16
Artigo recebido em: 02/02/2011 Aceito em: 02/06/2012 Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso. INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS: PERSPECTIVAS TEÓRICAS E AGENDA DE PESQUISA Internationalization of Enterprises: theoretical perspectives and research agenda Eda Castro Lucas de Souza Professora do Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade de Brasília - Brasília – DF, Brasil. E-mail: [email protected] Renato Ribeiro Fenili Doutorando em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade de Brasília – DF, Brasil. E-mail: [email protected] DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2012v14n33p103 Resumo O objetivo deste ensaio é identificar e discutir a produção científica sobre internacionalização de empresas para apresentar uma agenda de pesquisa concernente ao tema a partir das direções apontadas no estado da arte dos estudos desse fenômeno. Adicionalmente, este texto busca delinear e caracterizar as perspectivas teóricas que predominam nessa produção. Por meio de revisão da produção acadêmica brasileira e estrangeira sobre internacionalização, publicada no período de janeiro de 2005 a setembro de 2011, foram selecionados 141 artigos, identificando-se a carência de trabalhos que promovessem uma discussão direta sobre a relação entre internacionalização e cultura, especialmente no que concerne às iniciativas brasileiras. A análise dos textos selecionados permitiu uma taxonomia dos estudos em três perspectivas teóricas: econômica, comportamental e cultural. Ao final, e com apoio na análisedos artigos publicados, propõe-se uma agenda de pesquisa a respeito do tema internacionalização de empresas, elaborada a partir das lacunas apontadas no estado da arte dos estudos sobre esse fenômeno. Palavras-chave: Internacionalização de Empresas. Negócios Internacionais. Produção Científica. Abstract The purpose of this essay is to identifythe scientific literature on internationalization of companies, and to present a research agenda on the subject. In addition, this work intends to outline and to describe the theoretical perspectives that predominate in this production. Through the review of academic literature on internationalization, from January 2005 to September2011, 141articles were selected, exposing the lack of studies that promote a direct discussion about the relationship between internationalization and culture, in particular with regard to Brazilian initiatives. Through the analysis of the selected texts it was introduced a taxonomy of three theoretical perspectives: economic, behavioral and cultural. Supported by the discussion in the published articles, a research agenda is proposed, compiled from the shortcomings pointed out in the state of art of studies on this phenomenon Key words : Internationalization of Enterprises. International Business. Scientific Literature.

Internationalization of Enterprises: theoretical

  • Upload
    others

  • View
    6

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Internationalization of Enterprises: theoretical

Artigo recebido em: 02/02/2011 Aceito em: 02/06/2012

Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.

INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS: PERSPECTIVAS TEÓRICAS E AGENDA DE PESQUISA

Internationalization of Enterprises: theoretical perspectives and research agenda

Eda Castro Lucas de SouzaProfessora do Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade de Brasília - Brasília – DF, Brasil. E-mail: [email protected]

Renato Ribeiro FeniliDoutorando em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade de Brasília – DF, Brasil. E-mail: [email protected]

DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2012v14n33p103

Resumo

O objetivo deste ensaio é identificar e discutir a produção científica sobre internacionalização de empresas para apresentar uma agenda de pesquisa concernente ao tema a partir das direções apontadas no estado da arte dos estudos desse fenômeno. Adicionalmente, este texto busca delinear e caracterizar as perspectivas teóricas que predominam nessa produção. Por meio de revisão da produção acadêmica brasileira e estrangeira sobre internacionalização, publicada no período de janeiro de 2005 a setembro de 2011, foram selecionados 141 artigos, identificando-se a carência de trabalhos que promovessem uma discussão direta sobre a relação entre internacionalização e cultura, especialmente no que concerne às iniciativas brasileiras. A análise dos textos selecionados permitiu uma taxonomia dos estudos em três perspectivas teóricas: econômica, comportamental e cultural. Ao final, e com apoio na análisedos artigos publicados, propõe-se uma agenda de pesquisa a respeito do tema internacionalização de empresas, elaborada a partir das lacunas apontadas no estado da arte dos estudos sobre esse fenômeno.

Palavras-chave: Internacionalização de Empresas. Negócios Internacionais. Produção Científica.

Abstract

The purpose of this essay is to identifythe scientific literature on internationalization of companies, and to present a research agenda on the subject. In addition, this work intends to outline and to describe the theoretical perspectives that predominate in this production. Through the review of academic literature on internationalization, from January 2005 to September2011, 141articles were selected, exposing the lack of studies that promote a direct discussion about the relationship between internationalization and culture, in particular with regard to Brazilian initiatives. Through the analysis of the selected texts it was introduced a taxonomy of three theoretical perspectives: economic, behavioral and cultural. Supported by the discussion in the published articles, a research agenda is proposed, compiled from the shortcomings pointed out in the state of art of studies on this phenomenon

Key words: Internationalization of Enterprises. International Business. Scientific Literature.

Page 2: Internationalization of Enterprises: theoretical

104

1 INTRODUÇÃO

Grande é o desafio vivido pelas organizações para fortalecerem-se e diferenciarem-se com vistas a enfrentarem a complexidade das relações no processo de internacionalização.

