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INTRODUÇÃO AO MUNDO DAS ABELHAS
AUTORES: Ademilson Espencer Egea Soares
Geusa Simone de Freitas
Ivan Paulo Akatsu
Weyder Cristiano Santana
2011 EQUIPE DIDÁTICA:
ADEMILSON ESPENCER EGEA SOARES ANA RITA TAVARES OLIVEIRA BAPTISTELA
GEUSA SIMONE DE FREITAS IVAN DE CASTRO JAIRO DE SOUZA MAURO PRATO
PAULO EMÍLIO FERREIRA ALVARENGA RAONI DA SILVA DUARTE
Apoio
Índice Considerações gerais sobre os meliponíneos.................................................. 1
1. Origem das abelhas...................................................................................... 2
2. Abelhas e o homem...................................................................................... 5
3. Classificação biológica................................................................................. 7
3.1 O sistema classificatório de Lineu........................................................... 9
3.2- A nomenclatura binomial de Lineu ........................................................ 10 4. Os insetos e a classificação biológica.......................................................... 11 4.1- Como diferenciar um Arthropoda dentro do reino animal?..................... 13 4.2- Como diferenciar um inseto dentro dos Arthropoda?............................. 13 4.3- Reconhecendo as principais ordens de insetos..................................... 14 5. Metamorfose nos insetos.............................................................................. 15 6. Abelhas......................................................................................................... 16 6.1- Abelhas e classificação.......................................................................... 17 6.2- Como diferenciar abelhas de vespas?................................................... 19 6.3- Como diferenciar Apina de Meliponina?................................................. 20 6.4. Morfologia de abelhas............................................................................ 20 7. Biologia das abelhas................................................................................... 22
7.1 Tipo de vida das abelhas......................................................................... 22
7.2 Nidificação............................................................................................... 28 7.2.1 Estrutura dos ninhos............................................................................ 29
7.3 Mecanismo de determinação de castas.................................................. 33 7.3.1 Mecanismo de determinação de castas em abelhas da subtribo
Apina e Meliponina...............................................................................
35
7.3.2 Mecanismo de determinação de castas em Meliponina...................... 36
7.3.2.1 Mecanismo de determinação de castas no gênero Melipona........ 36
7.3.2.2 Mecanismo de determinação de castas nos outros gêneros,
exceto Melipona............................................................................
38
7.4 Controle da reprodução........................................................................... 38 7.4.1 Divisão de trabalho em abelhas sociais.............................................. 39 7.4.2 Produção de machos em meliponíneos.............................................. 41
7.5 Comunicação e orientação das abelhas.................................................. 41
7.5.1 Comunicação em algumas espécies de meliponíneos....................... 43 7.5.2 As trilhas de cheiro.............................................................................. 44 7.6 Os processos de enxameação............................................................... 45 8. Criação racional........................................................................................... 46
8.1 Escolhendo a espécie de abelha............................................................ 46 8.2 Escolhendo o lugar do meliponário......................................................... 47 8.3 Montando o meliponário.......................................................................... 47 8.3.1 - Escolha do modelo de colméia a ser usado...................................... 47 8.3.2- Distribuição das colméias................................................................... 52 8.4 Conseguindo as colônias......................................................................... 53 8.5 Transferência de ninhos para colméias racionais................................... 53 8.6 Cuidando as colônias.............................................................................. 58
8.7 Aumentando o número de colônias......................................................... 60 9. Mel................................................................................................................ 63
9.1. Características do mel de meliponíneos................................................. 63 9.2. Propriedades terapêuticas do mel.......................................................... 64 9.3. Colheita do mel....................................................................................... 66 10. Legislação sobre criação de meliponíneos................................................ 67 11. Ecologia das abelhas.................................................................................. 70 11.1 Polinização............................................................................................ 71 11.2. Lista de Plantas visitadas por meliponíneos......................................... 75 12. Referências Bibliográficas…………………………………………………….. 85
1 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE OS MELIPONÍNEOS As abelhas são insetos conhecidos pela maioria das pessoas por causa
da abelha melífera, popularmente chamada de abelha “europa” ou européia e a
abelha africanizada, que são do mesmo gênero (Apis), elas são amarelas e
pretas e possuem ferrão. O que muitas pessoas não sabem é que estas
abelhas não são nativas do Brasil, pois foram trazidas da Europa e da África
para cá, as nossas abelhas nativas são conhecidas como abelhas sem ferrão
ou meliponíneos, pois seu ferrão é atrofiado e elas não conseguem usá-lo para
se defender, sendo, portanto, incapazes de ferroar.
As abelhas indígenas sem ferrão são da subtribo Meliponina, Tribo Apini,
subfamília Apinae e família Apidae. Esta subtribo é representada por centenas
de espécies nas Américas do Sul e Central, Ásia, Ilhas do Pacífico, Austrália,
Nova Guiné e na África. Pelo fato de serem nativas da América, as abelhas
sem ferrão se diversificaram enormemente aqui, compondo hoje um número
muito grande de espécies com comportamento, forma e reprodução
diferenciados, dentre elas encontram-se a abelha jataí, irapuá ou “arapuá”, tubi,
canudo, boca-de-sapo, mandaçaia, guaxupé e várias outras. Lembrando que
estes são os nomes populares.
Todas as espécies de Meliponina são eussociais, isto é, vivem em
colônias constituídas por muitas operárias (algumas centenas, ou milhares,
conforme a espécie), que realizam as tarefas de construção e manutenção da
estrutura física da colônia, de coleta e processamento do alimento, e uma
rainha (em algumas poucas espécies pode ser encontrada mais de uma), que é
responsável pela postura de ovos, os quais dão origem às fêmeas (rainhas e
operárias) e a, pelo menos, parte dos machos (em diversas espécies, parte dos
machos é filho das operárias).
Machos são produzidos em grande número em certas épocas do ano e
podem realizar, esporadicamente, algumas tarefas dentro da colônia, além de
fecundar as rainhas durante o vôo nupcial. Normalmente, alguns dias após
emergirem (saírem da célula de cria após o termino do desenvolvimento) os
machos são expulsos da colônia (MICHENER, 1946, apud KERR et al., 1996).
2 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
1 ORIGEM DAS ABELHAS
De acordo com os trabalhos de MICHENER (1974, 1990), MICHENER &
GRIMALDI (1988), ROUBIK (1992), CAMARGO & PEDRO (1992), SILVEIRA et
al (2002), as abelhas, juntamente com as formigas e vespas, pertencem à
ordem Hymenoptera. Acredita-se que as vespas (Vespoidea, Sphecoidea) e as
abelhas descendem de um ancestral parasita. Uma das evidências desta
origem dos himenópteros aculeados (vespas, formigas e abelhas) é a ausência
de conexão entre a porção mediana do intestino com sua porção final,
impossibilitando a defecação da larva até sua maturidade. Além disso, é fácil
encontrarmos no grupo parasita indivíduos com características existentes no
grupo Aculeata, por exemplo, presença de glândula de veneno associada ao
ovipositor. Este ovipositor e o veneno associado a ele podem ser usados como
um ferrão para defesa, além de possibilitar a paralisação do hospedeiro para a
oviposição.
Apesar de muitos aculeados e parasitas usarem outros artrópodes como
alimento larval, os adultos se alimentam nas flores, basicamente de néctar, ou
então, de líquidos dos corpos de suas presas. O contato dos aculeados com as
flores pode ter "direcionado" a evolução desses grupos tornando o complexo
labiomaxilar bem adaptado para sugar ou lamber néctar de flores pouco
profundas.Desde que flores contenham uma rica proteína (pólen) em adição ao
néctar, não é de surpreender se algumas vespas que alcançaram o estágio
predatório abandonassem a predação e passassem a aprovisionar suas células
de cria e posteriormente a isso estocassem pólen como alimento larval. Um
exemplo que mostra que o último caso é possível é visto nas vespas das
superfamílias Vespoidea e Sphecoidea cujo ancestral, provavelmente, deu
origem às abelhas.
As abelhas, provavelmente, são um grupo monofilético originado de
vespas esfecídeas. Um grupo que surgiu por ter uma nova situação adaptativa:
pólen das Angiospermas para servir de alimento protéico para as larvas. As
abelhas são inteiramente dependentes das flores para se alimentarem,
podendo não ter se originado antes do aparecimento das Angiospermas, as
quais eram predominantes no Cretáceo (135 - 65 milhões de anos atrás,
Tabela 1). As evidências atuais indicam que o grupo das abelhas se originou
3 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
há mais ou menos 125 milhões de anos atrás, após o surgimento das
angiospermas (plantas com flores) que se deu há cerca de 130 – 90 milhões de
anos atrás.
Os fósseis de abelhas conhecidos, datados do Eoceno (40 milhões de
anos atrás) indicam que para essa época as abelhas já eram especializadas e
a maioria dos grupos de abelhas conhecidos hoje já existiam. Um fóssil de
meliponíneo, Cretotrigona prisca de + ou - 65 milhões de anos (Cretáceo)
encontrado em âmbar na América do Norte (New Jersey) indica que as abelhas
devem ter surgido há pelo menos 120 milhões de anos; evidências de que
plantas eram polinizadas por abelhas estão datadas do início do Terciário, o
que reforça a idéia sobre o tempo de surgimento das abelhas. Outro fóssil de
abelha encontrado no ano de 2006 em uma mina no Hukawng Valley de
Myanmar (Burma) suporta a teoria de que as abelhas tenham evoluído a partir
das vespas, pois tal fóssil compartilha características com as vespas; é datado
de 100 milhões de anos e é considerado o fóssil de abelha mais antigo (figura
1).
Figura 1: Melittosphex burmensis – o mais antigo fóssil de abelha.
