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Machismo e estereótipos de gênero: análises de uma intervenção na disciplina de biologia no Ensino Médio
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Revista Diversidade e Educação, v. 8, n.1, p. 507-528, jan./jun. 2020. Doi:10.14295/de.v8i1.11345 E-ISSN: 2358-8853
MACHISMO E ESTEREÓTIPOS DE GÊNERO: ANÁLISES DE UMA
INTERVENÇÃO NA DISCIPLINA DE BIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO
ESTEREOTIPOS DE MECANISMO Y DE GÉNERO: ANÁLISIS DE UNA
INTERVENCIÓN EN LA DISCIPLINA DE BIOLOGÍA EN LA ESCUELA
SECUNDARIA
MACHISM AND GENDER STEREOTYPES: ANALYSIS OF AN
INTERVENTION IN THE BIOLOGY DISCIPLINE IN HIGH SCHOOL
Ana Carolina Favero1
Larissa Izabelli Link da Silva2
Joana Tatiele de Carvalho3
Rúbia Emmel4 Alexandre José Krul5
RESUMO
Esta investigação teve o objetivo de compreender concepções de machismo e estereótipos de
gênero dos/as estudantes e identificar como relacionam essas temáticas. Realizado por meio
de uma pesquisa de campo, houve um questionário fechado reflexivo e um jogo didático
intitulado “Tribunal de Opinião”, baseado em Rojão et al (2011). A intervenção revela o valor
destas temáticas no ensino das Ciências/Biologia, pois foi possível analisar duas categorias
definidas a priori, que propiciaram diálogos e identificações, biologicamente e socialmente.
Portanto, evidencia-se a importância destas temáticas no contexto educacional assim como
1 Acadêmica do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto Federal Farroupilha - Campus Santa
Rosa. 2 Acadêmica do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto Federal Farroupilha - Campus Santa
Rosa. 3 Acadêmica do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto Federal Farroupilha - Campus Santa
Rosa. 4 Licenciada em Pedagogia, Mestra e Doutora em Educação nas Ciência; Professora do IFFar, Professora
permanente do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências: Mestrado, na Universidade Federal da
Fronteira Sul, Campus Cerro Largo. 5 Licenciado em Filosofia, Mestre e Doutor em Educação nas Ciências. Professor do IFFar, Campus Santa Rosa.
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social, na identificação dos/as estudantes com os temas e na ampliação de conhecimentos
relacionados ao ensino de Biologia havendo maior presença de diálogo e reflexões. PALAVRAS-CHAVE: Diversidade de gênero. Ensino de Biologia. Estereótipos.
RESUMEN
Esta investigación uvo como objetivo comprender las concepciones de los estudiantes sobre
machismo y estereotipos de género e identificar cómo relaciona nestos temas. Realizado por
medio de una investigación de campo, hubo un cuestionario cerrado reflexivo y un juego
didáctico titulado "Tribunal de Opinion", basado en Rojão et al (2011). La intervención revela
el valor de estos temas en la enseñanza de la Ciencia / Biología, ya que fue posible analizar
dos categorías definidas a priori, que proporcionaron diálogos e identificaciones, biológica y
social. Por lo tanto, la importancia de estos temas en el contexto educativo y social es
evidente, en la identificación de los estudiantes con los temas y en la expansión del
conocimiento relacionado con la enseñanza de la biología, con una mayor presencia de
diálogo y reflexiones.
PALABRAS-CLAVE: Diversidad de género. Enseñanza de biología. Estereotipos
ABSTRACT
This investigation aimed to understand the students' conceptions of machismo and
gender stereotypes and to identify how they relate these themes. Conducted by means of a
field research, there was a reflective closed questionnaire and a didactic game entitled
“Tribunal de Opinion”, based on Rojão et al (2011). The intervention reveals the value of
these themes in the teaching of Science / Biology, since it was possible to analyze two
categories defined a priori, which provided dialogues and identifications, biologically and
socially. Therefore, the importance of these themes in the educational as well as social context
is evident, in the identification of students with the themes and in the expansion of knowledge
related to the teaching of Biology, with a greater presence of dialogue and reflections.
KEYWORDS: Gender diversity. Biology teaching. Stereotypes.
* * *
Introdução
Esta pesquisa foi realizada no componente curricular de Prática enquanto Componente
Curricular II (PeCC II), do curso Licenciatura em Ciências Biológicas, no ano de 2019. A
PeCC tem como temática central o ensino da sexualidade no âmbito escolar. Através dessa
disciplina foi desenvolvido um projeto de pesquisa e o planejamento de uma intervenção em
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uma escola de Educação Básica envolvendo as temáticas estereótipos de gênero e concepções
do machismo no sistema educativo.
