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O texto que você irá estudar é parte da obra “Construindo Comunidades de Aprendizagem no Ciberespaço” e sua reprodução foi autorizada pelo Departamento de Direitos Autorais da Artmed Editora (www.artmed.com.br - [email protected] ). A autorização é restrita à utilização como leitura preparatória de atividades desenvolvidas em ambiente virtual de aprendizagem para cursos (a distância) de formação de tutores, autores de conteúdo e de alunos inscritos no módulo denominado “Aprendizagem Online”, ministrados pelo Prof. Ronei Ximenes Martins ([email protected]). Todos os direitos reservados à Artmed Editora. Leis de Direitos Autorais 9610/98 e 10695/03

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educação a distancia

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O texto que você irá estudar é parte da obra “Construindo Comunidades de Aprendizagem no Ciberespaço” e sua reprodução foi autorizada pelo Departamento de Direitos Autorais da Artmed Editora (www.artmed.com.br - [email protected] ). A autorização é restrita à utilização como leitura preparatória de atividades desenvolvidas em ambiente virtual de aprendizagem para cursos (a distância) de formação de tutores, autores de conteúdo e de alunos inscritos no módulo denominado “Aprendizagem Online”, ministrados pelo Prof. Ronei Ximenes Martins ([email protected]). Todos os direitos reservados à Artmed Editora. Leis de Direitos Autorais 9610/98 e 10695/03

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Trechos do Capítulo 1 – Quando o Ensinar e o Aprender deixam a Sala de Aula

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DEFININDO A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA MEDIADA POR

COMPUTADORES

O surgimento do computador para o propósito de educar criou uma redefinição do que se quer dizer quando se fala em educação a distância e em ensino a distância. O site do California Distance Learning Project (1997)* apresenta várias definições de educação

a distância, que geralmente se referem ao oferecimento de recursos para a aprendizagem de alunos “remotos” e envolvem tanto o ensino a distância (o papel do professor no processo) quanto a aprendizagem a distância (o papel do estudante). O projeto propõe os seguintes elementos definidores como sendo fundamentais na aprendizagem a distância: • separação do professor e do aluno durante, pelo menos, a maior parte de cada processo de instrução; • uso de mídia educacional para unir professor e aluno e para transmitir o conteúdo do curso; • oferecimento de uma via dupla de comunicação entre o professor; tutor ou agente educacional e o aluno; • separação do professor e do aluno no tempo e no espaço; • controle volitivo da aprendizagem com o estudante, em vez de com o professor. * Comentário do professor (não compõe o texto original): Você pode encontrar inúmeros sites em português com definições para EAD. Selecionei 3 abordagens distintas para que você reflita sobre o assunto e passa elaborar sua própria definição.

Lorenzo García Aretio define educação a distância como “Sistema tecnológico de

comunicação bidirecional, que pode ser massivo e que substitui a interação pessoal, na sala de aula, de professor e aluno, como meio preferencial de ensino, pela ação sistemática e conjunta de diversos recursos didáticos e pelo apoio de uma organização e tutoria que propiciam a aprendizagem independente e flexível dos alunos”

Para France Henri, a EAD “é o produto da organização de atividades e de recursos

pedagógicos dos quais se serve o aluno, de forma autônoma e seguindo seus próprios desejos, sem que lhe seja imposto submeter-se às limitações espaço-temporais nem às relações de autoridade da formação tradicional”.

José Manuel Moran diz que “Educação a distância é o processo de ensino-

aprendizagem, mediado por tecnologias, onde professores e alunos estão separados espacial e/ou temporalmente”. Esses elementos começam a revelar o desenvolvimento de um novo paradigma educacional. Na arena on-line, o professor pode continuar a definir o conteúdo do curso e a dirigi-lo. Contudo, há espaço para que os alunos explorem o conteúdo de forma colaborativa ou para que busquem seus interesses. Não há mais uma comunicação unidirecional do conhecimento vinda de um especialista em determinado assunto. Não há mais a necessidade de que os cursos estruturem-se a partir dos elementos local e tempo. Na verdade, muitas instituições esforçam-se para adaptar a educação a distância

