Lemos (2015) - Parte II, Capítulo I (p. 68-81)

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    © Andre Lemos, 2002

    Capa :

    Mari Fiorelli

    Foto:

    fonso

    Jr

    Ptojeto gnifico e editorac,:ao : Daniel Ferreira da Silva

    Revisao: Caren Capaverde

    Editor:

    Luis ntonio Paim Gomes

    Dados Intemacionais de Catalogac,:ao na Publicac,:ao ( CIP

    Bibliotecaria Responsavel: Ginamara Lima Jacques Pinto CRB \0/1204

    L557c Lemos, Andre

    Cibercultura: tecnolog

    ia

    e

    vi

    da social na cultura contemporiinea

    Andre Lemos. - 7 ed. - Porto Alegre: Sulina, 20 15

    295 p

     

    (Colel iio Cibercultura)

    ISBN: 978-85-205-0577-9

    I. Sociologia. 2. Cultura - Midia. 3. Cibercultura. 4. Tecnologia

    da lnformal ilo. I Titul

    o

    Todos os direitos desta edivao reservados

    a

    EDJTORA M ERID IONAL LTDA.

    Av

    Osvaldo Aranha, 440 cj. I

    01

    Cep: 90035-190 PortoA1egre-RS

    Tel: (051) 3311-4082

    www.editorasulina.com.br

    e-mail: [email protected]

    {Janeiro/2015}

    COD: 301.243

    CDU: 3 16

    lMPRESSO NO

    BRASILfPRl

    NTED IN B RAZIL

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    de virtual, multimidia, ciberespa

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    4/16

    ondas hertzianas

    em 1900

    e urn

    ano

    antes, o cinema. Em

    1964,

    primeiro satelite de comunicac;:ao, o Telstar, revoluciona nossa vi 3

    de mundo e instaura urn espac;:o de informac;:ao cobrindo todas a

    areas do planeta

    120

    A grande novidade do seculo

    XX

    sera as novas

    tecnologias digitais e as redes telematicas

    121

    .

    0

    que chamamos de novas tecnologias

    122

    de comunicac;:ao

    e informac;:ao surge a partir de 1975, com a fusao das telecomuni

    car;:oes anal6gicas com a informatica, possibilitando a veiculac;:ao,

    sob urn mesmo suporte - o computador - , de diversas formatac;:oes

    de mensagens. Essa revoluc;:ao digital

    123

    implica, progressivamen

    te, a passagem do mass media (cujos simbolos sao a

    TV

    , o radio,

    a impre-ns a, o

    cmema

    para ormas individualizad_

    as

    de

    prQdl r;:

    _

     _o,

    .

    difusao e

    est

    o_que_deinf_ormar;:ao. Aqui a circular;:ao de informac;:oes

    -  

    nao obedece a hierarquia da arvore (um-todos), e

    sima

    multiplici-

    dade do rizoma (todos-todos)

    124

    .

    As novas tecnologias de inforrnac;:ao devem ser consideradas

    em func;:ao da comunicac;:ao bidirecional entre grupos e individuos,

    escapando da difusao centralizada da informac;:ao massiva. Yarias

    tecnologias comprovam a falencia da centralidade dos

    media

    de

    massa: os videotextos , os BBSs, a rede mundiallntemet em todas

    as suas particularidades (Web, wap , chats listas, new  roups  

    MUDs

    ... . m todos esses novas

    media

    estao embutidas nor;:oes de

    interatividade e de descentralizar;:ao da informac;:ao, como veremos

    a seguir

    125

    Pensar

    essa

    nova forma de comunicac;:ao exige esforc;:os

    te6ricos consideraveis. Alguns autores contemporaneos fizeram

    tentativas nesse sentido. Mas tudo comer;:ou com

    McLuhan

    . Para

    o pensador canadense, os

    media

    modificam nossa vi sao do mundo.

    Ele mostrou

    como

    a imprensa transformou o mundo da cultura oral,

    da mesma forma como a eletricidade estaria modificando o que ele

    chama de

    media

    do individualismo e do racionalismo, a imprensa

    de Gutenberg.

    Para McLuhan, a eletricidade faz do mundo uma aldeia glo

    bal, ao mesmo tempo que estaria retribalizando a experiencia social.

