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Esta edição fala sobre pequenos animais usados como modelos para pesquisas. O C. elegans é um deles, um verme que é encontrado em todas as partes do mundo, na superfície da terra, possui uma membrana transparente e os mesmos mecanismos biológicos do homem, Já a mosca Bradysia hygida é pesquisada no Laboratório de Morfologia (FMRP), cuja história é publicada com exclusividade pelo JC. Na página 2 resgatamos um texto da pesquisadora Iara Bravo, formada na FFCLRP, sobre mais um inseto modelo. Para fechar com chave de ouro, uma entrevista com o pesquisador Dr. Dimas Tadeu Covas, sobre o livro recém-lançado e premiado, sobre células tronco. O Jornal das Ciências é uma publicação da Casa da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto distribuído gratuitamente aos professores da rede básica de ensino de Ribeirão Preto e região.
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PROJETO EDUCACIONAL CTCFACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO
CENTRO REGIONAL DE HEMOTERAPIA
Um minúsculo
animal que possui
exatamente 959 células somáticas - um
homem adulto possui alguns trilhões de
células-, é utilizado em pesquisas sobre
genes e morte celular, e sua relação
com doenças como o câncer. Da família
da lombriga, o Caenorhabditis elegans
é um nematóide que vive na superfície
da terra, encontrado em todo o mundo;
de vida livre, não é parasita, nem
transmite doenças. É difícil visualizar
este animal, pois mede 1 mm quando
adulto - para observá-lo é necessária a
utilização de microscópio óptico. Dentre
os poucos pesquisadores no país que
trabalham com este pequeno verme,
está o professor da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto, José
César Rosa, do Centro de Química de
Proteínas.
Os primeiros estudos com C.
elegans surgiram em 1963, com o
pesquisador sul-africano Sydney
Brenner, que o estabeleceu como um
novo modelo exper imenta l de
organismo - o qual lhe rendeu o Prêmio
Nobel de Medicina e Fisiologia em
2002, juntamente com outros cientistas.
Os motivos da escolha como modelo
para estudos de biologia são as suas
características, tais como: curto ciclo de
vida, tamanho pequeno, corpo
transparente, a facilidade de cultivo e de
cruzamento. “É um animal multicelular e
possui os mesmos mecanismos
biológicos de um animal tão complexo
como o homem”, afirma César Rosa,
que possui formação em Farmácia e
Bioquímica. Ele se alimenta de
bactérias do solo, ou quando cultivado
em laboratório é alimentado com
Escherichia coli, uma cepa de bactéria
que é depositada como um filme na
superfície do meio de cultura -
composto por agar (obtido de algas
marinhas) e sais minerais.
Desenvolvimento
Este nematóide vive de 11 a 20 dias
e seu desenvolvimento embrionário
dura 11 horas. Seu organismo é envolto
por uma película transparente (rica em
colágeno) o que permite acompanhar
todo o seu desenvolvimento e observar
as diferentes linhagens de células que
Ribeirão Preto, Maio de 2008 - N°18 Ano 08
Elegante e versátil
C. elegans: verme usado como modelo em pesquisas. Escala 0,7 µm
Hermafrodita
Mutação
Fenótipo
- organismo que possui órgãos sexuais
masculino e feminino no mesmo indivíduo.
- mudanças estruturais que ocorrem nos genes.
Pode ter origem casual ou induzida na informação genética.
A mutação só é passada para os descendentes de
organismos complexos se ocorrer em células germinativas.
- constituição e aparência física que varia entre
indivíduos, como a cor dos olhos. É determinado até certo
ponto pelo genótipo, conjunto de genes de um indivíduo.
compõem seu corpo. Estudos mostram
que, eliminando uma determinada
célula do embrião, em um determinado
tempo da embriogênese, o animal
adulto será deficiente ou deformado
naquela estrutura específica, a qual, a
célula embrionária destruída, dará
origem. Desta forma, é possível estudar
mecanismos biológicos envolvidos no
desenvolvimento do animal e compará-
los com os de animais superiores, como
o homem.
