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ECONOMICS OF MARITIME DISASTERS: ESSAYS ON THE TITANIC AND LUSITANIA David A. Savage BIT BBus Primary Supervisor: Professor Benno Torgler Submitted in fulfilment of the requirements for the degree of Master of Business (Research) Centre for Learning Innovation Faculty of Education Queensland University of Technology Submitted December, 2009

Manejo clínico e dietético da urolitíase em cão: Relato de caso...anos de idade, estando assim fora da faixa etária mais acometida pelo urólito de oxalato de cálcio. No referido

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Manejo clínico e dietético da urolitíase em cão: Relato de

caso

A urolitíase é uma afecção causada pela

presença de urólito, também conhecido como

cálculo no sistema urinário, sendo comum casos na

rotina clínica de cães e gatos. Eles surgem quando

alguns fatores interferem e desregulam a fisiologia

do sistema urinário, facilitando a precipitação e a

formação desses cálculos. Este trabalho aborda um

relato clínico sobre a urolitíase em cão, Yorkshire

terrier, macho, com 3 anos de idade, pesando 2,3

Kg. O animal deu entrada no hospital com histórico

de hematúria, êmese e diarreia. No exame físico, o

cão encontrava-se desidratado, com aumento de

linfonodos submandibulares, mucosas hipocoradas,

hipotermia, halitose urêmica, cálculo dentário,

desconforto à palpação abdominal, renoalgia e

vesícula urinária distendida. Por meio da

anamnese, sinais clínicos e exame

complementares, especialmente a

ultrassonografia, chegou-se ao diagnóstico da

urolitíase. Foi instituído um tratamento de suporte e

posteriormente o animal foi encaminhado para

cirurgia. Os cálculos foram removidos por

cistotomia, e esses foram para análise quantitativa

e qualitativa, que determinou sua composição de

100% de oxalato de cálcio mono-hidratado e

oxalato de cálcio di-hidratado. O animal

apresentou remissão dos sinais clínicos após a

recuperação pós-operatória, sendo

acompanhado frequentemente, passando a

ingerir alimentação natural para prevenir recidivas.

Almeida AO1

Medeiros KBR1

Xavier Júnior FAF2

Araujo SL2

Vasconcelos DBR3

Paiva DQD3

Viana DA3

Morais GB4

Evangelista JSAM4

1 – Discente de

Medicina

Veterinária –

Universidade

Estadual do Ceará /

UECE.

2 – Doutorando do

Programa de Pós-

graduação em

Ciências

Veterinárias / UECE.

3 – Médico

Veterinário / Hospital

Veterinário Centro de

Atenção à Saúde

Animal (CASA) –

Fortaleza/CE – Brasil.

4 - Docente da

Faculdade de

Veterinária / UECE.

E-mail:

juniorfelix.medicove

terinario@gmail.

com

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Introdução

A urolitíase define-se como as

causas e consequências de urólitos

em qualquer localidade do trato

urinário. Essa afecção deve então

ser observada como sendo uma

série de anormalidades de múltiplas

interações. Desse modo, essa

síndrome consiste na ocorrência de

fatores patofisiológicos familiares,

congênitos ou adquiridos que, em

conjunto, aumentam

progressivamente o risco de

precipitação de metabólitos

excretórios na urina contribuindo

para a formação de urólitos1.

No que concerne aos sinais

clínicos são relatados hematúria,

polaciúria, estrangúria e disúria,

entretanto esses sinais também são

observados em outras doenças do

trato urinário inferior. A presença de

urólitos pequenos pode causar

obstrução uretral parcial ou

completa, ocasionando a distensão

da bexiga, algia abdominal,

incontinência paradoxal,

estrangúria e sinais de azotemia pós-

renal caracterizada pela presença

de anorexia, vômito e depressão.

Ocasionalmente, pode haver casos

extremos em que a bexiga se

rompe, resultando em uroperitônio,

ou seja, o extravasamento do

conteúdo presente na vesícula

urinária para a cavidade

abdominal2.

Dentre os diagnósticos

presentes, o exame de imagem é

considerado como sendo a

ferramenta definitiva de diagnóstico

para a detecção de urólitos. A

radiografia abdominal é a primeira

modalidade de diagnóstico

utilizada para detecção do urólito. A

ultrassonografia e a cistografia com

duplo contraste também podem ser

utilizadas para revelar a presença

de urólitos, inclusive os

radiolucentes. Essas técnicas são

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utilizadas com o intuito de confirmar

a presença dos urólitos, além de

identificar a sua localização,

quantidade, tamanho, forma e

densidade2,3.

