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Leonilson: Conexões e Relações Maria Odete Stahn Duarte Atualmente cursa mestrado profissional em Design, linha de pesquisa: Produção tecnológicas e sustentabilidade; Especialista em História da Arte; Graduada em Design de Moda pela universidade da região de Joinville- Univille. Resumo: O presente artigo faz parte de um trabalho de monografia de conclusão de curso de pós-graduação em nível de especialização em História da Arte, pela Universidade da Região de Joinville-Univille (2012-2013). A pesquisa visa entender relação entre matéria e gesto na obra de José Leonilson Bezerra, considerado pelos críticos, importante artista no cenário contemporâneo de arte no Brasil, da chamada geração anos oitenta. Sua produção explora narrativas da arte vida, corpo e memória. Apresentam-se as conexões e relações de Leonilson a partir da instalação “Sobre Duas Figuras”, 1993 na Capela do Morumbi em São Paulo, caminhando por meio da poética de três artistas contemporâneos: Arthur Bispo do Rosário, Sheila Hicks e Carlos Alberto Franzoi. A observação se deu nos vínculos formados pelas narrativas, corpo e memória e elementos que compõem o gesto como: matéria e fatura, construindo uma poética sensível na obra de Leonilson. Os caminhos trilhados por cada artista demonstram que há semelhança na matéria, porém, o gesto é único de cada indivíduo e os vestígios diferenciam a estética, validando as qualidades artísticas de cada um. Palavras Chave: Leonilson, diálogo, poética, matéria. Leonilson: Conections and Relations Abstract: This article is part of a monograph of graduate-level specialization in Art History, University of Joinville Region - Univille (2012-2013). The research aims to understand the relationship between matter and gesture in the work of José Bezerra Leonilson, regarded by critics, important artist in the contemporary art scene in Brazil, the so-called generation eighties. His production explores narratives of art life, body and memory. The connections and relations of Leonilson are presented by the installation “Sobre Duas Figuras”, 1993 in the Chapel of Morumbi in Sao Paulo, walking through the poetics of three contemporary artists: Arthur Bispo do Rosário, Sheila Hicks and Carlos Alberto Franzoi. The observation has been made in the bonds formed by the narratives, body and memory and elements that comprise the gesture as: Matter and invoice, building on a sensitive poetic work of Leonilson. The paths taken by each artist show that there are similarities in the matter, however, the gesture is unique to each individual and differentiate trace aesthetic, validating the artistic qualities of each one. Keywords :Leonilson,dialogue, Poetics, Matter. 1

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Leonilson: Conexões e Relações

Maria Odete Stahn Duarte

Atualmente cursa mestrado profissional em Design, linha de pesquisa: Produção tecnológicas e sustentabilidade;

Especialista em História da Arte; Graduada em Design de Moda pela universidade da região de Joinville-

Univille.

Resumo: O presente artigo faz parte de um trabalho de monografia de conclusão de curso depós-graduação em nível de especialização em História da Arte, pela Universidade da Regiãode Joinville-Univille (2012-2013). A pesquisa visa entender relação entre matéria e gesto naobra de José Leonilson Bezerra, considerado pelos críticos, importante artista no cenáriocontemporâneo de arte no Brasil, da chamada geração anos oitenta. Sua produção exploranarrativas da arte vida, corpo e memória. Apresentam-se as conexões e relações de Leonilsona partir da instalação “Sobre Duas Figuras”, 1993 na Capela do Morumbi em São Paulo,caminhando por meio da poética de três artistas contemporâneos: Arthur Bispo do Rosário,Sheila Hicks e Carlos Alberto Franzoi. A observação se deu nos vínculos formados pelasnarrativas, corpo e memória e elementos que compõem o gesto como: matéria e fatura,construindo uma poética sensível na obra de Leonilson. Os caminhos trilhados por cada artistademonstram que há semelhança na matéria, porém, o gesto é único de cada indivíduo e osvestígios diferenciam a estética, validando as qualidades artísticas de cada um. Palavras Chave: Leonilson, diálogo, poética, matéria.

