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1 Introdução A prevalência da obesidade a nível mundial é tão elevada que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considerou esta doença como a epidemia global do século XXI. A OMS estima que existam cerca de 1,6 biliões de adultos com excesso de peso, dos quais 400 milhões são obesos. Na prática clínica o excesso de peso é definido convencionalmente como índice de massa corporal (IMC)> 25 kg/m 2 e a obesidade IMC> 30 kg/m 2 e estão associados ao risco aumentado de doença cardiovascular (DCV) aterosclerótica e morte prematura (Horwich et al. 2008). A obesidade é classificada pela American Heart Association como um factor de risco major para a doença coronária, visto estar associada a disfunção endotelial, estados pró- trombótico e pró-inflamatório, bem como a factores de risco mais convencionais, como insulino-resistência (IR), dislipidemia e hipertensão arterial (HTA) (Sowers 2003). O estudo NHANES III (1988-94; Third National Health and Nutrition Examination Survey), demonstrou que cerca de 59,4% dos homens e 50,7% das mulheres têm excesso de peso e que cerca de 20% dos homens e de 25% das mulheres são obesos. Na Europa, a partir dos dados do estudo MONICA, 10-20% dos homens e 15-25% das mulheres são obesos e mais de metade dos europeus, entre os 35 e os 65 anos, têm excesso de peso. Em Portugal, a prevalência de excesso de peso e de obesidade na população adulta foi estimada em 34% e 12%, respectivamente (Carmo et al. 2000). É de realçar que um estudo realizado em crianças portuguesas, com idades compreendidas entre os 7 e os 9 anos, demonstrou uma prevalência de pré-obesidade de 20,3% e de obesidade na ordem dos 11,3% (Padez et al. 2004). A obesidade tem diferentes implicações, não apenas na sua distribuição e no grau de severidade, mas também na idade em que se desenvolve, sendo tanto mais nefasta quanto

Introdução - Estudo Geraldislipidémia, a hiperuricémia (HU) e a vasculopatia. A avaliação da SI reveste-se assim de grande interesse na prática clínica (Carvalheiro 2002)

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Introdução

A prevalência da obesidade a nível mundial é tão elevada que a Organização Mundial

de Saúde (OMS) considerou esta doença como a epidemia global do século XXI. A OMS

estima que existam cerca de 1,6 biliões de adultos com excesso de peso, dos quais 400

milhões são obesos.

Na prática clínica o excesso de peso é definido convencionalmente como índice de

massa corporal (IMC)> 25 kg/m2 e a obesidade IMC> 30 kg/m2 e estão associados ao risco

aumentado de doença cardiovascular (DCV) aterosclerótica e morte prematura (Horwich et al.

2008).

A obesidade é classificada pela American Heart Association como um factor de risco

major para a doença coronária, visto estar associada a disfunção endotelial, estados pró-

trombótico e pró-inflamatório, bem como a factores de risco mais convencionais, como

insulino-resistência (IR), dislipidemia e hipertensão arterial (HTA) (Sowers 2003).

O estudo NHANES III (1988-94; Third National Health and Nutrition Examination

Survey), demonstrou que cerca de 59,4% dos homens e 50,7% das mulheres têm excesso de

peso e que cerca de 20% dos homens e de 25% das mulheres são obesos.

Na Europa, a partir dos dados do estudo MONICA, 10-20% dos homens e 15-25% das

mulheres são obesos e mais de metade dos europeus, entre os 35 e os 65 anos, têm excesso de

peso. Em Portugal, a prevalência de excesso de peso e de obesidade na população adulta foi

estimada em 34% e 12%, respectivamente (Carmo et al. 2000). É de realçar que um estudo

realizado em crianças portuguesas, com idades compreendidas entre os 7 e os 9 anos,

demonstrou uma prevalência de pré-obesidade de 20,3% e de obesidade na ordem dos 11,3%

(Padez et al. 2004).

A obesidade tem diferentes implicações, não apenas na sua distribuição e no grau de

severidade, mas também na idade em que se desenvolve, sendo tanto mais nefasta quanto

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mais precocemente ocorre. As crianças e os adolescentes com excesso de peso têm um risco

cardiovascular precoce aumentado e independente do peso que venham a ter na idade adulta.

No entanto, o impacto da obesidade no risco cardiovascular parece ser mais importante

quando o ganho ponderal ocorre após a adolescência (20-25 anos) e é mais significativo para

IMC entre os 25 e os 30 kg/m2. A doença cardiovascular é a principal causa de morbilidade e

mortalidade entre os indivíduos obesos (Cameron et al. 2008, Hayman et al. 2007).

Em suma, a obesidade está a tornar-se muito comum, especialmente nos países

industrializados ocidentais, com uma prevalência crescente também nos países em

desenvolvimento e em indivíduos cada vez mais jovens, o que, naturalmente, condiciona

custos directos e indirectos muito elevados (Cameron et al. 2008, Hayman et al. 2007).

A obesidade tem um impacto notável na incidência global das DCV, tais como,

doença coronária, doença cérebro-vascular, doença vascular periférica, aterosclerose aórtica e

aneurisma aórtico abdominal ou torácico. É de destacar que, segundo o Instituto Nacional de

Estatística, em Portugal as doenças do aparelho circulatório são a principal causa de morte.

A ocorrência de alterações no metabolismo da insulina e glicose, excesso de peso e

distribuição de gordura abdominal, dislipidemia e HTA e a sua associação com o subsequente

desenvolvimento de Diabetes Mellitus tipo 2 (DM tipo 2) e de DCV deram origem ao

conceito de Síndroma Metabólica (SM), também conhecida como Síndroma de Insulino-

resistência (IR) (Cameron et al. 2008, Paiva 2002).

A patogénese da SM continua em esclarecimento, embora seja reconhecido que

factores como a alimentação e a actividade física, combinados com factores genéticos,

estejam relacionados na produção desta síndrome. A obesidade e o estilo de vida sedentário

estão a aumentar paralelamente com a SM (Balkau et al. 2007).

A prevalência aumentada da obesidade torna-se preocupante, bem como o aumento

das restantes co-morbilidades provenientes do aumento da massa gorda: IR/hiperinsulinémia,

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DM tipo 2, HTA, anormalidades na coagulação, dislipidemia e DCV (Cameron et al. 2008,

Iqbal et al. 2008, Zhang et al. 2008). O tratamento da obesidade tem como principal objectivo

minimizar as alterações metabólicas e cardiovasculares associadas.

Intervenções na modificação do estilo de vida, nomeadamente redução de peso e

exercício físico, bem como fármacos com propriedades anti-inflamatórias são armas

fundamentais para o controlo global dos inúmeros factores de risco cardiovasculares (Galani

et al. 2007). Uma vez que a maioria dos doentes afectados com a SM são obesos, a redução

de peso é a primeira medida a adoptar, pois reduções de peso de apenas 5 a 10% demonstram

a diminuição de múltiplos factores de risco, com melhoria do perfil lipídico, da tensão arterial

(TA), da sensibilidade à insulina (SI) e diminuição da susceptibilidade à trombose bem como

de marcadores inflamatórios (Vidal 2002).

A redução do excesso de peso/obesidade conduzirá a uma redução da doença

cardiovascular (Cameron et al. 2008, Iqbal et al. 2008, Zhang et al. 2008).

A definição da síndroma metabólica

A definição e a história da SM têm sido descritas e discutidas por vários

investigadores ao longo do tempo. Devido ao risco aumentado de morbilidade e mortalidade

associada à SM é fundamental, quer para a saúde pública quer para a investigação clínica, a

criação de uma definição única e universal (LaaKsonen et al. 2002, Perez et al. 2007).

A associação de HTA, obesidade e gota foi descrita em 1923 por Kylin como

Síndrome X, e em 1947, Vague deu atenção à importância da distribuição da gordura corporal

como factor de risco de várias doenças crónicas. O termo Síndrome X foi posteriormente re-

introduzido por Reaven em 1988. Na sua definição consta a associação de

IR/hiperinsulinémia, intolerância à glicose (IG), dislipidemia e HTA (Groop 2000).

