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10 Introdução No século XIX a Avenida Paulista é concretizada o grande fenômeno urbanístico de São Paulo. Os ricos senhores do café e da nascente, burguesia comercial, industrial e financeiro construíram elegantes casarões, de uma beleza arquitetônica incomum. No início do século XX a modernidade chega à Paulista. Inicia-se o processo de verticalização. Seus casarões começam a ser substituídos por edifícios residenciais. A Avenida ganha nova personalidade: surgem conjuntos comerciais e de serviços, galerias e lojas de departamentos. Constroe-se o Masp e o complexo viário tem seu trecho final completando o novo perfil com as obras de alargamento. A Paulista transforma-se em centro comercial, residencial, cultural e de lazer. A visão de futuro da Paulista possibilitou à avenida suportar, nas duas últimas décadas, radicais processos de transformação, embora o adensamento urbano e as decorrentes solicitações de transporte tivessem alterado suas relações orgânicas com a cidade. A Paulista continua sendo importante centro das atenções políticas, econômicas e culturais da cidade, por onde circulam mais de um milhão de pessoas e mais de cem mil veículos por dia. Cinemas, museus, centros culturais, bancos, empresas nacionais e internacionais, edifícios de alta tecnologia e as sofisticadas estações do ramal metroviário traduzem sua função de referencial de metrópole primeiro mundista. Em 1990, a população de São Paulo elegeu a Avenida Paulista “Símbolo da Cidade”.(1) Sendo considerada símbolo da cidade, onde se funde a beleza arquitetônica dos barões do passado juntamente com as construções modernas, pode-se observar a quantidade de propaganda, informação, sinalizações que são expostas em suas vias, em seus interiores e nos prédios. O excesso de visibilidade que gera a invisibilidade causando uma incomunicabilidade, esse ponto que tomei como meu objeto de pesquisa na Avenida Paulista. Nota: (1) www.paulistanet.com.br

Introdução · leitura da cidade é não-verbal, ... ousadia. Espero, com esta pesquisa, ... interagia no espaço de forma colaborativa ou artística

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Introdução

No século XIX a Avenida Paulista é concretizada o grande fenômeno

urbanístico de São Paulo. Os ricos senhores do café e da nascente, burguesia

comercial, industrial e financeiro construíram elegantes casarões, de uma beleza

arquitetônica incomum.

No início do século XX a modernidade chega à Paulista. Inicia-se o

processo de verticalização. Seus casarões começam a ser substituídos por

edifícios residenciais. A Avenida ganha nova personalidade: surgem conjuntos

comerciais e de serviços, galerias e lojas de departamentos. Constroe-se o Masp

e o complexo viário tem seu trecho final completando o novo perfil com as obras

de alargamento. A Paulista transforma-se em centro comercial, residencial,

cultural e de lazer.

A visão de futuro da Paulista possibilitou à avenida suportar, nas duas

últimas décadas, radicais processos de transformação, embora o adensamento

urbano e as decorrentes solicitações de transporte tivessem alterado suas

relações orgânicas com a cidade. A Paulista continua sendo importante centro das

atenções políticas, econômicas e culturais da cidade, por onde circulam mais de

um milhão de pessoas e mais de cem mil veículos por dia. Cinemas, museus,

centros culturais, bancos, empresas nacionais e internacionais, edifícios de alta

tecnologia e as sofisticadas estações do ramal metroviário traduzem sua função

de referencial de metrópole primeiro mundista. Em 1990, a população de São

Paulo elegeu a Avenida Paulista “Símbolo da Cidade”.(1)

Sendo considerada símbolo da cidade, onde se funde a beleza

arquitetônica dos barões do passado juntamente com as construções modernas,

pode-se observar a quantidade de propaganda, informação, sinalizações que são

expostas em suas vias, em seus interiores e nos prédios. O excesso de

visibilidade que gera a invisibilidade causando uma incomunicabilidade, esse

ponto que tomei como meu objeto de pesquisa na Avenida Paulista.

Nota: (1) www.paulistanet.com.br

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A cidade vista como um sistema de comunicação, portanto emissora de

mensagens, deve garantir a recepção para o usuário. A forma como o espaço é

compreendido é dado por meio da representação. As obras arquitetônicas são

maneiras pelas quais um espaço é interpretado e em seguida mostrada por meio

do olhar do indivíduo que o criou.

A cidade quando planejada é pensada por seus edifícios, arranhas céus,

praças, tem-se uma visão panorâmica, uma vista externa, onde as ruas são

apenas espaços de ligação entre estes pontos.

A contribuição de todos os meios de comunicação é, uma pálida imagem do

que pode ser a comunicação humana, quando supera ou dispensa o apoio da

palavra como recurso competente. Mesmo a tecnologia sendo facilitadora da

comunicação não pode dispensar um ou mais código, ou seja, o sistema

convencional de signos ou traços distintivos organizados para construção e

compreensão de uma mensagem. O código é o grande precursor da comunicação

entre um emissor e um receptor.

A prática humana está sempre interferindo nos elementos do sistema

social, econômico e cultural, seja para confirma-lo ou altera-lo, mas para isso é

necessário estar representado através de signos. O modo de representação é o

significado do próprio sistema, estando relacionado com o social, econômico e

cultural, a estrutura informacional constitui um dos elementos básicos de

apreensão do real.

A estrutura informacional não precisa ser exclusivamente verbal, por

exemplo, os trajes usados, o meio de transporte adotado, dizem, sem palavras,

nossas preferências e revelam o que queremos que pensem de nós. Estes signos

são linguagens não-verbais altamente eficiente no mundo da comunicação

humana. [...] “Toda codificação é representação parcial do universo, embora

conserve sempre, no horizonte da sua expectativa, o desejo de esgota-lo”.

(FERRARA; 2001:7).

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A capacidade representativa de uma linguagem é tanto mais segura e

exaustiva em relação ao objeto representado quanto mais se apoiar na

capacidade perceptiva de cada sentido particular.

Os signos são denominados ícones, índices ou símbolos tendo em vista a

relação do objeto que representa: um ícone é sempre o signo de uma qualidade

do objeto; um índice é realmente afetado pelo objeto que representa e tem,

portanto, com ele uma relação direta, o símbolo liga-se ao objeto que representa

com a força de uma convenção, de uma lei.

[...] Identificar e definir a natureza de um signo, a relação que mantém

com o objeto representado, a atuação possível de um interpretante na

prática relacional que estabelece entre o modo de representação de um

signo e seu objeto, parcial ou totalmente representado, constitui condição

imprescindível para que se estabeleçam os padrões característicos de

uma linguagem. Ao estudo dessa lógica dá-se o nome de semiótica.

(FERRARA; 2001;11).

Dentro desse pensamento da semiótica farei uma breve leitura crítica dos

sistemas de comunicação na Avenida Paulista.

O tema escolhido a princípio trouxe uma grande inquietação. Falar da

imagem da cidade como incomunicação, parece-me complexo. A incomunicação

caminha junta com a comunicação, ou seja, ela esta presente em nossa vida

todos os dias e não percebemos, ou fingimos não perceber. À medida que ia

aprofundando a pesquisa percebia o quanto nosso olhar se perde com o passar

dos anos e com a evolução de nossa sociedade.

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A forma encontrada para descrever tal fato foi falar primeiramente do

desenvolvimento da cidade, a qual classifiquei em três categorias: Cidade do Belo,

Cidade do Tempo Acelerado, Cidade do Tempo Real.

Nesse trabalho descrevo sobre a Cidade do Belo – é olhar para uma cidade

feita para ser vistas de perto, por alguém que anda devagar e pode observar os

detalhes das coisas. Um prédio é construído para ser observado por quem passa

na calçada, a pé, ele é um ornamentado. Através de suas formas arquitetônicas,

podemos saber o que ele nos diz, o que ele é.

Na Cidade do Tempo Acelerado – a velocidade provoca, para aquele que

avança num veículo, um achatamento da paisagem. Quanto mais rápido o

movimento, menos profundidade as coisas têm, mais chapadas ficam, o

observador se coloca como se estivesse contra um muro, contra uma tela. A

cidade contemporânea corresponderia a este novo olhar. Os seus prédios e

habitantes passariam pelo mesmo processo de superficialização, a paisagem

urbana se confundiria com outdoors. O mundo se converte num cenário, os

indivíduos em personagens. Cidade-cinema. Tudo passa a ser imagem.

A Cidade do Tempo Real – traz um universo feito de imagens, o real não

tem mais origem nem realidade. Com esta proliferação das imagens, entramos na

era da produção do real. Aquilo que era pressuposto do olhar é agora o seu

resultado, ou seja, não precisamos nem pensar, pois as imagens já vêm

codificadas. A repetição o excesso da imagem causa a perda do sentido, o olhar

torna-se vazio e o corpo não percorre mais a cidade e sim navega por entre suas

vias de fluxos velozes.

Após essa reflexão me volto sobre a Imagem e Cidade, busco

contextualizar a imagem no contexto urbano, ou seja, a cidade enquanto

representação, enquanto imagem e espetáculo. Esse é resultado da

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representação do real, do quotidiano desta cidade e da relação usuário/espaço

urbano.

Enfim chego a “Incomunicação” tomando a Avenida Paulista e suas

Imagens a cidade passa a ser um cenário. No qual os habitantes não têm um

lugar, estão sempre indo de um lado para outro, e criam para si um lugar

imaginário. Esse espaço é Constituído por painéis decorados, para serem vistas

da janela de um veículo, a cidade é um mundo de fantasia.

Os Efeitos e Conseqüência da Incomunicação - se faz notar junto à massa

que vive sedada pelos meios de comunicação, os quais apenas induzem ao

consumismo e a banalidade, não se importando em levar conteúdo. Elementos

que poderiam liberar as pessoas do sedentarismo para que elas deixem de repetir

o que já está esgotada de ver todo o dia, imagem saturada. Os excessos

anestesiam o corpo que parece morto/vivo.

No final do trabalho dentro do Anexo, o leitor terá diversas imagens, as

quais ilustrarão as idéias aqui desenvolvidas. Essas estão agrupadas em cinco

blocos: Construções Artísticas; Cidade, trabalho e locomoção; Cidade

espaço de decisões e congestionamento; Diversos cenários; Avenida

Paulista passado e presente.

Revisão de Literatura

Todo o cidadão possui numerosas relações com alguma parte da cidade e

suas imagens estão impregnadas de memórias e significados.

[...] Os elementos móveis de uma cidade, especialmente as pessoas e as atividades, são tão importantes como as suas partes físicas e imóveis. Não somos apenas observadores deste espetáculo, mas sim uma parte ativa dele, participando com os outros num mesmo palco. Na maior parte

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das vezes, a nossa percepção da cidade não é íntegra, mas sim bastante parcial fragmentária, envolvida noutras referências. Quase todo os sentidos estão envolvidos e a imagem é o composto resultado de todos eles. (LYNCH,1988:12)

A cidade é mensagem à procura de significados que se atualiza em uso. A

leitura da cidade é não-verbal, porém sua didática é uma antididática, na medida

em que nada tem para ensinar e tudo para descobrir. Em termos informacionais,

poluição espacial urbana é um significado determinado pela impossibilidade que o

usuário encontra para apropriar-se do espaço urbano e usa-lo.

[...] Poluição é o significado de um ruído entre ambiente urbano e usuário, e se opõe, portanto, a significado e a ambiente urbano planejado enquanto sistema de comunicação. (FERRARA, 1988:40).

No meio urbano o significados de comunicação tornam-se complexos por

vivermos uma vida corrida, sem tempo a perder, estamos sempre ocupados e

preocupados, não observamos, apenas percorremos o olhar.

[...] Na grande cidade, necessitamos avidamente de tempo. Na ânsia de consegui-lo ou economiza-lo, progressivamente deixamos de ser Flaneures para tornarmo-nos motoristas. Não temos tempo para a observação. Interessamos-nos pelos fatos. Assim a profundidade do espaço urbano gradativamente foi substituída pela superfície dos edifícios, da publicidade, da telas de alta definição. Na cidade vagamos buscando a sublimação do corpo através do aumento da velocidade. (SILVA, 2002:2).

