Manual Ccism[1]

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  • 5/28/2018 Manual Ccism[1]

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    Manual de Formao do Curso de Princpios Orientadores dos CCISM: Tipologias e Critrios de

    ReferenciaoFormadores: Marta Sofia Ferraz e Tnia Costa|Curso Promovido por POPH Data :14/09/2012

    CEFOLGEST-FORMAO ECONSULTORIA LDA.,

    MANUALCURSOPRINCPIOS ORIENTADORES DOS

    CUIDADOS CONTINUADOSINTEGRADOS DE SADE MENTAL

    (CCISM):TIPOLOGIAS E CRITRIOSDE REFERENCIAO

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    ndice

    1. FICHA TCNICA1

    2. ENQUADRAMENTO.3

    3. CONTEDOS.4

    4. REABILITAO PSICOSSOCIAL (RP) E SADE MENTAL COMUNITRIA

    EM PORTUGAL.5

    5. CUIDADOS CONTINUADOS INTEGRADOS DE SADE MENTAL:

    RESPOSTAS SOCIAIS DE REABILITAO PSICOSSOCIAL....13

    6. PSICOPATOLOGIA, PSICOFISIOLOGIA E PSICOFARMACOLOGIA

    PRINCIPAIS TIPOLOGIAS EM SADE MENTAL...297. NOVOS PROGRAMAS NA REA DA SADE MENTAL...52

    8. PSICOTERAPIAS...76

    9. AVALIAO, PLANOS DE INTERVENO E INSTRUMENTOS DE APOIO

    PRTICA DE CUIDADOS NA SADE MENTAL ....88

    10. PROMOO DA SADE MENTAL E PREVENO DA DOENA

    MENTAL...96

    11. DEPRESSO E PREVENO DO SUICIDIO..103

    12. REFERENCIAS BICLIOGRFICAS...121

    13.ANEXOS124

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    1. Ficha Tcnica

    Curso:Princpios Orientadores dos Cuidados Continuados Integrados de Sade Mental

    (CCISM): Tipologias e Critrios de Referenciao

    Destinatrios: A formao destina-se profissionais de sade prestadores de cuidados

    gerais no especializados, como sejam psiclogos, enfermeiros, assistentes sociais e

    terapeutas ocupacionais, sem formao especfica na rea de Sade Mental que

    desenvolvam a sua actividade em CSP. So estes profissionais que acompanham o

    desenvolvimento individual e familiar desde o nascimento at morte, pelo que assistem,

    assim, ao eclodir da grande maioria dos distrbios mentais nas suas fases mais

    incipientes, quer se trate de simples reaces adaptativas, em fases crticas do ciclo de

    vida, ou de descompensaes psicticas inaugurais a reclamar rpida referenciao para

    os cuidados psiquitricos.Carga Horria:30 horas

    Manual Elaborado por: Marta Sofia Ferraz e Tnia Costa

    Objectivos Gerais do Curso:

    - Conhecer, compreender e identificar as novas respostas de cuidados continuados

    integrados em sade mental.

    - Compreender e identificar as diferentes tipologias na rea da sade mental e os critrios

    de referenciao para a rede de cuidados continuados integrados na sade mental.

    - Definir, avaliar e intervir a nvel das doenas psiquitricas no mbito dos cuidados sade

    primrios.

    Objectivos Especficos:

    - Identificar os princpios orientadores dos CCISM

    - Identificar unidades e equipas de cuidados continuados integrados especficas de sade

    mental

    - Reconhecer a importncia das unidades e equipas de cuidados continuados integrados

    de sade mental

    - Identificar o enquadramento legal

    - Descrever a articulao com os servios locais de sade mental

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    - Descrever as tipologias de integrao

    - Definir as diferentes tipologias em sade mental e psiquiatria

    - Desenvolver noes de psicopatologia/psicofisiologia e psicofarmacologia

    - Reconhecer a importncia da anamnese e dos dados biogrficos na avaliao inicial

    - Identificar mtodos e tcnicas de avaliao em psiquiatria

    - Identificar diagnsticos de utilizando a Classificao Internacional para a prtica de

    enfermagem

    - Aplicar instrumentos de apoio prtica de cuidados em sade mental

    - Identificar a importncia dos novos programas na rea da sade mental

    - Abordar o significado de estigma e discriminao social

    - Reconhecer a importncia das psicoterapias no processo de reabilitao psicossocial

    Objectivo do Documento

    Pretende-se que seja usado como elemento de Estudo e de Apoio aos temas abordados.

    O Manual um complemento da Formao e do Mdulo, no substitui os objectivos das

    sesses de formao, mas complementa-as.

    Condies de Utilizao:

    Este Manual no pode ser reproduzido, sob qualquer forma, sem autorizao expressa do

    autor.

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    2. Enquadramento

    Os estudos epidemiolgicos mais recentes demonstram que as perturbaes psiquitricas

    e os problemas de sade mental se tornaram a principal causa de incapacidade e uma

    das principais causas de morbilidade, nas sociedades actuais. A carga de perturbaes

    mentais tais como a depresso, dependncia do lcool e esquizofrenia foi seriamente

    subestimada no passado, devido ao facto de as abordagens tradicionais apenas

    considerarem os ndices de mortalidade, ignorando o nmero de anos vividos com

    incapacidade provocada pela doena. Das 10 principais causas de incapacidade, 5 so

    perturbaes psiquitricas.

    Um dos objectivos do Plano Nacional de Sade Mental 2007-2016 promover a

    integrao dos cuidados de sade mental no sistema geral de sade, tanto a nvel dos

    cuidados primrios, como dos hospitais gerais e dos cuidados continuados, de modo afacilitar o acesso e a diminuir a institucionalizao. A Lei n 36/98, de 24 de Julho, e o

    Decreto-Lei n 35/99, de 5 de Fevereiro, descrevem de forma detalhada o modelo de

    organizao de servios de sade mental em Portugal. Neste contexto, entende-se que,

    em relao organizao de servios, importa sobretudo definir as estratgias que

    promovam a concretizao da organizao proposta pela lei. Esta concretizao coloca

    quatro grandes desafios:

    Completar a rede nacional de Servios Locais de Sade Mental (SLSM) e

    promover a diferenciao dos cuidados prestados por estes servios;

    Desenvolver servios e programas para a reabilitao e desinstitucionalizao

    de Doentes Mentais Graves (DMG);

    Desenvolver os Servios Regionais de Sade Mental (SRSM) necessrios para

    complementar os Servios Locais em reas especficas;

    Coordenar a reestruturao dos hospitais psiquitricos medida que as

    respostas por eles asseguradas forem sendo transferidas para outros servios.

    A formao e o treino so essenciais para que os servios disponham de profissionais

    cada vez mais habilitados a prestar cuidados de qualidade e a desenvolver os programas

    e as intervenes que melhor respondem s necessidades clnicas e psicossociais das

    pessoas com problemas de sade mental. Assim, necessrio desde j tomar medidas

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    que facilitem a formao em servio dos profissionais que tero um papel importante no

    desenvolvimento dos novos servios de sade mental em Portugal.

    3. Contedos

    - Definies do Decreto-lei 8/2010 de 28 de Janeiro;

    - Princpios orientadores

    - Objectivos das unidades e equipas

    - Tipologias de Unidades Previstas nos CCISM

    - As tipologias em sade mental: psicoses, perturbaes de humor, perturbao da

    personalidade, demncias, alcoolismo, drogas, suicdio, etc

    - Psicopatologia.

    - Psicofarmacologia

    - Psicofisiologia

    - Tcnicas de avaliao inicial: anamnese, entrevista, avaliao inicial, diagnstico,

    prognstico.

    - Instrumentos de apoio prtica de cuidados em sade mental.

    - Os novos programas na rea da sade mental.

    - Promoo da SM e preveno da doena Mental

    - Processo de recovery e empowerment

    - Integrao social

    - Reabilitao Psicossocial

    - Psicoterapias

    - Depresso e preveno do Suicdio

    - Estigma e discriminao social

    - Referenciao para a rede de CCISM

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    4. Reabilitao Psicossocial (RP) e Sade Mental Comunitria em Portugal

    A doena mental um grave problema de sade pblica, atualmente representando

    uma das principais causas de anos de vida perdidos por incapacidade. Os estudos

    epidemiolgicos mais recentes demonstram que, nas sociedades modernas, asperturbaes psiquitricas e os problemas de sade mental se tornaram a principal causa

    de incapacidade e uma das principais causas de morbilidade. A carga de perturbaes

    mentais tais como a depresso, dependncia do lcool e esquizofrenia foi seriamente

    subestimada no passado, dado as abordagens tradicionais apenas considerarem os

    ndices de mortalidade, ignorando o nmero de anos vividos com incapacidade provocada

    pela doena. Das 10 principais causas de incapacidade, 5 so perturbaes psiquitricas.

    (OMS, 2001)

    Dados preliminares do primeiro estudo epidemiolgico nacional revelam que 23% dos

    portugueses sofreu de uma doena psiquitrica, e 43% j teve uma destas perturbaes

    durante a vida, mais de 6% tendo uma doena mental grave. Muitas das pessoas que

    padeceram desta doena (67%) nunca tiveram qualquer tipo de tratamento. Segundo

    estes dados, Portugal o pas da Europa com a maior prevalncia de doenas mentais

    na populao, aproximando-se perigosamente do campeo mundial Estados Unidos da

    Amrica.(Caldas de Almeida, 2010)

    Os problemas de sade mental so habitualmente definidos e classificados de forma a

    permitir aos profissionais referenciar as pessoas para os servios de que necessitam para

    receberem os cuidados/tratamento mais adequados. Apesar de ainda existir alguma

    controvrsia relativamente ao estabelecimento dos diagnsticos, bem como o facto do

    rtulo muitas vezes condicionar o tratamento e a qualidade de vida das pessoas, este

    permanece o mtodo mais habitual de decidir e classificar os sintomas em categorias. De

    um modo geral, pode dizer-se que os sintomas de doena mental se encontram divididos

    em duas grandes categoriasos sintomas neurticos e os psicticos.

    A sintomatologia neurtica, frequentemente referida como doenas mentais comuns,

    refere-se aos sintomas que podem ser considerados formas extremas de vivencias

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    emocionais comuns tais como a depresso, a ansiedade ou o pnico.

