Larissa Pelúcio (1)

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  • 5/21/2018 Larissa Pel cio (1)

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    Tradues e tores ou o que se quer dizer quando dizemos

    queer no Brasil?

    Larissa Pelcio*

    RESUMO: Desde que aportou no Brasil no incio deste sculo, sobretudo via obra da filsofa JudithButler, a teoria queer tem sido seuida, criticada, contestada e pouco problemati!ada em suas implica"#es

    epistemolicas mais profundas$ %inda que se tenha, nacionalmente, empreendido sinificativos e

    consistentes debates sobre os aportes que esta vertente dos saberes subalterni!ados tem suscitado, ainda

    s&o poucas as discuss#es que procuram pensar nessas contribui"#es no conte'to especfico brasileiro, no

    qual as cateorias de (nero, se'ualidade, ra"a)etnia, se interconectam de maneira sinular, confiurando

    e'peri(ncias muito distintas daquelas discutidas por autoras e autores estraneiros filiados a esta corrente$

    % provoca"&o aqui de pensar antropofaicamente, buscando nessa refle'&o diloos frutferos com os

    feminismos, as leituras ps+coloniais, com (nfase naquelas pensadas a partir da realidade latino+

    americana, na tentativa de tencionar nossas produ"#es pensadas a partir de realidades locais diante de

    quest#es que tambm s&o transnacionais$ -ais que tradu"#es do .queer/, a ideia aqui pensar em uma

    teoria informada por essas produ"#es, mas que ouse se inventar a partir de quest#es prprias de nossa

    e'peri(ncia marinal$ 0esta apresenta"&o, tomo a curta, mas intensa, produ"&o do antroploo arentino

    0stor Perlonher como um dos marcos para a elabora"&o de uma .teoria cu/ latino+americana, mas,

    sobretudo brasileira, aquela produ!ida fora dos reimes falooc(ntricos e heteronormativos da ci(ncia

    can1nica$

    PALAVRAS!"AVE:teoria queer2 teoria cu2 epistemoloias do 3ul, 0stor Perlonher

    ABSTRA!T: 3ince its arrival in Bra!il at the beinnin of the ne4 centur5, queer theor5 and

    particularl5 that variant of it lin6ed to the 4or6s of Judith Butler has been follo4ed, critici!ed, contested

    and 5et hardl5 problematici!ed in its deeper epistemoloical implications$ %lthouh Bra!ilian scholars

    have emplo5ed meanins and consistent debates reardin the chanes that this a'is of subaltern

    6no4lede has provo6ed, there are still fe4 discussions 4hich see6 to thin6 about these contributions in

    the specific Bra!ilian conte't, in 4hich cateories of ender, se'ualit5, race and ethnicit5 lin6 and cross

    in unique 4a5s, creatin e'periences that are quite different from those enerall5 discussed b5 forein

    queer theorists$ 7n the present article, 7 am tr5in to provo6e an anthropophaic reflection, see6in fruitful

    dialoues 4ith feminisms and post+colonial te'ts, emphasi!in those that focus upon Latin+%merican

    realit5, in an attempt create tension in our productions thouht in terms of local realities as these face

    questions and issues that are also transnational$ 8he idea here is to o be5ond translatin .queer/, to4ards

    thin6in of a theor5 informed b5 these productions, but 4hich also dares to invent itself throuh

    questionin our o4n marinali!ed e'perience$ 7n the present article, 7 loo6 at the short but intense

    production of %rentine anthropoloist 0stor Perlonher, ta6in it as one of the startin points for the

    elaboration of a Latin %merican 9but mainl5 Bra!ilian: .teoria cu/; that 4hich is produced outside of the

    phallocentric and heteronormative reimes of canonic science$

    * Professora da ilho e do Prorama de Ps+

    ?radua"&o em @i(ncias 3ociais$ Pesquisadora colaboradora do 0cleo de =studos de ?(nero Pau$

    AevistaPeridicusC edi"&o maio+outubro de EF444$portalseer$ufba$br)inde'$php)revistaperiodicus)inde'

    http://www.portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/indexhttp://www.portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/index
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    #E$%OR&S:Gueer theor52 @u theor52 3outh epistemolo5, 0stor Perlonher

    RESUM'(: 8ras haber lleado en Brasil, en el comien!o de este silo, marcadamente por medio de la

    obra de la filsofa Judit Butler, la teora queer ha sido asimilada, criticada, contestada 5 poco

    problemati!ada de manera ms profundi!ada acerca de sus implicaciones epistemolicas$ %unque que se

    haia, nacionalmente, desarrollado sinificativos 5 consistentes debates acerca de los aportes que esta

    vertiente de los saberes subalteni!ados ha provocado, an son pocas las discusiones las cuales buscan

    pensar en estas contribuciones en el conte'to especfico brasileHo, en cu5o marco las cateoras de

    nero, se'ualidad, ra!a)etnia se interconectan de manera sinular, performando e'periencias mu5

    distintas de aquellas tratadas por autoras 5 autores e'tranIeros comprometidos con el queer$ La

    provocacin en este artculo es de pensar antropoficamente, intentando en esta investiacin diloos

    fructferos con el feminismo, las lecturas post+coloniales, con nfasis en aquellas formuladas a partir de la

    realidad latinoamericana, intentndose tensionar nuestras producciones frente a cuestiones que son

    transnacionales$ -s que traducciones para el .queer/, la idea es pensar una teora informada por estas

    producciones, pero que aventrese a inventarse a s misma a partir de nuestra e'periencia marinal$ =n

    este articulo, tomo la corta pero intensa produccin del antroploo arentino 0stor Perlonher comouno de los marcos para la elaboracin de una .teora cu/ latinoamericana, con nfasis en las discusiones

    brasileHas$

    PALABRAS!LAVE: 8eoria queer2 teora cuier2 epistemoloas del sur, 0stor Perlonher

    )* O +u ,de- Pre+iado

    Presos em um enarrafamento na -arinal 8iet(, em 3&o Paulo, um amio e euconversamos sobre se'o e tecnoloias$ =le me perunta se I li Testo Yonqui,ent&o, a

    ltima publica"&o da filsofa espanhola Beatri! Preciado$ Dio que, coincidentemente,

    estou fa!endo naquele momento a leitura, avidamente, meio adicta$ % conversa nos

    anima$ %tropelamos as nossas falas, interrompemos abruptamente a linha ruosa das

    nossas arumenta"#es para ouvir um ao outro$ =m meio aquele cenrio distpico,

    discutimos a era farmacopornorfica$ ?o!amos com Preciado poltica, intelectual e

    esteticamente$

    Aimos, porque aquela conversa parecida funcionar em ns como aquele el que

    Beatri! Preciado espalha pelos ombros e ventre, estimulando+nos $ 0ossas inquieta"#es

    se misturam ao .testoel/ e esse ruda nas palavras que, ditas em espanhol, parecem

    mais potentes, pelo menos para mim$ alo de colonial nesse idioma quando vem da

    1 0este livro, Preciado narra sua e'peri(ncia com a autoaplica"&o de testosterona em el$ %o tom

    biorfico a autora acrescenta refle'#es tericas oferecendo+nos uma leitura estimulante, profunda e, porve!es, parado'al, uma ve! que certas aventuras narradas s&o desconcertadamente androc(ntricas$ -asisso uma outra estria$

