154
Rio de Janeiro 2008 ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO Maj Inf JOÃO FELIPE DIAS ALVES A determinação do poder de combate necessário para a realização de operações de ataque a áreas edificadas

Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

Rio de Janeiro

2008

ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

Maj Inf JOÃO FELIPE DIAS ALVES

A determinação do poder de combate necessário para

a realização de operações de ataque a áreas edificadas

Page 2: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

Maj Inf JOÃO FELIPE DIAS ALVES

A determinação do poder de combate necessário para

realização de operações de ataque a áreas edificadas

Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito para obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.

Orientador: Cel Inf Ricardo Célio Chagas Bezerra

Rio de Janeiro

2008

Page 3: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para

realização de operações de ataque a áreas edificadas. / João Felipe Dias Alves. – 2008. 153 f.; il. : 30 cm. Tese (Doutorado) – Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2008.

Bibliografia: f. 144-149.

1. Combate Urbano. 2. Ataque. 3. Poder de Combate. I. Título.

CDD: 355

Page 4: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

Maj Inf JOÃO FELIPE DIAS ALVES

A DETERMINAÇÃO DO PODER DE COMBATE

NECESSÁRIO PARA A REALIZAÇÃO DE OPERAÇÕES DE

ATAQUE A ÁREAS EDIFICADAS

Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito para obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.

Aprovado em

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________ RICARDO CÉLIO CHAGAS BEZERRA – Cel Inf – Dr Presidente

Escola de Comando e Estado Maior do Exército

_____________________________________________________ FERNANDO ANTÔNIO NOVAES D’AMICO – Cel Art - Dr Membro

Escola de Comando e Estado Maior do Exército

__________________________________________ RAMON MARÇAL SILVA – Ten Cel Inf – Dr Membro

Escola de Comando e Estado Maior do Exército

____________________________________________________ LUÍS CLÁUDIO DE MATTOS BASTO – Ten Cel Inf – Dr Membro

Escola de Comando e Estado Maior do Exército

___________________________________________ ALEXANDRE JOSÉ CORRÊA – Maj Inf – Dr Membro

Cmdo Bda Inf Pqdt

Page 5: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

À minha esposa Luciana, que com seu eterno

amor me deu suporte e força para prosseguir

adiante em meu projeto.

Page 6: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

AGRADECIMENTOS

Ao Coronel de Infantaria Ricardo Célio Chagas Bezerra, meu sincero agradecimento

pelo apoio e confiança incondicionais recebidos durante todas as fases da execução

deste projeto.

Page 7: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

As cidades têm sido sempre centros de gravidade, mas agora estão mais

magnéticas que nunca...Elas concentram pessoas e poder, comunicações

e controle, conhecimento e capacidades, agregando tudo o que isso

envolve. Elas também são o equivalente pós-moderno das selvas e das

montanhas. Um militar não preparado para as operações urbanas em seu

amplo espectro não está preparado para o amanhã. (PETERS, 2001)

Page 8: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

RESUMO

Os combates urbanos tiveram um papel cada vez mais relevante nas guerras

recentes e são considerados pelos exércitos mais importantes do mundo como o

cenário mais provável dos conflitos do século XXI. A presente pesquisa enfocou este

assunto, limitando a investigação sobre a determinação do poder de combate

necessário para a realização de ataques a áreas edificadas. Os parâmetros de

estudo foram estabelecidos a partir de uma revisão bibliográfica, em que se buscou

a comparação dos preceitos doutrinários do Exército Brasileiro com conceitos da

Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Estados Unidos, Espanha e

Inglaterra. Verificando que a doutrina militar terrestre brasileira se encontrava

desatualizada, procurou-se ratificar as conclusões obtidas na revisão de literatura

por meio de uma pesquisa de campo realizada entre 128 oficiais alunos do Curso de

Altos Estudos Militares em 2007, que foram submetidos a uma rotina de

procedimentos metodológicos visando à obtenção de resultados significativos. Para

comprovação da hipótese formulada, realizou-se a seguir uma análise das maiores

batalhas urbanas dos últimos quinze anos, desenvolvidas na Chechênia e no Iraque,

de onde foram extraídas as principais lições aprendidas e observou-se o

comportamento das variáveis selecionadas, correlacionando os resultados auferidos

pelas diversas etapas da investigação. Por fim, chegou-se à conclusão que o poder

de combate necessário é influenciado diretamente pelo tamanho da cidade atacada,

o valor do inimigo em seu interior, a população presente e a manobra a ser adotada.

Foi possível ainda estabelecer parâmetros que correlacionam o número de

habitantes de uma cidade e o escalão adequado para atacá-la, assim como

comprovar que a proporção de forças empregada deve ser superior à verificada em

terreno convencional.

Palavras-chave: Combate Urbano; Ataque a localidade; Poder de Combate.

Page 9: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

ABSTRACT

Urban Combat has been played an even more important role in the recent wars and

is considered as the probably scenario for the conflicts of the 21th century by the most

important armies of the world. The current research focused on this subject, limiting

the investigation about the Combat Power required for attacking urbanized areas.

The standards of study had been established by a bibliographic review, which looked

for compare military doctrine of Brazilian Army and North Atlantic Treaty Organization

(NATO), United States of America, England and Spain. Verifying that Brazilian

military doctrine was not updated, it was necessary to confirm the conclusion

obtained by a filed research done among 128 army officers, students of High Military

Studies Course in the year of 2007. This sample had been submitted by a routine of

methodological procedures aiming to obtain significant results. In order to prove the

hypothesis, an analysis of the biggest urban battles of the last fifteen years, occurred

in Chechenya and Iraqi, had been done, extracting important lessons learned. The

behavior of the variables selected was observed and established its relations with all

the results obtained by previous steps of investigation. Finally, it was possible to

conclude that Combat Power is directly influenced by the size of the city attacked, the

value of the enemy inside the city, the population present and the maneuver to be

adopted. Also it was possible to establish parameters correlating the number of

inhabitants of a city and the appropriate echelon of force to attack it, as well as to

prove that the ratio of force applied in an urban combat must be higher than in a

conventional or “open” terrain.

Key-words: Urban Combat; Attacking Cities; Combat Power.

Page 10: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Relação quantitativa para a execução de diferentes operações..... 26

Quadro 2 Histórico da proporção mínima de planejamento ............................ 26

Quadro 3 Operacionalização da variável I ...................................................... 35

Quadro 4 Operacionalização da variável II ..................................................... 35

Quadro 5 Operacionalização da variável III .................................................... 36

Quadro 6 Operacionalização da variável IV .................................................... 36

Quadro 7 Operacionalização da variável V ..................................................... 36

Quadro 8 Diferenças entre o ambiente operacional urbano e outros tipos de terreno .............................................................................................

58

Quadro 9 Conceitos tradicionais e “emergentes” de ataque a cidades .......... 62

Quadro 10 Classificação das áreas urbanas e escalão a ser empregado ........ 71

Quadro 11 Composição de meios da 2ª/82ª Div Aet ........................................ 104

Quadro 12 Manobras empregadas nas batalhas estudadas ............................ 131

Quadro 13 Relação tamanho da cidade x poder de combate empregado ....... 132

Quadro 14 Influência da forma de manobra no poder de combate .................. 133

Quadro 15 Poder de combate x efetivo inimigo ................................................ 134

Quadro 16 Poder relativo de combate x forma de manobra ............................. 135

Quadro 17 Influência da população no poder de combate................................ 136

Quadro 18 Relação tamanho da cidade x poder de combate necessário ........ 141

Page 11: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Modelos de áreas urbanas extensas................................................ 48

Figura 2 Padrões de traçado das ruas........................................................... 50

Figura 3 O ataque de 31 de dezembro de 1994............................................. 92

Figura 4 A reação chechena........................................................................... 94

Figura 5 Esquema de manobra do CFLCC.................................................... 100

Figura 6 Desvio do fluxo e bloqueio da 3ª Brigada......................................... 103

Figura 7 Investimento sobre As Samawah..................................................... 106

Figura 8 Rotas de infiltração/exfiltração de milícias em An Najaf................... 109

Figura 9 Isolamento de An Najaf.................................................................... 110

Figura 10 Ataque inicial da 1ª Bda/101ª Div Aet............................................... 111

Figura 11 Itinerário de ataque da Cia A/2-70 AR.............................................. 112

Figura 12 Entorno de Basra.............................................................................. 114

Figura 13 Ataque final a Basra......................................................................... 116

Figura 14 Objetivos de isolamento do V CEx................................................... 117

Figura 15 Thunder Run I................................................................................... 119

Figura 16 Thunder Run II.................................................................................. 121

Figura 17 Dispositivo de manutenção do objetivo DIANE................................ 122

Figura 18 Dispositivo para o ataque em 08 de novembro................................ 126

Figura 19 Prosseguimento do ataque em 09 de novembro.............................. 127

Figura 20 Prosseguimento do ataque em 11 de novembro.............................. 128

Figura 21 Limpeza das áreas ultrapassadas em 15 de novembro................... 129

Page 12: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Ocorrência de realização de um ataque sistemático........................ 79

Tabela 2 Variação do poder relativo de combate em função da manobra...... 79

Tabela 3 Inimigo a ser enfrentado em uma cidade.......................................... 80

Tabela 4 Poder relativo de combate: localidade X terreno convencional........ 80

Tabela 5 Características do terreno com influência sobre o poder de combate necessário..........................................................................

81

Tabela 6 Relação restrições apoio de fogo X poder de combate.................... 82

Tabela 7 Presença de civis no campo de batalha em operações de ataque a localidade.......................................................................................

83

Tabela 8 Inclusão das “Considerações Civis” no estudo de situação............. 83

Tabela 9 Considerações civis como sexto fator de decisão............................ 84

Tabela 10 Aspectos a serem analisados nas Considerações civis................... 84

Tabela 11 Experiência anterior da amostra....................................................... 86

Tabela 12 Quantidade de experiências anteriores............................................ 86

Tabela 13 Resultado do teste do qui-quadrado................................................. 87

Page 13: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AAAe Artilharia Anti-aérea

AIR Airborne Infantry Regiment

AMAN Academia Militar das Agulhas Negras

AR Armored Regiment

B Log Avçd Batalhão Logístico Avançado

Bda Brigada

Bda Pqdt Brigada Pára-quedista

Btl Batalhão

Btl Ass Civ Batalhão de Assuntos Civis

Btl Com Batalhão de Comnicações

Btl Eng Batalhão de Engenharia

Btl Intlg Mil Batalhão de Inteligência Miltar

Btl Op Psico Batalhão de Operações Psicológicas

CAADEx Centro de Avaliação de Adestramento do Exército

CAEM Curso de Altos Estudos Militares

CC Carro de Combate

CCEM Curso de Comando e Estado-Maior

CCEM/Int Curso de Comando e Estado-Maior para oficiais de Intendência

Cel Coronel

CEx Corpo de Exército

CFLCC Combined Forces Land Component Command

Cia Companhia

Cmt Comandante

COT Centro de Operações Táticas

COTER Comando de Operações Terrestres

DAMEPLAN Dados Médios de Planejamento

Div Divisão

Div Ae Divisão Aérea

Div Ass Ae Divisão de Assalto Aéreo

Div Bld Divisão Blindada

Div Inf Divisão de Infantaria

Page 14: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

ECEME Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

EEI Elementos Essenciais de Inteligência

Elm Elemento

EPS Estrada Principal de Suprimento

EsAO Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais

EUA Estados Unidos da América

FM Field Mannual

FT Força Tarefa

FTC Força Terrestre Componente

GAC Grupo de Artilharia de Campanha

h Hora

IAF Iraqi Army Forces

IIF Iraqi Intervention Forces

IP Instruções Provisórias

Km Quilômetro

Km2 Quilômetro quadrado

Maj Gen Major General

MARDIV Mariners Division

MEF Mariners Expeditionary Force

min Minuto

MINUSTAH Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti

ONU Organização das Nações Unidas

OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte

RCT Regiment Combat Team

Rgt Fuz Nav Regimento de Fuzileiros Navais

Rgt Inf Regimento de Infantaria

Page 15: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................17

2 REFERENCIAL CONCEITUAL.....................................................................20

2.1 TEMA ............................................................................................................21

2.1.1 Delimitação do tema....................................................................................22

2.2 PROBLEMA ..................................................................................................23

2.2.1 Antecedentes ...............................................................................................23

2.2.2 Formulação do problema............................................................................27

2.2.3 Alcance e limites .........................................................................................27

2.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................29

2.4 CONTRIBUIÇÕES.........................................................................................31

3 REFERENCIAL METODOLÓGICO ..............................................................32

3.1 OBJETIVOS .................................................................................................32

3.1.1 Objetivo Geral ..............................................................................................32

3.1.2 Objetivos Específicos .................................................................................32

3.2 HIPÓTESES..................................................................................................33

3.3 VARIÁVEIS ...................................................................................................33

3.3.1 Definição operacional das variáveis ..........................................................33

3.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS......................................................37

3.4.1 Pesquisa de campo .....................................................................................39

3.4.1.1 Seleção da amostra.......................................................................................39

3.4.1.2 Procedimentos Metodológicos.......................................................................40

4 O AMBIENTE OPERACIONAL URBANO ....................................................42

4.1 ASPECTOS FÍSICOS....................................................................................43

4.1.1 Características da área construída ............................................................45

4.1.2 Modelagem geral da área urbana...............................................................48

4.1.3 Traçado geral das ruas ...............................................................................50

4.1.4 Porte .............................................................................................................51

4.1.5 Infra-estrutura ..............................................................................................52

4.2 ASPECTOS HUMANOS ...............................................................................53

5 O COMBATE URBANO ................................................................................56

Page 16: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

5.1 Particularidades do combate urbano.............................................................57

5.2 O Estudo de Situação....................................................................................60

5.2.1 Missão ..........................................................................................................61

5.2.1.1 Doutrina do Exército Brasileiro ......................................................................61

5.2.1.2 Considerações da OTAN...............................................................................62

5.2.1.3 Doutrina dos EUA..........................................................................................63

5.2.1.4 Doutrina Britânica..........................................................................................64

5.2.1.5 Doutrina Espanhola.......................................................................................64

5.2.1.6 Conclusão parcial ..........................................................................................65

5.2.2 Inimigo..........................................................................................................65

5.2.2.1 Doutrina do Exército Brasileiro ......................................................................66

5.2.2.2 Considerações da OTAN...............................................................................66

5.2.2.3 Doutrina dos EUA..........................................................................................67

5.2.2.4 Doutrina Britânica..........................................................................................68

5.2.2.5 Doutrina Espanhola.......................................................................................68

5.2.2.6 Conclusão parcial ..........................................................................................69

5.2.3 Terreno .........................................................................................................69

5.2.3.1 Doutrina do Exército Brasileiro ......................................................................69

5.2.3.2 Considerações da OTAN...............................................................................70

5.2.3.3 Doutrina dos EUA..........................................................................................70

5.2.3.4 Doutrina Britânica..........................................................................................72

5.2.3.5 Doutrina Espanhola.......................................................................................72

5.2.3.6 Conclusão parcial ..........................................................................................73

5.2.4 Considerações Civis ...................................................................................73

5.2.4.1 Doutrina do Exército Brasileiro ......................................................................74

5.2.4.2 Considerações da OTAN...............................................................................74

5.2.4.3 Doutrina dos EUA..........................................................................................74

5.2.4.4 Doutrina Britânica..........................................................................................75

5.2.4.5 Doutrina Espanhola.......................................................................................75

5.2.4.6 Conclusão parcial ..........................................................................................76

5.3 CONCLUSÃO ...............................................................................................76

6 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO.......................78

6.1 EM RELAÇÃO À MANOBRA DA FORÇA ATACANTE .................................78

6.2 EM RELAÇÃO AO INIMIGO..........................................................................79

Page 17: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

6.3 EM RELAÇÃO AO TERRENO ......................................................................81

6.4 EM RELAÇÃO ÀS RESTRIÇÕES AO APOIO DE FOGO..............................82

6.5 EM RELAÇÃO ÀS CONSIDERAÇÕES CIVIS ..............................................83

6.6 AVALIAÇÃO DA SIGNIFICÂNCIA DOS RESULTADOS DA PESQUISA......85

7 AS LUTAS POR GROZNY ...........................................................................89

7.1 GROZNY I (1994)..........................................................................................90

7.2 GROZNY IV (1999) .......................................................................................95

8 OS COMBATES NO IRAQUE.......................................................................99

8.1 AS SAMAWAH ............................................................................................102

8.2 AN NAJAF ...................................................................................................107

8.3 BASRA ........................................................................................................113

8.4 BAGDÁ........................................................................................................117

8.5 FALLUJAH ..................................................................................................122

9 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA HISTÓRICA ....................130

9.1 FORMA DE MANOBRA ..............................................................................130

9.2 PODER DE COMBATE X TERRENO .........................................................132

9.3 PODER DE COMBATE X INIMIGO.............................................................133

9.4 PODER DE COMBATE X POPULAÇÃO ....................................................135

9.5 OUTROS FATORES INTERVENIENTES ...................................................136

10 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .....................................................139

REFERÊNCIAS.......................................................................................................144

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO INSTRUMENTO DA PESQUISA DE CAMPO..150

Page 18: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

17

1 INTRODUÇÃO

Ao longo da história das guerras da humanidade, as cidades sempre

desempenharam um relevante papel, ora como palco das batalhas, ora como motivo

pelo qual se lutava. O alvorecer do século XXI trouxe novos conflitos que reafirmam

essa perspectiva. Os combates do Afeganistão e posteriormente do Iraque foram

travados, em grande parte, em áreas urbanas daqueles países. Mais recentemente,

e mais próximo do território e realidade nacionais, verifica-se a participação do

contingente brasileiro na missão da Organização das Nações Unidas para

estabilização do Haiti, onde a maioria das ações se desenvolve em áreas urbanas.

O mundo vive atualmente uma era de crescente urbanização, fazendo com

que a realização de combates urbanos seja cada vez mais certa, embora se trate de

um preceito doutrinário de muitos exércitos, inclusive o brasileiro, que as cidades

constituem obstáculos ao avanço das tropas, devendo, sempre que possível, serem

desbordadas.

As áreas edificadas abrigarão combates pelo controle de determinadas

regiões, pela importância da localidade na manobra estratégica ou visando à

destruição do oponente. Como exemplo recente, na última guerra do Iraque, as

forças norte-americanas decidiram por conquistar as cidades de Karbala e An Najaf,

devido à profundidade da área de operações, que viria por se estender por cerca de

600 quilômetros em território iraquiano. Havia, sobretudo, imposições de caráter

logístico para que as cidades fossem conquistadas e utilizadas como suporte ao

avanço da força terrestre. (FAGAN, 2006).

Acompanhando esta tendência mundial, os exércitos de diferentes países

vêm buscando aperfeiçoar suas doutrinas e adestramento, no intuito de se

adaptarem à nova realidade das batalhas. Verificam-se neste ínterim, vários estudos

acerca de combates travados em áreas urbanas, como por exemplo, na Chechênia,

no Panamá, na Somália, no Iraque e no Haiti. No Brasil, entretanto, a doutrina de

combate em localidades é incipiente e pouco abrangente.

A presente pesquisa tencionou aprofundar o estudo do tema, enfocando sua

investigação na análise do poder de combate necessário à condução de ataque a

áreas edificadas. A problemática de sua determinação foi levantada como

fundamental no planejamento de operações de tal natureza.

Tendo como base a questão central, compreendeu-se que o objetivo desta

tese não seria reduzir a resposta a fórmulas e equações matemáticas, mas ampliar a

Page 19: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

18

possibilidade de análise e discussão, de modo a possibilitar uma melhor tomada de

decisão por ocasião das operações.

Procurou-se limitar a discussão ao emprego da tropa terrestre para conduzir

operações caracterizadas essencialmente como ataque a áreas urbanizadas. Assim,

não foi objetivo abordar de forma mais profunda as razões que levam ao combate

em localidades, nem a execução de outras operações em áreas urbanas, como as

ações de garantia da lei e da ordem e tipo polícia.

No desenvolvimento da investigação, partiu-se, inicialmente, da

caracterização do ambiente operacional urbano, a fim de verificar suas principais

influências sobre o planejamento e condução das operações militares. Esta etapa foi

considerada essencial para a exata compreensão dos aspectos inerentes ao tema

de estudo.

As peculiaridades do terreno urbano e a presença incontestável da população

civil no campo de batalha, com as conseqüências trazidas para as operações foram

evidenciadas de forma a melhor orientar os estudos das doutrinas e dos casos

históricos selecionados.

O trabalho prosseguiu por meio de uma comparação entre a doutrina adotada

pelo Exército Brasileiro e a de outros países no tocante ao combate urbano. Para tal

estudo foram selecionados países que participaram de conflitos recentes. Assim,

analisaram-se os fundamentos constantes dos manuais específicos dos Estados

Unidos da América (EUA), Inglaterra, França e Espanha, além do estudo de

preceitos estabelecidos pela ORGANIZAÇÃO DO TRATADO DO ATLÂNTICO

NORTE (OTAN).

Para comprovação das conclusões e variáveis selecionadas e estudo da

aplicabilidade de preceitos doutrinários de outros países no Exército Brasileiro foi

desenvolvido um experimento científico que contemplava uma pesquisa de campo.

Com a aplicação de uma metodologia pré-estabelecida foi possível estabelecer

correlações significativas e concluir adequadamente sobre os principais fatores que

influenciam o estudo do poder de combate necessário.

Posteriormente, foi realizada uma revisão histórica dos combates travados a

partir da segunda metade do século XX, procurando identificar primeiramente

aqueles que envolveram operações de combate em localidades. Em seguida,

procurou-se selecionar dentre essas operações aquelas que caracterizaram ações

de ataque a uma área urbanizada, destacando os aspectos doutrinários

Page 20: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

19

evidenciados e aqueles que porventura foram negligenciados, extraindo-se as

principais lições aprendidas.

Os dados obtidos com as diferentes formas de pesquisa foram comparados e

sofreram o devido tratamento estatístico naquilo que era apropriado. Após a devida

análise dos resultados obtidos, foi possível realizar inferências e chegar a

conclusões pertinentes que serão apresentadas ao término do trabalho.

O Exército Brasileiro tem mostrado especial atenção sobre o tema, realizando

simpósios e intercâmbios de especialistas, construindo pistas e cidades-escola,

editando cadernos de instrução e aprimorando seus temas de estudo nas escolas

militares. A presente pesquisa tencionou contribuir com tal esforço e não só agregar

conhecimentos advindos de um trabalho original, pois não há correspondente

anterior, como principalmente ser útil ao aperfeiçoamento do processo de

planejamento deste tipo de operações.

Page 21: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

20

2 REFERENCIAL CONCEITUAL

A presente seção tem por finalidade apresentar a problemática em estudo.

Para tanto, foram abordados: o tema selecionado, o problema formulado

(antecedentes, formulação propriamente dita e os seus alcances e limites), a

justificativa da importância da execução da pesquisa e a contribuição que a

investigação traz para a doutrina do Exército Brasileiro.

2.1 TEMA

O presente trabalho versa sobre o tema ”Operações em Áreas Urbanas”. As

operações militares dessa natureza fazem parte da história das guerras ao longo

dos tempos. Seu planejamento e execução sempre se apresentaram como um

desafio aos diferentes exércitos e o resultado da batalha pelas cidades, por vezes,

selou o destino de toda uma guerra. Um exemplo marcante foi a campanha alemã

na Rússia, durante a segunda guerra mundial. A derrota em Stalingrado representou

o fim da ofensiva nazista e o início da derrocada na frente oriental. (BEEVOR, 2002).

O mundo vive uma era de crescente urbanização. Há um movimento mundial

de migração da população rural para as cidades. Combinada com o crescimento

exponencial da população nas últimas décadas do século XX, essa migração tem

gerado extensas áreas urbanizadas que contêm os centros populacionais,

econômicos e governamentais de suas respectivas regiões. Na Europa ocidental,

por exemplo, mais de cinqüenta por cento do território é urbanizado. Hoje em dia,

quase metade da população mundial vive em cidades e, conforme estudo da Divisão

de População do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da Organização

das Nações Unidas (ONU, 2005), estima-se que esta porcentagem aproxime-se dos

setenta por cento em 2015.

Como conseqüência do crescimento dos centros populacionais e sua

localização geográfica junto a importantes rodovias que, em caso de conflito,

balizarão os eixos de progressão, há uma grande tendência na condução de

operações militares que combates sejam cada vez mais travados no interior de

cidades. Sua importância estratégica faz com que seja muito difícil evitar tais

combates, apesar dos grandes riscos e dificuldades que envolvem as batalhas

nesse ambiente operacional.

As particularidades que envolvem o combate em área urbana tanto para o

defensor como para o atacante tornam sua execução de complexidade e riscos tão

Page 22: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

21

grandes que as cidades em si são, inicialmente, consideradas como obstáculos

pelas tropas atacantes. Conforme previsto no manual de campanha C 100-5

(BRASIL, 1997), quando possível, as áreas edificadas devem ser desbordadas e

isoladas. Porém, em muitos casos isso não será possível e as cidades poderão

constituir-se em importantes acidentes capitais, podendo, inclusive, vir a representar

objetivos estratégicos (BRASIL, 1996). Nessas situações, é prescrita a utilização de

métodos aplicáveis para a redução ou neutralização das resistências, como nas

áreas fortificadas.

A atuação da força terrestre em áreas urbanas abrange um grande número

de operações e atividades que podem variar desde a ajuda humanitária até

combates de alta intensidade, passando pelas chamadas operações de estabilidade

e apoio. Segundo KRULAK1 (1997), apud ESTADOS UNIDOS (2002b), em um

cenário futuro, elementos de uma força estarão, em um momento, distribuindo

alimentos e roupas para refugiados e deslocados - provendo ajuda humanitária. A

seguir, estarão garantindo a separação de duas tribos antagônicas - conduzindo

operações de paz. Finalmente, irão travar um combate de média intensidade

altamente letal. Tudo no mesmo dia e dentro de três quadras. Isso se chamará a

“guerra das três quadras”.

No Brasil, mais recentemente, o Exército tem sido empregado de forma

sistemática em cidades, face a greves de polícias militares e intervenções federais

de repressão ao crime organizado e narcotráfico nas operações de garantia da lei e

da ordem. Tal emprego sofre as mesmas influências da urbanização que as ações

de combate convencional, aumentadas ainda pelas restrições jurídicas e pela rigidez

necessária das regras de engajamento, por ocorrerem dentro de uma situação de

normalidade.

Um outro exemplo é o que ocorre na participação brasileira na missão de paz

da Organização das Nações Unidas (ONU) para estabilização no Haiti (MINUSTAH).

Tal operação reveste-se de singular característica, pois não se enquadra

estritamente como de manutenção da paz, visto que o mandato que delimita a

atuação da tropa, regido pelo capítulo VII da Carta das Nações Unidas, permite a

condução de ações coercitivas e não apenas de legítima defesa (ORGANIZAÇÃO

DAS NAÇÕES UNIDAS, 2004). Sob tal enfoque, o contingente brasileiro envolveu-

1 KRULAK, Charles C., General Comandante U.S. Marines, "The Three Block War: Fighting In Urban Areas", discurso proferido no National Press Club, Washington, D.C., 10 October 1997.

Page 23: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

22

se em diversas situações e operações que podem ser caracterizadas como

operações de ataque em áreas urbanizadas, como por exemplo, nas localidades de

Cité Soleil e Bel Air (PEREIRA,2005).

2.1.1 Delimitação do tema

Dentro desse amplo espectro de operações que podem ser conduzidas pelo

exército em zonas urbanas, a presente pesquisa aborda estritamente o ataque a

áreas edificadas. Cabe ressaltar que tal operação pode ocorrer em um quadro de

guerra convencional, como parte de conflitos de menor intensidade ou até mesmo

em missões de paz da ONU. Não se enquadra como objeto de investigação a

participação em operações de garantia da lei e da ordem.

Conforme o manual de campanha C 7-1 – emprego da infantaria, (BRASIL,

1984), “o ataque a uma localidade é realizado em três fases: isolamento da

localidade, conquista de área de apoio em sua periferia e progressão no interior da

localidade”.

O isolamento consiste em uma etapa primordial do ataque a uma cidade e

compreende o bloqueio das vias terrestres e aquáticas de entrada e saída da área

considerada, com a finalidade de impedir a chegada de reforços e suprimentos para

os elementos isolados, bem como impedir o retraimento destes (BRASIL, 2003b).

Embora seja uma fase do ataque a uma área edificada, trata-se, via de regra, de

uma operação ofensiva de ataque normal, ainda em terreno aberto, fora do

perímetro urbano.

A segunda e a terceira fases do ataque à localidade não possuem separação

nítida e devem ocorrer de forma sucessiva, sem interrupções ou paradas excessivas

em sua execução, sendo, por tais razões, denominadas em conjunto de

investimento (BRASIL, 2003b), constituindo o ponto focal deste estudo.

Desenvolvem-se essencialmente dentro da área urbana e podem ser conduzidas por

uma força diferente daquela que realizou o isolamento.

O investimento sobre a localidade reveste-se de particularidades, a começar

pela complexidade do terreno, com suas edificações, ruas e subterrâneos, gerando

um campo de batalha multidimensional, influenciando sobremaneira o planejamento

e a condução das operações. Cada cidade é única, possui um padrão de

construções diferenciado, com crescimento e urbanização próprios, conforme seu

plano diretor ou a evolução da sociedade que nela vive.

Page 24: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

23

O inimigo a ser enfrentado também assume características singulares, pois

não envolve apenas exércitos regulares, mas pode apresentar-se como milícias,

forças irregulares, paramilitares, insurgentes, grupos criminosos ou terroristas. Sua

forma de atuação sofre influência do ambiente urbano, fazendo com que as linhas

de ação adotadas sejam diferenciadas, ocorrendo um aumento da fluidez e

predomínio de ações de pequenas frações, altamente descentralizadas,

aproveitando-se da grande compartimentação e das várias dimensões do campo de

batalha.

Um outro importante aspecto é a presença da população e sua influência

sobre as operações. Sua etnia, costumes, religião, dimensão, condições de vida e,

principalmente, atitude face aos contendores devem ser observadas e representam,

na maioria das vezes, um fator de decisão de grande relevância, podendo ter

reflexos nos meios a serem empregados, nas missões táticas atribuídas e na própria

condução das atividades.

Assim, as operações de ataque em áreas urbanas, particularmente na fase de

investimento, revestem-se de um caráter diferenciado. O presente trabalho aborda

as particularidades do planejamento deste tipo de operações, com enfoque para os

meios necessários ao cumprimento das missões, definidos no poder de combate da

força atacante.

2.2 PROBLEMA

Esta seção secundária destina-se a definir o problema, objeto da presente

pesquisa. Serão apresentados seus antecedentes, para melhor compreensão de sua

origem e magnitude, bem como serão traçados os alcances e limites da pesquisa.

2.2.1 Antecedentes

O estudo de situação do comandante tático, previsto no manual de

campanha C 101-5 (BRASIL, 2003a) prevê como deve ser conduzido o processo de

tomada de decisão para as diversas operações. Ao abordar operações de ataque,

são exemplificadas situações referentes ao ataque coordenado. São descritos os

passos de montagem de linhas de ação e a posterior análise de linhas de ação

opostas, que conduz a aperfeiçoamentos nas propostas a serem comparadas e

posteriormente submetidas à aprovação do comandante. O manual, no entanto, é

genérico (como deve ser para abranger o maior número possível de situações) e

Page 25: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

24

não tece maiores detalhes sobre o planejamento de operações de ataque em áreas

edificadas.

As condicionantes que envolvem as operações urbanas são listadas em

diversos manuais doutrinários do Exército Brasileiro. Porém, somente o manual de

campanha C 7-20 – Batalhões de Infantaria (BRASIL, 2003b) apresenta conceitos

relativos ao poder de combate necessário à condução de tais operações. No referido

manual, entretanto, são estabelecidos parâmetros de planejamento superficiais, que

têm por base a largura da zona de ação, em termos de quarteirões, atribuída a cada

peça de manobra valor subunidade ou pelotão, dedicando menor importância ao

estudo do inimigo como fator de planejamento, deixando de abordar com mais

profundidade a análise do terreno em si e desconsiderando a presença e os efeitos

da população local.

Quando do desenvolvimento de temas relativos a combates em localidades

ou operações de grandes comandos que envolvam conquista de cidades, a Escola

de Comado e Estado-Maior do Exército (ECEME) adota convenções genéricas, que

variam de um tema para o outro. Estas convenções ditam o poder de combate

necessário para conquista e manutenção de determinada área urbana, sempre

tendo como base a população da mesma. Como exemplo, o tema de FTC2 em

Operações Ofensivas aplicado em 2007 previa que para a conquista de cidades com

população de até 100.000 habitantes seria necessário 01 brigada e para cidades

maiores, 02 brigadas (ECEME, 2007). Não é feita nenhuma consideração quanto à

força inimiga presente na localidade ou outras características do terreno.

A convenção adotada pela ECEME não encontra embasamento em nenhum

manual doutrinário de Exército Brasileiro, porém alguns exércitos adotam em seus

manuais padronizações semelhantes, como por exemplo a Espanha, em seu manual

de Combate em Zonas Urbanas (ESPANHA, 2003), que também faz correlações da

força necessária com o número de habitantes da cidade.

O manual FM 3-06 – Operações Urbanas (ESTADOS UNIDOS, 2003) atesta

que “sob condições normais, áreas urbanas extensas requerem mais tropas,

simplesmente para manter o controle”.

2 Força Terrestre Componente

Page 26: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

25

Em relação ao tamanho da força necessária para um ataque, o Exército dos

EUA, em seu manual FM 3-06.11 – Operações de armas combinadas em terreno

urbano (ESTADOS UNIDOS, 2002a, p.2-32), afirma que:

Depende mais da qualidade da inteligência, do grau de surpresa e do grau de superioridade do poder de fogo do atacante do que do grau de sofisticação com que o defensor tiver preparado a área urbana. Outras considerações para a determinação do valor da força atacante são a dimensão da aceitabilidade de danos colaterais e a quantidade esperada de não-combatentes. (tradução do autor)

A mesma publicação (ESTADOS UNIDOS, 2002a) atesta que, devido à

natureza do combate, áreas urbanas requerem mais tropas devido às necessidades

operacionais, fadiga em combate, controle de civis e evacuação de baixas.

Comandantes e seus estados-maiores devem assegurar-se que suas unidades

estão dotadas do adequado poder de combate para cumprir suas missões.

Ainda sobre a necessidade de tropas para a condução dessas operações, o

mesmo manual afirma que: “a densidade de tropas para a condução de operações

em áreas urbanas pode ser de três a cinco vezes maior do que para missões

similares em terreno aberto”. (ESTADOS UNIDOS, 2002a) (tradução e grifo do

autor).

No entanto, o estudo do poder de combate por si só não é completo, pois de

nada vale se não houver um termo de comparação para saber se realmente ele será

eficaz para o cumprimento da missão recebida ou não. O melhor meio de se chegar

a tal conclusão é a confrontação do poder de combate dos dois opositores em cada

operação. Emerge daí o conceito de poder relativo de combate:

valor comparativo da capacidade combativa de duas forças oponentes levando em conta não só a comparação quantitativa e qualitativa dos seus meios físicos (elementos de manobra, de apoio, de comando), como também das condições situacionais (atitude, dispositivo, terreno, disponibilidade de informações) e dos fatores morais (valor profissional dos comandantes e valor moral das tropas envolvidas). (ECEME, 2002, p.185)

A Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) tem como

publicação escolar os Dados Médios de Planejamento (DAMEPLAN) (ECEME,

2004), que apresenta, dentre outros, vários conceitos e valores relativos à análise do

poder relativo de combate, incluindo fatores de degradação e valores básicos de

relação de quantidades de peças de manobra para diferentes tipos de operação. Tal

publicação também é adotada, com pequenas modificações, na Escola de

Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) e serve de base para os trabalhos escolares

desenvolvidos.

Page 27: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

26

O cálculo apresentado pela ECEME relaciona como itens básicos do poder de

combate de uma determinada força os elementos de manobra e de apoio de fogo.

Estabelece, ainda, como fatores multiplicadores: terreno, vegetação, visibilidade,

moral, efetivo profissional, experiência de combate, enquadramento, capacidade

logística, capacidade de comunicações, engenharia, guerra eletrônica e artilharia

antiaérea.

A ECEME apresenta na mesma publicação escolar um quadro onde

especifica a relação básica que se deve buscar entre o número de peças de

manobra para a execução de diferentes tipos de operações.

Missão Proporção (mínima)

Principal 3/1

Secundário 2/1 Ataque

Fixação 1/1

Defesa 1/3

Quadro 1 – Relação quantitativa para a execução de diferentes operações Fonte: ECEME (2004, p 3-11).

