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dissertacao bothrops
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KARINA NUNES KASPEROVICZUS
Evoluo das estratgias reprodutivas de Bothrops jararaca
(Serpentes: Viperidae)
So Paulo
2013
KARINA NUNES KASPEROVICZUS
Evoluo das estratgias reprodutivas de Bothrops jararaca
(Serpentes:Viperidae)
Tese apresentada ao programa de Ps-Graduao em
Anatomia dos Animais Domsticos e Silvestres da
Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia da
Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo
de Doutor em Cincias
Departamento:
Cirurgia
rea de concentrao:
Anatomia dos Animais Domsticos e Silvestres
Orientadora:
Profa. Dra. Selma Maria de Almeida Santos
So Paulo
2013
Autorizo a reproduo parcial ou total desta obra, para fins acadmicos, desde que citada a fonte.
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAO-NA-PUBLICAO
(Biblioteca Virginie Buff Dpice da Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia da Universidade de So Paulo)
T.2849 Kasperoviczus, Karina Nunes FMVZ Evoluo das estratgias reprodutivas de Bothrops jararaca (Serpentes:Viperidae) / Karina Nunes
Kasperoviczus. -- 2013. 134 f. : il.
Tese (Doutorado) - Universidade de So Paulo. Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia. Departamento de Cirurgia, So Paulo, 2013.
Programa de Ps-Graduao: Anatomia dos Animais Domsticos e Silvestres. rea de concentrao: Anatomia dos Animais Domsticos e Silvestres.
Orientador: Profa. Dra. Selma Mara Almeida Santos. 1. Histrias de vida. 2. Variao geogrfica. 3. Ciclo reprodutivo. 4. Viperdae. 5. Biologia
reprodutiva. 6. Bothrops jararaca. I. Ttulo.
FOLHA DE AVALIAO
Autor: KASPEROVICZUS, Karina Nunes
Ttulo: Evoluo das estratgias reprodutivas de Bothrops jararaca (Serpentes: Viperidae)
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Anatomia
dos Animais Domsticos e Silvestres da Faculdade de Medicina
Veterinria e Zootecnia da Universidade de So Paulo para a
obteno do ttulo de Doutor em Cincias
Data: _____/_____/_____
Banca Examinadora
Prof. Dr._____________________________________________________________
Instituio:__________________________ Julgamento:_______________________
Prof. Dr._____________________________________________________________
Instituio:__________________________ Julgamento:_______________________
Prof. Dr._____________________________________________________________
Instituio:__________________________ Julgamento:_______________________
Prof. Dr._____________________________________________________________
Instituio:__________________________ Julgamento:_______________________
Prof. Dr._____________________________________________________________
Instituio:__________________________ Julgamento:_______________________
DEDICATRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, Nivea e
Sergio (in memoria), por tudos que me
ensinaram e pelo que sou hoje! Amo
eternamente!!!
Ao meu marido Henrique Braz, por sua
dedicao, pacincia (muita pacincia) e
amor incondicional. Por estar ao meu lado
nos bons e nos maus momentos, por todo
incentivo, ajudae por confiar em mim! Meu
bem... Sem voc essa tese no teria sado!
Muito obrigado por tudo,eu te amo!!!
AGRADECIMENTOS
Agradeo em primeiro lugar ao meu Deus, por sua bondade comigo.
A minha orientadora Selma Maria de Almeida Santos, pela orientao, pelo exemplo profissional,
pelo incentivo nos momentos difceis (que no foram poucos), por toda confiana, carinho,
respeito, preocupao e acima de tudo pela amizade conquistada nesses anos de convivncia.
Ao Otavio A. V. Marques, pelas valiosas sugestes durante a realizao deste trabalho, pelo
apoio e amizade.
Ao Ricardo J. Sawaya e Fausto Barbo, por me permitirem o acesso aos B. jararaca da ilha dos
Franceses, pelos pelas valiosas sugestes, e principalmente pela amizade.
Ao Hebert Ferrarezzi pelas preciosas sugestes, pela ajuda, amizade.
Aos curadores das seguintes colees: Francisco L. Franco; Coleo Herpetolgica do Instituto
Butantan. Glucia Funk Pontes; Coleo Herpetolgica da Puc Rio Grande do Sul. Mrcio
Borges Martins; Coleo de rpteis da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Julio Cesar
de Moura Leite; Museu de Histria Natural Capo da Imbuia. Daniel Fernandes; Coleo de
rpteis da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Paula Passos e Ronaldo Fernandes; Coleo
de rpteis do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Paulo Manzani; Coleo de rpteis da Unicamp.
Hussan Zaher; Coleo de rpteis do Museu de Zoologia da Universidade de So Paulo. Luciana
Barreto Nascimento; Museu de Cincias Naturais da Puc-MG. Ricardo J Sawaya; (RJS), pela
permisso do exame dos exemplares.
A Glaucia Funk por disponibilizar dados de nascimento em cativeiro de B. jararacas do Clado
sul.
Serena Migliore, Betina Flora e Daniela Gennari, por toda a ajuda com a coleta de dados e pela
amizade.
Ao querido amigo Valdir Jos Germano pelo companheirismo, por cada palavra de incentivo e
apoio, tanto nos bons, como nos maus momentos, por todo carinho, por cada minuto gasto para
me ajudar no meu trabalho que foi de extrema importncia, sem o qual no teria conseguido
chegar at aqui. Valzinho, muito obrigado! Voc foi e muito importante pra mim!
Ao meu Henrique B. P. Braz, pela amizade, por todo amor, pacincia e carinho. Por toda a ajuda
em todas as fases desse trabalho, sem o qual no teria conseguido finalizar com xito. Muito
obrigado por tudo!
A Marta Antoniazzi e Carlos Jared por gentilmente terem liberado o uso dos equipamentos no
Laboratrio de Biologia Celular e a Simone Jared pelo auxilio no uso dos equipamentos no
mesmo laboratrio.
A Lvia C. Santos e Claudio A. Rojas, pelas discusses, sugestes, confeco de algumas lminas
histolgicas e pela amizade conquistada neste perodo de convivncia.
As funcionrias do Laboratrio de Ecologia e Evoluo, Dona Maria M. Vendramini, Darina B.
Favorito e Vera Moraes Torres, Kelly Kishi, Adriana Batista, Adriano, Fellone, Cristiene
Martins, Regina Elaine da Silva por tanta ajuda com a coleta de dados, fotos, planilhas, enfim...
pela amizade, carinho e pacincia.
Aos colegas e estagirios do Laboratrio de Ecologia e Evoluo: Leticia R. Sueiro, Livia
Cristina dos Santos, Karina Maria Pereira da Silva (Karina 2 hehe), Kalena Barros, Cristian
Gomes, Natlia Torello e a todos os estagirios, pela amizade e pelo convvio e por tornarem
meus dias mais agradveis.
Aos colegas e integrantes do Clube do Caf, Henrique, Cristian, Natalia e Selma por cada
cafezinho e momentos de descontrao, pela amizade e companheirismo.
As minhas grandes amigas Elisabeth M. Montes, Kelly Kishi, Cintia Vieira da Silva, Aline
Barbosa, Silvia Guerra e Vanessa Meira, pela amizade, pelo apoio em todos estes anos de
convivncia e por me fazerem mais feliz s por saber que vocs existem na minha vida. Muito
obrigado meninas!
Ao Ronaldo, Rose e demais funcionrios do laboratrio de histologia do departamento de
anatomia da USP, por todo auxlio prestado.
Ao Gileno Brasileiro, funcionrios e estagirios do Laboratrio especial de Colees Zoolgicas
do Instituto Butantan, pela ajuda com a coleta de dados de B. jararaca e pela pacincia ao longo
do meu doutorado.
A minha famlia, em especial ao meu tio Rodrigues, por todo apoio que tem me dado nestes anos,
pela correo do texto, pelo incentivo, carinho, amizade e por acreditar em mim.
A Vilma Csar, por me ajudar com bibliografias, pela amizade, apoio e por acreditar em mim.
A minha av, pelo amo, oraes, compreenso e apoio.
A minha irm Karen, por existir na minha vida e ser minha irm...K, sou a pessoa mais sortuda
do mundo por ter voc como minha irm... te amo at depois que para de respirar, obrigado por
tudo, compreenso, amizade, cuidado, enfim...
Ao meu cunhado Raniel, e aos mais lindos sobrinhos (Davi e Noah) de todo o mundo de todos os
universos e de todas as galxias rsrs...por tornarem meus dias mais alegres!! Por todo amor, e
distrao (que foram muito importantes). Obrigado por acreditar e confiar em mim.
A meu amigo Ivan de S, por me acompanhar e por trabalhar comigo em tantas colees
visitadas, que mesmo no gostando de serpentes e sem entender direito o que estava fazendo, me
ajudou to prontamente!
A minha sogra Joilza por cada almoo, por cuidar da minha gatinha, pelo cuidado incondicional,
Muito obrigada sogra!
As minhas cunhadas Ana Claudia e Paula.
Aos tios Claribel e Jlio Cesar, por terem cedido a casa de Perube para conseguir escrever a tese
em paz.
A FAPESP (Fundao de Amparo Pesquisa de So Paulo) pelo suporte financeiro essencial a
este trabalho (processo n 2011/50026-0), e a Capes pelo auxilio financeiro no incio deste
trabalho.
A todos que de uma maneira ou de outra, foram extremamente importantes para mim, neste
perodo em que desenvolvi a minha dissertao, mas que por um lapso de memria tenha me
esquecido...
Meu muito obrigado!!!
RESUMO
KASPEROVICZUS, K. N. Evoluo das estratgias reprodutivas de Bothrops jararaca
(Serpentes: Viperidae). [Evolution of reproductive strategies of Bothrops jararaca (Serpentes:
Viperidae)]. 2013. 134 f. Tese (Doutorado em cincias) Faculdade de Medicina Veterinria e
Zootecnia, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2013.
Esse trabalho teve como objetivo estudar aspectos importantes das estratgias reprodutivas de
machos e fmeas de Bothrops jararaca do clado norte (CN) e sul (CS) e das ilhas de Bzios (SP),
Ilhabela (SP) e ilha dos Franceses (ES). Para isso, foram analisados exemplares de B. jararaca
preservadas de diversas colees zoolgicas. Machos e fmea de B. jararaca do CN foram
significativamente maiores que os machos e fmeas CS, no entanto tiveram cabeas
relativamente menores e foram menos robustos. Fmeas do CN tm em mdia maior fecundidade
e filhotes maiores do que fmeas do CS. O ciclo reprodutivo de machos e fmeas de ambas as
populaes sazonal e no variou entre as estaes do ano. Fmeas do CN e do CS tem cpula
outonal. A vitelognese tem incio no final do vero e fmeas grvidas so observadas a partir do
final do inverno. Nascimentos de B. jararaca de ambos os clados podem ser observados
principalmente no vero e podem se estender at o incio do outono. A estocagem de
espermatozoides no tero e no infundbulo foi observada principalmente no outono e inverno.
