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Impresso 99129-5/2002-DR/SC UFSC CORREIOS Trote pela vida Jornal Universitário Universidade Federal de Santa Catarina - Setembro de 2009 - Nº 404 Crescer Direito p. 9 Cidadania Interiorização sem volta p. 5 Campi Formação do Oeste de SC p. 11 Livro Macroalgas e maricultura p. 8 Pesquisa Museu Universitário Oswaldo Rodrigues Cabral ainda não reúne condições de abrigar exposições Instituto na UFSC p. 10 Amazônia A UFSC se aliou às autoridades sanitárias no combate e prevenção da pandemia da gripe A. A Administração da UFSC e a direção do HU não en- xergam motivos para pânico. A possível trégua com a chegada do calor, no entanto, não pode servir de desculpa para negligenciar a vigilância num país O museu que saiu do museu Apesar de referência nacional e internacio- nal, o Museu Universitário, instalado na UFSC desde 1968, está impossibilitado de realizar exposições e exibir seu rico acervo por conta do atraso de mais de quatro anos nas obras de construção do pavilhão projetado para esse salto de qualidade. A busca por recursos é permanente e está mobilizando a atual Administração da Universi- dade. Quando estiver pronta, a nova estrutura eliminará os problemas do antigo centro de exposições, afetado pela umidade, pragas e oscilações de temperatura e luminosidade. Gripe - Manual de sobrevivência que, hoje, é campeão absoluto em mortes pela nova gripe no mundo. Mas a Cruz Vermelha tem razão ao pedir sangue frio aos governos e ao povo. O JU, preocupado com a comunidade universitária, produziu um ABC da gripe. Foto: Lucas Sampaio p. 6 e 7 O trote solidário “Doe sangue, doe vida”, realizado há 13 anos na UFSC, sensibilizou a comunidade universitária e acabou emocionando e transformando a própria repórter em doadora p. 2, 3 e 4 Foto: Lucas Sampaio p. 12

Jornal Universitario UFSC n404 092009

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Page 1: Jornal Universitario UFSC n404 092009

Impresso99129-5/2002-DR/SC

UFSC

CORREIOS

Trote pela vida

Jornal

UniversitárioUniversidade Federal de Santa Catarina - Setembro de 2009 - Nº 404

Crescer Direitop. 9

Cidadania

Interiorização sem voltap. 5

Campi

Formação do Oeste de SCp. 11

Livro

Macroalgas emariculturap. 8

Pesquisa

Museu Universitário Oswaldo Rodrigues Cabral ainda não reúne condições de abrigar exposições

Instituto na UFSCp. 10

Amazônia

A UFSC se aliou às autoridades sanitárias no combate e prevenção da pandemia da gripe A. A Administração da UFSC e a direção do HU não en-xergam motivos para pânico. A possível trégua com a chegada do calor, no entanto, não pode servir de desculpa para negligenciar a vigilância num país

O museu que saiu do museuApesar de referência nacional e internacio-

nal, o Museu Universitário, instalado na UFSC desde 1968, está impossibilitado de realizar exposições e exibir seu rico acervo por conta do atraso de mais de quatro anos nas obras de construção do pavilhão projetado para esse salto de qualidade.

A busca por recursos é permanente e está mobilizando a atual Administração da Universi-dade. Quando estiver pronta, a nova estrutura eliminará os problemas do antigo centro de exposições, afetado pela umidade, pragas e oscilações de temperatura e luminosidade.

Gripe - Manual de sobrevivênciaque, hoje, é campeão absoluto em mortes pela nova gripe no mundo. Mas a Cruz Vermelha tem razão ao pedir sangue frio aos governos e ao povo. O JU, preocupado com a comunidade universitária, produziu um ABC da gripe.

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p. 6 e 7

O trote solidário “Doe sangue, doe vida”, realizado há 13 anos na UFSC, sensibilizou a comunidade universitária e acabou emocionando e transformando a própria repórter em doadora

p. 2, 3 e 4

Foto: Lucas Sampaio

p. 12

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UFSC - Jornal Universitário - Nº 404 - Setembro de 2009 - PÁG 2

Memória

Do Editor

Expediente

Caiu na cestaMoacir Loth

A comunicação cuida da saúde da instituição

Elaborado pela Agecom - Agência de Comunicação da UFSCCampus Universitário - Trindade - Caixa Postal 476CEP 88040-970, Florianópolis - SC www.agecom.ufsc.br, [email protected] Fones: (48) 3721-9233 e 3721-9323. Fax: 3721-9684

Diretor e Editor Responsável:Moacir Loth - SC 00397 JPCoord. de Divulgação e Marketing/ Redação:Artemio R. de Souza (Jornalista) Alita Diana (Jornalista)Arley Reis (Jornalista) Celita Campos (Jornalista)Erich Casagrande (Bolsista)Fernanda Burigo (Bolsista)José A. de Souza (Jornalista)Mara Paiva (Jornalista)Margareth Rossi (Jornalista)Maria Luiza de Oliveira Gil (Bolsista)Natália Izidoro (Bolsista)Paulo Clóvis Schmitz (Jornalista)Paulo Fernando LiedtkeTiago de Carvalho Pereira (Bolsista)Tifany Ródio (Bolsista)Fotografia: Carolina Dantas (Bolsista)Lucas Sampaio (Bolsista)Paulo NoronhaArquivo FotográficoLedair PetryTania Regina de SouzaEditoração e Projeto Gráfico: Jorge Luiz Wagner BehrCláudia Schaun Reis (Jornalista) Divisão de Gestão e Expediente: João Pedro Tavares Filho (Coord.)Beatriz S. Prado (Expediente)Rogéria D´El Rei S. S. MartinsRomilda de Assis (Apoio) Impressão: Diário Catarinense

A revolução dos bichos

Foto

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ação

O ex-deputado federal Eugênio Doin Vieira morreu em São Paulo, aos 82 anos, vítima de complicações pulmonares. Cassado pelo regime mili-tar, o ex-professor foi anistiado e reintegrado aos quadros da UFSC. Funcionário de Carreira do Banco do Brasil, Eugênio foi secretário de Estado no governo Celso Ramos. Em São Paulo, atuava como advogado tributarista, experiência que o levou a presidir a Previdência Social. Nasceu em São Franscisco do Sul e se criou em Florianópolis. Um dos fundadores do antigo MDB, é pai do ex-governador Paulo Afonso Vieira.

Teste de resistência. Quem autoriza a promoção de eventos de estudantes na frente do RU está desa-fiado a permanecer dez minutos na Agecom, tentando se concentrar no trabalho. Barulho nos ouvidos dos outros é música clássica!

“Os governos devem manter o sangue frio e o mesmo vale para o público” (Marc Gentillini, infectologista e ex-presidente da Cruz Vermelha da França sobre a Gripe Suína)

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), tomando precauções políticas, sanitárias, científicas e técnicas, superou, aparentemente, com êxito o estágio mais agudo da primeira fase da pandemia da gripe A. Atuando em sintonia com a Vigilância Epidemiológica do Estado, a Administração Central apelou à ética e ao bom senso: seguiu orientações e medidas capazes de barrar a propagação da doença em grande escala no campus.

Dessa forma, por exemplo, manteve, sem ignorar os riscos implícitos e diretos, as aulas, as formaturas e as atividades normais da Instituição. A Reitoria manifesta, contudo, clareza sobre a gravidade representada pela nova influenza para a população e, em particular, para o conjunto da comunidade universitária. A mobilização do Hospital Universitário (HU) e as ações colocadas em prática pela Universidade provam que atitudes concretas, embora simples, conseguem abreviar a pandemia, sal-vando vidas aqui e no mundo.

A trégua com a chegada do calor, no entanto, não pode servir de desculpa para negligenciar a vigilância. Mesmo porque a doença passará por um novo teste com o inverno no Hemisfério Norte e, certamente, poderá voltar com força a partir de abril de 2010. Até lá estaremos nas mãos dos frágeis sistemas de saúde e, de dedos cruzados, torcendo pela eficácia de uma vacina.

A adoção de hábitos higiênicos tem-se mostrado como uma vacina para a população. Se essa prática for incor-porada ao cotidiano das pessoas, a gripe terá cumprido um papel social, educativo e saneador.

O que preocupa é que as gripes suína e aviária en-contram-se em má companhia. O mundo hoje sobrevive, paralelamente à “revolução dos bichos”, a, pelo menos, quatro pandemias: AIDS, tuberculose, hepatite B e hipo-crisia. E, ainda por cima, a Suína pegou a Organização Mundial de Saúde (OMS) de calças curtas. Agora, na corri-da, a OMS vem recebendo críticas por supostos exageros na campanha. Pecar por omissão não seria pior?

Rezar não basta. É preciso, acima de tudo, lavar as mãos e crer na competência da ciência e da Universidade. E lembrar que uma gripe, a Espanhola, varreu em um ano (1918-1919) 20 milhões de pessoas. A Cruz Vermelha tem razão ao pedir sangue frio aos governos e ao povo.

Alta e alívio. A menina da Odontologia, que esteve internada na UTI do Nereu Ramos, ganhou a guerra contra a gripe.

Dor e alerta. A morte prematura do ex-diretor da Im-prensa Universitária, Ricardo Tadeu Dias, reacendeu a luz amarela no campus por causa da gripe.

Lattes. As modificações da Plataforma Lattes passam pela substituição do n° do CPF por uma senha individual e pela exigência de comprovação da veracidade de informações for-necidas. Não se pode matar a vaca por causa do carrapato!

Prato cheio. “É preciso desenvolver estratégias para tornar a ciência brasileira mais visível e levar o melhor das pesquisas para a mídia”, disse Luísa Massari, diretora do Museu da Vida, ao anunciar, em Manaus, a futura criação de uma agência nacional de notícias de ciência e tecnologia. É um prato cheio para o Serviço de Jornalismo Científico da Agecom.

RU vegetariano. Jornal of Cancer publicou pesquisa com 60 mil britânicos revelando que o consumo de carne aumenta as chances de desenvolver câncer linfático. Mais um argumento a favor do cardápio vegetariano no Restau-rante Universitário.

Planetário. O pesquisador Augusto Damineli, da USP, ressaltou que o Ano Internacional de Astronomia (2009) é “uma oportunidade para olhar em volta e descobrir o quanto de céu há na terra”. Na SBPC disse que somos todos “poeiras de estrelas”.

