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Realização Parceria KUARACY KORÁ KAKÁ WERÁ

KUARACY KORÁ

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SUMÁRIO

PRÓLOGO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

PRIMEIRA PARTE

AYVU-RAPYTA: O FUNDAMENTO DO SER . . . . . . . . . . .13KORÁ: O CÍRCULO DOS TRÊS MUNDOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15AS DIVINDADES ARCO-ÍRIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17AVARETÊ: O SER HUMANO VERDADEIRO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18ANHANREKÓ: ESTADO DISSONANTE DE CONSCIÊNCIA . . . . . . . 21AVANEMBÔ: ESTADO INTEGRADO DE CONSCIÊNCIA . . . . . . . . . 23A MÃE TERRA E OS SETE PRINCÍPIOS SAGRADOS . . . . . . . . . . . 25

SEGUNDA PARTE

AS PRÁTICAS PARA MANTER O ESTADA INTEGRADO DECONSCIÊNCIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

CONEXÃO COM O MESTRE INTERIOR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29PORÃ-HEY: OS SONS SAGRADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32PRÁTICAS DE VISUALIZAÇÃO E DE CONTEMPLAÇÃO PARA

INTEGRAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

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TERCEIRA PARTE

PORÃ-HEI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35O QUE É PORÃ-HEI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 351. TUPÃ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 372. A SAGRADA LUZ DO ARCO-ÍRIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 383. DE NHAMANDÚ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 394. MBORAY (DO AMOR QUE É COMO O FOGO) . . . . . . . . . . . . . . 405. DO PODER DA NATUREZA DO SER . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 416. DOS RAIOS DO TROVÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 427. FILHOS DO TROVÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 438. DA RAIZ DA PAZ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 449. DA PROSPERIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4510. A SAGRADA MISSÃO DA MORTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4611. DO ESPÍRITO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4712. DO EGO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4813. A MISSÃO DO DIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4914. DA BELEZA, SAÚDE E LONGEIVIDADE DO SER . . . . . . . . . . . 5015. DO MOMENTO DE DESPERTAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5116. DA VISÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5217. DA ÁRVORE DA SEMENTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5318. PORÃ-HEI DO CENTRO DO CÍRCULO . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5419. PORÃ-HEI DAS QUATRO DIREÇÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5520. PORÃ-HEI DA ILUMINAÇÃO DAS RAÍZES . . . . . . . . . . . . . . . . . 5621. PORÃ-HEI DO SAGRADO SILÊNCIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

SOBRE O INSTITUTO ARAPOTY . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

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AGRADECIMENTOS

Agradecimentos especiais às três Marias: Maria do Carmo,Maria da Glória e Maria Alice.

Ao amigo e guerreiro do coração Esteban, ao sempre dis-ponível Iago, e à Elaine, que realiza a incrível tarefa de cuidarpara que tudo flua.

E gratidão sempre ao sagrado círculo de mentores e guias,nos três mundos.

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PRÓLOGO

Este trabalho apresenta uma pequena síntese dos fundamen-tos que sustentam o que eu chamo de filosofia ancestral tupi, cul-tura milenar que se enraizou nesta América do Sul e se irradioupelo Brasil desde a Costa Sul até a Costa Norte há 12.000 anosaproximadamente. Trata da essência da sabedoria espiritual te-cida ao longo da evolução desta cultura por estas terras.

É o resultado de uma peregrinação em busca do resgate dasabedoria sagrada que levou mais de vinte anos e que passoupelas seguintes fases: vivência pessoal em diversas comunidadesindígenas do Sudeste e do Norte do Brasil; estudos de registrosdiversos da cultura tupi-guarani e, por fim, mais de uma décadade imersões e retiros com grupos de estudos de autoconheci-mento, além do aprendizado em decorrência de minhas parti-cipações em congressos com sábios indígenas no Brasil, no

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Paraguai, no México, nos Estados Unidos e inclusive na Índia,desde meados da década de 1990.

O sistema denominado kuaracy-korá, reúne conceitos e fun-damentos da tradição tupis representados simbolicamente emuma mandala de pedras inspiradas em fragmentos arqueológi-cos descobertos no sul do Brasil, entre os estados do Paraná eSanta Catarina. Este sistema segue um padrão que organizei hácerca de dezessete anos, quando o recriei na cidade de Moeda,em Minas Gerais, no sítio Terra Viva, e neste espaço até hojeperiodicamente se realizam encontros de autoconhecimento,orações pela paz na Terra e pela harmonia das diversas famíliashumanas. Além deste lugar, foram criadas mandalas em Itape-cerica da Serra – SP, há 12 anos, em Cajamar – SP, há 9 anos, eno Integria – Rio Grande do Sul, há oito anos.

O sistema denominado “kuaracy-korá” funciona como umaespécie de acupuntura da terra, ou litopuntura, como é dito emalgumas circunstâncias. No entanto os conceitos expostos quetraduzem sua sinbologia oferecem uma visão da espiritualidadegenuína e ancestral que se liga diretamente à natureza e seusmistérios, que revela a missão mais profunda da Mãe Terra, doser humano e do seu lugar neste tempo e espaço.

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PRIMEIRA PARTE

AYVU-RAPYTA:O FUNDAMENTO DO SER

Existe na sabedoria ancestral da antiga tradição tupi a ideiade que o mundo verdadeiro possui uma luminosidade incom-parável e inenarrável, sendo a mesma a fonte de tudo que existe,de tudo que existiu e de tudo que passará a existir. É a luz quevivifica todas as diversas manifestações de vida. E a esta ideiafoi dado o nome Kuaracy. Com o tempo, esta palavra passou adesignar também o sol, pois este também, através de seus raios,vivifica a vida. Mas na etimologia da palavra, o termo “kuara”significa “emanação”, e o termo “cy” significa “mãe”.

A “Emanação Mãe” ou “Fonte Única” que a tudo iluminaa partir de sua irradiação permanente forma a base do sistemade crença de uma cultura muito antiga destes lados da América.

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Isso levou a uma interpretação posterior de que alguns povosdeste continente foram adoradores do sol. E, por exemplo, aoobservarmos América Central e a América Andina antigapodem-se ver inclusive templos sagrados dedicados ao sol;assim como também à lua.

Mas no seu sentido mais profundo, não se trata do “sol fí-sico”, e sim, como se pode intuir, trata-se da natureza verda-deira da existência percebida pela consciência como umaemanação luminosa.

Entre cinco mil a três mil anos atrás os antigos tupis repre-sentavam através de um círculo de pedras no chão, com umapedra maior no centro, o que era chamado de “kuaracy-korá”,a mandala do círculo do sol. Arqueólogos encontraram no suldo Brasil, em Santa Catarina e no Paraná, duas ou três manda-las desse tipo, e ao estudarem, tiveram a suposição de que tal-vez fosse uma espécie de “relógio solar”, onde dependendo deonde batia a sombra da pedra maior no centro do círculo, ter-se-ia a menção do tempo. Existem estudos na Universidade Fe-deral do Paraná que falam de uma arqueoastronomia tupi e quepropõe a teoria de que estes achados arqueológicos possam sera representação do “Céu”, ou da “Via Láctea”, pelo estudo deum dos fragmentos destas mandalas.

No entanto, nesta época os povos não estavam preocupadosem marcar o tempo, pelo menos não de acordo com o modelode relógio da atual civilização. A mandala estampada no chãofuncionava como uma representação da cosmovisão ancestrale como um centro catalisador de energias telúricas e sutis danatureza terrena e divina. Neste desenho de pedras, em lugaresespecíficos chamados de “tapejara”, se realizavam ritos pró-prios, dos quais falaremos mais adiante.

