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ANAIS
IX JORNADA NESPRO
PECUÁRIA AGRÍCOLA: NOVOS CAMINHOS PARA A PRODUÇÃO
Editores Ana Paula Leães Daniele Zago Eduardo Antunes Dias Gabriel Ribas Pereira Matheus Dhein Dill Júlio Otávio Jardim Barcellos
! 3!
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE AGRONOMIA
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA
NÚCLEO DE ESTUDOS EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE
BOVINOS DE CORTE E CADEIA PRODUTIVA / NESPRO
! 4!
Realização NESPRO / UFRGS – Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva SENAR / RS - Serviço Nacional de Aprendizado Rural SEBRAE - Serviço Brasileireo de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
CIP - CATALOGAÇÃO INTERNACIONAL NA PULBICAÇÃO
CIP!–!Catalogação!na!Publicação!Biblioteca!Setorial!da!Faculdade!de!Agronomia!da!UFRGS!Bibliotecária:!Elisângela!da!S.!Rodrigues!D!CRB10/1457!
J82a JORNADA NESPRO (9. : 2014 : Porto Alegre, RS) Anais!/!IX!Jornada!NESPRO;!editado!por!Ana!Paula!Leães!...![et!al.].!
Porto!Alegre!:!NESPRO/UFRGS,!2014.!
176!!p.!
1.!Pecuária!2.!Bovinocultura!de!corte!3.!Produção!aninal!I.!Título!II.!NESPRO!D!Núcleo!de!Estudos!em!Sistemas!de!Produção!de!Bovinos!de!Corte!e!Cadeia!Produtiva!III.!Leães,!Ana!Paula!(Ed.)!IV.!Zago,!Danielle!(Ed.)!V.!Dias,!Eduardo!Antunes!(Ed.)!VI.!Pereira,!Gabriel!Ribas!(Ed.)!VII.!Dill,!Matheus!Dhein!(Ed.)!VIII.!Barcellos,!Júlio!Otávio!Jardim!(Ed.)!
CDD:!636.2063!
! 6!
Patrocinadores ABHB – Associação Brasileira de Hereford e Braford ALLTECH AZEVEDO BENTO S.A. SEBRAE - FARSUL - SENAR/RS Apoiadores Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Conselho Regional de Medicina Veterinária / RS (CRMV /RS) Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) Fundação de Apoio da Universidade do Rio Grande do Sul (FAURGS) Programa de Pós Graduação em Zootecnia (PPG- Zootecnia / UFRGS) Faculdade Agronomia / UFRGS Pró Reitoria de Pesquisa (Propesq / UFRGS) Pró Reitoria de Extensão (Prorext / UFRGS)
Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPRO) Av. Bento Gonçalves, 7712 - 91540-000 - Porto Alegre - RS - Brasil
Telefone: (51) 3308-6958 - Fax: (51) 3308-6039 E-mail: [email protected]
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Apresentação da IX Jornada NESPRO
O Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e
Cadeia Produtiva (NESPRO) foi criado em 2006 e está institucionalmente
vinculado ao Departamento de Zootecnia da Faculdade de Agronomia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O NESPRO atua no
desenvolvimento e execução de projetos de pesquisa que gerem informações
capazes de auxiliar no desenvolvimento científico e tecnológico da bovinocultura
de corte, bem como em ações de extensão. Anualmente realizamos uma Jornada
científica com o objetivo de apresentar as perspectivas da pecuária brasileira.
Neste ano de 2014, a IX edição da Jornada NESPRO, tem como temática
“PECUÁRIA AGRÍCOLA: NOVOS CAMINHOS PARA A PRODUÇÃO”. O
principal propósito do evento é discutir como a pecuária brasileira e gaúcha
podem utilizar alguns conceitos inerentes à agricultura (eficiência na produção,
gestão de alto desempenho, tecnologia de ponta empregada nos cultivos
agrícolas) no próprio setor, visando torná-lo mais competitivo.
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Atenciosamente,
Prof. Dr. Júlio Otávio Jardim Barcellos Coordenador do NESPRO
Porto Alegre, setembro de 2014. !
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Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPRO) Av. Bento Gonçalves, 7712 - 91540-000 - Porto Alegre - RS - Brasil
Telefone: (51) 3308-6958 - Fax: (51) 3308-6039 E-mail: [email protected]
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SUMÁRIO
Rumos da pecuária de corte do RS e desafios para a pesquisa científica na visão da EMBRAPA - Pecuária Sul. Alexandre Varella ................................................................................................. 10 Para onde vai a pecuária. Valter José Potter ................................................................................................. 29 O horizonte da pecuária Brasileira. Alcides de Moura Torres Junior ........................................................................... 31 Saúde integral na produção de bovinos de corte. Adil Knackfuss Vaz …........................................................................................... 38 Aditivos nutricionais para a pecuária intensiva (pastagens, suplementação e confinamento). Pedro Veiga Paulino ............................................................................................ 45 Intensificação da produção animal em pasto por meio do manejo do pastejo. Sila Carneiro da Silva .......................................................................................... 89 Pecuária de precisão e rastreabilidade. Pedro Paulo Pires .............................................................................................. 113 O consumidor de carnes - o que sabemos sobre ele? Fabiana Farah .................................................................................................... 121 Simulando a escolha da estratégia para o sistema de produção. Vinicius do Nascimento Lampert ........................................................................ 131 Gestão pelo sistema de custos. Ricardo Pedroso Oaigen .................................................................................... 148 Novas estratégias de comercialização de bovinos de corte. Paulo Rodrigo Xavier Pereira ............................................................................. 171
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Rumos da pecuária de corte do RS e desafios para a pesquisa científica na visão da Embrapa Pecuária Sul
Eng. Agr. Alexandre Costa Varella Chefe Geral e Pesquisador da Embrapa Pecuária Sul
Med. Vet. Fernando Flores Cardoso Chefe Adjunto P&D da Embrapa Pecuária Sul!
Projeções do mercado do agronegócio no Brasil e a cadeia da carne neste contexto É senso comum que o Brasil guarda uma posição privilegiada nos cenários
futuros do agronegócio internacional. Em primeiro lugar, pela disponibilidade de
área para a produção de grãos, carnes e outras atividades agropecuárias.
Adicionalmente, as condições climáticas, com insolação e temperatura
adequadas, chuvas regulares na maioria das regiões brasileiras, favorecem a
adaptação e produção de uma diversidade de culturas agrícolas e a criação de
rebanhos. A política agrícola, com crédito de investimento, custeio,
armazenamento e comercialização e juros compatíveis, igualmente dá
sustentação para o desenvolvimento das cadeias produtivas. Outro fator
competitivo favorável é a disponibilidade de tecnologias no campo que aproveitem
melhor o solo, reduzam o uso de agroquímicos, melhorem a eficiência e diminuam
uma parcela importante dos gases de efeito estufa que causam aquecimento
global. Finalmente, o País desfruta de um mercado interno de consumidores em
expansão e amplas possibilidades de comercio exterior para seus produtos
agropecuários e agroindustrializados.
No mercado da carne, as projeções também são de crescimento nos
próximos anos. Segundo estudos do MAPA (BRASIL [b], 2014), a produção total
de carnes deve passar de 26,5 milhões de toneladas em 2013 para 35,8 milhões
em 2023 no Brasil, representando um acréscimo de 34,9%. A produção de carne
bovina deve responder por um crescimento de 22,5% neste período. Esta
projeção é acompanhada de um cenário crescente de consumo per capita,
favorecida pelo aumento da renda interna e pela preferência do brasileiro em
! 11!
consumir a carne bovina. O crescimento projetado para o consumo da carne é de
3,6% ao ano no período 2013 a 2023. Isso significa um aumento de 42,8% no
consumo da carne bovina nos próximos 10 anos. No cenário internacional, a
projeção também indica uma demanda crescente por carne bovina,
especialmente na Rússia, EUA, Japão, Países do Norte da África e Meio Leste
Europeu. Isto deverá transformar-se em oportunidades para a carne bovina
brasileira no mercado de internacional, resultando em uma projeção de
crescimento médio anual de 2,5% ao ano nas exportações brasileiras deste
produto, segundo o MAPA. Neste cenário internacional, o Brasil deverá ocupar a
segunda posição nas exportações mundiais de carne bovina, atrás apenas da
Índia e à frente dos EUA e Austrália. Do aumento de produção de carne até 2023,
75% serão destinados ao mercado interno para dar conta da expansão do
consumo pelos brasileiros. Isso demonstra que mesmo com a ampliação da
demanda internacional, o consumo doméstico será o principal destino da
produção de carne bovina brasileira.
Igualmente, o cenário para a carne do Rio Grande do Sul é promissor. Com
o aumento das exportações e do consumo interno no País, o crescimento da
cadeia de carnes do RS será consistente. A vantagem competitiva da carne
gaúcha em termos de maciez, suculência e sabor, devido a origem genética
europeia dos rebanhos, deverá diminuir em relação à área tropical do Brasil. A
“tropicalização” das raças britânicas de corte e suas sintéticas deverá se ampliar
nos principais Estados produtores tropicais, como MT, MS, GO e SP. Entretanto,
outros diferenciais como a alimentação baseada em pastagens, traduzida em
características organolépticas distintas, os serviços ambientais prestados pelos
sistemas de produção, as certificações nos processos de produção e do produto e
excelência genética deverão garantir nichos de mercados internacionais e
domésticos mais exigentes.
As modificações da ocupação territorial e a pecuária no RS Além das projeções mercadológicas para a carne, é importante também
considerar que a ocupação e o uso do território no Estado do Rio Grande do Sul
com as atividades agropecuárias vêm passando por modificações importantes
nos anos recentes e este fenômeno deve se refletir na cadeia da pecuária de
corte. O reordenamento territorial, desacompanhado de um planejamento e
! 12!
orientação pelo poder público, vêm provocando mudanças na atividade pecuária.
A pecuária de corte do Estado do RS tem sido essencialmente baseada na
pastagem nativa. Entretanto, desde os anos 2000, a área de pastagem nativa no
RS vem diminuindo sensivelmente e perdendo espaço para outras atividades,
como a silvicultura e as lavouras de grãos. Por exemplo, entre 2004 e 2010,
significativos investimentos florestais foram realizados no Estado, com destaque
para a metade sul do RS. Somente neste período, as áreas de florestas plantadas
passaram de 407 para 738 mil ha aproximadamente (ABRAF, 2012; FEPAM,
2014), sendo grande parte desta estabelecida nas regiões Sul, Campanha e
Fronteira Sudoeste do RS, particularmente em áreas originalmente exploradas
com pecuária. Além das florestas, as lavouras de grãos também vêm aumentando
sua ocupação no território gaúcho nos últimos 5 anos de forma significativa,
passando de 7,35 para 8 milhões de há (BRASIL [a], 2014), com destaque para o
crescimento da área de soja na metade sul do Estado (Figura 1).
Figura 1. Rebanhos bovino de corte, leite e ovinos , área plantada com grãos
e com florestas de eucalipto, pinus e acácia no Estado do RS desde 2009
até 2014 . As informações sobre os rebanhos são médias dos dados da
SEAPA/RS1, IBGE e ANUALPEC 2014. Informações das lavouras de grãos
são da CONAB e das florestas plantadas da AGEFLOR1, ABRAF e
SEMA/UFSM1.
Estima-se que grande parte do crescimento florestal (331 mil ha) e de
lavouras temporárias (650 mil ha) no Estado, nos últimos 5 anos, ocorreu as
! 13!
expensas das áreas de campo nativo explorado com pecuária de corte, embora
também se reconheça que a soja tenha ocupado áreas típicas de arroz em terras
baixas e de outras culturas agrícolas anuais no Estado. Para melhor compreender
a situação da ocupação de áreas com culturas agrícolas, florestais e pastagem
nativa no RS atualmente, pode se visualizar a Figura 2 que mostra,
sinteticamente, as áreas remanescentes com campo para pecuária (6,83 milhões
de ha), silvicultura (704 mil ha) e as áreas antropizadas (FEPAM, 2014; BRASIL
[c], 2014), ocupadas com agricultura e áreas urbanas. Somente a soja, ocupa
atualmente 4,89 milhões de ha e o arroz irrigado outros 1,12 milhões de ha
(BRASIL [a], 2014). Apesar disso, neste período, observa-se que o rebanho de
corte gaúcho praticamente manteve-se estável no Estado (Figura 1), bem como a
quantidade de bovinos abatidos (Figura 3). Percebe-se claramente, portanto, que
a pecuária de corte vem perdendo parte de sua base alimentar para as atividades
agrícolas e florestais nos últimos anos, embora tenha conseguido manter sua
população de bovinos e ovinos e a quantidade de abates no Estado. Um fato
significativo é o aumento de áreas de soja em terras baixas que antes eram
aproveitadas com pecuária de corte (terras em pousio), já que a área plantada de
arroz vem se mantendo relativamente estável nos últimos 5 anos. Dados do IRGA
(2014) estimam aproximadamente 302 mil ha de soja em terras baixas no RS.
Das Figuras 1 a 3, conclui-se que a pecuária de corte vem conseguindo manter-
se inalterada, possivelmente pela intensificação das áreas remanescentes com
pastagem nativa e nativa melhorada e com as pastagens de inverno,
estabelecidas nos sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP). 1Comunicação pessoal. Acesso a base de dados.
! 14!
Figura 2. Ocupação territorial com vegetação natural campestre, floresta
nativa, silvicultura e áreas antropizadas urbana e rural no Estado do RS.
Dados obtidos com o MMA e FEPAM. Mapa produzido pela Embrapa.
Figura 3. Quantidade total de bovinos abatidos no Estado do RS entre 1997 e
2013. Fonte: IBGE (Base de dados SIDRA).
Estas modificações de ocupação territorial se refletirão diretamente em
toda a cadeia pecuária, pressionando para uma maior intensificação e eficiência
! 15!
dos sistemas produtivos. Analisando mais especificamente os sistemas de
produção no RS, observa-se uma menor especialização dos sistemas agrícolas
em detrimento da integração com a pecuária. Um desafio importante será como
acomodar os rebanhos em reprodução nas áreas remanescentes, durante o
período de crescimento das culturas agrícolas de verão, sem necessariamente
diminuir a natalidade e a taxa de desmame. A pecuária de cria e recria precisará
passar por um processo de intensificação no Estado do RS, melhorando seus
índices reprodutivos e produtivos para atender a demanda projetada. Por este
motivo, o mercado por terneiros(as) desmamados(as) com padrão genético e
peso será ampliado e os preços deverão continuar se valorizando para esta
categoria. Os riscos de redução de rebanho no território gaúcho não são
desprezíveis e os produtores terão que adotar uma postura mais empreendedora
(como produtores e gestores) para a pecuária, se quiser atender a demanda
prevista, manter a produtividade de seus rebanhos e ainda assegurar o aumento
da rentabilidade.
Portanto, o caminho natural da intensificação da pecuária será o da
integração com a agricultura (em terras baixas e altas) e do ressurgimento do
interesse dos produtores pelas técnicas de melhoramento do campo nativo em
larga escala na propriedade. De fato, a população de bovinos de corte vem se
mantendo praticamente estável no Estado, tendo registrado aproximadamente 12
milhões de cabeças no RS (dados médios IBGE 2012, SEAPA1; ANUALPEC
2014). Esta pecuária passará necessariamente por novos modelos de ILP, onde
se possa abrir espaço para a rotação de culturas agrícolas de verão com sistemas
forrageiros anuais de verão ou por sistemas que permitam rotações mais longas,
usando uma combinação de forrageiras perenes e anuais no sistema. Ainda
assim, será fundamental aportar fortes investimentos nas práticas de
melhoramento do campo nativo e, simultaneamente, ampliar a atuação conjunta
da assistência técnica e da pesquisa na pecuária familiar, responsável por uma
parcela importante dos sistemas de cria no RS.
A tendência de inversão das janelas de oferta de carne será confirmada no
mercado, tendo em vista o melhor desempenho por animal e por área em
pastagens de outono/inverno, particularmente em sucessão com a
soja/milho/arroz, e maior dificuldade nos períodos de verão e início de outono.
Assim, continuará havendo uma escassez estacional de carne no verão
! 16!
(especialmente de janeiro a março), quando se estabelecerá definitivamente o
período de “entressafra” na pecuária. No verão, os animais estarão concentrados
em áreas menores de pastagens, forçando a recuperação de áreas degradas no
campo (invadidas com Capim Annoni ou com problemas de erosão), o uso
estratégico de suplementação (mineral e concentrado), o estabelecimento de
pastagens de anuais verão (sudão, milheto e sorgo forrageiro), a aplicação da
irrigação em pastagens ou o uso de sistemas semiconfinados nas propriedades. A
pecuária de cria deverá migrar cada vez mais para áreas marginais à agricultura
(campos de altitude, solos rasos e arenosos), porém pressionadas pelos limites
do novo código florestal. Deverão surgir também novas estratégias de terminação
em pastagem de verão com suplementação ou irrigação para tirar vantagens dos
maiores preços da nova entressafra em sistemas mais tecnificados. 1Comunicação pessoal. Acesso a base de dados.
Também poderá haver o estabelecimento de nova época reprodutiva no
rebanho de corte, migrando para o final do inverno com nascimentos no outono,
quando haverá a pastagem de inverno nos sistemas ILP e nos campos
melhorados. Haverá uma valorização adicional à genética melhor adaptada aos
novos ambientes de criação, com destaque para a eficiência alimentar em
pastagem e resistência a problemas de sanidade animal (carrapato e tristeza
parasitária bovina). O rebanho gaúcho de corte deverá passar por um processo
mais acelerado de padronização genética com o predomínio de raças britânicas e
suas sintéticas. Essa genética também ocupará maior espaço em propriedades
rurais da área tropical, a partir do melhoramento genético animal para maior
adaptação àquele ambiente e para a resistência ao carrapato. Este fato deverá
fortalecer o comércio de reprodutores e matrizes com o diferencial genético da
pecuária do RS.
A valorização dos protocolos de certificação e a identificação animal é uma
tendência forte para os sistemas pecuários, considerando as exigências cada vez
maiores do mercado por segurança dos alimentos. Será também valorizado o
rastreamento da informação dentro e fora da propriedade, o protocolo de boas
práticas em bovinocultura de corte, as características qualitativas e sensoriais da
carne a pasto, a segurança do alimento e os serviços ambientais prestados.
Neste sentido, a carne gaúcha poderá explorar importantes nichos de mercado
internacional e mercados domésticos sofisticados, com a valorização comercial do
! 17!
produto. Ganhará força as organizações dos produtores em associações e
cooperativas e o estabelecimento de alianças mercadológicas com indústrias, o
varejo e o atacado, eliminando o intermediário do processo. Com a padronização
dos sistemas produtivos e a adoção das boas práticas em todas as etapas de
produção da carne, o mercado do couro e da pele tenderá a crescer, oferecendo
rentabilidade adicional aos produtores.
Organização de demandas e estratégia de atuação das instituições de C&T Todas estas projeções produzirão uma grande demanda por tecnologias e
um cenário favorável para a pesquisa científica e desenvolvimento (P&D) e a
transferência de tecnologias (TT). As instituições de C&T deverão trabalhar
intensamente para atender os passivos, as demandas presentes, além de se
mostrarem capazes de antever cenários de riscos para a pecuária e se preparar
com soluções rápidas. Com essa premissa, a Embrapa Pecuária Sul vem,
estrategicamente, monitorando e debatendo os principais cenários e
necessidades da cadeia produtiva da carne nos campos sulbrasileiros e adotando
o devido alinhamento em sua programação de P&D e TT.
Uma iniciativa recente foi o levantamento de informações para a
atualização da agenda estratégica da Unidade. Elaborou-se um questionário on-
line com 54 perguntas, visando identificar as tendências do setor agropecuário na
Região Sul do Brasil e as principais oportunidades e ameaças para o
cumprimento da missão da Embrapa Pecuária Sul. Esse questionário foi enviado
para 124 informantes estratégicos, envolvendo parceiros, clientes e
colaboradores. As questões foram classificadas pelos avaliadores quanto a sua
percepção de relevância (impacto) para nortear a atuação da Embrapa Pecuária
Sul de acordo com a seguinte escala:
• 1 (não é uma tendência/baixíssimo impacto); 2 (baixo impacto); 3 (médio
impacto); 4 (alto impacto) e 5 (altíssimo impacto).
Além disso, os informantes também classificaram a urgência que a
Embrapa Pecuária Sul deveria direcionar seus esforços na capitalização de
oportunidades e/ou neutralização de ameaças relacionadas ao item, também de
acordo com a seguinte escala:
• 1 (não se aplica/baixíssima urgência); 2 (baixa urgência); 3 (média
urgência); 4 (alta urgência) e 5 (altíssima urgência).
! 18!
Inicialmente foi obtida a média aritmética das respostas de todos os
avaliadores para cada pergunta, quanto ao impacto/relevância e urgência e esses
valores apresentados em gráfico de dispersão no qual o eixo das abcissas
representa o impacto e das ordenadas a relevância da questão, conforme a
Figura 4.
Figura 4. Média aritmética do impacto e da urgência das questões
avaliadas (1-53) pela Embrapa Pecuária Sul em 2013.
Da Figura 4, destaca-se o resultado sistematizado com as questões
consideradas de ALTA IMPACTO E ALTA URGÊNCIA para a cadeia produtiva da
carne (Tabela 1).
I"
M"
P"
A"
C"
T"
O"
! 19!
Tabela 1. Questões com ALTO IMPACTO e ALTA URGÊNCIA para a pecuária do
RS, segundo levantamento estratégico da Embrapa Pecuária Sul. Questão Impacto Urgência
[8] Incentivo ao desenvolvimento e adoção de novas tecnologias,
práticas e processos agropecuários para mitigar efeitos da
estiagem e aumento de demanda por tecnologias para uso
eficiente da água
4,47 4,42
[2] Avanço dos sistemas de produção agrícolas, florestais e
agroenergéticos sobre áreas de pecuária nos Campos Sul-
Brasileiros
4,4 4,13
[10] Aumento da necessidade de assistência técnica capacitada
para implementar os avanços tecnológicos no campo
4,37 4,15
[35] Maior colaboração da Embrapa Pecuária Sul na formulação de
políticas públicas regionais e nacionais no âmbito da pecuária
4,27 4,29
[12] Ampliação da interação das instituições de pesquisa,
desenvolvimento e inovação com as cadeias produtivas
4,27 4,19
[5] Aumento de produtividade e da eficiência dos sistemas
agropecuários, com verticalização da produção
4,26 4,05
[27] Aumento do impacto de barreiras sanitárias no comércio de
produtos cárneos e lácteos
4,26 4
[11] Ampliação de ações de transferência de tecnologia e
capacitação técnica de multiplicadores
4,24 4,03
[28] Controle restritivo quanto à presença de resíduos químicos na agroindústria de produtos cárneos e lácteos
4,18 4,05
[53] Organização, sistematização e disponibilização de dados
referentes aos sistemas de produção e produtos gerados pelas
cadeias produtivas de bovinos de corte e leite e ovinos
4,16 4,15
[42] Redução da informalidade no abate de bovinos e ovinos no
RS
4,15 4,1
[44] Melhoria da percepção da qualidade de produtos (carne e
leite) pelos consumidores nacionais e internacionais
4,1 4
[4] Maior integração dos sistemas produtivos envolvendo
pecuária, lavoura e, em menor escala, florestas no Sul do Brasil
4,1 3,98
Outro importante levantamento realizado foi durante o “Programa Sala de
Antecipação” do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA),
realizado com as instituições de C&T, assistência técnica e extensão rural e
! 20!
lideranças rurais. Neste levantamento, foram listas as seguintes avaliações sobre
a pecuária de corte do RS:
! Ampla variabilidade de raças e tipo animal;
! Baixo número de técnicos qualificados para pecuária;
! Baixo uso de genética superior e adequação do genótipo ao ambiente;
! Baixa eficiência na utilização dos recursos naturais disponíveis para
alimentação dos rebanhos;
! Falta de planejamento e gestão da água para os rebanhos (armazenamento,
uso e controle qualidade) e dos alimentos ofertados aos animais;
! Controle sanitário deficiente;
! Idade de abate elevada e baixo desfrute;
! Alta variabilidade dos padrões das carcaças;
! Baixo padrão sanitário do produto;
! Manejo inadequado das pastagens.
Deste levantamento, surgiram demandas para a P&D e a TT:
! Ferramentas de manejo de pastagens (nativa e cultivada);
! Práticas para recuperação de pastagens degradadas;
! Eficiência reprodutiva;
! Ampliar a utilização de estratégias de controle sanitário;Planejamento
forrageiro;
! Preservação de mananciais. Adequação da pecuária ao código florestal;
! Intensificação dos sistemas de cria, recria e terminação;
! Difusão de práticas de manejo para redução de pressão de seleção para
resistência aos antihelmínticos.
Além disso, a Embrapa possui um Comitê Assessor Externo, composto por
lideranças do setor rural e por profissionais das áreas de P&D e TT de outras
instituições e que monitoram, discutem e orientam a agenda estratégia da
Unidade. Em sua última reunião executiva, o CAE Embrapa Pecuária Sul,
destacou as seguintes demandas tecnológicas para a agenda da Embrapa na
cadeia pecuária de corte:
! Manejo do solo na perspectiva da integração lavoura e pecuária;
! Uso eficiente da água nos sistemas pecuários;
! 21!
! Enfrentamento do capim annoni;
! Controle de ecto e endo parasitas;
! Cultivares e sementes forrageiras adequadas para integração e
intensificação dos sistemas pecuários;
! Melhoramento genético animal.
A importância da Embrapa, contribuindo para a elaboração de políticas
públicas e o reforço às ações da extensão rural e da assistência técnica, por meio
de dinâmicas de capacitação de técnicos e de redes de referências, também
foram elencadas pelo CAE CPPSUL como ações importantes a serem priorizadas
pela Unidade. As. Além disso, as tendências de pressão da sociedade sobre a
agricultura e a pecuária deveriam ser melhor captados em resultados de
pesquisas para que contribuam com a consolidação de indicadores que permitam
a valorização da diferenciação da pecuária do sul do País (aspectos da
multifuncionalidade, do bem-estar animal e dos gases de efeito estufa, como
alguns exemplos de desafios).
Finalmente, citam-se as demandas e desafios levantados pela Câmara
Setorial da Carne do Estado do RS (SEAPA1), realizada com a participação da
Embrapa, outras instituições técnico-científicas e representantes de toda a cadeia
pecuária do RS. Basicamente, este trabalho sugere um esforço concentrado em
três eixos principais: aumentar a eficiência produtiva; fortalecer o sistema e as
condições de sanidade animal; promover o mercado da carne com diferenciações
de produto. Entre as estratégias de ação, foram feitas as seguintes
recomendações:
• Políticas públicas para ATER e ampliação da consultoria privada
especializada;
• Formação, capacitação e alinhamento dos agentes de transferência de
tecnologias;
• Aplicação de tecnologias sustentáveis e sistemas de gestão nas
propriedades;
• Apoio às organizações de produtores e alianças;
• Promover o bom uso dos recursos naturais (campo) disponíveis para
melhoria da nutrição do rebanho gaúcho;
• Organização da base produtiva para promoção tecnológica e comercial;
! 22!
• Desenvolvimento de conhecimento adequado aos sistemas de produção
potencialidades;
• Desenvolver um selo comum para a carne gaúcha com foco nas exigências
de sanidade, rastreabilidade, boas práticas agropecuárias (BPA) e escala
(constância);
• Promoção comercial da carne (prospecção, cenários, perfil de demanda,
capacidade de oferta);
• Rastreabilidade ou identificação animal;
• Benchmarketing (referências);
• Governança da cadeia produtiva da carne por instituto representativo;
• Padronização e classificação da carne em todo o território gaúcho;
• Escala e constância de produção;
• Fortalecimento do serviço veterinário oficial.
Considerando riscos futuros mais relevantes para a cadeia pecuária, os
levantamentos realizados também apontaram como possíveis os seguintes
cenários e os correspondentes desafios para a pesquisa científica:
• Ampliação excessiva das áreas de agricultura no Estado. Como manter a
atividade pecuária nestes cenários. Quais os modelos de intensificação
mais sustentáveis?
• Reversão do quadro de expansão da agricultura no RS, tendo em vista o
aumento da frequência das estiagens, crise de mercado e preços para os
grãos, ocorrência de pragas ou moléstias de grande impacto ou elevação
exacerbada de custos na lavoura. Como estar preparado para a retomada
das áreas de agricultura pela pecuária? Quais os modelos mais
sustentáveis?
• Expansão descontrolada da invasão do Capim Annoni nas remanescentes
áreas de pastagem nativa do RS. Quais as soluções emergenciais? Como
prevenir a infestação em áreas ainda não atingidas? Qual o manejo
integrado mais eficiente para seu controle? 1Comunicação pessoal. Acesso a
base de dados.
• Excessiva intensificação da pecuária de corte, com predomínio de sistemas
altamente dependentes de insumos e recursos externos. Quais as técnicas
sustentáveis de redução desta dependência? Como reintroduzir espécies
! 23!
forrageiras nativas de qualidade nos sistemas e recuperar áreas
degradadas?
• Perda de nichos de mercado para a carne gaúcha, com a tropicalização
das raças britânicas e suas sintéticas e a produtividade dos sistemas
tropicais. Como garantir qualidade, diferenciação e valorização da carne
gaúcha a longo prazo?
• Ocorrência repentina de problemas sanitários capazes de restringir
mercados e aumentar mortalidade nos rebanhos? Como as instituições
precisam estar preparadas e acordadas para os casos emergenciais?
Como apoiar ações de prevenção e de defesa sanitária? Como adaptar a
genética às ameaças mais prováveis?
• Baixa capacitação, motivação técnica e gerencial disponível para
administrar sistemas pecuários mais complexos (ILPF) e para orientar
decisões estratégicas em propriedades rurais. Como padronizar o perfil
técnico e gerencial dos produtores pecuaristas no RS e prepara-los para
conduzir negócios compatíveis com uma pecuária moderna e competitiva?
Mapa de oportunidades para a pesquisa em pecuária de corte. É possível um alinhamento e uma pactuação entre as instituições para atender os desafios?
Com base na análise dos cenários interno e externo e a organização das
demandas registradas pela cadeia produtiva da pecuária de corte, a Embrapa
Pecuária Sul se desafiou a desenhar um mapa de oportunidades para a pesquisa,
desenvolvimento e transferência de tecnologias. Este mapa estratégico foi
construído, de forma coletiva, com a equipe técnica da Embrapa Pecuária Sul, a
partir dos levantamentos realizados com a cadeia produtiva, contemplando ações
de curto e médio prazo, onde o foco central é o aumento da competitividade da
pecuária no sul do Brasil.
A equipe técnica da Unidade definiu uma pecuária competitiva como
aquela que, além de “produzir de maneira eficiente no curto prazo, conserva os
recursos naturais e culturais, promove a valoração da imagem de seus produtos,
mantém sua capacidade de oferecer serviços ambientais, apresenta uma
qualidade de produto diferenciada, reconhecida e sem resíduos e apresenta uma
organização da cadeia que seja capaz de inovar e garantir a durabilidade da
! 24!
atividade para as gerações futuras”. A Figura 5 sumariza o Mapa de Oportunidades para as instituições de C&T e TT que trabalham com a pecuária
dos campos sulbrasileiros:
Figura 5. Mapa estratégico de oportunidades para a P&D e TT em pecuária
dos campos sulbrasileiros.
Na Figura 5, são observados cinco principais direcionadores que foram
identificados com a competitividade da pecuária:
1. Eficiência produtiva e econômica: O objetivo principal é promover/desenvolver
práticas e/ou processos que visem o aumento sustentável da eficiência
produtiva e econômica da pecuária dos Campos Sul-Brasileiros, através de
ações direcionadas a regularização da produção, garantia da segurança
alimentar/sanidade animal, melhor gestão da produção, fomento a sistemas
integrados (ILPF), maior intensificação com sustentabilidade, eficiência
reprodutiva, melhoramento genético animal e de forrageiras;
2. Conservação e Recuperação de Campos: Desenvolver práticas e/ou
processos que promovam o uso e o manejo racional dos recursos naturais,
focado nas características edafoclimáticas e adaptativas dos Campos Sul-
Brasileiros. Para tanto, a Unidade deve priorizar esforços em ações de
conservação e uso racional do solo e de água, valorização dos serviços
ecossistêmicos exercidos pela pecuária e controle de invasoras nas
pastagens, particularmente do Capim Annoni;
! 25!
3. Processos para Valoração de Produtos: Identificar e/ou promover
processos/práticas que diferenciem e/ou qualifiquem os produtos da cadeia
pecuária do Sul do Brasil. Neste eixo, as ações devem ser direcionadas para
protocolos de valorização dos produtos, boas práticas na pecuária, redução na
emissão e aumento de sequestro de carbono, ampliação de mercados para
produtos diferenciados, rastreabilidade da produção e do produto, qualidade,
inovação no processamento e aproveitamento da carne e leite e bem-estar
animal;
4. Mitigação dos Efeitos da Estiagem: Desenvolver práticas, processos e/ou
tecnologias para o uso eficiente dos recursos hídricos e forrageiros, mantendo
a produtividade em períodos de estiagem. Trata-se de direcionar ações para o
desenvolvimento de sistemas irrigados em pecuária, de cultivares forrageiras
tolerantes ao estresse hídrico e o correto planejamento forrageiro, com ênfase
nos períodos de escassez alimentar;
5. Sistema de Informações: Conhecer a distribuição e organizar informações da
cadeia pecuária de corte, avaliar a sustentabilidade dos sistemas, promover
ações para adoção de tecnologias pelo setor produtivo e melhorar a imagem
da atividade junto ao consumidor. Significa dirigir ações prioritárias da
Embrapa Pecuária Sul e seus parceiros para o zoneamento de forrageiras no
sul do Brasil, desenvolver indicadores de sustentabilidade para agregação de
valor aos produtos, monitoramento dos aspectos socioculturais dos
pecuaristas, marketing e promoção da carne e do leite do sul do Brasil e
transferência das tecnologias desenvolvidas para a cadeia pecuária.
Em relação ao Mapa de Oportunidades, a Embrapa Pecuária Sul vem
realizando o alinhamento de suas ações e atividades com os eixos definidos. A
Figura 6 mostra, por exemplo, que 44% das atividades atuais estão concentradas
no eixo “Eficiência Produtiva e Econômica”, 25% com “Sistema de Informações”,
17% com “Processos de Valoração de Produtos”, 12% com “Conservação e
recuperação de Campos” e apenas 2% no eixo “Mitigação dos Efeitos da
estiagem”. Os direcionadores “Melhoramento Genético animal e Vegetal”,
“Transferência de Tecnologias” e “Sanidade Animal/Segurança do Alimento” são
os mais frequentes em projetos/ações/atividades liderados pela Unidade da
Embrapa. É importante ressaltar que alguns projetos/ações podem atender mais
de um eixo, mas, para esta quantificação, foi escolhido o eixo predominante em
! 26!
execução. Observa-se, ainda, que alguns direcionadores não estão sendo
contemplados na atual programação da Embrapa. A partir desta análise do Mapa,
a gestão de P&D e TT da Unidade é ajustada anualmente e os direcionadores
mais urgentes e impactantes são priorizados com a equipe técnica da Embrapa e
parceiros estratégicos.
Figura 6. Alinhamento das atividades de P&D e TT da Embrapa Pecuária Sul
com o Mapa Estratégico de Oportunidades. Dados de agosto de 2014.
A pecuária do RS passa por um momento de ajustes frente a novas
realidades de ocupação territorial, de mercado, de exigência dos consumidores e
da sociedade em geral. Os desafios são enormes e precisam de um trabalho
minimamente sincronizado e alinhado entre as instituições de C&T, assistência
técnica (pública e privada) e extensão rural. Há desafios decorrentes de passivos
não atendidos, de demandas presentes e outras de preparação para riscos
futuros na cadeia pecuária de corte. Nenhuma instituição poderá sozinha fazer
frente aos desafios estabelecidos. É preciso que as instituições e a cadeia
produtiva pactuem uma agenda estratégica de curto e médio prazo para promover
a competitividade da pecuária gaúcha e priorizar seus esforços nesta direção. O
Mapa de Oportunidades apresentado pretende ser uma proposta inicial para este
debate. Com isso, as instituições poderiam priorizar suas ações e projetos,
evitando a repetição de esforços, o sombreamento de atividades e priorizando
! 27!
seus recursos financeiros e humanos para a solução dos problemas de forma
mais ágil e eficaz. Como as instituições possuem naturezas, objetivos e
estratégias de trabalho distintos, cada uma estabelece sua agenda e prioridades
independentemente da outra. Percebem-se eventualmente cooperações e
colaborações em projetos técnicos e científicos pontuais, mas raramente uma
sincronização de agendas estratégicas de trabalho no tempo. Iniciativas como a
IX Jornada do NESPRO são essenciais para provocar este debate e desafiar as
instituições e a cadeia produtiva da carne para a construção desta agenda
coordenada, realmente capaz de garantir a competitividade da pecuária gaúcha
de forma sustentável.
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PRODUTORES DE FLORESTAS PLANTADAS
(ABRAF). Anuário Estatístico da ABRAF: Ano Base 2012. Brasília, 2013. 148p.
ANUALPEC. 2014. Anuário da Pecuária Brasileira. Informa Economics FNP.
BRASIL(a). Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). Séries históricas.
[Brasília, 2014]. Disponível em
http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1252&t=2. Acessado em julho de
2014.
BRASIL(b). Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Projeções do Agronegócio: Brasil 2012/2013 a 2022/202. [Brasília, 2014]
Disponível em http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/projecoes%20-
%20versao%20atualizada.pdf. Assessoria de Gestão Estratégica. – Brasília :
Mapa/ACS, 2013. 96 p.
BRASIL(c). Ministério do Meio Ambiente (MMA). Biomas: Pampa. [Brasília,
2014]. Disponível em http://www.mma.gov.br/biomas/pampa/mapa-de-cobertura-
vegetal. Acessado em julho de 2014.
Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler (FEPAM).
Sistema de Silvicultura- Arquivos Digitais. [Porto Alegre, 2014]. Disponível em
http://www.fepam.rs.gov.br/integrador_silvicultura/SIS_Logon.asp.
Acessadhttp://www.fepam.rs.gov.br/integrador_silvicultura/SIS_Logon.asp.
Acessado em julho 2014.
! 28!
