Luis Batalha - Breve análise do Parentesco como forma de organizacao social

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  • 5/10/2018 Luis Batalha - Breve anlise do Parentesco como forma de organizacao social

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    LUIS BATALHA

    B R E V E A N A L I S E S O B R E 0 P A R E N T E S C OC O M O F O R M A D E O R G A N I Z A < ;A O S O C I A L

    INSTITUTO SUPERIOR DE ClENCIAS SOCIAlS E POLiTICASLISBOA1995

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    B REV E AN AL ISE SO BRE 0 PA REN TESC O COMOFORMA DE ORGAN IZA(:AO SOC IAL

    pelo Dr. Luis Batalha

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    1. A imporuincia do Estudo do Parenteseoo estudo dos sistemas de parentesco assume grande importancia no trabalho dos

    antrop6logos, pois as culturas por eles estudadas pertencem, na sua maioria, a umacategoria de sistemas s6cio-culturais em que as relacoes de parentesco sao a principalforma de organizacao social.

    Para compreender a rede de relacoes sociais, 0 antrop6logo necessita conhecer aterminologia parental, assim como as regras de comportamento subjacentes a cada urndos termos empregues. Ao longo dos muitos estudos, os antrop6logos concluiram queexistem universal mente dois princfpios mentais subjacentes a organizacao social dequalquer grupo domestico: a afinidade e a filia~iio. 0 primeiro traduz a rela~ao deparentesco estabelecida entre dois grupos sociais distintos, atraves do casamento de urnhomem com uma mulher, sendo urn de cada grupo. Oeste modo 0 casamento naosignifica apenas a liga~ao entre duas pessoas, mas tambem dos grupos a que elaspertencem. 0 princfpio da filiaoio traduz uma relacao consangufnea, isto e , agrupa aspessoas que partilham entre si 0mesmo patrim6nio genetico (pais, filhos, av6s, irmaos,etc.). o parentesco e assim 0 resultado da conjugacao de dois princfpios: afinidade eeonsanguinidade. E 0 seu estudo deve comecar pelas categorias emie (ver Harris1968:568) do quotidiano domestico, ou seja, as designacoes adoptadas pelos parentes unsem relacao aos outros.

    Os antropologos sociais britanicos aplicam 0 termo descendencia a apenas relacoesque se estendem por mais de duas geracoes (netos-av6s), e usam 0 termo filia~iio paradesignar relacoes dentro de fanu1ia nuclear (pais-filhos) (Fortes 1969).

    2.A FiliaciioAs relacoes de parentesco sao muitas vezes confundidas com relacoes biol6gicas. 0

    casamento pode, por exemplo, estabelecer uma rela~ao de parentesco entre uma crianca eurn pai geneticamente nso relacionado. Malinowski apercebeu-se disso ao estabelecera diferenca entre 0pater e 0genitor, sendo 0 primeiro urn pai social e 0 segundo 0paigenetico,

    Oeste modo, as relacoes parentais nao assentam numa base estritamente biol6gica.

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    o conceito de descendencia, em sentido emie, representa a crenca de que certaspessoas desempenham urn papel importante na concepcao, nascimento e educaeao d a scriancas (Harris 1980). Todas as sociedades possuem uma teoria sobre 0 fen6meno dareproducao (Scheffler 1973). A descendencia implica a preservacao de alguns caracteresdo espfrito popular nas geracoes futuras, representando assim uma forma simb6lica deimortalidade (Craig 1979). Talvez por isso 0 parentesco e a descendencia sejam umainstituicao universal.

    Na tradi~ao popular Ocidental (greco-romana), 0 papel da mulher e do homem naprocriacao e visto de maneira igualitaria; 0 semen e a semente, enquanto 0 uterorepresenta a terra. Isso quer dizer que os mhos estao igualmente aparentados com ambosos pais, atraves do fluxo sangufneo, 0que leva a distincao entre parentes consangufneos eafins.

    Esta visao popular levou os antrop6logos do s e c . XIX a usar 0 termo consangufneopara traduzir relacoes de filiacao, Consangufneo e, portanto, uma designacao etnocentrica(faz parte dos componentes emie da tradicao europeia ocidental).

