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8/19/2019 Jack London - O Cruzeiro Do Snark http://slidepdf.com/reader/full/jack-london-o-cruzeiro-do-snark 1/199 O CRUZEIRO DO SNARK Jack London Ler Jack London, é como sairmos duma viela e vermo-nos ante a imensidão do mar - aspirando o ar salino, sentindo a tensão dos músculos, escutando o imperioso apelo duma vida de trabalho e de acção. Leónid Andreiev (imaem! " #nark em construção (imaem! "s dois barcos dei$avam pouco espaço no convés (imaem! %ar calmo (imaem! "s obscuros seredos da naveação (imaem! &rande &ol'inho (imaem! " omem )ature*a a bordo do #nark (imaem! +i'iculdade em dominar a vela (imaem! " #nark nas ilhas #uva-idi (imaem! JA/ L")+") " 012340" +" #)A0/ 5radu*ido do oriinal americano por Ana 6arradas 3+4783# A)59&")A L4#6"A : ;<<= 5>tulo oriinal? 5he ruise o' the #nark Autor? Jack London 5radução? Ana 6arradas apa? Ant>ona otocomposição? Al'anumérico 4mpressão? 4A& - Artes &r@'icas

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O CRUZEIRO DO SNARK 

Jack London

Ler Jack London, é como sairmos duma viela e vermo-nos antea imensidão do mar - aspirando o ar salino, sentindo atensão dos músculos, escutando o imperioso apelo duma vidade trabalho e de acção.Leónid Andreiev

(imaem!" #nark em construção

(imaem!"s dois barcos dei$avam pouco espaço no convés

(imaem!%ar calmo

(imaem!"s obscuros seredos da naveação

(imaem!&rande &ol'inho

(imaem!" omem )ature*a a bordo do #nark

(imaem!

+i'iculdade em dominar a vela

(imaem!" #nark nas ilhas #uva-idi

(imaem!

JA/ L")+")" 012340" +" #)A0/5radu*ido do oriinal americano por Ana 6arradas3+4783# A)59&")A

L4#6"A : ;<<=

5>tulo oriinal? 5he ruise o' the #narkAutor? Jack London5radução? Ana 6arradasapa? Ant>onaotocomposição? Al'anumérico4mpressão? 4A& - Artes &r@'icas

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opriht? (c! Ant>ona para esta tradução, ;<<=

;B edição portuuesa? Julho de ;<<=

Ant>ona? 3ditores 0e'ract@rios Apartado C;<D ;EFC Lisboaode$+epósito leal nG? ;DE ;DDH<=4#6)? <ID-F=-F<-I

KA0AA0%4A)A 4%3+4A5A +" #)A0/13 "%A)+AMA " L3%3, +3 )"453 "1 +3 +4A, 1A)+" 3)50NMA%"#"1 #A9A%"# +3 1% K"05" "1 012NMA%"# 1% 3#50345", A54%")340A 3% 5"+A# A# 3%30&O)4A# 13, A" 4% +3 +"4# A)"#)" %A0, "0"1 +3 +3#&"#5" 1A)+" A M4A&3% 53M3 +3 #304)5300"%K4+A

P"uviste como sopra o vento do laro,3 como bate a chuva no mar altoQ"uviste a canção... sem 'imR sem 'imRAvança de novo na tua rotaRP

AK951L" 4

4ntrodução

5udo começou na piscina de &len 3llen. 3ntre merulhos, era

nosso h@bito deitarmo-nos na areia e dei$ar os nossoscorpos o*ar o ar tépido e imprenar-se de sol.0oscoe sabia velear e eu tinha andado alum tempo no mar.4nevitavelmente, 'al@mos de barcos, sobretudo de barcospeSuenos e do modo valoroso como se comportam no mar.5om@mos como modelo o capitão #locum, Sue em trTs anos deua volta ao mundo no #pra. (;!+eclar@mos Sue não t>nhamos medo de dar a volta ao mundonum barco peSueno de do*e metros, por e$emplo, e arantimosSue ostar>amos de 'a*er essa e$periTncia. Kor 'im,assever@mos Sue nada nos daria mais pra*er.

- Mamos a issoR - dissemos, por brincadeira. uandoperuntei a harmian, a sós, se estava de 'actointeressada, respondeu Sue sim e Sue nem Sueria acreditarSue pudesse acontecer.+a ve* seuinte em Sue nos pusemos ao sol, na piscina,insisti com 0oscoe?- M@ l@, vem da> connoscoR

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)ota ;? 3sta viaem a bordo do veleiro #pra 'oi descritapelo naveador solit@rio Josuah #locum no livro #ailinAlone Around the Uorld (;=<<!, Sue se tornou um cl@ssico daliteratura de viaens mar>timas (). da 5.!.

;E

alava a sério e ele tomou-me V letra, porSue peruntouloo?- uando partimosW3u tinha de construir uma casa no rancho e plantar umpomar, uma vinha e sebes de arbustos, além de muitas outrascoisas. Kens@mos Sue ter>amos de adiar a viaem para dali aSuatro ou cinco anosQ mas depois começou a e$ercer-se sobrenós o apelo da aventura. Kor Sue não partir naSuelemomentoW 3ra preciso aproveitar enSuanto 'Xssemos novos.Kod>amos dei$ar o pomar, a vinha e as sebes a crescer

enSuanto estivéssemos 'ora. uando volt@ssemos, estariam namelhor 'aseQ a casa, poder>amos viver no celeiro até estarpronta.3 assim decidimos partir em viaem, dando in>cio aconstrução do #nark. +emos-lhe este nome por não noslembrarmos de mais nenhum. orneço esta in'ormação a pensarnos Sue possam ular Sue a desinação tem alumsini'icado especial."s nossos amios não compreendem as ra*Yes da nossa viaem.3ncolhem os ombros, emem e levantam as mãos ao alto.Apesar de todas as nossas e$plicaçYes, não entendem Sue

seuimos a linha de menor resistTnciaQ Sue nos é mais '@cilaventurarmo-nos ao mar num barco peSueno do Sue 'icar emterra, da mesma 'orma Sue lhes é mais '@cil a eles 'icar emterra do Sue aventurar-se ao mar num barco peSueno. 3steestado de esp>rito resulta da importZncia e$aerada Suecon'erem a si próprios. )ão conseuem abstrair-se das suaspessoas, não são capa*es de ser obectivos para ao menosreconhecer Sue a linha de menor resistTncia não énecessariamente a mesma em toda a ente. uerem tomar assuas próprias inclinaçYes como bitola para os deseos,ostos e desostos de toda a ente. )ão é usto, dio-lhes.

%as não cheam a ter serenidade para me ouvir, acham Sueestou louco. 3m compensação, sinto simpatia

;

por eles - é a minha maneira de ser. ompreendo-os? todostemos tendTncia para pensar Sue h@ um desarrano nosprocessos mentais dos Sue não estão de acordo connosco.

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Kara encurtar ra*Yes, dio-lhes? vou porSue me apetece.3sta e$plicação, de uma pro'undidade a Sue a 'iloso'ia nãopode aspirar, resume a essTncia da vida. uando umindiv>duo, depois de ponderosos e lonos arra*oados deinspiração pro'unda, decide, de repente, Papetece-meP e 'a*o contr@rio do aconselhado, deita a 'iloso'ia Vs urtias. [esse Papetece-meP Sue leva o bTbado a beber e o m@rtir a'laelar-seQ Sue 'a* um homem devasso e outro anacoretaQSue leva aluns a buscar a 'ama e lança outros na busca doouro, do amor e de +eus. A 'iloso'ia é muitas ve*es amaneira de um homem e$plicar os seus próprios apetites.%as voltemos ao #nark e por Sue cara de @ua me apetecedar a volta ao mundo nele. " meu sistema de valores tomapor base as coisas Sue mais me aradam e aSuilo Sue mais mearada é a reali*ação pessoal - não a reali*ação através doreconhecimento dos outros, mas a reali*ação pelo pra*er Sueela me d@. [ a velha sensação Sue se apodera de uma pessoa

Suando conseue alo pelas suas próprias mãos. %as, no meucaso, a reali*ação pessoal tem de ser concreta. Kre'iroanhar uma corrida de natação na minha piscina ou manter-me'irme em cima de um cavalo Sue procura atirar-me ao chão, aescrever a obra-prima do romance americano. &ostos não sediscutem.aver@ Suem pre'ira, pelo contr@rio, escrever o melhorromance americano a anhar uma corrida de natação ou domarum cavalo.5alve* a proe*a mais notória da minha vida, o meu momentode lória, tenha acontecido Suando ia nos meus ;I anos,

andava numa oleta ao laro da costa aponesa e 'omossurpreendidos por um tu'ão. 5odos os tripulantes tinhamtrabalhado a noite inteira no convés. Mieram acordar-me

;I

ao beliche, Vs sete horas da manhã, para tomar conta doleme. )em uma vela 'ora içada. #eu>amos V 'rente do tu'ãocom os panos recolhidos e mesmo assim o barco avançavadepressa. "s vaalhYes 'ormavam-se a'astados uns dos outrosde um oitavo de milha e o vento, varrendo as cristas,

açoitava no ar um polvilhado de espuma tão denso Sue nãoconseu>amos ver a uma distZncia maior do Sue duas vaas.uase não domin@vamos a oleta, Sue balouçava ora parabombordo, ora para estibordo, uinava e mudava de direcçãoentre sudeste e sudoeste e ameaçava a todo o momento virar-se, Suando as vaas 'ormid@veis lhe levantavam a popa. #enau'ra@ssemos, perder-se-iam o barco e todos ostripulantes, sem salvação poss>vel.

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Kus-me ao leme. " capitão, sabendo-me tão ovem, observou-me por momentos, receoso de me 'altarem as 'orças e osanue 'rio necess@rios. %as Suando me viu vencer v@riosassaltos do mar, desceu para tomar o peSueno almoço. A proae V ré, todos os marinheiros estavam a comer. #e o barco sevirasse, nenhum deles teria tempo de chear ao convés.+urante Suarenta minutos 'ui o timoneiro solit@rio,respons@vel pelas vidas de vinte e dois homens e pela sorteda oleta, 'uriosamente 'ustiada.A certa altura, uma vaa cobriu o barco. Mi-a crescer e,semi-a'oado pelas toneladas de @ua Sue se abatiam sobremim, corrii o curso de modo a não perder o controlo daembarcação. Ao 'im de uma hora, suado e sem 'orças, 'uirendido. %as conseuiraR om as minhas próprias mãos, e semSuebrar, tinha estado ao leme e mantido na rota certa cemtoneladas de madeira e 'erro, no meio de outras tantastoneladas de vento e ondas.

" Sue me aradava era a reali*ação - e não o 'acto de a verreconhecida por vinte e dois homens. )o 'im desse ano,metade deles estavam mortos, mas nem por isso o meu orulhodiminuiu outro tanto. 5odavia, con'esso? não sou

;=

avesso a um peSueno público. %as tem de ser muito restritoe composto por ente Sue eu pre*e e Sue me pre*e também.)essas alturas penso Sue, ao conseuir reali*ar-mepessoalmente, usti'ico a estima Sue me dedicam. %as isto

nada tem a ver com a 'elicidade Sue me proporciona a'açanha em si. 3ssa é toda minha e dispensa testemunhas.uando 'aço alo de not@vel, e$ulto, todo eu irradio lu* etenho consciTncia do meu orulho pessoal, meu e só meu. [uma coisa orZnica, Sue penetra em cada 'ibra do meu ser.5rata-se de alo muito natural e simples? a satis'ação Sueadvém da harmonia com o meio ambiente. 3m suma, é o T$ito." sobrevivente con'irma o triun'o da vida e o triun'o é-nostão necess@rio como o ar Sue respiramos. Levar a cabo um'eito di'>cil é harmoni*armo-nos triun'antemente com umambiente Sue nos submete a duras provas. uanto mais

di'>cil, maior a satis'ação do T$ito. [ o Sue se passa como homem Sue salta da prancha para a piscina e, com meiarevolução do corpo na direcção contr@ria, entra na @ua decabeça. Assim Sue salta da prancha, o seu meio ambientetorna-se 'ero*, e 'ero* seria o castio a so'rer se'alhasse e ca>sse na @ua de chapa. laro, nada o obria acorrer semelhante risco. Kodia muito bem optar por sedei$ar 'icar V beira da @ua, num ambiente calmo e

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arad@vel, rodeado de ar estival, de sol e terra est@vel.%as as coisas não se passam assim? nesse instante 'ua* emSue se lança no ar, vive uma e$periTncia Sue nunca seriasua se 'icasse V beira da @ua.Kela parte Sue me toca, pre'iro ser esse homem a 'a*erparte dos Sue 'icam sentados a vT-lo evoluir. [ por issoSue construo o #nark. #ou 'eito assim? apetece-me e prontoRA volta ao mundo sini'ica passar por momentos especiais navida. Kensem num momento e analisem-no. ASui estou eu, umanimal*inho chamado homem - um pedaço de

;<

matéria animada de vida, ;E Suilos de carne, sanue,nervos, tendYes, ossos e cérebro -, tudo tenro e delicado,suscept>vel de se maoar, 'al>vel e 'r@il. #e lançar umsoco com o punho 'echado ao 'ocinho de um cavalo espantado,

parto um osso da mão. #e puser a cabeça debai$o de @uadurante cinco minutos, a'oo-me. #e cair de uma altura deseis metros, 'ico todo partido. #ou uma criatura sens>velVs temperaturas. 1ns Suantos raus abai$o de *ero e caem-meos dedos e as orelhas. 1ns Suantos raus acima dos CF e aminha pele reta e separa-se da carne Sueimada e em chaa.1m pouco mais de 'rio ou calor, e apaam-se em mim a vida ea lu*. 1ma ota de veneno inectada por uma v>bora no meucorpo e dei$o de me mover... para sempre. #e uma bala deespinarda me entrar na cabeça, merulho na noite eterna.Mulner@vel e 'r@il, um pedaço de vida palpitante, com a

consistTncia da eléia... sou só isso e nada mais. A minhavolta estão as randes 'orças naturais \ ameaças colossais,titãs de destruição, monstros sem sentimentos Sue meinoram como eu inoro os rãos de areia Sue esmao aocaminhar. )ão tTm noção da minha e$istTncia, não mereconhecem, são inconscientes, desapiedados e amorais. #ãoos ciclones e os tornados, os relZmpaos e os trovYes, asmarés e os maremotos, as correntes submarinas e as trombasde @ua, os randes turbilhYes e os remoinhos, osterramotos e os vulcYes, as vaas Sue submerem os randesnavios, esmaando homens ou varrendo-os para o mar e para a

morte - e esses monstros insensatos não reconhecem estapeSuena criatura sens>vel, toda 'eita de nervos e debilida-des, a Suem os homens chamam Jack London, Sue se reconhececomo pessoa v@lida e como ser bastante superior.)a con'usão caótica causada pelo con'lito destes enormestitãs destrutivos, tenho de encontrar o meu prec@rio

DF

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caminho. " pedaço de vida Sue sou e$ultar@ ao triun'arsobre eles. )a medida em Sue conseuir esSuivar-se-lhes oupX-los ao meu serviço, o pedaço de vida Sue sou imainar-se-@ como um deus. [ bom dominar a tempestade e sentir-sedivino. Atrevo-me a a'irmar Sue, para uma porção 'inita deeléia palpitante, a sensação de partilhar dessa nature*asuperior é muito mais loriosa do Sue a Sue sente um deusperante a sua divindade.3stou perante o mar, o vento e as marés. Kerante o mar, ovento e as marés do mundo inteiro. 3stou perante o meioambiente 'ero*. 3stou perante uma harmonia di'>cil, Suealcançarei para simples deleite da peSuena vaidadelateante a Sue se resume o meu ser. Apetece-me. #ou 'eitoassim. [ a minha 'orma particular de soberba, e nada mais.Além disso, h@ outro aspecto na viaem do #nark. J@ Sueestou vivo, Suero conhecer o mundo, não me contento com uma

cidade*inha ou um vale. Kouco plane@mos Suanto aitiner@rio. #ó uma coisa é certa? o nosso primeiro portoser@ onolulu. A não ser por umas Suantas vaaseneralidades, não temos ideia aluma de Sual ser@ a escalaa seuir ao avai. +ecidiremos Suando estivermos pró$imos.+e 'orma eral, sabemos Sue iremos vauear pelos mares do#ul, visitaremos #amoa, a )ova 2elZndia, a 5asmZnia, aAustr@lia, a )ova &uiné, 6ornéu e #amatra, e continuaremos,passando pelas ilipinas, até ao Japão. +epois seuiremospela oréia, hina, >ndia, mar Mermelho e mar %editerrZneo.+epois disso, a viaem torna-se tão vaa Sue não consio

descrevT-la, embora haa certas coisas Sue 'aremos decerte*a? esperamos passar um a v@rios meses em cada pa>s da3uropa." #nark viaar@ V vela. A bordo teremos um motor aasolina, mas só ser@ usado em caso e$tremo, como em maralteroso entre reci'es e bai$ios, ou Suando uma súbitaacalmia numa corrente r@pida tornar impotente um barco

D;

V vela. A mastreação ser@ a de um briue. 1m briue é um

barco Sue não é bem um escaler, mas também não é uma escuna(;!. 1ltimamente tem-se conclu>do Sue o escaler é o idealpara viaens de cru*eiro. " briue conserva as vantaens doescaler nesse aspecto e além disso conseue manter alumasdas Sualidades da escuna, em relação Vs velas. )o entanto,o Sue aSui 'ica dito não pode ser tomado V letra, porSuesão só teorias na minha cabeça. )unca veleei num briuenem nunca vi nenhum, mas a ideia convence-me. 3sperem até

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eu me 'a*er ao mar e depois poderei di*er-vos alo maisacerca das Sualidades do briue, como veleiro e comocru*eiro.omo estava planeado, o #nark devia ter ;D,< metros pela1nha de @ua. %as descobrimos Sue não 'icava espaço para acasa de banho e por isso aument@mos-lhe o comprimento para;],I metros. A sua larura m@$ima são C metros e meio. )ãotem cabina de convés nem 'undo. A cabina principal mede ;metro e =F e a coberta, com uma escotilha V 'rente, só abrepara duas escadas. " 'acto de não haver cabina a Suebrar ocorpo do convés dar-nos-@ mais seurança no caso de vaasiantescas se abaterem com todo o seu peso sobre o barco.1m poço do leme rande e espaçoso, a'undado abai$o doconvés, com amurada alta e escoamento autom@tico, dar@alum con'orto Vs nossas horas de mau tempo.)ão haver@ tripulação. "u antes, a tripulação ser@constitu>da por mim, harmian e 0oscoe (D!. Mamos ser nós a

e$ecutar tudo. #o*inhos, 'aremos a circum-naveação dolobo. uer cheuemos a bom porto, Suer nos a'undemos,'aremos

)ota ;? " briue tem um mastro rande e um mastro deme*ena. 3ste est@ implantado na parte da 'rente do cadaste,enSuanto o escaler tem-no na parte de tr@s da madre do leme(). da 5.!.)ota D? 0oscoe era tio de harmian (). da 5.!.

DD

tudo so*inhos. laro Sue haver@ um co*inheiro e um rumete?não h@ necessidade de sermos nós a co*inhar, lavar a louçae pXr a mesa. #e Suiséssemos 'a*er esse tipo de coisas,'ic@vamos em terra. Além disso, temos de manter turnos ecomandar o barco. Acresce Sue tenho de me desempenhar daminha 'unção de escritor para prover ao nosso sustento, Vrenovação das velas e do cordame, e V manutenção do #narkem per'eito estado de naveabilidade. +epois h@ também orancho, onde os meus assalariados se encarrearão de 'a*ercrescer a vinha, o pomar e as sebes.

uando aument@mos o comprimento do #nark de 'orma aconseuir espaço para uma casa de banho, descobrimos Sueela não ocupava tanta @rea como previsto, pelo Sueaproveit@mos para instalar um motor de IF cavalos, Sue nosdar@ uma velocidade de nove nós. ual ser@ o rio capa* decorrer tanto assimWontamos 'a*er bastante naveação interior, possibilitadapelas peSuenas dimensYes do #nark. uando penetrarmos pela

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costa, o barco não ter@ mastros e recorreremos ao motor.Kassaremos meses nos canais da hina e no rio ^an-5sé, seobtivermos autori*ação do overno. 3sse ser@ um dosobst@culos das nossas incursYes em terra - autori*açãoovernamental. %as se a conseuirmos, nada nos impedir@ denos embrenharmos pelo interior.uando chearmos ao )ilo, podemos seuir rio acima. Kodemospercorrer o +anúbio até Miena, o 5amisa até Londres, e o#ena até Karis, atracando em 'rente do uartier Latin comum cabo V popa, virada para )otre +ame e outro a proa,virada para a %orue. Kodemos sair do %editerrZneo e passardo #aXne para o %arne, pelo canal de 6ourone, e do %arneentrar no #ena e seui-lo até avre.+epois de atravessarmos o AtlZntico para os 3stados 1nidos,podemos subir o udson, cru*ar o canal 3rie, atravessar os&randes Laos, dei$ar o lao %ichian em

D]

hicao, alcançar o %ississippi através do rio 4llinois epelo canal de liação e descer o %ississippi até ao ol'odo %é$ico. +epois ainda temos os randes rios da América do#ul. #eremos randes conhecedores da eora'ia Suandovoltarmos V ali'órnia.uando se constrói uma casa, surem sempre dúvidasQ mas seostarem desse desa'io, aconselho-vos a construir um barcocomo o #nark. Kensem só na consumição provocada pelospormenores. Mea-se o motor? Sual é o melhor tipo de motorW

A dois tempos, a trTs, a SuatroW Até se me retam os l@biosde pronunciar tantas palavras esSuisitasQ tenho o cérebromassacrado por ideias ainda mais estranhas e desastadopelas viaens 'eitas pelos dom>nios pedreosos de novosconceitos. #istemas de inição? manética ou por bateriaW1tili*amos pilhas secas ou bateriasW Karece conveniente abateria, mas necessita de um d>namo. om Sue potTnciaW 3Suando tivermos instalado uma bateria e um d>namo, édisparate não eSuipar o navio com lu* eléctrica. +epoissure a discussão sobre Suantas lZmpadas e de Suantasvelas. A ideia é esplTndida, mas a lu* eléctrica e$iir@

uma bateria mais potente o Sue, por sua ve*, reSuer umd>namo mais possante.3 @ aora, por Sue não eSuiparmo-nos com um proectorW#eria de e$trema utilidade. %as o proector consome tantaelectricidade Sue, Suando o liarmos, rebentar@ com todasas outras lu*es. Moltamos a percorrer o caminho espinhosoda busca de mais potTncia para a bateria e para o d>namo.+epois, Suando 'inalmente resolvemos o problema, aluém

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problemas e anhar dinheiro para os resolverW )em 0oscoenem eu sabemos nada de naveação e o Merão @ l@ vaiQpartiremos dentro de pouco tempo, os problemas são cada ve*mais complicados e os co'res estão va*ios. 6om, de SualSuerdas 'ormas, são precisos anos para aprender a marear eSualSuer de nós @ naveou. #e não tivermos tempo, levamosconnosco os livros e os instrumentos e aprendemos a navearno mar, entre #ão rancisco e o avai.@ um aspecto in'eli* e preocupante na viaem do #nark.0oscoe, Sue ser@ o meu co-naveador, é disc>pulo de rus0. 5eed. "ra rus 0. 5eed tem uma cosmoloia di'erente daSue é eralmente aceite. " meu amio partilha das suasconvicçYes, o Sue o leva a acreditar Sue a super'>cie da5erra é cXncava e portanto vivemos no interior de umaes'era oca. Assim, embora nos preparemos para navear numbarco, o #nark, 0oscoe viaar@ V volta do mundo pelo lado

de dentro, enSuanto eu viaarei pelo lado de 'ora.alaremos disto depois e o mais certo é chearmos a umaconclusão comum antes do termo da viaem. 5enho esperançasde o convencer a 'a*er a viaem pelo lado de 'ora, enSuantoele est@ iualmente convicto de Sue eu estarei dentro da5erra antes de reressarmos a #ão rancisco. #ó não seicomo vai 'a*er-me passar pela crosta terrestre, mas 0oscoeé um homem cheio de recursos.

K. #. - "utra ve* o motorR J@ Sue o compr@mos e tambémtemos d>namo e bateria, por Sue não encomendar um

'rior>'icoW &elo nos trópicosR Krecisamos dele como de pãopara a boca. 3ntão venha de l@ o 'rior>'icoR Aora estoumerulhado na Su>mica. +oem-me os l@bios, tenho a cabeça em@ua... como vou eu arranar tempo para estudar naveaçãoW

D

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1ma coisa inconceb>vel e monstruosa

- )ão olhes a despesas - disse eu a 0oscoe. - A bordo do#nark temos de ter tudo da melhor Sualidade. 3 não vamospreocupar-nos com a decoração. Kara mim, t@buas de pinhosimples são acabamento su'iciente. %as apostemos 'orte naconstrução. ue o #nark sea o mais estanSue e 'orte dosbarcosR )ão importa Suanto custe 'a*T-lo assimQ viia paraSue o 'açam estanSue e 'orte enSuanto eu continuo aescrever e a anhar dinheiro para o paar.

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oi o Sue 'i*... o melhor Sue pudeQ porSue o #nark consumiamais dinheiro do Sue aSuele Sue eu conseuia anhar. Ali@s,de ve* em Suando tinha de pedir emprestado, paracomplementar os meus rendimentos. "ra pedia mil dólares,ora dois mil, ora cinco mil. 3 sempre a tratrbalhar, todosos dias, aplicando a totalidade dos anhos na aventura.5ambém trabalhava aos dominos e não tive 'érias. %as valiaa pena. #empre Sue pensava no #nark, conclu>a Sue valia apena.Mea bem, caro leitor, como o #nark é sólido? tem ;],Imetros pela linha de @ua. A reiada, = cent>metros derossuraQ o tabuado é de I,EQ as t@buas do convés tTm umaespessura de mais de cent>metrosQ e em todo o madeiramenão h@ um único remendo. #ei disso, porSue encomendeimadeiras especiais de Kuet #ound. +epois, tem Suatrocompartimentos V prova de @ua, o Sue Suer

DI

di*er Sue o seu calado é interrompido por trTs tabiSuesestanSues. +esta 'orma, por maior Sue sea um rombo nocasco, só um dos compartimentos se encher@ de @ua."s outros trTs mantT-lo-ão a 'lutuar e, além disso,permitir-nos-ão cala'etar o rombo. 3stes compartimentos tTmoutra virtude? o último, mesmo unto V ré, est@ eSuipadocom seis tanSues Sue contTm mais de Suatro mil litros deasolina. "ra a asolina é um produto muito perioso paraser transportado no casco de um barco peSueno Sue voue no

mar alto. %as Suando os seis tanSues estanSues estãoencerrados num compartimento hermeticamente 'echado,isolado do resto do navio, o perio é redu*ido ao m>nimo." #nark é um veleiro. oi constru>do para velear a maiorparte do tempo. %as por medida de precaução, como au$iliarda naveação, 'oi-lhe instalado um motor de IF cavalos. [um motor bom e potente. 3u Sue o dia, Sue pauei para motra*erem de )ova 4orSue. Além disso, no convés, por cima domotor, h@ um uincho, uma coisa maravilhosa. Kesa centenasde Suilos e não ocupa espaço no poço do leme. 6em vTem,seria rid>culo içar a Zncora V mão, Suando temos um motor

de IF cavalos. Kor isso instal@mos o uincho, abastecendo-ocom eneria do motor através de um transmissor com peças'eitas especialmente numa 'undição de #ão rancisco." #nark 'oi concebido para ser con'ort@vel e nada se poupoua esse respeito. Kor e$emplo, tem uma casa de banho,peSuena e compacta, é verdade, mas com todas as comodidadesde uma casa de banho em terra. [ um sonho admir@vel, 'eitode sistemas e aparelhos so'isticados, bombas, torneiras,

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alavancas e v@lvulas de descara.+urante a construção, aconteceu-me passar a noite acordado,a pensar nela. +epois h@ o barco salva-vidas e a chalupa.Amarrados ao convés, ocupam o pouco espaço Sue nos restapara 'a*ermos e$erc>cio. %as a verdade é Sue valem mais

D=

do Sue um seuro de vidaQ recomenda a prudTncia Sue, apesarde o #nark ser um barco 'orte e seuro, o salva-vidas seatambém de Sualidade. 3 o nosso é-o, é mesmo 'ora de série." custo previsto era de ;EF dólares e Suando 'ui paar aconta pediram-me ]<E dólares, o Sue comprova a suae$celTncia.Kodia continuar por a> 'ora, relatando as v@rias virtudes eméritos do #nark, mas abstenho-me. J@ o eloiei osu'iciente e 'i-lo com um propósito, como se ver@ antes de

eu terminar este cap>tulo, cuo t>tulo 'açam o 'avor derecordar? P1ma coisa inconceb>vel e monstruosaP. 3stavaplaneado Sue o #nark *arpasse a ; de "utubro de ;<F. )ãoter isto acontecido é uma coisa inconceb>vel e monstruosa.)ão havia ra*ão v@lida para tal, a não ser o 'acto de nãoestar pronto a tempo, e não havia ra*ão conceb>vel paraisso suceder. Krimeiro prometeram-mo para ; de )ovembro,depois para dia ;E, a seuir para ; de +e*embroQ e mesmoassim não 'icou pronto. A ; de +e*embro, harmian e eudei$@mos a bela e salubre paisaem de #onoma e viemos viverpara este luar opressivo Sue é a cidade... mas não por

muito tempo, nem pensar nissoR, só por duas semanas, porSuepartir>amos a ;E de +e*embro. Kens@vamos Sue assim 'osse,porSue 0oscoe tinha-nos in'ormado desta data e 'oi porconselho seu Sue viemos para a cidade duas semanas antes.4n'eli*mente, passaram as duas semanas, depois Suatro,seis, oito e est@vamos cada ve* mais lone de embarcar. -3$pliSue-seR - uemW... 3uW )ão sei o Sue se passou. 3sta éa única coisa na vida Sue não sei e$plicar. )ão h@e$plicação, porSue se houvesse, dava-a. 3u, Sue tenhosempre resposta pronta para tudo, con'esso a minhaimpotTncia para esclarecer a ra*ão por Sue o #nark não

estava pronto. omo @ disse, e como convém repetir, erauma coisa inconceb>vel e monstruosa.

D<

As oito semanas converteram-se em de*asseis, até Sue um dia0oscoe, para nos animar, disse?- Kodem usar a minha cabeça como bola de 'utebol se não

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partirmos antes de ; de Abril.+uas semanas depois, acrescentou?- Ando a treinar a cabeça para esse oo de 'utebol.- )ão 'a* mal - dissemos um para o outro, harmian e eu -porSue, no 'im, o #nark vai 'icar um barco maravilhoso.3 a partir da>, mais por encoraamento mútuo, começ@vamos aenumerar as muitas virtudes e e$celTncias do barco. Alémdisso, contra> novos empréstimos, empenhei-me a escrevercom mais ardor e 'reSuTncia e recusei heroicamente odescanso dos dominos, não passeei pelas montanhas com osmeus amios. 3stava a construir um barco e tinha de ser umbarco a sério, um barco com maiúsculasQ não Sueria olhar adespesas, desde Sue 'icasse como eu Sueria.AhR e o #nark ainda tinha outra superioridade, Sue Sueroabar aSui, e Sue era a proa. )enhuma onda a conseuiriacobrir. 3sta proa ri-se do mar, en'renta-o em desa'io,tenho a certe*a. 3 além disso é uma bele*a, com linhas de

sonhoR Aposto Sue nunca houve barco com uma proa maiseleante e ao mesmo tempo mais 'uncional. oi constru>dapara arrostar com as maiores tempestades. 5ocar nesta proaé como pousar a mão na 'ace cósmica das coisas. Ao observ@-la, percebe-se Sue não se olhou a despesas para a 'abricar.3 sempre Sue a nossa partida era adiada ou sobrevinha novadespesa, pens@vamos naSuela proa esplTndida e con'orm@vamo-nos." #nark é um barco peSueno. uando calculei uns enerosossete mil dólares de custos, não estava a ser apenaseneroso, mas rioroso. J@ constru> celeiros e casas e sei

bem Sue essas coisas tTm sempre a caracter>stica deultrapassar

]F

as estimativas de custo. J@ estava 'amiliari*ado com isso,Suando calculei o custo prov@vel da construção do #nark.6em, custou ]F mil. )ão me peruntem como, por 'avor. [verdade, assinei os cheSues e reuni o dinheiro [email protected] Sue não h@ e$plicação poss>vel. [ uma coisainconceb>vel e monstruosa, e concordareis comio, estou

certo, antes de eu completar a história.3 depois houve a Suestão dos atrasos. onheci CI tiposdi'erentes de especialistas e ;;E 'irmas distintas. )enhumespecialista nem nenhuma 'irma me entreou 'osse o Sue'osse na altura combinada, nem nunca se apresentou a tempoe horas, a não ser para receber paamentos ou cobrar'acturas. "s oper@rios uravam-me a pés untos Sueentreariam determinada obra numa data espec>'icaQ em

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rera, depois de tais promessas, raramente ultrapassavam ostrTs meses de atraso. 3ra assim Sue se passavam as coisasRe harm>an e eu consol@vamo-nos um ao outro comentando comoera esplTndido o #nark, como era 'orte e estanSueQ alémdisso, met>amo-nos num bote, rem@vamos até ele,maravilhando-nos com a sua proa incrivelmente eleante. 3udi*ia a harmian?- Kensa numa tempestade ao laro da costa da hina e o#nark a avançar com a sua esplTndida proa pela tormentaadentro. )ão dei$ar@ passar nem uma ota de @ua, 'icar@seco Sue nem uma pena, e nós estaremos l@ em bai$ota oar_hist, V espera Sue passe o temporal.3 harmian apertava-me a mão entusiasmada, e$clamando?- Male a pena suportarmos tudo... os atrasos, as despesas,as preocupaçYes e tudo o resto. "h, Sue barco maravilhosoR#empre Sue eu olhava para a proa do #nark ou pensava noscompartimentos estanSues, sentia-me encoraado. )o entanto,

era o único. "s meus amios começaram a apostar

];

comio, pondo em dúvida as v@rias datas de partida do#nark. %r. Uiet, Sue 'icara encarreado do rancho de#onoma, 'oi o primeiro a receber o valor da aposta, no diade Ano )ovo de ;<FI. +epois, sucederam-se em pro'usão asapostas. "s meus amios rodeavam-me como um bando deharpias, apostando contra todas as datas por mim marcadas.3u, impetuoso e determinado, apostava, apostava e

continuava a apostarQ e paava a todos. As minhas amiastornaram-se tão a'oitas Sue até as Sue nunca na vida tinhamapostado começaram a apostar comio. 5ambém lhes pauei.- )ão 'a* mal - di*ia-me harmian. - Kensa só naSuela proaa sinrar pelos mares da hinaR- omo vTem - comentei para os meus amios, Suando pauei aúltima série de apostas - não olho a incómodos nem adespesas para 'a*er do #nark a embarcação mais valorosa Suealuma ve* transpXs a &olden &ate (;!... todo este atraso épor causa disso.3ntretanto, os ornais e as editoras com Suem eu assinara

contratos assediavam-me, pedindo-me e$plicaçYes. %as comohavia de lhes e$plicar, Suando eu próprio não encontravae$plicaçYes, Suando ninuém, nem mesmo 0oscoe, era capa* demas darW "s ornais começaram a troçar de mim e a publicarversos sobre a partida do #nark, com re'rães do éneroPAinda não est@ mas 'alta pouco.P harmian animava-me'alando-me da proa e eu ia ao banco e pedia emprestadosmais EFFF dólares. Korém, nada compensava a espera. 1m

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cr>tico meu amio escreveu um artio a ridiculari*ar-me, amim e a tudo o Sue eu tinha 'eito ou viria a 'a*erQcombinara com o ornal só editar o te$to depois da minhapartida. %as publicaram-no Suando eu ainda estava em terrae desde essa altura não parou de tentar usti'icar-seperante mim.

)ota ;? )ome da barra Sue separa a ba>a de #ão rancisco domar (). da 5.!

]D

3 o tempo continuava a passar. 1ma coisa se tornavaevidente? era imposs>vel terminar o #nark em #ão rancisco.3stavam a constru>-lo havia tanto tempo Sue começava apartir-se e a deteriorar-se. Ali@s, tinha cheado V 'ase emSue se des'a*ia tão depressa Sue não havia tempo para

completar as reparaçYes. 3ra tema de chacota, ninuémlevava o proecto a sério e muito menos os homens doestaleiro. Anunciei Sue *arp@vamos assim mesmo e Sueterminar>amos a construção em onolulu. 3 loo naSuele diase detectou uma brecha Sue teve de ser cala'etada antes departirmos. 5entei colocar o barco no trem de transportemas, antes de o conseuir, 'icou preso entre duas barcaçase so'reu 'orte amoladela. L@ conseui iç@-lo mas, a meiocaminho, o trem deu de si e dei$ou-o cair, de popa, na lama.oi um rande sarilho. 5ivemos de chamar salvadores em ve*de construtores. @ duas marés todas as DC horas? em cada

maré alta, 'osse de noite ou de dia, e durante uma semana,dois rebocadores a vapor pu$aram pelo #nark para, o sa'ar.%as ele estava preso, ca>do entre os varYes do trem epousado sobre a ré. +epois, sem conseuir dar solução aodesastre, começ@mos a usar as peças e enrenaens 'eitas na'undição local, de 'orma a 'ornecer eneria do motor aouincho. 3ra a primeira ve* Sue tent@vamos us@-lo. As peçastinham 'olas e estouraram, Sueimando as transmissYes eavariando o uincho. A seuir 'oi a ve* de se avariar omotor de IF cavalos.5inha vindo de )ova 4orSue, untamente com a placa de

'i$ação, Sue tinha uma série de 'alhasQ o motor separou-seda base avariada, empinou-se no ar, desmancharam-se todasas cone$Yes e pontos de unção e caiu de lado. 3ntretanto,o #nark continuou preso entre os varYes des'eitos, enSuantoos dois rebocadores se es'aliavam a pu$ar por ele, em vão.- )ão te importes - disse-me harmian. - Kensa como é 'ortee estanSue o nosso barco.

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]]

- #im, e Sue bela proa temR - respondi.Animando-nos assim, redobr@mos es'orços. " motor avariado'oi 'i$ado de novo V placa en'erruadaQ as peças 'undidas eas rodas dentadas da transmissão 'oram desmontadas econsertadas alures - com o intuito de levar tudo paraonolulu, onde seria poss>vel uma boa reparação e novaspeças.3m tempos imemoriais, o casco do #nark tinha recebido umacamada de tinta branca. Mistos a uma lu* intensa, aindaeram patentes leves vest>ios. Kor dentro, nunca 'orapintado. Kelo contr@rio, estava coberto de uma espessacamada de ordura e 'uliem de tabaco dei$ados pelosmecZnicos Sue se tinham ocupado dele. 5udo bem, pens@mosQ aordura e a porcaria podiam desaparecer com um trabalho deplaina e, mais tarde, Suando che@ssemos a onolulu, o

#nark podia ser pintado ao mesmo tempo Sue o reconstru>ssem.A 'orça de músculos e suor, arrast@mos o barco do meio dosvarYes partidos e coloc@mo-lo no cais de "akland it.%and@mos vir de casa, por camião, toda a nossa baaempessoal, os livros e os cobertores. 3 ao mesmo tempo, tudoo mais entrou a bordo, numa torrente con'usa? madeira ecarvão, @ua e recipientes para @ua, leumes, provisYes,óleo, o salva-vidas e o bote, todos os nossos amios, todosos amios dos nossos amios e os Sue se di*iam amiosdeles, para não 'alar de aluns dos amios dos amios dosamios da nossa tripulação. 5ambém se assinalou a presença

de ornalistas e 'otóra'os, estranhos e doidos varridos e,'inalmente, a coroar tudo isto, nuvens de pó de carvãovindas do cais.+ev>amos *arpar Vs on*e horas de domino e @ passava demeio da tarde. A multidão apinhava-se no cais e a poeira decarvão tornava-se mais densa. )um dos bolsos eu tinha olivro de cheSues, uma caneta, um datador e um

]C

mata-borrãoQ noutro, tra*ia um ou dois mil dólares em papel

e moedas. Kronto a receber os credores, com trocos para asd>vidas peSuenas e cheSues para as randes, esperava Sue0oscoe cheasse com as contas das ;;E 'irmas Sue h@ tantosmeses me retinham. oi então Sue...oi então Sue mais uma ve* aconteceu uma coisa inconceb>vele monstruosa. Antes de 0oscoe, cheou outro homem, umo'icial de diliTncias. A'i$ou um aviso no mastro rande do#nark, de 'orma Sue todos os Sue estavam no cais 'icaram a

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saber Sue o barco estava apreendido por d>vidas. " o'icialde diliTncias dei$ou um velhote bai$inho a tomar conta do#nark e 'oi-se embora. 3u @ não tinha poderes sobre obarco e muito menos sobre a sua bela proa, cuo dono esenhor era aora o velhote bai$inho. iSuei a saber Sueestava a paar-lhe trTs dólares por dia para cumprir essa'unção. 5ambém me in'ormaram do nome do homem Sue tinhadado oriem V apreensão do #nark. A d>vida era de D]Ddólares e o acto praticado estava V altura do dono de umnome daSueles? #ellers (;!.%as Suem era esse #ellersW Analisei o meu livro de cheSuese veri'iSuei Sue, duas semanas antes, lhe passara um cheSuede EFF dólares. Kor outros canhotos vi Sue, durante osmuitos meses de construção do #nark, lhe paara v@riosmilhares de dólares. 3ntão por Sue ra*ão não tentara elecobrar a miser@vel Suantia, Suanto mais não 'osse porsimples decTncia, em ve* de mandar apreender o barcoW %eti

as mãos aos bolsos e num deles encontrei o livro decheSues, o datador e a caneta, e no outro o dinheiro emnotas e moedas. 5inha com Sue paar aSuela conta rid>cula emuitas outras... por Sue não tinha ele aparecido parareceberW )ão havia e$plicaçãoQ era simplesmente uma coisainconceb>vel e monstruosa.

)ota ;? #eller em inlTs sini'ica vendedor (). da 5.!.

]E

Kara complicar tudo, a apreensão do #nark dera-se numdomino ao 'im da tardeQ e embora eu tenha mandadoadvoados e solicitadores a v@rios tribunais de "akland e#ão rancisco, não 'oi poss>vel encontrar nenhum ui* ouo'icial de diliTncias, nem %r. #ellers, nem o advoado de%r. #ellers. 5odos tinham ido passar o 'im-de-semana 'ora.3 portanto o #nark não *arpou Vs on*e horas de domino. "velho bai$inho continuava em 'unçYes e disse Sue não nosdei$ava partir. harmian e eu caminh@mos pelo cais em'rente e consol@mo-nos a observar a bela proa e a pensar emtodas as borrascas e tu'Yes Sue seria capa* de en'rentar.

- 1ma pulhice t>pica de buruesesR - comentei com ela,re'erindo-me a %r. #ellers e V apreensão. - KZnico depeSueno comercianteR %as não 'a* mal, as nossaspreocupaçYes terminarão assim Sue nos a'astarmos daSui eestivermos no mar alto.Kor 'im l@ partimos, na manhã de terça-'eira, D] de Abrilde ;<FI. oi uma partida co$a, con'esso. 5ivemos de içar aZncora V mão, porSue a transmissão estava avariada.

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Além disso, o Sue restava do motor de IF cavalos 'oralançado para o 'undo do #nark, a servir de lastro. %as Sueimportavam tais insini'icZnciasW Kodiam ser consertadas emonolulu e entretanto... pensem no resto do barco, Sue eraman>'icoR [ verdade Sue o motor do bote não peou e Sue osalva-vidas metia @ua por todos os ladosQ mas não 'a*iamparte do #nark propriamente dito, eram meros acessórios. "Sue contava eram os compartimentos estanSues, o madeiramesólido, sem remendos, os aparelhos da casa de banho - essesé Sue 'a*iam parte do #nark. 3 l@ estava ela, dominandotudo, a nobre proa, a 'ender os aresR5ranspusemos a &olden &ate e apont@mos para o sul, para a*ona do Kac>'ico onde esper@vamos encontrar os al>sios denordeste. As nossas atribulaçYes começaram loo ali. 3utinha pensado Sue, para uma viaem como a do

]

a uventude era um elemento indispens@vel. Kor issocontratara trTs ovens - o mecZnico, o co*inheiro e orumete. #ó um terço dos meus c@lculos estava certo.3sSuecera-me de calcular Sue os ovens enoam e @ iam doisem mau estado, o co*inheiro e o rumete. oram looestender-se nos respectivos beliches e, durante uma semana,não serviram para mais nada. +epreenda-se, por aSuilo Suerelato, Sue prescindimos das re'eiçYes Suentes com Suecont@ramos e Sue a ordem e a limpe*a dei$aram muito adesear. %as nada disso teve rande importZncia, porSue

depressa descobrimos Sue nos tinham 'ornecido um cai$ote delaranas coneladasQ Sue a cai$a de maçãs estava cheia demo'o e a apodrecerQ Sue a rade de couves, @ pouco 'rescaSuando no-la entrearam, teve de ser lançada ao marQ Suealuém entornara o Suerosene por cima das cenouras, e Sueos nabos eram 'ibrosos e as beterrabas podres, ao passo Sueos toros de madeira não ardiam e o carvão, entreue emsacos de batata esarçados, entornara-se por todo o convése ca>a ao mar pelos embornais. %as Sue interessava issoW3ram coisas insini'icantes. " importante era o barco... eesse era per'eito, não eraW Kasseei pelo convés e num

minuto contei cator*e emendas nas belas pranchasencomendadas especialmente de Kuet #ound para virem semremendos. Além disso, o convés dei$ava passar @ua, emuita. 4nundou o beliche de 0oscoe, obriando-o a ir dormirpara outro lado, e estraou as 'erramentas na casa dasm@Suinas, para não 'alar das provisYes Sue 'e* apodrecer naco*inha. 5ambém o costado metia @ua, assim como o 'undo, etivemos Sue usar a bomba diariamente, para manter o barco a

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'lutuar. " chão da co*inha est@ meio metro acima do 'orrointerior do #narkQ no entanto, @ me aconteceu ir V co*inhapreparar SualSuer coisa para comer e molhar-me até aosoelhos, chapinhando na @ua, Suatro horas depois da últimabombaem.

]I

3 Suanto VSueles man>'icos compartimentos estanSues Suecustaram tanto dinheiro e levaram tanto tempo a 'a*er...bem, a'inal não eram nada estanSues.A @ua passava livremente de um para outroQ além disso, um'orte cheiro a asolina Sue vem do compartimento do 'undoleva-me a suspeitar Sue um ou mais dos seis reservatóriosl@ arma*enados tem um 'uro. "s tanSues pinam e não estãohermeticamente 'echados no respectivo compartimento. +epoisa casa de banho, com as suas bombas de @ua, alavancas e

v@lvulas de descara... avariou-se nas primeiras DC horas.Koderosas alavancas de aço partiram-se na minha mão Suandotentei pXr a bomba de descara a 'uncionar. A casa de banho'oi a parte do #nark Sue se deteriorou mais depressa.3 os componentes de aço, sem e$cepção, eram todosde'eituosos, tanto a placa de 'i$ação, e$pedida de )ova4orSue, como as peças 'undidas e as enrenaens do uincho,encomendadas em #ão rancisco. 3 'inalmente o 'erro 'undidoutili*ado no poleame des'e*-se em bocados ao primeiropu$ão. erro 'undido, veam bem, e Suebrou-se como se 'ossemacarrãoR

+epois partiu-se a cachola da caranuea da vela rande.Aplic@mos-lhe o da me*ena e ao 'im de Suin*e minutosaconteceu o mesmo. )ote-se Sue est@vamos inteiramentedependentes desta última vela em caso de tempestade. )estemomento o #nark arrasta a sua vela rande como uma asapartida, porSue a cachola 'oi substitu>da por uma amarraçãoimprovisada. #er@ Sue conseuiremos encontrar 'erro de boaSualidade em onoluluW"s homens atraiçoaram-nos e mandaram-nos para o mar numautTntico passador, mas o #enhor das alturas deve ter-nosem boa conta, porSue deu-nos bom tempo, o Sue nos permitiu

aprender a dar V bomba todos os dias para nos mantermos Vtona da @ua e termos mais con'iança num

]=

palito de dentes do Sue nas peças de 'erro maciço Suetra*>amos a bordo. A medida Sue aumentavam as nossasdúvidas sobre a solide* e Sualidade do #nark, harmian e eu

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deposit@vamos cada ve* mais 'é na sua maravilhosa proa. )ãonos restava mais nada em Sue con'iar. #ab>amos Sue tudoaSuilo era uma coisa inconceb>vel e monstruosa, mas pelomenos a proa era sólida. Até Sue, numa noite, tivemos depXr-nos de capa.omo descrever a manobraW 3m primeiro luar, para os menosentendidos, convém e$plicar? pXr-se de capa consiste emrecolher o pano da vela em doses comedidas e bemcalculadas, de 'orma a obriar a embarcação a aproar aovento. uando o vento é muito 'orte ou o mar muito picado,um barco do tamanho do #nark pode manter-se assim com'acilidade, sem ser preciso mais manobras no convés.)inuém precisa de se me$er e não vale a pena estar deviia. 5odos descem e vão dormir ou oar _hist.)ave@vamos ao sabor de uma leve tempestade de Merão Suandorecomendei a 0oscoe Sue e$ecutasse a manobra. Anoitecia, eutinha estado Suase todo o dia ao leme e todos os

marinheiros (0oscoe, 6ert (;! e harmian! se sentiamcansados, ao passo Sue os restantes tripulantes, tomados deenoo, se mantinham de cama. J@ t>nhamos posto dois ri*esna vela rande. Arre@mos a iba e o estai e metemos um ri*na traSuete. A me*ena também 'oi arreada. )esse momento, aretranca da traSuete merulhou na vaa e partiu-se. omeceia orçar para tomar a direcção contr@ria ao vento. " #narkestava V rola e de través e continuava nesse movimentoperioso, Suase se a'undando no boo de cada vaa. 3useurava-me com mais 'orça ao leme para tentar orçar, mas obarco prosseuia, aleando sem se libertar.

)ota ;? 6ert #tol*, Sue embarcou em #ão rancisco comomecZnico e Sue se despediu na primeira escala, no avai.

]<

(` rola e de través, caro leitor, é o local mais periosopara um barco.! Ku$ei a barra a 'undo, mas nada adiantou."ito raus era o m@$imo Sue conseuia orçar em relação aorumo. 3ntão mandei 0oscoe e 6ert V escota rande, mas o#nark continuava de través e V rola, com a amurada ora de

um lado ora do outro dentro de @ua.%ais uma ve* nos acontecia uma coisa inconceb>vel emonstruosa. 3ra rotesco, imposs>velR 0ecusava-me aacreditar. om dois r>*es na vela rande e o estai ri*ado,o #nark recusava-se a orçar. aç@mos a rande ao m@$imo e orumo do barco não se alterou de um décimo de rau. ol@mosa rande toda, sem resultado. 4ç@mos uma vela de capa name*ena e arri@mos a rande. )adaR " #nark continuava a

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merulhar nas ondas. A sua bela proa recusava eruer-separa en'rentar o vento. +epois, como último recurso,arri@mos o estai. Assim, o único bocado de pano Sue 'icou'oi a vela de capa na me*ena. #eria a única possibilidadede o 'a*er aproar. Kodem não acreditar se vos disser Suenem assim aproou, mas realmente 'oi o Sue aconteceu. 3 dioisto porSue vi com os meus próprios olhos, se não tambémnão acreditava.[ inacredit@vel, mas é verdade, sou testemunhaR"ra diam-me l@, caros leitores, o Sue 'ariam se estivessemnum barco peSueno, atravessado ao mar, com uma vela de capana popa Sue nem conseuia aproar ao ventoW Lançavam aZncora 'lutuanteR oi isso Sue 'i*emos. 5>nhamos uma dessaspatenteadas, 'eita por encomenda e com arantia de serinsubmer>vel. 4mainem um c>rculo de aço 'eito para manteraberto um rande saco de lona em 'orma de cone? é a Zncora'lutuante. 6om, 'i$@mo-la solidamente a um cabo atado V

proa do #nark e lanç@mo-la borda 'ora. A'undou-seimediatamente. eli*mente estava presa a um cabo deseurança, de 'orma Sue a suspendemos. Krendemos-lhe umat@bua para servir de

CF

bóia e volt@mos a lanç@-la. +esta ve* 'lutuou, o cabo Sue oprendia V proa esticou-se, a vela da me*ena Suase virou aproa ao vento mas, em ve* de seuir esse movimento, o barcocontinuou no mesmo rumo, avançando com a Zncora a reboSue,

sempre a a'ocinhar nas ondas. 3 pronto, nada a 'a*erR Atérecolhemos a vela de capa nV me*ena e iç@mos toda a me*ena.%esmo com a me*ena! toda caçada, continu@vamos de través ea rolar, com @ Zncora 'lutuante pela popa. Acreditem seSuiseremQ só vos posso urar Sue 'oi mesmo assim.Julai como Suiserdes. ual de vós @ ouviu 'alar de umveleiro Sue não se pYe de capa... nem com uma Zncora'lutuante a audarW )a minha 'raca e$periTncia comomarinheiro, nunca ouvi tal coisa. 3 'iSuei no convés, aobservar atónito essa coisa inconceb>vel e monstruosa? o#nark não aproava ao ventoR A noite ca>ra, tempestuosa, com

um luar intermitente. Kairava uma humidade no ar e abarlavento pressentia-se chuva da rossaQ o mar continuavaencapelado, 'rio e cruel ao luar, enSuanto o #narkprosseuia impass>vel na sua rota, aos tropeçYes nas ondas.0ecolhemos a Zncora 'lutuante e a me*ena, iç@mos o estai deentre mastros ri*ado, corremos com o tempo e descemos...não para comer uma re'eição Suente, como merec>amos, maspara patinar na porcaria viscosa Sue cobria o chão da

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cabina, onde a*iam o co*inheiro e o rumete, prostradoscomo mortos nos seus beliches. Atir@mo-nos para os nossos,sem nos despir, para podermos acudir l@ acima em caso denecessidade, enSuanto escut@vamos o chocalhar da @ua Sueinvadia o 'undo e na co*inha nos cheava aos oelhos. )ohohemian lub de #ão rancisco encontram-se enticos lobosdo mar. #ei, porSue ouvi-os comentar cerca do #narkenSuanto era constru>do. "ra a única coisa Sue criticavam -e nisso estavam todos de acordo - era

C;

Sue nunca seria capa* de navear bem com muito vento e vaaV popa arrasada. 3 e$plicavam enimaticamente? P[ por causadaSuelas linhas, a maneira como 'oi desenhada é de'eituosa.)unca conseuir@ avançar depressa, prontoRP 6om, muitoostava eu de ter comio naSuela noite esses marinheiros de

@ua doce do clube, para verem como o seu parecer unZnime edecisivo estava completa-mente errado. " #nark nãoconseuia navear V popa arrasadaW +ei$em-me rirR 3ra aúnica coisa Sue 'a*ia na per'eição.)aveava com a Zncora 'lutuante pela popa e a me*ena todacaçada V ré. )este momento, enSuanto escrevo, avançamos auma velocidade de seis nós, com al>sios de )ordeste.%ar rosso pela popa. )ão est@ ninuém ao leme. A roda doleme nem est@ amarrada, só um peSueno toSue para orçar.Kara ser e$acto, o vento é nordesteQ a me*ena do #nark est@arriada, a rande a estibordo, as velas de proa todas

caçadas e o rumo é de sul-sudoeste. 3 no entanto,marinheiros Sue h@ CF anos veleam por estes mares arantemSue nenhum barco pode navear V popa sem ninuém no leme.hamar-me-ão mentiroso Suando lerem estas linhas, Sue 'oi oSue chamaram ao capitão #locum Suando ele disse o mesmo do#pra.uanto ao Sue ser@ do #nark no 'uturo, nada sei, não possoprever. #e tivesse o dinheiro ou o crédito necess@rios,constru>a outro #nark capa* de navear V bolina.%as os meus recursos chearam ao 'im, tenho de me contentarcom este se não Suiser desistir... e desistir é Sue eu não

posso. Kor isso acho Sue vou ter de me habituar a 'a*T-lopXr-se de capa pela ré. 3stou V espera da pró$ima borrascapara ver como ser@. Acho Sue é poss>vel, tudo depende decomo a popa se comporte 'rente ao mar.uem sabe se, numa manhã desabrida no mar da hina, umcapitão e$perimentado assistir@, sem Suerer acreditar, aoespect@culo incr>vel de um barco peSueno e invular, muitoparecido

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CD

com o #nark, a pXr-se de capa com a ré contra o vento aproteer-se da borrascaWK. #. - Ao reressar V ali'órnia depois da viaem, soubeSue o #nark só media ;],; na linha de @ua, em ve* de ;],I-4sto porSue o construtor não se entendia muito bem com a'ita métrica e com a réua de carpinteiro.

C]

AK951L" 444

Aventura

)ão, a aventura não morreu, apesar da m@Suina a vapor e de5homas ook #on. uando anunciei o proecto do #nark,apareceu-me uma leião de homens novos Pdados a viaarP. 3de mulheres também... isto sem 'alar dos homens e mulheresmais velhos Sue se o'ereceram para me acompanhar. 3ntre osmeus amios pessoais, pelo menos seis lamentaram teracabado de casar ou estar em vias de o 'a*erQ e sei de umcasamento, pelo menos, Sue Suase não se celebrou por causado #nark.A cai$a de correio estava sempre a abarrotar de cartas decandidatos Sue se sentiam su'ocar nas Pcidades sobrepo-voadasP e depressa me apercebi de Sue um 1lisses do século

necessitava de uma série de estenóra'os para deci'rar acorrespondTncia antes de se 'a*er ao mar. )ão, não h@dúvida Sue a aventura não morreu.,, pelo menos enSuanto seescreverem cartas como esta? P)ão duvido Sue, ao ler estasúplica do 'undo da alma de uma desconhecida a viver nacidade de )ova 4orSue,P etcQ e Suando se 'ica a saber, umaslinhas mais adiante, Sue essa desconhecida só pesa CFSuilos, Suer ser rumete e Panseia por conhecer outrospa>ses.P1m Pinteresse pro'undo pela eora'iaP era a ra*ãoapresentada por outro correspondente para e$plicar a sede

de viaar Sue sentia dentro de siQ e outro escreveu?P#ou

CC

perseuido por um maldito e constante deseo de nunca estarmuito tempo no mesmo s>tio e por isso lhe escrevoP. %as omais curioso 'oi o 'ulano Sue Sueria ir connosco porSue

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tinha bichos-carpinteiros.avia os Sue me escreviam anonimamente, re'erindo nomes deamios e apresentando os atributos desses amiosQ mas paramim essa era uma atitude um tanto obscura e nuncaapro'undei o assunto.om duas ou trTs e$cepçYes, as centenas de pessoas Sue seapresentaram como candidatos a tripulantes pareceram-memuito sérias. %uitas enviaram 'otora'ias. )oventa porcento o'ereceram-se para e$ercer SualSuer 'unção e noventae nove por cento prestaram-se a trabalhar sem sal@rio. PAopensar na viaem do #narkP, di*ia um, Pe apesar dos periosinerentes, a única pretensão a Sue aspiro é a de acompanh@-lo (em SualSuer posto Sue sea necess@rio!.P 3 aSui vem-meV ideia aSuele ovem Sue Ptinha ;I anos e ambiçYesP e Sue,no 'im da missiva, pedia encarecidamente? P%as, por 'avor,não publiSue isto em ornais ou revistas.P %uito di'erenteera a Sue a'irmava? P3stou disposto a trabalhar

incansavelmente sem e$iir remuneração.P uase todosSueriam Sue lhes telera'asse, a cobrar no destino, acon'irmação de Sue eram aceitesQ e muitos o'ereceram-separa paar uma caução como arantia de Sue apareceriam nadata do embarSue.avia os Sue tinham uma ideia muito vaa dos trabalhos ae$ecutar no #nark, como por e$emplo o Sue escreveu? P5omo aliberdade de lhe escrever para saber se h@ alumapossibilidade de ser inclu>do como tripulante para 'a*erdesenhos e ilustraçYes.P Aluns, sem noção de como épreciso estar activo num barco como o #nark, o'ereciam-se

para servir, como disse um deles, Pcomo assistente noarSuivo de materiais recolhidos para livros e romances.P [o Sue d@ uma pessoa ser proli$aR

CE

1ma das cartas di*ia? PKermita-me e$por as minhas aptidYespara a 'unção? sou ór'ão e vivo com um tio Sue é socialistarevolucion@rio convicto e Sue a'irma Sue um homem Sue nãotenha o osto da aventura é um 'arrapo humano.P "utra? P#einadar um pouco, embora não pratiSue os estilos recentes.