Leonilson: Conections and Relations

Abstract: This article is part of a monograph of graduate-level specialization in Art History,University of Joinville Region - Univille (2012-2013). The research aims to understand therelationship between matter and gesture in the work of José Bezerra Leonilson, regarded bycritics, important artist in the contemporary art scene in Brazil, the so-called generationeighties. His production explores narratives of art life, body and memory. The connectionsand relations of Leonilson are presented by the installation “Sobre Duas Figuras”, 1993 in theChapel of Morumbi in Sao Paulo, walking through the poetics of three contemporary artists:Arthur Bispo do Rosário, Sheila Hicks and Carlos Alberto Franzoi. The observation has beenmade in the bonds formed by the narratives, body and memory and elements that comprise thegesture as: Matter and invoice, building on a sensitive poetic work of Leonilson. The pathstaken by each artist show that there are similarities in the matter, however, the gesture isunique to each individual and differentiate trace aesthetic, validating the artistic qualities ofeach one.Keywords :Leonilson,dialogue, Poetics, Matter.

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Introdução

José Leonilson Bezerra Dias, “tinha um espírito inquieto, o de um viajante em constante

deslocamento, como os cearenses vistos como um povo nômade e que têm a coragem de

vagar pelo mundo” (RESENDE, 2012, p. 14). Reconhecido artista da década de oitenta,

dentro de sua principal temática está a própria questão da subjetividade e experiências

individuais, crenças e desejos, sexualidade e romantismo. Em sua poética a palavra se

transforma em imagem, por meio da escrita e do bordado. Sua obra é autobiográfica, dado

percebido na liberdade gestual e criativa, onde verdades acolhem fatos vividos e ficcionais.

Apaixonado por novas descobertas, as viagens faziam parte de sua vida, compondo uma

narrativa que se repete em todas as fases de sua produção. Com o intuito de criar diálogos e

expandir o campo de visão acerca do repertório de Leonilson, percorrer os gestos, matérias e

conceitos de outros artistas, ajudam a compreender a poética explorada na arte e vida tendo

tecidos e bordados como suporte. As conexões serão analisadas tendo como base a última

obra produzida por José Leonilson, a instalação “Sobre Duas Figuras”, 1993 na Capela do

Morumbi em São Paulo. Para tanto, foram selecionados três artistas contemporâneos cuja

fatura, narrativa e poética conversam sobre memória e corpo, ou seja, a relação arte vida. Os

artistas selecionados foram: Arthur Bispo do Rosário, com a obra O manto de Apresentação,

s/ data, tecido algodão, tecido de lã, linha papelão e metal. 118,5 x 141,2 cm. Sheila Hicks

com a obra, Baby Time Again, 1978 (algodão) e Carlos Alberto Franzoi, obra Pedaços do

Meu Ser 1993, potes de vidro, meia de seda, metal cobre. Esta obra faz parte da instalação Nó

Em Nós, 1993.

Para criar elos e fundamentar a relação das poéticas presentes nas obras dos referidos artistas,

foram utilizados como referências bibliográficas Giordano Bruno (1548-1600) com o texto

“Os Vínculos”, que trata da proximidade, a partir da significação da obra de arte, que ao

mesmo tempo em que distancia um artista do outro, aproxima suas poéticas, formando elos de

sensações. Guilles Deleuze (1925-1995) fala da potência de uma obra, ou seja, quando a

mesma é capaz de se sustentar sozinha, desvinculada do artista, esta afirmação encontra-se no

texto “Percepto, Afecto e Conceito”, entre outros referenciais. Fazendo uso de uma

exploração anacrônica, busca-se aproximar aspectos da produção de Leonilson com outros

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artistas, estes recortes podem ser pensados com um olhar direcionado para as seguintes

características: fatura, gesto, matéria, narrativas ou poéticas. Giordano Bruno afirma que:

(...) as obras de arte somente significam na medida em que marcam uma diferença euma distância com relação à outra obra de arte. É no registro da possibilidadepermanente de assemelhar-se e diferenciar-se que as obras de arte nos atingem, sefazem em nós e significam conosco e ali encarnam com sobrevivência e alterformade outras formas. (BRUNO, 2012, p.9)

Entender a poética de cada artista ajuda na ampliação de como a matéria e o gesto deixam

vestígios de temas explorados em épocas diferentes.