    Estariamos entrando na era da simultaneidade e da tactilidade, numa

    in

    e g r a

     

    d o s s e n b OS , s ocan 0-nos do paradlgmamecanico

    ao organico. McTufiiiii-mostra como a imP _e_.§a 1 9 litic_

    Q

    .l.as.fQIIlli .s

    de nossa ~ p e r i e p

    c i a < ; i

      Q 1 ) . l i Q Q assim como nossas atitudes mentais.

    Sea invenr;:ao de Gutenberg ~ o r j o u o que e l ~ 9hama d e

    p j t r c o _ § _

    ~

    dos sentidos, quer dizer, a exacerbac;:ao de s6 uma sensac;:ao (a visao

    69

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    para a escrita e a imprensa), os novos

    media

    estariam favorecendo

    a tactilidade, o retorno aoralidade e ~ s multaneldade. u

    s l l l  

    se as tecnoTogtas sao- pfo

    o i i g a m e n t o s

    d e nosso co.rpo, pr6teses de

    nossos sentidos

    6

     

    os media sao extensao do nos so sistema nervoso

    central.

    A tipografia e a tecnica de impressao estavam ligadas ao ra

    cionalismo e

    a

    perspectiva, privilegiando o lado racional, esquerdo

    do cerebro . A escrita, e depois a imprensa, teriam destribalizado o

    homem.A eletronica e, mais tarde, o que sera chamado de multimi

    dia parecem ajudar a criac;ao de novas formas de tribalizac;ao. Para

    McLuhan, a retribalizac;ao engloba a grande familia humana em

    uma s6 tribo 

    7

     

    a aldeia global. 0 individuo destribalizado nasceu

    no momento em que a instituic;ao da escrita fonetica realizou uma

    cisao entre

    o

    mundo magico da audic;ao e o mundo indiferente da

    visao

    8

    0 multimidia, entendido tanto como sua vertente

    off line

    (CD-ROM) como on-line (Internet), e hoje o exemplo mais claro

    dessa s ~ conver encia. Com as tecnologias analogi

    cas, a transmissao, o armazenamento e a recuperac;ao de informac;ao

    eram completamente infl.exiveis. Com o digital, a forma de distri

    buic;ao e de armazenamento sao independentes, multimodais, onde

    a escolha em obter uma informac;ao sob a forma textual, imagetica

    ou sonora e independente do modo pelo qual ela e transmitida.

    Nesse sentido, as redes eletronicas constituem uma nova forma de

    publicac;ao (a eletronica), onde os computadores podem produzir

    capias tao perfeitas quanto 0 original.

    ,

    A ideia de original parece tornar-se problematica a tal pon-

    to, que essa questao esta embutida em problemas de copyright de

    obras eletronicas, como as imagens digitais e a musica em formato

    MP3 . Podemos dizer, com Pool, que os novos media eletronicos

    sao' s cno gws

    da

    liw aaad;'

      9

    • Por tecnologias da liberdade, Pool

    entende aquelas que nao se pode controlar o conteudo, que colocam

    em questao hierarquias, que proporcionam agregac;oes sociais e

    que multiplicam o polo da emissao nao centralizada. Assim, por

    exemplo, com os hipertextos, a liberdade de navegac;ao do usuario

    desestabiliza distinc;oes classicas entre leitor e autor.

    Diante de uma obra multimidia em CD-ROM, ou diante das

    home pages

    da Internet, nao nos colocamos mais como leitores de

    urn livro ou espectadores das formas classicas do espetaculo. Agora,

    devemos, para que haja acontecimento, ver e interagir, simultanea-

    70

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    mente, com a obra. Esse agir se da atraves da interatividade digital

    ( clicar em leones dos mais

    di

    versos ), como veremos adiante. Pode

    mos, tam bern, manipular cada uma das formas mediaticas

    a

    vontade,

    e de forma independente (som, imagens, textos). Tornamo-nos nllo

    mais leitores, no sentido estrito, mas atores, exploradores, navega

    dores ou

    screeners

    como prefere M. Rosello

    130

    A a9ao nao obedece

    necessariamente a percursos determinados a priori (a linearidade),

    mas pode ser feita por desvios, conexoes, adi96es

    links) ,

    como uma

    forma de passeio pelo espa9o cibernetico, como umfllineur digital,

    o

    c  er-fianeur.

