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l UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA UESB PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PPG PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO PPGED JULIANA DA SILVA MOURA TRANSTORNOS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS EM PROFESSORES E AS IMPLICAÇÕES PARA A CARREIRA DOCENTE Vitória da Conquista - BA Maio - 2020

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l UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO – PPG

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGED

JULIANA DA SILVA MOURA

TRANSTORNOS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS EM PROFESSORES E AS

IMPLICAÇÕES PARA A CARREIRA DOCENTE

Vitória da Conquista - BA

Maio - 2020

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1

JULIANA DA SILVA MOURA

TRANSTORNOS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS EM PROFESSORES E AS

IMPLICAÇÕES PARA A CARREIRA DOCENTE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação

em Educação (PPGED), da Universidade Estadual do

Sudoeste da Bahia (UESB), como requisito para

obtenção do Título de Mestre em Educação.

Linha de pesquisa: Política Pública Educacional

Orientador: Prof. Dr. Claudio Pinto Nunes

Coorientadora: Profª Drª Lucia Gracia Ferreira Trindade

Vitória da Conquista - BA

Maio - 2020

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2

FICHA CATALOGRÁFICA

371.104 M887t

Moura, Juliana da Silva.

Transtornos mentais e comportamentais em professores e as implicações

para a carreira docente. / Juliana da Silva Moura. – Vitória da Conquista-BA:

UESB, 2020. 177 fl.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação

(PPGEd) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) como

requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação. Sob a

orientação do Prof. D. Sc. Cláudio Pinto Nunes e coorientadora Prof. D. Sc.

Lúcia Gracia Ferreira Trindade.

1. Professores – Adoecimento mental – Carreira docente – Itapetinga-Ba.

2. Trabalho docente – Transtornos mentais – Educação Básica. 3.

Desenvolvimento Profissional Docente (DPD) – Impacto social – Carreira

docente.I. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - Programa de Pós-

Graduação em Educação (PPGEd), Campus de Vitória da Conquista. II.

Nunes, Cláudio Pinto. III. Trindade Lúcia Gracia Ferreira. IV. Título.

CDD(21): 371.104

Catalogação na Fonte:

Cláudia Aparecida de Souza – CRB 1014-5ª Região

Bibliotecária – UESB – Campus de Itapetinga-BA

Índice Sistemático para desdobramentos por Assunto:

1. Professores : Adoecimento mental

2. Trabalho docente : Transtornos mentais

3. Desenvolvimento Profissional Docente (DPD) : Educação Básica

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3

JULIANA DA SILVA MOURA

TRANSTORNOS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS EM PROFESSORES E AS

IMPLICAÇÕES PARA A CARREIRA DOCENTE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade

Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), como requisito para obtenção do grau de Mestre em

Educação.

____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________________

Cláudio Pinto Nunes (Orientador)

Doutor em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB

_____________________________________________________________

Lucia Gracia Ferreira Trindade (Coorientadora)

Doutora em Educação, Universidade Federal de São Carlos

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB

_________________________________________________________

Mary Sandra Carlotto (Examinadora Externa)

Doutora em Psicologia Social pela Universidade de Santiago de Compostela/Espanha

Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)

___________________________________________________________

Berta Leni Costa Cardoso (Examinadora Interna)

Doutora em Educação Física, Universidade Católica de Brasília

Universidade do Estado da Bahia – UNEB

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4

À minha família, meu porto seguro, minha base, escola de amor infinito.

Sem vocês eu não seria, não sonharia, não conseguiria. Meu amor e gratidão eterna.

À minha professora e orientadora da graduação, do curso de Psicologia da UFAL, Maria

Nazaré S. G. Martins. Um ser tão belo e iluminado, com quem tive o privilégio de conviver.

Meu exemplo de profissional e ser humano. Para sempre minha professora.

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5

AGRADEÇO,

A Deus, que com sua infinita bondade, possibilitou a realização desse sonho tão almejado, me

mostrando mais uma vez que os Seus planos são maiores e melhores do que os meus, que Ele

nos dá força para continuar mesmo quando o caminho se mostra estreito, e que sozinhos não

evoluímos.

A toda a minha família. Minha vida, meu tesouro!

Em especial aos meus pais, Geraldo e Carmen que com seu amor, cuidado e o apoio seguem

ao meu lado sempre. A profissão que escolhi e todas as experiências advindas, só foram

possíveis porque vocês trabalharam muito para isso. Foram muitos os sacrifícios e renúncias.

Vocês nos proporcionaram aquilo que nem puderam sonhar. A vocês toda a gratidão e amor.

Vocês são meus heróis! A minha irmã Andreza que sempre me incentivou e vibrou com cada

conquista minha. Sua coragem e determinação são exemplos para mim.

Aos meus amados filhos, Igor e Sophia, que suportaram minhas “ausências” para que eu

pudesse estudar. Vocês trouxeram luz e cor à minha vida, me ensinam a amar

incondicionalmente. Dão sentido ao meu existir... São vocês que me motivam a ser uma

pessoa melhor todos os dias. Quero que aprendam que estudar, trabalhar e persistir é uma ato

de rebeldia (para quem não nasce rico), que os conduzirá a concretização de seus sonhos.

Amo vocês!

Ao meu Professor e orientador Claudio, por ter depositado sua confiança em mim, por estar

comigo durante esses dois anos, me apoiando, ensinando e orientando. O senhor foi mais que

um orientador, foi um amigo.

Eu sempre me lembrarei de sua empatia, sensibilidade, alegria, companheirismo,

determinação, coragem e competência. Ao senhor minha imensa gratidão e admiração.

À minha coorientadora Lúcia G. Ferreira, por ter me incentivado, apoiado e me conduzido por

todo esse processo. Por ter me feito acreditar que era possível. Obrigada pelas reflexões,

discussões, atenção e todo o tempo dispensado a me ajudar. Você é exemplo de força,

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6

determinação e superação, uma guerreira e uma super mulher. A você minha eterna gratidão e

carinho.

Durante essa caminhada, repleta de aprendizados, emoções, sentimentos, histórias de vidas,

Deus enviou pessoas mais que especiais para me ajudar, para que eu pudesse conseguir

permanecer e dar concretude a esse sonho. Pessoas que estiveram comigo todo o tempo,

dividindo suas angústias, aflições, alegria e sorrisos. Verdadeiros companheiros! Algo raro de

se ver. Presentes de Deus. Muito obrigada Júlia, Abília (Bia), Di Paula e Lilianne, vocês são

pessoas especiais. Obrigada Mateus, Soane e Jorge (Jota), por toda atenção, palavras de

conforto e entusiasmo, e a todos os colegas que conheci nesta caminhada.

Aos amigos do coração que me apoiaram, incentivaram e comemoraram comigo cada

pequena conquista, que se disponibilizaram a me ajudar durante esse percurso. Minha imensa

gratidão ao meu amigo/irmão Artur (Tuca), a Tamyres (Tata), Aninha, Eliane (Liu), Jaciara,

Elizângela, Fabrício, Karol, Vanda (in memorian), Tião, Arnaldo, Mônica, Charles, Juliano,

Ana Claúdia, Lucivânia, Jedeny (Nina), Raquel, Williane, Glauce, Micheline, tia Iêda e

Manuela.

A Ricardo, que esteve comigo nos últimos meses, apoiando e acolhendo minhas angústias e

dores... Obrigada por sua atenção, carinho e cuidado.

Muito obrigada!

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“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas,

mas ao tocar uma alma humana,

seja apenas outra alma humana.” (Carl Jung)

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8

RESUMO

Este estudo abordou a temática do adoecimento mental/transtornos mentais e

comportamentais em professores e sua relação com o trabalho docente, contexto educacional

brasileiro, Desenvolvimento Profissional Docente (DPD) e carreira. Objetivou analisar as

implicações que os transtornos mentais e comportamentais podem ocasionar para a carreira

docente, em professores da Educação Básica, da rede pública de ensino. Trata-se de uma

pesquisa qualitativa, exploratória realizada no município de Itapetinga-BA com 58

professores que foram cometidos pelo adoecimento mental/transtornos mentais e

comportamentais, sendo realizado um recorte com 03 professores/participantes da pesquisa,

sendo um de cada ente federativo (rede municipal, estadual e federal) para estudo mais

detalhado. Constatamos, a partir dos dados, que essa categoria de trabalhadores (professores)

está mais suscetível ao adoecimento mental em decorrência da própria natureza do trabalho

que desenvolve; que no exercício profissional estão presentes questões pessoais, sociais,

familiares, emocionais que se relacionam e se influenciam. Percebemos que o adoecimento

mental/transtornos mentais e comportamentais pode interferir negativamente no

Desenvolvimento Profissional Docente (descontinuidades, interrupções temporárias),

causando impactos significativos para a vida profissional desse profissional/sujeito e sua

carreira docente. Desse modo, faz-se urgente aprofundamento do tema, e atenção por parte

dos gestores, das políticas públicas e sociedade de forma geral, voltadas para saúde e

adoecimento mental dos professores. Esses profissionais da Educação precisam ser assistidos

quanto a essas questões para que não sejam crescentes os impactos de cunho social,

econômico, cultural, pessoal e profissional ocasionados por esse tipo de adoecimento.

PALAVRAS-CHAVE: Transtornos mentais e comportamentais em professores,

Desenvolvimento Profissional Docente (DPD), Carreira docente.

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9

ABSTRACT

This study was aimed to investigate the mental illness/mental and behavioral disturbances in

teachers and its relationship to teaching work, the Brazilian educational context, the

Professional Teaching Development (PTD), and career. It was intended to analyze the

implications of mental illness/mental and behavioral disturbances may pose to the teaching

careers of the faculty of the Elementary Public School system. This is a qualitative and

exploratory research conducted in the district of Itapetinga-BA, which studied 58 teachers

who had been stricken by mental illness/mental and behavioral disturbances. Out o those, 03

teachers/subjects were selected, one from three different schools districts (local county, state,

and federal), for a more in-depth investigation. We have found out, based on the data, that this

type of workers (teachers) are more susceptible to mental illness due to the nature of the work

they do; that in the practice of their profession, there are some personal, social, family, and

emotional issues, which are related to each other, and influence one another. We have also

noticed that mental illness/mental and behavioral disturbances may interfere negatively with

the professional teaching development (discontinuity, temporary interruptions), which may

have significant impact in the teacher’s professional life and his/her teaching career.

Therefore, a deeper look into this topic is urgently necessary, as well as more attention on the

part of school management, public policies, society, and the healthcare and mental health

professionals who care for the teachers. The education professionals must get the help they

need, in order to avoid the social, economic, cultural, personal, and professional negative

effects of those types of disorders from occurring.

KEYWORDS: Mental and behavioral disturbances in teachers, Professional Teaching

Development (PTD), Teaching career.

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10

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Períodos da carreira profissional docente feminina no Brasil................. 39

Quadro 02 Períodos da carreira profissional docente masculina no Brasil................ 39

Quadro 03 Modelos comparativos de fases/etapas/ciclos/períodos da carreira

profissional docente..................................................................................

42

Quadro 04 Transtornos mentais e comportamentais descritos no CID 10.................. 48

Quadro 05 Transtornos mentais mais frequentes apresentados na população do Rio

de Janeiro e São Paulo (2005 à

2008).........................................................................................................

51

Quadro 06 Quantitativo dos artigos, teses e dissertações selecionadas para o estado

da arte........................................................................................................

62

Quadro 07 Trabalhos acadêmicos selecionados para o estado da arte....................... 62

Quadro 08 Questão escolhida para seleção dos questionários a serem analisados

nesta pesquisa (PPGED/UESB)................................................................

88

Quadro 09 Perfil sociodemográfico dos 58 professores que foram acometidos por

adoecimento mental de acordo com cada instância governamental

(Itapetinga-BA).........................................................................................

96

Quadro 10 Perfil sociodemográfico dos 58 professores que foram acometidos por

adoecimento mental (Itapetinga-BA)........................................................

97

Quadro 11 Caracterização/Perfil dos professores/participantes da pesquisa........... 99

Quadro 12 Fatores e demandas citados pelos 58 professores..................................... 100

Quadro 13 Fatores e demandas citados pelos 03 professores/participantes da

pesquisa.....................................................................................................

101

Quadro 14 Sinais de adoecimento mental vivenciado (externados) pelos 03

professores/participantes da pesquisa.......................................................

114

Quadro 15 Descrição dos transtornos mentais e comportamentais citados pelos 58

docentes.....................................................................................................

119

Quadro 16 Transtornos mentais e comportamentais citados pelos 58

professores/participantes da pesquisa.......................................................

123

Quadro 17 Grau de satisfação apontado pelos 58 docentes em relação ao salário e a

docência..................................................................................................

131

Quadro 18 Grau de satisfação apontado pelos 03 professores/participantes da

pesquisa em relação ao salário e a docência.............................................

131

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11

Quadro 19 Expectativa dos 03 professores/participantes da pesquisa em relação ao

salário e a docência...................................................................................

136

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12

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 A importância do professor para a formação e existência de outras

profissões.....................................................................................................

25

Figura 02 Ilustração/ representação da importância do trabalho do professor para um

pensar mais elaborado; reflexões; e interações..........................................

26

Figura 03 Transtornos mentais e comportamentais são motivos de incapacidade para

o trabalho.....................................................................................................

55

Figura 04 Ilustração da sobrecarga mental e física exigida aos docentes no atual

contexto educacional...................................................................................

56

Figura 05 Licença em decorrência de transtornos mentais e comportamentais em

professores em São Paulo, e o equivalente ao mínimo total de

afastamentos no estado................................................................................

58

Figura 06 Readaptação de professores em São Paulo, após afastamento por

adoecimento/Janeiro de 2019......................................................................

58

Figura 07 Desvalorização e desrespeito do professor em sala de aula........................ 66

Figura 08 Ilustração/representação de um professor que continua a trabalhar mesmo

estando com sua saúde comprometida.........................................................

69

Figura 09 Mapas da mesorregião e microrregiões do estado da Bahia....................... 85

Figura 10 Mapas dos Territórios de Identidade da Bahia............................................ 86

Figura 11 Corpus da pesquisa...................................................................................... 93

Figura 12 Adoecimento mental (somente) e adoecimento mental e físico

(concomitantemente) entre os 03 professores/participantes da

pesquisa......................................................................................................

125

Figura 13 Afastamento dos 58 professores que foram acometidos por adoecimento

mental..........................................................................................................

126

Figura 14 Afastamento dos 03 professores/participantes da pesquisa que foram

acometidos por transtornos mentais e comportamentais.............................

127

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13

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 Principais sinais e sintomas de adoecimento mental vivenciado

(externados) pelos professores da rede pública de ensino do

município de Itapetinga-BA...............................................................

111

Gráfico 02 Transtornos mentais e comportamentais referidos pelos 58

professores que foram acometidos pelo adoecimento mental............

121

Gráfico 03 Termos usados pelos 58 docentes considerados por eles como

algum tipo de em adoecimento mental ou transtornos mentais e

comportamentais..................................................................................

122

Gráfico 04 Adoecimento mental (somente), e adoecimento mental e físico

(concomitantemente) referente aos 58 professores.............................

124

Gráfico 05 Expectativa dos 58 professores com relação à continuidade ou

interrupção da carreira profissional docente........................................

135

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14

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ASPRS Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul

BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento

CAAE Certificado de Apresentação para Apreciação Ética

CAPES Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento

de Pessoal de Nível Superior

CEPEP Centro de Pesquisa e Estudos Pedagógicos

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CID 10 Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à

Saúde

CIP Conversa Interativo-Provocativa

CONAE Conferência Nacional de Educação

CNE Conselho Nacional de Educação

CNPQ Conselho Nacional em Pesquisa

DSM-5 Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos mentais

DPD Desenvolvimento Profissional Docente

Difort Grupo de pesquisa Didática, Formação e trabalho Docente

EAD Ensino a Distância

FENAM Federação Nacional de Médicos

FUNDEB Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e da

Valorização dos Profissionais da Educação

FUNDEF Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

Valorização do Magistério

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IF Baiano Instituto Federal de Educação

LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

OCDE Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico

OIT Organização Internacional do Trabalho

OMS Organização Mundial de Saúde

NTE 08 Núcleo Territorial Educacional 08

PEC Proposta de Emenda à Constituição

PNE Plano Nacional de Educação

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15

PPGED Programa de Pós-Graduação em Educação

RH Recursos Humanos

SUS Sistema Único de Saúde

SME Secretaria Municipal de Educação

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TCSI Terapia Comunitária Sistêmica Integrativa

TMC Transtornos Mentais Comuns

UESB Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

UESC Universidade Estadual de Santa Cruz

UFAL Universidade Federal de Alagoas

UFRB Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

UNOPAR Universidade Norte do Paraná

UniCesumar Centro Universitário de Maringá

UNIFOA Centro Universitário de Volta Redonda

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16

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 18

2. TRABALHO, CARREIRA E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

DOCENTE (DPD)............................................................................................................

24

2.1. Trabalho docente........................................................................................................ 24

2.2. A intensificação do trabalho docente e as consequências para a saúde dos

professores.........................................................................................................................

27

2.3. Desenvolvimento Profissional Docente (DPD).......................................................... 32

2.4. Carreira Profissional Docente .................................................................................... 36

3. TRANSTORNOS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS EM PROFESSORES,

NA EDUCAÇÃO BÁSICA, NA REDE PÚBLICA DE ENSINO................................

44

3.1. A saúde e o adoecimento mental: conceitos e reflexões............................................. 44

3.2. Transtornos Mentais Comuns (TMC)........................................................................ 46

3.3. Transtornos mentais e comportamentais..................................................................... 48

3.4. Transtornos mentais e comportamentais em professores na Educação

Básica.................................................................................................................................

54

4. DEBATES ACERCA DO ADOECIMENTO MENTAL, TRANSTORNOSS

MENTAIS E COMPORTAMENTAIS EM PROFESSORES E A CARREIRA

PROFISSIONAL DOCENTE.........................................................................................

60

4.1. Adoecimento mental, transtornos mentais e comportamentais em professores e a

relação com o trabalho docente...........................................................................................

64

4.2. Discussões sobre o Desenvolvimento Profissional Docente (DPD) e a carreira

docente.................................................................................................................................

74

5. PERCURSO METODOLÓGICO.............................................................................. 81

5.1. Pesquisa qualitativa.................................................................................................... 83

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17

5.2. Local da pesquisa....................................................................................................... 84

5.3. Participantes da pesquisa e diagnóstico inicial........................................................... 87

5.4. Instrumentos da pesquisa e procedimentos para coleta de dados................................ 89

5.4.1. Questionários............................................................................................................. 89

5.4.2. Conversa Interativo-Provocativas (CIP).................................................................. 90

5.5. Técnica de análise de dados....................................................................................... 91

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO DE DADOS........................................................... 95

6.1. Perfil sociodemográfico dos docentes que atuam na Educação Básica, na rede

pública de ensino, no município de Itapetinga-BA, que foram acometidos pelo

adoecimento mental/transtornos mentais e comportamentais............................................

95

6.2. Categoria 1: Fatores e demandas que contribuíram para o aparecimento de

transtornos mentais e comportamentais.............................................................................

99

6.3. Categoria 2: Sinais e sintomas de adoecimento mental em professores..................... 109

6.4. Categoria 3: Transtornos mentais e comportamentais em professores e as

implicações para a carreira profissional docente...............................................................

117

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................... 140

REFERÊNCIAS............................................................................................................... 145

APÊNDICES..................................................................................................................... 157

Apêndice A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) Docentes............... 158

Apêndice B - Questionário de Dados Sociodemográficos, laborais, de saúde e

adoecimento mental (docentes)..........................................................................................

159

Apêndice C - Roteiro da CIP com os docentes.................................................................. 163

ANEXOS........................................................................................................................... 164

Anexo A - Aprovação da Pesquisa pelo Comitê de Ética.................................................. 165

Anexo B – Autorização para realização da pesquisa......................................................... 168

Anexo C - Questionário para professores UFRB............................................................... 170

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18

1. INTRODUÇÃO

Os professores têm como uma de suas tarefas principais preparar o sujeito para a vida

social, política, cultural e econômica, favorecendo o pensamento crítico e a emancipação

humana. O trabalho docente implica uma série de funções que vão além da mediação de

conhecimentos, não se restringe a ministrar aulas. Os docentes estudam, orientam, planejam

atividades/projetos com outros professores, pais e comunidade, dentre outras atividades.

Exercer a docência com suas funções e atribuições, imersos em um contexto histórico

de desvalorização por parte das políticas públicas1 e da sociedade em geral, torna-se uma

tarefa árdua e complexa. As instâncias governamentais2, assim como a população ainda

demonstram dificuldades para compreender a relevância do trabalho que esses profissionais

da Educação desenvolvem. Trabalho este, que possibilita o movimento de toda a engrenagem

social/econômica de um país. Cabe lembrar que os docentes são os responsáveis pela

formação de todos os demais profissionais que atuam no mundo do trabalho, e o mais

importante ainda, transformam histórias de vidas, e contribuem para concretização de

“sonhos”.

Os professores, assim como outros profissionais têm uma formação inicial, cursam o

nível superior (licenciatura) que em média leva 04 ou 05 anos para a conclusão; investem em

sua carreira profissional, participam de cursos de formação/atualização profissional (formação

continuada); trabalham 20, 40 ou 60 horas semanais; “atendem” dezenas, centenas de

pessoas/alunos/pais durante o mês. No entanto, são vistos aquém frente ao trabalho que

realizam todos os dias. Cada vez mais presenciamos a falta de reconhecimento e a

desvalorização por parte das políticas públicas e sociedade em geral, que acabam

demonstrando mais respeito e apreço por outras profissões, tais como: médicos, arquitetos,

odontólogos, engenheiros, farmacêuticos, etc.

Esses profissionais da Educação, sobretudo aqueles que atuam na rede pública de

ensino no Brasil, tem enfrentado condições precárias de trabalho que se intensificaram após as

mudanças do cenário educacional brasileiro, a partir da década de 1990, com as reformas

educacionais neoliberais adotadas pelo governo e amparadas por uma rede de empresários do

1 Política pública é “o campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, “colocar o governo em ação” e/ou

analisar essa ação (variável independente) e, quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas ações

(variável dependente). A formulação de políticas públicas constitui-se no estágio em que os governos

democráticos traduzem seus propósitos e plataformas eleitorais em programas e ações que produzirão resultados

ou mudanças no mundo real” (SOUZA, 2006, p. 26). 2 Pode público: municipal, estadual e federal.

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setor privado, que acabaram transferindo para os professores responsabilidades que perpassam

suas “competências” e formação.

Nesse contexto, o professor vê seu trabalho intensificado, e passa a ter que se dedicar

de forma mais ampla e quase exclusiva ao meio escolar, frente a condições de trabalho que

“sugam” suas capacidades físicas, cognitivas, emocionais e afetivas, no intuito de atingir

objetivos que o sistema educacional exige, gerando esforços que extrapolam suas condições

psicofisiológicas.

Esses esforços quando não sanados ou recuperados podem desencadear diversos

sentimentos, emoções, sinais e sintomas relacionados ao adoecimento mental, que por vezes

se estendem durante anos, sem atenção ou tratamento adequado, podendo levar esses

profissionais ao afastamento de suas atividades laborais por um determinado período de

tempo ou quiçá definitivamente (CARLOTTO, 2002; FERREIRA, 2017), comprometendo

projetos, planos e investimentos que fizeram ao longo de sua carreira profissional, além, claro,

dos prejuízos incalculáveis para outras áreas de sua vida (afetiva, familiar, social,

interpessoal, etc.).

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (1984 apud GASPARINE;

BARRETO; ASSUNÇÃO, 2005) a profissão docente é considerada uma das mais

estressantes. Muitas vezes, o contexto político-social, as exigências do oficio, as cobranças do

sistema educacional e as condições precárias de trabalho, provocam a sensação de insatisfação

frente ao esforço e trabalho desenvolvido diariamente, o que pode levá-los ao “mal-estar

docente3”, e, por conseguinte, ocasionar um quadro de adoecimento mental mais grave, capaz

de afastá-los de suas atividades laborais mediante atestados/laudos/relatórios de profissionais

de saúde, que nos sinalizam que este adoecer (mental) é real.

Diante dessa realidade que acomete os professores, é importante que os mesmos e o

meio escolar tenham conhecimento sobre o assunto e possam identificar tais sinais e sintomas,

a fim de buscar ajuda adequada, antes que esse problema o afaste da docência, o faça

abandonar sua profissão ou prejudique sua carreira profissional. Esses acontecimentos,

possivelmente, provocariam prejuízos de várias ordens: para a vida desses profissionais; para

o sistema educacional, que, por vezes, investe na formação continuada desses profissionais;

para a área da saúde, pois acabam sendo mais casos a serem tratados com esse tipo de agravo

3“[...] mal-estar docente, um termo adotado no início por Esteve (com tradução para o Brasil em 1999) e que

relata a situação desconfortável, intrigante e de muita preocupação vivida pelos professores que estão cada vez

mais desmotivados ou com problemas de saúde, prejudicando, assim, todo um plano de trabalho ou carreira”

(SANTOS, FERREIRA, 2016, p.113).

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(questão de saúde pública); e para a previdência social, já que alguns acabam recebendo

auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez, a depender da gravidade do adoecimento, e o

quão incapacitante ela é.

O interesse pela temática surgiu durante a minha4 atuação na área da psicologia

clínica. Sou psicóloga há 13 anos, formada pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL)5,

especialista em Psicologia Hospitalar6, psicoterapeuta Ericksoniana7 e hipnóloga clínica8.

Também nasci e fui criada no município de Itapetinga-BA, cujos anos Iniciais e Finais do

Ensino Fundamental foram cursados em escolas públicas na rede municipal de ensino. No

início da carreira trabalhei na área de psicologia social e prestei serviço para uma escola da

rede privada; passei em um concurso público no referido município e atuei por mais de 10

anos na área da saúde, e, concomitantemente, na área clínica.

Após o ingresso no Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade

Estadual do Sudoeste da Bahia (PPGED/UESB), durante a pesquisa de campo, novos

caminhos e possibilidades foram surgindo. Situações e experiências foram se encaixando com

meu objeto de estudo, e quando dei por mim já estava seduzida pela Educação. A partir de

então, minha vida profissional seguiu por outros rumos. Decidi entrar “de cabeça” nesse

universo repleto de desafios e descobertas. Mudanças aconteceram e atualmente atuo na área

da Educação, e entre outras demandas, trabalho na prevenção e promoção de saúde mental

com os professores da rede municipal, oferecendo também o atendimento psicológico

(individual e em grupo) àqueles que vêm sofrendo com o adoecimento mental/transtornos

mentais e comportamentais.

Como mencionado acima, durante a minha experiência na área clínica (privada) pude

observar que os professores buscavam de forma recorrente o atendimento psicológico. Na

maioria das vezes, encaminhados por outros profissionais da saúde para avaliação ou

tratamento. Esses docentes apresentavam queixas ou sintomas/alterações

psíquicas/emocionais/comportamentais, antes isolados, mas que perduraram, se acumularam,

ocasionando, quase em todos os docentes atendidos, algum tipo de transtorno mental e

comportamental9. Esse adoecimento mental10 emergia durante o exercício da docência, e uma

4 Destacamos que o verbo utilizado na primeira pessoa na primeira página do texto foi necessário para externar o

interesse pela temática advindo de uma experiência profissional e particular da mestranda. 5 Formada em psicologia pela UFAL em 01/2007. 6 Formada pelo Centro Universitário de Volta Redonda (UNIFOA) em 07/2007. 7 Formada pelo Instituto Milton H. Erickson de Maceió em 12/2002. 8 Formada pelo Instituto Milton H. Erickson de Maceió em 02/2005. 9 Tais como: Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), Transtorno afetivo bipolar, Episódios depressivos,

Transtorno de pânico, Transtorno misto ansioso depressivo, reações ao “stress” grave e transtornos de

adaptação, Síndrome de Burnout.

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parcela significativa desses professores só procuravam pelo atendimento psicológico após

anos vivenciando um sofrimento psíquico.

É interessante mencionar que a maioria dos professores atendidos, em algum momento

de sua carreira profissional necessitou afastar-se de suas atividades laborais em decorrência

desse tipo do adoecimento. Vale ressaltar que além dos prejuízos ocasionados para o

Desenvolvimento Profissional Docente (DPD) e a carreira profissional, outros aspectos de

suas vidas também haviam sido afetados (afetiva, social, interpessoal, familiar, etc.).

Frente a essa experiência, surgiu a necessidade de estudar a realidade desses

professores, seu contexto de trabalho, meio escolar, possíveis causas desses afastamentos, a

ocorrência do adoecimento mental, tipos de transtornos mentais e comportamentais que mais

prevalece entre essa categoria de trabalhadores, e as implicações que esse tipo de adoecimento

pode causar para a carreira profissional e a vida desses profissionais da Educação.

Mediante ao exposto, nos propomos a estudar/pesquisar o adoecimento mental,

especialmente, os transtornos mentais e comportamentais em professores, e sua relação com a

carreira docente e seus períodos, Desenvolvimento Profissional Docente (DPD), desafios e

realidade da docência. Assim, o presente estudo buscou responder a seguinte questão-

problema: quais são as implicações que os transtornos mentais e comportamentais em

professores da Educação Básica, da rede pública de ensino, podem ocasionar para a carreira

docente? Tendo como objetivo geral, analisar as implicações que os transtornos mentais e

comportamentais em professores (da Educação Básica, da rede pública de ensino), podem

ocasionar para a carreira docente. E como objetivos específicos: traçar o perfil sócio-

demográfico dos docentes, que atuam na Educação Básica, na rede pública de ensino, no

município de Itapetinga-BA, que foram acometidos pelo adoecimento mental/transtornos

mentais e comportamentais; identificar os professores/participantes da pesquisa, que atuam na

Educação Básica, na rede pública de ensino, no município de Itapetinga-BA, que foram

acometidos por transtornos mentais e comportamentais, seguidos de afastamento de suas

atividades laborais, em algum período da carreira profissional docente; identificar e descrever

os transtornos mentais e comportamentais apresentados pelos professores que atuam na

Educação Básica, na rede pública de ensino no município de Itapetinga-BA; compreender as

implicações que os transtornos mentais e comportamentais podem ocasionar para a carreira

profissional docente.

10 O termo “adoecimento mental” será utilizado em nosso trabalho para se referir a sintomas, sinais e/ou

alterações no estado emocional /psicológico sem que necessariamente sejam suficientes para fechar um

diagnóstico de algum tipo de transtorno mental ou comportamental.

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A organização de nosso trabalho inicia-se com o aporte teórico. Na seção 2 discutimos

sobre as demandas, flexibilização, intensificação e a precarização do trabalho docente após as

reformas educacionais. Estudamos acerca do Desenvolvimento Profissional Docente (DPD),

carreira docente e seus períodos. Em seguida, na seção 3 elencamos reflexões sobre os

conceitos de saúde e adoecimento mental, Transtornos Mentais Comuns (TMC), os diversos

tipos de transtornos mentais e comportamentais, especialmente aqueles que mais acometem os

docentes na Educação Básica, na rede pública de ensino.

Posteriormente, na sessão 4, realizamos um levantamento das produções científicas,

que discutem a respeito da temática abordada, adoecimento mental, transtornos mentais e

comportamentais em professores e a carreira docente. Este mapeamento foi realizado no

portal de periódicos e no Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), e nos possibilitou conhecer diversos

autores que trabalham com o assunto. Após as discussões e reflexões elencadas na

fundamentação teórica, descrevemos detalhadamente na sessão 5, o percurso metodológico

traçado para o desenvolvimento do estudo e pesquisa, que foi de abordagem qualitativa e

caráter exploratório, cujos instrumentos utilizados para coleta de dados foram questionários e

Conversas Interativo-Provocativas (CIP). A análise dos resultados obtidos foi baseada na

técnica de análise de conteúdo preconizada por Bardin (2011).

A pesquisa de campo foi realizada no município de Itapetinga-BA, com professores

dos Anos Iniciais e Finais do Ensino Fundamental, médio e técnico, da rede pública, que

mencionaram terem sido acometidos pelo adoecimento mental/transtornos mentais e

comportamentais, seguidos de afastamento ou não de suas atividades laborais em algum

período da carreira profissional docente.

Faz-se mister destacar que o referido estudo (PPGED) contou com o apoio dos Grupos

de pesquisa: Didática, Formação e trabalho Docente - Difort/CNPq, e Centro de Pesquisa e

Estudos Pedagógicos – CEPEP/CNPq (cuja mestranda participa juntamente com seu

orientador e co-orientadora); e de duas pesquisas de maior abrangência. Uma das pesquisas,

intitulada: “Formação e trabalho dos profissionais da Educação em diferentes níveis e

contexto de atuação do sudoeste da Bahia”, é coordenada pelo orientador Claudio P. Nunes,

está cadastrada na UESB, e dentro desse projeto de trabalho, encontrou interesses em comum,

pois buscam também contribuir com os estudos acerca da qualidade de vida e especificamente

da saúde mental dos docentes. A outra pesquisa: “Desenvolvimento profissional e a carreira

docente brasileira: diálogos com professores da Educação Básica”, coordenadora pela

coorientadora Lúcia G. Ferreira Trindade, está cadastrada na Universidade Federal do

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Recôncavo da Bahia (UFRB), possibilitou acesso a dados relevantes para este estudo

(realizado no âmbito do PPGED) e aproximação com os professores/participantes da

pesquisa, se tratando, portanto de uma pesquisa guarda-chuva11.

A sexta seção foi destinada a análise e discussão dos dados coletados. Nessa seção

apresentamos o perfil sociodemográfico/caracterização desses professores que nos permitiram

um corpus da pesquisa, que gerou 03 categorias de análise: Fatores e demandas que

contribuíram para o aparecimento de transtornos mentais e comportamentais; Sinais e

sintomas de adoecimento mental em professores; Transtornos mentais e comportamentais em

professores e as implicações para a carreira profissional docente. Por fim segue considerações

finais deste estudo e pesquisa com o resumo/síntese dos resultados obtidos.

11 Este termo “guarda-chuva” é utilizado no senso comum para explicitar uma pesquisa que abarca outras

menores oriundas dela.

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2. TRABALHO, CARREIRA E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE

Nesta seção da fundamentação teórica nos propomos discutir acerca do trabalho

docente e a sua relevância para a formação humana e social, as mudanças que aconteceram no

cenário da educação brasileira, a intensificação do trabalho docente e suas diversas demandas,

o desenvolvimento profissional docente e os períodos da carreira profissional docente.

Quando abordamos a temática da carreira profissional docente, consequentemente, discutimos

sobre as múltiplas dimensões envolvidas nesse percurso profissional, o tempo de docência e

os aspectos emocionais. Ferreira (2014) preconiza que o estado emocional e psíquico possui

relação direta com o desenvolvimento profissional e com a carreira profissional docente. Com

base nessa perspectiva iremos refletir e discutir a respeito da temática levantada.

2.1. Trabalho docente

O trabalho docente constitui-se um pilar para a formação onmilateral dos sujeitos.

Através do trabalho desses profissionais da Educação, acontece à mediação dos diversos

saberes, historicamente produzidos pela humanidade. Sendo assim, os professores contribuem

para a construção e a transformação dos sujeitos em direção à humanização e a socialização

(MARTINS; DUARTE, 2010), e não podem ser vistos como meros transmissores de

conteúdos curriculares.

Além da mediação do saber elaborado, de conhecimentos e conteúdos que envolvem o

processo de ensino e aprendizagem, o trabalho docente tem como um de seus objetivos

contribuir para a construção e a transformação dos sujeitos. De acordo com Tardif e Lessard

(2014, p.198), os docentes “[...] visam a preparar os jovens para a vida adulta, formando-os

para os saberes e as habilidades necessárias à vida profissional, educando-os moralmente em

função das orientações básicas do status de adulto”. O Professor é um educador, e tem em

suas mãos a tarefa de uma transformação social ampla, são capazes de promover a

estimulação do desenvolvimento contínuo da consciência, da reciprocidade mútua e benéfica

entre os sujeitos e sua sociedade (MESZÁROS, 2008).

É por meio da educação, da escola e principalmente do professor que os diversos

saberes, e o conhecimento científico produzido historicamente pela humanidade são

construídos e repassados à sociedade. Sendo assim, compreendemos então que o trabalho

docente contribui para o desenvolvimento do senso crítico, da análise da realidade, da

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capacidade de perceber os fatores que interferem na construção do ser, bem como na

preparação dos sujeitos/discentes para uma atuação autônoma e para sua entrada no mundo do

trabalho (MOURA et al., 2019).

Conforme mostra a figura abaixo, o professor possui uma singularidade e importância

para formação do ser, evolução da humanidade e dos sujeitos, inclusive para o “existir” das

demais profissões e para toda engrenagem social e econômica.

Figura 01- A importância do professor para a formação e existência de outras profissões.

Fonte: http://seminarioquatro.blogspot.com/2015/04/a-importancia-do-professor.html

O trabalho docente envolve aspectos físicos e mentais do profissional, são horas em pé

ministrando aulas; falando, tentando ser ouvido (usando sua voz); escrevendo na lousa, em

cadernetas; realizando estudo e planejamento, os quais exigem atenção e concentração (um

pensar elaborado). Lidam todos os dias com dezenas ou centenas de alunos, com suas

especificidades e diversidades; salas superlotadas; e infraestrutura inadequada. O trabalho

docente não deve ser definido apenas pelas atividades em sala de aula, há o desenvolvimento

de projetos, reuniões e interação entre os colegas dentro e fora da instituição escolar,

preparação do material que será mediado para os alunos, correção de atividades e provas

(atividades extraclasse), etc. Corroborando com tal premissa, Forattini e Lucena (2015),

afirmam que o trabalho deve ser compreendido sob os aspectos/carga físico (corpo) e mental

(cognitivo e psicológico). Tratando-se especialmente do trabalho docente, há uma imposição

de quantidade e ritmo de trabalho intenso nesses dois aspectos.

Entretanto, a população, a sociedade de forma geral, assim como, o poder público tem

dificuldades para reconhecer a complexidade e relevância do trabalho desenvolvido pelos

docentes, principalmente se estes atuarem na Educação Básica. Por vezes, quando

comparados a outras profissões, acabam sendo vistos como menos importantes, colocados à

margem, o que reforça nestes profissionais a sensação de desvalorização em relação ao

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trabalho que realizam. Forattini e Lucena (2015) apontam que “a falta de reconhecimento, a

desvalorização, e a perda do significado social leva o trabalhador a um estado de angústia e

frustração e, consequentemente, ao adoecimento” (FORATTINI; LUCENA, 2015, p. 39, 40).

Quem não gostaria de ter seu trabalho reconhecido e valorizado pelos demais?

Principalmente, quando passamos a maior parte de nosso tempo diário e nossas vidas na

execução deste, como é o caso dos docentes. Contudo, as nuances, os detalhes, as exigências,

as demandas e as dificuldades vivenciadas por esses professores no dia-a-dia, imersos em um

contexto neoliberal, faz com que o trabalho realizado por esses profissionais não seja visto

realmente ou considerado importante pela população, que acaba menosprezando seu trabalho

e/ou responsabilizando-os pelos fracassos no sistema educacional. A imagem profissional e

moral dos professores frente à sociedade vêm sendo deturpada, fragilizada, questionada e

desvalorizada, o que pode gerar nesses professores/sujeitos um sentimento de insatisfação,

dilemas e crises, que por sua vez, favorecem o aparecimento de sintomas relacionados ao

adoecimento mental.

Compactuamos da ideia de que o trabalho docente precisa ser reconhecido no contexto

social e político no Brasil, que a complexidade e relevância desse trabalho sejam expostas de

forma clara e entendível para todos. Como já foi mencionado, é por intermédio do trabalho

desses profissionais da Educação que os sujeitos se humanizam, se constroem, aprendem a

pensar, refletir e a questionar, agem e interagem com o mundo a sua volta, a conviver em

sociedade, evoluem em vários aspectos de sua vida, e que acontece a emancipação.

Figura 02 - Ilustração/representação da importância do trabalho do professor para um pensar mais

elaborado; reflexões; e interações.

Fonte: http://www.blogdogasparetto.com.br/a-importancia-do-professor-lider-no-desenvolvimento-

dos-seus-alunos/

Em meio a essas reflexões, é pertinente mencionarmos que o trabalho docente vem

sofrendo algumas mudanças no cenário da Educação brasileira. A partir da década de 1990,

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orientadas pelos mecanismos internacionais12, aconteceu um movimento, uma interação entre

o governo e alguns empresários da rede privada, que visa o controle e gerenciamento da

Educação pública em nosso país, com o pretexto de melhorar a qualidade da Educação

ofertada à população (MONTORO, 2014). Nesse ínterim, surgem as reformas educacionais,

que segundo Mancebo et al. (2006), são “[...] reordenações a que os sistemas educacionais

foram submetidos a partir da profunda redefinição do papel do Estado na relação com a

educação, tendo conduzido, dentre outros aspectos, a processos variados de privatização”

(MANCEBO et al., 2006), p. 1). De acordo com Caetano, Lima e Peroni (2017), as reformas

educacionais são concretizadas mediante a parceria entre o Estado e o setor privado, e:

[...] fazem parte de um projeto que não dialoga com os principais envolvidos

nas propostas em curso – professores, alunos, comunidade escolar – e

apresenta-se como uma afronta à democracia. Os principais envolvidos no

processo de construção de uma base nacional comum curricular e do novo

ensino médio se apresentam como sujeitos individuais ou coletivos através

de instituições públicas e privadas que atuam no setor educacional, institutos

e fundações ligadas a grandes empresas nacionais e internacionais, bem

como, instituições financeiras ligadas ao mercado de capitais, visando

construir um projeto hegemônico de educação e de sociedade (CAETANO;

LIMA; PERONI, 2017, p. 418).

Frente a este cenário político neoliberal, e as transformações que ocorreram na

Educação pública no Brasil, as reformas educacionais e a influência do setor privado,

desencadearam uma nova configuração para o trabalho docente, todo o sistema educacional e

as condições do trabalho desses profissionais foram seriamente afetados (MOURA et al.,

2019). O professor vê seu trabalho assumindo novos contornos, nova conjuntura e novas

condições que, ao invés de favorecerem o seu desenvolvimento profissional, provocam uma

sobrecarga de trabalho que subtraem suas energias e conduzem a um estado de alienação e,

não raro, a casos de adoecimentos, influenciando, portanto, a saúde docente.

