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Juízes
Silvio Dutra
NOV/2015
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A474 Alves, Silvio Dutra Juízes./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2015. 246p.; 14,8x21cm 1. Teologia. 2. Débora. 3. Gideão. 4. Jefté. 5. Sansão. 6. Comentário Bíblico. I. Título.
CDD 230.222
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Sumário
Juízes 1......................................................... 4 Juízes 2......................................................... 15 Juízes 3......................................................... 36 Juízes 4......................................................... 49 Juízes 5......................................................... 62 Juízes 6......................................................... 74 Juízes 7......................................................... 88 Juízes 8......................................................... 98 Juízes 9......................................................... 107 Juízes 10....................................................... 120 Juízes 11....................................................... 124 Juízes 12....................................................... 138 Juízes 13....................................................... 146 Juízes 14....................................................... 161 Juízes 15....................................................... 169 Juízes 16....................................................... 183 Juízes 17....................................................... 200 Juízes 18....................................................... 211 Juízes 19....................................................... 222 Juízes 20....................................................... 230 Juízes 21....................................................... 241
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Juízes 1
Lido fora de seu contexto, o início deste
primeiro capítulo pode dar a entender que o autor sagrado poderia estar sugerindo que a
conquista de Canaã somente começou efetivamente depois da morte de Josué, mas não
é exatamente isto que ele está afirmando, pois o que está em foco é o avanço das conquistas,
que eles deveriam prosseguir conforme o mandado de Deus, e que haviam sido iniciadas
nos dias de Josué.
Muitos territórios que haviam sido previamente distribuídos pelas tribos, por sortes, enquanto
Josué ainda vivia, deveriam ser conquistados quando as tribos se instalassem nas áreas, que
lhes foram respectivamente designadas, conforme vemos em nosso estudo no livro de Josué.
Entretanto, por temor dos inimigos e por terem
se acomodado ao que havia sido conquistado inicialmente, as novas gerações não haviam
avançado no trabalho de conquistar a terra, e isto está claramente revelado logo no início da
escrita deste livro de Juízes.
Depois da morte de Josué os israelitas consultaram ao Senhor para saber qual das
tribos deveria empreender a primeira ação de combate, para avançar na conquista do
território de Canaã, para animar as demais a combaterem também nos respectivos
territórios.
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Enquanto Josué vivia, as batalhas contra os cananeus eram realizadas pela ação conjunta de
todas as tribos, mas agora, cada uma, respectivamente, com a eventual ajuda das
tribos que lhes estavam associadas, deveria lutar para conquistar os territórios que lhes
foram designados previamente por sortes, como foi o caso de Simeão, que lutou ao lado de Judá, porque teria herança no território que
havia sido designado para esta tribo.
Enquanto estavam lutando juntos realizaram a conquista de muita terra e de muitas cidades,
conforme descrito no livro de Josué, mas agora, tendo cada qual que lutar para estender suas
respectivas fronteiras, nós vemos que não houve fé suficiente neles para crerem no
Senhor, de modo a terem a sua forte mão trabalhando em seu favor.
E disto nos dá conta todo o relato do livro de Juízes, que revela a incredulidade e idolatria de
sucessivas gerações de Israel, confirmando que tinha de fato a sua razão de ser o cuidado de
Deus em ter determinado que não se permitissem conviver com os cananeus, para
não se contaminarem com as suas práticas idolátricas.
Este esfriamento para com Deus ocorreu à medida que o tempo passava, pois nós não
vemos isto logo no início, porque ainda havia muito daquela fé que as tribos demonstravam
enquanto vivia Josué, nesta designação inicial feita pelo Senhor para que a tribo de Judá
subisse primeiro à batalha, prometendo-lhes
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que teriam sucesso no empreendimento, e Deus jamais teria feito tal promessa, se não
vislumbrasse qualquer fé e santidade neles.
Judá era o primeiro em dignidade, e então deveria ser o primeiro no cumprimento do
dever.
O fardo da honra deve ir junto com o fardo do trabalho.
Deus prometeu ajudar a tribo de Judá, mas, não lhe daria sucesso a menos que se aplicassem
vigorosamente ao serviço que deveriam realizar.
De igual modo, nenhum ministério florescerá
pela ajuda das mãos do Senhor, sem que haja a mesma disposição de empenho nos ministros.
O exército de Judá realizou diversas conquistas,
mas não tiveram fé suficientemente forte para empreender guerra contra os cananeus, que
habitavam no vale, porque tinham carros de ferro (v 19), tendo se apossado somente da
região montanhosa.
Mesmo para aqueles que têm fé em Deus há desafios à fé, que exigirão uma fé grande para
que possam ser enfrentados, e daí a necessidade de se aumentar a fé no Senhor, por uma
aplicação mais diligente nos deveres e uso dos meios da graça (oração, meditação na Palavra,
consagração, santificação) para que a nossa fé seja aumentada pelo Senhor, de modo que
possamos realizar maiores obras para a sua glória através de uma fé robustecida.
A fé de Judá foi suficiente para realizar por
exemplo o grande empreendimento de derrota
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dos cananeus e perizeus em Bezeque, onde dez mil homens foram batidos pelas forças de Judá
coligadas com as de Simeão.
Eles submeteram também o rei de Bezeque,
denominado Adoni-Bezeque, que significa Senhor de Bezeque. E antes de ser morto,
cortaram os seus dedos polegares das mãos e dos pés, e o próprio Adoni-Bezeque reconheceu
que estava sendo castigado por Deus, porque ele havia cortado também os dedos polegares das
mãos e pés de setenta reis que se alimentavam das migalhas da sua mesa.
Ele fizera aquilo para que não pudessem mais lutar empunhando espadas, e nem também
terem facilidade de fugir, pela dificuldade de correr sem os polegares dos pés.
Naquela dispensação da morte e condenação, onde imperava a lei do olho por olho, para que
aprendêssemos o temor devido aos juízos de Deus contra o pecado, nós podemos entender
que aquele juízo era de fato procedente do Senhor como paga pelas suas más obras,
demonstrando que realmente, com a medida com que tivermos medido, nós também
seremos medidos, quer seja para o bem, quer seja para o mal, no dia do Grande Juízo Final.
Isto decorre de que enquanto houver pecado no mundo, ao lado da bondade, amor e
misericórdia de Deus, também correrá paralelamente a isto os seus necessários juízos,
de modo que os homens sejam desencorajados da prática do mal, pelo temor que lhes venha a
suceder o mesmo mal que fizerem ao seu
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próximo, ainda que neste período da dispensação da graça, desde que Jesus morreu
para o perdão dos pecadores, estes juízos têm sido muito abrandados, por conta da
longanimidade de Deus.
Nós vimos em nosso estudo do livro de Josué (cap 10), que um rei também chamado Adoni-Bezeque levantou uma coligação de reis para
lutar contra os israelitas.
Certamente, se tratava de um outro rei de Jerusalém que foi batido nos dias de Josué.
Tudo indica que este nome Adoni-Bezeque, era
um título dos reis daquelas terras, tal como nós temos o título de faraó para os reis do Egito, e o
de Abimeleque para os reis dos filisteus.
A conquista dos dias de Josué foi realizada mediante ação conjugada de todas as tribos de
Israel, mas neste capítulo, nós temos apenas Judá e Simeão em ação.
Trata-se, portanto, de uma ocasião diferente da
narrada no livro de Josué.
A passagem relativa a Calebe e à conquista de Quiriate-Sefer por seu sobrinho Otiniel, a quem
deu por esposa sua filha Acsa, está amplamente comentada em Josué 15.16-19.
No verso 18 é citado que Judá tomou também a
Gaza, a Asquelom e a Ecrom, três das cidades confederadas dos filisteus com os seus
respectivos territórios, mas não tendo expulsado os seus habitantes conforme
mandado do Senhor, os filisteus viriam a se fortalecer mais tarde, e tomaram de volta as
suas possessões e passaram a ser um grande
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espinho na carne de Israel, até aos dias do rei Davi, e foram eles que oprimiram Israel nos dias
de Sansão.
Os versos 21 a 36 narram a mistura dos israelitas
com os cananeus que permaneceram em seus territórios, porque não os expulsaram segundo
o mandado de Deus.
Os jebuseus permaneceram na posse de
Jerusalém porque a tribo de Benjamim não os expulsou (v 21).
A tribo de Efraim conquistou Betel porque o Senhor era com eles (v. 22), mas não expulsaram
os cananeus de Gezer, que ficaram habitando no meio deles (v. 29).
Todas as demais tribos, também não expulsaram os cananeus de seus territórios, de
modo que conviviam com eles, e isto se lhes tornou laço, conforme havia sido predito desde
os dias de Moisés.
Os carros de ferro dos cananeus, que habitavam
o vale, e que tanto amedrontaram os israelitas são ainda os mesmos carros de ferro do diabo,
que impedem a Igreja de avançar conquistando almas para Cristo em todo o mundo, e
especialmente nos países onde predomina o islamismo.
São na verdade carros de ferro que não podem ser dominados sem uma ação direta e poderosa
de Deus, e para isto é necessário fé, jejum e oração, por parte da Igreja, para que assim como
ele destruiu tais carros nos dias de Débora e Sísera, como veremos nos capítulos quarto e
quinto deste livro, ele possa abrir à
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evangelização tais portas, que se encontram ainda hermeticamente fechadas, impedindo
uma livre pregação do evangelho.
Todavia, estes carros de ferro não se limitam
apenas aos países de tradição muçulmana, como também se referem aos grandes bolsões
de resistência satânica, no mundo ocidental, quer através de um forte secularismo e
desinteresse pelas coisas celestiais, como também ao grande e crescente aumento da
iniquidade em todas as suas formas de expressão, e isto faz com que a Igreja fique
imobilizada, porque são carros de ferro que não podem ser destruídos sem uma ação direta e poderosa de Deus, e por isso necessitamos
urgentemente de um novo e grande avivamento do Espírito Santo, para que tais resistências
possam ser rompidas.
Todavia, sem oração incessante e sem retidão de vida, não haverá nenhum avivamento.
Deus tem feito à Igreja a mesma promessa que fez a Josué de pelejar pelo seu povo, desde que
este se mantenha fiel à sua vontade:
"Porém a região montanhosa será tua. Ainda que
é bosque, cortá-los-á, e até às suas extremidades será todo teu; porque expulsarás os cananeus,
ainda que possuem carros de ferro e são fortes" (Josué 17.18).
“1 Depois da morte de Josué os filhos de Israel
consultaram ao Senhor, dizendo: Quem dentre nós subirá primeiro aos cananeus, para pelejar
contra eles?
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2 Respondeu o Senhor: Judá subirá; eis que entreguei a terra na sua mão.
3 Então disse Judá a Simeão, seu irmão: sobe comigo à sorte que me coube, e pelejemos
contra os cananeus, e eu também subirei contigo à tua sorte. E Simeão foi com ele.
4 Subiu, pois, Judá; e o Senhor lhes entregou nas mãos os cananeus e os perizeus; e bateram deles
em Bezeque dez mil homens.
5 Acharam em Bezeque a Adoni-Bezeque, e
pelejaram contra ele; e bateram os cananeus e os perizeus.
6 Mas Adoni-Bezeque fugiu; porém eles o
perseguiram e, prendendo-o, cortaram-lhe os dedos polegares das mãos e dos pés.
7 Então disse Adoni-Bezeque: Setenta reis, com os dedos polegares das mãos e dos pés cortados,
apanhavam as migalhas debaixo da minha mesa; assim como eu fiz, assim Deus me pagou.
E o trouxeram a Jerusalém, e ali morreu.
8 Ora, os filhos de Judá pelejaram contra
Jerusalém e, tomando-a, passaram-na ao fio da espada e puseram fogo à cidade.
9 Depois os filhos de Judá desceram a pelejar contra os cananeus que habitavam na região
montanhosa, e no Negebe, e na baixada.
10 Então partiu Judá contra os cananeus que habitavam em Hebrom, cujo nome era outrora
Quiriate-Arba; e bateu Sesai, Aimã e Talmai.
11 Dali partiu contra os moradores de Debir, que
se chamava outrora Quiriate-Sefer.
12
12 Disse então Calebe: A quem atacar Quiriate-Sefer e a tomar, darei a minha filha Acsa por
mulher.
13 E tomou-a Otniel, filho de Quenaz, o irmão de Calebe; mais novo do que ele; e Calebe lhe deu
sua filha Acsa por mulher.
14 Estando ela em caminho para a casa de Otniel, persuadiu-o que pedisse um campo ao pai dela.
E quando ela saltou do jumento, Calebe lhe perguntou: Que é que tens?
15 Ela lhe respondeu: Dá-me um presente; porquanto me deste uma terra no Negebe, dá-
me também fontes d'água. Deu-lhe, pois, Calebe as fontes superiores e as fontes inferiores.
16 Também os filhos do queneu, sogro de
Moisés, subiram da cidade das palmeiras com os filhos de Judá ao deserto de Judá, que está ao
sul de Arade; e foram habitar com o povo.
17 E Judá foi com Simeão, seu irmão, e derrotaram os cananeus que habitavam em
Zefate, e a destruíram totalmente. E chamou-se o nome desta cidade Horma.
18 Judá tomou também a Gaza, a Asquelom e a Ecrom, com os seus respectivos territórios.
19 Assim estava o Senhor com Judá, o qual se
apoderou da região montanhosa; mas não pôde desapossar os habitantes do vale, porquanto
tinham carros de ferro.
20 E como Moisés dissera, deram Hebrom a Calebe, que dali expulsou os três filhos de
Anaque.
21 Mas os filhos de Benjamim não expulsaram
aos jebuseus que habitavam em Jerusalém; pelo
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que estes ficaram habitando com os filhos de Benjamim em Jerusalém até o dia de hoje.
22 Também os da casa de José subiram contra Betel; e o Senhor estava com eles.
23 E a casa de José fez espiar a Betel (e fora
outrora o nome desta cidade Luz);
24 e, vendo os espias a um homem que saía da cidade, disseram-lhe: Mostra-nos a entrada da
cidade, e usaremos de bondade para contigo.
25 Mostrou-lhes, pois, a entrada da cidade, a qual eles feriram ao fio da espada; porém
deixaram livre aquele homem e toda a sua família.
26 Então o homem se foi para a terra dos heteus,
edificou uma cidade, e pôs-lhe o nome de Luz; este é o seu nome até o dia de hoje.
27 Manassés não expulsou os habitantes de
Bete-Seã, nem os de Taanaque, nem os de Dor, nem os de Ibleã, nem os de Megido, todas com
suas respectivas vilas; pelo que os cananeus lograram permanecer na mesma terra.
28 Mas quando Israel se tornou forte, sujeitou os cananeus a trabalhos forçados, porém não os
expulsou de todo.
29 Também Efraim não expulsou os cananeus que habitavam em Gezer; mas os cananeus
ficaram habitando no meio dele, em Gezer.
30 Também Zebulom não expulsou os habitantes de Quitrom, nem os de Naalol; porém
os cananeus ficaram habitando no meio dele, e foram sujeitos a trabalhos forçados.
31 Também Aser não expulsou os habitantes de
Aco, nem de Sidom, nem de Alabe, nem de
14
Aczibe, nem de Helba, nem de Afeca, nem de Reobe;
32 porém os aseritas ficaram habitando no meio dos cananeus, os habitantes da terra, porquanto
não os expulsaram. 33 Também Naftali não expulsou os habitantes
de Bete-Semes, nem os de Bete-Anate; mas, habitou no meio dos cananeus, os habitantes da
terra; todavia os habitantes de Bete-Semes e os de Bete-Anate foram sujeitos a trabalhos
forçados.
34 Os amorreus impeliram os filhos de Dã até a região montanhosa; pois não lhes permitiram
descer ao vale. 35 Os amorreus quiseram também habitar no
monte Heres, em Aijalom e em Saalabim; contudo prevaleceu a mão da casa de José, de
modo que eles ficaram sujeitos a trabalhos forçados.
36 E foi o termo dos amorreus desde a subida de Acrabim, desde Sela, e dali para cima.” (Jz 1.1-36).
15
Juízes 2
Este capítulo é uma síntese de tudo o que é
narrado neste livro de Juízes.
Ele é uma preparação para tudo o que será dito
daqui em diante.
Ele cita o que aconteceu, e estes fatos serão narrados detalhadamente nos capítulos
posteriores, com exceção dos cinco últimos capítulos que se referem a um período anterior
ao dos juízes.
A narrativa se inicia com o anjo do Senhor
repreendendo duramente os israelitas, pelo fato de não terem conquistado os territórios que lhes
foram designados por sortes, nos dias de Josué, e pelo fato de terem se acomodado e se
misturado aos cananeus.
Nos versos 11 a 13 é citado que a geração que se seguiu à de Josué não conhecia o Senhor, e fez o
que era mau aos seus olhos, misturando-se aos cananeus e fazendo as mesmas práticas
abomináveis deles.
O que havia ocorrido com o povo de Israel é o mesmo que ocorre com a Igreja dos nossos dias.
A condição de todo o período coberto pela narrativa do livro de Juízes, o qual durou
aproximadamente trezentos anos, está declarada de forma resumida nos versos 14 a 23.
Nestes versos está revelado claramente que o
motivo de estarmos enfraquecidos diante de nossos inimigos espirituais e sujeitados a
sermos pisados pelos homens, como sal que
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perdeu o sabor, está relacionado ao abandono do Senhor, e da prática da sua Palavra.
A comunhão com Deus, garantida por um andar no Espírito Santo, fazendo aquilo que ele nos
tem ordenado na Bíblia e em relação à sua vontade específica, no que se relaciona ao viver
diário, especialmente o que diz respeito às coisas pertinentes ao ministério, que
recebemos dele para cumprir, é o modo de se ter uma vida verdadeiramente próspera e
sermos mais do que vencedores, por meio de Jesus, sobre a carne, o mundo e o diabo.
Quando nos desviamos dos caminhos do Senhor ficamos sujeitados à disciplina da aliança, que
temos com ele, por iniciativa e autoridade dele próprio, que nos deixa à mercê da opressão dos
nossos inimigos, para que seja produzido em nós o devido arrependimento.
Quando este arrependimento ocorre e clamamos pelo livramento de Deus, ele se
apressa em socorrer-nos, voltando a nos conceder a sua graça e poder, para sermos
fortalecidos e podermos voltar a andar na sua presença.
Deus é santo, e sem a santidade que ele mesmo nos confere, por meio do Espírito Santo, é
impossível estar em comunhão com ele.
Por isso necessitamos da sua graça, para que
operando em nós, de forma a nos conceder um coração segundo o seu coração, possamos
retornar à comunhão.
Então nós vemos declarado na Palavra de Deus
que era ele próprio que entregava Israel nas
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mãos dos seus inimigos, e que também, por sua própria deliberação, decidiu que não
desapossaria mais aquelas nações da presença de Israel, para que por meio delas pudesse
provar a fidelidade do seu povo, em não se deixar levar pelas suas práticas abomináveis, e
permanecerem fiéis na guarda dos seus mandamentos.
Por meio da permanência de muitas daquelas nações seria provado até que ponto Israel
buscaria uma vida autêntica de fé e obediência, de modo que se pudesse provar através disso
que estavam de fato fazendo a vontade de Deus, pois não havia outra maneira de terem sucesso sobre os seus inimigos.
Isto ensina claramente que não se vence o diabo
com religiosidade desprovida de verdadeira comunhão com Deus, porque é se sujeitando a
ele e à sua vontade que vencemos o diabo e todas as suas hostes.
Em outras palavras: a vitória sobre as forças do Inimigo decorre de um caminhar na presença
do Senhor.
É sujeitando-se a Deus, mediante a prática da
sua Palavra, que o diabo foge de nós.
Mas, não era isto o que se via nas sucessivas
gerações de Israel.
Deus havia formado um povo exclusivamente
seu a partir de Abraão, para o propósito de preservar a vida do homem na terra. Porque
pelo modo santo com que deveriam viver revelariam que a prática da justiça divina
preserva e traz prosperidade, mas a prática do
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mal, não somente destrói pessoas e nações, como também atrai os juízos condenatórios do
Senhor.
Isto estava sendo observado de modo prático nos dias do Velho Testamento, através das
assolações que Deus estava trazendo sobre as nações pagãs, como sobre o próprio povo de
Israel, quando este também se encontrava debaixo das mesmas práticas abomináveis
daquelas nações.
Em vez de serem distintos das nações de Canaã,
pelo cumprimento de tudo que lhes foi ordenado na Lei de Moisés, se misturavam às
práticas daquelas nações, e perdiam a sua identidade distintiva de povo do Senhor, porque
quando se mistura água com vinho, o resultado é uma mistura homogênea, e não dá mais para
se distinguir quem é a água e quem é o vinho.
Mas, quando se mistura água com azeite, o
azeite há de ficar por cima da água e não se misturará a ela.
É pois somente estando cheios do azeite que
simboliza o Espírito Santo, e andando nele, que apesar de estarmos no mundo e termos que nos
relacionar com as pessoas que são dele, com vistas a lhes conduzir à bênção do Senhor, por
nosso bom testemunho de vida, não nos misturaremos jamais às coisas deste mundo e
ao pecado, como diz o apóstolo Paulo em Gál 5.16: “Andai no Espírito e jamais satisfareis aos
desejos da carne.”
Assim, nós podemos concluir que a razão da
repreensão que o anjo do Senhor dirigiu aos
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israelitas se prendeu muito mais à falta de fé, e a esta mistura com as práticas dos povos de
Canaã, do que propriamente à falta de iniciativa em combater os cananeus, para se apossarem
das terras que lhes foram designadas por sortes.
O anjo do Senhor vinha lhes acompanhando
desde a saída do Egito, e declara isto nas palavras dos versos 1 a 3, e que estava sendo fiel ao pacto
que haviam feito com Deus, de guardarem todos os seus mandamentos, pois lhes estava
ajudando a cumprirem tudo que lhes havia sido ordenado, especialmente no que se referia a
prevalecerem contra os seus inimigos, mas manifestou o seu desagrado diante do recuo deles em fazerem a vontade de Deus, com as
seguintes palavras:
“1 O anjo do Senhor subiu de Gilgal a Boquim, e disse: Do Egito vos fiz subir, e vos trouxe para a
terra que, com juramento, prometi a vossos pais, e vos disse: Nunca violarei e meu pacto convosco;
2 e, quanto a vós, não fareis pacto com os
habitantes desta terra, antes derrubareis os seus altares. Mas vós não obedecestes à minha
voz. Por que fizestes isso?
3 Pelo que também eu disse: Não os expulsarei
de diante de vós; antes estarão quais espinhos nas vossas ilhargas, e os seus deuses vos serão
por laço.”.
Nós lembramos nisto, das palavras de Paulo
dirigidas aos Gálatas:
“Estou admirado de que tão depressa estejais
desertando daquele que vos chamou na graça de
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Cristo, para outro evangelho,” (Gál 1.6). E ainda em Gál 5.7: “Corríeis bem; quem vos impediu de
obedecer à verdade?”
A síntese de todo o conteúdo do livro de Juízes, que é feita neste segundo capítulo, revela que o
propósito principal da escrita deste livro foi o de ensinar que a mistura do povo de Deus com as
práticas abomináveis do mundo o torna impotente para conhecer e fazer a vontade do
Senhor.
Ensina também que a falta de fé e determinação
para cumprir tudo aquilo que Deus nos tem ordenado expressamente, como no caso dos
israelitas, a indiferença em realizar a conquista total de Canaã, acaba por conduzir o povo de
Deus a perder o seu caráter único e santo, e em decorrência disto, não terá poder e autoridade
que procedem do Senhor para poder conhecer e fazer a sua vontade, deixando portanto, de ser
bênção para as nações.
O mundo espiritual é discernido espiritualmente, pelo Espírito Santo, e este
jamais se moverá naqueles que não estiverem se movendo em direção à obediência à Palavra de
Deus, pela busca de comunhão com ele, em vidas verdadeiramente santas.
Em linhas gerais, foi este o propósito principal do Espírito Santo ao ter inspirado a escrita do
livro de Juízes.
Aprendemos também neste livro de Juízes que
períodos de arrependimento e de retorno à comunhão com o Senhor, podem ser seguidos
por períodos de apostasia, se não cuidarmos
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diligentemente em prosseguir adiante na aplicação em nossos deveres para com Deus e
com o próximo.
Vitórias alcançadas jamais devem ser motivo para descansarmos e não incentivarmos as
gerações seguintes à mesma fidelidade com que estivermos nos empenhando em agradar ao
Senhor.
O livro de Juízes dá um claro testemunho e
palavra de alerta à Igreja para que não descuide em avançar na comissão que lhe foi ordenada
por Jesus de ir por todo o mundo e pregar o evangelho a toda criatura, pois quando a Igreja
se desvia deste grande alvo, perdendo o ardor evangelístico e missionário, a consequência
natural será o apostatar dos caminhos do Senhor, porque ele não se deixará achar e não
expulsará o Inimigo para que almas sejam conquistadas à fé, porque ele faz isto,
concedendo graça, somente quando há uma verdadeira disposição e empenho em se
obedecer à sua grande comissão.
A grande repreensão do anjo do Senhor aos israelitas, exibida nas palavras do verso 2: “Mas
vós não obedecestes à minha voz. Por que fizestes isso comigo?” bem demonstra a grande
indignação que Jesus sente ao nos ver de braços cruzados em relação à ordem que deu à Igreja de
fazer discípulos em todas as nações.
Isto é um dever real que impôs à Igreja até que
ele volte.
Nós sabemos, pelo testemunho da história,
quantas derrotas o povo de Deus teve que
22
amargar em relação aos seus inimigos espirituais, e o pouco ou quase nenhum avanço
que fez em determinadas épocas da história, pelo mesmo motivo que levou o anjo a se
indignar em relação aos israelitas no passado: falta de empenho em cumprir a sua ordem de
avançar e conquistar para Deus tudo aquilo que ele nos tem ordenado.
Os israelitas choraram por causa da repreensão
do anjo (v 4), mas isto não é suficiente.
Não basta estarmos dispostos a mudar nossas atitudes, e mesmo lamentar o nosso estado
espiritual, se isto não for acompanhado por ações de fé reais na direção do cumprimento
daquilo que Jesus nos ordenou quanto à evangelização mundial.
Planos, reuniões, congressos, concílios, e
quaisquer outras iniciativas serão de nenhum valor se não forem acompanhados de ações
concretas visando à conversão de almas para Cristo.
Se o Espírito Santo não for conosco, assim como
o anjo acompanhava, dirigia, instruía e fazia as conquistas para os israelitas, de modo algum
poderemos pensar que estamos agradando a Deus, se fugiu de nós o desejo e o empenho
direcionados à salvação dos perdidos.
Esta tarefa de conduzir o rebanho à obra de evangelização é uma das principais missões de
qualquer pastor, pois são chamados de anjos das Igrejas, pelo Senhor Jesus, no livro de
Apocalipse.
23
Foi a eles que se dirigiu cobrando o seu empenho em conduzir o rebanho segundo a sua
vontade, sob o risco de terem o seu candeeiro removido em caso de descumprimento daquilo
de que foram encarregados pelo Senhor da Igreja.
Estes pastores, que são designados por anjos das
Igrejas, aparecem em Apocalipse como estrelas nas mãos de Jesus.
Isto indica que assim como o Anjo da aliança apareceu a Josué, como príncipe do exército de
Jeová, e conduziu tanto Moisés, quanto Josué, e todos os líderes verdadeiros de Israel, que foram
levantados por Deus para conduzir o seu povo, de igual modo, Jesus é o mesmo Anjo na Nova
Aliança, que tem toda a primazia sobre os pastores que ele mesmo chama e constitui
sobre o seu povo, para que façam toda a sua vontade.
O lugar onde o anjo falou aos israelitas ficou
sendo conhecido por Boquim (v. 1 e 5), porque no hebraico, esta palavra significa chorões, porque
que a palavra se encontra no plural, indicando que foram muitos os que prantearam em razão
da repreensão do anjo do Senhor.
Quem dera, ao menos a Igreja chorasse a sua
atual condição de quase completo desinteresse e imobilização quanto a buscar um real
compromisso e consagração ao Senhor, para que no poder do Espírito Santo se entregue à
obra de evangelização mundial.
24
Mas, quando tão poucos se interessam pela salvação da própria alma, como estarão
realmente interessados na salvação de outros?
Os israelitas ao menos lamentaram e choraram
pela condição de desobediência à ordem de avançar e conquistar Canaã.
Sequer isto se vê na maior parte das igrejas de nossos dias, apesar de haver, certamente, uma
repreensão do Senhor pelo fato de não terem um maior empenho em prol da salvação dos
perdidos em todo o mundo.
Os países da Ásia e de grande parte do Oriente,
continuam com suas portas fechadas para o evangelho, mas importa que este seja pregado
também a eles, para que Cristo volte.
Quando a Igreja despertará do seu sono e
começará a trabalhar com todo o empenho na direção do cumprimento do Ide de Jesus?
Jesus disse que o evangelho será pregado em todo o mundo antes da sua vinda, e o que nós
estamos fazendo para que isto se cumpra?
O Senhor garantiu a posse de todo o território de
Canaã aos israelitas, e o que eles fizeram em relação a isto?
O livro de Juízes revela o quadro, e este não é muito diferente do que tem ocorrido com a
história da Igreja ao longo destes dois mil anos, em que o evangelho tem sido pregado no
mundo.
Da parte do Senhor, a aliança que Ele fez
conosco, nunca será quebrada, porque é fiel àquilo que prometeu, mas não se pode dizer o
mesmo em relação a nós.
25
Devemos, portanto, ser diligentes em todo o tempo e ter todo o cuidado necessário para que
não nos desviemos do alvo que devemos atingir.
Gostando ou não, querendo ou não, temendo ou
não, devemos nos lançar de corpo e alma à missão da qual fomos encarregados, e o Senhor
será conosco e nos fará prosperar em nossos empreendimentos, porque ele fez a promessa
de não deixar e desamparar àqueles que lhe obedecem e lhe são fiéis.
Deste modo, os israelitas foram repreendidos, não somente por terem se desviado da missão
de conquistar Canaã, como também por terem se misturado aos cananeus, que deixaram na
terra, em vez de expulsá-los, e vieram a praticar as mesmas abominações que eles praticavam.
Não é de se estranhar, portanto, que quando deixamos de ter este interesse em dar
testemunho de Cristo às pessoas, que sejamos também encontrados em disposições de
mundano proceder.
O pecado de Israel trouxe como consequência, o
fato de Deus ter determinado que não expulsaria mais os cananeus.
De igual modo, quando deixamos de cumprir o Ide e passamos a nos misturar com as coisas que
são do mundo, Deus também deixa de nos usar para conquistar as almas que são preciosas para
ele.
Outros o farão no nosso lugar, e teremos que
lamentar uma vida vazia e sem frutos, porque o Senhor não dará jamais a honra de o indolente
se gloriar em ter sido usado eficazmente por ele.
26
Se não recebemos graça da parte de Deus, para realizar o trabalho que ele nos designou, não
teremos outra alternativa senão a de enterrar o talento que nos deu para fazer a sua obra.
Aqueles que favorecem e são complacentes com as suas luxúrias e corrupções, que
deveriam mortificar, perdem a graça de Deus, e esta é justamente retirada deles.
Se nós não resistirmos ao diabo, não devemos
esperar que Deus o coloque debaixo dos nossos pés.
Por isso, aos infiéis, em vez de promessas de
bênçãos, Deus promete dificuldades, assim como disse aos israelitas sobre o que deveriam
esperar da parte daqueles aos quais haviam se associado em suas más obras.
Seriam como espinhos e laço para eles, e isto
indicava dificuldades e opressões.
Pois em vez de dominar as nações, Israel seria dominado por elas.
Deus os entregaria nas mãos dos seus inimigos por causa do seu pecado.
Ele afirmou que os venderia aos seus inimigos,
assim como quem é vendido por causa de uma grande dívida que não pode liquidar.
A dívida dos israelitas seria cobrada na forma de
opressões dos seus inimigos, que seriam determinadas pelo próprio Deus.
Porém, sendo benigno e misericordioso, o
Senhor prometeu livrá-los das mãos dos seus opressores caso se arrependessem dos seus
pecados.
27
Ele suscitaria libertadores para este propósito, e nós vemos esta promessa sendo cumprida em
diversas ocasiões na narrativa do livro de Juízes, revelando-se assim o caráter fiel do Senhor, em
cumprir as suas promessas, e a sua infinita misericórdia para conosco.
Entretanto, em razão do seu atributo de justiça,
apesar de ser tardio em se irar, o Senhor não pode ser, de modo algum, conivente com o
pecado e permanecer insensível às apostasias do seu povo, e por isso sempre torna a exercer os
seus juízos, a par de toda a misericórdia exibida anteriormente.
Por causa de sua longanimidade, pode até suportar, tolerar por muito tempo todos os
nossos pecados, mas certamente não nos deixará sem a devida correção no tempo
apropriado.
Isto aprendemos não somente na revelação que fez no livro de Juízes, como também em toda a
Bíblia.
A história da Igreja, tal como a narrada em
Juízes, tem revelado o modo como Deus tem levantado pessoas que qualificou e capacitou
extraordinariamente, pela sua graça, para redirecionar o seu povo à prática da justiça e da
santidade, e isto nos faz lembrar de Lutero, Calvino, Jonathan Edwards, Spurgeon, e muitos
outros, que em suas próprias épocas, foram instrumentos nas mãos do Senhor para o
referido propósito.
28
É notável também, que sempre segue a um período de grande reforma e retorno à
santidade, períodos de apostasias.
Tal como se deu com Israel, ocorre com a Igreja, e por isso, cada época testemunhará acerca
daqueles que Deus levantou e continuará levantando para avivar o seu povo.
Isto indica que o ideal seria que a Igreja permanecesse permanentemente avivada e fiel
à vontade de Deus.
Mas, como o evangelho opera entre pecadores,
e por serem estes dados a se desviarem da vontade do Senhor, sempre será necessário
manter uma postura de reforma, de modo a não se experimentar apostasias, que sempre virão,
sem falta, se deixamos esfriar este espírito de manter as pessoas ocupadas em serem fiéis à
vontade de Deus.
Veja o caso de Israel, que enquanto vivia Josué e os anciãos da sua geração, o povo andou
obedientemente cumprindo a vontade do Senhor, especialmente no que se refere à
ocupação e conquista de Canaã.
Mas, quando uma nova liderança se levantou, e
que não tinha o mesmo empenho em conduzir o povo nos caminhos de Deus, o resultado é o que
encontramos no livro de Juízes, que afirma o seguinte nos versos 16 a 19: “16 Mas o Senhor
suscitou juízes, que os livraram da mão dos que os espojavam. 17 Contudo, não deram ouvidos
nem aos seus juízes, pois se prostituíram após outros deuses, e os adoraram; depressa se
desviaram do caminho, por onde andaram seus
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pais em obediência aos mandamentos do Senhor; não fizeram como eles. 18 Quando o
Senhor lhes suscitava juízes, ele era com o juiz, e os livrava da mão dos seus inimigos todos os
dias daquele juiz; porquanto o Senhor se compadecia deles em razão do seu gemido por
causa dos que os oprimiam e afligiam. 19 Mas depois da morte do juiz, reincidiam e se corrompiam mais do que seus pais, andando
após outros deuses, servindo-os e adorando-os; não abandonavam nenhuma das suas
práticas, nem a sua obstinação.”.
Tal é esta obstinação da natureza terrena, do coração carnal, que se diz que o povo não deu
ouvido aos juízes e se prostituiu após outros deuses (v. 17).
A advertência bíblica para que nos empenhemos com toda diligência em
confirmar a nossa vocação e eleição, não é de pouca monta, porque se refere a uma luta
titânica contra um inimigo poderoso que é a nossa natureza pecaminosa, que pode ser
mortificada somente pelo Espírito Santo, mas este trabalho não poderá ser realizado se não
cooperarmos com a sua vontade, por não nos tornarmos verdadeiramente submissos ao
Senhor, e por não crermos e não nos dispormos a colocar em prática, todas as coisas que nos tem
ordenado em sua Palavra, e especificamente em nossa caminhada diária.
Assim, os cananeus não seriam expulsos por Deus, para que por meio deles, provasse a
fidelidade de Israel.
30
De igual modo o diabo e todos os seus demônios permanecem no mundo, não por que isto seja
agradável ao Senhor, mas para que por meio desta presença, a nossa fidelidade possa ser
provada, de maneira a permanecermos firmes em fazer a vontade de Deus, em meio a todas as
tentações que o inferno possa realizar.
Parece que a missão da Igreja de ser sal e luz do mundo se deteriora cada vez mais, permitindo
que a luz do evangelho não brilhe em todo o seu fulgor e que o sal perca o seu poder de salgar e
preservar.
Isto decorre do pecado de os cristãos serem
mundanos, ignorando a ordenança bíblica de serem um povo distinto e de não amarem o
mundo e não tomarem a forma dele, como nos exortam especialmente os apóstolos João e
Paulo, respectivamente.
Muitos cristãos não querem ser diferentes do
mundo. Ao contrário, querem trazer para suas vidas e para dentro da Igreja aquilo que não é de Cristo, mas do mundo.
Pensam erroneamente, que esta será a melhor forma de trazer outros à conversão.
Estamos empenhados numa batalha espiritual de vida ou de morte, na qual operam
principados e potestades com toda a fúria inimaginável, para permanecerem na posse das
almas humanas, as quais, para serem resgatadas demandam que primeiro seja amarrado o
valente que as aprisiona, e este é um trabalho único e exclusivo para o Senhor Jesus e o
Espírito Santo de Deus, sob a atração exercida
31
por Deus Pai para trazer os pecadores em submissão a seu Filho.
Como isto poderá ocorrer quando os cristãos se tornam mundanos?
Deus usaria Israel caso eles evitassem o pecado de se misturarem com o pecado das nações
pagãs. Não é, portanto, para se admirar que tantas exortações sejam feitas na sua Palavra
neste sentido.
Para o propósito de desencorajar o seu povo à
mistura com as nações de Canaã, Deus acrescentou variadas e grandes ameaças de
maldições e castigos para os israelitas no caso de serem desobedientes a tal ordenança
específica.
Muitas aflições viriam sobre eles, da parte do
próprio Deus, caso se misturassem com as práticas abomináveis daquelas nações.
O que acontece com a Igreja de Cristo em nossos
dias não é muito diferente disso.
Muitas bênçãos não são alcançadas, e muita
correção da parte do Senhor sobrevém à Igreja, exatamente por causa deste pecado de se
assumir a forma do mundo.
Se, conforme dizer do apóstolo é necessário não
se conformar ao mundo para que se possa conhecer a boa, agradável e perfeita vontade de
Deus, então não é difícil de se entender que quando se toma a forma do mundo não somente
ficamos impossibilitados de fazer a vontade de Deus, como até mesmo de conhecê-la,
conforme se afirma em Rom 12.2.
32
Deus quer um povo santo, puro e separado, e este segundo capítulo de Juízes nos revela isto
de forma muito direta e clara, e este povo, é formado na dispensação da graça, por pessoas
que se convertem das trevas do mundo para a luz de Jesus.
Tudo o que estiver misturado com o mundo,
passará debaixo do juízo ou da correção do Senhor, porque nada que provém do mundo
pode ser um canal apropriado para trazer a nós a presença real e santa de Jesus.
Assim, todo ministério mundano não
prevalecerá, e ficará destituído da graça de Deus.
Os pastores mundanos não terão qualquer mensagem recebida da parte de Deus para ser
pregada com poder ao seu povo. Porque o Espírito Santo não se detém onde mora o
orgulho e disposições de mundano proceder.
Aquele que não separa o que é vil do que é precioso, não pode ser a boca de Deus.
Deste modo, todos os cristãos que se deixarem
seduzir pelos prazeres deste mundo estarão áridos, vazios e confusos.
Serão como o povo de Israel, depois de ter fabricado o bezerro de ouro.
A presença da nuvem de glória entre eles se
retirará e o Senhor não caminhará mais com eles, até que se arrependam e voltem a viver em
verdadeira santidade.
“1 O anjo do Senhor subiu de Gilgal a Boquim, e
disse: Do Egito vos fiz subir, e vos trouxe para a
33
terra que, com juramento, prometi a vossos pais, e vos disse: Nunca violarei e meu pacto
convosco;
2 e, quanto a vós, não fareis pacto com os
habitantes desta terra, antes derrubareis os seus altares. Mas vós não obedecestes à minha
voz. Por que fizestes isso?
3 Pelo que também eu disse: Não os expulsarei de diante de vós; antes estarão quais espinhos
nas vossas ilhargas, e os seus deuses vos serão por laço.
4 Tendo o anjo do Senhor falado estas palavras a
todos os filhos de Israel, o povo levantou a sua voz e chorou.
5 Pelo que chamaram àquele lugar Boquim; e ali
sacrificaram ao Senhor.
6 Havendo Josué despedido o povo, foram-se os filhos de Israel, cada um para a sua herança, a
fim de possuírem a terra.
7 O povo serviu ao Senhor todos os dias de Josué,
e todos os dias dos anciãos que sobreviveram a Josué e que tinham visto toda aquela grande
obra do Senhor, a qual ele fizera a favor de Israel.
8 Morreu, porém, Josué, filho de Num, servo do Senhor, com a idade de cento e dez anos;
9 e o sepultaram no território da sua herança,
em Timnate-Heres, na região montanhosa de Efraim, para o norte do monte Gaás.
10 Foi também congregada toda aquela geração
a seus pais, e após ela levantou-se outra geração que não conhecia ao Senhor, nem tampouco a
obra que ele fizera a Israel.