    Voltaremos mais tarde a essa discussao.

    Como diziamos, para McLuhan, a cultura do impressa e co

    erente

    como

    processo de racionaliza9ao da modernidade, tipico do

    seculo

    XV,

    resultando na organiza9ao do espa9o e do tempo sabre

    uma base filos6fica de tipo moderna. Como vimos, a modernidade

    afasta a tradi9ao, investindo numa visao ut6pica e racionalista do

    futuro. Essa tendencia foi impulsionada pela imprensa, com a padro

    niza9ao de caracteres que poderiam ser reprodutiveis ao infinito, e

    pela perspectiva, que coloca o olho humano como centro, ou ponto

    privilegiado da visao.

    A cultura do impressa, que vinga do seculo XV ate fins do

    seculo XX, separou a visualidade (a leitura silenciosa) da oralidade

    (a leitura em voz alta), como a separa9ao do texto da musica. Os

    caracteres de repetitibilidade, de continuidade e de l6gica, presentes

    na cultura do impressa, sao derivados dos mesmos caracteres presen

    tes nas ciencias matematicas e na fisica classica. Isso caracteriza a

    pr6_Eri

    _a

    t t

    £nolo

    j ~

    da_m

    _QqernJcl<

    de:

    m o g e n e j ~ 5 9   ~ ~ a 9 a o

    e narcose (urn s6 ponto de vista, como na perspectiva renascentista .

    Como explica McLuhan, a homogeneiza9ao dos homens e dos

    o ~ b j e t o s

    vai se tornar o _grande objetivo da

    era

    de Gutenberg, como

    fonte de uma riqueza e de urn poder que nao conheceram nenhu

    ma outra epoca e nenhuma outra tecnologia

    A tipografia sera,

    por sua vez, o instrumento do individualismo dentro da sociedade

    moderna. im resso e a tecnolo ia de

    i n d i v i d u ~ g p . £ _ s e le

    (s6 ems · · i

    132

    .

    Os com utadores

    e ~ r e c e m

    ir na dire o osta

    a

    y_eJa

    da_cultura do impressa, esta ' . os..do..tribalismo.antetipr

    aescrita e a m rensa. Podemos dizer que a dinamica social atual do

    ciberespa9o nada mais e que esse desejo de conexao se realizando de

    forma planetaria. Ele e a transforma9ao do PC Personal Computer) ,

    o computador individual, desconectado, austero, feito para urn

    7

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    individuo racional e objetivo, em urn CC (Computador Coletivo),

    os computadores em rede. Assim, a conjunyao de uma tecnologia

    retribalizante ( o ciberespayo) com a socialidade contemponinea

    vai produzir a cibercultura profetizada por McLuhan. Parece que

    a homogeneidade eo individualismo da cultura do impresso cede,

    pouco a pouco, Iugar

    a

    onectividade e

    a

    etribalizayao da sociedade.

    Como mostraremos, a estrutura piramidal do poder media

    tico massivo torna-se dis ncwnal na emergent

    e c

    iherc.uJ.tyr_a. Nao

    e a oa que ssistimos a fusoes das mais diversas entre OS gigantes

    da telecomunicayao e os provedores de conteudo, como a recente

    compra da Times-Warner pelo provedor de acesso americano AOL

    (American Online). Os gigantes buscam se recolocar

    n

    nova

    con:figurayao tecnossocial, percebendo que a cibercultura (digital,

    imediata, multimodal, rizomatica) requer a transversalidade, a des

    ~ ~ a interativid de. Como afirn1a Levy, ela ·e univer;;I

    sem ser total itaria , tratando de fluxos de informayao bidirecionais,

    imediatos e planetarios, sem uma homogenizayao dos sentidos,

    potencializando vozes e visoes diferenciadas.

    Com a contrayao do planeta pelos novas media digitais,

    transformamo-nos nao numa (mica aldeia global , mas em varias e

    idiossincraticas l

    eias globais 

    devido principalmente

    a

    mplosao

    do mundo ocidental pelo efeito das tecnologias microeletronicas.

    Nao se trata de bens materiais, materias-primas e energia retiradas

    da natureza, mas de informayoes traduzidas sob a forma de bits

    imateriais, abstratas, lidas por uma metamaquina ( o computador, o

    ciberespayo

    .