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    Pennsula 7brica$ -eu amio concorda e acha a a brecha para e'primir suas

    inquieta"#es com aquele te'to especificamente, com a autora de uma forma abranente$

    3ua proposta se inicia pela prpria crtica colonial, provocando minha

    imaina"&o com a possibilidade epist(mica de pensarmos a partir de alumas tor"#es,

    de, com essas investidas, tra!ermos Preciado para a %ma!1nia, assim como um dia,

    Laura Bohannan 9EEK: precisou levar 3ha6espeare para a selva, para descobrir que n&o

    h uma nature!a humana e'atamente iual no mundo inteiro e que as interpreta"#es dos

    dramas humanos s fa!em sentido em conte'to$ %inda que, muitas ve!es, cheuemos a

    duvidar da pot(ncia universali!ante dos conceitos e da matri! cientfica, acabamos nos

    esfor"ando no sentido de torn+los, sim, universais$ %ssim, nos empenhamos, por ve!es,

    em tradu"#es, que, como tal, t(m rande potencial para trarem+se$

    professor Pedro Paulo Pereira, meu companheiro naquela viaem tecnopolticapelas veias entupidas de 3&o Paulo, indaa .sobre as potencialidades do queer nos

    trpicos/$ 3uas inquieta"#es s&o tambm linusticas, como tal, s&o polticas$ .@omo

    tradu!ir a e'press&o queerM averia possibilidade de o esto poltico queer abrir+se para

    saberes+outros ou estaramos presos dentro de um pensamento sem que nada de novo

    possamos propor ou vislumbrarM 9EN, p$ NO:$ =le tem se empenhado nesse e'erccio

    e produ!ido refle'#es importantes que deslocam a lica do .centro/ para outras .scio+

    licas/ forIadas nas e'peri(ncias coloniais, nos apaamentos de saberes que s&o hoIe

    como palimpsestos que nos esfor"amos em reconhecer, em adivinhar suas lacunas para

    fa!(+los falar$ quando nos damos conta de que nosso vocabulrio ainda escasso

    quando tratamos de buscar outras maneiras de di!er sobre ns$ .='iste na posse da

    linuaem uma e'traordinria pot(ncia/, aprendemos com >rant! >anon 9EEQ RSKT,

    p$ NF:$

    Pensadoras e pensadores queer fi!eram uso, desde o incio de conforma"&o desse

    campo de proposi"#es tericas, dessa pot(ncia$ %dotaram a ofensa, a identidadeatribuda e nunca reivindicada, como seu luar poltico; queer$ =m inl(s, I sabemos, o

    termo ofensivo$ . como te chamam na escola quando querem te !oar/ N, e'plica a

    antroploa norte+americana de oriem latina, -arcia choa$ ela ainda que adverte

    que se deve ter muito cuidado com a palavra queer, pois se trata de uma cateoria local

    2 % %ntroploa norte+americana descreve neste delicioso te'to sua e'peri(ncia etnorfica ao contarpara os 8iv, povo da Ufrica cidental, a tradia de amlet, o qual ela considerava uardar um sentidofundamental comum, independente da audi(ncia, uma ve! que, supostamente, trataria de dramas

    universais da alma humana$ %o fim, os anci&os 8iv acabam ensinando V pesquisadora outra forma deentender a estria$

    3 8radu"&o minha do oriinal; . es como te llamaban en la escuela cuando se burlaban de ti/$

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    estadunidense que tem viaIado Iustamente porque aquele pas mantm ainda certa

    heemonia na produ"&o de conhecimento, o que permite a publica"&o e circula"&o de

    te'tos norte+americanos por todo o mundo, de modo que o termo .queer/ tem viaIado

    muito, .mas n&o tem a mesma resonWncia em todos os luares/$ 9choa$ EEF; KF$

    8radu"&o minha:$

    >elipe Avas 3an -artn, editor da Aevista Disidencia Sexual y Torcida, de

    estudos queer, conta de sua e'peri(ncia ao tentar e'plicar para duas estudantes

    estraneiras qual era a linha editorial da revista$ .X@uir/$ =s de teora XcuirY/$

    Z.@uir/M +Aepitieron ellas, mirndose intriadas+ ZGu es .cuir/M

    =s .cuir/, .cuir/, como el insulto homofbico, o como .raro/ en inls$ % esas alturas5a estaba anustiado$ .@uir/, .cuier/, .cuiar/$ Aepeta esticulando 5 alterando losmodos de pronunciacin, intu5endo que el problema poda estar radicado ah$

    De pronto las rinas se miraron 5 e'clamaron; %h[$$$ .queer/, .queer/[ 9Aivas, E;KS:$

    8ambm em portuu(s .queer/ nada quer di!er ao senso comum$ Guando

    pronunciado em ambiente acad(mico n&o fere o ouvido de ninum, ao contrrio, soa

    suave 9cuier:, quase um afao, nunca uma ofensa$ 0&o h rubores nas faces nem vo!es

    embaradas quando em um conresso cientfico lemos, escrevemos ou pronunciamos

    queer$ %ssim, o desconforto que o termo causa em pases de lnua inlesa se dissolve

    aqui na macie! das voais que ns brasileiros insistimos em colocar por toda parte$ De

    maneira que a inten"&o inauural desta vertente terica norte+americana, de se apropriar

    de um termo desqualificador para politi!+lo, perdeu+se no Brasil$

    %ssumir que falamos a partir das marens, das beiras pouco asspticas, dos

    orifcios e dos interditos fica muito mais constranedor quando, ao invs de usarmos o

    polidamente sonoro queer, nos assumimos como tericas e tericos cu$ =u n&o estou

    fa!endo um e'erccio de tradu"&o dessa vertente do pensamento contemporWneo para

    nosso clima$ >alar em uma teoria cu acima de tudo um e'erccio antropofico, de senutrir dessas contribui"#es t&o impressionantes de pensadoras e pensadores do chamado

    norte, de pensar com elas, mas tambm de locali!ar nosso luar nessa .tradi"&o/,

    porque acredito que estamos sim contribuindo para estar esse conIunto farto de

    conhecimentos sobre corpos, se'ualidades, deseIos, biopolticas e eopolticas tambm$

    \olto a Preciado que para mim uma das pessoas que melhor sabe falar de cu,

    em um sentido poltico ainda com a ideia de propor a ela outras e'peri(ncias

    subIetivas$ Por pura coincid(ncia, o caderno onde escrevo minhas viv(ncias com ostranses que a

  • 5/21/2018 Larissa Pel cio (1)

