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 O que quer , o que pode uma ngua? Líng ua est rangeira , memó ria d is cursiva , subj e tividad e 1 María Teresa Celada Universidade de São Paulo – São Paulo, SP, Brasil O que quer o que pode esta língua? Caetano Veloso 2 1 O presente texto retoma parte das reexões realizadas no artigo “Lengua extranjera y sub -  jetividad — Apuntes sobr e un proceso”, p ublicado em espanhol in: GEL — Estudos Lingüísticos , XXXIII, 2004 (ISSN 1413093), versão digital. Realizamos esta nova publicação, desta vez em português, porque nos centraremos na análise de produções e exploraremos aspectos que não foram trabalhados no primeiro artigo. Boa parte desses aspectos foi desenvolvida para a apresentação realizada na mesa-redonda “A produção de sentidos e o funcionamento da linguagem”, que contou com a participação de Beatriz Eckert-Hoff (UniAnchieta), Vanise Gomes de Medeiros (UERJ) e Gesualda de Lourdes dos Santos Rasia (UNUJUI) e foi organizada pelo Laboratório Corpus - Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Santa Maria. Agradecemos a Olga Regueira (IES Lenguas Vivas “J. R. Fernández” — Buenos Aires) a revisão de nossas formas de dizer na língua estrangeira. 2 Fragmento extraído da música “Língua” desse cantor e compositor. Na seqüência, o texto continua: “Incrível é melhor fazer uma canção. Está provado que só é possível losofar em alemão”. Veloso formula a pergunta com relação ao português do Brasil; aqui, retomamos parte dessa pergunta e a recolocamos num contexto diferente e mais amplo.

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    O que quer, o que pode uma lngua?Lngua estrangeira, memria discursiva, subjetividade1

    Mara Teresa Celada

    Universidade de So Paulo So Paulo, SP, Brasil

    O que quer o que pode esta lngua?

    Caetano Veloso2

    1 O presente texto retoma parte das reexes realizadas no artigo Lengua extranjera y sub-jetividad Apuntes sobre un proceso, publicado em espanhol in: GEL Estudos Lingsticos,XXXIII, 2004 (ISSN 1413093), verso digital. Realizamos esta nova publicao, desta vez emportugus, porque nos centraremos na anlise de produes e exploraremos aspectos queno foram trabalhados no primeiro artigo. Boa parte desses aspectos foi desenvolvida para

    a apresentao realizada na mesa-redonda A produo de sentidos e o funcionamento dalinguagem, que contou com a participao de Beatriz Eckert-Hoff (UniAnchieta), VaniseGomes de Medeiros (UERJ) e Gesualda de Lourdes dos Santos Rasia (UNUJUI) e foi organizadapelo Laboratrio Corpus - Programa de Ps-Graduao em Letras da Universidade Federal deSanta Maria. Agradecemos a Olga Regueira (IES Lenguas Vivas J. R. Fernndez BuenosAires) a reviso de nossas formas de dizer na lngua estrangeira.

    2 Fragmento extrado da msica Lngua desse cantor e compositor. Na seqncia, o textocontinua: Incrvel melhor fazer uma cano. Est provado que s possvel losofar emalemo. Veloso formula a pergunta com relao ao portugus do Brasil; aqui, retomamosparte dessa pergunta e a recolocamos num contexto diferente e mais amplo.

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    Celada

    Resumo

    Neste texto manifestamos nossa preocupao com os processos de instrumentalizao a que

    so submetidas as lnguas estrangeiras no mundo contemporneo, pois consideramos que

    pressupem um sujeito pragmtico e a necessidade de atender s suas urgncias alimentan-

    do a imagem de que domina a lngua, muito mais do que solicitando dele que se lie a umsaber ou a uma memria. Nesse sentido, re-armamos a necessidade de que as prticas de

    ensino/aprendizado dessas lnguas sejam pensadas como processos de identicao e ana-

    lisamos, fundamentalmente, uma produo realizada por uma aluna brasileira de espanhol,

    que pinamos pelo alto efeito de coerncia discursiva que atinge.

    Palavras-chave: subjetividade, memria, identicao, processos de subjetivao, saberes

    interdiscursivos, ensino de espanhol para brasileiros .

    Rsumn

    En este texto manifestamos nuestra preocupacin por los procesos de instrumentalizacin aque son sometidas las lenguas extranjeras en el mundo contemporneo pues consideramos

    que presuponen un sujeto pragmtico y la necesidad de atender sus urgencias alimentando

    la imagen de que domina la lengua, mucho ms que solicitndole que entre en liacin

    con un saber o una memoria. En este sentido, rearmamos la necesidad de que las prcticas

    de enseanza/aprendizaje de tales lenguas sean pensadas como procesos de identicacin

    y analizamos, fundamentalmente, una produccin realizada por una alumna brasilea de

    espaol, que elegimos por el alto efecto de coherencia discursiva que alcanza.

    Palabras clave: subjetividad, memoria, identicacin, procesos de subjetivacin, saberes

    interdiscursivos, enseanza de espaol a brasileos.

    AS LNGUAS COMO DIMENSESDA RELAO SUJEITO/LINGUAGEM

    No mundo contemporneo, as lnguas estrangeiras conguram um quadro

    fortemente marcado pela preponderncia daquelas consideradas veicula-res ou dos aspectos que cada uma delas pode garantir no sentido de possi-bilitar a comunicao um signicante pronunciado com euforia e de

    forma recorrente em certas discursividades e, junto com isso, a inclusono mercado de trabalho. Podemos dizer que estes so os traos que, atual-mente, denem o poder ou o estatuto veicular de uma lngua. Porm, de-vemos tambm observar que o que mais fortemente marca a congurao

    desse quadro o fato de ele funcionar sob a determinao de um sentidohegemnico, segundo o qual alngua veicular por excelncia e, portanto,de comunicao e de insero laboral o ingls. Esses dois aspectos men-cionados, fortemente entrelaados, tm um impacto sobre o modo como

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    O que quer, o

    que pode uma

    lngua?

    as lnguas estrangeiras se reorganizam numa formao social ao redor damaterna e nacional e, tambm, sobre as concepes de seu ensino3.