IBGE. Sistema IBGE de Recuperação Automática. Banco de Dados Agregados.
Estabelecimentos na agropecuária: unidades Brasil: 2006. [Rio de Janeiro,
2014]. Disponível em:
<http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/pecua/default.asp?z=t&o=24&i=P>. Acesso em:
26 jul. 2014.
IBGE. Pesquisa Pecuária Municipal 2013. [Rio de Janeiro, 2014]. Disponível em
http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/acervo/acervo9.asp?e=c&p=PP&z=t&o=24.
Acessado em 26 julho de 2014.
INSTUTO RIO GRANDENSE DO ARROZ (IRGA). Safra 2012/13- Soja na Várzea. Porto Alegre, [2013]. Disponível em:
http://www.irga.rs.gov.br/upload/20140326151503soja_area_efetiva_safra_13_14.
pdf. Acesso em: 26 julho. 2014.
! 29!
Para onde vai a pecuária
Med. Vet. Valter José Pötter Proprietário da Estância Guatambu!
A pecuária, como qualquer atividade de mercado, passa constantemente
por transformações que, invariavelmente, acabam por determinar os rumos do
negócio do pecuarista. Essas transformações surgem por influências de ordem
externa, tais quais as mercadológicas, como cotação de mercado do boi, como
legais - exigências trabalhistas, tributárias e fiscais. No aspecto da “porteira para
dentro” do campo, influência de escassez de mão de obra, falta de equipe
qualificada, necessidade de preservação do meio ambiente, além de outras. Tudo
isso faz com que a pecuária, além de dinâmica e, não esquecendo que
precisamos observar a lucratividade de nossa atividade, passe por constantes
transformações.
Inquestionavelmente, o que determinará cada vez mais o rumo dos
negócios, e a pecuária de corte não escapa dessa premissa, conforme já referido,
é a própria sociedade, através de seus fatais e determinantes mandamentos. E, a
respeito desses mandamentos, elenco dois de fundamental influência na
pecuária: a economicidade das atividades e as leis de mercado livre.
Atualmente, qualquer empreendimento já passou ou irá passar por este
filtro da realidade dos negócios e será obrigado a se conduzir ao que o mercado
paga e remunera. Esta realidade nos conduz às macrotendências da pecuária de
corte:
- Abrir espaço cada vez maior das terras férteis e agricultáveis para a
agricultura;
- Produzir um produto mais apreciado pelo consumidor que é a carne tenra
de animais jovens oriunda de raças especializadas como carne de qualidade
- Intensificar, encurtando o ciclo de produção na cria – recria – engorde
- Produto fairtrade - Produzir com responsabilidade social, com cuidados
de preservação ambiental, bem estar animal e respeito às leis trabalhistas e
relações sociais.
Estas tendências resultam em sistemas de produção no campo cada vez
mais intensificados com a adoção de tecnologias como pastagens melhoradas,
adubação, irrigação, incorporação de espécies forrageiras mais produtivas,
! 30!
roçadas e melhor manejo do campo nativo, suplementação com grãos e
subprodutos da agricultura, confinamento estratégico, manejos mais intensivos de
desmame e de reprodução, seleção genética mais técnica e objetiva, ponto de
abate ideal com raças mais valorizadas pelos frigoríficos e também adoção de
práticas administrativas empresariais nas decisões pecuárias. Isto tudo leva ao
surgimento de novos atores no cenário, novos métodos de produção, que é a
pecuária com reprodução ao um ano de idade das fêmeas, altos níveis
reprodutivos e abate com carcaça bem acabada acima de 220kg, mas com idade
mais jovem possível, e o espaço de campo disponível cada vez mais reduzido.
Esta é a tendência atual da pecuária de corte no Rio Grande do Sul e no
Brasil. Não vislumbro alternativa lucrativa ao produtor que deixar de se enquadrar
nesses padrões, atendendo à demanda atual de produtos que o mercado exige. É
um grande desafio, e o profissionalismo e competência com que conduzimos a
atividade de nossa categoria está sendo posto “à prova”. Vejamos no que irá
resultar.
! 31!
O horizonte da pecuária brasileira
Eng. Agr. Alcides de Moura Torres Junior
Diretor da Scot Consultoria
Med. Vet. Hyberville Paulo D`Athayde Msc em Administração de Organizações
Introdução A pecuária brasileira cresceu e está crescendo. A expansão do rebanho
tem atendido o aumento do consumo doméstico de carne bovina e as
exportações. Esse desenvolvimento foi possível através do aumento da eficiência
no uso das pastagens, da terminação em confinamento, do melhoramento
genético e dos cruzamentos, entre outros fatores.
Entre 2008 e 2013 as vendas de sêmen de raças de corte passaram de 3,7
milhões para 7,7 milhões de doses. Dobraram em cinco anos, e há potencial para
crescimento maior.
No comércio externo, vendemos US$6,66 bilhões em carne bovina em
2013, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior (MDIC), aumento de 15,4%, na comparação com 2012, cujo resultado
fora de US$5,77 bilhões. Em 2014 os preços do boi gordo e da reposição
subiram mais que os custos de produção, quando comparados com 2013.
Crescimento da pecuária Desde 1974, quando começa a série histórica do rebanho bovino do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até os últimos dados
disponíveis, que são de 2012, o efetivo cresceu 128,4%, passando de 92,5
milhões para 211,3 milhões de cabeças.
A região Norte teve o maior incremento. No início da série detinha 2,2
milhões de bovinos, o que equivalia a 2,4% do rebanho nacional. Em 2012 a
participação aumentou para 20,7%. A figura 1 mostra a evolução dos rebanhos
bovinos por região.
Figura 1 – Evolução do rebanho bovino por região, em milhões de
cabeças.
! 32!
Fonte: IBGE (2013)
Houve forte crescimento da pecuária nas regiões Norte e Centro-Oeste.
Entre 2002 e 2012 o rebanho nessas regiões cresceu 44,0% e 10,4%,
respectivamente. No Nordeste o aumento também foi expressivo, de 18,2%.
Regiões cuja colonização e pecuária são mais antigas apresentaram
estabilidade ou crescimento sutil. No Sul a variação foi de 0,3% e na região
Sudeste o rebanho aumentou 3,4%.
Dois aspectos são fundamentais no perfil de crescimento dos rebanhos
brasileiros. Nas regiões onde a pecuária é mais recente, ocorreu o aumento das
áreas de pastagens nas últimas décadas, o que propiciou o abrigo de uma maior
quantidade de bovinos. Recentemente, as pressões ambientais têm limitado, para
não dizer vetado, a expansão horizontal da agropecuária.
No caso das regiões com terras mais valorizadas, com aptidão para
agricultura, a pecuária tem um maior custo de oportunidade.
O custo de oportunidade não é um custo contábil e não há desembolso.
Ele é um conceito relacionado à estratégia da empresa. Se uma fazenda explora
a pecuária, mas tem aptidão para o plantio de soja e milho, por exemplo, existe a
possibilidade de alteração do uso da terra. É o chamado custo de oportunidade. É
a escolha não feita, o que poderia ser aferido com outra atividade.
Ou seja, em regiões de terras cujo preço é alto, é maior a probabilidade de
o pecuarista mudar para uma atividade mais rentável ou vender a fazenda, que
gera relativamente pouca renda, frente ao capital imobilizado (rentabilidade).
! 33!
Exportações O Brasil assumiu a liderança do comércio global de carne bovina com a
ocorrência da doença da vaca louca (Encefalopatia Espongiforme Bovina) nos
Estados Unidos, no final de 2003.
Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos
(USDA), entre 2003 e 2004 os embarques de carne bovina norte-americana
caíram 81,7%, enquanto as exportações brasileiras cresceram 38,6%. De acordo
com o USDA, desde 2004 o Brasil tem se mantido no topo do comércio
internacional de carne bovina, exceto por 2011, quando a Austrália superou em
5,2% o volume brasileiro (Figura 2).
Figura 2 – Evolução da participação dos principais exportadores no
comércio mundial de carne bovina.
Fonte: USDA (2014)
A Índia tem despontado como um dos principais vendedores de carne
bovina no mercado global. Cabe destacar que os dados do USDA consideram
carne de búfalo, importante componente da carne exportada pela Índia. A Índia é
um concorrente forte, mas que tem muito a evoluir em relação à sanidade e
organização da cadeia. É uma fornecedora de mercados menos exigentes, parte
deles também atendidos pelo Brasil.
! 34!
Por falar em sanidade, a pecuária brasileira tem registrado avanços. Em
maio a região Nordeste e áreas do Pará foram reconhecidos como livres de febre
aftosa com vacinação pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), mais um
passo em direção à abertura dos mercados que limitam as compras devido à
febre aftosa, como Japão, Estados Unidos e Coreia do Sul, por exemplo.
Mercado
Apesar do viés de aumento de investimentos na pecuária e intensificação,
em momentos desfavoráveis, o pecuarista pisa no freio e diminui os
investimentos. Faz isso porque nas fases de preços baixos do ciclo pecuário, a
atividade remunera menos pois a produção é vendida a preços pouco atraentes.
O desinvestimento pode ser de diferentes maneiras, tais como: redução do
uso de insumos na nutrição, sanidade ou reforma de pastagens, por exemplo.
Outra forma de desinvestir é a venda dos meios de produção, as matrizes. No
entanto, quando os pecuaristas, em geral, aumentam o descarte de matrizes,
ocorre aumento da oferta de carne e pressão sobre as cotações, tanto do boi
gordo, como do bezerro. Ou seja, a fase de baixa se intensifica.
Após um período de preços em baixa e abates de fêmeas em alta, a vacada
começa a fazer falta na produção de bezerros, que cai. A lei da oferta e demanda
é simples e não perdoa, então os preços sobem.
A fase de alta estimula os pecuaristas, que voltam a reter fêmeas, o que
retrai a oferta de carne e intensifica as altas. Esta movimentação cíclica de oferta
e, consequentemente, de preços, é o que se denomina de ciclo pecuário (Figura
3).
! 35!
Figura 3 – Evolução dos preços do boi gordo, em R$/@,
deflacionados pelo IGP-DI (eixo da esquerda), e da participação de
fêmeas nos abates (eixo da direita).
Fonte: IBGE (2014) / Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br
(2014)
Observe que a linha, representando a participação de fêmeas no abate de
bovinos, tem comportamento oposto ao observado para os preços médios anuais
do boi gordo em São Paulo e no Rio Grande do Sul, tomando a região de Pelotas
como referência.
Entre 2006 e 2010, com os preços da reposição e do boi gordo em alta, o
pecuarista reteve fêmeas, o que manteve o mercado enxuto e com preços firmes.
A fase de alta foi até 2011, quando as crias da vacada que vinha sendo retida
apareceram. Em 2012 o mercado cedeu e esperava-se mais pressão de baixa em
2013. No entanto, as cotações surpreenderam e subiram, mais expressivamente
no segundo semestre.
Este ano começou com o mercado firme. Na comparação dos primeiros
semestres de 2013 e 2014, houve valorizações de 14,3% em São Paulo e de
18,0% na região de Pelotas-RS. Estas variações já consideram preços
deflacionados pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna). A
oferta de boiadas tem sentido o aumento do abate de fêmeas ocorrido a partir de
2010.
! 36!
A expectativa do mercado é que a oferta diminua nos próximos anos, fator
positivo para os preços. A grande questão fica por conta da demanda, que tem
sentido os efeitos do aumento de preços do boi gordo e da carne.
No mercado varejista as margens estão mais estreitas em 2014, o que
demonstra diminuição do potencial de consumo, frente aos preços mais altos. As
expectativas de baixo crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e inflação
próxima à banda superior da meta corroboram com a preocupação.
Considerações finais O custo de oportunidade tem empurrado a pecuária rumo a terras mais
baratas e as questões ambientais têm limitado fortemente a abertura de novas
áreas.
A manutenção da produção e até o seu crescimento, apesar da diminuição
da área destinada à pecuária tem sido conseguida com a intensificação do uso de
tecnologias, incluindo a terminação em confinamento. Segundo estimativas da
Scot Consultoria, baseada em números da Associação Nacional dos
Confinadores (ASSOCON), o rebanho confinado em 2013 foi de 3,82 milhões de
cabeças, o que equivale a 1,8% do rebanho brasileiro. Entre 2013 e 2030 projeta-
se aumento de 73,9% na quantidade de cabeças confinadas, com redução de
12,9% na área de pastagem.
A saída, econômica, ambiental e social (sustentável) para a pecuária é a
intensificação, sob todos os aspectos; do uso de insumos, gestão,
comercialização e planejamento estratégico.
Sob a ótica do mercado, as expectativas para o curto prazo são positivas,
com preços firmes para os animais terminados e de reposição, devido ao rebanho
menor. O consumo merece atenção.
De toda forma, uma propriedade bem ajustada, técnica e gerencialmente,
tende a passar melhor pelos diversos momentos do mercado, seja de alta ou
baixa.
! 37!
Referências
DEPARTAMENTO DE AGRICULTURA DOS ESTADOS UNIDOS – USDA.
Disponível em: <www.usda.gov>. Acesso em agosto de 2014.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Disponível
em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em agosto de 2014.
MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR
– MDIC. Exportações e importações brasileiras. Disponível em:
<www.aliceweb.desenvolvimento.gov.br>. Acesso em agosto de 2014.
SCOT CONSULTORIA. Banco de dados da empresa. Web site:
www.scotconsultoria.com.br
WORLD ORGANIZATION FOR ANIMAL HEALTH. OIE. Web site:
<http://www.oie.int>
! 38!
Saúde integral na produção de bovinos de corte
Med. Vet. Adil Knackfuss Vaz Professor de Imunologia Veterinária
Faculdade de Medicina Veterinária, CAV/UDESC
Conceito e limitações O conceito de saúde integral é expresso pela Organização Mundial da
Saúde: "Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não
apenas a ausência de doença." Embora neste caso seja aplicada a humanos,
esta definição pode ser utilizada também para animais. Em se tratando da
produção comercial de bovinos de corte ou de outras cuja finalidade é o lucro,
nem sempre pode-se atingir o preconizado pela OMS. Há situações em que pode
ser mais econômico manter a imunidade contra uma doença pela presença de um
nível aceitável, tanto do ponto de vista econômico como do bem-estar animal, de
um certo nível de presença do agente causador. Um bom exemplo desta situação
é o controle da Tristeza Parasitária Bovina pela manutenção de uma população
controlada do carrapato Boophilus microplus, transmissor dos agentes
causadores da TPB. Quando não é viável a erradicação do carrapato vetor, faz
sentido manter uma quantidade suficiente destes para garantir a imunidade do
rebanho como um todo. Outra limitação conceito da OMS é que a produção de
bovinos de corte é por sua própria natureza uma exploração comercial. Quando
os custos de eliminação de uma doença são superiores aos benefícios
econômicos obtidos por esta eliminação, faz mais sentido conviver e controlar
esta doença em níveis compatíveis com o tipo de exploração.
Resistência populacional Numa determinada população, sempre teremos um percentual de animais
com maior resistência a uma enfermidade, ou mesmo completamente refratários.
Por outro lado, teremos também um percentual mais - ou totalmente - sensível a
esta mesma doença. O observador percebe, por exemplo, que em uma população
bovina há sempre animais que se infestam com maior facilidade com verminose
ou ectoparasitas como o carrapato. Mesmo se tratando de uma população de
! 39!
uma mesma raça, isso é evidente, e mais ainda se a população for constituída por
animais de raças diferentes ou produtos do cruzamento entre elas.
A distribuição mostrada na Fig. I é teórica e dificilmente ocorrerá na vida real. E é
fácil entender por que: qualquer população existente ruma determinada área por
um período considerável de tempo terá sofrido uma pressão de seleção para as
enfermidades existentes naquela área. Assim, os animais sensíveis a doenças
terão sucumbido a elas e portanto foram eliminados desta população, restando
apenas os mais resistentes. Com o passar das gerações, esta seleção vai se
acentuando, até o que realmente se observa seja o mostrado na Fig. 2, na qual se
vê um percentual maior de animais resistentes e que portanto foram selecionados
para permanecer na população.
Fig. 1 - Resistentes e sensíveis em uma população com distribuição
normal
Fig. 2 - Distribuição de sensibilidade e resistência em uma população exposta a
uma doença
! 40!
Esta situação pode não ocorrer, porém, por dois motivos:
• A doença não é fatal ou não traz grandes prejuízos aos animais afetados, e
portanto a pressão de seleção não se exerce. Por exemplo, a mosca do
chifre;
• O homem interfere, tratando os animais e reduzindo a mortalidade, desta
forma evitando a seleção. Por exemplo, verminose gastrointestinal.
A resistência é relativa Quando se fala em resistência a uma determinada doença, esta é sempre
relativa: já sabemos que a bagagem genética da população é componente
importante para que a doença ocorra. Mas também contribui para esta ocorrência
o nível de desafio a que esta população está exposta. Quando os agentes
causadores da doença estão presentes em pequeno número, ou não estão em
contato com os animais, pode-se evitar que estes adoeçam.
Fig. 3 - Uma distribuição hipotética em que 50% dos animais adoecem.
Neste caso, os animais à direita da linha que representa o nível de desafio
adoecem e os à esquerda da mama, não. Mas podemos alterar esta situação,
introduzindo uma outra variável da resistência: a imunidade. Assim, ao
vacinarmos uma população (ou utilizarmos outra forma de incrementar a
imunidade) aumentamos o número de animais à esquerda da linha, que não
adoecem (Fig. 4):
! 41!
Fig. 4 - Redução do número de animais doentes pelo aumento da imunidade
Note-se que mesmo em uma população vacinada uma parte da população
continuará sendo sensível à doença. Isto ocorre por vários fatores, como a
incapacidade genética de resposta ou falhas na vacina ou na técnica de sua
aplicação. O número de animais que permanece sensível mesmo após a
vacinação continua dependente do desafio: caso a exposição da população ao
causador da doença seja muito grande, logicamente o número de animais que
adoece será maior.
Reduzindo o desafio Como já vimos, uma forma de obter melhor sanidade em rebanho consiste
em reduzir as oportunidades de contaminação dos indivíduos que o compõe. Os
principais mecanismos para se obter isto são:
• Intervenção química, como o uso de anti-helmínticos , acaricidas e
antibióticos.
• Vacinação, pois o aumento da imunidade fará com que ocorram menos
casos e consequentemente uma menor contaminação do meio ambiente.
• Desinfecção, especialmente indicada em condições de concentração de
animais.
• Eliminação d dejetos e carcaças, embora pouco praticadas em nosso
meio, podem reduzir a incidência de doenças.
• Eliminação de portadores.
! 42!
• Controle de tráfego.
• Isolamento de animais doentes.
• Ajuste de época de nascimentos e outros manejos que tragam stress ou
riscos de contaminação.
Aumentando a imunidade
A maneira mais conhecida de aumentar a imunidade de um rebanho é
através da vacinação. Um eficiente calendário de vacinações é uma poderosa
arma na redução de perdas e na manutenção da saúde do rebanho. Para que
este calendário seja eficaz, sugerimos que alguns dos fatores a serem levados
em conta sejam:
• A doença realmente existe na região ? A população é suscetível à doença ?
O excesso de precaução traz um custo, e a pressão de venda dos
laboratórios farmacêuticos pode levar o produtor ao uso desnecessário de
vacinas, sem o correspondente benefício econômico.
• Qual a faixa etária dos animais que queremos proteger ? Eles tem condições
de formar uma resposta imunitária ? Pode ser necessário vacinar vacas em
gestação para proteger terneiros muito jovens, através do colostro.
• Qual a época do ano em que a doença ocorre ? A imunidade leva cerca de
três semanas para se estabelecer completamente. Por isso, o planejamento
é necessário para que a época de vacinação ocorra já no início da
temporada de ocorrência da doença.
• Qual a duração da imunidade conferida pela vacina ? Caso seja de curta
duração a população pode ficar a descoberto, sendo necessário revalidar
para manter essa cobertura.
• Considerar a possibilidade de aplicar duas doses da vacina, com
aproximadamente três semanas de intervalo. A segunda aplicação produz
uma imunidade que é mais do que o dobro de uma aplicação única.
Por fim, se queremos erradicar uma determinada doença, será necessário
em um determinado momento cessar a vacinação. Só se considera erradicada
uma doença quando não h.a mais no meio ambiente a presença do agente
causador, nem imunidade na população sob risco.
! 43!
Resistência genética Embora a existência de formas de resistência genética seja reconhecida,
existe uma carência de estudos científicos que documentem este fenômeno. Em
alguns casos grandes esforços são feitos no sentido de selecionar animais
resistentes baseados em características que não foram estudadas em
profundidade. Talvez um exemplo disso seja a seleção de animais da raça
Hereford com pelagem escura na região periorbital na crença de que isto gerará
animais mais residentes à queratoconjuntivite bovina. Uma busca na literatura
encontrou poucas referências disso (J. E. Frisch, Animal Production, 1975, 21(03):
265-274; PUGH, J.W et al, Am.J.Vet.Res. 1986, 47(4):885-889), que embora
indicativas de um efeito da pelagem, necessitam maiores estudos.
Esta carência de estudos pode ser devida ao grande número de animais
necessários a este tipo de experimento, bem como a variações de raças (em
geral somente uma ou duas são incluídas nos experimentos) e na grande
variação ano a ano na ocorrência de muitas doenças.
Talvez o melhor exemplo de resistência genética seja encontrado em raças
“crioulas”, que coexistiram com doenças existes na região e que sofreram um
processo de seleção natural. Daí a necessidade de preservação dessas raças,
como repositórios destes fatores de residência, muitos dos quais não tiveram
seus mecanismos esclarecidos.
Embora muitas doenças possam ser indicadas para controle genético, há
também muitas que não se prestam para isso. Antes de se iniciar um programa
de seleção genética é importante demonstrar que:
• a doença que está sendo atacada pode ser controlada geneticamente de
forma econômica e de baixo risco;
• existe suficiente variação genética dentro da raça ou entre raças para
permitir um controle efetivo da doença;
• haverá claros benefícios econômicos do controle genético e estes benefícios
não podem ser obtidos por outro método (os quais podem ser usados em
conjunto com o controle genético);
• a seleção aplicada não resultará em prejuízos significativos às
características produtivas.
! 44!
Embora com um risco menor do que o encontrado no caso da utilização de
produtos químicos e vacinas, existe a possibilidade de que os agentes
patogênicos desenvolvam mecanismos de residência à seleção genética. É
possível que mutações a variação genética resultem em agentes patogênicos
capazes de resistir aos mecanismos selecionados. Isso provavelmente ocorreria
de forma muito mais lenta e com menor intensidade do que no caso dos produtos
químicos e vacinas, mas a possibilidade existe. Esta possibilidade é menos no
caso de raças autóctones, que evoluíram enfrentando o desafio dos agentes
presente em seu meio. Ou seja, caso a residência tivesse que se estabelecer, isto
já teria ocorrido durante o processo de co-evolução da raça e dos agentes
patogênicos.
Conclusões A saúde integral, mesmo que leve em com os aspectos econômicos
indissociáveis com a produção, pode ser um objetivo do criador. Ela pode ser
alcançada, com suas limitações, especialmente por ações planejadas e com base
nos conhecimentos técnicos disponíveis. Decisões administrativas, como
cruzamentos que levem ao aumento da resistência aos problemas sanitários mais
comuns e que trazem maiores prejuízos econômicos, devem ser guiadas pelos
conhecimentos da região e da propriedade, bem como se adequarem aos
objetivos da produção de bovinos de corte.
! 45!
Aditivos nutricionais para a pecuária intensiva (pastagens, suplementação e confinamento)
Pedro Veiga Rodrigues Paulino
Gerente Global de Tecnologia – Cargill Animal Nutrition.
Gustavo Rezende Siqueira
Professor do Programa de Pós-graduação da FCAV/Unesp – Jaboticabal.
João Marcos Beltrame Benatti
Programa de Pós-graduação da FCAV-Unesp – Campus de Jaboticabal
Randerson Cavalcante Silva
Programa de Pós-graduação da FCAV-Unesp – Campus de Jaboticabal
João Alexandrino Alves Neto
Programa de Pós-graduação da FCAV-Unesp – Campus de Jaboticabal
Rodolfo Maciel Fernandes
Programa de Pós-graduação da FCAV-Unesp – Campus de Jaboticabal
Andressa Fernanda Campos
Programa de Pós-graduação da FCAV-Unesp – Campus de Jaboticabal
Introdução De um rebanho estimado de 212 milhões de cabeças (IBGE, 2012) apenas
3,5 a 4,0 milhões de cabeças são terminadas em confinamento (Millen et al.,
2009). Continuando a caracterização do sistema de produção de bovinos de corte
brasileiro, tem-se segundo os dados do Rally da Pecuária de 2011, 46,1% das
propriedades realizam o ciclo completo (cria, recria e terminação), 80% das
pastagens são formadas por espécies de Brachiarias, sendo predominantemente
pela Brachiaria brizantha. O uso do confinamento é estratégico para a terminação
! 46!
dos animais em 87,2% das propriedades que realizam essa atividade. Essas
estatísticas nos rementem a um sistema de produção basicamente realizado em
pastagens do gênero Brachiaria.
Constitui-se em unanimidade entre os estudiosos da cadeia pecuária que
há subutilização do potencial genético nos animais e da exploração da terra pelos
sistemas de produção como são praticados. O ganho em peso médio ao longo do
ano não passa de 0,450 kg/dia, na maioria dos sistemas de produção.
Considerando que o peso de carcaça médio dos bovinos abatidos em 2011 foi de
267,2 kg (IBGE, 2012), estimando-se um rendimento médio de 53%, um animal
levaria cerca 36 meses para chegar ao ponto de abate.
Muitas estratégias podem e devem ser utilizadas com intuito de elevar a
produtividade com base em atributos zootécnicos e econômicos. Pode-se
destacar o manejo da pastagem, a integração lavoura-pecuária, o uso do
confinamento, a suplementação de animais em pastejo entre outras técnicas e o
que é tema desta revisão o uso de aditivos para bovinos em pastagens.
Generalizando o efeito dos aditivos quando usados em animais em pastejo
eles tendem a elevar o ganho em peso, na maioria das vezes pela modulação da
fermentação ruminal e chegam a ter relação custo/benefício de 1/10, ou seja, para
cada real investido há possibilidade de retorno de dez reais. Conforme exposto a
pecuária brasileira é baseada na produção em pastagens, ressalta-se ainda que
praticamente 100% das fases de cria e recria são realizadas em pastagens, a
melhoria do desempenho desses animais com a utilização de técnicas
economicamente favoráveis, como a utilização dos aditivos, devem ser
consideradas de alta relevância.
Diante do exposto objetiva-se com essa revisão apresentar os principais
aditivos utilizados no Brasil, bem como mostrar os padrões de respostas e sua
viabilidade de uso.
Aditivos Regulamentação – um breve resumo
Segundo a Normativa 15/2009/MAPA, a definição de aditivo para produtos
destinados à alimentação animal, é: substância, micro-organismo ou produto
formulado, adicionado intencionalmente aos produtos, que não é utilizada
normalmente como ingrediente, tenha ou não valor nutritivo e que melhore as
! 47!
características dos produtos destinados à alimentação animal ou dos produtos
animais, melhore o desempenho dos animais sadios e atenda às necessidades
nutricionais ou tenha efeito anticoccidiano.
Além da definição torna-se interessante conhecer os requisitos necessários
para que um aditivo possa ser registrado no Brasil, são eles:
a) Ser indispensável à adequada tecnologia de fabricação do produto;
b) Influir positivamente nas características do produto destinado à
alimentação animal, de produtividade dos animais ou dos produtos de
origem animal;
c) Ser utilizado na quantidade estritamente necessária à obtenção do efeito
desejado, respeitada a concentração máxima que vier a ser fixada;
d) Ser previamente autorizado e registrado pela autoridade competente do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA.
A normativa 15/2009/MAPA divide os aditivos em cinco grupos:
a) Aditivos tecnológicos: qualquer substância adicionada ao produto destinado
à alimentação animal com fins tecnológicos;
b) Aditivos sensoriais: qualquer substância adicionada ao produto para
melhorar ou modificar as propriedades organolépticas destes ou as
características visuais dos produtos;
c) Aditivos nutricionais: toda substância utilizada para manter ou melhorar as
propriedades nutricionais do produto;
d) Aditivos zootécnicos: toda substância utilizada para influir positivamente na
melhoria do desempenho dos animais;
e) Anticoccidianos:substância destinada a eliminar ou inibir protozoários.
Nesta revisão abordaremos alguns dos aditivos classificados como
nutricionais, zootécnicos e anticoccidianos.
ANTIBIÓTICOS IONÓFOROS O que são?
Ionóforos são originários do uso no controle de parasitos intestinais em aves,
mas constatou-se melhoria no desempenho de bovinos quando eram alimentados
com resíduos de aves que eram suplementadas com ionóforos (TEDESCHI et al.,
2011). Em função desses efeitos os ionóforos passaram a ser utilizados em
! 48!
bovinos com o objetivo de melhorar a eficiência alimentar (RUSSEL & STROBEL,
1989).
Dentre os ionóforos aprovados como aditivos alimentares, a monensina é a
mais estudada, sendo ela um composto produzido pela Streptomyces
cinnamonensis (HANEY e HOEHN, 1967) e pertencente à classe química
denominada poliéteres. O alvo de ação desse aditivo é sobre o crescimento
seletivo de microrganismos gram-positivos (VAN NEVEL e DEMEYER, 1977),
reduzindo a produção de ácido láctico (DENNIS & NAGARAJA, 1981),
metanogênese no rúmen (GOODRICH et al., 1984), aumento da proporção molar
de propionato em relação a acetato (GOODRICH et al., 1984) e retenção de N
(ADAMS et al., 1981).
Como funciona? Sumarizando os efeitos dos ionóforos Russel e Strobel (1989) fizeram as
seguintes colocações: Em muitos casos, a inibição do metano e as mudanças na
proporção dos ácidos graxos de cadeia curta foram incapazes de explicar metade
da melhoria no desempenho. Segundo Wedegaertner & Johson (1983) uma das
possíveis explicações é a melhoria da digestibilidade da dieta, frente a redução da
taxa de passagem. Eles apontaram ainda que a redução da degradação da
proteína em amônia pode ser um dos fatores, principalmente em dietas ricas em
proteína solúvel e restritas em energia (como é o caso das pastagens).
Comentaram que a redução na produção de ácido lático é difícil de ser estimada,
mas que existem vantagens em manter o pH ruminal mais elevado quando se
utiliza dietas ricas em carboidratos fermentescíveis e restritas em proteína. E por
fim, relacionaram que os ionóforos podem alterar a atividade microbiana intestinal
e também que não se deve descartar alterações no metabolismo do tecido.
Os ionóforos são moléculas com uma camada externa hidrofóbica e uma
interna hidrofílica e podem se ligar a cátions. Alguns se ligam a apenas um cátion
e outros podem se ligar a vários cátions. Quando ligados agem como
transportadores destes íons através da membrana celular (RUSSEL & STROBES,
1989). Por serem solúveis quando em contato com as membranas das células,
depois de serem combinados com íons, os ionóforos passam a fazer parte da
membrana e desempenhar as funções de transporte de íons de um lado a outro
da membrana das bactérias gram positiva (MORAIS et al., 2006).
! 49!
A maioria das bactérias expulsam prótons para o exterior através da
membrana celular e mantém seu interior negativo e alcalino comparado ao
exterior. Este gradiente de pH por sua vez, cria um gradiente químico de prótons.
A expulsão de prótons pela célula também significa que o interior é mais negativo
do que o exterior, e está diferença constitui um potencial elétrico. A expulsão de
prótons é um meio de manter o pH intracelular favorável, mas a força próton-
motiva gerada pelo potencial transmembrana pode também ser usada para
conduzir a absorção de solutos para dentro da célula (KASHKET, 1985).
Processos ativos de transporte são diretamente ou indiretamente dependentes da
força próton-motiva.
A monensina é geralmente descrita como um antiportador que facilita a troca
de H+ e Na+ através das membranas celulares, no entanto, ela pode também
mediar a troca de K+ e H+ (PRESSMAN & FAHIM, 1982). Segundo esses
mesmos autores, esse aditivo tem cerca de 10 vezes mais afinidade para o Na+
do que para o K+, assim pode-se esperar um maior efluxo de Na+ do que de K+.
O gradiente de concentração de K+ é 25 vezes maior do que o gradiente de Na +.
Uma vez que esse gradiente de K+ é tanto mais elevado do que o gradiente de
Na+, o efluxo de K+ através de monensina é mais exergônica (liberação de
energia) do que o efluxo de Na+. O efluxo de K+, por sua vez, levam a um
acúmulo de H+ e uma diminuição do pH intracelular. Com essa redução no pH, o
influxo de Na+ pode ser conduzido por efluxo de H+. Segundo Russel e Hino
(1985), estudando a bactéria Streptococcus bovis, relataram que a mesma é
capaz de crescer com o pH interno baixo (5,4), sendo assim, não é provável que a
inibição do crescimento seja diretamente devido a diminuição do pH intracelular. A
inibição do crescimento pode ser motivada pela utilização do ATP para expelir o
excesso de H + a partir da célula. Streptococcus bovis é uma bactéria gram-
positiva anaeróbia que prolifera no rúmen quando grandes quantidades de grãos
são consumidas. O ácido láctico produzido por ela é responsável pelo início da
acidose ruminal (SLYTER, 1976).
Em experimento realizado por Russel (1987), as culturas de S. bovis
mantidas sem monensina mantiveram um pH interno de 7,08, sendo que o pH
externo foi de 6,65. Quando a monensina foi adicionada à cultura houve uma
inversão do gradiente de pH através da membrana celular, sendo que o interior foi
mais ácido do que o ambiente externo. Esta inversão do pH, provavelmente
! 50!
reflete a incapacidade das culturas tratadas com monensina expulsar os prótons.
Ainda com base no mesmo experimento, Russel (1987) relatou que as culturas
mantidas sem monensina apresentaram quase 70 vezes maior a concentração de
K+ no interior da célula e quando a monensina foi adicionada, este gradiente
diminuiu para 15 vezes. Segundo o autor, as altas concentrações de K+ no
interior da célula são necessárias não só para a síntese de proteína, mas também
para manter o pH intracelular tamponado devido ao mecanismo de troca de
K+/H+ (mecanismo antiporte), assim seria necessário que o aumento na
concentração de prótons (H+) fosse retirado do interior da célula para que o pH
interno se estabilize.
Russel e Strobes (1989) concluíram que as ações dos ionóforos no rúmen
são: (a) A seletividade do microrganismo alvo, (b) A seletividade do ionóforo pelo
íon, (c) concentração e o gradiente do íon translocado pelo ionóforo e (d) o
aumento do fluxo de íons pela membrana celular. A seletividade dos ionóforos
parece ser estreitamente associada com a ausência da membrana exterior. E
ainda segundo esses autores por coincidência, os microrganismos sensíveis são
os produtores de hidrogênio, amônia e lactato. Argumenta-se também que para
haver benefícios com o uso dos ionóforos é necessário ocorrer ocupações de
nichos iguais ou semelhantes àqueles deixados pelas bactérias sensíveis.
Expectativa de uso no pasto Tedeschi et al. (2003) em revisão sobre o uso de aditivos sumarizam os
efeitos dos ionóforos em condições de pastagem e confinamento. Os autores
mostram que animais em confinamento com dietas ricas em energia, reduzem o
consumo de matéria seca, não alteram o ganho em peso e consequentemente
melhoram a conversão alimentar. Já em condições de pastagens observa-se
elevação do ganho em peso. Essas afirmações corroboram com a revisão
realizada por Bretschneider et al. (2008) que avaliaram 136 comparações em 48
estudos com uso de aditivos em animais recebendo dietas basicamente de
forrageiras. Constatou-se aumento no ganho em peso de 75 e 78, para
monensina e lasalocida respectivamente.
O efeito da inclusão de ionóforos em dietas de animais em pastagens
inicialmente pode ser considerado infundamentado, pois acrescenta-se uma
molécula que tem por objetivo central eliminar bactérias gram positivas que são
! 51!
as principais responsáveis pela degradação da fração fibrosa. Todavia ocorre
uma compensação microbiana e na maioria dos estudos não se observa redução
da digestibilidade da fibra. Além disso, ocorre redução da relação
acetato/propionato e redução da degradação da proteína, que são causas da
melhoria do desempenho animal.
Em estudo realizado por Lana & Fox (2001) observou-se que a monensina
foi mais eficiente nas dietas ricas em proteína verdadeira, do que naquelas com
alto nitrogênio não proteico. Esse relato reforça a afirmação de Goodrich et al.
(1984), que relatou que os efeitos da monensina no metabolismo da proteína no
rúmen só podem ser observados quando o nitrogênio suplementado está na
forma de proteína verdadeira, peptídeos ou aminoácidos.
Alguns exemplos e resultados Lana & Russel (2001) realizaram um trabalho muito interessante, avaliaram
a resistência de bactérias ruminais mantidas em duas situações numa a dieta era
exclusivamente de forragem e em outra os animais foram alimentados com 90%
de concentrado. Os autores constataram que bactérias provenientes de animais
alimentados com forragens são mais sensíveis a monensina que aquelas de
animais de dietas ricas em concentrado, e indicaram que este ionóforo pode ter
maior benefício no desempenho de bovinos em pastagens em comparação
àqueles alimentados com dietas ricas em concentrado.
Avaliando o efeito de lasalocida (100 e 200 mg/cabeça/dia) e monensina
(100 e 200 mg/cabeça/dia) em suplementos para bovinos Holandês-Zebu na
época seca, Mourthe et al. (2011a) constataram que a inclusão dos ionóforos
aumentou o ganho em peso em 75 g/dia (P=0,02) e a lasalocida proporcionou
maior ganho em peso (395 g/dia), quando comparada a monensina (315 g/dia).
Apesar de não ter sido alvo dos contrastes dos autores é numericamente
perceptível a ocorrência de uma interação entre doses e aditivos, pois ao
aumentar a dose de monensina o ganho em peso reduziu de 370 para 260 g/dia;
já nos animais que foram suplementados com lasalocida houve aumento de 350
para 440 g/dia. Uma das justificativas dos autores foi atribuir ao menor do
consumo de suplemento (100 g/dia a menos), quando os animais foram
receberam monensina. Em experimento simultâneo com animais canulados no
rúmen Mourthe et al. (2011b) observaram efeitos dos ionóforos apenas sobre a
! 52!
concentração de amônia na dose de 200 mg/cabeça/dia, não foram observadas
diferenças nas degradações das frações fibrosas e nem nas proporções dos
ácidos graxos de cadeia curta. Os autores inferem que nessas condições para se
alterar a relação acetato/propionato a dose deveria ser maior que as usadas.