    Porem, quando abandonamos a nossa area cultural, logo deparamos com exemplosem que a importancia dada ao homem e a mulher na procriacao sao bastante diferentes danossa cultura europeia. Por exemplo, os Ashanti, da Africa Ocidental, acreditam que 0contributo sanguineo e dado somente pela mae, 0qual determina as caracteristicas ffsicasda crianca; enquanto a natureza espiritual e 0 temperamento sao produto do semen dopai. Os Alora, da Indonesia, acreditam que a crianca e formada por uma mistura desemen e fluidos menstruais. Noutras sociedades, acredita-se que 0 crescimento lento egradual do feto resulta das repetidas inseminacoes atraves do coito durante a gravidez.Entre os Tamil da Costa do Malabar, India, 0 desenvolvimento do feto e tido comocontributo do semen de varies homens. Por Ultimo, os Trobriand acreditam que 0 papeldo homem e apenas 0de abrir a passagem, atraves da vagina, para que a crianca e 0 seuespfrito saiam de dentro da mae.

    Entre os aborigenes australianos, 0 papel do homem na cri~ao e menosprezado,sendo exemplo disso os Mumgin.

    Contudo, e apesar de todas as diferencas quanto a importancia e papel do homem eda mulher na criacao, encontra-se por toda a parte urn conjunto de elementos definidoresda implicacao do par conjugal no fen6meno reprodutivo. 0que varia de sociedade parasociedade sao os direitos e obrigacoes face a s criancas.

    3. Regras de FiliacaoAs diferencas nas designacoes e relacoes de parentesco correspondem a outras tantas

    diferencas nos direitos e deveres dos individuos que constituem 0nucleo domestico,Consideram-se duas grandes classes de regras de descendencia: a cogndtica e a

    unilinear. Cognatica e aquela em que tanto 0 homem como a mulher, e seus respectivosgrupos de descendencia, sao considerados para efeitos de parentesco. 0 indivfduo, aonascer, contrai obrigacoes, deveres e direitos, tanto em relacao aos parentes da mae comodo pai. A descendencia unilinear representa uma forma em que 0 individuo apenas fica

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    l igado por obrigacoes, deveres e direitos, a urn dos grupos parentais: 0do pai ou mae. Aforma mais comum de descendencia cognatica e a bilateral, aquela em que 0reconhecimento paternal se faz ao longo de uma linha materna e outra paterna, ligando 0ego (0 eu a partir do qual se estabelece a rede de parentesco) tanto aos descendentescomo ascendentes. Outra forma, menos comum, e a descendencia ambilinear. Egoreconhece como parentes pessoas de ambos os lados, tanto materno como paterno, masapenas alguns de cada urn dos lados sao considerados parentes, sendo os restantesexclufdos. Nao M, portanto, simetria entre 0 lado materno e 0 paterno, e a linha deparentesco ignora 0sexo dos indivfduos.

    Quanto a filiadio unilinear existem duas formas principais: patrilinear ematrilinear. Quando a filiacao e reconhecida patrilinearmente, 0 ego segue a linha deascendencia-descendencia exclusivamente atraves de homens (note-se que isto apenas evalido quando se passa de uma geracao para outra, pois na sua geracao ele tern parentesde ambos os sexos). Quando a filiacao e reconhecida matrilinearmente, 0 ego segue alinha de ascendencia-descendencia exclusivamente atraves de mulheres: quando se passade uma geracao para a seguinte, apenas as mulheres transmitem a condicao de membrodo grupo de parentesco (linguagem ou cla),

    Vma das mais importantes consequencias da filia~ao unilinear e a colocacao eseparacao, em grupos diferentes, dos filhos de irmaos de sexo diferente. Isto origina duascategorias de primos: primos cruzados (filhos de irmaos de sexo oposto) e primosparalelos (filhos de irmaos do mesmo sexo). Apenas os primos paralelos (os filhos dasirmas da mae do ego, ou os filhos dos irmaos do pai do ego, partilham a filiacao com 0ego, isto e, pertencem a mesma linhagem).

