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I - 1 Capítulo 1 Introdução aos Sistemas Elétricos 1. CONCEITOS BÁSICOS Após a revolução industrial , a energia elétrica assumiu um papel deci- sivo no mundo moderno e a cada dia o consumo de energia vem sendo incre- mentado. Esta importância da energia elétrica está associada a três fatores: a) Facilidade de se converter qualquer forma de energia em energia elétrica. b) Facilidade de se transmitir esta energia através de grandes dis- tâncias com custo relativamente baixo. c) Facilidade de se converter energia elétrica em outras formas de energia utilizadas na vida moderna como eletrodomésticos, bom- bas, lâmpadas, elevadores. Com este consumo de energia sendo incrementado dia após dia, a pro- dução de energia obrigatoriamente teve que acompanhar este ritmo. Nos sis- temas elétricos a energia é produzida pelo processo de conversão de energia, isto é: a) Pela utilização de energia térmica em energia mecânica através de tur- binas à vapor, turbinas à gás e motores diesel. b) Pela utilização da força das quedas de água para acionar turbinas hi- dráulicas. c) Pela conversão da energia solar em energia elétrica. d) Pela conversão de energia eólica em energia mecânica e desta em elé- trica...

Introdução Ao Estudo de Sistemas Elétricos

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  • I - 1

    Captulo 11Introduo aos Sistemas Eltricos

    1. CONCEITOS BSICOS

    Aps a revoluo industrial , a energia eltrica assumiu um papel deci-

    sivo no mundo moderno e a cada dia o consumo de energia vem sendo incre-

    mentado. Esta importncia da energia eltrica est associada a trs fatores:

    a) Facilidade de se converter qualquer forma de energia em energia

    eltrica.

    b) Facilidade de se transmitir esta energia atravs de grandes dis-

    tncias com custo relativamente baixo.

    c) Facilidade de se converter energia eltrica em outras formas de

    energia utilizadas na vida moderna como eletrodomsticos, bom-

    bas, lmpadas, elevadores.

    Com este consumo de energia sendo incrementado dia aps dia, a pro-

    duo de energia obrigatoriamente teve que acompanhar este ritmo. Nos sis-

    temas eltricos a energia produzida pelo processo de converso de energia,

    isto :

    a) Pela utilizao de energia trmica em energia mecnica atravs de tur-

    binas vapor, turbinas gs e motores diesel.

    b) Pela utilizao da fora das quedas de gua para acionar turbinas hi-

    drulicas.

    c) Pela converso da energia solar em energia eltrica.

    d) Pela converso de energia elica em energia mecnica e desta em el-

    trica...

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 2

    Esta energia eltrica gerada em centrais de gerao atravs de m-

    quinas sncronas que operam normalmente com tenses nominais abaixo de

    25 kV. No Brasil, estas centrais so predominantemente hidreltricas e na sua

    quase totalidade esto situadas longe dos grandes centros de carga.

    O transporte de energia das centrais de gerao at os centros de car-

    ga so realizadas pelas linhas de transmisso, elas so as artrias dos sis-

    temas eltricos. O crescimento econmico e populacional, as restries ambi-

    entais e o uso corrente de energia eltrica levaram progressivamente a ne-

    cessidade de mais linhas de transmisso ocupando o menor espao possvel.

    A soluo natural foi o emprego de nveis de tenso cada vez maiores

    para a transmisso de energia eltrica, praticamente dobrando a cada 20

    anos. Apareceram assim linhas em 69 kV, 138 kV, 345 kV, 500 kV e 750 kV. O

    primeiro sistema eltrico em 765 KV entrou em operao em 1965 no Canad (

    735 KV da Hydro Quebec). No Brasil, atualmente, o maior nvel de tenso o

    de 765 KV do sistema de Itaipu.

    Para ilustrar este fato apresentamos a figura 1 que procura dar uma

    idia do aumento da capacidade de transmisso a medida que se eleva o nvel

    de tenso. O tamanho das estruturas e a ocupao de espao fsico esto em

    uma mesma escala. Para valores tpicos de transporte apresentados na Figura

    1, conclumos que uma linha de 765 kV carrega o equivalente a 30 linhas de

    138 kV, com uma estrutura de transmisso de mais ou menos o dobro do ta-

    manho daquela de 138 kV.

    Figura 1 Anlise comparativa de estruturas de diferentes tipos de tenso

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 3

    O controle do fluxo de energia eltrica realizado nas subestaes ao

    longo do sistema eltrico. Nas subestaes a energia transformada para n-

    veis de tenso mais adequados, permitindo o transporte de energia de forma

    mais segura e econmica.

    Define-se uma subestao como um conjunto de componentes e equi-

    pamentos eltricos usados para controlar e direcionar o fluxo de energia eltri-

    ca em um sistema eltrico de potncia.

    2. ESTRUTURA GERAL DE UM SISTEMA ELTRICO

    A estrutura geral de um sistema de potncia pode ser visualizada atra-

    vs da Figura 2. Nesta figura esto mostrados as diferentes partes constituintes

    de um sistema eltrico caracterizados por diferentes nveis de tenso separa-

    dos por transformadores.

    A produo de energia formada por centrais de gerao constituda

    por um conjunto de geradores sncronos. Estes geradores por limitaes fsi-

    cas no so fabricados em tenses acima de 25 KV e so movidos por mqui-

    nas primrias ou turbinas.

    As usinas hidreltricas e termeltricas so os dois tipos mais comuns de

    centrais de gerao. A Figura 3 mostra o perfil tpico de uma usina hidreltrica,

    onde a energia potencial da gua armazenada no reservatrio transformada

    em energia cintica e energia de presso dinmica pela passagem da gua

    pelos condutos forados. Ao fazer o acionamento da turbina hidrulica, essa

    energia convertida em mecnica que por sua vez transmite pelo eixo ao ge-

    rador, onde finalmente a energia mecnica convertida em energia eltrica.

    A transmisso num sistema eltrico constitui um conjunto de linhas de

    transmisso e subestaes que operam em nveis de ultra alta tenso ( ten-

    ses acima de 500 KV ) e extra alta tenso ( tenses acima de 138 KV e 500

    KV ) como funo transportar grandes blocos de potncia dos centros de gera-

    o at as subestaes de maior carga do sistema eltrico, geralmente em

    volta de grandes centros urbanos ou industriais.