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O desenho mais completo da cosmovisão retrata três círculosconcêntricos, no centro uma cavidade ou uma pedra maior, e noentorno desta pedra quatro pedras medianas, pouco maiores queas do círculo trino e menor que a pedra do centro. Os três círcu-los significam os três mundos da existência segundo a sabedoriaancestral; a pedra central ou a cavidade, que é o lugar onde seacende o fogo cerimonial, representa a fonte imaterial ou útero di-vino da vida, e as quatro pedras intermediárias significam quatro di-reções: o nascente, o poente, o cruzeiro do sul e as três-marias.

KORÁ:O CÍRCULO DOS TRÊS MUNDOS

A palavra korá significa literalmente círculo. Mas no sentidoaqui atribuído se trata de círculos dimensionais da existência.Na filosofia tupi, o ser humano— assim como o círculo do es-paço e do tempo— se expressa em três níveis dimensionais daVida, mas sua percepção está focada somente no nível mate-rial, que é chamado, na visão ancestral, de “sombra” do existire não é o mundo verdadeiro.

Os três círculos significam:O mundo da emanação da vidaO mundo da modelação da vidaO mundo da manifestação da vida

A. O MUNDO DA EMANAÇÃOO mundo da emanação é a fonte irradiadora da existência e

possui por si só a qualidade da eternidade e da infinitude. Trata-se

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do mundo verdadeiro da existência. Desdobra-se em três cor-pos dimensionais: o corpo da Sabedoria infinita, o corpo doAmor Infinito e o corpo do Poder infinito. Na língua tupi sãochamados:

Mbaé-kuáMborayKuaray

B. O MUNDO DA MODELAÇÃOO mundo da modelação representa as dimensões de exis-

tência que reúnem aspectos e energias que modelam as diver-sas formas de vida, as transitórias e as não transitórias. Entreestes aspectos, há quatro qualidades que são governadas por in-teligências sagradas, desdobradas da Consciência Divina, quesão conhecidas como “os quatro elementos”. As entidades quecomandam os quatro elementos são chamadas de “Senhores daForma” pela antiga tradição tupi, ou “Nhandejara”.

De acordo com a cosmovisão tupi, estas quatro entidadesocupam simbolicamente quatro portais, chamados de “quatrodireções”. São elas denominadas:

Karai-ru-etê — situado no orienteYacy-ru-etê — situado na direção do cruzeiro do sulTupancy-ru-etê — situado no poenteJakairá-ru-etê — situado na direção das tres-mariasO mundo da modelação também se desdobra em três

“corpos”:O corpo ElementalO corpo mentalO corpo elementar

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Existem também os habitantes divinos deste mundo, cha-mados simbolicamente de “seres-trovões”, “seres alados”,“seres encantados”, alguns deles denominados:

Nhandejara-tupãAva-jeguakaTupã-mirim

C. O MUNDO DA MANIFESTAÇÃOO mundo da manifestação é o mundo material propria-

mente dito, onde é ancorada toda emanação de vida através dosquatro reinos: mineral, vegetal, animal e humano. Ele é regidopor Nhandecy, a Mãe Terra, também reconhecida como o as-pecto feminino da Consciência Divina, de Deus, do GrandeMistério. É o mundo onde se traça o círculo do espaço-tempo,que causa a ideia de finitude e impermanência.

O mundo da manifestação é também reconhecido pelo seuaspecto tridimensional. O portal de contato e relação passa peloscinco sentidos. Sua característica principal é a sensação ilusóriade separatividade da “Fonte Única da Emanação” da vida, ouseja, das dimensões internas que formam o elo, a sustentação ea irradiação que causa a existência transitória do círculo materialterreno. A característica impermanente do mundo da manifes-tação causa a sensação de vulnerabilidade no aspecto psicofísicono ser humano, pois neste espaço tudo nasce envelhece e morre.

AS DIVINDADES ARCO-ÍRIS

Kuaracy, o “Grande Centro Luminoso”, ou fonte emana-dora permanente da vida, em seu eterno fluir, desdobra-se em

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sete “tons” de expressão, simbolicamente representados peloarco-íris que se expande de sua “Clara Luz” — tomando em-prestado um termo budista — ou seja, sete aspectos da mesmaConsciência Divina, que formam um panteão de divindades ir-radiadoras de determinadas qualidades, que são:Kuaracy— que representa o aspecto da claríssima luzda emanaçãoTupã—que representa o aspecto do som criador, ou vi-bração, da emanação.Nhamandú — que representa o aspecto da respiraçãosilenciosa e do ritmo da emanação.Jakairá — que representa o aspecto que sopra a ema-nação.Karai— que representa o aspecto que torna centelha aemanação.Yacy — que representa o aspecto que torna substânciaa emanação.Tupancy — que representa o aspecto que transforma/transmuta a emanação.Nhandecy—que representa o aspecto que gesta e ma-terializa a emanação

AVARETÊ:O SER HUMANO VERDADEIRO

De acordo com a filosofia ancestral, o ser humano em suanatureza verdadeira é a expressão de um raio da emanação di-vina, uma vibração do criador que foi modelado pelos quatro

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elementos através de suas respectivas entidades, que são tam-bém em essência expressões do sagrado Mistério Divino.

Ou seja, o ser humano nasce no mundo da emanação, ganhaum molde no mundo intermediário e por fim expressa-se nomundo material. Por isso se diz que, microcosmicamente, elereúne em si os três mundos, assim como todos os demais as-pectos da emanação luminosa da vida. Ele reúne também a pre-sença-memória das sete divindades arco-íris, pois todaexpressão material é síntese de todas as etapas que foram ne-cessárias para a geração da vida no tempo e espaço material.Por isso que a sabedoria tupi diz que o ser humano traz em si“a marca” de sua divina natureza.

No entanto, devido a uma espécie de distorção, conformeensinam os mestres mensageiros sagrados¹, provocada pelofoco excessivo de reconhecimento da vida a partir dos sentidosexteriores da manifestação; que grosso modo é a percepção daexistência a partir dos cinco sentidos; o ser humano tem a ten-dência a crer somente no aspecto material da mesma.

O ser humano verdadeiro, o indivíduo em si, é co-criadordas diversas realidades aparentes possíveis, inclusive esta “rea-lidade em que vive neste presente momento”, pois ele é asíntese, a essência e a expressão dos mesmos aspectos emana-dos da “Fonte Única”, da “Fonte ancestral, presente e futura”da vida. Isto significa também dizer que o momento que cadapessoa se encontra, independente de ser um bom ou mau mo-mento, este não é fruto somente de circunstâncias casuais, so-ciais, econômicas, e externas. Ele também é resultado do“universo e enredo interior” que cada pessoa porta.

O indivíduo realiza a sua tarefa de co-criador através damente, e esta verdade está presente em todas as filosofias sagra-

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das. É através de sua consciência, cujo corpo físico é um assento,que o ser manifesta o maior poder que lhe foi presenteado porKuaracy, a “Fonte Única de Emanação”, que é a arte de criar. Eesta arte se materializa através da qualidade de seus pensamen-tos, sentimentos, palavras e ações.

O indivíduo, na tradição tupi, é composto de duas partes,conforme a própria expressão desta palavra, traduzida da línguaancestral; onde a sílaba TU significa “som”, no sentido de “ex-pressão vibratória”; e a sílaba PI significa “assento”, no sentidode “corpo físico”. Portanto, a palavra tupi, em seu significadomais antigo quer dizer “emanação vibratória assentada em umcorpo físico”, ou literalmente “som-de-pé”.

Tal “emanação vibratória” nada mais é que a consciência,ou mente, mas emprego aqui a palavra consciência por dar umaideia mais abrangente. Tal assento trata-se não somente docorpo físico em si, mas também do: corpo astral, etérico e men-tal, que juntos, ancoram a essência luminosa que verdadeira-mente é o ser humano no círculo do tempo-espaço terreno.