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11 Então os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor, servindo aos baalins;
12 abandonaram o Senhor Deus de seus pais,
que os tirara da terra do Egito, e foram-se após outros deuses, dentre os deuses dos povos que
havia ao redor deles, e os adoraram; e provocaram o Senhor à ira,
13 abandonando-o, e servindo a baalins e astarotes.
14 Pelo que a ira do Senhor se acendeu contra
Israel, e ele os entregou na mão dos espoliadores, que os despojaram; e os vendeu na
mão dos seus inimigos ao redor, de modo que não puderam mais resistir diante deles.
15 Por onde quer que saíam, a mão do Senhor era
contra eles para o mal, como o Senhor tinha dito, e como lho tinha jurado; e estavam em
grande aflição.
16 Mas o Senhor suscitou juízes, que os livraram da mão dos que os espojavam.
17 Contudo, não deram ouvidos nem aos seus
juízes, pois se prostituíram após outros deuses, e os adoraram; depressa se desviaram do
caminho, por onde andaram seus pais em obediência aos mandamentos do Senhor; não
fizeram como eles.
18 Quando o Senhor lhes suscitava juízes, ele era com o juiz, e os livrava da mão dos seus inimigos
todos os dias daquele juiz; porquanto o Senhor se compadecia deles em razão do seu gemido
por causa dos que os oprimiam e afligiam.
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19 Mas depois da morte do juiz, reincidiam e se corrompiam mais do que seus pais, andando
após outros deuses, servindo-os e adorando-os; não abandonavam nenhuma das suas práticas,
nem a sua obstinação.
20 Pelo que se acendeu contra Israel a ira do
Senhor, e ele disse: Porquanto esta nação violou o meu pacto, que estabeleci com seus pais, não
dando ouvidos à minha voz,
21 eu não expulsarei mais de diante deles nenhuma das nações que Josué deixou quando
morreu;
22 a fim de que, por elas, ponha a prova Israel, se
há de guardar, ou não, o caminho do Senhor, como seus pais o guardaram, para nele andar.
23 Assim o Senhor deixou ficar aquelas nações,
e não as desterrou logo, nem as entregou na mão de Josué.” (Jz 2.1-23).
36
Juízes 3
Os primeiros sete versículos deste capítulo
descrevem as nações que foram deixadas em Canaã, para que as gerações, que não haviam
conhecido as batalhas empreendidas nos dias de Josué, pudessem ser provadas em sua
fidelidade ao Senhor, por não se misturarem e por empreenderem as guerras ordenadas por
Deus contra eles. Dentre estas nações que permaneceram em
Canaã são citadas as cinco cidades confederadas dos filisteus, a saber: Asdode, Gaza, Ascalom,
Ecron e Gate.
Três destas cidades haviam sido conquistadas parcialmente, como se vê em Jz 1.18, mas ao que
tudo indica, os filisteus, com a ajuda das outras duas cidades recuperaram a sua posse, vindo a
dar muito trabalho a Israel, sem serem submetidos, senão apenas nos dias do rei Davi.
Além dos filisteus permaneceram também na posse de seus territórios os cananeus, sidônios
e heveus, que habitavam ao norte e junto ao Mar Mediterrâneo (v. 3).
Aqueles que os israelitas não expulsaram dos
territórios que haviam conquistado, permitindo-se habitar com eles, trouxe como
resultado o que se descreve nos versos 5 a 7: “5 Habitando, pois, os filhos de Israel entre os
cananeus, os heteus, os amorreus, os perizeus, os heveus e os jebuseus. 6 tomaram por
mulheres as filhas deles, e deram as suas filhas
37
aos filhos dos mesmos, e serviram aos seus deuses. 7 Assim os filhos de Israel fizeram o que
era mau aos olhos do Senhor, esquecendo-se do Senhor seu Deus e servindo aos baalins e às
aserotes.”.
Isto demonstra que não foi sem razão que o
Senhor insistiu tão veementemente com eles, desde os dias de Moisés, mandando que se
registrasse em sua Palavra que não deixassem de conquistar toda Canaã, exterminando todos
os seus habitantes, de modo a se prevenirem do que acabou ocorrendo: o se misturarem com
eles e perderem a identidade de povo santo separado para o Senhor.
Israel foi preparado por Deus para ser uma nação guerreira. Eles combateriam as guerras
de Deus contra as nações ímpias de modo a revelar ao mundo que há somente um Deus
Todo-Poderoso, único e verdadeiro, e este é o Deus de Israel, que demanda santidade de todas
as pessoas do mundo, porque quando Israel vivia santamente prevalecia sobre todos os seus
inimigos, e quando se entregava à idolatria era sujeitado por eles, demonstrando com isto qual
é o caráter santo do Deus que eles serviam.
De igual modo a Igreja está destinada a ser um
povo guerreira que combata o bom combate da fé.
As vitórias sobre as forças do Inimigo serão alcançadas quando se vive em santidade, e em
caso contrário, tal como ocorria com Israel, ficará sujeita a ser entregue ao iIimigo, para
destruição da carne, quando andar
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contrariamente com o Senhor, de modo que se revele também ao mundo o caráter santo do
Deus que servimos, para que as pessoas sejam incentivadas a abandonarem o pecado e se
arrependerem, para viverem de modo santo para Deus, porque esta é a única maneira de ser
verdadeiramente abençoado por ele, e de ser próspero em todas as coisas, particularmente naquelas que se referem a ter sucesso e vitória
garantida na batalha contra a carne, o diabo e o mundo.
Como bons soldados de Cristo, os crentes
devem estar preparados a suportarem dificuldades neste mundo (II Tim 2.3), e para isto
deverão se equipar com toda a armadura de Deus, com suas armas de defesa e de ataque, relacionadas por Paulo no sexto capítulo de
Efésios.
Quão rapidamente Israel deixou o caminho do Senhor para se envolver com os falsos deuses
das nações, com as quais haviam se misturado.
Com que facilidade também se abandona a
prática do único e verdadeiro evangelho, e da sã doutrina, quando não nos apegamos com
grande firmeza ao que está revelado na Bíblia e não nos aplicamos em meditar na Palavra para
conhecer o Senhor e o seu caráter, conforme ele mesmo o revelou a nós na Bíblia.
A repreensão de Paulo aos Gálatas é aplicável a muitos crentes, em toda a história da Igreja:
“Estou admirado de que tão depressa estejais desertando daquele que vos chamou na graça
de Cristo, para outro evangelho, o qual não é
39
outro; senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo.” (Gál
1.6,7). E daí a exortação do apóstolo em Heb 2.1: “Por isso convém atentarmos mais
diligentemente para as coisas que ouvimos, para que em tempo algum nos desviemos
delas.”
Não é porque existem várias heresias no mundo,
que seremos justificados em nossa possível falta de fidelidade à vontade e verdade de Deus, já
reveladas de uma vez para sempre na Bíblia, porque como vemos no testemunho que a Bíblia
dá, é o próprio Deus que permite que haja heresias no meio dos crentes para que aqueles
que são sinceros e fiéis sejam manifestados (I Cor 11.19), tal como o Senhor permitiu que aquelas nações permanecessem entre os
israelitas, para provar por meio delas a fidelidade deles.
As mulheres israelitas se casaram com os povos
idólatras de Canaã, e passaram a adorar os seus deuses (v. 6, 7), provocando a ira de Deus que os
vendeu para castigá-los, por causa dos seus pecados, ao rei da Mesopotâmia, Cusã-Risataim,
tendo ficado debaixo da sua sujeição por oito anos (v. 8).
Mas, quando os israelitas clamaram ao Senhor por livramento, Ele levantou a Otniel, o
sobrinho de Calebe ao qual dera sua filha em casamento, para libertar Israel (v. 9).
Ele foi capacitado pelo Espírito Santo (v. 10) para a obra que deveria realizar, bem como para ser
juiz sobre os israelitas.
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Portanto, do mesmo modo que foi permitido por Deus que o rei da Mesopotâmia oprimisse os
israelitas, também procedeu dele que fossem libertados em razão do seu clamor e
arrependimento, tendo Otniel prevalecido sobre o rei da Mesopotâmia porque este foi
entregue por Deus a Otniel, para que pudesse vencê-lo (v. 10).
E por quarenta anos, Israel teve paz e não foi oprimido por nenhum outro inimigo, debaixo
da boa liderança de Otniel, que tinha uma fé igual à de seu tio Calebe (v. 11).
Por oito anos os israelitas continuaram em sua idolatria e se acomodaram à opressão de Cusã-
Risataim, mas vendo eles que não podiam prevalecer sobre ele enquanto viviam em seu
pecado adorando outros deuses, e certamente, dando ouvidos agora àqueles que
permaneciam fiéis a Deus entre eles, lembrando-lhes do pacto que haviam feito com
o Senhor através da mediação de Moisés, se deixaram convencer da causa da sua ruína e
apelaram à misericórdia do Senhor para que lhes perdoasse o pecado e os libertasse dos seus
opressores.
É digno de destaque o fato de que Otniel esperou
a chamada de Deus para entrar em cena e começar a operar, liderando os israelitas nas
ações de guerra contra o rei da Mesopotâmia.
De igual modo, ainda que muito pese e
entristeça ao nosso coração fiel, o estado em que se encontra a Igreja de Cristo, tão misturada ao
mundo, nada poderemos fazer em nossa
41
fidelidade, se não formos levantados por Deus, mediante capacitação do Espírito, para tirar a
Igreja da sua apostasia e trazê-la de volta a um caminhar santo e obediente na presença de
Deus.
Se o próprio povo não clamar, nenhum Lutero
será levantado.
Nenhuma reforma se verá.
O Senhor espera que o seu povo se arrependa para que possa manifestar de novo a plenitude
do seu favor e graça, não apenas nos livrando das opressões do inferno, como também
concedendo que tenhamos vitórias sobre os nossos inimigos espirituais.
Quando Otniel foi levantado por Deus, ele primeiro julgou Israel, e reprovou os israelitas
chamando-os a responder pelos seus pecados, e foi somente depois de ter efetuado uma
reforma, que ele saiu para a guerra.
Esta é a sequência correta que deve seguir toda
Igreja que deseja prosperar sendo usada por Deus: Primeiro resolver o problema do pecado
por um abandono das coisas que provocam a ira do Senhor, porque o grande inimigo que deve
ser vencido em primeiro lugar é o próprio pecado, e uma vez tendo sido feito isto, os
inimigos do exterior serão vencidos por Deus por maior que seja o seu número e poder.
Não é sem motivo que, por tantas vezes no Novo Testamento, os crentes sejam exortados ao
dever da vigilância. Vigiar e orar em todo o tempo para que não caiam em tentação e não
sejam vencidos pelo mal. Porque a natureza
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terrena é dada a se desviar de Deus e a vigilância e a oração a manterão debaixo do jugo de Jesus,
de modo que não tenha liberdade para nos conduzir à prática do pecado.
Foi exatamente por falta de vigilância, depois da
morte de Otniel, que os israelitas voltaram a fazer o que era mau aos olhos do Senhor (v. 12),
motivo porque o próprio Deus fortaleceu a Eglom, rei dos moabitas, para que pudesse
prevalecer contra Israel, para serem castigados pelo retorno deles à prática do pecado.
Tendo o rei de Moabe se coligado aos amonitas
e amalequitas derrotou Israel e o reduziu à servidão por dezoito anos (v 13,14).
Foi somente depois de terem ficado debaixo do
jugo de Moabe por dezoito anos, que os israelitas clamaram a Deus por livramento,
reconhecendo os seus maus caminhos e necessidade de retornarem à prática da sua
Palavra.
Nossas aflições não têm por propósito nos endurecer ainda mais no nosso orgulho e
pecado, mas justamente o contrário disto: conduzir-nos à humildade e ao arrependimento.
Contudo, se o arrependimento não ocorrer, a
justa destruição da carne pelo diabo, para que o espírito seja salvo, será algo que sempre se verá
na vida de crentes que insistem em permanecer na prática deliberada do pecado, em nada se
importando com o compromisso que têm com Deus, em razão da aliança que fizeram com ele
por meio do sangue de Jesus.
43
Então, como a própria Bíblia revela e a experiência prática confirma, Deus sempre
castiga os pecados das pessoas do seu próprio povo neste mundo, uma vez que os crentes estão
livres da condenação eterna, por causa da justificação que alcançaram por meio da fé em
Cristo.
Mais uma vez o clamor dos israelitas fez com que Deus levantasse um libertador na pessoa de
Eúde, que era da tribo de Benjamim (v 15).
É interessante o fato de o registro bíblico indicar
que ele era canhoto, como que a ensinar que quando Deus levanta alguém para ser usado por
ele, esta pessoa não precisa estar revestida de todas as habilidades necessárias, porque Deus
mesmo se encarregará de provê-las, conforme operação do Espírito Santo.
Deus usa as coisas desprezíveis e as que não são para que se reconheça que toda a glória deve ser
tributada tão somente a ele, pelo reconhecimento de que não nós, mas o seu
poder é quem realiza todas as coisas.
É citado no texto que havia imagens de escultura
em Gilgal (v. 19, 26), e sabemos que este foi o local onde Josué levantou pedras em
testemunho da abertura do rio Jordão, quando eles entraram em Canaã, e foi também em
Gilgal em que renovaram a aliança com Deus, pela circuncisão de todos os israelitas e
celebração da páscoa, e foi também em Gilgal que o Senhor retirou de sobre eles o opróbrio,
tendo este local sido escolhido como
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acampamento de Israel, enquanto realizava as campanhas de conquista da terra.
Tudo isto deve ter servido para aumentar ainda mais a indignação de Eúde contra a dominação
de Israel, por um povo idólatra, e certamente isto pesou para que se decidisse em tirar a vida
de Eglon, rei de Moabe, e conduzir os israelitas em Efraim a lutarem contra os moabitas, tendo
sido mortos cerca de dez mil deles pelos israelitas (v. 29).
É dito que estes homens eram robustos e valentes, para que ficasse registrado que não foi
propriamente pelo próprio poder dos israelitas que conseguiram tal façanha, mas pelo braço
forte do Senhor que era agora com eles.
O resultado foi o de que Moabe deixou de ser
opressor, e foi subjugado por Israel (v. 30).
Assim também ocorre com os crentes, quando
se arrependem de seus pecados e se consertam com Deus.
Eles também deixam de ser oprimidos pelos espíritos malignos, e ganham autoridade da
parte do Senhor sobre eles.
O ato de Eúde, em nome de Deus, e para Deus,
era plenamente justificável na dispensação da lei, em que Deus usava o seu povo para se vingar
dos seus inimigos e deles, e para manifestar ao mundo a sua justiça.
Todavia, agora, na dispensação da graça, nenhum fim justificará jamais o emprego de
meios semelhantes pela Igreja.
Nenhuma ordem é determinada na Nova
Aliança, aos crentes, neste sentido. Cristo
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mandou Pedro embainhar a espada, num ensino a todos nós de que não devemos fazê-lo,
ainda que se trate do inimigo mais vil.
Este capítulo de Juízes é fechado com a breve citação a Sangar, no verso 31, onde se afirma que
matou seiscentos homens dos filisteus, com uma aguilhada de bois, e que tal como Otniel e
Eúde, também libertou Israel. (Obs: Aguilhada é o mesmo que aguilhão, e consiste numa vara
comprida com um ferrão na ponta para se tanger com ela os bois).
“1 Estas são as nações que o Senhor deixou ficar para, por meio delas, provar a Israel, a todos os
que não haviam experimentado nenhuma das guerras de Canaã;
2 tão-somente para que as gerações dos filhos de
Israel delas aprendessem a guerra, pelo menos os que dantes não tinham aprendido.
3 Estas nações eram: cinco chefes dos filisteus, todos os cananeus, os sidônios, e os heveus que
habitavam no monte Líbano, desde o monte Baal-Hermom até a entrada de Hamate.
4 Estes, pois, deixou ficar, a fim de por eles
provar os filhos de Israel, para saber se dariam ouvidos aos mandamentos do Senhor, que ele
tinha ordenado a seus pais por intermédio de Moisés.
5 Habitando, pois, os filhos de Israel entre os cananeus, os heteus, os amorreus, os perizeus,
os heveus e os jebuseus.
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6 tomaram por mulheres as filhas deles, e deram as suas filhas aos filhos dos mesmos, e
serviram aos seus deuses.
7 Assim os filhos de Israel fizeram o que era mau
aos olhos do Senhor, esquecendo-se do Senhor seu Deus e servindo aos baalins e às aserotes.
8 Pelo que a ira do Senhor se acendeu contra
Israel, e ele os vendeu na mão de Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia; e os filhos de Israel
serviram a Cusã-Risataim oito anos.
9 Mas quando os filhos de Israel clamaram ao Senhor, o Senhor suscitou-lhes um libertador,
que os livrou: Otniel, filho de Quenaz, o irmão mais moço de Calebe.
10 Veio sobre ele o Espírito do Senhor, e ele
julgou a Israel; saiu à peleja, e o Senhor lhe entregou Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia,
contra o qual prevaleceu a sua mão:
11 Então a terra teve sossego por quarenta anos; e Otniel, filho de Quenaz, morreu.
12 Os filhos de Israel tornaram a fazer o que era mau aos olhos do Senhor; então o Senhor
fortaleceu a Eglom, rei de Moabe, contra Israel, por terem feito o que era mau aos seus olhos.
13 Eglom, unindo a si os amonitas e os
amalequitas, foi e feriu a Israel, tomando a cidade das palmeiras.
14 E os filhos de Israel serviram a Eglom, rei de
Moabe, dezoito anos.
15 Mas quando os filhos de Israel clamaram ao Senhor, o Senhor suscitou-lhes um libertador,
Eúde, filho de Gêra, benjamita, homem
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canhoto. E, por seu intermédio, os filhos de Israel enviaram tributo a Eglom, rei de Moabe.
16 E Eúde fez para si uma espada de dois gumes,
de um côvado de comprimento, e cingiu-a à coxa direita, por baixo das vestes.
17 E levou aquele tributo a Eglom, rei de Moabe. Ora, Eglom era muito gordo:
18 Quando Eúde acabou de entregar o tributo,
despediu a gente que o trouxera.
19 Ele mesmo, porém, voltou das imagens de
escultura que estavam ao pé de Gilgal, e disse: Tenho uma palavra para dizer-te em segredo, ó
rei. Disse o rei: Silêncio! E todos os que lhe assistiam saíram da sua presença.
20 Eúde aproximou-se do rei, que estava
sentado a sós no seu quarto de verão, e lhe disse: Tenho uma palavra da parte de Deus para dizer-
te. Ao que o rei se levantou da sua cadeira.
21 Então Eúde, estendendo a mão esquerda,
tirou a espada de sobre a coxa direita, e lha cravou no ventre.
22 O cabo também entrou após a lâmina, e a
gordura encerrou a lâmina, pois ele não tirou a espada do ventre:
23 Então Eúde, saindo ao pórtico, cerrou as portas do quarto e as trancou.
24 Tendo ele saído vieram os servos do rei; e
olharam, e eis que as portas do quarto estavam trancadas. Disseram: Sem dúvida ele está
aliviando o ventre na privada do seu quarto.
25 Assim esperaram até ficarem alarmados,
mas ainda não abria as portas do quarto. Então,
48
tomando a chave, abriram-nas, e eis seu senhor estendido morto por terra.
26 Eúde escapou enquanto eles se demoravam
e, tendo passado pelas imagens de escultura, chegou a Seirá.
27 E assim que chegou, tocou a trombeta na
região montanhosa de Efraim; e os filhos de Israel, com ele à frente, desceram das
montanhas.
28 E disse-lhes: Segui-me, porque o Senhor vos entregou nas mãos os vossos inimigos, os
moabitas. E desceram após ele, tomaram os vaus do Jordão contra os moabitas, e não deixaram
passar a nenhum deles.
29 E naquela ocasião mataram dos moabitas cerca de dez mil homens, todos robustos e
valentes; e não escapou nenhum.
30 Assim foi subjugado Moabe naquele dia
debaixo da mão de Israel; e a terra teve sossego por oitenta anos.
31 Depois dele levantou-se Sangar, filho de
Anate, que matou seiscentos homens dos filisteus com uma aguilhada de bois; ele
também libertou a Israel.” (Jz 3.1-31).
49
Juízes 4
Débora, um Exemplo de Grande Fé
Este quarto capítulo de Juízes é introduzido
com a citação de que os israelitas haviam
retornado a fazer o que era mau aos olhos do Senhor, depois da morte de Eúde. Não se diz
depois da morte de Sangar, e daí podemos inferir que este agira contra os filisteus em seu
próprio território, nos dias em que Eúde julgava a Israel, e deste modo, é citado em apenas um
versículo do terceiro capítulo de Juízes (v. 31).
Esta nova apostasia de Israel produziu uma nova opressão que veio sobre os israelitas e que
durou vinte anos, e se diz que foram oprimidos cruelmente neste período pelo rei Jabim de Canaã, cujo general do seu exército se chamava
Sísera, e que tinha sob o seu comando novecentos carros de ferro, que foram o motivo
alegado pelos israelitas desde os dias de Josué, para não empreenderem guerra contra os
cananeus do vale, por temerem aqueles carros.
Mas, tendo os israelitas clamado mais uma vez ao Senhor, depois de terem sido devidamente
instruídos por Débora quanto ao modo como deviam caminhar diante de Deus, obedecendo
os seus mandamentos, pois além de profetiza ela os julgava apontando-lhes qual era a vontade
de Deus, e qual era o motivo daquela opressão que perdurava por vários anos. E isto
certamente contribuiu grandemente para o
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arrependimento deles que trouxe como consequência uma promessa de livramento da
parte do Senhor, que veio a Débora, apontando-lhe qual a estratégia de guerra que seria usada
por ele para prevalecer sobre o exército de Jabim e seus carros de ferro. A profecia afirmava
que o Senhor atrairia o exército de Sísera ao ribeiro Quisom, com a intenção de destruir o exército de Israel que estaria sob o comando de
Baraque. O texto deste capítulo não revela o modo como Deus inutilizou os carros de ferro
dos cananeus, mas se pode inferir pelas palavras do cântico de vitória de Débora, do capítulo
seguinte a este (quinto), que Deus fez desabar uma grande tempestade que fez com que o
ribeiro Quisom transbordasse, tornando deste modo todos aqueles carros de ferro inúteis para
as ações de guerra. Ao contrário, eles se transformaram num peso para os cananeus e
serviram para abalar a confiança deles que era em grande parte depositada naquelas máquinas
de guerra.
Destacamos a seguir trechos do quinto capítulo que denotam o uso desta estratégia de Deus para
paralisar os carros de Sísera:
“Ó Senhor, quando saíste de Seir, quando caminhaste desde o campo de Edom, a terra
estremeceu, os céus gotejaram, sim, as nuvens gotejaram águas.” (v 4).
“Desde os céus pelejaram as estrelas; desde as
suas órbitas pelejaram contra Sísera.” (v. 20).
51
“O ribeiro de Quisom os arrastou, aquele antigo ribeiro, o ribeiro de Quisom. Ó minha alma,
calcaste aos pés a força.” (v. 21)
“Então os cascos dos cavalos feriram a terra na
fuga precipitada dos seus valentes.” (v. 22).
Israel havia sido desobediente ao mandado de Deus quanto a expulsar os cananeus, sem qualquer piedade, e agora estava pagando o
preço da sua desobediência. De igual modo os cristãos quando se deixam arrastar por seus
sentimentos e pelas razões do seu próprio coração, para estar em jugo desigual com os
incrédulos, ainda que sabendo que está agindo contra a vontade de Deus, o preço a ser pago no
final será caro. Há leis espirituais que sempre entrarão em ação para os cristãos, que
necessariamente não atuam no caso dos incrédulos, isto em decorrência de os cristãos
estarem aliançados com o Senhor e por isso as correções e disciplina da aliança sobrevirão
sobre eles toda vez que desobedecerem expressamente o mandado de Deus, porque são
filhos amados e já não serão mais condenados eternamente. No caso do ímpio, este poderá ter
o seu caminho ainda mais alargado, quando pratica a iniquidade, porque não é filho, não está
debaixo da aliança e do compromisso com o Senhor, e sofrerá um maior juízo, porque em
vista da abundância de bens e de toda a longanimidade de Deus para com ele, em vez de
se arrepender de seus pecados e emendar o seu caminho, isto serviu somente para que se
afastasse ainda mais do Senhor. Por isso não se
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deve invejar a prosperidade do ímpio, enquanto pratica a iniquidade, porque sofrerá um maior
juízo e estará sujeito a uma condenação eterna. Veja o caso do próprio Israel que foi vendido a
seus inimigos, quando deixou de caminhar com o Senhor e se voltou para os ídolos! A
prosperidade deles serviu apenas para afastá-los de Deus, e que prosperidade é esta que nos leva a ficar debaixo da opressão dos nossos
inimigos? Por isso se diz que uma grande fonte de lucro é a piedade, com contentamento (I Tim
6.6), e não as riquezas deste mundo que são incertas e passageiras. Todo aquele que quiser
fazer do dinheiro a sua segurança estará construindo sobre a areia e mais cedo ou mais
tarde sofrerá as consequências de ter colocado as suas esperanças no poder que o dinheiro dá,
e não em um viver reto na presença do Senhor, fazendo dele, em todo o tempo e circunstância,
a verdadeira segurança da sua vida.
Enquanto os israelitas confiavam em si mesmos e sofriam uma dura opressão dos cananeus,
uma mulher chamada Débora colocava toda a sua confiança no Deus de Israel e recebeu
bênçãos da parte dele não apenas para si mesma mas para todo o povo de Israel porque foi o
instrumento usado pelo Senhor para trazer libertação a eles. O seu nome Débora significa,
no hebraico, abelha, e o caráter dela fazia jus ao seu nome, porque ela produziu doçura para os
seus amigos, e foi um ferrão doloroso para os seus inimigos. Ela tinha intimidade com Deus e
era usada como sua boca por ser uma profetiza,
53
e era dotada do dom de conhecimento e de sabedoria, de modo que atingiu um
reconhecimento admirável por parte dos israelitas que vinham serem julgados por ela (v.
5), certamente não em questões de demandas pessoais contra o próximo, mas para saberem o
caminho e a vontade do Senhor para suas vidas. E ela os concitava a retornarem ao Senhor e abandonar a sua idolatria, que estava sendo a
causa da dura opressão que toda a nação estava recebendo da parte dos cananeus por causa da
sua desobediência a Deus. É dito que ela os julgava no lugar onde havia uma palmeira, que
ficou sendo conhecida como a palmeira de Débora, e disto se dá testemunho na Palavra
porque a palmeira era símbolo da justiça.
Os julgamentos de Débora deviam reformar a muitos e encorajar os magistrados de Israel a
colocarem em uso as leis que foram dadas por Deus através de Moisés.
Por ser uma mulher, ela não estava em condições de comandar um exército
pessoalmente, e por isso nomeou Baraque, da tribo de Naftali, seguindo a direção e instrução
do Espírito Santo, porque através da grande fé de Débora, Baraque seria encorajado a confiar
que de fato seria possível, sob a provisão de Deus, vencer os novecentos carros de ferro dos
cananeus. Deus havia associado então para aquela empresa a cabeça de Débora às mãos de
Baraque, de forma que ela não poderia fazer nada sem as mãos de Baraque, e este nada
poderia fazer sem a cabeça de Débora. Isto é
54
ilustrativo da cooperação que deve haver entre os membros do corpo de Cristo, no qual o maior
e melhor nunca é autossuficiente, pois Deus fez com que os membros do corpo necessitem um
do outro, para o trabalho que devem realizar para ele.
Débora afiançou a Baraque que ele poderia estar confiante, de acordo com a palavra dela, e a
palavra de Débora, era de fato uma palavra de autoridade, porque Deus era com ela em tudo o
que havia profetizado em nome dele, de modo que alcançou renome em Israel ao ponto de
muitos virem ter com ela para serem julgados. Um ministério confirmado pelo Senhor é uma
fonte de bênção para muitos porque é legitimado pelo próprio Deus pelos resultados
que o acompanham, e tal era o caso de Débora.
O que ela dizia era digno de confiança, de modo
que todo um exército de dez mil homens sob o comando de Baraque, se colocou em ordem de
batalha porque sabia que a palavra que aquela mulher proferia da parte de Deus era digna de
inteiro crédito.
Em Amós 3.7 nós lemos o seguinte: “Certamente
o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os
profetas.”. Se diz aqui de uma certeza de que Deus nada fará sem que antes o revele aos seus
profetas, e isto tem a ver com o fato de que suas grandes ações devem ser preditas para que ele
possa receber a glória, o louvor e as ações de graças que lhe são devidos, de modo que suas
bênçãos não sejam consideradas como sendo
55
obra do acaso. Daí a importância de que haja profetas que sejam reconhecidamente pessoas
que são a boca de Deus, na sua Igreja, de modo que as operações da sua graça e seus grandes
feitos possam ser preditos antes que se cumpram, para que se saiba que foi a sua
poderosa mão e não a força do homem que o fez.
Um profeta verdadeiro não profetiza para
alcançar renome, e tendo o verdadeiro temor do Senhor, e sabendo a grande responsabilidade
que é afirmar aquilo que Deus tem realmente dito, falará sempre debaixo deste temor, e não
ousará proferir aquilo que Deus não lhe mandou dizer. E este caráter essencial que identifica um
verdadeiro profeta de Deus é algo muito precioso e raro, porque não são poucos os que
são governados pela sua própria imaginação e desejo de falarem coisas da parte do Senhor, e
não é de se estranhar portanto, que muito se ouça debaixo do nome de Deus, coisas que ele não falou realmente.
Mas, no caso de Débora temos uma verdadeira
profetiza, cuidadosa e criteriosa em todo o seu caminhar, e isto foi comprovado no fato de ter
sido o instrumento escolhido por Deus para trazer a promessa de livramento de Israel depois
de vinte longos anos debaixo da opressão dos cananeus.
Se a palavra do Senhor não tivesse realmente soado através de Débora, dez mil homens de
Israel teriam sido horrivelmente massacrados pelos novecentos carros de ferro dos cananeus.
Quão grande responsabilidade havia naquela
56
palavra que foi proferida para os israelitas se juntarem em ordem de batalha contra os
cananeus. E Baraque sabia disto, de modo que não se dispôs a subir ao campo de batalha sem
que Débora estivesse presente com eles. A fé de Baraque não era tão grande a ponto de receber
ele próprio tal instrução diretamente da parte de Deus. E ele se moveu baseado não numa fé que descobrisse por si mesma qual seria a ação
de Deus naquela guerra. A fé que descobriu e revelou a vontade de Deus não foi a de Baraque
que estava se apoiando na palavra proferida por Débora. Uma fé forte descobre as coisas
relativas à verdade que está em Cristo e se apropria tenazmente delas, e jamais se abala ou
teme, porque sabe que tudo aquilo que a boca do Senhor proferiu terá cumprimento cabal. E tal
era a fé de Débora.
Como a fé de Baraque não era tão forte como a de Débora, ela lhe disse que a honra da vitória
seria atribuída a ela e não a ele, e isto não foi proferido por motivo de vanglória, mas por
revelação de Deus, pois a mesma Débora disse em complementação a tal afirmação que isto se
deveria ao fato de o Senhor ter vendido Sísera nas mãos de uma mulher (v. 9), como que a dizer
que o mérito não era sequer propriamente dela, mas de Deus que lhe revelara o que iria fazer e a
usou com sua grande fé para não somente encorajar o exército de Israel, como o seu
próprio general, Baraque. Uma grande fé sempre será honrada por Deus, de modo que a
Baraque não foi dada a honra de se gloriar
57
naquela vitória, porque não tinha uma fé da qualidade da de Débora por meio da qual
pudesse não apenas conhecer a vontade de Deus, como também ficar firme, sem vacilar até
o cumprimento do que lhe foi revelado.
Tanto foi do propósito de Deus que Baraque não
fosse honrado, apesar de ter dirigido o exército de Israel naquela batalha, que Sísera, general do
exército dos cananeus foi morto pelas mãos de uma outra mulher, Jael, fazendo assim o Senhor
uso do vaso mais fraco para que toda glória lhe fosse tributada, como de fato convinha que
fosse.
Jael matou Sísera depois de ter este fugido para
onde um dos descendentes do sogro de Moisés havia se instalado com sua família, dando início
a um povoado, e Jael fazia parte desta família. A narrativa do verso 11, aparentemente está solta e
deslocada, mas, na verdade, foi feita a título de introdução e entendimento das ações de Jael
que são narradas nos últimos versículos deste capítulo. No verso 17 se diz que havia paz entre o
rei de Canaã, Jabim, e os queneus, de cujo povo Jael fazia parte. E foi por isso que Sísera fugiu
para lá julgando que seria escondido por eles, de Baraque que saiu em sua perseguição.
Exausto que estava da batalha, e tendo sobrado somente ele dos dez mil homens do seu
exército, que foram todos mortos pelos israelitas, pediu água a Jael, mas esta lhe deu
leite a beber, contando certamente que isto ajudaria para que ele caísse num sono profundo,
como de fato ocorreu, e ela pegando uma estaca
58
de barraca cravou-a na cabeça de Sísera, pregando-a ao chão.
E uma vez morto o general do exército dos
cananeus e a quase totalidade do seu exército, e tendo sido destruídos os carros de ferro, o rei de
Canaã foi enfraquecido de maneira que se afirma que ele veio a ser destruído pelos israelitas, e ao que parece, eles baniram aquele
reino da face da terra, de maneira que daqui em diante não se ouve mais falar em reis de Canaã.
“1 Mas os filhos de Israel tornaram a fazer o que
era mau aos olhos do Senhor, depois da morte de Eúde.
2 E o Senhor os vendeu na mão de Jabim, rei de
Canaã, que reinava em Hazor; o chefe do seu exército era Sísera, o qual habitava em Harosete
dos Gentios.
3 Então os filhos de Israel clamaram ao Senhor, porquanto Jabim tinha novecentos carros de
ferro, e por vinte anos oprimia cruelmente os filhos de Israel.
4 Ora, Débora, profetisa, mulher de Lapidote,
julgava a Israel naquele tempo.
5 Ela se assentava debaixo da palmeira de Débora, entre Ramá e Betel, na região
montanhosa de Efraim; e os filhos de Israel subiam a ter com ela para julgamento.
6 Mandou ela chamar a Baraque, filho de
Abinoão, de Quedes-Naftali, e disse-lhe: Porventura o Senhor Deus de Israel não te
ordena, dizendo: Vai, e atrai gente ao monte
59
Tabor, e toma contigo dez mil homens dos filhos de Naftali e dos filhos de Zebulom;
7 e atrairei a ti, para o ribeiro de Quisom, Sísera,
chefe do exército de Jabim; juntamente com os seus carros e com as suas tropas, e to entregarei
na mão?
8 Disse-lhe Baraque: Se fores comigo, irei; porém se não fores, não irei.
9 Respondeu ela: Certamente irei contigo; porém não será tua a honra desta expedição,
pois à mão de uma mulher o Senhor venderá a Sísera. Levantou-se, pois, Débora, e foi com
Baraque a Quedes.
10 Então Baraque convocou a Zebulom e a Naftali em Quedes, e subiram dez mil homens
após ele; também Débora subiu com ele.
11 Ora, Heber, um queneu, se tinha apartado dos queneus, dos filhos de Hobabe, sogro de Moisés,
e tinha estendido as suas tendas até o carvalho de Zaananim, que está junto a Quedes.
12 Anunciaram a Sísera que Baraque, filho de Abinoão, tinha subido ao monte Tabor.
13 Sísera, pois, ajuntou todos os seus carros,
novecentos carros de ferro, e todo o povo que estava com ele, desde Harosete dos Gentios até
o ribeiro de Quisom.
14 Então disse Débora a Baraque: Levanta-te, porque este é o dia em que o Senhor entregou
Sísera na tua mão; porventura o Senhor não saiu adiante de ti? Baraque, pois, desceu do monte
Tabor, e dez mil homens após ele.
15 E o Senhor desbaratou a Sísera, com todos os
seus carros e todo o seu exército, ao fio da
60
espada, diante de Baraque; e Sísera, descendo do seu carro, fugiu a pé.
16 Mas Baraque perseguiu os carros e o exército, até Harosete dos Gentios; e todo o exército de
Sísera caiu ao fio da espada; não restou um só homem.
17 Entretanto Sísera fugiu a pé para a tenda de Jael, mulher de Heber, o queneu, porquanto
havia paz entre Jabim, rei de Hazor, e a casa de Heber, o queneu.
18 Saindo Jael ao encontro de Sísera, disse-lhe: Entra, senhor meu, entra aqui; não temas. Ele
entrou na sua tenda; e ela o cobriu com uma coberta.
19 Então ele lhe disse: Peço-te que me dês a beber um pouco d'água, porque tenho sede.
Então ela abriu um odre de leite, e deu-lhe de beber, e o cobriu.
20 Disse-lhe ele mais: Põe-te à porta da tenda; e
se alguém vier e te perguntar: Está aqui algum homem? responderás: Não.
21 Então Jael, mulher de Heber, tomou uma estaca da tenda e, levando um martelo, chegou-
se de mansinho a ele e lhe cravou a estaca na fonte, de sorte que penetrou na terra; pois ele
estava num profundo sono e mui cansado. E assim morreu.
22 E eis que, seguindo Baraque a Sísera, Jael lhe saiu ao encontro e disse-lhe: Vem, e mostrar-te-
ei o homem a quem procuras. Entrou ele na tenda; e eis que Sísera jazia morto, com a estaca
na fonte.
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23 Assim Deus naquele dia humilhou a Jabim, rei de Canaã, diante dos filhos de Israel.
24 E a mão dos filhos de Israel prevalecia cada
vez mais contra Jabim, rei de Canaã, até que o destruíram.” (Jz 4.1-24).
62
Juízes 5
Este capítulo contém a canção triunfal que foi
composta e cantada na ocasião da vitória gloriosa que Israel obteve sobre as forças do rei
Jabim de Canaã, e as consequências felizes daquela vitória.
Toda vez que é realmente o Senhor quem nos
conduz em vitória sobre o inimigo, e quando podemos esmagar a cabeça da serpente, pelo
seu poder e graça, que nos são concedidos, quando clamamos a ele por socorro e
livramento, então a consequência disto sempre será sermos movidos pelo Espírito Santo a
entoarmos cânticos de louvor e gratidão a Deus, com grande alegria espiritual em nossos
corações. Esta é uma lei do mundo espiritual que nunca
falha, porque nisto o Senhor é muito exaltado e glorificado, e ele sempre o fará para testificação
espiritual, que foi o seu forte braço, que nos trouxe livramento, fazendo-nos triunfar sobre
as forças do inimigo, que antes nos oprimiam e amedrontavam, e que agora, pelo poderoso
livramento operado por Deus se tornam como poderes inteiramente subjugados aos nossos
pés.
Isto traz descanso, paz e regozijo à alma. E a graça de Jesus se torna para nós como o fruto
mais doce e valioso que nos satisfaz completamente, a ponto de não necessitarmos
de coisa alguma.
63
Foi exatamente isto que os israelitas experimentaram, depois de o Senhor ter
subjugado as forças do inimigo diante deles, ao mesmo tempo que se tornava de novo favorável
a seu povo, restaurando a comunhão com ele e de uns com os outros.
Não pode haver sossego e paz num espírito
verdadeiramente temente a Deus enquanto a força do inimigo prevalece sobre o seu povo, e
será sempre pelo clamor por misericórdia e livramento destes, e pela tristeza e pesar em
seus espíritos, por não estarem vendo os planos de Deus prosperando por meio da Igreja, que a
mão do Senhor se moverá para restaurar todas as coisas, pelo derramar do seu Espírito, e da sua
graça, sobre o seu povo.
O crente não pode respirar espiritualmente, e
experimentar a verdadeira vida celestial sem ter a aprovação e aceitação de Deus.
Se a presença do Senhor não vai conosco o resultado imediato disto é que ficaremos à
mercê dos nossos inimigos espirituais, e estaremos enfraquecidos diante deles e
temeremos a sua força intimidadora, tal como os israelitas se sentiam diante dos carros de
ferro dos cananeus.
Todavia, uma vez retornando ao favor do
Senhor, a situação se inverte, e nos tornamos fortes pela graça, e podemos contemplar
espiritualmente quão fracos e impotentes os nossos inimigos se tornam na presença de Deus,
quando ele está pelejando por nós.
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Vale ou não a pena, portanto, sempre clamar e se arrepender do pecado, para que possamos ter
Deus agindo como nosso amigo e repreendendo todos aqueles que se levantam contra nós?
Qual é o sentido que há na vida quando a
presença do Senhor já não segue conosco por causa dos nossos pecados?
Quando entenderemos que é um dever orar
pelos nossos líderes para que o Senhor os guarde do mal e da desgraça de não honrarem a
Deus se aliançando com as coisas que são do mundo?
A nossa bênção passa por eles porque somos de
fato um só corpo. E o diabo sempre procurará neutralizá-los, para que em vez de
prevalecermos sobre ele, ele possa prevalecer sobre nós.
Josué, enquanto vivia, conduzia Israel nos
caminhos do Senhor, e o resultado é que todos eram abençoados. Mas, tendo morrido, se fazia
necessário que se levantassem outros líderes, que honrassem o Senhor como ele o fizera, tal
como Otniel, Eúde, Débora e outros, para que conduzindo o povo pelo caminho de Deus, e
levando-os ao arrependimento e à decisão de não se misturarem com os ímpios, praticando as
suas obras, pudessem de novo experimentar as bênçãos do Senhor.
O mesmo ocorre com a Igreja, porque importa
que aqueles que têm sido levantados por Deus, para liderarem o seu povo, sejam achados
honrando-o e à sua Palavra, para que todo o povo
65
sobre o qual foram constituídos, pela vontade do Senhor, possa ser abençoado por ele.