    Os, menos comuns, sintomas psicticos interferem com a percepo da realidade e

    podem incluir alucinaes visuais, auditivas, olfactivas ou tcteis, i.e., ver, ouvir ou sentiralgo que mais ningum est a ver, ouvir ou sentir. Esta a sintomatologia habitualmente

    conhecida com doena mental grave. Todas as definies que tm sido desenvolvidas na

    perspectiva na perspectiva dos prestadores de cuidados incluem:

    Categorias de diagnstico (ICD-10): F0,F2, F30, F31, F32 e F33;

    Durao da doena, tempo especfico desde o comeo ou perodo especfico de

    hospitalizao;

    Intensidade do contacto com os servios (tempo de hospitalizao ou n. de

    internamentos num determinado perodo);

    Atualmente, tem sido adicionado a estes critrio a descrio da extenso da

    incapacidade de acordo com a percepo do utente a nvel do compromisso no

    desempenho de papis sociais,

    A prestao de cuidados em sade mental tem sofrido marcantes desenvolvimentos

    histricos, podendo estes ser organizados a nvel internacional em trs grandes perodos

    com as seguintes caractersticaschave :

    No 1 Perodo deu-se ascenso do asilo (aproximadamente entre 1880 e 1950) em

    muitos pases economicamente mais desenvolvidos. Este perodo foi marcado pela

    construo e ampliao de manicmios, distantes das populaes que serviam,

    oferecendo principalmente conteno custodial e resposta s necessidades bsicas de

    sobrevivncia dos pacientes com uma ampla gama de distrbios clnicos e

    anomaliassociais. H agora evidncias de que o modelo do manicmio oferece

    nveis muito pobres de tratamento e cuidados.

    Num 2 Perodo, em muitos pases economicamente desenvolvidos, verificou-se o

    declnio do asilo (depois de 1950) quando as deficincias do modelo foram

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    demonstradas .Talvez a mais profunda de suas falhas foram os efeitos sobre os

    pacientes, incluindo a perda progressiva de competncias de vida e a acumulao

    de dfices" ou sintomas de institucionalizao". Outras preocupaes incluram

    repetidos casos de maus-tratos a pacientes, o isolamento geogrfico e profissional das

    instituies e suas equipes, pobres procedimentos registo e de responsabilizao,falhas de liderana, gesto e administrao, verbas insuficientes, formao de

    pessoal ineficaz, e medidas de fiscalizao e garantia de qualidade inadequadas. A

    resposta resultante foi de desinstitucionalizao, que foi caracterizada por

    trs componentes essenciais: a) preveno de internamentos hospitalares inadequados,

    oferecendo servios comunitrios; b) alta de pacientes institucionalizados a longo prazo

    aps terem recebido preparao adequada para a transio para a comunidade; e c)

    estabelecimento e manuteno de sistemas de suporte comunitrio para pacientes que

    no estavam institucionalizados.

    O 3 Perodo incorpora uma gama de servios de base comunitria em

    contextos locais. No desenvolvimento destes servios, que ainda se encontra por

    iniciar em alguns pases, importante que se continue a proporcionar todos os

    benefcios da assistncia hospitalar, evitando seus aspectos negativos. A

    abordagem equilibrada de prestao de cuidados visa proporcionar servios:

    de proximidade (perto de casa), incluindo hospitais modernos para admissesde casos agudos e instalaes residenciais de longo prazo na comunidade;

    equipas mveis, incluindo servios que oferecem tratamento em casa;

    que lidam com a(s) incapacidade(s), bem comocom os sintomas;

    que providenciam tratamento e cuidadosespecficos para o diagnstico e as

    necessidades de cada indivduo;

    que aderem s convenes internacionais sobre direitos humanos;

    que reflectem as prioridades dos utentes do service;

    so coordenados entre os prestadores de cuidados de sade mental e as

    entidades da comunidade.

    Estes perodos tambm se vem reflectidos a nvel nacional iniciando-se no final do

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    sc. XIX com a criao dos grandes hospitais psiquitricos traduzindo uma mudana no

    entendimento da loucura como doena mental (em termos cientficos), bem como a

    necessidade de locais apropriados para o seu tratamento (em termos sociais). Estes

    hospitais psiquitricos surgem com as primeiras classificaes das doenas mentais e o

    reconhecimento cientfico da psiquiatria enquanto cincia mdica, substituindo o controlorepressivo e moral caracterstico dos asilo pelo tratamento medico. (Alves e Silva, 2009)

    A primeira grande reforma da assistncia psiquitrica teve lugar em 1945, com a Lei n.

    2006 (e os Dec. Lei 34.502 e 34.534 que a regulamentam). Nesta proposta, pela

    primeira vez, uma abordagem profilctica e higienista, com a criao de centros de

    assistncia psiquitrica (Norte, Centro e Sul), dispensrios de higiene mental e asilos.

    Este perodo termina com a criao, em 1958, do Instituto de Assistncia Psiquitrica(IAP), rgo coordenador dos servios, definindo-se como suas competncias o

    enquadramento dos estabelecimentos e servios oficiais de assistncia psiquitrica .

    (PNSM/DGS, 2012)

    O perodo seguinte pautou-se pela necessidade de lanar as bases da poltica de

    sade mental comunitria. Com efeito, todos os desenvolvimentos verificados nos pases

    centrais e as recomendaes internacionais exigiam a alterao da filosofia assistencial

    dominante at ao momento. Nesta fase verificou-se que os progressos

    psicofarmacuticos criaram a possibilidade de tratar grande parte dos doentes sem

    necessidade de permanncia no hospital, propondo-se evitar a segregao e

    marginalizao do doente, e conseguir a reabilitao/ reintegrao social do doente

    atravs de tcnicas psicoteraputicas. (Alves e Silva, 2009)

    Rompendo com as orientaes anteriores, a 'renovao psiquitrica' iniciou-se,

    legalmente, nos anos 60 com a Lei de Sade Mental. O DL n. 2118 de 1963, lanou osprincpios reformadores da poltica de assistncia psiquitrica a nvel nacional:

    sectorizao dos servios psiquitricos e criao de Centros de Sade Mental, com o

    objectivo ltimo de des-hospitalizar a psiquiatria e lev-la s comunidades. No entanto

    apenas em 1984 (DL n. 74) que a tnica colocada, pela primeira vez, na ligao da

    sade mental aos cuidados de sade primrios. A integrao da sade mental nos

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    servios de sade geral foi posta em prtica em 1992, levando extino dos centros de

    sade mental e os centros de sade mental infanto-juvenis, muito contestada pela classe

    profissional dos psiquiatras. (Alves e Silva, 2009; PNSM/DGS, 2012)

    A atual Lei de Sade Mental foi publicada a 24 de Julho de 1998 (Lei n.o 36/98)

    oficializando a necessidade de criao de uma rede diversificada de respostas articuladas

    entre si pela via da colaborao interministerial e com as organizaes sociais

    comunitrias. Pela primeira vez so definidos os direitos e deveres dos utentes.

    Posteriormente, ao abrigo do Programa Horizonda CE, do Despacho Conjunto n. 407/98

    e da legislao de apoio ao emprego., foi criado o enquadramento legal para a criao

    respostas comunitrias de reabilitao psicossocial, ou seja, dispositivos scio-

    ocupacionais e residenciais, bem como programas que operam no mbito dadesinstitucionalizao, da insero comunitria e scio-profissional. (CNSM, 2008)

    o entanto, a baixa prioridade dada sade mental no mbito dos servios de sade

    nacionais resultou num atraso significativo na melhoria das prestao e diferenciao

    destes servios. Assim, em 2006, foi criada a Comisso Nacional para a Reestruturao

    dos Servios de Sade Mental incumbida de desenvolver um novo plano nacional de

    sade mental (PNSM 2007-2016) onde esto definidos os valores, princpios, objetivos e

    reas de interveno estratgica na rea da sade mental em Portugal. A implementao

    deste Plano ficou sob a incumbncia da subsequentemente criada Coordenao Nacional

    para a Sade Mental. (PNSM/DGS, 2012)

    A legislao entretanto aprovada no mbito dos Cuidados Continuados Integrados de

    Sade Mental, surge aqui como uma pea fundamental para a desinstitucionalizao.

    Sade Men tal Com un itria em Por tug al

    O atual PNSM assenta em pressupostos subjacentes ao modelo de organizao

    comunitria dos servios de sade mental:

    Maior proximidade dos servios aos cidados;

    Integrao da psiquiatria no mbito do sistema de sade geral, com o objectivo de

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    atenuar a estigmatizao frequentemente associada s instituies psiquitricas;

    Melhoria do acesso a cuidados de sade mais abrangentes e a vrios nveis

    (preventivos, teraputicos e reabilitativos), assegurados de forma contnua e

    articulados entre os diversos profissionais.

    Esta perspectiva da sade mental defende um sistema de prestao de cuidados em

    que a comunidade da pessoa o principal prestador de cuidados, para as pessoas com

    problemas de doena mental, e no uma estrutura em especfico, o objectivo incluindo

    mais do que a prestao de tratamento psiquitrico em ambulatrio. Assim, os servios

    comunitrios que devero estar disponveis incluem habitao apoiada, com superviso

    total ou parcial, (incluindo abrigos), internamento psiquitrico em hospitais gerais

    (incluindo hospitalizao parcial) , servios locais de cuidados primrios, centros de dia ou

    clubhouses, centros de sade mental comunitrios e grupos de ajuda mtua (OMS, 2001).

    Esta abordagem resulta do reconhecimento de que as causas de doenas mentais

    especficas variam, mas a maioria so provocadas por uma combinao de fatores

    biolgicos, psicolgicos e sociais. Adicionalmente (Anthony, Cohem & Farkas, 1990),

    estes problemas tm um impacto negativo nvel dos dfices, disfunes, incapacidade e

    desvantagem que produzem ( ver tabela 1). Deste modo para lidar com a situao de

    forma efetiva necessrio um vasto leque de servios, entre eles os que visem a

    promoo da sade mental e preveno da doena mental, a interveno precoce, e o

    tratamento e reabilitao das pessoas com experincia de doena mental.

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    Os distintos servios e atividades por eles disponibilizadas, assumiro funes e

    obtero resultados diferentes sobre os impactos da doena mental grave.

    Reab ili tao Ps icos so ci al

    Dentro deste modelo comunitrio de prestao de cuidados de sade mental, surge a

    reabilitao psicossocial. De acordo com a OMS (1986) esta um processo que ofereceaos indivduos que esto debilitados, incapacitados ou deficientes, devido perturbao

    mental a oportunidade de atingir o seu potencial de funcionamento independente na

    comunidade. Apesar de historicamente se ter dado maior enfse ao incremento das

    competncias individuais, a reabilitao psicossocial prev, igualmente, a introduo de

    mudanas ambientais que permitam ao indivduo melhor integrar-se.

