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ALINE MACÁRIO
BALL-JOINTED DOLLS: UMA FORMA DE ARTE
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CURSO DE ARTES VISUAIS – BACHARELADO
Campo Grande 2011
2
ALINE MACÁRIO
BALL-JOINTED DOLLS: UMA FORMA DE ARTE
Relatório apresentado como exigência final para obtenção do grau de Bacharel em Artes Visuais à Banca Examinadora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Orientadora: Profª. Drª Carla Maria Buffo de Cápua
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CURSO DE ARTES VISUAIS – BACHARELADO
Campo Grande 2011
3
ALINE MACÁRIO
BALL-JOINTED DOLLS: UMA FORMA DE ARTE
Relatório apresentado como exigência final para obtenção do grau de Bacharel em Artes Visuais à Banca Examinadora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Campo Grande, MS, ____ de ____________________ de 2011.
COMISSÃO EXAMINADORA
________________________________________ Profª. Drª. Carla Maria Buffo de Cápua Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
________________________________________ Profª. Mª. Priscila Paula Pessoa Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
________________________________________ Prof. Me. Darwin Antonio Longo de Oliveira Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
4
Dedico esse trabalho a todos os
amantes de BJD.
5
AGRADECIMENTOS
A minha Mãe, por sempre me apoiar nos meus projetos, e por
acreditar em mim e no meu futuro.
A Bruna, minha companheira de todas as horas, meu amor, minha
melhor amiga, que sempre me dá forças nas horas mais difíceis, e que tornou
possível a conclusão desse trabalho.
A minha orientadora Professora Carla, que acreditou no meu projeto,
e sempre teve paciência com o meu ritmo de trabalho.
Aos meus amigos queridos, por me apoiar e ajudar em todas as
horas. Por dividir bons e maus momentos, sempre ao meu lado.
6
RESUMO
Esse trabalho tem o objetivo de abordar os BJDs como obra artística. Inicialmente
faz-se uma narrativa contando a história desses bonecos ao longo dos anos, uma
discussão sobre customização, os artistas que trabalham com esse suporte, e uma
reflexão sobre as várias técnicas artísticas comparáveis aos dolls. Em seguida é
apresentado o processo metodológico, iniciando com a modelagem com Das, as
fôrmas de silicone, as peças em resina, e finalmente o acabamento e a
customização. Todas as etapas da produção estão descritas em capítulos,
abordando a contextualização teórica, o processo de criação dos BJDs, e ao final o
tema escolhido para a customização com a análise da obra.
Palavras Chave: BJD, Customização, Arte.
7
ABSTRACT
This work aims to address the BJDs as a work of art. At first there is a
narrative telling the story of these figures over the years, a discussion
of customization, artists working with this support, and a reflection on the
various artistic techniques comparable to those dolls. Then we present
the methodological process, starting modeling with DAS, molds of silicone,
resin parts, and finally the final aesthetic and customization. All production steps are
described in chapters, covering the theoretical background, the process of creation
of BJDs, and at the end the theme chosen for customization through analysis of the
work.
Keywords: BJD, Custom, Art.
8
LISTA DE FIGURAS
Fig.1 Eureka! , 2010...................................................................................................13 Fig.2 Hans Bellmer – Unknown, 1930……………………………………………………14 Fig.3 Super Dollfie Girl “Kun”, 2010………………………………………………………15 Fig.4 Chara Dollfie 002 Tamase Miki…………………………………………………….15 Fig.5 Neo Blythe “Pheobe Maybe”, 2011………………………………………………..17 Fig.6 Pullip Romantic Alice, 2011…………………………………………………………17 Fig.7 Jdoll Loosterweg Noord, 2011……………………………………………………...17 Fig.8 Monster High Frankie Stein, 2010…………………………………………………17 Fig.9 Lobotomy Rape my Head. 2011……………………………………………………19 Fig.10 Oh Mary. 2011………………………………………………………………………19 Fig.11 Fade to Blank. 2011………………………………………………………………..20 Fig.12 Steam Robot. 2011…………………………………………………………………20 Fig.13 Pretty Nini, 2009……………………………………………………………………21 Fig.14 Custom Blythe #30 “Minuit”, 2010……………………………………………..…21 Fig.15 Custom Blythe #29 “Scarlet” 10, 2010………………………………………...…21 Fig.16 Barroque Decadence III, 2009……………………………………………………21 Fig.17 Custom Blythe NO48………………………………………………………………21 Fig.18 Alice, 2008……………………………………………………………………..……22 Fig.19 Cinderella, 2009……………………………………………………………………22 Fig.20 Little Lace Doll – Pierrot, 2011……………………………………………………22 Fig.21 Venus of Bone China, 2011…………………………………………………….…22 Fig.22 Cameo, 2011……………………………………………………………………..…22 Fig.23 Blueberry Cupcake, 2010…………………………………………………………23 Fig.24 Grey, 2010…………………………………………………………………..………23 Fig.25 K-rose-N, 2010……………………………………………………………..………24 Fig.26 Briséis, en souris, 2010……………………………………………………………24 Fig.27 Hans Bellmer, 1932……………………………………………………………..…25 Fig.28 Alexander McQueen – The Horn of Plenty, 2009-10………………………...…26 Fig.29 Mariko Mori –Star Doll, 1998……………………………………………………...26 Fig.30 Desenho em Escala, 2011………………………………………………………...27 Fig. 31 Estrutura de Isopor, 2011…………………………………………………………28 Fig. 32 Processo de separação de peças, 2011………………………………………..28 Fig.33 Protótipo das juntas, 2011………………………………………………………...29 Fig.34 Teste de mobilidade das pernas, 2011……………………….………………….30 Fig.35 Teste de encaixe das juntas e proporções, 2011……………………………....30 Fig.36 Progresso da cabeça, 2011............................................................................31 Fig.37 Processo da caixa de gesso, 2011……………………………………………….33 Fig.38 Progresso da fôrma de silicone, 2011…………………………….……..………33 Fig.39 Progresso da forma de silicone simples, 2011………………………………….34 Fig.40 Defeitos causados pela umidade na resina, 2011……….……………………..37 Fig.41 Resina em banho-maria, 2011……………………………………………………37 Fig.42 Fases do acabamento, 2011……………………………………………………...39 Fig.43 Perucas e Olhos, 2011……………………………………………………….……40 Fig.44 Material para face up e body blushing, 2011……………………………………41 Fig. 45 Esquema de elásticos, 2011……………………………………………………..42 Fig.46 Concept art digital de face up: Boy, 2011 ……………………………………….43 Fig.47 Concept art digital de face up: Girl, 2011………………………………………..43
9
Fig.48 Pose 1, 2011……………………………....………………………………………..44 Fig.49 Caixa 1, 2011………………………………………………………………...……..45 Fig.50 Caixa 2, 2011……………………………………………………………...………..46
10
SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO........................................................................................................11 2.BALL-JOINTED DOLLS..........................................................................................13
1. O que são BJDs?.......................................................................................13 2. Customização.............................................................................................16 3. Por que BJDs como arte?..........................................................................24
3.PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS................................................................27 1. Modelagem................................................................................................27 2. Fôrmas......................................................................................................32 3. Resina.......................................................................................................35 4. Acabamento..............................................................................................38 5. Customização............................................................................................39
4.OS DOLLS...............................................................................................................43 CONCLUSÃO.............................................................................................................47 REFERÊNCIAS..........................................................................................................48
11
1 INTRODUÇÃO
Conheci os BJDs1 em um site da internet, por meio de uma
fotografia. Foi amor à primeira vista. Fiquei extremamente admirada com a
expressividade e beleza que o doll2 passava através daquela foto. Foi nesse
momento que comecei a correr atrás de informações, conheci pessoas, e decidir
entrar no hobby3. Mesmo desejando comprar um doll para mim, nunca fugia a minha
mente a idéia de um dia esculpir um.