Os estudos de mutações em genes
específicos também são facilitados.
“Geralmente induzimos uma mutação
para verificarmos características
fenotípicas que, em C. elegans, podem
ser um aumento ou uma
d i m i n u i ç ã o d a
l o n g e v i d a d e , u m a
descoordenação dos
movimentos, ou uma
menor resposta a odores”,
explica o professor.
Quanto ao sexo, C.
elegans são hermafroditas e 0,5%
da população são machos. Os
hermafroditas carregam mil células
germinativas e, por autofecundação,
podem gerar milhares de novos
indivíduos similares. É muito utilizado
em pesquisa genética, pois dos
cruzamentos entre si, é possível reduzir
a variabilidade genética, conseguindo-
se manter uma população homogênea
ao longo do estudo. “É um modo de
manipu lar genet icamente uma
população e em três dias já se tem uma
prole muito grande”, explica.
Outra curiosidade é que, de suas
959 células somáticas (formam tecidos
e órgãos do corpo), 302 são neurônios
ligados a placas motoras e células
sensoriais. Como não possui olhos,
'enxerga' por meio dos odores. Ele
possui um movimento de cenosóide,
como da minhoca, e traça seu caminho
de uma forma coordenada e elegante,
daí o adjetivoem seu nome cientifico
(elegans).
Morte celular
Todas as células do nosso
organismo um dia morrem e são
programadas para isto, fenômeno
chamado de apoptose. E C. elegans
mostra isso de maneira muito clara: de
suas 959 células somáticas, 130 são
programadas para morrer durante o
ciclo de vida do animal. Conhecer os
mecanismos que determinam esse
destino ajuda as pesquisas de alguns
tipos de câncer, como melanoma (de
pele) e leucemias (do sangue). “Nas
pesquisas, desejaríamos que as
células cancerosas tivessem a morte
programada acelerada, interferir nos
genes que vão produzir proteínas -que
disparam toda cascata de apoptose-
que acabaria com aquela célula que
está anormal, não-funcional”, afirma o
professor. Também para entender qual
o papel de genes e seus produtos -as
p r o t e í n a s - q u e a g e m n a
intercomunicação celular, e comandam
Ribeirão Preto, Maio de 2008 - N°18 Ano 08
Esta edição do Jornal das
Ciências fala sobre pequenos
animais, usados como modelos
para pesqu isas , os qua is
provavelmente você nunca ouviu
falar. O C. elegans é um deles, um
verme que é encontrado em todas
as parte do mundo, na superfície
da terra, possui uma membrana
transparente e os mesmo
mecanismos biológicos do homem.
Já a mosca Bradysia hygida é
pesquisada no Laboratório de
Morfologia (FMRP), cuja a história
é publicada com exclusividade pelo
Jornal das Ciências. E na página 02
r e sga tamos um tex to da
pesquisadora Iara Bravo, formada
na FFCLRP, ex-aluna do professor
Maurílio, sobre mais um inseto
modelo.
E para fechar com chave de
ouro, uma entrevista com o
pesquisador Dr. Dimas Tadeu
Covas, sobre o livro recém-
lançado, e premiado, sobre
células-tronco. No Trilha, os
alunos, como sempre, nos
surpreendem. A peça de teatro
“Agonia de uma Célula”, criada em
2002 pelos alunos, juntamente
com sua professora, foi encenada
em Brasília, na IV Semana
Nacional de Ciência e Tecnologia,
em outubro.
Boa leitura!
