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EngEnhArIA
CaRToGRáFiCa base da geoinformação
João Fernando Custodio da Silva
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SOBRE O AUTOR
João Fernando Custodio da Silva, Engenheiro Cartógrafo graduado pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em 1979; mestre (1983) e doutor
(1987) em Ciências Geodésicas pela Universidade Federal do Paraná; pós-
doutorado na Ohio State University, EUA, de 1992 a 1994 (fotogrametria e
sistemas de mapeamento móvel); livre-docente (1997) e professor titular (2007)
em Fotogrametria do departamento de Cartografia, da Faculdade de Ciências e
Tecnologia (FCT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de
Presidente Prudente, onde ingressou, em 1982, para lecionar Fotogrametria no
curso de Engenharia Cartográfica e posteriormente Cartografia e Trabalho de
Síntese, tendo colaborado nas disciplinas de Desenho Geométrico e Introdução
ao Conhecimento Científico. No Programa de Pós-graduação em Ciências
Cartográficas lecionou Fotogrametria Analítica e atualmente leciona
Organização do Trabalho Científico, e Orientação de Sensores e Imagens.
Presidente da Associação Brasileira de Engenheiros Cartógrafos (1988-1992),
Conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de
São Paulo (2004-2009), Vice-diretor (2002-2006) e Diretor da FCT/Unesp (2006-
2010). Estágio de pesquisa no Instituto de Geomática da Universidade
Politécnica da Catalunha e Generalitàt Cataluña, Espanha, de outubro de 2011 a
fevereiro de 2012 (estudo sobre a integração de sensores de posicionamento e
navegação para o mapeamento móvel).
NOTA AO LEITOR
Agradecemos a comunicação de falhas e omissões. JFCS
3
Siglas
ABEC/Associação Brasileira dos Engenheiros Cartógrafos. ACI/Associação
Cartográfica Internacional. ART/Anotação de Responsabilidade Técnica.
BCG/Boletim de Ciências Geodésicas. CAD/computer aided design. CCD/charge
coupled device. CIM/Carta Internacional do Mundo ao Milionésimo. CNPq/Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. CONFEA/Conselho Federal
de Engenharia e Agronomia. CREA/Conselho Regional de Engenharia e Agronomia.
CTI/Ciência, tecnologia e inovação tecnológica. CVL/Curriculum vitae Lattes.
DC/documento cartográfico. ECA/erro cartográfico admissível. FAPESP/Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. FIG/Féderation Internationale de
Géomètres. GIS/geographic(al) information system (ver SIG). GLONASS/(ver
GNSS). GNSS/Global Navigation Satellite System. GPS/Global Positioning System.
IAG/International Association of Geodesy. IBGE/(Fundação) Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística. IES/instituições de ensino superior. IMU/inertial measurement
unit. INPE/Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. INS/inertial navigation system.
ISPRS/International Society for Photogrammetry and Remote Sensing. LASER
(laser)/light amplified by stimulated emission radiation. LIDAR (lidar)/laser detection
and ranging. LTM/Local Tranversa (de) Mercator. MCF/meridiano central do fuso.
MDE/modelo digital de elevação. MDS/modelo digital de superfície. MDT/modelo
digital do terreno. MEC/Ministério da Educação. MLE/meridiano limite do fuso a
leste. MLW/meridiano limite do fuso a oeste. MMQ/método dos mínimos quadrados.
NMM/nível médio dos mares. NTCN/Normas Técnicas da Cartografia Nacional.
ONU/Organização das Nações Unidas. PEC/padrão de exatidão cartográfica.
PLC/Plataforma Lattes CNPq. RADAM/radar da Amazônia. RADAR (radar)/radio
detection and ranging. RBC/Revista Brasileira de Cartografia. RBMC/Rede Brasileira
de Monitoramento Contínuo. RN/RRNN/referência(s) de nível. RTM/Regional
Tranversa (de) Mercator. SBC/Sociedade Brasileira de Cartografia, Geodésia,
Fotogrametria e Sensoriamento Remoto. SCN/Sistema Cartográfico Nacional.
SFT/superfície física da Terra. SGB/Sistema Geodésico Brasileiro. SIG/sistema de
informação geográfica (ver GIS). SIRGAS2000/Sistema de Referência Geocêntrico
para as Américas (realização ano 2000). SMR/superfície do modelo de referência.
SPR/superfície do plano de representação. SSP/superfície do sólido de projeção.
