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INTRODUÇÃO AO MUNDO DAS ABELHAS AUTORES: Ademilson Espencer Egea Soares Geusa Simone de Freitas Ivan Paulo Akatsu Weyder Cristiano Santana

INTRODUÇÃO AO MUNDO DAS ABELHAS · 2020. 9. 30. · abelhas são inteiramente dependentes das flores para se alimentarem, podendo não ter se originado antes do aparecimento das

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  • INTRODUÇÃO AO MUNDO DAS ABELHAS

    AUTORES: Ademilson Espencer Egea Soares

    Geusa Simone de Freitas

    Ivan Paulo Akatsu

    Weyder Cristiano Santana

  • 2011 EQUIPE DIDÁTICA:

    ADEMILSON ESPENCER EGEA SOARES ANA RITA TAVARES OLIVEIRA BAPTISTELA

    GEUSA SIMONE DE FREITAS IVAN DE CASTRO JAIRO DE SOUZA MAURO PRATO

    PAULO EMÍLIO FERREIRA ALVARENGA RAONI DA SILVA DUARTE

    Apoio

  • Índice Considerações gerais sobre os meliponíneos.................................................. 1

    1. Origem das abelhas...................................................................................... 2

    2. Abelhas e o homem...................................................................................... 5

    3. Classificação biológica................................................................................. 7

    3.1 O sistema classificatório de Lineu........................................................... 9

    3.2- A nomenclatura binomial de Lineu ........................................................ 10 4. Os insetos e a classificação biológica.......................................................... 11 4.1- Como diferenciar um Arthropoda dentro do reino animal?..................... 13 4.2- Como diferenciar um inseto dentro dos Arthropoda?............................. 13 4.3- Reconhecendo as principais ordens de insetos..................................... 14 5. Metamorfose nos insetos.............................................................................. 15 6. Abelhas......................................................................................................... 16 6.1- Abelhas e classificação.......................................................................... 17 6.2- Como diferenciar abelhas de vespas?................................................... 19 6.3- Como diferenciar Apina de Meliponina?................................................. 20 6.4. Morfologia de abelhas............................................................................ 20 7. Biologia das abelhas................................................................................... 22

    7.1 Tipo de vida das abelhas......................................................................... 22

    7.2 Nidificação............................................................................................... 28 7.2.1 Estrutura dos ninhos............................................................................ 29

    7.3 Mecanismo de determinação de castas.................................................. 33 7.3.1 Mecanismo de determinação de castas em abelhas da subtribo

    Apina e Meliponina...............................................................................

    35

    7.3.2 Mecanismo de determinação de castas em Meliponina...................... 36

    7.3.2.1 Mecanismo de determinação de castas no gênero Melipona........ 36

    7.3.2.2 Mecanismo de determinação de castas nos outros gêneros,

    exceto Melipona............................................................................

    38

    7.4 Controle da reprodução........................................................................... 38 7.4.1 Divisão de trabalho em abelhas sociais.............................................. 39 7.4.2 Produção de machos em meliponíneos.............................................. 41

    7.5 Comunicação e orientação das abelhas.................................................. 41

  • 7.5.1 Comunicação em algumas espécies de meliponíneos....................... 43 7.5.2 As trilhas de cheiro.............................................................................. 44 7.6 Os processos de enxameação............................................................... 45 8. Criação racional........................................................................................... 46

    8.1 Escolhendo a espécie de abelha............................................................ 46 8.2 Escolhendo o lugar do meliponário......................................................... 47 8.3 Montando o meliponário.......................................................................... 47 8.3.1 - Escolha do modelo de colméia a ser usado...................................... 47 8.3.2- Distribuição das colméias................................................................... 52 8.4 Conseguindo as colônias......................................................................... 53 8.5 Transferência de ninhos para colméias racionais................................... 53 8.6 Cuidando as colônias.............................................................................. 58

    8.7 Aumentando o número de colônias......................................................... 60 9. Mel................................................................................................................ 63

    9.1. Características do mel de meliponíneos................................................. 63 9.2. Propriedades terapêuticas do mel.......................................................... 64 9.3. Colheita do mel....................................................................................... 66 10. Legislação sobre criação de meliponíneos................................................ 67 11. Ecologia das abelhas.................................................................................. 70 11.1 Polinização............................................................................................ 71 11.2. Lista de Plantas visitadas por meliponíneos......................................... 75 12. Referências Bibliográficas…………………………………………………….. 85

  • 1 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE OS MELIPONÍNEOS As abelhas são insetos conhecidos pela maioria das pessoas por causa

    da abelha melífera, popularmente chamada de abelha “europa” ou européia e a

    abelha africanizada, que são do mesmo gênero (Apis), elas são amarelas e

    pretas e possuem ferrão. O que muitas pessoas não sabem é que estas

    abelhas não são nativas do Brasil, pois foram trazidas da Europa e da África

    para cá, as nossas abelhas nativas são conhecidas como abelhas sem ferrão

    ou meliponíneos, pois seu ferrão é atrofiado e elas não conseguem usá-lo para

    se defender, sendo, portanto, incapazes de ferroar.

    As abelhas indígenas sem ferrão são da subtribo Meliponina, Tribo Apini,

    subfamília Apinae e família Apidae. Esta subtribo é representada por centenas

    de espécies nas Américas do Sul e Central, Ásia, Ilhas do Pacífico, Austrália,

    Nova Guiné e na África. Pelo fato de serem nativas da América, as abelhas

    sem ferrão se diversificaram enormemente aqui, compondo hoje um número

    muito grande de espécies com comportamento, forma e reprodução

    diferenciados, dentre elas encontram-se a abelha jataí, irapuá ou “arapuá”, tubi,

    canudo, boca-de-sapo, mandaçaia, guaxupé e várias outras. Lembrando que

    estes são os nomes populares.

    Todas as espécies de Meliponina são eussociais, isto é, vivem em

    colônias constituídas por muitas operárias (algumas centenas, ou milhares,

    conforme a espécie), que realizam as tarefas de construção e manutenção da

    estrutura física da colônia, de coleta e processamento do alimento, e uma

    rainha (em algumas poucas espécies pode ser encontrada mais de uma), que é

    responsável pela postura de ovos, os quais dão origem às fêmeas (rainhas e

    operárias) e a, pelo menos, parte dos machos (em diversas espécies, parte dos

    machos é filho das operárias).

    Machos são produzidos em grande número em certas épocas do ano e

    podem realizar, esporadicamente, algumas tarefas dentro da colônia, além de

    fecundar as rainhas durante o vôo nupcial. Normalmente, alguns dias após

    emergirem (saírem da célula de cria após o termino do desenvolvimento) os

    machos são expulsos da colônia (MICHENER, 1946, apud KERR et al., 1996).

  • 2 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    1 ORIGEM DAS ABELHAS

    De acordo com os trabalhos de MICHENER (1974, 1990), MICHENER &

    GRIMALDI (1988), ROUBIK (1992), CAMARGO & PEDRO (1992), SILVEIRA et

    al (2002), as abelhas, juntamente com as formigas e vespas, pertencem à

    ordem Hymenoptera. Acredita-se que as vespas (Vespoidea, Sphecoidea) e as

    abelhas descendem de um ancestral parasita. Uma das evidências desta

    origem dos himenópteros aculeados (vespas, formigas e abelhas) é a ausência

    de conexão entre a porção mediana do intestino com sua porção final,

    impossibilitando a defecação da larva até sua maturidade. Além disso, é fácil

    encontrarmos no grupo parasita indivíduos com características existentes no

    grupo Aculeata, por exemplo, presença de glândula de veneno associada ao

    ovipositor. Este ovipositor e o veneno associado a ele podem ser usados como

    um ferrão para defesa, além de possibilitar a paralisação do hospedeiro para a

    oviposição.

    Apesar de muitos aculeados e parasitas usarem outros artrópodes como

    alimento larval, os adultos se alimentam nas flores, basicamente de néctar, ou

    então, de líquidos dos corpos de suas presas. O contato dos aculeados com as

    flores pode ter "direcionado" a evolução desses grupos tornando o complexo

    labiomaxilar bem adaptado para sugar ou lamber néctar de flores pouco

    profundas.Desde que flores contenham uma rica proteína (pólen) em adição ao

    néctar, não é de surpreender se algumas vespas que alcançaram o estágio

    predatório abandonassem a predação e passassem a aprovisionar suas células

    de cria e posteriormente a isso estocassem pólen como alimento larval. Um

    exemplo que mostra que o último caso é possível é visto nas vespas das

    superfamílias Vespoidea e Sphecoidea cujo ancestral, provavelmente, deu

    origem às abelhas.

    As abelhas, provavelmente, são um grupo monofilético originado de

    vespas esfecídeas. Um grupo que surgiu por ter uma nova situação adaptativa:

    pólen das Angiospermas para servir de alimento protéico para as larvas. As

    abelhas são inteiramente dependentes das flores para se alimentarem,

    podendo não ter se originado antes do aparecimento das Angiospermas, as

    quais eram predominantes no Cretáceo (135 - 65 milhões de anos atrás,

    Tabela 1). As evidências atuais indicam que o grupo das abelhas se originou

  • 3 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    há mais ou menos 125 milhões de anos atrás, após o surgimento das

    angiospermas (plantas com flores) que se deu há cerca de 130 – 90 milhões de

    anos atrás.

    Os fósseis de abelhas conhecidos, datados do Eoceno (40 milhões de

    anos atrás) indicam que para essa época as abelhas já eram especializadas e

    a maioria dos grupos de abelhas conhecidos hoje já existiam. Um fóssil de

    meliponíneo, Cretotrigona prisca de + ou - 65 milhões de anos (Cretáceo)

    encontrado em âmbar na América do Norte (New Jersey) indica que as abelhas

    devem ter surgido há pelo menos 120 milhões de anos; evidências de que

    plantas eram polinizadas por abelhas estão datadas do início do Terciário, o

    que reforça a idéia sobre o tempo de surgimento das abelhas. Outro fóssil de

    abelha encontrado no ano de 2006 em uma mina no Hukawng Valley de

    Myanmar (Burma) suporta a teoria de que as abelhas tenham evoluído a partir

    das vespas, pois tal fóssil compartilha características com as vespas; é datado

    de 100 milhões de anos e é considerado o fóssil de abelha mais antigo (figura

    1).