Na APTA –Colina foi desenvolvido um experimento de suplementação com
suplemento proteico na quantidade de 1 g/kg de peso vivo (30% PB), com
animais Nelore durante o período das águas (FERNANDES et al., 2012). Os
animais permaneceram durante 140 dias em experimento e foram realizadas
pesagens a cada 28 dias, ou seja, cinco períodos de avaliação. Observou-se
diferença significativa no ganho em peso em todos os cinco períodos, a média do
ganho adicional foi de 200 g/cab/dia, para os animais que receberam monensina
em relação ao grupo controle. Esse é um resultado que ultrapassa as
expectativas de diferença, mas que por outro lado, mostra o potencial de resposta
do uso de aditivos em pastagens.
Na maioria dos casos quando se utiliza suplementos de consumo acima de 1
g/kg, a inclusão de ionóforos, especialmente a monensina, parece não afetar o
consumo. Porém ainda é uma pequena porcentagem dos bovinos brasileiros que
recebem essa suplementação. A maioria recebe apenas sal mineral, neste caso o
uso de monensina reduz drasticamente o consumo de suplemento, podendo até
comprometer o desempenho animal, ou não apresentar efeito positivo. Franco
(2007) realizou um estudo que comparou a suplementação mineral com 40% de
NaCl e com 65 g/kg de P, enriquecida ou não com monensina. O autor observou
que no suplemento com monensina o consumo diário de mineral foi menor (27,5
g/cab/dia) quando comparado ao consumo do suplemento controle (56,9
g/cab/dia). Outro resultado muito interessante observado pelo autor foi a redução
no consumo do suplemento com monensina com o prolongar do período
experimental. O consumo desse suplemento era de 35 g/cab/dia nas primeiras
semanas e da sétima até a décima primeira o consumo foi inferior a 25 g/cab/dia,
segundo o autor esse comportamento indica um condicionamento por estímulo
pós-digestivo. Desta forma, fica evidenciado a limitação do uso de monensina via
suplemento mineral, reforça-se que em suplementos de maior consumo acima de
1 g/kg essa limitação não persiste.
Levantamento de dados
! 53!
Para a presente compilação de resultados foram consultadas revistas
científicas nacionais com avaliação não inferior a B2 pela Capes (Arquivo
Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Ciência Rural, Ciência e
Agrotecnologia, Pesquisa Agropecuária Brasileira, Revista Brasileira de Zootecnia
e Semina Ciências Agrárias), assim como as teses e dissertações (UFSM,
UFRRJ, UFV, UEM, UFPR, UFRJ, UFLA, Unesp, USP e UEL) com dados não
publicados nas referidas revistas nos últimos 10 anos (Figura 1).
Os aditivos alimentares pesquisados foram: monensina sódica, lasalocida,
salinomicina, virginiamicina, levedura viva, óleos essenciais, minerais orgânicos,
ureia protegida e gordura protegida.
Figura 1. Relação de trabalhos encontrados em periódicos nacionais e
banco de teses de universidades nos últimos 10 anos sobre utilização de
aditivos para bovinos de corte em pastagens
Para as avaliações dos resultados abaixo demonstrados estabeleceram-se
valores de diferencial de resposta, de acordo com Zopollatto et al. (2009)
(tratados versus controle, tendo sido considerados apenas resultados onde a
comparação foi declarada como estatisticamente diferentes – Tabela 1), através
da seguinte fórmula:
!"#$%$&'"()!!"!!"#$%#&'!"∆"(%) = Valor!do!Tratado!– !Valor!do!ControleValor!do!controle !x!100
1 1 1
3
5
3
8
2 1
4
1 1 1
3 4
3 4
2
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
n° d
e tr
abal
hos
Total Leite Corte
! 54!
Tabela 1. Valores de diferencial de resposta (Δ) considerados favoráveis nos
artigos avaliados
Parâmetros Delta (Δ)
Consumo de matéria seca < 0 monensina e > 0 virginiamicina
Consumo de suplemento < 0 monensina e > 0 virginiamicina
Consumo de pasto < 0
Consumo mistura mineral > 0
Digestibilidade da matéria seca > 0
Digestibilidade da FDN > 0
Ganho em peso médio diário > 0
Produção de leite > 0
Gordura no leite > 0
Proteína no leite > 0
Área de olho de lombo > 0
Espessura de gordura > 0
Eficiência microbiana > 0
N-NH3 < 0
pH ruminal > 0
Acetato < 0
Propionato > 0
Relação Acetato:Propionato < 0
Glicose Plasmática > 0
Ureia plasmática < 0
Metano < 0
Com base em levantamento de dados da literatura nacional sobre a
utilização de monensina para animais em pastejo, em média, a monensina sódica
tendeu aumentar em 1,05% a digestibilidade da MS e FDN, em 14,77% a gordura
no leite, a AOL em 8,21% e a espessura de gordura (EG) em 13,87%. Houve
também tendência em redução da eficiência microbiana (-17,20%), produção de
leite (-14,26%), proteína no leite (-8,21%), consumo de pasto (-13,04%), N-NH3
ruminal (-9,99%) e produção de metano (-5,27%) (Figura 2).
Quando consideradas só as respostas favoráveis, a digestibilidade da MS e
FDN aumentou em 2,75 e 2,43%, respectivamente e o GMD (ganho em peso
! 55!
médio diário) foi 29,53% maior para monensina. Para os parâmetros ruminais,
houve redução na produção de acetato (-9,0%) e aumento na produção de
propionato (41,59%), reduzindo, dessa forma, a relação acetato:propionato (-
21,37%). O pH ruminal sofreu influência da utilização da monensina, como
maiores valores quando a mesma foi administrada (0,74%). O consumo de
suplemento e de MS também foi reduzido em 44,11 e 23,15%, respectivamente.
1.05% 1.05%
&17.20% &14.26%
14.77%
&8.21%
&30.71%
14.43%
&13.04%
2.73% 2.43%
&44.11%
29.53%
&50.00%&40.00%&30.00%&20.00%&10.00%0.00%10.00%20.00%30.00%40.00%
Digestibilidade%MS%
Digestibilidade%da%FDN%
E=iciência%microbiana%
Produção%
Gordura%no%leite%
Proteína%no%leite%
Consum
o%de%suplem
ento%
GMD%
Consum
o%de%pasto%
Média%Geral% Média%das%respostas%favoráveis%
0.73% 1.36%
22.65%
&14.81%&9.99%
8.21%13.87%
&0.23%
&8.46% &6.27%
0.74%
&9.00%
41.59%
&21.87%&25.15%&30.00%
&20.00%&10.00%0.00%10.00%20.00%30.00%40.00%50.00%
pH%ruminal%
Acetato%
Propionato%
Relação%A:P%
N&NH
3%
AOL% EG%
Glicose%%Plasmática%
Consum
o%MS%
Metano%
Média%Geral% Média%das%respostas%favoráveis%
! 56!
Figura 2. Relação de trabalhos encontrados em periódicos nacionais e
banco de teses de universidades nos últimos 10 anos sobre utilização da
monensina sódica para bovinos de corte em pastagens.
Antibiótico não ionóforo
Além dos ionóforos existem alguns antibióticos que não são ionóforos, mas
atuam no controle da população microbiana. Entre eles tem-se destacado na
produção de bovinos de corte a Virginiamicina.
VIRGINIAMICINA O que é?
A Virginiamicina foi encontrada originalmente em solos belgas (DeSOMER e
VAN DIJCK, 1955) é classificada como um antibiótico não-ionóforo e é um
produto resultante da fermentação das Streptomyces virniniae. É formada por dois
componentes químicos distintos, fator M e fator S (CROOY e DE NEYS,1972),
sendo o fator S potencializador do fator M (ROGERS et al. 1995).
Como funciona? Diferentemente de aditivos ionóforos, a virginiamicina tem ação intracelular.
Segundo Cocito (1979), no interior da célula os fatores M e S estabelecem uma
ligação específica e irreversível à unidade ribossomal 50s inibindo a formação de
ligações peptídicas durante a síntese de proteína, causando assim a redução do
crescimento (ação bacteriostática) ou a morte (ação bactericida). Ainda segundo o
mesmo autor a VM age contra bactérias gram-positivas, tanto aeróbicas quanto
anaeróbicas, porém não apresenta efeito sobre as bactérias gram-negativas
devido a impermeabilidade da parede celular.
Quando utilizada, a virginiamicina tem apresentado resultados favoráveis ao
desempenho animal melhorando a eficiência alimentar (PARIGI-BINI, 1979) e
aumento no ganho em peso (FIEMS et al., 1992, GOULART, 2010), porém, com
pouco ou nenhum efeito no consumo de MS (ROGERS, 1995). A melhora no
desempenho animal pode ser explicada pela mudança na relação
acetato:propionato. O substrato (dieta) passa a ser fermentado por bactérias que
favorecem o acúmulo do subproduto ácido propiônico em detrimento dos
subprodutos de fermentação ácido acético e butírico (GOULART, 2010).
! 57!
Outro provável efeito deste antibiótico, que em monogástricos já foi bem
descrito por Dierick et al. (1986), é a diminuição da desaminação de proteína no
rúmen, aumentando a passagem de proteína dietética para absorção no intestino.
Uma explicação para este evento é que as duas principais bactérias responsáveis
pela desaminação de proteína no rúmen, a Clostridium aminophilum e a
Clostridium stickandii, que são bactérias gram-positivas, têm seu crescimento
afetado pelo uso da VM.
Expectativa de uso nos pastos Em revisão sobre o uso de aditivos em pastagens fornecidos via suplemento
mineral Goulart (2010) apontou a virginiamicina como um promissor antibiótico,
tendo efeitos semelhantes aos ionóforos e não reduzindo o consumo de
suplemento mineral. Esse aditivo apesar de possuir mecanismo de ação diferente
dos ionóforos, ele atua sobre tipos semelhantes de microrganismos, controlando a
população de bactérias gram positivas. Arrigoni et al. (2011) também apontou a
virginiamicina como um aditivo a ser utilizado em suplementação de bovinos em
pastagens e mostrou vários trabalhos que apresentaram efeitos positivos do uso
deste aditivo. Bretschneider et al. (2008) em sua compilação observaram aumento
no ganho em peso de 80 g/dia para os animais suplementados com virginiamicina
comparados ao controle.
Alguns exemplos e resultados Goulart (2010) em sua tese de doutorado realizou três estudos com o uso de
virginiamicina em animais Nelore ou cruzamento industrial mantidos em
pastagens. No primeiro experimento o autor observou incremento no ganho em
peso de 95 g/dia, passando de 580 para 675 g/dia para os animais do grupo
controle e suplementados com virginiamicina, o estudo foi realizado num período
de 108 dias (janeiro a maio). No segundo experimento a diferença foi de 31 g/dia
e não diferiu do controle, esse foi realizado em 137 dias. No terceiro experimento
observou-se diferença de 63 g/dia (P=0,019), com duração de 137 dias. O autor
na discussão integrada dos resultados mostrou que o aumento no ganho em peso
foi em média de 11% e foi apontando como uma das vantagens deste
antimicrobiano a bacteriopausa que é a capacidade de ação prolongada, mesmo
após interromper seu uso.
! 58!
Em experimento realizado no Pólo Regional da Alta Mogiana (Colina/SP),
Alves Neto et al. (dados não publicados) utilizou a virginiamicina em diferentes
dosagens, controle até 75 mg/100 kg de peso corporal, em animais na fase de
recria em pastejo. O estudo teve duração de 108 dias e utilizou-se 96 garrotes
Nelore. A máxima resposta foi encontrando na dose de 47 mg/100 kg de peso
corporal. Nessa dose o incremento no ganho em peso foi de 110 g/dia, o que
equivale a 10%, pois os animais do grupo controle apresentaram ganho em peso
de 1063 g/dia, o que para condições tropicais pode ser considerado alto.
Levantamento de dados
Mesmo com poucos estudos de sua aplicação em animais em pastejo
(Figura 3), a virginiamicina tem apresentado bons resultados de ganho em peso
(Figura 4). Segundo Lucas et al. (1989) e Lucas & Sobrinho (1989), citados por
Nicodemo (2001), foram econtrados resultados de 30% e 10% no aumento do
ganho em peso em animais pastejando capim colonião cv. Tobiatã e Brachiaria
decumbens, respectivamente. Em trabalho de Fiems (1992) este acréscimo foi de
18%.
Figura 3. Relação de trabalhos encontrados em periódicos nacionais e
banco de teses de universidades nos últimos 10 anos sobre utilização de
aditivos para bovinos de corte em pastagens
A melhora do ganho em peso também foi observado por Goulart (2010) onde
foi observado aumento significativo no ganho em peso de 0,063 Kg/cab/dia (9,8%)
1 1 1
3
5
3
8
2 1
4
1 1 1
3 4
3 4
2
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
n° d
e tr
abal
hos
Total Leite Corte
! 59!
em animais consumindo virginiamicina via mistura mineral. Neste levantamento
não foram observados aumentos na produção do ácido propiônico como
esperado. Porém, a diminuição da relação acetato:propionato e da concentração
de N-NH3 foram encontradas, podendo assim, explicar o aumento desempenho
animal.
Figura 4. Relação de trabalhos encontrados em periódicos nacionais e
banco de teses de universidades nos últimos 10 anos sobre utilização de
virginiamicina para bovinos de corte em pastagens
LEVEDURA VIVAS (Saccharomyces Cerevisiae) O que é?
As leveduras são classificadas como fungos unicelulares empregadas na
indústria sucroalcooleira para a fermentação do caldo da cana-de-açúcar e
produção de açúcar e álcool, podendo ser utilizada na alimentação de ruminantes
como suplemento alimentar a base de micróbios vivos que beneficia o animal
hospedeiro por meio da melhoria do seu balanço microbiano intestinal
(NEWBOLD et al., 1996) e parâmetros de fermentação ruminal.
Como funciona?
Como principais efeitos das leveduras no rúmen tem-se a ampliação do
número total de bactérias, principalmente aquelas que degradam celulose,
aumento da degradação da parede celular, estabilização do pH ruminal e maiores
rendimentos microbianos (HUHTANEN, 1991; Yoon e Stern, 1995; DOREAU e
-14.0
10.8
-5.7 -6.2
1.0
-5.2
10.8
-2.7
-20.0
-15.0
-10.0
-5.0
0.0
5.0
10.0
15.0
Consumo MM GMD Acetato Propionato Relação A:P N-NH3
Média Geral Média das respostas favoráveis
! 60!
JOUANY, 1998), resultando em aumento do consumo e melhoria no
desempenho.
Um mecanismo para explicar o efeito benéfico do uso de leveduras na
alimentação animal está intimamente relacionado com a retirada de oxigênio do
ambiente ruminal. No rúmen, as leveduras são capazes de realizar a respiração e
consumir esse gás no processo. Apesar de o rúmen ser considerado um ambiente
anaeróbico, há pequenas quantidades de O2 que entram neste órgão por meio da
saliva e/ou ingestão de água e alimento, sendo esta cerca de 100 mL/dia
(CZERKAWSKI, 1986). A atividade respiratória das leveduras (200 µmol/mim/L a
300 µmol/mim/L) é bem maior que a concentração de oxigênio no fluído ruminal
que adentram no rúmen (WILLIANS et al, 1991). Há algumas bactérias ruminais,
principalmente aquelas que degradam celulose, que são altamente sensíveis até
mesmo a essas baixas concentrações. A presença de O2 no rúmen também pode
prejudicar a aderência das bactérias ao seu substrato, diminuindo a degradação
do alimento (ROGER et al., 1990).
Outro resultado proposto para o uso de leveduras vivas é o aumento do
número de bactérias totais, especialmente aquelas celulolíticas e as utilizadoras
de ácido lático, acarretando aumento do fluxo de proteína microbiana para o
intestino dos animais. As leveduras possuem nutrientes e co-fatores que
estimulariam a atividade microbiana como, por exemplo, pequenos peptídeos
capazes de estimular o crescimento da bactéria Ruminococcus albus, pois
atuariam como desencadeadores metabólicos, fazendo com que o crescimento de
microrganismos ruminais passassem da fase estacionária para a fase
exponencial, podendo ser esses peptídeos as substâncias limitantes para o
crescimento de algumas bactérias (DAWSON & GIRARD, 1997).
A ação desses dois mecanismos metabólicos concomitantemente é o fator
que pode atuar no aumento da digestibilidade da fração fibrosa da dieta total
(WALLACE, 1994). A retirada do oxigênio e melhor crescimento de bactérias
celulolíticas, além do aumento da aderência destas ao substrato produzem
condições favoráveis para o aumento da degradação.
A manutenção de valores de pH mais elevados quando há utilização de
leveduras vivas nos suplementos de bovinos pode ser explicado devido a
competição destas com bactérias produtoras de ácido lático e também pela
assimilação do ácido lático produzido (CALLAWAY & MARTIN, 1997). Resultados
! 61!
observados por Willians et al. (1991) sugerem que a adição de cepas de
leveduras vivas à dietas de bovinos poderiam atenuar a queda do pH ruminal pela
estimulação no crescimento de bactérias, como a Selenomonas ruminantium que
possui grande importância no ecossistema ruminal, pois é fermentadora de
lactato. As leveduras fornecem vitaminas do complexo B e aminoácidos que são
limitantes para o ótimo crescimento dessa bactéria, estimulando assim a
diminuição do lactato no ambiente ruminal.
Erasmus et al. (2009) realizou um meta-análise para observar o efeito da
levedura Saccharomyces cerevisiae na produção de bovinos de corte, utilizando
15 ensaios. O banco de dados incluía dados de 1.875 animais, para análise de
GDP e CA. Observou-se que o GPD dos animais que não receberam nenhum tipo
de aditivo foi menor (1,45 kg/dia) do que aqueles suplementados com leveduras
(1,57 kg/dia) e a conversão alimentar dos bovinos suplementados com leveduras
(6,40 kg MS/kg de ganho de peso) foi melhor do que a dos não-suplementados,
(6,61 kg de MS/kg de ganho de peso). Arcuri et al. (2006) em revisão sobre o uso
de probióticos apontou como valores médios de incremento em ganho em peso
com o uso de leveduras é de 9,5% para bezerros, 7,8% para animais em
crescimento e 3,9% para produção de vacas em lactação. Ele informou que a
maioria dos trabalhos relacionou o aumento na produção com o incremento em
consumo de matéria seca.
Em outra meta-análise Desnoyers et al. (2009) avaliaram 110 artigos,
contendo 157 experimentos e 376 tratamentos. Uma das premissas era o
experimento conter um tratamento controle e outro com a adição de leveduras. Os
autores constataram que a presença de leveduras vivas aumentaram o pH
ruminal (+0,03 unidades) e a concentração de ácidos graxos voláteis (+2,17 mM),
tendeu a decrescer a concentração do ácido lático ruminal (-0,9 mM) e não
influenciou na relação acetato/propionato. Observou-se também aumento em
0,8% da digestibilidade da matéria orgânica, 0,44 g/kg de peso corporal no
consumo de matéria seca e 1,2 g/kg de peso corporal na produção de leite.
Expectativas de resultados no pasto
Apesar de se conhecer métodos metabólicos das leveduras no rúmen e suas
consequências na nutrição de ruminantes, o uso desse aditivo ainda apresenta
respostas contraditórias quando se observa os resultados da literatura. A inclusão
! 62!
de Saccharomyces cerevisiae em dietas de animais em pastejo teria por objetivo
principal o aumento da digestibilidade da fração fibrosa, devido ao estimulo das
bactérias celulolíticas e também poderia gerar maior fluxo microbiano ao intestino.
Caso esses efeitos fossem confirmados o conceito de utilização de leveduras teria
combinação perfeita com a combinação de animais em pastagens, porém na
literatura não há suporte de respostas para essas hipóteses.
Alguns exemplos e resultados do uso do aditivo Um dos raros trabalhos que avaliaram a inclusão de leveduras em animais em
pastejo foi realizado por Bertipaglia (2008). A autora realizou um trabalhão que
avaliou o efeito da adição de leveduras vivas, monensina e sua associação em
suplementos proteicos na transição águas-seca e durante a seca. As novilhas de
peso inicial de aproximadamente 230 kg foram suplementadas nos níveis de 4
g/kg de peso vivo (transição) e 5 g/kg (seca). Não foi observada diferença
significativa entre o suplemento controle e o que possuía levedura. Já no
tratamento com monensina, na média observou-se aumento do ganho em peso
de 14%. A associação dos aditivos apresentou comportamento semelhante a
suplementação apenas com monensina, sendo os ganhos médios de 0,460 e
0,490 kg/dia, respectivamente.
Em um trabalho simulando uma condição de pastejo, onde bovinos canulados
receberem feno a vontade e foram suplementados com 1 kg de suplemento
proteico, o que equivalia a 2 g/kg. Franco et al. (2008) não constaram efeito da
ação de leveduras (P>0,05) sobre N-NH3, pH, degradação da matéria seca. Os
autores concluem a necessidade de realizar estudos mais aprofundados para que
se possa alcançar maior consistência nos resultados em trabalhos dessa
natureza.
Outro trabalho com objetivo de realizar uma avaliação econômica sobre o
efeito da suplementação de alto consumo e o uso de leveduras em bezerros de
cruzamento industrial foi realizado por Prohmann et al. (2012). Os autores
concluíram que a suplementação de alto consumo 6 g/kg de peso vivo
aumentaram o ganho em peso e a receita bruta, porém não melhoram a margem
líquida. E no caso do uso das leveduras não se observou benefício no ganho por
área e devido a inclusão do aditivo, o custo foi aumentado e a receita reduzida.
! 63!
Levantamento A compilação de resultados nos últimos 10 anos confirmou a inconsistência
dos resultados. Observa-se, nos resultados encontrados, respostas favoráveis
apenas para consumo de matéria seca (9,30%) e redução na relação
acetato:propionato (-4,26%). Houve tendência para redução na digestibilidade da
matéria seca (-1,71%), digestibilidade da FDN (-3,36%), produção de metano (-
6,76%), no ganho em peso corporal médio diário (GMD, -2,33%) e gordura (-
1,15%) e proteína no leite (-0,93%). O N-NH3 (0,93%), produção de acetato
(4,47%), propionato (3,75%) e produção de leite (1,02%) tenderam a aumentar.
Cabe ressaltar que mesmo não tendo apresentado diferenças significativas,
muitos resultados encontrados foram o inverso do que se esperava, com base na
literatura internacional, o que demonstra a necessidade de um maior número de
trabalhos.
Figura 5. Relação de trabalhos encontrados em periódicos nacionais e
banco de teses de universidades nos últimos 10 anos sobre utilização de
leveduras vivas para bovinos de corte em pastagens
Esses resultados demonstram que apesar de toda a literatura referente aos
beneficio do uso de leveduras vivas em ruminantes. Quando utilizadas em
suplementos de bovinos em pastejo, os resultados ainda são muito contraditórios
e inconsistentes.
3.25%
&1.71%&3.36%
&0.45%
0.93%4.47% 3.75%
0.81%
&6.76%
&2.33%
1.02%
&1.15% &0.93%
9.30%
&4.26%&8.00%&6.00%&4.00%&2.00%0.00%2.00%4.00%6.00%8.00%10.00%12.00%
Consum
o%MS%
Digestibilidade%MS%
Digestibilidade%FDN
%
pH%ruminal%
N&NH
3%
Acetato%
Propionato%
Relacao%A:P%
Metano%
GMD%
Produção%
Gordura%
Proteína%
Média%Geral% Média%das%respostas%favoráveis%
! 64!
ÓLEOS ESSENCIAIS O que é?
Os óleos essenciais são compostos secundários presentes nos vegetais.
Eles não participam dos processos bioquímicos primários das plantas e suas
principais funções nos vegetais estão relacionadas com a proteção, além de
atuarem como atrativos aos insetos polinizadores, isto, por conferir as plantas cor
e odor, sendo também agentes de competição entre planta (TAIZ & ZEIGER,
2006).
Quimicamente, os óleos essenciais são constituídos de hidrocarbonetos
terpênicos, alcoóis simples e terpenos, aldeídos, cetonas, fenóis, ésteres, óxidos,
peróxidos, furanos, ácidos orgânicos, lactonas, cumarinas e compostos contendo
enxofre, em diferentes concentrações (DEBAGUE, 2008). De acordo com Pinto
(2010), a extração dos óleos essenciais varia conforme sua localização na planta;
sendo exemplos de métodos de extração a enfloração, o arraste por vapor
d’água, extração com solvente orgânico, prensagem e também extração por CO2
supercrítico.
Como funciona? Os óleos essenciais possuem propriedades antibacterianas, antioxidantes
e até mesmo antifúngicas (ARAUJO et al., 2004; BURT, 2007). Seu modo de
ação ainda não está totalmente claro. Como citado anteriormente, eles são
constituídos por uma grande variedade de compostos, existindo um sincronismo
entre os compostos e a atividade antimicrobiana dos óleos. De acordo com
Morais (2009), as quantidades e concentrações das substancias que compõem os
óleos essenciais são influenciadas por fatores abióticos e bióticos, o que pode
dificultar ainda mais a compreensão do seu modo de ação.
Segundo alguns pesquisadores, esses compostos quando no rúmen
poderiam atuar principalmente na redução de bactérias gram-positivas em relação
às gram-negativas (HELANDER et al.,1998; HMAMOUCHI et al.,1990). Como
sugerido por Araujo et al.(2004), essa seletividade estaria relacionada
principalmente à constituição da parede celular, visto que bactérias gram-
negativas apresentam uma dupla camada, enquanto as gram-positivas, apenas
uma camada simples, permitindo a atuação dos óleos.
! 65!
Conforme esquema proposto por Burt (2004), os óleos essenciais poderiam
degradar a parede celular das bactérias, causar danos às proteínas da membrana
citoplasmática alterando sua fluidez, além de talvez ocasionar coagulação do
citoplasma e depleção da bomba iônica. Com isso, o modo de atuação dos óleos
essenciais se assemelharia a dos ionóforos.
Expectativa de uso no pasto A utilização dos óleos na alimentação dos animais em pastejo é
fundamentada na modulação da fermentação ruminal através da seleção de
bactérias gram positivas. Espera-se que haja redução na relação
acetato/propionato, e consequentemente diminuição da produção de metano no
rúmen (ARAUJO, 2010; BUSQUET et al., 2005). A redução da emissão de
metano é de extrema importância, pois de 2 a 12% da energia consumida pelo
animal pode ser perdida na forma deste gás que também contribui com cerca de
20% do aquecimento global (BERCHIELLI et al, 2010).
Araújo (2010) avaliou diferentes óleos essenciais de plantas brasileiras
sobre o efeito da fermentação in vitro. Foi constatado que óleos de aroeira
vermelha (Schinus terebinthifolius), capim cidreira (Cymbopogum citratus), capim
limão (Cymbopogum flexuosus), citronela (Cymbopogum winterianum), guaco
(Mikania glomerata), carqueja (Baccharis cylindrica) e arnica (Lychnophora
pinaster), foram capazes de manipular a fermentação, sendo segundo o os óleos
de aroeira vermelha (fruto e folha) e arnica os mais promissores, em relação à
manipulação ruminal e redução de produção do gás metano.
Ainda como efeito da suplementação com óleos essenciais na dieta dos
animais estaria à diminuição das concentrações de N-NH3 no rúmen (WALLACE,
2002; MC INTOSCHI et al., 2003; BUSQUET et al, 2006,). A redução da
desaminação ruminal é um fato bastante relevante, principalmente quando se
trabalha com forragens adubadas, que possuem fração solúvel da proteína mais
elevada.
Devido ao modo de ação dos óleos essenciais em manipular a fermentação
ser parecida ao dos ionóforos, muitos resultados esperados com estes compostos
na manipulação da fermentação se assemelham ao da monensina.
Alguns exemplos e resultados
! 66!
Em dois experimentos desenvolvidos na APTA – Alta Mogiana Colina-SP,
avaliou-se o efeito da suplementação proteica de baixo consumo aliado a adição
de mistura comercial de óleos essenciais em relação à utilização de suplementos
sem aditivos ou com monensina sódica, sobre o desempenho bovinos Nelore,
recriados em pastagem constituída de Brachiaria brizantha cv. Marandu no
período de águas. (OLIVEIRA et al., 2011; FERNANDES et al., 2012).
No primeiro experimento não foi detectado diferencial resposta à adição
dos óleos na dieta. Nesse experimento, no primeiro período os animais tiveram
um ganho médio acima do esperado (1,314 kg/dia), esse ganho pode ter sido
fruto de um ganho compensatório, o que por sua vez comprometeu o resultado
geral do experimento. Cabe ainda salientar que em ganhos de peso mais
elevados, a capacidade de gerar ganhos adicionais fica comprometida.Já no
segundo experimento, foi observado diferencial resposta de 10,61% no
desempenho dos animais consumindo óleos em relação à aqueles que não
receberam aditivos, demonstrando o potencial dos óleos em melhorar o
desempenho dos animais. Todavia, os óleos promoveram desempenho inferior
quando comparados a monensina.
Levantamento Em levantamento realizado sobre pesquisas com óleos essenciais para
animais em pastejo, foi observado que são escassos os trabalhos com estes
compostos. Foram encontrados apenas dois trabalhos, sendo que, em apenas um
foi deles identificado diferencial resposta positiva de 46,9% para o ganho de peso
médio diário dos animais e também aumento da glicose plasmática em 5,33%.
Existem vários experimentos comprovando os benefícios da utilização dos
óleos essenciais e seu potencial antimicrobiano, sendo promissor agente
modulador da fermentação ruminal, porém são poucos os experimentos
realizados no Brasil com estas substancias que vêm apresentando potencial de
melhora no desempenho produtivo dos animais. Assim, mais pesquisas para a
efetiva comprovação dos benefícios dos óleos essenciais na alimentação de
ruminantes se fazem necessário.
UREIA PROTEGIDA O que é?
! 67!
A ureia protegida ou ureia de liberação é uma tecnologia desenvolvida para
modular a liberação da ureia no ambiente ruminal (GONÇALVES, 2006), por meio
da proteção deste composto com lipídeos vegetais, amido, polímeros
biodegradáveis, formaldeídos, dentre outros (BARTLEY & DEYOE, 1975;
PROKOP & KLOPFENSTEIN 1977; FORERO et al, 1980;).
Como funciona? A proteção do nitrogênio não proteico, para ser eficiente, precisa alterar a
curva de liberação do nitrogênio. Ou seja, a liberação deve ser mais próxima a
fontes de proteína verdadeira do que da ureia. Neste cenário, cada empresa
possui suas estratégias de proteção, ou melhor, do controle da liberação da ureia,
e suas eficiências são variáveis.
O argumento principal para a proteção da ureia reside na redução da
velocidade de liberação de amônia no rúmen, pois, o nitrogênio não proteico
(NNP) possui degradação ruminal de 100% e apresenta pico de N-NH3 de 1 à 2h
após seu fornecimento (SANTOS 2006), em contra partida, a degradação da
fração fibrosa das forrageiras é inferior a 10%/hora. De acordo com Tedeschi et
al. (2002), as tecnologias de proteção da ureia são alternativas para proporcionar
melhor sincronismo entre a disponibilidade de N-NH3 e a taxa de digestão da
fração fibrosa ruminal.
Expectativa de uso no pasto O sistema de produção de ruminantes em pastejo no Brasil é caracterizado
por forrageiras de baixo valor nutritivo, elevados teores de carboidratos estruturais
e baixos teores proteicos, neste caso a suplementação com fontes de nitrogênio
não proteico é necessária, mesmo no período das águas.
No entanto, segundo Reis et al. (2006), cerca de 25 % do nitrogênio das
folhas são NNP e aproximadamente 15 a 50% do nitrogênio total é NNP. Espera-
se que a adição de ureia protegida nos suplementos proteicos proporcionem
menores picos e liberação mais constantes de N-NH3 no rúmen quando
comparadas a ureia convencional (AKAY et al., 2004; CARRER et al. 2008).
Picos de elevada produção de N-NH3 ocasionam grandes perdas de
energia, pois o N-NH3 não é fonte de proteína para o ruminante, e após ser
! 68!
absorvido pela parede do rúmen, ele é convertido à ureia no fígado, sendo gastos
quatro ATPs para cada mol de ureia formada.
A importância de níveis de constantes de N-NH3 para ruminantes
alimentados com forrageiras está associada às bactérias fibrolíticas, que de
acordo com Russel et al. (1992), utilizam preferencialmente N-NH3 como fonte de
nitrogênio; assim, suas concentrações refletiriam diretamente na degradação da
fibra, taxa de passagem podendo influenciar no desempenho animal. Segundo
Detmann et al (2010), o suprimento para a produção enzimática dos
microrganismos estaria próximo a 8mg/dl de nitrogênio de N-NH3, de acordo com
este autor, esses seriam os valores necessários para o desenvolvimento dos
microrganismos, no entanto, valores próximos a 15mg/dl de N-NH3 seriam
necessários para aumentar o consumo voluntário de forragem de baixa qualidade.
Já a substituição de fontes de proteína verdadeira por ureia protegida, pode
reduzir o custo da suplementação. Conforme sugerido por Souza et al.(2010), a
suplementação com ureia de liberação lenta ainda diminuiria os custo da
alimentação, sendo no caso dos animais criados no pasto, reduzindo o custo do
suplemento, devido a substituição de fontes de proteína verdadeira de elevado
custo, por NNP. Ainda como vantagem da utilização de ureia de liberação lenta,
poderia ser citado a diminuição dos riscos de intoxicação dos animais com a
ingestão de ureia (SOUZA et al., 2010)
Alguns exemplos e resultados Gonçalves (2006) estudou a utilização de diferentes doses de NNP
juntamente com diferentes proporções de ureia de liberação lenta na dieta de
animais bovinos recebendo feno de baixa qualidade. Não houve modificações
significativas nos padrões fermentativos ruminais com a substituição da ureia
comum por ureia protegida, apenas observando melhora na digestibilidade
aparente da proteína bruta. Da mesma maneira, Azevedo et al. (2008) também
não observou diferenças significativas com a substituição da ureia normal em
favor da ureia protegida.
Melo (2011) trabalhou com novilhos inteiros da raça Nelore, em pastagem
de Brachiaria brizantha cv. Marandu no período de transição água-secas. Não
houve diferença significativa no desempenho dos animais que receberam ureia
! 69!
comum ou de liberação lenta, sendo que, a adição de ureia de liberação lenta
diminuiu drasticamente a margem bruta de lucro com a atividade.
Outra forma de avaliação é a substituição de fontes de proteína verdadeira
por ureia de liberação lenta. Com esse objetivo foi realizado um experimento na
APTA – Alta Mogiana, onde se avaliou a substituição de 0, 50 e 100% da fonte de
proteína verdadeira (Farelo de algodão) por Optigen®. Os suplementos foram
formulados com concentrações de proteína bruta variando de 30 a 47%, sendo
que, o fornecimento diário de proteína bruta foi o mesmo. Ressalta-se que em
todos havia a presença de ureia normal oferecida na mesma quantidade diária. A
regulação foi realizada pela redução no fornecimento dos suplementos com maior
proporção de Optigen®. O experimento foi realizado com novilhos Nelore, sendo
que a unidade experimental foi o piquete com 6 animais e teve duração de 84
dias. Os ganhos médios 0,890, 0,942 e 0,748 kg/dia, para as substituições de 0,
50 e 100 % da fonte de proteína verdadeira. O tratamento com 100% de
substituição diferiu significativamente dos demais (P<0,05). Já as doses de 0 e
50% não apresentaram diferença significativa. Moretti et al. (2010) concluíram que
pode-se substituir até 50% da fonte de proteína verdadeira, sem prejuízo ao
desempenho e que o ponto ótimo de substituição seria por volta de 35%.
Levantamento Dentro do levantamento realizado sobre pesquisas de ureia protegida nos
últimos 10 anos para animais criados em pastagem ou alimentadas com dietas a
base de volumosos, foram encontrada apenas 5 trabalhos. Em todos os cinco
trabalhos encontrados, apenas um apresentou diferencial de resposta à
substituição de ureia convencional por ureia protegida. Neste trabalho, a produção
de leite apresentou tendência em aumentar cerca de 8,70%, reduzir o teor de
gordura e proteína do leite em aproximadamente 9,27% e 2,02%
respectivamente.
Diante da presente pesquisa, pode-se concluir que a substituição da ureia
normal pela de liberação lenta não trás muitas vantagens ao sistema, mas ela
deve ser vista como potencial substituto de fontes de proteína verdadeira, quando
for viável economicamente.
MINERAIS ORGÂNICOS
! 70!
O que é?
Os minerais orgânicos podem ser definidos como fonte de microminerais na
forma combinada de uma molécula orgânica com o íon metálico, sendo essa
molécula orgânica principalmente aminoácidos ou proteínas parcialmente
hidrolisadas, aumentando a disponibilidade desses nutrientes com menores
inclusões nas dietas.
Com funciona?
O modo de ação dos minerais orgânicos que os diferenciam dos inorgânicos
ainda é bastante desconhecido, mas acredita-se que o principal fator associado
ao aumento da disponibilidade intestinal desses elementos estaria no fato de que,
um íon metálico que já foi solubilizado, para ser absorvido no intestino, precisa
estar ligado a uma proteína, pois é essa quem faz o carreamento deste para
dentro da célula. Como os minerais orgânicos já estão ligados à proteína, ele é
absorvido pelo mesmo método de absorção desta, sem competir com os sítios de
absorção intestinal dos íons inorgânicos ou aqueles solubilizados no rúmen. Mas
para que essa reação aconteça, a proteína ligante não pode ter sido fermentada
pelos microrganismos ruminais e o íon não poderia se complexar no rúmen com
outros ligantes.