Neste sentido, a tradição tupi afirma que o ser humano nãosomente provem da luz, mas também nasce iluminado e lumi-noso, e ele exerce ao longo da sua vida a atividade de sua lumi-nosidade através de suas inspirações, ideias, emoções erealizações. O problema é que na maior parte de sua vida o in-divíduo não se dá conta disso. A tradição tupi afirma tambémque isto é possível porque na verdade o ser humano é somenteuma extensão da “Fonte Única que Emana” a criação.

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ANHANREKÓ:ESTADO DISSONANTE DE CONSCIÊNCIA

Um dos grandes problemas do ser humano é que na sua tra-jetória de vida ele se encontra em “ESTADO DISSONANTEDE CONSCIÊNCIA” (EDC), Significa também que o indiví-duo não “se vê” como parte integrante da “Consciência Di-vina”; ou seja, ele não se percebe como elo e extensão dosmundos e níveis mais sutis e profundos. Em uma linguagemmais simples, o indivíduo não se percebe como “Filho deDeus”, ou como extensão da fonte luminosa eterna. E se for-mos comparar com a linguagem bíblica, é como se o reflexonão reconhecesse a sua face no espelho da verdade como “ima-gem e semelhança divina”. E talvez seja esta a questão maisséria para a humanidade compreender neste instante.

Os povos chamados indígenas criaram sistemas simbólicospara não esquecerem suas origens sagradas, para não se deslo-carem dos círculos que emanam a luz da “Fonte Única”. Kua-racy-korá é um sistema simbólico, uma mandala, que possibilitaa consciência exterior do ser humano lembrar e se conectar comos demais aspectos da consciência, que são internos, ou seja,psíquicos, mentais e espirituais.

O EDC (Estado Dissonante de Consciência) faz com queo ser humano acredite piamente que ele é “vítima das circuns-tâncias” da vida. Através deste estado criam-se padrões deideias e pensamentos que, imbuídos muitas vezes de forte emo-ção, se tornam “comportamentos”, “crenças” e “visões” errô-neas, sobre si mesmo e sobre “o outro” e sobre relaçõesdiversas. Isto causa um encadeamento dissonante que se revela

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em uma vida cheia de “altos e baixos”, onde a alegria e a tris-teza, a abundância e a escassez, o bom e o ruim, se alternam demodo pendular desagregador e inconsequente. Cria-se tambémaquilo que se convencionou chamar de “niilismo”, e aquilo queo terapeuta e reitor da Unipaz, Roberto Crema, denominou“normose”.

Os antigos sábios perceberam que o EDC possibilita a ori-gem dos “maus espíritos”, e identificaram três tipos deles quepor sua vez originam outros tantos e diversos. Os três tipos são:1. ANGUERY—mau espírito formado de um forte “sen-

timento” negativo sobre si mesmo ou sobre outra pessoa, a par-tir de uma situação de tristeza ou mágoa. Sentimento este que,ao invés de ser diluído pelo tempo e pela transformação de suacausa, permanece sendo “alimentado” pela constante valoriza-ção do sujeito em relação ao fato que o originou.

Tal alimentação faz com que a característica criadora damente forneça uma substância vital que “modela” e dá vida àcoisa, onde possivelmente esta acaba se agregando primeira-mente no círculo vibracional do indivíduo, depois no círculoáurico e dependendo do “valor” e intensidade que se atribui à“coisa”, esta pode cair no círculo da manifestação do mesmo,agregando-se em algum órgão físico.

No caso de ser um “sentimento” em relação a outra pessoa,torna-se um mau espírito somente se esta reconhecer, aceitar,e mantiver a mesma “qualidade mórbida” da situação que ori-ginou.2. ATSIGUÁ—mau espírito formado por um forte “pen-

samento” errôneo sobre si mesmo ou sobre o outro. Pode serdesde um pensamento de “escassez” que se traduz em misériaou avareza, até um pensamento de orgulho, que se traduz em

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“desamparos” e “egocentrismo”. Ou mesmo pensamentos re-correntes que se tornam padrões comportamentais que geramantipatia ou aversão, entre outros. Isto de deve a determinadomodo de “ver” e pensar que de tanta recorrência na mente, cris-taliza-se, tornando muitas vezes, ideias fixas, ou até mesmo mar-cas de caráter.3. KARON — este mau espírito é uma soma de pensa-

mentos e sentimentos negativos recorrentes, que formam naconsciência uma espécie de “casca” vibratória, que atrai para avida do indivíduo, situações correspondentes e de maneira re-petitiva. Isto se deve ao fato de existir uma lei da natureza es-piritual que diz que “toda vibração emanada atrai para siuma vibração correspondente”.

AVANEMBÔ:ESTADO INTEGRADO DE CONSCIÊNCIA

Os três círculos da existência possuem uma correspondên-cia no ser humano. Isto se deve pelo fato de que o “filho” pos-suir a mesma “genealogia” do “pai e da mãe”, que é sua “raiz efonte”. Aliás é importante mencionar alguns princípios queregem os três mundos, as quatro direções e as divindades;

O círculo da emanação é correspondido no indivíduo porquatro aspectos de sua consciência:

• O aspecto intuitivo• O aspecto mental• O aspecto emocional• O aspecto sensorial

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E o que é incrível é que estes aspectos possuem uma cor-respondência no círculo da modelação:

• Intuitivo — elemento fogo• Mental — elemento ar• Emocional — elemento água• Sensorial — elemento terra

Que por sua vez se desdobram em uma correspondência nocírculo do espaço-tempo:

• Elemento fogo — Reino Mineral• Elemento água — Reino Vegetal• Elemento ar — Reino Animal• Elemento terra — Reino Humano

Este conjunto quaternário, que representa a consciência emsua expressão integrada, é chamado de AVÁNEMBÔ, que sig-nifica “SER INTEGRADO EM SI”.

Os aspectos intuitivo e mental recebem o nome de AVÁ.Oaspecto emocional recebe o nomedeNEM,ou “NHENG”.O aspecto sensorial, levando-se em consideração também

os cinco sentidos e o subconsciente recebe o nome de BÔ.Quando estas partes se alinham, se harmonizam e se “co-

municam” não bloqueando o fluxo de energia que liga a“Fonte Única da Emanação” até a “Terra Fértil da manifesta-ção” se diz que está em ESTADO INTEGRADODE CONS-CIÊNCIA.

Aqui chegamos então a razão pela qual desde tempos ime-moriais se realizam ritos em espaços naturais, onde a presençadas forças elementais e materiais da natureza inspiram, atraeme emanam qualidades vibracionais puras no círculo do espaço-

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tempo físico, irradiadas diretamente dos círculos da modelaçãoe de emanação da “Fonte Única”. Nestes espaços se busca, uti-lizando-se do “rito” em seu sentido mais profundo e essencial,a união ou conciliação do “céu” com a “terra”, objetivando o“Estado Integrado da Consciência” (EIC). Esta é a filosofia raizdos sistemas sagrados denominados “xamanicos” nas Américase talvez em outros continentes.

NHANDECY:A MÃE TERRA E OS SETEPRINCÍPIOS SAGRADOS

A Mãe Terra é além da expressão material da emanaçãodivina — a Fonte Única –. também a síntese de seus “valores”e “princípios” que regulam o fluxo da “Grande Vida” e das inú-meras pequenas vidas. Nas filosofias ancestrais é conhecidacomo a face feminina, através da qual Deus se realiza. Desde agrande natureza espiritual até a expressão material da vida éatravés do feminino que a Luz vem à Forma.

