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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CENTRO DE EDUCAÇÃO, FILOSOFIA E TEOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
JOÃO ENICELIO DA SILVA
O Corredor da Fé: Expansão e Concentração Religiosa no Bairro do Brás, em
São Paulo
São Paulo
2014
JOÃO ENICELIO DA SILVA
O Corredor da Fé: Expansão e Concentração Religiosa no Bairro do Brás, em
São Paulo
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título
de Mestre em Ciências da Religião. Área de
concentração: Ciências Sociais e Religião.
Orientador: Prof. Dr. João Baptista Borges Pereira
São Paulo
2014
S586c Silva, João Enicelio da O corredor da fé: expansão e concentração religiosa no
bairro do Brás, em São Paulo / João Enicelio da Silva – 2014. 135 f.: il. ; 30 cm
Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) –
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2014. Orientador: Prof. Dr. João Baptista Borges Pereira Bibliografia: f. 100-111 1.Pentecostalismo 2. Antropologia urbana 3. Ciências da
Religião 4. Bairro do Brás – São Paulo I. Título
LC BR1644.5.B6
JOÃO ENICELIO DA SILVA
O Corredor da Fé: Expansão e Concentração Religiosa no Bairro do Brás, em
São Paulo
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título
de Mestre em Ciências da Religião. Área de
concentração: Ciências Sociais e Religião.
Aprovada em: ____ / ____ / ______.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________________
Prof. Dr. João Baptista Borges Pereira – Orientador
Universidade Presbiteriana Mackenzie - UPM
_______________________________________________________________
Prof. Dr. Ricardo Bitun
Universidade Presbiteriana Mackenzie - UPM
_______________________________________________________________
Prof. Dr. José Guilherme Magnani
Universidade de São Paulo – USP
DEDICATÓRIA
A Deus - Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas.(Rm11.36a)
A minha esposa Márcia Maria Alves
AGRADECIMENTOS
Agradeço imensamente a Deus pela vida e pela oportunidade de ingressar na pesquisa
acadêmica.
Agradeço à Universidade Presbiteriana Mackenzie, e especialmente ao Fundo Mack
Pesquisa, pelo incentivo de bolsa para pesquisa, e ao Prof. Dr. Rodrigo Franklin de Souza, na
ocasião de ingresso, diretor do Programa de Pós-Graduação de Ciências da Religião.
A Catarina Maria Costa, minha professora e orientadora da Academia, pessoa de uma
bondade inestimável; palavras não são capazes de traduzir a minha gratidão ao lembrar que
tudo começou com seu apoio e incentivo aos estudos.
Ao Professor Dr. Ricardo Bitun, grande amigo, que me recebeu no Mackenzie, grande
incentivador e apoiador, a minha imensa gratidão. Foram vários momentos valiosos que
compartilhamos sobre a pesquisa, sempre atencioso e disposto a ajudar.
Agradeço ao meu orientador, Professor Dr. João Baptista Borges, que, com sua
imensa experiência no ramo da Antropologia, aceitou me apoiar nesta pesquisa, por ter me
apresentado ao NAU (Núcleo de Antropologia Urbana da Universidade de São Paulo), fato
que contribuiu para a condução da pesquisa.
Agradeço ao Prof. Dr. José Guilherme Magnani, que me recebeu na USP em suas
aulas como aluno ouvinte, ao seu interesse e à sua disposição em percorrer um trecho do
campo da pesquisa, também minha gratidão pelas ricas conversas.
Agradeço a Jacqueline Moraes Teixeira, grande amiga, sempre prestativa, e a todos
os membros do GERM-NAU-USP, que com muito carinho me receberam nas reuniões do
grupo e com paciência compartilharam ideias sobre a pesquisa.
Agradeço a minha família, que durante dois anos me incentivou e apoiou nesta etapa
da minha vida, especialmente a minha esposa Márcia, pela paciência e compreensão por
tantas horas de minha ausência em função da dedicação à pesquisa.
RESUMO
SILVA, João Enicelio. O Corredor da Fé: Expansão e Concentração Religiosa no Bairro
do Brás, em São Paulo. São Paulo, 2014. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Religião. Universidade Presbiteriana Mackenzie.
O presente trabalho visa mapear a concentração de diversas igrejas evangélicas pentecostais
na avenida Celso Garcia, entre o número 01 e o número 1550, no bairro do Brás, em São
Paulo, a partir das categorias antropológicas “Pedaço; Mancha; Trajetos; Circuitos”
(MAGNANI, 2012). O modo de apresentação da cidade de São Paulo não está restrito apenas
às ruas de comércio, aos locais de lazer, aos pontos turísticos e gastronômicos, aos locais de
trabalho ou às áreas residenciais, mas se estende também à religião, especialmente a
Evangélica Pentecostal, a qual hoje concentra um grande número de templos no bairro do
Brás. A partir do mapeamento de noticiários em jornais regionais, de sites, de programas de
rádio e televisivos e de visitas ao bairro é notável que nas avenidas Rangel-Pestana e Celso
Garcia, especialmente no perímetro que compreende o bairro do Brás – recorte que respeita o
limite distrital oficial utilizado pela Prefeitura da Cidade de São Paulo –, concentra-se um
grande número de igrejas, sobretudo evangélicas pentecostais, que movimentam uma rede de
sociabilidade, tornando-se assim um objeto de estudo.
Palavras-chave: Ciências da Religião, Antropologia Urbana, Pentecostalismo, Brás, avenidas
Rangel Pestana - Celso Garcia.
ABSTRACT
SILVA, João Enicelio. The Hall of Faith: Religious Expansion and Concentration in the
Brás neighborhood, in São Paulo. Sao Paulo, P. 2014. Dissertation (Master). Mackenzie
Presbyterian University.
This paper aims to study the concentration of various Pentecostal evangelical churches in
Celso Garcia Avenue, between the number 01 and the number 1550, in the neighborhood of
Brás, in São Paulo, from the anthropological categories "Piece; Mancha; paths; Circuits
"(Magnani, 2012). The manner of presentation of the city of São Paulo is not restricted to the
shopping streets, the places of leisure, to tourist and gastronomic points, to workplaces or to
residential areas, but extends also to religion, especially the Evangelical Pentecostal, which
today has a great number of temples in the neighborhood of Bras. From the mapping news in
regional newspapers, websites, radio and television programs and visits to the neighborhood
is notable that in Rangel-Pestana and Celso Garcia avenues, especially on the perimeter
comprising the Brás neighborhood - cut regards the district official limit used by the City of
São Paulo - concentrated a large number of churches, particularly Pentecostal evangelical,
which handle a network of sociability, thus making it an object of study.
Keywords: Religious Studies, Urban Anthropology, Pentecostalism, Brás, Rangel Pestana -
Celso Garcia Avenues.
SUMÁRIO
Índice de Mapas .......................................................................................................................... 9
Índice dos Quadros ................................................................................................................... 10
Índice de Tabelas ...................................................................................................................... 11
Índice de Fotos ......................................................................................................................... 12
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 13
1. CAPÍTULO 1 - DESENHANDO O PROBLEMA DA PESQUISA .............................. 17
1.1 A CONSTITUIÇÃO DE UMA MANCHA URBANA DAS AGÊNCIAS RELIGIOSAS COMO
ESTRATÉGIA DE VISIBILIDADE RELIGIOSA ............................................................................... 20
1.2 AVENIDA RANGEL PESTANA-CELSO GARCIA – CORREDOR DE VISIBILIDADE
RELIGIOSA ............................................................................................................................. 24
1.3 METODOLOGIA ........................................................................................................... 26
2. Capítulo 2 - Bairro do Brás: breve histórico ..................................................................... 28
2.1 MEMÓRIA E DEVOÇÃO CATÓLICA ................................................................................ 32
2.2 O CATOLICISMO DOS IMIGRANTES ITALIANOS ............................................................ 36
2.3 DEVOÇÃO A CASALUCE: A SANTA NEGRA DOS NAPOLITANOS ..................................... 37
2.4 DEVOÇÃO A SÃO VITO MÁRTIR .................................................................................. 40
2.5 A PROCISSÃO DE NOSSA SENHORA DA PENHA: EXPRESSÃO DA RELIGIOSIDADE
POPULAR NO BRÁS ................................................................................................................. 42
2.6 MAPAS DAS DENOMINAÇÕES RELIGIOSAS NO BRÁS E CORREDOR DA FÉ: UMA
ABORDAGEM ESPACIAL .......................................................................................................... 45
2.6.1 As igrejas do distrito do Brás ................................................................................... 49
2.6.2 Igreja Católica .......................................................................................................... 53
2.6.3 Igrejas Protestantes Históricas ................................................................................. 54
2.6.4 Igrejas Pentecostais .................................................................................................. 55
2.6.5 Centros Espíritas ...................................................................................................... 57
2.6.6 Outras (Sinagoga, Mesquita, Ortodoxa Grega) ....................................................... 57
2.6.7 O Corredor da Fé ...................................................................................................... 58
3. CAPÍTULO 3 - O CINTURÃO PENTECOSTAL NA AV. RANGEL PESTANA-
CELSO GARCIA ..................................................................................................................... 64
3.1 O MOVIMENTO PENTECOSTAL E SEUS FUNDADORES ................................................... 64
3.2 AS TERMINOLOGIAS DO MOVIMENTO PENTECOSTAL .................................................. 65
3.3 DESCREVENDO A TOPOGRAFIA DA RELIGIÃO ATUAL NO “CORREDOR DA FÉ” .............. 66
3.3.1 Igreja Apostólica Essência de Deus ...................................................................... 68
3.3.2 Catedral Carismática das Nações ........................................................................... 69
3.3.3 Igreja Internacional do Poder da Fé ....................................................................... 70
3.3.4 Santuário Espiritualista de São Paulo..................................................................... 72
3.3.5 Igreja Jesus Fonte de Vida – IJFV ......................................................................... 73
3.3.6 Comunidade Cristã Amor e Graça – CCAG .......................................................... 74
3.3.7 Igreja Universal do Reino de Deus - IURD ........................................................... 75
3.3.8 Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério do Brás ................................ 76
3.3.9 Igreja Católica Paroquia São João Batista do Brás ................................................ 78
3.3.10 Templo de Salomão Bíblico ............................................................................... 79
3.3.11 Templo de Salomão (IURD)............................................................................... 81
3.3.12 Ministério Mudança de Vida (MMV) ................................................................ 82
3.3.13 Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus ................................................... 84
3.3.14 Catedral da Bênção (CB) .................................................................................... 85
3.3.15 Comunidade Missão dos Sinais de Deus ............................................................ 87
4. CAPÍTULO 4 - ESTRATÉGIAS DE CHEGADA E PERMANÊNCIA NO
“CORREDOR DA FÉ” ............................................................................................................ 88
4.1 A DETERIORAÇÃO DA AVENIDA RANGEL PESTANA–CELSO GARCIA: REFLEXO DE UM
BAIRRO ABANDONADO ........................................................................................................... 89
4.2 A CENTRALIDADE DO BAIRRO ..................................................................................... 91
4.3 A EXPANSÃO E CONCENTRAÇÃO DA MANCHA RELIGIOSA NO CORREDOR DA FÉ .......... 92
4.4 A ESPACIALIDADE JUSTIFICADA PELO RETORNO AO ISRAEL MÍTICO ........................... 93
4.5 O RÁDIO COMO MEIO DE PROPAGAÇÃO DAS MENSAGENS E CHAMADO AO LOCAL DO
MILAGRE E AO LOCAL DE PODER FORTE .................................................................................. 97
5. Considerações finais ........................................................................................................ 101
6. Referências Bibliográficas .............................................................................................. 102
7. Anexos ............................................................................................................................. 113
7.1 ANEXO A – ALGUNS RELATOS DE CAMPO ................................................................ 113
7.2 ANEXO D – FOTOS DAS DENOMINAÇÕES ................................................................ 124
9
Índice de Mapas
Mapa 01: Denominações Religiosas no distrito do Brás e Eixo do Corredor da Fé...............47
Mapa 02: Denominações Religiosas no Distrito do Brás e Denominações intituladas como
“Do Brás”................................................................................................................................ 51
Mapa 03: Corredor da fé e suas igrejas satélites .....................................................................60
10
Índice dos Quadros
Quadro 1 – Denominações Religiosas no distrito do Brás e Eixo do Corredor da Fé.........47
Quadro 2 – Denominações Religiosas no distrito do Brás e Intituladas como do “Brás.....51
Quadro 3 – Corredor da fé – Com extensão para além do perímetro do bairro do Brás......60
Quadro 4 – Igrejas Satélites próximas ao corredor da Fé..................................................62
Quadro 5 – Denominações Religiosas x Emissoras de Rádio.............................................101
Quadro 6 – Denominações Presentes no Corredor, no início da Pesquisa, em 2013.........116
11
Índice de Tabelas
Tabela 01- Quantidade de denominações catalogadas segundo a orientação religiosa............50
Tabela 02- Quantidade de denominações no distrito do Brás de acordo com a orientação
religiosa (incluindo igrejas fora do distrito, mas intituladas como "do Brás").........................53
Tabela 03- Quantidade de igrejas protestantes históricas de acordo com a denominação......55
Tabela 04- Quantidade de igrejas no corredor da fé.................................................................62
Tabela 05 - Quantidade de igrejas satélites – próximas ao corredor da fé................................63
12
Índice de Fotos
Foto 1 - Várzea do Carmo – ano: 1860.............................................................................28
Foto 2 – Paróquia Bom Jesus de Matosinho.....................................................................35
Foto 3 - Igreja de Nossa Senhora de Casaluce.................................................................38
Foto 4 - Paróquia São Vito Mártir...................................................................................41
13
INTRODUÇÃO
A sociedade paulista até meados do século XIX era configurada por uma população,
que, em sua maioria, era oriunda das regiões rurais, orientados por um ethos de fé e devoção
religiosa no seu dia a dia. A grande parte dos bairros constituídos hoje começou como
chácaras e terrenos pouco atrativos, mas, com a chegada dos imigrantes e migrantes, esses
locais foram sendo paulatinamente configurados com um misto de culturas e valores
diferentes. O bairro do Brás se constituiu basicamente neste cenário, e teve na religiosidade de
seus novos moradores um dos aspectos cruciais em suas mudanças e adaptações. Sabe-se que
o Catolicismo marcou uma época e continua marcando a vida urbana do bairro, com festas e
missas tradicionais constantes no calendário festivo do município.
Nos dias atuais, o cenário católico cedeu espaço para as mudanças na vida religiosa do
bairro, há milhares de pessoas as quais diariamente se deslocam de várias regiões da capital
paulista, e até mesmo de outras cidades e de outros estados, para lá estar, em busca de vida
melhor, de cura, de libertação e de solução sentimental e financeira. Tais pessoas vêm ao Brás
principalmente para participar das reuniões nas igrejas evangélicas pentecostais.
As avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia, principais vias de acesso a entrada e saída
do bairro do Brás, tradicionais pelo seu corredor de ligação entre o centro e a zona leste da
cidade, compreendem uma extensão aproximada de 8 km, com início no bairro do Brás e
término na rua Coronel Rodovalho, no bairro do Tatuapé.
Para além de sua vocação comercial e do corredor de ligação centro-leste, essas
avenidas foram eleitas por agentes da religião como um corredor de visibilidade religiosa,
local de concentração da fé, o qual, desde o Brasil ainda colônia, servira de passagem às
romarias entre a igreja matriz da Sé e a igreja de Nossa Senhora da Penha, esta última fundada
em 1667. Torres (1985), ao citar o historiador Leonardo Arroyo, em sua obra sobre as igrejas
de São Paulo, intitulou o então conhecido corredor de ligação centro-leste, as avenidas Rangel
Pestana e Celso Garcia, de “avenidas religiosas”.
Essas avenidas possuem aproximadamente vinte e quatro igrejas denominadas
“evangélicas pentecostais”, uma igreja católica e um templo de religião afrodescendente, ao
longo de sua extensão aproximada de oito quilômetros (a localização e o número exato de
templos não podem ser definitivos, pois há uma constante entrada e saída de denominações).
14
Com base nesse contexto, esta pesquisa visa mapear a presença religiosa no trecho das
avenidas Rangel Pestana – Celso Garcia, partindo do número 1421, onde se localiza a igreja
Bom Jesus do Brás, até o número 1550, que compreende o perímetro que pertence ao bairro
do Brás, trecho onde é notável a concentração de um grande número de templos, sobretudo
evangélicos pentecostais, que são, de alguma forma, o foco principal deste trabalho.
São Paulo, nos dias atuais, segue várias lógicas de organização em sua vida urbana,
que passam despercebidas aos olhos de muitos citadinos e transeuntes; o comércio, as áreas de
lazer, as moradias, as etnias e a religião estão organizados em ruas, avenidas, praças, viadutos
e até mesmo em bairros inteiros. Essa atualidade pode ser compreendida em um passado não
tão distante, notável inicialmente nas explicações simplistas de historiadores, geógrafos e
jornalistas.
Pontes e Mesquita (2004, p. 18), ao observarem a aglutinação de armazéns e de
atacadistas próximos ao terminal de cargas no bairro do Pari, no final do século XIX,
atribuem ao ocorrido o termo “concentração”. Já Moura (1943, p.94), na tentativa de
temporizar, entendeu que a concentração de lojas e de pessoas na capital teve início na região
chamada “Triângulo”, formada pelas ruas 15 de Novembro, Direita e São Bento, o que
constituía a tradição máxima de São Paulo no final do século XIX e início do século XX.
AB´SABER (2004, p.152) utilizou o termo “reaglutinização setorizada” para designar
as concentrações de comércio temático em São Paulo. Já as concentrações étnicas, a exemplo
dos bairros da Liberdade, de Higienópolis e outros, na concepção de ALESSANDRINI (2004,
p.352), “representam um fator de intimidade e segurança em meio às vicissitudes da vida
urbana”.
Na cidade de São Paulo são mais de 50 ruas temáticas, ou “de comércio
especializado”, como relatado em São Paulo (2014, p.1).
As explicações de historiadores, geógrafos e jornalistas a respeito das diversas lógicas
em que está organizada a cidade de São Paulo, até determinado ponto, são bem interessantes,
mas por certo não abrangem todos os aspectos sociais. Oliven (1995, p.19) destaca: “Para
compreender os processos que ocorrem no meio urbano é necessário examinar o pensamento
de cientistas sociais a respeito da cidade e das consequências da vida urbana sobre seus
habitantes”. Assim, esta pesquisa pretende estabelecer um diálogo teórico com as perspectivas
analíticas desenvolvidas pela Antropologia Urbana.
15
Ao estudar o contexto urbano paulistano, Magnani (1996) formulou em seus
expressivos estudos algumas categorias analíticas para designar as diversas concentrações
temáticas presentes na cidade. Dentre elas, uma chama atenção e emerge como essencial para
o desenvolvimento dos argumentos apresentados aqui, as intituladas “manchas”, que, em sua
concepção, são:
[...] áreas contíguas do espaço urbano dotadas de equipamentos que marcam
seus limites e visibilizam – cada qual com sua especificidade, competindo ou
complementando – uma atividade prática ou predominante. [...] Mancha,
contudo, não se restringe ao lazer: as lojas de tecidos e malhas, assim com as
de aviamento e produtos de couro no Brás, por exemplo, – procuradas por
atacadistas e varejistas – sustentam uma intrincada rede de sociabilidade que
vai além da mera compra de produtos. [...] A mancha, ao contrário – sempre
aglutinada em torno de um ou mais estabelecimentos – apresenta uma
implantação mais estável tanto na paisagem como no imaginário. As
atividades que oferece e as práticas que propicia são o resultado de uma
multiplicidade de relações entre seus equipamentos, edificações e vias de
acesso – o que garante uma maior continuidade, transformando-a, assim, em
ponto de referência físico, visível e público para um número mais amplo de
usuários. (MAGNANI, 1996)
Magnani é claro em suas explicações quanto aos sentidos da “mancha”; entende que
cada mancha exerce uma função, porém, tais funções não são definidoras das relações e das
interações sociais ali existentes, pois as manchas “sustentam uma intrincada rede de
sociabilidade” o que faz com que seus sentidos sejam sempre plurais.
O que a pesquisa pretende demonstrar é a descrição de uma “mancha” de templos
religiosos, sobretudo pentecostais, nas principais avenidas que ligam o centro da cidade à
zona leste da capital paulista. O presente trabalho, dentro da temática da religião, descreve a
presença evangélica pentecostal nas avenidas Rangel-Pestana e Celso Garcia, especialmente
no perímetro do bairro do Brás.
É possível considerar que o que permite a presença de tantas igrejas evangélicas
pentecostais na avenida Celso Garcia seja sua localização geográfica e a junção de
importantes equipamentos urbanos num mesmo território; dentre eles, vale destacar o
corredor de ligação centro-leste, contemplado por diversas linhas de ônibus que ligam a zona
leste de São Paulo ao centro e a outros bairros, além de a avenida também possuir acesso
facilitado pela malha ferroviária e metroviária. Além da facilidade de transporte para acesso à
região, vale destacar que o trecho objeto deste estudo está inserido em um bairro tradicional
de forte característica comercial, o Brás. Outra hipótese apontada é a deterioração dos
16
imóveis, o que facilita seus aluguéis e sua compra; esse argumento também vem sendo
reavaliado na medida em que o bairro passa a ser alvo do mercado e da especulação
imobiliária, algo que se intensifica com a construção do Templo de Salomão da Igreja
Universal do Reino de Deus (IURD).
Assim, o objetivo fundamental desta pesquisa é mapear o fenômeno que fez com que
várias denominações religiosas optassem por se instalarem nas avenidas Rangel Pestana -
Celso Garcia, no bairro do Brás, em São Paulo, bem como compreender as lógicas de
funcionamento e as relações de troca e sociabilidade que permeiam esse “corredor” de
visibilidade da fé.
17
1. CAPÍTULO 1 - DESENHANDO O PROBLEMA DA PESQUISA
O mapeamento e descrição do corredor “de visibilidade da fé” formado nas avenidas
Rangel Pestana e Celso Garcia no Brás exigiu um período intenso de incursões
etnográficasom o intuito de demonstrar um pouco desse processo, apresento trechos de um
relato de campo.
Apesar de ser inverno, é um final de tarde ensolarado do dia 31 de julho de 2014,
momento em que estou na avenida Celso Garcia, um dos eixos de ligação centro-leste, na
capital paulista. A migração pendular é intensa, percebe-se que são muitos os comentários em
bares, lojas, bancas de jornal e pontos de ônibus, não se fala noutra coisa, a não ser no valor
gasto na edificação da nova obra da Igreja Universal do Reino de Deus, o “Templo de
Salomão”, localizado no número 605 da avenida Celso Garcia, no bairro do Brás. “Foram 680
milhões”, diz o gerente de um bar onde paro para tomar um cafezinho. “Vocês viram nos
jornais?”, continua ele. “Aí tem de tudo, heliporto, piscina, restaurantes, estacionamento para
ônibus e até esteira para levar dízimo para o cofre, a iluminação e o som são importados, aí
tem grana preta, tudo é de primeira”.
Logo mais à frente, nas proximidades de outra denominação religiosa, encontro um
grupo de amigos reunidos em uma loja de equipamentos de som; estão ansiosos aguardando
pelo horário da cerimônia de inauguração, apesar de saberem que não poderão entrar no local
por se tratar de um evento exclusivo para convidados da alta sociedade paulistana e para
políticos do cenário nacional, dentre eles, a Presidente Dilma Rousseff, o Governador Geraldo
Alckmin e o Prefeito Fernando Haddad. Mesmo assim, há uma expectativa de acompanhar o
evento pelos telões que estão instalados no pátio frontal.
Os comentários desses amigos na loja não são diferentes de tantos outros por onde
circulei nesse dia. Nas conversas surgem acréscimos a respeito dos detalhes da obra e sobre a
vida do bispo Macedo, mas volta e meia vêm à tona aspectos a respeito dos valores gastos na
construção.
Enfim, chega o momento da cerimônia, dirijo-me para a porta frontal do templo. Ao
chegar ao local, deparo-me com um forte esquema de segurança, polícia militar, civil e
seguranças particulares, um cordão humano formado por jovens da “força universal”,
isolando os portões frontais e o acesso à via na calçada do outro lado da rua; por trás desse
cordão, multidões de curiosos, jornalistas, fotógrafos, idosos, jovens e pais com seus filhos.
18
Com muito custo, consigo um lugar na calçada da Igreja Católica de São João Batista,
que está bem em frente ao Templo de Salomão. Há uma grande expectativa para a abertura
dos portões, quando, ao escurecer, começa uma projeção mapeada de símbolos do Judaísmo
bíblico. Observam-se nas paredes frontais do templo, em uma grande tela, imagens de pedras
representativas das 12 tribos de Israel. Outros símbolos também são projetados, como as
menorahs e a arca. No momento em que termina a projeção, seis homens vestidos com trajes
supostamente do Judaísmo, todos de branco, transportam uma réplica da Arca da Aliança1, do
antigo templo (sede da avenida Celso Garcia, 499) para o Templo de Salomão; no percurso,
está estendido um tapete vermelho, e, na chegada, há um corredor humano no pátio interno
do templo. A arca está coberta por um manto, o qual é retirado na entrada do templo por
outros quatros homens. E, ao som de trombetas, a arca adentra o local. A reunião segue a
portas fechadas. Depois de alguns minutos, a projeção mapeada retorna, agora com a história
de vários personagens bíblicos, partindo de Abraão, Isaque, Jacó, Moisés e outros, até chegar
à breve história do surgimento da Igreja Universal do Reino de Deus, terminando-se a
apresentação com dados sobre a construção do Templo de Salomão. A projeção termina, mas
a reunião segue, mais uma vez, a portas fechadas.
Olho ao redor, e percebo que o tempo sagrado na avenida não para; em outras
denominações, outras reuniões acontecem, basta olhar à frente, do outro lado da calçada. Lá
está a Paróquia São João Batista do Brás; ao seu lado, a Igreja Assembleia de Deus do Brás;
logo atrás do Templo de Salomão, a Igreja Evangélica Brasileira; e, na lateral esquerda, a
Igreja Assembleia de Deus La Roca; a 100 metros aproximados do Templo de Salomão
(IURD), veem-se o Ministério Mudança de Vida, a Igreja Plenitude do Trono de Deus, a
Universal do Reino de Deus e a Igreja Ortodoxa Grega2.
Os relatos sobre a presença religiosa no bairro do Brás acompanham as histórias sobre
sua fundação que, como ocorreu com a maioria dos bairros tradicionais da cidade, deu-se em
torno da Capela do Bom Jesus de Matosinho, com suas procissões, romarias e missas, que
marcaram um período na hegemonia do Catolicismo. As transformações na região ocorreram,
1 A Arca da Aliança: trata-se de uma mobília do antigo culto judaico, responsável por armazenar a
tábua dos dez mandamentos, a vara de Arão e o Maná, elementos descritos no texto bíblico
veterotestamentário.
2 Relato referente à pesquisa de campo realizada em 31/07/2014, em decorrência da inauguração do
Templo de Salomão da Igreja Universal do Reino de Deus.
19
a princípio, com a chegada de imigrantes europeus no final do século XIX, os quais erigiram
edificações de novas igrejas, afinadas com suas devoções de origem.
Partindo desse histórico que remete a presença católica na formação das cidades e dos
bairros importantes, é possível aferir que, nas políticas de fundamentação das cidades, a
presença religiosa, e, nesse caso, a construção de uma capela, era visto como um importante
equipamento urbano. As paróquias serviam não apenas como espaço religioso, mas também
como espaço de sociabilidade, de reuniões que se davam para além do espaço privado
ocupado pela família. É nesse sentido que o espaço religioso emerge como equipamento
urbano e a garantia de uma forma de religiosidade como meio facilitador da vida nas cidades.
Em São Paulo, mesmo com o avanço de políticas de formação da metrópole e com o
aumento considerável de equipamentos urbanos (praças, áreas de lazer, de cultura, transporte,
etc.), pode-se afirmar que os espaços religiosos continuam atuando com espaços importantes
de sociabilidade e de vivência na cidade. Tal consideração baseia-se na imensa profusão de
templos e denominações religiosas que a cidade abriga e na necessidade de se constituir um
espaço de visibilidade para as religiões. Assim, a problemática da pesquisa envolve a seguinte
questão: dentro do tema da religião, a concentração de diversas denominações, sobretudo
evangélicas pentecostais, estabelecidas nas avenidas Rangel Pestana-Celso Garcia, do seu
início até o número 1550, perímetro do bairro do Brás, na cidade de São Paulo, segue a
mesma lógica com que se organizam o comércio, o lazer e outras redes de sociabilidade nessa
capital?