4 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
Tabela 1 – Eras e períodos geológicos com as principais transformações que ocorreram na terra
Era Período Época Idade Características
Cenozóico
Quaternário
Holoceno 10.000
Idade do Homem". O homem torna-se a forma de vida dominante sobre a Terra. Estabilização do clima
Pleistoceno 1.750.000
Glaciações mais recentes. Domínio dos mamíferos de grande porte. Evolução do homo sapiens
Terciário
Plioceno 5.300.000
Avanço das geleiras. A vegetação é dominada pelos campose savanas. Aparecimento de mamíferos ruminantes
Mioceno 23.500.000
Formação de grandes campos. Mudanças climáticas levam a formação da calota polar Antártica
Oligoceno 34.000.000 Aparecimento de elefantes e cavalos. Aparecimento de vários tipos de gramíneas
Eoceno 53.000.000 Surgimentos da maior parte das ordens de mamíferos
Paleoceno 65.000.000 Domínio dos mamíferos de porte pequeno a médio
Mesozóico
Cretáceo 135.000.000
Angiospermas (plantas com flores) aparecem e tornam-se abundantes, grupos modernos de insetos, pássaros e mamíferos
Jurássico 205.000.000 Pterossauros e primeiros pássaros. Dinossauros vagueiam pela Terra
Triássico 250.000.000 Primeira aparição dos dinossauros
Paleozóico
Permiano 295.000.000
Primeiro grande evento de extinção em massa. Formação do supercontinente Pangea
Carbonífero 355.000.000 Formação de grandes florestas Devoniano 410.000.000 Primeiros peixes
Siluriano 435.000.000
Estabilização do clima. Derretimento do gelo glacial, elevação dos níveis dos oceanos. Evolução dos peixes
Ordoviciano 500.000.000 Surgimentos dos invertebrados marinhos e plantas
Cambriano 540.000.000 Aparecimento dos principais grupos animais
Proterozóico 2.500.000.000
Predomínio de bactérias. Primeiras evidências de atmosfera rica em oxigênio. Ao final do Proterozoico surgimento de formas multicelulares e dos primeiros animais
Arqueano 3.600.000.000
Aparecimento de vida na Terra. Fósseis mais antigos com 3.5 bilhões de anos (bactérias micro-fósseis
5 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
2. ABELHAS E O HOMEM
As abelhas estão presentes em toda a história da humanidade. Ao longo
da evolução humana encontramos vários registros do uso das abelhas pelo
homem. Exemplo disso são os desenhos encontrados em cavernas da
Espanha, onde um homem está colhendo mel de um enxame, usando uma
escada de cordas presa ao topo de um barranco (figura 2a). Há registros sobre
o uso do mel pelos hindus há 6000 a.C. e pelos sumérios há 5000 a.C.
Contudo, racionalmente, mas de forma rudimentar, as abelhas começaram a
ser exploradas há cerca de 2400 a.C. pelos egípcios; prática que está
imortalizada em desenhos nas pirâmides (figura 2b).
Figura 2: a)Coleta de mel na pré-história. b)Criação de abelhas em potes de barro (pintura no túmulo do Faraó Pa-Bu-Sa - 630 a.C).
Nos papiros de Smith, 1700 a.C. estão descritos 48 casos de
tratamentos em que se utilizam carne fresca sobre suturas e uma mistura de
graxa e mel sobre cortes abertos; o uso de incensos e mel sobre feridas e
úlceras. Os egípcios usavam uma solução de própolis com mel e ervas na
mumificação dos faraós. Os teutões, 200 a.C., usavam uma bebida à base de
mel, hidromel, para comemorar a cerimônia do casamento. Além disso, podem
ser encontradas várias citações na Bíblia sobre o uso do mel como alimento.
Em várias outras culturas existem registros sobre as abelhas. Na Grécia
eram valorizadas no comércio e na literatura. As antigas moedas gregas, numa
das faces, estampavam uma abelha como símbolo de riqueza. Os romanos
veneravam-nas como símbolo de admiração e de defesa de seu território. Por
muito tempo, na França, constituía grande honra receber uma medalha de ouro
6 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
estampando uma colméia povoada de abelhas. Luís XII, muitas vezes, usava
seu pomposo manto real todo bordado de abelhas douradas como sinal de
mansidão e bondade.
Os egípcios e gregos desenvolveram as primeiras técnicas de manejo,
as quais mais tarde foram aperfeiçoadas por apicultores como Lorenzo
Langstroth, no final do século XVIII.
Quanto às abelhas sem ferrão, sabe-se que no Brasil, antes de 1840, só
eram cultivados meliponíneos; no sul, as mandaçaias, mandaguaris, tuiuvas,
jatais, manduris e guarupus; no nordeste, a uruçú, a jandaíra e a canudo; no
norte a uruçú, a jandaíra, a uruçú-boca-de-renda e algumas outras.
Na América Central, os maias cultivavam espécies de abelhas sem
ferrão, principalmente do gênero Melipona, das quais utilizavam o mel e outros
produtos na sua cultura. Os Maias valorizavam tanto as abelhas que há um
deus para proteger a sua criação (figura 3).
O jesuíta José de Anchieta foi o primeiro a falar da abundância do mel
e das espécies de abelhas existentes no Brasil, “Encontram-se quase vinte
espécies diversas de abelhas, das quais umas fabricam o mel nos troncos das
árvores, outras em cortiços construídos entre os ramos, outras debaixo da
terra, donde sucede que haja grande abundância de cera. Usamos do mel para
curar feridas, que saram facilmente pela proteção divina. A cera é usada
unicamente na fabricação de velas”.
Figura 3: Ilustração retirada de um códice maia. Estão representadas três colônias de abelhas sem ferrão e os Deuses que possuem os segredos do seu manejo. A terceira rainha (acima da colônia) não tem cabeça, o que indica que a colônia está órfã (Códex 103, Museu América - Madri - Espanha. Pesquisa de J.P. Cappas e Sousa).
7 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
Como as abelhas foram importantes desde os primórdios da
humanidade, sendo símbolo de defesa, riqueza e tema de escritos do sábio
Aristóteles, também hoje as abelhas continuam sendo produtoras de alimentos
naturais riquíssimos, tão essenciais para esta humanidade que a cada dia sofre
de fome crescente. Além disso, as abelhas nos ensinam muito sobre o trabalho
em cooperação.
3. CLASSIFICAÇÃO BIOLÓGICA O mundo vivo é constituído por uma enorme variedade de organismos.
Para estudar e compreender tamanha variedade, foi necessário agrupar os organismos de acordo com as suas características comuns, ou seja, classificá-los. A expressão classificação biológica designa o modo como os biólogos agrupam e categorizam os seres vivos, extintos e atuais. Para os cientistas, a classificação é uma linguagem necessária para exprimir a organização do mundo vivo, escolhendo em função dos seus interesses a classificação mais prática ou útil para a sua investigação. Deste modo, a classificação é um meio de tornar inteligível a complexidade do mundo vivo, agrupando os organismos em categorias, segundo critérios preestabelecidos, tornando o conhecimento unificado e universal. Vale a pena lembrar que existem vários sistemas de classificação e que todos foram construídos pelo homem, a razão dessa diversidade é que nenhum sistema é realmente satisfatório
A necessidade de classificar os seres vivos é muito antiga, entretanto, não significa que seja um assunto simples. Geralmente se classifica os organismos vivos com base em semelhanças, sejam elas morfológicas, de modo de vida, de utilidade prática, periculosidade
, são apenas critérios diferentes utilizados para finalidades diferentes.
Figura 4: Classificação em cinco
http://pt.wikipedia.org/wiki/Biologia�http://pt.wikipedia.org/wiki/Ser_vivo�
8 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
para o homem, etc. O sistema mais antigo de classificação de seres vivos que se conhece deve-se ao filósofo grego Aristóteles, que classificou todos os organismos vivos então conhecidos em plantas e animais. Os animais eram organismos que se moviam, comiam coisas, respiravam; seus corpos cresciam até certo ponto e depois paravam de crescer, as plantas eram organismos que não se moviam, nem comiam, nem respiravam e que cresciam indefinidamente. Os fungos, as algas e as bactérias eram agrupados com as plantas; os protozoários, organismos unicelulares que comiam e se moviam eram classificados como animais. No século XX, começaram a surgir problemas, foram descobertas algumas diferenças importantes, conseqüentemente, aumentou o número de grupos reconhecidos como reinos diferentes. As classificações mais recentes propõem cinco reinos: Monera (bactérias), Protista (protozoários), Fungi (fungos), Plantae (plantas), Animalia (animais) (ver figura 4).
A classificação biológica moderna tem as suas raízes no sistema criado por Carl von Linée (figura 5), um médico e naturalista sueco, que agrupou as espécies de acordo com as características morfológicas por elas partilhadas. Enquanto Lineu classificava as espécies de seres vivos tendo como objetivo principal facilitar a identificação e criar uma forma de arquivo nos herbários e nas coleções zoológicas que permitisse localizar facilmente um exemplar, nos modernos sistemas de classificação dos seres vivos procura-se relacionar os grupos de acordo com suas histórias evolutivas, isto significa que se pretende relacionar as espécies pela sua proximidade de parentesco.
Partindo do princípio de que a vida surgiu uma única vez na Terra por uma simples combinação ao acaso de moléculas simples, e que a partir deste primeiro organismo vivo, ao longo do tempo, evoluíram todas as formas vivas que conhecemos hoje, podemos dizer que todos os seres vivos possuem algum grau de parentesco e que a história da vida na Terra trilhou um caminho único, o qual nós, seres humanos, que fazemos parte desta história, provavelmente nunca saberemos exatamente como aconteceu, mas podemos especular e inferir sobre partes deste caminho baseado na diversidade que conhecemos atualmente e também na diversidade que existiu, através dos fósseis.