Expectativas de resultados no pasto Animais com dietas a base de forragem, ou em pastejo, dificilmente tem os
seus requerimentos diários em minerais atendidos. Isso se deve ao fato de que as
forragens utilizadas nas pastagens possuem baixos níveis de minerais, levando
ao desbalanceamento destes nas dietas dos ruminantes. Para o fornecimento de
minerais, principalmente os microminerais, há incorporação à dieta na forma de
sulfatos, óxidos e carbonatos. Apesar desses ingredientes não onerarem de forma
comprometedora o custo do suplemento, possuem uma baixa disponibilidade e
solubilidade no trato gastrointestinal dos ruminantes, indicando de deverá haver
na dieta total uma alta quantidade desses minerais, como zinco (Zn), cobre (Cu),
selênio (Se), manganês (Mn), cobalto (Co), para que as exigências dos animais
sejam supridas.
! 71!
Devido ao não suprimento das exigências de minerais dos animais em
pastejo, o uso de sal mineral é uma prática já utilizada nos sistemas de produção
de bovinos em pastagens, apesar da sua baixa disponibilidade nutricional.
Os minerais orgânicos podem ser utilizados para atender as exigências
nutricionais desses animais, com menor quantidade de sal fornecida, já que a sua
disponibilidade é aumentada no sistema gastrointestinal, quando comparada
àquelas fornecidas na forma inorgânica.
Pereira (2002) fez uma ótima revisão sobre o uso de minerais orgânicos
para ruminantes, o autor levantou dados da literatura internacional. Ele conclui
apontando que mesmo após dissociação do complexo os minerais orgânicos
parecem ter alta solubilidade. Isso seria um indicativo da maior absorção que
algumas formas inorgânicas, com base na digestibilidade do trato digestivo total
ou concentração em tecidos ou sangue. Ele comenta também que a literatura não
suporta ocorrência de aumento em ganho em peso e nem produção de leite, há
sim efeitos positivos da suplementação de microminerais, porém em dietas
isonutricionais, não há suporte científico do benefício dos minerais orgânicos. E
por fim foi levantado pelo autor uma possibilidade de resposta positiva em
situações específicas, por exemplo, no caso de suplementação de animais em
stress, porém ainda sem muita base científica.
Levantamento de dados nacionais Apesar de poucos trabalhos realizados com animais em pastagens e
minerais orgânicos, uma compilação de artigos, teses e dissertações realizada
nos últimos 10 anos de publicações sugerem pouca consistência nos resultados
referentes a esta utilização. Houve tendência na redução da produção de leite (-
7,16%), gordura no leite (-2,39%), ureia no sangue (-10,88%), e espessura de
gordura subcutânea (-0,18%). Também houve tendência para aumento na glicose
sanguínea (4,65%) e área de olho de lombo (2,90%). O único resultado que
diferiu foi o ganho em peso médio diário com diferencial de resposta de 17,62%.
Em estudo realizado na APTA-Colina com o desenvolvimento corporal de
novilhas leiteiras, mantidas em pastagens de capim Brachiaria brizantha cv.
Marandu e suplementadas com minerais orgânicos e inorgânicos, Drubi (2009)
não encontrou diferenças significativas o desempenho reprodutivo e produtivo
! 72!
quando comparadas essas duas formas de suplementação, independentemente
do período analisado, seca ou águas.
Exemplos de uso dos minerais orgânicos
Alguns exemplos podem ser citados sobre formas de minerais orgânicos.
Zinco - o zinco (Zn), para a formação do mineral orgânico, é complexado
principalmente a metionina, formando a molécula Zn-metionina, sendo esta a
forma mais estudada em bovinos. Para a sua absorção intestinal, há indicativos
de que é realizada por transportadores específicos da metionina. A
suplementação com o elemento Zn visa principalmente solucionar problemas de
cascos dos animais ruminantes, principalmente para vacas leiteiras, além de ser
essencial para a síntese de enzimas envolvidas no metabolismo de proteínas e
carboidrato, participando ativamente do desenvolvimento do sistema imunológico
(NRC, 1996). Referenciando o ganho em peso e a qualidade da carcaça, Pedreira
& Berchielli (2006) evidenciaram que doses diárias de Zn na forma quelatada com
o aminoácido metionina pode atuar sobre a carcaça de bovinos, aumento o grau
de marmoreio e a espessura de gordura.
Apesar do conhecimento da essencialidade do zinco nas dietas de animais
ruminantes, segundo Carvalho et al. (2003) em compilação de dados de
diferentes trabalhos da literatura, ainda há contradição entre os resultados
apresentados, pois há resultados positivos com a suplementação de zinco
quelatado em relação à sua forma inorgânica (Tabela 2)
Em outro trabalho utilizando diferentes fontes de Zn como o Zn orgânico, Zn
proteinado, Zn polissacarídeo e ZnO, no desempenho de bovinos de corte,
Kessler et al. (2003) não encontrou diferença significativa entre as dietas para
ingestão de matéria seca, taxa de crescimento e conversa alimentar.
Tabela 2. Comparação de resultados positivos com a suplementação de zinco
orgânico em relação a sua forma inorgânica
Parâmetros avaliados Número de trabalhos
Efeito positivo Sem efeito
Ganho médio diário 5 4
Consumo de matéria
seca
2 2
! 73!
Conversão alimentar - 1
Resposta imune 1 1
Problemas de casco 1 -
Fonte: Carvalho et al. (2003)
Cobre - o cobre (Cu) na forma de mineral orgânico é encontrado
principalmente complexado ao aminoácido lisina, formando a Cu-lisina. Um dos
maiores problemas associados ao Cu é a sua disponibilidade próxima a 1%
(NRC, 2001), pois este forma compostos, no rúmen, com os elementos enxofre
(S) e molibdênio (Mo), resultando em sais de cobre que não são absorvíveis.
Cromo - como o Cr participa ativamente do metabolismo energético do
animal, pode influenciar na qualidade da carcaça dos animais, pois funciona como
um componente integral e biologicamente ativo do fator de tolerância a glicose
(GTF – Glucose Tolerance Factor), facilitando a interação entre insulina e os
receptores dos tecidos musculares e gordurosos (MERTZ, 1987). Como participa
no metabolismo energético, o cromo pode influenciar na formação da carcaça dos
animais.
Polizel Neto et al. (2009), estudando a inclusão de cromo na forma
quelatada à proteína, concluíram que animais Nelore e F1 Brangus × Nelore
apresentam potencial similar de produção de carne de qualidade a pasto. A
suplementação protéico-mineral com adição de cromo complexado à molécula
orgânica melhora o ganho de peso (494 vs 420 g/animal/dia) e o rendimento de
carcaça e não influencia os parâmetros qualitativos da carne. Apesar desse
resultado ser positivo para o uso de um mineral orgânico, na maioria dos
trabalhos revisados, não há efeito do uso sobre o ganho de peso e nas
características de carcaça (CHANG & MOWAT, 1992; ZANETTI et al., 2003)
Selênio - o selênio (Se) é um dos minerais orgânicos mais utilizados nos
EUA, principalmente na forma de levedura selenizada. Durante o processo de
cultivo da levedura do gênero Saccharomyces cerevisiae há adição de Se, o qual
forma o composto selenometionina, em que há substituição do S da molécula de
metionina pelo Se. O íon Se é utilizado pelo animal na síntese de enzimas do
grupo glutationa, principalmente a glutotiona peroxidades, deiodinases e
! 74!
tiorredoxinas redutases. Essas enzimas participam principalmente da redução de
radicais livres do catabolismo celular. Um dos principais benefícios do uso de Se
orgânico está no aumento da sua concentração no colostro de animais leiteiros,
sendo repassado para o bezerro desde a fase inicial do seu crescimento (WEISS,
2004).
De forma geral, o uso de minerais orgânicos ainda é baixo no país, devido
ao seu custo ser muito mais elevado, quando comparada a utilização de minerais
inorgânicos. Apesar da disponibilidade menor nos íons inorgânicos, há
nutricionistas que preferem recomendar aumento nos níveis nas dietas dos
animais, como forma de suprir as exigências, para diminuir os custos de
produção. Porém essa prática pode levar ao desbalanceamento da dieta total,
acarretando altas perdas destes minerais no ambiente, devido a excreção dos
animais. Nesse sentido, a utilização de minerais orgânicos pode e deverá, no
futuro, contribuir com o aumento da eficiência de utilização de minerais. O grande
benefício dos minerais orgânicos será na muito mais redução do uso de insumos
e do que no aumento em desempenho.
SUPLEMENTAÇÃO COM GORDURA PROTEGIDA O que é?
O termo lipídios consiste em definição genérica usada para compostos que
possuem ácidos graxos de cadeia longa. Ácidos graxos são definidos como
compostos que possuem cadeia longa de hidrocarbonetos e estrutura terminal
com grupo carboxila, sendo que tais substâncias podem ser encontradas em
grandes quantidades em sistemas biológicos, raramente na forma livre, sendo
tipicamente encontrados ligados a molécula de glicerol ou outras estruturas que
se ligam ao carbono terminal (LEHNINGER, 2002).
Como funciona? Segundo Nagajara et al. (1997), ácidos graxos de cadeia longa são tóxicos
para as bactérias gram-positivas. Sua ação basea-se na alteração na
permeabilidade da membrana celular, pela formação de complexos insolúveis
com cátions, que reduz a capacidade da célula de regular o pH intracelular e a
captação de nutrientes. As bactérias gram-negativas, devido a sua dupla
! 75!
membrana não são afetadas. Mas são tóxicos para os protozoários, entretanto,
não se sabe completamente como ocorre essa toxidade.
Segundo Church (1984), a utilização de aditivos, em forma de lipídios, na
dieta de bovinos é alternativa para elevar a densidade energética, sem aumentar
a ingestão de carboidratos ou comprometer a ingestão de fibras. Há varias fontes
de gordura possíveis de serem utilizadas na dieta para ruminantes, que se
incluem desde óleo de soja até lipídios protegidas comercialmente, e sementes
inteiras oleaginosas.
Uma forma de reduzir os efeitos tóxicos da gordura sobre o funcionamento
ruminal seria a busca de fontes de gorduras protegidas da degradação, e os sais
de ácidos graxos tem sido extensivamente utilizados com este objetivo, visto não
apresentarem um grupo carboxil livre no ácido graxo, o qual é a condição inicial
básica para os microrganismos iniciarem o processo de biohidrogenação.
Todavia, o grau de insaturação é provavelmente a mais importante característica
que influencia a digestibilidade (JENKIS, 1993).
Os sais de cálcio de ácido graxo (SCAG) ou gordura protegida são
produzidos através da ligação de sais de cálcio aos ácidos graxos essenciais de
cadeia carbônica longa, linoléico 18:2 e linolênico 18:3, formando sabões de
cálcio que impedem que ocorra a biohidrogenação dos ácidos graxos insaturados
no rúmen. Os ácidos graxos da gordura protegida teoricamente passam intactos
pelo rúmen e são metabolizados no intestino, onde possui melhor aproveitamento
de suas características, portanto, com a mesma quantidade de gordura, mas ela
sendo protegida, apresenta melhor resultado. Quando os SCAG chegam ao
abomaso ocorre liberação dos ácidos graxos, devido o menor pH em relação ao
rúmen, ficando livres para serem absorvidos no duodeno.
A utilização de ácidos graxos pelas bactérias ruminais é restrita. O excesso
de ácidos graxos insaturados e triglicerídeos pode causar alteração na
fermentação ruminal, devido à supressão das atividades de bactérias celulolíticas
e metanogênicas, geralmente gram-positivas (JENKINS et al., 2008).
Expectativas de uso no pasto e exemplos As expectativas de utilização de gordura protegida na suplementação de
bovinos de corte em pasto estão relacionadas com o suprimento das
necessidades energéticas dos animais em pastejo. O aumento da densidade
! 76!
energética da suplementação com a utilização de lipídeos é uma estratégia para
buscar resultados de desempenho positivos em sistemas de criação extensivos.
Valente (2011) avaliando o desempenho de bovinos em pastagens de capim-
xaraés e suplementados com diferentes fontes lipídicas, no período chuvoso,
encontrou ganho adicional de 120g nos animais recebendo gordura protegida em
comparação com o tratamento controle, o autor enfatiza que o acréscimo no
ganho pode não ser interessante economicamente devido ao alto custo do
suplemento, indicando que a estratégia deve ser exaustivamente analisada.
Santana (2010), avaliando suplementos lipídicos nas características da
carcaça e carne de novilhas mantidas em pastagem encontrou efeito significativo
sobre o sabor, textura e aceitação global. Os suplementos com óleo de soja e sais
de cálcio foram superiores no sabor e a aceitação global em relação à dieta com
soja grão e com relação à textura o tratamento com sais de cálcio foi superior aos
demais, a autora não encontrou diferença significativa para ganho médio diário.
Onetti & Grummer (2004), Citado por Santana (2010), em uma revisão de
23 experimentos, que avaliaram a suplementação de diferentes fontes e níveis de
gordura nas rações de vacas. Destes, 21 experimentos que utilizaram sais de
cálcio tiveram redução no consumo com aumento na produção de leite.
Uma nova expectativa de utilização da gordura protegida na redução da
mitigação de metano está sendo motivo de novas pesquisas com o uso na
suplementação a pasto. Em estudo realizado com bovinos a pasto recebendo
suplementação com óleo de palma, óleo de linhaça, gordura protegida e soja
grão, resultou em uma menor emissão de metano, numericamente, por quilo de
ganho (KgCH4/KgGAN) para o tratamento com gordura protegida (CARVALHO,
2012).
Tabela 2. Efeito da suplementação com lipídios sobre o desempenho e produção
de metano
Tratamentos EPM Valor-P
CO PA LI GP SG
GMD 0,596 0,574 0,655 0,581 0,594 0,051 0,797
KgCH4/ano 41,5 41,1 25,6 37,2 30,1 4,820 0,217
gCH4/dia 113,7 112,6 70,2 101,9 82,5 13,23 0,217
mg CH4/dia/KgPV 238,7 228,5 147,0 208,5 180,9 16,71 0,054
g CH4/dia/KgPV0,75 1,12 1,08 0,69 0,98 0,84 0,091 0,087
! 77!
KgCH4/KgCAR 0,41 0,43 0,26 0,40 0,32 0,058 0,308
KgCH4/KgGAN 0,24 0,24 0,14 0,23 0,18 0,034 0,304
CH4 (%CEB) 3,39 3,36 2,48 2,89 2,27 0,311 0,157
Médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha não diferem entre si pelo
teste de Tukey a 5% de probabilidade; CO= Controle, PA= óleo de palma, LI=
Óleo de linhaça, GP=Gordura protegida, SG= Soja grão.
Fonte: Carvalho (2012)
Levantamento
A gordura protegida tendeu aumentara produção de leite (11,26%) e
reduzir a concentração de glicose plasmática (-2,28%). As respostas favoráveis
deram-se na gordura (5,00%) e proteína do leite (5,95%).
Figura 6. Relação de trabalhos encontrados em periódicos nacionais e
banco de teses de universidades nos últimos 10 anos sobre utilização de
gordura protegida para bovinos de corte em pastagens
A utilização de gordura em dietas para bovinos em confinamento possui
vasta disponibilidade de informações na literatura, porém em sistemas de pastejo
há carência de informações e novos resultados com o uso em sistemas
extensivos favorecerão outras pesquisas futuras em pastagens tropicais, onde há
grande capacidade de bons avanços com o aumento da utilização de gordura em
dietas para bovinos em pastagens, há grande potencial do uso da gordura
protegida como o uso para a redução da mitigação de metano.
Considerações finais
11.26%
5.00% 5.95%
&2.28%
5.00%5.95%
&4.00%&2.00%0.00%2.00%4.00%6.00%8.00%10.00%12.00%
Producao%de%leite% Gordura% Proteina% Concentracao%de%glicose%
Δ"Tratado"x"Controle"(%
)"
Média%Geral% Média%das%respostas%favoráveis%
! 78!
A correta utilização de aditivos em bovinos mantidos em pastagens é uma
tecnologia pouco explorado nos nossos sistemas de produção, mas apresenta
alto potencial de uso. Sua viabilidade precisa ser avaliada em relação a melhoria
dos indicies zootécnicos e também em relação aos parâmetros econômicos.
A literatura nacional é pobre em informações sobre o uso destas técnicas.
E a maioria dos trabalhos não apresentam delineamentos capazes de verificar a
ocorrência de diferenças estatísticas. Sempre é salutar lembrar que a observação
de não diferença significativa não significa igualdade entre os tratamentos. Desta
forma, sugere-se que os autores de futuros experimentos atentem pela
necessidade de delineamentos robustos, pois na maioria das vezes a diferença
desejada é da ordem de 3 a 5 %.
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! 89!
Intensificação da produção animal em pasto por meio do
manejo do pastejo*
Eng. Agro. Sila Carneiro da Silva Professor Associado do Dep. de Zootecnia da ESALQ/USP. Bolsista do CNPq
*Anais do Simpósio de Produção Animal a Pasto (SIMPAPASTO), em Maringá,
PR, 2011.
Introdução
O manejo do pastejo tem sido alvo de interesse durante muitos anos,
particularmente em países ditos de pecuária desenvolvida, uma vez que tem sido
por meio de práticas adequadas de manejo que incrementos significativos em
produção e produtividade animal têm sido gerados, assegurando competitividade
e longevidade aos sistemas de produção animal baseados na exploração de
pastagens. Dentre as modalidades de métodos de pastejo existentes, o pastejo
rotativo é uma das mais preferidas e utilizadas, função da maior facilidade de
condução e possibilidades de controle do processo de pastejo, apesar dos
maiores custos relacionados com subdivisão dos pastos, construção de
corredores, áreas de sombra para conforto e suplementação animal e rede
hidráulica para fornecimento de água em quantidade e qualidade. Nessa
modalidade, o processo de pastejo ocorre de forma isolada do processo de
rebrotação, uma vez que são intercalados períodos de ocupação e de descanso
dos pastos. O fato pressupõe controle da duração do processo de rebrotação e,
para tanto, a necessidade de conhecer o momento ideal de colheita da forragem
produzida, ou seja, de retorno dos animais aos piquetes.
A produção e a colheita eficiente de qualquer cultura como milho, soja,
cana-de-açúcar, laranja etc. requer conhecimento acerca do ciclo e do
crescimento das plantas para que as operações envolvendo tratos culturais e
colheita possam ser realizadas no momento correto e de maneira a propiciar o
maior rendimento e produtividade possível. Para plantas forrageiras e pastagens
essa lógica de raciocínio é a mesma, o que faz com que o conhecimento sobre os
padrões de crescimento e desenvolvimento dessas plantas seja ponto de partida
para que estratégias de manejo e de colheita possam ser idealizadas e
implementadas. As plantas forrageiras acumulam forragem de maneira
! 90!
diferenciada ao longo de seu ciclo de crescimento, ora priorizando a produção de
novas folhas e tecidos ora priorizando a produção de colmos e inflorescências.
Esses diferentes padrões de crescimento têm implicações importantes sobre a
produção de forragem, seu valor nutritivo, consumo e eficiência de colheita pelo
animal, e precisam ser compreendidos para que práticas de manejo eficientes
possam ser planejadas e utilizadas. Este texto tem por objetivo discutir aspectos
relacionados com o crescimento das plantas forrageiras e consumo de forragem
sob condições de pastejo ressaltando suas implicações sobre a determinação do
ponto ideal de colheita da forragem produzida.
O crescimento das plantas forrageiras e o acúmulo de forragem O acúmulo de forragem durante o período de crescimento e rebrotação das
plantas após pastejo é determinante da quantidade e qualidade da massa de
forragem produzida. Trabalhos recentes de pesquisa têm descrito esse processo
(e.g. Hodgson & Da Silva, 2002; Da Silva, 2004; Da Silva & Nascimento Jr., 2007)
e revelaram um padrão de crescimento semelhante e muito consistente para
diferentes espécies e cultivares de plantas forrageiras (Zeferino, 2006; Barbosa et
al., 2007; Pedreira et al., 2007; Da Silva et al., 2009; Voltolini et al., 2010; Barbero,
2011). De forma geral, logo após o pastejo e saída dos animais dos piquetes, o
pasto começa a rebrotar com o objetivo de refazer sua área foliar, interceptar luz
e crescer novamente (Figura 1), acumulando nova quantidade de forragem para
ser utilizada no pastejo seguinte. No início são produzidas principalmente folhas,
sendo o acúmulo de colmos e de material morto muito pequeno. Nessa fase a
prioridade da planta é refazer sua área foliar com o objetivo de maximizar a
interceptação da luz incidente por meio do componente mais eficiente que possui,
as folhas. Pelo fato de o dossel forrageiro encontrar-se “aberto” após pastejo,
praticamente não há competição por luz e a planta prioriza a produção de folhas.
Esse processo é mantido dessa maneira até que a massa de forragem aumenta e
as folhas começam a se sobrepor e sombrear umas às outras, especialmente
aquelas posicionadas mais próximas do solo. Esse ponto é quando 95% de toda a
luz incidente são interceptados. Nesse momento ocorre inversão de prioridades
na partição de assimilados e as plantas, em resposta à competição por luz,
começam a colocar folhas novas em condições de plena luz sempre na parte de
cima do dossel forrageiro. Para que isso seja possível, a planta inicia um
! 91!
processo intenso de alongamento de colmos, conseqüência da elevação de seus
meristemas apicais, fazendo com que as folhas novas, que surgem do interior do
cartucho formado pelas bainhas das folhas existentes, sejam posicionadas acima
das outras mais velhas. Quando isso acontece, as novas folhas produzidas são
menores que as mais velhas, posicionadas próximas do solo, as quais iniciam
processo de morte e decomposição, causando redução do acúmulo de folhas e
aumento do acúmulo de colmos e de material morto (Figura 2). Nesse estágio a
altura e a massa de forragem dos pastos aumentam rapidamente, porém a massa
de forragem disponível ao animal para colheita começa a apresentar proporções
cada vez menores de folhas e maiores de colmos e de material morto à medida
que o período de rebrotação aumenta, ou seja, o intervalo de pastejo é
prolongado.
Figura 1. Evolução da área foliar e interceptação de luz em pastos durante a
rebrotação.
IL
IAF
Tempo
Índice
de ár
ea fo
liar Interceptação de luz
! 92!
Figura 2. Dinâmica do acúmulo de forragem durante a rebrotação em pastos de
capim-mombaça pastejados com 100% de interceptação luminosa e altura pós-
pastejo de 50 cm (Fonte: Carnevalli, 2003).
O intervalo de pastejo ideal, portanto, seria quando o acúmulo de folhas
fosse elevado, porém antes do início do acúmulo acentuado de colmos e de
material morto, condição que vem sendo demonstrado estar associada com 95%
de interceptação da luz incidente durante a rebrotação para os capins mombaça
(Carnevalli et al., 2006), marandu (Zeferino, 2006), tanzânia (Barbosa et al.,
2007), xaraés (Pedreira et al., 2007), elefante (Voltolini et al., 2010) e mulato
(Barbero, 2011). Nesse ponto a massa de forragem é composta por elevada
porcentagem de folhas e pequena porcentagem de material morto e colmos,
sendo estes finos e tenros. Esse padrão de resposta é análogo àquele descrito
para plantas forrageiras de clima temperado, notadamente azevém perene
(Parsons et al., 1988), indicando existir muito mais semelhanças que diferenças
entre plantas forrageiras de clima temperado e tropical e demonstrando o
potencial de uso dos mesmos conceitos de manejo utilizados com sucesso em
países ditos desenvolvidos na exploração de pastagens no Brasil. Nesse
!
!
! !
Folha
Colmo !
Morto
Acú
mul
o de
folh
as e
se
nesc
ênci
a (c
m/p
erfil
lho)
Acúm
ulo de colmos
(cm/perfillho)
! 93!
contexto, a condição de 95% de IL pode ser determinada no campo por meio da
altura do pasto, medida do nível do solo até o horizonte de visada formado pelo
plano horizontal de folhas, uma vez que essa característica estrutural do dossel
forrageiro tem apresentado valores muito estáveis na condição de 95% de IL,
permitindo que esse tipo de associação possa ser feito de maneira eficaz e
eficiente e fornecendo uma ferramenta fácil e ágil de monitoramento dos pastos e
controle do processo de pastejo em condições de campo; a altura. Nesse
contexto o ponto ideal de colheita seria o mesmo para as diferentes plantas
forrageiras avaliadas, ou seja, 95% de IL durante a rebrotação. Contudo, o valor
de altura correspondente a cada uma delas seria específico, função de seu hábito
de crescimento, espécie e cultivar (Tabela 1). O uso de metas de altura do pasto
para caracterizar o momento ideal de colocação dos animais para pastejar
assegura alta produção de forragem com elevada proporção de folhas e baixa
proporção de colmos (jovens) e material morto (Tabela 2), contribuindo para a
produção de forragem em quantidade e qualidade.
Tabela 1. Metas de altura para entrada e saída dos animais em pastos manejados
utilizando o método de pastejo rotativo.
Altura do pasto (cm)
Planta Forrageira Entrada Saída
Mombaça 90 30 a 50
Tanzânia 70 30 a 50
Elefante (Cameroon) 100 40 a 50
Marandu 25 10 a 15
Xaraés 30 15 a 20
Tifton-85 25 10 a 15
Coastcross e Florakirk 30 10 a 15
Fonte: Da Silva et al. (2008)
! 94!
Tabela 2. Composição morfológica (%) da massa de forragem em pré-pastejo de
pastos de capim-mombaça submetidos a estratégias de pastejo rotativo (Janeiro
de 2001 a Fevereiro de 2002)
Altura pós-pastejo Interceptação de luz (%)
(cm) 95 100 Média
Folha:
30 70,9Aa 60,3Ab 65,6A
50 57,7Ba 57,5Aa 57,6B
Média 64,3a 58,9b
Colmo:
30 14,7Ab 26,4Aa 20,6
50 18,9Aa 22,1Aa 20,5
Média 16,8b 24,2a
Material morto:
30 13,7Bb 19,0Aa 16,4
50 20,7Aa 18,1Aa 19,4
Média 17,2 18,6
Médias seguidas de mesma letra minúscula nas linhas e maiúsculas nas colunas
não diferem entre si (P>0,05). Fonte: Carnevalli (2003)
O ritmo de crescimento das plantas varia de localidade para localidade, de
ano para ano, com o uso de fertilizantes, corretivos e irrigação. Como o padrão de
acúmulo de forragem depende da interceptação e competição por luz, quanto
mais rápido um pasto cresce e/ou rebrota, mais rápido ele estará em condições
de receber animais para um novo pastejo, indicando que o uso de calendários
fixos e pré-definidos para intervalos de pastejo é limitado e pode causar sérios
prejuízos para a qualidade da forragem produzida e, consequentemente, para a
produção animal. Esses prejuízos são mais críticos quanto melhores forem as
condições de crescimento para as plantas, ou seja, quanto mais rápido elas
crescem (solos de elevada fertilidade, adubados, irrigados etc.), sugerindo maior
necessidade de monitoramento eficiente e dificuldade de manejo em melhores
condições de crescimento e produção das pastagens. Dessa maneira, fica claro
que o conhecimento dos padrões de crescimento e acúmulo de forragem das
plantas forrageiras é muito importante porque permite controlar a composição da
! 95!
forragem produzida por meio de ajustes no intervalo de pastejo ou período de
descanso dos pastos. Caso um período de descanso muito longo seja utilizado, o
pasto diminuiria a produção de folhas e aumentaria a produção de colmos e de
material morto, componentes esses que são rejeitados pelos animais e
normalmente se acumulam na base dos pastos, formando a “macega” que
geralmente dá origem a ações como roçada e uso do fogo ao final do período
seco e início do período chuvoso seguinte.
A ingestão de nutrientes e desempenho animal em pastagens A produção animal em pasto é função da quantidade de nutrientes
ingeridos diariamente pelos animais em pastejo. Em condições de uso exclusivo
de pasto, a ingestão de nutrientes é resultado da quantidade de forragem
consumida e do valor nutritivo ou concentração de nutrientes na forragem
ingerida. O crescimento das plantas forrageiras em pastagem ocorre
prioritariamente no sentido de produzir folhas, mudando para acúmulo de colmos
e de material morto apenas se o intervalo de pastejo adotado for mais longo que o
necessário (Figura 2). O intervalo de pastejo ideal corresponde ao número
necessário de dias para que o pasto atinja 95% de interceptação da luz incidente
que, para cada planta forrageira, pode ser associado a uma condição de altura do
pasto (Tabela 1). O uso da meta de manejo baseada na interceptação de luz
assegura que o momento de colheita da forragem (entrada dos animais no pasto)
seja consistentemente o mesmo em relação ao estádio de crescimento da planta
durante a rebrotação, assegurando produção de forragem com alta proporção de
folhas e baixa proporção de colmos e de material morto (Tabela 2), ou seja,
forragem de alto valor nutritivo. Trabalhos recentes têm revelado que quando os
pastos são devidamente manejados e os intervalos de pastejo ótimos utilizados, a
forragem produzida possui valor nutritivo que varia pouco dentre diferentes
espécies e cultivares de plantas forrageiras, a maior diferença sendo apenas a
quantidade e a distribuição da forragem produzida (Da Silva & Carvalho, 2005; Da
Silva & Nascimento Jr, 2007). Nessa condição, o valor nutritivo da forragem
consumida pelos animais em pastejo varia, em média, de 12 a 18% de proteína
bruta e de 60 a 70% de digestibilidade (Tabela 3), valores considerados elevados
e que caracterizam forragem de bom valor nutritivo. Nesse contexto, as diferenças
em desempenho animal são conseqüência, basicamente, da quantidade de
! 96!
forragem ingerida, uma vez que a diferença em valor nutritivo é pequena, fato que
realça a importância de conhecer e compreender como se dá o consumo de
forragem pelos animais em pastejo e como ele é afetado pelas práticas de manejo
utilizadas.
Tabela 3. Valor nutritivo da forragem colhida em pastos utilizados com base em
metas de manejo e respeitando o ritmo de crescimento das plantas forrageiras
Forragem PB
(%)
FDN
(%)
FDA
(%)
Digestibilidade
(%)
Referência
Tifton 85 17,2 67,0 27,4 78,0 Carnevalli (1999)
Florakirk 18,2 63,9 25,8 76,1 Carnevalli (1999)
Coastcross 17,5 65,5 27,2 74,1 Carnevalli (1999)
Marandu (contínuo) 12,5 61,7 28,8 64,7 Andrade (2003)
Marandu (rotativo) 10,0 68,1 32,4 66,8 Trindade (2007)
Xaraés 12,5 68,4 35,3 69,4 Nave (2007)
Mombaça 11,7 66,8 37,8 60,8 Bueno (2003)
Tanzânia 10,5 76,4 - 67,9 Difante (2005)
Elefante (cameroon) 14,6 65,1 35,9 58,9 Voltolini (2006)
Carareto (2007)
O consumo de forragem em condições de pastejo
No pasto o consumo de forragem é bastante distinto daquele em condições
de confinamento. Animais alimentados no cocho, quando bem manejados, não
têm restrições de acesso ao alimento e este é fornecido em quantidade e
qualidade, normalmente na forma de dieta balanceada. No pasto a situação é
diferente. O alimento precisa ser colhido e, para isso, o animal deve encontrar
locais adequados para pastejo, colher a forragem nos locais escolhidos e repetir o
processo até que tenha sido saciado ou se canse (Carvalho et al., 2005). Além
! 97!
disso, no ambiente pastagem dificilmente a forragem colhida propicia dieta
balanceada, o que impõe restrições ao desempenho máximo de cada animal
individualmente. Nesse contexto, a forma como a forragem é apresentada ao
animal (estrutura do dossel forrageiro) assume importância fundamental, pois
determina a facilidade de preensão e colheita, determinando os níveis de
consumo e ingestão de nutrientes dos animais em pastejo. Normalmente, dentro
de certos limites, em pastos com maior massa de forragem e manejados alto a
probabilidade de encontro com locais adequados de pastejo é maior, assim como
é a facilidade de colheita da forragem, caracterizada por altas taxas de ingestão
(kg MS por vaca por unidade de tempo) relativamente a pastos de menor massa
de forragem e manejados baixo (Carvalho et al., 2009). Contudo, esse padrão de
resposta muda quando valores elevados de massa de forragem ou altura dos
pastos estão associados com altas proporções de colmos e de material morto, ou
seja, forragem passada ou pastos em estádio reprodutivo, situação em que
pastos mais baixos e de menor massa de forragem tornam-se mais adequados
(Carvalho et al., 2006). Basicamente, o que é afetado é o tamanho do bocado, a
menor e mais simples unidade que compõe o consumo (Figura 3).
Figura 3. Consumo diário de forragem de animais em pastejo como função de
variáveis comportamentais e de estrutura do dossel forrageiro (Adaptado de
Carvalho et al., 2001)
Consumo de forragem = Taxa de
consumoTempo de pastejo
x
Área do bocado
Massa do bocado
Taxa de bocados
x
Volume do bocado
Densidade da forragem
x
Profundidade do bocado
x Dependentes do animal em pastejo
Dependenteda estruturado dossel (altura e massa
de forragem)
! 98!
De maneira geral, quando o tamanho (massa) do bocado é reduzido o
animal aumenta a taxa de bocados (número de bocados realizados por unidade
de tempo) como forma de tentar manter a taxa de consumo (kg de MS por animal
por unidade de tempo) (Figura 4). Se o aumento em taxa de bocados não é
suficiente para compensar a redução em tamanho do bocado e a taxa de
consumo diminui, o animal aumenta também o tempo de pastejo no dia como
forma de tentar manter o consumo. Isso demonstra que se a forma como o pasto
é oferecido aos animais não é adequada e não favorece o consumo, os animais,
além de não ingerirem a quantidade de alimento necessária, têm que trabalhar
mais para colher a forragem, o que aumenta os custos de manutenção e as
exigências nutricionais para um mesmo nível de desempenho. O resultado é
redução da produção, pois dificilmente o animal consegue manter o consumo e,
mesmo que mantivesse, o custo de manutenção seria mais alto e,
consequentemente, sua exigência nutricional maior, o que demandaria maior
consumo.
O tamanho ou massa do bocado é basicamente afetado por causa da
variação na profundidade com que os animais exploram o pasto, e esta é função
de características do pasto como massa de forragem (kg MS/ha), altura,
porcentagem de folhas e de colmos etc. (Carvalho et al., 2009). Por outro lado,
bocados excessivamente grandes, típicos de animais pastejando plantas de porte
alto manejadas alto como os capins mombaça, tanzânia e elefante, por exemplo,
podem também resultar em menor consumo no final do dia porque resultam em
redução da taxa de consumo. Isso acontece porque bocados muito grandes
requerem muito tempo para poderem ser deglutidos, ou seja, para que a forragem
colhida possa ser acomodada na boca e ingerida. Isso reduz a velocidade de
consumo dos animais, podendo causar redução do consumo de forragem ao final
do dia de pastejo (Palhano et al., 2007).
! 99!
Figura 4. Comportamento ingestivo de novilhas leiteiras da raça Holandês Preto e
Branco capim-mombaça submetido a estratégias de pastejo rotacionado
caracterizadas por diferentes alturas de entrada no pasto (Adaptado de Silva,
2004)
No exemplo acima, para o capim-mombaça, a maior taxa de consumo de
forragem foi conseguida a partir da altura de entrada de 90 cm, a mesma altura
condizente com a meta ideal de uso dessa planta forrageira baseada no critério
de 95% de interceptação de luz (Tabela 1). O resultado em termos de produção
de leite foi um aumento de cerca de 30% na produção diária por vaca em relação
a pastos manejados com a maior altura, de 140 cm (Tabela 3), correspondente à
altura dos pastos ao final do período padrão de descanso de 35 dias. Isso aponta
para a necessidade de planejar adequadamente as práticas de manejo como
adubação, irrigação, intervalo de pastejo etc. como forma de assegurar um
padrão adequado de crescimento, favorecendo acúmulo de forragem de bom
valor nutritivo e pastos com estrutura adequada para elevadas taxas de consumo
(Trindade et al., 2007), favorecendo o desempenho animal e utilização eficiente
da forragem produzida (Da Silva & Carvalho, 2005).
Tabela 3. Produção diária de leite (kg/vaca.dia) em pastos de capim-mombaça
pastejados a 90 ou 140 cm de altura.
! 100!
Altura de entrada nos pastos (cm)
Mês 90 140
Janeiro 15,7 12,1
Fevereiro 12,3 9,5
Média 14,0a 10,8b
Médias seguidas de mesma letra minúscula nas linhas não diferem entre si (P>0,05).
Fonte: Hack et al. (2007)
Mais recentemente, alguns estudos têm sido feitos com o objetivo de
identificar qual seria o ponto de interromper o processo de rebaixamento de
pastos submetidos a pastejo rotativo como forma de assegurar elevadas taxas de
consumo de forragem e desempenho animal (e.g. Carvalho et al., 2009). Essa é a
segunda meta importante, a altura ideal de retirada dos animais dos pastos. Os
resultados têm indicado que desde que a altura ideal de manejo seja adotada, o
pastejo deveria ser encerrado quando cerca de 50% da altura inicial do pasto
tivesse sido removida, sendo que elevadas taxas de consumo podem ser
atingidas dentro da amplitude de 40 a 60% (Fonseca, 2011). Nessa condição de
saída dos animais dos piquetes, além de favorecer a ingestão de forragem por
animal, a área foliar remanescente e o vigor de rebrotação seriam elevados,
favorecendo o rápido retorno dos pastos na condição de pastejo (Trindade, 2007;
Silveira, 2010).
Metas de manejo baseadas no conceito de interceptação de luz
Plantas forrageiras em pastagens, assim como qualquer outra cultura,
possuem requerimentos de crescimento (fertilidade do solo e clima) e de manejo.
Portanto, conhecer quais são esses requerimentos e como realizar a colheita de
forragem de maneira correta é essencial para que a produção animal em
pastagens possa ser feita de forma racional, sustentável, produtiva e
economicamente viável. Conforme discutido nas seções anteriores, o crescimento
das plantas e a produção de forragem não seguem o tradicional calendário
utilizado como referência de tempo (dias, meses e anos) para o planejamento e
dimensionamento de estratégias e práticas de manejo do pastejo. Elas se
desenvolvem em função direta da disponibilidade de fatores climáticos de
crescimento como água, luz e temperatura, assim como de nutrientes no solo.