    Figura 1: Melittosphex burmensis – o mais antigo fóssil de abelha.

  • 4 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    Tabela 1 – Eras e períodos geológicos com as principais transformações que ocorreram na terra

    Era Período Época Idade Características

    Cenozóico

    Quaternário

    Holoceno 10.000

    Idade do Homem". O homem torna-se a forma de vida dominante sobre a Terra. Estabilização do clima

    Pleistoceno 1.750.000

    Glaciações mais recentes. Domínio dos mamíferos de grande porte. Evolução do homo sapiens

    Terciário

    Plioceno 5.300.000

    Avanço das geleiras. A vegetação é dominada pelos campose savanas. Aparecimento de mamíferos ruminantes

    Mioceno 23.500.000

    Formação de grandes campos. Mudanças climáticas levam a formação da calota polar Antártica

    Oligoceno 34.000.000 Aparecimento de elefantes e cavalos. Aparecimento de vários tipos de gramíneas

    Eoceno 53.000.000 Surgimentos da maior parte das ordens de mamíferos

    Paleoceno 65.000.000 Domínio dos mamíferos de porte pequeno a médio

    Mesozóico

    Cretáceo 135.000.000

    Angiospermas (plantas com flores) aparecem e tornam-se abundantes, grupos modernos de insetos, pássaros e mamíferos

    Jurássico 205.000.000 Pterossauros e primeiros pássaros. Dinossauros vagueiam pela Terra

    Triássico 250.000.000 Primeira aparição dos dinossauros

    Paleozóico

    Permiano 295.000.000

    Primeiro grande evento de extinção em massa. Formação do supercontinente Pangea

    Carbonífero 355.000.000 Formação de grandes florestas Devoniano 410.000.000 Primeiros peixes

    Siluriano 435.000.000

    Estabilização do clima. Derretimento do gelo glacial, elevação dos níveis dos oceanos. Evolução dos peixes

    Ordoviciano 500.000.000 Surgimentos dos invertebrados marinhos e plantas

    Cambriano 540.000.000 Aparecimento dos principais grupos animais

    Proterozóico 2.500.000.000

    Predomínio de bactérias. Primeiras evidências de atmosfera rica em oxigênio. Ao final do Proterozoico surgimento de formas multicelulares e dos primeiros animais

    Arqueano 3.600.000.000

    Aparecimento de vida na Terra. Fósseis mais antigos com 3.5 bilhões de anos (bactérias micro-fósseis

  • 5 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    2. ABELHAS E O HOMEM

    As abelhas estão presentes em toda a história da humanidade. Ao longo

    da evolução humana encontramos vários registros do uso das abelhas pelo

    homem. Exemplo disso são os desenhos encontrados em cavernas da

    Espanha, onde um homem está colhendo mel de um enxame, usando uma

    escada de cordas presa ao topo de um barranco (figura 2a). Há registros sobre

    o uso do mel pelos hindus há 6000 a.C. e pelos sumérios há 5000 a.C.

    Contudo, racionalmente, mas de forma rudimentar, as abelhas começaram a

    ser exploradas há cerca de 2400 a.C. pelos egípcios; prática que está

    imortalizada em desenhos nas pirâmides (figura 2b).

    Figura 2: a)Coleta de mel na pré-história. b)Criação de abelhas em potes de barro (pintura no túmulo do Faraó Pa-Bu-Sa - 630 a.C).

    Nos papiros de Smith, 1700 a.C. estão descritos 48 casos de

    tratamentos em que se utilizam carne fresca sobre suturas e uma mistura de

    graxa e mel sobre cortes abertos; o uso de incensos e mel sobre feridas e

    úlceras. Os egípcios usavam uma solução de própolis com mel e ervas na

    mumificação dos faraós. Os teutões, 200 a.C., usavam uma bebida à base de

    mel, hidromel, para comemorar a cerimônia do casamento. Além disso, podem

    ser encontradas várias citações na Bíblia sobre o uso do mel como alimento.

    Em várias outras culturas existem registros sobre as abelhas. Na Grécia

    eram valorizadas no comércio e na literatura. As antigas moedas gregas, numa

    das faces, estampavam uma abelha como símbolo de riqueza. Os romanos

    veneravam-nas como símbolo de admiração e de defesa de seu território. Por

    muito tempo, na França, constituía grande honra receber uma medalha de ouro

  • 6 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    estampando uma colméia povoada de abelhas. Luís XII, muitas vezes, usava

    seu pomposo manto real todo bordado de abelhas douradas como sinal de

    mansidão e bondade.

    Os egípcios e gregos desenvolveram as primeiras técnicas de manejo,

    as quais mais tarde foram aperfeiçoadas por apicultores como Lorenzo

    Langstroth, no final do século XVIII.

    Quanto às abelhas sem ferrão, sabe-se que no Brasil, antes de 1840, só

    eram cultivados meliponíneos; no sul, as mandaçaias, mandaguaris, tuiuvas,

    jatais, manduris e guarupus; no nordeste, a uruçú, a jandaíra e a canudo; no

    norte a uruçú, a jandaíra, a uruçú-boca-de-renda e algumas outras.

    Na América Central, os maias cultivavam espécies de abelhas sem

    ferrão, principalmente do gênero Melipona, das quais utilizavam o mel e outros

    produtos na sua cultura. Os Maias valorizavam tanto as abelhas que há um

    deus para proteger a sua criação (figura 3).

    O jesuíta José de Anchieta foi o primeiro a falar da abundância do mel

    e das espécies de abelhas existentes no Brasil, “Encontram-se quase vinte

    espécies diversas de abelhas, das quais umas fabricam o mel nos troncos das

    árvores, outras em cortiços construídos entre os ramos, outras debaixo da

    terra, donde sucede que haja grande abundância de cera. Usamos do mel para

    curar feridas, que saram facilmente pela proteção divina. A cera é usada

    unicamente na fabricação de velas”.

    Figura 3: Ilustração retirada de um códice maia. Estão representadas três colônias de abelhas sem ferrão e os Deuses que possuem os segredos do seu manejo. A terceira rainha (acima da colônia) não tem cabeça, o que indica que a colônia está órfã (Códex 103, Museu América - Madri - Espanha. Pesquisa de J.P. Cappas e Sousa).

  • 7 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    Como as abelhas foram importantes desde os primórdios da

    humanidade, sendo símbolo de defesa, riqueza e tema de escritos do sábio

    Aristóteles, também hoje as abelhas continuam sendo produtoras de alimentos

    naturais riquíssimos, tão essenciais para esta humanidade que a cada dia sofre

    de fome crescente. Além disso, as abelhas nos ensinam muito sobre o trabalho

    em cooperação.

    3. CLASSIFICAÇÃO BIOLÓGICA O mundo vivo é constituído por uma enorme variedade de organismos.

    Para estudar e compreender tamanha variedade, foi necessário agrupar os organismos de acordo com as suas características comuns, ou seja, classificá-los. A expressão classificação biológica designa o modo como os biólogos agrupam e categorizam os seres vivos, extintos e atuais. Para os cientistas, a classificação é uma linguagem necessária para exprimir a organização do mundo vivo, escolhendo em função dos seus interesses a classificação mais prática ou útil para a sua investigação. Deste modo, a classificação é um meio de tornar inteligível a complexidade do mundo vivo, agrupando os organismos em categorias, segundo critérios preestabelecidos, tornando o conhecimento unificado e universal. Vale a pena lembrar que existem vários sistemas de classificação e que todos foram construídos pelo homem, a razão dessa diversidade é que nenhum sistema é realmente satisfatório

    A necessidade de classificar os seres vivos é muito antiga, entretanto, não significa que seja um assunto simples. Geralmente se classifica os organismos vivos com base em semelhanças, sejam elas morfológicas, de modo de vida, de utilidade prática, periculosidade

    , são apenas critérios diferentes utilizados para finalidades diferentes.

    Figura 4: Classificação em cinco

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Biologia�http://pt.wikipedia.org/wiki/Ser_vivo�

  • 8 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    para o homem, etc. O sistema mais antigo de classificação de seres vivos que se conhece deve-se ao filósofo grego Aristóteles, que classificou todos os organismos vivos então conhecidos em plantas e animais. Os animais eram organismos que se moviam, comiam coisas, respiravam; seus corpos cresciam até certo ponto e depois paravam de crescer, as plantas eram organismos que não se moviam, nem comiam, nem respiravam e que cresciam indefinidamente. Os fungos, as algas e as bactérias eram agrupados com as plantas; os protozoários, organismos unicelulares que comiam e se moviam eram classificados como animais. No século XX, começaram a surgir problemas, foram descobertas algumas diferenças importantes, conseqüentemente, aumentou o número de grupos reconhecidos como reinos diferentes. As classificações mais recentes propõem cinco reinos: Monera (bactérias), Protista (protozoários), Fungi (fungos), Plantae (plantas), Animalia (animais) (ver figura 4).

    A classificação biológica moderna tem as suas raízes no sistema criado por Carl von Linée (figura 5), um médico e naturalista sueco, que agrupou as espécies de acordo com as características morfológicas por elas partilhadas. Enquanto Lineu classificava as espécies de seres vivos tendo como objetivo principal facilitar a identificação e criar uma forma de arquivo nos herbários e nas coleções zoológicas que permitisse localizar facilmente um exemplar, nos modernos sistemas de classificação dos seres vivos procura-se relacionar os grupos de acordo com suas histórias evolutivas, isto significa que se pretende relacionar as espécies pela sua proximidade de parentesco.

    Partindo do princípio de que a vida surgiu uma única vez na Terra por uma simples combinação ao acaso de moléculas simples, e que a partir deste primeiro organismo vivo, ao longo do tempo, evoluíram todas as formas vivas que conhecemos hoje, podemos dizer que todos os seres vivos possuem algum grau de parentesco e que a história da vida na Terra trilhou um caminho único, o qual nós, seres humanos, que fazemos parte desta história, provavelmente nunca saberemos exatamente como aconteceu, mas podemos especular e inferir sobre partes deste caminho baseado na diversidade que conhecemos atualmente e também na diversidade que existiu, através dos fósseis.

