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INTERACES NO. 13, PP. 187-207 (2009)
http://www.eses.pt/interaccoes
AGRESSO, VITIMAO E EMOES NA ADOLESCNCIA, EM
CONTEXTO ESCOLAR E DE LAZER
Maria Jos D. Martins Escola Superior de Educao do Instituto Politcnico de Portalegre
Resumo
Este estudo teve como objectivos: comparar as experincias de agresso e/ou
de vitimao que ocorrem na escola com aquelas que ocorrem no contexto de tempos
livres e actividades de lazer, fora do contexto escolar, em duas regies de Portugal;
comparar as frequncias dessas experincias no ano de 00/01 com as do ano 07/08
numa mesma escola; compreender o papel que as emoes desempenham
associadas s condies de vtima e de agressor. Utilizmos um questionrio de
comportamentos referidos pelo prprio (auto-relato) para avaliar a agresso e a
vitimao e um questionrio de competncia emocional para avaliar as emoes, em
particular: a competncia: para perceber e compreender emoes nos outros, para
exprimir e nomear emoes, e para regular e gerir as suas prprias emoes. Os
resultados enfatizam que as experincias de agresso e vitimao so mais
frequentes na escola que nos tempos livres, sobretudo no que respeita s suas formas
menos graves; que as vtimas parecem ter mais dificuldade em regular e gerir as
emoes que os agressores e os no envolvidos; e que os agressores no se
diferenciam dos no envolvidos no que respeita s vrias dimenses da competncia
emocional avaliadas. Este tpico dever ser objecto de mais estudos dada a
popularidade que a educao emocional tem vindo a ter nos ltimos anos.
Palavras-chave: agresso, vitimao, emoes, escola e lazer
Abstract
The aims of this study were: to compare the experiences of victimization and
aggression in school settings with those occurring in leisure settings, outside the
school, in two different regions of Portugal; to compare the frequencies and types of
victimization and aggression displayed in one of the schools in the year 2000/2001 with
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those displayed in the year 2007/2008; to understand the role that emotions play in the
conditions of being an aggressor, or a victim, in adolescence. We use a self-report to
assess aggression and victimization and an emotional skills and competence
questionnaire to assess emotions, specifically: competence to manage and regulate
emotions, to express and label emotions, and to perceive and understand emotions.
The results obtained emphasize: that victimization and aggression were more frequent
at school than in leisure, specially the less severe forms; and that victims have lack of
competence to manage emotions but the emotional competence of aggressors dont
seem to be different from those adolescents non involved, so more studies are
necessary to explore this topic considering that educational emotion at schools has
becoming a popular topic and matter of concern.
Keywords: Aggression; Victimization; Emotions; School and leisure.
Introduo
Os maus tratos entre pares, (vulgarmente designados por bullying) e a agresso
no contexto escolar tm sido um tpico de grande preocupao e investigao nas
ltimas dcadas, em vrios pases, (Smith & Brian, 2000) mas poucos estudos (e.g.,
Diaz-Aguado, Arias & Seonne, 2004) comparam a frequncia e o tipo de maus tratos
que ocorrem no contexto escolar com aqueles que ocorrem nos tempos livres, ou seja,
no contexto das actividades de lazer, desenvolvidas fora da escola.
O bullying geralmente definido como uma forma de agresso repetida,
perpetrada por um grupo ou por algum em posio de poder, sobre uma vtima
indefesa (Olweus,1997). A agresso geralmente definida como a inteno de causar
dano fsico ou psicolgico sobre os outros de forma intencional (Coie & Dodge, 1998).
Quer a agresso, quer o bullying parecem ter consequncias negativas nas vtimas,
nos agressores e nos observadores e as fronteiras entre os dois conceitos no so
completamente claras (Roland & Idsoe, 2001).
Geralmente, os autores (e.g., Smith & Sharp, 1995; Olweus, 1997) consideram
que existem vrios tipos de bullying e agresso, nomeadamente:
Directo e fsico que inclui bater ou ameaar faz-lo, roubar ou estragar os objectos dos colegas; forar comportamentos sexuais; obrigar os colegas a
realizar tarefas servis contra a sua vontade;
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Directo e verbal engloba insultar, chamar nomes ou pr alcunhas desagradveis; gozar ou fazer reparos racistas ou que salientam alguma
deficincia ou defeito dos colegas;
Indirecto ou relacional excluir algum do grupo de pares, ameaar com a perda da amizade, espalhar boatos sobre os atributos dos colegas com vista
a destruir a sua reputao, e de um modo geral manipular a vida social dos
companheiros.