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A designação de Síndroma de IR tem sido largamente usada baseada no facto de a IR

ser o determinante major da SM com o consequente hiperinsulinismo compensatório. O

conceito de IR ou seja diminuição da SI, foi introduzido por Himsworth e Kerr em 1939, para

definir a relação entre uma deficiente resposta glicémica à insulina exógena, encontrada num

grupo de pessoas obesas com DM (Carvalheiro 2002). Esta associação fisiopatológica dá

origem a um conjunto de patologias clínicas com consequências sérias para a saúde, sendo as

mais importantes as DCV e a DM tipo 2 (Perez et al. 2007).

Embora a IR seja usualmente definida com base na diminuição do transporte de

glicose, as outras acções da insulina também podem estar comprometidas: a síntese de

glicogénio muscular, a supressão da lipólise nos adipócitos e a vasodilatação estimulada pela

insulina. No entanto, também é possível que a glicémia em jejum esteja normal em muitos

indivíduos insulino-resistentes devido à hipersecreção pancreática compensatória de insulina.

Assim, a glicémia de jejum por si só é muitas vezes insuficiente para detectar a IR. A

hiperinsulinémia resulta não só da hipersecreção das células β, mas também da diminuição na

taxa de depuração dos receptores-mediadores de insulina pelas células alvo perifericamente

resistentes. A hiperinsulinémia per se pode causar IR pela subregulação dos receptores de

insulina e dessensibilização das vias pós-receptor (Martins 2002).

A teoria dos ácidos gordos refere que os lípidos estão particularmente envolvidos na

IR nos indivíduos obesos. Uma elevada massa gorda corporal está associada com o aumento

da lipólise em todo o organismo e da concentração dos ácidos gordos livres (AGL)

plasmáticos. Um potencial elo de ligação entre o aumento da concentração de AGL e a

deterioração do metabolismo glícidico é sugerida por diversos investigadores. A elevação dos

AGL prejudica a acção da insulina, provocando IR a nível hepático e periférico (Schmieder et

al. 2007).

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Uma proposta alternativa do mecanismo da indução da IR pelos ácidos gordos (AG)

refere um aumento na libertação de AG para o músculo ou uma diminuição no metabolismo

intracelular destes, levando a um aumento dos metabólitos como o diacilglicerol, acetil CoA e

ceramidas (Schmieder et al. 2007). O aumento dos AGL da lipólise condiciona a sua

acumulação fora dos tecidos adiposos como o fígado, o músculo, o coração e as células-β

pancreáticas com uma consequente glicolipotoxicidade. Os AGL captados pelo fígado e pelo

músculo esquelético utilizam-se como substrato para a gliconeogénese hepática, síntese de

triglicerídeos (TG) e determinam uma diminuição da captação e oxidação da glicose no

músculo esquelético (Lewis et al. 2002).

A IR é um fenómeno de reconhecida importância na patogénese da DM, e encontra-se

associada a diversas entidades patológicas, das quais se destaca a obesidade, a HTA, a

dislipidémia, a hiperuricémia (HU) e a vasculopatia. A avaliação da SI reveste-se assim de

grande interesse na prática clínica (Carvalheiro 2002).

Contudo, o termo mais usado e o adoptado pela OMS é a SM, pela sua neutralidade e

por não ter em conta os mecanismos etiológicos subjacentes. No relatório da OMS de 1999 é

definida como (Duprez 2008, LaaKsonen et al. 2002, Paiva 2002):

• IG (diminuição da tolerância à glicose ou Diabetes Mellitus (DM)) e/ou IR (definida

como captação da glicose inferior ao quartil mais baixo para a população estudada em

clamp euglicémico) associadas a dois ou mais dos seguintes componentes:

� HTA definida como tratamento antihipertensivo e/ou TA ≥160/90 mmHg;

� Dislipidémia definida como hipertrigliceridémia ≥150 mg/dL e/ou colesterol HDL

(lipoproteínas de alta densidade) < 35mg/dL no homem e <39mg/dL na mulher;

� Obesidade abdominal definida como IMC (Índice de massa corporal) >30 Kg/m2

e/ou cinta/anca >0,9 no homem e >0,85 na mulher;

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� Microalbuminúria (MA) definida como taxa de excreção urinária de albumina

≥20µg/min ou albumina/creatinina ≥20mg/g.

O EGIR (European Group for the Study of Insulin Resistance) defende a utilização de

uma definição com critérios mais simples e aplicáveis na prática clínica como seja o uso da

insulinémia de jejum para estimar a IR e a glicémia de jejum como substituto da IG, nos

estudos epidemiológicos. O EGIR propõe também baixar os limites para a HTA e considera a

inclusão da MA como um componente controverso dado que é pouco comum nas pessoas não

diabéticas. Assim preconiza (LaaKsonen et al. 2002, Paiva 2002):

IR ou hiperinsulinémia de jejum associada a dois dos seguintes critérios:

• Hiperglicémia de jejum (110-126mg/dL);

• HTA ≥140/90mmHg;

• Dislipidémia definida por hipertrigliceridémia >180mg/dL ou colesterol HDL

<40mg/dL;

• Obesidade abdominal definida como perímetro da cinta ≥94cm no homem e

≥80cm na mulher

De acordo com o Painel de Experts do NCEP (National Cholesterol Education

Program) também acordado no ATPIII (Adult Treatment Panel III), surgiu uma nova

definição da SM, para uso clínico. A SM corresponde à associação de três ou mais dos

seguintes critérios (LaaKsonen et al. 2002):

- Obesidade abdominal: perímetro da cinta >102cm no homem e >88cm na mulher;

- Hipertrigliceridémia: ≥150mg/dL;

- Baixo colesterol HDL: < 40mg/dL no homem e < 50mg/dL na mulher;

- HTA: ≥130/85mmHg;

- Hiperglicémia de jejum: ≥110mg/dL.

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A classificação e avaliação da obesidade

Na prática clínica, a obesidade é calculada de forma simples e consensual com a

utilização do Índice de Massa Corporal (IMC). Habitualmente, o IMC permite classificar o

peso (e a obesidade) em grupos diferentes, que variam do magro à obesidade mórbida (ou de

grau III), de acordo com a OMS:

IMC (kg/ m 2) Classificação Risco de Comorbilidade < 18,5 Baixo peso Baixo

18,5-24,9 Peso normal 25-29.9 Excesso de Peso Aumentado 30-34.9 35-39,9 ≥40

Obesidade Grau I Obesidade Grau II Obesidade Grau III

Moderado Grave

Muito Grave

O IMC aparenta urna forte relação com a incidência de uma larga variedade de

entidades nosológicas: diabetes de tipo 2, hipertensão arterial e doença coronária. No entanto,

a sua interpretação deve ter em conta que valores mais elevados do IMC podem não estar

directamente relacionados com sobrecarga ponderal, por excesso de gordura, mas resultarem,

por exemplo, da diminuição da estatura (como acontece na cifose), da existência de edema ou

do desenvolvimento marcado de massa muscular (com o consequente aumento de peso)

(WHO 2000).

Num indivíduo adulto, a percentagem de tecido adiposo que contribui para o seu peso

corporal pode ser facilmente calculada a partir da fórmula definida por Deurenberg et al

(1991):

Tecido adiposo (%) = 1.2 (IMC) + 0.23 (idade) - 10.8 (sexo) - 5.4, em que o sexo é

uma variável nominal com um valor fixo, de 1 para os homens e de 0 para as mulheres. Da

sua aplicação resulta que, em indivíduos com idêntica massa corporal, a percentagem de

tecido adiposo na mulher é cerca de 10% superior à do homem. Habitualmente, num homem

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adulto cerca de 15-20% do seu peso total é constituído por tecido adiposo; na mulher, esta

percentagem e ligeiramente superior (cerca de 25-30%). Donde, habitualmente, para se ser

considerado obeso, a percentagem de tecido adiposo deve ser superior a 25%, no homem, ou a

35% na mulher (WHO 2000).

Jean Vague, nos anos 40, foi o primeiro a correlacionar as complicações mórbidas da

obesidade com o tipo de distribuição da gordura - mulher (obesidade tiróide ou glúteo-

femoral) e no homem (obesidade andróide ou abdominal). Na avaliação do padrão de

distribuição da gordura, apesar da maior acuidade diagnóstica dos métodos etiológicos

(tomografia axial e ressonância magnética), é fundamental determinar os perímetros da cinta e

calcular a relação cintura-anca (Hans et al.1995).