    Devido à existência de tantos guias para classificação e identificação de seres vivos, é tentador pensar que todo organismo vivente no mundo é conhecido, entretanto, se fôssemos comparar livros diferentes, veríamos maneiras variadas de se fazer isso. Estas diferenças podem ser, além do uso de sistemas diferentes de classificação, o reflexo de incertezas com relação ao

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles�http://pt.wikipedia.org/wiki/Lineu�http://pt.wikipedia.org/wiki/Herb%C3%A1rio�

  • 9 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    parentesco, de forma que pode ser difícil chegar à classificação mais apropriada.

    O processo de modificação dos seres vivos ao longo do tempo nós conhecemos como evolução biológica, e a tentativa de elucidação da história evolutiva dos seres vivos, conhecemos como filogenia. Taxonomia trata-se do trabalho básico de reconhecimento, descrição, nomeação e classificação de seres vivos, enquanto o estudo dos tipos e diversidade de organismos e suas inter-relações nós chamamos de sistemática. 3.1- O sistema classificatório de Lineu

    No sistema classificatório de Lineu os seres vivos são agrupados em categorias hierárquicas: as espécies são agrupadas em gêneros que são agrupados em famílias, as famílias em ordens, as ordens em classes, as classes em filos e os filos em reinos (figura 6). Essas categorias podem ser subdivididas ou agregadas em várias outras menos importantes, como os subgêneros e as superfamílias.

    Assim, as espécies estão contidas em grupos progressivamente mais amplos, formando uma hierarquia: à medida que progride do nível mais baixo (espécie) para o nível mais elevado (reino) ocorre aumento da diversidade de seres vivos, formando, portanto grupos mais generalistas, ou seja, caminha do mais específico para o mais geral. Assim podemos considerar, por exemplo, que indivíduos pertencentes ao mesmo gênero são mais aparentados entre si do que com outros indivíduos da mesma família, ou ainda, que indivíduos pertencentes à mesma ordem são mais aparentados entre si do que com outros indivíduos da mesma classe e assim por diante. Por exemplo, o cão (Canis familiaris) é mais aparentado com o lobo (Canis lupus), pois são do mesmo gênero, do que com o homem (Homo sapiens) com o qual divide a mesma classe (Mammalia / mamíferos).

    Figura 5: Lineu (1707-1778). Seu nome pode ser escrito diferentemente conforme a língua: Carl Von Linée (sueco), Carl Linnaeus (inglês), Carolus Linnaeus (latim) ou Carlos Lineu (português).

  • 10 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    3.2- A nomenclatura binomial de Lineu

    Com objetivo de facilitar a comunicação científica, Lineu propôs universalizar a linguagem científica para a nomeação dos seres vivos da seguinte maneira:

    Os nomes utilizados para designarem espécies, gêneros e as outras categorias mais abrangentes devem ser escritos em latim ou latinizados.

    Uma espécie sempre possui dois nomes, como se fosse nome e sobrenome, o primeiro nome é relativo ao gênero ao qual aquela espécie pertence.

    O primeiro nome (relativo ao gênero) sempre começa com letra maiúscula e o segundo nome sempre com letra minúscula.

    Os nomes de gêneros e espécies devem ser escritos em itálico ou sublinhados, enquanto o nome das famílias, ordens, classes e outras categorias não o são, embora tenham a letra maiúscula inicial.

    O nome de uma espécie é único e nunca deve se repetir.

    Mais geral

    Figura 6: Sistema de classificação biológica hierarquizada em categorias inventado por Lineu.

    Mais específico

  • 11 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    Exemplo: “O cão cujo nome científico é Canis familiaris está amplamente distribuído...” ou

    “O cão cujo nome científico é Canis familiaris

    está amplamente distribuído...”

    4. OS INSETOS E A CLASSIFICAÇÃO BIOLÓGICA A Superclasse Hexapoda (hexa- seis, poda- pés) contêm todos os artrópodes de seis pernas e dentro desta se encontra a Classe Insecta, ou simplesmente insetos. Isto significa que existem alguns artrópodes que possuem seis pernas, porém não são necessariamente insetos, mas se tratam de grupos pequenos como Colêmbolos e Dipluros. Tradicionalmente, os parentes mais próximos dos hexápodes são os Miriápodes (centopéias, piolhos-de-cobra, lacracias) (figura 7). Dentre os insetos, existem algumas ordens cujos representantes não possuem asas, porém a vasta maioria possui asas sendo capaz de explorar o ambiente aéreo.

    Canis familiaris

    Gênero - primeiro nome (começa com

    maiúscula)

    Conjunto (1º+2º nome) designa a

    espécie

    Segundo nome (começa com

    minúscula)

    Canis familiaris (cão) Canis lupus (lobo)

    Canis latrans (raposa)

    São todos do mesmo gênero (Canis), porém o

    nome da espécie é sempre único.

  • 12 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    Figura 7: Cladograma mostrando as relações de prentesco (filogenéticas) entre os Hexapoda.

  • 13 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    4.1- Como diferenciar um Arthropoda dentro do reino animal? Podemos diferenciar um animal do Filo Arthropoda dos outros animais de acordo com três características que eles possuem: 1) Exoesqueleto (esqueleto externo) de quitina, como uma casquinha dura (carapaça) que reveste externamente o animal, por exemplo, a casquinha dura dos besouros. 2) Corpo segmentado (dividido) em partes diferentes e articuladas. 3) Apêndices (pernas, asas, antenas, peças bucais) articulados. 4.2- Como diferenciar um inseto dentro dos Arthropoda?

    Todos os insetos possuem: 1) Corpo dividido em cabeça + tórax + abdome 2) Seis pernas (três pares de pernas) 3) Duas antenas (um par de antenas) Aranha é um inseto? E o escorpião, é um inseto? A resposta é não, as aranhas e os escorpiões são artrópodes, porém não são insetos, pois estão dentro da Classe dos Aracnídeos e não dentro da Classe Insecta. Veja abaixo algumas diferenças entre insetos e aracnídeos (figura 8).

    Figura 8: Diferenças na morfologia entre Insetos e Aracnídeos.

  • 14 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    4.3- Reconhecendo as principais ordens de insetos • Ordem Odonata (odonata=dentes; indica os dentes das mandíbulas).

    Exemplo: as libélulas. Sofrem metamorfose incompleta (hemimetábolos). Quando menores permanecem na água e quando adultos elas se tornam predadores.

    • Ordem Blattodea (blatta=barata). Exemplo: as baratas. Sofrem metamorfose incompleta (hemimetábolos); as asas anteriores são resistentes, seu corpo é achatado.

    • Ordem Isoptera (iso=igual; ptera=asas ; pelo fato das asas anteriores e posteriores serem bastante parecidas). Exemplo: os cupins. Sofrem metamorfose incompleta (hemimetábolos).

    • Ordem Orthoptera (ortho=retas; ptera=asas). Exemplo: gafanhotos e grilos. Sofrem metamorfose incompleta (hemimetábolos); as asas posteriores, muitas vezes são menores.

    • Ordem Hemiptera (hemi= meio, metade; ptera=asas). Exemplo: percevejos, barbeiros, cigarras, pulgões, marias-fedidas. As asas anteriores são bastante resistentes, coriáceas. Sofrem metamorfose incompleta (hemimetábolos).

    • Ordem Coleoptera – (coleo=estojo; ptera=asas). Exemplo: os besouros, joaninhas e carunchos. Sofrem metamorfose completa (holometábolos).

    • Ordem Diptera (di=duas; ptera=asas). Exemplo: são as moscas e mosquitos. Sofrem metamorfose completa (holometábolos).

    • Ordem Lepidoptera (lepidos= escama; ptera=asas). Exemplo: são as borboletas e mariposas. Sofrem metamorfose completa (holometábolos), possuem quatro asas membranosas recobertas por minúsculas escamas (pózinho da asa).

    • Ordem Hymenoptera (hymen=membrana; ptera=asas). Exemplo: são as abelhas, formigas e vespas. Sofrem metamorfose completa (holometábolos), as asas anteriores são maiores e unidas com as posteriores.

    Os insetos são os animais mais abundantes na Terra, veja o diagrama na

    figura 9.

  • 15 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    5. METAMORFOSE NOS INSETOS 5.1- Insetos Ametábolos: o prefixo a, designa negação. Portanto, são aqueles que ao saírem do ovo já são muito semelhantes ao adulto. Não passam por estágio larval nem sofrem metamorfose, somente um crescimento gradual sem muitas transformações. As traças de livro, por exemplo, são assim. 5.2- Insetos Hemimetábolos: (hemi=metade) quando o ovo eclode, nascem diferentes do adulto, mas sofrem transformações graduais na forma e fisiologia. Essa passagem para a vida adulta é chamada de metamorfose incompleta. As formas jovens são chamadas de ninfas, e à medida que sofem muda ficam cada vez mais parecidas com os adultos. 5.3- Insetos Holometábolos: (holos=todo, inteiro) são insetos que passam por transformações muito mais significativas, durante algumas fases da vida.

    Figura 9: Diagrama da abundância relativa de espécies conhecidas de seres vivos.

