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UNIVERSIDADE DO VALE DE ITAJAÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM SAÚDE E GESTÃO DO
TRABALHO – MESTRADO PROFISSIONAL
Ioná Outo de Souza Wilberstaedt
SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA: discursos do corpo docente de
uma escola pública estadual de ensino fundamental da capital
catarinense.
Itajaí – Santa Catarina
2014
1
Ioná Outo de Souza Wilberstaedt
SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA: discursos do corpo docente de
uma escola pública estadual de ensino fundamental da capital
catarinense.
Dissertação apresentada como requisito para obtenção do Título de Mestre em Saúde e Gestão do Trabalho da Universidade do Vale do Itajaí. Área de Concentração: Saúde da Família. Orientadora: Profª Drª Yolanda Flores e Silva Co-orientadora: Profª Drª Márcia Gilmara Marian Vieira
Itajaí – Santa Catarina
2014
2
FICHA CATALOGRÁFICA
W642s
Wilberstaedt, Ioná Outo de Souza, 1977-
Saúde e qualidade de vida: discursos do corpo docente de uma escola
pública estadual de ensino fundamental da capital catarinense / Ioná Outo
de Souza Wilberstaedt , 2014.
133f.; il. fig.; quad.
Apêndices
Anexos
Cópia de computador (Printout(s)).
Dissertação (Mestrado) Universidade do Vale do Itajaí. Centro de
Ciências da Saúde. Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho.
“Orientadora: Profª . Drª. Yolanda Flores e Silva”
Inclui bibliografias
1. Saúde Escolar. 2. Qualidade de Vida. 3. Promoção da Saúde.
4. Saúde do Trabalhador. 5. Alfabetização em Saúde. I. Título.
CDU: 614
CDU: 612.78
Josete de Almeida Burg – CRB 293
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por ter me permitido participar desse curso de mestrado, dando sabedoria e perseverança para essa conquista.
Às orações de meus pais, que sempre intercederam por mim e pela certeza da
torcida pelo meu sucesso.
Ao meu filho Gustavo, que compreendeu meus momentos de ausência e sempre procurou, do seu jeito, estar próximo a mim.
Ao meu esposo Giorgio, que foi o grande incentivador e que me apoiou no decorrer
de toda a trajetória.
À minha amiga Elisângela, que nunca mediu esforços para compartilhar livros e periódicos quando eu solicitava.
Aos meus colegas do mestrado pois contribuíram com minha formação de forma
positiva.
À orientadora, Prof(a) Dra Yolanda Flores e Silva, pela preciosa contribuição com seus conhecimentos e ajuda permanente.
À co-orientadora, Prof(a) Dra Márcia Gilmara Marian Vieira, que sempre esteve
pronta para me atender e ajudar em todos os momentos.
Aos docentes do mestrado, que possibilitaram nosso crescimento pessoal e profissional.
À Banca, que promoveu a ampliação do meu olhar para uma configuração de
pesquisa qualificada e de grande relevância social.
Às pessoas participantes da pesquisa, que atuaram com comprometimento e responsabilidade.
À Gerência de Educação da Grande Florianópolis, que permitiu o desenvolvimento
do processo de pesquisa.
À Escola Estadual de Ensino Fundamental, que contribuiu para que essa pesquisa fosse realizada e pelo incentivo profissional dado a cada participante.
4
Dedico esse trabalho aos meus filhos Caio e Gustavo que são a razão do meu viver
e o incentivo para que eu continue a buscar o crescimento pessoal e profissional.
5
RESUMO
WILBERSTAEDT, Ioná Outo de Souza. SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA: discursos do corpo docente de uma escola pública estadual de ensino fundamental da capital catarinense. Programa de Mestrado em Saúde e Gestão do Trabalho. Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI 2014. Orientadora: SILVA, Yolanda Flores e Co-orientadora: VIEIRA, Márcia Gilmara Marian
A relevância dos assuntos educacionais em saúde tem diminuído no contexto escolar em função de distintos fatores, entre eles a falta de formação permanente voltada para esta questão, o que possibilitaria uma visão ampliada do conceito de saúde, dando subsídios para o trabalho multidisciplinar e interdisciplinar, tornando a população mais empoderada para exercer controle sobre sua própria saúde. Na prática, pela ausência de ações efetivas voltadas para a promoção da saúde escolar com Educação em Saúde, os docentes e demais membros da comunidade acadêmica não refletem sobre as condições de trabalho, de vida familiar e comunitária. Diante do exposto, realizamos um trabalho de pesquisa voltado a analisar os discursos sobre saúde e qualidade de vida de docentes de uma escola pública de ensino fundamental, visando auxiliar na discussão de um modelo de Promoção da Saúde Escolar que possa ser efetivado por meio de ações interdisciplinares de Educação em Saúde. Adotamos a abordagem qualitativa, com caráter exploratório e descritivo, para obtenção dos dados que responderam ao objetivo desta proposta. Foi desenvolvido um trabalho de campo para a realização da técnica de grupo focal, baseado na concepção teórico-metodológica de Paulo Freire sobre o „Circulo de Cultura‟ e entrevistas individuais. A população do estudo totalizou dezesseis (16) docentes, porém nossa amostra para a coleta de dados constituiu-se de seis (06) docentes no trabalho coletivo. Posteriormente, foram selecionados quatro (04) participantes do Grupo Focal que aceitaram o convite de participação na pesquisa como informantes individuais, entrevistados seguindo um roteiro semiestruturado. Os resultados são apresentados em forma de três artigos científicos: Primeiro artigo – permite uma reflexão acerca da relação direta da saúde com a qualidade de vida e bem-estar, demonstrando que é possível ser saudável diante de uma enfermidade. Os discursos apontam a necessidade de um preparo sistemático e contínuo por parte dos profissionais da educação e a aproximação dos pais no processo de Educação em Saúde. Há também uma valorização das dimensões socioculturais e econômicas, sobressaindo o biológico, acreditando que o conhecimento e valorização desses aspectos podem implicar as ações em saúde. Segundo artigo – a promoção da saúde permeia as necessidades biológicas humanas resultantes da influência do modelo biomédico. A educação em saúde tem influência direta dos programas pré-estabelecidos pelo governo e caminham, apenas, nessa esfera. A partir deste contexto, os docentes decidiram elaborar uma proposta que incorpora ações que incluem o cuidado de si e dos outros, tendo como base uma alimentação saudável, atividades físicas que trabalhem com a mente e o corpo, além da construção de oficinas de acordo com os anseios da comunidade, visando à aproximação da família na escola e entre os membros da comunidade acadêmica. Terceiro artigo – as ações em saúde podem ser construídas de maneira contextualizada a partir das experiências das pessoas. Com base nesta premissa, os docentes iniciaram um estudo visando à elaboração de uma proposta de estruturação do diálogo no desenvolvimento das ações em saúde, uma tecnologia social denominada de Círculo de Promoção da Saúde na Escola, possibilitando um espaço comunitário de reflexão e discussão das práticas de Educação em Saúde associado às experiências humanas. Eles acreditam que esse instrumento metodológico pode aproximar e valorizar a comunidade acadêmica em seu contexto de vida: trabalho, família, amigos e vizinhos, em uma perspectiva reflexiva, interdisciplinar de reorientação das expectativas. Palavras-chave: Círculo de Cultura. Educação em Saúde. Família. Promoção da Saúde. Qualidade de Vida.
6
ABSTRACT
WILBERSTAEDT, Ioná Outo de Souza. Health and quality of life: discourses of the teachers of a state public elementary school in the state of Santa Catarina. Master‟s degree program in Health and Management of Work. Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI 2014. Supervisor: SILVA, Yolanda Flores and Co-supervisor: VIEIRA, Márcia Gilmara Marian The relevance of educational affairs on health has decreased in the school context due to a number of different factors, among them the lack of permanent training focused on this issue, which would allow a wider view of the concept of health, giving support for multidisciplinary and interdisciplinary work, and empowering the population to exercise control over its own health. In practice, the absence of effective actions geared towards health promotion in schools, with health education, teachers and other members of the academic community, does do not reflect the conditions of work, family and community life. In this context, we conducted a study to analyze discourses on health and quality of life of teachers working in a public elementary school, in order to promote discussion of a school health promotion model that can be accomplished through interdisciplinary actions of health education. We adopted a qualitative approach, of an exploratory and descriptive nature, to obtain the data that would meet the objective of this proposal. A field study was developed for the focal group technique, based on the theoretical-methodological concepts of Paulo Freire on the 'Culture Circle', and personal interviews. The study population consisted of sixteen (16) teachers, but the data collection sample consisted of six (06) teachers in the collective work. Subsequently, we selected four (04) focus group participants who had agreed to participate in research as individual informants. The participants were then interviewed following semistructured questions. The results are presented in the form of three scientific articles: first article – reflects on the direct relationship between quality of life and well-being, demonstrating that it is possible to be healthy in the face of an illness. The discourses pointed out the need for a systematic and continuous preparation of education professionals, and closer cooperation with parents, in the process of health education. There was also an appreciation of the socio-cultural and economic dimensions, particularly the biological, with the belief that a knowledge and appreciation of these aspects may involve actions on health. Second article – health promotion permeates human biological needs, as a result of the influence of the biomedical model. Health education is directly influenced by programs pre-established by the government and only operates in that sphere. Based on this context, the teachers decided to elaborate a proposal that incorporates actions that include care for themselves and others, based on a healthy diet, physical activities that work with the mind and body, and the construction of workshops according to the aspirations of the community, seeking to strengthen cooperation between the family and school, and among members of the academic community. Third article – health actions can be built in a contextualized way, based on people‟s experiences. Based on this premise, the teachers initiated a study aimed at elaborating a proposal for structuring the dialogue in the development of health actions; a social technology called Circle of Health Promotion in Schools, creating a community space for reflection and discussion of health education practices associated with human experience. They believe that this methodological tool can address and enhance the academic community in its context of life: work, family, friends and neighbors, in a reflective, interdisciplinary perspective of reorientation of expectations. Keywords: Culture Circle. Health education. Family. Health Promotion. Quality of life.
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Quadro 1 Demanda Escolar.....................................................................................17
Quadro 2 Perfil de Todos os Docentes Atuantes no Locus da Pesquisa...........18
Quadro 3 Dinâmica do Círculo de Cultura.............................................................19
Figura 1 Localização da Escola..............................................................................16
ARTIGO 1
Quadro 1 O DSC de Saúde......................................................................................40
Quadro 2 Demonstrativo: Docentes da Pesquisa.................................................44
Quadro 3 Discursos sobre Saúde e Doença..........................................................46
Quadro 4 Discursos sobre Doença.........................................................................49
Quadro 5 Discursos sobre Bem-Estar e Qualidade de Vida................................52
Quadro 6 Esforço Individual na Busca da Saúde, Bem-Estar e Qualidade de
Vida............................................................................................................................53
Quadro 7 Relação entre Qualidade de Vida e Prática Profissional.....................54
Quadro 8 Prática Profissional e Relações Humanas............................................56
Figura 1 Discursos sobre Saúde............................................................................47
Figura 2 Discursos sobre Doença..........................................................................48
Figura 3 Dinâmica das Relações............................................................................50
Figura 4 Discursos sobre Qualidade de Vida........................................................54
ARTIGO 2
Quadro 1 Discursos de Promoção da Saúde........................................................79
Quadro 2 Discursos sobre Prevenção de Doença...............................................81
Quadro 3 Discursos de Educação em Saúde.......................................................82
Figura 1 Promoção da Saúde.................................................................................78
Figura 2 Prevenção de Doença..............................................................................81
Figura 3 Discursos de Educação em Saúde.........................................................83
ARTIGO 3
Quadro 1 Círculo de Cultura de Paulo Freire.........................................................96
Figura 1 CIRPROSAE- Círculo de Promoção da Saúde na Escola....................100
8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 09
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA ............................................................................... 13
1.2 OBJETIVOS ........................................................................................................ 14
1.3 PERCURSO METODOLÓGICO ......................................................................... 15
1.3.1 TIPO DE PESQUISA ......................................................................................................... 15
1.3.2 UNIVERSO DO ESTUDO ................................................................................................... 16
1.3.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO ................................................................................................ 17
1.3.4 COLETA DE DADOS ......................................................................................................... 19
1.3.5 ANÁLISE DOS DADOS ...................................................................................................... 26
1.3.6 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA ..................................................................................... 27
2 SAÚDE, DOENÇA, BEM-ESTAR E QUALIDADE DE VIDA: DISCURSOS DE DOCENTES NO COTIDIANO EM UMA ESCOLA PÚBLICA DE SANTA CATARINA .................................................................................................................................. 29
3 PROMOÇÃO DA SAÚDE NO CONTEXTO ESCOLAR: DISCURSOS DE DOCENTES DO ENSINO FUNDAMENTAL ............................................................. 62
4 CIRPROSAE: UMA TECNOLOGIA SOCIAL NA PROMOÇÃO DA SAÚDE NA ESCOLA ................................................................................................................... 91
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 105
APÊNDICES .......................................................................................................... 117
ANEXOS ................................................................................................................ 130
9
1 INTRODUÇÃO
Os termos qualidade de vida e bem-estar são utilizados em vários segmentos
da saúde e educação. Um exemplo disso são os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs) do Ensino Fundamental, com temas transversais, relativos à saúde,
priorizando assuntos do cotidiano e da experiência escolar, seguindo temas
específicos para cada fase do Ensino Fundamental. A saúde, por sua vez, é
entendida sob um olhar biomédico, de caráter preventivista, de ações desarticuladas
ou desintegradas. Por isso, a prática da Educação em Saúde encontra-se fragilizada
por apresentar conceitos pré-estabelecidos e não problematizados no cotidiano das
pessoas envolvidas.
Tenho uma concepção de saúde voltada para a pessoa, sabendo que seu
entendimento sobre os fenômenos do viver (saúde, qualidade de vida, bem-estar e
doença) é resultante de sua cultura e de sua inserção social. A pessoa é percebida
como alguém que pensa, senti, age, ama, odeia, deseja, ou seja, um ser complexo e
dinâmico que é influenciado por aspectos histórico-sociais e que pode influenciar o
seu meio. Apesar de partir deste entendimento, me permito avaliar os diferentes
sentidos dados a saúde e a pessoa, numa explicitação de conceitos que sofrem
oposição ao materialismo histórico-dialético, permeando o terreno de outras
correntes epistemológicas como o positivismo, a fenomenologia, entre outras. O
propósito é fazer com que haja uma reflexão pura sobre os pensamentos compostos
e complexos que regem nossas práticas em saúde e até nosso modo de ver e
conceituar saúde.
Desde a minha formação no curso de Ciências Biológicas e a minha atuação
como docente no ensino de Ciências Biológicas tenho observado práticas de ensino
que não condizem com a realidade do contexto escolar, dificultando assim a
aplicação dos conteúdos ministrados. Quando me graduei em Enfermagem,
trabalhando como enfermeira num hospital ou ainda como docente em um Curso
Técnico em Enfermagem, percebi o quanto a Promoção da Saúde em lugares que
deveria ser incentivada passa despercebida ou ignorada.
A proposta do Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho
(MPSGT), em uma perspectiva interdisciplinar, vem instigando o pensar de diversos
profissionais que atuam em diferentes segmentos da área da saúde e educação.
Propõe um olhar integral, valorizando a pessoa nos mais variados aspectos de sua
10
vida, em um processo participativo que desconfigura os recortes das profissões, a
fim de estimular a ampliação de nossa visão por meio da participação
multiprofissional. O curso viabiliza o pensar coletivo e individual das práticas em
saúde na tentativa de suprir, quer seja na Educação, quer seja na Saúde, as lacunas
existentes de um saber desconexo e incoerente com os princípios sustentados pelo
Sistema Único de Saúde (SUS).
Para se trabalhar Educação em Saúde, há necessidade de instrumentalizar
as pessoas envolvidas para empoderá-las nesse processo. Essa instrumentalização
é possível quando a pessoa em questão, seja no contexto das instituições de
ensino, das instituições religiosas, das organizações sociais em geral, ou da família,
é parte deste processo.
De acordo com a Constituição Federal de 1998, nos artigos 196 e 205 a
educação e a saúde é um direito de todos e dever do Estado, sendo a família
responsável pela educação com a colaboração da sociedade, preparando o sujeito
para o exercício de sua cidadania (BRASIL, 1998). As políticas sociais e econômicas
também devem reduzir o risco de doenças e agravos à saúde; porém, o
conhecimento delas, bem como as reivindicações dos sujeitos quanto à sua
aplicabilidade pode empoderar uma comunidade que se torna forte em seu meio e
atores sociais da sua própria existência.
Conforme Alarcão (2005), um professor com noção reflexiva não é um
simples reprodutor de ideias e práticas exteriores, ele apresenta uma atuação
inteligente e flexível, situada e reativa. Isso pressupõe que as suas ações em sua
atividade profissional passam a ser instrumentos da escola para se alcançar os
objetivos propostos na Constituição Federal de 1998 relacionado à educação e
saúde.
A experiência das pessoas envolvidas traz subsídios para serem aplicados na
metodologia do ensino e, consequentemente, pode trazer meios para elaboração de
práticas em saúde que garantam o bem-estar e qualidade de vida da comunidade
acadêmica. A comunidade acadêmica é composta não somente por alunos, mas
pelo corpo docente e demais prestadores de serviços da área administrativa e
serviços gerais. Por conseguinte, as famílias, sob os mais variados arranjos
familiares, influenciam ativamente o comportamento dessa comunidade acadêmica e
o processo formativo desses sujeitos.
11
A falta de operacionalidade dos diversos saberes no contexto escolar diminui
as possibilidades de um saber democrático no processo educativo. Todos os
constituintes da comunidade acadêmica são atores sociais, capazes de construir um
saber, promotor de vida saudável, partindo de suas experiências de vida e de seu
cotidiano.
Por isso, mediante a pesquisa qualitativa em uma abordagem de Freire
(1983), através do „Círculo de Cultura‟ trabalhamos o conceito de saúde, qualidade
de vida, bem-estar e doença a partir dos discursos dos docentes, delineando assim,
por eles, e com eles, um conceito pré-existente, capaz de abranger as reais
necessidades das pessoas envolvidas. A pesquisa de cunho qualitativo é uma
tentativa para compreender, detalhadamente, as características situacionais e
também os significados apresentados pelos entrevistados, ao invés de quantificar
por medidas as características e comportamentos (RICHARDSON, et al., 2011).
Segundo a Carta de Ottawa, a Promoção da Saúde é “o processo de
capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e
saúde, incluindo uma maior participação no controle desse processo” (Brasil, 2002,
p.19). A Promoção em Saúde, como processo participativo, levando-se em
consideração a vida do sujeito no contexto de sua vida cotidiana, pode contribuir
para o não-surgimento de doenças, ou até mesmo minimizar os agravos à saúde. A
realização de uma gestão democrática por parte das instituições de ensino promove
articulação com as famílias, o que favorece a construção do conhecimento e práticas
pedagógicas significativas e promotoras do saber.
Com a intencionalidade de contribuir para uma educação voltada à promoção
da vida, utilizei o diálogo como um compromisso ético, moral, amoroso para com os
homens e o caminho para democratização, em uma espécie de relação horizontal
sendo consequência óbvia a confiança mútua (FREIRE, 1983). Por isso, apliquei
esse recurso, oportunizando cada pessoa envolvida a participar de um processo
democrático e construtivo na busca de melhores condições de vida.
Posso ressaltar aqui, que o caminho não foi fácil diante dos inúmeros motivos
para a não-participação de alguns docentes, como a falta de tempo extra à sala de
aula, compromissos pessoais, imprevistos, entre outros. Tivemos ainda que lidar
com o temor, por parte dos docentes, de serem flagrados fora da sala de aula, por
qualquer outra autoridade acima da administração local, mesmo com autorização da
direção escolar e gerência de ensino. Os docentes colocaram a condição da
12
participação desde que realizássemos oficinas dentro das dependências da escola,
descartando, já de início, a proposta de formação de grupo em meio à natureza ou
em qualquer ambiente diferente do trabalho. Dessa forma, foi evidente a
preocupação com a repercussão que iria causar entre os pais de alunos em relação
à ausência dos docentes em sala de aula.
Para solucionar o problema, foram contratados professores substitutos para o
momento de pesquisa, financiados pelo próprio projeto de pesquisa, sem custo
algum para os docentes, a fim de preservar a continuidade do ensino e garantir a
permanência do aluno na unidade escolar, contudo, ainda assim, era notória a
preocupação, como se essa atitude de “sentar para falar” fosse secundária no
processo de trabalho.
Para conseguir efetivar o estudo proposto, foi adotada a abordagem
qualitativa com caráter exploratório e descritivo para obtenção dos dados, além de
uma análise interpretativa que responderam ao objetivo desta proposta. Iniciei com
um trabalho de campo, cujas estratégias de coleta de dados escolhidas foram a
técnica de grupo focal, com uso do „Círculo de Cultura‟ e entrevistas individuais.
Essas técnicas foram somadas aos resultados da pesquisa participante, pois como
esse cenário é campo de meu trabalho profissional, eu já havia trabalhado com
esses docentes um ano anterior à pesquisa e já tinha conhecimento das práticas
docentes e atividades relativas à Educação em Saúde.
De uma população total de „16‟ docentes que respondiam aos critérios da
pesquisa, a amostra se constituiu no universo do estudo de seis (06) docentes para
o trabalho coletivo e de quatro (04) docentes para as entrevistas. O principal critério
de escolha foi a anuência desses profissionais e o desejo de participar, bem como a
experiência anterior em práticas relacionadas à Educação em saúde e o tempo de
permanência na escola.
Com a análise dos discursos dos docentes, passei a considerar a perspectiva
do docente, não apenas em começar a refletir sobre o cuidado que estes possam vir
a ter consigo, como também possibilitar pensar em propostas de práticas educativas
voltadas para a promoção em saúde no contexto escolar.
Para a apresentação destes discursos sobre saúde e qualidade de vida,
reflexão e discussão sobre promoção da saúde e a proposta de um instrumento
metodológico social, bem como a apresentação do perfil sociodemográfico estruturei
13
os resultados dessa dissertação em três artigos científicos, atendendo as exigências
do Programa de Mestrado Profissional em Saúde e Gestão da UNIVALI.
No primeiro artigo, apresento os discursos de docentes no cotidiano escolar
sobre saúde, doença, bem-estar e qualidade de vida, caracterizando suas
concepções e interpretando-as à luz da experiência e do conhecimento científico. No
segundo artigo, apresento os discursos resultantes das discussões sobre promoção
da saúde no contexto escolar e sua relação com a educação em saúde. No terceiro
artigo, apresento um modelo de tecnologia social em promoção da saúde, elaborado
pelos docentes como um instrumento metodológico de Educação em Saúde.
Na sequência, apresento as considerações finais, referências pesquisadas, os
apêndices e, por último, os anexos.
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA
A promoção da saúde deve ser de interesse coletivo, incluindo ações de
educação para a saúde tornando a população mais empoderada para exercer
controle sobre sua própria saúde e o meio onde vive, tornando-se mais apta a
realizar escolhas que lhes proporcione qualidade de vida e bem-estar.
[...] Esta tarefa deve ser realizada nas escolas, nos lares, nos locais de trabalho e em outros espaços comunitários. As ações devem se realizar através de organizações educacionais, profissionais, comerciais e voluntárias, bem como pelas instituições governamentais (OPAS, 1986, p.4).
A relevância dos assuntos educacionais em saúde tem diminuído no contexto
escolar em função de distintos fatores. Entre estes, podemos citar a falta de
formação permanente voltada para esta questão, o que, a nosso ver, possibilitaria
uma visão ampliada do conceito de saúde dando subsídios para o trabalho
multidisciplinar e interdisciplinar. A incumbência do ensino relativo à saúde tem
ficado com professores que lecionam Ciências, como se o assunto fosse desconexo
das outras disciplinas.
Além disso, os conteúdos dos livros didáticos trazem o modelo biomédico em
saúde, com orientações de causa e efeito, de combate aos agentes etiológicos
anulando outros determinantes em saúde. Como se a pessoa não tivesse inserida
14
em um contexto social e pudesse ser programada para respeitar “normas de saúde”
que impedem o surgimento de doenças.
A outra causa relacionada à falta de valorização dos assuntos pertinentes à
saúde está na alta rotatividade dos professores ACTs1, que se não bastassem as
instabilidades relacionados ao desgaste emocional, vocal, jornada estressante de
trabalho, permanecem sob um regime de contrato que não lhes asseguram
continuidade de trabalho entre os anos letivos, nem mesmo continuidade de trabalho
na mesma instituição.
Considerando todo este histórico, acreditamos que a falta de formação,
associada à instabilidade e também à cultura profissional que considera que os
assuntos de Educação em Saúde são obrigação de quem atua nas Ciências
Biológicas, não tornam possível um trabalho efetivo de professores na promoção da
saúde, por meio de ações de Educação em Saúde que possam ser desenvolvidas
com a comunidade acadêmica no contexto escolar e, inclusive, comunitário. Sendo
assim, o que nos motivou a realizar esta pesquisa nasceu da questão a seguir:
Quais os discursos sobre saúde e qualidade de vida dos docentes de uma
escola pública de ensino fundamental que podem auxiliar na construção de
uma tecnologia social em promoção da saúde mediante ações
interdisciplinares?
1.2 OBJETIVOS
GERAL:
Analisar os discursos sobre saúde e qualidade de vida de docentes de uma
escola pública de ensino fundamental, visando auxiliar na discussão de uma
tecnologia social que permita criar um modelo de Promoção da Saúde
Escolar que possa ser efetivado por intermédio de ações interdisciplinares de
Educação em Saúde.
1 Professores ACTs são aqueles Admitidos em Caráter Temporário, portanto não possuem vínculo
permanente com a escola e estão sempre sendo deslocados para lugares em que faltam professores
concursados para atender as demandas da escola no território em que esta se encontra.
15
ESPECÍFICOS:
Apresentar o perfil profissional e sociodemográfico dos docentes;
Identificar os discursos dos docentes acerca dos conceitos básicos de saúde
e qualidade de vida;
Refletir coletivamente sobre Promoção da Saúde no contexto escolar e
discutir ações que possam ser efetivadas a médio e longo prazo por meio de
atividades interdisciplinares de Educação em Saúde para o desenvolvimento
de práticas significativas na vida das pessoas da comunidade acadêmica;
Propor a elaboração de um instrumento metodológico de Educação em
Saúde a partir da construção de uma tecnologia social em promoção da
saúde.
1.3 PERCURSO METODOLÓGICO
1.3.1 TIPO DE PESQUISA
Em função do cenário atual de depreciação do trabalho docente, do qual
fazem parte os participantes da pesquisa , com foco em suas percepções e em suas
experiências, para o conhecimento de seus discursos sobre bem-estar e qualidade
de vida, a abordagem adotada foi a qualitativa, de natureza exploratória e descritiva.
Esta opção metodológica ocorre se considerarmos que as relações e as
estruturas sociais são construções significativas, e as metodologias qualitativas são
capazes de incorporá-las, juntamente com os atos sociais, à questão do significado
e da intencionalidade (MINAYO, 2007). A valorização da experiência pessoal, a
busca pelo entendimento dos fenômenos em termos de significados dá a pesquisa
um caráter empírico, analisando os significados que as pessoas conferem ao tema
abordado. Neste sentido, segundo Gray (2012), a pesquisa qualitativa permite um
diálogo reflexivo e autocrítico, problematizando e revelando realidades ocultas,
mostrando que ciência e realidade são socialmente construídas.