Para tentar responder tais proposições, duas hipóteses centrais são aqui desenvolvidas:
primeiramente, a descrição empírica de uma “mancha” religiosa constituída na rede de
relações da região do Brás, e, em segundo, a concentração de diversas denominações
religiosas, sobretudo pentecostais, o que nos remete a uma teia de estratégias relacionada à
visibilidade religiosa.
20
1.1 A constituição de uma mancha urbana das agências religiosas como estratégia de
visibilidade religiosa
Como dito anteriormente, a partir de várias caminhadas pelo bairro do Brás,
identificando as denominações religiosas, conversando com fiéis, moradores da região,
transeuntes e frequentadores, chamou-me atenção a concentração de diversas denominações
religiosas nas avenidas Rangel Pestana-Celso Garcia, especialmente no perímetro do bairro do
Brás.
Depois desse processo de reconhecimento de campo e de imersão, que durou
aproximadamente dois anos, não somente dialogando com os interlocutores, como também
assistindo às reuniões das denominações, pareceu-me importante não me ater à análise dos
conteúdos referentes às práticas religiosas, mas apenas pensar nos percursos pelos quais tais
denominações passam, e, principalmente, pensar no fato de os líderes religiosos se
encontrarem no bairro do Brás, e, consequentemente, instalarem lá as sedes de seus
ministérios, num território onde a IURD há muito tempo se instalou; ainda, pareceu relevante
pensar por que pessoas de diversas regiões da metrópole deslocam-se em direção a essa
região.
Uma das hipóteses para esta pesquisa é se a chegada e a saída de tantas denominações
religiosas implicam na presença de uma “mancha” religiosa. A categoria “mancha” faz parte
de um conjunto de categorias antropológicas desenvolvidas por Magnani (1996 e 2012), as
quais foram inicialmente utilizadas em função da necessidade de se analisar determinado
conjunto de atividades no contexto urbano a partir dos anos de 1980. Dentre essas categorias,
destacam-se:
“Pedaço: espaço ou segmento dele, demarcado; torna-se referência para distinguir
determinado grupo de frequentadores como pertencentes a uma rede de relações.”
“Mancha: pode ser compreendida por áreas contíguas do espaço urbano dotadas de
equipamentos que marcam seus limites e os viabilizam, cada qual com sua especificidade,
competindo ou complementando uma atividade ou prática dominante”.
“Trajetos: aplica-se a fluxos recorrentes no espaço mais abrangente da cidade e no
interior das manchas urbanas”.
21
“Circuito: categoria que descreve o exercício de uma prática ou a oferta de
determinado serviço em estabelecimentos, equipamentos e espaços que não mantêm entre si
uma relação de contiguidade espacial, sendo reconhecido em seu conjunto pelos usuários”.
Dado o número expressivo de denominações, mesmo no recorte das Avenidas Rangel
Pestana-Celso Garcia, determinado como locus da pesquisa, escolhi aleatoriamente algumas
dessas denominações para assistir às reuniões ali realizadas, na tentativa de melhor
compreender a formação da mancha em questão.
A região do Brás é marcadamente comercial, o que não implica nas atividades da
maioria das denominações religiosas no local; porém, o funcionamento intenso destas se dá
entre a sexta-feira e o domingo, com reuniões sobre exorcismo, prosperidade financeira, vida
sentimental, saúde física e espiritual. Para entender as características da mancha, descrevi
alguns aspectos gerais das denominações, as falas de entrevistados e as participações em
reuniões.
A Igreja de Bom Jesus do Brás, parte integrante da memória paulistana, vive na
atualidade um período de ausência de membros oficiais. Eunice, a secretária geral, relatou-
me detalhes de como o número de fiéis ficou reduzido nas missas; enquanto converso com
ela, chegam aqui e ali pessoas que entram e saem da igreja. A loja de produtos religiosos
pouco movimentada é uma nova face do Catolicismo no país, que se reflete no bairro. Já a
Comunidade Essência de Deus, denominada Católica Carismática, instalada em um espaço
menor, num piso superior de uma loja, no Largo da Concórdia /avenida Rangel Pestana,
apresenta um número expressivo de membros. Notável o estilo de suas práticas litúrgicas,
acompanhado por músicas e símbolos predominantemente pentecostais, como a presença no
púlpito da “arca da aliança” e da cruz. Pessoas mencionam que escutam o rádio, e,
incentivadas pela facilidade de acesso ao local, pela existência de meios de transportes, vêm
em busca do “milagre” na gruta de Nossa Senhora da Rosa Mística, instalada na parte que dá
saída para a rua do Gasômetro; o agendamento para consultas espirituais é feito antes e
depois da missa. Nessa denominação, o meu contato foi apenas com fiéis e com alguns
funcionários, pois não obtive chance de contato com a liderança.
Prosseguindo na avenida, em direção leste, sempre esteve de portas abertas a Igreja
Catedral Carismática das Nações. O líder dessa igreja me recebeu, e contou detalhes sobre a
sua origem evangélica e o seu trabalho atual carismático, além de ter falado sobre a aquisição
do imóvel onde está instalada a igreja. Questionei esse líder a respeito da presença de
elementos simbólicos do Pentecostalismo e do Catolicismo, e sobre a confissão religiosa do
22
público que circula pelo espaço, e ele respondeu: “Deus vem pra todos, católicos, evangélicos,
espíritas.”
Visitei o Santuário dos Santos Anjos, conversei com alguns diáconos, porém não
obtive informações adicionais da denominação além daquelas que estão no seu portal de
internet. Na Igreja Internacional da Fé, consegui contato com a liderança, que justificou a
espacialidade do seu templo com a centralidade do bairro. Os membros dessa igreja são de
vários bairros da capital, e chegam até lá trazidos pelas divulgações feitas no rádio.
Na Comunidade Amor e Graça, tive três interlocutores, sendo uma senhora, um rapaz,
ambos fiéis, e o líder da denominação, o qual, em sua fala, sempre incluía a justificativa do
espaço. O líder contou que já tinha sido membro de uma outra denominação na região e, por
causa da centralidade, marcada pela facilidade dos meios de transporte, optou por ficar no
bairro e expandir a igreja para outras regiões. Os membros contaram-me sobre o estilo de
trabalho da denominação, alinhada aos textos do Novo Testamento, especialmente as cartas
do Apóstolo São Paulo. A principal diretriz da denominação é o viver uma prática longe do
Israel mítico, baseando-se no Velho Testamento. Conta o rapaz: “Antes, eu era „da lei‟, agora
eu sou „da graça‟”, fazendo alusão a uma outra denominação, que também trabalha em suas
práticas litúrgicas elementos do Velho Testamento, ou „„a lei”.
O templo da IURD na avenida Celso Garcia, juntamente com o Templo de Salomão
(IURD), movimenta toda uma rede de sociabilidade, envolvendo lojas de produtos,
restaurante e café próprios, além de escolas e espaços para jovens e imigrantes. Nas
proximidades, há também lojas de roupas, as quais foram abertas com as instruções dos
bispos ou pertencem a membros da IURD.
Na Igreja Assembleia de Deus, assisti a diversos cultos e escutei a programas de rádio
e TV na tentativa de identificar trajetos e circuitos envolvendo essa denominação. Apenas se
identificou uma rede de relacionamento em torno de um estabelecimento de equipamentos de
som nas proximidades, que se reúne às terças-feiras, em cultos que têm a presença de pastores
de diversas regiões; estes, por sua vez, encontram-se na loja para comprar ou trocar seus
aparelhos de som; ali e acolá surgem conversas sobre o trabalho da igreja ou sobre o futuro
do Evangelho.
Os testemunhos e os programas televisivos movimentam uma rede de pessoas que vêm
aos cultos da bispa, no Ministério Mudança de Vida. Um dos pastores contou que a escolha
23
pelo bairro para a sede da denominação levou em conta a centralidade e a facilidade de
estacionamento.
Na Plenitude do Trono de Deus, assisti a reuniões de exorcismo e a “campanhas da
prosperidade”, mas não consegui falar com a liderança dos membros; falei com
frequentadores, pessoas que são de outras denominações, mas vão àquela igreja em busca da
bênção e da troca de experiências, e lá ouvem testemunhos, fazem campanhas e esperam por
um milagre.
Na Catedral da Bênção, consegui contato com o pastor auxiliar, o qual contou que, no
passado, a adesão à igreja foi conquistada por meio de divulgação no rádio. Hoje, o modus
operandi mudou: as famílias vêm para essa igreja através da evangelização. A escolha da
espacialidade ocorreu há muitos anos, quando se decidiu pelo local devido à sua
proximidade do centro da cidade.
Na Igreja Missão dos Sinais de Deus, frequentada por pessoas de diversas regiões e
confissões da capital, as propostas escutadas no rádio logo trazem fiéis para o espaço de
culto, os quais são de diversas denominações; as relações entre eles ocorrem pela
identificação com o “milagre”. Nos cultos, conversa-se sobre de onde o fiel veio, com que ele
trabalha e qual a bênção recebida por ele.
A partir dos conceitos de Magnani (1996 e 2012), é possível pensar que a mancha
religiosa localizada no trecho da avenida Rangel Pestana – Celso Garcia, perímetro do bairro
do Brás, está ligado a trajetos e circuitos que vão além do espaço do bairro.
Nessa dialética de circuitos e trajetos, a dinâmica da “mancha” religiosa se dá de
forma intensa. A maioria dos frequentadores vem de bairros distantes da cidade, localizados
nas extremidades da zona leste; muitos dos entrevistados trabalham na região, outros acessam
informações referentes à programação das igrejas por meio de programas de rádio, que ainda
emerge como veículo importante de comunicação. A lógica dos trajetos tem por regra a busca
por uma resposta a necessidades individuais dos frequentadores, que organizam suas
incursões nas igrejas mediante o calendário de campanhas oferecidas. O calendário de
campanhas temáticas conforma um circuito de práticas religiosas que extrapolam os limites
geográficos do bairro do Brás, fazendo com que o contingente de frequentadores circule por
outras regiões da cidade, como a rua Conde de Sarzedas, na região central, e em bairros
considerados importantes centros regionais, como o bairro de Santo Amaro, que funciona
como centro expandido para a zona sul, e o bairro de Vila Nova Cachoeirinha, centro
expandido da zona norte.
24
1.2 Avenida Rangel Pestana-Celso Garcia – Corredor de Visibilidade Religiosa
As avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia, nos últimos anos, foram eleitas por
agências de jornalismo e por agentes da religião como um corredor de visibilidade religiosa,
local de concentração da fé. Várias reportagens foram veiculadas em diversos meios de
comunicação a esse respeito, e até mesmo sobre o bairro do Brás como cenário da
religiosidade.
Tais exposições ocorreram ultimamente por conta da inauguração do Templo de
Salomão (IURD), ocorrida no ano de 2006, quando também foi inaugurada a Igreja
Assembleia de Deus do Ministério do Brás.
Em todas as reportagens, há uma tentativa de atribuir termos relacionados à
quantidade de denominações religiosas, tanto presentes na avenida como no bairro. Dentre os
termos atribuídos: “corredor da fé”3 ; “via da oração”4, “o bairro da fé”5 e “o cinturão
religioso do Brás”.6
Pereira (2010) sugere que a espacialidade das denominações, sutilmente, tenha uma
relação entre economia e religião. Almeida (2004) analisou os locais de culto no contexto
urbano paulista, especialmente as vias principais da zona leste da capital, e concluiu que as
diferentes confissões não seguem a mesma dinâmica espacial, por exemplo, a visibilidade
das paróquias católicas ocorre no interior dos bairros, onde estas estabelecem uma certa
centralidade, servindo como referência de localização.
3 AMENDOLA, Gilberto. Celso Garcia, a avenida da fé. Jornal da Tarde. São Paulo, p. 1-2. 29 set.
2006.
4 CORREA, VANESSA. Folha de São Paulo. 2014. Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2014/06/1470202-igrejas-vizinhas-temem-transito-apos-
abertura-do-templo-de-salomao.shtml Acesso em: 20 set. 2013
5 BRÁS, Jornal Do. 2014. Disponível em:
<http://www.jorbras.com.br/portal/index.php?option=com_content&task=view&id=2820&Itemid=2.>
Acesso em: 20 set. 2013
6 IDOETA, Paula Adamo; SENRA, Ricardo. Templo evangélico reforça caldeirão religioso no leste
de São Paulo. Disponível em:
<http://www.bbc.co.uk/portuguese/videos_e_fotos/2014/08/140801_bras_vale_religioes_pai.shtml#dn
a-comments>. Acesso em: 01 ago. 2014.
25
Os templos da Assembleia de Deus, diferentemente dos católicos, encontram-se nas
vias principais dos bairros periféricos. A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) avalia o
espaço geográfico e instala seus templos nas grandes avenidas, dotadas de grande densidade
populacional, atendidas por uma vasta malha de transporte e com grande oferta de
equipamentos urbanos.
A visibilidade como meio de promoção da imagem e da adesão em massa foi
amplamente explorada por Corten, Dozon & Oro (2003); Almeida (2004);, Oro (2006);
Constins e Gomes (2007); Gomes (2008); Almeida (2011); Gomes (2011); Mafra (2011);
Giumbeli (2012) e Bledsoe (2012).
[...] Essa estratégia, a construção de suas grandes catedrais, visa dois
objetivos, visibilidade e adesão em massa; esse tipo de construção imponente
nas vias principais é uma estratégia de visibilidade e marketing que se
articula com a presença na mídia e na esfera política visto que para sua
efetivação as igrejas evangélicas necessitam de trâmites burocráticos nas
administrações municipais; a intenção é parecer maior do que realmente é.
(ALMEIDA, 2004, p. 23)
A teoria de Almeida (2004) quanto à visibilidade e à adesão em massa é confirmada
com o Templo de Salomão IURD, na avenida Celso Garcia. O edifício tornou-se um marco
na cidade, milhares de pessoas vão às suas reuniões. Com a implantação de suas catedrais e
seus megatemplos, a IURD consegue o feito também em outras cidades onde se instalou nos
últimos anos.
Outras denominações presentes na avenida Rangel Pestana-Celso Garcia, mesmo
com templos menores, buscam essa visibilidade e adesão instalando as suas sedes
administrativas nesse espaço.
Ser visto na cidade, arrebanhar multidões aos seus templos são uma boa hipótese por
que tantos líderes religiosos buscam o bairro do Brás, em São Paulo, em especial as avenidas
Rangel Pestana-Celso Garcia. Para isso, não se medem esforços, e apelos são feitos na TV,
no rádio e em diversos outros meios de publicidade.
O processo de visibilidade e adesão em massa inicia-se através de planejamento de
marketing e de mercado a respeito de consumidores de possíveis bens simbólicos. Não me
aprofundarei nessa relação que possivelmente resultaria em uma análise chamada por alguns
pesquisadores de “religião e mercado”.
26
1.3 Metodologia
A metodologia empregada neste trabalho inicialmente foi de análise de conteúdo
bibliográfico, especializada nos campos da religião, da história, da sociologia e,
predominantemente, da antropologia urbana, o que permitiu construir um panorama da
religiosidade do bairro e das avenidas Rangel-Pestana - Celso Garcia a partir da leitura de
diferentes cientistas da religião (historiadores, sociólogos e antropólogos). Pretende-se, dessa
maneira, viabilizar uma escrita pontilhada de referências. Para tanto, foram utilizadas as
fontes depositadas nas bibliotecas da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Faculdade
de Filosofia Letras e Ciências Sociais da Universidade de São Paulo, bem como as fontes do
Arquivo Histórico do município de São Paulo.
Em segundo momento, utilizou-se o método etnográfico, tendo sido feitas visitas às
igrejas e a eventos nas denominações das avenidas Rangel-Pestana - Celso Garcia, além de
anotações, mapas e fotografias de algumas paisagens, as quais farão parte do material a ser
apresentado nesta pesquisa.
Na medida do possível, à semelhança do que ocorrera com Silva (2000), foram
utilizadas entrevistas informais, visto que os participantes declinavam quando apresentávamos
questionários pré-estabelecidos. Percebido esse pormenor, abandonamos o processo formal e
adotamos em todas as entrevistas a informalidade, procedimento que resultou na fluidez da
pesquisa.
As entrevistas e os questionamentos, mesmo que informais, quando aplicados às
lideranças das denominações, procuraram seguir um roteiro que envolvia as seguintes
questões: a) identificação do pesquisado, b) nome da denominação à qual pertence, c) relato
histórico da denominação, d) quanto tempo está no Brás, e) o que lhe motivou escolher o
bairro ou, em especial, o corredor Rangel-Celso Garcia, f) estar no Brás tem algum diferencial
ou significado para você?, g) caso seja necessária a mudança, qual bairro da capital
escolheria?, h) a denominação desenvolve algum trabalho social?. Essas questões nos
guiaram diante de uma parcela representativa do número de líderes evangélicos pentecostais
presentes no campo pesquisado.
Outras questões nos guiaram quando as entrevistas foram realizadas com antigos
moradores da região, com lideranças de associações, com comerciantes, com jornalistas e com
27
outras pessoas da região. Buscou-se saber destes sua identidade, sua pertença religiosa, o local
de sua residência, se frequentam as denominações no bairro do Brás e qual sua opinião sobre
a existência de tantas denominações no espaço do bairro, em especial, no corredor Rangel
Pestana – Celso Garcia.
Os dados foram analisados a partir da teoria e das categorias analíticas “mancha”,
“trajeto” e “circuito”, elaboradas e adotadas por Magnani (2012), em seus mais expressivos
estudos. Tanto o método de análise de conteúdo como a etnografia resultaram no corpo
documental da pesquisa.
As caminhadas e participações nas reuniões das denominações, durante a pesquisa,
sempre ocorreram no sentido centro – leste, e foram feitas em dias diferentes da semana com
intenção de se assistir às diversas temáticas propostas pelas reuniões, o que permitiu traçar
alguns aspectos gerais das denominações que visualizei em campo.
A pesquisa propôs uma abordagem antropológica, não utilizando de nenhum método
invasivo; a relação se baseou na confiança mútua entre o pesquisador e o pesquisado. Os
dados colhidos através dos informantes mantiveram o seu anonimato (exceto aqueles cujos
informantes aceitaram a exposição), sendo as citações somente de forma indireta; contudo,
todo pesquisado foi conscientizado de que faria parte de uma pesquisa no campo da Ciência
da Religião e que, caso desejasse, sua identidade seria mantida em completo anonimato.
28
2. Capítulo 2 - Bairro do Brás: breve histórico
“O Brás tinha rezas e blasfêmias. Da mistura equilibrada desses dois
ingredientes, o espiritual e o profano, eram feitas as delicadezas e as
grossuras do bairro”. (DIAFERIA, 2002, p.40)
Brás, tradicional bairro da capital paulistana, pertence à Subprefeitura da Mooca,
sendo suas principais vias de acesso as avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia, a qual liga o
centro de São Paulo aos bairros da zona leste.
Nos dias atuais, o Brás é conhecido por suas características de comércio popular. Com
grande variedade de lojas e distribuidoras, em vários segmentos, concentradas em suas
principais ruas e arredores, esse bairro abastece diversos tipos de comércio de outras regiões
do Brasil, e até mesmo de fora do país.
É notável que essa vocação comercial faça do bairro um importante polo econômico
para o estado. A diversidade de produtos e serviços presentes em suas principais ruas e
avenidas atrai diariamente centenas de visitantes e turistas de todo o país e até mesmo de
outras partes do mundo.
Aquilo que se vê hoje no bairro do Brás teve início nos primórdios do século XX, e
está vinculado aos movimentos de ocupação urbana na capital paulista. (BIANCO, 2008,
p.42).
No início da sua fundação, a localização do bairro, próxima ao rio Tamanduateí,
dificultava o acesso aos moradores, pois as características topográficas e ambientais da várzea
do Carmo geravam desconforto aos possíveis interessados em adquirir lotes de terras naquela
localidade; era uma região marcada por capoeiras e por matagais. (TORRES, 1985, p. 64)
Diaferia (2002, p. 35) nos faz lembrar que, no passado, o bairro tinha um visual
diferenciado de outros bairros de São Paulo; como o acesso a ele era difícil devido à várzea e
ao rio Tamanduateí, possuía poucos moradores, o que lhe dava aspecto de sítio. (Foto 1)
Foto 1 - Várzea do Carmo – ano: 1860
29
Fonte: Acervo fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo - Tombo: DC/0000382/E
Nos primórdios do bairro, suas chácaras eram habitadas somente por escravos e por
caseiros, e seus proprietários viviam na região urbana. As terras dessa área teriam sido doadas
para aqueles que as pediam à Câmara Municipal com a finalidade de construírem casas de
campo, hortas e pomares. (REALE, 1982, pp. 7,9)
A localização do Brás outrora começava no antigo Gasômetro e se estendia por toda a
zona leste da cidade até a Penha. Na época, tinha-se por Gasômetro toda a área que
circundava a sede da companhia que produzia gás para a iluminação pública da cidade de São
Paulo, em meados do século XIX. Hoje, essa área reduziu-se apenas às proximidades do atual
Parque Dom Pedro II. O que se tem atualmente como essa localidade restringe-se à rua do
Gasômetro, hoje conhecida pelo seu comércio de madeiras.
O bairro do Brás tem origem a partir das primeiras décadas do século XVII; sua
paisagem, marcada por chácaras e regiões alagadiças, era cortada pelo Caminho da Penha
(atualmente avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia), que servira no passado como rota de
romaria e de comércio, entre a colina da Penha e a colina da Sé. O Caminho da Penha é
fundamental na formação do bairro do Brás, pois nele se situa a Capela de Bom Jesus de
Matosinho. A partir de 1725, iniciam-se as primeiras habitações no entorno dessa capela. No
entanto, o vilarejo formado somente passará à categoria de Freguesia em 1819, com a
30
assinatura de documentos pelo Bispo Dom Matheus, ocasião em que a igreja de Bom Jesus de
Matosinho foi elevada a Paróquia. (DIAFERIA, 2002, p. 41)
O Brás, desde o Brasil Colônia, passou por diversas transformações, as quais, em
alguns períodos, ocorreram de forma lenta, mas, em outros, de forma rápida. Os historiadores
são unânimes em afirmar que um período marcante na transformação espacial do bairro
ocorreu no final do século XIX, com a chegada da ferrovia e a decorrente vinda de
(i)migrantes de diferentes lugares.
A ferrovia, inaugurada em 1877, definiu a vocação do bairro e influiu
decisivamente na posterior configuração social do espaço, pelo fato de haver
atraído para suas margens atividades industriais e comerciais. Seus terrenos
alagadiços, de baixo custo, e as indústrias que começavam a se instalar
transformaram-no num bairro popular. (AMARAL, 2010. pp. 176-177)
É notável que a ferrovia trouxesse mudanças permanentes no espaço urbano do bairro,
para além das atividades comercias e industriais, como observa Amaral (2010). Alterações
foram percebidas também no perfil religioso da localidade, logo no início do século XX. Os
imigrantes italianos, chegados às décadas de 1920 e 1930 do mesmo século, trouxeram uma
devoção religiosa afinada com sua região de origem. (RIBEIRO, 1994, p. 98)
Com os planos de desenvolvimento urbano do município em parceria com o Estado e a
Federação7, o bairro foi se tornando arrojado, e passou a atrair mais pessoas, as quais vinham
de fora em busca de novas oportunidades de trabalho. Primeiro, chegaram italianos e outros
estrangeiros, e, mais recentemente, nordestinos e latinos8. A presença desses (i) migrantes,
tanto no início da formação do bairro quanto nos dias atuais, tem deixado traços de diferentes
culturas no local. Para Torres (1985, p. 43), por exemplo, a presença da imigração europeia na
cidade, especialmente a italiana, deixou marcas indeléveis no bairro.
Com as reformas urbanas e a expansão decorrente do fluxo populacional, novas áreas
foram sendo agregadas. Desse modo, as fronteiras do bairro foram ampliadas e, hoje, ele está
apenas a uma distância aproximada de dois quilômetros do centro da capital paulista, fazendo
divisa com os bairros da Mooca, do Belenzinho, do Pari, da Luz e da Sé (REALE, 1982, p.
03).
7 Investimento de verba federal para o desenvolvimento urbano.
8 Na década de 1940, os nordestinos, e, mais recentemente, os bolivianos.
31
A origem do nome9 atribuído ao bairro do Brás já gerou diversas especulações entre os
meios de comunicação, e três versões sempre são apresentadas. Entretanto, em dados
publicados no site da Prefeitura de São Paulo, é notável que a versão para a origem do nome
do bairro seja a mesma aceita por Torres (1985, p. 43), o qual faz referência às atas da Câmara
Municipal de São Paulo, no termo de vereança de 04 de março de 1769.
Os primeiros registros do bairro do Brás remontam ao início do século 18,
quando foi pedida a edificação de uma capela em homenagem ao Senhor
Bom Jesus do Matosinho em uma chácara de José Braz (assim mesmo, com
“z”). Ao que parecem, as primeiras referências a esse José Braz constam em
atas da Câmara dos Vereadores de 1769, quando se despacharam várias
petições em nome do mesmo. Tal chácara ficava na margem de uma estrada,
que era conhecida como Caminho do José Braz, passou a ser a Rua do Braz,
e hoje leva o nome de Avenida Rangel Pestana.10
Curiosamente, até o ano de 2010, a memória do chacareiro José Brás estava
circunscrita à pequena praça localizada ao lado da estação Brás do metrô. Após dez anos de
luta por parte de moradores e comerciantes da região, no dia 8 de janeiro de 2011, foi
inaugurado no espaço localizado embaixo do viaduto da estação do metrô Brás o parque
Benemérito José Brás. No ato público, estavam presentes o prefeito Gilberto Kassab, o
subprefeito da Mooca Rubens Casado, o secretário do Meio Ambiente Eduardo Jorge, o
vereador e autor da Lei do Parque Francisco Chagas, o engenheiro Carlos Fortner e o Padre
José Roberto da Igreja Nossa Senhora de Casaluce11.
9 A chácara da Marquesa de Santos ou do Ferrão serviu para demarcar os limites do Brás, até o ano de 1874.
Com a morte de dona Domitila de Castro, viúva do brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, a propriedade passou
para Brasílico de Aguiar Castro, filho caçula da Marquesa de Santos, o qual viveu até 1891. Brasílico era
conhecido também por Brás, e essa seria uma versão da origem do nome do bairro. Outros insinuaram que Brás
deve-se à passagem de Brás Cubas, fundador de Santos, pela região, por volta de agosto de 1567. Dentre as três
versões existentes a respeito da origem do nome do bairro, a versão mais aceita é a do historiador Nuto Santana,
para quem a verdadeira origem desse nome deve-se ao português José Brás, por ter residido em meados do
século XVIII entre o Gasômetro e o Largo da Concórdia, onde cultivava como dono das terras. (BATTAGLIA,
1981)
10 PREFEITURA DO MUNICIPIO DE SÃO PAULO. Coordenação das Subprefeituras, Subprefeitura
Mooca. São Paulo, 2013. Disponível em:
<http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/moo. php?p=435>. Acesso em: 11 ago. 2013.
11 AMIGOS da praça, Inauguração do parque benemérito José Brás. Amigos da Praça Blog spot, São Paulo 25
Jan. 2011. Disponível em: < http://amigosdapracabras.blogspot.com/2011/01/inauguracao-do-parque-benemerito-jose.html>
Acesso em: 11 ago. 2013.
32
As autoridades sempre prestigiaram o bairro. Na gestão do prefeito Paulo Maluf
(1993-1996), através do projeto de lei do vereador Hanna Garib, foi instituído o “Dia do Brás”
a ser comemorado, no âmbito do município de São Paulo, no dia 08 de junho, conforme a Lei
nº 11.756, de 12 de maio de 1995.12
O bairro do Brás tem em sua história, portanto, uma série de processos que conjugam
os valores dados à memória do fundador José Brás aos atos da política de governo. Nessa
memória, ainda há espaço para se pensar nos demais agentes que fizeram parte da construção
daquilo que o bairro é nos dias atuais. Esse bairro não ficou ileso diante das constantes
concentrações que se organizaram e se reorganizaram nos espaços sociais da capital
paulistana.
Na memória coletiva, as mudanças pelas quais passou a região, além do saudosismo,
deixaram suas marcas na paisagem religiosa de São Paulo. Basta olhar ao redor das
movimentadas avenidas do bairro para perceber que o Brás é um exemplo considerável das
transformações no campo religioso ocorridas no Brasil, especialmente em seus grandes
centros urbanos, nas últimas décadas do século XX.
Os movimentos apontam, desde os primórdios, a presença marcante de sujeitos sociais
cuja história e vida estão imbricadas à religiosidade, demonstrando a relação entre o
fenômeno urbano e a expansão de diferentes confissões religiosas no estado de São Paulo.
