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  ntuição programas de treinamento desenvolvimento· Sylvia Constant Vergara Paulo Durval Branco··· Sumário: 1 Introdução; 2 A metodologia de investigação; 3. Desvelando a intuição; 4. Sobre a possibilidade de desenvolvimento da intruição; 5 Prática s de desenvolvimento da intuição utiliza das nos programas de T D; 6 Um foco em empresas de grande porte; 7 Conclusões e sugestões para uma nova agenda de pesquisa. Palavras- chave: dimensões humanas; desenvolvimento da intuição; novas tendências em T D. Dimensão intui tiva: resgate de seu significado e possibilidade de desenvolvimento. Programas de T 0 como espaço para tal desenvolvimento. Pesquisa realizada junt o a profissionais vinculados a empresas dos setores de serviços, comércio e indústria, além de entrevistas realizadas jlUlto a seis empresas de grande porte situadas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Intultlon and tralnlng and dlVllopmlnt programs In the process o f formation and development o f administrators, we can see that, i on ODe hand is accepted the idea that it is a fallacious thing to foeus the world around us with lenses fashioned in the reductionism and limitations o f linear causality, characteristic ofthe mechanicist vision, on the other we may only count on a formation that has a1ways privileged the compartmentaIization and fragme ntation ofkn owl edg e. Therefore, an impasse ar ises and, for its overcoming it is every day more visible the necessity o f recuperating those forgotten dimensions o f the human being such as the affective, the intuitive and the spiritual ones. In centering on the intuitive dimension, this arti c1e envisagens the rescuing of its meaning and possibility of development. The established pre mise was the degree in which programs oftraining and development may be pertinent as a space for such developmen t To probe into this, 323 professionaJ persons belonging to enterprises in the areas o f service, trade and industry have been contacted, besides a number o f interviews effected in six big-sized enterprises located in Rio de Janeiro and São Paulo. 1 Introdução Durante várias décadas estivemos sob as luzes da chamada administração científica, que ainda exerce profunda influência sobre a s organizações. Comprometida com uma vi são mecanicista da realidade e baseada nos princípios de unidade de coma ndo, divisão do trabalho, hierarquia, disciplina, autoridade e , acima de tudo, controle, essa abordagem identifica n o eleme nto humano uma limitação par a os imperativos de produtividade e de sempenho. No entanto, a quase totalidade dos fenômenos hoje percebidos no contexto organizacional muito pouco se adaptam àquela visão. A velocidade e a freqüência das mudanças provocam o questionamento do mecanicismo. Iss o não significa dizer que a chamada administração científica tenha sido um equí voco em si mesma. Na verdade, mostrou-se pertinente para a sua época, ao levar a cabo, através de homens como Taylor e Fayol, fimdamentos originados das ciências físicas e tributam Marilia da de boa parte dos d ados e agradecem ao CNPq o aux ilio fmanceiro .

Intuicao e Programas de Treinamrnto

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  • Intuio e programas de treinamento e desenvolvimento Sylvia Constant Vergara" Paulo Durval Branco

    Sumrio: 1. Introduo; 2. A metodologia de investigao; 3. Desvelando a intuio; 4. Sobre a possibilidade de desenvolvimento da intruio; 5. Prticas de desenvolvimento da intuio utiliza-das nos programas de T&D; 6. Um foco em empresas de grande porte; 7. Concluses e sugestes para uma nova agenda de pesquisa. Palavras-chave: dimenses humanas; desenvolvimento da intuio; novas tendncias em T&D.

    Dimenso intuitiva: resgate de seu significado e possibilidade de desenvolvimento. Programas de T &0 como espao para tal desenvolvimento. Pesquisa realizada junto a profissionais vinculados a empresas dos setores de servios, comrcio e indstria, alm de entrevistas realizadas jlUlto a seis empresas de grande porte situadas no Rio de Janeiro e em So Paulo.

    Intultlon and tralnlng and dlVllopmlnt programs In the process of formation and development of administrators, we can see that, if on ODe hand is accepted the idea that it is a fallacious thing to foeus the world around us with lenses fashioned in the reductionism and limitations of linear causality, characteristic ofthe mechanicist vision, on the other we may only count on a formation that has a1ways privileged the compartmentaIization and fragmentation ofknowledge. Therefore, an impasse arises and, for its overcoming it is every day more visible the necessity of recuperating those forgotten dimensions of the human being such as the affective, the intuitive and the spiritual ones. In centering on the intuitive dimension, this arti-c1e envisagens the rescuing of its meaning and possibility of development. The established pre-mise was the degree in which programs oftraining and development may be pertinent as a space for such development To probe into this, 323 professionaJ persons belonging to enterprises in the areas of service, trade and industry have been contacted, besides a number of interviews effected in six big-sized enterprises located in Rio de Janeiro and So Paulo.

    1. Introduo

    Durante vrias dcadas estivemos sob as luzes da chamada administrao cientfica, que ainda exerce profunda influncia sobre as organizaes. Comprometida com uma vi-so mecanicista da realidade e baseada nos princpios de unidade de comando, diviso do trabalho, hierarquia, disciplina, autoridade e, acima de tudo, controle, essa abordagem identifica no elemento humano uma limitao para os imperativos de produtividade e de-sempenho. No entanto, a quase totalidade dos fenmenos hoje percebidos no contexto organizacional muito pouco se adaptam quela viso. A velocidade e a freqncia das mudanas provocam o questionamento do mecanicismo.