De igual forma, o Exército norte-americano também apresenta, em seu

manual FM 5-0, um quadro com o histórico de proporções mínimas de planejamento

para as diferentes operações.

Missão Posição Proporção

Amigo : Inimigo Retardamento 1 : 6

Defesa Preparada ou fortificada 1 : 3

Defesa Sumariamente organizada 1 : 2,5

Ataque Preparada ou fortificada 3 : 1

Ataque Sumariamente organizada 2,5 : 1

Contra-ataque Flanco 1 : 1

Quadro 2 – Histórico da proporção mínima de planejamento Fonte: Estados Unidos (2005, p 3-32) – tradução do autor.

Ao apresentarem tais quadros, tanto o Exército Brasileiro como o dos EUA

estabelecem apenas uma base inicial de planejamento. Os dados referem-se

somente a elementos de manobra. Para o detalhamento do estudo, os demais

componentes do poder de combate deverão ser avaliados segundo as tabelas e

fórmulas referentes ao poder relativo de combate. Observa-se, ainda, que nas

publicações de ambos os exércitos o estudo é apresentado de forma genérica, não

Page 28: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

27

apresentando qualquer afirmação que particularize a análise para operações em

áreas edificadas.

Ainda sobre a relação de poder de combate necessária, SEYMOUR3 (1991),

apud DiMARCO (2002) afirma que, “Napoleão estimava que uma força que atacava

uma cidade fortificada deveria ter uma superioridade de 4 para 1 em relação ao

defensor” (tradução do autor). DiMARCO(2002) corrobora tal estimativa ao fazer

referência à batalha de Viena em que os turcos otomanos superaram as forças do

Império Romano a uma proporção de aproximadamente 4 para 1.

A doutrina militar britânica (INGLATERRA, 2002) também prevê que um

ataque em uma área urbana requer uma grande quantidade de forças. A proporção

de forças deve ser bem superior à normalmente empregada de 3 para 1. Aponta

também que o Exército Vermelho planejou o ataque a Stalingrado com uma

proporção de 8 atacantes por defensor e que novos estudos indicam que o atacante

só terá assegurada a vantagem com uma relação superior a 10 para 1.

Os estudos apresentados indicam, portanto, que a doutrina do Exército

Brasileiro não aborda com profundidade a determinação do poder de combate

necessário para o ataque a áreas edificadas. Observa-se, ainda, que existem

contradições nas doutrinas norte-americana e britânica, apesar dos Estados Unidos

e da Inglaterra estarem constantemente envolvidos nesse tipo de operações.

Ademais, exemplos históricos apontam que a preocupação com o combate urbano e

a relação de poder de combate necessária às forças atacantes remonta de longa

data e esteve presente em importantes momentos da história militar.

2.2.2 Formulação do problema

Decorrente dos antecedentes descritos anteriormente, chegou-se à seguinte

indagação-problema, que orientou os trabalhos de investigação:

- Como determinar o poder de combate necessário para a realização de um

ataque a uma área edificada?

2.2.3 Alcance e Limites

O estudo enquadrou-se no contexto da guerra moderna, em que os exércitos,

cada vez mais, têm desenvolvido operações em áreas urbanas. Não tratou,

3 SEYMOUR, William, Great Sieges of History, Londres: Brassey’s, 1991

Page 29: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

28

entretanto, da realização de operações tipo polícia, realizadas em um quadro de

garantia da lei e da ordem, como atualmente o Exército Brasileiro tem sido

empregado nas grandes regiões metropolitanas do País.

A pesquisa abordou somente as operações que puderam ser caracterizadas

como um ataque, isto é, uma ação ofensiva com a finalidade de derrotar, destruir ou

neutralizar o inimigo (BRASIL, 1997), desencadeadas por um exército regular com o

objetivo de conquistar ou tomar o controle de determinada cidade.

Para melhor caracterização das operações, as batalhas ocorridas nos últimos

quinze anos foram utilizadas como fundamentação histórica e base para análise.

Essa delimitação encontra suporte no relatório apresentado pela Organização do

Tratado do Atlântico Norte (OTAN, 2003), o qual prevê que os conceitos e lições

extraídas das experiências de combate em áreas urbanas da segunda guerra

mundial devem ser reconsiderados, visto que as operações militares atualmente

sofrem restrições legais, sociais e morais que não existiam naquela época. De igual

forma, as evoluções tecnológicas permitiram aos comandantes novas e relevantes

potencialidades. Buscou-se, dessa maneira, uma maior aproximação com a

realidade e com as características que revestem as atuais campanhas que envolvem

áreas edificadas.

O trabalho abordou as diversas variáveis que podem influenciar na

determinação do poder de combate necessário, analisando sua participação na

realização de operações de ataque em ambiente urbano. Não constituiu, pois, objeto

de pesquisa uma análise mais aprofundada da pertinência ou da necessidade de

sua realização. Procurou-se apresentar as situações em que a doutrina brasileira

prevê que tais operações são conduzidas e, a partir daí, aprofundou-se o estudo no

tocante ao poder de combate necessário.

O estudo tomou como base os dados constantes da publicação DAMEPLAN

(ECEME, 2004) e o que os demais manuais doutrinários do Exército Brasileiro

abordam acerca do poder de combate necessário à condução das ações, não sendo

feita uma análise mais depurada da aplicabilidade de tais dados em operações

convencionais. Procurou-se, sim, estabelecer uma relação com as características

particulares do ambiente urbano, procurando verificar a adequação dos dados

existentes e possíveis propostas de aperfeiçoamento.

Page 30: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

29

2.3 JUSTIFICATIVAS

Ao longo dos últimos anos, em todos os conflitos mundiais, ocorreram

operações em áreas urbanas. Como principais exemplos podem ser citados os

combates em Beirute, Kosovo, Grozny, Panamá, Mogadício, Kabul, Basra e Bagdá.

Verifica-se, pois, que o assunto é relevante por tratar-se de um tema da atualidade e

de uma tendência para o século que se inicia. (OTAN, 2003)

O Exército Brasileiro procura acompanhar tal dinâmica de evolução dos

acontecimentos, incrementando os estudos acerca do tema e incluindo atividades

dessa natureza em seu adestramento. Como exemplo, pode-se citar a avaliação

desenvolvida pelo Centro de Avaliação de Adestramento do Exército (CAADEx).

Anualmente, subunidades integrantes da Brigada de Infantaria Pára-quedista e da

Brigada de Infantaria Leve são avaliadas por aquele centro em exercícios de ataque

a localidade, no campo de instrução de Gericinó.

No campo do ensino, a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO)

aumentou, recentemente, a carga-horária destinada ao tema em seu plano de

disciplinas comuns e incluiu em suas atividades a realização anual de um exercício

no terreno envolvendo todos os cursos, com enfoque para o emprego de armas

combinadas na conquista de uma localidade (EsAO, 2003). Não menos importante,

destaca-se a construção de uma localidade-escola no campo de instrução da

Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), destinada ao adestramento dos

cadetes em técnicas, táticas e procedimentos em áreas edificadas.

No entanto, ao se analisar a doutrina militar terrestre brasileira, não se verifica

grande número de publicações que versem sobre operações urbanas. O manual de

campanha C 100-5 - Operações (BRASIL, 1997) inclui poucos comentários a

respeito e, dentre os demais manuais da força terrestre, o único que aborda o tema

com um pouco mais de profundidade é o C 7-20 – Batalhões de Infantaria (BRASIL,

2003).

O manual específico sobre o assunto é o C 31-50: combate em zonas

fortificadas e localidades (BRASIL, 1976). Essa publicação trata muito de detalhes

táticos individuais e de pequenas frações, de como progredir ou defender uma

localidade, mas se apresenta desatualizada em vários aspectos, visto tratar-se de

um documento de mais de trinta anos. Além disso, o referido manual não aborda

detalhes de planejamento específicos para determinação do poder de combate

Page 31: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

30

necessário às operações. Tal deficiência pode gerar dúvidas para os planejadores,

que não dispõem de fontes de consulta adequadas.

Recentemente, o Comando de Operações Terrestres (COTER) publicou o

caderno de instrução CI 7-5/2 – O Pelotão de Fuzileiros no Combate em Área

Edificada (BRASIL, 2006). Tal publicação traz excelentes contribuições no tocante a

técnicas de progressão e condutas a serem adotadas pelo pelotão e suas frações na

progressão e no combate no interior da localidade, fundamentadas em experiências

recentes de diversos exércitos. No entanto, uma vez mais se verifica a preocupação

com os menores escalões e a ausência de fundamentos necessários ao

planejamento de níveis mais elevados.

Assim, percebe-se a necessidade da presente pesquisa, por que, apesar do

Exército Brasileiro dedicar relevância ao tema, em face de sua prevalência nos

combates contemporâneos, trata-se de um assunto que ainda carece de um

aprofundamento doutrinário. Tal lacuna ficou claramente descrita nas conclusões

apresentadas pelo CAADEx no relatório do I Simpósio de Combate em Área

Edificada, realizado no Rio de Janeiro em 1999.

Tendo em vista o crescente aumento dos conflitos que grassam pelo mundo em ambiente operacional urbano e uma tendência cada vez maior do emprego das Forças Armadas Brasileiras em conjunto com forças armadas de outros países, constituindo grupamentos multinacionais a serem usados em missões de paz pela Organização das Nações Unidas faz-se necessário um redimensionamento e uma reestruturação da doutrina do combate em área edificada vigente em nosso Exército. Atualmente a literatura que é encontrada sobre o assunto é extremamente pobre e encontra-se defasada em relação ao que se encontra atualmente em vigor pelos principais exércitos do mundo. É notória a necessidade de uma reestruturação doutrinária do assunto, uma vez que novas tecnologias e novas técnicas vêm surgindo. (CAADEx, 1999) (grifo do autor)

Durante a execução da presente pesquisa verificou-se ainda uma série de

atividades relacionadas a combates em localidades conduzidas pelo Exército

Brasileiro. No tocante à ECEME, o projeto interdisciplinar realizado pelo alunos do 2º

ano do Curso de Altos Estudos Militares (CAEM) conteve atividades relacionadas ao

tema. No âmbito Exército, foram realizadas duas grandes atividades, com a

finalidade de colher subsídios para a edição de um novo manual sobre o assunto:

um intercâmbio de especialistas Brasil-EUA, realizado na 12ª Brigada de Infantaria

Leve e um seminário de “Operações Militares em Ambiente Urbano”, coordenado

pela 3ª Subchefia do Estado-Maior do Exército.

Page 32: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

31

2.4 CONTRIBUIÇÕES

O presente trabalho pretende agregar conhecimentos à doutrina militar

brasileira no que diz respeito ao tema em questão. As conclusões e recomendações

apresentadas poderão servir de suporte necessário para aperfeiçoamento

doutrinário relativo às operações em ambiente urbano.

Pretende-se, ao final do estudo, estabelecer uma orientação de como se

determinar o poder de combate necessário para a realização de operações de

ataque neste ambiente operacional. Com isso, tenciona-se fornecer dados para que

os planejadores dos diversos escalões possam trabalhar na elaboração de linhas de

ação para o cumprimento de suas missões. Não há a intenção de reduzir o estudo a

números ou equações matemáticas, pois cada operação terá suas particularidades.

Visa-se, pois, possibilitar o estabelecimento de associações que sirvam de base

para a análise das demais condicionantes do planejamento militar.

O aperfeiçoamento da doutrina poderá orientar de forma mais clara o

detalhamento de objetivos de adestramento a serem alcançados durante o ano de

instrução. De igual maneira, permitir que as escolas da linha do ensino militar bélico

instruam com maior profundidade os oficiais no tocante ao planejamento de

operações em áreas edificadas, adequando os temas à realidade dos conflitos

recentes.

Isto posto, espera-se, por fim, que os resultados dessa pesquisa auxiliem os

comandantes dos diversos níveis a tomarem decisões acertadas quando se

depararem com operações dessa natureza. O cenário de uma guerra urbana é

traçado pelos principais países do mundo como muito provável em operações

futuras e o Exército Brasileiro deve estar atualizado e pronto para enfrentar suas

particularidades e desafios.

Page 33: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

32

3 REFERENCIAL METODOLÓGICO

Esta seção primária destina-se a apresentar como foi realizada a pesquisa e a

metodologia empregada para a solução do problema. Inicialmente serão

apresentados os objetivos e a hipótese. A partir daí, serão identificadas e

detalhadas as variáveis de estudo e delimitados os procedimentos metodológicos

que foram observados no trabalho.

3.1 OBJETIVOS

Os objetivos a seguir apresentados nortearam o estudo do tema. Foram

estabelecidos de forma a permitir a comprovação ou não da hipótese, com a

conseqüente solução do problema levantado. Os objetivos específicos identificaram

e detalharam as ações realizadas e as diferentes etapas da pesquisa. Sua

integração contribuiu para a consecução do objetivo geral, finalidade principal da

investigação.

3.1.1 Objetivo Geral

Identificar uma metodologia adequada para a determinação do poder de

combate necessário a ser adotado pelo Exército Brasileiro em operações de ataque

a áreas edificadas.

3.1.2 Objetivos Específicos

- Analisar o ambiente operacional urbano, suas particularidades e os efeitos

sobre as operações militares;

- Identificar as particularidades do combate urbano;

- Comparar a doutrina do Exército Brasileiro com a de outros exércitos no

tocante à determinação do poder de combate necessário em operação de ataque

em áreas edificadas;

- Analisar os casos históricos de ataque a áreas edificadas, nos últimos

quinze anos, identificando o poder de combate de cada oponente, as características

de cada área urbana, da população das cidades e das batalhas propriamente ditas;

- Identificar as principais lições aprendidas dos combates urbanos, nos

últimos quinze anos, com relação ao poder de combate necessário para condução

das operações;

Page 34: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

33

- Desenvolver uma pesquisa de campo com especialistas, por meio de um

experimento científico padronizado de modo a colher subsídios sobre o

planejamento de operações em área urbana;

- Estabelecer correlações entre os casos históricos estudados tomando por

base os parâmetros obtidos na revisão bibliográfica; e

- Identificar aperfeiçoamentos a serem propostos na doutrina do Exército

Brasileiro de planejamento de operações de ataque em ambiente urbano.

3.2 HIPÓTESES

O trabalho foi desenvolvido no intuito de verificar a validade da seguinte

hipótese de estudo:

H1 - O poder de combate necessário para a condução de um ataque em áreas

edificadas pode ser determinado pela análise das variáveis manobra, terreno,

população e inimigo.

A não verificação da hipótese de estudo apresentada conduzirá à hipótese

nula:

H0 - Não é possível determinar o poder de combate necessário para a

condução de um ataque em áreas edificadas pela análise das variáveis manobra,

terreno, população e inimigo.

3.3 VARIÁVEIS

Da análise da hipótese observa-se que as variáveis envolvidas no presente

estudo são o poder de combate necessário para a condução de um ataque e os

fatores manobra, terreno, população e inimigo. Embora não se observe relação de

causalidade entre as variáveis, pode-se entender que dependendo de como se

apresente a manobra da força atacante, o terreno da localidade, sua população e o

inimigo em cada batalha (variáveis independentes), o poder de combate necessário

para a condução de um ataque (variável dependente) poderá variar. O grau de

significância dessa influência será o objeto dessa investigação.

3.3.1 Definição operacional das variáveis

- Variável I: poder de combate necessário para a condução de um ataque.

O conceito de poder de combate e suas particularidades deve ser a base para

o estudo do tema proposto. O manual de campanha C 100-5 Operações (BRASIL,

1997, p.4-15) assim o define:

Page 35: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

34

O poder de combate é a capacidade de combate existente em determinada força, resultante da combinação dos meios físicos à disposição e do valor moral da tropa que a compõe, aliados à liderança do comandante da tropa. O poder de combate depende, em larga escala, das qualidades de chefia e da competência profissional do comandante, traduzidas na organização, adestramento, disciplina, espírito de corpo, estado do equipamento e emprego engenhoso das forças. Depende, também, das características e possibilidades dos meios que compõem essas forças.

Ao analisar esta definição, verifica-se que o poder de combate é resumido

sinteticamente em três aspectos: meios físicos disponíveis, valor moral da tropa e

liderança do comandante. Dentre esses, o valor moral da tropa e a liderança do

comandante são de difícil mensuração e são desenvolvidos de forma constante,

desde o adestramento da tropa até sua participação em combate. Em contrapartida,

os meios disponíveis são mais facilmente mensuráveis, variando a cada operação,

conforme decisão do escalão superior. Baseado nessa análise, quando se planeja

uma operação, em geral, determina-se “poder de combate” somente como a

quantidade de meios colocados à disposição de determinado comando.

O Exército dos Estados Unidos corrobora tais princípios ao estabelecer em

seu manual de operações FM 3-0, que poder de combate é o total de forças

destrutivas que uma unidade militar pode aplicar contra um adversário em

determinado momento. Devem-se combinar os elementos do poder de combate –

manobra, poder de fogo, liderança, proteção e informação – para adaptar-se

constantemente e derrotar o inimigo. Derrotar o inimigo requer aumentar as

diferenças entre as forças amigas e inimigas reduzindo o poder de combate inimigo.

Isso pode ser feito sincronizando os elementos do poder de combate das forças

amigas para criar efeitos esmagadores no momento e local decisivo. Concentração

do poder de combate assegura o sucesso e nega ao inimigo qualquer chance de

manter resistência adequada. O efeito da massa criado pela sincronização dos

elementos do poder de combate é a forma segura de limitar as baixas amigas e

acelerar o fim da campanha ou operação.(ESTADOS UNIDOS, 2001).

Em consonância, o Exército da Inglaterra (INGLATERRA,2002) prevê que o

poder de combate compreende os meios para lutar, os equipamentos, recursos e

organização que são necessários para ser empregados em combate. Pode ser

criado na paz, devendo ser ajustado e aumentado para uma operação específica

quando da ameaça de conflito e atingido e mantido enquanto o conflito durar.

Page 36: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

35

A determinação do poder de combate necessário surge então como etapa

fundamental no planejamento de uma operação. Embora o conceito de poder de

combate seja mais abrangente, verifica-se que o número de peças de manobra

apresenta-se como o fator mais tangível e mensurável do poder de combate e

tradicionalmente é usado para defini-lo em planejamentos operacionais.

Esta variável foi analisada, restringindo-se o estudo do poder de combate ao

número de peças de manobra empregadas pelas forças atacantes. Para efeito de

comparação entre exércitos e batalhas diferentes, adotou-se como indicadores o

número de brigadas e o efetivo total empregado.

Quadro 3: Operacionalização da variável I. Fonte: o autor.

- Variável II: manobra

Esta variável foi analisada observando-se os casos históricos analisados e

verificando-se qual a forma de manobra empregada para a conquista e/ ou controle

da área urbana. Procurou-se estabelecer uma comparação entre duas formas

básicas de atacar uma área urbana, por meio de um combate sistemático, casa a

casa, ou de um ataque pontual e seletivo, direcionado aos centros de gravidade da

mesma.

Quadro 4: Operacionalização da variável II. Fonte: o autor.

- Variável III: terreno

Esta variável foi analisada levando-se em conta as possibilidades de variação

da arquitetura e conformação geral das localidades a serem atacadas, conforme

aspectos levantados na revisão bibliográfica realizada. O estudo de cada caso

VARIÁVEL I DIMENSÃO INDICADOR MEDIÇÃO

Número de peças de manobra VALOR

BRIGADA PODER DE

COMBATE DA FORÇA

ATACANTE

Peças de manobra

Efetivo total de militares empregados

Verificação dos casos históricos

VARIÁVEL II DIMENSÃO INDICADOR MEDIÇÃO

MANOBRA Forma de

manobra da força atacante

Método de progressão Verificação dos casos históricos

Page 37: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

36

histórico levou em consideração a localidade como um todo, a fim de melhor

caracterização do terreno. Seus indicadores encontram forte correlação, mas foram

considerados de forma distinta para verificar se havia diferença na influência sobre a

variável dependente. O critério “população total” foi incluído nesta variável pois

assim o fazem diversas fontes e institutos geográficos para representar o tamanho

de uma cidade.

Quadro 5: Operacionalização da variável III. Fonte: o autor.

- Variável IV: inimigo

Esta variável foi analisada levando-se em conta as diversas formas e

possibilidades que o inimigo pode apresentar na defesa de uma localidade,

conforme a revisão bibliográfica realizada. Como em muitos casos a composição do

defensor apresenta uma variedade grande de forças, com a predominância de

forças irregulares, o indicador do valor do inimigo a ser adotado foi seu efetivo em

termos absolutos.

VARIÁVEL IV DIMENSÃO INDICADOR MEDIÇÃO

INIMIGO Valor Efetivo total empregado Análise dos casos históricos

Quadro 6: Operacionalização da variável IV. Fonte: o autor.

- Variável V: população

Esta variável foi analisada levando-se em conta as diversas considerações

civis que podem estar presentes em uma operação de ataque a uma localidade. Tal

variável foi considerada como mais um fator de decisão para as operações urbanas,

conforme estudo apresentado no referencial teórico.

VARIÁVEL V DIMENSÃO INDICADOR MEDIÇÃO

Efetivo Número de civis presentes POPULAÇÃO

Opinião pública

Apoio, neutralidade ou oposição à força atacante

Análise dos casos históricos

Quadro 7: Operacionalização da variável V. Fonte: o autor.

VARIÁVEL III DIMENSÃO INDICADOR MEDIÇÃO

Área em km2

TERRENO Tamanho da

cidade População total

Análise dos casos históricos

Page 38: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

37

3.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O método que proporcionou a base lógica da investigação realizada foi o

indutivo. Conforme GIL (2007), de acordo com o raciocínio indutivo, a generalização

deve ser constatada a partir da observação de casos concretos suficientemente

confirmadores dessa realidade. Assim, procurou-se fundamentar as conclusões e

inferências a partir dos exemplos históricos analisados.

Em relação ao meio técnico de investigação, utilizou-se o método

observacional, no tocante ao estudo das batalhas selecionadas, pois o pesquisador

não interfere ou toma qualquer providência para que algo ocorra, devendo valer-se

apenas da observação do que já aconteceu. Pode-se definir esta etapa da pesquisa

como ex-post-facto, pois se tratou de “uma investigação sistemática e empírica na

qual o pesquisador não tem controle direto sobre as variáveis independentes,

porque já ocorreram suas manifestações ou porque são intrinsecamente não

manipuláveis” (KERLINGER4, 1975, apud GIL, 2007).

A opção pela pesquisa ex-post-facto deveu-se à constatação de que a fim de

obter os resultados pretendidos para a presente pesquisa seria inviável a formulação

de um experimento prático, como por exemplo empregar uma brigada ou uma

divisão de exército em um exercício para conquistar uma cidade. Implicações

logísticas e absoluta impossibilidade de controlar as variáveis desejadas não

permitem a execução de tal experimento.

De igual forma, um experimento apenas não permitiria avaliar a pertinência ou

não dos dados obtidos, muito menos a sua generalização para emprego de caráter

doutrinário, visto que cada cidade é única e as variáveis podem se portar de maneira

diferente. Assim, a pesquisa pautou-se no estudo posterior a fatos desenvolvidos,

em que todas as variáveis estiveram presentes e atuaram de forma totalmente

independente, dentro de uma metodologia já aceita no meio científico, a fim de inferir

conclusões pertinentes.

A aproximação com a realidade também se fez no aspecto temporal, ao

restringir a pesquisa ao estudo de combates ocorridos nos últimos quinze anos. A

evolução da arte da guerra ao longo do tempo ocorre de maneira correspondente à

evolução da sociedade e seus valores. Assim, a comunidade internacional de hoje já

não aceita ou permite que sejam conduzidas batalhas como nos tempos passados

4 KERLINGER, F. N. Metodologia da pesquisa em ciências sociais: um tratamento conceitual. São Paulo: EPU/Edusp, 1979.

Page 39: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

38

em que os danos colaterais, apesar de enormes, não tinham relevância e os mortos

nos campos de batalha eram contados aos milhões. Uma pesquisa desta natureza

somente poderia ser válida se fosse baseada em fatos históricos recentes.

O trabalho desenvolveu-se em dois níveis de pesquisa: exploratório e

descritivo. O estudo exploratório tem como base a pesquisa bibliográfica, a fim de

melhor caracterização das variáveis a investigar, no intuito de operacionalizá-las, e

foi estruturado da seguinte maneira:

- baseou-se no que prescreve a doutrina do Exército Brasileiro e no

que vem sendo adotado pela Força Terrestre em operações dessa natureza. Foi

feito, ainda, um levantamento de como outros exércitos enfocam o tema, com ênfase

para o norte-americano, britânico, espanhol e da OTAN, por serem os que mais

recentemente estiveram envolvidos em operações em ambiente urbano; e

- o método de análise foi o comparativo, levando-se em conta o que

prescreve a nossa doutrina e a de exércitos de outros países.

Os levantamentos foram feitos junto à bibliografia disponível na biblioteca da

Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e na Escola de Aperfeiçoamento de

Oficiais, bem como em páginas eletrônicas da rede mundial de computadores

referentes ao Exército Brasileiro, onde se procurou, inicialmente, colher todos os

dados disponíveis sobre o assunto na doutrina militar brasileira. As informações

doutrinárias de outros exércitos foram obtidas por intermédios de oficiais brasileiros

que realizam ou realizaram cursos recentemente no exterior, manuais, publicações e

páginas eletrônicas destes exércitos.

Após a definição operacional das variáveis, o estudo prosseguiu com

levantamentos bibliográfico e documental, já em uma pesquisa descritiva, onde se

buscou estabelecer uma relação entre as variáveis estudadas. Nesta etapa, fez-se

um estudo acerca de casos históricos transcorridos a partir da segunda guerra

mundial, sendo buscadas informações em relatórios, revistas, artigos e páginas

eletrônicas especializadas, que diziam respeito a operações urbanas desenvolvidas

nesse período.

A partir da coleta de dados, foi feita uma análise crítica e comparativa das

diversas operações realizadas, das lições aprendidas em cada uma delas e do que

prescreve a doutrina do Exército Brasileiro e de outros exércitos. Elaborou-se, em

seguida, o texto do relatório da pesquisa, abordando as questões investigadas e as

respostas decorrentes. Em função da confirmação da hipótese, foram formuladas as

Page 40: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

39

conclusões e recomendações, com os possíveis aperfeiçoamentos sugeridos à

doutrina militar terrestre.

Destaca-se que a pesquisa apresenta como limitação a impossibilidade de se

verificar a confirmação ou não da hipótese e a pertinência dos possíveis

aperfeiçoamentos sugeridos por meio de uma experimentação direta, por razões já

descritas. Para minimizar tal deficiência, o trabalho buscou o máximo de dados

históricos que corroboram as soluções encontradas para o problema proposto e

desenvolver uma pesquisa de campo junto a oficiais do Exército Brasileiro.

3.4.1 Pesquisa de campo

Para o desenvolvimento da presente investigação foi realizada uma pesquisa

de campo junto a oficiais do Exército Brasileiro, com o intuito de verificar quais

seriam os principais tópicos a serem avaliados no estudo de situação para o

planejamento do ataque a uma localidade e sua influência na determinação do poder

de combate necessário.

3.4.1.1Seleção da amostra

Dentro do universo de oficiais do Exército Brasileiro, buscou-se selecionar

uma população que possuísse conhecimentos doutrinários suficientes para

responder aos questionamentos propostos de forma adequada. Com base nessa

premissa, decidiu-se inicialmente por selecionar apenas oficiais que já tivessem

concluído o curso de comando e estado-maior (CCEM).

O principal problema enfrentado a seguir foi que, embora tais oficiais tivessem

conhecimento doutrinário acerca do planejamento de operações ofensivas, o

assunto combate em localidades, mais precisamente ataque a áreas edificadas, não

é ministrado com profundidade na ECEME e apenas recentemente o tem sido na

EsAO.

Considerando que o conhecimento acerca do assunto seria fundamental para

seleção da amostra e que os oficiais do CCEM 2006-2007 fariam um estudo

aprofundado do tema por ocasião do projeto interdisciplinar 2007, foi decidido utilizar

uma amostra selecionada de forma intencional, não-probabilística, composta por

todos os integrantes do CCEM e CCEM / Int 2006-2007.

Tal amostra compunha-se de 128 oficiais do Exército Brasileiro, sendo 41 da

arma de infantaria, 29 de cavalaria, 21 de artilharia, 09 de engenharia, 10 de

Page 41: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

40

comunicações, 10 do quadro de material bélico e 08 do serviço de intendência.

Possuíam de 19 a 27 anos de serviço militar, sendo que, um mínimo de 17 e um

máximo de 24 anos como oficial.

Quando da realização da pesquisa os sujeitos da amostra já haviam estudado

todos os assuntos previstos para o CCEM e CCEM / Int relativos a manobras dos

diversos escalões da Força terrestre, perfazendo um total de 557 horas-aula, sendo

265 horas-aula de operações defensivas e 292 horas-aula de operações ofensivas,

conforme previsto no plano de disciplinas referente a cada curso (ECEME, 2005).

3.4.1.2Procedimentos metodológicos

A pesquisa foi desenvolvida durante a realização do projeto interdisciplinar,

previsto no currículo da ECEME para o início do segundo ano do curso de comando

e estado-maior. Para a melhor qualificação da amostra, foram ministradas instruções

preliminares aos sujeitos, envolvendo análises de casos históricos de ataque a

localidades (2 horas de palestra) e aspectos doutrinários de operações em áreas

urbanas (4horas).

Os casos históricos apresentados à amostra foram: Grozny (1995 e 1999), As

Samawah (2003), An Najaf (2003), Bagdá (2003), Fallujah (2004) e Bel Air (2005). A

instrução foi ministrada pelo autor da presente pesquisa, abordando os fatores da

decisão presentes em cada caso histórico. Detalhes da presente investigação como

seus objetivos e questões de estudo não foram apresentados aos sujeitos da

amostra, a fim de não influenciar suas percepções acerca do tema.

A instrução de aspectos doutrinários foi conduzida pela seção de doutrina da

ECEME e versou sobre tendências modernas do combate urbano, enfocando as

principais inovações incluídas nas recentes publicações do Exército dos EUA e da

OTAN. De igual forma, o autor não informou à seção de doutrina os objetivos da

pesquisa, a fim de não influenciar suas exposições.

Após as instruções, ainda como parte do projeto interdisciplinar, toda a

amostra participou do planejamento de uma operação militar, desenvolvida dentro

de um caso hipotético, elaborado pela Seção de Ofensiva da ECEME. Para tanto,

foram divididos em grupos aleatoriamente constituídos, sendo que metade do efetivo

deveria planejar o ataque à localidade de Vitória da Conquista, enquanto que a outra

metade planejaria a defesa da cidade. Foram disponibilizadas para os grupos

informações acerca da população e do inimigo, sendo disponibilizadas cartas

Page 42: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

41

topográficas, planta baixa da cidade, bem como a utilização do software Google

Earth5 para a análise pormenorizada do terreno.

Após a conclusão dos trabalhos, os grupos foram reunidos dois a dois

(atacante e defensor) e foi feita a comparação dos planejamentos (“jogo-da-guerra”),

nos moldes da análise das linhas de ação opostas prevista no estudo de situação do

comandante tático (BRASIL, 2003a). Por fim, toda a amostra foi reunida em um

auditório onde oito grupos, dois a dois, apresentaram o planejamento desenvolvido,

as modificações decorrentes da interação realizada e os ensinamentos colhidos.

Ao término do projeto interdisciplinar, foi solicitado que cada grupo

apresentasse um relatório contendo os principais ensinamentos colhidos na

realização do planejamento, atendendo às orientações da seção de operações

ofensivas da ECEME. Segundo esta, o relatório deveria conter as principais

alterações verificadas no planejamento em função do “jogo-da-guerra” realizado,

considerações relativas ao emprego de cada sistema operacional e observações no

tocante à necessidade de meios para a realização do investimento ou defesa da

localidade.

Após a entrega dos relatórios e análise do seu conteúdo, foi solicitado que

cada integrante da amostra preenchesse um questionário, instrumento da presente

pesquisa. O mesmo foi elaborado tendo como ponto de partida a revisão

bibliográfica realizada e destinou-se a colher opiniões da amostra acerca de itens

julgados importantes nas variáveis estudadas que ainda se encontram sem uma

clara definição ou desatualizados na doutrina vigente no Exército Brasileiro.

Antes da aplicação do questionário foi realizado um pré-teste, conforme

prescreve GIL (2007), a fim de assegurar a validade e a precisão do instrumento.

Para tanto foram selecionados, dentre a população a ser investigada, uma amostra

típica composta de 12 oficiais, das diversas armas, quadro e serviço, que analisaram

as perguntas, gerando aperfeiçoamentos no instrumento de pesquisa.

Por fim, após serem efetuadas as modificações decorrentes do pré-teste,

chegou-se à versão definitiva do questionário (Apêndice “A”), o qual foi aplicado

integralmente aos sujeitos da amostra em 23 de maio de 2007. Os resultados

obtidos e o tratamento dedicado aos mesmos serão abordados no capítulo 8.

5 Software desenvolvido pela empresa Google, que fornece imagens de satélite de qualquer parte do planeta, com dados geográficos que auxiliam no planejamento de operações.

Page 43: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

42

4 O AMBIENTE OPERACIONAL URBANO

As cidades vêm, ao longo dos anos, aumentando em número e tamanho,

tornando-se ambientes complexos, com inúmeros reflexos para o desenvolvimento

das operações militares. O planejamento destas passa, portanto, por uma detalhada

identificação das condicionantes presentes nos centros urbanos e sua análise como

ambiente operacional.

O ambiente urbano confronta os comandantes de um exército com uma

combinação de dificuldades raramente encontradas em qualquer outro ambiente.

Suas características diferenciadas resultam de sua intrincada topografia e da alta

densidade populacional. Centenas, milhares ou milhões de civis podem estar

próximos ou misturados com os soldados, amigos e inimigos. Este fator, e a

dimensão humana que ele representa, é potencialmente o mais importante e o mais

difícil para o comandante e seu estado-maior compreenderem e avaliarem. (EUA,

2003)

Na atualidade, as áreas urbanas são cenário de ações militares que

transcendem as operações de guerra regular. Em operações de paz, ou até mesmo

em ações humanitárias, as forças armadas podem se ver envolvidas em conflitos e,

inclusive ter que desencadear manobras de ataque a áreas edificadas. Tais

operações não são objeto da presente pesquisa, mas as conclusões advindas sobre

o ambiente operacional e seus reflexos sobre as operações militares são

perfeitamente aplicáveis às mesmas.

O combate urbano diferencia-se dos demais, principalmente pelo ambiente

operacional. Mas o terreno traz consigo outras diferenças para as operações que

influem diretamente no planejamento, que são a população que pode estar presente

no campo de batalha e o inimigo, que assume um caráter diferenciado e pode,

inclusive, misturar-se à população para combater.

O estado-maior conjunto dos EUA (EUA, 2002b) analisa as cidades como

uma tríade composta pelo terreno (representado pelo relevo e as construções), a

população (tamanho, densidade, características) e a infra-estrutura que une os dois

aspectos anteriores e provê suporte de serviços, econômico, cultural e político à

sociedade urbana.

Assim, para um melhor estudo do ambiente operacional urbano, este foi

dividido, conforme o faz a FRANÇA (2003) em aspectos físicos, que envolvem o

Page 44: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

43

terreno, suas construções e infra-estrutura e aspectos humanos, envolvendo a

população presente.

4.1 ASPECTOS FÍSICOS

As áreas urbanas revestem-se de características peculiares, que fazem delas

um ambiente operacional totalmente diferenciado. As construções, contendo

estruturas resistentes de alvenaria, de concreto armado e aço, modificadas para fins

defensivos, assemelham-se a posições defensivas fortificadas, sendo que, se

reduzidas a escombros mantêm seu valor defensivo e, ainda, dificultam o emprego

de tropas motorizadas, mecanizadas ou blindadas (BRASIL, 1997). Ressalta-se

também o caráter tridimensional do terreno, com o uso de passagens subterrâneas

(metrô, esgoto, água) e os diversos andares das construções.

O exército dos EUA (EUA, 2003) destaca, ainda, que as características

multidimensionais do terreno influenciam o desenvolvimento das operações. Os

comandantes devem se preocupar não apenas com a superfície e o espaço aéreo.

Em um ambiente urbano, eles aumentam seu escopo para incluir as áreas sobre a

superfície (interior e terraço das construções) e o espaço subterrâneo. Embora

separadas no espaço físico, cada área pode ser usada como uma via de acesso ou

corredor de mobilidade, linha de comunicações ou área de engajamento.

Quanto ao espaço aéreo, a existência de edificações de alturas variadas e a

grande densidade de torres, antenas, linhas de transmissão e outras construções

urbanas criam obstáculos para o vôo e para trajetória de muitas munições.