    Os objectivos deste processo so a emancipao do utente, reduo da discriminaoe do estigma, a melhoria das competncias sociais e individuais e a criao de um

    sistema de suporte de longa durao, ou seja, a sua incluso social. (OMS,2001) Por seu

    lado, esta ltima refere-se possibilidade de participar e contribuir para a vida social

    em termos econmicos, sociais, psicolgicos e polticos, requerendo quer capacidade

    pessoal quer a oportunidade de acesso ao emprego e outros papis sociais.

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    Inversamente, quando se fala de excluso social estamo-nos a referir falta de aceso

    a recursos materiais e no materiais, ao isolamento e desconexo com a comunidade/

    sociedade a que as pessoas com experincia de doena mental esto muitas vezes

    expostas podendo, in extremis, levar a situaes de pobreza e mesmo de sem-abrigo.

    Todos estes fenmenos resultam muitas vezes em situaes de preconceitos (ideias

    errneas, esteretipos) e estigma (valores pessoais, profissionais e sociais negativos) e

    discriminao (atitudes e prticas). A Lei n46/2006, de 28 de Agosto, poder ser um

    instrumento til pata lidar com a discriminao na rea da sade mental pois probe a

    discriminao das pessoas com base na deficincia e no risco agravado de sade,

    abrangendo a quer a discriminao direta, quer a indireta. Esta legislao pretende

    prevenir e remediar os atos que se traduzam na violao de quaisquer direitos

    fundamentais, ou na recusa ou condicionamento do exerccio de quaisquer direitos

    econmicos, sociais, culturais ou outros, por quaisquer pessoas, em razo da deficincia,

    permitindo ainda a aplicao de sanes a quem no respeita esta proibio.

    Revendo as desvantagens com que as pessoas com experincia de doena mental se

    deparam, que constituem reais barreiras ao seu processo de recuperao pessoal, e que

    a sade mental comunitria e a reabilitao psicossocial pretendem abordar verifica-se

    que num modelo atual de prestao de cuidados de sade mental de base comunitria osprofissionais devero assumir alguns papis essenciais:

    Melhorar a deteco da doena mental ao identificar as pessoas afetadas por esta

    na comunidade;

    Referenciar possveis casos unidade de sade mais prxima para avaliao e

    tratamento;

    Prestar suporte pessoas com experincia de doena mental e seus familiares, na

    comunidade;

    Encorajar as pessoas a aderirem ao tratamento (e.g. no faltar s consultas e tomar

    medicao);

    Educar e informar os utentes, seus familiares e comunidade em geral ;

    Reduzir o estigma, discriminao e abuso dos direitos humanos das pessoas com

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    experincia de doena mental.

    5. Cuidados Continuados Integrados de Sade Mental: Respostas sociais deReabilitao Psicossocial

    Numa perspectiva que prev que as caractersticas da doena mental grave, bem

    como o seu impacto sobre a vida da pessoa que dela padece, pode provar necessrio

    para alguns indivduos a prestao de cuidados a mdio longo prazo ou de modo, mais ou

    menos, cclico no decurso da sua vida no sentido de lhe ser prestado o suporte adequado

    para lidar com as necessidades resultantes dos dfices, disfunes, incapacidade e/ ou

    desvantagens vivenciadas, bem como a articulao efetiva dos suportes prestados pelas

    diferentes fontes/recursos surgem os Cuidados Continuados Integrados de Sade Mental

    (CCISM).

    Estes tm como principal objetivo melhorar a qualidade de vida e as competncias das

    pessoas com incapacidade psicossocial e reabilitar, integrar e promover a autonomia das

    pessoas com incapacidade psicossocial sem suporte familiar ou social adequado. Visam

    tambm promover desinstitucionalizao e evitar a institucionalizao, bem como

    promover o combater o estigma atravs do envolvimento do prprio, dos cuidadores e da

    comunidade em geral.

    A legislao que suporta a introduo deste novos dispositivos sociais de reabilitao

    psicossocial (ver tabela 2) recente, tendo sido aprovada a partir do inicio de 2010.

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    O que so o s CCISM?

    Os Cuidados Continuados Integrados de Sade Mental so um conjunto de unidades e

    equipas destinado s pessoas com doena mental grave de que resulte incapacidade

    psicossocial e que se encontrem em situao de dependncia, independentemente da

    idade que incluiunidades residenciais, unidades scio ocupacionais e equipas de apoio

    domicilirio, e articula -se com os servios locais de sade mental (SLSM) e com a rede

    nacional de cuidados continuados integrados (RNCCI).

    Defi n ies

    Este novo modelo organizacional criado pelos Ministrios do Trabalho e da

    Solidariedade Social e da Sade prev a constituio de respostas por um conjunto de

    instituies pblicas e privadas, com ou sem fins lucrativos, que prestam cuidados

    continuados de sade e/ou de apoio social. Assim, torna-se essencial a definio dos

    conceitos subjacentes ao respetivos modelo:

    a) Autonomia, o conjunto de competncias necessrias para o desempenho das

    actividades da vida diria, da vida social e relacional bem como para a tomada de

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    decises independentes ao longo do percurso da vida;

    b) Cuidador, a pessoa adulta, membro ou no da famlia, que cuida da pessoa com

    incapacidade psicossocial, com ou sem remunerao, no sentido de realizar

    e proporcionar as actividades da vida diria com vista a minorar ou at mesmo suprir odeficit de auto cuidado da pessoa que cuida;

    c) Cuidados continuados integrados de sade mental,o conjunto de intervenes

    sequenciais de sade mental e ou de apoio social, decorrente de avaliao conjunta,

    centrado na reabilitao e recuperao das pessoas com incapacidade psicossocial,

    entendida como o processo de reabilitao e de apoio social, activo e contnuo, que visa a

    promoo da autonomia e a melhoria da funcionalidade da pessoa em situao de

    dependncia com vista sua integrao familiar e social;

    d) Dependncia, a situao em que se encontra a pessoa com incapacidade

    psicossocial, que por falta ou perda de autonomia psquica, ou intelectual ou fsica,

    resultante de doena mental grave, no consegue, por si s, realizar

    as actividades da vida diria;

    e) Doena mental grave, doena psiquitrica, que, pelas caractersticas e evoluo

    do seu quadro clnico, afecta de forma prolongada ou contnua a funcionalidade da

    pessoa;

    f) Estrutura modular, a autonomizao de um espao fsico dentro de uma estrutura

    fsica comum, de forma a recriar um ambiente prprio, tipo domiclio, o mais prximo do

    ambiente familiar;

    g) Funcionalidade, a capacidade da pessoa com doena mental grave, em cada

    momento, para realizar tarefas de subsistncia, se relacionar com o meio envolvente

    e participar na vida social;

    h) Grau elevado de incapacidade psicossocial, a situao objectiva da pessoa com

    incapacidade psicossocial que apresente graves limitaes funcionais ou cognitivas, com

    necessidade de apoio na higiene, alimentao e cuidados pessoais, na gesto do dinheiro

    e da medicao, reduzida mobilidade na comunidade, dificuldades relacionais

    acentuadas, incapacidade para reconhecer situaes de perigo e desencadear

    procedimentos preventivos de segurana do prprio e de terceiros;

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    i) Grau moderado de incapacidade psicossocial, a situao objectiva da pessoa com

    incapacidade psicossocial que apresente limitaes cognitivas ou funcionais medianas,

    com necessidade de superviso regular na higiene, alimentao e cuidados pessoais, nas

    actividades de vida diria e domstica, na gesto do dinheiro e da medicao, com

    dificuldades relacionais significativas mas no apresentando disfuncionalidades a nvel damobilidade na comunidade e da capacidade para reconhecer situaes de perigo e

    desencadear procedimentos preventivos de segurana do prprio e de terceiros;

    j) Grau reduzido de incapacidade psicossocial, a situao objectiva da pessoa com

    incapacidade psicossocial que apresente limitaes cognitivas ligeiras, com necessidade

    de superviso peridica na gesto do dinheiro e da medicao, e da organizao da vida

    social e relacional, no apresentando disfuncionalidades a nvel da mobilidade na

    comunidade, da autonomia funcional, da autonomia na higiene, alimentao e cuidados

    pessoais, nas actividades de vida diria e domstica e da capacidade para reconhecer

    situaes de perigo e desencadear procedimentos preventivos de segurana do prprio e

    de terceiros;

    l) Incapacidade psicossocial, a situao objectiva de reduo total ou parcial da

    capacidade da pessoa com doena mental grave para desempenhar as actividades da

    vida diria, no contexto social, familiar e profissional;

    m) Reabilitao psicossocial, o processo de desenvolvimento das capacidades

    psquicas remanescentes e de aquisio de novas competncias para o autocuidado,actividades de vida diria, relacionamento interpessoal, integrao social e profissional e

    participao na comunidade;

    n) Recuperao, o processo que visa alcanar a autodeterminao e a procura de

    um caminho pessoal por parte das pessoas com problemas de sade mental;

    o) Treino da autonomia, o conjunto de intervenes psicossociais destinado a

    promover a aquisio e ou a manuteno de competncias para o desempenho, o mais

    independente possvel, das actividades da vida diria e social. (DL n.22/2011)

    Prin cpio s Or ientador es do s CCISM

    Os Cuidados Continuados Integrados de Sade Mental regem-se, igualmente, por um

    conjunto de princpios orientadores:

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    a) Considerao das necessidades globais, que permita o desenvolvimento das

    capacidades pessoais e a promoo da vida independente e de um papel activo na

    comunidade;

    b) Respeito pela privacidade, confidencialidade e auto-determinao atravs do

    reconhecimento das decises informadas acerca da prpria vida;

    c) Respeito pelos direitos civis, polticos, econmicos, sociais e culturais, para o

    efectivo exerccio da cidadania plena;

    d) Respeito pela igualdade e proibio de discriminao com base no gnero, origem

    tnica ou social, idade, religio, ideologia ou outro qualquer estatuto;

    e) Promoo de relaes interpessoais significativas, e das redes de suporte social

    informal;

    f) Envolvimento e participao dos familiares e de outros cuidadores;

    g) Integrao das unidades em contextos comunitrios inclusivos e no

    estigmatizantes;

    h) Localizao preferencial das unidades no mbito territorial dos SLSM, de forma a

    facilitar a articulao e a continuidade de cuidados;

    i) Equidade no acesso e mobilidade entre os diferentes tipos de unidades e equipas;

    j) Eficincia e qualidade na prestao dos servios. (DL n.22/2011)

    Verifica-se que os objetivos das unidades e equipas no mbito dos CCISM so:

    a) A reabilitao e autonomia das pessoas com incapacidade psicossocial;

    b) A manuteno ou reforo das competncias e capacidades das pessoas com

    incapacidade psicossocial, com vista ao desenvolvimento do seu processo de

    recuperao;

    c) A integrao familiar e social das pessoas com incapacidade psicossocial;

    d) A promoo de vida na comunidade to independente quanto possvel das pessoas

    com incapacidade psicossocial que residam nos hospitais psiquitricos, instituies

    psiquitricas do sector social e departamentos ou servios de psiquiatria de hospitais;

    e) A promoo e o reforo das capacidades das famlias e outros cuidadores das

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    pessoas com incapacidade psicossocial, habilitando-as a lidar com as situaes da

    decorrentes, facilitando e incentivando o acompanhamento familiar e promovendo a sua

    participao e envolvimento na prestao de cuidados. (DL n.22/2011)

    Unidades e Tipolog ias

    No mbito dos CCISM a prestao de cuidados assegurada por trs tipos distintos de

    dispositivos - unidades residenciais, unidades scio-ocupacionais e equipas de apoio

    domicilirio adaptados s caratersticas dos grupos etrios especficos a que se

    destinam, nomeadamente da infncia e adolescncia.