%as mais importante Sue as novas modas é o 'acto de mesentir bem na @ua.P P#e me entreassem um barco V vela,lev@-lo-ia onde Suisesse,P era a Suali'icação apresentadapor um terceiro... bem melhor do Sue a Sue se seue?P5ambém @ tenho assistido V descara dos barcos de pesca.P%as provavelmente a Sue mais mérito tem é esta, Suetransmite com subtile*a um pro'undo conhecimento do mundo eda vida? PA minha idade, em anos, é de DD.P

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+epois havia as cartas simples, directas e 'rancas, semadornos, de rapa*es novos, com aluma di'iculdade eme$primir-se, é certo, mas ansiando por participar naviaem. 3ram as o'ertas mais di'>ceis de recusar e sempreSue o 'a*ia tinha a sensação de o'ender aSueles ovens.3ram tão sinceros, tinham tanta vontade de ir connoscoRP5enho ; anos mas sou crescido para a idadeP, di*ia um. 3outro? P5enho ;I anos mas sou alto e [email protected] P#ou tão'orte como a média dos rapa*es da minha idade, pelo menos,Pdi*ia um, Sue devia ser 'ran*ino. P" trabalho não me metemedo, sea de Sue espécie 'or,P declaravam muitos, ao passoSue um em particular, sem dúvida para me aliciar, a'irmava,acenando-me com custos redu*idos? PKosso paar a minhadeslocação até Vs costas do Kac>'ico, de modo Sue nesseaspecto não ter@ de se preocupar.P PASuilo Sue eu maisSuero na vida é dar a volta ao mundo,P in'ormava um, entrev@rias centenas com o mesmo anseio. P)inuém Suer saber do

meu paradeiro,P era a nota patética transmitida por outro.1m enviou uma 'otora'ia e, re'erindo-se-lhe, di*ia? P#ouum tipo com

C

aspecto pacato, mas isso não Suer di*er nada.P 3spero Suetudo corra bem ao rapa* Sue escreveu o seuinte? P5enho ;<anos, mas sou bastante peSueno e portanto não ocupareimuito espaço, embora sea rio Sue nem um pTro.P +epoishavia um candidato de ;] anos Sue nos encantou, a harm>an

e a mim, e Sue tivemos muita pena de não poder recrutar.%as não se pense Sue a maior parte dos volunt@rios eramcriançasQ pelo contr@rio, estas eram uma proporção >n'ima.avia homens e mulheres de todas as pro'issYes?o'ereceram-se em rande Suantidade médicos, ciruriYes edentistas e, como todos os das pro'issYes liberais, semretribuição, dispostos a e$ercer SualSuer 'unção e até apaar o priviléio de nos serem [email protected] e ornalistas, esses eram mais Sue muitos,para não 'alar dos mordomos, che'es de mesa e criados come$periTncia. "s enenheiros civis também se interessaram

pela viaemQ uma rande Suantidade de PdamasP de companhiadispunha-se a ocupar-se de harmian, enSuanto eu erainundado com propostas de candidatos a meus secret@riosparticulares. %uitos estudantes liceais e universit@riosostariam imenso de nos acompanhar e o'ereceram-se comocandidatos oper@rios de todas as especialidades, sobretudomaSuinistas, electricistas e mecZnicos. #urpreendeu-me aSuantidade de homens de leis Sue, trabalhando em

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escritórios poeirentos, eram sens>veis ao apelo daaventuraQ e ainda mais com o número de velhos comandantesre'ormados ainda sob o encanto do mar. M@rios ovens, comheranças de milhYes em perspectiva, dariam tudo pelaaventura, da mesma 'orma Sue v@rios inspectores escolares.ueriam ir connosco pais e 'ilhos, maridos e mulheres, paranão 'alar da ovem dactilóra'a Sue pediu? P3screva%ediatamente se precisar de mim. Apanharei o primeiro

CI

comboio e levarei a m@Suina de escrever comio.P %as omelhor de todos 'oi este... observem a 'orma delicada comoincluiu a mulher na proposta? PKensei em rediir estaslinhas para lhe peruntar se por acaso ser@ poss>velacompanh@-lo na viaem. 5enho DC anos, sou casado e nãotenho dinheiro, pelo Sue um cru*eiro destes nos conviria

sobremaneira.P#e pensarmos bem, para o comum das pessoas é bastantedi'>cil escrever uma missiva em Sue honestamente re'iram osseus méritos. 1m dos meus correspondentes estava tãoatrapalhado Sue começou a carta com as palavras P3sta é umatare'a complicadaPQ e, depois de tentar, em vão, descreveros atributos pessoais, terminou com P[ muito di'>cil 'alarsobre si próprio.P )o entanto, houve um Sue não se poupou aauto-eloios e concluiu a'irmando Sue lhe dera muito pra*errediir aSuela carta.P"ra imaine o seuinte? o seu rumete sabe tratar do motor

e repar@-lo Suando se avariar. #uponha Sue ele é capa* de osubstituir V roda do leme, entende de carpintaria e é bommecZnico. #uponha Sue é 'orte, saud@vel e dedicado aotrabalho. )ão pre'eria ser servido por ele do Sue por umaroto Sue enoe com os balanços do mar e só saiba lavarpratosWP 3ram o'ertas deste énero Sue eu detestavarecusar. uem a escreveu 'oi um homem Sue estava nos3stados 1nidos havia dois anos apenas, aprendera inlTsso*inho e, como di*ia, P)ão Suero ir consio para anhardinheiro, mas para aprender e ver coisas novas.P )a alturaem Sue me escreveu era desenhador numa das randes empresas

'abricantes de motoresQ @ andara no mar e estava habituadoV rotina do maneo de barcos peSuenos.P5enho um bom empreo, mas pre'iro viaar,P escrevia outro.Puanto a sal@rio, olhe para mim, e se vir Sue mereço um oudois dólares, tudo bemQ em caso neativo, não se 'ala maisnisso. uanto a honestidade e car@cter, terei todo o

C=

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osto em apresentar-lhe os meus patrYes. )unca bebo, não'umo, mas devo con'essar Sue, Suando tiver um pouco mais dee$periTncia, Suero aventurar-me na escrita.PPAsseuro-lhe Sue sou de absoluta con'iança, mas achoaborrecidas as pessoas como eu.P " homem Sue escreveu estaslinhas deu-me Sue pensar e ainda estou para saber se meconsidera aborrecido ou se não era isso Sue Sueria di*er.PJ@ passei por per>odos melhores do Sue aSuele por Suepasso aora,P escreveu um velho marinheiro, Pembora também@ tenha passado por outros bem piores.P%as a disposição para o sacri'>cio por parte do homem Sueescreveu o Sue se seue 'oi tão comovente Sue não pudeaceit@-la? P5enho pais e irmãos, amios Sueridos e umaposição inve@vel e no entanto sacri'icar-me-ei para oacompanhar.P"utro volunt@rio cuo contributo nunca poderia aceitar era

um ovem e$iente Sue, para me 'a*er ver como seriaimportante dar-lhe uma oportunidade, salientava Sue Pseriaimpratic@vel eu embarcar num barco normal, 'osse ele randeou peSueno, porSue teria de con'raterni*ar e viver commarinheiros vulares o Sue, por norma, não é um modo devida decente.P+epois havia um ovem de D anos, Sue Ppassara por umain'inidade de emoçYes humanasP e 'i*era Pde tudo, desdeco*inheiro a estudante na 1niversidade de #tan-'ord,P eSue, no momento em Sue escrevia, era PvaSueiro num ranchode DD mil hectares.P " contraste não podia ser maior com a

modéstia do Sue a'irmava? P)ão me parece possuir euSuaisSuer Sualidades espec>'icas Sue me possam recomendar Vsua consideração. %as se porventura isso acontecer, poder@achar Sue vale a pena perder uns minutos a responder-me. #eassim não 'or, h@ sempre trabalho nesta pro'issão. #emesperar muito, mas com esperanças, subscrevo-me, etc.P

C<

)ão tenho dei$ado de me interroar sobre as a'inidadesintelectuais entre mim e o homem Sue escreveu? P%uito antes

de saber da sua e$istTncia, @ eu articulara a economiapol>tica com a história e dedu*ira da> muitas dasconclusYes Sue o senhor retirou em concreto.P3sta, V sua maneira, é uma das cartas mais interessantes ea mais curta das Sue recebi? P#e aluma das pessoas Sue oacompanham no cru*eiro Suiser Suem lhe aSueça os pés e seprecisar de aluém Sue perceba de barcos, motores, etc,estou V sua disposição, etc.P 3 havia outra também curta?

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PAcertei em cheio? ostava de trabalhar como rumete na suaviaem V volta do mundo ou ter SualSuer outra 'unção abordo. 5enho ;< anos, peso ] Suilos e sou americano.P3 veam esta, de um homem Pcom pouco mais de um metro emeio de alturaP? Puando soube do seu coraoso proecto dedar a volta ao mundo num peSueno barco V vela com a suamulher, 'iSuei tão satis'eito Sue me senti como se oproecto 'osse também meu e pensei em escrever-lhe para meo'erecer como co*inheiro ou rumete. %as, não sei bemporSuT, não o 'i* e sa> de "akland para ir para +envertrabalhar na 'irma de um amio meu. )o entanto, nem tudocorre bem, ou sea, as coisas vão de mal a pior.3ntretanto, 'eli*mente o senhor adiou a partida por causado terramoto (;! e por isso decidi-me 'inalmente a propor-lhe Sue me dei$e desempenhar uma 'unção SualSuer. )ão soumuito 'orte, porSue tenho pouco mais de metro e meio dealtura, embora estea de boa saúde e sea uma pessoa capa*.P

PAcho Sue posso bene'iciar o seu eSuipamento com um métodoinovador de utili*ação da eneria do vento,P

)ota ;? 0e'erTncia ao terramoto de #ão rancisco de ;= deAbril de ;<F (). da 5.!.

EF

escreveu aluém bem intencionado, PSue, embora não tenhae'eito nas velas vulares em brisas lieiras, permitir-lhe-@ 'a*er uso de toda a 'orça do vento Suando est@ 'orte, de

'orma Sue, mesmo Suando ele soprar a sério, poder@ alartodas as velas e navear a toda a 'orça com o meu método.om este melhoramento, SualSuer nau'r@io ser@ imposs>vel.P3sta carta 'oi escrita em #ão rancisco, com data de ; deAbril de ;<F. 3 dois dias depois, a ;= de Abril, deu-se o&rande 5erramoto, Sue deve ter 'eito do meu correspondenteum re'uiado, ra*ão pela Sual nunca nos encontr@mos.%uitos dos meus camaradas socialistas criticaram-me poreste cru*eiro, com consideraçYes como estas? PA causasocialista e os milhYes de v>timas do capitalismo reclamamo direito de reivindicar a tua vida e os teus serviços. #e,

apesar disso, insistires nos teus intentos, Suandoenolires o ultimo olo de @ua salada antes de tea'undares, lembra-te Sue pelo menos nós [email protected] homem Sue viaou por esse mundo 'ora e Sue, Pse lhederem a oportunidade, poder@ relatar muitas cenas eacontecimentos invulares,P astou v@rias p@inas a tentare$plicar-se, para no 'im a'irmar? P%as continuo a a'astar-me da Suestão Sue me levou a escrever-lhe. Kor isso vou

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directo ao assunto? li alures Sue o senhor e uma ou duasoutras pessoas vão 'a*er um cru*eiro V volta do mundo numbarco peSueno. Kortanto não consio conceber Sue um homemcom a sua e$periTncia, e depois de tudo aSuilo Suereali*ou, sea capa* de tentar tal 'açanha, Sue eSuivale napr@tica a desa'iar a morte. 3 se por acaso escapar ileso,Suer a sua pessoa, Suer as dos Sue o acompanham, serãoa'ectadas pelo movimento incessante próprio de umaembarcação com as dimensYes da sua, mesmo Sue seaacolchoada, coisa invular no mar.P "briado, caro amio,

E;

obriado pela e$pressão Pcoisa invular no mar.P 3 não sepense Sue este amio inore as coisas navais. omo elepróprio di*, Pnão sou um pateo, viaei por tudo Suanto émar.P 3 termina a carta? P3mbora sem Suerer o'endT-lo,

assevero-lhe Sue ser@ loucura levar SualSuer mulher para'ora da ba>a, numa embarcação como essa.P3 contudo, no momento em Sue escrevo estas linhas,harmian, na cabina, escreve V m@Suina, %artin (;! preparao antar, 5oichi pYe a mesa, 0oscoe e 6ert estão acala'etar o convés e o #nark sinra a cinco nós V hora nummar bastante aitado - sem nenhum acolchoamento.PAo ler no ornal a not>cia dos seus planos de viaem,ostaria de saber se Suer uma boa tripulação. #omos seisovens marinheiros de rande per>cia, com boas re'erTnciasda marinha mercante e de uerra, todos americanos de ema,

com idades entre os DF e os D anos. 3stamos actualmente atrabalhar como metalúricos na 1nion 4ron Uorks, eostar>amos imenso de viaar consio.P ...3ram cartas comoesta Sue me 'a*iam lamentar não ter um barco maior.3 aSui se transcreve o Sue disse a única mulher - além deharmian - interessada na viaem? P#e ainda não conseuiuencontrar co*inheira, ostaria muito de o acompanhar nessaSualidade. 5enho EF anos, sou saud@vel e competente, eposso con'eccionar re'eiçYes para a redu*ida tripulação do#nark. 5enho muito boa mão e sou óptima marinheira, além deter viaado bastante. 5anto

)ota ;? %artin Johnson, contratado como co*inheiro epromovido a mecZnico, para substituir 6ert #tol*, Sueembarcou em #ão rancisco como mecZnico e Sue se despediuna primeira escala, no avai. +epois de os Londonsuspenderem a viaem do #nark, Johnson prosseuiu a voltaao mundo. Meio a ser 'amoso como e$plorador e autor de'ilmes com cenas de caça, antes de morrer num acidente de

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avião, em ;<] (). da 5.!.

ED

melhor para mim se o cru*eiro durar ;F anosR 0e'erTncias,etc.P1m dia, Suando tiver muito dinheiro, vou construir umrande barco, com espaço para receber mil [email protected]ão de desempenhar todas as tare'as necess@rias a umadiressão V volta do mundoQ caso contr@rio, mais vale Sue'iSuem em casa. 3stou convencido de Sue chearão ao 'im daviaem, porSue sei Sue a Aventura não morreu.#ei Sue não morreu porSue acabo de trocar com ela uma lonae >ntima correspondTncia.

E]

AK451L" 4M

)a boa rota

"bectavam os nossos amios? P%as como se atrevem a partirpara o mar sem aluém Sue saiba navearW KorSue vocTs nãosabem navear, pois nãoWP3u tinha de con'essar Sue não sabia, Sue nunca vira umse$tante na minha vida e Sue era bem capa* de con'und>-locom um almanaSue n@utico. uando me peruntaram se 0oscoesabia navear, abanei a cabeça neativamente. 0oscoe 'icou

o'endido. 5inha passado os olhos pela 3pt-tome, o manualcomprado para a viaem, sabia 'a*er c@lculos com as t@buasde loaritmos, vira uma ve* um se$tante e só porSue alunsdos seus antepassados tinham sido homens do mar, conclu>raSue sabia navear. %as continuo a insistir Sue 0oscoe seenanava. Miera do %aine para a ali'órnia em criança,passando pelo istmo do Kanam@, e essa ter@ sido a únicaaltura da sua vida em Sue perdeu a terra de vista. )unca'reSentou uma escola n@utica, nem passou nenhum e$ame denaveaçãoQ nunca 'e* viaens no mar alto ou 'oi ensinadopor SualSuer marinheiro. ostumava andar de iate na ba>a de

#ão rancisco, sempre com terra a poucos Suilómetros dedistZncia e sem ter de recorrer V arte de marear.Kortanto o #nark iniciou a sua lona viaem sem naveador.5ranspusemos a &olden &ate a D] de Abril e rum@mos Vs ilhasdo avai, a D; mil milhas mar>timas. " resultado

EC

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recompensou-nos, porSue che@mos ao nosso destino, aindapor cima sem nenhum problema, como vereisQ ou antes, semcomplicaçYes de maior. Kara começar, 0oscoe ocupou-se danaveação. L@ de teorias entendia ele, mas era a primeirave* Sue as punha em pr@tica, como se tornou patente pelocomportamento estranho do #nark. %antinha-se per'eitamenteest@vel no marQ no mapa é Sue nos preava partidas. )umdia, com uma brisa lieira, deu um salto - no mapa, claro -e noutro dia em Sue parecia avançar lieiro pelo mar 'ora,mal se alterou a nossa posição no mapa. "ra, Suando umbarco reista seis nós hor@rios consecutivamente durante DChoras, é porSue, sem dúvida aluma, cobriu ;CC milhasmar>timas." mar estava normal e, Suanto ao livro de Suarto, nada adi*erQ a velocidade era patente. Kortanto, o erro era dosc@lculos, Sue não reprodu*iam com rior, no mapa, a rota do#nark. 4sto não aconteceu todos os dias, mas era 'reSuente,

e coisa per'eitamente natural, previs>vel numa primeiratentativa para aplicar uma teoria.A aSuisição de conhecimentos de marear tem um e'eitoestranho no esp>rito humano. " naveador vular 'ala da suaarte com pro'undo respeito, de 'orma Sue a sensaçãoe$perimentada pelo leio é a de Sue a naveação é umterr>vel e secreto mistério? era-se nele um terr>vel esecreto respeito semelhante ao dos naveadores. onheciovens 'rancos, inénuos e modestos, completamente leaisSue, depois de aprenderem a marear, loo evidenciaram ostopelo secret>smo, a reserva e a emp@'ia, como se tivessem

reali*ado uma 'açanha intelectual de tremendo alcance. "naveador vular impressiona o leio, como se 'ossesacerdote de um rito sarado. " naveador convida-nos aolhar para o seu cronometro, com ar misterioso. Kor isso osamios se preocuparam tanto por não termos a bordo aluémSue dominasse a arte de marear.

EE

+urante a construção do #nark, 0oscoe e eu che@mos a umacordo, mais ou menos nestes termos? Porneço eu os livros

e os instrumentos,P propus, Pe tu começas a estudarnaveação, porSue estarei demasiado ocupado com outrascoisas. +epois, Suando estivermos em viaem, podes ensi-nar-me o Sue aprendeste.P 0oscoe 'icou encantado.Além disso, ainda era 'ranco, inénuo e modesto como essesovens de Sue 'alei. %as Suando nos 'i*emos ao mar ecomeçou a praticar o rito sarado, enSuanto eu o observavaadmirativamente, deu-se no seu comportamento uma

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modi'icação subtil e peculiar. Ao meio dia, se media aaltura do sol, 'icava envolto numa auréola radiosa.uando descia para 'a*er os c@lculos com base na observaçãoe reressava ao convés para anunciar a nossa latitude elonitude, assumia um tom de vo* autorit@rio, coisa inéditapara todos nós. %as o pior não era isso? das muitasin'ormaçYes de Sue se munia, só nos transmitia alumas. 3Suanto mais ra*Yes descobria para os saltos imprevistos do#nark nas distZncias indicadas no mapa, menos saltos dava o#nark e mais incomunic@veis, terr>veis e saradas setornavam as suas in'ormaçYes.uando eu sueria discretamente Sue era altura de começar aaprender também, correspondia com uma reacção 'rou$a, semse o'erecer para me audar. )ão dava o menor sinal de estarna disposição de cumprir a sua parte do acordo.%as nada disto era culpa de 0oscoeQ 'oi inevit@vel. Acon-teceu-lhe simplesmente o Sue acontece a todos os Sue

aprendem naveação. Kor uma compreens>vel e desculp@velcon'usão de valores, associada a uma perda de orientação,verava ao peso da responsabilidade e sentia-se na posse deum poder semelhante ao divino. )unca vivera no mar eportanto sempre estivera com terra V vista, com pontos dere'erTncia para se orientar. Kor isso conseuira, comdi'iculdades apenas ocasionais, dominar

E

os movimentos do corpo em harmonia com o meio envolvente.

Aora via-se no meio daSuela imensidão de @ua, apenaslimitada pelo eterno c>rculo do hori*onte, sempre iual,sem terra como ponto de re'erTncia. " sol nascia a Leste epunha-se a "cidente e as estrelas descreviam a sua curvanocturna. %as Suem conseue olhar para o #ol e para asestrelas e di*er? P" meu luar V 'ace da 5erra nestepreciso momento é Suatro Suilómetros e trTs Suartos a oesteda loa do Jones em #mithersvilleWP ou P#ei onde estou,porSue a 1rsa %enor in'orma-me de Sue 6oston est@ a trTsSuilómetros daSui, na seunda curva V direitaPW )o entanto,era isso Sue 0oscoe 'a*ia. )ão só se sentia maravilhado com

tal 'acto, como era tomado por uma espécie de reverTnciapor si mesmo? reali*ara um milare. " acto de encontrar anossa e$acta posição em pleno mar tornava-se um rito esentia-se um ser superior em relação a nós, Sue nãoconhec>amos esse rito e depend>amos dele para sermoscondu*idos na nossa rota pela imensidão ondulante, aestrada salada Sue lia os continentes e não est@assinalada por nenhum marco mili@rio. Assim, com o se$tante

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ele prestava culto ao +eus #ol, consultava caracteresm@icos dos livros e das t@buas antias, murmurava oraçYesnum idioma estranho, com sons comoP3rroinstrumentale'racçãodaparala$eP, traçava sinaiscabal>sticos, somava e transpunha um deles depois, numaespécie de escritura sarada chamada o - isto é, o %apa -pousava o dedo em determinado ponto cua brancura o tornavamisterioso e di*ia? P3stamos aSui.P uando olh@vamos para oponto branco e perunt@vamos? P%as ondeWP, respondia comuma e$pressão misteriosa de sumo sacerdote? P]; - ;E - CI)orte, ;]] - E - ]F "este.P 3 nós coment@vamos? PAhRP,sentindo-nos seres insini'icantes.Kor isso, volto a di*er, a culpa não era de 0oscoe. 3le eracomo um deus e levava-nos, na palma da mão, pelos espaços

EI

brancos do seu mapa. 3u sentia um rande respeito, tãopro'undo Sue, se me dissesse PAoelha e adora-meP, tenho acerte*a Sue me teria lançado ao chão do convés a re*ar.%as, um dia, a'lorou-me ao pensamento uma ideia 'ua*? P)ãose trata de deus nenhum, é 0oscoe, um homem como eu. 5ambémsou capa* de 'a*er o Sue ele 'a*.omo aprendeuW Kor si próprio. a* tu o mesmo, ensina-te ati próprio.P 3 0oscoe caiu por terra, dei$ou de ser o sumosacerdote do #nark. 4nvadi o santu@rio e e$ii os livrosantios e as t@buas m@icas, além do moinho de oraçYes -isto é, o se$tante.

3 aora, em linuaem simples, passo a descrever comoaprendi a navear. iSuei uma tarde inteira no poço doleme, a seurar a roda com uma mão e com a outra a t@bua deloaritmos. 3m duas tardes seuidas, durante duas horas,estudei a teoria eral da naveação e o processo especialde c@lculo da latitude meridiana. +epois peuei nose$tante, determinei o erro instrumental e medi a altura do#ol. 5erminadas estas observaçYes, o c@lculo 'oi '@cil.3ncontrei na 3p>tome e no AlmanaSue )@utico de*enas det@buas comple$as, todas elas inventadas por matem@ticos eastrónomos. 3ra como utili*ar aSuelas tabelas de uros e de

c@lculos r@pidos Sue todos conhecemos." mistério desvendou-se. Kousei o dedo no mapa e anuncieiSue era naSuele ponto Sue nos encontr@vamos. Acertei, oupelo menos acertei tanto como 0oscoe, Sue indicou um pontoa um Suarto de milha do meu e concordou Sue a distZnciae$acta devia 'icar a meio caminho entre as duas. J@ nãohavia mistérioQ e contudo, o milare 'oi tal, Sue tomeiconsciTncia de estar na posse de um novo poder e percorreu-

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me um 'rémito de orulho. uando %artin me peruntou ondeest@vamos, no mesmo tom humilde e de'erente com Sue eupróprio 'a*>a a mesma perunta a 0oscoe, respondi come$altação, imbu>do de uma superioridade espiritual,recorrendo V linuaem ci'rada de rande sacerdote, ao Sue

E=

%artin respondeu com um P"hRP contemplativo e reverente.uanto a harmian, senti Sue se rendia aos meus encantoscomo nunca antes aconteceraQ e apercebi-me de outrosentimento? ela era uma mulher a'ortunada por ter um homemcomo eu.)ão estava em meu poder dominar estas ideias. +io-o emde'esa de 0oscoe e de todos os outros mareantes. " venenodo poder apoderava-se de mim. J@ não me identi'icava com osoutros seres humanos... com a maior parte delesQ sabia

aSuilo Sue eles desconheciam? o mistério dos céus, Sue meapontava o caminho naSuela imensidão. " sabor desse poderrecebido dava-me novas 'orças. %an-tive-me lonas horas Vroda, Sue aarrava com uma mão, enSuanto com a outra'olheava o livro dos mistérios. )o 'im da semana,aprendendo so*inho, estava @ em condiçYes de e$ecutardiversas 'unçYes. Kor e$emplo, medi a altura da 3strelaKolar, V noite, evidentementeQ corrii o erro instrumental,a depressão, etc. e achei a nossa latitude. 3ssa latitudecorrespondia V do meio dia anterior, corriida pelaestimativa entre as duas observaçYes.

" orulho Sue senti, no entanto, não se comparou com o Sueme proporcionou o meu milare seuinte. 4a entrar de SuartoVs nove horas. #em auda, resolvi um problema? descobri Sueuma estrela da primeira rande*a passaria pelo meridianopor volta das oito horas e meia. 3ra a Al'a rucis, de Suenunca ouvira 'alar. Krocurei-a no mapa estelar. a*ia partedo ru*eiro do #ul. "ra essaR Kensei? 5emos estado anavear com o ru*eiro do #ul no céu, sem sabermos de nadaWue burros somosR )ão Sueria acreditar. Moltei a analisar oproblema e con'irmei-o. )essa noite, harmian estaria deSuarto das oito Vs de* horas. 0ecomendei-lhe Sue tomasse

atenção e procurasse o ru*eiro do #ul. 3, Suando asestrelas despontaram, l@ estava ele a brilhar, um poucoacima do hori*onteR "rulhoW )unca nenhum 'eiticeiro oualto sacerdote

E<

sentiu orulho semelhante. 3 'ui mais lone? com o moinho

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de oraçYes, locali*ei a Al'a rucis e a partir da suaaltura determinei a nossa latitude. %ais aindaRtambém calculei a altura da 3strela Kolar, Sue correspondiae$actamente aos c@lculos 'eitos a partir do ru*eiro do#ul. omo não me sentir orulhosoW +ominava a linuaem dasestrelas, escutava-as e ouvi-as a apontar-me o caminho naimensidão."rulhosoW Kois se 'a*ia milaresR 3sSueci-me de como 'ora'@cil aprender pelo livro. 3sSueci-me de Sue todo otrabalho (trabalho 'ant@stico, ali@s! 'ora reali*ado, antesde mim, pelas mentes brilhantes dos astrónomos ematem@ticos, Sue haviam descoberto e elaborado toda aciTncia da naveação e criado as t@buas do 3p>tome.#ó me lembrei do milare maravilhoso Sue me 'i*era ouvir asvo*es das estrelas, indicando a minha posição na randeestrada do mar. harmian não sabia, como não o sabiam%artin nem 5ochii, o rumete. %as eu, o mensaeiro dos

deuses, disse-lhes. ui o medianeiro entre eles e oin'inito, tradu*i o sublime discurso celestial em termosacess>veis Vs suas inteliTncias vulares. [ramos diriidospelo céu e era eu Suem deci'rava o Sue estava escrito nasalturasR 3u, euR)este momento, mais calmo, apresso-me a divular a e$tremasimplicidade daSuelas minhas operaçYes, bem como as de0oscoe, dos outros naveadores e do resto dos sacerdotes,por receio de vir a con'undir-me com eles e tornar-meimpenetr@vel, imodesto e en'atuado de sobranceria. 3 Suerodi*er ainda o seuinte? SualSuer ovem dotado de uma dose

normal de matéria cin*enta, com uma educação vular e umesp>rito minimamente apto ao estudo pode aprender so*inho anavear, recorrendo aos livros, Vs cartas mar>timas e a unsSuantos instrumentos. %as não me interpretem mal, A arte demarear é uma coisa completamente di'erente. )ão se aprendenum dia, nem mesmo em mesesQ são necess@rios anos. 5ambém anaveação por estimativa

F

e$ie lonos estudos e muita pr@tica. %as navear por

observaçYes do #ol, da Lua e das estrelas, raças aosastrónomos e matem@ticos, é uma brincadeira de crianças.ualSuer ovem mediano pode aprender so*inho numa semana.)o entanto, insisto, não me interpretem mal? não Suero comisto di*er Sue, ao 'im de uma semana, esse ovem podecomandar um vapor de ;E mil toneladas, a cru*ar os mares auma velocidade de DF nós hor@rios, entre continentes,SuaisSuer Sue seam as condiçYes atmos'éricas, dominando

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todos os instrumentos e mapas com espantosa precisãoR ueroapenas sini'icar o seuinte? esse mesmo ovem podeembarcar num veleiro seuro e 'a*er-se ao larodesconhecedor de toda a naveação e, numa semana, saber@ osu'iciente para determinar no mapa a sua posição. #er@capa* de medir uma latitude meridiana com bastante precisãoe determinar a latitude e a lonitude ao 'im de de* minutosde c@lculo. #em cara nem passaeiros, sem pressa de chearao destino, seuir@ o seu caminho e, se lhe acontecerduvidar da rota e recear embater contra escolhos, pXr-se-@de capa toda a noite e continuar@ na manhã seuinte.@ uns anos, Joshua #locum deu a volta ao mundo num peSuenoveleiro de on*e metros. )unca esSuecerei aSuela passaem dasua narrativa da viaem em Sue e$orta os ovens a seuir oseu e$emplo. Aderi imediatamente V ideia e 'oi tanta aminha con'iança Sue levei comio a minha mulher. 1maaventura destas ultrapassa em muito o interesse de uma

e$cursão promovida pela ooks e, ainda por cima, além dopra*er e do entretenimento, não só proporciona ao ovem aocasião única de conhecer as coisas do mundo e$terior -pa>ses, povos e climas - como a de conhecer-se a sipróprio, de e$ercitar a introspecção, de dialoar com aprópria alma. +epois h@ a aprendi*aem e a disciplina a Sueobria. A princ>pio, o ovem naveador aprender@ adistinuir as suas limitaçYesQ em seuida,

;

domin@-las-@. #ó poder@ voltar dessa viaem mais maduro emais per'eito. 3 o melhor dos desportos é dar so*inho avolta ao mundo, 'a*T-lo por es'orço pessoal, dependendoapenas de si mesmo para, no 'im, de reresso ao ponto departida, contemplar interiormente o planeta em órbita peloespaço e di*er? P0eali*ei esta proe*a por es'orço próprio.ircum-naveuei esta es'era Sue rola pelo espaço e soucapa* de viaar so*inho, sem o apoio de um capitão para meuiar pelos mares. Kosso não poder voar até Vs estrelas,mas sou dono desta.PAo escrever estas linhas, ero os olhos e o meu olhar

abarca a vastidão marinha. 3stou na praia de Uaikiki, nailha de "ahu. L@ lone, no céu a*ul, as nuvens sopradaspelos al>sios deslocam-se lentamente por cima do a*ul-tur-Suesa das ondas. )ão tão lone, o mar é esmeralda e de umverde de a*eitona claro. 3m volta dos reci'es, a @ua tomauma tonalidade púrpura ardósia manchada de vermelho. %aisperto de mim, bandas verdes mais 'ortes alternam com bandascastanhas, assinalando a presença de l>nuas de areia

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entrecortadas por bancos de coral vivo. 1ma ressacaman>'ica ressoa e retumba por cima e em volta destas cores'ant@sticas. omo disse, ero os olhos para contemplar tudoisto e, na crista branca de uma onda, sure de repente uma'orma nera, muito direita, um homem-pei$e ou deus marinho,desli*ando por sobre a curva da vaa Sue se vai des'a*endoe espraiando na sua corrida para a marem. 3nvolto até Vcintura pela poalha dos salpicos, o corpo do homem é levadono dorso do mar e lançado para terra, percorrendo num sómovimento um Suarto de milha. [ um canaca numa prancha desur' (;!. 3 loo ali decido Sue,

)ota ;? "u uma papa-hee-nalu, na l>nua do avai. "scanacas Pcaminham sobre as ondasP, como di*em, montadosnuma prancha de dois metros de comprimento e F,IE delarura (). da 5.!.

D

Suando terminar este cap>tulo, também vou desli*ar sobreesta oria de cores, tentando cavalar aSuelas ondas comoele, embora sem a mesma per>cia, mas vivendo plenamenteestes curtos instantes da vida. A imaem deste mar coloridoe do deus marinho, o canaca voador, acrescentam-se Vsra*Yes pelas Suais um ovem deve viaar para oeste,internar-se cada ve* mais nessa direcção, para l@ Zo #ol, e'inalmente completar o caminho de reresso a casa.%as, voltando ao nosso assunto? peço-vos Sue não se

convençam de Sue sei tudo sobre naveação, porSue dominoapenas os rudimentos. Ainda h@ muito para aprender.)o #nark tenho V minha espera uma colecção de livros'ascinantes sobre o assunto. )eles estudarei o Znulo deperio de Leck e a linha de #umner Sue, Suando nosperdemos, nos mostra a nossa posição sem sombra de dúvida.@ de*enas e de*enas de métodos de orientação em pleno mar,de 'orma Sue, para os dominar a todos, teria de astar anose anos a estudar-lhes as particularidades.+o pouco Sue aprendemos, @ detect@mos peSuenas asneirasSue e$plicam em rande parte o comportamento irreular do

#nark. )a Suinta-'eira, ; de %aio, por e$emplo, nãotivemos vento al>sio. )as DC horas Sue terminaram ao meiodia de se$ta-'eira, baseando-nos na estimativa, nãot>nhamos naveado DF milhas. )o entanto, as nossas posiçYespor observação ao meio dia, nos dois dias, 'oram?uinta-'eira DF EI <P )ED CF; ]FP U#e$ta-'eira D; ;E ]]P )

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;EC ;D U

A di'erença entre as duas posiçYes era de =F milhasapro$imadamente e no entanto não che@mos a cobrir DFmilhas. +epois de v@rias veri'icaçYes, conclu>mos Sue onosso c@lculo era e$acto. " Sue estava errado eram as

]

nossas observaçYes. 1ma observação correcta e$ie pr@tica emuita per>cia, sobretudo num barco peSueno como o #nark,por causa dos movimentos sacudidos e da di'iculdade Sue oobservador tem de ver ao lone, por estar muito pró$imo dasuper'>cie do mar. 1ma onda rande a eruer-se a uma milhade nós pode impedir-nos de ver todo o hori*onte.%as no nosso caso particular, havia outro 'actor deperturbação. )o curso Sue descreve pelo espaço, ao lono do

ano, o #ol aumenta a sua declinação. 3m meados de %aio, noparalelo ;< da latitude )orte, est@ praticamente no *énite,a uma altura entre os == e os =< raus. A <F raus, estariaprecisamente por cima de nós. )um outro dia, aprendemos amedir a altura do #ol na sua posição perpendicular. 0oscoecomeçou por apanhar o #ol no hori*onte, a Leste, e nãoabandonou esse ponto, apesar de o astro ter de atravessar omeridiano para #ul. Kelo meu lado, comecei a assinalar o#ol a sudeste e seui-o para sudoeste. omo vTem,tent@vamos aprender. " resultado 'oi Sue, ao meio dia e DEminutos, pelo relóio de bordo, era meio dia solar. "ra

isso sini'icava Sue a nossa posição em relação V 5erra sealterara de DE minutos, o Sue eSuivale a raus delonitude, o Sue no mapa corresponde a ]EF milhas.Kortanto, o #nark 'i*era ;E nós por hora durante DChoras... sem Sue nos déssemos contaR 3ra absurdo erotesco. %as 0oscoe, sempre virado para Leste, a'irmava-nos Sue ainda não era meio dia. ueria provar Sue >amos auma velocidade de DF nós. 3m seuida assest@mos os nossosse$tantes para v@rias posiçYes no hori*onte e, onde SuerSue observ@ssemos, l@ ia o #ol, surpreendentemente pró$imoda linha do hori*onte, umas ve*es acima dele, outras

abai$o. )uma direcção, anunciava a manhã, na outra, di*ia-nos Sue era de tarde. " #ol nunca se enana - isso sab>amosnósQ portanto o erro era nosso. 3 pass@mos o resto da tardeno

C

poço do leme a ler sobre o assunto e a descobrir a ra*ão do

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enano. )esse dia não 'i*emos a meridiana, mas no diaseuinte não 'alh@mos. Krored>amos.Aprendemos bem, ainda melhor do Sue imain@vamos. )um 'imde tarde, no princ>pio do seundo Suarto, harmian e euest@vamos sentados V proa a oar cribbae. Ao levantar acabeça por acaso, vi montanhas cobertas de nuvens a emerirdo mar. ic@mos doidos de aleria por ver terra, mas aSuilopunha em causa as nossas ideias de naveação. 3u pensavaSue t>nhamos aprendido SualSuer coisa, mas a nossa posiçãoao meio dia devia levar-nos a mais de cem milhas de terraQno entanto, ali estava ela diante de nós, @ a esconder-sesob o manto dourado de crepúsculo. A terra era um 'actoindiscut>vel, imposs>vel desmenti-lo. Kortanto o erroestava na nossa naveação. %as não. A terra Sue avist@vamosera o cume do aleakala, a asa do #ol, o maior vulcãoe$tinto do mundo. 3levava-se a ]]]F metros acima do n>veldo mar e estava a umas cem milhas. )essa noite nave@mos a

uma velocidade de I nós e, na manhã seuinte, a asa do #olcontinuava a eruer-se diante de nós. oram precisas maisumas horas para chearmos V mesma altura do vulcão.- ASuela ilha é %aui - dissemos, veri'icando o mapa. - Apró$ima ilha, Sue se vT l@ ao lone, é %olokai, onde estãoos leprosos. 3 a ilha cont>ua é "ahu. " cabo %akapuu 'icamais adiante. Amanhã estamos em onolulu. "s nossosc@lculos estavam certos.

E

AK951L" M

A primeira escala

3u prometera aos meus companheiros?- A vida a bordo não ser@ tão monótona como imainam. " mar'ervilha de vida. [ tão povoado Sue todos os dias haver@alo de novo para ver. Assim Sue passarmos a &olden &ate erumarmos a #ul, avistaremos pei$es-voadores. ritamo-lospara o peSueno almoço. Kescaremos bonitos e ol'inhos e nourupés arpoaremos toninhas e pei$e-serra. +epois temos os

tubarYes... um nunca acabar de tubarYes.5ranspusemos a &olden &ate, rumando a #ul, perdemos devista as montanhas da ali'órnia, e todos os dias o caloraumentava. %as pei$es voadores... nem vT-losR 3 bonitos eol'inhos, nadaR " oceano parecia va*io. 3u nunca tinhaviaado num mar tão morto. )as mesmas latitudes, sempreencontrara pei$es-voadores.- )ão 'a* mal - conclu>. - 3sperem até chearmos V costa do

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#ul da ali'órnia. A> é Sue vamos pescar pei$es- voadores.Kerdemos de vista a ali'órnia do #ul, a pen>nsula da 6ai$aali'órnia, as costas do %é$ico, e nada de pei$es-voadoresou de outro pei$e SualSuer. )em sinalR 3nSuanto os diaspassavam, a ausTncia de vida marinha tornou-se di'>cil desuportar.- )ão tem importZncia - insisti. - uando encontrarmos ospei$es-voadores, encontraremos todos os

outros. "s pei$es-voadores são o alimento principal detodos os pei$es, de modo Sue Suando os virmos, sabemos Sueos restantes vTm [email protected] ir para o avai, devia aproar a sudoeste, mascontinuei a rota para #ul. 5inha de encontrar os taispei$es-voadoresR inalmente, cheou o momento em Sue, para

me diriir para onolulu, tinha de rumar a "este. 3m ve*disso, continuei para #ul. %as só a ;< de latitude norteavist@mos o primeiro, absolutamente só. ui eu Suem o viuprimeiro. "utros cinco pares de olhos ansiosos perscrutaramo mar durante o dia, em vão. 3ram pei$es tão raros Sue nãodescobrimos mais nenhum naSuela semana. uanto aosol'inhos, bonitos e toninhas, não vimos nem um.)em seSuer um tubarão veio V super'>cie mostrar a suasinistra barbatana dorsal. 6ert dava todos os dias unsmerulhos debai$o do urupésQ suspenso nos brandais,dei$ava 'lutuar o corpo na @ua. 5odos os dias proectava

larar-se e dar umas braçadas, apesar de eu 'a*er osposs>veis para o dissuadir. %as eu tinha perdido toda aautoridade perante 6ert no Sue respeita V vida marinha.- #e h@ tubarYes, por Sue não aparecemW - peruntava ele.&aranti-lhe Sue não tardariam a surir se por acaso sedecidisse a nadar um pouco. 3ra mentira, mas 'oi a maneiraSue encontrei de o convencer por mais dois dias.)o terceiro dia o vento estava calmo e 'a*ia muito calor. "#nark avançava a um nó. 6ert merulhou e dei$ou-se 'icar na@ua por uns momentos. Meam aora a perversidade dascoisas? até então t>nhamos percorrido mais de duas mil

milhas sem encontrar um único tubarão. inco minutos depoisde 6ert ter terminado o merulho, vimos a barbatana de umesSualo a 'ender a @ua e a descrever c>rculos em volta do#nark.

I

ASuele tubarão não 'a*ia sentido, perturbava-me. ue 'a*ia

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no meio do mar desertoW uanto mais pensava nisso, maisestranha me parecia a sua presença. %as duas horas depoisavist@mos terra e o mistério desvendou-se. 5inha vindo aténós de terra e não do mar despovoado. 3ra um press@io, ummensaeiro da terra.Minte e sete dias depois da nossa partida de #ão rancisco,che@mos pois V ilha de "ahu, 5erritório do avai. Loo demanhã cedo contorn@mos o cabo +iamond, com onolulu Vvista. +e repente, o mar começou a 'ervilhar de vida.ardumes cintilantes de pei$es-voadores cortavam o ar. 3mcinco minutos vimos mais do Sue durante toda a viaem."utros pei$es, enormes e de espécies di'erentes, saltavamde todos os lados. )o mar e em terra reinava a aitação. )oporto, v>amos os mastros e as chaminés dos barcos, oshotéis e estaçYes de banhos ao lono da praia de Uaikiki, eo 'umo a elevar-se das casas empoleiradas no alto dasvertentes vulcZnicas do Kunch 6o_l e do 5antalus. "

rebocador da al'Zndea, a avançar para nós a toda a 'orça,assustou um cardume de douradas Sue se re'uiou debai$o danossa proa e e$ecutou cabriolas cómicas. +epois 'oi a ve*de avançar sobre nós a lancha do médico do porto. Acarapaça de uma enorme tartarua marinha emeriu e o bichoolhou para nós.)unca t>nhamos visto semelhante e$plosão de vida. arasestranhas no nosso convés, um vo*ear desconhecido e v@riose$emplares do ornal dessa manhã, com not>cias telera'adasde todo o mundo... tudo isto se apresentou perante osnossos olhos. Kor mero acaso, 'ic@mos a saber Sue o #nark e

todos os seus tripulantes se tinham a'undado no alto mar, oSue con'irmava tratar-se de uma embarcação sem nenhumascondiçYes de naveabilidade. 3nSuanto l>amos estain'ormação, o Kartido do onresso recebia no alto doa>ea-kala um telerama anunciando a cheada do #nark.

=

3ra a primeira escala do #nark... e Sue escalaR +urante DIdias t>nhamos naveado pelo mar deserto e parecia-nos Suaseincr>vel tanta actividade V nossa volta. A vertiem

apoderava-se de nós e não conseu>amos adaptar-nos derepente. Karec>amos o 0ip van Uinkle ao acordar, era comose sonh@ssemos (;!. +um lado, o a*ul do mar con'undia-secom o a*ul do céuQ do outro, eruiam-se randes vaas corde esmeralda Sue se abatiam em 'ranas brancas sobre umapraia de corais brancos. Kara l@ das areias, as verdeantesplantaçYes de cana de açúcar subiam em ondulaçYes suavespelas encostas >nremes Sue, por sua ve*, terminavam em

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cristas vulcZnicas, encimadas por prodiiosas massas denuvens Sue se des'a*iam em chuvadas tropicais. 3ra um sonhomaravilhoso. Mirando de bordo, o #nark diriiu-sedirectamente para as ondas esmeraldinas, Sue o açoitaram detodos os ladosQ bem perto de nós, o reci'e mostrava os seusdentes compridos, de um verde p@lido ameaçador.+e repente, a própria terra, verdadeira sin'onia de verdesem milhares de tonalidades, erueu os braços e 'echou-ossobre o #nark. J@ esSuec>amos a periosa passaem peloreci'e, ou as ondas esmeralda e o mar a*ul - só v>amos umaterra pra*enteira e am@vel, uma enseada apra*>vel, epeSuenas praias onde brincavam arotos de pele bron*eada. "mar desaparecera. A corrente da Zncora do #nark raneu aopassar no escovem e 'ic@mos e$tasiados, no convés imóvel.3ra tudo tão belo e estranho Sue não Suer>amos acreditar.ham@mos VSuele luar, Sue aparecia no mapa com o nome deKearl arbor, Korto das Kérolas, o PKorto dos #onhosP.

)ota ;? 0ip van Uinkle é um personaem criado pelo escritorUashinton 4rvin. Kreuiçoso incorri>vel, 0ip vai caçarpara as montanhas e adormece durante DF anos. uandoreressa, ninuém o reconhece e ele próprio começa aduvidar da sua identidade (). da 5.!.

<

1ma lancha diriiu-se para nós, transportando membros dolube )aval do avai, Sue vinham cumprimentar-nos e desear

as boas-vindas, com toda a am@vel hospitalidade própriadeste pa>s. 3ram homens normais, de carne e osso como nósQmas não Suiseram des'a*er o nosso sonho. As últimasrecordaçYes Sue uard@vamos dos seres humanos relacionavam-se com os o'iciais de diliTncias americanos e com ospeSuenos neociantes medrosos Sue no luar da alma tinhamdólares velhos e Sue, numa atmos'era de 'uliem e de poeiranera, lançaram as suas sinistras arras para o #nark, parao impedir de se lançar V aventura da volta ao mundo. %as osSue aora nos recebiam eram ente honesta, de te* morena,ar saud@vel e olhos sem aSueles re'le$os de deseo cúpido

Sue se lia nos dos outros, m>opes de tanto contar os seusmontes de ouro. )ão, estes limitavam-se a con'irmar o nossosonho, re'orçando-o com pure*a de alma.omos com eles e, cru*ando um mar calmo e cintilante,diri>mo-nos para terra, de encontro a uma paisaem deverdeante bele*a. +esembarc@mos num peSueno molhe e osonho tornou-se mais insistente. )ão vos esSueçais de Sueest@vamos no mar h@ DI dias, so'rendo o balanço de um barco

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diminuto, sem um instante de repouso, a ponto de omovimento incessante das ondas passar a 'a*er parte de nósmesmos. 5>nhamos os corpos e cérebros @ tão habituados aesse balouçar Sue, mesmo depois de dei$armos o mar,continu@vamos a sentir o movimento. )aturalmente, numaproecção psicolóica, atribu>mos o 'acto ao molhe.Aarrei-me como pude e por v@rias ve*es Suase ca> ao mar."lhando para harmian, 'e*-me pena a maneira como andava.Kara nós era como se estivéssemos no convés? o molheeruia-se, voltava a bai$ar, levantava-se e desciabruscamenteQ como não tinha balaustrada, eu e harmiant>nhamos de nos es'orçar para não perder o eSuil>brio.

IF

)unca vi um desembarcadouro assim. #empre Sue o tentava'i$ar, recusava-se a balouçarQ mas assim Sue eu desviava o

olhar, l@ se inclinava ele, e$actamente como o #nark. 1mave*, apanhei-o em 'also, ustamente Suando se levantavaQolhei para o chão enSuanto percorri] v@rios metros, e eracomo se estivesse no mar alto.)o entanto, 'inalmente e com a auda dos nossos an'itriYes,l@ conseuimos chear ao 'im do molhe e pXr pé em terra.%as era a mesma coisa. A terra virou-se loo de lado e vi apropaação do movimento oscilatório a perder de vista, atéVs cristas vulcZnicas Sue se eruiam l@ no 'undo, inclusiveaté Vs nuvens, Sue também oscilavam.3ra evidente Sue aSuela terra tinha 'alta de estabilidade,

caso contr@rio não me obriaria a semelhante in@stica parame manter direito. Karecia irreal, como tudo Sue aconteceradesde a nossa cheada. 3ra um sonho S1e podia es'umar-se aSualSuer momento. Lembrei-me de Sue talve* a cabeça meandasse V roda por culpa minha, por ter comido SualSuercoisa indiesta. %as conclu> Sue não, vendo o andartitubeante de harmian e observando como ela cambaleava eia de encontro ao veleador ao lado de Suem caminhava.4nterpelei-a e Suei$ou-se, como eu, da maneira como aSuelaterra irava V nossa volta.+epois de atravessarmos um relvado amplo e esplTndido,

descemos uma avenida bordeada de belas palmeiras epass@mos por outro relvado esplTndido, até nos abriarmossob a sombra acolhedora de @rvores maestosas. "s chilreiosdos p@ssaros enchiam o ar carreado de aromas Suentes? oper'ume de enormes lilases, as 'lores arridas dos hib>scose de outras plantas tropicais estranhas e maicas. Apaisaem tinha um encanto sublime. " sonho tornava-se de umdeslumbramento Suase insuport@vel para nós, Sue durante

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tanto tempo só conhecTramos o mar aindo. harmian,estendendo o braço, aarrou-se a mim,

I;

supus eu Sue para não des'alecer perante aSuela ine'@velbele*a. %as não. Ao apoi@-la, senti as minhas pernas ceder,e as 'lores e os relvados começaram a dançar V minha volta.3ra como um terramoto, só Sue passou depressa, sem 'a*erestraos. 3ra praticamente imposs>vel adivinhar Suando aterra nos preava semelhante partida.+esde Sue me mantivesse concentrado, não acontecia nada.%as assim Sue me distra>a, o panorama punha-se emmovimento, balouçando e orientando-se seundo Znulosdi'erentes e contraditórios. )o entanto, de uma das ve*esvirei a cabeça de repente e apanhei uma 'ila maestosa depalmeiras a descrever num rande arco pelo céu.

Korém a imaem tornou-se est@tica assim Sue a 'i$ei,trans'ormando-se de novo numa pl@cida paisaem id>lica.+epois che@mos a uma casa 'resca, com uma varanda a toda avolta, Sue parecia ser a moradia adeSuada a comedores delótus. As portas e anelas estavam abertas para dei$arpassar a brisa e, com ela, os sons melodiosos e as'rarZncias. As paredes estavam revestidas com panos tapa(;!. +ivãs, espalhados por toda a parte e cobertos comesteiras de palha, convidavam ao repouso, e havia um randepiano onde, estou certo, só se tocavam cançYes de embalar.As serviçais - criadas aponesas vestidas V moda local

andavam silenciosamente de um lado para o outro, comoborboletas. 5udo nos transmitia uma sensação de 'rescuradeliciosa e nos 'a*ia esSuecer o sol tropical e o seubrilho implac@vel sobre um mar sempre encapelado.ASuilo parecia-me demasiado bom para ser verdade. )ão eraposs>vel, ainda est@vamos merulhados no sonho. Acho Suesim porSue, ao virar-me, vi o piano, num canto espaçoso dasala, entrear-se a uma 'uriosa cabriola. )ão disse nada,porSue nesse momento veio ao nosso encontro uma

)ota ;? 5ecido 'abricado nas ilhas do Kac>'ico com casca de

@rvores (). da 5.!.

ID

entil senhora, uma bela madona, com um vestido branco Vs'lores e de sand@lias, Sue nos cumprimentou como se h@muito tempo nos conhecesse.#ent@mo-nos V mesa, na varanda dos comedores de lótus,

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servidos pelas criadas-borboletasQ comemos alimentosestranhos e bebemos um néctar chamado poi (;!.%as o sonho ameaçava des'a*er-se? vacilava e tremia comouma bola de sabão antes de rebentar. Ao admirar a ervaverde, as @rvores maestosas e as 'lores de hibisco, sentide repente Sue a mesa se movia. A mesa, a madona V minha'rente mais a varanda dos comedores de lótus, os h>biscosescarlates, o relvado e as @rvores - tudo se soerueu etombou diante de mim, para depois se a'oar no 'undo de umaonda monstruosa. Kara evitar a Sueda, aarrei-me o melhorSue pude V cadeira em Sue estava sentado, assim como ao meubelo sonho. )ão me surpreenderia se o mar, precipitando-sesobre nós, tivesse submerido esta terra 'eérica e desúbito me visse de novo ao leme do #nark, prestes aconsultar as t@buas de loaritmos ao lado. )o entanto, ailusão persistia. +is'arçadamente, observei a madona e orespectivo marido.

)ão pareciam perturbados. "s pratos não tinham desaparecidoda mesa. As @rvores, os h>biscos e a relva continuavam nomesmo luar. )ada mudara. 6ebi um pouco de néctar e o sonhotornou-se ainda mais real.- 5oma um ch@ eladoW - peruntou-me a an'itriã. Kareceu-mever inclinar-se lentamente o lado da mesa em Sue estavasentada e respondi-lhe Sue sim, num Znulo de CE raus.- A propósito de tubarYes, - disse o marido - saibam Sue em)iihaau conheci um homem...

)ota ;? 6ebida alcoólica reparada com tubérculos de taro

(uma planta viva* oriin@ria da >ndia, muito usada naculin@ria polinésia e oriental! V Sual se unta @ua,dei$ando-se 'ermentar (). da 5.!.

I]

)esse momento, a mesa deu uma uinada brusca em sentidoinverso e dei comio a olhar para o meu interlocutor numZnulo mais bai$o, numa inclinação de CE raus.5oda a re'eição se passou assim e ainda me dei por 'eli*por não ter de ver harmian a andar. )o entanto, no 'im, os

comedores de lótus pronunciaram de repente uma palavratem>vel em Sue uluei reconhecer um som 'amiliar. Adeus,devaneiosR Aarrei-me desesperadamente V cadeira, resolvidoa levar para a realidade do #nark alum vest>io tan>veldaSuela terra de lótus. #enti todo o meu sonho a esvair-see a recuar para lone. )essa altura voltei a ouvir o sommisterioso, Sue soava como alo parecido com ornalistas.5rTs homens atravessaram o relvado e d>ri>ram-se para mim.

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Ah, benditos ornalistasR A'inal o sonho era mesmo real.Kercorrendo com o olhar o mar cintilante, vi o #narkancorado. %as... pois claro, @ me esSueciaR 5inhaembarcado em #ão ranciscoR 3st@vamos no avai, aSueles>tio chamava-se Kearl arbour e, nesse preciso momento,recebendo os ornalistas, respondi V primeira peruntadi*endo?- om certe*a, durante toda a viaem tivemos um tempoman>'icoR

IC

AK951L" M4

1m desporto real

mesmo isso? um desporto real para os soberanos naturais

desta terra. )a praia de Uaikiki, a erva estende as suasra>*es Suase até ao n>vel da @ua e só dei$a de crescer a;E metros do mar. As @rvores também crescem unto da orlasalada e, sentado V sua sombra, veo a ressaca maestosa aavançar para a praia e a morrer a meus pés. A meia milha,ao laro, onde estão os reci'es, as ondas Sue se 'ormam nacalma a*ul-turSue*a lançam-se de repente para o ar,des'eitas em espuma, e vTm em roldão até V areia. 1ma apósoutra, l@ avançam elas, e$pandindo-se numa 'rente lara, decristas 'umeantes, como batalhYes brancos do in'ind@vele$ército do mar. ico sentado a ouvir o ruido perpétuo e a

ver passar a incessante procissão, sentindo-me mesSuinho e'r@il perante essa 'orça tremenda, 'eita de 'úria, espumae som. 3 imaino, percorrido por um arrepio de apreensão,de medo até? Sue pode um ser de uma peSuene* microscópicacontra este marW ontra esses monstros com cabeça de touro,alinhados V larura de uma milha e pesando mil toneladas,Sue se precipitam para a marem muito mais depressa do Sueum homem em corridaW ue hipótese tem de se salvarW)enhuma, reconheço mentalmente, sentindo-me ainda maisinsini'icante e ao mesmo tempo 'eli* por estar sentado narelva, V sombra das @rvores.

IE

3 de súbito, ao lone, de uma enorme vaa Sue cresce para océu, sure, eruendo-se como um deus marinho no meio doturbilhão branco em revolta, um homem de te* morena,empoleirado em cima de uma crista branca, em eSuil>brioinst@vel e prec@rio. Avança velo* por sobre a espuma.

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+epressa se lhe distinuem os ombros escuros, o peito, osbraços e as pernas. )o s>tio onde, h@ poucos seundos, sóse avistava uma enorme desolação e o ruido invenc>vel domar, erue-se a toda a altura um ser humano, erecto. )ão sedebate 'reneticamente nas ondas aitadas, não é enolido,esmaado ou 'ustiado pelos possantes monstros. Kelocontr@rio? domina-os, calmo e soberbo, pousado naSuelascristas movediças, com os pés cobertos por remoinhos deespuma, a poalha dos salpicos a eruer-se-lhe até aosoelhos e o resto do corpo ao ar livre, sob a deslumbrantelu* solar. [ como se voasse pelo ar, seuindo sempreadiante e deslocando-se vertiinosamente, V velocidade dasondas Sue cavala.[ o deus %ercúrio - um %ercúrio de pele escura, comcalcanhares de asas céleres. )a realidade, vindo do mar,saltou sobre o dorso de uma onda troveante Sue, debatendo-se, procura em vão 'a*T-lo cair. )ão perde a estabilidade

nem tem de 'a*er movimentos bruscos para se eSuilibrar.4mpass>vel e imóvel como uma est@tua miraculosamenteesculpida nas pro'unde*as de onde suriu, avança sempre emdirecção V marem, com as tais asas nos pés e montado nacrista branca. +epois, a espuma salta em todas asdirecçYes, ouve-se um estrondo tumultuoso Suando a onda seSuebra, vencida e sem 'orças, na areia aos nossos pésQ e éa>, aos nossos pés, Sue chea tranSuilamente a terra umcanaca com a pele bron*eada re'lectindo o brilho de ouro dosol tropical. %inutos antes, parecia um peSueno ponto nohori*onte. %ontou Pa vaa com boca de touroP e o orulho

Sue o 'eito lhe inspira evidencia-se na atitude do seucorpo man>'ico Suando,

I

por um momento, 'i$a em nós, sentados V sombra, um olhardespreocupado. [ um canaca... e, mais ainda, é um homem, ummembro da espécie superior Sue dominou a matéria e a 'orçabruta e impera sobre a criação.a*-nos pensar naSuela manhã 'atal em Sue pela ve*derradeira 5ristão desa'iou as @uasQ e também re'lectir

Sue aSuele canaca 'e* o Sue 5ristão nunca conseuiu,conhece a aleria do mar Sue 5ristão nunca conheceu. a*-nos pensar mais? é delicioso uma pessoa dei$ar-se 'icar Vsombra 'resca das @rvores da praiaQ no entanto, somos, comoo canaca, representantes da superior raça humana e podemos'a*er o mesmo Sue ele. 3ntão, toca a despir estas roupastão incómodas neste clima amenoQ toca a en'rentar o marQtoca a acrescentar asas aos pés, recorrendo a toda a 'orça

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e habilidade de Sue somos capa*esQ toca a en'rentar asondas, a domin@-las e a montar-lhes a arupa como um reiRoi assim Sue acabei por cavalar o mar. Aora Sue @e$perimentei esse desporto, considero-o, mais do Sue nunca,dino da reale*a. %as primeiro dei$em-me e$plicar a suadinZmica. 1ma onda é uma aitação comunicada. A @ua SuecompYe o corpo da onda não se move. #e o 'i*esse, Suando seatira uma pedra a um lao e a ondulação se alara numc>rculo cada ve* maior, apareceria no seu centro um buracocada ve* mais 'undo. )ão, a @ua Sue compYe o corpo de umaonda é estacion@ria. Assim, se observarmos uma porçãoespec>'ica da super'>cie do mar, veremos essa mesma @uamover-se milhares de ve*es para cima e para bai$o, pelaaitação Sue lhe é comunicada por milhares de ondassucessivas. Aora imainem essa aitação comunicada adeslocar-se para a marem. uando o 'undo diminui depro'undidade, a parte in'erior da onda bate na terra e

p@ra. %as a @ua é 'luida e a parte superior, Sue ainda nãoencontrou obst@culos, continua a transmitir as suas ondas.omo a crista da onda

II

prosseue incessantemente, ao passo Sue o 'undo se atrasa,produ*-se 'atalmente um 'enómeno? A parte in'erior a'unda-se e a parte de cima tomba para a 'rente e depois parabai$o, encaracolando, 'ormando uma crista e produ*indo umru>do. " Sue provoca a sucessão de vaas é o 'acto de o

'undo da onda bater contra o chão.%as a trans'ormação de uma ondulação lieira numa maréaitada por vaas 'undas não se 'a* abruptamente, e$ceptoSuando o 'undo tem um súbito declive. uando o 'undodiminui radualmente de pro'undidade, por e$emplo numadistZncia entre CFF e ;FF metros, a trans'ormação opera-sea uma distZncia iual. [ o Sue se veri'ica ao laro dapraia de Uaikiki, Sue constitui um esplTndido campo decorridas de sur'. #alta-se para o dorso de uma onda nomomento em Sue começa a Suebrar-se e dei$a-se Sue ela nostransporte até V marem.