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

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    Figura 2 - Esquema geral de uma sistema eltrico de potncia

    Figura 3 - Perfil tpico de uma usina hidreltrica

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 5

    Dentro dos sistemas de transmisso destacamos as linhas de interliga-

    o ( tie lines ) que interligam sistemas eltricos permitindo: um aumento da

    confiabilidade de ambos os sistemas, uma possibilidade de um intercmbio de

    energia entre os diversos sistemas de acordo com as disponibilidades e ne-

    cessidades diferenciadas, uma reduo nos custos da construo, na opera-

    o e manuteno de unidades de reserva.

    A subtransmisso consiste de um conjunto de linhas e subestaes que

    operam em nveis de E.A.T. e A.T. ( alta tenso, tenses entre 69 KV e 138

    KV) com a funo de distribuir a energia entre s subestaes situadas em

    torno de grandes centros urbanos e industriais.

    importante salientar que no existe uma separao clara entre os cir-

    cuitos de transmisso e subtransmisso. O aumento de demanda na carga

    torna geralmente necessrio superpor uma nova rede numa tenso mais alta a

    uma j existente, fazendo com que uma rede que era de transmisso passe a

    ser de subtransmisso.

    O nvel de distribuio constitui a malha mais refinada do sistema eltri-

    co; nele, so alimentados a partir de subestaes de distribuio, pequenos e

    mdios consumidores. Usualmente dois nveis de tenso de distribuio so

    utilizados: o de distribuio primria com tenses da ordem de 15 KV (13.8

    KV) e outra de distribuio secundria com tenses abaixo de 500V

    (380V/220V/110V). O nvel de subtransmisso o responsvel pela interliga-

    o das diversas subestaes de distribuio de uma dada rea geogrfica e

    tem tenses entre 13.8 KV e 138 kV.

    Hoje, toda a estrutura de um sistema eltrico gerenciada e monitorada

    continuamente em sistemas de controle computadorizados. O aumento do ta-

    manho e da complexidade dos sistemas eltricos, acarretou a necessidade de

    ferramentas eficientes para garantir a confiabilidade e a qualidade do forneci-

    mento de energia eltrica a um baixo custo. Cada importante n ou barra de

    um sistema eltrico tem suas aes de comando e superviso locais realiza-

    das por uma U.T.R. (unidade terminal remota). As unidades terminais remotas

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 6

    de uma dado conjunto de subestaes comando e controlado por centros de

    controle regionais.

    Centros de controle regionais centralizam todas as informaes, aes

    e dados regionais a partir de aes definidas pelo Centro de Controle Principal

    ou Geral.

    O Centro de Controle Principal modernamente constitudo por um

    conjunto de computadores que operam o sistema eltrico tomando decises a

    partir de dados e informaes geradas por estudos on-line e off-line.

    As funes de sistemas de controle deste tipo vo desde de funes

    SCADA ( Supervisory Control And Data Acquisition - controle supervisrio e

    aquisio de dados) at operao econmica, verificando o desempenho e a

    segurana na rede, de modo a manter adequados os padres de qualidade e

    quantidade de energia suprida ao longo do tempo.

    A Figura 4 mostra um esquema de um sistema de controle supervisrio

    deste tipo.

    Figura 4 Sistema de Controle Supervisrio

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

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    3. HISTRICO DO CRESCIMENTO DOS SISTEMAS ELTRICOS

    O primeiro sistema eltrico de potncia a entrar em funcionamento foi

    nos anos de 1880, construdo por Edson, em Nova York, incluindo a usina de

    Pearl Street. Este sistema fornecia energia para iluminao pblica de parte da

    cidade e alimentao de pequenos motores. Vale salientar que, sem a inven-

    o da lmpada da incandescente por Thomas Alva Edson e dos trabalhos da

    Siemens, Grammee Pacinotti na rea da produo de energia eltrica a partir

    da energia mecnica, este primeiro sistema eltrico no teria sido construdo.

    Com a entrada em funcionamento deste primeiro sistema eltrico em

    corrente contnua, ficou evidenciado as limitaes do uso de corrente contnua

    para transporte de energia. As perdas por efeito Joule no transporte de ener-

    gia eltrica em corrente contnua, se tornavam to elevadas a medida que se

    afastava das usinas que quando se queria transportar energia a distncias

    maiores, era obrigatrio a construo de novas usinas.

    O desenvolvimento dos sistemas em corrente alternada teve incio em

    1885, quando Jorge Westinghouse comprou as patentes do sistema de trans-

    misso em corrente alternada desenvolvidas por L. Goulad e J. D. Gibbs.

    William Stanley, antigo scio de Westinghouse, em Greet Barrington e

    Massachusetts nos anos de 1885/1886, instalou nesta cidade o primeiro sis-

    tema experimental de distribuio em corrente alternada que alimentava 150

    lmpadas. Porm, o grande impulso dos sistemas de corrente alternada s

    aconteceu por volta de 1886/1887, quando foi inventado o transformador que

    permitia elevar e diminuir a tenso, com grande rendimento, desde que a

    energia fosse em corrente alternada.

    As primeiras linhas de transmisso eram monofsicas, e a energia con-

    sumida em geral era para a iluminao. Duas realizaes se destacaram neste

    perodo:

    a) Em 1886 foi construda uma linha monofsica com 29,5 km na Itlia,

    conduzindo 2700 HP para Roma

    b) Em 1888, foi construda uma linha de 11KV trifsica, com um compri-

    mento de 180 Km na Alemanha

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 8

    A inveno entre 1885 e 1888 dos motores de induo, por Ferraris e

    Tesla, deu novo impulso aos sistemas de corrente alternada. A partir deste fato

    os sistemas de corrente continua ficaram restritos a pequenas aplicaes con-

    de os motores em corrente continua ainda apresentavam algumas vantagens.

    No Brasil, a indstria de eletricidade teve seu incio em 1889, com a

    construo da primeira hidroeltrica da Amrica do Sul, pela Cia. Mineira de

    Eletricidade, em Juiz de Fora - MG, oriunda da viso empresarial e da capaci-

    dade empreendedora de Bernardo Mascarenhas.