A despeito das diversas teorias propostas, nas últimas cinco décadas, para elucidar o comportamento das firmas na arena internacional, são recorrentes as críticas afetas à impossibilidade de se explicar ou de se predizer o comportamento das firmas durante o proces-so de internacionalização (AXINN; MATTHYSSENS, 2001), acarretando, com isso, a necessidade de novos esforços na abordagem desse fenômeno.

Ante a diversidade de enfoques possíveis no estudo de internacionalização de empresas, mostra-se pertinente o objetivo deste texto de identificar e de discutir a produção científica sobre internacionalização de empresas para apresentar uma agenda de pesquisa concernente ao tema, a partir das direções apontadas no estado da arte dos estudos desse fenômeno. Adi-cionalmente, este texto busca delinear e caracterizar as perspectivas teóricas que predominam nessa produção.

Por meio de revisão da produção científica sobre internacionalização, publicada em periódicos brasi-leiros e estrangeiros no período de janeiro de 2005 a setembro de 2011, foram selecionados 141 artigos que versam diretamente sobre esse fenômeno suscitando a análise do grau de destaque dispensado nessa amostra e nas perspectivas dos estudos sobre os processos de internacionalização.

Este artigo foi estruturado em cinco seções. A primeira apresenta o conceito de internacionaliza-ção de empresas; a segunda discorre sobre o método de seleção dos artigos e de análise de seu conteúdo; a terceira caracteriza o estado da arte relacionado a esse fenômeno; a quarta apresenta uma análise da produção científica sobre o tema, e a seção derradeira destina-se a sintetizar os argumentos principais deste trabalho. A relevância deste texto repousa no fato de realizar uma discussão do conceito de internacionali-zação de organizações e apresentar uma agenda de pesquisa que visa ao enriquecimento da produção acadêmica a respeito de tema emergente e pouco explorado na literatura de administração.

2 O CONCEITO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS

Diversos são os conceitos de internacionalização de empresas constantes da literatura, os quais variam em função do foco que é dado em suas concepções. Cita-se, por exemplo, a definição de Johanson e Vahlne (1977) que ressalta a taxa gradual de envolvimento de empresas em negócios internacionais, quando eles dizem que a internacionalização é o processo pelo qual as empresas gradativamente aumentam seu envolvi-mento em negócios internacionais.

Em outra visão, Welch e Luostarinen (1988) des-tacam as operações mantidas pela firma em cenários estrangeiros, definindo internacionalização como o processo de envolvimento crescente em operações internacionais, no sentido do contexto doméstico para mercados estrangeiros e vice-versa. Na mesma linha, Calof e Beamish (1995) referem-se a esse fenômeno como um processo de incremento do envolvimento da firma em operações internacionais.

Já para Johanson e Mattsson (1988), o fator re-lacional da empresa rumo a mercados internacionais é o aspecto preponderante na internacionalização. Para esses autores, o fenômeno é definido como o processo cumulativo, no qual relações são continuamente estabe-lecidas, mantidas, desenvolvidas, rompidas e dissolvidas no intuito da consecução dos objetivos da firma. O foco relacional está da mesma forma presente no conceito de Johanson e Vahlne (1990, p. 20), para quem interna-cionalização é o “[...] processo de desenvolvimento de redes de relacionamento de negócios em outros países através de extensão, penetração e integração.”

Há na literatura, ainda, autores que veem a internacionalização centrada na alocação de recursos em atividades com mercados estrangeiros. Tal é o caso de Ahokangas (1998) ao definir o fenômeno como um processo de mobilização, de acumulação e de desen-volvimento de estoques de recursos para atividades internacionais.

Para fins deste trabalho, internacionalização é considerada o fenômeno de consolidação de ativi-dades econômicas de uma empresa com mercados estrangeiros, numa acepção próxima à apresentada por Ruzzier, Hisrich e Antoncic (2006). Frisa-se que, nesse sentido, essa consolidação pode se dar de forma incremental ou acelerada, abarcando-se a internacio-

Page 3: Internationalization of Enterprises: theoretical

105

nalização tanto vista pelos chamados modelos-estágio (incremental) quanto pela ótica das international new ventures (acelerada).

Segundo Barreto e Rocha (2003), os estudos sobre as decisões que levam a processos de interna-cionalização de empresas seguem duas linhas distintas. A primeira, de cunho econômico, tende a interpretar processos decisórios de internacionalização como ra-cionais e objetivos e que sejam centrados na alocação ótima de recursos, minimizando custos de transação ou visando à vantagem competitiva. A segunda linha, ainda segundo esses autores, detém maior subjetivida-de, assumindo uma ótica comportamental, estudando a internacionalização a partir das atitudes e das per-cepções dos tomadores de decisão das organizações.

No intuito de sintetizar o conteúdo ora apresen-tado, apresentam-se algumas das definições dos con-ceitos de internacionalização de empresas, Quadro 1.