O perímetro da cintura deve ser determinado num ponto intermédio entre o bordo

inferior da última costela e a crista ilíaca, enquanto o perímetro da anca deve acompanhar a

linha que une os grandes trocânteres, na extremidade superior dos fémures. Um perímetro de

cintura superior a 102 cm no homem e a 88 cm na mulher e fortemente indiciador de

obesidade central e um valor maior que 94 cm no homem e 80 cm na mulher deve ser

considerado como um sinal avisador do aumento de gordura no espaço visceral. Desse modo,

e apesar de alguns dados discordantes - nomeadamente nas mulheres obesas - uma relação

cintura-anca maior que 0,8 na mulher e 1,0 no homem, é sugestiva de obesidade abdominal e

de um maior risco de desenvolvimento da síndrome metabólica (Hans et al.1995).

Limites superiores do perímetro de cintura dos homens e mulheres (Hans et al.1995).

Nível 1 Nível 2 Homem ≥ 94 cm ≥102 cm Mulher ≥ 80 cm ≥ 88 cm

� Nível 1 - IMC > 25 kg/ m2 em combinação com o aumento da relação cintura-anca (≥0,95 no

homem e ≥ 0,8 na mulher). � Nível 2 - IMC > 30 kg/ m2 em combinação com o aumento da relação cintura-anca (≥0,95 no

homem e ≥ 0,8 na mulher).

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A determinação da espessura das pregas cutâneas para a avaliação da obesidade (ou,

com maior precisão, da gordura subcutânea em cm) é muito facilmente exequível e bem aceite

pelos doentes. No entanto, é sujeita a grande variabilidade, exige um compasso adequado de

tipo Harpender (ou de tipo Holtane), capaz de exercer urna pressão constante e padronizada, e

pressupõe a validade da correlação entre a gordura subcutânea e a massa gorda total do

organismo, após a correcção para algumas características próprias do sexo e da idade; não

avalia a gordura visceral e intra-muscular. Nos cálculos antropométricos, a prega mais

frequentemente usada é a tricipital (PCT), mas podemos também fazer a determinação das

pregas cutâneas bicipital (PCB), subescapular (PCSE) e supra-ilíaca (PCSI), especialmente

quando pretendemos inferir a densidade somática e determinar a percentagem de tecido

adiposo no organismo. A densidade somática [DS] é igual a (Kopelman 1988):

• DS (massa/volume) = 1.1610 – 0. 0632 Iog (PCB + PCT + PCSE + PCSI)

Sabendo que a gordura tem urna densidade de 0.9 kg/l e a massa magra 1.1 kg/l, a

percentagem de gordura total no organismo e igual a (Kopelman 1988):

• Tecido adiposo (%) = (4.95/DS - 4.50) x 100

Factores determinantes da obesidade

Sabe-se que o peso de um indivíduo depende de múltiplos factores e é determinado

pela interacção complexa e variada de factores genéticos, ambientais e psicossociais que

influenciam, modulam e determinam diversos mediadores bioquímicos que regulam o

equilíbrio metabólico e energético (Kumanyika et al. 2008).

O desenvolvimento da obesidade é causado pelas interacções entre factores genéticos

e comportamentais, como a alimentação e a actividade física (Poirier 2006).

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Factores genéticos

Sakane et al. sugerem que o polimorfismo β-3–AR pode ser usado como um marcador

genético para a obesidade visceral e para a SM, em indivíduos obesos. A mutação Trp64Arg

danifica a função do β-3–AR nas células adiposas e diminui a termogénese, o que explica a

associação com a obesidade. A mutação Trp64Arg tem sido associada ao aumento de peso

corporal, ao desenvolvimento de DM tipo 2 e a vários componentes da IR. Os β-3–AR

expressam-se maioritariamente nas células adiposas viscerais, e são responsáveis pela lipólise.

A lipólise está sujeita a um intenso controlo hormonal e as catecolaminas têm uma função

crucial nesse sentido. A mutação aparece assim associada a uma diminuição da lipólise pelas

catecolaminas (Groop 2000).

O substrato do receptor de insulina-1 (IRS-1) é fosforilado nos múltiplos resíduos de

tirosina, e pode também ser um candidato genético para a IR. Esta proteína actua como elo de

ligação entre o receptor de insulina e a cascata de fosforilações subsequentes. Dois

polimorfismos nos aminoácidos estão descritos no gene do IRS-1, e são mais frequentes nos

doentes com DM tipo 2. Outros IRS (IRS-1, IRS-2, IRS-3), foram entretanto descobertos,

contudo não foram encontradas variações consistentes nos seus genes (Groop 2000).

Na obesidade humana, ou nas suas complicações metabólicas, têm sido apontados

vários genes candidatos, relacionados com diversos processos intrínsecos da termogénese

(genes do receptor adrenérgico – (β3–AR) ou da família das UCP - uncoupling protein), do

desenvolvimento de insulinorresistência (genes do IRS-1 insulin receptor substrate -1 ou do

receptor dos glucocorticóides) ou da regulação da saciedade (genes da leptina ou do seu

receptor-LEPR), pro-opiomelanocortina, receptores da melanocortina, lipases, factor de

necrose tumoral-α (TNF-α), PPARγ (receptor γ de activação da proliferação de peroxisima),

mas todavia sem resultados definitivos (Groop 2000).

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Factores ambientais, culturais e psicossociais

Não há dúvida que os factores relacionados com o estilo de vida e ambiente são

determinantes importantes da IR, e como tal, da SM e da obesidade (Knopp et al. 2008).

É crucial identificar estes factores, pois podem ser potencialmente modificados,

através de medidas preventivas e terapêuticas (Iqbal et al. 2008, Galani et al. 2007).

O aumento da prevalência da obesidade, que tem sido observado nas últimas décadas,

pode em parte ser explicado por um estilo de vida sedentário, aliado ao consumo desmedido

da sociedade quotidiana (Cameron et al. 2008, Iqbal R. et al. 2008). A falta de hábitos de vida

saudáveis reflecte-se na falta de actividade física e o acesso fácil a alimentos de alta densidade

energética. Os obesos tendem a consumir alimentos mais calóricos, mais ricos em gordura e

hidratos de carbono simples; e, mais pobres em fibras, portanto menos capazes de impelir a

saciedade (Kumanyika et al. 2008).

A obesidade caracteriza-se então por um desequilíbrio entre a ingestão calórica e o

gasto energético, onde existe um balanço energético positivo. Este desequilíbrio origina uma

acumulação excessiva de energia no tecido adiposo, resultando na hiperplasia e/ou hipertrofia

dos adipócitos (Kumanyika et al. 2008). Uma vez instalada, a obesidade, torna-se numa

doença progressiva e crónica (Cameron et al. 2008, Morris 2008).

Os factores culturais, étnicos e sociais influenciam também, de forma significativa, o

aparecimento e a progressão do excesso ponderal. Existe uma maior prevalência da obesidade

nos grupos sociais menos favorecidos e com menor grau de escolaridade (Knopp et al. 2008,

Cameron et al. 2008, Kumanyika et al. 2008).

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A obesidade e consequências cardiovasculares

O aumento de peso e o excesso de massa gorda têm consequências fisiopatológicas

cardiovasculares importantes devido ao aumento da volémia e da disfunção cardíaca (com

aumento da pré-carga, do volume de ejecção e do débito cardíaco), da modificação da função

pulmonar e da mecânica torácica e respiratória e da contribuição particular da gordura visceral

intra-abdominal no desenvolvimento da HTA, da hiperinsulinemia e da IR, da hiperlipidemia

e da DM tipo 2.

Há já alguns anos que o tecido adiposo não é simplesmente descrito como um órgão

de armazenamento de gordura e energia, mas como um órgão endócrino com papel regulador

do metabolismo (Poirier et al. 2006).

Sabe-se que secreta um grande número de proteínas, denominadas adipocinas, que

actuam de forma autócrina, parácrina ou endócrina, controlando variadas funções

metabólicas. Usando estas adipocinas como meio de comunicação, os adipócitos afectam

vários órgãos, como o fígado, o músculo, o cérebro, o sistema reprodutor, o pâncreas (células

β) e o sistema vascular. O tecido adiposo pode influir, directa - pela síntese de diversos

peptídeos - ou indirectamente - pela modulação da expressão de transportadores de membrana

( transportadores da glicose insulino-dependente-4 : GLUT 4) (Trayhurn 2005).