O Jornal das Ciências é uma publicação da Casa da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto/USP e distribuído gratuitamente nas escolas. É parte do Projeto Educacional CTC/CEPID/FAPESP. Coordenadores: Dimas Tadeu Covas, Marco Antonio Zago, Marisa Ramos Barbieri. Coordenadora Casa da Ciência e MuLEC: Marisa Ramos Barbieri. Redação e edição: Gabriela Zauith (MTb: 31.145) e Mara de Lima Alem (MTb 49.134). Revisão: Alzira Soares Sene. Diagramação: Mara de Lima Alem (MTb 49.134), Sandra Navarro e Vinícius Moreno Godói. Equipe Casa da Ciência: André Perticarrari, Eliana Cristina da Silva, Flávia Fulukawa do Prado, Fernando Trigo, Francisco A. da Silva Jr., Maria José de Souza G. Vechia, Vinícius Moreno Godoi. Apoio: Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto, Fundação Vitae, Fapesp e BT- Coseas/USP. Fotos: Divulgação/Casa da Ciência. Endereço: Rua Tenente Catão Roxo, 2501. CEP: 14051-140. Ribeirão Preto-SP. Telefone: (16) 2101-9308. Internet: http://ctc.fmrp.usp.br/casadaciencia. Email: [email protected]. Tiragem: 3.500 exemplares. Distribuição Gratuita. É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Editorial
02
Como ocorre em outros adultas.
animais, vários insetos É na fase adulta que
escolhem os parceiros com ocorre a seleção sexual. Os
quem vão se acasalar. Isso em machos se agregam em folhas
biologia se chama seleção das árvores, exalam um
sexual e tem conseqüências feromônio (cheiro) e exibem
importantes para a ecologia e um comportamento de corte
evolução das espécies. Em (batendo as asas em diferentes
muitos insetos são as fêmeas ritmos) para atrair as fêmeas.
quem fazem essa escolha, Essas, por sua vez, ao se
b a s e a d a s e m d i f e r e n t e s aproximarem do grupo de machos
características dos machos. escolhem alguns deles para
Uma espécie interessante e acasalar. Nos vários estudos
que pode servir de modelo para realizados para saber que
esse tipo de estudo é a mosca- características dos machos
das-frutas, Ceratitis capitata, que são importantes para a escolha
pertence à família Tephritidae. das fêmeas, têm-se visto que o
Essas moscas, em sua fase tamanho, a boa nutrição e a idade
imatura (larvas) são pragas de d o s m a c h o s s ã o f a t o r e s
frutas. As fêmeas adultas essenciais.
ovipositam logo abaixo da casca Essas moscas são facilmente
de frutos semi-maduros e quando criadas e suas características
as larvas eclodem se alimentam físicas, como o tamanho, e suas
da polpa destes. No final da fase características fisiológicas, como
larval elas “saltam” dos frutos e a nutrição e a idade podem ser
pupam no solo e, após um artificialmente manipuladas,
determinado período nesse adequando-se a diferentes testes
estágio, emergem as moscas em laboratório. Sendo
assim, estudos sobre
seleção sexual podem ser
realizados com sucesso e
baixo custo utilizando-se
e s s e s i n s e t o s c o m o
modelo.
* Iara Sordi Joachim -
B r a v o I n s t i t u t o d e
Biologia (Universidade
Federal da Bahia)
ErrataNa última edição do Jornal das Ciências, as fotos dos alunos Kelvin Henrique Souza de Oliveira e Eduardo Henrique da Silva Fernandes, no encarte Trilha da Ciência, saíram com os nomes dos alunos trocados.
M o s c a C e r a t i t i s capitata , ut i l izada como modelo em pesquisas.
1
2A B
Ribeirão Preto, Maio de 2008 - N°18 Ano 08
Nas décadas de 50 e 60, no Brasil começaram a ser
desenvolvidas pesquisas com insetos-modelo, como as
abelhas, as drosófilas e a Rhynchosciara. Naquela mesma
época, em Ribeirão Preto, pesquisadores descobriram um
pequeno inseto que foi usado para vislumbrar os mistérios de
cromossomos gigantes e a regulação dos genes. Hoje, essa
descoberta pode ser comparada à descoberta das células-
tronco.