2.1 Memória e devoção católica
A fundação de diversos bairros, e até de cidades, no contexto brasileiro, esteve ligada
à religião católica romana, segundo o pesquisador Jesus (2006, pp. 12,17). Ao estudar essa
relação, o autor ressalta o fato de que, na origem do bairro do Brás, houve um forte vínculo
entre os primeiros moradores da localidade e sua devoção específica, para a qual erigiam
algumas capelas e igrejas católicas. Assim, a história de muitas cidades brasileiras e a história
da religião, ou da devoção de algum santo católico, está imbricada num conjunto de narrativas
onde a memória se desloca dos monumentos cívicos para os lugares sagrados.
12 SÃO PAULO. Lei n˚ 11.756, de 12 de maio de 1995. Institui o Dia do Brás. Diário Oficial do
Município de São Paulo, São Paulo, 13 mai. 1995. Disponível em:
<http://www.radarmunicipal.com.br/legislacao/lei-11756>. Acesso em: 11 ago. 2013.
33
Igrejas, capelas, lojas de artigos religiosos, celebrações e festas, comidas, odores e
sabores são apenas uma parte das memórias que se tem do antigo bairro do Brás, por onde
passaram tantas romarias, e que hoje fervilha com novas concentrações de fé e de crença no
divino.
Jesus (2006) também observa que, desde o passado colonial até os idos do Império
Brasileiro, a paróquia como existência religiosa exercia além do poder espiritual, poderes
seculares, isto é, civis e políticos: o discurso religioso corroborava a educação moral e os bons
costumes entre os citadinos; o pároco era autoridade nas questões éticas; os fiéis confessavam
seus pecados e tinham nas homilias dominicais apelos à vida regrada e piedosa. No entanto,
não eram essas as principais necessidades dos devotos católicos, ou não eram somente essas
as suas carências.
A invocação aos santos, às divindades, aos poderes sobrenaturais, quer em religiões de
matriz africana, quer em religiões de matriz indígena, ou nas de matriz cristã, está sempre
associada às situações em que o homem não tem domínio sobre a natureza. No século XIX, na
região do Brás, as enchentes dos rios, as secas e as pestes que atingiam os animais impeliam
os mais pobres, e, em alguns casos, os mais ricos, a buscarem na devoção aos santos uma
solução de seus problemas. (SOUZA, p. 441)
Até meados do século XIX, os paulistas, vindos de uma tradição rural,
consideravam a crença como uma necessidade de obter a proteção divina
para solucionar os problemas advindos da precariedade de sua existência: os
santos eram invocados para solucionar os problemas das enchentes, das
secas, das pestes que atingiam as plantações e os animais, das epidemias que
dizimavam as pessoas. (AZZI, 2005, p.41)
A devoção maior do bairro do Brás, no passado, era a Bom Jesus de Matosinho e a
Nossa Senhora da Penha, a qual era invocada em tempos de crise e de catástrofes na cidade.
(DIAFERIA, 2002, p.41)
Nesse contexto, o processo de formação do bairro do Brás demonstrou o poder
religioso na cidade com os vínculos existentes entre a religiosidade popular e o cotidiano da
sociedade. Os estudos sobre religião e cidade contribuem para a compreensão desse processo
no bairro do Brás, que, desde a sua fundação, está intimamente ligado à concentração de
religiosos, primeiro católicos, depois protestantes, e, atualmente, pentecostais.
No passado colonial, os relatos dizem respeito à presença de religiosos no bairro e à
construção da primeira capela em homenagem ao Senhor do Bom Jesus de Matosinho,
34
iniciada nos primórdios da colonização. Foi o próprio chacareiro José Brás quem erigiu a
primeira capela do bairro. A devoção católica ao Senhor do Bom Jesus foi trazida de Portugal,
da cidade de Matosinho, distrito de Porto, por volta da segunda metade do século XVIII
(REALE, 1982, p. 03). A identidade religiosa dos portugueses, marcadamente católicos no
lado de cá do Atlântico, mantinha-se vinculada a devoções que incluíam a crença em santos e
o costume de nomeá-los padroeiros das cidades.
O advento da República no país e as consequentes transformações urbanas do bairro
trouxeram uma nova onda de construções de edifícios católicos, em virtude das quais
colaboradores leigos da burguesia emergente, cheios de influências europeias, sentir-se-iam
num espaço religioso distante da rusticidade e da sociedade escravocrata (AZZI, 2005, p.413).
A partir da proclamação da Republica, houve em São Paulo um movimento
significativo por parte da instituição católica no sentido de construir novos
templos que se mostrassem à altura do desenvolvimento urbano, marcado
por forte influência europeia em seus edifícios. A direção dessas novas
construções estava nas mãos da hierarquia eclesiástica, do clero diocesano e
das diversas congregações europeias que se tinha estabelecido na cidade
nessa época. (AZZI, 2005, p.413)
Nesse processo de desenvolvimento urbano, podemos observar no bairro do Brás,
como descreve Torres (1985, pp. 101,102), novos templos com outras devoções católicas, a
exemplo da devoção à “santa cruz” da Igreja de Santa Cruz da Figueira, na rua do Brás,
expressando a fé da maioria da população católica. A autora faz menção aos documentos da
Câmara Municipal nos quais, no ano de 1873, são encontradas solicitações para a construção
de uma capela de São João; no ano de 1876, os documentos apontam para a solicitação de
José de Souza Ribeiro para a edificação de uma capela com invocação à Santa Cruz. Reale
(1982) destaca, dentre os principais fatos que marcaram a vida do bairro no início do século
XX, o aparecimento de novas igrejas.
O Catolicismo no bairro continuava predominante. Nesse processo de novas
construções, no ano de 1903, é inaugurada uma nova igreja matriz do Senhor Bom Jesus de
Matosinho (Foto 1), edificada em estilo romano, em forma de cruz. A edificação dessa nova
igreja, no entanto, não foi suficiente, inicialmente, para apagar os vestígios e as práticas da
35
religiosidade popular, como observa Reale (1982, p. 29), ao relatar que, na Semana Santa,
eram realizadas procissões do enterro13 e do encontro, que percorriam todo o bairro.
Foto 2 – Paróquia Bom Jesus de Matosinho
Fonte: Site da Paróquia -< http://www.tvagir.com.br/not%C3%ADcias/24-par%C3%B3quia-bom-
jesus-do-br%C3%A1s.html>
A atual paróquia nada lembra a primeira construção de 1803, a qual foi edificada pelo
Tenente José Corrêa de Moraes, em propriedade do chacareiro José Brás, e que, somente em
8 de junho de 1818, foi declarada matriz, por provisão e criação da Freguesia do Brás.
Essa primeira igreja, por um longo período, tornou-se referência para as devoções
populares, ponto de acolhimento da população e da imagem de Nossa Senhora da Penha nas
romarias anuais. A igreja de Bom Jesus de Matosinho, ou Bom Jesus do Brás, foi e continua
sendo parte da memória e da paisagem do bairro, porém não foi e não será a única edificação
católica da localidade. Dentre as novas igrejas que foram erigidas, impulsionadas pelo
desenvolvimento urbano, destacam-se as igrejas dos imigrantes italianos, as quais,
13 Procissão do Enterro do Senhor: manifestação católica que se estabeleceu em Portugal, pela
devoção dos fiéis, nos fins do século XV e princípios do século XVI, mais concretamente entre 1500 e
1510. Disponível em: < http://folcloredeportugal.blogspot.com/2011/04/procissao-do-enterro-do-
senhor.html> Acesso em: 20 mai. 2011.
36
notadamente, até os dias atuais, fazem parte da tradição do bairro e do calendário festivo da
cidade.
2.2 O Catolicismo dos imigrantes italianos
Os imigrantes italianos chegaram ao bairro do Brás entre o final do século XIX e o
início do século XX, e eram, em sua maioria, devotos do Catolicismo.
Inicialmente, esses imigrantes frequentavam a igreja matriz de Bom Jesus de
Matosinho, até então a única do bairro, onde oficialmente eram realizadas missas dominicais
e outras missas, em datas e eventos religiosos; na região, essa igreja não somente atendia à
população local, mas também aos diversos imigrantes recém-chegados, como registra Ribeiro
(1994, p. 127).
Os italianos carregavam um forte sentimento de devoção religiosa de acordo com sua
região de sua origem, como nos relata Ribeiro (1994, p. 127). Instalaram-se no bairro do Brás
napolitanos14 e bareses15. Esses imigrantes buscaram organizar espaços e atividades em
função das tradições e dos santos dos quais eram devotos em sua terra natal. Ao descrever
sobre o imigrante italiano, Ribeiro (1994, p.129) afirma que:
Reconhecido notadamente por seu caráter patriótico e religioso, ao imigrar
para São Paulo, o italiano carregou suas crenças e tradições e, tão logo se
adaptou à nova pátria, seu primeiro passo foi perpetuar a memória do
padroeiro, com a construção das capelas de Casaluce e São Vitor Mártir.
Ribeiro (1994, p. 136) relata que as crenças aos santos e as devoções praticadas pelos
imigrantes italianos eram manifestadas nas capelas, porém nada os impedia de frequentar a
igreja matriz do Bom Jesus de Matosinho e nela praticarem suas atividades religiosas. A
autora também afirma que as atividades religiosas estavam relacionadas a todas as etapas da
vida do imigrante italiano.
14 Imigrantes italianos vindos da província de Nápoles.
15 Imigrantes italianos vindos da província de Bari sul da Itália.
37
2.3 Devoção a Casaluce: a santa negra dos napolitanos
A devoção a Casaluce teve origem na Itália, e, ao atravessar o oceano, concentrou-se
no bairro do Brás; sua origem e história estão relatadas no livro de tombo da paróquia, e
foram publicadas no site da arquidiocese de São Paulo. A história de Nossa Senhora de
Casaluce provém do sul da Itália, com raízes que remontam o século XII, como afirma
Ribeiro:
A História de Nossa Senhora de Casaluce vem do sul da Itália (século XlI).
Casaluce significa "CASA DE LUZ". Na cidade de Aversa, em um dia de
temporal muito forte, uma linda moça de cor negra bateu à porta de um
seminário para pedir abrigo, porém, naquele tempo, não era permitida a
entrada de mulheres nessas instituições. Então, os padres pediram que a
moça fosse a um convento de freiras na cidade mais próxima, "Casaluce". As
freiras a acolheram e a instalaram num quarto. No dia seguinte, as freiras não
a encontraram e no seu lugar havia apenas um quadro - era a figura da moça,
com uma criança nos braços.16
A imagem de uma moça negra com uma criança no colo, acolhida em uma noite de
chuva pelas freiras da Casa da Luz, é emblemática. Há uma questão intrigante nessa narrativa:
uma moça negra e uma casa da luz. Casa da Luz, ou Casaluce, teria sido então o lugar da
revelação de uma santa negra, a qual, misteriosamente, manifestara-se às freiras em um dia
de chuva. Interessante nesse relato da Santa de Casaluce é a questão étnica que se apresenta:
uma santa negra de devotos brancos. Num país multicultural e pluriétnico como o Brasil, isso
não seria problema, a moça com uma criança no colo evocava Maria com o menino Jesus em
seus braços.
No bairro do Brás, os napolitanos, com a intenção de atender aos devotos de Nossa
Senhora de Casaluce, decidiram construir, com os seus próprios recursos e mão de obra, uma
pequena capela como devoção à santa padroeira negra. (RIBEIRO, p. 129). Assim, a
construção da Capela Nossa Senhora de Casaluce serviu de marco da presença dos italianos
no bairro, e inaugurou uma nova devoção na cidade. A devoção católica aos santos,
fortemente moldada pelo Catolicismo popular no Brasil, ganhava reforços do além-mar, em
16 Região Episcopal da Sé, Arquidiocese de São Paulo. Paróquia de Nossa Senhora de Casaluce. São
Paulo. Disponível em: <http://www.regiaose.org.br/aspx/DetailsParoquia. aspx?idEntidade=533>
38
um tempo em se pensava que a religião perderia forças nas cidades por causa do progresso e
do desenvolvimento urbano.
A devoção a Casaluce teve apenas dois templos construídos no mundo, o de São Paulo
e o de Nápoles. Isso talvez demonstre o caráter local da devoção, que se contrapõe ao caráter
universal dos dogmas e dos sacramentos da Igreja Católica e da religião cristã. Além disso, tal
fato poderia significar que a devoção é também um elemento de identidade de uma
comunidade local. Os napolitanos quiseram trazem em sua bagagem de mudança algo que
lhes constituísse como religiosos, e não se eximiram de investir dinheiro e trabalho para a
construção da capela, o que demonstra o valor cultural da devoção.
Em São Paulo, a igreja de Nossa Senhora de Casaluce está situada na rua Caetano
Pinto, 608, no bairro do Brás. Na fachada do prédio, esteticamente modesto, encontra-se
estampada a imagem da santa (Foto 3).
Foto 3 - Igreja de Nossa Senhora de Casaluce
Crédito: Foto do autor – Vista frontal da igreja Nossa Senhora de Casaluce.
Como parte constituinte da paisagem urbana, o prédio da igreja demonstra a
permanência da devoção à santa napolitana, que se tornou também devoção dos brasileiros,
39
posto que, hoje, não somente italianos a veneram, como também brasileiros, os quais, já há
algum tempo, acolheram a imagem da moça negra com uma criança no colo.
Essas devoções e essas capelas davam sentido à vida dos imigrantes. Em carta aos que
ficaram na Itália, trabalhadores do interior do estado de São Paulo reclamavam que ali não se
ouvia nem um sino, fazendo menção à igreja e aos serviços paroquiais. Desse modo, a
devoção pode ser vista também como a expressão da iniciativa e da experiência do indivíduo
ou da comunidade deslocada da religião oficial, o Catolicismo elitista, comprometido com o
estado.
Os festejos à padroeira, marcados pela presença da banda de música, composta por um
quinteto (RIBEIRO, 1994, p. 133), aconteciam no mês de maio, regados de comidas típicas
italianas e com a presença de barracas onde se podiam encontrar pizzas, fogazzella, spoliatella
e spaguetti al sugo. O evento em homenagem à padroeira Casaluce foi uma das primeiras
festas típicas de imigrantes a acontecer no âmbito do município de São Paulo,
especificamente no bairro do Brás, e perdura até os dias de hoje, já em sua 114ª edição no ano
de 2014.
Para encerrar a festa, até hoje se realiza uma grande concentração de pessoas numa
procissão que percorre as ruas Caetano Pinto, Piratininga e a avenida Rangel Pestana. Nessa
procissão, o principal andor é o de Nossa Senhora de Casaluce, constituído, na falta de uma
imagem tridimensional, por uma tela onde está representada pictoricamente a santa negra. A
tela sai para a procissão envolta num manto azul, onde os devotos costumam pregar
contribuições com alfinete, até que o manto fique repleto de notas. Ao lado da imagem da
santa ficam os festeiros, as filhas de Maria, as freiras, as vicentinas e os principais
representantes da Congregação Mariana. (RIBEIRO, 1994, p.135)
Nessas procissões, há uma série de elementos que devem ser estudados. Desde a
posição central ocupada pela imagem da santa, as cores do manto que a paramentam até a
posição dos devotos, as cantigas e as rezas entoadas. No entanto, não é esse o objetivo desta
pesquisa. Cabe apenas comentar que a concentração e a permanência dessa procissão no
bairro do Brás ainda hoje demonstram a força que a religiosidade popular costuma expressar
nas devoções aos santos e aos padroeiros. Mesmo com as mudanças empreendidas no espaço
urbano, desde as primeiras décadas da República, o Catolicismo popular segue adiante.
40
2.4 Devoção a São Vito Mártir
A origem da devoção a São Vitor Mártir na cidade de São Paulo teve início no final
do século XIX, com a chegada de uma pequena estátua no bairro do Brás. Segundo Ribeiro
(1994), a imagem foi trazida em 1885, de Polignano A‟Mare , na Itália, por Modesto de
Lucca. Ele era morador do bairro do Brás e trouxe a imagem da Itália para o Brasil porque
queria ter a proteção do santo, além de querer perpetuar a memória do padroeiro.
A pequena imagem de São Vitor, mesmo antes que tivesse uma capela ou paróquia, foi
venerada, inicialmente, em cortiços, em ruas e em festas de congraçamentos dos imigrantes
bareses. Somente no ano de 1912, através da união dos jornaleiros e com a fundação da
Associação de São Vitor Mártir, a comemoração obteve um caráter semioficial, ocasião em
que foi celebrada missa e feita uma procissão em homenagem ao santo. (BASACCHI, 2004
p.5)
Foto 4 - Paróquia São Vito Mártir:
Crédito: Foto do autor – Vista frontal da paróquia São Vitor Mártir
41
Existem no mundo apenas três igrejas dedicadas a São Vitor Mártir. Uma em Praga,
outra em Polignano A‟Mare e a de São Paulo, no Brás. Há mais de 70 anos essa igreja atrai
uma grande massa de fiéis. Suas festas em homenagem a “San Vitto Martire” são tradicionais
e fazem parte oficialmente do Calendário Cultural da cidade de São Paulo.
A atual igreja que vemos hoje na rua Polignano A Maré, nº 51, no bairro do Brás,
somente foi declarada paróquia a partir de 24 de março de 1940. Sua construção somente teve
início quatro anos após essa nomeação, e foi financiada por meio de ofertas arrecadadas nas
festas de São Vitor Mártir e por contribuições de industriais italianos. O término da
construção possibilitou a nomeação de um vigário, como observa (BASACCHI, 2004, p. 6).
As práticas de ofertas e de doação de prendas não cessaram com o término da
construção da paróquia, uma vez que tais práticas estão ligadas à Associação São Vitor
Mártir. Essas ofertas e prendas doadas pelos descendentes de Polignano A Maré se destinam
aos festejos de São Vitor Mártir que ocorrem anualmente no mês de maio, ocasião em que são
distribuídas comidas típicas e são promovidos shows e outros eventos da cultura italiana. A
renda obtida com os valores arrecadados é destinada à paróquia, à manutenção de uma
creche e à assistência social na comunidade. (RIBEIRO, 1994, p. 135), ao escrever sobre a
prática de ofertas e de prendas feitas pelos comerciantes imigrantes bareses, afirma que: “a
oferta é um sério compromisso de fé relacionado à crença da proteção e retribuição de um ano
próspero”.
A associação São Vitor Mártir, fundada oficialmente em 21 de outubro de
1919, é responsável pela organização da festa de São Vitor. Para manutenção
da creche com mais de 120 crianças e de outras atividades culturais, a
instituição promove shows, em que é distribuída comida típica da região das
Apulias, em todos os fins de semana de maio, estendendo-se até a primeira
quinzena de julho. (BASACCHI, 2004, p. 6)
Existem duas festas com apelo à homenagem a São Vitor Mártir, sendo a mais antiga
aquela da Associação de São Vitor Mártir, realizada na rua Fernandes Silva, nº 96, em salão
coberto; no ano de 2013, completou a sua 95ª. A outra festa é a da paróquia realizada na rua
Polignano A Maré, ocasião em que a rua é fechada e decorada para receber a quermesse com
barracas de comidas típicas; no ano 2013, ocorreu a 16ª edição dessa festa.
O caráter das festas dos imigrantes italianos, nos seus primórdios, tinha um forte apelo
cultural, e estava ligado à expressão religiosa desses imigrantes. No entanto, com o passar
dos anos, novos significados foram incorporados às festas, as quais passaram a ser momentos
42
de reencontros, de preparo de comidas, oportunos para construir e aprimorar a Associação
com recursos adquiridos das vendas nas festividades. (RIBEIRO, 1994, p.133)
Dentre as duas festas que prestam homenagem ao santo, a que mais evidencia a
devoção ao padroeiro é a da rua Polignano A Maré, até mesmo por ser organizada pela
paróquia, que promove procissão e quermesse. A missa solene e a procissão que comemora a
devoção ao santo ocorrem no segundo domingo de maio após o dia 15; nas primeiras edições
da festa, os hinos eram cantados no dialeto italiano (RIBEIRO, 1994, p.133).
Os devotos de São Vitor Mártir na cidade de São Paulo são reconhecidos como a
maior comunidade de fiéis no mundo fora da Itália. No ano de 2011, ocorreu um fato único
nessa devoção, por iniciativa do presidente da Associação de São Vitor Mártir, com a
intenção de integrar as comunidades de devotos: foi trazida da Itália a relíquia do braço de
São Vitor Mártir, conhecida como "Il Braccio di San Vito".17, ocasião em que a devoção
tomou conta dos fiéis, com a realização de missa e da procissão a cargo do arcebispo de São
Paulo Don Odilo Scherer.
Atualmente a festa de São Vitor está na 93ª edição. Por tratar-se do ano da
Itália no Brasil, um fato histórico ocorreu pela primeira vez na paróquia, a
relíquia de São Vitor intitulada "Il Braccio di San Vito". Deixou a cidade de
Polignano A Maré e veio a São Paulo.18
A devoção, que teve início com os imigrantes italianos, hoje excede as fronteiras do
Brás, fazendo parte da cidade de São Paulo, não somente pelos festejos que estão inseridos no
calendário cultural do município, mas pelas pessoas, (i) migrantes, que, de diversas etnias,
frequentam a paróquia, participam de suas missas, procissões e eventos venerando o santo.
2.5 A Procissão de Nossa Senhora da Penha: expressão da religiosidade popular no
Brás
17 A relíquia trata-se de um dos ossos do braço do santo, considerado milagroso, protegido em um
relicário em formato de mão. Festa de São Vitor. Brasil receberá visita inédita de relíquia de São Vito.
Disponível em: <http://festadesaovito.com.br/2014/?p=257 > Acesso em: 20 ago. 2013.
18 FESTA de São Vito traz a SP relíquia "Il Braccio di San Vito". GUIA Folha de SP, São Paulo, 14
mai. 2011. Disponível em: < http://guia.folha.com.br/passeios/ult10050u915880.shtml>. Acesso em
20 ago. 2013.
43
Ainda no Brasil Colônia, as pregações jesuítas eram feitas por meio de música,
bailado e procissão. Kantor (2005, p. 325) descreve os tipos de procissão existentes:
Eram quatro tipos de procissões: 1) as festivas ou jubilares (padroeiros,
inauguração de igrejas e grandes festas); 2) as rogativas (epidemias,
penitências, catástrofes naturais, pela saúde dos monarcas, expedições
militares); 3) gratulatórias (celebração de vitória de militares[...]. Havia
também as procissões em comemoração à chegada de relíquias ou recepção
de autoridades nas vilas e povoações); 4) finalmente, as procissões de
desagravo, realizadas em protesto contra alguma medida autoritária.
Dentre as concentrações ocorridas de festas e de procissões católicas no bairro do
Brás, a da Nossa Senhora da Penha era a mais expressiva, no âmbito municipal, nos séculos
XVII e XVIII, especialmente por razões relacionadas à situação de saúde pública que
frequentemente afetava a cidade.
As procissões rogativas em favor dos munícipes atraíam pessoas das mais diversas
partes da localidade. Por sua regularidade e pelo caráter oficial que ela assumia diante das
demais devoções, a festividade da Penha tornou-se o centro das atenções da população
municipal. A procissão de Nossa Senhora da Penha ficou conhecida após as transladações da
imagem da padroeira da igreja da Penha para a igreja da Sé, fato que, segundo Jesus (2006, p.
53), ocorreu pela primeira vez em 1768.
Na procissão misturavam-se elementos da doutrina católica, elementos da
cultura popular e da religiosidade de brancos, de indígenas e de negros.
Assim, as festas e procissões eram marcadas por grande colorido cultural,
com rezas e ladainhas, com enfeites e fantasias que lembravam elementos
medievais e romanos, com danças de negros, com elementos da cultura
indígena, como chocalhos e adornos feitos de palha e penas, além de
tabuleiros de quitutes de mais variada origem, junto à farta bebida e à
fumaça das velas e do fumo de corda.
A procissão de Nossa Senhora da Penha ocorria mediante prévio entendimento entre
as autoridades eclesiásticas e a Câmara Municipal, e estava vinculada à religiosidade dos
paulistanos. (TORRES, 1985, p. 53)
É interessante observar como, burocraticamente, se processava o trâmite
para efetuar a transladação da imagem da Nossa Senhora da Penha: primeiro,
44
a petição popular ou de algum político era entregue à câmara; daí, ela seguia
até as mãos do governador da província que a enviava para ser apreciada
pelo vigário geral que, enfim, a mandava de volta para a câmara. Cabia a
esta organizar e financiar a procissão, exigir que as ruas fossem limpas e
enfeitadas, exigir a presença da população, das pessoas ilustres e dos
políticos que acompanhariam a saída e a chegada da santa peregrina.
(JESUS, 2006)
A população acreditava, segundo relatos, que, no ato rogativo da procissão, a cidade
seria curada dos males e das diversas pestes que a assolavam. Esses males, ora provocados
pelas enchentes, ora por epidemias, tornavam os fiéis os mais devotos penitentes da santa.
(SOUZA, 2004, p.441)
Naquele contexto, Nossa Senhora da Penha era a padroeira de toda a cidade. A
procissão passava pelo bairro do Brás, e a Igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos servia
de parada obrigatória para a imagem, tanto no seu trajeto de ida quanto no de volta. Essa
parada somente foi reconhecida em 23 de agosto de 1819, após a ação do estado em elevar a
Capela do Brás à categoria de Freguesia. A transladação da imagem de Nossa Senhora da
Penha, que tantas vezes atravessara o Brás, ocorreu pela última vez em 1876.
Depois daquele ano, somente na celebração do terceiro centenário de Nossa Senhora
da Penha, em 1968, é que novamente se viu a trasladação da santa, como narra a historiadora
Maria Celestina Torres:
O ano de 1968 é particularmente auspicioso. No domingo de 14 de abril,
domingo de Páscoa, celebrou-se também o terceiro centenário de Nossa
Senhora da Penha, padroeira da cidade, e nesse dia os paulistanos reviveram
a antiga tradição de se transladar a imagem de Nossa Senhora da Penha, do
seu santuário, para a praça da sé, onde presidiria as cerimônias da “páscoa da
fraternidade”, realizada pelo cardeal Agnelo Rossi. (TORRES, 1985, p. 200)
O cortejo do século XX apresentou uma mudança significativa na relação entre
religião e cidade. O bairro do Brás havia mudado, as antigas ruas pouco movimentadas no
passado estampavam uma nova paisagem, exigindo das autoridades religiosas, que
organizavam a celebração, novas formas de condução dos elementos que compunham o ritual
religioso, incluindo-se a imagem da santa.
No passado, a santa era transladada da Penha de França à matriz da Sé, através da
avenida Rangel Pestana – Celso Garcia, com parada na igreja do Bom Jesus de Matosinho.
Desta feita, por ocasião do terceiro centenário de Nossa Senhora da Penha, em 1968, ela foi
45
levada de helicóptero até a concentração no Parque Dom Pedro II e daí até a Sé em cortejo,
onde ocorreram desfiles com as Forças Armadas e a missa campal, com as bênçãos do Papa
Paulo VI.
No retorno à igreja de Nossa Senhora da Penha, a imagem da santa foi conduzida em
cortejo motorizado pelas ruas do Brás.
Torres ressalta que as mudanças na procissão estão diretamente ligadas às mudanças
urbanas do século XX (Torres, 1985, pp. 200,201), evidenciando a relação direta entre a
religiosidade popular e o desenvolvimento do espaço da cidade de São Paulo, demarcado por
novas concentrações da fé, expressas na presença de novos templos e de diferentes devoções.
2.6 Mapas das denominações religiosas no Brás e corredor da fé: uma abordagem
espacial
O mapa religioso do Brás é resultado de observações de campo e de registros
cartográficos realizados no bairro. Nesse levantamento, foram cadastradas todas as
denominações religiosas em atuação no distrito, de modo a caracterizar sua distribuição.
Para tanto, foram utilizados três recursos. O primeiro deles foi o trabalho de campo,
que visou ao levantamento das denominações religiosas previamente conhecidas ao longo do
distrito do Brás. Em um segundo momento, foram buscadas informações junto à base de
endereços do Google Maps/Google Street View19
, aliadas às páginas virtuais de diversas
instituições religiosas, com o objetivo de identificar mais unidades não detectadas durante o
trabalho de campo, e de verificar se as referidas unidades, no momento desta pesquisa, ainda
estão em exercício no endereço cadastrado do bairro. Como último recurso, foi realizada a
validação do mapa, por meio da observação direta das denominações cadastradas, durante um
percurso pelas ruas do bairro.
O recorte espacial da pesquisa envolve o distrito do Brás, com destaque para a avenida
Rangel Pestana e seu prosseguimento, a avenida Celso Garcia; assim, caracteriza-se para
além do Brás um longo corredor, permeado por denominações de diversas orientações
religiosas.
19 Neste procedimento, só foram cadastrados igrejas e templos com fotografias do Google Street
View, atualizadas entre o período de julho e setembro de 2014. As informações obtidas com
fotografias de datas anteriores não foram utilizadas em razão da volatilidade de permanência de
algumas denominações na região.