    Unidades Residnciais

    Estas estruturas de apoio residencial tm obrigatoriamente direo tcnica, funo

    desempenhada por tcnico da rea de sade mental ou rea social, englobando as

    seguintes tipologias:

    a) Residncias de treino de autonomia;

    b) Residncias autnomas de sade mental;

    c) Residncias de apoio moderado;

    d) Residncias de apoio mximo.

    As unidades residenciais apresentam diversos nveis de intensidade e periodicidade, e

    asseguram os seguintes servios, de acordo com os diferentes nveis de complexidade:

    a) Acesso a cuidados mdicos gerais e da especialidade de psiquiatria;

    b) Cuidados de enfermagem gerais e especializados em sade mental e psiquitrica;

    c) Acesso e prestao a dispositivos mdicos e meiosde diagnstico e teraputica;

    d) Apoio psicossocial, de reabilitao e de integrao na comunidade;

    e) Apoio a familiares e outros cuidadores;

    f) Atividades de vida diria e de lazer;

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    g) Apoio de pessoal auxiliar;

    h) Transporte de doentes residentes para exames, consultas e tratamentos.

    A residncia de treino de autonomia localiza-se, preferencialmente, na comunidade edestina-se a pessoas com reduzido ou moderado grau de incapacidade psicossocial por

    doena mental grave, que se encontram clinicamente estabilizadas e conservam alguma

    funcionalidade. A permanncia na residncia de treino de autonomia tem a durao

    mxima de 12 meses consecutivos, a sua capacidade sendo de 6 a 12 lugares, com

    estrutura modular at seis pessoas. Esta unidade funciona vinte e quatro horas por dia,

    todos os dias do ano, podendo funcionar em complementaridade com a unidade scio-

    ocupacional, desde que autorizado pela Equipa Coordenadora Regional de Sade Mental

    (ECRSM) e ouvida a coordenao nacional dos CCISM. (Portaria n. 149/2011)

    A residncia autnoma localiza-se na comunidade, destinando-se a pessoas com

    reduzido grau de incapacidade psicossocial por doena mental grave, clinicamente

    estabilizadas, sem suporte familiar ou social adequado. A sua capacidade de sete

    lugares, funcionando vinte e quatro horas por dia, todos os dias do ano. (Portaria n.

    149/2011)

    A residncia de apoio moderado localiza -se na comunidade e destina -se a pessoas

    com moderado grau de incapacidade psicossocial por doena mental grave, clinicamente

    estabilizadas sem suporte familiar ou social adequado. A capacidade desta unidade de

    12 a 16 lugares, com estrutura modular de seis a oito pessoas, funcionando vinte e quatro

    horas por dia, todos os dias do ano. semelhana da residncia de treino de autonomia,

    esta unidade pode, tambm, funcionar em complementaridade com a unidade scio-

    ocupacional, desde que autorizado pela ECRSM, ouvida a coordenao nacional dos

    CCISM. (Portaria n. 149/2011)

    A residncia de apoio mximo localiza-se na comunidade e destina-se a pessoas com

    elevado grau de incapacidade psicossocial por doena mental grave, clinicamente

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    estabilizadas sem suporte familiar ou social adequado. A capacidade desta unidade de

    12 a 24 lugares, com estruturas modulares de seis a oito pessoas, e funciona 24 horas

    por dia, todos os dias do ano.

    Unidades scio-ocupacionais

    A unidade scio-ocupacional localiza -se na comunidade, em espao fsico prprio,

    sendo destinada a pessoas com moderado e reduzido grau de incapacidade psicossocial,

    clinicamente estabilizadas, mas com disfuncionalidades na rea relacional, ocupacional e

    de integrao social. A direo tcnica assegurada por um tcnico da rea de sade

    mental ou rea social

    A unidade scio-ocupacional tem por finalidade a promoo de autonomia, a

    estabilidade emocional e a participao social, com vista integrao social, familiar e

    profissional, assegurando os seguintes servios:

    a) Apoio e reabilitao psicossocial e nas atividades de vida diria;

    b) Apoio scio -ocupacional, includo convvio e lazer;

    c) Superviso na gesto da medicao;

    d) Apoio aos familiares e outros cuidadores com vista reintegrao familiar;

    e) Apoio de grupos de auto -ajuda;

    f) Apoio e encaminhamento para servios de formao e de integrao profissional;

    g) Promoo de atividades scio -culturais e desportivas em articulao com as

    autarquias, associaes culturais, desportivas e recreativas ou outras estruturas da

    comunidade.

    A unidade scio-ocupacional localiza-se na comunidade, destinando-se a desenvolver

    programas de reabilitao psicossocial para pessoas com moderado e reduzido grau de

    incapacidade psicossocial por doena mental grave, estabilizadas clinicamente mas que

    apresentem incapacidades nas reas relacional, ocupacional e de integrao social. sta

    unidade funciona, no mnimo, oito oras por dia, nos dias teis. O orrio de permanncia

    de cada utente definido no seu lano ndividual de nterveno, podendo variar entre

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    trs a cinco dias por semana, sendo que a unidade tem como capacidade mxima 0

    utentes por dia.(Portaria n. 149/2011)

    Equipas de apoio domicilirioNo mbito dos cuidados continuados integrados de sade mental a equipa de apoio

    domicilirio desenvolve as atividades necessrias de forma a:

    a) Maximizar a autonomia da pessoa com incapacidade psicossocial;

    b) Reforar a sua rede de suporte social atravs da promoo de relaes

    interpessoais significativas;

    c) Melhorar a sua integrao social e o acesso aos recursos comunitrios;

    d) Prevenir internamentos hospitalares e admisses em unidades residenciais;

    e) Sinalizar e encaminhar situaes de descompensao para os SLSM;

    f) Apoiar a participao das famlias e outros cuidadores na prestao de cuidados no

    domiclio.

    Estas equipas podem estar vinculadas e ser coordenadas tecnicamente por uma

    unidade residencial, uma unidade scio-ocupacional, um agrupamento de centros de

    sade (ACES) ou um SLSM. E para atingir os objetivos supramencionados assegura:

    a) Acesso a apoio multiprofissional de sade mental;

    b) Envolvimento dos familiares e outros cuidadores, quando necessrio;

    c) Promoo da autonomia, atravs do apoio regular nos cuidados pessoais e nas

    atividades da vida diria, gesto domstica e financeira, compras, confeco de

    alimentos, tratamento de roupas, manuteno da habitao, utilizao dos transportes

    pblicos e outros recursos comunitrios;

    d) Superviso na gesto da medicao;

    e) Promoo do acesso a atividades ocupacionais, de convvio ou de lazer.

    Preferencialmente integrada em estruturas com experincia de interveno em sade

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    mental, a equipa assegura oito intervenes domicilirias por dia, funcionando dias por

    semana.

    Dado o seu aspeto inovador e especificidade, surge como relevante enunciar as

    tipologias associadas faixa etria da infncia e adolescncias previstas e caracterizadas

    na Portaria n. 149/2011.

    Unidades residenciais

    A residncia de treino de autonomia, tem estrutura modular, e localiza-se

    preferencialmente na comunidade. Destina-se a desenvolver programas de reabilitaopsicossocial e teraputica para crianas e adolescentes com idades compreendidas entre

    os 11 e os 1 anos, com perturbao mental grave (subtipo A) ou perturbao grave do

    desenvolvimento e estruturao da personalidade (subtipo ) e reduzido ou moderado

    grau de incapacidade psicossocial, clinicamente estabilizados. A permanncia nesta tem

    durao mxima de 12 meses, podendo eventualmente ser prorrogado de acordo com

    proposta da equipa tcnica e parecer favorvel da SM. A capacidade de 6 a 12

    crianas e ou adolescentes, at um mximo de 6 por estrutura modular, funcionando vinte

    e quatro horas por dia, todos os dias do ano.

    A residncia de apoio mximo tambm em estrutura modular localizada

    preferencialmente na comunidade. em como obetivo desenvolver programas de

    reabilitao psicossocial e teraputica para crianas e adolescentes com idades

    compreendidas entre os 11 e os 1 anos, com perturbao mental grave e elevado grau

    de incapacidade psicossocial, clinicamente estabilizados. O perodo mximo de

    permanncia, capacidade e horrio de funcionamento so idnticos aos descritos para a

    residncia de treino de autonomia.

    A unidade scio-ocupacional para a infncia e adolescncia localiza-se na comunidade

    e visa desenvolver programas de reabilitao psicossocial para adolescentes dos 1 aos

    1 anos, com perturbao mental e ou com perturbao do desenvolvimento e

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    estruturao da personalidade, com reduzido ou moderado grau de incapacidade

    psicossocial, clinicamente estabilizados. O perodo de permanncia nesta unidade tem

    durao de 12 meses. A capacidade mxima prevista de 20 adolescentes por dia,

    sendo exigida permanncia mnima de dois dias por semana. sta unidade funciona nos

    dias teis, no mnimo oito oras por dia.

    a faixa da infncia e adolescncia, a equipa de apoio domicilirio destina-se a prestar

    cuidados reabilitativos a crianas e/ou adolescentes com idades compreendidas entre os

    e os 1 anos, que apre-sentem perturbao mental com dfices scio-cognitivos e ou

    psicossociais, nomeadamente quando os principais cuidadores apresentam incapacidade

    psicossocial decorrente de perturbao psiquitrica crnica. sta equipa abrange

    situaes de continuidade de cuidados subacentes ao processo de tratamento,provenientes quer de internamento por situao clnica aguda quer de acompanamento

    em ambulatrio, devendo preferencialmente estar integrada em estruturas com

    experincia de interveno em sade mental da infncia e adolescncia. m

    funcionamento todos os dias do ano, a equipa assegura oito intervenes domicilirias

    por dia.