    Neste trabalho, gostaramos de trabalhar na contramo da hegemo-nia desses dois aspectos que funcionam como pr-construdos e de explo-

    rar a ideia de que essas lnguas a materna, a segunda, a nacional, a(s)estrangeira(s) sejam pensadas como dimenses da relao sujeito/lingua-gem. Pensamos que, nos processos de ensino/aprendizado em contextosformais, que so os que nos ocupam, o funcionamento de cada uma deve-ria ser encarado com o intuito de aproveitar o que ela quer do sujeito (nosentido do que dele solicita), o que ela pode no campo de sua subjeti-vidade e, dessa forma, explorar a relao sujeito/linguagem o que im-plicaria trabalhar a relao sujeito/sentido, sujeito/memria discursiva.Isto possibilitaria que tal relao fosse desenvolvida em vrias direes e

    expandida em diversos sentidos: em todos os possveis, superando a limi-tao que impe o perl veicular na concepo reduzida, predomi-nante em discursividades ligadas ao Mercado, que submetem as lnguasa uma instrumentalizao e interpelam o sujeito como pragmtico: falej, fale agora (cf. Lemos, 2008) e propiciando que uma subjetividadese submeta a (des)/(re)/territorializaes.

    Para explorar o que queremos expressar mediante esta armao, di-remos que Payer, fazendo o enlace com um conceito central da Anlise doDiscurso (AD): a lngua constitui o sujeito, ressalta a necessidade, de umlado, de rearmar a observao de Revuz (1994), segundo a qual a lngua

    materna se encontra nas bases mesmas da estruturao do sujeito, ao mes-mo tempo como instrumento e como matria dessa estruturao e, de outro,de discernir sutilmente a diferena entre os termos que nessa observaoaparecem: matria e instrumento (2007, p. 118). Assim, a estudiosaentende por matria os contedos e formas prprios a cada lngua: comoo fato de a palavra sol ser masculino ou feminino numa ou outra, e deessa palavra congurar certa relao do sujeito com o referente (Ibid.). E

    3 Para Payer, a lngua nacional e a lngua materna no coincidem no s porque se referema materialidades lingusticas empiricamente distintas, mas tambm porque se constituemcomo dimenses distintas da linguagem na ordem da memria, o que signica que tmestatutos lugares e funcionamentos diferentes (2007, p. 119). Essa denio nos leva aconsiderar, no universo de lnguas que consideramos, a materna e a nacional, pelas impli-caes que pensamos que suas materialidades e funcionamentos, entrelaados na malha deuma subjetividade, tm nos processos de aprendizado de uma lngua estrangeira; e aprovei-tamos para acrescentar que, num trabalho prvio (cf. Celada, 2002), detectamos vrias dessasimplicaes com relao ao ensino/aprendizado de espanhol por brasileiros. A na formula-o realizada por Payer nos ajuda a compreender melhor o que ali trabalhamos e tambm nosleva a falar neste texto das lnguas como dimenses da relao sujeito/linguagem.

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    Celada

    por instrumento entende um dispositivoque funciona em qualquer lnguana medida em que proporciona mecanismos de congurao simblica,

    certos quadros de representaes, que torna possvel o fato mesmo de

    que sujeitossaibam algo atravs de uma lngua (Ibid., grifos nossos).

    Focalizando de forma especca o processo de ensino/aprendizado deuma lngua estrangeira em situaes formais (que, como j adiantamos, o

    nosso objeto), retomamos a denio de Serrani-Infante e observamos que

    esse processo deveria armar como horizonte a inscrio do sujeito da

    enunciao em discursividades da lngua alvo (1997a, p. 96). Nesse senti-do, de nossa perspectiva, saber algo atravs da lngua para servir-nosda feliz expresso de Payer (op.cit.) implica fundamentalmente que, nocampo de uma subjetividade aconteam identicaes com saberes inter-discursivos4. Neste sentido, acreditamos produtivo lembrar que, a partir

    de formulaes de Pcheux, poderamos armar que as coisas-a-saberque essa lngua pode supor sero sempre tomadas em redes de memriadando lugar a liaes identicadoras (1990, p. 54). Isto implica, como j

    antecipamos, falar de um trabalho com a relao sujeito/memria discur-siva e sujeito/sentido trabalho que, acreditamos, car sinalizado em

    vrios momentos deste texto.De nossa perspectiva e a partir do raciocnio que aqui tentamos tecer,

    gostaramos de frisar dois aspectos fortemente vinculados entre si. Emprimeiro lugar, acreditamos que a partir das denies de Payer que

    retomam as de Revuz a lngua estrangeira, como instrumento e matria,deve ser pensada como uma funo que atravessa o campo de uma subjetivi-dade,o que implicar, aproveitando uma aguda formulao de Orlandi (cf.1998), uma tentativa defazer acontecer essa lngua no sujeito. E isto far comque na produo lingustica ou na elaborao simblica que tem lugar aolongo do processo de seu aprendizado apaream marcas (um emaranhadode marcas) que podem ser interpretadas como indcios de tal acontecer.Para referir-nos ao segundo dos dois aspectos a que zemos referncia,

    precisaremos recorrer a duas observaes produzidas no campo dos es-tudos da linguagem a partir de perspectivas marcadas pela psicanlise oupela prpria AD. De acordo com a primeira, formulada por Leite, se dalngua materna pode-se dizer que h um saber, [...] necessrio alinh-lomenos como algo da ordem de um conhecimento do que de uma relaode assujeitamento (1995, p. 68) [grifos nossos]. De acordo com a segun-da, formulada por Orlandi, se sujeito pelo assujeitamento lngua, na

    4 Para o conceito de saberes interdiscursivos, cf. Serrani-Infante (1998). No presente tra-balho ainda voltaremos a eles.

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    que pode uma

    lngua?

    histria (2001, p. 100). A partir do que observam ambas as estudiosas,parece-nos necessrio tirar duas concluses encadeadas:

    a) o processo de aprender uma lngua estrangeira deve ser entendidocomo de assujeitamento, pois se trata da submisso de um sujeito s formas

    de dizer e memria de sentidos que ela produz;b) esse processo implica que essa outra lngua e os saberes que ela podesupor entraro em relaes (de captura ou identicao, de resistncia, de

    confronto) com a malha de uma subjetividade j inscrita em determinadasliaes de sentido.