    Durante esta poca com a economia brasileira ainda bastante incipien-

    te, surgiram as primeiras companhias de eletricidade. Neste perodo a entrada

    do capital estrangeiro nas companhias de eletricidade teve bastante importn-

    cia na evoluo do setor eltrico, no apenas pelo capital investido mais tam-

    bm pela tecnologia transferida.

    Em 9 de outubro de 1899, o grupo Light comea a atuar na cidade de

    So Paulo, sob o nome de The So Paulo Railway, Light and Power Co. Ltd.,

    assumindo os direitos e obrigaes do contrato de concesso para explorao

    de servios pblicos de energia eltrica. Posteriormente em 16 de outubro de

    1905, o mesmo grupo assume os mesmos servios na cidade do Rio de Janei-

    ro. Com a denominao de The Rio de Janeiro Tramways, Light and Power

    Co. Ltd.

    Em 1924, com o grupo Light j bem instalado no Brasil, instala-se no

    pas a AMFORP (American Foreign Power Company), do grupo Bond and

    Share Co. no interior de So Paulo na regio de produo do caf. A partir de

    1927, o grupo passa a adquirir o controle de diversos concessionrios j exis-

    tente entre eles a Pernambuco Tramways and Power Co. Ltd com sede em

    Recife.

    Dentre os muitos eventos de interesse na dcada de 30, importante

    destacar a criao do cdigo de guas, institudo por Decreto no dia 10 de ju-

    lho de 1934. Este cdigo dotou finalmente o pas de uma legislao especfica

    em relao aos aproveitamentos hidroeltricos. Dentre as modificaes intro-

    duzidas destaca-se:

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 9

    a) Incorporaes das terras em que se encontram as quedas dgua ao

    patrimnio

    b) A unio passou a ser responsvel pela outorga de autorizao e con-

    cesso para aproveitamento de energia eltrica de origem hidrulica

    para uso privativo ou servio pblico.

    c) Instituir o princpio do custo histrico e do servio pelo custo, de lucro

    limitado e assegurado.

    Outros marcos notveis da histria da energia eltrica no Brasil so os

    seguintes:

    Constituio da CEMIG, em Minas Gerais, objetivando realizar

    um plano global de eletrificao do estado mineiro, em 1952. Ini-

    ciou-se a construo de Trs Marias.

    Criao da CHESF, em 1954, com o intuito de promover o apro-

    veitamento do Rio So Francisco, garantindo o esforo de indus-

    trializao do Nordeste, Iniciou-se o complexo de Paulo Afonso.

    Criao de FURNAS , empresa destinada inicialmente a construir

    uma grande usina no Rio Grande, na diviso entre os estados de

    Minas Gerais e So Paulo, em 1957.

    Em 1960, foi criado o Ministrio das Minas e Energia, respons-

    vel pela poltica energtica do pas e pela definio da orientao

    bsica na rea de sua competncia.

    Criao em 1966, da CESP, em So Paulo, reunindo diversas

    empresas do Estado.

    Cabe ainda mencionar a promulgao da lei da ELETROBRS, em

    1961, tendo sido a empresa constitu da no dia 11 de junho de 1962.

    O perodo inicial de funcionamento da ELETROBRS caracterizou-se

    pela implantao da realidade tarifria e tambm pelas aquisies de direitos e

    aes das concessionrias estrangeiras controladas pelos grupos AMFORP

    (American Foreign Power Co.) e BEPCO( Brazilian Electric Power Co.).

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 10

    A Eletrobrs assumiu desde o incio as caractersticas de holding, n-

    cleo de um conjunto de concessionrias com grande autonomia administrativa.

    A gesto dos recursos do Fundo Federal de Eletrificao transformou-a rapi-

    damente na principal agncia financeira setorial. Em 1964, foram ultimadas as

    negociaes para a compra pelo governo brasileiro das concessionrias atu-

    antes no Brasil do grupo Amforp. O negcio foi realizado em 14 de outubro e

    essas empresas passaram condio de subsidirias da Eletrobrs.

    Em 1968, foi criada outra subsidiria de mbito regional, a Centrais El-

    tricas do Sul do Brasil (Eletrosul) e em 1973, a ltima subsidiria regional da

    Eletrobrs foi instituda: a Centrais Eltricas do Norte do Brasil (Eletronorte).

    Neste ltimo ano, a Eletrobrs estabeleceu, juntamente com a Administracin

    Nacional de Electricidad, empresa estatal paraguaia, a Itaipu Binacional, vi-

    sando construo da hidreltrica de Itaipu, no rio Paran, na fronteira dos

    dois pases.

    Neste perodo a ELETROBRS controlava as quatro grandes empresas

    regionais ( ELETRONORTE, FURNAS, CHESF e ELETROSUL), coordenava o

    planejamento e o atendimento ao mercado de energia eltrica, definindo crit-

    rios e procedimentos para a operao do sistema eltrico nacional, deixando

    as tarefas executivas ao cargo das empresas controladas. A figura 5 mostra a

    rea de concesso de cada uma das empresas controladas que eram respon-

    sveis pela produo e transmisso de energia em grosso e ainda em promo-

    verem as necessrias interligaes regionais. As concessionrias locais ou

    estaduais, interligadas as empresas regionais, se encarregavam da subtrans-

    misso e distribuio de energia. Durante este perodo algumas concession-

    rias locais ou estaduais na regio Sul e Sudeste construram centrais de gera-

    o de energia como a COPEL no Paran, a CEMIG em Minas Gerais e a

    CESP em So Paulo, enquanto nas demais regies do pas as concessionri-

    as locais se encarregam apenas da subtransmisso e distribuio de energia.

    Ao final da dcada de 1970, todas as concessionrias do setor de ener-

    gia eltrica tinham capital nacional, com a compra pelo governo brasileiro das

    aes da Light multinacional Brascan Limited, em janeiro de 1979.