A pesquisa teve como objetivo geral compreender concepções de machismo e
estereótipos de gênero dos/as estudantes e identificar como relacionam essas temáticas. Os
objetivos específicos foram: - promover o pensamento em torno do modo como os
estereótipos de gênero e o machismo estão presentes na sociedade contemporânea, com o
auxílio de um jogo didático que envolva os alunos com o tema; -identificar como os/as
estudantes reagem diante de temas que são considerados tabus sociais e frente as frases
estereotipadas relacionadas a gênero; - analisar os discursos dos/as estudantes a fim de
desconstruir os tabus e os preconceitos sociais nas temáticas em estudo; - reconhecer os
estereótipos de gênero e o machismo reproduzidos nos discursos dos/as estudantes da
Educação Básica; - investigar as concepções de machismo e estereótipos de gênero a luz de
referencial teórico e revisão bibliográfica sobre as temáticas.
A intervenção foi realizada através de um jogo didático intitulado “Tribunal de
Opinião” (adaptado de ROJÃO et al., 2011), que envolve dinâmica e trabalho em grupo, a fim
de buscar descobrir as opiniões dos/as estudantes a respeito dos temas. Além disso, os/as
estudantes responderam questionários, e posteriormente foram analisadas suas respostas para
compreendermos suas concepções sobre esses conceitos.
Esta pesquisa constituiu-se de referenciais teóricos da área: - Drumont (1980) e Auad
(2006) que abordam ideias e concepções sobre o machismo e relações de gênero; - Chauí
(1985); Louro (1997); D’Amorim (1997); Ricotta (1999); Kronbauer; Meneghel (2005),
concepções de gênero e sexualidade, estereótipos, os aspectos desiguais culturais e as ideias
de hierarquização.
Buscamos compreender as concepções de machismo e estereótipos dos/as estudantes e
identificar como relacionam essas temáticas, identificando o pensamento em torno das
concepções do machismo e de estereótipos que estão presentes em nossa sociedade. Com o
auxílio do jogo didático o tema pode ser problematizado e os posicionamentos dos/as
estudantes identificados.
Considera-se importante entender como os/as estudantes reconhecem, produzem e
reproduzem os discursos estereotipados e como reagem diante de temas em tabus sociais
relacionadas a gênero, estereótipos e machismo. A investigação sobre as concepções de
machismo e estereótipos de gênero a luz de referencial teórico e revisão bibliográfica podem
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contribuir para que possamos, como futuras professoras, promover uma formação que integra
o ser humano como biológico e social.
Machismo, estereótipos de gênero e educação escolar
Ao buscar as concepções de gênero compreende-se sua relação em caráter universal e
histórico independente de raça, etnia, faixa etária ou classe social com a violência,
considerando os movimentos machistas que demarcam nossa sociedade patriarcal, e também
os movimentos feministas (ESCORSIM, 2014). Em relação aos movimentos feministas,
buscam historicamente a igualdade entre homens e mulheres. Assim, os estudos de gênero
empoderam este movimento, e contribuem para a desconstrução dos estereótipos impostos
socialmente.
Ao buscar uma definição ou concepção de gênero, podemos conceituar do ponto de
vista cultural e social:
'Gênero' é um conceito cultural vinculado à forma como a sociedade
constrói as diferenças sexuais, atribuindo status diferente a homens e
mulheres. Refere-se à construção social de sexo, ou seja, a palavra sexo
designa apenas a caracterização anátomo-fisiológica das pessoas,
enquanto gênero se refere à dimensão social da sexualidade humana
(KRONBAUER; MENEGHEL, 2005, p. 696).
Louro (1997) também refere-se ao conceito de gênero no debate do campo social,
segundo a autora se constroem e se reproduzem as relações (desiguais) entre os sujeitos. Ao
refletirmos sobre as justificativas para as desigualdades Louro (1997) afirma que estas não
podem ser buscadas nas diferenças biológicas “mas sim nos arranjos sociais, na história, nas
condições de acesso aos recursos da sociedade, nas formas de representação” (LOURO, 1997,
p. 22).
A caracterização da palavra sexualidade muitas vezes é confundida com sexo. Para
Beraldo (2009, p. 1), “o estudo da sexualidade envolve o crescimento global do indivíduo,
tanto intelectual, físico, afetivo, emocional e sexual propriamente dito”. Ela envolve todo o
campo social, trata do comportamento e do conhecimento sobre gênero, fundamental para um
autoconhecimento e para a transmissão de temas que envolvam identidade e orientação sobre
sexo.
Nesta perspectiva Louro (1997) apresenta as diferenças entre identidades sexuais e
identidades de gênero:
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Suas identidades sexuais se constituiriam, pois, através das formas como
vivem sua sexualidade, com parceiros/as do mesmo sexo, do sexo oposto, de
ambos os sexos ou sem parceiros/as. Por outro lado, os sujeitos também se
identificam, social e historicamente, como masculinos ou femininos e assim
constroem suas identidades de gênero. Ora, é evidente que essas identidades
(sexuais e de gênero) estão profundamente inter-relacionadas; nossa
linguagem e nossas práticas muito frequentemente as confundem, tornando
difícil pensá-las distintivamente. No entanto, elas não são a mesma coisa.