Briga para “cachorro grande”. Marcelo Morales (UFRJ) alerta que a Lei Arouca (experimentação em animais) não deveria fomentar a briga entre cientistas e sociedades protetoras, “já que ambos” buscam o mesmo objetivo. Catatau que o diga!

Sem sete cabeças. Mesmo “apanhando” um pouco, o JU colocou imediatamente em prática o novo acordo ortográfico. A Redação em peso frequentou o curso de capacitação.

Boas Novas. O Canudo do DCE soltou uma edição com os assuntos e temas mais palpitantes do campus, incluindo a morte do Catatau, cachorro que não batizou, como frisaram os apressados, a chapa Boas Novas.

Suicídio. Enquanto os pesquisadores Nildo Ouriques e Waldir José Rampinelli, da UFSC, pregavam na Record News a inutilidade do Senado, uma pesquisa divulgada pela Folha revelava que 1/3 do senadores (27) respondia a inquérito ou ação judicial. A população vai acabar firmando posição contra o desperdício.

Pior. “A imprensa tradicional já é ruim o suficiente. Internet nem vale a pena discutir” (Gay Talese, um dos fundadores do chamado Novo Jornalismo).

Pão, pinga ou livro? O ex-ministro da Educação, Marco

Maciel, ressuscita e faz um libelo à leitura. Em artigo recente na Folha, traz à tona um raio-x publicado no JB, revelando que “as distorções de um país que tem mais editoras do que livrarias provocam um gargalo que encarece e dificulta o acesso ao livro.” Não faltam livros nem escritores. Sobram, aliás. Falta é dinheiro no bolso para comprar um livro. Faltam também bibliotecas públicas. Mesmo porque o miserável (nem Maria Carolina de Jesus, de Quarto de despejo) não trocaria os livros pelo pão e leitinho das crianças nem dei-xaria de aliviar a dor da exploração com a pinga no bar da esquina! “

Frase “Cemitério? Achado um crânio no Museu Universitário.

Salgado. Reajuste da Unimed vai pesar no bolso dos professores e técnicos; 16% retroativos a julho representam uma bolada nas costas.

Comunicação afirmativa. O V Encontro da Andifes de Assessorias de Comunicação, em Brasília, serviu para reafirmar a nossa convicção de que a Agecom está no ca-minho certo. A Política Pública de Comunicação voltou a ser uma luz no túnel.

Não dá para ser feliz. Coincide com a recomposição salarial a perda da “urpinha”, que será devolvida com parcelas que comem até 10% do salário do trabalhador. E o advogado, que leva os honorários, não deveria socializar os prejuízos?

Apesar da burocracia. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada revela uma surpresa: “A administração pública é mais produtiva do que a iniciativa privada” (também conhecida como setor produtivo).

Fronteira. Senado aprovou, sem “cortes”, a criação da Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS), com sede em Chapecó e campi nos estados vizinhos. Ideli Salvatti foi a relatora do processo. O virtual reitor Dilvo Ristoff acompa-nhou a decisão in loco.

Renato Archer I. Baixou o santo da memória científica e tecnológica no governador Luiz Henrique na homenagem, dia 11, ao ex-ministro Renato Archer. O público ficou impressionado com o discurso.

Renato Archer II. Na inauguração do Centreventos Renato Archer, que abrigou a primeira reunião do Conse-lho Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Conciti), Luiz Henrique sublinhou que o Brasil deve ao ex-ministro o CNPq e o próprio MCT.

Otimista. Reitor Alvaro Prata, presente ao Conciti, considera a apresentação da Política Catarinense de Ciên-cia, Tecnologia e Inovação um divisor de águas na área. Ele acha que os reflexos serão imediatos na UFSC. Prata elogiou a convicção científica do governo do Estado.

Precisamos ser fiéis àquilo que acreditamos (Cléia Silveira Ramos, da Comissão Central Organizadora das Comemorações UFSC 50 anos)

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O s a r t i g o s s ã o d e i n t e i r a r e s p o n s a b i l i d a d e d e s e u s a u t o r e sO s a r t i g o s s ã o d e i n t e i r a r e s p o n s a b i l i d a d e d e s e u s a u t o r e s

O Brasil vive um momento inédito e de alerta. Pela primeira vez, acompanhamos o desenvolvimento de uma nova doença em tempo real, com todas as novas tecnologias de vigilância, controle e informação a nosso favor. O surgimento do novo vírus influenza A (H1N1) exige das autoridades sanitárias atenção redobrada para a evolução da doença.

A prioridade, agora, é evitar óbitos. Passamos da fase de contenção para focar prioritariamente no atendimento das pessoas que têm maior risco de desenvolver formas graves da doença. Colocamos em prontidão 68 unidades de referência para dar assistência a pacientes graves e com fatores de ris-co, com quantidade suficiente de medicamento para tratar casos em que há indicação.

É compreensível que um vírus desconhecido cause apreensão. Mas o que já se conhece do novo vírus H1N1 nos leva a evidências de que ele vem se manifestando de forma muito semelhante ao vírus da gripe comum e tem, até aqui, uma taxa de letalidade também praticamente igual.

Sabemos que pode haver mudanças no comporta-mento do vírus. Por isso, cada cidadão deve procurar apenas o posto de saúde ou o médico de confiança aos primeiros sintomas típicos de gripe, como tosse, coriza, febre alta, dor de cabeça e no corpo. Se o médico constatar a gravidade do quadro, o paciente será encaminhado a uma das unidades de referência para receber o tratamento adequado. No país inteiro estão sendo realizados esforços para melhorar e agi-lizar cada vez mais o atendimento aos pacientes. A automedicação pode aumentar a resistência do vírus, conforme já alertou a OMS.

Contamos ainda com uma contribuição valiosa da população: a prevenção. Lavar bem as mãos com fre-quência, não compartilhar copos, talheres e alimentos e usar lenços descartáveis ao tossir ou espirrar são gestos simples que, incorporados no dia a dia, ajudam a reduzir gripes e inúmeras outras infecções.

José Gomes Temporão Ministro da Saúde

Em alerta, mas sem alarde

Nos últimos tempos o mundo está vivendo na síndro-me do desenvolvimento a qualquer custo e, como resul-tado, descobriu-se que produzir desenvolvimento é um exercício de economia. Tudo que é produzido consome matéria-prima, que direta ou indiretamente é retirada da natureza e, portanto, tudo tem um preço. Imagine uma grande empresa que tenha investido vinte anos para desenvolver um produto, com a dedicação de cientistas, funcionários, equipamentos, etc. Caso alguém destrua este produto, provocaria um processo que certamente poderia ser avaliado em milhões de dólares, afinal foram vinte anos perdidos. Mas o que dizer se ao invés de vinte forem cem anos? Neste caso as cifras seriam astronômi-cas e, quanto mais tempo, mais cara a dívida.

Assim, o que poderíamos dizer de uma agressão que destrua um projeto construído não só em vinte ou cem anos, mas cerca de alguns milhares de anos? Será que poderia haver no mundo dinheiro suficiente para indeni-zar este crime? Certamente não. E se você presenciasse um crime desses ficaria omisso?

A Ilha de Santa Catarina é resultado de um projeto sagrado que vem evoluindo há milhões de anos, desde as mais remotas eras geológicas até as recentes mo-vimentações sedimentares que formaram as últimas lagoas e praias.

Nós herdamos este patrimônio, um tesouro riquís-simo, de valor incalculável, mas não sabemos o que fazer com ele. Enchemos de casas em torno das mais importantes lagoas e praias, lançamos nossos dejetos na água que bebemos, deixamos nossas crianças brincarem em águas contaminadas, enfim, perdemos o controle e a noção de valor das coisas.

É muito mais valioso para a população ter um morro

Qual o valor da Ilha de Santa Catarina?forrado de florestas que sustentam os riachos e abaste-cem de água as pessoas do que a presença de casas nas encostas, que acabam se tornando imensos problemas sociais, de saneamento, segurança, urbanização, etc. Somando os custos para resolver todos esses problemas, tem-se um valor monetário muitas vezes superior ao custo de um assentamento em local regular.

Neste ano, estamos vivendo um momento crucial para definirmos o que queremos para a Ilha e para o município de Florianópolis como um todo. O Plano Diretor está aí, batendo na sua porta e pedindo a sua atuação como membro desta grande família. Onde a nossa casa, que é o nosso ambiente, precisa ser pensado e organizado com carinho. Mas, antes de tudo, devemos exigir imediatamente o saneamento am-biental e um maior rigor no controle da qualidade da água servida, pois sem água não existe vida.

Porém, é só lembrar que para existirmos tivemos que ter duas mães: aquela que nos deu à luz e a outra que viabiliza a vida neste planeta, a quem chamamos de mãe natureza. Numa visão ampla e isenta, percebemos que já existia natureza antes do aparecimento humano sobre a terra. E para sobrevivermos precisamos de estrutura (proteína), água, ar, eletrólitos, energia e substâncias reguladoras, todas encontradas somente na natureza, portanto, precisamos dela para existir. Poderíamos di-zer então, sem medo de estarmos enganados, que, no mínimo, a natureza deve ser considerada com o mesmo respeito assegurado a qualquer ser humano, mesmo que ela esteja numa instância muito mais elevada, ou seja, sagrada. Pois sem natureza não haverá vida.

Rosemy S. NascimentoProf. Departamento de Geociências/UFSC

Quanto à tecnologia, constatamos que ela também está em plena mutação. Os homens sempre procuraram fabricar ferramentas e máquinas para melhorar suas condições de vida e para serem mais eficazes em seu trabalho. Em seu aspecto mais positivo, esse desejo ti-nha originalmente três objetivos principais: permitir-lhes realizar coisas que não podiam fazer usando somente suas mãos; poupá-los do sofrimento e da fadiga; ganhar tempo. É preciso notar também que, durante séculos, para não dizer milênios, a tecnologia só foi empregada para ajudar ao ser humano em trabalhos manuais e atividades físicas, ao passo que em nossos dias ela o assiste ainda no plano intelectual. Por outro lado, por muito tempo ela se limitou a procedimentos mecânicos que requeriam a intervenção direta do ser humano e não ameaçavam ou pouco ameaçavam o ambiente.