Foram identificadas cerca de 50 adipocinas com diferentes funções. Entre os produtos

segregados pelo adipócito salientam-se os seguintes (Trayhurn 2005):

• Citocinas e proteínas relacionadas: Leptina, TNF-α, IL-6, IL-8, IL-10;

• Proteínas imuno-mediadas: Proteína de macrófagos e monócitos;

• Proteínas do sistema fibrinolítico: Inibidor do activador do plasminogénio (PAI-1);

• Complemento e proteínas relacionadas: adiponectina, Adipsina, proteína

estimuladora da acetilação (ASP), complemento do factor B;

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• Lípidos e proteínas para o seu metabolismo e transporte: Lipoproteína lipase

(LPL), Apolipoproteína E, ácidos gordos livres;

• Enzimas do metabolismo esteróide: Aromatase dependente do citocromo P450,

17N desidrogenase hidroxiesteróide e 11N desidrogenase hidroxiesteróide;

• Proteínas do Sistema Renina-Angiotensina: angiotensinogénio e renina.

Embora não totalmente esclarecido, defende-se que estes produtos segregados pelo

adipócito são os responsáveis pelo estado inflamatório crónico da obesidade abdominal,

considerada a mais aterogénica e mais correlacionada com a DCV (Balkau et al. 2007, Perez

et al. 2007, Rosito et al. 2008).

Estes factores derivados do tecido adiposo têm um papel central na homeostase

corporal, influenciando uma variedade de processos biológicos e fisiológicos, incluindo:

apetite, regulação do balanço de energia, acção da insulina, metabolismo glicídico e lipídico,

angiogénese e remodelação vascular, regulação da tensão arterial e coagulação (Frankel et al.

2008).

Vários marcadores inflamatórios como a PCR (proteína c-reactiva), o fibrinogénio, as

citocinas pró-inflamatórias como a IL-6 (interleucina-6) e o TNF-α, foram referidos com uma

potente relação com a obesidade, dislipidemia e DM tipo 2 (Frankel et al. 2008, Poirier et al.

2006, Ritchie et al. 2007).

Tem sido sugerido que as citocinas inflamatórias produzidas pela massa gorda visceral

contribuem para o catabolismo e para perda de massa muscular (Horwich et al. 2008). A

inflamação crónica está fortemente associada com a massa gorda visceral e com o IMC, sendo

a expressão e produção de adipocinas proporcional à expansão do tecido adiposo (Poirier et

al. 2006).

As citocinas pró-inflamatórias melhor estudadas na obesidade são:

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O TNF-α foi o primeiro produto secretado pelo adipócito proposto para representar

uma ligação entre obesidade e insulino-resistência. O TNF-α está aumentado na obesidade e

diminui com a redução de peso ou com o aumento da insulino-sensibilidade, inibe a

lipogénese e aumenta a lipólise. O TNF- α parece ter um papel na regulação da produção

hepática de PCR e na indução da expressão da IL-6 (Bullo et al. 2007, Ritchie et al. 2007,

Targher et al. 2008).

A IL-6 plasmática correlaciona-se com a massa corporal, constitui um importante

regulador da produção hepática de PCR e inibe a expressão e secreção da adiponectina no

tecido adiposo. O tecido adiposo visceral é responsável por cerca de 30% da sua produção. De

um modo mais abrangente, esta citocina tem a capacidade de influenciar o peso corporal, a

homeostase da energia e a SI (Bullo et al. 2007, Ritchie et al. 2007, Tousoulis et al. 2007).

A PCR é uma proteína de fase aguda produzida pelo fígado, cujo aumento sérico é

induzido pelas citocinas produzidas no tecido adiposo. Como marcador sanguíneo de

inflamação, a PCR pode ser um indicador de lesão ou stress endotelial. Esta proteína

amplifica a resposta inflamatória e pró-coagulante e indica uma inflamação sistémica de baixo

grau (Tousoulis et al. 2007, Ritchie et al. 2007). São observados valores significativamente

mais elevados de PCR no sexo feminino (Flores-Alfaro et al. 2008).

A concentração de PCR tem sido correlacionada positivamente com o perímetro da

cinta e a gordura visceral. Está associada a diversos componentes da SM, bem como ao risco

de DCV e outras patologias aterotrombóticas (Poirier et al. 2006, Tousoulis et al. 2007,

Winter et al. 2008).

Assim, a obesidade abdominal excessiva aumenta o fluxo de citocinas pró-

inflamatórias, incluindo o TNF-α e a IL-6, as quais por sua vez aumentam a síntese hepática

da PCR, que está associada ao aparecimento de complicações cardiovasculares (Bullo et al.

2007, Poirier et al. 2006, Winter et al. 2008).

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A leptina é uma hormona pleiotrópica com acções ao nível da reprodução, da

imunidade e da promoção da sensibilidade à insulina. A leptina é uma proteína segregada

primariamente pelo adipócito, reguladora de peso corporal e da massa de tecido adiposo. È

capaz de regular o apetite e o dispêndio de energia, influenciando a termogénese e o

metabolismo basal (Winter et al. 2008).

A leptina reproduz, em muitos aspectos, e em diferentes contextos, as acções

fisiológicas da insulina, aumentando a captação de glucose pelo músculo esquelético e pelo

tecido adiposo (normalizando a hiperglicemia) e diminuindo a produção hepática de glicose

(suprimindo a neoglicogénese e aumentando a síntese de glicogénio) (Morris 2008, Yang et

al. 2007).

A concentração plasmática depende da massa gorda total e tem sido descrita como

responsável pela activação do Sistema Nervoso Simpático (SNS) e portanto como responsável

pela HTA relacionada com a obesidade (Morris 2008, Yang et al. 2007).

Esta adipocina apresenta propriedades pró-inflamatórias, possui a capacidade de

promover a diapedese de monócitos e a acumulação de macrófagos no tecido adiposo e

apresenta uma forte associação com factores de risco clássicos de doença coronária. Os

efeitos da leptina no sistema cardiovascular (para além da HTA), incluem aterosclerose,

diminuição da contractibilidade do miocárdio e metabolismo dos ácidos gordos, remodelação

hipertrófica e redução da isquémia/lesão de reperfusão (Yang et al. 2007).

A adiponectina é um peptídeo com origem no adipócito e que se encontra reduzida

nas pessoas obesas (particularmente quando predomina a obesidade central), diabéticas e

hipertensas, o que insinua uma forte relação entre a hipoadiponectinemia e diferentes

manifestações de resistência a insulina; na hipertensão arterial, a redução dos níveis

plasmáticos de adiponectina têm sido relacionados com formas de disfunção endotelial e de

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perturbação do tónus vasomotor, dependente das variações de fluxo (Ng et al. 2007,

Yamauchi et al. 2001).

Após disrupção da barreira de células endoteliais, a adiponectina acumula-se na parede

de vasos e se apresenta níveis plasmáticos elevados pode suprimir o desenvolvimento de

aterosclerose, tendo um importante papel antiaterogénico endógeno. Parece modular directa

ou indirectamente a cascata inflamatória, modificando a acção e produção de citocinas

inflamatórias no plasma, bem como nos tecidos vascular e adiposo (Yamauchi et al. 2001).

A adiponectina também tem um papel preponderante a nível vascular, possui

propriedades anti-diabéticas, anti-inflamatórias e anti-aterogénicas (Ng et al. 2007, Yamauchi

et al. 2001).

Desta forma, abordagens terapêuticas capazes de aumentar a adiponectina podem ser

úteis na protecção do desenvolvimento de aterosclerose, bem como na prevenção de

reestenose após intervenção vascular (Ng et al. 2007).

A resistina plasmática está aumentada em indivíduos obesos e IR. Os macrófagos são

a principal fonte de resistina humana, para além dos adipócitos. Tendo em conta a

convergência de funções entre adipócitos e macrófagos, a resistina pode ser um elo de ligação

entre obesidade, inflamação e aterosclerose. Níveis plasmáticos de resistina correlacionam-se

com marcadores da inflamação e são preditivos de aterosclerose coronária, independente da

PCR. A resistina pode representar, desta forma, um novo biomarcador capaz de integrar sinais

metabólicos, inflamatórios e ateroscleróticos (Reilly et al. 2005).