2 Instalação Sobre Duas Figuras

A instalação na Capela Morumbi, intitulada “Sobre Duas Figuras”, 1993, foi o último trabalho

produzido por Leonilson, sua saúde já estava bastante debilitada e com a ajuda dos amigos e

familiares, conseguiu finalizar a obra, porém não conseguiu visualizar a mesma montada. A

instalação é composta por cinco obras produzidas especialmente para o espaço da capela.

Utilizando suas próprias camisas como suporte, onde os encostos de duas cadeiras de uso

pessoal do artista servem de apoio, descansam ali tecidos leves e brancos trazendo as

inscrições: “Da falsa moral” e “do bom coração”, as peças são colocadas em local de destaque

no altar da capela. Da sua formação católica surge à palavra “Lásaro” bordada em outra

camisa que é emendada em outra de cabeça para baixo, quem sabe fazendo uma analogia

sobre a passagem bíblica onde relata o ressureição de Lázaro por Cristo após quatro dias de

sua morte ou ainda pode remeter à continuidade, a união de duas peças, pelas barras

inferiores, onde termina uma a surge a outra. As demais peças que compõem a instalação

foram elaboradas com tecidos leves e um pouco de cor. A instalação “Sob Duas Figuras”

(1993) é formada pelas seguintes obras: “Da Falsa Moral”, c.1993. Bordado sobre camisa e

piquet costurado e cadeira de madeira; “Do Bom Coração”,c.1993. Bordado sobre camisa e de

tecido listrado costurado e cadeira de madeira; Lázaro, c. 1993. Duas camisas de algodão com

costura e bordado, cabide de arame e arara de ferro; Sem título, c.1993. Voile, cabide de

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arame e arara de ferro; Los delícias, c. 199. Bordado sobre tecido de algodão costurado e

cadeira de metal.

Resende descreve o inventário da vida/obra do Leonilson com profundidade e sensibilidade.

Pode-se dizer que o artista recusa a monumentalidade ordem enciclopédica, em prolde algo menos enfático e mais particular. E é nesse sentido que, com suas listas,textos, imagens, mapas e coleções o artista nos deixa uma espécie de diário domundo em que viveu e de sua história pessoal que culminou na doença e na morteprecoce. Um diário que não se colocava propriamente sob o âmparo das datas, masse abre aos fluxos das contingências e aos desvios do acaso, configurando-se comouma tela sem moldura. A narrativa autobiográfica que ele esboça, pela via doprecário e do efêmero, dá-se, assim menos como figuração do que como fulguraçãodo vivido. É como se ele nos perguntasse, entre lírico e irônico, com quantosarquivos, com quantas imagens se pode construir uma história de vida de umapessoa e em que medida os rastros biográficos dessa pessoa podem servir dereferência para que seja traçado um mapa do mundo. (RESENDE, 2012, p. 36)

Objetos pessoais, recorrentes em todo repertório estão presentes, palavras simples surgem

como metáforas, as cores deixam o imaginário fluir em um mergulho em todas as formas

geradas tendo a matéria como meio na firmação do gesto que se apresenta, nas sutilezas do

sensível. Lagnado (1998) descreve esta instalação como uma síntese da vontade religiosa do

Leonilson, bem como, ao escolher o espaço arquitetônico, revela um espaço ativo sobre a

obra, ou melhor, conjunto de obras (site specificworks), afirma a busca do artista da

“temporalidade para redenção”.

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Figura 01: Instalação Sobre Duas Figuras, c. 1993.Bordado sobre tecido de algodão e sobre camisa, piquet evoile costurado, cadeira de madeira, cadeira de metal, cabide de arame e arara de ferro179,0 x 600,0 x 1200,0 cm

Fonte: Sociedade Amigos do Projeto Leonilson, 2014

Neste trabalho pode-se afirmar parafraseando Deleuze, que a “A obra de arte é um ser de

sensações, e nada mais: ela existe em si”. Observando o conjunto da obra, palavras são inúteis

para descrever o bloco de sensações provocado em cada elemento presente. A necessidade de

rotular cores, formas e matéria, dá lugar a um mergulho em sensações.