46
Ressalte-se que esse recorte respeita o limite distrital oficial utilizado pela Prefeitura
da Cidade de São Paulo. Entretanto, historicamente, o local conhecido popularmente como
"Brás" envolvia (e ainda envolve) partes da vizinhança que hoje integra outros distritos,
como Pari, Belém, Bresser e Mooca.
O Mapa (Mapa 01), o Quadro (Quadro 01) e a Tabela (Tabela 01) a seguir
apresentam o resultado desse levantamento.
Mapa 01: Denominações Religiosas no distrito do Brás e Eixo do Corredor da Fé
Fonte: Dados elaborados a partir do Google Maps/ Google Street View: Crédito do Autor visita aos
locais.
Quadro 1 – Denominações Religiosas no distrito do Brás e Eixo do Corredor da Fé
______________________________________________________________________
47
Denominações Religiosas no distrito do Brás
Denominações Endereços
Protestante Históricas
Igreja Metodista no Brás Rua Xavante, 195
Terceira Igreja Presbiteriana Independente Rua Joli, 492
União Central Bras. da Igreja Adv. Sétimo Dia Rua Cap. Faustino lima, 289
Pentecostais
Igreja Congregação Cristã do Brasil Rua Visc. de Parnaíba, 1616
Igreja Mundial do Poder de Deus Rua Carneiro Leão, 439
Igreja Pentecostal O Poder da Fé Rua Carneiro Leão, 90
Igreja Evangélica Catedral da Bênção Rua Domingos Paiva, 270
Igreja Evangélica Assembleia de Deus em São Paulo Rua do Hipódromo, 146
Igreja Ev. Assembleia de Deus M. "Cristo La Roca" Rua Júlio César da Silva,164
Igreja Evangélica Camhi Rua Gonçalves Dias, 216
Espíritas:
União Brasileira Espiritualista Rua Mons. Anacleto, 75
União Espírita Cristã B. Laudelino Novaes de Brito Rua Brig. Machado, 264
Centro Espírita José Barroso Rua Inácio de Araújo, 255
Casa de Caridade Espírita Três Estrelas Rua Flora, 172
Sinagoga e Mesquita:
Mesquita Mohammad Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) Rua Elisa Whitaker, 17
Sinagoga Israelita do Brás Rua Bresser, 47
Católicas
Igreja São Vito Mártir Rua Polignano A Maré, 51
Igreja Nossa Senhora Casaluce Rua Caetano Pinto, 618
Igreja Católica Das Santas Missões Rua Do Gasômetro, 996
Ortodoxa
Igreja Ortodoxa Grega São Pedro Rua Bresser, 793
Denominações Religiosas no Eixo do Corredor da Fé
48
Denominações Endereço
Paróquia Bom Jesus do Brás Av. Rangel Pestana, 1421
Comunidade Essência de Deus Av. Rangel Pestana, 1897
Catedral Carismática das Nações Av. Rangel Pestana, 2345
Igreja Internacional do Poder da fé Av. Rangel Pestana, 2419
Santuário Espiritualista de São Paulo Av. Celso Garcia, 14
Santuário dos Santos Anjos Av. Celso Garcia, 174
Igreja Jesus Fonte de Vida Av. Celso Garcia, 188
Comunidade Nova Geração Av. Celso Garcia, 238
Comunidade Cristã Amor e Graça Av. Celso Garcia, 243
Igreja Universal do Reino de Deus Av. Celso Garcia, 499
Igreja Evangélica Assembleia de Deus – M. do Brás Av. Celso Garcia, 560
Igreja Católica Paróquia São João Batista do Brás Av. Celso Garcia, 600
Templo de Salomão (IURD) Av. Celso Garcia, 605
Ministério Mudança de Vida Av. Celso Garcia, 777
Igreja Pentecostal Concerto Eterno Av. Celso Garcia, 816
Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus Av. Celso Garcia, 899
Igreja Avivamento em Glória Av. Celso Garcia, 1010
Catedral da Bênção Av. Celso Garcia, 1081
Comunidade Missão dos Sinais de Deus Av. Celso Garcia, 1515
Igreja Pentecostal Deus é Amor Av. Celso Garcia, 2214
Igreja do Evangelho Pleno em Cristo Av. Celso Garcia, 3478
Igreja Internacional do Mover de Deus Av. Celso Garcia, 3503
Bola de Neve Av. Celso Garcia, 3147
Igreja Internacional da Graça de Deus Av. Celso Garcia, 3757
Templo da Fé Av. Celso Garcia, 4030
Ministério Plenitude do Avivamento Av. Celso Garcia, 4217
Igreja Nova Geração Mundial de Deus Av. Celso Garcia, 4224
Casa de Umbanda Caboclo Changa Av. Celso Garcia, 4725
49
Igreja Evangélica Assembleia de Deus - M. Belém Av. Celso Garcia, 4906
Igreja Pentecostal Deus é Amor Av. Celso Garcia, 5426
Ministério Apostólico de Reavivamento Profético Av. Celso Garcia, 5436
Igreja Internacional da Graça de Deus Av. Celso Garcia, 5519
Igreja Batista Palavra Viva Av. Celso Garcia, 5518
Igreja Mundial do Poder de Deus Av. Celso Garcia, 5520
Comunidade Cristã Paz e Vida Av. Celso Garcia, 6076
_____________________________________________________________________ Fonte: Dados elaborados a partir do Google Maps/ Google Street View: Crédito do Autor visita aos
locais.
Tabela 1- Quantidade de denominações catalogadas segundo a orientação
religiosa
Denominação Religiosa Templos ou salões
Igreja Católica 5
Igreja Protestante Histórica 3
Igreja Evangélica Pentecostal 40
Espírita 4
Islâmica 1
Judaica 1
Afro-americana 1
2.6.1 As igrejas do distrito do Brás
A catalogação das denominações religiosas no Brás mostra que existe uma
diversificação no bairro, abrangendo unidades católicas, protestantes, pentecostais e espíritas,
além de uma mesquita e de uma sinagoga. Para além destas, encontramos, nas proximidades,
denominações intituladas como “do Brás” (Mapa 02, Quadro 02 e Tabela 02).
50
Mapa 02: Denominações Religiosas no Distrito do Brás e Denominações intituladas
como “Do Brás”
Fonte: Dados elaborados a partir do Google Maps/ Google Street View: Crédito do Autor visita aos
locais.
Quadro 2 – Denominações Religiosas no Distrito do Brás e Intituladas como do “Brás”
Denominações Endereços
Denominações Religiosas no distrito do Brás
Evangélicas Históricas
Igreja Metodista no Brás Rua. Xavante, 195
Terceira Igreja Presbiteriana Independente Rua. Joli, 492
União Central Bras. da Igreja Adv. Sétimo Dia Rua. Cap. Faustino lima, 289
Evangélicas Pentecostais
51
Igreja Congregação Cristã do Brasil Rua. Visc. De Parnaíba, 1616
Igreja Mundial do Poder de Deus Rua. Carneiro Leão, 439
Igreja Pentecostal O Poder da Fé Rua. Carneiro Leão, 90
Igreja Evangélica Catedral da Bênção Rua. Domingos Paiva, 270
Igreja Evangélica Assembleia de Deus em São Paulo Rua. do Hipódromo, 146
Igreja Ev. Assembleia de Deus M. "Cristo La Roca" Rua. Júlio César da Silva,164
Igreja Camhi Rua. Gonçalves Dias, 216
Espíritas:
União Brasileira Espiritualista Rua. Mons. Anacleto, 75
União Espírita Cristã B. Laudelino Novaes de Brito Rua. Brig. Machado, 264
Centro Espírita José Barroso Rua. Inácio de Araújo, 255
Casa de Caridade Espírita Três Estrelas Rua. Flora, 172
Sinagoga e Mesquita:
Mesquita Mohammad Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) Rua Elisa Whitaker, 17
Sinagoga Israelita do Brás Rua Bresser, 47
Católicas
Igreja São Vito Mártir Rua Polignano A Maré, 51
Igreja Nossa Senhora Casaluce Rua. Caetano Pinto, 618
Igreja Católica Das Santas Missões Rua. Do Gasômetro, 996
Ortodoxa
Igreja Ortodoxa Grega São Pedro Rua. Bresser, 793
Denominações Religiosas no Eixo do Corredor da Fé – Perímetro do Brás
Denominações Endereço
Paróquia Bom Jesus do Brás Av. Rangel Pestana, 1421
Comunidade Essência de Deus Av. Rangel Pestana, 1897
Catedral Carismática das Nações Av. Rangel Pestana, 2345
Igreja Internacional do Poder da fé Av. Rangel Pestana, 2419
Santuário Espiritualista de São Paulo Av. Celso Garcia, 14
Santuário dos Santos Anjos Av. Celso Garcia, 174
Igreja Jesus Fonte de Vida Av. Celso Garcia, 188
52
Comunidade Nova Geração Av. Celso Garcia, 238
Comunidade Cristã Amor e Graça Av. Celso Garcia, 243
Igreja Universal do Reino de Deus Av. Celso Garcia, 499
Igreja Evangélica Assembleia de Deus – M. do Brás Av. Celso Garcia, 560
Igreja Católica Paroquia São João Batista do Brás Av. Celso Garcia, 600
Templo de Salomão (IURD) Av. Celso Garcia, 605
Ministério Mudança de Vida Av. Celso Garcia, 777
Igreja Pentecostal Concerto Eterno Av. Celso Garcia, 816
Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus Av. Celso Garcia, 899
Igreja Avivamento em Glória Av. Celso Garcia, 1010
Catedral da Bênção Av. Celso Garcia, 1081
Comunidade Missão dos Sinais de Deus Av. Celso Garcia, 1515
Denominações para além do distrito do Brás – intituladas como do “Brás”
Igreja Presbiteriana do Braz Rua. São Leopoldo, n.º 318
Igreja Batista Unida do Brás Rua. Valdemar Dória, 44
Primeira Igreja Batista do Brás Rua. Major Otaviano, 363
Fonte: Dados elaborados a partir do Google Maps/ Google Street View: Crédito do Autor visita aos
locais.
Tabela 02- Quantidade de denominações no distrito do Brás de acordo com a
orientação religiosa (incluindo igrejas fora do distrito, mas intituladas como "do
Brás")
Orientação Religiosa Templos ou salões
Igreja Católica 4
Igreja Protestante Histórica 6
53
Igreja Evangélica Pentecostal 24
Espírita 4
Islâmica 1
Judaica 1
Ortodoxa Grega 1
2.6.2 Igreja Católica
A Igreja Católica no Brás conta com quatro unidades, das quais três são paróquias
ligadas à Mitra Arquidiocesana de São Paulo, e todas elas antigas no bairro. A Paróquia do
Bom Jesus, a mais antiga de todas, evoluiu de uma capela do século XVIII, dedicada ao
Senhor de Matosinhos, mas seu prédio atual data de 190320. A Igreja Nossa Senhora de
Casaluce se instalou no Brás em 1900, por ocasião da vinda de imigrantes italianos, os quais
trouxeram essa devoção. Já a Igreja de São Vito Mártir foi erguida um pouco mais tarde, na
década de 1940, a partir de uma capela construída 1912, e sua fundação também está atrelada
a imigrantes italianos que se fixaram no bairro.
Bastante próxima aos limites oficiais do distrito do Brás, mas no distrito do Belém, há
a Paróquia São João Batista do Brás. Essa igreja foi a primeira paróquia erigida
canonicamente pela Arquidiocese de São Paulo, em 1908, sendo considerada, na época, uma
das igrejas mais importantes da cidade por seu número de fiéis.21
Segundo o Mapa (01), duas dessas paróquias estão preferencialmente distribuídas no
eixo da avenida Rangel Pestana/Celso Garcia. Isso provavelmente se deve ao fato de esse
corredor ser um antigo acesso para a atual zona leste da cidade, então conhecido como
"Caminho da Penha", e mais tardiamente como "Rua do Braz". Esse é um antigo caminho de
procissões e romarias, como, por exemplo, a procissão de Nossa Senhora da Penha, a qual,
com o processo de industrialização e de adensamento imobiliário, deixou de ocorrer.
20 PAULO, Arquidiocese de São. Região Episcopal Sé. 2014. Disponível em:
<http://www.regiaose.org.br/aspx/DetailsParoquia.aspx?idEntidade=468>. Acesso em: 10 set. 2014.
21 BRÁS, Paróquia São João Batista do. Paróquia 105 anos: uma história riquíssima. 2014. Disponível
em: <http://www.saojoaobatistadobras.org/?page_id=898>. Acesso em: 02 set. 2014.
54
Apenas uma das igrejas católicas, a Igreja Católica das Santas Missões, não é ligada à
Arquidiocese, possuindo dois endereços no bairro, um de frente para a avenida Rangel
Pestana e outro de frente para a rua do Gasômetro, ambos instalados em salas comerciais. A
temática abordada nessas igrejas assemelha-se a uma igreja neopentecostal, principalmente
em suas práticas litúrgicas.
2.6.3 Igrejas Protestantes Históricas
São três o número de igrejas protestantes históricas dentro dos limites do distrito do
Brás, porém, fora de seus limites, mas nas cercanias do distrito do Belém, há mais três
ocorrências que têm em seu nome o termo "do Brás", em função de o limite oficial do bairro
ser muito mais extenso até meados do século passado (Tabela 3).
Tabela 03- Quantidade de igrejas protestantes históricas de acordo com a
denominação
Igreja Metodista 1
Igreja Batista 2
Igreja Presbiteriana 2
Igreja Adventista 1
Desse modo, as igrejas se encontram bem distribuídas no bairro e na região,
abrangendo todos os polos do Brás. O curioso é que nenhuma dessas igrejas está instalada nas
avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia, o Corredor da Fé, com exceção da Igreja
Presbiteriana do Braz, que, no passado, iniciou suas atividades na avenida Rangel Pestana,
135, e, depois de sucessivas mudanças, nas avenidas Rangel Pestana, nº 281, 283 e Celso
Garcia, nº 103 e em outros endereços circunvizinhos, e, por fim, instalou-se na rua São
Leopoldo, 318, no bairro do Belenzinho.
No ano de 2014, a Igreja Presbiteriana do Braz completou 100 anos de fundação; suas
atividades religiosas tiveram início em 29 de setembro de 1912. Na época, surgiu com um
pequeno grupo que decidiu reunir-se à Igreja Presbiteriana do Brasil. No início, essa igreja foi
55
supervisionada pela congregação das cidades de Sarcura Grande, Tietê, Porto Feliz, Sete
Foções e Campinho. A organização oficial dessa igreja deu-se em 29 de março de 1914, sob a
direção do Reverendo Modesto Perestelo, com a denominação de “Egreja Christan
Presbyteriana do Braz”. Dentre os vários dirigentes que passaram pela Igreja Presbiteriana do
Braz, destaca-se o Reverendo Boanerges Ribeiro. Na atualidade, a pequena denominação se
expandiu, e deu origem a outras igrejas, tais como: Vila Maria, São Miguel Paulista, Penha,
Vila Esperança, Vila Formosa, Ermelino Matarazzo, Vila Diva, Bosque da Saúde, Vila
Prudente, Mooca, Ferraz de Vasconcelos, Brooklin e Santo Amaro.
Neste trecho do trabalho não se discorre sobre os aspectos históricos de outras
denominações consideradas “protestantes históricas”, instaladas no bairro e na
circunvizinhança, e intituladas “do Brás”; não se constatou se essas igrejas, em algum
momento, no passado, tiveram instalações de seus templos no corredor Rangel Pestana –
Celso Garcia. Aqui, apenas mencionam-se os nomes das denominações históricas
protestantes, que são:
Igreja Metodista no Brás
Terceira Igreja Presbiteriana Independente
União Central Brasileira da Igreja Adventista do Sétimo Dia
Igreja Batista Unida do Brás
Primeira Igreja Batista do Braz
Igreja Presbiteriana do Braz
2.6.4 Igrejas Pentecostais
A história do Pentecostalismo no Brasil retoma a personagem de Luigi Francescon,
imigrante italiano, que, depois de passar pelas denominações históricas presbiteriana e
batista, familiarizou-se com o batismo com o Espírito Santo, com a cura divina, com o
exorcismo, com o profetismo e com a glossolalia, no início do século XX. Francescon
difundiu sua mensagem nos Estados Unidos da América, e depois viajou com destino à
América Latina. Primeiramente, foi à Argentina, e depois veio ao Brasil; chegou a São
Paulo, e, a seguir, foi ao Paraná, na cidade de Santo Antônio da Platina; posteriormente,
56
retornou para São Paulo, especificamente para o bairro do Brás, onde, com a ajuda de outros
imigrantes italianos, industriais e comerciantes, fundou a primeira igreja pentecostal no país,
a Congregação Cristã no Brasil, em 1910. (PEREIRA, 2012, pp. 364-365)
No mesmo período, chega ao país a segunda denominação pentecostal, a Assembleia
de Deus, dessa vez na região norte do país, especificamente na cidade de Belém do Pará; de lá
para São Paulo, dá-se a chegada da denominação, basicamente, através do fluxo migratório,
ainda nos primeiros anos do século XX. Tanto a Congregação Cristã no Brasil como a
Assembleia de Deus são classificadas por uma vasta literatura como as principais
denominações de “primeira onda”.22
A partir de 1950, surgem as igrejas de “segunda onda”, a exemplo: Igreja
Quadrangular, Igreja o Brasil para Cristo, Casa da Bênção e Igreja Deus é Amor. Somente
no período posterior a 1975 surgem as igrejas de “terceira onda”, mais conhecidas como
“igrejas neopentecostais”, a saber, as principais: Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja da
Graça de Deus e Renascer em Cristo.
As denominações religiosas por ora designadas neste trabalho de “denominações
pentecostais”, hoje presentes no espaço do bairro do Brás e nas avenidas Rangel Pestana -
Celso Garcia, têm sua origem muito parecida com as denominações de segunda onda, mas,
em sua prática litúrgica, assemelham-se fortemente às neopentecostais. Sem pormenorizar,
optamos por chamá-las ao longo da pesquisa de “denominações pentecostais”, pois
entendemos que todas elas tiveram início a partir do processo de cisão cuja maior adesão se
dá nas denominações de segunda onda.
As denominações pentecostais no bairro do Brás estão instaladas principalmente na
avenida Rangel Pestana - Celso Garcia. É nesse corredor que encontramos a Assembleia de
Deus Ministério do Brás, a Igreja Deus é Amor, a Universal do Reino de Deus, a Igreja da
Graça de Deus, a Mundial do Poder de Deus e várias outras denominações, como já se
mencionou, resultantes de cisões. Observa-se no Mapa 1 e no Quadro 1 a espacialidade
dessas denominações pentecostais.
22 “Onda”: terminologia utilizada para classificar o Pentecostalismo no Brasil – maiores detalhes
serão elucidados no próximo capítulo desta pesquisa.
57
2.6.5 Centros Espíritas
Os centros espíritas da região também se encontram bem distribuídos no Brás, mas
não se concentram no eixo do Corredor da Fé. Em vez disso, suas sedes se encontram em
endereços de pouca movimentação comercial ou viária, em edifícios de pequeno porte
assemelhados a residências (Mapa 1). A única exceção é para a União Espiritualista
Brasileira, instalada em um edifício de dois pisos. Essa casa também exerce funções de
religiões afro-americanas, como a umbanda. As datas de fundação desses centros são muito
antigas (início do século XX até 1960), porém é possível que essas denominações tenham
mudado de endereço algumas vezes dentro do bairro.
2.6.6 Outras (Sinagoga, Mesquita, Ortodoxa Grega)
Como observado no Mapa 1, e de acordo com as igrejas protestantes históricas e os
centros espíritas, a localização dessas três unidades (sinagoga, mesquita e igreja ortodoxa
grega) se concentra em ruas com pouco movimento comercial e viário, fora do eixo do
Corredor da Fé.
A espacialidade dessas denominações é resultante do fluxo migratório dos primeiros
anos do século XX. Com a chegada dos imigrantes, veio sua religiosidade, afinada com sua
região de origem.
A Sinagoga Israelita do Brás é resultado da União Israelita do Brás, que foi fundada
em 23 de junho de 1925, na rua Bresser, nº 47.
A Mesquita do Brás é um projeto recente, de 1981, e hoje abriga os muçulmanos
xiitas. A justificativa para a existência dessa mesquita no local é a grande quantidade de
árabes e descendentes que habitam a região, levando à construção de outras mesquitas um
pouco mais para além do distrito do Brás. 23
A Igreja Ortodoxa Grega de São Pedro, situada na Rua Bresser, 793, foi construída por
Pedro Papatzanaki em 1956, membro da comunidade grega de São Paulo.
23 BRASIL, Islam. Mesquita do Pari. 2014. Disponível em:
<http://islamismobr.blogspot.com.br/2013/12/a-mesquita-do-pari.html>. Acesso em: 20 set. 2014.
58
2.6.7 O Corredor da Fé
Como já sublinhado, o Corredor da Fé corresponde ao prosseguimento das avenidas
Rangel Pestana e Celso Garcia, do centro da cidade de São Paulo em direção à zona leste do
município. Sua extensão é de aproximadamente 8 quilômetros, iniciando no limite oeste do
Brás e atravessando o distrito do Belém até o limite leste do distrito de Tatuapé. (Mapa 03)
A distribuição de denominações religiosas no Corredor da Fé é quase exclusivamente
de igrejas de origem pentecostal. As únicas exceções são um templo de natureza afro-
americana, localizado no bairro do Tatuapé, e a Igreja Católica Paróquia São João Batista do
Brás (Quadro 03).
Curiosamente, na avenida Celso Garcia, 2728, temos o “Fofinho Bar”, local de
referência do rock na capital paulista, como observa Moraes (2014): “De um lado, o black
metal, refúgio dos satanistas e quimbandistas, estilo definido por seus adeptos como o último
bastião de resistência ao cristianismo”. (MORAES, 2014)
Eventualmente, surgem algumas denominações pentecostais em ruas transversais e
paralelas ao eixo do Corredor, num raio variável. Neste trabalho, optamos por selecionar as
denominações que se localizam num raio máximo de 150-200 metros do Corredor, pois seu
processo de surgimento se enquadra no mesmo local que gera essa concentração de igrejas
pentecostais no eixo Rangel Pestana/Celso Garcia. Optou-se por classificá-las de “igrejas
satélites” (Quadro 04).
Mapa 03: Corredor da fé e suas igrejas satélites
59
Fonte: Dados elaborados a partir do Google Maps/ Google Street View: Crédito do Autor visita aos
locais.
Quadro 3 – Corredor Da Fé – com extensão para além do perímetro do bairro do Brás
Denominações Religiosas no Corredor da Fé
Denominações Endereço
Paróquia Bom Jesus do Brás Av. Rangel Pestana, 1421
Comunidade Essência de Deus Av. Rangel Pestana, 1897
Catedral Carismática das Nações Av. Rangel Pestana, 2345
Igreja Internacional do Poder da fé Av. Rangel Pestana, 2419
Santuário Espiritualista de São Paulo Av. Celso Garcia, 14
Santuário dos Santos Anjos Av. Celso Garcia, 174
Igreja Jesus Fonte de Vida Av. Celso Garcia, 188
Comunidade Nova Geração Av. Celso Garcia, 238
60
Comunidade Cristã Amor e Graça Av. Celso Garcia, 243
Igreja Universal do Reino de Deus Av. Celso Garcia, 499
Igreja Evangélica Assembleia de Deus – M. do Brás Av. Celso Garcia, 560
Igreja Católica Paroquia São João Batista do Brás Av. Celso Garcia, 600
Templo de Salomão (IURD) Av. Celso Garcia, 605
Ministério Mudança de Vida Av. Celso Garcia, 777
Igreja Pentecostal Concerto Eterno Av. Celso Garcia, 816
Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus Av. Celso Garcia, 899
Igreja Avivamento em Glória Av. Celso Garcia, 1010
Catedral da Bênção Av. Celso Garcia, 1081
Comunidade Missão dos Sinais de Deus Av. Celso Garcia, 1515
Igreja Pentecostal Deus é Amor Av. Celso Garcia, 2214
Igreja do Evangelho Pleno em Cristo Av. Celso Garcia, 3478
Igreja Internacional do Mover de Deus Av. Celso Garcia, 3503
Bola de Neve Av. Celso Garcia, 3147
Igreja Internacional da Graça de Deus Av. Celso Garcia, 3757
Templo da Fé Av. Celso Garcia, 4030
Ministério Plenitude do Avivamento Av. Celso Garcia, 4217
Casa de Umbanda Caboclo Changa Av. Celso Garcia, 4725
Igreja Evangélica Assembleia de Deus - M. Belém Av. Celso Garcia, 4906
Igreja Pentecostal Deus é Amor Av. Celso Garcia, 5426
Ministério Apostólico de Reavivamento Profético Av. Celso Garcia, 5436
Igreja Internacional da Graça de Deus Av. Celso Garcia, 5519
Igreja Batista Palavra Viva Av. Celso Garcia, 5518
Igreja Mundial do Poder de Deus Av. Celso Garcia, 5520
Comunidade Cristã Paz e Vida Av. Celso Garcia, 6076
Fonte: Dados elaborados a partir do Google Maps/ Google Street View: Crédito do Autor visita aos
locais.
61
Tabela 04- Quantidade de igrejas no corredor da fé
Denominação Religiosa Templos ou salões
Igreja Católica 1
Igreja Evangélica Pentecostal 40
Afro-americana 1
Eventualmente, surgem algumas denominações pentecostais em ruas transversais e
paralelas ao eixo do Corredor, num raio variável. Neste trabalho, optamos por selecionar as
denominações que se localizam num raio máximo de 150-200 metros do Corredor, pois seu
processo de surgimento se enquadra no mesmo que gera essa concentração de igrejas
pentecostais no eixo Rangel Pestana/Celso Garcia. Optou-se por classificá-las de “igrejas
satélites” (Quadro 04)
Quadro 04 – Igrejas Satélites próximas ao corredor da Fé
IGREJAS SATELITES
Pentecostais:
Igreja Congregação Cristã do Brasil Rua. Visc. De Parnaíba, 1616
Igreja Mundial do Poder de Deus Rua. Carneiro Leão, 439
Igreja Mundial do Poder de Deus Rua. Domingos Paiva, 206
Igreja Evangélica Catedral da Bênção Rua. Domingos Paiva, 270
Igreja Evangélica Assembleia de Deus em São Paulo Rua. do Hipódromo, 146
Igreja Camhi Rua. Gonçalves Dias, 216
Igreja Ev. Assembleia de Deus M. "Cristo La Roca" Rua. Julio C. da Silva, 164
Santuário da Bênção Rua. Cesário Alvim, 74
Assembleia de Deus Ministério Belém Rua. Cons. Cotegipe, 273 Igreja
Apostólica Rua. Baguari, 158
62
Igreja Ap. Unção e Adoração com Cristo Rua. Henrique Lindenberg, 78
Católicas
Igreja São Vito Mártir Rua Polignano A Maré, 51
Igreja Nossa Senhora Casaluce Rua. Caetano Pinto, 618
Igreja Católica Das Santas Missoes Rua. Do Gasômetro, 996
Igreja São Carlos Borromeu Rua. Cons. Cotegipe, 933
Paróquia Cristo Rei Rua. Maria Eugênia, 104
Fonte: Dados elaborados a partir do Google Maps/ Google Street View: Crédito do Autor visita aos
locais.
Tabela 05 - Quantidade de igrejas satélites – próximas ao corredor da fé
Denominação Religiosa Templos ou salões
Igreja Católica 5
Igreja Evangélica Pentecostal 11
Possivelmente o que facilita a presença de tantas igrejas evangélicas pentecostais no
corredor da Av. Rangel Pestana – Celso Garcia, inicialmente tenha ocorrido pela deterioração
urbana a partir da segunda metade do século XX, fator que impulsionou o mercado
imobiliário com baixos custos dos imóveis tanto para locação como aquisição, e
posteriormente pelo corredor de ligação centro-leste contemplado por diversos meios de
transportes (rodoviário e ferroviário) que ligam a zona leste de São Paulo ao centro e a outros
bairros, fator que incentiva a expansão denominacional de outras regiões para o Brás até a
implantação da sede de muitas denominações no bairro e no corredor da fé.
No passado, o bairro foi marcado com novas devoções católicas trazidas por
imigrantes na maioria italianos; no presente, os novos fluxos migratórios, marcadamente de
povos latinos, como peruanos, chilenos e sobretudo bolivianos, seguem outra dinâmica;
esses povos em sua maioria são acolhidos pelo catolicismo local com a pastoral do imigrante
ou por algumas denominações que têm toda uma programação de cultos em dias e horários
específicos na língua espanhola, como o caso da Igreja Universal do Reino de Deus no
63
templo da rua Carlos Botelho, 427. Porém, percebe-se que recentemente surgiram novos
templos, e com isso novos fluxos com a presença de Igrejas da Comunidade Hispânica, com
programação totalmente dedicada a essa comunidade, como é o caso da Igreja Camhi
(Centro de Adoración Missión Hispana) e da Igreja Ev. Assembleia de Deus M. "Cristo La
Roca" que se concentram na proximidade do corredor da fé ou num raio de até 150 metros.