Na superfície, as edificações e outras estruturas normalmente canalizam o

movimento das forças ao longo delas. Ainda, os obstáculos na superfície de áreas

urbanas têm mais eficácia que aqueles posicionados em terreno aberto, uma vez

que desbordá-los freqüentemente requer uma radical mudança na rota selecionada.

Existem também áreas sobre as superfícies, que incluem os interiores e os

terraços das edificações. Tais áreas podem também ser utilizadas para observação,

vigilância, reconhecimento, progressão e posicionamento de sistemas de armas, em

especial emprego de caçadores e armas anticarro leves, permitindo uma posição de

tiro vantajosa para ataque a tropas e veículos blindados. Tal característica impõe

aos comandantes o planejamento de limpeza das edificações e medidas especiais

em sua abordagem.

Page 45: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

44

Por fim, as áreas subterrâneas, incluindo esgotos, galerias de metrôs, redes

de água, abrigos subterrâneos e outros sistemas que possam existir utilizando o

espaço abaixo da superfície. Tais espaços podem ser utilizados como vias de

acesso secundárias, ou até mesmo prioritárias para escalões menores. Permitem a

interligação segura entre pontos-fortes para o defensor e tanto este como o atacante

podem utilizá-las, a fim de obter a surpresa contra o flanco ou retaguarda do

oponente.

Por sua vez, o exército francês (FRANÇA, 2003), atesta que, de uma maneira

geral, o ambiente operacional urbano é caracterizado por:

- a existência de pontos-chave, devido ao posicionamento geográfico, importância política ou econômica; - uma fisionomia tridimensional (uma extensão na superfície, subterrânea e aérea); - a densidade das construções; - a superposição de recursos de infra-estrutura (de comunicação, energia, água, etc); - os obstáculos naturais e artificiais; - uma zona de riscos tecnológicos; - dificuldade de orientação. (tradução do autor)

Para o exército espanhol (ESPANHA, 2003), as cidades se caracterizam pela

densidade das construções, traçado urbanístico, tipo e antigüidade de suas

construções, compartimentação, diferentes tipos de bairros, modernização, serviços

públicos e população. Adota como características diferenciadoras de uma

localidade: tamanho, nível de desenvolvimento, antigüidade e estilo.

O manual de operações em ambientes especiais do exército inglês

(INGLATERRA, 2002) afirma que as áreas urbanas, em geral são caracterizadas

pela densidade das edificações e população, padrões de ruas, compartimentação,

periferias e áreas pobres, modernização e serviços de utilidade pública. As maiores

diferenças entre as áreas construídas são em tamanho, nível de desenvolvimento e

estilo.

As variações nas cidades são basicamente devido à idade das construções,

que atendem ao estilo da época em que foram criadas e às diferenças no

desenvolvimento econômico regional. Estes fatores influenciam basicamente na

quantidade de edifícios, na densidade das edificações e no material de construção

utilizado.

As áreas urbanas recebem várias classificações, seja quanto ao tamanho,

quanto à sua população, quanto ao tipo de construções, etc. Para perfeita

compreensão e estudo, tais classificações devem ser analisadas, de forma a

Page 46: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

45

verificar congruências e efeitos sobre o planejamento militar. A presente

investigação analisa as cidades segundo os seguintes critérios: características da

área construída, modelagem geral, traçado das ruas, porte e infra-estrutura.

4.1.1 Características da área construída

O Exército Brasileiro, em seu manual C 35-1 Combate em Zonas

Fortificadas e Localidades classifica e define sumariamente os tipos de terreno

urbano:

a.Regiões edificadas é (sic) qualquer agrupamento de edifícios destinados à habitação ou comércio, tal como povoações, vilas, cidades e grandes fábricas. b.Blocos de edifícios é (sic) o tipo de construção em que não existe separação entre os edifícios, tal como acontece nos distritos comerciais de grandes cidades e vilas. c.Regiões edificadas isoladas ou agrupamento de casas são as cidades e vilas onde os edifícios são preparados, embora relativamente grupados, constituídos de habitações baixas, de um ou dois pavimentos. d.Regiões de casas isoladas são as encontradas nas proximidades das cidades, constituídas de pequenos grupos e casas isoladas, localizadas em meio de amplos terrenos que circundam, como fazendas ou habitações de subúrbio. (BRASIL, 1976)

As demais publicações em vigor no Exército Brasileiro não trazem

informações relevantes acerca da classificação das localidades. Contudo, as IP 30-

10 – Informações sobre o terreno (BRASIL, 1975), revogadas em 1999, traziam

algumas classificações que merecem ser mencionadas e comparadas com as de

outros exércitos. Dessa forma, quanto à construção, as áreas urbanas dividiam-se

em: quarteirões; área de edifícios separados e semi-separados; e área de vivendas

isoladas. Quanto à finalidade apresentavam a seguinte classificação: áreas

industriais, comerciais, residenciais, de transporte e armazenamento, institucionais

governamentais, militares e abertas.

O Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, cuja tropa participou de várias

campanhas em áreas urbanas, inclusive a recente campanha no Iraque, adota como

publicação doutrinária o manual MCWP 3-35.3 – Operações militares em terreno

urbano (ESTADOS UNIDOS, 1998). A publicação divide uma área urbana em

categorias, conforme suas características, principalmente a largura das ruas e a

altura dos edifícios em: centro da cidade, área comercial, periferia principal, área

residencial, área industrial e área de arranha-céus.

Page 47: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

46

O Exército dos EUA (2002a) apresenta classificação semelhante, contudo

tece comentários também acerca de regiões de favelas, com suas construções

irregulares, com ruas sem padrões definidos e grande densidade populacional.

A presente investigação adota para análise detalhada a classificação proposta

por BASTO (2003). Tal proposta, além de bastante abrangente, aborda as

características de ruas, espaços e edificações, permitindo uma melhor interpretação

de seus reflexos sobre as operações militares. A partir dessa classificação, é

possível também a visualização das regiões com maior densidade populacional,

aspecto de relevância para o planejamento. As áreas urbanas são assim grupadas:

- Área densa e diversificada – área típica dos subúrbios e periferias

dos grandes centros brasileiros ou da parte antiga das cidades. Aí se encontram

construções de vários tipos e materiais, normalmente debruçadas sobre as ruas e

quase sempre próximas umas das outras. Cidades com este tipo de construção

apresentam um centro com edifícios geminados e ruas que não seguem um padrão

específico.

- Área de quarteirões – área que caracteriza os bairros de classes

média e alta com edifícios residenciais e centros comerciais. Por terem sido melhor

planejados apresentam ruas e avenidas que seguem um padrão, normalmente

acompanhadas por edifícios em toda sua extensão. O desenho dos quarteirões

tende a ser retangular.

- Área residencial unifamiliar – área em que há ocorrência de

edificações menores e de grande quantidade de casas, normalmente com quintais e

jardins. As ruas costumam ser mais estreitas e arborizadas.

- Área edificada comercial ou multifamiliar – é a que corresponde,

normalmente, à região dos centros econômicos e de negócios das grandes cidades.

Caracteriza-se pela alta verticalidade das construções, por vezes entremeadas por

pequenos edifícios antigos e grandes espaços abertos, como estacionamentos e

praças. Coexistem avenidas e ruas bastante largas com ruas de ligação estreita.

- Área industrial ou de transporte – área onde se localizam as

indústrias, refinarias, portos, aeroportos e estações ferroviárias. Caracteriza-se pelos

grandes espaços abertos. Os complexos mais antigos normalmente se localizam no

interior da área urbana. Os mais modernos estão localizados, em sua maioria, na

periferia das cidades.

Page 48: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

47

- Área de favela – área típica das grandes cidades brasileiras e de

vários países do chamado terceiro mundo. Tem por característica o crescimento

desordenado de construções baixas, conhecidas como barracos, de material frágil e

variado. Praticamente não possui ruas e sim passagens estreitas entre os barracos,

o que torna a região um emaranhado caótico de casa e vielas. Em algumas cidades

localiza-se em morros, em outras nas periferias.

- Área institucional governamental – conforme definiam as IP 30-10

(BRASIL, 1975) apud BASTO (2003), inclui os terrenos, as construções e os meios

relacionados com as oficinas administrativas governamentais, os hospitais, as

escolas, os colégios superiores, os asilos, os sanatórios, os mosteiros, as

instituições penais ou de investigação e estabelecimentos semelhantes, que

formam, normalmente, áreas características e geralmente extensas.

- Área militar – área que comporta complexos militares de qualquer

natureza.

- Área aberta – compreende áreas existentes nas periferias das

cidades (caracterizadas pela existência de solo nu ou de cobertura vegetal, sem a

presença de edificações) parques, áreas de recreação, praia, terrenos baldios e

cemitérios.

Tais áreas coexistem em uma mesma cidade, podendo haver predominância

de uma sobre a outra, ou a inexistência de algumas, de acordo, em especial, com o

grau de desenvolvimento da localidade. Suas características distintas serão objeto

de análise de inteligência de todos os escalões, definindo a manobra tática e

verificando o emprego de técnicas especiais.

O manual de campanha C 7-20 – Batalhões de Infantaria – aborda alguns

aspectos da localidade que devem constituir elementos essenciais de inteligência

(EEI).

Para o investimento à localidade, os EEI são estabelecidos visando obter dados sobre: 1) características da localidade e do terreno adjacente:

- as vias terrestres ou aquáticas e vias de acesso que conduzem ao interior da localidade;

- os setores de maior concentração da população; - pontos característicos e edifícios mais altos; - redes de esgotos, metrôs, adegas e outras passagens subterrâneas; - instalações de rádio e televisão; - serviços de utilidade pública, edifícios públicos e construção de valor

histórico; - áreas abertas (praças, parques, estádios etc); - áreas industriais, comerciais, residenciais etc; - terminais rodoviários, ferroviários, aeroportos e portos; e

Page 49: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

48

- outros dados julgados de interesse. (BRASIL, 2003b)

Coerentes com o escalão que conduz o estudo, também poderiam ser

incluídos outros aspectos, como a identificação do material de construção das

edificações. Significativas diferenças podem ser verificadas em relação a estruturas

de concreto armado, de tijolos ou de madeira, trazendo conseqüências por exemplo

sobre o tipo de armamento e munição a serem empregados, grau de segurança

proporcionado pelas paredes e possibilidade de criação de obstáculos com sua

destruição e redução a escombros.

4.1.2 Modelagem geral da área urbana

O Exército norte-americano (EUA, 2003) prevê que quatro principais modelos

de áreas urbanas extensas podem influenciar nas operações: satélite, rede, linear e

segmentado. Estes modelos partem do princípio que os aglomerados urbanos não

são uniformes nem isolados, estando cada vez mais interligados. Assim, busca

estabelecer uma classificação desta modelagem, a partir da qual é possível inferir

alguns efeitos sobre as operações militares.

Figura 1: Modelos de áreas urbanas extensas. Fonte: EUA, 2003.

Modelo satélite - consiste de uma localidade principal, interligada a

localidades dependentes circunvizinhas. As linhas de comunicações tendem a

convergir para a localidade principal. O terreno natural onde se insere este modelo é

Segmentado Linear

Rede Satélite

Zona central

Localidades satélites

Localidades satélites

Cidade dominante

cidades

menores

Page 50: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

49

relativamente homogêneo. As áreas mais afastadas fornecem suporte à área

principal com reforço de meios, suprimento e evacuação. Os comandantes devem

considerar os efeitos das operações nas áreas urbanas mais afastadas dentro da

localidade principal e vice-versa. Operações de inteligência, por exemplo, tendo

como alvo, inicialmente, a localidade principal de um modelo satélite pode influenciar

áreas urbanas mais afastadas e conseguir os efeitos necessários sem o dispêndio

de recursos específicos para essas áreas.

Modelo de rede - seus elementos são mais auto-suficientes e menos

dependentes um do outro, embora uma localidade dominante principal possa existir.

As linhas de comunicações principais em uma rede se estendem mais do que em um

modelo de satélite e tomam uma forma mais retangular do que convergentes. O

terreno natural pode variar mais do que numa disposição satelital. Uma operação em

uma das áreas pode ou não facilmente influenciar, ou ser influenciada, por outras

áreas urbanas dentro da rede.

Modelo linear - pode formar um raio do modelo satelital ou ser

encontrado ao longo das linhas de conexão entre duas localidades principais de uma

rede. Mais comumente, este modelo resulta de um confinamento de áreas urbanas

menores ao longo de um corredor do terreno, tais como um vale alongado ou uma

massa d’água. Em operações defensivas e ofensivas, o modelo linear facilita o

desenvolvimento de uma série de pontos fortes em profundidade, que bloqueiem ou

retardem o movimento de uma força de ataque ao longo do terreno canalizador.

Modelo segmentado - quando um terreno natural, como um rio, por

exemplo, ou uma obra de arte (tal como canal, barragem, estrada) divide uma área

urbana, cria-se um modelo segmentado. Esse modelo facilita ao comandante dividir

a área de operações pelos seus subordinados. No entanto, pode fragmentar as

operações e aumentar o seu risco, requerendo apoio mútuo entre os elementos

subordinados. Ainda, a área urbana segmentada pode facilitar que o comandante

isole ameaças em determinadas áreas e foque sua operação em locais onde se

concentram os pontos decisivos. Embora uma parte integral do todo, cada segmento

pode desenvolver características sociais, econômicas, culturais e políticas

diferentes. Esta segmentação social pode beneficiar comandantes que, diante de

recursos limitados, têm que influenciar ou controlar a população urbana. Após

cuidadosa análise da sociedade, ele pode ser capaz de focar as operações de

inteligência e seus recursos tão somente sobre o segmento da população onde se

Page 51: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

50

obtenha resultados decisivos para operação. Os comandantes podem precisar

somente isolar outros segmentos ou monitorá-los para identificar alguma mudança

de atitude, opiniões, ou ações dos civis locais.

4.1.3 Traçado geral das ruas

Figura 2: Padrões de traçado das ruas. Fonte: EUA (2002), adaptado pelo autor.

Em virtude do crescimento desordenado, ou de projetos urbanísticos diferenciados, não há um padrão de traçado das ruas, dificultando o planejamento e a manobra. Os compartimentos são menores e os campos de tiro e observação reduzidos.

As ruas formam corredores retangulares, facilitando a manobra, definição de limites, linhas de controle e orientação. Permite campos de tiro mais profundos.

As ruas demandam de uma mesma região, sem que isso ocorra em 360º. Permite marcação de itinerários convergentes, com relativo risco de fratricídio.

As ruas convergem para um ponto central. A possibilidade de itinerários convergentes aumenta o risco de fratricídio.

Ruas sucessivamente concêntricas em relação a um ponto focal, interligadas, normalmente, por radiais.

Devido à conformação acentuada do terreno, as ruas seguem sua orientação. As ruas principais geralmente acompanham a mesma linha do terreno e são interligadas por ruas secundárias.

Uma combinação dos traçados acima, sem predominância na área urbana.

Uma avenida principal irradia ruas em toda sua extensão e normalmente é ladeada por edifícios. Difere do retangular pela importância e maior dimensão da via principal.

Page 52: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

51

O traçado das ruas pode facilitar ou dificultar a manobra das forças envolvidas

em um conflito. Dificilmente toda uma cidade apresenta o mesmo padrão de

organização das ruas, tendo em vista o aumento que as áreas urbanas vêm sofrendo

ao longo dos anos. Contudo determinados bairros e regiões, que podem constituir

uma zona de ação de determinada peça de manobra, por vezes apresentam uma

configuração padronizada.

Os Estados Unidos (2002) apresentam uma classificação geral destes

padrões de ruas bastante abrangente, representada na figura 2, facilitando o estudo

do seu efeito sobre as operações militares. Entretanto este não é o único estudo que

deve ser feito das vias de circulação. O espaço para a manobra, a observação e os

campos de tiro também sofrerão influência marcante da largura das ruas e da

natureza e do porte das edificações que as cercam.

4.1.4 Porte

O porte das cidades, em geral, é analisado levando-se em consideração a

sua população total, visto que há uma forte relação entre ambos. Assim

pesquisadores, publicações doutrinárias e institutos geográficos relacionam o porte

com o número de habitantes da área urbana, adotando terminologia específica.

Neste contexto, o exército espanhol (ESPANHA, 2003) adota a seguinte

classificação para as cidades, relacionando seu tamanho com a população:

- Complexos urbanos: mais de 500.000 habitantes;

- Grandes cidades: entre 100.000 e 500.000 habitantes;

- Cidades: entre 10.000 e 100.000 habitantes;

- Povoados: menos de 10.000 habitantes; e

- Vilarejos: áreas com edificações próximas a estradas que unem as

maiores áreas urbanas.

Os EUA (2003) adotam uma classificação parecida:

- Vilas: 3.000 habitantes ou menos

- Cidades: 3.000 a 100.000 habitantes

- Grandes cidades: 100.000 a 1 milhão de habitantes

- Metrópoles: 1 milhão a 10 milhões de habitantes

- Megalópoles: mais de 10 milhões de habitantes.

Page 53: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

52

Por, sua vez, BASTO (2003) em seu estudo acerca do emprego de

helicópteros em ambiente urbano apresenta como proposta a seguinte proposta de

classificação:

- Vilas: 3.000 habitantes ou menos

- Cidades pequenas: 3.000 a 100.000 habitantes

- Cidades Médias: 100.000 a 800.000 habitantes

- Cidades grandes (ou metrópoles): 800.000 a 10 milhões de habitantes

- Megalópoles: mais de 10 milhões de habitantes

- Cidades globais: aquelas que, independente da população, têm

grande valor estratégico no contexto mundial, fruto de fenômeno da globalização.

Contudo, para fins militares tal classificação não é completa, pois cidades

com a mesma população podem ter dimensões diferentes, de acordo com seu

crescimento. A área que as mesmas ocupam é de vital importância para o planejador

militar, pois poderá ter influência direta na quantidade de tropas necessárias para

sua ocupação, qualquer que seja o caráter da operação. No presente estudo não

será feita uma nova classificação relativa ao porte em função da área construída,

mas por ocasião da análise dos casos históricos tal item será abordado para fins de

comparação e avaliação.

4.1.5 Infra-estrutura

A rede de infra-estrutura de uma área urbana também deve ser

minuciosamente estudada pelos planejadores militares, pois exerce influência

marcante sobre as operações militares. As áreas vitais devem ser identificadas e

podem converter-se em pontos-fortes de defesa ou objetivos para a força atacante.

Nesse mesmo contexto, centros administrativos, políticos, de valor cultural e

histórico assumem relevante importância.

As vias de transporte, seus portos, aeroportos, terminais, pátios, depósitos e

meios têm valor significativo para a logística tática e operacional. As vias

subterrâneas, com as galerias correspondentes aos sistemas de água e esgoto, bem

como de metrôs também se revestem de capital importância, por representarem

excelentes itinerários de deslocamento para escalões menores.

Os sistemas de energia e telefonia, suas subestações e interligações são

importantes para utilização tanto pelas forças quanto pela população que,

invariavelmente, estará presente no campo de batalha.

Page 54: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

53

Igual relevância têm os meios de comunicação. Estações de rádio e televisão,

bem como suas retransmissoras e os serviços disponíveis de jornais podem ser

utilizados para as operações psicológicas e de comunicação social, fundamentais

para uma campanha neste ambiente operacional.

4.2 ASPECTOS HUMANOS

Uma diferença primária entre o combate em áreas urbanas e outros

ambientes é o grande número e densidade de não-combatentes. A população tem

características próprias que influenciam nos planejamentos e condução dos

combates, quais sejam: etnias, religião, tendência política, grau de escolaridade,

nível sócio-econômico, idade, atividade laboral, dentre outras.

Conforme a história nos apresenta, as cidades muito dificilmente serão

totalmente evacuadas para o combate. Todos os conflitos envolvendo áreas urbanas

a partir da segunda guerra mundial ocorreram com a presença maior ou menor dos

habitantes locais.

Além das forças amigas e inimigas, a população é o único componente com

“vontade própria” do ambiente operacional urbano, capaz de rapidamente influir de

forma marcante nas operações. Os habitantes de uma cidade impõem a

necessidade de determinadas regras de engajamento, aumentam as necessidades

logísticas, confundem a identificação do inimigo (que pode combater em trajes civis)

e elevam o nível de estresse da tropa. (INGLATERRA, 2002).

Por sua vez, MARTINEZ (2007), quando caracteriza o cenário urbano

considera-o como:

Um sistema em que a importante presença da população no combate, unido à mudança de situação produzida desde a Segunda Guerra Mundial (atualmente se tende a minimizar as baixas e os danos colaterais) faz que seja precisamente a população que condicione as operações, de uma forma similar a que faz o terreno, quando se atua em campo aberto, assumindo assim um papel predominante. (tradução do autor)

Assim, o planejador militar deve compreender a população de uma área

urbana. Esta tarefa envolve vários aspectos, sendo que o manual FM 3-06 do

Exército dos EUA (2003) destaca como críticos para o sucesso operacional o

conhecimento de que grupos vivem em determinada área urbana, quais as relações

existentes entre eles e como cada grupo populacional irá responder às ações das

forças amigas e inimigas. A compreensão sócio-cultural também é essencial para

que o comandante e seu estado-maior vejam a cidade da mesma forma que seus

Page 55: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

54

habitantes. Além de aspectos demográficos, outras categorias de conhecimento

podem ser levantadas como: saúde, história, lideranças, etnia, cultura, religião,

governo e política.

Os aspectos humanos no ambiente operacional urbano são de tal maneira

importantes que alguns exércitos como o norte-americano e o inglês passaram a

incluir o item “considerações civis” como mais um fator de decisão. De igual forma, a

OTAN julga importante a análise de tal fator quando considera que “a presença de

não-combatentes na área de operações pode reduzir significativamente a liberdade

de ação das forças atacantes”. (OTAN, 2003) (tradução do autor)

O Exército Brasileiro ainda não fez essa inclusão, mas em seus manuais é

feita referência a ações relativas a não-combatentes, como no manual de operações

C 100-5, que prevê que “as medidas de controle da população civil são essenciais à

sua proteção” (BRASIL,1997). A Doutrina Delta6 destaca também a preocupação

que a presença de civis gera com danos colaterais, ao afirmar que “os objetivos

estratégicos selecionados deverão ser, prioritariamente, aqueles que tenham grande

impacto sobre o moral do inimigo e sobre sua opinião pública, procurando-se evitar

danos a sua população civil.” (BRASIL, 1996)

Da SILVA (2006), em seu estudo, apresenta uma técnica simples para o

comandante ou planejador analisar as considerações civis, fazendo as seguintes

perguntas:

- Quem são os civis que poderíamos encontrar em nosso Ambiente Operacional? - Onde, por que e quando nós poderíamos os encontrar? - Que atividades estão realizando esses civis que poderiam afetar as nossas operações? - Como nossas operações poderiam afetar as atividades dos civis?

As perguntas apresentadas conduzem o estudo para os efeitos que a

presença de não-combatentes irá proporcionar às operações militares. Efeitos

táticos implicam em regras de engajamento a serem adotadas pelas tropas, efeitos

operacionais dizem respeito a atitudes e manobras, efeitos logísticos dizem respeito

a apoio a refugiados, controle de civis e de danos e efeitos políticos, oriundos da

cobertura dos meios de comunicação e seus reflexos sobre a opinião pública.

A população civil representa, portanto, uma das mais significantes partes do

ambiente operacional urbano, visto que a maioria das ações tomadas, além de

6 BRASIL, Estado-Maior do Exército IP 100-1: bases para a modernização do exército brasileiro 1. ed. Brasília, DF, 1996

Page 56: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

55

poder gerar efeitos sobre os não-combatentes, também pode exigir um emprego de

recursos a fim de protegê-los, controlá-los ou apoiá-los.

Page 57: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

56

5 O COMBATE URBANO

Desde as épocas remotas de 500 A.C., Sun Tzu7 já afirmava: “A pior política é

atacar uma cidade fortificada”. Tal assertiva até hoje é analisada e considerada

verdadeira por estudiosos e planejadores militares. Contudo, a despeito de tão

antigo ensinamento, as guerras continuam a envolver as áreas urbanas, de forma

constante ao longo dos anos, desde a batalha de Tróia até os mais recentes

conflitos no Oriente Médio.

O controle dos núcleos políticos, industriais, comerciais, de transporte e

centros de comunicações pode ser decisivo, fazendo com que os aglomerados

urbanos se tornem centros de gravidade vitais para o curso de campanhas ou

guerras. Mesmo movimentos revolucionários ou insurgentes freqüentemente

buscam nas cidades o terreno fértil para as ações decisivas de suas campanhas de

tomada do poder.

O próprio Exército Brasileiro, apesar de prever em seus manuais que as

cidades devem, sempre que possível, serem desbordadas, apresenta em sua

Doutrina Delta (BRASIL, 1996), que os objetivos a serem atribuídos à força terrestre

no nível estratégico normalmente são, dentre outros, “pontos sensíveis de

importância política, econômica ou militar tais como cidades, indústrias bélicas,

usinas, entroncamentos rodoferroviários, portos e aeroportos, regiões de passagem

e radares”. (grifo do autor)

Assim, o manual de campanha C 7-1 - Emprego da Infantaria – (BRASIL,

1984) apresenta os seguintes motivos, que podem forçar a conquista de uma

localidade:

(1) quando a posse da localidade tornar-se necessária tendo em vista a ple-na utilização das vias de transporte que para ela convergem; (2) quando o desbordamento da localidade constituir-se em uma ameaça potencial aos flancos e/ou retaguarda da força; (3) a fim de liberar, o mais cedo possível, forças empregadas na contenção da localidade; (4) a fim de capturar um objetivo importante no interior da localidade, ou por ela dominado; (5) quando a localidade constituir-se em um importante centro político ou de grande significado histórico, pelos efeitos psicológicos negativos que poderá acarretar para o inimigo.

De forma semelhante, o Exército dos EUA (EUA, 2003) aponta as diversas

razões que têm levado exércitos a combaterem em áreas urbanas:

7 TZU, Sun. A Arte da Guerra. Tradução por James Clavell. 15. ed. Rio de Janeiro: Record, 1994.

Page 58: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

57

- para derrotar uma força militar que opta por se posicionar dentro de uma

área urbana para capitalizar as vantagens oferecidas pelo ambiente;

- a infra-estrutura da área urbana, capacidades ou outros recursos têm

valor operacional ou estratégico significativo;

- a área urbana tem importância simbólica significativa;

- a localização geográfica da área urbana domina uma região importante

ou uma faixa de aproximação necessária às operações.

Em seu estudo sobre operações urbanas conjuntas, MARTINEZ (2007),

apresenta algumas razões que podem motivar a consideração de um núcleo urbano

como objetivo militar:

- porque aí estão localizados os centros de gravidade estratégicos da operação (líderes políticos, aparato governamental, centros de poder e decisão, sistemas de comando e controle, valor simbólico, etc.); - porque são “nós” de comunicação cujo controle resulte imprescindível para a manobra; - porque pretendemos conseguir o controle efetivo do território e o inimigo resiste em cidades, empregando táticas convencionais ou assimétricas. (tradução do autor)

O combate urbano é, portanto, uma realidade presente na doutrina militar do

Exército Brasileiro e de outros países. Partindo-se desta premissa, o presente

estudo passou a identificar as particularidades do combate urbano, como forma de

aproximar a visão sobre a problemática em estudo.

5.1 PARTICULARIDADES DO COMBATE URBANO

O manual de campanha C 100-5 – Operações (BRASIL, 1997) ressalta a

dificuldade de combater nesse ambiente operacional. As áreas edificadas,

preparadas e modificadas para fins defensivos são comparadas a posições

fortificadas (grifo do autor), com muitas cobertas e abrigos e reduzidos campos de

tiro, apresentando grandes restrições ao movimento das forças atacantes,

particularmente motorizadas, blindadas ou mecanizadas. É destacada, ainda, a

possibilidade de utilização das instalações subterrâneas para facilitar o movimento

das forças e fornecer proteção contra fogos inimigos. Tal possibilidade permite ao

defensor integrar sua utilização com o lançamento de obstáculos e barricadas,

disposto em profundidade, para facilitar a continuidade da defesa em toda área.

O manual de campanha C 7-1 (BRASIL, 1984), que versa sobre o emprego

da infantaria, sintetiza os aspectos que caracterizam o combate em áreas edificadas:

Page 59: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

58

- observação e campos de tiro reduzidos, pela limitação imposta pelas

construções, seu porte e disposição em quarteirões, ruas e avenidas;

- dificuldade de coordenação e controle, pela compartimentação do terreno,

fazendo com que predominem o emprego de pequenas frações, sendo fundamental

a iniciativa e o perfeito entendimento da missão e intenção do comandante;

- dificuldade de localizar-se o inimigo, pelas características do terreno,

fazendo com que haja um predomínio do combate aproximado e, aliando-se essa

característica à dificuldade de observação e reduzidos campos de tiro, uma

dificuldade de apoio de fogo terrestre e aéreo;

- maior necessidade de segurança em todas as direções, também devido à

extrema compartimentação do terreno;

Para GERWEHR e GLENN (2000) as diferenças entre o combate no ambiente

operacional urbano e outros tipos de terreno podem ser sintetizadas no quadro

abaixo:

Características / Ambiente

Operacional Área

urbana Deserto Selva Montanha

Número de não combatentes Alto Baixo Baixo Baixo

Quantidade de infra-estrutura de valor Alta Baixa Baixa Baixa

Campo de batalha multidimensional Sim Não Algum Sim

Regas de engajamento restritivas Sim Não Não Não Alcance de observação, detecção e

engajamento Pequeno Grande Pequeno Médio

Vias de acesso Muitas Muitas Poucas Poucas

Liberdade de manobra – forças mecanizadas Pequena Grande Pequena Média

Funcionalidade das comunicações Degradada Normal Normal Degradada Requerimentos logísticos Grandes Grandes Médio Médio

Quadro 8: Diferenças entre o ambiente operacional urbano e outro tipos de terreno Fonte: GERWEHR e GLENN (2000), traduzido pelo autor.

O Exército Espanhol (ESPANHA, 2003) apresenta, de um ponto de vista mais

amplo os efeitos gerais que as zonas urbanizadas produzem no desenvolvimento de

operações: “concentração de forças; estreitamento das frentes das unidades; e

diminuição do ritmo de progressão do atacante, quando não se suponha detenção.”

(tradução do autor)

Já SCHULTZ (2007) atesta que operações em ambiente urbano podem

restringir as vantagens tecnológicas; afetam o ritmo da batalha; forçam unidades a

lutar em elementos menores e descentralizados; podem também causar dilemas

Page 60: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

59

morais difíceis devido à proximidade de grandes números de civis. Afirma também

que uma das características principais do espaço de batalha urbano é a densidade –

densidade de estruturas, densidade de combatentes, densidade de infra-estrutura,

densidade de forças adversárias, densidade de alvos.

Em sua abordagem, a publicação JP 3-06 do Joint Chief of Staff8 (ESTADOS

UNIDOS, 2002b) relaciona as seguintes características significativas das modernas

operações militares urbanas:

- cidades reduzem a vantagem de uma força tecnologicamente superior; - operações de combate que envolvem um ataque casa a casa requerem uma grande quantidade de tropas de infantaria; e - áreas urbanas geram vantagens para os defensores, insurgentes e terroristas, reduzindo as vantagens em números e equipamentos das forças atacantes. (tradução e grifo do autor)

Embora o caráter das operações urbanas tenha variado os longo dos anos,

desde ajuda humanitária até combates em larga escala, algumas características

comuns são percebidas, conforme apresentado pelo Estado-Maior Conjunto do EUA

(EUA, 2002b):

- as cidades reduzem as vantagens de uma força

tecnologicamente superior – o terreno compartimentado da área urbana reduz as

linhas de observação e a capacidade de conduzir e observar tiros, reduz a

capacidade de comando, controle e comunicações, dificulta a operação de

aeronaves e diminui a efetividade dos fogos indiretos e navais. Da mesma forma,

traz complicações logísticas e com freqüência reduz as operações ao nível das

pequenas frações. Impõe, ainda, a necessidade de minimizar baixas civis e danos

colaterais à infra-estrutura;

- as operações requerem um grande efetivo – enquanto as missões

de combate necessitam de força militar capaz de controlar uma grande área e suas

edificações, é muito comum a necessidade de pessoal também para ações

humanitárias, de socorro e proteção a civis e de reparos a danos na infra-estrutura

urbana. As necessidades operacionais de combate casa a casa, quadra a quadra,

também impõem um número elevado de soldados de infantaria;

- as operações são descentralizadas – as dificuldades impostas pelo

terreno ao comando e controle fazem com que as unidades estejam dispersas pelos

subterrâneos, andares dos edifícios, ruas e becos, forçando que as pequenas

8 Joint Chief of Staff – Chefia do Estado-Maior Conjunto

Page 61: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

60

frações combatam muitas vezes de forma isolada, com iniciativa e cientes da missão

e intenção de seus comandos superiores.

- as operações consomem mais tempo – quase todas as operações

urbanas se desenvolvem em um ritmo mais lento que as operações em terreno

convencional. O caráter multidimensional do terreno e a necessidade de limpeza das

edificações reduz significativamente a velocidade de progressão da força atacante.

- combates urbanos resultam em grande número de baixas civis e

militares;

- operações em áreas urbanas resultam em regras de engajamento

mais restritivas – a presença de não-combatentes e a necessidade de preservação

da infra-estrutura impõem que o planejamento inclua regras que busquem

salvaguardar pessoas e instalações, limitando danos colaterais;

- o terreno modifica o efeito de armas e munições – os alvos são

facilmente cobertos pelas edificações. O material destas e seu posicionamento em

relação às demais pode influenciar no uso de armamentos e munições. Escombros

podem vir a se tornar obstáculos e fogos de artilharia e armas anticarro podem ser

utilizadas para tiro direto e abertura de passagens em edificações ao invés de sua

destinação normal;

- necessidades de apoio logístico são diferentes e maiores na área

urbana – em combates urbanos o consumo de munição é mais elevado, com

grande necessidade de apoio de saúde, evacuação, recompletamentos, água e

comida. A evacuação de veículos para manutenção é dificultada, bem como o

desgaste dos equipamentos é maior; e

- áreas urbanas trazem vantagens para defensores, insurgentes e

terroristas – pois reduzem as vantagens numéricas e tecnológicas das forças

atacantes. O combate assimétrico faz também que os defensores utilizem a

população e a infra-estrutura para obter vantagens.

5.2 O ESTUDO DE SITUAÇÃO

Para o planejamento de uma operação militar, utiliza-se o método

preconizado de estudo de situação, a fim de se chegar a uma decisão. Dentro do

processo adotado pelo Exército Brasileiro (BRASIL, 2003a), durante a fase de

montagem das linhas de ação, deve-se estipular o poder de combate para o

cumprimento da missão. Conforme apresentado, não existe um método, correlação

Page 62: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

61

ou dado médio previsto na doutrina militar terrestre brasileira que oriente como

chegar a tal valor quando se planeja um ataque a uma área edificada.

O Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, em seu manual MCWP 3-35.3

(ESTADOS UNIDOS, 1998) orienta um caminho a seguir ao estabelecer que, “em

uma fase inicial, o poder de combate necessário deve ser avaliado em função do

tamanho da cidade, das forças inimigas e da missão recebida”.

Procurando ampliar as variáveis acima estabelecidas, e observando a

influência marcante da população presente na área urbana, esta investigação

propôs a análise dos fatores missão, terreno, inimigo e considerações civis que

condicionam o planejamento de uma força que tenciona realizar um ataque a uma

cidade.

5.2.1 Missão

O manual de campanha C 100-5 – Operações (BRASIL, 1997) define o

ataque como uma ação ofensiva com a finalidade de derrotar, destruir ou neutralizar

o inimigo. Quando uma força recebe a missão de atacar determinada área urbana,

poderá fazê-lo de diversas formas. A seguir será apresentado um estudo de tais

variações e seus reflexos sobre o poder de combate necessário.

5.2.1.1 Doutrina do Exército Brasileiro

O manual de campanha C 31-50 – Combate em Zonas Fortificadas e

Localidades (BRASIL, 1976, p. 7-2) prevê que:

No ataque a povoações e vilas, o objetivo do ataque é a própria localidade. No ataque a grandes cidades, os objetivos serão pontos estratégicos no seu interior, como estações ferroviárias, edifícios públicos, de administração civil e instalações militares.

Assim, observa-se que nem sempre a localidade será conquistada como um

todo, ou estabelecida como objetivo, particularmente as grandes cidades, onde a

missão a ser atribuída pode envolver apenas parte das mesmas. Essa variação de

objetivos a conquistar é retratada também no manual de campanha C 7-20 –

Batalhões de Infantaria, que faz uma correlação com o inimigo e o grau de

resistência oferecido. Dessa forma, prevê que em uma localidade fortemente

defendida o escalão de ataque deve progredir casa-a-casa, quarteirão-a-quarteirão.