Ao nível da modulação de respostas inflamatórias, a resistina regula a expressão de

MCP-1, bem como de VCAM-1 e ICAM-1 nas células endoteliais, efeito antagonizado pela

adiponectina (Fantuzzi 2005).

O inibidor do activador do plasminogénio (PAI-1) e diversas proteínas do sistema

de hemostase e fibrinólise são segregados pelo adipócito. O PAI-1, o inibidor fisiológico

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primário da activação do plasminogénio, actua como um factor de risco cardiovascular e os

seus níveis plasmáticos elevados estão associados a estados pró-trombóticos, angiogénese e

aterogénese (Darvall et al. 2007, Rega et al. 2005).

Embora o angiotensinogénio seja preferencialmente produzido no fígado, o tecido

adiposo constitui uma fonte importante. A hipertensão está frequentemente associada à

obesidade e existe evidência clínica de correlação entre a tensão arterial e os níveis circulantes

de angiotensinogénio, o precursor do péptido vasoactivo angiotensina II. Os níveis circulantes

de angiotensinogénio estão aumentados nos indivíduos obesos e podem contribuir para o

aumento da massa de tecido adiposo, efeito que tem sido atribuído à acção local da

angiotensina II como factor trófico para a formação de adipócitos (Darvall et al. 2007, Rega et

al. 2005).

Targher et al (2008) descreve o tecido adiposo visceral como um importante factor de

risco para o desenvolvimento de esteatose não alcoólica e a associação desta a um aumento de

risco cardiovascular através da libertação sistémica de mediadores pró-inflamatórios

hepáticos, nomeadamente PCR, fibrinogénio e PAI-I, que contribuem para um estado crónico

de inflamação. A esteatose é caracterizada pela acumulação de TG nos hepatócitos. A

reduzida sensibilidade à insulina, consequência da obesidade, aumenta a lipólise no tecido

adiposo. Isto inibe a captação de ácidos gordos livres pelos adipócitos e aumenta a captação

dos ácidos gordos pelo fígado. A hiperinsulinemia promove também a síntese de novo de TG

pelo fígado (Choi et al. 2008). Assim, os indivíduos obesos apresentam um estado pró-

inflamatório e pró-coagulante, que pode contribuir para eventos coronários. A redução da

circunferência abdominal conduz a uma diminuição do risco de mortalidade (Cameron et al.

2008, Ingelsson et al. 2007).

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Diversos estudos avaliaram também o risco de desenvolver doença coronária em 10

anos em indivíduos obesos e constataram que uma perda ponderal significativa diminui para

cerca de metade este risco. Kligman et al. (2008) constatou que uma diminuição de 39±32%

do IMC se traduz numa redução do risco, avaliada pelo score Framingham, de 6,7±5,5% para

3,2±3,1%. Concomitantemente, Torquati et al. (2007) verificou uma diminuição do risco de

desenvolver doença coronária em 10 anos de 5,4% para 2,7%, como consequência de uma

perda de ponderal acentuada, em indivíduos com obesidade classe II e III. Esta diminuição do

risco cardiovascular deve-se principalmente à diminuição da prevalência de diabetes, HTA e

dislipidemia, bem como à melhoria do estado inflamatório.

Obesidade, doença cardiovascular e Diabetes Mellitus

A IR, a hiperinsulinemia e os elevados níveis séricos de glicose estão correlacionados

com a doença cardiovascular aterosclerótica, obesidade e mortalidade por DCV (Barr et al.

2007, Levy et al. 2008, Choi et al. 2008).

A obesidade está também associada à presença de IR. A obesidade abdominal tem

uma ligação mais marcada com a IR do que a obesidade periférica. Isto pode explicar-se pelo

facto de os adipócitos intra-abdominais serem mais activos lipoliticamente, em parte aliados

aos receptores adrenérgicos. Este facto vai aumentar o fluxo dos níveis de AGL (ácidos

gordos livres) intraportal, o que vai inibir a clearance de insulina e promover a IR. O tecido

adiposo visceral, ao aumentar o fluxo portal dos AGL, aumenta a produção de glicose

enquanto diminui a sua oxidação e leva à intolerância à glicose, ao aumento da secreção

hepática de lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) e de TG, causando

hipertrigliceridémia e diminuição da remoção hepática de insulina, levando à hiperinsulinémia

(Rosito et al. 2008, Winter et al. 2008).

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A hiperglicemia pode acelerar o processo aterosclerótico, aumentando o stress

oxidativo e as proteínas glicosiladas nas paredes dos vasos. Por outro lado, um aumento da

glicose plasmática pode influenciar a estrutura do coágulo de fibrina, resultando num coágulo

mais resistente à fibrinólise. A acumulação de produtos finais de glicosilação poderá resultar

numa maior permeabilidade vascular e num espessamento e perda de elasticidade nas paredes

dos vasos. Para além disso, estes produtos aumentam a adesão leucocitária, aumentando o

stress oxidativo, a oxidação das lipoproteinas de baixa densidade (LDL) e a libertação de

citocinas inflamatórias (Rosito et al. 2008, Winter et al. 2008).

Inicialmente, a IR é compensada por um aumento de secreção de insulina pelas células

beta do pâncreas com o intuito de manter a homeostase da glicose, atingindo um estado de

hiperinsulinémia. A manutenção deste estado pode conduzir à falência das células beta

pancreáticas. Nesta situação, e visto a hiperinsulinémia não acompanhar a evolução IR,

desenvolve-se a DM tipo 2 (Kopelman 2007, Levy et al. 2008).

Em indivíduos obesos com DM tipo 2, o aumento da hemoglogina glicosilada (Hb

A1c), dos níveis de leptina, do TNF-α e da PCR estão na base do aumento de risco de

acidente vascular cerebral (AVC) (Kopelman 2007, Levy et al. 2008, Khaw et al. 2006). O

aumento de 1% na concentração absoluta de Hb A1c está associado a um aumento de cerca de

10-20% do risco cardiovascular (Kligman et al. 2008).

Contrariamente, os níveis de adiponectina encontram-se diminuídos em situações de

obesidade e IR e aumentam quando o indivíduo é sujeito a um tratamento com agentes

insulino-sensibilizadores (Kopelman 2007). A adiponectina, por sua vez, tem uma acção

insulino-sensibilizadora através da fosforilação e activação da “5’-AMP-activated protein

kinase” (AMPK) no músculo e no fígado, sugerindo que ocorre uma hipoadiponectinémia na

patogénese desta doença (Bullo et al. 2007).

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A DM tipo 2 é um excelente indicador de doença coronária bem como do seu

prognóstico. Quando desenvolvem DCV, apresentam pior prognóstico e uma menor sobrevida

em relação aos indivíduos não-diabéticos (Barr et al. 2007, Chen et al. 2008, Forssas et al.

2008). Nos doentes diabéticos uma perda de peso (descida de 33.5 para 27.7 kg/m2) está

associada a uma redução de 25% da mortalidade (Poirier et al. 2006).

Obesidade, doença cardiovascular e HTA

A HTA é definida como uma tensão arterial sistólica (TAS) ≥ 140 mmHg e uma

tensão arterial diastólica (TAD) ≥90 mmHg ou o uso crónico de medicação anti-hipertensiva

(Wang et al. 2008).

É amplamente reconhecida como um importante factor de risco cardiovascular, com

uma relação linear entre o aumento da pressão arterial e a probabilidade de desenvolver várias

doenças degenerativas como insuficiência cardíaca, doença renal e doença vascular periférica

(Ritz et al. 2007, Silventoinen et al. 2008, Wang et al. 2008).

A HTA raramente se manifesta isoladamente. Está normalmente associada a outros

factores de risco de DCV, nomeadamente, obesidade visceral, IR e dislipidemia; (Rosito et al.

2008) mais de 50% dos doentes com HTA têm excesso de peso (Horwich et al. 2008,

Silventoinen et al. 2008, Wang et al. 2008). A relação entre HTA e IR pode ser consequência

paralela do risco aumentado de ambas com o avançar da idade, com a obesidade e falta de

actividade física (Nunes 2002, Wang et al. 2008).

Verifica-se um aumento da associação entre pressão sanguínea com consequentemente

DCV e aumento do IMC (Silventoinen et al. 2008). A doença cardiovascular é a principal

causa de mortalidade e morbilidade entre os indivíduos obesos (Cameron et al. 2008,

Hayman et al. 2007).