Sujeitos masculinos ou femininos podem ser heterossexuais, homossexuais,
bissexuais (e, ao mesmo tempo, eles também podem ser negros, brancos, ou
índios, ricos ou pobres, etc). O que importa aqui considerar é que - tanto na
dinâmica do gênero como na dinâmica da sexualidade - as identidades são
sempre construídas, elas não são dadas ou acabadas num determinado
momento. Não é possível fixar um momento - seja esse o nascimento, a
adolescência, ou a maturidade - que possa ser tomado como aquele em que a
identidade sexual e/ou a identidade de gênero seja "assentada" ou
estabelecida. As identidades estão sempre se constituindo, elas são instáveis
e, portanto, passíveis de transformação (LOURO, 1997, p. 26-27).
Alguns estereótipos surgem da falta de informação sobre gênero e, consequentemente,
podem contribuir para que aconteça alguma forma de violência. Nesse sentido, as leis são
criadas como um sistema de proteção para as mulheres e os não heterossexuais.
Por exemplo, conforme a Lei N°11.340/06, Lei Maria da Penha (BRASIL, 2006):
Art. 2° Toda mulher independente de classe, raça, etnia, orientação
sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião goza dos
direitos fundamentais inerente à pessoa humana, sendo-lhes asseguradas
as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua
saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social
(BRASIL, 2006, p. 1).
Neste contexto, cabe refletir sobre os discursos da sociedade machista sobre o papel de
vitimização da figura feminina. Por isso, o objetivo é mostrar que numa situação como essa, a
mulher é vítima de um ato violento. Segundo Bandeira (2014): “a centralidade das ações
violentas incide sobre a mulher, quer sejam estas violências físicas, sexuais, psicológicas,
patrimoniais ou morais, tanto no âmbito privado-familiar como nos espaços de trabalho e
públicos” (p. 3). Sobre a violência física, compreende-se que os maus tratos contra o corpo
feminino são históricos e estão arraigados culturalmente, com a transmissão por gerações do
dito papel superior masculino e das várias outras relações desiguais de poder presentes na
sociedade.
Assim como discorrem Venturini; Bokany (2011): “a produção de identidades de
gênero e sexuais está diretamente envolvida com relações de poder na sociedade, que a todo
momento posicionam homens e mulheres numa hierarquia” (p. 41). Nas relações de trabalho,
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essa hierarquia dividida entre gêneros masculino e feminino é percebida nas diversas
profissões, em várias áreas dos setores produtivos, causando uma assimetria financeira, de
oportunidades, de interação entre os trabalhadores e de anulação em relação aos seus atos e
forma de expressão.
Em primeiro lugar, como conversão de uma diferença e de uma
assimetria numa relação hierárquica de desigualdade, com fins de
dominação, de exploração e opressão. Em segundo lugar, como a ação
que trata um ser humano não como sujeito, mas como coisa. Esta se
caracteriza pela inércia, pela passividade e pelo silêncio de modo que,
quando a atividade e a fala de outrem são impedidas ou anuladas, há
violência (CHAUÍ, 1985, p. 35).
Contemporaneamente, no ramo profissional, a figura feminina é inferiorizada por
ações e discursos preconceituosos sobre primazia masculina, luta e sofre por espaço perante a
desigualdade. A objetificação e o depreciamento da mulher acontece por parte de ambos os
gêneros, mas, predominantemente através dos homens, mediante palavras ofensivas,
categorizado como abuso psicológico, tendo também o abuso sexual, o físico e o financeiro.
Como consequência, ocasiona frequentemente humilhação e silêncio, reprimindo a voz social
e causando um confinamento psíquico, símbolo deste o confinamento físico, termo que pode-
se entender como uma inevitabilidade da mulher de ser ou agir de uma forma já esperada,
restando a opção de submissão (TORRES et a.l, 2018).
Este ato de submeter-se aos homens é historicamente cultural. Desde as civilizações
mais antigas, data a presença de planos para manter uma relação de poder e subserviência,
desde a biologia, psicanálise até a religião, criando diferentes imposições que colocaram a
mulher em degraus abaixo dos homens em várias esferas sociais (COSTA; CABRAL, 2015).
A superioridade masculina na sociedade, se originou em famílias patriarcais. Por várias
gerações influenciaram os modos de pensar e de agir em relação às mulheres, considerando
suas capacidades inferiores.
Alguns fatores contribuíram para a instauração do patriarcado como
ordem social centrada na descendência patrilinear e no controle dos
homens sobre as mulheres. Dentre eles estão o reconhecimento do papel
do homem na reprodução, o estabelecimento da propriedade privada, a
instituição das relações predominantemente monogâmicas, o controle
do corpo e da sexualidade das mulheres pela divisão sexual e social do
trabalho (BARBOSA, et al., 2011, p. 7).