Esse conjunto de fatores define a qualidade do ambiente para crescimento das
! 101!
plantas e a resposta é basicamente percebida por meio da velocidade de
crescimento das plantas. Ambientes bons e propícios ao crescimento favorecem
elevadas taxas de acúmulo de forragem, fazendo com que as plantas alcancem
seu ponto ideal de colheita, estádio pré-determinado de desenvolvimento, mais
cedo que plantas crescendo em ambientes pobres e/ou com limitações ao
desenvolvimento. O entendimento desse conceito, lógico, permite a percepção do
fato de que o uso de períodos pré-determinados e fixos de descanso ou intervalo
de pastejo definidos gera prejuízos potencialmente elevados, uma vez que
normalmente resulta em colheita de forragem passada, com baixo valor nutritivo e
baixo consumo voluntário, e elevadas perdas de pastejo (Carnevalli et al., 2006).
O fato aponta, também, para a possibilidade de intensificar a produção animal em
pasto por meio da melhoria da eficiência de utilização da forragem produzida que,
relativamente às eficiências de crescimento e conversão, corresponde à forma
mais eficaz e eficiente de intervenção no processo produtivo (Da Silva & Corsi,
2003; Da Silva & Nascimento Jr, 2006).
Resultados recentes de experimentação na ESALQ utilizando o conceito
de meta de manejo desenvolvido com base na interceptação de luz durante a
rebrotação dos pastos (Da Silva, 2004) tem resultado em aumentos expressivos
em produção e produtividade animal apenas por meio da manipulação do
processo de colheita da forragem produzida. No caso de produção de leite,
Voltolini (2006) e Carareto (2007) avaliaram a produção diária de leite em pastos
de capim-elefante cv cameroon manejados sob pastejo rotativo caracterizado por
período fixo de descanso de 27 dias ou período variável, correspondente ao
tempo necessário para que o dossel interceptasse 95% da luz incidente. As
alturas correspondentes de entrada nos piquetes foram 120 e 100 cm,
respectivamente, e os resultados revelaram aumento de cerca de 20% em
produção diária de leite por vaca, 40% em taxa de lotação dos pastos e 50% em
produção de leite por hectare (Tabela 4) somente com a alteração do momento de
colocação dos animais nos pastos. Esse, assim como outros experimentos (e.g.
Trindade et al., 2007; Costa, 2007; Difante et al., 2010), demonstram o efeito
benéfico e positivo de práticas de manejo baseadas na realização do pastejo no
momento ideal de colheita da forragem produzida, porém com a restrição de
terem sido feito em escala pequena de observação, normalmente em nível de
piquetes (1000 a 2500 m2). O fato sugere a necessidade de realização de
! 102!
experimentos de pastejo de maior escala, com unidades experimentais que
funcionem como unidades auto-contidas e permitam ser gerenciadas de
conformidade com as metas de manejo sendo avaliadas, realçando efeitos
relacionados com a logística da tomada de decisão e ajustes necessários para a
implementação e manutenção das mesmas e eventuais efeitos cumulativos ao
longo do tempo.
Tabela 4. Produção diária de leite em pastos de capim-elefante submetidos a
estratégias de pastejo rotativo caracterizadas por período fixo de descanso de 27
dias ou 95% de interceptação de luz durante a rebrotação
Resposta
Estratégia de manejo
27 dias 95% IL
Altura média dos pastos (cm) 120 100
2006:
Prod. de leite (kg/vaca.dia) 14,9 17,6
Taxa lotação (UA/ha) 5,8 8,3
Prod. de leite (kg/ha.dia) 75,0 114,0
2007:
Prod. de leite (kg/vaca.dia) 11,0 13,0
Taxa lotação (UA/ha) 6,7 9,2
Prod. de leite (kg/ha.dia) 57,0 83,5
Fonte: Voltolini (2006) e Carareto (2007)
Nesse contexto, Da Silva et al. (2010) avaliaram o ganho de peso por
animal e por hectare em pastos de capim-marandu manejados sob pastejo
rotativo e adubados com nitrogênio em experimento de pastejo realizado em uma
área de 68 ha (48 ha de área experimental e 20 ha de área reserva). As
estratégias de manejo avaliadas tiveram altura pós-pastejo comum não inferior a
15 cm e alturas de entrada de 25 e 35 cm, correspondentes a 95 e 100% de IL,
respectivamente (Trindade et al., 2007). As doses de N utilizadas corresponderam
a 50 e 200 kg/ha, aplicados de dezembro a março durante as estações de
crescimento de 2008/2009 e 2009/2010, e foram combinadas com as estratégias
de manejo segundo arranjo fatorial 2x2 (altura entrada/dose nitrogênio). Na
condução do experimento prioridade foi dada ao ajuste em taxa de lotação como
forma de manter as metas de manejo idealizadas (alturas pré e pós-pastejo).
! 103!
Contudo, houve situações de acúmulo elevado de forragem em que não havia
animais em número suficiente para aumentar a taxa de lotação de forma
correspondente e, nesses casos, prioridade foi dada à manutenção da meta pré-
pastejo por meio de uma altura pós-pastejo mais elevada. Operacionalmente isso
era feito diminuindo-se o período de ocupação dos pastos, o que resultava em
redução do intervalo de pastejo e manutenção das metas de altura pré-pastejo.
Adequação das alturas pós-pastejo era feita em períodos em que as taxas de
acúmulo de forragem não eram tão elevadas aumentando-se o período de
ocupação dos pastos e aumentando os intervalos de pastejo. De forma geral,
houve uma diferença de quatro meses entre tratamentos em relação à obtenção
da meta de abate (480 kg de peso corporal), com animais do tratamento 25/200
atingindo a meta em dezembro/09, seguidos por aqueles do tratamento 25/50 em
janeiro/10, 35/200 em fevereiro/10 e 35/50 em março/10 (Figura 5). Independente
da dose de N, pastos manejados a 25 cm de altura, condição correspondente a
95% de IL pelo dossel forrageiro, resultaram em cumprimento da meta mais cedo
relativamente àqueles manejados a 35 cm, com a dose de N apresentando
importância secundária.
Figura 5. Variação mensal do peso corporal de novilhos nelore em pastos de
capim-marandu manejados sob pastejo rotativo com alturas pré-pastejo de 25 e
35 cm e adubados com 50 e 200 kg/ha de nitrogênio de Janeiro de 2009 a Março
de 2010 (Da Silva et al., 2010)
300
350
400
450
500
550
Peso
corp
oral
(kg)
Datas25/50 25/200 35/50 35/200 Meta
! 104!
Com exceção do verão de 2008 e da primavera de 2009, início do
experimento e adaptação dos pastos aos regimes de desfolhação impostos e
transição entre as épocas seca e chuvosa do ano, respectivamente, o ganho de
peso por animal foi consistentemente superior nos pastos manejados com altura
pré-pastejo 25 cm relativamente àqueles manejados a 35 cm (Figura 6), assim
como a taxa de lotação que, na média do experimento, foi maior nos pastos
manejados a 25 cm de altura (2,90 e 2,70 UA/ha, respectivamente). Adubação
nitrogenada resultou em maiores taxas de lotação especialmente na primavera
2009 e verão 2010, épocas em que os valores registrados para os pastos
adubados com 200 kg/ha foram maiores que aqueles de pastos adubados com 50
kg/ha de N (Figura 7). O ganho de peso por hectare foi 36% maior nos pastos
manejados a 25 cm relativamente àqueles manejados a 35 cm (1,70 e 1,25
kg/ha.dia, respectivamente), com maiores valores registrados no verão
relativamente ao inverno (Figura 8). Quando o ganho de peso total por unidade de
área foi considerado (Fevereiro de 2009 a Março de 2010), pastos manejados a
25 cm apresentaram valores 34% superiores em relação àqueles manejados a 35
cm (678 e 505 kg/ha, respectivamente). A aplicação de nitrogênio também
resultou em aumento de 22% no ganho de peso total por hectare (533 e 650
kg/ha para as doses de 50 e 200 kg/ha de N, respectivamente), valor esse menor
que o aumento gerado exclusivamente pela altura de manejo isoladamente
(Figura 9), realçando a importância de práticas de manejo adequadas e colheita
eficiente da forragem produzida como forma de otimizar a resposta à aplicação de
insumos no sistema.
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
Verão-1 Outono Inverno Primavera Verão-2Gan
ho d
e pe
so (k
g an
imal
-1di
a-1)
Épocas do ano
25-cm 35-cm
! 105!
Figura 6. Ganho de peso diário de novilhos nelore em pastos de capim-marandu
manejados sob pastejo rotativo com alturas pré-pastejo de 25 e 35 cm de Janeiro
de 2009 a Março de 2010 (Da Silva et al., 2010)
Figura 7. Taxa de lotação em pastos de capim-marandu manejados sob pastejo
rotativo e adubados com 50 e 200 kg/ha de N de Janeiro de 2009 a Março de
2010 (Da Silva et al., 2010)
Figura 8. Ganho de peso diário por hectare em pastos de capim-marandu
manejados sob pastejo rotativo e adubados com nitrogênio de Janeiro de 2009 a
Março de 2010 (Da Silva et al., 2010)
0,000
0,500
1,000
1,500
2,000
2,500
3,000
Verão 1 Outono Inverno Primavera Verão 2
2.70%A
1.10%B
0.49%C
0.96%B
2.16%A
Gan
ho d
e pe
so (k
g ha
-1di
a-1)
Épocas do ano
! 106!
Figura 9. Ganho de peso por hectare em pastos de capim-marandu manejados
sob pastejo rotativo com alturas pré-pastejo. de 25 e 35 cm e adubados com 50 e
200 kg/ha de N de Janeiro de 2009 a Março de 2010 (Da Silva et al., 2010)
Implicações práticas
O uso de metas de manejo definidas com base em critérios consistentes e
coerentes com o ritmo de crescimento das plantas forrageiras, como o nível de
interceptação de luz durante a rebrotação de pastos manejados sob pastejo
rotativo, assegura produção de forragem em quantidade e qualidade, favorecendo
o aumento da produção e produtividade animal por meio da colheita eficiente da
forragem produzida. Essa condição é importante uma vez que assegura
crescimento rápido e vigoroso dos pastos por assegurar que os limites de
resistência das plantas estão sendo respeitados, resultando em elevada taxa de
lotação. Ao mesmo tempo, a definição adequada da altura pós-pastejo permite
otimizar a quantidade de forragem colhida e, ao mesmo tempo, assegurar elevada
taxa de ingestão de forragem e de nutrientes pelos animais em pastejo, condição
predisponente e essencial para obtenção de desempenho animal elevado. O
efeito combinado de elevada taxa de lotação e desempenho animal é o aumento
em produtividade que pode ser tão grande quanto o aumento obtido por meio de
práticas como adubação e irrigação de forma isolada, que custam relativamente
caro quando comparadas a simples ajustes em datas para colocação de animais
nos pastos. O fato demonstra a importância de se colher sempre muito bem o que
se produz, pouco ou muito, condição em que o retorno em investimentos como o
! 107!
uso de insumos e equipamentos tem seu retorno otimizado e maximizado,
resultando na verdadeira intensificação do processo produtivo.
Para que essa nova estratégia de condução de sistemas de produção
animal em pasto possa ser utilizada e seus benefícios realizados, existe a
necessidade de mudança dos atuais conceitos de gestão e controle do processo
produtivo, especialmente no que diz respeito ao controle e monitoramento do
crescimento e desenvolvimento dos pastos, com a percepção de que o uso de
número fixo de dias para definir intervalos de pastejo dá uma falsa idéia de
controle do processo, especialmente em condições favoráveis de crescimento das
plantas forrageiras, situação em que a definição do momento ideal de colheita é
essencial para o sucesso da atividade e retorno dos investimentos. Nesse
contexto, a variação do intervalo de pastejo em função da variação das taxas de
acúmulo de forragem é feito por meio da variação do período de ocupação, o que
pressupõe um número fixo de pastos ou piquetes que não precisaria ser superior
a 15 ou 20. O foco do planejamento seria sempre os dois ou três piquetes
seguintes na sequência de crescimento dos pastos, pois são eles que definiriam o
período de ocupação e, consequentemente, a taxa de lotação a ser utilizada no
piquete a ser utilizado na data presente. Isso significa acompanhamento do
processo de rebrotação, favorecendo a percepção da ocorrência de eventuais
déficits e excedentes de forragem ao longo da estação de crescimento com
antecedência e permitindo que as devidas providências possam ser tomadas de
forma pensada e planejada.
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! 113!
Pecuária de precisão e rastreabilidade
Med. Vet. Pedro Paulo Pires Pesquisador da Embrapa - Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte!
A pecuária de corte brasileira é desenvolvida em todas as Unidades da
federação e engloba, aproximadamente, 225 milhões de hectares distribuídos em
2,2 milhões de propriedades que abrigam 200 milhões de animais. Esta é uma
das cadeias produtivas que mais emprega mão de obra, sendo responsável por
7,2 milhões de empregos diretos.
O agronegócio da carne bovina tem crescido, anualmente, no Brasil ao
mesmo tempo em que se tem estruturado de forma competitiva. Na última
década, o crescimento médio foi de aproximadamente 30%, enquanto o
crescimento das exportações foi superior a 200%. Nos últimos anos,
especialmente como fruto dos efeitos colaterais prejudiciais da chamada
revolução verde, iniciaram-se, em diferentes partes do mundo, movimentos
orientados para a redução dos danos causados ao ambiente. Esses movimentos
exigiram novos mecanismos reguladores de qualidade que incorporassem a
aspectos relacionados ao meio-ambiente, como componente do processo
produtivo.
Daí, o grande crescimento observado em normas e protocolos de
certificação e de leis ambientais, a partir da década de 1970. Surgiram, assim, os
rótulos para identificação de produtos orgânicos e fortaleceram-se os preceitos de
segurança alimentar pela utilização da Análise de Perigos e Pontos Críticos de
Controle (APPCC). Foi ainda nessa década, que se intensificaram, na Europa, as
atividades para o Controle Integrado de Pragas, que deu origem à definição mais
geral da Produção Integrada. A partir da década de 1980, surgiu o paradigma da
sustentabilidade e da busca pela qualidade total. Nos anos 1990, cresceu também
a preocupação da população com os problemas relacionados com a ingestão de
alimentos contaminados.
Isto faz com que o consumidor exija o rastreamento do alimento dentro da
cadeia produtiva, requerendo, ainda, que o processo seja transparente. Nesse
contexto, a padronização de conceitos e, principalmente, de ações, constitui-se
em tema de importância estratégica para o País, viabilizando a disponibilização
! 114!
de alimentos certificados, ou seja, com garantia de origem, de qualidade
ambiental e de qualidade de produto. Atualmente, com intensificação dos
manejos sanitário, reprodutivo e nutricional de bovinos; com a utilização de
programas de melhoramento genético e de gerenciamento de rebanhos, há uma
demanda aumentada pela utilização de softwares. Essa demanda, associada com
a necessidade de um controle rígido que permita a rastreabilidade, implica, cada
vez mais, na necessidade da identificação correta e rápida dos bovinos. Tais
processos devem estimular o controle da produção de cada animal, aumentando
os lucros.
A rastreabilidade tornou-se um foco de atenção tanto dos consumidores
quanto da indústria da carne em anos recentes. Toda a população tem sido
afetada por problemas relativos à segurança dos alimentos. No caso específico
da carne bovina, com o diagnóstico da BSE (Encefalopatia Espongiforme Bovina)
em 03/96, e que posteriormente foi levantada a possibilidade de uma ligação
entre esta doença do gado e a CJD (Doença de Creutzfeld Jacob), como uma
nova variante de distúrbio similar em seres humanos. Esta ocorrência provocou
na época uma redução no consumo de carne bovina de aproximadamente 25%
na Europa. Desde então, para recuperar a confiabilidade dos consumidores, os
participantes da cadeia de suprimento de gado e de carne estão trabalhando para
elevar os padrões de segurança.
A União Européia, exige que todo o processo de produção da carne esteja
inserido em um programa de identificação e registro que possibilite o
levantamento de todas as informações pertinentes ao animal, desde o seu
nascimento, até o consumo do produto final. Esta resolução atinge tanto os
produtores e indústrias da Europa quanto às de seus fornecedores. Por outro
lado, países como a Coréia do Sul e o Japão também adotam esta exigência e,
com o advento irreversível da globalização verifica-se uma tendência mundial
neste sentido. No entanto, esta exigência não pode ser totalmente satisfeita sem
que haja uma identificação precisa do animal.
A utilização de tatuagens na face interna do pavilhão auricular, as marcas a
ferro quente e, ultimamente, a utilização de brincos numerados têm sido os
métodos mais utilizados na identificação dos bovinos. No entanto, a diversidade
de raças e manejos, além da constante ocorrência de erros na transcrição
manual, tem motivado a procura por métodos mais eficientes de identificação.
! 115!
Uma vez que a revisão da numeração marcada com ferro quente na pele ou com
tatuagem na orelha é, muitas vezes, invisível em animais de pelagem escura ou
com excesso de pêlos, tornando excessivamente trabalhosa e inútil para o
gerenciamento por softwares em tempo real.
Tal demanda de identificação dos animais para o rastreamento solicitado
pelo mercado mundial, devido à ocorrência dos surtos de Febre Aftosa no Brasil,
levou a soma de interesses pelo uso da identificação eletrônica nos bovinos
garantindo a melhora da eficiência de fiscalização das exigências das barreiras
internacionais. Os surtos da referida doença, devido ao lucro cessante do Estado
de Mato Grosso do Sul, no período, divulgado nos jornais, causaram prejuízo de
bilhões de dólares pelo fechamento de mercados devido às barreiras sanitárias
dos mercados compradores. De início, a identificação eletrônica associada ao
gerenciamento dos rebanhos permite um controle rápido e confiável dos
rebanhos, fazendo todas as anotações exigidas para o rastreamento dos animais
e certificação da carne. Esta anotações zootécnicas podem, se adequadamente
analisadas, obrigatoriamente, garantir o aumento da produtividade devido permitir
tomadas de decisões precoces e, esse aumento de lucro no manejo, engajará de
produtores e trabalhadores em novas técnicas de produção, garantia dos
mercados já conquistados e a conquista de outros novos.
A Pecuária de Precisão na Embrapa Gado de Corte Desde o final da década de 1980, precisamente desde 1986 até 2000
ocorria, no Brasil Central, um surto de mortes de matrizes chamado de “Mal da
vaca caída”. Foram muitos anos de propostas de diagnóstico, de tratamento e de
controle sem muito sucesso.
Na época, a Embrapa Gado de Corte não contava com pesquisador
patologista e por isso houve concurso para contratação e foram, então, iniciadas
pesquisas em busca da solução do problema.
Para instalar o projeto de pesquisa, aprovado pelo CNPq foram
necessários 120 bovinos que deveriam ser da mesma raça, idade, sexo e que
deveriam ficar no mesmo pasto, isso para evitar interferências nos resultados da
pesquisa.
Foi aí que começou o problema: para testar medicamentos, avaliar duração
de vida útil, dose letal, concentração sanguínea e resposta aos tratamentos, eram
! 116!
necessários manejos frequentes, em períodos exatos, para que a pesquisa fosse
confiável.
Como os 120 bovinos estavam numerados com brincos de plásticos e
tatuagem na face interna das orelhas e, dentre os 120, haviam diferentes grupos
experimentais que recebiam tratamentos diferentes, com frequencia era
necessário passar todo rebanho pelo mangueiro (curral), rapidamente, para
separar aqueles que deveriam receber os tratamentos. Isso se repetia várias
vezes pela semana causando muito trabalho e estresse aos animais.
Nesses dias todos os animais passavam pelo tronco de contenção do
mangueiro, era necessário parar cada um deles para ler o número nos brincos ou
tatuagem, até que fossem encontrados os procurados para aquele momento,
havia o risco de perder o prazo para colheita do material biológico para o estudo,
um verdadeiro corre-corre, deixando toda equipe e animais sob o risco de
acidentes e maus tratos.
Esse problema quase comprometeu o resultado da pesquisa, não fosse a
preocupação da equipe em chegar, no mínimo, 40 minutos de antecedência para
cada manejo. Isso, às vezes, provocava uso de horas-extras de trabalho e
quantidade extra de paciência e dedicação.
Num determinado período, em busca constante de solução para o
problema de manejo, foi contatado, por acaso, o Dr. Alain Moreau, advogado
sociólogo, que estava empenhado em controlar o rebanho de bovinos das aldeias
Kadiwéu, na região de Corumbá – MS, lá havia problema de abigeato e ele
buscava uma forma de coibir o roubo.
Foi ele quem fez a proposta de começarmos juntos a procura de um
sistema de identificação de bovinos, rápido, confiável e imutável. Por essa
parceria foi iniciada a busca, pelo mundo, de um sistema que nos atendesse e foi,
então, iniciada a pesquisa para o uso de Identificação de animais por Rádio
Frequência (RFID).
O primeiro modelo de transponder (chip) comprado por nós era um pouco
menor que um palito de fósforo, pouco servia para nosso propósito, entretanto, foi
dele, que devido a necessidade, derivou todo o conhecimento de hoje em dia.
A primeira antena para leitura desses transponderes foi desenvolvida a
partir de equipamento da aviação. Foram contratados engenheiros que ajudaram
! 117!
desenvolver um laço, através do qual, os animais deveriam passar para serem
identificados, uma verdadeira loucura, entretanto ainda alimentava o sonho.
Assim, por alguns anos, após desenvolvimento de várias pesquisas
relacionadas, foi instalado na Embrapa o primeiro “Mangueiro Digital”, local onde
são desenvolvidos os hardwares e softwares para o manejo automático dos
bovinos e, devido a apresentação de projetos de pesquisa na área de manejo, foi
consolidada a linha de pesquisa que incialmente era chamada de zootecnia de
precisão, depois, por melhor expressar nosso trabalho, passou a ser chamada de
“Pecuária de Precisão”.
Da evolução dos equipamentos e sistemas, alguns podem ser citados, por
ordem cronológica:
1 - Bolus (transponder estomacal) e antena;
2 - Aplicador de bolus;
3 - Transponder umbilical;
4 - Aplicador de transponder umbilical;
5 - Transponder umbilical revestido com resina de mamona;
6 - Transponder umbilical revestido com resina de mamona impregnada de
antibiótico e parasiticida;
7 - Transponder umbilical com termômetro;
8 - Predição de doença pela medição da temperatura;
9 - Teclado do peão;
10 - Software Pecuarius;
11 - Software Taurus;
12 - Balança de Passagem;
13 - e-Apart;
14 - e-SAPI;
15 - e-GTA;
16 - Cerberus;
17 - Orion;
18 - OTAG (Localização de animais com GPS);
19 - Sistema de Monitoramento Bovino Baseado em uma Rede de Sensores
sem fio;
20 - Serviços baseados em Localização e Publish-Subscribe no domínio da
Rastreabiliade bovina;
! 118!
21 - Identificação do Comportamento Bovino a partir dos dados de aceleração
do animal e monitoramento da luminosidade do ambiente.
A partir de tais feitos, cientes do que é possível alcançar com estes
estudos, foram fixadas as intenções de otimizar segmentos das etapas e
processos de produção. Cada vez mais trabalhos de pesquisa estão sendo
desenvolvidos, quer na utilização de sensores, quer em estratégias de gestão da
informação, quer no desenvolvimento de softwares de decisão. Esses trabalhos,
associados a diversos mecanismos de controle, contribuem para a otimização de
cada segmento da cadeia produtiva.
O conceito de produção animal, numa perspectiva cada vez mais
competitiva e empresarial, torna a atividade de produção animal cada vez mais
precisa, dependendo menos de variáveis casuísticas, e mais de decisões
inteligentes.
A maximização dos índices produtivos alcançados e a minimização de
custos de produção passam pela eficiência da relação entre as variáveis ao longo
do período de produção.
Desta forma, o conceito de precisão tem uma relação muito íntima com a
questão da eficiência produtiva. Os valores desejáveis devem ser atingidos com o
menor grau de impacto financeiro negativo, possível.
Os investimentos em tecnologia (microchips, balanças
eletrônicas, softwares, Internet, entre outros), com a finalidade de proporcionar o
ambiente adequado, a quantidade e qualidade de alimentação fornecida, aliados
ao material genético e ao manejo praticado, só terão o retorno esperado se
houver uma eficiência da intervenção necessária em determinadas fases da
produção, com a precisão exigida.
Em outras palavras, a precisão está relacionada com o monitoramento
efetivo e controle das etapas de produção, pois não é possível imprimir uma
melhoria num processo, se este não for conhecido em todas as suas fases.
A pecuária de precisão é um conceito de pecuária baseada na existência
de uma grande diversidade de informações pertinentes ao negócio. Ela preconiza
cada vez mais o uso de novas tecnologias, como posicionamento global (GPS e
DGPS), identificação remota de animais, sensores, satélites ou imagens
! 119!
aéreas, software de gerenciamento, e sistema de informações geográficas (SIG)
para avaliar e compreender as variações do campo, estudados pela Geomática.
As informações coletadas podem ser usadas para avaliar com maior
precisão a eficiência no manejo do rebanho, na produção, no controle da
sanidade animal, na sustentabilidade, estimar as necessidades de outros
insumos, redução nos custos ocasionados pela falta de controle, e de forma mais
precisa prever o rendimento e, consequentemente, aumentar a rentabilidade do
negócio.
Com a pecuária de precisão é objetivo evitar a aplicação de práticas
inflexíveis, utilizando informações para adequação das práticas às necessidades
do negócio, independentemente da propriedade e das condições da região.
Os satélites permitem aos produtores facilmente o levantamento de suas
terras. Os sistemas de posicionamento global (GPS) podem encontrar a
localização de um campo dentro de uma propriedade. É possível, então,
apresentar uma série de mapas de SIG que demonstram que os campos são
úmidos ou secos, e onde há erosão do solo e outros fatores que, por exemplo,
podem ajudar na definição de tipos de pastagens que são mais adequadas. Os
dados podem ser utilizados pelo produtor que automaticamente adotará práticas
mais favoráveis para o negócio.
Aplicação da pecuária de precisão também é adotada com a finalidade de
fazer o mapeamento da qualidade das pastagens. Nesse contexto, a pecuária de
precisão fornece ao produtor informações a serem aplicadas para a tomada de
decisões racionais para aumentar a produtividade de seu negócio, cuidar da
qualidade da cobertura vegetal de pastagens, evitar fenômenos de erosão e
degradação devido à sobrecarga de animais por área e orientar o manejo técnico
de propriedades e empresas rurais de médio e grande porte, com segurança e
baixo custo.
Pode ser feito diagnóstico que permite, por exemplo, saber se a área em
estudo está sub ou super utilizada, ou seja, se o uso dos recursos naturais está
sendo feito de maneira racional, tanto tecnicamente como economicamente.
Outro benefício para o produtor é, a ajuda em produzir e manter um
histórico de suas práticas de produção e resultados, visando a eficiente tomada
de decisões e cumprimento dos requisitos de rastreabilidade, cada vez mais
necessária no mercado nacional e mundial.
! 120!
A pecuária de precisão, deve ter sua eficiência maximizada na indústria da
carne que utilizará a análise de dados coletados. Grande parte desses dados
serão transformados em informações sobre os bovinos, agregando mais valor ao
produto final.
Para coleta dos dados, a pecuária de precisão utiliza cada vez mais
dispositivos eletrônicos, que garantem a integridade e exatidão das informações
como GPS, balanças eletrônicas, sensores, dispositivos de identificação por
radiofrequência, etc.
Deixar de olhar para o rebanho como um todo e passar a tratar cada
animal de acordo com as suas características individuais, otimizando a utilização
dos recursos, é a melhor definição de “Pecuária de Precisão”.
! 121!
O consumidor de carnes. O que sabemos sobre ele?
Fabiana Camargo e Farah Coordenadora de Desenvolvimento Carnes e Aves - Grupo Pão de Açúcar
Pecuária de Corte: Panorama e Perspectivas Certamente a pecuária de corte brasileira evoluiu muito nos últimos anos.
O Brasil, reconhecido como grande celeiro mundial vem perseguindo a ideia de
não de ser mais um grande produtor de carne, mas um produtor de carne com
qualidade e responsabilidade. O caminho é longo.
Vamos voltar a alguns anos atrás na história da pecuária brasileira. Foi no
período pós – guerra, no final da década de 40 que se iniciou o processo de
ocupação oficial do que atraiu expressivo contingente populacional de diversas
regiões para o Centro – Oeste do país.
Em torno de 1965, o Estatuto da Terra sinalizou a possibilidade de traçar
delimitações de terras, criando políticas agrárias aos produtores. Programas
especiais como a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam),
estimulou de vez a ocupação das terras da região da Amazônia e, principalmente,
do Centro- Oeste.
A política do Governo Federal para a região ficou amplamente conhecida
como “integre ou entregue”, para que definitivamente as terras além de serem
realmente ocupadas e se tornassem produtivas.
Este processo de ocupação, de forma despreparada, incentivava as
pessoas a desmatar sem quaisquer critérios ambientais. É comum, proprietários
que ocuparam suas terras nesse período relatar que todos, com medo da malária,
desmatavam as beiras dos rios, as nascentes de água para se “protegerem da
doença”.
Atualmente esses homens até então chamados de “devastadores”
recuperaram suas matas ciliares, suas áreas de preservação permanente, suas
nascentes, não somente para se adequarem à legislação ambiental vigente, mas
para implantar processos sustentáveis já percebidos em suas propriedades rurais.
Alguns produtores, a exemplo de Lorival Antonio Sguissardi, que ao
conseguir autorização do órgão competente para formação de uma nova área de
! 122!
pastagem em sua propriedade no Mato Grosso (Figura 1), inovou optando por
um modelo de pasto ecológico, ou sistema agrosilvopastoril. Este modelo
permitiu a área de pastagem entre as árvores, sem a necessidade de derrubá-
las.
Figura 1 - Exemplo de Pasto Ecológico - Produtor Lorival A. Sguissardi
.
Fonte: GPA, (2013)
A metodologia empregada na formação destes pastos foi absolutamente
diferente de anos atrás, quando utilizou mecanismo para derrubada de todas as
árvores para então plantar o capim. No formato atual adotado pelo produtor em
questão, nenhuma árvore foi derrubada, somente os cipós e, só então plantou-se
capim entre as árvores.
Para o Lorival A. Sguissardi, este tipo de pasto é o melhor que tem em sua
propriedade, pois o gado engorda mais, tem sombra para seu bem estar e ainda
consegue produzir respeitando a fauna e a flora local.
Apesar de iniciativas como as do produtor Lorival, o grande entrave a pecuária de
corte no Brasil, é a qualidade dos produtos, mesmo com o volume de produção
atual.
Friedman (2005), em seu livro “The world is flat” (O mundo é Plano), afirma
que o mundo não é redondo, e sim plano. Claro que ele não se refere ao globo
terrestre, em sua configuração física. O mundo se torna “plano” através da
globalização, que derruba espaços, tempo, culturas e até o preço da arroba do
boi.
! 123!
Os exportadores de carne do Rio Grande do Sul sentiram isso na pele
quando não puderam comercializar seu gado de alta qualidade devido a um foco
de febre aftosa no Mato Grosso do Sul mesmo a quilômetros de distância. O fato
é que todos os elos da cadeia (Figura 2) coexistem em interesses, competências,
práticas e forças.
Atualmente o Brasil possui 1,8 milhões de propriedades rurais, somente
200 mil possuem perfil de produção profissional. Profissional sobre dois pontos de
vistas, o primeiro é o da qualidade, que está aquém dos países concorrentes no
segmento. O segundo ponto de vista é o da eficiência, somente as 200 mil
propriedades têm capacidade de implantar sistemas de gestão eficientes para
garantir a lucratividade (Vila, Congresso internacional da Carne, 2013).
Devido a grande valorização de terra nos últimos anos, com registros de
até o dobro do valor nos últimos 03 anos, é comum vermos casos de fazendeiros
que não investem em gestão do negócio.
Toda a cadeia de valor perde, quando um dos atores, como esses, fazem
parte dos elos de produção. Uma vez que além da falta de investimento nos
sistema de gestão, insumos importantes, tais como suplementação nutricional,
técnicas de bem – estar animal deixam de ser utilizados, e o consumidor final,
consequentemente, terá acesso a um produto de menor qualidade.
No entanto, as 200 mil propriedades rurais, que buscam melhorar seus
processos e produtos.
É com este modelo de produção e com essa visão desses modernos
empresários rurais que esses elos se fortalecem e passam a entender o elo final
desta cadeia. O consumidor, que deixar de ser um elo passivo na cadeia e passar
a ser um elo ativo, exigindo um produto de mais qualidade cadeia de produção.
Nos últimos anos vivemos uma inversão de valores na cadeia de produção
da carne. Há décadas o produtor rural produziu o que quis e o que lhe era
conveniente. Atualmente essa lógica não é mais sustentável e a fim de buscar
eficiência no seu negócio essa produtor passa a ter um olhar no mercado
consumidor e busca produzir a necessidade deste mercado.
O valor do bife que o consumidor leva para sua casa é resultado de um
esforço coletivo e sequencial desta cadeia de valor, que foi impulsionada por este
consumidor.
! 124!
Parece que as barreiras psicológicas são as principais responsáveis pela
ainda modesta incorporação de novas tecnologias e práticas de gestão na maioria
das propriedades de porte médio. Vila, pretende compreender melhor porque não
existe maior adesão aos novos conceitos e ferramentas que tornariam as
fazendas mais produtivas, rentáveis e competitivas.Fonte:
http://www.beefpoint.com.br/cadeia-produtiva/giro-do-boi/francisco-vila-srb-
fechamento-2011-e-perspectivas-para-a-pecuaria-em-2012/
É esta visão de uma pecuária mais moderna, mais plana, mais eficiente,
que vai dinamizar o setor como um todo, trazendo para todos os elos da cadeia
de valor da carne, mais maturidade e valor.
O que o consumidor nos ensina Diversas vezes nos deparamos com fóruns de discussões, simpósios,
congressos sobre qualidade de carne com diversos atores da cadeia de
produção envolvidos nessas reflexões. Vemos grandes prospecções sobre
produtos, marcas, raças, processos marcas grill. Enfim, surgem diversas opções
para que, de algum modo tentem resolver e buscar soluções para esses atores,
porém o principal ator, que sustenta essa rede de produção, muitas vezes é
esquecido: o consumidor de carnes.
O que sabemos sobre este consumidor de carnes? Dia a dia estamos no
balcão de carnes ouvindo suas necessidades e seus anseios de compra.
O primeiro ensinamento que os consumidores de carnes solicitam é a
Segurança do alimento. A decisão de compra é primordialmente embasada na
segurança que o estabelecimento leve ao consumidor. Os alimentos vendidos em
açougues, peixarias e afins precisam transmitir segurança.
Consequentemente a higiene dos pontos de venda que transmitem e
acabam por traduzir que o alimento que o consumidor está adquirindo é
proveniente de processos seguros e confiáveis.
Tendo processos seguros e práticas de higiene, os pontos de venda de
carne tornam-se então vigilantes aos detalhes que são de extrema importância
para o consumidor. São os detalhes do capricho ao apresentar um produto quase
que permeia como um carinho ao produto, que demostra através de uma
excelente aparência toda a honestidade que um alimento precisa ter ao ser
preparado e servido na mesa de uma família.
! 125!
É muito comum o consumidor refugar produtos que estejam como eles
dizem com uma “baba”, ou com uma coloração ruim. Durante anos as escolhas
no momento de decisão de compras parecem ser as mesmas no decorrer do ano:
cor vermelha brilhante, gordura compatível ao corte e principalmente, uma carne
macia.
Produtos com higiene e segurança seguidos de cortes bem feitos, bem
embalados e etiquetados são sem dúvida os principais anseios para que
consumidores se fidelizem ao ponto de venda.
O Grupo Pão de Açúcar como indutor de sustentabilidade na cadeia de valor da carne O Grupo Pão de Açúcar foi fundando em 1948, completou 60 anos em
2008. Atualmente é uma das maiores empresas de varejo do da América Latina
com mais de 2000 pontos de venda, entre super e hipermercados, lojas
especializadas em eletroeletrônicos, eletrodomésticos e móveis, atacado (Cash &
Carry), além de postos de combustíveis, drogarias e comércio eletrônico (GRUPO
PÃO DE AÇÚCAR, 2013).
Em 2008 lançou o Programa de Qualidade desde a Origem com a
finalidade de desenvolver sua cadeia produtiva de frutas, legumes e verduras
(FLV), e proporcionar ao consumidor maior segurança e informação sobre o
produto adquirido em suas lojas.
Seguindo o mesmo padrão do programa de qualidade estabelecido na
cadeia de FLV, o GPA, investe também num programa de produção de carne de
qualidade, com a premissa de desenvolver um produto que apresentasse
menores riscos à saúde pública, maior segurança sanitária aos rebanhos
pecuários, maior segurança alimentar aos consumidores e ainda apresentasse
maior qualidade, valor nutricional e maciez da carne.
O primeiro passo iniciou-se em 2005, na busca por uma raça paternal de
gado europeu que fosse adaptável às condições climáticas brasileiras, que
apresentasse alto índice de muscular em idade jovem. O gado jovem apresenta
maior maciez na carne, e traria maior eficiência de produção rentabilidade aos
produtores devidos seu abate precoce.
O resultado deste estudo foi um animal de meio sangue, fruto da
inseminação da Raça Nelore (mãe) com o sêmen do Rubia Gallega, raça do
! 126!
noroeste da Espanha que apresenta baixo índice de gordura no animal de idade
jovem (tabela 1).
Tabela 1 - Comparativo do valor nutricional entre um bovino tradicional e um 1/2 sangue Rubia Gallega
Informação Nutricional Complementar por 100 g de produto
Rubia Gallega Taeq Bovino comum
adulto
% Redução
Valor energético 114 kcal = 479 kJ 157 kcal = 655 kJ 27%
Gorduras totais 1,3 g 6 g 78%
Gorduras saturadas 0,6 g 2,7 g 78%
Fonte: Adaptado de Grupo Pão de Açúcar (2013)
Os animais frutos de deste processo, são abatidos com 16 meses em
média, e apresentam cerca de 180 kg, enquanto que um da raça Nelore, leva 30
meses para produzir esta mesma quantidade de massa muscular. São cerca de
duas vezes e meia a menos de animais no pasto. Após o desmame, o gado fica
de 2 a 12 meses em fase de recria, com alimentos balanceados. Antes da
desossa das carcaças identificadas uma a uma, todos os lotes de carnes são
identificados e o controle de qualidade é total, e o transporte é fiscalizado (figura
6).