Após o estabelecimento de

fatores de risco individuais, a dieta

torna-se bastante fundamental para

o manejo da urolitíase em cães e

gatos. A eficácia do manejo

dietético inclui a identificação

correspondente do urólito, o

controle dos distúrbios metabólicos

e a adesão do proprietário à dieta

estabelecida. Independente da

causa, torna-se comum promover a

ingestão de água e a diluição da

urina. Como a taxa de recidiva

pode ser elevada para

determinados tipos de urólitos e

animais, torna-se fundamental o

monitoramento regular do paciente

através da urinálise e exames de

imagem para que a terapia

dietética seja ajustada conforme

necessário4.

No geral, a detecção de

urocistólitos não determina a

necessidade de intervenção

cirúrgica. Contudo, o procedimento

cirúrgico será indicado em casos de

obstrução do fluxo urinário, aumento

em tamanho ou quantidade de

cálculos, prevalência dos sinais

clínicos e ausência de resposta

terapêutica3,5.

No geral, os urólitos podem

ser do tipo simples, quando

composto por um único tipo mineral,

mistos, caso apresente em sua

composição mais um tipo mineral,

ou compostos se possuir camadas

minerais diferentes. A análise

quantitativa e qualitativa do cálculo

é essencial para determinar a sua

composição e, desse modo,

prevenir a recorrência. O ideal é que

todos os urólitos, quando removidos,

sejam submetidos à análise para

determinação da sua composição

mineral, o que auxiliará o clínico no

desenvolvimento da sua conduta

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terapêutica e na prevenção de

recidivas3,6.

Objetivo

O objetivo do presente

estudo foi relatar um caso de

urolitiase em um cão da raça

yorkshire terrier descrevendo os

aspectos clínicos e laboratoriais, a

análise do urólito e seu manejo

terapêutico seguinte.

Relato de caso

Um cão, macho, inteiro, yorkshire

terrier, 3 anos de idade, pesando 2,3

kg, deu entrada no hospital

veterinário sob histórico de

hiporexia, hematúria, êmese e

diarreia. No exame físico, observou-

se apatia, leve desidratacão (5%),

linfonodos submandibulares

aumentados, mucosas hipocoradas

e temperatura retal de 37,3 °C.

Durante a inspeção da cavidade

oral, foi observado halitose urêmica

e cálculo dentário. Na palpação

abdominal, notou-se desconforto à

palpação, renoalgia e bexiga

distendida durante a palpação do

sistema urinário.

Foram solicitados os seguintes

exames complementares:

hemograma completo, creatinina,

ureia, albumina, fosfatase alcalina

(FA), alanina aminotransferase (ALT),

sumário de urina e ultrassonografia

abdominal. Para tratamento de

suporte foi instituída a administração

de Cloridrato de tramadol

(Cronidor®), 2 mg/ Kg BID por via

oral), metoclopramida gotas (1

gota/kg TID por via oral) durante 3

dias e cloridrato de Ranitidina

(1mg/kg BID por via oral) para uso

durante 5 dias. O paciente também

foi submetido à fluidoterapia de

manutenção por 3 dias.

Com relação aos resultados

dos exames, no hemograma foi

observado um aumento na

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Hemoglobina Corpuscular Média

(HCM), entretanto, as hemácias

apresentavam-se normocíticas e

normocrômicas (Tabela 1). O

leucograma não apresentou

alterações significativas, contudo,

no exame bioquímico obteve-se

níveis elevados de ureia (93,0

mg/dL) (Tabela 2). Na urinálise, a

urina apresentou aspectos gerais

normais, porém, na análise química

observou-se a presença de

bilirrubina (+) e cristais de oxalato de

cálcio (++++). Na sedimentoscopia

foi observada uma quantidade

elevada de hemácias e células

epiteliais por campo (Tabela 3).