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 11

    Figura 5 reas de atuao das empresas controladas pela Eletrobrs

    No incio da dcada seguinte, o desempenho da Eletrobrs passou a se

    ressentir das dificuldades que vinham sendo enfrentadas pela economia

    brasileira. A recesso e a crise da dvida externa criaram um quadro de grave

    estrangulamento financeiro no setor. Essa situao agravou-se em 1988, com

    a extino do Imposto nico sobre Energia Eltrica e a transferncia para os

    estados da arrecadao tributria equivalente.

    No incio da dcada de 1990, o programa de obras de gerao foi prati-

    camente paralisado e foi iniciada uma reorganizao institucional do setor,

    com o fim de reduzir a presena do Estado na economia.

    Em maro de 1993, diminuiu-se o controle da Unio sobre os preos

    dos servios de energia eltrica. Em setembro do mesmo ano, foi criado o

    Sistema Nacional de Transmisso de Energia Eltrica (Sintrel), pacto operativo

    entre as empresas detentoras de instalaes de transmisso, baseado no

    princpio do livre acesso rede de transporte de energia. Em 1995, foi sancio-

    nada pelo Executivo uma nova legislao de servios pblicos, fixando regras

    especficas para as concesses dos servios de eletricidade, reconhecendo a

    figura do produtor independente de energia, liberando os grandes consumido-

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 12

    res do monoplio comercial das concessionrias e assegurando livre acesso

    aos sistemas de transmisso e distribuio.

    Com a dificuldade do governo brasileiro de conseguir recursos para

    atender as crescentes demandas de energia, ele seguindo os passos de ou-

    tros pases do mundo iniciou um processo de privatizao.

    Iniciando o processo de privatizao a ELETROBRS, passou para o

    setor privado a posse de duas concessionrias regionais que estavam sobre

    seu controle acionrio a ESCELSA do estado do Esprito Santo e a LIGHT do

    Rio de Janeiro. A ESCELSA foi privatizada em 21/05/96, tendo sido vendido a

    um consorcio liderado pela IVEN S.A. e a LIGHT em 12/07/95 a um consorcio

    liderado pela Eletricit de France.

    Em 1998 dando continuidade ao reformulao do modelo do setor el-

    trico nacional, a ELETROSUL foi cindida em duas empresas, uma de gerao,

    incluindo todas as usinas, a GERASUL que foi recentemente privatizada e ou-

    tra de transmisso que permaneceu com o nome ELETROSUL.

    4. NOVO MODELO DO SETOR ELTRICO

    De um modelo no qual os Governos, Estadual e Federal, construam e

    operavam a gerao, a transmisso, a distribuio e a comercializao de

    energia eltrica, passou-se para um sistema desverticalizado, onde estes se-

    tores forma segregados com o objetivo de expandir a oferta a preos atrativos

    para o consumidor, dentro de padres de qualidade e de segurana.

    No novo modelo, o servio de energia eltrica ser dividido em seus

    principais segmentos, gerao, transmisso, distribuio e comercializao,

    seja contabilmente, seja pela criao de empresas separadas. No caso, a

    transmisso ser constituda por instalaes de tenso maior ou igual a 230

    KV que formam a Rede Bsica, e outras instalaes de transmisso que aten-

    dam exclusivamente s necessidades de usurios especficos do sistema de

    transmisso. A partir da publicao da Lei 8.987, de 13 de fevereiro de 1995,

    que modificou o regime de concesso e permisso da prestao de servios

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 13

    pblicos, o setor eltrico nacional pode iniciar o seu processo de reestrutura-

    o.

    A primeira etapa da reestruturao do setor eltrico ocorreu atravs da

    publicao da Lei 9.074 de 07 de julho de 1995, que estabeleceu o produtor

    independente de energia eltrica e definiu que consumidores poderiam optar

    por contratar com eles seu fornecimento. Esta lei foi regulamentada Decreto

    2.003, de 10 de setembro de 1996, que estabeleceu as normas para produo

    de energia eltrica por produtor independente e por autoprodutor, asseguran-

    do-lhes o livre acesso aos sistemas de transmisso e distribuio.

    Os principais pontos do novo modelo do setor eltrico so:

    O sistema eltrico deve ser desverticalizado entre quatro segmentos: ge-

    rao, transmisso, distribuio e comercializao. Dentro destas premis-

    sas as empresas subsidirias do Sistema Eletrobrs esto sendo separa-

    das em empresas de gerao, que sero privatizadas, e empresas de

    transmisso que, num primeiro momento, permanecero como subsidirias

    da Eletrobrs. A primeira subsidiria da ELETROBRS a passar por este

    processo foi a Centrais Eltricas do Sul do Brasil S. A. ELETROSUL. A

    GERASUL - Centrais Geradoras do Sul do Brasil S. A., sediada em Floria-

    npolis (SC), originou-se desta ciso, tendo assumido as atividades de ge-

    rao e comercializao que foram desmembradas da ELETROSUL que fi-

    cou responsvel pelo segmento de transmisso. A GERASUL passou ini-

    ciativa privada em 15.09.98. Cerca de 50,01% do controle acionrio, per-

    tencente ao Governo Federal, foi adquirido, em leilo, pelo Grupo TRAC-

    TEBEL, de origem belga especializado em energia eltrica, gs, engenha-

    ria e gesto de resduos.

    O papel do governo ser apenas o de definir as polticas e ter uma forte

    ao reguladora, disciplinando os diversos segmentos envolvidos. Em 26

    de dezembro de 1996, foi publicada a Lei 9.427, que instituiu a Agncia

    Nacional de Energia Eltrica ANEEL para exercer o papel de agente re-

    gulador.

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

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    A concorrncia deve ser estabelecida de imediato nos segmentos de gera-

    o e comercializao. Os segmentos de transmisso e distribuio sero

    monoplio porm com a legislao garantindo o livre acesso a qualquer

    consumidor, produtor independente ou unidade de gerao.

    A operao do sistema eltrico interligado deve ser realizada por um

    agente operador independente. Criao do Operador Nacional do Sistema,

    entidade privada responsvel pela operao e planejamento operacional do

    sistema eltrico interligado.

    5. CRESCIMENTO DO SETOR ELTRICO DO NORDESTE

    Quando a CHESF foi oficialmente inaugurada atendia apenas 2% da

    energia total produzida no Brasil. Nos anos 60 o contnuo aumento do consu-

    mo de energia na regio Nordeste, com taxas acima de 10% exigiu pesados

    investimentos durante este perodo.