Figura 2- Processo de Registro e Rastreabilidade da Carne do Programa de Qualidade GPA
Fonte: Adaptado de Grupo Pão de Açúcar (2012)
Com esta primeira etapa do programa o GPA objetivou o desenvolvimento
de um manejo intensivo de produção de bovinos com alta tecnologia, abate de
animais jovens com alto desenvolvimento de massa magra, manejo alimentar,
manejo ambiental e índices zootécnicos positivos.
Controle!de!Manejo!
Registro!do!Animal!pelo!Ministério!da!Agricultura!!
Indefficação!das!peças!de!
Carne!Envio!para!as!
lojas!Detalhamento!do!produto!ao!consumidor!
! 127!
No processo foram envolvidos alguns elos da cadeia de valor da pecuária
(Figura 7). No primeiro elo, insumos, participaram uma empresa especialista em
genética animal, que desenvolveu estudos sobre a inseminação da raça
espanhola no Brasil, e uma empesas de insumos para saúde e alimentação
animal.
Figure 3 - Elos da Cadeia de Valor envolvidos no processo
Fonte: a autora
Na sequência as fazendas produtoras foram selecionadas a partir de
critérios socioambientais que assegurasse sua idoneidade e índice e de
produtividade:
" Estar de acordo com a legislação e possuir programa de gestão ambiental
com mitigação de seus impactos causados pela produção;
" Cumprir a legislação trabalhista e que possuir programas de incentivo aos
colaboradores para o crescimento pessoal e profissional. Bem como
contribuir para que todas as crianças, filhos (as) de seus funcionários
frequentem a escola.
" Adoção de tecnologias para aumentar a eficiência produtiva na fazenda,
produzindo mais carne por hectare de terra.
Outro elo envolvido foram empresas frigoríficas, contratada para o
carregamento, transporte, abate e desossa dos animais, sendo este trabalho feito
separadamente dos demais animais já produzidos por elas, garantido a
rastreabilidade e origem do produto que vai para o ponto de venda.
O projeto começou com a participação de 08 fazendas, hoje conta com 40
fazendas distribuídas nos estados de São Paulo, Mato Grosso e Goiás e
representantes da empresa parceira fornecedora da genética animal.
INSUMOS!
• Genéfca!Animal!• Saúde!e!alimentação!animal!
PECUÁRIA!
• Fazendas!produtoras!de!carne!bovina!
FRIGORÍFICO!
• Empresas!!frigoríficas!para!abate!
VAREJO!
• Grupo!Pão!de!Açucar!
CONSUMIDOR!
• Produto!Final!
! 128!
Resultados obtidos com o Programa: A experiência no Grupo Pão de Açúcar O trabalho que foi iniciado pelo GPA em 2005 se consolidou após 08 anos
com resultados progressivos em volume de carne comercializados e em resultado
financeiro. Esta evolução reflete o amadurecimento da visão do grupo em
perguntar e entender o que realmente o que seu cliente busca nas suas gondolas
de carne.
O delineamento técnico do programa e o encontro com parceiros certos fez
do objetivo do setor de carnes uma realidade. Encomendar para os elos da cadeia
que o antecede a carne que nosso cliente deseja: Uma carne com maciez
garantida, saudável e sustentável.
Não havia outro caminho se não endereçar esse trabalho aos parceiros,
frigoríficos e pecuaristas, presentes em sua cadeia de valo. No principio, alguns
do elos desta cadeia, pareceram indiferentes e incertos pela nova abordagem,
que propunha, transparência e garantias de ganhos para todas as partes.
Outro fator que, pode ter um fator importante para o sucesso, foi o diálogo
aberto diretamente com os produtores rurais, sendo que muitos deles, teve neste
projeto, sua primeira experiência de negociação direta com um varejista.
Durante esses anos de trabalho o GPA garantiu e efetuou o pagamento
para algumas fazendas em momentos de crise com as indústrias frigoríficas,
fortalecendo ainda mais a relação entre o GPA e os produtores rurais.
Em oito anos de trabalho foi iniciado dialogo com a indústria frigorífica que
passou de vendedora de carnes a prestadora de serviços diferenciados, e que,
com isso, passaram a oferecer produtos e serviços melhores, contribuindo para o
desenvolvimento da cadeia de valor como um todo.
Além disso, cada bife, cada pedaço de carne, comercializada como a
marca Taeq Rubia Galega, recebe uma identificação em código 2D (duas
dimensões), que assegura ao consumidor, a sua origem. O GPA reconhece o
trabalho desta cadeia tão complexa levando a história deste processo para o
consumidor final. O GPA expõe esses produtos e dá a possibilidade para os
clientes, através de sua opção de compra, a reconhecer a qualidade deste
produto e consequentemente, sustentar através este programa de valor.
! 129!
A Raça Rubia Gallega Para entender a raça Rubia Gallega temos de voltar no início da história,
quando um grupo humano celta de ascendência indo-européia, ocuparam grande
parte da Europa Central, e após lutas foram empurrados para o oeste Europeu.
O grupo que ocupou o norte da Espanha, levou dentro sua marcha a única
riqueza móvel na época: o gado, que tinha vários séculos de domesticação, entre
os quais estavam os antepassados da Rubia Gallega. Em tempos celtas, a raça
de gado que habitavam Galiza, sem cuidado ou abrigo, ou o uso agrícola e fonte
era de carne e gordura entre outros.
Em 760, Odoario Bispo de Lugo, para preencher o território de uma
diocese, deu bois ás famílias para arar como base para cumprir sua meta de
repovoamento humano. Já entre 1531 e 1541 a conquista do Peru, começou o
cultivo de batatas e milho que foram levados para a Espanha. Logo esses
alimentos passaram a alimentar os animais.
As terras aráveis, cansadas do antigos grão como centeio, nabo, linho,
castanhas, começou a produzir como batata e milho, em quantidades cada vez
maiores. Consequentemente o gado passou a aumentar consideravelmete pela
melhor alimentação. Os lucros com a venda do gado também aumentavam.
A Rubia Gallega, raça de capacidade mista se consolidava como motor
para o trabalho agrícola, fornececimento de leite para o consumo familiar e carne,
cuja venda, cuja venda propiciava outras aquisições.
No final do século XVIII, a raça Rubia Gallega encontrou um bom mercado
de carne na Inglaterra, mantendo-se quase até o início do nosso século. Em
1906, Lugo realizada no Primeiro Congresso Agrícola e Pecuário, estabelece a
conclusão "da seleção cientificamente orientada". A partir de então a Raça Rubia
Gallega começa um intenso processo de seleção genética para produção de
carne.
Atualmente é uma raça de origem Geográfica protegida que garente e
expressão das características raciais.
Figura 4 e 5 - Gado Meio – Sangue, Nelore X Rubia Gallega
! 130!
As carcaças devem ser bem conformadas com musculatura evidente (sub
convexas) preferencialmente com gordura escassa, podendo ser mediana. Não
devem apresentar gordura uniforme ou excessiva.
Não serão desclassificados cruzados de Rubia Gallega X Nelore por peso,
gordura ou conformidade. Distorções e carcaças fora do padrão esperados
serão reagendadas entre o GPA e o produtor, conforme demanda do mercado. Os
resultados de rendimento de desossa abaixo de 77% serão informados ao
produtor a fim de ajustar as dietas para melhores resultados.
Figuras 6 e 7 - Carcaças Meio – Sangue, Nelore X Rubia Gallega
! 131!
Simulando a escolha da Estratégia para o Sistema de Produção
Zootec. Vinícius do Nascimento Lampert Pesquisador da EMBRAPA Pecuária Sul
INTRODUÇÃO A definição de qual estratégia a seguir é fundamental para atingir os nossos
alvos na pecuária de corte. Um pergunta a ser feita pelo gestor de cada fazenda é
quais são esses alvos? O que devemos melhorar? Eles são da ordem financeira
ou produtiva?
É natural que os aspectos biológicos e econômicos estejam relacionados
entre si. A melhoria desses indicadores passa inicialmente pela mudança do
desempenho zootécnico do rebanho. Como os exemplos, temos as medidas de
desempenho a seguir:
i. Produção de carne (Kg de PV por hectare);
ii. Margem por hectare (R$ / hectare);
iii. Custo do quilo produzido (R$ / kg Vivo).
Como o nosso alvo é inicialmente a melhoria desses indicadores técnico-
econômicos, a nossa zona de atuação na fazenda fica inicialmente focada no
desempenho zootécnico dos animais onde inclui os aspectos reprodutivos, de
crescimento e de sobrevivência do rebanho.
Esses são os principais parâmetros de referência que dão origem à grande
maioria das métricas utilizadas na pecuária de corte. Após, deve-se relacionar
especificamente quais fatores afetam o desempenho do rebanho. Sabe-se que a
oferta de forragens, os aspectos nutricionais e reprodutivos, os cuidados com a
sanidade e bem-estar, a genética e o manejo na fazenda afetam o desempenho
dos animais. Este é o nosso principal lócus de atuação profissional da zootecnia,
agronomia, veterinária e áreas afins.
Nos últimos anos a nossa área tem revelado mais fortemente um caráter
multidisciplinar. Isso tem ocorrido naturalmente ou até mesmo por forças de
mercado, exigências de consumidores, questões legais e novas formas de
encarar a produção considerando óticas de perenidade dos sistemas produtivos
para as próximas gerações.
! 132!
Na prática, a gestão financeira e a gestão de pessoas não podem ficar de
fora da gestão de tecnologias e processos. Entretanto, para simular de maneira
simplificada a escolha da estratégia foram escolhidos apenas alguns parâmetros
zootécnicos que são influenciados diretamente pela gestão de tecnologias e
processos. Dentre inúmeros indicadores serão analisados alguns dos mais
importantes que impactam de maneira mais significativa os resultados na
produtividade e eficiência econômica da pecuária.
O objetivo deste trabalho foi apresentar um método de simulação para
auxiliar na aprendizagem e compreensão do efeito que indicadores zootécnicos
exercem sobre o desempenho de sistemas de ciclo completo na pecuária de
corte.
O processo decisório na pecuária de corte O estudo teórico do processo de tomada de decisão já existe há várias
décadas. Ele foi proposto inicialmente por Simon (1945) onde afirmou que o
comportamento real das pessoas não alcança a racionalidade objetiva da melhor
escolha. O indivíduo é limitado e influenciado, muitas vezes, por sua capacidade
física de compreender a analisar os fatos, pelos seus valores e pela extensão de
seus conhecimentos.
Ao administrar uma propriedade rural, não é possível ter acesso a todas as
possibilidades de ação, medindo todas as opções, tendo-se em vista a
impossibilidade de obter todas as informações, devido a problemas de tempo e
custo.
O administrador contenta-se em adquirir um número limitado de
informações, um nível satisfatório que possibilite a identificação dos problemas e
algumas soluções alternativas. “O que o indivíduo faz, na realidade, é formar uma
série de expectativas das conseqüências futuras, que se baseiam em relações
empíricas já conhecidas e sobre informações acerca da situação existente”
(Simon, 1965, p.81).
É humanamente impossível o indivíduo conhecer todas as alternativas de
que dispõe e as suas conseqüências. No seu modelo de racionalidade limitada,
as decisões são satisfatórias, mas não ótimas. Dessa forma, acredita-se que
modelos simplificadores da realidade que consigam reduzir variáveis envolvidas
podem ser utilizados em processo decisórios que tem com objetivo reduzir a
! 133!
incerteza nas decisões.
Modelos simplistas são limitados em termos de reprodução exata do mundo
real, mas tem a vantagem de talvez ter alguma aplicação prática de uso por
produtores onde ainda é raro o hábito de coleta, registro, organização dos dados
produtivos e econômicos e uso dessas informações em processos decisórios.
Na pecuária de corte parece existir uma demanda por estudos sobre a
compreensão de sistemas de ciclo completo tendo em vista a complexidade
inerente às fases de cria, recria e terminação.
Como a simples adoção de tecnologias não garante que se reduza o risco
de insucesso na intensificação da atividade, existe uma crescente necessidade de
se compreender esses processos numa abordagem sistêmica a fim de garantir a
viabilidade do negócio. Essa compreensão e aprendizado favorecida pela
simulação deve dar subsídios para as discussões que já existem entre o
proprietário, equipe da fazenda e sua consultoria técnica sobre quais tecnologias
serão adotam e como serão implementadas. Na realidade, a qualidade dessa
discussão e as ações resultantes é que garantirão atingir as metas produtivas
desejadas e projetadas para o cenário futuro de uma propriedade rural.
Como a adoção de tecnologias está muito vinculada ao risco, à incerteza e
ao aprendizado (Marra et al., 2003), entender estes processos por meio de uma
abordagem sistêmica usando simulações poderá futuramente ser um instrumento
de aprendizado que favoreça a adoção e incorporação de tecnologias seguras e
que permitam o aumento da produtividade e eficiência na pecuária de corte.Com
isso, o próximo passo científico talvez seja o de gerar soluções de pesquisa que
apóiem a tomada de decisão do produtor e com isso reduzam as incertezas e os
riscos nas diferentes estratégias de adoção de tecnologias em processos de
intensificação dos sistemas produtivos. Garantir essa viabilidade econômica deve
ser uma meta do setor produtivo e que pode determinar a permanência do
homem no campo e da perpetuação do “negócio pecuário” no longo prazo.
Compreendendo as relações entre desempenho zootécnico do rebanho e desempenho sistêmico da fazenda
Considerando as particularidades dos sistemas de ciclo completo, em
algumas situações pode ser estratégico predizer, ainda que de forma aproximada,
os diferentes impactos que a taxa de natalidade, idade de acasalamento e abate
! 134!
exercem no desempenho sistêmico na produção com bovinos de corte.
Acredita-se que a prática desse exercício com um olhar um pouco mais
holístico possa auxiliar na compreensão da dinâmica que alguns fatores exercem
sobre a produção de carne por hectare.
Como questões reprodutivas são um dos componentes mais importantes da
eficiência da produção em sistemas de produção de bovinos de corte (Trenkle e
Willham, 1977) sendo uma característica fundamental nas comparações de
produtividade com outros parâmetros (Barcellos et al., 1996), foi estudado por
Lampert (2010) algumas relações sobre a dinâmica existente entre a taxa de
natalidade, idade de acasalamento e idade de abate, a capacidade de suporte e a
respectiva produção por ha de sistemas de ciclo completo. As conclusões foram:
1º) O impacto na produção de carne por hectare ao elevar a taxa de
natalidade é menor em rebanhos com alto taxas de natalidade. Elevar a taxa de
natalidade em rebanhos com bom desempenho reprodutivo deixa de ser
importante;
2º) O impacto em reduzir a idade de acasalamento é maior que o impacto
em reduzir a idade de abate nos sistemas com menor desempenho onde os
indicadores reprodutivos e de crescimento são baixos. Os aspectos reprodutivos
são mais relevantes em sistemas com indicadores zootécnicos menores;
3º) Já em sistemas com desempenho zootécnico melhores o que impacta
mais esses sistemas e deve ser encarado com uma boa estratégia de melhoria
para aumentar a produção por hectare é a redução da idade de abate visando
produzir animais mais jovens. Os aspectos de crescimento são mais relevantes
em sistemas com indicadores de rebanho mais elevados.
A importância relativa de alguns indicadores zootécnicos reprodutivos e de
crescimento no aumento da produção por hectare pode ser verificada na Tabela
1. Um olhar na linha revela qual indicador contribui com mais intensidade em cada
cenário. E um olhar na coluna serve para verificar qual cenário responde com
mais intensidade à uma melhoria nesses três indicadores. Pôde-se identificar o
cenário de maior impacto para cada indicador e o indicador de maior impacto para
cada cenário. As características reprodutivas não são sempre as que mais
impactam e auxiliam no aumento da produtividade de fazendas de ciclo completo.
A importância dos indicadores zootécnicos no aumento da produção por hectare
varia nos cenários.
! 135!
TABELA 1 – Importância relativa da taxa de natalidade (TN), idade de
acasalamento (IAC) e idade de abate (IAB) na produção por hectare de sistemas
de ciclo completo de bovinos de corte1 em diferentes cenários de intensificação da
produção.
NA – Não se aplica
Verifique na Tabela 1 que um sistema produtivo com 50% de prenhez, idade
de acasalamento aos 2 anos e idade de abate aos 3 anos, a prioridade para
aumentar a produção por hectare, pode ser a seguinte:
Prioridade 1 – Elevar a taxa de natalidade;
Prioridade 2 – Reduzir a idade de acasalamento;
Prioridade 3 – Reduzir a idade de abate. !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1Foram utilizadas as mesmas expressões a fim de preservar os conceitos e cálculos obtidos na tese de LAMPERT (2010). Posteriormente em outras publicações serão feitos ajustes na nomenclatura e nos valores, como, por exemplo, trocar taxa de natalidade por taxa de desmame.
TN IAC IAB(%) (anos) (anos) TN IAC IAB
3 ++ + +2 +++ + +1 ++++ ++ NA3 +++ ++ +2 ++++ ++ ++1 +++++ ++ NA3 +++ NA +2 ++++ NA +1 +++++ NA NA
3 ++ ++ +2 ++ ++ ++1 +++ +++ NA3 ++ ++ ++2 +++ +++ ++1 ++++ +++ NA3 +++ NA ++2 ++++ NA ++1 +++++ NA NA
3 + ++ ++2 ++ +++ +++1 +++ ++++ NA3 ++ ++ +++2 ++ +++ +++1 +++ +++ NA3 ++ NA +++2 +++ NA +++1 ++++ NA NA
INTE
NSI
FIC
AÇÃO
DO
SIS
TEM
A D
E PR
OD
UÇ
ÃO
65
3
2
1
80
3
2
1
PRODUÇÃO POR HECTARE (Kg de PV / hectare)
50
3
2
1
! 136!
Entretanto, em um sistema produtivo com 80% de prenhez, idade de
acasalamento aos 2 anos e idade de abate de 3 anos a estratégia predominante
praticamente se inverte, prevalecendo como prioridade reduzir a idade de abate.
Neste último caso, as questões reprodutivas não deixam de ser importantes,
mas estrategicamente não são as mais impactantes para elevar a produtividade
da fazenda. Neste contexto, as características de crescimento possivelmente
terão prioridade sobre as características reprodutivas.
A decisão do caminho a seguir passa primeiramente pela capacidade
coletiva da equipe de trabalho da fazenda em identificar os gargalos da
propriedade. Nenhum indicador será sempre prioritário em detrimento dos demais
em todos os cenários. Isso depende do contexto e valor dos outros indicadores.
No entanto, pode-se dizer que a escolha da estratégia de qual aspecto produtivo
deve ser melhorado segue em linhas gerais a lógica descrita acima.
Já a tomada de decisão de quais tecnologias e processos a serem adotados
para atingir a meta deseja é uma decisão que envolve a disponibilidade de
insumos e seus custos, mão-de-obra, perfil racial dos animais, fertilidade do solo,
clima, espécies forrageiras utilizadas e do perfil do proprietário e objetivos da
família. Essa decisão depende da escolha da estratégia tomada.
Quantificando as relações entre desempenho zootécnico do rebanho e desempenho sistêmico da fazenda Na simulação, mediante pressupostos de evolução do rebanho, foram
usadas diferentes cargas animais por hectare além das variáveis taxa de
natalidade, idade de acasalamento e idade de abate. Dentro de intervalos em
cada cenário, mantiveram-se constantes a taxa de mortalidade, taxa de descarte
de vacas e touros, pesos das categorias, pesos de descarte e ganho médio diário
dos animais conforme descrito por LAMPERT (2010). Na análise foram usados
valores de 2 a 5% de mortalidade, pesos de abate de 360 a 480 kg, descarte de
touros de 25% e taxas de descarte de vacas de 15%. Para compreender esses impactos utilizaram-se alguns cenários com
diferentes níveis de desempenho para quantificar a produção de carne por
hectare (Kg de peso vivo por hectare). As tabelas a seguir servem como
referência apresentando valores médios. É possível customizar e gerar tabelas de
! 137!
referência para outros pesos de abate, taxas de mortalidade, carga animal e
preços médios de venda dos animais. Os dados de referência da Tabela 2 podem, por exemplo, serem utilizados
para identificar em que circunstâncias de aumento da carga animal e modificação
nos indicadores zootécnicos, ocorrem uma redução na produção por hectare. Um aumento isolado na lotação e respectiva carga animal nada informa
sobre o seu impacto na produção por hectare. É preciso informar também o
desempenho zootécnico obtido pelo rebanho com essa lotação rebanho para que
se estime a produção por hectare e a taxa de desfrute. Se, com o aumento da lotação, ocorrer uma redução significativa nos
indicadores zootécnicos, essa elevação na quantidade de animais por hectare
resultará em redução da produção por área e posterior perda de rentabilidade e
competitividade desse sistema produtivo.
! 138!
TABELA 2 – Produção por hectaree taxa de desfrute estimadas pelo modelo em
diferentes cenários de taxa de natalidade (TN), idade de acasalamento (IAC),
idade de abate (IAB) e carga animal na produção de bovinos de corte em
sistemas de ciclo completo.
Cenários) PRODUÇÃO)POR)HECTARE)(Kg)de)PV)por)hectare))
TN)
(%))
IAC)
(anos))
IAB)
(anos))
Carga)Animal)(kg)PV)/)ha)) Taxa)de)Desfrute)
(%))225)kg) 338)kg) 450)kg) 563)kg) 675)kg)
50)
3)
3) 54,6) 81,9) 109,2) 136,5) 163,8) 25,8)
2) 57,0) 85,5) 114,0) 142,5) 171,0) 26,8)
1) 60,4) 90,6) 120,8) 151,0) 181,2) 28,0)
2)
3) 57,9) 86,8) 115,7) 144,7) 173,6) 27,2)
2) 61,6) 92,4) 123,2) 153,9) 184,7) 28,7)
1) 66,2) 99,4) 132,5) 165,6) 198,7) 30,4)
1)
3) 62,8) 94,2) 125,6) 156,9) 188,3) 29,1)
2) 67,3) 100,9) 134,6) 168,2) 201,9) 31,1)
1) 71,4) 107,1) 142,8) 178,5) 214,2) 33,3)
65)
3)
3) 61,1) 91,6) 122,2) 152,7) 183,3) 29,1)
2) 65,2) 97,9) 130,5) 163,1) 195,7) 30,8)
1) 70,3) 105,5) 140,7) 175,8) 211,0) 32,8)
2)
3) 66,0) 99,0) 132,0) 165,0) 198,0) 31,2)
2) 71,4) 107,1) 142,9) 178,6) 214,3) 33,4)
1) 77,8) 116,7) 155,6) 194,5) 233,4) 35,9)
1)
3) 71,7) 107,6) 143,4) 179,3) 215,1) 33,8)
2) 78,3) 117,5) 156,6) 195,8) 235,0) 36,5)
1) 84,8) 127,2) 169,5) 211,9) 254,3) 39,5)
80)
3)
3) 66,0) 99,0) 132,0) 165,1) 198,1) 31,6)
2) 71,9) 107,8) 143,8) 179,7) 215,7) 34,1)
1) 78,7) 118,1) 157,4) 196,8) 236,1) 36,9)
2)
3) 72,5) 108,8) 145,1) 181,4) 217,6) 34,4)
2) 79,7) 119,5) 159,4) 199,2) 239,1) 37,4)
1) 87,8) 131,7) 175,6) 219,5) 263,4) 40,6)
1)
3) 79,0) 118,6) 158,1) 197,6) 237,1) 37,7)
2) 87,5) 131,3) 175,1) 218,9) 262,6) 41,2)
1) 96,2) 144,4) 192,5) 240,6) 288,7) 44,9)
)
! 139!
É possível verificar que podem ocorrer reduções na produção por hectare
quando um aumento na lotação ocorre em detrimento de características
reprodutivas e ponderais do rebanho. O aumento isolado da lotação pode resultar
na queda da produtividade do sistema.
Talvez um dos grandes paradoxos da pecuária de corte seja essa
possibilidade de reduzir a produtividade e renda da atividade de ciclo completo
com o aumento da lotação animal. Isso pode ocorrer quando se toma a decisão
de aumentar a carga animal das pastagens sem conciliar de forma adequada a
sua capacidade de suporte e conseqüente o desempenho zootécnico do rebanho.
Observe-se que, se a lotação animal aumentar de 338 kg para 450 kg de
pesos vivo por hectare (0,75 UA para 1,00 UA / ha), mas os indicadores
zootécnicos piorarem (80% - 2 anos - 2 anos para 50% - 3 anos - 3 anos), a
produção por hectare passará de 119,5 para 109,2 kg PV por hectare. A taxa de
desfrute reduzirá de 37,4% para 25,8% (Tabela 2). Com esse exemplo de
redução de produtividade, tem-se um aumento na lotação em 50%, mas uma
redução da produção por hectare em 8,7%. Não nos parece ser uma decisão
acertada aumentar o número de cabeças da fazenda em detrimento dos
indicadores zootécnicos do rebanho e da produção por hectare.
Lotação e carga animal medem estoque, e não produção Se utilizada isoladamente, a lotação animal (cabeças por hectare) ou carga
animal (kg de pesos vivo por hectare) são indicadores limitados para a avaliação
da produtividade de sistemas de ciclo completo em bovinos de corte. Isso se deve
ao fato de que se aumentarmos a quantidade de animais por hectare temos um
risco de diminuir o ganho diário e o desempenho reprodutivo das matrizes,
aumentando com isso a idade ao acasalamento e ao abate e, por fim, reduzir a
produção por área, taxa de desfrute e o faturamento da fazenda.
Esses tipos de indicadores não medem o produto oriundo da atividade
pecuária, mas medem o estoque de animais na fazenda, inclusive das fases de
cria e recria que impactam significativamente nos custos de manutenção dos
animais. A categoria de recria é utilizada como insumo inicial na produção do
produto principal da fase de terminação. Os animais da fase de terminação, que
são os machos e fêmeas gordos abatidos em frigoríficos, é que saem
efetivamente da propriedade gerando receita no curto prazo. Os animais magros,
! 140!
no caso de não vender todos os animais para o abate, e a comercialização de
animais gordos é que refletem em conjunto a produtividade real de um sistema de
ciclo completo.
A utilização isolada da lotação ou carga animal revela um viés de percepção
quanto à visão sistêmica da pecuária. A ênfase exagerada e indiscriminada para
medir produtividade dessa forma poderá retardar a elaboração e definição entre o
governo, instituições de pesquisa, universidades e o setor privado de estratégias
conjuntas que fomentem o desenvolvimento da cadeia produtiva e efetivamente
proporcionem a elevação da produtividade, eficiência e da competitividade da
pecuária de corte no país.
Simulando a escolha da estratégia na pecuária de corte A seguir descreve-se uma sistemática para estimar o aumento da produção
por área quando se pretende melhorar o desempenho do rebanho, especialmente
em alguns indicadores zootécnicos.
Se um produtor utiliza 1.000 hectares para a pecuária, com carga animal de
315 kg de peso vivo por hectare, comercializando seus produtos em média por R$
4,20 o quilograma de peso vivo e considerando os indicadores taxa de natalidade
(TN), idade de acasalamento (IAC), idade de abate (IAB), sair de um patamar
50% – 2 anos – 3 anos, para 65% – 2 anos – 2 anos, respectivamente, qual será
a sua produção por hectare? Em quanto aumentará a receita bruta (faturamento)
devido a esse aumento de produtividade?
Os passos para se chegar a esse valor podem ser encontrados na Tabela 3
(27,1 kg de peso vivo por hectare), na Tabela 4 (19,6 kg de peso vivo por
hectare), na Tabela 5 (R$ 90,00 por hectare) e na Tabela 6 (R$ 90.000,00 na área
total de pecuária da fazenda).
A) TABELA 3: Encontre o INCREMENTO PADRONIZADO: cruzar a linha do
cenário ATUAL com o cenário FUTURO. Valor encontrado: 27,1 (usar na
tabela seguinte). Esse valor representa o aumento da produção em kg de
peso vivo desfrutados por hectare que será obtido com a melhoria dos
índices zootécnicos com uma carga padronizada de 450 kg de peso vivo
por hectare;
B) TABELA 4: Encontre o INCREMENTO AJUSTADO: cruzar o incremento
! 141!
padronizado (use 28 referente ao valor 27,1 da tabela anterior) com a
carga do cenário futuro de sua fazenda. Valor encontrado: 19,6;
C) TABELA 5: Encontre o BENEFÍCIO BRUTO POR HECTARE (R$/ha):
cruzar o incremento ajustado (use 20 kg referente ao valor de 19,6 kg de
peso vivo por hectare da tabela anterior) com o preço médio vendido do Kg
vivo. Valor encontrado: R$ 90,00. Esse é o aumento do faturamento por
hectare a ser obtido com a melhoria dos índices zootécnicos (logicamente
é bruto, sem custos);
D) TABELA 6: Encontre o CUSTO MÁXIMO (limite de investimento): cruzar o
benefício bruto por hectare com a área da fazenda utilizada com a pecuária
(use R$ 90,00 da tabela anterior). Valor encontrado: R$ 90.000,00. Este
valor representa um limite máximo em termos de despesa, que se pode
investir em tecnologias e processos para que seja viável economicamente
aumentar a produtividade (cenário ATUAL para o cenário FUTURO).
Essa simulação visa auxiliar na identificação do quanto se pode investir em
tecnologias e processos que melhorem o desempenho zootécnico do rebanho e a
produção por hectare do sistema. Há alguns anos, questões técnicas não tem
sido um gargalo para aumentar a produtividade, pois existem diversas tecnologias
e processos produtivos que, com certeza, permitem alcançar patamares mais
elevados de eficiência e produtividade.
A questão agora é identificar, num enfoque de faturamento e orçamento,
“como” encaixar e quais tecnologias disponíveis “cabem” dentre desses R$
90.000,00. É uma tarefa conjunta que pode ser realizada com a participação dos
proprietários, sua equipe de trabalho e agrônomos, zootecnistas, veterinários e/ou
outros profissionais das ciências agrárias responsável pela assistência técnica da
fazenda.
Uma ressalva tem que ser feita. A contribuição da análise desse texto é de
trazer à luz alguns elementos que auxiliem o processo decisório. Não se tem a
pretensão de que modelos analíticos dêem “receitas” irrefutáveis ou substituam o
feeling do produtor. Acredita-se que a reflexão gerada na equipe por essa
simulação é muito mais importante do que os valores dos cenários obtidos em si.
Esse tipo de ferramenta de análise, nesse momento, tem uma contribuição maior
no processo de aprendizagem e compreensão do sistema produtivo da pecuária
do que como uma ferramenta prescritiva.
! 142!
Essa reflexão permite identificar um caminho alternativo para a escolha de
tecnologias. O natural é pensar primeiro em uma tecnologia, calcular os custos,
medir os aspectos produtivos e analisar a viabilidade econômica. Esse é o
caminho convencional. Geralmente, o foco na tecnologia é preferido nas questões
gerenciais no dia-a-dia de uma fazenda.
O futuro desenvolvimento de ferramentas que tratem da medição de
desempenho da pecuária talvez contribua para que o primeiro olhar num sistema
produtivo não seja nas tecnologias, mas nos processos e como estratégias de
intervenção e melhoria do desempenho do rebanho impactam o sistema com um
todo. Inicialmente compreender de maneira ampla e caminhar no sentido de
customizar e perceber quais características produtivas são mais sensíveis às
mudanças em cada propriedade talvez seja um aspecto relevante na
administração de fazendas nos próximos anos.
O foco na presente análise é identificar o aumento da receita bruta
(faturamento da fazenda) com a melhoria dos indicadores zootécnicos. No passo-
a-passo descrito anteriormente, passar de uma taxa de natalidade, idade de
acasalamento, idade de abate de 50% – 2 anos – 3 anos, respectivamente, para
uma meta futura de 65% – 2 anos – 2 anos, gera uma receita, um benefício
adicional ao sistema de quase cem mil reais.
Para ser favorável, a relação benefício / custo deve ser igual ou superior a
1. Por isso o custo máximo é igual ao faturamento. Junto com a assistência
técnica, o produtor deverá escolher as tecnologias/processos disponíveis que
permitam dar um salto produtivo do cenário atual para o cenário futuro desejado
com um custo igual ou inferior ao custo máximo (no exemplo, R$ 90.000,00). O
lucro será maior, tanto mais se conseguir desenhar tecnologias e processos de
menor custo, mas que dêem o mesmo salto produtivo.
Não existe tecnologia boa ou ruim, mas sim tecnologias adequadas ou não
à realidade de cada produtor e ao seu sistema produtivo. E outra coisa, no papel
tudo é perfeito, mas como afirmam Kaplan e Norton (2001), apenas 10% das
estratégias formuladas são implantadas com êxito, concluindo que o principal
problema não é a má estratégia, e sim a má execução.
Isso é assunto para outra conversa!
143
! 143!
Tabela 3 – Diferenças da produtividade (produção de kg de peso vivo desfrutados por hectare) entre o cenário atual e futuro para uma carga de 450 kg de peso vivo por ha em sistemas de ciclo completo na pecuária de corte. O valor obtido cruzando a produção atual (linhas) com a meta (colunas) denomina-se incremento padronizado.
!INSTRUÇÕES: Escolha o cenário atual e futuro para a Taxa de natalidade (TN), Idade de acasalamento (IAC) e Idade e abate (IAB) e encontre o valor do incremento produtivo (cruzar linha com coluna) e leve-o para a Tabela 4. Exemplo: valor igual a 27,1.
TNIACIAB 3 2 1 3 2 1 3 2 1 3 2 1 3 2 1 3 2 1 3 2 1 3 2 1 3 2 1
TN IAC IAB
3 0,0 4,8 11,6 6,6 14,0 23,3 16,4 25,4 33,6 13,0 21,3 31,5 22,8 33,7 46,4 34,2 47,4 60,4 22,9 34,6 48,2 35,9 50,2 66,4 48,9 65,9 83,32 -4,8 0,0 6,8 1,7 9,1 18,5 11,5 20,6 28,8 8,2 16,5 26,7 18,0 28,8 41,6 29,4 42,6 55,5 18,0 29,8 43,4 31,1 45,4 61,6 44,1 61,1 78,51 -11,6 -6,8 0,0 -5,0 2,4 11,7 4,8 13,8 22,0 1,4 9,7 19,9 11,2 22,1 34,8 22,7 35,9 48,8 11,3 23,0 36,7 24,3 38,6 54,8 37,3 54,3 71,73 -6,6 -1,7 5,0 0,0 7,4 16,7 9,8 18,8 27,1 6,4 14,7 24,9 16,2 27,1 39,9 27,7 40,9 53,8 16,3 28,0 41,7 29,3 43,6 59,9 42,3 59,3 76,72 -14,0 -9,1 -2,4 -7,4 0,0 9,3 2,4 11,4 19,6 -1,0 7,3 17,5 8,8 19,7 32,5 20,3 33,5 46,4 8,9 20,6 34,3 21,9 36,2 52,5 34,9 51,9 69,31 -23,3 -18,5 -11,7 -16,7 -9,3 0,0 -6,9 2,1 10,3 -10,3 -2,0 8,2 -0,5 10,4 23,1 11,0 24,2 37,1 -0,4 11,3 25,0 12,6 26,9 43,1 25,6 42,6 60,03 -16,4 -11,5 -4,8 -9,8 -2,4 6,9 0,0 9,0 17,3 -3,4 4,9 15,1 6,4 17,3 30,1 17,9 31,1 44,0 6,5 18,2 31,9 19,5 33,8 50,1 32,5 49,5 66,92 -25,4 -20,6 -13,8 -18,8 -11,4 -2,1 -9,0 0,0 8,2 -12,4 -4,1 6,1 -2,6 8,3 21,0 8,8 22,0 35,0 -2,5 9,2 22,8 10,5 24,8 41,0 23,5 40,5 57,91 -33,6 -28,8 -22,0 -27,1 -19,6 -10,3 -17,3 -8,2 0,0 -20,6 -12,3 -2,1 -10,8 0,0 12,8 0,6 13,8 26,7 -10,8 1,0 14,6 2,3 16,6 32,8 15,3 32,3 49,73 -13,0 -8,2 -1,4 -6,4 1,0 10,3 3,4 12,4 20,6 0,0 8,3 18,5 9,8 20,7 33,4 21,2 34,4 47,4 9,9 21,6 35,2 22,9 37,2 53,4 35,9 52,9 70,32 -21,3 -16,5 -9,7 -14,7 -7,3 2,0 -4,9 4,1 12,3 -8,3 0,0 10,2 1,5 12,4 25,1 13,0 26,2 39,1 1,6 13,3 27,0 14,6 28,9 45,1 27,6 44,6 62,01 -31,5 -26,7 -19,9 -24,9 -17,5 -8,2 -15,1 -6,1 2,1 -18,5 -10,2 0,0 -8,7 2,2 14,9 2,8 16,0 28,9 -8,6 3,1 16,8 4,4 18,7 34,9 17,4 34,4 51,83 -22,8 -18,0 -11,2 -16,2 -8,8 0,5 -6,4 2,6 10,8 -9,8 -1,5 8,7 0,0 10,9 23,6 11,4 24,6 37,6 0,1 11,8 25,4 13,1 27,4 43,6 26,1 43,1 60,52 -33,7 -28,8 -22,1 -27,1 -19,7 -10,4 -17,3 -8,3 0,0 -20,7 -12,4 -2,2 -10,9 0,0 12,8 0,6 13,8 26,7 -10,8 0,9 14,6 2,2 16,5 32,8 15,2 32,2 49,61 -46,4 -41,6 -34,8 -39,9 -32,5 -23,1 -30,1 -21,0 -12,8 -33,4 -25,1 -14,9 -23,6 -12,8 0,0 -12,2 1,0 13,9 -23,6 -11,8 1,8 -10,5 3,8 20,0 2,5 19,5 36,93 -34,2 -29,4 -22,7 -27,7 -20,3 -11,0 -17,9 -8,8 -0,6 -21,2 -13,0 -2,8 -11,4 -0,6 12,2 0,0 13,2 26,1 -11,4 0,3 14,0 1,7 16,0 32,2 14,7 31,7 49,12 -47,4 -42,6 -35,9 -40,9 -33,5 -24,2 -31,1 -22,0 -13,8 -34,4 -26,2 -16,0 -24,6 -13,8 -1,0 -13,2 0,0 12,9 -24,6 -12,9 0,8 -11,5 2,8 19,0 1,5 18,5 35,91 -60,4 -55,5 -48,8 -53,8 -46,4 -37,1 -44,0 -35,0 -26,7 -47,4 -39,1 -28,9 -37,6 -26,7 -13,9 -26,1 -12,9 0,0 -37,5 -25,8 -12,1 -24,5 -10,1 6,1 -11,5 5,6 22,93 -22,9 -18,0 -11,3 -16,3 -8,9 0,4 -6,5 2,5 10,8 -9,9 -1,6 8,6 -0,1 10,8 23,6 11,4 24,6 37,5 0,0 11,7 25,4 13,0 27,4 43,6 26,0 43,1 60,42 -34,6 -29,8 -23,0 -28,0 -20,6 -11,3 -18,2 -9,2 -1,0 -21,6 -13,3 -3,1 -11,8 -0,9 11,8 -0,3 12,9 25,8 -11,7 0,0 13,7 1,3 15,6 31,8 14,3 31,3 48,71 -48,2 -43,4 -36,7 -41,7 -34,3 -25,0 -31,9 -22,8 -14,6 -35,2 -27,0 -16,8 -25,4 -14,6 -1,8 -14,0 -0,8 12,1 -25,4 -13,7 0,0 -12,3 2,0 18,2 0,7 17,7 35,13 -35,9 -31,1 -24,3 -29,3 -21,9 -12,6 -19,5 -10,5 -2,3 -22,9 -14,6 -4,4 -13,1 -2,2 10,5 -1,7 11,5 24,5 -13,0 -1,3 12,3 0,0 14,3 30,5 13,0 30,0 47,42 -50,2 -45,4 -38,6 -43,6 -36,2 -26,9 -33,8 -24,8 -16,6 -37,2 -28,9 -18,7 -27,4 -16,5 -3,8 -16,0 -2,8 10,1 -27,4 -15,6 -2,0 -14,3 0,0 16,2 -1,3 15,7 33,11 -66,4 -61,6 -54,8 -59,9 -52,5 -43,1 -50,1 -41,0 -32,8 -53,4 -45,1 -34,9 -43,6 -32,8 -20,0 -32,2 -19,0 -6,1 -43,6 -31,8 -18,2 -30,5 -16,2 0,0 -17,5 -0,5 16,93 -48,9 -44,1 -37,3 -42,3 -34,9 -25,6 -32,5 -23,5 -15,3 -35,9 -27,6 -17,4 -26,1 -15,2 -2,5 -14,7 -1,5 11,5 -26,0 -14,3 -0,7 -13,0 1,3 17,5 0,0 17,0 34,42 -65,9 -61,1 -54,3 -59,3 -51,9 -42,6 -49,5 -40,5 -32,3 -52,9 -44,6 -34,4 -43,1 -32,2 -19,5 -31,7 -18,5 -5,6 -43,1 -31,3 -17,7 -30,0 -15,7 0,5 -17,0 0,0 17,41 -83,3 -78,5 -71,7 -76,7 -69,3 -60,0 -66,9 -57,9 -49,7 -70,3 -62,0 -51,8 -60,5 -49,6 -36,9 -49,1 -35,9 -22,9 -60,4 -48,7 -35,1 -47,4 -33,1 -16,9 -34,4 -17,4 0,0
803 2 1 3 2 1 3 2 1
80
3
2
1
50 65
CEN
ÁRIO
ATU
ALCENÁRIO FUTURO
50
3
2
1
65
3
2
1
144
! 144!