TIN/triangular irregular network. UGGI/União Geodésica e Geofísica Internacional.
UNESCO/United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization.
UFPE/Universidade Federal de Pernambuco. UFPR/Universidade Federal do Paraná.
UNESP/Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. USP/Universidade
de São Paulo. UTM/Universal Transversa (de) Mercator. VFT/verdadeira forma da
Terra.
4
CONTEÚDO (provisõrio)
4 Engenheiros Cartógrafos e Geopesquisadores: quem somos, quantos somamos, o
que fazemos.
Os geopesquisadores brasileiros. Palavras-chave ou expressões geoespaciais. A
estimativa da quantidade de geopesquisadores no Brasil. Campos de atuação das
organizações e interesses das instituições de pesquisa. As tarefas rotineiras e as
principais palavras-chave pesquisadas. Ciência, tecnologia, engenharia e mercado na
mesa redonda do conhecimento.
5
CAPÍTULO 4
Engenheiros Cartógrafos e Geopesquisadores
Quem somos
Quantos somamos
O que fazemos
Entre os muitos e distintos títulos educacionais e profissionais relacionados com
a informação geográfica, os engenheiros cartógrafos são os responsáveis pelo
arcabouço geodésico e por todo o processo de mapeamento cartográfico fundamental,
pela elaboração dos documentos cartográficos e também por construir os bancos de
dados geográficos. Uma vez concretizados, resta a eterna missão sisífica de manter
todos esses sistemas periodicamente atualizados, e mais a criação de novos produtos à
luz das novas tecnologias, campo das inovações tecnológicas.
Apesar do vasto território brasileiro, já vimos que há poucos desses
profissionais no mercado de trabalho, onde praticam a gestão administrativa, a
produção técnica, as consultorias e os trabalhos acadêmicos. Essas atividades que
caracterizam a atuação do engenheiro cartógrafo no mercado de trabalho foram
demonstradas, apresentadas e discutidas no capítulo anterior.
A economia brasileira está entre as dez maiores do mundo já há algumas
décadas e chegou a oscilar entre o sexto e o sétimo lugar da lista dos países de maior
peso econômico. Parte desse resultado levou o tripé ciência, tecnologia e inovação
(CTI), que vem sendo construído por pesquisadores brasileiros, a receber
reconhecimento internacional, o que levou algumas das suas principais universidades
públicas a ocupar posições relevantes (ARWU, 2011). Apesar das crises, percalços,
oscilações e falta de uma firme decisão como uma política de estado, CTI vem
6
crescendo com consistência, desde meados do século passado, como resultado das
políticas estratégicas públicas e o despertar da sociedade brasileira para a educação.
A geopolítica brasileira exige atenção para o seu amplo território; é o quinto no
mundo com 8.515.767,049 km2, as fronteiras marítimas e terrestres, os recursos
naturais, a distribuição e o bem-estar da população, e também da sua ciência e
tecnologia. Os engenheiros cartógrafos fazem uma parte do trabalho de mapear e
cartografar todo o território brasileiro. A economia nacional requisita constantemente
recursos humanos especializados em vários níveis para também lidar com a
informação geográfica em suas muitas e variadas utilidades.
Nós já mencionamos que os materiais foram alterados sob a influência dos
aparelhos eletrônicos e digitais. Isto fez com que novos materiais fossem requisitados,
porque os métodos que vigoravam também foram revistos, alterados, renovados e até
mesmo descartados. Os novos métodos que foram se impondo passaram a processar
novos tipos de dados e assim por diante. Este ciclo alcançou o estado da arte corrente a
qual depende do que se convencionou chamar de tecnologia digital e que tem por base
os computadores e processadores digitais. E a nanotecnologia está em crescimento e
deverá trazer as suas contribuições. Pelo menos é o que estamos observando no futuro
imediato da frente tecnológica.
Acreditamos que tal paradigma tecnológico digital tenha influenciado o
aprendizado informal, a educação formal e as profissões desde o nível técnico até o de
pós-graduação. Muitos ramos foram beneficiados por esse avanço científico e
tecnológico. O mercado de trabalho segue de perto o progresso, de modo que os
profissionais são forçados pela realidade a obter novas habilidades. O sistema
educacional brasileiro provê atualização de conhecimentos por meio de cursos
técnicos, de graduação e de pós. Os recursos humanos para o mercado de trabalho
(incluindo ciência e academia) são formados por instituições de ensino públicas,
privadas, fundacionais e confessionais.