    No incio dos anos 60 apenas as capitais dos estados de Pernambuco,

    Bahia e Sergipe eram atendidas pela CHESF, cuja rea de concesso at

    1973, atingia apenas at o Nordeste do Cear. Neste ano a CHESF incorporou

    a Companhia Hidreltrica de Boa Esperana (COHEBE), ampliando-se assim a

    rea de atuao da CHESF a toda o Nordeste. De 1973 1980, a CHESF foi

    responsvel por praticamente todo o atendimento do mercado de energia el-

    trica do Nordeste, uma vez que a autoproduo e a gerao prpria de algu-

    mas concessionrias locais, de base diesel, foram sendo progressivamente

    desativadas.

    Em 1981, foi colocada em operao a linha de transmisso Sobradinho

    Presidente Dutra em 500KV, que interligando a regio Norte com a regio

    Nordeste, propiciou substituir as termeltricas que atendiam o Par. Por fora

    de decreto federal em 1983, motivado por forte presso poltica, o estado do

    Maranho passou a integrar a rea de concesso da ELETRONORTE. Esta

    situao foi mantida at os dias atuais conforme est apresentado na figura 5.

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 15

    Atualmente, a CHESF gera e transmite toda a energia eltrica produzida

    no Nordeste e est interligado ao sistema eltrico da ELETRONORTE atravs

    de uma linha de transmisso em 500KV.

    A figura 6 apresenta o sistema de transmisso da CHESF, indicando

    toda a malha primria, a interligao entre CHESF e ELETRONORTE e as

    interligaes entre as principais usinas do sistema CHESF.

    Figura 6 - Sistema de transmisso CHESF

    A atual estrutura do setor eltrico na regio formada por uma conces-

    sionria regional a CHESF, que era responsvel pela gerao e transmisso

    de energia as concessionrias locais para distribuio de energia.

    A implantao do novo modelo do setor eltrico no Nordeste implicar

    na ciso da CHESF em uma empresa de transmisso e duas ou mais empre-

    sas de gerao. As concessionrias estaduais do Nordeste que so respons-

    veis pela distribuio de energia esto em processo de privatizao, embora

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 16

    ainda existam algumas empresas pertencentes aos governos estaduais, como

    pode ser visto na tabela 1.

    Tabela 1 - Empresas concessionrias de energia na regio Nordeste

    Controle

    Acionrio

    rea de

    atuaoEmpresa

    Estadual Piau Companhia Energtica do Piau -CEPISA

    Privada Cear Companhia Energtica do Cear -COELE

    Privada Rio G. Norte Companhia Energtica do Rio G. do Norte -COSERN

    Estadual Paraba Soc. Annima de Eletrificao da Paraba - SAELPA

    Estadual Pernambuco Companhia Energtica de Pernambuco -CELPE

    Privada Bahia Companhia Energtica da Bahia -COELBA

    Estadual Alagoas Companhia Energtica de Alagoas -CEAL

    Privada Sergipe Companhia Energtica da Sergipe - ENERGIPE

    Municipal Paraba Companhia de Eletricidade da Borborema - CELB

    Privada Sergipe SULGIPE

    A primeira concessionria estadual privatizada foi a COELBA em

    31/07/97 adquirida por um consorcio liderado pelo grupo espanhol Iberdrola. O

    mesmo grupo adquiriu o controle acionrio da COSERN em 13/12/97. A

    ENERGIPE foi privatizada em 03/12/97 pelo grupo Cataguazes-Leolpodina.

    Durante o ano de 1999 devem ser privatizadas a COELCE, a CEPISA e

    a CEAL e a CELPE.

    A CHESF, alm das concessionrias de distribuio listadas na tabela

    1, tem treze grandes consumidores industriais alimentados em 230KV localiza-

    dos nos estados de Pernambuco, Cear, Bahia, Alagoas e Sergipe. So eles:

    Dow Qumica, Alcan, Alunordeste, Sibra, Usiba, Ferbasa, Copene, Caraba

    Metais, Minerao Caraba e a CQR na Bahia, Ao Norte em Pernambuco,

    Salgema em Alagoas, Sibra no Cear e a Nitrofrtil em Sergipe.

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 17

    Examinando a Figura 7 que mostra como est distribudo o mercado de

    energia da regio Nordeste, importante destacar que 75% da energia vendi-

    da pela CHESF consumida pela concessionrias de distribuio.

    Concessionrias de Distribuio

    75%

    Perdas7%

    Consumo Prprio1%

    Consumidores Industriais

    17%

    Figura 7 - Mercado de Energia Eltrica do Nordeste

    Como pode ser visto na Figura 8, o consumidor Salgema o maior con-

    sumidor industrial da CHESF, ele compra a CHESF 23.1% de toda a energia

    vendida aos consumidores industriais.

    CARABA METAIS

    7,2%

    SALGEMA23,1%

    DOW QUMICA

    16,6%

    AO NORTE2,3%ALCAN

    7,3%SIBRA9,7%

    COPENE14,0%

    NITROFRTIL

    2,7%

    FERBASA10,9%

    USIBA4,5%

    Figura 8 - Consumidores Industriais CHESF - 1996

    A tabela 2 apresenta a capacidade instalada de cada central de gerao

    localizada na regio Nordeste, apresentando nmero de unidades e potncia

    de cada unidade.