Tabela 4–Diferenças da produtividade (produção de kg de peso vivo desfrutados por hectare) entre o cenário atual e futuro ajustado para a carga da fazenda.O valor obtido cruzando o coeficiente padronizado (linhas) com a carga animal por hectare (colunas) denomina-se incremento ajustado.
INSTRUÇÕES: Use o valor da tabela anterior, procure o valor mais aproximado na linha, cruze com a coluna e leve esse valor para a Tabela 5. Exemplo: usar 28 ao invés de 27,1, cruzar com 315 kg/ha e encontrar 19,6 (incremento ajustado).
CG225,00 270,00 315,00 360,00 405,00 450,00 495,00 540,00 585,00 630,00 675,00
CP2,0 1,00 1,20 1,40 1,60 1,80 2,00 2,20 2,40 2,60 2,80 3,004,0 2,00 2,40 2,80 3,20 3,60 4,00 4,40 4,80 5,20 5,60 6,006,0 3,00 3,60 4,20 4,80 5,40 6,00 6,60 7,20 7,80 8,40 9,008,0 4,00 4,80 5,60 6,40 7,20 8,00 8,80 9,60 10,40 11,20 12,00
10,0 5,00 6,00 7,00 8,00 9,00 10,00 11,00 12,00 13,00 14,00 15,0012,0 6,00 7,20 8,40 9,60 10,80 12,00 13,20 14,40 15,60 16,80 18,0014,0 7,00 8,40 9,80 11,20 12,60 14,00 15,40 16,80 18,20 19,60 21,0016,0 8,00 9,60 11,20 12,80 14,40 16,00 17,60 19,20 20,80 22,40 24,0018,0 9,00 10,80 12,60 14,40 16,20 18,00 19,80 21,60 23,40 25,20 27,0020,0 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 22,00 24,00 26,00 28,00 30,0022,0 11,00 13,20 15,40 17,60 19,80 22,00 24,20 26,40 28,60 30,80 33,0024,0 12,00 14,40 16,80 19,20 21,60 24,00 26,40 28,80 31,20 33,60 36,0026,0 13,00 15,60 18,20 20,80 23,40 26,00 28,60 31,20 33,80 36,40 39,0028,0 14,00 16,80 19,60 22,40 25,20 28,00 30,80 33,60 36,40 39,20 42,0030,0 15,00 18,00 21,00 24,00 27,00 30,00 33,00 36,00 39,00 42,00 45,0032,0 16,00 19,20 22,40 25,60 28,80 32,00 35,20 38,40 41,60 44,80 48,0034,0 17,00 20,40 23,80 27,20 30,60 34,00 37,40 40,80 44,20 47,60 51,0036,0 18,00 21,60 25,20 28,80 32,40 36,00 39,60 43,20 46,80 50,40 54,0038,0 19,00 22,80 26,60 30,40 34,20 38,00 41,80 45,60 49,40 53,20 57,0040,0 20,00 24,00 28,00 32,00 36,00 40,00 44,00 48,00 52,00 56,00 60,0042,0 21,00 25,20 29,40 33,60 37,80 42,00 46,20 50,40 54,60 58,80 63,0044,0 22,00 26,40 30,80 35,20 39,60 44,00 48,40 52,80 57,20 61,60 66,0046,0 23,00 27,60 32,20 36,80 41,40 46,00 50,60 55,20 59,80 64,40 69,0048,0 24,00 28,80 33,60 38,40 43,20 48,00 52,80 57,60 62,40 67,20 72,0050,0 25,00 30,00 35,00 40,00 45,00 50,00 55,00 60,00 65,00 70,00 75,0052,0 26,00 31,20 36,40 41,60 46,80 52,00 57,20 62,40 67,60 72,80 78,0054,0 27,00 32,40 37,80 43,20 48,60 54,00 59,40 64,80 70,20 75,60 81,0056,0 28,00 33,60 39,20 44,80 50,40 56,00 61,60 67,20 72,80 78,40 84,0058,0 29,00 34,80 40,60 46,40 52,20 58,00 63,80 69,60 75,40 81,20 87,0060,0 30,00 36,00 42,00 48,00 54,00 60,00 66,00 72,00 78,00 84,00 90,0062,0 31,00 37,20 43,40 49,60 55,80 62,00 68,20 74,40 80,60 86,80 93,0064,0 32,00 38,40 44,80 51,20 57,60 64,00 70,40 76,80 83,20 89,60 96,0066,0 33,00 39,60 46,20 52,80 59,40 66,00 72,60 79,20 85,80 92,40 99,0068,0 34,00 40,80 47,60 54,40 61,20 68,00 74,80 81,60 88,40 95,20 102,0070,0 35,00 42,00 49,00 56,00 63,00 70,00 77,00 84,00 91,00 98,00 105,0072,0 36,00 43,20 50,40 57,60 64,80 72,00 79,20 86,40 93,60 100,80 108,0076,0 38,00 45,60 53,20 60,80 68,40 76,00 83,60 91,20 98,80 106,40 114,0080,0 40,00 48,00 56,00 64,00 72,00 80,00 88,00 96,00 104,00 112,00 120,0084,0 42,00 50,40 58,80 67,20 75,60 84,00 92,40 100,80 109,20 117,60 126,0088,0 44,00 52,80 61,60 70,40 79,20 88,00 96,80 105,60 114,40 123,20 132,0092,0 46,00 55,20 64,40 73,60 82,80 92,00 101,20 110,40 119,60 128,80 138,0096,0 48,00 57,60 67,20 76,80 86,40 96,00 105,60 115,20 124,80 134,40 144,00100,0 50,00 60,00 70,00 80,00 90,00 100,00 110,00 120,00 130,00 140,00 150,00
EFEITO DA VARIAÇÃO DA CAPACIDADE DE SUPORTE NA PRODUÇÃO POR HECTARE
CARGA ANIMAL DO CENÁRIO FUTURO? (Kg de PV / ha)
CO
EFI
CIE
NTE
PR
OD
UTI
VO
INCREMENTO QUE SERÁ OBTIDO POR HECTARE EM FUNÇÃO DA CARGA (Kg Vivo/ha)
145
! 145!
Tabela 5 – Aumento do faturamento (R$ por hectare) ao passar do cenário atual para o desejado. O valor obtido cruzando o incremento ajustado (linhas) com o preço médio vendido (colunas) em R$ por kg de animal gordo denomina-se benefício bruto por hectare.
INSTRUÇÕES: Use o valor da tabela anterior, procure o valor mais aproximado na linha, cruze com o preço, e leve esse valor para a Tabela 6. Exemplo: usar 20 kg ao invés de 19,60, cruzar com R$ 4,50 / kg vivo e encontrar R$ 90,00 por hectare.
3,00 3,50 4,00 4,50 5,00 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
IP IP1,0 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00 64 192,00 224,00 256,00 288,00 320,002,0 6,00 7,00 8,00 9,00 10,00 66 198,00 231,00 264,00 297,00 330,003,0 9,00 10,50 12,00 13,50 15,00 68 204,00 238,00 272,00 306,00 340,004,0 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 70 210,00 245,00 280,00 315,00 350,005,0 15,00 17,50 20,00 22,50 25,00 72 216,00 252,00 288,00 324,00 360,006,0 18,00 21,00 24,00 27,00 30,00 74 222,00 259,00 296,00 333,00 370,007,0 21,00 24,50 28,00 31,50 35,00 76 228,00 266,00 304,00 342,00 380,008,0 24,00 28,00 32,00 36,00 40,00 78 234,00 273,00 312,00 351,00 390,009,0 27,00 31,50 36,00 40,50 45,00 80 240,00 280,00 320,00 360,00 400,0010,0 30,00 35,00 40,00 45,00 50,00 82 246,00 287,00 328,00 369,00 410,0011,0 33,00 38,50 44,00 49,50 55,00 84 252,00 294,00 336,00 378,00 420,0012,0 36,00 42,00 48,00 54,00 60,00 86 258,00 301,00 344,00 387,00 430,0013,0 39,00 45,50 52,00 58,50 65,00 88 264,00 308,00 352,00 396,00 440,0014,0 42,00 49,00 56,00 63,00 70,00 90 270,00 315,00 360,00 405,00 450,0015,0 45,00 52,50 60,00 67,50 75,00 92 276,00 322,00 368,00 414,00 460,0016,0 48,00 56,00 64,00 72,00 80,00 94 282,00 329,00 376,00 423,00 470,0017,0 51,00 59,50 68,00 76,50 85,00 96 288,00 336,00 384,00 432,00 480,0018,0 54,00 63,00 72,00 81,00 90,00 98 294,00 343,00 392,00 441,00 490,0019,0 57,00 66,50 76,00 85,50 95,00 100 300,00 350,00 400,00 450,00 500,0020,0 60,00 70,00 80,00 90,00 100,00 102 306,00 357,00 408,00 459,00 510,0021,0 63,00 73,50 84,00 94,50 105,00 104 312,00 364,00 416,00 468,00 520,0022,0 66,00 77,00 88,00 99,00 110,00 106 318,00 371,00 424,00 477,00 530,0023,0 69,00 80,50 92,00 103,50 115,00 108 324,00 378,00 432,00 486,00 540,0024,0 72,00 84,00 96,00 108,00 120,00 110 330,00 385,00 440,00 495,00 550,0025,0 75,00 87,50 100,00 112,50 125,00 112 336,00 392,00 448,00 504,00 560,0026,0 78,00 91,00 104,00 117,00 130,00 114 342,00 399,00 456,00 513,00 570,0028,0 84,00 98,00 112,00 126,00 140,00 116 348,00 406,00 464,00 522,00 580,0030,0 90,00 105,00 120,00 135,00 150,00 118 354,00 413,00 472,00 531,00 590,0032,0 96,00 112,00 128,00 144,00 160,00 120 360,00 420,00 480,00 540,00 600,0034,0 102,00 119,00 136,00 153,00 170,00 122 366,00 427,00 488,00 549,00 610,0036,0 108,00 126,00 144,00 162,00 180,00 124 372,00 434,00 496,00 558,00 620,0038,0 114,00 133,00 152,00 171,00 190,00 126 378,00 441,00 504,00 567,00 630,0040,0 120,00 140,00 160,00 180,00 200,00 128 384,00 448,00 512,00 576,00 640,0042,0 126,00 147,00 168,00 189,00 210,00 130 390,00 455,00 520,00 585,00 650,0044,0 132,00 154,00 176,00 198,00 220,00 132 396,00 462,00 528,00 594,00 660,0046,0 138,00 161,00 184,00 207,00 230,00 134 402,00 469,00 536,00 603,00 670,0048,0 144,00 168,00 192,00 216,00 240,00 136 408,00 476,00 544,00 612,00 680,0050,0 150,00 175,00 200,00 225,00 250,00 138 414,00 483,00 552,00 621,00 690,0052,0 156,00 182,00 208,00 234,00 260,00 140 420,00 490,00 560,00 630,00 700,0054,0 162,00 189,00 216,00 243,00 270,00 142 426,00 497,00 568,00 639,00 710,0056,0 168,00 196,00 224,00 252,00 280,00 144 432,00 504,00 576,00 648,00 720,0058,0 174,00 203,00 232,00 261,00 290,00 146 438,00 511,00 584,00 657,00 730,0060,0 180,00 210,00 240,00 270,00 300,00 148 444,00 518,00 592,00 666,00 740,0062,0 186,00 217,00 248,00 279,00 310,00 150 450,00 525,00 600,00 675,00 750,00
AUMENTO DO FATURAMENTO POR HECTARE NO CENÁRIO FUTURO
PREÇO DO KG DE PESO VIVO DE ANIMAIS PARA O ABATE (R$ / Kg de PV)
BENEFÍCIO BRUTO POR HECTARE (R$ por hectare)
INC
RE
ME
NTO
PO
R H
EC
TAR
E
146
! 146!
Tabela 6 – Aumento do faturamento total da fazenda (R$) do cenário atual para o desejado. O valor obtido cruzando o benefício bruto por hectare (linhas) com a área utilizada com a pecuária (colunas) denomina-se custo máximo. É o valor máximo para gastar no aumento da produtividade.
! INSTRUÇÕES: Use o valor da tabela anterior, procure o valor mais aproximado na linha, cruze com a área utilizada na pecuária. Exemplo: usar R$ 90,00 kg, cruzar com 1.000 ha e encontrar R$ 90.000,00 por hectare (custo máximo).
500 1.000 5.000 10.000 500 1.000 5.000 10.000
BBH BBH1,0 500 1.000 5.000 10.000 130,0 65.000 130.000 650.000 1.300.0002,0 1.000 2.000 10.000 20.000 140,0 70.000 140.000 700.000 1.400.0003,0 1.500 3.000 15.000 30.000 150,0 75.000 150.000 750.000 1.500.0004,0 2.000 4.000 20.000 40.000 160,0 80.000 160.000 800.000 1.600.0005,0 2.500 5.000 25.000 50.000 170,0 85.000 170.000 850.000 1.700.0006,0 3.000 6.000 30.000 60.000 180,0 90.000 180.000 900.000 1.800.0007,0 3.500 7.000 35.000 70.000 190,0 95.000 190.000 950.000 1.900.0008,0 4.000 8.000 40.000 80.000 200,0 100.000 200.000 1.000.000 2.000.0009,0 4.500 9.000 45.000 90.000 210,0 105.000 210.000 1.050.000 2.100.00010,0 5.000 10.000 50.000 100.000 220,0 110.000 220.000 1.100.000 2.200.00011,0 5.500 11.000 55.000 110.000 230,0 115.000 230.000 1.150.000 2.300.00012,0 6.000 12.000 60.000 120.000 240,0 120.000 240.000 1.200.000 2.400.00013,0 6.500 13.000 65.000 130.000 250,0 125.000 250.000 1.250.000 2.500.00014,0 7.000 14.000 70.000 140.000 260,0 130.000 260.000 1.300.000 2.600.00015,0 7.500 15.000 75.000 150.000 270,0 135.000 270.000 1.350.000 2.700.00016,0 8.000 16.000 80.000 160.000 280,0 140.000 280.000 1.400.000 2.800.00017,0 8.500 17.000 85.000 170.000 290,0 145.000 290.000 1.450.000 2.900.00018,0 9.000 18.000 90.000 180.000 300,0 150.000 300.000 1.500.000 3.000.00019,0 9.500 19.000 95.000 190.000 310,0 155.000 310.000 1.550.000 3.100.00020,0 10.000 20.000 100.000 200.000 320,0 160.000 320.000 1.600.000 3.200.00021,0 10.500 21.000 105.000 210.000 330,0 165.000 330.000 1.650.000 3.300.00022,0 11.000 22.000 110.000 220.000 340,0 170.000 340.000 1.700.000 3.400.00023,0 11.500 23.000 115.000 230.000 350,0 175.000 350.000 1.750.000 3.500.00024,0 12.000 24.000 120.000 240.000 360,0 180.000 360.000 1.800.000 3.600.00025,0 12.500 25.000 125.000 250.000 370,0 185.000 370.000 1.850.000 3.700.00026,0 13.000 26.000 130.000 260.000 380,0 190.000 380.000 1.900.000 3.800.00027,0 13.500 27.000 135.000 270.000 390,0 195.000 390.000 1.950.000 3.900.00028,0 14.000 28.000 140.000 280.000 400,0 200.000 400.000 2.000.000 4.000.00029,0 14.500 29.000 145.000 290.000 410,0 205.000 410.000 2.050.000 4.100.00030,0 15.000 30.000 150.000 300.000 420,0 210.000 420.000 2.100.000 4.200.00035,0 17.500 35.000 175.000 350.000 430,0 215.000 430.000 2.150.000 4.300.00040,0 20.000 40.000 200.000 400.000 440,0 220.000 440.000 2.200.000 4.400.00045,0 22.500 45.000 225.000 450.000 450,0 225.000 450.000 2.250.000 4.500.00050,0 25.000 50.000 250.000 500.000 460,0 230.000 460.000 2.300.000 4.600.00055,0 27.500 55.000 275.000 550.000 470,0 235.000 470.000 2.350.000 4.700.00060,0 30.000 60.000 300.000 600.000 480,0 240.000 480.000 2.400.000 4.800.00065,0 32.500 65.000 325.000 650.000 490,0 245.000 490.000 2.450.000 4.900.00070,0 35.000 70.000 350.000 700.000 500,0 250.000 500.000 2.500.000 5.000.00075,0 37.500 75.000 375.000 750.000 510,0 255.000 510.000 2.550.000 5.100.00080,0 40.000 80.000 400.000 800.000 520,0 260.000 520.000 2.600.000 5.200.00085,0 42.500 85.000 425.000 850.000 530,0 265.000 530.000 2.650.000 5.300.00090,0 45.000 90.000 450.000 900.000 540,0 270.000 540.000 2.700.000 5.400.00095,0 47.500 95.000 475.000 950.000 550,0 275.000 550.000 2.750.000 5.500.000100,0 50.000 100.000 500.000 1.000.000 560,0 280.000 560.000 2.800.000 5.600.000105,0 52.500 105.000 525.000 1.050.000 570,0 285.000 570.000 2.850.000 5.700.000110,0 55.000 110.000 550.000 1.100.000 580,0 290.000 580.000 2.900.000 5.800.000115,0 57.500 115.000 575.000 1.150.000 590,0 295.000 590.000 2.950.000 5.900.000120,0 60.000 120.000 600.000 1.200.000 600,0 300.000 600.000 3.000.000 6.000.000
Área utilizada com a pecuária (hectares) - Ciclo Completo
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RE
(R$)
AUMENTO DO FATURAMENTO DA FAZENDA
147
! 147!
Referências
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148
! 148!
Gestão pelo sistema de custos
Méd. Vet. Ricardo Pedroso Oaigen
Professor Adjunto, Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA - Uruguaiana
Méd. Vet. Júlio Otávio Jardim Barcellos
Prof. Associado – NESPRO – Dep. Zootecnia, Universidade Federal do Rio Grande
do Sul - UFRGS
Acadêmica de Medicina Veterinária Thais Lopes Gonçalves
Bolsista PBDA – Iniciação a Pesquisa, Universidade Federal do Pampa –
UNIPAMPA - Uruguaiana-RS
Resumo
Gerenciamento pode ser definido como um processo contínuo e sistemático
de tomada de decisões, no entanto, a tarefa de gerar informações reais e
consistentes que fundamentem a tomada de decisão é uma dificuldade constante
para os produtores rurais. O empresário tem a necessidade de saber onde e de que
forma estão sendo aplicados seus recursos e qual está sendo o retorno econômico
obtido. Mensurar o custo de produção, a partir de metodologias específicas e
padronizadas, permite identificar os centros geradores de custos e o impacto que
determinados processos e/ou tecnologias causam ao sistema, especificamente no
custo final do produto. A informação gerencial, por meio de indicadores econômicos,
caracteriza a viabilidade econômica do sistema produtivo e, possibilita a comparação
dos resultados atuais com o planejamento realizado anteriormente.
Palavras-chaves: bovinos de corte, administração rural, centro de custos,
indicadores econômicos.
Introdução
O setor da bovinocultura de corte tem apresentado nas últimas décadas
avanços no que se refere ao surgimento e aplicabilidade de tecnologias de produção
que visam incrementar a produtividade dos rebanhos. Entretanto, a análise conjunta
149
! 149!
do desempenho técnico e econômico torna-se complexa e de difícil mensuração,
potencializada tanto pela heterogeneidade dos sistemas produtivos quanto pela falta
de informações e controles sobre eles. A viabilidade econômica da atividade é
intimamente relacionada com questões intrínsecas, como por exemplo, o valor
elevado do fator de produção terra, a grande infraestrutura montada e o forte apego
cultural, fazendo com que o produtor se mantenha na atividade, ainda que seus
produtos estejam sendo comercializados sem retorno e, em alguns casos, até com
prejuízo.
Nos últimos anos, a atividade vem oscilando entre momentos distintos,
consequência de inúmeras causas. Entre os principais fatores negativos destacam-
se: a política cambial desfavorável ao setor, o crescente endividamento das
empresas rurais, perda de capital de giro, aumento do custo dos principais insumos
de produção, resultando em menores taxas de rentabilidade. No entanto, nos últimos
dois anos, com o aumento dos preços recebidos, a cadeia produtiva da carne bovina
está reagindo e entrando em uma conjuntura favorável, aliado a isto, inúmeros
avanços positivos estão sendo realizados a partir de ações estratégicas, por
exemplo, alianças entre os diferentes elos da cadeia.
Foram determinados fatores interdependentes que afetam o desempenho
econômico de rebanhos, sendo estes os custos de produção, a produtividade
biológica e a lucratividade do sistema. Entretanto, os gestores frequentemente
focam suas ações em aumentar a produtividade, sem considerar o gerenciamento
dos custos e dos demais fatores que influenciam o resultado econômico dessas
empresas.
Existe por parte dos empresários rurais uma demanda por um método de
gerenciamento específico. Os modelos atuais de contabilidade disponíveis no
mercado são eficazes, mesmo em empresas rurais, para avaliar o patrimônio e,
superficialmente, o resultado econômico. No entanto, para apurar adequadamente
esse resultado econômico, os modelos disponíveis atualmente não permitem uma
abertura detalhada de relatórios interligados aos centros de custos para auxiliar uma
tomada de decisão. Na indústria ou nas empresas urbanas, setor onde a ciência da
contabilidade desenvolveu-se, as variáveis técnicas e os locais de produção são
controlados. No caso do setor agropecuário, a dificuldade não é contabilizar, mas
sim conseguir direcionar onde foram aplicados os recursos.
150
! 150!
É fundamental que o administrador tenha conhecimentos adequados sobre a
maneira que os custos incorrem na empresa e a que tipos de atividades estão
relacionados. Os custos surgem a partir do esforço empreendido na execução de
tarefas que resultem na produção de um bem comercializável. Qualquer insumo
consumido na produção de um bem ou serviço, agregado fisicamente a ele ou não,
deve ser mensurado.. Deste modo, a determinação dos custos de produção tem a
finalidade de verificar como está a rentabilidade da atividade comparada às
alternativas de emprego do tempo e capital e se os recursos utilizados num
processo de produção estão sendo remunerados.
Portanto, é imprescindível que os profissionais ligados às ciências agrárias,
administradores e empresários rurais, possuam ferramentas gerenciais visando
mensurar e analisar os custos de produção associados aos indicadores produtivos.
Estas análises não devem ser atreladas ao volume e sim a uma visão mais próxima
da circulação dos recursos consumidos pelas atividades produtivas. Os relatórios
gerenciais são de fundamental importância no suporte ao processo de gestão,
considerando-se que os mesmos podem suprir os gestores com as informações
sobre o desempenho da empresa, quanto ao custo e ao resultado obtido, podendo
ainda auxiliar em tempo hábil na solução dos problemas.
Neste contexto a determinação dos custos envolvidos na pecuária de corte
assume uma dimensão estratégica. Os preços passam a ser definidos pelo
mercado, e a precisa mensuração e contabilização de custos tornam-se
fundamentais na determinação dos resultados dos produtores, assim como de sua
sobrevivência. Controlar custos e precisar sua participação no preço final torna-se
essencial para uma gestão profissional.
Desenvolvimento
Gerenciamento na atividade pecuária
Os fatores de produção da uma empresa rural denominam-se terra, capital e
trabalho. Entre estes, sem dúvida o fator terra é o mais importante, pois é onde se
aplicam os capitais e se trabalha para obter a produção. Se a terra for ruim ou muito
pequena, dificilmente se produzirão colheitas abundantes e lucrativas, por mais
capital e trabalho que se disponha. O capital representa o conjunto de bens
colocados sobre a terra com objetivo de aumentar sua produtividade e ainda facilitar
e melhorar a qualidade do trabalho.
151
! 151!
O trabalho é o conjunto de atividades desempenhadas pelo homem,
associando três aspectos: organização, estabelecimento de controles e o manejo da
atividade. Porém existe uma diferença fundamental entre a administração e a
execução de práticas agropecuárias: a exigência de conhecimento é maior para a
primeira. A visão do empresário rural deve priorizar a visão sistêmica da empresa,
enquanto que o executor de tarefas necessita saber exatamente aquilo que lhe foi
designado. A tarefa do empresário é, portanto, muito mais complexa. Cabe a ele
coordenar os demais funcionários e fundamentalmente combinar a utilização de
todos os fatores de produção com a finalidade de obter resultados econômicos
satisfatórios e manter elevada a produtividade.
O conhecimento das condições de mercado e dos recursos naturais fornece
ao produtor rural os elementos básicos para o desenvolvimento de sua atividade. A
administração rural é definida como o conjunto de atividades que facilita a tomada
de decisão ao nível de sua unidade de produção com a finalidade de obter o melhor
resultado econômico, mantendo a produtividade da terra.
Ao empresário rural caem as seguintes tarefas:
• Tomar decisão sobre o quê produzir, baseando-se nas condições de mercado
e dos recursos naturais de sua propriedade;
• Decidir sobre o quanto produzir, levando em consideração fundamentalmente
a quantidade de terra de que dispõe, e ainda o capital e a mão-de-obra que pode
empregar;
• Estabelecer o modo como vai produzir, ou seja, a tecnologia que vai
empregar;
• Controlar a ação desenvolvida, verificando a eficácia das técnicas
empregadas;
• Avaliar os resultados obtidos, medindo os lucros ou prejuízos, e analisando
quais as razões que fizeram com que o resultado alcançado fosse diferente
daquele previsto no início do trabalho.
Entre os problemas encontrados na gestão pecuária citam-se: dificuldade dos
produtores em controlar dados em suas propriedade através de anotações
organizadas, inexistência de um método simples para controlar os custos da
atividade, falta de gerenciamento das tecnologias com o devido assessoramento
técnico, falta de controle de indicadores técnico-econômicos e o forte apego cultural
152
! 152!
e conservador da atividade pecuária. Portanto, fortalecer a gestão empresarial, pelo
conhecimento de informações estratégicas, é um dos grandes investimentos a ser
realizado. A gestão do negócio torna o crescimento do empreendimento rural viável,
fazendo com que se fortaleça para o enfrentamento das crises, além de estar
preparado para aproveitar as oportunidades.
Etapas para implantação de um sistema gerencial
O gestor da atividade deve estabelecer algumas etapas para implementação
de um sistema gerencial:
• 1ª Etapa: Formação da equipe de execução de campo, de acordo com os
objetivos e a dimensão do estabelecimento, determinando as funções, as
responsabilidades e o número de funcionários necessários. O processo de
formação de uma equipe é gradual, sendo importante que a gerência implante
uma filosofia de trabalho em que a produtividade seja o ganho real de todos,
de acordo com a participação de cada um.
• 2ª Etapa: Definição do sistema de controle operacional por setor, cujas
atividades devem ser controladas diária ou mensalmente. A cada final de
mês, o gerente geral deve realizar uma análise desses controles operacionais
por setor.
• 3ª Etapa: Execução do planejamento, com definição clara das prioridades e
metas. O fluxo de informações é importante para o gestor se manter
informado de todas as ocorrências, sendo importante: reuniões semanais,
fiscalização dos serviços em andamento, análise dos relatórios técnico-
econômicos.
• 4ª Etapa: Elaboração de um orçamento que deve, necessariamente, ser
realizado anualmente com acompanhamento e análise mensal dos resultados
(orçado X realizado).
Controles a serem estabelecidos
Fluxo de Caixa: Planejamento anual e mensal
Primeiro nível de controle financeiro a ser implantado em empresas rurais.
Definido como uma demonstração da contabilidade que expõe fluxos estritamente
financeiros e de fácil entendimento. Trata-se de um relatório que propicia ao usuário
153
! 153!
da informação contábil condições de avaliar a capacidade da empresa na geração
de caixa futuro e de fazer frente as suas obrigações.
Plano de Contas Pecuário
Um modelo de plano de contas deve abranger as principais movimentações
das empresas, sendo bastante flexível em termos de inclusão de novas contas,
exclusão de contas já existentes, ou até mesmo alteração dos títulos das contas
cadastradas. Esta estrutura gerencial deve buscar classificar e armazenar, de forma
organizada, todas as movimentações financeiras de receitas e despesas efetuadas
nas atividades produtivas. Através do plano de contas o administrador rural é capaz
de obter uma análise detalhada de cada uma das despesas e receitas ocorridas,
sejam lançamentos individuais ou não. É a primeira classificação das
movimentações financeiras nos controles que se deseja efetuar, ou seja, qualquer
receita ou despesa efetuada deverá, em primeiro lugar, ser classificada no Plano de
Contas, conforme Figura 1.
O plano de contas gerencial deve obedecer às seguintes regras básicas: ser o
mais detalhado possível trazendo facilidades de acesso aos dados que você
necessite e controles que deseje efetuar; ser o mais reduzido possível, sem que,
com isso, prejudique a qualidade dos controles que está buscando. É recomendado,
em termos de subdivisão das contas, que não se ultrapasse quatro níveis, sob pena
de gerar, posteriormente, dificuldades na manipulação dos dados. É importante
destacar que um modelo de plano de contas deve apresentar fins gerenciais e não
fiscais, sendo sujeito a alterações de acordo com os controles a serem implantados
nas diferentes empresas rurais.
154
! 154!
Figura 1 – Fluxo das movimentações financeiras em uma empresa de cria.
Conceitos econômicos básicos: gasto, custo, despesa, custo de oportunidade
e depreciação
Gasto é o valor dos insumos adquiridos na fabricação dos produtos da
empresa (no caso da cria, os produtos são os terneiros), independentemente de
serem utilizados ou não. Já custo refere-se ao valor dos insumos utilizados na
fabricação dos produtos da empresa, divide-se em matéria-prima, mão-de-obra
direta e custos indiretos de fabricação (matérias de consumo, mão-de-obra indireta,
depreciação, energia elétrica, entre outros). Custo diferencia-se de gasto pelo fato
de que o último refere-se aos insumos adquiridos, enquanto que o custo está
relacionado com os insumos efetivamente utilizados.
Despesas são valores dos insumos consumidos com o funcionamento da
empresa e não-identificados com a fabricação, sendo divididas em administrativa,
comercial e financeira. Portanto, as despesas são diferenciadas dos custos de
fabricação pelo fato de estarem relacionadas com a administração geral.
Os custos de oportunidade são chamados também de remuneração da terra e
do capital. Remuneração da terra refere-se ao montante de valor que se deixa de
ganhar por optar em investir o capital imobilizado em terras em outras atividades
econômicas. Um critério comumente utilizado é o valor de arrendamento no mercado
de terras da região. Remuneração do capital refere-se ao valor que o empresário
receberia se esse recurso estivesse aplicado em outra atividade. Um critério
bastante utilizado é a taxa real de juros paga pela caderneta de poupança. Custos
PLANO DE CONTAS
– Alimentação Animal• Resíduos agrícolas• Sal Mineral• Suplementação protéica
– Combustíveis• Óleo Diesel• Gasolina
– Manutenção• Peças/Materiais• Lubrificantes
– Mão-de-Obra• Fixa• Temporária• Assistência Técnica
– Reprodução• Sêmen• Hormônios
– Sanidade• Vermífugos• Carrapaticidas
CENTROS DE CUSTOS PRODUTIVOS
Pecuária de Corte
CRIADesmame dosterneirosVacas de criaTouros
RECRIANovilhas
Administração
InventárioMáquinasImplementosMangueirasBretes
Almoxarifado
Oficina
CENTROS DE CUSTOS
INDIRETOS (Apoio)
Produto:
TERNEIRORateioDireto
155
! 155!
de oportunidade são custos que não representam o consumo dos insumos pela
empresa, mas o quanto alguém deixou de ganhar pelo fato de ter optado por um
investimento ao invés de outro. Portanto, o que realmente se está fazendo é
comparar dois investimentos diferentes. A análise dos custos de oportunidade está
relacionada com o nível estratégico de administração da empresa, enquanto a
análise dos custos operacionais se relaciona com o nível gerencial.
A depreciação é definida como a redução do valor de um bem devido ao
desgaste pela sua utilização, obsolescência tecnológica, queda no preço de
mercado ou desgaste natural (no caso de reprodutores). Valores de depreciações
são reservas contábeis destinadas ao provimento de recursos para que o bem de
produção possa ser renovado no futuro. Sendo assim, é um método de
planejamento financeiro que permitirá que a empresa tenha condições, dentro de um
determinado prazo, de reinvestir na produção.
Existem várias metodologias de cálculo das depreciações, porém no setor
agropecuário calcula-se através do método linear, onde o valor respectivo é sempre
constante em relação ao valor de compra ou valor de mercado do bem de produção.
É calculada pela seguinte fórmula:
Depreciação = (valor inicial – valor residual) / vida útil em anos
Somente são passíveis de depreciação bens com vida útil superior a um ciclo
produtivo e que possuem vida útil limitada, portanto, a terra não sofre depreciação.
Custos de produção
Os custos classificam-se segundo algumas características: custo direto
compreende qualquer despesa ou gasto perfeitamente identificável e relacionado
diretamente com o produto fabricado ou serviço prestado. Exemplos são custos de
alimentação e medicamentos veterinários. Por outro lado, custo indireto corresponde
aos gastos que não contribuem de forma direta para a produção. Quase todos os
critérios de distribuição (rateios) dos gastos indiretos ao custo direto de produção
são arbitrários. O melhor deles deve basear-se em uma medida racional para cada
tipo de despesa funcional da empresa. Exemplos são custos de administração, pró-
labore do empresário, entre outros.
Custos desembolsáveis são pagamentos efetuados no presente, como
pagamento de funcionários, aluguéis e energia. Já os custos não-desembolsáveis,
156
! 156!
não exigem o desembolso de dinheiro, como por exemplo, a depreciação de
máquinas e a remuneração da terra e do capital.
Outra classificação utilizada refere-se a variabilidade, sendo custos fixos
aqueles que não variam com a quantidade produzida e têm duração superior ao
curto prazo. Portanto, sua renovação acontece a longo prazo. Entende-se por curto
prazo o período de tempo mínimo necessário para que um ciclo produtivo se
complete e por longo prazo o período de tempo que envolve dois ou mais ciclos
produtivos. Custos fixos são constantes e inalterados, independentemente do maior
ou menor volume de produção ou vendas. Depreciações, gastos de mão-de-obra,
impostos e seguros são exemplos de custos fixos. A mão-de-obra fixa a ser
computada deve ser aquela que não se altera de acordo com volume de produção,
considerando-se assim os salários do administrador, capataz, peões e assistência
técnica.
Já os custos variáveis mudam de acordo com a quantidade produzida e cuja
duração é igual ou menor do que o ciclo de produção (curto prazo). Exemplos de
custos variáveis: aquisição de animais, alimentação, reprodução, sanidade,
manutenções, fretes, entre outros. Vale lembrar que alguns autores sugerem a
aquisição de animais como investimento e não como custo. Considerando a
seguinte situação: um pecuarista que possui uma propriedade com 150 hectares de
área, 100 vacas produzindo 80 terneiros por ano, os custos com medicamentos
(principalmente vacinas) e suplementação mineral não serão os mesmos se a
produção fosse de 50 terneiros anuais. Obviamente, tais custos serão menores, pois
a quantidade de doses de vacinas e sacas de suplemento adquiridas devem ser em
função da quantidade de terneiros produzidos. Por isso, afirma-se que alguns custos
são variáveis, ou seja, eles são alterados com a quantidade de produto (no caso
terneiros) produzido.