    Existe ainda uma variedade adicional de filiacao, designada por dupla filiacao, emque ego reconhece, simultaneamente, parentes matrilineares, atraves de sua mae, eparentes patrilineares, atraves de seu pai. Esta forma difere da descendencia unilinear, namedida em que existem duas linhas; uma matrilinear, outra patrilinear.

    Varias outras combinacoes destas regras podem ocorrer. Por exemplo, em todas associedades existe urn certo grau de bilateralidade no reconhecimento de direitos edeveres. As modem as sociedades euro-americanas sao consideravelmente bilateraisquanto a composicao do grupo de parentesco e a transmissao da riqueza e propriedade, eno entanto, os nomes de familia sao patronfmicos (seguem uma linha paterna).

    Regras de filiacao diversas podem ocorrer tambem numa mesma sociedade, desdeque digam respeito a esferas diferentes de pensamento e comportamento. E umaimportante ideia a reter, e a de que os grupos de parentesco nao se compoemnecessariamente de pessoas co-residentes e, portanto, nao constituem sempre urn grupodomestico,

    Vma das formas de parentesco bilateral e a parentela (em Ingles kindred). Constituiuma familia em sentido lato e e composta por indivfduos de sexos e geracoes diferentes,tanto patrilinearmente com matrilinearmente. A sua principal caracteristica e 0 leque eprofundidade das relacoes bilaterais ser muito abrangente.o ego considera os parentes como pr6ximos ou afastados, conforme 0mimero deligacoes geneal6gicas que os separa de si. Isto sem contudo existir uma regra definidapara tal. Vma importante con s equencia disto e que 0 ego e os seus irmaos sao

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    incorporados numa parentela que nao poder ser a mesma para quaisquer outrosindivfduos (excepto para os primos duplos do ego - primos cujos pais sejam primosentre si).Assim, torna-se impossfvel que uma parentela se constitua como grupo domesticoco-residente, e tambem muito dificilmente se constituira como grupo corporativo deinteresses.Urn outro grupo de natureza cognatica, mas de tipo ambilinear, e a linhagemcogndtica; em que a mia~ao e tracada a partir de urn ou mais ancestrais, atraves dehomens e/ou mulheres. Este tipo de linhagem assenta no princfpio de que todos oselementos do grupo sao capazes de especificar a sua rela~ao geneal6gica com 0 ancestralfundador da linhagem. Existe tambem 0 clii cogndtico, cujos elementos apenas podemestipular a sua ligacao ao ancestral fundador, mas nao demonstra-la, Sao exemplo, os clasambilineares escoceses, em que alguns membros rem nomes diferentes, como resultadoda patronfrnia, e devem demonstrar a sua filiacao (Neville 1979).A outra grande categoria de grupos de filiacao e constitufda pelos gruposunilineares. Quando a filiacao e , de forma sistematica, demonstrada em relacao a urnancestral comum, masculino ou feminino, trata-se de uma patrilinhagem ou de umamatrilinhagem, respectivamente. Estamos perante grupos domesticos co-residentes queprocuram assegurar interesses comuns. As linhagens que incluem todas as geracoes edescendentes colaterais do ancestral fundador designam-se por linhagens mdximas.Aquelas que apenas abarcam tres geracoes designam-se por linhagens minimas.Quando a descendencia apenas pode ser estipulada e nao demonstrada, 0 grupodesigna-se por patriclii ou matriclii (conforme 0 sexo do ancestral). Tambem e comumutilizar-se os termospatrisibe e matrisibe.Existem contudo muitos casos em que se torna diffcil distinguir a linhagem do cla,As linhagens podem conter sublinhagens e os ciiis subclas. E urn cla e geralmentecomposto por varias linhagens.4. Regras de Residencia p6s-Casamento

    Para que se possam compreender os processos responsaveis pela diversidade degrupos domesticos e pelas diferentes ideologias de filiacao, deve analisar-se 0 padrao deresidencia adoptado ap6s 0 casamento. Actualmente os antrop6logos concordam que eesse padrao que determina as regras de filiacao.As principais regras de fixacao de residencia sao as seguintes (Harris 1980: 278):neolocalidade (0 casal recem formado fixa uma residencia separada tanto dos parentesdele com dos dela); bilocalidade (alternam a residencia entre os parentes de ambos,passando uma parte do ano com 0 grupo do marido e outra com 0 da mulher);ambilocalidade (Alguns casais fixam residencia junto dos parentes do marido, outrosjunto dos da mulher); patrilocalidade (fixacao de residencia junto do pai do marido);matrilocalidade (fixacao de residencia junto da mae da mulher); avuncolocalidade(fixacao de residencia junto do tio materno do marido); amitalocalidade (hip6tesemeramente te6rica, em que 0casal fixaria residencia junto da tia paterna da mulher. Nao