Débora havia julgado os israelitas a caminharem na presença de Deus, guardando
os seus mandamentos, e o resultado de ter honrado o Senhor de tal maneira foi o de
experimentarem a grande bênção da vitória sobre todos os seus inimigos, e sentirem a
grande alegria que os levou a entoar este cântico triunfal de louvor que encontramos registrado
neste capítulo.
“Está aflito alguém entre vós? Ore. Está alguém
contente? Cante louvores.” (Tg 5.13).
Se está havendo aflição devemos orar com fé
pedindo a bênção do Senhor. E quando esta vier e nos alegrar, devemos cantar louvores, e não o
faremos certamente, somente porque somos obrigados a isto, mas porque o Espírito Santo se
moverá nos conduzindo neste sentido.
A própria Débora, inspirada pelo Espírito Santo,
compôs esta canção, conforme se pode inferir do verso 7.
O propósito da canção é dar glória a Deus e louvá-lo pela vitória sobre os seus inimigos,
vingando Israel dos seus opressores cruéis e orgulhosos.
Mas o cântico não generaliza os louvores a todas as tribos de Israel, pois aqueles que subiram à
batalha, os que clamaram a Deus por livramento, e que choraram a condição em que
o povo de Deus se encontrava, debaixo da opressão dos seus inimigos, são os que são
convocados a se alegrarem no Senhor e a louvá-
66
lo pelos seus grandes feitos, quer grandes ou pequenos, conforme apresentados no cântico,
como aqueles que cavalgavam sobre jumentas brancas, que se assentavam sobre ricos tapetes
- grandes; e aqueles que andavam pelo caminho - pequenos (v. 10).
De igual modo todos os que estão
compromissados com Deus, e que não fogem da batalha que têm que travar contra os poderes
das trevas, para que a causa de Cristo triunfe sobre a terra, sejam grandes ou pequenos, são
chamados a louvarem ao Senhor pelos seus grandes livramentos, porque têm efetivamente
participação nisto, porque foi pelo seu esforço em oração e pela contrição de seus espíritos, e
empenho no serviço do Senhor, que a sua boa mão se mostrou favorável para com eles.
Todavia, todos aqueles que preferem o conforto pelo temor da dificuldade, e que ficam
impedidos de cumprir o seu dever para com Deus, e que não se preocupam com a sua honra,
que direito têm de participar dos seus louvores, e que sinceridade haveria nisto se o fizessem?
Seus espíritos egoístas e estreitos não se preocupam com os interesses da Igreja do
Senhor, e assim eles não têm outro interesse senão no dinheiro e naquilo que é do próprio
interesse deles (Fp 2.21).
E nisto são diferentes das tribos de Naftali e
Zebulom, que nos dias de Débora foram os que efetivamente participaram da batalha contra os
cananeus (v. 18).
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Rúben não fez mais do que se entregar a muitas cogitações, especialmente entre os seus
príncipes, que se dividiram ao considerarem as vantagens e desvantagens em se empenharem
na batalha, e prevaleceu a decisão final de não colaborarem, e isto trouxe muita tristeza
àqueles que eram de opinião contrária (v. 15b,16).
Divisões no corpo de Cristo sempre conduzirão a um impedimento de se servir a Deus, porque o
Espírito não opera num corpo onde não haja unidade.
Então Deus dá prosseguimento à sua obra usando aqueles que têm real compromisso com
ele, e deixa entregue às muitas resoluções da própria cabeça àqueles que ficam na Igreja,
cuidando apenas de fazer planos e avaliações estratégicas de como alcançar os perdidos e que
são incapazes de produzir um só ato prático neste sentido.
Dã e Aser seguiram o exemplo de Rúben (v. 17).
Dã se desculpou porque tinha que cuidar dos
seus portos e navios e de manter suas relações comerciais em andamento, e não prejudicar os
seus negócios com os riscos de uma guerra.
Nada sabiam de que Deus mesmo pelejaria por
Israel e destruiria o exército dos cananeus.
A ordem foi clara e direta para que de Naftali e
Zebulom se recrutassem dez mil homens, e que eles deveriam subir o monte Tabor, porque o
exército de Sísera seria atraído pelo Senhor para junto do rio Quisom, onde os subjugaria numa
grande inundação.
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Não há, portanto, nenhuma desculpa para que não nos empenhemos nas guerras do Senhor,
porque quando nos dispomos a isto é sempre ele quem pelejará por nós.
Os merozitas, habitantes de Meroz,
possivelmente uma das cidades israelitas que ficavam próximas do front de batalha, não
quiseram se envolver e por isso foram amaldiçoados por Deus, porque não vieram em
socorro do Senhor e dos seus valentes (v. 23).
Rúben, Gade, Gileade e Aser não se envolveram, porém, não foram amaldiçoados como Meroz! O
Senhor não precisava da ajuda deles, e fez o seu trabalho sem eles, mas marcou Meroz com uma
maldição, porque decidiram certamente se manterem neutros para não contrariarem tanto
os israelitas, quanto aos cananeus, sob cuja dominação se encontravam.
Temendo sofrer represálias futuras da parte
deles, caso os cananeus saíssem vencedores na guerra, decidiram por aquilo que parece ser
indubitável e politicamente o mais seguro e correto, a saber a neutralidade.
Só que Deus nunca admitirá neutralidade,
especialmente da parte do seu povo, no que tange a fazer a sua vontade.
Então fizeram a pior opção que poderiam fazer
porque isto lhes trouxe uma maldição da parte de Deus, que foi proferida pelo anjo da aliança, a
saber, pelo príncipe do exército do Senhor, que vinha acompanhando Israel desde a saída deles
do Egito.
69
E tal foi o cumprimento da maldição sobre os israelitas daquela cidade que desejando
segurança acabaram por encontrar a sua própria destruição, porque deste ponto em
diante nunca mais se ouviu falar na cidade de Meroz, como sendo uma das cidades israelitas.
Tal como a figueira que Jesus amaldiçoou e
secou, eles também secaram com a maldição que o Senhor pronunciou contra eles.
Assim, são descritas no cântico de Débora as
manifestações de regozijo e congratulações com aqueles que se dispuseram a se
empenharem na batalha contra os cananeus, e uma nota de lamento e tristeza e até mesmo de
maldição contra aqueles que se recusaram a ajudar as tribos que lutaram.
Isto que ocorreu com Israel também se dá em
relação à Igreja, porque o Israel de Deus é um só corpo formado por muitos membros, e com eles
sucede o que está registrado em I Cor 12.24-26:
“Mas Deus assim formou o corpo, dando muito mais honra ao que tinha falta dela, para que não
haja divisão no corpo, mas que os membros tenham igual cuidado uns dos outros. De
maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é
honrado, todos os membros se regozijam com ele.”.
Onde destacamos o que se afirma no verso 26,
que o padecimento de um membro é na verdade o padecimento de todos, e o mesmo se dá em
relação à alegria.
70
Isto decorre porque o Espírito Santo se move em nós, fazendo-nos sentir como de fato somos,
partes integrantes de um só corpo espiritual.
Deste modo, o fracasso de um membro, especialmente em razão do pecado, é como se
fosse o fracasso de toda a Igreja, em razão desta vinculação de uns com os outros, que foi estabelecida por Deus, e o sucesso de um
membro que traz honra e glória para o nome de Deus, produz realmente alegria, pelo Espírito,
no coração de todos os crentes, porque aquele triunfo é tido como sendo o triunfo de toda a
Igreja.
É por isso que é ordenado aos crentes que se exortem mutuamente, em face desta
responsabilidade mútua, de uns para com os outros.
Este evangelho de mídia, sem uma Igreja
definida, sem compromisso mútuo entre os seus membros, desfigura e depõe totalmente
contra o desígnio de Deus para a sua Igreja.
“1 Então cantaram Débora e Baraque, filho de Abinoão, naquele dia, dizendo:
2 Porquanto os chefes se puseram à frente em
Israel, porquanto o povo se ofereceu voluntariamente, louvai ao Senhor.
3 Ouvi, ó reis; dai ouvidos, ó príncipes! eu
cantarei ao Senhor, salmodiarei ao Senhor Deus de Israel.
4 Ó Senhor, quando saíste de Seir, quando
caminhaste desde o campo de Edom, a terra
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estremeceu, os céus gotejaram, sim, as nuvens gotejaram águas.
5 Os montes se abalaram diante do Senhor, e até Sinai, diante do Senhor Deus de Israel.
6 Nos dias de Sangar, filho de Anate, nos dias de
Jael, cessaram as caravanas; e os que viajavam iam por atalhos desviados.
7 Cessaram as aldeias em Israel, cessaram; até
que eu Débora, me levantei, até que eu me levantei por mãe em Israel.
8 Escolheram deuses novos; logo a guerra
estava às portas; via-se porventura escudo ou lança entre quarenta mil em Israel?
9 Meu coração inclina-se para os guias de Israel,
que voluntariamente se ofereceram entre o povo. Bendizei ao Senhor.
10 Louvai-o vós, os que cavalgais sobre jumentas
brancas, que vos assentais sobre ricos tapetes; e vós, que andais pelo caminho.
11 Onde se ouve o estrondo dos flecheiros, entre os lugares onde se tiram águas, ali falarão das
justiças do Senhor, das justiças que fez às suas aldeias em Israel; então o povo do Senhor descia
às portas.
12 Desperta, desperta, Débora; desperta, desperta, entoa um cântico; levanta-te, Baraque,
e leva em cativeiro os teus prisioneiros, tu, filho de Abinoão.
13 Então desceu o restante dos nobres e do povo;
desceu o Senhor por mim contra os poderosos.
14 De Efraim desceram os que tinham a sua raiz em Amaleque, após ti, Benjamim, entre os teus
povos; de Maquir desceram os guias, e de
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Zebulom os que levam o báculo do inspetor de tropas.
15 Também os príncipes de Issacar estavam com Débora; e como Issacar, assim também Baraque;
ao vale precipitaram-se em suas pegadas. Junto aos ribeiros de Rúben grandes foram as
resoluções do coração.
16 Por que ficastes entre os currais a escutar os balidos dos rebanhos? Junto aos ribeiros de
Rúben grandes foram as resoluções do coração.
17 Gileade ficou da banda dalém do Jordão; e Dã, por que se deteve com seus navios? Aser se
assentou na costa do mar e ficou junto aos seus portos.
18 Zebulom é um povo que se expôs à morte,
como também Naftali, nas alturas do campo.
19 Vieram reis e pelejaram; pelejaram os reis de Canaã, em Taanaque junto às águas de Megido;
não tomaram despojo de prata.
20 Desde os céus pelejaram as estrelas; desde as suas órbitas pelejaram contra Sísera.
21 O ribeiro de Quisom os arrastou, aquele antigo ribeiro, o ribeiro de Quisom. Ó minha
alma, calcaste aos pés a força.
22 Então os cascos dos cavalos feriram a terra na fuga precipitada dos seus valentes.
23 Amaldiçoai a Meroz, diz o anjo do Senhor,
amaldiçoai acremente aos seus habitantes; porquanto não vieram em socorro do Senhor,
em socorro do Senhor, entre os valentes.
24 Bendita entre todas as mulheres será Jael, mulher de Heber, o queneu; bendita será entre
as mulheres nômades.
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25 Água pediu ele, leite lhe deu ela; em taça de príncipes lhe ofereceu coalhada.
26 À estaca estendeu a mão esquerda, e ao
martelo dos trabalhadores a direita, e matou a Sísera, rachando-lhe a cabeça; furou e
traspassou-lhe as fontes.
27 Aos pés dela ele se encurvou, caiu, ficou estirado; aos pés dela se encurvou, caiu; onde se
encurvou, ali caiu morto.
28 A mãe de Sísera olhando pela janela, através da grade exclamava: Por que tarda em vir o seu
carro? por que se demora o rumor das suas carruagens?
29 As mais sábias das suas damas responderam,
e ela respondia a si mesma:
30 Não estão, porventura, achando e repartindo
os despojos? uma ou duas donzelas a cada homem? para Sísera despojos de estofos tintos,
despojos de estofos tintos bordados, bordados de várias cores, para o meu pescoço?
31 Assim ó Senhor, pereçam todos os teus
inimigos! Sejam, porém, os que te amam, como o sol quando se levanta na sua força.
32 E a terra teve sossego por quarenta anos.” (Jz
5.1-32).
74
Juízes 6
Nós vimos no final do capítulo anterior, que
depois da libertação operada por Deus através de Débora e Baraque, houve paz em Israel por
quarenta anos. Mas, depois deste período os israelitas voltaram a ser sujeitados pelo Senhor
a uma nova opressão, agora da parte dos midianitas, que durou sete anos.
Das experiências vividas por Israel, reveladas na
Palavra, o salmista havia aprendido o que afirma no Sl 18.25-27: “25 Para com o benigno te
mostras benigno, e para com o homem perfeito te mostras perfeito. 26 Para com o puro te
mostras puro, e para com o perverso te mostras contrário. 27 Porque tu livras o povo aflito, mas
os olhos altivos tu os abates.”. Estas opressões e livramentos sucessivos que
ocorreram no período de Juízes bem ilustram esta verdade, que se aplica inclusive às pessoas
do próprio povo de Deus.
O Senhor entregou Israel a um povo ignorante, inculto, uma turba que não possuía qualquer rei
ou general regulares, e foram tais pessoas que sujeitaram Israel como uma turba
indisciplinada, tornando ainda maior a vergonha e o opróbrio dos israelitas, que sendo
um povo vocacionado para conquistar e dominar, estava sendo sujeitado por um bando
de vândalos, que não eram uma força organizada, e por isso se diz deles o que lemos no
versos 4 e 5 : “4 e, acampando-se contra ele,
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destruíam o produto da terra até chegarem a Gaza, e não deixavam mantimento em Israel,
nem ovelhas, nem bois, nem jumentos. 5 Porque subiam com os seus rebanhos e tendas; vinham
em multidão, como gafanhotos; tanto eles como os seus camelos eram inumeráveis; e entravam
na terra, para a destruir.”
E aproveitando-se da fragilidade de Israel, os
amalequitas (v. 3) sempre se coligavam aos seus opressores, pois era um povo, que desde a saída
do Egito, agia covardemente contra os israelitas, razão pela qual Deus mandou que se registrasse
no livro da Lei, que ele destruiria os amalequitas totalmente, no tempo certo e determinado,
quando estivesse completada a medida da iniquidade deles, e isto foi feito nos dias do rei
Saul.
Tal era a carnificina e pilhagem que os midianitas faziam em Israel, que o povo tinha que fazer covas, cavernas e fortalezas nos
montes, para se proteger dos ataques dos seus inimigos.
Quando o povo do Senhor anda contrariamente
com ele, fica de tal modo enfraquecido, intimidado e acovardado, que diante das
investidas dos espíritos das trevas, não tem outra alternativa senão a de viver acuado, até
que se arrependa dos seus pecados e volte a ter o braço forte do Senhor amarrando o valente e
pelejando por eles as batalhas espirituais, que têm que empreender continuamente contra os
poderes das trevas.
76
O que os israelitas juntaram e as riquezas que acumularam vieram a se tornar espólio para os
seus inimigos.
O que haviam obtido no seu obstinado desejo de
enriquecer, negligenciando totalmente o tempo que deveriam dedicar a Deus, serviu somente
para o seu empobrecimento e enriquecimento daqueles que os pilhavam.
Aquilo que o homem juntar, enriquecendo, à custa de se empobrecer para com Deus na
graça, que deveria estar recebendo dele, ouro fino para enriquecer e colírio para que veja, e
vestes dignas para cobrir a sua nudez espiritual, acabará por fim, sendo também perdido, porque
nada levaremos deste mundo conosco na nossa morte.
O que juntamos, para quem será?
Não importa para quem seja, porque
certamente para nós mesmos não será de modo nenhum.
Então aquilo que entesouramos para nós mesmos não será de qualquer valor para nós e
em nada poderá nos recomendar a Deus, porque estas coisas não têm qualquer valor para ele, se
não forem empregadas nos interesses do seu reino.
O que os israelitas semeavam não chegavam a
colher e a desfrutar, porque os midianitas vinham e furtavam.
Eles não honraram a Deus com as primícias de suas colheitas, e procurando tudo reter para si,
acabaram ficando com nada.
77
A justiça de Deus estava castigando o seu pecado, porque estavam oferecendo suas
ofertas a Baal, e da parte de Baal não poderiam esperar receber qualquer bênção.
Quando perceberam que a adoração a Baal estava lhes arruinando, e que Baal jamais os
ajudaria, eles clamaram ao Senhor (v. 6).
Antes de o anjo do Senhor vir ter com os
israelitas, em resposta ao clamor que fizeram, foi enviado um profeta para reprovar o pecado
deles e conduzi-los ao arrependimento (v. 8).
Não é dito qual foi o efeito da repreensão de
Deus pela boca do profeta, mas certamente teve um bom resultado porque é citado
imediatamente o anúncio da libertação deles pela chamada de Gideão (v. 11).
Esta foi feita pelo anjo do Senhor, o mesmo anjo da aliança, que apareceu a Josué e vinha
conduzindo Israel desde o Egito, e como vimos antes, tratava-se do próprio Jesus numa
teofania, porque é afirmado a respeito dele, que era Jeová (v. 14, 16).
Foi quando Gideão estava só que o anjo lhe falou.
A solidão ajuda nossa comunhão com Deus,
porque é comum que ele nos fale quando estamos longe do barulho e pressa deste
mundo.
O anjo o chamou de homem valoroso e disse que
Deus era com ele.
Se a presença do Senhor é conosco, esta é a
garantia de que seremos bem sucedidos contra os nossos inimigos e nos confirmará no nosso
trabalho.
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Deus estaria com Gideão para lhe fortalecer, instruir, animar e apoiar (v. 3).
Se Deus é por nós, quem será contra nós,
conforme afirma o apóstolo Paulo?
Gideão era um homem valoroso, mas nada poderia fazer sem a presença de Deus, e assim como ele, qualquer um de nós que estivermos
empenhados por ele no seu serviço.
Gideão deu uma resposta melancólica ao anjo: “Ai, senhor meu, se o Senhor é conosco, por que
tudo nos sobreveio? e onde estão todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram,
dizendo: Não nos fez o Senhor subir do Egito? Agora, porém, o Senhor nos desamparou, e nos
entregou na mão de Midiã.”.
Gideão era valoroso, mas quão pequena era ainda a sua fé e o seu conhecimento da justiça e
santidade de Deus.
Ele tinha a fé de que Deus agira no passado, mas não considerava que as maravilhas de Deus
estão associadas à santidade que lhe é devida.
Ele esperava que os israelitas fossem continuamente abençoados pelo simples fato
de serem israelitas.
De igual modo, muitos crentes que não conhecem ao Senhor e à sua justiça, santidade e
vontade, pensam que Deus está obrigado a abençoá-los continuamente pelo simples fato
de serem crentes, sem levarem em conta o seu testemunho de vida.
A intimidade do Senhor é para aqueles que
conhecem a sua vontade.
79
A plenitude de Cristo é para aqueles que guardam a sua Palavra e que têm real
compromisso com ele.
Esta é a bênção principal que Deus almeja para todos os seus filhos, a saber, que sejam
participantes da sua santidade, e é em razão disso que os disciplina.
Aqueles que se submetem à disciplina do Senhor conhecerão a plenitude da sua graça,
porque isto está reservado somente para aqueles que conhecem a sua vontade e a
obedecem.
Muitos crentes, em sua ignorância dos
caminhos e vontade de Deus, e mesmo, muitas vezes em seu comportamento desordenado,
pelo desconhecimento do seu Deus e da sua vontade, são alvo da misericórdia, bondade e
longanimidade do Senhor, que está trabalhando pacientemente neles, procurando levá-los ao
conhecimento da profundidade da graça e do amor de Cristo, mas isto não pode ser considerado como participação deles da
plenitude, que está reservada para aqueles que têm suas faculdades exercitadas para discernir
tanto o bem quanto o mal.
Por isso, se ordena a todos os crentes que
tenham completa diligência em prosseguirem no conhecimento do Senhor e no
desenvolvimento da sua salvação, para que não sejam meninos em Cristo, mas varões
amadurecidos e prontos para toda boa obra.
E para provar a Gideão que Deus estava agindo
em favor do seu povo, o anjo lhe deu a comissão
80
de libertar Israel dos midianitas e lhe assegurou completo sucesso (v. 14), e para fortalecer o
espírito de Gideão, lhe deu a missão de confrontar o erro e a causa da miséria de Israel,
determinando que ele derrubasse o altar de Baal, que havia sido construído pelo seu pai.
Ele estava sendo movido a provar que o seu
amor a Deus era maior que ao seu pai, e a expor a sua própria vida, pela causa da verdade,
contendendo contra os inimigos de Deus, que se encontravam no meio do seu próprio povo.
Ele protestaria com aquele gesto contra a
idolatria de toda a nação, simbolizando o rompimento dos israelitas com Baal, para que
pudessem retornar ao Senhor, e serem aceitos por ele.
Gideão seguiu as ordens e instruções do anjo e
executou fielmente tudo o que lhe foi ordenado, e como era de se esperar, houve uma grande
reação da parte dos adoradores de Baal, que pediram a seu pai que lhe entregassem a
Gideão, para que o matassem (v. 30).
Mas o afeto natural paterno falou mais alto, e o pai de Gideão lhes disse que se Baal era de fato
deus ele contenderia por si mesmo contra Gideão.
Por isso, aqueles homens desistiram do seu
intento, e permanecendo em sua fé cega num falso deus, a confirmaram apelidando Gideão de
Jerubaal, que significa Baal contenderá, na expectativa de que Baal se vingaria do que havia
sido feito contra ele.
81
Ainda que fazendo o serviço que lhe fora designado à noite, por temer fazê-lo durante o
dia, Gideão passou na prova de obediência às ordens, que recebeu da parte do Senhor, e tendo
os midianitas mais uma vez se coligado aos amalequitas e a outros habitantes daquela
região, ajuntaram-se em ordem de batalha contra Israel, mas o Espírito do Senhor veio sobre Gideão e o fortaleceu e o animou a
convocar os israelitas para pelejarem contra eles, tendo sido convocadas as tribos de Aser,
Naftali e Zebulom, que se juntaram aos homens de Manassés.
Mas, Gideão queria ter a plena certeza de que o
Senhor seria com ele naquela ocasião e fez o famoso teste do velo de lã, para saber que o Deus dos milagres e maravilhas estaria de fato
pelejando por eles conforme havia prometido.
De fato somente um milagre divino poderia realizar o que Gideão havia proposto, pois
sabemos que o orvalho que cai num ponto determinado, nunca deixa de cair neste mesmo
ponto enquanto cai ao redor, pois cai homogênea e simultaneamente sobre todas as
partes de uma área considerável.
Desta forma, se a lã molhasse enquanto ao seu
redor tudo permanecesse seco, e depois, se somente a lã ficasse seca e tudo ao seu redor
ficasse molhado, não haveria qualquer sombra de dúvida que fora a mão do Senhor que o fizera.
Gideão já havia tido antes a prova de que a comissão que recebera lhe fora dada por um ser
celestial, porque o sacrifício que apresentara ao
82
anjo foi consumido por um fogo sobrenatural, quando ele tocou com o seu cajado no mesmo, e
isto foi reconhecido por Gideão que de fato quem lhe falara era um anjo do céu.
Além disso, com a consumação do sacrifício que ofereceu por meio do fogo divino, ficava
atestada a sua aceitação por Deus para ser o libertador do seu povo, uma vez que havia aceito
o sacrifício que ele lhe apresentara.
A Gideão foi ordenado que erigisse um altar ao
Senhor e que nele apresentasse em holocausto um dos dois bois que seriam usados para
derrubar o altar de Baal, e a madeira da Aserá que estava debaixo do altar de Baal deveria ser
usada para queimar o sacrifício.
Assim, antes de fazer guerra aos midianitas,
primeiro deveria ser celebrada a comunhão e paz com Deus.
Não podemos prevalecer contra o diabo se não estivermos em paz com o Senhor e se não
tivermos, por conseguinte, a sua presença conosco.
Como um tipo de Cristo, Gideão teria que primeiro salvar o seu povo do próprio pecado
deles, para que então pudessem prevalecer contra os seus inimigos.
Daí ter recebido tais instruções da parte do Senhor, antes de se colocar em ordem de
batalha contra os midianitas.
“1 Mas os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor, e o Senhor os entregou na
mão de Midiã por sete anos.
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2 Prevalecia, pois, a mão de Midiã sobre Israel e, por causa de Midiã, fizeram os filhos de Israel
para si as covas que estão nos montes, as cavernas e as fortalezas.
3 Porque sucedia que, havendo Israel semeado,
subiam contra ele os midianitas, os amalequitas e os filhos do oriente;
4 e, acampando-se contra ele, destruíam o
produto da terra até chegarem a Gaza, e não deixavam mantimento em Israel, nem ovelhas,
nem bois, nem jumentos.
5 Porque subiam com os seus rebanhos e tendas;
vinham em multidão, como gafanhotos; tanto eles como os seus camelos eram inumeráveis; e
entravam na terra, para a destruir.
6 Assim Israel se enfraqueceu muito por causa dos midianitas; então os filhos de Israel
clamaram ao Senhor.
7 E sucedeu que, clamando eles ao Senhor por causa dos midianitas,
8 enviou-lhes o Senhor um profeta, que lhes disse: Assim diz o Senhor, Deus de Israel: Do
Egito eu vos fiz subir, e vos tirei da casa da servidão;
9 livrei-vos da mão dos egípcios, e da mão de
todos quantos vos oprimiam, e os expulsei de diante de vós, e a vós vos dei a sua terra.
10 Também eu vos disse: Eu sou o Senhor vosso
Deus; não temais aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Mas não destes ouvidos à
minha voz.
11 Então o anjo do Senhor veio, e sentou-se
debaixo do carvalho que estava em Ofra e que
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pertencia a Joás, abiezrita, cujo filho Gideão estava malhando o trigo no lagar para o
esconder dos midianitas.
12 Apareceu-lhe então o anjo do Senhor e lhe
disse: O Senhor é contigo, ó homem valoroso.
13 Gideão lhe respondeu: Ai, senhor meu, se o
Senhor é conosco, por que tudo nos sobreveio? e onde estão todas as suas maravilhas que
nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o Senhor subir do Egito? Agora, porém, o
Senhor nos desamparou, e nos entregou na mão de Midiã.
14 Virou-se o Senhor para ele e lhe disse: Vai nesta tua força, e livra a Israel da mão de Midiã;
porventura não te envio eu?
15 Replicou-lhe Gideão: Ai, senhor meu, com
que livrarei a Israel? eis que a minha família é a mais pobre em Manassés, e eu o menor na casa
de meu pai.
16 Tornou-lhe o Senhor: Porquanto eu hei de ser
contigo, tu ferirás aos midianitas como a um só homem.
17 Prosseguiu Gideão: Se agora tenho achado graça aos teus olhos, dá-me um sinal de que és
tu que falas comigo.
18 Rogo-te que não te apartes daqui até que eu
volte trazendo do meu presente e o ponha diante de ti. Respondeu ele: Esperarei até que voltes.
19 Entrou, pois, Gideão, preparou um cabrito e fez, com uma efa de farinha, bolos ázimos; pôs a
carne num cesto e o caldo numa panela e, trazendo para debaixo do carvalho, lho
apresentou.
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20 Mas o anjo de Deus lhe disse: Toma a carne e os bolos ázimos, e põe-nos sobre esta rocha e
derrama-lhes por cima o caldo. E ele assim fez.
21 E o anjo do Senhor estendeu a ponta do cajado
que tinha na mão, e tocou a carne e os bolos ázimos; então subiu fogo da rocha, e consumiu a
carne e os bolos ázimos; e o anjo do Senhor desapareceu-lhe da vista.
22 Vendo Gideão que era o anjo do Senhor, disse: Ai de mim, Senhor Deus! pois eu vi o anjo do
Senhor face a face.
23 Porém o Senhor lhe disse: Paz seja contigo,
não temas; não morrerás.
24 Então Gideão edificou ali um altar ao Senhor,
e lhe chamou Jeová-Shalom; e ainda até o dia de hoje está o altar em Ofra dos abiezritas.
25 Naquela mesma noite, disse o Senhor a Gideão: Toma um dos bois de teu pai, a saber, o
segundo boi de sete anos, e derriba o altar de Baal, que é de teu pai, e corta a asera que está ao
pé dele.
26 Edifica ao Senhor teu Deus um altar no cume
deste lugar forte, na forma devida; toma o segundo boi, e o oferece em holocausto, com a
lenha da asera que cortares
27 Então Gideão tomou dez homens dentre os
seus servos, e fez como o Senhor lhe dissera; porém, temendo ele a casa de seu pai e os
homens daquela cidade, não o fez de dia, mas de noite.
28 Levantando-se, pois, os homens daquela cidade, de madrugada, eis que estava o altar de
Baal derribado, cortada a asera que estivera ao
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pé dele, e o segundo boi oferecido no altar que fora edificado.
29 Pelo que disseram uns aos outros: Quem fez
isto? E, depois de investigarem e inquirirem, disseram: Gideão, filho de Joás, é quem fez isto.
30 Então os homens daquela cidade disseram a
Joás: Tira para fora teu filho, para que morra, porque derribou o altar de Baal e cortou a asera
que estava ao pé dele.
31 Joás, porém, disse a todos os que se puseram
contra ele: Contendereis vós por Baal? livrá-lo-eis vós? Qualquer que por ele contender, ainda
esta manhã será morto; se ele é deus, por si mesmo contenda, pois foi derribado o seu altar.
32 Pelo que naquele dia chamaram a Gideão
Jerubaal, dizendo: Baal contenda contra ele, pois derribou o seu altar.
33 Então todos os midianitas, os amalequitas e os
filhos do oriente se ajuntaram e, passando o Jordão, acamparam no vale de Jizreel.
34 Mas o Espírito do Senhor apoderou-se de Gideão; e tocando ele a trombeta, os abiezritas
se ajuntaram após ele.
35 E enviou mensageiros por toda a tribo de Manassés, que também se ajuntou após ele; e
ainda enviou mensageiros a Aser, a Zebulom e a Naftali, que lhe saíram ao encontro.
36 Disse Gideão a Deus: Se hás de livrar a Israel
por minha mão, como disseste,
37 eis que eu porei um velo de lã na eira; se o
orvalho estiver somente no velo, e toda a terra ficar enxuta, então conhecerei que hás de livrar
a Israel por minha mão, como disseste.
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38 E assim foi; pois, levantando-se de madrugada no dia seguinte, pegou o velo, e
espremeu dele o orvalho, que encheu uma taça.
39 Disse mais Gideão a Deus: Não se acenda
contra mim a tua ira se ainda falar só esta vez. Permite que só mais esta vez eu faça prova com
o velo; rogo-te que só o velo fique enxuto, e em toda a terra haja orvalho.
40 E Deus assim fez naquela noite; pois só o velo estava enxuto, e sobre toda a terra havia orvalho.” (Jz 6.1-40).
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Juízes 7
Estando convicto de que Deus se encarregaria
de conduzir a bom termo a guerra de Israel contra os midianitas, Gideão se dispôs a
convocar os israelitas para a batalha.
Quando Deus vai adiante de nós, é então também nosso dever nos movermos e realizar
as ações necessárias para que se cumpra tudo o que ele prometeu (II Sm 5.24,25).
E, nós vemos no 7º capítulo de Juízes, que se juntaram a Gideão 32.000 homens, e este era
um exército pequeno comparado com o dos midianitas.
É provável que Gideão tenha pensado, portanto,
que eram muito poucos homens para combater o grande exército inimigo, mas Deus lhe disse
que eles eram muitos (v. 2), sendo a maioria inútil, desnecessária e que iria até mesmo
atrapalhar os seus planos, conforme seria demonstrado a Gideão, pois tendo lhe ordenado
que enviasse de volta para casa os homens medrosos e tímidos, vinte e dois mil deles se
apresentaram tendo ficado apenas dez mil homens. Eram vinte e dois mil que não
confiavam no Senhor, que não tinham fé no que ele havia prometido, pois temeram ser
derrotados pelos midianitas e por isso voltaram de bom grado para suas casas. E caso o Senhor
tivesse derrotado o inimigo com tais homens, pela falta de fé deles, certamente não
tributariam a honra e a glória devidas a Deus
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pela vitória alcançada, posto que não criam nele com uma genuína fé que é viva e operante, e que
por conseguinte se traduz em obras, e também poderiam enfraquecer com sua covardia
aqueles que haviam se disposto para a batalha.
Conhecendo o orgulho que está no coração dos
homens, Deus sempre conduzirá aqueles que o servem à humildade, revelando-lhes que se
quisesse poderia dispensá-los e fazer toda a sua vontade sem o auxílio deles; e para que todo
aquele que se gloriar, glorie-se no Senhor, e toda boca permaneça calada diante dele,
reconhecendo que a sua obra somente ele próprio pode realizar, sendo nós apenas seus
cooperadores. De fato, quem pode por si mesmo justificar, regenerar, santificar, glorificar,
resgatar das mãos do diabo, livrar da condenação e da maldição da lei, uma só alma
que seja? Do que nos gloriaremos então em nós mesmos quando pessoas são convertidas das
trevas para luz, e do poder de Satanás para Deus?
Assim aqueles vinte e dois mil que não tinham o
verdadeiro temor do Senhor jamais tributariam a vitória à força do seu poderoso braço, senão à
própria força deles. Ainda que isto seja paradoxal é a mais pura realidade, que o fraco e
medroso glorie-se nos seus próprios feitos quando é bem-sucedido em algo. O sábio e
verdadeiramente forte, instruído pelo Espírito Santo, gloriar-se-á sempre no Senhor, pois sabe
que é somente pelo poder da graça de Jesus, mediante operação do Espírito Santo, que
podemos ser capacitados a enfrentar a morte de
90
frente, com paz em nossa alma, enquanto a encaramos cara a cara. Tal como se lê em
Apocalipse 12.11:” E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e
não amaram as suas vidas até a morte.”.
A terça parte que ficara do exército de Gideão seria também reduzida pelo Senhor em proporções consideráveis, porque daqueles dez
mil homens corajosos e que criam na promessa de Deus, apenas trezentos seriam considerados
aptos para a batalha, de modo que Deus fosse glorificado por meio deles, pela sua estrita
obediência a tudo que lhes fosse ordenado. Assim não é apenas a coragem e a boa
disposição em desejar fazer a obra de Deus que nos qualifica para ela. É preciso mais do que isto,
conforme seria feito por Deus com aqueles homens através de Gideão. É possível ter
coragem e desejo de se fazer a obra de Deus, mas não a devida renúncia a si mesmo, aos
interesses pessoais, e por se estar mais interessado no próprio conforto e descanso do
que em se gastar nas muitas dificuldades que teriam que ser enfrentadas ao fazer a obra de
Deus. Pessoas que podem suportar longas e continuadas fadigas e sofrimentos por amor a
Cristo, sem reclamar de sede, fome, cansaço, são aquelas que têm melhores condições de
serem bem-sucedidas no serviço de Deus. E é bem provável que através do teste do modo
como aqueles dez mil beberiam água, Deus estivesse se provendo de pessoas com as
características apontadas, e apenas trezentos
91
foram achados qualificados. Não é sem razão que são exigidas várias qualificações aos
candidatos ao ministério, quer sejam aqueles que aspiram ao diaconato ou ao episcopado,
conforme se vê sobretudo nas epístolas Pastorais. E é bem notório que nem todos os
cristãos possuem as habilidades necessárias para o desempenho de tais ofícios, especialmente pela falta desta disponibilidade
real e efetiva em servir sob quaisquer circunstâncias.
Certamente, grande era a fé de Gideão e dos
seus trezentos homens, porque se dispor a enfrentar milhares de midianitas com apenas
aquele tão pequeno exército exigia uma confiança total e firme em Deus e em sua
promessa de que lhes daria a vitória. E de fato o Senhor interviu em favor do seu povo, pois deu
um sonho a um dos midianitas para que fosse contado e espalhado entre eles. E o sonho era
aterrorizante, porque prenunciava a derrota deles por meio do exército de Gideão. E o fato de
terem sabido que Gideão havia destruído o altar de Baal e que nada lhe havia acontecido deve ter
aumentado ainda mais o temor deles, porque viram nisto que o Deus de Israel estava
voltando a ser favorável a seu povo e a lutar miraculosamente por eles, tal como fizera
tantas vezes no passado. Eles muito temeram ao ponto de entrarem em grande conturbação de
mente e de espírito, ferindo-se mutuamente, enquanto fugiam atemorizados diante do toque
de trombetas dos trezentos de Gideão, do grito
92
deles: “A espada do Senhor e de Gideão”, dando assim cumprimento à interpretação que foi
dada ao sonho do midianita de que era a espada de Gideão que os destruiria, ao mesmo tempo
que quebravam os cântaros no interior dos quais haviam tochas acesas, dando a impressão
de um ataque inesperado, com o surgimento de toda aquela luz na escuridão, porque Gideão havia dividido os trezentos em três companhias
de cem homens cada, isto pareceu aos midianitas um exército inumerável que
avançava sobre eles.
Com isto a glória do Senhor seria estabelecida e
todos os descrentes de Israel teriam que se dobrar à evidência do que Deus havia feito, e os
israelitas vacilantes recobrariam a fé e a confiança no seu Deus e muitos deles se
disporiam a pelejar contra os midianitas. Mesmo assim, como veremos no capítulo
seguinte, houve duas cidades que não creram nas operações de Deus e que este pelejava por
Israel por meio de Gideão, e se recusaram a dar alimento aos homens que estavam empenhados
na perseguição aos midianitas, afirmando que não o fariam porque não estavam vendo
nenhum midianita submetido nas mãos de Gideão. As cidades de Cafarnaum, Betsaida e
Corazim também não creram em Jesus apesar dos muitos milagres que ele vinha operando em
todo o território de Israel, e seus habitantes foram por isso, duramente repreendidos pelo
Senhor.
93
Aderiram à perseguição aos midianitas tanto as tribos de Aser, Naftali e Efraim (v.23,24).
Os efraimitas mataram a Orebe e a Zeebe, dois príncipes midianitas, cujas cabeças levaram a
Gideão, e nós veremos logo no início do capítulo seguinte, que nesta ocasião em vez de se
congratularem com Gideão, eles o repreenderam com amargor de espírito sob a
alegação de que não lhes havia chamado para guerrear juntamente com ele, quando foram
iniciadas as ações de guerra contra os midianitas. A tribo de Efraim, juntamente com a
de Manassés, à qual pertencia Gideão, compunham a casa de José, pois eram formadas
de pessoas que eram descendentes deste patriarca, e segundo a profecia de Jacó, Efraim
seria maior do que Manassés, apesar deste último ser o primogênito de José, e assim é
possível que eles tivessem sido movidos na ocasião por um sentimento de superioridade carnal, pelo fato de em tendo a primazia, a tribo
de Manassés, representada na pessoa de Gideão e seus trezentos, tomou-lhe a dianteira sem lhe
consultar na guerra que travariam contra os midianitas. Mas, Gideão contornou a situação
como se pode ver nos versos 2 e 3 do capítulo oitavo, falando-lhes com humildade, o que lhes
apaziguou, por satisfazer a vaidade e sentimento de superioridade deles.
“1 Então Jerubaal, que é Gideão, e todo o povo que estava com ele, levantando-se de
madrugada acamparam junto à fonte de
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Harode; e o arraial de Midiã estava da banda do norte, perto do outeiro de Moré, no vale.
2 Disse o Senhor a Gideão: O povo que está
contigo é demais para eu entregar os midianitas em sua mão; não seja caso que Israel se glorie
contra mim, dizendo: Foi a minha própria mão que me livrou.
3 Agora, pois, apregoa aos ouvidos do povo, dizendo: Quem for medroso e tímido volte, e
retire-se do monte Gileade. Então voltaram do povo vinte e dois mil, e dez mil ficaram.
4 Disse mais o Senhor a Gideão: Ainda são
muitos. Faze-os descer às águas, e ali os provarei; e será que, aquele de que eu te disser:
Este irá contigo, esse contigo irá; porém todo aquele de que eu te disser: Este não irá contigo,
esse não irá.
5 E Gideão fez descer o povo às águas. Então o Senhor lhe disse: Qualquer que lamber as águas
com a língua, como faz o cão, a esse porás de um lado; e a todo aquele que se ajoelhar para beber,
porás do outro.
6 E foi o número dos que lamberam a água, levando a mão à boca, trezentos homens; mas
todo o resto do povo se ajoelhou para beber.
7 Disse ainda o Senhor a Gideão: Com estes trezentos homens que lamberam a água vos
livrarei, e entregarei os midianitas na tua mão; mas, quanto ao resto do povo, volte cada um ao
seu lugar.
8 E o povo tomou na sua mão as provisões e as suas trombetas, e Gideão enviou todos os outros
homens de Israel cada um à sua tenda, porém
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reteve os trezentos. O arraial de Midiã estava embaixo no vale.
9 Naquela mesma noite disse o Senhor a Gideão: Levanta-te, e desce contra o arraial, porque eu o
entreguei na tua mão.
10 Mas se tens medo de descer, vai com o teu
moço, Purá, ao arraial;
11 ouvirás o que dizem, e serão fortalecidas as
tuas mãos para desceres contra o arraial. Então desceu ele com o seu moço, Purá, até o posto
avançado das sentinelas do arraial.
12 Os midianitas, os amalequitas, e todos os
filhos do oriente jaziam no vale, como gafanhotos em multidão; e os seus camelos
eram inumeráveis, como a areia na praia do mar.