64
3. CAPÍTULO 3 - O CINTURÃO PENTECOSTAL NA AV. RANGEL PESTANA-
CELSO GARCIA
Este capítulo descreve quais são as denominações religiosas estabelecidas no corredor
avenida Rangel - Celso Garcia, no perímetro do bairro do Brás. Em um primeiro momento, a
definição a respeito de quais são essas denominações é resultado de um survey feito no início
da pesquisa em 2013, quando se constatou, sobretudo, a predominância de igrejas de cunho
evangélico-pentecostal. Nesse sentido, faz-se necessário um breve histórico do surgimento do
Pentecostalismo e a descrição das terminologias utilizadas para designar o movimento em
solo brasileiro. Em um segundo momento, após a imersão em campo, analisa-se quais são as
estratégias de chegada e de permanência dessas denominações no corredor da Avenida
Rangel Pestana-Celso Garcia.
3.1 O Movimento Pentecostal e seus fundadores
Para compreender as raízes do Pentecostalismo no Brasil, é importante recorrer ao
surgimento desse movimento em território norte-americano, que ocorreu no final do século
XIX, marcado por uma época de conflitos entre múltiplas denominações evangélicas, pelo
abandono dos leigos por parte das lideranças eclesiásticas, pela negligência para com os
pobres, pelo pessimismo do fim de século e pela presença de movimentos de recuperação
espiritual, como o conhecido na história Movimento de Santidade, iniciado muito antes pelo
metodista John Wesley (1703-1784) (MEDONÇA, 2008, p.134).
O Pentecostalismo moderno nasceu no contexto urbano americano em duas regiões
distintas e com duas personagens. A primeira, pouco mencionada entre os pesquisadores
sobre o assunto, foi Charles Fox Parham (1873-1929), líder de uma escola bíblica na cidade
de Topeka, no Kansas, local onde surgiram as primeiras experiências de glossolalia (o “falar
em línguas estranhas”) e do “batismo no Espírito Santo”.
Esse movimento teve início em 1901, e consagrou Parham como o precursor do
Movimento Pentecostal. A segunda personagem importante no estudo sobre o
Pentecostalismo foi William Joseph Seymor (1870-1922); negro, discípulo de Parham,
tornou-se pastor da Missão de Fé Apostólica da Rua Azusa, 312, em Los Angeles, movimento
que teve início em 1906. Seymor entendia que havia uma terceira bênção na sequência
65
(regeneração, santificação e batismo no Espírito Santo); foi exatamente em uma de suas
reuniões que surgiu o aparecimento do “falar em línguas”.
3.2 As terminologias do Movimento Pentecostal
É notável que, desde os primeiros estudos desse movimento em território brasileiro, os
pesquisadores, na tentativa de classificá-lo e explicá-lo, fizeram uso de termos, ou tipologias,
como observou Giumbeli (2000), em um de seus artigos intitulado A Vontade do Saber:
Terminologias e Classificações sobre o Protestantismo Brasileiro.
Dentre as terminologias utilizadas por diversos pesquisadores, Giumbeli destaca a de
Mendonça (2008) e a de Paul Freston (1994). Já Mariano (2010) descreve que a tipologia
utilizada por Freston, denominada de “ondas”, teve origem em David Martin, que, ao
descrever o Protestantismo mundial, divide-o em três ondas, a saber, a puritana, a metodista e
a pentecostal.
Na tipologia de Freston, o Pentecostalismo brasileiro divide-se também em três
grandes ondas, sendo a primeira entre 1910 e 1911, com a implantação da Congregação Cristã
no Brasil, em São Paulo, no bairro do Brás, e, posteriormente, com a Assembleia de Deus, em
Belém.
A segunda onda compreende o período de implantação de igrejas genuinamente
brasileiras, com a inauguração das igrejas O Brasil para Cristo (1955), Igreja do Evangelho
Quadrangular (1954), Igreja Deus é Amor (1962) e Casa da Bênção (1964).
A terceira onda é compreendida a partir de 1970, com a inauguração das igrejas
Universal do Reino de Deus (1977) e Internacional da Graça de Deus (1980).
Em sua classificação do movimento, Mariano (2010) preferiu utilizar os termos
“Pentecostalismo Clássico”, “Deuteropentecostalismo” e “Neopentecostalismo”. No entanto,
reconhece que:
Quando dividimos o pentecostalismo em três vertentes, demarcamos suas
genealogias, seus vínculos institucionais, delineamos suas principais
características, confrontamos suas diferenças e semelhanças, estabelecemos
suas distinções; quando enfim as classificamos, não estamos com isso
supondo que tal construção tipológica dê conta totalmente desse universo
religioso tão complexo, dinâmico e diversificado (Mariano, 2010, p.47)
66
Exatamente por compreender a diversidade e a capacidade de crescimento desse
movimento, que se espalhou pelo mundo, Campo (2012) não fica restrito às tipologias
existentes, e afirma que o “pentecostalismo assumiu culturas, tendências e se aclimatou em
várias partes do mundo. Daí a necessidade de se falar nesse objeto sempre no plural”.
No estado de São Paulo, o Pentecostalismo, em face de seu acelerado crescimento, já
ultrapassou o último censo IBGE (2010),24 com o número de 6.088.132 fiéis. Porém, hoje, a
maior expressão religiosa oriunda desse grupo, localizada na capital paulista, está no
tradicional bairro do Brás, onde, em 1910, foi fundada a primeira igreja pentecostal – a
Congregação Cristã no Brasil.
Esse bairro é atualmente conhecido por sua característica comercial; suas várias ruas e
avenidas, diariamente, são visitadas por paulistanos e por pessoas de outras localidades.
Dentre essas ruas e avenidas, encontramos a avenida Rangel Pestana, seguida pela avenida
Celso Garcia, ambas conhecidas por serem um corredor de ligação do centro com a zona leste
da cidade.
Para além dessa atividade, as avenidas revelam em seu histórico uma vocação
religiosa, pois, no passado, serviram de passagem para grandes romarias; no presente, atraem
multidões para os diversos templos, sobretudo oriundos do Pentecostalismo nacional, que
ganhou corpo a partir de 1960, com novas denominações, frutos de diversas dissidências.
3.3 Descrevendo a topografia da religião atual no “corredor da fé”
[...] Quem passa pela Celso Garcia também ouve muita.
Música religiosa, gritos de louvor e ameaças ao
Demônio. Outro detalhe: parar em frente a um desses
Templos é pedir para ser abordado. Você pode ser
convidado a assinar um livro de orações ou milagres.
Gilberto Amendola
24 IBGE. Estados@. 2010. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=sp&tema=censodemog2010_relig>. Acesso em:
30 jan. 2014.
67
Partindo do Parque D. Pedro II, na capital de São Paulo, no sentido centro – leste,
encontramos a avenida Rangel Pestana, e em sua continuação, após uma distância
aproximada de 1,7 km, a avenida Celso Garcia, a qual, antes da proclamação da República,
era apenas uma única avenida, conhecida como “caminho do Brás” ou “Estrada da Penha” .
A avenida Celso Garcia tem uma extensão aproximada de 6 km, tendo seu início na
rua Dr. Ricardo Gonçalves, no bairro do Brás, e seu término na rua Coronel Rodovalho, no
bairro do Tatuapé. Para além de sua vocação comercial e do corredor de ligação centro-leste,
a Rangel Pestana – Celso Garcia foi eleita por agentes da religião como um corredor de
visibilidade religiosa, local de concentração da fé, o qual, desde o Brasil Colônia, servira de
passagem às romarias entre a igreja matriz da Sé e a igreja de Nossa Senhora da Penha,
fundada em 166725. Torres (1985), ao citar o historiador Leonardo Arroyo, em sua obra sobre
as igrejas de São Paulo, intitulou o então conhecido corredor de ligação centro-leste, as
avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia, de “avenidas religiosas”.
Tais avenidas também foram escolhidas como local para desenvolvimento do projeto
mais audacioso de expressão neopentecostal: a construção da réplica do Templo de Salomão,
com edificação na altura do seu número 605, uma obra realizada pelo bispo Edir Macedo, da
Igreja Universal do Reino de Deus. Tal fato fortalece ainda mais o título de “corredor da fé”.
A avenida Rangel Pestana – Celso Garcia possui mais de vinte denominações
religiosas, duas igrejas católica e uma casa de artigos de religião afro-brasileira; ao longo de
sua extensão aproximada de sete quilômetros, a quantidade de templos não pode ser
definitiva, pois há uma constante entrada e saída de denominações.
Nesse sentido, entendemos que “O corredor da fé” denominado nessa pesquisa não
se inicia apenas na avenida Celso Garcia, mas tem seu início na Igreja Bom Jesus do Brás, na
avenida Rangel Pestana, nº 1883, e termina na avenida Celso Garcia, nº 1550, trecho
compreendido no perímetro do bairro do Brás, demarcado o espaço como lócus desta
pesquisa. Neste tópico da pesquisa, faremos menção a alguns aspectos históricos das
denominações religiosas, e, em nenhum momento, faremos juízo de valor, apologia, ou
proselitismo, apenas buscaremos, no histórico das denominações, um fio condutor que nos
faça compreender as relações das denominações com o espaço geográfico que aqui
denominamos “corredor da fé”. Todos os dados mencionados são amparados pelas entrevistas
25
LEMAD, Laboratório de ensino e material didático. História de São Paulo: Av. Celso Garcia.
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - USP. São Paulo. 2011. Disponível em:
<http://www.lemad.fflch.usp.br/node/260>. Acesso em: 02 mai. 2013.
68
formais e informais, bem como pelos dados divulgados em jornais, livros, vídeos, gravações,
revistas e panfletos das denominações; outras fontes utilizadas são as páginas oficiais de
internet, quando a denominação a possui, e páginas da rede social chamada Facebook.
A partir desse momento, os logradouros citados no texto pertencem ao bairro do Brás,
na capital paulista, e quando não, menciona-se o nome do bairro a que o logradouro
pertence.
Partindo-se da Igreja Bom Jesus do Brás, sempre no sentido centro-leste, deparamo-
nos com o viaduto Alberto Marino, e, logo após o seu final, no Largo da Concórdia, encontra-
se a primeira denominação religiosa, após a Igreja Bom Jesus do Brás, mencionada em
tópico anterior.
3.3.1 Igreja Apostólica Essência de Deus
Conhecida por seus líderes, e frequentadores como Paróquia do Bom Jesus dos
Milagres “O Cristo Redentor”, essa igreja está localizada no Largo da Concórdia, com
passagem aos fundos para a rua do Gasômetro, e frente para a avenida Rangel Pestana, nº
1897. Fundada em 12 de junho de 1986, liderada pelo Reverendo Aurélio e por outros padres
denominados “carismáticos”, essa igreja tem como público pessoas de todas as denominações,
conforme menção feita nas vinhetas de sua própria estação de rádio online. As principais
marcas dessa igreja são a vidência e o exorcismo. Também é notável a forte presença de bens
simbólicos, elementos do Catolicismo e do Neopentecostalismo, distribuídos e ungidos em
reuniões.
No salão da igreja, encontram-se assentos como os bancos de madeira utilizados nas
igrejas católicas e também cadeiras como as utilizadas em igrejas neopentecostais.
A programação dessa igreja católica, bem semelhante à do Neopentecostalismo, fica
aberta todos os dias para reuniões vigorosas de exorcismo e oração, como a reunião da
Trezena da Fé. Em visita de campo, constatou-se que a saudação de abertura da missa é
evangélica, “Graça e Paz”, e a primeira oração é católica, “Ave-Maria”. O templo sagrado é
marcado por reuniões especiais em dias e horários determinados (às 10h00, às 15h00 e às
17h00), com a presença do reverendo às segundas-feiras, às terças-feiras, às quartas-feiras e
às quintas-feiras.
69
Outro destaque da igreja está na ênfase ao atendimento particular, previamente
agendado, na gruta de Nossa Senhora da Rosa Mística, a qual fica em um salão inferior, com
saída para a rua do Gasômetro. A missão declarada dessa igreja é levar a palavra de Deus, a
libertação e a cura espiritual para os necessitados de um milagre.26
A divulgação de fotos, de vídeos e da programação ocorre basicamente através de três
veículos de comunicação: sua home page < http://essenciadedeus.com/>; sua página pessoal
na rede social Facebook <https://www.facebook.com/comunidadeessenciadedeus> e sua
rádio online, disponível em < http://streaming09.maxcast.com.br/player/essencia/>.
3.3.2 Catedral Carismática das Nações
Localizada na avenida Rangel Pestana, nº 2345, aos fundos de uma lanchonete e de
uma loja de lingerie, a Catedral Carismática das Nações é uma igreja de origem evangélica
pentecostal, porém possui em sua nomenclatura a palavra “carismática”, a qual carrega o
sentido de que as portas do templo estão abertas a pessoas de todas as denominações
religiosas. A igreja foi aberta há aproximadamente dois anos, em um local que já foi sede de
outra igreja evangélica, a igreja Mundial Renovada, uma das primeiras dissidências da Igreja
Mundial do Poder de Deus, a qual era dirigida pelo então bispo Roberto Damásio, conhecido
como “o Bispo dos milagres”.
Na época em que foi inaugurada, em 29/05/2010, tinha seu salão alugado, e não
durou muito para que o bispo Damásio fechasse-lhe as portas, e passasse a fazer viagens
missionárias. Depois de algum tempo viajando, o bispo reabriu a igreja em 24 de agosto de
2013, em novo endereço, na avenida Celso Garcia, nº 3503, no bairro do Tatuapé.
O atual templo, hoje Catedral Carismática das Nações, pertence ao Bispo Agnaldo,
que afirma, segundo entrevista (Anexo A), ser a aquisição do imóvel para a construção da
igreja fruto da “promessa de Deus”, depois de um período de oração e de um sacrifício
efetuado na Gruta dos Milagres, em Moji das Cruzes, interior de São Paulo.
Bispo Agnaldo é evangélico há mais de 20 anos, e o seu trabalho missionário
começou em Manaus e estendeu-se a outros estados, especialmente, na região sudeste, em
26 FACEBOOK. Igreja Apostólica Essência de Deus. 2014. Disponível em:
<https://www.facebook.com/comunidadeessenciadedeus/info>. Acesso em: 02 jun. 2014.
70
São Paulo. O bispo ficou conhecido por sua participação em programas de rádio, na Rede do
Bem FM - 97.3. Ao mencionar os programas de rádio nas entrevistas, o bispo recordou a
amizade que fez com o pastor Jabes de Alencar (líder da Assembleia de Deus do Bom Retiro).
O rádio foi uma oportunidade que lhe permitiu arrebanhar membros para sua igreja.
Hoje, o seu público não está restrito apenas a moradores da região, mas estende-se às
zonas leste e sul, à região central, a Osasco e a demais regiões da Grande São Paulo. Apesar
do trabalho em outros estados, a atuação do bispo no endereço do Brás é de grande
importância, pois se tornou a sede de todo o ministério, local onde, além de ser sede
administrativa, são ministradas as reuniões do Bispo Agnaldo. Em pergunta feita ao bispo
sobre qual seria a importância de sua igreja estar presente no bairro do Brás e, sobretudo, no
corredor Rangel Pestana – Celso Garcia, ele respondeu: “Aqui passa muita gente, hoje estar
no Brás é ser honrado”.
Atualmente, o bispo não tem programa no rádio, e a sua membresia cresce pela
divulgação por panfletos e pela evangelização na porta da igreja, local onde há uma mesa com
um grande livro para inclusão do nome do interessado para oração e onde sempre há alguém
para convidar as pessoas a participarem das reuniões. Outra forma de crescimento da igreja se
dá pelo proselitismo feito pelos membros. Os cultos são semelhantes aos das outras
denominações neopentecostais; a mais importante das reuniões ocorre às sextas-feiras, aos
sábados e aos domingos, sendo que os sábados estão reservados à oração e ao atendimento às
pessoas que precisam de aconselhamento (no período das 09h30 às 14h00). Já os domingos
são dias de reuniões em três horários, às 9h30, às 15h00 e às 18h00.
3.3.3 Igreja Internacional do Poder da Fé
A partir de dados divulgados no site oficial da instituição, é possível estabelecer as
origens, ou o mito fundante, da denominação. Os relatos dizem respeito a uma experiência
religiosa, “visão espiritual revelada”, por parte do seu atual líder, interpretada através do
texto bíblico do Evangelho de 1º João 5:4. Com o expressivo slogan “A fé é a vitória que
vence o mundo”, a denominação teve início acanhado em 2006, com “reuniões na garagem
de uma irmã”, afirmam os relatos do site da denominação. Somente após dois anos, em 17 de
setembro de 2008, dirigida pelo Apóstolo Vitor e sua esposa Bispa Fernanda, a instituição
religiosa torna-se oficial.
71
O início de suas atividades ocorreu no município de Sertãozinho, no interior de São
Paulo, porém a denominação logo se expandiu, e hoje está presente nas cidades de Batatais,
de Ribeirão Preto, de Bebedouros, em duas unidades no estado de Goiás e em uma unidade
no estado de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Já na capital paulista, fixa-se a unidade
localizada no “corredor da fé”, denominada “sede do Brás”, situada na avenida Rangel
Pestana, nº 2419, inaugurada em 18/04/2014. A denominação está presente também na
avenida João Dias, no bairro de Santo Amaro, na zona sul da cidade de São Paulo.
A missão declarada da igreja é livrar as pessoas do sofrimento, do engano, dos vícios,
da depressão e da angústia, baseando-se na fé em Jesus Cristo. “É Missão e responsabilidade
da igreja ensinar às pessoas o caminho da salvação, que é o Nosso Senhor Jesus Cristo.”27
A programação de todas as Igrejas Internacionais do Poder da Fé segue um calendário
predefinido: segunda-feira - reunião da prosperidade; quarta-feira - reunião das causas
impossíveis; sexta-feira - reunião do livramento; e domingo - reunião do encontro com Deus,
sempre em três horários: às 08h00, às 14h00 e às 19h30.
A principal fonte de informação e divulgação da igreja está no seu site institucional, <
http://www.internacionaldopoderdafe.com.br/>, mapeado pelos seguintes links: Home, a
Igreja, Apóstolo Vitor, Bispa Fernanda, Nossas igreja, Programação, Programação de rádio,
Reuniões, Evangelismo e doação, Colunistas, Galeria de fotos, Mural de recados, Galeria de
vídeos, Rádio web, Agenda, Notícias da igreja, Poder da fé online e Contato.
Ainda pela web, há a TV e a Rádio online, disponíveis, respectivamente, nos links <
http://www.internacionaldopoderdafe.com.br/galeria_videos.html> e <
http://www.rededaevangelizacao.com.br/>. Outros meios eletrônicos de divulgação são
atribuídos à denominação nos links: Facebook, < https://www.facebook.com/poderdafe/info>,
Twitter, < https://twitter.com/inter_poderdafe>, GooglePlus,
<https://plus.google.com/101850940434188987013>, Instagram,
< http://instagram.com/poderdafe>, Youtube, < http://www.youtube.com/igrejapoderdafe> e
SoundCloud <https://soundcloud.com/poderdafe>.
27 FÉ, Igreja Internacional do Poder da. A fé é a Vitória que vence o mundo. 2014. Disponível em:
<http://www.internacionaldopoderdafe.com.br//conteudo/igreja-internacional-do-poder-da-fe-uma-
missao-de-fe>. Acesso em: 05 out. 2014.
72
Em semelhança às outras denominações neopentecostais, a Igreja Internacional do
Poder da Fé tem programação na rádio Sara Brasil FM 101,3 e na Rede do Bem FM 97,3.
Questionamos o seu fundador a respeito da importância de estar no “corredor da fé”, e a única
resposta que obtivemos é que se trata de uma região central de fácil acesso.
3.3.4 Santuário Espiritualista de São Paulo
A Igreja Reino dos Céus foi fundada em 1978 por Adelino de Carvalho, natural de
Uberaba – MG, porém a inauguração oficial da igreja somente ocorreu em 28 de janeiro de
1981, no bairro da Pampulha, em Belo Horizonte – MG. A marca da igreja são o exorcismo e
a cura divina.
No site institucional da denominação, há menção a um suposto milagre ocorrido por
volta de 1980, ocasião em que o apóstolo Adelino de Carvalho foi assunto em manchetes nos
jornais de Belo Horizonte; teria então ele, através de poder espiritual, cessado um incêndio em
uma casa, em que nem mesmo o corpo de bombeiros conseguira apagar, fato que projetou o
apóstolo no meio religioso. Em pouco tempo, a igreja se expandiu, e hoje está presente nos
estados de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Paraná. No “corredor da fé”,
encontramos duas igrejas, uma na avenida Celso Garcia, nº 14, intitulada Santuário
Espiritualista de São Paulo, e a outra, Santuário Santos Anjos, situada na avenida Celso
Garcia, nº 174. Além dessas duas unidades em São Paulo, há também o Centro de Meditação
Cristã, na avenida General Olímpio da Silveira, nº 447, no bairro de Santa Cecília, na capital
de São Paulo.
Organizada através de uma divisão ministerial, a igreja pretende atender a todas as
faixas etárias. O requisito básico para se concorrer a um cargo eclesiástico é o de ser
“dizimista fiel”. A divisão ministerial é apresenta da seguinte maneira: Reino Jovem; PARC
– Pequeninos Adoradores do Reino dos Céus; FAMAARC - Frente Avançada Missionária das
Águias do Apostolado da Igreja Reino dos Céus; Ministério da Santa Ceia; Ministério de
Dança e PAM - Projeto Ação Mulher. Dentro dessa divisão, encontram-se os cargos
eclesiásticos, dos quais se destacam: linha de frente, oficiais, presbítero, embaixador, ministro
da ceia, diaconato, guardião.
No ano de 2014, o Apóstolo Adelino completou 39 anos de exercícios pastorais, mas,
desde seus 33 anos de idade, passou a ser conhecido pelo corpo da instituição pelo nome de
Davi Efraim, nome este escolhido por sua própria vontade, após uma leitura bíblica do Velho
73
Testamento, compreendendo que o significado de “Davi” é “amado”, e o de “Efraim” é
“frutífero, fértil”.
Além das publicações de diversos livros, de CD´s, de DVD´s e de jornal, a igreja
possui divulgação pelos seguintes sites: <www.igrejareinodosceus.com.br/> ,
<facebook.com/apostolodavi>,<facebook.com/montemaanaim>, <facebook.com/reinojovem>,
<www.adelinodecarvalho.com.br>, <www.editorarhema.net>, <www.jornaldoreino.com.b> e
<www.rederomantica.com.br>.
3.3.5 Igreja Jesus Fonte de Vida – IJFV
Com sede na cidade de Carapicuíba, no estado de São Paulo, localizada na Estrada da
Gabiroba, nº 80, no bairro de Jardim Santo Estevão, a Igreja Jesus Fonte de Vida foi fundada,
em 12 de maio de 1997, pelo Missionário Elias e sua esposa Missionária Marlucia Ferreira.
“Um ministério que vive para levar a palavra de Deus. [...] Missão: Tirar os cativos e libertar
os oprimidos das mãos de satanás”.28
O templo no bairro do Brás instalou-se primeiramente na rua João Boemer, nº 55, no
1º andar. De acordo com o Missionário Elias, os membros da filial do Brás não são apenas
moradores da região, mas também pessoas de todas as demais regiões de São Paulo, fruto da
divulgação através do seu programa radiofônico na emissora Sara Brasil FM 101.3.
Dentre as causas que os levaram para o bairro, estão: a expansão missionária e a
centralidade do bairro, favorecida pelo acesso da malha de transporte público. No final do
mês de setembro de 2014, a denominação se mudou da rua João Boemer para a avenida
Celso Garcia, nº 188, local que já foi sede da denominação Centro de Meditação Cristã.
Em conversa de campo com a pastora Leticia Ferreira, a mudança de endereço é
resultado da “promessa de Deus”, faz parte do processo de expansão. A pastora declara: “nós
temos sonho de expandir também para o bairro de Santo Amaro.”
Já na página da denominação no Facebook, há uma menção ao novo templo na Celso
Garcia. “Só quero dizer que esta igreja é a pequena nuvem que o servo do profeta Elias viu.
(I Reis 18:44). Este é o sinal que chuva do Senhor vai descer!”
28 FACEBOOK. Igreja Jesus Fonte de Vida. Disponível em:
<https://www.facebook.com/igjesusfontedevida>. Acesso em: 25 out. 2014.
74
3.3.6 Comunidade Cristã Amor e Graça – CCAG
Para o Bispo Emerson Viana, estar presente no “corredor da fé” não tem nenhum
diferencial, apenas considera o local privilegiado por ser uma região central de fácil acesso.
Apesar de não residir no bairro, a origem religiosa do bispo está no bairro, pois foi membro
de outra denominação com sede na rua Carlos Botelho, paralela à avenida Celso Garcia.
Após romper com aquela outra denominação evangélica, o Bispo Emerson Viana,
juntamente com sua esposa e pastora Silvana Viana, fundaram a Comunidade Cristã Amor e
Graça ( CCAG), no mês de setembro de 2004, com sede na avenida Celso Garcia, nº 243,
no Brás.
Com o passar do tempo, a denominação foi crescendo, e sua expansão atingiu o bairro
de São Miguel Paulista, em São Paulo, e a cidade de Guarulhos; recentemente, em
24/08/2014, houve a inauguração de um novo templo no bairro da Lapa, também em São
Paulo. No mês seguinte, no dia 07 de setembro de 2014, a denominação comemorou 10
anos de existência.
Em entrevista, a principal declaração do bispo é que a CCGA não se trata de mais
uma igreja, e sim de uma família, e, enquanto igreja, “Uma igreja livre das obras da lei,
livre de ordenanças de homens e sem o misticismo que anda invadindo as igrejas”29.
Os
líderes declaram pregar o verdadeiro evangelho de Jesus Cristo.
Apesar de o seu líder não simpatizar com as ferramentas eletrônicas, em especial, com
a internet, a igreja possui um portal de internet no endereço eletrônico
http://www.portalamoregraca.com.br/, onde é possível encontrar mensagens no formato mp3,
matérias, estudos bíblicos, fotos e vídeos institucionais e dos principais eventos da
denominação. Para além do seu portal, a CCAG está presente nas principais redes sociais,
como o Facebook, < https://www.facebook.com/AmoreGraca>, o Twitter, o Vimeo, o
Instagram, além de haver no portal uma rádio online.
A programação de cultos segue um calendário semelhante entre a sede e as filiais; são
celebrados cultos nos seguintes dias: quartas-feiras e sextas-feiras, às 9h00 e às 19h00; no
domingo, em três horários: 8h30, 15h00 e 19h00. Exceto na unidade da Lapa, que possui
cultos às terças-feiras, a liderança dos cultos é alternada entre a direção do bispo e a pastora.
29 GRAÇA, Comunidade Cristã Amor e. Quem Somos: Artigos e Materias. 2014. Disponível em:
<http://www.portalamoregraca.com.br/>. Acesso em: 27 out. 2014.
75
A programação da igreja pode ser ouvida pela Rádio Certa 88,7 FM (SP), por 24h, e pela
Rádio Raiz FM 103,5, diariamente, das 19h00 às 06h00.
3.3.7 Igreja Universal do Reino de Deus - IURD
Com 35 anos de existência, é considerada, na atualidade, uma das maiores
denominações neopentecostais, amparada por uma rede de comunicação contendo diversas
rádios e TVs, além de mídia impressa, somando um conglomerado de empresas ao seu redor.
A sua origem remonta-se a um antigo bairro carioca, o bairro da Abolição, zona norte da
cidade do Rio de Janeiro.
Foi naquele bairro que Edir Macedo, juntamente com RR Soares, Roberto Augusto
Lopes e os Irmãos Samuel e Fidelis Coutinho, fundaram a IURD, fato ocorrido oficialmente
em julho de 1977. Ainda no início, ocorreram várias discordâncias de poder, o que veio a
culminar em diversas divisões.
Dentre as primeiras divisões ocorridas, observa-se a saída de RR Soares, que então
fundou a Igreja da Graça. Em 1980, período em que a IURD completava três anos, Edir
Macedo é consagrado Bispo, ocasião em que decide mudar o sistema de governo da igreja
para Eclesiástico Episcopal, passando assim a centralidade de poder para suas mãos. A partir
desse período, a igreja começou a ganhar outros patamares, e a visibilidade da denominação
não ficou apenas na periferia; em decorrência do caráter empreendedor de Edir Bezerra
Macedo, a igreja ganhou as metrópoles e o mundo.
