Unio referida no poema como "a casa de meu av". No Rio de Janeiro, para onde viajou com a famlia, em funo da profisso do pai, engenheiro civil do Ministrio da Viao, estudou no Colgio Pedro II (Ginsio Nacional, como o chamaram os primeiros republicanos) foi aluno de Silva Ramos, de Jos Verssimo e de Joo Ribeiro, e teve como condiscpulos lvaro Ferdinando Sousa da Silveira, Antenor Nascentes, Castro Menezes, Lopes da Costa, Artur Moses. Em 1904 terminou o curso de Humanidades e foi para So Paulo, onde iniciou o curso de arquitetura na Escola Politcnica de So Paulo, que interrompeu por causa da tuberculose. Para se tratar buscou repouso em Campos do Jordo, Campanha e outras localidades de clima mais ameno. Com a ajuda do pai que reuniu todas as economias da famlia foi para a Sua, onde esteve no Sanatrio de Clavadel. ao regressar, iniciou na literatura, com "A Cinza das Horas", em 1917, e dois anos depois, com a publicao de "Carnaval". Em 1935, foi nomeado inspetor federal do ensino e, em 1936, foi publicada a Homenagem a Manuel Bandeira, coletnea de estudos sobre sua obra, assinada por alguns dos maiores crticos da poca, alcanando assim a consagrao pblica. De 1938 a 1943, foi professor de literatura no

Colgio D. Pedro II, e em 1940, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Posteriormente, nomeado professor de Literaturas Hispano-Americanas na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, cargo do qual se aposentou, em 1956. Manuel Bandeira faleceu no dia 13 de outubro de 1968, com hemorragia gstrica, aos 82 anos de idade, no Rio de Janeiro, e foi sepultado no mausolu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitrio So Joo Batista, no Rio de Janeiro.

Poesia de Bandeira um dos poetas nacionais mais admirados, inspirando, at hoje, desde novos escritores a compositores. Alis, o "ritmo bandeiriano" merece estudos aprofundados de ensastas. Por vezes inspira escritores no s em razo de sua temtica, mas tambm devido ao estilo sbrio de escrever. Manuel Bandeira possui um estilo simples e direto, embora no compartilhe da dureza de poetas como Joo Cabral de Melo Neto, tambm pernambucano. Alis, numa anlise entre as obras de Bandeira e Joo Cabral, v-se que este, ao contrrio daquele, visa a purgar de sua obra o lirismo. Bandeira foi o mais lrico dos poetas. Aborda temticas cotidianas e universais, s vezes com uma abordagem de "poema-piada", lidando com formas e inspirao que a tradio acadmica considera vulgares. Mesmo assim, conhecedor da Literatura, utilizou-se, em temas cotidianos, de formas colhidas nas tradies clssicas e medievais. Em sua obra de estria (e de curtssima tiragem) esto composies poticas rgidas, sonetos em rimas ricas e mtrica perfeita, na mesma linha onde, em seus textos posteriores, encontramos composies como o rond e trovas. comum encontrar poemas (como o Potica, parte de Libertinagem) que se transformaram em um manifesto da poesia moderna. No entanto, suas origens esto na poesiaparnasiana. Foi convidado a participar da Semana de arte moderna de 1922, embora no tenha comparecido, deixou um poema seu (Os Sapos) para ser lido no evento. Uma certa melancolia, associada a um sentimento de angstia, permeia sua obra, em que procura uma forma de sentir a alegria de viver. Doente dos pulmes, Bandeira sofria de tuberculose e sabia dos riscos que corria diariamente, e a perspectiva de deixar de existir a qualquer momento uma constante na sua obra. A imagem de bom homem, terno e em parte amistoso que Bandeira aceitou adotar no final de sua vida tende a produzir enganos: sua poesia, longe de ser uma pequena cano terna de melancolia, est inscrita em um drama que conjuga sua histria pessoal e o conflito estilstico vivido pelos poetas de sua poca. Cinza das Horas apresenta a grande tese: a mgoa, a melancolia, o