Tecnologia & consciência Desde então, a tecnologia se fez onipresente e cons-titui o coração das sociedades modernas, a ponto de se tornar quase indispensável. Suas aplicações são múltiplas e ela passou a integrar procedimentos tanto mecânicos quanto elétricos, eletrônicos, de informática, etc. Infe-lizmente, toda medalha tem seu verso e as máquinas se tornaram um perigo para o próprio ser humano. Com efeito, embora elas fossem idealmente destinadas a ajudá-lo e a poupá-lo do sofrimento, chegaram ao ponto de substituí-lo. Por outro lado, não se pode negar que o desenvolvimento progressivo do maquinismo provo-cou certa desumanização da sociedade, no sentido de que reduziu consideravelmente os contatos humanos, entendendo-se aqui os contatos físicos e diretos. A isso acrescentam-se todas as formas de poluição que a in-dustrialização gerou em muitos campos.

O problema colocado atualmente pela tecnologia provém do fato de que ela evoluiu muito mais rápido do que a consciência humana. Consideramos também que é urgente que ela rompa com o modernismo atual e se

torne um agente de humanismo. Para isso é impera-tivo recolocar o ser humano no centro da vida social, o que implica recolocar a máquina a seu serviço. Essa perspectiva requer total reconsideração dos valores materialistas que condicionam a sociedade atual. Isso supõe, por conseguinte, que todos os homens voltem a se centrar em si mesmos e enfim compre-endam que é preciso privilegiar a quantidade de vida e acessar essa corrida desenfreada contra o Tempo. Ora, isso só será possível se eles reaprenderem a viver em harmonia, não somente com a Natureza, mas também com eles próprios. O ideal seria que a tecnologia evoluísse de tal maneira que libertasse o ser humano das tarefas mais penosas e ao mesmo tempo lhe permitisse desabrochar harmoniosamente em contato com os outros.

Fragmento do Manifesto PositioFraternitatis Rosae Crucis, da OrdemRosa Cruz

Foto: Cláudia Reis

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UFSC - Jornal Universitário - Nº 404 - Setembro de 2009 - PÁG 4

Maria Luíza GilBolsista de Jornalismo na Agecom

“Devemos nos preparar para uma se-gunda e, inclusive, uma terceira onda como aconteceu em pandemias anteriores”. Esta frase foi dita pela diretora da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margareth Chan. Será que estamos preparados para lidar com novos surtos?

Desde março de 2009 que um novo ví-rus circula pelo mundo. No Brasil ele atingiu principalmente as regiões Sul e Sudeste, que tem o inverno mais rigoroso e prolon-gado. Em maio o vírus Influenza A H1N1 chegou a Santa Catarina, que já contabiliza 20* vítimas fatais. Segundo a Secretaria de Saúde do Governo do Estado, além dessas mortes foram contabilizados 244 casos de infectados, 352 suspeitas descartadas, além de 3.565 suspeitas em investigação e 98 mortes sob investigação da causa.

Apesar de todo receio, no Hospital Univer-sitário, segundo o diretor geral em exercício, Felipe Felício, não há com o que se preocupar. O hospital adotou medidas preventivas como mudar os horários e criar restrições de visi-ta, abrir 17 leitos de isolamento, seis leitos para grávidas, reforçar a alimentação dos funcionários, promover palestras educativas, afastar servidoras grávidas e fazer aquisição de grande quantidade de álcool e máscaras. “Tudo para que a população não se preocupe. Quem deve se preocupar somos nós, em oferecer os insumos básicos para todos”, explica o médico.

Ele também aponta o aumento de 22% na procura da emergência por estado gripal, e o grande número de internados com sus-peita de gripe, que esperam a confirmação do exame que demora 30 dias para ficar pronto. Por causa da demora do exame, os pacientes já recebem Tamiflu logo que che-gam ao hospital com quadro de insuficiência respiratória. “Não dá para esperar todo esse tempo para começar a medicar os pacien-tes. É por isso que só estamos internando quem chega ao HU com o estado mais

Prevenção- Cuidados com higiene; lavar bem as mãos fre-

quentemente com água e sabão;- Evitar tocar olhos, boca e nariz após contato com

superfícies;- Não compartilhar objetos de uso pessoal;- Cobrir a boca e nariz com lenço descartável ao

tossir ou espirrar;- Evitar aglomerações e ambientes fechados;- O vírus sobrevive até 48h fora do organismo, por-

tanto, é importante higienizar mesas, computadores, telefone e objetos de uso comum com álcool.

O vírusO vírus responsável por esse surto é uma variação

do H1N1 que sofreu mutação.Ele é híbrido, contém material genético dos vírus

humanos, das aves e de suínos. Seu nome oficial é Vírus Influenza tipo A subtipo H1N1.

TransmissãoA transmissão em seres humanos ocorre como

nas gripes comuns.Diretamente - Uma pessoa infectada espirra ou

tosse perto de você e a partícula do vírus é inalada (isso acontece quando os dois sujeitos estão aproxi-madamente 1 metro de distância).

UFSC e vigilância de mãos dadas contra a pandemiaApesar de todo receio, no Hospital Universitário, segundo o diretor geral em exercício, Felipe Felício, não há com o que se preocupar

avançado, que é a insuficiência respiratória”, conta. Essa medida está sendo tomada não só pelo HU; é uma recomendação para evitar o uso desnecessário e uma possível resistência ao medicamento.

Florianópolis ainda não registrou mor-tos, mas os 46 casos e as 314 suspeitas já fizeram com que o prefeito da cidade, Dário Berger, decretasse situação de emergência. O decreto foi para conter o avanço da gripe A (H1N1), visto que a cidade recebe um fluxo grande de pessoas, por ser um pólo turístico.

Além de Florianópolis, outras 19 cidades catarinenses também decretaram situação de emergência devido à gripe, segundo a Defesa Civil do Estado. Em Santa Catarina, Concórdia lidera no número de mortos, com quatro. Tubarão tem três e a Grande Floria-nópolis contabiliza duas pessoas. O decreto ajuda a acelerar as medidas contra a gripe, como a compra de remédios e a contrata-ção de funcionários para a área de saúde, entre outras. Para o Norte do Estado e para a Grande Florianópolis, serão contratados por até quatro meses 191 profissionais da saúde. Serão 38 médicos, 18 enfermeiros e 135 técnicos em Enfermagem.

Segundo o Ministério da Saúde, em todo o Brasil foram contabilizadas 577 mortes, o que coloca o País como o primeiro no mundo em vítimas fatais. A OMS afirma ter estoque suficiente de medicamentos para o tratamento dos casos indicados. Além dos comprimidos para uso imediato, o Brasil tem matéria-prima para produzir mais de nove milhões de tratamentos.

A diretora da OMS, Margaret Chan, pediu à comunidade internacional que se prepare para uma provável segunda onda da gripe suína. “Não podemos dizer que o pior já passou ou está a ponto de passar”, declarou, em uma mensagem gravada e exibida na abertura de um congresso em Pequim sobre a gripe na região Ásia-Pacífi-co. “Devemos nos preparar para qualquer surpresa que nos reserve este novo vírus caprichoso (...) uma mutação constante e

imprevisível é o mecanismo de sobrevivên-cia do mundo microbiano”, completou.

Quem está encarregado de suprir o Bra-sil com a vacina contra a gripe A é o Instituto Butantã – já responsável por desenvolver as vacinas contra a gripe sazonal. Ela come-çará a ser produzida a partir de outubro e estará disponível no próximo ano. Serão 30 milhões de vacinas produzidas no Brasil e 18 milhões ainda devem ser importadas.

“Nós teremos mais um surto de gripe A com o inverno no Hemisfério Norte, e por isso a prioridade das vacinas que estão sendo produzidas será deles. No Brasil a tendência é do vírus se arrefecer. Mas isso não significa que o vírus vai acabar por aqui, pois o frio é só um fator dentre os outros que facilitam a propagação da gripe. Todos que não pegaram a gripe continuam suscetíveis a ela”, esclarece o infectologista Osvaldo Vitorino.

A pandemia terminará quando a maioria da população estiver imunizada. Assim o H1N1 se tornará sazonal. Mas por enquanto, segundo o infectologista, “estamos lidando com um vírus novo, cujo quadro clínico ain-da não foi confirmado. É por isso que não podemos apontar grandes diferenças entre a nova gripe e a gripe sazonal, isso dificulta os diagnósticos. Eu mesmo já tive duas gripes e não sei se alguma delas foi a gripe A”. E é devido a essas dúvidas que o vírus mata. Muitas pessoas não têm sintomas graves, não procuram assistência, então o organismo fica debilitado e é aí que surgem as complicações. É o caso da pneumonia, que pode levar a uma insuficiência respiratória. Por isso que, ao apresentar os sintomas, é recomendada a ida ao médico ou ao posto de saúde.

O H1N1 já matou pelo menos 2.185 pessoas em todo o mundo. A maioria dessas mortes ocorreu no continente americano, segundo os dados mais recentes da OMS, que declarou a gripe A a primeira pandemia de gripe do século 21 no dia 11 de junho. O alerta, contudo, diz respeito à velocidade de propagação da doença e não à sua letalida-de, que é, em média, de 0,5%.

*Todos os números foram atualizados até o fechamento da matéria, no dia 29/08.

Bebedouros lacrados...

álcool gel em todos os Centros...

e orientações fixadas em lugares visíveis e de grande circulação são algumas das medidas adotadas pela UFSC

No HU as pessoas com sintomas de gripe têm recebido máscaras para evitar a contaminação de outros pacientes

Manual de SobrevivênciaIndiretamente - Uma pessoa infectada toca em

algum objeto depois de ter espirrado ou tossido com a mão na frente da boca. Você toca o mesmo objeto e leva suas mãos ao nariz, boca ou olhos, então o vírus entra em seu organismo.

Mitos- O consumo de carne de porco não é forma de

transmissão da doença – a transmissão entre homens e suínos se dá através de secreções respiratórias.

- Álcool comum, de supermercado (48%) não é eficaz para higienizar objetos e as mãos. A eficácia do álcool como antisséptico acontece na concentração entre 60 e 95%.

Como tudo começou24/04 – primeiro alerta dado pela OMS sobre o

surgimento da doença;07/05 – gripe chegou ao Brasil com quatro pacientes

vindos do México e Estados Unidos;16/07 – Ministério da Saúde recebeu notificação do

primeiro caso de transmissão interna da H1N1 no Brasil (o paciente havia morrido em 30/06, em São Paulo).