A abordagem que estamos seguindo trata os engenheiros cartógrafos como
membros da comunidade geoespacial brasileira. Ela é composta por profissionais,
pesquisadores, professores, empresários, investidores e estudantes, que se aglutinam
em torno desse neologismo. Consideramos que o traço comum entre todos esses atores
é que, em alguma etapa da cadeia produtiva ou do seu processo produtivo, usa-se a
infogeo diretamente produzida ou derivada de um produto cartográfico.
Tal qual a totalidade da comunidade geoespacial brasileira, os engenheiros
cartógrafos e os geopesquisadores aspiram a que seus trabalhos contribuam para os
objetivos da nação brasileira. Alguém pode querer compreender o relacionamento
7
profissional ou científico entre eles, considerando que ambos agem em diferentes
ambientes, como os escritórios e laboratórios de pesquisa, respectivamente, como uma
redução do mundo real.
Os geopesquisadores brasileiros
Com o intuito de levantar alguns dados preliminares e nos aproximarmos do
conhecimento de uma faceta da comunidade de pesquisadores que atuam na área
cartográfica e circunvizinhanças, fizemos um trabalho que nos pareceu muito
interessante, pois revelador e comprovador de algumas hipóteses (Silva; Berveglieri,
2011). Obtivemos todas as palavras-chave de todos os artigos publicados pela Revista
Brasileira de Cartografia (RBC) e Boletim de Ciências Geodésicas (BCG) desde 1997.
Enumeramos as palavras ou expressões mais utilizadas e as relacionamos às
instituições de pesquisa que originaram os artigos nelas publicados. Isso foi feito em
2009 como uma tarefa acadêmica da disciplina "Organização do Trabalho Científico"
do Programa de Pós-graduação em Ciências Cartográficas da Unesp.
Em continuidade, mas após a conclusão da referida disciplina, as palavras-
chave foram inseridas na Plataforma Lattes do CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Por conveniência pactuada com o leitor,
vamos usar a sigla PLC para nos referirmos a esse serviço do CNPq.
A íntegra da ciência brasileira está contida nesta plataforma, pelo menos quanto
à informação da sua produção acadêmica e científica, pois cada pesquisador atualiza o
seu Curriculum Vitae Lattes (CVL) sempre que ela é acrescida de um produto
(orientação, tese, artigo, patente etc.) ou periodicamente. Então, a produção intelectual
de toda a comunidade geocientífica brasileira, isto é, toda a população de
geopesquisadores, pode ser levantada e pesquisada na base de dados do CNPq, porque
teoricamente toda ela deve estar na PLC. É o banco de dados alimentado pelos
próprios investigadores que lá estão cadastrados e que está sempre aberto para que o
pesquisador insira a sua produção científica em qualquer momento e de qualquer
lugar do mundo. Da mesma forma vale para o acesso de qualquer um interessado em
conhecer a vida científica de qualquer pesquisador.
Após termos analisado seis amostras de engenheiros cartógrafos no capítulo 3
(Silva, 2013), os artigos publicados nas duas revistas (Silva; Berveglieri, 2011) e as
palavras-chave relacionadas aos geopesquisadores da base Lattes (Silva; Berveglieri,
2012), acreditamos ter condições objetivas e razoavelmente confiáveis de apresentar ao
leitor o que é pesquisado nos laboratórios e o que é feito na profissão.
8
Palavras-chave ou expressões geoespaciais
RBC e BCG são as duas mais importantes revistas brasileiras do ramo geodésico
e cartográfico. De 1997 a 2009, elas publicaram 53 edições on-line com 430 artigos. A
pesquisa em seus respectivos sítios (sites) revelou os números relacionados aos autores
dos artigos e suas respectivas instituições (Figura 5).
Figura 5 – Instituições, autores e artigos: síntese numérica (estatística). Fonte: Silva;
Berveglieri, 2011.
Todas as 104 instituições apareceram 634 vezes e as mais frequentes são
algumas universidades públicas brasileiras e institutos de pesquisa. Contamos também
46 instituições estrangeiras de 16 países.
Bastante semelhante à distribuição geográfica regional de cidades e o emprego
de engenheiro cartógrafo (cap. 3), a maioria das instituições brasileiras de pesquisa,
conforme apuradas no levantamento, está localizada principalmente na região Sudeste.