O inseto em questão é a Bradysia hygida, coletada no
Campus da USP de Ribeirão Preto pelo professor Maurílio
Antônio Ribeiro Alves, no final de 1965, época em que era
aluno do curso de Biologia (Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras) e estagiário no laboratório de Biologia Celular
(departamento de Morfologia da Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto), orientado pelo professor Heni Sauaia.
Maurílio coletou duas fêmeas, próximo à faculdade, e as levou
para o laboratório. Colocou-as em caixas, esperando que
botassem ovos e que, a partir delas, surgisse uma criação. “E
por lá ficaram. A cada vez que olhávamos, estavam passando
para as fases de larva e pupa, e assim iam se disseminando -
mesmo com a comida não sendo renovada”, afirma Maurílio.
O inseto de uma vida inteira
Algum tempo depois, ao consultar a literatura, para saber
de que inseto se tratava, Maurílio verificou que a espécie não
estava descrita. A descrição foi publicada em 1968, na revista
Papéis Avulsos de Zoologia- número 22. O nome hygida foi
escolhido porque este inseto era mais forte e resistente do que
sua companheira de pesquisas, a Rhynchosciara angelae. Os
estudos com a Rhynchosciara duraram quatro
anos, pois os pesquisadores enfrentavam
dificuldades para mantê-las no laboratório. “Para
estimulá-las a se acasalar, apelamos para o som de
bolero para ouvirem”, conta Maurílio. No final, não
se acasalaram mais, e a espécie deixou de ser
utilizada para pesquisas. Mas, estava ali, ao
alcance do pesquisador, a Bradysia hygida.
A equipe do professor Sauaia trabalhou, por
cerca de 30 anos, com a espécie
e até hoje a cultura está mantida
no Laboratório de Morfologia,
servindo para pesquisas. As moscas
adaptaram-se facilmente às condições
do laboratório, como conta o técnico em
laboratório, Luiz Alberto Martins de
Andrade que, por três décadas, foi o
responsável pela manutenção dos
inse tos : “Pr ime i ramente , fo ram
alimentadas com rama de batata doce,
que estava difícil de se encontrar. E, após várias tentativas,
descobri pelo cheiro similar que a rama exalava, que o
chimarrão, fermentado, poderia dar certo. Deu, e é assim até
hoje”.
A visão de um cromossomo
Assim como a Rhynchosciara, a Bradysia tece seu casulo
com a saliva e, por isso, as glândulas salivares são muito
desenvolvidas - nelas estão localizados os cromossomos
politênicos (cromossomos gigantes), “os mais lindos”,
segundo Maurílio. E completa: “normalmente o cromossomo
politênico, no núcleo, está emaranhado. Na Bradysia, após o
esmagamento (técnica que faz com que as células se
espalhem), os quatro cromossomos politênicos ficam
facilmente separados. E isso não é uma coisa fácil de se
conseguir.”
Com os cromossomos politênicos são estudados os pufes
de RNA e DNA, sendo os últimos locais de amplificação
gênica, fenômenos hoje estudados com técnicas do DNA
recombinante (leia mais abaixo). “Podíamos dizer a hora em
que o pufe ia aparecer, o que permite estudar a regulação
gênica, o principal objetivo do laboratório”, diz o professor.
Morfologia
Durante as pesquisas a Bradysia, devido as suas
características morfológicas, mostrou-se também como um
excelente material didático. A fase larval possui quatro
estágios, facilmente identificados pela alteração da cor de sua
cabeça (quando ocorre a muda da larva) e ainda por ter uma
membrana quase “transparente”, possibilitando uma visão
interna de sua constituição.
Os cromossomos politênicos são encontrados nos insetos, protozoários e em células
vegetais; e quase sempre são relacionados a uma grande atividade funcional. Nesses
cromossomos há replicações sucessivas do genoma, permanecendo os filamentos reunidos, e
cada vez que determinada região precisa tornar-se ativa, são formados os pufes, onde há
síntese de RNA -denominados pufes de RNA. Na família Sciaridae (dos insetos) em regiões
específicas dos cromossomos politênicos se desenvolvem os pufes de DNA em que ocorre
amplificação do DNA - múltiplas cópias do segmento gênico antes do início da transcrição gênica.