Fontes: Folha de S. Paulo (16/08), A Notícia (27/08), Diário Catarinense (29/08) e sites acessados em 22/08; Instituto Butantã, Secretaria de Estado da Saúde, Estado de São Paulo, Folha Online e UOL

Fotos: Lucas Sampaio

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UFSC - Jornal Universitário - Nº 404 - Setembro de 2009 - PÁG 5

Mara PaivaJornalista na Agecom

Os grandes feitos da humanidade, fatos como a descoberta da carga elétrica do átomo por Robert Milikan, a ida do homem à Lua e a beleza da Terra

“Vivo neste momento aquela felicidade que pro-vavelmente viveu a cidade de Florianópolis em 1960. Hoje a história também nos dá esta satisfação, pelas mãos de um presidente que tem na educação um dos seus grandes méritos. Araranguá vai mudar, vai mudar muito. A presença da UFSC vai provocar uma revolução econômica, social, cultural”, palavras de Mariano Mazuco Netto, Prefeito de Araranguá, durante a inauguração.

A sintonia com o Brasil do Século XXI levou a UFSC a oferecer formação em Engenharia da Mobilidade no campus de Joinville. Planejado por professores da área tecnológica, o curso abrange as áreas de engenharia veicular e de transportes. O conhecimento produzido vai ser dirigido à solução de um dos grandes problemas da sociedade moderna: a falta de infra-estrutura nos setores de comunicação.

A arrancada em Curitibanos foi turbinada por boas notícias. O Governador do Estado comunicou a liberação de recursos para a pavimentação da estrada que dá acesso ao campus da UFSC. E da imi-gração japonesa presente no município vizinho, Frei Rogério, veio à primeira proposta de intercâmbio, com o curso de Ciências Agrárias da Universidade de Nagazaky, no Japão.

Desafio de projetar o Brasil para os próximos 50 anos

Presença da universidade na região central do Estado

Início de atividades em sede própria na Cidade das Avenidas

da educação superior em Santa Catarina Big BangO

Joinville Curitibanos

vista por fora, foram lembrados pelo Reitor Alvaro Prata para dimensionar sua satisfação com a ins-talação dos novos campi da UFSC, definindo o que considera importante em uma sociedade: “encontre meios de educar e selecionar pessoas e as respostas aparecem por si próprias”. O prazer com a expansão

foi compartilhado por diversas autoridades, pelas comunidades dos municípios onde a marca UFSC é cunhada, e também por toda a equipe de dirigentes da instituição presente à arrancada das atividades nos três novos campi: Araranguá, Curitibanos e Joinville.

Há anos em discussão, a permuta de terras da UFSC na Fazenda da Ressacada, no Sul da Ilha, para construção da via de acesso ao novo terminal de passageiros do Aeroporto Internacional Hercílio Luz, deve chegar ao Conselho Universitário no segundo semestre de 2009.

Defendida por diversos setores como essencial para a cidade, a expansão do aeroporto (que prevê o aumento da capa-cidade de movimentação de passageiros dos atuais 980 mil para 2,7 milhões) é questionada por membros da comunida-de universitária. Especialmente quanto ao traçado da rodovia proposta para acesso ao novo terminal, e que envolve terras solicitadas à Universidade.

Para que a instituição ceda parte da Fazenda da Ressacada para a rodovia de acesso ao novo terminal de passageiros do aeroporto, uma das possibilidades é receber em troca área equivalente, pertencente ao Centro de Treinamento da Celesc. Essa área está localizada ao lado da Fazenda da Ressacada.

Mas a decisão tem se tornado crítica em termos de medidas que a univer-sidade deverá ceder para a Infraero, alteradas e ampliadas em diferentes momentos. A área solicitada inicialmente era de 100 metros de largura por 1.385 metros de comprimento. Quando a UFSC autorizou a entrada de funcionários para estudos e projetos, em 2007, a área foi demarcada em 240 metros de largura. Agora a metragem solicitada aumentou para 326 metros de largura.

A evidente valorização da região Sul da

Sul da Ilha também quer ter seu campusPermuta de terras da Fazenda da Ressacada com Infraero exige olhar cuidadoso da Universidade sobre suas possibilidades de expansão

Ilha e o usufruto que a Universidade poderá obter com a permuta também preocupa. Na visão do secretário de Relações Insti-tucionais e Internacionais, Enio Pedrotti, a Universidade precisa estar atenta às possibilidades de apropriação das frontei-ras da nova rodovia às margens de terras da UFSC. “É preciso garantir que as áreas fronteiriças ao novo aeroporto beneficiem as atividades fins da Universidade, que são o ensino, a pesquisa e extensão”, considera Pedrotti. ”Como instituição proponente de soluções para a sociedade que a susten-ta, a universidade fica com uma série de perguntas sem respostas”, preocupa-se o secretário.

Entre elas, explica, por que o novo terminal não é construído na área livre que a Infraero dispõe ao norte da atual pista de pouso, ou seja, no mesmo lado que o atual terminal? Além disso, por que uma decisão de construir um terminal no lado exatamente oposto ao atual, sendo que o caminho será no mínimo 6 quilô-metros mais longo? A estrada deverá ser construída em área da reserva da Costeira do Pirajubaé, com um custo de R$ 50.000.0000 a mais.

“Quantas construções a mais, quan-tos problemas ambientais extras serão gerados ao longo da rodovia neste tre-cho de preservação, hoje sem acesso?”, continua o secretário, destacando sua preocupação com a construção da ro-dovia, que pode criar condições para a degradação ambiental da área.

Os questionamentos seguem em re-lação à própria ampliação do aeroporto.

Pedrotti lembra que o aumento de cinco vezes no tamanho é pensado para uma cidade que já apresenta problemas ur-banos como o tráfego. “Quem mora no continente não consegue chegar na Ilha entre 6h30min e 9h30min sem esperar em engarrafamentos pelo menos 45 minutos. Quanto será o tempo de espera daqui a cinco anos, quando o novo aeroporto estiver funcionando, ou daqui a 10 anos, 20 anos?”, questiona, preocupado com um

futuro que não atinge “empresários cada vez mais vorazes”.

Em sua opinião, se fossem levadas em conta questões como a exaustão do sistema insular e a segurança, um novo aeroporto deveria ser construído fora da Ilha. “Se houver um problema qualquer em uma de nossas pontes, como é que você chega até um terminal aeroportu-ário, por mais moderno que seja? Vai ter que tomar um helicóptero para chegar ao aeroporto? Teríamos helicópteros para todos os passageiros?”.

Pedrotti é também duro com relação ao licenciamento ambiental. Segundo ele, falta perguntar ao poder público como

conceder licenças a uma rodovia que invade áreas de preservação, quando a ampliação ao lado do atual terminal teria uma rodovia 5 km menor, com muito me-nos impacto, menor tempo de chegada ao terminal de passageiros.

“Falta perguntar por que o poder público opta por um sistema perverso de rodovias para veículos particulares e não pela cons-trução de um sistema de transporte de mas-sas como um metrô, em que o passageiro

já desembarca no aeroporto, sem necessi-dades de estacionamento, táxis, veículos se amontoando para disputar uma vaga na rodovia e no estacionamento, criando con-dições para surgir mil e uma invasões das áreas limítrofes à rodovia”, insiste Pedrotti. Num metro de superfície, lembra, “não se cria nenhum boteco para vender caldo de cana que se transformará posteriormente num ponto comercial ou num novo lotea-mento clandestino ou não”.

“Acho que a Universidade deveria questionar estas maneiras velhas de resolver as coisas, pois beneficiam sem-pre os mesmos interesses comerciais.”, estimula o secretário.

“É preciso garantir que as áreas fronteiriças ao novo aeroporto beneficiem as atividades fins da Universidade, que são o ensino, a pesquisa e extensão” - Ênio Pedrotti

Araranguá

instalação dos campi de Araranguá, Curitibanos e Joinville foi comemorada pelas comunidades locais

Fotos: Paulo Noronha

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UFSC - Jornal Universitário - Nº 404 - Setembro de 2009 - PÁG 6

Maria Luiza GilBolsista de Jornalismo na Agecom

Essa história tinha tudo para ser contada em terceira pessoa. A repórter chega no evento, entrevista seus organizadores e participantes, descobre finalidades, levanta

ele, por isso precisamos que as pessoas tenham essa consciência, tenham a cultura de ajudar quem está dependendo desse sangue para fazer uma cirurgia, ou para os pacientes que precisam de transfusão”, ex-plica a médica, que aponta a necessidade de mudar o modo de recepcionar os calouros, além de criar a consciência de que a doação, para algumas pessoas, é a única forma de continuar vivendo. “O trote sujo não é uma coisa útil. Com o trote solidário podemos salvar vidas”, comenta a hemoterapeuta.

No dia seguinte chego com meu kit jornalista - lápis e papel -, e logo um en-fermeiro tenta me recrutar. Já aviso que só fui para escrever. Conheço então Franz Strobel, estudante de Engenharia Elétrica da UFSC. Ele conta que a primeira vez que doou foi ao entrar na faculdade, quando leu um e-mail que pedia sangue para o banco do HU. Depois disso não doou mais, apesar de dizer que ajudar quem precisa o deixa satisfeito. “Meu sangue é O-, eu sou doa-dor universal. É ruim porque eu só recebo de O-, mas bom porque sei que qualquer pessoa que precisar vai poder receber meu sangue”, conta o estudante.

A possibilidade de eu doar começou a surgir, mas não quis dizer nada a ninguém para não colocar mais lenha na fogueira. Só a curiosidade eu não consegui esconder. E no ímpeto de saber se dói mesmo perguntei a Franz se ele não se assustava com a agulha e com a dor. “A picada dói menos que o furo que fazem no dedo para o teste de anemia”. A resposta não melhorou muito a situação.

alguns dados e corre para a redação. Prin-cipalmente quando o evento é doação de sangue e a repórter tem pavor de agulha.

Cheguei no hall da Reitoria no dia an-terior ao trote solidário “Doe sangue, doe vida”, para cumprir minha pauta. Pois bem, o trote solidário existe há 13 anos e foi

criado pensando em cobrir o déficit que o frio, as férias e a alta demanda trazem ao banco, me conta a médica Vera Lúcia Paes Cavalcanti Ferreira, membro da Comissão de Coletas Externas e hemoterapeuta do banco de sangue do HU, que me atendeu enquanto começava a organizar os mate-riais e equipamentos para o evento do dia seguinte.