Deleuze afirma que: “O objetivo da arte, com os meios do material, é arrancar o percepto das

percepções do objeto e dos estados de um sujeito percipiente, arrancar o afecto das afecções,

como passagem de um estado a outro. Extrair um bloco de sensações, um puro ser de

sensações” (1992, p.217).

Lagnado (1998) afirma que a obra de Leonilson sofre uma transformação em seus últimos

anos de vida, apesar do artista explorar temas com conotação religiosa, em sua última

produção, a escolha do local para a exposição, a distribuição das peças e o uso da cor branca

proporcionam um sentimento de introspecção, possível de conectar-se com o momento pelo

qual o artista estava vivendo.

Os excessos maneiristas são eliminados a um tal extremo que sua última exposição,a instalação na Capela do Morumbi (São Paulo, 1993), transmite um silêncio

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conturbador. Aqui, torna-se difícil desvincular esse conjunto de objetos de seu localde exibição sem esvazia-lo de sua força religiosa. A instalação na Capela Morumbi éuma síntese de toda a vontade religiosa de Leonilson. A consciência aguçada dafragilidade da vida é apresentada nos trabalhos feitos a partir de suas própriascamisas (LAGNADO, 1998.p. 63, 64).

Perceber o sensível na matéria das obras do Leonilson é permitir-se viajar pelas cores e

formas aplicadas em seus trabalhos. Alguns materiais acompanharam toda sua trajetória, são

testemunhas da sensibilidade do artista em transportar para as telas ou objetos, fragmentos de

sua vida. Os Trabalhos do início de sua produção prenunciavam a potência de sua fatura por

meio da repetição dos signos o que se confirma na última obra. Em cada fase de sua produção,

novos elementos foram incorporados, sem deixar ausente a característica íntima da poética

pessoal, permitindo que o espectador compartilhe do universo de palavras, imagens e poesia.

De acordo com Deleuze:

Repetir é comportar-se, mas em relação algo único ou singular, algo que não temsemelhante ou equivalente. Como conduta externa, esta repetição talvez seja o ecode uma vibração mais secreta, de uma repetição interior e mais profunda no singularque a anima.(DELEUZE, 1992. p11)

Diálogo, acredita-se que esta seja a palavra forte entre a matéria e o sensível na poética da

produção de Leonilson. A semelhança do traço, a repetição do gesto, são elementos que

favorecem o reconhecimento de uma obra e a diferencia seu criador, Deleuze (1992) afirma

que a representação e repetição se misturam, porém sem a perda da identidade de cada um, ou

seja, as características inerentes ao objeto permanecem. A instalação “Sobre Duas Figuras”,

representa os vestígios da obra produzida por Leonilson ao longo de seus 14 anos de

produção, ali se encontra a síntese de sua ideia, que se materializou através do seu gesto por

meio de materiais tangíveis e intangíveis.

A arte é constituída por ideias que se materializam por meio dos materiais que servem de

suporte para formar uma imagem, esta imagem por sua vez é capaz de gerar diversas

sensações nos indivíduos. Partindo deste pressuposto, o diálogo entre a obra de Leonilson e

demais artistas citados anteriormente, amplia o horizonte perceptivo para compreender como

artistas de diferentes contextos pessoais apropriam-se de matérias semelhante para comunicar

suas ideias e inquietações.

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2 Relações e Conexões

Arthur Bispo do Rosário viveu cerca de 50 anos em uma cela na Colônia Juliano Moreira,

após ser diagnosticado esquizofrênico. Neste reduto sombrio, criou um universo particular e

ali produziu grande parte de sua obra conforme escreve Helena Severo.