Ciclos reprodutivos de machos de ambos os clados so considerados do tipo ps-nupcial ou do
tipo I. O incio da produo de espermatozoides na primavera e a fase ativa pode ser observada
no vero. No outono e no inverno, os testculos esto inativos. Estocagem de espermatozoides
nos ductos deferentes foi observada durante todos os meses do ano e o segmento sexual renal
(SSR) apresentou a fase mais ativa (fase secretora) na primavera e vero (sincronizado com a
espermatognese nos testculos) e fase no secretora no outono e no inverno. Esse padro dos
ciclos dos machos foi observado em ambos os clados. Dessa forma, foram observadas variaes
geogrficas nas caractersticas de histrias de vida entre as populaes do CN e CS, porm, no
foram observadas diferenas entre os padres de ciclos reprodutivos. Assim, o ciclo reprodutivo
de machos e fmeas de B. jararaca do CN e do CS so conservativo na espcie.
Palavras-chave: Histrias de vida. Variao geogrfica. Ciclo reprodutivo. Viperdae. Biologia
reprodutiva. Bothrops jararaca.
ABSTRACT
KASPEROVICZUS, K. N. Evolution of reproductive strategies of Bothrops jararaca
(Serpentes: Viperidae). [Evoluo das estratgias reprodutivas de Bothrops jararaca (Serpentes:
Viperidae). 2013. 134 f. Tese (Doutorado em cincias) Faculdade de Medicina Veterinria e
Zootecnia, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2013.
This research aimed to study important aspects of reproductive strategies in male and female of
Bothrops jararaca from north clade (CN), south clade (CS) including the islands of Bzios (SP),
Ilhabela (SP), and Franceses (ES). We analyzed specimens of B. jararaca preserved on several
zoological collections. Male and female of B. jararaca from CN were significantly longer than
male and female from CS, however they had relatively smaller heads and were less robust. Male
and female of B. jararaca from CN were significantly larger than individuals from CS, had
relatively smaller heads and were less robust. Females from CN had on average higher fecundity
and larger offspring than females of CS. The reproductive cycle of males and females from both
populations was seasonal and the timing of events was also similar between clades. Females of
CN and CS have autumn mating season. The vitellogenesis starts in the end of the summer and
pregnant females are observed from late winter. Births of B. jararaca occurred from early
summer to the beginning of autumn. Sperm storage in the uterus and infundibulum was mainly
observed during autumn and winter. Reproductive cycles of male of both clades are type
postnuptial or a type I. The beginning of the sperm production occurs in spring and the active
phase was observed in the summer. During autumn and winter, the testicles are inactive. Sperm
storage in the different ducts was observed throughout the year and the sexual segment of the
kidney (SSK) shows a more active phase during spring and summer and non-secretory phase on
autumn and winter. This pattern of cycles of male was observed in both clades. In conclusion,
there is geographical variation in life-history characteristics between CN and CS populations.
However, differences among the reproductive cycle pattern were not evident. Then, the
reproductive cycles of male and female of CN and CS are conservative in the species.
Keywords: Life-history. Geographical variation. Reproductive cycle. Viperidae. Reproductive biology.
Bothrops jararaca.
SUMRIO
1 INTRODUO ............................................................................................................ 16
1.1BOTHROPS JARARACA REVISO DA LITERATURA ......................................................... 19
2 OBJETIVO GERAL ................................................................................................... 22
2.1 OBJETIVOS ESPECFICOS .............................................................................................. 22
2.2 HIPTESES E PREDIES PARA AS ESTRATGIAS REPRODUTIVAS DE B. JARARACA ....... 22
3 MATERIAL E MTODOS ........................................................................................ 24
3.1 REA DE ESTUDO ....................................................................................................... 24
3.2 COLETA DE DADOS ....................................................................................................... 28
3.2.1 Morfologia e histrias de vida ................................................................................ 32
3.2.2 ndice de dimorfismo sexual no tamanho (SSD) .................................................... 34
3.2.3 Caracterizao dos ciclos reprodutivos de machos e fmeas ................................. 35
3.2.4 Contrao da Musculatura Uterina (UMT) ........................................................... 35
3.2.5 Histologia Gonadal ................................................................................................ 36
3.2.6 Fecundidade ............................................................................................................ 38
3.2.7 poca de nascimento dos filhotes ........................................................................... 38
3.2.8 Tamanho dos filhotes .............................................................................................. 38
3.3 FORMA DE ANLISE DOS RESULTADOS ......................................................................... 39
4 RESULTADOS ............................................................................................................. 41
4.1 MORFOLOGIA E HISTRIA DE VIDA (COMPARAES INTERSEXUAIS) ............................ 41
4.2 MORFOLOGIA E HISTRIA DE VIDA (COMPARAES INTERPOPULACIONAIS) ................ 47
4.2.1 Morfologia e Maturidade sexual ........................................................................... 47
4.2.2 Fecundidade ............................................................................................................ 51
4.2.3 Tamanho dos filhotes .............................................................................................. 53
4.3 CARACTERIZAO DOS CICLOS REPRODUTIVOS ........................................................... 54
4.3.1 Fmeas ...................................................................................................................... 54
4.3.1.1 Vitelognese, gestao e pocade nascimento dos filhotes .............................. 54
4.3.1.2 poca de cpula ................................................................................................... 56
4.3.1.3 Contrao da musculatura uterina (UMT) e estocagem de esperma .............. 57
4.3.1.4 Morfologia e estocagem infundibular ................................................................ 60
4.3.2 Machos ...................................................................................................................... 66
4.3.2.1 Morfologia macroscpica ................................................................................... 66
4.3.2.2 Ciclo espermatognico, estocagem de espermatozoides nos
ductos deferentes e SSR ........................ 69
4.3.2.2.1 Segmento sexual renal (SSR) ............................................................................ 69
4.3.2.2.2 Ciclo espermatognico ........................................................................................ 73
4.3.2.2.3 Ductos deferentes ............................................................................................... 76
4.4 RESUMO DOS CICLOS REPRODUTIVOS DE MACHOS E FMEAS DE
BOTHROPS JARARACA DO CN E CS ............................... 80
4.5 JARARACAS INSULARES ................................................................................................ 82
4.5.1 Maturidade sexual ................................................................................................. 82
4.5.2 Tamanho do corpo (interpopulacional) .................................................................. 82
4.5.3 Tamanho do corpo entre as populaes insulares ................................................. 84
4.6 CICLOS REPRODUTIVOS ................................................................................................. 85
4.6.1 Fmeas ...................................................................................................................... 85
4.6.1.1 Contrao da musculatura uterina (UMT) ...................................................... 85
4.6.2 Machos ...................................................................................................................... 87
4.6.2.1 Ciclos reprodutivos .............................................................................................. 87
5 DISCUSSO ................................................................................................................. 92
5.1 MATURIDADE E DIMORFISMO SEXUAL INTRAESPECFICO ............................................ 92
5.2 MORFOLOGIA E HISTRIAS DE VIDA ............................................................................. 94
5.3 CARACTERIZAO DOS CICLOS REPRODUTIVOS ........................................................... 98
5.3.1 Fmeas ...................................................................................................................... 99
5.3.2 Machos ................................................................................................................... 104
6 CONCLUSES .......................................................................................................... 112
REFERENCIAS ............................................................................................................ 114
APNDICE ..................................................................................................................... 128
16
1 INTRODUO
Estratgias reprodutivas podem ser definidas como o conjunto de caractersticas
manifestadas por uma espcie para alcanar o sucesso reprodutivo de modo a garantir o equilbrio
populacional (VAZZOLER, 1996). Dentre tais caractersticas podemos citar: tamanho e nmero
de filhotes, idade e tamanho na maturidade sexual, tamanho mdio do corpo do adulto, perodo e
modo reprodutivo, sincronia reprodutiva intersexual, poca da fecundao e frequncia
reprodutiva (SEIGEL; FORD, 1987; SHINE, 2003). Todas essas caractersticas se combinam
entre si e com o ambiente impondo limites e restries de tal maneira que os organismos
necessitam escolher uma em detrimento da outra (trade-offs) levando-os a alcanar um
equilbrio evolutivo nos valores intermedirios (STEARNS, 1989, 1992).
Contudo, as estratgias reprodutivas apresentam considervel variao geogrfica em
diversas espcies animais (SIMPFENDORFER et al., 2001; WAPSTRA et al., 2001;
MORRISON; MARC-HERO, 2003; LITZGUS; MOUSSEAU, 2006; ALTWEGG et al., 2007).
Em particular, rpteis amplamente distribudos frequentemente apresentam variao em
caractersticas reprodutivas como tamanho do corpo, fecundidade, tamanho do filhote, modo e
perodo reprodutivo (TINKLE, 1961; SEIGEL; FORD, 2001; WAPSTRA et al., 2001; JI;
WANG, 2005; JENKINS et al., 2009, ZUFFI et al., 2009). As variaes geogrficas nas
estratgias reprodutivas podem refletir adaptao local s diferentes condies ambientais ou
mesmo plasticidade fenotpica induzida por fatores proximais, como temperatura e
disponibilidade de recursos (BALLINGER, 1979; SAINT-GIRON, 1982; SEIGEL; FITCH,
1985; DUNHAM et al., 1988; SEIGEL; FORD, 2001).
Uma caracterstica chave dentro das estratgias reprodutivas de serpentes e que
frequentemente apresenta grande variao geogrfica o tamanho do corpo, o qual determina
diretamente diversos parmetros reprodutivos importantes. Por exemplo, a fecundidade (i.e.
quantidade, tamanho e massa dos filhotes) positivamente correlacionada com o tamanho do
corpo materno, ou seja, fmeas maiores podem produzir proles mais numerosas ou filhotes
maiores (FITCH, 1970, 1982; SHINE, 1993, 1994). Portanto, variao no tamanho do corpo
consequentemente implica em variao tambm na fecundidade.
17
Diversos processos podem contribuir para a variao no tamanho corpreo em populaes
naturais. Primeiro, o tamanho mdio do corpo influenciado por taxas de sobrevivncia
diferencial nos adultos: Os animais em uma rea podem ser menores do que em outra
simplesmente porque eles so, na mdia, mais jovens (KING, 1989). Segundo, o tamanho do
corpo pode diferir por modificao gentica local (possivelmente por adaptao) ou mesmo
devido a um efeito fenotpico direto da disponibilidade de alimento nas taxas de crescimento
(MADSEN; SHINE, 1993). Caractersticas ecolgicas como diversidade de espcies, competio
interespecfica e dimenses de nicho variam geograficamente e podem afetar a disponibilidade de
alimento em populaes diferentes (BERRY et al., 1987; EBENHARD, 1990).
Contudo, embora algumas publicaes relatem variao clinal no tamanho mdio do
corpo em rpteis Squamata (e.g. ANGILLETTA et al., 2004), um claro padro de variao ainda
no pode ser traado de forma definitiva (ASHTON, 2001; PINCHEIRA-DONOSO et al., 2008).