    Atualiza-se, como ciberespayo, o grande sonho enci

    clopedico de, em urn linico media armazenar todo o conhecimento

    da humanidade, disponivel a todos.

    pela interatividade digital que possibilidades descentrali

    zadoras do poder podem se estabelecer. Para McLuhan, a interati

    vidade (embora ele nao utilize essa palavra) situa-se em termos de

    media quentes ou frios. Os media quentes sao aqueles que permitem

    pouca ou nenhuma interayao do espectador. Sao media de alta defi

    niyao onde nao existe possibilidade de intervenyao. Nesse sentido,

    os media quentes sao o radio, o cinema, a fotografia, o teatro e o

    alfabeto fonetico. Por outro ado, os

    media

    frios sao aqueles em que

    a interatividade e permitida, deixando urn espayo onde os usuarios

    podem preencher. Sao media frios a palavra, a televisao, o telefone

    e os alfabetos pictograficos. Nesse sentido, as tecnologias de ci

    bercultura sao media frios, interativos e retribalizantes. Nao e por

    72

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    acaso que o tribalismo da socialidade contemporanea (Maffeso li)

    alimenta-se da potencia reliante das tecnologias da cibercultura.

    ~

    i > ~ r c u t } . l r a sera uma

    c o n f i g 1 J r a

    < ; U

    Q

    ~ . i 9 . t ~ c q j _ 9 ~

     

    vera modelos tribais associados as tecnologias

    di

    gitais, o ondo-se

    ao l ndividuaiis

    moda llitur

    do

      n _ i P . r

    e

    s s o

    m o d e r

    n a   e c

    n o c r a t i

    c a .

    Comacioercu

    tuia, estamos .dlante -de .um processo .de-aCel

    erac;ao,

    realizando a abolic;ao do espac;o homogeneo e delimitado por fron

    teiras geopoliticas e do tempo cronologico e linear, dois pilares da

    modemidade ocidental. No en tanto, essa conectividade generalizada

    nao

    e

    senta de criticas .

    Jean Baudrillard, por

    exemplo

    , tern uma visao muito menos

    encantadora que McLuhan e, de forma bastante pessimista, vai

    propor que , com as novas tecnologias di gitais de comunicac;ao,

    estariamos diante nao de uma retribalizac;ao, mas de uma me.ra

    circulac;ao de informa 5es. Esta nos faz individuos terminai s que

    comutam entre Sl, sem nenhuma interac;ao. Para Baudrillard, 0

    ciberespayO

    SO

    ermite

    Sil}ljlla

    Q _ ~

    u . t e r . a y a

    o : e = n a

    . o . . \.::e.

    a

    de.ir_ai_

    intera96es

     :Para

    o polem ico

    pensador

    frances, os novos

    media

    au

    mentam a espiral destruidora e autista da comunic

    ac;ao,

    proximo,

    como veremos, das posic;oes de Lucien Sfez e Paul Virilio.

    0 pensamento baudrillardiano

    e

    aquele d ~ ( ;   e S S q ~ _ a l } t O

    mais o c a

    m  

    L n : f 2 ~ { q _ e s m e n

    ~

    f ~ s t i i f t l o

    ~ c . . 9 1 : . 1 : ~ 1

    ~ a 9 ~ o .

    rocamos

    0

    real pelo

    hi e r r e a l ~

    \ferdadeira comunica

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    9/16

    esteja o homem, mais, ao seu redor, cres9a o deserto do mundo.

    Para Virilio, o pensamento coletivo imposto pelos diversos media

    visava aniquilar a originalidade das sensa96es [ ..

    ],urn

    estoque de

    informa96es destinado a programar suas mem6rias 

    136

    .

    Virilio afirma que o tempo real e a velocidade mudaram a

    rela9lio do homem com o ambiente urbano, social e cultural.

    0

    usuario contemponlneo das teletecnologias tomou-se urn reeeptor

    passivo, tendo que responder a estimulos imediatos. Isso causaria

    uma compreensao parcial das situa96es as quais ele esta exposto

    (imagens televisivas, informa96es do ciberespa9o). Ele entra no

    cibermundo  com sua politica do pior

     3

    7

    , on de o tempo real conduz

    [ .] nossa vontade a zero

    138

    trazendo a baila o desaparecimento

    da consciencia como percep9lio direta dos fenomenos que nos

    informaram sobre nossa propria existencia 

    39

    .