Devido à existência de tantos guias para classificação e identificação de seres vivos, é tentador pensar que todo organismo vivente no mundo é conhecido, entretanto, se fôssemos comparar livros diferentes, veríamos maneiras variadas de se fazer isso. Estas diferenças podem ser, além do uso de sistemas diferentes de classificação, o reflexo de incertezas com relação ao
http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles�http://pt.wikipedia.org/wiki/Lineu�http://pt.wikipedia.org/wiki/Herb%C3%A1rio�
9 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
parentesco, de forma que pode ser difícil chegar à classificação mais apropriada.
O processo de modificação dos seres vivos ao longo do tempo nós conhecemos como evolução biológica, e a tentativa de elucidação da história evolutiva dos seres vivos, conhecemos como filogenia. Taxonomia trata-se do trabalho básico de reconhecimento, descrição, nomeação e classificação de seres vivos, enquanto o estudo dos tipos e diversidade de organismos e suas inter-relações nós chamamos de sistemática. 3.1- O sistema classificatório de Lineu
No sistema classificatório de Lineu os seres vivos são agrupados em categorias hierárquicas: as espécies são agrupadas em gêneros que são agrupados em famílias, as famílias em ordens, as ordens em classes, as classes em filos e os filos em reinos (figura 6). Essas categorias podem ser subdivididas ou agregadas em várias outras menos importantes, como os subgêneros e as superfamílias.
Assim, as espécies estão contidas em grupos progressivamente mais amplos, formando uma hierarquia: à medida que progride do nível mais baixo (espécie) para o nível mais elevado (reino) ocorre aumento da diversidade de seres vivos, formando, portanto grupos mais generalistas, ou seja, caminha do mais específico para o mais geral. Assim podemos considerar, por exemplo, que indivíduos pertencentes ao mesmo gênero são mais aparentados entre si do que com outros indivíduos da mesma família, ou ainda, que indivíduos pertencentes à mesma ordem são mais aparentados entre si do que com outros indivíduos da mesma classe e assim por diante. Por exemplo, o cão (Canis familiaris) é mais aparentado com o lobo (Canis lupus), pois são do mesmo gênero, do que com o homem (Homo sapiens) com o qual divide a mesma classe (Mammalia / mamíferos).
Figura 5: Lineu (1707-1778). Seu nome pode ser escrito diferentemente conforme a língua: Carl Von Linée (sueco), Carl Linnaeus (inglês), Carolus Linnaeus (latim) ou Carlos Lineu (português).
10 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
3.2- A nomenclatura binomial de Lineu
•
Com objetivo de facilitar a comunicação científica, Lineu propôs universalizar a linguagem científica para a nomeação dos seres vivos da seguinte maneira:
•
Os nomes utilizados para designarem espécies, gêneros e as outras categorias mais abrangentes devem ser escritos em latim ou latinizados.
•
Uma espécie sempre possui dois nomes, como se fosse nome e sobrenome, o primeiro nome é relativo ao gênero ao qual aquela espécie pertence.
•
O primeiro nome (relativo ao gênero) sempre começa com letra maiúscula e o segundo nome sempre com letra minúscula.
•
Os nomes de gêneros e espécies devem ser escritos em itálico ou sublinhados, enquanto o nome das famílias, ordens, classes e outras categorias não o são, embora tenham a letra maiúscula inicial.
O nome de uma espécie é único e nunca deve se repetir.
Mais geral
Figura 6: Sistema de classificação biológica hierarquizada em categorias inventado por Lineu.
Mais específico
11 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
Exemplo: “O cão cujo nome científico é Canis familiaris está amplamente distribuído...” ou
“O cão cujo nome científico é Canis familiaris
está amplamente distribuído...”
4. OS INSETOS E A CLASSIFICAÇÃO BIOLÓGICA A Superclasse Hexapoda (hexa- seis, poda- pés) contêm todos os artrópodes de seis pernas e dentro desta se encontra a Classe Insecta, ou simplesmente insetos. Isto significa que existem alguns artrópodes que possuem seis pernas, porém não são necessariamente insetos, mas se tratam de grupos pequenos como Colêmbolos e Dipluros. Tradicionalmente, os parentes mais próximos dos hexápodes são os Miriápodes (centopéias, piolhos-de-cobra, lacracias) (figura 7). Dentre os insetos, existem algumas ordens cujos representantes não possuem asas, porém a vasta maioria possui asas sendo capaz de explorar o ambiente aéreo.
Canis familiaris
Gênero - primeiro nome (começa com
maiúscula)
Conjunto (1º+2º nome) designa a
espécie
Segundo nome (começa com
minúscula)
Canis familiaris (cão) Canis lupus (lobo)
Canis latrans (raposa)
São todos do mesmo gênero (Canis), porém o
nome da espécie é sempre único.
12 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
Figura 7: Cladograma mostrando as relações de prentesco (filogenéticas) entre os Hexapoda.
13 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
4.1- Como diferenciar um Arthropoda dentro do reino animal? Podemos diferenciar um animal do Filo Arthropoda dos outros animais de acordo com três características que eles possuem: 1) Exoesqueleto (esqueleto externo) de quitina, como uma casquinha dura (carapaça) que reveste externamente o animal, por exemplo, a casquinha dura dos besouros. 2) Corpo segmentado (dividido) em partes diferentes e articuladas. 3) Apêndices (pernas, asas, antenas, peças bucais) articulados. 4.2- Como diferenciar um inseto dentro dos Arthropoda?
Todos os insetos possuem: 1) Corpo dividido em cabeça + tórax + abdome 2) Seis pernas (três pares de pernas) 3) Duas antenas (um par de antenas) Aranha é um inseto? E o escorpião, é um inseto? A resposta é não, as aranhas e os escorpiões são artrópodes, porém não são insetos, pois estão dentro da Classe dos Aracnídeos e não dentro da Classe Insecta. Veja abaixo algumas diferenças entre insetos e aracnídeos (figura 8).
Figura 8: Diferenças na morfologia entre Insetos e Aracnídeos.
14 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
4.3- Reconhecendo as principais ordens de insetos • Ordem Odonata (odonata=dentes; indica os dentes das mandíbulas).
Exemplo: as libélulas. Sofrem metamorfose incompleta (hemimetábolos). Quando menores permanecem na água e quando adultos elas se tornam predadores.
• Ordem Blattodea (blatta=barata). Exemplo: as baratas. Sofrem metamorfose incompleta (hemimetábolos); as asas anteriores são resistentes, seu corpo é achatado.
• Ordem Isoptera (iso=igual; ptera=asas ; pelo fato das asas anteriores e posteriores serem bastante parecidas). Exemplo: os cupins. Sofrem metamorfose incompleta (hemimetábolos).
• Ordem Orthoptera (ortho=retas; ptera=asas). Exemplo: gafanhotos e grilos. Sofrem metamorfose incompleta (hemimetábolos); as asas posteriores, muitas vezes são menores.
• Ordem Hemiptera (hemi= meio, metade; ptera=asas). Exemplo: percevejos, barbeiros, cigarras, pulgões, marias-fedidas. As asas anteriores são bastante resistentes, coriáceas. Sofrem metamorfose incompleta (hemimetábolos).
• Ordem Coleoptera – (coleo=estojo; ptera=asas). Exemplo: os besouros, joaninhas e carunchos. Sofrem metamorfose completa (holometábolos).
• Ordem Diptera (di=duas; ptera=asas). Exemplo: são as moscas e mosquitos. Sofrem metamorfose completa (holometábolos).
• Ordem Lepidoptera (lepidos= escama; ptera=asas). Exemplo: são as borboletas e mariposas. Sofrem metamorfose completa (holometábolos), possuem quatro asas membranosas recobertas por minúsculas escamas (pózinho da asa).
• Ordem Hymenoptera (hymen=membrana; ptera=asas). Exemplo: são as abelhas, formigas e vespas. Sofrem metamorfose completa (holometábolos), as asas anteriores são maiores e unidas com as posteriores.
Os insetos são os animais mais abundantes na Terra, veja o diagrama na
figura 9.
15 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
5. METAMORFOSE NOS INSETOS 5.1- Insetos Ametábolos: o prefixo a, designa negação. Portanto, são aqueles que ao saírem do ovo já são muito semelhantes ao adulto. Não passam por estágio larval nem sofrem metamorfose, somente um crescimento gradual sem muitas transformações. As traças de livro, por exemplo, são assim. 5.2- Insetos Hemimetábolos: (hemi=metade) quando o ovo eclode, nascem diferentes do adulto, mas sofrem transformações graduais na forma e fisiologia. Essa passagem para a vida adulta é chamada de metamorfose incompleta. As formas jovens são chamadas de ninfas, e à medida que sofem muda ficam cada vez mais parecidas com os adultos. 5.3- Insetos Holometábolos: (holos=todo, inteiro) são insetos que passam por transformações muito mais significativas, durante algumas fases da vida.
Figura 9: Diagrama da abundância relativa de espécies conhecidas de seres vivos.