Em contrapartida, quando a mesma for fracamente defendida ou houver a

necessidade de conquistar objetivos em profundidade com rapidez pode haver

variações na forma de manobra empregada. Nesse caso, pode ser empregada uma

Page 63: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

62

força com mobilidade para conquistar objetivos em profundidade, sem realização de

uma “limpeza” casa-a-casa durante a progressão. Tal ação seria desenvolvida pela

reserva, enquanto a força que conquistou o objetivo procuraria ampliar a área sob

seu controle. (BRASIL, 2003b)

Com relação ao poder de combate necessário, a quantidade de objetivos

traçados terá relação direta com a necessidade de peças de manobra para o ataque,

haja vista a necessidade de manutenção dos mesmos (BRASIL, 2003b). O valor da

força que manterá os objetivos variará em função da dimensão e importância dos

mesmos.

5.2.1.2 Considerações da OTAN

A OTAN (2003) é mais enfática quando afirma que o método tradicional de

combate, com limpeza rua-a-rua e casa-a-casa deve sofrer modificações e

operações convencionais de limpeza completa de áreas inteiras se tornaram irreais

e provavelmente desnecessárias. Atesta também que o terreno traz restrições ao

movimento, impedindo a utilização de todo o poder de combate e a manobra para

destruir forças inimigas dentro da localidade é muito difícil, facilitando a criação de

pontos-fortes, lançamento de obstáculos e realização de emboscadas pelo inimigo.

Sendo assim, deve-se evitar um combate aproximado e atacar o centro de gravidade

das forças inimigas, selecionando pontos decisivos a atacar.

Ao questionar o método de conquista de uma localidade a OTAN (2003)

estabelece uma comparação entre os chamados métodos tradicionais e os

“emergentes”, como um novo conceito de manobra para combate em áreas urbanas.

Conceitos Tradicional Emergente

Isolamento Cerco

Isolamento nodal

Ação dos fogos Destruição

Ataque preciso

Captura nodal e expansão

Captura pontual e expansão

Assalto terrestre

Frontal

Divisão e captura/isolamento

Quadro 9: Conceitos tradicionais e “emergentes” de ataque a cidades Fonte: OTAN, 2003 (traduzido pelo autor)

Page 64: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

63

O assalto terrestre pode ser feito, portanto, com a progressão frontal,

“limpando” a localidade ou com a conquista de “centros nodais”, importantes ou

vitais para o inimigo, por meio de assaltos verticais ou penetrações terrestres, com a

conseqüente expansão da área conquistada dependendo da evolução da situação.

Estes pontos importantes podem ser também regiões críticas da defesa inimiga ou

pontos fracos de seu dispositivo que podem ser explorados como base para futuras

expansões.

A divisão e captura/isolamento é um outro conceito emergente de ataque a

localidades que consiste em realizar penetrações para dividir a área urbana em

setores, de forma a isolar as forças inimigas, para concentrar a ação terrestre sobre

zonas críticas e derrotá-las por partes.

Ainda segundo a OTAN (2003), os conceitos tradicionais de

cerco/destruição/assalto frontal são empregados quando há falta de informações

sobre a localidade e/ou situação do inimigo dentro da mesma e podem resultar em

consideráveis danos à infra-estrutura, pesadas baixas e efeitos colaterais. Os

conceitos “emergentes” podem reduzir significativamente estes riscos, aumentando

as chances de sucesso e reduzindo a quantidade de forças necessárias para a

operação. (grifo do autor)

5.2.1.3 Doutrina dos EUA

O Exército dos EUA, em seu manual FM 3-06.11 (ESTADOS UNIDOS, 2002),

ressalta que o ataque pode ser realizado com a limpeza de todas as construções da

área urbanizada ou com a conquista de terrenos importantes, requerendo apenas a

limpeza ao longo do eixo de progressão. O ataque pode ser de dois tipos,

coordenado ou de oportunidade. As técnicas de como conduzir as operações são:

- buscar o contato e atacar;

- atacar por um único eixo;

- atacar por múltiplos eixos;

- isolar e atacar;

- fixar e desbordar;

- múltiplos ataques nodais. (ESTADOS UNIDOS, 2002)

Apresenta ainda que o comandante pode decidir limpar toda uma área, casa a

casa, ou apenas as partes necessárias para o sucesso da missão. Neste último caso

se:

Page 65: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

64

- um objetivo tiver que ser conquistado rapidamente; - a resistência inimiga for fraca ou fragmentada; - as construções na área tiverem largas áreas entre elas. Neste caso, poderia ser feita a limpeza das construções ao longo do eixo de aproximação do objetivo ou apenas daquelas necessárias à sua segurança. (ESTADOS UNIDOS, 2002) (tradução do autor)

Já o Corpo de Fuzileiros Navais (ESTADOS UNIDOS, 1998) apresenta que

na análise da missão a ser cumprida devem ser esclarecidas as necessidades em

relação à localidade como um todo por meio das seguintes perguntas:

Eu tenho que “limpar” todas as construções? Devo “limpar” apenas certos quarteirões? Devo controlar somente certas áreas? Qual o nível de proteção é requerido para minhas linhas de comunicação? (tradução do autor)

5.2.1.4 Doutrina Britânica

Por sua vez, o exército britânico (INGLATERRA, 2002) apresenta três formas

de ataque a uma cidade:

- uma penetração incidindo diretamente sobre o objetivo, ultrapassando

demais áreas;

- um ataque sobre um ou mais eixos, com limpeza da zona de ação;

- uma saturação da área pelo fogo ou uma série de ataques de

pequenos grupos.

As duas primeiras formas variam basicamente em relação ao grau de

resistência apresentado pelo inimigo na orla da localidade. Caso o inimigo esteja

defendendo com vigor, o exército inglês (INGLATERRA, 2002) prevê a realização de

um ataque de forma semelhante ao previsto na doutrina do Exército Brasileiro, com

conquista de uma área de apoio na periferia da localidade e um posterior

investimento com limpeza das resistências encontradas. Em contrapartida, se

houver flancos ou intervalos no dispositivo inimigo, o atacante pode conduzir uma

infiltração ou um ataque incidindo diretamente sobre os objetivos estabelecidos no

interior da localidade.

5.2.1.5 Doutrina Espanhola

A Espanha, em seu manual de combate em zonas urbanizadas (ESPANHA,

2003), prevê dois tipos de ataques em localidades: imediato ou premeditado. As

concepções são similares ao previsto no Exército Brasileiro para o ataque de

oportunidade e ataque coordenado.

Page 66: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

65

Um ataque imediato é desferido sobre um inimigo que ainda não teve tempo

ou capacidade de se organizar e a superioridade de meios deve ser tal que justifique

o risco de um planejamento rápido. Não são feitas considerações sobre o poder

relativo de combate. O ataque é realizado ao longo dos eixos e busca-se a conquista

de pontos-chave, deixando a limpeza da localidade a cargo de um segundo escalão.

Em relação ao ataque premeditado, onde são feitos planejamentos

detalhados, reconhecimentos e coordenações, o citado manual retrata uma maior

necessidade de concentração de unidades e acumulação de meios. Este ataque é

conduzido na forma de progressão e limpeza sistemática ao longo da localidade,

após seu isolamento ou cerco. (ESPANHA, 2003).

5.2.1.6 Conclusão Parcial

Da análise da doutrina do Exército Brasileiro e dos demais países estudados,

podem ser verificadas várias congruências. A mais importante é que tanto o Exército

Brasileiro, quanto todos os outros analisados, admitem que o ataque pode ser feito

de duas formas básicas: com a progressão casa a casa, quarteirão a quarteirão,

com a limpeza de toda a cidade; ou com um ataque mais direto sobre objetivos

decisivos, conforme a situação se apresente.

Estas duas variações básicas de forma de manobra para um ataque a uma

área urbana podem ter influência no poder de combate necessário, elevando-o,

como afirmam tacitamente a OTAN e o Exército Espanhol quando da realização de

um ataque sistemático, casa a casa. Apesar disso, não é estabelecido o quanto

representa essa maior necessidade.

5.2.2 Inimigo

O estudo do inimigo, em face de cada situação apresentada, deve dirigir-se para o levantamento das peculiaridades e deficiências deste inimigo que poderão influir, favorável ou desfavoravelmente, na sua eficiência de combate. (BRASIL, 1997)

Para determinação do poder de combate necessário em cada operação, o

ponto de partida é a determinação do inimigo a ser enfrentado. O estudo do

oponente compõe qualquer planejamento militar. Seu conhecimento e previsão

serão decisivos para o sucesso das operações. A partir de sua quantificação,

verifica-se a necessidade de tropas para vencê-lo.

Page 67: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

66

No ambiente urbano sua avaliação por parte do planejador é dificultada, tendo

em vista a complexidade do terreno e a freqüente presença de civis, modificando,

inclusive, a forma de combater. As características peculiares serão agora descritas,

verificando o levantamento de aspectos que poderão influenciar no

dimensionamento da força atacante.

5.2.2.1 Doutrina do Exército Brasileiro

Os parâmetros que são levados em consideração pelo Exército Brasileiro

(BRASIL, 2003a) para o estudo do inimigo são os seguintes: o dispositivo, verificado

pela forma como ele se dispõe no terreno; a composição, abrangendo a identificação

e a organização das tropas; o valor, indicado pelo poder de combate disponível; as

atividades importantes recentes e atuais; e as suas peculiaridades e deficiências.

Quanto à determinação do poder de combate do inimigo, verifica-se apenas

uma análise de tropas regulares. Não existe correlação que dimensione as forças

irregulares presentes no campo de batalha, a fim de compará-las com as nossas

forças, na determinação do poder relativo de combate.

O Exército Brasileiro não faz uma caracterização específica do inimigo a ser

enfrentado em combates urbanos em nenhum de seus manuais doutrinários. A força

oponente é referida sempre como “o defensor” (BRASIL, 2003b) e não é feita

nenhuma distinção ou referência da realização de tais operações em uma guerra

convencional ou como parte de outro tipo de operação.

5.2.2.2 Considerações da OTAN

Por sua vez, a OTAN (1998) afirma que dois grandes cenários podem ocorrer

em conflitos futuros:

1º – representa uma guerra envolvendo duas forças mecanizadas

modernas, equipadas e treinadas.

2º – representa uma força moderna enfrentando organizações que não

representam propriamente um estado nem possuem estrutura semelhante à maioria

dos exércitos.

Atesta ainda que os dois cenários são difíceis de separar na maioria das

situações. As operações podem envolver características de ambos, sendo que a

maioria dos conflitos e fontes de tensão se aproxima do segundo cenário. Nos

últimos anos tem ficado claro que forças insurgentes, utilizando-se da assimetria

Page 68: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

67

proporcionada pelos aglomerados urbanos conseguem operar mais livremente e

colocam em maior risco as operações desencadeadas por forças regulares.

5.2.2.3 Doutrina dos EUA

De forma semelhante, o Exército dos EUA (ESTADOS UNIDOS, 2002)

considera que os conflitos em áreas urbanas podem ser operações contra forças

convencionais de uma ou mais nações do terceiro mundo, operações contra

insurgentes ou ameaças assimétricas, ou intervenções militares na forma de

operações de estabilidade e apoio.

Destaca ainda que as técnicas, táticas e procedimentos do inimigo são

influenciados sobremaneira pelo ambiente operacional e que a força oponente pode

atuar sem uniformes, de forma a misturar-se junto à população civil presente,

conforme exemplos históricos das batalhas por Grozny e na recente guerra do

Iraque.

Em relação ao estudo do inimigo, o Exército dos EUA considera provável

enfrentar, nesse tipo de operações, oponentes que variam de forças militares

convencionais locais ou regionais a forças paramilitares, guerrilheiros ou

insurgentes. Para qualquer dessas ameaças o estudo de situação de inteligência

deve ser conduzido da mesma forma, sendo que quando se tratar de forças não-

convencionais o esforço de inteligência deve ser maior para se determinar seu valor,

composição e prováveis linhas de ação (ESTADOS UNIDOS, 2002a).

Em relação ao poder de combate, o manual de campanha FM 3-06.11 -

Operações de Armas Combinadas em Terreno Urbano (ESTADOS UNIDOS, 2002a)

aponta, de forma genérica, que é necessário um grande número de tropas terrestres

para atacar, limpar e manter cidades. Faz referência ainda a um estudo de

ROSENAU9, o qual indica que, apesar de não haver uma regra universal, “um

comandante deve ter a perspectiva de necessitar entre 9 a 27 atacantes por

defensor em um ambiente urbano”. (tradução e grifo do autor)

Porém, no mesmo manual de campanha são apresentadas informações

contraditórias, advindas de uma análise do U.S. Army Human Engineering

9 ROSENAU, WILLIAM G., Every Room is a New Battle: The Lessons of Modern Urban Warfare, McLean (s/d)

Page 69: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

68

Laboratory10 (1987), atestando que “um atacante não precisa necessariamente de

uma relação de poder de combate muito maior que em outro terreno. Contudo, a

relação de poder de combate tem um impacto na duração do combate”. (tradução e

grifo do autor)

5.2.2.4 Doutrina Britânica

O Exército Inglês (INGLATERRA, 2002) afirma que, no futuro, suas forças

irão travar combates nas cidades contra tropas convencionais inferiores ou forças

não-convencionais ao redor do mundo. Tropas mais fracas, ao perceberem sua

inferioridade em combater em um terreno convencional contra uma força melhor

equipada, com maior poder de fogo terrestre e aéreo, meios blindados e de

comando e controle, poderão tentar compensar suas deficiências utilizando o

combate assimétrico ou técnicas de guerrilha no interior das cidades. Assim, tropas

regulares, associadas ou não a paramilitares conduzirão enfrentamentos em área

urbana oferecendo desafios inteiramente novos às tropas regulares. Atesta ainda

que os exércitos que não estiverem preparados para este tipo de combate irão sofrer

maiores perdas e as operações irão consumir mais tempo do que previamente

estabelecido.

Estabelece ainda que, no tocante ao poder relativo de combate, em

operações de ataque a localidades a proporção de forças deve ser bem superior à

norma de planejamento tradicional de 3 para 1. Sugere ainda que novos estudos

indicam que tal relação se aproxima a 10 para 1.(INGLATERRA, 2002)

5.2.2.5 Doutrina Espanhola

O Exército Espanhol (ESPANHA, 2003) não define especificamente um

inimigo a enfrentar em um combate em localidades, porém afirma que cada vez mais

estão adquirindo maior protagonismo os conflitos originados por motivos étnicos,

religiosos, nacionalismos, diferenças de riqueza, terrorismo internacional e outros

em que se enfrentam adversários de potência desigual.

Afirma ainda que, neste tipo de conflitos, os grupos que constituem a ameaça

tratarão de evitar o enfrentamento com forças superiores de igual para igual, o que

dará lugar ao conflito assimétrico. Estes grupos tenderão a aproximar-se de cidades

10 U.S. ARMY HUMAN ENGINEERING LABORATORY, Modern Experience in City Combat, 1987. Baseado em análise de combates urbanos da segunda guerra mundial e guerras da Coréia, Vietnã e Oriente Médio.

Page 70: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

69

como meio de dissuasão, tencionando que a opinião pública impeça ou dificulte o

emprego de força contra eles, por parte de um exército regular e de armas de

grande letalidade já que causariam baixas indesejáveis perante a opinião pública e a

própria força atacante junto à população civil.

Particularmente no ataque premeditado, prevê que “a relação de forças, com

respeito ao inimigo deve ser superior em número à relação de três para um, que

requer um planejamento ofensivo normal, em campo aberto”. (ESPANHA, 2003)

(tradução e grifo do autor)

5.2.2.6 Conclusão parcial

No tocante ao estudo do inimigo que defende uma área urbana, verifica-se

que o Exército Brasileiro não faz distinções nem apresenta em sua doutrina uma

forma particular de avaliação. Contudo, os demais exércitos analisados consideram

a possibilidade de enfrentar tropas irregulares, grupos de paramilitares e até mesmo

tropas de um exército regular combatendo misturadas à população civil.

O poder relativo de combate necessário para o ataque também não é

abordado de forma particular para este ambiente operacional como base de

planejamento pelo Exército Brasileiro. Entretanto Estados Unidos, Inglaterra e

Espanha consideram esta necessidade e são congruentes em afirmar que esta

relação deva ser superior a três atacantes por defensor.

5.2.3 Terreno

O terreno urbano, por suas características, impõe modificações nos demais

fatores analisados (missão, inimigo e considerações civis), que podem resultar em

diferenças no poder de combate necessário para atacar uma localidade. As

características físicas do ambiente operacional já foram abordadas no capítulo

anterior. A presente seção irá apresentar apenas os detalhes diretamente

relacionados à problemática em questão.

5.2.3.1 Doutrina do Exército Brasileiro

Nos manuais doutrinários do Exército Brasileiro são feitas várias referências

às características particulares do terreno em ambiente urbano, contudo, o estudo

deste importante fator não é detalhado nem sistematizado. Não é feita também

qualquer menção de em que medida as condições particulares de cada cidade

podem influenciar na decisão a ser tomada pelo planejador militar.

Page 71: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

70

O manual de campanha C 7-20 – Batalhões de Infantaria – estabelece que a

frente de ataque de um batalhão em localidades fortemente defendidas deve ser de

1(um) a 4(quatro) quarteirões (BRASIL, 2003b). Contudo, o manual não define o que

é uma localidade fortemente defendida nem a largura dos quarteirões. Somente o

manual C 31-50 – Combate em áreas fortificadas e localidades (BRASIL, 1976)

apresenta a medida de 180 (cento e oitenta) metros como a frente aproximada de

um quarteirão. Conjugando os dados dos dois manuais temos que a frente

designada a um batalhão varia de 180 a 640 metros.

Verifica-se, pois, que o dado apresentado para a frente de ataque de um

batalhão (180 a 640 metros) é consideravelmente menor quando comparado com o

dado médio de planejamento previsto na publicação DAMEPLAN da ECEME (2004)

para um terreno convencional, que é de 1 a 2 km.

Em sua abordagem o manual C 31-50 (BRASIL, 1976) – detalha ainda várias

condições específicas observadas nas áreas urbanizadas, apontando diversas

restrições impostas ao uso de viaturas blindadas, armamentos e material de

comunicações. No entanto, não faz associações dessas limitações com a

necessidade de poder de combate da força atacante. Faz referência também à

importância da posse e controle das construções com pavimentos mais elevados,

seja para a realização do tiro pelo defensor, seja pela necessidade que o atacante

tem de realizar o vasculhamento a partir dos andares superiores.

5.2.3.2 Considerações da OTAN

A OTAN considera que, no futuro, suas tropas irão conduzir operações em

áreas urbanas, isto é, onde as construções, estruturas físicas, infra-estrutura e

presença de não-combatentes serão características marcantes. Este futuro é uma

tendência para o campo de batalha em 2020, representando grandes desafios para

a OTAN em um cenário de grande número de baixas e extensos efeitos colaterais.

Adiciona também os tradicionais riscos de uma operação em área urbana às

complicações decorrentes da larga extensão da área e dos subúrbios e à existência

de edifícios muito altos e subterrâneos.

5.2.3.3 Doutrina dos EUA

O Corpo de Fuzileiros Navais (ESTADOS UNIDOS,1998) define o terreno

urbano como de múltiplas vias de acesso, proporcionando ao atacante e defensor

Page 72: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

71

várias alternativas para progressão e campos de tiro. Da mesma forma que o

Exército daquele País (ESTADOS UNIDOS, 2003), inclui na análise do terreno as

construções, com seus interiores e o espaço subterrâneo.

O nível subterrâneo é considerado como muito importante, podendo ser

utilizado tanto pelo defensor como pelo atacante para atingir os flancos e retaguarda

do inimigo, facilitando emboscadas, contra-ataques e infiltrações. Segundo o manual

do Corpo de Fuzileiros Navais (ESTADOS UNIDOS,1998), “a cidade de Los Angeles

chega a ter 320 km de subterrâneos utilizáveis sob as ruas da cidade”. (tradução do

autor)

O Exército (ESTADOS UNIDOS, 2003) destaca ainda que as áreas sobre e

abaixo da superfície ampliam a complexidade do ambiente físico urbano. Ressalta

que os comandantes devem considerar as atividades que ocorrem do lado de fora

dos edifícios e dos subterrâneos (espaço externo), tanto quanto as que ocorrem

despercebidas dentro dos edifícios e no sistema subterrâneo (espaço interno). O

espaço interno aumenta os desafios de comando, controle e atividades de coleta de

inteligência e aumenta o poder de combate necessário para se conduzir operações

urbanas.

O Exército dos EUA (ESTADOS UNIDOS, 2002a), ao analisar o terreno

urbano, faz também uma categorização das cidades com base no tamanho da

população existente estabelecendo uma associação com o valor da força atacante a

ser empregada na mesma. O quadro a seguir resume essas considerações.

Área urbana População Escalão a ser empregado

Vilas Até 3.000 habitantes Batalhão e companhia

Cidades 3.000 a 100.000 habitantes Brigada

Grandes Cidades 100.000 a 1 milhão de habitantes

Metrópole 1 milhão a 10 milhões de habitantes

Megalópole Mais de 10 milhões de habitantes

Divisão e superiores

Quadro 10: Classificação das áreas urbanas e escalão a ser empregado. Fonte: ESTADOS UNIDOS (2002a) – traduzido e adaptado pelo autor. O corpo de fuzileiros navais não detalha esta classificação, mas faz apenas

uma consideração de que “no ataque a uma área construída (com população de

100.000 pessoas ou mais) a força de emprego deverá ser uma divisão.” (ESTADOS

UNIDOS,1998)

Page 73: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

72

5.2.3.4 Doutrina Britânica

O Exército Inglês (INGLATERRA, 2002) também identifica como um fator

complicador a ocorrência de três dimensões no campo de batalha urbano: o nível do

solo, o subsolo e o nível acima do solo.

O subsolo enquadra todas as vias subterrâneas que possam ser empregadas

para movimento tático ou proteção. O nível do solo representado pelas ruas e suas

limitações advindas das construções e do próprio traçado das vias.

O nível acima do solo com as partes altas e o interior dos edifícios que podem

abrigar posições de tiro e observação, bem como facilitar o movimento das tropas.

Destaca também relevante importância para o número de pavimentos de cada

construção, dado importante quando faz a identificação das áreas urbanas quanto

às suas características. (INGLATERRA, 2002)

5.2.3.5 Doutrina Espanhola

O Exército Espanhol, em seu manual de combate em zonas urbanizadas

(ESPANHA, 2003), retrata que as cidades são complexas por natureza e os

edifícios, ruas e sistemas de subterrâneos se combinam para impedir, ou ao menos

dificultar as operações militares. Atesta também que o conhecimento da área

edificada é uma grande vantagem que favorece o defensor.

O combate deve ser conduzido explorando o uso das três dimensões de uma área urbana: a rua, os subterrâneos e o nível superior dos edifícios. Este último inclui o uso da parte mais alta das construções (telhados e coberturas) para a observação, a tomada de posições de tiro e para mover-se de um edifício a outro. O sistema subterrâneo que pode ser empregado para movimento tático e proteção, inclui o sistema de esgoto, galerias de serviços de eletricidade ou meios de comunicações, rios e canais subterrâneos e em cidades que possuem metrôs. (ESPANHA, 2003) (tradução e grifo do autor)

Além destas observações, a Espanha (2003) estabelece que os objetivos a

serem designados dependerão do tipo de área urbana onde se esteja combatendo,

do bairro em que se desenvolva o combate e do grau de organização das defesas.

Apresenta também, frentes das zonas de ação de cada escalão, como dado médio

de planejamento:

- Companhia: 150 a 300 m.

- Batalhão: 400 a 600 m.

- Brigada: 2 a 4 km.

- Divisão: 4 a 6 km.

Page 74: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

73

Afirma ainda que “as frentes de ataque, como foram apresentadas

anteriormente, dependem da superfície e altura dos edifícios e da resistência

esperada.” (ESPANHA, 2003) (tradução e grifo do autor)

5.2.3.6 Conclusão parcial

O ambiente operacional urbano é extremamente complexo e seus efeitos

sobre as operações militares são diversos. As doutrinas dos países estudados

apresentam congruência quando afirmam que o campo de batalha assume novas

dimensões com a possibilidade de utilização de subterrâneos e o interior e cobertura

das edificações. Como as cidades não são iguais destaca-se que a diferença nestes

dois aspectos reside na real possibilidade de utilização dos subterrâneos e no

número médio de pavimentos das construções da área urbana.

No tocante ao poder de combate necessário, verifica-se a associação com

dois aspectos: o tamanho da cidade, considerando seu número de habitantes; e a

frente de ataque.

As frentes são apresentadas pelo Exército Brasileiro apenas nos menores

escalões (Companhia e Batalhão). O Exército Espanhol, em contrapartida,

apresenta valores até o escalão divisão. Contudo, é possível verificar uma relativa

concordância dos números no escalão batalhão, onde ambos exércitos apresentam

a frente oscilando entre 400 e 600 metros.

5.2.4 Considerações civis

Além da análise da missão, terreno e inimigo, o aspecto “considerações civis”

será estudado, buscando-se, assim, fazer face à necessidade de avaliar o impacto

de diversos fatores não-militares presentes no combate urbano.

O Exército dos EUA já realiza tal estudo, incluindo as considerações civis

como um novo fator de decisão. Com maior ou menor ênfase, esse sexto fator vêm

sendo estudado também por outros países, tais como a Inglaterra e a Espanha,

além de ser considerado pela OTAN como extremamente importante em um

combate urbano (OTAN, 2003).

Apesar do Exército Brasileiro ainda não ter feito tal inclusão, estudos são

desenvolvidos a respeito, como por exemplo de DA SILVA (2006), sobre a

pertinência da proposta, concluindo que “as considerações civis são fatores de

Page 75: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

74

decisão em todos os níveis decisórios militares, devendo ser incluídos

doutrinariamente nos níveis operacional e tático”.

5.2.4.1 Doutrina do Exército Brasileiro

Nos manuais doutrinários do Exército Brasileiro pouco é abordado sobre a

presença da população e seus efeitos sobre o combate urbano. Mas o manual de

combate em zonas fortificadas e localidades (BRASIL, 1976) entende a dificuldade

gerada pela presença da população, afirmando que “a luta nas cidades, geralmente

apresenta o problema do controle e administração da população civil”.

5.2.4.2 Considerações da OTAN

A OTAN destaca que “a atitude da população local face aos contendores

torna-se um fator importante para a decisão da batalha” (OTAN, 2003) (tradução do

autor). De igual forma, julga importante a análise das considerações civis quando

considera que a presença de não-combatentes na área de operações pode reduzir

significativamente a liberdade de ação das forças atacantes.

5.2.4.3 Doutrina dos EUA

Fruto de suas experiências em combate, os EUA incluíram como fator de

decisão em sua base de planejamento as considerações civis, que podem ter valor

exponencial na condução de operações em área urbana. Afirmam ainda que o

estudo da sociedade que habita a localidade onde se dará o combate implica em

compreensão das condições de vida, diferenças culturais, etnias, facções existentes,

crenças religiosas, partidos políticos e atitude face os beligerantes (favorável, hostil

ou neutra). A partir desse estudo, determina-se o impacto sobre as operações.

(ESTADOS UNIDOS, 2002a).

O corpo de fuzileiros navais (ESTADOS UNIDOS, 1998) destaca que uma

grande concentração de civis pode trazer sérias dificuldades para as operações

táticas em ambiente urbano, principalmente no tocante a:

- mobilidade - pela utilização das vias, em especial por refugiados e a

necessidade de controle dos mesmos;

- emprego do poder de fogo – pela necessidade de minimizar danos

colaterais e baixas civis, impondo restrições ao uso de determinado armamento e

munição;

Page 76: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

75

- segurança – pela possibilidade de atos de sabotagem e terrorismo por

civis favoráveis ao inimigo ou mesmo oponentes trajando roupas civis. Além de

apoios diversos que civis podem prestar à força adversária; e

- emprego de obstáculos – a presença e movimento de não-

combatentes influenciará no plano de barreiras, respeitando rotas de refugiados e

buscando evitar baixas civis.

5.2.4.4 Doutrina Britânica

Os conceitos correlacionados com as considerações civis, tais como

população local, fatores étnicos, religiosos, culturais, mídia, das obrigações legais e

regras de engajamento, estão presentes na doutrina britânica em igualdade de

condições com os demais fatores de decisão para os comandantes. (INGLATERRA,

1994)

A presença de civis é, portanto, um fator considerado no planejamento e

condução das operações urbanas pelas forças britânicas. Elas ressaltam ainda o

fato de alguns civis permanecerem relutantes em deixar a área e outros decidirem

fazê-lo durante as ações de combate, trazendo conseqüências em especial sobre a

mobilidade das tropas atacantes, o emprego de seu poder de fogo e a segurança.

O Exército Inglês (INGLATERRA, 1994) prevê ainda que mesmo não-

combatentes sem intenções hostis trarão conseqüência para o tamanho da força

empregada e seu avanço, podendo haver também uma quantidade de tropas

inimigas, milícias e paramilitares escondidos entre os refugiados e deslocados. O

inimigo sabe que é impossível para as forças regulares fazerem a perfeita distinção

entre civis e inimigos. Isto faz com que a situação do combate possa mudar

repentinamente, por exemplo, quando um grupo de civis torna-se uma fração inimiga

a realizar ações terroristas ou ataques às tropas regulares. Tal possibilidade gera

um grau elevado de insegurança e estresse nos militares do exército atacante.

5.2.4.5 Doutrina Espanhola

O Exército Espanhol (ESPANHA, 2003) considera que a tática será dificultada

pela presença da população civil (por vontade própria ou forçada por alguma parte).

A presença de civis limita o emprego de armas e altera tática e procedimentos a

empregar, a fim de evitar por parte do exército regular (quando se trata de uma

Page 77: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

76

guerra convencional) os danos colaterais e as baixas da população civil, que serão

aproveitadas pelos opositores como elemento de propaganda.

Da mesma forma, a presença de residentes locais e de autoridades civis pode

exigir a manutenção dos serviços públicos essenciais e restringir a liberdade de

ação militar.

Destaca ainda que,

dependendo da zona urbana, da natureza e capacidade do inimigo que a defende, da atitude da população que permaneça na mesma, dos danos colaterais que o atacante esteja disposto a assumir e das próprias capacidades deste, as fases de assalto, progressão e limpeza podem ser desenvolvidas utilizando táticas e procedimentos diversos. (ESPANHA,2003) (tradução e grifo do autor)

5.2.4.6 Conclusão parcial

A presença da população civil afeta em vários aspectos a condução do

combate urbano e, conforme apresentado pelas doutrinas dos exércitos estudados,

trará conseqüências para o planejamento e condução das operações. Seus efeitos

variam desde considerações de cunho tático como restrições à manobra terrestre e

uso de armamentos e munições a fim de reduzir danos colaterais até o emprego de

efetivos para controle de refugiados e apoio logístico.

As condicionantes irão variar de operação para operação, de cidade para

cidade. Contudo, de uma forma geral, pode-se destacar dois aspectos que poderão

influenciar diretamente no planejamento e deverão ser analisados em todas as

situações: a quantidade de civis presentes e a atitude da população em relação às

forças atacantes (favorável, contrária ou neutra).

5.3 CONCLUSÃO

Ao comparar o previsto na doutrina do Exército Brasileiro com a dos demais

países estudados se verifica uma carência por parte do Brasil, de maior

detalhamento em alguns aspectos. Tal fato deve-se principalmente ao fato de que o

único manual específico que o Exército Brasileiro possui foi editado há mais de trinta

anos, onde a realidade mundial era outra e as condicionantes dos conflitos, bem

diferentes. Em contrapartida, todos os outros exércitos estudados possuem

publicações editadas nos últimos dez anos, estando mais adaptadas e coerentes

com a situação atual do cenário mundial.

O combate urbano é uma realidade estudada por todos os exércitos do

mundo. Conforme estudo apresentado neste capítulo as particularidades do

Page 78: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

77

ambiente operacional influenciam sobremaneira o planejamento das operações. Em

maior ou menor grau, dependendo da situação, cada um dos fatores da decisão

estudados terá seu papel na determinação do poder de combate necessário para um

ataque a uma área urbana.

Pode-se comprovar também a pertinência dos fatores levantados como

variáveis e suas dimensões para estudo na presente pesquisa. A partir desse estudo

bibliográfico e das conclusões parciais apresentadas sobre cada fator analisado,

passou-se à análise dos casos históricos selecionados, com intuito de verificar e

comprovar a influência dos parâmetros estabelecidos sobre o planejamento militar.

Page 79: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

78

6 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO

A pesquisa bibliográfica realizada dentre as doutrinas dos países analisados

permitiu a identificação das variáveis de estudo. Contudo, a fim de confirmar a

aplicabilidade de tais parâmetros no Exército Brasileiro e melhor orientar a análise

dos dados da pesquisa histórica, foi conduzida uma pesquisa de campo, conforme

rotina de procedimentos descrita no referencial metodológico.

O questionário constante do Apêndice “A”, aplicado à amostra, foi dividido em

duas partes. A primeira era destinada à qualificação e identificação das experiências

dos sujeitos da amostra em relação ao tema e a segunda parte colheu suas

percepções em torno dos aspectos investigados.

As questões da segunda parte compunham 10 questões fechadas, onde cada

pergunta tinha propósitos claramente definidos e alinhados com os objetivos da

presente investigação, sendo ordenadas conforme sua finalidade. As duas primeiras

questões envolviam a manobra da força atacante. A terceira questão tratava do

inimigo a ser enfrentado. A quarta sobre o estudo do terreno. A quinta sobre

restrições aos fogos de artilharia e aéreos. As próximas quatro perguntas enfocavam

as considerações civis e a última, o poder relativo de combate.

A análise das respostas obtidas será a partir de agora descrita, com o devido

tratamento estatístico e interpretação das freqüências observadas.

6.1 EM RELAÇÃO À MANOBRA DA FORÇA ATACANTE

A primeira pergunta indagava sobre a realização de um investimento

sistemático, com progressão casa a casa e quarteirão a quarteirão. Sua finalidade

era identificar se havia a percepção por parte da amostra de que a manobra de

conquista de uma localidade poderia ser realizada de uma forma diferente de um

combate casa a casa.

Conforme descrito na revisão bibliográfica apresentada no capítulo 5 da

presente investigação, a doutrina do Exército Brasileiro já prevê esta possibilidade,

mas não aborda o assunto com profundidade. No caso dos demais países

estudados, verificou-se que outras manobras ditas “emergentes” são mais

adequadas ao cenário mundial.

Observando as respostas aos questionamentos, apenas 3,90% dos

entrevistados afirmaram que a manobra sistemática seria sempre adotada, enquanto

que 71,88% disseram que tal forma de progressão somente seria aplicável em

Page 80: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

79

determinados casos. Verifica-se, pois, que a amostra confirma os dados da pesquisa

bibliográfica, admitindo-se a necessidade de aprofundamento de estudos para maior

detalhamento doutrinário de formas de manobra diferentes do investimento

sistemático.

Tabela 1: Ocorrência de realização de um ataque sistemático.

Realização do investimento sistemático, casa a casa, quarteirão a quarteirão

Total de oficiais Freqüência

sempre 5 3,90%

na maioria das vezes 31 24,22%

apenas em determinados casos 92 71,88%

nunca 0 0%

TOTAL 128 100% Fonte: o autor.

Admitindo a possibilidade de variação da forma de manobra a ser utilizada, a

segunda pergunta indagava se haveria influência no poder relativo de combate

necessário. A esse questionamento 94,53% responderam positivamente, sendo que

56,25% concordaram totalmente com a assertiva e 24,22% concordaram

parcialmente. Tal índice de concordância justifica plenamente a necessidade de

verificação da existência de uma correlação por meio da pesquisa histórica e a

seleção da variável “MANOBRA” para estudo.

Tabela 2: Variação do poder relativo de combate em função da manobra.

O poder relativo de combate irá variar em função da manobra idealizada?

Total de oficiais Freqüência

concordo totalmente 72 56,25%

concordo parcialmente 49 38,28%

discordo parcialmente 5 3,91%

discordo totalmente 2 1,56%

TOTAL 128 100% Fonte: o autor.

6.2 EM RELAÇÃO AO INIMIGO

A seguir, os integrantes da amostra foram questionados sobre os aspectos

intervenientes na determinação do poder de combate necessário. Iniciando pelo

inimigo, foi solicitada aos entrevistados a indicação das forças adversas prevalentes

em operações urbanas. Mais da metade da amostra indicou como inimigos

prováveis forças irregulares (72,65%) e grupos de resistência locais (60,15%),

Page 81: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

80

enquanto que apenas 26,56% indicaram a possibilidade do defensor ser

representado por forças regulares combatendo de forma organizada.