    Sob a batuta do tempo real , a sociedade contemporanea

    estaria imersa na pura circula9lio de informaylio, gerando urn pro

    cesso de mera comuta9lio

     4

    .

    No

    entanto, a circula9lio da informa

    vlio processa-se de forma entr6pica e vir6tica e, talvez, seja essa

    virose digital o que possa impedir a destrui9lio total, como afirma

    Baudrillard.

    Para Baudrillard e Virilio, a existencia contemponlnea esta

    imersa em uma espiral autodestrutiva. Quanto mais meios de comuni

    cavlio temos ao nosso dispor, menos comunicamos. A informatizavlio

    da sociedade seria a encamavlio da racionalidade modema, onde o

    panopticom do

    ig

    rother se insere na cultura contemporanea

    .

    0 real torna-se a vitima de urn crime quase perfeito

    1

    2

    .

    Essa sociedade de comunicaylio generalizada e vi vida sob o

    signo das obscenidades e da radicalizavlio da sociedade do espe

    taculo1

    43

    A obscenidade come9a mais precisamente

    como

    tim da

    sociedade do espetaculo, onde nao existe mais nada para ver, onde

    nao ha mais ilusao, pois tudo tomou-se transparente e visivel. Essa

    seria a maior de todas as obscenidades, tudo ver, quando nao ha

    mais nada para ser visto. Como mostra Baudrillard, nao estamos

    mais no drama da alienaylio, mas no extase da comunica9liO. E

    este extase e obsceno 

    14

    . Ainda segundo Baudrillard, caminha

    mos para urn mundo inteiramente funcional, operat6rio, racional ,

    positivo, sem o minimo buraco, de uma transparencia total, logo,

    extremamente mortal

    4

    5

    .

    No entanto, a crftica contra a desumanizavlio devida a racio

    nalizavlio tecnica do social, tipica de Baudrillard e Virilio, e vista por

    74

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    10/16

    Murphy como obsoleta,

    ja

    que os jogos de linguagem nao autorizam

    uma interpreta9ao definitiva do fenomeno tecnico. Segundo Mur

    phy, e atraves dos jogos de linguagem que existe a possibilidade de

    escapar ao mundo tecnico, unidimensional, pintado por Baudrillard

    e Virilio. Para Murphy "o que Baudrillard visivelmente esqueceu

    e

    que a tecnica [ ..] nao afeta os indivfduos de maneira causal. Dito

    de outra forma, urn fenomeno nao tern nunca urn impacto direto

    sobre OS indivfduos, e isso porque a imaginayaO e indissociavel da

    realidad

    e.

    [

    ..

    ] a realidade e apenas uma interpreta9ao que dura"

    146

    A comunicac;:ao mediatizada

     

    J ' _ o ~   ~ l i s col lo_

    a Internet, por exemp o, cna

    na

    para Baudrillard urn deserto social,

    assim conio a velocidade cria para Virilio o deserto no

    espac;:o

    14 7

    Para Baudrillard, os modelos de simula9ao se degradam na forma

    modema, tecnica e esteril, que ele chama de comuta9ao. Contudo,

    a atual efervescencia das redes de computadores nao pode, sob o

    risco de uma simplificac;:ao grosseira, ser reduzida asimples comu

    tac;:ao

    entre os usuarios.

    Na

    fria infraestrutura tecnol6gica, parece

    infiltrar-se toda a dinamica da vida social contemporanea. Mas nao

    existe a circula9ao pura, ja que o imprevisto, o excessivo, o ca6tico

    sempre podem aparecer e trazer resultados inesperados. 0 caos

    eo

    carrasco do determinismo.

    Hoje, o ciberespa9o parece ser a consequencia mais 6bvia

    desta ausencia de pura circulac;:ao. Como veremos, o ciberespa9o

    nao e s6 urn espac;:o de comutac;:ao. Exemplos pululam nesse senti

    do:

    chats MUDs 

    f6runs,

    newsgroups.

    Todos de conteudos os mais

    diversos (academico, er6tico, revolucionario, marginal, politico ou

    de lazer). 0 ciberespa o nao

    eo

    deserto do reaL assim

    .£2 2 n  

    e

    o fim da comunicac;:ao ou do social.