Quando comecei minha graduação em Artes Visuais e ganhei meu
primeiro doll, vi grandes possibilidades de tornar minha idéia realidade. Apaixonei-
me pela customização e também pela maneira que é possível trabalhar sobre esse
doll em branco. As possibilidades, as roupas, a perucas, os olhos. Tudo isso é
mutável, a mercê do gosto do artista.
Foi então que minha idéia de fazer um doll foi amadurecendo,
ampliando minha visão para com a customização, e até modificação das peças, para
reproduzir um personagem, uma raça, um ser mágico, ou até deformado,
machucado. Resolvi escolher o tema para o meu Trabalho de Conclusão de Curso,
pois além de ser uma paixão, o mundo dos BJDs precisa de mais informações
acadêmicas. Outro fator que me motivou foi também que o mundo das artes precisa
de mais registros e informações dessa nova possibilidade de expressão.
O objetivo desse trabalho é trazer os BJDs de volta a visão artística,
por meio das possibilidades de customização que esses bonecos oferecem, mostrar
que uma peça artística não precisa estar necessariamente no museu para ser
considerado arte. Tem por objetivo também pesquisar e registrar suas origens
históricas, apresentando e analisando trabalhos de customização de artistas
contemporâneos, explorando sua poseabilidade4 e expressividade através da
fotografia, criação, modelagem e customização dos BJDs, registrando cada
procedimento realizado e também fornecer um material acadêmico, de modo a ser
usado futuramente por outros artistas interessados no mundo dos BJDs.
Para realizar meu trabalho, iniciei uma pesquisa teórica por meio da
1 BJDs, mais conhecidos como Ball Jointed Dolls, são bonecos com juntas de bola.
2 Doll é o termo em inglês que significa boneca(o).
3 Passatempo, entretenimento.
4 Derivada da palavra inglesa poseability, que significa a capacidade de posar (fazer poses).
12
internet, procurando os procedimentos práticos, passo a passo de como esculpir o
doll, seu corpo, suas juntas, trabalhar a poseabilidade, como fazer o molde de
silicone e os processos para castear5 o doll em resina de poliuretano.
Também fiz um levantamento de artistas que trabalham com
modelagem e customização de dolls, suas técnicas, seus estilos, algumas de suas
obras mais conhecidas e um pouco de sua estética.
No final, customizei dois dolls modelados por mim, e explorei sua
poseabilidade e expressividade por meio da fotografia.
Para melhor compreensão, o trabalho está dividido em capítulos. No
primeiro capítulo faço uma apresentação do conceito e caracterização dos dolls, sua
origem e como são conhecidos. No segundo capitulo descrevo a construção do
trabalho prático, ou seja, como foi confeccionado o produto final, com o
detalhamento metodológico, e finalmente, a análise das obras e as considerações
finais.
5 Vazar, tirar peça em (termo referente à escultura).
13
2. BALL-JOINTED DOLLS
2.1 O que são BJDs?
Os BJDs (Fig.1), mais conhecidos como Ball Jointed Dolls, como seu
nome diz, são bonecos com juntas de bola. Sua articulação é composta de juntas
em forma de bola, que se encaixam e
são presos por um elástico de alta
tensão, permitindo uma grande
poseabilidade do boneco.
São mais conhecidos
como dolls, e foram criados com a
finalidade de serem um hobby para
adultos, por isso tem grandes
possibilidades de customização. Seu
preço é elevado devido à mão de obra
utilizada na manufatura, e o material que
apesar de resistente, é extremamente
delicado (resina de poliuretano). Muitas
das lojas deixam isso bem claro (de que
não são brinquedos), e até estipulam
uma faixa etária para o uso.
Historicamente, os dolls
articulados existem desde os tempos dos Egípcios. Eram feitos principalmente de
madeira e possuíam uma cabeleira farta, essa feita de cabelo humano banhado em
argila. Os mais sofisticados possuíam até roupas. No período do barroco espanhol,
os bonecos articulados de madeira, também chamados de estátuas de roca, eram
confeccionados para representar santos na igreja. Além da madeira para o corpo e
gesso para as cabeças e as mãos, outros materiais como vidro ou cristal para os
olhos, algodão para as roupas e pelo de carneiro (mohair), ou crina de cavalo para
os cabelos eram utilizados. (BONECA, 2006)
Fig.1 Eureka! , 2010 Fonte: Acervo Pessoal
14
A era
moderna dos BJDs
começou no final do século
19, com os franceses e os
alemães. Eles produziam
bonecos de porcelana não
esmaltada, conhecida como
biscuit, e faziam as juntas
de bola, usando uma
mistura de cola, areia,
serragem e materiais
semelhantes. Esses
bonecos mediam de 15 a
100 cm, e hoje em dia são
peças de antiquário.
Mais tarde,
nos anos 30, o artista
alemão Hans Bellmer criou
os ball jointed dolls e os
usou em suas fotografias e
trabalhos surrealistas
(Fig.2). Foi Bellmer que
introduziu o conceito
artístico de dolls na
fotografia, que hoje em dia
ainda é utilizado por artistas
e pessoas como hobby.
Influenciados por Bellmer, e pela cultura tradicional de Bonecos
Japoneses, os artistas japoneses começaram a produzir BJDs, direcionados a
exposições, e geralmente em grandes proporções, chegando a medir 100 cm. São
peças únicas, que hoje em dia são altamente valorizadas no mercado das artes.
Os ball jointed dolls comerciais começaram a ser produzidos em
1999, pela loja japonesa Volks. Eles criaram a linha Super Dollfie (Fig.3), que
medem 57 cm, possuem juntas de bola, unidas por elástico de alta tensão, feitas de
Fig.2 Hans Bellmer – Unknown, 1930
Fonte: http://ml.virose.pt/blogs/at_11/?p=705
15
resina de poliuretano e muito semelhantes à Garage Kits (Fig.4), que são kits de
bonecos, que podem ser montados, geralmente representando personagens de
animes (desenhos animados japoneses). Essa linha foi criada com o objetivo de
atrair o público feminino. (BALL-JOINTED DOLL, 2008)
Primeiramente, os BJDs tinham uma estética inspirada nos
personagens de animes, com olhos grandes e expressivos. Com o passar dos anos,
surgiram novos fabricantes, grande parte coreanas, que começaram a adotar uma
estética mais realista. Hoje em dia, temos os dois tipos de estéticas, distribuídos em
vários tamanhos, agradando todo o tipo de público.
Depois que foram adotados como hobby, muitas das pessoas
passaram a não enxergar mais os dolls como peças artísticas, e sim como meros
produtos comerciais.