CONCEITO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS

Processo pelo qual as empresas gradualmente aumentam seu envolvimento em negócios internacionais. (JOHANSON; VAHLNE, 1977)

Processo de envolvimento crescente em operações internacionais, no sentido do contexto doméstico para mercados estrangeiros e vice-versa. (WELCH; LUOSTARINEN, 1988)

Processo pelo qual as firmas tanto aumentam sua consciência de investimento direto e indireto de transações internacionais sobre seu futuro, quanto estabelecem e conduzem transações com outros países. (BEAMISH, 1990)

Processo de incremento do envolvimento da firma em operações internacionais. (CALOF; BEAMISH, 1995)

Processo de adaptação da modalidade de troca comercial a mercados internacionais. (ANDERSEN, 1997)

Processo cumulativo, no qual relações são continuamente estabelecidas, mantidas, desenvolvidas, rompidas e dissolvidas no intuito da consecução dos objetivos da firma. (JOHANSON; MATTSSON, 1988)

Desenvolvimento de redes de relacionamento de negócios em outros países através de extensão, penetração e integração. (JOHANSON; VAHLNE, 1990)

Processo de mobilização, acumulação e desenvolvimento de estoques de recursos para atividades internacionais. (AHOKANGAS, 1998)

Expansão geográfica das atividades econômicas de uma empresa para além das fronteiras nacionais de seu país de origem. (RUZZIER; HISRICH; ANTONCIC; 2006)

Quadro 1: Conceitos de Internacionalização de Empresas Fonte: Elaborado pelos autores deste artigo

Na subseção seguinte, expõem-se algumas das teorias inseridas nas linhas econômica e comporta-mental.

2.1 Teorias Econômicas de Internacionalização de Empresas

No escopo das teorias de cunho econômico, restringindo-se àquelas que têm a firma como unidade de análise, (CARNEIRO; DIB, 2007), inserem-se a Te-oria do Poder de Mercado, a Teoria da Internalização e o Paradigma Eclético, sintetizadas a seguir.

2.1.1 A Teoria do Poder de Mercado

Uma das primeiras teorias a discutir os moti-vadores do Investimento Direto no Exterior (IDE), a Teoria do Poder de Mercado foi proposta por Hymer (1960/1976). Essa teoria sugere que a busca de lucros de monopólio por empresas já dominantes em seus mercados locais suscita o investimento em operações externas. O grande motivador, nesse caso, é a dificulda-de crescente da firma aumentar o poder de mercado, ao atingir um ponto de saturação no mercado doméstico.

Para Graham (2002), uma das contribuições de Hymer é o reconhecimento de que o IDE é mais bem compreendido no contexto da organização industrial – ao agregar imperfeições do mundo real, do que na teoria clássica do movimento de capital internacional. Ainda segundo Graham (2002, p. 29), outra contribui-ção decorre do fato se situar a empresa multinacional como agente protagonista do IDE, de modo que a Teoria do Poder de Mercado é grandemente voltada a identificar “[...] as razões pelas quais firmas individuais tomam decisões de investimentos internacionais”.

Nesse aspecto, Pitelis e Teece (2010) analisam que o motivo da existência de multinacionais não é traduzido em função de um fenômeno do mercado de capitais empenhado em alavancar o capital de domí-nios geográficos em que goza de baixos retornos para outros domínios nos quais pode obter retornos mais elevados. Ao invés disso, as empresas multinacionais são justificadas ante a busca por

[...] redução de competitividade e por benefícios decorrentes do uso de vantagens intrafirma e da diversificação relacionada com o IDE. (PITELIS; TEECE, 2010, p. 1.250)

Page 4: Internationalization of Enterprises: theoretical

106

2.1.2 A Teoria da Internalização

A Teoria da Internalização associa-se à Teoria dos Custos de Transação (WILLIAMSON, 1979), elabora-da, a partir do trabalho de Coase (1937) sobre o modo eficiente de se organizarem atividades transacionais interfirmas.

Com base em Buckley e Casson (1976), a Teoria da Internalização dedica-se a aclarar a relação entre custos e benefícios de se coordenarem atividades econômicas transnacionais internamente por meio da gestão da firma ao invés de externamente por meio do mercado.

Partindo-se da premissa da existência de imper-feições nos mercados, as firmas agem na busca pela maximização de seus lucros. Com esse objetivo, a empresa que se internacionaliza passa a optar racio-nalmente entre a internalização (hierarquização) de atividades econômicas conduzidas em diferentes países ou por lidar com as imperfeiçoes de mercado (via joint ventures ou licenças, por exemplo). No primeiro caso, surge a empresa multinacional.

Segundo os citados autores, o fluxo de produtos intermediários é responsável por conectar uma série de atividades inerentes à produção da maioria de bens e serviços. Dentre os produtos intermediários, estão não somente os materiais semiprocessados que perpassam indústrias, mas, principalmente, “[...] vários tipos de conhecimento e expertise incorporados em capital humano, patentes e outros ativos intangíveis.” (BUCKLEY; STRANGE, 2011, p. 461). Assim, para Buckley e Casson (1976), a internalização das imper-feições típicas dos mercados externos conduz para a formação das empresas multinacionais.

2.1.3 O Paradigma Eclético

Dunning (2001), em uma abordagem econômica da internacionalização de empresas, identifica três conjuntos de vantagens que servem de motor a esse fe-nômeno, consubstanciando o denominado Paradigma Eclético ou Teoria OLI. Essas vantagens são definidas pelo autor como: a capacidade de as competências es-senciais da firma (matriz) atuarem como um diferencial frente a concorrentes estrangeiros (O – ownership); a

exploração dos benefícios da localização, sejam em termos de custos de mão de obra, transportes ou maior adaptação e integração com o mercado estrangeiro (L – localization); e a minimização de custos de tran-sação, reduzindo-se a incerteza e ampliando a possi-bilidade de atuação direta na oferta e nos mercados e da efetivação de acordos (I – internalization).