    Este reconhecimento nos leva a rearmar o conceito de ensino/apren-dizado de lnguas estrangeiras como umprocesso de subjetivao, no senti-do de que produz efeitos na relao constitutiva do sujeito com o simb-lico (Ibid.), pois suscitar mexidas nas liaes histricas de sentidos

    nas quais ele est inscrito (cf. Pcheux, 1990) e poder afetar aspectos deuma identidade, pensada em sua provisionalidade, como um feixe instvelde traos, que decanta de processos de identicao (cf. Zoppi-Fontana;

    Celada, s.d.).5Esse processo de subjetivao solicitar do aprendiz que para ser su-

    jeito dessa lngua se assujeite a ela (cf. Celada, 2004) pelo que ela quer eo que ela pode, como j antecipamos parafraseando nosso ttulo e, por-tanto, se submeta a deslocamentos; da a j referida disperso de marcascom que nos deparamos na produo em lngua estrangeira por parte dosaprendizes num processo de ensino formal. Tais marcas so indcios decomo esses sujeitos so afetados pelo novo simblico e com relao (s)lngua(s) que os constituem.

    AS REVELAES DE UMCASO EXPRESSIVO E PRODUTIVO

    AS CONDIES DE PRODUO

    Vamos analisar a produo de um texto composto e redigido durante aaplicao de uma prova escrita que fazia parte do sistema de avaliaoda disciplina obrigatria Lngua Espanhola II no segundo semestre de2002 disciplina que compe o currculo do curso de Letras Habili-tao Espanhol da Universidade de So Paulo (USP). Passaremos a citar

    5 Considerar o processo de aprendizagem e/ou aquisio de uma lngua estrangeira comoum processo de subjetivao algo que vem sendo trabalhado por Serrani-Infante (1997,1998a, 1998b) e outros autores do campo da Lingustica Aplicada e da Anlise do Discurso, eque ns j retomamos em trabalhos prvios.

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    o enunciado da proposta de trabalho, no sem antes reenviar o leitor aoAnexo I, no qual inclumos o que na prpria prova chamamos de pre-texto aproveitando o jogo de sentidos que esse ttulo em espanhol sugere eque consiste nos dois quadros da histria de autoria de Quino6aos quais se

    refere essa proposta:

    Describe todo lo que hay en la segunda de las vietas de Quino: los objetos,

    los muebles, las personas, la habitacin como un todo. Tu texto, adems,

    deber cumplir con cuatro requisitos: a) contener, al menos, un objeto di-

    recto preposicionado; b) incluir el uso de marcadores espaciales; c) incluir el

    uso de los verbos haber (como impersonal), estar y tener; por ltimo,

    incluir el uso de un mientras. Algunos elementos lexicales que te pueden

    servir de apoyo son: cenicero, mantel individual, encendedor, equi-

    po de msica, sirvienta, patrona.7

    No primeiro quadro dos dois que compem a histria contada por

    Quino, aparece a sala de uma casa, com um sof, uma mesa de centro e,pendurado na parede, o quadro Guernica de Picasso. Contra uma dasparedes laterais h um mvel baixo com um abajur, um aparelho de some prateleiras para discos, garrafas e copos; e, na terceira parede, detrsda porta que d a um outro ambiente da casa e que est aberta, h umaestante com livros. O local, por efeito de alguma reunio ou minifesta quenele teria acontecido, est totalmente fora de ordem e sujo. Tudo est es-palhado sobre a mesa ou no cho: almofadas, cinzeiros cheios de guimbas,copos sujos, discos de vinil soltos fora das capas que tambm esto jo-gadas , livros que foram tirados das prateleiras, garrafas vazias e coposmeio cheios. Ainda no primeiro quadro, a dona de casa, como patroa, d asinstrues do caso empregada.

    J no segundo quadro, o ambiente aparece impecavelmente limpo eorganizado, inclusive o Guernica, que havendo sido interpretado pela

    6 Consultamos o site http://img30.exs.cx/img30/1381/Guernica.jpg para obter uma imagem demelhor resoluo para a presente publicao. Inicialmente, para sua utilizao na avaliao

    qual aqui fazemos referncia, o texto foi extrado do jornal Clarn (Buenos Aires), porm nocontamos com a data de publicao. Podemos informar que recentemente foi publicado naRevista Viva, suplemento dominical desse jornal.

    7 Observamos que sirvienta uma palavra que havia surgido num determinado contextode aula durante o semestre no qual foi aplicada a prova e que nos pareceu poder inserir-se bem no contexto da descrio das cenas elaboradas por Quino, devido ao fato de certoselementos que aparecem na materialidade da imagem entrarem em relao com um deter-minado momento histrico e, tambm, com uma certa relao entre classes sociais. Aprovei-tamos para esclarecer que hoje, de forma geral, a palavra mais frequente na Argentina seriaempleada.

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    O que quer, o

    que pode uma

    lngua?

    encarregada de limpar e pr ordem como culminao do caos apareceinserido na metonmia da organizao e de um cuidado que poderamoscaracterizar como obsessivos (de certa forma, neurticos), pois seconcretizam na normalizao das formas gurativas de estrutura abstrata

    da verso original do Picasso. Estas formas, na nova composio, sosubmetidas a uma ordem que as torna mais naturalistas e que, de acordocom a interpretao que a empregada teria feito, acompanharia melhor aorganizao introduzida na sala.

    Neste ponto, preciso esclarecer que a produo da descrio solicita-da a partir dopre-textode autoria de Quino tinha como propsito exploraro equvoco que este apresenta para produzir humor e ver como o sujeitoaprendiz era capaz de um gesto de interpretao que lhe possibilitasseescrever um texto a partir de uma composio de sentidos com regies

    no logicamente estabilizadas, o que, de um ponto de vista semntico, in-troduzia determinados desaos. Nesse sentido, tinha tambm o propsitode ver a forma como esse sujeito resolvia a tenso criada pela interveno(de alguma maneira, violenta) da empregada domstica no quadro do co-nhecido e famoso pintor.