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    foi at e hoje encontrado nenhum caso); uxorilocalidade (ftx~iio de residencia junto daparentela da mulher. E comum combinar-se com algumas fonnas acima descritas);virilocalidade (ftxa~iio de residencia junto da parentela do marido. E tambem comum acombinacao com algumas fonnas acima descritas).

    As regras de residencia p6s-casamento influenciam a ftli~iio porque determinamquem entra, sai, ou pennanece em detenninado grupo domestico (Murdock 1949; NaroU1973). 0 grupo domestico e constiufdo por urn agregado de parentes, criado peladeslocacao de pessoas ap6s 0 casamento. Por sua vez, 0 movimento de pessoas einfluenciado pelas condicoes demograficas, tecnol6gicas, econ6micas e ecol6gicas quesustentam as sociedades. As condieoes polftico-economicas tambem contribuemgrandemente para a definicao de urn ou outro tipo de ftlia~iio e de residencia.

    5. Causas da Filia~iio BilateralA filiacao bilateral e s ta associada a vanas combinacoes de neolocalidade,

    ambilocalidade e bilocalidade. Estas fonnas de residencia reflectem urn elevado grau demobilidade e flexibilidade da s famflias nucleares. Isso toma-se extremamente importantepara os cacadores-recolectores, e e caracteristico das sociedades-bando (0 caso dos!Kung e demonstrativo). 0 facto da estrutura do banda ser flexfvel pennite umaadaptacao a variabilidade das condicoes ecol6gicas. No caso da s sociedades urbano-industriais, a bilateralidade responde adaptativamente a s condicoes de mercado,particularmente do mercado de trabalho assalariado e a substituicao da economia familiarpela de mercado.

    6. Detenninantes das Linhagens Cogndticas e dos CldsEste tipo de grupos esta associado a ambilocalidade. Nesta situacao, 0casal escolhe

    residir junto dos parentes do marido ou da mulher, mas fa-lo de maneira defmitiva (nocaso bilocal existe alternancia), Isto representa uma forma mais sedentaria de vida social,e proporciona 0desenvolvimento de interesses corporativos mais fortes.

    Contudo, este tipo de organizacao tern menos potencial para fonnar unidadescorporativas do que os grupos de descendencia unilinear.

    Os Kwakiutl, da Costa Noroeste dos EVA, siio urn exemplo de como funcionam aslinhagens cognaticas. A pesca do salmiio e para eles uma actividade de grandeimportancia econ6mica. E, como forma de aliciamento de mao-de-obra, os chefes decada aldeia diio grandes festas (potlatch). Cada aldeia e constitufda por urn chefe e osseus seguidores - com ele relacionados ambilinearmente - fonnando a uma unidadedesignada por numaym.

    7. Detenninantes das Linhagens e Clds UnilinearesEnquanto os bandos de cacadores-recolectores apresentam uma tendencia para a

    filiacao cognatica elou residencia bilocal, devido a necessidade de se ajustarem a s

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    condicoes ecologicas locais, e permanecem abertos, flexiveis e nao territoriais, 0desenvolvimento da agricultura leva ao estabelecimento de aldeias com caracter maispermanente. Quando isso acontece, os grupos domesticos tornam-se corporacoes deinteresses exelusivos.

    A densidade demografica aumenta e as situacoes de guerra tornam-se maisfrequentes, 0 que contribui para acentuar a unidade e exelusividade do grupo unilinear(Ember, Ember e Pasternak 1974). Michael Hamer (1970) demonstrou tambem queexiste uma poderosa correlacao estatistica entre 0 aumento da dependencia face aagricultura, por oposicao a caca-recoleccao, e a transformacao dos grupos de filiacaocognatica em grupos de descendencia unilinear. Contudo, nao se trata de urn processo desentido iinico, uma vez que pode dar-se uma regressao para formas cognaticas, caso apopulacao decresca ou a guerra cesse. Esse foi certamente 0 caso dos Kwakiutl, com adiminuicao da populacao ap6s 0 contacto com os colonos.