ressentimento enquadrados pelo estilo mrbido do simbolismo tardio. Carnaval, que vir logo aps, abre com o imprevisvel: a evocao bquica e, em alguns momentos, satnica do carnaval, mas termina em plena melancolia. Essa hesitao entre o jbilo e a dor articular-se- nas mais diversas dimenses figurativas. Se em Ritmo Dissoluto, seu terceiro livro, a felicidade aparece em poemas como "Vou-me embora pra Pasrgada", onde questo a evocao sonhadora de um pas imaginrio, o pays de cocagne, onde todo desejo, principalmente ertico, satisfeito, no se trata seno de um alhures intangvel, de um locus amenus espiritual. Em Bandeira, o objeto de anseio restar envolto em nvoas e fora do alcance. Lanando mo do tropo portugus da saudade, poemas como Pasrgada e tantos outros encontram um smile na nostlgica rememorao bandeiriana da infncia, da vida de rua, do mundo cotidiano das provincianas cidades brasileiras do incio do sculo. O inapreensvel tambm o feminino e o ertico. Dividido entre uma idealidade simptica s unies difanas e platnicas e uma carnalidade voluptuosa, Manuel Bandeira , em muitos de seus poemas, um poeta da culpa. O prazer no se encontra ali na satisfao do desejo, mas na excitao da algolagnia do abandono e da perda. Em Ritmo Dissoluto, o erotismo, to mrbido nos dois primeiros livros, torna-se anseio maravilhado de dissoluo no elemento lquido martimo, como o caso de Na Solido das Noites midas. Esse drama silencioso surpreende mesmo em poemas ternos, quando inesperadamente encontram-se, como o caso dos poemas jornalsticos de Libertinagem, comentrios mordazes e sorrateiros interrompendo a fluncia ingnua de relatos lricos, fazendo revelar todo um universo de sentimentos contraditrios. Com Libertinagem, talvez o mais celebrado dos livros de Bandeira, adotam-se formas modernistas, abandona-se a metrificao tradicional e acolhe-se o verso livre. Em grosso, um livro menos personalista. Se os grandes temas nostlgicos cedem ao avano modernista, no somente porque os sufocam o desfile fulminante de imagens quotidianas e os esquetes celebratrios do modernismo, mas tambm porque um princpio motor de sua obra o reencenar a luta dos dois momentos sentimentais da alegria e da tristeza. O cotidiano brasileiro aparece ali, realando o jbilo evocatrio, com o pitoresco popular que se assimila, por exemplo em Evocao do Recife, ao tom triste e nostlgico; usa-se o dilogo anedtico para brindar fatos to srdidos quanto sua prpria doena (Pneumotrax); a forma do esquete, favorvel apreenso imediata do objeto, funde-se, em O Cacto, a um lirismo narrativo que se aperfeioar em sua poesia posterior. Tanto em Libertinagem como no restante de sua obra, a adoo da linguagem coloquial nem sempre ser coroada de xito. Em certos meios-tons perde-se a distino entre o coloquial e o coloquial natural, como em Penso Familiar, onde os diminutivos so usados abusivamente. Libertinagem dar o tom de toda a poesia subsequente de Joo Lucas Mendes Siviero. EmEstrela da Manh, Lira dos Cinquent'anos e outros livros, as experincias da primeira

fase daro lugar ao acomodamento do material lrico em formas mais brandas e s vezes mesmo ao retorno a formas tradicionais.

Obras

Poesia A Cinza das Horas, 1917 Carnaval, 1919 Os Sapos, 1922 O Ritmo Dissoluto, 1924 Libertinagem, 1930 (contm o poema Estrela da Manh, 1936 Lira dos Cinquent'anos, 1940 Belo, Belo, 1948 Mafu do Malungo, 1948 Opus 10, 1952 Estrela da tarde, 1960 Estrela da Vida Inteira, 1966 O Bicho, 1947

Prosa Crnicas da Provncia do Brasil - Rio de Janeiro, 1936 Guia de Ouro Preto, Rio de Janeiro, 1938 Noes de Histria das Literaturas - Rio de Janeiro, 1940 Autoria das Cartas Chilenas - Rio de Janeiro, 1940 Apresentao da Poesia Brasileira - Rio de Janeiro, 1946, 2ed.Cosac Naif-So Paulo 2009 Literatura Hispano-Americana - Rio de Janeiro, 1949 Gonalves Dias, Biografia - Rio de Janeiro, 1952 Itinerrio de Pasrgada - Jornal de Letras, Rio de Janeiro, 1954 De Poetas e de Poesia - Rio de Janeiro, 1954 A Flauta de Papel - Rio de Janeiro, 1957 Itinerrio de Pasrgada - Livraria So Jos - Rio de Janeiro, 1957 Andorinha, Andorinha - Jos Olympio - Rio de Janeiro, 1966

Itinerrio de Pasrgada - Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1966 Colquio Unilateralmente Sentimental - Editora Record - RJ, 1968 Seleta de Prosa - Nova Fronteira - RJ Berimbau e Outros Poemas - Nova Fronteira - RJ Cronicas inditas I Cronicas inditas II- Ed Cosac Naif- SP- 2009