Para Eden e Dai (2010), as vantagens supraci-tadas são situadas no nível da firma: (1) a firma deve possuir as vantagens O – ownership; (2) a firma deve optar pelo uso dessas vantagens, ao invés de vendê--las ou relegá-las (mercado) e (3) a firma necessita de fatores situados fora do país de origem a fim de fazer uso rentável das vantagens O – ownership. No entan-to, Dunning (2002) afirma que, a despeito de haver ilustrado de forma recorrente o Paradigma Eclético com relação à firma individual, seu principal foco é elucidar a produção internacional de todas as firmas de um determinado país ou de um grupo de países. Nessa ótica, esse autor considera “[...] inapropriado comparar os méritos e deméritos do paradigma eclético com aqueles da internalização e de outras teorias da firma.” (DUNNING, 2002, p. 40)

De certa maneira, Carneiro e Dib (2007, p. 17) afirmam que o Paradigma Eclético é um “arca-bouço analítico amplo”, capaz de envolver tanto as imperfeições de mercado causadas pelo crescimento da empresa em seu mercado doméstico (Teoria do Poder de Mercado), quanto o fato de as organizações internacionalizarem-se com vistas ao aproveitamento das imperfeições dos mercados estrangeiros (Teoria da Internalização).

2.2 Teorias Comportamentais de Internacionalização de Empresas

O desenvolvimento de uma abordagem compor-tamental sobre internacionalização de empresas é ob-servado a partir de meados da década de 1970, como decorrência da contribuição da linha de pensamento desenvolvida pela Escola de Uppsala, responsável por estudar as etapas de um processo de uma organização que se internacionaliza sob a perspectiva da Teoria do Comportamento Organizacional (HILAL; HEMAIS, 2003). As principais características do modelo proposto por essa Escola são apresentadas a seguir.

Page 5: Internationalization of Enterprises: theoretical

107

2.2.1 A Escola de Uppsala

Dentre os estudos do processo de internaciona-lização de empresas que seguem uma ótica compor-tamental, o modelo originado na Escola de Uppsala, ainda na década de 1970, foi, segundo Petersen e Pedersen (1997), generalista e, como tal, aplicável às mais diferentes organizações em distintas situações.

A teoria desenvolvida pela Escola de Uppsala é o “mais proeminente” (PRANGE; VERDIER, 2011, p. 126) dos modelos estágio, ou seja, das abordagens do processo de internacionalização como um fenômeno incremental, durante o qual a empresa vai sequen-cialmente aumentando suas operações em países estrangeiros.

Quatro são os pressupostos do Modelo em análi-se, assim concebidos pelos pesquisadores de Uppsala: (a) a falta de conhecimento é significativo obstáculo na internacionalização; (b) o conhecimento adquirido por meio da experiência é essencial nesse processo; (c) o investimento de recursos pelas empresas que se internacionalizam é gradual (JOHANSON; VAHLNE, 1977); e (d) a internacionalização é consequência do crescimento da empresa e da saturação do mercado doméstico (CARLSON, 1975).

Guardando estreita relação com a incerteza experimentada por uma empresa que se internacio-naliza está o conceito de distância psíquica. Para os pesquisadores de Uppsala, a soma dos fatores que evitam o fluxo de informações entre países, quais se-jam: a distância entre o país de origem e o estrangeiro em termos de nível educacional, diferenças culturais, linguagem de negócios, idioma, sistema político entre outros (CARLSON, 1975) estabelecem os obstáculos e os destinos à internacionalização.

Assim, no Modelo de Uppsala, as empresas ten-dem a se internacionalizar para locais que guardam me-nores distâncias psíquicas com seus países de origem, seguindo estágios incrementais no intuito de reduzir a incerteza do mercado (JOHANSON; WIEDERSHEIM--PAUL, 1975; JOHANSON; VAHLNE, 1977). Além disso, diz Forsgren (2002), esse modelo trabalha com os processos de aquisição de conhecimento e de aprendizagem.

Em análise da literatura desenvolvida nas últimas décadas com base no Modelo de Uppsala, Johanson e Vahlne (2006) salientam que a maioria dos estudos

toma o conhecimento advindo da experiência como variável independente, sendo a variável dependente o comprometimento da empresa com as operações estrangeiras (ou, em algumas pesquisas, seu desem-penho). Esses autores ressaltam que uma vertente pouco explorada do modelo em questão refere-se ao condicionamento da percepção das oportunidades, pela empresa, ao comprometimento com o mercado estrangeiro.

2.3 Perspectivas da Internacionalização de Empresas

Pesquisas recentes apontam inadequação dos modelos clássicos de internacionalização (FORS-GREN; HAGSTRÖM, 2007; PLA-BARBER; ESCRIBÁ--ESTEVE, 2006; CHANG, 2011; WOOD et al., 2011). Na visão de Axinn e Matthyssens (2001, p. 436), “[...] as teorias de internacionalização existentes são inade-quadas para explicar ou predizer o comportamento das firmas atualmente [...]”, a despeito desses autores reconhecerem esforços evolutivos em suas concepções originais.