Como esta foi uma pesquisa participativa, durante o trabalho de campo (como
explicaremos melhor em tópico adiante), fizemos contatos coletivos e contatos
16
individuais. Para a realização dos contatos coletivos, utilizamos a abordagem do
„Círculo de Cultura‟, de acordo com as concepções teórico-metodológicas de Paulo
Freire (1983), pois entendemos que saúde, doença, bem-estar e qualidade de vida
são assuntos pertinentes a um sujeito histórico, em permanente construção, e que
podem ser compreendidos com base em diferentes olhares. Esse tipo de abordagem
favoreceu e estimulou o uso e a expressão nas variadas formas de linguagens
permitindo captar mais significados relacionados ao tema adotado. Também foi
possível, com o uso desta abordagem, produzir algumas discussões e reflexões de
forma participativa, consciente e intencional, causando alguns rompimentos que
consideramos importantes quando desejamos cessar certas estruturas, na
intencionalidade de aprimorar nossas práticas pedagógicas para a promoção e
educação em saúde no ensino fundamental, mediante ações interdisciplinares.
1.3.2 UNIVERSO DO ESTUDO
O bairro Capoeiras abriga a Unidade Escolar, cenário de nossa pesquisa e
coleta de dados, e está inserido no município de Florianópolis – SC. Conta com uma
infraestrutura considerada satisfatória, considerando o acesso a meios de transporte
e a uma infraestrutura básica, com supermercados de grande e médio porte,
farmácias, polícia militar rodoviária, agências bancárias, praça pública de frente para
a escola, com parque infantil e quadra de esportes, estacionamento público, acesso
à Via Expressa (BR-282) que liga o continente à ilha e ruas asfaltadas ou lajotadas.
Vejamos a seguir, as principais ruas e avenidas próximas à Unidade Escolar:
Figura 01 – Localização da Escola
Fonte: Google maps
17
A Unidade Escolar possui dez (10) salas de aulas de ensino fundamental,
onde vinte e um (21) professores fazem parte do quadro de docência e três (03)
outros professores atendem alunos com diagnóstico de necessidades especiais de
aprendizagem. A área administrativa consta com sete (07) funcionários, incluindo a
direção. O serviço de merenda escolar é terceirizado, com dois (02) funcionários. Os
funcionários que prestam serviços relacionados à limpeza e copa são
disponibilizados pela Associação de Pais e Professores (APP) da escola. A
segurança da unidade é feita por uma (01) funcionária, também terceirizada, que
trabalha em período integral. A escola conta ainda com apoio técnico e de
informática de uma (01) funcionária que atende aos dois períodos.
Toda estruturação física e de recursos humanos é para atender a uma
demanda de alunos pertencentes aos bairros mencionados, segundo quadro abaixo,
de acordo com o último levantamento em 2012:
Quadro 1 – Demanda Escolar
Fonte: Secretaria Interna da Unidade Escolar (2012).
1.3.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO
Os sujeitos que participaram do estudo são docentes do ensino fundamental
do quadro efetivo e temporário de uma escola estadual da capital catarinense com
formação em Pedagogia, Letras e Geografia. Inicialmente, foram convidados
dezesseis (16) docentes, mas somente seis (06) confirmaram e passaram a compor
66%
21%
6% 7%
Demanda escolar
CAPOEIRAS
MONTE CRISTO
ABRAÃO
OUTROS
18
o grupo focal mediante a abordagem de Freire (1983), denominada „Círculo de
Cultura‟.
Os critérios de seleção utilizados foram: docentes com maior tempo de
serviços prestados no Magistério em escola pública (superior a 5 anos),
preferencialmente, os que possuíam vínculo efetivo no Estado; os que possuíam
mais de um vínculo empregatício no Magistério (serviço público ou privado) e
aqueles docentes que já trabalharam com Educação em Saúde nos anos anteriores.
Posteriormente, destes participantes do Grupo Focal, foram selecionados quatro
(04) docentes que aceitaram o convite de participação na pesquisa como
informantes individuais que foram entrevistados seguindo um roteiro semiestruturado
(APÊNDICE B). Todos os critérios de escolha foram com a anuência dos mesmos e
o desejo de participar.
No quadro a seguir, apresentamos um perfil dos docentes da escola onde se
se realizou a pesquisa.
Quadro 2 – Perfil de Todos os Docentes Atuantes no Locus da Pesquisa
FAIXA ETÁRIA HOMENS MULHERES VÍNCULO TOTAL
19– 23 - X ACT 01
24 - 28 - - - -
29– 33 - X ACT 02
34 – 38 X X ACT/EFETIVO 08
39 - 43 - X ACT 01
44 - 49 X X ACT/EFETIVO 06
50 - 54 X X ACT/EFETIVO 02
55 - 59 - - ACT 01
Total 04 17 ACT/EFETIVO 21
Fonte: Secretaria Interna da Unidade Escolar (2013).
19
1.3.4 COLETA DE DADOS
A coleta de dados se efetivou através de encontros coletivos (grupos focais)
via „Círculo de Cultura‟, de acordo com a concepção teórico-metodológica de Paulo
Freire (1983), contribuindo para o respeito e o reconhecimento das pessoas
envolvidas em uma produção participativa do saber e da cultura:
O Círculo de Cultura apoia-se no pressuposto de que ninguém consegue ser só, isolado no mundo. Parte do entendimento de que o homem é um ser eminentemente social e, como afirmou Paulo Freire, que o homem só consegue ser na medida em que outros homens também o são. Nesse sentido, o Círculo facilita a construção de pessoas mais coletivas porque estimula a horizontalização das relações entre os participantes do grupo de estudo, favorecendo, dessa forma, a instalação de um ambiente cooperativo, colaborativo, interativo, onde germinam relações de solidariedade e a noção da
coisa pública (WITTMANN et.al, 2006, p.40).
Segundo esse autor, a dinâmica do „Círculo de Cultura‟ consiste nos
seguintes momentos:
Quadro 3 – Dinâmica do Círculo da Cultura
Fonte: Wittmann et. al, (2006, p.40)
Para a realização destes três (03) momentos, utilizamos o espaço da escola e
a praça localizada em frente a ela, segundo opção dos próprios docentes. Como
1)Momento investigativo: momento em que os participantes buscam compreender as origens do problema, momento de problematização, onde se diagnostica ou define o problema;
2)Momento de tematização: momento em que o conhecimento dos participantes e outros conhecimentos se integram para um estudo reflexivo;
3)Momento de proposição: momento em que se programa, elabora e executa uma proposta para solucionar o problema.
20
alguns docentes trabalhavam os três períodos (matutino, vespertino e noturno) ou
desenvolviam outro tipo de atividade no período oposto ao trabalho, tivemos que
contratar professores substitutos para ministrar aulas, em lugar dos professores
regentes, durante as oficinas, para que não comprometesse o desenvolvimento das
aulas. Decidimos todo processo com a anuência dos docentes e direção, que
fizeram uma única exigência: admitir, por nossa responsabilidade, professores que
já haviam trabalhado na escola em alguma outra oportunidade para substituir os
professores participantes da pesquisa. A partir de então, realizamos todas as
oficinas em horário de trabalho. A organização destes três momentos ocorreu em
quatro encontros, com duração de três horas cada, no período vespertino, da
seguinte forma:
1ª Oficina: Realizada na sala de multimídia da escola, oportunizando momento de
conhecimento de uns aos outros, de interação entre os participantes e
questionamentos sobre a forma com que se trabalha educação e promoção da
saúde na escola. Momento em que houve a busca das raízes e dos fatores
determinantes dos problemas, busca do diagnóstico para que fossem tomadas
decisões relevantes na vida de todos. Entre os períodos de trabalho em grupo,
houve uma confraternização, com aspecto de festa, para criar um clima de
satisfação e relacionamento, abrindo oportunidades para os momentos seguintes.
DATA: 14/11/2013
Sessão da Oficina 1:
1) Técnica de aquecimento: Conte-me a sua história...
Procedimento: Como moderadora, solicitei ao grupo que se dividissem em dupla, em
algum espaço confortável da sala, para contar um ao outro a sua história de vida. O
professor participante retornou ao grupo e contou para os demais sua versão sobre
o que ouviu do colega.
2) Tema de investigação: Quatro fenômenos do viver: saúde, qualidade de
vida, bem-estar e doença.
Procedimento: A discussão do grupo ocorreu de modo livre, de acordo com os
temas apresentados, relacionando as respostas com as questões de vida levantadas
21
no início da oficina sobre a história de vida pessoal e profissional dos participantes.
Foram apresentadas quatro folhas, tamanho A4, digitadas as palavras: Saúde,
Qualidade de Vida, Bem-Estar e Doença, em letras grandes, na qual os participantes
descreveram, de forma sucinta, o que pensavam de cada fenômeno. Após
descrição, iniciaram a discussão. A expectativa foi a de que pudessem relatar suas
concepções para cada fenômeno do viver e como eles interagem com as diferenças.
3) Recreação em grupo: Ginástica Laboral e Café Colonial.
Realizou-se uma dinâmica com o grupo, com o auxílio de uma personal trainer, de
ginástica aeróbica e laboral para descontração e interatividade do grupo. Ao final,
foram convidados a participar de um café colonial, em uma sala à parte, que foi
cuidadosamente preparada para recebê-los como convidados de honra. O foco
desse momento foi a interatividade entre os participantes e o preparo para o
segundo momento.
4) Tema de investigação: Interdisciplinaridade.
Procedimento: Iniciou-se uma discussão sobre o tema proposto e o grupo apontou o
que conhecia sobre interdisciplinaridade e sua relação no contexto escolar.
Pretendeu-se que o grupo avaliasse seu modo de atuação em sua prática
pedagógica.
5) Encerramento da sessão: Fechamento dos assuntos trabalhados no dia.
Procedimento: O moderador e o grupo esclareceram as dúvidas existentes com o
estudo de artigos que traz o tema, e aproveitamos a oportunidade para marcar o
próximo encontro a fim de buscar respostas coletivamente sobre as temáticas
propostas pelo moderador e pelo grupo. Os sentimentos surgidos no grupo foram
avaliados pelo próprio grupo e pelo moderador.
2ª Oficina: Realizada embaixo de uma “Figueira” que fica em frente à escola, pois
esta simboliza a figura do professor que é testemunha da vida acadêmica, e que há
tanto tempo está presente na vida de seus alunos, e é à sombra do conhecimento
que realiza suas atividades pedagógicas. Foram levantadas questões
problematizadoras de acordo com o tema da pesquisa, delineando as conversas,
22
momento em que assumi o papel de moderadora do grupo sem influenciar ou induzir
as respostas dos participantes.
DATA: 15/11/2013
Sessão da Oficina 2:
1) Técnica de aquecimento: Sentados ao ar livre.
Procedimento: Sentamos ao ar livre, dispostos em círculo, debaixo de uma “Figueira”
em uma praça em frente à escola. O professor participante refletiu sobre suas
práticas pedagógicas e, em como elas haviam influenciado os alunos durante seu
tempo de trabalho. Foi questionada a maneira de se trabalhar Educação em Saúde
no contexto escolar.
2) Tema de investigação: Educação e Promoção da Saúde no contexto
escolar.
Procedimento: A discussão do grupo ocorreu de modo livre, de acordo com os
temas apresentados, relacionando as respostas com a sua própria concepção de
saúde, qualidade de vida e bem-estar. Foi desenvolvida uma dinâmica de grupo em
que cada participante tinha um pirulito na mão direita, deveria descascá-lo e
saboreá-lo, sem utilizar a outra mão e nem dobrar o braço direito. O único
movimento que podia ser feito era virar o braço para a direita ou para a esquerda.
Esperou-se que eles percebessem que não podiam abrir a embalagem do pirulito
sozinhos e tampouco saborear o seu próprio pirulito. Dessa forma, cada participante
percebeu que dependia da ajuda mútua para cumprir a missão. Após a dinâmica,
iniciou-se a discussão. A expectativa foi a de que cada pessoa relatasse suas
experiências em relação ao processo de educação em saúde e suas fragilidades.
3) Recreação em grupo: Dinâmica corporal e Café Colonial.
Foi dedicado um momento de relaxamento, com práticas corporais ao ar livre, além
de dialogar sobre qualquer assunto que desejasse. Ao final, participamos de um café
colonial juntos para descontração e interatividade.
23
4) Momento de proposição: Promoção da Saúde no contexto escolar.
Procedimento: Iniciou-se a elaboração de um modelo de práticas em educação em
saúde que deveriam ser adotadas em suas práticas pedagógicas sob uma
perspectiva interdisciplinar, levando-se em consideração que esse processo seria
contínuo e sempre passível de mudanças, uma vez que o conhecimento ainda é
limitado e em processo de formação.
5) Encerramento da sessão: Fechamento dos assuntos trabalhados no dia.
Procedimento: Revisado o documento que continha o formato da Tecnologia Social
em Saúde – CIRPROSAE, os integrantes do grupo revisaram o roteiro das
atividades do Círculo de Promoção da Saúde na Escola, bem como sua inserção no
Projeto Político Pedagógico.
3ª Oficina: Realizada nas dependências da escola, na sala de multimídia, em horário
de aula, e os conhecimentos levantados foram questionados e refletidos segundo a
pedagogia de Paulo Freire. Foi aplicada a técnica de relaxamento entre os
participantes e apresentado um vídeo motivacional para o desenvolvimento de
trabalho em grupo.
DATA: 18/11/2013
Sessão da Oficina 3:
1) Técnica de aquecimento: Imagem Ampliada.
Procedimento: Projetei uma imagem na sala de vídeo que focava apenas um ponto
da figura. Pedi que tentassem definir a imagem a cada momento em que eu a
ampliava. Eles foram percebendo que a medida que a imagem era ampliada,
mudava a visão do que eles tinham caracterizado antes. Demonstrou-se, assim, que
quando estamos focados no problema, ele pode adquirir uma aparência do que não
é na realidade, tomando uma proporção fora da proporção que deva estar.
2) Problematização: Diferenciação entre prevenção de saúde e promoção da
saúde.
Procedimento: A discussão foi aberta e retomados todos os discursos advindos da
experiência deles e do conhecimento científico que tinham buscado. Fizeram uma
24
análise do que os fenômenos do viver significavam para eles e delinearam o aspecto
das políticas de educação em saúde que deviam trabalhar de acordo com a
necessidade dessa comunidade acadêmica.
3) Recreação em grupo: „Papo Legal‟.
Pausa para conversas informais e um lanche oferecido a toda área administrativa e
corpo docente. Ao final, puderam relatar suas experiências com o corpo
administrativo da escola, de como eles se sentiam a partir do momento em que
começaram a discutir a problemática sobre saúde no contexto escolar e contar suas
expectativas em relação a um projeto coletivo que desenvolveriam posteriormente.
4) Momento de proposições: Projeto sobre Famílias mais Saudáveis.
Procedimento: Iniciou-se uma discussão sobre como seria desenvolvido um projeto
de atuação interdisciplinar no próximo ano letivo, levando em consideração que o
objetivo principal seria aproximar as pessoas da comunidade acadêmica.
Elaboraram os primeiros objetivos e planos de ação de um projeto coletivo,
interdisciplinar, que atendiam as necessidades biológicas, psíquicas e sociais da
escola.
5) Encerramento da sessão: Fechamento dos assuntos trabalhados no dia.
Procedimento: O moderador e o grupo esclareceram as dúvidas existentes sobre a
elaboração do projeto e formularam hipóteses verbais do que deveriam alcançar
com aquele trabalho coletivo. Marcada a última sessão do projeto de pesquisa.
4ª Oficina: Ocorreu na sala de multimídia da escola, pois, segundo os docentes,
proporcionava maior segurança em relação ao desenvolvimento das aulas, por
estarem próximos das salas caso algum professor substituto precisasse consultá-los.
Houve um espaço para a construção de um diálogo livre que serviu para
proposições de mudanças no Projeto Político Pedagógico da escola com relação à
Promoção e Educação em Saúde. Foram realizadas abordagens de relaxamento no
momento inicial da oficina acrescidas de recursos audiovisuais, a fim de preparar os
participantes para a etapa de trabalho interdisciplinar. Houve um encerramento com
um momento de reflexão e confraternização, com oferta de um café colonial, como
contribuição para socialização e aproximação dos participantes.
25
DATA: 21/11/2013
Sessão da Oficina 4:
1) Técnica de aquecimento: Ginástica laboral.
Procedimento: Foram estimulados a mexer o corpo com ginástica aeróbica e laboral,
fazendo com que o corpo ficasse preparado para as próximas atividades.
2) Momento de problematização: Filme motivacional sobre trabalho em
equipe.
Procedimento: Coloquei um filme de motivação em equipe, em forma de desenho
animado, no qual alguns sapinhos, depois de caírem no buraco, foram estimulados a
sair pela motivação dada pelo grupo. Os docentes foram levados a refletir sobre sua
condição de trabalho e em que momento estão buscando soluções individuais para
resolver problemas coletivos. Voltaram também a abordar o tema sobre
interdisciplinaridade, com consultas a periódicos que esclareciam sobre o tema para
posterior discussão.
3) Momento de proposições: Projeto sobre Famílias mais Saudáveis
Procedimento: Terminou-se a discussão sobre como seria desenvolvido o projeto
intitulado “Famílias mais saudáveis”, traçando os objetivos específicos e metas a
serem alcançadas segundo o formato do qual haviam delineado.
4) Encerramento da sessão: Fechamento dos assuntos trabalhados durante a
pesquisa.
Procedimento: Foi feito um resgate dos discursos apresentados sobre os temas da
pesquisa, bem como sua associação com Educação e Promoção da Saúde.
Relataram suas expectativas e temores.
5) Confraternização do grupo: Momento Comemorativo.
Oferecido um café colonial, de despedida e, ao mesmo tempo comemoração
pelos momentos de construção coletiva e pela iniciativa do trabalho
interdisciplinar.
26
O desenvolvimento do Grupo Focal foi escolhido por proporcionar aos
participantes debates sobre questões dos contextos culturais dos docentes, segundo
o modelo de Barbour (2009). Outro meio de coleta de dados foi por meio de
entrevistas individuais, com os quatro docentes que aceitaram fazer parte de
conversas individuais com o uso de um roteiro semiestruturado (APÊNDICE B).
As entrevistas aconteceram em uma sala reservada para o atendimento aos
pais, tinha uma mobília acolhedora e proporcionava privacidade. As entrevistas
aconteciam de acordo com a necessidade e disponibilidade do docente. Foram eles
quem agendaram o momento de participação, demostrando assim, o desejo de
colaborar. Todas as entrevistas e oficinas foram gravadas e transcritas
posteriormente.
As entrevistas, na pesquisa qualitativa, são entendidas como formas de
interação social, possibilitando-nos uma dinâmica das relações similares às das
sociedades (MINAYO, 2012). A ideia é estimular os participantes a um exercício
pedagógico em que os mesmos se percebam como sujeitos históricos, capazes de
transformar e construir a realidade e a si mesmos.
É necessário salientar alguns aspectos da entrevista na pesquisa qualitativa:
[...] o mundo social não é um dado natural, sem problemas: ele é ativamente construído por pessoas em suas vidas cotidianas, mas não sob condições que elas mesmas estabeleceram. Assume-se que essas construções constituem a realidade essencial das pessoas, seu mundo vivencial.[...] A entrevista qualitativa, pois, fornece dados básicos para o desenvolvimento e a compreensão das relações entre os atores sociais e sua situação. O objetivo é uma compreensão detalhada das crenças, atitudes, valores e motivações, em relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos (BAUER e GASKELL, 2002, p.65).
Todas as entrevistas do Grupo Focal foram gravadas em áudio e imagem por
uma assessora de comunicação da própria escola, que ao final das oficinas relatava
somente aos pesquisadores sua percepção sobre os docentes. Já, as entrevistas
individuais, foram gravadas pela pesquisadora somente em áudio. Para ampliação
da coleta de dados e resultados, foram acrescentados minha percepção sobre os
docentes e os trabalhos relativos à Educação em Saúde durante a observação do
participante.
27
1.3.5 ANÁLISE DOS DADOS
Depois de coletados os dados, a análise foi temática de acordo com os
conteúdos (assuntos) levantados nas entrevistas e no grupo, que resultou em
categorias, a partir das concepções apresentadas. Foram elaborados códigos a
priori, uma espécie de codificação provisória de categorias, e códigos in-vivo, uma
espécie de codificação baseada na linguagem e estrutura de sentença dos
participantes, pois houve especulações e tentativa de teorizações tornando mais
produtivo o desenvolvimento da pesquisa, permitindo que os participantes fossem
co-moderadores do processo (BARBOUR, 2009). As discussões realizadas,
considerando-se os objetivos específicos, são apresentadas em formato de artigos
científicos, pelos quais fizemos uma apresentação descritiva, seguida de
comparações à luz das interpretações do pesquisador e dos referenciais teóricos
selecionados para confirmar, comparar e apreender o que os informantes
apresentaram coletivamente e individualmente.
Nessa perspectiva, o pesquisador investigador reconhece que exerce
influência sobre a investigação, pois se apropria de seu próprio significado da
realidade, posicionando-se e dando sentido aos significados, estruturando o que os
sujeitos apresentaram. Sabendo que o conhecimento é um processo social
compreendido no seu meio, em que foi gerado (GEERTZ, 1997).
1.3.6 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA
Foram cumpridas as determinações da Resolução nº 466/12 do Conselho
Nacional de Saúde com relação aos aspectos éticos de pesquisa com seres
humanos. Para tanto, solicitamos a permissão da Gerência de Educação e à Direção
da Escola para a realização da proposta. Após o aceite escrito, fizemos contato com
os docentes para apresentação da proposta e solicitação para que participassem do
estudo. Os docentes que aceitaram participar, assinaram o Termo de Consentimento
Livre Esclarecido (APÊNDICE A). Ainda, como parte deste processo, fizemos o
preenchimento da Plataforma Brasil em nome da co-orientadora Prof. Dra. Márcia
Gilmara Marian Vieira2 para inclusão da proposta, com todos os documentos
2 A Prof. Dra. Márcia Marian assumiu, a pedido do Colegiado do Mestrado Profissional em Saúde e
Gestão do Trabalho, a responsabilidade de realizar os encaminhamentos de avaliação do Comitê de
28
solicitados, a fim de que fosse realizada uma avaliação da pertinência ética da
pesquisa. Somente após estas etapas e aprovação da pesquisa é que iniciamos a
coleta de informações junto aos docentes. A aprovação do Comitê de Ética da
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, está sob o número de protocolo
22127013.6.0000.0120 e com o número de Parecer 446.060 em 25/10/ 2013
(APÊNDICE C).
Importante enfatizar que respeitamos os aspectos da autonomia (escolher
participar, continuar, interromper ou desistir quando necessário); da beneficência
(potencialização dos benefícios advindos no desenrolar do trabalho); da não
maleficência (comprometimento com o mínimo de danos possível, especialmente
protegendo e apoiando em suas conquistas e vulnerabilidades) e da justiça e
equidade (divulgação dos resultados alcançados, quaisquer que sejam sua
natureza, representando a possibilidade de compartilhar conhecimento e submissão
à crítica da comunidade científica).
Em todos os momentos da pesquisa foram observadas as questões éticas
nos relacionamentos entre pesquisadores-sujeito, sujeitos-sujeitos, mantendo
sempre o anonimato dos participantes.
Ética da UNIVALI e atender a mestranda como co-orientadora no segundo semestre de 2013 até o
retorno da orientadora que se ausentou do País para estudos pós – doutorais.
29
2 SAÚDE, DOENÇA, BEM-ESTAR E QUALIDADE DE VIDA: DISCURSOS DE
DOCENTES NO COTIDIANO EM UMA ESCOLA PÚBLICA DE SANTA CATARINA
Ioná Outo de Souza Wilberstaedt
Márcia Gilmara Marian Vieira Yolanda Flores e Silva
Resumo: O modo pelo qual se discute o que seja saúde, doença, bem-estar e qualidade de vida, além das experiências das pessoas pode facilitar ou dificultar o processo de se introduzir a Educação em Saúde em uma escola pública. Em função desse contexto é que nasceu a pesquisa sobre as concepções de docentes acerca destas temáticas, tendo como objetivo geral conhecer os discursos sobre Saúde, Qualidade de Vida e temas afins de docentes de uma escola pública de Santa Catarina, tendo como meta final o desenvolvimento de atividades de Educação em Saúde com docentes, alunos, familiares e comunidade. O percurso metodológico adotado foi qualitativo, com coleta exploratória, compreendendo revisão teórica, trabalho de campo, observação participante, formação de grupo focal e entrevistas semiestruturadas com os docentes. Dentro dos critérios gerais da pesquisa, foram convidados 16 docentes de uma Escola Estadual da capital Catarinense, do ensino fundamental, com tempo superior a cinco anos de Magistério (em serviço público ou privado), que possuíam maior vínculo com o Estado e que já haviam trabalhado com Educação em Saúde. A princípio, confirmaram oito participantes para o grupo focal. Destes, apenas seis compareceram do primeiro ao último encontro. Todas as entrevistas e conversas do grupo focal foram gravadas e, posteriormente, transcritas. A análise, segundo o método interpretativo, começa na coleta de dados propriamente. Quando o pesquisador já vai organizando as falas, de modo a chegar aos objetivos propostos no projeto de pesquisa. Vai criando tramas entre as falas e descrevendo aquilo que faz sentido. Existem estruturas significantes nos gestos, nos olhares, no tom de voz, nos comportamentos que vão além das falas. Estas falas, depois de devidamente analisadas à luz da experiência dos pesquisadores e dos referenciais pertinentes à temática nos mostram que: os docentes afirmam que há uma estreita relação entre saúde, qualidade de vida e bem-estar e que uma vida saudável é possível mesmo na presença de uma enfermidade. As falas enfatizam a necessidade de haver maior participação dos pais e profissionais da saúde no processo de Educação em Saúde e também a necessidade de um preparo sistemático e permanente sobre as questões que envolvam saúde no contexto escolar. As concepções dos docentes reafirmam que a dimensão social sobressai sobre o biológico, e que o conhecimento e valorização desses aspectos, na prática docente, podem ampliar as ações em saúde. Palavras-chave: Docentes. Qualidade de Vida. Saúde.
INTRODUÇÃO
O debate sobre saúde, qualidade de vida, bem-estar e doença não é recente
em nosso país como também não o é em todo o mundo. As Conferências Nacionais,
os debates políticos, a própria criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e a
Constituição de 1988 fortaleceram a Reforma Sanitária. Porém, ainda há uma
30
instabilidade conceitual a respeito do processo saúde-doença dificultando as ações
em saúde.
Segundo Canguilhem (2009), existe uma noção do que é ser saudável
relacionada com o que se considera como „normal‟ sempre em oposição ao que se
afirma como „não saudável‟; por outro lado, o que se afirma como „doença‟ ou
„patológico‟ é sempre anormal. Tanto nas práticas de saúde, quanto nos conceitos,
existe uma resistência em conceituar saúde como ausência de doença, até mesmo
em nossos dias. Inclusive, os argumentos corporativos sobre saúde privilegiaram a
classe médica no século XVIII, de acordo com Foucault (2008), na Europa Ocidental,
pois faziam intervenções julgando saber o que seria saudável ou não para as
pessoas.
O próprio Sistema Único de Saúde (SUS) se apropria do modelo biomédico
com práticas assistencialistas, biologicistas e deterministas, o que não favorece
ações integradas e integrativas voltadas para a promoção e educação da saúde.