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    Yonqui, alm do mesmo tipo de elstico que prende as folhas, como o que est simulado

    em desenho na edi"&o espanhola$

    @aptulo ; .s (res/$ .% fia tem de brinca, viu fiaM Dei'a as crian"as vi/,

    recomenda a Preta \elha$ 3into que a eneria se intensifica$ =u vou me perdendo no

    tombo da cabe"a e do tronco$ % Preta \elha tira sua uia branca do pesco"o, coloca na

    minha testa$ abandono se intensifica$ =la pede que eu levante$ bede"o$ -e

    desequilibro, sinto que n&o sei o que sentir$ u"o os atabaques no ponto dos er(s, que

    s&o crian"as$ De repente os ombros encurvam levemente para frente$ %cho que er($

    =le, ela, n&o sei$ Aio um riso bom de quem n&o tem (nero$ Pensei depois que o que me

    fa!ia n&o saber o que sentir era Iustamente n&o saber ser sem um (nero$

    @aptulo Q; .>armacopoder/$ .La inquisicin condena a los cultivadores,

    recoletores, 5 conocedores de preparaciones a base de plantas, considerndolos bruIas,alquimistas 5 parteras como hereIes o desviantes satnicos; se inicia as un proceso de

    e'propiacin de saberes populares, de criminali!acin de prcticas de Xinto'icacin

    voluntariaY 5 de privati!acin de ermoplasmas veetales que culminar en la

    modernidad con la persecucin del cultivo, ele uso 5 el trfico de droas, la proresiva

    transformacin de los recursos naturales en patentes farmacolicas 5 la confiscacin de

    todo saber auto e'perimental de administracin de sustancias por las instituciones

    Iurdicos+mdicas/ 9Preciado, EEQ, p$ :

    0em todo o saber foi e'propriado, quero di!er a Preciado$ Basta olhar para alm

    da linha do =quador, para o .cu do mundo/$ 7maino, ent&o, Beatri! e'perimentando

    n&o o el qumico da testosterona, mas a5ahuasca, o vinho ama!1nico F$Dei'ando+se,

    assim, sentir+se menos europeia, e por isso mesmo menos masculina, ela perde o

    (nero$ \ai se dei'ando ser floresta, 'am&, 7ans&, para pensar em Judith Butler

    enquanto ouve o mito do Diabo sem @u, que fala de pei'es e de homens, l no %lto Aio

    0eroK

    $

    -esmo tendo lido muito, sabendo falar e escrever em tr(s idiomas, Preciado n&o

    parece 9re:conhecer os saberes produ!idos aqui, no .cu do mundo/$ 0&o est s nesse

    4% bebida feita atravs .coc"&o de duas plantas nativas da floresta ama!1nica; o cip Banisteriopsiscaapi e a folha do arbusto Ps5chotria viridis, chamados pelos participantes do 3anto Daime de.Iaube/ e .rainha/, respectivamente$ =sta bebida considerada como um .ser divino/, dotado de

    personalidade prpria e capa! de curar e de transmitir conhecimento/$ 9Aose, EE], p$ NK:$5 mito do Diabo sem @u conta como aluns pei'es ama!1nicos suriram$ =stes teriam sido

    oriinados das tripas do Diabo sem @u, Iustamente quando, por vinan"a, seu e'+vi!inho se prop1s afa!er nele um Wnus no local habitual, e n&o abai'o da boca, como era o do referido personaem$ 7ssoe'plicaria porque aluns pei'es do Aio 0ero t(m rande pro'imidade entre boca e Wnus$

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    sil(ncio, ao contrrio, encontra+se acompanhada de fiuras ilustres, como >oucault, que

    me ensinou que saber e poder est&o irremediavelmente tramados$

    Aefiro+me especialmente V filsofa espanhola Beatri! Preciado porque ela tem

    sido uma das autoras identificadas, no Brasil, com a teoria queer$ @onsiderada, mesmo,

    uma pensadora que avan"a em suas crticas em rela"&o Vs propostas de Judith Butler$

    3eria, assim, mais transressiva, uma ve! que confere em seus te'tos rande

    centralidade V materialidade do corpo, enfati!ando seus usos polticos e subversivos$

    3eu livroManifiesto contrasexual, publicado na =spanha em EE, n&o tardou a cru!ar

    as fronteiras brasileiras e, mesmo sem tradu"&o para o portuu(s, circulou no ambiente

    acad(mico, sobretudo a partir da publica"&o em livro da tese de doutorado da sociloa

    feminista Berenice Bento, em EE], intituladaA reinveno do corpo: sexualidade e

    !nero na experi!ncia transexual$

    %inda que n&o tenha nenhum livro tradu!ido no Brasil, apenas artios e

    entrevista, a produ"&o terica de Preciado come"ou a frequentar cada ve! mais as

    bibliorafias de pesquisas nacionais, de maneira que ela passou a dividir com Judith

    Butler o luar de .Gueen of queer/$ =sse ttulo n&o ultrapassou os muros das

    universidades, de maneira que, ambas, mesmo consaradas no ambiente acad(mico, n&o

    chearam a influenciar diretamente o movimento de lsbicas, a5s, bisse'uais e

    trans(neros no Brasil$ %inda que muitos dos conceitos postulados por elas tenham sido

    adotados em diferentes fruns polticos de maneira mais ou menos articulada com suas

    propostas tericas$ Por mais estranho que isso possa parecer, h motivos histricos e

    polticos que podem Iustificar essa apropria"&o .sem autoria/ e mesmo framentada de

    suas teorias$

    .* Para localizar o de/ate0

    Diferentemente do que se passou nos =stados

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    especfica, nomeada de .teoria cu/, meu obIetivo neste artio Iustamente

    problemati!ar as formas como temos localmente absorvido, discutido e resinificado as

    contribui"#es de tericas e tericos queer$ 0este e'erccio n&o pude dei'ar de notar

    que, apesar das sinularidades locais, nossa tend(ncia inicial foi, sobretudo, de procurar

    aplicar os achados tericos e conceituais queer, mais do que tencion+los e, assim,

    produ!ir nossas prprias teorias 9ainda que em diloo com o que estava sendoprodu!ido em outros pases:$ Postura que tem mudado durante o prprio e'erccio de

    pesquisa e produ"&o intelectual brasileira no campo do (nero e da se'ualidade$ -as o

    fato que ainda nos mantemos bastante reverentes a produ"#es tericas europeias e

    norte+americanas, enquanto uardamos relativa inorWncia a respeito das contribui"#es

    de nossos vi!inhos continentais, com os quais compartilhamos, muitas ve!es, cenrios

    sociais, polticos, econ1micos e culturais bastante pr'imos$ 3intomaticamente,

    dialoamos muito pouco com o resto da %mrica Latina$ como se a lnua portuuesativesse nos ilhado nesse mar volumoso do idioma espanhol$ 8&o pr'imos e t&o

    apartados$ De fato, nos conhecemos pouco$ Lemo+nos menos aindaO$

    -as quero voltar V promessa feita linhas atrs e apresentar, ainda que de forma

    impressionista, as marcas locais que fa!em do queer antes um discurso acad(mico que

    ativista$ 0este ponto preciso ter cuidado para n&o refor"ar dicotomias periosas como