O Hospital Universitário é o único que trabalha totalmente em função do Sistema Único de Saúde, sem convênios particula-

res, e isso faz com que a demanda de atendimentos seja muito grande, além de ter uma ma-ternidade e uma Unidade de Terapia Intensiva anexadas e

que também disputam bolsas de sangue com as outras unida-

des do hospital. Só nessas férias de julho, segundo Vera

Lúcia, o Banco de Sangue do HU teve uma queda de 70% do seu estoque. Para repor o saldo, sensibilizar a população, recepcionar os calouros, além de criar uma cultura de doação voluntária consciente e indepen-dente de parentesco com os pacientes, o Serviço de Hemoterapia do HU (SHHU) dá a toda comunidade universitária a oportu-nidade de exercer sua cidadania em um ato de solidariedade: a doação de sangue através do trote solidário.

Todo início de semestre a equipe médica e paramédica do SHHU atende os voluntá-rios no hall da Reitoria. “O nosso capital é o sangue, e ainda não existe substituto para

Parágrafos feitos com uma doação de sangue

Para doar basta ter entre 18 e 65 anos, ter mais que 50 quilos, portar um documento de identidade com foto e ser e estar saudável. Ou seja:

Não estar gripado ou febril;

Não ser portador de doença de chagas (barbeiro);

Não ter tido epilepsia; Não ter feito cirurgia nos últimos três meses;

Não ser usuário de drogas;

Não estar fazendo uso de medicações de maneira crônica;

Não ter tido hepatite B ou C ou contato com pessoas com essas hepatites;

Não ter anemia;

Não ser cardiopata, paciente renal crônico, diabético, hipertireóideo.

Informações pelo telefone do Banco de Sangue: 3721-9859 ou 3721-9114.

E você? Está pronto para doar?

Continua

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UFSC - Jornal Universitário - Nº 404 - Setembro de 2009 - PÁG 7

1. A cada dois segundos, algum paciente necessita de transfusão de sangue no Brasil.

2. Cerca de 1 em cada 5 pessoas que são internadas no hospital necessitará de transfusão de sangue durante o período em que permanecer internada.

3. Três é o número de vidas que são salvas com cada doação de sangue.

4. A doação de sangue não engrossa nem afina o sangue.

5. Doando sangue você não ganha nem perde peso.

6. Mulheres podem doar sangue mesmo no período menstrual.

7. O sangue doado é testado para seis doenças infecciosas transmissíveis pelo sangue: Hepatite B, Hepatite C, HIV, HTLV, Sífilis e Doença de Chagas.

8. Uma unidade de sangue total doado pode ser fracionado em: concentrado de hemácias, plasma e concentrado de plaquetas.

9. A duração de um concentrado de hemácias varia de 35 a 42 dias.

10. A duração de um concentrado de plaquetas é de apenas 5 dias.

11. A duração de uma unidade de plasma varia de 1 a 5 anos.

12. Mulheres representam menos de 40% dos doadores de sangue no Brasil.

13. Para um homem, após uma do-ação de 450 ml de sangue o plasma é reposto em 24 horas, os glóbulos vermelhos em aproximadamente 4 semanas e o estoque de ferro em aproximadamente 8 semanas.

14. Para uma mulher, após uma do-ação de 450 ml de sangue o plasma é reposto em 24 horas, os glóbulos vermelhos em aproximadamente 4 semanas e o estoque de ferro em aproximadamente 12 semanas.

15. Ainda não há nenhum substituto para o sangue humano.

16. Um adulto tem entre 5 e 6 litros de sangue; na coleta são retirados 450 ml, menos de 10% do total.

(Fonte: Fundação Pró-sangue)

Foi aí que notei um menino sentado na cadeira ao lado. Ele suava e respirava fundo com um dos braços sobre o rosto, muito nervoso. Certamente estava doando pela primeira vez, pensei. Não estava. O estudante de Economia Vitor Versore doa há dois anos, desde que entrou na faculdade. “Foi o trote que me trouxe para a doação”. Desde então, apesar do nervosismo, doa de três em três meses, intervalo mínimo entre uma doação e outra, para os homens. “O segredo é não olhar a agulha. Até hoje eu nunca vi o tamanho. E o que é o meu medo perto da vida de outras pessoas?”. Se eu estava precisando de uma frase para me convencer, era essa. Pois a consciência da necessidade eu tenho, só me faltava cora-gem para superar o pavor de agulha.

Em nenhum momento, desde que che-guei, as cadeiras ficaram vazias, e na fila para doar só tinha mais uma pessoa. Essa pessoa que ia doar era meu amigo, Tiago Pereira, do curso de Jornalismo, que nem me deixou pensar duas vezes. “Eu seguro a tua mão”, ele disse. Perguntei quantas bolsas já tinham sido doadas. Era 15h30 do primeiro dia e já havia 51 bolsas. En-tão larguei meu kit jornalista: a partir dali seria tudo na memória, e uma experiência dessas, com certeza, eu lembraria com detalhes.

Antes de começar, recrutei duas calou-ras da Farmácia que pararam ali, curiosas. Depois de se decidirem, soube que seria a primeira vez delas também. Preenche-mos a ficha com nossos dados, demos o

documento com foto e respondemos o questionário de 36 perguntas que faz parte da triagem clínica.

Eu estava apta, segundo a entrevista, então fui medir a pressão arterial, a tem-peratura, o pulso e a hemoglobina, para verificar se não tinha anemia. Tenho que discordar do Franz, a picada não dói. Mais dolorida é a agonia de esperar fantasiando a dor da doação. Quando me dei conta, já estava na cadeira tentando manter a calma que já nem existia mais. Eu tremia, suava e ria de tensão. Tentava conversar para pensar em outra coisa quando a enfermeira começou a passar álcool e colocar o garrote. Foi nesta hora que caí na besteira de olhar meu braço: minha veia estava começando a aparecer e a enfermeira já estava com a agulha na mão. Quebrei a regra de não olhar a agulha.

Não vou mentir: deixei algumas lágri-mas de nervosismo escaparem. O médico responsável, chefe do banco de sangue do HU, Jovino dos Santos Ferreira, me mandou pensar em um bebê de um quilo e meio que poderia receber meu sangue. Pensei. A enfermeira pediu que eu respi-rasse fundo e soltasse o ar com calma. A mão do Tiago ficou com cinco marcas de unhas. Mas a dor nem é tanta assim, é a mesma de um exame de sangue comum. O calibre da agulha assusta, porém não faz diferença. Ganhei um coraçãozinho de borracha para ficar apertando e ajudar a bombear o sangue. No período em que fiquei ali deitada - aproximadamente

quinze minutos - deu tempo de perceber que as calouras estavam firmes e fortes e que cada vez chegava mais gente para preencher o formulário. E melhor, das quatro cadeiras, três eram novatos. O propósito de estimular novos voluntários estava se cumprindo.

Terminamos ao mesmo tempo e bebe-mos muito suco. “É preciso repor bastante líquido”, recomendou doutor Jovino. Rece-bemos uma cartilha do que não fazer depois de doar, e sentamos para o lanche. Meu braço estava pesado e tinha que mantê-lo esticado. Comi com o esquerdo. Era um misto quente com mais suco, além de uma maçã que eu não quis comer.

Dali a quinze dias, avisaram, poderia passar no banco de sangue do HU (andar térreo) para pegar a carteirinha de doadora junto com os resultados dos outros exames de sangue feitos no laboratório.

Nesses dois dias de campanha o Serviço de Hemoterapia do HU coletou 125 bolsas. Mas como sangue nunca é demais, Vera Lúcia pede para “todos estenderem seus braços para a vida”, e doarem também no HU, onde o banco de sangue realiza o trabalho diariamente. Semestre que vem o trote solidário volta, mas até lá muitas bolsas ainda serão necessárias. A doação tem que ser um ato contínuo.

Antes de sair, e de me parabenizarem pela coragem, tive que assinalar sim ou não em um papel que dizia se eu aceitava doar meu sangue para quem quer que necessi-tasse. É claro que sim.

16 curiosidades sobre sangue e

transfusão

Para o HU, o ano todo é

tempo de trote

Nos dois dias de campanha deste semestre, foram coletadas 125 bolsas, mas a doação pode ser feita durante todo o ano, de segunda à sexta, no Hospital Universitário

Fotos: Lucas Sampaio

Foto fundo: sxc.hu/ Saïvann

Continuação Parágrafos feitos com uma doação de sangue

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UFSC - Jornal Universitário - Nº 404 - Setembro de 2009 - PÁG 8

Arley ReisJornalista na Agecom

Em parceria com a Epagri, a UFSC inves-tiga mais uma atividade para a maricultura catarinense. É o cultivo da alga vermelha Kappaphycus alvarezii, comercialmente im-portante por ser a principal fonte de carra-genana, aditivo extensamente empregado nas indústrias alimentícia, de cosméticos e farmacêutica. O Brasil importa mais de mil toneladas de carragenana por ano, o que representa cerca de R$13 milhões.

Nativa das Filipinas, a alga Kappaphycus alvarezii teve seu primeiro cultivo experi-mental no Brasil realizado em São Paulo. Em Santa Catarina testes estão sendo realizados desde 2008, em um cultivo experimental implantado na praia de Sambaqui, em Flo-rianópolis. Dados preliminares indicam que o estado tem bom potencial para trabalho com a espécie. O cultivo é realizado a partir de pedaços de talo, amarrados em cabos mantidos em sistemas flutuantes, como balsas ou long-lines usados na produção de ostras e mexilhões.

O projeto em Santa Catarina envolve pesquisadores da UFSC, Universidade de São Paulo (USP), Epagri e Instituto de Pesca de São Paulo. A Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Es-tado de Santa Catarina (Fapesc) financiou a primeira etapa do projeto e na segunda etapa são investidos recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA).

“A segunda etapa do projeto vai avaliar o ciclo produtivo dessa alga procurando estabelecer metodologias que viabilizem a introdução comercial no litoral catarinense”, informa a coordenadora do projeto e pro-fessora do Centro de Ciências Biológicas da

Especial Pesquisa

Macroalgas para ampliar a maricultura catarinense

Um dos maiores especialistas da Europa em patrimônio geológico e geoparques, o professor José Bernardo Rodrigues Brilha, do Núcleo de Ciências da Terra, da Universidade do Minho (Portugal), foi o principal ministrante do curso Patrimônio Geoló-gico, Geoconservação e Geoparques, promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFSC. Organizada em uma parceria da UFSC como o Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina e Universidade do Minho, a capacitação trouxe para Santa Catarina a discussão de uma nova visão sobre a geologia, a geodiversidade e sua importância.