Tabela 3: Inimigo a ser enfrentado em uma cidade

Inimigo a ser enfrentado em uma cidade Total de oficiais Freqüência

Forças irregulares (guerrilheiros, terroristas, etc) 93 72,65%

Grupos de resistência locais 77 60,15%

Forças regulares atuando descaracterizadas, misturadas à população 72 56,25%

Forças paramilitares organizadas 53 41,41%

Forças regulares combatendo de forma organizada 34 26,56%

Outros 2 1,56% Fonte: o autor.

Os resultados acima indicam uma perfeita correlação com o que prescrevem

as doutrinas dos exércitos estudados, à exceção do Exército Brasileiro, que,

conforme apresentado não estabelece em seus manuais e publicações uma

caracterização do inimigo a enfrentar. Assim, verifica-se mais uma necessidade de

aprimoramento na doutrina brasileira.

Por sua correlação com o inimigo, os resultados relativos ao último

questionamento também foram relacionados neste item. Assim, quando indagados

sobre a relação de poder de combate necessária, representada pela proporção de

forças necessária para o ataque, 93,74% responderam que ela deve ser maior que o

previsto para operações convencionais em terreno aberto. Destes, 69,53%

acreditam que deva ser consideravelmente maior e 24,21%, ligeiramente maior.

Tabela 4: Poder relativo de combate: localidade X terreno convencional.

Poder relativo de combate necessário para um ataque a localidade em comparação com ataque em terreno

convencional

Total de oficiais Freqüência

consideravelmente maior 89 69,53%

ligeiramente maior 31 24,51%

igual 2 1,56%

ligeiramente menor 5 3,91%

consideravelmente menor 1 0,78%

TOTAL 128 100% Fonte: o autor.

Os dados obtidos corroboram com os resultados da pesquisa bibliográfica,

que indicavam esta tendência em relação ao poder relativo de combate. O Exército

Page 82: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

81

Brasileiro, contudo, não apresenta nenhuma menção em suas publicações de forma

a particularizar a determinação do poder relativo de combate em operações em

áreas edificadas. Em virtude de tal dissonância, tal parâmetro terá seu estudo

aprofundado na análise dos casos históricos.

6.3 EM RELAÇÃO AO TERRENO

O quarto questionamento versava sobre as características do terreno que

exercem influência marcante na determinação do poder de combate necessário ao

atacante. O objetivo era identificar e hierarquizar os principais aspectos no estudo do

terreno, a fim de comparar sua ocorrência nos casos históricos, com o intuito de

alcançar possíveis generalizações na determinação do poder de combate.

As respostas de maior prevalência a esse quesito foram: tamanho da cidade

(81,25%), existência / número de pontos sensíveis (81,25%), densidade das

construções (75,78%) e existência de subterrâneos (68,75%).

Tabela 5: Características do terreno com influência sobre o poder de combate necessário

Características do terreno com influência sobre o poder de combate necessário

Total de oficiais Freqüência

Tamanho da cidade 104 81,25%

Número de pontos sensíveis na zona de ação 104 81,25%

Densidade das construções 97 75,78%

Existência e características de subterrâneos 88 68,75%

Largura das ruas 68 53,13%

Número de pavimentos das construções 58 45,31%

Tamanho dos quarteirões 47 36,72%

Existência e características de obras de arte 16 12,5%

Outros 7 5,47% Fonte: o autor

A correlação entre o tamanho da cidade e o poder de combate necessário

para atacá-la, evidenciada por grande parte dos entrevistados somente é convertida

em dados mais concretos pelo Exército dos EUA, no manual de operações de armas

combinadas em terreno urbano (ESTADOS UNIDOS, 2002a), conforme apresentado

na revisão bibliográfica. Destaca-se ainda que a referida publicação ao classificar as

cidades quanto ao tamanho, o faz relacionando este com o número de habitantes.

Já o outro fator que teve maior incidência de respostas, representado pelo

número de pontos sensíveis existentes em uma localidade, encontra

correspondência direta com a doutrina brasileira. Esta, caracterizada no manual C 7-

Page 83: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

82

20 – Batalhões de Infantaria prevê que tais pontos podem converter-se em objetivos

de limpeza e/ou segurança, devendo ser empregada uma fração em sua

manutenção (BRASIL, 2003). O maior número de pontos sensíveis representaria,

portanto, maior necessidade de poder de combate.

6.4 EM RELAÇÃO A RESTRIÇÕES AO APOIO DE FOGO

Em relação às restrições que o combate em localidade impõe ao apoio de

fogo de artilharia e aéreo, 88,27% dos entrevistados respondeu de forma positiva,

concordando sobre a influência de tal limitação no número de peças de manobra

necessário a um ataque. Destes, 53,90% concordaram totalmente e 34,37%

parcialmente.

Tabela 6: Relação restrições apoio de fogo X poder de combate.

As restrições ao apoio de fogo de Art e aéreo exercem influência no número de Peças de Manobra necessárias para o

cumprimento da missão?

Total de oficiais Freqüência

concordo totalmente 69 53,91%

concordo parcialmente 44 34,38%

discordo parcialmente 11 8,59%

discordo totalmente 4 3,12%

TOTAL 128 100 Fonte: o autor.

Tais restrições relacionam-se ao verificado na pesquisa bibliográfica

apontando para a necessidade atual de minimizar danos colaterais quando do

ataque a uma localidade.

Já a relação existente entre o número de peças de manobra e o apoio de fogo

disponível encontra correlação com o previsto no DAMEPLAN da ECEME

(ECEME,2004). Nesta publicação, o poder de combate de uma força é definido pela

fórmula a seguir: “Poder de combate = ( Σ valor relativo de combate dos Elm M X

fator visibilidade X fator terreno e vegetação) + Σ valor relativo de combate dos Elm

Ap F] X média dos fatores multiplicadores”. Assim, quando se considera que há uma

redução do apoio de fogo disponível, é possível inferir que poderá haver uma maior

necessidade de elementos de manobra a fim de manter a superioridade necessária

no poder relativo de combate.

Page 84: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

83

6.5 EM RELAÇÃO ÀS CONSIDERAÇÕES CIVIS

Passou-se, a seguir, a questionar a amostra em relação à presença de civis e

suas considerações sobre o planejamento de um ataque a uma localidade. Por ser

um fator que a doutrina brasileira ainda não incluiu de forma tácita em seus manuais

de planejamento, a amostra foi submetida a quatro perguntas, de forma progressiva.

Inicialmente, verificou-se a percepção da possibilidade da existência de não

combatentes em um combate em área urbana. Quanto a este aspecto, 41,40%

afirmaram que sempre haverá presença de civis neste tipo de operação, enquanto

que 56,25% dos entrevistados atestaram que isso ocorrerá na maioria das vezes.

Tabela 7: Presença de civis no campo de batalha em operações de ataque a localidade.

Presença de civis no campo de batalha em operações de ataque a localidade

Total de oficiais Freqüência

sempre 53 41,41%

na maioria das vezes 72 56,25%

apenas em determinados casos 3 2,34%

nunca 0 0%

TOTAL 128 100 Fonte: o autor

Quanto à necessidade de estudar as considerações civis no planejamento

das operações, 100% dos entrevistados respondeu positivamente, sendo que

89,06% concordaram totalmente e 10,93% parcialmente.

Tabela 8: Inclusão das “Considerações Civis” no estudo de situação

Necessidade de analisar “CONSIDERAÇÕES CIVIS” no estudo de situação, particularmente em operações em ambiente

urbano

Total de oficiais Freqüência

concordo totalmente 114 89,06%

concordo parcialmente 14 10,94%

discordo parcialmente 0 0%

discordo totalmente 0 0%

TOTAL 128 100 Fonte: o autor

Porém, quando questionados sobre a necessidade de incluir as

considerações civis como um sexto fator de decisão, a prevalência reduziu-se,

apesar de se manter positiva: 60,93% concordaram totalmente e 29,68%

parcialmente.

Page 85: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

84

Tabela 9: Considerações civis como sexto fator de decisão

Considerações civis como sexto fator de decisão Total de oficiais Freqüência

concordo totalmente 78 60,93%

concordo parcialmente 38 29,68%

discordo parcialmente 8 6,25%

discordo totalmente 4 3,12%

TOTAL 128 100% Fonte: o autor Dentre os aspectos relativos a considerações civis que mais se destacam e

merecem ser incluídos na análise, as maiores preponderâncias foram de: atitude da

população frente aos beligerantes (87,50%), lideranças existentes e seu grau de

influência (85,93%), costumes e tradições locais (83,59%) e quantidade de civis

presentes (82,81%).

Tabela 10: Aspectos a serem analisados nas Considerações civis

Devem ser incluídas na análise das “CONSIDERAÇÕES CIVIS” Total de oficiais Freqüência

Atitude da população frente aos beligerantes 112 87,5%

Lideranças existentes e seu grau de influência sobre a população 110 85,94%

Costumes e tradições locais 107 83,59%

Quantidade de civis presentes 106 82,81%

Opinião pública local 101 78,91%

Tendências e credos religiosos 93 72,66%

Opinião pública internacional 86 67,19%

Etnias 84 65,63%

Presença de jornalistas e correspondentes de guerra 75 58,59%

Tendências políticas 69 53,91%

Aspectos legais 59 46,09%

Outros 11 8,59% Fonte: o autor

Assim, a análise dos resultados confirma que a doutrina militar terrestre

brasileira deve aproximar-se dos demais países estudados, que já incluem este

importante fator em suas publicações doutrinárias, conforme apresentado na revisão

de literatura. Também coerente com o que prescrevem outros exércitos, as

respostas apontam que todos os fatores relacionados devem ser analisados, com

maior ou menor influência sobre as operações.

Page 86: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

85

Dentre os aspectos com maior influência, verifica-se que aqueles de mais fácil

estudo e generalização são os selecionados no referencial metodológico para

caracterizar a variável “população civil” da presente pesquisa: quantidade de civis e

atitude da população. A quantidade de civis por ser simplesmente expressa por um

valor numérico e a atitude da população, que pode ser resumida como favorável,

contrária ou neutra.

6.6 AVALIAÇÃO DA SIGNIFICÂNCIA DOS RESULTADOS DA PESQUISA

O grupo selecionado para o presente estudo possuía uma variada experiência

anterior sobre o assunto em tela. Assim, era possível que aqueles que tiveram maior

vivência no tema, portanto capazes de responder com mais propriedade aos

questionamentos apresentados, respondessem de forma significativamente diferente

dos demais.

Fez-se necessário, pois, elaborar uma rotina de instruções e atividades

preliminares com intuito de nivelar os conhecimentos da amostra selecionada.

Assim, esperou-se que todos os integrantes da amostra pudessem emitir opiniões

fundamentadas.

Os procedimentos metodológicos elaborados para a investigação foram

rigorosamente observados. Porém, o experimento científico para ser considerado

válido deve ter sua eficácia comprovada. Ao se analisar as respostas dos indivíduos

da amostra como um todo era possível que se estivesse incorrendo em grave erro

de unir indivíduos com experiências diferentes sobre o assunto, cuja opinião

estivesse sendo mascarada pela generalização dos resultados do grupo.

A fim de verificar se a metodologia empregada qualificou adequadamente os

sujeitos da amostra e comprovar assim a significância e validade dos resultados

obtidos foi empregado o teste do qui-quadrado (x2), conforme metodologia sugerida

por GIL (2007).

O teste do qui-quadrado é muito eficiente para avaliar a associação existente

entre variáveis qualitativas (dados do tipo categórico). Destina-se a verificar se a

freqüência absoluta observada de uma variável é significativamente diferente da

distribuição de freqüência absoluta esperada.

Para aplicação na pesquisa, os indivíduos pesquisados foram observados,

conforme sua experiência anterior em assuntos relativos a combate em áreas

Page 87: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

86

urbanas, de acordo com suas respostas à terceira pergunta da primeira parte do

questionário.

Tabela 11: Experiência anterior da amostra.

Experiência anterior em operações de combate em áreas

urbanas Total de oficiais

Freqüência

Projeto interdisciplinar do 2º ano da ECEME 128 100,00%

Temas da EsAO 58 45,31%

Adestramento nível Pel/ SU 46 35,94%

Livros, revistas e documentários sobre o assunto 40 31,25%

Manuais e publicações doutrinárias do Exército Brasileiro 34 26,56%

Manuais e publicações doutrinárias de outros exércitos 17 13,28%

Exercícios de simulação de combate 13 10,16%

Missões reais 6 4,69%

Adestramento nível Btl 6 4,69%

Adestramento nível Bda e superiores 3 2,34%

Cursos de aperfeiçoamento no exterior 1 0,78%

Outros 5 3,91%

Fonte: o autor.

Passou-se, a seguir, a analisar forma quantitativa as respostas para avaliar o

grau de experiência dos pesquisados. Para tanto, procurou-se grupar os indivíduos

de acordo com o número de respostas assinaladas. Dessa forma, identificaram-se

aqueles que tinham maior experiência (maior número de respostas) e aqueles cuja

experiência era pequena e, portanto, cujas respostas dependiam significativamente

das instruções preliminares e das atividades desenvolvidas no projeto

interdisciplinar.

Tabela 12: Quantidade de experiências anteriores.

Número de experiências assinaladas Total de oficiais Freqüência

1 30 23,44%

2 42 32,81%

3 18 14,06%

4 23 17,97%

5 6 4,69%

6 4 3,13%

7 2 1,56%

8 3 2,34%

Fonte: o autor

A partir dos resultados acima, dividiu-se a amostra em dois grupos:

Page 88: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

87

- grupo 1: com pouca experiência no tema – aqueles que assinalaram

até duas respostas (72 militares – 56,25%);

- grupo 2: com maior experiência no tema – aqueles que assinalaram três

respostas ou mais. (56 militares – 43,75%).

Os procedimentos elaborados para nivelamento dos conhecimentos e

qualificação da amostra seriam válidos caso não houvesse diferenças significativas

entre as respostas dos dois grupos. Isto representaria que os indivíduos com pouca

experiência teriam a mesma percepção que aqueles com maior experiência anterior,

permitindo o estudo do comportamento das freqüências como um todo e validando a

metodologia empregada.

Assim, ao avaliar a diferença das respostas dos dois grupos empregando o

teste do qui-quadrado, buscou-se a comprovação de uma das seguintes hipóteses:

H1 – Existe diferença entre as respostas assinaladas pelos grupos.

H0 – Não existem diferenças entre as respostas dos grupos, isto é, as

respostas seguem a mesma tendência, independente da experiência anterior dos

sujeitos.

Para análise, foram consideradas apenas as questões da segunda parte do

questionário que permitiam somente uma resposta dos entrevistados, quais sejam,

perguntas 1,2,5,6,7,9 e 10.

Atendendo às limitações metodológicas do teste, as respostas aos

questionamentos foram grupadas, de forma que não fossem verificadas freqüências

inferiores a 5. Assim, em função do número de grupos de respostas analisados

calculou-se o grau de liberdade de cada tabela de resultados. Adotou-se, por fim,

para a presente pesquisa, o grau de significância de 5%, para a determinação do x2

crítico.

Tabela 13: Resultado do teste do qui-quadrado.

Pergunta Grau de liberdade X2 crítico (tabelar) X2 obtido

1 1 3,84 2,57

2 2 5,99 0,93

5 2 5,99 1,48

6 1 3,84 3,12

7 1 3,84 0,48

9 2 5,99 1,45

10 2 5,99 1,78

Fonte: o autor.

Page 89: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

88

Observando-se os resultados da tabela 13, verifica-se que todos os valores

de x2 obtidos são inferiores aos x2 críticos correspondentes. Isto significa que a

hipótese nula não pode ser descartada, concluindo-se que não há associação entre

a resposta apresentada e a experiência anterior do entrevistado.

Portanto, pode-se inferir que os resultados apresentados pela amostra são

significativos, permitindo sua generalização. Comprova-se também que a

metodologia empregada possibilitou o adequado nivelamento de conhecimentos da

amostra e sua apropriada qualificação para a investigação científica.

Page 90: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

89

7 AS LUTAS POR GROZNY

A República da Chechênia, cuja capital é Grozny, localiza-se no Cáucaso,

próximo ao Mar Cáspio e ocupa um importante território, como rota de comércio,

entre a Rússia e o Oriente Médio, abrigando ainda importantes gasodutos e

oleodutos. Ao longo da história, a região foi palco de episódios sangrentos,

envolvendo russos e chechenos, o que gerou um forte antagonismo e desejo

separatista.

A proclamação de sua independência foi realizada pelo Presidente checheno

Jokar Duadyev, de forma inesperada, em 1991, quando da decadência do regime

soviético. Segundo THOMAS (1999), seguiu-se um conturbado período, com várias

tentativas de golpe de estado.

Um movimento oposicionista, iniciado em 1993, secretamente patrocinado

pela Rússia, culminou com um ataque armado em novembro de 1994. As forças de

Dudayev repeliram a rebelião e o presidente desmascarou publicamente o apoio

russo, constrangendo aquele país e fazendo com que Boris Yeltsin, então presidente

da Rússia, ordenasse o avanço de tropas sobre a Chechênia.

Assim iniciou a invasão russa, que, conforme BASTO (2003), tinha três

grandes motivos: “derrubar o presidente Dudayev, esmagar as pretensões

chechenas de independência e restaurar o controle político e econômico da

Federação Russa sobre a região”.

Durante as guerras da Chechênia foram travadas quatro batalhas por Grozny.

A primeira, com a invasão russa em dezembro de 1994. A segunda (março de

1996), com a tentativa chechena de retomar a capital e a terceira (agosto de 1996),

em que a capital efetivamente retornou ao controle checheno, encerrando a primeira

guerra da Chechênia. A quarta batalha realizou-se em 1999, na segunda campanha

russa, tendo como conseqüência a quase completa destruição da cidade.

Grozny era uma cidade esparsa, construída às margens do Rio Sunthza, em

uma área de aproximadamente 150 quilômetros quadrados, dotada de um setor

industrial e um misto de casas com edifícios de 10 a 16 andares em seu centro.

Possuía grandes avenidas, quarteirões bem ordenados e extensos subúrbios e, em

dezembro de 1994, sua população era de cerca de 490.000 habitantes (THOMAS,

2002).

Para a presente pesquisa foram estudadas a primeira e a quarta batalha por

Grozny, por tratarem de operações desencadeadas pelo exército regular russo.

Page 91: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

90

7.1 GROZNY I (1994)

A primeira batalha por Grozny, iniciada no fim de 1994, durou até março de

1995 e fez parte da primeira Guerra da Chechênia. Segundo FAURBY e

MAGNUSSON (1999), o plano de campanha russo envolvia quatro fases:

1ª fase – Tropas de fronteira deveriam cercar a Chechênia enquanto a

Força Aérea garantiria o controle do espaço aéreo sobre o País. Por terra, três

grupos de exército e tropas do Ministério do Interior avançariam de noroeste, oeste e

leste em direção a Grozny e cercariam a cidade, deixando aberta uma saída a sul

para que as forças chechenas pudessem deixar a localidade. Grozny não deveria

ser atacada.

2ª fase – Controlar Grozny por meio da ocupação do palácio

presidencial, outros prédios públicos, estações de rádio e televisão e outros

objetivos importantes.

3ª fase – Realizar a “limpeza” das planícies, levando as tropas de

Dudayev para as montanhas do sul do País. Enquanto isso, estabelecer um governo

pró-russo nas áreas liberadas.

4ª fase – Eliminação dos bolsões de resistência nas montanhas do sul.

A expectativa russa era de uma campanha rápida, em especial nas três

primeiras fases, com uma duração que não excederia três semanas, conforme

estudos de THOMAS (2002).

O oponente, porém não tornaria a tarefa russa fácil. Segundo FAURBY e

MAGNUSSON (1999), o planejamento checheno era evitar o combate com as forças

russas em terreno aberto e retardar seu avanço por meio de emboscadas em

florestas e áreas restritivas, de modo a ganhar tempo para a adequada preparação

da defesa de Grozny, onde seria travada a batalha decisiva.

Após desencadear ataques aéreos sobre a Chechênia, a partir de 01 de

dezembro de 1994, os russos iniciaram a invasão em 11 de dezembro. Os

chechenos tiveram sucesso no retardamento idealizado e a primeira fase que era

planejada para ser executada em não mais que três dias, durou três semanas.

(JENKINSON, 2002).

A invasão militar e a indiscriminada campanha aérea, em particular,

rapidamente modificaram a natureza do conflito de uma declarada ação de

desarmamento de formações ilegais e intervenção para uma guerra total. A

população da Chechênia, que possuía 30% de seus habitantes de origem russa, ao

Page 92: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

91

verificar a extensão dos efeitos colaterais passou a ser totalmente contrária à ação

da Rússia, apoiando as forças de resistência. (GRAU, 2002)

Assim, as tropas chechenas não abandonaram a cidade pelo eixo aberto que

os russos deixaram ao sul. Pelo contrário, utilizaram tal possibilidade para trazer

mais reforços para a cidade, que vinham de outras regiões e até de outros países,

que por razões étnicas e religiosas apoiavam os chechenos, inclusive com a

presença de mercenários, conforme atestam FAURBY e MAGNUSSON (1999).

As Forças Russas para o ataque à Chechênia, segundo JENKINSON (2002),

totalizavam cerca de 38.000 homens e estavam assim organizadas:

- Grupo de Exércitos do Oeste, composto principalmente pela 19ª

Divisão de Fuzileiros Motorizada, 76ª Divisão de Pára-quedistas e pela 106ª Divisão

de Pára-quedistas;

- Grupo de Exércitos do Norte, composto principalmente pelo 81º

Regimento de Fuzileiros Motorizado, pela 131ª Brigada de Fuzileiros Motorizada

Independente e pelo 255º Regimento de Fuzileiros Motorizado. Posteriormente, para

a conquista de Grozny este Grupo foi dividido em Grupo de exércitos de Norte e

Nordeste.

- Grupo de Exércitos de Leste, que consistia, em especial, do 129º

Regimento de Fuzileiros Motorizado e da 104ª Divisão de Pára-quedistas.

Os dados sobre as forças chechenas são bastante imprecisos. FAURBY e

MAGNUSSON (1999) atribuem isso ao fato de haver relativamente poucas unidades

militares organizadas e também por um considerável número de chechenos civis

terem lutado durante a invasão russa e retornado a sua vida normal após os

combates. Segundo JENKINSON (2002), a imprecisão também se deve ao número

de estrangeiros oriundos do Iraque, Afeganistão, Índia, Paquistão, Azerbaijão,

Sudão e Ucrânia, que se juntaram aos chechenos na luta contra os russos.

As forças organizadas da Chechênia, conforme estudos de FAURBY e

MAGNUSSON (1999) eram compostas, à época da invasão, pelas seguintes tropas:

- Guarda Nacional do Presidente Dudayev – cerca de 120 homens;

- Batalhão Abkhasian – cerca de 250 homens;

- um Regimento de Carros de Combate – com aproximadamente 12 a

15 carros disponíveis;

- uma Unidade de Artilharia – com cerca de 80 homens e 30 peças de

artilharia;

Page 93: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

92

- um “Batalhão de Comandos” motorizado – com cerca de 250 homens;

- forças do Ministério do Interior – aproximadamente 200 homens.

Porém, estudos de GRAU (2002) e GEIBEL (1996) atestam que durante os

combates por Grozny, as forças chechenas, contando com civis e estrangeiros que

participaram da batalha totalizaram cerca de 5.000 homens. Já THOMAS (1999)

relata que o defensor combateu com cerca de 10.000 homens. Por outro lado,

JENKINSON (2002) afirma que estes números estão superestimados, mas atesta

entre 2.000 e 6.000 homens combateram pelos chechenos nas ruas de Grozny.

As tropas russas somente chegaram à orla da cidade em 26 de dezembro de

1994. A partir daí realizaram uma progressão lenta pelos subúrbios até o dia 30 de

dezembro, quando aguardaram ordem para o ataque decisivo à região central da

cidade. Esta ordem partiu do Ministro da Defesa Pavel Grachev no dia 31 de

dezembro de 1994. (THOMAS, 2002).

Figura 3: O ataque de 31 de dezembro de 1994. Fonte: THOMAS, 2002.

O plano de ataque inicial consistia em avançar por quatro eixos convergentes

sobre o centro da cidade enquanto dois grupos Spetsnaz11, infiltrados por

11 Tropa de forças especiais russas

131ª Bda

81º Rgt

Page 94: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

93

helicópteros, deveriam desorganizar a retaguarda chechena ao sul da cidade.

Contudo, inebriado pelo aparente sucesso inicial, Grachev alterou o planejamento

anterior e decidiu tomar o centro da cidade com um “golpe de mão”, avançando

rapidamente pelos eixos principais com suas tropas mais móveis, sem o devido

acompanhamento da infantaria. Tencionava assim terminar rapidamente a

campanha, mas levou seus homens a uma humilhante derrota. (JENKINSON, 2002)

Os chechenos combateram ferozmente e de forma inteligente. Atacavam as

colunas de blindados, bloqueando as vias principais, forçando os carros a se

dirigirem para ruas mais estreitas, onde destruíam o primeiro e o último carro da

coluna. A partir daí, o comboio estava encurralado e os chechenos iniciavam sua

aniquilação. Com tais manobras a 131ª Brigada Russa foi praticamente destruída,

com a perda de 122 de seus 146 veículos blindados, e a morte de mais de 1.000

homens, inclusive seu comandante, apenas no primeiro dia de combate! (FAURBY e

MAGNUSSON, 1999)

Embora contando com apoio aéreo e um aparato militar de 4 para 1, as ações de cerco não forma realizadas conforme o planejado. Os chechenos estavam combatendo em seu território e estavam bem supridos. O moral checheno estava elevadíssimo e havia extrema confiança nas decisões de seus líderes. Todos os eixos de aproximação, ao iniciar o cerco, eram de total controle dos rebeldes. À medida que as unidades russas avançavam, cientes de sua inferioridade, os rebeldes realizavam uma verdadeira ação retardadora, ganhando tempo e desgastando as tropas russas. (SILVA, 2001) (grifo do autor)

O ataque da véspera de ano-novo redundou em um inteiro fracasso para os

russos. Contrariando seu planejamento inicial, as tropas de Grachev entraram em

Grozny com apenas 6.000 homens e sofreram contundente derrota para os

obstinados e astutos chechenos. Suas unidades foram bloqueadas nos eixos ou

destruídas, esforços de resgate de unidades cercadas acabaram também

aniquilados. Os grupos Spetsnaz, foram cercados e, por fim, renderam-se.

Os chechenos dominavam também a guerra da informação. Sem qualquer

prática com o trato com a imprensa, os russos ignoravam sua presença e não

controlavam seu trabalho. De forma contrária, Dudayev patrocinava a vinda de

órgãos de comunicação mundiais que cobriam os combates e, conduzidos pelos

chechenos, evidenciavam atrocidades russas, em especial a destruição de alvos

civis pela aviação ou artilharia, fazendo com que a opinião pública tendesse para o

lado da Chechênia. (THOMAS, 2002)

Page 95: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

94

Figura 4: A reação chechena. Fonte: JENKINSON (2002), traduzido pelo autor.

Os russos, então, decidiram mudar de tática. A partir de 04 de janeiro, os

Grupos de Exército reorganizaram-se e, ao invés de simplesmente resgatar as

unidades cercadas, passaram a realizar uma progressão sistemática, casa a casa,

um edifício de cada vez, com largo emprego da infantaria a pé, apoiada por fogos

aéreos e de artilharia, a fim de realmente expulsar os chechenos e não se

submeterem a mais emboscadas. Enquanto isso, novas unidades russas eram

enviadas ao campo de batalha. De 09 a 18 de janeiro de 1995 mais sete regimentos

chegaram a Grozny. O número total de militares russos aproximava-se de 50.000

homens.

A manobra russa passou a trazer resultados positivos. Em 18 de janeiro, as

forças chechenas abandonavam o Palácio Presidencial e passavam a se concentrar

na parte sul da cidade. Depois de um lento e metódico avanço, por fim, em 09 de

fevereiro, as últimas forças resistentes deixavam a cidade, encerrando a primeira

batalha por Grozny. Mas o fim da guerra ainda tardaria. (JENKINSON, 2002)

Como saldo da batalha a cidade ficou parcialmente destruída. O largo

emprego de fogos de apoio gerou, ainda, inúmeras baixas na população que ainda

Emboscadas chechenas Rota principal da forças russas Rota de resgate russa

Page 96: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

95

permanecia na cidade. Segundo FAURBY e MAGNUSSON (1999), o secretário de

direitos humanos russo, que esteve em Grozny durante a batalha afirmou que o

número de mortos civis aproximava-se de 30.000 e um número de refugiados

próximo a 300.000 pessoas.

A resistência chechena passou para as montanhas e cidades menores. Em

março de 1996, os combates voltaram a Grozny em uma tentativa de retomada da

cidade. Na ocasião, um míssil matou o Presidente Dudayev. Em agosto de 1996 um

acordo pôs fim à ocupação russa e à primeira guerra da Chechênia. O acordo não

resolveu o conflito, mas adiou a decisão para 31 de dezembro de 2001, quando

seria decidido o status da Chechênia, como nação independente ou integrante da

Federação Russa.

7.2 GROZNY IV (1999)

A Rússia, porém, não estava interessada em esperar até 2001 por uma

solução diplomática. Incomodada com a possibilidade de separação, o País passou

a se preparar para nova campanha. De acordo com THOMAS (2001), um ataque

terrorista a um centro comercial em Moscou atribuído a chechenos e ações militares

destes na região de Dagestan, em 1999, foram os motivos imediatos que levaram a

Rússia a desencadear nova ofensiva rumo a Grozny.

O Plano de Campanha russo, segundo JENKINSON (2002), era composto de

três fases:

- 1ª fase: bloquear e isolar as fronteiras da Chechênia e ocupar áreas

para conter as forças de guerrilha;

- 2ª fase: destruir os pontos fortes e instalações importantes

chechenas, por meio de ataques aéreos;

- 3ª fase: estabelecer uma estrutura de poder alternativa para contestar

a legitimidade do atual Governo checheno.

Assim como na primeira guerra da Chechênia, as forças russas eram

compostas por três grupos de exércitos: Leste, Oeste e Norte. Um quarto grupo

(Sul), foi adicionado posteriormente para operar junto às montanhas do Cáucaso.

Totalizavam, dessa forma, cerca de 100.000 homens. O Grupo de Exército Norte

seria designado como Grupo Grozny, por receber a missão de invadir a cidade. O

mesmo era composto por duas brigadas, um regimento dotado de carros de

Page 97: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

96

combate, apoio de artilharia e tropas de forças especiais, além de grupos de

atiradores de elite e engenharia. (OLIKER,2007)

A fim de assegurar as condições necessárias para as operações terrestres, a

Rússia iniciou sua campanha aeroestratégica em 23 de setembro de 1999, atacando

o aeroporto de Grozny, radares de defesa aérea, refinarias de petróleo, depósitos de

combustível e instalações de energia. Devido à iminente ofensiva terrestre russa, a

população de Grozny foi reduzida a menos de 50.000 pessoas. (JENKINSON, 2002)

Após a primeira guerra da Chechênia, o exército russo estudou os erros

cometidos e preparou-se para a nova campanha. Desta feita os combates de Grozny

seriam diferentes. Segundo FAURBY e MAGNUSSON (1999), após atingir as

cercanias da cidade em meados de outubro de 1999, os russos mantiveram o cerco

por dois meses, realizando ações de reconhecimento e fogos de artilharia e aéreos,

a fim de destruir os pontos fortes chechenos. Ao mesmo tempo, progrediram

lentamente pelos subúrbios, conquistando áreas de apoio do inimigo.

No início de dezembro, aviões russos lançaram panfletos sobre a cidade,

ordenando a completa evacuação da cidade em cinco dias, instruindo os civis para

utilizar rotas seguras e informando que não haveria negociações. Em 12 de

dezembro, o Grupo de Exército Grozny iniciou a quarta batalha pela capital

chechena. (OLIKER,2007).

Coordenando suas ações com a milícia chechena que apoiava as forças

russas, totalizando cerca de 5.000 militares, o Grupo de Exército Grozny se

movimentava lentamente, casa a casa, quarteirão a quarteirão, realizando a

“limpeza” da cidade por setores, a partir dos subúrbios ao norte da localidade. Fogos

de artilharia e aéreos eram empregados em larga escala, buscando minimizar baixas

amigas, diminuindo ao máximo o combate aproximado. Os russos seguiam,

basicamente, os seguintes procedimentos: realizavam um reconhecimento inicial,

identificando posições inimigas; saturavam a área por fogos; atiradores de elite

faziam a proteção da infantaria; por fim, a infantaria avançava e reduzia quaisquer

resistências locais, assegurando a posse do setor. (JENKINSON, 2002).

As forças chechenas na cidade estavam estimadas em 2.000 a 2.500

homens, segundo CAMERON (2002), dotadas de armamento variado, que incluíam,

lança-rojões, mísseis anticarro e carros de combate. Novamente, os dados acerca

do efetivo de defensor eram conflitantes, com THOMAS (2002) afirmando que se

tratavam de 5.000 homens.

Page 98: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

97

As táticas de emboscada sofreram algumas modificações em função da forma

lenta e sistemática de avanço russo. Contudo, por diversas vezes, os chechenos

retomaram posições e quarteirões utilizando principalmente os esgotos e

subterrâneos da cidade. Por estas vias causavam maiores danos à tropa atacante e

geravam insegurança nas áreas de retaguarda.

À medida que as forças russas se aproximaram do centro da cidade, os

combates se tornaram mais intensos, com edifícios e instalações trocando de posse

por seguidas vezes. O ritmo do avanço reduziu-se a 100 metros por dia e as

construções mais altas, possíveis de serem utilizadas por atiradores de elite e que

facilitassem a observação e condução de fogos passaram a ser acidentes capitais.

(THOMAS, 2000).

A artilharia dominava o campo de batalha. Historicamente os russos

empregavam largamente seus fogos. Embora na primeira luta por Grozny a artilharia

tenha desempenhado papel secundário, no fim de 1999 e início de 2000 foi utilizada

amplamente. Quando uma peça de manobra se engajava decisivamente, procurava

romper o contato e recuar, para que a área fosse saturada por fogos. Os russos não

se importavam com danos colaterais e com a rapidez da ação, mas desta vez

queriam prevenir o engajamento decisivo e minimizar suas próprias baixas.

(JENKINSON, 2002)

O combate urbano traz um desgaste psicológico muito grande às tropas. Por

isso, as tropas russas fizeram rodízios mais freqüentes e substituições em suas

unidades empregadas. Tal conduta, aliada aos reforços que chegavam à capital, fez

com que, no fim de janeiro de 2000, praticamente todos os 100.000 homens do

exército russo já tivesse atuado dentro ou nas cercanias de Grozny. (OLIKER,2007)

Outra grande modificação em relação à primeira batalha por Grozny foi em

relação aos meios de comunicação. Em 1994/1995, os russos ignoraram a imprensa

e deixaram que os chechenos controlassem sua atuação, contando a versão deles

dos fatos. Em 1999, os russos cadastraram todos os repórteres na região, criaram

um centro de imprensa e realizaram um controle cerrado sobre todas as reportagens

produzidas no campo de batalha. Assim, puderam conquistar o apoio da opinião

pública russa, que passou a considerar a luta justa, por eliminar a ação de

“terroristas” chechenos e garantir a segurança da Rússia. Também utilizaram a

mídia para fins táticos, divulgando ações e alertando a população local sobre

Page 99: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

98

ataques, incitando a retiradas e demonstrando alguma preocupação em garantir sua

segurança.(THOMAS, 2001)

No tocante à inteligência, também houve diferenças significativas para as

forças russas. Conforme JENKINSON, (2002), diferente da primeira batalha em que

faltaram cartas para os escalões menores e as poucas que restaram eram em

escalas inadequadas, desta vez todos tinham bons mapas. Com o cerco mais

demorado, foram realizados reconhecimentos detalhados e recrutados

colaboradores, que se tornaram excelente fonte de dados para os russos. Um bom

trabalho de inteligência resultou em um planejamento mais adequado do ataque,

focando em localizar e destruir o inimigo, empregando desta vez uma combinação

de poder de combate adequada à manobra.

No fim de janeiro de 2000, as forças chechenas começaram a se retirar da

cidade. Em 06 de fevereiro, a bandeira russa passou a tremular sobre as ruínas da

capital da Chechênia. Não mais que 300 rebeldes permaneceram na cidade, em

focos isolados de resistência. O grosso das forças havia sido destruído ou se

retirado para as montanhas e cidades menores. O Grupo de Exército Grozny iniciou

então a transferência do controle da cidade para tropas do Ministério do Interior.