A técnica de DNA recombinante permite combinar pedaços de DNA de diferentes
organismos. Isso significa que uma célula pode ser reprogramada para sintetizar uma proteína
particular, que normalmente não seria produzida nesta célula. Quando colocada em meio cultura,
a célula multiplica-se e as células-filhas, que possuem o mesmo material genético da célula-mãe,
podem também sintetizar a proteína desejada.
M o s c a d o g ê n e r o B r a d y s i a s p .
A . C r o m o s s o m o P o l i t é n i c o e B . C r o m o s s o m o a u t o s s o m i c o d e B r a d y s i a h y g i d a . 1 e 2 a c o m p a r a ç ã o e m e s c a l a .
03
04
EntrevistaRibeirão Preto, Maio de 2008 - N°18 Ano 08
Os insetos são animais-m o d e l o
usados nas pesquisas em biologia molecular, em especial o DNA (material genético da célula). Atualmente, as técnicas de DNA recombinante possibilitam interferir na atividade gênica e replicar o gene de interesse. Para falar um pouco sobre esses conceitos complexos, conversamos com Aparecida Maria Fontes, bióloga e pesquisadora do CTC (Centro de Terap ia Celu lar da Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto - SP), que durante dez anos participou dos estudos com a Bradysia hygida, iniciados quando era aluna da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da USP/ RP.
Jornal das Ciências - Qual a importância da Bradysia sp, como inseto modelo para as pesquisas em biologia molecular?
Aparecida M. Fontes - A Bradysia hygida é um organismo muito interessante pois apresenta uma característica rara entre os organismos eucariotos: os Pufes de DNA localizados nas suas glândulas salivares. Eles são as regiões especializadas dos cromossomos politênicos que apresentam genes cujo DNA é amplificado (possui várias cópias do mesmo gene) de maneira r e g u l a d a , a o l o n g o d o desenvolvimento. Isso significa que o nível de proteína dos genes localizados nos Pufes de DNA é controlado por dois mecanismos distintos: amplificação gênica (controle a nível de DNA) e transcrição gênica (controle a nível de RNA) . Para compor ta r essas 'maquinarias' de amplificar o DNA e transcrever o RNA, a cromatina sofre uma expansão, conhecida como Pufe de DNA.
J.C. - E as técnicas de DNA recombinante?
Saiba maisSíntese de uma nova
fita de DNA a partir de uma fita-mãe.
Síntese do RNA a
partir do DNA.
- Replicação de DNA:
- Transcrição gênica:
Sabemos que as principais maquinarias
das células, entre elas, as de
replicação, transcrição e tradução, são
conservadas ao longo da evolução. A
elucidação das mesmas, em um
organismo eucarioto modelo, que
permite detectar - por uma alteração
morfológica da cromatina -, os sítios de
amplificação e transcrição gênica,
poderá trazer importantes informações
para a ciência.
A.M.F. - Como o próprio nome diz, DNA recombinante é uma molécula híbrida. Um gene de interesse é colocado em um DNA circular, denominado plasmídeo. O plasmídeo possui a propriedade de se replicar em uma célula bacteriana ou eucariota e nos permite obter grandes quantidades da molécula recombinante relativa ao gene de interesse.
J.C. - Qual a importância do DNA recombinante para a ciência?
A.M.F. - Pretendemos elucidar, a nível molecular, de que modo as proteínas essenciais participam dos mecanismos de amplificação e transcrição gênica. Isso é possível c o m a t e c n o l o g i a d o D N A recombinante pois, desta maneira, um gene específico pode ser amplificado in vitro, isto é, podemos repeti-lo em um tubo de ensaio no laboratório, mas em uma escala muito maior. O que pode ocorrer em um organismo, por exemplo, durante o desenvolvimento do pufe de DNA? Muitas cópias de um mesmo gene. Esse gene amplificado in vitro pode ser seqüenciado para definirmos a proteína codificada por esse gene. Por fim, conforme a complexidade da proteína, podemos optar pela produção da mesma em uma célula procariota (núcleo não organizado) o u e u c a r i o t a ( c o m n ú c l e o organizado).