Lemos na tabela 9 que, no Norte, duas cidades abrigam engenheiros de cartografia
(cap. 3) e quatro instituições relacionadas às palavras-chave. No Sul, 13 cidades, 42
cartógrafos e 30 instituições. Em nenhuma linha da tabela estamos afirmando que os
engenheiros são afiliados às instituições e que estas empregariam os cartógrafos. São
dados de levantamentos diferentes. E vemos na tabela 10 que as principais instituições
(de pesquisa ou universidades), no âmbito da infogeo, no Brasil são totalmente
públicas.
Tabela 9– Distribuição regional de engenheiros cartógrafos e de institutos de pesquisa
9
Regiões Cidades Engenheiros Instituições
Norte 2 4,1% 3 1,5% 4 3,1%
Nordeste 7 14,3% 27 13,4% 16 12,2%
Centro-Oeste 6 12,2% 14 6,9% 17 13,0%
Sudeste 21 42,8% 116 57,4% 64 48,9%
Sul 13 26,5% 42 20,8% 30 22,9%
Total 49 100,0% 202 100,0% 131 100,0%
Tabela 10 – As instituições de pesquisa em Geodesia e Cartografica
Instituição RBC BCG Total Região Tipo
UNESP 48 66 114 SE SP
UFPR 21 89 110 S FP
INPE 39 11 50 SE FP
UFPE 10 9 19 NE FP
USP 12 7 19 SE SP
UFRGS 6 10 16 S FP
UNICAMP 14 1 15 SE SP
UFRJ 12 2 14 SE FP
EMBRAPA 10 1 11 SE+NE FP
OUTRAS (142) 158 100 258 Todas Todas
Total de instituições: 151 330 296 626 - -
FP: Federal e pública. SP: Estadual e pública.
A pesquisa em ambos os sítios das revistas retornou centenas de palavras-chave
que compõem um largo espectro de teorias, métodos e aplicações. Tal dispersão,
obviamente, inviabilizaria a análise de tanta variedade e não seria de razoável
compreensão o resultado, de modo que reagrupamos as palavras-chave em categorias.
A tabela 11 resume as 23 categorias resultantes e são ordenadas decrescentemente pelo
total. Ainda alto, este número pode sugerir uma abordagem genérica para os temas de
10
pesquisa geodésica e cartográfica, mas respeita o significado original da maioria das
palavras-chave.
Tabela 11 – Grupos (categorias) de palavras em RBC e BCG
Categoria Quantidade RBC Quantidade BCG Total
Métodos e modelos 67 101 168
Geodésia e topografia 41 96 137
Sensoriamento remoto 96 37 133
GNSS 26 77 103
Cartografia 65 34 99
Fotogrametria 28 64 92
Estatística e MMQ 28 34 62
Detecção e extração 30 30 60
Imagens 29 25 54
Processamento digital de imagens 24 23 47
Ecologia e meio-ambiente 40 6 46
Sistemas de informações geográficas 36 7 43
Administração 30 10 40
Mapas e mapeamento 25 14 39
Solos e vegetação 36 3 39
Água 33 5 38
Análises 25 11 36
Tecnologia 15 13 28
Atmosfera, climatologia e meteorologia 11 15 26
Classif. e reconhecimento de padrão 16 10 26
MDE, MDS, MDT (DEM, DSM e DTM) 16 8 24
Toponímia 20 2 22
Outros sistemas 12 8 20
Outras palavras-chave 106 31 137
Total 855 664 1519
A tabela 12 relaciona as escolas às seis categorias de palavras-chave mais
numerosas. A maioria das instituições tem sua produção científica em mais de um
campo, que é mostrado por categorias distintas.
Tabela 12 – Instituições e as categorias mais numerosas
11
Instituição
Categoria
MM GT RS GNSS Foto Carto Total
UNESP 20 0 0 12 15 2 49
INPE 4 0 36 2 0 0 42
UFPR 7 9 0 11 8 3 38
USP 0 3 0 2 1 3 9
UFPE 0 0 0 0 0 3 3
Total 31 12 36 27 24 11 141
MM: Métodos e Modelos; GT: Geodésia e Topografia; GNSS: Global Navigation Satellite
Systems; Foto: Fotogrametria; Carto: Cartografia; SR: Sensoriamento Remoto.