    Isso no significa dizer que a chamada administrao cientfica tenha sido um equ-voco em si mesma. Na verdade, mostrou-se pertinente para a sua poca, ao levar a cabo, atravs de homens como Taylor e Fayol, fimdamentos originados das cincias fsicas e

    Artigo recebido em maio e aceito em jul. 1994. Os autores tributam a Marilia Saldanha da Fonseca a coleta de boa parte dos dados e agradecem ao CNPq o auxilio fmanceiro . Professora da Escola Brasileira de Administrao Pblica (EBAP) da Fundao Getulio Vargas . Mestrando em administrao de empresas pela Pontificia Universidade Catlica do Rio de Janeiro.

  • naturais, os quais verdadeiramente deslumbraram os pensadores do sculo XIX. As leis do movimento de Newton, os princpios da termodinmica e outras descobertas pareciam capazes de elucidar os grandes mistrios da natureza e, principalmente, control-la. Taylor chegava a dizer que a principal causa de desperdcio no trabalho humano era a no-cientificidade da administrao (Freedman, 1992:26-38).

    Concomitantemente ao questionamento da interpretao das organizaes como m-quinas, novas leituras e critrios de atuao vm sendo consolidados, manifestando coe-rncia com o contexto em que as empresas atuam. Pessoas so ento identificadas como o verdadeiro potencial de realizaes.

    Esse processo de mudana nem sempre explcito, ou mesmo coerente, deixando espao para investigaes fundamentais para a superao das limitaes at ento vivi-das. Uma manifestao da incoerncia diz respeito s tentativas de interpretao das no-vas realidades que hoje caracterizam a sociedade, segundo os modelos mentais forjados no paradigma que legitimou o entendimento do Universo como um conjunto de engrena-gens de movimentos previsveis e controlveis. Como conseqncia, verificam-se sobre-posies entre teoria e prtica no mnimo caricatas, em que fenmenos complexos e in-terdependentes so, inconseqentemente, simplificados e desconectados das relaes que lhes do vida.

    Em vrias reas do conhecimento, o processo de mudana conquista espao em de-bates, como os travados na administrao. Em comum, verifica-se a constatao de que, se de um lado se compreende e aceita intelectualmente que ilusrio enfocar o mundo nossa volta a partir de lentes forjadas no reducionismo e nas limitaes da causalidade li-near que caracterizam a viso mecanicista, por outro s se dispe de uma formao que sempre privilegiou a compartimentalizao e a fragmentao do saber. H portanto um impasse que coloca, de um lado, o enfrentamento de um ambiente globalizado e caracte-rizado por fenmenos interdependentes, e, de outro, uma formao humana que privile-gia o pensamento reducionista e fragmentado (Vergara & Branco, 1993). no sentido da mitigao desse impasse que se orientam aqueles que alertam para a necessidade de res-gatar as dimenses esquecidas do ser humano, entendidas como as afetivas, intuitivas, espirituais (Capra, 1975, 1982, 1990; Chanlat, 1990; Coleman & Perrin, 1992; Ferguson, 1980; Fregtman, 1991; Moscovici, 1988; Weil, 1990; e Wilber, 1977).

    Este artigo focaliza a dimenso intuitiva. Consolida descobertas realizadas que per-mitiram resgatar o significado da intuio e apresentar a possibilidade de seu desenvolvi-mento. Tomando-se como premissa a pertinncia de os programas de treinamento e de-senvolvimento (T &D) levados a efeito nas empresas poderem ser um espao para aquele desenvolvimento, tambm buscou-se investigar at que ponto o so. Sups-se que muito pouco. A metodologia utilizada que ensejou as descobertas descrita a seguir.

    2. A metodologia de investigao

    o processo de investigao desenvolveu-se em trs fases, ampliando as possibilida-des para a coleta de dados. A primeira caracterizou-se por pesquisa bibliogrfica; as duas ltimas por investigao de campo, a qual foi implementada atravs de questionrio e en-trevistas no-estruturadas.

  • Em termos de pesquisa bibliogrfica, fez-se uma reviso da literatura de vrias reas do conhecimento, notadamente filosofia, filosofia perene, neurocincia, fisica, psicolo-gia, administrao e educao. Nessa fase buscaram-se diferentes interpretaes para o que vem a ser intuio, bem como o entendimento quanto s possibilidades e limites do seu desenvolvimento.

    Com relao pesquisa de campo, sua primeira fase foi realizada atravs de um questionrio ao qual responderam 323 profissionais vinculados a empresas. Destes, 227 atuavam no setor de servios, 33 no de comrcio e 63 no da indstria. As empresas eram de porte pequeno, mdio e grande, estando todas sediadas no Rio de Janeiro. Para res-ponderem ao questionrio, os profissionais deveriam ter em mente, conforme solicitado, apenas a organizao na qual estavam trabalhando.

    A distribuio relativa ao setor de atividade das empresas onde atuam os profissio-nais abordados mostra-se coerente com o perfil do mercado carioca, no qual o setor de servio predominante.