Sendo sua expressão a própria natureza em toda a suadiversidade, as antigas culturas indígenas criaram diversas ma-neiras de honrá-la, através de cerimônias com o propósito deemitir vibrações de gratidão. Infelizmente, em determinadosperíodos de decadência consciencional da humanidade, criou-se também cerimônias e atitudes perversas, de expropriação desua energia vital e de sua riqueza material.

Mas nas cosmovisões ancestrais que espelharam suasculturas, no culto à Mãe Terra, reconheceram através dela sete

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princípios que atuam atravessando os três mundos da exis-tência:

O PRINCÍPIO CAUSALOnde se afirma que a natureza acolhe a causa misteriosa esagrada da energia da vida e a distribui amorosa e indistinta-mente a todos os seres e formas.

O PRINCÍPIO DA CORRESPONDÊNCIAOnde se reconhece que o mundo material é um reflexo cor-respondente ao mundo intermediário, e este por sua vez éum reflexo do mundo da emanação.

O PRINCÍPIO DA ANALOGIAOnde se reconhece que os reinos que se manifestam na na-tureza são análogos aos reinos do mundo intermediário e aomundo da emanação.

O PRINCÍPIO DA VIBRAÇÃOOnde se reconhece que toda a natureza reage a padrões vi-bratórios de acordo com a qualidade emanada da vibraçãoemitida por seres dos reinos dos três mundos.

O PRINCÍPIO DO RITMOOnde se reconhece que a natureza manifesta modelos devidas materiais graças a um ritmo que realiza permanente-mente integrando-se aos três mundos.

O PRINCÍPIO DA HARMONIaOnde se reconhece que, em decorrência de uma ação rítmicainteligente, que se expressa através das estações, do dia e danoite, da dança que a Grande Mãe realiza em torno de si

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mesma e como parte de um círculo maior que dança emtorno das emanações luminosas de Kuaracy, gera-se harmo-nia, que se traduz no mundo material como beleza e ordem.

O PRINCÍPIO DA MANIFESTAÇÃOQue reconhece que a síntese e a ação de todos os princípios an-teriores gera uma expressão de vida que toma forma nomundomaterial.Por isto se diz que a vida é um encadeamento de relações quese interconectam de dois modos: um, de maneira vertical,atravessando vibratoriamente os mundos da existência, eoutro, de maneira horizontal, qualificando a diversidade derelacionamentos pessoais e interpessoais, causando os fenô-menos da: simpatia, antipatia ou aversão.

São estes sete princípios também os preceitos imemo-riais que regeram as sagradas sabedorias indígenas, cuja origemé como o horizonte longínquo, e que no decorrer de incontá-veis ciclos de existência material se fragmentaram em diversasetnias, ao mesmo tempo em que ficaram em parte preservadosatravés de mitos, ritos, costumes, dialetos, cantos e danças.

Nhandecy, a Mãe Terra, ensinou aos antigos sábios tupiscomo um livro sagrado orienta um futuro mestre ou sacerdote.Ela ensinou através da contemplação, do silêncio meditativo,do som rítmico dos tambores e da voz, da dança onde o corpose expressa com o propósito de alinhar a mente humana coma Mente Divina.

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SEGUNDA PARTE

AS PRÁTICAS PARA MANTER O ESTADOINTEGRADO DE CONSCIÊNCIA

CONEXÃO COM O MESTRE INTERIOR

Segundo os princípios da correspondência e da analogia, oser humano se expressa também em três corpos, que são aná-logos aos três círculos da existência:AVA-ENDY (o corpo luminoso) — que pode ser reco-

nhecido através de sua aura.AVA-NHENG (o corpo vibracional) — que pode ser tra-

duzido aqui, para melhor entendimento, como o corpo anímico,ou a expressão anímica do ser.PY (o corpo físico) — que é o assento material modelado

pelos espíritos divinos do mundo intermediário, os regentes dosquatro elementos.

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Cada um destes corpos possuem “ierês”, que são centrosde energias que atuam como irradiadores da “Fonte Única”. Parafacilitação e entendimento, são núcleos vibracionais que aportame distribuem a energia da vida. Esta informação causa surpresa amuitos, pois são exatamente o que na cultura ancestral da Ásiaficou conhecido como “chacra” em sua terminologia sânscrita.Vamos destacar aqui três centros dos nove importantes para atradição tupi:

APYTÉUm centro vibratório que se situa acima da cabeça, mas que

não corresponde ao coronário, pois se trata do oitavo “ierê” eo coronário é o sétimo. Este núcleo situa-se “um palmo” acima.Quando adormecido assemelha-se a uma “pequena nuvem”,quando desperto assemelha-se à “pequena esfera dourada”; equando em atividade assemelha-se a “um cocar que expandesete cores”. Pelo princípio da correspondência ele se liga aomundo da emanação.

AMBÁEsta palavra significa “altar”, e no ser humano corresponde

ao centro vibratório situado no coração. Equivale na termino-logia hindu ao quarto chacra. Na tradição tupi, é o lugar ondea energia divina é ancorada, acendida e distribuída para outrosterminais e centros. Pelo princípio da correspondência se liga aomundo intermediário, ou, da modelação.

MBARAKA-CYEsta palavra, cujo sentido aproximado é vibração-mãe, ou

energia vital, corresponde ao centro situado na base da coluna,

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que ancora e enraíza os padrões vibratórios puros da “Fonteúnica”, que são traduzidos para o corpo físico como saúde,força motriz, harmonia. Pelo princípio da correspondência seliga ao mundo da manifestação.

Para cada um destes centros existe um som, uma vibra-ção sonora, que ao ser entoado faz ativar a sua luz, assimcomo a chave de ignição de um automóvel realiza ao girá-la, faz com o motor. Estes padrões vibratórios correspon-dem aos sons das vogais. São tres as vogais que possibilitama integração da consciência nos tres mundos: I-A-O.

I—o som desta vogal, entoado como uma cigarra o faz nafloresta, ativa o apyté, possibilitando a conexão com o mundoda emanação.A—O som desta vogal, entoado de maneira contínua, ativa

o ambá, possibilitando a conexão com a luz da alma e o mundointermediário da modelação. Este som traz a irradiação da “in-comensurável luminosidade” do mundo da emanação.O—O som desta vogal, entoado de modo contínuo, ativa

o mbaraká-cy, a energia vital, gerando uma sensação de apazi-guamento dos cinco sentidos e estimulando a harmonia docorpo material.

A prática do I-A-O, que consiste em entoar estes sons a partirde uma postura corporal meditativa, possibilita ao ser humano per-manecer em “Estado Integrado de Consciência”. Ao entrar nesteestado, pode-se iniciar um elo com omestre interior do indivíduo.

O mestre interior, também chamado de “avá”, trata-se do“eu espiritual”, que é corresponde ao ser verdadeiro, divino eancestral, que é anterior à personalidade do indivíduo, com sua

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carga de crenças errôneas, padrões comportamentais disso-nantes da harmonia primordial, e que pode inspirar (iluminar)o ser em sua jornada terrena.

Quando se exercita práticas de integração do ser, produz-se o “aguyjé”, a luz consciente pessoal, a energia auspiciosa ebenéfica para si mesmo e para as relações com os três mundos.

PORÃ-HEY: OS SONS SAGRADOS

Os antigos tupis criaram um sistema chamado porã-hey,que significa sílabas sagradas. Predominam neste sistema ossons de padrões das vogais, pois verificaram que estas ativam eancoram uma energia luminosa nos “ierês”, equilibrando os trêscorpos nos três mundos da existência.

Segue abaixo os sons e os ierês correspondentes:

I – Sua vibração corresponde ao oitavo, sétimo e sexto ierêE – Sua vibração corresponde ao quinto ierê, situado na garganta

A – Sua vibração corresponde ao quarto ierê, situado no coraçãoO – Sua vibração corresponde ao terceiro ierê, situado no plexo ese estende até a base da coluna.