2.2. A intensificação do trabalho docente e as consequências para saúde mental dos

professores

Considerando o contexto neoliberal no qual estamos inseridos, observando todas as

mudanças ocorridas no cenário da Educação brasileira, entendemos que as reformas

educacionais interferiram no trabalho desenvolvido pelos professores no contexto escolar, e

possivelmente em diversos aspectos de sua vida que vão além do âmbito profissional.

12 O Banco Mundial, a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Banco

Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), dentre outros.

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Na atual conjuntura, vivenciamos uma série de retrocessos na Educação pública

brasileira, constatada por meio da Proposta de Emenda à Constituição (PEC nº 55) aprovada

no ano de 2016, que estabelece limitação para gastos públicos por duas décadas, atingindo

principalmente as áreas da Educação e da Saúde. De acordo com Cardoso, Nunes e Moura

(2019), a situação atual com relação a saúde dos professores é um reflexo das mudanças que

aconteceram no trabalho docente, e as funções exercidas pelos mesmos ao decorrer do

processo de desenvolvimento da Educação brasileira.

Nunes e Oliveira (2017) reafirmam que após as reformas educacionais, aconteceram

transformações significativas no trabalho desenvolvido pelos professores. De acordo com os

autores houve uma transferência de responsabilidades/demandas externas para esses

profissionais que não competem a docência; é cobrado aos mesmos habilidade em manusear

os meios de comunicação e internet, assim como a realização de funções burocráticas,

administrativas, contábeis e administrativos paralelamente à sala de aula; má remuneração e

defasagem salarial; o não cumprimento do plano de cargos e carreiras; ausência de estratégias

claras de efetivação das políticas de formação; e a desvalorização profissional docente. Em

consonância, Saviani (2008) traz alguns questionamentos e reflexões frente a esse novo

contexto no qual o professor atua:

Nessa nova conjuntura, como se situa o professor? O quarto ato de seu

drama reveste-se de algumas particularidades. Continua-se pedido que ele

seja eficiente e produtivo [...] O mercado e seus porta-vozes governamentais

parecem querer um professor ágil, leve, flexível; que, a partir de uma

formação inicial ligeira, de curta duração e a baixo custo, prosseguiria sua

qualificação no exercício docente lançando mão da reflexão sobre sua

própria prática, apoiado eventualmente por cursos rápidos, ditos também

“oficinas”; essas recorrendo aos meios informáticos, transmitiriam em dose

homeopáticas, as habilidades que o tornariam competente nas pedagogias da

“inclusão excludente”, do “aprender a aprender” e da “qualidade total”. Mas

o exercício dessas competências não se limitaria à atividade docente

propriamente dita. Pede-se aos professores que, no espírito da “qualidade

total”, não apenas ministrem aulas, mas também participem da elaboração do

projeto pedagógico das escolas; da vida da comunidade, animando-a e

respondendo às suas demandas; da gestão da escola e suprindo suas

dificuldades específicas. (SAVIANI, 2008, p. 448-449)

Além disso, Mancebo et al. (2006), destacam que há professores que ministram mais

de um componente curricular; aumento dos contratos temporários; a falta de segurança ou

estabilidade; transferências involuntárias; falta de perspectiva com relação à carreira; preparo

inadequado, e a desregulamentação da legislação trabalhista.

Outro fator relacionado diretamente à intensificação e precarização do trabalho

docente na Educação pública no país, é a exaustiva jornada de trabalho dos professores, que

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necessitam trabalhar 40 ou 60 horas semanais, atuando nas redes públicas e/ou privadas,

ocupando os turnos matutino, vespertino e noturno, na tentativa de ter uma renda salarial que

dê para arcar com as despesas pessoais e/ou familiares. A respeito da jornada de trabalho dos

professores, Tavares et al. (2007) ressalta que geralmente:

[...] são longas, com raras pausas de descanso e/ou refeições breves e em

lugares desconfortáveis. O ritmo intenso e variável, com início muito cedo

pela manhã, podendo ser estendido até à noite em função de dupla ou tripla

jornada de trabalho. No corre-corre os horários são desrespeitados, perdem-

se horas de sono alimenta-se mal, e não há tempo para o lazer. São exigidos

níveis de atenção e concentração para a realização das tarefas. Quando o

trabalho é desprovido de significação, não é reconhecido ou é uma fonte de

ameaças à integridade física e/ou psíquica acaba por determinar sofrimento

ao professor. (TAVARES et al., 2007, p. 19).

Possivelmente, essa expressiva quantidade de horas trabalhadas e demandas exigidas,

onde não há tempo para descanso, lazer, ou dedicação a outras áreas de sua vida, inclusive o

cuidado com sua saúde, poderão propiciar o surgimento de doenças de cunho físico e/ou

mental.

Mancebo et al. (2006), também fazem referência a extrapolação demasiada a sua área

de formação, ou seja, em algumas situações, o professor se vê obrigado a exercer funções às

quais não tem formação e capacitação profissional para tal. Em muitas situações,

erroneamente, ou por caráter de urgência, são levados a enfrentar uma demanda que foge a

sua área de atuação, enveredando em funções de competência de outros profissionais, como o

assistente social, psicólogo, psicopedagogo, contador, administrador, etc.

Outro aspecto que pode favorecer o surgimento de sintomas relacionados ao

adoecimento mental em professores e a cobrança da “eficiência” e resultados positivos,

observados em empresas privadas, e trazidos para educação após a influência dos

“reformadores empresarias13”. Sobre a relação entre a cobrança de resultados e adoecimento

nessa categoria de trabalhadores, Forattini e Lucena (2015), afirmam que:

A pressão pelos resultados, muitas vezes camuflada sob o véu da

flexibilização e autonomia do trabalho; [...] as competências didática,

administrativa, comunicacional e intelectual, além da geração de ciências,

formam um conjunto de exigências desgastantes, levando o docente a um

estado de esgotamento das forças mentais e físicas. (FORATTINI;

LUCENA, 2015, p. 37).

13 “[...] um aglomerado de grupos empresariais com representantes e patrocínio de entidades como o Grupo Pão

de Açúcar, Fundação Itaú-Social, Fundação Bradesco, Instituto Gerdau, Grupo Gerdau, Fundação Roberto

Marinho, Fundação Educar-Dpaschoal, Instituto Itaú Cultural, Faça Parte-Instituto Brasil Voluntário, Instituto

Ayrton Sena, Cia. Suzano, Banco ABN-real, Banco Santander, Instituto Ethos, entre outros” (SAVIANI, 2007,

p. 1243).

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Os docentes passaram a sofrer com a sobrecarga de tarefas e cobranças, sendo

necessário mais tempo e dedicação por parte dos professores para o desenvolvimento e

execução de seu trabalho, que somados as demandas que já existiam, e a defasagem salarial,

ocasionaram em larga escala a intensificação e a precarização do trabalho docente. Abonízio

(2012) assegura que:

[...] essa categoria profissional tem sofrido severas transformações, por

exemplo, o processo de desqualificação e desprofissionalização,

intensificação do trabalho, flexibilização dos contratos, entre outros. Desse

modo, todo movimento referido tem contribuído para o definhamento da

saúde dos trabalhadores da área, principalmente no que pese a saúde mental.

(ABONÍZIO, 2012, p. 23)

A saúde do professor fica comprometida diante da carga excessiva de trabalho a que

são submetidos (FORATTINI; LUCENA, 2015). Vale lembrar que este é apenas mais um dos

desdobramentos do capitalismo, em que o trabalhador não presta seu serviço apenas para

atender às suas necessidades, mas precisa fornecer trabalho excedente, o que torna sua tarefa

ainda mais degradante, inclusive na área educacional.

Diante do exposto, é interessante observarmos que o modelo empresarial se estende

para o “chão da escola”, o antigo diretor passa a ser chamado de “gestor”, consequentemente,

de forma perceptível ou não, os alunos e suas famílias aos poucos começam a ser vistos pelo

Estado, população e até mesmos pelos próprios profissionais da Educação como clientes que

precisam ser satisfeitos a qualquer custo. A Educação vira mercadoria. Aqueles que podem

pagar mais caro têm “acesso” a mais conteúdos, atividades, atenção e tratamento. Aqueles que

dependem da Educação pública são doutrinados pela classe dominante. Nos dois casos os

professores sofrem com a excessiva carga de trabalho e desvalorização profissional.

Essas transformações oriundas das reformas educacionais interferiram também no

significado e representatividade da figura do professor frente à sociedade, outrora tão

respeitado, agora é tratado pelo sistema educacional neoliberal com descaso. São cobrados de

acordo com o “rendimento” dos alunos, que se acaso não alcançam o esperado, o sistema, as

famílias e os próprios alunos, muitas vezes, responsabiliza o docente, a culpa então vira um

acessório automático na figura do professor. Assim, a desqualificação e desvalorização do

trabalho docente vão se firmando e ao mesmo tempo minando as forças físicas e mentais

desses profissionais, que não se sentem mais reconhecidos, respeitados e importantes. O

trabalho desenvolvido vai perdendo o sentido.

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Essas mudanças no contexto educacional, a intensificação do trabalho docente, a falta

de amparo, estrutura, apoio e valorização por parte do Estado (poder público), gera um quadro

de precarização referente às condições de trabalho docente, que, por conseguinte, prejudica a

atuação desses profissionais em seu ambiente de trabalho, a aprendizagem dos alunos, o

Desenvolvimento Profissional Docente (DPD), a carreira profissional e, consequentemente, a

qualidade da Educação ofertada no país.

É relevante frisar, que condições de trabalho adequadas são indispensáveis para que o

docente cumpra sua função de forma efetiva e favoreça a aprendizagem dos

educandos/alunos. Barros (2013) entende condições de trabalho como um conjunto de

recursos que viabiliza a realização de um trabalho, estando inclusos nesta definição questões

ligadas à infraestrutura, materiais disponíveis, serviços de apoio.

A precarização e/ou a deficiência das condições de trabalho docente além de interferir

negativamente na qualidade da Educação ofertada no país, propicia o adoecimento dos

professores (PEREIRA JUNIOR, 2017). A intensificação e precarização do trabalho docente é

um fato real que pode trazer prejuízos para a qualidade do ensino e o desenvolvimento do

trabalho do professor, assim como, para vida afetiva, social, financeira e familiar,

comprometendo quiçá a saúde física e mental desses profissionais.

De acordo com Dejours (1992), as condições e organizações do trabalho trazem

repercussões significativas sobre a saúde do trabalhador. O autor assevera que em decorrência

destes fatores, o número de docentes que tem enfrentado o adoecimento mental aumentou

consideravelmente. Além da Síndrome de Burnout, são comuns também outros transtornos de

ordem psíquica/mental, como transtornos fóbico-ansiosos (ansiedade generalizada, transtorno

de pânico, reações ao “stress” grave e adaptações, etc), transtornos de humor/afetivo

(episódios depressivos, transtorno depressivo recorrente, etc), dentre outros, que podem ser

provocadas pelas condições precárias de trabalho, as quais impedem que o professor

desempenhe seu trabalho com qualidade e que tenha sua saúde assegurada. Gasparine, Barreto

e Assunção (2005), apontam que entre os anos de 2001 a 2002, 84% dos servidores que se

afastaram de suas atividades laborais eram da categoria de professores. Ou seja, existe uma

quantidade expressiva de professores se afastando da sala de aula devido ao adoecimento.

Considerando a precarização das condições do trabalho docente no Brasil; as

cobranças e responsabilidades; a atenção que o nível de trabalho demanda, a carga afetiva e

emocional inclusas; a necessidade de estar e manter-se sempre atualizado com relação a sua

área de atuação, assuntos a serem ministrados e obrigações escolares, o trabalho docente está

constantemente sobre uma intensa pressão/tensão mental, que se não for trabalhada/cuidada

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devidamente, poderá levar esse professor ao desequilíbrio de suas emoções, pensamentos e

comportamentos, ocasionando alterações em seu estado mental/psicológico, e/ou o

acometimento de transtornos mentais e comportamentais, gerando experiências singulares que

estarão imbricadas em seu DPD e carreira profissional.

2.3. Desenvolvimento Profissional Docente (DPD)

Como podemos observar o trabalho desenvolvido pelos professores não é simples e

não se restringe a sala de aula. Ser professor na atual conjuntura que vivemos no Brasil,

imersos em políticas neoliberais, intervenções dos setores privados não é fácil. Direitos

conquistados por essa categoria de trabalhadores não são efetivados em todos os estados e

municípios; as reformas educacionais não trouxeram melhorias para qualidade de vida e

condições de trabalho para os docentes; houve uma flexibilização, intensificação e

precarização do trabalho docente.

Ser professor requer preparação, formação inicial e continuada, tempo, dedicação,

investimento e compromisso. Nenhum dos docentes que conhecemos ou que passaram em

nossa vida escolar e profissional nasceu professor, eles escolheram o ofício, estudaram,

capacitaram-se, aprenderam, e a todo momento se constroem enquanto profissional/docente.

Durante o seu desenvolvimento profissional e no âmbito da história pessoal, escolar e social,

o sujeito vai descobrindo seus desejos e habilidades, “se encontrando” no meio em que vive, a

partir de então, opta pela profissão docente. No contexto dessas descobertas e escolhas, o

sujeito que pretende enveredar pela docência investe em sua formação, busca e constrói sua

carreira profissional docente, desenvolvendo-se enquanto pessoa e profissional da Educação.

Quando nos debruçamos a estudar o desenvolvimento profissional na área da

Educação, temos visto de forma recorrente o termo Desenvolvimento Profissional Docente

(DPD), o qual utilizaremos durante a construção de nosso trabalho. De acordo com Marcelo

Garcia (2009) a opção pelo termo DPD é interessante porque está entrelaçado ao pensamento

de continuidade e permanência, relacionado ao desenvolvimento do profissional de ensino

que atua no contexto educacional, sendo a formação docente é um dos aspectos constituintes

desse processo.

É importante entendermos que o DPD não acontece apenas durante os processos

formais em espaços escolares e acadêmicos, mas também em atividades e experiências

informais, que vão além da formação inicial e continuada. O autor define DPD como:

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[...] um processo individual e coletivo que se deve concretizar no local de

trabalho do docente: a escola; e que contribui para o desenvolvimento das

suas competências profissionais, através de experiências de índole diferente,

tanto formais como informais. O conceito de desenvolvimento profissional

tem vindo a modificar-se durante a última década, sendo essa mudança

motivada pela evolução da compreensão de como se produzem os processos

de aprender a ensinar. Nos últimos tempos, tem-se vindo a considerar o

desenvolvimento profissional como um processo a longo prazo, no qual se

integram diferentes tipos de oportunidades e experiências, planificadas

sistematicamente para promover o crescimento e desenvolvimento do

docente. (MARCELO GARCIA, 2009, p. 7)

Nessa perspectiva, entendemos que o DPD se inicia antes da sua formação acadêmica,

e engloba diversos fatores tais como: experiências pessoais, familiares, culturais, sociais,

escolares, “sonhos”, projetos, motivação, sentimentos, emoções, afetos e vínculos, portanto,

irá variar de acordo com cada professor/sujeito. A formação acadêmica, cursos, capacitações,

seminários, congressos, dentre outros, também fazem parte do DPD, e possui caráter

organizacional, contextual e transformador.

Ferreira (2014) ressalta ainda que o DPD é permeado por questões subjetivas, crenças,

valores, acontecimentos da vida como um todo, interação com o meio escolar, suas normas e

atribuições, e são suscetíveis à mudanças frente a situações da vida pessoal, tais como a

maternidade, casamento e adoecimento, podendo sofrer retrocessos, descontinuidades ou

avanços. É relevante também entendermos que o desenvolvimento profissional está

entrelaçado com a carreira docente, deste modo, evoluem juntas, sendo influenciadas pelo

sistema educacional, contexto político, disponibilidade para aprender a ensinar e evoluir

enquanto profissional na área da educação (MARCELO GARCIA, 2009).

Vaillant (2009) afirma que o DPD pode fazer a diferença e contribuir para o trabalho

desenvolvido em sala de aula pelos professores, mas para que isso seja possível são

necessários recursos materiais adequados, uma boa proposta de inovação apoiada pela

sociedade para a atuação dos docentes, e continuidade na permanência das transformações

cogentes. A autora salienta que para esses processos acontecerem é imprescindível vontade

política e consensos entre os atores sociais envolvidos no sistema educacional.

Sobre vontade política e consensos, Nunes e Oliveira (2017) apontam que esses dois

aspectos enfrentam dificuldades para acontecer frente às pautas e prioridades administrativas

do governo. Destacam que políticas públicas são originadas nos Ministérios da Educação de

cada país, porém são abandonadas frente a outros assuntos. Além disso, existe uma rivalidade

entre os sujeitos que participam da elaboração dessas políticas. Outro fato importante nesse

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contexto é que muitas ações educacionais que são planejadas previamente não ocorrem na

prática, direitos são garantidos, mas não são efetivados.

Vaillant (2009) dá continuidade ao diálogo afirmando que somente as políticas

parciais de governo não são suficientes para apoiar e promover o DPD, é preciso políticas de

Estado embasadas em estratégias sistêmicas de ação. A formulação de políticas públicas para

o DPD deve ser entendida como um processo em continuidade, para que dessa forma sejam

constituídas estratégias para o estabelecimento de planos de ação estruturados, condizentes

com as decisões e objetivos do contexto, e, se necessário, realização de adaptações frente as

novas demandas e realidades no sistema educacional. Nunes e Oliveira (2017) salientam que

as políticas públicas voltadas ao DPD:

[...] precisam garantir um atrativo maior para a profissão, afim de que os

professores não a abandonem depois de amplo processo formativo. É

necessária uma valorização docente de modo a fomentar um imaginário

coletivo acerca da profissão, desenvolvendo ações concretas de melhoras das

condições de trabalho e, ao mesmo tempo, a proposição de mecanismos

avaliadores e reguladores para garantir a responsabilidade dos docentes no

exercício da profissão. (NUNES; OLIVEIRA, 2017, p. 07)

Os referidos autores preconizam que as políticas de DPD devem estar voltadas para a

valorização docente e para melhores condições de trabalho, o que pode acontecer através da

definição de plano de cargos e salários, incentivos e promoções baseadas no processo

formativo, para que os professores não percam o desejo e a motivação em exercerem o seu

trabalho, ou até mesmo abandonem a docência. Nunes e Oliveira (2017) lembram ainda que

apesar de existir um piso salarial regulamentado na resolução 02/2009 do Conselho Nacional

de Educação (CNE) e pela lei 11.738/2008 (BRASIL, 2008), sobre as diretrizes com relação à

carreira docente, não há o cumprimento destas em alguns estados e municípios no Brasil, o

que desvaloriza o trabalho desses profissionais da Educação.

Após alguns embates sindicais e reinvidicações da classe trabalhadora docente, foram

criadas a LDBEN, o FUNDEF, substituído pelo FUNDEB, que passou a exigir um piso

salarial regulamentado em lei própria, para o pagamento dos professores, favorecendo

questões salariais dessa categoria de trabalhadores. O FUNDEB estabeleceu também uma

carga horária de 40 horas semanais, sendo um terço desta carga horária destinado para o

planejamento das atividades (BRASIL, 2008)14.

14Este conteúdo se encontra disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-

2010/2008/lei/l11738.htm

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Nunes e Oliveira (2017) destacam que a construção da profissão e da carreira docente

envolve políticas públicas que assegurem uma série de direitos referentes à valorização dos

professores, os quais estão citados no Plano Nacional de Educação (PNE)15, e contam com 20

metas, onde a valorização docente aparece em um quarto delas. Entretanto, elas ainda

permanecem em boa parte apenas no discurso e na legislação, existem grandes dificuldades e

desafios para serem efetivadas na prática, ou seja, o que está estabelecido pela lei nem sempre

é cumprido.

Entre as diretrizes do PNE, algumas se encontram mais diretamente relacionadas ao

DPD e carreira docente. A diretriz IX refere-se à valorização dos profissionais da Educação,

nesse aspecto, o PNE (BRASIL, 2014)16 determina:

Meta 15: garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o

Distrito Federal e os Municípios, no prazo de 1 (um) ano de vigência deste

PNE, política nacional de formação dos profissionais de educação de que

tratam os incisos I, II e III do caput do art. 61 da Lei nº 9.396, de 20 de

dezembro de 1996, assegurado que todos os professores e as professoras da

educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em

curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam.

Meta 16: formar, em nível de pós-graduação, 50% (cinquenta por cento) dos

professores da educação básica, até o último ano de vigência deste PNE, e

garantir a todos (as) os (as) profissionais da educação básica formação

continuada em sua área de atuação, considerando as necessidades, demandas

e contextualizações dos sistemas de ensino.

Meta 17: valorizar os (as) profissionais do magistério das redes públicas de

educação básica de forma a equiparar seu rendimento médio ao dos (as)

demais profissionais com escolaridade equivalente, até o final do sexto ano

de vigência deste PNE.

Meta 18: assegurar, no prazo de 2 (dois) anos, a existência de planos de

Carreira para os (as) profissionais da educação básica e superior pública de

todos os sistemas de ensino e, para o plano de Carreira dos (as) profissionais

da educação básica pública, tomar como referência o piso salarial nacional

profissional. (BRASIL, 2014)

Souza (2015) assevera que a valorização do trabalho docente, assim como o DPD e

carreira profissional só podem se concretizar mediante a efetivação do PNE, elemento

essencial para garantir a realização das necessidades da categoria dos professores no Brasil.

Embora a valorização do professor esteja explícita no PNE, ainda está aquém das discussões

elencadas nas Conferências Nacional de Educação (CONAES)17. É possível observar que

formação, carreira e salários estão contemplados “teoricamente” nas metas, contudo, é

15 “O Plano Nacional de Educação (PNE) determina diretrizes, metas e estratégias para a política educacional no

período de 2014 a 2024.” http://pne.mec.gov.br/ 16LEI N° 13.005/2014 – “Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências”.

http://pne.mec.gov.br/18-planos-subnacionais-de-educacao/543-plano-nacional-de-educacao-lei-n-13-005-2014 17Que ocorreram nos anos de 2010 e 2014.

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importante destacar que as condições de trabalho e saúde não são expressas ou abordadas no

PNE, levando-nos a refletir que muito ainda precisa ser feito para que os docentes sejam

vistos e tratados pelo Estado com a devida relevância.

2.4. Carreira profissional docente e seus períodos

Com base nas discussões elencadas acima compreendemos que a carreira profissional

docente faz parte do DPD, é um processo de socialização que apresenta variações de acordo

com a idade, os anos/tempo de docência, contexto/país, gênero, políticas públicas, atribuições

relacionadas à função, prática/experiência, rotina e institucionalização escolar (HUBERMAN,

1992; GONÇALVES, 1992; FERREIRA, 2014). A respeito da carreira docente, Bolívar

(2002) esclarece que:

O curso profissional pode ser descrito pelo sujeito retrospectivamente ou

antecipar aquilo que se espera – e, por isso mesmo, não se restringe às

trajetórias profissionais associadas à ascensão no trabalho, contemplando

também a experiência da vida como um todo. (BOLÍVAR, 2002, p.76)

A carreira profissional docente está em constante construção e nela estão imbricados o

processo de crescimento pessoal e social. O professor vai descobrindo habilidades e

dificuldades; novas formas de agir e interagir com os alunos e colegas; conteúdos, temas,

assuntos; maneiras de ser e agir frente à vida, ao outro e a sua profissão.

Há de se considerar também, que em meio ao desenvolvimento de seu trabalho,

acontecem situações que marcam o percurso e a carreira profissional dos professores. Nessa

construção profissional, os docentes vão adquirindo experiências necessárias para o

aperfeiçoamento de sua prática pedagógica (HUBERMAN, 1992; SHIGUNOV; FARIAS &

NASCIMENTO, 2002).

Outro aspecto relacionado ao DPD e a carreira profissional docente, que não pode ser

deixado de lado, são as questões pessoais, particulares de cada professor/sujeito, detentor de

uma história de vida, repleta de acontecimentos; de fatos sociais, culturais, crenças, valores,

contexto; influências de familiares, amigos, vida escolar e daqueles que foram os seus

professores. Com todos esses aspectos envolvidos o docente/sujeito vai edificando sua

identidade e postura profissional.

Observamos que após a década de 1980, diversos estudos sobre a trajetória

profissional docente começaram a emergir revelando que a carreira profissional docente era

constituída por fases/etapas/ciclos/períodos, permeados por sentimentos e emoções, descritas

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por diferentes autores e contextos. Acontecimentos relacionados à vida pessoal do

professor/sujeito, tais como: casamento, gravidez, nascimento de filhos, aparecimento de

doenças, etc., podem influenciar a carreira profissional docente e seus períodos

(GONÇALVES, 1992; FERREIRA, 2017). Esses eventos e vivências podem provocar

mudanças na postura e atitude do docente, assim como no desenvolvimento de seu trabalho.

Na tentativa de entendermos como a carreira profissional docente é discutida no meio

acadêmico, trazemos diversas perspectivas acerca de suas fases, conforme os estudos de Sikes

(1985), Huberman (1992), Gonçalves (1992) e Farias et al. (2018) e Ferreira (2014). O

primeiro autor que apresentamos para a discussão dos períodos da carreira docente é Sikes

(1985 apud FERREIRA, 2014), que a divide em 5 “fases”, as quais para ele são baseadas de

acordo com a idade dos professores. O autor afirma que a primeira fase é chamada de

exploração, compreende entre 21 e 28 anos de idade; a segunda fase é a de transição, entre 28

e 33 anos de idade; a terceira fase estabilização, entre 30 e 40 anos; a quarta fase entre 40 a 55

anos; e quinta fase entre 50 e 55 anos de idade até a jubilação.

Sob a perspectiva de Gonçalves (1992), a carreira é composta por diferentes “etapas”,

que possuem características emocionais/psicológicas predominantes. Para este autor, a

carreira se constitui em cinco etapas: 1) O início (1 a 4 anos de docência) - o choque do real e

descoberta; 2) a segunda etapa de estabilização (5 a 7 anos) - segurança, entusiasmo e

maturidade; 3) a terceira etapa (15-20/25 anos) - composta por divergências positivas e

negativas, empenhamento e entusiasmo com a rotina; 4) a quarta etapa (8 a 24 anos) -

serenidade, com reflexões e satisfação pessoal; 5) a quinta etapa (25 a 40 anos) - renovação do

interesse ou desencanto, renovação do entusiasmo, desinvestimento e saturação.

Huberman (1992) também se debruçou a estudar a carreira profissional docente, com

professores do ensino secundário na Suíça. O mesmo observou que ao longo da carreira, esses

professores vivenciavam ciclos, os quais ele denominou de “ciclos de vida profissional”. De

acordo com o referido autor, esses ciclos são constituídos pelo tempo de docência e também

por aspectos emocionais/psicológicos característicos de cada ciclo, durante a trajetória

profissional dos docentes. O primeiro ciclo citado pelo autor é o de entrada na carreira (1 a 3

anos de docência), quando o estudante termina a graduação e vai trabalhar em sala de aula.

Esse ciclo pode envolver certa instabilidade pessoal e profissional; insegurança; entusiasmo; e

exploração.

Para Huberman (1992) esse primeiro ciclo engloba dois estágios: “sobrevivência e

descoberta”. O estágio da “sobrevivência” é o momento em que os professores se deparam

com a realidade escolar e toda sua complexidade. Os docentes nesse estágio veem o quanto é

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difícil colocar em prática o que aprenderam na faculdade, os alunos não são tão disciplinados

quanto imaginavam, conseguir dar uma aula que prenda a atenção dos mesmos é uma vitória

(muitas vezes esporádica), que os recursos ou materiais didáticos necessários para o

desenvolvimento de seu trabalho são escassos ou deixam a desejar, há uma espécie de choque

com a realidade.

O estágio da “descoberta” é marcado pela sensação de responsabilidade, nesse

momento o professor iniciante está a explorar o novo ambiente, mostra-se entusiasmado e

orgulhoso por estar exercendo a docência. Portanto, o primeiro ciclo descrito por Huberman

(1992) é o marcado por descobertas, o professor passa a entender como são as turmas, a

conhecer os alunos que as compõe, os horários das aulas, as regras e diretrizes internas

daquela instituição na qual o mesmo trabalha. É um processo que envolve novidades e a

necessidade de passar e se adaptar ao seu trabalho, atribuições e a todo o contexto escolar.

O segundo ciclo estudado por Huberman (1992) é o da “estabilização” (4 a 6 anos de

docência), caracterizado pelo comprometimento e responsabilidade dos docentes. Nesse ciclo

o professor/sujeito deixa de optar por outras escolhas profissionais; se sentem mais livres e

seguros; e desenvolvem um sentimento de pertença/afirmação com relação à profissão e/ou a

escola onde atua. Também podemos destacar que gradativamente, outros atores sociais

envolvidos no contexto escolar, começam a reconhecer a autoridade desse professor.

O terceiro ciclo descrito por Huberman (1992) é o de “diversificação” (7 a 25 anos de

docência), quando os professores buscam diversificar o material didático, as formas de

avaliação, o planejamento das aulas, agrupamento das turmas, etc. Surgem novos desafios no

intuito de evitar a rotina, isso gera motivação e questionamentos entre os docentes. O quarto

ciclo é chamado de “serenidade” (25 a 35 anos de docência), quando o professor tem a

propensão a aceitar-se plenamente como pessoa e profissional, todavia, nesse período, ainda

há questionamentos. Os docentes experimentam certa monotonia e desencanto frente ao

sistema educacional e seus entraves, podendo ocasionar um período de conservadorismo,

lamentações e até mesmo “pânico” frente a possibilidade de um recomeço em outra área.

O quinto ciclo descrito por Huberman (1992) é o de “desinvestimento” (entre 35 e 40

anos de docência), quando o professor recua serenamente com relação ao seu trabalho,

ansioso pelo término, para dedicar-se a si mesmo. Muitas vezes pode mostrar-se

desinteressado pelos assuntos em torno. Há um distanciamento afetivo em relação aos alunos.

Caso tenham decidido permanecer na docência por comodidade ou medo de recomeçar, pode-

se observar também o sentimento de arrependimento com relação à escolha profissional.

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Faz-se mister destacar que Sikes (1985), Gonçalves (1992) e Huberman (1992),

organizam os períodos da carreira docente no tempo de docência, que vai do primeiro até o

quadragésimo ano de atuação profissional, baseando-se em professores que atuam no contexto

europeu, e sem distinção de gênero (feminino ou masculino).

Ferreira (2014) também se debruçou a estudar a carreira docente no Brasil, estudou

aspectos do DPD de professores no início da carreira docente no município de Itapetinga-BA,

considerando além do contexto educacional brasileiro, questões de gênero, dividindo-a em

seis “períodos”. Como já mencionado na introdução, escolhemos a divisão da carreira docente

segundo a proposta desta autora, pela proximidade com o contexto o qual estamos inseridos e

devido a abordagem com relação a questão de gênero.

Para melhor visualização dos períodos da carreira docente abordados por Ferreira

(2014), expomos logo adiante dois quadros. O primeiro (quadro 1) se refere à divisão dos

períodos considerando o gênero feminino, e o segundo (quadro 2) o gênero masculino:

Quadro 01 - Períodos da carreira profissional docente feminina no Brasil. ANOS DE EXPERIÊNCIA

PERÍODOS

1-5

5-8

8-15

15-18

18-20

20-25

INICIAÇÃO

ESTABILIZAÇÃO

VARIAÇÃO (+ ou -)

EXAMINAÇÃO

SERENIDADE

FINALIZAÇÃO

Fonte: Ferreira (2014, p. 48)

Quadro 02- Períodos da carreira profissional docente masculina no Brasil.

ANOS DE EXPERIÊNCIA

PERÍODOS

1-5

5-8

8-14

INICIAÇÃO

ESTABILIZAÇÃO

VARIAÇÃO (+ ou -)

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40

Fonte: Ferreira (2014, p. 48).

De acordo com Ferreira (2014), além do tempo de docência, os períodos são envoltos

por questões emocionais, alterações psíquicas e comportamentais, crises e desilusões,

podendo ocorrer dúvidas em relação à continuidade ou abandono da carreira profissional

docente, mesmo após anos de investimento e dedicação. Corroborando com esta afirmação,

Godtsfriedt (2005) também ressalta que:

[...] os ciclos de vida profissional na carreira docente são permeados por

desafios, dilemas e conquistas que repercutem no processo de como o

professor percebe-se e sente-se no ambiente de trabalho, na busca da

realização pessoal e profissional. Sugerem-se mais estudos com o objetivo

de ampliar a discussão sobre esse tema. (GODTSFRIEDT, 2005, p 15)

Segundo Ferreira (2014) o primeiro período da carreira docente no Brasil é a de

inicialização, quando o professor terminar sua graduação ou licenciatura e começa a trabalhar

no contexto escolar, ministrando aulas. Esse período dura em média de 01 a 05 anos de

docência, acontece de forma parecida entre os professores (homens) e professoras (mulheres),

e constitui o início de experiências propícias para a construção da sua identidade profissional.

É caracterizado por um entusiasmo inicial, mudanças comportamentais, afetivas e sociais.

Nesse período os professores descobrem a realidade escolar e realizam constantes reflexões.

Surgem os dilemas, as angústias e o cansaço frente ao sistema educacional brasileiro, o que de

certa forma gera desilusões em relação à profissão escolhida e a vulnerabilidade para o “mal-

estar docente”18. Nesse primeiro contato a autora afirma que é possível o abandono da

profissão por alguns docentes.

O segundo período descrito por Ferreira (2014) é a de estabilização, e acontece de

forma similar para ambos os sexos (professores e professoras). Nesse momento o profissional

já possui um sentimento de pertença, está mais familiarizado com o grupo, colegas,

18 “[...] um conceito da literatura pedagógica que pretende resumir o conjunto de reações dos professores como

grupo profissional... A expressão mal-estar docente (malaiseenseignant, teacher burnout) emprega-se para

descrever os efeitos permanentes, de caráter negativo que afetam a personalidade do professor como resultado

das condições psicológicas e sociais em que exerce a docência, devido à mudança social acelerada” (ESTEVE,

1999, p. 97-98).

14-22

22-25

25-30

EXAMINAÇÃO

SERENIDADE

FINALIZAÇÃO

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comunidade, escola e sua organização, ou seja, já conhece o contexto escolar e o sistema

educacional, é possível que o mesmo se sinta confiante, e pode durar entre 06 e 08 anos de

docência.

O terceiro período é chamado por Ferreira (2014) de variação, quando os momentos

positivos e negativos são intercalados em relação ao desenvolvimento de seu trabalho. Nesse

período a autora faz uma distinção com relação a quantidade de anos para o sexo feminino

(entre 8 e 15 anos de docência) e masculino (entre 8 e 14 anos de docência). Geralmente nesse

momento o docente busca valorização profissional, porém, se depara com a rotina e o cansaço

constante. O quarto período apontado pela referida autora é o de examinação, quando os

professores se questionam sobre suas escolhas, contexto escolar, participação dos pais e

sistema educacional. Essas indagações podem ocasionar crises e conflitos relacionados a

aspectos negativos da profissão e variam de acordo com o gênero (feminino entre 18 e 20

anos, e masculino entre 22 e 25 anos de docência).

O quinto período é chamado de serenidade, quando os professores estão mais maduros

e se preocupam menos com o desenvolvimento de suas atividades, podendo ocorrer um

declínio afetivo entre o professor e os alunos. De acordo com Ferreira (2014) esse período

acontece de forma diferente com relação à quantidade de anos de exercício da profissão, há

uma distinção para as mulheres (professoras) e homens (professores). O sexto e último

período, é o de finalização, que são os últimos anos da carreira docente até aposentadoria.

Nesse momento o professor já não investe mais em sua carreira, não se observa interesse em

avançar nesse sentido, encontra-se desiludido, cansado e/ou ansioso pelo término de suas

atividades. Seu período de duração é entre 20 e 25 anos de docência para as mulheres e 25 e

30 anos para os homens.

Os autores Farias et al. (2018), também analisaram a trajetória profissional de

docentes de educação física, no magistério público municipal de Porto Alegre-RS, no Brasil.

Os referidos autores dividiram a carreira docente em cinco “ciclos”, sendo o primeiro

conhecido como a entrada na carreira (entre 1 e 4 anos de docência), quando os docentes

começam de fato a trabalhar e a enfrentar o sistema e contexto educacional. Nesse momento

eles se deparam com o choque da realidade, e decidem em permanecer ou não na docência.

O segundo ciclo estudado por Farias et al. (2018), é o de consolidação (entre 5 e 9

anos de docência). Nesse ciclo os professores consolidam suas ações, comportamentos e

competências, trabalham melhor em equipe, assumem responsabilidades, se dedicam mais ao

trabalho e demonstram mais paciência e criatividade. Buscam a melhoria de sua prática

pedagógica. O terceiro ciclo é o de afirmação ou diversificação (entre 10 e 19 anos de

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docência), quando esses docentes confirmam suas ações na prática pedagógica. Nesse período

o conhecimento teórico se funde com a experiência, e proporciona sentimentos de

autoconfiança, motivação e maior participação em reuniões e atividades grupais. Há um

anseio por progressão funcional e melhorias salariais.

O quarto ciclo é chamado de renovação (entre 20 e 27 anos de docência), e é

caracterizado por mudanças de comportamento, crenças, expectativas e perspectivas em

relação a profissão e contexto escolar. Nesse momento a aposentadoria é almejada, mas não

está associado ao abandono da profissão e sim a uma próxima etapa, observa-se também um

distanciamento afetivo por parte dos docentes. O quinto ciclo (entre 28-38 anos de docência),

o da maturidade, é marcado pela diminuição das expectativas em relação à profissão e à

carreira docente. Devido ao distanciamento de sua formação inicial, sua prática pedagógica é

baseada e justificada pelos anos de experiência. Percebe-se uma busca por reconhecimento e

valorização frente ao trabalho desenvolvido por anos (FARIAS et al., 2018).

Como podemos perceber sob a perspectiva dos autores Farias et al (2018) e Ferreira

(2014), a carreira profissional docente no Brasil tem suas particularidades, varia de acordo

com o tempo de trabalho, e também envolve questões de gênero.

Frente ao exposto, considerando as divisões da carreira profissional docente dos

autores apontados nessa seção (SIKES, 1985; GONÇALVES, 19992; HUBERMAN, 1992;

FERREIRA, 2014; FARIAS et al., 2018), segue abaixo um quadro com o resumo e descrição

das fases/ciclos/etapas/períodos da carreira docente:

Quadro 03 - Modelos comparativos de fases/etapas/ciclos/períodos da carreira profissional docente. FASES/ETAPAS/CICLOS/PERÍODOS DA CARREIRA DOCENTE

SIKES

(1985)

GONÇALVE

S

(1992)

HUBERMAN

(1992)

FERREIRA

(2014)

FARIAS et al.

(2018)

INGLATERRA PORTUGAL SUÍÇA BRASIL

(Bahia)

BRASIL

(Rio Grande do

Sul)

Fases Etapas Ciclos Períodos Ciclos

Mulheres Homens

Exploração

(entre 21 e 28

anos de idade)

O início

(1-4 anos de

docência)

Entrada

(0-3 anos de

docência)

Inicialização

(1-5 anos de

docência)

Inicialização

(1-5 anos de

docência)

Entrada

(1-4 anos de

docência)

Transição

(entre 28 e 33

anos de idade)

Estabilidade

(5-7 de

docência)

Estabilização

(4-6 anos de

docência)

Estabilização

(5-8 anos de

docência)

Estabilização

(5-8 anos de

docência)

Consolidação

(5-9 anos de

docência)

Estabilização

(entre 30 e 40

anos)

Divergência

(8-15 anos de

docência)

Diversificação

(7-25 anos de

docência)

Variação

(8-15 anos de

docência)

Variação

(8-14 anos de

docência)

Afirmação ou

diversificação

(10-19anos de

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43

docência)

Quarta fase

(entre 40 a 55

anos)

Serenidade

(15-20/25 de

docência)

Serenidade

(25-35 anos de

docência)

Examinação

(15-18 anos de

docência)

Examinação

(14-22 anos de

docência)

Renovação

(20-27 anos de

docência)

Quinta fase

(entre 50 e 55

anos de idade até

a jubilação)

R.Interesse e

desencanto

(25-40 anos de

docência)

Desinvestiment

o

(35-40 anos de

docência)

Serenidade

(18-20 anos de

docência)

Serenidade

(22-25 anos de

docência)

Maturidade

(28-38 anos de

docência)

Finalização

(20-25 anos de

docência)

Finalização

(25-30 anos de

docência)

Fonte: Elaborado pela autora (Agosto/2019).

Em diálogo, os autores citados neste trabalho (SIKES, 1985; GONÇALVES, 1992;

HUBERMAN, 1992; FERREIRA, 2014; FARIAS et al., 2018), abordam a temática sobre a

carreira profissional docente e concordam que a mesma está dividida em

fases/etapas/ciclos/períodos, os quais têm relação com a idade do professor ou tempo de

docência, e englobam aspectos emocionais/psicológicos/comportamentais. Todavia é

interessante lembrar que esses períodos não são fixos ou lineares, nem todos professores (as)

experimentam a sequência exata dessas etapas, ou necessariamente passam por todas elas,

pois, cada professor (a) poderá vivenciá-las de modo diferente e particular (FERREIRA,

2014; BOLIVAR, 2002).

O estudo a respeito da carreira profissional docente e seus períodos fazem-se relevante

e essencial para compreendermos o percurso dos professores durante seu DPD, assim como,

para entendermos os aspectos emocionais e comportamentais intrínsecos que permeiam todo

esse processo. Diante do exposto, seguiremos abordando a intensificação do trabalho docente

e seus desdobramentos na saúde dessa categoria de trabalhadores e a relação com a carreira

docente.

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3. TRANSTORNOS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS EM PROFESSORES

Frente ao que foi exposto a respeito do trabalho docente - suas demandas cotidianas,

atribuições, exigências; jornadas de trabalho exaustivas; intensificação, flexibilização,

precarização; condições de trabalho; mudanças advindas das reformas educacionais e de um

sistema capitalista que suga e desmerece o trabalho dos professores, fazendo-os muitas vezes,

perder o sentido e a satisfação pelo que fazem, ocasionando sofrimento psíquico, e, portanto

mais vulneráveis/suscetíveis ao adoecimento mental – entre outras perspectivas, o profissional

que exerce esse trabalho merece atenção. Trazemos ao longo desta seção, informações,

esclarecimentos e reflexões sobre saúde, adoecimento mental e seus conceitos; Transtornos

Mentais Comuns (TMC); e transtornos mentais e comportamentais que mais acometem os

docentes que trabalham na Educação básica, na rede pública de ensino no Brasil.