Por tanto na corrida pelo tempo quanto mais nos orgulhamos dos bons

serviços e das qualidades da comunicação, mais a incomunicação ganha força e

ousadia.

Espero, com esta pesquisa, poder ajudar, de alguma maneira, a sociedade.

Movida apenas pela curiosidade, inicio esta pesquisa, acreditando que as

pequenas descobertas, ao longo do extenso percurso, sirvam para responder e

saciar a dúvida, e impulsionar novos estudos sobre o assunto.

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CAP. I

DESENVOLVIMENTO DA CIDADE

1.1 A cidade do belo.

Na “cidade do belo” as construções eram direcionadas para a arte o corpo

interagia no espaço de forma colaborativa ou artística. As roupas, por exemplo,

eram de um bom gosto, vestidos longos trabalhados com bordados e rendas. O

corpo e a arquitetura eram utilizados como suporte, como forma de informação e

poder. Os moradores desfilavam pelas praças contemplando sua beleza e

admirando/participando de um ambiente rico artisticamente.

As construções arquitetônicas brasileiras são grandes fontes de informações

da história do país, a Avenida Paulista é um exemplo. Os ricos senhores do café e

a burguesia construíram elegantes casarões, de um belo arquitetônico incomum.

Sua grandeza e símbolo da cidade, no final do século XIX , já estavam definidos

para o futuro. Para época era algo nunca visto, suas vias eram largas,

arborizadas, terrenos divididos por quadras. Essas influências artísticas foram

trazidas de outras cidades do exterior como Viena, Roma e Paris a junção de

ambas possibilitou uma construção artística com vias lineares.

O movimento Barroco foi de grande influência e deixou, na arquitetura, uma

grande e vasta quantidade de informações da época. Até hoje podemos

contemplar estas construções e a historias que cada uma destas cidades teve

devido a sua riqueza arquitetônica. (1)

Nota: Vide anexo fig.1 p.55

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No Brasil o Barroco ocorreu tardiamente, proporcionado pela riqueza criada

com a produção de açúcar, fumo e madeiras nos séculos XVI, XVII, XVIII, e com o

predomínio da mineração do ouro durante todo o século XVIII e principio do XIX,

porém rendeu frutos de extrema beleza, um exemplo os traços arquitetônico vistos

na Casa das Rosas localizada na Avenida Paulista, um dos poucos casarões que

restaram. A construção urbana segue seu caminho independente do que está a

sua volta. Renascença presenciou um jeito de se construir que é marcado por

edifícios altos e suntuosos que apresentam o avanço do homem. No Barroco

encontramos um excesso de curvas e detalhes nas decorações. Porém essas

cidades no século XIX foram reurbanizadas devido às novas necessidades do

homem moderno.

[...] Do ponto de vista estrutural, na velha cidade da Europa, a transformação dos meios de produção e transporte, assim como a emergência de novas funções urbana, contribui para romper os velhos quadros, freqüentemente justapostos, da cidade medieval e da cidade barroca. Uma nova ordem é criada segundo o processo tradicional da cidade à sociedade que nela habita.(SILVA;2000:61).

A cidade se transforma a cada instante. Observar e interpretar essas

transformações são indispensáveis para esse estudo.

[...] O moderno construtor de cidade perdeu muito dos motivos de sua arte. Para contrapor a riqueza do passado, ele dispõe somente do alinhamento preciso das construções e das estruturas cúbicas do ”Bloco de Edifício. (SITTE;1992:94).

A arte passa a ser cenário, fachada, hoje existe uma releitura das

construções artísticas, o caderno de esboço do arquiteto contém tudo o que já foi

criado no passado em todos os cantos da Terra. Mas a nova construção artística

não segue a risca o projeto porque o espaço vazio restante entre o “Bloco de

Edifício” não está a disposição para uso artístico.

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“Hoje, quase ninguém mais se ocupa da construção urbana enquanto obra

de arte, mas apenas enquanto um problema técnico”.(SITTE;1992:94). Não existe

mais a preocupação de construir algo belo, que torne a cidade mais bonita e

agradável para a convivência social. O grande problema esta relacionada à

utilidade, a função que o “prédio” terá. Qual a melhor forma de atender as

necessidades do homem. Arquitetura visa, não só uma construção funcional, mas

também traz uma preocupação com a comunicação urbana da cidade, os prédios

adquirem a função de suporte de informação.

[...] Não só a psicoterapia, mas a própria arquitetura, o planejamento urbano, o design e toda a chamada ciência humana são atingidos pela percepção da alma do mundo, da cidade como realidade psíquica. O retorno da alma ao mundo como propõe Hillman, dessubjetiva o enfoque puramente ecológico, inclui a urbanidade como campo válido de experiência e nos sensibiliza analistas e arquitetos, à patologia e à beleza do que está a nossa volta. (HILLMAN; 1993:8).

A alma esta relacionada com memória emotiva no que diz respeito à

percepção de valores individuais, coisas importantes para as pessoas em sua

própria vida, para a comunidade e também sua história. Temos memórias

emotivas em nossas cidades através de parques históricos, estátuas de

personalidades, memoriais de guerra, a tradição dos fundadores etc.

Ao percorrer a cidade não olhamos suas construções porque todas são muito

parecidas, os prédios não se diferem uns dos outros, parece que saíram todos de

uma mesma forma. Da Antigüidade até os dias de hoje a verticalidade das cidades

é um ponto de extrema importância, pois desde o ocidente antigo a altura dos

prédios e torres nas igrejas e castelos, tinham a representação do poder divino, ao

lado de seu representante terrestre o rei. As linhas e os ângulos retos também se

tornaram às características típicas de cidades insensíveis, mas por certo não é

esse o aspecto mais importante, pois os conjuntos barrocos também eram

constituídos por linhas e ângulos retos, sem que isso fosse um obstáculo para a

obtenção de efeitos imponente e genuinamente artístico.

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Outra forma de expressão artística dentro da cidade, e que já ocorria há

muito tempo é a jardinagem. Hillmam a considera uma arte e diz que por meio dos

pés e dos olhos que admiramos um jardim, “[...] os olhos para abarcar e conhecer

o todo; os pés para permanecer nele e vivenciá-lo [...]”. Caminhar em um jardim é

um meio de estar mais próximo daquilo que os olhos viram. “[...] O caminhar

assume o movimento da alma, porque, como disse o grande filósofo Plotino, o

movimento da alma não é direto”. (HILLMAN; 1993:55).

As construções artísticas trazem alegria para o ambiente externo das

cidades. Percorrer essa cidade passa ser um prazer, ainda mais quando as ruas

têm um bom planejamento, isso engloba os jardins e os edifícios, os quais

possuem preocupação com o artístico etc.

A cada lugar que passamos novas informações nos são enviadas de prédios, de

casas, ou seja, de todo tipo de construção que nos rodeia. Isso ocorre devido ao

chamado caráter icônico da arquitetura que está vinculado a qualidade do objeto.

[...] O caráter icônico da arquitetura, que lhe possibilita esta memória da

forma ou forma de memória. Como arte participa essencialmente na

natureza do ícone. Pela experiência presente, uso, é índice.

Possibilidade, energia, código, lei, é símbolo. Retorna a condição de

ícone como passado de fato puro. Como símbolo, um futuro

indeterminado. Pelo índice, esta realização permitindo a volta à condição

primeira, portanto icônica. A cidade é escritura, a escritura vai além de si

mesmo, o que buscamos na cidade está além. (ARAÚJO;1979:47).

As construções além de trazer informações que foram adquiridas com o

tempo, com características daquele lugar, como por exemplo, o Trianon um

parque dentro da cidade, mesmo com as reurbanizações sofridas ainda trás seus

traços do passado juntamente os aspectos da atualidade, em uma parte do parque

pode-se atravessar uma ponte e embaixo avistar uma rua com fluxo da

modernidade etc. Mas não se pode esquecer que existe uma outra parte que é

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perdida com o tempo, ou seja, a própria modificação, a decomposição/restauração

de uma construção faz parte da sua história. Ao mesmo tempo em que com o

passar dos anos adquire informações culturais, também perdem aquilo que foi

coberto/alterado.

Essas mudanças, que ocorrem de acordo com o tempo, geram as

mudanças dentro de uma sociedade. Flusser diz que “[...] A sociedade pré-

industrial esperava por colheitas, a industrial pelo progresso. Atualmente não é a

espera, é o receio que nos caracteriza. As três sociedades têm três climas

existenciais distintos com relação à experiência do tempo: o clima da agricultura é

o da paciência, o da industria é o da esperança, o nosso é o do tédio”.

(FLUSSER;1983:121).

Quando se vivia em uma sociedade agrária, o tempo direcionava os

acontecimentos, não havia a casualidade. Na sociedade industrial o trabalho era

de produção, quanto mais pessoas trabalhando maior a produção, não existia a

tecnologia o trabalho era artesanal. Hoje não vivemos mais em um espaço, mas

em um meio criado pelo homem, a cidade. Que por sua vez exige uma complexa

rede de segmentos especializados, técnicas que aceleram os acontecimentos e

conturbam, o conceito que sempre tivemos de linearidade/tempo.

A cidade que criamos é complexa como um local desconhecido, nunca

habitado. Andamos por ela como se estivéssemos explorando/desvendado novas

terras. Não há uma hierarquia na sua organização, ou seja, a qualquer momento

encontramos uma vasta e diversificada quantidade de informações/símbolos

culturais.

Na cidade em que vivemos tudo acaba recebendo seu valor de acordo com

o tempo que lhe é dedicado. Junto ao tempo liga-se à concepção de espaço. Silva

diz que não é possível compreender um sem que se entenda o outro.

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[...] Tratamos o espaço como uma forma de manifestação da cultura provocada pela evolução do conhecimento ou, melhor dizendo, (da cultura como no caso do tempo), implicam transformações no modo de ocupação do espaço. Desta forma, espaço e tempo apresentam-se como fundamentais, indissociáveis textos culturais. (SILVA; 2000:48).

Silva ainda ressalta outro ponto, que é o modo como os meios mudam. A

cidade transforma constantemente a forma de se abordar o espaço.

[...] A via passa a ser encarada como um canal (Mídia) em cujo espaço deve fluir o tráfego de veículo, pessoas (informação). A implantação de uma cidade pronta para fluir denota uma diferente abordagem do espaço. Anteriormente, a cidade era organizada para abrigar. A construção de muralhas, ruas extremamente recortadas e paredes sólidas próprias para a defesa do território, então, dão lugar as estruturas abertas, largas e, na medida do possível, lineares. (SILVA; 2000:80).

Mediante as transformações tecnológicas os centros das cidades estão

perdendo suas memória, a cada dia um casarão é destruído para ser construindo

um prédio moderno, a verticalidade é muito forte em nosso meio. As praças

morreram, apenas quem as habitam são os moradores de rua e os

desempregados, o espaço público das praças perdeu o valor de participação e

encontro, hoje tudo se passa em ambientes fechados e os fluxos eletrônicos

rompem a barreira espaço/tempo, onde o espaço acontece dentro/fora ou vice-

versa.

[...] Migramos de um sistema de valores, digamos estáticos, para outro dinâmico ou que varia conforme a situação. Historicamente vincula-se a caracterização do espaço público, por exemplo, a espaço aberto e externo privado a espaço fechados e internos. Contudo não faz sentido afirmar esta correlação no espaço do shopping, estamos em um lugar público, porém interno, no automóvel em trânsito pela avenida estamos em um espaço privado, porém aberto; na sala de bate-papo de internet estamos fora de casa, em um lugar público, contudo estamos dentro dela, no conforto de nossa privacidade. (SILVA; 2000:126).