13 No momento em que Gideão chegou, um
homem estava contando ao seu companheiro um sonho, e dizia: Eu tive um sonho; eis que um
pão de cevada vinha rolando sobre o arraial dos midianitas e, chegando a uma tenda, bateu nela de sorte a fazê-la cair, e a virou de cima para
baixo, e ela ficou estendida por terra.
14 Ao que respondeu o seu companheiro, dizendo: Isso não é outra coisa senão a espada de
Gideão, filho de Joás, varão israelita. Na sua mão Deus entregou Midiã e todo este arraial.
15 Quando Gideão ouviu a narração do sonho e a sua interpretação, adorou a Deus; e voltando ao
arraial de Israel, disse: Levantai-vos, porque o Senhor entregou nas vossas mãos o arraial de
Midiã.
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16 Então dividiu os trezentos homens em três companhias, pôs nas mãos de cada um deles
trombetas, e cântaros vazios contendo tochas acesas,
17 e disse-lhes: Olhai para mim, e fazei como eu
fizer; e eis que chegando eu à extremidade do arraial, como eu fizer, assim fareis vós.
18 Quando eu tocar a trombeta, eu e todos os que comigo estiverem, tocai também vós as
trombetas ao redor de todo o arraial, e dizei: Pelo Senhor e por Gideão!
19 Gideão, pois, e os cem homens que estavam
com ele chegaram à extremidade do arraial, ao princípio da vigília do meio, havendo sido de
pouco colocadas as guardas; então tocaram as trombetas e despedaçaram os cântaros que
tinham nas mãos.
20 Assim tocaram as três companhias as trombetas, despedaçaram os cântaros,
segurando com as mãos esquerdas as tochas e com as direitas as trombetas para as tocarem, e
clamaram: A espada do Senhor e de Gideão!
21 E conservou-se cada um no seu lugar ao redor do arraial; então todo o exército deitou a correr
e, gritando, fugiu.
22 Pois, ao tocarem os trezentos as trombetas, o Senhor tornou a espada de um contra o outro, e
isto em todo o arraial, e fugiram até Bete-Sita, em direção de Zererá, até os limites de Abel-
Meolá, junto a Tabate.
23 Então os homens de Israel, das tribos de Naftali, de Aser e de todo o Manassés, foram
convocados e perseguiram a Midiã.
97
24 Também Gideão enviou mensageiros por toda a região montanhosa de Efraim, dizendo:
Descei ao encontro de Midiã, e ocupai-lhe as águas até Bete-Bara, e também o Jordão.
Convocados, pois todos os homens de Efraim, tomaram-lhe as águas até Bete-Bara, e também
o Jordão;
25 e prenderam dois príncipes de Midiã, Orebe
e Zeebe; e mataram Orebe na penha de Orebe, e Zeebe mataram no lagar de Zeebe, e
perseguiram a Midiã; e trouxeram as cabeças de Orebe e de Zeebe a Gideão, além do Jordão.”. (Jz
7.1-25)
98
Juízes 8
Tendo comentado os três primeiros versículos
deste 8º capítulo de Juízes, no final do comentário alusivo ao final do capítulo anterior, nós vemos uma afirmação no verso 4 que bem
demonstra a qualidade do espírito de Gideão e dos trezentos que o seguiam:
“E Gideão veio ao Jordão e o atravessou, ele e os
trezentos homens que estavam com ele, fatigados, mas ainda perseguindo.”.
Eles estavam fatigados não apenas pela
perseguição que estavam empreendendo, mas também pelo fato de estarem famintos, e isto se
vê no verso 5. Mesmo extenuados, exauridos ainda estavam perseguindo.
Nada deteria aqueles homens dotados de tal
qualidade de espírito. E por isso foram previamente selecionados por Deus, para
servirem de exemplo a todo Israel, e a nós na Igreja de Cristo, quanto ao modo como Deus
deve ser servido na obra que realizamos em seu nome e para ele. O apóstolo Paulo testemunha
de si mesmo que trabalhava até à exaustão no serviço de Cristo. E nisto deixou um exemplo
para ser seguido por todos os obreiros de Jesus, especialmente pelos ministros do evangelho.
E a atitude dos habitantes de Sucote e de Penuel
foi grave porque se recusaram alimentar a Gideão e seus homens, de modo a terem
melhores condições na perseguição que
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estavam empreendendo aos dois reis midianitas Zeba e Zalmuna. Eles se recusaram em ser
generosos para com eles, apesar de que seriam também beneficiados com a libertação do jugo
dos midianitas. Mas eles não criam nisto, em face do pequeno exército de Gideão, e não
somente se negaram a ajudá-lo como também zombaram deles.
Mesmo estando com fome eles prosseguiram na perseguição, não sem que antes Gideão
prometesse que castigaria a incredulidade e falta de generosidade dos homens de Sucote e
de Penuel, aos primeiros dando-lhes uma surra com os espinhos e abrolhos do deserto, e aos
moradores de Penuel traria danos, derrubando a torre deles, e até mesmo matando a alguns
deles, certamente aqueles que haviam zombado mais acremente quando lhes pediram alimento.
E ele o fizera conforme havia prometido depois de ter subjugado os dois reis midianitas.
Deus havia por um processo extraordinariamente miraculoso feito com que
o número assombroso de cento e vinte mil midianitas fossem mortos (v. 10), e apenas
quinze mil homens haviam sobrado do exército deles e fugido com Zeba e Zalmuna, contra os
quais Gideão estava empreendendo perseguição com os seus valentes, que haviam
deixado suas trombetas e tochas para agora lançarem mão de espadas com as quais
prevaleceriam sobre os midianitas, conforme a promessa que havia sido feita por Deus: “Disse
ainda o Senhor a Gideão: Com estes trezentos
100
homens que lamberam a água vos livrarei, e entregarei os midianitas na tua mão; mas,
quanto ao resto do povo, volte cada um ao seu lugar.” (Jz 7.7)
Os reis midianitas foram julgados e condenados à morte por terem matado em tempos atrás os
irmãos de Gideão no monte Tabor (Jz 6.2), que tendo buscado abrigo nas montanhas por medo
dos midianitas foram achados por estes dois reis, e foram vil e barbaramente mortos a
sangue frio.
Nos versos 20 e 21 nós vemos Gideão chamando
seu filho ainda muito jovem para ser o vingador do sangue dos seus irmãos que foram mortos
por aqueles reis, porque com isso a desonra deles seria ainda maior na execução da sua
sentença de morte, entretanto o jovem não teve coragem suficiente para fazê-lo, e os reis
rogaram a Gideão que ele mesmo os matasse, porque assim não seriam desonrados na morte,
porque certamente correria a notícia que foram mortos pelas mãos de uma criança, caso o filho
de Gideão tivesse a coragem de fazê-lo.
Depois de matá-los, Gideão se apoderou dos
ornamentos em forma de lua que estavam nos pescoços dos camelos daqueles reis, que
possivelmente se destinavam a honrar a deusa Asterote que era representada pela lua, assim
como Baal era representado pelo sol. E certamente para evitar um uso indevido em
idolatria, ele pegou todos os demais ornamentos, e na intenção de evitar um mal,
acabou fazendo um outro, porque fabricou com
101
eles uma estola sacerdotal e a colocou em sua cidade, e aquela peça de uso sagrado
exclusivo do tabernáculo era adorada pelos israelitas.
Quando os israelitas pediram a Gideão que ele se fizesse o governante deles, e que isto passasse
a ser considerado um direito hereditário em sua família, conforme é próprio aos reis, ele se
recusou em atender ao pedido deles, e afirmou que aquele que regeria sobre eles seria sempre
o Senhor, e não ele e ninguém de sua casa. O desejo de Gideão era o de servir ao seu povo, e
não o de governá-lo. Ele havia sido chamado e capacitado por Deus para a obra que realizara, e
deveria se limitar ao que lhe foi ordenado, e ele estava bem consciente disto. A propósito, neste
aspecto, o período dos juízes, em que não havia uma organização política, com um governo
confederado e central sobre todas as tribos, se tinha o inconveniente de Israel não configurar
uma unidade federativa, por outro lado, tinha a vantagem de ter líderes levantados e escolhidos
diretamente pelo próprio Deus para conduzirem o seu povo. O modelo do direito
sucessório por hereditariedade carregava consigo o grande inconveniente de serem conduzidas ao trono pessoas ímpias, conforme
se vê na história dos reis de Israel.
Os versos 30 a 35 são introdutórios à narrativa do capítulo seguinte deste livro (nono) porque
narra o número de filhos (setenta) que Gideão tivera com as muitas mulheres que possuía, não
sendo destacado o nome de nenhum destes
102
seus filhos, senão Jotão, e o filho que tivera com a concubina que ele tinha em Siquém chamado
Abimeleque (v. 31), cuja história é narrada no nono capítulo.
É também citado no verso 33 que depois da
morte de Gideão os israelitas tornaram a se prostituir após os baalins, tendo posto a Baal-
Berite por deus deles, sendo que Baal significa senhor, mestre ou esposo, e berite, aliança,
portanto, traduzido daria senhor da aliança, e no entanto, os israelitas haviam se aliançado com o
único e verdadeiro Senhor, através da mediação de Moisés, configurando, portanto, esta falsa
adoração numa alta traição e adultério, não se lembrando os israelitas do Deus que os livrara das mãos de todos os seus inimigos ao redor, e
nem usaram de beneficência com a casa de Gideão, conforme veremos no comentário
relativo ao nono capítulo.
Os siquemitas adoravam a Baal-Berite, e é
significativo que se note a conexão desta adoração com a barbárie que seria realizada por Abimeleque, em conluio com os habitantes de
Siquém, onde residia a parentela de sua mãe e de seu avô materno.
“1 Então os homens de Efraim lhe disseram: Que é isto que nos fizeste, não nos chamando quando
foste pelejar contra Midiã? E repreenderam-no asperamente.
2 Ele, porém, lhes respondeu: Que fiz eu agora
em comparação ao que vós fizestes? Não são
103
porventura os rabiscos de Efraim melhores do que a vindima de Abiezer?
3 Deus entregou na vossa mão os príncipes de Midiã, Orebe e Zeebe; que, pois, pude eu fazer
em comparação ao que vós fizestes? Então a sua ira se abrandou para com ele, quando falou esta
palavra.
4 E Gideão veio ao Jordão e o atravessou, ele e os
trezentos homens que estavam com ele, fatigados, mas ainda perseguindo.
5 Disse, pois, aos homens de Sucote: Dai, peço-vos, uns pães ao povo que me segue, porquanto
está fatigado, e eu vou perseguindo a Zeba e Zalmuna, reis dos midianitas.
6 Mas os príncipes de Sucote responderam: Já estão em teu poder as mãos de Zeba e Zalmuna,
para que demos pão ao teu exército?
7 Replicou-lhes Gideão: Pois quando o Senhor
entregar na minha mão a Zeba e a Zalmuna, trilharei a vossa carne com os espinhos do
deserto e com os abrolhos.
8 Dali subiu a Penuel, e falou da mesma maneira
aos homens desse lugar, que lhe responderam como os homens de Sucote lhe haviam
respondido.
9 Por isso falou também aos homens de Penuel,
dizendo: Quando eu voltar em paz, derribarei esta torre.
10 Zeba e Zalmuna estavam em Carcor com o seu exército, cerca de quinze mil homens, os
restantes de todo o exército dos filhos do oriente; pois haviam caído cento e vinte mil
homens que puxavam da espada.
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11 subiu Gideão pelo caminho dos que habitavam em tendas, ao oriente de Nobá e
Jogbeá, e feriu aquele exército, porquanto se dava por seguro.
12 E, fugindo Zeba e Zalmuna, Gideão os perseguiu, tomou presos esses dois reis dos
midianitas e desbaratou todo o exército.
13 Voltando, pois, Gideão, filho de Joás, da peleja pela subida de Heres,
14 tomou preso a um moço dos homens de
Sucote, e o inquiriu; este lhe deu por escrito os nomes dos príncipes de Sucote, e dos seus
anciãos, setenta e sete homens.
15 Então veio aos homens de Sucote, e disse: Eis aqui Zeba e Zalmuna, a respeito dos quais me
escarnecestes, dizendo: Porventura já estão em teu poder as mãos de Zeba e Zalmuna, para que
demos pão aos teus homens fatigados?
16 Nisso tomou os anciãos da cidade, e espinhos e abrolhos do deserto, e com eles deu uma
severa lição aos homens de Sucote.
17 Também derrubou a torre de Penuel, e matou
os homens da cidade.
18 Depois perguntou a Zeba e a Zalmuna: Como eram os homens que matastes em Tabor? E
responderam eles: Qual és tu, tais eram eles; cada um parecia filho de rei.
19 Então disse ele: Eram meus irmãos, filhos de
minha mãe; vive o Senhor, que se lhes tivésseis poupado a vida, eu não vos mataria.
20 E disse a Jeter, seu primogênito: Levanta-te,
mata-os. O mancebo, porém, não puxou da
105
espada, porque temia, porquanto ainda era muito moço.
21 Então disseram Zeba e Zalmuna: Levanta-te tu
mesmo, e acomete-nos; porque, qual o homem, tal a sua força. Levantando-se, pois, Gideão,
matou Zeba e Zalmuna, e tomou os crescentes que estavam aos pescoços dos seus camelos.
22 Então os homens de Israel disseram a Gideão: Domina sobre nós, assim tu, como teu filho, e o
filho de teu filho; porquanto nos livraste da mão de Midiã.
23 Gideão, porém, lhes respondeu: Nem eu
dominarei sobre vós, nem meu filho, mas o Senhor sobre vós dominará.
24 Disse-lhes mais Gideão: uma petição vos
farei: dá-me, cada um de vós, as arrecadas do despojo. (Porque os inimigos tinham arrecadas
de ouro, porquanto eram ismaelitas) .
25 Ao que disseram eles: De boa vontade as daremos. E estenderam uma capa, na qual cada
um deles deitou as arrecadas do seu despojo.
26 E foi o peso das arrecadas de ouro que ele pediu, mil e setecentos siclos de ouro, afora os
crescentes, as cadeias e as vestes de púrpura que os reis de Midiã trajavam, afora as correntes
que os camelos traziam ao pescoço.
27 Disso fez Gideão um éfode, e o pôs na sua cidade, em Ofra; e todo o Israel se prostituiu ali
após ele; e foi um laço para Gideão e para sua casa.
28 Assim foram abatidos os midianitas diante
dos filhos de Israel, e nunca mais levantaram a
106
cabeça. E a terra teve sossego, por quarenta anos nos dias de Gideão.
29 Então foi Jerubaal, filho de Joás, e habitou em sua casa.
30 Gideão teve setenta filhos, que procederam
da sua coxa, porque tinha muitas mulheres.
31 A sua concubina que estava em Siquém deu-
lhe também um filho; e pôs-lhe por nome Abimeleque.
32 Morreu Gideão, filho de Joás, numa boa
velhice, e foi sepultado no sepulcro de seu pai Joás, em Ofra dos abiezritas.
33 Depois da morte de Gideão os filhos de Israel tornaram a se prostituir após os baalins, e
puseram a Baal-Berite por deus.
34 Assim os filhos de Israel não se lembraram do Senhor seu Deus, que os livrara da mão de todos
os seus inimigos ao redor;
35 nem usaram de beneficência para com a casa
de Jerubaal, a saber, de Gideão, segundo todo o bem que ele havia feito a Israel.”. (Jz 8.1-35)
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Juízes 9
A apostasia de Israel depois da morte de
Gideão é castigada, não como as apostasias anteriores por uma invasão estrangeira, mas
por uma tirania do filho bastardo de Gideão, que destruiu os siquemitas, adoradores de Baal-
Berite, depois de terem feito uma aliança entre si, para matarem vilmente os setenta filhos de
Gideão, dos quais escapou apenas o caçula, chamado Jotão.
A aliança que eles haviam feito com Baal-Berite, que como vimos antes significa senhor da
aliança, foi uma aliança maldita que causou a sua ruína, porque eram israelitas e deveriam
manter a aliança que tinham feito com Jeová.
Este foi um modo muito amargo de se ensinar aos israelitas o que sucede aos que fazem
aliança com Baal, e que viraram as suas costas ao único Deus verdadeiro. Deus não somente
vingou a morte dos setenta filhos de Gideão, como vindicou sua própria santidade nos
siquemitas, que haviam se voltado para a adoração de Baal.
Ao que tudo indica, Gideão residia com seus filhos legítimos em Ofra, e como sua concubina
morava em Siquém, o filho que tivera com ela, Abimeleque, era também residente nesta
cidade.
Tendo Gideão recusado o convite para reger sobre Israel, e tendo vedado tal regência a
qualquer um dos seus filhos, Abimeleque
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sentiu-se no direito de assumir o governo de Israel, uma vez que era também filho de Gideão,
e para evitar que algum dos setenta filhos de Gideão, contrariando a decisão de seu pai,
viesse a assumir o governo da nação, forjou um plano vil de matar todos os seus irmãos, e o fez
pagando um exército de mercenários levianos, que foram pagos com o dinheiro que lhe fora dado pelos siquemitas, dinheiro este retirado da
casa de Baal-Berite, possivelmente com o intento de que o dinheiro que havia sido
consagrado àquela divindade, desse a Abimeleque sucesso em seu empreendimento.
Como Siquém era uma cidade importante da tribo de Efraim, e como vimos antes, os
efraimitas haviam se ressentido com Gideão, por não lhes ter convocado para lutar contra os
midianitas, pois Gideão era da cidade de Ofra, que pertencia a outra tribo, a de Manassés, eles
encontram agora oportunidade para dar um duro golpe na descendência de Gideão, através
de uma aliança maldita que fizeram com Abimeleque, e isto foi facilitado porque desde a
morte de Gideão haviam se voltado para o culto a Baal, e como sabemos, tal a divindade, tais os
seus adoradores.
Quando Jotão soube que os cidadãos de Siquém
e de Bete-Milo haviam constituído a Abimeleque rei sobre Israel, ele proferiu uma
parábola e uma maldição que se encontram nos versos 7 a 21, e que certamente lhes foram dadas
por inspiração do Espírito Santo, e a maldição
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que ele proferiu teve cumprimento cabal tanto sobre Abimeleque quanto sobre os siquemitas.
A parábola revela a modéstia de Gideão e de
seus filhos legítimos em recusarem o governo que lhes foi proposto pelos israelitas, apesar de
serem pessoas habilitadas para exercer um bom governo; e a imodéstia e presunção de
Abimeleque, que é o espinheiro da parábola, que se precipitou em assumir o governo de
Israel, quando não tinha a menor qualificação moral para isto.
Assim como o fim do espinheiro é ser queimado, em razão da sua inutilidade e danos,
que causa a outros, então, toda pessoa que é como um espinheiro, está sujeita à maldição, e o
seu fim será ser queimada no fogo eterno do inferno.
Como, na parábola, o espinheiro veio a governar por assentimento das demais árvores, então que
saísse fogo do espinheiro e as queimasse, e que o fogo das árvores também queimasse o espinheiro (v. 20), sendo isto uma clara
referência a Abimeleque e aos cidadãos de Siquém e Bete-Milo que lhe haviam aclamado
rei.
Depois de ter Abimeleque reinado três anos
sobre Israel, Deus suscitou um mau espírito entre Abimeleque e os siquemitas com vistas a
vingar a morte dos filhos de Gideão (v. 22, 23).
Os siquemitas começaram a ficar insatisfeitos
com Abimeleque, e ele com eles, e isto procedia da parte de Deus, que permitiu que o diabo
semeasse discórdia entre eles, pois nada dá ao
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diabo, maior prazer do que exercer o seu ministério corrompido de matar, roubar e
destruir.
O mesmo diabo que aparentemente havia favorecido Abimeleque e os siquemitas
conduzindo-os a uma posição de governo sobre Israel, por meio de um expediente
extremamente vil, seria também o causador da destruição de Abimeleque e dos siquemitas.
E que isto sirva de alerta a todos os que se deixam usar por Satanás para prejudicarem a
outros, porque no final eles próprios serão prejudicados pelo diabo, que não pode desejar o
bem a qualquer homem, porque os odeia com um ódio mortal, e visa tão somente à sua
destruição.
Por isso, nunca se nega a destruir a carne
daqueles aos quais tal coisa lhe é permitida por Deus, para fim de juízo ou de correção, pois tem
imenso prazer em fazer isto, e existe para isto, e para nenhum outro propósito, até que ele mesmo venha a receber a execução final da
sentença que já foi pronunciada sobre ele, de queimar eternamente no lago de fogo e enxofre.
No caso de Saul é dito também que vinha sobre ele um espírito maligno da parte do Senhor, e
isto significa ser permitido ao diabo que se apodere daqueles dos quais Deus retirou a sua
proteção, por andarem contrariamente com ele e com a sua vontade.
“Ora, o Espírito do Senhor retirou-se de Saul, e o atormentava um espírito maligno da parte do
Senhor.” (I Sm 16.14).
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Deus esperou três anos para começar a entregar a Abimeleque e os siquemitas à destruição.
Assim, ninguém se apresse em considerar que Deus não leva em conta o pecado, em razão de
não ver juízos imediatos sendo exercidos sobre os seus praticantes.
Cabe destacar que conforme a Bíblia ensina, todos comparecerão diante dele no tribunal em
que cada um de nós prestará contas do bem ou do mal que tiver feito por meio do corpo (II Cor
5.10; Rom 14.10-12).
Se os siquemitas não foram gratos a Gideão, que
lhes havia libertado do jugo dos midianitas, como seriam gratos a Abimeleque?
Porque não haveriam de traí-lo, já que haviam traído à memória de Gideão cooperando para
matar toda a sua descendência?
Fazendo aliança com o mal nunca se poderá ter
a garantia de cumprimento da promessa do bem.
Antes que Deus executasse o juízo de morte sobre Abimeleque, permitindo que fosse morto
de modo desonroso pelas mãos de uma mulher, que lhe quebrou o crânio com uma pedra da
parte superior de um moinho, ele permitiu que Abimeleque destruísse os siquemitas, dando-se
cumprimento à maldição proferida por Jotão, que dele sairia fogo e consumiria os siquemitas.
Ele pôs literalmente fogo na fortaleza de El-Berite, da cidade de Migdol-Siquém, onde seus
habitantes haviam se refugiado (v. 49).
Eles foram mortos na casa do próprio deus que
eles adoravam, julgando que ali estariam
112
seguros, por pensarem que o seu deus viria em seu socorro.
Antes disso ele havia destruído uma insurreição
dos habitantes de Siquém, que haviam colocado a um certo Gaal como cabeça deles, para
derrubarem Abimeleque.
Seria a substituição intentada de um tirano por outro. E isto ocorreu para que conforme fora
predito pela maldição proferida por Jotão, Abimeleque encontrasse ocasião para destruir
os siquemitas.
Ele não estava, portanto, prosperando em seus projetos e nem sendo abençoado por Deus, mas
simplesmente sendo ele próprio o instrumento do juízo de Deus contra aqueles que lhe haviam
conduzido ao poder, por meio da injustiça.
Muitos parecem prosperar neste mundo,
quando prevalecem sobre seus inimigos, e no entanto, muitas vezes isto é apenas um juízo de Deus, que se cumpre pela instrumentalidade
deles, até que eles próprios venham também a ser julgados.
Os ditadores sanguinários, têm geralmente o mesmo fim daqueles aos quais mataram a
sangue-frio. Aquele que matar pela espada da injustiça, pela espada também será morto, e
ainda que isto não se cumpra literalmente neste mundo, certamente, em face da falta de
arrependimento para a vida, tal se cumprirá no juízo vindouro de Deus.
Abimeleque deixou a Zebul, que era seu
confidente, como sendo o governante da cidade
113
de Siquém, e este Zebul traiu a Gaal informando sobre suas intenções a Abimeleque.
Os que traem serão também traídos, de um modo ou de outro.
Abimeleque derrotou as forças de Gaal, que saíram a lutar com seu exército fora dos muros
da cidade de Siquém.
Como os siquemitas, apesar de terem
abandonado a Gaal, permaneceram contrários a Abimeleque, este deu com tal fúria sobre a sua
própria cidade natal de Siquém, que a transformou em ruínas, e para que ficasse na
condição de uma assolação perpétua, fez com que fosse semeada com sal (v. 45).
“1 Abimeleque, filho de Jerubaal, foi a Siquém,
aos irmãos de sua mãe, e falou-lhes, e a toda a parentela da casa de pai de sua mãe, dizendo:
2 Falai, peço-vos, aos ouvidos de todos os cidadãos de Siquém: Que é melhor para vós? que
setenta homens, todos os filhos de Jerubaal, dominem sobre vós, ou que um só domine sobre
vós? Lembrai-vos também de que sou vosso osso e vossa carne.
3 Então os irmãos de sua mãe falaram todas essas palavras a respeito dele aos ouvidos de
todos os cidadãos de Siquém; e o coração deles se inclinou a seguir Abimeleque; pois disseram:
E nosso irmão.
4 E deram-lhe setenta siclos de prata, da casa de
Baal-Berite, com os quais alugou Abimeleque alguns homens ociosos e levianos, que o
seguiram;
114
5 e foi à casa de seu pai, a Ofra, e matou a seus irmãos, os filhos de Jerubaal, setenta homens,
sobre uma só pedra. Mas Jotão, filho menor de Jerubaal, ficou, porquanto se tinha escondido.
6 Então se ajuntaram todos os cidadãos de
Siquém e toda a Bete-Milo, e foram, e constituíram rei a Abimeleque, junto ao
carvalho da coluna que havia em Siquém.
7 Jotão, tendo sido avisado disso, foi e, pondo-se
no cume do monte Gerizim, levantou a voz e clamou, dizendo: Ouvi-me a mim, cidadãos de
Siquém, para que Deus: vos ouça a vós.
8 Foram uma vez as árvores a ungir para si um rei; e disseram à oliveira: Reina tu sobre nós.
9 Mas a oliveira lhes respondeu: Deixaria eu a minha gordura, que Deus e os homens em mim
prezam, para ir balouçar sobre as árvores?
10 Então disseram as árvores à figueira: Vem tu, e reina sobre nós.
11 Mas a figueira lhes respondeu: Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto, para ir
balouçar sobre as árvores?
12 Disseram então as árvores à videira: Vem tu, e reina sobre nós.
13 Mas a videira lhes respondeu: Deixaria eu o meu mosto, que alegra a Deus e aos homens,
para ir balouçar sobre as árvores?
14 Então todas as árvores disseram ao espinheiro: Vem tu, e reina sobre nós.
15 O espinheiro, porém, respondeu às árvores: Se de boa fé me ungis por vosso rei, vinde
refugiar-vos debaixo da minha sombra; mas, se
115
não, saia fogo do espinheiro, e devore os cedros do Líbano.
16 Agora, pois, se de boa fé e com retidão
procedestes, constituindo rei a Abimeleque, e se bem fizestes para com Jerubaal e para com a
sua casa, e se com ele usastes conforme o merecimento das suas mãos
17 (porque meu pai pelejou por vós, desprezando
a própria vida, e vos livrou da mão de Midiã;
18 porém vós hoje vos levantastes contra a casa
de meu pai, e matastes a seus filhos, setenta homens, sobre uma só pedra; e a Abimeleque,
filho da sua serva, fizestes reinar sobre os cidadãos de Siquém, porque é vosso irmão);
19 se de boa fé e com retidão procedestes hoje
para com Jerubaal e para com a sua casa, alegrai-vos em Abimeleque, e também ele se alegre em
vós;
20 mas se não, saia fogo de Abimeleque, e devore os cidadãos de Siquém, e a Bete-Milo; e
saia fogo dos cidadãos de Siquém e de Bete-Milo, e devore Abimeleque.
21 E partindo Jotão, fugiu e foi para Beer, e ali habitou, por medo de Abimeleque, seu irmão.
22 Havendo Abimeleque reinado três anos
sobre Israel,
23 Deus suscitou um espírito mau entre Abimeleque e os cidadãos de Siquém; e estes
procederam aleivosamente para com Abimeleque;
24 para que a violência praticada contra os setenta filhos de Jerubaal, como também o
sangue deles, recaíssem sobre Abimeleque, seu
116
irmão, que os matara, e sobre os cidadãos de Siquém, que fortaleceram as mãos dele para
matar a seus irmãos.
25 E os cidadãos de Siquém puseram de
emboscada contra ele, sobre os cumes dos montes, homens que roubavam a todo aquele
que passava por eles no caminho. E contou-se isto a Abimeleque.
26 Também veio Gaal, filho de Ebede, com seus irmãos, e estabeleceu-se em Siquém; e
confiaram nele os cidadãos de Siquém.
27 Saindo ao campo, vindimaram as suas vinhas,
pisaram as uvas e fizeram uma festa; e, entrando na casa de seu deus, comeram e beberam, e
amaldiçoaram a Abimeleque.
28 E disse Gaal, filho de Ebede: Quem é
Abimeleque, e quem é Siquém, para que sirvamos a Abimeleque? não é, porventura,
filho de Jerubaal? e não é Zebul o seu mordomo? Servi antes aos homens de Hamor, pai de
Siquém; pois, por que razão serviríamos nós a Abimeleque?
29 Ah! se este povo estivesse sob a minha mão, eu transtornaria a Abimeleque. Eu lhe diria:
Multiplica o teu exército, e vem.
30 Quando Zebul, o governador da cidade, ouviu as palavras de Gaal, filho de Ebede, acendeu-se
em ira.
31 E enviou secretamente mensageiros a
Abimeleque, para lhe dizerem: Eis que Gaal, filho de Ebede, e seus irmãos vieram a Siquém,
e estão sublevando a cidade contra ti.
117
32 Levanta-te, pois, de noite, tu e o povo que tiveres contigo, e põe-te de emboscada no
campo.
33 E pela manhã, ao nascer do sol, levanta-te, e dá de golpe sobre a cidade; e, saindo contra ti
Gaal e o povo que tiver com ele, faze-lhe como te permitirem as circunstâncias.
34 Levantou-se, pois, de noite Abimeleque, e todo o povo que com ele havia, e puseram
emboscadas a Siquém, em quatro bandos.
35 E Gaal, filho de Ebede, saiu e pôs-se à entrada
da porta da cidade; e das emboscadas se levantou Abimeleque, e todo o povo que estava
com ele.
36 Quando Gaal viu aquele povo, disse a Zebul:
Eis que desce gente dos cumes dos montes. Respondeu-lhe Zebul: Tu vês as sombras dos
montes como se fossem homens.
37 Gaal, porém, tornou a falar, e disse: Eis que desce gente do meio da terra; também vem uma
tropa do caminho do carvalho de Meonenim.
38 Então lhe disse Zebul: Onde está agora a tua
boca, com a qual dizias: Quem é Abimeleque, para que o sirvamos? Não é esse, porventura, o
povo que desprezaste. Sai agora e peleja contra ele!
39 Assim saiu Gaal, à frente dos cidadãos de Siquém, e pelejou contra Abimeleque.
40 Mas Abimeleque o perseguiu, pois Gaal fugiu diante dele, e muitos caíram feridos até a
entrada da porta.
118
41 Abimeleque ficou em Arumá. E Zebul expulsou Gaal e seus irmãos, para que não
habitassem em Siquém.
42 No dia seguinte sucedeu que o povo saiu ao campo; disto foi avisado Abimeleque,
43 o qual, tomando o seu povo, dividiu-o em três bandos, que pôs de emboscada no campo.
Quando viu que o povo saía da cidade, levantou-se contra ele e o feriu.
44 Abimeleque e os que estavam com ele
correram e se puseram à porta da cidade; e os outros dois bandos deram de improviso sobre
todos quantos estavam no campo, e os feriram.
45 Abimeleque pelejou contra a cidade todo aquele dia, tomou-a e matou o povo que nela se
achava; e, assolando-a, a semeou de sal.
46 Tendo ouvido isso todos os cidadãos de Migdol-Siquém, entraram na fortaleza, na casa
de El-Berite.
47 E contou-se a Abimeleque que todos os cidadãos de Migdol-Siquém se haviam
congregado.
48 Então Abimeleque subiu ao monte Zalmom, ele e todo o povo que com ele havia; e, tomando
na mão um machado, cortou um ramo de árvore e, levantando-o, pô-lo ao seu ombro, e disse ao
povo que estava com ele: O que me vistes fazer, apressai-vos a fazê-lo também.
49 Tendo, pois, cada um cortado o seu ramo,
seguiram a Abimeleque; e, pondo os ramos junto da fortaleza, queimaram-na a fogo com os
que nela estavam; de modo que morreram
119
também todos os de Migdol-Siquém, cerca de mil homens e mulheres.
50 Então Abimeleque foi a Tebez, e a sitiou e tomou.
51 Havia, porém, no meio da cidade uma torre forte, na qual se refugiaram todos os habitantes
da cidade, homens e mulheres; e fechando após si as portas, subiram ao eirado da torre.
52 E Abimeleque, tendo chegado até a torre, atacou-a, e chegou-se à porta da torre, para lhe
meter fogo.
53 Nisso uma mulher lançou a pedra superior de
um moinho sobre a cabeça de Abimeleque, e quebrou-lhe o crânio.
54 Então ele chamou depressa o moço, seu escudeiro, e disse-lhe: Desembainha a tua
espada e mata-me, para que não se diga de mim: uma mulher o matou. E o moço o traspassou e
ele morreu.
55 Vendo, pois, os homens de Israel que
Abimeleque já era morto, foram-se cada um para o seu lugar.
56 Assim Deus fez tornar sobre Abimeleque o mal que tinha feito a seu pai, matando seus
setenta irmãos;
57 como também fez tornar sobre a cabeça dos
homens de Siquém todo o mal que fizeram; e veio sobre eles a maldição de Jotão, filho de
Jerubaal.” (Jz 9.1-57)
120
Juízes 10
Neste capítulo nós temos o relato dos tempos
pacíficos que Israel desfrutou debaixo do
governo de dois juízes, Tola, que julgou por 23 anos, e Jair, por 22 anos. Este Jair era um
gileadita, isto é um habitante da Transjordânia, onde haviam se fixado as tribos de Rúben, Gade
e Manassés, e onde habitavam ao Sul deste território os amonitas.
Depois dos dias de Jair, tendo os israelitas voltado à idolatria, os amonitas e os filisteus
passaram a oprimir Israel, sendo que os amonitas subiram pela Transjordânia, e
oprimiram todos os israelitas daquele território por dezoito anos, e partindo dali passaram para
o outro lado do Jordão, onde foram lutar contra Judá, Benjamim e Efraim (v.9).
Em face de tal opressão, os israelitas clamaram ao Senhor por livramento, e ele protestou
contra a sua infidelidade, e lhes recordou que já havia livrado Israel por diversas vezes, e eles
sempre lhe voltavam as costas, servindo a outros deuses, que clamassem, portanto, aos
falsos deuses que serviam para que os livrassem.
Entretanto, eles persistiram em seu clamor e
fizeram mais do que clamar, pois reconheceram o seu pecado diante de Deus, e tiraram do meio
deles os falsos deuses e passaram a servir ao Senhor, e demonstraram com isto um
verdadeiro arrependimento,
121
Deus se compadeceu deles mais uma vez, por causa da desgraça em que se encontravam (v.
16).
Tendo os amonitas acampado em Gileade, os israelitas se reuniram em Mizpá onde os
príncipes de Gileade decidiram que o homem que os liderasse na luta contra os amonitas seria conduzido à posição de governante deles. Com
isto, nós temos uma introdução à história de Jefté, que será narrada nos dois capítulos
seguintes, homem sobre o qual o Senhor colocou o seu Espírito (11.29), para libertar por
meio dele, os israelitas da opressão dos amonitas.
“1 Depois de Abimeleque levantou-se, para
livrar a Israel, Tola, filho de Puva, filho de Dodó, homem de Issacar, que habitava em Samir, na
região montanhosa de Efraim.
2 Ele julgou a Israel vinte e três anos; e morreu, e foi sepultado em Samir.
3 Depois dele levantou-se Jair, gileadita, que
julgou a Israel vinte e dois anos.
4 Ele tinha trinta filhos, que cavalgavam sobre trinta jumentos; e tinham estes trinta cidades,
que se chamam Havote-Jair, até a dia de hoje, as quais estão na terra de Gileade.
5 Morreu Jair, e foi sepultado em Camom.
6 Então tornaram os filhos de Israel a fazer o que
era mau aos olhos do Senhor, e serviram aos baalins, e às astarotes, e aos deuses da Síria, e
aos de Sidom, e de Moabe, e dos amonitas, e dos
122
filisteus; e abandonaram o Senhor, e não o serviram.
7 Pelo que a ira do Senhor se acendeu contra Israel, e ele os vendeu na mão dos filisteus e na
mão dos amonitas,
8 os quais naquele mesmo ano começaram a
vexá-los e oprimi-los. Por dezoito anos oprimiram a todos os filhos de Israel que
estavam dalém do Jordão, na terra dos amorreus, que é em Gileade.
9 E os amonitas passaram o Jordão, para pelejar também contra Judá e Benjamim, e contra a casa
de Efraim, de maneira que Israel se viu muito angustiado.
10 Então os filhos de Israel clamaram ao Senhor,
dizendo: Pecamos contra ti, pois abandonamos o nosso Deus, e servimos aos baalins.
11 O Senhor, porém, respondeu aos filhos de Israel: Porventura não vos livrei eu dos egípcios,
dos amorreus, dos amonitas e dos filisteus?
12 Também os sidônios, os amalequitas e os
maonitas vos oprimiram; e, quando clamastes a mim, não vos livrei da sua mão?
13 Contudo vós me deixastes a mim e servistes a outros deuses, pelo que não vos livrarei mais.
14 Ide e clamai aos deuses que escolhestes; que
eles vos livrem no tempo da vossa angústia.
15 Mas os filhos de Israel disseram ao Senhor:
Pecamos; faze-nos conforme tudo quanto te parecer bem; tão-somente te rogamos que nos
livres hoje.
123
16 E tiraram os deuses alheios do meio de si, e serviram ao Senhor, que se moveu de
compaixão por causa da desgraça de Israel.
17 Depois os amonitas se reuniram e
acamparam em Gileade; também os filhos de Israel, reunindo-se, acamparam em Mizpá.
18 Então o povo, isto é, os príncipes de Gileade disseram uns aos outros: Quem será o varão que
começará a peleja contra os amonitas? esse será o chefe de todos os habitantes de Gileade.” (Jz 10.1-18)
124
Juízes 11
Este capítulo é iniciado com a afirmação de
que Jefté era um homem valoroso, apesar de ser filho de uma meretriz.
Seu pai o criou na casa de sua esposa, com a qual tivera outros filhos, e estes expulsaram Jefté,
quando já eram grandes, sob o argumento de que não herdaria juntamente com eles, em
razão de ser filho de uma outra mulher (v.2).
Mas o tempo que Jefté permaneceu em Gileade, antes de ir residir em Tobe, depois de ter sido
expulso por seus irmãos, foi o bastante para que os príncipes de Israel reconhecessem o seu
valor e coragem, de modo que ao tempo em que os amonitas declararam guerra aos israelitas, e
acamparam em Gileade, conforme vimos no capítulo anterior, Jefté foi chamado de volta
para ser o seu general, na guerra que teriam que empreender contra os amonitas, e para
incentivá-lo a aceitar o convite, determinaram que caso obtivesse vitória, seria feito
governante de toda Gileade. No verso 9, Jefté revela na pergunta que fez aos
anciãos de Gileade que ele era um homem de fé, conforme se testifica dele na galeria dos heróis
da fé em Hb 11.32, pois considerou que sua vitória sobre os amonitas somente poderia
ocorrer caso o Senhor os entregasse nas suas mãos.
É dito no verso 11 que Jefté falou todas as suas
palavras perante o Senhor em Mizpá, e ele
125
demonstra não apenas ter o temor de Deus como um grande conhecimento da Lei de
Moisés, pois nos argumentos que apresentou aos amonitas do direito de posse dos israelitas
sobre o território de Gileade, que estava sendo contestado pelos amonitas, e que segundo eles
era o motivo da guerra que pretendiam fazer contra Israel, ele não estruturou a sua defesa em termos de mera diplomacia política, mas
extraindo e expondo com exatidão todos os seus argumentos simplesmente da Palavra de Deus.
É realmente uma pena, que hoje, quando a
revelação de Deus em sua Palavra está completa e fechada há mais de dois mil anos, que muitos
ministros do evangelho usem do púlpito para exporem política, sociologia, psicologia,
filosofia, e toda sorte de argumentos mundanos, em vez de aplicarem a simples e direta Palavra
de Deus.
Muitos se recusam a ministrarem o evangelho
ou o misturam com aquilo que é do mundo e não de Deus, e com isso cometem um pecado ainda
maior, porque misturam veneno ao que é puro, aquilo que é vil ao que é precioso, e o Senhor não
terá por inocente, de modo algum, a todo aquele que pratica tais coisas, pois como diz o apóstolo
Paulo, que caso ele próprio ou mesmo um anjo do céu, adulterasse o único e verdadeiro
evangelho, ele ou o anjo ficariam sujeitos a serem amaldiçoados por Deus.
Veja que Paulo inclui a si mesmo, e isto aponta para o fato de que os próprios crentes
autênticos, que não estão mais debaixo da
126
maldição da lei, para efeito de condenação eterna, porque foram resgatados de tal
maldição por Cristo, no entanto, não estão livres de serem visitados com juízos de Deus, quando
deliberadamente adulteram a sua Palavra, tal como ocorreu com Himeneu, Fileto e
Alexandre, que foram entregues pelo apóstolo Paulo a Satanás, porque estavam afirmando coisas contrárias à verdadeira Palavra de Deus.