    Refer enciao

    DE acordo com o DL n.22/2011, so destinatrios das unidades e equipas previstas

    no CCISM as pessoas com incapacidade psicossocial e necessidade de cuidados

    continuados integrados de sade mental que:

    a) Se encontrem a viver na comunidade;

    b) Tenham alta das unidades de agudos dos hospitais psiquitricos, das instituies

    psiquitricas do sector social ou dos departamentos e servios de psiquiatria e

    pedopsiquiatria dos hospitais;

    c) Tenham alta das unidades de internamento de longa durao, pblicas ou privadas;

    d) Sejam referenciadas pelos SLSM.

    A admisso nas unidades e equipas determinada pela respectiva equipa

    coordenadora, sob proposta dos SLSM ou das instituies psiquitricas do sector social.

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    A proposta de ingresso/admisso nas unidades e equipas requer a determinao do grau

    de incapacidade psicossocial atravs de um instrumento nico de avaliao.

    Nos CCISM, as EGAS (equipas de gesto de altas) e ECLs (servios coordenadoreslocais) foram fundidos, localizando-as nos SLSM como nome de ECLSM (equipa

    coordenadora local de sade mental) partindo-se do pressupondo que ningum melhor

    que quem se encontra no terreno conhece a realidade da sua rea e melhor pode alocar

    os utentes na melhor soluo. A ECLSM pode alocar diretamente sem passar pela

    ECRSM, sendo esta alocao apenas solicitada quando existe divergncia entre

    promotores e ECLSM (por exemplo, quanto seleo do melhor tipo de residncia para

    determinado utente). Existem riscos de abuso ou influencia/presso por parte das

    instituies que deve ser compensada atravs de outros mecanismos, um deles apossibilidade de solicitao da interveno das ECRSM nos processos e maior controle

    de qualidade e acompanhamento pela coordenao regional. A comunidade, atravs dos

    ACES pode identificar situaes mas tm de ser sempre referenciadas pelos SLSM onde

    se situam os peritos e condies para acompanhamento clinico das situaes graves.

    Possuindo profissionais com competncias para tal, as ECRSM avaliam os processos

    e alocam os utentes propostos pela rea da pedopsiquiatria que tem uma organizao

    paralela e muito especifica e os utentes referenciados pelas Ordens que tero funo

    semelhante a SLSM no que compete ao acompanhamento destes utentes (so

    responsveis por eles quanto ao acompanhamento clinico).

    3. Sade Mental e RP: Tendncias recentes

    Foram definidas na Conferncia Ministerial Europeia da OMS sobre a Sade Mental,

    que se realizou em Helsnquia em 2005, ( Declarao de SM para a Europa, mas

    conhecida como Declarao de Helsinkia) cinco prioridades que foram subscritas por

    muitos pases entre os quais Portugal:

    1. Fazer compreender a importncia do bemestar mental;

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    2. Lutar colectivamente contra a estigmatizao, a discriminao e a desigualdade, e

    responsabilizar e apoiar as pessoas com problemas de sade mental e a sua

    famlia de forma a que possam participar ativamente neste processo;

    3. Conceber e pr em prtica sistemas de sade mental completos, integrados e

    eficazes englobando a promoo, a preveno, o tratamento, a reabilitao e aintegrao social;

    4. Responder necessidade de dispor de pessoal competente e eficaz em todos

    estes domnios;

    5. Reconhecer a experincia e a competncia dos utentes e dos cuidadores,

    inspirandose nela para a planificao e a organizao dos servios.

    Estas prioridades tm subjacentes os conceitos e abordagens emergentes na rea dasade mental comunitria e reabilitao psicossocial. Entre estes iremos salientar os

    conceitos de empowerment, advocacy, ajuda mtua e suporte interpares, recovery e os

    direitos humanos.

    O empowermentparte da ideia de dar s pessoas o poder, a liberdade e a informao

    que lhes permitem tomar decises e participar ativamente nas usas prprias vidas. De

    acordo com Nogueira e Remoaldo (2010), este conceito permite ampliar a capacidade dos

    indivduos ou grupos de fazerem escolhas, transformando-as em aes e em resultados

    desejados, mais ainda, devolve poder e dignidade a quem desejar o estatuto de cidadania

    e, principalmente, a liberdade de decidir e controlar o seu prprio destino com

    responsabilidade e respeito pelo outro. Representa, essencialmente, uma inverso no

    tradicional desequilbrio de poder entre as pessoas com experincia de doena mental e

    os profissionais de sade que lhes prestam cuidados/suporte (Chamberlin, 1990, 1997).

    A WHO (2005) considera o advocacy um movimento de defesa dos direitos humanosdas pessoas com experiencia de doena mental que visa, igualmente, reduzir o estigma e

    a discriminao. Dito movimento engloba atividades tais como:

    Consciencializao;

    Informao;

    Educao;

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    Formao;

    Aconselhamento;

    Ajuda Mtua;

    Defesa;

    Denncia.

    Numa perspetiva complementar, o termo pode referir-se a um processo que possibilita

    pessoa expressar os seus pontos de vista e preocupaes, aceder informao e

    servios, defender e promover os seus direitos e responsabilidades e explorar escolhas e

    opes (CNSM, 2010).

    O conceito de suporte interpares no campo da sade mental cresceu a partir da reao

    dos utentes /ex-pacientes ao tratamento de sade mental negativo e consiste de um

    sistema de dar e receber ajuda/apoio que se alicera nos princpios-chave do respeito,

    responsabilidade partilhada e consentimento mtuo sobre o que constitui uma ajuda

    (Mead, 2003). Dentro deste sistema insere-se um significativo movimento social

    contemporneo que constitui um poderoso instrumento de intervenoo psicossocial e de

    mudana, bem como um desafio para todos aqueles que se interessam pela promoo do

    bem-estar, da sade e dos direitos sociais a partir da perspectiva de empowerment da

    populao visadaa ajuda mtua (Maia, Vasques, Vieira, Reto, & Loureno, 2009).

    A histria tem verificado que os direitos humanos das pessoas com experincia de

    doena mental so muitas vezes violados, dentro e fora das instituies que lhes prestam

    cuidados e suporte. Assim, este termo, que diz respeito aos direitos inerentes a todos os

    seres humanos, independentemente de raa, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religio

    ou qualquer outra condio tem vindo a assumir uma relevncia crescente na prestao

    de cuidados. Para a pessoa com experincia de doena mental este conceito assume

    particular importncia por estar ligado a tantas formas da discriminao a que muitasvezes se sujeito. Os direitos humanos tantas vezes constrangidos incluem o direito

    vida e liberdade, liberdade de opinio e expresso, o direito ao trabalho e educao,

    entre muitos outros.

    Uma perspetiva/ abordagem ou modelo bastante atual no campo da sade mental o

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    recovery. NoPresidents Freedom Comission Report (2003) este conceito definido como

    o processo atravs do qual as pessoas com diagnsotico de doena mental adquirem um

    renovado sentido de esperana e comeam a caminhar no sentido de alcanar a vida que

    escolheram para si prprios. Um definio consensual do termo ainda no foi alcanada,

    no entanto, uma definio que tem sido bem aceite na literatura a de Anthony (1993)que considera o recoveryo desenvolvimento de significado e propsito de vida enquanto

    se cresce para alm da catstrofe da doena mental. De acordo com o autor isto implica

    uma redefinio de atitudes, valores, sentimentos, objetivos, competncias e/ou papis.

    Todos estes conceitos ilustram a ideologia de que as pessoas com experincia de

    doena metal procuram ter oportunidades e responsabilidades semelhantes aos dos

    demais membros da comunidade/sociedade. A reabilitao psiquitrica, ou o termo maiscontemporneo, reabilitao psicossocial, o componente de um sistema de sade

    mental de base comunitria que avisa defrontar as barreiras com que as pessoas com

    doena mental se deparam relativamente s oportunidades para viver, trabalhar e

    participar na vida da comunidade. Por seu lado o modelo de recoveryfaz a distino entre

    os servios/cuidados prestados pessoas e a experincia da pessoa (ver tabela 3).

    Assim, as intervenes de reabilitao psicossocial so os servios/programas formais

    disponibilizados s pessoas, enquanto a pessoa vivencia o seu percurso individual de

    recovery ( recuperao pessoal), Os servios e os profissionais de sade mental no

    podem criar a recuperao pessoal do indivduo, mas as formas de prestao de

    cuidados pode facilitar o recovery( Anthony, 1993).

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    Quando se fala em recuperao (recovery) no campo da sade mental, muitas vezes

    confunde-se a recuperao clnica com a recuperao pessoal. A primeira d nfase

    importncia constante da sintomatologia, funcionamento social, preveno da recada e

    gesto do risco, vista como um resultado e avaliada por terceiros. A ltima centraliza-se

    na esperana, identidade, significado e responsabilidade social, sendo vista como umprocesso e avaliada pelo prprio.

    curioso constatar como estas duas vises refletem as distines nas crenas entre

    os modelos tradicionais de prestao de cuidados e os atuais ( ver tabela 4) e como os

    primeiros prevalecem.

    A evidncia apresentada por diversos autores ( Harding & Keller, 1998; Harding &

    Zahniser, 1994; Harding, Zubin & Strauss, 1992) suporta o possibilidade de recoverypara

    a maioria das pessoas com experincia de doena metal grave pois revela que metade a

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    dois teros das pessoas com doena mental grave recuperam de forma significativa com

    o tempo. De acordo com Spaniol (2001) os valores que suportam o recoverye devem ser

    sustidos pelos servios e profissionais so o empowerment, a escolha e envolvimento

    pessoal, o foco comunitrio e nas capacidades das pessoa e a conexo com o prprio e

    com terceiros. So estes os valores a fomentar atualmente para uma prestao decuidados de qualidade e efetiva.

    6. PSICOPATOLOGIA, PSICOFISIOLOGIA E PSICOFARMACOLOGIAPRINCIPAIS TIPOLOGIAS EM SADE MENTAL

    Como demonstra o estudo "The Global Burden of Disease", realizado pela Organizao

    Mundial de Sade e a Universidade de Harvard, no qual se estima a carga das diferentes

    doenas com base nos anos de vida perdidos em consequncia no apenas da

    mortalidade, mas tambm da incapacidade provocada pelas doenas, as perturbaes

    psiquitricas so uma das principais causas da carga total das doenas nas sociedades

    actuais. A nvel mundial, mais de 12% da carga resultante de doenas em geral deve-se

    s perturbaes psiquitricas, crescendo este nmero para 24% na Europa (WHO, 2001).