    Os resultados obtidos com a aplicao do questonrio, associados a notcias infor-mais e formais que davam conta de que havia empresas cujos programas de T &D privile-giavam a dimenso intuitiva, instigaram buscas mais direcionadas, que acabaram por en-volver seis empresas de grande porte situadas no Rio de Janeiro e em So Paulo: uma do comrcio, uma da indstria e quatro de servios. Nelas foram entrevistados os respons-veis pelas atividades de T &D, o que configurou a segunda fase da pesquisa de campo. Nessa fase teve lugar, alm das entrevistas no-estruturadas, pesquisa documental, j que foram analisados projetos, material de divulgao e vdeos dos programas de treina-mento.

    Os dados obtidos so apresentados a seguir. Busca-se desvelar o que intuio, dis-cutir a possibilidade de seu desenvolvimento, identificar tal possibilidade nos programas de T&D, focalizar empresas de grande porte e apresentar as concluses que o estudo en-sejou.

    3. Desvelando a intullo

    Apesar de cada vez mais citada no mundo da administrao, a intuio parece no encontrar a elementos consistentes que ajudem a clarificar seu significado, natureza ou mesmo seus momentos de manifestao. Tomou-se indispensvel, portanto, buscar a contribuio de outras reas do saber.

    Sintetizando Bergson (1946), Grof (1987), Jung (1987) e Kant (1966), pode-se dizer que intuio faculdade do ser que acessa o conhecimento sem mediaes. sem explica-es e sem o estabelecimento de relaes lineares de causa e efeito. Tem sua origem na conscincia vital, segundo o sentido filosfico, ou no inconsciente individual e coletivo, segundo o sentido da psicologia transpessoal 01 ergara, 1991 e 1993).

    Conforme a tipologia proposta por Jung (1987), existem quatro funes psquicas bsicas: pensamento, sensao, sentimento e intuio. Ao mesmo tempo no-racional e inconsciente, a intuio tida por Jung como uma viso do todo que apreende e configu-ra o objeto e que fornece referncias e relaes impossveis de ser obtidas pelas outras funes.

  • Vendo o universo como um tipo de holoarquia ou, como prefere Capra, de ordem es-tratificada, Wilber (1991) refere-se a seis nveis de conscincia, que comeam pelo corpo fisico e o cosmos material e vo at a conscincia enquanto tal, natureza e fonte de cada nvel da hierarquia. A intuio est no nvel quatro e uma forma mais elevada e sutil da mente, extrapolando os limites do intelecto e do corpo.

    Outra referncia esclarecedora para a origem e a manifestao da intuio pode ser encontrada no trabalho de David Bohm (1992). Para ele, o universo tem uma ordem im-plicada, no-manifesta, dobrada, e uma ordem explicada, manifesta, desdobrada, as quais se interpenetram. Como na tela de um computador, onde o que vemos o reflexo de uma srie de processamentos no-aparentes, a ordem explicada emerge da implicada, estando associada ao que normalmente vemos. Para Bohm, o acesso ordem implicada s possvel atravs da intuio.

    Goldberg (1992) afirma que a intuio salta os obstculos configurados por informa-es insuficientes e rene combinaes inslitas, at no-lgicas.

    Como a maioria dos fenmenos pouco conhecidos, a intuio tambm est cercada de mitos. Entre eles, merece ser discutido o que afirma que "quanto mais experincia, mais intuio". Segundo essa afirmao, a intuio dar-se-ia a partir de situaes nas quais j existam experincias anteriores, o que freqentemente contestado pelos inme-ros exemplos de pessoas que fazem descobertas em reas nas quais no tm nenhuma ex-perincia. Na verdade, intuio e experincia relacionam-se, mas no como uma espcie de reflexo condicionado. O que ocorre que, ao dominar um assunto ou situao, a pes-soa conquista um estado de relaxamento e descontrao que permite a liberao da intui-o. Como assevera Burden (1975), relaxa-se o "poder tirnico" do intelecto para dar-lhe espao.

    Historicamente, percebeu-se que possvel aperfeioar o uso da razo. Nessa possi-bilidade basearam-se os programas educacionais, que apresentam orientao eminente-mente cognitiva. Haveria semelhante orientao em relao ao uso da intuio? Seria possvel aperfeio-la?

    4. Sobre a possibilidade de desenvolvimento da intuio

    Vendo o conhecimento como o processo de captao do no-manifesto, do nmeno, da coisa em si, Kant, Bohm e a filosofia perene concordam que a essncia distorcida mesmo antes de ser nomeada. No fmal do sculo XVIII, Kantj afirmava que, atravs da lgica ou das leis do pensamento, seria impossvel a experincia do que fundamental. Na concepo kantiana, que muito influenciou a filosofia ocidental, no dispomos de ca-pacidade que viabilize o acesso ao nmeno.

    nesse ponto que o entendimento de Bohm, Krishnamurti e outros j no comparti-lha das idias de Kant. Pa.ra eles, aquela capacidade encontra-se na fora universal, e no estritamente nos seres humanos, sendo que atravs da conscincia individual que po-dem ser dadas as condies para que ela flua (Wilber, 1991). Isso ratifica um dos funda-mentos das tradies orientais, que apresenta o estado de vazio como precondio para a manifestao da energia numnica.

    Estaria ai a possibilidade de desenvolvimento da intuio? Seria a vacuidade o esta-do a ser alcanado como condio para a compreenso intuitiva?