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A partir das leituras em Barbosa et al. (2011), compreende-se que a mãe seria aquela
que tem como funções cuidar e prover afetos a família, enquanto o pai aquele que provém o
sustento. A mulher tradicionalmente então seria aquela que é dona de casa e mãe, à disposição
do marido e dos filhos, sem ter um espaço no mercado de trabalho. Ambos, as mulheres e os
homens, são responsáveis ainda pelos valores passados aos filhos. Para muitos homens e
mulheres persiste ainda este imaginário de mulher ideal (imagem de mulher perfeita). A
discriminação contra a mulher pode ser interna ao ambiente familiar (por exemplo, quando o
marido desacredita do potencial da esposa) ou vir de outras instituições (por exemplo, quando
o mercado de trabalho sustenta preconceitos sobre o potencial feminino).
Compreende-se que parte do imaginário social deturpado sobre as mulheres, está
contribuindo ainda mais para o machismo. De acordo com Drumont (1980), o machismo
consiste em uma hierarquização dos sexos e uma dominação destes, tendo o dominado e o
dominador, geralmente o homem.
Porém, este comportamento de supervalorização masculina é muito repelido pelos
movimentos feministas, que trazem questões e assuntos a respeito da violência de gênero.
Para Miranda (2009), o feminismo propõe uma sociedade alternativa colocando como
objetivo a abolição, ou transformação profunda, da ordem patriarcal, tendo os princípios de
igualdade, equidade e de uma justiça social. Este movimento busca alterar o pensamento da
sociedade e integrar as mulheres em todas as ordens sociais.
Considerando a relevância das temáticas e dos estudos de gênero na sociedade
contemporânea, a misoginia disfarçada e as questões de gênero estão cada vez mais ganhando
notoriedade (SILVA et al., 2016). Esta visibilidade e enfrentamento ocorre devido à
existência de grupos e movimentos feministas, que lutam por políticas públicas, o que pode
empoderar mulheres que vivem às margens da sociedade, escondidas e invisíveis.
Neste contexto, o conceito de gênero, “buscaria dar conta de relações
socialmente constituídas, que partem da contraposição e do questionamento dos
convencionados gêneros feminino e masculino, suas variações e hierarquização social”
(COLLING; TEDESCHI, 2015, p. 305).
Em nossa sociedade patriarcal existe a realidade do machismo nos diferentes
ambientes sociais, presente na instituição escolar e nas relações de trabalho. Especificamente
as relações de trabalho estão marcadas pela desigualdade salarial da classe trabalhadora
feminina que, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem o
salário médio correspondente a 79.5% dos homens (BÔAS, 2019).
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O currículo escolar pode organizar experiências para produzir formas
particulares de ensino nos(as) estudantes, seja relacionado ao conteúdo, seja na formação
como cidadão:
O currículo não pode ser visto simplesmente como um espaço de
transmissão de conhecimentos. O currículo está centralmente envolvido
naquilo que somos, naquilo que nos tornamos, naquilo que nos tornaremos.
O currículo produz, o currículo nos produz (ALTMANN, 2001, p. 578).
Neste sentido, acreditamos que as instituições de educação escolar podem ser espaço
de estudos, pesquisas, esclarecimentos sobre estes conceitos, intervindo e relacionado gênero,
estereótipos e machismo, de forma a promover o empoderamento entre os\as estudantes
acerca destas temáticas. Acreditamos que as escolas podem promover diálogos, formações,
palestras, oficinas sobre estas temáticas do ponto de vista biológico, social e psicológico.
Detalhamento das atividades: o percurso metodológico
Esta pesquisa em educação, sobre as temáticas de gênero e seus estereótipos, impõe
questionar: Quais as concepções de machismo e estereótipos de gênero dos/as estudantes de
Ensino Médio? Referente a este questionamento, acredita-se que os/as estudantes
consideram tabus sociais as temáticas de gênero e certos estereótipos, ou ainda que, estes
reproduzem discursos estereotipados e dissociam as temáticas em estudo, não compreendendo
o entrelaçamento do ponto de vista biológico, social e psicológico.
Tipologia da pesquisa
O estudo foi realizado por meio de uma pesquisa de campo. O desenvolvimento de um
questionário diagnóstico, com questões acerca da temática, foi acompanhado de um jogo
intitulado “Tribunal de Opinião” (adaptado de ROJÃO et al., 2011). De acordo com Gil
(2008), um estudo em pesquisa de campo seria aquele que focaliza uma comunidade e procura
aprofundar-se nessa realidade. Esta metodologia pode ser realizada por meio de observação
direta das atividades do grupo estudado, do questionário e do jogo para captar as explicações
e interpretações.