U – Sua vibração corresponde ao segundo ierê, situado no centroumbilical do indivíduo

Y – Sua vibração corresponde ao primeiro ierê, situado na baseda coluna

M – Sua vibração corresponde ao nono ierê — que unifica aspolaridades.

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PRÁTICAS DE VISUALIZAÇÃOE DE CONTEMPLAÇÃO PARA INTEGRAÇÃO

Prática de visualização e integração:Sentar-se de maneira confortável, mas mantendo a coluna

ereta e observando inicialmente o ritmo da respiração, até elaadquirir um fluxo pausado e profundo.

Entoar, em vibração continua e serena, as vogais:

I ... ... ... ... ...A ... ... ... ... ...O ... ... ... ... ...

2. Depois, de olhos fechados, imaginar a palavra PAZ, em suatela mental, e repetir por três vezes, mentalmente esta palavra.

3. Em seguida, visualizar uma luz branca, aproximadamentea um palmo da cabeça, assumindo uma forma esférica. Imagi-nar que esta esfera gira no ar, e de seu núcleo central desce emdireção ao centro da cabeça um fio luminoso, branquíssimo elíquido.

Este fio luminoso desce de acordo com o ritmo da respi-ração, pelo centro da coluna, até a base, expandindo sua lumi-nosidade. Enquanto mentalmente se verbaliza a seguinte frase:

— Acolho somente a luz divina! Acolho somente aluz divina! Acolho somente a luz divina. Ela desce dafonte única do mundo verdadeiro e dissolve toda ener-gia mal qualificada gerada pelos meus pensamentos, sen-timentos, situações e fatos negativos.

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A sagrada luz envolve todo o meu corpo, os meus órgãos fí-sicos, os meus centros vibracionais, e renova e restaura todo omeu ser. Irradiando paz, harmonia, saúde e sabedoria. Assim ée assim será!

Repete-se, após um breve silêncio, o som:

I ... ... ... ... ...A ... ... ... ... ...O ... ... ... ... ...

Finaliza-se em um breve silêncio e mentalizando a seguintefrase:

— Agradeço às dimensões mais sublimes da exis-tência e a todas as minhas relações!!!

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TERCEIRA PARTE

PORÃ-HEI

O QUE É PORÁ-HEI

Quando nos dedicamos uma pequena porção do diapara visitarmos o nosso ambá (altar) interno, geralmente pas-samos por três estados: o primeiro é o nhém-nhém-nhém, quena língua tupy-guarany significa falação, ou tagarelice. Nosdamos conta de que nossa mente está repleta de espíritos fala-dores, a que chamamos anguery.

São muitos, há os lamuriosos, os nervosos, os chorões, osimpetuosos, os orgulhosos, os ciumentos, os glamorosos, osacusadores, etc. Na verdade foram criados por nós mesmos, ecaberá a nós percebê-los, dissolvê-los, não os alimentando mais,a ponto de incorporá-los em nós como hábitos, personalidades

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ou padrões, e transcendê-los, avançando na capacidade de auto-observação, autotransformação e autotranscendência.

Após este estado, passamos a escolher melhor onde po-demos por a nossa atenção, a nossa energia, o nosso foco. Nestemomento é que surge o estado de nhen-porã. Das palavras for-mosas, positivas, mais elevadas, que também são espíritos fa-lantes dentro de nós, mas que levam a uma sadia direção.

A partir daí, entre lapsos de serenidade e silêncio é quepodemos absorver a energia criativa e manifestar o estado deporã-hei, que é a sagrada oração que emerge de nosso desejoelevado de reverenciar e honrar a causa de nossa existência.

O Porã-hei pode curar nossa alma, pode elevar o padrãovibratório de nossos corpos, pode nos alinhar na vertical, entreo céu e a terra.

Após o porá-hei, com mais algum esforço, podemos ab-sorver a não-palavra, a mudez serena, talvez por um instante, eavançarmos um pouco mais.

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1. TUPÃ

Eu Sou Tupã, durante muito tempo, dentro da escala demedida terrestre, permaneci adormecido na mente de cadaum de vocês, que são, na verdade, aspectos deminha própriaexpressão.

Houve uma época em que bastava olhar o nascente ou opoente e vislumbrar as tonalidades profundas e pacíficasque emergem do horizonte, para que imediatamente vossaspresenças me reconhecessem. Depois, o foco de vossa mentefoi mudando de atenção e ao chegar a este nível de densi-dade em que vocês se encontram atualmente, minha pre-sença adormeceu na memória de vossas células.

Eu Sou aquele que se expressa através do vento e dabrisa, do silencio e do som, das águas dos rios e dos raios dotrovão. Eu sou amente perfeita, criativa e curadora que traza luz da qual a matéria é forjada.

Eu Sou o poder que se manifesta em cada flor que desa-brocha, a cada mudança de lua, em cada emanação de cadapalavra pensada ou falada.

No entanto, preciso ser despertado em cada coração quebate.

Além do sagrado som e do sagrado ritmo que palpita avida a partir do centro cardíaco do vosso corpo físico, é ne-cessário acender o fogo luminoso do coração!

Inspire a luz do silêncio e acenda o fogo da paz em vosso co-ração!

Eu sou aquele que lhe inspira hoje e sempre a manifesta-ção de tudo que necessitas, de tudo que desejas e de tudo queaspiras!

Eu Sou Tupã, eu falei!

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2. A SAGRADA LUZ DO ARCO-ÍRIS

Eu sou Tupã, o Logos Divino encarnado na expressãoda natureza. Sou o complemento da Mãe Terra. Eu sou arespiração que se apresenta através das quatro direções efaz surgir as quatro estações e renovar a cada momento avida material, aperfeiçoando-a com o apoio de miríades deseres a quem muitas vezes são chamado de elementais.

Eu sou o ritmo sagrado que renova a vida!Venho anunciar-vos os raios do arco-íris ao qual eu porto

como um cocar e oferecer-vos a gama vibratória desses raios.Ele estimula a cooperação entre os seres e ilumina a capaci-dade de amar-vos uns aos outros. Ele guarda o a sabedoriados sete potenciais, sete caminhos, sete atributos divinospor onde a árvore humana pode crescer, florescer e frutificar.

Caros filhos e filhas da TerraMãe e do GrandeMistérioLuminoso do Altíssimo!!! Absorvam as luzes dos sagradosraios! Inspirem! Infundindo-os em si mesmos através do altode vossas cabeças, como um cocar multicolorido e depositema soma dessas luzes em vosso coração.

Inspirem e retenha no coração o poder sagrado destesraios em silêncio meditativo.

Depois ajam de acordo com a lei do Amor que cria a todoinstante todas as condições da existência.

Com firmeza, ritmo e determinação! Sejam na Terra asluzes que vibra incandescente em vossos corações!

Eu Sou Tupã, eu falei!

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3. DE NHAMANDÚ

NHAMANDÚ é a fonte que sustenta todos os silênciosque se irradia de seu próprio coração. É a fonte que faz tra-zer à expressão o trovão criador.

Esta essência expande em inúmeros raios como o Sol,em todas as direções e vivifica toda a criação.

Este sol entoa um ritmo cósmico que se expressa comoharmonia, como ação e repouso, como despertar e descanso,como dia e noite.

AMãe Terra integra este ritmo em todos os seus corpos eo traduz em diversas formas de vida e qualidades luminosas.

Tupã entoa e impulsiona cada batida, cada pausa, e pelopoder da vontade complementa a manifestação da vida notempo e no espaço!

Esta inspiração e expiração cósmica e sutil ocorre aomesmo tempo em cada corpo humano que se põe de pé, emcada ave, em cada animal, em cadamineral e em cada planta.O coração reproduz no organismo físico toda esta ação.