Meamos aora os pormenores deste desporto, chamado sur'-ridin. 1se uma prancha chata, de D metros de comprimentopor F,IE de larura, e de 'orma mais ou menos oval. +eite-se por cima dela, como 'a*em os arotos nos trenós, e remecom as mãos o mais 'undo poss>vel, no s>tio onde aparecemas primeiras cristas. +ei$e-se 'icar tranSilamente naprancha. As ondas virão Suebrar-se, umas V 'rente, outrasatr@s, outras por bai$o e outras ainda por cima de si, para

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depois se precipitarem para a marem, dei$ando-o no mesmos>tio. uando uma onda se levanta em crista, 'orma umdecliveQ imaine-se com a sua prancha, em cima dessa curvamais inclinadaQ se ela 'icasse imóvel, vocT desceria porali abai$o, e$actamente como os miúdos descem as encostasmontados nos trenós. %as - obecta vocT - uma onda não 'icasempre no mesmo luar. [ verdadeQ no entanto, a @ua SuecompYe a onda 'ica imóvel e é aSui Sue reside o seredo.omeçando a desli*ar pela 'ace dessa onda, vocT manter-se-@assim até chear V

I=

praia, sem bater no 'undo. Kor 'avor, não ria. A super'>cieda vaa pode ser de apenas dois metros, e no entantotransport@-lo-@ por uma distZncia de CFF a =FF metros,sempre V tona. Misto Sue a onda é simplesmente uma aitação

ou um impulso comunicado e visto Sue a @ua Sue a compYe serenova constantemente, essa nova @ua vai impulsionando-a Vmedida Sue ela proride. MocT desli*a e, embora se mantenhana posição Sue tinha em cima da onda oriinal, vai sendotransportado por nova @ua Sue se erue e 'orma a onda.Miaa precisamente V mesma velocidade da onda. #e elapercorre CF Suilómetros numa hora, vocT vence essa mesmadistZncia. 1ma e$tensão de CFF metros separa-o da costa? Vmedida Sue avança no seu percurso, a @ua acumula-se navaa, o centro de ravidade encarrea-se do resto e vocTvai desli*ando, transportado por este movimento. #e ainda

est@ convencido de Sue a @ua se move consio, e$perimentemeter o braço no mar e remar com ele? depressa perceber@Sue é necess@ria uma ailidade e$trema, porSue a @ua 'icapara tr@s V mesma velocidade Sue vocT se precipita para a'rente.Meamos aora outro aspecto '>sico do sur'-ridin. 5odas asreras tTm as suas e$cepçYes. [ verdade Sue a @ua de umaonda não avança. %as e$iste um 'enómeno chamado a impulsãodo mar. A @ua da crista move-se para a 'rente, como vocTrapidamente perceber@ se ela lhe bater na cara ou se,estando por bai$o dela, 'or envolvido e derrubado, o Sue o

dei$ar@ o'eante e semi-su'ocado durante meio minuto. "cimo de uma vaa apoia-se na @ua Sue 'orma o seu 'undomas, Suando este embate no chão detém-se, enSuanto a suaparte superior continua em movimento, sem nada por bai$opara se apoiar. " Sue constitu>a a sua base é substitu>dopor ar e, pela primeira ve*, a onda, submetida Vs leis daravidade, abate-se, ao mesmo tempo Sue se encurva e éatirada para a 'rente. [ por isso Sue o

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I<

sur'-ridin não se compara simplesmente a uma descidadesli*ante por uma colina abai$o. +e 'acto, a pessoa élevantada no ar e proectada para a praia como pela mão deum titã.Abandonando a sombra das @rvores, en'iei um 'ato de banho earranei uma prancha. 3ra demasiado peSuena, mas eu nãosabia disso e ninuém me avisou. Juntei-me a um bando dearotos canacas, em @uas pouca pro'undas, com ondulaçãolieira - uma verdadeira escola in'antil. "bservei-os?Suando aparecia uma onda promissora, deitavam-se de barriapara bai$o em cima das pranchas, batiam os pés'reneticamente e cavalavam a vaa até V praia. 5enteiimit@-los, vendo como 'a*iam e repetindo os mesmos estos,mas não 'ui capa*. A onda passava e eu 'icava no mesmo

s>tio. 5entei ve*es sem 'im, batendo os pés ainda maisdepressa Sue eles, e nada. Andavam por ali meia dú*iadeles. #alt@vamos todos para as pranchas Suando v>amos umaonda boa, bat>amos os pés como rodas de um vapor e aSuelesdiabi-nhos seuiam viaem, dei$ando-me so*inho e 'rustrado.+urante uma boa hora insisti, mas não convenci uma únicaonda e levar-me para terra. Até Sue cheou um amio,Ale$ander ume ord, iobe-trotter de pro'issão. 3stehomem, sempre V procura de novas sensaçYes, encontrou a'elicidade em Uaikiki. Ao diriir-se para a Austr@lia,aportou aSui para passar uma semana a 'a*er sur'-ridin,

desporto Sue o entusiasmava. Kraticava-o havia um mTs,todos os dias, e e$perimentava as mesmas emoçYes dosprimeiros dias. A sua opinião pareceu-me abali*ada?- )ão use essa prancha, livre-se dela porSue é e$tremamenteperiosa. Mea como tenta mont@-la. #e por acaso batessecom a ponta no 'undo, 'icaria com as tripas de 'ora. 5ome aminha, é própria para o seu tamanho.4nclino-me sempre perante a verdadeira ciTncia. ord sabiao Sue 'a*ia? mostrou-me como posicionar-me sobre a prancha.+epois esperou por uma boa onda, deu-me um empurrão nomomento prop>cio e l@ 'ui euR #ente-se uma impressão

deliciosa Suando a onda nos aarra e impulsiona para a'rente. Lancei-me como uma 'lecha numa distZncia de ]F etal metros e aterrei na praia ao mesmo tempo Sue a onda. Apartir da>, 'iSuei V vontade. Apro$imei-me de ord em cimada prancha, Sue era das randes, com v@rios cent>metros deespessura, e pesava uns bons ]E Suilos. e*-me uma série derecomendaçYes. 3le próprio não tivera ninuém para oensinar e transmitiu-me em meia hora tudo Suanto aprendera

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ao lono de v@rias semanas, V custa de muito trabalho. oiuma espécie de curso compacto? meia hora depois, estava emcondiçYes de 'uncionar so*inho. 0epeti as manobras v@riasve*es seuidas, enSuanto ord me encoraava e davaconselhos. Kor e$emplo, mostrou-me a *ona precisa daprancha em Sue devia apoiar-me. %as devo ter-me colocadomuito V 'rente porSue, Suando avançava para terra, amaldita prancha embateu de 'rente contra o 'undo, estacou edeu um salto mortal, ao mesmo tempo Sue cortava as relaçYescomio de 'orma violenta. ui atirado pelo ar como umamoeda e enolido inominiosamente Suando a onda se Suebrou.oi então Sue percebi Sue, sem a auda de ord, teria'icado mesmo com as tripas de 'ora. 3sse risco emparticular 'a* parte do desporto, avisou ele. #e lheacontecer isto antes de abandonar Uai-kiki, estou certoSue, nessa altura, a sua Znsia de sensaçYes 'icar@ saciadapor uns tempos.

6em vistas as coisas, estou absolutamente convencido de Sueo homic>dio é pior Sue o suic>dio, especialmente se, noprimeiro caso, se tratar de uma mulher. ord salvou-me deser um homicida.- 4maine Sue as suas pernas são um leme - aconselhou-me. -%antenha-as untas e oriente-as na direcção pretendida.

=;

Kassados uns minutos, Suando eu vinha sobre uma onda emdirecção a terra, vi V minha 'rente, com @ua pela cintura,

uma mulher. omo 'a*er parar a ondaW Kensei Sue a matava? aprancha pesava ]E e tal Suilos e eu IE. A soma deste pesoseuia a uma velocidade de DE Suilómetros hor@rios. 3u e aprancha constitu>amos um proéctil.+ei$o aos '>sicos o cuidado de calcular a 'orça do impactesobre essa pobre e inde'esa mulher. oi então Sue melembrei de ord, o meu ano da uarda, me ter dito?P1se as pernas como um lemeRP "rientei-as rapidamentenoutra direcção, dando uma uinada com toda a 'orça de Sue'ui capa*. A prancha descreveu um c>rculo por cima da ondae aconteceram v@rias coisas ao mesmo tempo? a @ua açoitou-

me de passaem, uma bo'etada lieira se comparada comoutras, mas su'iciente para me 'a*er desmontar e atirar-mepara o 'undo, numa violenta colisão Sue me 'e* rebolarv@rias ve*es. Lancei a cabeça para 'ora para poder respirare por 'im pus-me de pé. A mulher estava diante de mim.#enti-me um herói por lhe ter salvo a vida e ela riu-separa mim, mas não era um riso histérico, porSue não seapercebera do perio. 3m todo o caso, re'lecti, não 'ora eu

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mas ord Suem a salvaraQ não havia ra*ão para me sentir umherói. Além disso, aSuela manobra com os pés era'ant@stica. om mais uns minutos de pr@tica, conseui abrircaminho por entre v@rios banhistas sem me dei$ar derrubar.- Amanhã, levo-o para o laro - prometeu ord. "bservando omar V distZncia, vi as enormes vaas 'umeantes.Ao lado delas, as ondas da véspera pareciam uma simplesondulação. )ão sei o Sue lhe teria dito se de repente nãome tivesse lembrado de Sue era um dos espécimes da espéciesuperior. Limitei-me a responder?- 3st@ bem, amanhã dou cabo dessas ondas.A @ua Sue embate na praia de Uaikiki não di'ere da Suebanha as costas de todas as ilhas havaianasQ especialmente

=D

do ponto de vista do nadador, por um lado é uma @ua

maravilhosa, 'resca mas arad@vel, e por outro,su'icientemente Suente para permitir 'icar na @ua todo odia sem se sentir 'rio. %antém sempre a mesma temperatura,de dia ou sob a lu* das estrelas, no pino do Merão ouSuando o 4nverno avança? nem Suente de mais, nem 'ria eme$cesso. +adas as Sualidades desta @ua - pura, cristalinae salada como no mar alto - não admira Sue os canacasesteam entre os melhores nadadores do mundo.)a manhã seuinte, depois de ord aparecer, percorrinaSuele mar 'ant@stico uma distZncia Sue não sei calcular.A cavalo nas pranchas, ou instalados de barria para bai$o,

atravess@mos, remando, o Pin'ant@rioP onde brincavam osarotos canacas. he@mos ao mar alto, onde as randesvaas se lançavam sobre nós, roncando. ASuela simples luta,em Sue as en'rent@vamos passando-lhes por cima ou porbai$o, @ era um desporto em si. 4mpunha-se conservar todaa presença de esp>rito por ser um combate em Sue sedes'erem olpes poderosos, por um lado, e em Sue, poroutro, é preciso usar uma certa astúcia - uma luta entre a'orça bruta e a inteliTncia.)ão tardei a aprender novas t@cticas. uando uma vaa seencaracolava por cima de mim, durante um curto instante eu

distinuia a lu* do dia através do seu corpo de esmeraldaQentão bai$ava a cabeça e aarrava-me com toda a 'orça Vprancha, pronto a receber o embate Sue, visto pelos Sueobservavam da praia, me 'a*ia desaparecer completamente nomar. )a realidade, eu e a prancha t>nhamos passado pelacrista e emer>amos na *ona calma, do outro lado. )ãorecomendaria estes açoites violentos a um inv@lido ou a umapessoa delicada. A 'orça Sue e$ercem e o impacte da @ua

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Sue transportam são como uma e$plosão. Acontece uma pessoater de en'rentar meia dú*>a delas de cada ve* e é nessaaltura Sue se descobrem

=]

novos méritos ao chão 'irme e boas ra*Yes para se 'icar emterra.Ao laro, no meio de um turbilhão de espuma, um terceiropersonaem, de nome reeth, veio untar-se a nós. uando melibertava de uma vaa e es'reava os olhos para me prepararpara a pró$ima, vi surir em cima dela um ovem deus depele bron*eada pelo sol, numa pose descontra>da.%erulh@mos na onda Sue cavalava e ord chamou-o.3le voltou atr@s, seurou a prancha pelo meio, e remoudireito a nós. 3nsinou-me coisasQ lembro-me de uma emparticular? como en'rentar uma vaa e$cepcionalmente

rande. 3stas são mesmo 'ero*es e é imprudente ir contraelas em cima de uma prancha. %as reeth mostrou-me como se'a*, de 'orma Sue sempre Sue via uma a avançar para mim,desli*ava para a parte de tr@s da prancha e dei$ava-me cairdentro do mar, com os braços por cima da cabeça e seurandoa prancha. Assim, se a vaa me arrancasse a prancha dasmãos e tentasse bater-me com ela (um truSue t>pico dessasondas!, haveria uma camada de @ua de umas de*enas decent>metros de altura entre a minha cabeça e a pancada.uando a vaa passava, subia para a prancha e remava.iSuei a saber Sue muitos 'icaram seriamente 'eridos por

terem sido apanhados pela prancha.om reeth aprendi também Sue o método do sur'-ridin e daluta com as ondas Sue ele implica resume-se V nãoresistTncia. Apara-se o olpe Sue se abate sobre nós.%erulha-se bem no 'undo da vaa Sue ameaça 'ustiar-nos edei$a-se Sue ela sia o seu caminho por cima da nossacabeça. )ada de movimentos r>idosQ convém manter-se semprerela$ado, ceder V @ua Sue tenta 'orçar-nos. uando umacorrente submarina nos arrasta para o 'undo, não nosdevemos debater, para não nos a'oarmos, porSue é ela mais'orte. %ais vale dei$armo-nos levar, nadando ao mesmo tempo

para cima. Assim ser@ '@cil chear V super'>cie.

=C

uem Sueira aprender sur' tem de ser bom nadador e estarhabituado a proredir debai$o de @ua. Além disso, deve teruma 'orça mediana e bastante bom-senso. )unca se podecalcular e$actamente o >mpeto de uma nova vaa. @

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turbilhYes em Sue Suem cavala a prancha é lançado para'ora dela e proectado para uma distZncia de de*enas demetros. " praticante só pode estar concentrado em si mesmo.Kor mais acompanhado Sue estea por outros, não pode contarcom a auda de ninuém. A arad@vel sensação de seurançaSue me invadia Suando estava na presença de ord e reeth'a*ia-me esSuecer Sue era a minha primeira e$periTncia nomar alto e com as vaas maiores.)o entanto, recordei-me disso, e de súbito, por 'orça dascircunstZncias? uma rande massa de @ua precipitou-se paranós e os outros dois 'oram correndo para terra, montadosnela. 3u podia ter-me a'oado v@rias ve*es antes de os meuscompanheiros terem tempo de voltar para unto de mim.1ma pessoa desli*a pela 'ace de uma onda montada numaprancha, mas primeiro tem de aprender a desli*ar. A pranchae o praticante tTm de se mover em direcção V costa numavelocidade ra*o@vel, antes de serem apanhados pela onda.

uando se detecta uma a apro$imar-se, d@-se-lhe as costas erema-se com os braços para terra com toda a 'orça, usandoaSuilo a Sue se chama o Pestilo do moinhoP, Sue 'orma umaespécie de ondulação imediatamente V 'rente da onda. #e aprancha avançar su'icientemente depressa, a onda acelera-ae inicia-se o percurso desli*ante.)unca me esSuecerei da primeira rande vaa Sue en'renteino mar alto. Mi-a vir, virei-me de costas e remei o maisdepressa Sue pude. A minha prancha avançava cada ve* maisr@pida, até Sue tive a sensação de Sue me arrancavam osbraços. )ão sei di*er o Sue se passava l@ atr@s, porSue não

é poss>vel virar a cabeça ao mesmo tempo

=E

Sue se roda os braços. "uvi a crista da onda a silvar e acrepitar e senti a prancha a ser levantada e lançada para a'rente. )em percebi o Sue se passou no meio minuto seuinteporSue, embora tivesse os olhos abertos, não conseuia vernada, envolvido nos remoinhos brancos da crista. %as não meimportei, porSue me dominava a consciTncia e$tasiada de tersido levado pela onda. )o entanto, ao 'im desse meio

minuto, comecei a ver e a respirar. Kercebi Sue pelo menosum metro da minha prancha estava 'ora da @ua, empinado noar. +esloSuei o peso do corpo para a 'rente para 'a*erbai$ar a prancha. +epois 'iSuei deitado em repouso,transportado num movimento louco, a observar a costa,enSuanto ia distinuindo cada ve* melhor a praia e osbanhistas. )ão cheuei a percorrer meio Suilómetro porSue,para evitar Sue a prancha merulhasse, desloSuei o meu peso

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para tr@s, mas demasiadamente, de 'orma Sue escorreueipela retauarda da onda.oi o meu seundo dia de sur' e sentia-me muito satis'eitocomio mesmo. 3stive Suatro horas no mar e a minha intençãoera, no dia seuinte, chear V praia em cima da prancha.%as esse deseo não se reali*aria. )o dia seuinte estivede cama, não propriamente doente, mas mal disposto. uandodescrevi a @ua maravilhosa do avai, esSueci-me dedescrever o sol 'ant@stico do avai. [ um sol tropical ealém disso, nos primeiros dias de Junho, um sol a piSue,insidioso e enanador. Kela primeira ve* na vida, submeti-me a uma insolação sem me dar conta. J@ Sueimara muitasve*es os braços, os ombros e as costas, Sue estavamhabituadosQ mas as pernas não. "ra as barrias das pernastinham estado e$postas, durante Suatro horas, aos raiosperpendiculares do sol. #ó ao chear a terra descobri o Suese passara. uando nos Sueimamos demasiado, a princ>pio só

sentimos a pele SuenteQ depois torna-se doloroso e 'ormam-se bolhas. 5ambém as articulaçYes, onde a

=

pele encolhe, recusam dobrar-se. Kor isso passei o diaseuinte na cama, sem poder andar. 3 por isso estou hoe aescrever sentado na cama. %ais vale 'a*er SualSuer coisa doSue estar parado. %as amanhã... ahR amanhã volto paraaSuela @ua maravilhosa e hei-de reressar a terra de pé,ao lado de ord e reeth. #e não conseuir, recomeçarei no

dia seuinte, e no outro se 'or preciso. 1ma coisa est@decidida? o #nark não *arpar@ de onolulu enSuanto tambémeu não puser asas nos pés, asas V velocidade do mar. uerotornar-me um %ercúrio alado, bron*eado e a pelar.

=I

AK951L" M44

"s leprosos de %olokai

)esse dia, Suando o #nark contornava a costa de %olokai,impelido pelo vento, a caminho de onolulu, olhei para omapa. 3m seuida apontei a uma pen>nsula bai$a, atr@s daSual se elevava uma 'ormid@vel 'alésia com uma altura entreFF e ;DFF metros.- " abismo in'ernal, o s>tio mais amaldiçoado V 'ace da5erraR - e$clamei.3u próprio 'icaria escandali*ado se, nesse momento, pudesse

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ver-me, um mTs depois, nas marens deste local maldito,entretendo-me desaveronhadamente na companhia de =FFleprosos tão divertidos como eu. A aleria deles não tinhanada de desonrosoQ mas a minha sim porSue, no meio de taldesraça, era pelo menos deslocada. 3stes os pensamentosSue me inspiraria a minha atitude. )o entanto, e só isso mepode desculpar, não conseui resistir V boa disposiçãoeral.)a tarde do C de Julho (;!, todos os leprosos se reuniramnuma pista para a prova desportiva. 3u tinha-me a'astado dodirector e dos médicos para conseuir 'otora'ar o momentoda cheada V meta. 3ra uma corrida interessante e todostomavam partido. oncorriam trTs cavalos, um

)ota ;? eriado nacional americano, comemorativo daindependTncia (). da 5.!.

==

montado por um chinTs, outro por um havaiano e o terceiropor um rapa* portuuTs. 5odos eram leprosos, assim como oúri e os assistentes. A corrida consistia em duas voltas Vpista. " chinTs e o havaiano distanciaram-se ao mesmo tempoe cavalavam lado a lado, enSuanto o rapa* portuuTs sees'al'ava, com F metros de atraso.5erminaram a primeira volta mantendo as posiçYesrespectivas. A meio caminho da seunda e última corrida, ochinTs tomou a dianteira, dei$ando o havaiano para tr@s.

3ntretanto, o portuuTs acelerou o trote do cavalo, masparecia não ter SualSuer hipótese de alcançar os outros. Amultidão aitou-se. 5odos os leprosos eram entusiastasdeste tipo de corridas. " portuuTs apro$imava-se cada ve*mais. 5ambém eu começava a empolar-me. 3stavam @ na recta'inal Suando o portuuTs ultrapassou o havaiano.)um troar de cascos, os trTs cavalos, muito a par uns dosoutros, precipitavam-se para a meta e, enSuanto oscavaleiros, aos ritos, 'a*iam silvar os chicotes, osassistentes lançavam urros e 'rases de incitamento. adave* mais perto e com rande es'orço, o portuuTs ia

anhando terreno, até Sue ultrapassou o chinTs. +ei por mimno meio de um rupo de leprosos Sue, e$ultantes, lançavamos chapéus ao ar e dançavam loucamente. omo eu, ali@s. `stantas, surpreendi-me a ritar? Pos diabos, o rapa* vaianharR Mai anharRPKrocurei dominar o meu entusiasmo di*endo para mim próprioSue estava a assistir a um dos horrores de %olokai e Sue,em tais circunstZncias, era veronhoso da minha parte

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sentir-me tão bem disposto e descontra>do. %as nenhumadessas re'le$Yes teve SualSuer e'eito, porSue a provaseuinte, uma corrida de burros Sue @ se iniciava, era demorrer a rir. " último a chear seria o vencedor e, paracomplicar a situação, nenhum dos cavaleiros montava oanimal Sue lhe pertencia. 5inham trocado de burros, de

=<

'orma Sue cada um tentava ultrapassar o seu próprio animal.)aturalmente, só os donos de burricos lentos e teimosos setinham inscrito para a prova. 1m dos bichos 'ora treinadopara dobrar as pernas e deitar-se no chão sempre Sue o donolhe tocava com os calcanhares nos 'lancos. avia os SueSueriam V viva 'orça 'a*er meia volta e reressar V linhade partida, enSuanto outros pre'eriam encostar-se V berma,para depois parar e pousar o 'ocinho por cima da cerca. 3

nenhum tinha pressa de chear. A meio da corrida, um dosburros entrou em contradição com o seu cavaleiro. J@ todostinham cheado V meta e ele ainda estava a discutir. &anhoua corrida, embora o cavaleiro tenha sido obriado acomplet@-la a pé. 3ntretanto, cerca de um milhar deleprosos ria a bandeiras despreadas com a comicidade daprova. ualSuer outra pessoa presente, como 'oi o meu caso,só poderia untar-se V aleria eral e divertir-se com eles.5odo este intróito serve como preZmbulo Vs minhasdeclaraçYes seuintes? os horrores de %olokai, como @'oram desinados, não e$istem. A colónia 'oi alvo de

descriçYes 'eitas por muita ente Sue se especiali*ou emrelatos sensacional>stas, embora nunca l@ tenha ido, namaior parte dos casos. )ão neo Sue a lepra sea umterr>vel 'laelo, mas até aora a preocupação principal temsido realçar o lado sinistro de %olokai, em ve* de seanalisar 'ielmente a 'orma como vivem os leprosos e os Suelhes consaram todo o tipo de cuidados. Mea-se estee$emplo? um ornalista Sue, claro, nunca pXs os pés nacolónia, descreveu em estilo impressionista o director %acMeih deitado numa palhota e todas as noites cercado porleprosos es'omeados Sue se lhe atiravam aos pés, de

oelhos, emendo e pedindo comida. 3ste relato arrepiante'oi transcrito na imprensa de todos os 3stados 1nidos e deuoriem a editoriais indinados e condenatórios.

<F

Kois bem, vivi e dormi durante cinco dias na PpalhotaP de%r. %acMeih (Sue, dia-se de passaem, é uma con'ort@vel

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casa de madeiraQ ali@s, convém Sue se saiba Sue não e$isteuma única palhota na colónia! e ouvi de 'acto os leprosos aemer e a clamar por comida - só Sue esses sons dolentes,particularmente harmoniosos e r>tmicos, eram acompanhadospela música de instrumentos de corda, violinos, uitarras,ukeleles (;! e banos. Além disso, os sons dolentes eram dev@rios tipos? emeram a orSuestra de leprosos, as duasaremiaçYes corais e por 'im um Suinteto de e$celentesvo*es. +onde se conclui Sue tal impostura nunca devia tersido publicada. "s lamentos descritos eram a'inal aserenata Sue os clubes recreativos 'a*em a %r. %ac Meihsempre Sue ele reressa de onolulu.A lepra não é tão contaiosa como se pensa (D!. 3stive devisita V colónia, com a minha mulher, durante uma semana,coisa Sue não teria acontecido se tivéssemos tido receio decontrair a doença. 5ambém não calç@mos luvas de borrachanem evit@mos apro$imar-nos dos leprosos. Kelo contr@rio,

and@mos muitas ve*es no meio deles e, Suando nos 'omosembora, conhec>amos v@rios doentes, de vista e de nome.6asta Sue se tomem simples precauçYes sanit@rias. uandoreressam a suas casas, depois de estar todo o dia emcontacto com os doentes, os não leprosos, isto é, osmédicos e o director da colónia, limitam-se a lavar a carae as mãos com um sabão lieiramente anti-séptico e a mandarlavar as batas.

)ota ;? &uitarra havaiana de Suatro cordas (). da 5.!.)ota D? As condiçYes, tratamentos, conceitos médicos e

outros dados técnicos re'eridos por Jack London, sendoaSuilo Sue se praticava e se teori*ava na sua época, estãonaturalmente desactuali*ados, pelo menos em parte. 3mboranão se tenha descoberto ainda o modo de transmissão, asterapias modernas, além do isolamento para evitar ocont@io, incluem o uso de medicamentos Sue sustém ain'ecção e proporcionam melhoras na maior parte dos casos(). da 5.!.

<;

)o entanto, convém salientar Sue os leprosos são pessoasin'ectadas e Sue, do pouco Sue se conhece da doença, h@ SuemantT-las riorosamente sereadas. Kor outro lado, ohorror terr>vel Sue antiamente inspiravam e o inóbiltratamento Sue so'riam eram inúteis e cruéis. Kara dissiparcertos medos in'undados, descreverei as relaçYes entre osleprosos e os não leprosos como as observei em %olokai. )amanhã em Sue che@mos, harmian e eu assistimos a uma

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monstruoso Sue 'osse o tratamento reservado aos leprososnaSueles tempos, o certo é Sue a sereação deu resultado,porSue 'oi assim Sue minimi*ou a e$tensão do 'laelo.&raças aos mesmos meios, a lepra vai diminuindo nas ilhasdo avai. %as o isolamento dos leprosos em %olokai não é opesadelo horr>vel tantas ve*es e$plorado pela imprensasensacionalista. 3m primeiro luar, não arrancaimpiedosamente o doente V 'am>lia. Kerante um casosuspeito, a deleacia de saúde convida a pessoa a diriir-se, com viaem e estadia paas, ao posto de observação de/alihi, em onolulu. " bacterióloo submete-a ] um e$amemicroscópico e, se 'or detectado o bacilo da lepra,procede-se a um novo e$ame, este e$ecutado pelos 4ncomédicos da unta de inspecção médica. #e a lepra 'orcon'irmada, a respectiva declaração tem de ser rati'icadapela deleacia de saúde e o leproso é mandado para %lki.Além disso, durante os e$ames, o doente tem o

<]

direito de nomear um médico seu representante, escolhido epao por si. %esmo depois de con'irmada a doença, não éenviado de imediato para %olokai. [-lhe concedido temposu'iciente, semanas e Vs ve*es até meses, para, em /alihi,pXr a sua vida e os assuntos pessoais em ordem. 1ma ve* em%olokai, tem direito V visita dos 'amiliares, dos seusaentes de neócios, etc, embora estes não seamautori*ados a comer e a pernoitar na casa onde ele mora.

3stão-lhes reservadas casas próprias, devidamentedesin'ectadas.uando visitei /alihi na companhia de %r. Kinkham, directorda deleacia de saúde, assisti ao desenrolar de um caso desuspeita de in'ecção. 5ratava-se de um havaiano de EI anos,Sue trabalhava em onolulu havia ]C anos como impressornuma tipora'ia? " bacterióloo cheara V conclusão de Sueera leproso, a unta médica estava na dúvida e nesse diatinham-se reunido todos em /alihi para novo e$ame.3nSuanto estiver em %olokai, o suposto leproso o*a dopriviléio de pedir reinspecçYes e os doentes estão

constan-temente a deslocar-se a onolulu para esse e'eito." vapor Sue me levou V ilha transportava também duasleprosas de reresso, ambas ovens. 1ma delas 'ora aonolulu para resolver assuntos relacionados compropriedades Sue tinha e a outra 'ora ver a mãe doente. Asduas tinham 'icado um mTs em /alihi.A colónia de %olokai tem um clima muito mais ameno Sue o deonolulu, por estar situada no lado da ilha onde sopram os

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al>sios 'rescos do )ordeste. A paisaem é man>'ica? de umlado, vT-se o mar a*ul e, do outro, o panorama randiosodos contra'ortes do pali, entremeado de lu$uriantes vales.Kor toda a parte h@ prados verdes onde pascem centenas decavalos pertencentes aos leprosos, aluns dos Suais tTm atéautomóvel próprio. )o peSueno

<C

porto de /alaupapa estão amarrados barcos de pesca e umalancha a vapor Sue também lhes pertencem e Sue elespróprios operam. 5irando uma certa e determinada *ona nãolhes é imposta SualSuer restrição especial no mar. Mendem oproduto da pesca V deleacia de saúde e o dinheiro com Suesão paos pertence-lhes interalmente.+urante a m>nha estadia, numa só noite pescaram ao todo;=FF Suilos de pei$e.

3nSuanto uns se dedicam V pesca, outros trabalham a terra.3$ercem todo o tipo de pro'issYes. 1m leproso, havaianopuro, é o patrão dos pintores. 3mprea oito homens e aceitaempreitadas para pintar edi'>cios da deleacia de saúde. [membro do lube de 5iro de /alaupapa, onde o conheci, econ'esso Sue estava muito mais bem vestido do Sue eu. "carpinteiro-che'e est@ iualmente bem colocado. +epois,além da loa da deleacia de saúde h@ outras peSuenas loasprivadas, diriidas por aSueles Sue tTm esp>rito comercial.%r. Uaiamau, o adunto do superintendente, homem competentee de uma educação e$trema, é havaiano puro e leproso. %r.

6artlett, Sue é o actual encarreado da loa, é umamericano Sue se dedicava ao comércio em onolulu Suando'oi atinido pela doença. 5odo o dinheiro Sue estes homensanham lhes pertence por inteiro. )os casos de incapacidadepara o trabalho, a colónia encarrea-se dos doentes, Suerecebem alimentação, casa, roupa e cuidados médicos. Adeleacia de saúde também coordena os trabalhos ar>colas ea criação de ado, ere a leitaria para consumo local eemprea, a troco de sal@rios ustos, Suem Suiser trabalhar.)o entanto ninuém é obriado a 'a*T-lo, porSue a colóniaencarrea-se de sustentar todos.

onheci o maor Lee, enenheiro mecZnico ao serviço da4nter 4sland #teamship ompan, Sue surpreendi em plenaactividade, Suando instalava os novos eSuipamentos na

<E

lavandaria a vapor, a ser inauurada em breve. 3ncontrei-ov@rias ve*es depois disso, e um dia disse-me?

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- onte-lhes l@ o modo como aSui se vive, conte 'ielmente.Kor 'avor, escreva e$actamente aSuilo Sue viuR Acabe de ve*com essa história da cZmara de horrores e coisas do énero.)ão ostamos Sue deturpem os 'actos, porSue temos o nossoorulho. +ia-lhes o Sue somos, nem mais nem menos.5odos os Sue encontrei na colónia - homens ou mulheres,tanto 'a* - e$primiram o mesmo sentimento de uma 'orma ououtra. 3ra evidente Sue se ressentiam amaramente da 'ormasensacionalista e mentirosa como a sua situação 'orae$plorada no passado.Apesar da doença Sue os a'lie, os leprosos 'ormam umacolónia 'eli*, dividida por duas aldeias e muitas casas decampo e de praia, com cerca de mil almas. 5Tm seis ireas,um edi'>cio da ^oun %ens hristian Association, v@riassalas de reuniYes, um coreto, uma pista de corridas, camposde basebol e de tiro, um clube atlético, muitascolectividades recreativas e duas bandas.

- &ostam tanto de c@ estar, Sue não conseuimos pX-losdaSui para 'ora - disse-me %r. Kinkham.oi-me dado veri'icar Sue é verdade. 3m Janeiro deste ano,on*e dos leprosos nos Suais a doença, apesar de certasdeeneraçYes, dei$ara de dar sinais de actividade, 'oramlevados a onolulu para serem sueitos a novos e$ames. )ãoSueriam ir e, Suando lhes peruntaram se deseavam 9r-seembora no caso de lhes ser declarada a cura, responderam emcoro? Pueremos reressar a %olokaiRP3m tempos recuados, antes da descoberta do bacilo da lepra,um peSueno número de homens e mulheres atinidos por v@rias

a'ecçYes de oriem completamente di'erente 'oramconsiderados leprosos e mandados para %olokai.

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Anos passados, sentiram-se randemente consternados Suandoos bacterióloos a'irmaram Sue não estavam a'ectados peladoença nem nunca tinham estado. )ão Suiseram ser mandadosembora e, de uma 'orma ou de outra, como audantes een'ermeiros, acabaram por ser empreados pela deleacia desaúde e 'icaram. " actual carcereiro é um deles. uando

descobriu Sue não estava leproso, aceitou, a troco desal@rio, 'icar encarreado da cadeia, para não ter de se irembora.%r. %ac Meih citou-me o caso de um nero americano,actualmente a viver em onolulu como enra$ador. @ muitotempo, antes de haver e$ames bacteriolóicos, mandaram-nopara onolulu como leproso. 5omado a caro pelo 3stado,o*ava de rande liberdade e entreava-se a uma série de

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pati'arias. Até Sue um dia, depois de ter passado anos adar constantes dores de cabeça ao director por peSuenosdelitos, aplicaram-lhe o teste bacteriolóico e 'oideclarado não leproso.- Ah-haR - disse-lhe %r. %ac Meih, es'reando as mãos decontente. - Aora é Sue te apanheiR Mou meter-te no pró$imovapor e nunca mais Suero pXr-te a vista em cimaR%as o nero não Sueria. asou-se loo com uma velha minadapela lepra e apresentou um pedido V deleacia de saúde para'icar a prestar assistTncia V esposa doente.Aleava em tom patético Sue ninuém a trataria melhor doSue ele próprio. %as percebia-se-lhe o oo. oi deportadono tal vapor e posto em liberdade total. )o entanto,pre'eria %olokai. +esembarcou sub-repticiamente no ladoabriado da ilha, escondeu-se no pali de noite e voltou Vsua casa da colónia. Krenderam-no, ularam-no econdenaram-no, por violação de propriedade, a uma peSuena

multa. +eportaram-no de novo, com o aviso de Sue, em casode recidiva, seria multado em cem dólares e mandado sob

<I

prisão para onolulu. Aora, Suando %r. %acMeih l@ vai, onero enra$a-lhe os sapatos e di*-lhe?- "uça, patrão, não imaina como tenho saudades da vida Suetinha na ilhaR - e acrescenta, em vo* bai$a? - Katrão, ser@Sue posso voltarW )ão pode arranar maneira de me aceitaremde novoW

Kassou nove anos em %olokai e nunca 'ora tão 'eli* na vida.uanto ao medo Sue a lepra inspira, não vi sinal dele nacolónia, nem entre os leprosos, nem entre os Sue o nãoeram. uem mais terror sente são os Sue nunca viram umleproso e não sabem nada da doença. )o hotel em Sue mehospedei em Uaikiki, uma senhora mostrou-se horrori*ada esurpreendida Suando soube Sue eu tivera a coraem devisitar a colónia. +isse-me Sue, nascida em onolulu, nuncatinha estado perto de um leproso. "ra isso é coisa Sue eunão posso a'irmar sobre mim próprio porSue, nos 3stados1nidos, o isolamento dos leprosos não é cumprido V risca e

aconteceu-me v@rias ve*es ver leprosos nas ruas das randescidades.A lepra é terr>vel, não h@ dúvidaQ mas do pouco Sue seidela e do seu rau de cont@io, pre'eriria muito maisacabar os meus dias em %olokai do Sue, por e$emplo, numsanatório para tuberculosos. )os hospitais para pobres dascidades e vilas americanas ou nas instituiçYes do mesmoénero noutros pa>ses, assiste-se a cenas mais

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impressionantes do Sue em %olokai. Kor isso, se pudesseescolher entre ser obriado a viver na ilha para o resto davida ou no 3ast 3nd de Londres, no 3ast #ide de )ova 4orSueou nos #tockards de hicao, não hesitaria em inclinar-mepara %olokai. 3ra melhor um ano de vida l@ do Sue cinconesses antros de miséria e deradação humana.3m %olokai as pessoas são 'eli*es. )unca esSuecerei acomemoração do C de Julho a Sue assisti. `s seis horas da

<=

manhã, os Phorr>veisP (;! @ andavam na rua, vestidos com'atiotas delirantes, uns a cavalo, outros montados em mulasou burros (Sue lhes pertenciam! e a envolver toda a colóniaem brincadeiras loucas. +uas bandas acompanhavam-nos.+epois apareceram as ama*onas pa-u, umas ]F ou CF mulheres,todas havaianas, cavaleiras e$>mias vestidas a preceito com

os 'atos de montar tradicionais e passeando-se em rupos deduas ou trTs. +e tarde, harm>an e eu 'omos convidados paraa tribuna do úri e entre@mos os prémios Vs melhorespraticantes e Vs mais bem vestidas. ` nossa volta, centenasde leprosos com as cabeças, os pescoços e os ombrosen'eitados de rinaldas de 'lores assistiram encantados aoespect@culo. )os cumes das montanhas e nas plan>ciesverdeantes avistavam-se de ve* em Suando rupos de homense mulheres, vestidos 'estivamente, também eles e asrespectivas montadas enalanados de 'lores, a cantar, a rire a alopar velo*mente. )a tribuna, observando tudo isto,

lembrei-me do la*areto de avana, onde um dia vi unsdu*entos leprosos, presos até ao dia da morte entre Suatroparedes, num espaço e$>uo. )ão, h@ milhares de s>tios nomundo onde eu não desearia viver, pre'erindo %olokai comolocal de residTncia permanente. A noite, 'omos para uma dassalas de reunião onde, perante uma assistTncia compacta, asaremiaçYes corais participaram num concurso, e o serãoterminou com um baile. Mi havaianos a viver nos bairrosmiser@veis de onolulu e por isso compreendo Sue osleprosos, Suando os levam para novos e$ames, seam unZnimesem pedir Sue os dei$em reressar a %olokai.

1ma coisa é certa? o leproso nesta colónia est@ em muitomelhores condiçYes do Sue aSuele Sue vive 'ora dela. 3sseleproso é um p@ria solit@rio, vive no pZnico permanente de

)ota ;? Kersonaens mascaradas (). da 5!.

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ser descoberto e, lenta e ine$oravelmente, vai sendocorro>do pela doença. 3sta tem per>odos de actividadeirreulares mas, Suando se apodera da v>tima, devasta-a,para depois se manter latente por tempo indeterminado. Kodenão se mani'estar durante cinco ou de* anos, ou atéSuarenta, e nesse intervalo o doente o*a aparentemente deboa saúde. )o entanto, é 'reSuente reactivar-se. A v>timanecessita dos cuidados de um cirurião competente, mas estenão pode intervir se ela mantém o seu mal em seredo. Kore$emplo, a primeira pústula pode aparecer na planta do péQSuando atine o osso, provoca necrose. #e o leproso seesconder, não pode ser operado, a necrose proride até aosossos da perna e, num espaço de tempo curto e terr>vel, odoente morre de anrena ou de SualSuer outra complicação'unesta. )o entanto, se essa pessoa estiver em %olokai, ocirurião remove-lhe a úlcera do pé, limpa o osso eerradica completamente a in'ecção nesse ponto de ataSue. 1m

mTs depois da operação, o leproso @ pode andar a cavalo,participar em corridas a pé, nadar no mar ou subir asencostas >nremes das montanhas para colher maçãssilvestres. 3, como @ disse, a doença, estacion@ria, nãovoltar@ a atac@-lo mos pró$imos cinco, de* ou Suarenta anos."s horrores lend@rios da lepra remontam aos tempos em Sueas condiçYes de vida não permitiam a ciruria anti-sépticae são anteriores V época em Sue médicos como o +r. &oodhuee o +r. ollmann 'oram viver para esta colónia. " +r.&oodhue 'oi o primeiro cirurião de %olokai e merece todosos eloios pelo nobre trabalho Sue tem 'eito. Kassei uma

manhã com ele na sala de operaçYes e, das trTs intervençYesa Sue assisti, duas eram em recém-cheados, homens vindosno mesmo vapor Sue eu.3m ambos os casos, a doença mani'estara-se apenas numponto. 1m tinha uma úlcera per'urada no torno*elo, @ emestado

;FF

avançado, e o outro tinha outra idTntica, mas numa dasa$ilas. )enhum 'ora tratado antes de vir para a ilha, mas o

+r. &oodhue deteve imediatamente o mal e, daSui a Suatrosemanas, estes doentes terão recuperado as 'orças e o bem-estar. A única di'erença entre eles e eu é Sue a doençacontinua latente nos seus corpos e poder@ 'uturamentecausar mais lesYes.3$istem re'erTncias V lepra, cua e$istTncia remonta V pré-história, nas crónicas mais antias. )o entanto, hoe nãose sabe praticamente nada sobre a sua oriem.

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A única coisa certa é ser ela contaiosa, pelo Sue convémisolar os a'ectados. A di'erença entre os nossos dias e opassado é Sue o leproso é sueito a uma sereação maisriorosa e é tratado de 'orma mais humana. %as a lepracontinua a ser um mistério terr>vel e pro'undo. "srelatórios dos médicos especialistas de todo o mundorevelam a nature*a insidiosa desta doença e todos sãounZnimes em a'irmar Sue não apresenta nenhuma 'aseclaramente de'inida. )ão a conhecem bem. Antiamente,enerali*avam de uma 'orma rosseira e dom@tica. Aora @não o 'a*em, e a única conclusão eral Sue se pode e$trairde todas as investiaçYes e'ectuadas é Sue a lepra tem umcar@cter relativamente pouco contaioso. %as ninuém sabee$plicar porSuT. " bacilo 'oi isolado, pode-se determinarpor e$ame bacteriolóico se uma pessoa est@ ou nãoin'ectada, mas continua a desconhecer-se a 'orma como obacilo penetra no corpo de um não leproso. )ão se sabe Sual

o tempo de incubação e 'racassaram todas as tentativas parainocular a lepra em v@rias espécies animais.5ambém não se conseuiu ainda descobrir um soro paracombater a a'ecção. Apesar de todas as pesSuisas, continuaa desconhecer-se a oriem da lepra e a sua cura, porSuetodas as supostas pistas se revelaram in'rut>'eras. ouveum médico Sue arantiu, aparentemente com provas

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convincentes, ser a lepra causada por uma dieta prolonada

V base de pei$e, até ao dia em Sue um dos seus coleas,vivendo nas montanhas da >ndia, lhe peruntou por Sue ra*ãoos habitantes daSuela reião, Sue nunca tinham comidopei$e, nem eles nem os seus avós, eram a'ectados peladoença. #e aparece um homem Sue trata a lepra com umaespécie de óleo ou medicamento e anuncia a sua cura,passados cinco, de* ou Suarenta anos, ela sure de novo namesma pessoa. " 'acto de a doença se manter latente pormuito tempo tem sido respons@vel por muitas supostas curas.%as uma coisa é certa? até hoe, nunca se veri'icou um casoautTntico de cura.

A lepra tem um car@cter relativamente pouco contaioso,como @ dissemos. %as como se d@ o cont@ioW 1m médicoaustr>aco e os seus assistentes inocularam-se com o baciloe não contra>ram a doença. %as isto não é conclusivo,porSue e$iste o 'amoso caso do homicida havaiano Sueconseuiu Sue lhe comutassem a pena de prisão perpétua porter aceitado ser inoculado com o bacilo da lepra e, passadopouco tempo, detectou-se a in'ecção, vindo o dito homem a

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morrer em %olokai. )o entanto, também isto não éconclusivo, porSue se descobriu Sue, na altura em Sue 'oiinoculado, v@rios membros da sua 'am>lia estavam @ nacolónia, porSue padeciam da mesma doença. Kode ter sidocontaiado por eles e ter havido um misterioso per>odo deincubação, @ em curso Suando 'oi o'icialmente inoculado.+epois h@ o caso daSuele m@rtir da 4rea, o padre +amien,Sue 'oi para %olokai de boa saúde e morreu leproso. 5Tmsurido muitas teorias sobre como adoeceu, mas ninuém temnenhuma certe*a.3le próprio nunca o soube e$plicar, mas ter@ corrido osmesmos riscos Sue uma mulher Sue vive h@ muitos anos nacolónia, teve cinco maridos leprosos e 'ilhos deles econtinua livre da doença.

;FD

ontinua por desvendar o mistério da lepra. uando sesouber mais sobre esta a'ecção e se descobrir uma vacinae'ica*, ela ser@ certamente cur@vel e erradicada da 'ace da5erra, visto Sue é pouco contaiosa. #er@ uma batalha curtae incisiva. 3ntretanto, como inventar tal vacina ouSualSuer outra arma ainda desconhecidaW 3sta é hoe umaSuestão séria. )a >ndia, h@ meio milhão de leprosos, nãoisolados. 3st@ muito certo e$istirem bibliotecas arneie,universidades 0ocke'eller e outras obras beneméritas domesmo énero, mas não podemos dei$ar de pensar Sue osmilhares de dólares astos para esse e'eito teriam

utili*ação muito mais proveitosa, por e$emplo, naleprosaria de %olokai. "s Sue aSui vivem 'oram atinidospor mero acaso, são v>timas de uma misteriosa lei naturalda Sual nada sabemos, e serearam-nos para arantir o bem-estar dos seus semelhantes e evitar o cont@io, embora nemseSuer se saiba como ele se processa. )ão só por eles, masem nome das eraçYes 'uturas, uns poucos milhares dedólares poderiam adiantar muito uma investiaçãoconscienciosa e cient>'ica com vista V cura da lepra, adescoberta de uma vacina ou de SualSuer outra insond@velterapia Sue permitisse ao mundo da medicina e$terminar o

bacilo desta terr>vel doença. ilantropos, aSui tendes omeio ideal de aplicar o vosso dinheiroR

;F]

AK951L" M444

A asa do #ol

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@ muitos turistas Sue viaam por todo o mundo, buscandoincessantemente paisaens deslumbrantes, mar>timas outerrestres, e maravilhas e bele*as da nature*a. 4nvadem a3uropa em batalhYes cerradosQ vTem-se manadas e rebanhosdeles na lórida e nas Antilhas, nas pirZmides e nasencostas e cumes das montanhas 0ochosas dos 3stados 1nidose do anad@Q mas na asa do #ol é mais prov@vel encontrarum dinossauro vivo do Sue um único desses viaantes.aleakala é o nome havaiano para Pa casa do #olP e desinauma montanha imponente da ilha de %auiQ mas, se poucos'oram os turistas Sue a avistaram ao lone, muito menos'oram os Sue a percorreram. )o entanto, atrevo-me a a'irmarSue nunca um amante da nature*a contemplar@ espect@culomais randioso em SualSuer outro ponto do mundo.onolulu 'ica a seis dias de #ão rancisco, de vapor. %aui'ica a uma noite de onolulu e, estando com pressa, o

viaante pode chear, no espaço de outras seis horas, a/olikoli, pouco mais de ]FFF metros acima do n>vel do mar eperto do acesso a asa do #ol. ontudo, nenhum turista l@vai, e o aleakala dorme, desdenhado e esSuecido na suarandiosidade [email protected] nós, os do #nark, não somos turistas, 'omos aoaleakala. )as encostas desta montanha iantesca, a uma

;FC

altitude de FF metros, h@ um rancho de ado com uns DFFF

hectares, onde pass@mos a noite. )a manhã seuinte,calç@mos as botas e mont@mos os cavalos para, na companhiade vaSueiros e apoiados por bestas de cara, subirmos até1kulele, uma propriedade a uma altitude de ;=FF metros, comum clima de temperaturas e$tremas, Sue nessa noite e$iiucobertores e a lareira da sala bem acesa. A palavra ukulelesini'ica em havaiano Ppula saltadoraP e é também ovoc@bulo Sue desina um determinado instrumento musical,compar@vel a uma uitarra antia. Kenso Sue aSuele ranchose chama assim por essa ra*ão. )ão est@vamos com pressa epass@mos l@ o dia, discutindo sabiamente altitudes e

barómetros, e sacando do nosso barómetro sempre Sue osarumentos contr@rios e$iissem uma demonstração. " meubarómetro é o instrumento Sue mais docilmente se submeteaos meus deseos. 5ambém colhemos 'ramboesas, do tamanho deovos de alinha ou até maiores, das Sue crescem nasencostas de lava cobertas de verdura até ao cume doaleakala, a ;]FF metros dali. om o céu descoberto eluminoso, 'oi-nos dado assistir a uma prodiiosa batalha

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entre as nuvens Sue se desenrolava abai$o do ponto em Suenos [email protected] os dias, sem 'alhar, trava-se esse duelo. 1kiukiu é onome do vento al>sio Sue vem l@ de bai$o, de )ordeste, eSue se lança, impetuoso, para o aleakala. 3sta montanha étão maestosa e alta Sue não o dei$a chear ao cume e '@-loderivar para os lados, de 'orma Sue a sotavento não sesente a mais leve brisa. Kelo contr@rio, o vento, a Suechamam )aulu, sopra na direcção contr@ria ao al>sio, peloSue, eternamente, dia e noite, o 1kiukiu e o )aulu lutam umcontra o outro, avançando, recuando, 'lanSueando, curvando,enrolando, contorcendo e virando, num embate Sue se tornavis>vel através das massas de nuvens Sue, arrebatadas docéu, são lançadas em colunas,

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batalhYes e e$ércitos. +e ve* em Suando, o 1kiukiu, emraadas poderosas, proecta nuvens compactas para o cume doaleakalaQ nessa altura, o )aulu captura-as habilmente,alinha-as numa nova 'ormação de uerra e, assim apoiado, d@resposta ao velho e eterno inimio. [ então Sue o 1kiukiuenvia um enorme e$ército de nuvens para o lado oriental damontanha, num bem e$ecutado movimento de 'lanco. %as o)aulu, na sua toca a sotavento, alcança as tropasatacantes, pu$a, empurra e arrasta, 'laelando como lheconvém, e arremete-as de novo contra 1kiukiu, pelo ladoocidental. 3ntretanto, 'ora do campo de batalha decisivo,

no alto das encostas Sue se a'undam até ao mar, os doisantaonistas não param de se bombardear com peSuenos'arrapos de nevoeiro Sue, procurando de'rontar-se aSui eali em escaramuças, rasteam pelo chão, esueiram-se entreas @rvores, passam pelos des'iladeiros, montam emboscadas,saltam uns sobre os outros, e aprisionam-se mutuamente. `sve*es, o 1kiukiu ou o )aulu destaca uma coluna Sue, emcara cerrada, captura os peSuenos rupos de combatentes ouproecta-os para o céu, 'a*endo-os irar loucamente emremoinhos verticais, a centenas de metros de distZncia.%as é sobretudo nas vertentes ocidentais Sue a luta é mais

acesa. " )aulu reúne o rosso das tropas e averba vitóriasretumbantes. " 1kiukiu des'alece ao 'im da tarde, comoacontece com todos os al>sios, e é repelido pelo )aulu,cuos enerais não tTm rival. 5odo o dia acumulou eorani*ou as suas imensas reservas. A medida Sue a tardeavança, ele arupa-as numa coluna compacta, 'ormada emesporão, com v@rios Suilómetros de comprimento, com v@riosmetros de espessura e EFF metros de larura. 3sta coluna

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insinua-se lentamente na vasta 'rente de batalha doen'raSuecido 1kiukiu, Sue acaba por cortar ao meio. %as nemtudo se passa sem e'usão de sanue porSue, por ve*es,

;F

o 1kiukiu responde selvaticamente e, raças aos numerososre'orços Sue a'luem do imenso )ordeste, des'a* meioSuilómetro da coluna de )aulu e varre-a para lone, para o%aui ocidental. `s ve*es, Suando a vanuarda das duas'orças se en'renta, produ*-se um tremendo turbilhãoperpendicular, em Sue as massas nebulosas, envolvidas umasnas outras, sobem milhares de metros em espiral. 1ma dast@cticas 'avoritas de 1kiukiu é arupar 'ormaçYesdensamente compactas, nas *onas bai$as, e envi@-las para umn>vel in'erior ao do )aulu. uando est@ por bai$o doinimio, começa a 'lael@-lo. A poderosa tropa central do

)aulu cede a estes olpes, 'orma uma bolsa em corcova masconseue invariavelmente repelir a coluna atacante, pondo-aem debandada. 3ntretanto, os 'arrapos Sue prepararam aspeSuenas escaramuças dispersam, esueiram-se entre as@rvores e os des'iladeiros, pairam e rasteam sobre aveetação e, com corridas inesperadas, saltam uns sobre osoutros, enSuanto, por cima, l@ no alto, o aleakala,solit@rio e banhado pelo sol, assiste impass>vel aocombate. ` noite, a luta prosseue mas, de manhã, o 1kiukiurecupera 'orças, como é próprio dos al>sios, repele ashordas do advers@rio Sue, desbaratadas, 'oem em desordem.

5odos os dias se repete esta batalha das nuvens? o 1kiukiue o )aulu estão condenados a combater eternamente nasvertentes do aleakala.)a manhã seuinte, volt@mos a partir a cavalo, iniciando asubida ao cume, acompanhados pelos vaSueiros e peloscavalos de cara. 1m destes transportava cerca de IE litrosde @ua, dividida por dois recipientes, um em cada 'lanco,porSue a @ua é preciosa na cratera sempre seca, apesar de,uns Suilómetros mais a norte e a leste, a pluviosidade serdas mais intensas do mundo. " caminho 'e*-se por rios delava 'ria e endurecida, sem a preocupação de seuir os

trilhos. )unca vi cavalos com trote tão seuro como esses

;FI

;] Sue compunham a nossa comitiva. #ubiam ou desciam, semnunca cair, apoiando-se em pontos inclinados Suase naperpendicular, com a calma e sanue-'rio das cabrasmontesas.