  • 16 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    Quem já comparou uma larva de borboleta (lagarta) com o adulto da mesma espécie pode perceber como as transformações são radicais. Quando o ovo eclode nasce uma larva, que se alimenta com grande apetite durante alguns dias e cresce bastante, depois, ao se imobilizar adquire um revestimento mais escuro e espesso, assumindo a forma característica de pupa que geralmente constrói um casulo dentro do qual permanece imóvel durante algum tempo. É exatamente neste período que ocorrem as principais transformações, pois os tecidos da larva são digeridos e novos tecidos e órgãos se formam originando o adulto, processo conhecido por metamorfose completa. 6. ABELHAS

    Pelo fato de serem nativas da América, as abelhas sem ferrão se diversificaram enormemente aqui, compondo hoje um número muito grande de espécies com comportamento, forma e reprodução diferenciados, dentre elas encontram-se a abelha jataí, irapuá ou “arapuá”, tubi, canudo, boca-de-sapo, etc. Lembrando que estes são os nomes populares. Como podemos notar no quadro a seguir, segundo a classificação de Lineu, tudo o que conhecemos como “abelhas” está dentro da superfamília Apoidea, porém como já foi discutido anteriormente as abelhas fazem parte de grupos mais amplos, junto com outros animais, como por exemplo, da ordem Hymenoptera onde estão juntas com as vespas e formigas. Assim, é muito comum confundirmos abelhas com vespas ou até mesmo com outros insetos, por isso, logo a seguir (Tabela 2) você aprenderá algumas características diagnósticas para conseguir diferenciar estes grupos. Tabela 2 – Classificação biológica de alguns artrópodes

    Abelha Vespa Formiga Cupim Besouro Aranha Reino Animal Animal Animal Animal Animal Animal Filo Arthropoda Arthropoda Arthropoda Arthropoda Arthropoda Arthropoda Classe Insecta Insecta Insecta Insecta Insecta Arachnida Ordem Hymenoptera Hymenoptera Hymenoptera Isoptera Coleoptera Araneae Subordem Apocrita Apocrita Apocrita Araneomorphae Superfamília Apoidea Vespoidea Formicoidea

  • 17 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    Lembrando que para os animais, algumas categorias taxonômicas de Lineu podem ser identificadas pela terminação (sufixo) dos nomes dados como indica o quadro abaixo: 6.1- Abelhas e classificação As abelhas pertencem à ordem Hymenoptera como já vimos anteriormente. A qual está dividida em duas subordens, a Subordem Symphyta (vespas-da-madeira) cujos indivíduos possuem um tórax trisegmentado convencional, e a Subordem Apocrita (formigas, abelhas e vespas) o primeiro segmento do abdome (propódeo) está incorporado ao tórax, e ainda o segundo segmento abdominal forma uma constrição ou pecíolo (figura 10). As fêmeas de Apocrita possuem ovipositor no abdome, porém na Infraordem Aculeata este ovipositor das fêmeas é modificado em ferrão, associado à glândula de veneno. Dentro da Infraordem Aculeata exitem três superfamílias: Chrysidoidea, Vespoidea e Apoidea. Chrysidoidea está composta somente por vespas, Vespoidea está composta por vespas e contém também a Família Formicidae na qual estão incluídas todas as espécies de formigas. Enquanto a Superfamília Apoidea contém apenas abelhas.

    Figura 10: Caracterização dos Apocrita e dos Aculeados.

  • 18 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    Dentro da Superfamília Apoidea, o número de famílias pode variar de

    acordo com a classifcação, mas dentre estas famílias encontra-se a família Apidae que reúne todas as abelhas que possuem corbículas (expansão da tíbia do terceiro par de pernas que as abelhas utilizam para transportar pólen). Ainda, apenas a família Apidae possui espécies sociais (que constróem colônias). Atualmente temos dois sistemas de classificação muito utilizados no mundo científico para os grupos de abelhas: • Sistema segundo MICHENER (2000): as

    “abelhas” (Apoidea apiformes) estão divididas em 6 famílias (Andrenidae, Apidae, Colletidae, Halictidae, Megachilidae e Stenotritidae). A Família Apidae, por sua vez está dividida em três subfamílias (Apinae, Nomadinae e Xylocopinae). Cada subfamília está dividida em tribos, por exemplo, a tribo Apini que contém um único gênero (Apis) que são as abelhas que conhecemos como abelhas européias, africanas ou africanizadas. Na Tribo Bombini, por exemplo, encontramos a “mamangava” Bombus que poliniza o maracujá. Já a Tribo Meliponini reúne todas as abelhas sem ferrão, que são o objeto de estudo deste curso. As únicas tribos que possuem espécies sociais são Apini e Meliponini.

    • Sistema segundo MELO & GONÇALVES (2005): aqui todas as abelhas estão reunidas dentro da Família Apidae, então tudo o que era considerado família na classificação anterior passou a ser subfamília segundo esta nova proposta, por exemplo, ao invés de termos Família Andrenidae, temos agora Família Apidae e Subfamília Andreninae. As tribos continuam as mesmas, porém aqui, as tribos Bombini, Euglossini, Apini e Meliponini segundo a

    Abelhas sem

    ferrão

  • 19 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    classificação anterior, passam a ser subtribos pertencentes à Tribo Apini e recebem nomes com terminações diferentes: Bombina, Euglossina, Apina e Meliponina.

    6.2- Como diferenciar abelhas de vespas? Pelo fato de abelhas e vespas pertencerem à mesma subordem (Apocrita) e possuírem adultos com asas permanentes, podemos confundi-las quando olhamos, porém é possível notar algumas diferenças (tabela 3 e figura 11). Tabela 3 - Diferenças básicas entre abelhas e vespas

    Abelhas Vespas

    Corpo Piloso

    Robusto (“gordinho”) Pecíolo não aparente

    Sem pelos Afilado (longo e fino)

    Pecíolo entre tórax e abdome Estrutura auxiliar para a

    coleta de pólen Presente (corbícula ou escopa) Ausente

    Asas Superpostas quando em

    repouso Dobradas longitudinalmente

    quando em repouso

    Alimentação Adultos e cria: mel e pólen Adulto: mel e pólen

    Cria: insetos triturados

    Material de construção dos ninhos

    Cera Resina vegetal

    Barro

    Celulose Barro

    Figura 11: Comparação entre morfologia externa de abelhas (esquerda) e vespas (direita).

    Corbícula

    Pecíolo

  • 20 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    6.3- Como diferenciar Apina de Meliponina? Como vimos anteriormente, as subtribos Apina e Meliponina reúnem todas as espécies de abelhas sociais (que constroem colônias), porém Apina são as abelhas que ferroam, conhecidas como abelha européia, africana ou africanizada, que foram introduzidas no Brasil, enquanto Meliponina reúne as abelhas nativas sem ferrão, sendo elas o foco deste nosso curso. A primeira tentativa de separá-las seria morfologicamente, já que uma tem ferrão ativo e a outra possui ferrão atrofiado, e também pelo padrão de coloração, mas este método não é muito seguro, visto que pode-se levar uma ferroada por engano e também porque algumas abelhas sem ferrão como as do gênero Melipona, podem ser muito parecidas em tamanho e coloração com uma africanizada. Partiremos então para o lugar onde elas vivem, vamos observar a estrutura dos ninhos (colônias) que elas constróem. Enquanto os Apina constroem ninhos com favos posicionados verticalmente as células do favo são todas do mesmo tamanho, tanto as que armazenam alimento (mel e pólen) quanto as que possuem cria. Os meliponíneos, em sua maioria constroem favos na posição horizontal, sendo que as células que abrigam a cria possuem tamanho diferente dos potes que armazenam alimento (mel e pólen), lembrando que algumas espécies constroem os favos na forma de cachos. Mas mesmo assim seria muito arriscado precisar abrir o ninho para observar todas estas características. É por isso que o melhor método para saber diferencia-los é através da observação da porta de entrada dos ninhos, pois as Apis, grande parte das vezes, constroem ninhos externos e quando constroem em ocos, não ornamentam a entrada do ninho, sendo portanto, apenas um buraco. Já os meliponíneos possuem as mais belas e variadas formas de ornamentação da entrada dos ninhos, que vai desde canudos de cera como o da jataí até lindíssimos portais de formato raiado feitos de barro, em algumas Meliponas. 6.4. Morfologia de abelhas As principais estruturas externas das abelhas são: - Integumento (cutícula) é a camada externa do corpo das abelhas como em

    todos os artrópodes, constituida de escleritos (placas rígidas) fundidas umas às outras ou conectadas por áreas membranosas que dão elasticidade e flexibilidade ao corpo. A superfície externa do integumento pode ter características bem variadas – preto ou colorido, brilhante ou fosco, com

  • 21 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    brilho metálico ou não, liso ou com diferentes padrões de pontuação, reticulado, rugoso ou estriado.

    - Tagmatização: São as divisões do corpo da abelha - cabeça, tórax e abdome. A cabeça é formada por pelo menos quatro segmentos; o tórax por três e o abdome por 10. Nas abelhas (como nas formigas e vespas) o primeiro segmento do abdome é fundido ao tórax e é denominado propódeo. A estrutura originada desta fusão é chamada mesossoma e a porção restante do abdome é designada metassoma (Figura 12).

    Cabeça: Externamente contém dois olhos compostos laterais, três ocelos dorsais, um par de antenas, uma par de mandíbulas e o aparelho bucal.

    Mesossoma: É composto por quatro segmentos – propódeo, protórax, mesotórax e tatórax. Na parte dorsal os três últimos segmentos são chamados de pronoto, mesonoto e metanoto. Um par de asas (anterior) está inserido no mesotórax e o outro menor (posterior) no metatórax; este último possui pequenos ganchos (hâmulos) em sua margem anterior. Três pares de pernas originam-se na superfície ventral do tórax – um em cada segmento.

    Metassoma: É formado pelos últimos nove dos 10 segmentos abdominais da fêmea (no macho pelos 10 últimos dos 11 segmentos). O primeiro segmento do metassoma possui uma constrição anterior que forma o pecíolo e que dá flexibilidade de movimento.

  • 22 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    7. BIOLOGIA DAS ABELHAS 7.1 TIPO DE VIDA DAS ABELHAS Entre as abelhas existem diferentes graus de socialidade, ou seja, a

    relação entre os indivíduos (ou parentes) de uma mesma espécie de abelhas e

    o comportamento de nidificação são variados desde espécies que vivem

    sozinhas até aquelas que formam grupos de milhares de indivíduos.

    As abelhas solitárias A maioria das pessoas ao ouvir a palavra abelha imediatamente faz

    analogia a uma colméia e à produção de mel, muito mais relacionada a abelha

    melífera ou européia (Apis mellifera) do que às abelhas indígenas sem ferrão

    [Meliponina, por exemplo, Mandaçaia (Melipona quadrisfasciata), Jataí

    (Tetragonisca angustula). O comportamento solitário é caracterizado pela

    independência das fêmeas na construção e aprovisionamento de seus ninhos.

    Não há cooperação, ou divisão de trabalho, entre as fêmeas de uma mesma

    geração, ou entre mãe e filhas. Na maioria das vezes, a mãe morre antes de

    sua prole emergir, sem haver relações entre gerações diferentes.