Ali criou um universo lúdico onde bordados, assemblage e estandartes misturavam-se a objetos do cotidiano da colônia. Para realizar objetos, lançou mão de objetosusados no dia a dia do hospício, tais como canecas de alumínio, colheres, caixas demadeira e garrafas plásticas. Os bordados foram elaborados com fios retirados douniforme dos internos, lençóis e outros tecidos disponíveis. (SEVERO, 2012, p. 78)

O ato colecionista, o bordado, a escrita bordada, uso de materiais de uso cotidiano aproxima

tanto a fatura quanto o gesto e a estética da arte de Leonilson e Bispo do Rosário. Não cabe

aqui estudar o estado físico e mental de cada artista, apenas o conceito estético presente nas

obras, dando ênfase a percepção e sensações passadas ao expectador pelas obras. Uma das

obras mais emblemáticas de Bispo do Rosário é O Manto de Apresentação.

Figura 02. Manto de Apresentação. s/data. Tecido de algodão, tecido lã, linha, papelão e metal.118,5 x 141,2 cmFonte: Arquivo pessoal autora, 2014

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Ao deixar-se envolver pela poética desta obra, tanto Leonilson quanto Bispo registram por

meio dos bordados seus anseios e desejos. No caso de Leonilson, a palavra “Lasaro” bordada

em uma das peças presentes na instalação indica seu desejo para que um milagre ocorresse em

sua vida, conforme descreve a passagem bíblica sobre a ressurreição de Lázaro. Bispo por sua

vez, entre outros registros borda o nome de pessoas conhecidas que ele gostaria de lembrar

quando estivesse diante de Deus. Mesquita (1989) descreve a obra de Bispo do Rosário.

Prepara, com seus trabalhos, uma espécie de inventário do mundo para o dia doJuízo Final. Nesse dia se apresentaria a Deus, com um manto especial, comorepresentante dos homens e das coisas existentes. O manto bordado traz o nome daspessoas conhecidas, para não se esquecer de interceder junto a Deus por elas. Bispofaz também estandartes, fardões, faixas de miss, fichários, entre outros, nos quaisborda desenhos, nomes de pessoas e lugares, frases com respeito a notícias de jornalou episódios bíblicos, reunindo-os em uma espécie de cartografia. A criação daspeças, para ele, é uma tarefa imposta por vozes que dizia ouvir (MESQUITA,web.2014)

A transformação de palavras em imagens é recorrente na obra de ambos os artistas. De certo

modo os materiais presentes nas obras e os contextos, dão a dimensão de um inventário. A

utilização de peças do vestuário transporta para um rito de passagem, conforme afirma Coocia

(2010) na totalidade das liturgias religiosas, tal atividade é geradora de formas sensíveis.

Tanto na instalação quanto no Manto ambos trabalharam uma cerimônia, seja pelo espaço,

seja pela matéria, mas acima de tudo, pelo gesto e fatura. Todavia, Leonilson permanece na

singularidade de sua poética: a consciência da discussão e os vestígios deixados, sua obra não

foi pensada para decorar e sim para aguçar a sensibilidade das pessoas. Os repertórios dos

artistas se conectam pelo gesto da palavra bordada, os fios que percorrem os tecidos criando

forma e imagens na matéria. A relação da obra de Sheila Hicks e Leonilson se inicia com a

maneira como os dois significam o tecido em suas obras.

Sheila Hicks(1934) “O trabalho de Sheila Hicks é como um segredo que jamais será

revelado, uma chave para olhar o mundo por uma perspectiva espiritual” (BARBIERE, 2012).

Artista que aborda as poéticas pessoais por meio das tramas da tecelagem artesanal, traz em

sua obra a junção do design com o artesanato e em suas entalações costuma discutir temas

contemporâneos como a tradição e culturas dos povos andinos, explorando formas orgânicas

repletas de cores e brilho, características que destoam em seu trabalho. Sheila H. Hicks,

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americana de 78 anos, vive em Paris. Está a quase meio século passeia entre a arte, design,

artesanato e arquitetura. Não gosta de ser rotulada ou encaixada em qualquer categoria da arte

acadêmica. Seu trabalho varia literalmente em escala, explora caminhos que vão de quase

miniatura até instalações monumentais, como as poéticas dos tecidos encontrados – que

consistia em uma montanha que formava uma cascata de cerca de cinco toneladas de roupa

limpa de um hospital suíço, sendo esta obra apresentada na Bienal Lausanne em 1977, ou as

cortinas flutuantes, formada por várias bandagens utilizadas no ato do corte do cordão

umbilical do recém-nascido. Esta obra foi apresentada em uma galeria em Quioto em 1978. A

obra explora a presença generalizada de tecido em todas as fases da existência humana, desde

o nascimento até a morte. Sheila Hicks define sua poética de maneira simples e sensível.