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5odos os Sue sobem a picos isolados so'rem uma estranhailusão de óptica? Suanto mais se sobe, mais se tornapercept>vel a super'>cie terrestre, pelo Sue se tem asensação de Sue o hori*onte se encontra num plano maiselevado. 3ste 'enómeno é muito patente no aleakala, porSueo antio vulcão erue-se directamente a partir do mar, comoum único bloco, sem apoios laterais. A medida Sue sub>amospela vertente escarpada, dir-se-ia Sue a montanha, nós etoda a paisaem em volta merulh@vamos num abismo pro'undo.A toda a volta, dominava-nos o hori*onte e, Suanto maisproredia a ascensão, mais nos a'und@vamos e mais sedistanciava a perspectiva da paisaem, numa linha cada ve*mais hori*ontal, onde o céu e o mar se reuniam. 3ra umespect@culo estranho, irreal, a 'a*er lembrar o 6uraco de#imm e do vulcão pelo Sual Júlio Merne viaou até ao centroda 5erra.uando 'inalmente che@mos ao alto da montanha iantesca,

o cume era como Sue a base de um cone invertido, situado nocentro de um impressionante poço? não est@vamos nem em cimanem em bai$o. L@ no alto, v>amos o hori*onte imponentecontra o céu e, muito abai$o, onde devia estar o topo damontanha, estava um 'osso pro'undo, a rande cratera, aasa do #ol. " bordo das paredes >nremes mede cerca deSuarenta Suilómetros. )ós est@vamos no lado ocidental daparede Sue desce Suase a piSue, separados do 'undo por uns=FF metros de distZncia. " chão da cratera, salpicado depeSuenos cones de erupçYes e com marcas de rios de lava,tem um tom vermelho, vivo e 'resco como se estivesse ainda

em brasa. "s cones de cin*as, entre ;FF e DEF metros dealtura, pareciam peSuenos montes de

;F=

areia, tal era a mani'icTncia da paisaem Sue osenSuadrava. +uas brechas com centenas de metros depro'undidade interrompiam a borda da crateraQ o 1kiuk>utentava em vão 'a*er passar através delas os seus 'o'osrebanhos de nuvens. Kor mais depressa Sue se esueirassempor entre as 'restas, o calor da cratera dissolvia-as no ar

e nenhum avanço, por mais ousado, lhes permitia '[email protected] um imenso cen@rio de despoamento e desolação, sombrio,tem>vel e 'ascinante, palco de 'oo e de abalossubterrZneos, Sue dei$ara V mostra o interior terrestre.+ir-se->a o local onde se reuniam as matérias-primasnecess@rias V construção do mundo primitivo. ASui e ali,rochas 'ormid@veis e antiSu>ssimas tinham sido proectadas

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das entranhas da 5erra, rompendo e abrindo caminho pelasuper'>cie derretida e 'ervente, visivelmente arre'ecida h@pouco tempo. 3ra um espect@culo irreal e inacredit@vel."lhando para cima, v>amos l@ ao alto (na realidade, l@ embai$o! o combate entre 1kiukiu e )aulu. 3 mais acima davertente abissal, por sobre a batalha das nuvens, no ar eno céu, pairavam as ilhas de Lanai e %olokai. +o outro ladoda cratera, para sudeste, ainda aparentemente num planoelevado, l@ estava o mar cor de turSuesa, primeiro, edepois a linha branca da rebentação nas costas do avaiQmais alto ainda, avist@vamos a cintura de nuvens em voltado vulcão e, a uma distZncia de ;DF Suilómetros, eruendoos seus corpos estupendos contra o céu a*ul, com os toposcobertos de neve e coroados por nuvens, tremelu*entes comouma miraem, os picos do %auna /ea e do %auna Loa, como SueeSuilibrados na abóbada celeste.#eundo a velha lenda, um certo %aui, 'ilho de ina, vivia

na montanha hoe chamada %aui ocidental. ina, a mãe,passava as noites a 'a*er kapas, Sue secava. "cupavainteralmente todas as manhãs a pX-las ao sol. %as assimSue terminava este trabalho, ina tinha de as recolher de

;F<

novo, para as abriar da noite. 4sto porSue (convém di*er!naSuele tempo os dias eram mais curtos do Sue aora.Apiedado da mãe por a ver naSuela eterna roda viva, %auidecidiu intervir... não, não lhe ocorreu audar a pXr as

kapas ao sol, não era tare'a Sue estivesse V sua altura.5encionava obriar o #ol a andar mais devaar.5alve* tenha sido o primeiro astrónomo havaiano. #ea como'or, observou atentamente o astro, medindo-o de v@riospontos da ilha, e concluiu Sue 'a*ia o seu curso emdirecção ao aleakala. Ao contr@rio de Josué, não imploroua intercessão divina. 0ecolheu uma rande Suantidade decocos e, com a 'ibra, teceu uma corda rossa na ponta daSual montou um nó corredio, como ainda hoe 'a*em osvaSueiros do aleakala. +epois subiu V asa do #ol e 'icouV espera. uando o astro apareceu a correr V des'ilada,

disposto a terminar o dia o mais depressa poss>vel, ovalente ovem prendeu com o seu laço um dos raios de lu*,dos maiores e mais 'ortes. "briou o #ol a abrandar umpouco e Suebrou esse raio. 0epetiu a operação v@rias ve*es,até Sue o astro teve de atendT-lo. %aui estabeleceu ostermos da pa*, Sue o #ol aceitou, comprometendo-se adescrever o seu curso mais lentamente. oi assim Sue inapassou a ter muito tempo para secar as suas kapas, e os

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dias 'icaram mais compridos, o Sue, ali@s, correspondeprecisamente ao Sue postula a astronomia moderna.Almoç@mos carne seca de vaca, acompanhada de poi, numcurral de pedra Sue em tempos servia de abrio ao ado Sueatravessava a ilha. +epois percorremos a borda da crateranuma distZncia de =FF metros e começ@mos a descer. A IEFmetros encontr@mos a primeira plata'ormaQ a seuir, 'omosescorreando por uma vertente >nreme de cin*as vulcZnicas.Apesar do terreno movediço, os cavalos não ca>ram,mantendo-se sempre habilmente em eSuil>brio. A super'>ciecin*enta das cin*as, Suando pisada

;;F

pelos cascos dos animais, trans'ormava-se numa poeira de umtom ocre amarelado, de aspecto venenoso e com sabor @cido,Sue se elevava em nuvens. "s cavalos percorreram a alope o

trecho plano Sue levava V entrada de uma espécie de chaminéde areamento, e a descida prosseuiu por entre nuvens depoeira vulcZnica, em Sue 'omos contornando os cones decin*a e percorrendo uma paisaem 'eita de tons de tiolo,rosa velho e ro$o escuro. As paredes da cratera dominavam-nos, cada ve* mais altas, enSuanto pass@vamos por uma sériede rios de lava Sue *iue*aueavam no meio de randes vaasest@ticas de mar petri'icado. A super'>cie deste oceanosinistro era intersectada por ondas de lava com dentes emserra, rodeada de cristas pontiaudas e espirais de 'ormas'ant@sticas. 5ranspusemos uma 'enda pro'unda e, durante

mais de ;F Suilómetros, continu@mos o nosso caminho aolono do principal rio de lava, o mais recente.)o 'undo da cratera escolhemos um luar para acampar, numpeSueno bosSue de olapas e koleas, abriado num canto,contra as paredes da cratera, Sue se elevavam a EFF metrosde altura. avia pasto para os cavalos, mas 'altava @ua.Kercorremos o caminho de lava até uma brecha na muralhaonde sab>amos Sue se acumulava @ua, mas o reservatórioestava va*io. uin*e metros mais acima, descobrimos umapeSuena reserva com mais de ]FF litros de @ua. 4ç@mos umbalde e dentro de pouco tempo 'a*>amos correr o precioso

l>Suido ao lono da rocha para encher o reservatório maisabai$o, enSuanto os vaSueiros se atare'avam a conter oscavalos, Sue, cheios de sede, se atropelavam uns aos outrospara beber. Molt@mos ao acampamento. %ais acima ouviam-seos berros de rebanhos de cabras montesas. 3nSuantomont@vamos a tenda, aluém disparou e abateu uma. omemoscarne seca e cabrito assado nas brasas, tudo reado com poipuro. #obre a crista da cratera,

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;;;

precisamente por cima das nossas cabeças, aitava-se um marde nuvens, empurradas pelo 1kiukiu. 3mbora se tratasse deum movimento perpétuo, essas nuvens nunca cobriam ouobscureciam a lua, porSue o calor do vulcão dissolvia-asassim Sue se apro$imavam. Atra>das pelo calor doacampamento, apareceram umas cabras a observar-nos com arprovocador. 3sses bichos, muito ordos, raramente bebiam@ua, contentando-se, seundo nos disseram, com o abundanteorvalho matinal. A tenda pareceu-nos um Suarto con'ort@vele adormecemos ao som embalador das bulas entoadas pelosnossos in'ati@veis vaSueiros havaianos, em cuas veiascorria certamente o sanue de %aui, seu valente antepassado.ualSuer 'otora'ia só pode dar uma p@lida ideia do Sue é aasa do #ol. A composição Su>mica sublimada da pel>cula

pode não mentir, mas na realidade não revela toda averdade. [ poss>vel a obectiva reprodu*ir 'ielmente abrecha de /oolau, tal como ela se proectou na lente dam@SuinaQ no entanto, na 'otora'ia resultante perde-se aescala iantesca da paisaem. As paredes das crateras, Sueparecem ter umas de*enas de metros de altura, tTm de 'actov@rias centenasQ as nuvens ao canto, Sue procuram insinuar-se na enorme 'enda, tTm mais de dois Suilómetros de laruranaSuele ponto, e do lado de 'ora são um verdadeiro oceanoQno primeiro plano, os cones e escórias vulcZnicas, Sue na'otora'ia parecem incolores e bolorentos, tTm na realidade

uma in'inidade incr>vel de tonalidades, em Sue predominamos vermelhos tiolo, os rosas, os amarelos ocres e o ro$oescuro. A descrição oral também dei$a muito a desear?di*er Sue a parede de uma cratera mede EFF metros de alturaé evocar uma simples dimensão linearQ a mera estat>sticanão permite visuali*ar a imponTncia dessa muralha. " #olest@ a ;EF milhYes de Suilómetros da 5erra mas, seundo asconcepçYes vulares, um pa>s vi*inho 'ica

;;D

muito mais lone. A debilidade do cérebro humano não 'a*ustiça ao #ol, como não a 'a* V asa do #ol. " aleakalatransmite V alma humana uma mensaem de bele*a eencantamento para a Sual não h@ palavras. [ como asdistZncias? /oliko>i est@ a seis horas de /ahului, Sue porsua ve* est@ a uma noite de onolulu. onolulu est@ a seisdias de #ão rancisco. 3 depoisW...#ubimos pelas paredes da cratera e, depois de prendermos os

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cavalos em s>tios inimain@veis, divertimo-nos a atirarpedras e a abater cabras selvaens a tiro. )ão mateinenhuma, estava demasiado ocupado com as pedras. Lembro-meem particular de um local onde 'i*emos rolar uma rocha dotamanho de um cavalo. omeçou a descida aos tombos e aossacYes, parecendo Suerer estacar mas, passados uns minutos,'a*ia voos sucessivos de mais de DF metros. Kareceudiminuir rapidamente de volume e a certa altura embateucontra um peSueno ressalto de areia vulcZnica Sue aproectou no ar, num salto de lebre, dei$ando um rasto depoeira amarela. M>amos a rocha cada ve* pior por causa dapoeira, até Sue aluém do nosso rupo assinalou o ponto emSue ela parara, embora provavelmente não conseuissedistinui-la, por ter desaparecido na distZncia. "utrosviram-na mais abai$o... 3u não vi nada e estou 'irmementeconvencido de Sue continua a rolar para o abismo.)o nosso último dia dentro da cratera, o 1kiukiu 'e*-nos

uma demonstração de 'orça. Menceu o )aulu em toda a linha,encheu a asa do #ol com nuvens e a'oou-nos também nelas,obriando-nos a sair dali. 1s@vamos um recipiente de meiolitro de capacidade, colocado debai$o de um rasão natenda, como uma espécie de pluviómetro.icou cheio nessa última noite de tempestade e chuva e nãopudemos medir o e$cesso de @ua Sue encharcou os nossoscobertores. om o pluviómetro avariado, @ não havia ra*ão

;;]

para nos dei$armos 'icar. Kor isso levant@mos oacampamento, envolvidos no lusco-'usco da madruada húmida,e diriimo-nos para leste, por cima das cin*as, para chearV brecha de /aupo. " %aui oriental não é mais do Sue umimenso rio de lava Sue transbordou, h@ muito tempo, poresta brecha. "s nossos cavalos seuiram esse caminho, a umaaltitude de pelo menos DFFF metros acima do n>vel do mar, e'oi-lhes necess@rio muito es'orço para terminar a descida.)unca na minha vida vi animais assim? sem perder o sanue-'rio, transpunham com mil cuidados e estos lentos oslocais periosos mas, assim Sue cheavam a um piso

relativamente plano e amplo, percorriam-no a trote até setornar di'>cil, altura em Sue re'reavam o passo. +urantedias, tinham vencido assim todo o tipo de terrenoacidentado, pastando Suase sempre as ervas Sue encontravam,durante a noite e enSuanto nós dorm>amos. )aSuele dia,tendo percorrido CE di'>ceis Suilómetros, entraram em anaa alope, como potros irreSuietos. Aluns deles, criados nareião seca do aleakala, no lado proteido do vento, nunca

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tinham recebido 'erraduras. 5odos os dias suportavam o piso@spero da lava, com o peso de um homem em cima, e noentanto tinham os cascos em tão bom estado como os Sueestavam 'errados.A paisaem entre Mieiras (onde a brecha de /aupo despea asua lava no mar! e ana, Sue percorremos em meio dia, bemmerecia uma estadia de uma semana ou um mTsQ mas, apesar dasua bele*a selvaem, empalidece e amesSui-nha-se Suandocomparada com a paisaem deslumbrante Sue se estende paral@ das plantaçYes de borracha, entre ana e o des'iladeirode onomanu. oram necess@rios dois dias para atravessarmosaSuele trecho maravilhoso no barlavento de aleakala, Sueos seus habitantes chamam Pterra do 'ossoP, desinaçãoprosaica, sem dúvida, mas a única Sue usam. [ raro viraluém de 'ora a estas paraens

;;C

praticamente desconhecidas e, V e$cepção de uns tantoscomerciantes, nunca ninuém ouviu 'alar deste luar de%aui. "ra um 'osso é uma 'enda pro'unda, provavelmentelamacenta e rodeada de paisaens desinteressantes emonótonas. %as o des'iladeiro de )ahiku não é um 'ossoSualSuer. " lado de barlavento do aleakala est@ sulcado demilhares de brechas abruptas das Suais se precipitam outrastantas torrentes, e cada uma delas 'orma V sua passaemdú*ias de cascatas e Suedas de @ua, antes de chear aomar. J@ vos contei Sue nestas paraens chove mais do Sue em

SualSuer ponto do mundo. )o ano de ;<FC, o n>vel médio 'oide ;F,E metros. )ão esSueçamos Sue aSui a @ua setrans'orma em açúcar, porSue a'inal a cana-de-açúcar é aprincipal riSue*a das ilhas do avai. "ra, o des'iladeirode )ahiku não é um des'iladeiro propriamente dito, mas umaseSuTncia de túneis abertos pelo homem. A @ua corredebai$o de terra e só sure V super'>cie para transpor umaarantaQ é recolhida por uma conduta suspensa a uma alturavertiinosa, Sue a transporta para o outro 'lanco damontanha e, da>, para as plantaçYes. A este man>'icoaSueduto chamam P'ossoP, com a mesma propriedade com Sue se

desinaria como P'urãoP a barca de leópatra.Kor aSui não h@ rede vi@ria e, antes da per'uração dostúneis, nem seSuer havia trilhos para cavalos. Aintensidade das chuvas, aliada a um solo 'értil e ao soltropical, d@ oriem a uma selva densa e 'umeante. %esmoSue se desbravassem mil metros da 'loresta por dia, aveetação é tão lu$uriante Sue, ao 'im de um semana, seriapreciso voltar atr@s rapidamente, antes Sue as lianas

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atravessou a pé, levando o cavalo V rédea.#ó nos livr@vamos das condutas para nos metermos emprecip>ciosQ e descans@vamos dos precip>cios Suandoencontr@vamos novas condutas, e$cepto Suando a vala estavadebai$o de terra, e nesse caso passava cavalo e cavaleiro,todos em 'ila, por uma ponte primitiva, 'eita de toros demadeira, oscilante e ameaçando arrastar-nos para o 'undo.on'esso Sue, a princ>pio, transpunha esses troços com ospés 'ora dos estribos e, unto das encostas a piSue,certi'icava-me num esto per'eitamente consciente edeliberado de Sue o pé do lado de 'ora estava bem solto, amilhares de metros de altura sobre o abismo. 4sto aoprinc>pio porSue, assim como na cratera t>nhamos perdido anoção de rande*a, também aSui, em )ahiku, depressaperdemos a noção de pro'undidade. A sucessão ininterruptade arantas e picos altos @ não nos causava SualSuersurpresa, era como se estivéssemos perante acidentes

normais de terrenoQ além disso, passou a ser esto habituale isento de emoção olharmos para bai$o e vermos abrir-se anossos pés um 'osso de muitas centenas de metros. omoacontecia com o trilho e os cavalos, nada nos metia medo.ue cavaladaR Kor toda a parte se via @ua a ca>r - tãodepressa t>nhamos as nuvens abai$o de nós como acima,porSue pass@vamos pelo meio delasR 3, de ve* em Suando, um'acho de lu* penetrava como um proector no abismo Sue seabria aos nossos pés ou 'aiscava sobre uma crosta rochosana beira da cratera, a centenas de metros acima das nossascabeças. 3m cada curva do trilho, suriam aos nossos olhos

de*enas de Suedas de @ua, proectando-se a de*enas demetros de altura.uando acamp@mos naSuela primeira noite, na ravina de/eanae, num só ponto de observação cont@mos ]D Suedas de@ua. A veetação era e$uberante naSuela terra virem?havia 'lorestas de koa, e

;;I

koleas e @rvores-da-cera (;!Q outras, as ohiaais, davam umaespécie de maçãs vermelhas, tenras, ostosas e suculentasQ

bananeiras bravas, aarradas Vs paredes dos des'iladeiros,veravam sob o peso dos cachos maduros, Sue ca>am eobstru>am o caminho. 3 por cima do arvoredo ondulavam, nummar de vida verde, milhares de variedades de lianas?umas lançavam-se para o ar sem apoio, saindo dos ramos maisaltos em 'ilamentos rendilhadosQ outras enroscavam-se emvolta dos troncos das @rvores, como serpentes monstruosasQuma delas, chamada ei-ei, muito parecida com uma palmeira

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trepadeira, desenvolvia-se sobre um tronco rosso, passandode ramo em ramo, de @rvore em @rvore, e su'ocando aveetação em Sue se apoiava. )este mar verde, 'enosmaestosos abriam as suas 'rondes randes e delicadas e olehua e$ibia as suas 'lores escarlates.)o chão crescia iual pro'usão de plantas estranhas, Suenos 3stados 1nidos costumamos ver cuidadosamenteconservadas em estu'as. +e 'acto, nas 'endas abriadas de%aui encontramos um verdadeiro ardim botZnico, onde sedesenvolvem todas as variedades conhecidas de 'etos, desdea peSuena avenca cabelo-de-vénus ao enorme e vora* chi're-de-veado - odiado pelos habitantes da 'loresta, porSuecresce em massas compactas com Suase um metro de espessurae cobre hectares de terreno.)unca se viu cavalada assim. +urou dois dias, no 'im dosSuais entr@mos numa paisaem de campos ondulados e, por umcaminho relativamente transit@vel, alop@mos até ao rancho.

6em sei Sue parece uma crueldade obriar os animais a esteúltimo es'orço, depois de uma ornada tão di'>cilQ mas nãoconseuimos re're@-los, apesar de nos es'orçarmos, ao pontode 'icarmos com as palmas das mãos

)ota ;? Aleurites mollucana, usada para 'abricar tochas deiluminação (). da 5.!.

;;=

es'oladas. 6asta isto para compreenderem a espécie de

cavalos Sue se cria no aleakala. )o rancho, reinava umarande animação. avia uma concentração do ado, para se'a*er a marcação a 'erro e domar cavalos selvaens. L@ emcima, o 4kiukiu e o )aulu prosseuiam em valorosos combatese, mais alto ainda, o sol brilhante dominava o maestosocume do aleakala.

;;<

AK951L" 4

5ravessia do Kac>'ico

+as ilhas #and_ich ao 5ahiti. - @ rande di'iculdade emreali*ar esta travessia contra os ventos al>sios. "sbaleeiros e outros marinheiros tTm randes dúvidas sobre apossibilidade de chear ao 5ahiti a partir das ilhas#and_ich. " capitão 6ruce a'irma Sue um barco deve manter-se a )orte até começar a ter vento, antes de se orientar

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para o seu destino. )a travessia Sue 'e* em )ovembro de;=]I, não observou ventos variantes perto do 3Suador Suandovinha do #ul e não conseuiu anhar leste em nenhum dosbordos, embora o tentasse de todas as maneiras.#ão estas as instruçYes n@uticas para o Kac>'ico #ul, )emmais uma palavra para audar o 'atiado viaante a 'a*er alona travessia - e nenhuma re'erTncia V passaem entre oavai e as %arSuesas, Sue 'icam a umas =FF milhas anordeste do 5ahiti e são as mais di'>ceis de alcançar.#uponho Sue a causa desta 'alta de in'ormaçYes se deve ao'acto de nenhum mareante se ter dado ao trabalho depercorrer uma distZncia tão incr>vel. %as o #nark nunca sedeteve diante do imposs>vel... principalmente porSue sólemos aSuelas curtas linhas orientadoras depois de*arparmos. Kartimos de ilo a I de "utubro e che@mos a)uka-hiva, nas %arSuesas, a de +e*embro, uma distZncia deDFFF milhas em linha recta. Kercorremos pelo menos o dobro

;DF

para l@ chear, o Sue mais uma ve* prova Sue o caminho maiscurto de um ponto para outro nem sempre é uma linha recta.#e tivéssemos aproado directamente Vs %arSuesas, talve*tivéssemos pela 'rente cinco ou seis mil milhas.1ma coisa t>nhamos @ decidido. )ão atravessar>amos o3Suador a oeste dos ;]F raus de lonitude oeste, peloseuinte problema? se atravess@mos a oeste desse ponto, seos al>sios de sudeste começassem a soprar nessa direcção,

empurrar-nos-iam tão para oeste das %arSuesas, Sue seriapraticamente imposs>vel tentar alcanç@-las V bolina. 5ambémera preciso ter em conta a corrente eSuatorial, Sue avançapara "este a uma velocidade de ;D a IE milhas ao dia.3star>amos numa situação cr>tica se 'ic@ssemos a sotaventodo nosso destino, com uma corrente destas contra nós. )ão,não atravessar>amos o 3Suador nem um minuto, nem um seundoseSuer a oeste dos ;]F raus de lonitude oeste. %as comoesper@vamos os al>sios de sudeste a E ou raus a norte do3Suador (o Sue implicava Sue, se soprassem de sudeste parasul-sudeste, precis@vamos de anhar sul para leste! tivemos

de nos manter a norte para este dos al>sios, até atinirmospelo menos ;D= raus de lonitude oeste.3sSueci-me de di*er Sue, como era costume, o nosso motor aasolina de IF cavalos não 'uncionou, de 'orma Sue sópod>amos contar com o vento. " motor au$iliar também estavaavariado. J@ aora, mais vale con'essar Sue o motor decinco cavalos Sue 'a*ia 'uncionar a lu*, os ventiladores eas bombas também não valia rande coisa.

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)oite e dia, sou perseuido pela ideia de um t>tulosensacional para um livro Sue ostaria de escrever? A voltaao mundo com trTs motores de asolina e uma mulher.%as provavelmente nunca o escreverei, para não 'erir asusceptibilidade de certos ovens senhores de #ãorancisco, onolulu e

;D;

ilo, Sue aprenderam mecZnica V custa dos motores do #nark.)o papel, tudo parecia '@cil ASui 'icava ilo e ali o nossoobectivo, a ;D= raus de lonitude oeste. om o al>sio denordeste a soprar, pod>amos viaar em linha recta entre osdois pontos e até arribar. %as o principal inconvenientecom estes ventos é Sue nunca se sabe e$actamente Suando osvamos encontrar e em Sue direcção irão soprar. Apanh@mos oal>sio de nordeste mesmo V sa>da do porto de ilo, mas o

maldito vento rondava para leste. A corrente eSuatorialnorte diriia-se para oeste, 'orte como um rio. Além disso,um barco peSueno com mar 'orte e vento pela proa pouco podeavançar. aturra nas ondas e 'ica no mesmo s>tio. om asvelas todas caçadas, adorna e 'ica com a amurada desotavento dentro de @ua, caturra, bate e não avança.Kortanto, com o #nark, o resultado destas condiçYesadversas 'oi uma lona curva para sul. 6em, nãopropriamente para sul, mas uma deriva para leste bastantedesencoraadora porSue, na realidade, não avançavae$actamente nessa direcção. A ;; de "utubro, percorreu CF

milhas para lesteQ a ;D de "utubro, ;E milhasQ a ;], nadaQa ;C, ]F milhas, a ;E, D] milhas, a ;, ;; milhas e a ;I de"utubro 'e* simplesmente Suatro milhas para oeste. Assim,numa semana, cobriu um total de ;;E milhas para este, ousea ; milhas di@rias. %as entre a lonitude de ilo e os;D= raus de lonitude oeste h@ uma di'erença de DI raus,isto é, em números redondos, ;FF milhas. A ra*ão de ;milhas por dia, precisar>amos de ;FF dias para cobrir essadistZncia. 3 mesmo assim, o nosso obectivo, ;D= raus delonitude oeste, era E raus a norte do 3Suador, ao passoSue )uka-hiva, nas %arSuesas, estava < raus a sul do

3Suador e ;D raus a oesteR#ó nos restava uma solução? anhar sul para 'uir aosal>sios e entrar na *ona dos ventos vari@veis. +e 'acto, o

;DD

capitão 6ruce não encontrou vari@veis na sua travessia enão conseuiu anhar leste em nenhum dos bordos, embora o

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tentasse de todas as maneiras. "u encontr@vamos osvari@veis, ou est@vamos perdidos, pelo Sue esper@mos termais sorte Sue ele. "s vari@veis ocupam uma 'ai$a estreitade oceano entre os al>sios e a calma eSuatorial e pensa-seSue resultam das correntes de ar Suente Sue se 'ormam nascalmas eSuatoriais e se elevam no ar em direcção contr@riaaos al>sios, bai$ando radualmente até varrerem asuper'>cie do mar, onde os podemos aproveitar. 3ncontram-se... onde calha, isto porSue 'icam con'inados entre osal>sios e as calmas eSuatoriais Sue mudam de luar todos osdias, ao lono de meses.3ncontr@mos ventos vari@veis a ;; raus de latitude norte emantivemo-nos deliberadamente nessa latitude. A sul estavamas acalmias eSuatoriais e a norte o al>sio de nordeste Suese recusava a soprar nessa direcção. "s dias passavam mas o#nark continuava no ;; paralelo. "s vari@veis 'a*iam usao nome. +e ve* em Suando levantava-se um vento lieiro Sue

loo desaparecia e nos dei$ava Suase parados durante C=horas. +epois, outro vento soprava durante trTs horas edurante dois dias inteiros 'ic@vamos no mesmo s>tio. Aseuir - até Sue en'imR - vinha mais um vento lieiro deoeste, deliciosamente 'resco, Sue punha o #nark emmovimento, a todo o pano, com um rasto de espuma e o caboda barSuilha (;! muito direito. Ao 'im de meia hora, Suandonos prepar@vamos para içar a vela de balão, o vento, depoisde mais uns sopros asm@ticos, ca>a. 3 assim por diante.ualSuer vento 'avor@vel Sue durasse mais de cinco minutosrestitu>a-nos o optimismo, mas isso não nos valia de nada,

porSue a brisa desvanecia-se na mesma.

)ota ;? A barSuilha é um instrumento Sue serve para avaliara velocidade do veleiro com determinado vento (). da 5.!.

;D]

%as havia e$cepçYes. )os vari@veis, se se esperar, acabapor acontecer SualSuer coisa e nós pod>amos dar-nos a esselu$o, pois est@vamos bem abastecidos de comida e @uapot@vel. A D de "utubro, percorremos ;F] milhas para este,

acontecimento tão notório Sue durante dias não 'al@mos deoutra coisa. 1ma ve*, apanh@mos uma peSuena tempestade desul, Sue durou oito horas e nos audou a 'a*er I; milhaspara leste nessas DC horas. +epois, Suando @ amainava,levantou-se vento de norte (a direcção oposta!, Sue nos 'e*anhar mais um rau a leste.avia muitos e muitos anos Sue nenhum veleiro se atrevia a'a*er aSuele percurso. )ave@vamos numa das reiYes mais

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)unca sab>amos o Sue ia acontecer de um momento para outro.3moção e variedade não nos 'altavam. Kor e$emplo, Vs Suatrohoras da manhã, substituo ermann (;! no leme. 3le d@-me orumo?- 3ste-)ordeste. +esviou-se oito raus, mas não consiomantT-lo na nossa direcção.)ada de admirar. Ainda est@ para surir o barco Sue sedei$e overnar numa calma tão rande.

)ota ;? ermann, marinheiro de oriem holandesa, 'e* parteda eSuipaem do #nark desde o avai ao 5ahiti (). da 5!.

;DE

- @ momentos levantou-se uma leve brisa... talve* aindavolte - di* ermann, esperançado, antes de reressar ao seubeliche.

A me*ena est@ arriada e bem 'errada. )essa noite, com osbalanços e a 'alta de vento, a vela a bater no mastro e osom cavo das adriças a bater e a roçar nos brandaistornaram-nos a vida num in'erno. %as a vela rande est@içada e o estai, a buarrona e a traSuete estalam e asescotas chicoteiam cada ve* Sue h@ um balanço. " céu est@crivado de estrelas. Konho o leme para ver se d@ sorte, nadirecção contr@ria VSuela em Sue ermann o mantinha,recosto-me e olho para o 'irmamento. )ão tenho mais nadapara 'a*er? Sue 'a*er Suando um veleiro est@ absolutamenteencal-madoW

A certa altura, bate-me no rosto uma brisa, leve, tão leve,Sue mal a sinto. %as sucede-se-lhe outra, depois umaterceira, e um ventinho 'resco, mas Suase impercept>vel,decide-se a soprar. Kara meu rande espanto, o velame do#nark sente a alteração, aita-se, e o nosso barco também,porSue a aulha de marear ira lentamente. )a realidade,não est@ mesmo a irar. " manetismo terrestre mantém-na nomesmo ei$o e, enSuanto o #nark ira sobre si próprio, aaulha oscila sobre o delicado dispositivo de cartão Sue'lutua num recipiente 'echado e cheio de @lcool.3 assim retomamos o nosso rumo. A brisa trans'orma-se num

vento lieiro Sue impele levemente o #nark. As nuvenscorrem no céu e reparo Sue as estrelas se vão apaando.0odeiam-me muros de trevas, de 'orma Sue, Suando a últimaestrela desaparece, a escuridão é tão palp@vel Sue tenho asensação de Sue a posso tocar. #e me inclino, sinto-aencostada V minha cara. As lu'adas de vento sucedem-se ereo*io-me por a me*ena estar arriada. 6olasR 3sta raada'oi 'orteR " #nark começa a balançar, a amurada de bombordo

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a'unda-se e o oceano Kac>'ico em peso

;D

entra pelo convés adentro. uatro ou cinco destes bordos'a*em-me lamentar Sue a buarrona e a iba não esteamarriadas. " mar embravece e as raadas de vento, mais'reSuentes, aumentam de violTncia, atirando salpicos deespuma para o ar. )ão vale a pena tentar ver, " muro deescuridão est@ impenetr@vel. )o entanto, não resisto aodeseo de medir a 'orça dos olpes assestados sobre o#nark. %ani'estam-se sinistros press@ios do lado do ventoe tenho a sensação de Sue, se me obstinar na observação,poderei adivinh@-los. 4mpressão inútilR 3ntre duas raadasdei$o a roda do leme e corro para a 'rente da cabina, ondeacendo uns 'ós'oros para consultar o barómetro, Sue indicaD<-<F. 3ste instrumento sens>vel recusa-se a tomar nota do

ruido 'ero* Sue se ouve no cavername. 0eresso V roda doleme mesmo a tempo de receber nova raada, a mais 'orte detodas. 6em, sea como 'or, o vento sopra e o #nark est@ nosuo rumo, a rande velocidade, para 3ste. +e momento, éisso Sue conta.)ão dei$o de me preocupar com a buarrona e a iba. #eestivessem arriadas, o barco resistiria melhor ao vento ecom menos perio. " vento começa a roncar e caem rossasotas de chuva no convés. oncluo Sue vou ter de chamartoda a eSuipaemQ mas loo depois decido esperar um poucomais. 5alve* tudo 'iSue por aSui e não sea necess@rio

cham@-los, é melhor dei$@-los dormir. %antenho o #nark Valtura do Sue se espera dele. +e repente, abate-se sobre oconvés um dilúvio, acompanhado de silvos lúubres. +epoisressure a calma, no meio da escuridão. 0eo*io-me mais doSue nunca por não ter chamado os homens.Assim Sue cai o vento, o mar torna-se encapelado. ormam-serandes vaas e o barco oscila como uma rolha de cortiça.+epois as raadas sucedem-se, cada ve* mais

;DI

violentas. #e ao menos, no meio de todo o nerume, eusoubesse o Sue se passa do lado do ventoR " #nark resistecom di'iculdade, a amurada de sotavento merulha cada ve*mais na @ua. " vento rue e silva com mais 'orça.Aora é Sue é altura de chamar os outros. ei-de cham@-los,de certe*a. A seuir cai uma b@tea de @ua, o vento amainae não os chamo. %as sinto-me bem só, ali V roda do leme, auiar aSuele peSueno mundo por entre as trevas e o

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vendaval. [ uma rande responsabilidade estar só, nummomento de perio, a tomar decisYes enSuanto os habitantesdeste peSueno mundo dormem. "corre-me Sue era pre'er>velnão ter de arcar com esse peso Suando nova tempestade selevanta, 'a*endo o mar alar a amurada e as vaas batercontra o poço do leme. A @ua salada em contacto com o meucorpo parece-me estranhamente tépida e 'orma nódulosespectrais de lu* 'os'orescente." mais acertado seria chamar toda a eSuipaem para 'erraras velas. [ estupide* da minha parte poup@-los ao es'orço edei$@-los dormir calmamente. A luta interior entre oracioc>nio e a compai$ão ora me di* Sue os dei$e em pa*,ora me aconselha o contr@rio. 3nSuanto se desenvolve estecombate sinular, a tempestade parece Suerer dissipar-se.oncluo sabiamente Sue a solicitude pelo simples con'orto'>sico não tem luar na naveação pr@ticaQ mas estudo a'orça das pró$imas raadas de vento e decido não chamar os

meus companheiros. )o 'im de contas, é o meu intelecto,acima de tudo, a Suerer adiar a decisão, a Suerer medir asua capacidade de levar o #nark a dominar as condiçYesadversas e a protelar para mais tarde, em caso dearavamento da situação, o pedido de auda aos outros.0ompe a aurora, cin*enta e brusca, por entre as nuvens,desvendando um mar espumoso Sue se abate sob o peso deborrascas cada ve* mais 'reSuentes e violentas. A chuvacai, levantando um vapor leitoso por cima das colinasmoventes do mar, abatendo ainda mais as ondas, Sueaproveitam

;D=

todas as acalmias para se aitarem com mais 'uror.Acordados pela tempestade, os homens vTm para o convés, eentre eles ermann, Sue 'a* um sorriso rasado Suando lheconto as di'iculdades por Sue passei. 3ntreo o timão aUarren (;! e decido descer, mas antes paro um instante noconvés para voltar a pXr no seu luar a chaminé do 'oão daco*inha, Sue ca>ra. 3stou descalço e, embora os meus pés @esteam bem treinados para se aarrar a SualSuer piso,

Suando a amurada volta a merulhar no mar, de repente doupor mim tombado no convés varrido pela @ua. ermann, bemdisposto, perunta-me por Sue ra*ão escolhi aSuele s>tiopara me sentar. +epois vem um seundo balanço e ele cai aomeu lado, sem saber bem como. " #nark oscila para cima epara bai$o, a amurada merulha no mar e ermann e eu,aarrados V preciosa chaminé, somos varridos pela en$urradade @ua Sue se vai escoar pelos embornais de sotavento. L@

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consio completar a minha viaem até ao piso in'erior e,enSuanto mudo de roupa, sorrio satis'eito? o #nark ruma a3ste.)ão, como vTem, nem tudo é monótono. +epois de conseuirmosrumar a este até aos ;D raus de lonitude "este, dei$@mospara tr@s os ventos vari@veis e diriimo-nos para #ul,atravessando a *ona de acalmias eSuatoriais, onde o tempoestava sereno. A>, tirando partido da menor brisa, @ nosd@vamos por satis'eitos Suando conseu>amos percorrer umamilha por horaQ e isto em dias em Sue, apesar de tudo,pass@vamos por uma dú*ia de pontos de tempo tempestuoso, emSue o #nark corria sempre riscos

)ota ;? ontratado como capitão no avai, depois de 0oscoese ter demitido e abandonar a viaem em onolulu,untamente com 6ert #tol*, acompanhar@ o #nark até Vs ilhasidi. As ra*Yes subacentes a esta sucessiva substituição

de capitães são e$plicadas por Jack London no in>cio docap>tulo 4M (). da 5.!.

;D<

de ser esmaado pelo vento. `s ve*es éramos apanhados nocentro ou na orla dessas raadas e nunca sab>amos onde ecomo ser>amos 'ustiados. As ve*es o temporal levantava-se,cobrindo metade do céu, ca>a direito sobre nós e dividia-seem dois, depois passava por ambos os lados do barco sem nosatinirQ noutros casos, uma massa de ar ino'ensivo,

parecendo transportar pouca chuva e menos vento, assumia derepente proporçYes ciclópicas, des'a*endo-se num dilúvio emassacrando-nos com ventania. +epois havia as raadastraiçoeiras, Sue nos apanhavam por tr@s, a uma milha asotavento. 5ambém se dava o caso de sermos atinidos porduas raadas ao mesmo tempo, Sue nos açoitavam sem piedade,uma de cada lado. 1m temporal sempre cansa ao 'im de umashoras, mas as raadas não. A milésima raada é tãointeressante como a primeira e talve* até mais. #ó osnovatos não as temem. uem tenha passado por mais de milrespeita-as, porSue lhes conhece o poder.

oi na *ona das calmas eSuatoriais Sue se deu oacontecimento Sue mais nos e$citou. A DF de )ovembro,descobrimos Sue, por acidente, t>nhamos perdido metade doabastecimento em @ua pot@vel. 3ra uma cat@stro'e porSue,como nessa altura est@vamos a C] dias de ilo, o Suerestava não era rande coisa. ontrolando muito os astos,ter>amos apenas para mais uns DF dias. %as est@vamos na*ona das acalmiasQ não sab>amos onde nem Suando

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encontrar>amos os al>sios de sudeste.A bomba de @ua passou a 'uncionar com parcimónia e'a*>amos uma única distribuição di@ria. ada um recebia umlitro para uso pessoal e o co*inheiro tinha direito a oitolitros. Aora vea-se o lado psicolóico da situação. AssimSue se descobriu a 'alta de @ua, começou a assediar-me umasede ardente, como nunca senti em dias da minha vida.Apetecia-me beber de um só trao o meu e$>uo litro de @uae tinha de recorrer a toda a minha

;]F

'orça de vontade para não o 'a*er. 3 não era o único? todasas conversas iravam V volta da @ua, ninuém pensava emmais nada senão na @ua e até em sonhos ela nos perseuia.Analis@mos os mapas, V procura de poss>veis ilhas Vs Suaisrecorrer em caso de e$trema necessidade, mas não havia

ilhas. As %arSuesas eram as mais pró$imas e estavam dooutro lado do 3Suador e da *ona de calmas, claro, o Suearavava o problema. 3st@vamos a ] raus de latitude )orte,ao passo Sue as %arSuesas 'icavam a < raus de latitude #ul- uma di'erença de mais de mil milhas. Além disso,situavam-se ;C raus a oeste da nossa lonitude,perspectiva pouco arad@vel para um punhado de sereshumanos Sue, em pleno mar, suavam as estopi-nhas sob o soltropical.i$@mos cabos de cada lado do #nark entre os ovéns da velarande e da me*ena. A estes prendemos o toldo rande do

convés, içando-o com a auda de uma en$@rcia, de 'orma aSue a @ua da chuva Sue recolhesse se escoasse de maneira apoder ser aproveitada. +e ve* em Suando pass@vamos por*onas enevoadas. 5odo o dia procur@mos as nuvens, ora aestibordo, ora a bombordo, e também V popa. %as nuncanenhuma se apro$imou para nos dar chuva. +a parte da tarde,uma bem rande pareceu Suerer avançar para nós, e$pandindo-se por sobre o mar. M>amo-la a despear milhares de litrosno mar salado. #empre atentos ao toldo, esper@mos. Uarren,%artin e ermann 'ormavam um verdadeiro Suadro vivo.Juntos, aarrados V en$@rcia e balouçando ao ritmo do

barco, observavam atentamente a tempestade ao lone. Aposição dos corpos indicava tensão, ansiedade e emoção.%as, Suando o temporal se abriu ao meio, passando por cimade nós e V popa sem Sue uma única ota de @ua ca>sse sobreo toldo seco e va*io, os corpos dos homens, tornando-se'l@cidos, pareceram encolher sobre si próprios.

;];

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)o entanto, choveu nessa noite. %artin, cua sedepsicolóica o obriara a consumir demasiado depressa a suaração de litro, pXs a boca na borda do toldo e bebeu o maislono trao Sue vi beber em toda a minha vida. " preciosol>Suido caiu do céu Vs b@teas e, ao 'im de duas horas,t>nhamos mais de CFF litros nos reservatórios.3stranhamente, no resto da viaem até Vs %arSuesas nãovoltou a cair um pino de chuva. #e aSuele temporal nãotivesse passado por nós, a bomba continuaria selada e nóster>amos procurado utili*ar a nossa asolina de reservapara destilar @ua salada.5ambém t>nhamos de pescar, mas isso não constitu>a problemaporSue os pei$es vinham dei$ar-se apanhar unto V amurada.1m an*ol de aço de <F cent>metros preso a uma linha 'orte,com um lenço branco a servir de isco, 'oi mais do Suesu'iciente para pescarmos bonitos com de*enas de Suilos. "s

bonitos, habituados a alimentar-se de pei$es-voadores, nãocostumam morder o isco. )unca me esSuecerei da primeira ve*Sue os vi. #ão os mais endiabrados de Suantos pei$es andamno mar e praticam um canibalismo desaveronhado. Assim Sueum deles é apanhado pelo an*ol, os companheiros atacam-novora*mente. Aconteceu-nos muitas ve*es içar aluns @sem>devorados, com dentadas enormes do tamanho de ch@venasde [email protected] cardume de v@rios milhares de bonitos acompanhou-nosnoite e dia, durante mais de trTs semanas. Audados pelo#nark, entrearam-se a uma caça 'ant@stica, abrindo um

sulco de destruição de meia milha de larura e de ;EFFmilhas de comprimento. olocados de ambos os lados dobarco, saltavam sobre os pei$es-voadores Sue a nossa proadesviava do seu curso. omo perseuiam incansavelmente assuas presas, Sue abocanhavam depois de v@rios saltos,estavam sempre a par do barco e a todo o momento, olhandopara tr@s, v>amos aitar-se, V 'rente de

;]D

uma vaa, as suas 'ormas prateadas, sinrando Suase V

super'>cie das ondas. 1ma ve* saciados, apreciavam a sombrado #nark, ou a das suas velas, e havia sempre uma boacentena de bonitos a desli*ar calmamente unto a nós, Vsombra 'resca.%as., coitados dos pei$es-voadoresR Kerseuidos e devoradosvivos pelos bonitos e pelos ol'inhos, procuravam re'úiono ar, mas loo os p@ssaros, em voo rasante, os 'orçavam areressar ao mar. )ada os podia salvar. )ão pensem Sue é

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por puro desporto Sue saltam para 'ora da @ua, porSue paraeles é mesmo uma Suestão de vida ou de morte. %ilhares deve*es ao dia v>amos desenrolar-se diante dos nossos olhosuma verdadeira traédia. Atra>dos pelo voo de uma ave adescrever c>rculos e *iue*aues, v>amos o dorso de umol'inho a rasar a super'>cie num sulco velo*. %esmo V sua'rente, uma 'lecha dardeante e prateada elevava-se no ar -um mecanismo de voo, delicado e orZnico, dotado desensaçYes, poder de direcção e amor V vida. " p@ssarolança-se em voo picado e 'alha o alvo. " pei$e voador,anhando altitude como um papaaio, contra o vento, vira-senum meio c>rculo e dei$a-se levar pelo vento, 'lutuando sobo seu impulso. L@ em bai$o, o ol'inho abre um sulco deespuma revolta.3 assim mantém a perseuição, seuindo com os seus randesolhos o almoço palpitante Sue navea num elemento di'erentedo seu. )ão é capa* de se elevar até ele, mas a e$periTncia

demonstrou-lhe muitas ve*es Sue, mais tarde ou mais cedo, opei$e-voador, no caso de não ser enolido pelo p@ssaro,reressar@ V @ua e nessa altura...saciar@ a 'ome. 5>nhamos pena dos in'eli*es pei$es alados ecustava-nos assistir VSuela matança sórdida e sanuin@ria,mas Suando, certa noite, um peSueno pei$e-voador, perdido,bateu contra a vela rande e caiu no convés, estrebuchando,corremos a apanh@-lo com uma voracidade idTntica V dosbonitos e dos

;]]

ol'inhos. KorSue - 'iSuem a saber - não h@ nada melhor Sueum pei$e-voador ao peSueno almoço. 5enho-me peruntado porSue ra*ão uma carne tão saborosa não se trans'orma emtecidos iualmente delicados no oranismo dos seres Sue aconsomem. 5alve* a rapide* com Sue se deslocam os ol'inhose os bonitos em busca da presa lhes torne a carne maisria. %as, pensando bem, os pei$es-voadores deslocam-setambém a rande velocidade..."casionalmente caç@vamos tubarYes, com an*óis maiores,munidos de esporYes e presos a linhas curtas. om os

tubarYes vTm os pei$es-piloto, as rémoras e todo o tipo decriaturas parasitas. om os seus olhos de tire e as suasdo*e 'iadas de dentes auçados como lZminas, os tubarYestTm mesmo aspecto de comedores de homens. )o entanto,con'esso Sue, tal como os meus companheiros do #nark, soude opinião Sue não h@ prato de pei$e mais delicioso do Suetubarão estu'ado em tomatada. )a *ona das calmas apanh@mosuma ve* um pei$e a Sue o co*inheiro aponTs chamou haké. 3

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noutra ocasião, com a auda de um an*ol de colher,arrastado a ]FF metros na esteira do barco, iç@mos um pei$ecom aspecto de cobra, com ; metro de comprimento pelo menose não mais de < cent>metros de diZmetro, armado com Suatrorandes dentes.oi o melhor petisco - delicioso de sabor e de consistTncia- Sue comemos a bordo.A mais apreciada adição V nossa ementa 'oi uma tartaruaverde Sue pesava uns bons IF Suilos e Sue nos 'oi servidaem postas assadas, sopas e uisados e 'inalmente numsuculento caril Sue, de tão bom Sue estava, alunsrepetiram a ponto de Suase terem uma indiestão. Atartarua 'oi detectada a sotavento, dormindo calmamente nomeio de um rande cardume de ol'inhos curiosos. 3racertamente espécime do alto mar, porSue a costa maispró$ima estava a milhares de milhas. Mir@mos de bordo eapro$im@mo-nos.

;]C

ermann enterrou-lhe o arpão no pescoço. uando a iç@mos,tinha muitas rémoras aarradas V carapaça e dos buracos poronde passam as barbatanas sa>ram v@rios caranueosrandes. 6astou uma única re'eição para a tripulação do#nark decidir de comum acordo Sue não hesitaria em deter amarcha para capturar mais tartaruas.%as o ol'inho é o rei dos pei$es do alto. Assumetonalidades muito di'erentes entre si. riatura etérea do

a*ul imenso, Suando nada proporciona um milare de cores?tanto sure em tons de verde - verde-esmeralda, verde-escuro e verde-'os'orescente - como em tons de a*ul - a*ul-escuro, a*ul-eléctrico, toda a ama de a*uis. uando içadoa bordo, e$ibe todo o espectro, passando por mati*esinconceb>veis de a*uis, verdes e amarelos, até Sue, derepente, se torna de um branco l>vido, com pontos a*uisclaros no meio, como se 'osse malhado como as trutas. Aseuir abandona o branco e volta a passar por todas ascores anteriores, terminando em tom madrepérola.Aos adeptos, recomendo um desporto apai$onante? a pesca do

ol'inho. laro, é preciso uma linha 'ina, molinete e vara." an*ol indicado é um nG I "#hauhness, usando como iscoum pei$e-voador. omo o bonito, o ol'inho alimenta-see$clusivamente de pei$es-voadores e precipita-se sobre oisco com a rapide* de um raio. " primeiro sinal de Suemordeu sure Suando o molinete rane e a linha se move emZnulo recto com o barco. #em nos dar tempo para nospreocuparmos com o comprimento da linha, o pei$e proecta-

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se no ar, numa sucessão de saltos. [ poss>vel dominar umanimal destes, Sue tem sempre mais de um metro decomprimento. uando preso pelo an*ol, toma uma tonalidadedourada e d@ esses saltos para se libertar. " pescador temde ser insens>vel ou decadente se não sentir o coraçãobater mais depressa ao ver esse admir@vel pei$e dourado acabriolar e a debater-se como um potro.

;]E

uidado, mantenha a linha bem tensaR aso contr@rio, numdos saltos o an*ol pode desprender-se ou o animal empreendenova corrida Sue culmina com uma nova série de saltos.)esta altura, o pescador começa a preocupar-se com a linhae a desear ter mais umas centenas de metros no carreto.%as, manobrando com cuidado, é poss>vel poupar linha. Ao'im de uma hora, o pei$e pode ser arpoado. 3u próprio icei

um ol'inho com ;,]E m.ermann pescava-os com meios mais prosaicos. #ó precisavade uma linha simples e carne de tubarão. 3ra uma linhamuito rossa mas em mais de uma ocasião partiu-se e o pei$e'uiu. 1m dia, um ol'inho escapou-se com um isco inventadopor ermann, um pedaço de carne com Suatro an*óis"#hauhness. Kassada uma hora, o mesmo ol'inho 'oirepescado com arpão e, Suando o abrimos, recuper@mos osSuatro an*óis. +epois de nos acompanharem durante mais deum mTs, perdemos os ol'inhos de vista a norte do 3Suador enão volt@mos a ver mais nenhum até ao 'im da travessia.

3 assim se passavam os dias. avia tanto para 'a*er Sue otempo nunca nos pesava. %esmo Sue assim não 'osse, as horasnão nos pareceriam lonas, porSue o mar e as nuvensapresentavam-nos espect@culos maravilhosos? madruadas Sue'a*iam lembrar cidades imperiais a arder sob arco->ris SueSuase cheavam ao *éniteQ crepúsculos Sue inundavam o mararro$eado com rios de lu* em tons rosados, escorrendo de umsol com raios do mais puro a*ul, di'undindo-se pelo céu emtodas as direcçYes. uando o dia avançava e o calorapertava, o mar estendia-se como um tecido de cetim a*ul,em cuas dobras a lu* 'ormava túneis brilhantes. uando

soprava uma brisa, V popa e ao lone via-se uma procissãoborbulhante de 'antasmas de uma cor turSuesa leitosa - aespuma levantada pela Suilha do #nark investindo contra omar. ` noite, o sulco tornava-se num 'oo

;]

'os'orescente Suando o barco passava por uma colónia de

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medusas, enSuanto, mais ao 'undo, se podia imainar o vooincessante de cometas, com caudas lonas, ondulantes enebulosas - causados pela passaem de bonitos por entre asmedusas. 3 de ve* em Suando, emerindo da escuridão dosdois lados do barco, suriam Suase V tona da @uaoranismos 'os'orescentes maiores, Sue se iluminavam derepente, como proectores eléctricos, sempre Sue, mesmo porbai$o do nosso urupés, se dava uma colisão entre bonitosapressados em busca de alimento.ontinuando o nosso rumo para este, l@ atravess@mos a *onadas calmas tropicais e reencontr@mos a brisa 'resca de #ul-#udoeste. Apanhados assim de lado, corr>amos o risco depassar diante das ilhas %arSuesas a uma rande distZnciapara "este. %as no dia seuinte, terça-'eira D de)ovembro, no meio de uma violenta borrasca, o vento viroubruscamente para sudeste. inalmente, cheavam os al>sios eacabavam-se os temporaisR A partir da>, o tempo esteve

man>'ico, com um vento 'avor@vel e a barSuilha a assinalaruma boa velocidade, as escotas bastante 'oladas e, cadauma de seu lado, a vela de 'ortuna e a vela rande bemen'unadas. " al>sio rondou proressivamente até nordeste,enSuanto sinr@vamos para sudoeste.+e* dias depois, na manhã de de +e*embro, Vs E horas,avist@mos terra Pno local e$acto onde devia estarP, mesmo Vnossa 'rente. Kass@mos a bombordo de 1a-uka, contorn@mos acosta meridional de )uka-iva e na mesma noite, em plenaborrasca e imersos numa escuridão total, l@ che@mos aomolhe da estreita ba>a de 5aiohae.

"s ranidos da Zncora 'a*iam coro com os berreiros dascabras selvaens nas 'alésias e o ar estava carreado doper'ume de 'lores. 5ermin@vamos a nossa travessia?sessenta dias sem ver terra, num mar deserto em cuohori*onte nem uma só ve* avist@mos as velas en'unadas de umbarcoR

;]I

AK951L"

5pee

A este, a ilha de 1a-uka estava encoberta por uma chuvadade temporal, Sue depressa envolveu o #nark. %as o nossopeSueno barco, com a vela de 'ortuna larada ao al>sio de#udeste, não abrandou o seu curso. " cabo %artin, na pontae$trema a sul da ilha de )uka-iva, apresentava-se emposição obl>Sua e a sua enorme ba>a - a ba>a do omptro>ler

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- suriu inteira perante os nossos olhos Suando pass@mospela sua vasta entrada, onde o rochedo da Mela - realmentemuito parecido com a vela de um barco de pesca do salmãodos Sue se constróem no rio olúmbia - resistiavalentemente aos ataSues 'uriosos da maré de sudeste.- ue vTs l@ adianteW - peruntei a ermann, Sue estava Vroda do leme.- 1m barco de pesca - respondeu, depois de perscrutar ohori*onte.)o entanto, no mapa, o local est@ per'eitamente assinalado?o rochedo da #entinela.+epois analis@mos a topora'ia da ba>a, procurandoavidamente com o olhar as trTs enseadas. +etivemo-nos na domeio onde, V lu* mortiça do crepúsculo, distinuimos oscontornos con'usos de um vale. uantas ve*es nos debruç@mossobre o mapa para estudar aSuela enseada espaçosa ondeterminava o vale de 5peeR 5aipi é a ortora'ia e$acta,

;]=

como est@ no mapa, mas pre'iro 5pee e escreverei sempreassim. uando era peSueno, li um livro de erman %elville(;!, 5pee, Sue me 'e* sonhar muito. %as não eram apenassonhos, porSue nessa época eu @ decidira Sue, Suando 'osserande e 'orte, também iria a 5pee, desse l@ por ondedesse. KorSue a visão radiosa do mundo @ iluminava o meucérebro de criança - essa visão Sue, mais tarde, me irialevar a muitos pa>ses e cua bele*a não diminuiu aos meus

olhos."s anos passaram, mas nunca me esSueci de 5pee. 1ma ve* emSue reressei a #ão rancisco depois de um cru*eiro de setemeses no )orte do Kac>'ico, decidi Sue era o momento departir. " briue &alilee preparava-se para viaar para as%arSuesas mas in'eli*mente a eSuipaem estava completa.%arinheiro e$perimentado e bastante ovem para sentire$cessivo orulho por esse 'acto, pedi contudo aocomandante Sue me dei$asse embarcar como simples rumete,porSue Sueria a todo o custo visitar 5pee. laro, o&alilee *arparia das %arSuesas sem mim, porSue, V

semelhança do personaem do livro, eu Sueria encontraroutro aa_a e um novo /or-/or para me acompanhar nasminhas pererinaçYes. " patrão do barco deve ter lido nosmeus olhos a intenção de desertar, ou talve* o luar derumete @ estivesse realmente preenchido. A verdade é Suenão embarSuei.+epois 'oi a corrida desen'reada dos anos a passar, cheiosde proectos mirabolantes, de muitos T$itos e 'racassosQ

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mas 5pee não 'ora esSuecida e 'inalmente ali estava eu, aprocurar com os olhos os contornos nebulosos do seu vale,enSuanto o temporal amainava e a cortina de bruma sedei$ava penetrar pelo #nark. %al tivemos tempo de ver

)ota ;? "utro escritor norte-americano (;=;<-;=<;!, autorde v@rias obras 'amosas, entre as Suais %ob +ick (). da5.!.

;]<

diante de nós o rochedo da #entinela, com as vaas aSuebrarem-se V sua volta, antes de se tornar impercept>velpor causa da chuva e da escuridão. +iriimo-nos direitos aele, esperando ouvir o roncar das vaas, para nosa'astarmos a tempo. Kara nos orientar, só t>nhamos aposição marcada pela aulha de overno e, se pass@ssemos ao

lado do rochedo da #entinela, também não encontrar>amos oporto de 5aiohae, pelo Sue ter>amos de pXr-nos a capadurante a noite, perspectiva pouco brilhante para viaantescomo nós, cansados de uma travessia de F dias na imensasolidão do Kac>'ico, @vidos de rever terra, de comer 'rutae ansiando por admirar o doce vale de 5pee h@ tantos anossonhado.+e repente, no meio de 'raores terr>veis, a massa dorochedo da #entinela suriu V nossa 'rente, debai$o dechuva. Alter@mos o rumo e, com a vela rande e a vela de'ortuna des'raldadas, pass@mos diante do rochedo, depois do

Sue encalm@mos por completo. A seuir, uma lu'ada en'unou ovelame e empurrou-nos para 'ora da ba>a de 5aiohae.Avançando muito lentamente, sond@vamos com os olhos,procurando o 'arol vermelho do porto em ru>nas, Sue nosindicaria a posição do molhe. A brisa, lieira eenanadora, soprava ora de Leste, ora de )orte, #ul e "estee de todos os lados ouv>amos o roncar de randes vaasinvis>veis. +as 'alésias abruptas cheavam-nos os berrosdas cabras selvaens e, por cima de nós, as primeirasestrelas suriam no céu tormentoso, sem>-encobertas pelachuva. Ao 'im de duas horas, tendo percorrido uma milha

dentro da ba>a, lanç@mos a Zncora a on*e braças (;! de'undo. he@vamos 'inalmente a 5aiohae.)a manhã seuinte, acord@mos diante de uma paisaemdeslumbrante. " #nark descansava num porto ameno, aninhado

)ota ;? 6raça é uma medida antia eSuivalente a D,D metros(). da 5.!.

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;CF

no sopé de uma enorme elevação em an'iteatro, cuasescarpas inclinadas, cobertas de vinhedos, pareciam nascerdirectamente no mar. A oeste, distinuimos, vis>vel numdeterminado ponto da encosta, a linha 'ina de uma vereda.- " caminho por onde 5ob 'uiu de 5peeR - rit@mos.+escemos a terra pouco depois e alu@mos cavalos. %astivemos de adiar o passeio para o dia seuinte? ao 'im dedois meses no mar, sempre descalços, sem espaço su'icientepara 'a*er e$erc>cio, não conseuimos adaptar-nos deimediato aos sapatos de couro e ao piso est@vel. Alémdisso, primeiro t>nhamos de esperar Sue o solo dei$asse debalançar e Sue nos passasse o enoo, antes de podermosescalar os trilhos >nremes da ilha montados em cavalos coma ailidade das cabras. Kara treinarmos um pouco, 'i*emosum peSueno percurso e embrenh@mo-nos na selva densa. Loo a

seuir depar@mos com um vener@vel >dolo de madeira, cobertode muso, unto do Sual se encontravam um comerciantealemão e um capitão de um barco norueuTs Sue discutiam opeso do monumento e não se decidiam a cort@-lo ao meioreceando depreciar-lhe o valor. 5ratavam o >dolo de 'ormasacr>lea, espetando-lhe navalhas para lhe testar a solide*e avaliar a espessura da camada de muso. #ó lhes 'altavadi*er-lhe Sue se levantasse e caminhasse até ao barco, paranão terem o trabalho de o carrear. 3m ve* disso, de*anovecanacas amarraram-no a uma rade de madeira e embarcaram-no, solidamente preso por bai$o das escotilhas. )este

momento deve navear pelo Kac>'ico #ul, passando pelo caboorn a caminho da 3uropa, última morada dos velhos >dolospaãos, e$cepto dos poucos Sue 'icam na América, emparticular um Sue, com um esar Sue pretende ser umsorriso, est@ ao meu lado enSuanto escrevo estas linhas eSue, a menos Sue se dT um nau'r@io, continuar@ a sorriralures na minha

;C;

terra e vencer@ a partida, porSue permanecer@ mesmo depois

de eu me trans'ormar em pó.Kara começar, assistimos a uma 'esta, onde um certo 5aiara5amarii, 'ilho de um marinheiro havaiano Sue desertara deum baleeiro, assinalava a morte da mãe, oriin@ria das%arSuesas, assando cator*e porcos e convidando toda aaldeia para o banSuete 'uner@rio. 5ambém 'omos, sendorecebidos por um arauto, uma ovem nativa Sue, em cima deuma rande rocha, proclamava Sue a nossa presença

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abrilhantaria a 'esta - o Sue ali@s repetia sempre Suecheava novo conviva. )o entanto, assim Sue nos sent@mosela mudou de tom, enSuanto os presentes mani'estavam randee$citação. A ovem lançava ritos audos e penetrantes evo*es de homens respondiam-lhe a certa distZncia. A certaaltura, aSueles clamores trans'ormaram-se num cantob@rbaro, evocando imaens de sanue e uerra. A seuir,avist@mos por entre a 'olhaem tropical uma procissão deselvaens, Suase completamente nus, vestindo apenas umatana 'eita com pano de cores berrantes. Avançavamlentamente, soltando urros uturais de triun'o e e$altação.Aos ombros carreavam ramos de @rvores de onde pendiammisteriosos 'ardos bastante pesados, dissimulados por meiode 'olhas verdes.ASueles embrulhos eram apenas porcos, porcos inocentes eordos, assados no espeto, mas os homens carreavam-nosimitando os seus antepassados na época em Sue estes

carreavam Pporcos compridosP. "ra esses animais dos temposantios não eram e$actamente porcos. PKorco compridoP é oeu'emismo polinésio para desinar carne humanaQ e aSuelesdescendentes de canibais, che'iados por um pr>ncipe real,tra*iam os porcos como os seus avós 'a*iam com os inimiosmassacrados. +e ve* em Suando, o corteo ;CD

detinha-se para os transportadores poderem entoar com maisTn'ase os seus 'ero*es ritos de vitória e de despre*opelos advers@rios, assim como para e$pressar os seusdeseos ustativos. oi assim Sue %elville assistiu, h@

duas eraçYes, V e$ibição dos cad@veres de uerreiroshapares, embrulhados em 'olhas de palma e transportadospara um banSuete em 5i. )outra ocasião, também em 5i,observou Pum recipiente de madeira curiosamente esculpidoPe veri'icou Sue o seu conteúdo consistia em Pmembrosesparsos de um esSueleto humano com os ossos ainda húmidose revestidos, aSui e ali, de bocados de carneP." canibalismo tem sido considerado uma lenda por homensultracivili*ados, a Suem talve* repune admitir Sue osselvaens de Suem descendem também se entreavamantiamente a pr@ticas idTnticas. " capitão ook

mani'estava iual cepticismo, até ao dia em Sue, num portoda )ova 2elZndia, viu chear a bordo um ind>ena Sue Sueriavender-lhe uma man>'ica cabeça humana seca ao sol. ookmandou cortar uns pedaços de carne 'resca e o'ereceu-os aonativo, Sue os devorou ostosamente. " menos Sue se podedi*er é Sue ook era um empirista convicto. +e SualSuer'orma, esta e$periTncia 'orneceu aos s@bios a prova Sue h@muito lhes 'altava. Lone estava o célebre capitão de

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sonhar na e$istTncia de um certo arSuipélao situado amilhares de milhas dali, onde, anos mais tarde, sedesenrolaria um estranho processo udicial em Sue um velhoche'e de %aui seria acusado de di'amação por persistir ema'irmar Sue o seu corpo era o repositório vivo do próprioook. +i*-se Sue a acusação nunca conseuiu provar Sue ovelho che'e não 'osse o túmulo do dedo rande do pé donaveador, ra*ão por Sue o caso 'oi encerrado sem mais'ormalidades.)estes nossos deenerados tempos, espero não chear a veros nativos comer Pporco compridoP, mas pelo menos soupropriet@rio le>timo de uma cabaça das %arSuesas, de 'ormaoblona e curiosamente esculpida, com mais de cem

;C]

anos, na Sual se bebeu o sanue de dois capitães de navios.