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a um semestre tradicional, mas descobrem que essas medidas de tempo são arbritárias quando vinculadas ao processo de aprendizagem a distância. Porém, essa mesma tentativa de redefinição omite um elemento extremamente importante que separa a aprendizagem a distância por computador da sala de aula tradicional: fundamentais aos

processos de aprendizagem são as interações entre os próprios estudantes, as

interações entre os professores e os estudantes e a colaboração na aprendizagem que

resulta de tais interações. Em outras palavras, a formação de uma comunidade de alunos, por meio da qual o conhecimento seja transmitido e os significados sejam criados conjuntamente, prepara o terreno para bons resultados na aprendizagem. Certamente, identificamos esses elementos em muitas salas de aula das faculdades de hoje. Um estudo recente (Twigg, 1994b) indicou que muitos estudantes são concreto-ativos, isto é, aprendem melhor por meio de experiências concretas, em que seus sentidos estejam envolvidos. Suas melhores experiências começam com a prática e terminam com a teoria (Twigg, 994b). Muitos professores, procurando melhorar sua prática e os resultados da aprendizagem de seus alunos, incorporaram técnicas de aprendizagem ativa, tais como o trabalho conjunto ou colaborativo, a participação em pequenos grupos de discussão e em projetos, a leitura e a resposta a estudos de caso, a dramatização e o uso de simulações (Myers e Jones, 1993). Essas práticas funcionam bem na sala de aula on-line. No entanto, os professores precisam ser aplicados e estar decididos a garantir seu sucesso. Quando os alunos não podem ver-se ou mesmo falar uns com os outros, o uso de tarefas colaborativas torna-se mais desafiador. A aprendizagem no ambiente da educação a distância não pode ser passiva. Se os alunos não entram em sua sala de aula on-line - se não enviam uma colaboração para a discussão - o professor não terá como saber que eles estiveram presentes. Assim, os estudantes não são apenas responsáveis pela sua conexão, mas também devem contribuir com o processo de aprendizagem por meio do envio de mensagens com seus pensamentos e suas idéias. Aprender é um processo ativo do qual tanto o professor quanto o aluno devem participar para que ele tenha sucesso. No processo, cria-se uma rede de aprendizagem. Em outras palavras, forma-se uma rede de interações entre o professor e os outros participantes. Por meio dela, o processo de aquisição do conhecimento é criado colaborativamente. Os resultados desse processo, então, não deveriam ser medidos pelo número de fatos memorizados e pela quantidade de matéria decorada, mas avaliados pela profundidade do conhecimento e pelas novas competências adquiridas. Evidências de que há pensamento crítico e de que o conhecimento foi efetivamente adquirido são resultados desejados do processo de aprendizagem. Conseqüentemente, o ato de colar nas provas não deveria ser uma preocupação no ambiente da aprendizagem a distância eficaz, pois o conhecimento é adquirido colaborativamente, por meio do desenvolvimento da aprendizagem em comunidade. As instituições que ingressam no mundo do ensino a distância devem estar preparadas para lidar com novas questões e preocupações, bem como para desenvolver novas abordagens e habilidades a fim de criar um processo de aprendizagem gerador de autonomia, já que a formação de alunos autônomos é outro dos resultados desejados na educação a distância que utiliza computadores. A educação a distância bem-sucedida é

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um processo de selecionar nossas melhores práticas na sala de aula tradicional e levá-las para uma nova arena. Nela, contudo, tais práticas não parecerão exatamente as mesmas.