As transformações urbanísticas e tecnológicas não permitem mais espaços

comuns na cidade. Esses espaços, que eram representados pelas praças, já não

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têm mais importância nem sentido sob o ponto de vista da lógica da vivência do

urbano. Os espaços comuns foram substituídos por espaços de consumo que se

realizam no shopping centers. O que importa é a circulação do cidadão. A sua

conexão é o mais importante. Mas nem por isso o drama da incomunicabilidade da

cidade desapareceu, ele se desenrola, hoje, justamente nos espaços de conexão

(trêm, metrôs e outros) e durante os momentos em que a locomoção acontece.

1.2 A cidade do tempo acelerado.

Na cidade do tempo acelerado o corpo adquire um novo papel. Com a

Revolução Industrial o corpo percorre a cidade, e ela passa por um processo de

transformação em suas construções. A praça passa a ter um novo papel, sendo

um ornamento. Ela deixa de ser um local de convívio social. Na cidade de hoje,

ela é apenas um local de passagem, não paramos mais nas praças, passamos por

elas.

[...] A arte de uma cidade esta diretamente ligada aos momentos pelos quais o local esta passando. Sua arquitetura é projetada para suprir as necessidades daquele local e “O design de uma cidade é, assim, uma arte temporal”, mas raramente pode usar as seqüências controladas e limitadas de outras artes temporais. Em ocasiões diferentes e para pessoas diferentes, as seqüências são invertidas, interrompidas, abandonadas anuladas. (LYNCH; 1988:11).

A cidade além de ser um objeto de percepção, também é produto de muitos

construtores que constantemente modificam a estrutura por razões particulares.

Apenas parcialmente é possível controlar o seu crescimento e a sua forma. Todo o

cidadão possui numerosas relações com alguma parte da sua cidade, e as suas

imagens estão impregnadas de memórias e significadas.

No final de séc. XVIII - ocorreram grandes transformações no campo da

política e do conhecimento. Através desta relação, existente entre o homem e a

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cidade, é que se caracteriza o meio ambiente e a estrutura de acordo com nossas

necessidades vitais. Estas características aparecem por meio de cores, formas ou

até mesmo no movimento que um espaço adquiriu e ainda, na maneira como as

pessoas circulam por ali etc.

Outros fatores de grande influência nas transformações das cidades são

causados pelas novas tecnologias que tem revolucionado a sociedade e a cultura

e reorganizado o meio. Essas mudanças viabilizaram o deslocamento das

pessoas, criando uma necessidade de um sistema de comunicação que

propiciassem a tomada de decisão à distância, implicando assim na

criação/transformação do território já existente, isso trouxe um crescimento

estrondoso das cidades de forma nunca antes ocorrida.

Como por exemplo, o crescimento espantoso de vias destinadas aos

automóveis elas tem como objetivo tornar a distância cada vez menor. A

necessidade de encurtar distâncias vem acontecendo há muito tempo, desde a

construção dos navios, trêns e aviões, mas é por meio do automóvel que a

aumento da velocidade, como forma de ganhar tempo, pode ser percebido de

forma mais clara.

Essas transformações trouxeram necessidade de uma reorganização do

espaço. Com isso surgiu também a necessidade de reestrurar os espaços

internos, os quais passam a apresentar funções mais específicas e junto a

sistemas próprios.

Assim vamos eliminando a necessidade de caminhar. Cada vez mais

buscamos meios que nos deixem de forma mais rápida e cômoda nos nossos

locais de destino. O andar se tornou mecanizado.

Entre tantas mudanças e desorganização, para nos orientar neste meio que

cresceu e cresce de forma exagerada, começamos a criar estratégias para

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conseguirmos sobreviver dentro desta cidade tão conturbada. Esses são os

mapas, nomes de ruas, rotas, placas etc.

Dentro de ambiente com elementos conhecidos há além de segurança, uma

profunda intensidade nas experiências humanas. Porém lugares diferentes

causam estranhamentos nos processos de construções das imagens. A imagem

pode ser analisada em três componentes: identidade, estrutura e significados.

Essas três juntam-se dando corpo ao signo, ao ser codificado pelo sistema de

sinais ou símbolos elegem convenção preestabelecida destinada a transmitir uma

mensagem entre um emissor e um receptor, podendo estar representados por

homens ou máquinas.

Esta imagem que temos da cidade de hoje desempenha o papel de passar

informações da memória de uma sociedade para o grupo em geral. Ele sempre

busca manter uma abertura para que o desenvolvimento continue a caminhar.

A cidade pode ser vista com um conjunto de pequenas cidades com

características próprias, diversos bairros que se ligam por possuírem algo em

comum, formando assim a imagem da grande cidade que vivemos.

Porém Araújo diz que:

[...] As funções urbanas traduzidas em forma definem a textura, a malha da cidade. A maneira de um corpo, um tecido corresponde a cada região. Como estas funções em constantes mudanças os espaços não devem ser rigidamente definidos. (ARAÚJO; 1979:49).

Os espaços da cultura trazem informações que nos levam a pensar no

futuro das cidades, elas também nos informam do passado, das tragédias pelas

quais já passaram. Diversos espaços mostram episódio triste, como os cemitérios.

Colocamos para dentro da cidade a morte. Esta foi apenas uma das grandes

mudanças que ocorreram no decorrer da história.

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Porém, apesar de tantas transformações, não notamos o cotidiano? Temos um

olhar que nos mostra tudo superficialmente, sem nenhum tipo de envolvimento.

Flusser diz que percebemos somente “[...] eventos, não as estruturas fundantes. A

recodificação do nosso mundo pelos aparelhos tornou estranho nosso

mundo”.(FLUSSER; 1983:74).

Araújo também coloca que:

[...] A cidade é essencialmente o espaço dialético. Não se trata de perceber apenas a organização destes espaços artificiais, mas a experimentação, a interação entre eles e o homem. A cidade é continuamente revivida pelo usuário, pela multidão, pela massa. São justamente estes gestos que revelam situações urbanas passiveis de serem analisadas. Esta é a real e verdadeira linguagem da cidade, dado imprescindível para os caminhos do planejamento urbano.(ARAÚJO; 1976:11).

Dentro deste tempo/velocidade que o homem passa pela cidade, ele tem

uma interação com tudo aquilo que esta a sua volta. É por meio desta seleção de

paradigmas que ele escolhe o que lhe é mais significativo ou não. Estas escolhas

estão relacionadas às edificações e aos sistemas que compõem a cidade, como

igrejas, casas, prédios, terminais de transporte.

Nas cidades surgiram uma extensa variedade de ilhas, locais onde as

pessoas se isolam, um exemplo são os shopping center, encontramos lugares

específicos para as crianças e jovens brincarem e outros espaços direcionados

para os mais diferenciados tipos de públicos. Nota-se que são lugares que levam

ao isolamento. São atividades individuais onde não há uma interação entre as

pessoas, percebe-se isto claramente em centros de compras. Vamos sozinhos e

passamos uma boa parte do tempo sem conversar com ninguém. Tudo isso

acontece de forma automática, sem que percebamos. A única relação de troca

que existe acontece entre o indivíduo e o espaço

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[...] O espaço não deve ser pensado como sendo o conjunto de objetos matérias que resultam em formas diversas, excluídos dos processos culturais, com significados em si mesmo. A influência dos processos culturais é, com certeza, um fator fundamental na construção de um modelo de compreensão do momento e, conseqüentemente, do espaço em que vivemos. (SILVA; 2000:20).

A chegada da tecnologia trouxe mudanças que ao mesmo tempo em que

organizaram também desorganizaram o meio urbano. Provocando a decadência

de forma irreversível de alguns espaços. O crescimento acelerado dos meios de

transporte e o desenvolvimento da comunicação trouxeram a facilidade de se

adquirir novas informações, entre outros fatores. Contribuindo de maneira

significante para a conturbação do espaço urbano.

Nota: Vide anexo p. 56 1.3 A cidade do tempo real.

A Revolução tecnológica transformou a cidade rompendo a barreira do

espaço/tempo. Temos uma cidade onde o corpo navega pelo espaço enquanto os

prédios passa ser usados como suporte de “Mídia”. As construções são planas e

verticais e o olhar é superficial. A cidade transformou-se em lugar de fluxo, não

havendo necessidade de preservar sua memória e significados, tudo passou a ser

imagem.

[...] As construções não são mais executadas segundo as restrições técnicas tradicionais, o projeto passa a ser concebido em função dos riscos de “contaminação terrorista” e a organização dos espaços é feita a partir da distinção entre zona estéril (partida) e zona não-esteril (chegada). A forma arquitetural do prédio passa a traduzir menos a personalidade do arquiteto do que as precauções necessárias à segurança pública. (VIRILIO;1984:7- 8).

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O meio de transporte é a representação da aceleração do corpo dentro da

cidade. Podemos notar essas transformações do transporte através de nosso

passado histórico, a primeira locomoção foi possível através do cavalo. A

revolução industrial possibilitou grandes mudanças, a princípio os trêns

construídos no século XVIII eram usados para longas viagens, na cidade surge os

bondes, sendo que esse foi o primeiro transporte coletivo. Nos dias atuais temos o

ônibus, metro, trem que comportam muitas pessoas. Buscou-se explorar ao

máximo os limites da física para chegar rapidamente de um lugar para o outro. Os

sistemas eletro-eletrônicos também possibilitam o deslocamento de forma virtual a

lugares distantes fisicamente. Por exemplo, a internet possibilita a comunicação à

longa distância, proporcionando pesquisa, lazer e consumo.

A comunicação via eletrônica substitui o espaço possibilitando a construção

de uma nova identidade global. Silva coloca que desta maneira “[...] fundindo

soluções próprias de tempos históricos, delimitações técnicas, organizações

sociais e culturais e localizações diversas[...]”.(SILVA; 2000:116). Há uma

substituição das limitações dadas pelo espaço e pela distância. As novas

tecnologias proporcionam aproximação, trazendo o indivíduos extremamente

distantes fisicamente, facilitando assim a formação de grupos.

Lynch alerta que:

[...] Cada indivíduo cria e sustenta a própria imagem, mas parece haver uma concórdia substancial entre membros do mesmo grupo, mostrando o consenso entre um número significativo de membros, que interessam aos planejadores de cidades aspirantes a um modelo do ambiente que muitos possam desfrutar. Os sistemas de orientação que têm sido usado variam grandemente pelo mundo fora, mudando de cultura para cultura, de paisagem para paisagem. (LYNCH; 1988:17).

As mudanças são tantas que já estamos habituados a viver em ambientes

com os quais não nos identificamos. Nosso lar seria o lugar de maior confiança,

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onde deveríamos nos sentir melhor. Isto já não ocorre nos dias de hoje e

habituamos a nos sentir inabitual no nosso próprio espaço. Flusser nos coloca

que: “[...] Na sociedade pós-industrial o tempo é abismo. O presente é a totalidade

do real. Nele todas as virtualidades se realizam. Se ‘apresentam’. E o presente

está parado. Aonde quer que esteja eu, lá é o presente”.(FLUSSER; 1983:127).

Com estas mudanças o tédio passou a ser uma sensação muito presente

nos dias de hoje, sendo que ele é uma “[...] experiência temporal característica do

funcionamento. Intervalo tedioso, sem paciência nem esperança. Aproximação da

morte [...]”.(FLUSSER; 1983:124). Ele ainda comenta que - “[...] É o modelo

cibernético do tempo. O fundamento do modelo é a experiência da espera em

tempo vazio [...]”.(FLUSSER; 1983:126). As novas tecnologias tentam nos

distanciar, dando uma falsa sensação que o tédio não está tão presente como

imaginamos. Pois, com ele não funcionamos produtivamente para o sistema em

que vivemos.

[...] Se a cidade como código, pressupondo um aprendizado, no que se refere à sua percepção e apropriação, não fornece referentes necessários, grã insegurança no usuário. Ao invés de convidá-lo à participação, cria mecanismo de censura, fazendo - o sentir cada vez mais estrangeiro em sua cidade. (ARAÚJO; 1979:28).