População e amostra
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A intervenção foi realizada em uma turma de estudantes do 1° ano do Ensino Médio,
de uma escola da Rede Pública Estadual de Ensino, da Região Noroeste, no estado do Rio
Grande do Sul, onde já estava ocorrendo o ensino dos temas que foram abordados nesta
prática de ensino. Para a escolha da escola em que seria realizado o estudo utilizou-se como
critério a existência de estudantes provenientes da área urbana e da área rural da cidade, o fato
desta ser a única com a presença do Ensino Médio no município, da instituição ser aberta e
compreensível para a realização de nossa pesquisa de campo e de haver uma diversidade de
culturas e classes socioeconômicas.
Os/as estudantes, que totalizaram 25 sujeitos, receberam um questionário com
perguntas fechadas sobre Educação, Gênero e Machismo. Identificou-se que a maioria dos/as
estudantes são do gênero feminino, sendo que nesta turma do 1° ano totaliza 25 estudantes, 14
são meninas e 11 são meninos. Os sujeitos da pesquisa, que responderam o questionário,
pode-se ver que há mais estudantes com a faixa etária de 15 anos. Nesta turma há 11
estudantes de 15 anos, 10 estudantes de 16 anos e 4 estudantes de 17 anos.
A população de pesquisa totalizou 25 estudantes, sendo que a amostragem utilizada não
foi por conglomerado probabilístico, já que todos/as da turma em questão participaram da
pesquisa. O sigilo e o anonimato foram de direito dos envolvidos, que participaram de forma
consentida da pesquisa. Esclarecemos quaisquer dúvidas referente ao questionário e jogo
didático, para que os/as estudantes se sentissem mais descontraídos e despreocupados.
Consideramos, para realizarmos a pesquisa, a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de
Saúde (12.12.2012) onde declara o respeito e a proteção devida aos seres humanos
participantes de pesquisas, estas realizadas com ética e moral. Os/as estudantes consentiram
em participar da pesquisa, e por questões éticas, foram criados códigos para identificá-los
sendo “E” (estudante), seguida de numeração em ordem crescente: E1, E2 até E25.
Instrumento de Coleta de Dados
Inicialmente, foi distribuído um questionário fechado, diagnóstico inicial (conforme
Apêndice A), das concepções prévias dos/as estudantes. No questionário constavam 10
sentenças afirmativas, das quais teriam que optar por uma das alternativas “Concordo”,
“Discordo”, “Abstenho” e "Não sei opinar".
O questionário serviu como base para a participação no jogo didático intitulado
“Tribunal de Opinião”. Este foi desenvolvido com os/as estudantes utilizando quatro cartazes
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A3 coloridos, com as respectivas expressões “Concordo”, “Discordo”, “Prefiro não opinar
(abstenção)” e "Não sei opinar"; dispostos um cartaz em cada parede da sala de aula, sendo
que estas duas últimas opções poderiam ser utilizadas apenas duas vezes por cada estudante.
Análise de dados
Para análise do questionário, foi utilizada a análise temática de conteúdo dos discursos
dos/as estudantes e seguiremos as etapas descritas por Lüdke e André (1986):
Primeira etapa: contexto, pois é importante estudar o contexto em que uma
determinada unidade ocorre; Segunda etapa: análise da forma de registro,
formas de síntese da comunicação, como o tipo de fonte de informação, os
tópicos e/ou temas tratados, o momento e o local das ocorrências, a natureza
do material coletado; Terceira Etapa: culmina na construção de categorias ou
tipologias. A construção de categorias não é tarefa fácil. Elas brotam, num
primeiro momento, do arcabouço teórico em que se apoia a pesquisa. Esse
conjunto inicial de categorias, no entanto, vai ser modificado ao longo do
estudo, num processo dinâmico de confronto constante entre teoria e
empiria, o que origina novas concepções e, consequentemente, novos focos
de interesse (p. 42).
Constituímos as questões por categorias temáticas definidas a priori na análise de
conteúdo: 1) concepções sobre o machismo; 2) estereótipos de gênero. Assim foi possível
refletir e visualizar os resultados, analisando a luz do referencial teórico e literatura da área.
Os dados coletados foram tabulados em planilhas no programa excel, para uma maior
facilidade de visualização.
Resultados e discussões
No desenvolvimento do jogo didático intitulado “Tribunal de Opinião”, exibimos
frases relacionadas aos estereótipos de gênero e machismo. Em seguida, cada estudante
deveria tomar uma posição em relação a cada frase ou imagem e então argumentar o “porquê”
da decisão.
No decorrer do jogo, cada estudante poderia mudar de opinião diante dos argumentos
expostos pelos/as colegas. Ao final, após todos terem debatido sobre as questões, pedimos
aos/as estudantes indicassem aquilo que aprenderam e quais dificuldades sentiram,
principalmente após ouvirem ideias contrárias às suas. As frases (disponíveis no Apêndice B)
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distribuídas aos/as estudantes foram adaptadas do jogo didático intitulado “Tribunal de
Opinião” (ROJÃO et al., 2011).