É um trabalho permanente e sagrado, responsável pelosurgimento damais ínfima idéia e pela mais leve vibração devosso pensamento.Produz uma seiva tênue que é reconhe-cida como emoção! E externa-se como palavra!

Este é o segredo de Tupã: a consciência do que é a palavra.Cada vibração emanada de cada vogal possui uma irra-

diação. Cada consoante possui uma qualidade. Unidas for-mam a força da vibração emanada. E assim a realidade semanifesta!

Qual realidade queres manifestar em vossa vida

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4. MBORAY(DO AMOR QUE É COMO O FOGO)

A causa da vida já foi dita por inúmeros mestres, pro-fundos sábios, antigas tradições. As mais diversas possíveis,nas mais variadas línguas. Amais ancestral das sabedoriastambém confirma. A causa da vida é o Amor.

Não a vida no sentido da existência passageira, cujo pro-pósito é o aperfeiçoamento do ser em todos os níveis, mas avida infinita, além de todas as aparências.

Por isso, amem.Amem a si mesmos, cuidando de vosso corpo, mente e

espírito, a cada manhã que nasce e a cada noite que renovaos vossos corpos tecidos da terra, da água, do ar e do fogo.

Amem a si mesmos honrando as palavras que emanamde vossa fonte criadora que é a mente.

Amem a si mesmos agradecendo a luz que sustenta vos-sos ossos, órgãos, pele, e poder criador.

Amem a si mesmos emanando somente palavras for-mosas, ao amigo e ao inimigo, ao próximo e ao distante, a simesmos e a todas as suas relações.

Amem!Amem reconhecendo em humildade e serviço que sois o

poder divino em ação!!!

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5. DO PODER DA NATUREZA DO SER

As águas descem do alto e vivificam a superfície da terra,e formam rios, lagos, cachoeiras, riachos. Elas também per-correm o interior da terra, como artérias, disseminando sualíquida luz pelas quatro direções.

Os raios do sol, como um cocar celestial, entram em açãoe ativam a vida, plenificada pelas águas e integrada ao mis-terioso poder da terra.

O solo, que acolheu as luzes líquidas e celestiais, faz bro-tar as mais belas e diferentes formasminerais e vegetal, quepor sua vez servem ao reino animal e humano.

Em um dado momento as águas se elevam, em vapor,seguindo o caminho da luz. Explodem em chuvas prateadase por vezes dourados raios ligam a terra e o céu. É o êxtasedivino! Tupã. Assim a vida germina, materializa-se e ex-pande.

Assim como ocorre em toda a natureza, assim tambémocorre no interior de cada ser humano.

Do alto de vossa cabeça deve o sol do espírito irradiarsobre as suas águas para elevá-las.

O corpo físico é a vossa terra vivificada pela luz daságuas do sentimento, que, sob o comando do pensamentosolar do espírito, se eleva, formando uma egrégora poderosade pensamentos e sentimentos que germinará exatamentea qualidade da emoção e da crença que irradias.

O que plantares em vosso mundo interior colherás emvossa realidade exterior.

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6. DOS RAIOS DO TROVÃO

Tudo é de acordo com o que eu sou.Tudo é de acordo com o que és.

A vida é incomensurável!!! Fantasticamente maravi-lhosa e simples! Mas há quem, ao ver a ação transmutadorae regeneradora da vida se manifestar como morte ou de-gradação, crer piamente que viver pode ser um ato desgra-çado! Ou seja, sem a graça divina.

As forças da dissolução agem pela graça divina! Atravésdelas a luz se renova e possibilita as ações transformadorase fornecedoras de novos ciclos, e é a passagem para outrasdimensões da vida.

Mas há quem viva da própria desgraça e da desgraçaalheia para justificar a sua percepção limitadora desta imensapaisagem chamada vida, ou simplesmente para chamar aatenção para si.

Não sóis a situação que muitas vezes imaginas que és!Sois portadores dos raios da criação!Preste atenção onde lança vossos raios!Sóis filhos do Trovão!Sóis Tupã em ação!

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7. FILHOS DO TROVÃO

No amargo é que se sustenta o doce. Os sabores ruinsrefinam-se e estimulam a aprimorar o bom sabor.

A noite é extensão do dia e no entanto, ela mesma, en-quanto escuro, não existe.

E o que é a perturbação: Uma energia efêmera, que osistema nervoso temporariamente não controlou.

E o que é o fracasso com todos os seus sabores:Um teste sagrado e vívido para o aprimoramento do espí-

rito!Crer, confiar, perseverar e manter a paz interior na pri-

mavera, onde a prosperidade das formas, aromas, e coresjorram é importante. Mas crer, confiar, perseverar e mantera paz interior na tempestade, nas ondas dos ventos, noscantos assustadores do trovão, é fundamental. Esta é a ver-dadeira iniciação da alma! Manter a paz diante dos estron-dos da vida!

Eis um dos mistérios das quatro direções: para treinar apaz na primavera, para rejubilar-se nela durante o verão, in-tegrá-la no outono, e enraizá-la, assimmantendo-a firme noinverno.

Assim serás um autêntico Filho do Trovão!

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8. DA RAIZ DA PAZ

A paz é a única realidade que sustenta todas as imagensque vês.

Mesmo no desconforto da guerra, esta termina e a paznão, pois logo atua regenerando a vida e cicatrizando as fe-ridas.

Mesmo no desconforto da perturbação por sofrimento,mágoa, fracasso ou queda, logo em seguida ela vai restauraros sentidos e renovar as possibilidades da vida.

A paz impertubavelmente progride mesmo na lamúria.A questão é: onde fixas a tua mente!Na perturbação efêmera da onda ou na profundidade

do oceano!!!A paz atua, mas não passa.A paz flui como um rio, mas sua fonte é inesgotável.A paz não é ausência, nem vazio, nem inércia. É pre-

sença divina! A ponte do Imanifestado para todas as for-mas de manifestação.

Paz é a vossa constituição!

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9. DA PROSPERIDADE

Eugovernoavontade.Onde trovoaavontadeavidaviceja.Toda a natureza participa deste gesto. A água, os raios, a

terra, os ventos!Assim o dia se refaz e a criação acontece!A preguiça é irmã da ignorância e inimiga da vontade!A preguiça faz sua sombra onde existir dia,E durante a noite esconde-se no escuro.Muitas vezes finge-se de repouso, que é sagrado.A vontade é a divina presença em si.A lei da natureza que impulsiona a semente chama-se

vontade, assim ela rompe a escuridão do subsolo e uma vezdebaixo do sol mantêm a sombra a seus pés.

A lei da natureza que fortalece a semente chama-se ritmo.A lei da natureza que faz crescer a semente chama-se ação.Vontade, ritmo e ação geram a verdadeira prosperidade,

dentro do tempo e do espaço.Entre o céu e a Terra, entre o sonho e a realização, existe

a vontade, o ritmo e a ação, formando os gestos necessáriospara trazer àmanifestação todo o sagrado desejo e amais puraaspiração!

Gestos pressupõem posturas.Postura harmoniosa, postura verdadeira, gera hábito

idêntico.A Mãe Terra governa o ritmo e a ação! Seus gestos são

a expressão do luminoso Mistério!Siga as leis da Terra e do Céu, em silêncio e clareza, e fatal-

mente a prosperidade irradiará como um sol todos os seus dias!Assim é e assim será!Eu Sou!