Fig.3 Super Dollfie Girl “Kun”, 2010 Fig.4 Chara Dollfie 002 Tamase Miki
Fonte: www.volks.co.jp
16
2.2 Customização
Existem basicamente dois tipos de pessoas que participam do
hobby: os colecionadores, que costumam comprar dolls completos (fullset),
geralmente de edições limitadas, e que não customizam o doll depois que ele chega,
mantendo-o como o fabricante montou, ou seja, com a mesma roupa, mesma
peruca, mesmo faceup (pintura do rosto do doll, onde se desenha os lábios, as
sobrancelhas, cílios inferiores e o corado do doll).
Já há outro tipo, que são os de customizadores, que geralmente
compram o doll, com faceup, ou em branco, e customizam de acordo com o gosto,
trocando as roupas, os olhos, a peruca, os sapatos, deixando o boneco como um
objeto único. Geralmente, os donos de dolls customizados gostam de trazer
personagens próprios para os dolls, criando uma personalidade e histórias que
geralmente são registradas usando a fotografia, como em ensaios fotográficos e foto
estórias.
As customizações não se resumem somente ao mundo dos BJDs.
Elas abrangem outros tipos de bonecas que são famosas no Japão, como as
Blythes (Fig.5) e as Pullips (Fig.6). Também podemos incluir as J-dolls (Fig.7) e as
Momokos. Essa cultura também existe com a customização de Barbies, que são as
fashion dolls mais famosas do mundo, bonecas de pano, bonecas de porcelana, e
até bonecas extremamente comerciais como as Monster High (Fig.8).
17
Nesse trabalho, dou foco aos BJDs porque eles são bonecos que
nasceram para a customização. A primeira opção de compra sempre é o doll em
branco. Acessórios como perucas, olhos, faceup, roupas, sapatos são adicionais,
que geralmente compramos a parte, ou pagamos extra.
Fig.5 Neo Blythe “Pheobe Maybe”, 2011 Fig.6 Pullip Romantic Alice, 2011
Fonte: http://juniemoonshop.com Fonte: www.pullip.net
Fig.7 Jdoll Loosterweg Noord, 2011 Fig.8 Monster High Frankie Stein, 2010
Fonte: www.pullip.net Fonte: http://shop.mattel.com
18
Os materiais utilizados para a customização são as perucas, mais
conhecidas como wigs, que são feitas geralmente de fibra de cabelo sintética, fur
(pelo sintético de acrílico), e mohair (pelo de carneiro extremamente macio, com
efeito volumoso e ligeiramente cacheado); olhos, que variam de 08 a 20 mm, que
geralmente são feitos de acrílico, vidro, silicone ou poliuretano (esse sendo
extremamente caro); além de roupas (que variam do clássico até o contemporâneo),
sapatos e acessórios (como brincos, colares, lenços, etc).
Para a personalização são utilizados giz pastel seco, lápis de cor
aquarela e tinta acrílica para a execução de faceups, o body blushing (pintura e
sombreamento do corpo com giz pastel seco ou tinta acrílica), tatuagens e até
manicure e pedicure, já que não podemos esquecer que o doll geralmente vem em
branco.
Quando falamos de customização, podemos discutir a idéia de que
os dolls, depois que esculpidos por um artista, são reproduzidos em série, perdendo
seu valor de obra artística, perdendo sua aura. “Despojar o objeto de seu véu,
destruir sua aura, eis o que assinala de imediato a presença de uma percepção, tão
atenta àquilo que “se repete identicamente pelo mundo”, que, graças à reprodução,
consegue até estandardizar aquilo que existe só uma vez.” (BENJAMIN, 1936)
Os customizadores se propõem, artisticamente, a retomar a aura
desse objeto por meio da customização, fazendo com que aquilo que era mais uma
peça de produção em série, se torne um objeto único de novo, como se aquela peça
voltasse a ter sua aura artística. E isso fica muito mais evidenciado quando o artista
ainda propõe a criação de um personagem em cima do boneco, fazendo com que
ele se torne ainda mais especial, sendo praticamente impossível ser reproduzido
fisicamente.
Assim como as pessoas que participam do hobby, podemos
classificar em dois tipos os artistas que trabalham com customização. Podemos
classificar entre os artistas que compram moldes prontos e fazem suas
customizações a partir dele, modificando, esculpindo, adicionando peças extras,
retirando partes, trabalhando com suas formas, com tintas, texturas, massas (como
o epóxi, e o fimmo), transformando o molde original em um molde completamente
novo, algumas vezes beirando ao irreconhecível. Podemos até comparar esse tipo
de artista aos que trabalham com customização de bonecas menos “únicas”, com
produção em série (como as Blythes, Pullips, Barbies, que nunca tem o molde do
19
seu rosto alterado).
Também temos outro grupo de artistas que preferem esculpir seus
próprios dolls, e depois de prontos, trabalham com as cores, pintando-os, realizando
algumas modificações, o mesmo processo que os artistas que customizam moldes
prontos. A única diferença é que a marca do artista está gravada desde o processo
de esculpir o molde até o resultado final da customização.
Alguns artistas também preferem não trabalhar com a customização,
somente com o processo de esculpir o doll, e casteá-lo em resina de poliuretano ou
em porcelana. Esses preferem ver as possibilidades de customização pelas mãos de
outros, ficando no papel de fornecer apenas as “telas em branco”.
Claro que nada impede os artistas que customizam seus próprios
moldes não customizar moldes de outros artistas, ou que esses artistas que
customizam outros moldes não criem seus próprios, e assim por diante.
Podemos citar como exemplo de artistas que trabalham com
customização em molde pronto Celine “CitronRouge”, que adota uma estética
obscura, beirando ao macabro, bizarro. Ela trabalha com modificações mais radicais,
mexendo bastante com a estrutura física do doll (Fig.9 e 10).
Fig.9 Lobotomy Rape my Head. 2011 Fig.10 Oh Mary. 2011
Fonte: http://jadecitronrouge.deviantart.com/
20
Também podemos citar como exemplo Taissia Abdoullina, mais
conhecida como “Bluoxyde”, que customiza dolls moldando o corpo, adicionando
linhas e texturas. Trabalha bem as cores, adotando uma estética que mistura
fantasia com tecnologia, como extraterrestres (Fig.11), dragões, robôs, remetendo
ao steampunk (Fig.12), mas ao estilo dela.
Como trabalham com moldes prontos, podemos comparar ao
trabalho de artistas como a Esthy e a Lulla, que trabalham em conjunto não só
customizando BJDs (Fig.13), como também Blythes (Figs.14 e 15), essas adotando
uma estética mais delicada, com cores de sua maioria pastel, remetendo ao rococó.
E ao trabalho de “Pícara”, que adota desde a fantasia ao steampunk, sempre usando
cores fortes, e traços marcantes, e uma pitada “dark” em suas blythes (Fig.16) e
bjds. Ou a Xuan Zhao, artista chinesa que trabalha com temas fofos, coloridos, mas
com uma pitada de macabro (Fig.17).
Fig.11 Fade to Blank. 2011. Fig.12 Steam Robot. 2011.