16 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
Quem já comparou uma larva de borboleta (lagarta) com o adulto da mesma espécie pode perceber como as transformações são radicais. Quando o ovo eclode nasce uma larva, que se alimenta com grande apetite durante alguns dias e cresce bastante, depois, ao se imobilizar adquire um revestimento mais escuro e espesso, assumindo a forma característica de pupa que geralmente constrói um casulo dentro do qual permanece imóvel durante algum tempo. É exatamente neste período que ocorrem as principais transformações, pois os tecidos da larva são digeridos e novos tecidos e órgãos se formam originando o adulto, processo conhecido por metamorfose completa. 6. ABELHAS
Pelo fato de serem nativas da América, as abelhas sem ferrão se diversificaram enormemente aqui, compondo hoje um número muito grande de espécies com comportamento, forma e reprodução diferenciados, dentre elas encontram-se a abelha jataí, irapuá ou “arapuá”, tubi, canudo, boca-de-sapo, etc. Lembrando que estes são os nomes populares. Como podemos notar no quadro a seguir, segundo a classificação de Lineu, tudo o que conhecemos como “abelhas” está dentro da superfamília Apoidea, porém como já foi discutido anteriormente as abelhas fazem parte de grupos mais amplos, junto com outros animais, como por exemplo, da ordem Hymenoptera onde estão juntas com as vespas e formigas. Assim, é muito comum confundirmos abelhas com vespas ou até mesmo com outros insetos, por isso, logo a seguir (Tabela 2) você aprenderá algumas características diagnósticas para conseguir diferenciar estes grupos. Tabela 2 – Classificação biológica de alguns artrópodes
Abelha Vespa Formiga Cupim Besouro Aranha Reino Animal Animal Animal Animal Animal Animal Filo Arthropoda Arthropoda Arthropoda Arthropoda Arthropoda Arthropoda Classe Insecta Insecta Insecta Insecta Insecta Arachnida Ordem Hymenoptera Hymenoptera Hymenoptera Isoptera Coleoptera Araneae Subordem Apocrita Apocrita Apocrita Araneomorphae Superfamília Apoidea Vespoidea Formicoidea
17 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
Lembrando que para os animais, algumas categorias taxonômicas de Lineu podem ser identificadas pela terminação (sufixo) dos nomes dados como indica o quadro abaixo: 6.1- Abelhas e classificação As abelhas pertencem à ordem Hymenoptera como já vimos anteriormente. A qual está dividida em duas subordens, a Subordem Symphyta (vespas-da-madeira) cujos indivíduos possuem um tórax trisegmentado convencional, e a Subordem Apocrita (formigas, abelhas e vespas) o primeiro segmento do abdome (propódeo) está incorporado ao tórax, e ainda o segundo segmento abdominal forma uma constrição ou pecíolo (figura 10). As fêmeas de Apocrita possuem ovipositor no abdome, porém na Infraordem Aculeata este ovipositor das fêmeas é modificado em ferrão, associado à glândula de veneno. Dentro da Infraordem Aculeata exitem três superfamílias: Chrysidoidea, Vespoidea e Apoidea. Chrysidoidea está composta somente por vespas, Vespoidea está composta por vespas e contém também a Família Formicidae na qual estão incluídas todas as espécies de formigas. Enquanto a Superfamília Apoidea contém apenas abelhas.
Figura 10: Caracterização dos Apocrita e dos Aculeados.
18 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
Dentro da Superfamília Apoidea, o número de famílias pode variar de
acordo com a classifcação, mas dentre estas famílias encontra-se a família Apidae que reúne todas as abelhas que possuem corbículas (expansão da tíbia do terceiro par de pernas que as abelhas utilizam para transportar pólen). Ainda, apenas a família Apidae possui espécies sociais (que constróem colônias). Atualmente temos dois sistemas de classificação muito utilizados no mundo científico para os grupos de abelhas: • Sistema segundo MICHENER (2000): as
“abelhas” (Apoidea apiformes) estão divididas em 6 famílias (Andrenidae, Apidae, Colletidae, Halictidae, Megachilidae e Stenotritidae). A Família Apidae, por sua vez está dividida em três subfamílias (Apinae, Nomadinae e Xylocopinae). Cada subfamília está dividida em tribos, por exemplo, a tribo Apini que contém um único gênero (Apis) que são as abelhas que conhecemos como abelhas européias, africanas ou africanizadas. Na Tribo Bombini, por exemplo, encontramos a “mamangava” Bombus que poliniza o maracujá. Já a Tribo Meliponini reúne todas as abelhas sem ferrão, que são o objeto de estudo deste curso. As únicas tribos que possuem espécies sociais são Apini e Meliponini.
• Sistema segundo MELO & GONÇALVES (2005): aqui todas as abelhas estão reunidas dentro da Família Apidae, então tudo o que era considerado família na classificação anterior passou a ser subfamília segundo esta nova proposta, por exemplo, ao invés de termos Família Andrenidae, temos agora Família Apidae e Subfamília Andreninae. As tribos continuam as mesmas, porém aqui, as tribos Bombini, Euglossini, Apini e Meliponini segundo a
Abelhas sem
ferrão
19 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
classificação anterior, passam a ser subtribos pertencentes à Tribo Apini e recebem nomes com terminações diferentes: Bombina, Euglossina, Apina e Meliponina.
6.2- Como diferenciar abelhas de vespas? Pelo fato de abelhas e vespas pertencerem à mesma subordem (Apocrita) e possuírem adultos com asas permanentes, podemos confundi-las quando olhamos, porém é possível notar algumas diferenças (tabela 3 e figura 11). Tabela 3 - Diferenças básicas entre abelhas e vespas
Abelhas Vespas
Corpo Piloso
Robusto (“gordinho”) Pecíolo não aparente
Sem pelos Afilado (longo e fino)
Pecíolo entre tórax e abdome Estrutura auxiliar para a
coleta de pólen Presente (corbícula ou escopa) Ausente
Asas Superpostas quando em
repouso Dobradas longitudinalmente
quando em repouso
Alimentação Adultos e cria: mel e pólen Adulto: mel e pólen
Cria: insetos triturados
Material de construção dos ninhos
Cera Resina vegetal
Barro
Celulose Barro
Figura 11: Comparação entre morfologia externa de abelhas (esquerda) e vespas (direita).
Corbícula
Pecíolo
20 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
6.3- Como diferenciar Apina de Meliponina? Como vimos anteriormente, as subtribos Apina e Meliponina reúnem todas as espécies de abelhas sociais (que constroem colônias), porém Apina são as abelhas que ferroam, conhecidas como abelha européia, africana ou africanizada, que foram introduzidas no Brasil, enquanto Meliponina reúne as abelhas nativas sem ferrão, sendo elas o foco deste nosso curso. A primeira tentativa de separá-las seria morfologicamente, já que uma tem ferrão ativo e a outra possui ferrão atrofiado, e também pelo padrão de coloração, mas este método não é muito seguro, visto que pode-se levar uma ferroada por engano e também porque algumas abelhas sem ferrão como as do gênero Melipona, podem ser muito parecidas em tamanho e coloração com uma africanizada. Partiremos então para o lugar onde elas vivem, vamos observar a estrutura dos ninhos (colônias) que elas constróem. Enquanto os Apina constroem ninhos com favos posicionados verticalmente as células do favo são todas do mesmo tamanho, tanto as que armazenam alimento (mel e pólen) quanto as que possuem cria. Os meliponíneos, em sua maioria constroem favos na posição horizontal, sendo que as células que abrigam a cria possuem tamanho diferente dos potes que armazenam alimento (mel e pólen), lembrando que algumas espécies constroem os favos na forma de cachos. Mas mesmo assim seria muito arriscado precisar abrir o ninho para observar todas estas características. É por isso que o melhor método para saber diferencia-los é através da observação da porta de entrada dos ninhos, pois as Apis, grande parte das vezes, constroem ninhos externos e quando constroem em ocos, não ornamentam a entrada do ninho, sendo portanto, apenas um buraco. Já os meliponíneos possuem as mais belas e variadas formas de ornamentação da entrada dos ninhos, que vai desde canudos de cera como o da jataí até lindíssimos portais de formato raiado feitos de barro, em algumas Meliponas. 6.4. Morfologia de abelhas As principais estruturas externas das abelhas são: - Integumento (cutícula) é a camada externa do corpo das abelhas como em
todos os artrópodes, constituida de escleritos (placas rígidas) fundidas umas às outras ou conectadas por áreas membranosas que dão elasticidade e flexibilidade ao corpo. A superfície externa do integumento pode ter características bem variadas – preto ou colorido, brilhante ou fosco, com
21 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
brilho metálico ou não, liso ou com diferentes padrões de pontuação, reticulado, rugoso ou estriado.
- Tagmatização: São as divisões do corpo da abelha - cabeça, tórax e abdome. A cabeça é formada por pelo menos quatro segmentos; o tórax por três e o abdome por 10. Nas abelhas (como nas formigas e vespas) o primeiro segmento do abdome é fundido ao tórax e é denominado propódeo. A estrutura originada desta fusão é chamada mesossoma e a porção restante do abdome é designada metassoma (Figura 12).
Cabeça: Externamente contém dois olhos compostos laterais, três ocelos dorsais, um par de antenas, uma par de mandíbulas e o aparelho bucal.
Mesossoma: É composto por quatro segmentos – propódeo, protórax, mesotórax e tatórax. Na parte dorsal os três últimos segmentos são chamados de pronoto, mesonoto e metanoto. Um par de asas (anterior) está inserido no mesotórax e o outro menor (posterior) no metatórax; este último possui pequenos ganchos (hâmulos) em sua margem anterior. Três pares de pernas originam-se na superfície ventral do tórax – um em cada segmento.
Metassoma: É formado pelos últimos nove dos 10 segmentos abdominais da fêmea (no macho pelos 10 últimos dos 11 segmentos). O primeiro segmento do metassoma possui uma constrição anterior que forma o pecíolo e que dá flexibilidade de movimento.
22 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
7. BIOLOGIA DAS ABELHAS 7.1 TIPO DE VIDA DAS ABELHAS Entre as abelhas existem diferentes graus de socialidade, ou seja, a
relação entre os indivíduos (ou parentes) de uma mesma espécie de abelhas e
o comportamento de nidificação são variados desde espécies que vivem
sozinhas até aquelas que formam grupos de milhares de indivíduos.
As abelhas solitárias A maioria das pessoas ao ouvir a palavra abelha imediatamente faz
analogia a uma colméia e à produção de mel, muito mais relacionada a abelha
melífera ou européia (Apis mellifera) do que às abelhas indígenas sem ferrão
[Meliponina, por exemplo, Mandaçaia (Melipona quadrisfasciata), Jataí
(Tetragonisca angustula). O comportamento solitário é caracterizado pela
independência das fêmeas na construção e aprovisionamento de seus ninhos.