1m deles era um pati'e? vendeu um baleeiro decrépito, Sueacabara de pintar de branco para o 'a*er passar por novo, aum che'e marSues>no. +ias depois da partida do capitãodesonesto, o barco des'e*-se em bocados. Alum tempodepois, Suis a sorte Sue nau'raasse precisamente na mesmailha. " che'e marSuesino não Suis saber do estranho costumeSue consiste em dar descontos e 'a*er saldosQ mas tinha uminstinto primitivo de ustiça e um conceito não menosprimitivo de economia natural e saldou as contas comendo ohomem Sue o enanara.Kela 'resca, de madruada, partimos para 5pee, montados em

peSuenos aranhYes 'ero*es Sue res'olavam, relinchavam emordiam-se uns aos outros sem a menor preocupação pelosseres 'r@eis Sue transportavam V arupa, ou com os calhaussoltos, pedaços de rochas e arantas a piSue. " nossotrilho condu*ia a uma estrada velha Sue atravessava umamata de @rvores a Sue chamam hau. +e cada lado, v>amossinais de uma população Sue em tempos ter@ sido muitonumerosa. Kor entre a densa veetação, distinuiam-semuralhas solidamente constru>das, de dois metros e mais dealtura e v@rios metros de larura e espessura, vastasplata'ormas Sue serviam de 'undaçYes Vs casas. %as estas e

os respectivos ocupantes desapareceram h@ muito e aora as@rvores de porte iantesco, com as ra>*es enterradas nas'undaçYes, dominam a restante 'lora. hamam Vs 'undaçYespae-paes - as pi-pis de %elville.Aos marSuesinos da actual eração 'alta a eneria paraeruer e colocar no seu luar pedras tão randes. Ali@s,nada os encoraa V construção. @ pae-paes por toda a partee milhares estão em ru>nas. #ubindo o vale, vimos alumas

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man>'icas, contrastando com as miser@veis palhotas Sueconstróem por cima delas, cuas proporçYes lembram o e'eitoSue teria uma cZmara de voto colocada em cima da

;CC

'undação maestosa da pirZmide de /eóps. "s marSuesinosestão em vias de e$tinção e, a ular pela situação actualde 5aiohae, a única coisa Sue retarda o seu desaparecimentoé a in'usão de sanue novo. 1m marSuesino puro é coisarara. #ó se vTem mestiços, 'ruto de misturas estranhas dede*enas de di'erentes raças. " comerciante de 5aiohae sóconseuiu reunir ;< trabalhadores v@lidos para carrear acopra para bordo e nas veias de todos eles corre sanueinlTs, americano, dinamarSuTs, alemão, 'rancTs, corso,espanhol, portuuTs, chinTs, havaiano, paumotano, tahi-tiano e islandTs. @ mais raças do Sue pessoas, mas raças

com todos os ind>cios de deeneração, pois a vida parecevacilar e elanuescer nessas pessoas. )este clima Suente eameno - verdadeiro para>so terrestre - onde nunca h@variaçYes e$tremas de temperatura e onde o ar é como umb@lsamo, sempre puro raças aos al>sios de #udeste,carreados de o*ono, a asma, a s>'ilis e a tuberculoseprosperam com e$uberZncia iual V da veetação. 3m todas aspalhotas ouve-se a tosse cavernosa ou a respiração di'>cilde ente com pulmYes a'ectados. 5ambém rassam outrasdoenças horr>veis, mas as mais mortais são as Sue atacam opeito, entre elas a t>sica PalopanteP, especialmente

temida. )o espaço de dois meses, redu* o mais 'orte Vcondição de esSueleto amortalhado. "s vales vão 'icandodesertos e o solo 'értil é conSuistado pela selva. )o tempode %elville, o vale de apaa (Sue ele ra'ava PapparP! erahabitado por uma tribo 'orte e auerrida. Kassada umaeração, não tem mais de du*entas pessoas. oe é uma terradevoluta, desolada, onde só se ouve o uivar dos animaisselvaens.ontinu@mos a subir pelo vale. "s nossos cavalos, sem'erraduras, procuravam o melhor piso no trilho mal cuidadoSue condu*ia através das pae-paes abandonadas e da 'loresta

insaci@vel. uando vimos maças silvestres, as ohias

;CE

Sue @ conhec>amos do avai, pedimos a um nativo Sue as'osse colher. +epois subiu aos coSueiros para nos tra*ercocos. J@ bebi leite de coco na Jamaica e no avai, masnunca senti tanto pra*er a matar a sede com ele como nas

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%arSuesas. +e ve* em Suando pass@mos por limoeiros elaraneiras - @rvores de rande porte Sue resistiram Vdesolação, mais do Sue as pessoas Sue as cultivaram.Kass@mos com di'iculdade por massas de moitas de c@ssischeias de pólen, cua 'rarZncia atra>a as vespas. 3 SuevespasR 3normes insectos do tamanho de can@rios peSuenos,Sue 'endiam os ares com as patas traseiras, com v@rioscent>metros de comprimento, esticadas para tr@s. +e repenteum dos cavalos empina-se nas patas da 'rente e começa aoscoices no ar. +epois bate com as patas de tr@s no chão, otempo su'iciente para dar um salto enérico para a 'rente,para em seuida voltar e escoicear da mesma maneira. )ão sepassa nada de especial, 'oi só uma vespa Sue enterrou um'errão viril no pTlo rosso do cavalo, provocando-lhe umador lancinante.#eue-se um seundo e um terceiro cavalo aos pinotes, e acerta altura estão todos aos coices, apoiados nas patas

dianteiras e correndo o risco de se precipitar pelo abismoabai$o. AiR 1m punhal ardente penetra-me a bochecha. Ai AiRAora é no pescoço. omo sou o último da 'ila, as vespasassediam-me mais Sue aos outros.)ão posso 'uir-lhes, porSue o trilho é estreito e oscavalos l@ adiante continuam e$citados, 'a*endo periar anossa seurança. " meu cavalo ultrapassa o de harmian eeste, como criatura sens>vel Sue é, atinido por uma'erroada naSuele preciso momento, lança um coice contra aminha montada e outro contra mim. Aradecendo V minha boaestrela o 'acto de o casco não estar 'errado, endireito-me

em cima da sela, ao mesmo tempo Sue sou cruelmenteapunhalado por outra vespa. [ de mais para mim e para o meupobre cavalo em pZnico, cua dor suplanta a minha.

;C

- #aiam da 'renteR +ei$em-me passar - rito, sacudindo'reneticamente com o boné as vespas V minha volta.)um dos lados do trilho, o piso sobe a piSue e, do outro,desce vertiinosamente. A única 'orma de me escapar dali écontinuar em 'rente. [ um milare a 'orma como aSuela 'ila

de cavalos conseue eSuilibrar-se sem cairR 3 no entanto,lançam-se para a 'rente, chocam uns com os outros, uns atrote, outros a alope, tropeçam, saltam, desembaraçam-se eescoiceiam metodicamente para o ar sempre Sue uma vespa osataca. Ao 'im de alum tempo, retomamos 'Xleo eaproveitamos para avaliar os 'erimentos. 3 esta cenarepetiu-se uma, duas e muitas ve*es mais. uriosamente,nunca se tornou monótona. Kela minha parte, sa> sempre de

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cada moita com a mesma aleria de um homem Sue escapa Vmorte súbita. )ão h@ dúvida? a viaem de 5aiohae para 5peenunca poderia ser aborrecida.inalmente elev@mo-nos acima do tormento das vespas, masmais por ra*Yes de altitude do Sue por 'orça de alma. Anossa volta e a perder de vista eruiam-se os contra'ortesirreulares da cordilheira, proectando os seus picoscontra as nuvens. Aos nossos pés, na direcção de ondeviéramos, l@ estava o #nark, como um brinSuedo minúsculo,nas @uas calmas da ba>a de 5aiohae. L@ V 'rente, v>amos @o recesso Sue a ba>a omptroller 'ormava no terreno. +epoisde descermos uns ]EF metros, 5pee revelou-se de repenteaos nossos olhos. P#e me 'osse dado entrever, por um curtomomento, os ardins do para>so, não teria 'icado maismaravilhado do Sue perante aSuela visãoP - e$clamou%elville Suando viu este vale pela primeira ve*. )aSueletempo, era um ardim, mas nós vimos uma mata areste. "nde

estavam as centenas de pomares de 'ruta-pão Sue elere'eriuW Mimos apenas uma selva sem 'im, duas palhotas e

;CI

peSuenos palmares espalhados por entre o manto verde einculto. "nde estavam o 5i de %ehevi, a casa dos homenssolteiros, o pal@cio onde as mulheres se tornavam tabu eonde o che'e reinava com os seus dinit@rios mais pró$imos,rodeados de meia dú*ia de anciãos trXpeos e suos,vest>ios do valoroso passadoW +o rio não se elevava canto

nenhum das virens e das respectivas mães a pisar cascas de@rvores para 'abricar tapa. 3 onde estava a palhota Sue ovelho )arheo nunca mais acabava de construirW Krocurei-oem vão, empoleirado a vinte metros do solo, em alumcoSueiro alto, a 'umar o cachimbo matinal.+escemos por um trilho sinuoso, sob um arco de 'olhaem,onde enormes borboletas voavam em silTncio. )ão havianenhum selvaem tatuado, armado de arco e 'lecha, a uardaro caminho e pass@mos o rio a vau sem encontrar obst@culos." tabu sarado e cruel @ não dominava o doce vale. )ão,havia um novo tabu, porSue Suando nos apro$im@mos de um

rupo de pobres nativas de aspecto miser@vel, aluémpronunciou essa palavra. 3 com ra*ão? eram leprosas. "homem Sue nos avisara padecia horrivelmente de ele'ant>ase.3 todos tinham doenças pulmonares. " vale de 5pee era oasilo da morte e a dú*ia de sobreviventes da tribo e$alavampenosamente o último suspiro da raça."s bravos não tiveram de travar esta batalha, porSueantiamente os de 5pee eram muito 'ortes, mais do Sue os

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hapares, os taiohaeanos e todas as tribos de )uku-hiva.A palavra tpee ou taipi sini'icava oriinalmente Pcomedorde carne humanaP. %as, visto Sue todos os marSuesinos eramantropó'aos, a desinação indicava Sue os taipianos sedestacavam particularmente neste aspecto. A sua 'ama decrueldade e bravura não se estendia apenas a )uku-hiva,propaara-se a todas as ilhas %arSuesas, onde os taipianoseram temidos. )inuém os conseuira conSuistar, nem

;C=

mesmo a 'rota 'rancesa Sue ocupou o arSuipélao. A certaaltura, o capitão Korter, da 'raata 3sse$, invadiu o valecom os seus marinheiros e 'u*ileiros apoiados por dois miluerreiros de appar e 5aiohae, mas depararam com talresistTncia Sue tiveram de bater em retirada e a'astaram-sea bordo dos seus barcos e piroas de uerra.

3ntre todos os habitantes dos mares do #ul, os marSue-sinossão considerados os mais 'ortes e os mais belos. %elvilledisse sobre eles? P4mpress>onou-me em especial a sua 'orça'>sica e porte man>'ico... A raça das suas 'ormasultrapassa tudo o Sue vi até hoe. )ão detectei uma únicade'ormidade em toda a multidão Sue participava nos'esteos. 5odos pareciam livres dessas imper'eiçYes Sue porve*es destroem a harmonia de um corpo humano. %as a suasuperioridade '>sica não se limitava V ausTncia deSuaisSuer males? todos podiam servir de modelo a umescultor.P %endana, o descobridor das %arSuesas, descreveu

os nativos como senhores de uma bele*a invular.iueroa, o cronista da sua viaem, a'irmou? P5Tm uma peleSuase brancaQ são de boa estatura e possuem corpos'ormosos.P " capitão ook considerou os marSuesinos como osilhéus mais esplTndidos dos mares do #ul e disse dos homensSue eram PSuase sempre dotados de boa estatura, com pelomenos ;,=F m de altura.PAora Sue todo esse vior e bele*a desapareceram do vale de5pee, este serve de re'úio a umas dú*ias de pobresdiabos, atacados de lepra, ele'ant>ase e tuberculose.%elville calculava a população em duas mil almas, sem

contar com o peSueno vale vi*inho de o-o-umi. A vida 'oitomada de corrupção neste maravilhoso ardim, de climadelicioso e saud@vel como nenhum outro no mundo. "staipianos não só tinham a bele*a dos deuses, como erae$emplar a pure*a dos seus costumes. " ar Sue respiravamnão continha os bacilos nem ermes mórbidos Sue contaminam

;C<

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o nosso. +esde Sue os brancos levaram nos seus barcos estesdiversos miasmas, os taipianos começaram a de'inhar esucumbiram a eles.Kensando bem, Suase cheamos V conclusão de Sue a raçabranca só prospera na impure*a e na corrupção. A e$plicaçãotem a ver com a selecção natural? os brancos são uma raçade sobreviventes e descendem de milhares de eraçYes desobreviventes da uerra contra os microoranismos. #empreSue nasce alum com uma constituição particularmentereceptiva ao desenvolvimento desses microscópicosadvers@rios, não tarda a ser vencido por eles. #ósobreviveram os Sue puderam resistir. Kortanto os Sue vivemneste momento são os imuni*ados, os aptos - os mais bemconstitu>dos para viver num mundo de microoranismoshostis. "s pobres marSuesinos não passaram por essaselecção, não se imuni*aram. 3les, Sue comiam os inimios,

'oram por sua ve* devorados pelos inimios invis>veiscontra os Suais não podiam travar combates de arco e 'lecha.Kor outro lado, se tivesse havido, desde o princ>pio, umasboas centenas de milhares de marSuesinos, teriam sido emnúmero su'iciente para lançar as bases de uma nova raça -reenerada, se se pode considerar reeneração o 'acto de semerulhar num banho de veneno orZnico.5ir@mos as selas aos cavalos para almoçar, mas tivemos deos separar, porSue lutavam uns com os outros. )os 'lancosdo meu aranhão 'altavam uns pedaços de carne, arrancadospor um dos seus companheiros. +epois de tentar em vão

sacudir as moscas da areia, comemos bananas com carne deconserva, acompanhando a re'eição com enerosa dose deleite de coco. A nossa volta, o espect@culo não tinha nadade especial. A selva reconSuistara terreno, a'oando emverdura os trabalhos ilusórios dos homens.ASui e ali, encontr@vamos pai-pais, mas não haviainscriçYes,

;EF

nem hieróli'os ou SualSuer sinal revelador do passado -

apenas pedras mudas, talhadas por mãos anónimas h@ muitotrans'ormadas em pó. Kor cima dessas muralhas cresciam@rvores de rande porte Sue, ciumentas do duro trabalho dohomem, 'endiam e deslocavam as pedras para as remeter aoseu caos primitivo.Abandon@mos a selva e procur@mos o rio, na esperança de noslivrarmos das moscas da areia. Mã esperançaR Kara nadarmos,tivemos de nos despir, como muito bem sabem essas moscas,

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Sue se mantTm emboscadas nas marens, aos milhares. "snativos chamam-lhes nau-nau, Sue se pronuncia no_-no_ (;!,nome muito apropriado, @ Sue as moscas constituem umpresente obstinado. uando se aarram V epiderme de umapessoa, dei$a de haver passado e 'uturo. 3stou convencidode Sue "mar /haam nunca seria capa* de escrever o0ubaiat (D! no vale de 5pee - seria psicoloicamenteimposs>vel. ometi o erro estratéico de me despir no topoda marem escarpada donde era '@cil merulhar, masimposs>vel de sair da @ua. uando terminei o meu banho,tive de percorrer uma centena de metros pela marem parachear ao ponto onde dei$ara a roupa. Assim Sue pus pé emterra, 'ui atacado por umas de* mil nau-naus. Ao seundopasso, @ havia uma nuvem delas V minha volta. Ao terceiro,Suase dei$ei de ver a lu* do #ol. +epois disso, não sei oSue se passou. uando cheuei ao s>tio das roupas, pareciaum louco 'urioso e 'oi aSui Sue cometi o erro t@ctico. @

uma rera obriatória para uma pessoa en'rentar as nau-naus? nunca as a'uentar Vs palmadas, sob nenhum prete$to.#ão tão perversas Sue, no momento em Sue as matamos,inectam no nosso corpo o

)ota ;? "u sea, em inlTs, Paora-aoraP (). da 5!.)ota D? Koema sobre o o*o do instante presente, da autoriadaSuele 'amoso autor persa (). da 5.!.

;E;

último @tomo de veneno. Kor isso é preciso pear nelasdelicadamente, entre o polear e o indicador, e convencerascom calma a desistir de manter 'errada a sua peSuena trombana nossa carne trémula. [ como arrancar dentes, mas oproblema 'oi Sue, neste caso, os dentes cresciam maisdepressa do Sue a minha capacidade para os arrancar.Kor isso lancei palmadas em todas as direcçYes e assim'iSuei cheio de veneno. 4sto 'oi h@ uma semana e, nestemomento, ainda tenho o aspecto de uma pessoa atacada devar>ola em último rau.o-o-u-mi é um vale peSueno, separado de 5pee por uma

cordilheira relativamente bai$a, para onde nos diriimosdepois de acalmarmos um pouco as nossas 'oosas montadas." 'acto é Sue a de Uarren, ao 'im de Suilómetro e meio,escolheu a parte mais periosa do trilho para uma e$ibiçãoSue nos manteve aterrori*ados e presos Vs selas uns bonscinco minutos. #euimos a embocadura do vale de 5pee eavist@mos l@ em bai$o a praia por onde %elville se evadiu.3ra ali Sue o seu baleeiro o auardava, unto V costaQ 'oi

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a> Sue /arakoi, o canaca tabu, procurou, dentro da @ua,disputar-lhe a vidaQ 'oi certamente ali Sue %elville beiouaa_a pela última ve* antes de alcançar o barco. 3 'oitambém nesse ponto Sue %ehevi e %au-mau, assim como os Sueos seuiam, se atiraram V @ua para tentar em vãointerceptar os 'uitivos, porSue os marinheiros laceraram-lhes os braços com punhais Suando eles Suiseram transpor aamurada. %au-mau recebeu um rande murro de %elville nacara.ontinu@mos para o-o-u-mi. %elville era tão viiado Suenunca se deve ter sabido da e$istTncia deste man>'icovale, embora deva ter encontrado com 'reSTncia habitantesseus, Sue eram súbditos de 5pee. +e caminho, pass@mos poralumas pai-pais abandonadas e, perto do mar, encontr@mosrande Suantidade de coSueiros, @rvores-pão

;ED

e campos de taro (;! e pelo menos uma dú*ia de palhotas.Arran@mos maneira de passar a noite numa delas eimediatamente começaram a 'a*er preparativos para uma 'esta.1m leitão 'oi prontamente sacri'icadoQ enSuanto o assavamentre pedras Suentes e v@rias alinhas eram estu'adas emleite de coco, convenci um dos co*inheiros a subir a umcoSueiro e$cepcionalmente alto. "s cocos apinhados debai$odas 'olhas estavam a uns bons DF metros do solo, mas onativo saltou para a @rvore, seurou o tronco com ambas asmãos, curvou-se pela cintura de 'orma a assentar toda a

planta dos pés e trepou por ali acima sem parar. A casca da@rvore não apresentava olpes onde se 'incar e não usoucordas para se apoiar? simplesmente subiu pela @rvore atéao cimo e de l@ lançou os cocos. )em todos os homens locaistinham eneria '>sica, ou antes, pulmYes para um es'orçodestes, porSue a maior parte, como @ disse, consumia-se emataSues de tosse. Alumas das mulheres emiam e Suei$avam-se sem parar, completamente minadas pela tuberculose. 3ntrehomens e mulheres, poucos eram os marSuesinos puros. 3ramSuase sempre mestiços e com trTs Suartos de sanue 'rancTs,inlTs, dinamarSuTs e chinTs. )a melhor das hipóteses,

estas in'usYes de sanue 'resco apenas atrasavam o momentoda morte e os resultados 'a*iam-nos duvidar da vantaem detal demora." 'estim 'oi servido numa rande pai-pai, cua parteposterior estava ocupada pela casa onde dorm>amos. "primeiro prato 'oi pei$e cru e poi-poi, este último mais@spero e mais amaro Sue o poi do avai, Sue é de taro. "poi-poi das %arSuesas é 'eito com 'ruta-pão. " 'ruto

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maduro, depois de retirada a casca, é colocado numa cabaçae esmaado com um pilão de pedra, até se obter uma pastadura

)ota ;? Klanta muito comum naSuelas paraens, comtubérculos comest>veis Sue se co*inham e preparam dedi'erentes maneiras (). da 5.!.

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e peaosa. Kode ser enterrada, cuidadosamente envolvida em'olhas, para se manter em conserva durante anos. )oentanto, antes de ser levada V mesa, são necess@rios outrospreparativos. oloca-se essa massa envolta em 'olhas entrepedras Suentes, como com o leitão, e dei$a-se co*er bem.+epois a massa é misturada com @ua 'ria e coada? obtém-seassim uma massa de consistTncia rossa, Sue se come V mão

espetando nela o polear e o indicador e retirando-se umpedaço. " paladar habitua-se depressa a este alimentoostoso e saud@vel. 3 a 'ruta-pão, madura e bem co*ida ouassada, é deliciosaR A 'ruta-pão e o taro são leumesdinos da mesa de reis, embora o primeiro sea desinadoimpropriamente como 'ruta porSue parece-se mais com umabatata doce do Sue com SualSuer outra coisa, embora nãosea tão aliment>cio nem tão doce.A 'esta terminou e assistimos ao nascer da Lua sobre o valede 5pee. " ar estava lieiramente imprenado do odor de'lores. oi uma noite m@ica, de um silTncio absoluto, sem

a mais leve brisa a aitar a 'olhaem. Kara não lheestraar o encanto, mal me atrevia a respirar, transido comtanta bele*a. 3sSuecido e lon>nSuo, cheava até nós otroar da ressaca na areia. omo não havia camas, esten-demo-nos nos pontos do chão Sue nos pareceram mais macios.A pouca distZncia de nós, uma mulher res'olava e emiaenSuanto dormia e, vinda de toda a parte V nossa volta,pela noite 'ora ouvimos a tosse incessante dos ilhéusmoribundos.

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AK451L" 4

" omem )ature*a

3ncontrei-o pela primeira ve* na %arket #treet em #ãorancisco, numa tarde húmida e chuvosa. aminhava empassada lara, só vestido com umas calças pelos oelhos,

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uma camisa de proporçYes redu*idas e descalço, esparramandoa lama com os pés. 1ma dú*ia de arotos e$citadosperseuia-o. 5odas as cabeças - e eram milhares - viravam-se para observar com curiosidade o personaem. 5ambém euolhei para tr@s. )unca tinha visto aluém assim tão tisnadopelo sol. 3ra uma cor 'ant@stica, um tom dourado própriodas pessoas louras Suando se Sueimam sem lhes cair a pele."s lonos cabelos claros estavam também bron*eados, talcomo a barba, Sue crescia desordenada.3ra um homem da cor do bron*e, um bron*eado com re'le$osdourados, radioso e brilhante como um sol. Kensei? P%ais umpro'eta, vindo V cidade com uma mensaem Sue salvar@ omundo.PKassadas semanas, no chalé de uns amios nas montanhas deKiedmont Sue dominam #ão rancisco, ouvi-os ritar?PApanh@mo-loR Apanh@mo-loR 3stava empoleirado numa @rvore,mas começa a adaptar-se? dentro em breve vir@ comer-nos V

mão. Mem c@ vT-loRP Acompanhei-os até ao alto de um monte>nreme e a>, numa cabana mal eitosa constru>da numeucaliptal, reconheci o meu pro'eta bron*eado.

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Avançou muito direito para nós, a irar sobre si próprio,como um turbilhão. )ão nos apertou a mão, contentando-se emsaudar-nos com acrobacias v@rias. 3$ecutou mais umascabriolas, torceu o corpo como uma cobra e, depois de bemdesarticulado, dobrou-se em doisQ a seuir, com as pernas

esticadas e os oelhos untos, tamborilou no chão com aspalmas das mãos. +eu mais umas voltas, 'e* novas piruetas edançou como um macaco bTbado. 4rradiava-lhe do rosto todo ocalor de uma vida ardenteQ todo o seu ser era um hino V'elicidade.antou pela noite 'ora, com variantes histriónicas de umadiversidade espantosa. Pue loucoR ue loucoR 3ncontrei umlouco na 'lorestaRP pensava eu. +emonstrou o valor daloucura Sue o animava. 3ntre piruetas e cabriolas,transmitiu a sua mensaem de salvação do mundo, Sue ali@sse dividia em duas? primeiro, a humanidade so'redora deve

libertar-se do h@bito de se vestir e percorrer montes evales, em completa liberdadeQ em seundo luar, este mundomiser@vel deve adoptar a ortora'ia 'onética. 5ive umabreve visão de como todos os randes problemas sociaisseriam resolvidos pelos citadinos? aos maotes e todos nus,estes andariam V solta pela paisaem, acossados pelosdisparos das espinardas e pelos latidos dos cães deuarda, Suando não sucumbissem aos ataSues V 'orSuilha por

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parte dos camponeses indinados.Kassaram-se anos. )uma manhã de sol, o #nark meteu a proapor uma abertura estreita num reci'e - batido por vaas'uriosas cuo bramido se perdia na poalha de espuma Suecobria o mar - e entrou lentamente no porto de Kapeete.+iriiu-se para nós um barco com pavilhão amarelo Suetra*ia a bordo o médico do porto. %ais ao lone,

;E

na sua esteira, vinha uma minúscula piroa cuo aspecto nosintriou. Arvorava uma bandeira vermelha. "bservei-alonamente com os meus binóculos, receando Sue assinalassealum perio insuspeito para a naveação, um nau'r@iorecente ou aluma bóia ou 'arol Sue 'lutuasse V deriva.uando o médico entrou a bordo e veri'icou o estado desaúde de todos nós, certi'icando-se de Sue não escond>amos

ratos vivos no #nark, peruntei-lhe o Sue sini'icava abandeira vermelha.- AhR #ão coisas de +arlin - respondeu.3 +arlin, 3rnest +arlin, com a bandeira vermelha, s>mboloda 'raternidade entre os homens, saudou-nos, aos ritos?- "l@, JackR "l@, harmianR0emou rapidamente para perto e 'oi então Sue reconheci opro'eta bron*eado das montanhas de Kiedmont. ual deussolar, com uma tana escarlate a cinir-lhe os rins, compresentes da Arc@dia e d@divas de boas-vindas em ambas asmãos? um 'rasco de mel dourado e um cesto de palha cheio de

'rutos cor de ouro? randes manas, bananas com pintas deum amarelo mais intenso, ananases, limYes e laranassumarentas, e$emplares da mesma riSue*a preciosa das terrastropicais. 3 'oi assim Sue me encontrei de novo com+arlin, o omem )ature*a, desta ve* naSuelas paraensaustrais." 5ahiti é um dos luares mais maravilhosos do mundo. )elehabitam ladrYes, atunos e viaristas e também alunshomens e mulheres honestos e sinceros. Kor causa da sombraSue lançam sobre a bele*a deste pa>s os parasitas humanosSue o in'estam, em ve* de vos 'alar do 5ahiti, pre'iro

'alar-vos do omem )ature*a. 3le, pelo menos, é estimulantee são. Albera um esp>rito sens>vel e delicado, ino'ensivoe$cepto aos olhos de um capitalismo vora* e predador.- ue sini'ica essa bandeira vermelhaW - peruntei.- " socialismo, claroR- #im, sim, bem sei, - respondi - mas Sue sini'ica o 'actode andar com elaW

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- #ini'ica Sue encontrei a minha mensaem.- 3 Sue a transmite ao 5ahitiW - arrisSuei, incrédulo.- laroR - con'irmou simplesmente.%ais tarde veri'iSuei ser verdade. +epois de lançarmos'erro, descemos para uma peSuena chalupa e 'omos a terra. "omem )ature*a acompanhou-nos. PKronto, aora vou ter deaturar este chato noite e dia até nos irmos emboraRP,pensei.)unca na minha vida 'i* uma avaliação tão errada. Aluueiuma casa onde me instalei para trabalhar, mas o omem)ature*a nem uma só ve* tentou intrometer-se. 3sperou Sue oconvidassem e, entretanto, passou a pente 'ino a bibliotecado #nark, encantado com a Suantidade de livros cient>'icose escandali*ado, como veri'iSuei depois, pela Suantidadee$cessiva de 'icção. " omem )ature*a não perde tempo a ler

romances.Kassada uma semana, cheio de remorsos, convidei-o a antarnum dos hotéis da cidade. ontra o costume, apareceu hirtoe incomodado dentro de um casaco de alodão.uando lhe pedi Sue o tirasse, detectei-lhe uma e$pressãode aradecimento e de aleria. 3ntão revelou, da cinturapara cima, uma pele dourada como o sol e apenas coberta comum pedaço de rede de pesca de 'io rosso e malha lara. Atana escarlate completava o vestu@rio. )essa noite comeceirealmente a conhecT-lo e, durante a minha lona estadia no5ahiti, acab@mos por 'icar amios.

- 3ntão vocT escreve livrosW - peruntou-me um dia em Sueme viu terminar a minha tare'a matinal, cansado e a suar. -Kois eu também escrevo.Kensei? PL@ vem ele aora com con'idTncias sobre os seustalentos de escritorRP #entia-me indinado? não tinha vindoaté aos mares do #ul para ser aente liter@rio de ninuém.

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- " livro Sue escrevo é esteR - e$plicou, dando um murrosonoro no próprio peito. - " orila da selva a'ricana bate

assim no peito até o som se propaar por muitas centenas demetros.- MocT tem um peito resistente - disse eu, em tomadmirativo. - apa* de 'a*er invea a SualSuer orila.oi nessa altura, e mais tarde também, Sue 'iSuei aconhecer os pormenores do livro maravilhoso Sue 3rnest+arlin escrevera. +o*e anos antes, estivera Vs portas damorte. Kesava CF Suilos e mal conseuia 'alar. "s médicos e

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o próprio pai, Sue também era médico, tinham perdido aesperança de o salvar. " estudo e$cessivo (além depro'essor prim@rio, era estudante universit@rio! e duaspneumonias seuidas tinham causado aSuele seu de'inhar. 4aperdendo 'orças a olhos vistos e não tirava proveito alumdos alimentos substanciais com Sue o medicavamQ nem oscomprimidos e os pós lhe 'acilitavam a diestão. 3stava'eito num 'arrapo, '>sica e mentalmente.+esorientado, sentia-se doente e tão 'arto dos remédioscomo do conv>vio com as outras pessoas. J@ não suportavaouvi-las e as atençYes de Sue o rodeavam dei$avam-noe$asperado. Acabou por se convencer Sue, morrer por morrer,mais valia terminar a vida ao ar livre, lone deaborrecimentos e irritaçYes. Kouco a pouco insinuou-se nelea ideia de Sue talve* recuperasse a saúde se se libertassede alimentos demasiado @cidos, de poçYes e de pessoas Sue,com a melhor das intençYes, o punham 'ora de si.

+e 'orma Sue 3rnest +arlin, só pele e ossos e mal semantendo em pé, Suase sem um sopro de vida, virou as costasaos homens e Vs casas onde costumam morar e arrastou-sedurante oito Suilómetros até Vs matas em torno da cidade deKortland, no "reon. 3stava louco, sem dúvida. #ó umlun@tico se erueria assim do leito de morte.%as, nas matas, +arlin encontrou o Sue procurava? sosseo.A> ninuém o obriava a comer bi'es e costeletas de porco.)enhum médico lhe dava cabo dos nervos a

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tactear-lhe o pulso, ou a atormentar o seu pobre estXmaocom p>lulas e pós. #entiu um imenso al>vio. 5omava banhosde sol, o Sue actuou como maravilhoso eli$ir tónico. +epoisteve a sensação de Sue todo o seu corpo reclamava mais sol.+ei$ou de usar roupa e continuou os tratamentos solares. 4aarribando. Kela primeira ve* após lonos meses deso'rimento, sentia-se aliviado.3nSuanto continuava a melhorar, observou o Sue se passava Vsua volta. Kor toda a parte voavam e pipilavam ospassarinhosQ os esSuilos brincavam e comunicavam uns com os

outros. 4nveou-lhes a saúde e a boa disposição, ae$istTncia despreocupada. 4nevitavelmente, acabou porcomparar a sua situação com a deles? porSue seriam essascriaturas tão cheias de esplTndido vior enSuanto ele,pobre 'arrapo humano, veetava miseravelmenteW A conclusão'oi imediata? se Sueria manter-se em vida, tinha dereressar V nature*aR#o*inho naSuelas brenhas, descobriu o remédio e'ica* e

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aplicou-o prontamente. Livrando-se de roupas, pXs-se asaltar e a pinotear por toda a parteQ correu a Suatropatas, subiu Vs @rvoresQ em suma, praticou todos osdesportos de ar livre, sempre a bron*ear-se ao sol. 4mitouos animais? construiu um ninho de 'olhas e de ervas secasQcobriu-o de cascas de @rvore para se proteer das primeiraschuvas outonais. 6atendo violentamente os braços contra os'lancos, e$plicou-me? P3ste é um e$erc>cio soberbo.Aprendi-o a observar os alos cantar.P +e outra ve*,reparei no modo como sorvia ruidosamente o leite de coco.0espondeu-me Sue 'oi observando as vacas no rio? P+evemo*ar de boa saúde por beberem assimP, re'lectiu. 5entou'a*er o mesmo, sentiu-se bem e nunca mais dei$ou de asimitar.0eparou Sue os esSuilos viviam de 'rutos e no*es. 4niciouuma dieta idTntica, associada ao pão, e sentiu-se Sue

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recuperava 'orças e aumentava de peso. +urante trTs meses,levou essa e$istTncia primitivaQ depois as 'ortes chuvas do"reon obriaram-no a reressar Vs casas dos homens? emapenas trTs meses, um 'r@il sobrevivente a duas pneumoniasnão conseuiria desenvolver de'esas su'icientes para passarum 4nverno rioroso ao ar livre.J@ conseuira muito, mas tinha de abriar-se por unstempos. #ó lhe restava voltar a casa do pai e viverrecolhido em interiores onde os seus pulmYes reclamavam ar

puro. +eclarou-se terceira pneumonia e elanuesceu mais doSue nunca. " seu corpo era como o de um morto vivo, océrebro en'raSuecia. icava estendido como um cad@ver, tãoesotado Sue não podia 'alar, demasiado enervado paraprestar atenção aos conselhos dos outros. " único acto devontade de Sue 'oi capa* consistiu em não dar ouvidos aninuém. hamaram os melhores médicos especialistas dedoenças mentais, Sue o consideraram doido e não lhe derammais do Sue um mTs de vida.Kor intermédio de um desses 'amosos especialistas, 'oilevado para o sanatório de %ount 5abor. uando os médicos

veri'icaram Sue se tratava de um doente ino'ensivo,dei$aram-no V vontade. 0etiraram as prescriçYes dere'eiçYes especiais, de modo Sue voltou V 'ruta e Vs no*es- a*eite de oliveira, manteia de amendoim e bananaspassaram a ser os elementos principais da sua dieta. uandorecuperou 'orças, decidiu passar a viver como muito bementendesse. Kensou Sue, se obedecesse, como toda a ente,Vs convençYes sociais, estaria perdido. "ra ele não Sueria

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morrer. " medo de dei$ar este mundo 'oi um dos 'actoresmais decisivos na énese do omem )ature*a.Kara sobreviver, precisava de uma alimentação natural, dear puro e do e'eito terapTutico dos banhos de sol.omo o 4nverno no "reon não é propriamente atractivo paraos Sue deseam reressar V pure*a natural,

;;

+arlin procurou um clima mais 'avor@vel. %ontado na suabicicleta, partiu para o #ul. icou um ano na 1niversidadede #tan'ord, onde prosseuiu os estudos, assistiu Vs aulassumariamente vestido tanto Suanto lho permitiam e aplicandona medida do poss>vel os preceitos aprendidos com osesSuilos. Apreciava sobretudo subir Vs montanhas por tr@sda universidade para, depois de se despir por completo,estender-se na erva, a ler um livro e a imprenar-se de

sol, saúde e ciTncia.%as a ali'órnia entral também tem os seus 4nvernos e oomem )ature*a continuou a pererinar em busca de um climaideal. 3$perimentou Los Aneles e a ali'órnia do #ul onde,preso v@rias ve*es, 'oi levado perante untas psiSui@tricas@ Sue, como se pode imainar, o seu modo de vida não seharmoni*ava com o dos seus semelhantes.5entou o avai onde, sem conseuirem provar a suainsanidade mental, as autoridades tiveram de o e$pulsar.)ão 'oi propriamente uma deportação, porSue em alternativao'ereciam-lhe a possibilidade de cumprir um ano de cadeia.

"ra, para o omem )ature*a, ser preso era o mesmo Sue optarpela morte, porSue só ao ar livre e banhado pela lu* do solconseuiria resistir. Kor outro lado, os ui*es havaianostambém tinham aluma ra*ão? +arlin era um cidadãoindese@vel, sem sombra de dúvida, por não se comportarcomo toda a ente. 3 como ele, com a sua 'iloso'ia de vidasimples, se comportava tão 'ora da normalidade, estava maisSue usti'icada a decisão das autoridades havaianas de oconsiderar [email protected] isso voltou a viaar, sempre V procura de uma terraSue, além de ter um clima adeSuado, 'osse também tolerante

em relação V sua presença. 3ncontrou-a no 5ahiti, o para>sosupremo. 3 'oi assim Sue, como ele di*ia, escreveu uma dasp@inas mais belas do seu livro. 1sa apenas uma tana e umacamisa sem manas, 'eita de rede de pesca.

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)u, pesa E Suilos e o*a de per'eita saúde. A vista, em

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lipos ameaçada, tornou-se e$celente. "s pulmYes,debilitados por trTs pneumonias sucessivas, estãorecuperados e nunca 'oram tão resistentes.)unca esSuecerei como esmaou um mosSuito no nosso primeiroencontro. " irritante insecto tinha-lhe pousado s costas,entre as esp@duas. #em interromper minimamente a conversa,ele lançou um punho ao ar, curvou o braço para tr@s eacertou no s>tio certo, matando o mosSuito " peito ressoou-lhe com o choSue, como se 'osse um tambor.ASuele barulho 'e*-me lembrar o Sue 'a*em os cavalos Suandodão coices contra as paredes de madeira dos [email protected] " orila da selva a'ricana bate no peito até o som sepropaar por muitas centenas de metros - disse ele derepente.3 começou a dar pancadas no peito, num batuSue de pXr oscabelos em pé.1m dia reparou numas luvas de bo$e penduradas num ancho de

parede e os olhos brilharam-lhe.- MocT @ praticou bo$eW - peruntei.- uando estava em #tan'ord, costumava dar liçYes - 'oi aresposta.Loo ali nos pusemos em traes menores e calçamos as luvas.6anR 1m lono braço de orila distendeu-se de repente e amão enluvada aterrou no meu nari*. 6i'R Aplicou-me umdirecto na cabeça Sue Suase me 'e* cair para o lado.+urante uma semana andei com um alo por causa desse murro.3sSuivei-me a um directo da mão esSuerda e mandei-lhe umsoco ao estXmao. oi dado com muita 'orça porSue o lancei

com todo o peso do corpo, alem de Sue ele própriomerulhava para a 'rente naSuele momento. 3sperava vT-locair por terra. %as não? em ve* disso, levantou a cabeça,radioso, e 'elicitou-me pela minha destre*a.

;]

)o momento seuinte, tive de me pXr em uarda, tentandoaparar uma avalancha de anchos e uppercuts. +epois,esperei pelo momento prop>cio para o atinir no ple$osolar. inalmente encontrara um ponto 'raco. " omem

)ature*a bai$ou os braços, o'eante, e dei$ou-se cair nochão.- 4sto @ passa, espere um instante - disse-me.Ao 'im de trinta seundos, @ estava de pé... aiR 3retribuiu-me o cumprimento, acertando-me no ple$o solar.#em 'Xleo, também eu bai$ei os braços e ca> ao chão, numembate um pouco mais estrondoso do Sue o dele.5udo o Sue aSui relato demonstra Sue aSuele homem @ não

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tinha nada a ver com o pobre diabo Sue, oito anos antes,pesava menos de Suarenta Suilos e, abandonado por médicos epsiSuiatras, a*ia Suase morto num Suarto aba'ado emKortland, no "reon. " livro Sue 3rnest +arlin escreveu éum óptimo livro e a encadernação não lhe 'ica atr@s.+urante anos, o avai Suei$ou-se da sua necessidade dereceber emirantes dese@veis. &astou muito tempo, enenhoe dinheiro para os atrair, sem resultados [email protected] no entanto deportou o omem )ature*a, recusou-se aacolhT-lo. Assim, para castiar o orulho do avai,aproveito a oportunidade para lhe 'a*er ver o Sue perdeu aodespedi-lo. 3ste homem, Suando cheou a 5ahiti, pXs-se Vprocura de um terreno para cultivar os alimentos Sue lheconvTm. %as não encontrava propriedades a bom preço e oomem )ature*a não nadava em dinheiro. Kercorreu as colinasescarpadas durante semanas, depois subiu mais alto, Vsmontanhas, e acabou por descobrir, entre uma série de

des'iladeiros, cerca de trTs hectares de selva e mata Sue,aparentemente, não pertenciam a ninuém. "s 'uncion@rios dooverno avisaram-no de Sue, se Suisesse desbravar aSuelaterra e se a cultivasse durante trinta anos, receberia umt>tulo de propriedade.

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Loo lançou mãos ao trabalho. 3 Sue trabalhoR )unca ninuémse tinha lembrado de plantar VSuela altitude. A terraestava coberta de mato cerrado e era habitada por porcos

bravos e ratos sem conta. Mistos daSuele pedaço de selva,Kapeete e o mar eram man>'icos, mas as perspectivasa'iuravam-se pouco encoraadoras. Kassou semanas aconstruir um caminho para tornar a plantação acess>vel. "sporcos e os ratos comiam tudo Suanto tentava cultivar.%atou os porcos e montou ratoeiras. +estes, em duas semanasapanhou milhar e meio. +arlin tinha de transportar tudo Vscostas e normalmente 'a*ia-o durante a noite.&radualmente, começou a obter resultados. onstruiu umapalhota com erva seca. +isputara o solo vulcZnico, muito'értil, V selva e aos animais selvaens. Aora cresciam

nele Suinhentos coSueiros, outras tantas papa>eiras,tre*entas manueiras, muitas @rvores-pão e abacateiros,para não 'alar das videiras, arbustos e leumes.+esenvolveu 1m enenhoso sistema de irriação, aproveitandoa @ua Sue escorria das colinas e desviando-a para osdes'iladeiros através de valas cavadas paralelamente, emaltitudes di'erentes. 3stas arantas estreitas tornaram-severdadeiros ardins botZnicos. )os 'lancos @ridos das

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colinas onde dantes o sol ardente Suase secara a veetação,trans'ormando-a em mato rasteiro, viam-se aora muitas@rvores, moitas e 'lores em 'ranco crescimento. " omem)ature*a não só providenciava para si próprio como,prosperando como aricultor, passara a vender os seusprodutos aos habitantes de Kapeete.oi então Sue se descobriu Sue aSuela terra, declarada pelooverno como não tendo propriet@rio, pertencia de 'acto aaluém, como se provava por actos notariais, mapas, etc.depositados nos arSuivos cadastrais da ilha. 5odo otrabalho de +arlin parecia perdido. ASueles terrenos não

;E

tinham valor nenhum Suando neles se instalara e o dono - umrico propriet@rio - não 'a*ia ideia de como ele osdesenvolvera. Acertou-se um preço usto e o acto de venda

'oi assinado o'icialmente a 'avor de +arlin.+epois sobreveio um problema mais rave? 'oi-lhe proibido oacesso ao mercado. " caminho Sue ele abrira 'oi impedidopor trTs 'ilas de arame 'arpado, na seSuTncia de umadaSuelas implicaçYes burocr@ticas tão costumeiras nesteabsurdo sistema social. ertamente ter@ havido manobrasocultas, por parte daSueles elementos conservadores Sue @antes, em Los Aneles, tinham levado o omem )ature*a Vpresença de uma unta psiSui@trica - as mesmas Sue o haviamdeportado do avai, ente enSuistada numa posturaarroante, incapa* de admitir Sue um seu semelhante possa

ter ostos essencialmente di'erentes. Karecia óbvio Sue os'uncion@rios 'a*iam causa comum com essas 'orçasretróradas, porSue o caminho constru>do pelo omem)ature*a continua vedado até hoe. )inuém tomouprovidTncias para ultrapassar esse estado de coisas e detodos os Suadrantes se mani'esta uma m@ vontade 'larante.uanto a +arlin, continua 'eli* da vida, sem nunca perdero sono a pensar na inustiça de Sue 'oi alvo? dei$a essecuidado aos autores da arbitrariedade. )ão tem tempo paraamaruras. Acredita Sue est@ neste mundo para o*ar a'elicidade e entrea-se por inteiro a esse ideal.

Kortanto, o caminho Sue leva V plantação est@ obstru>do e éimposs>vel construir outro. As autoridades obriam +arlina recorrer a um trilho de porcos selvaens Sue sobe pelasescarpas até ao cume da montanha. 3scalei essa senda com+arlin e tivemos de nos aarrar ao terreno inclinado comos pés e mãos, até chear ao alto.3sta pista primitiva só poder@ trans'ormar-se em estradacom o au$>lio de um mecZnico, uma m@Suina a vapor e um cabo

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de aço. %as o omem )ature*a não se rala com isso. 0etribuio mal Sue

;

lhe 'a*em com bem. 3 Suem pode near Sue ele é maisa'ortunado do Sue os outrosW- )ão Suero saber da maldita estradaR - di*-me' Suando nossentamos V beira de um rochedo para recuperar o 'Xleo. -3stou a pensar comprar um avião e então Suem se 'ica a rirsou eu. Ando a preparar uma *ona de aterraem, de 'ormaSue, Suando vocT voltar ao 5ahiti, poder@ apear-se mesmo Vminha porta.)ão h@ dúvida, o omem )ature*a tem ideias estranhas, não ésó a do orila a bater no peito em plena selva a'ricana.5ambém pensa na levitação. +isse-me um dia?- Kode crer, a levitação não é imposs>vel. 4maine a

maravilha Sue não ser@ uma pessoa elevar-se do solo por umsimples es'orço de vontadeR Kense sóR "s astrónomos avisam-nos de Sue o nosso sistema solar est@ moribundo e Sue, setudo correr como previsto, es'riar@ tanto Sue dei$ar@ deser poss>vel vivermos na 5erra. %uito bem?nessa altura, toda a ente dominar@ a técnica da levitaçãoe dei$aremos este mundo, trocando-o por outros maisacolhedores. omo chear V levitaçãoW Kor eunsproressivos.#im, @ tentei, e no 'im da e$periTncia senti Sue o meucorpo se tornava mais leve.

P3ste homem é um man>acoP, pensei.- 3videntemente - continuou - são só teorias minhas. &ostode especular acerca do lorioso 'uturo do homem. Alevitação talve* não sea vi@vel, mas arada-me pensar Suesim.1ma noite, vendo-o bocear, peruntei-lhe Suantas horas desono 'a*ia.- #ete horas. %as daSui a de* anos estarei a dormir só seishoras e, dentro de vinte anos, cinco horas. +e de* em de*anos roubo a mim mesmo uma hora de sono.- +e maneira Sue, Suando chear aos cem anos, @ não dormeR

;I

- 3$actamenteR [ isso mesmo. )essa idade, @ não tereinecessidade de dormir e além disso viverei de ar puro. #abeSue h@ plantas Sue se alimentam de ventoW- %as @ alum ser humano conseuiu 'a*er o mesmoW Abanou acabeça.

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- )unca ouvi 'alar de Suem tivesse conseuido. %as estaideia de viver do ar é apenas uma teoria minha. #eriaóptimo, não achaW laro Sue pode ser imposs>vel...e provavelmente é mesmo. )ão pense Sue não tenho sentidopr@tico. )unca perco de vista o presente. uando pairo nosmeus sonhos sobre o 'uturo, dei$o sempre um 'io pendurado,a marcar o caminho, para poder voltar [email protected] a impressão de Sue o omem )ature*a é um bom malandroSue se ri de todos nós. 3m todo o caso, soube adoptar umavida simples. )ão deve arruinar-se com astos delavandaria. Alimenta-se do Sue a sua plantação produ* ecalcula o preço da sua própria mao-de-obra a cinco cTntimosao dia. " caminho bloSueado obria-o a viver na cidade,onde merulha a 'undo na propaanda socialista, e tem comodespesas di@rias, incluindo o aluuer da casa, a módicaSuantia de DE cTntimos. Kara audar ao orçamento, dirieuma escola nocturna para chineses.

5ambém não é sect@rio. #e só tiver carne para comer, mete-lhe o dente. [ o Sue acontece se, por e$emplo, passar unsdias na prisão ou viaar num barco, onde não lhe servem'ruta nem 'rutos secos.-- P"nde Suer Sue se lance a Zncora, ela cumpre a sua'unção... isto se a alma da pessoa 'or um mar sem 'undo esem 'im, e não uma poça de @ua sua...P - citou ele um diaesta 'rase, acrescentando? - omo vT, a minha Zncora est@sempre a postos. Mivo para ter saúde '>sica e moral, porSuepara mim estas duas coisas são insepar@veis.#ó a 'é nessa Zncora me salvou. )ão me dei$ou 'icar

amarrado V cama? iludiu os médicos e arrastou-me para omato.

;=

uando recuperei saúde e 'orça, comecei a prear peloe$emplo. 3ncoraei homens e mulheres a viver de acordo coma nature*a, mas não Suiseram ouvir o meu apelo.)o vapor Sue me trou$e para 5ahiti, um mestre Suarte-leiroe$plicou-me as doutrinas do socialismo. +emonstrou-me Sueera necess@ria uma usta distribuição económica para a

humanidade se poder adaptar Vs leis naturais. %ais uma ve*,mudei de t@ctica? actualmente consaro os meus es'orços aestabelecer uma comunidade cooperativa.uando se reali*ar esse sonho, ser@ '@cil para os homens oretorno V nature*a.- )a noite passada tive um sonho - prosseuiu, ao mesmotempo Sue se lhe iluminava o rosto - em Sue vi desembarcarde um navio vindo da ali'órnia DE disc>pulos, homens e

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mulheresQ depois, na sua companhia, metia-me pelo carreirodos porcos bravos Sue leva V minha plantação.Ah, meu caro 3rnest +arlin, adorador do sol e da nature*aR@ momentos em Sue te inveo, a ti e V tua e$istTnciadescuidada. 0eveo-te aora a subir os deraus da minhavaranda no meio de cabriolas indescrit>veisQ com o cabelo apinar depois de um merulho no mar, os olhos brilhantes eo corpo dourado pelo solQ ouço ressoar a tua cai$a tor@cicaao som desse tamborilar demon>aco Sue acompanha a tuacanção? P" orila da selva a'ricana bate no peito até o somse propaar por muitas centenas de metrosP. 3 ver-te-eisempre como te vi pela última ve*, no dia em Sue partimos,Suando o #nark, a'ocinhando mais uma ve* nas ondas, se'a*ia ao laro por entre os reci'es espumosos e eu aceneipara os Sue em terra se despediam de nós. A minharecordação a'ectuosa vai sobretudo para ti, deus bron*eadode tana escarlate, de pé na tua minúscula piroa.

;<

AK451L" 44

" 5rono da #ublime AbundZncia

uando chea um estranho, todos procuram conSuistar-lhe aami*ade e lev@-lo a casaQ a>, cada um dos habitantes da*ona o trata com a maior amabilidadeQ depois 'a*em-nosentar num trono mais alto e o'erecem-lhe os melhores

alimentos, em abundZncia.Kolnesian 0esearches

" #nark estava ancorado em 0aiatea, ao laro da aldeia de1turoa. heados na véspera, Suando @ ca>a a noite,decidimos uardar para o dia seuinte a visita V terra.uando nasceu o dia, reparei numa peSuena piroa, com umavela de espicha de aspecto esSuisito, porSue parecia rasara super'>cie da laoa. " barco, em 'orma de cai$ão, eraescavado num tronco de @rvore e media Suatro metros e meiode comprido por ]F cent>metros de larura e não mais de F

de pro'undidade. Kontiaudo nos dois e$tremos, não tinhanenhum 'eitio especial. As partes laterais eramperpendiculares, pelo Sue, sem a vela, virar-se-ia so*inhonuma 'racção de seundo.omo acabo de di*er, a vela era indescrit>vel. #em e$aero?era uma daSuelas coisas em Sue custa a acreditar se não sevT com os próprios olhos. A altura da relina e ocomprimento da retranca eram @ de si desconcertantesQ mas

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o construtor, não contente com isso, con'eriu V partesuperior uma super'>cie tão rande Sue nenhuma espicha

;IF

normal conseuiria resistir a uma brisa média. 1m mastro'i$ado V piroa pendia sobre a @ua V popa e na suae$tremidade estava preso um caboQ desta 'orma, a borda davela era mantida pela escota e a e$tremidade estava presapelo cabo V espicha.)ão era um simples barco, nem seSuer uma piroa, mas umverdadeiro veleiro, Sue o marinheiro manobrava com o seupróprio peso e sobretudo com muito sanue 'rio.#eui a embarcação com os olhos enSuanto ela se diriiapara a aldeia, com o seu único ocupante empoleirado na'orSuilha de brandal, bolinando e esva*iando o vento doboo da vela para a ri*ar.

- Juro por Suem sou Sue não sairei de 0aiatea sem ter dadouma volta naSuela piroaR - e$clamei.Kassados uns minutos, Uarren chamou-me das escadas?- "lha, Jack, l@ est@ a piroa outra ve*R#ubi rapidamente V coberta e saudei o propriet@rio dobarco, um polinésio alto e maro, de rosto inénuo e unsolhos claros Sue brilhavam de inteliTncia. omo vestu@rio,tinha uma tana escarlate e um chapéu de palha. )as mãos,presentes? um pei$e, um ramo de leumes verdes e unsinhames enormes. Aceitei tudo com randes sorrisos - moedacorrente ainda usada em certos cantos isolados da Kolinésia

- e repetindo v@rias ve*es mauruuru (o Sue em tahitianoSuer di*er PobriadoP! e depois 'i* compreender ao homemSue ostaria de e$perimentar a sua piroa." rosto dele iluminou-se de aleria e pronunciou uma únicapalavra, 5ahaa, ao mesmo tempo Sue se virava e apontavapara os picos altos e cobertos de nuvens de uma ilha a trTsmilhas dali? a ilha de 5ahaa. " vento estava 'avor@vel paral@ irmos, mas no reresso ter>amos de bordear. "ra eu não'a*ia Suestão de visitar 5ahaa.5inha cartas para entrear em 0aiatea, precisava de meavistar com as autoridades, e harmian, l@ em bai$o, estava

a vestir-se

;I;

para irmos a terra. om estos insistentes, e$pliSuei aohomem Sue só Sueria dar uma volta na enseada. Kor uma'racção de seundo, a sua e$pressão 'oi de decepção totalQno entanto, aceitou a minha proposta com um sorriso.

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- Anda, depressaR Mamos dar um passeio em piroa V velaR -ritei para harmian. %as vem de 'ato de banho, porSuevamos molhar-nos de certe*a.)ão Sueria acreditar, parecia-me um sonho. A piroadesli*ava na @ua, dei$ando atr@s de si um sulco prateado.5repando V 'orSuilha, eu 'ornecia-lhe o peso necess@riopara a manter em eSuil>brio e 5ehei (Sue se pronuncia 5a>-hai-i! empreava a sua 'orça. uando o vento soprava mais'orte, ele também subia para o meio da 'orSuilha emanobrava com as duas mãos um remo laro, enSuanto com o péseurava a escota da vela rande.- 0ead aboutR (;! - ritou.+esloSuei lentamente o meu peso para a piroa para a manterem eSuil>brio enSuanto a vela perdia vento.- ard a-leeR (D! - bradou, 'a*endo o barco bolinar.+esli*ei para o lado oposto, por cima da @ua, apoiado nummastro atravessado na piroa e, tendo assim virado de

bordo, prosseuimos no nosso rumo.- Ali rihtR - disse 5ehei.3stas trTs 'rases - 0ead aboutR, ard a-leeR e A1 ribtR -eram todo o vocabul@rio de 5ehei em inlTs e levaram-me asuspeitar Sue o homem teria 'eito parte de uma eSuipaemcanaca comandada por um comandante americano. 3ntre lu'adasde vento, 'alei-lhe por estos e pronunciei v@rias ve*es,com ar interroador, a palavra sailor (]!. +epois tentei o'rancTs, na minha pronúncia atro*? marin

)ota ;? Kreparar para virarR (). da 5.!.

)ota D? Leme a sotaventoR (). da 5!.)ota ]? %arinheiro (). da 5.!.

;ID

não lhe di*ia nada, como de resto matelot. "u o meu 'rancTsera mau ou o homem não conhecia estas palavras. As duassuposiçYes con'irmaram-se mais tarde. +esisti e comecei asoletrar os nomes das ilhas pró$imas. om um s>nal decabeça, deu-me a entender Sue @ l@ 'ora. uando mencionei5ahiti, percebeu Sue eu lhe peruntava se @ l@ 'ora. " seu

es'orço mental era Suase palp@vel e dava osto vT-lodiscorrer. Acenou viorosamente com a cabeça? sim, conheciao 5ahiti e acrescentou o nome de outras ilhas, como5ikihau, 0aniroa e akarava, provando assim Sue navearaaté Vs Kaumotus - certamente como marinheiro a bordo deSualSuer escuna comercial.+epois do nosso curto passeio, subiu a bordo connosco eperuntou-me Sual o destino do #narkQ Suando citei #amoa,

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as ilhas idi, a )ova &uiné, a rança, a 4nlaterra e aali'órnia, em seSuTncia eor@'ica, ele repetiu #amoa e,com estos, deu-me a entender Sue Sueria l@ ir. oi a maiordas di'iculdades convencT-lo de Sue não tinha luar paraele. inalmente as palavras 'rancesa petit bateau, barcopeSueno, resolveram a Suestão. A sua e$pressão dedesapontamento desanuviou-se num sorriso aSuiescente erenovou o convite para o acompanharmos a 5ahaa.harmian e eu olh@mos um para o outro. Animados com a ideiada e$cursão, esSuecemo-nos das nossas cartas para 0aiatea,do 'uncion@rio Sue prometTramos procurar e - depois demetermos rapidamente uns sapatos, umas calças, uma camisa,ciarros, 'ós'oros e um livro numa cai$a de bolachas Sueproteemos com uma capa de borracha - al@mos a amurada edescemos para a piroa.- A Sue horas contam reressarW - peruntou Uarren,enSuanto o vento en'unava a vela e eu e 5ehei nos

desloc@vamos para cima da 'orSuilha.- )ão 'aço a m>nima ideia, loo se vT - respondi. - "melhor é não esperar por nós.

;I]

A'ast@mo-nos. A 'orça da brisa aumentava e, com as velas'rou$as, avanç@mos velo*mente. omo o bordo livre do barcosó media uns cinco ou seis cent>metros, as cristas dasondas passavam-lhe por cima e 'omos obriados a escoar a@ua. "ra essa é uma das 'unçYes principais da vahinT, a

palavra Sue em tahitiano sini'ica mulher.omo harmian era a única vahinT a bordo, cabia-lhe pXr-seao trabalho. Ali@s, 5ehei e eu não nos pod>amos ocupardisso? empoleirados na 'orSuilha, t>nhamos Sue nos es'orçarpara a piroa não se virar. om um vertedouro primitivo, demadeira, harmian meteu mãos V obra, e tão bem Sue de ve*em Suando tinha tempo para descansar um pouco.0aiatea e 5ahaa são as únicas ilhas situadas no centro domesmo c>rculo de reci'es. )essas duas ilhas vulcZnicas, alinha do hori*onte sure entrecortada pelos picos e cabeçosSue parecem Suerer chear ao céu. 0aiatea apresenta uma

con'erTncia de EF Suilómetros e 5ahaa de DE? por aSui sepode 'a*er uma ideia da imensa barreira rochosa Sue rodeiaas duas ilhas. 3ntre estas e os reci'es estende-se umaman>'ica enseada Sue em certos pontos mede mais deSuilómetro e meio de comprimento e chea a atinir ]FFF delarura. As enormes vaas do Kac>'ico, Sue Vs ve*es 'ormam'rentes ininterruptas com meio Suilómetro, precipitam-secontra os reci'es, passam-lhes por cima e voltam a tombar

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com um barulho 'ormid@velQ no entanto, a delicada estruturade coral resiste ao embate e protee as marens. Kara l@ daenseada, desencadeiam-se as 'orças destrutivas, capa*es deaniSuilar o navio mais sólidoQ dentro dela, numa super'>ciecalma e tranSuila, uma piroa como a nossa voa impunementeapesar do seu bordo livre de cinco cent>metros.5enho a sensação Sue desli*amos por cima da @ua. 3 Sue@uaR... Kura como 'onte das mais cristalinas, salpicada de'ascinantes mati*es de todas as cores do arco->ris,

;IC

mais esplendorosas Sue as de SualSuer arco->ris. " verde-ade alternava com a turSuesa, o a*ul-pavão com aesmeralda. +epois, a piroa atravessou laos de umvermelho-púrpura, loo seuidos de outros de uma brancuraintensa, estonteante, em cuos 'undos de areia coral>'era

se contorciam holotúrias (;! monstruosas. 5ão depressapass@vamos por cima de maravilhosos ardins de coral, onde'lutuavam pei$es coloridos, como borboletas marinhas, comopercorr>amos a super'>cie sombria de canais pro'undos,sulcados em voo prateado por cardumes de pei$es-voa-dores,como loo a seuir avist@vamos outros ardins de coralvivo, cada um mais esplendoroso Sue o anterior.3, cobrindo tudo isto, o céu tropical dos al>sios, com osseus 'arrapos de nuvens correndo para o *énite eacumulando-se em massas 'o'as no hori*onte.#em Sue nos apercebTssemos, t>nhamo-nos apro$imado de 5ahaa

(Sue se pronuncia 5a-a-a, com tripla acentuação na voal! e5ehei sorria com ar aprovador perante os es'orços dahabilidosa vahinT a esva*iar a @ua do barco. A piroaaterrou na areia, na maré bai$a, a uns sete metros dapraia, e nós descemos para o chão macio, por entre randesholotúrias, Sue se torciam e contra>am debai$o dos nossospésQ uns polvos peSuenos assinalavam a sua presença Suandopis@vamos os seus corpos moles.Kerto da praia, entre coSueiros e bananeiras, eru>a-sesobre estacas a cabana de bambu de 5ehei, coberta de colmo,de onde saiu a vahinT, uma mulher peSuena de olhos meios e

traços Sue nos 'a*iam hesitar entre aparent@-la com monóisou com >ndios norte-americanos. 5ehei chamava-lhe 6ihaura,pronunciando 6i-a-u-ra, com as s>labas bem destacadas.

)ota ;? &astrópode eSuinoderme, sem concha, cua carne émuito apreciada no "riente. )os 3stados 1nidos chamam-lhesPpepinos do marP (). da 5.!.

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3la seurou harmian pela mão e levou-a para dentroQ 5eheie eu seuimo-las. +entro da cabana, os nossos an'itriYesderam-nos a entender, por estos peremptórios, Sue tudoSuanto l@ estava nos pertencia. )enhum 'idalo se mostrariatão manZnimo e tão sincero nesse o'erecimento - até porSuesuspeito Sue poucos 'oram realmente enerosos. )ão tard@mosa descobrir Sue mais valia re'rear o nosso interesse porSualSuer dos obectos V vista, porSue no-lo o'ereciam actocont>nuo. omo é costume entre vahi-nTs, as duas vahinTspuseram-se a apalpar e a trocar impressYes sobre tecidos,enSuanto 5ehei e eu, como nos competia, 'al@vamos sobreapetrechos de pesca, a caça ao porco do mato e odispositivo das piroas duplas Sue serve para capturarbonitos com canas de Suatro metros de comprimento. harmianadmirou um cesto de costura - nunca vira e$emplar mais

per'eito da cestaria polinésia. Loo lhe passou apertencer. Assim Sue e$primi arado diante de um an*ol parabonitos esculpido em n@car, tive Sue tomar posse dele.harmian 'oi sedu*ida por um novelo de corda de palhaentrançada, com de* metros de comprimento e su'iciente paracon'eccionar SualSuer modelo de chapéu? de imediato o rolomudou de dono. uando detive o olhar num pilão de poi Suedevia ser muito antio, passou a ser meu. harmian tambémcometeu a imprudTncia de se interessar por uma tiela demadeira para poi, em 'orma de piroa, com Suatro pés, todaesculpida numa só peçaQ deram-lha prontamente.

omo pousei os olhos numa concha 'eita de casca de coco,tive de 'icar com ela. +epois de um breve concili@bulo,harmian e eu decidimos passar a conter o nosso entusiasmo,para não levar V ru>na os nossos an'itriYes. Além disso,começ@mos a dar tratos V cabeça para decidir Suais osobectos do #nark Sue poderiam servir como prendas deretribuição. " problema dos presentes de )atal não é nadacomparado com o ritual polinésio de o'erendas.