Na ultrassonografia

abdominal, foram observadas

hepatomegalia discreta, importante

esplenomegalia, aumento de

ecogenicidade na junção cortico-

medular bilateral dos rins, além da

presença de algumas

mineralizações correspondentes a

pontos de calcificação na medular

e na cortical de ambos os rins. O

pâncreas apresentou

ecogenicidade parcialmente

elevada em sua porção mais

cranial. Na bexiga urinária, foram

visibilizadas ao menos três imagens

hiperecogênicas, medindo cerca

de 0,52cm, 0,19cm e 0,46cm de

comprimento e, em porção mais

cranial de trajeto de uretra

prostática, foram visibilizadas pelo

menos três imagens

hiperecogênicas medindo cerca de

0,15cm, 0,20cm, 0,21cm de

comprimento (Figura 1).

Após a análise dos exames foi

solicitada a remoção cirúrgica dos

urólitos através da cistotomia. Após

a retirada, uma amostra de urólito

foi encaminhada para o Centro de

Urólitos de Minnesota (Universidade

de Minnesota, EUA) para realização

da análise quantitativa e qualitativa

do cálculo. Esta análise tem como

objetivo descobrir a composição do

urólito para determinar o manejo

terapêutico e dietético mais

indicado. O resultado obtido o

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urólito determinou que apresentava

em sua composição uma

porcentagem de 100% de oxalato

de cálcio mono-hidratado e oxalato

de cálcio di-hidratado.

Diante dos resultados obtidos,

o animal foi encaminhado para

avaliação nutricional e prescrição

de alimentação natural

balanceada individualizada,

obedecendo os requerimentos

nutricionais preconizados pelo

Nutrient Research Council (NRC),

com níveis moderados de proteína e

reduzido teor de gordura e ácido

oxálico. Esta dieta foi instituída com

objetivo de prevenir a formação de

novos urólitos e oferecer uma

alimentação de alta digestibilidade.

Além disso, foi acrescentado o uso

de nutracêuticos (vit K2,

gamaorizanol, resveratrol, N-

acetilcisteína, L-glutamina, L-

taurina) com o intuito de reduzir a

mineralização renal, proteger o

sistema gastrointestinal, melhorar a

digestão lipídica, além de

antioxidantes para compensar

alterações metabólicas da Doença

Renal Crônica (DRC).

Após 60 dias, o paciente

retornou à clínica para

acompanhamento e, ao final na

consulta foi concluído que o animal

estava clinicamente bem e com

parâmetros satisfatórios de urinálise,

em que se obteve como resultado

os valores de densidade urinária de

1025, pH urinário em 6,5, traços de

proteína e ausência de cristais,

demonstrando assim sucesso no

tratamento instituído.

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Eritrograma Valores encontrados Valores de referência

Hemácias 7,26 milhões/uL 5,5 – 8,5

Hemoglobina 18,0 g/dL 12,0 – 18,0

Hematócrito 54, 0 % 37,0 – 55,0

Tabela 2 Resultados da bioquímica sérica.

Bioquímica Sérica

Valores Encontrados Valores de Referência

Albumina 4,00 g/dL 2,6 A 4,0 g/dL

Creatinina 1,00 mg/dL < 1,4 mg/dL

Fosfatase alcalina 83,0 U/L 20,0 A 150,0 U/L

Uréia 93,0 mg/dL 15,0 A 65,0 mg/dL

Tabela 1 Resultados do eritrograma.

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Tabela 3 Resultados do sumário de urina.

Valores Encontrados Valores de Referência

Caracteres Gerais

Cor Amarelo Amarelo

Aspecto Límpida Límpida

Densidade 1.030 1.015 A 1.040

pH 6,0 5,5 - 7,5

Exame Químico

Proteína Negativo Negativo

Glicose Negativo Negativo

Bilirrubina Positivo (+) Negativo

Sangue oculto Negativo Negativo

Cetona Negativo Negativo

Nitrito Negativo Negativo

Urobilinogênio Negativo Negativo

Leucócitos Negativo Negativo

Sedimentoscopia (Aumento de 400x) (Valores em unidades por campo)

Cilíndros Ausentes

Hemácias >10/campo Até 7 p/campo

Leucócitos Até 1/campo Até 7 p/campo

Células. Epiteliais >10/campo Até 3 p/campo

Presença de cristais de oxalato (++++) e cristais de bilirrubina (++)

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Figura 1 Imagem ultrassonográfica evidenciando a presença de

cálculos na vesícula urinária e em porção mais cranial de trajeto

de uretra prostática.