    Há uma grande diversificação de hábitos de nidificação entre as abelhas

    solitárias. Várias espécies da família Megachilidae, Anthophoridae e Apidae

    nidificam em ramos, ocos de plantas ou orifícios preexistentes em madeira.

    Outras nidificam em cavidades no chão ou em barrancos ou em locais

    protegidos e poucas constroem ninhos expostos. O ninho é aprovisionado com

    néctar e pólen, algumas espécies utilizam também óleo coletado em flores (por

    exemplo, nas plantas da família Malpighiaceae, por exemplo, a acerola). A

    forma e disposição das células de cria é variada, podendo ser uma única célula

    no final de um canal, um aglomerado em um local protegido ou uma sequência

    linear de células, o número também varia, podendo ir de uma a mais de dez

    células por ninho.

    O material de construção utilizado pode ser barro ou areia agregada

    com alguma substância (por exemplo, óleo ou resina vegetal), folhas de

    plantas cuidadosamente cortadas e unidas com resina e, ou barro, resina pura,

    ou o local de construção do ninho recebe apenas uma camada

    impermeabilizante (de natureza glandular) que evita que a umidade chegue às

  • 23 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    crias. Também existem espécies que não revestem o local de nidificação,

    permanecendo, os imaturos, em contato direto com as paredes do ninho.

    Não há produção de mel por essas abelhas, pois a fêmea busca nas

    flores o néctar (fonte de energia) que necessita para ela e para o

    aprovisionamento do ninho. Várias espécies são sazonais, isto é, ocorrem

    apenas em determinada época do ano, quando há disponibilidade de alimento

    e condições favoráveis à nidificação.

    A reprodução de várias espécies vegetais depende diretamente da visita

    de abelhas solitárias à suas flores. Assim, algumas espécies dessas abelhas

    são utilizadas pelo homem para esse fim. Por exemplo, no Brasil, utilizam-se

    espécies de Xylocopa (Anthophoridae) para a polinização do maracujá, são as

    chamadas mamangabas, mangabas, ou mamangavas, havendo outras

    denominações dependendo da região; contudo, esse nome é freqüentemente

    dado a qualquer abelha de coloração escura e tamanho moderado. Outro

    exemplo é o uso de Megachile rotundada (Megachilidae) para polinização da

    alfafa nos EUA.

    Abelhas parasitas São abelhas que se utilizam apenas do trabalho e do alimento que o

    hospedeiro (outra abelha) armazenou. Na maioria dos casos, a abelha parasita

    invade os ninhos, coloca seus ovos nas células já prontas e aprovisionadas

    pelo hospedeiro e deixa que sua cria se desenvolva aos cuidados desse. Em

    alguns casos, a abelha parasita passa a conviver com o hospedeiro e pode, até

    mesmo, desenvolver algum tipo de trabalho em conjunto.

    Um outro tipo de parasitismo interessante é encontrado num gênero de

    abelhas indígenas sem ferrão (Lestrimelitta, conhecida popularmente por

    abelha-limão) socialmente bem evoluídas. As espécies deste grupo constroem

    seus próprios ninhos, porém, o material de construção é roubado de outros

    ninhos de espécies afins, como marmelada, jataí, abelha-canudo, etc. Essas

    abelhas saem em grande número - pois suas colônias chegam a ter milhares

    de indivíduos - invadem o ninho das outras e aí levam o material que

    necessitam. Esses ataques duram, às vezes, vários dias e acabam morrendo

    muitas delas.

  • 24 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    Outro aspecto é que essas parasitas passam a defender o ninho

    conquistado contra pilhagens ou parasitas secundários enquanto levam o

    material roubado. As abelhas-limão são tão bem adaptadas a este tipo de

    comportamento que possuem as corbículas atrofiadas (órgão situado no último

    par de pernas destinado a coleta de pólen).

    Abelhas sociais

    O comportamento social em abelhas envolve basicamente duas

    características: 1) Uma fêmea que viva o tempo suficiente para proteger seus

    ovos e alimentar suas larvas. 2) Duas ou mais fêmeas compartilhando um

    ninho e cooperando no trabalho de cuidar da cria. Isto significa que as abelhas

    sociais vivem em grupos nos quais existe nítida distribuição dos trabalhos e

    responsabilidade entre os indivíduos; todos contribuindo para um fim comum: a

    sobrevivência do grupo.

    As abelhas com comportamento social possuem niveis intermediários de

    socialidade, os quais ocorrem em três famílias: Halictidae, Anthophoridae e

    Apidae. Entretanto, somente na família Apidae é que há grupos totalmente

    sociais. A característica comum de Apidae é uma estrutura especial para

    transporte de pólen, a corbícula (semelhante a um “cesto”), localizada na tíbia do terceiro par de pernas. O pólen é transportado nessa estrutura em

    associação com néctar (MICHENER, 1990).

    Dentro da tribo Apini ocorrem quatro subtribos: Apina, Meliponina,

    Bombina e Euglossina (MELO & GONÇALVES, 2005). Nas quais há espécies

    eusociais primitivos (Bombina), eusociais e altamente eusociais (Apina e

    Meliponina) e solitárias (Euglossina) (MICHENER, 1974). Estas subtribos

    possuem representantes distribuídos em todo mundo.

    A subtribo Meliponina, à qual pertencem todas as abelhas indígenas,

    constitui um grupo de abelhas sem ferrão amplamente distribuídas nas regiões

    Neotropicais (ROUBIK, 1989), ocorrendo principalmente no continente

    americano desde o México até o estado do Rio Grande do Sul, no Brasil

    (KERR, 1969; NOGUEIRA-NETO, 1997). Aproximadamente 300 das 400

    espécies descritas ocorrem na América do Sul (VELTHUIS et al., 1997). Sendo

    o gênero Melipona (subtribo Meliponina) exclusivamente Neotropical (vivem

    nos trópicos das Américas).

  • 25 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    Comportamento Social Três características comuns aos insetos sociais são: (1) cooperação no

    cuidado da cria; (2) sobreposição de no mínimo duas gerações capazes de

    contribuir com a divisão do trabalho; (3) divisão do trabalho reprodutivo

    principalmente ou completamente com casta operária estéril e casta

    reprodutiva (rainha); e machos (MICHENER, 1974).

    Tipos de sociedade As diferentes espécies de abelhas e vespas apresentam os mais

    diversos comportamentos que podem se modificar ao longo do seu

    desenvolvimento, ou que podem ser típicos de determinadas espécies durante

    toda a vida. Com o intuito de se conhecer e entender melhor como vivem e se

    relacionam esses indivíduos entre si e com o meio, foram criados vários níveis

    de socialidade levando em consideração: o número de fêmeas que fundam um

    ninho, grau de desenvolvimento dos ovários, como é feita a construção e o

    aprovisionamento das células, se há divisão de trabalho, a tolerância entre os

    indivíduos, mecanismos de defesa, quantas gerações adultas convivem no

    ninho e assim por diante.

    Esses níveis sociais, entretanto, podem se alterar para uma mesma

    espécie e até para um mesmo ninho dependendo da situação e do estágio de

    desenvolvimento em que se encontra.

    Agrupamentos para dormir Segundo MICHENER (1974), são comumente encontrados

    agrupamentos de machos de abelhas ou vespas que se formam em um

    determinado local para passar a noite, os quais não podem ser consideradas

    colônias, pois não formam um ninho. Alguns agrupamentos chegam a ter

    centenas de machos (raramente algumas fêmeas), que podem ser de uma só

    espécie ou mais de uma, juntas. Eles podem também fazer buracos no chão ou

    utilizar folhas enroladas.

    Agregados

    São formados quando vários ninhos são fundados bem próximos mas

    por abelhas independentes e solitárias. Esses agregados são facultativos, mas

  • 26 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    para algumas espécies são bastante característicos. Ocorrem mais comumente

    em espécies que nidificam no solo; podendo também ocorrer em espécies que

    nidificam em madeira e em espécies que constroem células expostas.

    Ninhos parasociais São formados por colônias pequenas, constituídas por abelhas de uma

    única geração que têm uma entrada comum para os ninhos. Podem ser de três

    tipos:

    Ninhos comunais Em algumas espécies, eventualmente, as fêmeas têm uma parte da

    entrada dos ninhos em comum, contudo cada abelha tem o seu próprio ninho,

    ou seja, o seu conjunto individual de células dentro do ninho. Entre estas

    abelhas não existe cooperação, somente uma entrada comum para os ninhos.

    Osmia rufa pode formar associações comunais, enquanto algumas espécies

    como Andrena bucephala e Andrena ferox têm este comportamento

    estabelecido (O’TOOLE & RAW, 1991).

    Abelhas quase-sociais Neste tipo de associação existe uma entrada única para os ninhos,

    como nas comunais, porém já acontece algum tipo de colaboração entre estas

    fêmeas, como, por exemplo, quando uma começa um trabalho de construção

    ou aprovisionamento de uma célula e outra pode terminar ou quando algumas

    fêmeas, cooperativamente, constroem e aprovisionam uma célula (a postura,

    entretanto, é realizada apenas por uma fêmea). Algumas espécies encontradas

    na Índia do gênero Nomia e espécies de Exomalopsis que ocorrem no novo

    mundo e nos Estados Unidos são exemplos de abelhas quase-sociais.

    Abelhas semi-sociais Nestas abelhas há uma ou mais fêmeas fecundadas que põem ovos e

    outras fêmeas com ovários não desenvolvidos e não fertilizados. Uma

    característica típica de colônias semi-sociais, além da divisão de trabalho, é

    que, ao se abrir um ninho, encontra-se apenas uma célula sendo construída e

    aprovisionada, embora várias abelhas estejam coletando provisões. Abelhas

  • 27 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    da espécie Augocloropsis sparsilis e do gênero Pseudaugocloropsis, ambas

    dos neotrópicos, são exemplos de abelhas semi-sociais.

    Abelhas Subsociais

    As colônias subsociais são fundadas por uma única fêmea que constrói,

    aprovisiona, realiza postura em suas próprias células e alimenta as larvas

    progressivamente. Tipicamente a mãe morre quando a prole torna-se adulta,

    ou seja, existe algum cuidado maternal com a prole diferentemente de abelhas

    parasociais, nas quais a fêmea morre antes da prole emergir das células.