3.1 A saúde e o adoecimento mental: conceitos e reflexões

Inicialmente é importante que compreendamos o que é saúde e adoecimento mental. A

Organização Mundial de Saúde (OMS, 2011) afirma que não existe uma determinação única

sobre seu conceito, geralmente o termo é usado para descrever um estado de completo bem-

estar físico, social e mental, e não simplesmente a ausência de doenças. Entretanto, é

interessante refletirmos se realmente este “estado de completo bem-estar físico, social e

mental”, não é uma utopia, diante de todas as situações e desafios que vivenciamos durante a

vida; da história pessoal de cada um; da estrutura familiar; das cargas genéticas e hereditárias;

das atividades laborais; contexto social e econômico; e questões afetivas.

Sendo assim, saúde mental está relacionada à capacidade que o sujeito tem de usar

suas habilidades emocionais e cognitivas, de lidar com as dificuldades e desafios da vida, com

suas emoções, adversidades. É estar orientado em relação ao tempo e espaço, e consciente de

suas próprias ações. É a busca pelo equilíbrio entre ele próprio e seu meio sociocultural

(CONCEITO, 2011)19. Estar bem consigo e com o outro, garantindo a sua participação

laboral, intelectual e social para que tenha uma boa qualidade de vida, tem a ver com seu

poder de resiliência, sua capacidade de recomeçar, de mudar, de escolher; de atribuir sentidos

e significados à vida e ao que fazemos, inclusive no que diz respeito as nossas atividades

laborais/trabalho. A saúde mental também envolve questões culturais, religiosas; diferenças

19Disponível em: https://conceito.de/saude-mental

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45

pessoais, a subjetividade de cada ser; eventos vitais; capacidade de resiliência; e estar

entrelaçada a saúde física.

Alguns fatores podem afetar e colocar em risco nossa saúde mental, tais como:

mudanças abruptas; discriminação racial; de gênero e social; condições de trabalho

estressantes (OMS, 2001). Além de eventos traumáticos, patologias de cunho físico,

hereditariedade, estrutura familiar, violência urbana, fases ou ciclos (maternidade, casamento,

aposentadoria) dentre outros.

Quando estudamos sobre saúde mental alguns itens são considerados importantes e

servem como critérios de avaliação do estado emocional/ mental do sujeito, dentre eles

podemos citar: a percepção da realidade; autonomia e autodeterminação; atitudes positivas em

relação a si mesmo; integração e resposta emocional; domínio ambiental e competência

social; crescimento, desenvolvimento e autorrealização. A capacidade que o sujeito tem de

apreciar a vida, de lidar com as exigências externas sem se apartar do valor do real e do que é

importante, de administrar suas emoções, reconhecer seus limites e buscar ajuda quando for

preciso, buscar o equilíbrio emocional, mental e comportamental, está diretamente

relacionado com a saúde e o adoecimento mental.

No que diz respeito ao adoecimento mental, os termos “transtorno” ou “doença”

mental levantam discussões no campo da psicologia e da psiquiatria. No século XIX usava-se

o termo “alienação”, no século XX “doença mental”, porém, após CID 10 e o DSM-5, das

últimas décadas, adotou-se o termo “transtorno mental” (DALGALARRONDO, 2019). Para a

psicologia e a psiquiatria o termo “doença” remete-se a alguma alteração patológica

localizada no cérebro. Como em muitas patologias de cunho mental não há alterações

anatômicas, fisiológicas e histológicas na região cerebral, convencionou-se a usar o termo

“transtorno”.

Cabe destacar, que em nosso trabalho, optamos por usar o termo “transtorno mental e

comportamental”, para nos referir aos transtornos os quais são expressos e catalogados no

CID 10 (F00 à F99)20. Utilizamos o termo “adoecimento mental” quando nos referimos a

sintomas e/ou alterações emocionais/psicológicas/comportamentais. O ramo da ciência que se

detém a estudar, observar, identificar e entender os transtornos mentais, suas causas e

manifestações, é chamado de psicopatologia (DELGALORRONDO, 2019, p. 06).

Como já mencionamos anteriormente, existem fatores (predisponentes e precipitantes)

que podem favorecer o aparecimento dos TMC, síndromes e transtornos mentais e

20 Os quais serão citados mais adiante

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46

comportamentais. Os fatores predisponentes estão relacionados à carga genética, gestação,

hereditariedade, constituição; as primeiras experiências de vida (entre 0-6 anos de idade)

(MEYER, 1951; RAHE, 1990, apud DALGALARRONDO, 2019) incluindo violência ou

negligência física ou emocional, abuso sexual, morte de entes queridos, dentre outros. Os

fatores precipitantes ou eventos de vida são situações traumáticas ou estressantes que

acontecem próximo ao desencadeamento das queixas psíquicas ou transtornos mentais

(RAHE, 1990, apud DALGALARRONDO, 2019), dentre eles podemos mencionar as

reprovações escolares, brigas, separações, morte de alguém querido, mudanças de trabalho ou

vida, perda ou ganhos financeiros, traições e problemas afetivos (DELGALORRONDO,

2019).

Dessa forma, todos os fatores citados irão influenciar no surgimento de quadros

psicopatológicos, em qualquer idade ou fase da vida. Cabe ressaltar que o adoecimento

mental, os TMC, transtornos mentais e comportamentais podem acometer qualquer tipo de

pessoa, em qualquer país ou lugar, independente de faixa etária (crianças, adolescentes,

adultos e idosos) e condições socioeconômica.

Portanto, precisamos cuidar e investir em nossa saúde mental, estarmos atentos quanto

aos sinais e sintomas de adoecimento mental, os quais podemos citar: tristeza, ansiedade,

culpa, descontentamento, desesperança, apatia, desmotivação, desinteresse, choro excessivo,

irritabilidade, isolamento social, mudanças de humor, dentre outros, pois os mesmos quando

não diagnosticados e tratados devidamente podem provocar alterações na forma de perceber,

sentir, pensar, agir, e se relacionar.

É necessário que a sociedade de forma geral entenda a importância de discutirmos e

abordamos assuntos relacionados à saúde mental, que compreenda e aceite que não é apenas a

saúde física que importa. Nosso estado mental/psicológico comanda diversas funções,

interferem em situações, acontecimentos e aspectos de nossas vidas.

3.2. Transtornos Mentais Comuns (TMC)

Além dos transtornos mentais e comportamentais que são classificados e descritos no

CID 10, a literatura nos apresenta os Transtornos Mentais Comuns (TMC), termo utilizado no

meio acadêmico/científico a partir de 1992, pelos estudiosos Goldberg e Huxley21 (apud

LUDENIR; MELO FILHO, 2002). Os TMC necessariamente não preenchem todos os

21Goldberg D, Huxley P. Commom mental disorders: abio-social model. London: Tavistock; 1992.

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critérios para diagnósticos de psicopatologias classificados pelo DSM V e/ou CID 10,

contudo também evidenciam sintomas psíquicos e físicos, que podem afetar

consideravelmente a vida dos sujeitos.

Os TMC podem ser entendidos como uma gama de manifestações de ordem física e

psíquica, caracterizados por queixas somáticas inespecíficas, tais como: insônia; dificuldades

para manter atenção, concentração e memorização; cansaço, fadiga; irritabilidade,

nervosismo; dores de cabeça, estomacais; ansiedade, rebaixamento de humor e stress; dentre

outros sintomas (LUDERMIR; MELO FILHO, 2002; MORENO, 2012). Com base nesta

premissa podemos inferir que alguns sujeitos não apresentam um quadro de transtorno mental

e comportamental, mas podem revelar um conjunto de sintomas, esporádicos e/ou constantes,

que são insuficientes para determinar um diagnóstico, todavia provocam também um

sofrimento capaz de trazer prejuízos para qualidade de vida destes.

A Organização Mundial de saúde (OMS), afirma que em 54 países os transtornos

mentais são responsáveis por cerca de 31% das doenças físicas. Moreno (2012) destaca que

esse tipo de transtorno mental pode causar uma série de incapacidades funcionais similares ou

até mesmo mais graves do que os transtornos crônicos22, geram mais queixas de cunho

físico23 e as taxas de mortalidade comparadas à população em geral são mais altas24.

Com relação à prevalência dos TMC, Carlotto et al. (2011) salientam que na

população do ocidente a taxa desse tipo de transtorno mental encontra-se entre 7 e 26%, sendo

que dentro desse contingente 12,5 % são homens e 20% mulheres25. Os autores revelam

resultados de estudos desenvolvidos em alguns países da Europa26, e no Brasil, nas cidades de

Olinda-PE27 e Campinas-SP28, que apontam um considerável percentual de prevalência dos

22

Jenkins R, Mbatia J, Singleton N, White B. Common mental disorders and risk factors in urban Tanzania. Int J

Environ Res Public Health. 2010 jun;7(6):2543-58 apud DALGALARRONDO, 2019.

Maragno L, Goldbaum M, Gianini RJ, Novaes HMD, César CLG. Prevalência de transtornos mentais comuns

em populações atendidas pelo Programa Saúde da Família (QUALIS) no Município de São Paulo, Brasil.

CadSaude Publica. 2006; 22:1639-48 apud DALGALARRONDO, 2019. 23 Araújo TM, Pinho PS, Almeida MMG. Prevalência de Transtornos Mentais Comuns em mulheres e sua

relação com as características sociodemográficas e o trabalho doméstico. RevBras Saúde Matern Infant. 2005

jul-set;5(3):337-48 apud DALGALARRONDO, 2019. 24 Lopes CS, Faerstein E, Chor D. Eventos de vida produtores de estresse e transtornos mentais comuns.

CadSaude Publica. 2003 nov-dez;19(6):1713-20 apud DALGALARRONDO, 2019. 25Lopes CS, Faerstein E, ChorD.5. Eventos de vida produtores de estresse e Transtornos Mentais Comuns:

resultados do Estudo Pró-Saúde. Cad Saúde Pública. 2003;19(6):1713-20. apud DALGALARRONDO, 2019. 26Fryers T, Melzer D, Jenkins R, Brugha T.13. The distribution of the common mental disorders: social

inequalities in Europe [Internet]. ClinPractEpidemiol Mental Health; 2005 [citado 2010 jun 20]; 1-14 apud

DALGALARRONDO, 2019. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1242241. 27Ludermir AB, Melo-Filho DA.Condições de vida e estrutura ocupacional associadas a transtornos mentais

comuns. Rev Saúde Pública. 2002;36(2):213-21 apud DALGALARRONDO, 2019. 28Marín-León L, Oliveira HB, Barros MBA, Dalgalarrondo P, Botega 11. NJ. Social inequality and common

mental disorders. Rev Bras Psiquiatr. 2007;29(3):250-3 apud DALGALARRONDO, 2019

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48

TMC, chegando até 35% da população estudada, reafirmando uma maior incidência entre as

mulheres, sujeitos com baixa escolaridade, de mais idade, negros, pessoas separadas ou

viúvas, com baixa renda, desempregados e com condições socioeconômicas precárias.

Ainda sobre a prevalência de TMC, Dalgalarrondo (2019) traz dados de 174 estudos,

que aconteceram em 63 países, entre os anos de 1980 e 2013:

[...] nos últimos 12 meses, 17,6% das pessoas apresentavam alguma

psicopatologia, e durante a vida, 29,2% apresentavam pelo menos uma (steel

et al., 2014). Os dados são relativamente elevados, mas deve-se lembrar que

se referem a qualquer transtorno mental, inclusive quadros leves como

insônia, fobia simples e quadros ansiosos e depressivos leves

(DALGALARRONDO, 2019, p. 342).

Dessa forma, compreendemos que os TMC podem interferir negativamente na vida

dos sujeitos como um todo. Sua forma de agir e reagir ao mundo, o cuidado consigo

(autocuidado), seus relacionamentos interpessoais, e qualidade de vida são comprometidos,

causando prejuízos significativos àqueles que sofrem com o adoecimento mental, por

conseguinte, pode afetar suas atividades laborais e todos que estão a sua volta.

3.3. Transtornos Mentais e Comportamentais

Diferentemente dos TMC, onde os sintomas, queixas psíquicas, físicas e somáticas

apresentadas pelos sujeitos, assim como, a sua durabilidade não são suficientes para que

sejam identificados, os transtornos mentais e comportamentais são classificados no CID 10 e

DSM-V, para fim de diagnóstico.

Os Transtornos Mentais e Comportamentais podem ser considerados como

alterações mórbidas, perturbações clínicas na cognição, na forma de sentir, perceber e no

comportamento do indivíduo. Uma deterioração do funcionamento psíquico global,

caracterizado por sintomas e sinais específicos, que estão frequentemente associados a um

sofrimento e incapacidade significativa que prejudicam a vida pessoal, social, profissional,

dentre outras (DSM-5, 2015). Os transtornos mentais e comportamentais são listados e

descritos no CID 10, no capítulo V, que vai do F00 ao F99. Segue abaixo um quadro com a

lista desses transtornos.

Quadro 04 - Transtornos mentais e comportamentais descritos no CID 10. CAPÍTULO V

TRANSTORNOS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS (F00-F99)

F00-F09 Transtornos mentais orgânicos, inclusive os sintomáticos

F00* Demência na doença de Alzheimer (G30.-†)

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F01 Demência vascular

F02* Demência em outras doenças classificadas em outra parte

F03 Demência não especificada

F04 Síndrome amnésica orgânica não induzida pelo álcool ou por outras substâncias psicoativas

F05 Delirium não induzido pelo álcool ou por outras substâncias psicoativas

F06 Outros transtornos mentais devidos a lesão e disfunção cerebral e a doença física

F07 Transtornos de personalidade e do comportamento devidos a doença, a lesão e a disfunção cerebral

F09 Transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado

F10-F19 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de substância psicoativa

F10 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool

F11 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de opiáceos

F12 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de canabinóides

F13 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de sedativos e hipnóticos

F14 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso da cocaína

F15 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de outros estimulantes, inclusive a cafeína

F16 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de alucinógenos

F17 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de fumo

F18 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de solventes voláteis

F19 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de múltiplas drogas e ao uso de outras substâncias

psicoativas

F20-F29 Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes

F20 Esquizofrenia

F21 Transtorno esquizotípico

F22 Transtornos delirantes persistentes

F23 Transtornos psicóticos agudos e transitórios

F24 Transtorno delirante induzido

F25 Transtornos esquizoafetivos

F28 Outros transtornos psicóticos não-orgânicos

F29 Psicose não-orgânica não especificada

F30-F39 Transtornos do humor [afetivos]

F30 Episódio maníaco

F31 Transtorno afetivo bipolar

F32 Episódios depressivos

F33 Transtorno depressivo recorrente

F34 Transtornos de humor [afetivos] persistentes

F38 Outros transtornos do humor [afetivos]

F39 Transtorno do humor [afetivo] não especificado

F40-F48 Transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o “stress” e transtornos somatoformes

F40 Transtornos fóbico-ansiosos

F41 Outros transtornos ansiosos

F42 Transtorno obsessivo-compulsivo

F43 Reações ao “stress” grave e transtornos de adaptação

F44 Transtornos dissociativos [de conversão]

F45 Transtornos somatoformes

F48 Outros transtornos neuróticos

F50-F59 Síndromes comportamentais associadas a disfunções fisiológicas e a fatores físicos

F50 Transtornos da alimentação

F51 Transtornos não-orgânicos do sono devidos a fatores emocionais

F52 Disfunção sexual, não causada por transtorno ou doença orgânica

F53 Transtornos mentais e comportamentais associados ao puerpério, não classificados em outra parte

F54 Fatores psicológicos ou comportamentais associados a doença ou a transtornos classificados em outra parte

F55 Abuso de substâncias que não produzem dependência

F59 Síndromes comportamentais associados a transtornos das funções fisiológicas e a fatores físicos, não

especificadas

F60-F69 Transtornos da personalidade e do comportamento do adulto

F60 Transtornos específicos da personalidade

F61 Transtornos mistos da personalidade e outros transtornos da personalidade

F62 Modificações duradouras da personalidade não atribuíveis a lesão ou doença cerebral

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50

F63 Transtornos dos hábitos e dos impulsos

F64 Transtornos da identidade sexual

F65 Transtornos da preferência sexual

F66 Transtornos psicológicos e comportamentais associados ao desenvolvimento sexual e à sua orientação

F68 Outros transtornos da personalidade e do comportamento do adulto

F69 Transtorno da personalidade e do comportamento do adulto, não especificado

F70-F79 Retardo mental

F70 Retardo mental leve

F71 Retardo mental moderado

F72 Retardo mental grave

F73 Retardo mental profundo

F78 Outro retardo mental

F79 Retardo mental não especificado

F80-F89 Transtornos do desenvolvimento psicológico

F80 Transtornos específicos do desenvolvimento da fala e da linguagem

F81 Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares

F82 Transtorno específico do desenvolvimento motor

F83 Transtornos específicos misto do desenvolvimento

F84 Transtornos globais do desenvolvimento

F88 Outros transtornos do desenvolvimento psicológico

F89 Transtorno do desenvolvimento psicológico não especificado

F90-F98 Transtornos do comportamento e transtornos emocionais que aparecem habitualmente durante a

infância ou a adolescência

F90 Transtornos hipercinéticos

F91 Distúrbios de conduta

F92 Transtornos mistos de conduta e das emoções

F93 Transtornos emocionais com início especificamente na infância

F94 Transtornos do funcionamento social com início especificamente durante a infância ou a adolescência

F95 Tiques

F98 Outros transtornos comportamentais e emocionais com início habitualmente durante a infância ou a

adolescência

F99 Transtorno mental não especificado

F99 Transtorno mental não especificado em outra parte

Fonte: http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/cap05_3d.htm

Entre os sinais e sintomas que caracterizam os diversos tipos de transtornos mentais e

comportamentais, podemos citar: mudanças de humor constantes; labilidade afetiva; apatia;

sentimento de culpa; tristeza profunda e persistente (rebaixamento de humor); pensamentos

preponderantes de cunho negativo; ideação suicida; insegurança; isolamento social;

indisposição e fadiga constante; perda de prazer em atividades que antes era motivo de

contentamento; desinteresse por atividades rotineiras; procrastinação29; alterações no

comportamento alimentar e sono; sofrimento emocional; automutilação (autoagressão); raiva,

impaciência, agressividade; perda de contato com a realidade; ansiedade exacerbada;

alucinações; delírios; sensação de asfixia e desmaio, taquicardia, tremores, suor frio, etc.

(sintomas neurovegetativos); pensamentos obsessivos; compulsão; medo/fobias; etc. Tais

sintomas podem ser indícios de algum tipo de transtorno mental e comportamental.

29 É o ato de adiar, interromper, evitar ou deixar para depois algo que precisa ser realizado.

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51

Cabe ressaltar que apenas profissionais com formação específica na área da saúde, tais

como, médico psiquiatra ou especialista em saúde mental e psicólogo, são capazes de fazer tal

diagnóstico, e indicarem a conduta terapêutica mais adequada em cada caso, sendo apenas de

competência médica a prescrição de medicamentos específicos.

A ocorrência e incidência de transtornos mentais e comportamentais têm crescido, os

dados divulgados são preocupantes. De acordo com o relatório da OMS, lançado em fevereiro

de 2017 e a Folha informativa (atualizada em abril de 2018 no site da Organização

Panamericana de Saúde Brasil - OPAS, 2018), existem 322 milhões de pessoas vivendo com

algum tipo de transtorno mental no mundo. Estima-se que mais de 300 milhões de pessoas

sofrem com a depressão – o índice de pessoas vivendo com depressão aumentou 18% entre os

anos de 2005 e 2015 -; 60 milhões com o transtorno afetivo bipolar; 23 milhões com

esquizofrenia; e 50 milhões tem algum tipo de demência.

No Brasil 9,3% da população (18.657.943 pessoas) apresentam distúrbios relacionados

com a ansiedade, e 5,8% (11.548.577 pessoas) foram diagnosticadas com depressão, sendo

esta a principal causa de incapacidade em todo o mundo. A depressão afeta mais as mulheres

do que os homens, contribui para o surgimento de outras doenças, podendo inclusive levar ao

suicídio (OPAS, 2017)30.

Dalgalorrondo (2019) cita dois estudos com amostras probabilísticas, representativas,

que foram realizados nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, entre os anos de 2005 e

2008. Tais estudos identificaram a prevalência de 42,1% no Rio de Janeiro e 44% em São

Paulo, sendo que nos últimos 12 meses essas taxas foram de 31,2% (RJ) e de 29,6% a 32,5%

(SP). Segue abaixo um quadro com os transtornos mentais mais frequentes apresentados nos

estudos realizados no Rio de Janeiro e São Paulo, entre os anos de 2005 e 2008.

Quadro 05 - Transtornos mentais mais frequentes apresentados na população do Rio de Janeiro e São

Paulo (2005 à 2008). TRANSTORNO

MENTAL

PREVALÊNCIA DOS

ÚLTIMOS 12 MESES

(%)

PREVALÊNCIA NOS

ÚLTIMOS 12 MESES

(%) 3.744 PESSOAS

RIBEIRO ET AL. (2013)

SÃO PAULO E RIO DE

JANEIRO

PREVALÊNCIA NA

VIDA (%) 3.744

PESSOAS RIBEIRO ET

AL. (2013) SÃO PAULO

E RIO DE JANEIRO

Dependência de álcool Total: 1,3% (casos

graves: 94,5%)

São Paulo: 2,2%

Rio de Janeiro: 1.0%

São Paulo: 5,8%

Rio de Janeiro: 6,2%

1. Abuso de

álcool

2. Uso perigoso

de álcool

1. Total: 2,7%

(casos graves:

47,2%)

2. São Paulo: 1,2%

Rio de Janeiro:

1,7%

2.São Paulo: 8,1%

Rio de Janeiro: 9,4%

30Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5354:aumenta-o-

numero-de-pessoas-com-depressao-no-mundo&Itemid=839

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52

Depressão maior Total: 9,4% (casos

graves: 43,1%)

São Paulo: 8,2%

Rio de Janeiro: 6,0%

São Paulo: 19,9%

Rio de Janeiro: 17,4%

Transtorno bipolar

(tipo I e II)

Total: 1,5% (casos

graves: 65,4%)

Não aferido Não aferido

Distimia Total: 1,3% (casos

graves: 50,9%)

São Paulo: 0,8%

Rio de Janeiro: 0,8%

São Paulo: 1,4%

Rio de Janeiro: 1,9%

Algum transtorno de

ansiedade ou fobia

Total: 19,9% (casos

graves: 36,5%)

São Paulo: 20,8%

Rio de Janeiro: 18,8%

São Paulo: 30,8%

Rio de Janeiro: 27,7%

Transtorno de pânico Total: 1,1% (casos

graves: 56,6%)

São Paulo: 0,1%

Rio de Janeiro: 1,0%

São Paulo: 0,7%

Rio de Janeiro: 1,3%

Fobia específica Total: 10,6% (casos

graves: 35%)

São Paulo: 10,2%

Rio de Janeiro: 9,6%

São Paulo: 16,8%

Rio de Janeiro: 14,6%

Fobia social Total: 3,9% (casos

graves: 55,6%)

São Paulo: 3,3%

Rio de Janeiro: 2,1%

São Paulo: 5,7%

Rio de Janeiro: 4,0%

Agorafobia Total: 1,6% (casos

graves: 57,4%)

São Paulo: 2,7%

Rio de Janeiro: 2,1%

São Paulo: 4,0%

Rio de Janeiro: 3,5%

Transtorno de

ansiedade generalizada

Total: 2,3% (casos

graves: 41,9%)

São Paulo: 3,5%

Rio de Janeiro: 2,2%

São Paulo: 6,0%

Rio de Janeiro: 5,8%

Transtorno obsessivo-

compulsivo

Total: 3,9% (casos

graves: 42,5%)

São Paulo: 3,3%

Rio de Janeiro: 2,8%

São Paulo: 4,1%

Rio de Janeiro: 3,6%

Transtorno de estresse

pós-traumático

Total: 1,6% (casos

graves: 51,1%)

São Paulo: 5,0%

Rio de Janeiro: 3,3%

São Paulo: 10,2%

Rio de Janeiro: 8,7%

Pelo menos algum

transtorno mental

Total: 29,6% (casos

graves: 33,9%)

São Paulo: 32,5%

Rio de Janeiro: 31,2%

São Paulo: 44,0%

Rio de Janeiro: 42,1%

Fonte: Dalgalarrondo (2018, p. 342).

Podemos observar no quadro acima, de forma geral, que os 03 transtornos mentais

mais prevalentes foram: “algum transtorno de ansiedade ou fobia (19,9%)”; “fobia específica

(10,6%)”; “depressão maior (9,4%)”. Sendo que 29,6% dos participantes da referida pesquisa

apresentaram pelo menos algum tipo de transtorno mental. Os dois estudos citados (São Paulo

e Rio de Janeiro / 2005à 2008) apontam uma considerável frequência de transtornos mentais

no Brasil, todavia, devemos considerar “[...] o fato de esses dados serem de grandes

metrópoles, com vários milhões de habitantes (o que pode, em tese, ser um importante

componente de estresse), e reunirem grande número de transtornos” (DALGALARRONDO,

2019, p. 342).

Quando nos debruçamos a estudar a respeito dos transtornos mentais, baseado na

patologia geral e na escola jasperiana31, entraremos em contato com alguns termos usados na

31 “Karl Jaspers (1883-1969), um dos principais autores da psicopatologia moderna, pensa que esta é uma ciência

básica, que serve de auxílio à psiquiatria e à psicologia clínica [...] Jaspers é muito claro em relação aos limites

da psicopatologia: embora o objeto de estudo seja o ser humano na sua totalidade [...], os limites da ciência da

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53

literatura, assim como, por profissionais e pacientes, os quais julgamos interessantes a

descrição nesse momento para melhor compreensão do assunto abordado.

Os transtornos mentais crônicos, podem ser do tipo processo e desenvolvimento,

sendo os fenômenos considerados agudos ou subagudos, de caráter episódico

(DALGALORRONDO, 2019, p. 337). O processo é uma evolução considerada lenta, de

natureza endógena (neurobiológica) e incompreensível que rompe a continuidade do sentido

normal do sujeito, transformando sua personalidade. Por sua vista, o desenvolvimento refere-

se a traços de caráter do sujeito, à evolução psicologicamente compreensível da

personalidade. Os fenômenos agudos e subagudos são classificados em:

1. A crise, ou o ataque, caracteriza-se em geral, por surgimento e término

abruptos, com duração de segundos ou minutos, raramente horas. Utilizam-

se os termos “crise” ou “ataque” para fenômenos como crises epilépticas,

crises ou ataques de pânico, crises dissociativas, crises de agitação

psicomotora, entre outros.

2. A reação vivencial anormal caracteriza-se como um fenômeno

psicologicamente compreensível, desencadeados por eventos vitais

significativos para o indivíduo que o experimenta. É designada reação

anormal por causa da intensidade muito marcante e duração prolongada dos

sintomas. Ocorre geralmente em personalidade vulneráveis, predispostas a

reagir de forma anormal a certas ocorrências da vida. [...] pode durar

semanas ou meses, eventualmente alguns anos. Passada a reação vivencial, o

indivíduo retorna ao que era antes, sua personalidade não sofre ruptura; pode

empobrecer-se ou enriquecer-se, mas não se modifica radicalmente.

3. Já a fase refere-se particularmente aos períodos de depressão e de mania

dos transtornos afetivos (transtorno bipolar e transtorno depressivo

recorrente). Passada a fase, o indivíduo retorna ao que era antes dela, [...]

não há seqüelas na personalidade. A fase é, em sua gênese,incompreensível

psicologicamente e tem caráter endógeno. Uma fase pode durar semanas ou

meses, menos frequentemente anos [...].

4. O surto, segundo a noção da patologia geral (mas assumida como

psicopatologia), é uma ocorrência aguda, que se instala de forma mais ou

menos repentina, fazendo eclodir uma doença de base endógena, não

compreensível psicologicamente. A característica do surto é que ele produz

seqüelas irreversíveis, danos à personalidade e/ou à esfera cognitiva e/ou

afetiva do indivíduo. (DALGALARRONDO, 2019, p. 337-338 grifos do

autor)

Geralmente, o termo episódio é utilizado de forma genérica, está relacionado ao

aspecto temporal, e quando não é possível determinar a natureza do fenômeno. Em relação ao

curso dos episódios, a literatura psiquiátrica utiliza os termos: remissão que se refere ao

retorno ao estado normal logo após um episódio agudo; recuperação, quando passado um

psicopatológica consistem precisamente em nunca se poder reduzir por completo o ser humano a conceitos

psicopatológicos. [...] a psicopatologia como ciência, exige um rigoroso pensamento conceitual, que seja

sistemático e que possa ser comunicado de modo inequívoco” (DELGALORRONDO, 2019, p. 06-07 grifos do

autor).

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54

período de tempo, o sujeito retorna e mantém seu estado normal, sem que apresente alguma

recaída; recidiva ou recaída, quando há o retorno dos sintomas logo após ter ocorrido uma

melhora parcial do quadro clínico; e recorrência é quando um novo episódio surge depois do

sujeito apresentar-se sem sintomas por um período de tempo (ao menos por 01 ano)

(DALGALORRONDO, 2019, p. 339).

A remissão, cura, recidiva ou recorrência de um transtorno mental e comportamental

vai depender do tempo que o sujeito levou vivenciando o sofrimento mental/psíquico; dos

fatores endógenos, culturais, sociais e laborais; do acesso e acompanhamento multi e

interdisciplinar; do diagnóstico; e do suporte social e familiar que recebe. Quando o sujeito

que apresenta um quadro de transtorno mental e comportamental é diagnosticado

precocemente, tem acesso a serviços de saúde, é tratado com dignidade e respeito, e tem apoio

por parte de familiares, amigos e colegas de trabalho terá melhores chances de remissão e

cura dos sintomas/transtorno.

Logo abaixo traremos informações e discussões relacionadas ao adoecimento

mental, transtornos mentais e comportamentais que acometem os professores que atuam na

Educação Básica da rede pública de ensino no Brasil.

3.4. Transtornos mentais e comportamentais em professores na Educação Básica

Atualmente observamos um número crescente de transtornos mentais e

comportamentais associados a diversos tipos de trabalho. A Federação Nacional de Médicos

(FENAM, 2017)32 assevera que as condições de trabalho, o ambiente, a pressão, os conflitos,

a cobrança por produtividade e o excesso de demanda, podem favorecer o surgimento de

transtornos mentais. A esse respeito Quirino Cordeiro, ex coordenador de Saúde Mental do

Ministério da Saúde (2017), acrescenta que:

[...] situações de grande estresse no ambiente de trabalho com carga horária

elevada, com um ambiente de trabalho que exige do trabalhador um

desempenho além do que é possível, situações de assédio moral, de assédio

sexual, são situações que comprovadamente estão relacionados com o

aumento da prevalência de transtornos mentais. (MINISTÉRIO DA SAÚDE

- BLOG DA SAÚDE, 2017)

32Disponível em: http://www.fenam.org.br/site/noticias_exibir.php?noticia=947

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55

Figura 03 – Transtornos mentais e comportamentais são motivos de incapacidade para o trabalho.

Fonte: Ministério da Saúde - Blog da Saúde, 2017.

No Brasil, entre os anos de 2012 a 2016, os transtornos mentais e comportamentais

foram a terceira principal causa de afastamentos no trabalho, o que corresponde a 9% da

concessão de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez. Dos transtornos que mais

aparecem como causa de incapacidade para atividades laborais estão: Reações ao “stress”

grave e transtornos de adaptação, episódios depressivos e outros transtornos ansiosos que

causaram 79% dos afastamentos (MINISTÉRIO DA SAÚDE - BLOG DA SAÚDE, 2017).

Dentre as categorias de trabalhadores que mais sofrem com o adoecimento mental,

estão os professores. De acordo com o Sindicato de Trabalhadores em Educação Pública do

Paraná (APP-SINDICATO, 2018)33 a ocorrência de transtornos mentais e comportamentais

em profissionais da Educação é cada vez maior, sendo que as queixas mais comuns entre eles,

são alterações do sono, ansiedade e depressão. O órgão acrescenta ainda que esse tipo de

adoecimento tenha relação com as condições estruturais das escolas, o acúmulo de trabalho, o

aumento da carga horária, perseguições políticas, assédio, violência, desvalorização salarial e

da carreira, que acaba gerando sentimentos de angústia e desesperança nesses professores, que

sofrem e adoecem como consequência.

33Disponível em: https://appsindicato.org.br/campanha_educar_sim_adoecer_jamais/?fbclid=IwAR28uIvyPdS-

TAH8Z3cLoa5iAyDgQi6E73bZBqYwKOHrdRs1tFot_rmIazI

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56

Figura 04 - Ilustração da sobrecarga mental e física exigida aos docentes no atual contexto

educacional.

Fonte: https://www.psicologiaviva.com.br/blog/docencia

Num estudo realizado com 1.021 professores da rede estadual do Paraná no ano de

2015, foi possível constatar que 75% desses profissionais apresentaram Distúrbios Psíquicos

Menores (DPM), comparando-se a outros problemas de saúde, o adoecimento mental foi o

mais citado entre eles. A ocorrência de sintomas depressivos com os docentes estudados

esteve entorno de 44%, e a ansiedade chegou até 70%, sendo a prevalência de sofrimento

mental maior entre as mulheres. Dos professores que foram afastados do trabalho em

decorrência de algum tipo de adoecimento 26% relataram-no por sofrimento mental, sendo

que 32% deles faziam uso de medicamentos, especificamente drogas psicotrópicas. No

referido estudo, Tostes et al. (2018) puderam observar a associação entre a precarização das

condições de trabalho e o sofrimento mental (depressão, ansiedade e Distúrbios Psiquiátricos

Menores).

Com o neoliberalismo e as mudanças ocorridas no cenário da Educação brasileira,

através das reformas educacionais que, tiveram destaque a partir da década de 1990, vimos a

docência tomar outras roupagens. Houve uma intensificação da precarização do trabalho

docente. Suas atribuições, atividades e responsabilidades romperam os limites da docência,

deixando de ser valorizada e encarada como uma profissão relevante.

Com o passar dos anos, imersos em um contexto neoliberal, o professor passou a ver

seu trabalho subjugado, a mercê daqueles que detém o capital e orquestram juntamente com o

governo suas demandas. A sobrecarga de trabalho, a desvalorização profissional; o excesso de

cobranças; as atividades que ultrapassam a sala de aula e sua profissão; a falta de tempo para

lazer e cuidado com sua saúde; levam os professores a um desgaste mental e físico, que

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57

somadas a outros fatores, propiciaram a esses profissionais, maior vulnerabilidade ao

adoecimento mental.

A pesquisa de Porto et al. (2006) investigou a associação entre aspectos psicossociais

do trabalho e prevalência de distúrbios psíquicos em professores da Educação infantil, do

ensino fundamental, que atuavam na cidade de Vitória da Conquista-BA, no ano de 2001, os

dados revelaram a prevalência de 44% distúrbios psíquicos, ligados as altas exigências do

trabalho. Tostes et al. (2018) estudaram docentes da rede estadual do Paraná, e constataram

que a prevalência de distúrbios psíquicos é muito elevada e está associada a exploração do

trabalho docente.

Os estudos de Porto et al. (2006) e Tostes et al. (2018) evidenciam a relação entre

aspectos psicossociais e a exploração do trabalho docente com adoecimento e sofrimento

mental, e a prevalência de distúrbios psíquicos em professores da Educação Básica.

Araújo e Carvalho (2009) também realizaram uma pesquisa no estado da Bahia entre

1996 e 2007, baseada em estudos epidemiológicos, que indicaram uma elevada prevalência de

Transtornos Mentais Comuns (TMC) entre os docentes, atingindo, pelo menos, 1/5 (um

quinto) dos entrevistados, dados que corroboram com discussões elencadas ao decorrer do

texto. Acerca do trabalho docente e o adoecimento mental, Araújo e Carvalho (2009) afirmam

que o:

[...] trabalho repetitivo, insatisfação no desempenho das atividades, desgaste

nas relações professor- aluno, ambiente intranquilo, falta de autonomia no

planejamento das atividades, ritmo acelerado de trabalho, desempenho das

atividades sem materiais e equipamentos adequados e salas inadequadas

associaram-se, positivamente, a níveis estatisticamente significantes, aos

transtornos mentais identificados nos estudos realizados. Aspectos

psicossociais também foram relevantes à saúde mental dos docentes.

Trabalho realizado em situação de alta exigência (envolvendo altas

demandas psicológicas e baixo nível de controle) estava associado à maior

prevalência de TMC. (ARAÚJO; CARVALHO, 2009, p. 440)

Segundo a Secretaria de Planejamento e Gestão de São Paulo, no ano de 2015, houve

25,7 mil afastamentos de docentes por adoecimento mental, número este que dobrou no ano

de 2016, chegando a 50,4 mil (CNTE, 2017)34. No ano de 2018, foram emitidas 53.162

licenças em decorrência de Transtornos Mentais e Comportamentais, o que equivale a mais de

40% do total de afastamentos no estado. De acordo com a reportagem realizada pelo R7

Estúdio35, as queixas principais que estão levando esses profissionais ao adoecimento mental

foram: acúmulo de cargos, cansaço, ambiente estressante, desvalorização profissional,

34https://cnte.org.br/index.php/menu/comunicacao/posts/cnte-na-midia/65505-mentes-atormentadass 35https://estudio.r7.com/por-que-nossos-professores-estao-adoecendo-

15102019?fbclid=IwAR1RDjjLFyOMiQCOwcLSsBNTEoWDk4oZJaW6ofIDlp8AItA6hiYgr9iYTr0

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58

desrespeito com o professor por parte dos alunos, indisciplina e violência no contexto escolar

(GIAMMEI; POLLO, 2019).

Figura 05 - Licença em decorrência de transtornos mentais e comportamentais em professores

em São Paulo, e o equivalente ao número total de afastamentos no estado.

Fonte: https://estudio.r7.com/por-que-nossos-professores-estao-adoecendo-

15102019?fbclid=IwAR1RDjjLFyOMiQCOwcLSsBNTEoWDk4oZJaW6ofIDlp8AItA6hiYgr9iYTr0

Na figura acima observamos um aumento de casos de transtornos mentais e

comportamentais em professores em São Paulo, entre os anos de 2014 (40.000) à 2018

(53.000), chegando a mais de 30%, sendo que 41,2% dos professores apresentaram transtorno

mental e comportamental. O total de licenças variou entre 129.000 (2014) e 142.000 (2015).

Figura 06 - Readaptação de professores em São Paulo, após afastamento por adoecimento/janeiro de

2019.

Fonte: https://estudio.r7.com/por-que-nossos-professores-estao-adoecendo-

15102019?fbclid=IwAR1RDjjLFyOMiQCOwcLSsBNTEoWDk4oZJaW6ofIDlp8AItA6hiYgr9iYTr0

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59

A respeito da readaptação funcional, dentre os 10.398 docentes deixaram a sala de

aula para executar outras funções. Os transtornos mentais e comportamentais foram a

principal causa dos desvios de função (45,7%), seguidos de doenças do sistema

osteomusculares e do tecido conjuntivo (27,7%) e doenças do aparelho respiratório (5,9%)

Segundo uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em

Educação (CNTE), com 762 profissionais da Educação da rede pública de ensino, em vários

estados do país, revelou que 71% dos profissionais/participantes (entrevistados em 2017),

estiveram afastados da docência por motivo de adoecimento mental. Os problemas mais

citados foram: ansiedade (531 casos), de cansaço ou fadiga (491), e problemas na voz (480).

O estresse teve a ocorrência de 65,7%, seguido por depressão (53,7%), alergia a pó (47,2%) e

insônia (41,5%) (CNTE, 2017).

De acordo com Vieira (CNTE, 2017): “[...] Hoje há uma prevalência das doenças e

sintomas de saúde mental e psicológica em relação a problemas físicos. Temos mais casos de

estresse e depressão do que de problemas de DORT (Distúrbios Osteomusculares

Relacionados ao Trabalho), por exemplo”. A pesquisadora destaca ainda que os transtornos

mentais e comportamentais têm aumentado consideravelmente, sendo algumas das principais

causas a deterioração das condições de trabalho e a maior agressividade por parte dos alunos,

a violência no contexto escolar (CNTE, 2017).

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60

4. DEBATES ACERCA DO ADOECIMENTO MENTAL, TRANSTORNOS MENTAIS

E COMPORTAMENTAIS EM PROFESSORES E A CARREIRA PROFISSIONAL

DOCENTE

Essa seção da fundamentação teórica tem por finalidade expor o que o meio

acadêmico/científico tem estudado e produzido a respeito do adoecimento mental, transtornos

mentais e comportamentais em professores que atuam na rede pública de ensino, na Educação

Básica no Brasil e carreira profissional docente. Este mapeamento bibliográfico ou estado da

arte mostra-se importante para o estudo que realizamos, visto que, irá descrever e trazer à tona

conhecimentos e discussões sobre a temática abordada (VOSGERAU; ROMANOWSKI,

2014). Através de leituras, e organização dos trabalhos acadêmicos e pesquisas, identificamos

tendências, recorrências, abordagens metodológicas, análises críticas e as lacunas existentes

referente ao assunto.

Exposto o desejo e a preocupação com a temática apontada, iniciamos a busca no

banco de dados no portal de periódicos36, e Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação

de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)37 referentes aos últimos cinco

anos (2014 a 2018). Para isso, utilizamos os seguintes descritores: “transtornos mentais e

comportamentais em professores”, “adoecimento mental do professor” e “carreira profissional

docente”.

O recorte temporal escolhido se deu em função dos debates acerca da saúde e as

condições de trabalho docente, que aconteceram nas Conferências Nacional de Educação

(CONAEs), nos anos de 201038 e 201439. Na 2ª CONAE essas discussões foram intensificadas

(GOUVÊA, 2015), portanto, consideramos que o ano de 2014, foi um marco no que diz

respeito às reflexões e discussões sobre a saúde e adoecimento docente, ganhando visibilidade

nacional e cientificidade.