Nessa perspectiva, discute-se a necessidade de ampliar o conceito de saúde,
mediante a valorização do ser humano como um „ser uno‟ e multidimensional, capaz
de manter-se saudável ou viver com saúde mesmo estando em uma condição de
doença (DALMOLIN, et. al, 2011).
O campo da Educação é bastante vasto e propício para o desenvolvimento de
ações de promoção e educação em saúde, por reunir em seu meio pessoas com
experiências advindas de contextos socioculturais variados e interessadas em
crescimento pessoal e coletivo. As escolas são espaços socialmente reconhecidos
para o desenvolvimento de atos pedagógicos, contribuindo para a construção de
valores pessoais e dos significados atribuídos a objetos e situações, entre eles a
saúde. A escola saudável é um ambiente solidário e propício ao aprendizado,
engajada no desenvolvimento de políticas públicas saudáveis e implicação da
população em projetos de promoção da saúde (AERTZ, et al., 2004).
A escola, portanto, pode ser um espaço para o desenvolvimento de projetos
que visem à qualidade de vida das pessoas nos espaços em que elas convivem,
trabalhando em um esforço contínuo de corresponsabilidade (o sistema de saúde, o
governo, a escola, os docentes, as famílias e os alunos) para a promoção e a
educação em saúde. Esta corresponsabilidade se contrapõe a ideia da
responsabilidade pessoal e individual, as quais são sugeridas em pesquisas, como
a de Gomes (2009), que sugere, por exemplo, que as ameaças â saúde de jovens
31
na década compreendida entre os anos de 1991 a 2000, são oriundas,
principalmente, de suas condutas e de comportamentos prejudiciais à sua saúde,
com comportamentos de riscos mais precoces que em outras gerações. A grande
questão sobre o conceito ampliado de saúde é: as questões inerentes ao processo
de saúde envolvem apenas atitudes pessoais?
Quando partimos do pressuposto de que o estado de saúde está relacionado
com os comportamentos das pessoas, a dinâmica na promoção da saúde deve ser
direcionada a evitar condutas e comportamentos que levam ao risco. Todavia, se o
estado de saúde está relacionado com outras dimensões, além das
comportamentais, como a determinação social, faz-se necessário repensar as
práticas e refletir sobre os processos do viver humano. Para Campos e Neto (2008),
os comportamentos humanos que determinam nossas concepções acerca da saúde,
doença ou qualidade de vida podem ser influenciados por dimensões mais genéricas
ou por dimensões mais específicas. O importante, ao fazermos uma análise sobre
estas concepções, é que se perceba a maneira como as mesmas são interligadas e
interdependentes.
Na pesquisa realizada, da coleta à análise dos dados, a intenção norteadora
foi a de conhecer os discursos sobre saúde, qualidade de vida e temas afins de
docentes de uma escola pública de Santa Catarina, tendo como meta final o
desenvolvimento de uma tecnologia social que permita refletir sobre as atuais
práticas educativas em saúde e elaborar outros meios para a efetivação de uma
Educação em Saúde com, e para os docentes, alunos, familiares e comunidade
capazes de superar os obstáculos gerados pelos problemas sociais.
PERCURSO METODOLÓGICO
O percurso metodológico adotado foi o qualitativo, de cunho exploratório-
descritivo. Segundo Minayo e Sanches (1993), as tarefas e os desafios dos
cientistas sociais que utilizam a abordagem qualitativa têm sido definir o nível
simbólico, dos significados e da intencionalidade, constituindo-o como um campo de
investigação que auxilia no desenvolvimento de métodos e técnicas que
sistematizam o processo de pesquisa da coleta à análise. Minayo (2007) afirma que
as metodologias qualitativas são capazes de incorporar os significados e
intencionalidades aos atos, relações, estruturas sociais, traduzidas como
32
construções sociais humanas significativas. Quando a metodologia qualitativa é
aplicada na saúde, ela busca entender os significados dos fenômenos em seu
âmbito individual ou coletivo, e não os fenômenos em si. Pois a compreensão dos
significados tem uma função estruturante para as pessoas, sabendo que elas
organizam suas vidas a partir desses significados (TURATO, 2005).
A Coleta de Dados para a pesquisa em questão compreendeu as seguintes
estratégias: revisão bibliográfica referente ao tema, realização de grupos focais e
entrevistas semiestruturadas. Iniciamos com a formação do grupo focal,
entendendo-o como uma forma de coleta de falas de um grupo que relata suas
experiências e percepções em torno de um tema em questão (PEROSA e PEDRO,
2009).
A dinâmica do grupo focal consiste na interação entre pesquisador e
participantes para coleta de dados, a partir da discussão focada em objetivos
específicos e diretivos (ASCHIDAMINI e SAUPE, 2004). A estratégia de grupo focal
adotada foi orientada segundo a abordagem do „Círculo de Cultura‟, de Paulo Freire
(1983a), pela qual os participantes foram incentivados a expressar seus discursos
acerca da saúde, bem-estar, qualidade de vida e doença, além de refletir sobre
como poderiam contribuir para estratégias de promoção a saúde, dentro do contexto
escolar, por meio da Educação em Saúde.
O grupo partiu de uma reflexão sobre a pessoa e o seu meio de vida,
refletindo sobre sua situação, sobre seu meio concreto (a escola, a comunidade), de
modo a pensar sobre sua realidade, e desta forma, como sugere Freire (2008),
emergir de forma consciente e comprometida, prontos para pensar como intervir e
mudar a realidade do cotidiano em que vivem. O roteiro de entrevista utilizado para a
coleta de dados individual foi semiestruturado, com questões abertas, nas quais
docentes puderam responder as questões, de acordo com o que pensavam e da
maneira que gostariam de expressar.
Todas as atividades em grupo ou entrevistas individuais foram realizadas no
ambiente escolar, por conta da dificuldade de deslocamento dos participantes em
função da carga de trabalho. As entrevistas foram realizadas seguindo o
pressuposto de Minayo (2008), de que a entrevista é uma conversa a dois, ou entre
vários interlocutores, que inicialmente é direcionada pelo entrevistador, com a
intenção de construir informações pertinentes, a fim de discorrer sobre o tema no
tempo que considerar necessário.
33
Segundo os critérios definidos na proposta, o Universo da Pesquisa foi
formado por dezesseis (16) docentes de uma Escola Estadual da Capital
Catarinense, de ensino fundamental, com tempo superior a cinco anos de Magistério
(em serviço público ou privado), que possuíam maior vínculo com o Estado e que já
haviam trabalhado com Educação em Saúde. A princípio, oito (8) docentes
confirmaram a participação no grupo focal, destes, apenas seis (6) compareceram
do primeiro ao último encontro. Partindo do pressuposto de Nogueira Martins e
Bogus (2004), de que o grupo focal é operacional quando composto por, no mínimo
seis, e no máximo quinze pessoas, com tempo médio de noventa minutos, não
ultrapassando três horas para que seja funcional e mantenha o foco no problema /
objeto de reflexão, iniciamos a pesquisa.
Em virtude de outros vínculos empregatícios, dificuldade de acesso ao local
planejado, temor de serem flagrados em outro local, diferente do local de trabalho,
os docentes não concordaram com a proposta inicial de realizar o grupo em um
lugar distante do ambiente da escola. A proposta feita por eles de realizar os
encontros nas dependências da escola, em uma sala destinada a atividades
pedagógicas foi aceita. Foram realizados quatro encontros, com duração de três
horas cada, sendo os dois primeiros em dias consecutivos e dois encontros
posteriores, em dias intercalados, totalizando doze horas de formação de grupo
focal. Cada sessão iniciava com dinâmica de grupo, precedida de conversas,
momento de confraternização, momento de construção coletiva, ginástica laboral ou
técnica de relaxamento.
Durante as atividades do grupo focal, os docentes foram convidados a
participar da pesquisa individual com o mesmo tema. Todos os componentes do
grupo se prontificaram a participar, porém, a critério da pesquisa, somente quatro
foram abordados individualmente. Esta proposta, de entrevista individual, foi
realizada para que pudéssemos confrontar os dados, a fim de confirmar a
consistência dos dados coletados no coletivo.
As entrevistas foram realizadas a pedido dos participantes, quando
disponibilizavam de tempo para uma conversa aberta, dentro de uma sala de
recepção da escola, de maneira descontraída, formalizada, seguindo um roteiro
semiestrururado. Cada entrevista durou cerca de trinta minutos, foram realizadas em
dias diferentes, conforme cronograma do docente. Todas as entrevistas foram
gravadas em áudio e foram transcritas posteriormente. As conversas do grupo focal
34
foram gravadas em imagem e áudio pela assessora de comunicação da escola e,
posteriormente, transcritas.
A análise das respostas fornecidas no grupo focal e individualmente foram
realizadas segundo o método interpretativo de Geertz (1997). Para o autor, a análise
se inicia na coleta de dados propriamente, quando o pesquisador já vai organizando
as falas, de modo a obter as respostas aos seus objetivos. Cabe ao pesquisador
criar as tramas entre as falas e descrever o que faz sentido, sabendo que existem
estruturas significantes nos gestos, nos olhares, no tom de voz e nos
comportamentos que vão além das falas. A forma de organizar os resultados,
apresentá-los e refletir sobre os mesmos pode ser considerada mais didática ao
leitor modelo ou a pessoas a quem se dirige a pesquisa.
A fim de preservar a identidade dos participantes, a descrição dos discursos
apresentados nos resultados e discussão foi identificada como Professor
Participante (PP1, PP2, PP3, PP4, PP5 e PP6), seguidas da identificação „GF‟
quando coletadas no grupo focal e „EI‟ quando coletadas na entrevista individual.
Finalmente, importante lembrar que esta pesquisa foi registrada na
Plataforma Brasil e submetida à aprovação do Comitê de Ética da Universidade do
Vale do Itajaí (UNIVALI), com o número de protocolo 22127013.6.0000.0120 e
aprovada segundo Parecer 446.060 em 25/10/ 2013.
ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE OS TEMAS DE INTERESSE DESSE ESTUDO
Sobre Qualidade de Vida
O conceito de qualidade de vida, para a Organização Mundial da Saúde
(OMS) é “a percepção do indivíduo de sua inserção na vida no contexto da cultura e
sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos,
expectativas, padrões e preocupações” (WHOQOL, 1995, p. 1405). Este conceito,
quando refletido de forma não isolada, demonstra que o contexto social/cultural
associado aos aspectos individuais influenciam o modo de vida das pessoas.
De acordo com a 8ª Conferência Nacional de Saúde (1986), a qualidade de
vida é expressa como resultante de um processo de produção social, em uma
compreensão de saúde, sendo condicionada ou determinada por fatores políticos,
35
econômicos, sociais, culturais, ambientais, comportamentais e biológicos (BRASIL,
1986).
Em nosso país, a criação da Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS)
teve por objetivo promover a qualidade de vida e reduzir a vulnerabilidade e riscos à
saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes (BRASIL, 2006). Para
muitas pessoas, o que deveria ser uma política para todas as instâncias de nossa
sociedade, termina por ser algo que fica limitada às esferas dos serviços de saúde,
deixando de lado, muitas vezes, o contexto escolar.
Para Malacrida (2012), o mundo passa por grandes transformações, existindo
a divulgação cada vez maior da grande diversidade cultural e social da qual fazem
parte as famílias com quem estamos a conviver, estando elas cada vez mais longe
dos conceitos tradicionais reconhecidos por muitos professores. Nesse contexto,
mudam também as formas de se conceber o processo saúde e doença, o bem-estar
e a qualidade de vida. Para muitas pessoas o que se denominaria qualidade de vida
pode se relacionar ora com a saúde, ora com a moradia, o lazer, hábitos
alimentares, exercícios, emprego, entre outras possibilidades, incluindo a percepção
de bem-estar como sinônimo de qualidade de vida (ALMEIDA, 2012).
No âmbito da Psicologia Positiva, Passareli - Carrazoni e Silva (2007) trazem
a definição de um „bem-estar‟ subjetivo chamado de felicidade, incluindo respostas
emocionais das pessoas, satisfações dominantes e julgamento global de satisfação
de vida. Segundo estes autores, os estados emocionais determinam a maneira
como as pessoas com saúde comprometida encaram suas dificuldades. A emoção
positiva funciona como previsão de saúde e longevidade, e as relações sociais
positivas mostram-se necessárias para o bem-estar. O bem-estar positivo é a
presença de um número de emoções e estados cognitivos positivos e não somente
ausência de doenças como a depressão, por exemplo.
Fazendo menção aos enfoques relativos ao conceito de bem-estar, Nogueira
declara que:
[...] o estado de bem-estar é concernente às condições da pessoa de satisfazer suas necessidades materiais e suas aspirações espirituais. Denota um estado subjetivo e, portanto, apreciado pela pessoa. Entretanto, é também um conceito social, uma vez que necessidades são construções sociais que pertencem ao domínio da sociologia, da antropologia, da ecologia e da economia (NOGUEIRA, 2001, p. 113).
36
Para o autor, os conceitos de bem-estar estão relacionados e condicionados a
fatores objetivos, histórico-culturais, socioeconômicos e a elementos não
calculáveis, sendo produto das formas de produção social, sem abrangência
universal, diferenciando-se de um grupo para outro. Bem estar está sempre
articulado à existência de necessidades humanas ou sociais situadas
historicamente.
A expressão “qualidade de vida” se tornou conhecida quando o Presidente
dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, em 1964, fez um pronunciamento afirmando
que os objetivos dos governantes são medidos por meio da qualidade de vida que
proporcionam às pessoas. Inicialmente, o termo era associado aos bens materiais,
posteriormente, passou a incorporar questões relacionadas às realizações pessoais,
bem-estar, saúde, estilo de vida, além dos aspectos econômicos, psicossociais e
físicos (MONTEIRO, 2010).
Quando tratamos de um assunto com uma abordagem tão ampla como
„qualidade de vida‟, corre-se o risco de centrar o foco em um único aspecto e
desfavorecer outros. No caso desta revisão, a intenção não é esta. Parafraseando
Morin (1986), a ideia é mostrar que:
Precisamos não perder a ideia e o real, mas perder a ilusão da lucidez e da saúde. E saber, desde já, que precisamos esclarecer aquilo sobre que estamos cegos e que nos cega; compreender que nossos problemas vitais agem na infra consciência, no invisível e no inconcebível (MORIN, 1986, p. 88).
A mudança no nosso modo de pensar, agir ou sentir é o pressuposto para
partirmos para um processo que clarificará nossas mentes e nos permitirá vivenciar
os variados modos do viver humano, percebendo que estes se alteram a cada
contexto da vivência cotidiana. O catalogar o objeto, ou tentar enquadrá-lo em uma
fórmula nos impede de desvendar o novo, de descobrir as variadas formas de viver
e sentir.
Para Gonçalves (2004), a qualidade de vida caracteriza-se pelo estilo de vida
do sujeito relacionado com a realidade familiar, ambiental e social refletindo os
valores, atitudes e oportunidades na vida dele, sendo considerados elementos como
bem-estar pessoal, controle do estresse, nutrição equilibrada, atividade física
regular, ações preventivas de saúde e o cultivo de relacionamentos sociais. Esta
ideia é confirmada, a seguir, por Almeida quando este afirma que:
37
Uma boa percepção de qualidade de vida dependerá das possibilidades que tenham as pessoas de satisfazer adequadamente suas necessidades fundamentais. Isso se liga à capacidade de realização individual, que é dependente das oportunidades reais de ação do ator social. Ou seja, uma boa ou má percepção sobre a vida é relativa à qualidade do ambiente em que se encontra o sujeito, ao oferecimento de condições de realização e de satisfação das necessidades básicas que a própria sociedade estipula como essenciais, e que o interessado toma e deseja, ou não, como verdade para sua própria vida (ALMEIDA, 2012, p. 38).
A afirmação acima, confirma a ideia de que os condicionantes e
determinantes da saúde promotores da qualidade de vida, estão relacionados ao
modo de viver, das condições de trabalho, da habitação, do ambiente, da educação,
do lazer, da cultura, do acesso a bens e serviços essenciais (BRASIL, 2006).
Pressupõe-se que, quando o indivíduo desfruta ou tem acesso aos itens
mencionados, passa a ter qualidade de vida, pois sua condição de saúde se torna
menos vulnerável.
Conforme Pereira, Teixeira e Santos (2012) a qualidade de vida é um
construto cultural, que diante do avanço da sociedade e do conhecimento precisa
ser revisado, discutido e transformado. É necessário existir uma reflexão acerca do
que as pessoas consideram como fatores relevantes para a qualidade de vida.
Importante que se reflita se estas levam em consideração os aspectos históricos,
socioculturais, psíquicos, ambientais e de inserção no mundo do trabalho.
Outra definição de qualidade de vida não muito distante de todas que
estamos apresentando é a de Limongi-França (2004) que mostra que essa condição
existe associada à sensação de bem-estar advinda das necessidades individuais
atendidas, oriundas do ambiente socioeconômico e das expectativas de vida. A
abrangência do tema é similar à dimensão humana, do ser holístico com dimensões
sociais, físicas, emocionais, mentais e espirituais. Fazendo ainda uma referência ao
âmbito organizacional, a autora cita a competitividade, espaço no mercado de
trabalho e produtividade como fatores de relevância que são influenciados pela
qualidade de vida.
38
Sobre os Conceitos de Promoção da Saúde e Saúde
A promoção da saúde é um objetivo a ser alcançado em todas as esferas
sociais na tentativa de minimizar a vulnerabilidade social, em relatórios do Ministério
da Saúde:
Entende-se que a promoção da saúde é uma estratégia de articulação transversal na qual se confere visibilidade aos fatores que colocam a saúde da população em risco e às diferenças entre necessidades, territórios e culturas presentes no nosso País, visando à criação de mecanismos que reduzam as situações de vulnerabilidade, defendam radicalmente a equidade e incorporem a participação e o controle sociais na gestão das políticas públicas (BRASIL, 2006, p. 12).
A responsabilização múltipla também está relacionada à promoção de saúde,
pois o Estado, os indivíduos, o sistema de saúde e as parcerias intersetoriais, cada
um em sua esfera, podem contribuir para a qualidade de vida (ANS, 2007).
A promoção da saúde existe no sentido de articular práticas intersetoriais e
conhecimentos interdisciplinares para aumentar as chances de saúde e qualidade
de vida. Nesse contexto, a qualidade de vida é uma importante medida de impacto
em saúde, e a promoção em saúde está na defesa da vida e no desenvolvimento
humano (CAMPOS e RODRIGUES NETO, 2008).
A intersetorialidade e o conhecimento interdisciplinar surgem dentro das
práticas que aumentam as chances das pessoas de um viver saudável com
qualidade de vida. Então, por intersetorialidade, segundo o Ministério da Saúde,
compreende-se:
[...] como uma articulação das possibilidades dos distintos setores de pensar a questão complexa da saúde, de co-responsabilizar-se pela garantia da saúde como direito humano e de cidadania, e de mobilizar-se na formulação de intervenções que a propiciem (BRASIL, 2006, p. 13).
Nesse sentido, a área da Saúde pode e deve articular conhecimentos com a
área da Educação na perspectiva de ampliar os conceitos de promoção em saúde,
pensando na complexidade desta e corresponsabilizando-se por ela. Esse processo
transforma seu modo de operar e ampliar a capacidade de análise. Por essa razão,
contemplaremos o tema de forma coletiva, em uma perspectiva dialógica, na
formação de pressupostos advindos da experiência do cotidiano das pessoas a fim
39
de aumentar as chances de o indivíduo melhorar suas condições de vida e
compartilhar suas experiências no âmbito do trabalho.
Ao avaliarmos a saúde como um dos fatores primordiais e de grande
relevância para obtenção da qualidade de vida é possível fazê-lo considerando os
três pontos de vista, sobre o que seja saúde segundo as pessoas, o setor produtivo
e os técnicos de saúde (LEFÈVRE e LEFÈVRE, 2004):
Pessoas: a saúde é vista como uma “sensação” de ser saudável, baseados
em indicadores sociais disponíveis, sendo percebida como bem-estar ou
ausência de mal-estar, ausência de doenças ou sintomas. O indivíduo
acredita que pode obter saúde pelo consumo de algum tipo de produto ou
serviço, de forma direta ou indireta, considerado produtor ou indutor de saúde
protegendo contra doenças;
Setor Produtivo: a saúde é transformada em mercadoria ou serviços para uso
e consumo. Para tanto, é necessário pagar um valor que é impreciso e
aberto. Importante lembrar que hoje as mercadorias e serviços na saúde são
muitos e sempre se ampliando para venda a quem puder comprar;
Técnicos: a saúde é revestida de autoridade ou poder que proporciona a um
conjunto de profissionais ou especialistas a autorização para conceituar
saúde, prescrever tratamentos e cuidados, produzir tecnologias e ações para
pessoas, famílias e comunidades.
Nessa relação entre indivíduos, setor produtivo e técnico há todo um processo
de interdependência que se traduz no exemplo a seguir: uma pessoa ao sentir dor, o
alívio vem em forma de comprimidos vendidos pelo sistema produtivo e o
profissional de saúde define a natureza da dor propondo que comprimido, que
laboratório, posologia e às vezes uma intervenção técnica para os sintomas do
problema.
A compreensão sobre o que seja saúde também pode ocorrer mediante os
domínios funcionais (função física, função cognitiva, envolvimento com as atividades
da vida e avaliação subjetiva) e domínios do conforto (bem-estar corporal, bem-estar
emocional, autoconceito e percepção global de bem-estar) que compõem a relação
entre saúde e qualidade de vida (VILARTA e GONÇALVES, 2004).
40
Esses domínios não são exclusivamente dos sujeitos, são resultantes dos
processos individuais e coletivos, não necessariamente nesta ordem de
apresentação, mas com articulações entre um e outro:
A saúde não é primordialmente 'individual-subjetiva-contingente', nem tampouco é primordialmente "coletiva-objetiva-determinada'; ela é, sempre e simultaneamente, o movimento de gênese e reprodução possibilitado pelo concurso de processos individuais e coletivos, que se articulam e se determinam mutuamente. Ela tampouco é primeiro individual e depois coletiva, como produto da combinação de realidades individuais (BREIHL, 2006, p. 45).
Outra definição de saúde traz algo que pode:
[...] legitimamente, ser vista - não substantiva ou diretamente, como um é... mas, indiretamente, como um sobre... - como um tema de um discurso coletivo, associado a uma prática correspondente, díade situada diferentemente no tempo e no espaço, que tem como objeto um estar/ser/positivo de um corpo/mente/espírito, em escala individual e coletiva (LEFÈVRE e LEFÈVRE, 2004, p.16).
Os autores apontam ainda (Quadro 01) sobre a existência de um discurso do
sujeito coletivo (DSC) que implica em uma tensão dialética sobre o ser saudável e
ao mesmo tempo saber que se faz necessário uma constante vigilância dos riscos e
ameaças existentes no viver cotidiano do ser humano:
Quadro 1 – O Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) de Saúde
Saúde – significa restabelecimento,
proteção ou vigilância na produção
deste estado positivo da vida
humana.
Manutenção da Saúde – ocorre
mediante o entendimento e
implantação de um estado constante
de investigação das causas básicas
do adoecer humano, objetivando
erradicar as ameaças estruturais
desse ser saudável/estado.
Fonte: Lefèvre e Lefèvre (2004)
De um lado, o discurso hegemônico da saúde, que é a produção de um
retorno permanente a uma situação de equilíbrio negada pela instalação de uma
41
doença ou agravo (negação primária); do outro, a saúde vista como a busca da cura
ou prevenção da doença, utilizando-se tecnologias de intervenção, tanto nos
agentes causadores como nos corpos e mentes. Ou seja, o processo saúde e
doença é parte desta sociedade de tecnologia em que não se busca a razão ou
causa dos problemas, mas onde se tem a necessidade permanente de compra de
bens e serviços com pessoas doentes que buscam a proteção da medicina como
seguro obrigatório. Do outro lado, o poder alternativo ao modelo biomédico que
busca fugir do processo de mercantilização/tecnologização da saúde-doença, mas,
que não deixa também de ser um poder altamente consumista, porque no mundo
ocidental não atende as necessidades das pessoas de baixa renda.
Para entender saúde a partir dos determinantes e condicionantes expostos na
Lei 8.080/90, em seu artigo 3º, que incluem a alimentação, a moradia, o saneamento
básico, o transporte, a educação, acesso aos bens e serviços essenciais, entre
outros e as ações que se destinam a garantir condições de bem estar físico, mental
e social às pessoas e à coletividade é necessário fazer uma reflexão crítica das
políticas sociais de acesso que marginalizam uns e favorecem outros.
De acordo com Buss e Pellegrini Filho (2007) existe hoje um conceito
bastante generalizado de que a situação de saúde está relacionada às condições de
vida e de trabalho dos indivíduos e de grupos da população. Os determinantes
sociais, de acordo com a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da
Saúde (CNDSS), são fatores que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e
seus fatores de risco na população, como os fatores sociais, econômicos, culturais,
étnicos / raciais, psicológicos e comportamentais.
Segundo o Relatório da Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais
da Saúde (2008, p.141), as intervenções que incidem sobre os determinantes
sociais incluem:
• Políticas que favoreçam mudanças de comportamento para a redução de riscos e aumento da qualidade de vida mediante programas educativos, comunicação social, acesso facilitado a alimentos saudáveis, criação de espaços públicos para a prática de esportes e exercícios físicos, bem como proibição à propaganda do tabaco e do álcool em todas as suas formas; • Políticas que favoreçam ações de promoção da saúde, da paz e da justiça social, buscando estreitar relações de solidariedade e confiança, construir redes de apoio e fortalecer a organização e participação das pessoas e das comunidades em ações coletivas
42
para melhoria de suas condições de saúde e bem-estar, especialmente dos grupos sociais vulneráveis; • Políticas que assegurem à melhoria das condições de vida da população, garantindo a todos o acesso à água limpa, esgoto, habitação adequada, ambientes de trabalho saudáveis, serviços de saúde e de educação de qualidade, superando abordagens setoriais fragmentadas e promovendo uma ação planejada e integrada dos diversos níveis da administração pública; • Políticas macroeconômicas e de mercado de trabalho, de proteção ambiental e de promoção de uma cultura de paz e solidariedade que visem promover um desenvolvimento sustentável, reduzindo as desigualdades sociais e econômicas, as violências, à degradação ambiental e seus efeitos sobre a sociedade.
Vale ressaltar aqui que os programas do governo de assistência social, os
chamados “reforços” da renda familiar, como bolsa família, bolsa alimentação, entre
outros tipos de benefícios vistos como complementares à renda, as cotas nas
universidades garantidas a algumas etnias e estudantes advindos de escolas
públicas e o acesso a casas populares entre outros benefícios, são soluções
temporárias que assinalam as desigualdades sociais e percorre um plano contrário à
equidade.
O principal desafio dos estudos sobre as relações entre determinantes sociais e saúde consiste em estabelecer uma hierarquia de determinações entre os fatores mais gerais de natureza social, econômica, política e as mediações através das quais esses fatores incidem sobre a situação de saúde de grupos e pessoas, já que a relação de determinação não é uma simples relação direta de causa-efeito (BUSS e PELLEGRINI FILHO, 2007, p.81).
Em meio a todas estas questões, sabemos que as políticas públicas sociais
são entendidas como parte do processo para obtenção da qualidade de vida em
saúde, mas não garantem a obtenção dela. É necessário pensar no
desenvolvimento de uma sociedade que problematiza, questiona, manifesta-se, sem
buscar adequações de vida, e sim, buscar condições de crescimento pessoal e
coletivo que favoreçam a qualidade de vida baseados em um viver promotor de
saúde.