Apesar disso, pode se notar que por vezes em ambientes pequenos e isolados como as ilhas,
indivduos insulares frequentemente tendem a apresentar valores extremos de tamanhos corporais
comparados a seus parentes continentais mais prximos (CASE, 1978; SHINE, 1987; MORI;
HASEGAWA, 2002; BOBACK, 2003; LIMOLINO, 2005). Nesses ambientes dois padres so
diversas vezes observados: o nanismo, descrito primeiramente por Case (1978) e mais
recentemente o gigantismo (MORI, 1994). Esses diferentes padres sugerem mudanas
evolutivas na taxa e no tempo de desenvolvimento bem como na ocorrncia de determinados
eventos (heterocronia). Neste caso, o crescimento e aquisio da maturidade sexual (GOULD,
1977; MCKINNEY; MCNAMARA, 1991).
Assim como o tamanho do corpo dos adultos, o tamanho dos filhotes no nascimento
uma caracterstica fundamental na histria de vida de uma espcie. O tamanho dos filhotes no
nascimento em muitos animais assumido ser relacionado ao fitness, porque filhotes maiores so
considerados ter melhor desempenho e, portanto, maiores chances de sobrevivncia do que os
menores (SINERVO, 1990; STEARNS, 1992). Entretanto, como os recursos reprodutivos totais
disponveis para qualquer fmea so finitos, ela no pode aumentar o tamanho do filhote sem
uma concomitante reduo na quantidade de filhotes produzida (SINERVO; LICHT, 1991;
EINUM; FLEMING, 2000). A deciso de uma fmea entre produzir poucos ovos grandes ou
muitos ovos pequenos reflete uma estratgia adotada por ela para maximizar o nmero de filhotes
sobreviventes. Esses trade-offs tambm tendem a variar geograficamente. A teoria das histrias
18
de vida prediz que em ambientes os quais retardam o crescimento, a produo de poucos ovos
grandes favorecida por conta do resultante aumento do filhote (TAYLOR; WILLIAMS, 1984;
YAMPOLSKY; SCHEINER, 1996). Caractersticas maternas e ambientais se combinam para
determinar a estratgia reprodutiva tima. Pelo fato das caractersticas maternas serem
parcialmente moldadas pelo ambiente, os fatores ambientais podem ter efeitos diretos e indiretos
na estratgia reprodutiva tima.
Outra caracterstica que varia geograficamente a poca reprodutiva. Serpentes de zonas
temperadas possuem ciclos sazonais sincronizados s estaes mais quentes do ano (SEIGEL;
FORD, 1987). Em regies tropicais, no entanto, os ciclos so mais variveis podendo haver
espcies com reproduo sazonal (MARQUES, 1996a; FOWLER et al., 1998; ALMEIDA-
SANTOS et al., 2004; KASPEROVICZUS, 2009; ROJAS, 2009; MARQUES et al., 2013) e
outras consideradas com reproduo contnua (PIZZATTO; MARQUES, 2002; PIZZATTO et
al., 2008; OROFINO et al., 2010), sendo que estas ltimas podem apresentar picos reprodutivos
(PIZZATTO; MARQUES, 2002).
A extenso do perodo reprodutivo de uma serpente pode estar relacionada a fatores
climticos, disponibilidade de recursos e ao modo reprodutivo (SAINT-GIRONS, 1982;
SEIGEL; FORD 1987; MARQUES, 1996a, b; MADSEN; SHINE, 2000; ALMEIDA-SANTOS;
SALOMO, 2002; BROWN; SHINE, 2006; PIZZATTO et al., 2007; SHINE; BROWN, 2008).
Embora estudos recentes realizados com serpentes neotropicais tenham avaliado a influncia de
alguns destes fatores sobre o ciclo reprodutivo (MARQUES, 1996a, b; HARTMANN et al.,
2004; PIZZATTO; MARQUES, 2002, 2006) ainda difcil fazer uma predio segura para os
diferentes grupos de serpentes.
Correlaes entre estratgias reprodutivas e diferentes fatores ambientais, assim como
traos biolgicos tm estimulado pesquisadores na busca por explicaes adaptativas para a
diversidade reprodutiva das serpentes. Entretanto, grande parte das explicaes para as variaes
derivada de comparaes interespecficas o que acaba confundindo as interpretaes, pois, as
estratgias reprodutivas por vezes so conservativas em determinadas linhagens filogenticas
ocorrendo em diferentes regies (VITT, 1992; ALMEIDA-SANTOS; SALOMO, 2002;
PIZZATTO; MARQUES, 2007). Dessa forma, comparaes intraespecficas so fundamentais
no estudo da evoluo das estratgias reprodutivas por reduzirem a influncia filogentica e
separarem tanto fatores genticos como no genticos, facilitando comparaes robustas na
19
caracterstica de interesse. Nesse sentido, espcies amplamente distribudas so chaves porque
frequentemente ocupam ambientes suficientemente diversos de forma que podemos esperar
significante diversidade nas histrias de vida. Esse foco filogentico restrito permite testes
robustos de hipteses adaptacionistas.
1.1 BOTHROPS JARARACA REVISO DA LITERATURA
A serpente Bothrops jararaca proporciona uma excelente oportunidade de se investigar a
influncia desses fatores nas variaes geogrficas das estratgias reprodutivas. B. jararaca
distribui-se amplamente no Brasil desde o sul da Bahia at o norte do Rio Grande do Sul,
incluindo diversas ilhas continentais (HOGE; ROMANO-HOGE, 1981; CAMPBELL; LAMAR,
2004; CICCHI et al., 2007; CENTENO et al., 2008; SUZUKI; FURTADO, 2008). Portanto, B.
jararaca apresenta ampla distribuio (~15 de latitude). Ocupa reas com climas distintos, ou
seja, do tipo tropical e subtropical e regies tpicas de Mata Atlntica, podendo adentrar algumas
regies de cerrado e populaes de coespecficos isoladas em ilhas. Tais diferenas climticas e
ambientais ao longo de sua distribuio podem resultar em restries sazonais e seleo nos
traos de histria de vida (JI; WANG, 2005; ZUFFI et al., 2009).
Alm disso, trabalhos recentes parecem indicar a ocorrncia de dois filogrupos
geneticamente distintos (um mais ao norte e outro mais ao sul) e provavelmente com histrias
evolutivas diferentes (GRAZZIOTIN et al., 2006, SUZUKI; FURTADO, 2008). Por exemplo,
Grazziotin et al (2006) realizaram anlises da variao no gene mitocondrial citocromo b de B.
jararaca. Tais anlises mostraram uma espcie altamente diversa e a existncia de dois clados
geograficamente estruturados, com uma divergncia bem enraizada e alopatria quase absoluta. O
primeiro grupo, denominado Clado Norte, inclui as populaes mais setentrionais da
distribuio (Norte de SP, MG, RJ e ES) e o segundo, denominado Clado Sul, abrange as
populaes meridionais (Sul de SP, SC, PR, RS). O tempo de divergncia entre os dois clados foi
estimado em cerca de 3,8 milhes de anos atrs, no Plioceno, um perodo de intensas mudanas
climticas e frequentes fragmentaes da floresta tropical. Alm disso, os dados tambm sugerem
que os dois grupos sofreram uma grande expanso em tamanho populacional entre 50 e 100 mil
20
anos atrs. Todavia, o grupo do sul exibiu um sinal mais evidente de flutuao do tamanho
populacional do que o grupo do norte. Em contrapartida, algumas populaes insulares de B.
jararaca apresentam grande similaridade gentica entre si e com as populaes continentais
adjacentes (SUZUKI; FURTADO, 2008).
Interessante notar que a zona de contato entre esses dois clados praticamente se sobrepe
zona de transio entre os climas tropical e subtropical. Assim, diante de todas as observaes
acima algumas questes acerca da evoluo das estratgias reprodutivas de B. jararaca podem
ser levantadas:
(1) Existe variao geogrfica nas estratgias reprodutivas de Bothrops jararaca ao longo de
sua distribuio?
(2) O padro geral das estratgias reprodutivas de B. jararaca ao longo de sua distribuio
geogrfica se adequa aos padres preditos pela teoria das histrias de vida?
(3) O perodo de divergncia entre os dois clados (estimado em 3,8 milhes de anos) e a
provvel exposio a diferentes presses seletivas ao longo de sua histria evolutiva foi
capaz de produzir diferentes padres reprodutivos, similarmente ao que ocorreu com
congnere B. insularis, separado h aproximadamente 10 mil anos?
At o momento, nenhum estudo sistemtico a fim de analisar as variaes nas estratgias
reprodutivas ao longo da distribuio nesta espcie foi ainda realizado. A nica variao descrita
entre as diferentes zonas climticas a ocorrncia de menores quantidades de escamas ventrais
nas populaes meridionais (PR e SC) em comparao s populaes setentrionais (RJ, MG e
ES), com os espcimes de So Paulo. Os valores apresentados so intermedirios entre os dois
padres (HOGE et al., 1977). Na maioria das serpentes, o nmero de escamas ventrais
positivamente correlacionado com o nmero de vrtebras e, consequentemente, com o tamanho
do corpo (LINDELL et al., 1993; LINDELL, 1994). Portanto, a observao de Hoge et al. (1977)
sugere a ocorrncia de maiores tamanhos corpreos nas populaes setentrionais (i.e. Clado
Norte), o que pode ter importantes implicaes para a reproduo.
A reproduo em populaes de B. jararaca do clado norte foi estudada apenas para a
cidade de So Paulo, Serra do Mar e adjacncias (JANEIRO-CINQUINI et al., 1993;
TRAVAGLIA-CARDOSO, 2001; ALMEIDA-SANTOS, 2005; ALMEIDA-SANTOS;
SALOMO, 2002; MORAES, 2008). Apesar da proximidade dessas localidades, tais estudos
revelaram algumas diferenas importantes nas estratgias reprodutivas. Por exemplo, Moraes
21
(2008) constatou diferenas significativas no grau de dimorfismo sexual entre populaes
litorneas e populaes de reas adjacentes a Serra do Mar e do planalto do Estado de So Paulo
e as considerou associadas s diferenas nos tamanhos das presas experimentadas por cada uma
dessas populaes. Para o clado sul, Alves et al (2000) apresentaram dados reprodutivos de
cativeiro de espcimes procedentes do Rio Grande do Sul. As observaes dos autores
aparentemente sugerem algumas diferenas com relao s populaes do clado norte como, por
exemplo, menores tamanhos na maturidade e menores ninhadas.