    aquelas que separam filia"#es tericas de posi"#es polticas$ pensamento queer foi

    desde seu incio acad(mico em terras brasileiras eminentemente uma teoria de combate$Posso di!er que a teoria queer para mim um espa"o de luta poltica, uma arena de

    embate de ideias que procura enfrentar a naturali!a"&o de uma srie de opress#es$ 3eIa

    evidenciando o carter compulsrio da heterosse'ualidade2 desconstruindo binarismos

    que enriIecem possibilidades de transforma"#es2 politi!ando o deseIo2 ou apontando

    para as crueldades dos discursos heem1nicos, muitas ve!es revestidas de um

    cientificismo que quita a humanidade de determinados seres humanos, tratando+os como

    abIetos$

    ?uacira Lopes Louro, talve! umas das primeiras acad(micas brasileiras a

    escrever, entre ns, sobre queer, apresenta essa vertente terica como reativa V

    normali!a"&o, .venha ela de onde vier/ 9Louro, EE, p$ KF]:$ ?rande parte dessa

    posi"&o de enfrentamento V produ"&o acad(mica mais can1nica e ao movimento poltico

    que se rendia ao hiienismo suscitado pela crise da aids, tem na ado"&o do termo

    7@ompartilho estas inquieta"#es com autor's como Aivas 3an -artn 9E:2 -ara %melia \iteri, Jos>ernando 3errano 5 3alvador \idal+rti! 9E: e Paola %rboleda Aos, para citar apenas alumasinspira"#es$

    AevistaPeridicusC edi"&o maio+outubro de EF444$portalseer$ufba$br)inde'$php)revistaperiodicus)inde'

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    .queer/, suerido por 8eresa De Lauretis, uma bandeira antiassimilacionista$ >oi assim

    que os estudos queer foram percebidos no Brasil no incio dos anos EEE; como uma

    teoria de a"&o)refle'&o, capa! de se valer dos aportes de >oucault, Derrida, do

    feminismo da diferen"a, dos estudos ps+coloniais e culturais para desafiar n&o somente

    a se'ualidade binria e heterosse'ual, mas a matri! de pensamento que a conforma e

    sustenta$ @ertamente, n&o foi recebida assim de forma unWnime$ %lumas pessoas viramnos aportes tericos e conceituais das)dos tericas)os queer uma possibilidade de

    atuali!ar os estudos a5s e lsbicos que I se fa!ia no Brasil desde a dcada de SQE$

    Do meu ponto de vista, esta seria uma apropria"&o que viria a refor"ar

    Iustamente o que as pesquisas norte+americanas estavam questionando; a ideia de

    .minoria/ e todas as implica"#es polticas e tericas em aceitar essa classifica"&o como

    letima para se falar de determinados comportamentos e rupos$ % inten"&o era pensar

    em como as marens s&o constitudas, como cheam a ser fi'adas como luares

    periosos habitados por pessoas despre!veis, muito mais do que aceitar o luar de

    minorias$

    s estudos queer come"am a ser referenciados no Brasil no mesmo momento no

    qual e'perimentvamos o fortalecimento de polticas identitriasQ, entres estas estavam

    aquelas articuladas pelo ent&o movimento ?LB8 9a5s, lsbicas, bisse'uais, travestis e

    transe'uais:$ De maneira que uma teoria que se proclamava como n&o+identitria

    parecia potencialmente despoliti!ante$ 0&o tardou para que alumas lideran"as do

    movimento LB?8 brasileiro, muitas delas formadas na militWncia da luta contra a aids,

    se pronunciassem contra .os queer/$ 7sto , n&o era propriamente contra um conIunto de

    proposi"#es tericas, de fato, pouco lido fora do ambiente universitrio, que diriiam

    suas recusas e acusa"#es, mas a determinados nomes da academia$ sociloo

    brasileiro Aichard -is6olci discutiu com rande propriedade esse cenrio recente em

    um artio publicado em E$ =screve ele;

    80o Brasil vivemos, nos anos de SQE, com o recrudescimento da aids, o esva!iamento do movimentohomosse'ual, com forte mira"&o dos e das ativistas para as 0?s)aids, as quais passaram a receberfomentos de oranismo internacionais via Prorama 0acional de D38)%ids, o que reverteu+se no inciodo sculo ^^7$ =ste foi um processo comple'o, atravessado por mltiplos fatores, mas para meuarumento aqui, vale sublinhar que passada a fase .heroica/ da luta contra a aids, o esotamento derecursos financeiros para aquelas 0?s, o e'erccio de articula"&o poltica com diferentes movimentossociais, outras quest#es suscitadas pela prpria dinWmica social e poltica do pas passaram a mobili!ar osativistas em rela"&o a demandas relativas a diretos se'uais, fortalecendo, paulatinamente, o que viria serchamado de -ovimento L?B8, mas tambm o movimento de mulheres e o movimento nero$ -uitas das

    bandeiras destes foram encampadas pelo =stado, de maneira que em EEF foi lan"ado o proramanacional Brasil 3em omofobia, liado V 3ecretaria de Diretos umanos do -inistrio da Justi"a$

  • 5/21/2018 Larissa Pel cio (1)

    9/24

    %tualmente, quando se di! .ns/ no movimento L?B8 brasileiro, isto com maior for"aem aluns =stados do que em outros, parece operar para aqueles que dividiram omovimento mentalmente em dois rupos anta1nicos um dualismo; .ns/ os L?B8em oposi"&o ao .eles, os queer/$ 8al divis&o entre .identitrios/ e .queer/ poucadiferen"a fa! para o resto da sociedade brasileira, a qual s conhece um nicomovimento, o atual L?B8, e esta divis&o interna, onde ela opera, esconde uma lutaentre os estabelecidos que temem perder sua heemonia e os supostamente recm+cheados que a amea"ariam$ que est em Ioo, portanto, n&o o que define o .ns/do movimento L?B8, este ns condenado historicamente a ser reinventado a todo o

    momento, mas qual o papel do movimento dentro do novo cenrio da poltica se'ualbrasileira$ 9-is6olci, E, p$ FF:

    neste novo cenrio que estamos construindo um campo de pesquisa queer,

    marcado em boa medida pelo recente processo de democrati!a"&o do pas e, mais

    recente ainda, de nossa ascens&o econ1mica no panorama internacional, com

    diminui"&o da pobre!a, mas com ndices ainda alarmantes relativo Vs desiualdadesS$

    fato de essas serem mudan"as recentes, elas n&o t(m mais que NE anos, fato revelador

    que d a ver as cicatri!es de um passado colonial, do qual herdamos vcios polticos

    como o clientelismo e um latente sentimento de inferioridade, alm, claro, da lnua

    portuuesa$

    portuu(s um idioma ilhado, tanto em sua oriem ibrica quanto em sua

    propaa"&o colonial$ %nola, -o"ambique, @abo \erde, 3&o 8om e Prncipe, -acau,

    8imor Leste, ?uin Bissau e Brasil sequer dialoam entre si$ =stamos isolados um dos

    outros pelas distWncias continentais que se transformam em distWncias culturais$ =m

    nossa pretens&o de .pas emerente/, costumamos locali!ar estes pases todos .no cu domundo/, e'press&o que usamos no idioma popular das ruas$ Guer di!er; s&o todos muito

    distantes$ = como para se medir distWncias preciso que haIa um ponto de refer(ncia$$$

    diamos que, quando na nossa vularidade cotidiana nos referimos ao cu do mundo,

    estamos di!endo que s&o todos luares lone da .civili!a"&o/, que certamente fica em

    alum luar da =uropa central ou dos =stados

  • 5/21/2018 Larissa Pel cio (1)