  • Independentemente dos fundamentos conceituais, parece ser no sentido da vacuida-de que apontam os esforos realizados quando se trata de desenvolvimento do potencial intuitivo. Dessa forma, vrias prticas tm sido propostas. Sejam originadas de aborda-gens tradicionais ou alternativas, todas tm em comum um compromisso com o autodes-condicionamento das iluses geradas por uma viso de mundo fragmentada.

    interessante notar que as atividades associadas ao desenvolvimento da intuio procuram resgatar uma condio que, de alguma forma, o homem j experimentou. Qual condio? Pode ser uma maior harmonia com a natureza, uma percepo mais apurada do corpo, um entendimento mais integrado do universo, uma manifestao espontnea da criatividade e tantas outras. como se todo o esforo fosse no sentido de retomar um estado adulterado pelas disfunes de um modo de vida incompatvel com a essncia da natureza humana.

    Entre essas prtcas, algumas so mencionadas por Vergara (1993). No devem ser vistas como excludentes, alm de seu uso estar intimamente ligado s caractersticas de cada pessoa. So elas:

    - procedimentos visuais e auditivos rtmicos, tais como o canto e a audio de msica clssica;

    - exerccios sinticos, que ao estimularem o pensar metafrico estabelecem ligao entre os hemisfrios cerebrais;

    - mecanismos de biofeedback, que ao reproduzirem sons e visualizaes de processos do organismo levam a uma maior conscincia desses processos a partir de um estado relaxado e, ao mesmo tempo, alerta;

    - atividades artsticas em geral, como pintura, escultura e msica;

    - esportes que provoquem a sensao de liberdade e ausncia de tempo, tais como iatismo, vo livre e outros;

    - psicodrama, dinmica de grupo;

    - tcnicas de controle da mente;

    - interpretao de sonhos, tidos como fontes de experincias sincrnicas;

    - trabalhos com o corpo, tais como hata-ioga, tai-chi, bioenergtica, reiki e outros, que favorecem a integrao mente/corpo;

    - prtica de meditao.

    Estariam essas prticas presentes nos programas de T &D?

    5. Prticas de desenvolvimento da intullo utilizadas nos programas de T&D

    Algumas das prticas apresentadas no item anterior foram relacionadas no questio-nrio que deu inicio pesquisa de campo. O desenvolvimento da intuio estaria sendo contemplado pelos programas de T &D das empresas? A busca de resposta para essa questo orientou a composio do questionrio apresentado a seguir.

  • Questionrio

    Focalize a empresa na qual voc trabalha.

    1. Setor de atividade da empresa: o Servios

    O Pequeno o Indstria o Comrcio

    2. Porte da empresa: O Mdio o Grande

    3. Focalize o programa de Treinamento e Desenvolvimento dessa empresa, mesmo que voc no tenha participado do programa, mas o conhea. Responda sim (S) ou no (N), conforme o programa abra ou no espaos para situaes nas quais os parti-cipantes ...

    Os ON

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    a) focalizam duas ou mais coisas (eventos, tarefas, mtodos, organiza-es ou outras coisas quaisquer) e defmem a relao entre elas;

    b) identificam uma situao de crise e a transformam em uma oportuni-dade; dito de outra maneira, transformam uma situao ruim em de-sejvel;

    c) descobrem diferenas individuais e percebem o valor dessas diferen-as;

    d) descobrem sentimentos ocultos em si mesmos; e) descobrem emoes que sentem diante de uma situao; t) fazem exerccios respiratrios; g) trabalham em grupo para a soluo de um problema; h) fazem exerccios visuais e auditivos ritmicos (cantam, ouvem msi-

    ca clssica, tocam um instrumento ou outra atividade similar); i) fazem exerccios com o uso de metforas (imagens); j) fazem exerccios de relaxamento; I) fazem pintura, escultura, trabalho com barro, tapearia ou outra ati-

    vidade similar; m) "vivem" psicodramas, dinmicas de grupo (simulaes, representa-

    es, expresses e outras atividades similares); n) passeiam por florestas, montanhas, praias ou outro lugar qualquer ao

    ar livre, "vivendo" o ambiente; o) praticam tcnicas de controle da mente; p) relatam e interpretam sonhos; q) realizam trabalhos com o corpo (tai-chi-chuan, ioga, dana, antigi-

    nstica, reiki, aikid, bioenergtica e outros similares); r) fazem meditao.

    Aps a tabulao dos dados coletados, foi possvel obter os percentuais apresentados na tabela 1.

  • Tabela 1 Prticas em T &D em empresas em geral

    Questo I

    Resposta 323 respondentes

    a) relao entre duas ou mais coisas Sim 65,63% ~o 34,37%

    b) transfonnam crise em oportunidade Sim 58,20% I No 41,80%

    c) diferenas individuais Sim 52,94% ~o 46,75%

    d) sentimentos ocultos I Sim 36,50% No 63,50%

    e) emoes diante de situaes Sim 46,10% No 53,90%

    f) exercicios respi.-at6rios Sim 18,00% ~o 82,00%

    g) soluo de problema em grupo Sim 70,60% No 29,40%

    h) exerccios visuais e auditivos Sim 14,00% No 86,00%

    i) exerccios com uso de metforas Sim 24,50% No 75,50%

    j) exerccios de relaxamento Sim 12,40% No 87,60%

    I) pintura, escultura e similare Sim 6,80% No 93,20%

    m) psicodramas, dinmicas de grupo Sim 35,90% No 64,40%

    n) passeios por florestas, montanhas Sim 13,60% No 86,40%

    o) tcnicas de controle da mente Sim 6,20% No 93,80%

    p) interpretao de sonhos Sim 3,10% No 96,90%

    q) tai-chi, ioga, bioenergtica e similares Sim 10,20% I No 89,80%

    r) meditao Sim 3,40% No 96,60%

  • A observao da tabela 1 permite estabelecer uma ordenao de atividades, por fre-qncia. A primeira a menos freqente:

    - interpretao de sonhos

    -meditao

    - controle da mente

    - pintura, escultura ou similares

    - ioga, tai-chi, dana ou similares

    - relaxamento

    - passeios por florestas ou outro lugar ao ar livre

    - exerccios visuais e auditivos

    - exerccios respiratrios

    - exerccios com o uso de metforas

    - psicodramas, dinmicas de grupo

    - descoberta de sentimentos ocultos em si mesmo

    - descoberta de emoes diante de uma situao

    - descoberta e percepo do valor de diferenas individuais

    - identificao de situao de crise e transformao em oportunidade

    - definio de relaes entre duas ou mais coisas

    - soluo de problemas em grupo

    interessante notar que as atividades que tradicionalmente estiveram distantes dos programas de T&D nas empresas assim continuam, embora os representantes do meio empresarial falem da necessidade de desenvolvimento da intuio. Tambm so pouco freqentes as prticas mais diretamente ligadas consecuo dos estados de vacuidade necessrios intuio. Portanto, conforme suposio que precedeu o estudo, o desenvol-vimento da dimenso intuitiva tem sido muito pouco contemplado nos programas de T &D das empresas em geral.

    Dado, porm, que os respondentes trabalhavam em empresas de vrios setores e por-tes, poderia haver diferenas significativas relacionadas com o tipo de empresa. Diante dessa suposio, os dados foram agrupados segundo setor e porte das empresas, de modo a oferecer visibilidade para refutao ou confirmao do suposto.

    A ordenao das prticas a partir da menos freqente mostra-se equivalente, no setor de servios, ao verificado junto ao total de respondentes. Menos freqente o uso da me-ditao e da interpretao de sonhos, ao contrrio da soluo de problemas em grupo, que a de maior incidncia.

    Tomando-se cada uma das prticas, individualmente, no se pode afirmar que exista alguma que se destaque como caracterstica de determinado porte de empresa. Ao mes-mo tempo notrio, no setor de servios, que as menores incidncias das prticas verifi-cam-se nas empresas de pequeno e mdio portes.

  • Tabela 2 Prticas em T &0 por tipo de empresa

    Empresas de servios Empresas de comrcio Empresas de indstria Qucstlo NI' de respondentes Pequena Mdia Grande Pequena Mdia Grande Pequena Mdia Grande

    36 76 115 5 14 14 I 19 43 a) re11o entre duas ou mais coisas Sim 41,7"10 63,2% 68,7% 60',0% 71,4% 85,7% 0,0% 73,70/. 72,1%

    NIo 58,3% 36,8% 31,3% 40,0% 28,6% 14,3% 100,0"10 26,3% 27,9"10 b) transformam crise em oportunidade Sim 58,3% 51,3% 52,2"10 60,0"10 57,1% 64,3% 100,0% 73,7% 76,7%

    NIo 41,7"10 48,7% 47,rlo 40,0% 42,9"10 35,7% 0,0"10 26,3% 23,3% c) difcn:nas individuais Sim 58,3% 44,7% 49,6% 80,0% 50,0010 71,4% 0,0% 57,9% 62,8%

    NIo 41,7"10 55,3% 50,4% 20,0% 42,9"10 28,6% 100,0% 42,1% 37,2% d) sentimentos ocultos Sim 25,0"10 34,2% 33,9% 60,0% 35,7% 64,3% 0,0% 52,6% 39,5%

    NIo 75,0"/ .. 65,8% 66,1% 40,0% 64,3% 35,7"10 100,0% 47,4% 60,5% e) emot\cs diante de situaes Sim 38,9% 44,7% 46,1% 40,0% 57,1% 64,3% 0,0"10 57,90/. 41,9%

    NIo 61,1% 55,3% 53,9% 60,0% 42,9"10 35,7% 100,0% 42,1% 58,1% f) exerclcios respiratrios Sim 22,2% 11,8% 21,7% 60,0"10 14,3% 21,4% 0,0% 21,1% 9,3%

    NIo 77,8% 88,2% 78,3% 40,0% 85,7"10 78,6% 100,0% 78,9% 90,7% g) soluA0 de problema em grupo Sim 72,2% 57,9"10 72,2"10 20,0% 71,4% 85,7% 0,0% 84,2% 83,7%

    NIo 27,rlo 42,1% 27,8% 80,0"10 28,6% 14,3% 100,0% 15,8% 16,3% h) exerclcios visuais e auditivos Sim 19,4% 11,8% 11,3% 0,0% 0,0"10 28,6% 100,0% 10,5% 20,9%