Ao iniciarmos a busca no banco de dados de periódicos e no Catálogo de Teses e

Dissertações da CAPES, nos deparamos com um quantitativo bem expressivo de artigos, teses

e dissertações que faziam menção as palavras ou termos que haviam sido citados nos

descritores, contudo, observamos que vários trabalhos não se tratavam especificamente de

nossa temática, sendo assim, utilizamos o filtro de “busca avançada” para seleção de

periódicos, cujo foco foram artigos publicados em qualquer idioma, entre janeiro de 2014 a

36Disponível em: https://www.periodicos.capes.gov.br/ 37Disponível em: https://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/ 38 1ª CONAE. 39 2ª CONAE.

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dezembro de 2018. Com relação às teses e dissertações, utilizamos o “refinamento de

resultados”, trabalhos publicados entre 2014 e 2018 (05 anos), cuja área de grande

concentração era Ciências Humanas e Ciências da Saúde; área de conhecimento e

concentração, em Educação e Psicologia; nos programas de Educação e Psicologia. Esses

critérios determinados reduziram o primeiro quantitativo encontrado nas pesquisas dos bancos

de dados.

A partir de então, iniciamos uma pré-seleção dos trabalhos encontrados. Para isso,

primeiramente realizamos a leitura dos títulos, em seguida os resumos e introduções.

Percebemos que ainda apareciam em diversos títulos as palavras dos descritores mencionados

acima, mas necessariamente não havia relação direta com nosso tema, abordavam por

exemplo o adoecimento mental em outros profissionais. Portanto, foi necessário utilizarmos

alguns critérios de exclusão: trabalhos que destoavam do tema a ser pesquisado, ou que

abordavam determinadas especificidades, como por exemplo: o adoecimento mental em

outros profissionais, docentes de disciplinas específicas ou do nível superior; e outros tipos de

adoecimento que acometiam os docentes (osteomusculares40, respiratório, oftalmológico, etc).

Em meio a este levantamento bibliográfico, observamos que alguns autores se

debruçaram a estudar a saúde e adoecimento mental dos docentes, quase em sua totalidade, os

termos mais utilizados em seus trabalhos eram: mal-estar docente, sofrimento psíquico,

Síndrome de Burnout41 e saúde mental dos professores. Havia estudos que abarcavam o

adoecimento mental nos professores da Educação Básica e outros que faziam menção aos que

lecionavam no nível superior (graduação). Encontramos poucos estudos que se tratavam do

afastamento do trabalho por esse tipo de adoecimento e o relacionava a carreira docente.

Realizamos a leitura dos resumos, introduções, conclusões, metodologia e alguns

capítulos das dissertações e teses encontradas, e os artigos. Os trabalhos que se referiam aos

professores da Educação Básica da rede pública de ensino receberam destaque, pois estavam

em consonância com nossa pesquisa. A partir de então, selecionamos de fato os trabalhos que

mais nos despertou o interesse e aproximação com o tema escolhido, e que contribuíram

demasiadamente para nosso estudo. Através destes, foi possível entender como o meio

acadêmico discutia a temática. Além disso, serviram de base para as discussões elencadas

40Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT) são afecções/desgastes nas estruturas músculo-

esqueléticas, causadas por processo crônico durante o trabalho. http://www.saude.gov.br/atencao-especializada-

e-hospitalar/especialidades/traumatologia-e-ortopedia/afeccoes-osteomusculares-musculo-esqueletico 41“A Síndrome de Burnout é um estado físico, emocional e mental de exaustão extrema, resultado do acúmulo

excessivo em situações de trabalho que são emocionalmente exigentes e/ou estressantes, que demandam

muita competitividade ou responsabilidade, especialmente nas áreas de educação e saúde.”

http://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/saude-mental/sindrome-de-burnout

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durante todo o texto. Segue abaixo o quadro onde ilustraremos a quantidade de artigos, teses e

selecionados para esse estado da arte.

Quadro 06 - Quantitativo dos artigos, teses e dissertações selecionados para o estado da arte.

DESCRITORES

BANCO DE DADOS

PERIÓDICOS/CAPES

CATÁLOGO DE TESES E

DISSERTAÇÕES/CAPES

ARTIGOS TESES DISSERTAÇÕES

Transtornos mentais e

comportamentais em

professores

02

00

01

Adoecimento mental do

professor

03

00

02

Carreira profissional

docente

02

01

02

Fonte: Dados da pesquisa (janeiro/2019).

Segue abaixo o quadro com os títulos, autores, instituição e ano de publicação, que

seguem a ordem por ano de publicação (2014, 2015, 2016, 2017 e 2018).

Quadro 07 - Trabalhos acadêmicos selecionados para o estado da arte.

TÍTULO

AUTOR (A)

INSTITUIÇÃO

ANO

Trabalho docente e adoecimento de

professores do ensino fundamental em

um município da zona da mata mineira

CARVALHO, Ana.

C. da C.

Dissertação

Universidade

Federal de Viçosa-

MG

2014

Estresse Relacionado ao Trabalho em

professores de educação básica

PEREIRA et al.

Artigo

Revista ciência

&Trabajo

2014

O trabalho docente e os transtornos

mentais

FIUSA, Dayla R. D. Artigo

Revista Saberes

2014

O trabalho docente no início da carreira

e sua contribuição para o

desenvolvimento profissional do

professor

ILHA, Franciele, R.

da S.; HYPOLITO ,

Álvaro M.

Artigo

Revista Práxis

Educacional – BA

2014

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Professoras da zona rural em início de

carreira: narrativas de si e

desenvolvimento profissional

FERREIRA, Lúcia.

G.

Tese

Universidade

Federal de São

Carlos – SP

2014

Condições de trabalho e Transtornos

Mentais comuns em professores da Rede

básica municipal de ensino de Bauru –

SP

CARRARO, Maria

M.

Dissertação

Universidade

Estadual Paulista

“Júlio

de Mesquita Filho”

– SP

2015

Retorno ao trabalho de professores após

afastamento por transtornos mentais

MACAIA, Amanda

A. S.; FISCHER,

Frida M.

Artigo

Revista Saúde Soc.

- SP

2015

A construção da carreira docente no

sistema municipal de ensino de Rio

Claro: profissionalização e valorização

profissional

SOUZA, Jeferson M.

Dissertação

Universidade

paulista “Júlio de

Mesquita Filho” –

SP

2015

Terapia Comunitária Sistêmica

Integrativa como instrumento de

avaliação diagnóstico da Saúde de

servidores da Secretaria de Educação de

Uberaba – MG

CASTRO et al.

Artigo

Revista Temas em

Educação e Saúde –

SP

2016

O contexto da docência e sua influência

no sofrimento psíquico de professores do

ensino fundamental

BRASIL et al. Artigo

Revista brasileira

promoção saúde /

CE

2016

Trabalho, carreira, desenvolvimento

docente e mudança na prática educativa

NUNES, Claudio P.;

OLIVEIRA, Dalila

A.

Artigo

Revista Educação e

pesquisa – SP

2017

Trabalho e adoecimento do professor da

educação básica no interior da Bahia

EUGÊNIO,

Benedito, SOUZAS,

Raquel, Di LAURO,

Ângela D.

Artigo

Laplage em Revista

- SP

2017

Processo de adoecimento: experiências

vividas por professores no exercício

profissional

OLIVEIRA,

Rosemary G. de

Dissertação

Universidade Nove

de Julho - SP

2017

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Adoecimento docente: uma breve análise

da saúde de professores do município de

Medeiros Neto/BA

CARDOSO, Jafé da

S.; NUNES, Claudio

P.; MOURA, Juliana

da S.

Artigo

Revista Teias - RJ

2019

Fonte: Dados da pesquisa (Agosto/2019).

Os trabalhos que selecionamos para este estado da arte, entre os anos de 2014 e 2018,

foram publicados na região sudeste, nordeste e sul do país. Esses estudos, em especial,

trouxeram informações e dados relevantes a respeito do adoecimento mental em professores,

desenvolvimento profissional e a carreira docente. Trouxe debates esclarecedores e

propiciaram reflexões sobre o trabalho docente, adoecimento mental e as possíveis

repercussões para o sistema educacional. Esclarecemos que um dos trabalhos exposto nessa

seção, não segue os critérios que estabelecemos para este estado da arte, contudo,

consideramos pertinente a discussão do mesmo por se tratar de um artigo recente (2019) da

própria mestranda em parceria com outros autores, que aborda o tema em questão.

4.1. Adoecimento mental, transtornos mentais e comportamentais em professores e a

relação com o trabalho docente

Inicialmente foram estudados trabalhos cujos descritores foram: adoecimento mental

do professor, e transtornos mentais e comportamentais em professores, cujos autores

destacados são: Cardoso, Nunes e Moura (2019), Carvalho (2014), Pereira et al. (2014), Fiusa

(2014), Brasil et al. (2016), Eugênio, Souzas e Di Lauro (2017), Oliveira (2017), Macaia e

Fhischer (2015), Castro et al. (2016), Carraro (2015). Esses estudos fazem parte das

discussões neste estado da arte e durante toda a dissertação. Fizemos uma breve explanação

sobre o objetivo geral, metodologia, resultados das pesquisas, ideias centrais dos autores,

discussões, conceitos adotados e algumas considerações finais referente aos trabalhos

selecionados.

Os autores Cardoso, Nunes e Moura (2019), se propuseram a estudar o adoecimento e

sua relação com o trabalho docente, suas possíveis causas e a repercussão que o afastamento

do professor traz para o seu desempenho profissional. Investigaram o número de docentes

afastados de suas atividades laborais por adoecimento, no município de Medeiros neto – BA,

baseados em dados fornecidos pelo RH da Prefeitura Municipal. Durante a pesquisa, de

abordagem qualiquantitativa, foram realizadas entrevistas com 20 professoras da rede

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municipal, efetivas e contratadas, as quais haviam sofrido devido a algum tipo de problema de

saúde.

Em seus estudos, os referidos autores chegaram a algumas constatações. Das 20

professoras que foram entrevistas, 71% destas já haviam passado por problemas de saúde

relacionada à sua profissão; 43% relataram estarem satisfeitas com a docência, e o mesmo

percentual declarou estar pouco satisfeitas com a profissão; 93% afirmaram que por vezes se

sentem estressadas no ambiente de trabalho, 7% afirmaram que sentem estressadas sempre; os

adjetivos mais utilizados pelas docentes para caracterizar seu trabalho foram “prazeroso”,

“criativo” e “desgastante”; sobre os aspectos considerados fonte de tensão e cansaço no

trabalho, a indisciplina dos alunos é o causador de maior impacto, seguido pelo sentimento de

desvalorização em relação às atividades que desenvolvem.

Os dados da pesquisa de Cardoso, Nunes e Moura (2019) revelam que a saúde dos

professores tem sido comprometida, contudo, esses profissionais da Educação não se dão

conta desse fato ou se alienam, diante da necessidade financeira, o que piora ainda mais o seu

estado de saúde. É importante mencionar que não foram encontrados registros de

afastamentos de docentes do sexo masculino, ou seja, as mulheres são as que mais expressam

o sofrimento relacionado ao adoecimento mental nessa categoria de profissionais.

Possivelmente pelo fato de desenvolverem diversas funções fora a sua jornada profissional, e

estarem inseridas em uma cultura considerada machista. Os resultados dessa pesquisa

mostram o quão desgastante é o trabalho docente no Brasil, e sua relação direta com o

adoecimento.

Em diálogo com a pesquisa citada acima, o estudo de Carvalho (2014) buscou

compreender as relações entre o trabalho docente e o adoecimento de professores do ensino

fundamental, e identificar quais são as patologias que os levam ao afastamento de suas

atividades laborais. Para isso, realizou uma pesquisa documental nos arquivos do Instituto de

Previdência dos Servidores Públicos de um município da mata mineira (não identificado) a

fim de fazer um levantamento do número de registros, de acordo com o CID 10, que

atestavam a necessidade do afastamento de professores nos últimos onze anos.

Carvalho (2014) pôde verificar que dos 171 docentes efetivos que atuavam no ensino

fundamental no município pesquisado: 90% eram do sexo feminino; 90% trabalhavam em

mais de um cargo na prefeitura e em outras instituições das redes estaduais, onde havia grande

rotatividade nos níveis de ensino; 58% desses profissionais eram estatutários e 42%

trabalhavam por contrato. Foram identificadas 471 patologias. A autora observou que todos

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66

os professores solicitaram ou foram ou afastados da docência por motivo de adoecimento, em

algum momento de sua carreira.

As patologias mais recorrentes encontradas na pesquisa de Carvalho (2014) estavam

relacionadas ao aparelho e vias respiratórias, transtornos mentais e comportamentais,

complicações da gravidez e dosorpatias, sendo que, as patologias de ordem mental

encontravam-se em segundo lugar nesta. Dentre os transtornos mentais e comportamentais

diagnosticados estavam os transtornos neuróticos, transtornos relacionados ao estresse,

transtornos somatoformes, transtorno de personalidade e transtornos mentais psicóticos.

A referida autora elucida que o adoecimento mental pode ter relação com a

intensificação do trabalho desses profissionais da Educação. Afirma que a perda da

autoridade, da ilegitimidade dos professores no planejamento pedagógico, nas avaliações e

disciplinas, a culpabilização pelo fracasso escolar dos alunos, as diversas funções assumidas,

somados aos aspectos de precarização e desvalorização profissional, podem favorecer o

aparecimento do adoecimento mental nos docentes.

Contribuindo com esta perspectiva, Pereira et al (2014) reafirmam que sobrecarga de

trabalho, a baixa remuneração e a crescente violência na escola são fatores que levam os

professores a desenvolver sentimentos negativos em relação às atividades desenvolvidas em

seu trabalho.

Figura 07 - Desvalorização e desrespeito do professor em sala de aula.

Fonte: http://educaneuro.blogspot.com/2011/05/indisciplina-na-escola-uma-questao.html

Os autores destacam que a precarização das condições de trabalho docente interfere na

qualidade de ensino e na saúde destes profissionais, levando-os a um quadro de estresse, que

pode influenciar o abandono/desistência da carreira docente ou o adoecimento mental. O

estudo desenvolvido por Pereira et al. (2014) objetivou analisar algumas associações entre as

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características do trabalho docente e o estresse em professores de escolas da rede municipal e

estadual de Florianópolis-SC. Para isso, foram utilizados alguns questionários como, por

exemplo, a versão resumida do “jobs stress scale”42.

Pereira et al (2014) argumentam que as demandas psicológicas estão relacionadas ao

ritmo de trabalho, aos conflitos nas relações de trabalho, aspectos como tempo de magistério e

carga horária. Os autores trouxeram reflexões relevantes para os atores sociais envolvidos na

Educação, afirmam que o cuidado com a saúde do professor não deve ser desconsiderado,

pelo contrário, deve ser uma preocupação permanente, visto toda a situação de estresse

vivenciado por estes profissionais. Além disso, independente dos professores estarem no final

ou no início da carreira, é importante que a exaustão física e mental desses profissionais sejam

percebidas para que medidas preventivas envolvendo a saúde mental possam ser adotadas.

Corroborando com tal premissa, Fiusa (2014) ressalta que a saúde mental dos

professores vem sendo comprometida também em decorrência do aumento de suas demandas

no contexto escolar e sistema educacional, e que o trabalho docente interfere e pode

desencadear o adoecimento mental nesses profissionais. A autora fez um levantamento de

pesquisas/trabalhos publicados entre os anos de 2008 à 2013, que proporcionavam discussões

sobre transtornos mentais em professores. Observou que as principais queixas ou sintomas

dos docentes são: exaustão emocional, esquecimento, cansaço mental, estresse, frustração,

nervosismo, angústia, insônia, ansiedade e a Síndrome de Burnout.

A referida autora traz à tona algumas possíveis causas ou “gatilhos” que favorecem o

adoecimento mental e o aparecimento de transtornos mentais e comportamentais em

professores, dentre eles estão a intensificação do trabalho docente, condições de trabalho

precárias, tensão e desprazer constante no desenvolvimento de suas atividades laborais, e

superlotação nas salas de aulas. Destaca ainda, que possivelmente, parte desses docentes

podem não estar conscientes do seu próprio sofrimento psíquico devido ao estigma e

preconceito relacionados a saúde/adoecimento mental, ou desatenção consigo mesmo.

Acabam desconsiderando ou negando alguns sintomas que com passar do tempo se agravam e

podem levar de fato ao acometimento por algum tipo de transtorno mental e comportamental,

o que dificulta a procura por tratamentos de saúde adequados e a melhora de seu quadro

clínico.

42 Um questionário original em inglês elaborado em 1988 por Töres Theorell, traduzido para o português “Escala

de Estresse no Trabalho”, que mede o estresse ocupacional por meio do modelo demanda-controle, que avalia as

dimensões e demandas psicológicas, controle e apoio social.

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Na concepção de Fiusa (2014), o poder público e os próprios docentes não buscam

estratégias de tratamento e acompanhamento na área de saúde mental para os professores que

foram acometidos por esse tipo de adoecimento. Na prática, muitas vezes as únicas medidas

tomadas é o remanejamento ou afastamento desses profissionais de suas atividades laborais, o

que não resolve o problema.

Em diálogo, Brasil et al. (2016), fazem uma explanação sobre a compreensão do que é

o sofrimento psíquico e a saúde mental no ambiente de trabalho dos docentes. Os autores

asseveram que sentimentos como frustração, raiva, desesperança, desmotivação, cansaço,

estresse e a desvalorização profissional, relacionados ao cenário da Educação e ao trabalho

docente produzem um sofrimento psíquico que pode ocasionar diversos tipos de transtornos

mentais e comportamentais, duradouros ou transitórios, conduzindo esses professores ao

afastamento de suas atividades laborais.

Os autores ainda preconizam que o adoecimento mental em professores também

compromete a qualidade do ensino e o trabalho realizado por esses profissionais da Educação.

Apontam que os sintomas de estresse são mais frequentes nas mulheres (professoras) do que

em homens (professores). O estudo de Brasil et al (2016) foi de caráter exploratório e de

abordagem qualitativa. Os mesmos fizeram uso de questionários e grupos focais com

professores do ensino fundamental de escolas públicas de Fortaleza-CE. As professoras que

participaram dessa pesquisa identificaram que causa do sofrimento psíquico e adoecimento

mental naquele momento, estavam ligadas a fatores ambientais e institucionais, relações

sociais e interpessoais vivenciadas no contexto escolar e no exercício da docência.

Em consonância, Eugênio, Souzas e Di Lauro (2017) apontam que a saúde do

trabalhador docente se torna cada vez mais comprometida devido a situações de vida, cansaço

físico, uso excessivo da fala e problemas emocionais resultantes das insatisfações cotidianas

durante o exercício de sua profissão, bem como a precarização das condições de trabalho.

Os autores realizaram uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, tendo como

sujeitos os docentes da Educação Básica de um município do interior do sudoeste da Bahia, a

fim de investigar o adoecimento do professor. Utilizaram como instrumentos para coleta de

dados questionário e entrevistas, focando no modo como as diferentes pessoas buscam

significado e sentido para suas vidas, direcionando o olhar para relatos de adoecimento por

parte desses professores.

O estudo Eugênio, Souzas e Di Lauro (2017) proporcionou algumas considerações

importantes: parte dos professores identificou que o seu processo de adoecimento teve início

logo após iniciar a carreira docente e outras que, embora já tivesse adoecido antes, o trabalho

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em sala de aula e as condições de trabalho interferiram ou agravaram o seu estado de saúde.

Os docentes indicaram que a sobrecarga de trabalho, a desvalorização profissional, a ausência

de recursos didáticos, a indisciplina e a falta de comprometimento dos alunos, a superlotação

nas salas de aula, o desrespeito por parte dos alunos, dentre outros, são fatores que

contribuíram e contribuem para o adoecimento mental, e, por conseguinte, interfere em sua

vida fora da escola.

Figura 08 - Ilustração/representação de um professor que continua a trabalhar mesmo estando com

sua saúde comprometida.

Fonte:

https://www.google.com.br/search?q=voce+ta+se+sentindo+bem%3F+tranquilo.+Bier&source=lnms

&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwiv_8S5tprkAhUGK7kGHUMdAgIQ_AUIESgB&biw=1024&bih=

489#imgrc=r-aX22QDPEphdM

Corroborando com tais apontamentos, Oliveira (2017) expõe suas inquietações frente

à percepção de que um número considerável de professores à sua volta estava afastado por

licença saúde para tratar algum tipo de transtorno mental e comportamental, surgindo a partir

de então, vários questionamentos a respeito e o interesse sobre o tema. A autora teve como

objeto de estudo os relatos de experiências de professores da rede básica de ensino público,

em cinco municípios do estado de São Paulo, que foram diagnosticadas com algum tipo de

transtorno mental e comportamental, objetivando identificar e analisar elementos comuns

entre eles. A mesma faz um levantamento bibliográfico sobre trabalho docente, e apresenta

conceitos sobre adoecimento e saúde mental, estigmas e as dificuldades de se abordar o tema.

No desenvolvimento do seu estudo, Oliveira (2017) trata sobre a escolha da profissão docente,

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as relações profissionais estabelecidas no ambiente escolar, violência, sintomas do processo

de adoecimento, jornada de trabalho do professor, a visão dos colegas sobre afastamento da

sala de aula e sentimentos de fracasso.

O conceito sobre saúde mental abordado pela autora é “[...] Entre outras coisas, o bem-

estar subjetivo, autoeficácia percebida, a autonomia, a competência, a dependência

intergeracional e a autorrealização do potencial intelectual e emocional da pessoa” (OMS,

2001, p. 4). Todavia, como já mencionado anteriormente, os conceitos de saúde e

adoecimento mental diferem de acordo com os cientistas e as diferentes culturas.

Muitas doenças físicas e/ou transtornos mentais e comportamentais são associações de

fatores psicológicos, biológicos e sociais. A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2001)

destaca que algumas doenças mentais podem ser ocasionadas por fatores cuja base física é no

cérebro. Oliveira (2017) dialoga também com outros autores como Petraglia (2003) que faz

um debate sobre as interações diversas e adversas, as indeterminações, incertezas e

fenômenos aleatórios relacionados ao adoecimento.

A pesquisa desenvolvida por Oliveira (2017) foi de cunho qualitativo, utilizou como

instrumentos para a coleta de dados, entrevistas reflexivas, as quais buscavam informações

por meio de relatos das experiências de vida profissional dos professores. A amostra foi

composta por 05 professores, todas do sexo feminino, de cinco municípios de São Paulo, que

se dispuseram a participar da pesquisa e que em algum momento da carreira foram afastados

da sala de aula por algum tipo de transtorno mental e comportamental. A autora usa sínteses

das entrevistas, os pontos principais do discurso, questões que buscam esclarecimentos ou

aprofundamento sobre algo narrado que não ficou claro, e faz a entrevista devolutiva.

Com essa pesquisa foi possível perceber a prevalência de transtornos mentais e

comportamentais em professores da Educação Básica, da rede pública de ensino e como a

influência do ambiente escolar e das relações interpessoais estabelecidas nesse contexto

favorecem o surgimento ou desencadeamento do adoecimento mental. Nessa conjuntura,

Oliveira (2017, p. 96) estabelece:

[...] nos relatos das experiências das professoras entrevistadas, se confirma a

hipótese de haver elementos comuns e significativos que contribuíram para o

seu processo de adoecimento: a escolha da profissão, as relações com seus

pares, alunos e suas famílias, gestores, as imposições das condições do

sistema educacional, muitas vezes contrárias à sua concepção de ensino e

aprendizagem estão presentes. Além destas, as constantes situações de

violência vivenciada no ambiente escolar. (OLIVEIRA, 2017, p. 96)

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De acordo com Macaia e Fischer (2015):

[...] as condições e a organização do trabalho do professor de ensino

fundamental colaboram com esse quadro de adoecimento mental e

afastamento do trabalho, entre outras diversas causas e de antes envolvidos

no processo os professores estão submetidos à sobrecarga de trabalho.

(MACAIA; FISCHER, 2015, p. 842)

As referidas autoras analisaram os sentidos que os docentes (servidores públicos) do

nível fundamental atribuíam ao seu afastamento em decorrência dos transtornos mentais e

comportamentais. A pesquisa realizada por estes revelou que no ano de 2012, os transtornos

mentais foram o segundo diagnóstico que mais prevaleceu entre os professores da rede

municipal de São Paulo, levando-os ao afastamento de suas atividades laborais, o que gerou

um crescimento de 15% em licenças médicas em decorrência desse tipo de adoecimento.

Dentre os sentidos atribuídos e motivos que levaram esses professores ao adoecimento

mental, e, por conseguinte, ao afastamento de suas atividades laborais, segundo relato desses

docentes estavam associados à conflitos com a gestão escolar, alunos, além da vida extra

trabalho, pessoal. É pertinente citar alguns questionamentos levantados por esses professores

ao retornar ao seu ambiente de trabalho: Será que estou bem para retornar ao trabalho?

Acontecerá tudo novamente? E se eu voltar e nada acontecer de bom? Voltar para quê? Essas

angústias vivenciadas expressa o dilema entre querer e não querer voltar para suas atividades

em sala de aula, sentimento de frustração, desespero, inutilidade e ociosidade que acabavam

se estendendo além do trabalho. Apesar disso, alguns desses professores encaravam esse

retorno como uma nova chance de ver seu trabalho de outra forma, como uma oportunidade

de retomar o sentido do exercício da docência.

Na pesquisa de Macaia e Fischer (2015), a maioria dos professores afastados da sala

de aula também era do sexo feminino, tinham entre 23 e 58 anos, jornadas de trabalho entre

20 e 70 horas semanais. Os afastamentos compreendiam entre 15 dias e 5 anos, e os

transtornos mentais e comportamentais mais prevalentes no grupo pesquisado eram episódios

depressivos, transtornos ansiosos, reações ao stress grave e transtornos de adaptação43.

Segundo relatos dos professores (as) que participaram do estudo, a maioria dos

docentes que retornaram à escola indicava que as condições de trabalho ainda eram

desfavoráveis à sua saúde mental, e que a preparação para seu retorno ao trabalho durante a

licença médica acontecia individualmente, sem apoio da gestão ou poder público. Alguns

43 Ver descrição dos referidos transtornos na seção de análise e discussão de dados.

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professores buscavam por conta própria tratamento em relação a sua saúde mental com

médicos/psiquiatras e psicólogos distante da escola.

Macaia e Fischer (2015) elencaram informações e discussões importantes a respeito do

adoecimento mental, transtornos mentais e comportamentais em professores, o papel da

equipe de gestão escolar, preconceitos percebidos em relação a esse tipo de adoecimento e a

readaptação desses profissionais. As autoras sinalizam a escassez de debates que abordem

especificamente os Transtornos Mentais e Comportamentais, e não apenas os sinais e

sintomas psíquicos/emocionais em docentes, e o retorno dos mesmos ao trabalho após serem

afastados por esse tipo de adoecimento. Ressaltam a necessidade de políticas públicas

voltadas para saúde mental desses profissionais, e que o afastamento do trabalho, em

decorrência ao adoecimento mental é distinto de outros tipos de problemas de saúde.

Corroborando com as discussões ora apresentadas, Castro et al. (2016) realizaram um

levantamento na Secretaria Municipal de Educação de Uberaba-MG e identificaram que

problemas de saúde mental e osteomusculares são os principais responsáveis pelo afastamento

das professoras. E que esses tipos de adoecimento estão interligados com a sobrecarga de

trabalho, baixa qualidade de vida, sistema de trabalho e o estresse. Os referidos autores

elegeram como objetivo central compreender as principais causas de sofrimento entre os

professores. Participaram do estudo professores e diretores da rede municipal de Uberaba-

MG. Foram realizadas as sessões de Terapia Comunitária Sistêmica Integrativa44 (TCSI),

grupo terapêutico de espaço de partilha de experiências entre os profissionais da Educação.

As sessões de TCSI foram realizadas, organizadas e dirigidas por terapeutas

formadores, professores do curso de terapia comunitária de Uberaba, terapeutas em formação

e alunos do curso. Todas as ações foram registradas. Ao final de cada sessão, a equipe de

terapeutas avaliava as atividades e organizavam os dados, que foram classificados e

apresentados aos profissionais e gestores da SME. As sessões eram divididas em temas e

classificadas em cinco grupos: problemas relativos ao sistema de trabalho, relativos à família,

baixo salário, ao relacionamento com alunos e questões pessoais.

Nesta perspectiva, Castro et al. (2016) constataram que o adoecimento ainda se

configura para os envolvidos como uma responsabilidade individual, todavia, afirmam que o

professor não é o único responsável pelo surgimento dos sintomas, queixas e pelo seu

sofrimento psíquico. Os docentes não podem ser culpabilizados por isto, pois envolve

44 A TCSI considera que todos os indivíduos, todos os atores envolvidos no sistema escolar, são responsáveis

pela superação e a solução dos problemas. É capaz de Integrar diversos saberes e contextos dos envolvidos nas

sessões, é um espaço para o compartilhamento de experiências, dessa forma a Amplia redes solidárias para que

aconteça a promoção da saúde.

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diversos fatores, inclusive as relações e o contexto escolar. Entende-se então que uma das

soluções ou caminhos para sanar esses problemas relacionados à saúde mental dos professores

está no coletivo e nas suas interações.

Os referidos autores evidenciaram que espaços para compartilhar suas queixas,

estarem com outros que vivenciam situações parecidas, ter empatia, ser ouvido e respeitar as

diferenças, são aspectos importantes para a promoção da saúde mental dos profissionais da

educação, em especial, dos professores. Um aspecto interessante que merece destaque neste

estudo é que dentre artigos, dissertações e teses analisadas, observamos que apenas o

município de Uberaba-MG oferecia um sistema de acolhimento aos docentes que trabalhavam

na rede municipal, assim como, o tratamento do indivíduo, dispondo de plano de saúde para

servidores e atividades terapêuticas para os educadores.

Carraro (2015) realizou sua pesquisa em Bauru-SP, com 374 professores da rede

municipal, do ensino fundamental, que abordou dentre outros aspectos o trabalho docente, a

ocorrência de Transtornos Mentais Comuns (TMC) e as demandas psicológicas no exercício

da docência. Em seu estudo observou a prevalência de 36, 49% de TMC em professores,

sendo que 50,27% destes demonstravam demandas psicológicas elevadas. A autora percebeu

que os docentes, quase em sua totalidade eram compostos pelo sexo feminino (92,78%), e por

grupos etários mais jovens (entre 25 e 39 anos) que consideravam a retribuição pelo trabalho

insatisfatória, carga horária exacerbada e situações complexas pertencentes ao cotidiano

escolar, estavam associados e tendiam à maior vulnerabilidade com relação aos TMC.

Outro aspecto importante ressaltado por Carraro (2015), é que esses professores

apresentaram maior vulnerabilidade a ocorrência de TMC, quando comparados a população

de forma geral, o que indica que estes profissionais carecem de atenção especial quando se

trata de saúde mental. A autora enfatiza a necessidade de uma política educacional adequada a

essa classe de trabalhadores que proporcione valorização em relação aos salários e ao trabalho

realizado pelos docentes, propiciando dessa forma melhores e adequadas condições de

trabalho, saúde e a evolução na carreira. Assim sendo, automaticamente a prevalência desses

tipos de transtornos e adoecimento mental tendem a diminuir.

Observamos que os estudos apresentados trouxeram resultados e considerações

referentes à saúde e ao adoecimento dos docentes, em um contexto marcado por contradições

preconizadas pelo modo de produção capitalista. Nesse contexto político, Antunes e Praun

(2015) enfatizam que:

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[...] as mudanças ocorridas no mundo do trabalho nas últimas décadas

resultaram na constituição de um exército de trabalhadores mutilados,

lesionados, adoecidos física e mentalmente, muitos deles incapacitados de

forma definitiva para o trabalho. (ANTUNES; PRAUN, 2015, p. 423)

Frente ao exposto, foi possível perceber que o adoecimento mental aparece com

recorrência, e até mesmo chega a ser a segunda causa de adoecimento entre os professores no

Brasil, mais da metade dos afastamentos dos docentes por atestado ou laudos médicos são

decorrentes de algum tipo de transtorno mental e comportamental, com destaque para o

transtorno depressivo, sendo este o que mais aparece nos documentos.

Destacamos também, entre os trabalhos estudados neste estado da arte, o fato das

mulheres/professoras serem mais afetadas pelo adoecimento mental do que os

homens/professores, o que pode ser justificado devido à sobrecarga de exigências e funções

além da docência, impostos pela cultura, e/ou pelo fato das mulheres serem a maioria do

corpo docente nas escolas.

As pesquisas expostas nessa seção apontaram que o adoecimento mental está

associado à precarização e intensificação do trabalho; conflitos entre as relações de trabalho

no contexto escolar; desvalorização do trabalho docente sejam por parte do sistema

educacional, gestão escolar, colegas e sociedade de forma geral; estigmas e preconceitos a

respeito desse tipo de adoecimento.

Considerando o mapeamento bibliográfico e as discussões expostas, traçadas pelos

autores referidos acima, percebemos que a maioria dos estudos citam os termos “mal-estar

docente”, “sofrimento psíquico”, “Síndrome de Burnout” ou “adoecimento mental”, mas são

restritas as pesquisas que abordam os termos “Transtornos Mentais Comuns (TMC)”

“transtornos mentais e comportamentais”. Essa limitação se intensifica quando se relaciona

esses transtornos à carreira docente. Geralmente, os autores fazem menção ao adoecimento

mental e a precarização do trabalho docente, apenas um dos estudos apontados neste estado da

arte se referiu aos prejuízos para a carreira docente.

Portanto, torna-se imprescindível e urgente, que debates, reflexões e esclarecimentos

sejam estimulados pelo âmbito acadêmico/científico, proporcionando uma conexão entre os

saberes da área da saúde e da educação, a fim de contribuirmos para melhores condições de

trabalho, saúde e vida dessa categoria de trabalhadores, tão exposta e propensa ao

adoecimento mental, e ao acometimento de transtornos mentais e comportamentais.

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4.2. Discussões acerca do Desenvolvimento Profissional Docente (DPD) e a carreira

profissional docente

Para realização do mapeamento com o descritor “carreira profissional docente”,

selecionamos trabalhos que abordavam o tema de forma mais direcionada em relação às

discussões elencadas durante a dissertação. Cabe ressaltar que para estudar a carreira docente,

consequentemente, é necessário refletirmos a respeito do Desenvolvimento Profissional

Docente, fases ou etapas da carreira, legislação brasileira referente aos direitos trabalhistas e

conquistas dessa classe trabalhadora, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LDBEN), Plano Nacional de Educação (PNE)45 e o Plano de Carreira e Remuneração46.

Ao discutirmos a respeito da carreira docente é imprescindível entender o que é o

desenvolvimento profissional. De acordo com Ilha e Hypolito (2014), o conceito de

desenvolvimento profissional transcende o processo de formação acadêmica. Os autores

estudam o processo de inicialização na carreira docente, e afirmam que nessa fase os

professores enfrentam desafios e frustrações, pois se deparam com a diferença entre a teoria -

estágio ou contato realizado durante a licenciatura, formação acadêmica - e a prática – seu

ingresso na docência e contexto escolar. Os referidos autores tomam como base teórica os

“ciclos da vida profissional”, períodos vivenciados pelos professores durante a carreira

docente, descritos por Huberman (1992).

Ilha e Hypolito (2014) ressaltam que somente após a entrada desse professor (recém-

formado) no cotidiano escolar, é que o mesmo irá vivenciar realmente as demandas,

condições de trabalho e atribuições da profissão, o que pode gerar inseguranças, dúvidas,

identificação ou não em relação à escolha profissional. Contudo, apesar das dificuldades do

início da docência, também é possível vivenciar novas oportunidades de aprendizagem

(positivas) que contribuirão para seu desenvolvimento profissional.

De acordo com as concepções de Nunes e Oliveira (2017) a construção da profissão e

da carreira docente não se restringe apenas ao seu processo formativo (acadêmico), porém,

ressaltam a importância formação inicial e continuada dos professores, e de condições

essenciais para que o trabalho docente seja realizado da melhor forma possível. Os mesmos

asseveram que é necessário que as políticas públicas referentes à valorização dos professores,

45O Plano Nacional da Educação (PNE) tramitou no Congresso Nacional no ano de 2011 sendo aprovado no ano

de 2014. 46http://planodecarreira.mec.gov.br/images/pdf/Planos_Carreira_Remuneracao_Final.pdff

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previstos no PNE47, garantam os direitos dessa classe trabalhadora. Nesse sentido, Oliveira

(2009) destaca que cabe as instâncias governamentais proporcionarem formas de contribuir e

para o desenvolvimento profissional dos professores.

Com relação à questão do plano de cargos e salário, Nunes e Oliveira (2017) ainda

elucidam que a progressão salarial muitas vezes acontece em decorrência do tempo de

docência e não à formação continuada, desmotivando-os a progredir na carreira docente.

Nesse contexto e condições, é possível que o professor, principalmente no início da carreira,

não se interesse em participar de cursos de capacitação, ou pós-graduação a título de

especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado a fim de desenvolver seu trabalho da

melhor forma possível, visto que não haverá uma progressão salarial esperada. Frente a isso,

levantamos o seguinte questionamento: porque esse professor no início da carreira faria

sacrifícios e renúncias, abarcaria outras demandas para sua vida (horas de estudo, viagens,

tempo, despesas extras, etc.) se o que conta favorável para o aumento de seu salário, na

maioria das vezes é a quantidade de anos desenvolvendo seu trabalho em sala de aula?

Nunes e Oliveira (2017) relacionam o DPD, trabalho e carreira profissional docente,

com o contexto social contemporâneo, e mudanças que aconteceram na realidade do trabalho

dos professores na Educação Básica no Brasil, as exigências que são feitas a esses

profissionais após as reformas educacionais de 1990, e as possíveis consequências em sua

prática educativa. Mudanças que ocasionaram a intensificação do trabalho docente, além de

implicações para a qualidade da Educação ofertada na Educação Básica.

Em seus estudos, Souza (2015) discorre sobre o plano de cargos, carreira e

vencimentos dos profissionais da Educação, condições de trabalho docente, e a legislação que

ampara essa categoria de trabalhadores (professores) no Brasil. O autor destaca que nos

últimos tempos tem sido discutida a questão da melhoria da qualidade da Educação Básica no

Brasil, todavia, essa discussão nem sempre vem atrelada à formação docente, as condições de

trabalho e a questão salarial, ainda assim, são refletidas/sentidas em diferentes áreas, como

por exemplo, na economia, que propõe soluções para superar essa problemática na área da

Educação.

De acordo com Souza (2015), o plano de cargos, carreira e vencimentos é um

importante indicador para análise e avaliação das condições de trabalho dos docentes

possibilitando observar a política de formação e a progressão na carreira dos profissionais.

Souza (2015) assevera que:

47 Plano Nacional de Educação (PNE) - Diretriz IX: metas 15, 16, 17 e 18 (BRASIL, 2014), as quais serão

abordadas de forma mais esclarecedora ao longo do trabalho.

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[...] pode-se concluir que a exigência do plano de carreira, pelo Ministério da

Educação (MEC), contribui de forma significativa para subsidiar a discussão

que envolve a carreira docente, com destaque para o espaço de debate

inerente às políticas de valorização do magistério. (SOUZA, 2015, p. 146)

A respeito da carreira profissional docente e a valorização profissional docente, o

autor da continuidade ao debate e elucida que estes só podem se concretizar mediante a

efetivação do PNE, elemento essencial para garantir a realização das necessidades desta

categoria de trabalhadores no Brasil. O PNE conta com 20 metas onde a valorização docente

aparece em um quarto delas. Entretanto, elas ainda permanecem em boa parte apenas no

discurso e na legislação, existem grandes dificuldades e desafios para ser efetivado na prática,

ou seja, o cumprimento da legislação nem sempre acontece nos municípios e estados.

Souza (2015) faz ainda um mapeamento sobre a legislação nacional, estadual e

municipal que ampara os professores, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LDBEN)48, sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

Valorização do Magistério (FUNDEF)49, Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da

Educação Básica e da valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB)50. Ele relaciona

a carreira docente à implantação de políticas públicas de valorização do exercício da docência

na rede pública. Além disso, se propõe a estudar a profissionalização, a prática do ensino e a

construção da carreira docente no Brasil. Toma como base para seus estudos as fases/etapas

da carreira de acordo com as concepções de Gonçalves (1992).

Ainda, Souza (2015) constatou que a Secretaria Municipal de Educação (SME) de Rio

Claro-SP investia na formação continuada de seus profissionais e que o plano de cargos,

carreira e vencimentos valorizam a formação profissional desses docentes. Sua pesquisa

48“A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996) estabeleceu dois níveis de ensino, a

saber, a educação básica e a educação superior. Definido no artigo 21 da lei, o conceito de educação básica

congregou, articuladamente, as três etapas da educação nacional: a educação infantil, o ensino fundamental e o

ensino médio” http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/lei-de-diretrizes-e-bases-da-

educacao-nacional-ldben; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm#art39;

https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/529732/lei_de_diretrizes_e_bases_1ed.pdf 49 O FUNDEF foi criado para garantir uma subvinculação dos recursos da educação para o Ensino Fundamental,

bem como para assegurar melhor distribuição desses recursos. Com este fundo de natureza contábil, cada Estado

e cada município recebe o equivalente ao número de alunos matriculados na sua rede pública do Ensino

Fundamental. Além disso, é definido um valor mínimo nacional por aluno/ano, diferenciado para os alunos de 1ª

à 4ª série e para os da 5ª à 8ª série e Educação Especial Fundamental. O FUNDEF foi criado pela Emenda

Constitucional n.º 14/96, regulamentado pela Lei n.º 9.424/96 e pelo Decreto n.º 2.264/97 e implantado

automaticamente em janeiro de 1998 em todo o País. http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/prof.pdf 50O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da

Educação (FUNDEB) foi criado pela Emenda Constitucional nº 53/2006 e regulamentado pela Lei nº

11.494/2007 e pelo Decreto nº 6.253/2007, em substituição ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do

Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), que vigorou de 1998 a 2006.

http://portal.mec.gov.br/fundeb-sp-1090794249

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revelou que a SME cumpria o contexto da jornada de trabalho, reservando o tempo

determinado pela legislação para o planejamento das atividades a serem desenvolvidas pelos

docentes. O autor aponta a possibilidade de alcance de uma estrutura de carreira e

remuneração para os docentes, assim como, a melhoria da qualidade da educação, pois

favorece a permanência e atratividade dos profissionais mais qualificados. Entretanto, o

município não possibilita aos docentes o afastamento integral com ônus para realização da

formação em nível de Stricto Sensu.