OS ALUNOS NO CIBERESPAÇO

Algumas características fazem com que os alunos tenham melhor desempenho on-line do que na sala de aula tradicional. Por exemplo, que acontece com o aluno introvertido? Será que ele, que não participa na aula presencial, desabrochará na sala de aula virtual? Uma pesquisa conduzida por um dos autores indica que uma pessoa introvertida provavelmente terá melhor desempenho on-line, dada a ausência das pressões sociais que existem nas situações presenciais. Em contrapartida, as pessoas extrovertidas podem ter maior dificuldade de se fazerem notar em um ambiente on-line, algo que fazem mais facilmente quando o contato é direto (Pratt, 1996). O California Distance Learning Project (1997) examinou algumas das pesquisas feitas com alunos que obtiveram bons resultados nos programas de educação a distância, sugerindo que tais alunos possuem algumas características em comum. Eles: • buscam voluntariamente novas formas de aprender; • são motivados, têm maiores expectativas e são disciplinados; • tendem a ser mais velhos do que o aluno médio; • tendem a possuir uma atitude mais séria em relação ao curso. Nipper (1989) descreve o aluno bem-sucedido nos cursos a distância por computador como sendo um “aprendiz barulhento” - ativo e criativo no processo de aprendizagem. A educação a distância tem sido mais aplicada aos adultos e obtido melhor desempenho com eles. Contudo, mais universidades passaram a usar esse método com todos os grupos de alunos, independentemente da idade ou da experiência que tenham em relação à educação. Devemos esperar que todos os alunos tenham um bom desempenho nesse ambiente? Embora o aluno que não seja bem-sucedido na sala de aula tradicional possa sê-lo on-line, não podemos esperar que todos os alunos tenham bons resultados. Quando um aluno não tem um bom desempenho on-line, como evidenciado pela falta de participação, deve-se dar a ele a oportunidade de voltar à sala de aula presencial. Tal fato não deve ser considerado um fracasso, mas simplesmente uma má adaptação. Mudar não é normalmente uma opção na sala de aula presencial, pois pode não haver outras alternativas. A sala de aula online, então, é uma alternativa que pode ser útil para alguns alunos. A julgar por nossa experiência, a educação a distância por computador pode fazer com que um aluno considerado quieto na sala de aula tradicional passe a ser um aluno barulhento na sala de aula on-line. O ensino a distância pode oferecer uma experiência educacional que ajude a motivar os alunos que parecem mais quietos e menos propensos a participar de um debate.

FAZENDO A TRANSIÇÃO O comentário a seguir é de uma mestranda:

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Sinto-me muito pouco à vontade on-line. É interessante que mesmo sendo extrovertida esteja descobrindo que a profundidade das minhas intervenções não seja satisfatória.., para mim. Mas estou tentando melhorar. E fascinante estar neste programa... ir de um lado para o outro, tentar encontrar coisas pelas quais me interesso e observar todos os alunos trabalhando. Estou contente com o diálogo da turma e agradeço a todos por participarem. Tonia

Esta mensagem, enviada por uma aluna de pós-graduação para um curso on-line, representa algumas das dificuldades que podem ocorrer quando há a transição da sala de aula presencial para o ambiente on-line, no qual se espera que haja interação entre os alunos. Quando o lecionar e o aprender saem da sala de aula, muitas coisas são deixadas para trás. Imagine uma sala de aula no campus de uma universidade. Quando se aproxima a hora da aula, os alunos começam a se reunir. Podem chegar sozinhos ou em pequenos grupos. Começam a conversar, possivelmente sobre a aula, as atividades, os amigos ou sua vida fora da universidade. Quando a aula termina, reúnem-se novamente pelos corredores, pelo campus, ou no centro acadêmico a fim de fazer contatos pessoais, amizades, ou simplesmente se socializar. Na sala de aula on-line, da maneira como nos é apresentada hoje, os alunos e os professores são representados por textos em uma tela. Não podemos ver sua expressão facial ou sua linguagem corporal, as quais nos ajudam a estabelecer respostas ao que está sendo discutido. Não podemos ouvir suas vozes ou a emoção presente no tom de suas vozes. Como Tonia indicou em sua mensagem, é difícil para alguns alunos sentir sua presença on-line. Tanto os professores quanto os alunos ficam como que “desencarnados”. Em um encontro face a face, somos capazes de informar, de várias maneiras, quem somos como pessoas. Como se faz isso on-line? Como fazemos para que os outros participantes conheçam-nos? E como fazemos para conhecê-los a fim de que tenhamos uma noção do grupo com que nos comunicamos? Como um professor de fato ensina em um ambiente como esse? Como os participantes de uma sala de aula on-line “reencarnam”? Embora as interfaces gráficas contidas nos softwares atuais destinados à educação a distância on-line estejam ajudando a criar um ambiente de trabalho mais interessante e estimulante, os programas de ensino a distância de hoje são predominantemente textuais. Aqueles que escrevem sobre educação a distância expressam sua preocupação quanto à maneira de as conexões tornarem-se mais “humanas”, enquanto o processo de aprendizagem está em curso. Nipper (1989), um escritor relativamente antigo na área de ensino a distância por computador, discute a necessidade de que se crie uma sensação de “presença sincrônica” e de redução da distância social entre os participantes. Ainda que na maioria dos cursos de aprendizagem a distância por computador os estudantes deêm-se ao luxo de se conectar ao curso no momento em que lhes for mais conveniente (comunicação assincrônica), Nipper sugere que é importante criar de alguma forma, a sensação de que um grupo está trabalhando em conjunto e em tempo-real. Raramente este grupo estará on-line no mesmo momento, a não ser que o software usado .para o curso permita a comunicação sincrônica (chat). A tentativa, contudo, de formar uma sensação de conexão e de existência de uma comunidade on-line quando as pessoas