;I

3nSuanto se preparava o antar, sent@mo-nos nas melhoresesteiras de 6ihaura, ao 'resco, na varanda, e ao mesmotempo 'omos conhecendo os outros moradores da aldeia.Avançaram lentamente, em rupos de dois e de trTs,apertaram-nos a mão dando-nos a saudação de boas-vindas emtahitiano? ioarana, Sue se pronuncia io-ra-na. uase todosos homens, tipos de constituição sólida, usavam apenastana, sem camisa, enSuanto as mulheres vestiam o ahu

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nacional, espécie de bibe, 'ran*ido nos ombros e comprido,caindo em linhas raciosas até ao chão. 4n'eli*mente,aluns tinham ele'ant>ase. Mi uma mulher de estaturaimponente e o porte de uma rainha, com um dos braços pelomenos Suatro ve*es mais volumoso Sue o outro. Ao lado delaestava um homem de um metro e oitenta de altura, muitomusculado, com um corpo belo como o de um ovem deus.4n'eli*mente, os pés e os torno*elos estavam tão inchadosSue tocavam uns nos outros, dando o aspecto de pernas deele'ante, dis'ormes e monstruosas.)inuém sabe ao certo Sual a oriem desta en'ermidadet>pica dos mares do #ul. Aluns atribuem-na V inestão de@ua não pot@velQ outros, Vs picadelas dos mosSuitosQ eoutros a uma predisposição natural dos indiv>duos,associada ao processo de aclimatação. Kor outro lado, nãoaconselho ninuém a viaar até aSui Sue tenha pavor poresta e por outras doenças similares. "casiYes haver@ em Sue

ter@ de beber @ua imprópria para consumo e ser@ por certomordido pelos mosSuitos, pelo Sue SualSuer precaução ser@inútil. #e andar pela praia descalço, pisar@ areiasrecentemente percorridas por doentes atinidos porele'ant>ase. %esmo Sue se 'eche em casa, todos os alimentos'rescos Sue inerir - carne, pei$e, aves ou leumes -poderão estar contaminados. )o mercado de Kapeete, toda aente est@ ao corrente de Sue h@ dois ;II

leprosos V testa de bancas de venda e sabe-se l@ por Suevias cheam ao mercado os abastecimentos di@rios de pei$e,

'rutas, carne e veetais. A única maneira de andar pelosmares do #ul é numa total descontracção e com uma 'éabsoluta no brilho rutilante da boa estrela de cada um. #evirem uma mulher com ele'ant>ase espremer com as mãos polpade coco para dela e$trair l>Suido, bebam-no e apreciem comoé delicioso, esSuecendo as mãos Sue o prepararam. Lembrem-se também de Sue tudo leva a crer Sue a ele'ant>ase e alepra não se transmitem por contacto."bserv@mos uma mulher de 0aratona com os membros inchadose de'ormados a preparar creme de coco e diri-imo-nosdepois para o telheiro Sue serve de co*inha a 5ehei e

6ihaura, onde eles preparavam o antar, Sue nos 'oi servidodentro de casa, numa mesa improvisada? um cai$ote deembalaem. "s nossos an'itriYes esperaram Sue nosinstal@ssemos para em seuida se sentarem no chão ao nossolado e apresentarem o Sue havia para comer. ue banSueteR3ra sem dúvida aluma o trono da sublime abundZncia.Krimeiro, serviram um delicioso pei$e cru, apanhado horasantes e banhado em sumo de limão dilu>do em @ua. #euiram-

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se 'ranos assados. omo bebida, dois cocos com o seu leitede doce sabor. avia também umas bananas Sue sabiam amorano e se des'a*iam na boca, e um poi de banana Sue nos'e* lamentar Sue os nossos antepassados ianSues tenhaminventado o puddin. omemos mandioca e taro co*idos, 'éisassado, 'eito com enormes bananas-rosa, suculentas esubstanciais, preparadas de maneira especial. )o momento emSue nos maravilh@vamos com a riSue*a da ementa, trou$eram-nos um leitão inteiro envolvido em 'olhas verdes e assadoem cima das pedras Suentes de um 'orno tradicional, o pratomais nobre e celebrado da co*inha polinésia. )o 'im aindahavia ca'é, 'orte e delicioso, um ca'é local Sue se cultivanas encostas de 5ahaa.

;I=

ascinado pela cana de pesca de 5ehei, planeei uma pescaria

com ele para o dia seuinte, pelo Sue harmian e eudecidimos passar ali a noite. %ais uma ve* 5ehei re'eriu#amoa e de novo dis'arçou com um sorriso compreensivo umae$pressão de desapontamento Suando, para e$plicar a 'altade espaço, recorri Vs palavras petit bateau. 6ora 6ora eraa nossa pró$ima escala, não muito lone de onde est@vamos,visto Sue os cutters 'a*iam a travessia entre esse porto e0aiatea. Kor isso convidei 5ehei a acompanhar-nos até l@ no#nark. oi então Sue me contou Sue a mulher nascera em 6ora6ora e ainda l@ tinha uma casa. onvidei-a também eimediatamente se o'ereceram para nos receberem naSuela sua

seunda casa. 3ra seunda-'eira. )o dia seuintepartir>amos para a pescaria e voltar>amos a 0aiatea. )aSuarta-'eira navear>amos ao laro de 5ahaa e, emdeterminado ponto a cerca de uma milha da costa,recolher>amos 5ehei e 6ihaura para seuir para 6ora 6ora.5udo isto 'oi cuidadosamente combinado, assim comoconvers@mos acerca de muitas outras coisas, apesar de 5eheisaber apenas trTs 'rases em inlTs e de harmian e euapenas conhecermos uma dú*ia de voc@bulos tahitianos eentre os Suatro todos compreendermos umas de* palavras'rancesas. laro Sue uma conversa polilota como esta era

lenta, mas harmian desenhou a l@pis num bloco de papel ummostrador de relóio e, com a auda de estos, acab@mos pornos entender.Assim Sue mani'est@mos vontade de ir para a cama, osvisitantes locais despediram-se, com suaves iaoranas, e5ehei e 6ihaura retiraram-se. A casa consistia numa randedivisão, Sue 'icou por nossa conta, enSuanto os an'itriãesiam dormir para outro s>tio. +e 'acto, entreavam-nos a

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uarda do castelo. 3 aSui 'aço Suestão de di*er Sue, detodas as recepçYes de Sue 'ui alvo da parte de ente detodas as raças e de todos os pa>ses, nunca ninuém meacolheu com tanta cortesia como aSuele casal de te*

;I<

morena em 5ahaa. )ão me re'iro aos presentes, Venerosidade sem limites, V sublime abundZncia, mas aosreSuintes de a'abilidade, consideração e tacto com Sue nostrataram e sobretudo V sua sincera simpatia, nascida de umatotal compreensão a nosso respeito. #em se importarem comos seus costumes tradicionais, 'i*eram Suestão deperscrutar os nossos deseos para nos serem arad@veis, enunca lhes 'altou a perspic@cia. #eria imposs>vel enumeraras centenas de peSuenos estos de delicade*a com Sue nosrodearam durante a nossa breve estadia. 6asta di*er Sue

nunca ninuém iualou e muito menos e$cedeu toda ahospitalidade e entile*a Sue nos dispensaram." aspecto mais delicioso desse acolhimento 'oi o 'acto de asua boa educação não resultar de nenhuma convençãoadSuirida ou de comple$os ideais de sociabilidade, mas sera e$pressão espontZnea e natural do Sue lhes ia noscoraçYes.)o dia seuinte, 5ehei, harmian e eu partimos para a pescana piroa em 'orma de cai$ão, mas desta ve* sem a enormevela. )ão pod>amos pensar em velear e pescar ao mesmotempo numa embarcação tão e$>ua. 5ehei lançou os an*óis e

as sondas a v@rias milhas da praia, entre os reci'es, numcanal com uma 'undura de vinte braças." isco eram pedaços de polvo, cortados de um animal vivoSue se contorcia no 'undo da piroa. Lançou sete linhas,cada uma delas atada V ponta de um bambu curto Sue 'lutuavaV super'>cie. uando um pei$e mordia, a ponta do bambu erapu$ada para bai$o e a outra ponta, loicamente, eruia-seno ar, oscilando e acenando-nos 'reneticamente paraacorrermos. 3 l@ >amos nós V pressa, no meio de ritos,e$clamaçYes e remadas viorosas, de um bambu para outro,>çando das pro'unde*as man>'icos tro'éus relu*entes de

meio metro a um metro de comprimento.

;=F

+e repente, levantou-se a leste um vento 'resco,escurecendo completamente o céu até então claro. omoest@vamos a trTs milhas da marem, decidimos voltar,ustamente no momento em Sue as primeiras raadas

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encrespavam o mar. +epois começou a chover, uma chuva comosó se vT nos trópicos, em Sue se abrem todas as torneirasdo imenso reservatório celeste e parece Sue se lança sobrea 5erra um dilúvio incont>vel. harmian tinha vestido um'ato de banho, eu um piama e 5ehei simplesmente uma tana.6ihaura estava V nossa espera na praia e acompanhouharmian até casa, Suase como uma mãe leva a menina malcomportada Sue esteve a brincar em poças de lama.+epois de mudar de roupa, 'um@mos em silTncio, con-'ortavelmente instalados, a seco, enSuanto nos preparavam okai-kai, desinação polinésia para PcomidaP ou PcomerP.Ali@s, 'oi uma das 'ormas da rai* da palavra oriinal, hoedesconhecida, Sue se disseminou por todo o Kac>'ico. +i*-sekai nas %arSuesas, 0aratonha, %anahiki, )iué, akaa'o,5ona, )ova 2elZndia e Mate. )o 5ahiti, PcomerP muda paraamu, no avai e #amoa é ai, em 6au di*-se kana, em )iuakaina, em )onone kaka e na )ova aledónia ki. %as, 'osse

Sual 'osse o som ou s>mbolo desta palavra, 'oi semprerecebido com pra*er pelos nossos ouvidos, depois de umalona travessia a remos e V chuva. %ais uma ve* tom@mos onosso luar no trono da sublime abundZncia, lamentando nãopossuir um estXmao de ira'a ou de camelo.uando nos prepar@vamos para reressar ao #nark, o céuvoltou a escurecer e levantou-se vento 'resco, mas aoracom pouca chuva e raadas 'ortes. #oprou horas a 'io, emeue raneu por entre as 'olhas das palmeiras, rasou eabanou, aos uivos, a 'r@il cabana de bambu. Ao laro,ouvia-se o troar aterrador das vaas a esmaar-se contra os

reci'es. +entro do cordão dos reci'es, a enseada, apesar deabriada, estava branca, tal era a 'úria da @ua. )em5ehei, com a sua lona e$periTncia como

;=;

homem do mar, conseuiria 'a*er 'rente, na peSuena piroa,a semelhante tormenta.Ao pXr-do-#ol, o vento amainou, embora estivesse aindamuito 'orte para a piroa. 5ehei apresentou-nos um nativoSue consentiu em levar-nos no seu cutter até 0aiatea pela

Suantia incr>vel de dois dólares chilenos, o eSuivalente a<F cTntimos na nossa moeda. %etade das pessoas da aldeiavieram tra*er-nos presentes, Sue 5ehei e 6ihaura nosentrearam antes da partida? alinhas em aiolas, pei$escrus marinados e envolvidos em 'olhas de palma, enormescachos de bananas douradas, cestas entrançadas atransbordar de laranas e limYes, abacates (os avoca!,enormes ceiras de inhame, réstias de taro e cocos e, por

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'im, randes ramos e troncos de @rvores - lenha para o#nark.uando nos diri>amos para o cutter encontr@mos o únicobranco de 5ahaa? &eore Lu'kin, ainda por cima nascido na)ova 4nlaterraR om = anos, contou-nos Sue passou Fdeles nas ilhas da #ociedade, a não ser por ausTnciasocasionais, como a corrida ao ouro no 3ldorado em CE e umcurto per>odo em Sue se dedicou V aricultura num rancho naali'órnia, perto de 5ulare. omo os médicos lhe tinhamdado só mais trTs meses de vida, reressou aos seus maresdo #ul e ainda estava vivo, apesar da idade avançada, arir-se dos ditos médicos, todos @ 'alecidos. #o'ria de'ai-'ai, a palavra nativa para ele'ant>ase. 3ssa doençasurira-lhe havia um Suarto de século e não o lararia atéV morte. Kerunt@mos-lhe se tinha 'am>lia. Ao lado deleestava sentada uma enérica senhora de F anos, a 'ilha. P[a única e não tem 'ilhos vivos.P

" cutter era um barco peSueno do tipo chalupa, mas pareciaenorme, comparado com a piroa de 5ehei. Korém tomouproporçYes liliputianas Suando, ao chearmos V enseada,'omos mais uma ve* surpreendidos por vento rio.

;=D

)essa altura o #nark pareceu-nos sólido e est@vel como aterra 'irme. 5ehei e 6ihaura, Sue tinham vindo aacompanhar-nos, eram bons marinheiros. om o cutter bemlastrado, conseuimos en'rentar a tempestade com as velas

todas laradas. 3stava a escurecer, na enseada havia muitosbancos de coral, mas nós continu@vamos a avançar. Atormenta tornou-se mais 'orte, e então tivemos de virar debordo, para evitar um banco de coral Suase V super'>cie.uando o cutter se encontrava a meio de e$ecutar a manobrae antes de retomar direcção, 'oi apanhado por uma raada.As velas cambaram. olou-se a iba e a mestra e o barcoendireitou-se ao vento.5rTs ve*es o barco 'oi derrubado por raadas, antes determinada a bordada, e trTs ve*es as velas se 'olaram.uando volt@mos a virar de bordo, a noite ca>ra @. " vento

levava-nos aora em direcção ao #nark e a borrasca roncava.olhemos a iba e ri*@mos em parte a vela rande, larandoapenas um pedaço do tamanho de um lenço. 4n'eli*mente nãovimos o #nark, Sue resistia Vs raadas surto pelas duasZncoras, e o cutter 'oi embater num banco de coral. om aauda de um dos botes, lançou-se uma amarra comprida parabordo do #nark e, após uma hora de duros es'orços, o cutter'oi desencalhado e amarrado, com toda a seurança, V popa

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do nosso veleiro.)o dia em Sue partimos para 6ora 6ora o vento estavaescassoQ atravess@mos a enseada com o motor liado até aoponto em Sue 5ehei e 6ihaura se deviam encontrar connosco.uando nos orient@mos para terra bolinando entre os bancosde coral, por mais Sue procur@ssemos na praia nãoconseu>amos avistar os nossos amios. )ão havia sinaldeles.- )ão podemos esperar - disse eu. - 3sta brisa não nosdei$a chear esta noite a 6ora 6ora e não Suero desperdiçarmais asolina.

;=]

5alve* não saibam, mas é um problema arranar asolina nosmares do #ul. )unca se sabe Suando ser@ poss>velreabastecer os reservatórios.

)esse preciso momento, 5ehei apareceu entre as @rvores,encaminhando-se para a @ua. 5inha tirado a camisa eacenava 'reneticamente com ela. Aparentemente, 6ihaura nãoestava pronta. 1ma ve* a bordo, 5ehei in'ormou-nos porsinais Sue t>nhamos de seuir ao lono da costa até V casadele. Keou na roda do leme e condu*iu o #nark por entre oscorais, evitando habilmente cada reci'e, do primeiro aoúltimo. +a praia saudaram-nos com ritos de boas-vindas e6>haura, audada por v@rias pessoas da aldeia, apro$imou donosso barco duas piroas carreadas de v>veres? inhames,taro, 'ais, 'ruta-pão, cocos, laranas, limYes, ananases,

melancias, abacates, romãs, pei$e, muitas alinhas Sue sepuseram a cacarear e a pXr ovos no convés, e um porco vivoSue uinchava como louco, certamente na previsão de umamorte iminente.J@ a lua ia nascendo Suando entr@mos na periosa passaemdos reci'es de 6ora 6ora e ancor@mos ao laro da aldeia deMaitapé. 6ihaura, com a impaciTncia de uma boa dona decasa, ansiava por chear a casa para nos preparar mais umaabundante re'eição. 3nSuanto a chalupa a levava, com 5ehei,para o peSueno molhe, chearam até nós os sons de cantos ede instrumentos de música. 3m todas as ilhas da #ociedade

nos haviam prevenido de Sue os de 6ora 6ora andavam semprealeres e não perdiam oportunidades para 'esteos. harmiane eu 'omos a terra para ver e na praça da aldeia, não lonede umas campas esSuecidas unto V praia, demos com ovensde ambos os se$os a dançar, en'eitados com rinaldas e comos cabelos ornamentados de estranhas 'lores 'os'orescentesSue, ao luar, emitiam um brilho intermitente. 1m pouco maislone, ao lono da praia, eruia-se uma imensa palhota, de

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'orma oval, com

;=C

pelo menos vinte metros de comprimento, onde os anciãos daaldeia cantavam himines (;!. 5ambém eles estavam em 'esta et>nham-se adornado com rinaldas de 'lores. 0eceberam-nos Ventrada e 'i*eram-nos entrar, recolhendo-nos como ovelhasperdidas na noite.)a manhã seuinte, muito cedo, 5ehei subiu a bordo com ummolho de pei$es acabados de pescar presos num 'io,convidando-nos para antar naSuela noite. uando nosdiri>amos para casa dele, entr@mos na casa dos himines. L@estavam os mesmos velhos a cantar, acompanhados de alunsovens em Sue não t>nhamos reparado na véspera.5udo indicava Sue se tratava de preparativos para uma'esta. )o chão eruia-se uma montanha de 'rutas e leumes,

rodeada de muitas alinhas atadas umas Vs outras com um 'io'eito de tiras de palma de coco. +epois de cantarem v@rioshimines, um dos velhos levantou-se e 'e* um discurso.+iriia-se a nós e, embora não compreendTssemos nada,percebemos Sue de aluma 'orma nos relacionava com aSuelamontanha de provisYes.- #er@ poss>vel Sue nos esteam a o'erecer tudo istoW -seredou-me harmian.- 4mposs>velR - murmurei em resposta. - Kor Sue haviam denos presentear assimW Ademais, não temos espaço no #narkpara tanta coisa, além de Sue não conseuir>amos consumir

nem um décimo. " resto iria estraar-se. 5alve* esteam aconvidar-nos para a 'esta. +e SualSuer 'orma, não pode sertudo para nós.%as o certo é Sue mais uma ve* nos vimos sentados nosupremo trono da abundZncia. om estos inilud>veis, oorador o'ereceu-nos simbolicamente cada um dos alimentos edepois a totalidade. oi um momento de embaraço. ue 'ariamvocTs se vivessem num Suarto e vos

)ota ;? inos ou cantos reliiosos (). da 5.!.

;=E

o'erecessem um ele'ante brancoW " nosso #nark pouco mais@rea tinha e além disso @ estava carreado com aabundZncia de 5ahaa. ASuele novo abastecimento era de mais.oramos, titube@mos e aradecemos com muitos mauruurus,seuidos de outros tantos nuis, superlativo Sue indicava aintensidade e a veemTncia dos nossos aradecimentos. Ao

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mesmo tempo, através de sinais, cometemos uma terr>velSuebra de etiSueta? não aceit@mos os presentes. "desapontamento dos cantores de himines 'oi evidente e nessanoite, com a auda de 5ehei, che@mos a um compromisso?aceit@mos uma alinha, um cacho de bananas, um molho detaro e assim por diante.%as não 'oi poss>vel 'urtar-nos V abundZncia. omprei umadú*ia de alinhas a um camponTs local e no dia seuinte eleentreou-nos tre*e e um carreamento de 'ruta Sue tra*ia napiroa. " cantineiro 'rancTs brindou-nos com romãs eemprestou-nos o seu melhor cavalo. " pol>cia também noso'ereceu o dele, Sue estimava como V menina dos olhos.5odos nos mandaram 'lores. " #nark parecia uma 'rutariadecorada por uma 'lorista. And@vamos por toda a parteenrinaldados de 'lores. uando os velhos vieram a bordocantar-nos himines, as raparias beiaram-nos em sinal deboas-vindas e os homens da eSuipaem, do capitão ao

rumete, 'icaram rendidos Vs don*elas de 6ora 6ora. 5eheiorani*ou em nossa honra uma pescaria? descemos para umapiroa dupla, manobrada a remos por uma dú*ia de ama*onasbem musculadas. oi um al>vio não termos pescado nada,porSue essa cara suplementar acabaria por a'undar o #nark."s dias passavam mas a abundZncia não diminu>a. )o dia dapartida, as piroas apro$imaram-se uma a uma do nossobarco. 5ehei o'ereceu pepinos e uma papaie>ra carreada de'rutos esplTndidos. Além disso, trou$e para mim umaminiatura de uma piroa dupla com todos os

;=

apetrechos de pesca e uma pro'usão de 'rutas e leumes,como em 5ahaa. 6ihaura o'ereceu a harmian presentesespeciais? almo'adas de seda e alodão, leSues e esteirasdecoradas. 5oda a população trou$e 'ruta, 'lores e alinha.3 6ihaura acrescentou um leitão vivo. )ativos Sue v>amospela primeira ve* debruçavam-se sobre a amurada eestendiam-me canas de pesca, linhas e an*óis esculpidos [email protected] o #nark, V partida, contornou os reci'es, levava a

reboSue um cutter, Sue deveria levar 6ihaura de volta a5ahaa... sem 5ehei. edendo Vs súplicas deste, eu acabarapor o aceitar a bordo e aora 'a*ia parte da eSuipaem. )omomento em Sue o cutter, depois de desamarrado, se orientoupara este e a proa do #nark se virou para oeste, 5eheiaoelhou-se perto do poço do leme e re*ou em silTncio, coml@rimas a correrem-lhe pela cara abai$o. 1ma semanadepois, %artin revelou as nossas 'otora'ias e mostrou

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alumas a 5ehei. 3 aSuele polinésio de te* escura rebentoua soluçar Suando viu a imaem da sua 6ihaura bem amada.%as a abundZncia era demasiadaR )ão pod>amos me$er-nos Vvontade por causa da 'ruta Sue, espalhada por toda a parte,atravancava tudo. " próprio barco salva-vidas e a chalupaiam carreados. "s cabos do velame emiam com o peso. %asSuando che@mos ao mar alto, batido pelo al>sio, começ@mosa perder cara. ada ve* Sue o #nark balançava de lado,saltavam borda 'ora um ou dois cachos de bananas ou cocos,ou uma cesta de limYes. 1ma avalancha dourada deles 'oivarrida pelas ondas e escoou-se pelos escovéns desotavento. "s cestYes de inhame rebentavam, os ananases eas romãs rolavam pelo convés. As alinhas tinham-se soltadoe andavam por toda a parte? chocavam ovos nos rolos doscabos, cacareavam e esvoaçavam em volta do botaló da ibae tentavam, em periosa acrobacia, empoleirar-se no pau dopalanSue. 3ram alinhas bravas,

;=I

acostumadas a voar. uando tent@vamos aarr@-las, voavampara o mar, descreviam um c>rculo e voltavam para o #nark.`s ve*es perd>amos aluma. Aproveitando a con'usão a bordo,o leitão soltou-se e escorreou borda 'ora.Puando chea um estranho, todos procuram conSuistar-lhe aami*ade e lev@-lo a casaQ a>, cada um dos habitantes da*ona o trata com a maior amabilidadeQ depois 'a*em-nosentar num trono mais alto e o'erecem-lhe os melhores

alimentos, em abundZncia.P

;==

AK951L" 444

A pesca V pedrada em 6ora 6ora

`s cinco horas da manhã, as bu*inas das conchas começaram a'a*er-se ouvir. Ao lono de toda a costa elevaram-semuidos assustadores, semelhantes aos antios chamamentos V

uerra, acordando os pescadores e convocando-os para seprepararem. 5ambém nós no #nark nos levant@mos, porSue eraimposs>vel dormir com aSuele troar das conchas.5ambém participar>amos da pesca V pedrada, embora os nossospreparativos 'ossem simples.5autai-taora é o nome Sue se d@ a este tipo de pesca?tautai sini'ica Pinstrumento de pescaP e taora PlançadoP.%as a e$pressão tautai-taora sini'ica Ppesca V pedradaP,

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porSue a pedra é o instrumento Sue se lança. )a realidade,trata-se de uma batida aos pei$es, semelhante, do ponto devista da concepção, a uma batida Vs lebres ou a uma manada,embora nestes dois últimos casos os caçadores e os caçadosoperem no mesmo meio '>sico, ao passo Sue aSui o homem est@V super'>cie, porSue precisa de respirar, e os pei$es sãoperseuidos na @ua, não interessa a Sue pro'undidade." procedimento é o seuinte? as piroas 'ormam uma 'ilamantendo entre si intervalos de ]F a EF metros. )a proa decada barco h@ um homem armado com um calhau pesando v@riosSuilos e amarrado a uma corda curta. " pescador limita-se abater violentamente com o calhau

;=<

na @ua, levantando-o e dei$ando-o cair v@rias ve*esseuidas. )a popa, um remador 'a* avançar a piroa e

mantém-na a par das restantes.3sta 'ila de embarcaçYes vai ao encontro de outra 'ilaidTntica, Sue est@ a uma ou duas milhas de distZncia. +olado dos reci'es, as duas pontas unem-se de maneira a'ormar rapidamente um c>rculo cuo e$tremo oposto é acosta. 3ste c>rculo 'echa-se e contrai-se lentamente emdirecção V marem, onde as mulheres, em pé e alinhadasdentro da @ua, 'ormam com as pernas uma barreira Sueimpede SualSuer 'ua dos pei$es em 'renesim. uando oc>rculo atine a dimensão m>nima, uma piroa lança-se damarem e desenrola e deita borda 'ora uma lona esteira de

'olhas de palma Sue vai envolver o c>rculo, re'orçandoassim a paliçada de pernas. laro Sue esta pescaria ésempre 'eita dentro dos reci'es, na enseada.- 5rTs olie - disse o pol>cia Sue estava ao nosso lado,depois de e$plicar, por estos e sinais, Sue seriamapanhados milhares de pei$es de todos os tamanhos, desderobalos a tubarYes, e Sue seriam todos co*inhados na praia.[ a pesca Sue melhor resulta, embora se assemelhe mais a um'estival, dada a sua nature*a, do Sue V prosaica tare'a deanariar alimento no mar. 3stas pescarias reali*am-se maisou menos uma ve* por mTs em 6ora 6ora, e são um costume Sue

vem desde tempos imemoriais. #empre se 'e* isto, mas nãopodemos dei$ar de pensar no primeiro selvaem desconhecidoSue, h@ muito, concebeu esta ideia de reunir tão 'acilmenteSuantidades prodiiosas de pei$e sem recorrer a an*óis,redes ou arpYes.+e uma coisa podemos ter a certe*a? era um revolucion@rio eos conservadores da tribo devem tT-lo consideradoanarSuista e irrespons@vel. 5eve de en'rentar di'iculdades

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maiores do Sue as do inventor moderno, Sue se limita aconvencer antecipadamente dois ou trTs capitalistas. 3steprecursor antio teve de

;<F

convencer toda a tribo antes da e$periTncia, porSue sem oseu apoio nunca conseuiria pXr o método em pr@tica. uasepodemos visuali*ar os lonos concili@bulos nocturnos emSue, neste mundo de ilhas primitivas, ele chamouretrórados aos companheiros e estes, por sua ve*, oacusaram de ser alienado, demente, vision@rio e mentiroso.4maina-se Sue só V custa de muitos cabelos brancos einsultos v@rios ter@ 'inalmente conseuido conSuistar paraa sua ideia uma maioria Sue lhe permitiu pX-la V prova.osse como 'osse, a e$periTncia resultou, resistiu Vverdade do teste... 'uncionouR 3 podemos ter a certe*a Sue,

depois disso, todos asseveraram Sue sabiam muito bem Sue ia'uncionar."s nossos bons amios 5ehei e 6ihaura, Sue haviam preparadoesta pescaria em nossa honra, tinham prometido estarpresentes. 3st@vamos nos nossos beliches Suando nos vieramavisar da sua cheada. #ubimos a escada V pressa e 'ic@mosassombrados Suando vimos a rande canoa polinésia em Sueir>amos embarcar. 3ra uma canoa dupla comprida, com as suaspiroas presas uma V outra por t@buas com um certointervalo entre si, decoradas de alto a bai$o com 'lores eervas douradas. 1ma de*ena de ama*onas cobertas de 'lores

maneavam os remos e V popa de cada piroa per'ilava-se umimponente timoneiro. 5odos se enrinaldavam de 'loresamarelas, cor de larana e carmim e tra*iam em volta dosrins um pareu escarlate. avia 'lores por todo o lado,'lores, 'lores e mais 'lores... ASuilo tudo era uma oriade cores. )uma plata'orma colocada sobre as proas daspiroas, 5ehei e 6ihaura e$ecutavam uma dança e todas asvo*es se eruiam num canto vibrante de boas-vindas.+escreveram trTs c>rculos em volta do #nark antes de seapro$imarem para nos levarem para bordo, a harmian e amim. +epois diriimo-nos para a *ona da pesca, a cinco

milhas dali, numa velo* corrida V 'orça de remos, com o

;<;

vento a 'avor. P"s de 6ora 6ora andam sempre contentesP,di*-se nas ilhas da #ociedade, e de 'acto assim é. 3ntoaramcançYes de remar, cançYes de caçar tubarYes e cançYes depesca, sempre ao ritmo do bater dos remos, num coro dançado

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e participado por todos. +e ve* em Suando aluém soltava orito %aoR e nessa altura as remadoras anhavam novoalento. %ao sini'ica tubarão e, Suando esses tiresaSu@ticos se apro$imam, os nativos procuram distanciar-se,sabendo per'eitamente os perios Sue correm de serdevorados, se porventura o animal abocanhar aluma das'r@eis canoas. laro Sue no nosso caso não havia tubarYes,mas o rito é utili*ado para incitar as remadoras, Suecorrespondem como se realmente 'uissem ao predador. oéRoéR é outro rito Sue 'a* levantar a espuma V nossapassaem.)a plata'orma, V 'rente, 5ehei e 6ihaura continuavam assuas danças, acompanhadas de cantos, coros e bater depalmas. "utras ve*es o ritmo era mantido pelo batersincopado dos remos contra os costados das piroas. A dadomomento, uma ovem, larando o remo, saltou para aplata'orma e e$ecutou uma hula? sempre a dançar, balançava-

se, debruçava-se para nós e pespeava-nos nas 'aces o beiode boas-vindas.ertos cantos reliiosos ou himines eram de rande bele*aQos bai$os pro'undos dos homens combinados com os altos e ossopranos delicados das mulheres 'ormavam uma harmonia desons semelhante V dos órãos. )a realidade, por raça, h@Suem chame ao himine o Pórão canacaP. "utros cZnticos oubaladas, de sabor muito primitivo, remontam V época pré-cristã.oi assim - cantando, dançando e remando - Sue estesaleres polinésios nos levaram V pesca. 1m pol>cia 'rancTs

Sue desempenha as 'unçYes de overnador de 6ora 6oraacompanhou-nos com a respectiva 'am>lia na sua

;<D

piroa dupla, manobrada por presosQ não é apenas o pol>ciae o che'e? é também o carcereiro. )esta terra 'estiva,Suando toca a pescar, vão todos. 1mas vinte piroas de'orSuilha remavam ao nosso lado. )uma curva da marem,apareceu de repente uma enorme piroa V vela, desli*andomaestosamente com vento por tr@s. uando se apro$imou,

trTs rapa*es, debruçando-se habilidosamente na 'orSuilha,saudaram-nos com um 'ormid@vel ru'ar de tambores.%eia milha mais adiante, che@mos ao luar de concentração.ASui, a chalupa a motor tra*ida por Uarren e %artindespertou a curiosidade de todos os de 6ora 6ora, Sue nãopercebiam como se movia. Ku$aram as piroas para a areiaseca e 'oram todos a terra beber leite de coco, cantar edançar. Mieram untar-se-nos outros Sue cheavam a pé em

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rande número, vindos dos povoados vi*inhos. oi umespect@culo bonito ver chear as raparias com coroas de'lores, de mãos dadas e aos pares.- &eralmente 'a*em uma boa pescaria - disse-nos Allicot, umcomerciante mestiço. - )o 'im, a @ua 'ervilha de pei$e. [muito divertido. om certe*a Sue sabe Sue todo esse pei$e épara vocTs, nãoW- 5odoW - emi, porSue o #nark @ estava a abarrotar debelos presentes, tra*idos em piroas cheias de 'ruta,leumes, porcos e alinhas.- #im, absolutamente todo - con'irmou Allicot. - uando ocerco estiver completo, vocT, Sue é o convidado de honra,deve arpoar o primeiro pei$e, como é tradição.+epois toda a ente apanhar@ pei$e V mão, levando-o para apraia para 'ormar um monte. 3m seuida um dos che'es 'ar@um discurso em Sue lhe o'erece tudo o Sue est@ nesse monte.%as vocT não tem de aceitar a totalidade. )esse momento,

deve levantar-se, 'a*er um discurso e indicar Sual o pei$eSue lhe arada, dei$ando o resto para os outros. 3ntãotodos proclamarão a sua enerosidade.

;<]

- %as o Sue aconteceria se eu 'icasse com tudoW- )unca se viu tal coisa. A etiSueta e$ie a retribuiçãodos presentes o'erecidos." che'e reliioso ind>ena entoou uma oração propiciatóriae todos descobriram as cabeças. +epois o che'e dos

pescadores chamou as piroas uma a uma e atribuiu-lhes osrespectivos luares. 3ntão todos embarcaram e partiram,dei$ando as mulheres em terra, V e$cepção de 6ihaura eharmian. )outros tempos, nem este 'avor lhes seriaconcedido. Atr@s de nós, as outras mulheres avançaram paraa @ua, 'ormando uma paliçada com as pernas.A rande piroa dupla 'icou a seco e 'omos na chalupa.%etade das piroas remou de sotavento e nós, com a outrametade, coloc@mo-nos na direcção contr@ria, a uma distZnciade milha e meia, até Sue a ponta da nossa linha tocou nabarreira de reci'es. )uma piroa a meio da nossa 'ila, o

che'e da batida, um velho imponente, Sue seuia de pé nasua piroa, seurava uma bandeira na mão. A sua 'unção eradiriir o movimento das embarcaçYes. %antinha-as 'ormadasem linha soprando numa concha.uando todos estavam alinhados, aitou a bandeira Vdireita. Loo os pescadores da direita começaram a batercom os calhaus na @ua, todos ao mesmo tempo, num únicomovimento. 3nSuanto pu$avam as pedras para si - uma Suestão

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de seundos, porSue elas apenas a'loravam a @ua - abandeira 'e* sinal V esSuerda Sue, por sua ve* e comadmir@vel precisão, percutiu a super'>cie com os calhaus,em un>ssono. 3 assim por diante, sucessivamente V direita eV esSuerda? a cada sinal da bandeira, uma 'ormid@vel linhade choSue abalava a enseadaQ ao mesmo tempo, as linhas'ormadas pelas piroas avançavam V 'orça de remos e cadasector repetia os movimentos do sector oposto, a mais deuma milha de distZncia.)a proa da chalupa, 5ehei, com os olhos 'itos no velho,lançava o seu calhau em cadTncia com os outros. 1ma ve*

;<C

'uiu-lhe a pedra da corda e, no mesmo instante, merulhoupara a ir buscar. )ão sei se tocou no 'undo. 3m todo ocaso, reapareceu seundos depois, de pedra na mão.

3ste incidente ocorreu por diversas ve*es a bordo daspiroas mais pró$imas de nós e de todas as ve*es o homem emcausa atirou-se ao mar para recuperar o calhau.As pontas das duas 'ilas aceleraram as manobras, virandopara o lado da praia e encurtando as distZncias entre si,sob a supervisão atenta do che'e, até Sue se uniram untoaos reci'es, 'echando o c>rculo. +epois, iniciou-se acontracção do c>rculo, com os pobres pei$es a 'uirespavoridos, em direcção V marem, perseuidos pelavibração violenta dos calhaus na @ua. Kelo mesmo processose 'a*em as batidas a ele'antes na selva? homens Sue ao

lado destes imponentes animais parecem pimeus, aachadosna savana ou atr@s das @rvores, perseuem-nos provocandoru>dos estranhos. A paliçada de pernas @ estava 'ormada.M>amos as cabeças das mulheres, numa lona 'ila, comopontos reulares a marcar a super'>cie pl@cida da enseada.+ispostas por ordem de alturas, aventuravam-se o mais loneSue podiam, de 'orma Sue, e$ceptuando as Sue estavam pertoda marem, todas tinham @ua pelo pescoço." c>rculo continuou a contrair-se até Sue as piroas Suasese tocavam. e*-se uma pausa. 1ma piroa comprida destacou-se da costa, contornando a linha curva e deslocando-se a

toda a velocidade. )a popa, um homem lançou borda 'ora umaesteira muito comprida de 'olha de palma. As piroas @ nãoeram necess@rias e os homens 'oram re'orçar a paliçada dasmulheres? como a esteira não era propriamente uma rede,tratava-se de evitar Sue os pei$es passassem através dela.+onde a necessidade de aitar a esteira com as pernas, debater na @ua com as mãos e de lançar ritos, numverdadeiro pandemónio, enSuanto a armadilha se estreitava.

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;<E

%as nem um pei$e suria V super'>cie ou ia lançar-se contraas pernas ocultas pela @ua. Kor 'im, o che'e dospescadores entrou na *ona de caça, no meio do c>rculo,procurando a vau em todas as direcçYes, com cuidado. %asnão havia pei$e de espécie aluma. )em uma sardinha, nem umrobalo, nem seSuer um pei$e-sapo. A oração talve* nãotivesse sido a mais apropriada ou então - eventualidademais prov@vel, como me e$plicou um velhote - o ventosoprava do lado errado e o pei$e estava noutro ponto daenseada. +e SualSuer maneira, não pesc@mos nadaR- 4sto acontece uma ve* em cinco - disse Allicot, para meconsolar.Meam l@ a nossa pouca sorte? t>nhamos ido a 6ora 6oraatra>dos pela pescaria V pedrada, e loo nos 'oi calhar a

ve* 'unestaR #e não tivéssemos planeado nada, talve*tivesse sido ao contr@rio. )ão é Sue eu sea pessimista oume insura contra os des>nios do universo. Apenas e$primoos sentimentos de SualSuer pescador ao 'im de um lono diade es'orços in'rut>'eros.

;<

AK951L" 4M

" naveador amador

)em todos os capitães são iuais, e aluns são certamentemuito competentes, bem seiQ mas a seSTncia de capitães Suecalhou em sorte ao #nark dei$ou muito a desear.A e$periTncia Sue me 'icou é Sue, num barco peSueno, o maucapitão e$ie mais cuidados do Sue dois bebés de leite.laro Sue pouco mais se poderia esperar. "s bonspro'issionais 'a*em carreira em navios de mil a Suin*e miltoneladas e não admira Sue não abandonem as suas belasposiçYes para comandar uma casca de no* como o #nark, comas suas modestas de* toneladas. 5ivemos de recrutar os

nossos mareantes um pouco ao acaso, nos portos, e osnaveadores dos portos padecem eralmente de umade'iciTncia conénita - são aSuele tipo de homens Sue levamduas semanas sem conseuir encontrar uma ilha no meio domar e reressam na sua escuna para anunciar Sue a ilha sea'undou com todos a bordo, o tipo de homens cuotemperamento ou sede de bebidas 'ortes os arreda dos barcose não os dei$a trabalhar.

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" #nark teve portanto trTs capitães e, se +eus Suiser,'icaremos por aSui. " primeiro era senil ao ponto de nãoser capa* de dar ao carpinteiro a medida e$acta de um paude retranca ou de ordenar a um marinheiro Sue lançasse unsbaldes de @ua do mar sobre o convés. +urante os do*e diasconsecutivos em Sue estivemos atracados sob intenso

;<I

sol tropical, o convés, Sue era novo em 'olha, estevesempre seco. Kor causa disso tive de paar ;]E dólares parao mandar recala'etar. " seundo capitão andava sempre maldisposto, @ deve ter nascido assim. P" pai*inho est@sempre *anadoP, comentava a seu respeito um 'ilho mestiço.uanto ao terceiro, era um re'inado malandro. Além dementiroso, de honesto não tinha nada, e a'astava-se tantoda seriedade mais elementar como da rota Sue devia seuir

no dia em Sue Suase 'e* nau'raar o #nark ao laro dasilhas 0inold.oi em #uva, nas ilhas idi, Sue despedi o meu terceiro eúltimo capitão e reassumi o meu papel de naveador amador.J@ tivera uma primeira e$periTncia sob orientação do meuprimeiro capitão Sue, depois de lararmos de #ão rancisco,'a*ia o #nark dar saltos tão espantosos no mapa Sue me viobriado a descobrir o Sue de 'acto se passava. oirelativamente '@cil perceber, porSue ainda t>nhamos apercorrer uma distZncia de vinte e duas mil milhas. 3u nãoentendia nada de naveação mas, depois de passar umas boas

horas a ler e meia hora a praticar com o se$tante, acabeipor determinar a latitude do #nark pela observação dosmeridianos e a lonitude pelo método simples conhecido sobo nome de Palturas correspondentesP. )ão é um método muitoe$acto, nem seSuer seuro, mas o meu capitão tentavanavear orientando-se por ele e era a única pessoa a bordoSue poderia ter-me in'ormado da sua pouca 'iabilidade,coisa Sue não 'e*. Levei o #nark até ao avai, mas'avorecido pelas condiçYes.A declinação do #ol era )orte e o astro estava Suase no*énite. )unca tinha ouvido 'alar do c@lculo do Znulo

hor@rio, 'eito com o cronometro, Sue permite determinar alonitudeQ ou por outra, tinha ouvido ao meu primeirocapitão alumas re'erTncias muito vaas mas, após uma ouduas tentativas pr@ticas sem T$ito, ele nunca mais voltouao assunto.

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)as ilhas idi tive ocasião de comparar o meu cronometrocom dois outros cronometros. +uas semanas antes, em KaoKao, na #amoa, havia pedido ao meu capitão Sue comparasseo nosso cronometro com os de um cru*eiro americano, oAnnapolis. 0espondeu-me Sue @ o 'i*era... o Sue eraabsolutamente mentiraQ e disse-me Sue a di'erença achadaera de apenas uma 'racção de seundo. Asseverou-me tudoisto ostentando uma aleria 'inida e acrescentando eloiosV esplTndida precisão do meu cronometro.+io eu aora? eloios V sua própria esplTndida e descarada'alta de verdade. KorSue, veam bem, cator*e dias maistarde, em #uva, comparei o meu cronometro com o do Atua, umvapor australiano, e descobri Sue o meu estava ]; seundosadiantado. "ra ]; seundos de tempo, convertidos em arco,eSuivalem a sete milhas e um Suarto."u sea, se me diriisse para "este durante a noite e aposição do #nark, seundo c@lculo baseado na minha

lonitude observada de tarde, 'osse de sete milhas ao laroda costa, eu estaria nesse preciso momento a embater nosreci'es. +epois comparei o meu cronometro com o do capitãoUoole, o comandante do porto Sue avisa #uva das horas,disparando um canhão, trTs ve*es por semana, ao meio dia. "meu cronometro estava E< seundos avançado, o Sue Suerdi*er Sue, se naveasse para "este, me esmaaria contra osreci'es Suando pensasse estar a ;E milhas de distZnciadeles.0ecti'iSuei em parte, subtraindo ]; seundos do total doerro do meu cronometro, e dirii-me para 5anna, nas )ovas

ébridas, não sem urar, sempre Sue o #nark se apro$imavada costa, noite cerrada, Sue não me esSueceria de corriiro outro erro de sete milhas revelado pelo cronometro docapitão Uoole. 5anna 'ica a umas FF milhas a oeste-sudoeste das ilhas idi e eu estava convencido Sue,enSuanto cobria essa distZncia, podia arma*enar na cabeçaconhecimentos n@uticos su'icientes para chear ao destino.

;<<

3m todo o caso, l@ cheuei, apesar das di'iculdades, mas

primeiro veam bem aSuilo por Sue passei. #empre tenho ditoSue navear é '@cil, mas não dispunha do tempo necess@riopara me consarar seriamente ao #nark. Além da minha tare'aSuotidiana de escritor, reservada para cobrir as despesasdo nosso cru*eiro, estavam-me atribu>das diversas ocupaçYesa bordo. Kor outro lado, aprende-se melhor a teoria danaveação em casa, em terra 'irme, onde a latitude e alonitude são sempre invari@veis, do Sue num barco Sue dia

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e noite seue o seu rumo em direcção V costa, sem sabermosseSuer onde 'ica essa costa, Sue pode surir-nos Suandomenos esperamos, provocando o desastre. Kara começar, h@ asaulhas de marear e o traçar das rotas. 2arp@mos de #uva natarde de s@bado, de Junho de ;<F=, e só ao escurecer éSue pass@mos o canal apertado e cheio de reci'es entre asilhas de Miti Levu e %benha. +iante de mim espraiava-se ooceano. )o caminho não havia nada, e$cepto Matu Leile, umailha*ita miser@vel Sue persistia em assomar em plenoKac>'ico, a umas DF milhas para oeste-sudoeste -precisamente a minha direcção. laro Sue parecia muitosimples evit@-la, alterando o curso de 'orma a passar oitoou ;F milhas para )orte. 3ra uma noite escura e nave@vamoscom o vento a 'avor. 3u tinha de di*er ao timoneiro em Suedirecção virar para não cru*ar com Matu Leile. %as SualdirecçãoW 3mbrenhei-me nos livros de naveação. Locali*ei oPurso MerdadeiroP. 3ra mesmo issoR " Sue eu Sueria era o

curso verdadeiro. Li ansiosamente?P" urso Merdadeiro é o Znulo com o meridiano de uma linharecta desenhada no mapa para liar a posição da embarcaçãoao local de destino.P3ra mesmo isso. A posição do #nark era a entrada ocidentaldo canal entre Miti Levu e %benha. A escala

DFF

seuinte, no mapa, 'icava ;F milhas a norte de Matu Lele.Assinalei esse ponto com o meu compasso de pontas 'i$as e,

com as réuas paralelas, achei o curso verdadeiro? "esteSuarto-sudoeste. #ó tinha Sue o indicar ao timoneiro e o#nark seuiria caminho na seurança do mar alto.%as, 'eli*mente para mim, continuei a ler e apercebi-me deSue a aulha de marear, essa amia 'iel do marinheiro, nãoapontava para norte. 5anto se detinha a este como a oeste epor ve*es até virava a cauda para norte e a cabeça parasul. A declinação, nesse ponto particular do lobo onde o#nark se encontrava, era de < CF; este. Kor conseuinte,eu deveria ter isso em conta antes de dar o rumo aotimoneiro. ontinuei a leitura?

PA 0ota %anética orrecta obtém-se corriindo o ursoMerdadeiro com a declinação.PKortanto, pensei, se a aulha marca <o CF; a este do norte,terei de diriir o barco para <o CF; a oeste do norteindicado pela aulha, e Sue na realidade não era o norte.Acrescentando <o CF V esSuerda da minha rota oeste Suarto-sudoeste, conseui estabelecer a minha rota manética eparecia, mais uma ve*, em condiçYes de pXr-me ao laro.

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%as... miséria das misériasR A 0ota %anética orrecta nãocorrespondia V 0ota da Aulha de %arear. 3mboscado, outrodiabinho esperava por mim para me passar uma rasteira eatirar-me contra os reci'es de Matu #eile. +ava pelo nomede +eclinação. Li?PA 0ota da Aulha de %arear é o curso pelo Sual se overnao timoneiro e obtém-se corriindo a 0ota %anética orrectacom a +eclinação.P"ra a +eclinação é a variação causada na aulha pelo 'erroinclu>do na construção do barco. "btive esta variação

DF;

puramente local na tabela de declinaçYes da minha aulha eapliSuei-a depois V 0ota %anética orrecta. " resultado'oi a 0ota da Aulha de %arear. %as as minhas contas aindanão estavam certas. A minha aulha padrão 'icava a meio do

#nark, no poço do leme, perto da roda. uando a aulha deoverno indicava oeste-sudoeste trTs Suartos-sul (a rota deoverno!, a aulha padrão indicava oeste me>o-norte, o Suenão era a rota de overno. i* o #nark desviar-se até aaulha padrão indicar oeste-sudoeste trTs Suartos-sul, oSue dava na aulha de overno sudoeste-oeste.As operaçYes descritas constituem o método simples decorriir a rota. 3 o pior é Sue, se não nos con'ormarmosriorosamente a ele, arriscamo-nos a ouvir, uma bela noiteP3scolhos V vistaRP, a tomar um banho de mar completo e apassar pela arad@vel diversão de nadar V pressa para a

costa, perseuidos por tubarYes 'amintos.Assim como a aulha de overno é traiçoeira e 'a* pouco domarinheiro, apontando em todas as direcçYes e$cepto paranorte, também esse indicador celeste, o #ol, persiste emmudar de luar Suando menos se espera. 3ssa leviandade do#ol é 'onte permanente de aborrecimentos... pelo menos paramim. Kara identi'icar o e$acto local onde nos encontramos Vsuper'>cie da 5erra, temos de saber onde se encontra o #olnesse preciso momento. "u sea, o astro do dia, consideradopelo homem como medidor do tempo, não é um relóio decon'iança. uando descobri isto, ca> numa pro'unda

melancolia e cheuei a duvidar do próprio cosmos. Leisimut@veis, como a da ravitação e da conservação daeneria, pareciam postas em causa e preparei-me para as verem contradição a SualSuer momento, sem me espantarminimamente. Misto Sue a aulha de overno mentia e o #ol'altava aos seus compromissos, por Sue não haveria amatéria de perder a 'orça de atracção e a eneriaW

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DFD

Até o movimento perpétuo se tornava poss>vel e eu estavanuma tal disposição de esp>rito Sue seria capa* de comprarum motor /eele ao primeiro vendedor habilidoso Sue meaparecesse no convés do #nark. +epois, Suando descobri Suea 5erra rodava ] ve*es sobre o seu ei$o, Suando o #ol sóse levantava ]E ve*es no mesmo per>odo de tempo,Suestionei-me seriamente sobre se não estaria a sonhar.+e 'acto, o #ol é tão irreular na sua rota Sue não époss>vel inventar um relóio Sue se uie pelo tempo solar." astro acelera e abranda e tanto se pode adiantar nohor@rio como atrasar-seQ h@ também alturas em Sue nãoconhece limite de velocidade, procurando ultrapassar-se asi próprio ou, por outra, chear a tempo ao ponto do céuonde deveria estar. )este último caso, não abranda nomomento certo, de 'orma Sue vai parar mais V 'rente. )a

realidade, só Suatro ve*es ao ano é pontual e chea a tempoao ponto indicado. )os restantes ]; dias erra a seu bel-pra*er pelo 'irmamento. omo o homem é mais per'eito Sue o#ol, inventou o relóio, Sue mantém a reularidade do tempoe também calcula o avanço ou o atraso do astro na sua rotae a di'erença entre a sua posição e a Sue devia ocupar, setivesse o m>nimo de pudor. hama-se a isso a 3Suação do5empo. Assim, o naveador Sue Sueira saber onde se encontraconsulta o cronometro para determinar a posição do #olseundo a hora do observatório de &reen_ich, depois aplicaa esses números a 3Suação do 5empo e descobre então o ponto

preciso onde o #ol se deveria encontrar." #nark dei$ou as ilhas idi no s@bado, de Junho. )o diaseuinte, domino, no imenso oceano, sem terra V vista,procurei de novo a minha posição por meio de um c@lculo deZnulo hor@rio para a lonitude e de uma observaçãomeridiana para a latitude. A posição pelo cronometro 'oicalculada de manhã, Suando o #ol estava

DF]

a cerca de D; acima do hori*onte. Krocurei no AlmanaSue

)@utico e descobri Sue nesse dia, I de Junho, estavaatrasado um minuto e D seundos, e Sue recuperava do seuatraso V ra*ão de ;C,I seundos V hora. " cronometroindicava Sue no momento preciso em Sue eu media a altura do#ol, eram = h DE em &reen_ich. +epois, SualSuer simplesaluno de escola prim@ria seria capa* de resolver o problemade corriir a 3Suação do 5empo. 4n'eli*mente, eu não eraaluno da escola prim@ria. 3ra óbvio Sue, a meio do dia, em

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&reen_ich, o #ol estava um minuto e D seundos atrasado.3ra iualmente óbvio Sue, supondo Sue eram on*e horas damanhã, o #ol estaria um minuto e D seundos atrasado, mais;C,I seundos. #e 'ossem ;F horas da manhã, ter>amos Sueacrescentar duas ve*es ;C,I seundos. 3 se 'ossem = h DEda manhã, ter>amos de acrescentar trTs ve*es e meia ;C,Iseundos. Kortanto, era evidente Sue, em ve* de serem = hDE da manhã, eram = h DE da noite, e por conseuinteter>amos Sue subtrair e não acrescentar oito ve*es e meia;C,I seundosQ porSue se, ao meio dia, o #ol estivesseatrasado um minuto e D seundos e recuperasse desse atrasoV ra*ão de ;C,I seundos por hora, Vs = h DE da noiteencontrar-se-ia muito mais pró$imo do ponto em Sue deveriaestar do Sue de manhã.Até aSui, tudo certo. %as o cronometro marcava = h DE damanhã ou da noiteW onsultei o relóio do #nark? marcava =h < e de certe*a Sue era de manhã, porSue eu acabava de

tomar o peSueno almoço. Kortanto, se eram oito da manhã abordo do #nark, as oito horas do cronometro (Sue eram ahora em &reen_ich! deviam ser oito horas di'erentes dasoito horas do #nark. %as di'erentes em SuTW )ão podiam seroito horas daSuela manhã, pensei euQ por conseuinte,deviam ser oito horas daSuela noite ou oito horas da noitepassada.heado a este ponto do meu racioc>nio, ca> no poço sem'undo do caos intelectual. +isse para comio? Meamos,

DFC

estamos numa lonitude leste, portanto adiantados emrelação a &reen_ich. #e estivéssemos atrasados em relação a&reen_ich, hoe seria ontemQ se estamos adiantados emrelação a &reen_ich, ontem é hoe, mas se ontem é hoe, Sueraio é hoeW... amanhãW AbsurdoR )o entanto, deve ser assimmesmo. uando medi o #ol naSuela manhã Vs = h DE, osastrónomos de &reen_ich acabavam de antar na noiteanterior.- )esse caso, corrie a 3Suação do 5empo para a data deontem - di*-me o meu esp>rito lóico.

- %as hoe continua a ser hoe - insiste o meu esp>ritoliteral. - 5enho de corriir o #ol para hoe e não paraontem.- )o entanto, hoe é ontem - insiste o meu esp>rito lóico.- 3st@ tudo muito bem - prosseue o meu esp>rito literal. -#e eu estivesse em &reen_ich, podia ser ontem. 3m &reen_ichacontecem coisas estranhas. %as sei, tão certo como eue$istir, Sue estou aSui, hoe, I de Junho, e medi a altura

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do #ol aSui e hoe. Kortanto, tenho de corriir o #ol aSuie aora.- +isparateR - reponta o meu esp>rito lóico. - Leck di*...- )ão me interessa o Sue di* Leck - interrompe o meuesp>rito literal. - +ei$a Sue te e$pliSue o Sue di* oAlmanaSue )@utico. +i* Sue hoe, I de Junho, o #ol estavaatrasado um minuto e D seundos e recuperava a uma médiade ;C,I seundos V hora. +i* Sue ontem, de Junho, o #olestava atrasado um minuto e ] seundos e a recuperar a umamédia de ;E, seundos V hora. omo vTs, é despropositadopensar em corriir o #ol de hoe com o hor@rio do #ol deontem.- 3stúpidoR- 4diotaR

DFE

+iscutiram os dois até eu sentir a cabeça a andar V roda, aponto de começar a perder a noção do tempo.Lembrei-me de um conselho prudente Sue me dera o capitão doporto de #uva? P)a lonitude leste, consulte o AlmanaSue)@utico para obter os elementos do dia anterior.P+epois ocorreu-me outra ideia. orrii a 3Suação do 5empopara domino e s@bado, 'a*endo duas operaçYes distintas e,veam sóR, Suando comparei os resultados, havia umadi'erença de apenas Suatro décimos de seundo. #enti-meoutroR Acabava de encontrar o caminho Sue me 'aria sair dolabirinto. " #nark era demasiado peSueno para conter-me, a

mim e V minha e$periTncia. uatro décimos de seundoeSuivaliam apenas a uma di'erença de um décimo de milha...Suase nadaR5udo correu Vs mil maravilhas nos de* minutos seuintes,Suando por acaso pousei o olhar sobre a seuinte Suadrapara naveadores?

Avanço sobre o tempo de &reen_ichLonitude 3steQAtraso sobre o tempo de &reen_ichLonitude "este.

éusR A hora do #nark não coincidia com a de &reen_ichRuando eram = h DE em &reen_ich, o relóio do #nark sómarcava = h < minutos. Atraso sobre o tempo de &reen_ich,lonitude oeste. Kois claroR )ave@vamos na lonitude "este.- ue rande imbecilR - e$clamou o meu esp>rito literal. -ASui são = h < minutos da manhã e em &reen_ich são = h DEda noite.

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- %uito bemR - responde o meu esp>rito lóico. - Karasermos mais precisos, = h DE da tarde são de 'acto DF h DEminutos, o Sue sempre é melhor Sue = h < minutos.)ão, não h@ dúvida? estamos na lonitude oeste.

DF

[ então Sue o meu esp>rito literal triun'a.- 2arp@mos de #uva, nas idi, não 'oiW - perunta, e oesp>rito lóico apoia.- 3 #uva 'ica na lonitude oeste, não 'icaW - %ais uma ve*o esp>rito lóico concorda. - 3 nave@mos para "este (o Suenos leva ainda mais para a lonitude este!, não éW +estave* não se pode near? estamos na lonitude este.- Atraso sobre o tempo de &reen_ich, lonitude oeste,repete incansavelmente a lóica. Admites Sue as DF h DEminutos estão adiantadas em relação Vs = h < minutosW

4nterrompo a discussão?- Ker'eito. Mamos comprovar a minha observação e loo vemos.3 assim 'i*, para chear V conclusão de Sue a minhalonitude era ;=C oeste.-3u bem disseR - troça o meu esp>rito lóico.ico pasmado e o meu esp>rito literal também, por unsminutos. +epois declara?- %as não h@ ;=C de lonitude oeste, nem de lonitude esteou de SualSuer outra lonitude. " meridiano maior tem ;=F,como muito bem sabes.heado aSui, o esp>rito literal sucumbe sob o es'orço de

racioc>nio e o esp>rito lóico est@ esparvecidoQ Suanto amim, 'ico com uma e$pressão perdida e dou voltas V cabeça,para saber se naveo em direcção Vs costas da hina ou aool'o de +arien.3ntão uma vo*inha 'raca, Sue não reconheço, vinda de umaparte remota da minha consciTncia, di*?- " número total de raus é ]F. #ubtrai os ;=C delonitude oeste de ]F e ter@s ;I de lonitude leste.- %era especulaçãoR - e$clama o esp>rito literal. 3 oesp>rito lóico re'orça?- )ão e$iste nenhuma rera nesse sentido.

DFI

- uero l@ saber de rerasR - proclamo. - )ão tenho olhospara verW A coisa parece evidente? ;=C de lonitude oestesini'icam Sue ultrapass@mos em C raus a lonitude este emSue, ali@s, sempre me mantive. Karti das idi, Sue 'icamna lonitude este. Aora vou marcar a minha posição no mapa

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e comprov@-la por estimativa.)o entanto, seria assaltado por novos aborrecimentos enovas dúvidas. 1m e$emplo? nas latitudes sul, toma-se aaltura do #ol para o c@lculo do Znulo hor@rio de manhã bemcedo, Suando a declinação é norte. 3u tomava as minhas Vs =horas. "ra para 'a*er o c@lculo é necess@rio, entre outrascoisas, ter uma latitude e$acta.%as essa latitude obtém-se ao meio dia, pela alturameridiana do #ol. "u sea, para poder 'a*er o meu c@lculode Znulo hor@rio pela manhã, tenho de saber Sual a minhalatitude nesse momento. laro, se o #nark se dirie paraeste a seis nós, durante as Suatro horas de di'erença a sualatitude não deve alterar-se. Kor outro lado, se o nossobarco se desloca para #ul, a sua latitude variar@ de DCmilhas. )este caso, uma simples adição ou uma subtracçãoconverter@ a latitude do meio dia na latitude das = horas.%as suponhamos Sue o #nark estea em rota para sudoeste.