    Existe uma associacao entre as regras de filiacao e as de residencia: patrilinearidadecom patrilocalidade; matrilinearidade e avuncolocalidade. Na patrilocalidade, pais,irmaos e filhos formam 0 micleo domestico. Na matrilocalidade, maes, irmas e filhasformam esse mesmo micleo,

    A conexao entre a matrilinearidade e a avuncolocalidade e mais complexa. Nestetipo de residencia, 0 micleo domestico e formado pelo tio materna e sobrinhos (estesmudam-se para casa daquele quando jovens).

    8. Causas da PatrilocalidadeA esmagadora maioria das sociedades conhecidas possui formas de residencia

    centradas nos homens; 71 % das 1179 elassificadas por Murdock (1967) no seuEthnographic Atlas sao patrilocais ou virilocais. Na mesma amostra, 0 mimero desociedades que possuem grupos de parentesco patrilineares ultrapassa 0das matrilineares(558 contra 164). Portanto, patrilocalidade e patrilinearidade representam 0 modoestatisticamente mais vulgar de organizacao domestica, E 0predominante em sociedadesagricolas de arado e animais de traccao, ou pastoris n6madas. Porem, pode tambemexistir em sociedades que vivern da horticultura ou da agricultura-de-queimada (Divale1974).

    Daqui se conelui que nas sociedades pre-estatais 0 predominio da patrilocalidadesignifica que a cooperacao entre homens e mais importante do que entre mulheres. Oshomens monopolizam as armas de guerra e caca, assim como 0 controlo politico-econ6mico. Provavelrnente, a razao para isso esta na maior aptidao rnasculina para 0combate corpo a corpo, e na reduzida rnobilidade das rnulheres durante a gravidez eamamentacao. Prornovendo a estruturacao domestica a volta de urn micleo formado porpais, irmaos e filhos, a patrilocalidade favorece a cooperacao rnilitar entre hornens quecresceram juntos, e evita que pais e filhos se possam defrontar por pertencerem a aldeiasdiferentes (Divale e Harris 1976).

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    9. Causas daMatrilocalidadePara que exista urn grupo de filia~o matrilinear e preciso existir matrilocalidade (por

    vezes avuncolato substitui a matrilocalidade).Mas entao qual a razao da matrilocalidade? Existe urna teoria sustentada pelo facto do

    papel da mulher na producao de alimentos aumentar de importancia nas sociedades que vivemda horticultura E, assim sendo, os grupos domesticos estruturar-se-iam em torno das mulheres.

    Porem, estatisticamente nao existe uma correlacao mais forte entre horticultura ematrilocalidade, do que entre horticultura e patrilocalidade (Ember, Ember 1971; Divale1974). Alem disso, e difici1compreender porque seria necessario urn grau de c o o p e r a c a o moelevado em tarefas horncolas, que impedisse mulheres vindas de grupos domesticos diferentesde trabalharem em conjunto, e que obrigasse os homens a abandonar 0 seu grupo domestico.(cf. Burton et al. 1977; White 1977; Sanday 1973).

    Entao, se as causas da matrilocalidade nao podem ser encontradas na exigencia de urnaorganizacao domestica centrada nas mulheres, elas devem ser procuradas nas modificacoesprovavelmente ocorridas na organizacao do micleo domestico masculino. Por exemplo,quando a guerra, a caca e as trocas de bens passam da curta d is tanc ia pa ra expedicoes de longocurso (de varies meses), a matrilocalidade torna-se urna forma de organizacao domestica maisadaptada do que a patrilocalidade. Nurna situacao de patrilocalidade, os homens aoabandonarem a aldeia, para desenvolverem as suas actividades, deixarn arras de si urn conjuntode mulheres oriundas de diferentes unidades domesticas e ligadas a grupos diferentes deparentesco. Isso da-lhes urna escassa base para desenvolverem trabalho cooperativo naausencia do grupo masculino (aquele que constitui 0micleo solidario),