    Para passar a apresentar o texto produzido por Elisabete, uma dasalunas do curso, cabe fazer alguns esclarecimentos: os discentes do cursode Letras Habilitao Espanhol so admitidos sem que nenhuma com-petncia nessa lngua seja exigida para o ingresso; a maioria, portanto,chega sem conhecer a lngua, embora seja preciso dizer que esse quadroest mudando nos ltimos anos. No entanto, o caso no qual vamos nosdeter ainda se encaixa na tradio, pois a aluna chegara para fazer o cursosem conhecimentos prvios de espanhol. Alm disso, preciso dizer que uma vez que consideramos que esse contexto prvio faz parte das con-dies de produo do texto que aqui analisaremos , alguns dias antes da

    avaliao escrita qual nos referimos, a aluna zera uma prova oral em

    grupo que exigia a apresentao de um trabalho previamente preparadopela prpria equipe, de acordo com instrues recebidas com antecedn-cia. Durante essa avaliao, a aprendiz no conseguiu apresentar sua partee demonstrou uma grande diculdade em se pronunciar na lngua estran-geira, mantendo-se praticamente em silncio. Em compensao, vejamosa produo que foi capaz de produzir na avaliao escrita:

    Cuando la sirvienta lleg para arreglar el living haba un lo brbaro. Ni bien

    la patrona seal lo que debera hacer, la sirvienta empez su trabajo.

    Despus de aproximadamente media hora la sirvienta sali del living y se

    fue a sacar la basura.

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    Entonces la patrona entr en el living y no poda acreditar que tudo estaba

    arreglado: los cojines del sof estaban su lugar, arriba de la mesa ratona ha-

    ba los ceniceros y sus anteojos, a la izquierda del sof estaban las botellas,

    la lmpara y el equipo de msica, detrs de la puerta los libros estaban arre-

    glados en la estantera. Luego la patrona dijo:

    l living tiene ahora un aspecto muy bueno! Pero no s lo que se pas en

    el cuadro de Picaso? Mientras la sirvienta, que ahora arreglaba otra habita-

    cin, contest:

    Es que odio a las personas desprolijas!8

    No prximo item passaremos a analisar essa produo, focalizando oque consideramos seu efeito de sentido central.

    A COERNCIA DISCURSIVA

    Sob seu efeito

    Poderamos comear observando que o texto se caracteriza por ter a es-trutura de um relato, pois conta com sequncias narrativas nas quais seinserem as descritivas que justamente constituam o foco daquilo solici-tado no enunciado e culmina numa breve sequncia dialogal.

    Com relao ainda ao que o enunciado desse ponto da prova requeria,seria preciso fazer uma observao e ressaltar que se solicitavam dois n-veis de produo que no plano do trabalho analisado aparecem entrela-ados: a produo de um saber lingustico, relativo matria da lngua(retomando o que dissemos acima com base em reexes de Payer, 2007)

    e que envolvia para mencionar apenas alguns aspectos o conheci-mento de determinados substantivos que dessem conta dos objetos dosquadros a descrever (lxico), de marcadores de espao, da diferena entreo funcionamento de estar e haver na lngua espanhola; ou seja, o quese solicitava era o saber de uma srie de contedos e formas da lnguaque se entrelaava a um saber metalingustico. preciso esclarecer queeste ltimo, ao qual se faz referncia no prprio enunciado mediante aintroduo de certas designaes (objeto directo preposicionado, por

    8 Agradecemos Elisabete a cpia do texto realizado na prova que nos forneceu e, tambm,o fato de ter possibilitado, mediante sua produo, a reexo que aqui desenvolvemos. Atranscrio que aqui realizamos cpia da produo, ainda sem nossas observaes. No Ane-xo II, inclumos o texto tal como foi apresentado na referida prova escrita, com a correocorrespondente e, tambm, com algumas anotaes realizadas pela aluna posteriormente, a

    partir das observaes dessa correo.

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    O que quer, o

    que pode uma

    lngua?

    exemplo), explorado ao longo das vrias disciplinas do curso a partir dediversos dispositivos tericos (gramtica descritiva, teoria do texto, an-lise do discurso entre os principais) que descrevem ou interpretam aorganizao e/ou o funcionamento da ordem da lngua9, tirando proveito

    do efeito de exterioridade que produz a relao lngua estrangeira/sujeitodo aprendizado. Inclusive, preciso esclarecer, tambm, que essa relaode exterioridade trabalhada com vistas a atender ao fato de que essesujeito, como aluno do curso de Letras, est sendo formado como futurodocente e/ou pesquisador. Os saberes relativos matria da lngua e aoconhecimento metalingustico de que falamos aparecem na produo queanalisamos, como mostraremos, vinculados memria discursiva que Or-landi dene como o saber discursivo que torna possvel cada dizer e do

    sustento a cada tomada de palavra (2000, p. 31).

    Na composio de Elisabete, possvel detectar marcas de certos desli-zes que podemos vincular a posies-sujeito relativas lngua portuguesado brasileiro, relao que uma palavra cria para um sujeito a respeitodo referente (cf, Payer, 2008) nessa lngua: tudo, acreditar sobreesta ltima voltaremos mais adiante. Porm, essas marcas que funcio-nam como indcios de certos deslizes no chegam a afetar um efeito dealta estabilidade na produo de sentidos em lngua espanhola, que cha-maremos, de acordo com Orlandi, de coerncia discursiva (1996, p. 52 esgs.). Relacionamos esta coerncia, conforme o raciocnio da prpria au-tora, com o efeito de adequao descritiva quanto histria de Quino,porm no sem ressaltar que este, por sua vez, efeito de uma adequa-o que, na verdade, se d por outro tipo de coincidncia: a que tem lugarcom relao s formas de dizer relativas ao funcionamento da memriana lngua (espanhola) (cf. Payer, 2008) e se sustenta numa exterioridadeque no a do mundo, mas a do interdiscurso. Disto decorre o efeito de ade-quao ao mundo. A trama textual e o alto efeito de coeso que esta temno trabalho que analisamos se sustenta em regies do interdiscurso se

    submetendo a um Outro: ao sistema de aluses, de relaes de sentido, de

    antecipao do outro (o interlocutor), como veremos, predominantes nofuncionamento discursivo dessa lngua. Poderamos acrescentar, tentan-do atingir um maior grau de clareza, que o interdiscurso se projeta na ho-rizontalidade do intradiscurso mediante formulaes que outorgam a esse

    dizer uma certa e determinada consistncia. Nesse sentido, observamosque h um fecho que faz culminar a consistncia textual na produo deum dilogo que analisaremos mais em detalhe.