Com relao s populaes insulares pouco tambm foi feito. Porm, algumas inferncias
podem ser feitas a partir de estudos de algumas populaes de congneres isolados em ilhas. Por
exemplo, B. alcatraz e B. insularis apresentam tamanhos corporais menores e atingem a
maturidade com menores tamanhos do que B. jararaca do continente (MARQUES et al., 2002a,
b; KASPEROVICZUS, 2009). Dados preliminares apontam diferenas no tamanho do corpo e na
maturidade tambm nas populaes de B. jararaca de outras ilhas do estado de So Paulo
(BARBO et al., 2012). Essas diferenas poderiam ter levado a evoluo de diferentes estratgias
reprodutivas como observado recentemente em B. insularis da ilha da Queimada Grande,
estreitamente aparentada com B. jararaca (KASPEROVICZUS, 2009). Qualquer variao no
tamanho e idade na maturidade sexual tem importantes implicaes para as estratgias
reprodutivas de uma populao em particular porque aps a maturidade a energia antes destinada
para o crescimento, manuteno e estoque, agora repartida tambm com a reproduo
(ANDREWS, 1982; ADOLPH; PORTER, 1993).
Variaes nos ciclos reprodutivos tambm j foram evidenciadas. Machos de B. insularis
apresentaram padro reprodutivo singular entre os Bothrops, principalmente quando comparado a
jararaca continental (KASPEROVICZUS, 2009). Enquanto B. jararaca apresenta um ciclo
reprodutivo do Tipo I (ps-nupcial), isto , a espermatognese ocorre na primavera e no vero e a
estocagem de espermatozoides no outono, perodo em que so observadas as cpulas
(ALMEIDA-SANTOS, 2005), B. insularis apresenta um ciclo do tipo III (pr-nupcial), isto , a
espermatognese ocorre do outono a primavera (com um perodo de dormncia no inverno) e
repouso reprodutivo no vero (KASPEROVICZUS, 2009).
22
2 OBJETIVO GERAL
O presente trabalho teve como objetivo verificar a ocorrncia de variao geogrfica nas
estratgias reprodutivas de Bothrops jararaca dos dois filogrupos geneticamente distintos.
2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS
1- Determinar as medidas corpreas dos adultos e verificar a ocorrncia de dimorfismo
sexual;
2 - Estimar o tamanho corporal mnimo de maturao sexual de machos e fmeas;
3 - Caracterizar os ciclos reprodutivos de machos e fmeas avaliando-se o trato reprodutor
macroscpica e microscopicamente;
4 - Estimar o perodo de corte e acasalamento e a poca de fecundao;
5 - Verificar a ocorrncia de espermatozoides no trato reprodutor das fmeas (vagina, tero,
infundbulo) por meio de anlises histolgicas, bem como o fenmeno da estocagem de
espermatozoides por meio de contrao da musculatura uterina (UMT);
6 - Estimar a fecundidade e determinar as medidas corpreas dos neonatos;
7 - Caracterizar a atividade sazonal das populaes dos clados norte e sul.
2.2 HIPTESES E PREDIES PARA AS ESTRATGIAS REPRODUTIVAS DE BOTHROPS JARARACA
Dada a diferena relativamente grande nos climas, extenso da sazonalidade e tipos de
ambientes ao longo da distribuio de B. jararaca, presume-se que haja variao nas estratgias
reprodutivas. Tais diferenas podem resultar em restries sazonais e seleo dos caracteres
reprodutivos.
23
Baseado nas informaes publicadas e na teoria das histrias de vida espera-se que as
populaes do clado sul (clima temperado) apresentem adultos com menores tamanhos corporais
e consequentemente com menores tamanhos na maturidade, pois tal ambiente propenso a maior
sazonalidade dificultando o crescimento. Tal condio acarretaria uma reduo na fecundidade
para essas populaes. Contudo, buscando contrabalancear a perda no nmero de ovo e
maximizar o sucesso reprodutivo elas investiriam em ovos maiores resultando assim em filhotes
maiores no nascimento. Alm disso, a quantidade de filhotes tenderia a variar menos nas
populaes de clima temperado.
Com relao ao ciclo reprodutivo espera-se que o ciclo seja sazonal em todas as
populaes de estudo. Entretanto, as populaes temperadas tenderiam a diferir apenas na
extenso, sendo mais amplo na regio tropical. J o ciclo dos machos espera-se que haja
diferenas, pois o ciclo espermatognico altamente dependente da temperatura e de
disponibilidade de recursos (KASPEROVICZUS, 2009).
24
3 MATERIAL E MTODOS
Consideramos os dados obtidos de alguns exemplares insulares (e.g. ilha de Bzios e ilha
dos Franceses) bastante diferentes dos observados em B. jararaca (Figura 1) continentais,
especialmente com relao s variaes morfolgicas. Dessa forma, essa tese ir tratar essas
populaes insulares de forma separada das populaes continentais. No entanto, os mtodos
utilizados para o estudo dessas populaes foram os mesmos utilizados para as populaes
continentais.
3.1 REA DE ESTUDO
Esse trabalho baseou-se na diviso proposta por Grazziotin et al. (2006) em clado norte e
clado sul (Figura 2). As procedncias dos exemplares de B. jararaca analisados abrangeram
quase toda a distribuio da espcie (CAMPBELL; LAMAR, 2004). O clado norte compreende
as populaes da Bahia, Esprito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e So Paulo e o clado sul os
estados do Paran, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No foram examinados neste trabalho
exemplares provenientes da Bahia (GRAZZIOTIN et al., 2006). Foram avaliados tambm
exemplares de B. jararaca provenientes de duas ilhas do litoral de So Paulo (ilha de Bzios e
Ilhabela) e uma ilha do litoral do Esprito Santo (ilha dos Franceses) (Tabela 1).
25
Figura 1 - Foto de um exemplar adulto de Bothrops jararaca
Foto: Ricardo J. Sawaya. (1999)
26
Figura 2 - Mapa da distribuio geogrfica de Bothrops jararaca
Fonte: Mapa extrado com permisso de Grazziottin et al. (2006).
Os indivduos do clado norte so representados por () e os indivduos do clado sul por (). As linhas
slida e pontilhada indicam os limites das supostas barreiras genticas entre os clados.
Tabela 1 Caractersticas das ilhas estudadas
rea da ilha
(km2)
Distncia do
continente
Coordenadas
Geogrficas Municpio/Estado
Ilhabela 335,9 1,8 23 47S e 45 21W Ilhabela/SP
Ilha de Bzios 7,75 24,1 23 48S e 45 08W Ilhabela/SP
Ilha dos Franceses 0,12 4,0 2055S e 4045W Itapemirim/ES
27
As populaes do clado norte ocupam reas de clima tropical mido-seco, com
temperaturas mdias anuais variando entre 18 e 24 C. No vero, as temperaturas variam em
mdia entre 22 e 26 C, podendo atingir os 30 C (Figura 3). As chuvas concentram-se no
principalmente no vero quando cerca de 70% do total mdio de 2000 a 3000 mm da rea
precipita-se entre novembro e maro (MENDONA; DANNI-OLIVEIRA, 2007). J as
populaes do clado sul ocupam regies de clima subtropical mido, onde a variabilidade trmica
bastante acentuada. As mdias anuais situam-se entre 14 e 22 C, com baixas temperaturas no
inverno. O vero apresenta temperaturas mdias mensais que variam de 20 a 26 C (Figura 4). As
chuvas distribuem-se com maior regularidade ao longo do ano (MENDONA; DANNI-
OLIVEIRA, 2007).
Figura 3 Climatograma relativo rea ocupada por Bothrops jararaca do clado norte
0
50
100
150
200
250
0
5
10
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20
25
J F M A M J J A S O N D
Pre
cipit
ao
acu
mula
da
(mm
)
Tem
per
atura
(C
)
Meses
Temperatura mdia Precipitao acumulada
28
Figura 4 - Climatograma relativo rea ocupada por Bothrops jararaca do clado sul
3.2 COLETA DE DADOS
Este trabalho envolveu a coleta de dados de animais preservados de B. jararaca
disponvel em diversas colees zoolgicas brasileiras (Quadro 1).
0
50
100
150
200
250
0
5
10
15
20
25
J F M A M J J A S O N D
Pre
cipit
ao
acu
mula
da
(mm
)
Tem
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ra (
C)
Meses
Temperatura mdia Precipitao acumulada
29
Quadro 1 - Colees Zoolgicas que tiveram exemplares de Bothrops jararaca analisados.
Clado Coleo (Sigla)
Norte Coleo Herpetolgica Alphonse Richard Hoge (IBSP)
Norte Museu de Zoologia Prof. Ado Jos de Cardoso, Universidade Estadual de Campinas
(ZUEC)
Norte Hospital Vital Brazil (HVB)
Norte Museu de Zoologia da Universidade de So Paulo (MZUSP)
Norte Animais disponibilizados pelo pesquisador Ricardo Sawaya, da Unifesp (RJS)
Norte Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais (PUC-MG)
Norte Museu Nacional do Rio de Janeiro (MNRJ)
Norte Coleo Zoolgica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Norte Animais de trabalho de campo de Ricardo J. Sawaya ainda no tombados em coleo
(RJS)
Sul Museu de Histria Natural Capo da Imbuia (MHNCI)
Sul Museu de Cincias e Tecnologia Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do
Sul (MCP)
Sul Coleo Zoolgica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Foi analisado um total de 1358 exemplares (Apndice A) de Bothrops jararaca machos e
fmeas (maduros, imaturos e neonatos) (Quadro 2), provenientes de diversas colees zoolgicas
brasileiras (Quadro 1). O mapa da distribuio geogrfica dos exemplares analisados encontra-se
na figura 5.
30
Quadro 2 Nmero de exemplares de Bothrops jararaca analisados por clado
Populao Total de animais
examinados Procedncia dos exemplares
Clado Norte
So Paulo 316 IBSP, ZUEC
Ilha de Bzios - SP 52 IBSP
Ilhabela - SP 36 IBSP, RJS
Rio de Janeiro 177 MNRJ, UFRJ, MZUSP
Minas Gerais 55 PUC-MG, MZUSP, MNRJ,IBSP
Esprito Santo 49 MZUSP, RJS, MNRJ, IBSP
Ilha dos Franceses - ES 28 RJS
Total 713
Clado Sul
Paran 298 MHNCI, MCP
Rio Grande do Sul 201 IBSP, MCP, UFRGS
Santa Catarina 146 MCP, UFRJ
Total 645
32
3.2.1 Morfologia e histrias de vida
Os dados de morfologia corprea (comprimento do corpo, comprimento da cauda,
comprimento da cabea e massa) de B. jararaca foram obtidos a partir de exemplares machos e
fmeas maduros sexualmente. A maturidade sexual nas fmeas inferida a partir da observao
do menor indivduo com folculos vitelognicos (>10 mm), embries ou ovidutos pregueados no
trato reprodutivo (Figura 6B; SHINE, 1977a) ou pela constatao da presena de
espermatozoides no trato reprodutor (KASPEROVICZUS, 2009). Nos machos a maturidade
sexual inferida a partir da observao do menor indivduo com ductos deferentes opacos e
enovelados (SHINE, 1977b; ALMEIDA-SANTOS, 2005; Figura 7).