A teoria chamada economia de escala demonstra que quanto maior o volume
produzido menor será o custo médio por unidade, uma vez que os custos fixos são
diluídos por um maior volume (Figura 2). Para aumentar a produtividade haverá
aumento dos custos totais, principalmente os custos variáveis, tornando-se
interessante até quando o acréscimo de benefício (lucro) seja superior ao acréscimo
dos custos. Dados norte-americanos indicam que economias de escala existem a
partir de rebanhos com 500 vacas de cria. O custo médio de produção/vaca é
consideravelmente menor em comparação a rebanhos que contenham até 499
157
! 157!
vacas. Entretanto rebanhos com mais de 1.000 vacas a economia de escala não é
tão evidente.
O fator escala de produção torna-se fundamental para viabilização da
pecuária de corte, destacando que para enfrentar as alterações de mercado, as
fazendas terão que se especializar em um sistema de produção adequado, pois
dependendo do tamanho da área, a especialização não será somente necessária,
mas fundamental para sua viabilidade econômica. Uma propriedade pequena ou
média, que insistir em fazer o ciclo completo, dificilmente sobreviverá por falta de
escala de produção e consequentemente de renda.
Figura 2 - Relações entre o volume produzido e o custo médio por unidade.
Metodologia dos centros de custos
Também chamado de método das seções homogêneas ou mapa de
localização de custos, originou-se na Alemanha no início do Século XX. É um
método bastante prático e por isso amplamente utilizado através do mundo,
principalmente no ramo industrial. Autores definem centro de custos de uma
empresa como qualquer unidade de agregação de custo realizando uma atividade
ou um conjunto de atividades que detém certas similaridades. O método é
caracterizado pela coleta, processamento e análises das informações comuns a
determinados departamentos, sendo estes com processos padronizados, produção
contínua e demanda constante, como segue na Figura 3.
CustoTotal
Volume
R$Custo
Variável
Custo Fixo
Custo Médio/Unidade
158
! 158!
Figura 3 – Fluxograma metodológico dos centros de custos.
Basicamente, determinam-se quais são os centros de custos dentro do
negócio para, no momento em que registrar cada despesa, poder, apropriá-la ao
centro de custos responsável pelo gasto. Portanto, os centros de custos são os
destinos de todas as movimentações financeiras efetuadas que representam
receitas ou despesas, ou seja, sempre que houver desembolso ou obter algum tipo
de rendimento, é fundamental que se determine a atividade responsável por esta
movimentação financeira (Figura 1).
Assim, pode-se diferenciar os gastos de cada categoria ou de cada setor do
sistema determinando o desempenho da pecuária de cria, ou como foi o
desempenho somente da recria das novilhas ou do desmame dos terneiros. Os
principais centros de custos diretos são o desmame, recria da novilha, vacas de cria
e touros. Os indiretos são os bens como máquinas, implementos, benfeitorias e
veículos e a administração da propriedade. As vacas de descarte quando vendidas
para abate podem ser incluídas como um novo centro de custo direto, onde serão
agregados os custos de engorda.
Para conseguir uma análise de cada centro de custo, é necessário que os
lançamentos sejam feitos o mais especificamente possível, buscando determinar a
origem direta de cada custo. Quando não for possível estabelecer uma origem exata
do custo, utiliza-se o critério de rateios onde dividem-se os custos por todos os
setores. Utiliza-se, para isso, a classificação das categorias por Unidade Animal
Coleta!de!dados!Treinamento!da!!mão:de:obra!
A!–!Diagnóstico!do!! B!–!Identificação!dos!!
C!–!Cálculo!do!custo!de!!
D!–!Análise!segmentada!!
E!–!Análises,!propostas!e!ações!
Implantação!
159
! 159!
(U.A) que corresponde a 450kg (1 UA = 450 kg), ficando assim mais correta a
apropriação dos custos indiretos na propriedade.
Os centros de custo podem estar subdivididos em vários outros, um
departamento qualquer de uma empresa pode ser um centro de custo ou pertencer
a outro mais abrangente, assim como pode conter vários. A divisão dos centros de
custos na pecuária de cria pode ser visualizada na Figura 4.
Figura 4 – Distribuição dos centros de custos.
Principais indicadores econômicos utilizados na pecuária de corte
São indicadores relacionados a viabilidade financeira da propriedade rural.
Geralmente são resultados do planejamento estratégico e técnico associado a
questões conjunturais da atividade.
Custo Total de Produção
Pode-se definir custo de produção como o preço que um empresário deve
pagar pelo uso dos diversos fatores de produção (recursos produtivos). Este valor
representa a soma dos custos fixos e variáveis além da remuneração da terra e
capital. Encontram-se tanto os valores desembolsáveis como os não-
desembolsáveis.
Pecuária!de!corte!
!
Cria!
!
Produto!final!=!bezerro!
!
Desmame!
Recria!da!! Vacas!de!cria! Touros!
(A)!!Distribuição!aos!centros!
(B)!Distribuição!ao!produto!
Custos!indiretos!
!
Ex.:Bens!do!inventário!
160
! 160!
Custo Total de Produção = Custos Fixos + Custos Variáveis +
Remuneração da Terra + Remuneração do Capital
Custo Operacional de Produção
Este valor representa a soma dos custos fixos e variáveis, incluindo a
depreciação. Conceitualmente os custos operacionais são todos aqueles exigidos
para que as operações produtivas aconteçam, ou seja, são indispensáveis para a
linha de produção.
Custo Operacional de Produção = Custos Fixos (com depreciação) +
Custos Variáveis
Custo de Desembolso
Este valor representa somente os custos fixos e variáveis que efetivamente
foram pagos pelo empresário rural, ou seja, houve desembolso de capital. Não inclui
a depreciação.
Custo de Desembolso = Custos Fixos (sem depreciação) + Custos
Variáveis
Custo Unitário de Produção
Um parâmetro fundamental para análise da eficiência das atividades de uma
empresa no curto prazo é a determinação do custo unitário. Calcula-se a partir da
divisão do custo total pela quantidade produzida. Neste indicador pode ser
calculado, por exemplo, o custo unitário do terneiro produzido, o custo do quilo de
carne produzido, seja a pasto, suplementado ou confinado, etc.
Custo Unitário de Produção = Custo Total de Produção / Quantidade
Produzida
Ponto de Equilíbrio
O ponto de equilíbrio é um indicador de eficiência econômica que determina a
quantidade a ser produzida para cobrir os custos totais de produção (fixos +
variáveis). É o mínimo que deve ser produzido para que a atividade que está sendo
avaliada não gere prejuízo. É determinado pela razão entre os custos fixos totais e a
diferença entre o preço de venda de uma unidade de produto ou receita bruta e o
custo variável de uma unidade do produto ou custo variável total.
161
! 161!
Ponto de Equilíbrio em quantidades = Custo fixo / (Preço unitário –
Custo Variável Unitário)
Ponto de Equilíbrio monetário = Ponto de Equilíbrio em quantidades *
Preço unitário
A Figura 4 é uma representação gráfica do ponto de equilíbrio, onde todos os
parâmetros estão associados a determinado nível de produção.
Figura 4 - Representação gráfica do ponto de equilíbrio
Autores demonstraram a importância de calcular o ponto de equilíbrio em
rebanhos de cria para medir alguns indicadores importantes, entre os quais a
mínima taxa de desmame a ser atingida, o máximo custo anual por vaca e o peso
mínimo de desmame. Para isto são utilizadas as seguintes equações:
Ponto de Equilíbrio em quilos de terneiros produzidos = Custo anual vaca /
(Taxa de desmame * Peso ao desmame)
Ponto de Equilíbrio monetário por vaca = (Taxa de desmame * Peso ao
desmame * Preço quilo comercializado)
Ponto de Equilíbrio na taxa de desmame = Custo anual vaca / (Preço quilo
comercializado * Peso ao desmame)
RECEITA
Quantidade Produzida
R$PONTO DE
EQUILÍBRIOCUSTO VARIÁVEL
CUSTO TOTAL
CUSTO FIXO
162
! 162!
Ponto de Equilíbrio no peso ao desmame = Custo anual vaca / (Preço quilo
comercializado * Taxa de desmame)
Margem Bruta
É a diferença entre a receita de uma atividade, ou de toda a propriedade, e os
custos desembolsáveis. Não entram neste cálculo os custos de depreciação e
custos de oportunidade. Ressalte-se que, assim, pode-se avaliar a eficiência da
atividade sob uma perspectiva de curto prazo. Os custos gerados pelo investimento
em fatores fixos não são considerados neste cálculo.
Margem Bruta = Receita - Custo Desembolsado
Margem Operacional
É a diferença entre a receita de uma atividade, ou de toda a propriedade, e os
custos operacionais (desembolso somado a depreciação). Não entram neste cálculo
os custos de oportunidade. Ressalte-se que, assim, pode-se avaliar a eficiência da
atividade sob uma perspectiva de médio prazo.
Margem Operacional = Receita - Custo Operacional
Margem Líquida
É a diferença entre a receita de uma atividade, ou de toda a propriedade, e o
custo total (desembolso somado à depreciação e à remuneração da terra e capital).
Ressalte-se que, assim, pode-se avaliar a eficiência da atividade sob uma
perspectiva de longo prazo.
Margem Líquida = Receita - Custo Total
Rentabilidade (do capital)
Este indicador é utilizado para avaliar o lucro obtido em uma atividade
produtiva em relação ao capital investido para o desenvolvimento dessa atividade. A
rentabilidade de uma atividade está relacionada aos riscos do negócio, ou seja, se é
interessante investir ou não na atividade proposta. Possui alta correlação com os
custos de oportunidade do capital investido na atividade. Devemos sempre buscar
rentabilidade maior dos que os valores calculados nos custos de oportunidade.
Rentabilidade = Lucro / Capital Investido
163
! 163!
Lucratividade Indicador que representa, em percentual, qual foi o lucro obtido em
determinada atividade ou na empresa rural com a venda dos produtos
desenvolvidos, ou seja, o quanto cada produto deixa de resultado após descontar o
valor dos custos de produção.
Lucratividade = (Receita – Custo Total) / (Receita) X 100
Calculando o custo de produção – exemplo aplicado2
Um sistema de produção em pecuária de cria foi utilizado para esta
simulação. Utilizou-se um período de 12 meses, por considerar um ciclo produtivo de
um bezerro e facilitar a exemplificação dos cálculos. Os principais parâmetros
produtivos considerados encontram-se na Tabela 1.
Tabela 1 - Indicadores de produção e produtividade em pecuária de cria
Parâmetros Unidade Valores-Períodos
Área Ha 1.500
Número de matrizes Cabeças 750
Taxa de desmame % 70
Número de bezerros desmamados Cabeças 525
Peso ao desmame Kg 150
Produção total Kg 78.750
Carga Animal kg/ha 258,31
Época de parição - set/out/nov
Mês de Desmame - abril
Mês de Venda - abril
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!2"Os"valores"econômicos"podem"estar"desatualizados."O"objetivo"do"exemplo"é"SIMPLESMENTE"demonstrar"a"aplicação"do"método"gerencial"em"uma"propriedade"rural"que"trabalha"com"bovinos"de"corte."
164
! 164!
O cálculo do custo de produção do bezerro foi constituído pelo somatório dos
itens de custos apresentados na Tabela 2, todos obtidos a partir de informações de
mercado. Os valores finais obtidos demonstram a utilização deste método de
estimativa de custo para esse sistema simulado em particular, pois, podem ocorrer
grandes variações no resultado final de cada simulação, uma vez que cada
propriedade rural apresenta valores diferentes conforme seu sistema de produção,
grau de tecnificação e consequentes indicadores de produtividade.
Tabela 2 - Simulações dos custos em um sistema de produção em pecuária de cria
Custos Fixos Valores (R$) Critério de Rateio % Custos
Impostos (ITR, CNA) 6.110,00 Unidade Animal 3,2
Seguros 3.000,00 Unidade Animal 1,6
Mão-de-Obra 25.200,00 Unidade Animal 13,3
Depreciação (1) 8.722,50 Unidade Animal 4,6
Subtotal (2) 43.032,50 22,6
Custos Variáveis Valores Critério de Rateio % Custos
Reprodução 22.000,00 Direto 11,6
Combustíveis 12.000,00 Unidade Animal 6,3
Suplementação Animal 20.000,00 Direto 10,5
Sanidade 6.595,00 Unidade Animal 3,5
Pastagens 9.000,00 Direto 4,7
Manutenção 5.000,00 Unidade Animal 2,6
Arrendamentos 3.000,00 Direto 1,6
Administração 3.000,00 Unidade Animal 1,6
165
! 165!
Outros 5.000,00 Unidade Animal 2,6
Subtotal (3) 85.595,00 45,0
Custos de Oportunidade Valores Critério de Rateio % Custos
Remuneração da Terra 49.500,00 Unidade Animal 26,0
Remuneração do Capital Investido 11.990,50 Unidade Animal 6,3
Subtotal (4) 61.490,50 32,3
Custo Desembolsado (5) 119.905,00
Custo Operacional (2+3 ) 128.627,50
Custo Total ( 2+3+4 ) 190.118,00 100,0
A remuneração da terra, depreciação e impostos foram calculados de acordo
com dados regionais, sendo todos ajustados ao módulo de 1.500 hectares. O valor
da remuneração do capital foi calculado com uma taxa anual de juros de 10% sobre
o custo desembolsado. Para o cálculo da mão-de-obra foi determinado que a
propriedade possui três empregados fixos com custo de salários, encargos sociais e
alimentação de R$ 700,00/mês/cada, o que totaliza R$ 25.200,00/anuais.
A Figura 5 apresenta as despesas efetuadas por centro de custo. Nota-se
claramente que as vacas de cria (centro direto) representam os maiores custos
dentro deste sistema de produção, consequência do maior número de U.A.,
representando 39,8% da estrutura do rebanho e 54,2% das unidades animais,
recebendo uma maior porção dos rateios. Os custos com endectocidas e
carrapaticidas adquiridos para o rebanho geral são utilizados e lançados em maiores
quantidades neste centro de custo.
166
! 166!
Figura 5 – Custos de produção e percentuais por centros de custos..
• Após a obtenção do custo total da atividade no período, a próxima etapa foi
chegar ao custo unitário do bezerro e o custo por quilo desmamado (Tabela 3).
Sistemas gerenciais devem interligar o desempenho econômico com o produtivo.
Dados de 88 rebanhos de cria referentes a 14 estados norte-americanos
demonstraram correlações positivas entre o percentual de prenhez e taxa de
desmame com a rentabilidade e correlações negativas entre o custo anual de
vacas de cria e a rentabilidade dos mesmos sistemas de cria. Não houve
correlações positivas ou negativas entre peso ao desmame e a rentabilidade, o
que demonstra que buscar a maximização do desempenho reprodutivo deve ser o
objetivo principal, antes da busca por pesos elevados ao desmame.
Tabela 3 - Simulação dos custos de produção de bezerros de corte
Parâmetro Valores (R$)
Custo unitário do bezerro (CUB)
Total 362,13
Operacional 245,00
Custo por quilo desmamado (C/kg)
Total 2,41
Operacional 1,63
0,0
10.000,0
20.000,0
30.000,0
40.000,0
50.000,0
60.000,0
70.000,0
80.000,0
90.000,0
Touros Vacas de Cria Novilhas Bezerros
Custo por centro
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
50,00
Percentuais por Centro R$ %
167
! 167!
O ponto de equilíbrio da presente simulação resultou em 432 bezerros, sendo
calculado considerando valores de R$ 104.523,00, R$ 405,00 e R$ 163,04,
respectivamente para o custo fixo somado a remuneração da terra e do capital,
preço unitário e custo variável unitário. Na presente simulação, a quantidade de
bezerros desmamados foi de 525 animais, superando o ponto de equilíbrio. Contudo
deve-se destacar que esta análise está relacionada a conjuntura atual da atividade
no ano de 2007, onde os animais de reposição estão valorizados depois de anos de
preços baixos da cria.
Considerações finais
Os sistemas de produção, ao longo da cadeia produtiva, necessitam de
modernizações constantes para alcançar um nível de competitividade adequado à
realidade socioeconômica da população. Os gestores enfrentam o desafio de
proporcionar condições para que os produtos alcancem a qualidade desejada a um
nível de custos competitivo. Nesta perspectiva, necessitam de informações
consistentes de maneira que possam utilizá-las na administração, para correção de
falhas, re-direcionamento dos recursos e auxilio na lógica organizacional. Portanto,
há uma demanda crescente por sistemas gerenciais que forneçam informações a
respeito das inter-relações dentro do âmbito produtivo, ou seja, a distribuição dos
custos indiretos e diretos na empresa rural faz com que o empresário venha a ter
uma visão completa de todos os aspectos que possam ser úteis à tomada de
decisão.
Dentro desta realidade, entre as principais ações para a pecuária de corte
destacam-se a importância da implementação de um sistema gerencial que inter-
relacione os planejamentos operacionais, táticos e estratégicos, proponha metas,
mensure custos de produção e quantifique os indicadores zootécnicos e sistêmicos
correlacionados com eficiência econômica. Aliado a isso, o estabelecimento de
controles dentro de uma visão global do sistema produtivo de modo a administrar os
recursos e estimar lucros, bem como realizar a meta-avaliação, torna-se importante
dentro do processo administrativo.
Considerando-se a importância de pesquisas relacionadas com a gestão das
empresas, consequência do aumento da quantidade de informações úteis para os
gestores, torna-se fundamental avanço nos estudos visando aplicações desses
sistemas gerencias e de análise de resultados em sistemas produtivos
168
! 168!
especializados. Portanto a utilização de modelos para a tomada de decisão em
diferentes empresas rurais tende a possibilitar comparações entre os resultados
atingidos.
Literatura consultada
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corte. Campo Grande: Embrapa Gado de Corte, 1993. 6p. (Documentos, 47).
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171
! 171!
Novas estratégias de comercialização de bovinos de corte
Med. Vet. Paulo Rodrigo Ramos Xavier Pereira
Professor Assistente do Curso de Bacharelado em Engenharia Agronômica do
CPCE/UFPI, doutorando do Curso de Agronegócios da UFRGS
Introdução
A pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de produção em bovinos de
corte crescem a passos largos no Brasil, assim como a eficiência dos pecuaristas do
país. A pecuária brasileira foi responsável em 2009 por um montante aproximado de
35 bilhões de reais apenas no elo produtivo, alcançando um total de
aproximadamente 74 bilhões de reais ao longo de toda a cadeia produtiva (CEPEA,
2014a). Para ressaltar a expressividade destes números, este montante foi
semelhante aos PIB EM 2009, de Roraima, Amapá, Acre, Tocantins, Piauí e
Rondônia somados (IBGE, 2014).
Não obstante a pujança e desenvolvimento dos sistemas produtivos firmarem
o Brasil entre os principais players do mercado de carne bovina, no que diz respeito
à comercialização ainda há muito que se avançar. Neste âmbito, geralmente o
pecuarista brasileiro tem um bom conhecimento apenas das negociações à vista e
de leilão e mesmo assim, nem sempre as explora da maneira mais eficiente.
Tal desconhecimento acerca de estratégias de comercialização
possivelmente se deve ao modelo de formação das ciências agrárias em nosso país,
que compreensivelmente se debruçava nos aspectos biológicos do sistema de
produção, que, ao mesmo tempo em que fortalecia a pesquisa e inovação nos
processos produtivos, criava um vazio nos aspectos econômicos, os quais não eram
preenchidos pelos bacharéis em administração e economia, que se mostravam mais
atraídos pelas empresas industriais e de serviços.
Mas, na medida em que a evolução da renda do produtor já estiver sendo
maximizada através da adoção de tecnologias de produção, o incremento da
rentabilidade passará pelos ajustes finos da negociação, tais como o melhor
momento para a compra de insumos e para realizar investimentos, a escolha da
linha de crédito com menor taxa de juros ,época mais atrativa para se iniciar a
172
! 172!
engorda dos animais levando em consideração a eficiência do processo, entre
outros.
Nas próximas páginas discutiremos alguns aspectos relacionados à
comercialização de bovinos de corte e como é possível utilizar informações do
mercado para garantir preço ou até mesmo obter uma renda extra com as
ferramentas disponíveis.
Tipos de mercado para negociação de bovinos de corte
Os principais tipos de mercado são o spot, a termo, futuros e opções, os quais
passarão a ser discutidos.
Mercado spot
O mercado spot (imediato) é o prevalente nas negociações na bovinocultura
de corte. Este se caracteriza pelo pagamento à vista do produto ao preço corrente
no momento da operação e as quantidades e qualidade são determinadas
diretamente entre as partes vendedoras e compradoras. Suas principais vantagens
são a facilidade de compreensão da operação pelas partes, baixo risco de
inadimplência, uma vez que o pagamento é feito de forma imediata, e baixa
incerteza quanto à qualidade do produto, visto que o comprador tem a oportunidade
de examiná-lo antes de concretizar a negociação.
No entanto, cabe aqui discutir alguns aspectos intrigantes a respeito deste
tipo de mercado para bovinocultura de corte, que não está amparado por grande
parte da literatura.
As negociações spot podem assumir características um tanto divergentes de
acordo com a cultura local. Em um estudo conduzido junto a pecuaristas escoceses
(Hobbs, 1997), foi constatado que a grande maioria destes prefere vender seus
animais para abate em leilões (sistema inexistente para essa categoria no Brasil),
pois não confiam plenamente nos critérios de premiações pagos pelos frigoríficos.
Além de receber o pagamento à vista, o pecuarista ainda pode especular que uma
eventual disputa o favoreça com preços mais elevados.
No Brasil, os pagamentos referentes a negociações spot de bois para abate
costumam ser efetuados à prazo, situação em que o vendedor recebe do comprador
um prêmio (acréscimo) no preço pelos juros e pelo risco de crédito (inadimplência) à
que está exposto.
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Diferente da maior parte do país, no Rio Grande do Sul a venda de animais
para abate utiliza o peso vivo do animal (Kg vivo) como objeto de negociação e na
maioria das vezes o pagamento é imediato, porém, outra parte é feita em peso de
carcaça (também em quilos) e o pagamento obviamente é feito ex-post ao
carregamento na fazenda, com normalmente 30 dias de prazo, e levará em
consideração além do rendimento de carcaça a qualidade da mesma.
Confunde-se muito a prevalência das negociações no mercado spot dos
pecuaristas como aversão ao risco, contudo, penso que se trata de temor a um
ambiente de incertezas, o que é bem diferente. No risco, as possibilidades de
infortúnios podem ser medidas com certo grau de confiança e assim minimizadas,
no caso das incertezas não é possível prever quais serão e quando ocorrerão
eventos adversos.
Na pecuária de corte, assim como em outras atividades econômicas, sabe-se
que existe o risco dos preços subirem ou caírem e é possível medir com certo grau
de confiança quais serão os limites da queda ou da alta. No entanto, no mercado
spot essa informação é pouco relevante uma vez que o vendedor especula que após
produzir o bem o mercado conspirará ao seu favor através da alta dos preços.
Dessa forma, podemos admitir que a atuação no mercado spot seja uma
atividade especulativa, onde se espera o máximo ganho através de um movimento
favorável dos preços no ato da compra ou da venda e na maioria das vezes sem
nenhuma estratégia formal de redução de risco.
Mercado à termo
O mercado à termo recebe esse nome por envolver a adoção de contratos
formais entre as partes compradora e vendedora, constando em suas cláusulas os
termos referentes à data e local de entrega, especificações do produto, volume,
preço e punições em caso de descumprimento. Uma das formas mais usuais de
contratos a termo utilizados no Brasil são as CPR Físicas.
Nas negociações a temo pode haver antecipação de receitas em dinheiro ou
através de operações de Barter (troca), em que o vendedor recebe insumos do
comprador e se compromete a entregar uma quantidade pré-definida de produto.
Para os avessos ao risco, este tipo de mercado tem como vantagem a
garantia do preço de venda e maior clareza sobre as especificações que seu produto
precisa apresentar o que permite que tenham parâmetros mais consistentes para
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conduzir seu planejamento gerencial e operacional. Como desvantagens estão a
restrição do lucro ao que foi definido na assinatura do contrato e a obrigação da
entrega ou recebimento do produto, mesmo diante de uma eventual frustração ou
supersafra. No primeiro caso o vendedor pode não ter o produto em quantidade
suficiente e ter de comprá-lo, muitas vezes com o preço mais elevado, para realizar
a entrega e no caso de supersafra, o comprador ter de receber o produto a um preço
mais elevado do que no mercado spot.
Pode-se ver que mesmo nas negociações a termoexiste certo grau de risco,
embora menor que no mercado spot. Para minimizar esse risco, os compradores de
produtos agrícolas costumam adquirir contratos em bolsa de mercados de futuros,
os quais passarão a ser discutidos.
Mercado de Futuros
O mercado de futuros na forma que temos hoje não é recente, eles surgiram
em 1860 com a criação nos EUA da Chicaco Board of Trade (CBOT) e no Brasil
1986 com o início das operações da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). As
negociações em bolsa têm como objeto a negociação de derivativos, que são
contratos padronizados cujos valores derivam de outras variáveis básicas (ativos).
No Brasil estes contratos de derivativos são negociados na BM&F e dentre os de
commodities agrícolas os que apresentam a maior liquidez são pela ordem os de Boi
Gordo, Café, Soja e Milho.
Quem opera neste tipo de mercado tem como objetivos básicos a
especulação ou hedge, ou ainda, eventualmente realizar operações híbridas que
unem em parte a rentabilidade da especulação com a segurança do hedge.
Cabe então, antes de avançar neste tópico esclarecer alguns conceitos para
melhor entendimento do funcionamento deste mercado:
• Especulação: estratégia adotada por participantes do mercado que através de
avaliações dos fundamentos de mercado e/ou de análise técnica, assumem
que o mercado apresenta tendência de queda ou de alta e assim tomam suas
posições. No caso de estimar queda nos preços o especulador assume
posição vendedora (fica vendido) e no caso de possibilidade de alta nos
preços assume posição compradora (fica comprado).
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• Hedge: é uma palavra da língua inglesa que pode ser traduzida neste caso
como proteção as variações de preço. O hedge pode ser de compra ou de
venda:
◦ Hedge de compra: é adotado quando um investidor ou hedger
(normalmente a indústria ou tradings) precisará no futuro adquirir uma
commodity para processamento ou para repassá-la a outro comprador e
teme pagar mais caro pelo produto. Diz-se então que o hedger está
vendido no físico e comprado no futuro.
◦ Hedge de venda: neste caso normalmente os hedgers são empresários
que tem ou irão ter o produto e temem uma queda nos preços. Diz-se
então que estão comprados no físico e vendidos no futuro.
• Contratos de futuros: são contratos padronizados estabelecidos pela Bolsa
com volume e data de vencimentodefinidos, sendo que, a única variável
sujeita à negociação entre as partes é o preço. A padronização é
imprescindível para que a negociação possa ser realizada na Bolsa, pois
viabiliza a negociação em pregão e intercambialidade de posições.
• Margem de garantia: Para adquirir o contrato o hedger ou especulador
precisa disponibilizar de uma margem de garantia dos contratos. A título de
exemplo, um contrato de boi que correspondem a 330 arrobas exigia em 25
de julho de 2014 uma margem de aproximadamente R$ 1.400,00 (um mil e
quatrocentos reais) (BM&F, 2014). São aceitos como margem de garantia
valores em dinheiro, ações, títulos do tesouro, carta de fiança bancária, entre
outros. Ao se desfazer a operação de compra e venda de contratos a margem
de garantia retorna para o seu proprietário (especulador ou hedger).
• Ajuste diário: são os recebimentos ou pagamentos diários em virtude da
variação do preço do contrato no fechamento do dia útil anterior. Cada um
dos agentes deve estar preparado para aportar recursos à medida que o
contrato esteja com comportamento contrário a sua posição assumida.
Na prática o pecuarista deve pensar o Hedge como uma forma de garantir uma
margem de lucro sobre sua produção. Imaginemos um pecuarista que planeja
engordar um lote de 20 animais em um prazo de 4 meses. Ele calcula seu custo de
produção e estima que para cada Kg vivo de boi carregado para o frigorífico ele irá
ter uma despesa de R$ 3,80 e o preço físico do boi no início da engorda está R$
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3,90, enquanto o preço do boi no contrato com vencimento em 4 meses está R$
3,95.
Em uma condição como essa, se ele especular e o preço do boi se mantiverem
R$ 3,90, obterá um lucro de R$ 0,10 por Kg e até mais se o preço subir. Contudo, se
o mercado for contra sua expectativa e cair abaixo de R$ 3,80 o pecuarista
registrará prejuízo e todo seu trabalho foi em vão. Um empresário com perfil de
aversão ao risco iria se proteger assumindo uma posição vendida no futuro e
garantindo uma margem de R$ 0,15 por kg vivo de boi, mesmo com uma eventual
queda no mercado.
Na figura 1, o hedger vende um contrato de boi gordo por R$ 3,953 e após 4
meses o hedger irá vender seus bois para o frigorífico à R$ 3,70 o Kg vivo, com R$
0,10 de prejuízo por Kg produzido, mas, ao mesmo tempo que ele aufere prejuízos
com seu boi no mercado spot ele recompra seu contrato de boi por R$ 3,70 na
BM&F e obtém um lucro de R$ 0,25 por Kg , contabilizando uma receita líquida de
R$ 0,15, ou R$ 75,00 reais por um boi de 500 Kg.
Figura 1. Simulação de Hedge de venda com queda nos preços Futuro e Físico.
Na figura 2 se ilustra uma condição de suba do boi, neste caso o produtor
auferirá um lucro de R$ 0,20 por boi e perderá R$ 0,05 na BM&F, chegando ao
mesmo resultado do exemplo anterior.
Infelizmente nem tudo é tão simples, mesmo o hedger fazendo uso de
contratos futuros para proteção ele ainda está exposto ao Risco de Base. Baseé !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!3! Para!facilitar!a!compreensão!do!público!no!RS!se!transformou!arroba!para!Kg!vivo,!dividindo:se!o!valor!da!
arroba!por!30.!
3.65"3.7"3.75"3.8"3.85"3.9"3.95"4"
4.05"
0" 0.5" 1" 1.5" 2" 2.5" 3" 3.5" 4" 4.5"
Futuro"Físico"
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como se denomina a diferença entre o preço de futuro e o preço físico do ativo e ela
é formada por variáveis como custo de frete, prêmios, corretagem, impostos,
demanda e oferta local, entre outros. Existe uma tendência que com a aproximação
do vencimento do contrato a base tenda a ser menor ou até mesmo positiva em
alguns casos. Por sua vez, o Risco de Base está associado à variação dessa base,
ou seja, a possibilidade da base ser diferente da média histórica.
Figura 2. Simulação de Hedge de venda com alta nos preços Futuro e Físico.
Na figura 3 se pode observar como ocorreria a mesma operação anterior
considerando uma base de -R$ 0,05 no vencimento, com o hedger obtendo R$ 0,10
de lucro na operação. Neste caso, no fechamento o hedger venderia seus bois à um
preço de R$ 3,65 por Kg vivo, auferindo um prejuízo de R$ 0,15/ Kg, contudo, ao
recomprar o contrato ele o faz pelo valor de R$ 3,70, obtendo um ganho de R$
0,25/Kg, como resultado final seu lucro será de R$ 0,10, ou R$ 50,00 por boi de
500kg. O resultado seria o mesmo com o aumento nos preços, desde que a base
não se altere.
Apesar de a base dificultar uma operação sem risco de preço, a mesma pode
ser utilizada em favor de uma operação mais rentável, combinando a segurança do
Hedge com a rentabilidade da especulação em uma operação denominada cash and
carry (caixa e carregamento ou carrego). Esta é uma operação de arbitragem em
que pode participar especuladores que adquirem o ativo e arcam com o custo de
mantê-lo até o vencimento do contrato mais tributos (custo de carrego ou somente
carrego) e também o produtor de commodities que pretende especular com o
3.85"
3.9"
3.95"
4"
4.05"
4.1"
4.15"
0" 0.5" 1" 1.5" 2" 2.5" 3" 3.5" 4" 4.5"
Futuro"Físico"
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fortalecimento da base, ou seja, a redução da diferença entre o preço do contrato e
o preço do mercado físico.
Figura 3. Simulação de Hedge de venda com queda nos preços Futuro eFísico, com
uma base de - R$ 0,05.
Na tabela 1 se pode observar que o mês de base mais fraca é o de outubro e
o de base maisforte é o de julho. Esta seria a primeira referência para uma operação
de cash and carry, iniciando em um mês de base fraca e encerrando em um mês de
base forte, contudo, o período em questão é muito longo e isto aumenta os custos
de carrego e de manutenção de contratos.
No presente exemplo uma boa oportunidade seria estabelecer um tempo de
engorda dos animais, 4 meses por exemplo. Neste caso pega-se referência um mês
de base forte, tal como julho e retroage 4 meses para março. Assim, se em março
houver uma oportunidade de contrato com a base de -0,14 ou menor e os custos de
engorda compensem a diferença de base de julho, a operação pode ser rentável.
Deve-se salientar que essa lógica vale para qualquer interstício de tempo em que a
base se fortaleça.
TABELA 01. Diferença de base, desvio padrão e coeficiente de variação entre
contratos de futuros e preço médio do Kg vivo de Boi Gordo no RS. Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Base média
R$ - 0,17 - 0,11 - 0,14 - 0,19 - 0,12 - 0,07 - 0,01 - 0,05 - 0,28 - 0,41 - 0,49 - 0,27
Devio
Padrão 0,118 0,087 0,135 0,149 0,133 0,109 0,146 0,188 0,120 0,208 0,305 0,183
CV -0,683 -0,766 -0,961 -0,772 -1,069 -1,547 -21,54 -4,057 -0,438 -0,507 -0,624 -0,668
Fonte: Pesquisa do autor.
3.6"3.65"3.7"3.75"3.8"3.85"3.9"3.95"4"
4.05"
0" 0.5" 1" 1.5" 2" 2.5" 3" 3.5" 4" 4.5"
Futuro"Físico"
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Para facilitar vamos simular uma operação como esta: Em março de 2014 um
empresário no Rio Grande do Sul decidiu engordar um lote de 20 bois para vendê-
los em julho do mesmo ano. O seu custo total para todos os Kg vivo de boi
produzido é de R$ 4,10, o preço do boi gordo no local é de R$ 4,02 (SCOT
CONSULTORIA, 2014) e o contrato com futuro está sendo negociado à R$ 4,25
(CEPEA, 2014b). Como o a diferença média de base é de -R$ 0,01 em julho, existe
uma possibilidade de lucrar R$ 0,13 por Kg em razão da tendência histórica de
fortalecimento de base neste intervalo. Em julho o boi é vendido por R$ 4,37 para o
frigorífico local, com lucro de R$ 0,27 centavos para cada Kg vivo e o contrato é
recomprado por R$ 4,04 por Kg, o que representa um ganho de R$ 0,21 para cada
Kg em contrato futuro, ou R$ 105,00por boi de 500 Kg. e receita bruta extra de R$
2.100,00 no lote, que somado ao lucro de engorda do boi resulta em um uma receita
líquida de R$ 227,50 por boi, já descontados os custos de corretagem e carrego.
As operações de hedge e cach and carry podem ser uma importante
ferramenta de garantia de lucro para o pecuarista e são ainda estratégias
subutilizadas por esse importante segmento da economia brasileira. No entanto,
deve-se deixar claro que cada região ou município tem sua própria base e
volatilidade da mesma e que para realizar uma operação como esta, o investidor
deve ter amplo conhecimento do comportamento desta variável bem como dos
fundamentos do mercado.
No mercado de opções também é possível fazer especulação ou hedge, no
caso do primeiro se compra uma opção na expectativa que ele aumente de preço ou
se vende uma opção e espera-se que o preço caia para que ela vire pó (perca
totalmente seu valor.). O hedger faz uma venda de opção para garantir uma receita
sobre o bem que ele irá produzir e que compra uma opção quer a garantia de pagar
um preço mais baixo em caso de alta.
A título de exemplo, um investidor que pretende engordar um lote de bois ao
custo de R$ 3,80 o Kg vivo encontra uma oportunidade de venda de opção por R$
4,00 e recebe R$ 0,18 para cada opção vendida. Se e até o vencimento o preço cair
abaixo de R$ 4,00 o pecuarista pode recomprar as opções por um preço menor ou
simplesmente esperar que elas percam seu valor. Se vender os seus animais aos
frigoríficos por um preço menor que o de produção, mesmo assim ele ainda terá
uma receita extra de R$ 90,00 por boi de 500 Kg.
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O custo de opções é menor que os envolvidos em contratos de futuros e
poderia ser uma alternativa interessante para os produtores nacionais. Porém, no
Brasil o mercado de opções de ativos agrícolas ainda não atraiu a atenção de
especuladores e por conta disso não cria condições para se efetuar hedge.
Referências
BM&F. BOLSA DE MERCADORIAS E FUTUROS. Margem teórica máxima.
Disponível em
<http://www.bmfbovespa.com.br/MargemTeorica/MargemTeoricaMaxima.aspx?
Idioma=pt-br>. Acesso em 26 de julho de 2014.
CEPEA, CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA/
ESALQ-USP. Desenvolvimento metodológico e cálculo do pib das cadeias
produtivas do algodão, cana-de-açúcar, soja, pecuária de corte e leite no brasil.
Disponível em:
<http://www.cepea.esalq.usp.br/pibpec/PIB_Cadeias_relatorio2009_10.pdf>
Acesso em 24 de julho de 2014a.
CEPEA, CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA/
ESALQ-USP. Indicador ESALQ/BM&Fbovespa. Disponível em:
http://cepea.esalq.usp.br/boi/?page=369&Dias=15#. Acesso em 24 de julho de
2014b.
IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Contas
regionais do Brasil. Disponível em
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/pesquisa_resultados.php?i
d_pesquisa=5>. Acesso em 23 de julho de 2014.
SCOTCONSULTORIA. Cotaões boi gordo. Disponível em
<http://www.scotconsultoria.com.br/cotacoes/boi-gordo/?ref=smn>. Acesso em
julho de 2014.
HOBBES, J. E.Measuring the importance of transacton costs in cattle marketing.
American Journal of Agricultural Economics, v 79, pg 1083-1095, American
Agricultural Economics Association, 1997.
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