    NIo 80,6% 88,2% 88,7% 100,0% 100,0"10 71,4% 0,0% 89,5% 79,1% i) exerclcios com uso de metforas Sim 16,7"10 14,5% 20,0"10 20,0"10 28,6% 42,9"10 0,0% 31,6% 51,2%

    NIo 83,3% 85,5% 80,0% 80,0% 71,4% 57,1% 100,0% 68,4% 48,8% j) exerclcios de relaxamento Sim 11,1% 9,2% 13,9% 0,0% 0,0010 21,4% 0,0% 21,1% 14,0%

    NIo 88,9% 90,8% 86,1% 100,0% 100,0"10 78,6% 100,0010 78,9"10 86,0% I) pintura, escultura e similares Sim 5,6% 5,3% 6,1% 20,0% 0,0"10 21,4% 0,0010 10,5% 7,0%

    NIo 94,4% 94,7% 93,9% 80,0% 100,0% 78,6% 100,0% 89,5% 93,0% m) psicodramas, dinAmicas de grupo Sim 22,2"10 27,6% 33,0"10 40,0% 21,4% 78,6% 0,0010 68,4% 46,5%

    NIo 77,8% 72,4% 67,0"/. 60,0% 78,6% 21,4% 100,0% 36,8% 53,5% n) passeios por florestas, montanhas Sim 11,1% 14,5% 13,0"10 0,0% 21,4% 28,6% 0,0% 5,3% 14,0%

    NIo 88,9% 85,5% 87,0"10 100,0% 78,6% 71,4% 100,0% 94,7% 86,0% o) tcnicas de controle da mente Sim 5,6% 1,3% 6,1% 0,0% 21,4% 28,6% 0,0% 0,0% 7,0%

    NIo 94,4% 98,7% 93,9% 100,0% 78,6% 71,4% 100,0% 100,0% 93,0% p) interprctalo de sonhos Sim 5,6% 0,0% 5,2% 0,0% 14,3% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

    NIo 94,4% 100,0% 94,rlo 100,0% 85,7% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% q) tai-chi, ioga, biocncrgtica e similares Sim 11,1% 6,6% 12,2% 0,0% 14,3% 7,1% 0,0"10 0,0% 16,3%

    NIo 88,9% 93,4% 87,rlo 100,0% 85,7% 92,9% 100,0% 100,0"10 83,7% r) meditalo Sim 0,0"10 5,3% 2,6% 0,0% 7,1% 14,3% 0,0% 0,0% 2,3%

    NlIo 100,0"10 94,7% 97,4% 100,0% 92,9% 85,7% 100,0% 100,0% 97,7%

  • Concluses semelhantes s obtidas quando da anlise dos dados, tomando-se por re-ferncia as empresas de servios, foram tambm observadas na anlise daqueles referen-tes s organizaes de comrcio e de indstria.

    Independentemente do setor de atividade, pode-se verificar que as maiores freqn-cias das prticas associadas ao desenvolvimento da intuio ocorrem nas empresas de grande porte. Como essas atividades so desenvolvidas nessas empresas? O que define sua incluso nos programas de T &D? Quais os impasses normalmente enfrentados?

    6. Um foco em empresas de grande porte

    Notcias informais e formais identificaram seis empresas de grande porte nas quais, possivelmente, haveria uma certa preocupao em fazer dos programas de T &D uma oportunidade para o desenvolvimento da intuio. Diante dessa situao, decidiu-se por realizar entrevistas junto aos profissionais da rea de T &D dessas empresas.

    Mesmo sem se apresentarem explicitamente vinculadas ao desenvolvimento da in-tuio, algumas das prticas relacionadas no questionrio apresentado fazem parte dos programas de T &D das empresas pesquisadas. Ora inseridas em movimentos de qualida-de total, ora em esforos de mudana de cultUra ou em programas de educao continua-da, essas prticas nem sempre tm incio a partir das mesmas iniciativas. Em alguns ca-sos esto associadas a aes da alta direo; em outros, a iniciativas oriundas dos quadros funcionais, notadamente da rea de T&D.

    No caso de uma das empresas pesquisadas, de servios, a incorporao aos progra-mas de T &D de prticas como as relacionadas no questionrio apresentou caracteristicas que devem ser destacadas. A partir do interesse individual de um profissional da rea de T&D quanto necessidade de desenvolvimento integral do ser humano, em que as di-menses fsica, mental, emocional e espiritual fossem contempladas, constituiu-se um grupo de funcionrios provenientes de vrias reas. Formado por economistas, psiclo-gos, administradores, socilogos e antroplogos, esse grupo pretendia compartilhar, com toda a organizao, as discusses e experincias que vinha desenvolvendo. Com esse in-tuito, submeteu 500 questionrios nos quais pretendia avaliar o interesse dos funcionri-os em relao a temas como tcnicas de controle mental e relaxamento, meditao, tai-chi, viso holstica, ioga, leitura dinmica, antiginstica e programao neurolingstica.

    Em funo dos resultados daquela pesquisa, o grupo que se havia formado partiu para a implementao de um programa de desenvolvimento que contemplasse as ativida-des mencionadas, o que faz lembrar as palavras de Coleman e Perrin (1992) ao discuti-rem a teoria de "campo morfogentico" de Sheldrake: "talvez devamos todos considerar a possibilidade de que quando, como pessoas e grupos, aprendemos novos hbitos e mu-damos nossa prpria vida, podemos na realidade facilitar para que outros faam o mes-mo". Muitas das atividades desenvolvidas foram conduzidas por funcionrios da prpria empresa, os quais j tinham experincias pessoais anteriores; outras contaram com con-sultores externos.