A estimativa da quantidade de geopesquisadores no Brasil
Os dados que seguem foram coletados em 16/11/2010. A pesquisa na PLC
retorna todos os acessos aos curricula vitae dos pesquisadores relacionados a uma
palavra-chave inserida na busca. Para a categoria "métodos e modelos" a palavra-chave
que entrou foi "modelo" e a busca retornou 1.797 CVL de doutores na área de
Geociências e 177 na subárea de Geodésia. Marcando a opção “todos os pesquisadores
(tudo exceto o doutoramento)”, a busca retornou 1.523 e 249 CVL para Geociências e
Geodésia, área e subárea, respectivamente.
Cada linha da tabela 13 apresenta a categoria e a palavra-chave usada na busca
(coluna 1). As colunas 2 e 3 mostram a quantidade de CVL de geopesquisadores para a
busca na área de Geociências e subárea Geodésia, respectivamente. As categorias e as
palavras-chave originais foram escritas em português; quando em inglês, por exemplo,
os números retornados são ou podem ser diferentes. O próprio leitor pode fazer essa
verificação no sítio do CNPq (lattes.cnpq.br; buscar currículo).
A área de Geociências significa o número inteiro de pesquisadores que tem
interesse científico em questões relacionadas com uma dada palavra-chave afeta à área
e contém a comunidade especializada de investigadores geodesistas e cartógrafos,
especificamente representada na subárea Geodésia. Na PLC a subárea Geodésia
também inclui Fotogrametria, Cartografia Fundamental, Geomática e todas as
disciplinas ou termos relacionados ao mapeamento cartográfico. Conforme adiantado
12
na seção “As amostras” (cap. 3), esses números estariam em sintonia aproximada com
os parâmetros econômicos brasileiros.
Tabela 13 – Quantidade de geopesquisadores relacionados às categorias de palavras
Categoria
grupo de palavras/palavra mais citadas na categoria
Total de CVL
Área Subárea
Geociências Geodésia
Águas/Bacia 7185 418
Ecologia e ambiente/Ambiental 7071 641
Dados e banco de dados/Dados 4914 635
Mapas e mapeamento/Mapeamento 4188 546
Solos e vegetação/Solo 4025 373
Imagens/Imagem 3832 800
Mapas e mapeamento/Mapa/mapas 3625 607
Outros systems/Sistemas 3346 459
Métodos e modelos/Modelo 3320 426
Educação/Ensino 3273 297
Administração/Planejamento 2983 360
Administração/Monitoramento 2790 326
Sensoriamento remoto/Sensoriamento remoto 2759 475
Análise/Análise Espacial 2299 294
Cartografia/Cartografia 2142 494
Sistemas de informações geográficas/SIG 2045 458
Disciplines/Geomorfologia 1821 107
Agronomia e uso da terra/Uso da terra 1816 191
Classificação e padrões/Classificação 1812 260
Amazônia/Amazônia 1810 116
Métodos e modelos/Rede 1712 306
Solos e vegetação/Vegetação 1520 144
MDE. MDS e MDT/Modelo digital 1116 282
GNSS/GPS 1064 464
Detecção e extração/Extração 942 108
Detecção e extração/Detecção 835 136
Análise/Análise estatística 791 83
Cadastre/Cadastre 661 280
GNSS/Posicionamento 584 244
Tecnologia/Internet 471 95
Estatística e MMQ/Precisão 460 197
Processamento digital de imagens/Processamento digital de imagem 361 117
Visualização/Visual 357 57
Geodésia e topografia/Geodésia 295 227
Campos de atuação das organizações e interesses das instituições de pesquisa
13
Os campos de atuação referem-se às organizações onde atuam os engenheiros
cartógrafos e as categorias das palavras-chave usadas na contagem de
geopesquisadores são definições mais gerais das aplicações do conhecimento científico
e tecnológico. Vimos que o setor público ainda é levemente dominante no mercado de
trabalho do engenheiro cartógrafo, e a tabela 12 confirma que CTI em Geodésia e
Cartografia, no Brasil, é totalmente dependente das instituições públicas de pesquisa.