Estava terminada, assim, a quarta batalha por Grozny. Segundo estudos de

THOMAS (2001), as perdas nesta batalha incluíram próximo a 4.000 guerrilheiros

chechenos, aproximadamente 5.000 civis e 1.100 soldados russos. Mais de 230.000

pessoas foram deslocadas. Grande parte de Grozny e das cidades vizinhas foi

reduzida a ruínas e, claramente, o povo checheno foi que sofreu as maiores perdas

da guerra.

Page 100: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

99

8 OS COMBATES NO IRAQUE

A Guerra do Iraque foi o primeiro grande conflito armado do século XXI.

Iniciou em março de 2003, quando forças de uma coalizão, composta principalmente

pelos Estados Unidos da América (EUA) e pelo Reino Unido, invadiram o Iraque. A

campanha terrestre foi rápida e, no início de maio, após a conquista de Bagdá e

redução do poder militar iraquiano, o presidente dos EUA, George Bush, declarou

encerradas as operações militares de vulto e deposto o governo de Saddam

Hussein.

Nas primeiras horas do dia 20 de março, após um breve ultimato norte-

americano, iniciou a campanha aeroestratégica, tendo como principais alvos as

sedes do Governo Iraquiano, buscando atingir o próprio Saddam e seus assessores

mais importantes. Apenas 10 horas depois, as forças de coalizão lançaram uma

avassaladora ofensiva terrestre, partindo do Kuwait rumo à capital iraquiana.

As forças terrestres da coalizão (CFLCC12 – equivalente a FTC), comandadas

pelo Tenente General Dave McKiernan, foram organizadas em dois componentes de

valor Corpo de Exército: o V Corpo de Exército (V CEx) e a I Força Expedicionária

de Fuzileiros Navais (I MEF). O V CEx estava integrado, basicamente, pelos

seguintes elementos de manobra: 3ª Divisão de Infantaria (3ª Div Inf) e 101ª Divisão

de Assalto Aéreo (101ª Div Ass Ae). A I MEF era composta pela 1ª Divisão de

Fuzileiros Navais (1ª MARDIV), pela 2ª Brigada Expedicionária de Fuzileiros Navais

(FT Tarawa) e pela 1ª Divisão Blindada do Reino Unido.

A missão atribuída ao CFLCC incluía derrotar as forças iraquianas e controlar

a zona de ação, assegurando a manutenção de regiões importantes e depondo o

regime de Saddam Hussein. Em prosseguimento, deveriam ser conduzidas

operações de estabilidade, a fim de criar condições para a transição para um

comando combinado iraquiano.

A direção estratégica utilizada foi Kuwait-Iraque, tendo em vista a Turquia e

os demais países vizinhos não terem permitido a utilização de seus territórios para

manobras terrestres. A zona de ação foi dividida em duas partes, cabendo à I MEF a

porção leste e ao V CEx a porção oeste. O plano de campanha previa a mesma

12

CFLCC – Combined Forces Land Component Command – Comando do Componente Terrestre das Forças Combinadas.

Page 101: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

100

divisão de responsabilidade sobre a conquista de Bagdá, com os limites

estabelecidos, nesta cidade, pelo rio Tigre.

Figura 5: Esquema de manobra do CFLCC Fonte: FONTENOT, DEGEN e TOHN (2004)

O V CEx orientou seu esforço principal pela direção tática de atuação (DTA)

balizada pela Rodovia 8, passando pela base aérea de Tallil, nos arredores de An

Nasiriyah, e pelas cidades de As Samawah, An Najaf e Karbala, até chegar a Bagdá.

O planejamento inicial previa evitar ao máximo o combate urbano, desbordando as

cidades e procurando destruir as forças iraquianas em suas posições, impedindo

seu retraimento para a capital. Contudo, a resistência enfrentada nas cidades e a

ameaça aos eixos de comunicações e suprimentos fez com que o comandante do

CFLCC, assessorado por seu estado-maior, autorizasse o emprego, pelo V CEx, da

101ª Div Ass Ae e da 82ª Div Aet (inicialmente reserva do CFLCC) na conquista das

cidades de An Najaf e As Samawah, respectivamente.

Page 102: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

101

O V CEx prosseguiu em seu avanço, empregando a 3ª Div Inf como

vanguarda, até atingir Bagdá. Os principais objetivos de isolamento, denominados

LIONS, SAINTS, TITANS e MONTGOMERY, incluíam, respectivamente, o Aeroporto

Internacional e os entroncamentos de estradas que controlavam os acessos à

cidade por sul, norte e leste. Tais objetivos foram vitais para que as forças

americanas pudessem concentrar poder de combate junto à cidade e se preparar

para a fase decisiva da campanha, a conquista da capital e a derrubada do regime.

Na zona de ação de leste, a I MEF teve como primeiros objetivos conquistar o

litoral do Iraque, proteger os campos de petróleo no sudeste do País e conquistar as

cidades de An Nasiriyah e Basra, esta última a cargo da Div britânica. Como os

combates em Basra se tornaram intensos, antes mesmo que a Div britânica a

conquistasse, a I MEF prosseguiu em seu avanço rumo a Bagdá com a 1ª MARDIV,

pela DTA balizada pela rodovia 7, isolando a capital por sudeste.

A rodovia 2, ao norte de Bagdá, foi o único eixo que não foi barrado no

isolamento da cidade. Contudo, ações desenvolvidas por equipes de forças

especiais, pela 173ª Bda Pqdt e por demais elementos inseridos ao norte do País praticamente impediram a chegada de reforços por esta direção.

Em 02 de abril, depois de conquistar o aeroporto de Bagdá e avaliando que o

inimigo não teria fortes posições defensivas na cidade, o V CEx decidiu manter a

impulsão e derrotar definitivamente o regime de Saddam. Assim, em 05 de abril, a 3ª

Div Inf, empregando uma técnica já utilizada pela 101ª Div Ass Ae em An Najaf, ao

invés do combate “casa-a-casa”, realizou um primeiro reconhecimento em força, por

meio de uma força-tarefa blindada. Em face do sucesso alcançado, dois dias depois,

dessa vez utilizando uma Brigada Blindada, a 3ª Div Inf investiu sobre a capital para

conquistar e manter o objetivo Diane, no coração de Bagdá, incluindo as principais

sedes do Governo.

Após resistir a alguns contra-ataques nos dias seguintes, a divisão expandiu

sua zona de ação, até que a I MEF atacou o lado leste da cidade e fez a junção com

a brigada. Em 10 de abril, os últimos grandes combates foram travados para

consolidação dos objetivos. Nesse momento, as forças iraquianas e o País já não

possuíam um comando organizado, o regime estava derrubado e Bagdá sob

controle da coalizão.

A condução das operações em áreas urbanas durante a campanha militar no

Iraque seguiu o planejado pelo Exército dos EUA nos anos que precederam a

Page 103: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

102

guerra. Cientes das dificuldades que enfrentariam em cidades como Bagdá, que

possuía cerca de 5 milhões de habitantes, os norte-americanos não desejavam

repetir erros verificados em combates passados como Grozny, Hue, Stalingrado e

Aachen. Estudos e treinamentos de táticas, técnicas e procedimentos foram

exaustivamente desenvolvidos e aperfeiçoados, contribuindo de forma decisiva com

o sucesso das operações. (FONTENOT, DEGEN e TOHN, 2004)

8.1 AS SAMAWAH

As Samawah é uma cidade de tamanho moderado (cerca de 13 km2)

localizada sobre o rio Eufrates e ao longo da rodovia 8, que balizava o eixo de

progressão do V CEx. Situa-se a 265 km a oeste de Basra e 240 km a sul da capital

do Iraque. Adicionalmente, a estrada de ferro que ligava Basra a Bagdá passava ao

largo da cidade, a sul e oeste. A maior parte da cidade se encontra a sul do

Eufrates.

À época do conflito possuía cerca de 100.000 habitantes, sendo que muitos

não abandonaram a localidade. Os primeiros contatos na cidade foram feitos por

tropas de forças especiais infiltradas, indicando a presença de tropas da Guarda

Republicana e forças paramilitares que, bem armadas, combatiam misturadas aos

civis. A integração da tropa terrestre com a atuação das forças especiais em As

Samawah foi considerada a melhor de toda a campanha no Iraque. Valiosas

informações de inteligência foram repassadas, permitindo uma melhor decisão no

decorrer da batalha. (FONTENOT, DEGEN e TOHN, 2004)

O esquema de manobra original do V CEx previa um bloqueio de qualquer

força inimiga na cidade, para permitir à 3ª Div Inf mover-se ao longo da borda oeste,

em direção norte rumo aos próximos objetivos, junto à cidade de An Najaf. A

intenção era a realização de um movimento rápido pelo eixo, sem deter-se limpando

as cidades ao longo do caminho.

A missão de garantir a segurança do eixo junto à cidade coube ao 3-7 CAV

(Regimento de Cavalaria). O regimento combateu nas cercanias da cidade para

assegurar a utilização das duas pontes que configuravam seus objetivos. Enfrentou

milícias do partido Baath13 e tropas Fedayeen14 instaladas em prédios e construções

adjacentes aos objetivos.

13 Partido nacionalista socialista do qual fazia parte Saddam Hussein. 14 Milícia com origem nos refugiados palestinos.

Page 104: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

103

A presença de tropas de paramilitares em As Samawah representava, no

entanto, uma ameaça ao eixo de comunicações. O V CEx determinou, então, um

desvio do fluxo logístico e que a 3ª Brigada assumisse o controle do isolamento da

cidade. A missão da brigada foi prevenir a interrupção das linhas de comunicação.

Caso saíssem da cidade para atacar, os iraquianos estariam abandonando as

vantagens de combater em área urbana. Assim, a brigada passou a conduzir uma

série de demonstrações de modo a manter a atenção dos iraquianos e efetivamente

fixá-los na localidade, onde eles não poderiam atacar em nenhuma parte ao longo

das linhas de comunicação.

Figura 6: Desvio do fluxo e bloqueio da 3ª Brigada. Fonte: FONTENOT, DEGEN e TOHN (2004).

Em 26 de março, a fim de liberar a 3ª Brigada para as ações em Bagdá, a 82ª

Divisão Aeroterreste recebeu a missão de substituí-la nas ações em As Samawah.

Para tanto, empregou a 2ª Brigada, reforçada pela FT 1-41IN (Unidade de infantaria

mecanizada) e pela A/9-101 (companhia de helicópteros leves). Nas primeiras horas

de 29 de março, a 2ª Bda, com cerca de 5.000 homens, assumiu a zona de ação

com a composição de meios apresentada no quadro a seguir. (FONTENOT, DEGEN

e TOHN, 2004)

Page 105: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

104

Composição de meios 2ª/82ª Div Aet - 03 Rgt Inf (1-325 AIR, 2-325 AIR e 3-325 AIR)

- FT 1-41st Inf (-)/ 3ª Bda/ 1ª Div Bld - 2/319 GAC (105T) (-)

- 407 B Log Avçd (-) - B/307 Btl Eng - B/313 Btl Intlg Mil

- B/82 Btl Com - B/3-4 AAAe (-) - 2/21 Guerra Química

- 2/82 Políca militar (+) - 2/618 Cia Eng - 96th Btl Ass Civ (tático)

- Elm 301 Btl Op Psico - Gp /49 Dst relações públicas - 2 Cias / Forças Iraquianas Livres

Quadro 11: Composição de meios da 2ª/82ª Div Aet. Fonte: FONTENOT, DEGEN e TOHN, 2004.

A missão da 2ª Bda era isolar As Samawah e proteger o eixo de

comunicações do V CEx. A intenção do Cel Bray, Cmt da Brigada, era localizar e

destruir as forças paramilitares inimigas na cidade, assegurar os eixos de

suprimento em sua zona de ação, identificar grupos de apoio à coalizão e conduzir

operações de vigilância e proteção. O estado final desejado era que as forças

amigas pudessem se mover em segurança pelo eixo de comunicações e as forças

paramilitares fossem destruídas, ou impedidas de conduzir operações organizadas

ou influenciar as operações amigas na estrada principal de suprimento (EPS).

(FONTENOT, DEGEN e TOHN, 2004)

Por ocasião da substituição, o Cel Bray recebeu da 3ª Bda uma atualização

dos conhecimentos de inteligência acerca do inimigo na localidade informando que,

embora as forças inimigas fossem numerosas, eram pouco treinadas e mal

lideradas. O valor do inimigo estimado era de uma companhia da Guarda

Republicana (cerca de 500 homens), com a presença de Fedayeen locais (300 a

350 homens), 200 a 250 milicianos do partido Baath e aproximadamente 100 a 150

do Al Quds15. Havia outras forças inimigas que não foram identificadas previamente,

como voluntários árabes que adentraram o Iraque, vindos da Síria e da Jordânia,

nas últimas semanas. Estima-se que 40 a 50 voluntários sírios combateram na

cidade. Totalizavam, portanto cerca de 1.200 homens, entre militares e

paramilitares.

Após os primeiros confrontos com o inimigo, rapidamente o Cel Bray e suas

tropas mudaram de um ataque focado no terreno para um ataque focado no inimigo.

As operações da brigada evoluíram para investidas sobre posições inimigas onde os

paramilitares estavam concentrados. Isso desequilibraria os defensores, impedindo-

os de interferir no fluxo logístico.

15 Braço armado da organização palestina “Jihad Islâmica”.

Page 106: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

105

Nos dias 29 e 30 de março, a Brigada conduziu reconhecimentos em força

para colher dados acerca da localização, dispositivo, intenções e padrões de

atuação inimigos. Nesse período pôde confirmar a superioridade no combate

noturno e identificar técnicas, táticas e procedimentos iraquianos, que facilitariam o

investimento posterior.

Os iraquianos não seguiam regras para combater, utilizavam mesquitas,

atiravam de hospitais e usavam ambulância para ressuprimentos. Eles fingiam se

entregar com uma bandeira branca e depois se abaixavam atrás de um veículo e

começavam a atirar. As informações sobre o inimigo vieram da tropa substituída,

dos elementos de forças especiais e das forças em contato nos primeiros dias que a

Brigada assumiu a zona de ação. A análise de todos os dados, além daqueles

colhidos com radares, se mostrou bastante preciso.

A cidade de As Samawah representou problemas para o V CEx desde o início

das operações, pelos inúmeros ataques lançados sobre o eixo de comunicações e a

EPS, colocando em risco o fluxo logístico das tropas que já atuavam em

profundidade no terreno iraquiano. O Corpo de Exército decidiu, então, que a 2ª Bda

/ 82ª Div Aet deveria realizar um ataque sobre a cidade, investindo e limpando a

mesma de uma vez por todas, como parte de cinco ataques simultâneos desferidos

pelo V CEx em diversas localidades. Tal decisão resultou da necessidade de

garantir o fluxo logístico através da Rodovia 8, que seria inatingível se o inimigo

permanecesse na parte sudoeste da cidade.

A partir da manhã de 30 de março, a Brigada conduziu uma série de ataques

limitados oriundos do leste, oeste e sul da cidade, apoiando seu plano no estudo de

situação desenvolvido pelo oficial de inteligência, em função das informações

colhidas. Tal análise indicava que o inimigo combatia segundo certos padrões: nas

cercanias da cidade ele empregava ataques suicidas; no interior da localidade

combatia casa-a-casa, utilizando escudos humanos; e nas pontes e rodovias

disparava rajadas de RPGs16 e morteiros. Ainda de acordo com dados colhidos das

tropas substituídas e dos elementos de forças especiais, o comando da Brigada

concluiu que o ataque deveria focar a liderança do partido Baath. Assim, elegeu

como alvos prioritários os locais visualizados como centros de comando e controle

do partido.

16 Rocket Propeled Granade – lança rojão de origem russa.

Page 107: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

106

Em 31 de março, o 1-325 AIR17 atacou vindo de este e o 3-325 AIR atacou

vindo de oeste, para retirar os defensores iraquianos e destruí-los, enquanto a FT 1-

41IN, com duas Companhias de Infantaria Mecanizada, estabeleceu dois postos de

controle ao sul da cidade e fez alguns avanços limitados para norte. Os iraquianos

tentaram reforçar a cidade com elementos vindos de norte, mas os aviões AC-130 e

A-10 CAS atacaram alvos ao norte do rio para impedir tal reforço. Helicópteros leves

Kiowa foram de grande valia, atacando alvos localizados no interior da cidade pela

tropa que avançava. Embora os iraquianos combatessem com determinação, a

brigada manteve um constante progresso e avanço.

Figura 7: Investimento sobre As Samawah. Fonte: FONTENOT, DEGEN e TOHN, 2004.

O movimento em pinça dos dois batalhões obrigou as forças pró-Saddam a

tentar escapar pelo norte da cidade, mas os helicópteros Kiowa Warrior atacavam os

fugitivos e veículos armados inimigos. Ao pôr-do-sol do dia 31 Mar, os pára-

quedistas já haviam repelido os iraquianos da Rodovia 8.

No dia 01 de abril, os ataques continuaram contra objetivos com alcance para

o tiro indireto sobre o eixo de comunicações do V CEx. O 2-325 AIR, que tinha

17 AIR – Airborne Infantry Regiment – Regimento de Infantaria Aeroterrestre.

Page 108: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

107

recém chegado a As Samawah, em 31 de março, participou do ataque a partir de 02

de abril, avançando na direção oeste ao longo das pontes sobre o rio.

No dia 03 de abril, a Brigada conduziu uma série de ataques na cidade,

enquanto as armas de longo alcance da FT 1-41 IN continuavam a bloquear a

cidade pelo sul. No dia seguinte, a Brigada ordenou que o 2-325 AIR e a FT 1-41 IN

conquistassem as pontes sobre o rio Eufrates, liberando completamente a utilização

do eixo de comunicações. Este ataque combinado expulsou as forças iraquianas

envolvidas em um combate casa-a-casa. Alguns oponentes se renderam e outros

foram mortos e, ao meio-dia, o ataque estava concluído. Agora, com as pontes

asseguradas, os iraquianos não poderiam mais enviar reforços para o sul e a missão

estava concluída.

8.2 AN NAJAF

Assim como As Samawah, An Najaf está localizada ao longo do rio Eufrates

com várias pontes cruzando o rio. A rodovia 9 é paralela ao rio e incide diretamente

através da cidade. A rodovia 28 também é paralela ao rio, mas passa alguns

quilômetros a oeste da cidade. Sua localização permitia que qualquer força iraquiana

na cidade, convencional ou paramilitar, pudesse interditar a utilização de ambas as

rodovias e comprometer o avanço do V CEx.

Os comandantes da coalizão esperavam poder evitar um combate em An

Najaf. Os líderes não viam muitos benefícios no envolvimento em um combate de

rua que poderia representar um ataque ao Islã. An Najaf, que ocupava cerca de 36

km2 tinha cerca de 500.000 habitantes, não se tratava de um objetivo inicial, por

diversas razões: por ser uma cidade xiita, onde o regime de Saddam Hussein era,

por assim dizer, impopular; por não haver informações e estimativas de presenças

de forças regulares e do número de milícias e paramilitares; e, principalmente por

ser considerada por xiitas muçulmanos como uns dos lugares mais sagrados do

mundo, visto que o cemitério da cidade contém a tumba de Ali, enteado e primo de

Maomé e fundador do secto xiita.

A manobra da 3ª Div Inf não incluiu a limpeza da cidade, mas a conquista de

duas pontes chaves ao norte e ao sul da cidade e o posicionamento de forças a este

e oeste da cidade, efetivamente isolando a cidade. Para a conquista e manutenção

desses objetivos as tropas de infantaria apenas realizaram a limpeza das

Page 109: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

108

construções que se localizavam ao longo da rodovia e próximas aos objetivos.

(ESTADOS UNIDOS, 2007)

Embora o comando do V CEx esperasse evitar o combate em localidades

como An Najaf, essa possibilidade passou a ser cada vez mais considerada.

Inicialmente, já se raciocinava que as milícias e os paramilitares deveriam estar

dentro da cidade ocupando posições defensivas, mas não contavam com sua

tenacidade e fanatismo. Os constantes ataques sofridos pelas tropas que estavam

posicionadas no entorno da cidade fizeram com que fosse cada vez mais necessário

o uso de tropas isolando a área urbana, pois a livre utilização das rodovias que por

ela passavam era fundamental para assegurar o eixo de comunicações e a

manutenção do fluxo logístico.

Com a necessidade de liberar o prosseguimento da 3ª Div Inf rumo a Bagdá,

o V CEx decidiu empregar a 101ª Divisão Aeroterrestre (Assalto Aéreo) para isolar e,

eventualmente, investir sobre An Najaf modificando, assim, os planejamentos

inicialmente concebidos para o emprego da divisão. Isso resultou em novos

planejamentos e reorganização face à grande área de operações recebida e a

necessidade de ligar-se com a 82ª Div que operava em As Samawah.

Para o cumprimento da missão o Cmt (Maj Gen PETRAEUS) dispunha das 1ª

e 2ª Bda, visto que a 3ª Bda estava comprometida assegurando outros objetivos e

preparando-se para o emprego em profundidade face às divisões da Guarda

Republicana. A divisão foi reforçada ainda pela FT 2-70 AR (Força-Tarefa

Regimento Blindado), que já se encontrava na região há vários dias, sendo

empregada junto à 2ª Bda. Totalizava, dessa maneira, cerca de 12.000 homens.

(FONTENOT, DEGEN e TOHN, 2004).

Desenvolvendo seu esquema de manobra, o estado-maior da 101ª Div Aet

estimou as rotas de exfiltração que os iraquianos estavam utilizando para sair de An

Najaf e atacar as unidades norte-americanas e o eixo de comunicações. Também

foram analisadas determinadas rotas que davam acesso a An Najaf, vindo do norte.

Para atualizar informações de inteligência foram utilizadas imagens de satélite,

informações das equipes de forças especiais e da tropa substituída (3ª Div Inf). Não

havia dúvida de que as forças da coalizão não fizeram uma boa estimativa das

capacidades e intenções do inimigo em An Najaf antes dos combates, mas em 28 de

março, quando os primeiros elementos da 101ª Div Aet adentraram a cidade, todos

já possuíam uma imagem bem mais clara da situação.

Page 110: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

109

Figura 8: Rotas de infiltração/exfiltração de milícias em An Najaf. Fonte: FONTENOT, DEGEN e TOHN, 2004.

Os iraquianos que defendiam An Najaf totalizavam de 1500 a 2000 homens,

incluindo paramilitares e algumas tropas regulares, a saber: 01 DGS (batalhão de

emergência), com 400 a 500 homens; 600 a 800 Fedayeen; 200 a 300 milicianos do

Partido Baath; e 200 a 500 Al Quds. (FONTENOT, DEGEN e TOHN, 2004).

No dia 29 de março, a FT 2-70 AR recebeu o reforço da 1ª Cia / 502º Inf Aet e

realizou a limpeza da parte nordeste de Al Kifl estabelecendo uma posição de

bloqueio com uma companhia. Uma companhia passou a defender a importante

ponte e outra subunidade foi enviada para norte e leste da cidade para interromper o

fluxo de paramilitares vindos de Al Hillah.

Apesar disso, o comando norte-americano julgava a presença de milícias e

paramilitares na cidade como uma ameaça latente, que poderia sair e realizar

ataques e incursões sobre o eixo de comunicações e a estrada principal de

suprimento (EPS), prejudicando as operações em profundidade.

Para o isolamento foram empregadas, então, a 2ª Bda ao norte, reforçada

pela FT 2-70 AR e a 1ª Bda ao sul, reforçada por uma SU da FT 2-70 AR, que

permaneceu no ponto de controle e bloqueio CHARLIE. Esta, para assegurar a

região e garantir melhor proteção e segurança de suas tropas realizou, com o 1-327

Page 111: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

110

IN e a FT2-327 IN ataques limitados sobre as construções da orla sul da localidade,

limpando-as.

Figura 9: Isolamento de An Najaf. Fonte: FONTENOT, DEGEN e TOHN, 2004.

O plano de operações dividiu a cidade em setores retangulares, empregando

um método para rápida referência de forma a melhor coordenar fogos e identificar

áreas já limpas. Utilizando um software altamente sofisticado, as unidades

imprimiram mapas detalhados de sua zona de ação, facilitando a identificação de

alvos, orientação e coordenação.

Embora a Divisão fosse utilizar duas Brigadas para o investimento, a 2ª ao

norte e a 1ª ao sul, coube à 1ª Bda a condução das ações iniciais. A Brigada iniciou

seu ataque em 31 de março, a partir de um ponto forte conquistado pela FT 1-237

IN. Uma pequena força-tarefa da FT 2-327 IN realizou um reconhecimento em força,

apoiada por artilharia e fogo aéreo, que travou os primeiros embates com o inimigo e

abriu brechas em um campo minado identificado.

Page 112: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

111

Figura 10: Ataque inicial da 1ª Bda/101ª Div Aet. Fonte: FONTENOT, DEGEN e TOHN, 2004.

Utilizando a combinação infantaria carros, com apoio de fogo aéreo e de

helicópteros, a 1ª Bda foi metodicamente conquistando partes da cidade e,

eventualmente localizando zonas de reunião das milícias do partido Baath.

Em An Najaf grande parte da população não queira combater as forças norte-

americanas nem obstruir seus esforços. Com intuito de manter essa neutralidade,

contando com colaboradores locais, a 1ª Brigada evitou ataques a regiões e locais

considerados sagrados e não realizou qualquer ação durante os períodos de oração.

A fim de colaborar com a Divisão em conquistar o apoio da população, grupos de

operações psicológicas também tiveram participação marcante, explorando o

respeito à religião islâmica e o direito de oração nas mesquitas.

Atendendo ao princípio de Sun Tzu, que prevê que não se deve encurralar o

inimigo, mas deixar uma saída para conduzi-lo ao local que se pretende, a Brigada

não bloqueou a saída norte da cidade. Posteriormente, passou a realizar

emboscadas nesta região com fogo de helicópteros e snipers18.

Embora a operação de conquista de An Najaf tenha durado cinco dias, o

ponto de inflexão foi quando a Cia A/2-70 AR realizou um ataque relâmpago,

18 Atiradores elite. No Exército Brasileiro: caçadores.

Page 113: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

112

chamado “Thunder Run”19, no centro da cidade, demonstrando a força de combate

norte-americana e realizando um movimento sem qualquer empecilho para a força

blindada. No próximo dia uma ação semelhante foi realizada na parte este da

cidade. Estes dois ataques e tal demonstração de superioridade de força acabaram

por quebrar a resistência do inimigo.

Figura 11: Itinerário de ataque da Cia A/2-70 AR. Fonte: FONTENOT, DEGEN e TOHN, 2004.

A 2ª Bda atacou pelo norte, dentro do setor estabelecido pela Divisão, que

estabeleceu medidas de coordenação necessárias para evitar o fogo fratricida, por

meio de um limite de avanço. Ao fim do dia 04 de abril, a 101ª Div Aet controlava

toda a cidade, passando então à adoção das medidas necessárias para a condução

de operações de estabilidade e apoio.

Durante os combates em An Najaf, o apoio de fogo proporcionado pelos

helicópteros e pela força aérea foi decisivo para destruir as construções utilizadas

pelas milícias, pontos fortes dos Fedayeen, pontos de ressuprimento e paióis, sem

causar maiores danos colaterais.

As lições essenciais desse combate urbano foram a utilização de armas

combinadas, forças leves e pesadas, incursões blindadas e a aplicação de apoio de

fogo aéreo preciso. Essas táticas evoluíram rapidamente de acordo com a atuação

do inimigo e constituíram um bom ensaio para as próximas ações em Bagdá.

19 Thunder Run – traduzido literalmente como “corrida do trovão”.

Page 114: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

113

8.3 BASRA

A cidade de Basra está localizada no sudeste do Iraque, junto ao canal Shatt-

Al-Arab, a 55 quilômetros do golfo Pérsico e 545 km de Bagdá. É a segunda maior

cidade do Iraque, ocupa uma área de cerca de 100 km2 e tem uma importância

econômica muito grande como centro do poder econômico, pois em seu entorno

existem grandes áreas petrolíferas e refinarias. Possui uma grande parte de sua

população de origem sunita e por isso esperava-se um forte apoio ao regime de

Saddam Hussein.

Segundo estudos do Exército Francês (FRANÇA,2003), o valor do inimigo

presente dentro da cidade era da ordem de 2.000 homens. Conforme FONTENOT,

DEGEN e TOHN (2004), antes da invasão, próximas à cidade, estavam

posicionadas ainda a 51ª Divisão Mecanizada, ao sul de Az Zubayr (sudoeste de

Basra) e a 6ª Divisão Blindada, ao norte de Basra. Como nas demais cidades as

forças regulares que permaneceram no interior da localidade retiraram seus

uniformes e combateram misturadas à população, juntamente com milícias do

partido Baath, Fedayeen e árabes de outros países.

Basra estava situada na porção leste da zona de ação do CFLCC, atribuída à

I MEF, que, para as ações na cidade empregou a 1ª Divisão Blindada do Reino

Unido. Esta, tinha em sua composição a 7ª Brigada Blindada, a 16ª Brigada de

Assalto Aéreo e a 3ª Brigada de Comandos, compondo um efetivo de cerca de

22.000 homens.

O primeiro objetivo das forças britânicas, contudo, era conquistar a península

de Al Faw e assegurar o acesso ao estrategicamente importante porto de Umm

Qasr. Após quatro dias do início da campanha a 51ª Divisão Iraquiana foi retirada de

suas defesas dos campos de petróleo. A 3ª Brigada de Comandos assegurou a

infra-estrutura crítica de petróleo em Al Faw e o porto de Umm Qasr. A 16ª Brigada

de Assalto Aéreo ocupou os campos de petróleo de Rumaylah e repeliu a 6ª Divisão

Blindada Iraquiana para o norte, de forma a impedi-la de interferir nas operações da

coalizão. (INGLATERRA, 2003)

Após a conquista das primeiras regiões, a 1ª Div Bld recebeu a tarefa de

proteger o flanco direito das forças americanas, à medida que estas avançavam

para o interior do país, evitando as ameaças às linhas de comunicações e ao fluxo

logístico. Para tal, deviam neutralizar a resistência iraquiana em torno da cidade de

Page 115: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

114

Basra, enquanto monitoravam a situação dentro da cidade, para assegurar a não

ocorrência de danos à população civil. (FERREIRA, 2003)

Era importante prevenir que as Forças do Iraque não utilizassem Basra como

base para ataques às áreas de retaguarda das forças de coalizão. Em quatro dias,

as forças britânicas já haviam tomado o Aeroporto de Basra, a despeito de

enfrentarem enorme resistência inimiga, e passaram a expandir seu controle sobre a

região. A cidade não foi cercada totalmente em nenhum momento. A população civil

era livre para entrar e sair a qualquer instante, embora por vezes estivessem sob

fogo das forças leais a Saddam Hussein. (INGLATERRA, 2003)

A 7ª Brigada Blindada conquistou, então, as pontes sobre o canal Shatt-Al

Basrah, a oeste de Basra. Embora sob constante ataque de forças regulares e

irregulares iraquianas, este era o mais crucial terreno a ser dominado, a fim de

atingir o objetivo determinado no plano de operações de proteger o flanco direito do

avanço das tropas dos EUA para isolar Bagdá. (INGLATERRA, 2004)

Figura 12: Entorno de Basra.

Fonte: FARREL, 2006.

Enquanto isso, a sudoeste da cidade, os elementos da 7ª Brigada Blindada

estavam sob fogo de forças irregulares a partir do interior da localidade de Az

Zubayr e seu entorno. Tropas do Reino Unido se viam sob intensos fogos de

metralhadora e anticarro sempre que se aproximavam da cidade.

A potente brigada poderia ser empregada sobre Az Zubayr (100.000

habitantes) e, em seqüência, sobre Basra (1,25 milhão de habitantes). Mas isso

traria desnecessárias baixas civis e militares e consideráveis danos colaterais. A

necessidade de evitar comparações com Grozny e Stalingrado influenciou no

planejamento tático, pois a possibilidade de tais comparações era provavelmente o

Page 116: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

115

que o regime de Saddam desejava, na esperança de solicitar apoio da comunidade

internacional a fim de pôr um fim ao conflito. (INGLATERRA, 2004)

Em vez de atacar diretamente, a 7ª Brigada manteve a iniciativa do combate

por meio de ações de inteligência e ataque limitados e precisos sobre instalações

do regime e passou a prestar apoio físico e moral as comunidades atingidas.

Pontos de controle no entorno de Az Zubayr controlavam o movimento e serviam de

um ponto de apoio para a população local fazer contato com as forças britânicas,

assim como uma base, a partir da qual poderiam ser montadas tanto operações

ofensivas como humanitárias.(INGLATERRA, 2003)

Por sua vez, a 3ª Brigada de Comandos avançou em direção a Basra a partir

do sul, combatendo para assegurar a conquista da localidade Abu Al Khasib

(100.000 habitantes), 10 km a sudeste de Basra. Em algumas áreas, a brigada

encontrou sérias dificuldades, engajando-se em um combate aproximado intenso

durante o período de 30 de março a 03 de abril, até que a área estivesse segura.

Após uma semana de operações, a 7ª Brigada, que aproveitava todas as

oportunidades de emprego de suas unidades para missões limitadas e focais, foi

expandindo sua área de controle até que, em 01 de abril, a brigada conquistou Az

Zubayr e as forças irregulares que ali estavam foram eliminadas, capturadas ou se

evadiram.

Ao longo do tempo, ações similares foram sendo desenvolvidas em Basra,

muitas destas pela iniciativa de pequenas frações até o nível subunidade. Estas

ações, combinadas com fogos de artilharia e aéreos precisos que atacavam alvos

do partido Baath, aos poucos minavam a vontade de lutar das forças iraquianas,

sempre com a preocupação de minimizar efeitos colaterais.

Embora em nenhum momento a tropa britânica tenha efetivamente cercado a

cidade, os ataques partindo dos pontos-fortes estabelecidos nas pontes do Satt-Al-

Basrah, aliados ao forte trabalho de inteligência e operações psicológicas,

penetraram fundo tanto na cidade como nas mentes daqueles que resistiam. A

iminente derrocada do regime de Saddam na cidade acabou por encorajar aqueles

que eram contra o mesmo.

Uma série de ataques nos dias 04 e 05 de abril enfraqueceram de forma

significativa a liderança Baath na cidade. A queda da vizinha Az Zubayr, em apenas

dez dias, a presença de tropas do Reino Unido patrulhando e ajudando a população

nas cidades já liberadas como Al Faw, Umm Qasr e Rumaylah e a notícia que as

Page 117: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

116

tropas dos EUA já ameaçavam Bagdá criaram na localidade as condições

necessárias para que, em 06 de abril, as Forças Britânicas entrassem em Basra e

efetivamente derrubassem o regime na cidade.(INGLATERRA, 2004)

O ataque foi realizado por setores e de forma simultânea, a fim de impedir

qualquer reação do inimigo. A pequena resistência foi rapidamente subjugada pelo

poder de fogo britânico, pelo adequado emprego combinado da infantaria e de

carros de combate e pela determinação das tropas atacantes. No dia seguinte, a

cidade já estava liberada e o trabalho de reconstrução poderia ser iniciado.

(FARREL, 2006)

Figura 13: Ataque final a Basra

Fonte: FARREL, 2006.

O planejamento minucioso e a execução sincronizada das ações fizeram com

que os números de baixas junto à população civil fosse o mínimo possível. As forças

britânicas foram bem recebidas pela população e rapidamente buscaram contato

com suas lideranças regionais para o restabelecimento da Força Policial local. Após

uma semana da tomada da cidade, iniciava-se o policiamento com patrulhas de

militares britânicos e policiais iraquianos pela cidade. (FERREIRA, 2003)

As Forças Armadas britânicas demonstraram estar altamente preparadas

para o combate urbano, em especial porque possuíam uma experiência particular

em operações urbanas a partir de combates na Irlanda do Norte e nos Bálcãs,

desenvolvendo valiosas táticas que foram empregadas nos combates no Iraque.

Page 118: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

117

8.4 BAGDÁ

Bagdá é a capital do Iraque, centro do poder político e uma das maiores

cidades do Oriente Médio. Possuía da ordem de 5 milhões de habitantes em 2003,

ocupando uma área de cerca de 500 km2. Localiza-se no interior do Iraque, a cerca

de 500km por estrada da fronteira com o Kuwait. É cortada pelo Rio Tigre, no sentido

norte-sul, que praticamente divide a cidade ao meio.