Figura 6 Espcimes fmea de Bothrops jararaca dissecados na regio abdominal
Fonte: Kasperoviczus, K.N. (2013)
A - Fmea madura, porm no reprodutiva com folculos em vitelognese primria. Note o tero posterior
pregueado. B Fmea madura com embries no ovidutos. F (folculo no vitelognicos - V1 no ovrio); I
(intestino); OV (ovrio); UT (tero posterior); VT (vitelo); * (embrio).
A B
33
Figura 7 - Macho de Bothrops jararaca dissecado prximo regio caudal expondo os ductos deferentes
direito e esquerdo
Fonte: Kasperoviczus, K.N. (2013)
I (intestino); H (hemipnis); Setas apontam os ductos deferentes direito e esquerdo.
Ao todo foram utilizados para as anlises morfolgicas 216 fmeas e 147 machos do
clado norte e 182 fmeas e 157 machos do clado sul.
Para as anlises morfolgicas de Ilhabela foram utilizados dados de 12 machos e 11
fmeas. Da ilha de Bzios avaliamos 20 machos e 12 fmeas e da ilha dos Franceses nove
machos e oito fmeas.
Cada exemplar adulto teve os seguintes dados registrados: (1) comprimentos rostro-
cloacal (CRC) e caudal (CC; ambas as medidas tomadas com fita mtrica milimetrada); (2)
comprimento da cabea (CCAB; com paqumetro digital; 0,01 mm) (Figura 8); (3) massa, aps
drenagem do lquido preservativo conforme Martins et al. (2001), com dinammetro Pesola; 0,5
g e (4) sexo (exame gonadal).
34
Figura 8 Esquema indicando as medidas corpreas tomadas de cada indivduo de Bothrops jararaca
CC (comprimento da cauda); CCAB (comprimento da cabea); CRC (Comprimento rostro-cloacal).
3.2.2 ndice de dimorfismo sexual no tamanho (SSD)
O ndice de dimorfismo sexual (SSD) foi calculado utilizando-se a frmula: SSD = 1-
[CRC mdio dos adultos do sexo de maior tamanho/CRC mdio dos adultos do sexo de menor
tamanho] conforme Shine (1944).
35
3.2.3 Caracterizao dos ciclos reprodutivos de machos e fmeas
Para caracterizar o ciclo reprodutivo de B. jararaca cada exemplar foi dissecado por meio
de uma inciso ventral ao longo de dois teros posteriores do corpo. As fmeas tiveram os
seguintes dados registrados: (1) o estgio folicular, ou seja, se o animal encontrava-se em
vitelognese primria (V1; Figura 6A) ou vitelognese secundria/ovo/embrio (V2; as distines
entre folculos em vitelognese primria (V1) e vitelognese secundria (V2) foram feitas por
meio do comprimento folicular; Figura 6B), (2) nmero de folculos ovarianos ou embries, (3)
tamanho do maior folculo ovariano ou embrio (com paqumetro digital; 0,01 mm) e (4)
presena ou no de contrao muscular uterina (Figura 9). Nos machos, os seguintes dados foram
tomados: (1) comprimento, largura e espessura dos testculos direito e esquerdo (medidos com
paqumetro digital; 0,01mm) e (2) largura do ducto deferente direito e esquerdo na poro caudal
(medidos com paqumetro digital; 0,01mm; Almeida-Santos et al. (2004).
Para clculo do volume testicular, foi utilizada a frmula: VT = 4/3 abc; onde a = 1/2
comprimento, b = 1/2 largura e c = 1/2 espessura (SHINE, 1980). O volume dos testculos foi
utilizado como indicador da atividade espermatognica (FOX, 1952; SHINE, 1977a; VOLSE,
1944).
3.2.4 Contrao da Musculatura Uterina (UMT)
Foi averiguada em cada fmea a regio posterior do tero para constatar a presena de
contrao muscular uterina (UMT; Figura 9). Segundo Almeida-Santos e Salomo (1997, 2002),
contrao muscular uterina uma mudana na morfologia da regio posterior do tero resultando
em uma obstruo que impede a passagem do espermatozoide para o tero anterior at que ocorra
a ovulao A regio posterior do tero de fmeas de B. jararaca que apresentaram contrao
muscular uterina foi coletada para anlises histolgicas a fim de se verificar a presena de
espermatozoides.
36
Figura 9 Exemplar de fmea de Bothrops jararaca dissecada na regio caudal evidenciando os teros
direito e esquerdo contorcido (UMT)
Fonte: Kasperoviczus, K.N. (2013)
I (intestino); Setas apontam os teros direito e esquerdo com contrao da musculatura uterina (UMT).
3.2.5 Histologia gonadal
Amostras teciduais de fmeas e machos adultos de Bothrops jararaca preservados foram
coletadas aps exames macroscpicos para estudos de microscopia de luz. Fmeas tiveram
fragmentos coletados de tero e infundbulo (fmeas com embries nos ovidutos no tiveram
material coletado) e dos machos foram coletados rim, ductos deferentes e testculos. Para uma
padronizao somente os rgos do lado direito foram coletados. As amostras coletadas foram
recortadas em pequenas peas de 0,5 cm de aresta e colocadas em soluo fixadora de
paraformaldedo a 4%, tamponado em PBS em pH 7,2. O material foi desidratado em uma srie
crescente de etanol de 70 a 100% e diafanizado em xilol, seguido da incluso em parafina. Cortes
I
37
finos foram realizados com 5 m de espessura e em seguida o material foi submetido a colorao
bsica com hematoxilina-eosina.
A documentao do material foi feita por meio de fotografias com cmera digital
(Olympus Q-Color 5) acoplada a um microscpio de luz (Olympus BX-51) utilizando-se o
programa Image-Pro Express Olympus.
A fim de se caracterizar as fases espermatognicas (anlises histolgicas) dos machos de
B. jararaca foi confeccionada uma tabela para classificao dos estgios espermatognicos,
adaptada a partir de Goldberg e Parker (1975); Mcpherson e Marion (1981) e Saint-Girons
(1982), utilizado por Kasperoviczus (2009), buscando assim, uma viso geral do ciclo
espermatognico dos machos com relao s diferentes pocas do ano (Quadro 3).
Quadro 3 - Classificao dos estgios espermatognicos em machos de Bothrops jararaca
Estgios Descrio dos tbulos seminiferous
1 Regresso completa; tbulos seminferos somente com poucas espermatognias
e clulas de Sertoli; podem ter poucos espermatozoides na luz do lmen.
2 Espermatognias aumentando (crescendo) e dividindo-se; espermatcitos
primrios.
3 Espermtides em metamorfose com poucos espermatozoides.
4 Espermiognese; espermas maduros no lmen (nvel mximo de
espermiognese).
6
Epitlio germinal reduzido, com poucas espermatognias, espermatcitos e
espermtides; podem conter ou no espermatozoides no lmen de uma a duas
camadas de clulas.
Fonte: Adaptado de GOLDBERG; PARKER, 1975; MCPHERSON; MARION, 1981 e SAINT-GIRONS,
982).
38
3.2.6 Fecundidade
A estimativa de fecundidade foi realizada contando-se o nmero de ovos/embries nos
ovidutos de fmeas reprodutivas (SEIGEL; FORD, 1987) preservadas em colees zoolgicas
(n=56 CS e n=35 CN). A fecundidade no pode ser estimada em fmeas de ilhas devido ao baixo
tamanho amostral (na ilha de Bzios e ilha dos Franceses, por exemplo, no foi encontrada
nenhuma fmea grvida).
3.2.7 poca de nascimento dos filhotes
Registros de nascimento dos filhotes foram resgatados dos registros de tombo das
colees zoolgicas IBSP, MHNCI e MCP. Alm disso, dados de literatura e registro de
nascimentos em cativeiro tambm foram levantados. Informaes de 21 nascimentos em cativeiro
foram levantadas para o CS. Esses dados foram gentilmente cedidos por Glucia Funk Pontes,
curadora da coleo Herpetolgica da PUC-RS (MCP) a partir de registros de parturio de B.
jararaca provenientes do desativado serpentrio da PUC-RS. Informaes de 43 nascimentos de
B. jararaca do CN foram levantadas a partir de exemplares mantidos em cativeiro ou no
serpentrio semiextensivo do Instituto Butantan. As informaes foram cedidas por Selma
Almeida-Santos e Leonardo Oliveira.
3.2.8 Tamanho dos filhotes
Para comparar o tamanho dos filhotes do CN e CS foi tomado o comprimento rostro-
cloacal de filhotes recm-nascidos preservados em colees zoolgicas.
39
3.3 FORMA DE ANLISE DOS RESULTADOS
As anlises foram realizadas utilizando-se testes paramtricos ou o similar no
paramtrico dependendo da natureza dos dados. As anlises foramo baseadas em Zar (1999) e as
diferenas consideradas significativas quando P < 0,05.
Para as comparaes morfolgicas foram utilizados apenas indivduos sexualmente
maduros para evitar problemas relacionados a mudanas ontogenticas na forma do corpo
(KING, 1989). Os indivduos com itens alimentares e as fmeas grvidas ou com folculos em
fase final de vitelognese foram excludos apenas das comparaes de massa. O grau de
dimorfismo sexual no tamanho corporal (SSD) das populaes foi calculado conforme Shine
(1994) utilizando-se a frmula: SSD = 1 - (CRC mdio dos adultos do sexo de maior
tamanho/CRC mdio dos adultos do sexo de menor tamanho). O dimorfismo sexual nos animais
maduros foi verificado com teste-t (no tamanho do corpo) e com anlise de covarincia (para
tamanho relativo da cauda, massa relativa do corpo e tamanho relativo da cabea). Comparaes
interpopulacionais dos caracteres morfolgicos foram realizadas com teste-t, ANOVA ou
ANCOVA.
O ciclo reprodutivo das fmeas foi caracterizado pela distribuio ao longo do ano do
tamanho dos folculos ovarianos e a presena de embries. A observao de espermatozoides no
trato reprodutivo com uso de anlises histolgicas permitiu inferir o perodo da cpula e
estocagem de esperma tanto em machos como em fmeas. O ciclo dos machos foi caracterizado
pela distribuio ao longo do ano do volume relativo dos testculos e do dimetro relativo dos
ductos deferentes.
O volume testicular foi positivamente correlacionado com o tamanho do corpo em ambos
os clados (CN: r = 0,34; P = 0,0009 e CS: r = 0,34; P < 0,0001). A mesma correlao foi
observada entre o dimetro do ducto deferente e o tamanho do corpo (CN: r = 0,49; P < 0,0001 e
CS: r = 0,32; P < 0,0001). Diante disso, variaes sazonais no volume testicular e no dimetro
dos ductos deferentes foram testadas com anlise de covarincia (ANCOVA) utilizando o CRC
como co-varivel.