Estes eram da fé, mas vieram a naufragar na fé,
isto é, a se desviarem da verdade, por terem rejeitado uma boa consciência, que pode ser
forjada somente pela verdade revelada na Bíblia:
“mantendo fé e boa consciência, porquanto
alguns, tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé. E dentre esses se
contam Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para serem castigados, a
fim de não mais blasfemarem.” (I Tim 1.19,20).
“Procura apresentar-te a Deus, aprovado, como
obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade. Evita
igualmente os falatórios inúteis e profanos, pois os que deles usam passarão a impiedade ainda
maior. Além disso a linguagem deles corrói como câncer; entre os quais se incluem
Himeneu e Fileto. Estes se desviaram da verdade, asseverando que a ressurreição já se
realizou, e estão pervertendo a fé a alguns.” (II Tim 2.15-18).
Que sejamos então como Jefté, combatendo o bom combate da fé com os argumentos de Deus,
e não com os argumentos do mundo, a bem de
127
nossa própria saúde espiritual e da dos nossos ouvintes.
Que tenhamos também o mesmo espírito
magnânimo dele, que sendo um homem valoroso, corajoso, procurou antes evitar
derramamento de sangue na guerra contra os amonitas, pois não havia uma ordem de
extermínio em relação a eles, na Palavra de Deus, como havia em relação às nações de
Canaã, porque eram da descendência de Ló.
Gideão procurou fazer valer a Palavra de Deus
também neste aspecto, e procurou antes de entrar em luta com eles, conhecer as razões da
declaração de guerra que estavam fazendo, para que, sendo contornáveis, se evitasse com isso
derramamento de sangue de ambas as partes. No entanto, a alegação imprópria dos amonitas
de que os territórios ocupados por Israel lhes pertenciam, recebeu como resposta as razões
do direito divino que concedeu a Israel a posse daquelas terras, e não tendo os amonitas dado
qualquer atenção à resposta de Jefté, não restou outra alternativa, senão a da guerra.
No que depender do crente lhe é ordenado que
tenha paz com todos.
Ele deve ser um pacificador. Deve ser um
guerreiro diante de Deus em prol da causa da paz. E se houver guerra, que isto nunca ocorra
por ter o próprio crente lhe dado causa.
Pela sua atitude Jefté demonstrou que, apesar
de ser um homem valoroso e corajoso, estava dotado de um espírito nobre e não tinha
nenhum prazer na guerra, e tal deve ser a obra
128
do Espírito Santo em todos os crentes, para que sejam Jeftés de Deus. E cabe destacar que
também nisto, Jefté estava agindo de acordo com a direção contida na Palavra de Deus, que
ensina que antes de Israel entrar em guerra com alguma nação, deveria antes, oferecer
condições para o estabelecimento da paz (Dt 20.0).
A própria região de Gileade cuja posse pelos israelitas estava sendo contestada agora pelos
amonitas, mais de trezentos anos depois de Moisés, quando ele a conquistou, fora também
objeto deste princípio estabelecido por Deus, porque a causa da guerra havida com Ogue e
Seom, reis de Basã e de Hesbom, foi exatamente por terem rejeitado a oferta de paz que Moisés
lhes fizera, para que passasse pelos seus territórios rumo a Canaã (Dt 2.26,27).
Jefté estava sendo, pois, guiado por um senso de justiça, e não de justiça própria, mas da
verdadeira justiça, que é baseada na Palavra de Deus, e este mesmo senso deveria ser cultivado
por todos os crentes, porque é isto que lhes é ordenado, pois se diz na Bíblia que devem
buscar o reino de Deus e a sua justiça, e que devem ser agora não mais servos do pecado,
mas da justiça.
Dos versos 29 ao 40 nós temos o relato do voto
que Jefté fizera quando foi enviado pelo Espírito Santo a guerrear contra os amonitas: ele se
compromissou com Deus a dar a primeira pessoa de sua casa que lhe viesse ao encontro
depois de ser bem sucedido na guerra contra os
129
amonitas, como oferta ao Senhor (v. 31), e a Bíblia no original hebraico registra a palavra
olah, que significa sacrifício queimado.
A alegria de Jefté pela vitória que Deus lhe deu
sobre os amonitas foi seguida por uma grande e terrível aflição em razão de seu voto precipitado,
pois a primeira pessoa de sua casa que veio ao seu encontro não foi nenhum dos seus muitos
servos, como ele talvez imaginou que seria provavelmente o que ocorreria, mas justamente
a sua única filha, e além dela, não tinha nenhum outro filho. E tendo ficado grandemente
transtornado e abatido disse que tinha sido ela a causa da sua desgraça, em razão do voto que
fizera.
E a moça, submissa à vontade de Deus e a seu pai
o encorajou a cumprir o voto que fizera, apesar de ter sido ela o objeto do citado voto.
Quando lemos esta passagem, também nos abatemos e nos comovemos, seja qual tenha
sido o teor real daquele voto, se era para dedicação total ao Senhor, em vida, sem estar
ligado a nenhum outro compromisso senão ao de servir exclusivamente a Deus no
tabernáculo, que pensamos seja o mais provável, em razão de ter a moça chorado a sua
virgindade, já que não poderia mais contrair matrimônio, em razão do voto que seu pai fizera,
ou por outro lado, se houve de fato uma oferta literal de seu corpo a Deus, sendo queimado
como sacrifício, o que consideramos improvável, principalmente em razão do grande
conhecimento da Lei de Moisés demonstrado
130
por Jefté, e ele sabia da proibição expressa de os israelitas oferecerem seus filhos como
sacrifícios a divindades, e não havia na lei nenhum respaldo para a apresentação de
sacrifícios humanos a Deus, e caso ele aceitasse o voto de Jefté, caso direcionado neste sentido,
estaria abrindo um precedente para tal prática em Israel.
“Não oferecerás a Moloque nenhum dos teus filhos, fazendo-o passar pelo fogo; nem
profanarás o nome de teu Deus. Eu sou o Senhor.” (Lev 18.21).
“Também dirás aos filhos de Israel: Qualquer dos filhos de Israel, ou dos estrangeiros
peregrinos em Israel, que der de seus filhos a Moloque, certamente será morto; o povo da
terra o apedrejará. Eu porei o meu rosto contra esse homem, e o extirparei do meio do seu povo;
porquanto deu de seus filhos a Moloque, assim contaminando o meu santuário e profanando o
meu santo nome.” (Lev 20.2,3).
Veja que a oferta de um holocausto humano,
ainda que direcionado a uma divindade falsa, seria considerado por Deus como uma
profanação do tabernáculo e do seu santo nome.
Somente o próprio Deus poderia ordenar um tal
sacrifício, e nós vemos no pedido que ele fizera a Abraão de oferecer a Isaque como holocausto,
que ele não recuara no pedido, mas apresentou a Abraão um substituto para Isaque, um
cordeiro que estava próximo dele no monte Moriá, local onde Jesus seria oferecido em
sacrifício no futuro.
131
Assim, o único sacrifício humano aceitável a Deus seria o do seu próprio filho, para morrer no
lugar dos pecadores, e jamais, mesmo a título de figura, tipo, ilustração deste sacrifício, poderia
ter aceito um holocausto humano.
Se Jefté chegou a fazê-lo, ele o fizera como um
ato consequente da sua precipitação e por sua própria conta, e não porque aquilo lhe seria
exigido da parte de Deus como cumprimento de um voto que o Senhor define como profanação
do seu santuário e do seu santo nome.
Em termos grosseiros seria o mesmo que
alguém fizesse um voto dizendo que caso Deus o atendesse em sua petição ele iria se prostituir.
Como Deus que é santo e justo poderia cobrar e exigir o cumprimento de um tal voto?
Então, não podemos conceber de modo algum que ainda que Jefté tenha determinado oferecer
a Deus uma pessoa de sua casa em holocausto, queimando-a sobre um altar, jamais o Senhor
teria participação e consentimento nisto. Muito pelo contrário, jamais aprovaria um tal ato,
conforme aprendemos em sua própria Palavra, pois nenhum sacrifício humano pode satisfazer
à sua justiça, senão o sacrifício de Jesus, que não somente a satisfaz como também é o único que
poderia satisfazê-la, para que os pecadores pudessem ser reconciliados com ele.
Fechamos este argumento com a citação de Jer 32.35: “Também edificaram os altos de Baal, que
estão no vale do filho de Hinom, para fazerem passar seus filhos e suas filhas pelo fogo a
Moloque; o que nunca lhes ordenei, nem me
132
passou pela mente, que fizessem tal abominação, para fazerem pecar a Judá.”.
Veja que Deus diz que isto nunca foi ordenado
por ele, e nem sequer passou pela sua mente que fizessem tal abominação, revelando a sua
completa aversão à prática de se oferecer pessoas em sacrifício.
Temos, portanto, o pensamento de que o voto de Jefté teve o mesmo caráter do voto que Ana
fizera em relação ao profeta Samuel, em razão, como afirmamos antes, do conhecimento que Jefté tinha da lei de Deus e do seu caráter
magnânimo, que como vimos antes não o dispunha a ser tão insensível para com a vida
humana, pois antes de guerrear com os amonitas procurou estabelecer condições de
paz, para evitar derramamento de sangue.
“1 Era então Jefté, o gileadita, homem valoroso,
porém filho duma prostituta; Gileade era o pai dele.
2 Também a mulher de Gileade lhe deu filhos; quando os filhos desta eram já grandes,
expulsaram a Jefté, e lhe disseram: Não herdarás na casa de nosso pai, porque és filho de outra
mulher.
3 Então Jefté fugiu de diante de seus irmãos, e habitou na terra de Tobe; e homens levianos
juntaram-se a Jefté, e saiam com ele.
4 Passado algum tempo, os amonitas fizeram
guerra a Israel.
133
5 E, estando eles a guerrear contra Israel, foram os anciãos de Gileade para trazer Jefté da terra
de Tobe,
6 e lhe disseram: Vem, sê o nosso chefe, para que combatamos contra os amonitas.
7 Jefté, porém, perguntou aos anciãos de Gileade: Porventura não me odiastes, e não me
expulsastes da casa de meu pai? por que, pois, agora viestes a mim, quando estais em aperto?
8 Responderam-lhe os anciãos de Gileade: É por
isso que tornamos a ti agora, para que venhas conosco, e combatas contra os amonitas, e nos
sejas por chefe sobre todos os habitantes de Gileade.
9 Então Jefté disse aos anciãos de Gileade: Se me
fizerdes voltar para combater contra os amonitas, e o Senhor mos entregar diante de
mim, então serei eu o vosso chefe.
10 Responderam os anciãos de Gileade a Jefté: O Senhor será testemunha entre nós de que
faremos conforme a tua palavra.
11 Assim Jefté foi com os anciãos de Gileade, e o povo o pôs por cabeça e chefe sobre si; e Jefté
falou todas as suas palavras perante o Senhor em Mizpá.
12 Depois Jefté enviou mensageiros ao rei dos
amonitas, para lhe dizerem: Que há entre mim e ti, que vieste a mim para guerrear contra a
minha terra?
13 Respondeu o rei dos amonitas aos mensageiros de Jefté: É porque Israel, quando
subiu do Egito, tomou a minha terra, desde o
134
Arnom até o Jaboque e o Jordão; restitui-me, pois, agora essas terras em paz.
14 Jefté, porém, tornou a enviar mensageiros ao
rei dos amonitas,
15 dizendo-lhe: Assim diz Jefté: Israel não tomou
a terra de Moabe, nem a terra dos amonitas;
16 mas quando Israel subiu do Egito, andou pelo
deserto até o Mar Vermelho, e depois chegou a Cades;
17 dali enviou mensageiros ao rei de Edom, a dizer-lhe: Rogo-te que me deixes passar pela tua
terra. Mas o rei de Edom não lhe deu ouvidos. Então enviou ao rei de Moabe, o qual também
não consentiu; e assim Israel ficou em Cades.
18 Depois andou pelo deserto e rodeou a terra de
Edom e a terra de Moabe, e veio pelo lado oriental da terra de Moabe, e acampou além do
Arnom; porém não entrou no território de Moabe, pois o Arnom era o limite de Moabe.
19 E Israel enviou mensageiros a Siom, rei dos
amorreus, rei de Hesbom, e disse-lhe: Rogo-te que nos deixes passar pela tua terra até o meu
lugar.
20 Siom, porém, não se fiou de Israel para o
deixar passar pelo seu território; pelo contrário, ajuntando todo o seu povo, acampou em Jaza e
combateu contra Israel.
21 E o Senhor Deus de Israel entregou Siom com
todo o seu povo na mão de Israel, que os feriu e se apoderou de toda a terra dos amorreus que
habitavam naquela região.
135
22 Apoderou-se de todo o território dos amorreus, desde o Arnom até o Jaboque, e desde
o deserto até o Jordão.
23 Assim o Senhor Deus de Israel desapossou os amorreus de diante do seu povo de Israel; e
possuirias tu esse território?
24 Não possuirias tu o território daquele que Quemós, teu deus, desapossasse de diante de ti?
assim possuiremos nós o território de todos quantos o Senhor nosso Deus desapossar de
diante de nós.
25 Agora, és tu melhor do que Balaque, filho de
Zipor, rei de Moabe? ousou ele jamais contender com Israel, ou lhe mover guerra?
26 Enquanto Israel habitou trezentos anos em
Hesbom e nas suas vilas, em Aroer e nas suas vilas em todas as cidades que estão ao longo do
Arnom, por que não as recuperaste naquele tempo?
27 Não fui eu que pequei contra ti; és tu, porém,
que usas de injustiça para comigo, fazendo-me guerra. O Senhor, que é juiz, julgue hoje entre os
filhos de Israel e os amonitas.
28 Contudo o rei dos amonitas não deu ouvidos
à mensagem que Jefté lhe enviou.
29 Então o Espírito do Senhor veio sobre Jefté, de modo que ele passou por Gileade e Manassés, e
chegando a Mizpá de Gileade, dali foi ao encontro dos amonitas.
30 E Jefté fez um voto ao Senhor, dizendo: Se tu
me entregares na mão os amonitas,
31 qualquer que, saindo da porta de minha casa,
me vier ao encontro, quando eu, vitorioso,
136
voltar dos amonitas, esse será do Senhor; eu o oferecerei em holocausto.
32 Assim Jefté foi ao encontro dos amonitas, a combater contra eles; e o Senhor lhos entregou
na mão.
33 E Jefté os feriu com grande mortandade,
desde Aroer até chegar a Minite, vinte cidades, e até Abel-Queramim. Assim foram subjugados
os amonitas pelos filhos de Israel.
34 Quando Jefté chegou a Mizpá, à sua casa, eis
que a sua filha lhe saiu ao encontro com adufes e com danças; e era ela a filha única; além dela
não tinha outro filho nem filha.
35 Logo que ele a viu, rasgou as suas vestes, e
disse: Ai de mim, filha minha! muito me abateste; és tu a causa da minha desgraça! pois
eu fiz, um voto ao Senhor, e não posso voltar atrás.
36 Ela lhe respondeu: Meu pai, se fizeste um voto ao Senhor, faze de mim conforme o teu
voto, pois o Senhor te vingou dos teus inimigos, os filhos de Amom.
37 Disse mais a seu pai: Concede-me somente isto: deixa-me por dois meses para que eu vá, e
desça pelos montes, chorando a minha virgindade com as minhas companheiras.
38 Disse ele: Vai. E deixou-a ir por dois meses; então ela se foi com as suas companheiras, e
chorou a sua virgindade pelos montes.
39 E sucedeu que, ao fim dos dois meses, tornou
ela para seu pai, o qual cumpriu nela o voto que tinha feito; e ela não tinha conhecido varão. Daí
veio o costume em Israel,
137
40 de irem as filhas de Israel de ano em ano lamentar por quatro dias a filha de Jefté, o
gileadita.” (Jz 11.1-40).
138
Juízes 12
Tantas foram as iniquidades de Efraim contra a
justiça de Deus, como a que vemos no início deste capítulo, e as narradas nos capítulos
anteriores, e bem como as muitas que são descritas em todo o período da história de Israel,
que Deus pronunciou uma sentença final contra eles, como lemos em Is 7.8, e em muitas outras
passagens da Bíblia, pois de fato, tendo sido levado em cativeiro pelos assírios, com as
demais tribos do Reino do Norte, diferentemente de Judá que foi levado para o cativeiro babilônico, perderam a sua
nacionalidade pela forma de os assírios agirem contra as nações dominadas, porque dissolviam
as famílias e enviavam as pessoas para diferentes nações, onde se aculturavam com o
passar do tempo, vindo a perder a sua identidade cultural primitiva.
“Pois a cabeça da Síria é Damasco, e o cabeça de
Damasco é Rezim; e dentro de sessenta e cinco anos Efraim será quebrantado, e deixará de ser
povo.” (Is 7.8).
“E eu vos lançarei da minha presença, como lancei todos os vossos irmãos, toda a linhagem
de Efraim.” (Jer 7.15). “Quanto a Efraim, ele se mistura com os povos;
Efraim é um bolo que não foi virado.” (Os 7.8).
“Efraim me cercou com mentira, e a casa de Israel com engano; mas Judá ainda domina com
Deus, e com o Santo está fiel.” (Os 11.12)
139
Gideão era da meia tribo de Manassés de Canaã, e Jefté da outra meia tribo de Manassés da
Transjordânia. E a tribo de Efraim, sendo irmã consanguínea deles, transformou em maldição,
a bênção de Jacó em relação a eles, que lhes deu a primazia sobre Manassés, dizendo que seria
maior do que ele, apesar de Manassés ser o filho primogênito de José, porque se deixaram dominar pelo orgulho e pela inveja contra o seu
irmão, não admitindo que Manassés fosse também abençoado e usado por Deus.
Mais uma vez, como haviam feito com Gideão,
chegando ao extremo da ação dos siquemitas que destruíram seus setenta filhos, eles agora se
levantam também contra Jefté com um desgosto irracional, orgulhoso e invejoso
protestando contra ele e o ameaçando de morte e à sua casa por não lhes ter dado participação
no despojo da vitória contra os amonitas.
Eles se recusaram a ajudá-lo e agora mentem
dizendo que não foram chamados por ele para guerrear contra os amonitas.
A profecia de Jacó se cumpriu em Efraim porque
eles viriam a ser a cabeça das dez tribos do Reino do Norte, cuja capital era Samaria, na tribo de
Efraim, mas eles fizeram da sua grandeza uma causa para virarem as costas para Deus, em
quase toda a longa história de Israel, entregando-se à idolatria ao bezerro que foi
introduzida logo pelo primeiro rei deles, Jeroboão I, e que permaneceu até que fossem
levados em cativeiro pela Assíria.
140
O orgulho é a causa da ruína de muitos ministros do evangelho, que sendo fortalecidos
e engrandecidos por Deus, deixam-se dominar pelo orgulho espiritual e começam a
estabelecer o seu próprio reino, em vez de permanecerem humildes diante do Senhor,
tributando toda honra e glória a ele, pelo sucesso alcançado em seus ministérios.
Assim, eles se fazem como Efraim, encontrando na sua própria grandeza, e nas bênçãos que
receberam de Deus, a causa da sua ruína, por se deixarem dominar pelo pecado do orgulho e da
vaidade.
O resultado da desaprovação do Senhor, pela
ação injusta dos efraimitas contra Jefté foi a de ter dado a este filho de Manasses, vitória na
guerra que empreendeu contra estes seus irmãos.
Mas nem com isso aprenderam a caminhar humildemente com o seu Deus, e isto nós
podemos ver ao longo de toda a história de Israel.
Deus os amava como a todos os demais israelitas, e os distinguiu ainda na pessoa do seu
patriarca, o filho de José, a quem Deus abençoou através da profecia de Jacó.
Eles devem ter considerado ser pouca coisa o terem sido colocados acima de seu irmão
Manassés, porque em vez de amá-lo e serem um com ele, ao contrário, em sua grandeza e força,
pretendiam subjugá-lo.
Não é, portanto, coisa incomum se ver na Igreja,
ministros cujos ministérios foram confirmados
141
e engrandecidos por Deus, procurando destruir e perseguir a outros ministros, que não
admitem que sejam também abençoados pelo Senhor em seus ministérios, ainda que menos
do que eles, e para a própria bênção deles e do povo que dirigem.
É a inveja espiritual que produz estas coisas. Em vez disso eles deveriam lutar como um só corpo,
como de fato são, pela fé evangélica, como é do propósito do Senhor, que orou pela unidade do
corpo de fiéis.
A inveja matará mais do que a espada, e será
sempre sábio nos guardarmos dela por um andar em humildade na presença do Senhor,
sabendo que devemos nos comparar sempre com Ele próprio, para estarmos conscientes da
nossa imensa pequenez, ainda que cresçamos muito, por meio da sua graça.
Nunca devemos nos comparar com outras pessoas, pelo risco de não podermos considerá-
las superiores a nós mesmos, por motivo da graça de Deus, que for concedida a elas, tanto
quanto ou menos do que tenha sido concedida a nós.
A honra a quem é devido honra não é somente àqueles que estejam constituídos formalmente
como autoridade sobre nós, mas a todos aqueles que servem fielmente ao Senhor, e assim, Jefté
deveria ser honrado pelos efraimitas e não perseguido por eles, porque havia servido
fielmente a Deus, e este serviço fiel havia livrado os próprios efraimitas dos amonitas, que
intentavam também guerrear contra eles.
142
Eles não deram a Jefté a honra que lhe era devida, e nisto pecaram grandemente contra o
Senhor.
“Recebei-o, pois, no Senhor com todo o gozo, e
tende em honra a homens tais como ele; porque pela obra de Cristo chegou até as portas da
morte, arriscando a sua vida para suprir-me o que faltava do vosso serviço.” (Fp 2.29,30).
O fato de Deus estar usando a muitos em seu serviço é motivo para nossa alegria e não
tristeza.
O fato de um irmão estar sendo honrado por ele
é também motivo para nossa alegria, e não para que seja despertada em nós a inveja.
A carne é fraca, e por isso nos é ordenado que vigiemos e oremos em todo o tempo para não
cairmos em tentação.
A tentação ao orgulho e à inveja é a mais comum
entre nós, e a mais perigosa, porque através dela podemos ser corroídos pela amargura, pelo
ódio, pelo ressentimento, pela indiferença, e assim sermos arruinados espiritualmente.
Tal era o pecado de Efraim, que Deus permitiu que pelas mãos dos seus próprios irmãos da
tribo de Manassés, fossem mortos quarenta e dois mil efraimitas (v.6). E tal foi a devastação
feita naquela tribo, que por muito tempo se viram impedidos de fazer qualquer retaliação a
toda aquela matança, que inclusive se estendeu aos que tentavam fugir através do Jordão, e que
eram identificados pelo artifício de se lhes ordenar que pronunciassem a palavra
chibolete, que eles não conseguiam pronunciar
143
com som de “x”, senão de “s”, e por isso diziam sibolete e sendo identificados como efraimitas
eram mortos pelos gileaditas.
O orgulho de Efraim foi abatido pela justiça de Deus.
Eles se gloriavam em ser uma grande tribo, e
agora estavam drasticamente reduzidos.
Isto sucede também com os ministros
orgulhosos, porque o Senhor os abaterá das elevadas alturas em que se colocam a si
mesmos, para que retornem à humildade necessária à continuação do recebimento da
verdadeira graça da parte de Deus, porque ele a concede somente aos humildes, e aos
orgulhosos se coloca em ordem de batalha contra eles, como se pode ver neste caso
específico relatado na Bíblia, para nossa advertência e ensino.
Os efraimitas haviam tentado desprezar os
gileaditas dizendo que eles não passavam de fugitivos de Efraim (v. 4), e eles acabaram sendo
fugitivos na prática, vítimas da própria arrogância de suas palavras e sentimento de
superioridade.
A medida com que medirmos também nos medirá. Isto foi ensinado pelo próprio Jesus, e é
uma lei espiritual que sempre se cumprirá.
Se semearmos ventos colheremos tempestades. Se semearmos o amor colheremos o bem.
Aquilo que o homem semear, isto ele colherá.
Nos versos 8 a 15 são apresentados os governos curtos de mais três juízes de Israel, depois de
Jefté, o primeiro, Ibzã, de Belém, da tribo de
144
Judá, que julgou sete anos (v. 8-10), o segundo, Elom, da tribo de Zebulom, que julgou dez anos
(v.11), e o terceiro, Abdom, da tribo de Efraim, que julgou oito anos (v. 13-15).
“1 Então os homens de Efraim se congregaram,
passaram para Zafom e disseram a Jefté: Por que passaste a combater contra os amonitas, e não
nos chamaste para irmos contigo? Queimaremos a fogo a tua casa contigo.
2 Disse-lhes Jefté: Eu e o meu povo tivemos grande contenda com os amonitas; e quando vos
chamei, não me livrastes da sua mão.
3 Vendo eu que não me livráveis, arrisquei a
minha vida e fui de encontro aos amonitas, e o Senhor mos entregou nas mãos; por que, pois,
subistes vós hoje para combater contra mim?
4 Depois ajuntou Jefté todos os homens de Gileade, e combateu contra Efraim, e os homens
de Gileade feriram a Efraim; porque este lhes dissera: Fugitivos sois de Efraim, vós gileaditas que habitais entre Efraim e Manassés.
5 E tomaram os gileaditas aos efraimitas os vaus
do Jordão; e quando algum dos fugitivos de Efraim dizia: Deixai-me passar; então os homens
de Gileade lhe perguntavam: És tu efraimita? E dizendo ele: Não;
6 então lhe diziam: Dize, pois, Chibolete; porém ele dizia: Sibolete, porque não o podia
pronunciar bem. Então pegavam dele, e o degolavam nos vaus do Jordão. Caíram de
Efraim naquele tempo quarenta e dois mil.
145
7 Jefté julgou a Israel seis anos; e morreu Jefté, o gileadita, e foi sepultado numa das cidades de
Gileade.
8 Depois dele julgou a Israel Ibzã de Belém.
9 Tinha este trinta filhos, e trinta filhas que casou fora; e trinta filhas trouxe de fora para
seus filhos. E julgou a Israel sete anos.
10 Morreu Ibzã, e foi sepultado em Belém.
11 Depois dele Elom, o zebulonita, julgou a Israel
dez anos.
12 Morreu Elom, o zebulonita, e foi sepultado
em Aijalom, na terra de Zebulom.
13 Depois dele julgou a Israel Abdom, filho de
Hilel, o piratonita.
14 Tinha este quarenta filhos e trinta netos, que cavalgavam sobre setenta jumentos. E julgou a
Israel oito anos.
15 Morreu Abdom, filho de Hilel, o piratonita, e
foi sepultado em Piratom, na terra de Efraim, na região montanhosa dos amalequitas. (Jz 12.1-15).
146
Juízes 13
O 13º capítulo do livro de Juízes relata o começo
da história de Sansão, o último dos juízes de Israel, antes de Eli, que é citado no livro de I Samuel.
As passagens relacionadas a Sansão são, do
início ao fim, muito surpreendentes e incomuns.
Sua história é realmente extraordinária, e
bastante diferente dos seus antecessores. Nós nunca o achamos à testa de qualquer
tribunal, ou de um exército, nunca no trono de julgamento, nem no campo de batalha, contudo,
em sua própria pessoa, ele foi um grande patriota, e um açoite terrível para os seus
inimigos.
Ele é citado na galeria dos heróis da fé no livro de Hebreus (Hb 11.32), e apesar de tudo, ele
merece realmente ser citado ali. Ele foi um tipo maravilhoso dAquele que forja a salvação com o seu próprio braço.
A história dos demais juízes começa com a
chamada deles numa época específica de suas vidas, mas a de Sansão começa com o seu
nascimento, antes mesmo da sua concepção no ventre de sua mãe, conforme prenúncio feito
por um anjo que veio do céu ter com seus pais, e especialmente com sua mãe, conforme
veremos neste nosso livro, e cujo anúncio seguiu o mesmo padrão da chamada de João
Batista e de Jesus Cristo.
147
Ele foi designado por Deus, como veremos nestes capítulos 13 a 16 de Juízes, para ser um
tipo de Cristo, em sua obra de libertação do povo de Deus, guardadas, entretanto, as grandes e
imensas proporções que diferenciam a ambos e seus respectivos ministérios, pois aqui, se fala
de homens sujeitos ao pecado e imperfeições, e no caso de Jesus, da perfeição da Majestade dos Céus que se fez carne para obter a nossa
salvação.
Sansão era da tribo de Dã, e um dos motivos que levou o Senhor a se prover de um libertador
naquela tribo, e não em qualquer outra, deve-se ao fato de ser esta tribo a que ficava mais
próxima do território dos filisteus, dos quais Sansão estava encarregado de afligir como paga
de Deus pela opressão que eles estavam exercendo sobre os israelitas.
Sua mãe era estéril e não podia, portanto, gerar filhos, e então o anúncio do nascimento do filho
que teria e que deveria ser consagrado a Deus como nazireu desde o ventre, revelava que
aquela criança seria uma pessoa especial porque foi conhecida do Senhor, tal como
Jeremias, Paulo, João Batista, e outros, antes mesmo de ser gerado.
Em razão deste conhecimento prévio de Deus,
pelo seu atributo de presciência, pôde ser determinado que Sansão deveria ser nazireu por
toda a sua vida, diferentemente daqueles que faziam este voto de nazireado, conforme
prescrito na lei de Moisés, voluntariamente e
148
por um período determinado de consagração ao Senhor.
Assim, o anjo que falou à mãe de Sansão disse que ela própria deveria se submeter a Lei do
nazireado enquanto carregasse o menino no ventre, não bebendo nenhum vinho ou bebida
forte, ou se alimentando de qualquer coisa que fosse considerada imunda pela Lei (v. 4,5). Isto
indicava que este libertador de Israel deveria ser dedicado da maneira mais rígida a Deus, e ser
um exemplo de santidade.
Outros juízes tinham corrigido as apostasias dos israelitas, mas Sansão teria que ser mais do que
qualquer um deles, inteiramente consagrado ao Senhor; e quando nós vemos as muitas faltas de
Sansão, nós não podemos pensar que Deus tivesse falhado em sua escolha, ao contrário,
isto mostra que mesmo aqueles que são especialmente separados continuam tendo a liberdade de vontade e o poder de escolha de
fazerem ou não a vontade do Senhor, de modo que entendemos que a graça de Deus é dada de
modo poderoso mas deve ser recebida de forma diligente e voluntária.
Em caso contrário, caso deixemos esfriar o dom
que recebemos de Deus, tal como ocorrera com Timóteo, que necessitou ser admoestado pelo
apóstolo Paulo para reavivar o dom do Espírito que havia recebido, nós também, tal como
Timóteo não poderemos produzir tudo quanto poderíamos e deveríamos para Deus, em razão
da nossa falta de empenho em permanecer na
149
sua santa presença, fazendo inteiramente a sua vontade.
Aqueles que estão comissionados por Deus para
libertarem almas dos laços do diabo, devem estar eles próprios livres de qualquer laço e
intimidade com as coisas da carne, do mundo e do diabo. Aquele que libertará deve ser também
livre.
Sansão estava comissionado para libertar Israel,
conforme o anjo predisse a seus pais, antes mesmo do seu nascimento.
Jesus, nosso grande libertador, não era um nazireu, mas ele foi tipificado pelos nazireus,
por ser perfeitamente puro de todo pecado e completamente dedicado à honra do seu Pai,
tendo vivido para fazer exclusivamente a sua vontade, e tudo o que fez foi também para a
exclusiva glória de Deus.
Aqueles que são separados por Deus para o ministério devem, portanto, de igual modo,
seguir os passos de Jesus neste particular, seguindo em tudo o exemplo que ele nos deixou.
Não poderão estar envolvidos com os negócios desta vida, conforme no dizer do grande
apóstolo Paulo, porque de fato não poderiam agradar, em caso contrário, Àquele que os
arregimentou para empreender o grande e bom combate da fé contra os poderes das trevas, com
vistas à libertação e edificação dos pecadores.
Tendo o anjo falado à mãe de Sansão, esta foi
informar alegremente ao seu marido as boas novas que o anjo lhe falara (v. 6,7). Ela descreveu
o semblante do mensageiro de Deus que lhe
150
falara como sendo terrível, e certamente o disse em razão do grande brilho que resplandecia em
sua face celestial, tal como se descreve a face de Jesus no início do livro de Apocalipse,
parecendo o sol brilhando em toda a sua força.
Nos versos 8 a 14 é citada uma segunda visita que
o anjo fez a Manoá, pai de Sansão, e à sua esposa.
Quando a esposa de Manoá lhe disse as coisas
que foram proferidas a ela pelo anjo, Manoá creu, ainda que tais coisas não tivessem sido
proferidas e testemunhadas a ele. E nisto é bem-aventurado porque ainda que não tivesse visto,
ele creu. E nós vemos a razão porque Deus escolheu esta família humilde e honesta para se
prover de um libertador. A razão era a fé deles, naqueles dias em que a incredulidade grassava
em todo Israel, e que certamente foi o principal motivo de terem sido os israelitas entregues por
Deus nas mãos dos filisteus por quarenta anos (v. 1), isto é, eles foram deixados à mercê da
opressão dos seus inimigos por terem virado as suas costas para Deus, fazendo o que era mau
diante dos seus olhos, em vez de caminharem no caminho que lhes foi ordenado na Lei de
Moisés, amando o Senhor através da guarda dos seus mandamentos.
E o motivo da segunda aparição do anjo àquele casal deveu-se à oração que Manoá fez pedindo
ao Senhor que lhes enviasse de volta o anjo para que lhes ensinasse tudo quanto deveriam fazer
em relação ao menino que iria nascer (v.8). E Deus ouviu a oração de Manoá, tendo o anjo
aparecido a sua mulher quando ela estava no
151
campo. Como Manoá não se encontrava presente esta se apressou a se encontrar com
ele para vir ter com anjo juntamente com ela.
Manoá e sua esposa deram um exemplo do
significado de uma verdadeira fé, pois se dispuseram a se submeterem inteiramente às
instruções e ordens que lhes fossem faladas da parte de Deus por meio do anjo. De igual modo a
verdadeira fé de um cristão se revela na sua disposição de guardar tudo quanto Jesus nos
ordenou da parte do Pai.
E a fé verdadeira também se contentará com a
porção de bênçãos e revelações que lhe forem designadas por Deus, não insistindo em
arrancar do Senhor aquilo que ele tiver vedado a nós, tal como sucedeu com Manoá, que
pretendendo agradar ao anjo preparando-lhe um cabrito, teve a sua oferta recusada e foi
alertado que caso apresentasse sacrifícios pacíficos para celebrar alegremente aquela boa
notícia que recebera da parte de Deus, que os oferecesse ao Senhor, e ele obedeceu o que lhe
foi ordenado. De igual modo, quando perguntou o nome do anjo, porque, como afirmara,
desejava honrá-lo quando se cumprisse o que ele havia predito, certamente dando o nome do
anjo ao menino que nasceria, isto também não lhe foi concedido, e o anjo disse apenas que o
seu nome era maravilhoso.
O que Manoá pediu em relação às instruções
relativas ao seu dever foi atendido prontamente (v. 12, 13), mas o que ele pediu para satisfazer a
sua curiosidade, foi negado. Deus tem nos dado
152
muitas instruções em sua Palavra quanto ao nosso dever para com ele e com o nosso
próximo, mas ele nunca pretendeu responder a todas as especulações que passam por nossas
cabeças.
A Josué foi permitido adorar a Jesus que lhe
apareceu numa teofania como um Anjo. Mas a Manoá não foi permitido, presumindo-se que
estenderia aquela adoração aos anjos, pois não saberia distinguir a pessoa divina que estava
falando com ele. E assim, naquela dispensação da Lei havia este véu guardando o mistério da
pessoa de Cristo que seria revelado na plenitude dos tempos.
Ao próprio Moisés foi falado do Profeta que seria levantado em Israel e que deveria ser ouvido por
todos, a bem de suas próprias vidas (Dt 18), mas também não lhe foi revelado o nome que ele
teria entre os homens, Jesus, que significa O Salvador.
O anjo fez maravilhas (v. 19), porque o nome dele era maravilhoso. Provavelmente a maravilha
que ele fez foi a mesma que ele tinha feito para Gideão, fazendo vir fogo do céu para queimar o
sacrifício, pois o cabrito e a oferta de cereais que Manoá havia colocado sobre a pedra como
oferta pacífica foram consumidos por uma chama na qual o anjo subiu de volta aos céus.
Aquele fogo vindo do céu simbolizava a aceitação da parte de Deus do sacrifício que lhe
fora oferecido.
Aqui cabe abrir um parêntesis, para
entendermos porque aquele sacrifício foi
153
aceito, quando a Lei prescrevia que todos os sacrifícios deveriam ser apresentados no
tabernáculo na presença dos sacerdotes. Nós não podemos esquecer que a causa da opressão
dos filisteus veio da parte do Senhor para castigar a apostasia do seu próprio povo. Esta
apostasia deve ter atingido certamente o ofício sacerdotal que devia estar corrompido em Israel e as prescrições da Lei não deviam estar sendo
observadas quanto à apresentação de sacrifícios. Assim, sem a devida consagração e
santidade, os ofícios do tabernáculo eram o cumprimento de uma mera formalidade vazia e
inaceitável a Deus. Daí ter sido permitido a Manoá apresentar sacrifícios a Deus em sua
própria casa.
Quando a igreja se corrompe, o Espírito Santo move os cristãos sinceros a atuarem com poder
fora da própria igreja institucionalizada. Tal como ocorreu com George Whitefield, que
sendo proibido de ministrar na igreja nacional da Inglaterra, foi evangelizar as grandes massas
que estavam fora da igreja, tendo iniciado seu trabalho junto aos mineiros, e obteve um
grande número de convertidos ao longo de toda a sua carreira ministerial.
Deus não está amarrado às estruturas que são montadas pelos homens quando estas
estruturas não seguem as suas diretrizes e não admitem a sua santa presença. Ele não honra os
nossos edifícios, as nossas instituições, os nossos congressos, e tudo o mais que possamos
fazer alegando que é em seu nome, quando não
154
andamos de fato na sua presença. Se não o honrarmos de fato, do modo pelo qual deve ser
honrado, ele também não nos honrará.
Então, houve uma inteira aceitação de Deus da
oferta de Manoá, porque foi uma oferta de fé, sincera, de um coração obediente a Deus e
desejoso de fazer a sua vontade.
Entretanto, aquilo que deveria servir para
fortalecer a fé de Manoá no cumprimento das promessas de Deus, que foi a maravilha
realizada pelo anjo tanto com a queima do sacrifício, quanto a forma como retornou ao
céu, produziu um efeito contrário nele, pois temeu muito, pois julgando ter visto a Deus
pensou que ele e sua esposa morreriam. A falta de conhecimento das coisas celestiais,
espirituais e divinas pode servir de motivo para enfraquecimento da fé. Daí a importância de
prosseguirmos no conhecimento das coisas relativas ao caráter e operações de Deus para
termos uma fé cada vez maior e mais forte.
Se Manoá demonstrou possuir uma pequena fé,
a sua esposa, ao contrário, demonstrou ter uma grande fé (v. 23), e daí talvez a razão porque o
anjo escolheu aparecer primeiro a ela do que ao seu marido. E mesmo quando Manoá orou para
que o anjo retornasse, ele não veio ter com ele, mas com sua esposa, e caso ela não o chamasse,
teria que se contentar de novo com o relato que esta lhe faria das coisas que lhe foram reveladas
por Deus através do anjo.
Uma grande fé será grandemente honrada por
Deus.
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O argumento da esposa de Manoá a ele foi que tendo Deus feito as promessas que havia feito, e
tendo se agradado do sacrifício oferecido por eles, como poderia matá-los? Pois isto
invalidaria a sua promessa, e ele não poderia de modo algum ser tido na conta de um mentiroso,
pois aquilo que prometeu certamente o fará. Aqui está a fé daquela mulher. Ela sabia que Deus não pode mentir e nem deixar de cumprir
as suas promessas. Isto é muito agradável ao Senhor: ver que alguém se apoia inteiramente
na sua Palavra e dá-lhe o devido crédito, que inegavelmente, sempre deve lhe ser dado,
diferentemente do que Adão e Eva haviam feito no Éden, deixando de dar crédito a Deus para
confiarem no engano e na mentira do diabo.
Por outro lado, a mulher de Manoá também sabia que é o sacrifício que aplaca a ira de Deus
em relação aos pecadores. Ele deu um grande testemunho de fé no fato de que é por causa do
sacrifício de Jesus que os pecadores são salvos da ira futura, que será despejada por Deus sobre
todos os incrédulos que se recusaram a aceitar a graça que lhes foi oferecida gratuitamente em
Cristo Jesus. Isto é algo muito agradável a Deus, a saber, termos a convicção de que somos
aceitáveis a ele somente por causa da graça de Jesus e não por causa das nossas próprias obras.
Deus jamais poderia se agradar das nossas obras de justiça, ainda que feitas mediante a fé, caso
Cristo não tivesse morrido na cruz, pagando o preço devido por todos os nossos pecados.
Então, é por causa da aceitação do seu sacrifício
156
que nós podemos ser também aceitos por Deus. Foi por meio do seu sacrifício que fomos
reconciliados com Deus, desfazendo-se a inimizade que havia entre nós e ele. Inimizade
por sermos carnais, porque a carne é inimizade contra Deus. E ele estava em guerra contra nós,
pronto a despejar a sua ira, que se manifestará no Dia do Juízo, mas graças ao sacrifício de Jesus, esta terrível ira foi desviada de nós, e recaiu
sobre ele na cruz do Calvário, de modo que agora, reconciliados com Deus, mediante o
arrependimento e a fé, possamos ter paz duradoura e eterna com ele. Paz esta que estava
simbolizada no sacrifício pacífico que foi oferecido por Manoá ao Senhor, e que era figura
do sacrifício de Jesus, que também tem este caráter de paz eterna com Deus que o seu
sacrifício propicia a nós, desfazendo a inimizade que herdamos em razão do pecado original de
Adão.