“As pessoas não se apercebem do valor da geodiversidade, desconhecem como as coisas aparecem em suas casas, que o vidro de suas janelas contém minerais, assim como celulares, aparelhos de televisão e telefone. A criação de geoparques faz parte de um movimento que busca promover a compreensão sobre a história geológica da Terra”, explica o professor Brilha, membro do Comitê Científico do Programa Geoparks, criado pela Unesco em 2001. Ele ressalta que o objetivo destes novos conceitos não é isolar territórios, mas traçar estratégias para desenvolver as populações e ao mesmo tempo proteger mine-rais, rochas, fósseis, paisagens e outros elementos que ajudam a conservar e divulgar a trajetória de nosso Planeta.

Novo no Brasil, o tema envolve o turismo qualificado e o desenvolvimento sustentável de áreas com alto valor geológico e paleontológico. O conceito de geoparque surgiu nos anos 90. Os primeiros territórios do gênero foram criados em 2000, na Alemanha, Grécia, Espanha e França. Um ano depois foi criada a Rede Européia de Geoparques.

“O objetivo de um geoparque é que as populações que habitam esse território se desenvolvam a partir do patrimônio

Parques geológicos como herança

geológico, em associação com o patrimô-nio vegetal e cultural”, ressalta o professor. Segundo ele, um geoparque pode auxiliar na compreensão sobre a biodiversidade de uma região e sua cultura, que estão diretamente ligadas à geografia e à geologia do território.

“O material do que as casas são feitas, a agricul-tura, a vegetação, tudo está relacionado à geologia, à geodiversidade. O geoturismo pode ajudar as pessoas a fazerem estas relações. É um turismo interpretativo”, defende o professor.

De acordo com Brilha, a Unesco faz o reconhecimento de geoparques desde 2004. Atualmente há mais de 50 unidades no mundo. O Brasil é o único país das Américas que tem um geo-parque reconhecido, o Geoparque Araripe, no Ceará. Há propostas para criação de outros, entre eles o Geoparque Serra da Bodoque-na – Pantanal, em Mato Grosso do Sul; o Geoparque Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, e dos Campos Gerais, no Paraná.

Na opinião do professor, o Brasil, por sua dimensão, tem grande potencial para criação de geoparques, com relevância nacional e internacional. Falta inventariar esse patrimônio, para que ele seja conhecido e seja possível promover sua conservação. “Os países europeus têm seu inventário e essa não é tarefa fácil. Mas é possível, utilizando metodologias corretas. É uma opção de responsabilidade das autoridades do País”, considera o professor.

O objetivo do curso promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFSC é divulgar os conceitos de geoparque e de geotu-rismo como estratégias para conservação da natureza. Visa também sensibilizar pesquisadores, dirigentes e políticos para a necessidade de implementar estratégias de geoconservação. (A.R.)

UFSC, Zenilda L. Bouzon. “A expectativa é tornar o Brasil inde-

pendente das importações”, complementa a pesquisadora Leila Hayashi, que trabalhou com a espécie em sua tese de doutorado e foi convidada a atuar como pesquisadora visitante na UFSC, dando continuidade aos estudos com a Kappaphycus alvarezii. Ela alerta, no entanto, para uma divulgação cuidadosa do potencial desse cultivo em Santa Catarina.

“Até agora os resultados são positivos e mostram que a espécie se adapta bem às condições do litoral de Santa Catarina. Mas ainda estamos em fase de estudos”, deixa bem claro Leila. Segundo ela, os estudos buscam tecnologia para cultivo sustentado da espécie e a seleção de linhagens mais produtivas, para produção de carragenana de qualidade. Há também investigações para desenvolvimento de tecnologia para secagem da alga, já que em Florianópolis a ocorrência de chuvas complica esse processo.

Além disso, as pesquisas buscam tecno-logia que garanta um cultivo seguro da alga. Isso porque uma das vantagens da espécie, seu rápido ciclo de crescimento (cerca de 45 dias), é também um risco à propagação descontrolada. Espécie exótica originária das Filipinas, o manuseio da Kappaphycus alvare-zii exige controle para que se evite a chamada contaminação biológica (quando uma espécie exótica se prolifera descontroladamente).

Leila participou de estudos que deram suporte à elaboração de uma estrutura normativa para regulamentação do cultivo dessa espécie de alga no País. Segundo ela, as perspectivas para o litoral brasileiro dependem de um programa estratégico que contemple estudos do ciclo produtivo, processamento e comercialização. Somen-te com esse suporte serão recomendados cultivos comerciais.

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O cultivo é realizado

a partir de pedaços de talo,

amarrados em cabos mantidos

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como balsas ou long-lines

usados na produção

de ostras e mexilhões

Fotos: Jones Bastos

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Celita CamposJornalista na Agecom

A mestranda Mariana Sant’Ana Miceli, do curso de Pós-Graduação em Direito da UFSC e pesquisadora do Núcleo de Estudos Jurí-dicos e Sociais da Criança e do Adolescente (Nejusca/UFSC), planejou desenvolver seu trabalho de mestrado como uma atividade de extensão, de forma a contribuir para o desenvolvimento humano dos envolvidos. O “Projeto Crescer Direito: Direito da Criança e do Adolescente na Escola”, desenvolvido desde 2008 na E. E. Wanderley Júnior, no município de São José, envolvendo cerca de 150 alunos do ensino médio (segundos e terceiros anos), foi classificado entre os sete finalistas do V Concurso Nacional de Causos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), com o título “A vida é uma invenção”. O concurso é promovido pela Fundação Telefônica e os três premiados serão conhe-cidos no mês de outubro, em evento a ser realizado em São Paulo.

Para Mariana, que é assessora jurídica da Procuradoria-Geral de Justiça do Ministério Público de Santa Catarina, a experiência prática com adolescentes fez com a UFSC valorizasse mais os saberes práticos da

Projeto Crescer Direito vira causo e é finalista em concurso nacional

comunidade na qual está inserida e aumen-tasse a proteção de crianças e adolescentes, ao estimular o seu senso de responsabilidade e autonomia. Partiu de Mauro Teske, profes-sor de sociologia da E. E. Wanderley Júnior, o convite para que o Nejusca, coordenado pela professora Josiane Rose Petry Verone-se, incluísse em seu trabalho a escola, para oferecer aos seus alunos uma informação mais ampla sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente.

A pesquisa, que pretende promover a in-tegração entre a instituição e a comunidade, não só prevê ações pedagógicas em sala de aula como também atividades extraclasse, com o atendimento individualizado aos alunos/pais/responsáveis fora do horário escolar. Durante a execução do projeto fo-ram apresentados e discutidos os temas Paz (violência urbana e no trânsito), Medidas de proteção (ato infracional, medidas específi-cas de proteção, medidas sócio-educativas e medidas aos pais ou responsáveis), Dis-ciplina (indisciplina escolar e limites na edu-cação), Família (violência doméstica), Lazer e educação (trabalho precoce), Bullying (violência em sala de aula) e Convivência sadia e jogos de luta: respeito, liberdade e dignidade (prática de esgrima).

Resultados semeados aqui e ali

Estar entre os sete finalistas nacionais foi uma surpresa, por-que havia cerca de 800 inscritos na categoria vídeo no concurso do ECA. Mariana nem imaginava que chegaria tão longe quando visitou o site www.promenino.org.br, da Fundação Telefônica, e colocou ali o trabalho em formato de vídeo inscrito sob o título “A vida é uma invenção”, realizado com o cinegra-fista da UFSC Daves Brossi, respon-sável pelas filmagens e edição do material.

O projeto será divulgado nacio-nalmente em formato de DVD, junto com os demais finalistas (a maioria de São Paulo), e também no portal do site para todo o público. Se ficar entre os três vencedores, a premia-ção (em dinheiro) será divulgada no

dia da realização da cerimônia final do concurso, em São Paulo, em data a ser definida pelos promotores. De uma coisa tanto Mariana quanto os adolescentes já estão certos: os recursos provenientes do prêmio serão utilizados para o custeio da formatura dos alunos do projeto, que concluirão o ensino médio no final deste ano.

Para alegria de Mariana Miceli, o trabalho de sua dissertação de mestrado já começou a dar resul-tados para que o projeto seja leva-do adiante e aconteça em outras escolas públicas da Grande Floria-nópolis: a Secretaria de Estado da Educação aprovou a “Semana das Atividades Diversificadas nas Esco-las”, que será realizada pelo menos uma vez por mês.

Depois de um ano e meio de convivência, Mariana descreve os adolescentes como “apaixonados e apaixonantes”. Conforme a mestranda, a aproximação entre os estudantes foi facilitada à medida que se abando-nava a discussão em torno de regras jurídicas e se ampliavam as atividades interativas. Menos agressão e mais res-peito entre os alunos foram observados quando os adolescentes tiveram as suas experiências pessoais valorizadas no contexto escolar. “Desta maneira, os efeitos parciais do projeto começaram a se multiplicar de tal forma que já não havia mais como negar o fato de que esses alunos tiveram avivado o anseio de buscar seu próprio ‘direito de ser’”, explica Mariana.

Menos agressão e mais respeito na busca pelo direito de ser

Mariana: “eles são apaixonados e apaixonantes”

Projeto Crescer Direito estimulou crianças e adolescentes da Escola Wanderley Júnior a valorizar os saberes práticos de sua comunidade

Pesquisa, que promove a integração entre a instituição pública e a comunidade, discute temas como paz, disciplina e bullyng a fim de tornar crianças e adolescentes mais conscientes

Foto: Lucas Sampaio

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UFSC - Jornal Universitário - Nº 404 - Setembro de 2009 - PÁG 10

Arley ReisJornalista na Agecom

Contemplada no Programa Institutos

Nacionais de Ciência e Tecnologia, a Universidade Federal de Santa Catarina vai colaborar com o fortalecimento dos estudos antropológicos no Brasil. Entre as quatro propostas da UFSC aprovadas neste programa está o Instituto Nacio-nal de Pesquisa Brasil Plural, que terá coordenação da professora Esther Jean Langdon, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social.