Decorridas três décadas desde o delineamento do Modelo de Uppsala, Johanson e Vahlne (2003) reconhecem que há um consenso entre executivos e acadêmicos de que a crescente competição global e o desenvolvimento tecnológico acelerado impingem uma nova dinâmica à internacionalização de empre-sas, convergindo para a necessidade de elaboração de novos modelos.

Esses autores identificaram quatro tipos de em-presas mais recentemente estudadas por correntes de pesquisa que envidam esforços na elucidação do meca-nismo de internacionalização, a saber: a) international new ventures ou born globals (empresas que, desde o início, buscam a obtenção de vantagem competitiva a partir de negócios em mercados internacionais); b) empresas de base tecnológica (comprometidas com o desenvolvimento de novos produtos e/ou processos, aplicando sistematicamente conhecimento técnico--científico); c) empresas em indústrias de serviços; e d) microempresas e pequenas empresas. O denomi-nador comum dessas correntes, conforme destacado por Johanson e Vahlne (2003), é a atenção dispensada ao aspecto relacional das empresas como subsídio à caracterização de entrada em mercados estrangeiros

Page 6: Internationalization of Enterprises: theoretical

108

de forma acelerada, havendo, pois, a pertinência do desenvolvimento de modelos de internacionalização baseados em redes.

Outra linha de estudo dos processos de interna-cionalização é caracterizada ao situarem-se as capa-cidades dinâmicas como elemento central na análise desse fenômeno. Tal abordagem, conforme Floriani, Borini e Fleury (2009, p. 369), suscita a proposição de

[...] um framework de análise integrativo das teorias econômica e comportamental que são muito usadas para explicar o processo de inter-nacionalização de empresas, porém tratadas de maneira independente e por vezes antagônica.

Há, ainda, uma linha de estudo que aborda a internacionalização de empresas a partir dos impactos culturais (LUCAS, 2006; IJOSE, 2010; BUDDE-SUNG, 2011, entre outros). A questão central, nesse caso, situa-se no confronto entre as práticas de gestão do país de origem da organização e as práticas locais do novo contexto, sendo essa uma dinâmica que não se restringe às etapas iniciais da internacionalização, mas se perpetua, moldando o desempenho da empresa, demandando a adoção do que Jing e Bing (2010) denominam de táticas transculturais de gestão.

Ante o exposto, caracterizado por múltiplas opções de abordagem sobre a internacionalização de empresas, e, no sentido de buscar o objetivo deste texto, procedeu-se à análise do estado da arte da pro-dução acadêmica sobre esse fenômeno, apresentada nas próximas seções.

3 ESTADO DA ARTE SOBRE INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS

Realizou-se levantamento utilizando as bases de dados Springer Link (Metapress), Science Direct (Else-vier), JSTOR Arts&Sciences, Cambridge Journals On-line, Highwire Press, Oxford Journals, AcademicSearch Premier (EBSCO), PsyArticles (APA), SAGE Journals Online, Emerald Fulltext (Emerald), Wiley Online Libra-ry, Gale Cengage Academic Onefile e Scielo, acessadas por meio do portal de periódicos mantido pela CAPES. Justifica-se a seleção dessas bases por abranger jornais estrangeiros de impacto na literatura indexada, como Industrial and Corporate Change (fator de impacto =

1,235) e Journal of Economic Geography (fator de im-pacto = 3,662), bem como por contemplar publicações cujo foco são aspectos teóricos ou empíricos da inser-ção de empresas em mercados internacionais, como o Journal of Asia Business Studies. Ademais, foi realizada uma pesquisa direta (não se restringindo à base de dados) nos periódicos Journal of International Business Studies – veículo oficial da Academy of International Business – e no International Business Review, jornal oficial da European International Business Academy.

Além da busca nas citadas bases, complementou--se o levantamento de dados por meio de acesso ao sítio na internet dos periódicos nacionais Qualis da CAPES de destaque da área de administração – Revista Eletrônica de Administração (READ), Revista de Ad-ministração de Empresas (RAE), Revista Brasileira de Gestão de Negócios (RBGN), Revista de Administração Contemporânea (RAC), Revista de Administração Pú-blica (RAP) e Brazilian Administration Review (BAR), entre outros.

As pesquisas foram feitas utilizando a palavra--chave internacionalização, bem como a expressão correspondente na língua inglesa. Os critérios adotados para a seleção dos artigos dentre aqueles recuperados pelos sistemas de busca foram: a) publicação entre janeiro de 2005 e setembro de 2011 e b) adoção da internacionalização de empresas como unidade de análise. Analisou-se o resumo dos 270 arquivos retor-nados inicialmente pelos sistemas de busca do portal da CAPES (no período almejado), selecionando-se apenas aqueles que eram alusivos à internacionalização de empresas. O mesmo procedimento foi adotado nos sítios na internet dos periódicos acessados diretamente. Assim, a amostra final foi reduzida a 141 artigos, sendo 43 nacionais e os demais de periódicos estrangeiros.

Uma vez definida a amostra, procedeu-se à análise de conteúdo de seus artigos. Inicialmente, os trabalhos foram agrupados de acordo com a perspec-tiva predominante de análise da internacionalização de empresas, a saber: econômica, comportamental ou cultural.