Figura 2 Imagem do urólito retirado da vesícula

urinária após cistotomia.

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Discussão

Os cálculos de oxalato de

cálcio correspondem ao segundo

tipo de urólitos mais encontrado em

cães e gatos. O principal fator

predisponente ao aparecimento

desses urólitos é a supersaturação

da urina com cálcio e oxalato, com

posterior absorção intestinal de

cálcio. Segundo Lekcharoensuk, os

cálculos de oxalato de cálcio

correspondem ao segundo tipo de

urólito mais encontrado em cães e

gatos7. O principal fator

predisponente ao aparecimento

desses urólitos é a supersaturação

da urina com cálcio e oxalato, com

posterior absorção intestinal de

cálcio. Segundo Lekcharoensuk, a

nutrição interfere significativamente

no aparecimento de urólitos de

oxalato de cálcio7. Dietas com baixo

teor de umidade e sódio, e alta

concentração protéica

(acidificantes) aumentam o risco de

formação de oxalato de cálcio em

cães de raças suscetíveis8.

As principais raças

acometidas com urolitíase são o

schnauzer, shih-tzu, bichon frisé,

poodle, yorkshire terrier e dálmata,

além disso, a obstrução uretral pelo

urólito ocorre com maior frequência

em machos e esporadicamente em

fêmeas, sendo observada mais

frequentemente em cães com

média de idade entre cinco ou sete

anos9,10. Os urólitos mais encontrados

em cães são os de fosfato

amoníaco magnesiano (estruvita) e

oxalato de cálcio11. No presente

caso, o cão, macho, está entre as

raças mais acometidas, Yorkshire

Terrier. No entanto, possuía apenas 3

anos de idade, estando assim fora

da faixa etária mais acometida pelo

urólito de oxalato de cálcio.

No referido relato clínico, o

animal apresentava hematúria,

algia abdominal e vesícula urinária

distendida, sinais clínicos

compatíveis com o que a literatura

sugere2. Ademais, o canino possuía

sintomatologia gastrointestinal,

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como diarreia, êmese, halitose

urêmica e gases a nível de

estômago. As complicações

gastrointestinais estão entre os sinais

clínicos mais comuns e

proeminentes da uremia, que é o

acúmulo de compostos

nitrogenados não proteicos no

sangue, decorrente da retenção

desses compostos pela injúria renal

aguda que ocorre com a

obstrução12.

O diagnóstico de urolitíase

envolve o histórico do paciente,

exame físico, achados laboratoriais

e exames de imagem13. O

diagnóstico presuntivo do presente

caso se deu através da história

clínica, exame físico e exames

complementares, especialmente o

exame de imagem

ultrassonográfico abdominal, no

qual se evidenciou seis imagens

hiperecogênicas na vesícula urinária

e na região cranial da uretra

prostática. Para efetivar o

diagnóstico do animal, foi

necessária a realização da análise

quantitativa dos urólitos, no Centro

de Urólitos de Minnesota, e o

resultado da análise demonstrou

uma porcentagem de 100% de

oxalato de cálcio mono-hidratado e

di-hidratado.

A nutrição está diretamente

relacionada com a urolitíase, devido

ao fato do seu surgimento,

tratamento e prevenção em muitos

casos estarem associados à

nutrição. No que tange ao urólito de

oxalato de cálcio, dietas com baixo

teor de umidade e sódio, e alta

concentração protéica

(acidificantes da urina) predispõem

a formação de oxalato de cálcio

em cães de raças suscetíveis8. Os

urólitos de oxalato de cálcio não são

capazes de se dissolver na urina, por

isso não respondem a tratamentos

dietéticos. Diante disso, a única

forma eficaz de tratamento para

essa enfermidade é a retirada

cirúrgica do cálculo8. Portanto, o

tratamento médico instituído no

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relato em questão foi a remoção

cirúrgica dos cálculos urinários.