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Sabe-se que, por cada aumento de uma unidade de IMC, o risco de desenvolver

doença coronária aumenta 3,6 vezes, sendo a obesidade um factor contribuinte para a

insuficiência cardíaca em 10% dos doentes, o excesso de peso/obesidade associado a HTA

aumenta o risco de AVC isquémico, a obesidade aumenta 5 vezes o risco de HTA e 85% dos

casos de HTA estão associados a um IMC> 25 kg/m2 (Ingelsson et al. 2007, Kopelman 2007,

Poirier 2006).

O estudo de Framingharn sugere que, pelo menos nos Estados Unidos da América,

65% dos casos de hipertensão arterial nas mulheres, e 78% nos homens, estão directamente

relacionados com o excesso de peso. Um adulto obeso tem um risco relativo de desenvolver

hipertensão cinco a seis vezes superior ao do adulto não obeso. O peso e o IMC, a par com a

idade, são fortes determinantes da pressão arterial sistólica (O´Donnell et al. 2008).

O estudo de Framingham demonstrou que os componentes sistólicos e diastólicos da

tensão arterial têm uma relação contínua, independente, gradual e positiva com os parâmetros

de evolução das DCV; mesmo a pré-hipertensão está associada a um aumento do risco

cardiovascular. Em indivíduos de 40 a 70 anos de idade, um aumento de 20 mmHg na tensão

arterial sistólica ou 10 mm Hg na tensão arterial diastólica, duplica o risco de DCV no

intervalo compreendido entre 115/75 mm Hg e 185/115 mm Hg (O´Donnell et al. 2008).

A HTA no obeso desenvolve-se pelo aumento de retenção de sódio e pela resistência

vascular relacionada com modificações no sistema renina-angiotensina, aumento da

actividade do sistema nervoso simpático (SNS) e pelo estado inflamatório sistémico (Morris

2008, Poirier et al. 2006).

O aumento da tensão arterial sistólica tem sido descrito como um factor de risco

cardiovascular importante. Pensa-se que promove a expressão endotelial de citocinas e

estimula a inflamação e pode estar na origem da aterosclerose (Duprez 2008).

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Com o envelhecimento, há um aumento na TAS e uma diminuição da TAD de ordem

fisiológica. Isto resulta de alterações estruturais e funcionais na vasculatura arterial. Com a

idade verifica-se uma deposição progressiva de cálcio nas artérias de grande calibre, um

desgaste e fragmentação da elastina e um aumento do número e das ligações de fibras de

colagénio, o que origina uma maior rigidez da parede vascular. Com a rigidez aumentada da

aorta, esta torna-se menos capaz de sofrer as alterações estruturais necessárias para

acompanhar a pulsatilidade da ejecção cardíaca, o que faz aumentar a TAS e a pós-carga

ventricular enquanto que a TAD e a perfusão coronária diminuem (Duprez 2008).

Estas alterações relacionadas com a idade estão associadas a patologia cardíaca e

vascular, com aumento da morbilidade e mortalidade (Duprez 2008).

Nos indivíduos obesos ocorre com mais frequência HTA, hipertensão pulmonar

(falência do ventrículo esquerdo, hipóxia crónica) e doença coronária, que podem causar ou

contribuir para alterar a estrutura ou a função cardíaca, aumentando o risco de arritmias

ventriculares, de prolongamento (e a dispersão) do QT e de morte súbita (Poirier et al. 2006).

Os efeitos do aumento de massa gorda na função cardiovascular são bem conhecidos.

O volume total de sangue aumenta, proporcionalmente, ao aumento de peso, o que tem

consequências no aumento a nível da pré-carga do ventrículo esquerdo e no débito cardíaco.

O aumento de volume, bem como o aumento do débito cardíaco, originam modificações

estruturais a nível do coração (Kopelman 2007, Poirier et al. 2006).

A massa ventricular esquerda aumenta proporcionalmente com o IMC, logo a

combinação HTA com obesidade resulta numa hipertrofia da parede ventricular. A

prevalência de hipertrofia ventricular nos obesos é de 13,5% nos normotensos e de 52% nos

hipertensos (com valores de 4% e de 30% nos indivíduos não obesos normo e hipertensos,

respectivamente). Quando o ventrículo já não consegue adaptar-se à sobrecarga dá-se o

culminar da disfunção sistólica, a qual parece, no entanto, estar mais relacionada com quadros

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de obesidade extrema ou com situações resultantes das cornplicações cardiovasculares e

metabólicas associadas ( Morris 2008, Kopelman 2007, Poirier et al. 2006).

Também a insulina participa neste processo, pois medeia no tecido muscular liso os

processos de troca iónica de cálcio e sódio, onde tem um papel vasodilatador. Com a IR, este

sistema de regulação está alterado e observa-se a acumulação de iões cálcio e sódio na parede

vascular, o que facilitará a acção de agentes vasoconstritores, nomeadamente, a angiotensina

II e a noradrenalina, que estão aumentados pela activação do SNS pela insulina (Morris 2008,

Poirier et al. 2006).

Em indivíduos com IR e geneticamente predispostos, vários mecanismos são

sugeridos como tendo um papel etiopatogénico no desenvolvimento de HTA: (Nunes 2002,

Poirier et al. 2006)

• Hiperactividade adrenérgica;

• Acção anti-natriurética por:

1. aumento da reabsorção de sódio a nível do tubo contornado

proximal;

2. níveis aumentados de aldosterona (secundários à hiperactividade

adrenérgica e possivelmente, devido ao efeito dos níveis aumentados de

amilina a nível do sistema renina-angiotensina-aldosterona);

3. redução da secreção de péptido natriurético auricular.

• Hiperactividade do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal;

• Hipersensibilidade ao sal ingerido na dieta;

• Redução da síntese de substâncias vasodilatadoras, como o óxido nítrico, o que

conduz a um aumento da resistência vascular periférica e predispõe a HTA e

risco de DVC;

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• Aumento da secreção de factores vasoconstritores como a endotelina;

• Vasoconstrição secundária ao aumento do cálcio intracelular (a IR conduz à

estimulação da bomba Na+/H+ e à inibição da actividade da Na+-K+-ATPase e

da Ca2+-ATPase);

• Diminuição do lúmen endotelial resultante da hipertrofia das paredes

vasculares pelos efeitos promotores do crescimento (através do aumento do

fluxo pela cadeia de sinalização da insulina via MAPK).

A microalbuminúria (MA) é um componente integrante da SM associado à HTA. A

MA é um potente factor de risco para a nefropatia diabética em doentes com DM tipo 1.

Embora seja preditiva de proteinúria clínica em DM tipo 2, funciona mais como marcador do

aumento do risco de mortalidade cardiovascular do que como prognóstico de futura doença

renal avançada. Desta forma, a MA está também associada ao aumento de mortalidade

cardiovascular em indivíduos não diabéticos (Wang et al. 2008, Schmieder et al. 2007).

Segundo Wang et al (2008), a obesidade pode originar hiperperfusão e hiperfiltração,

aumentando assim a perda de albumina pela urina e originando uma progressiva lesão da

função renal associada a glomerulosclerose. Os mecanismos que estão por base desta

degradação renal parecem ser de ordem hormonal.

A obesidade está associada a um aumento da angiotensina, responsável pela retenção

de sódio e pela constrição das arteríolas eferentes, o que aumenta a pressão capilar do

glomérulo e, consequentemente, a filtração glomerular. Esta hipertensão glomerular pode

culminar em proteinúria, visto aumentar a permeabilidade glomerular. A IR, normalmente

associada à obesidade, induz a HTA generalizada e intraglomerular, bem como hipertrofia

mesangial (Wang et al. 2008).

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A microalbuminúria pode reflectir uma disfunção renal, bem como uma disfunção

endotelial geral, aumentando assim a susceptibilidade às DCV, nomeadamente, doença

isquémica prematura e AVC (Schmieder et al. 2007).

A leptina, cujos níveis circulantes se correlacionam com a massa de tecido adiposo,

por sua vez, tem um efeito directo na patofisiologia renal. É capaz de aumentar, progressiva e

consistentemente, a actividade simpática, directa ou indirectamente, através de outros

efectores neuro-endócrinos (via da pró-opiomelanocortina), de estimular a proliferação celular

no endotélio vascular e a expansão da matriz extracelular, o que possivelmente originará

glomerulosclerose e proteinúria. A leptina tem sido descrita como responsável pela activação

do SNS e, portanto, como responsável pela HTA relacionada com a obesidade (Morris 2008,

Yang et al. 2007).