Não há cooperação, ou divisão de trabalho, entre as fêmeas de uma mesma
geração, ou entre mãe e filhas. Na maioria das vezes, a mãe morre antes de
sua prole emergir, sem haver relações entre gerações diferentes.
Há uma grande diversificação de hábitos de nidificação entre as abelhas
solitárias. Várias espécies da família Megachilidae, Anthophoridae e Apidae
nidificam em ramos, ocos de plantas ou orifícios preexistentes em madeira.
Outras nidificam em cavidades no chão ou em barrancos ou em locais
protegidos e poucas constroem ninhos expostos. O ninho é aprovisionado com
néctar e pólen, algumas espécies utilizam também óleo coletado em flores (por
exemplo, nas plantas da família Malpighiaceae, por exemplo, a acerola). A
forma e disposição das células de cria é variada, podendo ser uma única célula
no final de um canal, um aglomerado em um local protegido ou uma sequência
linear de células, o número também varia, podendo ir de uma a mais de dez
células por ninho.
O material de construção utilizado pode ser barro ou areia agregada
com alguma substância (por exemplo, óleo ou resina vegetal), folhas de
plantas cuidadosamente cortadas e unidas com resina e, ou barro, resina pura,
ou o local de construção do ninho recebe apenas uma camada
impermeabilizante (de natureza glandular) que evita que a umidade chegue às
23 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
crias. Também existem espécies que não revestem o local de nidificação,
permanecendo, os imaturos, em contato direto com as paredes do ninho.
Não há produção de mel por essas abelhas, pois a fêmea busca nas
flores o néctar (fonte de energia) que necessita para ela e para o
aprovisionamento do ninho. Várias espécies são sazonais, isto é, ocorrem
apenas em determinada época do ano, quando há disponibilidade de alimento
e condições favoráveis à nidificação.
A reprodução de várias espécies vegetais depende diretamente da visita
de abelhas solitárias à suas flores. Assim, algumas espécies dessas abelhas
são utilizadas pelo homem para esse fim. Por exemplo, no Brasil, utilizam-se
espécies de Xylocopa (Anthophoridae) para a polinização do maracujá, são as
chamadas mamangabas, mangabas, ou mamangavas, havendo outras
denominações dependendo da região; contudo, esse nome é freqüentemente
dado a qualquer abelha de coloração escura e tamanho moderado. Outro
exemplo é o uso de Megachile rotundada (Megachilidae) para polinização da
alfafa nos EUA.
Abelhas parasitas São abelhas que se utilizam apenas do trabalho e do alimento que o
hospedeiro (outra abelha) armazenou. Na maioria dos casos, a abelha parasita
invade os ninhos, coloca seus ovos nas células já prontas e aprovisionadas
pelo hospedeiro e deixa que sua cria se desenvolva aos cuidados desse. Em
alguns casos, a abelha parasita passa a conviver com o hospedeiro e pode, até
mesmo, desenvolver algum tipo de trabalho em conjunto.
Um outro tipo de parasitismo interessante é encontrado num gênero de
abelhas indígenas sem ferrão (Lestrimelitta, conhecida popularmente por
abelha-limão) socialmente bem evoluídas. As espécies deste grupo constroem
seus próprios ninhos, porém, o material de construção é roubado de outros
ninhos de espécies afins, como marmelada, jataí, abelha-canudo, etc. Essas
abelhas saem em grande número - pois suas colônias chegam a ter milhares
de indivíduos - invadem o ninho das outras e aí levam o material que
necessitam. Esses ataques duram, às vezes, vários dias e acabam morrendo
muitas delas.
24 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
Outro aspecto é que essas parasitas passam a defender o ninho
conquistado contra pilhagens ou parasitas secundários enquanto levam o
material roubado. As abelhas-limão são tão bem adaptadas a este tipo de
comportamento que possuem as corbículas atrofiadas (órgão situado no último
par de pernas destinado a coleta de pólen).
Abelhas sociais
O comportamento social em abelhas envolve basicamente duas
características: 1) Uma fêmea que viva o tempo suficiente para proteger seus
ovos e alimentar suas larvas. 2) Duas ou mais fêmeas compartilhando um
ninho e cooperando no trabalho de cuidar da cria. Isto significa que as abelhas
sociais vivem em grupos nos quais existe nítida distribuição dos trabalhos e
responsabilidade entre os indivíduos; todos contribuindo para um fim comum: a
sobrevivência do grupo.
As abelhas com comportamento social possuem niveis intermediários de
socialidade, os quais ocorrem em três famílias: Halictidae, Anthophoridae e
Apidae. Entretanto, somente na família Apidae é que há grupos totalmente
sociais. A característica comum de Apidae é uma estrutura especial para
transporte de pólen, a corbícula (semelhante a um “cesto”), localizada na tíbia do terceiro par de pernas. O pólen é transportado nessa estrutura em
associação com néctar (MICHENER, 1990).
Dentro da tribo Apini ocorrem quatro subtribos: Apina, Meliponina,
Bombina e Euglossina (MELO & GONÇALVES, 2005). Nas quais há espécies
eusociais primitivos (Bombina), eusociais e altamente eusociais (Apina e
Meliponina) e solitárias (Euglossina) (MICHENER, 1974). Estas subtribos
possuem representantes distribuídos em todo mundo.
A subtribo Meliponina, à qual pertencem todas as abelhas indígenas,
constitui um grupo de abelhas sem ferrão amplamente distribuídas nas regiões
Neotropicais (ROUBIK, 1989), ocorrendo principalmente no continente
americano desde o México até o estado do Rio Grande do Sul, no Brasil
(KERR, 1969; NOGUEIRA-NETO, 1997). Aproximadamente 300 das 400
espécies descritas ocorrem na América do Sul (VELTHUIS et al., 1997). Sendo
o gênero Melipona (subtribo Meliponina) exclusivamente Neotropical (vivem
nos trópicos das Américas).
25 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
Comportamento Social Três características comuns aos insetos sociais são: (1) cooperação no
cuidado da cria; (2) sobreposição de no mínimo duas gerações capazes de
contribuir com a divisão do trabalho; (3) divisão do trabalho reprodutivo
principalmente ou completamente com casta operária estéril e casta
reprodutiva (rainha); e machos (MICHENER, 1974).
Tipos de sociedade As diferentes espécies de abelhas e vespas apresentam os mais
diversos comportamentos que podem se modificar ao longo do seu
desenvolvimento, ou que podem ser típicos de determinadas espécies durante
toda a vida. Com o intuito de se conhecer e entender melhor como vivem e se
relacionam esses indivíduos entre si e com o meio, foram criados vários níveis
de socialidade levando em consideração: o número de fêmeas que fundam um
ninho, grau de desenvolvimento dos ovários, como é feita a construção e o
aprovisionamento das células, se há divisão de trabalho, a tolerância entre os
indivíduos, mecanismos de defesa, quantas gerações adultas convivem no
ninho e assim por diante.
Esses níveis sociais, entretanto, podem se alterar para uma mesma
espécie e até para um mesmo ninho dependendo da situação e do estágio de
desenvolvimento em que se encontra.
Agrupamentos para dormir Segundo MICHENER (1974), são comumente encontrados
agrupamentos de machos de abelhas ou vespas que se formam em um
determinado local para passar a noite, os quais não podem ser consideradas
colônias, pois não formam um ninho. Alguns agrupamentos chegam a ter
centenas de machos (raramente algumas fêmeas), que podem ser de uma só
espécie ou mais de uma, juntas. Eles podem também fazer buracos no chão ou
utilizar folhas enroladas.
Agregados
São formados quando vários ninhos são fundados bem próximos mas
por abelhas independentes e solitárias. Esses agregados são facultativos, mas
26 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
para algumas espécies são bastante característicos. Ocorrem mais comumente
em espécies que nidificam no solo; podendo também ocorrer em espécies que
nidificam em madeira e em espécies que constroem células expostas.
Ninhos parasociais São formados por colônias pequenas, constituídas por abelhas de uma
única geração que têm uma entrada comum para os ninhos. Podem ser de três
tipos:
Ninhos comunais Em algumas espécies, eventualmente, as fêmeas têm uma parte da
entrada dos ninhos em comum, contudo cada abelha tem o seu próprio ninho,
ou seja, o seu conjunto individual de células dentro do ninho. Entre estas
abelhas não existe cooperação, somente uma entrada comum para os ninhos.
Osmia rufa pode formar associações comunais, enquanto algumas espécies
como Andrena bucephala e Andrena ferox têm este comportamento
estabelecido (O’TOOLE & RAW, 1991).
Abelhas quase-sociais Neste tipo de associação existe uma entrada única para os ninhos,
como nas comunais, porém já acontece algum tipo de colaboração entre estas
fêmeas, como, por exemplo, quando uma começa um trabalho de construção
ou aprovisionamento de uma célula e outra pode terminar ou quando algumas
fêmeas, cooperativamente, constroem e aprovisionam uma célula (a postura,
entretanto, é realizada apenas por uma fêmea). Algumas espécies encontradas
na Índia do gênero Nomia e espécies de Exomalopsis que ocorrem no novo
mundo e nos Estados Unidos são exemplos de abelhas quase-sociais.
Abelhas semi-sociais Nestas abelhas há uma ou mais fêmeas fecundadas que põem ovos e
outras fêmeas com ovários não desenvolvidos e não fertilizados. Uma
característica típica de colônias semi-sociais, além da divisão de trabalho, é
que, ao se abrir um ninho, encontra-se apenas uma célula sendo construída e
aprovisionada, embora várias abelhas estejam coletando provisões. Abelhas
27 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
da espécie Augocloropsis sparsilis e do gênero Pseudaugocloropsis, ambas
dos neotrópicos, são exemplos de abelhas semi-sociais.
Abelhas Subsociais
As colônias subsociais são fundadas por uma única fêmea que constrói,
aprovisiona, realiza postura em suas próprias células e alimenta as larvas
progressivamente. Tipicamente a mãe morre quando a prole torna-se adulta,
ou seja, existe algum cuidado maternal com a prole diferentemente de abelhas
parasociais, nas quais a fêmea morre antes da prole emergir das células.