    10/24

    0a eorafia anatomi!ada do mundo, ns nos referimos muitas ve!es ao nosso

    luar de oriem como sendo .cu do mundo/, ou fomos sistematicamente sendo

    locali!ados nesses confins perifricos e, de certa forma, acabamos reconhecendo essa

    eorafia como letima$ = se o mundo tem cu porque tem tambm uma cabe"a$

  • 5/21/2018 Larissa Pel cio (1)

    11/24

    modernidade, o que os fa! inimios do proresso, alocando+os em um tempo)espa"o

    irremediavelmente distante do cidente$

    =s decir, .=uropa/ se concibe 5 constru5e como cuna aislada de la modernidad2 como.ascptica 5 autoenerada/, formada histricamente sin contacto aluno con otrasculturas 9@astro+?me!, EEE, p$ K:$ 8ambin el tro 5 su .atraso/ se aslan$ 3u

    pobre!a es atribuida a s mismo, a su inadecuacin 5 a su retraso, lo que permite inorarlas ra!ones histricas de los problemas que enfrenta 9Auiseco ` \aras, EES, pp$ EE+

    E:$

    %o construir cada polo das dicotomias .ns)outros/, .est)rest/,

    .civili!ados)brbaros/ separadamente, e n&o como relacionados, esconde+se que o

    sinificado decorre sempre de rela"#es e n&o de ess(ncias isoladas$ o que Jacques

    Derrida 9SSK: chamou de lica da suplementaridade$ =ssa opera"&o discursiva

    permite que se naturali!em diferen"as, a partir da articula"&o de pares de oposi"&o como

    simples nea"&o das diferen"as entre os polos do dualismo e n&o como parte de um

    mesmo sistema, no qual o heem1nico s se constri em uma oposi"&o necessria aalo inferiori!ado e subordinado$

    %inda que na escola tenham nos ensinado que ns latino+americanas)os somos

    parte da histria triunfante da modernidade, a verdade que o prprio fato de termos

    aprendido a ler assim nosso luar na histria s refor"a a nossa subalternidade$ %final,

    foi nos b9r:ancos escolares que aprendemos que as teorias produ!idas em determinados

    luares eo+histricos e escritas em lnuas como inl(s, franc(s, e alem&o, s&o mais

    .avan"adas/ e possuem um valor universal incontestvel$ Para alter -inolo 9SSS:,

    arentino, professor de literatura e antropoloia, nossa coloni!a"&o tambm

    epistemolica$

    J h alum tempo temos enfrentado imainativamente essas fronteiras$ Guando

    uso o adIetivo .imainativamente/ estou me inspirando em %rIun %ppaduraiEque, a

    meu ver, fa! uma leitura aruta e precisa da maneira como os subalterni!ados t(m se

    valido das tecnoloias de comunica"&o e sedu"&o do presente para se infiltrarem nasbrechas do que Beatri! Preciado chamou de sistema lobal se'o+ra"a+capital 9Preciado

    em entrevista a @arillo, EE]:$

    10=screve %ppadurai que .esta dimensin de lo que he denominado el XtrabaIo de la imainacinY no estdel todo disociada de la imainacin como facultad creativa, refleIada en asuntos de estilo, modas, deseos5 bsqueda de rique!as$ Pero tambin es un crisol para el trabaIo cotidiano de la supervivencia 5 lareproduccin$ =s el luar donde se encuentran los asuntos relacionados con la rique!a 5 el bienestar, losustos 5 deseos, el poder 5 la resistencia$ =ste anlisis del papel de la imainacin como un hecho

    popular, social 5 colectivo en la era de la lobali!acin reconoce su carcter dual$ Por un lado, es en 5 a

    travs de la imainacin que los ciudadanos modernos se disciplinan 5 son controlados por los =stados,los mercados 5 otros poderosos intereses$ Pero tambin es la facultad a travs de la cual suren losmodelos colectivos de disensin 5 de nuevas ideas para la vida colectiva$ 9%ppadurai, SSS, s$n$:

    AevistaPeridicusC edi"&o maio+outubro de EF444$portalseer$ufba$br)inde'$php)revistaperiodicus)inde'

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  • 5/21/2018 Larissa Pel cio (1)

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    @om nossa imaina"&o a!eitada fomos percebendo que as fronteiras tra"adas

    entre 0orte e 3ul s&o mais porosas e penetrveis do que nos fi!eram crer$ @entros

    sempre tiveram suas periferias, e as periferias, por sua ve!, sempre tiveram seus centros$

    >oram as ideias dessas periferias centrais aquelas que me impressionaram$ Pois foram

    suficientemente potentes para se transformarem em te'tos e viaIarem$ De modo que,

    parafraseando s4ald de %ndrade, .n&o foram s cru!ados que vieram catequi!ar nossaci(ncia brbara$ >oram tambm os fuitivos de uma civili!a"&o que estamos comendo,

    porque somos fortes como a 7ara das uas doces/$ 3&o essas fuitivas e fuitivos

    aqueles suIeitos das periferias centrais$ %quelas pessoas cuIas subIetividades foram

    marcadas pela deprecia"&o de sua cor, pela patoloi!a"&o de seus deseIos, pela

    deprecia"&o da sua ci(ncia pouco ortodo'a$ essa turba que me interessa$ Por seu

    potencial poltico, me interessam$

    Porm, mesmo quando me encanto com a literatura produ!ida nos =stados

  • 5/21/2018 Larissa Pel cio (1)