Antologias Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Romntica, N. Fronteira, RJ Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Parnasiana - N. Fronteira, RJ Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Moderna - Vol. 1, N. Fronteira, RJ Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Moderna - Vol. 2, N. Fronteira, RJ Antologia dos Poetas Brasileiros Bissextos Contemporneos, N. Fronteira, RJ Antologia dos Poetas Brasileiros - Poesia Simbolista, N. Fronteira, RJ Antologia Potica - Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1961 Poesia do Brasil - Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1963 Os Reis Vagabundos e mais 50 crnicas - Editora do Autor, RJ, 1966 Manuel Bandeira - Poesia Completa e Prosa, Ed. Nova Aguilar, RJ Antologia Potica (nova edio), Editora N. Fronteira, 2001

Em co-autoria Quadrante 1 - Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1962 (com Carlos Drummond de Andrade, Ceclia Meireles, Dinah Silveira de Queiroz, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga) Quadrante 2 - Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1963 (com Carlos Drummond de Andrade, Ceclia Meireles, Dinah Silveira de Queiroz, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga) Quatro Vozes - Editora Record - Rio de Janeiro, 1998 (com Carlos Drummond de Andrade, Rachel de Queiroz e Ceclia Meireles) Elenco de Cronistas Modernos - Ed. Jos Olympio - RJ (com Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga O Melhor da Poesia Brasileira 1 - Ed. Jos Olympio - Rio de Janeiro (com Carlos Drummond de Andrade e Joo Cabral de Melo Neto)

Tradues O Auto Sacramental do Divino Narciso de Sror Juana Ins de la Cruz, 1949 Maria Stuart, de Schiler, encenado no Rio de Janeiro e em So Paulo, 1955 Macbeth, de Shakespeare, e La Machine Infernale, de Jean Cocteau, 1956. As peas June and the Paycock, de Sean O'Casey, e The Rainmaker, de N. Richard Nash, 1957 The Matchmaker (A Casamenteira), de Thorton Wilder, 1958 D. Juan Tenrio, de Zorrilla, 1960 Mireille, de Frderic Mistral, 1961 Prometeu e Epimeteu de Carl Spitteler, 1962 Der Kaukasische Kreide Kreis, de Bertold Brecht, 1963 O Advogado do Diabo, de Morris West, e Pena Ela Ser o Que , de John Ford, 1964 Os Verdes Campos do Eden, de Antonio Gala; A Fogueira Feliz, de J. N.Descalzo, e Edith Stein na Cmara de Gs de Frei Gabriel Cacho, 1965 Macbeth, de Shakespeare,,Ed. Cosac Naif- So Paulo-2009

Seleo e organizao Sonetos Completos e Poemas Escolhidos de Antero de Quental Obras Poticas de Gonalves Dias, 1944 Rimas de Jos Albano, 1948 Cartas a Manuel Bandeira, de Mrio de Andrade, 1958

Sobre o autor Homenagem a Manuel Bandeira, 1936 Homenagem a Manuel Bandeira (edio fac-similar), 1986 1. Homenagem a Manuel Bandeira- (sessenta autores com organizao de Bandeira a Vida Inteira - Edies Alumbramento, Rio de Janeiro, 1986 (com um disco contendo poemas lidos pelo autor). Os Melhores Poemas de Manuel Bandeira (seleo de Francisco de A. Barbosa) - Editora Global - Rio de Janeiro

Manuel Bandeira: Uma Poesia da Ausncia. De Yudith Rosebaum. So Paulo: Edusp/Imago, 1993.

Humildade, paixo e morte. A poesia de Manuel Bandeira. De Davi Arrigucci Jr. So Paulo: Cia. das Letras, 2003.

Manuel Bandeira. De Murilo Marcondes de Moura. So Paulo: Publifolha, 2001. Aluso feita ao poeta na conferncia "Poesia Modernssima do Brasil" (1930), realizada na Faculdade de Letras de Coimbra pelo professor Manoel de Souza Pinto. Atravs do seu poema "Mulheres", que declamado e tomado como ndice de modernidade brasileira.

Multimdia CD "Manuel Bandeira: O Poeta de Botafogo" - Gravaes inditas feitas pelo poeta e por Lauro Moreira, tendo como fundo musical peas de Camargo Guarnieri interpretadas pela pianista Belkiss Carneiro Mendona, 2005. CD "Estrela da Vida Inteira" - gravao de Olivia Hime

Academia Brasileira de LetrasFoi eleito para a Academia Brasileira de Letras, onde foi o terceiro ocupante da cadeira 24, cujo patrono Jlio Ribeiro. Sua eleio ocorreu em 29 de agosto de 1940, sucedendo Lus Guimares Filho, e foi recebido pelo acadmico Ribeiro Couto em 30 de novembro de 1940.