Exemplos de abelhas subsociais estão nas tribos Ceratinini e Allodapini
(Anthophoridae) (O’TOOLE & RAW, 1991).
Abelhas Eussociais São compostas, geralmente, por duas gerações adultas; uma fêmea
fecundada (rainha), que somente realiza postura e um grupo de fêmeas não
fecundadas que realizam diversos trabalhos como construção de células,
aprovisionamento e coleta de pólen e néctar. Dividem-se em: primitivamente
eussociais e altamente eussociais.
As colônias primitivamente eussociais caracterizam-se por possuírem rainhas e operárias que se distinguem apenas fisiologicamente e
comportamentalmente. Uma rainha jovem, neste caso, é capaz de fundar um
ninho sozinha, realizando todas as funções até que nasçam as operárias.
Depois, a fêmea que fundou o ninho passa a ser dominante e a realizar
somente a postura, enquanto as outras abelhas fazem as outras atividades da
colônia. O melhor exemplo de abelha primitivamente eusocial são as espécies
do gênero Bombus e depois as abelhas lambedoras de suor da família
Halictidae, principalmente os gêneros Lasioglossum e Halictus.
Nas colônias altamente eussociais, as rainhas se distinguem das operárias também pelo tamanho (tendo o abdome bem maior) e não são
capazes de realizar qualquer tarefa, além de por ovos. Quando uma rainha
nova vai fundar um ninho, isso acontece por enxameagem, ela leva consigo um
grupo de operárias do antigo ninho.
28 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
A questão fundamental no caso de insetos sociais é de quem reproduz e
quem desiste de reproduzir por si próprio e, ao invés disto, ajuda a criar a prole
de outra fêmea na colméia. Esta divisão de trabalho na reprodução dentro de
colméias depende da capacidade de uma (ou poucas) fêmea(s) de
monopolizar a reprodução e "convencer" as fêmeas companheiras a aceitar o
papel de operária.
7.2 NIDIFICAÇÃO
A construção dos ninhos das abelhas é extremamente importante, visto
que ali passarão a maior parte da vida, a rainha realizará postura e as abelhas
cuidaram da cria imatura. Os processos de construção variam na medida em
que consideramos níveis de sociabilidade mais distantes evolutivamente.
Das espécies solitárias as subsociais não encontramos diferenças
marcantes nos hábitos de nidificação. A escolha do local para a construção do
ninho vai depender de um substrato adequado, fontes de pólen, néctar e água
e algumas vezes de certos tipos de plantas para fornecer folhas, fibras ou
resina.
As abelhas solitárias geralmente nidificam no solo, algumas espécies
escavam canais em gravetos e ramos ou na madeira sólida. Podem também
utilizar buracos ou frestas e ninhos abandonados por outras abelhas ou
vespas.
A parte principal do ninho (muitas vezes é o próprio ninho) é a célula onde
a abelha deverá se desenvolver. Ela tem geralmente formato ovalado e pode
ser impermeabilizada em seu interior com secreções glandulares da sua
construtora antes de receber as provisões e o ovo.
O número de células e variável; elas apresentam-se interligadas por um
canal que conduz até a saída do ninho.
Na família Apidae, a subtribo Euglossina também apresenta
comportamento solitário ou parassocial. As células, porém, podem apresentar-
se em agregado.
A subtribo Bombina, primitivamente eussocial, já apresenta em seus
ninhos estruturas para a estocagem de alimento consumido pelos adultos do
ninho. Faz seus ninhos em buracos próximos a superfície do solo. Uma
29 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
característica diferenciada é o fato de em apenas uma célula vários ovos serem
postos juntos. À medida que as larvas eclodem e vão crescendo, as operárias
vão aumentando o tamanho da célula, até que cada larva teça seu próprio
casulo.
Os ninhos mais complexos estão nas subtribos Apina e Meliponina que
são altamente eussociais, cuja estrutura, locais de nidificação são bastante
variados.
7.2.1 ESTRUTURA DOS NINHOS
Os locais procurados pelas abelhas para construírem seus ninhos são
geralmente ocos de troncos ou ramos de árvores, moirões de cercas, esteios
etc, enfim, cavidades fechadas. Algumas, porém, como Trigona spinipes e
outras espécies de Trigona (Irapuá, abelhas-cachorro) constroem seus ninhos
completamente expostos. Em espécies de Partamona os ninhos são semi-
expostos, podendo ser construídos em cavidades amplas, moitas de
samambaias ou ainda em ninhos de pássaros abandonados. Existem também
os ninhos subterrâneos das mulatinhas-do-chão (Schwarziana quadripunctata),
mirim-do-chão (Paratrigona spp), Mandaçaia-do-chão (Melipona
quinquefasciata) e mombuca (Geotrigona spp) que podem ser construídos em
formigueiros abandonados ou cavidades existentes entre raízes de plantas
(figura 13). As Jataís (Tetragonisca angustula), Iraís (Nanotrigona
testaceicornis) e algumas mirins (Plebeia spp), que nidificam preferencialmente
em troncos, podem ser encontradas também em muros de concreto, cavidades
de barranco, construções, etc. Outras que também nidificam em troncos como
mandaçaia (Melipona quadrifasciata), pé-de-pau (Melipona bicolor) e mesmo a
Jataí tem sido encontradas em cupinzeiros.
Para construir os favos, potes de alimentos, o invólucro, a maioria das
espécies utiliza cera e resina vegetal (cerúmem); algumas como Mosquito
(Leurotrigona muelleri) e Trigonisca sp utilizam cera pura. Aquelas que
constróem ninhos expostos como Trigona spinipes utilizam freqüentemente
materiais vegetais macerados e resina; e as de ninhos semi-expostos como
Partamona, utilizam barro e fezes.
30 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
O ninho apresenta uma entrada de cera ou barro que tem um papel
importante na orientação das abelhas. É seguida por um canal de própolis que
leva aos potes de alimento. Em Partamona, entre a entrada e o ninho
propriamente dito, há um falso ninho, chamado de vestíbulo, que tem função
de defesa, desorientando predadores e parasitas. Em meliponíneos potes de
alimento são geralmente ovalados e quando o ninho contém muito alimento os
potes são muitos, lembrando um cacho de uvas (figura 14 e 15).
A moça-branca (Frieseomelita varia) constrói seus potes de pólen
alongados, como cones, e os de mel ovalados. Em Apis mellifera, o alimento é
armazenado em favos idênticos aos da cria. Os favos de cria podem ser
verticais, como em Apis melifera em um único meliponíneo, Dactylurina
staudingeri. As demais espécies apresentam favos horizontais como Jataí,
Partamona, Iraí, etc, ou em cacho como em moça-branca, mocinha-preta
(Frieseomellita silvestrii), mosquito (Leurotrigona muelleri). Existem também
favos que apresentam uma transição entre horizontais e em cachos, às vezes
espiralados, como em mirim-preguiça (Friesella schrotckyi). Pilares de
cerúmem mantêm os favos suspensos, sem contato com o chão do ninho.
Algumas espécies apresentam um invólucro de cerúmem formado por várias
lamelas, que tem função termorreguladora, como em Partamona, Jataí, etc
(figura 16).
Figura 13 – Estrutura de ninho subterrâneo.
31 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
Figura 14 – Entradas de ninhos de mandaçaia, irai e jataí da terra.
Figura 15 – Entradas de ninhos arapuá, mirim, jataí.
32 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
Figura 16 – Estrutura geral do ninho de meliponíneo.
33 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
7.3 MECANISMO DE DETERMINAÇÃO DE CASTAS
As castas em insetos sociais são caracterizadas por diferenças
morfológicas, fisiológicas e comportamentais entre fêmeas que vivem juntas
em uma mesma colônia (semisocial, eussocial primitivo, altamente eussocial).
Nas abelhas altamente eussociais (Apina e Meliponina), as diferenças
morfológicas, fisiológicas e comportamentais são marcantes, existindo uma
forte simbiose entre as castas, que apresentam um alto grau de especialização
entre as mesmas, uma depende da outra e vice-versa (MICHENER, 1974).
O desenvolvimento das castas nos insetos sociais, em geral, está
relacionado com o amplo fenômeno de polimorfismo (várias formas) nos
insetos (figura 17). Em abelhas, o polimorfismo de castas envolve basicamente
a população feminina. Tal população é dividida entre rainhas e operárias:
Operárias: são as fêmeas estéreis ou semi-estéreis, responsáveis pela alimentação da cria e da rainha, coleta de alimento, limpeza, construção de
alvéolos e demais partes do ninho, defesa e, em alguns casos, pela postura de
ovos que darão origem a machos ou ovos que servirão de alimento à rainha
(ovos tróficos, como ocorre em Melipona e Trigona).
Rainha: fêmea fértil; é a principal produtora de ovos; nas abelhas eusociais avançadas, a interdependência entre as castas é bem estreita, sendo
a rainha incapaz de cuidar da cria ou de fundar sozinha, uma nova colônia; do
mesmo modo, as operárias não sobrevivem sem a presença da rainha
(MICHENER, 1974).
Nos Hymenoptera sociais em geral e nas abelhas em particular, a
quantidade de alimento é um fator muito importante no processo de
determinação das castas (WILDE & BEETSMA, 1982). A seguir são
apresentados alguns mecanismos indutores de castas (MICHENER, 1974):
a) Comportamental: neste caso não há, entre as fêmeas, diferenças morfológicas ou genéticas; é o que ocorre, por exemplo em
Lasioglossum zephyrum, onde uma fêmea torna-se dominante com
relação às demais devido a seu tamanho.