    A verdadeira magnitude do impacto das doenas mentais s se tornou evidente quando

    se reconheceu a enorme dimenso da incapacidade originada por estas doenas. Hoje

    sabemos que, das 10 principais causas de incapacidade, cinco so perturbaes

    psiquitricas. Em todo o mundo, as perturbaes mentais so responsveis por uma

    mdia de 31% dos anos vividos com incapacidade, valor que chega a ndices de cerca de

    40% na Europa (WHO, 2001). Estes dados significam que, em todo o mundo, e sobretudo

    nas sociedades mais desenvolvidas, as doenas psiquitricas, em conjunto com as

    doenas cardiovasculares, esto rapidamente a substituir as doenas infecto-contagiosas

    na lista de prioridades de sade pblica. Esta "transio epidemiolgica" tem vindo a

    desenvolver-se, at h pouco tempo, sem a devida considerao por parte dos

    responsveis pelo planeamento de servios e programas de sade.

    Acresce ainda que todas as projees apontam para um aumento significativo das

    perturbaes mentais e dos problemas de sade mental no futuro. Prev-se por um lado,

    um incremento significativo da prevalncia de doenas psiquitricas, e em particular de

    casos de demncia, a que no alheio o aumento da esperana de vida e o consequente

    envelhecimento da populao.

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    Prev-se, por outro lado, um impacto crescente na sociedade portuguesa de problemas

    direta ou indiretamente relacionados com a sade mental, como sejam os problemas de

    violncia domstica, abuso de lcool e drogas, delinquncia juvenil, integrao de

    minorias tnicas e emigrantes.

    Apesar da alta prevalncia das perturbaes mentais e da importncia crescente dos

    problemas de sade mental em geral, contudo, os mitos sobre a doena mental e a

    estigmatizao do doente continuam a persistir, mesmo entre profissionais da rea de

    sade, sendo ainda muito grande o desconhecimento sobre o progresso ocorrido nas

    ltimas dcadas quanto ao diagnstico e, sobretudo, ao tratamento destas perturbaes.

    Por esta razo, em muitos pases, a sade mental tem sido uma rea muito negligenciada

    dentro do conjunto dos servios de sade e o doente mental ainda hoje continua a ser

    vtima de vrios tipos de discriminao.

    Os estudos epidemiolgicos realizados pela Organizao Mundial da Sade (OMS) nos

    ltimos 15 anos provam que as perturbaes psiquitricase os problemas de sade

    mental se tornaram a principal causa de incapacidade, e uma das principais causas

    de morbilidade, nas sociedades actuais.No ano 2020, prev-se que a depresso seja

    a primeira causa de morbilidade nos pases desenvolvidos.

    Em todo o mundo, as perturbaes mentais so responsveis por uma mdia de 31%

    dos anos vividos com incapacidade , valor que chega a ndices ao redor de 40%na

    Europa. Das 10 pr inc ipais causas de incapac idade, 5 so pert ur baes ps iquitr icas(OMS, 2001).

    No Relatrio sobre o estado da sade mental em 27 pases da Europa, publicado no

    final de 2005 e adoptado pela Comisso Europeia como documento oficial ( O Livro

    Verde), estima-se que mais de 27% dos europeus adultos (entre os 18 e os 65 anos)

    so afectados pelo menos por uma modalidade de doena mental no decurso de um dado

    ano, o que representa quase 82,7 milhes de cidados numa populao de 300,7

    milhes (incluindo a Islndia, a Noruega e a Sua). As previses apontam para um

    aumento significativo das perturbaes mentais no futuro.

    A doena mentalcusta UE cerca de 3% a 4% do PIB, sobretudo atravs da perda de

    produtividade. As doenas mentais so uma das principais causas de reforma

    antecipada e de penses por invalidez. A estes vm somar-se outros custos intangveis

    em funo do modo como a sociedade trata as pessoas doentes ou diminudas mentais.

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    Em Portugal, se nos restringirmos s psicoses mais incapacitantes, como o caso da

    esquizofrenia, cuja incidncia de 1%, e da perturbao bipolar e depresses maor,

    cuja incidncia de 6,9 %, alcanamos valores da ordem de 120.000 pessoas afectadas

    por patologias do espectro da esquizofrenia e 690.000 pessoas que apresentam

    sintomas do quadro das depresses.

    Segundo o II Volume do Plano Nacional de Sade para 2004-2010 (PNS 2004-2010)

    consagrado s Orientaes stratgicas, no captulo referente Sade Mental e

    doenas psiquitricas comea-se por verificar que a informao sobre doenas mentais

    limitada. No entanto,

    Estima-se que a prevalncia de perturbaes psiquitricas na populao geral

    ronde os 30%, sendo aproximadamente de 12% a de perturbaes psiquitricas graves,

    embora no existam dados de morbilidade psiquitrica, de abrangncia nacional, quepermitam uma melhor caracterizao do Pas. (PNS, p.82)

    Significa que mais de trs milhes de portugueses sofrem de perturbaes psiquitricas.

    specificamente em relao esquizofrenia, a sua prevalncia de aproximadamente 1%

    faz prever que haja cerca de 100000 doentes com esquizofrenia em ortugal (Afonso,

    2002).

    J o Relatrio da Comisso Nacional para a Reestruturao dos Servios de Sade

    Mental (SSM, 200), refere que pelo menos a 8% da populao sofre de uma

    perturbao psiquitrica de certa gravidade em cada ano (p.49).

    Dado nunca ter sido efetuado um inqurito de morbilidade psiquitrica, quer de mbito

    nacional, quer de mbito regional, no conhecida a prevalncia e a incidncia da grande

    maioria das perturbaes mentais em Portugal; por outro lado, como no se conhecem os

    ndices epidemiolgicos, no possvel estabelecer de uma forma cientificamente

    rigorosa a associao entre as perturbaes psiquitricas na populao portuguesa e os

    seus eventuais determinantes, incluindo aqui fatores sociodemogrficos, econmicos,

    comportamentais e de estilos de vida.

    Relativamente prevalncia tratada, os dados mais relevantes foram obtidos a partir do

    censo de 2001, realizado pela Direo Geral de Sade a nvel dos servios de psiquiatria,

    envolvendo as reas de ambulatrio, internamento e urgncia (Bento, 2003). Por ordem

    decrescente de frequncia, evidenciaram-se as seguintes situaes nosolgicas:

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    - Ambulatrio - perturbaes depressivas (21,5%), perturbaes neurticas (12,4%),

    esquizofrenia (12,4%), reaes de ajustamento (10,5%);

    - Unidades de internamento - esquizofrenia (36,2%), oligofrenia (28,1%), perturbaes

    associadas ao lcool (7,0%), perturbaes afetivas sem depresso (5,4%), sndromes

    demenciais (5,3%) e perturbaes depressivas (4,9%);

    - Servios de urgncia - perturbaes associadas ao lcool (21,3%), perturbaes

    depressivas (20,2%), perturbaes neurticas (12,2%), reaes de ajustamento (9,2%).

    Perturbaes psicticas no-orgnicas - apesar de constiturem uma parcela muito

    importante dos indivduos seguidos nos servios de psiquiatria pblicos, nomeadamente

    no que se refere a internamentos hospitalares, no existem dados epidemiolgicos de

    base populacional sobre este grupo de perturbaes. Na rea dos cuidados prestados a

    doentes com esquizofrenia, estudos de avaliao de necessidades em que Portugal

    esteve envolvido demonstraram a existncia de uma cobertura clnica semelhante dos

    restantes pases europeus, mas de um grau muito mais elevado de necessidades no-

    cobertas nas reas de interveno psicossocial, incluindo a reabilitao (Xavier et al,

    2002; Kovess et al, 2006).

    Perturbaes afectivas - tal como no ponto anterior no existem dados de basepopulacional que permitam estabelecer com fiabilidade a prevalncia dos vrios tipos de

    perturbao depressiva em Portugal. A um nvel mais restrito, foram feitos estudos na

    rea da depresso durante a gravidez e ps-parto (Augusto et al, 1996; Gorman et al,

    2004), onde se encontraram prevalncias relativamente elevadas de sintomatologia

    depressiva, e estudos de vinculao como fator preditivo de depresso em grvidas

    adolescentes (Figueiredo et al, 2006). Existem vrios estudos referenciados na literatura,

    mas com metodologias diferentes das consagradas internacionalmente para diagnostico

    padronizado de perturbao depressiva. Trs estudos utilizando o Beck DepressionInventory revelaram a existncia de sintomas depressivos significativos em 16,9% -18,4%

    da populao avaliada (Vaz Serra, 1987, 1989; Seabra e Cruz, 1991). A nvel dos

    cuidados de sade primrios, uma investigao efetuada atravs da aplicao dos

    Bedford College Criteria em 927 utentes (Resina et al, 1989) detectou uma prevalncia de

    31,6% (12% a casos de depresso clnica e 19,6% de depresso sub-clnica). Ainda na

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    rea dos cuidados de sade primrios, est em curso um estudo multicntrico efetuado

    atravs da entrevista CIDI, cujos resultados preliminares apontam para uma prevalncia

    de depresso de 18% no sexo feminino e 7% no sexo masculino (King et al, 2006).

    Suicdio - Portugal apresenta uma das mais baixas taxas de suicdio da Unio Europeia

    (5,1% em 2000), a que frequentemente se associa (ainda que sem evidncia cientfica)

    um determinante de natureza religiosa (Skog et al, 1995), por analogia com as taxas

    igualmente baixas verificadas em outros pases catlicos, nomeadamente do Sul da

    Europa (OMS, 2003). No entanto, alguns estudos mostram que entre 1955 e 1980 houve

    um crescimento da taxa de suicdio no gnero feminino, nomeadamente nas mulheres

    empregadas e residentes em reas urbanas (Castro et al, 1988).

    Relativamente distribuio geogrfica, verifica-se que a taxa de suicdio apresentaassimetrias regionais significativas (Bento e Barreto, 1992), atingindo o seu valor mais alto

    em algumas regies do Alentejo, com uma taxa no ajustada de 55,2/100,000.

    Outros dados significativos so a existncia de um padro etrio muito idoso (mediana de

    aproximadamente 64 anos), um decrscimo da taxa anual global durante a dcada de 90

    (Veiga, 2006), com uma subida posterior at atingir a cifra de 7,49/100.000 para a

    populao at aos 64 anos, e de 9,59/100.000 para a populao total (WHO, 2006).

    No que se refere ao parasuicdio, estudos efetuados na rea de Coimbra revelaram uma

    incidncia relativamente elevada (204/100.000), nomeadamente nas pessoas do sexo

    feminino com menos de 25 anos (600/100.000), surgindo ainda como eventuais

    determinantes, para alm do sexo e idade, o divrcio recente (300/100.000) e o

    desemprego (Saraiva et al, 1996,1998). semelhana com os dados da literatura

    cientfica nesta rea, encontrou- se igualmente uma associao significativa entre o

    parasuicdio e determinadas perturbaes psiquitricas, tais como depresso major,

    abuso de lcool, esquizofrenia e perturbao borderline da personalidade (Castro et al.,

    1998).