Se a proteína apresenta sítios de glicolisação (adição de açúcar) a mesma requer a produção em um sistema eucarioto. Caso contrário, pode ser produzido usando-se uma célula procariota para obtermos grandes quantidades de proteína, e tendo em mãos grandes quantidades de proteína, podemos proceder à sua p u r i f i c a ç ã o p a r a f u t u r a s caracterizações bioquímicas e funcionais do gene previamente isolado do pufe de DNA. Outra maneira elegante de realizarmos a caracterização funcional de um gene ser ia in t roduzi rmos em uma Drosophila sp porque essa mosca possibilita avaliarmos como se dá a
regulação do pufe ao longo do seu desenvolvimento e verificarmos em quais tecidos ele é expresso de maneira regulada, entre outras questões.
J.C. - Durante o período em que trabalhou no laboratório com a Bradysia sp, qual foi a contribuição que trouxe para o seu ambiente de trabalho atual?
A.M.F. - O conhecimento de um ambiente científico, mais os desafios a que somos submetidos no dia-a-dia e a alegria quando encontramos a resposta para nosso questionamento inicial. A contribuição que cada um de nossos trabalhos pode trazer para futuras investigações em um campo específico ou em outra área do conhecimento.
J.C. - No universo da ciência, quais são os conceitos importantes que um professor deve trabalhar com os alunos em sala de aula?
A.M.F. - Replicação de DNA; Transcrição Gênica; Cromossomos; Cromossomos Politênicos; Dogma Central: DNA RNA Proteína.
* Aparecida Maria Fontes foi estagiária de IC, fez mestrado e doutorado no Laboratório de Biocélulas com a professora Maria Luíza Paçó Larson . Desde 2001, é pesquisadora na Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto (SP), ligada ao CTC pelos programas do Fator VIII, para pacientes com hemofilia e, também, às pesquisas sobre célu la- t ronco mesenquimal.
01Ribeirão Preto, Maio de 2008 - N°18 Ano 08
Um espetáculo
Diálogo do Vírus com dois
alunos:
V:Quem sou eu?
A:O Vírus.
V:O que eu faço?
A:Comanda a Célula.
V:Depois que o vírus
comanda a célula, o que ele
faz com ela?
A: Mata e depois o vírus se multiplica.
V: Depois que o vírus se multiplica,
Quem vem para salvar as outras céluas?
A: Os macrófagos!
Ensaio da peça “Agonia de uma célula”
Apresentação da peça “Agonia de uma célula” no Museu Nacional, em Brasília. (Fotos: Carlos Cruz)
Vocês estão lembrados daquela dramatização apresentada aqui no Trilha, em 2003? Estamos falando de “Agonia de uma célula”, esta apresentação, que já foi premiada em Ribeirão Preto (veja mais no boxe da página seguinte), foi convidada a se apresentar na IV Semana Nacional de Ciência e Tecnologia em outubro de 2007 (04
a 0 7 ) r e a l i z a d a B r a s í l i a , D F. A dramatização aborda temas relacionados à c é l u l a , v í r u s e
s i s t e m a - i m u n o l ó g i c o , estudados pelos jovens da Casa da Ciência.
Eles fizeram seis apresentações: duas em escolas nas cidades satélites de Brasília (Paranoá e Taguatinga), e quatro no Museu Nacional. Após cada espetáculo, alguns personagens (Núcleo, Macrófagos, Vírus e a narradora Ana) esclareciam os assuntos abordados durante a peça, exemplificando com fatos do nosso dia-a-dia e relatados na mídia, que muitas vezes provocam dúvidas não esclarecidas, como, por exemplo, as relativas às células do sangue e às suas funções.