Diante do exposto, necessitamos conhecer os muitos sentidos da saúde, que,
segundo Goldenberg, Marsiglia e Gomes (2003) são advindos da diversidade
cultural e das subjetividades no interior de cada cultura e como estes interagem.
43
Cultura é processual e produz sentido em um contexto sócio-histórico. Também
pode ser palco de expressão de subjetividades, vendo assim, saúde, no plural.
Pensar saúde, objetivamente, é pensar apenas sobre um dos seus aspectos, não
permitindo perceber a dimensão da doença como construção sociocultural.
Pensando em saúde enquanto processo de constructo social, Langdon e Wiik
(2010) trazem uma importante contribuição, quando afirmam que as questões sobre
saúde e doença devem ser pensadas a partir dos contextos socioculturais
específicos. Para eles, cultura não é determinada pela biologia, ela é compartilhada
por diferentes membros de um grupo social, sendo definida como um conjunto de
elementos que fazem mediação e qualificação das atividades física e mental.
Refletindo sobre isso, podemos concluir que para entender saúde é preciso haver
diálogo, trocas de informações e experiências, em uma visão cultural transdisciplinar
para enxergar este fenômeno complexo, articulado, e que está em constante
movimento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A realização de um trabalho coletivo interdisciplinar requer a interação das
pessoas que constituem o corpo de profissionais que estão juntos para refletir sua
prática, isto demanda que se tenha uma lógica de trabalho equânime e uma
discussão coletiva sobre o que se pretende trabalhar. No caso da escola em que se
realizou a investigação aqui descrita, o pensar a “Educação em Saúde” em uma
perspectiva de promoção da saúde e prevenção da doença solicita que seu corpo
docente não apenas reflita sobre como elaborar uma proposta de trabalho na escola
em que atua, mas também, pense sobre sua vida neste processo que denominamos
de saúde e doença, e ao mesmo tempo trabalhe suas concepções acerca das
temáticas que fazem parte de toda a discussão sobre o que seja saúde, doença,
qualidade de vida, entre outros elementos importantes.
A discussão sobre “Saúde e Qualidade de Vida” entre docentes de uma
escola pública, a nosso ver, representa um avanço para a saúde pública rumo à
intersetorialidade. É importante ressaltar que a “Educação em Saúde” Não deve ficar
restrita às esferas das instituições públicas de saúde, tais como: a Unidade Básica
representada pelos Postos e Centros de Saúde ou os ambulatórios de Hospitais
Públicos. Todos os setores do cotidiano humano deveriam ter pessoas e espaços
44
para discutir o processo saúde e doença nas suas várias interfaces e convergir os
interesses para esta área, visto que trabalhar nesta perspectiva, principalmente em
uma escola, pode fortalecer e ampliar as ações em saúde, tanto coletivas quanto
individuais, seja com os docentes, alunos, servidores e a comunidade que está no
entorno da escola.
Com este olhar é que a pesquisa ocorreu, e a análise aqui apresentada está
voltada a conhecer, em uma primeira instância, os discursos de alguns docentes de
uma escola pública de Santa Catarina, acerca de alguns termos e/ou temáticas que
são importantes nos estudos realizados sobre “Saúde e Qualidade de Vida” para o
desenvolvimento de atividades de Educação em Saúde e maior aproveitamento dos
recursos humanos, na melhoria das condições de vida individual e coletiva. Antes de
mostrarmos estes resultados e a reflexão concomitante, apresentamos o perfil da
escola e dos docentes que participaram da pesquisa.
A escola: perfil sócio espacial e apresentação dos docentes
A escola de ensino fundamental em que ocorreu a pesquisa está inserida no
bairro Capoeiras, em Florianópolis há cinquenta anos. Está bem localizada e para se
chegar a ela é possível contar com uma oferta grande de transportes coletivos nas
proximidades, além de fácil acesso pela Via Expressa (BR-282) e demais avenidas
quando utilizar transporte próprio. Além disso, possui opções de restaurantes bem
próximos, farmácias, bancos, lanchonetes, supermercados, lojas de artigos
domésticos, clínicas, salão de beleza, entre outras pequenas empresas e comércios.
Sua infraestrutura é considerada satisfatória pelos docentes e demais funcionários,
contendo dez salas de aula, uma sala de computação e vídeo, uma sala de
multimídia, depósito, uma quadra sem cobertura e cozinha.
O quadro de funcionários é composto basicamente por docentes, área
administrativa (direção, assessoria de direção, secretárias), e serviço terceirizado de
segurança, higiene e alimentação. No quadro a seguir, um perfil resumido dos
participantes da pesquisa:
45
Quadro 2. Demonstrativo: docentes da pesquisa
Formação
profissional
Atuação Pós-
Graduação/ Outra
Graduação
Tempo de
Magistério
Carga
horária
Vínculo
Empregatício
Letras-
Inglês
Língua
Inglesa
Especialização
Interdisciplinaridade
(Não-concluída)
18 anos 59 h Efetivo
Pedagogia Artes Artes ( em andamento) 5 anos 40h ACT
Pedagogia Professor
regente
Não possui 25 anos 20h ACT
Pedagogia Professor
regente
Especialização:Mídias
na Educação (em
andamento)
8 anos 40h ACT
Pedagogia Professor
regente
Não possui 23 anos 40h ACT
Geografia Geografia Especialização em
Psicopedagogia
9 anos 40h Efetivo
Fonte: Dados de Pesquisa 2013.
No quadro, apresentamos uma visão geral dos docentes participantes da
pesquisa, sabendo que a carga horária apresentada demonstra o total de horas
aulas trabalhadas semanalmente, dedicadas à escola, com exceção dos dois
professores efetivos que distribuem a carga horária com atividades em outras
escolas privadas. Os participantes têm idade entre trinta e cinquenta anos, dois não
possuem filhos e dois são solteiros. Destes, quatro dependem exclusivamente de
transporte público de casa para o trabalho e vice-versa:
Discursos sobre Saúde e Doença
Para obtermos as respostas quanto aos discursos desejados, segundo
nossos objetivos, realizamos encontros em formato de grupo focal e entrevistas
individuais, e nos posicionamos apenas como agentes mediadores da discussão e
entrevista, não interferindo no pensamento das pessoas, mas possibilitando uma
discussão centrada nos objetivos propostos.
Como questão inicial foi perguntado aos docentes sobre os discursos dos
mesmos sobre os quatro fenômenos do viver humano: Saúde, Doença, Bem-Estar e
Qualidade de Vida e como esses discursos poderiam contribuir para as práticas de
46
Educação em Saúde na Escola. Importante esclarecer que pensamos na „Educação
em Saúde‟ como um elemento importante da „Promoção da Saúde‟ que tem como
objetivo norteador capacitar a comunidade para o cuidado da sua qualidade de vida
em todas as instâncias da sociedade. Isto significa dizer que Estado, comunidade,
famílias e pessoas deverão ser parceiros, e juntos deverão articular-se de modo a
lutar por políticas públicas que levem as pessoas a ter uma melhor qualidade de vida
(MACHADO, et al. 2007; BUSS, 2000).
Ao analisar os discursos, percebeu-se que os entrevistados sentem-se
fortalecidos quando tratam os assuntos de sua experiência pessoal e profissional na
coletividade, ao mesmo tempo em que demonstram fragilidade, insegurança e
aborrecimento nas falas individuais. Esta atitude se explica, segundo Araújo e Rocha
(2007), porque há um mecanismo de construção no trabalho em equipe, na qual um
profissional transforma sua prática reconstruindo-se na prática do outro, até serem
transformados para a atuação no contexto em que estão inseridos. Os discursos que
se tornam coletivos ou em grupo são dirigidos de forma a estimular o pensamento
do outro, com argumentos complementares para a solução de problemas comuns a
todos e todas. Quando este tipo de fala ocorre, há uma disposição em ouvir e
sustentar a opinião do grupo, um momento em que todos se mostravam dispostos à
colaboração e encorajados ao exercício da profissão.
Dos seis integrantes do grupo, cinco concordam que Saúde não é ausência
de doença e todos os docentes afirmam que Qualidade de Vida está associada ao
Bem-Estar físico, mental, social e espiritual. Nas falas a seguir, alguns exemplos:
Quadro 3. Discursos sobre Saúde e Doença
Eu tenho hepatite B, faço tratamento e quem diz que eu tenho uma doença? Quem diz? Porque eu
não me deixo abater! Porque eu tenho metas, objetivos, família, amigos... (PP1-GF).
Se você tem uma boa qualidade de vida, você passa a ter bem-estar. Se você tá bem com as
pessoas, com você mesmo, com os amigos, se tem conforto, aí você tem bem-estar (PP2-GF).
Porque se tu tens uma doença e consegue sorrir ainda, se tu tá bem consigo mesmo, você consegue
ser feliz, mesmo doente. E mesmo você não estando doente, mas se tu não é feliz no que tu faz, na
maneira que tu vive, com as pessoas que tu vive, tu acaba se tornando uma pessoa doente sem
doença! (PP3-EI).
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Acho que saúde é não sentir dor. A dor mostra que alguma coisa tá errada. Você dorme pouco, você
trabalha até tarde, tem um monte de coisa pra fazer em pouco tempo. Teu corpo vai chegar uma hora
que vai cansar, você insiste no funcionamento dele assim e vai perder a saúde porque não tem mais
aquela coisa funcionando direito (PP6-EI).
O estresse faz a garganta doer. Você não fala o que deveria falar pras pessoas. Cuidar da garganta
não é só tomar remédio. Você não tem que apenas cuidar do corpo, mas tem que cuidar do espírito!
(PP2-EI).
Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.
Nos depoimentos, percebe-se claramente que a categoria „saúde‟ está em
oposição à de „doença‟, ao mesmo tempo em que entrelaçam as concepções sobre
estes dois elementos associando em alguns momentos as categorias „bem-estar‟ e
„qualidade de vida‟ como parte de um discurso de gostar do trabalho, do que se faz,
etc.
Figura 1: Discursos sobre Saúde
Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.
Refletindo sobre como a categoria „Saúde‟ é concebida pelos docentes,
percebemos que falar de saúde não equivale a falar de „não doença‟, na verdade, o
falar em saúde até implica-se afirmar ter uma doença (a hepatite, por exemplo), mas,
ao mesmo tempo, foge da conceituação biomédica da doença, afirmando-se que, se
uma pessoa não se „abate‟ e tem „amigos, família, metas e objetivos‟, esta pessoa
não se sente doente. Ou seja, esta pessoa se vê como alguém que supera o
diagnóstico por meio principalmente, da sua rede de relações sociais. Para Ayres
(2007), esta é uma forma de a pessoa perceber-se além da racionalidade biomédica,
SAÚDE
AUSÊNCIA DE DOENÇA E DOR
BOAS REDES E LAÇOS SOCIAIS
BEM ESTAR E QUALIDADE DE
VIDA
48
colocando sua subjetividade como parte do processo de viver com bem-estar e
qualidade de vida, mesmo estando com um diagnóstico de doença.
Ao mesmo tempo, por intermédio das expressões-chaves, os docentes
demonstram ainda que a „saúde‟ tem a ver com uma negação da doença, que
Lefèvre e Lefèvre (2004) denominam de negação da negação. Ou seja, eu nego a
doença porque não tenho como cuidar melhor do problema, além daquilo que vivo
neste meu momento da vida e, portanto, tento obter compensações tendo um olhar
positivo que nega, de certa forma, a „racionalidade‟ médica dos problemas de saúde
que o diagnóstico oferece como resposta aos sintomas que carrego em meu
cotidiano. Sobre a categoria „doença‟ percebem-se:
Figura 2. Discursos sobre Doença
Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.
Da mesma forma que a categoria „saúde‟, a „doença‟ não significa exatamente
falar de um diagnóstico. Os fenômenos percebidos como doença estão relacionados
a alguns símbolos e significados da experiência cotidiana dos docentes, a dor
representa a experiência corporal da doença e o excesso de trabalho, o dormir
pouco, a tristeza de ter que trabalhar mesmo sem gostar, representa a experiência
„emocional e espiritual‟ da doença. Estas concepções de saúde e doença estão
associadas a um modelo cultural de perceber o processo saúde e doença com
símbolos que refletem o arcabouço cultural das pessoas. Sabemos que as
preocupações com a saúde e a doença são universais, contudo, cada grupo cria
elementos para entender e explicar seus problemas e, inclusive, os caminhos a
seguir para chegar a uma solução. A grande questão a se fazer neste momento é:
os docentes pensam desta forma porque a cultura dos mesmos os ensinou sobre
esta „linguagem‟ de doença? Óbvio que não responderemos agora esta questão,
DOENÇA
ESTRESSE
ABATIMENTO
DOR
(CORPO)
PROBLEMAS NAS REDES E LAÇOS SOCIAIS
(RELACIONAMENTOS)
DORMIR POUCO
TRABALHAR NO QUE NÃO GOSTA
TRISTEZA
(ESPÍRITO)
49
porque outras falas e discursos ainda serão refletidos neste tópico, e com eles,
vamos tentar ver os muitos caminhos que existem para se pensar a saúde e a
doença ( LANGDON e WIIK, 2010).
Fazendo um paralelo com o conceito da Organização Mundial da Saúde
(1946), “saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não
consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade”, percebemos, mediante
a pesquisa, que a pessoa não necessita ter um “estado completo” das
características mencionadas pela OMS para ter saúde, surgindo outro componente
de muita importância para os pesquisados: o espiritual. Isso reforça ainda mais a
característica dinâmica e complexa que envolve os fenômenos do viver.
Quando interrogados sobre o adoecer e a doença, os docentes não
demonstraram nenhuma resistência ao argumentar sobre o assunto, relatando fatos
de sua vida cotidiana sem nenhum pudor, fazendo desse momento uma forma de
desabafo e testemunho pessoal. Apenas uma pessoa do grupo relatou doença como
uma experiência que compromete o físico unicamente. O estigma da doença é
superado pelas condições da vida pessoal e coletiva, e todos manifestam que, ainda
que sua condição física esteja debilitada ou limitante, os seus ideais precisam ser
alcançados até mesmo como forma de superação da própria doença.
Quadro 4. Discursos sobre Doença
Doença é consequência de uma vida onde você não se previne e não se cuida. Doença não
está ligada ao hospital ou a casa. Ela é mais uma prisão física, uma condição física, que vem
de alguma coisa que você não tem o que fazer (PP1-GF).
A doença está muito relacionada ao emocional. Eu sinto assim: eu adoeço quando eu estou
com muitos problemas emocionais. Estressado, cada ataque que eu tenho... cada pico de
estresse minha garganta derruba. Sou obrigado a ficar afastado, tomar remédio! (PP2-GF).
Quando eu comecei a trabalhar com uma turma que eu não queria, eu fiquei doente,
depressiva, eu sofri porque não consegui trabalhar a questão psicológica (PP6-GF).
Me senti doente quando me senti impotente. De não conseguir fazer alguma coisa que eu
precisava fazer no trabalho. Super carregada, me causava revolta de não ter apoio da escola
(PP3-EI).
Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.
50
Para Nahas, Barros e Francalacci (2000), a forma com que reagimos ao
estresse, associado ao bem-estar espiritual, é construída a partir dos valores
humanos, dos propósitos de vida e dos relacionamentos de cada um. Para ele, é
preciso um ponto de equilíbrio para reagirmos com segurança e tranquilidade. O que
afeta nossa vida é a maneira com que se reage aos agentes estressantes, e não o
estresse propriamente dito.
Os mecanismos estressores advindos da experiência profissional trazem
respostas diferenciadas pelos docentes. Isso porque, segundo Margis et. al. (2003),
as respostas cognitivas dos indivíduos a esses eventos são pessoais, e partem da
simbolização que é realizada sobre esse evento. Essa compreensão reforça ainda
mais a necessidade de se investigar os conceitos advindos das experiências das
pessoas, a fim de elaborar estratégias de trabalho adequadas à real condição delas,
estimulando o desenvolvimento pessoal, capaz de viabilizar ações em saúde
significativas, a partir do êxito pessoal-coletivo ou coletivo-pessoal.
Discursos sobre bem-estar e qualidade de vida
Nesta análise, salienta-se a relação existente entre Bem-Estar e Qualidade de
Vida, tem ligação direta com o que se concebe como „saúde‟ e como „doença‟
apontada nas falas individuais e do grupo, revelando que todos os discursos são
apontados considerando as perspectivas social, econômica, cultural e espiritual,
demonstrando que o modo de organização da sociedade influencia os valores das
pessoas, direciona suas buscas e oportuniza doenças, como vemos a seguir:
Figura 3. Dinâmica das relações
Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.
•Espiritual •Cultural
•Econômico •Social
Saúde Qualidade
de vida
Doença Bem estar
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As condições socioeconômicas das pessoas têm sido tema de muitos estudos
quantitativos e foco de interesse de muitas políticas sociais. Acontece que os
instrumentos de aferição não exprimem, na realidade, o contexto histórico-social em
que estes se inter-relacionam, sendo resumidos a uma avaliação puramente
associada às condições e aquisições individuais. Procuram avaliar o acesso dessas
pessoas às condições de melhorias de vida, sem avaliar, profundamente, a causa do
não acesso e até as impossibilidades de percepção quanto às suas próprias
necessidades individuais e coletivas.
A respeito desse assunto, Antunes (2008) cita dois paradigmas utilizados em
estudos epidemiológicos para mensurar as condições socioeconômicas, sendo o
primeiro a Liberdade e Oportunidade, e o segundo a Igualdade e Equidade. Desse
modo, o conceito de liberdade se restringe a realização das potencialidades
individuais; e o da oportunidade, segue como consequência do acesso a melhores
condições de saúde. Já, a igualdade e equidade estão relacionadas à exploração e
injustiça social. Aqueles que são privados materialmente têm dificuldades para ter
acesso às condições de melhorias da saúde e, consequentemente, não podem
gozar de boa saúde. Para ele, é preciso refletirmos sobre essa forma de “justiça
social” que está posta sob um contexto neoliberal e, dessa forma, os instrumentos
podem dificultar nossa compreensão quanto às condições socioeconômicas e seu
impacto sobre a saúde.
Devemos levar em consideração que os parâmetros dos quais emergem os
conceitos, vêm de acordo com o sistema neoliberal de pensamento, que influencia
as pessoas de todas as classes sociais, e estes estão presentes até mesmo em
programas de entretenimento vinculados na mídia. Qualidade de vida e bem-estar
atrelados a compras de bens, a um bom plano de saúde, à carreira de sucesso,
fama e status social. É muito clara a associação de que para resolver alguns
problemas sociais, você “tem que ter”. Você deve buscar morar em lugares seguros,
deve ter mais tempo para si mesma, comer bem, pensar em coisas boas, investir em
lazer, investir em educação, etc.
A pessoa passa a ser culpada por não dedicar mais tempo a si mesma, por
não ter condições de investir na saúde, passa a preocupar-se, excessivamente,
cobra-se além do que realmente precisa e deixa de questionar o modo pelo qual as
coisas são impostas. Apresenta temores quanto ao estado de saúde, não suporta
uma condição física de enfermidade, busca soluções e tratamento nos
52
procedimentos que apontam somente para o biológico, como fonte única e eficaz de
se alcançar saúde. Nas falas a seguir, observamos uma „mistura‟ do que muitos
autores consideram como a tônica do pensar sobre o bem-estar e a qualidade de
vida.
Quadro 5. Discursos sobre Bem-Estar e Qualidade de Vida
Pra mim, qualidade de vida seria saber dirigir, tirar a carteira e poder ir a muitos
lugares. Ter tempo para meus filhos e pra mim. Não ficar somente focada no trabalho. Isso
interfere na saúde emocional e reflete no corpo (PP6-EI).
A doença está na cabeça da gente. Ela vem do nosso pensamento. E a qualidade de
vida também, a falta de uma alimentação saudável... (PP4-GF).
Saúde é o bem-estar social. É ter bem-estar no financeiro, sair e fazer alguma coisa
que te dê prazer, sair com as pessoas que você gosta (PP2-GF).
Olha meu exemplo: eu sou cardíaca, tenho problemas mas eu trabalho o dia inteiro. Até me
sinto mal, às vezes. Mas eu tenho que aprender a conviver com isso (PP4-GF).
Saúde é bem-estar, estar de bem com a vida, é viver melhor. Quando tu tá bem num ambiente
de trabalho e com a tua própria família. E qualidade de vida tá ligado a isso, se tu tá bem no
trabalho, com pessoas que tu gosta, num ambiente tranquilo e morando num lugar que não
tem que se preocupar com a violência, isso te dá bem-estar (PP3-EI)
Pra mim, saúde é bem-estar, é você estar se sentindo bem fisicamente e psicologicamente pra
desenvolver sua atividade profissional e até mesmo sua diversão (PP1-EI).
Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.
Segundo Bub (2001), a saúde deve estar vinculada ao bem-estar e ao valor
social para poder compreender a dimensão biológica, sem excluir essa ou aquela.
Todavia, a dimensão biológica, nos dias atuais, tem sido foco nas atividades
escolares, sobrepondo outras dimensões maiores que o biológico, como a
determinação social. Não somos um aglomerado de seres biológicos ou um conjunto
de indivíduos. Pertencemos a uma dimensão social dinâmica, que se articula com
outras dimensões e que se sobrepõe a elas. Por isso mesmo é importante que se
reconheça o caráter social do processo saúde e doença no cotidiano humano.
53
Segundo Kluthcovsky e Takayanagui (2007), os aspectos conceituais sobre
qualidade de vida vêm sofrendo mudanças nos enfoques, adquirindo mais sentido
com o passar dos anos, considerando além de aspectos objetivos, os aspectos
subjetivos. Certo de que essa subjetividade também não é pura, e sim influenciada
por várias percepções. Porém, a relatividade dos conceitos é influenciada pelos
aspectos históricos, culturais e pelos padrões de bem-estar relacionados às
camadas superiores. Além dessa subjetividade, também são consideradas a
multidimensionalidade (física, psicológica e social), a bipolaridade (dimensões
positivas e negativas) e a mutalidade (mudança em função do tempo, local, contexto
cultural e pessoa).
Sendo assim, o melhor entendimento sobre o tema advém de uma busca
intermitente pelas diversas áreas do conhecimento, avaliando pessoas em seus
mais variados contextos de vida, contemplando os aspectos da vida em uma
dimensão sócio-histórica e cultural, integrando conhecimentos ampliados que
possam traduzir o viver.
Dentre outros discursos, destacam-se ainda as relações entre alimentação,
atividade física, bem como a superação de problemas na concepção de saúde e
qualidade de vida. O cuidado com o corpo externo e internamente surge como uma
forma de obtenção da saúde e manutenção dela. O esforço individual e a disciplina
são apontados como sendo o meio para alcançá-la:
Quadro 6. Esforço individual na busca da Saúde, Bem-estar e Qualidade de Vida
Eu cuido bastante da alimentação, eu procuro me alimentar bem. Como muito legume, muita
fruta, não como coisa gordurosa e tento diminuir a quantidade de açúcar no meu café (PP1-
EI).
Eu consigo frequentar a academia, eu consigo pedalar, ter uma alimentação saudável... (PP2-
EI).
Se você tem uma cabeça boa, não se deixa abater por qualquer coisa, acaba superando a
doença (PP3-GF).
Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.
Nos discursos, percebe-se que „qualidade de vida‟ está totalmente associada
com as condições de saúde, alimentação, mobilidade corporal e bem-estar, ao
mesmo tempo em que a falta dessa integração pode levar ao adoecimento. O
54
esforço individual para obtenção desse tipo de qualidade de vida também se torna
notório, reforçando a teoria de responsabilização individual para se alcançar
qualidade de vida e saúde.
Figura 4. Discursos sobre Qualidade de Vida
Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.
Por outro lado, quando as pessoas estão inseridas em equipes de trabalho
mais saudáveis, elas passam a desenvolver funções de forma mais competente e
com maior comprometimento, usufruindo assim, de melhor qualidade de vida. Mas
alcançar esse nível, tido como ideal, de desempenho, requer empenho das duas
partes: das organizações e da equipe de trabalho (MOSCOVICI, 2005).
O trabalho relacionado à Educação em Saúde sofre interferências diárias de
ações da vida humana e tem relação direta com sua qualidade de vida. Quando as
pessoas em questão sentem-se desmotivadas com seu nível de bem-estar e
qualidade de vida, sentem-se fragilizados em sua saúde, comprometendo assim, o
desenvolvimento de ações em saúde no contexto escolar. O trabalhador realiza as
práticas, mas não compreende significativamente as ações, elas passam meramente
como cumprimento do currículo escolar sem grandes motivações pessoais capazes
de gerar mudanças.
QUALIDADE DE VIDA
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL
ATIVIDADE FÍSICA SAÚDE E BEM ESTAR
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Quadro 7. Relação entre Qualidade de Vida e Prática Profissional
O ano passado eu fiquei doente, sem paciência, querendo que o ano passasse logo. Eu
peguei uma turma que eu não gostava de trabalhar e aí me senti mal, desmotivada, meio
depressiva de tanta insatisfação. Nada tava bom! Toda vez que eu faço algo que eu não gosto
eu fico ruim (PP6-EI).
Eu adoro o que faço. Adoro! Mas quando a gente é mal vista na escola, quando as pessoas
não entendem o que a gente faz e fica de cara feia, não apoia, a gente trabalha desmotivada,
sem vontade de vir pra escola. E o trabalho não é o mesmo (PP3-GF).
A gente até tira as medidas dos alunos, pega o IMC, faz os relatórios que o pessoal da saúde
pede mas a gente não tem nenhum retorno, eles não falam nada, não resolvem nada na
questão dos óculos das crianças... A gente faz por fazer, né? (PP5-GF).
Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.
A maior motivação para o trabalho em saúde deve ser uma atividade prática
sustentada na reflexão e na teoria. A atividade prática deve se conformar à teoria e
esta à prática. Uma questão de práxis individual, na qual a atividade prática é
inseparável dos fins que a consciência traça, em um processo de construção que
sofre mudanças pelo próprio processo prático, que só termina quando o resultado
ideal já é um produto real (VASQUEZ, 1977).
Nessa concepção, teoria e prática são complementares e indissociáveis.
Deve-se, sobretudo, compreender a realidade, sob uma reflexão teórica para uma
prática social transformadora que leva em consideração os aspectos objetivos e
subjetivos. Falar de saúde, qualidade de vida, bem-estar e outros fenômenos do
viver sem uma concepção prévia, elaborada a partir de uma reflexão crítica,
fundamentada em uma teoria que fundamente a ação, apenas contribuirá para
formação de atividades pedagógicas desarticuladas da realidade social.
Condições para o desenvolvimento de ações em saúde na escola
A participação dos pais na escola teve um importante destaque nos discursos
dos docentes e relatam ainda que o desenvolvimento de qualquer ação em saúde
somente terá efetividade se os pais se envolverem nesse processo. A qualidade das
ações depende diretamente da forma com que as famílias compreendem saúde,
qualidade de vida e bem-estar. Segundo os docentes, a partir do momento que são
56
trabalhadas atitudes favoráveis ao desenvolvimento da saúde, a família tem que
incentivar as ações de forma direta ou indireta, cooperando na elaboração e
efetivação das práticas. Os conceitos modernos de educação e de promoção da
saúde adotam uma abordagem participativa, em uma comunidade escolar, e entre
os seis elementos apresentados destacamos três:
a. O „ambiente social da escola‟ que é a qualidade das relações dos docentes e
funcionários com alunos e estes entre si, influenciada pelas relações de qualidade
com os pais e com a comunidade;
b. A „ligação à comunidade‟ que consiste em conexões entre a escola e famílias e
com grupos ou pessoas-chave da comunidade que possam auxiliar a escola como
promotora de saúde, oferecendo aos alunos, docentes e funcionários o contexto e o
apoio necessários para as suas ações;
c. E, os „serviços de saúde‟ que são os serviços de saúde locais e regionais,
próximos à escola ou dentro delas com a responsabilidade dos cuidados de saúde e
da promoção da saúde (LEGER, et al., 2008).