    Perturbaes do comportamento alimentar - estudos realizados na Ilha de S. Miguel

    (Azevedo e Ferreira, 1992) revelaram uma prevalncia global (incluindo sndromes

    parciais) muito baixa (0,64%), enquanto que os estudos efetuados na Grande Lisboa

    (Carmo et al, 2001) evidenciaram resultados muito mais elevados (anorexia - 0,37%,

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    sndromes parciais - 12,6%,m perturbao da imagem corporal sem perda de peso - 7%,

    obesidade - 15,3%), com uma correlao fortemente positiva com as classes sociais mais

    altas.

    Problemas relacionados com o lcool - embora o consumo de etanol (l/ano) na

    populao esteja a diminuir ligeiramente (1965 - 13,9, 1990 - 12,9, 2000 - 10,8), Portugal

    continua a ser um dos pases com consumo per capita mais elevado no mundo, o que

    constitui um dos mais graves problemas de sade pblica do pas. A maioria dos jovens

    tem o primeiro contacto com bebidas alcolicas cerca dos 11 anos, predominando at aos

    25 anos o consumo de cerveja e bebidas destiladas, sendo de destacar que o consumo

    na faixa 15 - 17 anos est a aumentar desde 1996 (Dias et al, 2002).

    Os resultados dos Inqurito Nacional de Sade de 1996 e 1999 (disponveis emwww.ine.pt) mostram que a nvel nacional o nmero de consumidores masculinos (82,2%)

    muito superior ao nmero de consumidores femininos (45,8%): nos indivduos com

    hbitos regulares, o consumo mdio dirio de etanol tambm maior no sexo masculino

    (47,3 g) do que no sexo feminino (17,1 g), correspondendo os valores mais elevados

    faixa entre 35 - 44 anos (em ambos os sexos).

    Abuso de drogas - tal como o abuso de lcool, embora em menor escala, o consumo de

    drogas tambm um problema de sade pblica em Portugal, com implicaes no s

    nos sistemas de sade, mas tambm nos sistema judicial e prisional, dada a criminalidade

    que frequentemente lhe est associada. Relativamente s tendncias mais recentes

    (EMCDDA, 2005), a cannabis a substncia com consumo mais difundido, verificando-se

    que a herona continua a ser a substncia mais associada a problemas sanitrios e

    judiciais graves; por outro lado, desde 2000 mantm-se o aumento dos casos de

    policonsumo, em que para l da habitual associao herona-cocana (nvel socio-

    econmico e escolar mais baixo), surge tambm a associao entre cannabis e ecstasy,

    particularmente nos consumidores mais jovens e com melhor nvel scio-econmico.

    O padro de consumo de drogas em Portugal est relativamente bem caracterizado, tanto

    para a populao geral como para alguns grupos especiais, incidindo geograficamente

    com maior intensidade nas reas metropolitanas de Lisboa, Setbal e Porto. No que se

    refere populao geral, esto estimados entre 2,7 e 10 casos problemticos / 1000

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    habitantes (16 - 64 anos), correspondendo a 18-68.000 indivduos consumidores de

    herona, cocana ou ambas (Negreiros, 2001). Relativamente populao estudantil, um

    inqurito realizado em 1999 (ESPAD, 2001) revelou aspetos muito preocupantes:

    - uma subida da prevalncia do consumo, comparativamente a 1995 (Rodrigues et al,

    1996);

    - uma idade mdia de incio de consumo de drogas ilcitas aos 14 anos;

    - uma prevalncia global (lifetime prevalence) de consumo de drogas ilcitas de 12%,

    sendo a cannabis o mais frequente.

    A ESQUIZOFRENIA

    Esquizofrenia considerada pelapsicopatologia como um tipo de sofrimento psquicograve, caracterizado principalmente pela alterao no contato com a realidade (psicose).

    Segundo oDSM-IV-TR um transtorno psquicosevero caracterizado por dois ou mais

    dentre o seguinte conjunto de sintomas por pelo menos um ms: ideias delirantes,

    alucinaes (visuais, sinestsicas ou auditivas), discurso desorganizado

    (incompreensvel),comportamento marcadamente desorganizado ou catatnico e/ou

    sintomas negativos, isto , embotamento afectivo, alogia (pobreza de discurso) ou

    avolio (a no assuno de comportamentos dirigidos a um objectivo).

    Etiologia

    A esquizofrenia (do grego antigo : formado por , skzein, 'separar,

    dividir', e ,phrn, phrens, 'diafragma',[13]a parte do corpo identificada com a ligao

    entre o corpo e a alma.[14][15] O termo significa mais propriamente "ciso das funes

    mentais", considerando-se asintomatologia da doena.[16]

    hoje encarada no como doena, no sentido clssico do termo, mas sim como um

    transtorno mental,podendo atingir pessoas de quaisquer idade, gnero, nacionalidade ou

    classes sociais.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Psicopatologiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Psicosehttp://pt.wikipedia.org/wiki/DSM-IVhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_mentalhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sintomahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Alucina%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sinestesiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Grego_antigohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Esquizofrenia#cite_note-12http://pt.wikipedia.org/wiki/Esquizofrenia#cite_note-12http://pt.wikipedia.org/wiki/Esquizofrenia#cite_note-12http://pt.wikipedia.org/wiki/Esquizofrenia#cite_note-13http://pt.wikipedia.org/wiki/Esquizofrenia#cite_note-13http://pt.wikipedia.org/wiki/Esquizofrenia#cite_note-13http://pt.wikipedia.org/wiki/Sintomatologiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Esquizofrenia#cite_note-15http://pt.wikipedia.org/wiki/Esquizofrenia#cite_note-15http://pt.wikipedia.org/wiki/Esquizofrenia#cite_note-15http://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_mentalhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_mentalhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Esquizofrenia#cite_note-15http://pt.wikipedia.org/wiki/Sintomatologiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Esquizofrenia#cite_note-13http://pt.wikipedia.org/wiki/Esquizofrenia#cite_note-13http://pt.wikipedia.org/wiki/Esquizofrenia#cite_note-12http://pt.wikipedia.org/wiki/Grego_antigohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sinestesiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Alucina%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sintomahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_mentalhttp://pt.wikipedia.org/wiki/DSM-IVhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Psicosehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Psicopatologia
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    Causas

    No existe uma causa nica para o desencadear deste transtorno. Assim como o

    prognstico incerto para muitos quadros, aetiologia das psicoses, principalmente da

    esquizofrenia, incerta, ou melhor, de causa multifatorial. Admite-se hoje que vrias

    causas concorrem entre si para o aparecimento, como: quadro psicolgico (consciente e

    inconsciente); o ambiente; histrico familiar da doena e de outros transtornos mentais; e

    mais recentemente, tem-se admitido a possibilidade de uso de substncias psicoativas

    poderem ser responsveis pelo desencadeamento de surtos e aflorao de quadros

    psicticos.

    Sinais e Sintomas:

    A esquizofrenia, talvez o transtorno mental de maior comprometimento ao longo da vida,

    caracteriza-se essencialmente por uma fragmentao da estrutura bsica dos processos

    de pensamento, acompanhada pela dificuldade em estabelecer a distino entre

    experincias internas e externas. Embora primariamente uma doena orgnica

    neuropsiquitrica que afeta os processos cognitivos, os seus efeitos repercutem-se

    igualmente nocomportamento e nas emoes.

    Ossintomasda esquizofrenia podem variar de pessoa para pessoa, podendo aparecer de

    forma insidiosa e gradual ou, pelo contrrio, manifestar-se de forma explosiva e

    instantnea.

    Podem ser divididos em duas grandes categorias: sintomaspositivose negativos.

    Sintomas positivos

    Os sintomas positivos esto presentes com maior visibilidade na fase aguda da doena e

    so as perturbaes mentais "muito fora" do normal, como que "acrescentadas" s

    funes psquico-orgnicas da pessoa. Entende-se como sintomas positivos

    delrios (ideias delirantes, pensamentos irreais, "ideias individuais do doente que

    no so partilhadas por um grande grupo", como, por exemplo, um indivduo que

    acha que est a ser perseguido pela polcia secreta e acha que o responsvel

    pelasguerras do mundo);

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Progn%C3%B3stico_(medicina)http://pt.wikipedia.org/wiki/Etiologiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Psicosehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Subst%C3%A2ncias_psicoativashttp://pt.wikipedia.org/wiki/Neuropsiquiatriahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cogni%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Comportamentohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sintomahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Del%C3%ADriohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Guerrahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Guerrahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Del%C3%ADriohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sintomahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Comportamentohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cogni%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Neuropsiquiatriahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Subst%C3%A2ncias_psicoativashttp://pt.wikipedia.org/wiki/Psicosehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Etiologiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Progn%C3%B3stico_(medicina)
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    alucinaes, percepes irreais de audio, viso,paladar,olfato outacto,sendo

    mais frequentes as alucinaes auditivas e visuais;

    pensamento e discurso desorganizado (confuso mental), elaborao de frases

    sem qualquer sentido ou inveno de palavras;

    alteraes visveis do comportamento, ansiedade excessiva, impulsos ou

    agressividade constante na fase de crise.

    Sintomas negativos

    Os sintomas negativos so o resultado da perda ou diminuio das capacidades mentais,

    "acompanham a evoluo da doena e refletem um estado deficitrio ao nvel da

    motivao,dasemoes, dodiscurso, dopensamentoe dasrelaes interpessoais (no

    confundir com esquizoidia") como a falta de vontadeou de iniciativa; isolamento social

    (no confundir com a esquizoidia); apatia; indiferena emocional total e no transitria;

    pobreza do pensamento".

    Estes sinais no se manifestam todos da mesma forma, na pessoa esquizofrnica.

    Algumas pessoas vem-se mais afetadas do que outras, ao ponto de muitas vezes

    impossibilitar-lhes uma vida normal. No entanto, alguns sintomas podem oscilar, aparecer

    e desaparecer em ciclos de recadas e remisses.

    Podemos dizer que so todos diferentes, pois existem 6 tipos diferentes de esquizofrenia.

    Esquizofrenia residual:

    Refere-se a uma esquizofrenia que j tem muitos anos e com muitas consequncias.

    Neste tipo de esquizofrenia podem predominar sintomas como o isolamento social, o

    comportamento excntrico, emoes pouco apropriadas e pensamentos ilgicos.