Finalmente, nos versos 24 e 25 é citado o nascimento de Sansão. O nome dele, Sansão, no
hebraico é shimshon, que significa sol brilhante, e este nome lhe foi dado porque, tal
como Moisés, ele seria um libertador de Israel da opressão daqueles que os mantinham sob
dominação, no caso os filisteus, e ele estava destinado a brilhar como um pequeno sol, e os
seus pais deram-lhe tal nome, talvez, em memória do semblante brilhante do anjo que
lhes aparecera anunciando o nascimento e a missão do filho que eles gerariam pelo poder de
Deus, já que a mãe de Sansão era estéril.
157
Devemos lembrar que Manoá havia manifestado o seu desejo de honrar o anjo que
lhe aparecera quando o menino nascesse, e possivelmente isto seria feito dando-lhe o
mesmo nome do anjo, mas como isto foi vedado, porque o anjo se recusou a lhe dizer qual era o
seu nome, Manoá então deu ao menino um nome que correspondia à aparência do anjo, cujo brilho devia ser parecido ao brilho do sol.
É dito que Deus abençoou o menino e o Espírito
Santo começou a incitá-lo, isto é, a se mover nele. E este mover do Espírito Santo era a
evidência de que Deus lhe havia abençoado. De igual modo em nossas vidas, caso o Espírito
Santo não se mova em nós, que tipo de viver abençoado podemos alegar estar recebendo da
parte de Deus? A bênção que o Senhor reservou para nós e que agrada tanto a ele quanto a nós
não é simplesmente que tenhamos o Espírito Santo habitando em nós, mas também se
movendo e se alegrando em nós, em íntima comunhão conosco. Pois que bênção podemos
alegar ter caso entristeçamos e apaguemos o Espírito? Que bênção temos se não andamos
nele conforme nos é ordenado, para que tenhamos o seu fruto, conforme descrito no
quinto capítulo de Gálatas?
“1 Os filhos de Israel tornaram a fazer o que era mau aos olhos do Senhor, e ele os entregou na
mão dos filisteus por quarenta anos.
158
2 Havia um homem de Zorá, da tribo de Dã, cujo nome era Manoá; e sua mulher, sendo estéril,
não lhe dera filhos.
3 Mas o anjo do Senhor apareceu à mulher e lhe disse: Eis que és estéril, e nunca deste à luz;
porém conceberás, e terás um filho.
4 Agora pois, toma cuidado, e não bebas vinho nem bebida forte, e não comas coisa alguma impura;
5 porque tu conceberás e terás um filho, sobre
cuja cabeça não passará navalha, porquanto o menino será nazireu de Deus desde o ventre de
sua mãe; e ele começara a livrar a Israel da mão dos filisteus.
6 Então a mulher entrou, e falou a seu marido,
dizendo: Veio a mim um homem de Deus, cujo semblante era como o de um anjo de Deus, em
extremo terrível; e não lhe perguntei de onde era, nem ele me disse o seu nome;
7 porém disse-me: Eis que tu conceberás e terás
um filho. Agora pois, não bebas vinho nem bebida forte, e não comas coisa impura; porque
o menino será nazireu de Deus, desde o ventre de sua mãe até o dia da sua morte.
8 Então Manoá suplicou ao Senhor, dizendo: Ah!
Senhor meu, rogo-te que o homem de Deus, que enviaste, venha ter conosco outra vez e nos
ensine o que devemos fazer ao menino que há de nascer.
9 Deus ouviu a voz de Manoá; e o anjo de Deus
veio outra vez ter com a mulher, estando ela sentada no campo, porém não estava com ela
seu marido, Manoá.
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10 Apressou-se, pois, a mulher e correu para dar a notícia a seu marido, e disse-lhe: Eis que me
apareceu aquele homem que veio ter comigo o outro dia.
11 Então Manoá se levantou, seguiu a sua
mulher e, chegando à presença do homem, perguntou-lhe: És tu o homem que falou a esta
mulher? Ele respondeu: Sou eu.
12 Então disse Manoá: Quando se cumprirem as tuas palavras, como se há de criar o menino e
que fará ele?
13 Respondeu o anjo do Senhor a Manoá: De
tudo quanto eu disse à mulher se guardará ela;
14 de nenhum produto da vinha comerá; não beberá vinho nem bebida forte, nem comerá
coisa impura; tudo quanto lhe ordenei cumprirá.
15 Então Manoá disse ao anjo do Senhor: Deixa
que te detenhamos, para que te preparemos um cabrito.
16 Disse, porém, o anjo do Senhor a Manoá: Ainda que me detenhas, não comerei de teu pão;
e se fizeres holocausto, é ao Senhor que o oferecerás. (Pois Manoá não sabia que era o anjo
do Senhor).
17 Ainda perguntou Manoá ao anjo do Senhor: Qual é o teu nome? - para que, quando se
cumprir a tua palavra, te honremos.
18 Ao que o anjo do Senhor lhe respondeu: Por que perguntas pelo meu nome, visto que é
maravilhoso?
19 Então Manoá tomou um cabrito com a oferta
de cereais, e o ofereceu sobre a pedra ao Senhor;
160
e fez o anjo maravilhas, enquanto Manoá e sua mulher o observavam.
20 Ao subir a chama do altar para o céu, subiu com ela o anjo do Senhor; o que vendo Manoá e
sua mulher, caíram com o rosto em terra.
21 E não mais apareceu o anjo do Senhor a Manoá, nem à sua mulher; então compreendeu
Manoá que era o anjo do Senhor.
22 Disse Manoá a sua mulher: Certamente
morreremos, porquanto temos visto a Deus.
23 sua mulher, porém, lhe respondeu: Se o Senhor nos quisera matar, não teria recebido da
nossa mão o holocausto e a oferta de cereais, nem nos teria mostrado todas estas coisas, nem
agora nos teria dito semelhantes coisas.
24 Depois teve esta mulher um filho, a quem pôs
o nome de Sansão; e o menino cresceu, e o Senhor o abençoou.
25 E o Espírito do Senhor começou a incitá-lo em
Maané-Dã, entre Zorá e Estaol. (Jz 13.1-25)
161
Juízes 14
Nós vemos no início do 14º capítulo de Juízes,
que Sansão estava debaixo da orientação extraordinária da Providência, pois se afirma no
verso 4 que o desejo dele de se casar com uma mulher filisteia era procedente da parte do
Senhor, o qual estava buscado uma ocasião para incitar Sansão contra os filisteus: “Mas seu pai e
sua mãe não sabiam que isto vinha do Senhor, que buscava ocasião contra os filisteus;
porquanto naquele tempo os filisteus dominavam sobre Israel.”
Os pais de Sansão argumentaram com ele
contra aquele casamento que contrariava o que estava prescrito na Lei de Moisés, mas não foi
achado pecado em Sansão aos olhos de Deus em relação a isto porque aquilo, naquela situação
excepcional estava provindo do próprio Senhor, e Sansão estava projetado para agir não debaixo
de regras fixas, mas sob a completa direção de Deus, para cumprir os propósitos que havia
fixado em relação a ele.
Tal como Davi foi citado por Jesus, que tendo comido dos pães da proposição do tabernáculo,
que segundo a Lei deveriam ser consumidos exclusivamente pelos sacerdotes, e, no entanto
não foi achado pecado em Davi e seus homens, porque não o fizera por motivo de sacrilégio,
mas por estar a serviço de Deus, e necessitavam saciar sua fome, e não havia à mão outro
alimento, senão aquele.
162
Em tudo isto, tanto Sansão, quanto Davi, são tipo de Jesus em seu elevado ministério, que tendo
cumprido toda a Lei, estava, não obstante, pela vontade do Pai, acima da própria Lei, e
modificou a forma de aplicação de alguns dos seus preceitos para ajustá-la à Nova Aliança, que
ele próprio inauguraria com a sua morte e ressurreição. Somente ele poderia dizer em relação à Lei, quando a modificou nestes
aspectos em que deveria ser mudada: “Ouvistes o que foi dito aos antigos, eu porém vos digo...”.
Aos antigos é uma referência aos que estavam debaixo do Antigo Pacto ou Antiga Aliança, mas
aos que estariam a partir dali, debaixo de uma Nova Aliança, Jesus disse coisas que alteravam o
modo de procedimento quanto a determinadas coisas que eram ordenadas na Lei de Moisés,
como, por exemplo, a questão do olho por olho que foi substituída pelo amor aos inimigos, e à
não retaliação, em qualquer caso considerado.
E assim, Sansão era um enigma, um homem que fez o que era realmente grande e bom, através
do que era aparentemente fraco e mau, porque ele foi projetado por Deus, não para ser um
padrão a nós, mas para ser um tipo dAquele que sozinho, com a força do seu próprio braço, opera a salvação do seu povo; dAquele que não
conheceu nenhum pecado, e que foi feito pecado por nós, e que se manifestou na
semelhança de carne pecadora para que pudesse destruir o pecado (Rm 8.3).
Assim como no caso de Oseias, que foi levado
por Deus a amar e a se casar com uma mulher
163
adúltera, dada a prostituições, para revelar o seu próprio amor por um povo, com o qual estava
aliançado, e que era também adúltero e dado a se prostituir com falsos deuses, também
procedeu do Senhor a afeição que ele sentiu por uma adoradora de Dagom, não para
demonstrar, neste caso, o amor que ele tinha pelos filisteus, mas para incitar o juízo que havia determinado sobre eles, em razão do pecado de
estarem oprimindo duramente a Israel.
Sansão teria que se infiltrar entre os inimigos de Israel para que se achasse motivo para a
destruição deles, e foi este o motivo de ter sido movido a desejar se casar com uma filisteia.
Quanto a esta infiltração, Sansão foi também um tipo de Cristo, porque ele necessitou se infiltrar
neste mundo, entre os inimigos de Deus, para trazer salvação ao seu povo escolhido.
Sansão foi capacitado para a obra de destruição que teria que realizar, recebendo de Deus uma
força física maravilhosa e extraordinária, e para que tivesse consciência disso, foi permitido que
um leão viesse sobre ele, e se afirma que tendo o Espírito do Senhor se apossado de Sansão, este
foi capaz de despedaçar o leão com suas próprias mãos, como se fosse um cabrito (v 6).
Deus fez com que Sansão conhecesse a força que ele podia lhe dar, de maneira a não temer
quaisquer das dificuldades que teria que enfrentar, por maiores que elas fossem. Do
mesmo modo os cristãos na Nova Aliança devem se fortificar na graça que está em Jesus
Cristo, porque é assim que poderão vencer todas
164
as dificuldades e aflições deste mundo, por maiores que elas sejam.
Não seria necessário que Sansão fosse incitado contra os filisteus estando no meio deles, por
causa do caráter dos que vivem na prática da impiedade e não têm o temor de um Deus santo
e justo que exige que caminhemos de modo correto na sua presença.
Tendo as solenidades do casamento durado sete dias (v. 10) seguindo o costume dos filisteus, não
faltaria oportunidade para que se achasse alguma controvérsia entre ele e aqueles que
tinham sido convidados para a festa.
Possivelmente, era comum, para não serem
vencidos pelo enfado, a prática de jogos e de propostas de resoluções de enigmas. E Sansão
propôs aos filisteus um enigma relativo à colmeia de abelhas que havia produzido mel na
carcaça do leão que ele havia matado, com as palavras que lemos no verso 14: “Do que come
saiu comida, e do forte saiu doçura.”. E eles teriam o prazo de sete dias relativo às bodas para
decifrá-lo, caso contrário teriam que dar a Sansão trinta mantos e trinta túnicas. Tendo
passado três dias, e como não conseguiam decifrar, eles constrangeram a mulher de
Sansão a conseguir tirar dele a solução do enigma, porque caso não o fizesse queimariam a
ela e a seu pai.
Pensando poupar a própria vida e a de seu pai, e
confiando mais no poder daqueles homens no que do seu marido, em vez de declarar o fato
ocorrido a Sansão, ela o traiu ao dar a resposta
165
do enigma aos filisteus. Nós veremos adiante que ela e o seu pai acabaram sendo queimados
pelos filisteus, e a fidelidade conjugal ter-lhe-ia poupado daquele mal, mas isto seria muito para
ser esperado de uma adoradora de Dagom.
Sansão pagou os trinta mantos e túnicas da aposta, só que com o espólio dos compatriotas
daqueles filisteus, pois lhes tirou a vida para se apoderar de seus mantos e túnicas (v. 19). E o
Espírito Santo permitiu que Sansão fizesse isto, porque se diz que o Espírito do Senhor se
apossou dele quando ele tomou a iniciativa de despojar os filisteus, e isto deu também ocasião
para desvinculá-lo das suas novas relações, com o povo que ele deveria subjugar em vez de estar
aliançado com ele.
Ao mesmo tempo que ele passou a ter aversão
dos filisteus como era do propósito de Deus, para que vingasse as opressões deles sobre o seu
povo de Israel, Deus também fez com que o ódio dos filisteus fosse incitado contra Sansão, de
modo que ao tentarem matá-lo, teria ocasião de revelar através dele toda a sua grande glória e
poder, humilhando toda a força dos filisteus através de um só homem.
E tal foi a ira que se apoderou de Sansão contra a
infidelidade de sua esposa, que ele voltou para a casa dos seus pais, como diz a Palavra, ardendo
em ira.
E, sem consultá-lo, o pai da moça deu-a por
mulher a um dos filisteus que estava presente à festa de casamento de Sansão.
166
“1 Desceu Sansão a Timnate; e vendo em Timnate uma mulher das filhas dos filisteus,
2 subiu, e declarou-o a seu pai e a sua mãe, dizendo: Vi uma mulher em Timnate, das filhas
dos filisteus; agora pois, tomai-ma por mulher.
3 Responderam-lhe, porém, seu pai e sua mãe:
Não há, porventura, mulher entre as filhas de teus irmãos, nem entre todo o nosso povo, para
que tu vás tomar mulher dos filisteus, daqueles incircuncisos? Disse, porém, Sansão a seu pai:
Toma esta para mim, porque ela muito me agrada.
4 Mas seu pai e sua mãe não sabiam que isto vinha do Senhor, que buscava ocasião contra os
filisteus; porquanto naquele tempo os filisteus dominavam sobre Israel.
5 Desceu, pois, Sansão com seu pai e com sua mãe a Timnate. E, chegando ele às vinhas de
Timnate, um leão novo, rugindo, saiu-lhe ao encontro.
6 Então o Espírito do Senhor se apossou dele, de modo que ele, sem ter coisa alguma na mão,
despedaçou o leão como se fosse um cabrito. E não disse nem a seu pai nem a sua mãe o que
tinha feito.
7 Depois desceu e falou àquela mulher; e ela
muito lhe agradou.
8 Passado algum tempo, Sansão voltou para
recebê-la; e apartando-se de caminho para ver o cadáver do leão, eis que nele havia um enxame
de abelhas, e mel.
9 E tirando-o nas mãos, foi andando e comendo
dele; chegando aonde estavam seu pai e sua
167
mãe, deu-lhes do mel, e eles comeram; porém não lhes disse que havia tirado o mel do corpo do
leão.
10 Desceu, pois, seu pai à casa da mulher; e
Sansão fez ali um banquete, porque assim os mancebos costumavam fazer.
11 E sucedeu que, quando os habitantes do lugar o viram, trouxeram trinta companheiros para
estarem com ele.
12 Disse-lhes, pois, Sansão: Permiti-me propor-
vos um enigma; se nos sete dias das bodas o decifrardes e mo descobrirdes, eu vos darei
trinta túnicas de linho e trinta mantos;
13 mas se não puderdes decifrar, vós me dareis a
mim as trinta túnicas de linho e os trinta mantos. Ao que lhe responderam eles: Propõe o
teu enigma, para que o ouçamos.
14 Então lhes disse: Do que come saiu comida, e
do forte saiu doçura. E em três dias não puderam decifrar o enigma.
15 Ao quarto dia, pois, disseram à mulher de Sansão: Persuade teu marido a que declare o
enigma, para que não queimemos a fogo a ti e à casa de teu pai. Acaso nos convidastes para nos
despojardes?
16 E a mulher de Sansão chorou diante dele, e
disse: Tão-somente me aborreces, e não me amas; pois propuseste aos filhos do meu povo
um enigma, e não mo declaraste a mim. Respondeu-lhe ele: Eis que nem a meu pai nem
a minha mãe o declarei, e to declararei a ti?
17 Assim ela chorava diante dele os sete dias em
que celebravam as bodas. Sucedeu, pois, que ao
168
sétimo dia lho declarou, porquanto o importunava; então ela declarou o enigma aos
filhos do seu povo.
18 Os homens da cidade, pois, ainda no sétimo
dia, antes de se pôr o sol, disseram a Sansão: Que coisa há mais doce do que o mel? e que coisa há
mais forte do que o leão? Respondeu-lhes ele: Se vós não tivésseis lavrado com a minha novilha,
não teríeis descoberto o meu enigma.
19 Então o Espírito do Senhor se apossou dele, de modo que desceu a Asquelom, matou trinta dos
seus homens e, tomando as suas vestes, deu-as aos que declararam o enigma; e, ardendo em ira, subiu à casa de seu pai.
20 E a mulher de Sansão foi dada ao seu
companheiro, que lhe servira de paraninfo.” (Jz 14.1-20).
169
Juízes 15
No 15º capítulo de Juízes nós vemos Sansão
sendo levado a agir numa sequência de ações
vingativas que começaram com a queima das lavouras dos filisteus, trazendo um grande
prejuízo à economia da nação, por represália ao ato de seu sogro que deu sua mulher como
esposa a um outro.
Sabendo os filisteus que a causa da fúria de
Sansão se deveu à ação do pai da sua esposa, eles se vingaram deles queimando tanto a ambos
quanto a casa deles. E Sansão se vingou também matando a muitos desses que haviam queimado
a sua mulher e o pai dela.
Muitos destes que haviam cometido esta
barbárie, haveriam também de encontrar a morte no embate em que Sansão matou mil
homens com a queixada de um asno, quando se dirigiram ao deserto para prendê-lo, e que
contaram com a deslealdade dos compatriotas de Sansão que o entregaram aos filisteus.
Até nesta deslealdade dos israelitas Sansão foi também um tipo de Jesus, porque Ele também
foi traído pelos próprios judeus que entregaram Jesus aos romanos para ser crucificado; e
também nisto Jesus encontrou a ocasião apropriada para despojar os principados e
potestades que traziam o seu povo em cativeiro, trazendo-lhes assim através da própria traição
deles, livramento dos seus inimigos.
170
Nós nunca achamos Sansão, em quaisquer das façanhas dele, fazendo uso de qualquer pessoa,
sejam servos ou soldados, e quando ele queimou as lavouras dos filisteus ele usou cento e
cinquenta pares de raposas aos quais amarrou uma tocha de fogo em suas caudas, de modo a
que produzissem um grande incêndio, simultaneamente, em vários lugares, coisa que seria impossível de ser conseguida caso atuasse
ele mesmo ateando fogo, lavoura por lavoura, o que daria tempo aos filisteus de reagirem para
apagarem o incêndio.
Estava na época da colheita de trigo (v. 1), de forma que a palha estava bastante seca, o que
facilitaria grandemente o alastramento do fogo, danificando também as plantações de milho, os
vinhedos e olivais.
Deus permitiu isto porque certamente os
filisteus estavam preparando as primícias de suas colheitas para serem oferecidas em honra
de Dagom.
A Antiga Aliança está repleta destes exemplos
de demonstração da ira de Deus contra a idolatria e todas as formas de pecado, como uma
ilustração de que as más obras dos ímpios serão completamente queimadas juntamente com
eles no dia do Grande Juízo de Deus. O fato de não se ver ações imediatas de juízos divinos
sobre as feitiçarias, idolatrias e toda a sorte de más obras dos homens, na presente
dispensação da graça, não significa, portanto, de modo algum, que a sua ira tenha sido
extinguida. Tão somente tem sido dado a todos,
171
na presente dispensação da graça, um tempo de oportunidade para se arrependerem do pecado,
sendo Deus longânimo para com todos, na expectativa de que se arrependam e vivam. Mas
ai daquele que sair deste mundo sem ter sido perdoado pela fé em Jesus. Ele achará a devida
paga por todas as suas más obras, por toda a eternidade.
Não devemos, portanto, confundir a longanimidade de Deus na dispensação da graça
com a eliminação dos seus juízos, ao contrário, os que têm vivido nesta dispensação e têm
rejeitado a bondade, amor, misericórdia e graça de Deus, haverão de sofrer um maior juízo do
que as pessoas da Antiga dispensação, como Jesus deixou bastante claro em seu ensino, e
conforme o encontramos nos evangelhos, pois disse que haverá menos rigor para as pessoas de
Sodoma e Gomorra do que para aqueles que ouvindo o evangelho, e testemunhando a graça que está sendo derramada abundantemente
por Deus, não se arrependem, no entanto, de seus pecados.
Nós temos, portanto, exemplificado em muitas
porções do Antigo Testamento, e especialmente nestas relativas às ações de Sansão, ilustrações
do Grande Juízo de Deus em que a sua ira cairá sobre todos aqueles que não se arrependeram
de seus pecados.
Os filisteus despejaram a fúria deles contra
Sansão exatamente sobre a mulher dele e o pai dela, porque foi por causa do arranjo do pai da
moça que a deu a outro, que levou Sansão a
172
efetuar aquele grande incêndio nas lavouras dos filisteus. E Sansão se vingou também deste
ato deles matando um grande número dentre eles.
Tendo ele se recolhido em Etã, os filisteus se dirigiram para lá e certamente constrangeram
os israelitas ameaçando-os, pois dominavam sobre eles. E estes, em vez de se voltarem pela fé
a Deus e se unirem a Sansão na guerra solitária que estava realizando contra os filisteus,
fizeram exatamente o oposto, pois, para aplacarem a ira dos seus inimigos e mostrar-
lhes que nada tinham a ver com o que Sansão estava fazendo, se dispuseram em grande
número, eles próprios, a prendê-lo e a entregá-lo aos filisteus. Os cristãos que deveriam lutar ao
lado dos seus ministros ajudando-os principalmente com suas orações contra os
poderes das trevas, muitas vezes, por temerem represálias de Satanás, cooperam com os seus
desígnios malignos, falando mal de seus líderes e agindo contra eles. É uma triste coisa para se
dizer, mas é infelizmente uma realidade lamentável que se tem alastrado
principalmente nestes últimos dias em que se tem multiplicado a iniquidade, e muitos cristãos já não dão a devida atenção à necessidade de se
viver de modo santo para Deus. Não levam em conta que não é possível amar e obedecer a Deus
sem que se tenha um coração verdadeiramente santificado na e pela graça de Jesus.
A todos os israelitas cabia lutarem as guerras
ordenadas por Deus contra as nações de Canaã
173
e conquistarem os territórios por ele designados, e dentre estes se incluía as terras
dos filisteus. Mas, ao contrário, nós vemos um povo acovardado, sem fé no seu Deus, e, por isso,
impotente para cumprir aquilo que deveriam fazer, tal como a geração passada, dos dias de
Josué havia feito. E em vez de avançarem e triunfarem sobre as forças do inimigo, eles recuaram. E de igual modo a Igreja não está
seguindo o exemplo deixado pelos apóstolos e pelos grandes reformadores, como também por
todos aqueles que atuaram nos grandes despertamentos espirituais havidos nos séculos
18 e 19. A igreja do século 21 já não é movida pelo mesmo fogo missionário e desejo por
evangelização mundial que incendiava o coração de todos eles. Ela não avança sobre as
forças do inimigo e não conquista territórios para Deus. Almas permanecem aos milhões,
sem serem conquistadas em todo o mundo, e isto para vergonha dos cristãos que não
exercitam devidamente a sua fé no Senhor para cumprir especialmente a sua grande ordem de
irem por todo o mundo fazendo discípulos em todas as nações. O esforço solitário de sansões é
o que mantém a igreja na vanguarda, de modo que o propósito de Deus de salvar pecadores
através da ação do seu povo não seja frustrado, como de fato não pode ser.
Isto nos remete também a pensar no próprio
Jesus que efetua sozinho a salvação do seu povo em meio à incredulidade daqueles que
deveriam estar ao seu lado lutando contra os
174
poderes das trevas. Sansão é também neste particular um tipo de Jesus, pois se Israel não se
dispõe a cumprir a ordem de Deus, ele livrará o povo de Deus pela própria força do seu braço,
conforme o poder que lhe era conferido pelo Espírito Santo.
Jesus foi traído pelos próprios compatriotas que
o entregaram aos romanos sob a alegação que seria melhor que morresse um só homem do
que perecesse toda a nação.
Sansão foi traído não pelas pessoas da sua tribo
de Dã, mas pelos homens de Judá (v. 11). Não eram verdadeiros judeus aqueles homens. Eram
uma geração degenerada daquela tribo valorosa! Totalmente desmerecedores de levar
no brasão deles o leão da tribo de Judá. Talvez eles preferissem no seu orgulho,
permanecerem submetidos aos filisteus do que serem livrados pelas mãos de um danita.
Frequentemente tem a libertação da Igreja sido atrapalhada por tais ciúmes e pontos de uma
falsa honra.
É muito fácil se perder de vista, humanamente
falando, que o povo de Deus é um só, ainda que composto por vários membros.
Provavelmente Sansão entrou nas terras de Judá para oferecer o seu serviço a eles, na luta contra
os filisteus, supondo que os seus irmãos o reconheceriam como aquele que Deus havia
levantado para os livrar. Mas eles o expulsaram do seu meio e também o culparam de ter
despertado a ira dos filisteus contra eles.
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Do mesmo modo Jesus fez muitas boas obras para os judeus, e eles estavam sempre prontos
para apedrejá-lo. Ele foi convidado pelos gadarenos a se retirar da terra deles por causa
do prejuízo que tiveram com suas manadas de porcos. Eles amaram mais as coisas deste
mundo do que a própria salvação das almas deles. Quão prontamente os homens estão geralmente dispostos a negligenciarem a sua
libertação por não desejarem lutar por ela, e por não desejarem conhecer a verdade que nos
liberta. Liberta do pecado, dos temores, das superstições, da condenação da lei. Muitos
preferem permanecer sob o jugo da lei do que experimentar a liberdade da graça do evangelho
que lhes está sendo oferecida gratuitamente em Cristo Jesus. Tentam agradar a Deus na energia
da carne e de suas próprias convicções, porque não conhecem por iluminação do Espírito Santo
o real e extenso significado da verdade de que desde que Cristo se manifestou e morreu no
lugar dos pecadores ele tomou sobre si a maldição da Lei para que fôssemos resgatados
dela, de modo que livres da condenação da Lei pudéssemos servir a Deus em novidade de vida.
Desde que Cristo se manifestou entrou também em vigor uma Nova Aliança, na qual quem reina
é a graça por meio da justiça de Cristo, e não pela nossa própria justiça. De modo que conhecer a
verdade é prosseguir em ser instruído pelo Espírito Santo quanto ao verdadeiro significado
do evangelho da graça pelo qual fomos salvos mediante a fé. De modo que sejamos livrados de
176
todo legalismo, farisaísmo e superstições tolas, e incapacidade e impotência para subjugar os
poderes das trevas, e para sermos tomados de toda a plenitude de Deus numa completa
submissão à sua vontade, fazendo o que lhe é agradável por meio da fortificação que
recebemos da graça de Jesus, quando confiamos nele e na sua inteira capacidade e méritos e quando estamos convencidos da nossa própria
insuficiência e incapacidade, e consequentemente não confiando em nós
mesmos, mas somente nele, sabendo que sem ele nada podemos fazer. Mas que nele podemos
todas as coisas pela força e capacidade que ele supre, tal como Sansão fora suprido enquanto se
mantinha fiel ao voto do seu nazireado que fora feito por iniciativa do próprio Deus ainda
quando ele se encontrava no ventre de sua mãe. Deus também firmou um voto de consagração
em todos os cristãos, antes mesmo de terem sido formados no ventre de suas mães, em razão
da eleição que fizera desde antes da fundação do mundo. E não cabe, portanto, ao cristão
qualquer outra alternativa senão a de ser fiel à consagração que é devida ao Senhor.
Quando os homens de Judá levaram Sansão
manietado para ser entregue aos filisteus, e quando estes jubilaram ao verem-no com os
braços amarrados, o Espírito Santo se apoderou de Sansão e fez com que ele rompesse aquelas
cordas com extrema facilidade e prevalecesse sobre os seus inimigos matando a mil deles com
a queixada de um asno.
177
Quando o Espírito do Senhor veio sobre Sansão as cordas que o amarravam foram destruídas.
Onde o Espírito do Senhor está há liberdade. Isto tipificou a ressurreição de Cristo pelo poder do
Espírito de santidade, que desprendeu as ligaduras da morte e o ressuscitou dentre os
mortos.
A Sansão foi permitido efetuar aquela grande
destruição com a queixada de um asno, um instrumento que sequer era de guerra, um osso
desprezível para servir de ilustração que Deus usa as coisas desprezíveis para que a excelência
do poder seja dele, e reconheçamos que não é pela nossa própria capacidade e poder que
realiza a sua obra através de nós, mas pelo seu Espírito que usa os vasos de barro que somos.
Os versos 18 a 20 descrevem a grande extenuação a que Sansão ficou sujeito depois
daquela luta colossal que empreendeu contra os filisteus. Era um efeito natural do grande calor
que ele havia suportado, e do enorme esforço que ele havia feito. Sendo deixado agora à mercê
de suas próprias forças, já não sendo assistido sobrenaturalmente pelo Espírito, Sansão viu-se
defronte à sua própria fraqueza.
Isto foi permitido por Deus para que Sansão não
ficasse orgulhoso da sua grande força e realizações, e lhe deixou ver que era apenas um
homem que estava sujeito às mesmas limitações e necessidades comuns a todos os
homens. É bem possível que ele tenha se esquecido de tributar todo o louvor e glória a
Deus pelo feito que ele havia realizado, porque
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na comemoração da sua vitória ele tributou todo o louvor a si mesmo quando disse: “Eu matei mil
homens”; mas agora que ele está prestes a morrer de sede e então ficou debaixo de uma
convicção sensata que o próprio braço dele não o poderia ter salvado, sem que a poderosa mão
de Deus não o capacitasse daquele modo sobrenatural, de modo que nunca se ouviu de tal façanha que somente um homem tivesse
matado a mil homens com a força do seu próprio braço.
Cristo na cruz, disse, eu tenho sede. A
extenuação dos seus grandes sofrimentos na luta contra os poderes das trevas em favor do
povo de Deus o levou a clamar dizendo que estava com uma profunda sede. E também nisto,
o ocorrido com Sansão foi um tipo do que viria a ocorrer com Cristo no grande trabalho da sua
alma em favor da libertação dos pecadores dos poderes das trevas.
O trabalho de Jesus foi um trabalho completamente perfeito na presença de Deus e
dos homens, mas o trabalho de Sansão está repleto de imperfeições, não naquilo diz
respeito à obra do Espírito Santo, que é sempre perfeita, mas no tocante às limitações e
imperfeições da natureza terrena decaída no pecado. E a Bíblia não esconde, portanto,
nenhuma das faltas mesmo dos grandes heróis da fé, para nos convencer que o trabalho de
salvação das nossas almas não poderia ser realizado por nenhum outro, e somente por
Cristo, porque exigiria uma perfeição sem
179
pecado, para que os que são pecadores pudessem ser aperfeiçoados no trabalho de
santificação produzido pelo Espírito Santo.
Mas, pelo arrependimento e pela confissão nos foi aberta pela graça de Deus, uma porta para
que possamos não consertar aquilo que nós mesmos fizemos de errado na presença de Deus, porque o que foi feito, feito está, ainda que
possa ser remediado. Mas, para que possamos restabelecer a nossa comunhão com Deus e
redirecionarmos o nosso caminhar na vereda da justiça e da verdade, através do reconhecimento
de que somente a ele devem ser tributados todo o louvor e toda a glória, pelos feitos que ele
realizar através de nós. Assim como fizera Sansão quando abatido pela sede. Ele clamou a
Deus reconhecendo finalmente que não pelo seu próprio poder e capacidade fizera aquele
grande feito, mas por causa da mão de Deus que fora com ele (v 18): “Pela mão do teu servo tu
deste este grande livramento; e agora morrerei eu de sede, e cairei nas mãos destes
incircuncisos?”. E o argumento de Sansão nessa oração é um argumento de fé porque ele não
somente reconhece que Deus o capacitara para matar os filisteus e era também poderoso para
prover água para ele naquele grande deserto. Ele como que argumenta com o Senhor dizendo
que se Ele pôde fazer aquela grande maravilha através dele, não seria uma coisa difícil para
Deus providenciar água no meio do deserto. E pela sua fé demonstrada o seu pedido foi
atendido de modo também miraculoso porque o
180
Senhor abriu uma fonte de água em Leí para que a sede de Sansão fosse saciada. E para
testemunho aquela fonte não parou de jorrar desde então (v. 19). Assim, quando somos
abençoados por Deus por causa da nossa fé, a bênção que dele recebemos acaba por deixar
um rastro para que outros possam ser abençoados com a mesma bênção que nós fomos contemplados pelo fato de termos
honrado a Deus com a nossa fé, em nosso trabalho para Ele em favor do seu povo.
Depois destes feitos Sansão foi reconhecido
como governante de Israel (v. 20). E Deus o dirigiu como juiz deles por vinte anos, de modo que ele preservou a ordem em Israel no período
em que eles estiveram debaixo da dominação dos filisteus.
“1 Alguns dias depois disso, durante a ceifa do trigo, Sansão, levando um cabrito, foi visitar a
sua mulher, e disse: Entrarei na câmara de minha mulher. Mas o pai dela não o deixou
entrar,
2 dizendo-lhe: Na verdade, pensava eu que de
todo a aborrecias; por isso a dei ao teu companheiro. Não é, porém, mais formosa do
que ela a sua irmã mais nova? Toma-a, pois, em seu lugar.
3 Então Sansão lhes disse: De agora em diante estarei sem culpa para com os filisteus, quando
lhes fizer algum mal.
4 E Sansão foi, apanhou trezentas raposas,
tomou fachos e, juntando as raposas cauda a
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cauda, pôs-lhes um facho entre cada par de caudas.
5 E tendo chegado fogo aos fachos, largou as
raposas nas searas dos filisteus:, e assim abrasou tanto as medas como o trigo ainda em
pé as vinhas e os olivais.
6 Perguntaram os filisteus: Quem fez isto? Respondeu-se-lhes: Sansão, o genro do timnita,
porque este lhe tomou a sua mulher, e a deu ao seu companheiro. Subiram, pois, os filisteus, e
queimaram a fogo a ela e a seu pai.
7 Disse-lhes Sansão: É assim que fazeis? pois só
cessarei quando me houver vingado de vós.
8 E de todo os desbaratou, infligindo-lhes grande mortandade. Então desceu, e habitou na
fenda do penhasco de Etã.
9 Então os filisteus subiram, acamparam-se em Judá, e estenderam-se por Leí.
10 Perguntaram-lhes os homens de Judá: Por que subistes contra nós. E eles responderam:
Subimos para amarrar a Sansão, para lhe fazer como ele nos fez.
11 Então três mil homens de Judá desceram até a
fenda do penhasco de Etã, e disseram a Sansão: Não sabias tu que os filisteus dominam sobre
nós? por que, pois, nos fizeste isto? E ele lhes disse: Assim como eles me fizeram a mim, eu
lhes fiz a eles.
12 Tornaram-lhe eles: Descemos para amarrar-te, a fim de te entregar nas mãos dos filisteus.
Disse-lhes Sansão: Jurai-me que vós mesmos não me acometereis.
182
13 Eles lhe responderam: Não, não te mataremos, mas apenas te amarraremos, e te
entregaremos nas mãos deles. E amarrando-o com duas cordas novas, tiraram-no do
penhasco.
14 Quando ele chegou a Leí, os filisteus lhe
saíram ao encontro, jubilando. Então o Espírito do Senhor se apossou dele, e as cordas que lhe
ligavam os braços se tornaram como fios de linho que estão queimados do fogo, e as suas
amarraduras se desfizeram das suas mãos.
15 E achou uma queixada fresca de jumento e, estendendo a mão, tomou-a e com ela matou
mil homens.
16 Disse Sansão: Com a queixada de um jumento montões e mais montões! Sim, com a queixada
de um jumento matei mil homens.
17 E acabando ele de falar, lançou da sua mão a queixada; e chamou-se aquele lugar Ramá-Leí.
18 Depois, como tivesse grande sede, clamou ao
Senhor, e disse: Pela mão do teu servo tu deste este grande livramento; e agora morrerei eu de
sede, e cairei nas mãos destes incircuncisos?
19 Então o Senhor abriu a fonte que está em Leí,
e dela saiu água; e Sansão, tendo bebido, recobrou alento, e reviveu; pelo que a fonte
ficou sendo chamada En-Hacore, a qual está em Leí até o dia de hoje.
20 E julgou a Israel, nos dias dos filisteus, vinte
anos.” (Jz 15.1-20).
183
Juízes 16
O nome Sansão, como nós comentamos antes,
significa sol brilhante; e nós vemos que este sol
começou a brilhar desde a manhã do seu nascimento pela esperança para Israel que foi
prometida por Deus com o nascimento daquele menino, e este sol se fez forte e brilhante como
ao meio-dia durante os vinte anos que ele julgou Israel, livrando-o das opressões dos filisteus,
mas este capítulo mostra o entardecer e anoitecer de Sansão, quando o brilho do sol
apagou na parte final da sua vida, conforme vemos neste 16º capítulo do livro de Juízes.
Aqui nós vemos como ele se arriscou
grandemente por causa da intimidade com uma meretriz, quase não escapando (v. 1 a 3). E nós
vemos ainda ele sendo infiel ao seu voto de nazireado, envolvendo-se com outra meretriz,
Dalila, que seria o instrumento da sua ruína. E na infidelidade ao voto, pelo seu relacionamento
com Dalila, ele acabou quebrando o mesmo, quando lhe revelou o segredo da forma de se
quebrar o referido voto, pois o nazireado acabava quando o votante rapava a sua cabeça,
conforme prescrito na lei de Moisés, indicando que estava livre do compromisso mútuo com
Deus que era imposto enquanto durasse o voto. E foi esta a razão porque Sansão foi deixado à
mercê dos seus inimigos. Não pelo segredo que lhe revelou, mas pelo fato de ter tido a cabeça
rapada, o que consequentemente tornava o voto
184
sem efeito, anulando-o. E se a força de Sansão era garantida pelo voto de nazireado, que no seu
caso deveria durar toda a sua vida, conforme palavra do anjo aos seus pais, antes da sua
concepção, não seria de se esperar que ele a mantivesse caso o voto fosse quebrado.
Antes mesmo de ter se unido a Dalila, Sansão pecou grandemente profanando a honra de um
israelita e especialmente do nazireu que ele era, quando se afeiçoou a uma prostituta de Gaza e
teve relações com ela. (v. 1)
Sabendo que ele se encontrava em Gaza, os
filisteus fecharam os portões da cidade e planejaram matá-lo pela manhã, considerando
que o tinham aprisionado na cidade ao fecharem os seus enormes portões. Mas,
levantado-se à meia-noite, Sansão fugiu por onde eles menos esperavam, pelos portões da
cidade, e certamente não montaram uma guarda especial no local, confiados que estavam
na forte estrutura daqueles portões. Mas a força do Espírito Santo através de Sansão permitiu-
lhe que arrancasse os portões com as próprias mãos, e não somente isto, que os levasse sobre
os seus ombros até o cume de um monte fronteiriço a Hebrom.
Satanás estava trabalhando no ponto fraco de Sansão para conduzi-lo à derrota. Não para
satisfazer os filisteus. Mas, como sempre faz, para atrapalhar os planos de Deus e tentar
invalidar a sua promessa e Palavra. E como não foi possível vencer Sansão com uma
prostituta rude, ele vai lançar mão agora de uma
185
atração mais sofisticada. Uma mulher refinada que se relacionava com os príncipes filisteus.
Uma cortesã que seria usada ardilosamente para que se quebrasse o voto de Nazireu que
Sansão tinha com Deus, e deste modo, perdesse toda a sua força.
A estratégia de Satanás segue sendo a mesma em relação a todos os cristãos, como vemos
ilustrado em variadas porções da Bíblia, porque o grande propósito dele é o de colocar-nos
debaixo da correção do próprio Deus, pois isto fere tanto a nós quanto ao seu coração amoroso
de Pai. Nós vimos isto no livro de Números quando Balaão, por inspiração satânica, sugeriu
que os midianitas dessem suas mulheres como esposas aos israelitas para que estas lhes
ensinassem a se prostituírem com Baal, e o resultado foi que eles pecaram contra Deus, e
não restou ao Senhor alternativa senão a de visitar o pecado deles com uma grande praga que matou milhares de israelitas.
Especialmente os ministros do evangelho são os
alvos preferenciais de Satanás, para serem conduzidos em pecado, de forma que o
escândalo produzido pelo pecado deles traga grande prejuízo não somente ao rebanho que
dirigem, como também traga desonra ao Deus sob cujo nome eles ministram.
Assim, não são propriamente as pessoas dos ministros que Satanás tem por objetivo atingir,
mas a causa do evangelho. De igual modo não era propriamente a pessoa de Sansão o alvo do
diabo, e não somente também manter os
186
israelitas debaixo da dominação dos filisteus, senão do seu próprio domínio conforme estava
conseguindo em sucessivas gerações de Israel, fazendo com que permanecessem endurecidos
em seus pecados e incredulidade. E Satanás sabia o quanto a ação de Deus através da vida de
Sansão poderia servir para despertar a fé dos israelitas e movê-los a viverem de novo obedientemente à sua vontade, e cumprindo a
sua Palavra.