Para intervenção com o jogo consideramos, segundo Kishimoto (apud RAU,
2011, p. 51) “as brincadeiras tradicionais, são elementos que perpetuam a manifestação livre e
espontânea da cultura popular e têm por objeto estimular diferentes formas de relações sociais
e o prazer de brincar.” O jogo realizado com os/as estudantes, propõe um ambiente de
descontração propiciando uma maior interação entre os/as participantes por fazê-los/las
refletir. Ainda, com este pensamento: “a brincadeira educativa aborda a integração das áreas
de desenvolvimento e aprendizagem, o que se acredita ser importante para o futuro educador
saber” (RAU, 2011, p. 51).
Ao trazer para a sala de aula um modo diferenciado de aprendizado, o/a estudante irá
sentir-se motivado/a e participará ativamente nesta estratégia de ensino, se dedicando
enquanto concomitantemente interage com o/a educador/a e os/as demais estudantes. Um
aprendizado divertido e diferenciado do simples falar e escrever propicia uma maior
efetividade de aprendizado unindo o brincar ao conteúdo ensinado.
O jogo didático realizado potencializa a temática por ter um âmbito educacional do
mesmo modo que possui como finalidade a diversão. Trazer a questão de gênero e machismo
nos discursos, em forma de frases populares, algumas conhecidas por serem preconceituosas
outras por mostrarem a importância da igualdade de gênero, integra o conhecimento adquirido
nas aulas de Biologia com o seu cotidiano, fazendo com que os/as estudantes redefinam sua
realidade. Esse aprendizado não ocorre sozinho e envolve pessoas de diversas esferas sociais.
Assim, foi possível perceber que o jogo didático realizado de forma simples e prática pôde
propiciar uma potencialização do ensino nas aulas de Biologia com a questão de gênero. A
ludicidade envolveu os/as estudantes no diálogo fez com que se sentissem mais confortáveis
para exprimirem suas opiniões e reflexões.
Dessa forma, através do jogo foi possível observar como os/as estudantes tendem a
acentuar estereótipos nos discursos em relação a gênero. De acordo com Brougère (1998)
“Brincar não é uma dinâmica interna do indivíduo, mas uma atividade dotada de significância
social precisa que, como outras, necessita de aprendizagem” (p.20). Essa mutualidade no jogo
Tribunal de Opinião (adaptado de ROJÃO et al., 2011) ocasionou um diálogo sobre os
diferentes discursos acerca da temática e uma reflexão sobre a diferença de realidades por
parte dos/as estudantes. A possibilidade de dialogar, de trazer conhecimentos, de reflexões a
serem compartilhadas entre os/as estudantes, potencializa o ensino da temática no contexto
das aulas de Biologia do Ensino Médio.
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Nos itens seguintes, serão apresentadas as análises das respostas dos/as estudantes de
acordo com as principais categorias definidas a priori pela análise temática de conteúdo.
Concepções sobre o machismo
Machismo consiste em uma supervalorização masculina, sendo o homem como uma
figura dominante perante a mulher. A objetificação se altera entre sujeitos, sendo que esta
hierarquização dos sexos consiste em:
O machismo constitui, portanto, um sistema de representações-dominação
que utiliza o argumento do sexo, mistificando assim as relações entre os
homens e as mulheres reduzindo-os a sexos hierarquizados, divididos em
polo dominante e polo dominado que se confirmam mutuamente numa
situação de objetos (DRUMONT, 1980, p. 82).
Nesta categoria são apresentadas as análises das afirmações de 1, 2, 6, 7, 8, 9 e 10 do
questionário fechado, descritas na Tabela 1, que expressam as concepções sobre o machismo.
Tabela 1: Concepções sobre o machismo
Afirmação Concordo Discordo Abstenho
1. Em briga de
marido e mulher não se
mete a colher.
E2,
E5, E6, E8,
E16, E19,
E21, E24.
E1, E3, E4,
E7, E9, E10, E11,
E12, E13, E14,
E15, E17, E18,
E20, E22, E23,
E25.
2. Mulher ao
volante, perigo
constante.
E2,
E7, E11, E24.
E1, E3, E4,
E5, E6, E8, E9,
E10, E12, E13,
E14, E15, E16,
E17, E18, E19,
E20, E21, E22,
E23, E25.
Machismo e estereótipos de gênero: análises de uma intervenção na disciplina de biologia no Ensino Médio
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3. Mulher que
não obedece ao marido
merece apanhar.
E1, E2, E3,
E4, E5, E6, E7, E8,
E9, E10, E11, E12,
E13, E14, E15,
E16, E17, E18,
E19, E20, E21,
E22, E23, E24,
E25.
4. Mulher
casada não deve usar
roupa curta.
E5,
E12.
E1, E2, E3,
E4, E6, E7, E8, E9,
E10, E11, E13,
E14, E15, E16,
E17, E18, E19,
E20, E21, E22,
E23, E24, E25.
5. Os estupros
acontecem porque as
mulheres dão motivos.
E11. E1, E2, E3,
E4, E5, E6, E7, E8,
E9, E10, E12, E13,
E14, E15, E17,
E18, E19, E20,
E21, E22, E23,
E24, E25.