A definição das duas primeiras perspectivas seguiu as linhas principais inerentes à pesquisa do fenômeno em pauta. A perspectiva econômica carac-terizou-se pela análise da alocação de recursos ou por impactos da internacionalização em variáveis econô-micas, a comportamental seguiu o pensamento da

Page 7: Internationalization of Enterprises: theoretical

109

Escola de Uppsala ou, ainda, abrangeu competências e demais aspectos comportamentais de uma organi-zação (ou de uma rede) antes e durante o processo de internacionalização, ainda que não incremental. A abordagem cultural mostrou-se significativa durante a análise de conteúdo, a ponto de consubstanciar pers-pectiva própria. Nessa perspectiva, de um modo geral, analisaram-se as influências de culturas nacionais no processo de internacionalização.

A análise dos artigos selecionados foi, num primeiro instante, realizada em dois clusters – os publicados em periódicos brasileiros e os publicados em periódicos estrangeiros– com o objetivo de se obter um levantamento da produção científica nesses cenários, avaliando as semelhanças e as eventuais singularidades.

No que diz respeito à amostra de artigos brasilei-ros (44 artigos), a distribuição da produção encontra-se concentrada nas Revistas Eletrônica de Administração (READ) e de Administração de Empresas (RAE), se-guida da Revista de Administração Contemporânea (RAC), conforme se observa na Tabela 1.

Tabela 1: Distribuição da produção científica brasileira sobre internacionalização de empresas, por periódico, na amostra selecionada

PERIÓDICO % ARTIGOS

READ 20,45%

RAE 20,45%

RAC 18,18%

RBGN 13,64%

RAUSP 4,55%

São Paulo em perspectiva 4,55%

Outros 18,18%

Fonte: Elaborada pelos autores deste artigo

No que concerne à amostra de artigos estrangei-ros (98 artigos), a distribuição da produção mostrou--se concentrada no periódico International Business Review, seguido do Journal of International Business Studies, conforme registrado na Tabela 2.

Tabela 2: Distribuição da produção científica estrangeira sobre internacionalização de empresas, por periódico, na amostra selecionada

PERIÓDICO % ARTIGOS

International Business Review 47,96%

Journal of International Business Studies 13,27%

Industrial and Corporate Change 4,08%

Journal of Economic Geography 3,03%

Outros 31,66%

Fonte: Elaborada pelos autores deste artigo

Nos artigos estrangeiros, destacou-se a vinculação de seus autores a instituições de pesquisa dos Estados Unidos, China e Reino Unido. Os percentuais desses artigos relativos a universidades provenientes dessas regiões são de 27,72%, 13,86% e 10,89%, respecti-vamente.

Uma vez efetuada a classificação dos artigos de acordo com as perspectivas mencionadas previamente, foi possível a categorização dos artigos situados nessas perspectivas, consoante a temática internacionalização. Essascategorias são relacionadas na Tabela 3.

Page 8: Internationalization of Enterprises: theoretical

110

Tabela 3: Distribuição da produção científica sobre internacionalização de empresas, por perspectiva e tema, na amostra selecionada

PERSPECTIVA CATEGORIANÚMERO DE ARTIGOS

BRASILEIROS ESTRANGEIROS TOTAL

Econômica

Análise econômica dos investimentos externos diretos (IDE). 1 5 6

Internacionalização sob a ótica da RBV. 0 4 4

Relação internacionalização versus desempenho exportador. 1 3 4

Retrato econômico de indústria. 3 1 4

Impacto da internacionalização em determinada variável econômica. 1 1 2

Resultados econômicos da internacionalização do setor de P&D. 2 0 2

Outros (vantagens econômicas dos mercados doméstico e estrangeiro; comparação de desempenho econômico entre firmas brasileiras e estrangeiras; relação entre internacionalização; forças de mercado e institucionalização de setor industrial etc.).

6 10 16

Comportamental

Competênc ias organizac ionais que susc i tam a internacionalização. 9 10 19

Internacionalização não incremental (acelerada). 0 13 13

Relação internacionalização versus redes. 0 6 6

Estudo comparativo de processos de internacionalização (China versus Índia). 0 5 5

Internacionalização de médias e pequenas empresas. 0 5 5

Competências organizacionais pós-internacionalização. 5 0 5

Estratégia de internacionalização. 1 3 4

Distância psíquica como preditora da internacionalização. 0 3 3

Proximidade cultural versus distância psíquica. 2 1 3

Descrição de processo de internacionalização. 2 0 2

Outros (críticas à Escola de Uppsala; internacionalização e path dependency, práticas de RH na internacionalização, relação entre distância psíquica e desempenho etc.).

10 12 22

Cultural

Influência da cultura nacional na internacionalização. 2 9 11

Impacto de diferenças culturais na organização. 0 4 4

Proximidade cultural versus distância psíquica. 2 1 3

Estratégias de gestão transculturais. 0 2 2

Outros (providência de suporte social ao colaborador expatriado; cultura e educação corporativa internacional etc.).