Mas, infelizmente, isto não ocorreu, não por ter Deus fracassado, mas por ter sido a vida de
Sansão uma vida tão cheia de contradições.
Deus prepararia um outro libertador para Israel,
para trazer a nação à fidelidade à sua vontade, e fez isto nos dias de um outro juiz que foi
levantado depois de Sansão, o sacerdote Eli, e esta pessoa que foi grandemente usada por
Deus como modelo de obediência e santidade, para servir de bom exemplo para Israel retornar
à fidelidade, foi o profeta Samuel.
Então, ainda que Israel tivesse se livrado do jugo
dos filisteus pela libertação obtida por Sansão em sua morte, foi apenas uma liberdade de
caráter político, e não espiritual, porque os israelitas permaneceram escravizados à sua
incredulidade.
Nós vemos o próprio Sansão, no final da sua
vida, emaranhado no laço do diabo, porque ficou de tal maneira ligado em seu espírito a Dalila,
que se tornou negligente com o dom de Deus que havia nele. Ele deixou de dar o devido valor
ao que era precioso e passou a seguir as
187
inclinações naturais de sua natureza carnal, a ponto de não considerar a desonra que estava
dando ao nome de Deus através do seu interesse em relacionar-se até mesmo com meretrizes.
Deste modo a sua queda era previsível e dependeria somente de uma mera questão de
tempo. Quando o nosso coração se afasta de Deus e da santidade que é devida a ele, pela
necessária atenção e cuidado em guardar os seus mandamentos, a consequência é que
automaticamente ficamos sujeitos ao governo da carne e enfraquecidos espiritualmente
diante do nosso arqui-inimigo. Ainda que tivesse mantido a força física, enquanto estava
com Dalila, conforme pôde demonstrar a ela nas vezes em que lhe disse falsamente o modo pelo
qual poderia se tornar fraco, tendo rompido cordas de nervos, cordas novas, e se livrado do
tear, com extrema facilidade, no entanto, o seu espírito estava enfraquecido porque já não poderia estar em comunhão com Deus, porque
é impossível estar na presença de Deus ao mesmo tempo em que nos permitirmos ser
vencidos pelo pecado.
Tendo perdido a comunhão com Deus Sansão passou a agir ingenuamente e colocou o seu
coração e confiança numa mulher, a ponto de não somente correr o grande risco de confiar
nela para guardar o segredo que poderia torná-lo vulnerável, como também de confiar a ponto
de adormecer em seu colo.
Não é incomum que Satanás use falsos
consoladores, conselheiros e amigos, com o
188
propósito de nos afastar dos caminhos de Deus. Ele pode usar várias fontes de tentação com uma
falsa aparência de beleza e conforto que acabarão se transformando na causa da nossa
ruína espiritual. A beleza de uma Dalila pode ser trazida aos cristãos não necessariamente
através do físico de uma mulher, mas nas mais variadas formas de imagens reais e virtuais, especialmente neste mundo tecnológico das
TV`s e Internet, e todas as formas de equipamentos de áudio e de vídeo, nos quais são
veiculadas em grande maioria as coisas que são forjadas no inferno com o propósito de manter
os homens endurecidos em seus pecados e de afastar os cristãos da comunhão com Deus.
Sempre haverá à nossa disposição um colo no qual poderemos ser entretidos com um sono
que nos será mortal.
Temos que considerar quanto a isto que a simples resistência em não praticar o mal
sugerido, tal como foi o caso de Sansão em sua resistência inicial em não ceder à insistência de
Dalila para arrancar dele o segredo da sua força, não será de qualquer valia e proveito a nós, se
apesar de não praticarmos o mal que nos é sugerido pelas fontes de tentação às quais
estamos ligados em nosso coração, porque na verdade, o não praticar é como se o tivéssemos
praticado, porque o nosso coração já não é com Deus, mas com aquelas coisas às quais nos
unimos através da nossa natureza carnal. Quando a atmosfera de santidade de Deus se vai
de nós, e por meio da qual respiramos o ar vital
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para a vida do nosso espírito, o Senhor pode ter se ausentado de nós, e nem sempre o
perceberemos, tal como ocorreu com Sansão (v 20).
Quando o anjo anunciou o nascimento de
Sansão a seus pais não disse nada a eles acerca da grande força física que ele teria. O anjo falou somente que deveria ser um nazireu, e que
nenhuma navalha deveria ser passada em seu cabelo. Assim, a força dele estaria na sua
consagração a Deus. E de igual modo a nossa força espiritual é decorrente da nossa
consagração ao Senhor. Assim a força física de Sansão que era forjada pela ação do Espírito
Santo serve de tipo e figura da força espiritual dos cristãos (Col 11.29). Assim se é a consagração
a razão da nossa força, se perdermos a primeira, consequentemente perderemos a segunda. Não
era, portanto, o cabelo de Sansão propriamente dito, a fonte da sua força, mas a fidelidade a seu
voto de nazireu que seria demonstrado exteriormente pelo fato de não raspar a sua
cabeça. Tudo nos chama a confiar e a esperar inteiramente na graça de Deus porque é
somente vivendo e andando deste modo que podemos receber dele poder e direção para
nossas vidas. Veja o caso de Sansão, que perdendo a sua comunhão com Deus, perdeu
também a capacidade de ouvir a sua voz, e fazendo-se negligente para com o seu dom, não
foi alertado quanto ao perigo que estava correndo, e Deus o deixou entregue à sua
própria carnalidade e às consequências que lhe
190
sobreviriam em decorrência disso. Deus jamais encobrirá as nossas faltas por meio de distorcer
a verdade e justiça. Ele jamais o fará porque não pode fazê-lo em razão da sua perfeita santidade
e justiça. Nem sequer o faria para preservar a honra do seu bom nome, para que não seja
infamado pelos escândalos produzidos pelos seus servos. Ele suportará o dano, e vindicará a sua santidade e justiça permitindo que soframos
as consequências de nossas más ações, de modo que seja testemunhado que ele nos abandonou
não em razão de falta de amor por nós, mas por causa dos nossos pecados deliberados, de modo
que aquilo de mau que fazemos publicamente possa ser também interpretado publicamente
como sendo algo pertencente à nossa exclusiva maldade, e não em decorrência de qualquer
maldade ou injustiça que pudessem ser achadas em Deus e serem a causa do nosso mau
comportamento.
Tal como Judas se vendeu para trair Jesus, Dalila
também se vendeu aos príncipes filisteus para trair Sansão. O salário da injustiça foi
devidamente pesado e seria pago assim que a traição fosse consumada. E tudo isso estava
oculto ao conhecimento de Sansão. Aquele homem que foi o instrumento poderoso para
livrar Israel enquanto caminhava com Deus e que havia subjugado tantos e poderosos
inimigos, seria agora vencido para sua vergonha, pela instrumentalidade de uma
mulher, revelando-se assim quão fraca é a
191
natureza humana quando está desprovida da força que decorre da graça do Senhor.
Se descuidamos da nossa comunhão com Deus não devemos esperar prevalecer contra os
nossos inimigos, porque eles virão disfarçados a nós sob a forma de uma fragilidade qualquer, tal
como ocorreu com Sansão, e nos enganarão, assim como o enganaram.
Os olhos de Sansão foram vazados pelos filisteus para que não mais enxergasse, e assim
pensavam que não correriam mais qualquer risco, mesmo que ele viesse a recobrar a sua
antiga força, pois não teria os seus olhos para guiá-lo. E eles pretendiam mantê-lo como um
troféu vivo para o deus Dagom deles, para tributar-lhe honra com a forma zombeteira com
que tratariam o seu maior inimigo, de modo a exibir publicamente a supremacia do seu deus
sobre o Deus de Sansão.
Não existe nenhum Dagom e nenhum outro
Deus além do Deus único e verdadeiro. Mas certamente existe aquele que sempre está por
detrás de todo culto idolátrico, instigando os homens a adorarem deuses que sequer existem.
Isto sim é o maior escárnio que existe e que é produzido por Satanás para expor ao ridículo os
homens que foram criados à imagem e semelhança de Deus. Através de ardis ele
consegue enganar aqueles que enganam. Porque se os filisteus haviam enganado Sansão
através de Dalila, eles também estavam sendo enganados pelo diabo de modo a julgarem que
de fato um deus inexistente tinha sido quem
192
lhes havia feito triunfar sobre o seu grande inimigo. Assim, aqueles que vivem a enganar
são também enganados pelo diabo porque não podem andar na verdade e serem livrados do
engano do Maligno por causa das suas más obras que os colocam debaixo da influência e do
poder de Satanás.
Mesmo no caso de cristãos, como Jesus alertou
aos seus discípulos, se o sal vier a perder o sabor para nada mais presta senão para ser pisado
pelos homens. E foi exatamente o que sucedeu a Sansão. Ele perdeu o sabor da sua consagração.
Ele pensava que Deus ainda era com ele mesmo vivendo em pecado, pois o pecado tem esta
propriedade de endurecer e cegar. De modo que Sansão já estava cego quando lhe vazaram os
olhos, pois não podia mais enxergar a Deus em espírito.
Entretanto, em sua grande misericórdia e para vindicar a sua glória e santidade, Deus conduziu
Sansão ao arrependimento quando os filisteus estavam glorificando e louvando a Dagom por
ter entregue nas mãos deles o seu inimigo, e a forma que eles escolheram de tributar honra ao
seu deus seria expondo Sansão ao ridículo perante ele e toda assembleia de filisteus. Este
tipo de honra jamais seria aceita pelo Deus verdadeiro porque não tem prazer na
iniquidade. E assim, o caráter do deus que é cultuado pelos ímpios será retratado com a
mesma vileza daqueles que lhe prestam culto.
Os milhares de pessoas que estavam zombando
de Sansão e do Deus de Sansão, e tributando
193
honra a um deus falso não sabiam que havia um juízo de Deus determinado sobre elas, e
prosseguiram em suas luxúrias e apresentação de sacrifícios ao seu deus enquanto zombavam
de Sansão. O Senhor poderia castigá-los diretamente como fizera com os de Sodoma e
Gomorra, e no dilúvio nos dias de Noé, mas o caso requeria, para glória da sua justiça e misericórdia, que o instrumento da vergonha
fosse restaurado, de modo a ser um instrumento de honra. E isto deveria ser feito
pelo caminho do perdão e do arrependimento. E assim, em sua grande humilhação e indignação
por estar testemunhando a forma como o nome do Deus de Israel estava sendo blasfemado,
Sansão clamou ao Senhor com as seguintes palavras: “Então Sansão clamou ao Senhor, e
disse: Ó Senhor Deus! lembra-te de mim, e fortalece-me agora só esta vez, ó Deus, para que
duma só vez me vingue dos filisteus pelos meus dois olhos.” (v. 28).
Assim, a força que Sansão havia perdido no
pecado, ele recuperou através da oração. E Deus poderia restaurar o voto de nazireu dele porque
o seu cabelo havia crescido. Caso o cabelo tivesse crescido e Sansão não se arrependesse, mesmo que o voto fosse restaurado ele não
poderia ser usado pelo Espírito de Deus, em razão da sua falta de arrependimento. Não basta,
portanto, cumprir aquilo que votamos a Deus e nem ofertar e adorar a ele sem que atendamos à
condição necessária para que nossas ofertas,
adoração e serviço sejam aceitáveis a Deus: a
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consagração de nossas vidas a ele. Sem santificação, sem fé, sem amor, sem comunhão
com o Senhor, será impossível agradá-lo e, por conseguinte, não seria possível andar em
acordo com ele. A simples ação exterior não será aceita por não ter sido acompanhada pela
atitude interior adequada que deve lhe dar causa. Por isso se diz que Deus ama a quem dá com alegria, significando isto que nossas ofertas
devem ser acompanhadas por um espírito de gratidão e alegria em se estar servindo ao
Senhor. Assim, Sansão não orou somente com os lábios, mas voltou verdadeiramente em seu
coração para o Deus ao qual ele havia virado suas costas com o seu mau caminhar, e por isso
teve a sua oração atendida.
O atendimento do pedido de Sansão deixa bem
marcado na Bíblia o caráter daquela Antiga Aliança, porque Sansão, ao morrer pediu a Deus
para se vingar dos seus inimigos, e foi atendido porque na Antiga Aliança se dizia aos antigos:
”Olho por olho, dente por dente.”. E Sansão poderia ter atendido o seu pedido de vingança
por terem os filisteus vazado os seus olhos. Mas Cristo, ao morrer, inaugurando uma Nova
Aliança, pediu perdão e não vingança para os seus inimigos que zombavam dele na cruz, bem
como para todos os pecadores que deram causa à sua crucificação. E isto denota o novo caráter
desta Nova Aliança onde já não mais se diz “olho por olho, dente por dente”, mas “amai os vossos
inimigos.”
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Embora Sansão tenha vivido na época da dispensação da Lei, no entanto, era um salvo por
causa da sua fé, e ainda que tenha morrido com os filisteus, não teve o mesmo destino deles,
porque certamente foi conduzido à glória celestial por causa da bondade e misericórdia de
Deus manifestadas a ele, e o Senhor conhece aqueles que são seus.
E Deus honrou a Sansão mesmo depois da sua morte, pois não permitiu que o seu corpo ficasse
enterrado no território dos seus inimigos juntamente com eles, pois seus familiares o
descobriram entre os escombros do edifício que ele havia derrubado, e o trouxeram ao território
de Israel onde foi sepultado.
“1 Sansão foi a Gaza, e viu ali uma prostituta, e entrou a ela.
2 E foi dito aos gazitas: Sansão entrou aqui.
Cercaram-no, pois, e de emboscada à porta da cidade o esperaram toda a noite; assim ficaram
quietos a noite toda, dizendo: Quando raiar o dia, matá-lo-emos.
3 Mas Sansão deitou-se até a meia-noite; então,
levantando-se, pegou nas portas da entrada da cidade, com ambos os umbrais, arrancou-as
juntamente com a tranca e, pondo-as sobre os ombros, levou-as até o cume do monte que está
defronte de Hebrom.
4 Depois disto se afeiçoou a uma mulher do vale de Soreque, cujo nome era Dalila.
5 Então os chefes dos filisteus subiram a ter com
ela, e lhe disseram: Persuade-o, e vê em que
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consiste a sua grande força, e como poderemos prevalecer contra ele e amarrá-lo, para assim o
afligirmos; e te daremos, cada um de nós, mil e cem moedas de prata.
6 Disse, pois, Dalila a Sansão: Declara-me, peço-
te, em que consiste a tua grande força, e com que poderias ser amarrado para te poderem afligir.
7 Respondeu-lhe Sansão: Se me amarrassem
com sete cordas de nervos, ainda não secados, então me tornaria fraco, e seria como qualquer
outro homem.
8 Então os chefes dos filisteus trouxeram a Dalila sete cordas de nervos, ainda não secados,
com as quais ela o amarrou.
9 Ora, tinha ela em casa uns espias sentados na câmara interior. Então ela disse: Os filisteus vêm
sobre ti, Sansão! E ele quebrou as cordas de nervos, como se quebra o fio da estopa ao lhe
chegar o fogo. Assim não se soube em que consistia a sua força.
10 Disse, pois, Dalila a Sansão: Eis que zombaste
de mim, e me disseste mentiras; declara-me agora com que poderia ser amarrado.
11 Respondeu-lhe ele: Se me amarrassem
fortemente com cordas novas, que nunca tivessem sido usadas, então me tornaria fraco, e
seria como qualquer outro homem.
12 Então Dalila tomou cordas novas, e o amarrou com elas, e disse-lhe: Os filisteus vêm sobre ti,
Sansão! E os espias estavam sentados na câmara interior. Porém ele as quebrou de seus braços
como a um fio.
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13 Disse Dalila a Sansão: Até agora zombaste de mim, e me disseste mentiras; declara-me pois,
agora, com que poderia ser amarrado. E ele lhe disse: Se teceres as sete tranças da minha
cabeça com os liços da teia.
14 Assim ela as fixou com o torno de tear, e disse-lhe: Os filisteus vêm sobre ti, Sansão! Então ele
despertou do seu sono, e arrancou o torno do tear, juntamente com os liços da teia.
15 Disse-lhe ela: como podes dizer: Eu te amo!
não estando comigo o teu coração? Já três vezes zombaste de mim, e ainda não me declaraste em
que consiste a tua força.
16 E sucedeu que, importunando-o ela todos os dias com as suas palavras, e molestando-o, a
alma dele se angustiou até a morte.
17 E descobriu-lhe todo o seu coração, e disse-
lhe: Nunca passou navalha pela minha cabeça, porque sou nazireu de Deus desde o ventre de minha mãe; se viesse a ser rapado, ir-se-ia de
mim a minha força, e me tornaria fraco, e seria como qualquer outro homem.
18 Vendo Dalila que ele lhe descobrira todo o seu coração, mandou chamar os chefes dos filisteus,
dizendo: Subi ainda esta vez, porque agora me descobriu ele todo o seu coração. E os chefes dos
filisteus subiram a ter com ela, trazendo o dinheiro nas mãos.
19 Então ela o fez dormir sobre os seus joelhos, e
mandou chamar um homem para lhe rapar as sete tranças de sua cabeça. Depois começou a
afligi-lo, e a sua força se lhe foi.
198
20 E disse ela: Os filisteus vêm sobre ti, Sansão! Despertando ele do seu sono, disse: Sairei, como
das outras vezes, e me livrarei. Pois ele não sabia que o Senhor se tinha retirado dele.
21 Então os filisteus pegaram nele, arrancaram-lhe os olhos e, tendo-o levado a Gaza,
amarraram-no com duas cadeias de bronze; e girava moinho no cárcere.
22 Todavia o cabelo da sua cabeça, logo que foi rapado, começou a crescer de novo:
23 Então os chefes dos filisteus se ajuntaram para oferecer um grande sacrifício ao seu deus
Dagom, e para se regozijar; pois diziam: Nosso deus nos entregou nas mãos a Sansão, nosso
inimigo.
24 Semelhantemente o povo, vendo-o, louvava
ao seu deus, dizendo: Nosso deus nos entregou nas mãos o nosso inimigo, aquele que destruía a
nossa terra, e multiplicava os nossos mortos.
25 E sucedeu que, alegrando-se o seu coração, disseram: Mandai vir Sansão, para que brinque diante de nós. Mandaram, pois, vir do cárcere
Sansão, que brincava diante deles; e fizeram-no estar em pé entre as colunas.
26 Disse Sansão ao moço que lhe segurava a
mão: Deixa-me apalpar as colunas em que se sustém a casa, para que me encoste a elas.
27 Ora, a casa estava cheia de homens e mulheres; e também ali estavam todos os chefes
dos filisteus, e sobre o telhado havia cerca de três mil homens e mulheres, que estavam
vendo Sansão brincar.
199
28 Então Sansão clamou ao Senhor, e disse: Ó Senhor Deus! lembra-te de mim, e fortalece-me
agora só esta vez, ó Deus, para que duma só vez me vingue dos filisteus pelos meus dois olhos.
29 Abraçou-se, pois, Sansão com as duas colunas do meio, em que se sustinha a casa,
arrimando-se numa com a mão direita, e na outra com a esquerda.
30 E bradando: Morra eu com os filisteus!
inclinou-se com toda a sua força, e a casa caiu sobre os chefes e sobre todo o povo que nela
havia. Assim foram mais os que matou ao morrer, do que os que matara em vida.
31 Então desceram os seus irmãos e toda a casa de seu pai e, tomando-o, o levaram e o
sepultaram, entre Zorá e Estaol, no sepulcro de Manoá, seu pai. Ele havia julgado a Israel vinte
anos.” (Jz 16.1-31).
200
Juízes 17
Tudo o que se relata neste e nos demais
capítulos deste livro pertence a um período muito anterior aos dias de Sansão, remontando,
o que se descreve no vigésimo capítulo, aos dias de Fineias, filho de Eleazar e neto de Arão
(20.28). E certamente, foi registrado no final do livro
para não interromper a história dos juízes, para revelar que apesar dos muitos problemas
havidos em seus dias, a nação caminhava melhor com Deus, do que antes disso, como
poderemos verificar nos relatos que se seguem.
A história que é narrada neste capítulo não é uma história solta e isolada, porque por ela é
informado como a idolatria entrou em Israel, através de um homem chamado Mica, e depois
se espalhou por toda a tribo de Dã (18.3). Nós vemos neste primeiro capítulo, que a
idolatria começou como consequência de um furto e de uma maldição, evidenciando-se o
caráter que geralmente costuma acompanhar aqueles que a praticam, tão diferente da
sinceridade, honestidade, santidade, e bênçãos que costumam acompanhar aqueles que
verdadeiramente servem e temem a Deus.
Mica havia furtado as mil e cem moedas de prata que sua mãe havia juntado, mas por temor das
maldições que ela havia proferido contra o ladrão, lhe revelou que o seu dinheiro estava em
sua posse e o restituiu a ela.
201
Considerando que o que havia movido seu filho foram os seus deuses, em cujo nomes havia
proferido tais maldições, reservou duzentas moedas de prata para fazer com elas imagens de
escultura para ficarem na posse de seu filho. Já que ele não ficaria com o dinheiro, ficaria pelo
menos com a mesma “bênção” dos deuses, que haviam “abençoado” sua mãe.
Apesar de ela ter dito que o dinheiro seria
consagrado solenemente ao Senhor, no original hebraico, Jeová, transgredindo o mandamento
que diz “não farás para ti imagem de escultura” (Êx 20.4), ela estava na verdade cultuando a
outros deuses, tal como fizeram os filhos de Israel, quando saíram do Egito, fabricando o
bezerro de ouro, e dizendo que era os deuses que lhes haviam retirado do cativeiro.
Quando dizemos que servimos a Jesus e fazemos aquilo que ele nos tem proibido na sua Palavra,
revelamos com isso, que não o conhecemos de fato, e fazemos parte do rol daqueles que dizem
Senhor, Senhor, e que de modo algum entrarão no reino dos céus.
Tal era o caso da mãe de Mica.
Ela tentou anular as maldições que havia proferido, e que recaíram sem que o soubesse
sobre o próprio filho, posto ser ele o ladrão, com uma maldição ainda maior, que se
transformaria na causa da perdição não apenas de seu filho, como de toda uma tribo de Israel, a
de Dã.
A cobiça e a mentira acompanharam também a
ação da mãe de Mica, porque tendo dito a ele
202
que usaria todo o dinheiro (mil e cem moedas) para fazer as imagens de escultura como forma
de dedicação do dinheiro a Deus, sob o possível argumento de retirar a maldição que havia
proferido, no entanto, usou apenas menos do que um quinto do total (duzentas moedas),
agindo tal como Ananias e Safira.
Como o ídolo é um mestre de mentiras e
engano, porque por detrás do seu culto sempre encontraremos o pai da mentira que é o diabo, a
mãe de Mica enganava-se a si mesma, ao dizer que estava dedicando o dinheiro a Jeová, com o
fabrico daqueles ídolos, porque se o tivesse feito de fato, não teria agido com cobiça e mentindo,
pois como pode Deus aceitar algo que seja feito com base na cobiça e na mentira, e ainda por
cima, tratando-se de uma transgressão direta de um dos mandamentos tão claramente ordenado
por ele de que o seu povo não faça para si imagem de escultura para lhes prestar culto de
adoração, ainda que em seu nome, porque na verdade não aceitará jamais tal tipo de adoração,
uma vez que não é dirigida a ele na verdade, que é espírito invisível, santo e justo, e é zeloso
quanto a não permitir que aqueles que lhe pertencem dividam o amor, culto e adoração que lhe são exclusivamente devidos a qualquer
outro ser ou pessoa que exista em cima nos céus, ou em baixo na terra, ou mesmo nas águas
debaixo da terra.
Desta forma, querendo fugir da maldição, eles estavam entrando nela porque ao que adora
falsos deuses e usa imagem de escultura em sua
203
adoração, se coloca debaixo do juízo proferido pelo Senhor contra os idólatras afirmando que
visita até mesmo esta iniquidade dos pais nos seus próprios filhos, até à terceira e quarta
geração daqueles que o aborrecem (Êx 20.3-5), por provocarem a sua ira, ao não darem a honra
de culto e adoração, que são devidos exclusivamente a ele.
O temor do cumprimento da maldição da parte
de Mica, foi tão grande e talvez não menor do que a devoção que ele passou a prestar àqueles
ídolos fabricados, no intuito de que a maldição fosse transformada em bênção, que colocou os
ídolos que sua mãe mandara fazer na casa de deuses que ele tinha, e acrescentou a todo
aquele aparato idolátrico uma estola sacerdotal e terafins, tendo ainda nomeado a um de seus
filhos para atuar como sacerdote do culto, que era prestado àqueles falsos deuses (v. 5).
Mica tinha construído uma casa de deuses porque era fruto da sua própria imaginação,
sabendo ou não que eram de inspiração demoníaca.
Ele julgava certamente que a forma de culto que havia inventado era muito melhor do que a do
tabernáculo, que estava em Siló.
É bem provável que tenha feito isto depois dos
dias de Fineias, neto de Arão, que era o sumo sacerdote, porque este Fineias estava cheio do
zelo do Senhor e teria certamente castigado a idolatria de Mica, tal como fizera ainda nos dias
de Moisés ao príncipe de Simeão e à sua mulher
204
midianita, no caso da praga de Baal-Peor relatado no livro de Números (25.1-18).
Pois, estando o tabernáculo em Siló, uma das cidades de Efraim, este Mica teve a ousadia de
construir uma casa de deuses na própria região de Efraim, onde residia.
Certamente o zelo de Fineias teria vindo sobre ele tal como fizera quando as tribos da
Transjordânia erigiram um altar como memorial ao Senhor, quando partiram para
suas terras depois de terem batalhado com as demais tribos em Canaã.
Naquela ocasião foi também Fineias que liderou a confederação das tribos para guerrearem
contra as tribos da Transjordânia, julgando que tinham erigido aquele altar com o propósito de
introduzirem uma nova forma de adoração, diferente da que deveria ser prestada
exclusivamente no tabernáculo.
A idolatria começou no próprio território onde
se encontrava o tabernáculo, denotando que o caráter dos dirigentes de Israel, nesta ocasião
não estava provido do mesmo zelo que se encontrou em Moisés, Josué, Eleazar e Fineias.
Quando a liderança faz concessões ao erro dentro da própria casa de Deus, por uma alegada
tolerância, pensando que estará fazendo com isso um grande bem, na verdade estará abrindo
as portas para que o diabo entre e opere seus enganos, destruições e morte, com toda a
liberdade.
O sexto verso faz a afirmação com a qual o livro
é fechado: “Naquelas dias não havia rei em
205
Israel; cada qual fazia o que parecia bem aos seus olhos.”.
Isto indica a necessidade que havia de que libertadores fossem levantados por Deus para
governarem a nação, quer no período dos Juízes, como vimos estudando até aqui, quer no
período dos reis de Israel, mas tanto num quanto noutro período, nós vemos que o
governo e o libertador do qual o povo de Deus necessita para poder vencer efetivamente o
pecado, é o Senhor Jesus, do qual todos os demais libertadores terrenos eram apenas um
pálido tipo.
Porque ele estabelece o seu governo em
santidade nos nossos corações, e nos habilita, pela graça da sua presença em nós, em andar de
modo agradável a Deus, tendo a sua lei inscrita nas nossas mentes e corações.
Não é, portanto, sem motivo, que são tantas as figuras e profecias relativas a ele no Velho
Testamento, nos sacrifícios de animais e em todo o simbolismo de purificação, consagração
e santificação, que havia naqueles sacrifícios, no que se refere à obra de redenção, justificação,
regeneração, santificação e glorificação que estão nele e com as quais somos beneficiados na
nossa associação com ele.
Bendito pois seja para todo o sempre o nosso
Amado Salvador e Senhor, que nos tem apartado das nossas iniquidades para sempre, dando
cumprimento cabal às profecias que apontavam para ele e para a obra que realizaria em nosso
favor.
206
Nós vemos quantas iniquidades Israel cometeu, mesmo sendo o povo de Deus, e tendo recebido
dele a Lei, os testemunhos, promessas e profetas.
Quantas abominações eles praticaram como as que estamos estudando no livro de Juízes e que
se agravaram com o decorrer do tempo.
Tudo isto apontava para a necessidade de que o
Libertador viesse a Sião e apartasse Jacó das suas iniquidades, trazendo perdão e
reconciliação para todos aqueles que se encontravam afastados de Deus, e
impossibilitados de fazerem por si mesmos a sua santa vontade.
Jesus trouxe com ele a graça do evangelho e a conversão do coração com e para a habitação do
Espírito Santo, que nos faz perseverar nos caminhos de Deus.
A ele pois toda honra, glória e louvor.
Falemos então do dever de todos os homens de guardarem a Lei de Deus, mas excluamos todo o mérito dos homens pelo fazê-lo, porque não
poderiam fazer isto de modo algum, sem o Senhor que os santifica.
Falemos do esforço e de todo o trabalho que se
deve fazer por amor ao Senhor, mas reconheçamos como Paulo, que tudo o que
fizermos terá sido possibilitado somente pela graça de Jesus que nos for concedida.
Tal como os Juízes necessitavam que o Espírito Santo viesse sobre eles e os capacitasse a
realizarem a obra que realizaram, conforme
207
temos aprendido em todo o nosso estudo deste livro.
“Virá de Sião o Libertador, ele apartará de Jacó
as impiedades.” (Rm 11.26).
“E agora diz o Senhor, que me formou desde o
ventre para ser o seu servo, para tornar a trazer-lhe Jacó, e para reunir Israel a ele (pois aos olhos
do Senhor sou glorificado, e o meu Deus se fez a minha força). Sim, diz ele: Pouco é que sejas o
meu servo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel;
também te porei para luz das nações, para seres a minha salvação até a extremidade da terra.” (Is
49.5,6).
Os versos 7 a 13 deste capítulo de Juízes narram
como foi que um levita de Belém de Judá veio a ser colocado por Mica como sacerdote e
dirigente espiritual em sua casa, não para oficiar segundo a lei de Deus, mas para aperfeiçoar a
falsa adoração que ele havia iniciado.
Este levita andava errante em peregrinação, e segundo o seu próprio falar procurava
peregrinar onde achasse conveniente, isto é, pelo seu próprio gosto e vontade, e não por estar
seguindo a direção de Deus, e como ocorreu com ele, sucede com todos os ministros de Deus
que não oram e não têm comunhão com ele para terem direção vinda dele a quem, onde e como
ministrarem.
O que anda de acordo com o seu próprio
conselho e vontade acabará caindo no laço do diabo, tal como sucedeu a este levita que acabou
indo dar na casa de Mica.
208
Caso estivesse sendo dirigido pelo Senhor, jamais teria ido ter com ele, e muito menos se
sujeitaria a ele, por dinheiro, para fazer a sua vontade servindo a falsos deuses.
Disfarçado em ministro da justiça, a serviço do diabo, que se disfarça em anjo de luz, tal foi o
incremento e operações demoníacas que atuaram sob aquele levita, que a fama das coisas
que ocorriam em resposta a petições, e bem provavelmente até mesmo sinais e maravilhas,
correu por todo Israel, e particularmente na tribo de Dã, conforme veremos no capítulo
seguinte.
Mica considerou que quem lhe trouxera aquele
levita foi a providência divina.
Para ele foi o próprio Jeová que o enviara, e assim julgou que seria deveras abençoado com
o ministério daquele levita em sua casa.
Nós devemos julgar todas as coisas mediante os critérios da Palavra de Deus, e pela revelação da verdade que nela se encontra, e não pelos
nossos sentimentos, tal como fizera Mica, porque se nos desviamos da Palavra de Deus,
até mesmo a nossa oração será uma abominação, conforme se encontra no livro de
Provérbios, porque não será feita de acordo com a vontade e verdade reveladas de Deus, mas
segundo o nosso próprio coração.
Como Deus poderia estar enviando alguém para ministrar o erro? Qual é a comunhão que há
entre Deus e Belial?
209
Mica era um ladrão que havia roubado sua própria mãe, e um homem ambicioso, que fazia
da religião ocasião de lucro.
O que almejava na verdade era ganhar honra e dinheiro daqueles que o procurassem, em busca
de respostas para os seus problemas.
Isto não tem mudado desde então, porque as pessoas sabem que buscar respostas no Deus verdadeiro demandará a conversão das suas
vidas, e por isso rejeitam a verdade, à busca de ilusões em falsas divindades e junto aos
demônios que não exigirão delas qualquer transformação de vida, podendo seguir
livremente fazendo aquilo que é da própria vontade, permanecendo escravizadas aos
pecados que gostam de praticar.
“1 Havia um homem da região montanhosa de Efraim, cujo nome era Mica.
2 Disse este a sua mãe: As mil e cem moedas de
prata que te foram tiradas, por cuja causa lançaste maldições, e acerca das quais também
me falaste, eis que esse dinheiro está comigo, eu o tomei. Então disse sua mãe: Bendito do Senhor
seja meu filho!
3 E ele restituiu as mil e cem moedas de prata a sua mãe; porém ela disse: Da minha mão dedico
solenemente este dinheiro ao Senhor a favor de meu filho, para fazer uma imagem esculpida e
uma de fundição; de sorte que agora to tornarei a dar.
4 Quando ele restituiu o dinheiro a sua mãe, ela
tomou duzentas moedas de prata, e as deu ao
210
ourives, o qual fez delas uma imagem esculpida e uma de fundição, as quais ficaram em casa de
Mica.
5 Ora, tinha este homem, Mica, uma casa de
deuses; e fez um éfode e terafins, e consagrou um de seus filhos, que lhe serviu de sacerdote.
6 Naquelas dias não havia rei em Israel; cada qual fazia o que parecia bem aos seus olhos.
7 E havia um mancebo de Belém de Judá, da
família de Judá, que era levita, e peregrinava ali.
8 Este homem partiu da cidade de Belém de Judá
para peregrinar onde quer que achasse conveniente. Seguindo ele o seu caminho,
chegou à região montanhosa de Efraim, à casa de Mica,
9 o qual lhe perguntou: Donde vens? E ele lhe respondeu: Sou levita de Belém de Judá, e vou
peregrinar onde achar conveniente.
10 Então lhe disse Mica: Fica comigo, e sê-me
por pai e sacerdote; e cada ano te darei dez moedas de prata, o vestuário e o sustento. E o
levita entrou.
11 Consentiu, pois, o levita em ficar com aquele homem, e lhe foi como um de seus filhos.
12 E Mica consagrou o levita, e o mancebo lhe serviu de sacerdote, e ficou em sua casa.
13 Então disse Mica: Agora sei que o Senhor me fará bem, porquanto tenho um levita por
sacerdote.” (Jz 17.1-13).
211
Juízes 18
Quando a tribo de Dã estava procurando
estender os seus domínios, depois da morte de Josué, pela conquista dos territórios que haviam
sido designados por sortes, e não sendo ainda Israel uma unidade federativa, com um governo
central sobre todas as tribos, pois Deus havia concedido a eles serem uma teocracia, na qual
cada tribo teria a liberdade de ter os seus próprios príncipes, juízes e chefes, tanto eles,
quanto as demais tribos de Israel não souberam fazer bom uso desta liberdade, e já não estando
mais debaixo de uma direção geral como nos dias de Moisés e Josué, eles agiram como bem
parecia aos seus próprios olhos como se lê em Jz 17.6 e como se confirma no versículo
introdutório desta capítulo décimo oitavo, onde se enfatiza que não havia reis em Israel nos dias
em que se deu esta narrativa, como que para justificar o motivo por que todas estas ações
voltadas para a idolatria puderam ter lugar sem que nenhuma confrontação fosse levantada por
parte das demais tribos.
Num mundo onde há o pecado, desde a queda de Adão, e no qual existirá até que Jesus restaure
todas as coisas, muita liberdade não é bom, porque o pecado sempre conduzirá ao abuso
dela.
Não se pode confiar na natureza terrena porque o coração humano é excessivamente corrupto
por causa do pecado, e é necessário o freio das
212
leis e do governo para que pelo temor da punição, a iniquidade não se espalhe em níveis
tais, que impossibilite qualquer tipo de convivência social pacífica.
Somente a graça de Jesus pode renovar as mentes corrompidas dos homens e converter o
seu coração a Deus, mas o poder do magistrado pode conter as suas práticas ruins e pode
prender as suas mãos, de modo que a impiedade do mau não seja tão prejudicial como seria na
falta da ação do magistrado.
Embora a espada da justiça não possa cortar a
raiz de amargura, pode cortar as suas consequências e impedir seu crescimento e
alastramento.
Veja quão perto da ruína estão todos os lugares
em que não há nenhum magistrado ou em que havendo, prevarique no exercício devido da sua
função, como ministro de Deus que traz a espada para o castigo dos malfeitores! Feliz é o
povo que tem um bom governo e leis justas e juízes imparciais.
Mesmo na Igreja de Cristo, onde se desfruta da liberdade que o Espírito Santo concede, e se tem
a liberdade da escravidão do pecado, por meio da redenção que há em Cristo Jesus, faz-se
necessário o governo de pastores, presbíteros, mestres e diáconos, porque apesar de o espírito
estar pronto, a carne é fraca, e o rebanho de Deus precisa, portanto, ser conduzido debaixo
de um cajado que lhe aponte o caminho a seguir, e para exercer a disciplina determinada por
Cristo, para ser aplicada à sua Igreja.
213
Visões românticas relativas à liberdade total que se deve dar a cada crente, sob o argumento de
que todos são sacerdotes reais, tem causado muitas dores àqueles que procuram viver a vida
cristã por meio destes princípios idealistas contrários à Palavra de Deus, porque no final das
contas, terão que sofrer as consequências do inevitável mau uso da liberdade total concedida, pelo equívoco cometido de pensarem que já
estamos vivendo no céu onde não há pecado, e tudo é uma perfeição absoluta.
O homem é livre, mas Deus tem determinado
para todo homem o jugo de Jesus, que apesar de suave, configura a obrigação e compromisso que temos para com ele, traduzidos nos muitos
deveres que devemos cumprir, pela própria determinação da sua vontade divina.
A primeira coisa que a natureza pecaminosa
terrena do homem procura fazer ao argumentar a sua liberdade é lançar fora todo jugo, e com estes joga fora também o próprio jugo de Jesus.
Este é o motivo de se ver tantos crentes
desobedientes à Palavra de Deus, especialmente nestes últimos dias, no qual quase tudo é
permitido e justificável.
Entretanto, Deus não muda, nem a sua Palavra e
vontade.
Foi exatamente o que se viu em toda a história
de Israel narrada na Bíblia.
Quando faltava uma liderança temente a Deus,
ou quando havia uma liderança permissiva, o resultado disso era a apostasia dos caminhos do
Senhor.
214
Não é, portanto, surpreendente, o fato de vermos a tribo de Dã procurando estabelecer
uma nova forma de culto em seu território, assalariando o levita que servia de sacerdote à
casa de deuses de Mica, e por terem também levado para Dã todo o aparato idolátrico que lá
existia.
Deus odeia o roubo, e o diabo adora roubar, matar e destruir. E os danitas roubaram os
ídolos da casa de Mica porque além de transgredirem o oitavo mandamento que diz
“não furtarás” também transgrediram o primeiro e o segundo mandamentos que
proíbem ter outros deuses diante do Senhor e cultuar imagens de escultura.
E o levita que servia de sacerdote na casa de Mica não era melhor do que eles, pois o que se
pode esperar daqueles que naufragaram na fé pela falta de uma boa consciência?
Mica confiou neste levita apóstata, e ele o traiu, pois assentiu rapidamente em deixar a sua casa e seguir os danitas pela sua cobiça e desejo de
ter a sua fama e poder aumentados, deixando de servir na casa de um só homem, para servir a
toda uma tribo.
Mica ainda vai protestar com eles quanto ao seu
direito ao que lhe haviam roubado. Mas estando em menor número do que os danitas, e tendo
sido ameaçado de morte por eles, bem como os da sua casa, desistiu de tentar reaver os seus
pertences.
Na verdade, o único direito de Mica, do levita,
dos adoradores da sua cidade e de todos aqueles
215
seiscentos danitas era a morte prevista na lei para os idólatras.
Mas como não havia um governo central em
Israel para fazer valer o cumprimento da Lei de Moisés, eles agiam segundo melhor parecia aos
seus próprios olhos, por saberem que não haveria quem os punisse.
Assim, este relato justifica a prática de toda ação legal em Israel, isto é, conforme a lei, ainda que
possa parecer em muitos casos, que possa ter havido extrema crueldade, na verdade,
especialmente naqueles dias, tal se fazia necessário, porque, como já dissemos antes, o
mal teria se alastrado de tal forma que a própria Palavra de Deus teria sido banida da terra, e toda
a humanidade teria se corrompido, e os justos seriam mais perseguidos e destruídos, do que já
o foram, nas mãos dos ímpios.
Infelizmente, em razão da longanimidade de
Deus, que sempre é abusada pelos ímpios e por aqueles que não o temem, estes podem pensar que estão prosperando, tal como os danitas, em
razão de terem conquistado a cidade de Lais, a par de toda a idolatria deles e de terem pedido ao
levita que agia como sacerdote de Mica para consultar aqueles deuses para saberem se
seriam bem-sucedidos contra aquela cidade, e ele lhes disse que sim, tal como sucedera de fato.
Foi aquilo uma bênção de Deus? Deus estava com eles? Certamente que não. E tem sido assim
ao longo da história da humanidade.