    9 Para a distino entre organizao e ordem da lngua, cf. Orlandi, 1996.

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    Em contraposio ao fragmento haba un lo brbaro aparecem for-mas como sacar la basura, arreglar, arreglado, alm da srie de ob-jetos, ordenados no espao, que aparecem adequadamente designados10;e a isto deve se acrescentar que tambm os marcadores temporais conse-

    guem dar conta da progresso narrativa. Essa srie de aspectos nos levaa pensar que h no texto um deslocamento importante com relao aofuncionamento do pr-construdo segundo o qual o espanhol uma lnguafcil. Este mecanismo de antecipao da lngua no parece fazer parte dascondies de produo desta escrita, marcada por indcios de que o sujeito

    est num processo de identicao simblica (que acontece na produo

    discursiva) e, portanto, de assujeitamento ao funcionamento desse sim-blico.

    Se retomarmos o silncio mantido pela aprendiz durante a referida

    prova oral, uma cena anterior em nosso relato da composio queestamos analisando, poderamos interpret-lo como um efeito de indeter-minao e como indcio de uma posio sujeito taciturno ou indetermina-do (cf. Lemos, 2008). Em contraposio, o texto escrito apresenta marcasde uma forte determinaonos vrios sentidos que passaremos a designar.Em primeiro lugar, pelas formas lingusticas que tm a ver com especi-car, distinguir, identicar, delimitar, referir s quais j aludimos aqui;

    todas operaes que tem a ver, segundo Payer (1995, p. 44), com base em

    Haroche (1992), com afuno da referncia: a relao palavra-coisa (as for-mas lexicais); a quanticao (os diversos determinantes), a localizao

    espacial, a progresso temporal; uma srie de aspectos que responderiam como observam essas autoras forma como os estudos da linguagemconcebem a noo de determinao11. Em segundo lugar, para poder con-siderar esta noo a partir de um ponto de vista discursivo, poderamosdizer que essa srie de marcas lingusticas funcionam como indcios deque a posio ocupada pela aprendiz a de um sujeito determinado,que no se deixa vencer pelo desnimo, pela dvida, que no se deixaatrapalhar (cf. Payer, Ibid., p. 46) o que poderia ser visto como efeitode uma certa obedincia ou submisso didtico-pedaggica, mas que aqui,como o leitor bem deve ter observado, preferimos ligar a um outro lugar

    10 preciso dizer que aparecem designaes como cojines e lio brbaro que se vincu-lam a diferentes memrias regionais e que, neste nvel do trabalho, no consideramos umproblema.

    11 Neste sentido, preciso explicitar que o enunciado do exerccio da prova buscava veri-car a produo da referencialidade na lngua estrangeira, ligada muito especicamente a

    operaes de organizao no espao.

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    de interpretao12.No entanto, ainda faltaria dizer que, neste texto, o efeito mais forte de

    determinao talvez esteja na produo, por efeito da funo-autor (cf.Gallo, 1992), do fecho, que tem a ver com a formulao colocada em boca

    da empregada: Es que odio a las personas desprolijas!, na projeo deuma co e de um gnero dramtico (cf. Alves da Silva, 2006). Ao co-mentrio da patroa: l living tiene ahora un aspecto muy bueno!, segueuma pergunta que a empregada assume que deve responder: Pero nos lo que se pas en el cuadro de Picaso?; e o faz mediante uma explica-tiva que inclui a designao a las personas desprolijas, com um objetodirecto preposicionado perfeitamente estruturado e que d resposta solicitao realizada no enunciado do exerccio13. A formulao se estru-tura como uma generalizaco que no deixa de referir-se, por inclui-la,

    de forma certeira e rme interlocutora patroa. A estrutura que aquiaparece vai ao encontro das formas de dizer do espanhol, se condizendocom a memria na lnguaque, segundo Payer, se vincula repetio, isto, mais elementar possibilidade de reconhecimento do mesmo (2006,p. 38). E, neste fragmento, essa estrutura funciona como acontecimento(cf. Pcheux, 1990) pois, de nossa perspectiva, indcio de que esse sujeitoest num processo de inscrio em discursividades da lngua alvo; nestecaso, discursividades ligadas abrupo nas formas de interlocuo (cf.Serrani-Infante, 1994) mais regulares no funcionamento dessa lnguaestrangeira ou, se quisermos, a um decir sin pelos en la lengua, a umdizer curto e grosso (cf. Zoppi-Fontana; Celada, s.d.). Vale a pena resgataraqui o gesto da aprendiz que interpreta o tamanho da empregada e asatribuies determinadas e ecientes (at ultrapassando certos limites)

    que esta assume, pois esse gesto d corpo estrutura dessa interveno e,ao mesmo tempo, tambm reformula o aspecto humorstico envolvido no

    pre-texto, mediante uma leitura que brinca com a subordinao no fazer euma certa insubordinao no dizer.

    Neste sentido, podemos dizer que nessa produo detectamos indcios

    12 Essa espcie de obedincia didtico-pedaggica que implica, de uma certa perspec-tiva, que a aprendiz estudou a matria no aqui negada; porm gostaramos que elaaparecesse claramente vinculada ao que designamos, a partir de um lugar terico especco,como processo de identicao.

    13 Esse objeto directo exige em espanhol a preposio a pelo fato de ter as marcas dohumano e determinado, como se costuma explicar nesse trabalho de organizar o fun-cionamento da lngua estrangeira em sala de aula. Cabe salientar que uma estrutura quedicilmente aparece na produo dos primeiros nveis de espanhol do aprendiz brasileiro.Aproveitamos para esclarecer que os adjetivos prolijo e desprolijo haviam sido trabalhadosdurante o curso no qual se aplicou a prova.