    Concludas aquelas atividades que faziam parte do programa, o mesmo grupo res-ponsvel pela implementao fez uma pesquisa de avaliao entre os participantes e suas chefias imediatas. No caso dos participantes, os maiores beneficios mencionados referi-am-se a enriquecimento pessoal, maior clareza sobre o valor humano no trabalho e per-cepo da necessidade de melhoria contnua. Quando indagados sobre possveis melho-

  • ras que pudessem ter identificado no seu desempenho profissional, muitos mencionaram um maior equilbrio para lidar com pessoas, sensibilidade na percepo do outro, retomo do sentimento de motivao para fazer o melhor e colaborar com todos de forma espont-nea, entre outros. No que se refere s chefias imediatas, 68% afirmaram ter havido me-lhoria no desempenho do funcionrio participante e 83% responderam que indicariam o programa para outros funcionrios da empresa.

    Tanto nessa empresa quanto nas outras cinco pesquisadas, no que concerne aos valo-res e propsitos subjacentes ao uso das prticas observou-se a preocupao com o alarga-mento da viso de mundo dos participantes. Como disse um dos entrevistados, "trata-se de abrir as fronteiras da nossa cabea, pois as do mundo j acabaram". Para buscar a compreenso ampliada da realidade, nem sempre as prticas so efetivamente realizadas na ou pela empresa. H casos em que so apenas mencionadas ou sugeridas, cabendo ao interessado buscar oportunidade ou fora da empresa ou com facilitadores externos que no tenham qualquer vnculo com a empresa.

    As prticas identificadas podem ser relacionadas com dois grandes grupos. O pri-meiro, dedicado a ampliar as referencias conceituais dos participantes, oferece oportuni-dades para o contato intelectual com diferentes realidades, abordagens e culturas. Procu-ra estimular a reflexo e a tomada de conscincia quanto existncia de diferentes ma-neiras de enfocar um mesmo fenmeno. Podem ser classificados nesse grupo as palestras e os seminrios que abordam temas como:

    - relaes entre religies e negcios;

    - interpretao do trabalho nas diversas culturas;

    - tendncias polticas e sociais;

    - teatro, cinema, msica, literatura e cultura em geral;

    - filosofia oriental.

    No segundo grupo esto as prticas que se desenvolvem atravs de dinmicas das mais diversas naturezas. Entre essas identificaram-se:

    - jogos de carter ldico; - exerccios de relaxamento;

    - passeios por florestas;

    - exerccios ao ar livre;

    - exerccios de sensibilizao corporal;

    - tai-chi;

    - hata-ioga

    - neurolingstica;

    - registro e interpretao de sonhos;

    - meditao;

  • - exerccios com o uso de mandalas, que so desenhos facilitadores dos estados medita-tivos;

    - pintura e escultura.

    A incluso dessas atividades nos programas de treinamento nem sempre se d sem resistncias. Seja por parte dos responsveis pela aprovao dos programas, seja por par-te dos participantes, as dificuldades algumas vezes surgem. A contribuio que as prti-cas podem trazer para as pessoas nem sempre identificada. Isso se d talvez porque a avaliao dos resultados feita segundo os critrios de curto prazo utilizados para os trei-namentos voltados para atividades operacionais, critrios esses incompatveis com as prticas que buscam a expanso da conscincia.

    Quando se trata de atividades como essas, em que valores e referncias pessoais dos mais diversos tipos so questionados, preciso ter claro que pelo menos dois elementos devem estar presentes para que ocorra algum tipo de sensibilizao favorvel. O primeiro diz respeito predisposio da pessoa para as idias e os exerccios propostos. O segun-do refere-se necessidade de um contexto no-inibidor, onde haja alguma compatibilida-de entre o dia-a-dia do participante e as experincias vividas durante os programas. Nas empresas onde essa predisposio pde ser identificada, conforme depoimento de res-ponsveis pelos programas e at de participantes, verifica-se a vinculao dos beneficios a serem alcanados melhoria da qualidade de vida, reduo do stress, ao aumento da criatividade e da percepo, melhoria das relaes interpessoais, entre outras.

    Quanto ao contexto inibidor, trata-se de questo relevante ao se abordar a realidade empresarial. Como lembrou um gerente de T&O: "as pessoas costumam sair de progra-mas dessa natureza cheias de energia e de idias, mas so logo abafadas pelo dia-a-dia". Parece ser essa possibilidade de dissonncia entre o programa de desenvolvimento e a ro-tina de trabalho que l,evou os entrevistados a demonstrar preocupao quanto necessi-dade de clarificar a vinculao de idias e prticas realidade organizacional.

    Nas trs empresas onde os efeitos inibidores do sinais de menor intensidade, alguns fatores foram identificados. Entre eles, a coerncia entre as idias e valores subjacentes aos programas de T &0 e a filosofia de gesto, o envolvimento da alta administrao com os propsitos e premissas compartilhados, a nfase nas oportunidades de aprendizado e a menor intensidade dos controles.