Muitos confundem a sua prosperidade e coisas
que têm conquistado sob a alegação de as terem
216
recebido por uma revelação ou bênção direta de Deus, quando na verdade, o que conquistaram e
o meio pelo qual foi conquistado sejam na verdade uma abominação para ele.
Assim, não é incomum que muitos justifiquem a sua impiedade pela prosperidade deles, tal
como foi o caso dos danitas, pois pensavam erroneamente, que apesar de estarem vivendo
impiamente, Deus estava com eles, já que desfrutavam de boa saúde e de prosperidade
material e financeira, e isto era para eles um sinal da aprovação e bênção de Deus sobre suas
vidas, como tem sido para muitas pessoas, ao longo da história da humanidade, sem que o seja
necessariamente.
Aqueles danitas depois de terem conquistado
Laís, mudaram seu nome para Dã, porque esta cidade era o extremo norte de Israel, muito
distante do lote que coubera à tribo de Dã, e lhe deram este nome como memorial à tribo à qual
pertenciam, e tal era o endurecimento de coração deles que tributaram a honra da
conquista aos ídolos que haviam trazido da casa de Mica e instituíram um culto formal a eles que
durou por todo o tempo que o tabernáculo permaneceu em Siló.
E é dito no verso 30 que “Jônatas, filho de Gérsom, o filho de Manassés, ele e seus filhos
foram sacerdotes da tribo dos danitas, até o dia do cativeiro da terra.”
Este Manassés não é o filho de José do qual descenderam todos os manassitas. Seus filhos
foram Jair e Maquir, sendo que os descendentes
217
de Maquir herdaram na Transjordânia, e os de Jair em Canaã.
Além do mais, esta narrativa de Juízes está separada no tempo, do filho de José, Manassés,
por mais de quatrocentos anos.
Algumas versões, registram o nome de Moisés,
no lugar do de Manassés, que aparece neste capítulo no original hebraico, julgando que
houve uma incorreção do escriba ao escrever este versículo, primeiro porque Moisés teve um
filho chamado Gérson, e porque no hebraico a grafia do nome de Manassés é muito parecida à
do nome de Moisés. Entretanto não há nenhum registro bíblico de que o filho de Moisés,
Gérson, tenha tido um filho chamado Jônatas.
Nós encontramos em I Crôn 26.24 o nome de
Sebuel como sendo filho de Gérson, filho de Moisés, e não Jônatas.
Nós chegamos, portanto, à conclusão de que estamos diante de um homônimo do Manassés,
filho de José, e também de um outro homônimo quanto a Gérson, filho de Moisés, tratando-se de
outras pessoas que viveram numa outra época, e que possivelmente eram da tribo de Dã, e não
da tribo de Levi, à qual pertencia Moisés e seus descendentes, e também não pertenciam à tribo
de Manassés que levava o nome do seu patriarca.
“1 Naqueles dias não havia rei em Israel; a tribo
dos danitas buscava para si herança em que habitar; porque até então não lhe havia caído a
sua herança entre as tribos de Israel.
218
2 E de Zorá e Estaol os filhos de Dã enviaram cinco homens da sua tribo, escolhidos dentre
todo o povo, homens valorosos, para espiar e reconhecer a terra; e lhes disseram: Ide,
reconhecei a terra. E chegaram eles à região montanhosa de Efraim, à casa de Mica, e
passaram ali a noite.
3 Pois, estando eles perto da casa de Mica,
reconheceram a voz do mancebo levita; e, dirigindo-se para lá, lhe perguntaram: Quem te
trouxe para cá? que estás fazendo aqui? e que é isto que tens aqui?
4 E ele lhes respondeu: Assim e assim me tem
feito Mica; ele me assalariou, e eu lhe sirvo de sacerdote.
5 Então lhe disseram: Consulta a Deus, para que
saibamos se será próspero o caminho que seguimos.
6 Ao que lhes disse o sacerdote: Ide em paz;
perante o Senhor está o caminho que seguis.
7 Então foram-se aqueles cinco homens, e chegando a Laís, viram o povo que havia nela,
como vivia em segurança, conforme o costume dos sidônios, quieto e desprecavido; não havia
naquela terra falta de coisa alguma; era um povo rico e, estando longe dos sidônios, não tinha
relações com ninguém.
8 Então voltaram a seus irmãos, em Zorá e Estaol, os quais lhes perguntaram: Que dizeis
vós?
9 Eles responderam: Levantai-vos, e subamos contra eles; porque examinamos a terra, e eis
que é muito boa. E vós estareis aqui tranquilos?
219
Não sejais preguiçosos em entrardes para tomar posse desta terra.
10 Quando lá chegardes, achareis um povo
desprecavido, e a terra é muito espaçosa; pois Deus vos entregou na mão um lugar em que não
há falta de coisa alguma que há na terra.
11 Então seiscentos homens da tribo dos danitas
partiram de Zorá e Estaol, munidos de armas de guerra.
12 E, tendo subido, acamparam-se em Quiriate-
Jearim, em Judá; pelo que esse lugar ficou sendo chamado Maané-Dã, até o dia de hoje; eis que
está ao ocidente de Quiriate-Jearim.
13 Dali passaram à região montanhosa de Efraim, e chegaram à casa de Mica.
14 Então os cinco homens que tinham ido espiar
a terra de Laís disseram a seus irmãos: Sabeis vós que naquelas casas há um éfode, e terafins,
e uma imagem esculpida e uma de fundição? Considerai, pois, agora o que haveis de fazer.
15 Então se dirigiram para lá, e chegaram à casa
do mancebo, o levita, à casa de Mica, e o saudaram.
16 E os seiscentos homens dos danitas, munidos
de suas armas de guerra, ficaram à entrada da porta.
17 Mas subindo os cinco homens que haviam
espiado a terra, entraram ali e tomaram a imagem esculpida, o éfode, os terafins e a
imagem de fundição, ficando o sacerdote em pé à entrada da porta, com os seiscentos homens
armados.
220
18 Quando eles entraram na casa de Mica, e tomaram a imagem esculpida, o éfode, os
terafins e a imagem de fundição, perguntou-lhes o sacerdote: Que estais fazendo?
19 E eles lhe responderam: Cala-te, põe a mão
sobre a boca, e vem conosco, e sê-nos por pai e sacerdote. Que te é melhor? ser sacerdote da
casa dum só homem, ou duma tribo e duma geração em Israel?
20 Então alegrou-se o coração do sacerdote, o
qual tomou o éfode, os terafins e a imagem esculpida, e entrou no meio do povo.
21 E, virando-se, partiram, tendo posto diante de si os pequeninos, o gado e a bagagem.
22 Estando eles já longe da casa de Mica, os
homens que estavam nas casas vizinhas à dele se reuniram, e alcançaram os filhos de Dã.
23 E clamaram após os filhos de Dã, os quais,
virando-se, perguntaram a Mica: Que é que tens, visto que vens com tanta gente?
24 Então ele respondeu: Os meus deuses que eu fiz, vós me tomastes, juntamente com o
sacerdote, e partistes; e agora, que mais me fica? Como, pois, me dizeis: Que é que tens?
25 Mas os filhos de Dã lhe disseram: Não faças
ouvir a tua voz entre nós, para que porventura homens violentos não se lancem sobre vós, e tu
percas a tua vida, e a vida dos da tua casa.
26 Assim seguiram o seu caminho os filhos de Dã; e Mica, vendo que eram mais fortes do que
ele, virou-se e voltou para sua casa.
27 Eles, pois, levaram os objetos que Mica havia
feito, e o sacerdote que estava com ele e,
221
chegando a Laís, a um povo quieto e desprecavido, passaram-no ao fio da espada, e
puseram fogo à cidade.
28 E ninguém houve que o livrasse, porquanto
estava longe de Sidom, e não tinha relações com ninguém; a cidade estava no vale que está junto
a Bete-Reobe. Depois, reedificando-a, habitaram nela,
29 e chamaram-lhe Dã, segundo o nome de Dã,
seu pai, que nascera a Israel; era, porém, dantes o nome desta cidade Laís.
30 Depois os filhos de Dã levantaram para si
aquela imagem esculpida; e Jônatas, filho de Gérsom, o filho de Manassés, ele e seus filhos foram sacerdotes da tribo dos danitas, até o dia
do cativeiro da terra.
31 Assim, pois, estabeleceram para si a imagem esculpida que Mica fizera, por todo o tempo em
que a casa de Deus esteve em Siló.” (Jz 18.1-31).
222
Juízes 19
A narrativa deste capítulo e a dos dois
seguintes, que estão relacionados a ele pertencem também a um período anterior ao
dos Juízes, como se infere do primeiro versículo, que afirma que “aconteceu também naqueles
dias, quando não havia rei em Israel”, isto é, quando não havia um governo central sobre
todas as tribos, e quando cada uma delas tinha autonomia política nos seus respectivos
territórios Fineias, neto de Arão, era o sumo-sacerdote nos
dias do evento aqui narrado (20.28), e daí podemos entender porque houve uma ação em
resposta ao desatino cometido pela tribo de Benjamim e especificamente pelos cidadãos de
Gibeá, que era uma das cidades desta tribo, porquanto apesar de não haver um governo
central com autoridade formal sobre todas as tribos, Fineias, na condição de sumo-sacerdote,
honrava o seu ofício, estando cheio do zelo de Deus, conforme aprendera de seu avô, Arão, e
seu pai, Eleazar.
Um levita de Efraim tinha como concubina uma mulher de Belém de Judá, mas, tendo esta
adulterado, retornou à casa de seu pai em Belém.
Passados quatro meses, o levita resolveu buscá-la, por lhe ter perdoado o pecado de adultério.
Embora coubesse à parte culpada fazer o
primeiro movimento em direção à
223
reconciliação, assim como cabe aos pecadores fazê-lo em relação a Deus quando se
reconciliam com ele, através da conversão, que procede de um sincero arrependimento, este
levita estava cheio de bondade, perdão e graça, e tomou a iniciativa que não caberia a ele, e sim à
mulher.
O esforço do pai da moça em reter o levita por três dias em sua casa, insistindo com ele
continuamente para que ficasse é uma forma de se revelar pelo relato bíblico que o caráter
daquele levita era realmente um caráter aprovado, e era por causa deste caráter uma
pessoa benigna e agradável.
Não podia consentir em ficar em Belém de Judá porque o tabernáculo do Senhor se encontrava
em Siló, em Efraim, e ele intentava retornar para lá para retomar o seu ofício.
Entre o agradável, o confortável e o dever para
com Deus, ele havia aprendido a estabelecer a prioridade correta, e por isso não consentiu em
permanecer em Belém, apesar dos insistentes pedidos do seu sogro.
Tendo partido, ele se recusou a se hospedar na
cidade de Jebus, porque apesar de se encontrar dentro dos limites dos territórios de Israel,
ainda se encontrava na posse dos jebuseus, que não haviam sido expulsos pelos benjamitas.
Então ele se dirigiu para Gibeá, onde não
encontrando hospedagem, ficou na praça da cidade, onde, por toda a bondade hospitaleira
de um cidadão de Efraim, que habitava em
224
Gibeá, foi convidado a passar a noite em sua casa.
Para atender ao mandado de Deus de não se
misturarem os israelitas com os habitantes de Canaã, aquele homem e sua mulher acabariam
por achar o mal entre os seus próprios irmãos, porque apesar de Gibeá ser uma cidade da tribo
de Benjamim, que era uma das tribos de Israel, os seus habitantes não temiam ao Senhor, como
o levita da nossa história.
Tal como os habitantes de Sodoma, que
intentavam abusar dos anjos que Ló havia hospedado em sua casa, julgando que fossem
meros homens, os ímpios daquela cidade que são designados por homens de Belial, também
se dirigiram para a casa daquele ancião de Efraim, que residia em Gibeá, com o intuito de
abusarem do levita que estava hospedado em sua casa.
Estes homens de Belial, apesar de fazerem parte do povo de Israel, haviam se transformado em filhos do diabo, e viviam para lhe atender aos
desígnios, e como sabiam que aquele levita se dirigia à casa do Senhor em Siló, intentaram
abusando dele, por inspiração do diabo, trazer na verdade não somente e propriamente
desonra contra ele, mas contra o ofício sagrado do qual ele estava investido por Deus.
Era mais um ataque às coisas do Senhor, como sempre faz o diabo, do que propriamente a um
simples homem.
Eles queriam atacar o que ele representava, e
tem sido sempre assim ao longo da história na
225
luta que há entre os filhos da serpente e a descendência da mulher, entre os filhos do
diabo e os filhos de Deus.
Aparentemente, foi o diabo que triunfou na
situação, porque a mulher daquele levita foi horrivelmente abusada por eles, e veio a falecer,
mas isto deu ocasião a uma tal compulsão nas demais tribos de Israel e aversão ao pecado
daqueles homens, que a tribo de Benjamim foi quase dizimada totalmente pelos demais
israelitas, tendo assim, o Senhor julgado não apenas o pecado daqueles homens, como
também a negligência e complacência de Benjamim, na sua indiferença em concordar que deveriam ser submetidos a juízo.
Quando o levita esquartejou o corpo de sua
mulher morta, e enviou um pedaço do corpo para cada uma das tribos de Israel, isto deu
ocasião a uma assembleia em que quatrocentos mil homens foram reunidos para dar o devido tratamento que o caso requeria, e isto nós
veremos em detalhes no capítulo a seguir.
“1 Aconteceu também naqueles dias, quando
não havia rei em Israel, que certo levita, habitante das partes remotas da região
montanhosa de Efraim, tomou para si uma concubina, de Belém de Judá.
2 Ora, a sua concubina adulterou contra ele e, deixando-o, foi para casa de seu pai em Belém de
Judá, e ali ficou uns quatro meses.
3 seu marido, levantando-se, foi atrás dela para
lhe falar bondosamente, a fim de tornar a trazê-
226
la; e levava consigo o seu moço e um par de jumentos. Ela o levou à casa de seu pai, o qual,
vendo-o, saiu alegremente a encontrar-se com ele.
4 E seu sogro, o pai da moça, o deteve consigo três dias; assim comeram e beberam, e se
alojaram ali.
5 Ao quarto dia madrugaram, e ele se levantou
para partir. Então o pai da moça disse a seu genro: Fortalece-te com um bocado de pão, e
depois partireis:
6 Sentando-se, pois, ambos juntos, comeram e
beberam; e disse o pai da moça ao homem: Peço-te que fiques ainda esta noite aqui, e alegre-se o
teu coração.
7 O homem, porém, levantou-se para partir;
mas, como seu sogro insistisse, tornou a passar a noite ali.
8 Também ao quinto dia madrugaram para
partir; e disse o pai da moça: Ora, conforta o teu coração, e detém-te até o declinar do dia. E ambos juntos comeram.
9 Então o homem se levantou para partir, ele, a
sua concubina, e o seu moço; e disse-lhe seu sogro, o pai da moça: Eis que já o dia declina para
a tarde; peço-te que aqui passes a noite. O dia já vai acabando; passa aqui a noite, e alegre-se o
teu coração: Amanhã de madrugada levanta-te para encetares viagem, e irás para a tua tenda.
10 Entretanto, o homem não quis passar a noite ali, mas, levantando-se, partiu e chegou à altura
de Jebus (que é Jerusalém), e com ele o par de
227
jumentos albardados, como também a sua concubina.
11 Quando estavam perto de Jebus, já o dia tinha declinado muito; e disse o moço a seu senhor:
Vem, peço-te, retiremo-nos a esta cidade dos jebuseus, e passemos nela a noite.
12 Respondeu-lhe, porém, o seu senhor: Não nos retiraremos a nenhuma cidade estrangeira, que
não seja dos filhos de Israel, mas passaremos até Gibeá.
13 Disse mais a seu moço: Vem, cheguemos a um destes lugares, Gibeá ou Ramá, e passemos ali a
noite.
14 Passaram, pois, continuando o seu caminho;
e o sol se pôs quando estavam perto de Gibeá, que pertence a Benjamim.
15 Pelo que se dirigiram para lá, a fim de passarem ali a noite; e o levita, entrando,
sentou-se na praça da cidade, porque não houve quem os recolhesse em casa para ali passarem a
noite.
16 Eis que ao anoitecer vinha do seu trabalho no
campo um ancião; era ele da região montanhosa de Efraim, mas habitava em Gibeá; os homens
deste lugar, porém, eram benjamitas.
17 Levantando ele os olhos, viu na praça da
cidade o viajante, e perguntou-lhe: Para onde vais, e donde vens?
18 Respondeu-lhe ele: Estamos de viagem de Belém de Judá para as partes remotas da região
montanhosa de Efraim, donde sou. Fui a Belém de Judá, porém agora vou à casa do Senhor; e
ninguém há que me recolha em casa.
228
19 Todavia temos palha e forragem para os nossos jumentos; também há pão e vinho para
mim, para a tua serva, e para o moço que vem com os teus servos; de coisa nenhuma há falta.
20 Disse-lhe o ancião: Paz seja contigo; tudo
quanto te faltar fique ao meu cargo; tão-somente não passes a noite na praça.
21 Assim o fez entrar em sua casa, e deu ração aos jumentos; e, depois de lavarem os pés,
comeram e beberam.
22 Enquanto eles alegravam o seu coração, eis que os homens daquela cidade, filhos de Belial,
cercaram a casa, bateram à porta, e disseram ao ancião, dono da casa: Traze cá para fora o
homem que entrou em tua casa, para que o conheçamos.
23 O dono da casa saiu a ter com eles, e disse-
lhes: Não, irmãos meus, não façais semelhante mal; já que este homem entrou em minha casa,
não façais essa loucura.
24 Aqui estão a minha filha virgem e a concubina do homem; fá-las-ei sair; humilhai-as
a elas, e fazei delas o que parecer bem aos vossos olhos; porém a este homem não façais tal
loucura.
25 Mas esses homens não o quiseram ouvir; então aquele homem pegou da sua concubina, e
lha tirou para fora. Eles a conheceram e abusaram dela a noite toda até pela manhã; e ao
subir da alva deixaram-na:
26 Ao romper do dia veio a mulher e caiu à porta da casa do homem, onde estava seu senhor, e
ficou ali até que se fez claro.
229
27 Levantando-se pela manhã seu senhor, abriu as portas da casa, e ia sair para seguir o seu
caminho; e eis que a mulher, sua concubina, jazia à porta da casa, com as mãos sobre o limiar.
28 Ele lhe disse: Levanta-te, e vamo-nos; porém ela não respondeu. Então a pôs sobre o jumento
e, partindo dali, foi para o seu lugar.
29 Quando chegou em casa, tomou um cutelo e,
pegando na sua concubina, a dividiu, membro por membro, em doze pedaços, que ele enviou
por todo o território de Israel.
30 E sucedeu que cada um que via aquilo dizia: Nunca tal coisa se fez, nem se viu, desde o dia em
que os filhos de Israel subiram da terra do Egito até o dia de hoje; ponderai isto, consultai, e dai o
vosso parecer.” (Jz 19.1-30).
230
Juízes 20
Milhares de vidas foram perdidas na guerra
das tribos de Israel contra a tribo de Benjamim, tanto de um lado quanto de outro, e isto por
causa da morte de uma só pessoa, a concubina do levita que havia sido abusada pelos homens
de Belial, de Gibeá.
No entanto, o que estava em foco não era a troca de uma única vida por milhares, mas o
estabelecimento de um princípio em Israel de que as ações abomináveis dos israelitas não
deveriam passar em branco, ainda que para isso fosse necessário declarar a guerra, de modo a
que se aprendesse a temer a prática das mesmas abominações que haviam trazido o juízo de Deus
sobre as nações de Canaã, e no passado sobre as cidades de Sodoma e Gomorra.
As tribos se reuniram em conselho em Mizpá, que ficava próxima a Siló, e talvez o motivo da
sua escolha se deveu a ser uma cidade maior que Siló, com possibilidade de acolher toda
aquela gente.
Depois de terem ouvido o relato feito pelo levita sobre o fato sucedido com sua concubina, eles
decidiram se dirigir a Gibeá, tendo pedido à tribo de Benjamim que lhes entregasse nas
mãos os homens de Gibeá que haviam praticado aquela maldade para que fossem mortos, mas os
benjamitas não somente não consentiram com isto, como se colocaram em ordem de batalha
contra os demais israelitas, dirigindo-se de suas
231
cidades para Gibeá, com o intuito de protegê-la e foram enviados vinte e seis mil homens que
usavam a espada, que se juntaram a setecentos guerreiros de Gibeá, e havia dentre todos estes
homens setecentos especialistas no uso da funda, que arremessavam com extrema
precisão.
Benjamim havia se endurecido pelo orgulho racial, e muitas vezes em nome da defesa de
nossas instituições sacrificamos a honra, a verdade e a justiça.
Colocamo-nos acima do bem e do mal.
Não aceitamos ser confrontados para que
corrijamos o nosso caminhar.
Quão perigoso é isto. Quando em nome da
manutenção do nosso status, os homens se conluiam na defesa do erro para não admitirem
que estão errados, e assim a causa da verdade e da justiça sofre, e deixamos de ser abençoados por Deus, tal como a tribo de Benjamim, que no
seu endurecimento, por conta do seu orgulho obstinado, foi entregue nas mãos de seus irmãos
para ser destruída.
Tentar encobrir as nossas faltas para que
mantenhamos a nossa reputação a todo o custo, lançando uma cortina de fumaça sobre os
nossos pecados, há de tornar a nossa posição ainda mais grave aos olhos de Deus.
Benjamim não queria admitir o erro dos
homens de Gibeá porque afinal eram benjamitas, e o pior de tudo, levantaram-se em
sua defesa, quando deveriam castigá-los.
232
De igual modo, quando qualquer Igreja não tem a humildade e sinceridade de punir os erros
graves de seus membros, pelo desejo de não se admitir que não haja falhas em seu meio, de
modo a não se expor e ficar sujeita a uma possível crítica tanto por parte dos que são de
dentro, quanto dos que são de fora, no final isto não terminará bem, porque a justiça de Deus se levanta contra tal estado de coisas.
Assim como ele se colocou em ordem de batalha
contra o orgulho nacional de Benjamim, de igual modo se colocará em ordem de batalha
contra tais igrejas, se não contemplar nelas um sincero arrependimento e procedimento
segundo a reta justiça revelada na sua Palavra.
Tal era o orgulho dos benjamitas que eles não
aceitaram fazer uma negociação de paz com as demais tribos entregando-lhes os faltosos, ao
contrário, eles ousaram guerrear com um exército de 26.700 homens, contra um exército
de 400.000, e o fato de terem vencido as primeiras batalhas só serviu para aumentar a
fúria das forças que se reuniram contra eles, e para também aumentar a própria cegueira e
endurecimento dos benjamitas, de modo que as ações de guerra se estenderiam também à
população civil daquela tribo, e ao final restaram somente 600 homens de Benjamim,
que se refugiaram no deserto por quatro meses, de onde, pela misericórdia de Deus que
alcançou os israelitas, retornariam para constituírem novas famílias com quatrocentas
mulheres de uma das cidades de Israel que
233
havia se recusado subir à batalha, Jabes-Gileade (21.12), e como os israelitas haviam feito um voto
de não darem aos filhos de Benjamim nenhuma de suas filhas por esposa, sob pena de
anátema, para todo aquele que o fizesse, eles subiram contra Jabes-Gileade e mataram aos
homens daquela cidade, conforme haviam dito que seria feito a todo que não subisse a guerrear contra Benjamim, quando se reuniram em
Mispá, e tendo encontrado quatrocentas moças virgens na cidade deram-nas em casamento a
400 dos 600 benjamitas que haviam sobrevivido à guerra.
O modo como os 200 que haviam sobrado foram providos de esposas será visto no comentário do capítulo seguinte.
Deve ser destacado que apesar de terem tido a aprovação de Deus para a batalha contra
Benjamim, os israelitas devem ter colocado a confiança deles na força do próprio braço.
Havia um juízo de morte determinado sobre os
benjamitas, mas isto deveria ser feito com total confiança no braço poderoso e justo do Senhor
e não na superioridade numérica do exército de 400.000 homens contra 26.700.
Isto fez com que nas duas primeiras batalhas as
forças coligadas de Israel perdessem 40.000 homens, isto é, a décima parte do seu exército.
E eles choraram por este motivo, e consultaram
ao Senhor, se ainda deveriam continuar a luta contra Benjamim, porque os fatos estavam
sendo contrários a eles.
234
Deus confirmou a sua vontade, e diante da humildade demonstrada agora por eles, lhes
prometeu entregar a Benjamim nas suas mãos no dia seguinte (v. 28).
E se diz no verso 35 que o Senhor mesmo derrotou Benjamim.
Que isto sirva de exemplo às Igrejas quando crescem e são confirmadas na fé!
Que permaneçam em humildade diante do Senhor para que possam prevalecer na luta
contra o Inimigo.
Nunca devemos confiar em nossas estratégias,
dons, finanças, edifícios, e número de membros cada vez maior, senão somente no Senhor e na
sua graça para conosco.
Os israelitas estavam confiando tão somente na justiça da sua causa mas esta não prevaleceria
por si só, e do mesmo modo ocorre conosco, não será pelo fato de estarmos com a razão e o
direito do nosso lado que ele prevalecerá por si mesmo, senão pela nossa confiança no Senhor, que defende as nossas causas como nosso Juiz,
quando as entregamos em suas mãos, confiando somente nele, e em nada mais,
porque o diabo pode se levantar e perverter a decisão do Juiz ou do tribunal mais digno que
exista sobre a face da terra. Mas confiando no Senhor, as ações do Inimigo serão
neutralizadas, seja onde for.
“1 Então saíram todos os filhos de Israel, desde
Dã até Berseba, e desde a terra de Gileade, e a
235
congregação, como se fora um só homem, se ajuntou diante do Senhor em Mizpá.
2 Os homens principais de todo o povo, de todas
as tribos de Israel, apresentaram-se na assembleia do povo de Deus; eram quatrocentos
mil homens de infantaria que arrancavam da espada.
3 (Ora, ouviram os filhos de Benjamim que os
filhos de Israel haviam subido a Mizpá). E disseram os filhos de Israel: Dizei-nos, de que
modo se cometeu essa maldade?
4 Então respondeu o levita, marido da mulher
que fora morta, e disse: Cheguei com a minha concubina a Gibeá, que pertence a Benjamim,
para ali passar a noite;
5 e os cidadãos de Gibeá se levantaram contra mim, e cercaram e noite a casa em que eu
estava; a mim intentaram matar, e violaram a minha concubina, de maneira que morreu.
6 Então peguei na minha concubina, dividi-a em
pedaços e os enviei por todo o país da herança de Israel, porquanto cometeram tal abominação e
loucura em Israel:
7 Eis aqui estais todos vós, ó filhos de Israel; dai
a vossa palavra e conselho neste caso.
8 Então todo o povo se levantou como um só homem, dizendo: Nenhum de nós irá à sua
tenda, e nenhum de nós voltará a sua casa.
9 Mas isto é o que faremos a Gibeá: subiremos contra ela por sorte;
10 tomaremos, de todas as tribos de Israel, dez homens de cada cem, cem de cada mil, e mil
de cada dez mil, para trazerem
236
mantimento para o povo, a fim de que, vindo ele a Gibeá de Benjamim, lhe faça conforme toda a
loucura que ela fez em Israel.
11 Assim se ajuntaram contra essa cidade todos
os homens de Israel, unidos como um só homem.
12 Então as tribos de Israel enviaram homens por toda a tribo de Benjamim, para lhe dizerem:
Que maldade é essa que se fez entre vós?
13 Entregai-nos, pois, agora aqueles homens,
filhos de Belial, que estão em Gibeá, para que os matemos, e extirpemos de Israel este mal. Mas
os filhos de Benjamim não quiseram dar ouvidos à voz de seus irmãos, os filhos de Israel;
14 pelo contrário, das suas cidades se ajuntaram em Gibeá, para saírem a pelejar contra os filhos
de Israel:
15 Ora, contaram-se naquele dia dos filhos de
Benjamim, vindos das suas cidades, vinte e seis mil homens que arrancavam da espada, afora os
moradores de Gibeá, de que se contaram setecentos homens escolhidos.
16 Entre todo esse povo havia setecentos homens escolhidos, canhotos, cada um dos
quais podia, com a funda, atirar uma pedra a um fio de cabelo, sem errar.
17 Contaram-se também dos homens de Israel, afora os de Benjamim, quatrocentos mil
homens que arrancavam da espada, e todos eles homens de guerra.
18 Então, levantando-se os filhos de Israel, subiram a Betel, e consultaram a Deus,
perguntando: Quem dentre nós subirá primeiro
237
a pelejar contra Benjamim ? Respondeu o Senhor: Judá subirá primeiro.
19 Levantaram-se, pois, os filhos de Israel pela
manhã, e acamparam contra Gibeá.
20 E os homens de Israel saíram a pelejar contra os benjamitas, e ordenaram a batalha contra
eles ao pé de Gibeá.
21 Então os filhos de Benjamim saíram de Gibeá,
e derrubaram por terra naquele dia vinte e dois mil homens de Israel.
22 Mas esforçou-se o povo, isto é, os homens de
Israel, e tornaram a ordenar a batalha no lugar onde no primeiro dia a tinham ordenado.
23 E subiram os filhos de Israel, e choraram perante o Senhor até a tarde, e perguntaram-lhe: Tornaremos a pelejar contra os filhos de
Benjamim, nosso irmão? E disse o Senhor: Subi contra eles.
24 Avançaram, pois, os filhos de Israel contra os filhos de Benjamim, no dia seguinte.
25 Também os de Benjamim, nesse mesmo dia,
saíram de Gibeá ao seu encontro e derrubaram por terra mais dezoito mil homens, sendo todos
estes dos que arrancavam da espada.
26 Então todos os filhos de Israel, o exército
todo, subiram e, vindo a Betel, choraram; estiveram ali sentados perante o Senhor, e jejuaram aquele dia até a tarde; e ofereceram
holocaustos e ofertas pacíficas perante ao Senhor.
27 Consultaram, pois, os filhos de Israel ao Senhor (porquanto a arca do pacto de Deus
estava ali naqueles dias;
238
28 e Fineias, filho de Eleazar, filho de Arão, lhe assistia), e perguntaram: Tornaremos ainda a
sair à pelejar contra os filhos de Benjamim, nosso irmão, ou desistiremos? Respondeu o
Senhor: Subi, porque amanhã vo-los entregarei nas mãos.
29 Então Israel pôs emboscadas ao redor de Gibeá.
30 E ao terceiro dia subiram os filhos de Israel
contra os filhos de Benjamim e, como das outras vezes, ordenaram a batalha junto a Gibeá.
31 Então os filhos de Benjamim saíram ao
encontro do povo, e foram atraídos da cidade. e começaram a ferir o povo como das outras
vezes, matando uns trinta homens de Israel, pelas estradas, uma das quais sobe para Betel, e
a outra para Gibeá pelo campo.
32 Pelo que disseram os filhos de Benjamim: Vão sendo derrotados diante de nós como dantes.
Mas os filhos de Israel disseram: Fujamos, e atraiamo-los da cidade para os caminhos.
33 Então todos os homens de Israel se
levantaram do seu lugar, e ordenaram a batalha em Baal-Tamar; e a emboscada de Israel
irrompeu do seu lugar, a oeste de Geba.
34 Vieram contra Gibeá dez mil homens escolhidos de todo o Israel, e a batalha tornou-
se renhida; porém os de Gibeá não sabiam que o mal lhes sobrevinha.
35 Então o Senhor derrotou a Benjamim diante
dos filhos de Israel, que destruíram naquele dia vinte e cinco mil e cem homens de Benjamim,
todos estes dos que arrancavam da espada.
239
36 Assim os filhos de Benjamim viram que estavam derrotados; pois os homens de Israel
haviam cedido terreno aos benjamitas, porquanto estavam confiados na emboscada
que haviam posto contra Gibeá;
37 e a emboscada, apressando-se, acometeu a
Gibeá, e prosseguiu contra ela, ferindo ao fio da espada toda a cidade:
38 Ora, os homens de Israel tinham determinado com a emboscada um sinal, que
era fazer levantar da cidade uma grande nuvem de fumaça.
39 Viraram-se, pois, os homens de Israel na peleja; e já Benjamim começara a atacar es
homens de Israel, havendo morto uns trinta deles; pelo que diziam: Certamente vão sendo
derrotados diante de nós, como na primeira batalha.
40 Mas quando o sinal começou a levantar-se da cidade, numa coluna de fumaça, os benjamitas
olharam para trás de si, e eis que toda a cidade subia em fumaça ao céu.
41 Nisso os homens de Israel se viraram contra os de Benjamim, os quais pasmaram, pois viram
que o mal lhes sobreviera.
42 Portanto, virando as costas diante dos homens de Israel, fugiram para o caminho do
deserto; porém a peleja os apertou; e os que saíam das cidades os destruíam no meio deles.
43 Cercaram os benjamitas e os perseguiram, pisando-os desde Noá até a altura de Gibeá para
o nascente do sol.
240
44 Assim caíram de Benjamim dezoito mil homens, sendo todos estes homens valorosos.
45 Então os restantes, virando as costas fugiram para o deserto, até a penha de Rimom; mas os
filhos de Israel colheram deles pelos caminhos ainda cinco mil homens; e, seguindo-os de perto
até Gidom, mataram deles mais dois mil.
46 E, todos, os de Benjamim que caíram naquele dia foram vinte e cinco mil homens que
arrancavam da espada, todos eles homens valorosos.
47 Mas seiscentos homens viraram as costas e,
fugindo para o deserto, para a penha de Rimom, ficaram ali quatro meses.
48 E os homens de Israel voltaram para os filhos de Benjamim, e os passaram ao fio da espada,
tanto os homens da cidade como os animais, tudo quanto encontraram; e a todas as cidades
que acharam puseram fogo.” (Jz 20.1-48).
241
Juízes 21
Como já citamos no comentário do capítulo
anterior, foi sob pena de anátema que os israelitas afirmaram que não dariam nenhuma
de suas filhas por esposas aos benjamitas. Mas, se isto não fosse feito eles teriam que casar com
mulheres estrangeiras contrariando o mandamento de Deus, ou então, em não
casando, aquela tribo acabaria sendo extinta com o passar do tempo.
Então foi necessário buscar uma solução para se conseguir esposas para aqueles seiscentos
homens de Benjamim que haviam restado de todos os habitantes daquela tribo.
O zelo excessivo dos israelitas na execução da justiça fez com que houvesse um exagero nas suas ações, que eles tentariam agora pelo
menos reparar.
Isto nos ensina que até mesmo toda justiça que
for necessária deve ser executada com compaixão e equilíbrio, de modo que não
venhamos a nos lamentar depois das consequências das nossas ações corretivas e
punitivas.
Não é bom ser parcial no juízo, nem
complacente e fraco, mas também não convém que sejamos duros, inflexíveis e irrazoáveis.
Sempre devemos buscar um equilíbrio entre justiça e misericórdia para que o juízo seja o
mais sábio possível.
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Deixar de castigar o erro não é bom, mas é pior ainda castigar além da medida necessária,
porque esta não trará bons resultados ao castigo aplicado.
Assim, depois de tudo o que fizeram, os israelitas se reuniram em Betel, onde se
encontrava a arca de Deus naqueles dias, e se mostraram arrependidos de terem ido longe
demais, ao quase exterminarem toda a tribo de Benjamim, conforme lemos nos versos 2 e 3:
“Veio, pois, o povo a Betel, e ali ficou sentado até a tarde, diante de Deus; e todos, levantando a
voz, fizeram grande pranto, e disseram: Ah! Senhor Deus de Israel, por que sucedeu isto, que falte uma tribo em Israel?”.
Benjamim era especialmente querido a Jacó,
porque era seu caçula, e o filho que tivera com Raquel, sendo irmão de José.
Quando nasceu sua mãe veio a falecer no parto, e antes disso queria lhe dar o nome de Benoni,
que significa filho da minha tristeza, mas Jacó mudou-lhe o nome para Benjamim que significa
filho do meu braço direito.
E a perda total daquela tribo seria uma causa de
grande tristeza na memória de todo israelita dali para a frente, e uma causa de grande lamento
entre eles.
Por isso eles se compadeceram daqueles 600
homens de Benjamim, que haviam fugido para o deserto, e manifestaram o seu perdão em
relação a eles.
A perda de crentes na Igreja, por motivo de
pecado que leve à sua exclusão, deve por isso ser
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seguida de um profundo perdão e conforto deles quando se mostram arrependidos, porque
afinal é uma parte do corpo do Senhor que permanece mutilada enquanto se encontram
afastados, e assim deve ser causa de grande alegria a sua reconciliação (II Cor 2.7).
Nos versos 16 a 25 deste capítulo é descrito o modo pelo qual os duzentos benjamitas
restantes daqueles 600, seriam providos de esposas.
Isto seria feito provavelmente na festa anual dos
tabernáculos (v. 19), porque era somente nesta festa que era permitido que as virgens israelitas dançassem, nem tanto para a sua própria
diversão, senão para expressarem a sua alegria santa, como exigido pela lei, que todo Israel se
alegrasse nos dias daquela festa perante o Senhor.
Como haviam jurado que não dariam de suas
filhas aos benjamitas, disseram àqueles duzentos que as tomassem então quando
estivessem dançando na festa em Siló, e as levassem para sua terra, e que lá contraíssem
matrimônio com elas.
Assim aquela tribo foi restaurada, e nós temos
Eúde, o segundo juiz de Israel, que proveio daquela tribo (Jz 3.15), revelando-se assim que
pelo sofrimento, haviam abandonado o caminho da maldade para andarem pelas
veredas da justiça.
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“1 Ora, os homens de Israel tinham jurado em Mizpá dizendo: Nenhum de nós dará sua filha
por mulher aos benjamitas.
2 Veio, pois, o povo a Betel, e ali ficou sentado até a tarde, diante de Deus; e todos, levantando a
voz, fizeram grande pranto,
3 e disseram: Ah! Senhor Deus de Israel, por que sucedeu isto, que falte uma tribo em Israel?
4 No dia seguinte o povo levantou-se de manhã cedo, edificou ali um altar e ofereceu
holocaustos e ofertas pacíficas.
5 E disseram os filhos de Israel: Quem dentre todas as tribos de Israel não subiu à assembleia
diante do Senhor? Porque se tinha feito um juramento solene acerca daquele que não
subisse ao Senhor em Mizpá, dizendo: Certamente será morto.
6 E os filhos de Israel tiveram pena de
Benjamim, seu irmão, e disseram: Hoje é cortada de Israel uma tribo.
7 Como havemos de conseguir mulheres para os que restam deles, desde que juramos pelo
Senhor que nenhuma de nossas filhas lhes daríamos por mulher?
8 Então disseram: Quem é que dentre as tribos
de Israel não subiu ao Senhor em Mizpá? E eis que ninguém de Jabes-Gileade viera ao arraial, à
assembleia.
9 Porquanto, ao contar-se o povo, nenhum dos habitantes de Jabes-Gileade estava ali.
10 Pelo que a congregação enviou para lá doze mil homens dos mais valorosos e lhes ordenou,
dizendo: Ide, e passai ao fio da espada os
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habitantes de Jabes-Gileade, juntamente com as mulheres e os pequeninos.
11 Mas isto é o que haveis de fazer: A todo homem e a toda mulher que tiver conhecido
homem, totalmente destruireis.
12 E acharam entre os moradores de Jabes-Gileade quatrocentas moças virgens, que não
tinham conhecido homem, e as trouxeram ao arraial em Siló, que está na terra de Canaã.
13 Toda a congregação enviou mensageiros aos
filhos de Benjamim, que estavam na penha de Rimom, e lhes proclamou a paz.
14 Então voltaram os benjamitas, e os de Israel
lhes deram as mulheres que haviam guardado com vida, das mulheres de Jabes-Gileade;
porém estas ainda não lhes bastaram.
15 E o povo teve pena de Benjamim, porquanto o Senhor tinha aberto uma brecha nas tribos de
Israel.
16 Disseram, pois os anciãos da congregação:
Como havemos de conseguir mulheres para os que restam, pois que foram destruídas as
mulheres de Benjamim?
17 Disseram mais: Deve haver uma herança para os que restam de Benjamim, para que uma tribo
não seja apagada de Israel.
18 Contudo nós não lhes poderemos dar mulheres dentre nossas filhas. Pois os filhos de
Israel tinham jurado, dizendo: Maldito aquele que der mulher aos benjamitas.
19 Disseram então: Eis que de ano em ano se
realiza a festa do Senhor em Siló que está ao
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norte de Betel, a leste do caminho que sobe de Betel a Siquém, e ao sul de Lebona.
20 Ordenaram, pois, aos filhos de Benjamim,
dizendo: Ide, ponde-vos de emboscada nas vinhas,
21 e vigiai; ao saírem as filhas de Siló a dançar nos coros, saí vós das vinhas, arrebatai cada um
sua mulher, das filhas de Siló, e ide-vos para a terra de Benjamim.
22 Então quando seus pais e seus irmãos vierem
queixar-se a nós, nós lhes diremos: Dignai-vos de no-las conceder; pois nesta guerra não
tomamos mulheres para cada um deles, nem vós lhas destes; de outro modo seríeis agora
culpados.
23 Assim fizeram os filhos de Benjamim; e
conforme o seu número tomaram para si mulheres, arrebatando-as dentre as que
dançavam; e, retirando-se, voltaram à sua herança, reedificaram as cidades e habitaram
nelas.
24 Nesse mesmo tempo os filhos de Israel partiram dali, cada um para a sua tribo e para a
sua família; assim voltaram cada um para a sua herança.
25 Naqueles dias não havia rei em Israel; cada um fazia o que parecia bem aos seus olhos.” (Jz
21.1-25).