Sob a mesma ótica, a

nutrição configura-se como uma

importante ferramenta na

prevenção de recidivas da

urolitíase, já que a mesma apresenta

alta taxa de reincidência. O

tratamento nutricional das urolitíases

utiliza-se de alterações nos

componentes da dieta e busca

alteração do pH urinário e redução

da eliminação urinária de minerais

calculogênicos14. As

recomendações nutricionais para

animais acometidos com urólitos de

oxalato de cálcio incluem uma

dieta úmida, com níveis moderados

de proteína, baixo teor de ácido

oxálico e sem suplementação de

vitamina C15. O principal objetivo

para evitar a formação de urólitos

baseia-se na subsaturação da urina,

sendo alcançada através da

diluição da mesma, já que a urina

diluída além de se apresentar com

menor concentração de minerais

precursores dos cristais, também

favorece o aumento no volume

urinário16. Esse aumento de volume

reduz a concentração de

substâncias litogênicas, além de

aumentar a frequência de micção,

auxiliando na remoção de qualquer

cristal que se forme no trato urinário.

A excreção urinária do

oxalato é resultante do oxalato

dietético e do metabolismo do

ácido ascórbico, glicina, triptofano,

fenilalanina e hidroxiprolina17. Os

níveis adequados de sódio e cálcio

ainda são debatidos. O aumento de

sódio tem sido relacionado com o

aumento da excreção urinária de

cálcio em humanos. Contudo, foi

observado que o aumento do sódio

dietético reduz o risco de urólitos de

oxalato de cálcio em gatos18.

Levando-se em consideração a

importância do equilíbrio eletrolítico

dietético no pH urinário, os alimentos

com predomínio de cátions

favorecem a produção de urina

alcalina e, consequentemente,

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levam a um maior risco de

desenvolver urólitos de estruvita. De

diferente modo, aqueles alimentos

com predomínio de ânions levam à

produção de urina ácida, com

aumento do risco do

desenvolvimento de urólitos de

oxalato de cálcio19.

Dessa forma, a dieta para

prevenção de urólitos de oxalato de

cálcio deve conter níveis levemente

elevados de cálcio e sódio. Por outro

lado, deve conter também em sua

composição quantidades normais

de magnésio e fosfato para cães e

gatos em manutenção,

preconizadas pelo NRC20. Ademais,

uma alimentação natural

devidamente balanceada e

calculada por um profissional da

nutrição animal pode ser uma

alternativa para esses animais

acometidos com urolitíase. A

alimentação natural contém alto

teor de umidade quando

comparada com a ração extrusada

(o que facilita a subsaturação da

urina preconizada para esses casos)

e é melhor aceita por cães,

principalmente em estado de

convalescença. A prevenção de

recidivas do paciente se deu por

intermédio da alimentação natural

balanceada.

O tutor foi informado que a

monitoração do paciente deverá

ser constante, pois o risco de ter

recidiva de urolitíase é alto.

Avaliações periódicas de exames

de urina, perfis bioquímicos,

radiografias e ultrassonografias são

preconizadas, tanto para avaliar a

eficácia da dieta quanto para

identificar efeitos colaterais, além de

permitir a detecção de urólitos

ainda pequenos, possibilitando que

passem através do lúmen uretral e

evite intervenções cirúrgicas. É

válido ressaltar ainda, que terapias

dietéticas e medicamentosas não

eliminam todos os fatores de risco

associados com a urolitíase (como a

condição de predisposição racial),

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mas são capazes de adiar as

possíveis recidivas5.

Discussão

A urolitíase é uma afecção

bastante comum na clínica de

pequenos animais. O isolamento

desses animais em apartamentos

pequenos, com pouca atividade

física, grande estresse e ociosidade,

além do fornecimento de petiscos e

alimentos com baixa qualidade

nutritiva vêm sendo fatores que

favorecem essa incidência na

atualidade. Dados de anamnese e

exame clínico são fundamentais

para direcionar o clínico na

solicitação dos exames

complementares e fornecer

informações para concluir o

diagnóstico. Exames de imagem,

como a ultrassonografia abdominal,

e de laboratório clínico, como

hemograma, perfil bioquímico e

urinálise, auxiliam de forma

significativa no diagnóstico da

doença. Além disso, as análises

qualitativa e quantitativa do cálculo

são fundamentais para determinar a

sua composição e prevenir a sua

recorrência. O método mais

indicado de controle preventivo da

urolitíase ainda é o controle

dietético, utilizando-se de rações

terapêuticas específicas indicadas

para cada tipo de urólito ou da

alimentação natural prescrita por

um veterinário ou zootecnista

especializado em nutrição de cães.

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