    Ainda no que se refere s dificuldades apresentadas pelos participantes dos progra-mas para o pleno aproveitamento do potencial das prticas, cabe mencionar as conse-qncias do processo de socializao que se d nas empresas. No se pode negar que a de-pendncia das estruturas hierrquicas e a pouca autonomia ante as situaes no planeja-das so heranas oriundas de um modelo organizacional ainda dominante. Numa tentativa de implantao de grupos autogeridos, em uma das empresas pesquisadas essa realidade foi sublinhada pela pergunta de um dos profissionais envolvidos. Aps as ativi-dades preparatrias que antecederam implantao do grupo, ele, contrariamente pro-posta, indagou: "E quem vai ser o meu chefe?".

    Independentemente dos caminhos utilizados para lidar com a dimenso intuitiva, fi-cou claro, entre as empresas pesquisadas, que j no se trata de assunto considerado in-compatvel com o mundo dos negcios. Na verdade, faz parte do dia-a-dia das organiza-es e muitas vezes define o sucesso de decises estratgicas. Para uma das entrevista-das, isso notrio quando se trata do processo de seleo de pessoal: "hoje no se avalia s a cap~cidade tcnica, mas tambm os valores, o carter e a integridade. Como conse-

  • guir isso? Pela lgica no possvel, preciso o olho-no-olho, a intuio do seleciona-dor".

    Na pesquisa realizada, interessante destacar que uma das seis empresas pertence a um conglomerado industrial que, curiosamente, abriga uma consultoria dedicada a pro-gramas de T &0 da natureza dos aqui discutidos e que presta servios ao grupo e a outras empresas fora dele.

    Incluiu-se a consultoria na investigao, alm das seis empresas mencionadas. Os produtos que oferece esto associados expanso da conscincia, abraando portanto o desenvolvimento da intuio. Prticas como interpretao de sonhos, meditao, controle da mente, ioga, pouco privilegiadas nas empresas em geral, fazem parte do portflio de produtos que a consultoria oferece. Segundo o consultor responsvel, j h depoimentos de empresas-clientes que garantem ter aumentado sua produtividade aps os gerentes te-rem participado do programa. Embora fosse interessante verificar a extenso dessa afir-mao e inclu-la neste estudo, questes relativas a recursos financeiros e ao tempo no o permitiram. Todavia, j que a consultoria continua a prestar seus servios, parece que isso confirma a mxima conhecida no mundo dos negcios: "se existe oferta, porque h demanda".

    7. Concluses e sugestes para uma nova agenda de pesquisa

    A intuio, que h longa data vem instigando filsofos e pesquisadores em geral, hoje presena marcante nos debates travados na administrao. Por ser uma capacidade inerente s pessoas que pode ser desenvolvida, tem sido citada como fator de diferencia-o no perfil dos gestores.

    Apesar da nfase que lhe atribuda, e da freqncia com que citada para justificar decises bem-sucedidas, a intuio praticamente no tem sido privilegiada nos progra-mas de T&O como dimenso a ser desenvolvida. Pequena a freqncia das prticas rea-lizadas com esse propsito, o que leva confirmao da suposio inicial deste estudo.

    Tanto no setor de servios como no de comrcio e de indstria, independentemente do porte da empresa, as atividades mais diretamente ligadas ao desenvolvimento da intui-o, como o caso da meditao, apresentam-se como as menos freqUentes, conforme pde ser levantado atravs da aplicao de questionrio respondido por 323 profissio-nais.

    Apesar da pouca freqUncia, pde-se perceber que nas empresas de grande porte que a maior incidncia - ainda que tmida - daquelas prticas acontece. Mas h difi-culdades, como as entrevistas permitiram identificar. Elas vo desde a predisposio das pessoas para processos de mudana individual at as resistncias impostas pelo prprio contexto organizacional.

    Apesar das barreiras, existem indcios de que a utilizao das atividades menciona-das neste relatrio apresenta-se como tendncia entre as empresas. Numa das organiza-es pesquisadas, foi possvel o contato com um grupo de consultores que vem atuando h mais de quatro anos em desenvolvimento gerencial. Nos programas oferecidos por es-ses profissionais destacam-se as prticas que, segundo mostra a tabela 1, foram as menos freqentes na pesquisa. Trabalhando com meditao, interpretao de sonhos, ioga e ou-tras atividades facilitadoras do processo intuitivo, o grupo obteve resultados que, segun-do seus clientes, podem ser considerados bastante satisfatrios.

  • Tal como essa consultoria, parece que outras tm-se dedicado a programas de T &D que incluem atividades como as apresentadas no questionrio que ofereceu dados a este estudo. Essa suposio nos leva a questes que merecem investigao mais proftmda, como por exemplo: como so avaliados os programas de T &D baseados em prticas como as mencionadas? Quais os critrios utilizados pelas empresas-clientes para a con-tratao de consultorias dedicadas ao uso das prticas referenciadas?

    Quando se trata do desenvolvimento da intuio, muitos so os caminhos. Este tra-balho procurou desvelar alguns e instigar que outros sejam trilhados. A motivao assen-ta-se na crena de que a razo apenas uma das dimenses humanas; logo, o desenvolvi-mento integral do ser humano pressupe tambm o desenvolvimento das outras dimen-ses. E na direo desse desenvolvimento que os programas de T&D, por sua prpria natureza, devem caminhar.

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