Quando estou tecendo e construindo uma história colorida e cheia de textura, estouponderando múltiplas composições e ações alternativas. Estou pesando diferentesmovimentos e suas consequências. Estou tentando escolher a finalidade maisharmoniosa ou surpreendente. Eu evito o "óbvio" e abro portas para uma"interpretação poética", que permite várias viagens a mundos imaginários dafantasia. (DEBBANÉ, WEB, 2014)

Diante da possibilidade da abertura que a artista dá para que o expectador crie interpretações

poéticas sobre suas produções, as “viagens poéticas” permitem um mergulho no sensível para

entender a relação das tramas e urdiduras (processo de tecelagem) com a junção de materiais

variados como: palitos, conchas de moluscos, elásticos, cabelos, fios, madeiras, penas, palhas,

tecidos entre outros materiais em suas variadas formas.

A relação arte vida, experimentação de materiais, cores, poética da memória e a presença do corpo

são elementos que ligam a produção de Sheila H. com a produção do Leonilson. Um corpo

ativado, sem o toque físico e sim por meio das sensações provocadas pelas texturas dos materiais

que despertam memórias sensoriais e emotivas. (BARBIERE, 2012).

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Figura 03: Sheila Hicks Obra: baby Time Again, 1978, (cotton) .Sikkema Jenkins & Co., em Nova YorkFonte: arquivo pessoal, 2014

O vínculo de seu trabalho com Leonilson ocorre através da presença do corpo ausente, onde

as sensações tornam-se a única linguagem capaz de despertar no corpo algo inerente a ele.

Merleau-Ponty (1999) afirma que “é por meu corpo que compreendo o outro, assim como é

por meu corpo que percebo “coisas”. Desta maneira pode se dizer que o corpo atua como um

meio entre matéria e o sensível, onde o artista encarna seu gesto como meio de materializar

sua arte, imprimindo assim seu conceito.

A poética da obra de Sheila Hicks viaja pela história, para refletir sobre a constância dos

têxteis na vida do ser humano. Na obra trabalhada aqui, sua relação com a de Leonilson, está

na forma como os dois artistas utilizam a mesma matéria, propõe uma discussão acerca da

continuidade, da relação próxima entre corpo e memória na arte. Tema presente também na

narrativa poética do trabalho do artista Franzoi que tem os têxteis como principal matéria de

sua produção, faz a junção dos elementos de sua obra com fios de cobre, como condutor de

energia, simbolizando a ligação dos indivíduos com sua existência.

Carlos Alberto Franzoi (1969)“Trabalho com as questões corpóreas, do humano, do espaço

e do tempo desde o início de minha carreira. O que muda são as séries e o material” (PIENIZ,

1999). “Nós Em Nós”, título de uma instalação feita pelo artista Carlos Alberto Franzoi, ou

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Franzoi como o mesmo gosta de ser tratado, demanda uma reflexão mais profunda acerca da

palavra “nó” objeto que compõe o gesto do artista. A palavra nó possui vários significados,

conforme descrevem dicionários da língua portuguesa, porém, destacam-se aqui apenas

aqueles que vinculam ao gesto na construção da obra.

Entrelaçamento de uma ou duas cordas, linhas ou fios, para encurta-los, marca-losou uni-los; a parte mais dura da madeira; articulação das falanges dos dedos; aquiloque une, liga; vínculos; porção do caule da ou do ramo onde se insere as folhas,ligação entre pessoas por parentesco, afeição; união, vínculo, laço, (HOUAISS,WEB, 2014).