    Da

    mesma forma, os virus de

    c o  

    p ~ t a d o r , como tani6  masptra tarias dos hackers  sao expressoes

    fortes dessa improvisac;:ao tecnossocial.

    Baudrillard percebe esses fenomenos como possibilidade

    de escapar ao desastre total , ao crime perfeito. Os virus, como os

    hackers

    e suas invasoes espetaculares, seriam a expressao mais

    mortffera (e assim, vital) dessa transparencia e circulac;:ao pura da

    informa9ao. A assepsia poderia nos conduzir, de acordo com Bau

    drillard, em direc;:ao a uma purifica9ao tecno16gica de nossos corpos

    e subjetividades. Essa assepsia pode tomar-se mesmo mortal, pois

    e,justamente como nos organismos vivos, pela supressao da hetero

    geneidade dos sistemas que eles sao conduzidos

    a

    morte. Os virus,

    como as a96es dos hackers  sao desastres efemeros e infecciosos

    75

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    que vao tentar evitar o grande desastre. Para Baudrillard,

    o

    virtual

    e o viral caminham juntos

    148

     

    [ •. . ] a ~ _ e c e n t irrup

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    12/16

    Lucien Sfez

    152

    vai acompanhar o pensamento de Yirilio

    Baudrillard. Para Sfez, estariamos vivendo o apice da cultura fau -

    tiana, que ele prefere chamar de

    Sociedade Frankenstein.

    A questao

    da critica da comunica

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    13/16

    e,

    no fundo, urn sonho totalitario. A transparencia elimina o jogo de

    dualidades . Hoje, o mito da neutralidade tecnica e transformado pela

    aproprias;ao diaria e a dimlmica da sociedade contemporanea. Esta

    nao nos permite falar de uma sociedade homogenea ou transparente,

    tautista ou Frankenstein.

    Leo Scheer, analisando o que ele chama de civilizas;ao do

    virtual, explica que entramos na crise da nos;ao de historia com a

    queda do muro de Berlim. Assim, se nao ha uma historia, o sujeito

    historico desaparece, assim como a nos;ao de Estado Nas;ao, afetando

    a dimensao politica, traduzindo-se numa desconexao entre esta eo

    quotidiano. Para Scheer, os telecitoyens sao o sfmbolo mesmo do

    fim das grandes narrativas da modemidade

    eo

    comes;o das pequenas

    historias, sustentando-se sob tres pi lares principais: a informatica, a

    comutas;ao e a comunicas;ao, substituindo os pilares da modemidade

    representados pelo exercito, pela famflia/produs;ao e pela religiao.

    A sociedade virtual seria a sociedade de comunicas;ao (fun

    dada na redundancia da difusao da mensagem); a sociedade da

    informas;ao (fundada no estereotipo do terminal) e a sociedade de

    comutas;ao (de equivalencia entre o emissor

    eo

    receptor na rede).

    Para Scheer, a sociedade virtual e a sociedade em que a inteligen

    cia do central coloca o usuario no desafio de produzir seu proprio

    espetaculo, seu proprio imaginario, seu proprio desafio. Assim, este

    modo reconstitui urn tecido comunitario"

      7

    , A

    Civilizar; iio

    do

    Virtual

    para Leo Scheer, marca a cibercul

    . tura, criando ainda tres excessos que colocam as visoes dos seus

    .conterraneos franceses em desafio: urn excesso de informas;ao, urn

    excesso de tecnologia e urn ~ § § O § . Q f l l ~ A o e s m a t e n a 1zas;ao

    d

    or em na

    iafaascolsasp

    ela numerizas;ao generalizada pode ser

    vista como uma transgressao da realidade pela liberas;ao do exces

    so potencial ou virtual da informas;ao, havendo urn descolamento

    dos constrangimentos materiais (imagens de sfntese, simulas;ao,

    realidade virtual). A abundancia de informas;oes e de tecnologias

    informacionais, criadas e geradas constantemente no ciberespas;o,

    faz entrar em

    jogo

    a

    depense

    (Bataille

    .