Continuando as discussões acerca do DPD e carreira profissional docente, Ferreira

(2014) traz à tona reflexões sobre o estado emocional, psíquico e mental dos professores

durante sua trajetória profissional. A autora afirma que a carreira docente está imbricada ao

desenvolvimento profissional, sendo permeados por crises, dilemas, oscilações e aprendizados

(FERREIRA, 2014; 2017). A mesma salienta que as desilusões com relação à docência

podem levar o professor ao adoecimento, afastamento e a desistência da carreira, o que pode

provocar impactos negativos para a vida pessoal do professor, desenvolvimento de seu

trabalho em sala de aula, qualidade do ensino ofertado à população e meio escolar, Estado e

saúde pública no país.

Ferreira (2014) faz uma explanação sobre a organização das divisões das fases/etapas

da carreira docente segundo os autores Sikes (1985), Gonçalves (1992) e Huberman (1992).

No Brasil, os estudos e pesquisas de Ferreira (2014) a respeito dos períodos da carreira

docente, trazem aspectos específicos do contexto educacional no país. Discute esses períodos

levando em consideração o tempo de docência e a questão de gênero, a diferença das fases da

carreira para mulher (professora) e para o homem (professor). De acordo com inciso III do

artigo 40 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988)51, o exercício da docência para as

mulheres (professoras) compreende-se em torno de 25 anos e para os homens (professores)

até 30 anos.

Ferreira (2014) divide a carreira profissional docente em seis períodos: inicialização,

estabilização, variação, examinação, serenidade e finalização. A mesma destaca que esses

períodos da carreira não são lineares e que vão variar de acordo com a vivência e

especificidades de cada docente, pois cada um as vivencia de uma forma diferente. A autora

traz um olhar mais profundo e sensível em relação aos períodos da carreira e o estado

emocional/psicológico dos professores, levando em consideração também o tempo de

docência.

51Disponível em: https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_14.12.2017/art_40_.asp

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É relevante destacar que Ferreira (2014) divide esses períodos da carreira profissional

docente levando em consideração a distinção entre gênero (mulher-homem) e tempo

(quantidade de anos em cada período): o primeiro período é o de inicialização (entre01 a 05

anos de docência), quando o docente começa a dar aulas depois de sua formação. Esse

período oscila entre sentimentos de motivação e choque com a realidade, período onde o

mesmo está mais propenso a desistir da docência. O segundo período é o de estabilização

(entre 5 e 8 anos de docência), quando o docente já compreende como funciona o sistema

educacional ao qual pertence, sente-se mais confiante. De acordo com os estudos da referida

autora, entre o primeiro e segundo períodos não há distinções entre professores e professoras.

O terceiro período chamado de variação (mulher entre 8 e 15 anos; homens entre 8 e 14 anos)

quando os docentes podem se sentir instáveis; observam os pontos negativos e positivos da

profissão, e almejam reconhecimento pelo trabalho realizado. O quarto período é o de

examinação (mulher entre 15 e 18 anos; homens entre 14 e 22 anos) quando os docentes

refletem acerca de sua escolha profissional, propensos a ver o lado mais negativo da profissão

e realidade. O quinto período, o de serenidade (mulher entre 18 e 20 anos; homens entre 22 e

25 anos), é sentido com certa tranquilidade, as preocupações com seu trabalho e interação

entre alunos e colegas diminuem. O sexto período, chamado de finalização (mulher entre 20 e

25 anos; homens entre 25 e 30 anos), que são os últimos anos da carreira até a almejada

aposentadoria, nessa fase o professor não demonstra ou tem mais interesse em investir em sua

carreira (FERREIRA, 2014; 2017).

Em resumo, entendemos que a carreira é uma sucessão de etapas de ascensão no

trabalho docente, é um processo em construção, aonde há retrocessos e descontinuidades, que

envolve além da dimensão objetiva, a dimensão subjetiva ou vivencial, ou seja,

acontecimentos da vida em geral, o desenvolvimento pessoal, profissional e social do

professor, considerando, inclusive, as diferenças com relação ao gênero (BOLÍVAR, 2002;

GONÇALVES, 1992). Vale ressaltar que essas etapas/fases/ciclos/períodos não são fixas e

vão diferenciar de acordo com o lugar onde esses professores residem e atuem

(HUBERMAN, 1992; GONÇALVES, 1992; FERREIRA, 2014).

Os trabalhos dos autores citados neste estado da arte, os quais abordaram a carreira

docente no Brasil, nos possibilitou reflexões sobre o DPD, a carreira profissional docente e

seus períodos (sob a perspectiva de quatro autores52), as políticas públicas voltadas para

52Sikes (1985), Huberman (1992), Gonçalves (1992) e Ferreira (2014).

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carreira docente, e valorização profissional. Observa-se que ainda são poucos os estudos que

discutem acerca da saúde ou adoecimento mental do professor e a carreira docente.

Discutir sobre carreira profissional docente, planos de carreira e remuneração para

professores da Educação Básica da rede pública de ensino no Brasil é um grande desafio. A

partir das discussões ora apresentadas, percebemos que se faz necessário um diálogo entre os

docentes, estudiosos, pesquisadores, e instâncias governamentais para que os direitos

trabalhistas já conquistados sejam de fato efetivados. Ante ao exposto, é imprescindível que

ocorram transformações no cenário da Educação em nosso país, que os docentes sejam

valorizados e reconhecidos socialmente, e por parte do Estado. E que as instâncias

governamentais ofereçam condições de trabalho, saúde e salários compatíveis com a

profissão, formação e tempo de docência.

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5. PERCURSO METODOLÓGICO

Nessa seção descrevemos todo o caminho percorrido para a construção de nosso

estudo e pesquisa (dissertação), que aborda a temática sobre o adoecimento mental em

professores que trabalham Educação Básica, na rede pública de ensino, especificamente, os

transtornos mentais e comportamentais e sua relação com a carreira profissional docente.

Apresentamos o tipo de estudo; aspectos éticos da pesquisa; instrumentos para coleta de

dados; a escolha e caracterização dos sujeitos e professores/participantes da pesquisa;

caracterização do local/campo de pesquisa.

Nosso estudo teve início em abril de 2018, através de leituras e fichamentos de

materiais (artigos, capítulos de livros, dissertações e teses) que serviram de estruturação para a

fundamentação teórica e melhor delineamento do trabalho proposto. A partir daí, entre os

meses de abril e outubro de 2019 construímos nossos instrumentos para coleta de informações

e fomos à pesquisa de campo que durou até o mês de dezembro do mesmo ano. Nos meses

subsequentes foram realizadas a análise e discussão dos dados obtidos.

Esta pesquisa (UESB/PPGED) partiu de outro estudo/pesquisa de maior abrangência,

intitulada: “Desenvolvimento profissional e a carreira docente brasileira: diálogos com

professores da Educação Básica”, do qual a mestranda e sua co-orientadora também

participam, cujo objetivo geral é analisar como os professores da Educação Básica se

constroem profissionalmente, considerando as políticas públicas vigentes e um modelo

brasileiro para a carreira docente e os impactos/contribuições para o ensino. Sendo assim, esta

pesquisa é considerada no meio acadêmico como “pesquisa guarda-chuva53”.

A pesquisa citada está cadastrada na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

(UFRB), sobre número de documento 2.3007.004922/2017-88 e abrange em sua composição

quatro Instituições de Ensino Superior baiana e seu planejamento para desenvolvimento é de

até cinco anos. Foi iniciada em 2018 e conta com o financiamento do Conselho Nacional em

Pesquisa (CNPq), chamada universal de 2018; foi submetida ao Comitê de Ética e Pesquisa

da UFRB e aprovada com o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) cujo

número do documento é 72103517.4.0000.005654. A mesma também possui autorização da

SME55 e encontra-se em fase de desenvolvimento. Através dessa pesquisa, conseguimos

53 Este termo “guarda-chuva” é utilizado no senso comum para explicitar uma pesquisa que abarca outras

menores oriundas dela. 54 Ver Anexo A 55 Ver Anexo B

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produzir dados que auxiliaram e enriqueceram nosso trabalho, as discussões aqui elencadas, e

possibilitaram o acesso aos sujeitos, professores/participantes da pesquisa.

Como já mencionado na introdução, este estudo, realizado no âmbito do

PPGED/UESB, trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, de cunho exploratório,

que teve como objetivo geral analisar as implicações que os transtornos mentais e

comportamentais podem ocasionar para a carreira docente, em professores da Educação

Básica, da rede pública de ensino; e buscou responder a seguinte questão-problema: quais são

as implicações que os transtornos mentais e comportamentais em professores da Educação

Básica, da rede pública de ensino, podem ocasionar para a carreira docente? Para alcançar o

objetivo geral e tentar responder tal questão, delineamos os seguintes objetivos específicos:

• Traçar o perfil sociodemográfico dos docentes, que atuam na Educação Básica, na rede

pública de ensino, no município de Itapetinga-BA, que foram acometidos pelo

adoecimento mental/transtornos mentais e comportamentais;

• Identificar os professores/participantes da pesquisa, que atuam na Educação Básica, na

rede pública de ensino, no município de Itapetinga-BA, que foram acometidos por

transtornos mentais e comportamentais, seguidos de afastamento de suas atividades

laborais, em algum período da carreira profissional docente;

• Identificar e descrever os transtornos mentais e comportamentais apresentados pelos

professores que atuam na Educação Básica, na rede pública de ensino no município de

Itapetinga-BA;

• Compreender as implicações que os transtornos mentais e comportamentais podem

ocasionar para a carreira profissional docente.

Os instrumentos dessa pesquisa foram construídos a partir dos objetivos específicos

propostos. Para alcançarmos o primeiro e o segundo objetivos específicos utilizamos dados

coletados na pesquisa cadastrada na UFRB56, por meio de um questionário57 aplicado aos

docentes no município de Itapetinga-BA, no ano de 2018. Este questionário nos possibilitou

traçar o perfil sócio demográfico dos professores acometidos pelo adoecimento mental, e

identificar os professores/participantes da pesquisa, que apresentaram algum tipo de

transtorno mental e comportamental. O terceiro e o quarto objetivos específicos, foram

contemplados através do questionário da UFRB; da UESB58 e da CIP59 (Conversas Interativo-

56 “Desenvolvimento profissional e a carreira docente brasileira: diálogos com professores da Educação Básica” 57 Ver Anexo c 58Ver Apêndice B 59 Ver Apêndice C

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Provocativas), construídos especificamente para nossa pesquisa, aplicados com 02

professores/participantes da pesquisa60.

Salientamos que todo o processo de pesquisa seguiu critérios éticos e garantiu total

sigilo e bem-estar desses professores/sujeitos que contribuíram demasiadamente para nosso

estudo, e discussão da temática. O questionário e a CIP só aconteceram com total ciência e

permissão dos professores/participantes da pesquisa. Para tanto os mesmos assinaram TCLE,

responderam o questionário (UESB) separadamente e individualmente de acordo com sua

disponibilidade.

Os encontros para realização das CIPs foram agendados pelos

professores/participantes da pesquisa, em lugares de sua própria escolha, preservando seu

conforto, comodidade e segurança. Durante as CIPs os docentes autorizaram a presença da

mestranda e sua coorientadora, levando o tempo necessário para cada qual para expressar suas

opiniões e reflexões mediante roteiro pré-definido das CIPs.

A seguir, nos deteremos ao tipo de pesquisa, instrumentos utilizados para coleta de

informações e técnica para análise de dados.

5.1. Pesquisa qualitativa

Tendo em vista o problema e os objetivos propostos, optamos por desenvolver uma

pesquisa de abordagem qualitativa e caráter exploratório. A respeito da pesquisa qualitativa,

Minayo (1993), Gerhardt e Silveira (2009) esclarecem que a mesma não possui como foco a

representatividade numérica, se detém a estudar o universo dos valores, significados,

representações, ações e causas, buscando responder questões particulares ou de grupo, e

produzir informações aprofundadas sobre determinados fatos ou objeto de estudo, sendo

muito utilizada nas as ciências sociais. Gerhardt e Silveira (2009) acrescentam ainda que a

pesquisa qualitativa apresenta as seguintes características:

[...] objetivação do fenômeno; hierarquização das ações de descrever,

compreender, explicar, precisão das relações entre o global e o local em

determinado fenômeno; observância das diferenças entre o mundo real e o

mundo natural; respeito ao caráter interativo entre os objetos buscados pelos

investigadores, suas orientações teóricas e seus dados empíricos; busca de

resultados os mais fidedignos possíveis; oposição ao pressuposto que

defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências.

(GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 32 grifos do autor)

60 A escolha ou seleção desses professores/sujeitos/participantes da pesquisa será melhor detalhada adiante.

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Em consonância, a pesquisa de caráter exploratório se propõe a analisar os eventos

para melhor compreensão dos fatos e tem como um de seus objetivos principais esclarecer,

desenvolver ou mudar conceitos, baseando-se na formulação de hipóteses que poderão ser

estudados e pesquisados posteriormente (GIL, 2008). Proporciona ao pesquisador maior

familiaridade com o problema, e pode envolver estudo de caso, levantamento bibliográfico,

entrevistas ou contato com pessoas que vivenciaram a problemática investigada.

5.2 Local da pesquisa

A pesquisa de campo foi realizada no município de Itapetinga, localizada no interior

da Bahia, pertencente à mesorregião do Centro-Sul baiano e a microrregião de Itapetinga. Sua

distância em relação à capital (Salvador) é de 562 km, possuía até o ano de 2018 75.470

habitantes, sendo a 26ª cidade mais populosa do estado da Bahia. Itapetinga ocupa uma área

de 1.627,518 km², e faz divisa com as microrregiões de Ilhéus- Itabuna e Vitória da

Conquista, seu clima é considerado tropical atlântico (Estimativa IBGE/201861).

Itapetinga está localizada na região do sudoeste da Bahia, entre 13º 02’ a 16° 00’ de

Latitude Sul e 39° a 41°49’ de Longitude Oeste. Proposta pela Superintendência de Estudos

Econômicos e Sociais da Bahia – SEI – BA, como uma das 15 regiões econômicas e de

influência urbana. A região sudoeste é composta por 39 municípios62, possui uma área de

42.542,9 km² que corresponde a 7,5% do território baiano. Sendo Itapetinga uma das

microrregiões do Estado da Bahia que pertence à mesorregião do centro sul da Bahia63.

A Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC) definiu 27 núcleos equiparados

aos Territórios de Identidade, então chamados de Núcleos Territoriais de Educação (NTE)64,

sendo o que município de Itapetinga está localizado no território 08 de Identidade Médio

Sudoeste da Bahia, composto por 13 municípios: Caatiba, Firmino Alves, Ibicuí, Iguaí,

61 https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ba/itapetinga/panorama. 62 Os municípios que compõem a região do sudoeste da Bahia são: Anagé, Barra do Choça, Belo Campo, Boa

Nova, Bom Jesus da Serra, Caatiba, Caetanos, Cândido Sales, Caraíbas, Cravolândia, Encruzilhada, Firmino

Alves, Macarani, Maiquinique, Manoel Vitorino, Maracás, Mirante, Nova Canaã, Planaltino, Planalto, Poções,

Ribeirão do Largo, Santa Inês, Potiraguá, Alves, Ibicuí, Iguaí, Irajuba, Itambé, Itapetinga,Itaquara, Itarantim,

Itiruçu, Itororó, Jaguaquara, Jequié, Lafayette Coutinho,Lagedo do Tabocal, Tremedal e Vitória da Conquista

(que é classificado como centro sub-regional muito importante).

http://veranilzabr.blogspot.com/2009/01/apresentando-regio-sudoeste-da-bahia.html. 63http://veranilzabr.blogspot.com/2009/01/apresentando-regio-sudoeste-da-bahia.html 64 “O Decreto nº 16.722, de 12 de maio de 2016 redefine os núcleos conforme alterações nos Territórios e o

Decreto nº 17.377, de 01 de fevereiro de 2017, redefine a nomenclatura para Núcleos Territoriais de Educação.”

https://www.sei.ba.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2598&Itemid=660.

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Itambé, Itapetinga, Itarantim, Itororó, Macarani, Maiquinique, Nova Canaã, Potiraguá e Santa

Cruz da Vitória65.

Figura 09 - Mapas da mesorregião e microrregiões do estado da Bahia.

Fonte: https://www.researchgate.net/figure/Figura-1-Mesorregioes-e-Microrregioes-do-Estado-da-

Bahia_fig1_323216778.

65http://www.seplan.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=17;

https://www.sei.ba.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2598&Itemid=660

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Figura 10 - Mapa dos Territórios de Identidade da Bahia.

Fonte: http://www.seplan.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=17.

A fundação, emancipação do município de Itapetinga data de 12 de dezembro de 1952

(66 anos). Nas décadas de 1980 e 1990 era conhecido como “a capital da pecuária”, pois

possuía um dos maiores rebanhos bovinos da região nordeste do Brasil. Atualmente, a

pecuária bovina não tem mais a força e a prevalência do passado, porém ainda se constitui

uma de suas principais atividades econômicas, concomitantemente ao lado das indústrias e do

comércio que se instalaram e ganharam espaço na região. A instalação de frigoríficos,

indústrias de laticínios, de calçados e serviços mudaram o cenário econômico de Itapetinga.

Dos 417 municípios na Bahia, Itapetinga hoje é considerada uma das cidades mais

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industrializadas e urbanas, pois 97% da sua população moram na área urbana e 3% no campo.

Itapetinga possui aproximadamente 30 bairros, e dois distritos (Bandeira do Colônia e o

povoado de Palmares).

Na área educacional, Itapetinga possui escolas da rede municipal, rede estadual, um

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IF Baiano), conta com um dos Campis

da UESB. Além disso, são ofertados cursos de Ensino à distância – EAD (Universidade Norte

do Paraná-Unopar, Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC, Centro Universitário de

Maringá-UniCesumar). De acordo com o IBGE66, a taxa de escolarização de 6 a 14 anos de

idade é de 96,8% comparado a outros municípios no Brasil, o IDEB dos anos iniciais do

ensino fundamental da rede pública no ano de 2017 foi de 4,5 e dos anos finais 3,6.

5.3. Participantes da pesquisa e Diagnóstico inicial

Como já referido anteriormente, para realização de nosso estudo, observamos 425

questionários aplicados durante a pesquisa da UFRB, que foram respondidos

(espontaneamente) por docentes das escolas privadas, SESI e da rede pública de ensino, no

ano de 2018. Dentre esses questionários optamos por excluir aqueles que foram respondidos

por docentes das escolas privadas e SESI, pois não se tratavam do foco de nossa pesquisa

(rede pública de ensino); e aqueles que trabalhavam no setor público nos distritos (Bandeira

do Colônia e Palmares) e da zona rural, devido a dificuldade de acesso caso estes fossem

escolhidos e aceitassem serem os professores/participantes da pesquisa, restando então

231questionários (158 Município, 64 estado, 09 IF-Baiano), a serem analisados.

Destacamos ainda que elegemos os docentes da rede pública de ensino, devido às

especificidades das demandas e condições de trabalho estudadas durante o curso de mestrado.

Os professores da rede pública de ensino enfrentam especificidades no contexto e sistema

educacional brasileiro que ao longo dos anos intensificou a precarização do trabalho docente,

e consequentemente interferiu na saúde deste profissional da Educação.

Cabe lembrar que os professores que atuam na rede privada vivenciam algumas

diferenças com relação ao contexto escolar no qual estão inseridos, e também estão

suscetíveis ao adoecimento mental, talvez em decorrência de outros fatores e demandas, seja

por pressões e cobranças por parte da direção ou das famílias, ou ainda por não “poderem” se

ausentar da sala de aula para tratamento adequado, etc.

66https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ba/itapetinga/panorama.

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Dentre 231 questionários (UFRB), identificamos que 58 (25,10%) desses professores

haviam mencionado terem sido acometidos por algum tipo de adoecimento mental/transtornos

mentais e comportamentais durante a carreira profissional docente, seguidos ou não de

afastamento de suas atividades laborais, sendo os mesmos escolhidos para estudo. Para a

identificação desses docentes consideramos a seguinte pergunta do questionário da UFRB67:

Quadro 08 - Questão escolhida para seleção dos questionários a serem analisados nesta

pesquisa (PPGED/UESB).

De posse desses questionários (58), selecionamos 03 professores, um de cada instância

federativa (municipal, estadual e federal), que sinalizaram adoecimento mental/transtorno

mental e comportamental (CID F00 à F99), que haviam se afastado de suas atividades laborais

por um período maior de tempo, em decorrência desse tipo de adoecimento por meio de

atestados, relatórios/laudos de profissionais da área médica ou da psicologia.

Não participaram deste estudo/pesquisa professores (as) que se afastaram do trabalho

docente por motivos de adoecimento físico (somente) tais como: acidentes, cirurgias, licença

maternidade, problemas osteomusculares, respiratórios, de tecido conjuntivo, ou qualquer

outro tipo de adoecimento que não se refira ao adoecimento mental.

Após a seleção destes questionários, a equipe de pesquisadores da UFRB se

disponibilizou a realizar contato com esses docentes, convidando-os para participarem desta

pesquisa (UESB). Dos 03 docentes só foi possível estabelecer contato e permissão de 02, uma

professora da rede municipal e um professor do IF Baiano. Apesar de várias tentativas não

conseguimos encontrar ou nos comunicar com a docente da rede estadual, todavia, utilizamos

alguns dados do questionário da UFRB, respondido pela mesma no ano de 2018.

Sendo assim, analisamos o questionário da UFRB da professora da rede estadual; os

questionários da UFRB, UESB, e CIP dos professores da rede municipal e do IF-Baiano.

Estes 03 docentes chamamos de professores/participantes da pesquisa. Durante a discussão de

resultados e análise de dados escolhemos nomes fictícios, de pedras preciosas, para nos

67Ver Anexo C

Já foi acometido por alguma doença no período da carreira docente? (Lesão por

esforço repetitivo, AVC, Depressão, Cansaço extremo, estresse, Câncer,síndrome do

pânico, problemas de circulação, etc.)

( ) Não ( ) Sim, especifique quais: ____________________________________________

Precisou se afastar de suas atividades laborais? ( ) Não ( ) Sim: por quanto tempo?______

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referirmos a esses 03 docentes. A professora da rede municipal colocamos o nome Jade, a

estadual Safira e o professor do IF Baiano Âmbar.

5.4 Instrumentos da pesquisa e procedimentos para coleta de dados

Para a realização desta pesquisa, foram utilizados os seguintes instrumentos:

questionários da UFRB68 aplicado com docentes da Educação Básica, da rede pública de

ensino, no município de Itapetinga-BA, no ano de 2018; questionário da UESB69 , Conversas

Interativo-Provocativas (CIPs)70 e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)71

com os 02 professores/participantes da pesquisa.

O questionário da UESB e a CIP, respondido pelos professores/participantes da

pesquisa, buscaram obter dados mais detalhados a respeito do trabalho docente e adoecimento

mental; tipo de transtorno mental e comportamental; fatores e demandas que contribuíram

para o adoecimento; sinais e sintomas de adoecimentos mental; tratamento médico e

psicológico; e as possíveis implicações para a carreira profissional docente.

5.4.1 Questionários

De acordo com Bahia, Janissek e Lozado (2018) questionários são instrumentos

utilizados tanto na abordagem quantitativa quanto na qualitativa, para coletar dados que serão

analisados posteriormente. Os mesmos são compostos por um conjunto de questões escritas,

que podem ser aplicados a apenas um sujeito ou vários sujeitos, e podem suscitar respostas

abertas72, fechadas73 ou em escala de Likert74. De acordo com Andrade (2009) o questionário

é um instrumento útil para coleta de dados, sendo baseado em perguntas ordenadas que devem

ser respondidas por escrito, podendo ou não ter a presença do pesquisador.

Com o objetivo de coletar informações a respeito do perfil, formação, trabalho

docente, sintomas relacionados ao adoecimento mental, e carreira profissional dos docentes

68 Ver Anexo C 69Ver Apêndice B 70 Ver Apêndice C 71 Ver Apêndice A 72 “Cada respondente trará respostas diferentes que depois deverão ser agrupadas e categorizadas [...]” (BAHIA;

JANISSEK; LOSADO, 2018, p. 68). 73 Também conhecida por tipo de resposta dicotômica. Exemplo de respostas: sim / não (BAHIA; JANISSEK;

LOSADO, 2018, p. 68). 74 Exemplo de respostas: discordo totalmente, discordo parcialmente, nem concordo nem discordo, concordo

parcialmente, concordo totalmente (BAHIA; JANISSEK; LOSADO, 2018, p. 68).

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utilizamos alguns dados do questionário da UFRB75 aplicado com professores de escolas

privadas, SESI e da rede pública de ensino (municipal, estadual e federal) no município de

Itapetinga-BA. É pertinente mencionar que usamos apenas informações que apresentaram

relação com nosso objeto de estudo nesta pesquisa de mestrado (UESB/PPGED).

Para o alcance de nossos objetivos construímos um questionário (UESB)76 para ser

aplicado com os 03 professores/participantes da pesquisa77, além das Conversas Interativo-

Provocativas (CIP)78, as quais serão explicadas mais adiante. Esse questionário (UESB)

objetivou investigar dados sócio demográficos, laborais, adoecimento mental, incluindo

informações sobre diagnóstico de transtornos mentais e comportamentais, acompanhamento e

tratamento médico e psicológico, e a relação com carreira profissional desses docentes.

5.4.2 Conversa Interativo-Provocativa (CIP)

Como foi referido, além dos questionários da UFRB e da UESB, foi necessário a

realização de Conversas Interativo-Provocativas (CIP)79 com os professores/participantes da

pesquisa. Essa CIP buscou averiguar e entender o processo de adoecimento mental, sua

relação com o trabalho docente e as implicações para a carreira profissional.

A CPI é um recurso técnico que pode ser utilizado em pesquisas para produção de

dados, e tem por finalidade facilitar a interação dos sujeitos/participantes da pesquisa. Essa

técnica foi desenvolvida por Nunes (2011) que se baseou no autor González Rey (2005) e os

princípios da epistemologia qualitativa. O referido autor destaca que os sistemas

conversacionais possibilitam uma integração dinâmica, um diálogo natural e autêntico sobre a

temática abordada construindo dessa maneira um tecido de informação importante

(GONZÁLEZ REY, 2005, p. 45, grifo do autor).

Apesar de ser um instrumento que demanda a maior naturalidade possível, que

proporciona aos sujeitos se expressarem com espontaneidade, necessita de estruturação,

intencionalidade e um roteiro a seguir que deve estar baseado de acordo com os objetivos

propostos na pesquisa.

Nessa técnica, o pesquisador não é apenas um sujeito passivo, ele se torna também um

participante da pesquisa, frente a necessidade de interação entre os envolvidos. Durante esse

75Ver Anexo C 76 Ver Apêndice B 77 Selecionados a partir de informações coletadas no questionário da UFRB. 78Ver Apêndice C 79 Ver Apêndice C

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envolvimento e conversação, os sujeitos podem trazer informações relevantes para o estudo e

pesquisa. Faz-se mister entender que a conversa deve proporcionar aos sujeitos liberdade para

se expressar a respeito do assunto abordado pelo pesquisador. Nunes (2010) ressalta que é

preciso ter muito cuidado com as interrupções, a CIP deve fluir com leveza e ao mesmo

tempo o pesquisador precisa estar atento para provocar e interpretar as informações advindas,

além disso, também devem ser consideradas as expressões não verbais (gestos e as emoções)

dos sujeitos/participantes.

As CIP podem ser utilizadas a depender dos comentários emitidos pelos

sujeitos/participantes, e a necessidade de expressar-se livremente sua forma de entender ou

perceber os fenômenos estudados. Segundo Nunes (2010), “[...] os sujeitos da pesquisa se

expressam não por conta da pressão do pesquisador ou dos instrumentos de coleta de dados,

mas por vontade ou necessidade pessoal de manifestar sua posição em relação ao objeto de

estudo” (NUNES, 2010, p. 55).

Nunes esclarece que ao utilizar esse instrumento pode acontecer dos

sujeitos/participantes demonstrarem falta de interesse sobre a temática abordada ou

dificuldades para se expressarem verbalmente. Sendo assim, o pesquisador precisa envolver

de forma criativa esse sujeito na conversação/diálogo, sem pressioná-lo e se ainda os sujeitos

revelarem alguma resistência, deve-se respeitá-lo e deixá-los a vontade para desistirem de sua

participação na pesquisa.

5.5. Técnica de análise de dados

Para tal, utilizaremos como técnica de análise de dados, a análise de conteúdo definida

no meio acadêmico entre as décadas de 40 e 50, que obteve destaque através dos estudos e

publicações de Laurence Bardin no final dos anos de 1970, configurando-se uma técnica

utilizada em diferentes campos de pesquisa (CÂMARA, 2013). Bardin (2011) define análise

de conteúdo como:

Um conjunto ele técnicas de análise das comunicações visando obter por

procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das

mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de

conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis

inferidas) destas mensagens. Pertencem, pois, ao domínio da análise de

conteúdo, todas as iniciativas que, a partir de um conjunto de técnicas

parciais mas complementares, consistam na explicitação e sistematização do

conteúdo das mensagens e da expressão deste conteúdo, com o contributo de

índices passíveis ou não de quantificação, a partir de um conjunto de

técnicas, que embora parciais, são complementares. Esta abordagem tem por

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finalidade efetuar deduções lógicas e justificadas, referentes à origem das

mensagens tomadas em consideração (o emissor e o seu contexto, ou,

eventualmente, os efeitos dessas mensagens). O analista possui à sua

disposição (ou cria) todo um jogo de operações analíticas, mais ou menos

adaptadas à natureza do material e à questão que procura resolver. Pode

utilizar uma ou várias operações, em complementaridade, de modo a

enriquecer os resultados, ou aumentar a sua validade, aspirando assim a uma

interpretação final fundamentada. Qualquer análise objetiva procura

fundamentar impressões e juízos intuitivos, através de operações

conducentes a resultados de confiança. Para completar a definição, falta-nos

delimitar o seu campo de ação em comparação com as ciências conexas.

(BARDIN, 2011, p. 42-43, grifos da autora)

A análise de conteúdo pode ser aplicada em diversas formas de comunicação,

incluindo entrevistas, questionários, formulários, etc. Nessa técnica o pesquisador/analista

busca entender o que está por detrás dos discursos/falas dos sujeitos ou grupos, os

significados, as mensagens não ditas.

De acordo com Bardin (2011) a análise de conteúdo está dividida em três fases: pré-

análise, exploração do material e tratamento dos resultados (inferências e interpretações). A

primeira fase, a pré-análise, pode ser entendida como uma etapa de organização,

sistematização das ideias, que engloba a leitura “flutuante”, os primeiros contatos com os

documentos que serão analisados. Quando acontece a formulação das hipóteses e objetivos, e

a construção dos indicadores que nortearão a interpretação do material, obedecendo as regras

de exaustividade (esgota-se a totalidade da comunicação, sem omissões); representatividade

(a amostra precisa representar um todo); homogeneidade (os dados devem referir-se ao

mesmo assunto, e técnicas); pertinência (os documentos devem estar coerentes ao conteúdo e

objetivos) e exclusividade (determinado dado só deve ser classificado em uma categoria).

A segunda fase, a exploração do material e tratamento dos dados, é a fase de

codificação (escolha de registros, recorte, edição, agregação, regras de contagem),

classificação (escolha de temas, agrupamento de sentido de palavras, escrita, etc.) e

categorização dos dados (esquematização de dados; correlacionalização e ordenação). Trata-

se de uma fase que demanda tempo, muita atenção e concentração. Essa fase, fundamenta-se

no referencial teórico e também nas falas/registros dos participantes ou sujeitos da pesquisa,

conduzirá o pesquisador/analisador à confirmação ou não das hipóteses antes formuladas. Os

assuntos/temas que se repetem são editados, comparados e categorizados, sendo essa

organização realizada geralmente em forma de colunas/quadros. Essas categorias podem ser

criadas a priori (a parti da fundamentação teórica) ou a posteriori (após a coleta dos dados da

pesquisa) (BARDIN, 2011).

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A terceira fase, o tratamento dos resultados (inferências e interpretações), baseia-se

nos resultados/dados das pesquisas, nas induções e análise de todo material coletado

(BARDIN, 2011). Segundo a autora, nessa etapa da análise:

Os resultados brutos são tratados de maneira a serem significativos (falantes)

e válidos. Operações estatísticas simples (percentagens), ou mais complexas

(análise fatorial), permitem estabelecer quadros de resultados, diagramas,

figuras e modelos, os quais condensam e põem em relevo as informações

fornecidas pela análise. [...] O analista, tendo à sua disposição ·resultados

significativos e fiéis, pode então propor inferências e adiantar interpretações

a propósito dos objetivos previstos, ou que digam respeito a outras

descobertas inesperadas. (BARDIN, 2011, p. 101)

O pesquisador precisa relacionar a fundamentação teórica aos dados coletados, ele faz

sua análise interpretando o conteúdo expresso e não expresso pelos sujeitos/participantes da

pesquisa. O pesquisador precisa buscar compreender o que está por detrás do conteúdo

manifesto, os conceitos, seus significados e sentidos, as causas, e variáveis, deve sair da

superficialidade, portanto, trata-se então de uma análise subjetiva.

Assim, os dados da pesquisa foram coletados através dos instrumentos já citados e

houve, para análise, o cruzamento dos dados. Desta forma, para conhecermos as implicações

que os transtornos mentais e comportamentais podem ocasionar para a carreira profissional

docente, em professores que atuam na Educação básica, na rede pública de ensino, foi

necessário selecionarmos o corpus da pesquisa (parte de interseção entre os círculos),

conforme visualizado abaixo:

Figura 11 - corpus da pesquisa.

Fonte: Dados da pesquisa.

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Mediante os dados obtidos nesse estudo, foi possível delimitar um corpus que gerou

três categorias, sendo: 1) fatores e demandas que contribuíram para o adoecimento

mental/transtornos mentais e comportamentais; 2) Sinais e sintomas de adoecimento mental

em professores; 3) transtornos mentais e comportamentais em professores e as implicações

para a carreira profissional docente, as quais serão esplanadas na seção 6: Resultados e análise

de dados.

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95

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS

Neste capítulo expomos os dados coletados através dos instrumentos da pesquisa

realizado no âmbito do PPGED/UESB: questionários e CIPs, aplicados com docentes da

Educação Básica, da rede pública de ensino do município de Itapetinga-BA, e informações

adicionais fornecidas por meio do questionário da UFRB aplicado aos docentes da rede

pública do mesmo município no ano de 2018. Como já informado anteriormente, analisamos

os dados pela perspectiva da análise de conteúdo de Bardin (2010), muito utilizada nos

campos da saúde e psicologia, nos baseando nas informações coletadas e no referencial

teórico que fundamentou este estudo e pesquisa.

Nesta pesquisa, nos preocupamos em entender o que está por detrás de determinado

fenômeno, neste caso, o adoecimento mental, o acometimento de Transtornos Mentais e

Comportamentais em professores que atuam na Educação Básica, na rede pública de ensino.

Ampliar a compreensão da realidade vivida por estes sujeitos e como eles percebem o

fenômeno estudado, e o entendimento sobre questões subjetivas, fatores e demandas que

envolvem esse tipo de adoecimento e, por conseguinte, o que acontece com a carreira

profissional desses docentes que são acometidos por transtornos mentais e comportamentais.

Dos 231 docentes que atuam na Educação Básica, na rede pública de ensino, no

município de Itapetinga-BA (158 professores da rede municipal, 64 da rede estadual e 09 do

IF-Baiano), que responderam o questionário da UFRB, 25,10% (58) afirmaram terem sido

acometidos por algum tipo de adoecimento mental durante a carreira profissional docente (41

docentes da rede municipal, 14 da rede estadual e 03 do IF-Baiano). Os dados obtidos nesse

estudo possibilitaram a construção de um corpus que gerou três categorias, sendo: 1) fatores e

demandas que contribuíram para o adoecimento mental/transtornos mentais e

comportamentais; 2) Sinais e sintomas de adoecimento mental em professores; 3) transtornos

mentais e comportamentais em professores e as implicações para a carreira profissional

docente. Logo abaixo, apresentamos o perfil/caracterização dos docentes que foram

acometidos pelo adoecimento mental/transtornos mentais e comportamentais, e a análise

destas categorias, que nos permitiu responder os objetivos desta pesquisa.

6.1. Perfil sociodemográfico dos docentes que atuam na Educação Básica, na rede

pública de ensino, que foram acometidos pelo adoecimento mental

Nosso estudo se trata, portanto, da análise de 58 questionários (UFRB), respondidos

por docentes, que atuavam na Educação Básica, na rede pública de ensino, no município de

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Itapetinga-BA, que referiram terem sido acometidos por algum tipo de adoecimento mental.

Segue um quadro com a caracterização desses professores de acordo com cada instância

governamental:

Quadro 09 - Perfil sociodemográfico dos 58 professores que foram acometidos por adoecimento

mental, de acordo com cada instância governamental (Itapetinga-BA).

PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO

(DE ACORDO COM CADA INSTÂNCIA GOVERNAMENTAL)

Rede de ensino

Professores da rede

municipal

Professores da rede

estadual

IF-Baiano

Sexo Feminino = 37 Feminino = 12 Feminino = 02

Masculino = 04

Masculino = 02 Masculino = 01

Faixa etária Entre 18 e 70 anos Entre 30 e 70 anos Entre 30 e 59 anos

Nível de

escolaridade

Superior incompleto = 01 Superior incompleto = 00 Superior incompleto =

00

Superior completo = 40 Superior completo = 14 Superior completo = 03

Especialização = 33 Especialização = 12 Especialização = 01

Mestrado completo = 02

Mestrado completo = 02 Mestrado completo = 02

Situação

funcional

Efetivo = 33 Efetivo = 10 Efetivo = 03

Contrato = 08 Contrato = 02 Contrato = 00

Não respondeu = 00 Não respondeu = 02

Não respondeu = 00

Período da

carreira

Iniciação = 05 Iniciação = 01 Iniciação = 01

Variação = 03 Variação = 01 Variação = 01

Examinação = 06 Examinação = 01 Examinação = 00

Serenidade = 09 Serenidade = 00 Serenidade = 01

Finalização = 10 Finalização = 04 Finalização = 00

Acima de 25 anos de

docência = 04

Acima de 25 anos de

docência =

04

Acima de 25 anos de

docência = 00

Acima de 30 anos de

docência = 01

Acima de 30 anos de

docência = 01

Acima de 30 anos de

docência = 00

Não respondeu = 03

Não respondeu = 03

Não respondeu = 00

Fonte: Dados da pesquisa.

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Quadro 10 - Perfil sociodemográfico dos 58 professores que foram acometidos por adoecimento

mental (Itapetinga-BA). PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO

(GERAL)

Sexo

Feminino 51 87,93%

Masculino

07 12,06%

Faixa etária Entre 18 e 70 anos

Nível de escolaridade

Superior incompleto 01 1,72%

Superior completo 57 98,27%

Especialização 46 79,31%

Mestrado completo

06 10,34%

Situação funcional Efetivo 46 79,31%

Contrato

10 17,24%

Período da carreira

Iniciação 06 10,34%

Variação 05 8,62%

Examinação 07 12,06%

Serenidade 10 17,24%

Finalização 14 24,13%

Acima de 25 anos de docência 08 13,79%

Acima de 25 anos de docência 02 3,44%

Não responderam 06 10,34%

Fonte: Dados da pesquisa.

Neste quadro, podemos observar que dentre 58 docentes -que atuam na Educação

Básica, na rede pública de ensino do município de Itapetinga-BA, que citaram terem sido

acometidos pelo adoecimento mental - 70,68% trabalhavam na rede municipal, 24,13% na

rede estadual, e 5,17% no IF Baiano. Sendo 87,93% do sexo feminino e 12,06% do sexo

masculino, entre a faixa etária de 18 à 70 anos. Entre esses docentes, 79,31% são efetivos e

17,24% contratados, 3,44% não responderam; 1,72% possuem nível superior incompleto,

98,27% superior completo, 79,31% curso de especialização, 2 10,34% mestrado completo.

Com relação ao período da carreira profissional docente (FERREIRA, 2014), 10,34% estão na

iniciação; 8,62% variação; 12,06% examinação; 17,24% serenidade; 24,13% finalização;

13,79% acima de 25 anos; 3,44% acima de 30 anos; e 10,34% não responderam.

Frente a esses dados observamos que a maior quantidade de professores adoecidos foi

da rede municipal (70,68%), o que pode ser justificado também pelo fato de a quantidade de

profissionais que responderam ao questionário da UFRB, nessa instância governamental

também foi maior (158 professores da rede municipal, 64 da rede estadual e 09 do IF Baiano).

Também é possível perceber que a maioria desses docentes/sujeitos são do sexo

feminino (87,93%), o que nos leva a pensar na questão da feminização da docência, a

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porcentagem de mulheres que lecionam, principalmente na Educação Básica são mulheres.

Além disso, há de se considerar os diversos papéis, funções e atribuições socioculturais

impostas ao gênero feminino. As mulheres ainda vivem em um contexto machista, que delega

cruelmente diversas e simultâneas responsabilidades. A elas cabem trabalhar fora de casa,

exercendo papel de profissional; ao retornar da jornada de trabalho, essa professora se depara

com atividades domésticas (lavar, passar, cozinhar, arrumar a casa, etc.), as quais muitas

vezes só são realizadas pelas mesmas sem ajuda de seus parceiros ou terceiros. Existe ainda o

papel materno, o cuidado com os filhos, que infelizmente em nossa cultura é vivenciado de

forma mais intensa do que a paternidade, acaba por cobrar mais responsabilidades por parte

da mãe do que do pai. Fora isso existe as questões biológicas e hormonais que irão influenciar

também o estado de humor e comportamento feminino, por conseguinte, poderão agravar

sintomas de adoecimento mental.

Outra questão interessante de destacar é que o grau de escolaridade dos docentes que

vivenciaram o adoecimento mental quase em sua totalidade (98,27%) é o nível superior

completo e 79,31% haviam realizado curso de especialização, ou seja, entre os

professores/sujeitos estudados nessa pesquisa o baixo nível de escolaridade não foi sinalizado.