Todas as definições citadas acima estão presentes na poética proposta por Franzoi em seu

trabalho. O artista define o gesto de entrelaçar tecidos como uma linha contínua que dá muitas

voltas, porém segue seu curso assim como a vida. Os tecidos utilizados para construir seus

nós geralmente trazem uma carga emocional, ou seja, traz a “memória da segunda pele” a

energia da pessoa que utilizou a peça. O artista não compra os materiais para suas criações,

geralmente se apropria de peças doadas por amigos, familiares ou pessoas conhecidas. Para

montar suas instalações, utiliza materiais encontrados no lugar onde será realizada a

exposição, este ato faz parte da obra. O hábito de reutilizar materiais herdou de sua mãe que

decorava a casa no sítio da família com flores colhidas no campo pelos filhos, que a mesma

guardava e utilizava na decoração no momento oportuno, às vezes com as flores já secas.

Pieniz (1999) destaca que o trabalho do Franzoi valoriza as histórias que se apresentam como

ponto de partida, ou como resultado final de sua produção ficando a questão da beleza a cargo

do espectador.

A obra de Franzoi tem como ponto chave os nós. Nós de dualidade que apertam eprotegem, escondem e revelam, resgatam e inovam objetos (re) confeccionados compeças de roupas, pedaços de pano que já tiveram uma utilização de pano e outrostecidos que já tiveram uma utilização prática e, por isso guardam significadospessoais e estão impregnados de historia. (PIENIZ,1999, p. 08)

A memória que permeia a poética das series do Franzoi aproxima a estética explorada por este

com o trabalho dos demais artistas citados anteriormente e com a poética do Leonilson. A

começar pela matéria, os tecidos, fios e memória, presentes em todas as obras citadas acima e

a questão das séries ou poder-se-ia dizer que os artistas criam blocos de ideias, para compor

sua poética.

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A obra escolhida de Carlos Alberto Franzoi para dialogar com o trabalho do Leonilson e

demais artistas foi “Pedaços do Meu Ser”, que fez parte da instalação “Nós Em Nós: a busca

do equilíbrio”,1999, Espaço Cultural Yazigi Internacional. A obra é composta por 11 potes de

vidro, (recipiente utilizado pela indústria alimentícia para acondicionar sopas para bebês)

dentro de cada um há pequenos conjuntos de nós feitos com meia de seda. Cada parte da obra

representa um membro de sua família, como pai, mãe, irmãos, cunhados e sobrinhos. As

partes da obra são ligadas por um fio de cobre que parte do teto e vai até próximo ao chão, o

material do fio é outro detalhe importante, o cobre é um metal condutor de energia, por este

motivo o mesmo é empregado nas instalações do artista. O local para expor a obra tem que ser

um canto que forma 90º graus, pois, o espaço faz parte da obra, significando a junção de

continuidade, assim como a família.

Figura 04. Pedaços do Meu Ser- série: Nós em Nós, 1999. Acervo família Franzoi.Fonte: Arquivo pessoal (2014)

A sutileza dos detalhes presentes na obra apresenta uma busca do artista em construir uma

poética baseada em memórias, o lugar passa a pertencer ao espaço, quando obra e matéria se

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unem para formar uma narrativa. Narloch, (1999) ressalta que a contemplação energética

explorada nas obras de Franzoi vai além da matéria, ou seja, encontra-se em um nível superior.

Quando lida com aspectos sutis do ciclo energético, considera muito mais do que ossimples arranjos de carbono e hidrogênio presente em toda matéria orgânica em suasobras, a contemplação energética se dá num nível superior ao da matéria. Ao seapoderar de tecidos e vestimentas usadas por pessoas conhecidas ou não, Franzoitoma contato com as vicissitudes da vida de cada uma delas, transportando-as aosnós de suas obras que, poeticamente, agem como as marcas que pontuam suascaminhadas. A linda de metal que frequentemente perfura, entorta e enrijece os nós écomo a linha que nos conduz da via à morte. É o homem preso ao seu meio,modelado aos padrões pela sociedade. (NARLOCH, 1999)

A narrativa poética que viaja entre espaço, memória e energia forma um bloco de sensações

que permite ao espectador nomear os nós e significar a imagem produzida por meio das

formas exploradas por Calos Franzoi, a sensibilidade está presente nas entranhas da obra que

exige do visitante um mergulho nas vivências pessoais do artista dos elos que compõe a

construção de sua obra.