    Esquizofrenia simples:

    Normalmente, comea na adolescncia com emoes irregulares ou pouco apropriadas,

    pode ser seguida de um demorado isolamento social, perda de amigos, poucas relaes

    reais com a famlia e mudana de personalidade, passando de socivel a anti-social e

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Alucina%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Audi%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Vis%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Paladarhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Olfatohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Tactohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Motiva%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Emo%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Discursohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pensamentohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Rela%C3%A7%C3%B5es_interpessoaishttp://pt.wikipedia.org/wiki/Esquizoidiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Vontadehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Apatiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Apatiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Vontadehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Esquizoidiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Rela%C3%A7%C3%B5es_interpessoaishttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pensamentohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Discursohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Emo%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Motiva%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Tactohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Olfatohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Paladarhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Vis%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Audi%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Alucina%C3%A7%C3%A3o
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    terminando em depresso. tambm pouco frequente.

    Esquizofrenia Indiferenciada:

    Apesar desta classificao, importante destacar que os doentes esquizofrnicos nemsempre se encaixam perfeitamente numa certa categoria. Tambm existem doentes que

    no se podem classificar em nenhum dos grupos mencionados. A estes doentes pode-se

    atribuir o diagnstico de esquizofrenia indiferenciada.

    Esquizofrenia Paranide:

    Predominam sintomas positivos como alucinaes e enganos, com uma relativa

    preservao o funcionamento cognitivo e do afetivo, o inicio tende ser mais tardio que o

    dos outros tipos. o tipo mais comum e de tratamento com melhor prognstico,

    particularmente com relao ao funcionamento ocupacional e capacidade para a vida

    independente.

    Esquizofrenia Catatnica:

    Sintomas motores caractersticos so proeminentes, sendo os principais a actividade

    motora excessiva, extremo negativismo (manuteno de uma postura rgida contra

    tentativas de mobilizao, ou resistncia a toda e qualquer instruo), mutismo (ex.:

    mudez), cataplexia (paralisia corporal momentnea), ecolalia (repetio patolgica, tipo

    papagaio e aparentemente sem sentido de uma palavra ou frase que outra pessoa

    acabou de falar) e ecopraxia (imitao repetitiva dos movimentos de outra pessoa).

    Necessita cuidadosa observao, pois existem riscos potenciais de desnutrio,

    exausto, hiperpirexia ou ferimentos auto-infligidos. O tratamento, portanto, bem difcil.

    Esquizofrenia Desorganizada:

    Discurso desorganizado e sintomas negativos como comportamento desorganizado e

    achatamento emocional predominam neste tipo de esquizofrenia. Os aspectos associados

    incluem trejeitos faciais, maneirismos e outras estranhezas do comportamento. o tipo

    que tem tratamento mais complicado.

    Tambm e de referir um outro tipo que esquizofrenia infantil, um tipo raro de

    esquizofrenia (0,5% dos casos), no includo no DSM. Ocorre bem cedo na vida do

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    indivduo (os primeiros problemas surgem entre os 6 e 7 anos de idade). bastante

    severa, tendo sintomas e disfunes mais intensas, alm de um tratamento mais difcil.

    Ainda no foi perfeitamente explicado o mecanismo que determina a esquizofrenia infantil.

    Factores ambientais no exercem qualquer influncia sobre o aparecimento da doena, o

    que leva a acreditar que a base dela puramente gentica. Caractersticas psicolgicasincluem falta de interesse, ecopraxia, ecolalia, baixo QI e outras anormalidades.

    Psicofarmacologia

    Neurolpticos conseguem fazer os sintomas desaparecerem completamente em 25% dos

    casos, reintegrando o paciente a famlia, ao trabalho e a sua vida social. Uma referncia

    importante para os psiquiatras o Manual de Psiquiatria Clnica, de Harold Kaplan e

    Benjamin Sadock, que sistematiza os vrios fatores que compem a esquizofrenia,lembrando que "devido heterogeneidade das apresentaes sintomticas e

    prognsticas da esquizofrenia, nenhum fator etiolgico isolado considerado como

    causador." Segundo o modelo stresse-ditese, usado com maior frequncia, a pessoa

    que desenvolve esquizofrenia tem uma vulnerabilidade biolgica especfica, ou ditese,

    que, ativada pelo stresse, leva manifestao sintomas esquizofrnicos (teoria de

    vulnerabilidade ao stress). Os fatores etiolgicos so classificados pelos autores em

    genticos, biolgicos, psicossociais e ambientais. Os fatores biolgicos se subdividem e

    so apresentados como hipteses:

    hiptesedopamnica

    hiptese danoradrenalina

    hiptese docido aminobutrico

    hiptese daserotonina

    Juc (2005) observa que, mesmo considerando que se trata de "hipteses" sobre asquais h muita controvrsia, "no se abala a firme convico de que, na raiz do sofrimento

    mental, reside uma susceptibilidade biolgica".

    De fato, considera-se que os antipsicticos so eficazes no alvio dos sintomas da

    esquizofrenia em 70% dos casos. Alguns desses frmacos, conhecidos como

    antipsicticos tpicos, inibem fortemente os receptores D2 da dopamina das vias

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Dopaminahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Noradrenalinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81cido_aminobut%C3%ADricohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Serotoninahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Antipsic%C3%B3ticohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Receptor_D2_de_dopaminahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Vias_dopamin%C3%A9rgicashttp://pt.wikipedia.org/wiki/Vias_dopamin%C3%A9rgicashttp://pt.wikipedia.org/wiki/Receptor_D2_de_dopaminahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Antipsic%C3%B3ticohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Serotoninahttp://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81cido_aminobut%C3%ADricohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Noradrenalinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Dopamina
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    dopaminrgicas, ligadas ao sistema lmbico do crebro, e o seu sucesso constitui uma

    forte evidncia da importncia das alteraes bioqumicas na patogenia da doena,

    segundo a chamada hiptese dopamnica . Essas alteraes bioqumicas talvez sejam

    uma resposta secundria aos eventos causadores da doena, assim como o so as

    alteraes comportamentais. Os exemplos mais usuais de antipsicticos tpicos so ohaloperidol e a clorpromazina.No entanto, esses dois antipsicticos so os chamados de

    primeira gerao e apresentam srios efeitos colaterais indesejveis. Segundo a literatura

    da psiquiatria, o haloperidol e a clorpromazina foram muito usados nasdcadas de 1940

    e 1950, nas primeiras experincias com esquizofrnicos. O haloperidol pode causar

    rigidez muscular no paciente, locomoo motora desordenada, expelio de substncias

    do organismo do paciente, movimentos involuntrios e morte sbita, estando quase que

    completamente em desuso pelos seus efeitos nocivos.

    Quando h predominncia dos sintomas depressivos, a escolha pode recair nos novos

    neurolpticos:risperidona,olanzapina,quetiapina,ziprasidona,amisulprida etc. Esses e a

    tioridazida so indicados para os pacientes que no responderam aos antipsicticos

    convencionais ou apresentaram efeitos colaterais indesejveis. Para os casos refratrios,

    existem evidncias de que aclozapina eficaz.

    Esses medicamentos inibem pouco os receptores D2 da dopamina e tm,

    simultaneamente, ao inibidora serotoninrgica, sendo por isso conhecidos como

    antipsicticos atpicos. Estes tm um sucesso maior nos casos refratrios ao tratamento

    com antipsicticos tpicos ou nos casos onde a sintomatologia negativa predominante.

    Como o medicamento leva aagranulocitoseem cerca de 1% dos casos, devem ser feitos

    hemogramas peridicos, enquanto durar a administrao da droga. A nova gerao de

    antipsicticos atpicos, como a risperidona e a olanzapinano provoca agranulocitose,

    sendo assim deveriam ser utilizadas como primeira escolha pelos pacientes psicticos,

    porm so muito caras.

    Os antipsicticos atpicos, justamente por agirem fracamente sobre os receptores D2, so

    uma evidncia contrria hiptese dopamnica.

    Outras consideraes

    A esquizofrenia foi, durante muitos anos, sinnima de excluso social. Estes doentes

    eram, at h algum tempo, frequentemente colocados durante muitos anos, ou at o resto

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Vias_dopamin%C3%A9rgicashttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_l%C3%ADmbicohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Haloperidolhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Clorpromazinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Anos_1940http://pt.wikipedia.org/wiki/Anos_1950http://pt.wikipedia.org/wiki/Morte_s%C3%BAbitahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Risperidonahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Olanzapinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Quetiapinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ziprasidonahttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Amisulprida&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Clozapina&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/Dopaminahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Serotoninahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Agranulocitosehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Hemogramahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Risperidonahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Olanzapinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Agranulocitosehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Agranulocitosehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Olanzapinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Risperidonahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Hemogramahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Agranulocitosehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Serotoninahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Dopaminahttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Clozapina&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Amisulprida&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/Ziprasidonahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Quetiapinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Olanzapinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Risperidonahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Morte_s%C3%BAbitahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Anos_1950http://pt.wikipedia.org/wiki/Anos_1940http://pt.wikipedia.org/wiki/Clorpromazinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Haloperidolhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_l%C3%ADmbicohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Vias_dopamin%C3%A9rgicas
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    das suas vidas, em hospitais psiquitricos ou asilos para doentes mentais.

    Se verdade que esta prtica contribua para o agravamento da desinsero social, com

    o consequente aumento da dependncia, tambm verdade que a prpria doena

    apresenta uma evoluo relativamente autnoma, e a sua cronicidade pode ser

    causadora por si s de limitaes e dfices importantes.

    Contrariar o empobrecimento social, tantas vezes observado nestes doentes acaba por

    ser um dos maiores desafios do tratamento. Um dos factores que contribuiu para esta

    situao foi o facto de muitos doentes no terem aprendido, ou terem esquecido, os

    comportamentos necessrios para conseguirem ter xito nas interaces sociais e nas

    relaes interpessoais. Como consequncia destas incapacidades, originadas pela

    doena, tm dificuldade em regressar a uma actividade profissional. Seis meses aps um

    internamento, apenas 25-30% dos pacientes com esquizofrenia conseguem voltar atrabalhar e, ao fim de um ano, este valor reduz-se para metade, o que traduz o enorme

    insucesso na reinsero socioprofissional.

    A esquizofrenia, pelas suas caractersticas, requer uma abordagem teraputica

    abrangente, sendo por isso necessrio intervir no s a nvel farmacolgico, controlando

    os sintomas da doena, mas tambm ao nvel social, psicoteraputico, psicoeducativo,

    familiar e ocupacional. De facto, e apesar dos avanos feitos no tratamento farmacolgico

    desta doena nos ltimos anos, a maioria dos doentes, mesmo aps o controlo dos

    si