Vivemos um tempo que é simultâneo e contraditoriamente o tempo da

destruição total e o da ciência da informação. Acabamos com as margens, tudo

está se homogeneizando através dos novos processos de aceleração.

[...] As fantásticas construções da técnica cobrem o planeta. São uma realidade visível, audível, ubíqua, palpável que elide a outra realidade: a indústria é a nossa paisagem, nosso céu e nosso inferno. A técnica se interpõe entre nós e o mundo cerca toda perspectiva à olhada; é o golpe mortal á aura que possui o futuro como promessa. (ARAÚJO; 1979:80).

A sociedade moderna vive um período de aceleração em todos os sentidos,

tanto do corpo quanto do espírito. A falta de tempo gera frieza de sentimento na

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contemplação da beleza na sociedade moderna, deixando de ser elevada como

forma de prazer. “[...] a beleza moderna deixa de alguma forma o terreno da

forma, da sensibilidade, e passa para o da razão, da compreensão [...]”.(SILVA;

2000:85). Não são mais admitidas as construções de espaços que não tenham um

propósito especifico, assim como também não há lugar para um cidadão

desocupado.

[...] A construção de uma cidade, portanto, deveria ser pensada, planejada, de acordo com a concepção da produção. O planejamento de um espaço industrial deve ser feito de tal forma que se eliminem (ou se minimizem) os conflitos gerados pela superposição de fluxo. (SILVA; 2000:81).

Esses valores foram redefinidos a partir da chegada dos novos aparatos

tecnológicos na sociedade. A principal mudança foi à nova concepção do que se

encontra perto ou longe. Tudo agora esta a apenas um click. O que antes era

considerado espaço inatingível, está em uma realidade virtual muito próxima.

Com isso vivenciamos uma grande transformação. A antiga concepção de

tempo linear, que sempre nos orientou, não existe mais. Tudo está ao nosso

alcance a qualquer momento. Passamos agora a nos utilizarmos do espaço de

forma diferenciada. Pois ele nos permite interagir, ao mesmo tempo, com o mundo

real, que está a poucos metros, e com o mundo virtual, que pode se encontrar à

milhas de distância.

[...] A fala e a escrita não são nossos único sistema de comunicação. Telefone, telégrafo, rádio, televisão, imprensa são outros meios de comunicação que marcam a vida moderna e as sociedades industrializadas pelo aparato tecnológico que as caracterizam. Não se trata apenas de comunicação pessoa a pessoa, mas, graça àqueles meios, as cidades, os estados, os países, os hemisférios se comunicam e transformam o universo em uma “aldeia”, na medida em que ampliam a escala das comunicações humanas. (FERRARA; 2001:5).

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O sistema comunicacional é o grande beneficiado destas mudanças. Tudo

está ao seu alcance a qualquer momento. A cidade se torna global. Silva comenta

que por isso a cidade se torna “um núcleo articulador do capitalismo mundial”.

Nesse ambiente, o espaço global tem sua construção não mais voltada para a

interação com o corpo, mas sim presente nas relações com a cultura.

Podemos concluir que a relação da cidade moderna com o tempo trouxe

uma mudança nas relações do homem com a locomoção. Segundo Hillman diz

que “[...]O desenvolvimento tecnológico do século XX tornou obsoleto o caminhar,

na escala que vai do controle remoto ao automóvel, indicando que nosso próprio

corpo tornou-se para nós um estorvo. Individualmente circulando pela cidade, mas

de modo diferente do ‘homem da multidão’ de Poe: não flanamos sem destino.

Olhamos desesperados seu passar contabilizando o tempo desperdiçado entre um

ponto e outro”. (HILLMAN; 1993:51).

Nota: Vide anexo p. 57

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CAP. II

IMAGEM e CIDADE

2.1 Imagem no Contexto Urbano.

A cidade enquanto representação da imagem e espetáculo é o resultado

significante do real, do quotidiano dentro da relação usuário/espaço urbano. Os

sistemas representacionais flagram imagens da cidade captando momentos de

encantamento, e aproximando-se, de uma forma “mágica”, do seu espírito. O

usuário participa ativamente das mutações e do encantamento da metrópole como

ator coadjuvante, situando-se e posicionando-se diante das mudanças e dos

desenvolvimentos. A cidade moderna deixa “marcas” no inconsciente dos seus

habitantes, e estas são o resultado do contato constante do usuário com o espaço.

A imagem que a cidade nos passa é uma fonte de informação urbana. A

compreensão disto é um processo complexo. Portanto apreender essas imagens é

ser sensível a um dos primeiro impactos informacionais que desafiam o ser

humano. Entende-se por impactas informações capazes de produzir reações,

como resposta verbal ou comportamental.

O homem não possui, como diz Araújo “[...] um receptor especializado do

espaço, em seu sistema nervoso [...]”.(ARAÚJO; 1979:16). Por isto, o que o

homem compreende hoje como espaço é resultado de um processo de

aprendizagem. Qualquer tipo de informação que se diferencie destes

conhecimentos, já adquiridos, podem gerar interferências, proporcionado imagens

incompletas no âmbito informação.

Cada espaço urbano, cada cidade apresenta características próprias que se

encontram na forma, como se apresentaram na mensagem, em um texto, em uma

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imagem etc. Por isto, cada leitura que realizamos, do local antes desconhecido, é

um novo processo de aprendizagem pela qual passamos.

A crise dos espaços do ponto de vista da construção urbana é a

substituição da praça pela avenida, como elemento essencialmente representativo

da cidade traduz a formatação da espacialidade que atualmente nossa sociedade

estabelece como apropriada. Mais do que as questões de segurança ou violência,

do controle e da liberdade, a avenida é o lugar da fluidez enquanto a praça é o

lugar do repouso.

A vida existente nos ambiente externos são desvalorizadas, pois não há

espaços para elas ali. Como por exemplo, moradores de rua. Já nos ambientes

internos há uma valorização por meio de crescimento dos meios de comunicação.

Por meio deles, temos tudo ao nosso alcance sem sair de um determinado

ambiente. Seja isto, livros, alimento, propagandas e até mesmo pessoas.

[...] A absorção da informação se faz com base num repertório entendido como “memória” e interpretante como conjunto de “programas” passíveis do receptor da mensagem. Repertorio urbano refere-se á percepção da cidade. E este fato não se dá de uma forma contínua, mas contaminada pelas necessidades, pelas emoções. Cada indivíduo cria e recria constantemente sua imagem da cidade.(ARAÚJO; 1979:57).

O discurso urbano tem sua compreensão através da própria configuração

da cidade, como diz Araújo: Esse discurso se iguala a um texto composto por

partes que se relacionam com um usuário no seu dia-a-dia realizando-se nas

construções como edifícios, casas, ruas, praças, propagandas.

O usuário lê a cidade e é lido por ela. Ao percorre-la são observados seus

hábitos e imposto outros através de propagandas, das modas que chegam pelas

novelas. Ao olhar o traje e comportamento de um indivíduo dentro da cidade/do

seu espaço é possível dizer a que grupo da sociedade pertence.

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[...] O usuário no seu contato com a cidade, recebe-a como uma mensagem. A cidade é para ele um estímulo, solicita-lhe uma resposta ao mesmo tempo ele também é forjado pela cidade. Isto porque existe um comportamento específico do “urbano”, simultaneamente ele se faz leitor e é lido. Este processo ocorre em todos os níveis do fato “estar na cidade”. Assim no uso da habitação, da rua, do bairro, da escola, do comércio, da estação, etc. (ARAÚJO; 1979,18).

O centro é a condensação, uma espécie de desordem, a reunião dos

elementos e princípios contrários. Um estágio pré-urbano ao pensarmos que a

cidade tende a estratificação. O bairro tende a identificação, à propriedade. O

centro provoca a sensação de território de ninguém, portanto coletivo. E as casas

se organizam por semelhança e proximidade.

[...] Semelhança e proximidade corresponde ao chamado eixo de seleção ou paradigma e ao chamado eixo de combinação ou sintagma. O primeiro caso diz respeito ao repertório de signos e regras; apresenta-se numa relação virtual, onde um signo está associado a outros signos equivalentes e/ou diferentes em determinados aspectos, de onde é extraído para fazer parte de um contexto. (ARAÚJO; 1979,33).

A cidade como um sistema de comunicação, portanto emissora de

mensagens, deve garantir a recepção para o usuário. Ela traz a forma como o

espaço é compreendido e dado por meio da representação. As obras

arquitetônicas são maneiras pelas quais um espaço é interpretado e, em seguida,

mostrado por meio do olhar do indivíduo que o criou.

Os espaços internos e externos estão se fundindo. Pode-se dizer que era

apenas uma fusão visual que buscava diferenciar os dois lugares. Hoje na cidade

o limite de espaço é determinado de acordo com sua posição, ou seja, estando

dentro você pode tudo, por exemplo, na rua uma pessoa dentro do carro sente-se

como se tivesse em sua casa, não tem a preocupação com o olhar do espaço

público. Já o pedestre tem um outro comportamento por estar fora, caso ele

exceda seu comportamento é taxado como louco.

[...] A fantasia está no poder a muito tempo, ela serve apenas para transformar tudo que vai ser numa imagem do que já foi. O futuro vivo é

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sacrificado ao passado morto. Em vez de corpos mortais que fazem parte de uma vida outrora inimaginável e imprevisível, logo haverá somente imagens eternas que caem sob a pressão do arquivo e sobrecarregam a capacidade de armazenamento. Assim, o sacrifício do tempo obriga a educar um imaginário social que tem de conservar todo o entulho da história humana “para todo o sempre. (KAMPER; 2002c: 2)”.

O homem consome as imagens e vivem em um mundo de imaginação e

desejo, apenas querem possuir bens que são imposto pelo comércio publicitário,

pelas novelas. Em seus sonhos as pessoas compram carros que atingem 290km/h

para andar na velocidade de carroça, mas não importa, o importante é estar

dentro do que é imposto pela sociedade.

[...] O homem é imaginação e desejo. Por obra da imaginação o homem sacia seu infinito desejo e se converte ele mesmo em ser infinito. O homem é uma imagem na qual ele mesmo se encarna... Não sabemos nada do desejo, exceto que se cristaliza em imagens e que estas imagens não cessam de nos fustigar até que se torne realidade, o desejo torna real o imaginário. (ARAUJO; 1979:67).

Segundo Araújo, o homem encarna uma imagem criada pela sociedade que

ele vive. Uma imagem construída a partir dos seus desejos e da sua imaginação.

Kamper completa esta idéia dizendo que “[...] Os homens hoje vivem no mundo.

Não vivem nem linguagem. Vivem na verdade nas imagens do mundo, de si

próprios e dos outros homens que foram feitos, nas imagens do mundo, deles

próprios e dos outros homens que foram feitos para eles”.(KAMPER; 2002b: 7).

Em meio a tantas imagens, o homem muitas vezes, sem perceber, acaba

sendo prejudicado e consumido pela sua invisibilidade. Gerou-se assim uma crise

da visibilidade devido à saturação imagética que oculta as diferenças, e tira o

brilho daquilo que merece destaque.

A imagem é alimentada pelo olhar, que é um gesto do corpo, e o corpo

transforma-se em alimento do mundo das imagens.

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A força de uma imagem foi enfraquecida e desvalorizada pela saturação.

Baitello diz que “[...] a inflação e a exacerbação das imagens agrega um desvalor

à própria imagem, enfraquecendo sua força apelativa e tornando os olhares cada

vez mais indiferentes [...]” (BAITELLO; 2002b: 2). A imagem perdeu seu poder

chamativo que prendia nossa atenção como se fosse um primeiro olhar. Vemos

tudo por cima, de passagem, sem as riquezas dos detalhes. Baitello ainda diz que

“[...] A redução do corpo a ‘observador da observação’ é o testemunho mais

patente de um processo de perda da propriocepção (o sentido do corpo para a

percepção de si mesmo) A imagem de um presente será sempre a sua própria

ausência”.(BAITELLO; 2002b: 3).