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    montaria de Beatri! Preciado, ou sequer podemos falar do homosse'ual do mesmo

    modo de David alperin, ou da aids, como o fe! -ichel arner$ 0osso armrio n&o

    tem o mesmo formato daquele de =ve 3ed4ic6$ @ito aqui o quinteto fantstico do

    queer$ %inda que entre ns aluns nomes seIam mais familiares que outros, foi essa a

    bibliorafia que cheou com mais for"a at ns a partir do territrio queer euro+

    americano$

    =u osto de pensar que essa literatura anhou for"a entre ns Iustamente por ter

    cheado em um momento em que estvamos assombradas por tantas transforma"#es,

    desafiados por um Brasil que mudava aos olhos estraneiros, antes mesmo que

    assumssemos internamente as dimens#es destas mudan"as$ 0s estvamos ainda

    tateantes atrs de um vocabulrio menos faloc(ntrico, de uma ci(ncia menos can1nica,

    de uma ramtica menos heterosse'ista, ficamos fortemente impressionados com

    aquelas leituras$

    >elipe Avas 3an -artn tece arumenta"#es para Iustificar, assim como estou

    fa!endo, o impacto do queer em conte'to latino+americano, procurando mostrar que n&o

    se trata de mimesis, mas de apropria"&o

    sinificante de un corpus crtico o terico, o al menos de una bibliorafa, no totalmentearticulado 5 siempre abierto a nuevas formas de desarrollo, que ha venido a plantear en trminos enerales + una crtica a la estabili!acin de las identidades esencialistas 5naturali!adas del se'o, el nero 5 el deseo, Iunto con una lectura del poder en clave de.matri! heterose'ual/ o .sistema heteronormativo/ 93an -atn, E, p$ EF:$

    interessante que at mesmo as pessoas que se colocaram contra o queer

    assumiram, de certa forma, seu vocabulrio$ Aapidamente termos como

    heterosse'ualidade compulsria, reime heteronormativo, abIe"&o, performatividade

    passaram a ocupar fruns polticos, arenas acad(micas, pinas de comportados

    peridicos cientficos$ =m uma anlise diletante, acho que isso tem a ver com essa busca

    da qual eu falava h pouco, por novos referentes, por um l'ico torcido, fresco o

    suficiente para n&o estar marcado pelo peso dos saberes psi, mdicos e Iurdicos$

    %ssim, a teoria queer foi para ns, mas tambm para outras e outros latin's

    american's, um campo de articula"&o e luta$ 0as palavras de 3an -artn,

    .lo queer/ refiere a una posicin de resistencia 5 locali!acin estratica frente aprocesos de normali!acin de lo a5 5 lo lsbico tanto en las licas del sistemaneoliberal 9mercado a5:, como en la institucionali!acin de un discurso estatalmulticulturalista que promueve polticas antidiscriminatorias 5 de tolerancia, sincuestionar sus bases epistemolicas heterose'istas$ 3e trata de .lo queer/ entonces,

    12%inda que o mesmo autor reconhe"a que o termo queer perde localmente sua pot(ncia performativa esua histria poltica$

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  • 5/21/2018 Larissa Pel cio (1)

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    como una resistencia poltica frente a las licas de lo que denomino .homose'ualidadde =stado/ 97dem, ibden, p$ EK:$

    5* "isterias 4i3ienistas

    -uita coisa mudou desde os anos QE, quando fomos aterrori!ados pelo pWnico

    moral da aids, quando um surto de inorWncia mdica ressuscitou palavras medievais

    como .peste/ e .praa/$ =nquanto termos como .homosse'ualismo/ e .pervers&o/, t&o

    antios quanto o sculo ^7^, voltaram a povoar a imaina"&o miditica, ns

    buscvamos sadas$

    >oi preciso orani!ar esfor"os para o combate V onda repressiva, uma verdadeira

    .ca"a Vs bru'as/ que pode ser melhor e'emplificada por quem a viveu de forma

    dramtica, como o escritor e ativista do movimento homosse'ual Jo&o 3ilvrio

    8revisan$ =m seu livro Devassos no para)so * A +o"ossexualidade no rasil, da

    col-nia . atualidade, ele narra em tom biorfico o susto que levou diante da seuinte

    inscri"&o num banheiro pblico de 3&o Paulo; .contribua para o proresso da

    humanidade, mate um a5 por dia/ 98revisan, EEF, p$ FKE:$ Picha"&o que tradu!ia em

    termos populares aquilo que os Iornais di!iam, valendo+se muitas ve!es de depoimentos

    de autoridades mdicas como o do chefe do Departamento de Doen"as 7nfecciosas da

    >aculdade de -edicina da rancisco e 0ova 7orque, como o fechamento de saunas a5s$ =nquanto a

    reulamenta"&o da coleta de sanue s se tornou lei depois de acirrado debate, ainda

    que fosse sabido ser a transfus&o uma das formas de contio da doen"a$

    Paralelo a este clima de pWnico, o Brasil vivia o processo de esotamento da

    ditadura militar, que durou anos 9at SQF:, de modo que os movimentos sociais

    voltavam a se reorani!ar$ %luns deles incluem a luta contra a aids e o preconceito emsua aenda poltica$ emoflicos, homosse'uais, associa"&o de prostitutas e de

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  • 5/21/2018 Larissa Pel cio (1)

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    travestis, mdicos e profissionais de sade enaIados na luta pela populari!a"&o e

    democrati!a"&o da sade, foram aluns desses rupos orani!ados que procuraram

    enfrentar o onda morali!ante que fa!ia da aids antes uma puni"&o merecida aos

    .desviantes/ da ordem e da moral do que uma doen"a$ =m SQN, por e'emplo, o rupo

    a5 #utra /oisa, em pareceria com a 3ecretaria de 3ade de 3&o Paulo, passou a

    distribuir panfletos alertando sobre a dissemina"&o da aids no Brasil e fornecendoorienta"#es de encaminhamento para sanar dvidas 9Perlonher, SQO, p$ KN:$

    0&o tardou para que acad(micos tambm se mobili!assem, tanto no enaIamento

    em movimentos sociais quanto na produ"&o de pesquisas sobre os efeitos sociais da

    epidemia e suas consequ(nciasN$

    0s que, como outras sociedades, tivemos tambm nosso luto acad(mico nas

    bai'as da aids, ficamos um pouco rf&s de ideias quando os anos de SSE terminaram eo novo sculo se inauurou espetacularmente em de setembro$ % ativista e travesti

    @laudia onder, que faleceu se entendendo como pessoa interse', me disse uma ve!

    que a aids foi mais que uma epidemia, foi uma queima de arquivo$ -atou

    conhecimentos que estavam sendo estados pelas travas, pelos viados, pelos

    esquerdistas, pelos artistas marinais$ >icou um va!io$ 8alve! por isso a ente tivesse,

    naquele momento, tanta vontade de saber$

    =ntre as nossas vtimas da aids estava 0stor Perlonher, autor da provocativaetnorafia intitulada o%ecio do "ic+!9SQO REEQT:$

    -ari!a @orr(a, a quem coube a orienta"&o final da disserta"&o de mestrado que oriinou necio do mich(, conta a rea"&o escandali!ada de um colea em rela"&o ao ttulo dotrabalho de 0stor$ que neste ttulo indinava o intelectualM % irrever(ncia dePerlonher ou a rever(ncia com que trou'e para os estudos acad(micos as tropasmarinais que perambulavam pelo centro da cidadeM 0os final dos anos QE, 0storPerlonher I voltava seu olhar para as bordas, e ali sublinhava a resist(ncias marinais,os saberes prprios daqueles espa"os 9-is6olci e Pelcio, EEQ, p$ ES:$

    avia na escrita barroca de 0stor um vanuardismo ps+estruturalista quetransparecia na forma oriinal como usava Deleu!e, ?uattari, >oucault$ um episdio

    biorfico do Perlonher que foi contado para mim e para o Aichard -is6olci pela

    professora -arareth Aao, feminista, historiadora e amia de 0stor$ Aeprodu!imos

    essa histria no prefcio que escrevemos Iuntos para a edi"&o de EEQ do %ecio do

    "ic+!$ =st no livro e'atamente assim;