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10. A SAGRADA MISSÃO DA MORTE

Uma vida decompõe-se quando ela dá lugar a um novomomento de si mesma. A essa gloriosa transformação dá-seo nome de morte. No entanto esta palavra está repleta demedo e desinformação. Grande parte da humanidade con-funde morte com aniquilação, quando na verdade ela é aDeusa da passagem, do desagrupamento da matéria tecidade sonhos e crenças. É o momento em que a natureza in-terna do ser se refaz, indo preparar-se para novas possibili-dades.

Cada ser encantado, cada elemental, que constituiu ocorpo físico retorna a sua natureza. O que é da terra re-torna à terra. O que é da água retorna à água. O que é doar retorna ao ar. O que é do fogo retorna ao fogo.

No entanto, a consciência que se utilizou das vestes cor-porais que os seres da natureza teceram, muitas vezes estárepleta de memórias,crenças, hábitos, etc, difíceis de seremlibertos para que ela retorne à sua verdadeira essência lu-minosa.

É por isso que urge estudar,compreender e integrar a na-tureza ancestral do ser, e viver de acordo com a sua luz.

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11. DO ESPÍRITO

O espírito é uma fonte luminosa que reside no interiorda cada ser que deve ser cultivado diariamente para que flo-resça.

O silêncio é o mel que alimenta o espírito. A fabricaçãodeste mel exige constância como assim demonstra o coração.

O corpo físico é a casa do espírito, o coração é o altar.Cultivar diariamente significa limpar a casa todos os

dias, organizar suas imagens internas, seus quadros, pin-turas, formas, símbolos, qualidades.

Quais quadros devem permanecer?Quais imagens?Quais símbolos?Aqueles que expandem a luz do espírito são os que apri-

moram a compaixão, refinam a sabedoria, eleva o caráter!!!Cultivar significa visitar o altar, depois de todos os de-

partamentos, salas e corredores da casa estarem limpos eorganizados.

A chave que abre a porta do altar é o silêncio que vibranas ondas da respiração!

Ao chegar ali, a luz da inspiração pode ativar o fogo sa-grado, coma casa limpa, a roupa leve e pura, o espírito floresce!

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12. DO EGO

Aquilo que é chamado de ego por diversas filosofias epela psicologia pode ser um servidor do espírito, assim comoum fiel animal que, para evoluir, liga-se ao ser humano, po-dendo aprender por treinamento, pelo exemplo, pelo serviçoprestado, pela ressonância com seu senhor.

O ego executa, a alma inspira e o espírito rege. É o queensina os mestres. Para isso, temos que conhecê-lo bem: seushábitos, suas necessidades, suas potencialidades, seus im-pulsos.

Assim também temos que conhecer a alma, pois sua luzvivifica o ego e muitas vezes se confundem, ora negativa-mente, quando a luz da alma fica aprisionada pelas cons-truções e crenças do ego, ora positivamente, quando o egoabsorve e incorpora os atributos divinos da alma.

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13. A MISSÃO DO DIA

Agora mesmo neste momento eu sou um com o GrandeEspírito, mesmo estando a mente agitada e distraindo aminha atenção, levando como ondas os meus pensamentospara lá e para cá, eu não sou a onda, eu sou o oceano.

Quando respiro sei que é o Grande Espírito vivificando omeu corpo físico, o meu corpo vibratório, o meu corpo de luz.

Quando penso sei que é a luz relampejante como os raiosde um trovão divino que atua, com o seu poder criador.

Ah, Grande Espírito! Que eu possa qualificar bem estesagrado dom que me deste e também a toda a humanidade!

Que cada pensamento, cada palavra, cada sentimentoe cada gesto que realizar a cada dia seja formoso, bem aven-turado e límpido, como a luz que Eu Sou.

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14. DA BELEZA, SAÚDE E LONGEIVIDADE DO SER

A civilização criou um ritmo alucinante e agora não osuporta mais! Acelerou sua vida, desvitalizou suas emoções,poluiu seus pensamentos de crenças errôneas e agora buscasoluções artificiais para a sua beleza, sua longevidade e suasaúde.

Cabelos, pele, líquidos do organismo vicejam quando re-cebem a luz da lua em sua dança com o sol de acordo comsuas quatro fases, onde cada fase realiza uma tarefa pro-funda, sutil e sagrada para a saúde, para a beleza e para alongevidade!

Honrar a luz da lua, a luz do sol e a luz da terra é gerarsaúde, beleza e longevidade.

Honrar é acolher os raios do sol, da lua e da terra com re-verência e abertura interior, no tempo correto e nomomentocorreto. Honrar é reconhecê-los como nossos ancestrais maisantigos e potentes de sabedoria e amor.

Há uma íntima relação entre a sensibilidade da lua e aexpressão da mulher. Há uma íntima relação entre o vigordo sol e o homem. Há uma íntima relação entre o corpo fí-sico humano e a Terra.

Verdadeiramente o segredo da cura para todos os malesestá aí, na honra e reverência.

Em Honra a todos estes seres!!!Agradecemos!

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15. DO MOMENTO DE DESPERTAR

Ontem, hoje e amanhã significam nada perante a cons-ciência. Por isso é agora o momento exato da manifestaçãodas virtudes sagradas e valores promissores do ser.

É agora que o ouro da sabedoria se manifesta no mí-nimo gesto, na mínima expressão, na mínima fala.

É agora que o lábio abandona a lamúria possível e cons-trói um arco formando um riso no rosto de si para si mesmo.

É agora que o olhar apreende a essência verdadeira e lu-minosa em cada situação ou fato, mesmo aparentementedesagradável.

É agora que umaroma agradável se sobrepõe a qualquer si-tuação difícil.

É agora que o julgamento transforma-se em discerni-mento.

É agora que se percebe uma sutil luminosidade penetrarna consciência, e ali permanecer límpida e silenciosa, mesmorodeada de outras crenças, que pela própria luz dissolvera oque não foi tecido de coerência e verdade.

É agora que a luz se faz!!!

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16. DA VISÃO

Cada olho que vê assim o faz de acordo com o olho decada crença que existe dentro de si. Como são inúmeras ascrenças, são inúmeros os olhos de cada olho que vemos.Como temos dois olhos externos, multiplique tudo isso pordois e teremos como resultado exatamente a maneira comovemos as nossas vidas e as vidas dos outros.

Há aqueles que querem ainda abrir uma terceira visão,às vezes por meio de plantas sagradas, chás, líquidos, exer-cícios espirituais, autoflagelação e tantas outras técnicasdisponíveis experimentadas ou teorizadas pela magníficacapacidade humana de utilizar sua inteligência.

Poucos são aqueles que buscam primeiro tornarem-semelhores seres humanos, aperfeiçoarem seus relaciona-mentos, refinarem o próprio caráter, os valores, dissolve-rem falsas crenças, curarem-se de hábitos e padrõesdestrutivos, ou exageradamente egóicos.

Poucos são aqueles que experimentam o chá da sinceri-dade consigo mesmo, da auto-observação, da humildade,dos estudos profundos, da sabedoria, do discernimento, doserviço prestado ao próximo. Dissolvendo assim inúmerosfalsos olhos de crenças errôneas que são construídas em seuinterior.

O caminho para a visão clara do espírito exige mentecristalina e coração limpo.

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17. DA ÁRVORE DA SEMENTE

A semente cresce dentro de si mesma. Também elacresce em contato com o mundo exterior. Só assim se tornaárvore, agindo dentro e fora. Se relacionando com seumundo interior e com o mundo exterior.

A semente busca o alto e tão somente o céu, impulsio-nada pela luz, alcança através do trabalho diário seu des-tino.

A semente se enraíza na terra. Quanto mais profundasua raiz, mais alto alcança.

Destas relações com o mundo interior, o mundo subter-râneo e o mundo superior, cria inúmeros galhos, mas um sóeixo, um só tronco.

Assim se torna árvore, assim frutifica, assimmultiplica,assim se fortalece.