Obesidade, doença cardiovascular e sistema fibrinolítico

Com o envelhecimento podem ocorrer alterações no sistema vascular e hemostático,

incluindo um aumento da actividade plaquetar, um aumento da concentração plasmática de

factores de coagulação e uma fibrinólise alterada. O desequilíbrio entre factores pró-

coagulantes, anti-fibrinolíticos e anticoagulantes pode, portanto, contribuir para o aumento da

incidência de trombos. No entanto, muitos outros factores influenciam o estado hemostático

com o decorrer da idade, nomeadamente, a obesidade, o stress psicossocial, a esclerose

vascular e os estados inflamatórios crónicos (Franchini 2006).

O estudo de Framingham constatou que há um aumento da concentração de

fibrinogénio de 10mg/dL por década. O fibrinogénio promove a formação de trombos através

do aumento da formação de fibrina, da agregação plaquetar e da viscosidade plasmática.

Promove ainda a aterosclerose, através da proliferação de células endoteliais da musculatura

lisa (O´Donnell et al. 2008).

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Assim, o fibrinogénio é um factor de risco para um estado pró-inflamatório e pró-

trombótico por ser um substrato do coágulo e por aumentar a viscosidade sanguínea. Em

condições normais, o coágulo de fibrina que se forma no local da lesão do endotélio vascular

é dissolvido pelo sistema fibrinolítico. Os níveis de fibrinogénio elevados aumentam, assim, a

prevalência e incidência de DCV e estão correlacionados com a obesidade (Darval et al. 2007,

Winter et al. 2008).

O aumento das concentrações de factores de coagulação bem como de inibidores da fibrinólise

em indivíduos obesos indicam a presença do componente trombótico da SM (Zulet et al. 2007).

Sabe-se que a hiperlipidemia é a principal causa de aterosclerose que, por sua vez, está

intimamente relacionada com a doença coronária e outras DCV. O ateroma ou placa

aterosclerótica consiste numa lesão focal aumentada, que se inicia na íntima de artérias de

grande calibre. A progressão desta lesão é também induzida pelas adipocinas responsáveis

pelo estado pró-inflamatório e pelo stress oxidativo que conferem. Esta degeneração inclui

acumulação de lípidos e hidratos de carbono complexos e é acompanhada por uma deposição

de tecido fibroso e cálcio. Estas placas diminuem progressivamente o lúmen arterial, reduzem

a sua elasticidade, podem originar trombos e, consequentemente, ocluir a circulação arterial

ou venosa (Jain et al. 2007). Estes trombos são os responsáveis pela maioria dos eventos

cardiovasculares isquémicos (Winter et al. 2008).

A gordura pericardíaca está relacionada com o aumento do tecido adiposo abdominal e

com o aumento do risco de DCV. Contudo, a gordura intra-torácica e pericardíaca está

associada à calcificação vascular, o que sugere que esta exerça efeito tóxico na vasculatura

(Rosito et al. 2008).

As citocinas inflamatórias assumem um papel importante na iniciação, progressão e

ruptura da placa aterosclerótica, podendo fornecer informação adicional acerca do risco de

desenvolvimento e prognóstico de DCV. A obesidade abdominal está também associada ao

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aumento dos níveis do inibidor do activador do plasminogénio-1 (PAI-1), à HTA, ao aumento

do fibrinogénio, da viscosidade sanguínea e da PCR (Ingelsson et al. 2007).

A SM está associada à elevação das concentrações de PAI-1, enzima-chave envolvida no

sistema fibrinolítico. Neste sistema, o PAI-1 inibe a activação de plasminogénio e por sua vez da

plasmina, diminuindo a degradação da fibrina, funcionando como potente factor aterogénico. A síntese

de PAI-1 é aumentada pelas citoquinas, como a IL-6 e o TNF-α, e hormonas, como a insulina. O

tecido adiposo, sobretudo o visceral, também segrega PAI-1. O aumento na trombogenicidade

relaciona-se também com o aumento no factor VII e fibrinogénio na hiperinsulinémia (Frankel et al.

2008). O risco aumentado de DCV associado à SM pode ser parcialmente explicado pelos

desvios pró-trombóticos no sistema hemostático. Indivíduos com IR, dislipidemia e obesidade

são caracterizados por terem elevados níveis de fibrinogénio plasmático, de actividade de

factor VII e de concentração de PAI-1, o principal inibidor da fibrinólise endógena. Estas

anormalidades hemostáticas podem ser corrigidas com tratamento dietético adequado (Frankel

et al. 2008, Winter et al. 2008).

Obesidade, doença cardiovascular e dislipidemia

A obesidade está também associada a diversas alterações nos diferentes lípidos

séricos. O aumento do IMC está intimamente relacionado com a expressão aterogénica do

perfil lipídico: um aumento do IMC de 20 para 30 kg/m2 determina um acréscimo de 10 a 20

mg/dL no colesterol das LDL, de 60 a 100 mg/dL nos TG e uma redução de 7 a 15 mg/dL no

colesterol das HDL (Jain et al. 2007).

Está bem estabelecida a relação causal entre os níveis elevados de lípidos plasmáticos

e o desenvolvimento de placas de ateroma, bem como entre os níveis de colesterol

plasmáticos e o risco de desenvolver doença coronária (Jain et al. 2007).

A gordura visceral, caracterizada pela presença de adipócitos de maiores dimensões,

com uma maior susceptibilidade à acção de enzimas lipolíticas, origina um aumento de ácidos

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gordos livres e verifica-se um acréscimo da gliconeogénese e da produção de lípidos a nível

hepático; diminuição da sensibilidade à insulina, tanto nas células musculares como no

fígado, resultando num decréscimo do aporte de glicose ás células hepáticas; diminuição da

produção pancreática de insulina; e ainda no aumento das LDL resultantes da oxidação

lipídica (Jain et al. 2007, Palma 2002).

As partículas LDL são constituídas por colesterol 40-50% (70% do qual está

esterificado), 5-15% TG e 20-25% de fosfolípidos. A apoproteina (Apo) característica, quase

exclusiva, é a Apo B100. Esta é segregada pelo fígado e a sua elevação plasmática está

associada com o risco aumentado de DCV. As LDL são caracterizadas por heterogenecidade

na densidade, tamanho e composição. Estas LDL pequenas e densas são mais susceptíveis à

oxidação e são menos rapidamente depuradas, o que as torna aterogénicas. A associação de IR

e diâmetro de partículas LDL não se relaciona directamente com os níveis de insulinémia mas

com alterações do metabolismo lipídico ( Jain et al. 2007, Palma 2002).

Vários estudos têm demonstrado que doentes com IR têm caracteristicamente

partículas LDL pequenas e densas (tipo B), as quais estão deplectadas de esteres de colesterol

e enriquecidas de Apo B. Este fenótipo de LDL tipo B também é denominado de lipoproteína

aterogénica e pode fazer parte integrante dos componentes da SM (Jain et al. 2007, Palma

2002).

A hiperinsulinémia e a obesidade abdominal que tipicamente acompanham a IR

contribuem para a excessiva produção hepática de VLDL. Estas são constituídas por um

núcleo lipídico (80-95% TG e 2-7% colesterol) rodeado por fosfolípidos, colesterol livre e

apoproteínas (B100, CI, CII, CIII e Apo E) (Jain et al. 2007, Palma 2002).

As HDL são constituídas por 5-10% TG, 15-25% colesterol, 20-30% fosfolípidos e

por uma variedade de apoproteínas (Apo AI, II, IV, Apo CI, II, III e Apo E) (Palma 2002).

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Apesar dos mecanismos que regulam o metabolismo das HDL não serem

completamente conhecidos, a diminuição do potencial aterogénico que lhes está associado é

incontestável (Jain et al. 2007).

Um estudo realizado por Knopp et al (2008) refere que o aumento do colesterol HDL

está associado ao aumento da apoA, traduzindo-se num estado anti-aterosclerótico. Este efeito

surge pela capacidade do colesterol HDL em aumentar a protecção antioxidante contra o

colesterol LDL, ter um papel anti-inflamatório na parede arterial e induzir o transporte reverso

do colesterol.