Fonte: http://bluoxyde.deviantart.com/
21
Já temos artistas que esculpem seus próprios dolls e trabalham com
a customização em cima de seus próprios moldes, como Marina Bychkova, que criou
as Enchanted Dolls, que são feitas de porcelana, customizadas usando como tema
grandes personagens femininas (Fig.18), tanto fantasiosas, quanto étnicas, ou até
mesmo reais. Ela também trabalha com ornamentos de metais nobres (Fig.19),
como a prata, o bronze, e até o ouro. São produzidas verdadeiras jóias.
Fig.13 Pretty Nini, 2009 Fig.14 Custom Blythe #30 “Minuit”, 2010
Fig.15 Custom Blythe #29 “Scarlet” 10, 2010
Fonte: http://www.flickr.com/photos/esthy_et_lulla/
Fig.16 Barroque Decadence III, 2009 Fonte: http://www.flickr.com/photos/roguedolls/
Fig.17 Custom Blythe NO48
Fonte: http://www.flickr.com/photos/sundae44/
22
A artista japonesa “Marmite Sue” também trabalha com dolls de
porcelana. Adota uma estética que vai do rococó ao tibetano. Ela trabalha bastante
com talha de rendas (Fig.20), camafeus (Fig.22) e flores (Fig.21) nos dolls, dando
um efeito vazado às peças.
Fig.18 Alice, 2008 Fig.19 Cinderella, 2009
Fonte: http://marina-b. deviantart.com/
Fig.20 Little Lace Doll – Pierrot, 2011 Fig.21 Venus of Bone China, 2011 Fig.22 Cameo, 2011
Fonte: http://www.flickr.com/photos/marmite-sue/
23
Já artistas que trabalham com resina de poliuretano são Rachelle Bartel,
conhecida como “Lillycat”. Ela esculpe os próprios dolls, faz os moldes, vaza em
resina, e ainda customiza, trabalhando com pintura corporal (Fig.24). Também
produz alguns acessórios, além das perucas, de modo a compor a obra final. Ela
trabalha temas que vão desde os elementos da natureza, como seres fantásticos
(Fig.23) até releituras do corpo humano.
Já a artista Enaibi, também trabalha com a resina de poliuretano.
Seus dolls possuem uma estética mais fantasiosa, que vai de animais humanizados
(Fig.26), fadas e até andróides (Fig.25).
Fig.23 Blueberry Cupcake, 2010 Fig.24 Grey, 2010
Fonte: http://www.flickr.com/photos/cerisedolls/
24
2.3 Por que BJDs como arte?
Desde quando Duchamp lançou obras como “A Fonte”, ele abriu a
discussão de que arte não é só os modelos clássicos, como pinturas ou esculturas
de mármore. Ele colocou em questão o uso de materiais, o conceito das obras,
abrindo portas para uma gama de experimentações. Influenciou movimentos como
Dadaísmo, Surrealismo, Expressionismo Abstrato, e até a Arte Conceitual.
Foi no Surrealismo, em que Hans Bellmer, como citei anteriormente,
começou a trabalhar com seus BJDs. Além de expor como escultura, também os
fotografava, de modo a criar uma atmosfera surreal, macabra. Usava os dolls para
se opor ao nazismo, fazendo crítica ao corpo perfeito, utilizando formas deformadas
e poses nada convencionais. Seu trabalho até hoje é usado como referência por
vários artistas que trabalham com BJDs, mangás, e até na concepção de
personagens de vídeo game. (HANS BELLMER, 2003)
Fig.25 K-rose-N, 2010 Fig.26 Briséis, en souris, 2010
Fonte: http://www.flickr.com/photos/45120089@N05/
25
Seguindo na história da arte, vemos os trabalhos de Hélio Oiticica,
que ao criar o Parangolé, discutia a obra quanto à maneira de expor, afinal o
Parangolé só estava completo se estivesse em movimento, no corpo de um
sambista. Também podemos citar os Irmãos Campana, que ao fazer o design de
suas cadeiras, discutiam se essas mesmas também poderiam ser consideradas arte,
tendo em vista a capacidade de reinterpretar temas populares, fundindo culturas,
resultando em uma obra com caráter único. (EGUCHI; PINHEIRO, 2009)
Seguindo a linha do design, também podemos discutir a imagem da
moda como arte. Um produto que usamos, que além de ter a função de exprimir
uma idéia, demonstrar a personalidade de quem a usa, é exposta nos museus,
gerando discussões, reflexões, tudo o que uma obra de arte nos oferece. Cito como
exemplo a exposição de moda sobre o estilista Alexander McQueen no Metropolitan
Museum of Art (MET). Ele que faleceu em 2010, e produziu uma obra que “desafiou
e ampliou a compreensão da moda além da utilidade, para uma expressão
conceitual da cultura, política e identidade” (MET, 2011).
Fig.27 Hans Bellmer, 1932 Fonte: http://inspirational-
magery.blogspot.com/ 2010_05_01_archive.html
26
Mariko Mori, ao criticar a visão da mulher como um produto de
entretenimento, um robô, no pós-pop, usou além de painéis fotográficos retratando
ela mesma como um robô, utilizou uma série de bonecas, customizadas, imitando
uma de suas fotografias.
A partir dessas referências, justifico o uso dos BJDs como peça de
arte, sendo possível sua exploração conceitual e estética no campo artístico.
Fig.29 Mariko Mori –Star Doll, 1998
Fonte: http://www.moma.org/interactives/ exhibitions/2001/parkett/parkett2.html
Fig.28 Alexander McQueen – The Horn of Plenty, 2009-10
Fonte: http://blog.metmuseum.org/ alexandermcqueen/dress-horn-of-plenty/
27
3.PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Nesse capítulo são descritos os processos metodológicos, desde a modelagem da
peça, a confecção das fôrmas, a tiragem das peças em resina, acabamento e a
customização, descrevendo todos os meus acertos e erros, dificuldades, passo a
passo.
3.1.Modelagem
A partir do registro de
modelagem de alguns artistas
encontrados na internet, como a artista
japonesa Aimi6, e outros encontrados no
The Joints7, comecei o procedimento com
um desenho da peça em escala, com as
medidas de altura do doll e suas
proporções. Após esse desenho, usei um
bloco de isopor e desenhei os planos
frente e lateral do torso e da perna nesse
bloco e cortei essas peças. Depois de
ajustar o formato de maneira
tridimensional, comecei a revesti-las com
DAS, um tipo de cerâmica fria que seca
ao ar livre, sem a necessidade de queima.
Escolhi o DAS porque além de ser um
material que eu consigo encontrar aqui na
cidade, é um bom material para modelar.
Ele seca rápido e pode ser lixado
facilmente.
6 Aimi é uma artista japonesa que faz dolls desde 2004. Uma das primeiras artistas a registrar passo a
passo suas etapas de produção, além de expor os materiais utilizados. 7 The Joints, tradução literal: As Juntas. Fórum internacional que reúne artistas que trabalham com
criação e modelagem de BJDs. Disponível no endereço http://www.denofangels.com/joints.