Nesse sentido, no ano de 1980, a IURD chegou à cidade de São Paulo implantada por
Roberto Lopes, primeiramente, na região central da capital, exatamente no Parque D. Pedro
II, e depois se mudou para o bairro da Luz. Roberto Lopes permaneceu em São Paulo até
1984. A primeira Igreja IURD de São Paulo, depois de duas sucessivas mudanças de bairros,
passa a funcionar, em 1992, como sede nacional, no bairro do Brás, local onde funcionou o
Cine Roxy, símbolo da memória paulistana, exatamente na avenida Celso Garcia, nº 499.
(MARIANO, 2010, pp. 54:56)
Roberto Lopes permaneceu na igreja de São Paulo até 1984, mas após alguns anos da
fundação da IURD naquela cidade, ele deixou a denominação e retornou à Igreja Nova Vida.
Almeida (2009, p. 61-62), descrevendo a respeito do então fundador da IURD em São Paulo,
Roberto Lopes, destaca três aspectos por parte dele que contribuíram para a expansão da
IURD. Primeiro, foi Roberto Lopes quem deu o passo inicial para as atividades políticas
76
ligadas à IURD; segundo, ele contribuiu para o estabelecimento da centralidade do poder;
terceiro, Roberto Lopes foi peça fundamental para a implantação da IURD em São Paulo.
Outras dissidências ocorreram na IURD. Almeida (2009, p.61) ressaltou a saída do Bispo
Renato Suett, que, em 1995, fundou, na mesma avenida Celso Garcia, a Igreja do Senhor
Jesus Cristo.
No início, a IURD optava por não construir templos, e na sua estratégia de expansão
estavam a locação e a aquisição de grandes espaços, como os antigos cinemas e as fábricas
fechadas. Somente a partir da segunda metade de 1990 que a IURD optou por construir os
seus templos, o que culminou nas chamadas “catedrais”. Assim, no início do ano 2000, o
novo templo do Brás, na avenida Celso Garcia, nº 499, passou a ser chamado de “Catedral
do Brás”. (ALMEIDA, 2009: 64)
A Catedral do Brás fica na esquina da rua Bresser, rodeada por uma rede de
lanchonetes e por outros pontos comerciais. A catedral possui um amplo estacionamento e um
amplo espaço de sociabilidade; já nas suas calçadas, sempre encontramos obreiros,
distribuindo jornais e folhetos da denominação, e convidando as pessoas a participarem dos
encontros religiosos, os quais têm, em sua programação, reuniões: do empresário, dos
sentimentos, do descarrego, da família e do Espírito Santo.
3.3.8 Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério do Brás
A Assembleia de Deus, a maior das denominações pentecostais do Brasil em número
de adeptos, iniciou-se em 1911, na cidade de Belém, no estado do Pará. Chegou ao sudeste do
país com a leva de migrantes, e, nas primeiras décadas seguintes, teve a sua fundação em São
Paulo. Logo em 1930, os pastores criaram uma convenção para discussão de assuntos
relacionados aos interesses internos, bem como aos rumos da denominação. Essa convenção
ficou conhecida pela sigla CGADB. Paulo Leiva Macalão, que participou desse evento,
alguns anos depois, fundou uma nova convenção, a CONAMAD (Convenção Nacional das
Assembleias de Deus no Brasil, Ministério Madureira). A Assembleia de Deus Ministério do
Brás hoje faz parte desta Convenção.
Paulo Leiva Macalão também foi o responsável pela fundação da primeira igreja do
Ministério de Madureira, em São Paulo, que ocorreu na rua da Glória, no bairro da
Liberdade, no ano de 1938. A igreja lá permaneceu apenas por dois, depois se mudou para a
77
rua Cantareira, e posteriormente para a rua da Mooca, nº 403, na avenida Rangel Pestana, nº
995. Essas sucessivas mudanças ocorreram até que o primeiro terreno da sede da igreja fosse
comprado, na rua Major Marcelino. O número de membros da igreja foi crescendo, e houve
necessidade de uma nova sede. Criou-se um meio de arrecadar recursos financeiros com a
atual presidência do Pastor Samuel Ferreira, Vice Presidente da CONAMAD, e, em 15 de
novembro de 2006, foi inaugurado o novo templo na avenida Celso Garcia, nº 560, a atual
sede do Ministério, que preside diversos setores. A denominação faz parte da primeira
geração do Pentecostalismo no Brasil, porém já não há mais demonstração dos usos e
costumes presentes nas primeiras décadas de 1900.
Na página de internet, pelo texto constante no link “Quem somos”, é possível
compreender que a igreja cresceu, e tornou-se inevitável o uso de tecnologia a fim de
proporcionar segurança, conforto e fácil acesso para aqueles que se deslocam para a sede do
ministério:
Os cultos são transmitidos ao vivo pela Internet, contamos com amplo
estacionamento, acesso para portadores de necessidades especiais, poltronas
confortáveis com capacidade para, aproximadamente, 5.000 pessoas,
enfermaria completa e quatro elevadores para total conforto dos usuários. [...]
Além disso, estamos numa região de fácil acesso, próximo ao Metrô Bresser-
Mooca e corredores de ônibus na Avenida Celso Garcia. Pode-se chegar à
sede ainda por importantes vias, como Radial Leste e Marginal Tietê.30
Todas as atividades da igreja possuem uma programação com agenda anual. Dentre as
atividades, destacam-se: escola bíblica dominical, culto de missões, culto Celebrando em
Família, culto de batismo, culto de ceia, reunião de obreiros, culto de missões, culto de
ensinamentos, culto da conquista, culto de oração, entre outras. Para além das reuniões no
templo, a AD Brás tem programação nas redes de TV, exibida na Rede Bandeirantes e na
RedeTV!, além de programas de rádio na Musical FM 105,7. A igreja possui ainda o portal de
internet <adbras.com.br> e uma fanpage no Facebook, em<
https://www.facebook.com/igreja.adbras/timeline?ref=page_internal>.
30 MORGANTE, Ad Brás Jd. História Ad Brás. 2014. Disponível em:
<http://admorgante.com.br/web/igreja/historia-ad-bras>. Acesso em: 30 out. 2014.
78
3.3.9 Igreja Católica Paroquia São João Batista do Brás
Situada na avenida Celso Garcia, nº 600, no coração do Brás, a paróquia foi
construída pela Arquidiocese de São Paulo, em 1908. Considerada no início do século um dos
templos católicos mais importantes da cidade de São Paulo, possui arquitetura arrojada, vitrais
produzidos por artistas parisienses e um enorme órgão de tubo importado da Alemanha.
A paróquia é hoje um local da memória religiosa do bairro e da cidade. Além dessas
informações encontradas no site da denominação, destaca-se a memória em tempos de
epidemias, quando a paróquia atuou na ajuda aos doentes da gripe espanhola, no início do
século XX. A paróquia tem também histórico de atuação na educação religiosa, no bairro e
nas adjacências.
“Hoje, com a presença do atuante pároco Pe. Marcelo Monge, reiniciamos a
cada dia nossa grande jornada de caridade, fé, esperança e muito amor.
Havemos de continuar a produzir novos belos e abundantes frutos, – para
Deus, para todos nós e para as gerações-futuras dessa paróquia tão amada,
que sabe ser gentil e guerreira a um só tempo.”
Na programação da igreja, é possível notar a preocupação com a comunidade
hispânica que reside nas proximidades da paróquia. Não apenas é celebrada missa em
espanhol, mas são prestados diversos serviços voltados para a comunidade, dentre eles o
ensino do Português.
Quanto à organização da paróquia, divide-se em torno das seguintes pastorais:
Apostolado da Oração; Catequese de Adulto; Catequese de Criança; Catequese de Crisma;
Pastoral do Batismo; Pastoral da Criança; Pastoral da Comunicação; Pastoral dos Coroinhas;
Pastoral do Dízimo; Pastoral da Pessoa Idosa; Grupo de Artesanato; Grupo de Jovens; Grupo
de Oração; e Legião de Maria.
As missas são celebradas nos seguintes horários: domingos - às 08h00, às 10h00 e às
18h00; segundas-feiras – às 15h00; terças-feiras – às 19h00; quartas-feiras – às 7h00, e
Miercoles - Celebrações em Espanhol, às 19h00; quintas-feiras – às 12h10 e às 19h00;
sextas-feiras – às 7h00; e sábados – às 17h00.
Em semelhança a outras denominações religiosas, a paróquia tem site próprio: <
http://www.saojoaobatistadobras.org>.
79
“Amigo internauta, o site da Paróquia São João Batista do Brás é o nosso
espaço virtual de vivência de fé. Aqui você encontra: atividades dos diversos
grupos e pastorais que existem em nossa dinâmica paróquia, notícias, artigos
e subsídios para sua formação cristã católica. Nossa paróquia te acolhe de
braços abertos! Pe. Marcelo Monge - Pároco”31
A paróquia está sob a supervisão da Região Belém – Bispo Auxiliar Dom Edmar
Peron, Cúria na Região Belém, a qual, por sua vez, pertence à Arquidiocese de São Paulo,
que tem como Arcebispo Metropolitano o Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer.
3.3.10 Templo32
de Salomão Bíblico
Vaux (2004, pp. 320-321), na tentativa de definir o sentido da palavra “templo” na
língua dos povos da antiguidade, acádios, fenícios e hebraicos, reconhece que nessas línguas
não havia palavra específica que designasse um edifício construído em lugar sagrado para
celebração de culto. Na pesquisa de Vaux, os vocábulos referentes à palavra “casa” (“e-kal”,
em acádio; “e-kur”, como “casa grande”, em sumério; “ras shamra”, como “casa da
montanha”, em fenício; e “bet” ou “hekal”, em hebraico) não distinguem, em qualquer uma
dessas línguas, “casa” de “palácio”, de “morada do deus” ou de “morada do rei”.
Ainda, de acordo com Vaux, no contexto judaico, a idealização de uma “casa” para
Iahvé, o Deus de Israel, que tornaria Jerusalém o centro religioso da nação israelita, partiu,
segundo relatos bíblicos, da mente do rei Davi, conforme mencionado no trecho bíblico de 2
Samuel 7.1-7. Entretanto, teria o Deus de Israel reservado essa tarefa ao seu filho Salomão,
pois este era um rei pacífico (I Crônicas 22.8-10), enquanto que seu pai, Davi, era um homem
de guerra, que “derramou muito sangue” (I Reis 5.17-19;8.15-21).
Os relatos bíblicos a respeito do templo construído pelo rei Salomão encontram-se
nos livros I Reis Cap. 6-7 e 2 Crônicas Cap. 3-4. Esses textos são considerados de difícil
interpretação (inclusive apontados por alguns estudiosos como textos modificados pelos
copistas), e não descrevem muitos detalhes sobre o templo, como espessura das paredes,
disposição da fachada, sistema de cobertura, etc. Há poucos detalhes registrados, referentes ao
31 BRÁS, Paróquia São João Batista do. Quem somo. Disponível em:
<http://www.saojoaobatistadobras.org>. Acesso em: 02 nov. 2014.
32 “O edifício construído em um lugar sagrado e no qual se celebra o culto é o templo” (VAUX, 2004, p.320).
80
início de sua construção: a madeira usada era proveniente do Líbano, fruto de negociação com
o rei de Tiro; as pedras vinham de Jerusalém; a mão de obra pesada era fornecida pelos
israelitas; os detalhes da construção eram executados por especialistas fenícios.
Tratava-se basicamente de um edifício longo, dividido internamente em três partes: a
primeira, o vestíbulo (Ulam, Sala de Culto); a segunda, o lugar santo (Hekal); e a terceira, a
“câmara de trás”, ou o “santo dos santos” (Debir). Pode-se constatar que o modelo
arquitetônico desse templo tem forte relação com templos construídos em outras localidades
por outros povos da época, especialmente, os sírios e os fenícios. (VAUX, 2004 pp. 350-355)
O período aproximado da história em que ocorreu a construção do templo de Salomão
corresponde aos anos de 968 a.C. a 961 a.C. Depois de pronto, o templo permaneceu em
funcionamento por 367 anos, até que, por ordem de Nabucodonosor, rei da Babilônia, foi
destruído, conforme relato bíblico dos livros 2 Rs 25:8-9.
Esse templo, para os judeus, significava “o lócus da santificação”, simbolizava “o
centro da terra", onde os produtos da terra eram recebidos por Deus e devolvidos a Ele; ainda,
concebia-se que o aperfeiçoamento do ser sagrado ocorria no alinhamento com o templo.
(NEUSNER, 2004, pp.193-194)
Pensava-se que o templo era uma cópia terrena do palácio celestial de Iaweh
e sua sede oficial como “rei” como uma porção da terra sobre a qual ele
reinava e que tinha concedido a Israel , e como o santuário de Estado oficial
para todo Israel e, mais tarde, par Judá, no qual Iaweh habitava, porque ali,
no culto, ele manifestava a sua presença. Contudo, a montanha em que o
Templo tinha sido construído, dentro da estrutura do complexo do palácio,
veio a assumir, pouco a pouco, por causa da rocha de Deus que ela
circundava, o significado da montanha de Deus, aliás localizada pela
tradição do antigo Oriente Médio nas regiões setentrionais da terra. No curso
do tempo, o Templo deu a Jerusalém o prestígio de ser a residência e a
cidade de Deus, o lugar do culto e a cidade do Templo. (FOHRER, 1982,
p.244).
Na pesquisa de Fohner (1982) Constatou-se que, no período monárquico, mesmo após
o reinado de Salomão, apesar da existência de outros santuários, o templo construído por
aquele rei teve um significado maior para os israelitas.
81
3.3.11 Templo de Salomão (IURD)
A megaconstrução na avenida Celso Garcia, nº 605, no bairro do Brás, em São Paulo,
denominada “Templo de Salomão”, erigido pelo bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do
Reino de Deus, não deixa de simbolizar, também, o retorno à Israel dos templos bíblicos.
Da mesma forma que, no passado, o Templo de Salomão, erguido no bairro
do Brás, em São Paulo, tem um significado profundo, porque todos os que
ali entrarem, independentemente de sua crença, estarão voltado para os
tempos bíblicos. Por isso, o Templo de Salomão, construído na capital
paulista, tem um sentido espiritual muito forte, uma vez que resgatará a
Santidade, o Respeito, o Temor, a Reverência e a Consideração para com o
Senhor Deus. Em Sua Casa, também chamada de Casa de Sacrifício, todo o
povo terá a oportunidade de render ao Eterno a própria vida como sacrifício
santo e agradável a Deus.33
Com essa proposta, no dia 31 de julho de 2014, Edir Macedo, inaugurou a
megaconstrução.
No complexo, que tem quase 74 mil m² de área construída, foram utilizados
28 mil m³ de concreto e quase 2 mil toneladas de aço. O prédio frontal tem
11 andares e mede 56 metros de altura. Já o prédio dos fundos tem cerca de
41 metros de altura. Todo o piso do templo e o altar são revestidos com pedras
trazidas de Israel. 34
A área construída desse templo, local para público estimado de 10.000 pessoas, é de
100.000 metros quadrados, em um terreno de 35.000 metros; possui 10.000 lâmpadas de
LED, estacionamento com 1800 vagas para veículos de passeio e com 50 vagas para ônibus;
uma obra cujo valor de custo é de 685 milhões. Os detalhes do templo remetem à Israel
bíblica: no altar, uma réplica da “arca da aliança”, candelabros de sete braços (menorás)
instalados nas paredes, com iluminação de LED. Para além de todo o requinte do templo, no
seu terreno foi também construído um museu, memorial do Velho Testamento (Veja São
Paulo, 2014, p. 42-48)
33 SALOMÃO, O Templo de. O templo de Salomão. 2014. Disponível em:
<http://www.otemplodesalomao.com/#/otemplo.>. Acesso em: 10 nov. 2014.
34 PAULO, G1 São. Templo de Salomão. 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/sao-
paulo/noticia/2014/07/templo-de-salomao-e-inaugurado-em-sao-paulo.html>. Acesso em: 15 nov.
2014.
82
As descrições a respeito da construção, mencionadas no site oficial do templo de
Salomão da IURD, são:
Os visitantes poderão desfrutar de conforto, segurança e todas as facilidades
projetadas, tais como: estacionamento coberto; ar condicionado; sistema de
geração de energia própria, caso haja a interrupção no fornecimento de
energia comercial; elevadores inteligentes e preparados para serem utilizados
por portadores de necessidades especiais; sistema de segurança equipado
com circuito fechado de tevê; ventilação e iluminação naturais disponíveis
nas hospedagens, escritórios e escolas bíblicas; área verde harmonizada com
arquitetura, por meio de projeto paisagístico; entre outras.35
Nos primeiros dias de inauguração, o acesso às reuniões no templo ficou restrito às
lideranças, às caravanas e aos convidados especiais; somente após a segunda quinzena de
agosto de 2014, o acesso foi liberado ao público, inicialmente, com prévio agendamento e
com uso de pulseira que identificava o dia e o horário da reunião da qual o visitante ia
participar. Hoje, os visitantes têm livre acesso ao templo, desde que não haja reuniões
particulares, e com a restrição de que eles não portem produtos eletrônicos, como celular e
câmera, os quais devem ser guardados em armários na entrada do templo. Quanto às reuniões,
o templo segue o calendário da IURD, no qual os temas são previamente determinados por
horários e por assuntos (sentimental, financeiro, espiritual). Além da divulgação do templo
nas igrejas da IURD, existem as chamadas, com apelos para que a população compareça ao
local, veiculadas nos programas radiofônicos e televisivos, nas emissoras em que a Igreja
Universal tem programas.
3.3.12 Ministério Mudança de Vida (MMV)
A memória histórica da denominação remete a meados da década de 1990, à existência
de um pequeno salão, no interior do estado de São Paulo, na cidade de São José do Rio Preto,
custeado pela empresa Rossafa Imóveis, da família da fundadora da denominação, a bispa
Cléo Rossafa. O Ministério Mudança de Vida no início foi chamado de Igreja Batista Ágape,
e, depois, de Igreja Mundial de Cristo.
35 SALOMÃO, O Templo de. construção. 2014. Disponível em: <
http://www.otemplodesalomao.com./#/construcao..>. Acesso em: 10 nov. 2014.
83
Cléo Rossafa foi ungida a pastora em 1996; suas pregações, inicialmente, eram apenas
para os familiares, e, aos poucos, formou-se uma igreja, a qual foi crescendo e espalhou-se
pelas cidades circunvizinhas a São José do Rio Preto, até chegar a São Paulo, capital.
(ROSSAFA, 2005. pp. 121-122)
Na capital paulista, a sede da denominação fica na avenida Celso Garcia, nº 777.
Dessa sede, expandem-se várias filiais em cidades do interior de São Paulo: São José Rio
Preto (sede), MMV Mirassolândia, MMV Cambuí, MMV Galeazzi, MMV Paz, MMV Juriti,
Guapiaçu, MMV Murchid, Rádio Rio Preto, Riso, Araçatuba, Bauru, Birigui, Catanduva,
Fernandópolis, Penápolis, Presidente Prudente, Tanabi, Votuporanga. O tempo sagrado das
reuniões da sede e das filiais tem a seguinte programação36: domingo, “Reunião das Primícias
para os Comprometidos com Deus”, às 9h00, às 15h00 e às 18h00; segunda-feira, “Reunião
para a Prosperidade”, às 7h00, às 9h00 e às 15h00, e “Vigília do Melhor da Terra”, às 19h30,
com a Bispa Cléo (transmissão ao vivo); terça-feira, “Reunião para a Restauração Familiar”,
às 7h00, às 9h00, às 15h00 e às 19h30; quarta-feira, “Reunião de Busca ao Espírito Santo” e
“Renovação da Mente”, às 7h00, às 9h00, às 15h00 e às 19h30, com a Bispa Cléo
(transmissão ao vivo); quinta-feira, “Reunião das 7 Unções”, às 7h00, às 9h00, às 15h00 e às
19h30; sexta-feira, “Reunião para a Cura e Libertação”, às 7h00, às 9h00, às 15h00 e às
19h30; sábado, “Culto”, às 7h00 (apenas em São Paulo), e “Evangelismo”, às 9h00.
“Olá, Deus te abençoe, graças a Deus, sejam muito bem-vindos”. É com essa fala que
a Bispa Cléo Rossafa abre a sua programação televisiva. Em semelhança a outras
denominações, o Ministério Mudança de Vida tem um portal de internet, com rádio e TV
online; sua programação também ocorre nas seguintes emissoras: Rádio 102,5 FM - S. J. do
Rio Preto, Rádio TOP 101,3 FM - Bauru e região, Rádio Hits 90,1 - Rancharia, Presidente
Prudente e região, emissora Bandeirantes, NGT, MIX TV e TV DA CIDADE. Além das
mídias radiofônicas e televisivas, a denominação tem jornal, online e impresso, chamado
“Folha Vida”, no qual são veiculados os principais eventos da denominação e os testemunhos
dos membros. 37
36 VIDA, Ministério Mudança de. Mude sua vida. 2014. Disponível em:
<http://www.mudancadevida.com.br//index.php/mude-sua-vida/reunioes >. Acesso em: 15 nov. 2014
37 VIDA, Ministério Mudança de. Mude sua vida. 2014. Disponível em: <
http://www.mudancadevida.com.br/index.php/tv-mudanca-de-vida/programacao >. Acesso em: 15
nov. 2014
84
Em conversa com alguns dos pastores da sede, obteve-se o relato de que a escolha da
avenida Celso Garcia ocorreu pela proximidade do bairro ao centro de São Paulo, pelo acesso
a estacionamento e pelo grande fluxo de transporte urbano e de pessoas que circulam
diariamente pela região. (Anexo A)
3.3.13 Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus
Essa igreja foi fundada por Agenor Duque e sua esposa Ingrid Duque, em 07 de
setembro de 2006, após a bênção apostólica ministrada pelo apóstolo Marcos Sardinha e pela
bispa Alda (Comunidade Evangélica Missionária Internacional Aliança da Paz). No início, na
avenida Celso Garcia, nº 331, de igual modo às demais denominações neopentecostais, a
denominação começou de maneira acanhada; sua principal fonte de investimento foram as
economias pessoais do casal.
O rádio era o seu principal aliado na divulgação denominacional, e, com capital
escasso, após um período, teve-se que deixar o rádio, ocasião em que o casal precisou se
desfazer de bens pessoais para honrar com compromissos, como o aluguel do imóvel onde
funcionava a igreja e até mesmo a programação da Rádio Musical FM 105,7. (AVIVA, 2011,
p. 12).
Os desafios financeiros foram superados, mas, para Agenor Duque, havia desafios
maiores.
O dia que Deus usou o apóstolo Marcos Sardinha para me consagrar, ele
disse que Deus me daria um ministério para cuidar só dos soldados feridos, e
eu creio neste chamado, minha maior dificuldade é com este alvo. Por ajudar
os feridos, temos enfrentado pelo caminho traidores, invejosos, caluniadores
e perseguidores que tentam parar o chamado de Deus sob a minha vida,
porém a igreja apostólica Plenitude do Trono de Deus é como uma omelete,
quanto mais bate, mais cresce. (AVIVA, 2011, p. 12)
Logo a denominação retornou à rádio FM 105,7 com maior força, e com uma
programação de horário por toda a madrugada; estava agora em um novo endereço, na
avenida Celso Garcia, nº 899, local que já fora sede da Igreja Mundial do Poder de Deus, do
Bispo Valdemiro Santiago. Com a vida financeira mais equilibrada, Agenor Duque adquiriu
o imóvel que fora alugado, período em que a denominação passou a experimentar
85
crescimento. Surgiram, então, as filiais, nos bairros paulistanos Santo Amaro, Cachoeirinha,
Itaim Paulista, Guaianazes e Itaquera, e também na cidade de Osasco e no estado de Minas
Gerais.
Os principais veículos de comunicação da denominação são o seu portal de internet, <
http://www.iaptd.com.br/>, com rádio e TV online, fan page < https://pt-
br.facebook.com/plenitudedotronodedeus>, programas nas rádios Musical FM 105.7 e Rede
do Bem 97.3 FM – SP, e, na televisão, TV Aberta: Canal 14, Claro TV: Canal 16, Vivo TV:
Canal 12, Sky: Canal 177, Oi TV: Canal 19, GVT TV: Canal 247, e Net: Canal 27.
A programação das reuniões da denominação segue sempre três horários: às 9h00, às
15h00 e às 19h00, com temas relacionados a prosperidade (culto dos empresários),
normalmente às segundas-feiras. O Culto de Libertação (com o culto do pão da revelação e
outros temas), normalmente, é às sextas-feiras. O Culto da Família, normalmente, é aos
domingos. Além dessas atividades, há as campanhas, que são cultos ministrados em dias
específicos e por um determinado período de tempo, com um certo objetivo que o fiel queira
alcançar.
Apesar da possibilidade de se assistir aos cultos através de todos os meios de
comunicação mencionados, nota-se na programação da denominação um forte apelo para que
as pessoas compareçam ao templo, denominado “sede nacional”, na avenida Celso Garcia, nº
899. O slogan do bispo e dos pastores no rádio é anunciado em torno da frase: “Vem pra cá,
São Paulo, vem pra cá, Brasil, o lugar do milagre é aqui no Brás”.
3.3.14 Catedral da Bênção (CB)
Essa denominação evangélica foi fundada por Doriel de Oliveira e sua esposa Ruth
Brunelli, no dia 09 de junho de 1964, em Belo Horizonte, Minas Gerais, fruto da dissidência
da igreja “O Brasil para Cristo”, do missionário Manoel de Melo. No início, a denominação
fundada por Doriel ficou conhecida pelo nome de “Tabernáculo Evangélico de Jesus”. Após
alguns anos, exatamente em 1970, Doriel se mudou para Brasília, passando dez anos na
capital brasileira. Em 1980, a pequena igreja já era um grande templo de alvenaria, que logo
ficou conhecido por local de manifestação de milagres, com exposição na mídia; rapidamente
86
experimentou o crescimento, e, a partir de 1985, foi construída uma nova sede, conhecida
como “Catedral da Casa da Bênção”, com capacidade para mais de 5 mil pessoas.
Nos dias 20 a 27 de julho de 2014, a denominação comemorou, em Brasília, 50 anos
de existência, com a presença de diversas caravanas vindas de todo o Brasil. Dentre os
preletores do evento, cita-se o seu presidente Apóstolo Doriel. Também compareceram ao
evento diversos pregadores do cenário pentecostal como Silas Malafaia, Josué Gonçalves,
Napoleão Falcão, Jorge Linhares, Cláudio Duarte, Roberto Lucena, Silvio Gali e Walter
Brunelli.
Hoje, a programação da denominação ocorre principalmente nos finais de semana, e
sua sede, em Brasília, transmite a programação pela TV online, no seu portal de internet
<http://cb.org.br/tv/>. As outras filiais têm seus sites locais e sua programação independentes
do modelo da sede. A denominação também disponibiliza online a “Revista Mensagem” e o
jornal “Catedral News”.
As igrejas Casa da Bênção no estado de São Paulo foram fundadas sob a
responsabilidade do pastor Sergio Afonso, da cidade de Mauá. Na capital paulista, a primeira
igreja foi fundada pelo missionário Antônio da Anunciação Lana, em meados da década de
1990, inicialmente no parque D. Pedro II, local conhecido como ponto inicial das linhas de
ônibus da cidade. Depois em 1999, essa igreja mudou para seu atual endereço, na avenida
Celso Garcia, nº 1081. (Brunelli, 2011, p. 101)
De acordo com o pastor auxiliar Wellington, a escolha pelo bairro do Brás ocorreu por
se tratar de uma região central. Apesar de tantos anos de existência no bairro, hoje os
membros da denominação são de diversas regiões da capital, e chegam ao número
aproximado de 600 pessoas, produto de uma época em que a denominação possuía
programação no rádio (antiga Rádio Morada do Sol). Ressalte-se que poucas pessoas residem
nas proximidades desse templo. Outra informação importante: além da programação de cultos
que ocorrem na igreja, a CB trabalha com grupos nos lares.
Quando questionado sobre trabalhos sociais na região, o pastor Wellington respondeu
que a prioridade é a ajuda espiritual às pessoas que residem em prédios e em casarões
marcados pela deterioração, visto que há muitas moradias em pensões e em cortiços, e é
nesses espaços que ocorrem as evangelizações.