Da mesma forma que os pais são responsabilizados, a área da Saúde surge
como coadjuvante no processo de saúde na escola. Eles precisam da presença dos
profissionais na escola, para dar suporte teórico e prático na rotina da escola. Os
docentes alegam falta de conhecimento para uma abordagem adequada e a
inexistência de suporte pedagógico como: material audiovisual, próteses, brinquedos
pedagógicos, espaço físico adequado para atividades físicas e laborais.
Quadro 8. Prática Profissional e Relações Humanas
Não é somente a escola. Você tem que ter uma relação com os pais. Quando os pais estão na
escola, a coisa fica diferente. Você vê a coisa acontecer (PP6-GF).
A área da saúde poderia trazer uma fono, um dentista, um médico aqui. Tem que unir a aula
teórica com a prática. Não adianta, nós, professores, darmos aula teórica. A gente deveria
fazer parcerias(PP5-GF).
Nós deveríamos ter menos vínculo com outras escolas e dedicar um pouco mais em nossa
saúde e na saúde dos alunos. Fazer mais projetos, traçar mais objetivos, viver com qualidade
de vida pessoal e no trabalho (PP2-GF).
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A gente deveria ser melhor capacitado pra falar desses assuntos. A gente mal recebe
formação em nossa área. Aí chega aqui, depara com um tanto de problema, a gente se sente
incapaz de fazer alguma coisa. Mas tem que fazer algo! (PP4-GF).
Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.
De acordo com os docentes, os resultados das ações em saúde na escola
são apenas temporários, sem muita abrangência, pois os alunos apresentam
dificuldades maiores, como: nível socioeconômico baixo, ausência dos pais em
casa, alimentação inadequada e alta rotatividade de professores durante os anos
letivos. Isso dificulta a interação dos docentes e desestimula a elaboração de
projetos em longo prazo, como estes que envolvem a saúde, pois abrangem
questões complexas de ordem social.
Sobretudo, o fato é, que ainda persiste a existência de uma escola
fragmentada, compartimentada, que trabalha de forma mecanicista. Uma escola que
resiste a mudanças, carregando o fardo do conservadorismo. Por isso acaba sendo
conflituosa por não conseguir dar respostas aos problemas (MOURA, et. al. 2007).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A implementação das ações em saúde são pouco satisfatórias no contexto
escolar, e até mesmo vista como sobrecarga de trabalho por parte de alguns
docentes pela própria disparidade de conceitos sobre o que seja responsabilidade
da escola, responsabilidade da área da saúde, das famílias ou de outros órgãos. A
falta de preparo da comunidade acadêmica expõe seus integrantes ao risco e
impossibilita o desenvolvimento de ações concretas que auxiliem na qualidade de
vida e bem-estar.
A falta de educação permanente em saúde fragiliza o trabalho docente e
desfavorece a integração do ensino e prática. A busca pela transformação da prática
somente será possível se houver educação permanente em saúde com reflexão
crítica do modo de viver e das condições de trabalho. Isso contribuirá para a
qualidade dos serviços corroborando práticas autênticas.
Pelos discursos coletados, a visão do conceito de saúde, por parte dos
docentes, já está sendo aprimorada para uma compreensão mais ampliada dos
aspectos do viver, de modo a contribuir para uma vida mais significativa, capaz de
58
considerar sua importância e a do outro, produzindo ações que contribuam para o
desenvolvimento da escola de acordo com a realidade local.
De acordo com os discursos sobre saúde, bem-estar, qualidade de vida e
doença dos docentes, a escola caminha para um pensamento reflexivo sobre suas
práticas, voltado para a qualidade de vida de toda comunidade acadêmica, a fim de
produzir mudanças reais no estilo de vida, práticas de ensino e políticas sociais.
Cônscios de sua fragilidade pessoal e profissional, mas receptivos a mudanças, eles
consideram sua importância no processo de saúde e demonstram total interesse em
desenvolver ações que estimulem aspectos da saúde individual e coletiva.
Um dos dados mais significativos do trabalho foi o de constatar que apesar
dos obstáculos referidos e dificuldades pessoais, o grupo sente-se muito confortável
quanto ao trabalho coletivo, e suas opiniões não são conflitantes, mas harmoniosas,
até mesmo na heterogeneidade de saberes. A corresponsabilização da sociedade
para alcançar saúde, bem-estar e qualidade de vida foi muito evidente, e não
descaracteriza o trabalho docente, apenas amplia a maneira de ver e viver saúde.
Por intermédio do modo com que foram qualificados os quatro fenômenos do
viver supracitados, entendemos que a saúde é um processo modelado pelas
condições físicas, emocionais e socioeconômicas, e que a doença é uma limitação
física ou psicológica que pode ser superada pelo psicossocial aliado ao espiritual.
No que se refere à qualidade de vida, o que mais importa é a expectativa de saúde
alcançada, juntamente com o êxito nas metas individuais e profissionais.
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62
3 PROMOÇÃO DA SAÚDE NO CONTEXTO ESCOLAR: DISCURSOS DE
DOCENTES DO ENSINO FUNDAMENTAL
Ioná Outo de Souza Wilberstaedt Márcia Gilmara Marian Vieira
Yolanda Flores e Silva RESUMO: O Processo de Promoção da Saúde no contexto escolar se efetiva com ações de Educação em Saúde, não só ancoradas no conhecimento científico, mas também baseadas no complexo contexto das relações sociais. Diante disso, surgiu a necessidade de compreender as ações de Educação em Saúde no contexto escolar para a Promoção da Saúde, tendo como objetivo refletir coletivamente sobre Promoção da Saúde no contexto escolar e discutir ações que possam ser efetivadas a médio e longo prazo mediante atividades interdisciplinares de Educação em Saúde para o desenvolvimento de práticas significativas na vida das pessoas da comunidade acadêmica. O percurso metodológico adotado foi qualitativo, com coleta exploratória, compreendendo revisão teórica, trabalho de campo, observação participante, formação de grupo focal e entrevistas individuais semiestruturadas com docentes de uma escola pública estadual do ensino fundamental de Santa Catarina. Dos dezesseis docentes convidados, que atendiam aos critérios da pesquisa, como tempo superior a cinco anos de Magistério (em serviço público ou privado), que possuíam maior vínculo com o Estado e que já haviam trabalhado com Educação em Saúde, somente obtivemos participação de seis pessoas no grupo focal. Para a entrevista individual, foram selecionados quatro destes, de acordo com a procura dos próprios docentes. Todas as entrevistas e conversas do grupo focal foram gravadas e, posteriormente transcritas. A análise, segundo o método interpretativo, constituiu-se de momentos de observação, organização das falas, criação de códigos e símbolos, além de expressões-chave e ideias centrais que melhor identificavam o pensamento das pessoas. Todas as conversas, na forma de falas, gestos, símbolos ou expressões foram analisadas à luz da experiência dos pesquisadores e dos referenciais pertinentes à temática. Para os docentes, a Promoção da Saúde é resultante, sobretudo, das necessidades biológicas, de acordo com o modelo biomédico. Já, a Educação em Saúde, emerge ainda de uma realidade influenciada por programas vinculados à saúde, e não como instrumento emancipatório, onde a comunidade escolar faz parte do processo em uma relação dialógica e conscientizadora. Para superar a falta de diálogo e emancipação, os docentes decidiram realizar, a médio e a longo prazo, atividades que estimulem as relações sociais, facilitando assim, a aproximação dos pais na escola e a incorporação de meios que estimulem o cuidado de si, como alimentação apropriada, atividades físicas coletivas, por meio de práticas pedagógicas propiciadoras de uma interação entre os membros da comunidade acadêmica, em um processo inter/transdisciplinar, na interação uns com os outros, mesmo diante das questões adversas que o próprio trabalho lhes impõe. Palavras-chave: Docentes. Educação em Saúde. Promoção da Saúde. Saúde.
63
INTRODUÇÃO
A maioria das pessoas, de uma forma ou outra, anseia por uma vida
satisfatória e significativa durante o seu tempo de existência, em todas as esferas e
fases de sua vida. Dessa forma, é preciso entender os processos pelos quais as
pessoas conseguem alcançar saúde e bem-estar, levando-se em consideração os
aspectos biológicos, psicossociais e espirituais. Um dos mais importantes desafios
diz respeito às condições de saúde das pessoas, como elas entendem esse
fenômeno e até que ponto se sentem responsabilizadas pela sua própria saúde e
pela dos outros.
O espaço onde as pessoas se relacionam traduz e demonstra suas
concepções de mundo, e é um importante meio de construção de modos de
enfrentamento aos problemas do cotidiano. Corresponde a um espaço de educação
mútua, de construções sociais do caráter e ideais. Partindo da compreensão de
Libâneo:
Educação corresponde, pois, a toda modalidade de influências e inter-relações que convergem para a formação de traços de personalidade social e do caráter, implicando uma concepção de mundo, ideais, valores, modos de agir, que se traduzem em convicções ideológicas, morais, políticas, princípios de ação frente a situações reais de desafios da vida prática (LIBÂNEO,1992, p.22).
Para Brandão (2007) ninguém está fora da educação, pois a mesma está
envolvida em todos os espaços da vida, como na casa, na rua, igreja, escola, de
várias maneiras, em uma interação de aprendizagem, ensino ou em um processo de
aprender - e - ensinar.
Sendo assim, o cotidiano escolar é apenas um dos espaços para o estudo
das condições de vida das pessoas, pois em seu meio agrega condições de vida em
suas mais variadas etapas e situações sociais, com profissionais de diferentes
áreas, que por meio de um trabalho transdisciplinar podem convergir o
conhecimento em ações práticas que atendam as pessoas em suas expectativas de
vida, amenizando a situação de vulnerabilidade social, promovendo saúde no
contexto escolar.
A escola pode ser um agente transformador da realidade, uma vez que em
seu meio estejam inseridos personagens importantes do cenário social, além de
64
possibilitar representações futuras de profissionais em vários segmentos da
sociedade. Desse meio, podem emergir movimentos de mudança e mobilização
social no avanço da promoção da qualidade de vida. Práticas educativas que
possibilitem as transformações individuais e sociais (MOURA, et al., 2007).
Para se promover saúde no contexto escolar é preciso avaliar as condições
em que está inserida a comunidade acadêmica, entendida aqui como docentes,
alunos, pais, área administrativa, equipe de higienização e limpeza, etc., pois todos
estão envolvidos no processo educativo e, de forma direta ou indireta, contribuem
para a educação. Reconhecendo a importância desse processo de conhecimento
dos membros da comunidade acadêmica e percebendo sua amplitude, partimos a
conhecer, primeiramente, a concepção dos docentes, para posteriormente, mediante
o próprio desenvolvimento do trabalho de Educação em Saúde tornar conhecidas as
concepções dos demais membros dessa comunidade.
Para Rocha e Fernandes (2008), existe urgência em desenvolver ações de
promoção de saúde para esse grupo, em específico, sobre a qualidade de vida de
docentes do ensino fundamental, que se conformam com o quadro desanimador em
que se encontram, levando-se em consideração as condições de trabalho e de vida
na escola.
Por intermédio do compromisso social que a escola exerce com a
comunidade acadêmica, pode possibilitar um espaço de promoção à saúde voltado
à necessidade da própria comunidade e centrado no desenvolvimento dinâmico de
ações significativas que levam a tão desejada qualidade de vida.
O comprometimento da área da Saúde, aliado a ações integrativas com a
Educação, pode promover um ambiente interdisciplinar capaz de propiciar meios de
se elaborar propostas de trabalho qualificadas para o desempenho da função e
condições necessárias para viver em um estado de saúde física, emocional e social.
Atualmente, existe o Programa Saúde na Escola (PSE), estabelecido por
Decreto Presidencial nº 6.286, de 5 de dezembro de 2007, com intuito de ampliar as
ações específicas de saúde aos alunos da rede pública, tanto de ensino fundamental
e médio, como da educação profissional, tecnológica e educação de jovens e
adultos, um trabalho integrado entre o Ministério da Saúde e da Educação (BRASIL,
2008).
O fato a ser pensado agora é em relação à integração desses setores. De que
forma é dialogada a experiência da escola e de que forma são traçados os planos de
65
ações, pois a escola tem uma dinâmica cultural extremamente vigorosa, espaço de
referência para crianças e adolescentes que desenvolvem experiências significativas
em seu âmbito, um espaço de transição entre o mundo da casa e o mundo mais
amplo. A cultura escolar é instituinte de práticas socioculturais mais amplas,
ultrapassando as fronteiras da escola (BRASIL, 2009).
Diante do exposto, o diálogo dos setores da educação e saúde deve ser
interativo, constante, permanente e integrativo. Entendemos que existam
dificuldades nesse processo de aproximação, por questões pessoais e burocráticas,
mas são necessárias atitudes que promovam essa iniciativa, pois a educação em
saúde não é apenas uma alternativa, e sim, uma prioridade para fins de promoção
da saúde no desenvolvimento de hábitos e atitudes saudáveis e ações no plano
coletivo que priorizem as questões sociais.
Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi o de refletir coletivamente sobre
Promoção da Saúde no contexto escolar e discutir ações que possam ser efetivadas
a médio e longo prazo, mediane de atividades interdisciplinares de Educação em
Saúde para o desenvolvimento de práticas significativas na vida das pessoas da
comunidade acadêmica.
PERCURSO METODOLÓGICO
Para efetivarmos o estudo proposto, adotamos a abordagem qualitativa com
caráter exploratório e descritivo, para obtenção dos dados. O método qualitativo foi
escolhido porque permite um diálogo reflexivo e autocrítico, problematizando e
revelando realidades ocultas, mostrando que ciência e realidade são socialmente
construídas (GRAY, 2012).
A pesquisa qualitativa fornece uma narrativa da visão da realidade dos
indivíduos, sendo altamente descritiva. Ela ainda dá ênfase aos detalhes
situacionais, permitindo uma boa descrição dos processos. Ainda é flexível, criativa
e informal, gerando esclarecimentos sobre uma determinada situação, aprimorando
as ideias, podendo ser utilizada quando há pouco conhecimento sobre o tema
(GEPHART, 2012; AAKER, et. al, 2004).
66
Como ferramentas de coleta de dados, no sentido de melhor compreender a
dimensão da promoção da saúde no contexto escolar, a partir dos discursos dos
docentes, utilizamos as técnicas do grupo focal e entrevistas semiestruturadas.
Entendemos que o grupo focal consiste na interação entre os participantes e
o pesquisador, uma forma de se obter entendimento de diferentes atitudes e
percepções acerca de práticas, serviços e fatos, para coletar dados, a partir da
discussão direcionada em tópicos diretivos e específicos (IERVOLINO e
PELICIONE, 2001).
O tamanho adequado para a composição de um grupo focal é aquele que
possibilita a discussão participativa, de forma efetiva e adequada aos temas
(PIZZOL, 2004). O grupo de docentes que participou do Grupo Focal desta
investigação compreendeu seis participantes. A escolha do uso da técnica do grupo
focal foi determinada em função do grupo social a ser trabalhado e do caráter
homogêneo dos participantes (IERVOLINO e PELICIONE, 2001; GATTI, 2005). As
pessoas convidadas a participar da pesquisa já trabalhavam há um ano com uma
das pesquisadoras, e por isso, pela pesquisa participante, foram acrescidas neste
trabalho todas as observações do trajeto de trabalho com Educação em Saúde do
grupo e outras atividades afins que ocorreram no trajeto do projeto.
Dividimos as oficinas em quatro sessões, com duração de três horas cada,
em dois dias consecutivos e em outros dois dias intercalados, a pedido dos
participantes, totalizando doze horas de duração. Cada sessão iniciou com dinâmica
de grupo, precedida de conversas, momento de confraternização, momento de
construção coletiva, intercalados com ginástica laboral ou técnica de relaxamento.
A abordagem do tema seguiu a metodologia do Círculo de Freire (1983a),
constituída de três momentos, segundo Wittman, et. al (2006): momento
investigativo, que consiste na busca da origem do problema, definindo-o e
problematizando; momento de tematização, em que há uma profunda relação entre
o conhecimento dos participantes e conhecimento científico para reflexão e o
momento de proposição em que se elabora, programa, executa uma proposta para
solucionar o problema.
Todas as oficinas aconteceram nas dependências da escola, em uma sala à
parte, com espaço para realizar dinâmicas e atividades pedagógicas e em uma
praça em frente a ela.
67
Para complementar os dados coletados no Grupo Focal, convidamos quatro
(04) dos seis (06) docentes a participarem desta segunda etapa da pesquisa. Essa
técnica nos permitiu confirmar os dados coletados, de forma coletiva, e no
esclarecimento das questões pertinentes ao modo de vida das pessoas. O critério
adotado para o número de participantes na entrevista individual consistiu na
possibilidade de abrangência do máximo de participantes do grupo focal para
comparação dos dados.
As entrevistas individuais foram realizadas com roteiro semiestruturado, o que
segundo Gaskell (2004) é uma ação de interação, entre duas pessoas, o
entrevistador e o entrevistado. Uma combinação de perguntas abertas e fechadas
na qual o pesquisado discorre sobre o tema proposto, em um espaço de conversa
formal, seguindo questões previamente definidas, sempre atento para dirigir a
discussão para o assunto que interessa, fazendo perguntas adicionais, direcionando
para o tema, a fim de alcançar os objetivos (BONI e QUARESMA, 2005).
Para a entrevista individual, foram selecionados os quatro primeiros
participantes que aceitaram o convite de entrevista individual. Os participantes
solicitaram o dia e a hora em que seriam entrevistados, de acordo com sua rotina de
trabalho, nos intervalos das aulas ou durante as horas atividades. Dois dos docentes
selecionados eram efetivos, e dois admitidos em caráter temporário. As entrevistas
aconteceram em uma sala reservada pela escola para a recepção de pais, pois o
lugar proporcionava melhor acolhimento e maior privacidade.
O local da coleta de dados para realização do grupo focal e entrevistas foi
uma escola pública de ensino fundamental, em Florianópolis-SC. Os informantes
selecionados são docentes, com tempo de serviço superior a cinco anos,
considerando setor público ou privado, e que já trabalharam com alguma atividade
de educação em saúde. Seis docentes participaram da pesquisa por meio da técnica
de grupo focal e quatro destes participaram da pesquisa individual.
A análise dos dados foi realizada após transcrição das entrevistas coletivas e
individuais que foram gravadas em áudio e vídeo por uma assessora de
comunicação da própria escola, e subdivididas em novas categorias e temas
centrais. A organização das falas e sua interpretação aconteceram paralelamente
com a coleta, pois se observavam os gestos, os olhares, as expressões, entre outras
formas não verbais, com abordagem interpretativa, segundo Geertz (1986) um
68
clássico da antropologia que trata das análises discursivas não apenas do que falam
os informantes, mas também, como as pessoas se colocam quando discursam.
Para não identificar os participantes, a apresentação destes e suas falas foi
feita mediante símbolos: PP para Professor Participante, seguidas da numeração
algorítima (PP1, PP2, PP3, PP4, PP5 e PP6); GF para as falas oriundas do Grupo
Focal e EI, das que foram conseguidas por meio de Entrevista Individual.
EDUCAÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE
A - Educação e o trabalho docente
Falar de Educação, é falar de autores clássicos, de debates que não são
novos; porém, atuais, embora com datas que transcendem os séculos. Delors
(1996), ao falar do relatório encaminhado à UNESCO, na década de 1990, sobre a
missão da educação no século XXI, mostra a necessidade de pensarmos nas quatro
aprendizagens fundamentais para docentes e alunos: aprender a conhecer,
aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. A ideia a repassar era que
autonomia e discernimento somente são possíveis se pensamos nestas quatro
formas de aprendizado, que no entender do autor, abrange todos os processos
formativos necessários para que a „educação‟ possa sair das escolas e ser parte de
toda a vida humana – família e grupos sociais, de acordo com a Lei 9.394/96, em
seu artigo primeiro (BRASIL, 1996).
Os variados conceitos apresentados aqui sobre a educação e o conhecimento
não fazem parte de um conflito epistemológico, mas de uma demonstração de como
as mais diversas linhas epistemológicas podem convergir pensamentos, na
complementação ou ampliação dos conceitos.
No sentido amplo e universal, a educação deveria assegurar às pessoas o
desenvolvimento de suas habilidades e potenciais físicos e espirituais em um
processo de crescimento pessoal, com aptidões e metas sociais desejáveis
(NUNES, 2004).
A escola pode ser o canal que se interpõe entre a família e a sociedade, um
meio de possibilitar condições cognitivas abertas na construção de vias de
melhoramento das condições de vida. O conhecimento, segundo Morin (2007),
quando situa toda informação em seu contexto, no conjunto global no qual se insere
69
torna-se pertinente, devendo mobilizar a atitude geral do espírito humano para
propor e resolver problemas.
As práticas educativas geradas nas instituições de ensino, influenciadas pelos
diversos poderes atuais, geram um conhecimento desconexo, sem vinculação ao
cotidiano e com inclinações às sujeições e domínio de classes, contrariando a
liberdade de pensamento e ações emancipatórias que se deseja alcançar. A
verdadeira educação deveria instrumentalizar as pessoas e fazê-las conhecedoras
de si, empoderando-as para os desafios da sociedade.
De acordo com Bulgraen (2010, p. 33-35), a educação está na formação de
sujeitos autônomos e produtivos, onde o professor atua como mediador do
conhecimento, em uma ação pedagógica da prática social que se estabelece pelos
seguintes passos:
1- Identificação: os principais problemas são identificados pela prática social;
2- Problematização: são levantadas questões a serem resolvidas no âmbito
da prática social para saber que conhecimento deve ser dominado;
3- Instrumentalização: as camadas populares se apropriam de ferramentas
culturais que foram produzidas socialmente e preservadas historicamente,
e os alunos se apropriam dela, pela intervenção direta ou indireta do
professor;
4- Catarse: incorporação dos instrumentos culturais que passam a ser
elementos ativos de transformação social. O professor provoca outros
significados e sentidos para o saber do aluno, articulando conhecimentos.
5- Prática social: os alunos passam a ter a competência de expressão do
entendimento da prática tanto quanto o professor.
Esse é o tipo de educação que se espera alcançar. Uma educação que
estimule os participantes a refletirem, a buscar resolver seus anseios pela
participação direta e comprometida com a prática significativa de transformação
social. Parte do princípio que as pessoas são agentes transformadores da realidade
vivida e que podem ter autonomia sobre si. No contexto escolar, as práticas
pedagógicas seguem uma sistematização que empodera as pessoas, de forma a se
tornarem livres para expressar, participar e colaborar com o processo de ensino-
aprendizagem.
70
Essa forma didática e sistemática apresentada por Bulgraen (2010) necessita
ser amparada por toda instituição escolar, de forma a contribuir com a prática
docente e valorização das pessoas envolvidas, pois a prática pedagógica
emancipatória se estabelece em um contexto no qual as pessoas se percebem e
interagem para buscar soluções.
Os professores são agentes de gestão do seu trabalho docente porque
utilizam-se de seus próprios recursos e potencialidades para executar seu trabalho,
sendo centro singular dele, preenchendo as deficiências das normas, das ordens e
conselhos (MOURA, 2009). O educador se torna centro singular quando se
reconhece que não é o fim em si mesmo, e sim, um moderador das práticas
pedagógicas que articulam o conhecimento adquirido ao conhecimento
experienciado.
A cada proposta de estudo, a cada momento da convivência escolar, os
docentes devem lembrar que estão participando ativamente na formação de
pessoas, confirmando valores e experienciando atitudes emancipatórias promotoras
de um conhecimento libertador. Desde a divulgação dos PCNs (Parâmetros
Curriculares Nacionais), no final da década de 90, a política educacional tem
buscado o resgate da dívida histórica com a sociedade, em função da exclusão
escolar e má-qualidade do ensino, com políticas que incluem a participação da
sociedade na elaboração e desenvolvimento de projetos pedagógicos nas escolas,
para melhoria da qualidade da educação (SANTIAGO, 2012).
O Projeto Político Pedagógico (PPP) é um instrumento da comunidade
acadêmica que pode possibilitar ações de práticas educativas em saúde. A análise
escolar e a mera idealização de uma escola e de um aluno a ser formado, segundo
Asbahr (2006) terão pouca finalidade. O projeto só tem razão de ser se possibilitar a
ação de mudança, levando-se em consideração o estudo, a realidade e os sonhos.
Esse plano de ação deve ser coordenado, envolvendo os diversos segmentos da
escola, convergindo os interesses pessoais para os interesses coletivos.
O esforço dos docentes em elaborar coletivamente propostas de Educação e
Promoção em Saúde deve envolver comprometimento, com medidas que se
legitimem e se sustentem. A inserção dessas medidas no PPP só confere autonomia
à escola, enfatizando a responsabilidade de todos e empoderando as pessoas
envolvidas.
71
A emancipação dos alunos, enquanto sujeitos sociais, pode ser conquistada
se os professores, sujeitos construtores, atores/sujeitos sociais do processo
educativo, mediadores da cultura e dos saberes, tradutores da ideia oficial para o
contexto da prática, recriarem o currículo escolar mediante o confronto com as
questões comuns à sala de aula. Isso exige do professor uma capacidade de
reflexão e dedicação profissional além do conhecimento e sensibilidade. O professor
é o intelectual crítico que desvela o oculto (CRUZ, 2007).
Seguindo o pensamento acima, de que o professor necessita de capacidade
reflexiva e dedicação profissional para elaboração de um currículo condizente com o
contexto escolar em que está inserido, passaremos a refletir sobre as condições de
trabalho que os docentes dispõem para se tornar intelectuais críticos e agentes
sociais.
A escola burocrática mudou; contudo, não estamos diante de uma escola
democrática, pautada no trabalho coletivo, por uma educação de qualidade com a
participação dos sujeitos. A falta de adequações necessárias para o trabalho
pedagógico reestruturado implica a precarização do trabalho docente. O aumento
dos contratos temporários que podem corresponder aos números de trabalhadores
efetivos em alguns estados, salários baixos, inadequação ou ausência de planos de
cargos e salários, perda de garantias trabalhistas e condições de trabalho tornam
mais precários o emprego no magistério público (OLIVEIRA, 2004).
Partindo desse modelo de trabalho, a própria inserção do professor no
magistério público já significa um agravante que determina sua atuação no processo
de trabalho o que torna limitada sua dedicação profissional. Por conseguinte, a
elaboração de um currículo que contemple as necessidades da escola, com
características próprias da comunidade escolar, construído pelo ator principal e
agente social que conhece o âmbito escolar, torna-se mais uma exigência a ser
cumprida, e não um facilitador das práticas pedagógicas e instrumento de mudanças
sociais.
Para Assunção e Oliveira (2009), a organização e gestão escolar sofreram
grande impacto pelas mudanças das políticas educacionais das últimas décadas.
Com o aumento da demanda escolar, sem condições de atendimento, intensificou o
trabalho docente em termos de qualidade da atividade e do bem ou serviço
produzido. Pela falta de tempo, os professores têm que eleger o que consideram
72
central e o que pode ficar em segundo plano diante da sobrecarga e a
hipersolicitação.