34 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
b) Trofogênico: neste caso há diferenças morfológicas entre as fêmeas, mas tanto operárias como rainhas originam-se de ovos com a
mesma constituição genética; é o que ocorre, por exemplo, em Apina
e Meliponina exceto gênero Melipona; sendo a quantidade de
alimento ingerido pela larva de rainha, maior que a quantidade de
alimento ingerido pela larva de operária.
c) Genético-alimentar: neste caso, ovos que apresentam diferença na constituição genética associada à quantidade suficiente de
alimento dão origem a rainhas. Este mecanismo é proposto para
abelhas do gênero Melipona, (KERR 1946, 1948).
Figura 17- Fases do desenvolvimento de meliponíneos e Apis
Favovertical de Apis mellifera com: a) ovo, b) larva jovem, c) larva velha, d) pré-pupa, e) pupa
a a
b
c
d
e
Células de cria com alimento larval e ovo
35 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
7.3.1 MECANISMO DE DETERMINAÇÃO DE CASTAS EM ABELHAS DAS SUBTRIBO APINA E MELIPONINA
O mecanismo básico de determinação das castas em Apis mellifera é
regulado pela quantidade e pela qualidade do alimento (BEETSMA, 1979).
Além destas diferenças na quantidade e na qualidade do alimento, oferecido às
larvas de rainha e operária, as duas castas das abelhas melíferas também se
desenvolvem em células diferentes. O processo de alimentação das larvas é
conhecido como progressivo em virtude do fato de as abelhas nutrizes
depositarem o alimento larval nas células, durante visitas periódicas
(MICHENER, 1974).
Segundo WIRTZ & BEETSMA (1972), toda larva fêmea com menos de
três dias de idade pode se desenvolver em operária, ou rainha, dependendo da
alimentação, fornecida pelas abelhas nutrizes (figura 18).
Figura 18: Realeiras de Apis mellifera e corte de operárias (A-C); rainha fisogástrica e corte de
meliponíneos (D-E).
A
E
36 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
7.3.2 MECANISMO DE DETERMINAÇÃO DE CASTAS EM MELIPONINA
Em Meliponina, não foi encontrada diferença qualitativa entre o alimento oferecido às larvas que originarão rainhas e aquele oferecido às larvas que originarão operárias (KERR et al., 1966; CAMARGO, 1972). Segundo KERR (1946), o processo de alimentação larval em abelhas indígenas é massal, ou seja, todo alimento é depositado nas células antes da postura do ovo pela rainha (figura 19).
Figura 19 Operárias aprovisionando célula de cria (a e b) e vista lateral de uma célula fechada
com alimento larval (seta).
7.3.2.1 MECANISMO DE DETERMINAÇÃO DE CASTAS NO GÊNERO Melipona
No gênero Melipona a determinação das castas ocorre por meio de mecanismo genético alimentar (KERR, 1946, 1948, 1969; KERR & NIELSEN, 1966; KERR et al., 1966). Durante a metamorfose (mudança de larva para adulto), só serão rainhas as abelhas que apresentarem este fator genético e receberem uma quantidade de alimento suficiente durante a fase de larva. As demais abelhas pouco alimentadas com ou sem este fator genético darão origem a operárias, sendo que a proporção máxima é 1 rainha para 3 operárias (figura 20 e 21).
a b c
37 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
Figura 20 – Favo de Melipona com células de rainhas
Figura 21 Produção constante de rainhas em Melipona (A) e mecanismo genético de
determinação da casta (B).
38 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
7.3.2.2 MECANISMO DE DETERMINAÇÃO DE CASTAS NOS OUTROS GÊNEROS EXCETO Melipona
Nos outros gêneros de Meliponina (Trigona, Frieseomelitta,
Tetragonisca, Scaptotrigona, Nannotrigona, e outros) não há diferenças genéticas relacionadas com o processo de diferenciação das castas entre as larvas que originarão operárias e as que originarão rainhas. A quantidade de alimento recebida pela larva é o fator responsável pela diferenciação das castas. As rainhas emergem de células maiores (chamadas usualmente de realeiras) e recebem mais alimento que as operárias (figura 22) (KERR, 1948; DARCHEN & DELAGE-DARCHEN, 1971; CAMARGO, 1972; SILVA, 1973).
Figura 22: Realeira de jataí – Tetragonisca angustula
7.4 CONTROLE DA REPRODUÇÃO
As principais diferenças anatômicas entre as castas geradas neste
processo estão concentradas no sistema reprodutor, no tamanho dos ovários,
número de ovaríolos e presença de espermateca. Além disso, foram
descobertas diferenças fisiológicas entre as operárias e rainhas, especialmente
na produção de vitelogenina (proteína do ovo – vitelo).
Ovários de rainhas de Apis mellifera apresentam número de ovaríolos
muito alto em relação ao de operárias. Nos meliponíneos a rainha e as
operárias tem o mesmo número de ovaríolos (geralmente, 4 por ovário), porém
o seu comprimento difere enormemente.
Mauro Prato
39 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
Às rainhas cabe a produção de ovos e às operárias todo o trabalho de
manutenção da colônia e, em raras circunstâncias, adotam funções
reprodutivas.
Nas colônias de Apini (Apina e Meliponina), o controle sobre as
operárias se dá por feromônio da rainha (KELLER & NONACS, 1993).
7.4.1 DIVISÃO DE TRABALHO EM ABELHAS SOCIAIS
Castas e divisão de trabalho estão no âmago da organização social em
insetos sociais. Uma das principais características que diferenciam insetos
sociais dos demais é a sua organização social, existe uma diferenciação de
membros em castas, sendo esta um critério essencial da sociabilidade, a
divisão de trabalho baseada nas castas e a coordenação e integração das
atividades que produzem um modelo total do comportamento além de
estender-se a uma simples agregação dos indivíduos (OSTER & WILSON,
1978).
Operárias de Apis apresentam 4 estágios progressivos durante 4-7
semanas de vida após a emergência, iniciando a limpeza das células, seguido
de alimentação e cuidado com a rainha, armazenamento de alimento e
finalmente, forrageamento (ROBINSON, 1987 e ROBINSON, 1992). Seguindo
a seqüência de vida na colméia nas primeiras 3 semanas, o subseqüente
forrageamento, impõe uma mudança no comportamento nas operárias que
normalmente não são reversíveis (ROBINSON, 1987).
As fêmeas em abelhas eusociais estão acompanhadas por uma
aparente associação de um hormônio (hormônio juvenil) na regulação da
divisão de trabalho e polietismo etário (ROBINSON & VARGO, 1997). Para que
uma operária desempenhe uma tarefa são necessários 2 fatores: (a) a
magnitude da tarefa que afeta o início da exposição à operária; e (b) a resposta
ao limiar do estímulo associado com a tarefa, por exemplo, a probabilidade de
resposta a uma dada exposição ou situação (ROBINSON, 1992).
Dentro da organização social de abelhas sem ferrão é observada a
atividade de postura de operárias na presença de rainha fisogástrica, bem
como a divisão de trabalho (tabela 4) é baseada na idade semelhante ao
observado em Apis (tabela 5) (SOMMEIJER & BRUIJN, 1994).
40 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
Tabela 4 - Divisão de trabalho em colônia de Melipona quadrifasciata (mandaçaia).
Tabela 5 - Tempo de vida das operárias e as respectivas atividades executadas em Apis mellifera.
Tempo de vida Atividades Exercidas 1 a 3 dias Fazem a limpeza e reforma polindo os alvéolos
3 a 7 dias Alimentam com mel e pólen as larvas com mais de três
dias
7 a 14 dias Alimentam as larvas com idade inferior a três dias com geléia real. Também neste período, algumas cuidam da
rainha 12 a 18 dias Fazem limpeza no lixo da colméia 14 a 20 dias Segregam a cera e constróem os favos
18 a 20 dias Defendem a colméia contra inimigos e contra o apicultor
desprevenido 21 dias em diante Trazem néctar, pólen, água e própolis, até a morte
41 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
7.4.2 PRODUÇÃO DE MACHOS EM MELIPONÍNEOS
Nos Hymenoptera a determinação do sexo ocorre por partenogênese
arrenótoca, quer dizer, o tipo de reprodução que se caracteriza por ovos não
fecundados darem origem a machos (haplóides) e os fecundados a fêmeas
(diplóides) (DZIERZON, 1845 apud WOYKE, 1986).
A produção de machos ocorre de modo cíclico nos meliponíneos (BEIG,
1972 e SILVA, 1973). Em certas épocas, as operárias realizam posturas após a
rainha, sendo que este ovo posto pela operária dará origem a um macho, que
com fases embrionárias mais curtas, estas larvas eclodem antes, matando a
larva originada do ovo da rainha (SAKAGAMI et al., 1965).
Geralmente, encontramos machos nas épocas em que há bastante
alimento e presença de células reais, sinal que haverá em breve fecundação
de rainhas virgens. Os machos são menores e não possuem corbícula,
existente nas pernas traseiras das operárias, utilizadas para coleta de pólen
das flores. Nas épocas de acasalamento os machos fazem agregações
próximas à entrada do ninho onde esta a rainha virgem (figura 22)
Figura 22: Agregado de machos de jataí (Tetragonisca angustula)
7.5 COMUNICAÇÃO E ORIENTAÇÃO DAS ABELHAS
As abelhas possuem um sofisticado processo de orientação e de
comunicação que é baseado, principalmente, na posição do sol. Porém essa
comunicação varia de acordo com a espécie da abelha (figura 23).
42 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
Para retornar à colméia, as campeiras aprendem a situar sua habitação
assim que fazem os primeiros vôos de treinamento e reconhecimento. É
importante saber que todas as abelhas possuem a rara propriedade de
enxergar a luz do sol (que é seu referencial mesmo nos dias nublados e
encobertos), graças a sua sensibilidade à radiação ultravioleta emitida pelo sol.
As abelhas, nem sempre utilizam o mesmo sistema de orientação, para guiar
suas companheiras em relação às fontes de alimento recém descobertas.