    Exemplos de abelhas subsociais estão nas tribos Ceratinini e Allodapini

    (Anthophoridae) (O’TOOLE & RAW, 1991).

    Abelhas Eussociais São compostas, geralmente, por duas gerações adultas; uma fêmea

    fecundada (rainha), que somente realiza postura e um grupo de fêmeas não

    fecundadas que realizam diversos trabalhos como construção de células,

    aprovisionamento e coleta de pólen e néctar. Dividem-se em: primitivamente

    eussociais e altamente eussociais.

    As colônias primitivamente eussociais caracterizam-se por possuírem rainhas e operárias que se distinguem apenas fisiologicamente e

    comportamentalmente. Uma rainha jovem, neste caso, é capaz de fundar um

    ninho sozinha, realizando todas as funções até que nasçam as operárias.

    Depois, a fêmea que fundou o ninho passa a ser dominante e a realizar

    somente a postura, enquanto as outras abelhas fazem as outras atividades da

    colônia. O melhor exemplo de abelha primitivamente eusocial são as espécies

    do gênero Bombus e depois as abelhas lambedoras de suor da família

    Halictidae, principalmente os gêneros Lasioglossum e Halictus.

    Nas colônias altamente eussociais, as rainhas se distinguem das operárias também pelo tamanho (tendo o abdome bem maior) e não são

    capazes de realizar qualquer tarefa, além de por ovos. Quando uma rainha

    nova vai fundar um ninho, isso acontece por enxameagem, ela leva consigo um

    grupo de operárias do antigo ninho.

  • 28 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    A questão fundamental no caso de insetos sociais é de quem reproduz e

    quem desiste de reproduzir por si próprio e, ao invés disto, ajuda a criar a prole

    de outra fêmea na colméia. Esta divisão de trabalho na reprodução dentro de

    colméias depende da capacidade de uma (ou poucas) fêmea(s) de

    monopolizar a reprodução e "convencer" as fêmeas companheiras a aceitar o

    papel de operária.

    7.2 NIDIFICAÇÃO

    A construção dos ninhos das abelhas é extremamente importante, visto

    que ali passarão a maior parte da vida, a rainha realizará postura e as abelhas

    cuidaram da cria imatura. Os processos de construção variam na medida em

    que consideramos níveis de sociabilidade mais distantes evolutivamente.

    Das espécies solitárias as subsociais não encontramos diferenças

    marcantes nos hábitos de nidificação. A escolha do local para a construção do

    ninho vai depender de um substrato adequado, fontes de pólen, néctar e água

    e algumas vezes de certos tipos de plantas para fornecer folhas, fibras ou

    resina.

    As abelhas solitárias geralmente nidificam no solo, algumas espécies

    escavam canais em gravetos e ramos ou na madeira sólida. Podem também

    utilizar buracos ou frestas e ninhos abandonados por outras abelhas ou

    vespas.

    A parte principal do ninho (muitas vezes é o próprio ninho) é a célula onde

    a abelha deverá se desenvolver. Ela tem geralmente formato ovalado e pode

    ser impermeabilizada em seu interior com secreções glandulares da sua

    construtora antes de receber as provisões e o ovo.

    O número de células e variável; elas apresentam-se interligadas por um

    canal que conduz até a saída do ninho.

    Na família Apidae, a subtribo Euglossina também apresenta

    comportamento solitário ou parassocial. As células, porém, podem apresentar-

    se em agregado.

    A subtribo Bombina, primitivamente eussocial, já apresenta em seus

    ninhos estruturas para a estocagem de alimento consumido pelos adultos do

    ninho. Faz seus ninhos em buracos próximos a superfície do solo. Uma

  • 29 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    característica diferenciada é o fato de em apenas uma célula vários ovos serem

    postos juntos. À medida que as larvas eclodem e vão crescendo, as operárias

    vão aumentando o tamanho da célula, até que cada larva teça seu próprio

    casulo.

    Os ninhos mais complexos estão nas subtribos Apina e Meliponina que

    são altamente eussociais, cuja estrutura, locais de nidificação são bastante

    variados.

    7.2.1 ESTRUTURA DOS NINHOS

    Os locais procurados pelas abelhas para construírem seus ninhos são

    geralmente ocos de troncos ou ramos de árvores, moirões de cercas, esteios

    etc, enfim, cavidades fechadas. Algumas, porém, como Trigona spinipes e

    outras espécies de Trigona (Irapuá, abelhas-cachorro) constroem seus ninhos

    completamente expostos. Em espécies de Partamona os ninhos são semi-

    expostos, podendo ser construídos em cavidades amplas, moitas de

    samambaias ou ainda em ninhos de pássaros abandonados. Existem também

    os ninhos subterrâneos das mulatinhas-do-chão (Schwarziana quadripunctata),

    mirim-do-chão (Paratrigona spp), Mandaçaia-do-chão (Melipona

    quinquefasciata) e mombuca (Geotrigona spp) que podem ser construídos em

    formigueiros abandonados ou cavidades existentes entre raízes de plantas

    (figura 13). As Jataís (Tetragonisca angustula), Iraís (Nanotrigona

    testaceicornis) e algumas mirins (Plebeia spp), que nidificam preferencialmente

    em troncos, podem ser encontradas também em muros de concreto, cavidades

    de barranco, construções, etc. Outras que também nidificam em troncos como

    mandaçaia (Melipona quadrifasciata), pé-de-pau (Melipona bicolor) e mesmo a

    Jataí tem sido encontradas em cupinzeiros.

    Para construir os favos, potes de alimentos, o invólucro, a maioria das

    espécies utiliza cera e resina vegetal (cerúmem); algumas como Mosquito

    (Leurotrigona muelleri) e Trigonisca sp utilizam cera pura. Aquelas que

    constróem ninhos expostos como Trigona spinipes utilizam freqüentemente

    materiais vegetais macerados e resina; e as de ninhos semi-expostos como

    Partamona, utilizam barro e fezes.

  • 30 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    O ninho apresenta uma entrada de cera ou barro que tem um papel

    importante na orientação das abelhas. É seguida por um canal de própolis que

    leva aos potes de alimento. Em Partamona, entre a entrada e o ninho

    propriamente dito, há um falso ninho, chamado de vestíbulo, que tem função

    de defesa, desorientando predadores e parasitas. Em meliponíneos potes de

    alimento são geralmente ovalados e quando o ninho contém muito alimento os

    potes são muitos, lembrando um cacho de uvas (figura 14 e 15).

    A moça-branca (Frieseomelita varia) constrói seus potes de pólen

    alongados, como cones, e os de mel ovalados. Em Apis mellifera, o alimento é

    armazenado em favos idênticos aos da cria. Os favos de cria podem ser

    verticais, como em Apis melifera em um único meliponíneo, Dactylurina

    staudingeri. As demais espécies apresentam favos horizontais como Jataí,

    Partamona, Iraí, etc, ou em cacho como em moça-branca, mocinha-preta

    (Frieseomellita silvestrii), mosquito (Leurotrigona muelleri). Existem também

    favos que apresentam uma transição entre horizontais e em cachos, às vezes

    espiralados, como em mirim-preguiça (Friesella schrotckyi). Pilares de

    cerúmem mantêm os favos suspensos, sem contato com o chão do ninho.

    Algumas espécies apresentam um invólucro de cerúmem formado por várias

    lamelas, que tem função termorreguladora, como em Partamona, Jataí, etc

    (figura 16).

    Figura 13 – Estrutura de ninho subterrâneo.

  • 31 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    Figura 14 – Entradas de ninhos de mandaçaia, irai e jataí da terra.

    Figura 15 – Entradas de ninhos arapuá, mirim, jataí.

  • 32 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    Figura 16 – Estrutura geral do ninho de meliponíneo.

  • 33 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    7.3 MECANISMO DE DETERMINAÇÃO DE CASTAS

    As castas em insetos sociais são caracterizadas por diferenças

    morfológicas, fisiológicas e comportamentais entre fêmeas que vivem juntas

    em uma mesma colônia (semisocial, eussocial primitivo, altamente eussocial).

    Nas abelhas altamente eussociais (Apina e Meliponina), as diferenças

    morfológicas, fisiológicas e comportamentais são marcantes, existindo uma

    forte simbiose entre as castas, que apresentam um alto grau de especialização

    entre as mesmas, uma depende da outra e vice-versa (MICHENER, 1974).

    O desenvolvimento das castas nos insetos sociais, em geral, está

    relacionado com o amplo fenômeno de polimorfismo (várias formas) nos

    insetos (figura 17). Em abelhas, o polimorfismo de castas envolve basicamente

    a população feminina. Tal população é dividida entre rainhas e operárias:

    Operárias: são as fêmeas estéreis ou semi-estéreis, responsáveis pela alimentação da cria e da rainha, coleta de alimento, limpeza, construção de

    alvéolos e demais partes do ninho, defesa e, em alguns casos, pela postura de

    ovos que darão origem a machos ou ovos que servirão de alimento à rainha

    (ovos tróficos, como ocorre em Melipona e Trigona).

    Rainha: fêmea fértil; é a principal produtora de ovos; nas abelhas eusociais avançadas, a interdependência entre as castas é bem estreita, sendo

    a rainha incapaz de cuidar da cria ou de fundar sozinha, uma nova colônia; do

    mesmo modo, as operárias não sobrevivem sem a presença da rainha

    (MICHENER, 1974).

    Nos Hymenoptera sociais em geral e nas abelhas em particular, a

    quantidade de alimento é um fator muito importante no processo de

    determinação das castas (WILDE & BEETSMA, 1982). A seguir são

    apresentados alguns mecanismos indutores de castas (MICHENER, 1974):

    a) Comportamental: neste caso não há, entre as fêmeas, diferenças morfológicas ou genéticas; é o que ocorre, por exemplo em

    Lasioglossum zephyrum, onde uma fêmea torna-se dominante com

    relação às demais devido a seu tamanho.