O corpo torna-se imagem em vida e o ser humano passa a ser objeto,

usando seu próprio corpo apenas como imagem de desejo e sedução. Não

importa o sacrifício o importante é estar dentro do contexto do corpo belo, sem se

preocupar com seu interior. Dessa forma a cada dia ele se torna mais angustiado

e apenas superficial e sem alma.

Estas mudanças que o homem trouxe ao seu corpo tem como princípio

superar as suas duas maiores fraquezas: a morte e a sexualidade. Ao tornar o

corpo mais belo os homens afastam as características que esse adquiriu com o

tempo. O corpo alterado não mostra sua idade, e conseqüentemente o deixa mais

confiante para suas relações sexuais. O corpo agora é uma imagem, logo tende a

eternidade quando se transforma em monumento. Esta necessidade de se tornar

eterno, acompanha o homem antes mesmo dele ter a consciência de que isto

significava.“[...] A imagem tem, logo, de acordo com seu significado, pelo menos

três funções: a de presença mágica, a de representação artística e a de simulação

técnica, entre as quais existem múltiplas intersecções e

superposições”.(KAMPER; 2002b: 7).

O mundo se tornou imagem e os homens não conseguem viver sem elas,

eles querem ser imagens, consomem imagens e são consumidos por elas.

Entretanto um mundo sem imagem não tem memória, mas quando elas são em

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excesso, trazem uma saturação pela sua falta de significados profundos a elas

relacionadas. Kamper explicita esse processo:

[...] Esta insurreição dos signos, esta resposta dos objetos começa em uma estranha perversão: as imagens também podem encobrir o que elas mostram. Imagens do mundo colocam-se na frente do mundo de tal modo que nada mais resta dele. As imagens das coisas fazem desaparecer as coisas, de modo que aqui a acolá ocorrem ações de salvamento. As imagens dos homens tropeçam sobre os homens como armaduras e lhes retiram sua escolha, de tal modo que, muitos séculos depois do feudalismo, ainda precisem se tornar cavaleiros. Precisamente o exagero da imaterialização do mundo e do homem faz com que as imagens se tornem adversárias. Elas contrariam o jogo do poder, fazem crescer o desapercebido e respondem à estratégia da transparência forçada com novas sombras. (KAMPER; 2002c: 3).

Não é preciso destruir as imagens, mas sim trazer seus significados a tona,

para que o olhar não se torne vazio, transformando-se num monstro devorador. A

imagem é um consolo para os olhos, ela trás segurança, lembrança, mas quem

permanece anestesiado por ela entra num horror do vácuo. Agora cabe a nos à

volta da alma ao mundo, para dar vida ao que esta num profundo sono. A tarefa

de Hillman é de reafirmar a ligação entre alma e cidade.

[...] A alma tem sido sempre associada a uma parte reflexiva em nós ou com a função reflexiva. Isso está construído em nossas cidades sob a forma de piscinas, lagos, galeria, sombras e venezianas onde ocorrem reflexos. Vidros e espelhos tornam a reflexão particularmente possível. Mas os espelhos têm tido sempre outra associação no simbolismo tradicional, não apenas como reflexão, mas também com vaidade e narcisismo. (HILLMAN; 1993:38).

O espelho deveria ter a função não apenas de refletir uma imagem, mas ao

olharmos para imagem refletida deveriamos buscar o seu profundo, ou seja, seu

interior não apenas sua beleza, vaidade e sedução. O espelho traz uma imagem

superficial, sem complexidade. O mesmo ocorre no espaço urbano, quando

olhamos tudo por cima. Deixamos de lados suas informações mais ricas e

complexas, que poderiam ser notadas por meio dos mistérios da cidade de

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informações mais profundas, que se encontram no seu centro/coração. A alma da

cidade.

Hillman fala da alma da cidade como locais onde as memórias emotivas se

encontram e do modo como marcaram aquele espaço urbano. Esta memória está

por todo o lado em parques, praças, monumentos, nas tradições etc. Estes

símbolos que representam a alma da cidade nos permitem viajar, imaginar fatos e

imagem que aquilo representa. Quando não há imagem, perdemos o rumo. Não

temos referenciais para imaginar. Isto pode ser claramente notado nas rodovias,

onde não há imagens, apenas placas com informações que nos orientam.

A necessidade por estas imagens que constroem a alma de uma cidade faz

com que o homem crie formas de substitui-las espontaneamente. Isso pode ser

notado nas marcas que o homem deixa por onde passa, ou seja, grafites, cartazes

e até mesmo suas inicias pelos muros da cidade.

[...] Essas marcas feitas em lugares públicos, chamados de deformação de monumentos na verdade impõe uma forma pessoal numa parede impessoal ou numa estatua monumental. A mão humana parece querer tocar e deixar seu toque, mesmo que apenas através de manchas obscenas ou rabiscos horríveis. Portanto, vamos assegurar que a mão tenha o seu lugar na cidade (...) ao animar e trazer cultura para as paredes, pedras e espaço desoladamente intocados pela mão humana. Certamente, as grandes obras da engenharia e da inspiração arquitetônica não seriam espoliadas pela presença de imagens que refletem a “alma” através das mãos. (HILLMAN; 1993:40-41).

Para Flusser as cores invadiram o mundo, elas estão presentes nas

paredes, edifícios, cartazes, embalagens, roupas, revistas, filmes, etc. Planos

como fotografia, telas de cinema e da TV, vidros das vitrines, tornaram-se os

portadores das informações que nos programam. São as imagens, e não mais os

textos, que são os mídias dominantes.

Modifica-se a função do texto que não é mais informativo, básico, ele é um

complemento da imagem. Passa a ter a função de esclarecer. Todas as

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mediações entre o homem e o mundo exigem dialéticas internas. Ou seja, é

preciso representar o mundo para que o homem o entenda.

[...] O gesto de ler e escrever textos se passa em nível de consciência afastado de um passo do nível no qual imagens são cifradas e decifradas, A “imaginação” como capacidade de decifrar imagens, e a “conceptualização” como capacidade de decifrar textos, se superam mutuamente. A concepção se torna progressivamente mais imaginativa, e a imaginação mais conceptual. (FLUSSER; 1983:99).

As novas tecnologias trouxeram uma forma diferente de ver o mundo.

Primeiramente era o homem quem produzia as imagens, agora são aparelhos.

Flusser diz que “[...] Esses aparelhos são caixa preta que são programadas para

devorarem sintomas de cenas, e para vomitarem tais sintomas em forma de

imagens. São caixas que devoram história e vomitam pós-história”. (FLUSSER;

1983:101).

Com isso se deixa de produzir imagens e passamos a construir eventos.

Que não deixam de ser imagens, porém são elas que programam, vivenciam e

conhece a realidade de forma mágica. As pessoas inseridas nesse contexto

passam a conhecer e a viver a realidade de maneira pré-estabelecidas. A partir

disto o espaço construído participa de uma topologia eletrônica na qual o

enquadramento do ponto de vista e a trama da imagem digital renovam a noção

de setor urbano. [...] A representação da cidade contemporânea, portanto, não é mais determinada pelo cerimonial da abertura das portas, o ritual das procissões, dos desfiles, a sucessão de ruas e das avenidas; a arquitetura urbana deve, a partir de agora, relacionar-se com a abertura de um “espaço tempo tecnológico. (VIRILIO; 1984: 10).

A obsessão da vertical transforma a vida em uma luta constante ao mais

alto, embora o topo seja o nada, o vazio, o inabitável espaço. O verticalismo leva

ao rompimento dos vínculos que ocorrem apenas na horizontal, abrindo espaço

para a livre escala incomunicação. Na cidade podemos notar essa perda, suas

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construções tornaram-se funcionais para tentar resgatar um pouco de sua historia,

construí-se o cenário da cidade do belo.

Os contextos urbanos estão relacionados à imagem através de sua

percepção visual, o usuário faz suas leituras, e também é analisado pelos

elementos que compõe a cidade, os meios de comunicação, que transformam

tudo em imagens superficiais. A imagem e seu contexto sempre estão em

mutação, o usuário já não absorve o profundo significado, apenas quer ter ou ser,

o que a imagem está codificando. Um novo olhar surge para a informação, e

nossa preocupação está muito mais em consumi-las do que em possuir coisas.

Com o espaço do tempo tecnológico passamos a nos preocupar em nos

comunicar com esse novo espaço na vertical que (rompe a barreira do

tempo/espaço) esquecendo da horizontal (vínculos presenciais). Os

relacionamentos interpessoais cada vez estão mais mecanicistas, as pessoas não

se olham com carinho, o mundo tornou-se veloz não temos tempo a perder

queremos ter, e esquecemos de ser, vivemos em um mundo sedado pela imagem

mecanicistas.

Nota: vide anexo p.58

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CAP. III

A Incomunicação.

3.1 Avenida Paulista e suas Imagens.

A principal avenida brasileira, localizada nos Jardins, região não menos

famosa que a própria avenida em São Paulo, continua influenciando a vida dos

brasileiros. Palco de tantas decisões e manifestações há mais de 100 anos a

Avenida Paulista participa constantemente dos destinos dados ao País.

Além do seu prestígio, nessa via há a sensação que tudo funciona e dá

certo. Na Avenida Paulista, o grande número de carros, serviços, lazer, entre

outras coisas, faz com que os publicitários invistam em propagandas em suas vias

em constante fluxo. Ela se diferencia na Praça da Sé, onde se encontra “[...]

espaços próprios para a congregação e impróprios para o movimento”.(SILVA;

2000:123).

Esta avenida é pensada a partir do movimento dos automóveis, ônibus e

metrô que por ali circulam, dando a idéia de um lugar que não pára. Segundo

Silva, o automóvel é um elemento de ligação daquele espaço. Com ele entramos

nas garagens dos Shoppings, no trabalho etc. Por isso, quando estamos dentro de

um automóvel temos uma outra visão da avenida Paulista. Ao circular por ela, é

como se estivéssemos em um shopping. Prédios, propagandas, tudo que está por

ali se torna vitrine para ser observado na velocidade do automóvel, e não mais da

do corpo. Por isso que a cada momento, são criadas novas formas de propaganda

que nos bombardeiam enquanto estamos dentro de um automóvel.

Silva diz que arquitetura passa a fazer parte da comunicação:

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[...] A arquitetura cada vez mais se torna parte de um processo de marketing e o espaço urbano configura-se a partir do loteamento do campo visual pelas marcas, disputando a atenção do cidadão-espectador-leitor da mesma forma que se percebe na diagramação das revistas, nas telas da internet, na televisão. Assim, vias mais visitadas passam a ter maior valor para a locação dos totens e outdoors que se espalham pela cidade. (SILVA; 2000:119 –120).

A eleição destes sintagmas, do consumo de luxo, se dá no contexto cultural

e da realidade econômica de cada centro urbano. Esta homogeneidade é

garantida pela propaganda. Isto é facilmente verificável através das novelas, dos

anúncios em jornais, outdoor, e demais promoções de vendas de imóveis. As

mídias publicitárias investem e apostam tudo, pela sua constante circulação.

Esses voltam-se tanto para pedestre como para automóveis.

As pessoas não se vestem como querem, mas como crêem que devem se

vestir. O que se vê não é o caos, mas sistemas complexos de uniformes. Isso

ocorre pelo fato de que as roupas são vistas como modelos de comportamento,

uma forma de comunicação, um canal de mensagem. Uma vitrine do que você

deseja representar. As vestimentas são maneiras de mostrar o que você pensa e

a que grupo da sociedade pertence. Esse grupo tanto pode ser de classe social,

ou um grupo formado pelos seus ideais comuns.

O caminhar pela cidade é meramente funcional ao percorrê-la somos

bombardeados por propagandas que nos induz ao consumismo.

[...] O crime nas ruas psicologicamente começa com um mundo onde não se caminha, começa na prancheta do urbanista, que vê as cidades com um amontoado de arranha-céu e de shopping centers com ruas que servem meramente de acesso entre eles. (HILLMAN; 1993:56).