Vrios autores tm conduzido estudos sobre bullying e agresso em Portugal
(e.g., Almeida, 1999; Gonalves & Matos, 2007; Martins, 2009; Seixas, 2005) mas
esses estudos nem sempre comparam a frequncia e os diferentes tipos de bullying
que ocorrem em diferentes regies de Portugal.
A crescente preocupao social com esta temtica tem levantado tambm a
questo de saber se o problema tem vindo a aumentar ou diminuir. No obstante a
grande nfase dada pela comunicao social, alguns estudos (e.g., Matos, Negreiros,
Simes & Gaspar, 2009) parecem sugerir uma ligeira diminuio no envolvimento de
crianas e adolescentes em comportamentos de maus tratos entre pares em contexto
escolar.
Alguns autores (e. g., Arsenio & Lemerise, 2001) tm tambm sugerido a
relevncia de estudos que relacionem a experincia da vitimao e da agresso com
as emoes e, em particular, com a competncia emocional, enfatizando o papel da
empatia na inibio das condutas agressivas. Alguns desses estudos tentam
compreender a relao entre agresso, vitimao e as emoes morais (e.g. Menesini
et al., 2003). Outros tentam compreender como as emoes interferem com as
estratgias desencadeadas pelas vtimas para lidar com a agresso dos pares (e.g.,
Kochenderfer-Ladd, 2004).
Em particular, um estudo de Borg (1998), com crianas e adolescentes, que tinha
como objectivo conhecer as emoes vivenciadas por vtimas e agressores, constatou
que as emoes e sentimentos mais experimentados pelas vtimas eram a vingana, a
raiva e a pena de si prprio; enquanto que o que os agressores mais experimentavam
eram sentimentos de arrependimento ou indiferena. Nos agressores a indiferena e
arrependimento alcanavam quase as mesmas frequncias e o sentimento de
satisfao, embora menos frequente, tambm surgia por vezes associado agresso
(Borg, 1998).
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Wilton, Craig e Pepler, (2000) efectuaram um estudo, com base em observaes
naturalistas (na sala de aula e no recreio), de crianas vtimas e agressoras
(previamente identificadas com base num questionrio de nomeao de pares), com
vista a identificar: as emoes manifestadas por essas crianas durante interaces
de bullying; a sua capacidade de regulao das emoes e modos de lidar com a
situao (estilos de coping). Verificaram que a grande maioria das vtimas exibia
emoes desajustadas face situao (interesse, alegria e raiva eram as emoes
mais frequentemente exibidas) e que os modos de lidar com o bullying eram tambm
pouco ajustados. Assim, as vtimas/agressoras lidavam com a situao de bullying
com agresso fsica e verbal e as vtimas passivas tentavam ignorar, evitar a situao
ou submetiam-se passivamente ao bullying. Muito poucas vtimas eram capazes de
pr em prtica estratgias de resoluo de problemas eficazes como pedir ajuda ou
conversar sobre a situao; no entanto, estas ltimas pareciam ser as mais eficazes
para a resolver. Os autores concluram que dfices na capacidade de regulao
emocional e no modo de lidar com situaes de conflito so factores de risco para a
vitimao crnica (Wilton et al., 2000).
Paralelamente e independentemente dos estudos sobre agresso, os conceitos
de inteligncia emocional e de competncia emocional tm tambm sido um tpico de
muita preocupao e investigao nas ltimas dcadas (e.g., Faria et al., 2006).
Alguns autores tm vindo a sugerir que introduzir na escola a educao emocional
pode contribuir para prevenir a violncia, promover um clima social positivo, e
aumentar o sucesso escolar e profissional (e.g., Zeidner, Mathews & Roberts, 2006).
De modo que compreender o modo como a competncia emocional se relaciona com
a experincia da vitimao ou da agresso um tpico de investigao pertinente.
Assim, no presente estudo, formularam-se os seguintes objectivos:
Comparar a frequncia e os tipos de condutas de agresso e vitimao manifestados numa amostra de adolescentes em duas regies diferentes de
Portugal (arredores de Lisboa e Norte Alentejo);
Saber se a frequncia de condutas de agresso e vitimao que ocorrem na escola maior ou menor do que aquela que ocorre no contexto das
actividades de lazer, fora da escola;
Saber se os tipos de condutas de agresso e vitimao que se manifestam na escola so diferentes daquelas que se manifestam nas actividades de
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