A capital iraquiana constitui-se no grande objetivo operacional da campanha

militar terrestre, pois sua conquista representaria a derrubada do regime de Saddam

Hussein. No planejamento da operação, foi verificada, ainda, a necessidade de

rapidez nas ações, tendo em vista o débil apoio internacional às ações das tropas de

coalizão

A cidade foi isolada pelas zonas de reunião avançadas, que impediam a

chegada de reforços, bem como mantinham os defensores no interior da cidade. A

partir dessas áreas, tanto o V CEx como a I MEF podiam lançar seus ataques para

conquistar pontos críticos, destruir forças iraquianas e, caso necessário, efetuar a

limpeza da cidade. O isolamento foi vital para as forças americanas concentrarem

poder de combate junto à cidade e prepararem-se para a fase final da campanha, a

conquista de Bagdá e a derrubada do regime. Caberia, portanto, à 3ª Div Inf / V CEx

a parte oeste da cidade, enquanto a 1ª MARDIV / I MEF conquistaria a parte leste,

com o limite das zonas de ação marcado pelo Rio Tigre. (FONTENOT, DEGEN e

TOHN, 2004)

Figura 14: Objetivos de isolamento do V CEx Fonte: FONTENOT, DEGEN e TOHN, 2004.

Page 119: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

118

Durante a consolidação dos objetivos de isolamento, os elementos de

inteligência norte-americanos realizaram um criterioso levantamento da cidade

mapeando e numerando cada construção e setor da cidade e levantando os

possíveis alvos de relevância que pudessem degradar o regime e retirar seu controle

sobre a capital e o país.

Antes do ataque à cidade, os americanos esperavam um intenso combate

urbano, contra as forças mais experientes e melhor treinadas do Iraque, leais a

Saddam, lutando no seu terreno e pela própria sobrevivência. O esforço de

inteligência procurando identificar a ameaça a ser enfrentada na cidade foi intenso.

No início da campanha, estimativas indicavam que não mais que 9 a 12 companhias

da Guarda Republicana conseguiriam retrair, de forma desorganizada, para o interior

de Bagdá.

Documentos capturados revelaram um plano detalhado, dividindo a cidade

em setores e defendendo a cidade de uma forma semelhante aos chechenos na

primeira batalha por Grozny. O aeroporto internacional e o complexo do palácio

seriam os locais mais bem defendidos da cidade. A presença de paramilitares em

grande número era esperada, mas até o início dos combates não havia uma idéia

clara de como eles combateriam.

Com o desenrolar da campanha, a Guarda Republicana foi derrotada, mas

não destruída. A quantidade de veículos e equipamentos abandonados pela tropa de

elite de Saddam deixou em dúvida a capacidade de defesa dessa força na capital.

Imagens de satélite e outros informes inexplicavelmente quase não apresentavam

trabalhos de fortificações na cidade. Foram identificadas apenas algumas posições

de tiro, mas nada que caracterizasse uma defesa organizada. Relatórios de

inteligência apresentavam apenas a presença de pequenas unidades, com

deficiente comando e controle.

Contudo, as forças milicianas e paramilitares ainda apresentariam resistência

durante os avanços sobre a cidade. No início de abril, as forças iraquianas dentro da

capital totalizavam cerca de 15.000 homens, enquanto que o efetivo das tropas da 3ª

Div Inf e da I MARDIV ao redor da cidade chegavam a 60.000 militares.(EASON,

2003).

Até o início das ações na cidade havia dúvidas sobre como se desenrolaria a

batalha por Bagdá. Após a conquista do aeroporto internacional, pela 3ª Div Inf, as

dúvidas foram dirimidas. O combate seria intenso, mas não como Grozny. A

Page 120: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

119

conquista de um dos pontos críticos anteriormente levantados demonstrou que as

incursões blindadas seriam factíveis.

O “Thunder run” era como um ataque de varredura ou reconhecimento /

demonstração em força, em que uma poderosa força blindada americana passava

por um trajeto pré-determinado da cidade de modo a causar impacto nos habitantes

e testar as defesas inimigas, combatendo com qualquer força inimiga pelo caminho

e assegurando a liberdade de ação e movimento das tropas norte-americanas.

Em 05 de abril, a 2ª Brigada conduziu o primeiro “Thunder run” em Bagdá,

empregando uma FT valor batalhão, a FT 1-64 AR. A missão da FT consistia em

conduzir um reconhecimento em força para norte, para determinar o dispositivo

inimigo, sua força e vontade de lutar. O eixo de ataque percorria uma distância de 20

km até chegar ao aeroporto e juntar-se à 1ª Bda. O poder de combate da FT

consistia de 29 CCs, 14 Bradleys, alguns M-113, conduzindo centenas de soldados.

Figura 15: Thunder Run I. Fonte: FONTENOT, DEGEN e TOHN, 2004.

A missão foi desencadeada às 06 horas da manhã, com alguma incerteza de

como as coisas iriam se desenrolar. Durante 2h e 20 min a FT combateu duramente

contra forças regulares e irregulares iraquianas, que atiravam de todas as

Page 121: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

120

construções, procuravam criar abatizes improvisadas para deter o movimento e por

vezes lançavam ataques suicidas sobre o comboio.

A FT combateu ferozmente nas ruas da cidade, mas conseguiu chegar com

relativa segurança ao objetivo Lions (aeroporto internacional), controlado por forças

amigas. O sucesso da operação indicou que Bagdá seria defendida energicamente,

mas o inimigo não poderia prolongar sua resistência.

Apesar do sucesso da operação, com apenas um morto americano, alguns

feridos e um CC inutilizado, o ministério da informação iraquiano produziu imagens e

noticiou o ataque de uma forma distorcida relatando que os americanos estavam

sendo expulsos da cidade e fugiam das hordas iraquianas. Esta campanha, mais do

que afetar a moral dos atacantes, contribuiria para reforçar a vontade de lutar e a

esperança de vitória dos iraquianos. O comando norte-americano decidiu, então,

que um novo ataque deveria ser lançado, e breve.

Embora os combates tenham sido intensos e ferozes, a resposta iraquiana ao

primeiro ataque evidenciou que as defesas iraquianas não eram sofisticadas e

integradas como se temia. Mais ainda, o ataque mostrou claramente que os

iraquianos foram pegos de surpresa e a coalizão mantinha a iniciativa.

Em 07 de Abril, foi lançado, então o segundo “Thunder run”, dessa vez

empregando toda a 2ª Bda. O propósito dessa nova missão seria demonstrar a

determinação norte-americana e facilitar a queda do regime de Saddam. A missão

seria atacar e conquistar o objetivo Diane. Compreendendo a intenção do escalão

superior e o propósito final da missão, o comandante teria a liberdade de ação

necessária para que, caso houvesse condições para tal, permanecer no centro de

Bagdá, estabelecendo um ponto-forte.

O Cel Perkins, Cmt Bda estabeleceu quatro condições básicas para decidir

atacar e permanecer no centro da cidade:

- a 2ª Bda ter sucesso no seu combate no interior de Bagdá;

- conquistar um importante, simbólico terreno de valor defensivo em

Bagdá;

- abrir e manter um eixo de comunicações e suprimento em Bagdá;

- ressuprimento suficiente para permanecer durante a noite.

Segundo MARTIN (2004), o esquema de manobra previa as seguintes

missões para os elementos subordinados:

Page 122: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

121

- FT 1-64 AR - conquistar objetivo Diane (túmulo do soldado

desconhecido e o parque e zoológico adjacentes);

- FT 4-64 AR - conquistar objetivos Woody West e Woody East (dois

palácios de Saddam, ao longo do rio Tigre);

- FT 3-15 IN - manter o objetivo Saints e o eixo de comunicações e rota

de suprimento (Rodovia 8), conquistando os três maiores entroncamentos ao longo

da estrada – objetivos Curley, Larry e Moe.

Figura 16: Thunder run II. Fonte: FONTENOT, DEGEN e TOHN, 2004.

O ataque iniciou em 07 de abril às 0600h e as FTs enfrentaram uma série de

intensos combates. Às 0700h um foguete ou míssil atingiu o centro de operações

táticas (COT) da brigada, causando várias baixas e comprometendo o comando e

controle por cerca de uma hora. Os engajamentos seguiram ferozes, os objetivos

foram conquistados no centro de Bagdá, e a permanência no centro da cidade

dependeria apenas da manutenção do eixo de suprimento. O Cel Perkins sabia que

a Brigada tinha apenas 4 horas de combustível a partir da linha de partida. Por fim,

contando com reforços do escalão superior (advindos da 1ª Brigada), a 2ª Brigada

assegurou suas posições e os eixos correspondentes, mantendo-se no terreno.

Page 123: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

122

Figura 17: Dispositivo de manutenção do objetivo DIANE. Fonte: FONTENOT, DEGEN e TOHN, 2004.

Na parte leste da cidade, a 1ª MARDIV / I MEF, composta por 4 regimentos

(cada um de valor semelhante a uma brigada, com três batalhões) cruzou o rio

Diyala e conquistou a Base Aérea de Rasheed em 08 de abril. No dia seguinte,

prosseguiu seu avanço pela porção leste de Bagdá até estabelecer a ligação com a

3ª Div Inf, que expandia o objetivo conquistado e repelia pequenos contra-ataques

iraquianos. (FERREIRA, 2003)

Em 10 de abril, a 3ª Div Inf realizaria os últimos grandes ataques, por meio da

3ª Brigada, para consolidar o objetivo Titans, ao norte da cidade. Desarticuladas a

Guarda Republicana e a Guarda Especial Republicana, seus soldados e oficiais

retornaram para casa. Os paramilitares, milícias e mercenários internacionais

esconderam-se, aguardando a definição de como os americanos iriam proceder. O

regime estava derrubado, a campanha fora rápida, mas estava por vir a fase mais

difícil da operação – a transição.

8.5 FALLUJAH

A conquista de Bagdá marcou a derrota do regime de Saddam Hussein.

Contudo, algumas batalhas se sucederam por diversas cidades no interior que

representavam núcleos de resistência, mesmo após a declaração do Presidente dos

Page 124: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

123

EUA de que estavam encerradas as grandes operações militares. O maior destes

combates viria a acontecer um ano depois, na cidade de Fallujah.

Fallujah está situada às margens do rio Eufrates, a 70 km a oeste de Bagdá.

Com cerca de 200 mesquitas, era um importante centro regional sunita e sua

população apoiava fortemente o partido Baath durante o governo de Saddam

Hussein. Muitos dos habitantes eram extremistas árabes que repugnavam qualquer

presença estrangeira. Em 2003, tinha uma população da ordem de 350.000

habitantes.

A cidade ocupava cerca de 25 quilômetros quadrados e possuía 2.000

quarteirões, com ruas estreitas, becos e apenas algumas avenidas. Era cortada no

sentido leste-oeste pela larga rodovia 10 (seis faixas), que dividia a cidade ao meio.

Ao norte da rodovia ficavam as melhores casas e ao sul, as mais pobres. A maioria

das casas tinha no máximo 02 andares.

Desde a queda do regime em Bagdá, a cidade foi um foco de resistência

constante, sendo ocupada por diversas tropas da coalizão, que não tiveram êxito em

pacificar a área. Inclusive 02 batalhões das forças iraquianas livres que começavam

a se estabelecer foram deslocados para a região, sem sucesso.

No princípio de 2004, a situação no Iraque estava cada vez pior. No sul,

milícias xiitas haviam assumido o controle de diversas cidades, enquanto em

Fallujah aumentava a instabilidade. Após uma série de assassinatos e atos

terroristas, a I Força Expedicionária de Fuzileiros Navais (I MEF), que estava com a

responsabilidade sobre a cidade, desencadeou um primeiro grande ataque a

Fallujah, em 04 de abril de 2004.

Para o ataque, a cidade foi isolada com 02 batalhões enquanto 04 batalhões

realizavam o investimento. Após a condução de uma preparação com ataques

aéreos e de artilharia precisos sobre alvos identificados como focos de insurgentes,

as tropas iniciaram a progressão na área urbana. Os combates foram intensos, casa

a casa, quadra a quadra, com inúmeras baixas de ambos os lados.

Após cinco dias de batalha, quando a I MEF já havia conquistado metade da

cidade, o comando das Forças de Coalizão, em uma decisão política, ordenou a

interrupção dos ataques. As baixas e os danos estavam grandes e eram explorados

pela mídia. Altos integrantes do Novo Conselho de Governo do Iraque ameaçavam

rejeitar a presença das forças de coalizão caso o ataque não cessasse.

Page 125: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

124

Com o cessar-fogo por parte dos fuzileiros, os insurgentes voltaram a se

armar e recompletaram suas reservas de munição e armamento aproveitando

comboios de ajuda humanitária que chegavam à cidade. As tropas americanas

deixaram a cidade no início de maio, mantendo, porém suas posições no isolamento

da mesma. Fallujah passou a ser um símbolo da resistência ao Governo interino do

Iraque, formado em junho de 2004.

Com o agravamento da situação interna, o Governo decretou estado de

emergência em grande parte do País e foi autorizado um novo ataque, que deveria

ser forte o suficiente para obter resultados decisivos. Em 30 de outubro, foram

iniciados os ataques aéreos e fogos de artilharia. No dia 05 de novembro, a energia

elétrica foi cortada e panfletos foram lançados sobre a cidade alertando a população

sobre o ataque iminente. Com isso, 70% a 90% dos habitantes deixaram seus lares

e a população foi reduzida a cerca de 70.000 pessoas.

Durante os meses que precederam o ataque, um massivo esforço de

inteligência, utilizando forças especiais, imagens de satélites, veículos aéreos não

tripulados (VANT) e informantes locais permitiram às tropas norte-americanas uma

completa avaliação do inimigo a enfrentar. As forças insurgentes totalizavam cerca

de 3.000 homens, dos quais aproximadamente 20% eram de milícias islâmicas

estrangeiras. Acreditava-se ainda que Abu Musab al-Zarqawi, terrorista jordaniano

da Al Qaeda, estava infiltrado na cidade e sua captura passou a ganhar alta

prioridade. (FRANÇA, 2006)

Os iraquianos haviam transformado a cidade em uma posição fortificada, com

túneis escavados entre as posições e interligados com a rede de esgotos para

permitir deslocamentos em segurança. Armadilhas e barricadas foram preparadas e

uma grande quantidade de armamento e munição armazenada.

Para a operação de ataque a Fallujah foi designado como comandante o

Tenente-General Sattler, dos fuzileiros navais dos EUA (Marines). Segundo GOTT

(2006), as forças envolvidas, de valor divisão, estavam assim organizadas:

- Força-tarefa Regimento 1 (RCT-1) – composta pelo 3º Btl / 1º Rgt Fuz

Nav, 3º Btl/ 5º Rgt Fuz Nav, Força-tarefa 2-7 CAV / 1ª Div Cav (nível Unidade) e uma

companhia de carros de combate dos fuzileiros navais;

- Força-tarefa Regimento 7 (RCT-7) – composta pelo 1º Btl / 8º Rgt Fuz

Nav, 1º Btl/ 3º Rgt Fuz Nav e Força-tarefa 2-2 INF / 3ª Bda / 1ª Div Inf (nível

Unidade) e uma companhia de carros de combate dos fuzileiros navais;

Page 126: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

125

- 2ª Brigada / 1ª Divisão de Cavalaria

- 05 batalhões iraquianos: 1º e 4º /IIF20, 5º e 6º / IAF21 e 36º Btl

Comando.

As forças iraquianas livres, que apoiavam a operação com 05 batalhões,

deveriam ser empregadas para apoio às operações e tarefas de manutenção de

objetivos e edificações já conquistadas. Contudo, também eram ideais para

realização de ações em mesquitas que estivessem sendo usadas pelos insurgentes

e para ações de controle de distúrbios.

O planejamento da operação previu que a 2ª Brigada, juntamente com o 6º Btl

/IIF, realizaria o isolamento da cidade, impedindo a saída ou entrada de insurgentes.

A Forças-tarefas Regimento, que por sua constituição apresentavam valor

semelhante a uma brigada, deveriam realizar o investimento progredindo de forma

paralela, com a RCT-1 atacando pela porção oeste da cidade e a RCT-7 na parte

leste.

A manobra era simples, mas exigia a coordenação entre as diversas forças

envolvidas: exército, fuzileiros navais e forças iraquianas. A surpresa tática foi

atingida quanto à direção do ataque, por meio de uma ação diversionária realizada

ao sul com uma intensificação de fogos e intensa movimentação de tropas. Isto

atraiu a atenção do inimigo enquanto as Forças-tarefas preparavam-se para atacar

pelo norte.

O ataque começou no dia 07 de novembro, com uma ação preliminar rápida

do 36º Btl Comando (iraquiano) para conquistar o Hospital Geral de Fallujah no

oeste da cidade e do 3º Rgt de reconhecimento leve dos fuzileiros navais para

assegurar as pontes ao sul do hospital. Dessa forma, estariam bloqueadas as rotas

de fuga por oeste e garantida a utilização do hospital para atender baixas civis.

20 IIF – Iraqi Intervention Forces – Forças de intervenção iraquianas, embrião de novas forças policiais iraquianas. 21 IAF – Iraqi Army Forces – Forças do Exército Iraquiano, embrião do novo exército iraquiano.

Page 127: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

126

Figura 18: Dispositivo para o ataque em 08 de novembro. Fonte: GOTT, 2006.

Às primeiras horas do dia 08 de novembro, o ataque principal foi

desencadeado, com as Forças-tarefas empregando os blindados em primeiro

escalão acompanhados de elementos a pé. O combate se deu casa a casa, quadra

a quadra. Fogos de artilharia, morteiros e dos carros de combate, além de ataques

aéreos eram empregados para eliminar bolsões de resistência. A resistência foi

grande, mas menos do que inicialmente esperado, confirmando a surpresa

pretendida com a ação diversionária. À medida que era pressionado, o inimigo

utilizava os túneis construídos para se deslocar e abandonar prédios atingidos.

No dia seguinte, os fuzileiros navais ampliaram a frente de ataque,

pressionando os insurgentes em toda a frente. Os bairros da parte norte da cidade já

estavam tomados e a força atacante penetrava fundo na cidade. Em dado momento,

os fogos aéreos e de artilharia tiveram que ser suspensos pela grande concentração

de tropas na cidade e o risco de fratricídio.

Page 128: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

127

Figura 19: Prosseguimento do ataque em 09 de novembro. Fonte: GOTT, 2006.

A progressão era lenta, porém segura. Cada prédio e construção eram limpos,

com a descoberta de inúmeros depósitos de munição e armamentos das forças

insurgentes. Muitos desses estavam bem escondidos, provavelmente para serem

utilizados após os combates para novas ações de resistência.

A FT 2-2 INF foi a primeira tropa que atingiu a linha de controle FRAN

(rodovia 10), bloqueando mais esta saída para as forças inimigas e criando uma

nova alternativa para ressuprimento das tropas atacantes. No início do dia 11 de

novembro, tanto a RCT-1 como a RCT-7 já haviam pressionado o inimigo para a

porção sul da cidade.

Com o alcance da linha de controle FRAN pelo escalão de ataque, as forças

norte-americanas realizaram uma pausa para ressuprimento e coordenação, bem

como assegurar a limpeza das áreas ultrapassadas. A maior parte das mesquitas e

prédios importantes já havia sido conquistada, com destacada atuação das forças

iraquianas na ocupação das primeiras.

Ao fim do dia 11 de novembro, o ataque prosseguiu rumo à extremidade sul

da cidade, balizada pela linha de controle JENA.

Page 129: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

128

Figura 20: Prosseguimento do ataque em 11 de novembro. Fonte: GOTT, 2006

Os intensos combates perdurariam por mais três dias até que as tropas

atacantes atingissem o limite sul da localidade. Mais de 300 insurgentes se

renderam, muitos deles em uma única mesquita. Foram encontradas centenas de

fuzis AK-47, munição anticarro, granadas de morteiro e explosivos improvisados em

casas e mesquitas.

Contudo, os comandantes norte-americanos temiam que cachês e locais de

homizio tivessem sido ultrapassados e viessem a se transformar em novos focos de

resistência. As Forças-Tarefas retornaram, então pela mesma zona de ação,

“limpando” mais uma vez a cidade, agora no sentido sul-norte.

Para este novo ataque, as forças foram divididas em suas frações mais

elementares, a fim de que todos os lugares da localidade fossem revistados. Por fim,

no dia 16 de novembro de 2004, a cidade de Fallujah foi considerada segura pelas

forças de coalizão, embora pequenas ações ainda fossem desencadeadas nas

próximas semanas.

Page 130: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

129

Figura 21: Limpeza das áreas ultrapassadas em 15 de novembro. Fonte: GOTT, 2006

Ao término das ações grande parte das estruturas da cidade estava

seriamente abalada. Mais de sessenta por cento das construções da cidade foram

danificadas, vinte por cento foram destruídas por completo e sessenta por cento das

mesquitas foram duramente atingidas. Iniciava-se o duro trabalho de reconstrução.

Quanto às ações desencadeadas verifica-se o notável esforço de inteligência,

que permitiu à forças atacantes o perfeito conhecimento acerca do inimigo e que o

investimento fosse realizado em condições adequadas. Destaca-se ainda a perfeita

integração e coordenação obtida entre as tropas do exército e dos fuzileiros navais,

além da participação importante das forças livres iraquianas.

Por fim, foi possível comprovar a experiência adquirida em combates urbanos

durante a campanha terrestre para a conquista de Bagdá, conforme afirma GOTT

(2006):

Em novembro de 2004, as forças do exército e fuzileiros navais no Iraque haviam desenvolvido tremenda habilidade em táticas, técnicas e procedimentos no ambiente urbano. Muitos, senão a maioria, dos oficiais e praças eram veteranos da invasão do Iraque, em março e abril de 2003, e subseqüente ocupação do País. (tradução do autor)

Page 131: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

130

9 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA HISTÓRICA

Os casos históricos estudados representam os maiores combates urbanos

dos últimos quinze anos. Exércitos de todo o mundo estudam os detalhes destas

batalhas, procurando depreender as lições aprendidas, a fim de aprimorarem suas

doutrinas de emprego e se prepararem para o cenário mais provável das guerras do

século XXI.

A análise dos dados obtidos pela pesquisa histórica foi feita

comparativamente com aspectos doutrinários dos países estudados e os resultados

auferidos com a pesquisa de campo, a fim de que fosse possível chegar a

conclusões pertinentes que tivessem validade efetiva para o aprimoramento da

doutrina militar terrestre brasileira.

O poder de combate necessário para a condução de um ataque a uma área

edificada foi estabelecido como a variável dependente e seu estudo que a seguir é

descrito foi conduzido buscando-se uma correlação com as variáveis independentes.

Em cada análise, a fim de minimizar fatores externos, as variáveis intervenientes

que não puderam ser isoladas, por tratar-se de emprego da metodologia de estudo

ex-post-facto, tiveram sua influência avaliada.

Para mensuração do poder de combate empregado pelos diversos países

analisados e a fim de facilitar a comparação de estudo foram adotados como

parâmetros o número de divisões, ou de brigadas empregadas no caso de emprego

de apenas uma divisão. A maior dificuldade residiu na avaliação do Exército Russo,

por sua constituição particular e a existência de um escalão acima de divisão

denominado Grupo de Exércitos que não encontra similar na doutrina do Exército

Brasileiro.

9.1 FORMA DE MANOBRA

A forma de manobra utilizada pelos atacantes é considerada pelos exércitos

estudados como um fator que acarreta diferenças no poder de combate necessário.

Particularmente no caso de um ataque sistemático, casa a casa, considera-se a

necessidade de um maior número de meios em relação a um ataque dirigido a

pontos mais importantes da localidade.

Em determinadas ações, as duas manobras podem ocorrer. Analisando

particularmente a primeira batalha por Grozny verifica-se que inicialmente os russos

buscaram o investimento seletivo, com a conquista do palácio presidencial e de mais

Page 132: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

131

alguns pontos sensíveis. Contudo, por falhas no planejamento, insuficiência de

meios e avaliação equivocada das possibilidades inimigas, o ataque inicial, da noite

de 31 de dezembro de 1994, redundou em completo fracasso.

Após reformular seu planejamento o exército russo optou pela continuação do

ataque empregando uma progressão casa a casa, de forma sistemática. Tal medida,

com a devida concentração de meios e modificação de procedimentos, resultou no

sucesso tanto da campanha de 1995, quanto em 1999/2000.

O quadro a seguir apresenta as formas de manobra adotadas nas batalhas

estudadas na presente investigação. A fim de permitir uma separação em dois

grupos homogêneos, as manobras que contemplem ataques a pontos importantes

previamente selecionados, sem caracterizar o investimento sistemático casa a casa,

serão definidas como ataques seletivos.

Batalha Manobra Poder de combate

atacante

Grozny I (ataque inicial) Ataque seletivo 1 Divisão

Grozny I (prosseguimento) Ataque sistemático 4 Grupos de Exércitos

(5 Divisões)

Grozny IV Ataque sistemático 4 Grupos de Exércitos

As Samawah Ataque sistemático 1 Brigada

An Najaf Ataque seletivo 1 Divisão (2 Brigadas)

Basra Ataque seletivo 1 Divisão (3 Brigadas)

Bagdá Ataque seletivo 2 Divisões (7 Brigadas)

Fallujah Ataque sistemático 1 Divisão (3 Brigadas)

Quadro 12: Manobras empregadas nas batalhas estudadas. Fonte: o autor. O quadro apresentado não permite inferências ou conclusões sobre a

influência da forma de manobra no poder de combate necessário de forma isolada,

pois há necessidade de verificação dos demais parâmetros estabelecidos. Nos

estudos a seguir estes dados foram conjugados para obtenção de respostas mais

efetivas.

Por tratar-se de um ataque mal sucedido, a investida russa inicial sobre

Grozny não foi estudada na comparação das demais variáveis. Sua apresentação

neste item destaca apenas a possibilidade de formas de manobra diferentes em uma

mesma campanha e a evidente diferença de meios entre as mesmas.

Page 133: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

132

9.2 PODER DE COMBATE X TERRENO

O próximo aspecto estudado foi o terreno, de acordo com o estudo

apresentado e encontrando fundamentação doutrinária no que prescreve o Exército

dos EUA, que estabelece uma correlação básica entre o poder de combate a ser

empregado e o tamanho da cidade a ser atacada. Ressalta-se ainda que a ECEME

também vem adotando esta correlação em alguns temas táticos que envolvem a

conquista de cidades.

Passou-se, então, à comparação dos casos históricos estudados. No quadro

a seguir eles foram ordenados de acordo com o tamanho da cidade, expresso pela

sua população total quando da época dos combates, sendo feita também uma

correlação com a dimensão aproximada da área construída.

Cidade População Área da cidade Poder de combate atacante

Bagdá 5.000.000 hab 500 km2 2 Divisões (7 Brigadas)

Basra 1.250.000 hab 100 km2 1 Divisão (3 Brigadas)

An Najaf 500.000 hab 36 km2 1 Divisão (2 Brigadas)

Grozny I 490.000 hab 150 km2 4 Grupos de Exércitos (5 Divisões)

Grozny IV 490.000 hab 150 km2 4 Grupos de Exércitos

Fallujah 350.000 hab 25 km2 1 Divisão (3 Brigadas)

As Samawah 100.000 hab 13 km2 1 Brigada

Quadro 13: Relação tamanho da cidade x poder de combate empregado Fonte: o autor

Os dados apresentados não apresentam relação de proporcionalidade entre o

tamanho da cidade e o poder de combate empregado. Contudo, a situação se

modifica quando se diferencia a forma de manobra empregada para a conquista da

área urbana. As cidades de Fallujah, As Samawah e Grozny foram conquistadas por

meio de um combate sistemático casa a casa, enquanto Bagdá, Basra e An Najaf,

conforme apresentado na descrição das batalhas, foram conquistadas por meio de

ataques focais, dirigidos a pontos e áreas importantes. Assim, analisando

separadamente os combates, de acordo com a forma de manobra empregada, foi

possível chegar a resultados que indicam relação entre o tamanho da cidade e o

poder de combate da força atacante.

Observando os resultados abaixo se identifica a perfeita correlação entre o

tamanho da cidade e sua população e o poder de combate empregado, dentro da

mesma forma de manobra. Percebe-se também a comprovação de que o ataque

Page 134: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

133

sistemático necessita de um poder de combate significativamente superior, conforme

estabelecem os exércitos estudados em suas publicações doutrinárias, sendo,

portanto, mais adequado para cidades menores.

Forma de manobra Cidade População Área Poder de combate

Bagdá 5.000.000 hab 500 km2 2 Divisões (7 Brigadas)

Basra 1.250.000 hab 100 km2 1 Divisão (3 Brigadas) Ataque seletivo

An Najaf 500.000 hab 36 km2 1 Divisão (2 Brigadas)

Grozny I 490.000 hab 150 km2 4 Grupos de Exércitos

(5 Divisões)

Grozny IV 490.000 hab 150 km2 4 Grupos de Exércitos

Fallujah 350.000 hab 25 km2 1 Divisão (3 Brigadas)

Ataque sistemático

As Samawah 100.000 hab 13 km2 1 Brigada

Quadro 14: Influência da forma de manobra no poder de combate. Fonte: o autor

Outra inferência possível a partir dos resultados acima é a observância do

prescrito na doutrina do Exército dos EUA (ESTADOS UNIDOS, 2002a) que prevê o

emprego do escalão brigada para ataques a cidades de até 100.000 habitantes e

divisão ou escalões superiores para áreas urbanas maiores. De todos os casos

analisados somente para a conquista de As Samawah (100.000 habitantes) foi

empregada uma brigada, em todas as demais cidades o valor mínimo da tropa

necessária a sua conquista foi uma divisão de exército.

9.3 PODER DE COMBATE X INIMIGO

A revisão bibliográfica demonstrou que o inimigo em um combate em

localidade, em geral não se apresenta como uma tropa regular e, quando esta se faz

presente, muitas vezes combate misturada à população ou em conjunto com forças

irregulares. Portanto, torna-se difícil uma avaliação precisa em termos de valor e a

mensuração adequada para estabelecimento de uma correlação que possa indicar

qual o poder relativo de combate necessário para a operação.

A fim de estabelecer um parâmetro a ser estudado, a presente investigação

procurou levantar os efetivos totais empregados pelos oponentes, buscando

estabelecer uma correlação entre eles. Assim, verifica-se a possibilidade de

correspondência de duas formas: a partir do escalão empregado e do seu efetivo.

Page 135: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

134

Cidade Poder de combate empregado

Efetivo atacante

Efetivo inimigo

Proporção de forças

Grozny IV 4 Grupos de Exércitos 100.000 h 5.000 h 20:1

Bagdá 2 Divisões (7 Brigadas) 60.000 h 15.000 h 4:1

Grozny I 4 Grupos de Exércitos (5 Divisões)

50.000 h 10.000 h 5:1

Fallujah 1 Divisão (3 Brigadas) 38.000 h 3.000 h 13:1

Basra 1 Divisão (3 Brigadas) 22.000 h 2.000 h 11:1

An Najaf 1 Divisão (2 Brigadas) 12.000 h 2.000 h 6:1

As Samawah 1 Brigada 5.000 h 1.200 h 4:1

Quadro 15: Poder de combate x efetivo inimigo Fonte: o autor

Os dados da força atacante representam todo o efetivo empregado para a

conquista da cidade, incluindo as tropas que conquistaram objetivos de isolamento e

aquelas que efetivamente investiram sobre a localidade. Cabe ressaltar que o efetivo

inimigo apresentado carece de maior precisão, em virtude de tratar-se em sua

maioria de forças irregulares e os dados disponíveis serem, por vezes, conflitantes.

A fim de minimizar possíveis erros procurou-se relacionar no quadro o maior valor

atribuído às forças inimigas, representando assim a pior hipótese para as forças

atacantes.

Os dados de efetivo quando comparados são extremamente genéricos e sua

aplicação pode suscitar dúvidas em especial pela diferença de natureza das tropas

quando se compara um exército regular atacante com forças irregulares. Outro

questionamento poderia ser em relação à utilização do valor total do efetivo

atacante, incluindo tropas que não estariam diretamente envolvidas com o combate

e não representariam propriamente os elementos de manobra.

Entretanto, trata-se de uma generalização, visando estabelecer uma

correlação básica ou um parâmetro inicial de estudo. Os fatores intervenientes

relativos a cada operação em particular deverão ser cuidadosamente analisados

quando do planejamento, buscando a realização das adaptações necessárias.

Assim, em uma primeira análise, poder-se-ia afirmar que a relação de forças

necessária para um ataque a uma área edificada é significativamente superior a de 3

atacantes por defensor preconizada nas publicações doutrinárias para operações

em terreno convencional ou “aberto”. Tomando por base as batalhas estudadas

Page 136: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

135

pode-se afirmar que o poder relativo de combate mínimo seja de 4 atacantes por

defensor.

Contudo, os dados de poder relativo de combate devem ser comparados com

os demais já analisados, a fim de identificar se existe alguma correlação entre a

proporção de forças e os fatores manobra e terreno.

Manobra Cidade População Poder de combate Proporção de forças

Bagdá 5.000.000 hab 2 Divisões (7 Brigadas) 4:1

Basra 1.250.000 hab 1 Divisão (3 Brigadas) 11:1 Ataque

seletivo An Najaf 500.000 hab 1 Divisão (2 Brigadas) 6:1

Grozny I 490.000 hab 4 Grupos de Exércitos

(5 Divisões) 5:1

Grozny IV 490.000 hab 4 Grupos de Exércitos 20:1

Fallujah 350.000 hab 1 Divisão (3 Brigadas) 13:1

Ataque

sistemático

As Samawah 100.000 hab 1 Brigada 4:1

Quadro 16: Poder relativo de combate x forma de manobra Fonte: o autor

Observando os resultados no quadro acima, verifica-se que, em relação aos

casos analisados, não há correlação que permita inferir uma proporção de forças

ideal ou poder de combate a ser empregado em função da população da cidade ou

da forma de manobra adotada. Os fatores intervenientes em cada operação fazem

com que tal relação varie, mas sempre acima dos valores previstos para o terreno

convencional.

9.4 PODER DE COMBATE X POPULAÇÃO

A última variável estudada foi a população presente e as considerações civis

decorrentes. Para tanto, verificou-se a quantidade de habitantes que permaneceu na

cidade durante os ataques e procurou-se classificar sua atitude em relação às tropas

atacantes como favorável, contrária ou neutra. Estes aspectos foram selecionados

como indicadores da variável de estudo e considerados na pesquisa de campo como

alguns dos mais relevantes relacionados a considerações civis. O critério de escolha,

pois, abrangeu a importância e a facilidade de mensuração.

Analisando os casos históricos relacionados, verifica-se que somente em

Grozny IV e Fallujah houve uma redução significativa da população por ocasião do

ataque, devido às fortes campanhas psicológicas desencadeadas pelas forças

Page 137: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

136

atacantes. Nas demais cidades os combates foram desencadeados com a presença

significativa de civis, com seus riscos e problemas decorrentes.

Cidade Poder de combate empregado

Proporção de forças

Pop Total Pop remanescente

Atitude da Pop

Grozny IV 4 Grupos de Exércitos 20:1 490.000 50.000 Contrária

Bagdá 2 Divisões (7 Brigadas) 4:1 5 milhões 5 milhões Neutra

Grozny I 4 Grupos de Exércitos

(5 Divisões) 5:1 490.000 490.000 Contrária

Fallujah 1 Divisão (3 Brigadas) 13:1 350.000 70.000 Contrária

Basra 1 Divisão (3 Brigadas) 11:1 1,25

milhão 1,25 milhão Neutra

An Najaf 1 Divisão (2 Brigadas) 6:1 500.000 500.000 Neutra

As

Samawah 1 Brigada 4:1 100.000 100.000 Neutra

Quadro 17: Influência da população no poder de combate Fonte: o autor

As populações das cidades em que suas atitudes foram consideradas neutras

não tiveram participação marcante em apoio a nenhuma das forças. É interessante

abordar que tal situação, por vezes, foi conseguida pela própria força atacante, que

desencadeou suas ações após uma minuciosa análise de inteligência e campanhas

psicológicas, respeitando costumes e tradições locais e procurando sempre

minimizar danos colaterais. Como exemplos destacam-se a atuação do exército

britânico em Basra e a ação norte-americana em An Najaf.

Assim, ao analisar o quadro acima, não é possível concluir que a variável

população, sob a ótica dos indicadores número de civis e atitude, exerça influência

significativa sobre o poder de combate necessário para a força atacante. Pode-se

considerar que tal variável seja considerada como interveniente, isto é, merece ser

estudada, modifica o cenário envolvido, mas não é capaz de determinar valores ou

proporções para a variável dependente de estudo.

9.5 OUTROS FATORES INTERVENIENTES

Como última análise dos casos históricos, cabe ressaltar a presença e

influência de determinados fatores que, apesar de não serem determinantes para o

estabelecimento do poder de combate atacante, geram conseqüências em sua

aplicação.