    A matrilocalidade representa urna solu~o para este tipo de problema, centrando aorganizacao do micleo domestico em torno das mulheres (0 grupo que permanece em casa).Maes, filhas e irmas sao treinadas conjuntarnente desde pequenas no desempenho das tarefas,estando desse modo a gestao da unidade domestica identificada com os seus interessesmateriais e sentimentais. Ao mesmo tempo, os homens enculturados em unidades domesticasmatrilocais sentem-se menos constrangidos ao abandonar a aldeia, e aguentarn mais facilmenteausencias prolongadas.

    A capacidade para empreender expedicoes de longo curso implica que aldeias vizinhasnao se ataquem mutuarnente quando a maior parte dos seus homens estao ausentes. Isso podeser assegurado se0grupo expedicionario for formado por urn conjunto de homens oriundos dealdeias vizinhas diferentes, ou de diferentes unidades domesticas dentro da mesma aldeia. Nas.aldeias patrilocais-pratilineares, os grupos beligerantes sao constituidos por parentes cominteresses competitivos. Estes grupos de homens estabelecem aliancas instaveis entre aldeiasvizinhas, trocando as suas irmas, mas assaltarn-se mutuarnente em raides furtivos.

    Os grupos matrilocais-matrilineares, ao contrario dos anteriores, nlio estao ligados entre sipela troca de mulheres, mas sim, pela associacao de homens vindos de grupos domesticosdiferentes. Isso evita a formacao de grupos de interesses de natureza fraternal, impedindoassim a ruptura provocada pelos atritos entre esse tipo de grupos (pais e irmaos encontram-seespalhados por diferentes unidades domesticas),

    Deste modo, as sociedades rnatrilocais-matrilineares (p.e. os Iroqueses de Nova Iorque eos Huron do Ontario) gozarn de urn elevado grau de paz interna Apesar disso, este tipo de

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    sociedades possui uma hist6ria de intensas guerras movidas contra poderosos inirnigosexternos (Gamby 1977; Trigger 1978).

    Uma r a z a o adicional para a supressao das hostilidades internas entre os gruposmatrilocais e 0 facto d a matrilocalidade ser incompatfvel com a poligenia. Os homensenquadrados num sistema matrilocal n a o rem interesse em casar varias i rmas suas com apenasum homem, assim como eles pr6prios nao beneficiariam por terem varias mulheres. Oestemodo, os conflitos por causa das mulheres, uma das principais razOes d a guerra entre aldeias,tornam-se reduzidos.Fmalmente, resta explicar 0que levou a passagem para um sistema de trocas baseado nasexpedicoes de longo curso numas sociedades, enquanto noutras permanecem as trocas de curtadistancia. Muito provavelmente foi 0 aumento de pressao demogrsfica e 0 esgotamento dosrecursos locais.

    10. Causas daAvuncolocalidadeNas sociedades matrilocais-matrilineares os homens mostram-se relutantes em abdicar do

    controlo sobre os seus filhos, em favor do grupo de parentesco de suas mulheres. E tambemn a o lhes agrada 0facto dos seus filhos, em vez das suas filhas, terem de deslocar-se para outraunidade domestica a quando do casamento. Oaf que sociedades matrilocais-matrilinearestendam a evoluir para patrilocais-patrilineares, logo que as condicoes que motivam asexpedicoes de longo curso desapareeam.

    Uma forma de ultrapassar as contradicoes do penodo de transi~o e afrouxar asobrigacoes maritais do homem, ao ponto de ele oem sequer necessitar viver com a mulher. E 0caso dos Nayar, d a india, em que 0homem n a o possui resideneia em comum com a mulher,ficando ligado a sua unidade domestica de nascimento. Assim, 0controlo familiar e exercidopelos tios em re~ aos sobrinhos (os homens em vez de controlarem os seus pr6prios filhos,controlam os das suas irmas),

    Contudo, a solucao mais comum para reduzir as tensoes entre os grupos de interessesmasculinos e a residencia avuncolocal. De facto, a maior parte das sociedades matrilinearespossuem 0avuncolato e nlio a matrilocalidade.o micleo de uma unidade domestica avuncolocal e constituido pelo tio e sobrinhos. C a d ahomem exerce controlo sobre os filhos das suas irmas. A fun~o deste tipo de estruturacaodomestica e a reintegraeao dos interesses fraternais do grupo masculino, apesar d adescendencia ser matrilinear.