3. Conexões e Relações Entre Matéria e Memória

Fio, tecidos, palavras, estes são elementos que vinculam as obras dos artistas apresentados

aqui. A intimidade é explorada como meio entre matéria e sensibilidade, as reflexões acerca

dos temas debatidos colocam os artistas como profundos observadores da alma humana,

explorando materiais que fazem parte do cotidiano das pessoas sem que as mesmas percebam

o quanto de cada um viaja ao encontro do eu nos gestos de cada artista. O trabalho em série, a

inserção de materiais que fazem parte de suas vivências diárias geram o acúmulo de memórias

que transformam em sinais de uma busca por diálogos mais profundos e íntimos inerente ao

indivíduo, enquanto homem senhor de seu tempo.

Conforme afirma Deleuze (1925, p. 213): “A obra de arte é um ser de sensação, e nada mais:

ela existe em si”. A existência de uma obra de arte se dá na interação entre artista e

espectador, onde cada um em seu espaço dialoga para que a obra se firme como canal de

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comunicação entre o sensível e o material, ou seja, “o artista cria bloco de perceptos e afectos

(percepção e afeição), mas a única lei da criação é que o composto deve ficar de pé sozinho.

O mais difícil é que o artista o faça manter de pé sozinho”. A consolidação do gesto pode ser

o principal elemento para sustentar a poética do artista, a forma como este busca estabelecer

vínculos ao longo de seu percurso, pode ser uma importante ferramenta para este balizamento.

Giordano Bruno (1548-1600) afirma que:

As entradas pelas quais se lançam os laços são os sentidos. De todos a visão é aprincipal e a mais nobre; mas os outros podem ser mais apropriados em relação àvariedade de objetos e sua potencialidade; assim, o tato é conquistado pela tenrasuavidade da carne; a audição pela harmonia da voz; o olfato pela suavidade dohálito; o espirito pela elegância das maneiras; o intelecto pela clareza dasdemonstrações. Vínculos diferentes ingressam por janelas diferentes, e uns tem maispoder sobre uma pessoa e outros, sobre outra pessoa. [...] De fato um vínculo nãoprovem igualmente de todas as coisas nem se aplica a todas igualmente. (BRUNO,2012, p.62).

Os vínculos que aproximam as poéticas nas obras apresentadas refletem sobre a arte e vida, a

junção de gesto e matéria. Os vestígios deixados por cada artista confirma a citação acima, os

sentidos servem como porta de entrada para formar laços, apesar de explorarem matérias

semelhantes, a estética de cada um se diferencia, tornando a poética mais um meio de vincular

o artista e sua obra. Junior (2012) fala sobre a estética do contemporâneo, frisando que:

(...) o pensamento se exprime em uma matéria sensível, melhor, no ser do sensívelque é a sensação. A arte é um pensamento conjugado com o sensível, ideia que seexprime em um composto de sensações inventadas pelo artista. Nela ideia esensação se conjugam, linguagem e afeto entrelaçam, sentido e paisagem seunificam.(JUNIOR,2012)

É nesta unificação citada pelo autor que a relação trabalhada nas poéticas dos artistas se funde

tendo a arte como amparo e meio de comunicação. As invenções dos artistas interagem com a

sensibilidade do observador, proporcionado um mundo de ideias novas reveladas através da

memória. A conexão entre materiais, poética e a exploração da memória constituem as

relações que vinculam os gestos dos artistas estudados aqui. A partir do pressuposto que

ambos significam o sensível por meio da construção de seus repertórios, alguns de maneira

consciente, outros apenas dando forma à matéria, revela que a arte por meio de imagens é

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percebida pelo observador que dá continuidade e significação a forma de acordo com o

repertório que construiu ao longo de sua existência.

Referências

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