  • 34 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    b) Trofogênico: neste caso há diferenças morfológicas entre as fêmeas, mas tanto operárias como rainhas originam-se de ovos com a

    mesma constituição genética; é o que ocorre, por exemplo, em Apina

    e Meliponina exceto gênero Melipona; sendo a quantidade de

    alimento ingerido pela larva de rainha, maior que a quantidade de

    alimento ingerido pela larva de operária.

    c) Genético-alimentar: neste caso, ovos que apresentam diferença na constituição genética associada à quantidade suficiente de

    alimento dão origem a rainhas. Este mecanismo é proposto para

    abelhas do gênero Melipona, (KERR 1946, 1948).

    Figura 17- Fases do desenvolvimento de meliponíneos e Apis

    Favovertical de Apis mellifera com: a) ovo, b) larva jovem, c) larva velha, d) pré-pupa, e) pupa

    a a

    b

    c

    d

    e

    Células de cria com alimento larval e ovo

  • 35 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    7.3.1 MECANISMO DE DETERMINAÇÃO DE CASTAS EM ABELHAS DAS SUBTRIBO APINA E MELIPONINA

    O mecanismo básico de determinação das castas em Apis mellifera é

    regulado pela quantidade e pela qualidade do alimento (BEETSMA, 1979).

    Além destas diferenças na quantidade e na qualidade do alimento, oferecido às

    larvas de rainha e operária, as duas castas das abelhas melíferas também se

    desenvolvem em células diferentes. O processo de alimentação das larvas é

    conhecido como progressivo em virtude do fato de as abelhas nutrizes

    depositarem o alimento larval nas células, durante visitas periódicas

    (MICHENER, 1974).

    Segundo WIRTZ & BEETSMA (1972), toda larva fêmea com menos de

    três dias de idade pode se desenvolver em operária, ou rainha, dependendo da

    alimentação, fornecida pelas abelhas nutrizes (figura 18).

    Figura 18: Realeiras de Apis mellifera e corte de operárias (A-C); rainha fisogástrica e corte de

    meliponíneos (D-E).

    A

    E

  • 36 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    7.3.2 MECANISMO DE DETERMINAÇÃO DE CASTAS EM MELIPONINA

    Em Meliponina, não foi encontrada diferença qualitativa entre o alimento oferecido às larvas que originarão rainhas e aquele oferecido às larvas que originarão operárias (KERR et al., 1966; CAMARGO, 1972). Segundo KERR (1946), o processo de alimentação larval em abelhas indígenas é massal, ou seja, todo alimento é depositado nas células antes da postura do ovo pela rainha (figura 19).

    Figura 19 Operárias aprovisionando célula de cria (a e b) e vista lateral de uma célula fechada

    com alimento larval (seta).

    7.3.2.1 MECANISMO DE DETERMINAÇÃO DE CASTAS NO GÊNERO Melipona

    No gênero Melipona a determinação das castas ocorre por meio de mecanismo genético alimentar (KERR, 1946, 1948, 1969; KERR & NIELSEN, 1966; KERR et al., 1966). Durante a metamorfose (mudança de larva para adulto), só serão rainhas as abelhas que apresentarem este fator genético e receberem uma quantidade de alimento suficiente durante a fase de larva. As demais abelhas pouco alimentadas com ou sem este fator genético darão origem a operárias, sendo que a proporção máxima é 1 rainha para 3 operárias (figura 20 e 21).

    a b c

  • 37 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    Figura 20 – Favo de Melipona com células de rainhas

    Figura 21 Produção constante de rainhas em Melipona (A) e mecanismo genético de

    determinação da casta (B).

  • 38 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    7.3.2.2 MECANISMO DE DETERMINAÇÃO DE CASTAS NOS OUTROS GÊNEROS EXCETO Melipona

    Nos outros gêneros de Meliponina (Trigona, Frieseomelitta,

    Tetragonisca, Scaptotrigona, Nannotrigona, e outros) não há diferenças genéticas relacionadas com o processo de diferenciação das castas entre as larvas que originarão operárias e as que originarão rainhas. A quantidade de alimento recebida pela larva é o fator responsável pela diferenciação das castas. As rainhas emergem de células maiores (chamadas usualmente de realeiras) e recebem mais alimento que as operárias (figura 22) (KERR, 1948; DARCHEN & DELAGE-DARCHEN, 1971; CAMARGO, 1972; SILVA, 1973).

    Figura 22: Realeira de jataí – Tetragonisca angustula

    7.4 CONTROLE DA REPRODUÇÃO

    As principais diferenças anatômicas entre as castas geradas neste

    processo estão concentradas no sistema reprodutor, no tamanho dos ovários,

    número de ovaríolos e presença de espermateca. Além disso, foram

    descobertas diferenças fisiológicas entre as operárias e rainhas, especialmente

    na produção de vitelogenina (proteína do ovo – vitelo).

    Ovários de rainhas de Apis mellifera apresentam número de ovaríolos

    muito alto em relação ao de operárias. Nos meliponíneos a rainha e as

    operárias tem o mesmo número de ovaríolos (geralmente, 4 por ovário), porém

    o seu comprimento difere enormemente.

    Mauro Prato

  • 39 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    Às rainhas cabe a produção de ovos e às operárias todo o trabalho de

    manutenção da colônia e, em raras circunstâncias, adotam funções

    reprodutivas.

    Nas colônias de Apini (Apina e Meliponina), o controle sobre as

    operárias se dá por feromônio da rainha (KELLER & NONACS, 1993).

    7.4.1 DIVISÃO DE TRABALHO EM ABELHAS SOCIAIS

    Castas e divisão de trabalho estão no âmago da organização social em

    insetos sociais. Uma das principais características que diferenciam insetos

    sociais dos demais é a sua organização social, existe uma diferenciação de

    membros em castas, sendo esta um critério essencial da sociabilidade, a

    divisão de trabalho baseada nas castas e a coordenação e integração das

    atividades que produzem um modelo total do comportamento além de

    estender-se a uma simples agregação dos indivíduos (OSTER & WILSON,

    1978).

    Operárias de Apis apresentam 4 estágios progressivos durante 4-7

    semanas de vida após a emergência, iniciando a limpeza das células, seguido

    de alimentação e cuidado com a rainha, armazenamento de alimento e

    finalmente, forrageamento (ROBINSON, 1987 e ROBINSON, 1992). Seguindo

    a seqüência de vida na colméia nas primeiras 3 semanas, o subseqüente

    forrageamento, impõe uma mudança no comportamento nas operárias que

    normalmente não são reversíveis (ROBINSON, 1987).

    As fêmeas em abelhas eusociais estão acompanhadas por uma

    aparente associação de um hormônio (hormônio juvenil) na regulação da

    divisão de trabalho e polietismo etário (ROBINSON & VARGO, 1997). Para que

    uma operária desempenhe uma tarefa são necessários 2 fatores: (a) a

    magnitude da tarefa que afeta o início da exposição à operária; e (b) a resposta

    ao limiar do estímulo associado com a tarefa, por exemplo, a probabilidade de

    resposta a uma dada exposição ou situação (ROBINSON, 1992).

    Dentro da organização social de abelhas sem ferrão é observada a

    atividade de postura de operárias na presença de rainha fisogástrica, bem

    como a divisão de trabalho (tabela 4) é baseada na idade semelhante ao

    observado em Apis (tabela 5) (SOMMEIJER & BRUIJN, 1994).

  • 40 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    Tabela 4 - Divisão de trabalho em colônia de Melipona quadrifasciata (mandaçaia).

    Tabela 5 - Tempo de vida das operárias e as respectivas atividades executadas em Apis mellifera.

    Tempo de vida Atividades Exercidas 1 a 3 dias Fazem a limpeza e reforma polindo os alvéolos

    3 a 7 dias Alimentam com mel e pólen as larvas com mais de três

    dias

    7 a 14 dias Alimentam as larvas com idade inferior a três dias com geléia real. Também neste período, algumas cuidam da

    rainha 12 a 18 dias Fazem limpeza no lixo da colméia 14 a 20 dias Segregam a cera e constróem os favos

    18 a 20 dias Defendem a colméia contra inimigos e contra o apicultor

    desprevenido 21 dias em diante Trazem néctar, pólen, água e própolis, até a morte

  • 41 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    7.4.2 PRODUÇÃO DE MACHOS EM MELIPONÍNEOS

    Nos Hymenoptera a determinação do sexo ocorre por partenogênese

    arrenótoca, quer dizer, o tipo de reprodução que se caracteriza por ovos não

    fecundados darem origem a machos (haplóides) e os fecundados a fêmeas

    (diplóides) (DZIERZON, 1845 apud WOYKE, 1986).

    A produção de machos ocorre de modo cíclico nos meliponíneos (BEIG,

    1972 e SILVA, 1973). Em certas épocas, as operárias realizam posturas após a

    rainha, sendo que este ovo posto pela operária dará origem a um macho, que

    com fases embrionárias mais curtas, estas larvas eclodem antes, matando a

    larva originada do ovo da rainha (SAKAGAMI et al., 1965).

    Geralmente, encontramos machos nas épocas em que há bastante

    alimento e presença de células reais, sinal que haverá em breve fecundação

    de rainhas virgens. Os machos são menores e não possuem corbícula,

    existente nas pernas traseiras das operárias, utilizadas para coleta de pólen

    das flores. Nas épocas de acasalamento os machos fazem agregações

    próximas à entrada do ninho onde esta a rainha virgem (figura 22)

    Figura 22: Agregado de machos de jataí (Tetragonisca angustula)

    7.5 COMUNICAÇÃO E ORIENTAÇÃO DAS ABELHAS

    As abelhas possuem um sofisticado processo de orientação e de

    comunicação que é baseado, principalmente, na posição do sol. Porém essa

    comunicação varia de acordo com a espécie da abelha (figura 23).

  • 42 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    Para retornar à colméia, as campeiras aprendem a situar sua habitação

    assim que fazem os primeiros vôos de treinamento e reconhecimento. É

    importante saber que todas as abelhas possuem a rara propriedade de

    enxergar a luz do sol (que é seu referencial mesmo nos dias nublados e

    encobertos), graças a sua sensibilidade à radiação ultravioleta emitida pelo sol.

    As abelhas, nem sempre utilizam o mesmo sistema de orientação, para guiar

    suas companheiras em relação às fontes de alimento recém descobertas.