Neste caso, quando querem informar sobre a localização e fontes de alimentos,
algumas abelhas campeiras transmitem a informação por meio de um sistema
de dança. Em Apis mellifera quando a fonte de alimento está situada a menos
de cem metros da colméia, a campeira executa uma dança em círculo, e,
quando a fonte de alimento está localizada a mais de cem metros, a campeira
dança em requebrado. Nas duas situações, a campeira indica a direção da
fonte de alimento pelo ângulo da dança, em relação ao por do sol.
Figura 24: Raio de vôo em algumas espécies em algumas espécies de meliponineos em comparação com Apis mellifera
43 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
7.5.1 COMUNICAÇÃO EM ALGUMAS ESPÉCIES DE MELIPONÍNEOS
Existem espécies em que as campeiras chegam com alimento correndo em
ziguezague e produzindo um som que estimula a saída de outras abelhas, e,
estas, por sua vez, vão à procura da fonte que tenha o mesmo odor do
alimento trazido pelas primeiras. Isso ocorre com as abelhas Jataí, Mirim e
Mosquito.
As abelhas do gênero Trigonisca (jataí), Frieseomelitta (marmelada), e
Duckeola informam sobre a fonte de alimento correndo e batendo nas
companheiras, soltando o cheiro do alimento.
A espécie Iraí também reparte o alimento produzindo um som característico,
e quando um grupo de aproximadamente 50 abelhas já “conhece” o odor do
alimento e o som, esse grupo sai em busca de nova fonte.
Em espécies de Partamona, a campeira vai até a colméia, estimula a saída
de outras campeiras e vai guiando-as até a fonte liberando uma substância
produzida por uma glândula mandibular para orientá-las.
Outras espécies podem guiar-se apenas pelo som, para indicar a distância
da fonte até a colméia, como a Melipona, ou ainda, guiar-se apenas pelo odor
da amostra de alimento trazida pela primeira coletora (figura 25).
Figura 25: Tipos de comunicação para indicar um recurso alimentar entre as abelhas. a) Melipona, b)Scaptotrigona spp, c) Partamona spp, d) Apis mellifera.
44 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
7.5.2 AS TRILHAS DE CHEIRO O mecanismo mais complexo de orientação até a fonte de alimento em
meliponíneos é o das trilhas de cheiro, observadas em Mandaguari, Caga-Fogo
e Mombuca, dentre outras (figura 26). A coletora que encontra a fonte volta a
colméia fazendo marcas na vegetação com secreção de sua glândula
mandibular. As outras coletoras se guiam, então, pelo odor de sua secreção.
Figura 26 Trilhas de cheiro em meliponíneos
45 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
7.6 OS PROCESSOS DE ENXAMEAÇÃO
Em Meliponíneos, quando uma nova rainha é produzida em um ninho, se
a rainha já existente estiver realizando postura ativamente, inicia-se o processo
de enxameagem. Algumas operárias saem à procura de um local adequado
para a construção de um novo ninho. Depois de encontrarem, elas começam a
trazer cera da colônia-mãe, para vedar as frestas e construir a entrada do
ninho, os potes de alimento e outras estruturas. Trazem também pólen e mel
da colônia-mãe. Depois de pronto, a nova rainha ainda virgem vem para o
ninho junto com as operárias. Vários machos expulsos de várias colônias,
inclusive da colônia-mãe vão se concentrando próximos ao novo ninho,
esperando que a rainha virgem saia para realizar o vôo nupcial. Ela copula com
apenas um macho e depois de fecundada, seus ovários se desenvolvem e ela
começa a por ovos.
Mesmo depois do estabelecimento do novo ninho as operárias podem
continuar transportando materiais da côlonia-mãe por algum tempo.
Em Apis o processo é bem diferente. Rainhas adicionais são criadas e
antes que estas nasçam (ainda em estágio de pupas) a rainha velha, parte da
operárias e zangões deixam a colméia voando em enxame e procuram um
novo abrigo para se instalarem. Das rainhas produzidas pela colônia-mãe, uma
permanece, acasala-se e põe ovos. As demais podem partir com outros
enxames no período de uma semana.
A saída do enxame é precedida de "corridas de zumbidos". As operárias
correm em linha reta, pelo favo, vibrando e tocando outras abelhas que
também iniciam corridas de zumbido ocasionando uma perturbação e excitação
generalizada que leva à saída do enxame. Parte das abelhas que sai com o
enxame retornam à colônia-mãe, e apenas metade delas continua. Os
feromônios produzidos pelas glândulas de Nasanov das operárias são
responsáveis por guiar o enxame no vôo e no pouso; e os produzidos pelas
glândulas mandibulares da rainha (o ácido 9-oxo-trans-2-decenóico é o
principal), são responsáveis por manter a coesão do enxame.
Quando uma escoteira (abelha que voa à frente do enxame) descobre um
bom local para a instalação do enxame, comunica às demais com uma dança
semelhante àquela que informa sobre a fonte de alimentos.
46 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
8. CRIAÇÃO RACIONAL
A criação racional de meliponíneos pode ser chamada de
meliponicultura. Esta atividade é importante porque é uma atividade
sustentável que conserva o meio ambiente, é viável economicamente e é
socialmente justa.
A criação de meliponíneos deve ter os seguintes passos:
1- Escolher a espécie de abelha que você vai criar. 2- Escolher o lugar para montar o meliponário.
3- Montagem do meliponário
4- Conseguir as colônias (transferência). 5- Cuidar das colônias (manejo). 6- Aumentar o número de colônias (divisão).
Meliponário: lugar onde ficam as colméias de meliponíneos. Colônia: no caso das abelhas, indivíduos filhos de uma mesma
rainha que vivem no mesmo grupo.
Colméia: caixa onde se coloca uma colônia. 8.1 ESCOLHENDO A ESPÉCIE DE ABELHA
Escolha espécies da sua região dê preferência para aquelas que tenham
uma grande quantidade de colônias na natureza (para evitar a
consangüinidade, isto é, que uma rainha virgem seja fecundada por um macho
filho da mesma rainha, ou seja, seu irmão). Escolha as espécies mais mansas
Pode-se criar abelhas para polinização, preservação, ensino e para produção
de mel. Caso você queira abelhas para conseguir mel, escolha espécies que
fazem um mel limpo. Algumas espécies coletam fezes para proteção do ninho,
por isso o mel delas fica contaminado e não serve para consumo, como a
arapuá (Trigona spinipes) e a feiticeira (Trigona, por exemplo; portanto, não
escolha das colméias organização das colméias
{
47 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
são indicadas para a criação visando a produção de mel. Lestrimelitta limao – a
abelha limão ou iratim – também não é indicada porque seu mel é considerado
tóxico, além disso, ela pilha o ninhos de outras abelhas para obter o seu
alimento. Oxytrigona tataira – a caga-fogo – é outra espécie que não é
recomendada na criação racional porque ela libera um líquido que pode causar
queimaduras.
Recomendamos de início que você use a jataí por ser uma espécie que
ocorre em todo o Brasil, é mansa, bastante rústica, está bem ambientada em
áreas urbanas e produz um ótimo mel.
8.2 ESCOLHENDO O LUGAR DO MELIPONÁRIO
Escolha um lugar onde existam plantas com flores que oferecem
alimento para as abelhas (pólen e néctar). Se necessário, monte um pasto
apícola.
O local do meliponário deve ser protegido do excesso de ventos fortes,
de umidade, de frio e sol.
Recomenda-se que seja um local de fácil acesso e que facilite a
observação das colméias tanto para evitar roubos, como para verificar a saúde
das colônias (manejo).
8.3 MONTANDO O MELIPONÁRIO A montagem do meliponário pode ser feita em duas partes: 8.3.1 - Escolha do modelo de colméia a ser usado.
O modelo deve ter as medidas que facilitem a colônia sobreviver e
trabalhar bem, e ainda que agilize o seu manejo.
Existem vários modelos de colméia. Mostramos aqui alguns modelos. As
medidas dessas colméias são para jataí uma abelha com tamanho da área de
cria médio (figuras 27, 28, 29, 30, 31 e 32).
48 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
Figura 27: Modelo de caixa simples (Cúbica) Figura 28: Modelo do professor Paulo Nogueira Neto (PNN) (Desenho de Francis Martin
Pedreira)
49 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
Figura 29 : Modelo PNN, vista de fora, depois de montada e pronta para ser usada (Desenho de Francis Martin Pedreira)
50 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
Figura 30: Modelo da Universidade Federal de Viçosa
51 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade
Figura 31: Modelo Sobenko (redesenhado com autorização da Revista Mensagem Doce nº42
jul. 97)
Qualquer que seja o modelo o volume recomendado para abelhas
(como a jataí) com área de cria média é de mais ou menos 6 litros. Para
abelhas com cria pequena (ex. Mirins) o volume é mais ou menos 3 litros. Já
para abelhas com cria grande (ex. mandaçaia) mais ou menos 10 litros.
Recomendamos que as colméias sejam pintadas para dar mais proteção
contra chuva e sol. Pinte só por fora, a tinta é tóxica para as abelhas. Dê a primeira mão com tinta branca à base d’água. A segunda mão com tinta látex
de cor clara. Para ajudar, cubra as colméias com telhas, preferindo as de barro.
52 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________
8.3.2- Distribuição das colméias.
• As colméias devem ficar numa distância que evite atrito entre as abelhas
de diferentes colônias.
• As colméias devem ficar em uma altura que facilite o manejo com
segurança. Veja alguns tipos de suporte na figura 32:
As colméias devem ficar protegidas do excesso de sol, de umidade e
ventos. Coloque as colméias de um jeito que elas peguem sol pela manhã e
sombra de tarde. Ou que seja um lugar de meia luz. Deixar as colméias perto
de árvores que perdem as folhas no inverno também é uma boa idéia.
A distribuição de colméias em lugares como jardins, pode ajudar o
e