E1
6.
6. A mulher
que anda sozinha à
noite e tem muitos
amigos do gênero
masculino é vulgar.
E24. E1, E2, E3,
E4, E5, E6, E7, E8,
E9, E10, E11, E12,
E13, E14, E15,
E17, E18, E20,
E21, E22, E23,
E25.
E1
6, E19.
7. Os meninos
só mexem com as
E5,
E12.
E1, E2, E3,
E4, E6, E7, E8, E9,
E2
0.
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meninas que usam
shorts e saias curtas.
E10, E11, E13,
E14, E15, E16,
E17, E18, E19,
E21, E22, E23,
E24, E25.
Fonte: Autores E: Estudante.
Podemos identificar na Tabela 1 que poucos/as estudantes utilizaram a opção
“Abstenho” enquanto a grande maioria marcou “Discordo”. Nas questões que trouxeram
como violência estupro ou agressão física contra as mulheres, quase de forma unânime os/as
estudantes discordaram da afirmação. Entretanto aquelas violências mais sutis e mais
presentes no meio social em que estes estão inseridos, foram mais justificadas e creditadas
como merecidas, marcadas então, em maior número, na opção “Concordo”.
As maiores concordâncias apareceram nas duas primeiras alternativas, em que são
apresentadas frases comuns na cultura brasileira, o que justifica as respostas. Com uma visão
estereotipada de gênero imposta pela sociedade, atitudes machistas tornam-se normais em
consequência de sua repetição:
Quando começamos a considerar as relações de gênero socialmente
construídas, percebemos que uma série de características consideradas
“naturalmente” femininas ou masculinas corresponde às relações de poder.
Essas relações vão ganhando a feição de “naturais” de tanto serem
praticadas, contadas, repetidas e recontadas (AUAD, 2006, p. 19).
Assim, a hierarquização de gêneros está diretamente relacionada com a concepção do
machismo, presentes no meio social por ações e falas, estas modificadoras e construtoras de
relações.
Estereótipos de gênero
Na busca de uma concepção de gênero, os estudos de Silva (2004) apontam que este
conceito tem uma história relativamente recente, pois a palavra “gênero’’ foi utilizada pela
primeira vez num sentido para dar conta dos aspectos sociais do sexo. Parafraseando Silva
(2004) a palavra ‘’gênero’’, estava restrita a gramática, para designar o ‘’sexo’’ dos
substantivos. Gênero opõe-se a sexo: “enquanto este último termo fica reservado aos aspectos
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estritamente biológicos da identidade sexual, o termo gênero refere-se aos aspectos
socialmente construídos do processo de identificação sexual” (SILVA, 2004, p. 91).
Mas afinal, o que é gênero? Buscaram-se leituras e definições em Guacira Lopes
Louro:
[...] o conceito afirma o caráter social do feminino e do masculino, obriga
aquelas(es) que o empregam a levar em consideração as distintas sociedades
e os distintos momentos históricos de que estão tratando. Afasta-se (ou se
tem a intenção de afastar) proposições essencialistas sobre os gêneros; a
ótica está dirigida para um processo, para uma construção, e não para algo
que existia a priori. O conceito passa a exigir que se pense de modo plural,
acentuando que os projetos e as representações sobre mulheres e homens são
diversos. Observa-se que as concepções de gênero diferem não apenas entre
as sociedades ou os momentos históricos, mas no interior de uma dada
sociedade, ao se considerar os diversos grupos (étnicos, religiosos, raciais,
de classes) que a constituem (LOURO, 1997, p. 23).
Sendo assim, gênero pode ser entendido fundamentalmente como uma construção
social, daí seu caráter histórico e plural, e também a multiplicidade de alternativas marcadas
pelos/as estudantes ao buscar uma definição.
A concepção de gênero é socialmente construída, relacionando sexualidade com a
idealização social, referente a status baseado em estereótipos e a cultura fortemente
depreciativa presente na diferenciação de gêneros. Entender o que é gênero e como ele se
diferencia do sexo biológico é essencial para a compreensão dos estereótipos: “O estereótipo
de gênero é, pois, o conjunto de crenças acerca dos atributos pessoais adequados a homens e
mulheres, sejam estas crenças individuais ou partilhadas.” (D'AMORIM, 1997, p. 122).
Estas crenças separam a sociedade com predefinições de gênero, podendo abordar
comportamentos, vestimentas e até profissões. Neste sentido, o homem tem como regra seguir
o estereótipo masculino, enquanto a mulher a então estipulada feminilidade.
Para compreender quais estereótipos são reproduzidos pelos/as estudantes, foram
elaboradas as afirmações listadas abaixo na Tabela 2.
Tabela 2: Estereótipos de gênero
Afirmação Concordo Discordo Abstenho
522
/
8. Homem
E1,
não chora. E2, E3, E4,
E5, E6, E7,
E8, E9, E10,
E11, E12,
E13, E14,
E15, E16,
E17, E18,
E19, E20,
E21, E22,
E23, E24,
E25.