Povos indígenas, populações rurais, comunidades afro-descendentes, cabo-clos e agrupamentos religiosos estão entre os focos da entidade, que receberá, nos próximos três anos, R$ 2,4 milhões para colaborar com a realização de estu-dos sobre a Amazônia e o Sul do Brasil. Os recursos são provenientes do CNPq, da Fundação de Apoio à Pesquisa Cien-tífica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e da Fundação de Am-paro à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). De acordo com a professora

Instituto Nacional de Pesquisa Brasil Plural fortalece pesquisas sobre a Amazônia e a Região SulPovos indígenas, populações rurais, comunidades afro-descendentes, caboclos e agrupamentos religiosos estão entre os focos da entidade

Esther, a proposta contempla um amplo campo de pesquisas, formação, de exten-são e de intervenção, prevendo estudos comparativos entre as realidades das duas regiões.

Parceiros - O Instituto Nacional de Pesquisa Brasil Plural congrega inicial-mente duas instituições universitárias, tendo como sede a Universidade Federal de Santa Catarina, por meio do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, seus diversos núcleos de pesquisa, pro-fessores e pesquisadores, além do Museu Universitário. A outra instituição é a Uni-versidade Federal do Amazonas (UFAM), incluindo o campus avançado de Benjamin Constant e o Museu Amazônico.

Também compõem a rede de pesqui-sadores o Mestrado Profissional em Pla-nejamento Territorial e Desenvolvimento Sócio-Ambiental (MPPT), da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), e o Mestrado Profissionalizante em Gestão de Políticas Públicas, da Universidade do Vale de Itajaí (Univali). Haverá ainda colaboração com a Universidade Federal do Acre (onde a UFSC participa da cons-

trução de um Programa Interinstitucional de Mestrado e Doutorado) e com o Centro de Pesquisa Leônidas e Maria Deane, da Fiocruz-AM, entre outros grupos de uni-versidades de Santa Catarina, do Paraná e da Região Amazônica.

De acordo com a professora Esther Jean, o aporte financeiro vai permitir a realização de pesquisas de campo pro-longadas. “Raramente os financiamentos são suficientes para os altos gastos de pesquisas no interior de Santa Catarina ou na Região Amazônica, principalmente aquelas de longa duração, requerimento importante para uma parte significativa das pesquisas realizadas por alunos de mestrado e, particularmente, do douto-rado, e fundamentais para as pesquisas que levam à formação em nível de dou-torado”, explica.

Serão prioritários estudos compara-tivos, contemplando temáticas trans-versais como “Saúde e diversidade: práticas corporais, atenção à saúde e práticas terapêuticas”; “Comunidades tradicionais e modos alternativos de sociabilidade”; “Patrimônios culturais

materiais e imateriais, práticas rituais e performances”; “Novos movimentos sociais, reivindicações identitárias e políticas de reconhecimento”; “Gênero, sexualidades e cidadania”; “Violências, conflitualidade, segurança pública, cida-dania e direitos humanos” e “Educação e diversidade cultural”.

Segundo a professora, a contrapar-tida da Fapesc foi fundamental para que a proposta da UFSC fosse aceita. O apoio local levou também a uma refor-mulação do projeto inicial, que focava especificamente a Amazônia, e agora contempla também as populações do Sul do Brasil.

“O objetivo maior do instituto é de-senvolver, em ambas as regiões, um programa comparativo de pesquisas que permita sustentar, por um lado, ativida-des de formação avançada de cientistas sociais com uma visão mais ampla e articulada das várias realidades brasilei-ras, e por outro um conjunto de ações de divulgação e extensão e de subsídios para ações de intervenção e de políticas públicas”, detalha a professora.

As equipes integradas ao Institu-to Nacional de Pesquisa Brasil Plural atuarão com três objetivos princi-pais. Um deles é desenvolver um programa articulado de pesquisas comparativas na Região Amazônica e no Sul do País. Outra meta é a formação de recursos humanos e o apoio a novos grupos de pesquisa e programas de pós-graduação. O terceiro objetivo é o fortalecimento do Programa de Pós-Graduação do Amazonas, recém-formado.

Um dos objetivos do instituto é desenvolver um programa comparativo de pesquisas que permita sustentar atividades de formação avançada de cientistas sociais com uma visão mais ampla e articulada das várias realidades brasileiras

Pesquisa, capacitação de recursos humanos e extensão

A transferência de conhecimento para a sociedade é outro desafio das equipes. “Vamos trabalhar em sete temas transversais, com a expec-tativa de gerar conhecimento para subsidiar políticas públicas, qualificar e instrumentalizar ações governa-mentais e demandas das próprias comunidades”, explica a coordenado-ra Esther Jean Langdon. Os estudos irão permitir também a prestação de assessoria para populações locais e órgãos públicos. Foto: sxc.hu/ Fernando Weberich

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UFSC - Jornal Universitário - Nº 404 - Setembro de 2009 - PÁG 11

OmbudsmanA credibilidade dos jornalistas

Saiu há pouco o resultado de uma

pesquisa que põe jornalistas, profissionais de marketing e publicitários entre as 10 profissões com maior índice de credibilida-de no Brasil. Respectivamente na quinta, oitava e nona posições. A pesquisa foi re-alizada pelo grupo alemão Gfk, que ouviu 17 mil pessoas em 16 países europeus, nos EUA e no Brasil. No plano internacio-nal, porém, as três profissões ocupam as 12ª, 13ª e 16ª posições. Talvez porque o povo, nesses países, tenha mais acesso à educação e, consequentemente, maior discernimento crítico.

Bombeiros, carteiros, médicos e pro-fessores de ensino fundamental e médio obtiveram os melhores índices. Vale lembrar que os políticos, sem nenhuma surpresa, ficaram em último lugar, com apenas 16% de credibilidade no Brasil e 18% internacionalmente.

Meu foco são os jornalistas e o jor-nalismo, meu território há 35 anos. Há coisas boas e ruins para falar. Diante do enorme poder que a mídia exerce, hoje em dia, sobre a opinião pública, acho melhor alertar para alguns problemas.

Parece-me que, apesar de não serem poucas as vezes em que nós jornalistas nos precipitamos e atropelamos os acontecimentos, pecamos pela falta de análise consistente, abusamos da superficialidade e não contextualizamos devidamente os fatos – para não falar daqueles que ideologicamente optam por desvirtuar, omitir e manipular in-formações – a população ainda têm nos olhado com confiança porque, num país em que os poderes públicos pouco fazem, perdidos em burocracias e lutas intestinas pelo poder, coube à mídia a tarefa de responder minimamente às angústias do povo.

Um dos problemas é que, na ânsia de fazer justiça, os jornalistas, não raro, ultrapassam os limites da sua função e passam a proferir sentenças, sobretudo condenatórias, antes mesmo da Justiça se manifestar. Simples suspeitas viram manchetes de primeira página. E des-mentidos, não raro, se escondem num pé de página. A mídia, que tanto se ar-vora no direito de a todos julgar, dedica-se muito pouco a admitir, publicamente, seus erros e os interesses que estão em jogo. E que não são poucos.

Há uma corrida, cada vez maior, pelo que se denominou de “espetacularização” da notícia. Tudo vira espetáculo. Inclusive tragédias. E diante de um drama brutal que acaba de acontecer, com famílias chorando seus mortos, os jornalistas se acham no direito de fazer perguntas. Há uma invasão de privacidade. Há um despudor sem limites.

Entra-se no cenário de um drama sem pedir licença à dor alheia. Há a busca insistente por imagens e depoi-mentos impactantes, que emocionem as multidões.

Nos jornais e telejornais, já ouvi de editores: “Tem imagem? Não, então a matéria não entra.” Ou a ela se desti-na um cantinho do jornal/telejornal. Conteúdo, relevância para a sociedade, exemplos esclarecedores do que está acontecendo? Tudo fica em segundo plano para dar passagem à sua exce-lência, a imagem, como se ela fosse a suprema revelação da verdade. Mas sabemos que ela pode ser tão mani-puladora da verdade quanto qualquer texto panfletário. Para isso há a edição

e, antes dela, a escolha mesmo de um fato. Quando e para onde eu aponto a minha câmera? O que dirá o meu texto? Num conflito entre traficantes e policiais, que tem a população das favelas como maiores vítimas, onde estou posicionado? Atrás dos policiais ou lá dentro da favela? Só o lugar, de onde acompanharei o de-senrolar dos fatos, já define muito. Quem são as minhas fontes? São sempre só as autoridades? Dá-se a palavra, em horário nobre, ao povo, como protagonista, ou ele será sempre um coadjuvante? Será sem-pre das autoridades ou dos intelectuais a versão final dos episódios? Que frases de cada personagem escolherei para narrar o que aconteceu e interpretar o sucedido? Escolhas não são isentas de conteúdo ide-ológico. Nem mesmo as palavras. Escrevo “invasão” ou “ocupação” do MST? Você é um trabalhador “multifuncional” ou será que está mesmo com uma sobrecarga de trabalho? O problema é que boa parte dos jornalistas “naturaliza” os conceitos como se fossem imparciais. Ao noticiar um fato, nenhuma neutralidade é possível. Pior ainda se o jornalista desconhecer isto. Quanto mais consciência política e ética o jornalista tiver, menos enganará a si e aos consumidores de suas notícias.

A mídia é hoje peça fundamental no tabuleiro do jogo de poder. Atualmente as empresas de comunicação têm participa-ção em outros negócios que, no mínimo, a põe sob suspeita ao noticiar muitos eventos. Um exemplo emblemático: segundo Mauro Malin, no Observatório da Imprensa, a Folha de S.Paulo é sócia, desde 1996, da Odebrech, do Unibanco e da americana Air Touch num projeto de telefonia celular, a famosa Banda B. Em 1994, o jornal publicou reportagens em que o nome da Odebrech aparece 244 vezes, sempre de modo negativo. Em 1996, com a sociedade já selada, a construtora é citada apenas 90 vezes e a imagem negativa em não mais do que 5% do total. Isso acontece com vários veículos de comunicação e empresas.

Costuma-se dizer que se as pessoas soubessem o que contém uma salsicha, talvez não comeriam. Exagero à parte, pode-se também dizer que se a população soubesse como se escolhem as notícias (e os jornalistas!), como são escritas, nar-radas e comentadas e a quais interesses servem, talvez essa credibilidade que apa-rece na pesquisa ficasse um tanto quanto abalada. Ou como brilhantemente definiu o sociólogo Boaventura de Sousa Santos: “Quem tem poder para difundir notícias, tem poder para manter segredos e difundir silêncios. Tem poder para decidir se o seu interesse é mais bem servido por notícias ou por silêncios.”