Diante disso, a prática de transmissão de conteúdos, contemplando apenas a
grade curricular, fica ainda mais reforçada, e os outros aspectos sociais, emergentes
do convívio social, passam por alto, sem a devida valorização dos sujeitos
envolvidos, inclusive dos próprios docentes.
E ainda, para atingir os objetivos da produção escolar, os docentes podem
gerar um sobre-esforço de suas funções psicofisiológicas, provocando seu
afastamento do trabalho por alterações de sua saúde, como transtornos mentais,
doenças do aparelho respiratório, doenças do sistema osteomuscular, tecido
conjuntivo, doenças endócrinas, etc. (GASPARINI, BARRETO e ASSUNÇÃO, 2005).
Vale ressaltar que o estresse, as doenças cardiovasculares, neurose, insônia
e tensão nervosa, além de faringites e labirintites são elencados quando surgem
problemas de saúde e redução da frequência no trabalho pelos docentes. O
estresse docente está associado aos fatores psicológicos, como ansiedade,
depressão, irritabilidade, hostilidade e exaustão emocional, e isso causa
repercussão na saúde física e mental e no desempenho profissional, porque ensinar
é uma atividade estressante (REIS et al, 2006).
Conforme Oliveira e Alves (2005), a percepção dos profissionais de educação
no âmbito escolar é de agentes de alto risco, com situações de mal-estar docente,
por fatores relacionados a características pessoais (contextualização de suas ações
sob as variáveis relativas à tarefa); condições psicológicas e sociais em que exerce
a sua docência, inadequada resposta ao estresse emocional crônico e a
incapacidade de utilização de recursos adaptativos (autoestima, confiança e
competência social).
Nessa fragilidade do trabalho docente é que os professores se encontram
tentando tornar agentes sociais e mediadores do saber, sem as condições
necessárias ao desenvolvimento pedagógico, ao estímulo pessoal, sem aporte
emocional para lidar com sujeitos oriundos de realidades sociais tão discrepantes e
miseráveis, sem autonomia para um trabalho transdisciplinar e intersetorial.
Para Oliveira (2005), o movimento de reforma educacional vivido nas últimas
décadas, traz a flexibilidade, a descentralização, o respeito à diferença e o
reconhecimento da alteridade, e tem feito da escola o lugar de articulação entre o
global e o local, exigindo do trabalhador docente responsabilidade pela mudança
73
nos contextos de reforma, pelo desempenho dos alunos, da escola e do sistema;
responsabilidade pelo êxito ou insucesso dos programas de reforma respondendo às
exigências que estão além de sua formação. Os professores passam a assumir
papéis de agente público, assistente social, enfermeiro, psicólogos, etc., causando
sentimento de desprofissionalização, de perda de identidade profissional.
O trabalho docente passa a ser o mais propício para o desenvolvimento da
Síndrome de Bournout, uma síndrome que se inicia a partir de expectativas elevadas
e não realizadas. As profissões sociais são dotadas de idealismo, na tentativa de
ajudar aos outros e por ansiarem alto grau de liberdade pedagógica e
reconhecimento pelo seu empenho (REIS et al, 2006).
Ainda, Oliveira (2005) menciona que os professores estão envolvidos em uma
ideologia que cultiva e valoriza a diferença, a transdisciplinaridade, o trabalho
coletivo, o desenvolvimento de competências e habilidades, mas que vivem em um
cenário contraditório e ambivalente, pois trabalham com contratos individuais de
trabalho em disciplinas específicas e remuneradas por hora-aula.
Cruz e Lemos (2005) mostram em seus estudos que há uma perda da
qualidade de saúde dos professores, e isso se deve, entre outros fatores, a não
valorização e o não reconhecimento do trabalho docente, caracterizados no
cotidiano escolar por: desrespeito profissional, ampliação da jornada de trabalho,
aumento dos alunos em sala de aula e luta para manutenção no emprego.
Além disso, o quadro docente, em geral, é representado pela classe
trabalhadora feminina, o que sugere que esta profissional, além de seu exercício
profissional, atende as necessidades da família, cumprindo seu papel de mãe e
mulher. Isso amplia o contexto de trabalho e compromete a qualidade de vida
dessas mulheres profissionais que atuam sob condições de trabalho desgastantes
que dificultam o seu desempenho pessoal e profissional.
Vistas as condições do trabalho docente na atualidade, espera-se superar
parte dos problemas, partindo de um trabalho colaborativo em busca da qualidade
de vida no contexto do trabalho e da promoção da saúde. Esse trabalho
colaborativo, parte do pressuposto de Damiani (2008), de que é o que melhor se
adapta a esta classe trabalhadora, visto que neste formato de trabalho, os membros
de um grupo se apoiam, visando atingir objetivos comuns eleitos pelo coletivo, em
uma liderança compartilhada, de corresponsabilização e de confiança mútua.
74
Para a autora, a mera cooperação com a ajuda mútua na execução de tarefas
eleitas individualmente, com relações desiguais e hierárquicas, não resolve o
problema. O ideal é que haja uma cultura de ações realizadas com pessoas que se
reconheçam, reconheçam uns aos outros e busquem superação de seus limites
coletivos. Esse compartilhamento de experiências no corpo docente favorece a
tomada de decisões e resolução de problemas pelo desenvolvimento da análise
crítica.
Todo esse esforço de trabalho colaborativo deve ser pela valorização das
pessoas envolvidas. A formação das pessoas deve abarcar uma atmosfera de
superação, de reconhecimento, de valorização e, acima de tudo, uma busca de um
ideal de vida alcançável, elaborada pelos próprios sujeitos, voltada para o seu bem-
estar e aprimoramento de suas faculdades cognitivas e intelectuais, confirmando a
qualidade de vida.
B - Educação em Saúde: instrumento emancipatório da Promoção da Saúde
De acordo com Buss (2000), a promoção de saúde é uma estratégia
promissora para enfrentar os problemas de saúde, partindo da concepção de que a
saúde é um processo que tem seus determinantes, em uma proposta de articulação
de saberes técnicos e populares, além de mobilização de recursos comunitários e
institucionais (públicos ou privados), para enfrentamento e resolução dos processos
que envolvem saúde-doença.
Segundo ele, as estratégias de promoção da saúde, de acordo com a Carta
de Ottawa, são: a defesa da saúde, a capacitação e a mediação. A defesa da saúde
consiste na luta para que algumas condições sejam mais favoráveis à saúde, como:
os fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, ambientais, comportamentais e
biológicos. A capacitação está em oportunizar o conhecimento e controle dos fatores
determinantes de sua saúde, acesso à informação, habilidades para viver melhor
com oportunidades para fazer escolhas saudáveis. A mediação envolve a
contribuição dos profissionais, dos grupos sociais e pessoal da saúde nos assuntos
relativos à saúde, principalmente nos relativos às políticas públicas saudáveis,
ambientes favoráveis à saúde, ação comunitária, habilidades pessoais e
reorientação do sistema de saúde.
75
Todo esse esforço e lutas não podem ser individualizados apenas. Existe uma
íntima relação com a coletividade, com os aspectos sociais, com ações
comunitárias. A valorização da pessoa e o entorno dela desvia o olhar das
possibilidades individuais e o direciona para o todo, para o conjunto, para as
macropotencialidades humanas geradoras de saúde, bem-estar e qualidade de vida.
Sem dúvidas, a contribuição de Geraldo Horácio de Paula Souza com a
Educação Sanitária nos Centros de Saúde, em 1925, contribuiu para privilegiar o
caráter social de promoção e proteção à saúde (PELICIONE e PELICIONE, 2007).
Porém, o enfoque sanitarista para o conceito de Educação em Saúde ainda persiste
nos dias de hoje. Apenas as questões relacionadas ao biológico são valorizadas nos
programas de educação em saúde. Há uma supervalorização das condutas
biologicistas, uma espécie de negação das questões sociais relacionadas ao
processo saúde-doença ou mesmo uma depreciação dos aspectos socioculturais,
tornando-os de pouca importância.
O que existe é uma aplicação técnica da ciência com exclusão dos aspectos
humanos nas soluções científicas, tornando os problemas sociais e políticos em
problemas técnicos, e não uma ciência com aplicação edificante, em que a pessoa
que manipula está comprometida existencialmente, eticamente e socialmente com o
impacto da aplicação (SANTOS, 2009).
Para se trabalhar Educação em Saúde, no sentido da promoção de saúde, é
preciso ter a perspectiva de relacionar saúde e condições de vida e como estão
vinculados os elementos físicos, psicológicos e sociais para uma vida saudável,
destacando-se a importância da participação coletiva e habilidades individuais
(CZRESNIA e FREITAS, 2012). Uma educação que possibilita a tomada de
decisões e escolhas por desenvolver a tomada de consciência e atitude crítica, uma
educação que promove a pessoa à sociedade em lugar de ajustá-la (FREIRE, 2008).
O processo educativo em saúde valoriza os aspectos das relações e das
pessoas, sabendo que “ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa
a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”
(FREIRE, 1983b, p. 79). Quando tentamos ajustar o homem no mundo, também
inibimos o poder de criar e de atuar. Passamos a controlar o pensar e a ação,
obstaculizamos a atuação dos homens como sujeitos de sua ação trazendo
frustração.
76
Para Freire (1983b), a educação para ser autêntica, faz-se com a
investigação do pensar. No pensar do outro e com o outro, a fim de educarmos
juntos, isso instiga-nos a continuar investigando. Essa é a proposta da Educação em
Saúde, pois precisamos entendê-la como um processo contínuo, considerando que
o viver humano é bastante complexo e dinâmico. Promoção da Saúde nesse
contexto requer „dialogicidade‟, entender a necessidade do outro, valorizar sua
participação no processo como agente de transformação e não meramente
expectador.
Gazzinelli, et. al (2005), aponta em seu trabalho que a Educação em Saúde
vem passando por um processo de caráter instrumental, com princípios do saber
científico para uma construção compartilhada do conhecimento. Educação em
Saúde não se restringe a iniciativas de informação, mas considera o homem em sua
totalidade, incluindo seus processos intelectuais, afetivos e culturais.
Segundo ao Ministério da Saúde (1980), a Educação em Saúde é uma
atividade que objetiva condição que produza mudanças de comportamento em
relação à saúde mediante um planejamento. Porém, a proposta de mudança emerge
dos ideais governamentais, do modelo hegemônico de saúde, das necessidades
criadas, dos anseios adquiridos e não da real necessidade das pessoas. Educação e
Saúde estão em uma relação dialética que contribui para uma perspectiva integral
do ser humano, dando importância aos envolvidos no processo saúde-doença, em
uma realização de um novo paradigma de atenção à saúde, envolvendo fatores que
vão além das diretrizes e leis, como as crenças e atitudes de cada pessoa envolvida
(RODRIGUES e SANTOS, 2010).
Uma forma de incluir a Educação em Saúde nas escolas passa pelos temas
transversais que vêm ao encontro da ideia colocada no início do tópico sobre
educação do Relatório da UNESCO de 1986: aprender elementos além das
exigências curriculares, pensar em questões inerentes ao viver humano de forma
contextualizada e integrada ao currículo, como descrito a seguir:
Os temas transversais se propõem a responder e a discutir questões atuais que têm impacto na sociedade, portanto podem ser modificadas conforme as alterações ocorridas na realidade social. Não devem se constituir em disciplinas isoladas, mas devem ser incorporadas no cotidiano escolar, perpassando todas as disciplinas e concretizando-se em práticas que reflitam a visão de mundo e o projeto pedagógico de cada unidade escolar. Não há programa a ser
77
cumprido, mas questões a serem discutidas (SILVEIRA e BICUDO PEREIRA, 2004, p. 120).
Trabalhar com os temas transversais na perspectiva das quatro formas de
aprender da UNESCO é uma forma de educação precedida de reflexão sobre o
homem e o seu meio (FREIRE, 2008). Uma educação diferente da realidade
praticada no cotidiano escolar, que cumpre suas metas, apenas de maneira
individualizada, mas com práticas pedagógicas dinâmicas e interativas, que
respondam às necessidades das pessoas envolvidas e por elas construídas.
Para Pelicione e Pelicione (2007), Educação em Saúde é o preparo para o
exercício da cidadania plena, criando condições para a conquista e implementação
dos direitos individuais e coletivos, o cumprimento de deveres voltados ao bem
comum e a melhoria da qualidade de vida de todos, com capacidade de transformar
a sociedade, como sujeitos da história. O educador deve proporcionar experiências
que visem às potencialidades de cada pessoa, a fim de despertá-la para uma
consciência crítica da realidade.
Nesta perspectiva, a Educação em Saúde facilita o processo de Promoção da
Saúde, buscando modificar as condições de vida, de modo digno e adequado; uma
forma de transformação dos processos de tomadas de decisão, tanto no plano
individual como no coletivo, favoráveis à qualidade de vida e à saúde. Proporcionar
meios que levam as pessoas a pensar sobre si e sobre sua relação com seu
entorno, em uma espécie de consciência de si e do mundo. Vale ressaltar que
“conscientizar não significa, de nenhum modo, ideologizar ou propor palavras de
ordem”, mas possibilitar “uma educação para a decisão, para a responsabilidade
social e política” (FREIRE, 1987, p.12).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O conceito de Saúde tem passado por um delineamento constante com a
participação da sociedade de forma efetiva, por intermédio do Movimento da
Reforma Sanitária e do próprio atual Sistema de Saúde. A compreensão de vários
determinantes ampliou a visão do processo de saúde, pautada nas diretrizes de
integralidade, equidade e universalidade, diretrizes estas contrárias ao sistema
curativista em poder exclusivo dos profissionais da área da saúde. A detenção do
78
poder passa a ser questionada, porém ainda executada, mas já percebida como
uma forma contraditória ao processo do trabalho equânime e interdisciplinar, além
de desfavorável ao plano dialógico e reflexivo dos processos decisórios que
envolvem saúde e qualidade de vida.
Para contrapor a ideologia curativista, temos a Educação em Saúde. A
Educação em Saúde é, por um lado, pretensiosa, quando emerge da necessidade
das formalidades dos programas em saúde; e, por outro, uma ferramenta para se
promover saúde no ambiente escolar e no entorno dele. Concebida como
ferramenta, a Educação em Saúde é um instrumento emancipatório que leva as
pessoas a refletir as práticas, os conceitos e as experiências que abordem o tema
Saúde, levando-se em consideração as pessoas, o seu modo de ver e ser:
Abarcar o significado ampliado do fenômeno saúde implica, em suma, ampliar as possibilidades interativas além da articulação teoria e prática, por meio de debates e discussões que fortaleçam e divulguem o conceito de saúde segundo uma perspectiva ampliada. Para tanto, torna-se fundamental, ainda, compreender o ser humano como um ser singular e multidimensional, que está inserido em um
contexto real e concreto (DALMOLIN, et al., 2010, p. 393).
De acordo com a pesquisa, os docentes entendem Saúde como um processo
interativo entre qualidade de vida e bem-estar, somada a forma de enfrentamento da
doença, apoiada na espiritualidade, como mostra o primeiro artigo resultante dessa
pesquisa. Em se tratando da promoção da saúde, os docentes relatam que ela está
voltada mais a questões biológicas e psicossociais, além de capacitação individual:
Figura 1. Promoção da Saúde
Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.
No quadro a seguir, será possível ver outros discursos sobre „promoção da
saúde‟ considerando o respeito mútuo, a realização de atividades físicas na escola,
PROMOÇÃO DA SAÚDE
ATIVIDADES FÍSICAS, MOVIMENTAR O
CORPO; BOA QUALIDADE DE VIDA
TROCAR IDEIAS; EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA ESCOLA; CURSOS
DE FORMAÇÃO
AMBIENTE SAUDÁVEL; BOAS RELAÇÕES
79
com atividades lúdicas e a promoção de uma alimentação saudável, podem
proporcionar, na prática, satisfação pessoal, mudanças comportamentais e ainda
possibilitar saúde física.
Quadro 1. Discursos de Promoção da Saúde
Eu acho que deveria cortar lanche tipo salgadinho e refrigerante na escola. Tem que proibir
mesmo, deixar que as crianças comam o lanche oferecido na escola, porque tem nutricionista
e tudo”(PP6-GF).
Fazer atividades mais voltadas ao conhecimento do corpo, a movimentação do corpo, quinze,
vinte minutos diários... Respirar, fazer exercícios, atividades pra gente rir “(PP1-EI).
Seria promover bem-estar e prevenção. Não vou comer comida gordurosa, pelo menos minha
alimentação vou cuidar mais um pouco, prevenindo possíveis doenças (PP2-GF).
Acho que seria um modo mais amplo de divulgação de uma alimentação boa, realmente
mostrar os benefícios, não só fazer propaganda, senão parece aquelas coisas de mercado
(PP6-EI).
Ter um ambiente gostoso, feliz pra se trabalhar. A questão de aluno respeitar o professor, de
professor respeitar o aluno, a gente se sentiria feliz, não estressaria tanto. Deveríamos
conversar mais com os alunos, trocar ideias, trazer mais informações pra eles mesmos, ver o
que tá errado, tentar mudar...(PP3-EI)
A gente deveria ter mais contato com os profissionais da saúde, ensinar pra gente como
trabalhar na prática, dar demonstração do que realmente funciona, o que não funciona, deixar
as coisas mais interessantes, pra gente se sentir mais segura (PP5-GF).
Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.
Podemos notar que, apesar das práticas sugeridas no coletivo, a
responsabilização ainda é individualizada, com práticas comportamentais e
fragmentadas. Ainda conservando a ideia de que a área da Saúde domina o
conhecimento e que são frágeis demais para se trabalhar promoção de saúde na
escola e alcançar bons resultados. O conhecimento científico é mais valorizado que
as práticas sociais, embora ainda o aspecto das relações seja bastante relevante.
Nas falas, nota-se que o conhecimento científico é o grande libertador das práticas
“ignorantes” em saúde e que prevalece sobre as condições de vida. A valorização do
80
biológico sobre os outros aspectos foi muito marcante, pois todas as conversas
sobre promoção da saúde envolviam alimentação saudável, prevenção de doenças
e atividades físicas.
Na área da Educação e da Saúde, ainda há a prevalência do pensamento
curativista em detrimento do preventivo; a educação em saúde é prejudicada pela
ausência de integração entre os educadores e os membros da comunidade, a falta
de trabalho participativo e qualificação profissional (KRUSCHEWSKY,
KRUSCHEWSKY e CARDOSO, 2008).
Isso é uma herança do modelo assistencial vigente: hegemônico, biologicista,
totalmente individualista, centrado na doença e na cura, marcadamente reducionista
(ALVES, 2005). Para a autora, é preciso integrar profissionais em equipes
interdisciplinar e multiprofissional, com o intuito de uma compreensão mais
abrangente dos problemas relacionados à saúde, reconhecendo no outro um ser
semelhante a mim mesmo, partindo do princípio da integralidade.
A multidimensionalidade humana precisa ser reconhecida para que os
aspectos da vida humana sejam abordados, a fim de se concretizar um trabalho em
educação em saúde, em sua integralidade, enxergando o ser humano como
resultante de um constructo sociocultural real, processual e dinâmico:
Por isso, é necessário conhecer de forma mais objetiva o indivíduo ou a comunidade a quem se quer educar, e esse conhecer implica troca, proximidade e especialmente a consciência e conhecimento das crenças, comportamentos, medos, do modo de vida e tudo que permeia e forma o cotidiano do objeto de educação
(KRUSCHEWSKY, KRUSCHEWSKY e CARDOSO, 2008, p. 174).
Outro aspecto dominante foi o da prevenção de doenças para promoção da
saúde, onde quatro participantes do grupo concordam que quando estamos
prevenindo doenças, automaticamente, estamos promovendo saúde. Outros dois
relatam que prevenção de doença não é a mesma coisa que promoção de saúde e
que podemos estar doentes e ainda promover saúde.
Essa confusão entre promoção da saúde e prevenção vem da ênfase dada
nas modificações de comportamento individual e na valorização demasiada da
redução de fatores de riscos para determinadas doenças em programas que dizem
promover saúde. Tudo fica centrado no indivíduo, em seu comportamento e em suas
81
escolhas, de acordo com que o paradigma biomédico e a intervenção clínica (BUSS,
2012).
Figura 2. Prevenção de Doença
Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.
Percebe-se claramente nas falas a prevalência da influência biologicista e do
poder hegemônico de se ver saúde. Responsabilização pessoal para se ter saúde e
a resolubilidade médica como regra de vida. Isso se torna mais evidente nas falas a
seguir:
Quadro 2. Discursos sobre Prevenção de Doença
Você tem que se cuidar, ir ao médico, fazer tudo direitinho e aprender a viver com a doença
(PP4-GF).
Acho que a gente tem que fazer o que gostar, porque quanto a gente não faz o que não gosta,
gente se estressa e adoece. Então, fazer o que se gosta, previne várias doenças“ (PP3-EI).
Acho que cuidar do meu corpo, da minha alimentação, ir ao médico, fazer daquilo uma lei
(PP1-EI).
Nós deveríamos ter mais dentista, médico, fonoaudiólogo na escola porque muitos problemas
poderiam ser evitados se eles tivessem aqui na escola, vendo a realidade das nossas crianças
(PP5-GF).
Eles deveriam construir ciclovias pra gente. Fala tanto em promover saúde mas a gente não
tem onde praticar esportes. Comer bem, somente coisas saudáveis evitaria um monte de
PREVENÇÃO DE DOENÇA
PRATICAR ESPORTES, CUIDAR DA
ALIMENTAÇÃO; PRATICAR O QUE CONHECE
PROFISSIONAIS DA SAÚDE NA ESCOLA;
SEGUIR O QUE O MÉDICO FALA
FAZER O QUE SE GOSTA; VIVER EM AMBIENTE
TRANQUILO
82
doenças (PP6-GF)
Eu fico deprimida, me sentindo doente quando entro numa sala de professores que reclamam
de tudo. Parece que o ar carregado deixa a gente pra baixo. Acho que o ambiente tem que ser
de alegria, só de coisas boas. Tem gente que só vive reclamando, deixa a gente doente (PP5-
GF).
Por causa daquele problema (hepatite B) eu fui ao médico e disse que bebia socialmente. Não
era todo dia. Ele me disse: se você tá se sentindo bem, tudo bem! Então eu bebo (PP1-EI).
Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.
Para os docentes, as experiências das pessoas sugerem o que pode ou não
fazer, a fim de se obter saúde e prevenir doenças. Mas tudo o que se decide fazer
fica à espera de ser aprovado por alguém que, supostamente, entenda mais que a
pessoa, alguém que seja detentor do saber, e por isso suas palavras têm que ser
levadas como regras. O que se sabe é que consultar um profissional da saúde, com
certeza, é uma atitude sensata, pois podemos complementar nosso saber e ter
experiências que podem nos proporcionar bem-estar e qualidade de vida. O que se
espera é que não haja a negação do próprio eu, e da experiência social como
coadjuvantes do processo, e que estão na mesma proporção que as áreas médicas
em um processo de transversalidade.
As práticas de educação em saúde, nessa perspectiva, estão voltadas ao
modelo biologicista, com ações formalizadas, programadas para acontecer,
independente do tipo de pessoas que estão envolvidas. Existe um programa a ser
seguido, dentro da estrutura curricular, que imobiliza as relações profissionais,
estando cada um na sua “competência” de trabalho, sem ações interdisciplinares. O
modelo de educação em saúde praticado se observa a seguir:
Quadro 3. Discursos de Educação em Saúde
Eu vejo educação em saúde como cursos voltados pra área de educação escolar (PP1-GF).
Educação em saúde é transmitir pras crianças o certo e o errado (PP3-EI).
Acho que é conhecimento, né. Aprender a prevenir. (PP4-GF).
Podem ser aulas com coisas simples, como a que me chamou atenção na aula de biologia.
83
Como lavar bem as mãos, o fato de pegar na maçaneta da porta, lavar as mãos e depois não
pegar na torneira (PP2-GF).
Quando você faz algo em educação em saúde você já está promovendo saúde. Você educa,
eles vão estudar sobre aquilo e vão aprender (PP6-EI)
Educação em saúde, de certo modo seria o modo de se aprender as coisas, está ligada à
educação, você aprende o que é, como você deve fazer para se ter boa saúde, com
alimentação, cuidados físicos, não sei se estou certo (PP2-EI).
Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.
O conceito da transmissibilidade do professor ou orientador, detentor do
saber, que passa seu conhecimento para os outros que, teoricamente, sabem pouco
ou quase nada, ficou explícito nas falas, enquanto que a participação social, no
processo de educação em saúde, surgiu discretamente, apenas relacionada à
participação dos pais na escola, todavia em forma de palestras de profissionais para
os pais e alunos.
Figura 3. Discursos de Educação em Saúde
Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.
É preciso ter uma mudança de pensamento em relação ao conhecimento.
Uma consciência de libertação do atual modo de educação para uma educação
problematizadora, que integra o homem em todas as suas dimensões, não
privilegiando esta ou aquela, mas oportunizando seu pensar sobre o processo do
viver em uma relação de horizontalidade e complementaridade.
EDUCAÇÃO EM SAÚDE
TRANSMITIR O CONHECIMENTO
PROFISSIONAIS DA SAÚDE NA ESCOLA;
PALESTRAS
ESTUDAR E APRENDER DE MANEIRA PRÁTICA
(PAIS, ALUNOS E PROFESSORES)
84
A educação que se impõe aos que verdadeiramente se comprometem com a libertação não pode fundar-se numa compreensão dos homens como seres vazios a quem o mundo “encha” de conteúdos; não pode basear-se numa consciência especializada, mecanisticamente compartimentada, mas nos homens como “corpos conscientes” e na consciência como consciência intencionada ao mundo. Não pode ser a do depósito de conteúdos, mas a da problematização dos homens em suas relações com o mundo (FREIRE, 2005, p. 77).
Os professores têm uma incumbência social bastante considerável, pois estão
formando cidadãos capazes de enfrentar os problemas de seu tempo. A
reorganização do saber, baseada nas noções do ser humano em seu contexto de
vida, promoverá um saber vivo e pulsante que produz mudanças cotidianas das
práticas pedagógicas e autenticidade do que se ensina.
[...] só um modo de pensar empenhado em ligar e solidarizar conhecimentos separados ou desmembrados é capaz de prolongar-se numa ética de dependência e solidariedade entre os seres humanos. Um pensamento capaz de integrar o local e o específico em sua totalidade, de não permanecer fechado no local e no específico, que seja apto a favorecer o sentido da responsabilidade e da cidadania. A reforma do pensamento traz consigo consequências existenciais, éticas e cívicas (MORIN, 2007, p.27).
Portanto, o professor não detém o saber, e por isso precisa despertar-se para
outras formas de se conhecer e conceber ideias e ideais. Precisa se abrir para o
novo, para o desconhecido e perceber o outro como parte do processo que não é
único, estático e nem tampouco unicausal. Necessita ampliar sua visão para
perceber o outro como humano, e não como um objeto em que se deposita
conhecimento e informações. A distinção do homem está no pensar e interpretar
as ações dentro e, a partir da realidade vivida e partilhada, e não somente pelo agir
(MINAYO, 2012).
Essa interpretação advém de um trabalho articulado, dinâmico,
interdependente, capaz de superar a visão fragmentada da produção de
conhecimento, buscando estabelecer o sentido de unidade, do todo, mesmo na
diversidade, em uma visão de conjunto, articulando informações. Uma proposta de
caminhada interdisciplinar, considerando que a realidade é como uma teia de
85
eventos e fatores, construída de trocas mútuas, e que o conhecimento é um
processo de construção com a sociedade e constitui a consciência pessoal e
totalizada. (GARRUTI e SANTOS, 2004).