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 18

    Tabela 2 - CAPACIDADE INSTALADA DE GERAO NO NORDESTE

    Usinas Nmero deunidades

    Potncia porunidade (MW)

    PotnciaTotal (MW)

    Hidreltrica de Paulo Afonso I 3 60 180Hidreltrica de Paulo Afonso II-A 3 75 225Hidreltrica de Paulo Afonso II-B 3 85 255Hidreltrica de Paulo Afonso III 4 216 864Hidreltrica de Paulo Afonso IV 6 410 2460Hidreltrica de Sobradinho 6 175 1050Hidreltrica de Itaparica 6 250 1500Hidreltrica de Moxot 4 110 440Hidreltrica de Xing 6 500 3000Hidreltrica de Boa Esperana A 2 54 108Hidreltrica de Boa Esperana B 2 63 126Hidreltrica de Funil 3 10 30Hidreltrica de Pedra 1 23 23Hidreltrica de Araras 2 2 4Hidreltrica de Coremas 2 1.76 3.52Termeltrica de Camaari 5 58 290Termeltrica de Bongi* 5 28.5 142

    6. QUALIDADE DE ENERGIA

    Um sistema eltrico de potncia um conjunto de componentes e equi-

    pamentos eltricos que permitem gerar, transmitir, controlar e distribuir a

    energia eltrica a todos os seus consumidores dentro de certos padres de

    qualidade. Estes padres de qualidade so determinados pelos seguintes fa-

    tores:

    continuidade do fornecimento;

    freqncia eltrica constante;

    tenso constante;

    oscilaes rpidos de tenso;

    desequilbrio de tenso;

    distores harmnicas de tenso;

    nvel de interferncia em sistemas de comunicao.

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 19

    A continuidade de fornecimento est regulamentada pelo DNAEE (De-

    partamento Nacional de guas e Energia Eltrica) atravs da Portaria 046/78,

    de 17/04/78, que define os ndices de continuidade por conjunto de consumi-

    dores e os valores de continuidade para um consumidor especifico. Os ndices

    de continuidade por conjunto de consumidores so: DEC ( Durao Equiva-

    lente de Interrupo por Consumidor de um Conjunto ) e o FEC ( Freqncia

    Equivalente de Interrupo por Consumidor de um Conjunto).

    O DEC exprime o espao de tempo em que, em mdia cada consumidor

    do conjunto considerado ficou privado do fornecimento de energia eltrica e

    pela seguinte equao:

    Cs

    itiCaCDE

    n

    i

    == 1)().(

    [1]

    onde:

    DEC - Durao Equivalente de Interrupo por Consumidor de

    um conjunto

    Ca(i) - nmero de consumidores, do conjunto considerado, atingi-

    dos nas interrupes

    t(i) - tempo de durao das interrupes em horas

    Cs - nmero de consumidores total do conjunto.

    O FEC pode ser calculado pela seguinte equao:

    Cs

    iCaCFE

    n

    i

    == 1)( [2]

    onde:

    FEC - Freqncia Equivalente de Interrupo por Consumidor de

    um Conjunto

    Ca(i) - nmero de consumidores, do conjunto considerado, atingi-

    dos nas interrupes

    Cs - nmero de consumidores total do conjunto.

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 20

    A Portaria 046/78 do DNAEE, de 17/04/78, que define os valores mxi-

    mos anuais de DEC e FEC apresentados na Tabela 3.

    Tabela 3 - Valores mximos anuais de DEC e FEC

    Conjunto de ConsumidoresDEC

    (horas)

    FEC

    (nmero

    de vezes)

    Atendido por sistema subterrneo com secundrio reticula-do

    15 20

    Atendido por sistema subterrneo com secundrio radial 20 25

    Atendido por sistema areo com mais de 50.000 consumi-dores

    30 45

    Atendido por sistema areo com nmero de consumidoresentre 15.000 e 50.000

    40 50

    Atendido por sistema areo com nmero de consumidoresentre 5.000 e 15.000

    50 60

    Atendido por sistema areo com nmero de consumidoresentre 1.000 e 5.000

    70 70

    Atendido por sistema areo com menos de 1000 consumi-dores

    120 90

    Exemplo 1 :

    Uma concessionria de distribuio que alimenta 60.000 consumidores atravs

    de sua rede area, apresentou o seguinte relatrio de interrupes de forneci-

    mento de energia no ltimo trimestre:

    5 interrupes de 140 minutos ( 2,33 horas) : 7800 consumidores;

    2 interrupes de 100 minutos ( 1,66 horas) : 6300 consumidores;

    3 interrupes de 40 minutos ( 0,66 horas) : 9850 consumidores;

    6 interrupes de 180 minutos ( 3,00 horas) : 12700 consumidores;

    8 interrupes de 150 minutos ( 2,50 horas) : 19000 consumidores;

    5 interrupes de 120 minutos ( 2,00 horas) : 17500 consumidores.

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 21

    horas 15,2460000

    5x2x1750008x2,5x19006x3x12700

    6000003x0,66x98563x9850x0,662x6300x1,635x7800x2,3

    DEC

    =++

    ++++

    =

    [3]

    dores/consumiinterrup 61,6F

    600005x175008x190006x127003x98502x63005x7800

    FEC

    =

    +++++=

    EC

    [4]

    Estes nmeros exprimem que, em mdia, cada cliente desta concessio-

    nria esteve 15,24 horas privado do fornecimento de energia eltrica no tri-

    mestre e que em mdia cada consumidor teve 6,61 interrupes.

    A Portaria 046/78 do DNAEE, estabelece que, na apurao dos ndices,

    no devem ser computadas as interrupes por racionamento de energia, de

    consumidor isolado e aquelas com durao inferior a trs minutos.

    No que se refere a manuteno da tenso constante, o DNAEE emitiu a

    Portaria 047/78 que estabelece as condies mnimas que a concessionria

    deve atender quanto ao nvel de tenso de fornecimento prestado aos seus

    consumidores. Sero relacionados a seguir os principais pontos constantes da

    referida Portaria, ou seja:

    - Atendimento em tenso de transmisso, subtransmisso ou primria de

    distribuio:

    A tenso de fornecimento no ponto de entrega de energia pode

    ser fixada entre + 5% e - 5% com relao tenso nominal do

    sistema.

    Os limites de variao da tenso de fornecimento no ponto de

    entrega de energia so + 5% e - 7,5%.

    - Atendimento em tenso secundria de distribuio

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 22

    Os limites de variao de tenso de fornecimento no ponto de

    entrega de energia constam da Tabela. As disposies cons-

    tantes na portaria no se aplicam nos seguintes casos: Variaes

    momentneas de tenso, ocasionadas por defeitos, manobras,

    alteraes bruscas de carga ou perturbaes similares e venda

    de energia em grosso. A mesma Portaria estabelece ainda as

    condies de verificao das medies de tenso e as providn-

    cias que devem ser tomadas para regularizar os limites de ten-

    so.