Fig.30 Desenho em Escala, 2011
Fonte: Acervo Pessoal
28
Comecei a modelar uma
estrutura básica de torso e pernas sobre o
isopor, de modo a formar uma camada
resistente para que depois eu pudesse
separar as peças. Quando essa camada ficou
resistente o suficiente, separei as peças em
partes que também seriam as juntas do doll.
Separei o torso ao meio, o quadril das pernas,
e a perna em coxa, joelho e panturrilha.
Infelizmente o joelho e a panturrilha ficaram
muito finos e igualmente frágeis, então eles
acabaram quebrando.
Para separar as partes, usei
uma serra, uma faca de serra, uma goiva e
um martelo de madeira. Assim pude
delicadamente separar as partes uma das outras. Para tirar depois o isopor do
interior das peças usei thinner8 e um garfo. O thinner derrete o isopor, e o garfo
ajuda a tirar os restos que sobravam no meio.
Para modelar a panturrilha
e os braços, que são estruturas mais
delicadas, usei palitos de madeira e papel
alumínio para fazer a base. Revesti com o
DAS e comecei a modelar novamente, até
que se formasse uma camada resistente o
suficiente para deixar a peça oca. Quando
essa camada foi formada, separei os
braços em braço e antebraço utilizando
faca de serra, goiva e um martelo de
madeira. Quando consegui separar as
peças, começou o trabalho de tirar o
8 Solvente utilizado para a diluição de tintas sintéticas e vernizes, e limpeza de peças.
Fig. 31 Estrutura de Isopor, 2011
Fonte: Acervo Pessoal
Fig. 32 Processo de separação de peças,
2011
Fonte: Acervo Pessoal
29
alumínio do interior das mesmas. Para isso, usei um alicate de ponta bem fina e uma
retificadora elétrica. Nesse momento descobri que não foi uma boa idéia usar o
alumínio como estrutura interna para os braços e panturrilha, mas apesar do
trabalho para deixar as peças ocas, a modelagem externa não foi alterada.
Para a produção das juntas
utilizei bolas geralmente usadas em
colares. Para comprar essas bolas no
tamanho certo fiz bolas de papel alumínio
para usar como referência de tamanho.
Para as juntas das coxas utilizei bolas de
plástico que geralmente vem em
desodorantes roll-on, preenchidas com
gesso. Duas bolas para cada junta da
coxa, e duas para cada junta do joelho e
cotovelo. Dessa maneira produzi juntas
duplas para os braços e pernas, aumentando o poder de mobilidade do doll. Juntei
as bolas com super bonder9, e as revesti de um lado com DAS, para modelar os
joelhos e os cotovelos. Para as mãos e pés utilizei apenas uma bola em cada peça,
pois nesses membros não há a necessidade de juntas duplas, assim como no
pescoço e nos ombros.
Para encaixar as juntas, utilizei a retificadora elétrica e lixas d’água
80 e 120 para fazer com que o busto e o quadril encaixassem. Depois usei a
retificadora com uma lixa em formato de bola para fazer com que as juntas do
ombro, cotovelos, pulsos, coxas, joelhos e tornozelos se encaixassem perfeitamente.
Foi um longo processo de adição e subtração de massa, até que os encaixes
ficassem perfeitos.
9 Super Bonder é uma marca de super cola, que cola qualquer superfície de maneira rápida e
resistente.
Fig.33 Protótipo das juntas, 2011
Fonte: Acervo Pessoal
30
Em cada junta
cortei um buraco diferente,
assim como nas peças que
encaixavam com as juntas, de
modo a definir a mobilidade de
cada parte do doll. Durante todo
o processo de confecção das
juntas montei o doll com elástico
para testar sua mobilidade, além
de conferir suas proporções e
detectar erros.
Para modelar a cabeça, utilizei uma bola de isopor semelhante ao
tamanho que eu queria para a mesma. Depois de esculpir o isopor para que ele
ficasse mais semelhante ao formato que eu queria, revesti-o com DAS. Depois que a
cabeça secou, comecei a modelar a estrutura do rosto por cima. Adicionei DAS até
que a estrutura ficasse resistente o suficiente para abrir a cabeça
No procedimento de abertura da cabeça, realizado com uma serra,
acabei acidentalmente quebrando o nariz e a boca modelada. DAS é um material
muito bom de modelar, mas quando a estrutura está muito fina, ele quebra com
facilidade. Refiz o nariz e a boca algumas vezes devido à fragilidade da massa e a
Fig. 34 Teste de mobilidade
das pernas, 2011
Fonte: Acervo Pessoal
Fig.35 Teste de encaixe das juntas e proporções, 2011
Fonte: Acervo Pessoal
31
delicadeza de detalhes
Os olhos também foram complicados de modelar, afinal quando
construía as pálpebras, a massa muitas vezes ficava muito fina e acabava
quebrando, danificando toda a estrutura do olho. Exigiu de mim extrema paciência
para colocar várias camadas de massa, sem que o resultado final ficasse grosseiro e
tirasse a delicadeza do rosto
As orelhas foram uma das partes mais trabalhosas devido à riqueza
de detalhes em uma estrutura tão pequena. Ao modelar, prezei por deixar a massa
mais lisa possível, pois a estrutura é tão pequena que é difícil o acesso da lixa no
local. Também utilizei a retificadora elétrica para esculpir alguns detalhes na cabeça,
além de abrir os olhos, e o furo do elástico na base da cabeça.
Para esculpir os pés e as mãos utilizei para os pés uma estrutura de
papel alumínio, essa sendo extremamente útil, afinal o pé não é uma estrutura que
necessita ser oca. Revesti a estrutura com DAS e comecei a modelar o formato dos
pés. Depois adicionei uma bola para completar a estrutura da junta do tornozelo, e
auxiliar na modelagem do formato do pé. Modelei os dedos do pé adicionando
“cobrinhas” de DAS, definindo suas formas até que chegasse ao resultado desejado.
Já as mãos foram mais trabalhosas. Primeiramente fiz uma estrutura
de arame torcido para cada dedo, juntando-os para formar a base da mão.
Fig. 36 Progresso da cabeça, 2011
Fonte: Acervo Pessoal
32
Infelizmente o primeiro arame que utilizei era muito grosso e pouco maleável,
fazendo com que eu não conseguisse posar as mãos, e quebrando o DAS. Usei em
seguida um arame mais fino, geralmente usado na confecção de pulseiras, brincos e
colares. Com esse arame consegui posar as mãos tranquilamente. Revesti essa
estrutura com fita crepe, para facilitar a fixação do DAS, afinal o arame sozinho é
muito liso, fazendo com que o DAS não fixasse na estrutura. Depois de revestir com
a fita crepe, revesti os dedos e as mãos com a massa, e modelei os detalhes até
obter um resultado satisfatório.
3.2.Fôrmas
Para fazer os moldes escolhi o silicone, pois é um material que
grava mais fielmente os detalhes da escultura, além de ser fácil seu manuseio
quando se tira as peças, não sendo necessário desmoldantes10. Para a confecção
das fôrmas de silicone usei basicamente duas técnicas: uma forma com caixa de
gesso e contra-fôrma, e outra fôrma simples de duas partes. Usei no total 20 quilos
de silicone na confecção de todas as fôrmas de cada parte do doll, essas divididas
em: cabeça, tampa da cabeça, braços, pernas, busto, quadril, uma para cada mão,
uma para cada pé, juntas do quadril, juntas do joelho, juntas do cotovelo; totalizando
13 formas.