No entanto, simples anlises morfomtricas dos testculos e ductos por vezes tm falhado
em encontrar sazonalidade no ciclo espermatognico dos machos (KASPEROVICZUS, 2009;
40
SANTOS, 2009; ROJAS et al., 2013). Assim, anlises histolgicas dos testculos e ductos
deferentes so empregadas paralelamente s anlises morfomtricas para confirmao do ciclo
espermatognico (KASPEROVICZUS, 2009). As fases espermatognicas so determinadas
conforme tabela de classificao dos estgios espermatognicos, buscando assim, uma
confirmao definitiva da sazonalidade do ciclo dos machos (KASPEROVICZUS, 2009).
Quando mencionadas, as estaes do ano foram primavera, vero, outono e inverno.
A relao entre a fecundidade (i.e. quantidade de filhotes) e o tamanho corporal das
fmeas foi investigada por anlises de regresso linear, tendo o CRC como varivel
independente. Comparaes interpopulacionais na fecundidade foram realizadas com ANCOVA,
tendo como covarivel o CRC materno.
A fecundidade de B. jararaca foi estimada calculando-se a mdia e o desvio padro do
numero total de ovos ou embries nos ovidutos (SEIGEL; FORD, 1987) de fmeas reprodutivas
depositadas em colees biolgicas.
Foi realizado um teste t para as comparaes do tamanho dos filhotes entre o CN e CS.
Todas as anlises foram baseadas em Zar (1999) e executadas no programa Statistica
(STATSOFT, 2007) e no programa Instat, as diferenas foram consideradas significativas quando
P < 0,05.
41
4 RESULTADOS
4.1 MORFOLOGIA E HISTRIAS DE VIDA (COMPARAES INTERSEXUAIS)
Os dados morfolgicos obtidos para machos e fmeas dos clados norte (CN) e sul (CS)
foram resumidos na tabela 2. Em ambos os clados machos e fmeas diferiram quanto s variveis
morfolgicas examinadas (CRC, CC, Ccab e massa). Fmeas adultas foram em mdia maiores e
atingiram maiores CRCs que os machos (Tabelas 2 e 3 e Figura 10). Alm disso, em valores
brutos, fmeas apresentaram tambm maiores cabeas e caudas e foram mais pesadas que os
machos (Tabelas 2 e 3).
O CRC foi correlacionado com todas as variveis morfolgicas examinadas em ambos os
clados (Figura 11). Diante disso, os dados foram reexaminados com anlise de covarincia
(ANCOVA), utilizando o CRC como covarivel. Essas anlises mostraram que, em termos
relativos, as fmeas de ambos os clados apresentaram cabeas maiores e foram relativamente
mais pesadas, porm tiveram caudas relativamente menores que machos (Tabela 2, 4 e Figura
11). O ndice de dimorfismo sexual (SSD; Sexual Size Dimorphism) foi de 0,33 para o CN e de
0,21 para o CS.
A menor fmea sexualmente madura do CN mediu 746 mm enquanto que o menor macho
mediu 613 mm. Para o CS, a menor fmea madura observada mediu 689 mm enquanto que o
menor macho mediu 506 mm. O tamanho do corpo dos cinco menores indivduos maduros de
cada sexo diferiu significativamente com fmeas apresentando maiores valores (Tabelas 2 e 3).
Dessa forma, fmeas amadureceram sexualmente com maiores tamanhos corpreos que os
machos em ambos os clados.
42
Tabela 2 - Morfologia de machos e fmeas adultos de Bothrops jararaca dos clados norte e sul. A tabela apresenta valores mdios DP e valores
extremos para as variveis morfolgicas examinadas. CRC: comprimento rostro-cloacal, CC: comprimento da cauda e Ccab:
comprimento da cabea
Varivel
Clado Norte Clado Sul
Machos n Fmeas n Machos n Fmeas n
CRC (mm) 794,6 88,0
613-980
146 1056,2 111,2
746-1383
210 743,0 75,7
506-921
162 902,2 85,2
689-1147
182
CC (mm) 133,0 16,2
90-170
141 153,9 17,4
109-202
199 123,8 12,7
85-152
158 131,8 13,8
96-181
172
Ccab (mm) 31,5 3,2
23,9-38,9
144 44,4 5,0
31,2-65,4
206 31,9 3,1
22,2-37,6
159 40,2 3,5
30,5-50,4
175
Massa (g) 135,9 49,9
47-338
146 416,7 168,6
90-980
202 154,1 54,6
55-390
157 346,3 133,4
75-900
175
CRC maturidade (mm) 621 4,9
613-625
5 790,0 27,6
746-815
5 573,4 38,7
506-596
5 735,2 28,1
689-763
5
42
43
Tabela 3 - Resultados das anlises estatsticas (teste-t) do dimorfismo sexual (dados brutos) em adultos de
Bothrops jararaca dos clados norte (CN) e clado sul (CS)
Varivel
Significncia do dimorfismo sexual
gl T P
CN Machos vs. Fmeas
CRC 354 24,20 < 0,0001
CC 338 11,01 < 0,0001
Ccab 347 29,13 < 0,0001
Massa 346 25,82 < 0,0001
CRC maturidade 8 13,48 < 0,0001
CS Machos vs. Fmeas
CRC 342 18,22 < 0,0001
CC 328 5,48 < 0,0001
Ccab 332 22,84 < 0,0001
Massa 330 19,01 < 0,0001
CRC maturidade 8 7,56 < 0,0001
44
Figura 10 - Distribuio do comprimento rostro-cloacal de machos e fmeas adultos de Bothrops jararaca dos clados norte (A) e clado sul (B)
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
491-5
00
501-6
00
601-7
00
701-8
00
801-9
00
901-1
000
1001-1
100
1101-1
200
12
01-1
300
13
01-1
400
1401-1
500
Fre
qu
nci
a d
e o
bse
rv
a
es
Comprimento rostro-cloacal (mm)
Machos -
Clado Norte
A
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
49
1-5
00
50
1-6
00
60
1-7
00
70
1-8
00
801-9
00
90
1-1
00
0
10
01-1
100
11
01-1
200
12
01-1
300
13
01-1
400
14
01-1
500
Fre
qu
nci
a d
e ob
serva
es
Comprimento rostro-cloacal (mm)
Machos -
Clado Sul
B
45
Tabela 4 - Resultados dos testes estatsticos do dimorfismo sexual em adultos de Bothrops jararaca dos
clados norte e sul. O dimorfismo foi testado com ANCOVA com o sexo como fator e CRC
como covarivel
Varivel relativa ao CRC
Inclinaes Interceptos
gl F P gl F P
Clado Norte
CC 1, 336 1,52 0,22 1, 337 11,69 0,0007
Ccab 1, 343 3,99 0,05
Massa 1, 342 36,5
46
Figura 11 - Correlao entre o comprimento rostro-cloacal e o comprimento da cauda (CC), comprimento da cabea (Ccab) e massa corprea em
machos e fmeas de Bothrops jararaca dos clados norte (A) e sul (B)
46
47
4.2 MORFOLOGIA E HISTRIA DE VIDA (COMPARAES INTERPOPULACIONAIS)
4.2.1 Morfologia e maturidade sexual
Todas as variveis morfolgicas examinadas diferiram entre os clados em ambos os
sexos. Machos de B. jararaca do clado norte foram maiores que os machos do clado sul (U =
7932,0; P < 0,0001; Figura 12), tiveram cabeas relativamente menores e foram menos pesados
(Tabelas 2, 4 e Figura 14). Embora o tamanho relativo da cauda no tenha diferido entre os
clados, a comparao foi marginalmente no significativa, com machos do CN tendendo a
apresentar maiores caudas. Fmeas do CN foram maiores que as do CS (U = 5495,0; P < 0,0001;
Figura 13), tiveram caudas maiores, porm tiveram cabeas relativamente menores e foram
menos pesadas (Tabelas 2, 5 e Figura 14).
O tamanho do corpo na maturidade sexual diferiu entre os clados em ambos os sexos, com
os indivduos do CN atingindo a maturidade sexual com maiores tamanhos corpreos que os
indivduos do CS (machos: U = 0,0; P = 0,008; fmeas: U = 0,0; P = 0,008).
Entretanto, esses resultados diferiram quando considerado o tamanho do corpo na
maturidade relativo ao tamanho mdio do corpo. Machos do CN atingiram a maturidade em
mdia com 79% do tamanho mdio do corpo do adulto, enquanto que os machos do clado sul
esse valor foi de 77% (calculados como a mdia da razo entre o tamanho do corpo dos cinco
menores indivduos e o tamanho mdio do adulto). Essa diferena no foi significativa (U = 9,0;
P = 0,55). Fmeas do CN atingiram a maturidade com tamanhos corpreos proporcionalmente
menores ao tamanho do adulto do que as fmeas do CS (CN = 72% vs. CS = 81%; t = 5,37; gl =
8; P = 0,0007).
48
Figura 12 - Diagrama de Box plot. Mdia e variao do comprimento rostro-cloacal (CRC) entre machos de Bothrops jararaca do clado norte e clado sul. Linhas horizontais no interior das caixas
representam valores mdios, limite das caixas o desvio padro e linhas verticais os valores
mnimos e mximos observados
Figura 13 - Diagrama de Box plot. Mdia e variao do comprimento rostro-cloacal (CRC) entre fmeas
de Bothrops jararaca do clado norte e clado sul. Linhas horizontais no interior das caixas
representam valores mdios, limite das caixas o desvio padro e linhas verticais os valores
mnimos e mximos observados
CN CS
Clado
600
700
800
900
1000
1100
1200
1300
1400
1500
CR
C (
mm
)
CN CS
Clado
400
500
600
700
800
900
1000
CR
C (
mm
)
50
Figura 14 - Correlao entre o comprimento rostro-cloacal e o comprimento da cauda (A), comprimento
da cabea (B) e massa corprea (C) em machos de Bothrops jararaca dos clados norte e sul
1.90
1.95
2.00
2.05
2.10
2.15
2.20
2.25
2.65 2.70 2.75 2.80 2.85 2.90 2.95 3.00 3.05
Log
Co
mp
rim
en
to d
a ca
ud
a
e
Clado Sul
Clado Norte
A
1.30
1.35
1.40
1.45
1.50
1.55
1.60
1.65
2.65 2.70 2.75 2.80 2.85 2.90 2.95 3.00 3.05
Log
Co
mp
rim
en
to d
a ca
be
a
e
B
1.40
1.60
1.80
2.00
2.20
2.40
2.60
2.80
2.65 2.70 2.75 2.80 2.85 2.90 2.95 3.00 3.05
Log
Mas
sa
Log Comprimento rostro-cloacal
C
51
4.2.2 Fecundidade
O tamanho mdio da ninhada diferiu entre os clados (t = 2,95; gl = 88; P = 0,004) sendo
maior no CN (mdia = 15,3 5,4 embries; variao: 6-28; n = 35) do que no CS (mdia = 11,9
4,2 embries; variao: 4-28; n = 56). O tamanho da ninhada foi positivamente correlacionado
com o tamanho do corpo materno nas duas populaes (CN: r = 0,65; n = 34; P < 0,0001 e CS: r
= 0,49; n = 55; P = 0,0002; Figura 15). A variao no tamanho da ninhada explicvel pelo CRC
materno foi de aproximadamente 42% para o CN e 24% para o CS. A taxa na qual o tamanho da
ninhada aumenta em decorrncia de aumentos no tamanho do corpo materno no diferiu entre as
populaes (ANCOVA, inclinaes: F 1,88 = 0,12; P = 0,73; Figura 15). Mesmo aps corrigir a
influncia do tamanho corpo materno, o tamanho da ninhada continuou diferindo entre os clados
(ANCOVA, interceptos: F 1,89 = 4,28; P = 0,04; Figura 15). No entanto, as fmeas do CS
apresentaram uma fecundidade relativa maior do que as fmeas do CN. Dessa forma, o maior
nmero de filhotes produzido por fmeas do CN resulta do maior tamanho corpreo observado
nesse clado.