    13Para uma detalhada discuss&o sobre a emer(ncia da aids no Brasil e as respostas da sociedade civil,assim com as overnamentais V epidemia, ver Par6er, EES, entre outras inmeras publica"#es em lnuainlesa feitas pelo autor$

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  • 5/21/2018 Larissa Pel cio (1)

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    =m uma noite do ano de SQQ, aps a apresenta"&o da pe"a

  • 5/21/2018 Larissa Pel cio (1)

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    tampouco de seuir uma forma de deseIo particular, o homosse'ual, mas antes os

    mecanismos que o dividem entre o aceitvel e o .imoral/$

    =le mesmo um .imoral/, recusou com sua escrita potente e fronteiri"a 9sempre

    misturando o portuu(s e o espanhol, sua lnua nativa:, e teori!ou com liberdade

    crtica sobre se'ualidade, homosse'ualidade, aids e medicina$ Dei'ando, como I

    escrevi mais acima, a epidemia fora dos territrios da prostitui"&o, o que me parece uma

    calculada forma de n&o se render ao pWnico moral em curso$ =m # que 0 Aids

    9Perlonher, SQO:, 0stor chama as prticas de se'o seuro de .histeria hiienista/ e

    questiona a eficcia da camisinha como insumo preventivo, pois v( nela .a presen"a

    transparente da lei/ a se imiscuir entre .os lascivos r&os/ que se encontram .no

    turbilh&o dos flu'os/, num .abominvel processo de disciplinari!a"&o e normati!a"&o

    da homosse'ualidade/ 9Perlonher, SQO, pp$ OK+O]:$

    @ontra esse processo que ele chama de .virada V direita/ que tomava o cidente,

    ele escreve para a consarada editora brasileira, Brasiliense 9notabili!ada por suas

    publica"#es mais afinadas com a esquerda brasileira:, o pequeno# que 0 Aids, como

    parte da cole"&o Primeiros Passos, que a editora publicou por anos$ notvel desta

    cole"&o foi seu compromisso em abordar temas comple'os de maneira mais acessvel

    em te'tos escritos por intelectuais brasileiros consarados em suas reas de pesquisas$

    0o nmero SO da citada cole"&o, Perlonher concentra seu arsenal terico, claramente

    foucaultiano, mas tambm bastante pessoal, a fim de mostrar que para se entender .o

    que aids/ preciso conhecer aqueles saberes que t(m o poder de instituir verdades

    sobre esta sndrome e tecer Iulamentos morais sobre as pessoas atinidas por ela,

    reulando suas condutas, viiando seus corpos e normali!ando seus deseIos$ Para tanto

    mobili!a tanto uma linuaem propriamente acad(mica como aquela prpria dos uetos

    e dos espa"os marinais$ cito;

    %lm de seu valor terap(utico, as recomenda"#es distribudas a respeito da %7D3,dividindo os encontros se'uais em aconselhveis ou desaconselhveis seundo o seurau de risco, parecem di!er respeito a certo rei"e de corpos$ ='aminando mais de

    perto a nature!a desses conselhos, percebe+se que eles pream determinadaorani1ao dos oranis"os9fun"#es hierrquicas dos r&os:; a boca para comer, o cu

    para caar, o p(nis para a vaina etc$$ s usos alternativos dos corpos costumam serconsiderados prescindveis2 sobretudo coito anal 9lembre+se da palavra de ordem dosays paulistas no seu apoeu contestatrio; . coito anal derruba o capital/: est noalvo das opera"#es mdico+Iornalsticas desencadeadas pela %7D3 9Perlonher, SQO, p$QN$ ?rifos do autor:$

    Para ele, com a aids, os olhos da ci(ncia se voltam para o Wnus 9idem, p$ QO:, de

    maneira que a medicina reataria sua antia rela"&o com a homosse'ualidade, podendonovamente patoloi!+la$ =screver desta forma, com este vocabulrio e com tal senso

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  • 5/21/2018 Larissa Pel cio (1)

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    crtico foi alo bastante vanuardista e, mesmo, transressivo para aqueles anos em que

    o prprio movimento homosse'ual brasileiro aderia ao discurso preventivo,

    hiieni!ando suas prticas e reatuali!ando o dispositivo do .armrio/, de onde aora

    saiam os .a5s plsticos/, como Perlonher classificou aqueles que adotaram um

    modelo .htero/ de comportamento, estariam aderindo a essa onda hiienista,

    propaando o se'o seuro 9leia+se o se'o sem se'o:, o casamento, a castidade,apartando+se da vasta marinlia das se'ualidades perifricas$ =ntendo que nestes

    escritos temos os primeiros ensaios para uma teoria cu, uma teoria cucaracha,

    antropofica como tem sido nossa tradi"&o$

    Guando falo em teoria cu, mais que uma tradu"&o para o queer, talve! eu esteIa

    querendo inventar uma tradi"&o para nossos saberes de cucarachas$ 8entativa de

    evidenciar nossa antropofaia, a partir da (nfase estrutural entre boca e Wnus, entre Wnus

    e produ"&o marinal$ -inha inspira"&o, claramente, vem de Beatri! Preciado, que

    devoro com pra!er canibal$ 0o posfcio V reedi"&o do livro seminal de ?u5

    ocquenhem,2l deseo +o"osexual9EES RSOT:, ela retoma viorosamente alumas

    das discuss#es I apresentadas no Manifiesto contrasexual 9EE:, que reprodu!o a

    seuir; .istoricamente o Wnus tem sido concebido como um r&o abIeto, nunca

    suficientemente limpo, Iamais silencioso$ 0&o e nem pode ser politicamente correto/

    9Preciado, EES, p$ O:$ >a"o uma pausa$ Penso que nisso o Wnus de Preciado 9ou seria

    o Wnus depreciadoM: se parece tanto com a ente, com os brasileir's, perifric's,barulhent's, indicret's e, para aluns, pouco confiveis$

    3io a leitura e, na sequ(ncia, Preciado escreve; .o Wnus n&o produ!, ou melhor,

    s produ! li'o, detritos$ 0&o se pode esperar desse r&o produ"&o de benefcios, nem

    mais+valia; nem esperma, nem vulo, nem reprodu"&o se'ual$ 3 merda/ 97dem, ibden:$

    %naloias de novo me parecem irresistveis$ Wnus aqui se parece Vs putas, aos

    malandros e a toda uma marinlia descrita pelos discursos hiienistas$ 0ada mais

    queer que o cu$ = a vem a conclama final de Preciado pela coletivi!a"&o do Wnus$

    claramente uma pardia travessa com oManifesto /o"unistaque tanto marcou nossos

    deseIos de revolu"&o e nossa escrita insubmissa, mas, pobre, t&o coloni!ada$ Paro de

    novo, aora pensando na nossa produ"&o residual$ Penso tambm em nossas

    e'peri(ncias vividas no sul lobal, e de como elas t(m sido frteis, ainda que muitas

    ve!es possam ser vistas como perifricas, produ!idas em uma lnua sonora, mas

    ilevel$ Porm, nunca ser&o eles os iletrados$

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  • 5/21/2018 Larissa Pel cio (1)