    Assim, a avuncolocalidade ocorre tao frequentemente porque permite aos homenscontinuarem a dominar as actividades em grupos cuja descendencia e matrilinear. Estainterpreta~ esta de acordo com facto de nunca se ter encontrado uma sociedade amitalocal(residencia do ego junto d a tia paterna), em que 0micleo residencial fosse formado pela tia esobrinhas. 0 que significa as rnulheres nunca terem conseguido controlar grupos de parentescopatrilineares com a mesma facilidade com que os homens controlam os matrilineares.

    Uma estreita linha separa a avuncolocalidade d a patrilocalidade. A partir do momento emque os pais conseguem reter os filhos sob 0 seu controlo (em vez destes irem residir junto doseu tio materno), comecamos a ter uma situa~ao de ambilocalidade (alguns filhos permanecem

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    ap6s 0 casamento com os pais, enquanto ou tros vao para junto do tio materno) que setransform ara em patrilo calidade, a partir do momento em que os interesses dos pais sec oo sigam so bre po r ao s d os tio s m ate rn os. Da p a tr il oc a li da d e a dvi ni a p a rt ri li ne a ri da d e.

    Os casos em que a fili~o e patrilinear e a residencia matrilocal, e aqueles em que afilia~o e m atriIinear e a residencia patrilocal, devem -se ao facto do feedback p os iti vo e nt re 0modo de residencia e 0 d e d e sc end enc ia n a o s er ime di at o. a que exp lica os poucos casoses ta t is ti camen te ex is ten tes .

    II. As Terminologias de ParentescoUma term inologia d e p arentesco e composta por termos e regras, com as quais os

    p are nte s d e d esig nam e ntre si. A o e stu dar as te rm in olo gias, 0a ntr op 6Io go d ev e e vita r traduziros term os em pregu es p elo nativo p elo s da sua propria term ino lo gia (p.e . tio , t ia, a v6 , e tc .). N aodeve, assim , cair-se no uso d e um a lingu agem etno centrica (H arris 1980).

    Lew is Henry Morgan fo i 0 prim eiro antrop6Iogo a constatar que, apesar de existiremmi lhares d e l in gu ag en s d if er en te s, 0p are nte sc o ap enas ap re sen tav a m eia d iizia d e siste master mino lo gic os basic os, su rgind o to das as variaco es a p artir d af,a sistema de parentesco rep resenta as designacoes que um conjunto de pessoasrelacionadas geneticam ente e por afinidade, abarcando varias geracoes, adoptam um as emreIa~ a s outras.Os s is te ma s b as e sa o 0Esq uim6 , H av aia no , Iroques, S ud an es , C ro we 0Omaha.

    11.1. a s is tema Esqu imo

    II 60 I

    A s su as c ar ac te rfstic as m ais im p or ta nte s s ao a s s eg uin te s:a) nenhum dos term os aplicados aos parentes nucleares do ego e extensivel para fo ra da

    fam ilia nu cle ar; b) nao e fe ita d is tin ca o e ntr e 0 lado matemo e 0 paterno , e n a o h a diferencae ntre p rim os c ru zad os e p arale Io s, assim c om o e ntr e tio stas) c ru zad os(as) e p arale Io s(as).

    Em termos de organizacao e estrutu ra sociais, isso significa que nas sociedades ondee xiste u ma terminologia esquimo oao existem , geralm ente , grupos de fili~ao com caracterc or po ra ti vo . A s sim, e a familia nu clear que assum e 0 papel central na estruturacao dessassociedades, tornando-se atraves da term inologia de parentesco urna unidade dem arcada doresto da rede de relacoes parentais. Po r outro lado, a fusao de todos os prim os sob uma unicad esignacao (v . Fig .) reflecte a m aio r importancia d a d esce nd enc ia bilin ear fac e it u nilin ear . Ainfluencia da descendencia bilinear mostra-se tambem pela ausencia de d istin~o entretiosias) de cad a um a d os lado s (m aterno e p aterno) (v. Fig.).