Figura 15 - Relao entre o nmero de filhotes e o comprimento rostro-cloacal materno em Bothrops
jararaca dos clados norte e sul
0.40
0.60
0.80
1.00
1.20
1.40
1.60
2.85 2.90 2.95 3.00 3.05 3.10
Lo
g N
m
ero
de
filh
ote
s
Log Comprimento rostro-cloacal (mm)
Clado Sul
Clado Norte
52
O comprimento mdio do ovo na populao do CN foi de 38,2 9,6 mm (variao: 24, 3-
75, 5; n = 35) e no CS de 38,6 8,8 mm (variao: 20, 5-63,7; n = 55). No foram observadas
correlaes entre o comprimento mdio do ovo e o tamanho do corpo materno em ambos os
clados (CN: r = 0, 05; n = 34; P = 0, 76 e CS: r = -0,13; n = 54; P = 0, 36; Figura 16). O
comprimento mdio do ovo no diferiu entre as populaes (t = 0, 21; gl = 88; P = 0, 83).
Figura 16 - Relao entre o dimetro do maior ovo e o comprimento rostro-cloacal materno em Bothrops
jararaca dos clados norte e sul
Anlise de correlao foi utilizada para testar a hiptese de existncia de um trade-off
negativo entre o tamanho da ninhada e o tamanho dos ovos. Tal anlise foi conduzida utilizando-
se os resduos derivados da regresso entre o nmero de embries e o CRC materno devido
existncia de relao alomtrica entre elas (Figura 17). Uma correlao negativa entre os resduos
do nmero de embries/CRC materno e o tamanho dos ovos significa que fmeas que produzem
ninhadas relativamente numerosas tambm produzem ovos (e possivelmente filhotes)
relativamente pequenos e vice-versa. Conforme predito, o nmero de filhotes foi inversamente
1.2
1.3
1.4
1.5
1.6
1.7
1.8
1.9
2.0
2.85 2.90 2.95 3.00 3.05 3.10
Lo
g D
Im
etro
do
mai
or
ovo
Log Comprimento rostro-cloacal
Clado Sul
Clado Norte
53
correlacionado com o comprimento do maior ovo para ambos os clados (CN: r = -0,45; n = 33; P
= 0,008 e CS: r = -0,31; n = 54; P = 0,02; Figura 17). Contudo, quando os dados para cada
populao foram contrastados o trade-off entre quantidade e tamanho dos ovos no variou
significativamente entre as populaes (ANCOVA, com a fecundidade relativa como covarivel,
inclinaes: F1,83 = 0,67; P = 0,41; interceptos: F1,84 = 0,01; P = 0,92; Figura 17).
Figura 17 - Trade-off entre a fecundidade relativa e o tamanho do maior ovo em Bothrops jararaca dos
clados norte e sul. A fecundidade relativa foi calculada a partir dos resduos da regresso entre
o nmero de filhotes pelo tamanho do corpo materno
4.2.3 Tamanho dos filhotes
O CRC mdio dos filhotes recm-nascidos diferiu entre os clados (t = 3,34; gl = 181; P =
0,0010). Filhotes de B. jararaca do CS (n = 61) apresentaram menores tamanhos (252,1 20,6
mm; amplitude = 205 248 mm) do que os filhotes do CN (260,4 12,7 mm; amplitude = 176
281 mm; n = 122).
-0.5
-0.4
-0.3
-0.2
-0.1
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 2.0
Fec
undid
ade
rela
tiva
Log Tamanho maior ovo
Clado Norte
Clado Sul
Linear (Clado Norte)
Linear (Clado Sul)
54
4.3 CARACTERIZAO DOS CICLOS REPRODUTIVOS
A seguir, sero apresentados os resultados dos ciclos reprodutivos de machos e fmeas de
B. jararaca do clado norte e sul e de ilhas.
4.3.1 Fmeas
4.3.1.1 Vitelognese, gestao e poca de nascimento dos filhotes
O ciclo reprodutivo de fmeas de Bothrops jararaca do clado norte (CN) e clado sul (CS)
sazonal. Folculos em vitelognese primria (V1) foram observados em todos os meses do ano
tanto para o CN como para o CS (Figuras 18A e B). Folculos ovarianos com incio de deposio
de vitelo (V2; > 10 mm) foram observados a partir de fevereiro (vero) para fmeas de ambos os
clados. No entanto, um aumento substancial na atividade vitelognica (folculos > 20 mm) foi
observado a partir de maro (final do vero) para as fmeas do CS (Figura 18B) enquanto que
para o CN, tal aumento foi evidente mais tardiamente, sendo observado a partir de abril (incio do
outono, Figura 18B). Apesar disso, a durao da vitelognese foi similar entre os clados,
estendendo-se at o incio de dezembro (final da primavera; Figura 18A e B).
Fmeas grvidas foram observadas a partir agosto (inverno) em fmeas do CN e CS
(Figura 18A e B). Fmeas do CS parecem ter um ciclo um pouco mais curto, com fmeas
grvidas observadas somente at metade de maro (final do vero) enquanto que fmeas do CN
parecem ter um ciclo mais extenso onde fmeas grvidas puderam ser observadas at maio
(outono) (Figura 18A e B). Entretanto, nascimentos no foram registrados nesse perodo.
55
Crculos pretos: fmeas em vitelognese primria (V1), crculos brancos: fmeas em vitelognese
secundria (V2) e crculos vermelhos: fmeas com embries nos ovidutos. As figuras de serpentes
correspondem ao perodo de nascimento dos filhotes e a seta a poca de observao de cpula no
serpentrio do Instituto Butantan.
Nascimentos foram registrados durante todo o vero e incio do outono (de janeiro a abril)
nos dois clados (CS; n=21; CN; n=43). A poca de nascimento dos filhotes no diferiu entre os
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
J F M A M J J A S O N D
Di
met
ro d
os
fol
culo
s /e
mb
rio
(mm
)
Meses
B
0
10
20
30
40
50
60
70
80
J F M A M J J A S O N DDi
met
ro d
os
fol
culo
s/em
bri
es
(mm
)
Meses
A
Figura 18- Variao sazonal do dimetro do maior folculo ovariano em fmeas adultas de Bothrops
jararaca do clado norte (A) e clado sul (B)
56
clados (Figuras 18 e 19). Em ambos os clados o maior numero de nascimento ocorreu no ms de
Maro (Figura 19).
Dessa forma, os ciclos reprodutivos de fmeas de B. jararaca do CN e CS so sazonais e
bastante similares em sua extenso, com folculos vitelognicos sendo observados a partir do
final do vero at o a primavera. Fmeas grvidas so observadas principalmente a partir da
primavera e nascimentos acontecendo principalmente no vero.
Figura 19 - Nascimento dos filhotes de Bothrops jararaca do clado norte e do clado sul
4.3.1.2 poca de cpula
Foram resgatados dados de comportamento de corte e cpula entre machos e fmeas de B.
jararaca somente para animais do CN. Esses dados foram obtidos de exemplares de cativeiro e
do serpentrio semiextensivo do Instituto Butantan. Foram observados cpulas no cativeiro em
abril, maio e junho (outono). As observaes de cpula em cativeiro de B. jararaca do CN
corroboram os dados obtidos na histologia, onde animais com espermatozoides foram observados
especialmente no outono (Figura 20). Apesar de no ter resgatado dados de cpula de B. jararaca
do CS, as anlise histolgica dos teros desse clado tambm confirma uma cpula outonal, pois
0%
10%
20%
30%
40%
50%
Janeiro Fevereiro Maro Abril
poca
de
nas
cim
ento
de
B.j
ara
raca
Meses
CS
CN
57
espermatozoides foram observados no lmen uterino principalmente nessa poca do ano (Figura
21).
4.3.1.3 Contrao da musculatura uterina (UMT) e estocagem de esperma
Fmeas de B. jararaca do CN e CS apresentaram contrao da musculatura uterina
(UMT). Foram avaliadas 215 fmeas maduras do CN. Desse total, 30,7% (n=66) apresentaram
UMT enquanto que 64,7% (n=139) no apresentaram. Em dez ocasies (4,7%) no foi possvel
distinguir macroscopicamente se os exemplares apresentavam ou no UMT. Foram realizados
cortes histolgicos em 80 fmeas de B. jararaca do CN. Das 187 fmeas maduras do CS
analisadas at o momento, 32,6% (n = 61) apresentaram UMT, enquanto que 64,2% (n = 120)
no apresentaram. Em seis ocasies (3,2%) no foi possvel distinguir macroscopicamente se os
exemplares apresentavam UMT. Foram realizados cortes histolgicos de 80 fmeas de B.
jararaca do CS.
Anlises histolgicas dos teros das fmeas do CN e CS revelaram uma grande
quantidade de fmeas com espermatozoides estocados nos teros no outono e inverno (Figuras 20
e 21 A e B). No entanto, o outono foi poca em que a maioria das fmeas encontrava-se com
espermatozoides no lmen uterino (Figuras 20 e 21 A). Em ambos os clados, no foram
encontrados espermatozoides estocados em fmeas na primavera (Figuras 20 e 21C). De uma
maneira geral, fmeas de ambos os clados no apresentaram espermatozoides estocados no vero
(Figuras 20 e 21 D) com exceo de trs fmeas do CN e uma fmea do CS (Figuras 20 e 21 E).
Todas as fmeas do CN e do CS que apresentaram espermatozoides estocados nos teros estavam
vitelognicas, isto , apresentavam folculos em V2, com exceo de duas fmeas do CS que
apresentavam folculos em V1.
Dessa forma, espermatozoides so encontrados especialmente no outono tanto para
fmeas do CN como do CS. Com isso, pode-se inferir que a poca de acasalamento para ambos
os clados outonal podendo estender-se at o inverno, confirmado pela observao de cpulas
em cativeiro para o CN.