Na cidade sempre estamos ocupados, perdemos o olhar de leitura porque

achamos que já conhecemos tudo, então a vida passa a acontecer dentro dos

interiores.

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[...] A verdadeira vida da cidade é interior. Dentro das salas, sentados em cadeiras. Esperamos nos elevadores, vasculhamos gaveta, olhamos para as paredes. De fato, na maior parte do tempo, estamos olhando para baixo, para alguma coisa sobre a mesa, focalizados num aparelho eletrônico, num pedaço de papel, ou encarando um rosto. (HILLMAN; 1993:43).

A desqualificação e o esvaziamento de espaço público nas grandes

cidades, no sentido comum, refletido pela imprensa e junto às manifestações da

população, são as causas relativas apontadas à falta de segurança nos espaços

públicos da cidade. O espaço não ocupado acaba sendo usado pelos pixadores.

[...] Vivemos hoje em espaço onde a funcionalização, a especialização de setores do tecido urbano, a implementação da lógica do transporte e da circulação – de pessoas, bens ou informação – convivem com a degradação representada pela depredação dos pixadores. (SILVA; 2000:95).

As letras muitas vezes incompreensíveis – trazem consigo a insígnia de

uma bandeira e a determinação de uma territorialidade que lhe diz respeito:

quanto maior a área pintada e mais difícil os alvos, maior o poder do grupo.

No mundo contemporâneo, a relação entre os espaços (externo, interno e

virtual) se funde a todo instante. Assim como a relação de distância, que cada vez

deixa de ser um problema. Estamos fundindo os espaços e o tempo. O que gera

impactos na organização urbana.

[...] Os mapas, guias e indicadores da cidade tendem a homogeneizar as informações; informações mais específicas, “as dicas ou macetes” ficam a cargo dos antigos moradores. São as testemunhas vivas das mais recentes e incessantes transformações que vai sofrendo a cidade. Por isso o conhecimento da cidade através de mapas é extremamente limitado, porque é uma tradução da vivência.(ARAÚJO; 1979:27).

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Isso mostra que a simples enumeração dos elementos urbanos, suas

equivalências e oposição não bastam na leitura da cidade. Além da tradução de

todos estes elementos urbanos, é necessário descobrir a combinação. Logo, cada

indivíduo cria uma imagem mental da cidade a partir da sua interpretação dos

códigos que ela possui.

Em nossas vias velozes o condutor não tem tempo para pensar em

paradoxais sutilezas nos cruzamentos, trevos se devem virar para direita ou para

esquerda, ele confia nos sinais que lhe guiam, sinais enormes em vastos espaços

que recorrem a altas velocidades.

[...] Em lugar dos monumentos e dos referenciais coletivos, os mais importantes eixos visuais da cidade passam a abrigar painéis publicitários e, mais recentemente, telões de alta definição, destinados a despertar em todo o déficit informacional propulsor do sistema de consumo. De uma certa forma, é somente aqui que a construção cartesiana de espaço é substituída pela relatividade einsteniana, uma vez que o percurso no espaço se torna individualizado, na medida em que se transforma em um processo individual de comunicação: duas pessoas não percorrem o mesmo espaço porque sua configuração muda em função das informações pelas quais um e outros são atraídos. Desta forma, conceitos até então fixos como distância ou referência podem ser analisados sob uma ótica quase que individualizada.(SILVA; 2000:121).

A próximar para “desconstruir” estruturalmente ou para “dissipar ao longo”,

aqui, as funções do olho e da arma se confundem, já que, por definição, para a

velocidade que tem se dado à vida, até as imagens são simplificadas para serem

captadas por uma rápido olhar. A resolução da imagem é instantânea sua redução

afeta não somente o conteúdo da representação, mas ainda o espaço construído

e a forma do território e o tempo. Em um percurso curto visualizamos muitas

imagens.

[...] Utilizamos veículos de informação (comunicação), veículos de transporte (automóvel, avião) e veículo de consumo (Shopping), objetivando uma sensível economia de tempo ou nossa inserção no tempo real. Estamos, portanto, continuamente sendo levado através dos

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sistemas em que vivemos e, conseqüentemente, estamos dentro de algum lugar.(SILVA; 2000:123).

O homem da cidade grande está freqüentemente distante perdido em suas

preocupações. As relações passam a se dar em função das suas atividades

relativas ao trabalho, ao transporte, as suas necessidades e tornando-se algo

mecânico. Como tudo que é mecânico, também se desenvolve, deixando

características/sentimentos de lado.

A relação homem-espaço hoje é substituída praticamente por automóvel-

espaço. Apesar de dividirem o mesmo espaço, o pedestre passa a ser um cidadão

de segunda classe com a perda da escala humana pelo automóvel. Os transportes

públicos são formas de igualar o usuário. Já o carro é forma de destacar o

indivíduo.

[...] Este fato é decisivo na análise do outro paradigma urbano: O sistema viário. Análogo ao sistema circulatório do corpo humano possui vias de diferentes portes: travessas, ruas, alamedas, avenidas, viadutos, auto-pistas, perimetrais, radiais, etc. paralelamente à invenção do automóvel, desenvolvimento econômico é sinônimo de concentração, tanto no espaço, como nas organizações. Os paradigmas do sistema viário são: leito carroçável, calçada, arborização. Estes elementos são alterados dependendo da via. A multiplicação de viadutos onde os de sinalização mostra que a verdadeira população da cidade são os carros.(ARAÚJO; 1979:35).

O carro se transformou na segunda tv do homem, as imagens da cidade

passam em velocidade pelo seu olhar, porém o olhar seleciona o objeto de seu

enteresse e os outros passam desapercebidos.

[...] A cara do motorista dentro do carro é geralmente vazia, congelada atrás do pára-brisa. Cinto de segurança afivelado, portas trancadas, toca-fitas ligados, olhos fixos para frente, passivamente registrando o movimento de objetos lá fora ou emoções subjetivas, preocupações e desejo cá dentro: esta não é uma face interpessoal, mas rosto isolado – sua expressão não conta.(HILLMAN; 1993:52).

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O habitante das grandes cidades olha mais que ouve, devido ao problema

de segurança. Ao mesmo tempo é um olhar distante, pois é extremamente

preocupado com a proteção. Nas estações, nos transporte coletivo, nos

elevadores as pessoas se encontram às vezes horas inteiras, olhando-se sem se

falar. Por isso, quando por algum motivo, o motorista deixa seu carro e caminha

pelo local onde já passou com seu veiculo, tem uma sensação nova, como se não

conhecesse o local por onde costuma circular.

[...] Como o alimento das imagens é o olhar e como o olhar é um gesto do corpo, transformamos o corpo em alimento do mundo das imagens, inaugurando um círculo vicioso. Quanto mais vemos, menos vivemos, quanto menos vivemos, mais necessitamos de visibilidade. E quanto mais visibilidade, tanto mais invisibilidade e tanto menos capacidade de olhar. (BAITELLO;2002b:3).

Os novos meios de comunicação trouxeram muitas mudanças, melhorando

os serviços e a qualidade da divulgação das informações, porém a incomunicação

ganhou força e ousadia provocando as destruições de valores dentro da família da

sociedade. A incomunicabilidade surge a partir do grande numero de informação.

[...] A incomunicação se faz presente nos excessos - “Os superlativos, as hipérboles, as megalomanias muitos são os nomes da incomunicação e muitos são os espaço em que está inteiramente à vontade. Nos excessos de informação, no excesso de tecnologia, no excesso de luz, no excesso de zelo, no excesso de visibilidade, no excesso de ordem. Vivemos (e morremos) nos excessos do tempo e no tempo dos excessos. (BAITELLO; 2002a: 1).

Os excessos do tempo, no avanço da tecnologia, fez com que o mundo

cria-se uma nova forma de comunicação, rompendo a relação espaço-tempo. A

sua utilização em excesso trouxe grandes danos a comunicação humana,

passando a ser fria, técnica e veloz. Porém é na cidade que essa velocidade se

faz presente, gerando a sobreposição de imagens e informação, causando

distanciamento do homem consigo mesmo e com os demais.

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O corpo aos pouco perdeu algumas habilidades, hoje utilizamos o tronco,

as pontas do dedo e os olhos. Na maior parte do tempo estamos parados em

algum lugar, no carro sentados, ou dentro de algum veículo em locomoção no qual

vamos absorvendo as imagens a nosso redor, no carro temos a sensação de

estarmos assistindo TV, vemos as imagens e de fundo o cenário da cidade.

Quando não estamos circulando pela cidade estamos assistindo suas imagens

pela TV.

Kamper diz que:

[...] Os homens perderam com seus corpos o espaço enquanto circundância e não conservam nada mais do que o campo visual e o plano da imagem. O sujeito que está sentado e se vê confrontado a uma tela onde aparece ou desaparece a imagem do mundo conforme a pressão de um botão, é a própria metáfora de uma perda desmedida. O triunfo da superfície sobre o espaço evidencia de um modo peculiarmente estrondoso aquele jogo de poder que hoje desemboca numa violência aniquiladora.(KAMPER; 2002c: 3).

Na arquitetura também podemos observar esta simplificação das imagens.

Os edifícios perderam seus parapeitos e suas riquezas de detalhes para paredes

lisas, duráveis, de fácil manutenção e que aparentam estar sempre novas. Silva

cita isso como “[...] grandes painéis aparentemente uniformes com intensidade

luminosa constante e monótona na visão instantânea de passagem”.(SILVA;

2002:4).

Os edifícios de vidro refletem a imagem da cidade, ao mesmo tempo em

que esses negam sua visão, pois são espelhados. Os habitantes do prédio vêem a

cidade e o que está se passando por ela, mas nos apenas imaginamos o que se

passa no ambiente interno. O mesmo está ocorrendo com os carros, no passado

todos queriam ser vistos em seus carros para mostrar posses. Hoje os carros

possuem insufilme para que as pessoas, que estão do lado de fora, o pedestre,

não identifique quem esta dentro. Dizem que é por segurança, mas creio que não,

querem ser artistas imagens de espetáculo, porém em seu cotidiano preferem

entrar para o anonimato.

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[...] O imaginário é aquele querer esquecer que recorda e aquele querer recordar que esquece. E precisamente quanto menos imagem melhor a lembrança, e quanto mais imagens, menor a memória, mas a diferença entre imagem e imagens remete a secundariedade do eterno. Primário é o corpo mortal. Esses se podem experimentar. (KAMPER; 2002b: 11).

Assim como o pensamento, que busca suprir as necessidades do homem,

as imagens tentam substituir aquilo que falta, mas não conseguem chegar a sua

plenitude. Sendo assim o homem passa a criar imagens para suprir o medo da

morte do vazio, mas as imagens têm um poder de sedução, quando mais estamos

expostos a elas mais sentimos necessidade de consumi-las.A vida passa a ser

imagem de representação sem memória. Em casa, na rua em todos os lugares

somos imagens, consumimos e somos consumidos por elas.

O corpo no passado era mudo, mas ele se expressava através de seus

gestos, hoje o corpo está se tornando imagem. Esse processo o leva novamente a

seu passado mudo, porém com algumas diferenças, os corpos não se expressam

como antes, ele tornou-se estático, a imagem o consome a cada dia. O corpo se

tornou morto/vivo/superficial, passando a ser um incomodo para o homem, nunca

estando na verdade onde gostaria de estar. A presença muitas é apenas física

enquanto o desejo ou alma está em outro lugar.

Na Avenida Paulista observamos que em seu dia-a-dia há uma série de

acidentes devido à distração dos motoristas, esses muitas vezes ficam olhando a

propaganda e não vêem o fechamento do farol causando acidentes. Por ser uma

avenida de fluxo constante, as agências de propagandas investem muito. Os

motoristas não ficam tão irritados com o trânsito, porque enquanto esperam, ficam

apreciando as imagens, porém esse olhar é superficial, voltado apenas para o

querer ter.