Os quinze alunos, quando não estavam no palco, passeavam pelas exposições da IV Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, no Museu Nacional, com cartazes que indicavam os horários das apresentações. Essa foi uma forma que os alunos encontraram para estender a peça para outros locais da feira. Vestidos com fantasias (figurino) e maquiados, despertavam a curiosidade do público, pois o objetivo era convidá-lo para ver a apresentação. Além disso, com algumas entrevistas realizadas pelos próprios atores, com crianças, pais, donos de escola, alunos de graduação, do ensino infantil, eles puderam comprovar a compreensão dos conceitos apresentados em palco, mesmo por crianças de cinco, seis anos, que provavelmente nunca tinham tido contado com temas de ciência.
A representação da “Agonia de uma célula” em Brasília foi uma realização múltipla para os alunos, que trouxeram experiências novas na bagagem de volta. Na feira, durante os poucos momentos de lazer, eles puderam trocar idéias com estudantes de lá e adquirir novos conhecimentos, além do passeio ao Museu Juscelino Kubitschek e Palácio do Planalto.
“Foi uma experiência única principalmente porque, além de levarmos as informações sobre as células para as
crianças através do teatro, tivemos a oportunidade de conhecer outras pessoas, outras culturas e ainda visitar alguns dos pontos turísticos de Brasília. O que eu mais gostei foi do Congresso Nacional, da construção e da arquitetura do local”, afirma o estudante Kelvin Henrique S. de Oliveira, 14 anos.
BastidoresAceitar o desafio de Brasília, a convite do CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) dependeu do apoio da Fundação Hemocentro e da equipe da Casa da Ciência. Os componentes da peça, que vinham do primeiro elenco (2003), tiveram liberdade para selecionar o novo grupo, organizar os horários, montar a coreografia das danças, escolher os figurinos, a trilha sonora de cada cena, cuidar das compras e da produção da maquiagem. Dividiram as tarefas até para dirigir os ensaios, com responsabilidade e seriedade, o que os levou ao sucesso. Tudo em perfeita sintonia. No grupo havia cinco alunos da cidade de Luís Antônio (60 km de Ribeirão Preto), escolhidos entre os que vêm toda semana participar de programas da Casa da Ciência.
A preocupação e o compromisso dos alunos não ficaram restritos às apresentações, mas incluíram dramatizar e relacionar os conceitos que gradativamente foram aprendendo. A peça, sob a orientação dos pesquisadores, representa a missão dos jovens no avanço dos estudos; o texto está atualizado e adaptado aos novos conteúdos adquiridos, pensando no público, que se reveza, e no próprio elenco, que sente a necessidade de expor os conceitos que aprende.
(Fotos: Carlos Cruz)
Núcleo - Mara Elisama da Silva“Os ácidos nucléicos são moléculas
capazes de armazenar e expressar informações genéticas, existem dois tipos: o DNA e RNA. O DNA armazena informações genéticas dos pais - genótipo e fenótipo. Fenótipo são as características externas: formato de nariz, cor dos olhos, da pele etc. O genótipo é a estrutura molecular dos ácidos.
O DNA é formado por nucleotídeos, moléculas que possuem um grupo fosfato, uma pentose e uma base nitrogenada: adenina (A), timina (T), guanina (G) e citosina (C).
A estrutura do DNA é uma dupla fita helicoidal, ligada por pontes de hidrogênio.
O RNA é uma fita simples, também formada por nucleotídeos, e as bases nitrogenadas: adenina, guanina, citosina e uracila (U), ao invés de timina. O RNA expressa informações que o DNA armazena em forma de proteínas”.
Macrófago - André F. CamargoA nossa pele, os cílios, os olhos que
lacrimejam, a cera do ouvido, tudo isso faz parte do nosso sistema imune-inato, que nasce com a gente. Mas, depois que o vírus atravessa essas barreiras inatas e caem na corrente sanguínea, os macrófagos e neotrófilos englobam o patógeno e os exterminam. E, quando eles falham, vem a nossa resposta imune específica, que a nossa amiga Ana, já explicou”.