Quadro 5 – Campos de atuação das organizações e as categorias de palavras
Campo de Atuação da Organização
(engenheiros cartógrafos)
Categoria das Palavras-chave
(geopesquisadores)
Mapeamento Fundamental ou de Base 85 Métodos e Modelos 168
Mapeamento Temático 82 Geodésia e Topografia 137
Planejamento 68 Sensoriamento Remoto 133
Meio-ambiente 64 GNSS 103
Gestão Fundiária 56 Cartografia 99
Limites Territoriais 54 Fotogrametria 92
Aero/Espacial 45 Estatística e MMQ 62
Análise Ambiental 43 Detecção e Extração 60
Questões Fundiárias 40 Imagens 54
Geografia 39 Processamento Digital de Imagens 47
Petróleo 39 Ecologia e Meio-ambiente 46
Engenheiros de cartografia trabalham para organizações públicas e privadas,
cujo principal interesse são os ramos de aplicação que os geopesquisadores assinalam,
de acordo com os artigos publicados pela RBC e BCG. Os seus interesses, expressos em
palavras-chave (quadro 5), também podem ser relacionados às disciplinas do
conhecimento (quadro 1), que são lecionadas, estudadas e pesquisadas principalmente
em universidades públicas.
As tarefas rotineiras e as principais palavras-chave pesquisadas
Relembrando, os engenheiros cartógrafos informam que as suas principais
tarefas habituais (quadros 3 e 6) incluem atividades técnicas, de administração e
consultoria (gráfico 4). Em um sentido amplo, as expressões de palavras-chave (quadro
6) denotam interesses em métodos, técnicas e material para trabalhar com dados
14
ambientais. Relativas à área mais geral, Geociências, há expressões que remetem
apontam para o lado social (planejamento e ensino) e a questões geográficas (bacia e
solo). Na subárea mais específica – Geodésia – as palavras claramente definem quatro
disciplinas fundamentais (Cartografia, SIG, GPS e Sensoriamento Remoto). À época do
recolhimento dos dados, a sigla GNSS ainda não era tão praticada como atualmente.
Relembramos que, na PLC, a subárea Geodésia inclui todas as disciplinas
fundamentais mencionadas.
Quadro 6 – Tarefas rotineiras do engenheiro cartógrafo e as palavras pesquisadas
(geopesquisadores)
Tarefas Rotineiras Palavras (Área
Geociências)
Palavras (Subárea
Geodésia)
Levantamento geodésico 89 Bacia 7185 Imagem/imagens 800
Levantamento
topográfico 76 Meio-ambiente 7071 Meio-ambiente 641
Coordenação 75 Dados 4914 Dados 635
Planejamento 75 Mapeamento 4188 Mapa/mapas 607
Produção cartográfica 75 Solo 4025 Mapeamento 546
Banco de dados 72 Imagem/imagens 3832 Cartografia 494
Análise geodésica 64 Mapa/mapas 3625 Sensoriamento remoto 475
Análise de imagens 61 Sistemas 3346 GPS 464
Consultoria 56 Modelo 3320 Sistemas 459
Uso de mapas 56 Ensino 3273 SIG 458
Modelo digital de terreno 55 Planejamento 2983 Modelo 426
Ciência, tecnologia, engenharia e mercado na mesa redonda do conhecimento
Além do conhecimento técnico e científico, os engenheiros devem aprender
sobre os avanços científicos e a inovação tecnológica, pois isso é relevante para eles se
manterem atualizados e capazes de aplicar e analisar o conhecimento para as
necessidades do mundo e das pessoas. Dado esse compromisso como uma premissa
para a atuação profissional do engenheiro, novas questões podem surgir e mais
15
necessidades poderão ser atendidas, de modo que dos engenheiros se espera que
ajudem a formular ou a reformular outros problemas científicos.
Os cientistas querem superar as barreiras para ampliar as fronteiras do
conhecimento e assim os resultados das suas pesquisas promovem o avanço. As
soluções dos novos ou reformulados problemas científicos são usadas e aplicadas
novamente por empresas comerciais e de engenharia para satisfazer as necessidades do
mundo real e das pessoas.
As palavras-chave e as expressões indicam que os geopesquisadores
interessam-se pelos temas ligados ao meio-ambiente e os métodos para tratar os dados
a ele relacionados e, concordantemente com a sua função de descobridores de
conhecimento, muito menos por assuntos administrativos. Assim depreendemos dos
dados apurados. Os engenheiros cartógrafos ocupam-se majoritariamente, mas não
exclusivamente, da rede fundamental de pontos, materializados ou não, no território,
do processo de mapeamento cartográfico e com as tarefas administrativas, e isso é
condizente com o perfil da profissão.