O que nos faz acreditar que entre essa categoria de trabalhadores o grau de instrução

acadêmica/nível de escolaridade alto não impede que o adoecimento mental/transtornos

mentais e comportamentais se instalem. Sendo assim, voltamos à inferir que o tipo de

trabalho; as exigências; demandas; cobranças; a flexibilização, a intensificação e a

precarização do trabalho docente pode ter sido um dos fatores principais para o

desenvolvimento desse tipo de adoecimento.

Em nosso estudo também notamos que 41,36% dos docentes acometidos pelo

adoecimento mental/transtornos mentais e comportamentais se encontravam no período de

finalização, ou já haviam ultrapassado o tempo de docência estimado para essa categoria de

trabalhadores (25 anos para mulheres e 30 anos para os homens), sendo que 17,23% desses

deveriam estar aposentados e/ou afastados da sala de aula. Contudo, ainda estavam exercendo

a docência, quiçá por escolha própria (por não querer parar de trabalhar, ou sentir prazer no

que faz), ou porque o valor da aposentadoria nessa categoria de trabalhadores não é o

suficiente para a uma sobrevivência digna, capaz de arcar com suas despesas pessoais e

familiares.

Segue abaixo um quadro com a caracterização/perfil dos 03 professores/participantes

da pesquisa.

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Quadro 11- Caracterização/perfil dos professores participantes da pesquisa. PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO DOS 03 PROFESSORES/PARTICIPANTES DA PESQUISA

Rede de ensino Município Estado IF Baiano

Nome fictício Jade Safira Âmbar

Sexo Feminino Feminino Masculino

Idade 54 não informado 32

Nível de escolaridade Superior completo

Especialização

Mestrado incompleto

Superior completo

Especialização

Superior completo

Mestrado completo

Carga horária

semanal

40 h 40 h 40 h com Dedicação

Exclusiva

Situação funcional Efetivo Efetivo Efetivo

Nível de ensino em

que atua

Anos Finais do Ensino

Fundamental

Ensino Médio Ensino Médio e Técnico

Período da carreira Acima de 25 anos de

docência

Finalização Iniciação

Fonte: Dados da pesquisa.

Em síntese podemos observar que esses 03 professores/participantes da pesquisa são

colaboradores efetivos; têm entre 32 e 54 anos; 02 docentes são do sexo feminino e 01 do

sexo masculino; 01 professora (Jade) atua nos anos finais do ensino fundamental e 02

professores (Safira e Âmbar) no ensino médio e técnico; os 03 professores trabalham 40 horas

semanais; 02 docentes tem curso de especialização (Jade e Safira), sendo que a primeira está

cursando mestrado, e o professor Âmbar já tem o título de mestre. A professora Jade possui

aproximadamente 27 anos de docência (ultrapassando o período de finalização), a docente

Safira encontra-se no período de finalização, e o professor Âmbar está no período de iniciação

da carreira profissional docente.

6.2. Fatores e demandas que contribuíram para o aparecimento de transtornos mentais

e comportamentais

Nesta categoria trazemos todos os fatores e demandas (aspectos que envolvem o

trabalho docente, questões particulares e de hereditariedade) em comuns, sinalizados pelos

docentes que foram acometidos pelo adoecimento mental, capazes de influenciar esse tipo de

adoecimento. Reafirmando a ideia de que nada acontece de forma isolada, não há apenas um

aspecto envolvido no processo de adoecimento, mas sim um conjunto de fatores que

favorecem o aparecimento e se transformam em sintomas, que, por conseguinte, podem

ocasionar o desenvolvimento de transtornos mentais e comportamentais.

Entretanto, vale destacar que as questões relacionadas à docência, ao trabalho que

desenvolvem, as demandas e desafios do oficio, foram as mais citadas entre docentes

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pesquisados. Assim, ratificamos todas as discussões elencadas durante o texto, e entendemos

que ser professor implica em certas especificidades, diferentes de outras profissões, seja pelo

público e quantidade e pessoas que atendem, pelo ambiente de trabalho, responsabilidades,

excesso de atividades (que geralmente levam para casa), e também por todo o contexto

político-social no qual estão inseridos.

Seguem abaixo um quadro com os fatores e as demandas citadas pelos 58 professores

que podem estar relacionadas ao adoecimento mental desses sujeitos/professores.

Quadro 12 - Fatores e demandas citados pelos 58 professores. FATORES E DEMANDAS QUE CONTRIBUÍRAM PARA O APARECIMENTO DE ADOECIMENTO

MENTAL E TRANSTORNOS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS EM PROFESSORES

Questões hereditárias e

genéticas

• Adoecimento mental ou transtornos psíquicos na família de origem,

inclusive com tentativa de suicídio

Questões relacionadas ao

trabalho docente -desafios

e dificuldades da docência

• Aumento ou excesso de carga horária na jornada de trabalho;

• Mudança de local de trabalho;

• Falta de estrutura física e funcional;

• Violência no contexto escolar;

• Falta de inovação;

• Falta de apoio por parte da gestão escolar;

• Falta de equipe multidisciplinar;

• Inclusão;

• Falta de tempo para planejamento;

• Salas superlotadas;

• Limitações por questões psicológicas, emocionais e mentais dos

professores;

• Limitações por questões de saúde do professor;

• Indisciplina e desrespeito dos alunos;

• Falta de compromisso e participação das famílias dos alunos

• Dificuldade de aprendizagem por parte dos alunos;

• Remuneração digna;

• Desvalorização e o não reconhecimento do trabalho do professor;

• Falta de interesse por parte dos alunos;

• Diversidade de alunos;

• Falta de meta pedagógica;

• Dificuldade para desenvolver ações coletivas;

• Desvio/reassunção/readaptação de função;

• Descaso com o professor;

• Cansaço mental;

• Perseguição política;

• Mudança de disciplina;

• Superlotação de salas;

• Condições de trabalho inadequadas

• Relacionamentos interpessoais/colegas de trabalho

Situações envolvendo

questões pessoais, sociais,

familiares e de saúde geral

• Falecimento de entes queridos;

• Adoecimento mental;

• Adoecimento físico;

• Mudança de cidade;

• Nascimento de filhos;

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• Separação conjugal;

• Gestação interrompida;

• Aborto;

• Casamento;

• Saída de filhos do ambiente familiar;

• Conciliação entre estudos e trabalho

Fonte: Dados da pesquisa.

Em seguida, no quadro 13 são expostos os fatores e demandas mencionados pelos 03

professores/participantes da pesquisa, que foram acometidos por transtornos mentais e

comportamentais.

Quadro 13 - Fatores e demandas citados pelos 03 professores/participantes da pesquisa. FATORES E DEMANDAS QUE CONTRIBUÍRAM PARA O APARECIMENTO DE ADOECIMENTO

MENTAL E TRANSTORNOS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS EM PROFESSORES

Questões hereditárias e

genéticas

• Adoecimento mental ou transtornos psíquicos na família de origem

Questões relacionadas ao

trabalho docente -

desafios e dificuldades da

docência

• Aumento ou excesso de carga horária na jornada de trabalho;

• Cansaço;

• Falta de equipe multidisciplinar;

• Indisciplina, desinteresse e desrespeito por parte dos alunos;

• Falta de compromisso e participação das famílias com a vida escolar

dos alunos;

• Diversidade de alunos e o processo de inclusão;

• Dificuldade de aprendizagem por parte dos alunos;

• Desvalorização, descaso e o não reconhecimento do trabalho do

professor;

• Relacionamentos interpessoais/colegas de trabalho

Situações envolvendo

questões pessoais, sociais,

familiares e de saúde geral

• Falecimento de entes queridos;

• Adoecimento mental;

• Adoecimento físico;

• Mudança de cidade;

• Distância da família;

• Separação conjugal;

• Gestação interrompida;

• Conciliação entre estudos e trabalho

Fonte: Dados da pesquisa.

Ao longo da análise de dados também observamos algumas contradições expressas por

esses docentes a respeito da relação entre diversos aspectos da vida e o processo de

adoecimento. Em algumas de suas falas, por vezes afirmaram que questões particulares, de

cunho pessoal, familiar e afetivo não influenciaram ou interferiram no desenvolvimento de

seu trabalho, em outros momentos indicaram que o falecimento de entes queridos;

adoecimento mental e físico; mudança de cidade; gestação interrompida; distância da família;

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e conciliação entre estudos e trabalho (situações que não estavam relacionadas ao trabalho

docente), influenciaram negativamente no desenvolvimento sua prática profissional. Ou seja,

ainda existe por parte dos docentes um processo de negação, falta de informações e

esclarecimentos, ou mesmo reflexões mais profundas a respeito do processo de adoecimento

mental e suas causas.

A respeito dos fatores e demandas que podem levar os professores ao adoecimento

mental, assim como professor Âmbar, também acreditamos que não seja apenas questões

relacionadas ao trabalho docente que propicio esse tipo de adoecimento, mas questões de

ordem pessoal e a forma como o professor/sujeito irá lidar com as diversas situações da vida e

do trabalho (juntamente), interferirão em sua saúde e adoecimento mental. De acordo com ele:

[...] em qualquer outro trabalho a pessoa está sujeita a adoecer. No caso

desse tipo de doença, do transtorno mental e comportamental, está sujeito a

isso, principalmente por trabalhar com um número grande de pessoas, mas

tudo é uma questão pessoal também, que envolve a pessoa, o que ela está

passando e como ela está lidando com as questões do trabalho [...].

(Professor Âmbar)

Os docentes estudados citaram situações específicas que envolvem seu cotidiano

escolar. Essas são demandas oriundas do tipo de trabalho que desenvolvem e do público que

atendem, e aspectos da vida pessoal, familiar, afetiva e social, que podem levar ao

adoecimento mental, e ao acometimento de transtornos mentais e comportamentais, que

também são capazes de prejudicar significativamente toda a vida desses professores/sujeitos,

inclusive a área profissional.

Dentre os fatores e demandas que podem ter contribuído para o surgimento do

adoecimento mental, referidos pelos 58 docentes, está à hereditariedade, pois 24% deles

informaram que haviam casos de adoecimento mental/transtornos psíquicos na família de

origem, 15% não responderam e 60% afirmaram não ter familiares com esse tipo de

adoecimento. Esse é um tipo de dado que não devemos desconsiderar, pois como já discutido

na sessão acerca dos transtornos mentais e comportamentais, sabemos que fatores endógenos,

genéticos e hereditários influenciam para o aparecimento do adoecimento mental.

Apesar de não ser um determinante, pessoas que têm um histórico familiar de

adoecimento mental têm uma predisposição maior de apresentarem esse tipo de adoecimento

(DALGALARRONDO, 2019). Tomando como base os elementos fornecidos pelos 03

professores/participantes da pesquisa, todos mencionaram ter casos de adoecimento

mental/transtorno psíquico na família de origem.

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Entre os principais desafios e dificuldades expostos por esses docentes, encontram-se

também: as dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos alunos que vão se acumulando

ao longo de anos; a diversidade e particularidades de centenas de alunos, os quais lidam todos

os dias, em diferentes anos e turmas; e o processo de inclusão. Os professores queixaram-se

da falta de suporte por parte do poder público com relação ao processo de inclusão, e a

escassez de uma equipe multidisciplinar. De acordo com a professora Jade:

[...] nós temos agora que abarcar com a clientela da inclusão e não temos

nenhuma orientação formal sobre isso. Simplesmente nós recebemos o aluno

em sala de aula e temos que nos virar... é só palestra... eu tenho uma aluna

que é copista, ele não ler nada... eu faço o que com essa aluna/ eu posso

fazer que tipo de atividade com ela? Eu não tenho prática, nunca ninguém

me respondeu. Então é partir por contra própria, buscar na internet... os

alunos são jogados na sala de aula... a gente não tem suporte pedagógico,

suporte legal para lidar com esses alunos... na graduação você tem uma

disciplina que é educação especial [...]. (Professora Jade)

Percebemos na fala dessa professora (Jade) que há uma cobrança para que se dê

atenção a esse público, contudo, o suporte fornecido é apenas teórico, na prática essa atenção

é extremamente difícil. Também observamos que existe uma brecha nos cursos de

licenciatura, pois estes não têm dado conta de abordar com eficácia a temática em questão, o

que ocasiona lacunas na formação. Os futuros docentes que estão em sala de aula muitas

vezes apresentam dificuldades para atuarem com a diversidade de alunos e o processo de

inclusão. Isso acaba sendo um problema tanto para os alunos que não têm uma devida

assistência, quanto para os professores que se preocupam, se angustiam e se sentem perdidos

com a realidade da sala de aula.

A professora Jade exterioriza a necessidade e urgência de suporte técnico e de um

trabalho em conjunto com outros profissionais (pedagogo e psicopedagogo) que os oriente e

auxilie a construir um planejamento e atividades que possam desenvolver em sala de aula com

os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem e/ou algum tipo de deficiência. A

carência de uma formação adequada, e apoio por parte das instituições escolares e instâncias

governamentais, para lidar com essa demanda gera nesses profissionais da Educação uma

sensação de frustração e incompetência, sentimentos esses que ao longo dos anos podem se

tornar sintomas de adoecimento mental. E que essa professora apresenta esses sentimentos.

A falta de uma equipe multidisciplinar leva esse professor a uma multiplicidade de

papéis, intensificando o trabalho docente, que por sua vez ocasiona uma sobrecarga mental

nesses profissionais. A respeito dessa sobrecarga, acúmulo e conflito de funções vivenciados

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pelos docentes, e sua relação com o adoecimento mental, especialmente, a Síndrome de

Burnout, Carlotto (2002) explica que:

O professor assume muitas funções, possui papéis muitas vezes

contraditórios, isto é, a instrução acadêmica e a disciplina da classe.

Também tem que lidar com aspectos sociais e emocionais de alunos, e ainda

conflitos ocasionados pelas expectativas dos pais, estudantes,

administradores e da comunidade. O excesso de tarefas burocráticas tem

feito com que professores se sinta desrespeitados, principalmente quando

devem executar tarefas desnecessárias e não relacionadas à essência de sua

profissão. Ao desempenhar trabalhos de secretaria, diminui sua carga horária

para o atendimento ao aluno e para desenvolver-se na profissão. A falta de

autonomia e participação nas definições das políticas de ensino tem

mostrado ser um significativo antecedente do burnout. Estas questões,

somadas à inadequação salarial e à falta de oportunidades de promoções, têm

preocupado pesquisadores. (CARLOTTO, 2002, p. 25)

Piovezan (2017, p. 53) acrescenta que “[...] diversas atividades realizadas pelos

professores rompem com a função específica do trabalho docente, ou seja, o ensino-

aprendizagem propriamente dito”. Na tentativa de desempenhar diversos papéis no cotidiano

escolar, funções que não são de sua área de atuação, que deveriam estar sendo executadas por

outros profissionais (tais como: técnico administrativo, psicólogo, assistente social, pedagogo,

psicopedagogo, etc.), por não terem essas formações e suporte adequado, esse acúmulo de

funções pode conduzir esses professores a uma série de sentimentos e emoções difíceis de

lidar.

Brito, Prado e Nunes (2017) destacam que “As novas atribuições e a urgência em

atender as demandas provocam a intensificação do trabalho e pode trazer graves

conseqüências à saúde do professor” (BRITO; PRADO; NUNES, 2017, p. 173). Abarcar e

trabalhar com situações que seriam demandas de outros profissionais é angustiante, e algumas

vezes desesperador. Tudo isso faz com que os professores tenham uma sensação de

incompetência e fracasso, que não os competem.

Outro fator observado por um dos docentes como agravante no processo de

adoecimento mental, é o fato de o sujeito estar longe de sua família e de amigos. O professor

Âmbar afirma que:

Outra coisa importante é a presença da família. Se a pessoa tiver uma família

que está presente, que apóia e busca, principalmente na parte inicial (da

doença), porque a pessoa que está com o transtorno mental não está com

discernimento muito bom para poder está avaliando ela mesma, entendeu?

Então a família é muito importante nesse aspecto. Sozinha fica mais difícil.

E isso ocorre principalmente em pessoas que vão e acabam trabalhando em

um ambiente que fica longe da família, longe dos amigos, em outro estado...

especificamente por conta desse detalhe é que sofri um processo de

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adoecimento no ambiente de trabalho, e que uma das condições que

melhoraria minha situação seria o retorno para perto da família... acredito

que nessa situação as políticas públicas poderiam melhorar no caso do

servidor público, melhorar na questão de facilitar a transferência de um local

de trabalho para outro que seria mais ideal para a pessoa. (Professor Âmbar)

A fala desse professor mostra que a presença e o suporte da família ou pessoas

queridas, tanto no que diz respeito ao processo de adoecimento quanto na recuperação, são

importantes. A distância em relação à família pode gerar sentimentos de solidão e tristeza,

talvez uma saudade difícil de lidar.

Alguns professores também mencionaram que a falta de compromisso por parte da

família com a escola, com seus próprios filhos/alunos é um dos desafios enfrentados por esses

profissionais, que somado a outras demandas podem contribuir para o adoecimento

mental/transtornos mentais e comportamentais. A esse respeito a professora Jade expõe que:

A maioria não tem acompanhamento nenhum da família... são criados pelos

avós e tios, ou mesmo quando são criados pelas mães que trabalham, os

deixam cuidando dos irmãos, cozinhando, arrumando a casa. Outros são

criados soltos mesmo. (Professora Jade)

Frente a este comentário e ao que presenciamos no contexto escolar atualmente,

percebemos que algumas famílias não demonstram interesse, tem responsabilidade e não

participam da vida escolar das crianças e adolescentes, não incentivam, apóiam ou cobram

deles comprometimento com os estudos. E como não há maturidade e compreensão sobre a

importância da escola e do estudar para as suas vidas de forma geral, essas crianças e

adolescentes não mostram interesse em aprender.

Essa falta de interesse, a indisciplina e o desrespeito por parte dos alunos também é

apontado como uma das principais causas de insatisfação e desmotivação do professor em

desenvolver o seu trabalho. A professora Jade ressalta que:

[...] os alunos hoje não querem nada. Ai você termina se decepcionando, se

desalentando, desanimando em sala de aula, porque não existe aquela avidez,

vontade de aprender... alunos em plena época de recuperação chegam no dia,

hoje é dia de recuperação de que mesmo? Ou seja, não há responsabilidade

com os estudos [...]. (Professora Jade)

Esses docentes também aludiram questões relacionadas às relações interpessoais,

desentendimentos e desarmonia entre colegas ou gestores dentro da escola que, de certo

modo, podem contribuir para o processo de adoecimento. A professora Jade relatou que em

uma das escolas em que trabalham teve problemas com a gestora. Essa professora citou que a

colega colocava empecilhos e dificuldades em relação aos seus horários, segundo a mesma:

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[...] aquele tratamento de diretor com cobrança... aí eu comecei a perceber

que meus sintomas chegavam no horário de ir para a escola. A noite eu

adoecia. Eram todas as noites, enxaquecas e diarréia. Todos os dias eu

adoecia. De manhã eu ia tranqüila (para outra escola), mas quando era para

eu ir a noite p essa escola, eu adoecia todos os dias. (Professora Jade)

Essa professora explicou ainda que houve uma determinada situação em que um vice-

diretor foi à sua casa, e que ela percebeu que o intuito era verificar se realmente ela estaria em

casa e doente. Essa mesma docente (professora Jade) nos traz outra fala a respeito do que os

outros esperam de alguém que sofre com esse tipo de adoecimento:

[...] eu me lembro que as vezes eu precisava sair para me distrair e ficava me

segurando em casa porque eu sabia que se isso acontecesse iriam falar, olha

lá a doente, está passeando na rua, sentada na praça, sentada no barzinho,

mas nem bebendo eu estava porque os remédios não permitem. Se você

sentar e bater papo com um amigo, você não pode, dentro da sua cidade

porque vão dizer que você está mentindo. Ou seja, qualquer transtorno

mental que você tenha,você não pode aparecer. Você tem que morgar sua

doença dentro de casa. Você tem que estar acamada para dizer que está

doente, e não é assim que a banda toca [...]. (Professora Jade)

Pudemos observar neste relato que além dos conflitos interpessoais influenciarem no

aparecimento do adoecimento mental, a mesma teve que lidar com a dúvida e preconceitos

dos próprios colegas em relação ao seu estado de saúde. O fato dessa professora ter

consciência disso, pode ter prejudicado ainda mais seu quadro de adoecimento mental, o

descaso, a indiferença, a insensibilidade e a falta de empatia por parte dos colegas, gestores e

coordenadores podem agravar consideravelmente os problemas de saúde dos docentes/sujeitos

(EUGÊNIO; SOUZAS; DI LAURO, 2017).

Acerca dos preconceitos, da falta de empatia, informação e compreensão por parte dos

colegas no ambiente escolar, Eugênio, Souzas, Di Lauro, (2017) afirmam que:

[...] admitir um problema de saúde ocupacional não é fácil. O profissional

que se encontra nessa situação sofre preconceito, pressão por parte dos

gestores e precisam buscar certa estabilidade emocional para que possam

procurar um tratamento e dar continuidade a carreira docente. As relações

humanas são, por natureza, conflituosas e dentro do ambiente escolar elas se

revelam de forma intensa tanto na relação professor-aluno como nas relações

entre professores-professores, e professores e gestores. (EUGÊNIO;

SOUZAS; DI LAURO, 2017, p. 189)

Além dos problemas de relacionamentos interpessoais, do preconceito e estigma em

relação ao adoecimento mental, a desvalorização e o descaso com a figura do professor, que

englobam questões salariais e remuneração, foi uma das queixas exposta mais permeadas de

pesar pelos docentes que foram acometidos pelo adoecimento mental/transtornos mentais e

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comportamentais, especialmente por um pelos professores/participantes da pesquisa, como

podemos notar neste desabafo:

Além de tudo, dessa questão da sobrecarga é o descaso com o profissional,

porque você não é valorizado em nenhuma instância, nenhuma instância

mesmo, da alta a mais baixa... o descaso é muito grande com o profissional.

A gente vê ai todos os anos para a gente receber o piso salarial é com

ameaça de greve, de paralisação para receber o que é de direito nosso... na

data base que é janeiro deveríamos estar recebendo o piso, quando

começamos a receber é em junho e sem retroativo. Então tudo é assim

desgastante para a gente. Tudo para a gente conseguir é desgastante. Então

cada dia que passa você vai se cansando de tudo isso. Não é uma profissão

que lhe dê alegria, que lhe dê prazer. (Professora Jade)

Esses desafios e demandas, vivenciados todos os dias, por anos, causam um desgaste

mental, e o encantamento do início da carreira, muitas vezes, vai se esvaindo com a dura

realidade e a desvalorização do trabalho que realizam. É interessante frisar que o professor

Âmbar não mencionou problemas em relação a questões salariais, possivelmente devido a

diferença entre o plano de cargos e carreira, e atenção a saúde mental dadas entre os diferentes

entes federados (municipais e estaduais, e a federal).

Brito, Prado e Nunes (2017) esclarecem que um dos fatores impactantes com relação

as condições de trabalho docente é a remuneração, que além de ser baixa para essa classe de

trabalhadores há variações salariais de acordo com cada instância federativa, sistema de

ensino, regiões e vínculo empregatício (efetivo ou temporário). Corroborando com tal

premissa Castro et al. (2016) afirmam que “[...] a baixa remuneração, está associada a

sentimentos de desvalorização [...]” (CASTRO et al., 2016, p. 92).

O professor Âmbar também relatou que em sua instituição escolar são realizadas rodas

de conversas, ações internas voltadas para discussão de assuntos relacionados saúde e

adoecimento mental, quando são abordados temas como: depressão, ansiedade e transtornos

mentais (Professor Âmbar), o que já contribui para a promoção da saúde mental dos docentes

desta instituição.

Apesar de não se sentir desvalorizado no local onde trabalha, o professor Âmbar

queixa-se do cansaço. Explica que em decorrência da “extensa carga horária de trabalho, não

há tempo para outras atividades” (Professor Âmbar), ou seja, a falta de tempo para realizar

atividades de lazer, cuidar da saúde, descansar, ou estar com a família contribui para o

adoecimento mental. Segundo Eugênio, Souzas e Di Lauro (2017):

As pesquisas iniciais, que delineiam esse fenômeno, têm apontado que a

saúde do trabalhador docente é cada vez mais debilitada em razão de

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situações de vida associadas a motivos variados de saúde, do cansaço físico

de ficar em pé por várias horas ministrando aula, no uso excessivo da fala,

até mesmo problemas emocionais resultante das inúmeras insatisfações

cotidianas no exercício efetivo da profissão, o processo de desvalorização da

categoria docente, ausência de infraestrutura de trabalho de qualidade, o

baixo ganho de remuneração e os problemas familiares, entre outros...

acrescenta-se a falta de tempo para o lazer e da convivência familiar,

ocasionada pelo excesso de trabalho que extrapola a jornada estabelecida

formalmente [...]. (EUGÊNIO; SOUZAS; DI LAURO, 2017, p. 180)

Novamente o cansaço é sinalizado como um fator preponderante para o aparecimento

de transtornos mentais e comportamentais. Esta inferência fica explicita em sua fala: “[...] o

cansaço, é a principal fonte de esgotamento mental, além do físico” (Professor Âmbar).

É possível observar sentimentos de indignação e revolta por parte dos 58 professores,

que apesar de todo esforço e dedicação ainda são considerados pela sociedade de forma geral,

e, principalmente, por parte do governo neoliberal e seus apoiadores (reformadores

empresariais da Educação), profissionais substituíveis e menos importantes do que outros, que

têm prestígio e status. Frente a isso, questionamo-nos: porque os professores seriam menos

importantes do que os médicos, advogados e dentistas, por exemplo? Porque não são

valorizados e respeitados por todos como estes outros profissionais?

Sobre a importância do reconhecimento do trabalho docente, é pertinente lembrar que

os professores também cursam uma faculdade por 04 ou 05 anos, estudam, fazem estágios,

cursos de capacitação ou aperfeiçoamento, especializações, mestrado, doutorado, pós-

doutorado. São anos de estudos, dedicação, busca de conhecimentos, planejamento e

realização de trabalhos. Atendem dezenas e centenas de crianças, adolescentes e adultos todos

os dias, o ano inteiro. Ser professor não é um trabalho simples, é uma profissão complexa, que

lida com a diversidade de pessoas, suas histórias, avanços e dificuldades. São eles os

responsáveis pela mediação do saber e dos conhecimentos; que nos ensinam a pensar de

forma elaborada, a refletir, a dialogar, a nos relacionar; preparam-nos para a vida e o mundo

do trabalho, capazes de nos conduzir a emancipação humana.

É claro que aprendemos em outros ambientes, com outras pessoas e profissionais,

todavia, a nossa formação atual hoje só foi possível porque frequentamos a escola, tivemos

professores que nos ensinaram desde a Educação Básica até a Educação Superior. Sem os

professores/educadores seria extremamente difícil aprender, não conseguiríamos uma

educação formal capaz de nos proporcionar o exercício de uma profissão. A sociedade de

forma geral, os governantes das diferentes esferas federativas precisam compreender a

importância desse profissional para toda a engrenagem social, econômica e política.

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Contudo, cabe a seguinte reflexão: seria vantajoso para a classe dominante, o governo

neoliberal juntamente com esse grupo de empresários que se intitulam “os reformadores da

Educação”, valorizar, reconhecer, dar suporte adequado aos docentes que atuam na rede

pública de ensino, sendo estes profissionais os responsáveis pela formação da maioria do

povo brasileiro? São os professores que nos possibilitam o desenvolvimento de um

pensamento crítico. A classe dominante teria interesse em proporcionar isso à classe

trabalhadora, ao proletariado? Talvez esse desmonte observado na Educação pública no

Brasil, a desvalorização, o descaso, a precarização e a intensificação do trabalho docente seja

uma forma de manter o sistema capitalista e o neoliberalismo com sua hierarquização de

classes.

O adoecimento mental em professores não pode ser encarado apenas como um

problema particular, individualizado, ou ser usado para responsabilizar esses profissionais

pelo processo de adoecimento. Araújo e Carvalho (2009), Castro el a.l (2016) enfatizam que a

saúde do professor ainda é um assunto deixado a margem pela Educação, pelos gestores e

inclusive pelos próprios docentes, a doença acaba sendo encarada apenas como uma questão

pessoal, contudo, é necessário que todos entendam que o processo de adoecimento envolve o

coletivo, estando imbricado com questões relacionadas ao trabalho.

Castro et al. (2016, p. 90-91, grifos do autor) ratificam que “[...] o indivíduo não é o

único responsável por ser portador de um sintoma ou de seu sofrimento, mas sim que existem

relações que mantém este sintoma”. Os referidos autores asseguram que a situação de saúde

dos professores é um problema de saúde pública, e deve envolver a participação de todos os

atores sociais que fazem parte do contexto e sistema escolar, para que haja um movimento

que contraponha essa culpabilização e individualização do adoecimento nessa classe de

trabalhadores (CASTRO et al., 2016).

A saúde e o adoecimento mental em professores são temas que devem ser discutidos

com comunidade, meio escolar, acadêmico, profissionais da saúde e todo o sistema

educacional, envolve diversas áreas. Faz-se necessário e urgente a valorização dessa classe de

trabalhadores, através do cumprimento e garantia de direitos já conquistados, após muita luta,

ao longo de décadas, e políticas públicas voltadas também para saúde desses profissionais da

Educação, que é um fator indispensável para o desenvolvimento de seu trabalho. Investir na

saúde do professor não deve ser considerado gasto ou desperdício do dinheiro público, mas

sim investimento para melhoria da Educação e Saúde no Brasil.

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6.3 Sinais e sintomas de adoecimento mental em professores

Nesta categoria apresentamos uma discussão sobre os sentimentos e emoções

vivenciados pelos professores durante o trabalho docente, no decorrer de sua carreira

profissional, que indicaram sinais e sintomas de adoecimento mental. Com a finalidade de

obtermos clareza na compreensão das discussões propostas, é interessante que entendamos

primeiramente os conceitos de emoção, sentimentos, sinais e sintomas os quais nos referimos.

Entendemos por emoções as reações afetivas intensas, instantâneas/automáticas,

desencadeadas por estímulos externos ou internos, consciente ou inconsciente, que envolvem

reações psicofisiológicas, comportamentais e cognitivas, expressas pelo nosso organismo

(DALGALARRONDO, 2019). É a forma como reagimos a determinadas situações esperadas

ou não (reação a um estímulo ambiental). Geralmente são de curta duração e mais difíceis de

esconder/mascarar/conter (ex: raiva, angústia, alegria, surpresa, pânico, ansiedade,

nervosismo, vergonha, etc.).

Os sentimentos são variações afetivas consideradas mais estáveis, menos intensas e

mais duradouras, associadas aos conteúdos intelectuais, valores, representações, e

necessariamente não envolvem questões somáticas (DALGALARRONDO, 2019). É uma

espécie de consciência a respeito do que sentimos frente a experiências que vivemos, ou

processos reflexivos e avaliativos acerca de assuntos diversos, que por se tratar de algo muito

íntimo e particular podem não ser percebido facilmente por outras pessoas (ex: amor,

gratidão, ódio, medo, tristeza, decepção, esperança, motivação, satisfação, insatisfação,

compaixão, inveja, frustração, estresse, etc.).

As emoções e os sentimentos são formas subjetivas de interpretar situações distintas,

havendo entre eles uma relação de co-dependência: emoções geram sentimentos, que por sua

vez podem gerar outras emoções. Tanto os sentimentos quanto as emoções ocasionam

sensações de bem-estar (agradáveis) e de mal-estar (desagradáveis), que podem favorecer e

prejudicar, concomitantemente, a saúde física e mental dos sujeitos, assim como interferir na

vida afetiva, familiar, social e laboral. E a depender do estado emocional, mental e

psicológico dos sujeitos podem ser considerados sinais e sintomas de adoecimento mental.

Quando utilizamos o termo “sinal” estamos nos referindo a manifestações clínicas

(indícios de patologias, distúrbios, transtornos, síndromes, etc.) observadas ou reconhecidas

por profissionais de saúde, nem sempre percebidas ou identificadas pelo sujeito que apresenta.

Os sintomas são queixas relatadas pelo próprio sujeito/paciente, alterações da percepção

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normal que ele tem a respeito de si e de suas sensações, está associado a algum tipo de

sofrimento físico e/ou mental, é como ele percebe a manifestação clínica.

Mediante análise de algumas questões respondidas80 por esses 58 professores que

mencionaram terem sido acometidos por algum tipo de adoecimento mental, não poderíamos

deixar passar ou desprezar informações a respeito dos sentimentos e emoções referidos por

esses profissionais da Educação, presentes no desenvolvimento do trabalho docente e carreira

profissional, pois nos remete a subjetividade desses sujeitos, e ao estado de saúde e

adoecimento dessa categoria de trabalhadores.

Pudemos observar neste questionário, que algumas questões específicas foram

respondidas de forma semelhantes, ou seja, vários docentes sinalizaram sentimentos e

emoções em comum. Dentre os principais sentimentos e emoções (negativos/desagradáveis),

que se configuraram sinais e sintomas relacionados ao adoecimento mental, vivenciados por

esses docentes estão: cansaço, estresse, desmotivação, ansiedade, angústia, frustração,

decepção, tristeza, revolta e medo (grifo nosso). Conforme dados no gráfico abaixo.

Gráfico 01 - Principais sinais e sintomas de adoecimento mental vivenciados (externados) pelos

professores da rede pública de ensino do município de Itapetinga-BA.

Fonte: Dados da pesquisa (questionário da UFRB).

É pertinente entendermos que os sentimentos e emoções (negativos/desagradáveis)

mencionados por esses docentes, necessariamente não constituem em sua totalidade como

algo apenas ruim, eles, assim como os sentimentos e emoções (positivos) fazem parte da

condição de ser humano. No que concernem as emoções vivenciadas na docência, Soares

(2006, p. 09) afirma que são permanentes e diversas como:

80 Questionário da UFRB e UESB.

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Aborrecimento, alegria, ansiedade, afeto, preocupação, tristeza, frustração...

são sentimentos que dia após dia o professor vivencia em maior ou menor

intensidade e amplitude. Alguns tem a sorte e a habilidade para fazerem

prevalecer as emoções positivas; em outros, pelo contrário, predominam o

infortúnio e habilidades limitadas, o que faz com que as experiências

negativas tenham um peso maior. (SOARES, 2006, p. 09)

Em consonância Ferreira (2014) assegura que durante o DPD, esses sentimentos e

emoções estão presentes o tempo todo, e irão variar de acordo com o período da carreira que

estão vivenciando. Entre os sentimentos e emoções citados por Ferreira (2014), que são

vivenciados pelos docentes durante a sua trajetória profissional estão: entusiasmo, euforia,

desilusão, angústia, segurança, insegurança, autoconfiança e desencanto, entre outros. Ou

seja, há um misto de sentimentos e emoções, diversos e antagônicos inerentes a docência, que

o fazem mover, agir e interagir, que influenciam no desenvolvimento de seu trabalho e a

carreira profissional docente.

Precisamos entender, que perceber, sentir e reagir faz parte da vida e das relações

humanas, sejam na vida pessoal ou profissional. São através das experiências, situações,

pensamentos, histórias, ensinamentos, observações, emoções e sentimentos que aprendemos e

desenvolvemo-nos ao longo da vida, e que nos desenvolvemos também enquanto

profissionais.

A depender de aspectos físicos, biológicos, mentais, emocionais, sociais, econômicos,

culturais, laborais; história de vida; crenças e valores, o sujeito, neste caso, professor, vai

sentir e reagir de forma particular a determinadas situações que envolvem a sua profissão.

Alguns professores/sujeitos vão demonstrar melhor capacidade e habilidades para lidar com

situações adversas, outros apresentarão mais dificuldades. Contudo, essas emoções e

sentimentos que permeiam a profissão docente não dependem apenas do sujeito, também

estão envolvidas questões relacionadas às condições de trabalho; a forma com que são

tratados nesse ambiente; a valorização social e política referente ao trabalho que

desenvolvem. O professor Âmbar confirma tal premissa quando afirma que acredita que o

trabalho docente interfere na saúde e adoecimento mental: “as condições no ambiente de

trabalho pode afetar negativamente ou de forma positiva. Isso depende da satisfação, estresse

ou outras situações”.

Entretanto, é necessária muita atenção no que diz respeito aos sentimentos e emoções

“desagradáveis/negativos” quando vivenciados por um período longo de tempo

(constantemente) podem se transformar em sinais e sintomas de adoecimento mental. Foi o

que percebemos entre os 58 docentes estudados, todos que se referiram aos sentimentos e

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emoções citados logo acima, justamente foram os que descreveram terem sido acometidos

pelo adoecimento mental.

Ao dialogarmos a respeito dos sinais e sintomas relacionados ao adoecimento mental,

e possíveis gatilhos, observados pelos próprios docentes, o professor Âmbar explica que:

Os gatilhos são inúmeros, tudo depende da situação da pessoa. Ela pode ter

um excesso de expectativa e frustração. Cria expectativas com algumas

coisas e ai essas expectativas não são atendidas e vem a frustração, também

associada ao estresse, então tudo isso pode vir acumulando na pessoa e ela

não está percebendo. (Professor Âmbar)

Frente ao relato deste professor, entendemos que o adoecimento mental, muitas vezes,

não é percebido de imediato pelo professor/sujeito. De acordo com o professor Âmbar os

sinais e sintomas vão se acumulando com o decorrer do tempo, sem que esse docente/sujeito

se dê conta, e quando se tornam perceptíveis (por aquele que sofre) já se encontram de “forma

aguda”, é quando se instala o transtorno mental. Na verdade, quando esse professor faz

menção a sintomas que não são percebidos pelo próprio sujeito, ele está se referindo aos

sinais do adoecimento mental, discutidos no início dessa categoria.

Em virtude de todas as demandas exigidas no dia-a-dia desses docentes, da falta de

tempo, costume ou medo de perceber a si mesmo, de observar o que está acontecendo consigo

no que tange seus sentimentos e emoções, vão se negligenciando, sofrendo calados e quietos,

fingindo que está tudo bem. A esse respeito, Araújo e Carvalho (2009) elucidam que

“sintomas de adoecimento são negados ou minimizados; apenas quando um problema atinge

um patamar de severidade elevada é que se atenta para sua existência (ARAÚJO;

CARVALHO, 2009, p. 445). Dessa forma, o corpo e a mente, que já suportaram e se

esforçaram demasiadamente, chegam ao limite, é nesse momento que conseguem reconhecer

o que sentem, o que estão vivenciando, e se dão conta de que estão adoecidos mentalmente.

Observamos em nosso estudo, que o cansaço, seguido do estresse e desmotivação

foram os sintomas/queixas mais citados pelos 58 docentes que já foram acometidos por algum

tipo de adoecimento mental. Os professores (81, 03%) que se referiram ao cansaço não

especificaram o tipo (físico e/ou mental) deste, contudo, alguns fizeram questão de destacar o

termo “cansaço extremo”, que podemos entender como uma junção entre o cansaço físico e

mental. Cabe lembrar que o cansaço (fadiga), estresse e desmotivação são sintomas presentes,

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por exemplo, nos quadro de episódios depressivos, transtorno depressivos recorrentes,

transtornos depressivos persistentes, reações ao “stress” grave e transtornos de adaptação81.

Analisando, em especial, os 03 professores/participantes de nossa pesquisa (UESB),

que foram diagnosticados com algum transtorno mental e comportamental, seguidos de

afastamento do trabalho, percebemos a referência dos seguintes sinais e sintomas de

adoecimento mental: “tristeza, angústia, ansiedade, estresse, frustração, desmotivação, delírio

persecutório, insônia e cansaço”. Sendo este último, novamente o que aparece em comum

entre eles.

Para melhor visualização da ocorrência e recorrência dos sentimentos, emoções, sinais

e sintomas de adoecimento mental vivenciados pelos professores/participantes da pesquisa.

Segue abaixo um quadro ilustrativo.

Quadro 14 - Sinais e Sintomas de adoecimento mental vivenciados (externados) pelos 03

professores/participantes da pesquisa. REDE DE ENSINO SINAIS E SINTOMAS DE ADOECIMENTO MENTAL REFERIDOS PELOS

PROFESSORES/PARTICIPANTES DA PESQUISA

Professora Jade

Municipal

Tristeza, enxaqueca, diarréia, angústia, frustração, desmotivação, CANSAÇO

Professora Safira

Estadual

Ansiedade, estresse, insônia, angústia, frustração, CANSAÇO

Professor Âmbar

IF-Baiano

Delírio persecutório, Desmotivação, CANSAÇO

Fonte: Dados da pesquisa.

Os sintomas marcados negrito (angústia e frustração) são comuns entre as

professores do município (Jade) e do estado (Safira); os que estão em itálico (desmotivação)

foram comuns entre os docentes do município (Jade) e IF-Baiano (Âmbar); o sintoma

destacado em caixa alta (maiúscula) e em negrito (CANSAÇO) foi o que apareceu entre os 03

professores.

O cansaço torna-se então o principal sintoma observado entre os 58 docentes que

foram acometidos por adoecimento mental, e especialmente citado pelos 03

professores/participantes da pesquisa. Sobre seu processo de adoecimento mental e sintomas

presentes, a professora Jade faz a seguinte afirmação: “então eu acho que foi a sobrecarga, foi

o cansaço mesmo, anos ininterruptos de trabalho e o desencanto”.

81 A descrição dos referidos transtornos mentais e comportamentais estão disponíveis em:

http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/cap05_3d.htm.

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É importante que a sociedade de forma geral, as instâncias governamentais, os

gestores e os próprios profissionais que atuam na Educação, entendam que o trabalho docente

não está apenas associado às aulas ministradas em sala. Soratto e Pinto (1999) destacam que o

trabalho do professor:

[...] implica em atualização e preparação constantes para que seja realizado a

contento. Muitas tarefas não são realizadas na presença dos alunos e

demandam atenção com outros momentos. Assim sendo, muitas turmas,

turmas em escolas diferentes, alunos de níveis diferentes de ensino, turmas

do noturno e do diurno implicam em preparação de esquemas diferentes de

aulas, adaptados a cada uma das realidades. Isso implica em maior volume

de trabalho, tanto no que se refere a mais horas de dedicação, como em

maior esforço intelectual.