Para fazer a fôrma do busto de do quadril primeiramente fiz uma
caixa de gesso em duas partes, com respiros para o silicone em sua lateral. Utilizei
isopor e palitos de madeira para fazer as fôrmas dessa caixa, além de massinha de
modelar para os respiros do silicone no gesso. Depois das caixas prontas, fiz uma
cama de massinha de modelar e argila na face interna de uma das partes da caixa
para colocar a peça e fazer uma das partes da fôrma de silicone.
10
Produtos, geralmente vaselina ou cera, utilizados para soltar as peças do molde, ou evitar que duas partes de uma forma se fundam durante o processo de confecção de uma das partes.
33
Depois de fazer os
registros e os respiros na cama
utilizando palitos de madeira e bolas
de resina e de plástico, passei cera
em pasta para evitar que a peça
grudasse definitivamente na forma
de silicone, e o silicone grudasse
definitivamente no gesso. Depois
que fechei a caixa de gesso e selei
suas laterais com argila, verti o
silicone pelos respiros abertos na
caixa, de maneira a fazer a fôrma.
Ao terminar de fazer
as duas partes externas da fôrma,
coloquei uma das partes na caixa de
gesso, a outra encaixei sem a caixa de gesso, selei com massinha de modelar e fita
adesiva. Com a peça devidamente encaixada dentro das duas partes da fôrma, verti
o silicone dentro da parte oca da peça, fazendo uma contra-fôrma, para que quando
tirasse as peças em resina esta também saísse oca.
Fig.37 Processo da
caixa de gesso, 2011
Fonte: Acervo Pessoal
Fig. 38 Progresso da fôrma de silicone, 2011
Fonte: Acervo Pessoal
34
Só foi possível utilizar essa técnica para o busto e o quadril, pois
essas peças além de serem as maiores partes do corpo do doll, são as mais ocas,
fazendo com que elas suportem uma contra-fôrma. Braços e pernas são muito finos
para suportar contra-fôrmas, e as mãos e pés não são peças ocas. A cabeça, apesar
de oca, é divida em duas partes, então não há necessidade de fazer moldes com
caixa de gesso e contra-fôrma.
Para as fôrmas de
duas partes o processo foi mais
simples. Primeiro fiz uma cama de
argila/massinha de modelar escolar,
onde afundei as peças pela metade,
fiz os espaços para as juntas, fiz um
circuito de respiros para garantir
que não juntassem bolhas usando
palitos de madeira e
massinha/argila, e fiz registros
usando bolinhas de plástico. Essa
cama foi feita sobre uma placa de
isopor.
Utilizando outras
placas de isopor e palitos de
madeira, construí paredes em volta
da cama para abrigar o silicone.
Usei massinha/argila para selar
possíveis falhas nas paredes, e fita
adesiva para reforçar a estrutura por fora, e evitar que ela cedesse. Depois verti o
silicone por cima da cama, assim concluindo a primeira parte da fôrma.
Para fazer a outra parte, coloquei a peça sobre a metade da fôrma,
encaixando perfeitamente com a parte já gravada. Depois usava massinha/argila e
palitos de madeira para reconstruir os respiros sobre as estruturas já gravadas, e
cobria tudo com uma camada bem generosa de cera em pasta, para evitar que as
partes se unissem. Fiz o mesmo processo de construir paredes de isopor em volta
da metade da fôrma, e verti o silicone. Assim terminou a segunda parte da fôrma,
Fig.39 Progresso da forma de silicone simples, 2011
Fonte: Acervo Pessoal
35
completando-a.
Para selar as peças antes de começar as formas usei primeiramente
goma laca indiana. O que parecia uma boa escolha no começo se revelou um
engano, pois ela isola a peça muito superficialmente. Algumas peças (como braços,
pernas e quadril), ao ficar em contato prolongado com a cama de argila/massinha de
modelar absorveram a umidade, ficaram moles de novo e quebraram. Eu reconstruí
as partes que quebraram com argila, o que gerou uma textura mais grossa na peça
final, facilmente corrigida com lixa d’água. Para evitar os mesmos acidentes, selei a
cabeça, as mãos, os pés e as juntas com primer automotivo11 diluído no thinner.
Funcionou perfeitamente, mantendo as peças intactas depois dos moldes.
Os únicos problemas que tive com as fôrmas foram umas
disposições mal calculadas das pernas e braços que fragilizou um pouco a mesma;
a falta de um respiro na fôrma da cabeça, o que gerou uma bolha enorme na peça,
mas que logo foi consertada assim que o respiro foi aberto na fôrma; a disposição do
respiro do nariz e o contorno do olho na forma da cabeça, que acabaram danificando
a fôrma e a peça, mas que foram resolvidos na peça final; e o silicone em si, que
ficou em falta na cidade, fazendo com que eu perdesse um tempo precioso na
espera, atrasando a produção das fôrmas.
3.3.Resina
Quando fui pesquisar a resina perfeita para castear as peças do doll,
descobri que a mais usada é a resina de poliuretano, devido a sua alta resistência e
leveza, ela faz com que a peça suporte a tensão dos elásticos sem que seja
danificada. Aqui em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, essa resina não é vendida.
Após uma pesquisa, encontrei uma loja em São Paulo/SP que vende a mesma por
um bom preço. Decidi fazer a compra e encomendei 5 kits de resina, cada kit
contendo 1,7 kg, sendo 850g de Parte A e 850g de Parte B.
A resina de poliuretano não possui um catalisador como a resina de
poliéster. Ela é dividida em Parte A, chamada de “resina”, e Parte B, o
“endurecedor”. As duas partes devem ser misturadas, sendo a proporção 100:100
em peso. Isso significa que devem ser duas partes de pesos iguais. Quando fizemos
11
Primer Automotivo é um selador geralmente usado como base em carros antes da pintura final.
36
o primeiro teste a balança não estava regulada, fazendo com que os pesos ficassem
diferentes, e a resina não reagiu corretamente. Depois fizemos um segundo teste
usando uma balança digital de precisão, e tudo ocorreu tranquilamente.
Antes de verter a resina nas fôrmas, todas foram fechadas. As
fôrmas simples de duas partes eu fechei, selei as extremidades com massinha de
modelar, e passei fita adesiva em volta para evitar que abrissem. As fôrmas maiores
como as dos braços, pernas e cabeça eu coloquei em uma estrutura de isopor, feita
com uma placa na base, e outra em cada lado maior da fôrma, fazendo um
“sanduíche”, e passei mais fita adesiva para garantir que elas não abrissem. Depois
verti a resina por um funil de plástico, de maneira lenta e constante, para diminuir a
possibilidade de bolhas na peça.
Quanto às fôrmas com caixa de gesso, primeiramente encaixei uma
das partes na caixa, depois encaixei as outras duas peças de silicone e selei com
massinha de modelar (o quadril) e fita adesiva (o busto). A seguir, coloquei a outra
parte da caixa de gesso por cima e amarrei as duas partes por fora com borracha de
pneu de bicicleta cortada em tiras. Usei essas tiras para fixar bem a caixa e evitar
que ela saísse do lugar. Depois coloquei o funil na abertura do silicone e verti a
resina normalmente.