Estes últimos são ilustrados pela inibição da expressão de moléculas de adesão, da

produção de IL-6 e da exposição das células endoteliais ao TNF-α. A actividade anti-

aterogénica deve-se aos seus efeitos anti-oxidantes, anti-apoptóticos, vasodilatadores e anti-

inflamatórios. Pode, pois, afirmar-se que níveis baixos de colesterol HDL têm uma relação

inversa com o risco de desenvolver DCV. Diversos estudos demonstraram que a redução de

1% na concentração plasmática de colesterol HDL está associada ao aumento de 2-3% no

risco de desenvolver doença coronária (Bruckert et al. 2007).

Em suma, a dislipoproteinemia associada á obesidade é caracterizada por uma

elevação da apolipoproteína B100 (ApoB), reflectindo a acumulação de colesterol LDL, e por

uma diminuição dos níveis de apolipoproteína A1 (apoA), interpretada por baixas

concentrações de HDL. Resulta de uma secreção aumentada de VLDL, a nível hepático, de

uma diminuição do catabolismo de LDL e de uma aceleração do catabolismo de HDL.

Verifica-se, então, um aumento do colesterol total, do colesterol LDL, do colesterol VLDL e

dos TG; e, uma diminuição do colesterol HDL (Iqbal et al. 2008, Knopp et al. 2008). O

aumento da relação apoB/apoA está associada de forma positiva a eventos do foro

cardiovascular (Bruckert et al. 2007).

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Uma perda de peso referente a 5-10% do peso total pode culminar numa redução de

15% no colesterol LDL, de 20-30% nos TG e num aumento de 8-10% no colesterol HDL,

(Perez et al. 2007) o que trará benefícios a nível cardiovascular, já que a diminuição de 1%

dos níveis de colesterol diminui em 2% o risco de desenvolvimento de doença coronária

(Anantharamaiah et al. 2007).

Obesidade, doença cardiovascular e hiperúricemia

A hiperúricemia (HU) é comum em indivíduos com DCV que têm muitas

características da SM. A HU ocorre por diminuição na excreção renal de urato, induzido pela

hiperinsulinémia. Sendo uma desordem metabólica, a HU é influenciada por factores que

incluem o abuso de álcool, aliado à obesidade e dislipidemia (Lippi et al. 2008).

O ácido úrico é o maior antioxidante no plasma humano, com um papel importante

durante o stress metabólico. No entanto, estudos recentes descrevem que compostos

antioxidantes se podem tornar pró-oxidantes, em determinadas situações, particularmente

quando estão acima dos níveis fisiológicos (Ioachimescu et al. 2008, Lippi et al. 2008).

Indivíduos com obesidade abdominal tendem a ter níveis elevados de ácido úrico. De

forma semelhante, indivíduos com doença coronária têm níveis séricos de ácido úrico

modestamente mais elevados quando comparados a indivíduos saudáveis (Lippi et al. 2008).

Existem evidências que sugerem que a HU é um factor de risco de doença coronária,

tendo como base patofisiológica o stress oxidativo. O ácido úrico terá efeitos lesivos no

sistema cardiovascular, aumentando endotoxinas que estimulam a produção de TNF-α e por

isso activando uma resposta inflamatória, promovendo a oxidação das LDL, importante na

progressão da aterosclerose, bem como a activação e adesão plaquetar e a libertação de

radicais livres que contribuem para a inflamação local e para a progressão da placa (Lippi et

al. 2008).

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Um estudo de Ioachimescu et al. (2008) demonstra que em doentes com alto risco de

DCV, o nível sérico de ácido úrico foi um preditor independente de mortalidade.

Poder-se-ia assim dizer que indivíduos com níveis superiores de ácido úrico têm maior

probabilidade de desenvolver doença coronária. No entanto, considerar o ácido úrico como

factor de risco cardiovascular, ou simplesmente, como um reforço nos típicos factores de

risco, é uma questão ainda controversa (Strazzullo et al. 2007, Ioachimescu et al. 2008, Lippi

et al. 2008).

Conclusão

A obesidade, bem como outros distúrbios relacionados, incluindo, insulinoresistência e

diabetes tipo 2, HTA, aterosclerose, dislipidemia e hiperúricemia, estão associados a um

estado de inflamação crónica ligeira, evidenciada por níveis elevados de marcadores

inflamatórios, tais como IL-6, TNF-α, PCR, leptina, PAI-1 e resistina. A adiponectina

correlaciona-se de forma inversa com estes marcadores inflamatórios.

Está bem documentado que os processos inflamatórios têm um papel importante no

desenvolvimento da DCV (aterosclerótica) e os mediadores inflamatórios estão envolvidos no

início, progressão e ruptura da placa de aterosclerose. Assim, os marcadores da inflamação e

disfunção endotelial podem fornecer informação adicional acerca do risco de DCV e podem

tornar-se novos alvos terapêuticos.

Os indivíduos obesos apresentam um estado pró-inflamatório e pró-coagulante, que

pode contribuir para eventos coronários. A redução da circunferência abdominal conduz a

uma diminuição do risco de mortalidade.

O risco de desenvolver doença coronária em indivíduos obesos está relacionado com a

obesidade, sendo que uma perda ponderal significativa diminui para cerca de metade este

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risco. Esta diminuição do risco cardiovascular deve-se principalmente à diminuição da

prevalência das comorbilidades associadas, bem como à melhoria do estado inflamatório.

Espera-se que, no futuro, o conhecimento mais aprofundado das ligações entre

genética, inflamação, ambiente e obesidade permita criar novas estratégias de prevenção e

tratamento desta epidemia e do risco de DCV que lhe está associado.

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• Zhang C, Rexrode K, van Dam R, et al. (2008) Abdominal Obesity and the Risk of

All-Cause, Cardiovascular, and Cancer Mortality. Sixteen Years of Follow-Up in US

Women. Circulation 117:1658-1667.

• Zulet M, Puchau B, Navarro C, et al. (2007) Inflammatory biomarkers: The link

between obesity and associated pathologies. Biomarcadores del estado inflamatorio:

Nexo de union con la obesidad y complicaciones associadas. Nutr Hosp 22(5): 511-27.

Page 44: Introdução - Estudo Geraldislipidémia, a hiperuricémia (HU) e a vasculopatia. A avaliação da SI reveste-se assim de grande interesse na prática clínica (Carvalheiro 2002)

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Lista de Abreviaturas

• AG - Ácidos gordos

• AGL - Ácidos gordos livres

• Apo – Apoproteína

• Apo B – Apoproteína B

• AR-β3 - Genes do receptor adrenérgico β-3

• ASP - Proteína estimuladora da acetilação

• ATPIII - Adult Treatment Panel III

• AVC - Acidente vascular cerebral

• DCV - Doença cardiovascular

• DM - Diabetes Mellitus

• DS - Densidade somática

• EGIR - European Group for the Study of Insulin Resistance

• GLUT4 - Transportadores da glicose insulino-dependente-4

• Hb A1c - Hemoglogina gicosilada

• HDL - Lipoproteínas de alta densidade

• HTA – Hipertensão arterial

• HU – Hiperuricemia

• IG - Intolerância à glicose

• IL- Interleucina

• IMC - Índice de massa corporal

• IR - Insulino-resistência

• IRS - Substrato do receptor de insulina

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• LDL - Lipoproteina de baixa densidade

• LPL - Lipoproteína lipase

• MA- Microalbuminúria

• NCEP - National Cholesterol Education Program

• NHANES III - Third National Health and Nutrition Examination Survey

• OMS - Organização Mundial de Saúde

• PAI-I - Inibidor do activador do plasminogénio-1

• PCB - Prega cutânea bicipital

• PCR - Proteína C-reactiva

• PCSE - Prega cutânea subescapular

• PCSI - Prega cutânea supra-ilíaca

• PCT - Prega cutânea tricipital

• SI - Sensibilidade à insulina

• SM - Síndroma Metabólica

• SNS - Sistema nervoso simpático

• TA - Tensão arterial

• TAD - Tensão arterial diastólica

• TAS - Tensão arterial sistólica

• TG - Triglicerídeos

• TNF-α - Factor de necrose tumoral-α

• VLDL - Lipoproteínas de muito baixa densidade