No livro da natureza muitas verdades estão escritas,muitas lições de vida, muitas orientações para aquele quebusca o alto.

No livro da natureza está o remédio, a filosofia, o aco-lhimento e o alimento.

Sagrada é esta Mãe Viva que nos orienta permanente-mente em seu silêncio!

Sejamos como a semente da árvore então!!!

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18. PORÃ-HEI DO CENTRO DO CÍRCULO

Grande Sol!Meus sentimentos por vezes oscilam como a fases da lua,Por isso me centro em vossa luz,Mesmo quando atravesso a noite mais escura.Meus pensamentos por vezes vagueiam como o vento,Por isso me centro no silêncio e respiroProfundamente, guiando o soproEm direção ao centro.Assim não me perco; e permitoQue o sol do coração conduzir-me no seu ritmo.

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19. PORÃ-HEI DAS QUATRO DIREÇÕES

Sagrado Senhor que tem muitos nomesEm inúmeras tradições, línguas, culturas!Que se manifesta pelo fogo do sol que vem do leste,Pelas águas que descem do sul,Pela terra que germina no oeste,E pelo sopro que se recolhe ao norte;

Eu te saúdo e reverencio e agradeço-lhe pela vidaSaudável e harmoniosa que pulsa em mim!Meu nariz é o leste que inspira a luz do seu solE vivifica o meu ser.Meu ventre é a terra que acolhe a tua luz que nutre

e germinaComo o oeste.Minhas veias e sangue fluem as águas de um verme-

lho luminoso.Como as águas do sul.E minha mente repousa o sopro da vida como o norte,Pronto para vir a expressar palavras formosas:Paz, Saúde, harmonia e abundância no dia de hoje!!!

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20. PORÃ-HEI DA ILUMINAÇÃO DAS RAÍZES

Sagrada Mãe Terra, peço-lhe humildemente que rege-nere minhas raízes mais antigas!

Sagrada Mãe Terra, peço-lhe que transmute os malesque trago desde as minhas raízes!

SagradaMãeTerra, peço-lhe que dissolva toda a escuridãoe a ilusão que por ventura possa estar envolvidaminhas raízes.

Sagrada Mãe Terra, peço perdão pelo falta de respeitoque em algum momento causei a ti e às minhas raízes!

Peço perdão pelas desonras que tenha causado aos meuspais, avós, tataravôs, até o primeiro ancestral.

Peço a cura de todamemória negativa oumaléfica que porventura tenha se instaladodesde oprimeiroancestral até aqui!!!

Que a luz do Grande Sol eleve a todos aqueles que meantecederam, pois assim foi necessário para que por estagraça divina pudesse então me manifestar!!!

SagradaMãe Terra, peço perdão por todos os momentosem que virei as costas para aqueles que teceramminha alma!

Peço perdão ao espírito do fogo!Peço perdão ao espírito da água!Peço perdão ao espírito do ar!Peço perdão ao espírito da Terra!Peçoperdãoàsconsciênciasdivinasqueregemacadaumdes-

tes espíritos!Peço perdão ao Pai Maior, aquele que tem muitos

nomes, em muitas línguas, em muitas raças e tradições!Peço perdão à Mãe Maior, aquela que tem muitos

nomes, em muitas línguas, em muitas raças e tradições!Sagrada Mãe Terra, peço que agora a luz estenda e ir-

radie a todos, como uma benção e um bálsamo!!!Agora e sempre!!!

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21. PORÃ-HEI DO SAGRADO SILÊNCIO

Nosso Pai, o Mistério que se veste de Clara Luz, do Si-lêncio manifestou-se como um Trovão Criador.

Nossa Mãe, a Seiva da Vida de Tudo que é, vivifica atudo pelo silencio e pela fala. Pelo sopro e pelo ato da respi-ração.

Nosso corpo, a casa sagrada construída pelo Pai e pelaMãemora o filho bem amado preenchido das riquezas, donse bênçãos do sagrado silêncio e do sagrado trovão!

Possa então hoje honrar vossa luz e vossos raios!Honro!Possaentãohojeagradecervossas riquezasebênçãosamim

depositadas!Agradeço!Possa então hoje reverenciar os dons e as possibilidades

que me deste!Reverencio!Honro, agradeço e reverencio!!!Agora, com a mais pura intenção do coração, da mente

e do corpo!Assim é e assim será!!!

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SOBRE O INSTITUTO ARAPOTY

O Instituto Arapoty é uma organização social que se propõea valorizar as culturas indígenas e difundir os valores sagradose universais presentes nelas.Para a tarefa da valorização, o Instituto Arapoty atua em pro-

jetos e ações de resgate cultural junto a comunidades com apoiode voluntários e parceiros diversos.Para a tarefa de difusão de valores, assim o faz por meio de

programas, palestras e atividades diversas, tendo como públicoalvo educadores e educandos, instituições públicas, privadas, re-ligiosa e filosóficas.Desenvolve pesquisas e estudos de preservação ecológica,

etno-medicina e etno-botânica como complemento funda-mental ao seu propósito de valorização cultural e desenvolvi-mento eco-sustentável.Foi fundada em 1999, sua sede localiza-se na cidade de Ita-

pecerica da Serra, em uma área de 125 mil metros quadradosde mata atlântica, onde ocorre ações de restauração de floresta,

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estudos, imersões e pesquisas com fins ecológicos, etno-botâ-nicos e terapêuticos, assim como o desenvolvimento de parte deseus projetos.Participou da criação da Iniciativa das Religiões Unidas (URI)

em San Francisco, Estados Unidos, com o objetivo de fazervaler o respeito pelas religiosidades tradicionais dos povos au-tóctones, com suas cosmovisões e modos de vida próprios.Em 2003 o Instituto Arapoty, representado por um de seus

fundadores, Kaká Werá, foi convidado a fazer parte do Conse-lho da Bolsa de Valores Sociais e Ambientais, organização daBovespa encarregada de apoiar projetos nas áreas de educaçãoe ambiente, o que permitiu contribuir e participar de um setorfundamental para o apoio de iniciativas sociais de diversas or-ganizações empreendedoras.Em 2004 funda um escritório na França, com o objetivo de

articular apoios, organizar seminários internacionais com focoem cultura de paz e desenvolvimento de consciência ecológica,que são temas transversais aos princípios do Instituto Arapotye inicia uma parceria com a Fundacion France Libertes – pre-sidida por Danielle Mitterrand, e fundacion Beija-flor, presididapor Henrianne de Chaponnay.Em 2005, seu fundador recebe prêmio-bolsa da rede Ashoka

Empreendedores Sociais, organização presente em 52 países,devido à filosofia inovadora do Instituto Arapoty, que muda oparadigma assistencialista e depreciativo em relação à culturaindígena para uma visão de empoderamento cultural, inclusãosocial e de contribuição na formação da alma civilizatória doBrasil e das Américas.Em 2008 o Instituto Arapoty articulou, com o apoio de

Itaipu Binacional e a URI (Iniciativa das Religiões Unidas) a

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criação do Conselho Indígena da Bacia do Prata, que reúne re-presentantes indígenas dos cinco países da Bacia (Argentina,Paraguai, Uruguai, Bolívia e Brasil) mais cinco países convida-dos: Peru, Chile, Guatemala, Panamá e México.

Contato: www.arapoty.orgFone (11) 4165-4499

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O selo Edições Arapoty é uma coleção voltada para divulgarresultados de experiências, estudos e pesquisas que se origina-ram no Instituto Arapoty, inspiradas no primor dos saberes an-cestrais, que transcenderam os limites étnicos e sociais e que seoferecem como uma essência universal e contemporânea; paracontribuir na formação de corações e mentes valorosos, deética luminosa e de gerações eco-sustentáveis.

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