Esse relacionamento interdisciplinar deve ir além das fronteiras da escola.
Abrange, sobretudo, a comunidade na qual está inserida e, portanto, quanto maior
for esse relacionamento, maior será a abordagem das questões que dizem respeito
ao cotidiano escolar, mais especificamente às questões que dizem respeito a sua
saúde.
As práticas de promoção da saúde / educação em saúde nas escolas públicas
necessitam ser tão relevantes naquele ambiente quanto em uma instituição de
saúde (unidades de saúde, hospitais). Contudo, a discussão do processo saúde e
doença e as necessidades de docentes, funcionários, alunos e demais membros da
comunidade em que a escola está inserida, parece muito distante das discussões
realizadas nos espaços da área da Saúde. Por isso, consideramos importante criar
um espaço permanente na escola, no qual a comunidade acadêmica possa
identificar e discutir as concepções (entendimento / compreensão) que estes têm
sobre saúde e qualidade de vida, os quais contribuirão para a construção de
práticas promotoras em saúde, bem como para o fortalecimento do trabalho
inter/transdisciplinar, preparando o campo para a participação social na construção
de práticas educativas em saúde.
Para dar maior relevância ao trabalho inter/transdisciplinar foi proposta a
construção de uma tecnologia social em promoção da saúde, um instrumento
metodológico de educação em saúde, para fazer parte do Projeto Político
Pedagógico da escola. Um espaço reservado para uma conversa sobre os
propósitos e necessidades em saúde que a comunidade acadêmica desejasse
alcançar.
Os docentes, de imediato, elaboraram o documento oficial que foi incluído no
Projeto Político Pedagógico de 2014. Atualmente, denominado CIRPROSAE
(Círculo de Promoção da Saúde na Escola), é um instrumento das atividades
pedagógicas em saúde e tem pretensão de ser realizado semestralmente, iniciando
sua primeira formação no segundo semestre deste mesmo ano. Contará com a
participação mínima de seis pessoas e, no máximo, quinze, sendo composto por
alunos, docentes, diretoria, pessoas da comunidade que realizam algum tipo de
trabalho social, profissionais da área da saúde e outros quando se fizer necessário.
86
Segundo Alarcão (2001), as relações das pessoas entre si e de si próprias
com o seu trabalho e com sua escola são fundamentais para um clima de escola
que tenta ser melhor a cada dia, dando sentido à existência humana. Repensar é
trabalhar com o fruto da consciência, com uma visão de vida que abrange toda
dimensão educativa definida para sua comunidade acadêmica, sua área de trabalho
e para formação de indivíduos que têm sua forma de ser e viver.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na lógica do sistema neoliberal, a saúde passa por uma desfragmentação do
homem, bem como de sua anuência no processo saúde-doença, surgindo apenas
como culpado das suas enfermidades e responsabilizado pela sua condição precária
de saúde. Apesar do pensamento biologicista dos docentes, o método dialógico de
coleta de dados em uma Concepção Teórico-metodológica de Freire, permitiu um
debate problematizador, promotor de uma prática educativa de educação em saúde
que valoriza e instrumenta o educando e demais personagens da comunidade
acadêmica para transformar sua realidade e, sobretudo, a si mesmo.
Essa valorização do saber do outro é uma importante ferramenta para a
emancipação social e participação ativa nas ações em saúde no contexto escolar,
possibilitando o desenvolvimento criativo das habilidades humanas na promoção da
saúde. A prevenção do mal em saúde não parte da necessidade biomédica, e sim,
do conceito que as pessoas têm do processo saúde-doença, definindo as ações em
educação em saúde.
As atividades voltadas à Educação em Saúde podem ser trabalhadas de
maneira transdisciplinar, pois somente assim percebemos a necessidade do outro,
deixando de lado o domínio e detenção dos saberes. A proposta de trabalho
inter/transdisciplinar não só facilita o trabalho, mas corresponsabiliza o outro no
processo de promoção da saúde, mobilizando a participação social na valorização
da vida e não da doença.
A adesão imediata ao instrumento metodológico de Educação em Saúde,
denominado pelos docentes de “Círculo de Promoção da Saúde na Escola”
(CIRPROSAE) demonstrou a necessidade que os docentes têm de partilhar o saber,
reconhecer o outro como parte do processo e, sobretudo, o desejo de mudança da
atual situação. Demonstraram que esse instrumento social pode ajudá-los a superar
87
a fragmentação do saber, instituída em seus currículos de formação, e ainda que
pode aproximar as pessoas em um trabalho de coparticipação e reciprocidade. A
motivação maior não residiu nas práticas bem elaboradas de educação em saúde e
sim, na forma de permanecerem juntos, em um trabalho coletivo e humanizado.
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91
4 CIRPROSAE: UMA TECNOLOGIA SOCIAL NA PROMOÇÃO DA SAÚDE NA
ESCOLA
Ioná Outo de Souza Wilberstaedt Márcia Gilmara Marian Vieira
Yolanda Flores e Silva
RESUMO: Estudo exploratório-descritivo de abordagem qualitativa que teve como
objetivo propor a elaboração de um instrumento metodológico de Educação em
Saúde a partir de uma tecnologia social em promoção da saúde. O campo de
pesquisa foi uma escola de ensino fundamental da capital catarinense. Participaram
da pesquisa seis (06) docentes que atendiam aos critérios da pesquisa. A coleta de
dados foi realizada por meio da técnica de grupo focal e entrevista semiestruturada e
os dados foram submetidos à análise interpretativa. Os resultados sugerem que as
ações em saúde, no contexto escolar, podem partir de pressupostos ampliados que
sobreponham os tradicionais, construídos a partir da experiência pessoal e de forma
contextualizada. A tecnologia social adotada pelos docentes sugere a participação
de toda comunidade acadêmica para elaboração do trabalho de Educação em
Saúde, bem como na sua aplicação, partindo de um círculo de diálogo sobre saúde
denominado Círculo de Promoção da Saúde na Escola - CIRPROSAE.
Palavras-chave: Educação em Saúde. Participação Social. Promoção da Saúde. Relações Interpessoais.
INTRODUÇÃO
Este artigo traz um conjunto de sugestões para se trabalhar coletivamente, a
partir das experiências das pessoas, a formalização de um instrumento
metodológico participativo de „Promoção da Saúde‟ no ambiente de uma escola
pública. Este trabalho foi desenvolvido tendo em vista uma pesquisa realizada em
parceria com docentes do ensino fundamental. É um instrumento voltado para a
emancipação dos atores envolvidos, valorizando e centralizando os produtores e
usuários dessa tecnologia. Esse tipo de produção recebe a denominação de
Tecnologia Social porque tem como meta final a busca de soluções coletivas
92
realizada pelos beneficiados, e não apenas pelos especialistas (RODRIGUES e
BARBIERI, 2008).
Partimos do princípio de que as ações desenvolvidas no contexto escolar
emergem de um conceito ampliado de Educação em Saúde, no qual todos
participam da construção dos temas e meios a serem trabalhados para „Promoção
da Saúde‟ no contexto escolar. O espaço da escola é muito propício para se
trabalhar Promoção da Saúde, pois apresenta um contexto vasto em relação às
experiências da comunidade da qual fazem parte um conjunto de pessoas com
formações e estilo de vida diferenciada, mas com propósitos semelhantes que
precisam ser mais bem alinhavados e definidos no coletivo.
Mais do que um espaço de construção e veiculação de conhecimentos e
práticas que se relacionam com os modos como cada cultura entende o viver
saudável, a „Educação em Saúde‟ constitui-se como uma vertente de produção de
identidades sociais (MEYER, 2006).
Isso pode contribuir para a agregação de valores saudáveis e o fortalecimento
de práticas do cotidiano escolar mais contextualizada, capaz de confrontar o
cotidiano das pessoas às informações teóricas em uma forma de apropriação do
conhecimento pela experiência do „saber‟ – „fazer‟ partilhado. Esse modelo de
„Educação em Saúde‟ somente é possível quando se trabalha na perspectiva da
„Promoção‟ e não da „Prevenção‟ em Saúde e visa buscar respostas para os
problemas vivenciados pela comunidade acadêmica, que interferem direta ou
indiretamente na vida das pessoas e que podem desequilibrar a saúde, o bem-estar
e a qualidade de vida destas.
Mas o que seria este instrumento e / ou tecnologia social (TS) que tornaria
isto possível? Antes de tudo é importante dizer que este conceito é jovem na saúde
assim como na educação, e outros termos, às vezes, podem ser utilizados para
descrever a mesma coisa. Segundo o Instituto de Tecnologia Social (ITS, 2004,
p. 130) a TS é “um conjunto de técnicas, metodologias transformadoras,
desenvolvidas e / ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por ela,
podendo representar soluções para inclusão social e melhoria das condições de
vida”.
Para Dagnino (2009), TS é o resultado da ação de um ator social sobre o
trabalho em que outros atores sociais também atuam, permitindo mudança
93
qualitativa ou quantitativa no produto gerado, e que esta pode ser apropriada
segundo seu interesse.
De acordo com Horta (2006), tecnologia social é um princípio que pode
contribuir para a definição de práticas de intervenção social, notáveis por seu êxito,
na melhoria das condições de vida da população, com estreita relação às realidades
locais em que forem aplicadas, na construção de soluções participativas.
A melhoria das condições de vida permeia ações que estão voltadas para a
pessoa como um todo, um olhar voltado para suas reais necessidades, com práticas
que valorizem seu entendimento sobre saúde e bem-estar, tendo como ponto de
partida a própria pessoa interessada e todas as suas potencialidades, tanto
individuais quanto coletivas, dentro de seu contexto de vida.
Nesse sentido, a construção de uma tecnologia social é importante, mas não
pode ser utilizada apenas como um mero instrumento. Antes de tudo, ela deve ser
capaz de, em um processo gradativo de discussões, ampliar as possibilidades
teórico-reflexivas a fim de concretizar práticas inovadoras e transformadoras,
mediante uma abordagem problematizadora que possibilite abrir caminhos para a
produção social dos processos de trabalho, seja na educação ou na saúde
(COLOMÉ e OLIVEIRA, 2012).
PERCURSO METODOLÓGICO
Este artigo tem origem em pesquisa realizada no Mestrado Profissional em
Saúde e Gestão do Trabalho que tem por título “Saúde e Qualidade de Vida:
concepções do corpo docente de uma escola pública estadual de ensino
fundamental da capital catarinense” desenvolvida na Universidade do Vale de Itajaí
– UNIVALI, no período compreendido entre 2012 a 2014. O percurso metodológico
adotado para a realização da pesquisa foi qualitativo, de natureza humano social,
com abordagem exploratória descritiva. O campo de estudo foi uma escola estadual
de ensino fundamental de Santa Catarina, local em que a pesquisadora atua como
docente na área de Ciências.
Como informantes, participaram seis (06) docentes do ensino fundamental,
que tinham tempo superior a cinco (05) anos de atuação profissional, que já haviam
94
trabalhado com Educação em Saúde anteriormente e que já apresentavam um
vínculo temporal maior com a escola, como professores efetivos ou contratados3.
A coleta de dados foi realizada utilizando-se da técnica de grupo focal, em
uma abordagem do “Círculo de Cultura de Freire” (1983) e entrevista
semiestruturada, na qual os docentes participantes responderam questões relativas
aos fenômenos do viver como saúde, doença, bem-estar e qualidade de vida, além
dos conceitos sobre educação e promoção da saúde cujos resultados foram
apresentados em dois outros artigos que compõem essa dissertação.
Posteriormente a essas discussões foi proposta a elaboração de um instrumento
tecnológico em promoção da saúde do qual retrata esse artigo.
Os dados foram submetidos a uma avaliação interpretativa, segundo Geertz
(1997) que valoriza as falas como uma trama que se inter-relaciona, por meio de
discursos (falas), gestos, símbolos e das relações entre elas. Primeiramente, foram
transcritas as falas coletivas e individuais, depois colocadas em categorias
temáticas, reunindo suas ideias centrais, e posteriormente, interpretadas à luz de
referenciais propostos pelos docentes, segundo a proposta de trabalho apresentada
por eles. Os resultados obtidos foram moldados pelo material empírico e a
metodologia reflexiva de Freire (1983).
A proposta que fundamenta esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética
da UNIVALI, com o número de protocolo 22127013.6.0000.0120 e aprovada
segundo o Parecer 446.060 em 25/10/2013. Todos os participantes assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, após serem informados sobre as
etapas da pesquisa, dos objetivos aos resultados esperados. Os informantes tiveram
respeitado seu anonimato sendo identificados como PP (Professor Participante)
seguido dos algoritmos 1, 2, 3, 4, 5 e 6 e pela sigla „GF‟ quando participantes do
Grupo Focal e „EI‟ quando participante da Entrevista Individual.
PROCESSO DIALÓGICO DE PAULO FREIRE E A SUA RELAÇÃO COM O CONCEITO DE TECNOLOGIA SOCIAL
Do ponto de vista formal, as Instituições de Saúde e Educação têm a
responsabilidade de trabalhar „Educação em Saúde‟ como perspectiva de „Promoção
3 Considerou-se como o vínculo que melhor se adequava as necessidades da pesquisa o período mínimo de um ano letivo para aqueles professores admitidos em caráter temporário (ACT).
95
da Saúde‟. Contudo, as iniciativas por parte dos órgãos representativos dessas
áreas, como Unidades Básicas de Saúde, Centros de Saúde e Escolas, possuem
grupos representativos de profissionais de saúde e educação encarregados de
desenvolver ações em saúde voltadas muito mais para a prevenção de doenças do
que para a promoção da saúde.
Isto fica bastante evidente quando percebemos que nas escolas o que se
trabalha termina por ser uma reprodução de conteúdos que são ministrados em um
contexto multiprofissional, sem que se construam ações efetivas de natureza
interdisciplinar com participação efetiva da comunidade escolar (docentes, corpo
administrativo, corpo de apoio à limpeza e alimentação, alunos, famílias e população
do entorno da escola), terminando por gerar conhecimentos que tratam, muitas
vezes, do aspecto preventivo apoiado no modelo biologicista e hospitalocêntrico.
Em uma perspectiva mais dialógica, estas ações de „Educação em Saúde‟
nas escolas, deveriam envolver a comunidade escolar, permeando o princípio da
equidade, segundo a „Declaração de Sundsvall‟, em que os envolvidos são
responsabilizados pela criação de ambientes de suporte favoráveis para a
„Promoção da Saúde‟ (SÍCOLE; NASCIMENTO, 2003).
Se refletirmos sobre o que Freire (2003) deixou como legado acerca do
trabalho coletivo ativo das comunidades, observamos que a fala deste educador
mostrava a necessidade das massas populares tornarem visível a realidade objetiva
e desafiadora sobre a qual devem manifestar sua ação transformadora. Para ele,
somente desta forma, as pessoas, grupos e comunidades seriam realmente atores
ativos, prontos para recriar, de forma intencional e consciente uma nova realidade,
com soluções concretas e conhecidas para os problemas locais.
Para Freire (2003), de uma educação problematizadora é que nascem os
questionamentos diretivos, que por meio do pensar e da provocação leva as
pessoas a construção de algo novo. Em um contexto assim, é valorizada a cultura
do educando como pressuposto fundamental em uma proposta de dialogicidade
para o conhecimento em um processo de entendimento do mundo em sua
percepção de sujeito histórico. O educador e o educando são, dessa forma, sujeitos
do processo de construção do conhecimento. E é com esta noção de educação
libertadora que o autor vislumbra a transformação das pessoas e da sociedade no
mundo, com o mundo e para o mundo.
96
O que ele denominou de „Círculo de Cultura‟ possibilita, por meio de uma
relação baseada no diálogo, uma leitura do mundo dos participantes, com olhar
crítico acerca da realidade, despertando o interesse das pessoas envolvidas em
comprometer-se com as mudanças para transformação dessa realidade. A dinâmica
desse „Círculo de Cultura‟ é formada pelos momentos investigativos, tematizadores
e de proposição, segundo Wittmann et.al (2006, p.40):
Quadro 1 – Círculo de Cultura de Freire
Fonte: Wittmann et.al, (2006, p.40)
A viabilização do diálogo, por meio do „Círculo de Cultura‟, com
questionamentos provocadores do coordenador/pesquisador sobre o objeto de
estudo e a representação da realidade, permite trazer respostas significativas dos
participantes considerando o contexto histórico social. Nesse contexto, se
pensarmos na construção / elaboração de um instrumento metodológico de
„Educação em Saúde‟ temos que ter a premissa de observar que somente pela
discussão sobre as distintas concepções do processo saúde e doença e outras
temáticas afins, é que será possível obter uma „tecnologia social‟ capaz de
transformar ou levar estas pessoas a diferenciar a prática realizada hoje (preventiva)
com a prática desejada (promoção).
E por que chamar este novo „constructo‟ de tecnologia social? Para Bava
(2004, p. 216), as tecnologias sociais, elaboradas por um coletivo de pessoas com
MOMENTO INVESTIGATIVO
Momento de problematização:
em que se compreende as
origens dos problemas, onde se diagnostica e define
o problema.
MOMENTO DE TEMATIZAÇÃO
Momento integrativo:
conhecimento dos participantes e
outros conhecimentos se integram para um estudo reflexivo.
MOMENTO DE PROPOSIÇÃO
Momento em que se programa, elabora e
executa uma proposta para solucionar o
problema.
97
interesses comuns, podem levar a implementação de soluções para determinados
problemas e, sobretudo, auxiliam na elaboração de novos métodos e técnicas que
possibilitam o empoderamento da população, em sua coletividade, como forma de
habilitar-se para disputar nos espaços públicos, alternativas de desenvolvimento
provenientes das experiências coletivas.
Segundo Gohn (2001), existe um novo campo de Educação denominado de
„Educação Não Formal‟ que está na sociedade civil com ações coletivas, por meio
de organizações não-governamentais que não visam lucros, e na atualidade se
inserem em muitos dos movimentos sociais ligados à Educação. É neste contexto
que o instrumento de tecnologia social pode auxiliar na construção de práticas
conjuntas de Educação em Saúde, os quais são configuradas de acordo com a
realidade social vivenciada pelas pessoas envolvidas. Ainda que a educação não
formal permeie os processos educativos, é necessário sistematizar as ações para
que o instrumento tenha maior legitimidade; aliando o conhecimento das práticas
populares ao conhecimento científico, de forma operacional, pelas pessoas
comprometidas no processo.
Para o Instituto de Tecnologia Social (ITS, 2007), uma tecnologia social pode
ser elaborada em qualquer área, tendo como objetivo maior o desenvolvimento
urbano regional e local de forma sustentável. Para tanto, faz-se necessária a
construção pela discussão participativa de um coletivo de pessoas, de um conjunto
de técnicas e procedimentos metodológicos que articulem o conhecimento produzido
nas comunidades com o conhecimento científico e tecnológico para a geração de
trabalho. No caso da tecnologia social, construída a partir da pesquisa realizada
(Círculo de Promoção da Saúde na Escola - CIRPROSAE), esta é uma proposta de
ações voltadas para a „Promoção da Saúde‟ na escola, cujas pessoas estão no
centro destas ações em saúde, segundo suas necessidades e da comunidade em
que se insere no contexto da escola e da família.
Consideramos essa pessoa como um ser humano que é multidimensional e
complexo, espiritual e parte de um corpo-criante. Segundo Dittrich (2010), um corpo-
criante constitui-se de dimensões inter-relacionais que determinam a maneira do ser
humano sentir-pensar e agir, a saber, as dimensões biopsicoespiritual, sociocultural
e ecológica. Essa forma de pensar, sentir e agir é dinâmica por si, fora de si e para
si. Na prática, a autora esclarece que os vínculos e valores culturais são importantes
e decisivos neste processo, não podendo ser desprezados quando se oferta algo
98
que visa ao empoderamento pessoal e coletivo para a busca de soluções aos
problemas de saúde, por exemplo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A „Educação em Saúde‟ em uma perspectiva de „Promoção da Saúde‟ requer
uma cointeração entre os membros da comunidade acadêmica, de forma que não
haja, simplesmente, discussões sobre assuntos pertinentes à saúde, mas diálogos
abertos que resultem em práticas que sejam capazes de transformar a realidade
socialmente vivida. Porém, nas discussões, há prevalência do ponto de vista de
cada pessoa, do seu modo de ver a vida, das suas crenças, tentando convencer o
outro de qualquer forma, como demonstra a citação a seguir:
A discussão implica a quebra de significado. Esta quebra acontece, por exemplo, no processo de imposição de ponto de vista (ou interpretações), através da manipulação velada ou desvelada, através da consciente ou inconsciente autoafirmação do eu psicológico. Na maioria das vezes, uma discussão é desenvolvida entre duas ou mais pessoas, que adotam pontos de vistas definitivos e desejam convencer-se mutuamente ou comparar seus pontos de vista com a intenção de impor e fazer prevalecer uma opinião particular (SOARES, 2007, p.401).
Para essa autora, na presença do diálogo não há prevalecimento do ponto de
vista individual. A pessoa que apresenta uma opinião, não realiza uma defesa ou
imposição de uma opinião, mas percebe que a sua forma de pensar é mais uma
interpretação, diante de tantas outras possíveis. No diálogo, prevalece o ato de
escutar que é diferente de ouvir, pois o escutar promove a sensação de descoberta,
efetivando-se em um ato sensitivo. Ato de falar com as pessoas e não falar para
elas, envolve uma „percepção ampliada do outro‟, envolve também saber posicionar-
se e refletir.
A ideia apresentada pelos docentes do diálogo entre membros da
comunidade acadêmica e profissionais de áreas distintas, apesar de não terem
pronunciado a palavra „transdisciplinaridade‟, demonstram falas que sugerem o
homem como um ser integral e que deve ser percebido em sua totalidade, como
demonstram as seguintes afirmações:
99
“Nessa proposta de trabalho, nessa discussão, ninguém deve achar que sabe mais
que os outros, pois se não fica na mesma, melhor deixar do jeito que está. Nosso trabalho
não deve ser somente em conjunto, cada um deve se responsabilizar pela vida, pelo outro.
Interessar-se de verdade.”(PP2-GF).
“A gente tem que pensar que nós somos mais que profissionais, por trás tem uma
pessoa que ama, que sente, que percebe as coisas de várias maneiras e isso interfere nas
nossas atitudes.” (PP6-EI).
Segundo Sampaio (2010), o desaparecimento da pessoa, do ser humano, do
amor, do sonho e dos ideais, deve-se à importância dada atualmente às questões
materiais, pois o fascínio pela tecnologia e ciência, o desejo do ideal da objetividade
fez com que a pessoa tivesse menor importância.
Essa valorização da pessoa em sua totalidade, por parte do docente,
percebendo-o como um ser integral e dinâmico tornou a proposta do instrumento
metodológico mais propício ainda, pois o processo interativo da tecnologia social vai
ganhando mais sentido e indo além da interdisciplinaridade. O projeto já começa sob
um pensamento reflexivo sobre o atual sistema e aponta para um crescimento
promissor direcionado às necessidades humanas.
Uma educação humanista tem que acontecer pela conscientização, de forma
libertadora (FREIRE, 2001). A proposta transdisciplinar permite um olhar de si
mesmo no outro, indo além do que se espera dos indivíduos, uma educação que
começa a partir do nascimento e se estende durante a toda a vida, como forma de
testemunho de nossa presença no mundo e de nossa experiência advinda dos
saberes de nossa época. Uma forma de potencialidade do ser (NICOLESCU, 2005).
E essa potencialidade, de acordo com os docentes, surge quando nos
expressamos em busca da compreensão dos fenômenos vividos. Quando
partilhamos nossas angústias, nossas fraquezas, nossas alegrias e nossas vitórias.
Quando experimentamos compartilhar nossas tensões com o outro, e saber dele o
que o aflige para buscar uma alternativa coletiva a fim de enfrentar ou solucionar
aquele problema.
Para criar um meio de diálogo entre a comunidade acadêmica, profissionais
da área da saúde e educação, organizações não-governamentais, instituições
religiosas, entre outras, foi criado pelos docentes um instrumento metodológico de
Educação em Saúde que se tornará parte integrante do Projeto Político Pedagógico
100
da Escola, um tipo de tecnologia social de Promoção em Saúde que compreenderá
a seguinte dinâmica:
Figura 1 – CIRPROSAE :Círculo de Promoção da Saúde na Escola.
Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.
O CIRPROSAE nasce e se estabelece como instrumento / tecnologia social
considerando os seguintes momentos de trabalho do grupo de docentes:
Momento 1 - Oportunizar e Mobilizar: inicia-se com um convite à comunidade
escolar da região, composta por docentes, alunos, área administrativa escolar,
profissionais da higienização, da segurança e pais e/ou responsáveis pelos alunos,
profissionais da saúde e educação, representantes de instituições religiosas,
organizações não-governamentais, entre outras entidades que julgar necessário,
para que este grupo de pessoas aceite participar da organização de uma proposta
de Educação em Saúde na escola, tendo por meta a Promoção da Saúde por meio
de ações transformadoras e coletivas. A representação mínima dos participantes
será de seis pessoas, e a máxima de quinze, para que seja representativo e
possibilite a participação de todos.
CIRPROSAE
OPORTUNIZAR E MOBILIZAR
PROBLEMATIZAR E DIAGNOSTICAR
TEMATIZAR E PLANEJAR
APLICAR E AVALIAR
101
Momento 2 - Problematizar e Diagnosticar: compreende um momento em
que as pessoas envolvidas já se encontram integradas ao grupo formado, mediadas
por um representante da comunidade acadêmica eleito pelo grupo, que assume o
papel de moderador da discussão / reflexão coletiva em que serão tratados os
assuntos relacionados à qualidade de vida humana no contexto escolar, levantando
problemas de ordem biopsicossocial e espiritual que afligem as pessoas dessa
comunidade e suas expectativas para solucionar os problemas;
Momento 3 - Tematizar e Planejar: momento em que se consegue refletir
sobre os problemas, e após o diagnóstico situacional, o grupo interage no pensar,
refletir, pesquisar, sentir e agir, no sentido de planejar ações de Educação em Saúde
com maior governabilidade que atendam às necessidades dessa comunidade
escolar. Serão registradas em Ata as ações acordadas no coletivo, bem como o
tempo determinado para sua execução e a viabilização do processo;
Momento 4 - Aplicar e Avaliar: consiste propriamente na prática das ações
pré-estabelecidas pelo grupo, mediante implementação das propostas coletivas no
âmbito escolar e demais espaços de convívio acadêmico para melhoria da qualidade
de vida das pessoas e promoção da saúde. A avaliação acontecerá de duas formas:
contínua, quando executadas as ações de Educação em Saúde e sistemática
quando avaliadas no coletivo por meio da formação dos grupos, antecedendo e
constituindo o momento de problematização.
Ficou acordado entre os docentes que o CIRPROSAE atenderá as
necessidades que se relacionem à Educação em Saúde da unidade escolar, sendo
parte integrante do Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola desde o ano letivo
de 2014 e que se realizará duas vezes ao ano, a cada início de semestre. O mesmo
servirá de suporte para todas as ações dos Programas de Saúde relacionados ao
ambiente escolar e poderá ser composto por todos os representantes da
comunidade acadêmica e não acadêmica (sociedade civil) ou demais entidades que
se relacionem direta ou indiretamente com os escolares. Poderão participar
organizações não-governamentais, representantes de instituições religiosas, de
associações locais e demais representações da sociedade civil.