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    %credito firmemente que temos trabalhado nessa produ"&o de forma oriinal e

    ao mesmo tempo sintoni!adas e sintoni!ados com o que est sendo produ!ido em

    centros e periferias mltiplas$ =sse conIunto articulado de refle'#es tem mantido forte

    diloo com as 8eorias >eministas, com os =studos Ps+@oloniais e com a prpria

    8eoria Gueer$ ernando 8ei'eira

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  • 5/21/2018 Larissa Pel cio (1)

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    >ilhoF, entre muitas e muitos outras tericas e tericos cucarachas que t(m por mrito

    n&o s uma produ"&o oriinal, mas ainda o fato de terem perturbado o arumento de que

    os estudos de se'ualidade estariam no Wmbito meramente .cultural/, e supostamente

    despoliti!ado$

    @reio que essas produ"#es t(m mostrado a pot(ncia das refle'#es locais, na sua

    intensidade antropofica$ 0&o estamos tentando .tradu!ir o queer da sociedade central

    para a sociedade da periferia/, como teme -rio @sar Luarinho, nem traindo .a

    prpria antropofaia que nos confere identidade 9EE, p$ FF:$ >a"o a mesma aposta que

    Luarinho, que nossa produ"&o aquela estada nas fronteiras, na ambiuidade das

    marens, do estar aqui e l a um s tempo$ Dos riscos que o entre+luar apresenta, mas

    tambm da rique!a que essa e'peri(ncia proporciona$

    8emos procurado mostrar que a constru"&o dos suIeitos abIetos marcada pordiscursos de poder nos quais as e'peri(ncias de e'clus&o est&o referidas a processos

    histricos que marcam subIetividades$ 8alve!, nossa prpria e'peri(ncia fronteiri"a

    tenha nos sensibili!ado para essa produ"&o marinal, subversiva, forIada pela for"a

    rasteira dos que sempre necessitaram enfrentar os inseticidas morais para sobreviver$

    Re7er8n+ias

    %0DA%D=, s4ald$ .-anifesto %ntropofico/$3evista de Antropofaia, %no

    , 0o$ , maio de SQ$ Disponvel em;

    http;))antropofaia$uol$com$br)manifestos)antropofaico)

    %PP%Dlorianpolis, v$ , n$, p$ NSS+F, EEN$

    B=08, Berenice$A reinveno do corpo: sexualidade e !nero na experi!ncia

    transexual$ Aio de Janeiro; ?aramond, EE]$

    B%00%0, Laura$ .3ha6espeare entre os 8iv/$ -imeo$ 9tradu!ido de

    3ha6espeare in the Bush:$%atural 6istory, OK9O:; Q+NN, S]]:$ EEK

    B

  • 5/21/2018 Larissa Pel cio (1)

    21/24

    @%AA7LL, Jess$ EES$ .=ntrevista com Beatri! Preciado/$ cadernos pau,

    @ampinas, n$ Q, Junho de EEO$

    @LL70?, Leandro 9r$:2 0=8, DIalma Aodriues Lima 9r$:$ 2studos e

    pol)ticas do /7S: rupo de pesquisa /ultura e Sexualidade$ $ ed$ 3alvador; =ditora da

    ederal da Bahia, EN$ v$ $ NOp

    D=AA7D%, Jacques$A escritura e a diferena$ $ ed$ 3&o Paulo$ Perspectiva$

    SSK$

    >%00, >rant!$ Pele nera, "8scaras &rancas$ 3alvador, =D??

  • 5/21/2018 Larissa Pel cio (1)

    22/24

    -73L@7, Aichard$ # dese$o da nao ; "asculinidade e &ranquitude no

    rasil finissecular=3&o Paulo; %nnablume)>apesp$ E$

    -73L@7, Aichard$ 0&o somos, queremos; refle'#es queer sobre a poltica

    se'ual brasileira contemporWnea$ 7n; @LL70?, Leandro 9r$:$ Stone>all ?@ o que

    no rasilB3alvador; =DB%, E$ v$ $ p$ NO+K]$

    -73L@7, Aichard e P=L@7, Larissa$ .Prefcio V nova edi"&o/$ 7n

    P=AL0?=A, 0stor$ # necio do "ic+!: prostituio viril e" So Paulo$ 3&o

    Paulo; Perseu %bramo, EEQ$

    -78% LP=3, Lui! Paulo da$ 4dentidades fra"entadas: A construo

    discursiva de raa, !nero e sexualidade e" sala de aula $ @ampinas; -ercado de

    Letras, EE$

    @%, -arcia$ .@iudadana perversa; divas, marinacin 5 participacin en

    la Xlocali!acinY/$ =n Daniel -ato 9coord$:,Pol)ticas de ciudadan)a y sociedad civil en

    tie"pos de lo&ali1acin$ @aracas; >%@=3,

  • 5/21/2018 Larissa Pel cio (1)

    23/24

    Leonardo L$ de$ 9r$:$ Eueerin: pro&le"ati1aFes e insur!ncias na psicoloia

    conte"pornea$ C$ ed$@uiab -8; =d-8, EN, v$ , p$ ON+Q$

    A3, Paola, Z3er o estar .queer/ en LatinoamricaM =l devenir emancipador en;

    Lemebel, Perlonher 5 %renas$3evista G/#%#SNS, E, pp$ +$

    A3=, 7sabel 3antana de$ .Aepensando as fronteiras entre espiritualidade eterapia; refle'#es sobre a XcuraY no 3anto Daime/$ EE]$ /a"pos, 3evista de

    Antropoloia Social, vol$O$

    Aundacin @7DB$ EES$

    8=7^=7A% >7L, >$ 3$ Do esti"a . excluso= 6istrias de corpos

    HdesIacreditados$ $ ed$ 3&o Paulo; =ditora @asa do Psicloo e >%P=3P, EEK

    8=7^=7A%, >lvia$ B$Dispositivos de dor: sa&eres poderes que HconIfor"a"

    as transexualidades$ $ ed$ 3&o Paulo; %nnablume)>apesp, EN

    3%0 -artn, Aivas$ Dia .queer/ con la lenua afuera; 3obre las confusiones

    del debate latinoamericano$ =n; Por un fe"inis"o sin "u$eres$ 3antiao de @hile,

    @

  • 5/21/2018 Larissa Pel cio (1)

    24/24

    \78=A7, -ara %melia, 3=AA%0, Jos >ernando ` \7D%L+A87g,

    3alvador$ .Z@mo se piensa lo queer en %mrica LatinaM/$ 3evista Gconos= 3evista de

    ciencias sociales, E, pp$ FO+]E$

    AevistaPeridicusC edi"&o maio+outubro de EF444$portalseer$ufba$br)inde'$php)revistaperiodicus)inde'

    http://www.portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/indexhttp://www.portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/index