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    de que a lngua espanhola, como uma funo, est atravessando o campode uma subjetividade, e esse aprendiz, como enunciador, passa a ocuparuma posio de forte determinao (inclusive porque atribui um lugar aooutro, como desprolijo, e toma posio com relao a essa atribuio:

    a do dio), o que implica que esse sujeito j est afetado por um saberinterdiscursivo (cf. Serrani-Infante, 1998), relativo a formaes discursi-vas predominantes no funcionamento da lngua estrangeira. Aqui vemosde forma expressiva o que j colocvamos num trabalho prvio, no qual,com base em formulaes de Guimares (1993), entravam em confronto

    com certos conceitos do Benveniste, dizamos que no se trata, no ato deenunciao, de que um sujeito ponha a lngua em funcionamento pelo fatode apropriar-se dela (CELADA, 1999, p. 308). Segundo Guimares, a lnguafunciona na medida em que um indivduo ocupa uma posio de sujeito

    no discurso e, isto, por si s pe a lngua em funcionamento, por afet-la pelo interdiscurso (1993, p. 28-29). Aqui temos uma posio sujeitodeterminado que no ltimo fragmento vinculamos abrupo e que fazchegar a uma culminao, o efeito de coerncia discursiva que atribumos produo, porque essa posio faria com que a estrutura lingustica sesubmetesse, no acontecimento da identicao, a certas regies do inter-discurso, e as autorizaes que estas exercem ao instaurar o que dizvel

    numa lngua.H, nesse sentido, uma forte eccia imaginria (Orlandi, 2000, p. 42),

    no que se refere srie de antecipaes que nessa fala so projetadas, in -clusive naquilo que tem a ver com o funcionamento da interlocuo nalngua espanhola; e essa eccia imaginria d corpo estrutura da ln -gua14. Para avanar um pouco na reexo, vamos colocar esta produoem confronto com uma outra.

    Sob a no efccia do imaginrio que compromete a coerncia discursiva

    O fragmento que passamos a apresentar foi produzido na disciplina Es-crita e argumentao em Lngua Escrita durante o primeiro semestre de200415. Os alunos, que trabalharam em dupla, deviam dar resposta a um

    14 Cabe observar que o funcionamento do signicante sirvienta pode ter cado vinculado,na (des)continuidade das lnguas, memria discursiva do portugus e, no mbito doms-tico, ao signicante empregada e s relaes de servido que este carrega, o que pode teracentuado a carga de abrupo (e de uma certa insubordinao) na resposta que dada patroa.

    15 O elenco das disciplinas relativas a lngua no Curso de Letras/Habilitao Espanhol na-quele momento era o seguinte: Lngua Espanhola I, Lngua Espanhola II, Lngua Espanhola III,

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    exerccio que tinha como objetivo fortalecer a compreenso do conceitode condies de produo da teoria da AD, pois ele viria a ser produtivo

    na compreenso de aspectos relativos ao processo de argumentar.No Anexo III inclumos a histria, mais uma vez de autoria de Quino,

    que produz humor ao redor de uma falha na produo dos mecanismos deantecipao acerca do que seria possvel oferecer a uma cliente de umaloja de jias nas16. O quadro mostra que o fato de oferecer salame na pon-ta de uma faca de cozinha numa mesa na qual, do lado das jias, h umatbua de cortar frios, uma cestinha com bolachas e migalhas espalhadas leva os patres e/ou gerentes da loja a chamar a ateno do funcionrio,

    ainda na frente da cliente, mediante a seguinte fala:

    Apreciamos muy sinceramente su esfuerzo personal para brindar una me-

    jor atencin al cliente, ... Pero hay niveles, Seor Rossi, hay niveles!!

    A tarefa solicitada previa que os alunos da disciplina registrassem porescrito o que esses patres e/ou gerentes poderiam dizer ao funcionrio

    em privado, sem a presena da distinta cliente. A referida dupla de alunasescreveu:

    Seor Rossi, por Dios! Qu hiciste? No ests en un restaurante o en tu casa para que

    sirvas ambres. No sabes t que para cada situacin hay maneras diferentes de

    tratar a las personas. Tienes que adaptarte al ambiente de una joyera. Piensas que

    a todos los clientes les gusta comer en una joyera? Estamos en un establecimiento

    de alto nivel, por lo tanto portate como una persona de alto nivel.Les sirvacaf.17

    Poderamos dizer que a interlocuo no atinge o nvel de coernciadiscursiva que reconhecemos no caso da produo que analisamos no itemanterior. E consideramos que isso tem a ver com dois aspectos. De um lado,com que possvel constatar uma interrupo do efeito de coeso: o fatode dirigir-se ao interlocutor como Seor Rossi exigiria manter uma se-gunda pessoa do singular formal (reproduzindo a forma como passado

    Prticas orais em Lngua Espanhola, Escrita e argumentao em Lngua Espanhola, Variedadee Alteridade em Lngua Espanhola, Tpicos contrastivos acerca do funcionamento da lnguaespanhola e do portugus brasileiro I e II sendo todas elas semestrais.

    16 O texto de Quino foi extrado do jornal Clarn, infelizmente no contamos com a data depublicao.

    17 Agradecemos a Josilady Xavier e Alessandra Gomes da Silva a autorizao para trabalharcom sua produo em nossa pesquisa e, tambm, pelo fato de nos dar pistas para seguir inda-gando sobre algo de que sabemos to pouco.