1 5 6

Fonte: Elaborada pelos autores deste artigo

Page 9: Internationalization of Enterprises: theoretical

111

Na perspectiva econômica, preponderaram abor-dagens dos aspectos transacionais e mercadológicos de investimentos diretos no exterior (IDE), feitos por empresas ou por instituições financeiras (AMARAL; COUTINHO, 2010; GARCIA, 2005; GUEDES; 2006), bem como o estudo da internacionalização de em-presas a partir da visão baseada em recursos (RBV) (CUERVO-CAZURRA; MALONEY; MANRAKHAN, 2007; KYLÄHEIKO et al., 2011; SINGH, 2009; HE; WEI, 2011). Ainda, nessa perspectiva, mostra-se recor-rente a incidência de pesquisas sobre a relação entre a internacionalização e o desempenho exportador da firma. (ARBIX; SALERNO; DE NEGRI, 2005; PAPA-DOPOULOS; MARTÍN, 2010)

Inseridos na perspectiva comportamental, identificam-se, ao mesmo tempo, artigos que analisam o modelo de Uppsala e sua evolução (MASSOTE; REZENDE; VERSIANI, 2010; DAL-SOTO; PAIVA; SOUZA, 2007) e os trabalhos que o criticam ou que salientam sua incompletude (PLA-BARBER; ESCRIBÁ--ESTEVE, 2006; FORSGREN; HAGSTRÖM, 2007). Ainda nessa perspectiva, constam artigos que analisam as competências subjetivas necessárias a organiza-ções envolvidas no processo de internacionalização: relacionamento matriz-subsidiária (REZENDE; VER-SIANI, 2009), experiência internacional e modo de formação de estratégia (HONÓRIO, 2009), ou dos demais aspectos dependentes da trajetória da empresa (FORTANIER; TULDER, 2009), entre outros. Ademais, é possível identificar uma maior ênfase da pesquisa brasileira nas competências organizacionais que sus-citam a internacionalização, ao passo que no âmbito estrangeiro são recorrentes os estudos comparativos de internacionalização entre países – usualmente Ín-dia e China (ATHREYE; KAPUR, 2009; DUYSTERS et al., 2009; FORTANIER; TULDER, 2009; NIOSE; TSCHANG, 2009), além das pesquisas sobre a interna-cionalização acelerada (RIALP; RIALP; KNIGHT, 2005; RIPPOLÉS; BLESA; MONFERRER, 2011; ZAHRA, 2005; ZAHRA; KORRI; YU, 2005 entre outros).

Na perspectiva cultural, identificam-se discussões sobre a influência da cultura nacional em vários cam-pos, a saber: nas práticas organizacionais/de gestão (LUCIAN; BARBOSA, 2007; IJOSE, 2010; HSIEH; TSAI, 2009; JUNG; SU, 2008; LI; HARRISON, 2008; FAULCONBRIDGE, 2008), na escolha da estratégia de internacionalização (ARMAGAN; FERREIRA, 2005), nos processos de internacionalização (CALZA;

ALIANE; CANNAVALE, 2010), entre outros. Há, ainda, estudos sobre a gestão transcultural em empre-endimentos internacionalizados (JING; BING, 2010) e sobre a influência da cultura na educação corpora-tiva internacional voltada para a área de negócios. (BUDDE-SUNG, 2011)

Foram identificados trabalhos passíveis de classifi-cação em mais de uma perspectiva. É o caso do artigo de Armagan e Ferreira (2005), que versa sobre a in-fluência de políticas culturais em aspectos econômicos inerentes à alocação de recursos visando à exploração ou à explotação. Na mesma situação enquadram-se os trabalhos de Guedes (2006); Amatucci e Avrichir (2008); Floriani, Borini e Fleury (2009); Freitas, Rezende e Castro (2008); Rosa e Rhoden (2007), Papadopoulos e Martín (2010) e Yi e Wang (2011), entendidos como pertencentes simultaneamente às perspectivas comportamental e econômica.

Os trabalhos de Canabal e White III (2008) e de Schmid e Kotulla (2010), por fazer uma revisão da pro-dução científica sobre internacionalização epropor um framework teórico com base numa análise sistemática da literatura sobre o assunto, respectivamente, são pas-síveis de inserção nas três perspectivas. A classificação dos artigos brasileiros e estrangeiros, de acordo com as perspectivas adotadas, apresenta-se com distribuição apresentada na Tabela 4:

Tabela 4: Distribuição da produção científica sobre interna-cionalização de acordo com as perspectivas adotadas, na amostra selecionada

PERSPECTIVA

PERCENTUAL DE ARTIGOS BRASI-

LEIROS (%)

PERCENTUAL DE ARTIGOS

ESTRANGEIROS (%)

Comportamental 54,8% 54,1%

Econômica 23,8% 21,4%

Comportamental e Econômica 9,5% 2,0%

Cultural 7,1% 17,3%

Cultural e Comportamental 4,8% 3,1%

Cultural, Comportamental e Econômica

– 2,0%

Fonte: Dados da amostra

Page 10: Internationalization of Enterprises: theoretical

112

Sob a ótica estritamente quantitativa, uma dife-rença significativa entre os cenários: brasileiro e estran-geiro é atribuída à perspectiva cultural, respondendo por 7,1% da produção científica brasileira e por 17,3% da produção estrangeira, na amostra selecionada.