    Neste caso, quando querem informar sobre a localização e fontes de alimentos,

    algumas abelhas campeiras transmitem a informação por meio de um sistema

    de dança. Em Apis mellifera quando a fonte de alimento está situada a menos

    de cem metros da colméia, a campeira executa uma dança em círculo, e,

    quando a fonte de alimento está localizada a mais de cem metros, a campeira

    dança em requebrado. Nas duas situações, a campeira indica a direção da

    fonte de alimento pelo ângulo da dança, em relação ao por do sol.

    Figura 24: Raio de vôo em algumas espécies em algumas espécies de meliponineos em comparação com Apis mellifera

  • 43 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    7.5.1 COMUNICAÇÃO EM ALGUMAS ESPÉCIES DE MELIPONÍNEOS

    Existem espécies em que as campeiras chegam com alimento correndo em

    ziguezague e produzindo um som que estimula a saída de outras abelhas, e,

    estas, por sua vez, vão à procura da fonte que tenha o mesmo odor do

    alimento trazido pelas primeiras. Isso ocorre com as abelhas Jataí, Mirim e

    Mosquito.

    As abelhas do gênero Trigonisca (jataí), Frieseomelitta (marmelada), e

    Duckeola informam sobre a fonte de alimento correndo e batendo nas

    companheiras, soltando o cheiro do alimento.

    A espécie Iraí também reparte o alimento produzindo um som característico,

    e quando um grupo de aproximadamente 50 abelhas já “conhece” o odor do

    alimento e o som, esse grupo sai em busca de nova fonte.

    Em espécies de Partamona, a campeira vai até a colméia, estimula a saída

    de outras campeiras e vai guiando-as até a fonte liberando uma substância

    produzida por uma glândula mandibular para orientá-las.

    Outras espécies podem guiar-se apenas pelo som, para indicar a distância

    da fonte até a colméia, como a Melipona, ou ainda, guiar-se apenas pelo odor

    da amostra de alimento trazida pela primeira coletora (figura 25).

    Figura 25: Tipos de comunicação para indicar um recurso alimentar entre as abelhas. a) Melipona, b)Scaptotrigona spp, c) Partamona spp, d) Apis mellifera.

  • 44 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    7.5.2 AS TRILHAS DE CHEIRO O mecanismo mais complexo de orientação até a fonte de alimento em

    meliponíneos é o das trilhas de cheiro, observadas em Mandaguari, Caga-Fogo

    e Mombuca, dentre outras (figura 26). A coletora que encontra a fonte volta a

    colméia fazendo marcas na vegetação com secreção de sua glândula

    mandibular. As outras coletoras se guiam, então, pelo odor de sua secreção.

    Figura 26 Trilhas de cheiro em meliponíneos

  • 45 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    7.6 OS PROCESSOS DE ENXAMEAÇÃO

    Em Meliponíneos, quando uma nova rainha é produzida em um ninho, se

    a rainha já existente estiver realizando postura ativamente, inicia-se o processo

    de enxameagem. Algumas operárias saem à procura de um local adequado

    para a construção de um novo ninho. Depois de encontrarem, elas começam a

    trazer cera da colônia-mãe, para vedar as frestas e construir a entrada do

    ninho, os potes de alimento e outras estruturas. Trazem também pólen e mel

    da colônia-mãe. Depois de pronto, a nova rainha ainda virgem vem para o

    ninho junto com as operárias. Vários machos expulsos de várias colônias,

    inclusive da colônia-mãe vão se concentrando próximos ao novo ninho,

    esperando que a rainha virgem saia para realizar o vôo nupcial. Ela copula com

    apenas um macho e depois de fecundada, seus ovários se desenvolvem e ela

    começa a por ovos.

    Mesmo depois do estabelecimento do novo ninho as operárias podem

    continuar transportando materiais da côlonia-mãe por algum tempo.

    Em Apis o processo é bem diferente. Rainhas adicionais são criadas e

    antes que estas nasçam (ainda em estágio de pupas) a rainha velha, parte da

    operárias e zangões deixam a colméia voando em enxame e procuram um

    novo abrigo para se instalarem. Das rainhas produzidas pela colônia-mãe, uma

    permanece, acasala-se e põe ovos. As demais podem partir com outros

    enxames no período de uma semana.

    A saída do enxame é precedida de "corridas de zumbidos". As operárias

    correm em linha reta, pelo favo, vibrando e tocando outras abelhas que

    também iniciam corridas de zumbido ocasionando uma perturbação e excitação

    generalizada que leva à saída do enxame. Parte das abelhas que sai com o

    enxame retornam à colônia-mãe, e apenas metade delas continua. Os

    feromônios produzidos pelas glândulas de Nasanov das operárias são

    responsáveis por guiar o enxame no vôo e no pouso; e os produzidos pelas

    glândulas mandibulares da rainha (o ácido 9-oxo-trans-2-decenóico é o

    principal), são responsáveis por manter a coesão do enxame.

    Quando uma escoteira (abelha que voa à frente do enxame) descobre um

    bom local para a instalação do enxame, comunica às demais com uma dança

    semelhante àquela que informa sobre a fonte de alimentos.

  • 46 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    8. CRIAÇÃO RACIONAL

    A criação racional de meliponíneos pode ser chamada de

    meliponicultura. Esta atividade é importante porque é uma atividade

    sustentável que conserva o meio ambiente, é viável economicamente e é

    socialmente justa.

    A criação de meliponíneos deve ter os seguintes passos:

    1- Escolher a espécie de abelha que você vai criar. 2- Escolher o lugar para montar o meliponário.

    3- Montagem do meliponário

    4- Conseguir as colônias (transferência). 5- Cuidar das colônias (manejo). 6- Aumentar o número de colônias (divisão).

    Meliponário: lugar onde ficam as colméias de meliponíneos. Colônia: no caso das abelhas, indivíduos filhos de uma mesma

    rainha que vivem no mesmo grupo.

    Colméia: caixa onde se coloca uma colônia. 8.1 ESCOLHENDO A ESPÉCIE DE ABELHA

    Escolha espécies da sua região dê preferência para aquelas que tenham

    uma grande quantidade de colônias na natureza (para evitar a

    consangüinidade, isto é, que uma rainha virgem seja fecundada por um macho

    filho da mesma rainha, ou seja, seu irmão). Escolha as espécies mais mansas

    Pode-se criar abelhas para polinização, preservação, ensino e para produção

    de mel. Caso você queira abelhas para conseguir mel, escolha espécies que

    fazem um mel limpo. Algumas espécies coletam fezes para proteção do ninho,

    por isso o mel delas fica contaminado e não serve para consumo, como a

    arapuá (Trigona spinipes) e a feiticeira (Trigona, por exemplo; portanto, não

    escolha das colméias organização das colméias

    {

  • 47 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    são indicadas para a criação visando a produção de mel. Lestrimelitta limao – a

    abelha limão ou iratim – também não é indicada porque seu mel é considerado

    tóxico, além disso, ela pilha o ninhos de outras abelhas para obter o seu

    alimento. Oxytrigona tataira – a caga-fogo – é outra espécie que não é

    recomendada na criação racional porque ela libera um líquido que pode causar

    queimaduras.

    Recomendamos de início que você use a jataí por ser uma espécie que

    ocorre em todo o Brasil, é mansa, bastante rústica, está bem ambientada em

    áreas urbanas e produz um ótimo mel.

    8.2 ESCOLHENDO O LUGAR DO MELIPONÁRIO

    Escolha um lugar onde existam plantas com flores que oferecem

    alimento para as abelhas (pólen e néctar). Se necessário, monte um pasto

    apícola.

    O local do meliponário deve ser protegido do excesso de ventos fortes,

    de umidade, de frio e sol.

    Recomenda-se que seja um local de fácil acesso e que facilite a

    observação das colméias tanto para evitar roubos, como para verificar a saúde

    das colônias (manejo).

    8.3 MONTANDO O MELIPONÁRIO A montagem do meliponário pode ser feita em duas partes: 8.3.1 - Escolha do modelo de colméia a ser usado.

    O modelo deve ter as medidas que facilitem a colônia sobreviver e

    trabalhar bem, e ainda que agilize o seu manejo.

    Existem vários modelos de colméia. Mostramos aqui alguns modelos. As

    medidas dessas colméias são para jataí uma abelha com tamanho da área de

    cria médio (figuras 27, 28, 29, 30, 31 e 32).

  • 48 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    Figura 27: Modelo de caixa simples (Cúbica) Figura 28: Modelo do professor Paulo Nogueira Neto (PNN) (Desenho de Francis Martin

    Pedreira)

  • 49 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    Figura 29 : Modelo PNN, vista de fora, depois de montada e pronta para ser usada (Desenho de Francis Martin Pedreira)

  • 50 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    Figura 30: Modelo da Universidade Federal de Viçosa

  • 51 _______________________________________________Abelhas para a melhor idade

    Figura 31: Modelo Sobenko (redesenhado com autorização da Revista Mensagem Doce nº42

    jul. 97)

    Qualquer que seja o modelo o volume recomendado para abelhas

    (como a jataí) com área de cria média é de mais ou menos 6 litros. Para

    abelhas com cria pequena (ex. Mirins) o volume é mais ou menos 3 litros. Já

    para abelhas com cria grande (ex. mandaçaia) mais ou menos 10 litros.

    Recomendamos que as colméias sejam pintadas para dar mais proteção

    contra chuva e sol. Pinte só por fora, a tinta é tóxica para as abelhas. Dê a primeira mão com tinta branca à base d’água. A segunda mão com tinta látex

    de cor clara. Para ajudar, cubra as colméias com telhas, preferindo as de barro.

  • 52 Abelhas para a melhor idade_______________________________________________

    8.3.2- Distribuição das colméias.

    • As colméias devem ficar numa distância que evite atrito entre as abelhas

    de diferentes colônias.

    • As colméias devem ficar em uma altura que facilite o manejo com

    segurança. Veja alguns tipos de suporte na figura 32:

    As colméias devem ficar protegidas do excesso de sol, de umidade e

    ventos. Coloque as colméias de um jeito que elas peguem sol pela manhã e

    sombra de tarde. Ou que seja um lugar de meia luz. Deixar as colméias perto

    de árvores que perdem as folhas no inverno também é uma boa idéia.

    A distribuição de colméias em lugares como jardins, pode ajudar o

    e