9. Menina
brinca de boneca e
menino brinca de
carrinho
E7, E16, E1,
E19. E2, E3, E4,
E5, E6, E8,
E9, E10, E11,
E12, E13,
E14, E15,
E17, E18,
E20, E21,
E22, E23,
E24, E25.
10. As
tarefas de casa são
responsabilidade da
mulher.
, v. 8, n.1, p. 507-528, jan.
E1,
E2, E3, E4,
E5, E6, E7,
E8, E9, E10,
E11, E12,
E13, E14,
E15, E16,
E17, E18,
E19, E20,
E21, E22,
Revista Diversidade e Educação
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Machismo e estereótipos de gênero: análises de uma intervenção na disciplina de biologia no Ensino Médio
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E23, E24,
E25.
Fonte: Autores. E: Estudante.
As afirmações 3 e 5 tiveram unanimidade em discordância, sendo possível considerá-
los estereótipos já superados entre os/as estudantes. Na 4, houveram 3 respostas de
concordância enquanto 22 de discordância, podendo assim considerar que a popular
afirmação "Menina brinca de boneca e menino brinca de carrinho" é um estereótipo ainda
presente na sociedade, apesar de ser minoria.
Esses papéis desiguais são formados por aspectos socioculturais, definindo desde a
infância a desigualdade dos gêneros, quando os próprios pais fazem distinções no modo como
o menino é criado diferente da menina (RICOTTA, 1999), como exemplo a afirmação que
apresenta brinquedos diferentes para cada gênero. Pode-se concluir que, devido ao diálogo
com os colegas a partir da intervenção com o jogo, alguns/mas estudantes mudaram suas
opiniões a respeito dos estereótipos que foram apresentados.
Considerações Finais
A partir das respostas dos/as estudantes ao questionário, do jogo didático e em virtude
da análise apresentada, perceberam-se as concepções que os estudantes possuem em relação
ao machismo e estereótipos de gênero, como eles relacionam essas temáticas com o conceito
biológico e com o seu meio social. Foi possível identificar a íntima ligação entre, machismos
e estereótipos, dentro da sala de aula com os/as estudantes e a forma como a problemática está
presente também no cotidiano, de modo principalmente relacionado a mulher.
Os diálogos produzidos pelo jogo didático “Tribunal de Opinião” puderam
proporcionar uma forma de aprendizado mais íntegra, que contribuiu para o espaço escolar e
social dos/as estudantes, fazendo-os/as refletir sobre o seu meio e observar os estereótipos,
tabus e pensamentos preconceituosos presentes na escola, em casa e na rua.
Portanto, o jogo foi uma ótima estratégia para tratar deste tema, pois deixou os/as
estudantes livres e confortáveis para expressar sua opinião e aprender dialogando com
seus/suas colegas. Buscou-se o recurso didático do jogo na intervenção, pois, dessa forma,
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fomentou aos/as estudantes um local mais prazeroso para o aprendizado, possibilitou uma
reconstrução de discursos e ressignificação de conceitos.
Sendo assim, a partir dessa prática, foi possível perceber como é indispensável o
ensino desse tema aos/as estudantes, pois assim podem desconstruir discursos que vem
reproduzindo como os estereótipos de gênero e o machismo.
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Apêndice A: questionário machismos e estereótipos de gênero
Código:
Idade:
Gênero: ( ) masculino ( ) feminino
Machismo C
oncordo
1. Em briga de marido e mulher não se mete
a colher.
2. Mulher ao volante, perigo constante.
3. Mulher que não obedece ao marido
merece apanhar.
4. Mulher casada não deve usar roupa curta.
5. Os estupros acontecem porque as
mulheres dão motivos.
6. A mulher que anda sozinha à noite e tem
muitos amigos do gênero masculino é vulgar.
7. Os meninos só mexem com as meninas
que usam shorts e saias curtas.
Estereótipos de gênero
8. Homem não chora.
9. Menina brinca de boneca e menino brinca
de carrinho.
10. As tarefas de casa são responsabilidade
da mulher.
D
iscordo
A
bstenho
N
ão sei
opinar
Apêndice B: frases utilizadas durante a intervenção com o jogo
Machismo
- “Entre marido e mulher não se mete a colher”
- “As mulheres que andam com camisinha na bolsa são “piranhas” e querem transar com
qualquer homem” - “Quando passo por meninos sou chamada de “gostosa”, “delicia’’ e ouço assovios”
- “Mulher ao volante, perigo constante”
- “Mulher casada não deve usar roupa curta”
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Estereótipos de gênero
- “Volta para a cozinha”
- “Homem não chora” - “Menina brinca de boneca e menino brinca de carrinho”
- “As tarefas de casa são responsabilidade da mulher”
Recebido em abril de 2020.
Aprovado em junho de 2020.