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    o contedo nas prticas de ensino dessa lngua), que corresponde ao usteddo espanhol; no entanto, irrompem as formas de um tratamento infor-mal, que se mantm ao longo dessa fala com um gesto de forte inves-timento que se projeta no simblico e que devemos observar pelo esforo

    que ele implica at nos depararmos com a forma que destacamos Lessirvacaf, que resulta no abandono dessa forma de tratamento.Reconhecemos o fragmento les sirva como pista de que o sujeito

    ocupa a uma posio simblica relativa ao funcionamento de sua lnguabrasileira: uma posio que reconhecemos como sendo de oralidade (cf.Celada, 2002). Essa forma impossvel em espanhol e, nesse caso, teriacabido Srvales caf 18. A interpretao nos permite dizer que o gestoque d corpo formulao desse fragmento d corpo textualidade toda,cujo tom no se condiz com a tenso que deveria aparecer e que pos-

    svel constatar no quadro do Quino mediante a expresso dos rostos, dagestualidade dos corpos, e da fala contida e controlada que pronunciadana frente da cliente por ambos os patres e/ou gerentes. Essa forma

    les sirva poderia ser interpretada como um gesto que descomprime aviolncia que implica para o brasileiro segurar o t inclusive porque ovaivm entre segunda e terceira pessoa prprio das interlocues orais

    do brasileiro e que funciona justamente no sentido de evitar a abrupocom o outro, de se aproximar do outro, de deixar o outro chegar.

    O enunciado com que conclui o dilogo do texto que analisamos emprimeiro lugar o de Elisabete pode ser interpretado como pronun-ciado a partir de uma posio simblica que se vincula a discursividadesmarcadas por um grau mais alto de abrupo, tais como as dene Serrani-

    Infante (1994). A partir das observaes dessa autora, pensamos que esse

    enunciado funciona como indcio de um processo de identicao com um

    simblico e que estaria operando a a lngua como matria e como instru-mento, como um dispositivo atravs do qual algo se sabe; no caso, umsaber interdiscursivo, ligado ao funcionamento das relaes de sentido

    18 Para sintetizar o que possvel dizer aqui, citamos Pronominais de Oswald de Andra-de (1990): D-meum cigarro / Diz a gramtica / Do professor e do aluno / E do mulato sabi-do. / Mas o bom negro e o bom branco / Da Nao Brasileira / Dizem todos os dias / Deixe dissocamarada / Me dum cigarro [grifos nossos]. A passagem da forma d-me forma me d,que implica uma forte identicao e gozo no poema, parece estar muito prxima do deslo-camento que produzem aqui os sujeitos da aprendizagem, no caso, na lngua espanhola quetratam ainda como se fosse a lngua portuguesa. De outro lado, chegar no Srvale teria sig-nicado chegar muito perto dos sentidos com os que entra em relao o d-me do poema.Para uma anlise mais em detalhe, ver Celada, 2004 e 2002.

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    e dos mecanismos de antecipao na lngua espanhola. Ligado a formasde projeo imaginrias que do conta de uma eccia na elaborao eproduo simblica; teramos a um claro caso daquilo que Orlandi deno-mina eccia do imaginrio e qual j zemos referncia (cf. 2002, p.

    42). Talvez o distanciamento que possibilita a projeo ccional e, tam-bm, o fato de que se trata do espao de enunciao domstico, propicieessa enunciao que faz dizer empregada algo uma verdade que,inclusive, poderia coloc-la em risco19.

    O signifcante na (des)continuidade entre as lnguas

    No fragmento Es que odio a las personas desprolijas! a culminao daabrupo se d no acontecimento do signicante destacado, indicador de

    um trabalho que implica a interrupo nas rotinas da memria nalnguaportuguesa, para desvincul-lo de todas as relaes de sentido que, pelaproximidade com prolixo, convoca. Isto anda exatamente no sentidocontrrio apario no texto da forma acreditar, que j mencionamos.E deveramos acrescentar que quando o enunciado no qual desprolijasaparece, colocado em relao com as condies de produo do texto

    e especicamente com a cena da prova oral que aqui convocamos, tra -balhando na fronteira, que denimos como uma relao de (des)conti-nuidade entre o espanhol e o portugus (cf. Celada, 2008) atingindo umaalta capacidade de signicao. De um lado, no que se refere ao espanhol,

    atinge uma forte expressividade na interveno que o sujeito enunciadoratribui empregada, mostrando o efeito de um alto investimento e de umaforte inverso por parte desse aprendiz, que consegue dar mostras de es-tar elaborando um hiato entre as lnguas. Assim, afetado pelas relaes

    de refrao20, no ca merc do efeito de reexo a que o submete amemria do espanhol, embutida no funcionamento do portugus (Ibid.), e capaz de desvincular uma imagem acstica a relativa a desprolijas(enquanto imagem reetida no espelho do portugus, o simblico que o

    constitui) de todas as ressonncias semnticas e discursivas que para eledispara nesta lngua e das relaes referenciais que pode travar. De outro,

    nos leva a pensar que tambm funciona expressivamente em portugus:des/prolixas seriam as pessoas que no usam palavras em demasia aofalar ou escrever, o que no limite poderia entrar em relaes de senti -

    19 Talvez, se se tratasse de uma interlocuo entre patroa e empregada domstica referidaa aspectos da prpria relao trabalhista entre elas, a determinao que culmina no efeito deabrupo que analisamos no apareceria.

    20 De quebra, de desvio da direo dos sentidos.

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    do com no falar, car em silncio 21. Nesse sentido, des/prolixaspoderia ser interpretado como a culminao do processo de escrita e deinscrio na lngua espanhola com esse alto grau de determinao que lheatribumos, e estaria falando da taciturnidade e da indeterminao do su-

    jeito da primeira cena, que apareceria designado na classe das des/pro-lixas pelo euda enunciao aquele que empresta sua voz, na projeoccional, ao eu da empregada.

    Passaremos, neste ponto, a tirar algumas concluses para encerrar este

    texto.