Portanto, hoje a Avenida Paulista foi pensada para pessoas com pressa,

que não tem tempo para observações detalhadas. O caos da cidade grande fez

com que algumas coisas por ali fossem mudadas. O trânsito, pessoas paradas em

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carros e coletivos, fez com que elementos surgissem para atrair tais pessoas.

Telões luminosos espalhados por toda a avenida é uma dessas mudanças. Nota: Vide anexo p. 59 - 65

3.2 Os Efeitos e Conseqüências da Incomunicação.

A cidade é um sistema de comunicação. Por definição um sistema de

linguagem com contrato coletivo onde o usuário tem que submeter para viabilizar

a comunicação. Cria-se uma espécie de território coletivo em que um indivíduo

sozinho não pode modifica-lo.

[...] A tentativa dos arquitetos modernistas de construir um espaço destinado à coletividade encontrou na própria evolução da sociedade um dos maiores empecilhos à sua realização, na medida em que o coletivo passa a ser configurar sobre uma individualidade cada vez mais exacerbada. Assim, percebe-se uma certa separação entre espaço concebido e espaço realizado, sendo este a totalidade de suas características, ou seja, como afirma Milton Santos, ‘um sistema de objetos e ações’.(SILVA; 2000:97).

O espaço não se estabelece como uma entidade única, mas em uma

somatória de binariedade através das quais organizamos nossos valores. O

espaço urbano é transformado em elemento de comunicação, prestando suporte

físico para o sistema imaterial de informação. A cidade hoje não é nem a

materialidade, nem a virtualidade, mas desses dois conceitos ao mesmo tempo.

Ela faz o papel do suporte real, o início de um processo de comunicação que

segue nas diversas mídias. Quanto mais os computadores sabem sobre nossos

dados, mais deixamos de existir. A índole da técnica é alienante.

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As sobreposições de informação, do ponto de vista funcional, se destinam à

concretização de fluxos, sejam de pessoas, de mercadorias ou de veículos. No

fundo, todos estão interligados e dizem respeito também ao fluxo de informações

presentes no espaço virtual. Os novos meios de comunicação trouxeram um

grande benefício que possibilitou o contato a longa distância, em tempo real, e

também por mensagens, aproximou as pessoas do outro lado do mundo e

algumas vezes rouba o espaço do ser humano ao seu lado.

Segundo Virilio, ainda por meio da:

[...] Interface da tela (computador, televisão, teleconferência...) o que até então se encontrava privado de espessura – a superfície de inscrição – passa a existir enquanto ”distância”, profundidade de campo de uma representação nova, de uma visibilidade sem face a face, na qual desaparece e se apaga a antiga confrontação de ruas e avenidas: o que se apaga aqui é a diferença de posição, com o que isto supõe, com o passar do tempo, em termo de fusão e confusão.(VIRILIO; 1984:9).

Vivemos hoje no mundo da nulodimensão o corpo foi transformado em “bit”

o que há apenas é o conceito abstrato de entidades numéricas, codificações sem

tatílidade. Flusser fala do processo de desmaterialidade do corpo, em suas perdas

da dimensão dos espaços do corpo e do seu tempo de vida, o corpo na existência

sensória apenas vê quando é visto e observa quando é observado. Jamais sente

porque não pode ser sentido, por um lado o corpo se cansa é mortal, precário; por

outro é determinado como sexo, gera e acolhe submetendo-se de qualquer

maneira aos assuntos da vida, mas sabe que está destinado a perecer. Por esses

motivos o corpo precisa voltar se expressar, para isso é necessário se redescobrir,

ou seja, buscar suas história no passado humano da arte e da ciência. Deve-se

conseguir desconstruir a conexão linear do progresso, sem que para isso seja

necessário suspender qualquer futuro. Decisiva nesse sentido é a ascensão da

reversibilidade das direções fundamentais históricas. A estrela polar de tal

reconstrução não é a idéia de que a linha se feche novamente num círculo, mas

que o centro móvel de um mistério corporal abra tanto mais o futuro quanto o

passado permaneça mais presente.

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[...] Ao estudarmos o corpo como linguagem temos dois tipos de leitura, a primeira leitura, emerge como sistemática apropriação da natureza, para universalização (espiritual) dos particulares (corpóreos), na segunda, como abstração impossível de deter, como formalização de qualquer conteúdo. De Hegel. Até agora entendido como concreto universal o sistema cumprido da mediação espiritual é enfim mostrado como movimento no vazio, que – numa permanente repetição – faz supor uma corporeidade sem espírito sob uma espiritualidade sem corpo.(KAMPER; 2002a: 12).

O homem não enfrenta seus medos vivendo em seu imaginário, quando a

situação foge do seu controle a realidade aparece como queda livre e o imaginário

torna-se uma conjuntura de terror que modela sem piedade a expectativa e a

experiência entre os homens. Os homens através das imagens entram em

devaneio, não sabem decidir sobre as verdadeiras vontades tudo se torna

espetáculo. Com as imagens os homens seriam imortais, sem imagens talvez

pudessem ser mortais.

[...] Vivem mais mal do que bem nessa imanência (permanência) imaginária. Morrem por isso. No ápice da produção de imagens existem maciço distúrbios. Existem distúrbios das imagens que tornam enormemente ambígua a vida das imagens e a morte pelas imagens. Difunde-se uma condição do tipo “morto/vivo” vida morta. Essa impossibilidade de decidir se está ainda vivo ou morto adere às imagens, pelo menos no momento da sua pura simulação sem referência.(KAMPER; 2002b: 7).

Queremos ser divertidos e exigimos divertimentos sempre mais intensos,

porque não suportamos o confronto com a nossa consciência infeliz. Quanto mais

vivências adquirimos, nos sentimos mais distantes as nossas alienações quanto

ao mundo e mais afastados das sensações de infelicidade. O consumismo é

destas formas criadas pela sociedade para suprir essa crise. A indústria do

divertimento programa o acaso. Vivemos toda sensação casualmente, devoramos

tudo com atitude sensacionalistas.

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[...] Vivenciamos nossas relações sociais enquanto encontros casuais, lances de jogo. Estamos nos movimentando no contexto social com irresponsabilidade acelerada, e esbarramos, em tal movimento, contra número crescente de “outros”. Tal mobilidade social, geográfica, econômica, informacional, intelectual, sensacional, vai nos tornando sempre mais rico, no sentido de envolver-nos em relações sempre mais numerosas simultaneamente tal mobilidade vai revelando melhor a vacuidade do núcleo no qual tais relações se concentram. Estamos desempenhando números crescentes de papéis no jogo social e sabemos sempre melhor de tratar-se, em tais papéis, de máscaras que encobrem nada.(FLUSSER; 1983:155).

A fidelidade é a relação pessoal, e os aparelhos não são pessoas, portanto

no aparelho tudo é funcional, mas somos incapazes de negar essa vivência

técnica e até da concepção da fidelidade. O que implica que somos incapazes da

liberdade no significado existencial desse termo.

Na vida social estamos a todo o momento criando e acabando com

relações pessoais. Relações que muitas vezes pensamos possuírem “elos”, que

podem não existir. Com isso acabamos por acreditar que a liberdade é uma forma

de crescimento individual e não percebemos que nos tornamos pessoas

sozinhas/solitárias.

[...] Um mundo sem alma não oferece intimidade. As coisas são ignoradas; cada objeto, por definição, é rejeitado mesmo antes de ser manufaturado; lixo e trastes sem vida, tirando completamente seu valor do meu desejo destrutivo de ter e possuir, completamente dependente do sujeito para lhe insuflar vida com o desejo pessoal. Quando o indivíduo não possui virtude essencial, minha própria virtude como indivíduo depende inteira e somente de minha subjetividade ou do desejo que o outro tem por mim, ou do medo que tem de mim: tenho que ser desejável, atraente, um objeto sexual, ou ser importante e poderoso. Pois, sem esses investimentos na minha pessoa, resultante tanto da subjetividade do outro como da minha própria, não sou nada mais do que uma coisa morta entre coisas mortas, para sempre um solitário em potencial.(HILLMAN; 1993:24).

É preciso retornar ao mundo, devolver-lhe o que tomamos dele ao guardar

em nosso interior sua alma. Através desse retorno será possível olhar o mundo de

outra forma, tendo considerações por nós, pelos seus habitantes e por ele, olhar

com amor.

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[...] Quando pensamos em alma pensamos nas relações humanas, especialmente ao nível do olhar. Mas a relação entre os seres humanos ao nível do olhar é uma parte fundamental da alma na cidade. As faces das coisas suas superfícies, suas aparências, seus rostos, como lemos aquilo que vem ao nosso encontro ao nível do olhar; como nos olhamos uns aos outros, como olhamos a face uns dos outros, lemos uns aos outros – Assim é que se dá o contato de alma. (HILLMAN; 1993:41).

Para que esse contato se torne efetivo é necessário que haja um lugar

propício, no qual as pessoas possam se encontrar, se olharem de frente. Locais

onde haja uma comunicação de fato, no qual o corpo passa não só circular, mas

se expressar, um lugar de intimidade para a alma. A cidade é construída sobre

relações humanas, gente se encontrando, e, entre outras coisas, o amor

incrementaria as próprias coisas que são desejáveis numa cidade.

[...] Portanto, não é novamente uma questão de divisão entre duas coisas, trabalho é prazer, cidade e alma, o público diurno e o noturno, porque isso tira a alma da cidade. Pensar que o propósito das cidades é econômico ou político é uma idéia, muito recente. Desde o início, o propósito da construção de uma cidade foi algo instintivo nos seres humanos – querer estar junto, imaginar, falar, fazer e trocar. Precisamos desses assim chamados mercados lugares onde a quebra pode acontecer: o cafezinho, banco de praça, onde é possível se fazer uma pausa nos deveres e obrigações do dia.(HILLMAN; 1993:42).

Necessitamos preservar e restaurar o simples gesto de olhar para cima. Se

nossa sociedade sofre da falência da imaginação, da liderança, de perspectivas

curtas, então devemos prestar atenção aos lugares e momentos onde começam

essas faculdades interiores da mente humana.

O caminhar acalma reaviva a alma, caminhando estamos no mundo, a

mente é contida em seu próprio ritmo, o corpo entra em contado com o mundo,

ativa o batimento do coração, juntos em uma só sintonia.

“Andar também me põe em contato com minha natureza animal. Sou como me

movimento, há aspecto animal em nosso movimento pelo qual somos

reconhecidos. Quando essa natureza animal é rejeitada, ela procura

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compensação em aparatos externos: Carro, times esportivos, penteados, jóias,

etiquetas de roupas”. (HILLMAN; 1993:54). Sendo assim as pessoas observam

apenas uma parte do todo. Apenas metade do corpo como na TV onde não há o

caminhar.

A tecnologia mudou a vida do homem, as maquinas substitui seu trabalho e

agora estão vivendo o tempo do desemprego. O fazer, construir, criar é feito por

máquinas.

[...] O que quer que exista ainda hoje para ser agarrado e produzido é feito automaticamente pelas não-coisas, pelos programas, pela inteligência artificial e pelas máquinas robóticas. O homem de hoje tem que ser então destituído do trabalho de pegar coisa, ele tem que ser desempregado. Isto não é um fenômeno econômico, mas um sintoma da redundância do trabalho em uma situação sem coisas. (SANTANA; 2003:3).

Para Silva o carro será uma sala de estar, na qual o computador estará no

comando, ele guiara, o homem poderá fazer outras atividade, em quanto se

locomove até o lugar de destino, também faz coisas que vão além dos limites do

corpo.

[...] O futuro reserva-nos automóveis guiados por computador, equipados com telefone, televisão e internet. A presença da superfície eletrônica garante nossa conectibilidade. Ligados aos sistemas de comunicação superamos até mesmo as impossibilidades de percurso, sublimando o corpo. A conexão virtual nos dá a segurança de não sentirmo-nos sozinho no violento contexto dos objetos reais urbanos.(SILVA; 2002:5).