    QuaIquer facto que contribua para 0 isolamento da fam ilia nuclear aumenta ap ro babilid ad e d e ac onte ce r u ma te rm ino lo gia d e tip o esquimo, E 0c aso d e algu mas so cied ad es

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    d e cacadores-recolectcres, em que as flutu~Oes ecol6gicas obrigam a uma grande mobilidadegeografica e a manutencao de uma densidade demografica baixa

    Nas sociedades urbano-industriais este tipo de sistema reflecte a existeneia do Estado e deinstituieoes de mercado que se introduzem na organizacao domestica familiar; e tambem agrande mobilidade geografica introduzida pela existencia de urn mercado de trabalhoassalariado.

    Segundo Murdock (1967) em 54 das 71 sociedades com terminologia esquimo naoexistem grupos de descendencia, mas apenas parentelas (Kindreds),

    11.2. 0 sistema Havaiano

    II II II 8 II II 8 II STrata-se do mais simples sistema de parentesco (quanto a sua representacao grafica, claro

    estal), pois e 0que possui menor mimero de termos (v. Fig.). Algumas das suas versoes niiodistinguem sequer 0sexo dos parentes.

    A mais notavel caracteristicas deste sistema e a extensibilidade dos termos empreguespelo ego, dentro da familia nuclear, aos restantes. 0 que significa a fusao da familia nuclear emgrupos corporativos mais extensos - uma familia extensa, por exemplo. Cerca de 21% dassociedades com terminologia havaiana possuem largas famflias extensas; e mais de 50%possuem qualquer outro tipo de grupos de filia~ao que nao familias extensas (Murdock 1967).

    Embora teoricamente esses grupos de filiacao devam ser cognaticos (pois nao existedistincao entre 0 lado materna e paterno), a amostra deste tipo de sociedades, colhida porMurdock (ibid.), nao sustenta totalmente esse modelo, pois existem tambem gruposunilineares. Essa mistura de formas de filiacao nao esta pacificamente explicada na teoriaantropol6gica

    11.3.0 sistema Iroques

    \ ~ .' G" ';_ C"'~ fri-s r-""Pode dizer-se que estamos perante uma terminologia iroquesa quando estao reunidas as

    seguintes condicoes: a) existe distincao entre primos paralelos e primos cruzados, e entretiostas) paralelos(as) e tiostas) cruzados(as) (0 irmao do pai de ego toma a mesmadesignacao que 0pai, e a irma da mae d e ego toma a mesma designacao que a mae, assimcomo os primos paralelos de ego tomam a mesma designacao que os irmaos) (v. Fig.); b)distinguem-se os(as) tiostas), tanto cruzados como paralelos, do lado materna dos (as) dolado paterno.

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    Este tipo de fusao bifurcada (bifurcate-merging) ocorre como resultado da pertencacomum dos irmaos (siblings) a urn grupo de fili~ao unilinear, e tambem da s aliancascontrafdas, a t r a v es do casamento entre primos cruzados e entre os diversos grupos de fili~aounilinear.

    Em 166 sociedades possuidoras de tenninologia iroquesa, 119 (71,6%) possuem urnaquaIquer forma de fili~ao unilinear (Murdock 1967).

    11.4.0 sistema Sudanes9 - - - ' - i ~ . 1. = ~Aoi\o illf6f6AB o E &0 r G j jTrata-se de urn sistema cuja principal caracteristica e distincao individual que e feita entre

    os primos (cada urn tern urn termo especffico V. Fig.).11.5. 0 sistema Crow

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    QuaIquer urn destes dois sistemas tern servido de quebra-cabecas aos antrop6logos, emuitos dos detalhes relativos a certas terminologias de parentesco permanecem por explicar.Mas sabe-se hoje que, ao contrario do que pensavam os evolucionistas do s e c . XIX, acomplexidade dos sistemas de parentesco nao resulta do genio inventivo dos nativos, mas simde urn processo de adapta~ao da organizacao social a determinadas condicoes tecnico-ambientais.

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