    SOBRE A NECESSIDADE DE INTERCEPTARO PROCESSO DE INSTRUMENTALIZAODA LNGUA ESPANHOLA NO BRASIL

    Encarar o processo de ensino-aprendizado de lngua estrangeira, em nos-so caso de espanhol, de um modo que permita explorar o que essa lnguacomofuno (como instrumento e matria, no sentido de Revuz exploradopor Payer) pode mobilizar no campo de uma subjetividade, implica trabalhartendo como horizonte a possibilidade defazer acontecer essa lnguano sujei-to(cf. Orlandi, 1998). E isso quer dizer que nesse campo

    - podero ir tendo lugar tmidas mexidas na relao de identicao

    que pode se apresentar como j travada a respeito do interdiscurso, sobdois aspectos: a respeito de certos pr-construdos, pelo fato de esse sujei-to estar tomado ou capturado pelos sentidos naturalizados ou pelas evi-dncias que tais pr-construdos implicam; e a respeito da articulaoque,segundo Pcheux (1988, p. 164), constitui o sujeito em sua relao com osentido, que opera como premissa no explcita que suporta a evidnciade uma substituio orientada por inferncia ou implicao (cf. Zoppi-Fontana; Celada, s.d.) e que se relaciona com os efeitos produzidos pelasintagmatizao. Isto redundar na desconstruo de certos esteretipossobre si e sobre o outro e em deslocamentos subjetivos que incidam sobreas formas de horizontalizar ou sintagmatizar o interdiscurso;

    - podero ser ampliadas e expandidas pensemos no caso do espanhole do portugus as relaes de sinonmia e as relaes de sentido a partir

    de certos signicantes, aproveitando o leque que abre a relao de (des)

    continuidade entre as lnguas (cf. Celada, 2008).Assim, de forma mediata, imperceptvel e gradativa, essa lngua es-

    trangeira poder dar sustento a saberes ligados interlocuo, escrita,

    21 Cf. Antonio Houaiss, Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa. Editora Objetiva, 2001.

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    leitura, s formas de interpretar. Esclarecemos que apenas enumeramosalguns dos efeitos de um processo que consideramos que afetar cada su-jeito na sua singularidade e de uma forma qual a maioria das vezes notemos acesso.

    Isto signica que, nesse horizonte, deve se superar o que Orlandi (1998,p. 208) chama de repetio emprica, isto , dizer o mesmo, o idnti-co (efeito papagaio); e, tambm, o que a prpria pesquisadora denomi-na repetio formal e que dene como a tcnica de produzir frases,

    exerccios gramaticais, que no fazem trabalhar o sujeito e a memriadiscursiva (Ibid.). Esta ltima repetio se diferencia da primeira pelo fatode focalizar a tcnica, ou seja, o modo de fazer um dado exerccio (Ibid.).Em nosso horizonte, dever-se-ia pretender atingir o trabalho com o queessa pesquisadora denomina repetio histrica sem prescindir das duas

    primeiras pois ambas so necessrias e inevitveis e podem funcionarcomo suporte da produo da terceira. Segundo a autora, esta repetioinscreve o dizer no repetvel enquanto memria constitutiva, saber dis-cursivo, em uma palavra, enquanto interdiscurso: a rede de liaes que

    faz a lngua signicar para o sujeito que, assim, tambm signique (Ibid.).

    A lngua espanhola e o portugus brasileiro entram numa relao mui-to especca no Cone Sul22pois, de nossa perspectiva, devem ser pensa-das como lnguas que impliquem o conhecimento do outro e de si e, paratanto, acreditamos que suas prticas de ensino devam ser pensadas, talcomo estamos propondo, como processos de subjetivao que atravessamo campo de uma subjetividade e trabalham a memria discursiva. Nestesentido, retomando o que dissemos no incio deste texto, consideramosque a instrumentalizao a que so submetidas as lnguas estrangeirasno mundo contemporneo no favoreceria esses processos, pois esta, denossa perspectiva, pressupe um sujeito pragmtico e a necessidade de

    atender s suas urgncias, satisfazendo a imagem de dominar a lngua,muito mais do que solicitando dele que se lie a um saber ou a uma mem-ria. A estrutura da lngua submetida a a instncias do imperativo da co-municao23e o risco de que possa ser sacricado o que o espanhol (comoqualquer outro simblico) quer ou solicita do campo de uma subjetividade

    22 Lembremos nesse sentido dos dois gestos de poltica lingustica muito signicativos: asano da Lei n.11.161 (de agosto de 2005), que determina a oferta obrigatria dessa lnguano ensino mdio da escola brasileira; e a Lei CD 107/07, que determina a oferta obrigatriado portugus na escola mdia argentina, e que foi aprovada pela cmera dos senadores em17 de dezembro de 2008.

    23 Fanjul (2008), de nosso ponto de vista, consegue mostrar isso de forma contundente naanlise que desenvolve de um corpus especco.

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    e o que nesse campo, como lngua, pode fazer acontecer:- explorar o gozo diante da variedade (como conrmado por Sousa,

    2007), da a importncia de que sua heterogeneidade possa ser trabalhadade forma proveitosa24;

    - explorar a relao dessa lngua com o interdiscurso e as vrias for-maes discursivas que em seu funcionamento prevalecem; isto implicahistoricizar a lngua, e no torn-la neutra, de forma a evitar o processode gramaticalizao que sofreu o ingls para se tornar a lngua veicularque hoje se ensina na escola brasileira25.

    Nesse sentido, parece-nos importante sublinhar com base em ree-xes de Payer (2008) que, ao instrumentalizar uma lngua, do que se

    abriria mo no tanto da prpria lngua que corre o srio risco de serapagada como matria e instrumento; do que a se abre mo da relao

    que com uma lngua neste caso, a espanhola um sujeitopode tramar. Po-deramos evocar, por sua fora expressiva, a relao com a lngua materna(com a oralidade) da que se abre mo na escola pblica brasileira26, ou arelao subjetiva qual cotidianamente se renuncia quando se trabalhao ingls nessa mesma escola. De nosso ponto de vista, corre-se o risco deque caduquem maciamente os passaportes a metfora de Orlandi (cf.1998) que dariam direito a (des)/(re)/territorializaes, sem destino

    xo ou passvel de ser previsto para esse feixe instvel de traos, potencial

    de capturas ou identicaes, que constitui uma identidade.

    Recebido em dezembro de 2008 / Aceito em maio de 2009

    24 A heterogeneidade deveria ser explorada nos dois nveis que distingue Serrani-Infante(1997b), no da diversidade e no da alteridade.

    25 Cf. o histrico que realiza Sousa a respeito desse processo de gramaticalizao e da des-vinculao dessa lngua das memrias especcas e particulares locais (2007, cap. 2 da parteII).

    26 Ainda estamos tomando como base formulaes de Payer (id.).

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    Disponvel em: http://img30.exs.cx/img30/1381/Guernica.jpg

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