    Tabela 4 - Limites de Variao da Tenso de Alimentao

    Limites Inferiores Limites SuperioresTenso

    Nominal

    ( V )

    Condies

    Precrias

    Condies

    Adequadas

    Condies

    Precrias

    Condies

    Adequadas

    127 109 116(110*) 135 132

    220 189 201(190*) 233 229

    380 327 348 403 396

    * - Exclusivamente para ligaes fase-neutro

    A tenso de fornecimento no sendo constante afeta significativamente

    o desempenho dos diversos equipamentos conectados a rede. Cada equipa-

    mento tem sua tenso nominal e oper-lo numa tenso diferente da nominal

    provoca um mau desempenho operacional e at reduo de sua vida til. Para

    ilustrar este fato, consideremos um motor de induo. Ele operando fornecen-

    do uma dada potncia mecnica no seu eixo, quando sua tenso de alimenta-

    o est abaixo da nominal ele solicita da rede mais corrente para continuar

    fornecendo a mesma potncia e tem suas perdas e elevaes de temperatura

    incrementadas, podendo assim comprometer a sua prpria vida til.

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 23

    As reclamaes dos consumidores quando ocorrerem variaes de ten-

    so perceptveis. Essas variaes podem ser as normais que ocorrem entre os

    horrios de pico e os horrios de carga leve, ou, ainda as oscilaes rpidas

    de tenso. O primeiro tipo de variaes apresenta uma relativa facilidade de

    medio e correo, uma vez que a variao de tenso lenta, acompanhan-

    do a variao da carga. J o segundo tipo de difcil medio, devido s vari-

    aes bruscas de tenso, que provocam o fenmeno denominado flicker.

    As cargas que podem provocar oscilao; de tenso so os fornos

    arco, aparelhos de raio X, mquinas de solda e motores acionando carga vari-

    vel (compressores, britadores, laminadores, guindastes, elevadores, etc. ).

    A freqncia eltrica um parmetro que tambm exerce influncia no

    desempenho dos equipamentos dos consumidores de um sistema eltrico.

    Como exemplo podemos citar a influncia nas perdas, na elevao de tempe-

    ratura e nas velocidades mecnicas dos motores eltricos.

    De acordo com o IBGE o Brasil ainda tem 47% da sua populao sem

    energia eltrica, talvez este fato possa justificar a baixa exigncia dos consu-

    midores brasileiros durante ao anos 70 e 80 com relao a qualidade do forne-

    cimento de energia eltrica. Entretanto, no inicio dos anos 90, com a crescente

    modernizao do parque industrial e com a invaso dos microcomputadores

    nas mais diferentes atividades produtivas e recreativas, os clientes dos servi-

    os de energia eltrica passaram a pleitear melhor qualidade de energia para

    essas novas cargas.

    A promulgao da Lei 8.078 de 11 de setembro de 1990, denominada

    Cdigo de Defesa do Consumidor, despertou a sociedade brasileira no sentido

    de requerer, em todos os nveis, a qualidade desejvel, tanto dos produtos ad-

    quiridos, quanto dos servios recebidos das empresas pblicas e privadas.

    Com a atual poltica de privatizao do setor eltrico nacional, sinaliza-

    se uma competio de mercado entre as empresas responsveis pelo servio

    pblico de energia eltrica. Dentro desse cenrio, em que o consumidor pode-

    r escolher o seu fornecedor, abre-se um enorme campo para a discusso da

    qualidade de energia eltrica no Brasil, estabelecendo, de forma mais ampla

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 24

    que o atual, novos limites de continuidade, nveis de tenso e outros parme-

    tros, como distores harmnicas permitidas, nveis de flicker, etc., que orien-

    tem tanto os clientes quanto as concessionrias de energia eltrica, alm de

    definir penalidades quanto as transgresses aos limites impostos pela normali-

    zao. Devem ser estabelecidas as responsabilidades dos clientes quanto

    injeo de poluentes eltricos no sistema supridor, e quais as penalidades so-

    fridas pelas concessionrias, se os nveis de qualidade de energia no forem

    atendidos.

    Como se pode perceber, com o advento de novas tecnologias incorpo-

    radas carga do consumidor, os procedimentos normativos, anteriormente

    expostos, no fazem mais sentido serem o instrumento balizador do nvel de

    qualidade de energia nos tempos atuais.

    O atual rgo regulador - ANEEL (Agncia Nacional de Energia Eltrica)

    prepara uma nova proposta que dever ser exaustivamente discutida por usu-

    rios do sistema eltrico e concessionrias de energia.

    7. EVOLUO E PERSPECTIVAS FUTURAS DOS SISTEMASELTRICOS

    Nos ltimos anos a evoluo dos sistemas eltricos ocorreu sempre

    tendendo a:

    reduzir o nvel de investimentos,

    reduzir o impacto ambiental causado pelo nmero excessivo

    de linhas de transmisso e subestaes;

    incrementar a qualidade no fornecimento de energia eltrica;

    descobrir novas tecnologias para gerao de energia eltrica

    encarando uma provvel futura escassez de recursos naturais

    como carvo e leo mineral.

    Dentro destas linhas de ao foram:

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 25

    construdas linhas de transmisso em nveis de tenso cada

    vez mais elevadas ocupando o menor espao possvel, surgin-

    do assim linhas de transmisso em 69kV, 138kV, 345kV,

    500kV e 750kV;

    construdas linhas interligando sistemas isolados e ainda, am-

    pliando as interligaes entre sistemas eltricos j interligados;

    colocadas em operao pequenas centrais acionadas por fon-

    tes primrias alternativas como a energia solar e a energia e-

    lica;

    construdas linhas de transmisso em corrente contnua para

    transporte de grandes blocos de energia em grandes distnci-

    as.