A diversidade implica também em maior esforço emocional, uma vez que

faz parte da atividade do professor o estabelecimento de vínculos, tanto com

os outros professores e funcionários, companheiros de trabalho; quanto com

os alunos. O esforço empreendido no caso desses docentes que se dividem

no exercício da atividade, atuando em turmas diferentes, escolas diferentes

ou períodos diferentes é maior que o esforço necessário para atuar sob

condições mais restritas. (SORATTO; PINTO, 1999, p. 289)

Tostes et al. (2018) acrescentam ainda outras atividades que fazem parte do trabalho

docente, que pode gerar uma sobrecarga de trabalho:

[...] a correção de provas e trabalhos, o lançamento de notas e freqüências, o

preparo das atividades e a elaboração de relatórios exigem, invariavelmente,

a extensão da jornada, invadindo o tempo de descanso, do convívio familiar

ou da realização de afazeres domésticos. A grande maioria dos professores

acaba, ainda, assumindo uma jornada extra de trabalho para os cuidados com

a casa e a criação dos filhos. (TOSTES et al., 2018, p. 1292)

A sobrecarga mental e física exigida no dia-a-dia do trabalho docente pode causar um

cansaço constante, conforme podemos observar na fala da professora Jade: “devido a extensa

carga horária de trabalho, não restando tempo para outras atividades. O cansaço é a principal

fonte de esgotamento mental, além da física”. Além de todas as demandas mentais,

emocionais e físicas citadas acima, que por si só já sugam as energias desse professor/sujeito,

geralmente esses professores acabam levando trabalho para casa, estendendo sua carga

horária além do que é estabelecido formalmente. Dessa forma, não há mais tempo para

aproveitar a família, os amigos, ter momentos de lazer e descanso. E se porventura, esse

tempo surgir, o cansaço é tão grande que muitas vezes não se encontra mais disposição para

fazer o que gosta. Este cansaço pode então se tornar um sintoma, e ocasionar outros sintomas,

como baixa autoestima, insegurança, culpa, impotência, etc., propiciando futuramente, o

surgimento de transtornos mentais e comportamentais que, por conseguinte, acarretarão uma

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série de consequências negativas para a vida desses professores/sujeitos, assim como, para o

sistema educacional e todos os atores sociais envolvidos.

Esses profissionais da Educação vivem cotidianamente em um ambiente de trabalho

cada vez mais precário, principalmente na rede pública de ensino (ABONÍZIO, 2012; CODO,

1999; FORATTINI; LUCENA, 2015), e somado as demandas (físicas e mentais), ao estresse

e exigências da docência e do trabalho que desenvolvem, acabam gerando sentimentos e

emoções, capazes de conduzir esses professores/sujeitos82 ao adoecimento mental, e até

mesmo o desenvolvimento de transtornos mentais e comportamentais.

Frente a toda essa realidade vivida pelos docentes, principalmente nos últimos 30

anos, após as reformas educacionais articuladas entre governos neoliberais e grupos de

empresários que se apropriaram da Educação pública em nosso país; a flexibilidade e

intensificação e precarização do trabalho docente; e a desvalorização desses profissionais da

Educação (CAETANO; LIMA; PERONI, 2017; NUNES; OLIVEIRA, 2017; PIOVEZAN,

2017) levantamos os seguintes questionamentos: Como esses docentes podem se sentir

satisfeitos e reconhecidos com o trabalho que escolheram se agora precisam assumir tarefas e

funções que não são referentes a sua formação? Como podem se sentirem satisfeitos se não

são reconhecidos pelo poder público e comunidade, como profissionais relevantes para toda

sociedade? Como não se sentir estressados sendo que são impelidos a seguir comandos e

cobranças externas, visando produtividade e “resultados”? Como não sofrer? Acreditamos ser

difícil lidar com todas essas questões todos os dias, por anos, e não adoecer mentalmente.

A respeito da profissão e trabalho docente, das expectativas e cobranças direcionadas a

esses profissionais, Soares (2006) faz uma reflexão importante:

O ensino é uma profissão paradoxal. De todos os trabalhos que são ou

espiram a ser profissões, só do ensino se espera que crie as habilidades

humanas e as capacidades que permitirão aos indivíduos e às organizações

sobreviver e ter êxito na sociedade do conhecimento de hoje. Dos

professores mais do que qualquer outro profissional, espera-se que

construam comunidades de aprendizagem, criem sociedade do conhecimento

e desenvolvam as capacidades para a inovação, a flexibilidade e o

compromisso com a mudança que são essenciais para a prosperidade

econômica. Ao mesmo tempo, espera-se que os professores mitiguem e

equilibrem muitos dos imensos problemas que a sociedade do conhecimento

cria, tais como o consumismo excessivo, a perda da comunidade e o

incremento da distância entre os ricos e os pobres. De alguma forma, os

professores devem tentar alcançar essas metas aparentemente contraditórias

de forma simultânea. Esse é o seu paradoxo profissional. (SOARES, 2006, p.

9-10)

82 Referente aos 58 professores.

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Espera-se e cobra-se muito dos professores, muitas são as suas responsabilidades e

deveres para com a sociedade de forma geral e os sujeitos de forma particular. Eles são

culpabilizados pelos fracassos e a dificuldade de aprendizagem de seus alunos. Há ainda de se

considerar a inversão de responsabilidades, o que antes era dever da família e consciência de

todos, agora são transferidos para escola e especificamente para o professor. Os docentes são

cobrados a desempenhar por papéis que não fazem parte de suas atribuições, de sua profissão.

E frente a tudo isso, todas essas demandas, exigências e responsabilidades; seu valor,

sua relevância (histórica, social, econômica, afetiva, moral e política) tem sido ignorada e

esquecida. Tudo lhe é cobrado, mas quase nada é ofertado ou garantido. E todas as

contribuições (incalculáveis) deixadas, plantadas na sociedade e na vida de cada sujeito, na

vida de cada aluno e profissional ao nosso redor? Onde está o reconhecimento e mérito pelos

trabalhos prestados?

O significado de seu trabalho não é mais reconhecido ou respeitado, seu valor é

contestado ou não observado. Como ficam esses professores/sujeitos diante dessas

contradições e paradoxos? Sua autoestima é desfacelada, pois também está entrelaçada ao

trabalho que desenvolve, e a forma como são tratados pelos gestores, colegas, alunos famílias,

sociedade e poder público. Como os professores têm sido tratados?

Sua identidade enquanto profissional é atingida, e seu trabalho é fragmentado. Sentir-

se insatisfeito, infeliz com o que faz todos os dias pode ser uma consequência da forma como

este docente é tratado, que somada ao cansaço, compromete ou interfere em vários aspectos

da vida desse sujeito que pensa, fala, escuta, age, interage e sente. Docente/sujeito que pode

adoecer mentalmente e ver toda a sua rotina, planos, sonhos, relacionamentos e trabalho

serem prejudicados.

Durante a análise de dados podemos observar em nosso estudo que os principais sinais

e sintomas apresentados pelos docentes foram: cansaço, estresse, desmotivação, ansiedade,

angústia, frustração, decepção, tristeza, revolta e medo. Além de insônia, enxaqueca, diarreia

e delírios persecutórios; sensação de desamparo, insegurança e indignação; sintomas referidos

especialmente pelos 03 professores/participantes da pesquisa que foram acometidos por

transtornos mentais e comportamentais.

Frente ao exposto, observar, pensar e discutir sobre modos de diminuir o cansaço, o

estresse, as cobranças e a jornada de trabalho, bem como proporcionar atividades/ações que

envolvam o bem-estar e qualidade de vida, visando à saúde dessa categoria de trabalhadores é

de interesse comum, pois o adoecimento mental não acarreta prejuízos somente para o

professor, mas para todos os atores sociais envolvidos no contexto e sistema educacional.

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118

Portanto, merece e necessita da devida atenção por parte das políticas públicas, gestores,

sistema educacional, a área da Saúde, e sociedade de forma geral.

6.4. Transtornos mentais e comportamentais em professores e as implicações para a

carreira profissional docente

Nessa terceira categoria discorremos acerca dos transtornos mentais e

comportamentais, a comorbidade entre adoecimento mental e físico, o afastamento das

atividades laborais em decorrência disso, e as implicações para a carreira profissional docente,

referidos pelos 58 docentes estudados, especialmente pelos 03 professores/participantes dessa

pesquisa.

Apesar de todos os professores (58) não terem identificado corretamente os CIDs,

todos eles afirmaram terem sido acometidos pelo adoecimento mental em algum período da

carreira profissional docente. Alguns professores utilizaram uma nomenclatura que facilitou o

entendimento sobre quais transtornos os mesmos se referiam, outros usaram termos mais

abrangentes não os especificando, mesmo assim, em alguns casos foi possível entender do que

se tratava e dessa forma incluí-los em algum grupo/categoria de transtornos mentais e

comportamentais.

Houve também a referência de termos que podem ser considerados apenas como

sintomas, e estar relacionados a algum tipo de transtorno mental e comportamental. Nesses

casos, não foi plausível identificar especificamente o tipo de transtorno mental e

comportamental. Tratando dos 03 professores/participantes da pesquisa, focamos nas questões

respondidas nos questionários da UFRB (2018) e da UESB (2019), e nas CIPs (2019) para

tentarmos identificar quais transtornos mentais e comportamentais poderiam estar acometendo

esses docentes.

Dentre as informações fornecidas pelos 58 professores, quando questionados se já

haviam sido acometidos por alguma doença no período da carreira, aqueles que responderam

sim para adoecimento mental, citaram os seguintes termos: “síndrome do pânico; TAG

(Transtorno de Ansiedade Generalizada); depressão; depressão e ansiedade; estresse;

ansiedade; transtorno psíquico; e Síndrome de Burnout”.

Como a nomenclatura referida por esses docentes não está idêntica ao que está

explícito no CID 10, tentamos classificar os termos usados por eles da seguinte forma:

aqueles que mencionaram a palavra “depressão”, que pode estar relacionada a vários tipos de

transtornos tais como: episódio depressivo, transtorno afetivo bipolar, transtorno depressivo

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recorrente, etc, optamos por classificá-los então como Transtornos do Humor [afetivos] (CID

10 F30-39)83, que acaba englobando diversos tipos de depressão; o termo “TAG” de acordo

com o CID 10 é chamado corretamente como Ansiedade generalizada (CID 10 F41.1)84;

“síndrome do pânico” é descrita corretamente como Transtorno de pânico [ansiedade

paroxística episódica] (CID 10 F41.0)85; “depressão e ansiedade” (juntamente) foi entendido

como Transtorno misto ansioso e depressivo (CID 10 F41.2)86.

É interessante destacar que alguns sujeitos utilizam os termos ansiedade e estresse

como sintomas, ou estado de ânimo momentâneo, contudo, também podem ser usados para se

referir a “Outros transtornos ansiosos (F41)87 e Reações ao “stress” grave ou transtornos de

adaptação (F43)88”, transtornos mentais e comportamentais catalogados no CID 10. Segue

abaixo um quadro com o nome do transtorno mental e comportamental e uma breve descrição

dos sintomas.

Quadro 15 - Descrição dos transtornos mentais e comportamentais citados pelos 58 docentes.

TRANSTORNOS MENTAIS E

COMPORTAMENTAIS

DESCRIÇÃO DOS SINTOMAS89

Transtornos do Humor [afetivos] (CID 10 F30-39)

F30 Episódio maníaco

F31 Transtorno afetivo bipolar

F32 Episódios depressivos

F33 Transtorno depressivo recorrente

F34 Transtornos de humor [afetivos] persistentes

F38 Outros transtornos do humor [afetivos]

F39 Transtorno do humor [afetivo] não

especificado

“Transtornos nos quais a perturbação fundamental é uma

alteração do humor ou do afeto, no sentido de uma

depressão (com ou sem ansiedade associada) ou de uma

elação. A alteração do humor em geral se acompanha de

uma modificação do nível global de atividade, e a

maioria dos outros sintomas são quer secundários a estas

alterações do humor e da atividade, quer facilmente

compreensíveis no contexto destas alterações. A maioria

destes transtornos tendem a ser recorrentes e a ocorrência

dos episódios individuais pode freqüentemente estar

relacionada com situações ou fatos estressantes.”

Outros transtornos ansiosos (CID 10 F41)

F41.0 Transtorno de pânico (ansiedade paroxística

episódica)

F41.1 Ansiedade generalizada

F41.2 Transtorno misto ansioso e depressivo

F41.3 Outros transtornos ansiosos mistos

F41.8 Outros transtornos ansiosos especificados

“Transtornos caracterizados essencialmente pela presença

da manifestações ansiosas que não são desencadeadas

exclusivamente pela exposição a uma situação

determinada. Podem se acompanhar de sintomas

depressivos ou obsessivos, assim como de certas

manifestações que traduzem uma ansiedade fóbica, desde

que estas manifestações sejam, contudo, claramente

secundárias ou pouco graves.”

83 Disponível em: http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/f30_f39.htm. 84Disponível em; http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/f40_f48.htm. 85Disponível em; http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/f40_f48.htm. 86Disponível em; http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/f40_f48.htm. 87Disponível em; http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/f40_f48.htm. 88 Disponível em: http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/f40_f48.htm. 89 Disponível em: http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/f40_f48.htm.

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120

F41.9 Transtorno ansioso não especificado

Transtorno de pânico [ansiedade paroxística

episódica] (CID 10 F41.0)

“A característica essencial deste transtorno são os ataques

recorrentes de uma ansiedade grave (ataques de pânico),

que não ocorrem exclusivamente numa situação ou em

circunstâncias determinadas mas de fato são

imprevisíveis. Como em outros transtornos ansiosos, os

sintomas essenciais comportam a ocorrência brutal de

palpitação e dores torácicas, sensações de asfixia,

tonturas e sentimentos de irrealidade (despersonalização

ou desrrealização). Existe, além disso, freqüentemente

um medo secundário de morrer, de perder o autocontrole

ou de ficar louco. Não se deve fazer um diagnóstico

principal de transtorno de pânico quando o sujeito

apresenta um transtorno depressivo no momento da

ocorrência de um ataque de pânico, uma vez que os

ataques de pânico são provavelmente secundários à

depressão neste caso.”

Ansiedade generalizada (CID 10 F41.1)

“Ansiedade generalizada e persistente que não ocorre

exclusivamente nem mesmo de modo preferencial numa

situação determinada (a ansiedade é “flutuante”). Os

sintomas essenciais são variáveis, mas compreendem

nervosismo persistente, tremores, tensão muscular,

transpiração, sensação de vazio na cabeça, palpitações,

tonturas e desconforto epigástrico. Medos de que o

paciente ou um de seus próximos irá brevemente ficar

doente ou sofrer um acidente sãofreqüentemente

expressos.”

Transtorno misto ansioso e depressivo (CID 10

F41.2)

“[...] o sujeito apresenta ao mesmo tempo sintomas

ansiosos e sintomas depressivos, sem predominância

nítida de uns ou de outros, e sem que a intensidade de uns

ou de outros seja suficiente para justificar um diagnóstico

isolado.”

Reações ao “stress” grave ou transtornos de

adaptação (F43)

“Esta categoria difere das outras na medida que sua

definição não repousa exclusivamente sobre a

sintomatologia e a evolução, mas igualmente sobre a

existência de um ou outro dos dois fatores causais

seguintes: um acontecimento particularmente estressante

desencadeia uma reação de “stress” aguda, ou uma

alteração particularmente marcante na vida do sujeito,

que comporta conseqüências desagradáveis e duradouras

e levam a um transtorno de adaptação. Embora fatores de

“stress” psicossociais (“lifeevents”) relativamente pouco

graves possam precipitar a ocorrência de um grande

número de transtornos classificados em outra parte neste

capítulo ou influenciar-lhes o quadro clínico, nem sempre

é possível atribuir-lhes um papel etiológico, quanto mais

que é necessário levar em consideração fatores de

vulnerabilidade, freqüentemente idiossincráticos,

próprios de cada indivíduo; em outros termos, estes

fatores não são nem necessários nem suficientes para

explicar a ocorrência e a natureza do transtorno

observado. Em contraste, para os transtornos reunidos

aqui sob F43, admite-se que sua ocorrência é sempre a

conseqüência direta de um “stress” agudo importante ou

de um traumatismo persistente. O acontecimento

estressante ou as circunstâncias penosas persistentes

constituem o fator causal primário e essencial, na

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ausência do qual o transtorno não teria ocorrido. Os

transtornos reunidos neste capítulo podem assim ser

considerados como respostas inadaptadas a um “stress”

grave ou persistente, na medida em que eles interferem

com mecanismos adaptativos eficazes e entravam assim o

funcionamento social.”

Fonte: Dados da pesquisa e datasus.gov.br.

Os Transtornos do Humor [afetivos] foram mencionados 11 vezes pelos docentes, o

Transtorno de pânico houve 05 menções, Ansiedade generalizada 02, e Transtorno misto

ansioso e depressivo foram mencionados ambos uma vez, como está demonstrado no gráfico

abaixo:

Gráfico 02 - Transtornos mentais e comportamentais referidos pelos 58 professores que foram

acometidos pelo adoecimento mental.

Fonte: Dados da pesquisa.

Como já nos referimos anteriormente, alguns professores usaram termos abrangentes,

tais como: “estresse” (apareceu 34 vezes), “ansiedade” (02 vezes), “transtorno psíquico” (01)

e “Síndrome de Burnout” (01). Segue um gráfico ilustrando a quantidade de vezes que os

termos citados acima foram mencionados pelos 58 docentes.

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Gráfico 03 - Termos usados pelos 58 docentes considerados por eles como algum tipo de em

adoecimento mental ou transtornos mentais e comportamentais.

Fonte: Dados da pesquisa.

Um dos 03 docentes/participantes da pesquisa além de ter citado o termo depressão

como transtorno mental e comportamental, o mesmo utilizou o termo “Transtorno psíquico”,

que geralmente é usado pela população para se referir a qualquer problema, distúrbio,

transtorno ou sofrimento referente ao estado emocional, psicológico, mental e

comportamental de um sujeito. Então, não conseguimos enquadrar essa citação como algum

tipo de transtorno mental e comportamental.

Uma docente, dentre os 58, descreveu ter sido acometida pela Síndrome de Burnout,

que não está classificada como um tipo de transtorno mental e comportamental, é considerada

uma síndrome que resulta da exposição a um estresse crônico, diretamente relacionado ao

trabalho, principalmente atividades que envolvam o cuidado com o outro. Está incluída no

CID 10 (Z73.0), mas se refere a problemas relacionados com a organização de seu modo de

vida, especificamente esgotamento90. De acordo com Maslach, Schaufeli e Leiter (2001) apud

Carlotto (2002) a Síndrome de Burnout é definida em três dimensões:

[...] Exaustão emocional, caracterizada por uma falta ou carência de energia,

entusiasmo e um sentimento de esgotamento de recursos; despersonalização,

que se caracteriza por tratar os clientes, colegas e a organização como

objetos; e diminuição da realização pessoal no trabalho, tendência do

90Mais esclarecimentos sobre o assunto encontram-se no link a seguir:

https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5949:cid-burnout-e-um-fenomeno-

ocupacional&Itemid=875.

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trabalhador a se auto-avaliar de forma negativa. As pessoas sentem-se

infelizes consigo próprias e insatisfeitas com seu desenvolvimento

profissional. (MASLACH; SCHAUFELI; LEITER, 2001 apud

CARLOTTO, 2002, p. 23)

Apesar de não ter havido mais referências com relação ao aparecimento da Síndrome

de Burnout com os professores estudados, sabemos que esses profissionais estão propensos a

desenvolvê-la, visto as condições precárias de trabalho, a flexibilização e intensificação do

trabalho docente no Brasil, além do fato de lidarem dia-a-dia com dezenas ou centenas de

alunos, e as demandas próprias do ofício. Acreditamos que é provável que haja mais casos

entre os professores estudados (58), considerando a dificuldade do acesso aos serviços de

saúde mental nessa classe de trabalhadores, a falta de informação, esclarecimento, auto-

percepção, atitude de negação frente a um possível quadro de adoecimento.

Observando especificamente os 03 professores/participantes da pesquisa, considerando

as informações fornecidas pelos mesmos nos questionários e CIPs, os termos citados por

estes, e possíveis transtornos mentais e comportamentais foram: “depressão e ansiedade”

(professora Jade); “estresse”, “depressão”, “Síndrome do pânico”, “ansiedade” (professora Safira);

“depressão e transtorno psíquico” (professor Âmbar), como ilustrado abaixo.

Quadro 16 - Transtornos mentais e comportamentais citados pelos 03 professores/participantes da

pesquisa. PROFESSORES /

PARTICIPANTES

DA PESQUISA

TERMOS/NOMENCLATURA

UTILIZADA PELOS

PROFESSORES/

PARTICIPANTES

POSSÍVEIS TRANSTORNOS

MENTAIS E COMPORTAMENTAIS

APRESENTADOS PELOS

PROFESSORES/PARTICIPANTES

Professora Jade

“Depressão e ansiedade”

Transtorno misto ansioso e depressivo

Professora Safira

“estresse”

“depressão”

“Síndrome do pânico”

“ansiedade”

Reações ao “stress” grave ou transtornos

de adaptação

Transtornos do humor [afetivos]

Transtorno de pânico

Outros transtornos ansiosos

Professor Âmbar

“Depressão”

“Transtorno psíquico”

Transtornos do humor [afetivos]

Fonte: Dados da pesquisa.

Outro dado obtido em nossa pesquisa e que julgamos ser pertinente sua exposição é a

ocorrência e referimento do adoecimento mental (somente) e do adoecimento mental e físico

(concomitantemente), ou seja, dos 58 professores que afirmaram sofrer com o adoecimento

mental, 66% mencionaram não haver outro tipo de adoecimento paralelamente, e 34% deles

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ressaltaram que foram acometidos pelos dois tipos de adoecimento (mental e físico),

apresentando, portanto um quadro de comorbidade, como demonstrado no gráfico que segue

abaixo.

Gráfico 04 - Adoecimento mental (somente), e adoecimento mental e físico (concomitantemente)

referente aos 58 professores.

Fonte: Dados da pesquisa (questionário da UFRB).

Considerando o fato de que 34% dos professores deste estudo foram acometidos

concomitantemente pelo adoecimento mental e físico em algum período da carreira docente,

defendemos a ideia de que quando discorremos acerca de saúde e adoecimento não há como

separar o sujeito em compartimentos isolados, como se o físico não influenciasse no mental e

vice-versa. Entendemos que o ser humano é um ser bio-psico-socio-espiritual, sendo assim,

aspectos relacionados ao corpo físico (questões hormonais, hereditárias, genética, cerebrais,

etc.), ao estado emocional e psicológico, eventos externos (experiências, situações, traumas,

etc.), a cultura, espiritualidade, relações familiares, interpessoais, afetivas, sociais e laborais

estão entrelaçadas, e exercem influência entre si, e ligação e co-relação entre esses aspectos

podem propiciar o aparecimento de doenças de cunho físico e mental, ou as duas juntas

(DALGALARRONDO, 2019).

Há de se pensar ainda que doenças de cunho físico, principalmente as doenças

crônicas, podem ocasionar alterações/desequilíbrio emocional e, por conseguinte, provocar

um adoecimento mental. Da mesma forma pode ocorrer com o adoecimento mental, sintomas

psíquicos podem se converter em dores e desconfortos físicos, que chamamos de somatização,

e a depender da evolução do quadro gerar um adoecimento também de cunho físico.

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Tomando como base as reflexões realizadas a respeito da relação entre os

adoecimentos físico e mental, pensamos que é possível que aqueles professores que

afirmaram terem sido acometidos apenas pelo adoecimento mental, talvez futuramente, se não

acompanhados ou tratados adequadamente por profissionais da saúde, possam agravar seu

quadro, vindo a desenvolver transtornos mentais e comportamentais, ou ainda “somar” a um

quadro de adoecimento mental algum tipo de adoecimento físico.

A figura seguinte expõe a situação dos 03 professores/participantes da pesquisa em

relação ao adoecimento mental (somente), e adoecimento mental e físico (concomitantemente).

Figura 12 - Adoecimento mental (somente), e adoecimento mental e físico (concomitantemente) entre

os 03 professores/participantes da pesquisa.

Fonte: Dados da pesquisa.

Com relação aos 03 professores/participantes da pesquisa, quando questionados se

haviam sido acometidos por algum tipo de adoecimento ao longo da carreira docente, a

professora Jade e o professor Âmbar responderam que foram acometidos somente pelo

adoecimento mental. Apenas a professora Safira aludiu ter sofrido os dois tipos de

adoecimento, concomitantemente (físico e mental): “cansaço extremo, estresse, depressão,

síndrome do pânico, ansiedade, insônia, problemas na voz”.

Outro dado encontrado em nossa pesquisa que é importante mencionar é a questão do

afastamento (temporário ou definitivo) dos professores que foram acometidos pelo

adoecimento mental.

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Figura 13 - Afastamento dos 58 professores que foram acometidos por adoecimento mental.91

Fonte: Dados da pesquisa.

Dentre os 58 professores que afirmaram terem sido acometidos pelo adoecimento

mental (somente) e o adoecimento mental e físico (concomitantemente), 52,54% informaram

que não se afastaram de suas atividades laborais em decorrência disso; aproximadamente 6%

não responderam; e 40,67% afirmaram que se afastaram da docência por períodos

temporários, que variaram de atestados com poucos dias, há 2 anos e 5 meses, mediante

atestados, relatórios ou laudos médicos, havendo inclusive 02 menções a desvios de função ou

readaptação funcional92.

Eugênio, Souzas e Lauro (2017) perceberam em seus estudos que muitos professores

continuam trabalhando apesar de estarem doentes, por que não conseguem a licença médica,

ou por que acarretaria prejuízos financeiros para a vida dos mesmos. Para aliviar as tensões

acumuladas no trabalho e os problemas de saúde, muitos professores recorrem aos atestados

de, no máximo, 15 dias. Outros depoimentos de (professores) apontaram, inclusive, para uma

desistência da carreira docente, vendo no abandono da profissão/docência a solução para os

seus problemas.

Não houve ainda entre esses docentes a referência de afastamento definitivo

(aposentadoria por invalidez) da profissão. Segue abaixo uma figura ilustrando a questão do

afastamento e continuidade de suas atividades laborais durante o período de adoecimento

mental entre os 58 docentes que foram acometidos por esse tipo de adoecimento.

9103 professores não responderam 92 “Readaptação é a investidura do servidor em cargo de atribuições e responsabilidades compatíveis com a

limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental verificada em inspeção médica.” (BRASIL,

1990) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8112compilado.htm

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A figura adiante é referente ao afastamento dos 03 professores/participantes da

pesquisa que foram acometidos por transtornos mentais e comportamentais.

Figura 14 - Afastamento dos 03 professores/participantes da pesquisa que foram acometidos por

transtornos mentais e comportamentais.

Fonte: Dados da pesquisa.

Os 03 professores/participantes da pesquisa, acometidos por transtornos mentais e

comportamentais, estiveram afastados da docência temporariamente, variando entre 01 ano, e

2 anos e 05 meses. O professor Âmbar esteve afastado por 01 ano, a professora Jade esteve

afastada de suas atividades laborais por 01 ano e 02 meses, e a professora Safira, foi a docente

que se afastou pelo maior período de tempo. Esta última, como já mencionado anteriormente,

segundo informações fornecidas pela mesma, foi acometida pelo adoecimento mental e físico

(concomitantemente), e após esse afastamento, houve inclusive a necessidade de readaptação

funcional. A mesma ainda informou que após o afastamento (02 anos e 05 meses) e a

readaptação funcional por motivo de adoecimento físico (“problemas nas cordas vocais”),

teve outros afastamentos (periódicos) de 01, 03 e 06 meses.

Segundo Brito, Prado e Nunes (2017), as novas atribuições, funções,

responsabilidades, e a longa jornada de trabalho podem trazer consequências para a saúde dos

docentes, agravando quadros de adoecimento físico e mental. Os autores ressaltam que

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“geralmente os docentes costumam apresentar quadros de depressão, ansiedade, estresse,

nervosismo, além de sintomas físicos como dores e cansaço. Esses sintomas surgem em

decorrência de vários fatores, e em alguns casos, é necessário o afastamento dos professores

da sala de aula (BRITO; PRADO; NUNES, 2017, p. 173).

O professor Âmbar acredita que o processo de adoecimento mental é complexo, e o

afastamento do trabalho vai depender de vários fatores, se o diagnóstico for realizado

precocemente seria possível realizar o tratamento e continuar com as atividades laborais.

Porém, a depender de como o professor/sujeito descobriu a doença e seu estado de saúde, o

mesmo precisaria entrar com um pedido de licença médica, que apesar de ser necessário,

muitas vezes, é difícil de lidar.

Reconhecer um processo de adoecimento mental, perceber que precisa de ajuda

profissional, iniciar um tratamento desse cunho não é nada fácil. Os sintomas que fazem parte

de um quadro de transtorno mental e comportamental são marcantes, considerados

desesperador por quem passa por esse tipo de adoecimento. Algumas vezes, a depender de

quando foi diagnosticado, do estado de saúde mental e geral do paciente, do apoio dos

familiares, amigos e colegas de trabalho, da adesão ao tratamento, o sujeito/professor não

precise se afastar de suas atividades laborais por dias, meses ou anos. Ele precisará se ausentar

em alguns dias pontuais ou horários para que possa ir as consultas médicas e realizar o

acompanhamento psicológico.

Todavia, a depender da gravidade do quadro, não é indicado ou adequado que esse

professor/sujeito continue a exercer suas atividades laborais, pois poderá prejudicar a

evolução do tratamento, intensificar os sintomas já existentes, ocasionar mais de um tipo de

transtorno mental, ou contribuir para o adoecimento físico (comorbidades), e ainda, acarretar

uma série de prejuízos no ambiente escolar. O professor Âmbar discorre acerca das possíveis

seqüelas que o adoecimento mental, sem tratamento e acompanhamento adequado, pode

acarretar dentro da instituição escolar, segundo ele:

[...] a pessoa que está adoecida pode piorar a situação dela. Pode vir a

acontecer incidentes por conta do transtorno no ambiente de trabalho. A

pessoa reage de forma inadequada e ocorrer outros problemas, como

processos administrativos a depender do que a pessoa (professor) venha

cometer no trabalho... Além de agravar o estado de saúde, pode até correr o

risco de perder o emprego. (Professor Âmbar)

O referido professor acrescenta ainda: “[...] é claro que afeta na relação de trabalho, e

pode afetar sim a carreira” (Professor Âmbar). Frente a essas prerrogativas, observamos que

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129

este docente acredita que o adoecimento mental/transtornos mentais e comportamentais

podem afetar o trabalho docente e a carreira profissional.

Há quadro de transtornos mentais e comportamentais capazes de causar

procrastinação; a tristeza é tamanha que o simples fato de levantar, fazer a higiene pessoal, se

alimentar ou falar se torna algo muito difícil, imagina ter que enfrentar uma sala, ou várias

salas de aula, com dezenas e centenas de alunos, ou colegas e gestores que não tem empatia,

esclarecimento e não compreendem o processo de adoecimento mental, e acabam julgam o

outro, fora a sobrecarga de trabalho, todas essas demandas podem sugar ainda mais as

energias e disposição desse professor. Algumas vezes os sintomas principais são medo/fobias,

ansiedade exacerbada, insônia, o que pode deixar esse professor/sujeito mais irritado e

impaciente, quiçá mais agressivo. Para ratificar as sequelas e dificuldades frente ao

adoecimento mental/transtornos mentais e comportamentais, trazemos o seguinte relato:

[...] o transtorno de depressão em conseqüência da profissão, te deixa

desencantada, ela te deixa sem coragem para nada. Você pega um livro para

ler parece ser o maior trabalho do mundo, você não tem coragem, não tem

vontade de nada. Simplesmente a vontade de ficar quieto, dormir e pronto,

não fazer mais nada, é prostração mesmo. (Professora Jade)

Nesses casos, após avaliação profissional, muitas vezes, é indicado um afastamento

temporário das atividades laborais, com o objetivo de que esse professor/sujeito tenha tempo

para fazer o acompanhamento médico e psicológico, realizar exames, dar início ao tratamento

medicamentoso que pode desencadear uma gama de efeitos colaterais, mudar alimentação,

tentar começar a realizar alguma atividade física, estar mais perto da família e amigos que

acabam sendo um suporte e apoio fundamentais para processo de cura ou remissão dos

sintomas.

Existem casos de extrema gravidade, geralmente quando esse professor/sujeito já vive

em sofrimento psíquico há anos, sem perceber ou ter atendimento especializado, ou quando

tem fatores genéticos e hereditários presentes, ou passa por eventos traumáticos, sem suporte

e apoio de outrem. Isso tudo, somado a um ambiente de trabalho estressante onde há um a

sobrecarga mental e física, pode levá-lo a um transtorno mental e comportamental capaz de

comprometer sua sanidade mental, seu senso de orientação temporal e espacial, sua

capacidade de observar, interagir, memorizar, entender, se comunicar, afetando também suas

funções cognitivas. Se assim for, todo trabalho, estudo, dedicação, sonhos e a carreira

profissional desses professores/sujeitos estarão comprometidos. Essa possibilidade e

preocupação são expressas pelo professor Âmbar:

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Eu acho que existe a possibilidade, a depender do diagnóstico que a pessoa

(docente) tiver, a doença dela pode ser reversível ou não. Ela pode

apresentar um quadro que não vai voltar mais a ser o que era antes, então

pode ou não incapacitá-la de continuar no trabalho da mesma forma que ela

exercia... Porque no caso se a pessoa desenvolver um transtorno mental, se

de repente ela tiver um gatilho, desenvolver uma esquizofrenia então fica

complicado para continuar exercendo a função dela (a docência), nessa

situação. (Professor Âmbar)

Baseando-se nos estudos de Ferreira (2020), que discute as (des)continuidades no

DPD, o fato de adoecer exercendo a docência - com todos os fatores, demandas, sinais e

sintomas, provocam mudanças na vida desse professor/sujeito, que vão além dos aspectos

pessoais, se estendem a vida laboral – interfere em seu DPD e carreira profissional docente. O

processo de adoecimento mental em professores que leva a uma interrupção temporária ou

talvez definitiva de suas atividades laborais pode ser considerada como uma

(des)continuidade, pois interrompe a continuidade do DPD ou a reduz (FERREIRA, 2020).

Tomando como base os dados obtidos nesta pesquisa, considerando a minha

experiência com professores atendidos na clínica (atendimento psicológico) durante 13 anos,

acreditamos que entre os 180 docentes que também responderam ao questionário da UFRB, e

não mencionaram ter sofrido com o adoecimento mental, é possível que esses tenham

vivenciado esse tipo de adoecimento. Contudo, devido aos estigmas e preconceitos

relacionados à saúde e ao adoecimento mental, não se sentiram à vontade, para expressar seu

real estado de saúde (mental), por receio de serem mal-compreendidos, de serem vistos como

um “problema”. Ou rejeitados pelos colegas e gestores, sendo assim, acabam escondendo,

camuflando, e evitaram falar sobre o assunto. Eugênio, Souzas e Di Lauro (2017) em seus

estudos perceberam que os docentes sofrem preconceitos por parte dos colegas e familiares

quando precisam se afastar de suas atividades laborais por motivo de adoecimento.

Alguns professores/sujeitos podem se portar de forma relutante frente a possibilidade

de estarem vivenciando este tipo de adoecimento e até mesmo, em processo de negação de um

diagnóstico já realizado por algum profissional de saúde, optando então pela omissão desse

dado.

Outro fato observado na prática clínica, que pode ter interferido nos resultados obtidos

nesta pesquisa, é que alguns professores estão adoecidos mentalmente, e não se deram conta

disso, ou que não foi realizado diagnóstico adequado. A questão do preconceito, da

dificuldade em notar que estava em um processo de adoecimento mental e a resistência em

buscar ajuda profissional é perceptível na fala do professor Âmbar:

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Eu quando adoeci não vinha percebendo que estava adoecendo, até que eu

fiquei em um estado muito grave e que de início eu também não queria me

afastar, então levou um tempo para o profissional me atender, para que os

familiares me convencessem que a melhor opção seria eu me afastar do

trabalho para realizar o tratamento. (Professor Âmbar)

Sinais e sintomas de adoecimento mental ainda são confundidos com “um jeito de

ser”, “uma fase”, “formas de chamar a atenção”, ou considerados apenas como queixas de

cunho físico. A falta de informações e esclarecimentos acerca da saúde mental, a negação de

que somos sujeitos repletos de sentimentos, emoções, detentores de uma história de vida,

cargas hereditárias e genéticas, interferem na identificação dos sintomas, no diagnóstico e

tratamento.

Buscando entender a relação entre o adoecimento mental, o trabalho docente e a

carreira profissional, consideramos pertinente observarmos o grau de satisfação com o salário

e com a docência, assim como, a expectativa desses professores com relação a continuidade

ou abandono da carreira docente e dos estudos (pós-graduação e outros). A seguir trazemos

um quadro que sinaliza o grau de satisfação com o salário e a docência referente aos 58

professores que foram acometidos pelo adoecimento mental.

Quadro 17 - Grau de satisfação apontado pelos 58 docentes em relação ao salário e a docência. GRAU DE SATISFAÇÃO SATISFAÇÃO COM O

SALÁRIO

SATISFAÇÃO COM A

DOCÊNCIA

Satisfeitos e muito satisfeitos 24,13%

50%

Nem satisfeitos nem insatisfeitos,

não sabem dizer

27,58% 27,58%

Insatisfeitos e muito insatisfeitos

48,27% 22,41%

Fonte: Dados da pesquisa.

Dos 58 professores que afirmaram terem sido acometidos pelo adoecimento mental

48,27% estão insatisfeitos ou muito insatisfeitos, com o salário que recebem frente ao trabalho

que desenvolvem, apenas 24,13% relataram estarem satisfeitos ou muito satisfeitos com a

remuneração, e 27,58% ficaram neutros em relação a satisfação.

Logo a seguir encontra-se um quadro que aponta o grau de satisfação dos 03

docentes/participantes da pesquisa no que diz respeito ao salário e a docência.

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Quadro 18 - Grau de satisfação apontado pelos 03 professores/participantes da pesquisa em relação ao

salário e a docência.

REDES DE ENSINO

GRAU DE SATISFAÇÃO

COM O SALÁRIO

GRAU DE SATISFAÇÃO

COM A DOCÊNCIA

Professora Jade

(rede municipal)

Insatisfeita Insatisfeita

Professora Safira

(rede estadual)

Nem satisfeita nem

insatisfeita

Satisfeita

Professor Âmbar

(IF-Baiano)

Muito satisfeito Insatisfeito

Fonte: Dados da pesquisa.

Cabe destacar a diferença de opinião entre os 03 professores/participantes da pesquisa,

a professora Jade é a profissional que mais expressou sua insatisfação, tanto em relação ao

salário quanto à docência:

[...] você tem que correr atrás, ou seja, 60 horas não é ambição, é

necessidade. Hoje eu estou vendo que tenho que dobrar também no

município porque eu tenho minhas necessidades, minhas obrigações... eu

tive que pedir clemência, pedir desdobramento para me ajudar porque o

salário na está dando... professor não tem condição de diminuir carga horária

para descansar, é preciso aumentar para se manter decentemente. (Professora

Jade)

A professora Safira descreveu que não estava nem satisfeita nem insatisfeita com seu

salário, em relação à docência sentia-se satisfeita. O professor Âmbar afirma estar muito

satisfeito com o salário, porém não estava satisfeito com a docência.

Em relação a questões salariais dessa classe de trabalhadores, Castro et al (2014)

asseveram que o fato dos professores receberem um baixo salário pode aumentar os

sentimentos de desmotivação e descrença, fazendo com que esses profissionais se sintam

desvalorizados e tenham medo de não conseguirem se sustentar, principalmente depois da

aposentadoria. Os autores afirmaram que a baixa remuneração impede que esses trabalhadores

da Educação tenham acesso ao lazer, e a atividades que favoreçam para uma boa qualidade de

vida.

Entendemos que o baixo salário, a falta de recursos financeiros interfere

significativamente no diagnóstico e tratamento de saúde dos docentes, tanto no que diz

respeito à prevenção do surgimento do adoecimento mental/transtornos mentais e

comportamentais quanto ao tratamento propriamente dito, dificultando o acesso a consultas

com psiquiatras, ao acompanhamento psicológico, aos medicamentos, atividade física, dentre

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outros. Desse modo, podemos notar que as dificuldades resultantes da desvalorização salarial

são ao mesmo tempo um fator que propicia o surgimento do adoecimento, como também

impossibilita que os docentes acessem os meios necessários para saná-lo.

A professora Jade discorreu acerca do acesso e dificuldades em relação a

disponibilidade de serviços de saúde especializado. Afirmou que para tratar o transtorno

mental e comportamental que apresentou buscou ajuda de um psiquiatra, contudo não fez o

acompanhamento com psicólogo porque o plano de saúde o qual pagava não cobria esse

atendimento. Além disso, a referida docente explicou ainda que precisou se deslocar para

outra cidade, para se consultar com o psiquiatra, pois na cidade na qual reside, no momento de

seu adoecimento, não tinha este profissional a disposição. Esta professora relata que:

[...] então é todo um processo que é dispendioso, tanto na questão da

medicação, quanto na questão de você procurar um profissional que atenda

pelo Planserv (plano de saúde). Aqui em Itapetinga não tem, em Conquista

na época não encontrei, encontrei em Itabuna. Quer dizer, é viagem, é tudo.

Você não tem respaldo legal nenhum, nem para evitar, nem para acompanhar

quando você está nessa situação. (Professora Jade)

Quando se trata de adoecimento mental percebemos a dificuldade dos docentes no que

diz respeito ao acesso a esses profissionais e serviços de saúde que cuidem da saúde mental

desses trabalhadores/sujeitos, principalmente se residirem em cidades no interior onde há uma

escassez de profissionais. Como mencionado pela professora 1, nem sempre há médicos

especializados que atendam no município, então precisam se deslocar para cidades maiores, o

que gera um gasto com transporte e alimentação, além do valor da consulta, caso o plano de

saúde não disponibilize esse atendimento, e do custo dos medicamentos, que a depender quais

sejam, não é ofertado pelo Serviço Único de saúde - SUS.