87
3.3.15 Comunidade Missão dos Sinais de Deus
Fundada pelo Apóstolo Mauricio Palhuca e sua esposa Fabiane Palhuca, atualmente a
denominação está presente, no estado de São Paulo, nas cidades de Suzano e de São Paulo, e
nesta última, no bairro do Brás, na avenida Celso Garcia, nº 1515, onde ocorrem as
concentrações de maior público, com uma programação que segue os seguintes dias:
domingo, às 08h00, às 14h00 e às 19h00 – com o tema “família e Espírito Santo”; quarta-
feira, às 09h00, às 15h00 e às 19h00, com o tema “Libertação”; e sexta-Feira, às 09h00, às
15h00 e às 19h00, com o tema “Vida Sentimental e Milagres”.38
De acordo com sua biografia publicada no site da denominação, o apóstolo Palhuca é
especializado, no campo religioso, em batalha espiritual e em libertação:
Apóstolo Palhuca, um homem que com 13 anos teve um encontro com Deus
e desde essa idade tem um compromisso muito forte com o céu. Já na sua
pré-adolescência recebeu o Dom da Revelação de Deus. Ouvindo a voz de
Deus e se relacionando com ele, sendo experimentado e preparado nas coisas
Espirituais e aprendendo mais e mais da área da Libertação e Guerra
Espiritual. Ao longo desses 23 anos de experiência com Deus o Apóstolo
Palhuca vem ajudando muitas pessoas a entenderem os seus caminhos, a se
libertarem, e a terem sucesso em suas vidas Sentimentais, Financeira,
Espirituais e etc...39
Para além da especialização do líder na área de libertação, a denominação realiza
reuniões temáticas durante certo período de dias, chamadas “campanhas”; encontram-se no
site da denominação, atualmente, as seguintes campanhas: “Eu não deixarei para lá”, “Lenço
dos Milagres Urgentes” e “Meu Projeto para 2014”. A denominação é organizada em
ministérios chamados: louvor, infantil, projeto social e dança. Não sendo diferente de
algumas denominações presentes no “corredor da fé”, a Comunidade Missão dos Sinais de
Deus tem um site próprio, com rádio online e com disponibilidade de download de artigos e
de arquivos de áudio. A denominação também tem programação nas rádios 99,5 FM e 103,1
FM, emissoras que captam grande parte de seu público.
38 DEUS, Comunidade Missão dos Sinais de. Programação. 2014. Disponível em:
<http://www.sinaisdedeus.com.br>. Acesso em: 26 nov. 2014.
39 DEUS, Comunidade Missão dos Sinais de. Quem Somos. 2014. Disponível em:
<http://www.sinaisdedeus.com.br>. Acesso em: 26 nov. 2014.
88
4. CAPÍTULO 4 - ESTRATÉGIAS DE CHEGADA E PERMANÊNCIA NO
“CORREDOR DA FÉ”
“Todos procuram o Brás e parece haver uma razão simples, no fundo, para explicar isso. É
que no Brás todos são “imigrantes”, o que dificulta discriminações. A vizinhança é tolerante,
todos no limite são bem-vindos ainda que estejam só de passagem” (MARTIN; FRÚGOLI JR,
1992)
A pesquisa, num primeiro momento, após levantamento de campo, através de um
survey, permitiu identificar as denominações religiosas como sendo predominantemente
pentecostais. Por outro lado, em uma segunda fase, quando ocorreu a imersão no campo e a
descrição de seu histórico, identificou-se que a maioria das denominações possui, sim, raízes
no Pentecostalismo, ou no Neopentecostalismo, no que se refere à origem de suas lideranças
e às suas práticas e estratégias de expansão, principalmente com elementos do
“Pentecostalismo de Segunda Onda” e do Neopentecostalismo.
Como exemplo, pontua-se o uso do rádio, e recentemente da TV e da internet, assim
como as técnicas empresariais e de marketing, bem utilizadas pelo grupo dos neopentecostais,
apesar de as práticas desse grupo estarem mais relacionadas ao que Guerriero (2008, p.15)
denomina de Novos Movimentos Religiosos (NMR): “tudo aquilo que é novo no campo
religioso, sejam os novos grupos, sejam as novas formas de vivências religiosas dentro das
religiões já estabelecidas”.
Observa-se que a maioria das denominações presentes na avenida Rangel Pestana-
Celso Garcia assemelha-se aos novos movimentos egressos do interior de grandes
denominações pentecostais, ou neopentecostais, ou até mesmo do Catolicismo carismático,
produto da discidência de líderes católicos.
No entanto, Almeida (2006), em artigo intitulado “A expansão pentecostal:
circulação e flexibilidade”, reconhece que a tipologia a respeito dos novos grupos oriundos do
Pentecostalismo não é suficiente para explicá-la.
Mas como classificar, então, os protestantes “renovados” e os carismáticos
católicos que se apropriaram de dimensões do pentecostalismo como a
experiência extática da glossolalia e, no caso dos católicos, da conversão
individual tipicamente evangélica com ênfase na subjetividade e na
emotividade? E, mais ainda, como entender a pentecostal Igreja Universal do
Reino de Deus que [...] incorporou elementos da religiosidade afro-
brasileira? Em resumo, o pentecostalismo extrapola suas fronteiras
institucionais assim como incorpora mecanismos de funcionamento de
religiões fora do campo cristão. (ALMEIDA, 2006, p. 01)
89
Nota-se que as novas igrejas surgidas por rompimento de organismos eclesiásticos
guardam em sua identidade elementos de seu grupo de origem, porém, reestruturaram-se
objetivando a entrada ou a permanência no “corredor da fé”.
Esse novo modo de ser e de permanecer está associado a algumas dinâmicas que
facilitam e promovem esse processo de escolha do bairro, tais como: a deterioração urbana
do bairro e das avenidas Rangel Pestana-Celso Garcia, a centralidade do bairro, a expansão da
mancha religiosa, o lugar do “poder forte”, o retorno ao Israel mítico e a propagação pelos
meios de comunicação (especialmente o rádio) e por outros mecanismos associados ao apelo
de mercado. Essas são algumas das respostas obtidas na pesquisa de campo. Com exceção da
análise entre religião e mercado, faz-se uma breve exposição dos resultados obtidos.
4.1 A deterioração da avenida Rangel Pestana–Celso Garcia: reflexo de um bairro
abandonado
No final do século XIX e início do século XX, o bairro do Brás ficou conhecido
como porta de entrada para a imigração europeia. Milhares de europeus, principalmente
italianos, desembarcaram em Santos, e de lá foram para São Paulo, chegando por trens ao
Brás. Nesse período, a capital paulista experimentou uma rápida modernização urbana, em
virtude da economia cafeeira e da expansão industrial. A urbanização e a constituição de
instituições ligadas à industrialização ocorrem em paralelo às novas formas de experiências
sociais e culturais vinculadas a imigrantes e a trabalhadores. Surgem nesse cenário, no bairro
do Brás, as igrejas dos imigrantes italianos, as cantinas, os times de várzea e os grandes
teatros. (PEREIRA, 2002, pp 3-5)
As primeiras gerações de imigrantes europeus, dentro desse processo de urbanização
e de industrialização, fizeram do Brás um bairro de prestígio, marcado pela presença de
grandes cinemas, de teatros e de lojas de luxo. Já a segunda geração descendente dos
imigrantes, como registra Martin (1984, pp.165-177), torna-se o marco inicial da deterioração
do bairro, geração esta marcadamente composta de pequenos e médios comerciantes, os quais
ascenderam socialmente, e, de forma espontânea, foram deixando o bairro como residência
oficial e mudando-se para bairros vizinhos, o que contribuiu para o processo de
esvaziamento, de estagnação populacional e de subdivisão de antigos casarões em
90
submoradias de abrigos para migrantes nordestinos, especialmente de 1945 a 1964, período
em que o contingente populacional do Brás é marcado por migrantes nordestinos, em função
de uma corrente migratória que, tendo começado em meados de 1940, foi se intensificando
até 1970.
Para além do processo voluntário de deterioração, Martin aponta para outro período
histórico que ele chama de “deterioração planejada”, o qual ocorre por indução do Estado.
São exemplos dessas induções estatais: a construção de viadutos, a separação dos bairros do
Brás e da Mooca, a construção da avenida Radial Leste, as mudanças no aspecto urbano (por
exemplo, perda de arborização no Parque D. Pedro II), a ausência de serviços de revitalização
por parte dos órgãos municipais, a subdivisão da Prefeitura entre Sé e Mooca, a lei de
zoneamento que dava amplas permissões para mudanças urbanas, a construção do viaduto
Alberto Marino, em 1968, e das obras do metrô, a partir desse período. Todos esses fatores
foram responsáveis, num primeiro momento, pelo esvaziamento do bairro, e, num segundo
momento, pelas ações de desapropriação.
Tanto a deterioração espontânea como a planejada passam a ser notadas pelos agentes
da religião, a partir do início de 1980 até 1990, período em que as indústrias de maior porte
mudam-se para as proximidades das grandes rodovias, em especial para a região do ABC
paulista.
Pereira (2002, p.6) caracteriza esse período como de “desconcentração” e de
“modernização industrial”. Notáveis pelo abandono das velhas fábricas são o aumento de
cortiços e a diversificação das funções dos prédios de cinemas e teatros para sedes de fábricas,
e dos prédios de grandes lojas para estacionamentos. Dentro dessa dinâmica, no ano de 1992,
em meio ao processo de esvaziamento do bairro por parte das indústrias, a Igreja Católica das
Santas Missões, no Largo da Concórdia, e a Igreja Universal do Reino de Deus, no prédio
do antigo Cine Roxy, foram as primeiras denominações a se estabelecerem no corredor da
avenida Rangel-Celso Garcia. Segundo pesquisa de campo, tais fatos mostram que a chegada
dessas denominações atraiu outras denominações, as quais se instalaram em antigos galpões
de fábrica, alugando-os, num primeiro momento, e, posteriormente, adquirindo-os por
valores oportunos, como relataram alguns dos entrevistados (opinião que diverge entre as
lideranças que não admitem ter havido especulação imobiliária; a escolha pelo local, de
acordo com alguns líderes, foi feita em virtude da centralidade do bairro).
91
4.2 A centralidade do bairro
No início do século XX, o bairro do Brás foi projetado como espaço operário /
industrial e, posteriormente, comercial, resultado da chegada da estrada de ferro, com sua
estação central no bairro. Ao mesmo tempo em que a ferrovia separava o bairro da cidade,
ligava São Paulo ao litoral, e até mesmo a outras cidades de outros estados da Federação,
possibilitando o acesso de migrantes nacionais e estrangeiros e fazendo do bairro uma porta
de entrada e saída tanto de pessoas como de mercadorias, atribuindo-se certa centralidade ao
seu caráter espacial.
O Brás é exatamente esse elemento de transitoriedade. O Brás tem, desde a
sua origem, uma vocação centrípeta. Ele é um vetor de irradiação, é um
vetor de espiralamento das populações e das mercadorias que a partir do
bairro se dirigem a todas as demais direções da cidade. No sentido em que,
desde a sua origem, ele já nasce como um nexo viário e hoje temos lá uma
base, uma estação de distribuição rodoviária no Largo da Concórdia, que
abrange praticamente todos os pontos cardeais da cidade. O Brás é também
um dos pontos do Metrô da cidade e é o principal entroncamento urbano e
interurbano ferroviário da cidade através da sua estação. Portanto, ele tem
essa tendência de jogar sua população para todas as direções e com isso criar
uma espécie de situação de nexo e de coligação entre as partes.40
O bairro do Brás possui conexões com diversos bairros paulistanos através de suas
vias expressas, especialmente as avenidas Rangel Pestana-Celso Garcia, que possuem
diversas linhas de ônibus, de trens e de metrô, as quais alcançam diversos bairros da
periferia leste, norte e sul da cidade e até outros municípios da região metropolitana. Essas
conexões na literatura urbana são compreendidas como radiocêntricas, pois conduzem e
atraem grande fluxo de pessoas, gerando intenso dinamismo econômico e fazendo das áreas
centrais uma referência urbana.
Na perspectiva de Frúgoli Jr (2000, p. 33), a cidade não deve ser vista como detentora
de apenas uma centralidade, mas permeada por diversos centros, que competem a partir do
dinamismo econômico, das empresas, das políticas públicas e dos grupos sociais. É notável
que a centralidade do Brás não seja a única no município, mas as denominações religiosas
deram a esse bairro esse caráter.
40 SEVCENKO, Nicolau. Brasmite: Periferia no Centro. 1999. Disponível em:
<http://www.pucsp.br/artecidade/site97_99/brasmitte/brasmitte02/sevcenko.html>. Acesso em: 20
nov. 2014.
92
As entrevistas de campo revelaram que, para os líderes das denominações religiosas
do “corredor da fé”, o bairro do Brás é uma das principais centralidades para estabelecimento
dos seus templos, competindo com outras regiões para as quais eles já expandiram ou
pretendem expandir filiais; dentre os bairros de sua preferência, estão Santo Amaro (zona sul),
São Miguel Paulista (zona leste), Cachoerinha (zona norte), Lapa (zona oeste) e cidades da
região metropolitana como Guarulhos, Osasco, Moji das Cruzes e Santo André.
Um dos primeiros grupos religiosos a valer-se da centralidade do bairro foi a Igreja
Universal do Reino de Deus, na avenida Celso Garcia, e a Igreja das Santas Missões, na
avenida Rangel Pestana. Depois desses, outros grupos passaram a observar o Brás como
possível local de referência para suas instalações.
4.3 A expansão e concentração da mancha religiosa no corredor da fé
A paisagem da avenida Rangel Pestana e Celso Garcia nos revela a presença de várias
manchas comerciais. No primeiro trecho da avenida, encontramos estabelecimentos
comerciais de borracha e espuma; após o Largo da Concórdia, e na continuação da avenida
adentrando para a Celso Garcia, encontramos lojas de vestuário e estabelecimentos bancários,
além de salão de beleza, ótica, padarias e restaurantes. Esse cenário segue até o Templo de
Salomão.
A partir desse ponto até o número 1550, próximo à avenida Celso Garcia,
encontramos duas manchas principais, sendo a primeira de artigos para cozinha residencial
e industrial, e a segunda, em torno da pequenas fábricas e lojas, de carrinhos para hot dog,
para churrasco e para outros tipos de alimentação. Outra mancha, perceptível em período
noturno, quando as lojas comerciais estão fechadas, é a das Night Clubs, que funcionam, em
sua maioria, na parte superior dos imóveis, principalmente no trecho que compreende o Largo
da Concórdia até o Templo de Salomão.
Neste trabalho não se mapearam todas as manchas existentes no corredor da avenida
Rangel Pestana-Celso Garcia, apenas mencionam-se as principais; dentre elas, encontra-se a
mancha de denominações religiosas, sobretudo de igrejas pentecostais.
Ao entrevistar alguns comerciantes mais antigos do bairro, notou-se que a expansão e
a concentração de várias denominações religiosas, especialmente no corredor da fé, teve
93
início com a implantação da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), ainda no começo de
1990.
Gostaria de reproduzir uma das frases que durante a pesquisa de campo que chamou
minha atenção para aquele que seria um dos movimentos religiosos mais expressivos não só
das avenidas Rangel Pestana - Celso Garcia, como de todo solo pátrio: “primeiro veio a
universal e depois as outras igrejas” (Anexo A).
O que ocorreu no passado e ocorre no presente tem uma explicação plausível na teoria
de Magnani (2012, p.94): a mancha constitui-se em torno de um estabelecimento que
funciona como âncora. Nesse caso, a Igreja Universal, instalada no edifício do antigo Cine
Roxy, na avenida Celso Garcia, 499, abriu espaço para o surgimento de vários equipamentos
como bares, restaurantes e livrarias.
No presente, o fenômeno se repete, com a implantação do Templo de Salomão.
Observou-se em torno de sua construção uma estrutura de lojas de produtos evangélicos,
especialmente com produtos do Templo, onde há uma competição, a saber, quem
comercializa os produtos oficiais do Templo. Além disso, bares e restaurantes também
competem na perspectiva de serem os estabelecimentos oficiais vinculados ao Templo. No
entorno também se encontram lojas de vestimentas e de outros segmentos que atendem aos
fiéis dessa denominação.
Se as outras denominações foram atraídas para a região pelo baixo custo dos imóveis,
pela centralidade do bairro, ou pela mancha dotada de equipamentos urbanos, formada
inicialmente pela IURD, nota-se que cada uma das diversas denominações instaladas no
corredor da fé, apesar de todas propagarem o Evangelho de Jesus Cristo como prática
predominante, possui uma especificidade (guerra espiritual, cura divina, restauração de
família, prosperidade financeira, e outros), oferecendo, assim, uma diversificação religiosa;
porém, percebe-se que essas denominações mais competem do que se complementam, o que
caracteriza a mancha, como observou (MAGNANI, 2012, p.94)
4.4 A espacialidade justificada pelo retorno ao Israel Mítico41
41 Categoria desenvolvida e trabalhada pela Professora. Edlaine de Campos Gomes da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro
94
“Estar no Brás é ser honrado”; “Essa igreja é promessa de Deus”. “Deus nos revelou esse
lugar”
Os relatos de campo, as entrevistas com líderes das denominações, a participação nas
reuniões e a análise de material radiofônico e televisivo permitiram identificar algumas
“categorias nativas”, como “honra”, “conquista”, “promessa”, “mão de Deus e revelação”, as
quais, de certo modo, fazem parte de um arcabouço ainda maior de tantas outras categorias
derivadas de várias interpretações bíblicas do Velho Testamento, feitas por líderes religiosos
e por membros de diversas denominações evangélicas, especialmente por grupos originados
do Neopentecostalismo.
Ao conjunto de categorias nativas do Neopentecostalismo, especialmente da Igreja
Universal do Reino de Deus, Gomes (2009, p.111) nomeou de “circuito da conquista”. Na
concepção do autor, é através desse conjunto de categorias que se torna possível compreender
a maneira como esses grupos constroem sua identidade e como dão sentido às suas crenças
e às suas práticas. As categorias e suas interpretações veterotestamentárias remetem ao que
Gomes nomeia de “retorno ao Israel mítico”.
A história dos israelitas emerge de povos que migraram do deserto da Síria e da
Arábia rumo ao Crescente Fértil – território que abrange o Golfo Pérsico até a Síria e a
Palestina –, num período em que ocorreram diversas correntes migratórias, dentre elas:
acádio-egípcia, por volta de 3000 a.C.; amonita, 2500 -2300 a.C.; cananeia, 2100-1700 a.C 4);
e aramaica, 1400-900 a.. Nesta última, os israelitas se uniram com os amonitas, os moabitas e
os edomitas, formando os povos arameus. Percebe-se que, nesse começo da história, não há
unificação de tribos etnicamente homogêneas, mas famílias, grupos e tribos de origens
diferentes; são povos seminômades, criadores de rebanhos, marcados por formas de
sociabilidade e de religiosidade peculiaridades. (FOHRER, 1982, pp. 24-25).
Dentre os substratos religiosos do povo arameu, mantido na passagem do nomadismo
para o sedentarismo, encontram-se: a) a circuncisão; b) a proibição ou o “tabu”; e c) a noção
e as práticas de magia, que incluem o uso mágico do vestuário ou de um bordão, a crença no
mau-olhado, o poder mágico da mão, a palavra de efeito, como “bênção” ou “maldição”,
preanunciada por um líder que poderia ser o mágico, o vidente, o poeta ou o sacerdote (Js
10,12 ; Jz 5,12). (FOHRER, 1982, p. 32)
É razoável supor que o conceito de profetismo em 1 e 2 Reis, com sua
crença no poder quase mágico dos “homens de Deus” e líderes profetas, seja
um resquício daquela cultura primitiva em que as várias funções ainda
estavam combinadas numa única pessoa. O elemento mágico do período
95
antigo continua na noção do poder efetivo das palavras e atos proféticos.
Essa noção pervade toda profecia israelita, onde ela se baseia na vontade e
poder de Iaweh. (FOHRER, 1982, p. 33)
Compreende-se que o fundamento religioso do povo israelita, em especial o elemento
mágico, favorece a elaboração de categorias nativas que permeiam algumas das
denominações que compõem “o corredor da fé”; seus líderes, autointitulados “profetas de
Deus”, recebem revelações, proferem palavras proféticas, são “honrados”, “abençoados”,
agraciados com a promessa de Deus, ou seja, são detentores e distribuidores de poder
mágico, o que ocorre em paridade com alguns “homens de Deus” mencionados no Velho
Testamento, como Elias, Elizeu, Daniel, Moisés e Josué.
Na concepção dos líderes denominacionais, o espaço de estabelecimento de seus
templos no “corredor da fé”, para além da especulação de mercado imobiliário e da
centralidade do bairro com suas conexões radioconcêntricas, não passa de conquista,
revelação, promessa ou honra de Deus.
Cabe neste momento um breve entendimento dessas categorias nativas interpretadas a
partir da visão de integrantes desses grupos religiosos.
A noção de “conquista” remete ao relato do segundo livro da bíblia, o Êxodo, no
qual o pano de fundo é a poderosa libertação realizada pelo Deus de Israel, que afasta o povo
da escravidão do Egito, e o conduz para a Terra Prometida.
A saída desse povo é liderada pelo profeta Moisés, e, posteriormente, na chegada e na
conquista das terras de Canaã, por Josué. A interpretação da “conquista” baseia-se na
promessa feita a Moisés e no recebimento dessa promessa por Josué, conforme relatos
bíblicos dos livros de Deuteronômio e Josué: Dt 11:2424 “
Todo lugar que pisar a planta do
vosso pé, desde o deserto, desde o Líbano, desde o rio, o rio Eufrates, até ao mar ocidental,
será vosso.”42; Js. 1.3 3 “Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado, como
eu prometi a Moisés”.43
Na interpretação literal desse e de outros versículos, o prédio no qual está
estabelecido espacialmente o templo, a qualquer momento, pode tornar-se propriedade da
42
SAGRADA, BÍBLIA. Almeida Revista E Atualizada. Brasília: Sociedade bíblica no Brasil, 1993; 2005, S.
Dt 11:24.
43SAGRADA, BÍBLIA. Almeida Revista E Atualizada. Brasília: Sociedade bíblica no Brasil, 1993; 2005, S.,
S. Js 1:3.
96
denominação, e, quando isso não acontece, justifica-se que o fato não ocorreu por não ter
sido “promessa” de Deus.
A noção de “promessa” como categoria nativa, entre as denominações do “corredor da
fé”, difere em conceito desse vocábulo no Catolicismo, em que o termo, por sua vez, está
ligado a outro, o “voto”: quando pessoas em situações de dificuldade prometem fazer ou
omitir algo caso seja atendida a sua solicitação por uma divindade. “Promessa”, para as
denominações do “corredor da fé”, por sua vez, tem ligação com a “revelação”: o profeta, ou
qualquer outro membro de uma denominação, recebe uma visão, uma profecia ou um sonho
diretamente de Deus, e, nessa experiência, contempla-se o aviso referente ao recebimento de
algo (“bênção”), que pode ser a cura de uma enfermidade, o casamento, a casa, o carro, o
emprego, a empresa, em suma, um bem material ou espiritual. O anúncio da bênção proferido
pelo profeta consiste na “Promessa de Deus” para o ser humano. Observa-se que, no
Catolicismo, “promessa” é o que o homem promete a Deus. Já nas denominações
neopentecostais, a mesma palavra se refere ao que Deus prenunciou ao homem, e a obtenção
do resultado dessa promessa pode estar ligada ou não à execução obrigatória de uma
determinada tarefa por parte do fiel.
A categoria “ser honrado” deriva da palavra “honra”, para a qual o dicionário da
Bíblia de Almeida aponta quatro definições:
1) Respeito próprio que resulta em um bom nome e na estima pública (Pv
3.35; Rm 2.7). 2) Homenagem às qualidades de alguém (Et 6.3; Rm 13.7).
3) Salário (1Tm 5.17, RC). 4) “Preferir em honra” quer dizer alguém dar
preferência aos outros, estimando-os acima de si mesmo (Rm 12.10); “vaso
ou utensílio para honra” quer dizer “instrumento para propósitos elevados”
(2Tm 2.21). (KASCHEL, 2014).
A definição mais plausível da palavra “honra” no contexto evangélico, dentre as
quatro acima, é aquela que se refere aos líderes chamando para si suas qualidades e
projetando visibilidade frente a seu grupo e a outros grupos. O texto bíblico normalmente
interpretado é o do livro do Velho Testamento de Ester, cap. 6 e cap. 7: Et 6.3: “Então, disse
o rei: Que honras e distinções se deram a Mordecai por isso? Nada lhe foi conferido,
responderam os servos do rei que o serviam.44”.
44
SAGRADA, BÍBLIA. Almeida Revista E Atualizada. Brasília: Sociedade bíblica no Brasil, 1993; 2005, S.
Et 6:14
97
O relato bíblico dos capítulos 6 e 7 do livro de Ester fala de um homem, Mordecai,
que vivia na fortaleza de Susã, no período em que os judeus estavam exilados e eram
comandados pelo reinado de Assuero (Xerxes), Imperador da Pérsia (493 a.C.). Mordecai
destacou-se por denunciar um complô preparado para assassinar o rei, porém negou-se a
inclinar-se perante Hamã, o mais alto oficial do reinado, o qual ficou furioso e desenvolveu
estratégias para acabar com o povo judeu. Ajudado pela rainha Ester, Mordecai denunciou
Hamã, que foi morto. Mordecai recebe o cargo mais alto no serviço do rei. Esse fato é tido
como resultado da fidelidade para com o seu povo e com o seu Deus (GARDNER, 1995,
p.467). O relato de Mordecai não é o único que traz a noção de “ser honrado”. Outros
personagens bíblicos demonstram o sentido da categoria que gira em torno de “ser
desprezado pelos homens e honrado por Deus”.
Ter uma denominação religiosa estabelecida espacialmente no bairro do Brás,
especificamente no “corredor da fé”, é resultado da fidelidade ao grupo de pertencimento e a
um Deus que jamais desampara seus fiéis e os coloca em prestígio em relação aos outros.
As categorias nativas apresentadas não se baseiam apenas em relato único, mas em
vários relatos, que lhe dão um sentido do todo. Esses, por sua vez, são versículos bíblicos que
são lidos e interpretados literalmente sem que se recorra ao seu contexto, às regras de
hermenêutica e às regras de exegese. Se o templo local onde se vivem as experiências da fé é
resultado da “conquista” da honra por parte de Deus, nesse sentido os programas de rádio e
de TV não diferem: a denominação somente alcançou as frequências do rádio e os canais de
TV por revelação ou por “promessa de Deus”.
4.5 O rádio como meio de propagação das mensagens e chamado ao local do milagre e
ao local de poder forte
“Vem pra cá São Paulo, vem pra cá Brasil, o milagre tá aqui no Brás, na Av. Celso Garcia,
899”. 45
45
Slogan sempre proferido pelo pastor Agenor Duque no programa de rádio veiculado todos os dias à
noite na Emissora - FM 105,7, das 22h00 às 00h00.
98
A transmissão de programas evangélicos através do rádio iniciou-se ainda na década
de 1940, com os protestantes históricos (presbiterianos), mas somente a partir de 1950 os
pequenos grupos evangélicos tiveram abertura nas emissoras. Nesse período, surgiu a
primeira igreja genuinamente pentecostal, O Brasil para Cristo, do missionário Manoel de
Melo. Com ela, criou-se o programa de rádio conhecido entre os evangélicos como A Voz do
Brasil para Cristo, o qual iniciava uma nova era do rádio para os pentecostais. Nessa época,
também, surgem os centros produtores de programas, por exemplo, o CAVE (Centro
Audiovisual Evangélico). A ênfase do Pentecostalismo nesse período era o apelo à cura
divina; nesse sentido, o rádio tornou-se um forte aliado na propagação do evangelho, pois
ecoavam em suas ondas sonoras as mensagens e as fortes chamadas para que os ouvintes se
dirigissem aos locais de culto, onde “residia o milagre” (Campos, p. 69-70)
Se, com o advento tecnológico, o rádio, para uma parcela da população, deixou de ser
meio eficaz de comunicação, para outra, especialmente a população das periferias
metropolitanas, o rádio tornou-se veículo poderoso, principalmente em conjunto com o
telefone. Nessa perspectiva, Carranza (2011, p.191) afirma que pastores e padres são
mediadores de sentido ao ordenarem e ressignificarem as intervenções dos radio-ouvintes,
transformando o rádio em radioatendimento.
No “corredor da fé” não é diferente: os líderes passaram a fazer uso do rádio, tanto
AM como FM, e recentemente, das Web Rádios, em seus sites institucionais, seus portais de
rádios gospel, e em aplicativos para celulares Android e Ios. Ressalte-se que o celular é um
dos melhores meios de comunicação para propagação de mensagens, e por meio dele são
feitos atendimentos, além de fortes apelos convocando para o comparecimento ao endereço
físico da denominação.