3ntão ser@ preciso consultar as tabelas de pontos.Meamos a ilustração? Vs = horas tomei a altura do #ol. )omesmo momento anotei a distZncia reistada no livro debordo. Ao meio dia, depois de ter tomado a altura meridianado sol, consultei o livro de bordo e descobri Sue, desde as= horas, o #nark tinha percorrido DC milhas. A sua rotaverdadeira 'ora oeste ^a #ul Meri'iSuei a tabela ;, nacoluna das distZncias, na p@ina correspondente Vs rotas deMa de ponto, e parei em DC, o número de milhas percorridas.3m 'rente, nas duas colunas seuintes, veri'iSuei Sue o#nark tinha 'eito ],E milhas para #ul e D],I milhas para

oeste. #ó tinha Sue dedu*ir ],E milhas da minha latitude do

DF=

meio dia. "btidos todos estes elementos, calculei a minhalonitude.%as essa era a minha lonitude das = horas. Até ao meiodia, tinha e'ectuado uma rota de D],I milhas a oeste. ualera a minha lonitude ao meio diaW #euindo a rera, volteiV tabela de pontos n D, Sue estudei em pormenor, edetectei uma di'erença de DE milhas para as Suatro horas.

iSuei aterradoR 0epeti a operação uma dú*ia de ve*es,sempre com o mesmo resultado. onclua vocT, caro leitor.#uponha Sue viaou DC milhas e 'e* ],E milhas em latitude?como poder@ ter percorrido ao mesmo tempo DE milhas emlonitudeW #upondo até Sue avançou DC milhas para oeste semmudar de latitude, e$pliSue-me como ser@ poss>vel modi'icarem DE milhas a sua lonitudeW 3m nome da ra*ão, dia-mecomo 'e* para cobrir uma milha a mais em lonitude do Sue o

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número total de milhas Sue naveouW3 no entanto, eu tinha uma tabela de pontos 'amosa? nadamenos Sue a 6o_ditch. A rera de utili*ação era simples(tanto Suanto o podem ser as reras de marear!Q não meenanara em nada. Kassei uma hora de volta daSuilo e no 'imcontinuei a ver-me diante da impossibilidade material deter percorrido DC milhas, numa rota em Sue a minha latitudevariou ],E milhas e a minha lonitude DE milhas. " pior éSue não tinha ninuém para me audar. )em harmian nem%artin sabiam tanto como eu sobre o assunto. 3 entretanto,o #nark seuia a todo o pano para 5anna, nas )ovasébridas. 5inha de tomar SualSuer decisão.)ão sei como a ideia me veio ao esp>rito... chamem-lheinspiração, se SuiseremQ mas pensei? se a rota para #ul é alatitude, por Sue não ser@ a rota para oeste a lonitudeWKor Sue não hei-de trans'ormar a rota para oeste emlonitudeW 3ntão toda a Suestão me pareceu clara. "s

meridianos de lonitude estão separados de F

milhas (n@uticas!

DF<

no 3Suador. onverem no pólo. Kor e$emplo, se seuir omeridiano de ;=F de lonitude até ao pólo )orte e, poroutro lado, um astrónomo de &reen_ich seuir o meridiano delonitude *ero na mesma direcção, Suando chearmos ao pólopodemos apertar a mão um ao outro, embora V partida

estivéssemos separados por milhares de milhas. #iamos oracioc>nio? se um rau SualSuer de lonitude mede F milhasde larura no 3Suador, e se redu* a nada no pólo, em certospontos entre o pólo e o 3Suador, alures entre o pólo e o3Suador, esse mesmo rau deve medir meia milha, uma milha,D milhas, ;F milhas, ]F milhas, etc, até F milhas.5udo se simpli'icava novamente. " #nark encontrava-se a ;<de latitude sul. " per>metro do lobo terrestre era menora> do Sue no 3Suador. Kor conseuinte, cada milha paraoeste, a ;< de latitude sul, era superior a um minuto delonitude, porSue se F milhas são sempre F milhas, F

minutos só eSuivalem a F milhas no 3Suador. &eore rancis5raine Suebrou o recorde de Júlio Merne na volta ao mundo.%as SualSuer um pode Suebrar o recorde de &eore rancis5raine. Kara isso só precisar@ de ir, num vapor velo*, Vlatitude do cabo orn, e navear para oeste a toda a volta." mundo é muito peSueno nessa latitude e não h@ terra pelocaminho a interromper a rota do naveador. #e o barcomantiver uma velocidade de ; nós, a volta ao mundo

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completar-se-@ em apenas CF dias.%as h@ compensaçYes. )a noite de Suarta-'eira, ;F de Junho,transpus para o meu mapa o ponto calculado Vs = horas danoite, partindo do meu ponto observado ao meio dia. +epoismodi'iSuei a rota do #nark para o orientar para utuna, umadas ilhas situadas no e$tremo oriental das )ovas ébridas,com o aspecto de um cone vulcZnico de EF metros a emerirdo mar pro'undo. Alterei a rota de 'orma a 'a*er o #narkpassar ;F milhas a norte. A seuir 'ui

D;F

ter com Uada, o co*inheiro, Sue todas as manhãs 'a*ia detimoneiro, das Suatro Vs seis horas, e disse-lhe?- Uada #an, tome atenção? amanhã de manhã, olhe bem, paraver se vT terra a sotavento.3 'ui deitar-me, entreando-me V sorte. A minha reputação

como naveador seria posta V prova. #uponham por uminstante Sue, ao nascer do dia, não surisse terra nohori*onte. ue raio de naveação seria a minhaW 3m Suesituação nos encontrar>amosW omo saber onde est@vamosWKara onde nos diriirmos se Suiséssemos chear a terraW5ive visYes sinistras? o #nark a vauear meses a 'io, nasolidão do mar, na busca vã de terra 'irme, os nossosv>veres a escassear e nós a olharmos uns para os outros comolhares sinistros, ponderando 'riamente a hipótese derecorrer ao canibalismo.on'esso Sue o meu sono não 'oi

P...como um céu estivalMibrando ao canto da cotovia.P

+iria antes Sue Pacordei no silTncio das trevasP paraescutar o raner das traves dos compartimentos e ochocalhar das vaas contra os 'lancos do #nark, Sueavançava reularmente a seis nós. M@rias ve*es passei osmeus c@lculos em revista, es'orçando-me por descobrirerros, até ter o cérebro em tal aitação Sue detecteidú*ias deles. #uponham Sue em ve* de estarmos a F milhas

de utuna, a minha naveação estivesse toda errada e nosencontr@ssemos de 'acto a milhas. )esse caso, a minharota também estaria errada e o #nark até podia estarprestes a nau'raar contra as costas de utuna. uasesaltei do beliche ao imainar tal eventualidadeQ e, emborame contivesse, 'iSuei acordo por momentos, nervoso e tenso,V espera de sentir o embate." meu sono 'oi interrompido por pesadelos terr>veis. "s

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tremores de terra 'oram a a'lição mais recorrente, embora

D;;

aparecesse um homem Sue insistia em perseuir-me pela noite'ora para lhe paar uma conta. Além disso, Sueria medir'orças comio, enSuanto harmian me persuadiaconstantemente a não lhe pXr a mão em cima. 5odavia, no 'imo homem aventurou-se por outro sonho em Sue harmian nãoestava presente. 3ra a minha oportunidade? desta ve*enal'inh@mo-nos, rebolando pelo passeio e pela rua 'ora,até ele implorar tréuas. 3ntão eu disse-lhe? P3ntão,Suanto é essa contaWP +epois de o vencer, estava disposto apaar. Poi tudo um enanoP, respondeuQ Pera uma conta parao seu vi*inho.P0esolvida a Suestão, nunca mais me apareceu em sonhosQ etambém eu acordei, rindo-me do episódio. 3ram trTs da

manhã. #ubi ao convés. enr, o da ilha de 0apa, estava aoleme. Analisei o livro de bordo? reistava CD milhas. "#nark mantinha a sua velocidade de seis nós. +urante umlono Suarto de hora, encostado V parede do poço do leme,debati-me numa dúvida mórbida. +epois vi terra? um ponto deterra alto, precisamente onde deveria estar, emerindo domar V nossa 'rente. `s se>s horas, distinuia-seper'eitamente o belo cone vulcZnico de utuna. `s oitohoras, Suando pass@mos em 'rente dele, medi a distZncia como se$tante e veri'iSuei Sue estava a <,] milhas. "ra eutinha calculado Sue passar>amos a ;F milhasR

+epois, ao sul, apareceu no meio do mar Aneiteum, com Ani_aa norte e, mesmo V nossa 'rente, 5anna. )ão havia Sueenanar, porSue o 'umo do vulcão elevava-se no céu. 3stavaa CF milhas de distZncia e, pela tarde, Suando nosapro$im@vamos, sempre a seis nós, veri'ic@mos Sue era umaterra montanhosa, coberta de bruma, sem sinais de enseadasna linha costeira. 3u procurava Kort 0eso-lution, embora metivessem prevenido de Sue poderia estar dani'icado comoponto de ancoraem. "s abalos provocados pelo vulcão tinhamlevantado o solo submarino nos

D;D

últimos Suarenta anos, de 'orma Sue, Suando dantes'undeavam navios de rande calado, aora, seundo osúltimos relatos, talve* nem houvesse espaço e pro'undidadesu'icientes para o #nark. +esde então, nova convulsão aindanão re'erenciada poderia ter 'echado completamente o porto.#eui de perto a costa ininterrupta, cercada de rochas V

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'lor da @ua, batidas por altas vaas espumosas. om osbinóculos, vasculhei o hori*onte a milhas de distZncia, semver nenhuma entrada. i* uma medição de utuna e outra deAni_a e reistei-as no mapa. A intersecção das duas medidasdeveria indicar, sem sombra de dúvida, a posição do #nark.om as réuas paralelas, tracei uma rota da posição donosso barco até Kort 0esolution. +epois de corriir estarota com a variação e o desvio, subi ao convés e vi Sue elame condu*ia directamente para a costa avistada pouco antes,onde as vaas 'uriosas se iam des'a*er. Kara randepreocupação do homem de 0apa, mantive o curso até um oitavode milha dos rochedos.- )ão h@ porto nenhum aSui - disse ele, abanando a cabeçacom ar a'lito.%as alterei a rota e seui paralelo V costa. harmianestava ao leme. %artin tomava conta do motor, pronto a pXra hélice em 'uncionamento. +e repente, avistei uma passaem

estreita. Kelos binóculos, vi Sue a> o mar pareciaespraiar-se. enr, o homem de 0apa, 'itou-me com arinSuieto, assim como 5ehei, o homem de 5ahaa.- Ali não h@ passaem - avisou enr. - #e 'or l@, morremosdepressa, uroRon'esso Sue partilhava dos seus receiosQ mas continuei aseuir a costa, observando para ver se era poss>vel passarentre as vaas Sue vinham des'a*er-se de cada lado daentrada. 3ntão suriu uma passaem estreita onde o marestava calmo. harmian preparou-se para a apro$imação,

D;]

%artin liou o motor e todos, incluindo o co*inheiro,corremos a arriar o velame.Avist@mos a cantina de um comerciante na marem da anra. Acem metros de distZncia, um eiser lançava uma coluna devapor. uando contorn@vamos um peSueno promontório, abombordo suriu o posto de uma missão.- 5rTs braçasR... duas braças... R - ritou Uada na linhade sonda.harmian bai$ou a roda, %artin desliou o motor, o #nark

virou de bordo e ouvimos o ru>do surdo da Zncora, 'undeadaa trTs braças.#em nos dar tempo para respirar, um bando de tanesesescuros apro$imaram-se e saltaram a bordo - criaturassorridentes, com aspecto simiesco, cabelos emaranhados eolhos turvos, Sue usavam, V laia de brincos, al'inetes deseurança e cachimbos de barro, sem mais nenhum vestu@rio.)ão me importo de con'essar? nessa noite, Suando todos

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dormiam, subi sub-repticiamente ao convés, observei opanorama sereno e reubilei - sim, reubileiR - com a minhanaveação.

D;C

AK951L" M

 ru*eiro nas ilhas #alomão

- Kor Sue não vTm comioW - peruntou-nos o capitão Jansen,em Kendu''rn, na ilha de &uadalcanal.harmian e eu olh@mos um para o outro e consultãmo-nos emsilTncio por uns instantesQ depois troc@mos simultaneamenteum assentimento. [ assim Sue por norma tomamos as nossasdecisYes. 3 é um e$celente meio, desde Sue depois não nosdes'açamos em l@rimas temperamentais se tudo correr mal e

tivermos de abrir a última lata de leite condensado.(1ltimamente vivemos de conservas e, como se di* Sue oesp>rito é uma emanação da matéria, temos naturalmenteaspecto de rótulos de embalaem.! - %ais vale tra*erem osvossos revólveres e umas espinardas - avisou o capitãoJansen. - 5enho cinco carabinas a bordo, embora a %auserestea sem muniçYes. Kodem dispensar alumas balasW5rou$emos as nossas espinardas, v@rios carreamentos debalas para %auser, e Uada e )akata, o co*inheiro e orumete do #nark, um tanto ou Suanto amedrontados." menos Sue se pode di*er é Sue estavam alo apreensivos,

embora )akata nunca antes tivesse dado SuaisSuer sinais detemor perante o perio. )ão se estavam a dar bem com asilhas #alomão. 3m primeiro luar, ambos padeciam deúlceras, devido ao clima insalubre. Acontecia o mesmo comtodos nós (na altura, eu andava a tratar com sublimado

D;E

corrosivo duas Sue me tinham aparecido!Q mas os doisaponeses tinham mais ra*Yes de Suei$a. Além disso, estasde Sue 'alo são úlceras desarad@veis V vista, Sue se podem

considerar e$tremamente activas. 1ma picada de um mosSuito,um olpe ou uma peSuena es'oladela servem de re'uio aoveneno de Sue o ar parece imprenado.A 'erida começa imediatamente a roer a carne em todos ossentidos, consumindo pele e músculo com rapide* espantosa.1ma úlcera do tamanho da ponta de um al'inete @ tem no diaseuinte as dimensYes de uma moeda de de* cTnt>mosQ no 'imda semana, nem uma moeda de cinco dólares bastaria para a

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cobrir."s dois aponeses estavam atacados das 'ebres das ilhas#alomão, piores Sue as úlceras. Ambos tinham tido v@riosacessos e nos momentos de maior 'raSue*a, Suandoconvalesciam, era 'reSuente aninharem-se um unto ao outro,na parte do #nark Sue na altura estivesse mais pró$ima doJapão distante, olhando 'i$amente nessa direcção.Kara cúmulo, aora lev@mo-los para bordo do %inota, para umcru*eiro de recrutamento ao lono da costa selvaem de%alaita. Uata, o mais medroso, estava intimamenteconvencido de Sue não voltaria ao seu Japão natal e 'oi comum olhar baço e descon'iado Sue viu as nossas espinardas emuniçYes serem transportadas para o %inota.#abia Sue este barco 'a*ia incursYes a %alaita e Sue, seismeses antesP havia sido apresado e o seu capitão cortado empedaços V machadadaQ e sabia iualmente Sue, seundo ob@rbaro sentido de ustiça dessa doce ilha, ainda 'altava

cobrar-lhe mais duas cabeças. Além disso, um trabalhador daplantação de Kendu''rn, oriin@rio de %alaita, acabava demorrer de disenteria e Uada também sabia Sue, por isso, aplantação passava a dever mais uma cabeça. Ademais, aoarrumarmos as nossas baaens na cabina do capitão, Uadareparara na respectiva porta, onde se viam as marcas

D;

das machadadas Sue abriram passaem aos vitoriososhabitantes da 'loresta. 3, por 'im, 'altava a chaminé ao

'oão da co*inha, por ter sido levada na altura do saSue." %inota era um iate australiano, constru>do em madeira deteca e concebido como briue, comprido e estreito, com umaSuilha 'unda e destinado mais a reatas de costa do Sue aorecrutamento de homens de cor. uando harmian e euche@mos a bordo, vimos Sue estava repleto. A eSuipaem,incluindo os suplentes, era composta de ;E tripulantes econt@mos uma vintena ou mais de homens Pde reressoP, Suehaviam cumprido o tempo do contrato nas plantaçYes evoltavam Vs suas aldeias da 'loresta.A ular pelo seu aspecto, eram autTnticos canibais

caçadores de cabeças. )as narinas 'uradas usavam adornos deosso e de madeira do tamanho de l@pis. %uitos deles tinhamper'urado a e$tremidade carnuda do nari*, de onde sa>ampontas de casca de tartarua ou missanas en'iadas numarame r>ido. "utros tinham aberto nos nari*es 'ilas deburacos dos dois lados, seuindo a curva das narinas dabase até V ponta. 5odos estes homens tinham nas orelhasdois a uma dú*ia de ori'>cios, aluns tão randes Sue neles

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cabiam rodelas de madeira com uns ;F cent>metros dediZmetroQ nos buracos peSuenos usavam cachimbos de barro ebuianas. )a realidade, tinham tantos ori'>cios Sue nãohavia ornamentos para todosQ e Suando, no dia seuinte, Vapro$imação de %alaita, veri'ic@mos se as nossas armasestavam em bom 'uncionamento, houve uma comoção eral entreos nossos passaeiros, cada um tentando apossar-se doscartuchos va*ios, Sue loo en'iavam nos buracos va*ios dasorelhas.uando e$periment@mos as espinardas coloc@mos arame'arpado sobre o costado do %inota. heio até Vs bordas, semcasa do leme, e com amuradas de ;= cent>metros de altura,era demasiado acess>vel, podia ser 'acilmente abordado pelos

D;I

ind>enas. Kor isso 'oram apara'usados pontaletes de cobre

V amurada e colocou-se uma 'ila dupla de arame 'arpado atoda a volta, da proa V popa e vice-versa. " Sue era semdúvida uma e$celente protecção contra os selvaens, masterrivelmente incómodo para os passaeiros Suando o marestava bravo e o %inota se lembrava de balançar e alear.)ão é arad@vel escorrear encostado ao arame de bombordo eninuém se atreve a deitar a mão ao arame de estibordo paraevitar escorrear. uando, com estes v@rios deseSuil>brios,nos vemos num convés inst@vel inclinado num Znulo de CEraus, podem imainar-se alumas das del>cias de umcru*eiro nas ilhas #alomão. onvém também recordar Sue uma

Sueda por cima dessas 'arpas, além de causar arranhYes,Suase sempre sini'ica Sue estes depressa se trans'ormarãoem úlceras perniciosas. Meremos Sue mesmo a m@$imaprudTncia nem sempre é bastante contra acidentes desteénero? numa manhã, seu>amos ao lono da costa de %alaita,com o vento a audar-nos. 3stava 'resco e o mar começou aaitar-se. 3stava um nero V barra. " capitão Jansen, %r.Jacobsen (o imediato!, harmian e eu acab@vamos de nossentar no convés para tomar o peSueno almoço. 5rTs vaase$cepcionalmente randes ca>ram sobre nós. " timoneiroperdeu a cabeça, e trTs ve*es seuidas o convés do %inota

'oi varrido de uma ponta V outra. " peSueno almoço desli*ouborda 'oraQ 'acas e ar'os desapareceram pelos escovénsQ umnero Sue estava V popa 'oi varrido para o mar e loo aseuir repescado e o nosso valente capitão 'icouencavalitado em cima do arame 'arpado, com metade do corpodo lado do convés e a outra metade inclinada para 'ora.+epois disto, e durante o resto da viaem, os poucostalheres Sue restaram serviram V ve*, num e$emplo soberbo

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de comunismo primitivo. ontudo, no 3uenie, 'oi aindapior, porSue só t>nhamos uma colher de ch@ para os Suatro -mas o 3uenie é outra história.

D;=

" nosso primeiro porto 'oi #uu, na costa ocidental de%alaita. As ilhas #alomão estão nos con'ins do mundo. [bastante di'>cil navear em noites escuras por canaiscoalhados de reci'es e passando por correntes traiçoeirassem lu*es a orientar de noroeste para sudeste, as #alomãoestendem-se por milhares de milhas e em toda essa e$tensãonão h@ um único 'arol!Q mas a di'iculdade acentua-seseriamente pelo 'acto de a própria terra não estardevidamente cartora'ada. #uu é um e$emplo.)o mapa do almi-rantado de %alaita, a costa nesse pontoseue uma linha recta, sem interrupçYes. )o entanto, nesta

linha, o %>nota naveou com DF braças de pro'undidade mas,em ve* de encontrar terra, como esper@vamos, entr@mos numbraço de mar comprido, com marens cobertas de manaiscerradosQ che@mos assim a um lao brilhante como umespelho, onde 'unde@mos. 3ste ponto de ancoraem não 'oi docompleto arado do capitão. 3ra a primeira ve* Sue visitavaaSuelas paraens, e #uu, pela reputação deplor@vel Suetem, não lhe inspirava con'iança aluma. )ão havia ventoSue os audasse a 'uir em caso de ataSue e os homens daeSuipaem seriam massacrados até ao último se tentassemrebocar o %inota com as baleeiras.

- #uponhamos Sue o %inota encalhasse. ue 'ariaW- )ão encalha - respondeu o capitão num tom seco.- %as imainemos essa eventualidade - insisti. 0e'lectiu ummomento e desviou o olhar para o imediato Sue pendurava orevólver V cintura e para os marinheiros Sue, deespinardas em punho, subiam para a baleeira.- #altar>amos para a baleeira e 'uir>amos o mais depressaposs>vel - disse por 'im.3$plicou lonamente Sue nenhum branco se podia 'iar na suaeSuipaem mala>tana num luar como aSueleQ Sue oshabitantes das 'lorestas consideravam como seus todos os

barcos encalhadosQ Sue estavam bem armados com espinardas

D;<

#niderQ e, 'inalmente, Sue a dú*ia de PreressadosP Sue seencontravam a bordo não hesitariam em untar-se aosparentes e amios para participar na pilhaem do %inota.3m primeiro luar, a baleeira levou para terra os

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PreressadosP com as suas cai$as de mercadorias. Assim,a'astava-se um dos perios. +urante esta operação,apro$imou-se uma piroa, manobrada por trTs selvaens nus.3 Suando dio PnusP, não e$aero. )ão tra*iam vestu@rioalum, a não ser Sue se considere como tal os anéis nasais,as rodelas auriculares e as pulseiras 'eitas de conchas. "homem Sue comandava a piroa era um velho che'e, ceo de umolho, aparentemente amistoso, e tão suo Sue, se oes'reassem com uma escova, ela astar-se-ia por completo.Minha com a missão de avisar o capitão de Sue não dei$asseos seus homens ir a terra. )essa mesma noite, o velhovoltou a repetir o aviso.oi em vão Sue a baleeira vasculhou todos os recantos daba>a V procura de ente para recrutar. A 'loresta estavacheia de nativos armados, todos interessados em discutircom o recrutador, mas nenhum disposto a assinar um contratode trabalho de trTs anos numa plantação em Sue o sal@rio

médio era de seis libras esterlinas ao ano. Korém, pareciambastante deseosos de Sue os nossos homens desembarcassem.)o seundo dia, acenderam uma rande 'oueira unto V ba>a- sinal habitual para indicar Sue havia homens prontos pararecrutar. %andou-se a baleeira, mas sem resultados? nãoapareceu ninuém e os marinheiros também não pisaram terra.Kouco depois, avist@mos um rupo 'urtivo de nativos armadosa caminhar pela praia.5irando estes indiv>duos isolados, não seria poss>vel di*erSuantos se encontravam emboscados na mata. A vistadesarmada, não se distinuia coisa aluma naSuela selva

impenetr@vel. +e tarde, o capitão Jansen, harm>an e eu'omos dinamitar pei$e. ada marinheiro tinha a suaespinarda

DDF

Lee-3n'>eld. PJohnnP, o recrutador ind>ena, Sue estava aoleme, mantinha a sua Uinchester V mão. 0em@mos para umaparte da marem aparentemente deserta, depois vir@mos debordo, com a popa para a praia, de 'orma a Sue, em caso deataSue, estivesse tudo a postos para 'uirmos. +urante todo

o tempo em Sue estive em %alaita, nunca vi nenhum barco coma proa virada para terra. Kor norma, os navios recrutadoresusavam dois barcos - um para ir a terra, armado,evidentemente, e outro para 'icar no mar a umas de*enas demetros do primeiro, para o PcobrirP em caso de necessidade.Korém, o %inota, por ser um navio peSueno, só dispunha deum barco.uando est@vamos Suase unto V marem, passou por nós um

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cardume. Acendemos loo a mecha do nosso 'ouete dedinamite e lanç@mo-lo V @ua. A e$plosão perturbou asuper'>cie l>Suida e uma chuva de pei$es proectou-se noar. )esse preciso instante, a 'loresta animou-se. 1mavintena de selvaens nus, armados de arcos e 'lechas,lanças e #niders, suriram e correram para a beira-mar. "snossos homens erueram as armas em posição de disparar. 3assim se de'rontaram os dois rupos, 'itando-se, enSuantoos nativos Sue transport@vamos merulhavam para apanhar ospei$es atordoados.Kass@mos trTs dias inúteis em #uu. )em o %inota conseuiacontratar ninuém, nem os homens da 'loresta caçavamcabeças. +e 'acto, o único Sue apanhou aluma coisa 'oiUada? um 'ebrão e tanto. #a>mos dali rebocados pelabaleeira e seuimos ao lono da costa até Lana Lana, umaaldeia rande de pescadores, constru>da com laborprodiioso no banco de areia de uma laoa -- uma ilha

arti'icial literalmente constru>da, e concebida comore'úio contra os 'ero*es homens da 'loresta. )a marem dalaoa, 'ica 6inu, o local onde o %inota 'ora capturado seismeses antes, e o antio capitão morto pelos da 'loresta.uando

DD;

entr@vamos pela passaem estreita, uma piroa abordou-nospara nos avisar de Sue um navio de uerra acabava delevantar 'erro nessa manhã, depois de incendiar trTs

aldeias, matar trinta porcos e a'oar um bebé. 3ra oambrian, comandado pelo capitão Le_es. 5>nhamo-nosconhecido na oréia, eu e ele' durante a &uerra 0usso-Japonesa, e desde então os nossos caminhos cru*aram-sev@rias ve*es, sem Sue, no entanto, nos volt@ssemos a ver.)o dia em Sue o #nark cheou a #uva, nas idis, vimos oambrian a partir. 3m Mila, nas )ovas ébridas, desencon-tr@mo-nos por um dia. Kass@mos um pelo outro de noite, aolaro da ilha de #anto. 3 no dia em Sue o ambrian cheou a5ulai, *arp@vamos nós de Kendu''rn, a umas milhas dedistZncia. Aora, em Lana Lana, não nos encontr@vamos por

uma Suestão de horas." ambrian 'ora castiar os assassinos do capitão do%inota, mas só soubemos ao certo o Sue acontecera ao 'im dodia, Suando um tal %r. Abbot, mission@rio, se apro$imou denós, numa baleeira. As aldeias haviam sido Sueimadas e osporcos mortos, mas os nativos tinham escapado ilesos. "sassassinos não 'oram capturados, embora tivesse sidorecuperada a bandeira do %inota e outros obectos. "

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a'oamento do bebé ocorrera devido a um mal-enten-dido. "che'e Johnn, de 6inu, recusara-se a uiar pela 'loresta orupo Sue 'ora a terra, e nenhum dos seus homem se dei$ouconvencer a substitu>-lo na tare'a. 3ntão o capitão Le_es,indinado, dissera ao che'e Sue merecia Sue lhe Sueimassema aldeia. " inlTs PbTche de merP (;! de

)ota ;? 4nlTs rudimentar. P6Tche de merP é uma e$pressãoapenas usada na l>nua inlesa, embora se tenha 'ormado apartir das palavras Sue em 'rancTs desinam a holotúria,eSuinoderme comest>vel muito apreciado na NsiaQ estas porsua ve* 'ormaram-se a partir da e$pressão portuuesa bichodo mar, Sue desinava as re'eridas holotúrias (). da 5!.

DDD

Johnn não inclu>a a palavra PmerecerP. " Sue compreendeu

'oi Sue iam incendiar a aldeia. "s habitantes começaram a'uir, espavoridos, num tal tumulto Sue o bebé caiu V @ua.3ntretanto, o che'e Johnn apressou-se a procurar %r.Abbot, a Suem entreou cator*e soberanos, pedindo-lhe Sue'osse a bordo do ambrian para os entrear ao capitão Le_ese dissuadi-lo dos seus intentos. A aldeia de Johnn não 'oiSueimada, nem o capitão recebeu os cator*e soberanos,porSue mais tarde vi-os eu na posse de Johnn, Suando 'oi abordo do %inota. A desculpa Sue deu para não servir de uiaao rupo 'oi um rande 'urúnculo, Sue orulhosamente memostrou. %as a verdadeira ra*ão, ali@s per'eitamente

v@lida, embora não a e$plicitasse, era o receio de umavinança por parte da ente da 'loresta. #e ele ou alumdos seus homens uiasse os marinheiros, o mais certo seriaseuirem-se repres@lias sanrentas, assim Sue o ambrianlevantasse 'erro.Kara se ter uma ideia das condiçYes Sue reinavam nas ilhas#alomão, basta di*er Sue a missão de Johnn era entrear-nos, em troca de alum tabaco, a caranuea, a vela randee a buarrona de uma baleeira. )o 'im do dia, veio a bordoum tal che'e 6ill Sue nos devolveu, em troca de alumtabaco, um mastro e uma retranca.

"ra este material pertencia a uma baleeira recuperada pelocapitão Jansen Suando da viaem anterior do %inota, Suepertencia V plantação de %erine, na ilha 4sabel."n*e trabalhadores contratados, por sinal homens de %alaitae da 'loresta, tinham decidido 'uir. #em saberem navearnem manobrar um barco, convenceram dois nativos de #anristoval, ente do mar, a 'uir com eles. "s de #anristoval bem se devem ter arrependido, porSue se deram

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mal? depois de terem levado os 'uitivos, sãos e salvos,até %alaita, como paa estes cortaram-lhes as cabeças. 3sseera o barco cuo eSuipamento o capitão Jansen recuperara emparte.

DD]

)ão 'oi em vão Sue 'i* esta lona viaem Vs ilhas #alomão.inalmente, 'oi-me dado ver o orulho de harmian deitadopor terra, e toda a sua 'eminil maestade arrastada nalama. Aconteceu em Lana Lana, em terra, na ilha 'abricadaSue as casas não dei$am ver. Kasse@vamo-nos como tranSuilosturistas, rodeados de centenas de homens, mulheres ecrianças inocentemente nuas. Lev@vamos os nossos revólveresnos coldres e os tripulantes, bem armados, mantinham-seunto aos remos, com a popa virada para terra. %as ocastio aplicado pelo navio de uerra era demasiado recente

para recearmos problemas. And@mos por toda a parte e vimoso Sue Suer>amos, até Sue por 'im nos apro$im@mos de umrande tronco de @rvore Sue servia de ponte sobre umestu@rio pouco 'undo. "s nativos 'ormaram uma barreira em'rente de nós, recusando-se a dei$ar-nos passar. uisemossaber porSuT e percebemos Sue nos davam passaem. A>,voltaram a proibir-nos, de modo mais de'initivo? o capitãoJansen e eu, por sermos homens, pod>amos prosseuir. %asnenhuma %ar estava autori*ada a passar perto daSuela pontee muito menos a atravess@-la. P%arP é o inlTs bTche demer para PmulherP.

harmian era uma %ar. A ponte era tambo para ela, isto é,tabu. Ah, senti o peito a inchar de orulhoR inalmentehomenaeavam a minha virilidadeR #em contestação, eupertencia ao se$o nobre. harmian poderia seuir na nossapeuada, mas nós éramos "%3)#, e pod>amos atravessar aponte a pé, enSuanto ela tinha de 'a*er um desvio nabaleeira.&ostaria Sue não me interpretassem mal a propósito do Suevou di*erQ mas é sabido Sue, nas ilhas #alomão, muitasve*es os ataSues de 'ebre dão-se Suando a pessoa passa porum choSue. "ra, meia hora após este incidente, harmian 'oi

levada a toda a pressa para bordo do %inota, embrulhada emcobertores, e tiveram Sue lhe dar Suinino. )ão

DDC

sei Sual a comoção Sue atiniu Uada e )akata, mas o certo éSue também eles 'oram dominados pela 'ebre. )ão se podiadi*er Sue as #alomão 'ossem muito salubres.

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Além disso, durante esse 'ebrão, harmian contraiu umaúlcera. oi a ota de @ua? todos nós, os do #nark, 'Xramosa'ectados, e$cepto ela. 3u próprio pensei Sue ia 'icar semum pé, por causa de uma úlcera e$cepcionalmente malina Sueme apareceu no torno*elo. enr e 5ehei, os marinheirostahitianos, tinham uma série delas.As de Uada eram Vs dú*ias e )akata tivera trTs, cada umacom de* cent>metros de diZmetro. %artin estava convencidode Sue a necrose Sue se lhe instalara na t>bia provinha daespantosa colónia de micróbios Sue se alomerara nessaparte do seu corpo. %as harmian escapara. 3ssa lonaimpunidade acabara por erar nela uma espécie de despre*opor todos nós e tal presunção Sue, um dia, me con'essoumodestamente Sue se tratava de uma Suestão de pure*a desanue. Misto Sue todos nós contra>amos aSuelas 'eridas eela não... 6om, teve uma, com as dimensYes de uma moeda dedólar, mas raças V pure*a do sanue curara-a ao 'im de

v@rias semanas de cuidados intensos.5em uma con'iança cea no sublimado corrosivo, ao passo Sue%artin é adepto do iodo'órmio. enr usa sumo de lima nãodilu>do e eu sou de opinião Sue, Suando o sublimadocorrosivo não produ* e'eito, o Sue h@ a 'a*er é altern@-locom pachos de peró$ido de hidroénio. ertos brancos dasilhas #alomão uram Sue o melhor é o @cido bórico, outrossão a 'avor do lisol. 5ambém tenho a 'raSue*a de acreditarnuma panaceia? chama-se ali'órnia. 3 desa'io Suem Suer Suesea a contrair uma úlcera das ilhas #alomão em #ãorancisco.

A partir de Lana Lana, descemos a laoa entre pZntanoscobertos de manais, atravessando canais pouco mais larosSue o %inota, e pass@mos pelas aldeias das tribos de /alokae de Auk>, constru>das sobre os reci'es. omo os

DDE

'undadores de Mene*a, estes pescadores eram oriinariamentere'uiados do continente. +emasiado 'racos para subsistiremna 'loresta, estes sobreviventes de massacres nas aldeias'uiram para os bancos de areia da laoa e a> constru>ram

as suas ilhas. "briados a procurar alimento no mar, ao 'imde alumas eraçYes tornaram-se pescadores. "bservaram osh@bitos dos pei$es e dos crust@ceos, inventaram an*óis,linhas, redes e armadilhas. "s seus corpos adaptaram-se aouso das canoas? tendo perdido o h@bito de andar em terrapor passarem a maior parte do tempo no mar, 'icaram com osbraços mais rossos, as esp@duas mais musculadas, ascinturas mais estreitas e as pernas atro'iadas, adelaçadas

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como 'usos. ontrolando as costas mar>timas, enriSueceram,visto Sue as trocas com o e$terior passaram em rande partepelas suas mãos. %as mantém-se uma hostilidade permanenteentre eles e os homens da 'loresta. Kraticamente as únicastréuas são as Sue se 'a*em nos dias de mercado, isto é,duas ve*es por semana, Suando as mulheres se reúnem paratrocar produtos. A uns cem metros desse local, os do mato,escondidos por tr@s dos arbustos e armados até aos dentes,mantTm-se emboscados, enSuanto, não lone da costa, ospescadores montam uarda Vs piroas. [ raro darem-se lutasnos dias de mercado? a ente do mato aprecia pei$e e oestXmao dos outros reclama os leumes Sue não podemcultivar nas ilhas sobrepovoadas.+epois de percorrermos uns CF Suilómetros desde LanaLana, ao 'im do dia abord@mos o estreito entre a ilha de6assakanna e o continente. ASui, ao cair da noite, o ventocaiu e 'oi preciso rebocar o %inotZ com as baleeirasQ toda

a noite os homens suaram para nos 'a*er avançar contra amaré. A meia noite, a meio do estreito, cru*@mo-nos com o3uenie, enorme escuna recrutadora, também rebocada porduas baleeiras. " patrão, o capitão /eller, um

DD

alemão robusto de DD anos, veio a bordo para nos 'a*er umavisita de cortesia e 'al@mos das últimas not>cias de%ala>ta. 3le tivera a sorte de contratar DF recrutas naaldeia de iu. +urante a estadia, dera-se uma das coraosas

matanças tão 'reSuentes nesta reião. A ovem v>tima era umhomem do mato de @ua salada, como se di* nestas paraens,ou sea, um pescador Sue em certa medida ainda é homem domato e vive dos produtos do mar, embora não viva numa ilha.uidava da horta Suando viu surir trTs homens da 'lorestaSue o abordaram amistosamente e, passado alum tempo, lhesueriram kai-kai, Sue sini'ica comer. 3le acendeu uma'oueira e começou a co*inhar taro. uando se debruçousobre a panela, um dos homens deu-lhe um tiro na cabeça.aiu sobre o 'oo e nessa altura trespassaram-lhe a barriacom uma lança, torceram-na e partiram-na.

- redoR - e$clamou o capitão /eller. - "$al@ nunca meataSuem com uma #nider. )ão 'a*em uma peSuena ideia do Sueé? pelo buraco Sue lhe 'i*eram na cabeça podia passar umcavalo e a respectiva carruaem.5ambém me relataram a morte de um velho em %alaita. 1mche'e do mato morrera de morte natural. "ra os da 'lorestanão acreditam em mortes naturais, não tTm esse conceito. Aúnica morte Sue reconhecem é a causada por uma bala, um

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machado ou uma lança. uando aluém morre de outra maneira,suspeitam de 'eitiçaria. uando se deu a morte do che'e, atribo atribuiu a culpa a determinada 'am>lia. omo tinhamde matar um dos seus membros, escolheram, por 'acilidade,um velho Sue vivia so*inho.Além disso, não tinha nenhuma #nider e para mais era ceo." velho ouviu uns rumores sobre o Sue se planeava eabasteceu-se com uma boa provisão de 'lechas. A coberto daescuridão, trTs coraosos uerreiros, cada um com a sua#nider, tentaram atac@-lo. 5oda a noite lutaram

DDI

bravamente. #empre Sue se moviam por entre a veetação,'a*iam um ru>do ou causavam uma restolhada, ele disparavauma seta naSuela direcção. +e manhã, Suando o velho @esotara as muniçYes, os trTs heróis rastearam até ele e

rebentaram-lhe a cabeça a tiro.A manhã surpreendeu-nos ainda no estreito, tentando vencT-lo. 3m desespero de causa, vir@mos de bordo, volt@mos parao alto mar, contorn@mos 6assakanna e dir>imo-nos para onosso obectivo, %alu. " molhe em %alu era óptimo, mas'icava entre a costa e uns reci'es periosos e, embora'osse '@cil entrar, a sa>da seria mais di'>cil." al>sio de sudeste obriou-nos a bolinarQ a ponta do bancode reci'es era lara e estendia-se Suase V tona da @ua,sempre batida por uma 'orte corrente.%r. aul'eild, o mission@rio de %alu, reressava na sua

baleeira de uma viaem pela costa abai$o. 3ra um homemmaro, de maneiras delicadas, cheio de entusiasmo pela suaobra, sensato e pr@tico, um verdadeiro soldado de risto doséculo $$. ontou-nos Sue, Suando o mandaram para o postode %alaita, ele concordara em ir por seis meses e, casoestivesse vivo ao 'im desse tempo, continuaria por maisseis meses. J@ l@ iam seis anos e mantinha-se 'irme. )oentanto, não sem ra*ão, duvidava da possibilidade de ali'icar outros seis meses. +os trTs mission@rios cheadosantes dele, em menos tempo dois tinham morrido de 'ebres eo terceiro reressara em triste estado.

- +e Sue morte estão a 'alarW - peruntou de repente, nomeio de uma conversa con'usa com o capitão Jansen.3ste e$plicou-lhe.- "ra, não 'oi dessa Sue ouvi 'alar - retorSuiu %r.aul'eild. - 3ssa @ é velha. @ duas semanas houve outra.oi ali, em %alu, Sue pauei por todas as troças e chalaçasSue dirii a harmian e V úlcera Sue lhe aparecera

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DD=

em Lana Lana. %r. aul'eild 'oi respons@vel,indirectamente, por esse castio. Kresenteou-nos com umaalinha, Sue perseui pelo mato, de espinarda em punho,com a intenção de lhe decepar a cabeça com um tiro.onseui, mas tropecei num tronco de @rvore e es'olei aperna. 0esultado? trTs úlceras, ou sea um total de cinco aadornar a minha pessoa. Além disso, o capitão Jansen e)akata tinham apanhado ari-an. 3m tradução V letra,sini'ica Pcoça-coçaP. %as Suem os visse não precisava detradução? bastava ver a in@stica dos dois para percebermoso Sue se passava, )ão, as ilhas #alomão não são tãosaud@veis Suanto se possa crer. 3screvo este artio na ilha^sabel, para onde lev@mos o #nark a 'im de limpar o costadoda Suerena.3sta manhã tive o meu último 'ebrão e estes ataSues surem-

me dia sim, dia não. "s de harmian são de Suin*e em Suin*edias. Uada tornou-se um verdadeiro 'arrapo humano. "ntem Vnoite, apresentava todos os sintomas de um in>cio depneumonia. enr, esse iante tahitiano, Sue acaba de serecompor de um ataSue de 'ebre, arrasta-se pelo convés comar abatido. 3le e 5ehei acumularam uma série completa deúlceras das ilhas #alomão. 3 também contra>ram uma nova'orma de ari-ari, uma espécie de into$icação veetal, comos mesmos e'eitos Sue o produ*ido pelo carvalho ou a heravenenosos. %as não são os únicos. @ dias, harmian, %artine eu 'omos caçar pombos a uma ilhota vi*inha. Miemos de l@

com umas comichYes Sue nos deram uma ideia do Sue serão ostormentos eternos. Além disso, nessa mesma ilha, %artincortou a sola dos pés nos corais Suando tentava apanhar umtubarão... pelo menos é o Sue ele di*, mas Suando oobservava deu-me a sensação Sue o contr@rio é Sue eraverdadeiro.5odos os cortes criaram úlceras. Antes do meu último'ebrão, es'olei os nós dos dedos Suando pu$ava por umalinha de pesca e aora

DD<

tenho mais trTs novas úlceras. 3 coitado do )akataR @ trTssemanas Sue não conseuia sentar-se. "ntem sentou-se pelaprimeira ve*, e conseuiu manter-se assim Suin*e minutos.+i* com ar satis'eito Sue espera estar curado do Zr>-aridentro de um mTs. %as acontece Sue, de tanto se coçar,estão a 'ormar-se-lhe inúmeras úlceras por cima das'eridas. 3 para mais, @ vai no seu sétimo ataSue de 'ebre.

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#e eu 'osse rei, o pior castio Sue podia in'liir aos meusinimios seria deport@-los para as ilhas #alomão. Ali@s,pensando melhor, acho Sue não teria coraem de chear atanto." transporte de mão-de-obra ind>ena num iate peSueno eestreito, 'eito para correr reatas num porto, não é nadaarad@vel. "s conveses 'ervilham de recrutas e respectivas'am>lias. A cabina principal est@ cheia deles e V noite éa> Sue dormem. A única entrada para a nossa cabina peSuenaé pela cabina principal e temos de abrir caminho parapassar por cima deles. )ão tem raça nenhuma. 5odos elesestão atacados de um tipo SualSuer de doença de pele? h@ osSue so'rem de impetio ou de bukua, a'ecção causada por umparasita veetal Sue invade a epiderme, corrói-a e produ*uma comichão insuport@vel. "s atinidos coçam-se a talponto Sue o ar se enche de 'locos de pel>culas secas.+epois h@ as 'eridas e muitas outras a'ecçYes de pele. "s

homens cheam a bordo com úlceras tão randes nos pés Suesó conseuem andar apoiados nos calcanhares, ou buracos naspernas tão pro'undos Sue cabe l@ um punho. [ muito'reSuente o envenenamento do sanue e o capitão Jansen,armado com uma 'aca comprida e uma aulha de velame, operaum após outro. Kor pior Sue sea o estado do doente, abre elimpa a 'erida, e aplica-se um emplastro de biscoito debordo embebido em @ua. uando deparamos com um casoparticularmente horr>vel, retiramo-nos para um canto einundamos as nossas 'eridas de sublimado

D]F

corrosivo. 3 é assim Sue vivemos, comemos e dormimos no%inota, aceitando a nossa sorte com aparente bom humor.3m #uava, outra ilha arti'icial, tive mais uma ocasião deme rir V custa de harmian. " che'e m@$imo deu-nos a honrada sua visita. Antes de subir a bordo, enviara um emiss@rioao capitão Jansen para lhe pedir um pedaço de chita com Suecobrir a real nude*. 3ntretanto, esperou numa canoaencostada ao %inota. #em e$aero, tinha no peito uma crostade suidade com um dedo de altura, cuas camadas in'eriores

deviam ter uns de* ou vinte anos. Kouco tempo depois, oembai$ador reressou a bordo e e$plicou-nos, no seu inlTsarrevesado, Sue o Prande homem che'e de #uavaP estavadisposto a apertar a mão do capitão Jansen e a minha, e atéa pedir-nos uma ou duas réstias de tabaco, mas a sua almabem nascida pairava a altura tamanha Sue não podiaamesSuinhar-se a ponto de apertar a mão a uma vularmulher. Kobre harmianR

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+esde aSuela e$periTncia em %alaita, parece outra. A suadocilidade e modéstia acrescentam-lhe novo encanto e não meadmira Sue, Suando reressarmos V civili*ação e 'ormos darum passeio, ela caminhe, de cabeça bai$a, um metro atr@s demim.)ão aconteceu nada de especial em #uava. 6ichu, oco*inheiro ind>ena, desertou. " %inota aproou ao ventolarando a Zncora 'lutuante, no meio de raadas 'ortesacompanhadas de chuva. %r. Jacobsen, o imediato, e Uadaca>ram com 'ebre. As nossas úlceras cresceram emultiplicaram-se. 3 as baratas a bordo comemoraram ao mesmotempo o C de Julho e a Karada da oroação, escolhendo ameia noite como hor@rio e a nossa peSuena cabina como *onade des'ile. 5inham cinco a de* cent>metros de comprimentoQeram Vs centenas e passavam-nos por cima. uando tent@vamosperseui-las, lançavam-se em voo e volteavam no ar comobeia-'lores. #ão muito maiores do Sue as do

D];

#nark, mas as nossas ainda são peSuenas e não tiveram tempode crescer. Além disso, o #nark tem centopeias, dasrandes, com Suase vinte cent>metros de comprimento.%atamos uma de ve* em Suando, normalmente no beliche deharmian. ui mordido duas ve*es, e sempre V traição,Suando dormia. %as o pobre %artin teve pior sorte?depois de estar trTs semanas de cama, no primeiro dia deconvalescença sentou-se em cima de uma. `s ve*es penso Sue

espertos são os tipos Sue nunca vão V aventura.+ias depoiso %inota reressou a %alu, embarcou setecontratados e levant@mos 'erro. Ao tentarmos passar peloestreito cheio de escolhos, o vento começou a soprar dev@rias direcçYes, e a corrente Sue contornava os reci'estornou-se mais violenta. )o momento em Sue >amos transpor oestreito e entrar no alto mar, o vento recusou-se." %inota tentou virar de bordo, mas sem conseuir. 5inham-se perdido duas das suas Zncoras em 5ulai e larou-se'erro com a única Sue restava. +esenrolou-se toda a amarra,para unhar bem no 'undo de coral. A Suilha bateu no 'undo e

o mastro rande oscilou e tremeu como se 'osse cair sobrenós. A amarra do %inota 'icou tensa no momento em Sue umaenorme vaa o proectou violentamente em direcção V costa eSuebrou-se. #ó t>nhamos aSuela ZncoraR " barco irou sobrea Suilha e avançou a direito, por entre as ondas.A desorientação 'oi eral. 5odos os contratados, ente domato e receosos do mar, correram em pZnico para o convés,atrapalhando o caminho V eSuipaem. Ao mesmo tempo, os

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tripulantes correram para as armas. #abiam o Suesini'icava nau'raar na costa de %alaita? teriam de lutarpara conservar o barco e para rechaçar os nativos.

D]D

)ão sei como poderiam manter-se 'irmes, mas tinham de oconseuir, porSue o %inota levantava a proa, balançava,aleava e embatia contra o coral. "s ind>enas aarravam-seaos brandais, tão desnorteados Sue nem reparavam nasoscilaçYes do mastro rande. A baleeira, presa por um cabode reboSue, tentava com di'iculdade impedir o %inota de selançar contra os reci'es, enSuanto o capitão Jansen e oimediato - este p@lido e en'raSuecido pelas 'ebres -desencantavam do lastro uma Zncora velha e procuravamcolocar-lhe um cepo novo.oi nessa altura Sue apareceu %r. aul'eild, acompanhado

por pessoal da missão, para nos audar com a sua baleeira.Antes do incidente, não se via nada do mar, mas aorasuriam, como bandos de abutres, piroas de v@rios lados.om as espinardas apontadas, os marinheiros do %inotaobriaram-nas a manter-se a'astadas uns bons trinta metros,sob pena de serem alveadas. 3 elas dei$aram-se 'icar, aessa distZncia, sombrias e sinistras, cheias de homens, Suecom os remos as mantinham na periosa orla da rebentaçãodas ondas. 3ntretanto, os da 'loresta, armados de lanças,#niders, 'lechas e matracas, desceram das colinas em bandose correram para a praia. Kara complicar as coisas, pelo

menos de* dos contratados pertenciam V ente do mato, Sueesperava avidamente o instante prop>cio para pilhar otabaco, as mercadorias e tudo o Sue transport@vamos a bordo." %inota era de construção sólida, atributo essencial paraSualSuer barco Sue se acerSue de reci'es. Kara dar umaideia da sua resistTncia, basta di*er Sue, nas primeirasvinte e Suatro horas, perdeu duas amarras de Zncora e oitoespias. "s tripulantes merulharam v@rias ve*es no mar pararecuperar as Zncoras no 'undo e prendT-las de novo. Korve*es, o barco rebentava as amarras re'orçadas com espiasmas, até VSuele momento, mantinha-se incólume. 5rou$eram

troncos de @rvore da costa para os colocar debai$o do%inota, para proteer a Suilha e o costado, mas

D]]

os troncos estavam carcomidos e retados e os cabos Sue osseuravam esarçaram e partiram-se, mas mesmo assim, aosbaldYes, o barco auentou-se. %enos sorte teve a 4vanhoe,

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uma rande escuna utili*ada para transportar contratados,Sue, meses atr@s, nau'raada em %alaita, 'ora prontamenteinvadida pelos nativos. " capitão e a eSuipaem conseuiram'uir nas baleeiras e os homens do mato e os pescadorespilharam tudo Suanto puderam transportar.0aadas sucessivas de vento 'urioso e chuva torrencialvarreram o %inota, enSuanto o mar embravecia cada ve* mais." 3uenie, ancorado cinco milhas a sotavento, não seapercebia do nosso in'ortúnio, porSue entre nós e ele haviaum promontório. Kor suestão do capitão Jansen, escrevi umanota ao capitão /eller, pedindo-lhe Sue trou$esse maisZncoras e aparelho para nos socorrer. %as nenhuma piroa sedispXs a levar a carta, nem mesmo a troco de meia cai$a detabaco Sue o'ereci. "s nativos sorriram e mantiveram aspiroas aproadas unto V rebentação. %eia cai$a de tabacovalia bem trTs libras esterlinas. 3m duas horas, mesmo como mar aitado, um homem numa piroa podia entrear a carta

e receber em troca uma mercadoria Sue representava seismeses de sal@rio numa plantação. onseui descer para umapiroa e remar até ao s>tio onde %r. aul'eild mantinha asua baleeira ancorada. A minha ideia era Sue ele teria maisin'luTncia unto dos ind>enas. onvocou as piroas paraunto de si, um rupo delas apro$imou-se e ele renovou ao'erta de meia cai$a de tabaco. )inuém se pronunciou.- #ei o Sue vocTs pensarR - ritou o mission@rio. - KensarSue h@ muito tabaco na escuna e 'icar com ele. "uvir bem? oSue h@ é muitas espinardas. )ão receber tabaco, mas balas.inalmente, um homem so*inho a bordo de uma canoa, peou na

carta e a'astou-se com ela. 3nSuanto não nos

D]C

socorriam, o trabalho no %inota prosseuia a bom ritmo+epois de esva*iados os reservatórios de @ua doce, asantenas (;!, as velas e o lastro 'oram colocados do mesmolado, do lado da terra, ouve comoção eral Suando o barcobalançou sobre um dos costados e depois sobre o outro?muitos dos homens saltaram no ar, para não serem atinidosnas pernas pelas cai$as de mercadorias, paus e linotes de

'erro de lastro com vinte Suilos cada Sue rebolavam de umbordo ao outro e voltavam de novo para tr@s. Kobre iate derecreioR "s conveses e as amuradas estavam bastantedani'icados. 3m bai$o, o desconserto era eral. " chão dacabina 'ora destru>do para se retirar o lastro e a @ua Suevinha dos costados, cheia de 'erruem, esparramava-se emanchava tudo. 1m alSueire de limYes, misturados com @ua e'arinha, rolava de um lado para o outro, como pastéis

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peanhentos ainda por 'ritar Sue se tivessem entornado deuma 'riideira. )a cabina interior, )akata estava de uardaVs nossas espinardas e muniçYes.5rTs horas depois da partida do nosso mensaeiro, umabaleeira, voando r@pida e a todo o pano, suriusubitamente por entre denso temporal, a barlavento. 3ra ocapitão /eller, completamente molhado, com o revólver Vcintura e a sua eSuipaem armada até aos dentes, comZncoras e espias amontoadas no meio do barco, voando nasasas do vento - o homem branco, o inevit@vel homem branco,correndo em socorro de outro homem branco.A 'ila de piroas rapaces Sue havia tanto tempo esperava apresa des'e*-se e desapareceu com a mesma velocidade comSue se reunira. " cad@ver reressava V vida. Aoradispúnhamos de trTs baleeiras, duas delas liandocontinuamente o barco V marem. )a outra, os homensocupavam-se a encepar as Zncoras, a dar nós nas espias

partidas

)ota ;? " conunto dos mastros, veras e paus (). da 5.!.

D]E

e a procurar as Zncoras perdidas. )essa mesma tarde, depoisde uma consulta em Sue tom@mos em consideração o 'acto deum certo número dos nossos marinheiros, assim como de* doscontratados, serem oriin@rios destas paraens, decidimosdesarmar a eSuipaem. Ali@s, esta medida dei$ou-lhes as

mãos livres para se ocuparem, como toda a ente, do %inota.As espinardas 'oram con'iadas a cinco dos membros damissão de %r. aul'eild.)a cabina dani'icada, em bai$o, o mission@rio e os seusconversos re*aram pela salvação do barco. oi uma cenaimpressionante? o homem de +eus, desarmado, orando com 'éardente, ao lado dos disc>pulos selvaens apoiados nasespinardas e murmurando @mens. As paredes da cabinaraniam com os balanços. A cada vaa, o barco eruia-se evoltava a abater-se, com estrondo, sobre o coral. +o convéscheavam-nos os ritos dos homens, es'orçando-se a

trabalhar - re*ando também, mas de outro modo? com vontadeconsciente, sustentada pela 'orça braçal.)essa noite, %r, aul'eild veio avisar-nos Sue a cabeça deum dos contratados 'ora posta a prémio por cinSenta 'iadasde dinheiro em conchas e Suarenta porcos.rustrados na sua e$pectativa de se apoderarem do %inota,os homens do mato tinham decidido caçar a cabeça do homem.uando aluém é morto, nunca se sabe até onde pode ir a

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matança, e por isso o capitão Jansen armou uma baleeira eremou até unto V praia. 1i, um dos marinheiros Sue oacompanhavam, levantou-se e re*ou por ele. omo estavanervoso, em ve* de transmitir o aviso do capitão de SueSualSuer piroa Sue 'osse avistada durante a noite seriacrivada de balas, optou por uma autTntica declaração deuerra, Sue se trans'ormou numa peroração mais ou menosdeste énero?- MocTs matar meu capitão, eu beber sanue dele e morrercom eleR

D]

"s outros contentaram-se com Sueimar uma casa abandonada damissão e recolheram-se V 'loresta. )o dia seuinte, cheouo 3uenie, Sue lançou 'erro. +urante trTs dias e duasnoites, o %inota bateu contra o reci'eQ mas manteve-se

'irme e 'inalmente libertou-se e pXde ser levado para @uascalmas, onde ancorou. oi a> Sue nos despedimos dele e detodos os Sue seuiam a bordo e seuimos viaem no 3uenie,Sue ia para a ilha de lorida (;!.

)ota ;? Kara provar Sue os passaeiros do #nark não são umbando de 'racotes, como se poderia depreender das nossasdiversas a'ecçYes, transcrevo o seuinte, recolhido umpouco ao acaso, ipsis verbis, do di@rio de bordo do3uenie, como amostra do Sue pode ser um cru*eiro pelasilhas #alomão?

1lava, Suinta-'eira, ;D de %arço de ;<F=.1m bote 'oi a terra de manhã. 3mbarc@mos dois carreamentosde no* de mar'im, CFFF copras. " capitão esteve de cama com'ebre.1lava, se$ta-'eira, ;] de %arço de ;<F=.ompr@mos cocos aos homens da 'loresta, uma tonelada emeia. " imediato e o capitão de cama com 'ebre.1lava, s@badoP ;C de %arço de ;<F=.Ao meio dia suspendemos Zncora e seuimos a nossa rota, comum vento 3.-). 3. muito lieiro, para )ora-)ora.

unde@mos a oito braças, 'undo de conchas e coral. "imediato de cama com 'ebre.)ora-)ora, domino, ;E de %arço de ;<F=.Ao nascer do dia, descobrimos Sue o nativo 6aua morreudurante a noite, de disenteria. +oente havia ;C dias. AopXr do sol, rande

D]I

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continuação da nota ;?temporal de ).-". (#eunda Zncora pronta a 'undear.! +urouuma hora e ]F minutos.Alto mar, seunda-'eira, ; de %arço de ;<F=.0um@mos a #ik>ana Vs C horas da tarde. " vento acalmou.&rande temporal durante a noite. " capitão de cama com'ebre, assim como um tripulante.Alto mar, terça-'eira, ;I de %arço de ;<F=." capitão e dois tripulantes de cama com disenteria.4mediato, 'ebre.Alto mar, Suarta-'eira, ;= de %arço de ;<F=.%ar tormentoso. A bombordo, amurada constantementesubmersa. Melame? vela rande ri*ada, traSuete, iba.apitão e trTs tripulantes disenteria. 4mediato 'ebre.Alto mar, Suinta-'eira, ;< de %arço de ;<F=.5empo brumoso, não se distinue nada. 0aadas de vento, sem

parar. 6omba obstru>da, esotamos a @ua com baldes..apitão e cinco tripulantes de cama com disenteria.Alto mar, se$ta-'eira, DF de %arço de ;<F=.+urante a noite, temporal seuido de raadas. apitão eseis tripulantes de cama com disenteria.Alto mar, s@bado, D; de %arço de ;<F=.0eressamos de #ikiana. 5emporal todo o dia, com chuvas'ortes e mar aitado. apitão e a maior parte da eSuipaemde cama com disenteria. 4mediato, 'ebre.

3 o di@rio de bordo do 3uenie continua, assim por diante,

dia após dia, com a maioria dos tripulantes prostrados. Aúnica variante ocorreu a ]; de %arço, Suando o imediatocaiu V cama com disenteria e o capitão teve 'ebre. (). doA.!.

D]=

AK951L" M4

4nlTs PbTche de merP (;!

+ada a Suantidade de comerciantes brancos, a vastidão doterritório e a multiplicidade de idiomas e dialectosind>enas, aconteceu Sue os neociantes acabaram por criaruma l>nua totalmente nova, não cient>'ica, masper'eitamente adeSuada. oi assim Sue suriu o chinook,verdadeiro dialecto usado na olúmbia 6ritZnica, no Alascae nas terras do )oroeste americano e canadianoQ o mesmo sepassou com o kroo-bos (D! a'ricano, o pieon 3nlish (]!

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do 3$tremo "riente, e o bTche de mer da parte ocidental dosmares do #ul. 3ste último é muitas ve*es chamado pieon3nlish, mas impropriamente. Kara vermos como é di'erente,basta di*er Sue lhe é desconhecido o cl@ssico voc@bulopiecee (C! usado na hina.A este respeito dou-vos um e$emplo? um comandante de umnavio Sueria chamar V sua cabina um potentado de cor Sueestava no seu convés. "rdenou então ao criado chinTs?P3i, bo, ir no cima buscar piecee rei.P #e o criado 'ossedas

)ota ;? Mer nota da p. DDD (). da 5.!.)ota D? P6oP sini'ica aSui, aplicado a serviçais neros,Prapa*P, PcarreadorP ou PcriadoP. P/rooP poder@ sercorruptela de Pcre_P, rupo ou eSuipa de PbosPW (). +a 5!.)ota ]? L>nua 'ranca com base num inlTs adulterado,'alada em certas partes da N'rica e da Nsia (). da 5.!.

)ota C? Kalavra-muleta, usada a propósito de tudo e de nada(). da 5.!.