    A interligao de sistemas eltricos aumenta a confiabilidade e reduz

    novos investimentos, pois permite que:

    unidades geradoras de alto custo sejam substitudas por outras

    de custo menor;

    ocorra ajuda mtua em casos de emergncia em um dos sis-

    tema eltricos operando interligado;

    sejam reduzidos novos investimentos em centrais eltricas

    para ampliar e manter a reserva girante de um sistema eltrico,

    sejam aproveitadas a diversidade de carga entre sistemas in-

    terligados;

    sejam aproveitadas a diversidade hidrolgica entre bacias hi-

    drogrficas distintas.

    importante destacar que interligaes entre sistemas eltricos no

    trazem apenas vantagens, uma vez que distrbios de um sistema so transmi-

    tidos para o outro e que interligar sistemas eltricos significa elevar o nvel de

    curto circuito, aumentando o custo dos equipamentos e instalaes.

    Com o aparecimento nos anos sessenta da tecnologia dos tiristores e

    com a necessidade cada vez maior de transportar grandes blocos de energia

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 26

    por grandes distncias, a transmisso de energia em corrente contnua passou

    a ser uma alternativa atraente. importante ressaltar que a idia no elimi-

    nar os sistema em corrente alternada e sim superpor uma linha CC a uma CA

    ou interligar dois sistema ca por um link ou elo CC.

    A Figura 9 apresenta o diagrama unifilar de um elo CC com seus principais

    componentes: filtros de harmnicos CA, conversores e reatores srie CC. Os

    conversores podem operar como inversores ou como retificadores. Os filtros

    CA so responsveis pela eliminao dos harmnicos do lado CA e os reato-

    res srie impedem que os harmnicos circulem pelo lado CC do elo.

    Os disjuntores so instalados apenas no lado CA dos conversores e no

    so utilizados para eliminar faltas no lado CC ou nos conversores. Para falhas

    no sistema CC, o sistema de controle de ignio dos tiristores atua bloqueando

    o fluxo de potncia no elo.

    SistemaCA

    SistemaCA

    Figura 9 Diagrama unifilar de um elo de corrente contnua

    As principais aplicaes dos sistema de transmisso em corrente cont-

    nua so:

    para o caso de travessias martimas utilizando cabos de alta

    tenso em trechos longos (maior que 40Km). Este fato no se

    deve apenas ao menor custo do cabo mas tambm uma de-

    corrncia do fato de no existir soluo econmica para com-

    pensao da corrente de carga dos cabos;

    para interconectar sistemas CA com freqncias diferentes ou

    onde no h interesse em sincronizar os dois sistemas CA;

    para limitar os nveis de curto circuito, pois com dois sistemas

    CA interligados por um link CC, a ocorrncia de um curto num

    sistema CA no implicaria em uma alimentao para falta por

    parte do outro sistema.

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 27

    Do ponto de vista econmico, o uso de elos CC, geralmente, est rela-

    cionada com a potncia a ser transmitida e a distncia. O custo por unidade de

    comprimento de uma linha CC bastante inferior ao de uma linha CA para a

    mesma potncia e comparvel confiabilidade, entretanto, o custo dos equipa-

    mentos terminais so muito mais elevados que os de uma linha CA. Portanto

    existe uma distncia crtica na faixa de 500Km 1500Km a partir da qual o

    custo do elo CC menor que a interligao por linha de transmisso em cor-

    rente alternada.

    Para ilustrar a comparao entre as opes de corrente contnua e al-

    ternada para interligar dois sistemas eltricos, vamos apresentar o resultado

    de um dos estudos efetuados para a deciso da melhor alternativa para o sis-

    tema eltrico Ekibestug-Centre na antiga URSS. A Figura 10 mostra as estruturas

    e os principais dados das duas alternativas estudadas. A Figura 11 apresenta a

    anlise preliminar de custos, justificando a deciso em corrente contnua para

    o elo com uma extenso de 1350Km.

    Figura 10 - Comparao entre estruturas CC x CA

    Na Figura 11 os pontos onde as retas (representando os custos) intercep-

    tam o eixo vertical definem os custos dos equipamentos terminais. A inclinao

    de cada curva correspondente ao custo da linha por unidade de comprimento

    e dos equipamentos acessrios que variam por comprimento de linha. Para

    distncias inferiores quela determinada pelo ponto crtico, a transmisso CA

    apresenta menor custo e o oposto ocorre para distncias superiores.

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 28

    0

    1000

    2000

    3000

    4000

    5000

    6000

    7000

    8000

    9000

    10000

    020

    040

    060

    080

    010

    0012

    0014

    00

    Extenso (Km)

    US$

    x 1

    00

    0

    Figura 11 Custos comparativos dos elos CC x CA

    Com relao a perspectivas futuras, algumas possibilidades se apre-

    sentam promissoras, merecendo comentrios:

    1. Transmisso em Ultra Alta Tenso na faixa de 1000KV 1200KV - A

    transmisso nestes nveis de tenso permitir transportar substanci-

    ais blocos de energia por longas distncias, permitindo o aproveita-

    mento econmico de fontes de gerao mais remotas e com reduzido

    impacto ambiental. Os pases que atualmente mantm pesquisas

    nesta rea so a Unio Sovitica, que tem um sistema de 1200KV em

    operao comercial, o Japo com um sistema em 1000KV previsto

    para operao comercial em 1997. O Brasil tem atuado como parceiro

    de um projeto de pesquisa denominado Projeto 100KV com a em-

    presa estatal italiana ENEL. O objetivo final deste projeto a constru-

    o e operao de um projeto piloto de 1050KV possuindo todos os

    componentes de um futuro sistema de U.A.T;

    2. Transmisso em Alta Tenso em Corrente Contnua - Muitos projetos

    em todo o mundo tem considerado a tecnologia C.C., destes, o pro-

    jeto de Itaipu em operao desde 1985, o que utiliza o mais elevado

    nvel de tenso +/- 600 kV. O mais extenso sistema eltrico j ope-

    CC

    CA

  • Captulo 1 - Introduo aos Sistemas Eltricos

    I - 29

    rando em corrente contnua est localizado em Moambique, na fri-

    ca em +/- 533KV com uma extenso de 1700Km. De forma geral

    pode-se dizer que a tecnologia em corrente contnua caminha no

    sentido de aumentar seus parmetros principais tenso e potncia;

    3. Transmisso hexafsica e transmisso em meio comprimento de

    onda so alternativas que sendo pesquisadas porm sem nenhuma

    experincia significativa no mundo.