Macrófago - Paulo C. Teodoro Júnior“No processo de síntese de proteína, o RNA
sai do núcleo para ir até o ribossomo, que é uma proteína ligada ao RNA-Ribossômico. A fita de DNA abre e a informação genética armazenada “é transferida” ao RNA. Depois de fazer essa cópia, ele sai do núcleo e vai ao hialoplasma. O RNA se liga ao ribossomo, que traduz a informação produzindo proteínas. Esse é o processo da síntese que acontece
em qualquer célula do nosso corpo”.
Vírus – Ádamo D. Diógenes Siena“Se alguém tiver contato com o vírus, vai
produzir células de memória e na reinfecção a resposta imunológica será mais rápida e a pessoa não desenvolverá sintomas. Geralmente, quando somos picados por cobras, escorpião, aranha, o veneno, que pode ser uma proteína, pode espalhar muito rápido pela corrente sanguínea e o organismo não ter tempo de gerar uma resposta imediata.
O veneno da cobra é inoculado no cavalo porque o cavalo consegue produzir ant icorpos que, posteriormente, são retirados do cavalo, filtrados para a produção do soro é, então, usado em caráter emergencial. Por outro lado, a vacina é para desenvolver no corpo humano a resposta imunológica e gerar anticorpos”.
Vírus - Felipe O. Baptista e Danilo L. Mazzocato Pedro
“O vírus é formado por um capsídeo (corpo do vírus) e dentro é armazenado o material genético - DNA ou RNA. Essa variação difere em cada tipo específico de vírus. Mas, como o
vírus consegue sobreviver e se multiplicar? Ele tem afinidade com a membrana plasmática das células, por isso o capsídeo viral, ao chegar próximo de uma membrana plasmática, adere a essa membrana deixando seu material dentro dessa célula”.
Narradora - Daianne Maciely A. de Carvalho
“Se por acaso os macrófagos e neotrófilos não forem suficientes, o macrófago pode
agir como uma APC (Célula Apresentadora de Antígeno) e enviar um sinal para ativar células do sistema imune. O antígeno é como se fosse o “RG” do microorganismo que invadiu. Ele é apresentado a uma outra célula, que pode ser o linfócito T (uma das células do sistema imune). Se o linfócito reconhecer o antígeno e for específico, começa a se dividir e a liberar citocinas. Mais células são recrutas para ajudar a terminar o trabalho que já havia começado, como macrófagos, neotrófilos, ou ele pode também ativar uma célula chamada linfócito B - célula que produz anticorpos”. (Fotos: Carlos
Cruz)
Acompanhe, abaixo, os trechos das aulas dos nossos jovens:
02Ribeirão Preto, Maio de 2008 - N°18 Ano 08
“Agonia de uma célula” foi
criada e apresentada pela
primeira vez, há cinco anos, por
alunos de 14 anos, da 8ª série
do Ensino Fundamental da
Escola Estadual Dom Romeo Alberti, de Ribeirão Preto.
Junto com a professora de Ciências, Leonízia Maria
Nakamura, eles participavam
do curso de especialização
para professores: “As células,
o genoma e você, professor”
( C T C - C e p i d / F a p e s p /
Fundação Hemocentro).
O primeiro rascunho foi
elaborado pela aluna Pâmela Cristina da Silva, com 10
minutos de duração, revisto e modificado pelos alunos
Ádamo Davi Diógenes Siena (Vírus) e Daianne Maciely A.
de Carvalho ( narradora - Ana), que adaptaram para 40 e
20 minutos.
A dramatização foi sendo
modificada à medida que os
alunos conviviam com os
pesquisadores da Fundação
Hemocentro de Ribeirão Preto.
No início, foram realizadas
mais de três apresentações,
uma delas, no Segundo Festival de Dança, Música e
Teatro de 2004, promovido pela
Diretoria de Ensino da cidade.
“Agonia de uma célula” foi
premiada em segundo lugar.
Trajetória: