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Jornal Regional da Zona Oeste de São Paulo www.redebrasilatual.com.br ZONA OESTE nº 4 Março de 2011 DISTRIBUIçãO GRATUITA PÉROLA NEGRA A chuva incendiou dez vez o carnaval da escola da Vila Madalena Pág. 7 SAMBA HABITAçãO Prefeitura despeja Favela do Sapo sem mandado judicial Pág. 3 TERRA ARRASADA ôNIBUS AUMENTO NÃO Inconformados com reajuste das tarifas, estudantes vão à luta Pág. 2 LUTHIERS A história da família Ferreira, que faz instrumentos de corda há um século Pág. 6 A ARTE QUE VAI DE PAI PARA FILHO As tenebrosas histórias de jovens que se tornam estudantes universitários TROTE NADA JUSTIFICA LUIZ FILIPE BARCELOS FLICKR/PHGUERETA LEONARDO BRITO DIVULGAÇÃO JUPIRA CAUHY

Jornal Brasil Atual - Zona Oeste 04

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lutHiers aumento não pérola negra Habitação ônibus Pág. 7 Pág. 3 Pág. 6 Pág. 2 nº 4 Março de 2011 Jornal Regional da Zona Oeste de São Paulo www.redebrasilatual.com.br Distribu ição A chuva incendiou dez vez o carnaval da escola da Vila Madalena Prefeitura despeja Favela do Sapo sem mandado judicial divulgaçãojupiracauhy Inconformados com reajuste das tarifas, estudantes vão à luta leonardo Brito Flickr/phguereta luiz Filipe Barcelos

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Jornal Regional da Zona Oeste de São Paulo

www.redebrasilatual.com.br Zona oeste

nº 4 Março de 2011

DistribuiçãoGratuita

pérola negra

A chuva incendiou dez vez o carnaval da escola da Vila Madalena

Pág. 7

samba

Habitação

Prefeitura despeja Favela do Sapo sem mandado judicial

Pág. 3

terra arrasada

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Inconformados com reajuste das tarifas, estudantes vão à luta

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A história da família Ferreira, que faz instrumentos de corda há um século

Pág. 6

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expediente rede Brasil atual – zona oesteeditora gráfica atitude ltda. – diretor de redação Paulo Salvador editor João de Barros redação Marina Amaral e Leonardo Brito (estagiário) revisão Malu Simões diagramação Leandro Siman telefone (11) 3241-0008tiragem: 15 mil exemplares distribuição gratuita

zona oeste

como melhorar a vida do povoLíderes falam de problemas comuns às comunidades

As mensagens podem ser enviadas para [email protected] ou para Rua São Bento, 365, 19º andar, Centro, São Paulo, SP, CEP 01011-100. As cartas devem vir acompanhadas de nome completo, telefone, endereço e e-mail para contato.

vale o que vier

eDitorialA violência com que certos veteranos estudantes universi-

tários se voltam contra quem acaba de entrar na faculdade re-percute fundo na sociedade brasileira e enseja ações públicas contra o que era visto apenas como brincadeira. O que seria motivo de festa dá lugar a traumas e tragédias. Infelizmente, uns morrem e a maioria é enxovalhada. Os “bichos” são obri-gados a botar a cabeça em vasos sanitários, a beber além da conta, a comer restos estragados de animais. Alguns recebem baldes de fezes e urina no corpo. Há, ainda, quem seja obriga-do a lamber linguiças untadas com leite condensado, no meio das pernas dos veteranos. Ou quem é simplesmente colocado num freezer. Este é o tema das nossas páginas centrais.

Também merece análise o que se faz com os moradores da fa-vela do Sapo, na Água Branca. Pois não é que um empreiteiro da Prefeitura apareceu lá de madrugada e, apoiado por policiais, de-cidiu pôr abaixo os barracos, sem mandado judicial? Outro absur-do que não cola é o aumento para R$ 3,00 dos ônibus na cidade. Os estudantes continuam em pé de guerra com o prefeito Kassab. Enquanto isso, apoiadas pelo recém-eleito deputado Marcolino, as comunidades da Zona Oeste se reúnem para ir à luta.

Longe desse burburinho, quem faz escola da boa é uma certa família Ferreira, composta de luthiers desde o início do século 20, quando por aqui desembarcou o português Ulisses e, ainda criança, virou aprendiz numa fábrica de violões. Ele aprendeu o ofício de fazer instrumentos e o repassou aos filhos, netos e bis-netos, que continuam “tocando o rolinho” numa oficina – des-culpe, uma luthieria – existente nas Perdizes. Boa leitura!

O deputado estadual do PT Luiz Cláudio Marcolino, mora-dor da Vila Leopoldina, e Adauc-to Durigan, ex-subprefeito da Lapa (gestão Marta Suplicy) li-deraram uma reunião que acon-teceu no Cine Galpão –, espaço de uso coletivo voltado à produ-ção audiovisual –, para falar com as comunidades da Zona Oeste sobre os problemas da região. Mais de 50 lideranças dialoga-ram e apresentaram proposta de melhoria dos bairros.

Sob a coordenação de Cidálio Vieira Santos, José Leonidas, o Macalé, informou que no bairro de Santo Elias a falta de transpor-te e as enchentes são constantes. Arthur Martins, da Cohab Rapo-so Tavares, disse que “nos fins de semana não há ônibus da Barra Funda para as Cohabs Raposo e Lapa”. Rafael Barcha, da União Nova Anastácio (UNA) reclamou das transportadoras irregulares que tomam os espaços públicos,

ocupando as ruas com caminhões enormes. O posto de saúde, segun-do disse, vai mal. “O atendimento é péssimo. Por serem concursados, os funcionários fazem o que que-rem com os moradores. Os equi-pamentos não funcionam, alguns remédios estão vencidos e faltam coisas simples como cateter.”

Cecília Lotufo, do Movimen-to Boa Praça, falou da necessi-dade de as pessoas ocuparem as praças de Pinheiros e Lapa, “lu-gares de encontro, diversão, de-bate e inclusão”. Sheila Aguiar, da Vila Leopoldina, pediu volun-tários para alfabetizar moradores

de rua maiores de 18 anos. Dul-cinea Pastrello e o padre Lédio Milanez, que acolhem crianças e adolescentes, apontaram como problemas graves a falta de mo-radia e oportunidades de cultura na Água Branca.

Por fim, Marcolino disse que quer aproximar o seu mandato dos moradores, organizando os movimentos sociais e criando um fórum de discussão dos problemas da Zona Oeste. O Jornal Brasil Atual, do qual Marcolino faz parte desde o início, reforça seu com-promisso de reportar-se aos pro-blemas dessas comunidades.

tarifa De ônibus

aumento ainda não colouEstudantes saem às ruas e pedem revogação do reajuste

As manifestações na Ave-nida Paulista e no Centro têm cada vez mais pessoas. No dia 10 de fevereiro havia três mil pessoas. E, pela primeira vez, o ato passou por dentro do maior terminal da América Latina, o Dom Pedro II – em 2010,

uma passeata semelhante foi re-primida pela Polícia Militar. A vitória foi comemorada na pági-na do Movimento do Passe Livre (MPL), no Facebook. Na mani-festação seguinte, dia 17, alguns estudantes se acorrentaram diante da Prefeitura.

O MPL conseguiu ainda que o presidente da Câmara dos vereadores, José Police Neto (PSDB), garantisse uma reunião com um integrante do Executivo para discutir o valor das passagens paulistanas, R$ 3,00, as mais caras do Brasil.

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o deputado marcolino, no cine Galpão: liderança emergente

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Habitação

favela do sapo é despejada sem mandado judicial Guarda Civil Metropolitana destrói 17 barracos e deixa 35 adultos e 59 crianças na rua Por Leandro Melito

Na madrugada de 9 de fe-vereiro, um homem armado chamado Evandro entrou nos barracos da favela do Sapo, na Água Branca, falando em nome da Prefeitura. Acompanhado de policiais militares e guardas me-tropolitanos, ele semeou o terror.

O ajudante Fernando da Conceição, morador da fave-la, conta que “derrubaram” o barraco dele e o agrediram. A repositora Simone Gomes perdeu o dia de trabalho para evitar que sua casa fosse des-truída. “Tenho medo de sair amanhã e quando voltar en-contrar meu barraco no chão” – disse ela, que foi intimidada pela polícia por filmar a ação a favela do sapo foi atacada por policiais militares e guardas civis metropolitanos

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Uma comissão de mo-radores se reuniu com a superintendente de Habi-tações Populares, Eliza-beth França, para discutir a situação das famílias. Elisabeth prometeu ve-rificar as famílias cadas-tradas em programas ha-bitacionais e quantas

no celular. “Se você não apa-gar o que gravou, eu quebro o aparelho” – dizia um deles. No dia seguinte, 50 moradores impediram novamente a der-rubada de casas. Gente da Pre-feitura, de novo com a PM e a GCM, tentava fazer remoções, sem mandado judicial.

Para Benedito Barbosa, o Dito, da União dos Movimen-tos de Moradia, Evandro, o res-ponsável pela ação, é Francisco Evandro Ferreira Figueiredo, contratado da BST Transpor-tadora, prestadora de serviços da Prefeitura.“Ele quebrou um acordo feito com a comunidade ao demolir os barracos na frente da marginal do Tietê.”

“a culpa é da política higienista” – diz defensor público

caso de polícia a luta continua

Os moradores do Sapo re-sistem à remoção imposta há meses pela Prefeitura. Tramita na 14ª Vara da Fazenda Públi-ca de São Paulo da Defensoria Pública uma Ação Civil Públi-ca, com o objetivo de impedir a expulsão forçada.

Douglas Magami, defen-sor público, esteve no local e disse que a ação do poder público não teve fundamento aparente. “O ato decorreu da política higienista de São Pau-lo, que expulsa o pessoal para a periferia.” Ele informa que

há duas ações movidas pela Defensoria Pública. “Uma ga-rante a regularização fundiária da área e outra a inclusão de quem está na área de risco em programas de desenvolvimen-to habitacional” – diz.

No local moram 455 famí-

lias, das quais 80 receberão aluguel social de R$ 300. As demais receberão verbas de acordo com a composição fa-miliar e a vulnerabilidade so-cial – R$ 5 mil para solteiros e R$ 8 mil para casados – para adquirir novos barracos.

A Prefeitura ofereceu passagens para o Estado de origem dos moradores e alegou que eles tinham construído as casas havia 15 dias, mas a maior par-te mora na favela há pelo menos cinco anos.

O deputado Luis Cláudio Marcolino, do PT, afirmou que a ação da Prefeitura foi ilegal. “Num diálogo com a Secreta-ria de Habitação, ficou acerta-do o processo de remoção, com o cadastramento das famílias, realocando-as para áreas sem risco. Só que esse pessoal aí, veio fazer a remoção sem ter esse processo concluído.”

receberão aluguel social até que tenham moradia definitiva. Ela informou que 87 famílias serão removidas do local. A secretária também alega que a remoção não neces-sita de mandado judicial por se tratar de área de risco e área ambiental.

Marcolino acompanhou à delegacia moradores que tive-ram suas casas violadas pelo tal Evandro. O caso será in-vestigado agora pela Assem-bleia Legislativa do Estado. “Há vários relatos de que o tal de Evandro teria adentrado as casas armado e ameaçado as pessoas falando em nome da Prefeitura” – disse Marcolino. Dezessete barracos destruídos

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comPortamento

trote: a vergonha que mancha o ensino universitárioA violência contra o “bicho” ainda acontece. E o que devia ser motivo de festa dá lugar a traumas e tragédias Por Fabíola Perez

Os calouros foram levados ao anfiteatro do hospital. Então, os veteranos passaram a tran-car saídas. Checavam até nos banheiros se tinha alguém es-condido. De repente, a gritaria. Os calouros se ajoelhavam, de cabeça baixa. Eram xingados e coagidos a dar dinheiro para a Atlética. Em fevereiro de 2006, a estudante de medicina Bruna Ramirez, da Fundação ABC, em Santo André, deixou o lo-cal de mãos dadas com outros calouros, depois que um deles ligou para os pais, que avisaram a polícia.

Vivian Moreira Sales, 23 anos, participou na mesma fa-culdade de ritual semelhante. O clima pesado vai até 13 de maio, a data da libertação dos escravos. Mas a humilhação continua durante o ano. “Se o aluno sofre por um ano, aplicará o trote por mais cinco” – dizem alguns veteranos.

Há 12 anos, um caso de vio-

lência fatal marcou o debate sobre trotes. Edson Tsung Chi Hsueh, da Medicina da USP, foi encontrado morto na piscina da Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz, em 1999. O fato estimulou a criação de meca-nismos de denúncias e de ações preventivas nas universidades e despertou discussões sobre as motivações do ritual.

Ricardo Godoy, 23 anos, abandonou o curso de Medici-na em Santos (SP), em 2007, e se lembra das “brincadei-ras” violentas impostas pela Atlética aos calouros da 45ª turma.“Obrigam os alunos a nadar nos canais de Santos, onde desembocam as redes de esgoto” – conta. Depois de um ano, ele foi estudar Medicina

lista, sofreu as humilhações de quem precisa dividir o espaço de uma república. “Eu era o único ‘bicho’ de lá, e deixavam uma mensagem na lousa: ‘bicho vai morrer’. As situações mais difíceis que passei foi ficar com a cabeça no vaso sanitário com a água respingando no rosto e ter de fazer uma prova todo fan-tasiado de mulher.”

na Uninove. As formas de vio-lência eram quase as mesmas. “Na Uninove, os calouros são submetidos ao que chamam de “lavagem cerebral”: colocam a cabeça deles no vaso sanitário e puxam a descarga várias vezes.

Em Guaratinguetá (SP), An-dré Caetano Prado, de 22 anos, do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Estadual Pau-

“jogaram frutas, ovos podres e farinha. Depois, me puseram num freezer com uma amiga”O procurador regional

dos Direitos do Cidadão em Marília, Jefferson Apa-recido Dias, discorda da política de segurança das universidades, de restringir punições a eventos ocorri-dos no perímetro que con-sideram de sua responsabi-lidade. Ele defende que os atos violentos sejam crimi-nalizados. Dias se refere a

situações como a vivida por Mariana Sanchez Flores, de 28 anos, ex-aluna de Medicina de Mogi das Cruzes, de 2005. Ela conta: “Da sala de aula, os calouros foram levados para uma atividade de socialização na cidade. Puseram todo mun-do num ônibus e, uma hora depois, estávamos num sítio. Lá, fizemos serviços domés-ticos. Jogaram frutas, ovos

podres, farinha e empurraram todo mundo na piscina. De-pois, me puseram num freezer com uma amiga.”

Mariana ficou deprimida, mal-humorada, doente e, depois de uma semana, não voltou mais à faculdade. “A voz não saía. Pedi para a minha mãe cance-lar tudo porque eu queria vol-tar para o cursinho.” A mãe da estudante procurou a diretoria

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Por todo o brasil, o que se vê é a repetição de cenas de calouros universitários sendo humilhados pelos veteranos

cenas de horror: brincadeiras do trote levam jovens...

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trote: a vergonha que mancha o ensino universitáriotrote cidadão: uma alternativa

casosescrotos

A violência contra o “bicho” ainda acontece. E o que devia ser motivo de festa dá lugar a traumas e tragédias Por Fabíola Perez

Um ano antes da morte de Edson Tsung, a USP adotara um mecanismo para ajudar os calouros a denunciar casos de violência. O Disque Trote, criado e coordenado pelo pro-fessor Oswaldo Crivello Jú-nior, funciona durante a matrí-cula e se encerra duas semanas após o início das aulas. “Essa ferramenta deveria existir em todas as faculdades, pois os alunos ingressantes são de responsabilidade da institui-ção. É importante mostrar que há limites e que o calouro tem a quem recorrer” – enfatiza o coordenador.

O secretário executivo da Associação Nacional dos Diri-gentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Gustavo Balduíno, afirma que é obrigação da faculdade ofe-recer ações preventivas. “O ca-minho é criar novas formas de

“jogaram frutas, ovos podres e farinha. Depois, me puseram num freezer com uma amiga”

recepção de calouros, incluir os veteranos nessas atividades, mas não deixar tudo a cargo dos alunos. Toda a instituição tem de se envolver.”

A partir da recomendação do Ministério Público, univer-

um dia depois das agressões. “A faculdade se absteve. Disseram que se os alunos quiseram ir, o problema era deles” – conta.

O portal Antitrote.org ob-serva que as vítimas de abusos têm dificuldades em recorrer à Justiça e, quando o fazem, têm como alvo os alunos que praticaram o trote. Em sua pá-gina na internet, a organização aconselha que os agredidos

acionem também as institui-ções de ensino “que não se preocupam em oferecer am-biente seguro e, sutil ou desca-radamente, estimulam o trote, como se ele fosse apenas uma brincadeira”. Segundo o pro-curador Dias, “com a internet e celulares que gravam voz e imagem, há mais formas de fa-zer o registro e as pessoas po-dem se valer do anonimato”.

sidades desenvolveram ações positivas em prol das comu-nidades. Uma delas, o Trote Cidadão, é um projeto coorde-nado pelo aluno da Unicamp André Caetano Prado. O estu-dante de Engenharia Química

conta que a ideia ganhou força em 2003, com três cursos da instituição unidos para pôr em prática o trote solidário. Houve uma mobilização para conscientizar a comunidade sobre a relevância de uma co-operativa de reciclagem em Campinas. Atualmente, 37 cursos da instituição ajudam quatro cooperativas, entre ou-tras organizações.

“Desde 2007, a Reitoria da Universidade aboliu a palavra trote da instituição e adotou nosso modelo de recepção de novos alunos” – comemo-ra. Para André, essa cultura é muito boa, mas é importante a participação das faculdades na coibição dos trotes pesa-dos e no incentivo às práticas solidárias. “Mas quem deve executar são os alunos, porque são eles que têm de se enten-der e se relacionar” – alerta.

universidade de mogi das cruzes (sp) Calouros de medicina fo-ram obrigados a beijar órgãos estragados de boi enquanto eram insultados e cuspidos por veteranos. Um estudante se recusou a beijar os pés de um ve-terano e sofreu queima-duras ao receber caipiri-nha de limão nos olhos.

centro universitário da Fundação educacional Barretos (sp) Sete calouros sofreram queimaduras graves pro-vocadas por uma mistura de tinta e creolina, um de-sinfetante corrosivo, joga-da por veteranos. O caso está sendo investigado pelo Ministério Público.

universidade Federal do vale do são Francisco (pe)Um vídeo divulgado na internet este ano mostra estudantes de veterinária e zootecnia atirando bal-des com fezes e urina de cachorros sobre os calou-ros no campus de ciências agrárias da universidade, em Petrolina.

universidade de Brasília (dF)Calouras de agronomia e veterinária da UnB foram obrigadas a lamber lingui-ças com leite condensado colocadas entre as pernas dos veteranos. A Secre-taria de Política para as Mulheres encaminhou re-presentação ao Ministério Público Federal e à Reito-ria da UnB.

centro universitário sa-lesiano (unisal), de lore-na (sp)Forçados a ingerir cachaça e vodca da garrafa, dois calouros sofreram convul-sões e foram atendidos na Santa Casa. Foi instaurado inquérito policial.

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... a tolerar todo o tipo de afronta

caras pintadas: os estudantes já fizeram papel melhor

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a família que vive de fazer instrumentos de corda

Do sertanejo de raiz ao rock uma escola de 20 anos

Violões, violas, cavaquinhos, guitarras, tradição dos Ferreiras há um século Por Marina Amaral

O português Ulisses Fer-reira veio criança para o Bra-sil, e com 11 anos de idade já trabalhava em São Paulo. Seguindo a tradição dos imi-grantes do início do século 20, quando terminou o grupo es-colar, o menino foi ser apren-diz da fábrica Rei dos Violões, próxima à sua casa, na Lapa, que produzia instrumentos musicais feitos à mão.

O garoto se encantou em transformar um pedaço de ma-deira num instrumento vibrante, que dava vida às marchinhas de carnaval, às modinhas ser-tanejas – sua maior paixão – e aos primeiros sambas. Ulisses aprendeu a fazer violas, violões,

cavaquinhos. Mas não imagina-va que a profissão que iniciava seria um patrimônio familiar – o bisneto Murilo, 21 anos, traba-lha com o pai, de mesmo nome, e é a quarta geração de luthiers com o sobrenome Ferreira.

Uma herança mais signifi-cativa do que o lucro obtido por Ulisses – quando a fábrica em que trabalhava faliu, ele foi para a Giannini e, depois, obteve do antigo patrão a per-missão para reabrir a Rei dos Violões. Na década de 1950, ele vendeu a fábrica e fundou a Atlas, no Bom Retiro, então uma das maiores fabricantes de instrumentos de corda ar-tesanais, com 60 funcionários.

“Meu avô não tinha tem-peramento para ser dono de negócio. Ele era um solitário, amava o trabalho manual e acabou só com a oficina, insta-lada aqui em Perdizes, há mais de cinquenta anos” – conta Murilo, 44 anos, pai de Muri-linho. Foi nessa oficina, a al-guns metros de onde fica hoje o ateliê Murilo Luthier, que Ulisses fabricou e consertou os instrumentos das estrelas da época – Inezita Barroso, Tonico e Tinoco, Orlando Sil-va, Francisco Alves. E reali-zou um feito histórico: fabri-cou a primeira guitarra maciça do país, a pedido do grupo The Rebels, no final dos anos 50.

Murilo, o pai, ainda não nascera – ele é de 1967 –, mas as guitarras acabariam se tornando o seu forte como luthier. Entre os ins-trumentos que conserta e fabrica hoje, mais da meta-de são guitarras e contrabai-xos. Os outros 40% são vio-lões acústicos, o que inclui cavaquinhos, bandolins e os violinos e violas de arco.

“Nós partimos da madei-ra crua e entregamos o ins-trumento de corda pronto, pintado e encordoado. Mas eu aprecio é a guitarra, por-que eu gosto de rock’n roll, como meu filho; já meu pai mexia com viola caipira, ele gostava de sertanejo raiz, e meu avô, bem, esse gostava

artesanais da Seymour. “Uma honra, um sonho realizado, um prazer” – resume.

Detalhe: Murilo não toca nada, assim como o pai, Guaracy, e o avô Ulisses. Sabe apenas o necessário para aferir a qualidade do som e afinar os instrumen-tos. “Meu pai me deu o mesmo conselho que rece-beu do meu avô: ‘Se quiser ser um bom profissional, não aprenda a tocar’” – diz. “Tem sentido, viu?” – com-pleta Murilinho, o único da família que, além de fabri-car, toca guitarra e baixo. “Às vezes fico tão entretido com o instrumento que es-queço de trabalhar” – admi-te, rindo.

de experimentar” – conta Mu-rilo, que tem entre seus clientes bandas e artistas veteranos do rock como Andréas Kisser, do Sepultura; Roger, do Ultraje a Rigor; Samuel Rosa, do Skank; e bandas da geração de seu fi-lho, como NX Zero e Fresno.

Os vídeos do site www.mu-riloluthier.com.br, em que re-gistra cada passo da fabricação de um instrumento, valeram-lhe um reconhecimento importan-te. No ano passado, Murilo foi para a Califórnia a convite da Seymour Duncan – uma das me-lhores fabricantes de captadores de guitarra do mundo (as placas microfonadas ficam sob as cor-das) – para fechar uma produção conjunta: ele fará as guitarras artesanais que terão captadores

Um dos obstáculos para for-mar novos luthiers é o tempo de aprendizado. “São precisos 20 anos para se construir um ins-trumento perfeito, com qualida-de de som, leveza, beleza; por isso, o aprendizado começa na adolescência” – explica Murilo, que conta a sua história: “Desde criança, eu vivia no porãozinho do meu pai. Minha mãe armava uma rede para eu deitar e ficar olhando ele trabalhar. Eu adorava

o entra e sai de artistas, o (sambis-ta) Noite Ilustrada, o Zé do Ran-cho, sogro do Xororó. Aí, com 12 anos, depois de tomar mais uma bomba na escola, meu pai per-guntou o que eu ia fazer da vida. Não tive dúvida: Quero trabalhar com o senhor” – disse.

Hoje Murilo também fabrica as ferramentas que usa, como o avô fazia e o pai lhe ensinou. E escolhe as pranchas de madei-ra – de jacarandá e pinho sueco para os violões; mogno e cedro para guitarras (a imbuia é usada nos detalhes). “Como nem sem-pre acho madeira certificada para comprar, visito as demolições e aproveito vigas e tábuas dessas madeiras para os instrumentos, o que agrega valor” – explica. “O pessoal da Seymour Duncan, por exemplo, acha interessante eu usar madeira reciclada.”

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oficina dos ferreiras: instrumentos da velha guarda nas paredes

Guaracy, filho de ulisses

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uma escola de 20 anos

trabalho com requinte artesanal

Parceiros. De ideia e criação

Tom Zé é exigente em matéria de som. Daí o or-gulho de Murilo em tê-lo como cliente há mais de 25 anos. “Na entrevista que deu ao Jô Soares, ele falou dois minutos sobre o meu trabalho” – gaba-se o lu-thier, citado pelo músico como “membro de família de luthiers, que trabalha há

transformavam em outros instrumentos, ferramentas de trabalho e até em uma mulher com quem dançava no palco (o vídeo está em www.muriloluthier.com.br/site/2008/12/violao-tom-ze e mostra a conversa entre o músico e o parceiro no pla-nejamento da construção do instrumento).

“Eu aceitei pelo desafio porque entendi que, além de explorar as sonoridades da bossa nova, ele queria remon-tar aquele violão como quem constrói a mulher ideal, a musa da bossa nova” – expli-ca. “Até brincos de marfim a danada tinha, feitos das cra-velhas do violão”– diverte-se o “parceiro de criação” de Tom Zé.

Cerca de cem instrumentos por mês passam pela oficina para reparos, vinte deles para uma reforma completa. “Alguns são instrumentos de estimação, que chegam quase destruídos e exigem a mesma arte do que fazer um novo” – conta. Quanto às guitarras e violões confec-cionados por ele, raramente ul-trapassam cinco por ano, e são vendidos por preços que vão de R$ 4.000,00 a R$ 7.000,00. “Eu demoro três, quatro meses fazendo o instrumento, se você for ver pelo lado do dinheiro, nem compensa” – diz.

Esse é um dos motivos por-que os artistas que frequentam o ateliê o respeitam tanto. “Quan-do o músico vê que aqui não é um comércio, mas uma oficina

em que se trabalha por amor à arte, ele se identifica e confia” – diz. Os vídeos que estão no site com depoimentos dos artistas sobre o seu trabalho, em espe-cial o de Tom Zé (veja boxe), confirmam. “Às vezes penso

que essa é uma profissão em extinção, trabalhosa e não mui-to lucrativa. Mas quando vejo o entusiasmo do meu filho e dos amigos dele, volto a acreditar na força do artesanal”, conclui Murilo Luthier.

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força, Pérola negraEscola promete brilhar na avenida

Fantasias, esculturas e alegorias boiando nas águas marrons da enchente, lágri-mas e dor diante da destrui-ção. Quem viu as cenas do barracão da escola de sam-ba Pérola Negra em janeiro, quando um violento temporal atingiu a Zona Oeste de São Paulo, teve motivos de sobra para duvidar que a escola se reergueria a tempo de dispu-tar para valer a premiação no carnaval paulista. Menos de um mês depois, porém, a es-cola está prontinha para des-filar com o mesmo número de alegorias, a mesma riqueza nas fantasias, o samba no pé e animação ainda maior por parte dos quase 4 mil inte-grantes da escola.

“Ninguém mais vai lem-brar do ocorrido quando sairmos na avenida, isso só serviu para nos fortalecer”,

garante Jairo Roizen, dire-tor de marketing da escola. “Sentimos a força da união desde a limpeza do barra-cão, até a reconstrução das alegorias, a confecção das novas fantasias (uma ala inteira perdeu as suas na enchente). Vamos sair do jeitinho que tínhamos pla-nejado, como se não tivesse chovido”, afirma.

Fundada em 1973, a es-cola desfila com o enredo “Abraão, Patriarca da Fé” e promete fazer o melhor car-naval de sua história. “O en-redo não podia ser melhor, já que tem a fé como tema e a importância da busca pelo divino como maneira de en-frentar o caos e as catástro-fes – inclusive as climáticas – da vida urbana de hoje”– diz o diretor de marketing da escola.

três gerações fazendo instru-mentos de respeito”.

À época do programa, de-zembro de 2008, Tom Zé es-tava em turnê com o show “Estudando a bossa”. O violão fabricado por Murilo era uma das principais estrelas. Plane-jado para ser todo montado e desmontado pelo músico em cena, seus componentes se

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murilo, filho de Guaracy e pai de murilinho: mãos à obra

murilo com tom zé: a mão e a luva

abre alas na avenida: lindas mulheres

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respostas

Palavras cruzaDas

suDoku

foto síntese – estação jaraGuá

Horizontal – 1. Torcedor do Palmeiras 2. Ordem dos Templários Orientais; Uma das mulheres de Abrahão 3. Sigla de Roraima; Oitavo mês do calendário gregoriano 4. Estudo sobre deuses 5. Que é mais recente ou moderna na ordem cronológica; Bairro boêmio carioca 6. Abreviatura de Gabão; Relativo ao Papa 7. Assim seja; Embrulho 8. Acervo de palavras de um determinado idioma; Três vezes campeão 9. Óxido de cálcio; A forma mais usada do verbo soer; Aqui 10. Articulação Tempo-romandibular (abrev.); Antigo testamento; Texto exato de um escrito ou documento; 11. Diz-se do Sol quando está no ocaso; Nome da letra S

vertical – 1. Pátria mãe do idioma português 2. Prender pela trela; Centro Técnico Operacional 3. Tipo de pão feito pelo confeiteiro; Ondas Tropicais; Pesquisa atenta e minuciosa 4. Lá; Dez vezes cem 5. Espalha goma; Em inglês, usa-se quando se quer indicar a posição de algo em um ponto 6. Sacer-dote escolhido pelos Orixás para estar lúcido e sob forte vibração e irradiação no trabalho religioso; Pilar destinado a sustentar os fios telegráficos, telefônicos ou elétricos 7. Sétima nota musical; Ferra-menta formada de uma chapa de ferro ou de madeira, ajustada a um cabo e destinada a remover terra ou detritos 8. Coluna formada de concreções calcárias que pende do teto de uma gruta 9. A negação; Pôr junto ou sobre; Espírito Santo 10. Senhor (abrev.); Insensíveis a tudo, indolentes 11. Orelha, em inglês; Bandeira de um posto de combustível; Unidade de medida para as superfícies agrárias

Palavras cruzadas

PALmEIRENSEOTONSARARRAGOSTORTEOLOGIAAULTImALAPAGAAPAPALAREmPACOTELxICOTRI

CALSOICAATmATTEORPOENTEESSE

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