Outro fator preocupante é a indisponibilidade ou a dificuldade que esses docentes

enfrentam para conseguirem passar pelo acompanhamento psicológico. Alguns planos de

saúde não disponibilizam serviços de psicologia, não cobrem esse tipo de acompanhamento, e

por vezes, quando é disponibilizado há um número estipulado ou limitado de sessões.

Há de se considerar ainda aqueles professores que não tem condições de arcar com um

plano de saúde e dependem do SUS para se consultarem, seja com psiquiatra ou psicólogo.

Nesse caso, quando esses profissionais procuram ajuda, nem sempre são atendidos por

psiquiatras ou médicos especialistas em saúde mental, muitas vezes são atendidos por

cardiologistas, ginecologistas, médicos generalistas ou clínico geral etc., o que não é

considerado adequado, todavia é o que têm a disposição. Em relação ao atendimento e

acompanhamento psicológico, isso se torna mais difícil, devido a pouca quantidade de

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psicólogos (efetivos ou contratados) que são disponibilizados pelos municípios e as enormes

filas existentes.

Apesar de observamos alguns avanços de alguns anos para cá no que diz respeito a

inserção do psicólogo nos serviços de assistência social, Saúde e Educação, ainda há uma

defasagem entre a quantidade de profissionais de psicologia que atendem pelo SUS ou que

realizam trabalhos em outros seguimentos pelo setor público, e a quantidade de sujeitos que

buscam e precisam de atendimento psicológico, ou seja, a demanda é maior do que a oferta de

serviços. Sendo assim, é notória a escassez de serviços disponibilizados e relacionados à

saúde mental da população de forma geral, em especial dos docentes. Existe uma burocracia,

e gastos com atendimento médico, psicológico e medicamentos, que não favorecem a busca

pelo tratamento adequado e prejudicam assim toda a saúde desses sujeitos.

No que diz respeito ao grau de satisfação com a docência, como observamos no

quadro abaixo, apesar de uma parcela significativa demonstrar insatisfação com relação à

remuneração, 50% desses professores revelaram que estão satisfeitos ou muito satisfeitos com

a docência, e 22% encontram-se insatisfeitos com a profissão que exercem, 28% não

responderam ou não sabem dizer. Essa insatisfação é percebida na fala da professora Jade:

“[...] além de tudo, dessa questão da sobrecarga, é o descaso com o profissional, porque você

não é valorizado em nenhuma instância [...]”. A professora Safira descreveu estar satisfeita

com a docência. O professor Âmbar relatou que apesar de ter escolhido a docência como

profissão, de gostar do que faz, expõe sua insatisfação com a docência no contexto atual.

Notamos que a uma gama de sentimentos e emoções, expectativas e desilusões, que

são vivenciadas por esses docentes no dia-a-dia, no “chão da escola”, em especial, a sensação

de desvalorização e descaso sentida pelos professores, em relação ao trabalho que

desenvolvem no contexto escolar, para a sociedade de forma geral e principalmente frente ao

poder público, está influenciando negativamente no grau de satisfação com a docência, e

consequentemente colaborando para o processo de adoecimento mental. (BRITO, PRADO,

NUNES, 2017, p. 172). A falta de reconhecimento faz com que os sujeitos/docentes percam o

sentido do trabalho, o que pode desencadear descompensações psíquicas, sendo assim, o

reconhecimento por parte dos alunos, colegas e trabalho em equipe se tornam fatores

fundamentais para a superação do sofrimento e adoecimento” (BRITO et al, 2014).

De acordo com Brito, Prado e Nunes (2017) “Os professores dentro desse contexto de

expropriação de seus direitos e desvalorização de sua carreira sentem-se angustiados,

frustrados e insatisfeitos com a profissão”. Essa angústia, frustração e desvalorização

vivenciadas pelos docentes ocasionam outros sentimentos e emoções

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desagradáveis/desprazerosas/negativas (tristeza, impaciência, irritabilidade, arrependimento,

etc.) que somados a insatisfação diária e constante em relação ao trabalho que desenvolvem, a

longo prazo são capazes de levar esses profissionais ao adoecimento mental.

Continuando nossa análise sobre as implicações dos transtornos mentais e

comportamentais na carreira docente, optamos por observar também quais seriam as

expectativas, continuidade ou interrupção da carreira profissional e dos estudos (formação

continuada) dos professores que foram acometidos pelo adoecimento mental, e dos

docentes/participantes da pesquisa. Para melhor visualização dessas informações segue o

gráfico abaixo.

Gráfico 05 - Expectativa dos 58 professores com relação a continuidade ou interrupção da carreira

profissional docente.

Fonte: Dados da pesquisa.

Dos 58 professores que foram acometidos pelo adoecimento mental, 72,41% desejam

dar continuidade a carreira profissional docente e 60% aos estudos (formação continuada);

12,06% não querem permanecer na carreira docente e 20% não querem continuar a fazer

ursos de pós-graduação e outros; 15,51% desses professores não sabem dizer ou não

responderam se desejam continuar com a carreira docente, e 18% não sabem dizer ou não

responderam com relação à continuidade dos estudos.

Frente a esses dados, chamamos a atenção para o fato de 27% dos professores não

terem certeza se querem continuar com a carreira profissional docente, ou seja, há a

possibilidade desses professores interromperem ou abandonarem a profissão, após anos de

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dedicação e investimento. Sobre a possibilidade do abandono da carreira, Eugênio, Souzas e

Di Lauro (2017) observaram em seus estudos que para alguns docentes a desistência da

docência e a saída da escola seriam a solução para os seus problemas. Corroborando com tal

premissa, Araújo e Carvalho (2009) asseveram que a falta de entendimento sobre a relação

entre adoecimento e trabalho, e a dificuldade em reconhecer o adoecimento podem gerar

situações que irão prejudicar a saúde desses profissionais da Educação que, e, por

conseguinte, ao abandono da profissão e carreira docente.

Quadro 19 - Expectativa dos 03 professores/participantes da pesquisa quanto a continuidade ou

interrupção da carreira profissional docente e estudos (formação continuada).

REDES DE ENSINO EXPECTATIVA QUANTO

A CONTINUIDADE DA

CARREIRA DOCENTE

EXPECTATIVA QUANTO A

CONTINUIDADE DOS

ESTUDOS (FORMAÇÃO)

Professora Jade

rede municipal

Não quer continuar com a

carreira docente

Quer continuar estudando pós-

graduação e outros

Professora Safira

rede estadual

Quer continuar com a carreira

docente

Quer continuar estudando pós-

graduação e outros

Professor Âmbar

IF-Baiano

Quer continuar com a carreira

docente

Quer continuar estudando pós-

graduação e outros

Fonte: Dados da pesquisa.

Com relação aos 03 professores/participantes da pesquisa, destacamos as falas da

professora Jade que não pretende continuar com a carreira docente após sua aposentadoria, de

acordo com ela: “não está valendo a pena. Sem feedback”, entretanto, não pensa em desistir

ou abandonar a docência nesse período da carreira (finalização), a mesma alega que “[...] pelo

meu tempo de serviço, considero um pouco tarde para isso...”. Apesar disso expõe seu desejo

em continuar estudando.

A professora Jade encontra-se no período finalização (27 anos de docência), na

verdade de acordo com a proposta das divisões de etapas/períodos da carreira docente

traçadas por Ferreira (2014). Esta professora ultrapassou a quantidade de anos exercendo a

docência, prevista para 25 anos para as mulheres. Como discutido pela referida autora, esta

docente apresentou características de desencanto, saturação e desinvestimento com a

profissão, almejando a aposentadoria da rede municipal.

A professora Safira mesmo sendo a que mais apresentou queixas/sintomas de

adoecimento mental e físico (concomitantemente), que se ausentou por um período maior de

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tempo, inclusive com desvio de função, e descreveu ter apresentado mais de um tipo de

transtorno mental e comportamental, afirmou que deseja continuar com a carreira profissional

docente. Diferentemente da professora Jade, a professora Safira que também se encontra no

período de finalização (21 anos de docência) ainda demonstra interesse pela carreira

profissional docente. Segundo Ferreira (2014) “[...] isso varia de pessoa para pessoa, e cada

ser carrega em si histórias e experiências que vão permitir vivenciar cada etapa de maneira

diferenciada [...] (FERREIRA, 2014, p. 51).

Quando indagado sobre suas pretensões com relação à continuidade ou não da carreira

docente, mediante ao processo de adoecimento vivido por ele e ao trabalho que desenvolve, o

professor Âmbar revelou que deseja permanecer na profissão, e dar continuidade à sua

carreira profissional através da “[...] pesquisa, extensão, doutorado, atividades administrativas

e melhorar as práticas pedagógicas”.

O professor Âmbar encontra-se no período inicialização (05 anos de docência), fase da

carreira permeada de expectativas, desilusões, entusiasmo, angústia e cansaço, é quando o

docente se depara com a realidade e seus problemas (FERREIRA, 2014). De acordo com

Ferreira (2014) neste período os professores apresentam uma fragilidade emocional mais

acentuada, podendo acontecer mudanças comportamentais, sociais e afetivas, estão mais

suscetíveis ao mal-estar docente e ao abandono da profissão. Com relação a este docente,

percebemos que apesar de ter sofrido com um transtorno mental e comportamental, ter se

afastado temporariamente da docência, o mesmo tem sonhos, expectativas, almeja novas

funções, atribuições e pretende dar continuidade também a sua formação continuada, e a sua

carreira profissional e não cogitou a desistência da docência.

Em nosso estudo, baseado na descrição dos professores, omissão ou falta de

esclarecimentos com relação a esse tipo de adoecimento, não foi possível identificar o

abandono da docência, aposentadoria por invalidez; ou a ocorrência e identificação mais

precisa dos transtornos mentais e comportamentais que acometem essa categoria de

trabalhadores no município de Itapetinga-BA. Entretanto temos ciência de que a desistência

da docência, o abandono da profissão é algo iminente frente a um quadro de adoecimento

mental/transtornos mentais e comportamentais.

58 (25,10%) dos docentes que responderam ao questionário da UFRB sinalizaram

terem sido acometidos pelo adoecimento mental em algum período da carreira profissional

docente. Com base nos dados dessa pesquisa, os professores estudados apresentaram sintomas

isolados, indícios de “mal-estar docente”, Transtornos Mentais Comuns (TMC), e há ainda

aqueles que já foram diagnosticados com transtornos mentais e comportamentais. Os

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transtornos mentais e comportamentais revelados pelos 58 docentes estudados - que foram

plausíveis de identificação, segundo descrição dos professores/sujeitos – foram: Transtornos

do Humor [afetivos] (CID 10 F30-39)93; Ansiedade generalizada (CID 10 F41.1); Transtorno

de pânico [ansiedade paroxística episódica] (CID 10 F41.0); Transtorno misto ansioso e

depressivo (CID 10 F41.2); “Outros transtornos ansiosos (F41) e Reações ao “stress” grave ou

transtornos de adaptação (F43)94”.

Entre os 58 docentes estudados, 66% se referiram a apenas o adoecimento mental

(somente) e 44% relataram ter sofrido com os dois tipos de adoecimento, mental e físico

(concomitantemente). Com relação ao grau de satisfação, 50% desses professores/sujeitos

sentem-se satisfeitos ou muito satisfeitos com a docência, 22,41 estão insatisfeitos ou muito

insatisfeitos; apenas 24,13% estão satisfeitos ou muito satisfeitos com o salário, 48,27% estão

insatisfeitos ou muito insatisfeitos; 77,41% pretendem dar continuidade a carreira profissional

docente, 12,06% não desejam continuar a profissão; 60% querem continuar com os estudos,

formação continuada, e cursos de pós-graduação, 20% mencionaram não querer continuar

com os estudos. Em decorrência do adoecimento mental/transtornos mentais e

comportamentais 40,67% desses professores em algum momento da carreira precisaram se

afastar de suas atividades laborais.

Focando nos 03 professores/participantes da pesquisa que foram acometidos por

transtornos mentais e comportamentais, observamos o quão sofrido foi enfrentar o processo

de adoecimento mental. A não percepção ou a negação da doença; a vivência dos sintomas; a

dificuldade do acesso a tratamentos especializados (no interior); preconceitos e estigmas

vindos de colegas de trabalho e gestores; interferiram de forma direta e indireta no grau de

satisfação com a profissão (docência), salário, nas e expectativas em relação à continuidade da

carreira, ocasionando inclusive o afastamento de suas atividades laborais por até 02 anos e 05

meses, sendo que um desses docentes ainda estava em situação de readaptação funcional.

Mediante as informações coletadas e analisadas, podemos afirmar que o adoecimento

mental, especialmente quando evolui para um quadro de transtorno mental e comportamental,

interfere no trabalho, no DPD. No que se trata sobre a carreira observa-se rupturas,

interrupções e não continuidades (des)continuidades. Ou seja, por um período de tempo esse

professor deixa de investir em sua carreira profissional docente (fato observado nos 03

professores/participantes da pesquisa) para tratamento de saúde. Outras vezes é afastado e não

retorna a sala de aula, passa a desempenhar outras funções, deixa de exercer a profissão

93 Disponível em: http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/f30_f39.htm. 94 Disponível em: http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/f40_f48.htm.

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escolhida a qual investiu tempo e formação especifica, deixa de ser professor

(temporariamente), como foi o caso da professora Safira (estado).

E quando retorna a docência pode perder o interesse e o entusiasmo. Continua a sentir-

se desvalorizada, cansada, descontenta e decepcionada com o sistema e contexto educacional,

não desejando continuar com a carreira profissional docente após a aposentadoria, mesmo

acreditando que ainda poderia fazer a diferença e querendo continuar com os estudos, como é

o caso da professora Jade (município).

Também observamos que apesar do adoecimento mental; de ter sofrido com transtorno

mental e comportamental, ter se ausentado de suas atividades laborais por um período; de toda

a insatisfação com a docência frente ao contexto educacional no qual estão inseridos, ainda há

aqueles, como é o caso do professor Âmbar, que sonham, tem planos; querem aprender,

evoluir; expandir seu campo de atuação, estudos; e investir em sua carreira profissional

docente; pois essa foi a profissão escolhida e a que desejam continuar.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo de nosso estudo e pesquisa buscamos compreender quais seriam as

implicações que os transtornos mentais e comportamentais ocasionariam para a carreira

profissional docente. Discutimos a respeito do trabalho desenvolvido pelos professores; as

mudanças ocorridas no cenário da Educação brasileira, a intensificação e precarização do

trabalho docente; Desenvolvimento Profissional Docente; a carreira profissional docente e

seus períodos; adoecimento mental e transtornos mentais e comportamentais em professores

que atuam na Educação Básica, na rede pública de ensino.

Ao estudarmos sobre o Desenvolvimento Profissional Docente (DPD), Carreira e seus

períodos, entendemos que os mesmos são permeados por sentimentos e emoções diversos

advindas das vivências profissionais que recebem influência do contexto educacional no qual

estes profissionais estão inseridos-, pessoais, sociais, afetivas, culturais, acadêmicas e

formativas. Estas influências, podem se transformar em sintomas relacionados ao

adoecimento mental.

Além da caracterização/perfil desses docentes, conseguimos identificar alguns fatores

e demandas, mencionados pelos mesmos, que podem ter contribuído para o aparecimento do

adoecimento mental/transtornos mentais e comportamentais. Observamos que havia questões

relacionadas à hereditariedade (adoecimento mental ou transtornos psíquicos na família de

origem), ao trabalho docente (desafios e dificuldades da docência) e situações envolvendo

aspectos pessoais, sociais, familiares e de saúde geral.

Os docentes estudados externaram que vivenciam constantemente em sua prática

profissional (docência) situações, desafios e dificuldades que podem ter influenciado no

surgimento do adoecimento mental/transtornos mentais e comportamentais. São elas: aumento

ou excesso de carga horária na jornada de trabalho; mudança de local de trabalho; falta de

estrutura física e funcional; violência no contexto escolar; falta de inovação; falta de apoio por

parte da gestão escolar; falta de equipe multidisciplinar; inclusão; falta de tempo para

planejamento; salas superlotadas; limitações por questões psicológicas, emocionais e mentais

dos professores; limitações por questões de saúde do professor; indisciplina e desrespeito dos

alunos; falta de compromisso e participação das famílias dos alunos; dificuldade de

aprendizagem por parte dos alunos; remuneração digna – baixos salários; desvalorização e o

não reconhecimento do trabalho do professor; falta de interesse por parte dos alunos;

diversidade de alunos; falta de meta pedagógica; dificuldade para desenvolver ações coletivas;

desvio/reassunção/readaptação de função; descaso com o professor; cansaço mental;

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perseguição política; mudança de disciplina; condições de trabalho inadequadas; e conflitos

interpessoais no ambiente de trabalho).

No que concerne aos aspectos relacionados a vida afetiva, social, familiar, os

professores citaram o falecimento de entes queridos; adoecimento mental; adoecimento físico;

mudança de cidade; nascimento de filhos; separação conjugal; gestação interrompida; aborto;

casamento; saída de filhos do ambiente familiar; conciliação entre estudos e trabalho. Dessa

forma, podemos ver que existem diversos fatores que interferem na saúde e adoecimento

mental dos professores, especialmente aqueles que dizem respeito ao trabalho docente e

contexto educacional, sendo estes os mais evidenciados e citados pelos docentes estudados.

Isso nos leva a pensar que as mudanças que vem acontecendo no cenário da Educação

brasileira, que ganharam força após as reformas educacionais, provocaram uma reestruturação

do trabalho dos professores. A flexibilização, a intensificação, a precarização das condições

de trabalho docente propiciaram um ambiente muitas vezes nocivo e ameaçador para saúde

mental desses profissionais. Os salários defasados e indignos, a falta de estrutura funcional e

apoio multidisciplinar, a sobrecarga de trabalho, e o descumprimento (não materialização) de

políticas públicas voltadas para a formação, condições de trabalho e saúde são elementos que

tem conduzido os docentes a sentimentos de frustração e desvalorização, que por sua vez

geram um grande sofrimento psíquico a esses profissionais.

Tudo isso, certamente, influenciará na saúde e no adoecimento mental dessa categoria

de trabalhadores. O adoecimento mental interferirá no DPD; carreira profissional docente; na

qualidade do ensino, da Educação; e na sua deste profissional de forma geral. Se a saúde

mental do docente estiver comprometida, se o seu estado emocional/psicológico estiver

desequilibrado, será difícil para este sujeito ter continuidade no desenvolvimento do seu

trabalho, interagir, estudar, e evoluir enquanto profissional.

Durante análise dos dados, também foi possível perceber os principais sentimentos,

emoções, sinais e sintomas de adoecimento mental; cansaço, estresse, desmotivação,

ansiedade, angústia, frustração, decepção, tristeza, revolta e medo. Vale salientar que entre

eles, o cansaço foi o sintoma mais referido entre esses profissionais. Além disso, notamos nos

relatos dos professores/participantes da pesquisa sentimentos de indignação, sensação de

desamparo e sentimento de desvalorização com relação ao trabalho que desenvolvem.

Com base na descrição desses docentes, conseguimos identificar indícios de “mal-

estar docente”, Transtornos Mentais Comuns (TMC), e possíveis transtornos mentais e

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comportamentais95. Os transtornos mentais e comportamentais observados com este grupo de

professores foram: Transtornos do Humor [afetivos] (CID 10 F30-39)96; Ansiedade

generalizada (CID 10 F41.1); Transtorno de pânico [ansiedade paroxística episódica] (CID 10

F41.0); Transtorno misto ansioso e depressivo (CID 10 F41.2); “Outros transtornos ansiosos

(F41) e Reações ao “stress” grave ou transtornos de adaptação (F43)97”.

Não foi observado em nosso estudo, docentes que interromperam definitivamente suas

atividades laborais, seja em decorrência do abandono da docência ou por aposentadoria por

invalidez em decorrência exclusivamente do adoecimento mental/transtornos mentais e

comportamentais. Contudo, pouco mais de um terço desses professores afirmaram que não

gostariam de dar continuidade a carreira, havendo também vários casos de interrupções

temporárias (descontinuidades) ao longo da carreira profissional docente. Acreditamos que a

desistência da docência, o abandono da profissão é algo iminente frente a um quadro de

adoecimento mental/transtornos mentais e comportamentais.

Diante das informações coletadas podemos afirmar que o adoecimento mental,

especialmente quando evolui para um quadro de transtorno mental e comportamental, irá

interferir no trabalho desenvolvido pelos professores, no DPD e na carreira profissional

docente. Observamos em nosso estudo, o quanto essa categoria de trabalhadores sofre com o

adoecimento mental/transtornos mentais e comportamentais, preconceitos, estigmas,

julgamentos, dificuldade no acesso ao diagnóstico e tratamento adequado. E a falta de apoio e

empatia por parte dos colegas de trabalho, gestores, e serviços públicos.

Apesar de todos os dados expostos, os transtornos mentais e comportamentais ainda

são colocados a margem e negados como tipo de adoecimento, considerados popularmente

como frivolidades, associados à falta de fé e religiosidade, muitas vezes, vistos como forma

de “chamar atenção”, não recebendo a devida importância. A sociedade, o próprio meio

escolar e todo o sistema apresentam dificuldades para entender a abrangência dos prejuízos

que o adoecimento mental pode causar a todo o sistema educacional. O adoecimento

mental/transtornos mentais e comportamentais é um problema de saúde pública, e deve ser

encarado por todos dessa forma, afim de que políticas públicas de saúde possam ser pensadas

como estratégias de intervenção frente a esse agravo.

95Nenhum dos docentes se referiram adequadamente a um CID (F00 à F99), contudo, descreveram e nomearam

o tipo de adoecimento mental/transtorno mental e comportamental. Através dessa descrição foi possível a

identificação de alguns transtornos mentais e comportamentais. 96 Disponível em: http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/f30_f39.htm. 97 Disponível em: http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/f40_f48.htm.

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Frente a uma cultura que ainda acredita que apenas o adoecimento físico deve ser

priorizado, acreditamos que nosso estudo poderá contribuir para a mudança de paradigmas,

com relação à relevância da saúde mental dos professores, dentro e fora do contexto escolar, e

do meio acadêmico; trazer informações, esclarecimentos e promover reflexões acerca desse

tipo de adoecimento mental estratégias de enfrentamento.

A sociedade em geral precisa reconhecer a importância do trabalho docente e toda sua

complexidade, assim como ter a clareza que é através do contato do sujeito com o meio

escolar e com o trabalho do professor que acontece a emancipação humana. Por intermédio do

trabalho desse profissional da Educação, os sujeitos adquirem e aperfeiçoam capacidades

cognitivas e intelectuais e aprendem a refletir criticamente.

Esse descaso e resistência em relação a saúde e adoecimento mental em professores,

assim como, o acesso ao diagnóstico e tratamento especializado, se agrava e torna-se ainda

mais preocupante quando os mesmos residem e trabalham em cidades do interior, onde

prevalece a cultura ou o hábito de negligenciar o adoecimento mental, e há a escassez de

serviços e tratamentos psicológico e psiquiátrico.

Considerando a realidade local desses professores que, muitas vezes, não são

acolhidos ou tratados devidamente, e seguem sua carreira sem suporte ou apoio de serviços ou

políticas públicas voltadas para essa problemática. Os mesmos acabam sendo afastados de seu

trabalho, e depois retornam para a docência, mas ainda estão “doentes”. Até quando esses

professores irão suportar esse adoecimento, sem se aposentar por invalidez ou desistir da

carreira docente, de seus projetos, sonhos e perspectivas?

Ressaltamos que o adoecimento mental em professores é um fato real, grave e

preocupante, que vem tomando grandes proporções, e afetando a vida pessoal e profissional

desses sujeitos, que, por conseguinte, acarreta uma série de prejuízos, inclusive para o poder

público, comunidade e sociedade em geral.

Asseveramos que os transtornos mentais e comportamentais são tão impactantes

quanto o adoecimento de cunho físico. As causas envolvem fatores genéticos, hereditários,

gestacionais, traumas na infância e adolescência; história de vida; meio social, cultural,

econômico e familiar; atividade laboral; acontecimentos da vida; e a forma que cada sujeito

tem de lidar com as dificuldades e adversidades que surgem em sua trajetória. Os sintomas

englobam aspectos emocionais, psicológicos, mentais, físicos e comportamentais.

Diálogos e reflexões acerca do adoecimento e saúde mental dos docentes precisam

acontecer dentro e fora dos muros acadêmicos (das universidades). As discussões devem

envolver todos os profissionais que compõem a equipe escolar (professores, coordenadores

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pedagógicos, orientadores educacionais, merendeiras, vigilantes, serviços gerais, gestores,

profissionais de apoio), a comunidade, os alunos e suas famílias, o poder público (secretarias

de Educação; Saúde; Esporte, Cultura e Lazer, Desenvolvimento Social, etc.), com o intuito

de informar, esclarecer e romper preconceitos e estigmas sobre esse tipo de adoecimento,

proporcionando a esses profissionais, acesso ao diagnóstico e tratamento.

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APÊNDICES

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO – PPG

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGED

APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

DOCENTES

Eu,

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________, docente da rede

____________________________________de ensino, autorizo minha participação na pesquisa

desenvolvida por Juliana da Silva Moura, psicóloga (CRP: 003/003987), mestranda do Programa de

Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (PPGED/UESB), na

linha de pesquisa “Política Pública Educacional”, juntamente com o Prof. Dr. Claudio Pinto Nunes e a

Prof. Drª Lúcia Gracia Ferreira, cujo título preliminar é: “TRANSTORNOS MENTAIS E

COMPORTAMENTAIS EM PROFESSORES E AS IMPLICAÇÕES PARA A CARREIRA

DOCENTE”, que tem como objetivo geral: Analisar as implicações que os Transtornos Mentais e

Comportamentais em professores (da Educação Básica, da rede pública de ensino), podem ocasionar

para a carreira docente.

As informações fornecidas por mim serão tratadas de forma anônima e confidencial, bem como será

respeitada a minha integridade física, psíquica, intelectual, social, moral, cultural e espiritual. Em

nenhum momento será divulgado o meu nome em qualquer fase do estudo. Quando for necessário

exemplificar determinada situação, a privacidade será assegurada uma vez que o meu nome será

substituído de forma aleatória e fictícia.

Os dados coletados serão utilizados nesta pesquisa e os resultados divulgados em eventos e/ou revistas

científicas. Entendo que a minha participação neste estudo é de extrema relevância, pois

contribuirá para discussões e reflexões sobre a temática abordada. O benefício relacionado a minha

participação será de aumentar o conhecimento científico, acadêmico e social para a área de saúde

mental e sua relação com o trabalho e carreira profissional docente. Estou ciente que a minha

participação é voluntária, e consistirá em responder as perguntas a serem realizadas sob a forma de

questionários e Conversa Interativo-provocativo. Não terei nenhum custo ou quaisquer compensações

financeiras. Por fim, após ler e compreender o conteúdo deste termo assino este TCLE em duas vias,

sendo que uma das vias será arquivada pela mestranda e a outra ficará em minha posse.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO – PPG

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGED

APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO DE DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS,

LABORAIS, DE SAÚDE E ADOECIMENTO MENTAL (DOCENTES)

DADOS PESSOAIS

1. Sexo:( ) Masculino ( ) Feminino

2. Idade: _______________________________________________________________

3. Estado Civil:

( ) Solteiro(a) ( ) Divorciado(a)/Separado(a) ( ) Casado/união estável formal ou informal

( ) Viúvo(a)

4. Número de filhos:

( ) Nenhum ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ou mais

5. Nível de Escolaridade:

( ) Ensino Médio ( ) Superior completo ( ) Pós-Graduação/especialização ( ) Pós-

Graduação/mestrado ( ) Pós-Graduação/doutorado

DADOS LABORAIS

6. Em qual instância governamental trabalha?

( ) municipal ( ) estadual ( ) Federal

7. Há quanto tempo exerce a docência?

___________________________________________________________

8. Qual é a sua carga horária semanal (considerando todos os locais de trabalho)

como docente?

( ) 20 horas ( ) 40 horas ( ) 60 horas

9. Turno de trabalho:

( ) Matutino ( ) Vespertino ( ) Noturno

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10. Sinalize a sua situação funcional:

( ) Efetivo/concursado ( ) Contrato/temporário

11. A docência, ser professor (a), foi uma escolha sua? Você desejava ser docente (ter

essa profissão)?

( ) Não ( ) Sim

12. Em termos de satisfação com o trabalho (docente), como você se considera?

( ) Muito satisfeito ( ) Satisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Muito insatisfeito

13. Apesar do sistema e contexto educacional brasileiro, ou de sua realidade local,

você gosta de sua profissão? Gosta de ser professor (a)?

( ) Não ( ) Sim

Comente:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

_______________________________________________________

14. Pretende dar continuidade à carreira docente?

( ) Não ( ) Sim

15. Pensa em desistir/abandonar a carreira docente?

( ) Não ( ) Sim

DADOS SOBRE SAÚDE E ADOECIMENTO MENTAL

16. Em relação à família de origem, alguém já apresentou ou apresenta sinais ou

sintomas de algum tipo de adoecimento mental, ou diagnóstico de Transtorno

mental e comportamental?

( ) Não ( )Sim. Qual?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

_______________________________________________________

17. Em relação à família de origem, alguém já tentou ou cometeu suicídio?

( ) Não ( ) Sim

18. Você já foi atendido por um médico especialista em saúde mental ou psiquiatra?

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( ) Não ( ) Sim

19. Você já fez ou faz tratamento/acompanhamento com um médico especialista em

saúde mental ou psiquiatra?

( ) Não ( ) Sim

20. Você já foi atendido por um psicólogo?

( ) Não ( ) Sim

21. Você já fez ou faz tratamento/acompanhamento com psicólogo?

( ) Não ( ) Sim

22. Foi diagnosticado com algum tipo de Transtorno Mental e Comportamental?

( ) Não ( ) Sim. Qual (CID 10)?

___________________________________________________________________________

23. Você já fez ou faz uso de algum medicamento psiquiátrico?

( ) Não ( ) Sim

24. Acredita que sua atividade profissional/docência interfere em sua saúde e

adoecimento mental?

( ) Não ( ) Sim

Comente:

_________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

_____________________________________________________

25. Acredita que sua vida pessoal, familiar, social e estado de saúde física interferem

em sua saúde e adoecimento mental?

( ) Não ( ) Sim

Comente:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

_______________________________________________________

26. Acredita que sua vida pessoal, familiar, social e estado de saúde física interferem

em sua atividade profissional/docência, no desenvolvimento do trabalho docente?

( ) Não ( ) Sim

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Comente:

______________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

_______________________________________________________

27. Acredita que seu estado de saúde/adoecimento mental interfere em sua atividade

profissional/docência (no desenvolvimento do trabalho docente)?

( ) Não ( ) Sim

Comente:

______________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

______________________________________________________

Data da aplicação do questionário: ____/____/____

Nome fictício: ______________________________

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO – PPG

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGED

APÊNDICE C - ROTEIRO DA CIP COM OS DOCENTES

1. Opinião do sujeito da pesquisa a respeito do adoecimento mental/Transtorno Mental e

Comportamental e o trabalho docente.

2. Percepção do sujeito da pesquisa sobre os professores que são acometidos pelo adoecimento

mental, Transtornos Mentais e Comportamentais e o trabalho docente.

3. A percepção dos sujeitos da pesquisa sobre seu processo de adoecimento mental, e possíveis

fatores e “gatilhos” que o levaram a esse tipo de adoecimento.

4. Reflexões do sujeito da pesquisa sobre o adoecimento mental, Transtornos Mentaise

Comportamentais e a continuidade ou abandono da carreira profissional docente.

5. Reflexões do sujeito da pesquisa acerca de possíveis formas de intervenção, medidas

necessárias por parte das políticas públicas ou por iniciativa própria que visem a melhoria

da sua saúde mental, a diminuição, remissão ou cura dos sintomas e queixas psíquicas, ou

do Transtorno Mental e Comportamental vivenciado pelo mesmo.

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ANEXOS

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ANEXO A - Aprovação da Pesquisa pelo Comitê de Ética

A

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ANEXO B – Autorização para realização da pesquisa

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ANEXO C - Questionário para professores UFRB.

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1) PERFIL

Data de nascimento: Raça/cor: ( ) branca ( ) negra ( ) amarela ( ) indígena ( ) parda ( ) outra___________

Sexo: ( ) masculino ( ) feminino Carga horária de trabalho: ( ) 20 horas ( ) 40 horas ( ) 60 horas outros: ____________

Nível de ensino em que atua: ( ) Educação Infantil ( ) Ensino Fundamental 1 ( ) Ensino Fundamental 2 ( ) Ensino Médio

Disciplinas que ministram atualmente:

Cidade onde mora: Cidade(s) onde trabalha:

Desde que ano atua como professor (a)? Há quantos anos atua como professor (a)?

Situação funcional atual: ( ) Efetivo (a) Quando foi admitido (a) (ano): ( ) contratado (a):

2) FORMAÇÃO/ESCOLARIDADE: (Obs: Se tiver mais de um curso colocar) POR FAVOR RESPONDER TODOS OS TÓPICOS

a. ( ) Ensino médio completo ( ) Ensino médio incompleto

Curso: Ano de conclusão (previsão):

Instituição:

b. ( ) Ensino superior completo ( ) Ensino superior incompleto

Curso: Ano de conclusão (previsão):

Instituição:

c. ( ) Especialização completa ( ) Especialização incompleta

Especialização em: Ano de conclusão (previsão):

Especialização em: Ano de conclusão (previsão):

Universidade:

d. ( ) Mestrado completo ( ) Mestrado incompleto

Curso: Ano de conclusão (previsão):

Instituição:

Título da pesquisa: Desenvolvimento profissional e a carreira docente brasileira: diálogos com professores da Educação Básica

Pesquisadora responsável: Drª. Lúcia Gracia Ferreira Trindade Universidade Federal do Recôncavo da Bahia/UFRB

Questionário para os professores

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e. ( ) Doutorado completo ( ) Doutorado incompleto

Curso: Ano de conclusão (previsão):

Instituição:

f. Outro. Qual?

3. COMPOSIÇÃO FAMILIAR

Solteiro (a) ( ) Não ( ) Sim

Casado (a) ( ) Não ( ) Sim Se sim: quantas vezes se casou ? ___________

União estável (juntado) ( ) Não ( ) Sim Se sim: quantas vezes uniu? ___________

União estável (formal) ( ) Não ( ) Sim Se sim: quantas vezes uniu? ___________

Divorciado (a) ( ) Não ( ) Sim Se sim: quantas vezes divorciou? ___________

Viúvo (a) ( ) Não ( ) Sim Se sim: quantas vezes ficou viúvo (a)? ___________

Outros, especifique _________________________________________

Tem filhos? Se sim: Para mulheres Se sim: Para homens

( ) Não ( ) Sim Quantas gestações? Quantos filhos?

Já sofreu aborto? ( ) Não ( ) Sim: quantos? ____ Quantos biológicos?

Quantos filhos? Quantos adotivos?

Quantos biológicos? Filhos com deficiência? ( ) Não ( ) Sim: quantos? ____

Quantos adotivos? Já perdeu algum filho (óbito)? ( ) Não ( ) Sim

Filhos com deficiência? ( ) Não ( ) Sim: quantos? ____ Os filhos moram com você? ( ) Não ( ) Sim

Já perdeu algum filho (óbito)? ( ) Não ( ) Sim Os filhos já moraram com você? ( ) Não ( ) Sim

Os filhos moram com você? ( ) Não ( ) Sim Tem histórico de perda de filho em período gestacional da

Os filhos já moraram com você? ( ) Não ( ) Sim genitora? ( ) Não ( ) Sim

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Caracterize a composição de sua família de origem. (CIRCULE)

4. HISTÓRICO PROFISSIONAL (PODE ESCOLHER MAIS DE UMA OPÇÃO)

Após assistir ao vídeo do professor sendo agredido, o que você sentiu? (Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=bjVdxNvotf8)

( ) Tristeza ( ) Angústia ( ) Desmotivação ( ) Alegria ( ) Vergonha ( ) Constrangimento ( ) Ansiedade ( ) Revolta ( )

Aversão

( ) Frustração ( ) Culpa ( ) Satisfação ( ) Raiva ( ) Apatia ( ) Calma ( ) Desinteresse ( ) Desespero ( ) Medo ( )

Decepção ( ) Outro (s): __________________________________

O que você faria sendo este professor no momento da agressão?

( ) Nada ( ) Revidaria fisicamente/defenderia ( ) Se protegeria: como?

______________________________________________________

Outro(s): ____________

Levando em consideração a sua família de origem já fez/ou faz parte algum membro que/com:

( ) Nenhum ( ) outro(s):___________

( ) Dependência química (álcool/droga) ( ) Deficiência ( ) Suicídio

( ) Doença mental/ transtorno psíquico ( ) Vítima de Violência sexual

( ) Vítima de Violência doméstica ( ) doença crônica incapacitante

Indique os membros.

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E depois, o que faria?

( ) Comunicaria a gestão da escola ( ) Comunicaria aos pais ( ) Pediria Afastamento ( ) Pediria exoneração

( ) Pediria transferência de escola ( ) Mudaria de profissão ( ) Procuraria a polícia ( ) Outro

Hoje, com relação ao desenvolvimento do seu trabalho docente (considerando seus anos de atuação) quais os sentimentos presentes?

( ) Arrependimento ( ) Motivação ( ) Tristeza ( ) Angústia ( ) Desmotivação ( ) Alegria ( ) Vergonha ( ) Constrangimento

( ) Ansiedade ( ) Revolta ( ) Aversão ( ) Frustração ( ) Culpa ( ) Satisfação ( ) Raiva ( ) Apatia ( ) Calma ( ) Desinteresse

( ) Desespero ( ) Aversão ( ) Medo ( ) Decepção ( ) Outro (s): __________________________________

Por que?_______________________________________________________________________________________

Quais são os desafios do desenvolvimento de sua pratica docente?

( ) indisciplina de alunos ( ) falta de estrutura física e funcional ( ) falta de meta pedagógica ( ) falta de apoio por parte da gestão

( ) diversidade de alunos ( ) remuneração digna ( ) falta de inovação ( ) Violência no contexto escolar ( ) falta de equipe multidisciplinar

( ) dificuldade de desenvolver atuação coletiva ( ) dificuldade de se relacionar com a equipe ( ) inclusão ( ) alunos deficientes

( ) dificuldade de aprendizagem dos alunos ( ) falta de compromisso da família com a escola ( ) Outro(s):________________________

( ) limitações de questões emocionais docentes ( ) questões sociais/religiosas do professor ( ) limitações por questões de saúde do professor

Demanda emocional em relação ao seu trabalho hoje.

( ) Cansado ( ) Satisfeito ( ) Estressado ( ) Seguro ( ) Realizado ( ) Desorientado

( ) Frustrado ( ) Motivado ( ) Empolgado ( ) Capacitado ( ) Outro(s):____________________________

Já foi acometido por alguma doença no período da carreira docente? (Lesão por esforço repetitivo, AVC, Depressão, Cansaço extremo,

estresse, Câncer, síndrome do pânico, problemas de circulação, etc.)

( ) Não ( ) Sim, especifique quais: _______________________________________________________________

Precisou se afastar de suas atividades laborais? ( ) Não ( ) Sim: por quanto tempo?_________________________

PO

DE

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MA

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Já sofreu algum acidente no período da carreira docente? (acidente de carro, de moto e quedas; acidente doméstico e com manuseio de

equipamentos e etc.)

( ) Não ( ) sim, especifique quais: _______________________________________________________________

Esse incidente chegou a prejudicar o desenvolvimento do seu trabalho ou carreira docente?

( ) Não ( ) Sim: como? Houve afastamento?__________________________________________________________

Já sofreu alguma agressão no ambiente de trabalho ou que envolva o trabalho docente que impossibilitou de exercer as atividades laborais

ou que influenciou no desempenho das atividades? (violência física, sexual, psicológica, verbal, assédio moral).

( ) Não ( ) sim, especifique quais: _______________________________________________________________

Precisou se afastar de suas atividades laborais? ( ) Não ( ) Sim: por quanto tempo?___________________________

Durante a sua carreira, quais foram as situações que ocorreram que você observa que influenciou negativamente o desenvolvimento de seu

trabalho (docência)?

( ) Falecimento de entes queridos especifique (marque com x em cima): mãe/pai/filhos/marido/esposa/irmãos/avó/avô/padrastro/madrastra/amigos

próximos/cunhado(a)/sobrinho(s)

( ) adoecimento mental ( ) acidentes ( ) abortos

( ) adoecimento físico ( ) nascimento de filhos ( ) adoção de filhos

( ) diminuição da jornada de trabalho ( ) separação conjugal ( ) casamento

( ) aumento da jornada de trabalho ( ) gestação interrompida ( ) saída dos filhos de casa

( ) mudança de cidade ( ) desvio de função ( ) conciliação de trabalho e estudos

( ) mudança de local de trabalho ( ) Nenhum

( ) outro(s):____________________________________________________________________________________

PO

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Durante a sua carreira, quais foram as situações que ocorreram que você observa que influenciou positivamente o desenvolvimento de seu

trabalho (docência)?

( ) promoção na carreira ( ) aumento de salário ( ) casamento

( ) exercício de cargos e/ou outras funções ( ) nascimento de filhos ( ) adoção de filhos

( ) diminuição da jornada de trabalho ( ) Melhorias na estrutura física da escola ( ) separação conjugal

( ) aumento da jornada de trabalho ( ) Melhorias na/da gestão da escola ( ) Produção científica

( ) mudança de cidade ( ) Afastamento para capacitação ( ) Obtenção de Título de Pós-graduação

( ) mudança de local de trabalho ( ) Nenhum

( ) outro(s):____________________________________________________________________________________

Grau de satisfação com seu salário

( ) muito insatisfeito ( ) insatisfeito ( ) nem satisfeito nem insatisfeito ( ) satisfeito ( ) muito satisfeito ( ) não sei dizer

Grau de satisfação com a docência (fazer docente)

( ) muito insatisfeito ( ) insatisfeito ( ) nem satisfeito nem insatisfeito ( ) satisfeito ( ) muito satisfeito ( ) não sei dizer

Expectativa quanto a continuidade da carreira docente

( ) quero continuar na carreira docente ( ) não quero continuar na carreira docente ( ) não sei dizer

Por que?_______________________________________________________________________________________

Expectativa quanto a continuidade dos estudos

( ) quero continuar estudando pós-graduação e outros ( ) não quero ( ) não sei dizer

PO

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