D]<

)ovas ébridas ou das ilhas #alomão, a ordem teria sido?P3i, 'ella bo, ir ver convés com teu olho, tra*er mim'ella rande che'e do homem de cor.P3ste 'alar 'oi 'orado pelos primeiros brancos Sue seaventuraram pela %elanésia depois dos e$ploradoresprimitivos. 4nventaram o inlTs bTche de mer homens como os

pescadores de holotúrias, os neociantes de sZndalo, oscaçadores de pérolas e os recrutadores de mão-de-obra. )asilhas #alomão, por e$emplo, 'ala-se uma in'inidade deidiomas e dialectos. 4n'eli*mente, os comerciantes nuncatentaram aprendT-los todos, porSue cada povo Suecontactavam tinha o seu modo de se e$primir, di'erente dosoutros. 3ra necess@ria uma l>nua comum, su'icientementesimples para até as crianças a poderem aprender, com umvocabul@rio limitado V compreensão dos selvaens pelosSuais seria usada. laro Sue os comerciantes não teori*aramisto. " inlTs bTche de mer 'oi o produto das condiçYes e

das circunstZncias. A 'unção antecede o órão e anecessidade de uma l>nua melanésia universal 'oi anteriorao inlTs bTche de mer. 3ste suriu 'ortuitamente, mas deuma 'orma determinista. Além de ser necess@ria, esta l>nuaarti'icial constitui um esplTndido arumento para osentusiastas do esperanto.1m vocabul@rio limitado e$ie Sue cada palavra assumav@rios sini'icados. Assim, a palavra 'ella, em bTche de

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mer, sini'ica o mesmo Sue piecee e muito mais, pelo Sue éusada continuamente, a propósito de tudo e de nada. "utrovoc@bulo assim é belon (;!. 5udo est@ relacionado comaluma coisa, nada est@ isolado. A coisa deseada édesinada pela sua relação com outras coisas. Assim, umvocabul@rio primitivo e$ie e$pressYes primitivas? uma chuva

)ota ;? Literalmente pertencer, mas muitas ve*es usado comodesinativo? belon _hite man, do homem branco.

DCF

continuada di*-se chuva ele parar (;!. #ol ele sobe nãonecessita de e$plicação, embora a estrutura da 'rase possaser empreada, sem rande es'orço mental, de de* milmaneiras di'erentes como, por e$emplo, Suando um ind>enaSuer transmitir a e$istTncia de randes Suantidades de

pei$e no mar e di* pei$e ele parar (D!. oi Suando tentavaneociar na ilha ^sabel Sue compreendi a e$celTncia deste'alar. 3u Sueria dois ou trTs pares dessas conchas iantes(com Suase um metro de comprimento! (]! mas sem o animaldentro. Kor outro lado, Sueria outros moluscos maispeSuenos, para 'a*er com eles um uisado. As minhasinstruçYes aos ind>enas 'oram-se apurando até se redu*iremao seuinte? PMocTs 'ella tra*er mim 'ella bi 'ellaconcha. /ai kai ele parar, dei$ar ir. MocTs 'ella tra*ermim 'ella small 'ella concha. /ai kai ele parar, tra*er./ai kai é a palavra polinésia para comida, carne, comerQ

mas não se sabe se 'oi introdu*ida pelos mercadores desZndalo, ou pelos polinésios em di@spora para "cidente.Ualk about (C! é uma e$pressão enraçada. #e Suisermospedir a um marinheiro das ilhas #alomão Sue 'i$e uma talhanum mastro, dir-lhe-emos? PASuele mastro passeia de mais.P3 se esse marinheiro Suer ir a terra, di*-nos Sue Suerpassear. %as se estiver com enoos, e$plica-se di*endoP6arria belon mim passeia de mais.P+e mais (E!, ali@s, não indica nada de e$cessivo, ésimplesmente um superlativo. Assim, se peruntarmos a umnativo a distZncia para determinada aldeia, a resposta pode

ser

)ota ;? "u sea? a chuva é tanta Sue parece Sue se 'i$ouaSui (). da 5.!.)ota D? @ tanto pei$e Sue parece Sue parou aSui (). da 5.!.)ota ]? 3sta concha é a tridacne, descrita e desenhada noin>cio de Minte %il Léuas #ubmarinas de Júlio Merne (). da5.!.

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)ota C? Kassear, V letra (). da 5,!.)ota E? 5oo much em inlTs (). da 5.!.

DC;

uma destas Suatro? PKertoPQ Ppouco lonePQ Pmuito lonepoucoPQ Pmuito lone de maisP. 3ste muito lone de mais nãoSuer di*er Sue não se possa chear V aldeiaQ sini'ica Suese tem de caminhar mais do Sue se a aldeia estivesse muitolone pouco.&ammon (;! é mentir, e$aerar, troçar. %ar é uma mulher.ualSuer mulher é uma %ar e todas são %ars. om certe*aSue, por troça, o primeiro viaante anónimo a aventurar-senestas ilhas ter@ chamado %ar a uma mulher ind>ena e amesma oriem devem ter tido outras palavras em bTche demer. "s brancos eram todos ente do mar, de 'orma Sueintrodu*iram neste linuaar palavras como adornar e dar

vo*es (de manobra!. )ão se di* a um co*inheiro polinésioSue deite 'ora a @ua de lavar pratos, di*-se Sue a adorneQdar vo*es é ordenar em vo* alta, ritar, ou simplesmente'alar. #in-sin (D! é uma canção. "s ind>enascristiani*ados não di*em Sue +eus chamou por Adão no ardimdo para>soQ na ideia deles, +eus deu vo* por Adão.#avvee (E! ou catchee (C! são praticamente as únicaspalavras introdu*idas directamente do pieon 3nlish.laro, pickaninn (E! é vular, mas aluns dos seus usossão deliciosos.+e uma ve* em Sue comprei uma alinha a um ind>ena numa

piroa, ele peruntou-me se eu Sueria pickaninn ele pararunto com 'ellaP. #ó Suando me mostrou os ovos da alinha éSue compreendi. % _ord (! é uma

)ota ;? 3nanar em inlTs (). da 5!.)ota D? #in em inlTs sini'ica cantar (). da 5.!.)ota ]? 5o savv em inlTs sini'ica conhecer, compreender,saber (). da 5.!.)ota C? 5o catch em inlTs sini'ica apanhar, aarrar ().da 5.!.)ota E? 3m inlTs, miúdo, peSueno, 'ilho de. @ Suem pense

Sue a palavra vem do portuuTs peSuenino (). da 5!.)ota ? 4ntereição inlesa, sini'icando surpresa ouconsternação? P"ra essaRP, P3ssa é boaRP, Puem diriaWP ().da 5!.

DCD

e$clamação com milhares de sini'icados, Sue só podia ter

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terror do temporal, do mato ou de luares assombrados.ross (E! abrane todo o tipo de ira. 1m homem pode estar*anado com outro por ser simplesmente arroanteQ ou podeestar *anado a ponto de cortar a cabeça do outro paracomer ao antar. 1m contratado, depois de trabalhar trTsanos numa plantação, reressou V sua aldeia de %alaita, comroupas berrantes e desportivas. )a cabeça usava um chapéualto. 5inha uma arca cheia de chitas, missanas, dentes detoninha e tabaco. Assim Sue o barco 'undeou, os nativos'oram a bordo. " contratado procurou ansiosamente osparentes, mas não viu nenhum. 1m dos ind>enas tirou-lhe ocachimbo da boca. "utro con'iscou-lhe os colares demissanas Sue tra*ia ao pescoço. 1m terceiro arrancou-lhe atana vistosa e o Suarto e$perimentou o chapéu alto,esSuecendo-se de o devolver.inalmente, um deles peou na arca Sue continha o produtode trTs anos de trabalho e lançou-a para uma piroa

pró$ima. PASuele é dos teusWP peruntou o capitão aocontratado,

)ota ;? ence em inlTs, sebe Sue serve de divisória (). da5.!.)ota D? #tore em inlTs, loa, cantina, arma*ém (). da 5.!.)ota ]? 6o$ em inlTs, cai$a (). da 5.!.)ota C? 'riht em inlTs, medo, susto, pavor (). da 5!.)ota E? 5o cross em inlTs, *anar (). da 5.!.

DCC

re'erindo-se ao ladrão. P)ão, não é dos meusP, respondeuele. P3ntão por Sue o dei$as levar a arcaWP inSuiriu ocapitão, indinado. P0ipostou o homem? P%im 'alar ele,di*er bokkis ele parar, aSuele 'ella *anado com mimP - oSue era uma maneira de di*er Sue o outro o mataria. A irade +eus, Suando mandou o +ilúvio, 'oi apenas uma maneira dese mostrar *anado com a humanidade.Uhat name (;! é a rande interroação usada em bTche demer. 5udo depende da 'orma como 'or pronunciada. Kodesini'icar PAo Sue vemWP, P" Sue pretende com esse

comportamento indinoWP, Pue deseaWP, Pue coisaprocuraWP, P" melhor é ter cuidadoP, P3$io umae$plicaçãoP, e muitas outras coisas. #e aluém chamar umind>ena a meio da noite, provavelmente ele dir@ ao sair decasa? Pue nome dar vo* para mimWP4maine-se as di'iculdades por Sue passaram os alemães dasplantaçYes da ilha de 6ouainville, Sue são obriados aaprender bTche de mer para dar ordens aos trabalhadores

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3ntão Adão e 3va dois 'ella parar no ardim e passar bomtempo os dois muito. 3ntão um dia 3va untar com Adão e

)ota ;? )esta versão em portuuTs pre'erimos a'astar-nos umpouco da tradução linear dos termos em bTche de mer, tare'apossivelmente mais '@cil, para apresentar um te$to menosliteral mas mais compreens>vel Sue, no entanto, nãoatraiçoa o oriinal (). da 5.!.

DC

di*er? P%elhor tu e mim os dois 'ella comer esta 'ellamaçã.P Adão ele 'alar? P)ão.P 3 3va 'alar? Pue nomeW )ãoostar mimWP 3 Adão ele 'alar? P%im ostar muito, mas mimmedo com +eus.P 3 3va ela 'alar? P+isparateR ue nomeW +eusele não sabe tomar conta nós dois 'ella todo o tempo. +eusrande 'ella patrão, ele mentiu no vocT.P %as Adão ele

di*er? P)ão.P %as 3va ela 'alar, 'alar, 'alar, sempre,sempre... como todas %ars elas 'alar bos de ueensland earranar complicação com eles. 3 então Adão ele cansarmuito e 'alar? P3st@ bem.P Loo esses dois 'ella comer.uando acabar comer, palavraR 3les muito medo e correresconder no mato.P3 +eus passear no ardim e dar vo*? PAdãoRP Adão ele não'ala. 3le também muito medo. KalavraR 3 +eus dar vo*?PAdãoRP 3 Adão ele 'alar? Phamar mimWP +eus 'alar? PhamarvocT muito muito.P Adão 'alar? P%im dormir com muita'orça.P 3 +eus 'alar? PMocT comer essa 'ella maçã.P Adão

ele 'alar? P)ão, mim não comer ela.P +eus 'alar? Pue nomeW%entir comioW MocT comer, sim.P 3 Adão ele 'alar? P#im,mim comer.PP3 +eus patrão rande *anar com Adão e 3va dois 'ellamuito e 'alar? PMocTs dois 'ella acabar comio. MocTs irbuscar bokkis de vocTs e ir para in'erno na 'loresta.P3ntão Adão e 3va dois 'ella ir na 'loresta. 3 +eus 'a*eruma rande 'ennis (vedação! no ardim e pXr um patrãorande tomar conta vedação, dar um rande 'ella espinardanele e di*er no patrão rande? Puando ver dois 'ella Adãoe 3va, vocT disparar muito de mais.P

DCI

AK451L" M44

%édico amador

uando partimos de #ão rancisco eu sabia tanto de doenças

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como um almirante su>ço sabe de mar. 3 aviso-vos, desde @,Sue se aluém me consultar antes de iniciar um cru*eiro nasreiYes tropicais, dar-lhe-ei sem hesitar este conselho?entre numa rande 'arm@cia, daSuelas Sue contratampro'issionais Sue sabem tudo, e peça para 'alar com umdeles. Anote cuidadosamente tudo o Sue lhe disserem. Keçauma lista de tudo o Sue lhe recomendarem. Kreencha umcheSue com o custo lobal e rasue-o.uem me dera ter 'eito o mesmoR 5eria sido muito maissensato, sei-o aora, se tivesse comprado um desses estoosde pronto-socorro, autom@ticos e inócuos, pre'eridos peloscomandantes de Suarta cateoria. )esses estoos, todos os'rascos são numerados. )a parte interior da tampa, h@ umatabela com instruçYes? nG ;, dores de dentesQ nG D,var>olaQ nG ], males de estXmaoQ nG C, cóleraQ nG E,reumatismoQ e assim por diante, passando por todas asdoenças humanas. Koderia ter-me servido desses medicamentos

como certo respeit@vel capitão meu conhecido Sue, Suando o'rasco nG ] cheava ao 'im, misturava uma dose do nG ; e donG D ou, Suando acabava o nG I, tratava os tripulantes como C e o ] até o ] estar asto, e nessa altura usava o E e oD.

DC=

Até aora, V e$cepção do sublimado corrosivo (Sue me 'oirecomendado como anti-séptico em operaçYes cirúricas e Sueainda não usei com esse 'im!, o meu estoo médico tem sido

inútil. 5em sido pior Sue inútil, porSue ocupa muito espaçoSue me 'aria bastante eito.om os meus instrumentos cirúricos 'oi di'erente. 3mboraainda não os tenha usado seriamente, não lamento o espaçoSue ocupam. #ó de pensar neles sinto-me melhor.Kara mim são uma espécie de seuro de vida, só Sue menossinistro, no sentido em Sue não é preciso morrer para terdireito a ele. omo é evidente, inoro como se utili*amestes instrumentos, mas consolo-me a pensar Sue, com aminha 'raca baaem de conhecimentos médicos, uma dú*ia decharlatães podiam montar cl>nica com a certe*a de

prosperar. %as no #nark nunca se sabe Suando o destino nospor@ V prova? tanto pode ser a mil milhas de terra ou avinte dias do porto mais pró$imo.3u não sabia como tratar dentes e no entanto um amioeSuipou-me com alicates e armas do mesmo énero e emonolulu comprei um livro para dentistas. )essa cidadesubtropical também conseui deitar a mão a uma caveira, VSual e$tra> todos os dentes, rapidamente e sem dor. Assim

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eSuipado, estava pronto, embora não propriamente ansioso,para tratar de SualSuer dente Sue me aparecesse pela'rente. oi em )uku-hiva, nas %arSuesas, Sue suriu o meuprimeiro caso, sob a 'orma de um velhinho chinTs. Aprimeira coisa Sue 'i* 'oi tremer de medo. +ei$o Vs pessoasde boa 'é o cuidado de concluir se o pZnico, com todo o seucorteo de palpitaçYes card>acas e tremores de mãos, é amelhor 'orma de se apresentar, para aluém Sue, como eu,Sueria dar a ideia de estar senhor de uma lonae$periTncia. " velho chinTs não se dei$ou enanar. 3stavatão assustado como eu e um pouco mais trémulo. uase meesSueci do meu medo, só de pensar Sue ele se podia

DC<

pXr a andar. Juro Sue, se ele 'i*esse menção disso, eu nãohesitaria em passar-lhe uma rasteira e sentar-me em cima

dele, até Sue ele recuperasse a calma e o tino.3stava mesmo disposto a arrancar-lhe aSuele dente. Alémdisso, %artin Sueria tirar-me uma 'otora'ia no momento dae$tracção. harmian também se eSuipou com uma m@Suina'otor@'ica. 3ntão começou a procissão. 3st@vamoshospedados na casa Sue servia de clube dantes, na altura emSue #tevenson cheou Vs %arSuesas no asco.)a varanda onde passou tantos momentos arad@veis, a lu*não era boa... para as 'otora'ias, Suero di*er. om osoutros atr@s de mim, 'ui para o ardim, a cadeira numa mãoe na outra uma série de alicates de v@rios éneros e os

oelhos a tremer desraçadamente. " pobre chinTs vinha emseundo luar, também a tremer. harmian e %artin seuiam Vretauarda, armados com /odaks. 3mbrenh@mo-nos pelosabacateiros, abrimos caminho por entre palmeiras, eche@mos a um ponto satis'atório para as e$iTncias'otor@'icas de %artin."bservei o dente e 'oi então Sue descobri Sue não conseuialembrar-me de como tinha e$tra>do os da caveira, cincomeses antes. 5inham uma rai*, duas ou trTsW " Sue aindarestava da parte e$posta parecia muito carcomido e eu sabiaSue tinha de procurar o dente bem no interior da eniva.

Julando indispens@vel saber em Suantas ra>*es se dividiaum molar, voltei a casa para procurar o manual de dentista.A minha pobre v>tima assemelhava-se a certos criminososchineses Sue Vs ve*es nos mostram em 'otora'ia, aoelhadosV espera de ser decapitados por uma espada.- )ão o dei$es ir-se emboraR - recomendei a %artin. - ueroarrancar esse dente.- )ão te preocupes - respondeu com convicção. - 5ambém não

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dispenso a minha 'otora'ia.Kela primeira ve* senti pena do chinTs. 3mbora o manual nãoe$plicasse como se arrancam dentes, numa

DEF

certa p@ina encontrei desenhos de todos eles, incluindo asra>*es e como estavam implantadas na mand>bula. +epois 'oio dilema dos alicates. 5inha sete, mas não sabia ao certoSual usar. uando comecei a me$er neste eSuipamento,'a*endo rande estardalhaço, começou a 'altar o Znimo Vpobre v>tima e suriu-lhe no rosto uma cor amarelo-esverdeada. uei$ou-se do sol nos olhos, mas era necess@riopor causa da 'otora'ia e teve de se con'ormar. uandoapliSuei o alicate no dente, o paciente estremeceu epareceu desmaiar.- 3st@s prontoW - peruntei a %artin.

- 5udo a postosR - respondeu.Ku$ei com 'orça. "h deusesR " dente estava Suase soltoR#aiu num instante. 0adiante, levantei o alicate paramostrar o tro'éu.- Molta a pX-lo no seu luar, por 'avorR - pediu %artin. -oi tão r@pido, Sue não tive tempo para a 'otora'ia." pobre velhote voltou V posição inicial enSuanto eu 'iniacolocar o dente no alvéolo e pu$ar por ele. %artin disparouo botão da m@Suina. A operação estava conclu>da.3$altaçãoW "rulhoW )enhum caçador ter@ mostrado maioractZncia, V vista do primeiro veado abatido, do Sue eu

diante daSuelas trTs ra>*esR " autor daSuela proe*a era eu,euR 3u próprio, com as minhas próprias mãos e o alicate,isto sem 'alar das e$periTncias com os dentes da caveira." meu seundo cliente 'oi um marinheiro tahitiano, de 'racaestatura, Sue se apresentou num total estado de prostração,depois de lonos dias e noites de dores lancinantes.omecei por lancetar as enivas. )ão sabia ao certo comoproceder, mas não hesitei. +epois tive de pu$ar com toda a'orça. " homem era um herói? soltou uns emidos e uns urrostão terr>veis Sue pensei vT-lo desmaiar de um

DE;

momento para o outro, mas manteve a boca aberta e dei$ou-memanobrar. Kor 'im o dente cedeu.+epois daSuilo estava pronto a praticar com Suem Suer Sueaparecesse... mas este era o estado de esp>rito prop>cio aum desaire iminente. 3 'oi o Sue aconteceu." doente chamava-se 5omi. 3ra um paão iante, 'orte e com

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'ama de mau. +ado a actos de violTncia, entre outras coisasmatara duas das suas mulheres a soco. 3ra 'ilho de canibaisprimitivos. uando se sentou e lhe en'iei o alicate naboca, a cabeça dele cheava V altura da minha, como se nãoestivesse sentado. #abendo eu Sue os homens 'ortes tTm porve*es acessos de brutalidade, e descon'iado deste, pedira aharmian Sue o seurasse por um dos braços e Uarrenaarrava-lhe o outro.+epois começ@mos todos a 'a*er 'orça? assim Sue o alicate'e* prisão no dente, ele 'echou as mand>bulas e lançouambas as mãos V minha, Sue pu$ava pelo alicate.0esisti e ele também, harmian e Uarren resistiramiualmente. Lut@mos assim, aarrados, e arrastando-nos unsaos outros pela sala 'ora.3ram trTs contra um e a maneira como eu prendia aSueledente cariado era muito prec@ria. " bruto acabou por nosvencer. " alicate escorreou e bateu nos dentes superiores

com um ru>do met@lico e um ranido Sue nos pXs os nervos em'rana, voou para 'ora da boca e o homem levantou-se derepente, soltando um urro de 'era. a>mos os trTs paratr@s, esperando ser massacrados. %as o selvaem de 'amasanuin@ria, aos uivos, dei$ou-se abater na cadeira.#eurou a cabeça entre as mãos e emeu, emeu sem parar.)ão Suis atender aos meus arumentos. hamou-me charlatão,disse-me Sue a minha promessa de e$tracção dent@ria indolorera uma 'raude, uma armadilha para papalvos. 3u estava tãoansioso por arrancar aSuele dente Sue me dispunha ao'erecer-lhe SualSuer coisa em troca. %as aSueles

propósitos o'endiam o meu orulho

DED

pro'issional e dei$ei-o ir-se embora com o dente intacto.3ste 'oi o meu único caso mal sucedido, até hoe, no Suetoca a tratar da saúde aos doentes. Ainda h@ dias me dispusa navear trTs dias contra o vento para arrancar um dente Vmulher de um mission@rio. Antes de o #nark terminar o seupériplo, espero estar capa* de 'abricar dentaduras ecolocar coroas de ouro.

)ão sei se tive impetio ou não - um médico nas ididisse-me Sue sim, e um mission@rio nas #alomão disse-me Suenão. " certo é Sue so'ri horrores. )o 5aihi, aconteceucontratar um marinheiro 'rancTs Sue, Suando est@vamos noalto mar, 'oi atacado por uma pestilencial doença de pele." #nark era demasiado peSueno e a nossa eSuipa demasiadonumerosa para nos ser poss>vel conserv@-lo a bordoQ noentanto, 'ui obriado a trat@-lo até acostarmos e

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despedirmo-nos dele. onsultei os livros e prestei-lhe oscuidados necess@rios, tomando sempre a precaução de melavar muito bem depois. uando che@mos a 5utuila, em ve*de me livrar dele, o médico do porto declarou-o deSuarentena e recusou-se a dei$@-lo desembarcar. %as emApia, na #amoa, conseui metT-lo num vapor Sue ia para a)ova 2elZndia. 3m Apia, os mosSuitos picaram-meparticularmente nos torno*elos e con'esso Sue me coceimuito - como aconteceu milhares de ve*es antes. uandoche@mos V ilha de #avaii, uma peSuena 'erida Sue tinha nacurva do pé trans'ormou-se numa úlcera pro'unda. JulueiSue se devia a e$cesso de calor ou aos 'umos @cidos de umchão de lava Suente por onde caminhara.1m b@lsamo bem aplicado curar-me-ia, pensei. " b@lsamosarou a úlcera, mas instalou-se uma in'ecçãoimpressionante, a pele mais recente caiu e apareceu umaúlcera ainda maior. " 'enómeno repetiu-se v@rias ve*es.

#empre Sue a pele se reenerava, declarava-se novain'lamação e a chaa tomava proporçYes maiores. 3u sentia-me ao mesmo tempo intriado

DE]

e receoso. A minha pele sempre cicatri*ara com rapide*invular, mas aSuela 'erida não só se recusava a sarar,como crescia sem parar, começando a roer o próprio músculo.)essa altura, o #nark naveava em direcção Vs ilhas idi.#eriamente alarmado, lembrei-me do marinheiro 'rancTs.

Apareceram-me mais Suatro chaas semelhantes - ou antes,Suatro úlceras - e toda a noite não preuei olho, comdores. omecei a 'a*er planos para dei$ar o #nark nas ilhasidi e tomar um vapor Sue 'osse para a Austr@liaQ Vcheada, consultaria um médico. 3ntretanto, tratava-me omelhor poss>vel, atendendo aos meus conhecimentos deamador. Li de uma ponta V outra todos os tratados demedicina Sue levava a bordoQ nem uma linha, nem uma 'raseSue descrevesse o meu malR Kara tentar resolver o problema,recorri ao mais elementar bom senso. 3stava a ser minadopor úlceras virulentas causadas por um veneno orZnico.

onclu> Sue havia duas coisas a 'a*er. Krimeiro, erapreciso descobrir um remédio capa* de erradicar o mal. 3mseundo luar, as úlceras não sarariam de 'ora para dentroQtinham de ser debeladas de dentro para 'ora. Kensei nosublimado corrosivo, mas a própria desinação do produtodava-me a entender Sue não seria a melhor solução. 3ra ummétodo Sue eSuivalia a combater o 'oo com o 'ooR Atacadopor um veneno corrosivo, como curar-me empreando outro

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veneno iualmente corrosivoW Ao 'im de uns dias, resolvialternar os pachos de sublimado com outros V base deperó$ido de hidroénio. " resultado, veam bem, 'oi Sue,Suando che@mos Vs ilhas idi, Suatro das cinco úlcerasestavam curadas e a última redu*ida ao tamanho de umaervilha.3mbora na altura me sentisse per'eitamente capa* de trataraSuele tipo de chaas, elas inspiravam-me um randerespeito, Sue os meus companheiros de viaem nãopartilhavam.)ão lhes bastava ter diante dos olhos o meu e$emplo.

DEC

5inham testemunhado a minha horr>vel a'lição e todos, estouconvencido, imainavam inconscientemente estar ao abrio demales como o meu. 5endo em vista a soberba constituição e

as loriosas personalidades de Sue estavam dotados, nuncaum veneno tão in'ecto ousaria insinuar-se nos seusesplTndidos oranismos, ao contr@rio de mim, tipo anémico ede robuste* med>ocre. 3m Kort 0eso-lut>on, nas )ovasébridas, %artin decidira caminhar descalço pelo mato evoltara a bordo com muitos cortes e es'oladelas,especialmente nas pernas.- +evias ter cuidado - avisara-o eu. - Mou preparar umpouco de sublimado corrosivo para lavares essas 'eridas. #ópara prevenir, percebesW%as %artin sorriu com ar superior. 3mbora evitasse di*T-lo,

deu-me a entender Sue não era como os outros (alusãodiscreta, suponho, V minha pessoa! e Sue dentro de diasestaria em 'orma. 5ambém me 'e* uma dissertação sobre a suapure*a de sanue e respectivas 'aculdades curativas. #enti-me humilde Suando terminou a peroração.)ão havia dúvida de Sue o meu sanue não se comparava aodos outros homens.)akata, o rumete, num dia em Sue passava a 'erro, deve tercon'undido a barria da perna com a t@bua de enomar,porSue 'e* uma Sueimadura de ;F cent>metros de comprimentopor ] de larura. 5ambém me recebeu com um sorriso superior

Suando lhe propus trat@-lo com sublimado e lhe lembrei aminha e$periTncia passada. om modos suaves e corteses,a'irmou claramente Sue o seu esplTndido sanue de aponTsde Kort Arthur daria cabo de SualSuer micróbio maisatrevido.Uada, o co*inheiro, participou de uma desastrada acostaemda chalupa, em Sue teve de saltar borda 'ora e pu$@-la paraa praia, no meio de uma rebentação 'uriosa.

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icou com as pernas e os pés cheios de cortes, devido Vs

DEE

conchas e corais. "'ereci-lhe o 'rasco de sublimado. %aisuma ve* tive de suportar um sorriso superior e 'iSuei asaber Sue @ uma ve* derramara o seu sanue em luta contraa 0ússia e um dia derram@-lo-ia contra os 3stados 1nidos.#e esse mesmo sanue não 'osse capa* de curar SuaisSuerarranhYes insini'icantes, então só lhe restava sucumbir Vdesonra e cometer hara-kiri.+e tudo isto conclu> Sue um médico amador, mesmo curando-sea si próprio, não vT os seus méritos devidamentereconhecidos. "s meus companheiros consideravam-me umaespécie de monoman>aco ino'ensivo, no Sue se re'eria a'eridas e sublimado. L@ porSue o meu sanue era impuro, nãopodia convencer-me de Sue com o dos outros se passava o

mesmo. +esisti de inter'erir. " tempo e os micróbiosestavam do meu lado, e só me restava esperar.Kassados uns dias, %artin disse-me, alo contrariado?- Acho Sue estes cortes estão um tanto suos. Mou lav@-lose em pouco tempo estarei curado - acrescentou, Suando viuSue eu não mordia o isco.Kassaram-se mais dois dias, mas os cortes não saravam e deicom ele a lavar os pés e as pernas num balde de @ua Suente.- )ão h@ nada como uma boa @ua SuenteR - proclamou comentusiasmo. - [ melhor do Sue todas as droas Sue osmédicos receitam. 3stas 'eridas estarão curadas amanhã de

manhã.%as na manhã seuinte notei-lhe um olhar inSuieto.Apro$imava-se o meu momento de triun'o.- Acho Sue vou e$perimentar um pouco desse remédio -anunciou, passadas umas horas. - )ão é Sue tenha randecon'iança nele, mas de SualSuer 'orma não me 'ar@ malarriscar.A seuir 'oi a ve* do orulhoso aponTs puro sanue, Sue meveio pedir medicação para as suas ilustres chaas,

DE

enSuanto eu lhe dava cabo da cabeça a e$plicar-lhe comminúcia e pormenores sol>citos o tratamento a Sue as deviasubmeter. )akata seuiu as instruçYes V letra e as 'eridassararam a olhos vistos. Uada estava ap@tico e curou-se maisdevaar. %as %artin ainda duvidava e, porSue não se curouinstantaneamente, desenvolveu a teoria de Sue, mesmo Sue omedicamento 'osse bom, isso não Sueria di*er Sue todos os

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doentes reaissem da mesma 'orma. )o caso dele, o sublimadocorrosivo não tinha SualSuer e'eito. Ademais, como sabia euSue era esse o tratamento mais indicadoW altava-mee$periTncia. #ó porSue acontecera curar-me, não podiaconcluir da> Sue o mérito se devia ao produto aplicado. 3Sue h@ coincidTncias dessas na vida. Kor certo haveria umadroa capa* de curar aSuelas 'eridas, mas Suando pudesseconsultar um médico a sério saberia Sual era e entã[email protected] por essa altura Sue che@mos Vs ilhas #alomão. )enhummédico se lembraria de recomendar este arSuipélao comosanatório aos seus doentes, dado aSuele clima insalubre.)ão levei muito tempo a aperceber-me - pela primeira ve* naminha vida - da delicade*a e instabilidade dos tecidoshumanos. unde@mos em Kort %ar, na ilha de #anta Anna. "único branco Sue l@ vivia, um comerciante, veio procurar-nos. hamava-se 5om 6utler e era um óptimo e$emplo da

devastação Sue as ilhas #alomão podem provocar num homem'orte. 3stava deitado na sua baleeira, de'inhado como ummoribundo, sem Sue um sorriso ou uma chispa de inteliTncialhe iluminassem o rosto sombrio, onde se liam @ os sinaisda morte. 5ambém so'ria de enormes úlceras. omos obriadosa transport@-lo em peso para o #nark. ontou-me Sue sempreo*ara de boa saúde, h@ muito Sue não tinha 'ebres e, Ve$cepção dum braço, sentia-se em e$celente 'orma. 3ssemembro parecia paralisado, mas o homem não lhe davaimportZncia.

DEI

J@ lhe acontecera antes e recuperara. 3ra uma doença comumentre os ind>enas de #anta Anna, disse ele, enSuanto olev@vamos escada abai$o, com o braço inerte a produ*ir umsom cavo cada ve* Sue batia nos deraus. " estado do nossoconvidado era sem duvida mais macabro Sue o de todos osin'eli*es Sue, atinidos pela lepra ou a ele'ant>ase,acolhTramos a bordo do #nark.%artin 'e*-lhe v@rias peruntas acerca das chaas, porSuel@ entendido era ele, a ular pelas cicatri*es Sue tinha

nos braços e nas pernas e pelas úlceras em 'erida Suecorro>am o centro dessas cicatri*es. "ra, uma pessoahabitua-se Vs úlceras, di*ia 5om 6utler. )unca eram raves,a não ser Sue atinissem a carne mais pro'unda.)essa altura, atacavam as paredes das artérias, Suerebentavam. A seuir, a única coisa a 'a*er era preparar o'uneral. M@rios ind>enas haviam sucumbido assim, muitorecentemente. %as Sue importZncia tinha issoW Ali, nas

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ilhas #alomão, se não 'osse pelas úlceras, morria-se deoutro mal SualSuer...0eparei Sue a partir da> %artin passou a dedicar uminteresse cada ve* maior Vs suas úlceras. 4nsistia mais naslavaens com sublimado e, nas conversas, re'eria-se amiúdee com entusiasmo crescente ao clima saud@vel do /ansas e Ve$celente Sualidade de tudo o Sue 'osse do /ansas. harmiane eu t>nhamos a ali'órnia em boa conta, nesse aspecto.enr achava Sue 0apa era insuper@vel e 5ehei daria tudopara voltar a 6ora 6oraQ ao passo Sue Uada e )akatalançavam aos céus hinos em honra dos encantos do Japão.)uma noite em Sue contorn@vamos a ponta meridional da ilhade 1i V procura de um ponto de desembarSue, um certo %r.+re_, mission@rio da 4rea da 4nlaterra Sue seuia na suabaleeira para #an ristoval, acostou ao #nark e convid@mo-lo para antar. %artin, com as pernas cobertas de liadurasSue o 'a*iam assemelhar-se a uma múmia,

DE=

desviou a conversa para as úlceras. %r. +re_ con'irmou Sueeram muito comuns nas #alomão e Sue todos os brancos ascontra>am.- 5ambém aconteceu consioW - Suis saber %artin,intimamente chocado por um representante da 4rea da4nlaterra padecer de uma a'ecção tão vular.%r. +re_ con'irmou e acrescentou Sue não só lhe acontecera,como naSuele momento andava a tratar de v@rias.

- " Sue usa como curativoW - peruntou loo %artin. uasese me parou o coração. +a resposta dependia o meu prest>iomédico. Kercebi Sue %artin não duvidava da minha Sueda. 3então veio a resposta... a bendita resposta?- #ublimado corrosivo - disse %r. +re_.5enho de admitir Sue %artin encai$ou a in'ormação comeleZncia. Admito e estou certo de Sue, naSuele momento, seeu lhe pedisse autori*ação para lhe arrancar um dente, elenão ma recusaria.5odos os brancos das ilhas #alomão contraem úlceras eSualSuer corte ou arranhão sini'ica na pr@tica mais uma

chaa. 5odos os Sue conheci @ haviam passado por isso enove em de* tinham aluma em actividade. #ó encontrei umae$cepção? um ovem Sue, vindo para as ilhas havia cincomeses, adoecera com 'ebre de* dias após a cheada e desdeentão estivera acamado tantas ve*es Sue não suriraoportunidade nem tempo para ulcerar.5odos os do #nark, tirando harmian, tiveram úlceras. `semelhança dos naturais do /ansas e do Japão, ela atribu>a

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orulhosamente essa imunidade V pure*a do sanue e, Vmedida Sue o tempo passava, ostentava esse atributo comarroZncia e 'reSTncia cada ve* maiores. 4ntimamente, eusabia Sue, por ser mulher, estava mais proteida dos cortese arranhYes a Sue nós, homens castiados pelo trabalho, nossueit@vamos no decorrer das manobras Sue 'ariam o

DE<

#nark dar a volta ao mundo. %as não lho podia con'essarporSue, bem vTem, não Sueria 'erir o seu amor própriocon'rontando-a com a brutal realidade. omo médico, aindaSue amador, conhecia melhor a doença do Sue ela e sobretudotinha a certe*a de Sue o tempo estava a meu 'avor. %asin'eli*mente tra> esse precioso aliado Suando me apercebide uma minúscula 'erida numa perna de harm>an. ApliSuei-lhe tão depressa o tratamento anti-sép-tico Sue a 'erida

sarou antes de ela se convencer de Sue tinha uma úlcera.%ais uma ve*, 'icaram sem reconhecimento os meus talentosde médicoQ e, pior ainda, 'ui acusado de a ter indu*ido emerro ao identi'icar incorrectamente uma úlcera. A pure*a doseu sanue resplandeceu como nunca e eu en'ronhei-me nosmanuais de marear, sem arumentos. Até Sue cheou a minhahora. )esse dia, nave@vamos pela costa de %alaita.- ue tens a>, no torno*eloW - peruntei-lhe.- )ada - respondeu.- 3st@ bem, mas em todo o caso aplica um pouco de sublimadocorrosivo. 3 daSui a duas ou trTs semanas, Suando estiver

tudo bem e se tiver 'ormado uma cicatri* Sue te acompanhar@até V morte, esSuece a tua pure*a de sanue e a históriados teus antepassados e d@-me a tua opinião sobre úlceras.A tal úlcera, do tamanho de uma moeda de dólar, levou trTssemanas a sarar. As dores eram tão violentas Sue Vs ve*esharmian não conseuia andarQ e não se cansava de e$plicarSue o s>tio pior para se ter uma úlcera era o torno*elo,por ser tão doloroso. Kelo meu lado, e$pliSuei-lhe Sue, pornunca ter tido essa e$periTncia, inclinava-se a pensar Sueuma 'erida na parte in'erior do peito do pé era aSuela Suemais dores causava. Kusemos a Suestão a %artin, Sue

discordou de ambas as opiniYes e proclamou com veemTnciaSue o único s>tio verdadeiramente doloroso

DF

era a perna. 5oda esta discussão e$plica, ali@s, a ra*ão dapopularidade das apostas nas corridas de cavalos.%as, ao 'im de certo tempo, de tão banais, as úlceras

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perderam o interesse. )este preciso momento em Sue escrevo,tenho cinco nas mãos e mais trTs nas pernas. harmian temuma de cada lado do torno*elo direito. As de 5eheie$asperam-no. As chaas antias Sue %artin tinha nas pernas'oram substitu>das por outras mais recentes. 3 )akata temv@rias a corroer-lhe a pele. %as a história do #nark nasilhas #alomão é a de todos os barcos desde as primeirasdescobertas. ito as seuintes linhas retiradas das4nstruçYes )@uticas?Puase todos os membros da eSuipaem das embarcaçYes Sueprolonam a sua estadia nas ilhas #alomão contraem chaasSue normalmente se trans'ormam em úlceras virulentas.P5ambém no Sue di* respeito Vs 'ebres as 4nstruçYes )@uticassão particularmente desencoraadoras, porSue comentam oseuinte?P"s recém-cheados so'rem mais tarde ou mais cedo de'ebres, Vs Suais também os ind>enas estão sueitos. "

número de 'alecimentos entre os brancos, no ano de ;=<I,'oi de <, numa população de EF.P)o entanto, alumas dessas mortes eram acidentais.)akata 'oi o primeiro a cair com 'ebre, em Kendu''rn.#euiram-se Uada e enrQ depois harmian. onseuiresistir durante uns dois mesesQ mas Suando sucumbi,%artin, solid@rio, untou-se-me passados uns dias. +e nóstodos, Sue éramos sete, só 5ehei escapouQ mas o seuspadecimentos de nostalia eram piores Sue SualSuer 'ebre.)akata, como de costume, seuiu as instruçYes V risca, de'orma Sue, no terceiro ataSue, depois de suar durante duas

horas e tomar trinta ou Suarenta rãos de Suinino, apesarde combalido, pXs-se a pé ao 'im de DC horas.

D;

ontudo, Uada e enr eram doentes mais di'>ceis. 3mprimeiro luar, Uada dei$ou-se tomar por tal terror Suepensou ter sido abandonado pela sua boa estrela e concluiuSue dei$aria os ossos naSuelas paraens. A vida V sua voltapareceu-lhe prec@ria. 4n'eli*mente, em Kendu''rn, onde adisenteria causava terr>vel devastação, viu uma v>tima,

levada numa chapa de *inco, ser atirada, sem cai$ão ou'uneral, para uma cova no chão. )ão havia Suem não tivesse'ebre, disenteria ou SualSuer outra maleita. A morte eracoisa banal e nunca se sabia Suando nos caberia a ve*...Uada convenceu-se Sue cheara o seu triste dia.4ndi'erente Vs úlceras, dei$ou de lhes aplicar sublimadoQalém disso, por se coçar desconsoladamente, elaspropaaram-se-lhe a todo o corpo. 5ambém não seuia as

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recomendaçYes sobre como tratar as 'ebres e por isso 'icavade cama cinco dias de cada ve*, Suando se poderia curar numdia. enr, Sue é um iante robusto, nem por isso semostrava mais ra*o@vel. 0ecusava-se terminantemente a tomarSuinino, arumentando Sue anos antes tivera 'ebre e Sue oscomprimidos Sue o médico receitara eram de tamanho e cordi'erentes dos nossos. +e 'orma Sue 'a*ia companhia a Uada.%as enanei bem aSueles dois. Miviam no terror de uma morteiminenteQ então, para alcançar os meus 'ins, alimentei esseseu estado de esp>rito e 'i-los crer Sue estavam realmenteV beira da morte, pelo Sue não tinham nada a perder emaceitar as doses de Suinino Sue eu lhes recomendava. Alémdisso, tirei-lhes a temperatura.3ra a primeira ve* Sue usava o termómetro da nossa 'arm@ciaport@til. +epressa descobri Sue não servia de nada, porSueestava avariado. #e in'ormasse os dois doentes de Sue oaparelho indicava uma temperatura de CF raus, ter>amos

dois 'unerais consecutivos em perspectiva. om ar solene,meti o termómetro debai$o do braço de cada um deles e, comar

DD

satis'eito, anunciei-lhes Sue era uma 'ebre tão lieira Suenem cheava aos ]= raus. +epois 'i-los enolir maisSuinino e esperei Sue melhorassem. oi o Sue aconteceu,apesar de Uada se sentir Vs portas da morte. #e é verdadeSue se pode morrer de medo, Sual é a imoralidade de salvar

o doente recorrendo V mesma armaW)ão h@ como a raça branca Suando toca a resistir e a lutarpela vida. 1m dos nossos aponeses e os nossos doistahitianos sucumbiram ao terror do 'im iminente e tivemosde os encoraar e mimar, tra*endo-os de volta V vida SuaseV 'orça. harmian e %artin aceitaram com outro Znimo osseus males, sem lhes dar rande importZncia, e recuperarama saúde com uma 'é serena. uando Uada e enr seconvenceram de Sue tinham os dias contados, o ambiente'únebre V sua volta tornou-se insuport@vel para 5ehei, Suere*ou e soluçou horas a 'io. 3m compensação, %artin, Sue

não se cansava de roar praas V doença, pXs-se bom, eharmian, entre emidos, 'e* proectos para Suandoestivesse curada.harmian 'oi habituada desde criança a seuir uma dietaveetariana e preceitos hiiénicos muito r>idos. A sua tia)etta, Sue a criou e Sue vivia num clima e$celente, nãotinha rande con'iança nos medicamentos. harmian tambémnão. Além disso, reaia mal aos remédios, Sue lhe causavam

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e'eitos mais ne'astos Sue os males Sue supostamentealiviariam. %as aceitou os arumentos a 'avor do Suinino etomou este remédio como um mal menor. 3m conseSuTnciadisso, teve ataSues de 'ebre mais lieiros, menos penosos eespaçados. %r. aul'eild, o mission@rio Sue encontr@mos ecuos dois predecessores morreram nas ilhas #alomão emmenos de seis meses, acreditava, como eles, na homeopatia,até ter o primeiro ataSue de 'ebre. +epois, associou-se aospartid@rios da alopatia e do Suinino, arrostando com a'ebre e cumprindo a sua missão evanélica.

D]

%as coitado do UadaR " Sue deu cabo dele 'oi o 'acto deharmian e eu o levarmos connosco numa viaem V ilha de%alaita, in'estada de canibais, num iate em cuo convés ocapitão 'ora assassinado no ano anterior. Uada convenceu-se

de Sue iam 'a*er dele kai-kai, isto é, repasto. And@vamosbem armados, mant>nhamo-nos sempre viilantes e Suando nosbanh@mos na 'o* de um rio, 'omos uardados por ovensind>enas Sue estiveram de sentinela, de espinarda empunho. Mimos canhoneiras inlesas bombardear e Sueimaraldeias para as castiar por assass>nios cometidos.4nd>enas com a cabeça a prémio vieram acolher-se V nossaprotecção a bordo. )a reião pululavam os criminosos. 3mlocais remotos, recebemos avisos sobre aressYes iminentes,transmitidos por selvaens nossos amios Sue se preocupavamcom a nossa seurança.

" iate em Sue via@vamos dev>a duas cabeças a %alaita e aSualSuer momento podia dar-se o ataSue Sue procurariaresat@-las. Ainda por cima, encalh@mos num reci'e eenSuanto procur@vamos sa'ar o barco, mantivemos VdistZncia, sob a ameaça de armas de 'oo, as piroas dosSue auardavam o nau'r@io para proceder V pilhaem.5udo isto 'oi de mais para Uada, Sue Suase enlouSueceu eSue 'inalmente abandonou o #nark na ilha de ^sabel,desembarcando de ve*, debai$o de chuva intensa, entre doisataSues de 'ebre e correndo o risco de contrair umapneumonia. #e escapar a ser servido como kai-kai e se

sobreviver Vs úlceras e V 'ebre Sue rassam em terra,talve* consia, com sorte, viaar até V ilha vi*inha dentrode seis a oito semanas. )unca teve muita con'iança nos meustratamentos, apesar de eu lhe ter arrancado, loo Vprimeira tentativa, dois dentes Sue lhe causavam doresincómodas.@ meses Sue o #nark 'unciona como hospital e con'esso Sue@ nos habitu@mos. )a laoa de %erine, onde limp@mos o

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costado da Suerena do #nark, houve alturas em Sue só um denós estava em condiçYes de entrar na @ua e os

DC

trTs brancos Sue trabalhavam na plantação ardiam em 'ebre.)o momento em Sue escrevo estas linhas, estamos perdidos nomar, alures a nordeste de ^sabel, e tentamos em vãodescobrir a ilha de Lord o_e, Sue é um atol imposs>vel deavistar ao lone. " cronometro avariou-se, o dia est@enevoado e V noite não consio observar as estrelas. hovee 'a* vento h@ v@rios dias. ic@mos sem co*inheiro e)akata, Sue tem tentado preencher estas 'unçYes, além dasde rumete, est@ com 'ebre. %artin, acabado de se curar deum ataSue, @ adoeceu de novo. harmian, cuas 'ebres setornaram recorrentes, consulta o calend@rio para calcular adata do pró$imo acesso.

enr pXs-se a consumir Suinino como medida preventiva.Kela minha parte, como os 'ebrYes me assaltam de sopetão,estou sempre V espera de uma reca>da. Kor imprevidTncia,demos as nossas últimas provisYes de 'arinha a uns brancosSue haviam esotado as suas. )ão sabemos Suando veremosterra. As nossas úlceras estão pior do Sue nunca, e maisnumerosas. 3sSuecemo-nos do sublimado corrosivo emKendu''rn e @ ast@mos todo o peró$ido de hidroénioQando a 'a*er e$periTncias com @cido bórico, lisol eanti'loistina. +e SualSuer 'orma, se não chear a ser ummédico 'amoso, não ser@ por 'alta de pr@tica.

K. #. - 3screvi estas últimas linhas h@ duas semanas.5ehei, o único imune até aora, caiu h@ cama h@ de* diascom 'ebres muito mais violentas Sue as nossas e ainda nãose recompXs. Kor v@rias ve*es teve mais de CF raus de'ebre e pulsação de ;;E.

K. #. - )o mar, entre o atol de 5asman e o estreito de%annin." acesso de 5ehe> evoluiu para 'ebre de @ua preta, a 'ormamais auda de mal@ria Sue, seundo o manual de

DE

medicina, é também causada por SualSuer in'ecção cutZnea.+epois de o curar da 'ebre, não sei a Sue mais possorecorrer para o 'a*er sair do estado de demTncia em Sue seencontra. A minha pr@tica de tratar de malucos é bastanterecente e este é o seundo caso de insanidade mental nesta

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curta viaem.

K. #. - 1m dia escrevo um livro (de car@cter médico!chamado? Miaem a volta do mundo no barco-hospital #nark.)em os animais escaparam Vs maleitas. uando *arp@mos dalaoa de %erine trou$emos connosco um terrier irlandTs euma catatua branca. " cão caiu da escada da cabina e maooua pata esSuerda da 'renteQ depois repetiu a manobra emaoou a pata direita de tr@s. eli*mente ainda se podeme$er, saltitando apoiado nas outras duas pernas. A catatuaembateu contra a viia da cabina e tivemos Sue a matar.3sta 'oi a nossa primeira morte... embora as alinhas Suevoaram borda 'ora e se a'oaram nos pudessem dar aoramuito eito como caldos para os convalescentes. #ó não h@mal Sue cheue Vs baratas. rescem a olhos vistos e tornam-se cada ve* mais carn>voras, roendo-nos as unhas das mãos edos pés enSuanto dormimos.

K. #. - harmian est@ com novo acesso de 'ebre. %artin,desesperado, deu em tratar as úlceras com sul'ato de cobree continua a prauear contra as ilhas #alomão.uanto a mim, apesar de continuar a cumprir as minhas'unçYes de naveador, médico e escritor, não me sinto nadabem. 3$ceptuando os casos de loucura, sou Suem est@ pior abordo. 5omarei o pró$imo vapor Sue 'or para a Austr@lia eirei directamente para a sala de operaçYes. 3ntre os meusmales menos raves, cito-vos um, novo e misterioso? desde asemana passada, começaram a

D

inchar-me as mãos, como se so'resse de hidropisia. %al asconsio 'echar, e com dor. Ku$ar por um cabo causa-mepadecimentos intoler@veis e d@-me a mesma sensação deSuando tive 'rieiras raves. ai-me a pele das mãos a umavelocidade assustadora, além de Sue a pele nova nasce durae espessa. " manual de medicina não 'a* re'erTncia a estadoença e ninuém sabe do Sue se trata.

K. #. - 6om, de SualSuer 'orma consertei o cronometro.+epois de andarmos oito dias no mar, com o #nark açoitadopor temporais e chuva, Suase sempre de capa, conseui 'a*eruma observação parcial do #ol ao meio dia. A partir da>calculei a latitude, depois tracei no mapa uma rota para alatitude da ilha de Lord o_e, para chear V ilha e ao seuparalelo ao mesmo tempo. A> veri'iSuei o cronometro peloc@lculo do Znulo hor@rio e descobri Sue se adiantava

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apro$imadamente trTs minutos. omo cada minuto eSuivale aSuin*e milhas, pude calcular o erro total. +epois de v@riasobservaçYes V ilha de Lord o_e, reulei o cronometro echeuei V conclusão de Sue perdia diariamente sete décimosde seundo. "ra acontece Sue, h@ um ano, Suando sa>mos doavai, este mesmo cronometro reistava iual erro de setedécimos de seundo. omo ele se acumulou reularmente todosos dias e como não se alterou, como se prova pelas minhasobservaçYes em Lord o_e, como se e$plica Sue o cronometroacelere de repente e adiante trTs minutosW omo podeacontecer tal coisaW "s relooeiros dirão Sue não époss>velQ mas eu respondo-lhes Sue venham então 'a*erveri'icaçYes nas ilhas #alomão. " meu único dianóstico éSue é do clima. +e SualSuer modo, consertei o cronometro,apesar de não ter tido o mesmo T$ito com os casos deloucura e com as úlceras de %artin.

DI

K. #. - %artin tenta aora tratar-se com alúmen Sueimado eroa praas cada ve* mais acaloradas contra as ilhas#alomão.

K. #. - 3ntre o estreito de %annin e as ilhas Kavuvu.enr apareceu com dores reum@ticas nas costas, @ mudei depele nas mãos de* ve*es e vou na décima primeira, ao passoSue 5ehei anda mais lun@tico Sue nunca e re*a dia e noite,pedindo a morte. Além disso, )akata e eu debatemo-nos de

novo contra a 'ebre. Kara cúmulo do a*ar, ontem V noite)akata teve um começo de into$icação alimentar e tivemos depassar a noite a tratar dele.

D=

K"#N4"

" #nark mede ;],I metros pela linha de @ua e ;,E metrosao todo, com um vau de C,E metros e calado de D,]F metros.3st@ eSuipado com dois mastros e tem buarrona, iba,

estai, vela rande, me*ena e palanSue. A altura dopavimento in'erior ao convés é de ;,=F metro e tem Suatrocompartimentos supostamente estanSues. 1m motor au$iliar deIF cavalos, a asolina, 'orneceu-lhe esporadicamentelocomoção, a um custo apro$imado de DF dólares por milha.1m motor de cinco cavalos accionava as bombas Suando nãoestava avariado e, por duas ve*es, cheou a alimentar oproector. "s acumuladores 'uncionaram Suatro ou cinco

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ve*es ao lono de dois anos. A chalupa de C,D metros 'e*alum serviço, mas avariava-se Suase sempre Sue euprecisava dela.%as o #nark naveava V vela. Ali@s, 'oi só assim Sueconseuimos 'a*er a viaem. +urante dois anos, andou pelomar sem nunca bater contra rocha, reci'e ou banco de areia.)ão tem nenhum lastro interior, a Suilha pesa cincotoneladas, mas o calado 'undo e a amurada muito alta 'a*emdele um barco muito est@vel. uando surpreendido com asvelas aladas por borrascas tropicais, metia loo @ua pelaamurada e pelo convés, mas recusava-se teimosamente aadornar. &overnava-se muito bem e 'a*ia rota

D<

de dia e de noite, sem homem V barra, em brisa lieira evento de través.

om vento Suase em popa e as velas convenientementedes'raldadas, overnava so*inho sem uinar mais de doisSuartosQ e com o vento por tr@s, só e$cepcionalmenteuinava de trTs Suartos (;!.Karte do #nark 'oi constru>da em #ão rancisco. )a manhã emSue ia ser 'undida a sua Suilha de 'erro, deu-se o randetremor de terra. 4nstalou-se a anarSuia total.+epois de um atraso de seis meses sobre a data de entrea,decidi levar o casco para o avai, para terminar a obra.Amarrou-se o motor no 'undo e os di'erentes materiais deconstrução 'icaram no convés. #e 'ic@ssemos V espera do

barco em #ão rancisco, ainda hoe l@ estar>amos. )o 'im decontas, 'abricado por 'ases, o #nark custou-me Suatro ve*esmais do Sue o orçamento previsto.3ste barco nasceu sob maus ausp>cios. oi impedido deseuir viaem em #ão rancisco, recusaram-se a paar osmeus cheSues no avai sob o prete$to de serem 'alsos, e 'uimultado nas ilhas #alomão por Suebra de Suarentena. "sornais não tiveram a coraem de revelar a verdade aosleitores. uando despedi um capitão por incompetTncia,acusaram-me de o ter espancado. 1m ovem abandonou o postode trabalho Sue lhe o'ereci para voltar aos estudos e loo

a imprensa me apelidou de Uol' Larsen (D!, acrescentandoSue toda a eSuipaem abandonara o #nark em conseSTncia dosmeus maus tratos. #e aluém cheou a vias de 'acto a bordoe maltratou o nosso co*inheiro, 'oi um capitão Sue embarcouabusando da nossa boa 'é, tendo eu

)ota ;? +epois do reresso de Jack London V ali'órnia, o#nark 'oi vendido a uma empresa inlesa Sue por laros anos

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o utili*ou para 'a*er comércio na )ova aledónia e nas)ovas ébridas, além de transportar contratados para asplantaçYes (). da 5!.)ota D ?Uol' Larsen era um personaem brutal do romance deJack London Lobo do %ar, publicado em ;<FC (). da 5!.

DIF

de o despedir nas ilhas idi. harmian e eu pratic@vamosbo$e como e$erc>cio '>sico, mas nenhum de nós se maoouseriamente.3ncar@mos a viaem como um per>odo arad@vel das nossasvidas. onstru> o #nark e pauei-o, saldando todas asdespesas. omprometi-me a escrever ]E FFF palavras arelatar o cru*eiro para uma revista Sue me deveria paar omesmo Sue me paava Suando escrevia em casa. 3ssa revista,Sue não se podia Suei$ar de crises 'inanceiras, apressou-se

a anunciar Sue me enviara numa viaem V volta do mundo Vsua custa. omo era uma publicação de sucesso, todos osmeus 'ornecedores triplicaram os seus preços porSuepartiram do princ>pio Sue ela os suportaria sem es'orço.Até nas ilhas mais remotas dos mares do #ul essa ideia seimpXs, de modo Sue sempre tive de desembolsar pela medidarande. Ainda hoe, h@ Suem estea 'irmemente convencido deSue a revista arcou com todos os custos e Sue a viaem merendeu uma 'ortuna.+epois de uma publicidade destas, é di'>cil meter na cabeçados meus compatriotas Sue resolvemos 'a*er este cru*eiro

por simples pra*er.uando desembarSuei na Austr@lia, passei cinco semanas nohospital e cinco meses em hotéis, doente e in'eli*. Amisteriosa doença Sue me a'liia as mãos escapava VcompetTncia dos médicos australianos. )ão 'iurava emnenhum manual de medicina e nunca se vira caso semelhante." inchaço apareceu também nos pés e Vs ve*es dei$ava-meimpotente como uma criança. ouve ocasiYes em Sue as mãosatiniram o dobro do tamanho normal, com sete camadas depele morta a cair ao mesmo tempo. 3 por trTs ve*es asminhas unhas dos pés cresceram desmedidamente em

comprimento e em espessura no espaço de DC horas. Limava-ase passadas outras DC horas voltaram ao mesmo tamanhodescon'orme.

DI;

"s especialistas australianos declararam Sue esta doença,Sue não era de oriem microbiana, devia ser de nature*a

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nervosa. omo o mal persistisse, tive de renunciar Vviaem. A única 'orma de a prosseuir seria 'icar deitadonum beliche porSue, naSuela situação, não poderia aarrarnada com as mãos e não seria capa* de me movimentar assimnum barco peSueno, sueito aos balanços do mar. Além dissopensei Sue, embora mais tarde os barcos e as viaenspudessem ser muitos, o certo é Sue só tinha duas mãos e de*unhas dos pés. Kor outro lado, o meu sistema nervoso sempreo*ara de per'eito eSuil>brio no clima da ali'órnia.+ecidi pois reressar.+esde Sue cheuei, sinto-me completamente restabelecido. 3descobri o Sue se passou comio. 3ncontrei um livro daautoria do tenente-coronel harles 3. Uoodru'', do e$ércitoamericano, chamado 3''ects o' 5ropical Ltbt on Ubite %en.3 encontrei a e$plicação. %ais tarde, avistei-me com ele e'iSuei a saber Sue também padecera do mesmo mal. iruriãomilitar, consultou ;I coleas da mesma especialidade nas

ilipinas. 3stes, como os médicos australianos,con'essaram-se impotentes. 3m resumo, os meus tecidoscutZneos tTm uma 'orte predisposição para se dei$aremdestruir pela lu* dos trópicos. "s raios ultravioletasestavam a dar cabo de mim, da mesma 'orma Sue muitos dosSue 'i*eram e$periTncias com esses raios so'reram de lesYesraves.+e passaem, convém acrescentar Sue esta doença, uma dasSue nos 'orçaram a abandonar o cru*eiro, é conhecida sobtrTs denominaçYes? a doença do homem são, a lepra doeuropeu e a lepra b>blica. Ao contr@rio do Sue se passa com

a lepra verdadeira, nada se sabe sobre este misterioso mal.)enhum médico descobriu como trat@-la, embora tenha havidocasos espontZneos de cura. )ão se sabe como sure,desconhece-se a sua nature*a, e desaparece sem se saber

DID

como. #em recorrer a medicamentos e simplesmente reressadoao saud@vel clima cali'orniano, livrei-me da minha pele corde prata. A única esperança Sue os médicos australianos mederam era a cura espontZnea e 'oi isso Sue aconteceu.

1ma última palavra? a apreciação da viaem. 3mbora me bastedi*er Sue 'oi arad@vel, h@ uma testemunha melhor Sue eu, amulher Sue, do princ>pio ao 'im, 'e* parte do cru*eiro do#nark. )o hospital, Suando disse a harmian Sue eraobriado a reressar V ali'órnia, vi como os seus olhos semarearam de l@rimas. +urante dois dias, esteve para ali aso'rer, com o coração despedaçado, só de pensar Sue teriade interromper a man>'ica viaem.

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&len 3llen, ali'órniaI de Abril de ;<;;.

fff

9)+434 4ntrodução ... ;E44 1ma coisa inconceb>vel e monstruosa ... DI444 Aventura ... CC4M )a boa rota ... ECM A primeira escala ... M4 1m desporto real ... IEM44 "s leprosos de %olokai ... ==M444 A asa do #ol ... ;FC4 5ravessia do Kac>'ico ... ;DF 5pee ... ;]=4 " omem )ature*a ... ;EE

44 " 5rono da #ublime AbundZncia ... ;IF444 A pesca V pedrada em 6ora 6ora ... ;=<4M " naveador amador ... ;<IM ru*eiro nas ilhas #alomão ... D;EM4 4nlTs PbTche de merP ... D]<M44 %édico amador ... DC=Kos'@cio ... D<

A)59&")Aúltimos t>tulos

1ma 4lha na LuaUilliam 6lake

3sopo 3mendado outras @bulas ant@sticasAmbrose 6ierce

%onos ou oisa %elhorMioleta ernando

Aviso aos Alunos do 6@sico e do #ecund@rio0aoul Maneiem

)arração da 4nSuisição de &oaharles +ellott

6rev>ssima 0elação da +estruição de N'rica6artolomé de Las asas

Koemas do %anuscrito Kickerin seuidos d"s KortYes do

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Kara>soUilliam 6lake

Maabundos ru*ando a )oiteJack London

Kela MidaAle$andra +avid-)éel

0ecordando a &uerra 3spanhola&eore "r_ell(reed.!

+iscurso sobre a #ervidão Molunt@ria[tienne de La 6oétie (reed.!

iroshima