Todas as entidades e atores contribuem cada um com o seu quinhão. A
resultante é fruto do trabalho feito nas universidades, nos institutos de pesquisa, nas
organizações de governo, nas empresas comerciais, por estudantes, engenheiros e
geopesquisadores. Um esboço da relação entre eles pode ser vista nos quadros, tabelas
e ilustrações.
Cremos que assim fica demonstrado e verificado que há um sistema bem
articulado com temas de pesquisa, disciplinas acadêmicas e organizações públicas e
privadas, os quais permeiam e atuam em vários campos de atividade de base científica
e tecnológica. E as tarefas de rotina do engenheiro cartógrafo sustentam diariamente
necessidades do País, bem como da sociedade brasileira.
Inovação tecnológica tem uma quota importante no mercado de oportunidades
das profissões tecnológicas e engenharias e em particular para a engenharia
cartográfica. O tema merece atenção a fim de criar e aumentar as oportunidades de
trabalho no Brasil para engenheiros e cientistas jovens e seniores além das hostes
universitárias e assim evitar uma eventual fuga de cérebros, que ou debandam para
outras áreas profissionais ou, o que é pior, deixam o país.
Uma política estratégica de incentivo ao envolvimento de cientistas com a
indústria e, reciprocamente, para a indústria interessar-se pelo desenvolvimento de
CTI, já está em andamento no Brasil, com destaque para os programas das agências de
fomento à pesquisa como o CNPq, FINEP e FAPESP, entre outras. O alcance, a
intensidade e a qualidade das variáveis e resultados estão além do escopo dessa
16
abordagem. Entretanto, entendemos que é preciso incentivar estudantes e profissionais
a empreender no setor de geotecnologias. O número de empresas e doutores brasileiros
comprometidos com a inovação tecnológica em geoinformação no Brasil ainda é muito
baixo, tanto quanto o é a quantidade de empresários no setor geotecnológico.
Em 14 de maio de 2015 uma nova consulta à PLC retornou as quantidades de
CVL dos doutores e demais pesquisadores vinculados às palavras-chaves mais citadas
no domínio das geotecnologias:
Tabela 14 – Quantidade de CVL de pesquisadores (14 maio 2015)
CVL/PLC doutores demais* total
geoprocessamento 4198 7588 11786
geotecnologia 445 727 1172
geoinformação 221 279 500
geomática 222 238 460
*demais: mestres, graduados, estudantes, técnicos etc.
Considerando que o Brasil conta com pouco mais de 5.570 municípios, 300 dos
quais com mais de 100.000 habitantes, que sua população supera os 200 milhões de
habitantes, e com extensão territorial de mais de 8,5 milhões de km2, estimamos na
tabela XXXI as proporções entre esses números e os pesquisadores vinculados a
geoprocessamento e também os engenheiros cartógrafos:
Tabela 15– Proporções estimadas entre os geopesquisadores (geoprocessamento) e as
variáveis sociais, demográficas e territorial
geopesquisadores engenheiros cartógrafos
municípios 2,1 0,36
acima 100 mil hab. 39,3 6,7
população 1:16.970 1:100.000
território (km2) 1:722 1:4.250
17
Seria muito esclarecedor se pudéssemos estabelecer comparações com os
índices dessa natureza dos maiores países do mundo em extensão territorial, a saber:
Rússia (17,07 milhões de km2), Canadá (9,98), EUA (9,63), China (9,60), Austrália (7,69),
Índia (3,29) e Argentina (2,77 milhões de km2). Evidentemente, para isso, é mandatório
ter acesso a estatísticas confiáveis. Entretanto, a correspondência direta entre a
engenharia cartográfica brasileira e as congêneres desses países não é linear, isto é,
haveríamos que estabelecer os pilares para as comparações entre as profissões
assemelhadas como engenheiro de levantamentos, engenheiro de geodésia e
topografia, engenheiro geômetra, engenheiro de geomática, e similares.
Particularmente, não nos empolgamos com as comparações com a Coréia do Sul
porque as bases são distintas: pequena e grande extensão territorial e áreas fronteiriças,
uni-culturalismo e multiculturalismo, uni-racial e multirracial, vizinhança
declaradamente antagônica e vizinhos pacíficos, são algumas diferenças facilmente
perceptíveis entre Coréia e Brasil, respectivamente, que ensejam distintas geopolíticas.
Referências (abreviadas) para o capítulo 4
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