Imaginar isso parece loucura, mas em um futuro próximo conviveremos

mais com as máquinas do que com os seres humanos.

[...] A obsessão da vertical transformada em vida e da vida transformada em vertical impõe a cada um de nós uma luta permanente em direção ao mais alto. Transformamos assim nossa vida em uma linha vertical de aspirações e buscas abstratas. O verticalismo traz dois grandes efeitos devastadores, o primeiro a demolição da corporeidade e dos espaços que a abrigam; isto quer dizer, a destruição da realidade tridimensional

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por meio da transformação dos corpos em abstratos traços verticais. A segunda é a perda dos vínculos com o outro ser ao lado (uma vez que os vínculos elementares que constituem nossa natureza humana são necessariamente horizontais); isto quer dizer a renúncia à capacidade de comunicar-se, abrindo os espaço para a livre escalada da incomunicação. (BAITELLO ; 2002a:3).

O homem precisa não retornar para o passado, mas não deixar que sua

memória “história” perca o significado. O retorno deve ser do olhar, do amor, da

atenção sobre as coisas que estão a sua volta, ou seja, romper a incomunicação

trazendo o corpo e a alma de volta para o mundo.

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Conclusão

Ao processo de desenvolvimento da pesquisa notei o quanto é necessário

preservar a história de nossa sociedade e como é importante mantermos viva

essa memória para passar de geração a geração.

[...] Somos, portanto, produtos e produtores no processo da vida. Da mesma maneira, somos produtores da sociedade porque sem indivíduos humanos não existiria a sociedade, mas, uma vez que a sociedade existe, com a sua cultura, com os seus interditos, com as suas normas, com as suas leis, com as suas regras, produz-nos como indivíduos e, uma vez mais, somos produtos produtores.(MORIN)

O mundo está a cada dia mais caótico é preciso que voltemos a participar e

olha-lo com amor, só assim será possível um mundo melhor, a velocidade trouxe

grandes benefícios, porém nos deixou acelerados demais, passamos a ser

imagem do mundo, e não a fazer parte dele.

Passamos horas ao lado de uma pessoa e nem notamos sua presença,

parece que todos estão sozinhos no mundo, apenas preocupados com sua própria

imagem, o outro passa a ser apenas mais um elemento perdido pelo mundo do

egoísmo.

O mundo esta precisando que paremos um pouco e olhemos para as

pessoas e ao que esta a nosso redor. Levar o corpo para o mundo externo e

deixar que ele se identifique com as coisas tão belas que o envolve, coisas que

não são codificada pela mídia, mas que ele busque com o seu olhar o que passa

desapercebido, deixar se envolver com o azul do céu, o canto dos pássaros, o

olhar de uma criança.

A cidade é um cenário. Aqueles que não têm lugar, que estão sempre indo

de um lado para outro, criam para si um lugar imaginário. Constituído por painéis

decorados, para ser vista da janela de veículo, a cidade é um mundo de fantasia.

A imagem e muito importante em nossa vida, sem ela é como se a vida perdesse

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o significado, mas não podemos viver apenas das imagens que nos são impostas.

É necessário percorrer, criar e vivenciar nossas imagens com simplicidade e amor,

para não sermos sedados pela incomunicação.

A incomunicação pode ser denominada de várias formas, nos dias atuais ela está

totalmente á vontade. E é inútil pensar que ela age somente em silêncio,

sobretudo nos excessos é que ela se faz presente. Por exemplo, os excessos do

tempo trazem, a aceleração, o estresse, a pressa, por outro, a desocupação, o

desemprego, o tempo esvaziado, provocando um roubo do tempo de vida da

cidade e seus excessos ou pela mídia e suas hipérboles.

Segundo Baitello cheguei a conclusão que a incomunicação age sobre tudo

nos excessos do tempo e no tempo dos excessos. Nos dias atuais ela está bem

visível, porém são poucos os que a observam, diante de tantas tecnologias torna

impossível perceber o agir da incomunicação, pelo seu efeito sedativo, um bom

exemplo os meios de comunicação, novela, jornal, propagandas e outros, são

alienantes.

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Construções Artísticas.

Fig.1 Piazza Spagna – Praça Barroca de Roma.

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Cidade, trabalho e locomoção.

Fig.2 Parque industrial.

Fig.3 Início da cidade do movimento.

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Cidade espaço de decisões e congestionamento. Fig.4 O corpo no ambiente externo da cidade.

Fig.5 O corpo no ambiente interno da cidade.

Fig. 6 Fluxo acelerado da cidade.

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Diversos cenários. Fig. 7 Favela: Sobreposição; desigualdade social.

Fig. 8 Mansão: sonho.

Fig. 9 Pichação: vandalismo. Fig. 10 Vitrine: sedução.

Fig. 11 Grafite como arte.

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Avenida Paulista passado e presente.

Avenida Paulista início do Séc XX Fig. 12

Fig. 13

Fig. 14 Casarão da Paulista um dos poucos que restaram.

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Fig. 15 Casarão sobreposto ao modernismo.

Fig. 16 Porta do escritório.

Fig. 17 Teto da varanda.

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Fig. 18 A arquitetura vertical e espelhada da cidade moderna.

Fig. 19 Avenida Paulista é o ponto mais alto da cidade onde a maioria das rádios se localiza.

Fig. As várias arquiteturas dos prédios da Paulista.

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Fig. 21 As reformas para manter a boa aparência da Paulista.

Fig. 22 Os pedestres circulando pela Paulista.

Fig. 23 O trânsito e as propagandas em fluxo constante na Paulista.

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Fig. 24 O Olhar congelado do motorista.

Fig.25 A espera da condução no espaço externo.

Fig. 26 Estação do metrô, um não tempo, entramos numa máquina do tempo e saímos do outro

lado da cidade.

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Fig. 27 Os parques dentro da cidade, ao percorre-lo reavivamos a alma em contato com a

natureza.

Fig. 28 A feira de artesanato da Paulista.

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Fig. 29 As praças passaram a ter um outro papel, apenas de enfeitar a cidade não ficam no centro,

mas nas laterais da cidade e rotatórias etc.

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Referências Anexo

Fig.01 - <www.brasilterravista.pt/magoito/foto.htm>. Capturado em 01/10/2003

Fig.02 - <www.fundaj.gov.br/docs/indoc/icono/rt.html>. Capturado em 01/10/2003

Fig.03 - <www.ubi.pt/museu/ipic.html>. Capturado em 01/10/2003

Fig.04 - <www.econofinance.com.br/econofinance/imagens/pessoa.jpg>. Cap. em

03/10/2003

Fig.05 - <www.durr.com.br>. Capturado em 03/10/2003

Fig.06 - <www.spcvb.com.br /images/noite.jpg>. Capturado em 03/10/2003

Fig.07 - <www.transportbahnen.at>. Capturado em 03/10/2003

Fig.08 - <www.albarelli.com.br>. Capturado em 07/10/2003

Fig.09 - <www.graffiti.org/osgemeos>. Capturado em 10/10/2003

Fig.10 - <www.enseada.com/mademoiselle>. Capturado em 12/10/2003

Fig.11 - <www.artgaragem.com.br>. Capturado em 12/10/2003

Fig.12 e Fig.13 <www.prodam.sp.gov.br/dph/spimagem/paulist.htm>.Cap. em

12/10/2003

Fig. 14 – Fig. 29 – Arquivo da Autora – Fotos tirada em 05/10/2003

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Bibliografia Referências Básicas: BAITELLO, Norval Junior - As Irmãs Gêmeas: Comunicação e Incomunicação -

Texto publicado no jornal tribuna do norte 2002a. p. 4 Cisc.

<http://www.cisc.org.br/biblioteca>. Acesso em: 10 maio 2003.

BAITELLO, Norval Junior – O Olho do Furação. A Cultura da Imagem e a Crise da Visibilidade. 2002b p. 8 Cisc. <http://www.cisc.org.br/biblioteca >. Acesso

em: 10 maio 2003.

EDGAR, Morin – Introdução ao Pensamento Complexo – “LISBOA” Instituto

Piaget. 1995 p.177

FLUSSER, Vílem – Pós-História - Vinte Instantâneos e um Modo de Usar –

“SP” Livraria duas cidades. 1983 p. 168

HILLMAN, James – Cidade e Alma – “SP” Studio Nobel. 1993 p.174

VIRILIO, Paul – Espaço critico e as perspectivas do tempo real. “SP” Ed. 34 –

coleção trans. 1984 p.119

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Referências Complementares: ARAÚJO, Ane Shyrlei – Mensagem Urbana e Participação – Dissertação de

mestrado em comunicação e Semiótica. PUC-SP – 1979 p.97

BAITELLO, Norval Junior – O tempo Lento e o Espaço Nulo – 2003 p. 8 Cisc

<http://www.cisc.org.br/biblioteca >. Acesso em: 10 maio 2003.

CANEVACCI, Massimo – A cidade Polifônica – Ensaio a Antropologia da

Comunicação Urbana – “SP” Livraria Novel. 1993 p.238

DONNE, Marcella Delle – Teoria sobre a Cidade – Arte&Comunicação – “SP” Ed.

Martins Fontes. 1983 p.255

FERRARA, Lucrécia D’Aléssio – Ver a Cidade – “SP” Livraria Novel. 1988 p.81

FERRARA, Lucrécia D’Aléssio – Leitura sem Palavra – “SP” Editora Ática. 2001

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KAMPER, Dietmar – Corpo – 2002a p.21 Cisc <http://www.cisc.org.br/biblioteca>

Acesso em: 25 Agosto 2003.

KAMPER, Dietmar – Imagem – 2002b p.16 Cisc

<http://www.cisc.org.br/biblioteca> Acesso em: 25 Agosto 2003.

KAMPER, Dietmar – Estrutura Temporal das Imagens - Revista Ghrebh n1 –

Cisc – “SP” 2002c p.5 <http://www.cisc.org.br> acesso em: 16 agosto 2003

LYNCH, Kevin – A Imagem da Cidade – Arte&Comunicação – “Lisboa” Edições

70. 1988 p.205

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PELEGRINI, Milton – As Nossas Imagens do Tempo e Como ele Começou –

Revista Ghrebh n1 – Cisc “SP” 2002 p.6 <http://www.cisc.org.br> acesso em: 16

agosto 2003

ROESCH, Sylvia Maria Azevedo - Projeto de Estágio do Curso de Administração – Guia para Pesquisa, Projetos, Estágios e Trabalho de

Conclusão de Curso.

SANTANA, Ivani – Sobre as não- coisas, de Vilém Flusser. – Revista Ghrebh n2

– Cisc “SP” 2003 p.4 <http://www.cisc.org.br> acesso em: 16 agosto 2003

SILVA, Maurício Ribeiro – O Corpo do Nosso Espaço Versus o Espírito do Nosso Tempo. – Revista Ghrebh n1 – Cisc “SP” 2002 p.6 –

< http://www.cisc.org.br>. Acesso em: 5 junho 2003

SILVA, Maurício Ribeiro – Espaço e Cultura – Uma Leitura Semiótica da Cidade. Dissertação de Mestrado Comunicação e Semiótica – PUC.SP – 2000

p.131

SITTE, Camillo – A Construção das Cidades Segundo seus princípios artísticos. Editora Ática. 1992 “SP” p.236

UCHTMANN, Roger – Temporalidade Negativa e Incomunicação – 2002 p.12

Cisc <http://www.cisc.org.br/biblioteca >. Acesso em: 10 maio 2003

WULF, Christoph – Imagem e fantasia – 2000 p.17 Cisc

<http://www.cisc.org.br/biblioteca >. Acesso em: 10 maio 2003.

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Este projeto foi formatado seguindo as normas da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas: NBR 6023, NBR 6024, NBR 6027, NBR 6028, NBR 6029, NBR 6032, NBR 6822, NBR 10520, NBR 10524, NBR 10719, NBR 12225, NBR 14724

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