58
Figura 20 - Histologia de corte transversal do tero posterior de fmeas de Bothrops jararaca do clado
norte
Fontes: Kasperoviczus, K.N. (2013).
A - (Rio de Janeiro) no Outono e B - (Minas Gerais) no Inverno; Exemplares apresentando muito
espermatozoides no lmen uterino. C - (Esprito Santo) na Primavera; Exemplar sem espermatozoides no
lmen uterino. D e E - (So Paulo) no Vero onde, (D) representa a maioria dos exemplares da estao,
sem espermatozoides no lmen uterino e (E) exemplar com espermatozoides no tero. ep (Epitlio
uterino); espL (espermatozoides no lmen uterino); L (lmen uterino) m (camada muscular).
Hematoxilina-eosina.
59
Figura 21 - Histologia de corte transversal do tero posterior de fmeas de Bothrops jararaca do clado sul
Fonte: Kasperoviczus, K.N. (2013).
A (Paran) no Outono e B (Paran) no Inverno; Exemplares apresentando muitos espermatozoides no
lmen uterino. C - (Santa Catarina) Primavera; Exemplar sem espermatozoides no lmen uterino. D - (Rio
Grande do Sul) e E - (Paran) no Vero, onde (D) representa a maioria dos exemplares da estao, sem
espermatozoides no lmen uterino. (E) exemplar com espermatozoides no tero. ep (epitlio uterino);
espL (espermatozoides no lmen uterino); m (camada muscular). Hematoxilina-eosina.
60
4.3.1.4 Morfologia e estocagem infundibular
Neste trabalho, estamos incluindo um dado indito para viperdeos neotropicais. Foram
encontrados pela primeira vez espermatozoides estocados em tbulos de estocagem de
espermatozoides presentes no infundbulo de fmeas do CN e do CS. Foi encontrada uma
variao na morfologia infundibular entre fmeas em V1 (no reprodutiva; Figura 22 A) e V2
(reprodutiva; Figura 22B).
Fmeas que no apresentaram folculos vitelognicos/ovos/embries exibiram um epitlio
infundibular ciliado baixo. As glndulas do infundbulo (presentes no tecido conjuntivo)
apresentaram um tamanho reduzido e provavelmente no secretor (Figura 22A). As fmeas
vitelognicas (V2), ou seja, reprodutivas, apresentaram um epitlio ciliado alto e as glndulas do
infundbulo (presentes no tecido conjuntivo), so maiores, mais desenvolvidas e provavelmente
secretoras (Figura 22B).
Figura 22 - Histologia de corte longitudinal do infundbulo de fmeas de Bothrops jararaca.
Fonte: Kasperoviczus, K.N. (2013).
A - Regio do infundbulo de fmeas de B. jararaca no reprodutiva (V1) mostrando o epitlio do
infundbulo ciliado baixo e com as glndulas do infundbulo de tamanho reduzido. B - Regio do
infundbulo de fmeas rerprodutivas (V2), mostrando um epitlio ciliado alto, com glndulas
infundibulares grande. ep (epitlio ciliado); Glu (glndula do infundbulo); L (lmen infundibular); m
(camada muscular); tc (tecido conjuntivo). Hematoxilina-eosina.
61
Todas as fmeas tanto do CN como do CS que apresentavam espermatozoides no lmen
infundibular ou estocados em tbulos no infundbulo estavam vitelognicas (V2).
Foram encontrados espermatozoides em grande quantidade no lmen infundibular e em
tbulos de estocagem de espermatozoides presentes no infundbulo de fmeas de ambos os clados
no outono (Figuras 23 e 25A e B) e no inverno (Figuras 23 e 25C e D). Os espermatozoides
encontrados nos tbulos de estocagem encontravam-se alinhados em feixes (Figuras 23 e 25 B e
D). Da mesma forma como observado na estocagem uterina (UMT), espermatozoides foram
encontrados no infundbulo com mais frequncia no outono.
No foram encontrados espermatozoides no lmen infundibular ou em criptas de
estocagem em fmeas na primavera de ambos os clados (Figuras 24A e 25E).
No foram encontrados espermatozoides no infundbulo no vero no CS (Figura 25F).
Todavia, assim como o que ocorreu com relao estocagem no tero (UMT), a regio
infundibular da maioria das fmeas no vero no apresentou estocagem de espermatozoides, com
exceo de trs fmeas que apresentaram espermatozoides estocados em tbulos no infundbulo
(Figura 24C).
62
Figura 23 - Histologia de corte longitudinal do infundbulo de fmeas de Bothrops jararaca do clado norte
Fonte: Kasperoviczus, K.N. (2013).
A - (So Paulo) e B - (Rio de Janeiro) no outono onde, A - regio do infundbulo apresentando uma
grande quantidade de espermatozoides no lmen e B - espermatozoides estocados nos tbulos de
estocagem. C e D (So Paulo) no inverno onde, C - regio do infundbulo revelando espermatozoides no
lmen infundibular e D - espermatozoides estocados nos tbulos de estocagem. ep (epitlio ciliado do
infundbulo); espL (espermatozoides no lmen); Glu (glndulas do infundbulo); tc (tecido conjuntivo);
tee (tbulo de estocagem de espermatozoide); tringulos apontam os espermatozoides estocados nos
tbulos. Hematoxilina-eosina.
63
Figura 24 - Histologia de corte longitudinal do infundbulo de fmeas de Bothrops jararaca do clado norte
(continuao)
Fonte: Kasperoviczus, K.N. (2013).
A - (Esprito Santo) na Primavera; Regio do infundbulo sem espermatozoides no lmen ou nos tbulos
de estocagem de espermatozoides. B - (Minas Gerais) e C - (So Paulo) no Vero, onde B - Regio do
infundbulo sem espermatozoides estocados no lmen e C - tbulos de estocagem com espermatozoides
estocados no infundbulo. ep (epitlio ciliado do infundbulo); glu (glndulas do infundbulo); tc (tecido
conjuntivo); tee (tbulo de estocagem de espermatozoide); tringulos apontam os espermatozoides
estocados nos tbulos. Hematoxilina-eosina.
64
Figura 25 - Histologia de corte longitudinal do infundbulo de fmeas de Bothrops jararaca do clado sul
Fonte: Kasperoviczus, K.N. (2013).
A e B - (Paran) no Outono, onde A - Regio do infundbulo apresentando uma grande quantidade de
espermatozoides no lmen e B - tbulos de estocagem com espermatozoides estocados no infundbulo. C
e D - (Paran) no Inverno onde, C - Regio do infundbulo no inverno apresentando uma grande
quantidade de espermatozoides no lmen e D - tbulos de estocagem com espermatozoides estocados no
infundbulo. E (Santa Catarina) na Primavera. Regio do infundbulo sem espermatozoides no lmen ou
estocados em tbulos de estocagem. F - (Rios Grande do Sul) no Vero. Regio do infundbulo sem
espermatozoides no lmen ou estocados em tbulos de estocagem. ep (epitlio ciliado do infundbulo);
glu (glndulas do infundbulo); tc (tecido conjuntivo); tee (tbulo de estocagem de espermatozoide);
tringulos apontam os espermatozoides estocados nos tbulos. Hematoxilina-eosina.
65
Assim, provavelmente os espermatozoides ascendem do tero logo aps a cpula (outono
ou inverno) at a regio infundibular. Esses espermatozoides chegam ao lmen infundibular
(Figura 26A). Do lmen esses espermatozoides vo em direo aos tbulos de estocagem
(criptas) e l ficam estocados at a poca de fertilizao dos folculos (Figura 26B).
Figura 26 - Histologia de corte longitudinal do infundbulo de fmeas de Bothrops jararaca
Fonte: Kasperoviczus, K.N. ( 2013).
A - Viso aproximada do infundibulo de Bothrops jararaca evidenciando espermatozoides saindo da
regio do lmen infundibular e adentrando a regio onde se encontram os tbulos de estocagem. B
Viso aproximada de espermatozoides posicionados em feixes, estocados nos tbulos de estocagem de
espermatozoides presentes no infundbulo. ep (epitlio do infundbulo); L (Lmen do infundbulo; tee
(tbulos de estocagem de espermatozoides); estrela (indicam as caudas dos espermatozoides); tringulo
(apontam a regio do ncleo dos espermatozoides). Hematoxilina-eosina.
66
4.3.2 Machos
4.3.2.1 Morfologia macroscpica
O volume relativo dos testculos de machos do CN variou entre as estaes (inclinaes:
F3,121 = 0,28; P = 0,84; interceptos: F3,124 = 7,36; P = 0,0001; Figura 27 ). Testes a posteriori
revelaram que o volume dos testculos menor no outono (teste de Tukey: P < 0,03 em todos os
casos; Figura 27) e similar entre as demais estaes (teste de Tukey: P > 0,60 em todos os casos;
Figura 27). No entanto, essa variao no foi observada no dimetro dos ductos deferentes
(inclinaes: F3,122 = 0,64; P = 0,59; interceptos: F3,125 = 0,69; P = 0,56; Figura 28).
Figura 27 - Variao sazonal no volume dos testculos de machos de Bothrops jararaca do clado norte
Linhas horizontais no interior das caixas representam valores mdios, limite das caixas o desvio padro e
linhas verticais os valores mnimos e mximos observados. Estaes que compartilham a mesma letra no
diferiram significativamente (teste de Tukey: = 0,05; a > b).
Vero Outono Inverno Primavera
Estao
-0,8
-0,6
-0,4
-0,2
0,0
0,2
0,4
0,6
Resd
uo
Log C
RC
/Volu
me d
os testcu
los
aa a
b
67
Figura 28 - Variao sazonal no dimetro relativo dos ductos deferentes de machos de Bothrops jararaca
do clado norte
Linhas horizontais no interior das caixas representam valores mdios, limite das caixas o desvio padro e
linhas verticais os valores mnimos e mximos observados.
Para o CS, no foram observadas diferenas sazonais tanto no volume relativo dos
testculos (inclinaes: F3,134 = 2,40; P = 0,07; interceptos: F3,137 = 0,62; P = 0,60; Figura 29)
como no dimetro relativo dos ductos deferentes (inclinaes: F3,134 = 1,62; P = 0,19; interceptos:
F3,137 = 0,20; P = 0,89; Figura 30).
Vero Outono Inverno Primavera
Estao
-0,4
-0,3
-0,2
-0,1
0,0
0,1
0,2
0,3
Res
du
o L
og
Crc
/Di
met
ro d
uct
os
def
eren
tes
68
Figura 29 - Variao sazonal no volume dos testculos de machos de Bothrops jararaca do clado sul
Linhas horizontais no interior das caixas representam valores mdios, limite das caixas o desvio padro e
linhas verticais os valores mnimos e mximos observados.
Figura 30 - Variao sazonal no dimetro relativo dos ductos deferentes de machos de Bothrops jararaca
do clado sul.
Linhas horizontais no interior das caixas representam valores mdios, limite das caixas o desvio padro e
linhas verticais os valores mnimos e m