O primeiro problema que tivemos com a resina foi que ela é
extremamente sensível a mudanças climáticas e umidade. Então quando
começamos a tirar o último busto e o primeiro quadril, a resina havia absorvido
umidade ambiente derivada de dias chuvosos anteriores, fazendo com que em
algumas partes ela não reagisse quimicamente, mantendo-se líquida. Devido a esse
problema, acabamos desperdiçando muita resina com os consertos necessários.
37
Outro problema gerado pela umidade foi a falta de uniformidade da
cor da resina. Algumas peças ficaram extremamente manchadas, como se fosse
uma tinta mal misturada. Esse problema foi resolvido na customização, usando os
pasteis secos para uniformizar a cor da “pele”.
Para solucionar o
problema da umidade na resina, o
fornecedor recomendou que deixasse
as partes da resina em banho-maria,
para que o calor retirasse a umidade da
mesma. As tampas ficaram fechadas
para evitar que o cheiro da resina
intoxicasse alguém. Coloquei panos em
volta da panela para evitar que o vapor
que saía pela lateral umedecesse
Fig. 40 Defeitos causados pela umidade na resina, 2011
Fonte: Acervo Pessoal
Fig.41 Resina em banho-maria, 2011
Fonte: Acervo Pessoal
38
novamente a resina. Depois de 1 hora em banho-maria ela voltou a reagir
normalmente.
O segundo problema foram as bolhas. Como o pot life12 da resina é
muito curto (cerca de 1minuto e meio), em algumas peças as bolhas de ar não
tiveram o tempo necessário para sair pelos respiros, fazendo com que algumas
peças ficassem cheias de micro-bolhas, que mesmo sendo pequenas, são
numerosas. Gastamos boa parte da resina consertando essas bolhas, grandes e
pequenas, para que a peça ficasse uniforme.
Outro problema causado pelo curto pot life foi que em algumas
fôrmas as partes superiores, próximas à saída dos respiros secaram mais
rapidamente que as partes inferiores, fazendo com que as mesmas não liberassem a
umidade absorvida do ambiente. Isso gerou o mesmo problema da resina com
umidade: ela não reagiu corretamente, mantendo-se líquida. Para resolver foi
necessário retirar das peças a resina líquida e repor com uma resina nova, com a
forma aberta, cada parte de uma vez para tapar os buracos.
Para resolver esse tipo de problema seria necessário uma resina
nova, que tivesse o tempo maior de pot life. Também poderíamos usar um pressure
pot13, que ao formar um vácuo com a pressão, elimina todas as bolhas da resina,
evitando esses problemas. Mas para usar o pressure pot, é necessário uma resina
com o pot life maior. Infelizmente eu não tive tempo para procurar uma nova resina,
nem providenciar um pressure pot, mas os resultados ficam como experiência para
futuros trabalhos.
3.4.Acabamento
Essa etapa foi extremamente fundamental para o meu trabalho. As
peças apresentaram defeitos, grandes ou pequenos, então todas tiveram que passar
por essa fase.
12
Pot life é o tempo de manuseio disponível com a resina líquida, antes de ela virar “gel”. 13
Pressure Pot. Tradução literal: Panela de Pressão. Funciona exatamente como uma panela de pressão, mas ao invés de usar o calor pra conseguir a pressão, se usa um compressor para retirar o ar da panela. Também é usado um medidor para controlar a pressão interna da panela.
39
Primeiramente usei a
retificadora elétrica para retirar todas
as emendas. Também usei a
retificadora para afinar e nivelar
algumas peças (pernas e braços) que
sofreram alguns acidentes na fôrma.
Essas fôrmas acabaram abrindo um
pouco quando eu verti a resina, então
elas ficaram mais largas do que o
original. Depois de tirar os excessos,
foram usadas as lixas d’água 80, 220 e
600 para o acabamento final. Na
cabeça eu tive que refazer o olho
esquerdo do doll à mão, pois a fôrma
sofreu um pequeno acidente resultando
na perda do contorno dos olhos.
Também tive que furar os braços, pernas, juntas, pescoço, ombros,
quadris, usando a furadeira vertical que fica na marcenaria da universidade. Pedi
ajuda ao Sr. Jucelino, o responsável pela marcenaria, afinal se eu tentasse furar
sozinha, pela minha falta de prática e firmeza, poderia quebrar as peças.
Ao final, lavei todas as peças com água e sabão neutro para tirar
todos os resquícios de pó de resina, ficando prontas para a customização.
3.5.Customização
Primeiramente, para começar o processo de customização das
peças, fiz uma pesquisa sobre o tema que gostaria de abordar com a caracterização
dos dolls. Após decidir o tema, fiz um concept art14, para ter noção do resultado final
da custom15. Foi então que planejei as etapas, que vão desde a modificação
profunda do personagem masculino, a realização da face up e do body blushing,
confecção das roupas e acessórios, escolha das perucas e olhos, e composição final
14
Concept art. Tradução literal: arte de concepção. Um desenho feito com a finalidade de descrever visualmente um personagem, um design, uma idéia, um clima. Usado na concepção, uma primeira idéia para depois evoluir a obra final. 15
Custom. Significa customização.
Fig.42 Fases do acabamento, 2011
Fonte: Acervo Pessoal
40
da obra, incluindo a pose e cenário.
Decidi fazer um
personagem feminino e outro masculino,
sendo este último construído a partir do
mesmo molde de corpo e rosto feminino.
Para começar, usei a retificadora para lixar
os peitos e quadris, deixando o corpo
quadrado e masculino, sem as curvas
femininas. Depois, com as lixas 80, 220 e
600, dei o acabamento final, deixando o
corpo uniforme. Depois, usando DAS,
modelei um pênis na região da virilha,
usando uma fita adesiva para isolar a
massa da peça e a resina. Tirei fôrma
desse órgão de DAS para que fosse
passado para resina. Usei algumas gotas de resina para grudar o órgão na região da
virilha, transformando o corpo definitivamente em masculino.
Após terminar a modificação no corpo, comecei a fazer o face up e o
body blushing. O processo é o mesmo para os dois dolls. Primeiro aplico uma
camada de MSC Flat16 para selar a peça e servir como base para o giz pastel seco,
esse raspado em uma folha de papel comum para usar o pó com o pincel. Eu
particularmente começo pelas sobrancelhas, que para mim são as partes mais
difíceis. Depois de definir seu formato, começo a adicionar sombra nos olhos, corado
das bochechas e cor nos lábios. Para deixar as cores mais intensas, uso várias
camadas de MSC e giz pastel seco.
Para fazer os pelos da sobrancelha, cílios inferiores e os “risquinhos”
dos lábios uso lápis aquarela. Para delineador e pintas uso tinta acrílica diluída em
água ou em gel acrílico. Para fazer sardas, uso tinta sépia bem diluída em água,
uma escova de dente velha e um cotonete. Uso a escova para espirrar gotas de
tinta, e o cotonete para tirar os excessos. Quando termino a face up, passo uma
última camada de MSC para selar, e passo verniz brilhante para dar brilho na parte
interna dos olhos e na boca.