O Quadro (05) a seguir apresenta as denominações do “corredor da fé” e as principais
emissoras nas quais elas veiculam seus programas radiofônicos. O quadro não contempla
todas as emissoras de rádio das quais as igrejas têm programação, visto que há uma constante
mudança de emissoras / igrejas. O quadro não apresenta também as denominações Catedral da
Bênção e Igreja Católica Paróquia São João Batista do Brás, presentes no “corredor da fé”,
pois, no momento desta pesquisa, elas não veicularam programação por meio do rádio.
Quadro 05 – Denominações Religiosas x Emissoras de Rádio
Denominações Frequência de Rádio
99
Paróquia Bom Jesus do Brás Rádio 09 de Julho – AM 1600khz
Comunidade Essência de Deus Rádio AM (São Paulo) 1150 AM
Catedral Carismática das Nações Rádios FM 102,7 - FM 90,3
Igreja Internacional do Poder da Fé Rádios FM 101,3 - FM 97,3
Santuário Espiritualista de São Paulo Rádio Capital – AM 1040 kHz
Igreja Jesus Fonte de Vida Rádio FM 101.3.
Comunidade Cristã Amor e Graça Rádio FM 88,7 - FM 103,5
Igreja Universal do Reino de Deus Rádio FM 99.3
Igreja Ev. Assembleia de Deus – M. do Brás Rádio FM 105,7.
Templo de Salomão (IURD) Rádio FM 99.3
Ministério Mudança de Vida Rádio FM 90,5 - 101,3 - 102,5
Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus Rádio FM 97,3 - FM 105,7
Igreja Missão dos Sinais de Deus Rádios FM 99,5 - FM 103,1
Fonte: Dados elaborados a partir de informações contidas nos sites das denominações – crédito do
autor, manual das frequências.
Para além do rádio, a televisão tornou-se também meio de propagação das mensagens
e do chamado ao local do milagre. Em detrimento do rádio, a programação da TV tem um
custo bem elevado, criando, assim, um marcador de diferença. Aparecem na TV as grandes
denominações, enquanto as pequenas mantêm-se no rádio, e improvisam a transmissão de
imagens através das chamadas Web TVs, com links exclusivos em suas páginas da internet.
Um detalhe tanto na programação radiofônica como na televisiva emerge do
discurso: trata-se de um forte apelo para que os fiéis compareçam aos locais de culto e a
eventos, com a justificativa de que lá se tem o “poder de Deus”. Esse discurso corrobora uma
prática de deslocamento que, na concepção de Gomes (2008, p. 69), trata da busca de:
“Um lugar de poder mais forte”. Em grande parte das vezes, o percurso não
é solitário e tampouco anônimo. Organizam-se em grupos e caravanas em
suas respectivas congregações locais, e partem juntos. Outras vezes,
formam-se grupos de parentes, amigos ou conhecidos. Um levando o outro,
com o propósito de, individual e coletivamente, terem uma experiência com
100
o sagrado. O peregrino solitário também tem seu lugar. Ele parte de um
ponto preestabelecido em direção ao “lugar de poder mais forte”.
O “lugar de poder forte” é uma das justificativas dos líderes denominacionais, e
significa que somente no espaço onde está instalada a denominação, ou onde está o “homem
de Deus”, é que está o poder divino. Campos (1997, p. 123) menciona que: “o templo é o
espaço geográfico, onde o céu parece ter-se encontrado com a terra e com tal está carregado
de sinais estimuladores de experiências com o sagrado”.
Essas e outras justificativas apresentadas demonstram que a espacialidade das
denominações, sobretudo pentecostais, no corredor da fé, não se restringe apenas a uma única
análise, mas nota-se que vários fatores, ao longo dos últimos anos, contribuíram para a
formação da mancha religiosa nas avenidas Rangel Pestana – Celso Garcia e no bairro do
Brás.
101
5. Considerações finais
Nesta pesquisa pretendi descrever e esquadrinhar a dinâmica da “mancha” de templos
religiosos, sobretudo pentecostais, nas principais avenidas que ligam o centro da cidade à
zona leste da capital paulista, tendo como inspiração teórica as categorias analíticas
desenvolvidas no escopo da antropologia urbana. No que diz respeito às contribuições
analíticas no campo das ciências das religiões, meu objetivo consistiu em mapear a presença
religiosa e, de forma mais específica, a presença evangélica pentecostal nas avenidas Rangel-
Pestana e Celso Garcia, especialmente no perímetro do bairro do Brás.
A análise me permitiu considerar que a presença de tantas igrejas evangélicas
pentecostais na avenida Celso Garcia seja em sua dimensão geográfica – que diz respeito à
junção de importantes equipamentos urbanos num mesmo território, com destaque para o
corredor de ligação centro-leste, contemplado por diversas linhas de ônibus que ligam a zona
leste de São Paulo ao centro e a outros bairros, além de a avenida também possuir acesso
facilitado pela malha ferroviária e metroviária – como eixo formador de redes de
sociabilidade, que permite o encontro de pessoas num espaço social definido ao mesmo tempo
em que incentiva o trajeto para outras regiões da cidade.
Diante do que foi desenhado aqui é possível afirmar eu o fenômeno apresentado neste
trabalho reúne e compreende as lógicas de funcionamento e as relações de troca e
sociabilidade que permeiam esse “corredor” de visibilidade da fé, constituindo um circuito de
crença na cidade de São Paulo.
102
6. Referências Bibliográficas
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<http://www.mudancadevida.com.br/>. Acesso em: 15 nov. 2014.
VILHENA, Junia de; ZAMORA, Maria Helena (Org.). A cidade e as Formas de
Viver: Religiões, fé e fundamentalismo. Rio de Janeiro: Museu da República, 2007.
VILHENA, Maria Angela; PASSOS, João Décio (Org.). A igreja de São Paulo: Presença
Católica na história da cidade. São Paulo: Paulinas, 2005.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Companhia das
Letras, 2009.
WERNET, Augustin. Vida Religiosa em São Paulo: do Colégio dos Jesuítas à diversidade de
Cultos e crenças (1554-1954). In: PORTA, Paula (Org.). História da Cidade de São
Paulo: A cidade Colonial. São Paulo: Paz e Terra, 2004. p. 191-245.
WILLAIME, Jean Paul. Sociologia das Religiões. São Paulo: Unesp, 2012.
113
7. Anexos
7.1 Anexo A – Alguns Relatos de Campo
Ao longo da pesquisa foram várias as incursões em campo, porém nos pareceu melhor
descrever aqui alguns relatos de campo, principalmente os feitos após o segundo semestre de
2014. Esses relatos nos permitiram identificar nas falas possíveis hipóteses na formação da
mancha religiosa.
Por questões éticas, não se mencionaram nomes de todos os entrevistados, exceto nos
casos em que os interlocutores aceitaram a exposição de sua identidade. Todos os
entrevistados tomaram ciência da pesquisa e de sua finalidade.
29/07/2014
Entrevistamos informalmente o comerciante Carlos, da Mix barracas, na Av. Celso
Garcia, 1212:
Essas igrejas não mudam em nada. Os seus membros não compram aqui, pelo
contrário, elas só nos atrapalham com o trânsito. Tudo isso começou com a Igreja Universal,
primeiro veio ela, e depois as outras.
29/07/2014
Nessa data conversei com o sr. Walmir Ennes, corretor imobiliário, que me mostrou
o prédio na Celso Garcia, 331.
A preferência é alugar para as igrejas. O salão possui um espaço aproximado de 12m
x 50m e já foi uma denominação pentecostal. Hoje o valor do aluguel é R$ 19.000,00.
12/08/2014
Conversei com Sr. Valmor, funcionário da Camisaria Emanuel (camisas sob medida).
A loja fica ao lado da Igreja Assembleia de Deus e próxima à Igreja Universal, fluxo de
entrada e saída de obreiros da IURD, por conta da inauguração do Templo de Salomão.
Pergunto se a loja é da igreja e ele diz que não, mas que a proprietária tinha aberto a loja por
orientação do Bispo.
31/07/2014
114
Percebe-se que nos meses de maio de 2014 a julho 2014, ocorreram inaugurações de
lojas e restaurantes por ocasião do Templo de Salomão (IURD). A exemplo no dia
31/07/2014, visualizei uma placa com os dizeres “Em breve inauguração do restaurante
Girafas”. Registrei alguns relatos nessa data sobre a circulação de pessoas pela região, em
consequência do Templo de Salomão. Nesse dia, tive meu primeiro contato com o jornalista
Eduardo, do “Jornal do Brás”.
19/08/2014
Estava em frente ao Templo de Salomão observando a movimentação por conta do
acidente do ônibus que invadiu as grades frontais do templo, quando ouvi um jovem dizer:
Olha isso aí, o diabo é sujo mesmo, hein?
19/08/2014
Nessa data, visitei a Catedral Carismática das Nações, por volta de meio-dia, situada
na av. Rangel Pestana nº 2345. Encontrei um senhor sentado à porta de um corredor em frente
a uma mesa com um livro de pedidos de oração; esse corredor está ladeado por uma
lanchonete e por uma loja de artigos femininos. Trata-se de uma igreja de confissão
carismática. Pergunto se ele é o líder, ele diz que não, e logo chama um senhor que se
identifica como bispo da igreja. Pergunto há quanto tempo ele está no local; sua resposta:
Dois anos.
Perguntei-lhe:
O senhor sabia que antes era outra igreja aqui?
Respondeu-me:
Sim, estive em alguns dos cultos, aliás foi em um desses cultos que Deus me disse
que este lugar seria meu. Então comecei a orar. Quando soube que o pastor tinha desocupado
o imóvel, subi na gruta milagrosa na cidade de Moji das Cruzes-SP e ungi o azeite, depois
lancei sobre as portas fechadas; dias depois, localizei o proprietário do imóvel e fechamos
negócio.
O que significa estar no Brás, para o senhor?
Ele respondeu:
Estar aqui é ser honrado.
Pergunto-lhe:
115
Os seus membros são do bairro?
Alguns sim, mas tenho membros de Osasco, Santo Amaro, zona leste e outras regiões
de São Paulo.
Como outras pessoas ficam sabendo do seu trabalho?
As pessoas indicam, mas durante algum tempo tinha programa na Rede do Bem FM
97,3.
Como funcionam os seus cultos?
Às sextas-feiras, aos sábados e aos domingos, ministério de cura, libertação,
prosperidade. Sábado, das 9h30 às 14h00, atendimento; domingo, às 9h30, 15h00 e 18h00,
culto com a família.
Há quanto tempo o senhor é evangélico?
Vinte anos, aproximadamente, o meu trabalho começou em Manaus, estendeu-se a
outros estados, porém mantenho a sede no Brás.
O senhor alugou o imóvel para a lanchonete e para a loja de lingerie?
As duas lojas são minhas, o espiritual tem que andar junto com o material. Já sou
empresário do ramo de estacionamento, hoje pago um valor alto de prestação; além disso, fiz
muitas melhorias no imóvel, coisas que o outro pastor não fez.
O bispo fez questão de me mostrar o salão, ofereceu-me um café, levou-me ao piso
superior, onde havia uma mesa com dois telefones e uma divisória com foto de Jerusalém.
Hoje estar no Brás é ser honrado, aqui passa muita gente.
19/08/2014
Av. Celso Garcia, 14 - Santuário - Telefone: 2291-6030 (Julia), numa sexta-feira, no
período das 9h00 às 10h30.
Nesse dia, fui informado de que a responsável pelo templo era a sra. Julia e que ela
somente viria na sexta-feira.
19/08/2014
116
Loja Fraga Rocha - Sr. Edilson (católico), comerciante há mais de 15 anos, tem loja
na Celso Garcia há três anos. Relata que primeiro veio a Igreja Universal e depois vieram as
outras.
Ela é puxadora. Na sequência, vieram a Assembleia de Deus e as demais. O Brás é
um bairro central. Há um grande movimento de pessoas no bairro depois da inauguração, em
31/07/14, do Templo de Salomão. Tive alguns clientes evangélicos, mas não são exclusivos
da IURD e de outras denominações; o maior número de clientes são os bolivianos, eles
gostam de música.
19/08/2014
Igreja Evangélica Brasileira, fundo do templo de Salomão. Dia ensolarado. Encontro
um senhor pintando as janelas (batentes). Apresento-me e ele diz seu nome. Pergunto-lhe a
respeito da igreja, ele me conta sobre a história da igreja, que teve início em Santos, na casa
do sr. Adão e de Dona Carolina, no início do século XX.
Por que a escolha do bairro do Brás para sede em São Paulo?
As nossas congregações começam nos lares e não têm nenhuma ligação com
escolha mercadológica.
O que o sr. pode me dizer a respeito dessa expansão de igrejas no Brás e
especialmente na Celso Garcia, com a abertura do Templo de Salomão, que faz fundos para
sua igreja?
Já sabíamos isso, já estava previsto no segundo volume de nossos livros sagrados,
onde menciona que “não deveríamos nos impressionar com o vulto – apenas testemunhar”.
Fomos nós que chegamos primeiro os outros vieram por nossa causa.
19/08/2014
Igreja Plenitude do trono de Deus – 15h. Culto da campanha da pesca maravilhosa.
Um barco posto em cima do púlpito, e filas enormes para receber a oração e a unção da pesca
maravilhosa. Na saída, converso com uma moça que se identifica por Carolina, diz que reside
na Vila Matilde e que frequenta o culto; ouviu na rádio 105,7, dito por membros de outras
igrejas: “Aqui é abençoado”.
19/08/2014
117
Igreja Assembleia de Deus. Por volta das 16 horas. Calçadas livres. Na porta, há uma
grande movimentação de carrinhos de alimentos (milho, pipoca, churrasco, doce). É período
eleitoral. Do portão para dentro, rapazes distribuem “santinhos de candidatos a política
estadual e federal”. Os membros aos poucos vão chegando. São notáveis os diferentes estilos
de vestimentas; entre as mulheres, as mais velhas lembram o Pentecostalismo tradicional. A
abertura e o andamento do culto segue uma liturgia pentecostal. Já passa das 22h00 horas,
há uma grande movimentação na porta da igreja com o comércio de alimentos.
Sigo em direção à estação integrada de trem com o metrô. É um trecho vazio, parece
uma outra avenida, causa medo. Percebem-se portas pequenas iluminadas com acesso ao piso
superior das lojas. Trata-se de Night Clubs. Em um espaço aproximado de 1000km, notei seis
dessas casas noturnas.
22/08/2014
Visita ao Jornal do Brás. Relato depoimento em anexo, à frente.
22/08/2014
Comunidade Missões dos Sinais de Deus. Um salão com garagem, lanchonete e
banheiros e, aos fundos, o salão da igreja. O horário de culto está próximo, há uma
movimentação de pessoas vestidas em semelhança às vestes dos frequentadores das igrejas
pentecostais tradicionais. Pergunto, então, para um obreiro sobre a orientação da
denominação.
É exclusivamente pentecostal?
Ele me responde:
Nós recebemos pessoas de todas as denominações, elas vêm através da rádio.
Trabalhamos com várias campanhas de cura, prosperidade e libertação.
22/08/2014
Mudança de Vida. Converso com um pastor que não se identificou e, por questão
ética, não menciono seu nome. A denominação teve início no interior paulista. Viu-se a
necessidade de se estar na capital.
Então, escolhemos a Celso Garcia, porque é uma região central com estacionamento
e facilidade de transporte, para aqueles que não vêm de carro.
22/08/2014
118
Igreja São João Batista. Converso com o assistente (Leandro).
Estou aqui desde 2007. O estabelecimento das igrejas evangélicas ocorre por causa
do fácil acesso, apesar do transporte ser ruim. Nossos membros são 85% do bairro e da zona
leste. As igrejas evangélicas congestionam o trânsito, não respeitam as vagas demarcadas e as
guias rebaixadas. A igreja católica faz diversos trabalhos sociais, como pastoral da criança,
pastoral do idoso, atendimento esse que se estende a toda a população, inclusive aos
evangélicos.
21/08/2014
Comunidade Cristã Amor e Graça - Bispo Emerson Viana. Sou recebido pela dona
Cida, que tem uma barraca de produtos eletrônicos e de refrigerantes, na porta da igreja. Ela
explica que a igreja está presente nos seguintes locais: Guarulhos, Lapa, São Miguel, Brás.
Rádio FM 88,7. Pessoas do trabalho, pessoas da rádio.
Não tem batismo, não tem ceia, não acreditamos no diabo.
No momento em que me apresento como pesquisador, ela diz para que eu volte outro
dia e converse diretamente com o Bispo. Volto uma semana depois e então sou recebido pela
dona Cida, que tem uma cafeteria na porta da igreja. De um aparelho de telefone na
lanchonete ela avisa uma outra pessoa que tem um rapaz querendo falar com o bispo. Então,
pede-me que espere, que ele vai me atender. Aguardo aproximadamente uma hora. Nesse
período, converso com alguns membros que já estão sentados na lanchonete esperando a
igreja abrir. Quando, então, um jovem me diz que aquele é o dia do seu testemunho.
Passei no vestibular. Deus está me abençoando. Eu era da “lei” (IURD), agora sou
da graça.
Depois da espera, sou muito bem recebido pelo Bispo, que relata o início do seu
ministério oriundo de outra denominação.
22/08/2014
Loja Instinto Br. Converso com Renato, vendedor.
A loja atende todo mundo, mas os nossos clientes são em grande maioria da igreja,
até porque o dono é obreiro na igreja.
22/08/2014
119
Esquina Rua Bresser. Frigo Brás. Faixa “parabeniza a universal por mais esta
conquista”.
27/08/2014
Andando pela Avenida Celso Garcia, avisto de longe - Salão de Beleza “Jeovah
Jireh”, estou no número 1316 da avenida Celso Garcia, o nome do salão me chamou atenção,
trata-se de um termo usado nas denominações evangélicas que significa “O Senhor proverá”.
Entro no Salão e converso com uma das proprietárias que me responde:
– Estou aqui há aproximadamente dois meses; antes estava na Vila Sabrina, apesar de
pagar um aluguel de 1.500,00 e o espaço ser pequeno, aqui é bem melhor.
Pergunto:
– Esse nome bíblico do salão sugere que a senhora seja evangélica, ou estou
enganado?
Ela responde:
– Sim, sou evangélica, sou membro da Universal, foi lá onde eu fiz o curso para abrir
o salão de beleza. Porém, conheço todas as igrejas da região, onde tem uma campanha boa eu
vou.
19/09/2014
Igreja Jesus Fonte de Vida. Converso com a pastora. Hoje é o dia da pintura da Igreja
para sua inauguração.
– Somos de Carapicuíba, Itapevi, esse templo é resposta de Deus para os nossos
sonhos de expansão para o bairro Brás e futuramente para o bairro de Santo Amaro.
ANEXO B - Quadro 6 – Denominações Presentes no Corredor, no início da Pesquisa,
em 2013
Quadro 6 – Denominações Presentes no Corredor, no início da Pesquisa, em 2013
Denominações Endereços
Paróquia Bom Jesus do Brás Av. Rangel Pestana, 1421
Comunidade Essência de Deus Av. Rangel Pestana, 1897
Catedral Carismática das Nações Av. Rangel Pestana, 2345
120
Santuário Espiritualista de São Paulo Av. Celso Garcia, 14
Santuário dos Santos Anjos Av. Celso Garcia, 174
Centro de Meditação Cristã Av. Celso Garcia, 188
Igreja Nova Geração Mundial de Deus Av. Celso Garcia, 238
Comunidade Cristã Amor e Graça Av. Celso Garcia, 243
Igreja Universal do Reino de Deus Av. Celso Garcia, 499
Igreja Ev. Assembleia de Deus M. Brás Av. Celso Garcia, 560
Igreja Mundial de Cristo Av. Celso Garcia, 777
Igreja Pentecostal Concerto Eterno Av. Celso Garcia, 816
Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus Av. Celso Garcia, 899
Igreja Evangélica Avivamento em Glória Av. Celso Garcia, 1010
Catedral da Bênção Av. Celso Garcia, 1081
Igreja Apostólica Geração Eleita Av. Celso Garcia, 1515
Igreja Pentecostal Deus é Amor Av. Celso Garcia, 2214
Igreja do Evangelho Pleno em Cristo Av. Celso Garcia, 3478
Igreja Evangélica Eterna Trindade Av. Celso Garcia, 3503
Bola de Neve Av. Celso Garcia, 3147
Igreja Internacional da Graça de Deus Av. Celso Garcia, 3757
Ministério Plenitude do Avivamento AV. Celso Garcia, 4217
Igreja Nova Geração Mundial de Deus Av. Celso Garcia, 4224
Igreja Ev. Ass. de Deus M. do Belém Av. Celso Garcia, 4906
Igreja Pentecostal Deus é Amor Av. Celso Garcia, 5426
Ministério Apostólico de Reaviva mento Profético Av. Celso Garcia, 5436
Igreja Internacional da Graça de Deus Av. Celso Garcia, 5519
Igreja Batista Palavra Viva Av. Celso Garcia, 5518
Comunidade Crista Paz e Vida Av. Celso Garcia, 6076
Fonte: Crédito do Autor visita aos endereços – Março / 2013
121
ANEXO C - Brás: considerações históricas, étnicas e geográficas sobre o bairro da Fé -
Por Eduardo Cedeño Martellotta, jornalista do Jornal do Brás
O bairro do Brás tem suas origens no chacareiro português José Brás, que, por volta de
1769, construiu a Capela Bom Jesus de Matosinhos, que deu lugar à atual Igreja Bom Jesus
do Brás, localizada no Largo do Brás, bem na avenida Rangel Pestana.
Porém, a fundação oficial do Brás deu-se em 8 de junho de 1818, por meio do Decreto
do Rei D. João VI, quando foi criada a “Freguesia do Brás”.
O bairro era, então, uma imensa copa verdejante, como lembra Milton George Thame,
diretor-presidente do Jornal do Brás.
Com a chegada de imigrantes portugueses, italianos, espanhóis, alemães e japoneses
na Hospedaria dos Imigrantes, no ano de 1890, o Brás começa a se desenvolver. Parte desses
imigrantes teve como destino as fazendas do interior de São Paulo, e outra parte se vinculou
às indústrias do Brás, do Pari, do Belém e da Mooca.
Dentre as indústrias, destacaram-se as Indústrias Matarazzo.
A Chácara Bresser tomava conta do bairro, em área imensa.
No Brás, os imigrantes moravam em cortiços das ruas Caetano Pinto e Carneiro Leão,
onde havia rixas entre espanhóis e italianos.
Na década de 1950, começam a chegar os migrantes nordestinos, que desembarcavam
na Estação do Norte – atual Estação Brás da CPTM –, Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos. Os árabes destacavam-se no comércio de roupas, e vieram em seguida
coreanos e bolivianos, já na década de 1990.
As avenidas Celso Garcia e Rangel Pestana e suas adjacências sempre atraíram, no
passado, muitos artistas e cantores de nível internacional que ali se apresentavam em clubes
como o Independência, que funcionava na Celso Garcia, acima das antigas Lojas Pirani. O
Independência (que fica hoje na rua Dr. Carlos Botelho, ao lado da Igreja Universal do Reino
de Deus) tinha um lindo tapete vermelho. Os cinemas eram diversos – cito aqui Eden-Theatre
(pioneiro no bairro), Cinema Popular, Piratininga, Amerikan Cinema, Brás-Bijou, Brás-
Cinema, Ideal, Isis-Theatre, Pavilhão Oriente, Avenida, Eros, Salão Cinema, Savoy, São
Sebastião, São José, Brás Politheama, Celso Garcia, Mafalda, Olímpia, Babilônia, Oberdã,
122
Roxy, Universo, Fontana e do Teatro Colombo. A Celso Garcia era mais romântica, nela
aconteciam os footings (paqueras), onde de um lado ficavam as moças e de outro, os rapazes.
Embora o Brás tenha hoje aproximadamente 9.000 lojas, de todos os tipos – tecido,
plástico, confecção, eletrônicos, móveis, madeira, borracha, etc. –, a religião está presente no
dia a dia dos moradores e frequentadores das dezenas de igrejas existentes no bairro. A
maioria dos 25.000 moradores do Brás (Censo de 2010) é católica, sendo que os imigrantes
italianos veneram as imagens de São Vito Mártir e Nossa Senhora de Casaluce; portugueses e
andinos (bolivianos, peruanos e paraguaios) vão às igrejas Bom Jesus e São João Batista, no
Brás e às igrejas Santa Rita, Santo Antônio e São Pedro, no Pari. Os ortodoxos gregos têm
como lugar sagrado a pequena igreja situada no meio das lojas da rua Bresser. Os árabes
islâmicos preferem a mesquita do Brás, que fica na rua Elisa Whitaker.
As igrejas evangélicas, que são maioria, têm como público os moradores de outros
bairros distantes do centro da cidade e de municípios da Grande São Paulo. Eles veem nas
avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia um corredor de fácil ligação do centro com a zona
leste da cidade através dos ônibus. A estação Brás do Metrô e da CPTM integra essa
facilidade de locomoção. O corredor abriga essas igrejas evangélicas, e outras ainda,
pentecostais, carismáticas, etc. Outro chamariz do público evangélico certamente são as lojas
do bairro, que geram multidões nas ruas Oriente, Maria Marcolina, Silva Teles e Largo da
Concórdia.
O corredor Rangel Pestana-Celso Garcia sempre foi religioso, desde 1841, quando
romarias caminhavam a pé da Sé até a Penha, mais especificamente até a Igreja de Nossa
Senhora da Penha. A Igreja Bom Jesus do Brás, por sua vez, era pouso obrigatório dos
romeiros e viajantes que se dirigiam à Penha. Quando a cidade era acometida de secas e
epidemias, a imagem de Nossa Senhora da Penha fazia paragem na Igreja Bom Jesus e depois
seguia para a Sé.
Um dos locais que mais recebe público atualmente é a Igreja Universal do Reino de
Deus, situada na av. Celso Garcia, 499 – a primeira existente na cidade de São Paulo –, aberta
no ano de 1984, cuja propriedade é do bispo Edir Macedo. Mais recentemente, após a
inauguração do Templo de Salomão, também de Macedo, no dia 31 de julho de 2014, uma
aglomeração de pessoas tem ido ao local, nas proximidades da IURD, no número 605 da
Celso Garcia.
123
As pessoas vão à igreja em busca de uma solução para os seus problemas, sejam eles
financeiros, de saúde ou de relacionamento. Acreditam que a imagem do santo ou a palavra
do bispo ou do pastor é milagrosa ou que tem poder, e a igreja é vista como um lugar sagrado
e de oração. Mas em todas elas está a palavra de Deus ou de Alá, e também a de Jesus Cristo,
como salvador e pregador de um mundo de paz, união, fraternidade e amor.
124
7.2 ANEXO D – Fotos das Denominações
Foto 1 - Várzea do Carmo – ano: 1860
Fonte: Acervo fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo - Tombo: DC/0000382/E
125
Foto 2 – Paróquia Bom Jesus de Matosinho
Fonte: Site da Paróquia -< http://www.tvagir.com.br/not%C3%ADcias/24-par%C3%B3quia-bom-
jesus-do-br%C3%A1s.html>
Foto 3 - Igreja Nossa Senhora de Casaluce
Crédito: Foto do autor – Vista frontal da Igreja Nossa Senhora de Casaluce.
126
Foto 4 - Paróquia São Vito Mártir
Crédito: Foto do autor – Vista frontal da paróquia São Vito Mártir
Foto 4 - Comunidade Essência de Deus – Paróquia Bom Jesus dos Milagres
Fonte: Elaborada a partir do Google Street View, em setembro de 2014.
127
Foto 5 - Catedral Carismática das Nações
Fonte: Eduardo Martellotta
Foto 6 - Igreja Internacional do Poder da Fé
Fonte: Eduardo Martellotta
128
Foto 7- Santuário Espiritualista de São Paulo
Fonte: Elaborada a partir do Google Street View, em setembro de 2014.
Foto 8- Santuário dos Santos Anjos
Fonte: Eduardo Martellotta
129
Foto 9- Igreja Jesus Fonte de Vida
Fonte: Eduardo Martellotta
Foto 10 - Comunidade Cristã Amor e Graça
Fonte: Eduardo Martellotta
130
Foto 11 - Igreja Universal do Reino de Deus
Fonte: Eduardo Martellota
Foto 12 - Igreja Assembleia de Deus – Ministério do Brás
Fonte: Eduardo Martellota
131
Foto 13 - Paróquia São João Baptista do Brás
Fonte: Eduardo Martellota
Foto 14 - Templo de Salomão
Fonte: Eduardo Martellota
132
Foto 15 - Ministério Mudança de Vida
Fonte: Eduardo Martellota
Foto 15 - Plenitude do Trono de Deus
Fonte: Eduardo Martellota
133
Foto 16 - Catedral da Bênção
Fonte: Eduardo Martellota
Foto 17 – Igreja Missão dos Sinais de Deus
Fonte: Eduardo Martellota
134
Foto 18 – Aspectos da Avenida
Fonte: Eduardo Martellota
135