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ingressam em um fórum de debates no site de um curso é algo que permite aos participantes sentirem-se como se tivessem começado uma conversa viva e ativa. Nipper observa que a necessidade de conexão social é um objetivo que.quase suplanta os objetivos específicos do curso, os quais se orientam ao conteúdo. Os alunos precisam reunir-se no ciberespaço assim como fazem no campus universitário. Para isso, eles precisam estabelecer uma sensação de presença on-line: é esse fato que permite que suas personalidades encontrem as outras no grupo. Uma sensação de liberdade pode então ser criada, permitindo que apareçam partes desconhecidas de suas personalidades. Tal atitude pode ser adotada se estimularmos os alunos a enviar mensagens de apresentação juntamente com seus medos e suas expectativas em relação ao processo ou, quando possível, criar uma homepage que os colegas possam visitar. Alguns aplicativos do curso permitem a criação de uma homepage, com gráficos e links para outros sites na internet que sejam os favoritos da pessoa que criou a página. Essa é uma maneira maravilhosa de os alunos informarem aos outros do grupo quem são e como podem conectar-se. Da mesma forma que a comunicação feita por meio do computador priva-nos de alguns dos sinais físicos da comunicação e permite o surgimento de um número maior de sinais auto-gerados, que afetam nosso comportamento, ela também oferece dimensões inteiramente novas (Pratt, 1996). Por exemplo, a disponibilidade e o número de interações pessoais são limitados apenas pelo tempo e pelo acesso, não pela distância ou pela classe social. Podemos criar cultivar e manter relacionamentos sociais com qualquer pessoa que tenha acesso a um computador. As conexões ocorrem pela troca de idéias e de pensamentos. A aparência física e as características culturais, étnicas e sociais passam a ser fatores irrelevantes nesse meio, que tem sido chamado de “grande equalizador”. Na saia de aula presencial, a qualidade e a intensidade dos relacionamentos sociais não são sequer uma questão muito importante. O modelo tradicional de pedagogia permite ao professor, como especialista, passar o conhecimento aos alunos, e espera-se que estes o absorvam. A maneira como os alunos interagem socialmente não chega a ser uma preocupação. Muitos professores, certamente, começaram a perceber que o modelo tradicional de aula expositiva não é o preferido dos alunos mais atuantes. Começaram, então, a adaptar seus métodos para se acomodarem a uma nova situação, incluindo em suas aulas outras técnicas, como atividades em pequenos grupos e simulações. Os campi

trabalham no desenvolvimento da aprendizagem em comunidade por causa do poder que tal comunidade tem de facilitar uma cultura de aprendizagem para a vida toda (Fleming, 1997). E por meio dos relacionamentos e da interação que o conhecimento é fundamentalmente produzido na sala de aula on-line. A comunidade de aprendizagem toma uma nova proporção em tal ambiente e, como conseqüência, deve ser estimulada e desenvolvida a fim de ser um veículo eficaz para a educação.