Page 138: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

137

Primeiramente, destaca-se no estudo do terreno o seu caráter

multidimensional. A presença de subterrâneos utilizáveis diferencia o combate em

áreas urbanas dos demais tipos de terreno. Em Grozny IV e em Fallujah, os

defensores fizeram larga utilização de esgotos e galerias para se movimentar e

surpreender taticamente os atacantes. Tais ações geraram preocupações maiores

com as áreas já ultrapassadas, emprego de efetivos para protegê-las, redução do

ritmo do combate e até mesmo manobras a fim de garantir a efetiva limpeza do

terreno, como fizeram as tropas norte-americanas em Fallujah.

Além do subsolo, o terreno urbano caracteriza-se por outra dimensão

importante determinada pelas construções, seu número de pavimentos e

interligação. Tal característica possibilita diferenças marcantes na manobra das

forças e suas possibilidades. Exemplo significativo pode-se obter pela comparação

do ataque inicial russo a Grozny em 31 de dezembro de 1994 e a segunda “corrida

do trovão” norte-americana sobre Bagdá em 2003.

As duas ações tinham grande semelhança em seus objetivos, quais sejam

conquistar pontos importantes no centro das cidades atacadas, cujo valor simbólico

e político levaria à derrocada do regime vigente e aceleraria o término dos

combates, por infligir um pesado golpe nas forças defensoras. A manobra também

era semelhante, representada por um ataque rápido, desencadeado por forças

blindadas, sem preocupação com o combate casa a casa.

Entretanto, o terreno era substancialmente diferente e influenciou

principalmente na ação do inimigo. Em Grozny, as ruas eram mais estreitas e os

prédios mais altos, facilitando o posicionamento de atiradores e a realização de

emboscadas sobre a tropa atacante. Em Bagdá, o ataque se realizou sobre uma

avenida larga, com edificações distantes e menores, de no máximo três andares.

Não obstante forte ação do defensor, havia melhores campos de tiro para o atacante

e alternativas para deslocamento, dificultando a interrupção do movimento.

Aliado à influência do terreno, as tropas norte americanas haviam estudado

exaustivamente as campanhas em Grozny e, esperando uma forte reação inimiga,

trataram de não repetir erros observados. Primeiramente, estudaram

detalhadamente o terreno. Imagens de satélite atualizadas estavam de posse de

todos os escalões, possibilitando a perfeita orientação dentro da cidade. Em Grozny,

as cartas disponíveis eram em escalas inadequadas e insuficientes para os escalões

Page 139: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

138

menores. Assim, quando os chechenos iniciaram suas ações bloqueando ruas e

canalizando o movimento russo, estes literalmente ficaram desorientados.

Outro aspecto que diferenciou de forma marcante as campanhas, ajudando a

explicar como o exército norte-americano conseguiu conquistar uma cidade muito

maior que Grozny empregando menos tropas que os russos foi a atuação da

inteligência de combate. Intensas ações desencadeadas pelas forças especiais e

reconhecimentos realizados pelas tropas de vanguarda permitiram uma avaliação

adequada do terreno e do inimigo, proporcionando planejamentos apropriados e

rápida conquista da capital iraquiana, assim como das demais cidades envolvidas na

campanha.

Por fim, a preocupação com as considerações civis durante os combates no

Iraque representou uma grande evolução em relação aos combates em Grozny,

facilitando a realização dos combates e potencializando sucessos obtidos.

As batalhas pela capital chechena foram combates de destruição, em que não

havia preocupação com danos colaterais. De forma mais marcante, na primeira

ofensiva, até mesmo os cidadãos de origem russa que se encontravam na cidade

foram indistintamente afetados e se opuseram às forças atacantes.

Em contrapartida, nas lutas no Iraque, a maioria dos ataques foi conduzida de

forma seletiva, buscando alvos pontuais e procurando reduzir danos colaterais. Em

determinadas cidades de importância religiosa ou onde se esperava maior apoio a

Saddam, como An Najaf e Basra, procedimentos especiais foram cuidadosamente

adotados, como respeito a lugares sagrados e a rituais religiosos, com intuito de não

provocar reações na população e minimizar efeitos negativos na opinião pública

local e mundial.

Assim, pode-se inferir que os aspectos aqui abordados como intervenientes

fazem parte da análise da situação e do planejamento de toda operação. O

ambiente operacional urbano, possuidor de características particulares que variam

de cidade a cidade, faz com que cada combate seja único. A generalização dos

efeitos de cada fator se trata, portanto, de difícil e arriscada tarefa devendo, pois,

limitar-se aos fatores mais importantes e que estarão presentes em todas as

batalhas.

Page 140: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

139

10 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

As cidades do século XXI constituem um desafio para as operações militares,

que cada vez mais serão travadas nesse ambiente operacional. O sucesso da

campanha dependerá da perfeita compreensão dos princípios ilustrados no

passado, aplicados ao conhecimento profundo das condições, tecnologia,

organização e táticas do presente.

Atendendo a tal corolário, esta investigação científica buscou basear seus

procedimentos em experiências de um passado recente que representassem

situações mais próximas da realidade que o Exército Brasileiro poderá vir a se

defrontar caso o País participe de campanhas militares dessa natureza.

Por meio de uma análise comparativa, observou-se que a doutrina brasileira

de combate em localidades carece de maior profundidade e atualização, para

contemplar as diversas evoluções dos fatores que interagem neste complexo

ambiente. Verificou-se, no presente estudo, a evidente defasagem existente em

relação aos exércitos dos Estados Unidos, Inglaterra e Espanha, bem como a

preceitos da OTAN, que já consideram o combate urbano como uma tendência

estabelecida e reformularam seus preceitos doutrinários, adaptando-os à realidade

atual.

Ao focar a pesquisa na determinação do poder de combate necessário para a

realização de um ataque, a presente investigação tencionou solucionar uma questão

basilar no planejamento operacional e servir de ponto de partida para estudos

futuros que possam colaborar para a atualização da doutrina brasileira.

O estudo detalhado do ambiente operacional urbano, realizado inicialmente,

permitiu a verificação de suas particularidades e influências sobre o planejamento e

a condução dos combates. Ao identificar os principais componentes dos aspectos

físico e humano de uma área urbana esta pesquisa detalhou características que

fazem com que cada cidade seja um ambiente único.

Verificou-se a seguir, a partir do estudo das doutrinas dos países

selecionados, quais seriam os possíveis fatores com maior influência sobre o poder

de combate, a fim de conduzir o estudo dos casos históricos selecionados. Assim,

determinou-se que o ponto de partida seria a investigação das variáveis manobra,

terreno, inimigo e população.

A fim de corroborar com as conclusões advindas da revisão bibliográfica

realizada em manuais e publicações doutrinárias, estabeleceu-se uma metodologia

Page 141: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

140

para uma pesquisa de campo que permitisse auferir impressões e opiniões de

oficiais do Exército Brasileiro acerca do tema.

Os resultados obtidos pela pesquisa de campo sofreram o devido tratamento

estatístico e apresentaram-se significativos, permitindo o prosseguimento do estudo

e comprovando a pertinência das variáveis selecionadas, a fim de verificar a

validade da hipótese estabelecida por meio do estudo ex-post-facto das batalhas

escolhidas.

O estudo histórico de cada combate selecionado baseou-se em análises pós-

ação das forças envolvidas, ensinamentos colhidos em centros de lições aprendidas,

entrevistas publicadas de atores envolvidos e artigos especializados, buscando a

maior proximidade com a realidade dos fatos observados e as fontes primárias do

conhecimento. Contudo, ao tratar-se de eventos históricos, as descrições e análises

sofrem sempre a influência da ótica do autor. Com intuito de minimizá-la, buscou-se

em todos os casos a diversidade de fontes.

A análise das batalhas permitiu a identificação do comportamento das

variáveis de estudo e posterior confronto entre as mesmas, a fim de verificar suas

relações de dependência e proporcionalidade. A interpretação de tais resultados foi

feita tanto isoladamente em relação à variável dependente “poder de combate”

quanto em conjunto, possibilitando conclusões mais adequadas.

Em relação à variável manobra, foi possível verificar a congruência entre os

dados colhidos na pesquisa doutrinária e na pesquisa de campo. Assim, conclui-se

que as manobras de ataques seletivos apresentam-se como mais adequadas face à

natureza dos conflitos modernos, devendo ser mais bem definidas e estudadas pela

doutrina militar brasileira.

Outro aspecto em relação à manobra que foi possível inferir das pesquisas

desenvolvidas foi sua relação com o poder de combate necessário. Os casos

históricos analisados na Chechênia e no Iraque permitiram a comprovação dos

preceitos doutrinários da OTAN e do Espanha, que atestam a maior necessidade de

poder de combate quando da realização de ataques sistemáticos, em detrimento de

manobras pontuais ou seletivas.

Partindo das conclusões obtidas em relação à manobra, a análise do fator

terreno permitiu conclusões mais concretas acerca da problemática em questão.

Primeiramente, verificou-se que as publicações doutrinárias nacionais não orientam

efetivamente o estudo do terreno quando da realização do combate urbano.

Page 142: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

141

Percebeu-se claramente a grande diferença de abordagem em relação aos países

estudados e a necessidade de atualização dos manuais brasileiros.

Em relação a parâmetros para a determinação do poder de combate, a

pesquisa de campo apontou que uma análise adequada do terreno, em especial do

tamanho da cidade, poderá orientar os planejamentos operacionais. Estes

resultados se apresentaram coerentes com a pesquisa doutrinária, na qual

particularmente o Exército dos EUA apresentou correlações gerais entre o poder de

combate e o tamanho da cidade a ser atacada, determinado pelo seu número de

habitantes.

O estudo dos casos históricos apresentados ratificou as inferências anteriores

e permitiu a confirmação dos dados obtidos no estudo da doutrina norte-americana.

Assim, pode-se concluir que a correlação entre o tamanho da cidade (definido por

sua população) e o poder necessário para um ataque deve ser a apresentada de

forma genérica no quadro a seguir.

Tamanho da cidade (Número de habitantes)

Escalão a ser empregado

Até 3.000 habitantes Batalhão e companhia

3.000 a 100.000 habitantes Brigada

Mais de 100.000 habitantes Divisão e superiores

Quadro 18: Relação tamanho da cidade x poder de combate necessário Fonte: o autor

O quadro acima não faz distinção em relação à manobra utilizada, porque

pela análise dos casos estudados não se verificou correlação que pudesse

estabelecer uma diferenciação mais precisa. Contudo, permanecem válidos os

preceitos de que uma manobra seletiva representa economia de meios e, portanto,

apresenta-se mais adequada, em especial quando se tratar de cidades maiores.

Os demais fatores que envolvem o terreno também foram levantados como

importantes, com destaque para o caráter multidimensional do mesmo. Conclui-se

que o estudo detalhado das dimensões subterrâneas e acima do solo, por dentro e

sobre as edificações é de fundamental importância para o planejamento das

operações.

Por esta investigação buscar uma generalização capaz de atender ao maior

número de situações, aspectos como existência de subterrâneos utilizáveis e altura

e densidade de edifícios foram considerados como fatores intervenientes, que

Page 143: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

142

devem ser analisados, mas não são considerados determinantes para obtenção de

um parâmetro geral.

Passando para o estudo do inimigo a ser enfrentado, verificou-se uma grande

lacuna na doutrina brasileira, que, por ser muito antiga, não aborda com

profundidade o tema e não particulariza a questão.

Pela análise dos casos históricos expostos, coerente com o que prescrevem

as doutrinas de todos os países estudados e corroborado pelos resultados da

pesquisa de campo é possível inferir que o defensor em uma área urbana não será

uma força regular atuando como tal. O cenário mais provável e que vem se

repetindo ao longo dos últimos anos, como foi verificado na pesquisa histórica é de

um inimigo irregular, composto por milícias, paramilitares e guerrilheiros, até mesmo

com a presença de forças regulares, lutando muitas vezes misturadas à população

civil.

Definido o inimigo, o grande desafio passou a ser dimensioná-lo, a fim de

obter resultados mais concretos e bases para o estabelecimento do poder relativo de

combate. A solução encontrada foi a utilização do efetivo total como parâmetro de

comparação, o que permitiu a generalização pretendida.

Assim, tendo como base de comprovação a análise dos casos históricos

selecionados, foi possível inicialmente inferir que o poder relativo de combate

necessário em uma operação de ataque a uma área edificada deve ser

significativamente superior em relação ao terreno convencional. Dessa forma, foi

possível estabelecer como correlação mínima para este ambiente operacional a de

04 (quatro) atacantes por defensor.

Mister destacar que este parâmetro é apresentado como o mínimo

necessário, mas que todos os fatores da decisão devem ser interagidos em cada

situação, conduzindo a decisões mais precisas e adaptadas ao cenário particular em

tela.

Como última variável analisada, a população aparece como importante

componente das chamadas “considerações civis”, que já têm sido estudadas com

profundidade pelos exércitos dos países abordados neste estudo. Neste ínterim,

verifica-se mais uma lacuna na doutrina brasileira, que não aborda este fator em seu

estudo de situação.

Com base nas três vertentes desta investigação (doutrinária, de campo e

histórica), foi possível concluir peremptoriamente que as considerações civis fazem

Page 144: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

143

parte fundamental das operações em áreas urbanas e recomenda-se que tal

assunto seja aprofundado em estudo específico para ser incluído nos planejamentos

operacionais do Exército Brasileiro.

Em relação à influência da população na determinação do poder de combate

necessário para um ataque a uma área edificada, não foi possível estabelecer uma

correlação genérica. Ainda assim, verificou-se que os fatores primordiais de estudo

que podem trazer conseqüência direta sobre o planejamento são o efetivo existente

e a atitude da população em relação à tropa atacante.

Por fim, conjugando as conclusões obtidas pela análise de cada fator em

particular, a investigação desenvolvida permitiu a confirmação da hipótese de

estudo. Assim, com base nos dados apresentados, pode-se afirmar com significativo

grau de certeza que é possível determinar o poder de combate necessário para a

condução de um ataque em áreas edificadas pela análise das variáveis manobra,

terreno, inimigo e população.

Ressalta-se que conforme objetivos da presente pesquisa, não se tenciona

resolver o problema por meras conjunções ou fórmulas matemáticas. Ao concluir

positivamente em relação à hipótese, apresenta-se, entretanto, parâmetros iniciais

em relação ao terreno e ao inimigo que devem ser observados no princípio do

planejamento e fatores intervenientes como a população e a manobra que

influenciam e conduzem o estudo.

Os combates em ambiente urbano fazem parte de qualquer situação de

conflito no século XXI. Para atender à necessidade de preparação adequada, as

publicações doutrinárias brasileiras que tratam do assunto necessitam de uma

revisão, adequando-as às novas configurações e implicações do combate moderno.

Os fundamentos são imutáveis, no entanto, como foi observado nesta investigação

científica, importantes aspectos ainda não são abordados nos manuais do Exército

Brasileiro.

Espera-se, por fim, que os resultados apresentados neste trabalho possam

contribuir para o aperfeiçoamento da doutrina militar terrestre brasileira, auxiliando

no preparo da Força Terrestre para os desafios a serem enfrentados no atual

cenário mundial.

________________________________ JOÃO FELIPE DIAS ALVES – Maj Inf

Page 145: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

144

REFERÊNCIAS

BASTO, Luís Cláudio de Mattos. O emprego da Aviação do Exército no combate em áreas urbanas: um estudo. Dissertação. (Mestrado em Ciências Militares) – Escola de Comando e Estado-maior do Exército. Rio de Janeiro, 2003. BEEVOR, Anthony. Stalingrado – o cerco fatal. Tradução de Alda Porto. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2002. 558p. BOWDEN, Mark. Falcão Negro em perigo: a história de uma guerra moderna. São Paulo: Landscape, 2001. BRASIL, Comando de Operações Terrestres (COTER). CI 7-5/2 – O Pelotão de Fuzileiros no Combate em Área Edificada. 1. ed. (experimental), Brasília, 2006. ______, Estado-Maior do Exército. C 7-1: emprego da infantaria. 2. ed. Brasília, DF, 1984. ______, Estado-Maior do Exército. C 7-20: batalhões de infantaria. 3. ed. Brasília, DF,2003b. ______, Estado-Maior do Exército. C 31-50: combate em zonas fortificadas e localidades. 1. ed. Brasília, DF, 1976. ______, Estado-Maior do Exército C 100-5: operações. 3. ed. Brasília, DF, 1997. ______, Estado-Maior do Exército C 101-5: estado-maior e ordens 2º vol. 2. ed. Brasília, DF,2003a. ______, Estado-Maior do Exército IP 30-10: informações sobre o terreno. 1. ed. Brasília, DF, 1975. ______, Estado-Maior do Exército IP 100-1: bases para a modernização do exército brasileiro – doutrina delta. 1. ed. Brasília, DF, 1996. BROOKS, Vincent. CENTCOM Press Briefings Operation Iraqi Freedom. Doha: 2003. Disponível em http://www.globalsecurity.org/military/ops/iraqi-freedombriefs 2002- 2003.htm, acesso em 22 de janeiro de 2007. CAMERON, Robert S. Aachen, Hue and Grozny: mout lessons for the 21st century. Palestra proferida para o Curso Avançado de Infantaria do Exército dos EUA. Fort Benning: 2002. CENTRO DE AVALIAÇÃO DO ADESTRAMENTO DO EXÉRCITO BRASILEIRO (CAADEx). Relatório do I Simpósio de Combate em Àrea Edificada. Rio de Janeiro, 1999.

Page 146: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

145

DA SILVA, Eduardo Gomes. As considerações civis como fator de decisão nos níveis operacional e tático. Dissertação. (Mestrado em Ciências Militares) – Escola de Comando e Estado-maior do Exército. Rio de Janeiro, 2006. DI MARCO, Lou. Attacking the Heart and Guts: Urban Operations through the Ages Combat Studies Institute Command & General Staff College. Fort Leavenworth, Kansas, 2002. DOMINGUES, Clayton Amaral. Estatística Aplicada: à metodologia científica para temas militares. Rio de Janeiro: 2004 DOWD, Alan W. Thirteen Years: The Causes and Consequences of the War in Iraq. Parameters, Ed. Outono 2003. Disponível em http://www.carlisle.army.mil/ usawc/Parameters/03autumn/dowd.pdf , acesso em 19 de janeiro de 2007. EASON, Gary. Analysis: the forces around Baghdad. BBC News online: 2003. Disponível em http://news.bbc.co.uk/1/hi/world/middle_east/2914015.stm, acesso em 22 de outubro de 2007. ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS (Brasil). Plano de disciplinas comuns – Curso de aperfeiçoamento de oficiais – 2º ano. Rio de Janeiro, 2003. ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO (Brasil). Dados médios de planejamento – DAMEPLAN, Rio de Janeiro, 2004. ______. Plano de Disciplinas – Curso de Comando e Estado-maior, Rio de Janeiro, 2005. ______, Vocabulário da ECEME. Rio de Janeiro, 2002. ESPANHA, Ejército de Tierra Español – Mando de Adestramiento y Doctrina. OR7-023. Orientaciones Combate en zonas urbanizadas. Madrid, 2003. ESTADOS UNIDOS, Army. Department of the Army. FM 3-0: operations. Washington, D.C., 2001. ______, Army. Department of the Army. FM 3-06: urban operations. Washington, D.C., 2003. ______, Army. Department of the Army. FM 3-06.11 (FM 90-10-1): combined arms operations in urban terrain. Washington, D.C., 2002a. ______, Army. Department of the Army. FM 5-0 (FM 101-5): army planning and orders production. Washington, D.C., 2005. ______, Joint Chiefs of Staff, JP 3-06: doctrine for joint urban operations. Washington, D.C., 2002b. ______, Navy. Department of the Navy. Marine Corps. MCWP 3-35.3 military operations on urbanized terrain. Washington, D.C., 1998.

Page 147: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

146

______, Third Infantry Division (Mechanized). Third Infantry Division (Mechanized) After Action Report - Operation Iraqi Freedom. Disponível em http://www. globalsecurity.org/military/library/report/ 2003/3id-aar-jul03.pdf, acesso em 12 de fevereiro de 2007. FAGAN, Robert. A Logística no Exército dos Estados Unidos. Palestra proferida aos alunos do primeiro ano da Escola de Estado-Maior do Exército. Rio de Janeiro, 2006. FARREL, Ben. The Battle for Basra. Disponível em http://www.army.mod.uk/irishgu ards /history/1980_present_day/the_micks_in_iraq.htm, acesso em 28 de novembro de 2006. FAURBY, Ib; MAGNUSSON, Marta-Lisa. The Battle(s) of Grozny. Baltic Defense Review, 1999. Disponível em http://www.caucasus.dk/publication1.htm, acesso em 12 de fevereiro de 2007. FERRY, Charles P. Mogadishu, october 1993: personal account of a rifle company XO. Infantry Magazine, Fort Benning,GA: 1995 FRANÇA, Ministere de la Defense, Armée de Terre. Doctrine d’emploi de l’infanterie. Paris, 1999. ______, Ecole d’application de l’infanterie. Emploi de l’infanterie en milieu urbain. Montpellier, 2003. ______, Commandement de la Doctrine et de L’enseignement Militaire Superieur - Centre d’evaluation et de Retour d’experience. Enseignements de l’operation Iraqi Freedom. Paris, 2003 ______, Centre de doctrine d’emploi des forces – Division recherche et retour d’experience. Le Fantômes Furiex de Falloujah – Opération Al-Fajr / Phantom Fury (Julliet - Novembre 2004). Paris, 2006. FERREIRA, Renato Rangel. A Operação Iraqi Freedom: ações militares e tecnologia empregada. Revista “O Anfíbio”, nº 22. Rio de Janeiro, 2003. FONTENOT, Gregory; DEGEN, E.J.; TOHN, David. On Point: United States Army in Operation Iraqi Freedom. Washington, DC, 2004. GEIBEL, Adam. Lições em combate urbano. Military Review (Ed. Brasileira), Ft. Leavenworth: 1997 ______. The Battle of Grozny. New year´s eve day – 1994. Infantry Magazine. Fort Benning: 1996. GERWEHR, Scott; GLENN, Russell W. The Art of Darkness: Deception and Urban Operations. (2000) Disponível em http://rand.org/pubs/monographreports/ MR1132/index.html, acesso em 26 de agosto de 2007.

Page 148: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

147

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2007. GOTT, Kendall D. Eyewitness to War: The U.S Army in Operation Al Fajr: an oral history. Volume I. Combat Studies Institute Press. Fort Leavenworth: 2005. GRAU, Lester W. Russia Urban Tactics: lessons from the battle of Grozny. Foreign Military Studies Office, Fort Leavenworth: 2002. Disponível em http://www.ndu.edu/inss/Strforum/SF_38/forum38.html, acesso em 20 de agosto de 2007. ______; KIPP, Jacob W. El Combate Urbano: confrontando al espectro. Military Review, edição espanhola. Fort Leavenworth: 2000 ______; THOMAS, Timothy L. Russian Lessons Learned from The Battles of Grozny. Marine Corps Gazette, Washington: 2000. Disponível em http://fmso.leavenworth.army/documents/Rusn_lesllrn.htm, acesso em 20 de agosto de 2007. HANN II, Robert F.; JEZOIR, Bonnie. Urban Warfare and the Urban Warfighter of 2025. Parameters. U.S. Army War College. Carlisle: 1999. INGLATERRA, Ministry of Defence, British Army. ADP-2 Army Doctrine Publication Volume 2: Command. Londres, 1994 ______, AFM Operations in specific environments: urban operations. Londres, 2002. ______, Operations in Iraq: an analysis from the land perspective. Londres, 2004. ______, Operations in Iraq – first reflections. Londres: 2003. JENKINSON, Brett C. Tactical Observations from the Grozny Combat Experience. Dissertação de mestrado. (U.S. Army Command and General Staff College). Fort Leavenworth: 2002. KEEGAN, John. A Guerra do Iraque. Bibliex. Rio de Janeiro, 2005. LIEVEN, Anatol. Lessons of the War in Chechnya, 1994-1996. Soldiers in Cities: Military Operations on Urban Terrain. U.S. Army War College, Carlisle: 2001. MARTIN, G. The Capture of Baghdad. Centre de Doctrine d’Emploi des Forces. Doctrine Magazine. Paris: 2004. MARTINEZ, Juan F. Linares. Operaciones Urbanas Conjuntas. Monografia (Escuela Superior de las Fuerzas Armadas). Madri: 2007. MATTHEWS, Matt M. Operation Al Fajr: a study in army and marine corps joint operations. Combat Studies Institute Press. Fort Leavenworth: 2006.

Page 149: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

148

MÉNDEZ, Daniel A. Tostón. Características, Posibilidades y Empleo de las Unidades Acorazadas y Mecanizadas en el Combate Urbano. Monografia (Escuela Superior de las Fuerzas Armadas). Madri: 2007. MILTON JR., T. R.. Urban operations: future war. Military Review, Fort Leavenworth: 1994 MIRANDA, André Luís Novaes. A Guerra do Golfo – operações. Programa de atualização dos diplomados pela Escola de Comando e Estado-maior do Exército - PADECEME. Rio de Janeiro, 2º quadrimestre, 2003. OLIKER, Olga. Russia´s Chechen Wars 1994-2000. Lessons from urban combat. Disponível em http://www.rand.org/pubs/monograph_reports/MR1289/, acesso em 24 de setembro de 2007. OPERATION IRAQI FREEDOM. Disponível em http://www.globalsecurity.org/ military/ops/iraqi freedom.htm , acesso em 23 de março de 2007. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, Conselho de Segurança, Resolução 1542 (2004). Disponível em http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN/N04/332/98/PDF 0/N 433298.pdf?OpenElement , acesso em: 01 de fevereiro de 2007. ______, Population Division of the Department of Economic and Social Affairs of the United Nations Secretariat, World Population Prospects: The 2004 Revision and World Urbanization Prospects: The 2005 Revision. Disponível em http://esa.un.org/unup, acesso em: 07 de setembro de 2007. ORGANIZAÇÃO DO TRATADO DO ATLÂNTICO NORTE (OTAN). RTO AC/323(SAS) Technical Report 5. Land Operations in the Year 2020. Ottawa, 1998. ______. RTO Technical Report 71. Urban Operations in the Year 2020. Ottawa, 2003. ______. ATP 3.2 Land Operations. Ottawa, 2003. PEREIRA, Augusto Heleno Ribeiro. A Atuação do Exército Brasileiro na Missão de Paz no Haiti. Palestra proferida pelo Gen Div Heleno à Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Rio de Janeiro, 2005. PETERS, Ralph. Our Soldiers, Their Cities. Parameters. U.S. Army War College. Carlisle: 1996. ______, The Human Terrain of Urban Operations. Parameters. U.S. Army War College. Carlisle: 2000. ______, Fighting for the Future, Parameters. U.S. Army War College. Carlisle: 2001.

Page 150: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

149

POLSIN, Algacir Antônio. O poder relativo de combate no estudo de situação: parâmetro de relação de forças. Monografia. (Curso de Altos Estudos Militares) – Escola de Comando e Estado-maior do Exército. Rio de Janeiro, 2001. RONALD, Cole H. Operation JUST CAUSE: The Planning and Execution of Joint Operations in Panama, February 1988 – January 1990. Joint History Office -Office of the Chairman of the Joint Chiefs of Staff. Washington, D.C. 1995. SCHULTZ, James V. Military Operations in the Urban Environment. Palestra proferida pelo Center for Army Lessons Learned durante o intercâmbio de especialistas Brasil – Estados Unidos. Caçapava: 2007. SILVA, Ramon M. Guerra da Chechênia: Implicações na doutrina de ataque a localidades. Monografia (Curso de Altos Estudos Militares) - Escola de Comando e Estado-maior do Exército.Rio de Janeiro, 2001. THIRD ARMY / ARCENT / CFLCC. Disponível em http://www.arcent.army.mil/cflcc today/2003/may/may13 15.asp, acesso em 26 de março de 2007. THOMAS, Timothy L. The Caucasus Conflict and Russian Security: The russian armed forces confront Chechnya III. The Battle for Grozny, 1-26 January 1995. Foreign Military Studies Office, Fort Leavenworth: 1997. Disponível em http://fmso. leavenworth.army.mil/documents/chechpt3.htm, acesso em 22 de janeiro de 2007. ______, The Battle of Grozny, deadly classroom of urban combat. Parameters, U.S. Army War College. Carlisle: 1999. ______, Grozny 2000: Urban Combat Lessons Learned. Foreign Military Studies Office, Fort Leavenworth: 2000. Disponível em http://fmso.leavenworth.army .mil/documents/grozny2000/grozny2000.htm , acesso em 24 de fevereiro de 2007. ______, A Tale of Two Theaters: russian actions in Chechnya in 1994 and 1999. Foreign Military Studies Office, Fort Leavenworth: 2001. Disponível em http://fmso.leavenworth.army.mil/documents/chechtale.htm, acesso em 24 de fevereiro de 2007. ______, The 31 December 1994 - 8 February 1995 Battle for Grozny. Combat Studies Institute Command & General Staff College. Fort Leavenworth, Kansas, 2002. TZU, Sun. A Arte da Guerra. Tradução por James Clavell. 15. ed. Rio de Janeiro: Record, 1994. YATES, Lawrence A. Operation JUST CAUSE in Panama City, December 1989. Combat Studies Institute Command & General Staff College. Fort Leavenworth, Kansas, 2002.

Page 151: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

150

APÊNDICE “A” – QUESTIONÁRIO INSTRUMENTO DA PESQUISA DE CAMPO

ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

PESQUISA DE CAMPO

O presente instrumento de pesquisa se destina a fornecer subsídios para o desenvolvimento da tese de doutorado do Maj Inf João Felipe Dias Alves versando sobre o assunto “Combate em Áreas Urbanas”. Sua participação é voluntária e as respostas serão de grande valia para o trabalho. O anonimato é assegurado e as opiniões e conceitos aqui relatados serão utilizados tão somente para a investigação em curso. 1ª Parte – Identificação da amostra 1) Assinale sua arma / quadro / Sv ( ) Inf ( ) Cav ( ) Art ( ) Eng ( ) Com ( ) MB ( ) Int 2) Turma de formação ( )1984 ( )1985 ( )1986 ( )1987 ( )1988 ( )1989 ( )1990 ( )1991 3) Assinale sua experiência/conhecimento anterior com relação ao tema de combate em áreas urbanas (não incluir experiências em operações de garantia da lei e da ordem): ( ) Adestramento nível Pel/ SU ( ) Adestramento nível Btl ( ) Adestramento nível Bda e superiores ( ) Exercícios de simulação de combate ( ) Temas da EsAO ( ) Projeto interdisciplinar do 2º ano da ECEME ( ) Livros, revistas e documentários sobre o assunto ( ) Manuais e publicações doutrinárias do Exército Brasileiro ( ) Manuais e publicações doutrinárias de outros exércitos ( ) Cursos de aperfeiçoamento no exterior ( ) Missões reais (citar) ________________________________________________ ( ) Outros (descrever) _________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Page 152: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

151

2ª Parte – Questionamentos

1) Em relação à manobra a ser realizada, assinale a opção que julgar mais adequada. Um ataque a uma localidade (fase do investimento) deve ser conduzido na forma de um combate sistemático, casa a casa, quarteirão a quarteirão: a. ( ) sempre b. ( ) na maioria das vezes c. ( ) apenas em determinados casos d. ( ) nunca 2) Considerando a possibilidade da não realização de um combate sistemático, casa a casa, quarteirão a quarteirão, assinale a alternativa que melhor expressa sua opinião em relação à afirmação abaixo. “A proporção de forças atacante X defensor (poder relativo de combate em termos apenas de número de peças de manobra) necessária para a condução de um ataque a localidade irá variar em função da manobra idealizada.” a. ( ) concordo totalmente b. ( ) concordo parcialmente c. ( ) discordo parcialmente d. ( ) discordo totalmente 3) Em relação ao inimigo, assinale dentre as opções abaixo aquela / aquelas que o Sr considera provável / prováveis de ser(em) enfrentada(s), atualmente, em um combate em localidade: a. ( ) Forças regulares combatendo de forma organizada b. ( ) Forças regulares atuando descaracterizadas, misturadas à população c. ( ) Forças paramilitares organizadas d. ( ) Forças irregulares (guerrilheiros, terroristas, etc) e. ( ) Grupos de resistência locais f. ( ) Outros _________________________________________________________

Responda os questionamentos abaixo com base em suas experiências e conhecimentos anteriores relativos a operações em ambiente urbano, nos conceitos transmitidos durante as palestras ministradas por ocasião do projeto interdisciplinar e nas conclusões decorrentes dos trabalhos em grupo. Importante! Todas as perguntas devem ser respondidas considerando o seguinte cenário: Uma força regular executando um ataque em uma área urbana. Favor não fazer qualquer relação com operações de garantia da lei e da ordem, operações de estabilidade e apoio ou de ajuda humanitária.

Page 153: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

152

4) Em relação ao terreno, assinale, dentre os itens abaixo, todos aqueles que o Sr considera exercerem influência marcante na determinação do poder de combate necessário à realização de um ataque a uma área edificada: a. ( ) tamanho da cidade b. ( ) densidade das construções (espaçamento entre casas e edifícios) c. ( ) número de pavimentos das construções d. ( ) largura das ruas e. ( ) tamanho dos quarteirões (largura e profundidade) f. ( ) número de pontos sensíveis na zona de ação (serviços essenciais, órgãos de governo, etc.) g. ( ) existência e características de subterrâneos (metrô, esgoto, etc.) h. ( ) existência e características de obras de arte ( viadutos, túneis, etc.) i. ( ) Outros _________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 5) Considerando os meios necessários para a condução de um ataque a localidade assinale a alternativa que melhor expressa sua opinião em relação à afirmação abaixo. “Um combate em área urbana, em geral, pressupõe a adoção de determinadas regras de engajamento e impõe restrições ao apoio de fogo de Art e aéreo, reduzindo o poder de combate da força atacante. Tal redução pode influir no número de peças de manobra necessárias para o cumprimento da missão.” a. ( ) concordo totalmente b. ( ) concordo parcialmente c. ( ) discordo parcialmente d. ( ) discordo totalmente 6) Em relação à presença de civis no campo de batalha em uma operação de ataque a localidade, o Sr considera que ela irá ocorrer: a. ( ) sempre b. ( ) na maioria das vezes c. ( ) apenas em determinados casos d. ( ) nunca 7) Atualmente, muitos exércitos estão analisando as influências civis sobre as operações, sob o título “CONSIDERAÇÕES CIVIS”. Assinale sua opinião sobre a necessidade de se analisar o aspecto “CONSIDERAÇÕES CIVIS” durante o estudo de situação, particularmente em operações em ambiente urbano. a. ( ) concordo totalmente b. ( ) concordo parcialmente c. ( ) discordo parcialmente d. ( ) discordo totalmente

Page 154: Maj Felipe - A determina o do poder de combate …...A472 Alves, João Felipe Dias. A determinação do poder de combate necessário para realização de operações de ataque a áreas

153

8) As CONSIDERAÇÕES CIVIS, segundo o manual de campanha FM 3-0 Operations (USA, 2001), do Exército dos EUA, envolvem “a população civil, sua cultura, organização e lideranças dentro da área de operações”. Com base no pressuposto acima e considerando a possibilidade de inclusão do aspecto “CONSIDERAÇÕES CIVIS” no estudo de situação do Exército Brasileiro, assinale, dentre as opções abaixo, todas aquelas que o Sr considera que devem ser incluídas na análise das “CONSIDERAÇÕES CIVIS”: a. ( ) quantidade de civis presentes b. ( ) etnias c. ( ) tendências políticas d. ( ) lideranças existentes e seu grau de influência sobre a população e. ( ) tendências e credos religiosos f. ( ) costumes e tradições locais g. ( ) atitude da população frente aos beligerantes h. ( ) aspectos legais i. ( ) opinião pública local j. ( ) opinião pública internacional l. ( ) presença de jornalistas e correspondentes de guerra m.( ) outros _________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 9) Em relação à afirmação abaixo, assinale a alternativa que melhor expressa sua opinião. “As CONSIDERAÇÕES CIVIS têm influência marcante no planejamento e condução de operações em ambiente urbano e devem ser encaradas como um sexto fator de decisão, da mesma forma que MISSÃO, INIMIGO, TERRENO, MEIOS e TEMPO.” a. ( ) concordo totalmente b. ( ) concordo parcialmente c. ( ) discordo parcialmente d. ( ) discordo totalmente 10) Em sua opinião, considerando todos os fatores da decisão, a proporção de forças atacante X defensor (poder relativo de combate em termos apenas de número de peças de manobra) necessária para a condução de um ataque a localidade, quando comparada à exigida para um ataque em terreno convencional ou “aberto” deve ser: a. ( ) consideravelmente maior b. ( ) ligeiramente maior c. ( ) igual d. ( ) ligeiramente menor e. ( ) consideravelmente menor

MUITO OBRIGADO PELA SUA COLABORAÇÃO!