102
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A importância de se entender saúde, por meio da compreensão do processo
histórico e cultural no qual o homem está inserido, permite a ele conduzir seus
anseios de mudanças na direção do bem-estar e qualidade de vida. No que tange à
perspectiva de promoção da saúde, no contexto escolar, a Educação em Saúde
emerge como um instrumento de empoderamento e como via de acesso ao diálogo
na busca da transdisciplinaridade por meio de uma tecnologia social denominada,
pelos próprios docentes, como CIRPROSAE.
O Círculo de Promoção em Saúde (CIRPROSAE) apresenta-se como uma
proposta que oportuniza as pessoas a participarem da busca da superação dos
problemas atuais relacionados à saúde e como um meio de organizar práticas de
Educação em Saúde que condigam com a realidade local, de forma a valorizar as
pessoas envolvidas.
Os temas de relevância em saúde são escolhidos pela própria comunidade
acadêmica a fim de serem trabalhados nas práticas de Educação em Saúde no
contexto escolar com alternativas propostas pelos próprios membros dessa
comunidade. A busca por soluções dos problemas do cotidiano se faz por meio do
ato dialógico, pelo qual o conhecimento e a sabedoria da comunidade acadêmica
são trabalhados em uma perspectiva metodológica de Paulo Freire, confrontando as
vivências das pessoas com as abordagens científicas.
A ressignificação das práticas apresentadas pelos docentes, ora apoiada pela
educação humanista, ora transdisciplinar ou liberal, apontam para a valorização da
pessoa, retratando sua importância no processo de construção do conhecimento e
transformação do cenário atual. Esse processo reforça o movimento histórico-
dialético em que a pessoa está inserida, trazendo consigo influências de vários
contextos de vida baseados em sua própria experiência ou nas dos outros.
Sendo assim, essa experiência reflexiva e dialógica permite a abertura da
consciência para o conhecimento de si mesmo e dos outros, na ressignificação da
própria existência, de seu modo de vida e das suas relações. Contudo, as
experiências do cotidiano somadas ao conhecimento científico podem contribuir para
o crescimento do saber e possibilitar mudanças nos paradigmas atuais com
transformações imprescindíveis ao processo do viver, compreendendo uma parte
103
importante do processo ensino-aprendizagem e uma forma de garantir a valorização
das relações sociais, do cuidado de si e do compromisso com o outro.
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105
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Educação em Saúde resultante de uma prática libertadora, tem propiciado
condições de promoção à saúde que valorizam mais a pessoa, buscando atender
suas necessidades, sendo condizentes com o viver humano e suas potencialidades.
As estratégias de trabalho precisam ser reestruturadas no plano de ação social,
mobilizadas pelo interesse local e coletivo, saindo assim de uma visão individualista
e culpabilizadora, puramente preventivista de saúde, para uma visão totalmente
ampliada, capaz de responder às necessidades pessoais e coletivas.
A questão da saúde ainda precisa ser mais debatida, a fim de obter respostas
para as questões sociais que implicam diretamente no modo de vida das pessoas e
em sua condição de saúde. A proposta de criar um círculo de debate permanente
sobre saúde na escola é uma tentativa de mudar a situação atual de se trabalhar
Educação em Saúde, que acontece de forma “bancária”, onde são depositadas
informações pertinentes ao cuidado de si, sem dar relevância aos aspectos da
pessoa e suas condições sociais.
Por acreditarmos nestas „verdades‟ e por entendermos que a escola também
é um espaço de promoção e educação em saúde é que decidimos pela realização
desta pesquisa, que a nosso ver, demonstrou que os docentes não estavam
desinformados ou desatualizados quanto o que há de indicadores de saúde. Eles
apenas pensavam de forma biologicista, a favor do modelo hegemônico,
influenciados pelo sistema biomédico como a maioria dos profissionais da área da
saúde. Ter trabalhado de forma dialógica, permitiu questionar os conceitos atuais de
saúde para que os docentes pudessem se libertar de um compromisso formalizado
fora de seu contexto de vida e de trabalho e se comprometer uns com os outros,
percebendo-se como parte do processo que é dinâmico e interativo.
Muitos dos resultados obtidos aqui refletem o modo de pensar das pessoas
envolvidas, e vale ressaltar que na medida que novas pessoas passam a integrar o
grupo, novas formas de pensar e ver, surgirão, compondo uma maneira diferenciada
de se trabalhar promoção da saúde por meio de práticas que poderão, tanto incluir
os membros da comunidade acadêmica, quanto excluí-los da elaboração e
efetivação das práticas, inviabilizando todo o processo emancipatório.
Portanto, trabalhar Educação em Saúde, como proposta de Promoção da
Saúde, requer um equilíbrio constante das partes envolvidas, do reconhecimento
106
dos aspectos da determinação social e do conhecimento constante de si mesmo e
da comunidade em que a escola está inserida. Acreditamos que, ao
problematizarmos a questão do trabalho coletivo e interdisciplinar, proporcionamos
aos docentes a oportunidade de buscar formas de interagir enquanto grupo, saindo
de uma realidade vivenciada por eles, de trabalho individualizado e tecnicista, para
uma possibilidade de interatividade progressiva e contínua que ajusta e direciona o
trabalho coletivo.
Outro fato relevante foi o de que os discursos coletivos e individuais quase
sempre convergiam para o mesmo sentido, tendo esse grupo uma característica já
integradora, na qual os docentes se reconhecem como importantes no processo, e
que seus diálogos coletivos não diferem muito do pessoal. Pressupõe-se, dessa
forma, que o trabalho em grupo na promoção da saúde terá maior chance de dar
certo e de alcançar um grande benefício na vida das pessoas envolvidas.
Também é inegável que as práticas de Educação em Saúde precisam ser
melhor elaboradas e centradas na realidade local. Sabemos que a dificuldade em
relação ao corpo docente sempre será um desafio enquanto existir uma grande
quantidade de pessoas admitidas em caráter temporário, pois quando essas passam
a reconhecer a área onde trabalham e a ter maior conhecimento uma das outras,
são contratadas para trabalhar em outra escola (quando surgem vagas e quando
passam no seletivo anual) dificultando assim, o processo de integração e
continuidade das ações. Pensar na condição de vida do educador e propiciar meios
para maior efetivação no trabalho contribui não só para o crescimento pessoal, mas
também reflete, positivamente, na qualidade do trabalho de Educação em Saúde
favorecendo o bem-estar e qualidade de vida dos envolvidos.
Por meio da abordagem do „Círculo de Cultura‟, de acordo com as
concepções teórico-metodológicas de Paulo Freire, foi possível vivenciar momentos
de temor em relação ao futuro profissional, em relação ao desenvolvimento das
práticas em sala, fruto do despreparo acadêmico para se trabalhar Educação em
Saúde e da instabilidade profissional. Promover saúde em uma perspectiva
transdisciplinar requer tempo e dedicação, quase que exclusiva, e sob o regime
atual em que os docentes vivem, é bastante difícil. É preciso criar oportunidades de
trabalho que condizem com a necessidade humana e, sobretudo, que atendam as
necessidades da comunidade acadêmica.
107
No que diz respeito ao Programa de Saúde na Escola, esta é uma iniciativa
brilhante do Governo Federal, pois ainda que formalizado demais para a realidade
das escolas, tendo um padrão único de trabalho, pode ser uma iniciativa de
intersetorialidade com ações integradas, promovendo assim, uma interatividade
multiprofissional em uma dinâmica inter/transdisciplinar para alcançar todas as
pessoas que fazem parte da comunidade acadêmica.
O grande problema, porém, está no “engessamento” das pessoas em um
programa que poderia ser flexibilizado se as próprias pessoas envolvidas e que
tivessem à frente permitissem. Quando a equipe de saúde local fez contato com a
escola mediante reunião, os docentes participantes da pesquisa informaram sobre a
iniciativa da escola em ter um espaço para debater os assuntos pertinentes à saúde,
e a reação das pessoas da área da saúde foi bastante apática para o que já estava
acontecendo na escola. Queriam apenas dados antropométricos e IMC (Índice de
Massa Corpórea) da população acadêmica, coletar dados dos cadastros
acadêmicos, sem ao menos fazer menção às necessidades do corpo docente ou de
outra área que trabalha na escola.
Isso só demonstra que os servidores da área educacional ou da saúde ainda
necessitam da lógica libertadora que permita desenvolver um trabalho voltado às
peculiaridades da vida humana, que somadas, interferem diretamente na saúde das
pessoas. Necessitam ter uma visão transdisciplinar de trabalho, para que haja uma
conquista grande no aspecto da participação das pessoas no processo, sabendo
que as ações são voltadas para as pessoas e não para as formalidades dos
programas e metas profissionais.
Acreditamos ter possibilitado para os docentes da pesquisa uma possibilidade
de organizar momentos reflexivos sobre suas práticas de Educação em Saúde e
estimular o trabalho coletivo de forma transdisciplinar, no sentido de valorizar as
práticas de quem elabora as ações e tornar significativo o processo de trabalho, não
só na vida dos alunos, mas no contexto escolar em que a escola está inserida.
Por intermédio da organização de uma tecnologia social que favorece a
aproximação das pessoas em uma perspectiva inter/transdisciplinar, juntamente com
os docentes, elaboramos um instrumento metodológico de Educação em Saúde que
possibilita o trabalho conjunto e participativo na elaboração de práticas aplicáveis
para a realidade da comunidade acadêmica. Dessa forma, a continuidade do
trabalho de Educação em Saúde se tornará contínuo, sendo moldado de acordo com
108
a dinâmica acadêmica e com as necessidades das pessoas envolvidas. Cada
componente que se integrará ao processo de Promoção da Saúde terá condições de
avaliar as práticas e meios desenvolvidos, de forma a contribuir para o avanço das
práticas e complementação delas.
Acreditamos que, se a comunidade acadêmica investir em momentos de
diálogo sobre seu trabalho e sobre a melhoria de suas condições de vida, na busca
da capacitação pessoal e coletiva, poderá ter um processo dinâmico e construtivo de
promoção da saúde capaz de instigar as pessoas ao desenvolvimento de práticas
que contemplem o bem-estar na busca da superação das contradições
sociopolíticas vivenciadas por todos.
109
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117
APÊNDICE A
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM SAÚDE E GESTÃO DO TRABALHO /
MESTRADO PROFISSIONAL ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SAÚDE DA
FAMÍLIA
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Prezado (a) colega, você está sendo convidado (a) a participar, como voluntário (a),
em uma pesquisa intitulada SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA: discursos do corpo
docente de uma escola pública de ensino fundamental da capital catarinense,
que tem como objetivo geral: Analisar os discursos sobre saúde e qualidade de
vida de docentes de uma escola pública de ensino fundamental, visando auxiliar na
discussão de uma tecnologia social que permita criar um modelo de Promoção da
Saúde Escolar que possa ser efetivado por meio de ações interdisciplinares de
Educação em Saúde. Para que aceite fazer parte deste estudo é necessário que
assine ao final desse documento e rubrique todas as páginas relativas a esse termo
de consentimento. Serão fornecidas duas vias desse documento, sendo uma
destinada ao pesquisador responsável e a outra a você. Não se preocupe, você não
será penalizado (a) caso não participe da pesquisa.
Eu, Ioná Outo de Souza Wilberstaedt, aluna regular do Curso de pós-graduação
Strictu sensu, Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho, Turma 10 da
Universidade do Vale do Itajaí –UNIVALI, sob orientação da Prof.ª Enf.ª Drª Yolanda
Flores e Silva e co-orientação da Prof.ª Drª Márcia Gilmara Marian Vieira coletarei os
dados mediante a realização de entrevistas individuais, com um espaço para a
narração da sua opinião e realização de grupo focal.
Sua participação na pesquisa ocorrerá durante a realização de grupos de discussão,
totalizando 10 horas de trabalho, distribuídas em quatro (4) momentos, nos períodos
matutino e vespertino, extraclasse, em dias diferentes, conforme a disponibilidade do
grupo, podendo ser estendida a uma entrevista individual sobre o mesmo tema.
118
Essa pesquisa obedecerá à disponibilidade de cada participante, de acordo com os
seguintes momentos:
Momento 1: Acolhimento e Grupo Focal – Será realizado na praça em frente à
Unidade Escolar, debaixo da “Figueira” assentados em mantas e almofadas no
chão, deixando um tempo livre de 20 minutos para que todos se ambientalizem. Em
seguida, será a entrega do TCLE ( Termo de Consentimento Livre e Esclarecido)
para leitura e explicações relativas à pesquisa, com duração de 30 minutos. Após
esclarecimentos, serão levantadas questões problematizadoras envolvendo critérios
de bem-estar e qualidade de vida. Estarei coordenando a pesquisa, com abordagem
cultural, onde os participantes terão total liberdade de expressão num tempo
estimado de 1hora e 10 minutos. Ao final desse momento, serão convidados 4
participantes para uma entrevista individual sobre o mesmo tema, a ser realizada
conforme disponibilidade de cada participante.
Momento 2: Exposição temática utilizando recursos audiovisuais, numa sala de
vídeo da escola. Buscaremos os conceitos apresentados no momento 1 e
apresentaremos uma material de reflexão quanto às políticas públicas de saúde e à
pedagogia de Paulo Freire. Será um momento de estudo reflexivo e elaboração de
conceitos baseados no contexto social dos participantes e da escola. Será realizado
em formato de grupo focal e terá duração de 2 horas.
Momento 3: Organização de discussão pelo grupo para a elaboração de uma
proposta de práticas de educação e promoção em saúde, com perspectiva
interdisciplinar que fará parte do Projeto Político Pedagógico da escola. Esse
momento se iniciará com técnicas de relaxamento, seguidas de dinâmicas em grupo
e elaboração de uma proposta de trabalho interdisciplinar. Após, será oferecido um
café colonial aos participantes em comemoração aos resultados apresentados.
Momento 4: Entrevistas individuais. Serão realizadas, após assinado Termo de
Consentimento, entrevistas com roteiro semiestruturado, que abordam questões
sobre a pessoa e seus conceitos quanto ao bem-estar, qualidade de vida e saúde.
Elas ocorrerão simultaneamente à realização do grupo focal, não necessariamente
119
após a realização deste. As pessoas entrevistadas escolherão o melhor momento
para discorrer sobre as questões, em horário agendado por elas próprias.
A participação nesta pesquisa não lhe trará complicações legais. Os procedimentos
adotados obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos,
conforme Resolução no 466/12, do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos
procedimentos usados oferece danos à sua dignidade ou integridade física. Você
não terá algum tipo de despesa por participar desta pesquisa, bem como nada será
pago por sua participação. Se você tiver alguma dúvida em relação ao estudo, ou
não quiser mais fazer parte do mesmo, pode nos comunicar a qualquer momento,
sem prejuízo ao seu atendimento, por meio dos e-mails: [email protected],
ou do telefone: (48) 8431-1182 ou (48) 8444-1213.
Durante a realização dos grupos focais e entrevistas individuais, suas ideias serão
gravadas. Também fotografaremos os momentos de pesquisa em grupo, e caso
queira que sua identificação seja preservada, comunique-nos para que possamos
fotografar sem identificação frontal. A princípio, os riscos relacionados à pesquisa
serão de caráter intelectual, por constrangimento, caso os participantes se sintam
incomodados com a perspectiva de responderem às questões de forma coletiva e na
elaboração de concepções voltadas à sua própria expectativa de qualidade de vida e
bem-estar em detrimento do coletivo. Gostaria de informá-lo (a) de que a equipe da
pesquisa terá uma postura que evite, conforme Barbour (2009), pressão e
julgamento de respostas, o menosprezo das informações repassadas, o uso de
termos pejorativos ou expressões não politicamente corretas. É importante que você
se sinta livre para o uso da palavra com sugestões e correções de conteúdos
apresentados pela pesquisadora.
Os benefícios da pesquisa estão relacionados à:
1- A discussão coletiva quanto ao bem-estar, qualidade de vida e saúde para
elaboração de propostas de educação e promoção em saúde; 2- A elaboração de
propostas de trabalho interdisciplinar na promoção da saúde; 3- O fortalecimento
profissional e o reconhecimento da atuação do professor enquanto aliado das ações
de promoção em saúde; 4- O uso da abordagem do „Círculo de Cultura‟ de Paulo
120
Freire como movimento emancipatório; 5- Elaboração de propostas de educação em
saúde que constituirão o Projeto Político Pedagógico da escola.
O percurso metodológico que torna possível o aproveitamento de suas reflexões
no grupo focal/ entrevistas é de natureza qualitativa, com abordagem sistêmica, que
não produz dados estatísticos em suas análises, embora possa usar dados
quantitativos de outras pesquisas como complemento a seus resultados. O objetivo
deste tipo de investigação é a organização de conceitos e teorias a partir das
experiências, comportamentos, emoções e sentimentos que você irá nos repassar
por meio dos grupos focais/ entrevistas. Nesse sentido, a sua contribuição somada à
coleta documental e bibliográfica é extremamente valiosa e será o ápice da
pesquisa. A análise dos dados será interpretativa com a pesquisadora confrontando
as informações coletadas com os objetivos da proposta, classificando, se
necessário, as mesmas e interpretando à luz de referencial teórico pertinente ao
tema e subtemas que emergirem da investigação.
Os resultados dos estudos serão divulgados durante a defesa de minha dissertação
e em reuniões do grupo de pesquisa GEVAS no Mestrado Profissional em Saúde e
Gestão do Trabalho que funciona no Campus da UNIVALI, em Itajaí, bloco F6, 3º
andar. Para esses eventos, você receberá comunicado e convite para se fazer
presente aos mesmos. Garantimos que durante estas divulgações dos resultados
seu nome será resguardado e não se fará menção ao seu nome, caso você assim
solicitar, curso do qual faz parte ou outros dados que identifique.
Ressaltamos que sua participação é livre e que a retirada de seu nome como
informante não implicará nenhum prejuízo nas relações profissionais e / ou pessoais
que mantemos em nossa instituição.
Assinaturas: _____________________________________
Yolanda Flores e Silva – Orientadora
[email protected]/(47)3341-7932
121
____________________________________
Márcia Gilmara Marian Vieira – co-orientadora
[email protected]/ (47)3341-7712
_____________________________________
Ioná Outo de Souza Wilberstaedt- Pesquisadora
Eu, ________________________________________________________, abaixo
assinado, fui esclarecido (a) sobre a pesquisa SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA:
discursos do corpo docente de uma escola pública de ensino fundamental da
capital catarinense, bem como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de
minha participação. Foi-me informado e garantido que posso retirar meu consentimento
a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer tipo de penalidade em minha vida
profissional . Concordo que meus dados sejam utilizados na realização da mesma e
______________( desejo/ não desejo) participar da entrevista individual, caso seja
convidado (a).
Nome:________________________________________________________________
Assinatura:__________________________________________________________
RG: ___________________________ CPF: ________________________________
Florianópolis, ______, de _____________________ de 2013.
122
APÊNDICE B
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM SAÚDE E GESTÃO
DO TRABALHO / MESTRADO PROFISSIONAL
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SAÚDE DA FAMÍLIA
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Pesquisa: SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA: discursos do corpo docente de uma
escola pública de ensino fundamental da capital catarinense.
Docente do Ensino Fundamental
Identificação: _________________________________________________
Disciplina que atua:_____________________________________________
Idade: _______________ Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
Estado civil:_______________________ Filhos: ( ) não tenho ( ) número:_____
Formação Profissional:_____________________Tempo de trabalho:________
Pós-graduação:___________________________________________________
1. Nossa conversa será sobre o que você entende / compreende sobre quatro
„fenômenos‟ do viver humano. Pense, e se quiser, conte uma experiência de sua
vida (aqui na escola ou em sua casa) que possa melhor demonstrar e descrever
o que você concebe sobre:
Saúde
Doença
Bem-estar
Qualidade de Vida
123
2. Agora, pensando individualmente cada „fenômeno‟ coloque-me quais as suas
experiências de saúde – aqueles momentos ou histórias da sua vida em que
você sente que está com saúde e que pode realizar suas funções de docente e
de pessoa (com sua família e amigos).
3. Sobre doença: como você sabe que está doente? Que doenças ou problemas o
afetaram nos últimos dois (02) anos? Você está vivenciando neste momento
algum problema de natureza crônica? É uma doença ou é um sintoma? Quais
providências você vem tomando para curar-se e/ou diminuir os agravos deste
problema? Você precisa de algo especial e diferente para atenuar este problema
(uma dieta, relaxamento, exercícios, dormir mais, etc)?
4. O que você considera importante para que alguém se sinta bem e possa dizer
„vivo um momento de bem-estar‟? Você consegue se sentir assim no ambiente
da escola? Você percebe este sentimento de bem-estar em seus colegas? Eles
expressam isto? E os demais membros da comunidade escolar?
5. Sobre qualidade de vida: o que você considera como importante para que se
obtenha uma vida com qualidade? Você se considera alguém com uma vida em
que você consegue: fazer exercícios, ter uma alimentação adequada à sua idade
e atividade, ter um bom sono e repouso nos intervalos do trabalho, lazer,
descanso em casa e um bom relacionamento com as pessoas com quem
convive?
6. Para você o que é Promoção da Saúde? Como seria possível, segundo o seu
ponto de vista, fazer promoção da saúde no âmbito escolar. Qual seria a sua
contribuição para a realização de um programa de promoção escolar na escola?
7. E sobre Educação em Saúde, o que você entende que seja? Educação em
Saúde é o mesmo que Promoção em Saúde? Quais ações você considera como
importantes para implementação de um programa de Educação em Saúde
Escolar?
8. Finalmente: você saberia a diferença entre ações multidisciplinares,
interdisciplinar, transdisciplinar e pluridisciplinar?
Agradecemos a sua participação!
130
ANEXO A
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM SAÚDE E GESTÃO
DO TRABALHO / MESTRADO PROFISSIONAL
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SAÚDE DA FAMÍLIA
Florianópolis – SC / Brasil, 02 de setembro de 2013
Ilmo Sr. Diretor,
José Antônio Dainez Júnior
Como docente desta Unidade Escolar e aluna regular do Curso de pós-graduação
Strictu sensu, Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho, Turma 10, da
Universidade do Vale de Itajaí – UNIVALI, sob orientação da Profª Enf.ª Drª Yolanda
Flores e Silva e co-orientação da Profª Drª Márcia Gilmara Marian Vieira, venho por
meio deste documento solicitar permissão para efetuar a coleta de dados do meu
trabalho de pesquisa junto ao corpo docente desta escola com a proposta de
pesquisa intitulada: SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA: discursos do corpo docente
de uma escola pública de ensino fundamental da capital catarinense, que tem
como objetivo geral: Analisar os discursos sobre saúde e qualidade de vida de
docentes de uma escola pública de ensino fundamental, visando auxiliar discussão
de uma tecnologia social que permita criar um modelo de Promoção da Saúde
Escolar que possa ser efetivado por meio de ações interdisciplinares de educação
em saúde. Em anexo a cópia de nossa proposta para que possa ler e avaliar nosso
pedido, que após o seu deferimento será enviado ao Comitê de Ética da UNIVALI
para que tenhamos o aval final para a realização da coleta de dados junto aos
docentes da escola sob a sua direção. No caso de dúvidas, colocamo-nos à
disposição para outros esclarecimentos.
Cordialmente,
Ioná Outo de Souza Wilberstaedt
Mestranda em Saúde e Gestão do Trabalho
131
ANEXO B
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS
PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM SAÚDE E GESTÃO DO TRABALHO / MESTRADO PROFISSIONAL
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SAÚDE DA FAMÍLIA
Florianópolis – SC / Brasil, 05 de setembro de 2013.
Ilmo Sr. Gerente da Educação,
Mário Benedet Filho
Gerência Regional de Educação – Grande Florianópolis
(GERED/SC)
Como Professora de Ciências ACT-2013, do ensino fundamental, Matrícula 667169.01.1 e
aluna regular do Curso de pós-graduação Strictu sensu, Mestrado Profissional em Saúde e
Gestão do Trabalho, Turma 10 da Universidade do Vale de Itajaí – UNIVALI, sob orientação
da Profª Drª Yolanda Flores e Silva e co-orientação Profª Drª, Márcia Gilmara Marian Vieira
eu, Ioná Outo de Souza Wilberstaedt venho por meio deste documento solicitar permissão
para efetuar a coleta de dados do meu trabalho de pesquisa junto ao corpo docente de minha
escola de lotação com a proposta de pesquisa intitulada: : SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA:
discursos do corpo docente de uma escola pública de ensino fundamental da capital
catarinense, que tem como objetivo geral: Analisar os discursos sobre saúde e qualidade
de vida de docentes de uma escola pública de ensino fundamental, visando auxiliar discussão
de uma tecnologia social que permita criar um modelo de Promoção da Saúde Escolar que
possa ser efetivado por meio de ações interdisciplinares de educação em saúde. Em anexo, a
cópia de nossa proposta para que possa ler e avaliar nosso pedido, que após o seu
deferimento, será enviado ao Comitê de Ética da UNIVALI para que tenhamos o aval final
para a realização da coleta de dados junto aos docentes da escola. No caso de dúvidas,
colocamo-nos à disposição para outros esclarecimentos.
____________________________ ____________________________
Ioná Outo de Souza Wilberstaedt Profª Drª Márcia Gilmara Marian Vieira
132
ANEXO C
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM SAÚDE E GESTÃO
DO TRABALHO / MESTRADO PROFISSIONAL
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SAÚDE DA FAMÍLIA
TERMO DE ACEITE DE ORIENTAÇÃO
Declaro que conheço e aceito os requisitos da Resolução CNS 466/12, suas
diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos no
desenvolvimento do projeto de pesquisa intitulada: SAÚDE E QUALIDADE DE
VIDA: discursos do corpo docente de uma escola pública de ensino
fundamental da capital catarinense, da mestranda, Ioná Outo de Souza
Wilberstaedt, assim como afirmo que os dados coletados serão utilizados apenas
para os fins especificados no trabalho de pesquisa com o objetivo geral de analisar
os discursos sobre saúde e qualidade de vida de docentes de uma escola pública de
ensino fundamental, visando auxiliar discussão de uma tecnologia social que permita
criar um modelo de Promoção da Saúde Escolar que possa ser efetivado por meio
de ações interdisciplinares de educação em saúde
Orientadora :______________________________________________
Yolanda Flores e Silva
Itajaí, 02 de setembro de 2013.
133
ANEXO D
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM SAÚDE E GESTÃO
DO TRABALHO / MESTRADO PROFISSIONAL
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SAÚDE DA FAMÍLIA
TERMO DE UTILIZAÇÃO DE DADOS PARA COLETA DE DADOS DE
PESQUISAS ENVOLVENDO SERES HUMANOS
Declaro que conheço e cumprirei os requisitos da Resolução CNS 466/12 no
desenvolvimento da pesquisa intitulada SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA:
discursos do corpo docente de uma escola pública de ensino fundamental da
capital catarinense, que tem como objetivo geral: Analisar os discursos sobre
saúde e qualidade de vida de docentes de uma escola pública de ensino
fundamental, visando auxiliar discussão de uma tecnologia social que permita criar
um modelo de Promoção da Saúde Escolar que possa ser efetivado por meio de
ações interdisciplinares de educação em saúde. Afirmo que os dados coletados
serão utilizados apenas para os fins especificados no trabalho de pesquisa.
Orientadora: __________________________________________
Yolanda Flores e Silva
Co-orientadora:_________________________________________
Márcia Gilmara Marian Vieira
Mestranda: ____________________________________________
Ioná Outo de Souza Wilberstaedt
Participante Pesquisado(a):_____________________________________
Nome Participante por extenso:__________________________________
Itajaí, _______/___________/__________