    Por mais paradoxa que seja, a tecnologia microeletronica co

    loca a civilizas;ao contemporanea no excesso, na despesa improduti

    va, na orgia de codigos

     

    Nesse sentido, a sociedade da informas;ao

    nao se interessa mais pelo politico, havendo uma separas;ao entre o

    contrato modemo e o tribalismo organico e grupal das sociedades

    contemporaneas. Estas sao refratarias as promessas ideologicas, aos

    78

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    programas e partidos politicos tradicionais. Elas se aproximam

    mai

    da tribo, ligada

    _ _or

    mitologllis., e

    nao

    por ideologfas:-Estamos aqui

    no que Scheer chama de excesso do social, nao morte do social.

    o

    imagin

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    15/16

    reapropria9ao mais ou menos consciente das tecnicas que o publico

    nem concebeu, nem explicitamente desejou 

    159

    • • •

    Os novas

    media

    (digitais) aparecem com a revolu9ao

    da

    microeletronica, na segunda metade da decada de 1970, atraves de

    convergencias e fusoes, principalmente no que se refere a infor

    matica e as telecomunica96es

    1

    6

    • Os media di itais vao a . em

    duas frentes: ou prolongando e multiplicando a

    ca

    acidade dos

    tradicionais (como satelites,cabos, tffiras opticas); ou criando novas

    tecnologias: na maioria das vezes hibridas (computadores, Minitel ,

    celu ares,pagers, TV Digital, PDAs etc.).

    Podemos dizer que o termo

    m

    ultimidia interativa  expressa

    bern 0 espirito tecnol6gico da epoca, caracterizando-se par uma

    hibrida

  • 8/19/2019 Lemos (2015) - Parte II, Capítulo I (p. 68-81)

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    confundem mais

    com

    as coisas, e a racionalidade assume

    ova

    l r

    do discurso. A eficacia nao se da mais no plano religioso , mas

    na

    dinamica operat6ria, na ayao objetiva e eficiente que desencadeia.

    A comunicayao de massa nao constitui uma comunidade, antes

    dirige-se as diversas comunidades do espayo pt1blico (a massa). 0

    paradigma aqui e

    0

    da televisao

    162

    .

    0 modelo informatizado, cujo exemplo

    eo

    ciberespayo, e aquele

    onde a forma do rizoma (redes digitais) se constitui numa estrutura

    comunicativa de livre

    circulayao de mensagens, agora nao mais editada

    por urn centro, mas disseminada de forma transversal e vertical, alea

    t6ria e associativa. A nova racionalidade dos sistemas informatizados

    age sobre urn homem que nao mais

    rec

    ebemformay6 es homogeneas

    de urn centro editor-coletor-distribuidor , mas de forma ca6tica,

    1Uiti5firecional, entr6pica, coletiva e, ao mesmo tempo, personalizada.

    Diante de uma sociedade massificada (pouca informayao

    com redundancia), passa-se a uma sociedade informacional, preva

    lecendo o fluxo de uma quantidade gigantesca de informayoes para

    os interagentes (Castells

    163

    )

    que terao o poder de escolher, triar e

    buscar o que lhes interessa. 0 que esta em jogo nesse processo de

    digitalizayao do mundo e, segundo Adriano Rodrigues, o desapa

    recimento da instancia legitimadora classica do discurso: emissor

    e receptor fundem-se na danya de

    ts

     64

    Vamos tentar mostrar, nas paginas que seguem, que a cibercul

    tura e - mais que o simples deserto do real, tautismo ou industria do

    esquecimento - vitalista, tribal e presenteista. Mais do que deserto e

    reflexo, o tempo real da velocidade imediata de trocas de informayoes

    binarias e uma maneira de retorno ao

    Ka"iros

    dos sofistas. 0 conhe

    cimento por simulayao e interconexao em tempo real valorizam o

    momento oportuno, a ocasiao, as circunstancias relativas, opostas ao

    sentido mo lar da hist6ria ou a verdade fora do tempo e fora do Iugar,

    que eram, talvez, apenas efeitos de escritura

    165

    .

    Mais do que deserto do real, a cibercultura esta sincronizada

    com a dinamica da sociedade contemporanea, podendo mesmo ser

    caracterizada

    como

    uma cibersocialidade.

    cibersocialidade

    contemponine

    Parler de technoIogie de

    Ia

    vie quotidienne, prise comme processus

    global de socialisation et un systeme d 'actions, fait d abord referen

    ce, par consequent,

    a

    maniere dont I individu pen;:oit son monde

    8