Celso Vicenzi é jornalista e ex-presidente do Sindicato dos Jorna-listas Profissionais de SC

JU dos leitoresNa edição n° 403 do Jornal Uni-

versitário, de agosto de 2009, há uma reportagem que gostaria de comentar, chamada Torre escuta conversa entre biosfera e atmosfera.

Afirma-se na referida reportagem que a citada torre permitirá aos cien-tistas “ver até onde a floresta amazô-nica se relaciona com o aquecimento global”. Ocorre que não existe aqueci-mento global, mas sim arrefecimento global. As temperaturas são declinan-tes desde 2003 e o sol está em um período de baixa atividade (ausência de manchas solares). Pode se repetir o período frio chamado Mínimo de Dalton, que ocorreu no início do século XIX, quando foram registradas geadas en Goiás em pleno mês de janeiro. Portanto, devemos estar preparados para um clima mais frio e seco. Outra afirmação incorreta é a de que na bio-massa e no solo da Amazônia haveria vinte vezes mais carbono do que todo

estoque mundial. A Amazônia faz parte do mundo, logo, a parte não pode ser maior que o todo. Será que a floresta amazônica tem mais carbono do que a taiga siberiana, que é a maior floresta do mundo?

Atenciosamente,Jaime Antonio Zanluchi - Acadê-

mico de Agronomia da UFSC

N.R.: Jaime entende de climato-logia. Parece que a confusão reina no mundo da ciência, que não se cansa de falar do aquecimento. Quanto ao estoque do carbono, a informação é do conferencista, aliás, renomado e considerado. O Painel Intergoverna-mental sobre Mudança Climatológica (IPCC) sublinha, por exemplo, que os líderes do G8 prometeram limitar o aquecimento global a 2°C. Será que ignoram o arrefecimento?

Fazer o caminho inverso ao traçado por artistas como Paul Cézanne, Milton Dacosta e Aldemir Martins foi o objetivo de Karin Orofino, Sandra Nunes e San-dra Ramalho. O resultado está em exposição no Espaço Estético do Colégio de Aplicação, até o dia 17/09: Natureza Viva traz doze quadros de natureza-morta e arranjos semelhantes aos quadros formados por frutas, garrafas e colheres.

As recriações servirão de referência para as produções das crianças do Aplicação, que podem tocar nos objetos, trocá-los de lugar e trazer outros elementos para complementar os cenários. - Por Tifany Ródio, bolsista de Jornalismo na Agecom

Foto: Lucas Sampaio

Tiago PereiraBolsista de Jornalismo na Agecom

“O diferencial é o foco do estudo. Ques-tões não antes estudadas como a identi-dade étnica da região agora são retratadas de forma peculiar”. É o que diz a professora Eunice Sueli Nodari, do Departamento de História, sobre o livro Etnicidades Renego-ciadas - Práticas Socioculturais no Oeste de Santa Catarina, recentemente lançado pela Editora da UFSC.

Segundo a autora, a obra é resultado da tese de doutorado apresentada há alguns anos. Desde 1993, Eunice tem se dedicado a estudar as características socioculturais do oeste catarinense, re-alizando frequentes viagens e pesquisas históricas. “Já é um trabalho de tempos. À medida que percebi as mudanças na região, pensei que seria interessante tratá-las em uma obra maior”, afirma.

O livro, de 222 páginas, busca esclare-cer questões relacionadas à formação do Extremo Oeste Catarinense e suas particu-laridades socioculturais durante o período de 1917 a 1954. O termo “renegociação cultural” é usado várias vezes pela autora como referência ao processo de imigração de colonos do Rio Grande do Sul descen-dentes de italianos ou alemães.

Livro desvenda a formação do Oeste Catarinense

Na opinião de Sueli, apesar da forte pre-sença atual de pessoas de origem italiana e alemã na região, as cidades (no caso Joaçaba e Chapecó) não são caracterizadas por uma identidade teuta ou ítala, como ocorre em outros lugares de Santa Catarina. “É estranho ver como cidades como Joinville e Blumenau são claramente marcadas por elementos da cultura alemã, por exemplo, e Chapecó e Joaçaba não possuem esse traço”.

A explicação está no fato de a grande ocupação das duas cidades ter ocorrido du-rante o Estado Novo, período compreendido na chamada Era Vargas entre 1937 e 1945. “Foi um momento atípico, em um período em que a identidade nacional deveria pre-valecer sobre a local, portanto não chegou a ser formada uma cultura interna e com laços fortes”.

O livro analisa também as mudanças e as principais diferenças entre as cidades de Joaçaba e Chapecó, desde a criação até o momento atual. Características como planejamento e a localização geográfica são usadas para esclarecer as diferentes proporções de crescimento e desenvolvi-mento que as duas cidades alcançaram no decorrer dos anos.

Informações: Eunice Sueli Nodari – [email protected], fone (48) 3721-8304.

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UFSC - Jornal Universitário - Nº 404 - Setembro de 2009 - PÁG 12

Paulo Clóvis SchmitzJornalista na Agecom

O Museu Universitário Oswaldo Rodrigues Cabral, instalado na

UFSC desde 1968, é uma bela viagem ao passado do Estado e do País e, ao mesmo tem-po, um poço de problemas. Ali estão coleções indígenas

de riqueza incalculável, docu-mentos e fotografias com cópia única e peças cerâmicas sem similares no Brasil. Por outro lado, o museu está impossibilitado de

realizar exposições e exibir o seu acervo, porque o pavilhão destinado a esse fim se encontra em obras há

quatro anos e não tem prazo para ser concluído. Faltam R$ 1,5 milhão para

terminar a parte física e mais recursos para a compra de material da reserva técnica e para os primeiros eventos de grande porte que a direção

da casa planeja realizar.A importância da arqueologia pré-colonial e his-

tórica e da etnologia indígena pode ser medida pelos zoolitos de oito mil anos e pela riqueza dos sambaquis coletados no Estado e ali expostos, mas há também a valiosa coleção “Profª Elizabeth Pavan Cascaes”,

que contém mais de 2.700 peças – desenhos, es-culturas e manuscritos deixados pelo folclorista Franklin Cascaes – que retratam o modo de vida, a religiosidade, as lendas e mitos e os folguedos dos colonizadores da Ilha de Santa

Um acervo sem vitrineCatarina. Um pote marajoara doado pelo arquiteto Tom Wildi, cromado e com pintura antiquíssima, só tem similares em museus norte-americanos, e peças de cerâmica antropomorfa de origem guarani remetem aos habitantes que ocupavam parte do continente antes da chegada do homem europeu.

Tudo isso está bem guardado e acondicio-nado, porém não pode ser mostrado ao público porque o prédio novo ainda não reúne condições de abrigar exposições. “Precisamos terminar as obras para então estabelecer projetos museo-lógicos, ou seja, pensar no arcabouço teórico, de forma a realizar eventos que tenham caráter educativo, de fundo crítico”, diz Hermes Graipel, diretor de pesquisa do museu. Além disso, há a questão museográfica, que é a maneira de mostrar o acervo, dentro de critérios técnicos corretos. “É preciso usar uma linguagem com-preensível para o público”, alerta o diretor. E existe também a preocupação com a segurança e a integridade das peças, muitas feitas em pa-pel, que exigem cuidados especiais adequados para não se deteriorar.

A busca por recursos é uma luta permanen-te na direção do MU. A Lei do Mecenato, o Fundo Nacional de Museus, editais, leis de incentivo à cultura, emendas ao orçamento federal – todas as possibilidades são levadas em consideração na hora de levantar o dinheiro necessário para concluir a obra do pavilhão. Antigas parcerias com a Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Petrobrás e Costão do Santinho Resort ajudaram a casa a se manter e realizar eventos importantes. Também o Instituto Vitae partici-pou de projetos, e a própria Universidade, por meio de seus profissionais, construiu a história do museu, que reúne o maior espaço museo-gráfico entre as universidades federais no país e em breve ganhará o status de maior espaço

museal de Santa Catarina.A diretora Teresa Fossari explica que 90% do

acervo foram coletados por meio de pesquisas e escavações realizadas desde os tempos do professor e historiador Walter Piazza, da diretora Anamaria Beck e do antropólogo Sílvio Coelho dos Santos. “A coleção indígena é fruto dessas pesqui-sas”, diz ela. Em muitos casos, são documentos, fotografias e peças que nem as prefeituras das regiões pesquisadas tiveram tempo de guardar, por causa da expansão imobiliária e da transfor-mação urbana dos municípios catarinenses.

Trabalho de bastidor – Mesmo sendo uma referência nacional, o museu trabalha dentro de uma precariedade funcional extrema, com apenas cinco pessoas com formação específica, buscadas por iniciativa própria, para dar conta das demandas da casa. Hoje, as principais atividades são a pesquisa, a conservação, o restauro e o acondicionamento do acervo, que independem de eventos e da presença do público no museu. “É um trabalho diário, incessante, de bastidor, que não aparece, mas que é importante para a me-mória e a cultura de Santa Catarina”, diz Hermes Graipel. “Quando for possível, vamos aprofundar o diálogo com o público, por meio de exposições onde ele vai poder interpretar esse acervo”.

O Museu Universitário tem mais de 40 mil peças e é fonte constante de pesquisas feitas por alunos de mestrado, doutorado e pós-doutorado. O prédio em fase de construção tem capacidade para abrigar duas exposições simultâneas e tem duas salas para o pré-preparo do acervo, além de uma mesa de higienização. O último dos três andares não terá cobertura, permitindo mostras ao ar livre e com peças de qualquer tamanho. Quando estiver pronta, a nova estrutura elimina-rá os problemas do antigo centro de exposições, afetado pela umidade, pragas e oscilações de temperatura e luminosidade.

Pote marajoara cromado e com pintura antiquíssima

só tem similares em museus norte-

americanos

O pavilhão destinado a expor o acervo está em obras há quatro anos e não tem prazo para ser concluído

Noventa por cento do acervo foram coletados por meio de pesquisas e escavações

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Exposições dependem da conclusão do pavilhão, cujas obras começaram há quatro anos

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