16
MSC é uma marca de verniz de alta qualidade. Ele vem em uma lata spray. Esse especificamente é fosco (Flat).
Fig.43 Perucas e Olhos, 2011
Fonte: Acervo Pessoal
41
Para o body blushing utilizo os mesmos materiais. Geralmente vou
colorindo áreas do corpo onde este é mais corado, como os ombros, cotovelos,
pulsos mamilos, abdome, virilha, joelhos e tornozelos. Nas mãos e pés eu sombreio
as juntas dos dedos, a palma das mãos, e faço o desenho das unhas. Se preciso
fazer alguma pinta ou sardas, uso a mesma técnica do face up. Quando vou fazer
alguma tatuagem, desenho bem levemente com o lápis aquarela com a cor mais
próxima a cor da “pele” do doll. Depois faço as sombras e cores com giz pastel seco,
e para o acabamento final uso tinta acrílica. Para finalizar, depois de selar com MSC,
passo verniz brilhante nas unhas.
Para brincos e piercings eu uso cola branca normal em
pequeníssima quantidade para não sujar, miçangas metalizadas nas cores e
formatos que me interessam, ou argolas de metal, e colo na área desejada. Sempre
uso uma pinça como auxílio para colar de maneira correta.
Depois que eu termino todo o trabalho de pintura no doll, eu o
monto, usando duas tiras de elástico roliço de aproximadamente 1 metro e meio. A
Fig.44 Material para face up e body blushing, 2011
Fonte: Acervo Pessoal
42
espessura do elástico sempre é
entre 3 e 5mm. As duas tiras
servem uma para prender as
duas pernas e o torso, e outra
para prender braços e mãos.
Uso o elástico roliço, pois a
tensão dele é muito maior que a
de um elástico chato. Uso
pequenos ganchos, em formato
de “S”, de alumínio nos pulsos e
nos tornozelos para prender as
mãos e os pés, e um gancho
maior dentro da cabeça para
prender o elástico principal.
Depois de
montado, confecciono as roupas
e acessórios que eles usam.
Geralmente uso tecidos como brim e tricoline. Procuro usar estampas pequenas,
para que fiquem na escala do doll. Para acessórios como colares e cintos, busco por
correntes finas e pingentes pequenos. Os sapatos, perucas e olhos eu compro
prontos, mas sempre tendo modificar um detalhe ou outro para que fique único. Ao
final, monto a composição e o doll fica completo.
Fig. 45 Esquema de elásticos, 2011
Fonte: Acervo Pessoal
43
4.OS DOLLS
O conceito que eu escolhi para a customização das peças foi “Eu
não sou só mais um boneco/boneca”. Esse tema retrata exatamente o que eu
pretendo defender nesse trabalho: de que os BJDs não são só mais uma boneca
comercial dedicada ao consumo em massa. É uma boneca que possui o conceito
artístico embutido. A proposta sempre é a criação, mesmo essa não tendo objetivo
nenhum além do estético. E um objeto que propõe a criação, o desenvolvimento
artístico como forma de apreciação de tempo não pode ser tratado como mais uma
boneca, ordinariamente. Esse objeto é artístico, e seus resultados finais são obras
de arte.
Customizei os dois dolls de maneira diferente, para explorar as
possibilidades do molde. Os dois estão dispostos em caixas de vidro, um em cada
caixa. Dentro delas, várias peças de bonecas e bonecos de venda em massa,
brinquedos simples e comerciais, desmontados, como se aquela caixa virasse um
depósito de bonecos e bonecas de consumo de massa. Os dois estarão com uma
expressão corporal acuada, tentando chamar a atenção do mundo fora daquela
Fig.46 Concept art digital de face up: Boy, 2011 Fig.47 Concept art digital de face up: Girl, 2011
Fonte: Acervo Pessoal
44
caixa, com a expressão de que não pertencem àquele mundo de consumo ligeiro,
sem apreciação, de comprar por comprar.
Dessa forma, busco criticar as pessoas que observam com certo
preconceito esse tipo de arte. Aquele tipo de pessoa que fica tão cega com a
estética da boneca que acaba colocando tudo em uma mesma caixa. Acaba tratando
as bonecas como todas iguais. Acaba não reconhecendo o que é um produto único,
e o que é um produto de consumo de massas. Quero mostrar que hoje em dia,
temos uma farta opção de suportes a se usar em uma obra de arte, e que mesmo
esse sendo inusitado, ele não perde a sua aura artística.
Fig.48 Pose 1, 2011
Fonte: Acervo Pessoal
45
Fig.49 Caixa 1, 2011
Fonte: Acervo Pessoal
46
Fig.50 Caixa 2, 2011
Fonte: Acervo Pessoal
47
CONCLUSÃO
A pesquisa demonstrou que a criação de BJDs não pode ser
considerada apenas como a criação de um objeto em si, ou seja, apenas uma
boneca. A confecção dessas peças desde a pesquisa até sua materialização
demonstrou que é necessário todo um processo de elaboração mental e artística.
Acredito que o objetivo desse trabalho foi alcançado, pois o estudo
das bases teóricas e artísticas que foram utilizadas para a produção das BJDs nos
mostra que elas são sim uma forma de arte. Foi observado pela pesquisa um grande
número de pessoas que usam dolls como suporte para conceitos artísticos, e
também foi encontrado na história da arte que o artista que começou a era moderna
dos BJDs, foi Hans Bellmer.
Ao registrar todo o processo de criação e desenvolvimento das
peças, dolls, foi demonstrado que a construção do trabalho exige pesquisa,
elaboração dos moldes, criação das fôrmas, vazar as peças em resina, acabamento
individual de cada uma das partes até o produto final.
Concluindo, o trabalho exige muito envolvimento, disciplina, cuidado
e disponibilidade artística. Com isso podemos verificar que as BJDs não são
simplesmente bonecas, pois o processo de confecção é trabalhoso como todo
trabalho em escultura, desde o início até o seu processo final.
48
REFERÊNCIAS
BALL-JOINTED doll. Wikipedia, the free encyclopedia. 2008. Disponível em:
<http://en.wikipedia.org/wiki/Ball-jointed_doll>. Acesso em: out. e nov. 2010.
BENJAMIN, Walter; tradução de Jose Lino Grünnewald. A obra de arte na época
de suas técnicas de reprodução. São Paulo. Abril Cultural, 1980.
BONECA. Wikipedia, the free encyclopedia. 2006. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Boneca>. Acesso em: maio. 2011.
HANS BELLMER. Wikipedia, the free encyclopedia. 2003. Disponível em: <
http://en.wikipedia.org/wiki/Hans_Bellmer>. Acesso em: maio. 2011.
EGUCHI, Haroldo Cotri; PINHEIRO, Olympio José. Arte ou design? Metodologia e
ideologia na obra dos Irmãos Campana. 2009. Disponível em: <
http://www.anpap.org.br/anais/2009/pdf/chtca/olympio_jose_pinheiro-1.pdf>. Acesso
em: maio.2011.
METROPOLITAN MUSEUM OF ART. Alexander McQueen: Savage Beauty. 2011.
Disponível em: < http://blog.metmuseum.org/alexandermcqueen/>. Acesso em:
maio.2011.