A semelhança entre os cenários fica por conta das perspectivas comportamental – responsável por 54,8% e 54,1% dos artigos selecionados no contexto brasileiro e estrangeiro, respectivamente – e econômica – 23,8% e 21,4% nesses contextos, respectivamente.

A compilação do total de artigos selecionados revela que a perspectiva comportamental é a mais recorrente. Na amostra selecionada, os percentuais de artigos inseridos nas perspectivas comportamental, cultural e econômica foram 53,9%, 22,0% e 14,2%, respectivamente, desconsiderando-se os trabalhos classificados em mais de uma perspectiva.

4 DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS

A variedade das categorias constantes das pers-pectivas levantadas no estado da arte sobre interna-cionalização, aqui realizado, implica a seguir em uma discussão diversificada, que, como consequência, leva-rá à formação de uma agenda de pesquisa, conforme proposto no objetivo deste ensaio.

Com relação à perspectiva econômica, observou--se que Amaral e Coutinho (2010), ao analisarem o setor bancário, ressaltam a pertinência de se avaliar o impacto da esperada consolidação da estabilidade monetária e do equacionamento do déficit público nacional no desempenhode bancos estrangeiros. Para esses autores, a evolução econômica do mercado brasileiro implica o alcance de uma maior similaridade com mercados de origem de bancos internacionais, podendo viabilizar a utilização de suas vantagens globais. Transcendendo essa proposição, sugere-se um estudo longitudinal sobre o impacto da citada evolução comparandodesempenhos econômicos de empresas nacionais e internacionais concorrendo em uma mesma indústria.

Ainda sob a ótica econômica, Coe e Hess (2005) destacam a lacuna de conhecimento sobre as práticas econômicas das cadeias de suprimento das empresas que se internacionalizam em diferentes países. Segun-do esses pesquisadores, há carência de estudos sobre

respostas estratégicas e resistência de fornecedores em mercados emergentes e sobre o grau de influência das práticas econômicas pelo tipo de produto comer-cializado.

A perspectiva comportamental, por sua vez, re-gistra a necessidade de maior conhecimento sobre as competências pessoais e organizacionais envolvidas no processo de internacionalização. É o caso do estudo das características dos gestores envolvidos neste fenômeno realizado por Plá-Barber e Escribá-Esteve (2006), do trabalho sobre orientação empreendedora da organiza-ção rumo à internacionalização de DeClerq, Sapienza e Crijins (2005), e dos estudos sobre o desenvolvimento das competências organizacionais nas empresas de destaque no cenário competitivo internacional, apre-sentados por Dal-Soto, Paiva e Souza (2007).

Ainda na ótica comportamental, ressalta-se a visão de Rezende (2006) sobre as características de desempenho das subsidiárias, especificamente sobre os processos de interdependência entre elas e os estudos de Borini et al. (2009) sobre condutas autônomas com relação a suas matrizes.

Conforme evidências empíricas levantadas por Plá-Barber e Escribá-Esteves (2006), estudos de corte longitudinais vão ao encontro da possibilidade de verificação se um determinado processo de interna-cionalização ocorre de maneira incremental, ou se ocorre de forma acelerada. Pode-se dizer, ainda, que estudos longitudinais possibilitam a caracterização, ao longo do tempo, da influência de fatores externos à or-ganização em sua conduta rumo à internacionalização (YANG et al., 2009), merecendo destaque os suportes institucionais domésticos ou do país hospedeiro ou relacionamento em redes da organização.

A perspectiva cultural, por fim, tem sua relevância acentuada ante a carência de trabalhos identificados na amostra que promovam uma discussão direta sobre a relação entre internacionalização e cultura, em especial no que concerne às iniciativas nacionais.

A questão central da relação entre cultura e internacionalização, diz Miroshnick (2002, p. 525), situa-se no confronto entre as práticas de gestão do país de origem da organização e as práticas locais do novo contexto, identificadas na interação regular de indivíduos de culturas distintas – o “multiculturalismo”. Em consonância com o sugerido por Jung e Su (2008), essa interação leva a necessidade de realização de

Page 11: Internationalization of Enterprises: theoretical

113

pesquisas em empresas inseridas em um processo de internacionalização, com o objetivo de identificar a dinâmica de suas práticas frente a dimensões culturais nacionais inéditas.

Por outro lado, identifica-se ser coerente adotar linha do multiculturalismo com relação à pesquisa em empresas que se encontrem em processo de expansão dentro de um país marcado por fortes diferenças cul-turais regionais, como é o caso do Brasil. Em trabalho sobre culturas regionais dentro de um país, Hofstede et al. (2010) comprovou que uma medida de cultura desenvolvida para o nível nacional não se aplica sa-tisfatoriamente ao nível regional. Uma proposição daí advinda éa existência de relação direta entre o sucesso da transferência de práticas de gestão com a semelhan-ça das dimensões culturais apresentadas entre regiões.

Embora Pagel, Katz e Sheu (2005) refiram-se à influência de culturas regionais na tomada de decisão em processos de internacionalização, a partir deste estudo pode-se inferir que a consideração da cultura regional como fator condicionante dos processos de expansão geográfica da organização – nacional ou in-ternacionalmente – aindanão possui lugar de destaque. Observou-se que a ótica cultural limita-se, bem mais, à consideração das dimensões culturais nacionais, usualmente as que são desenvolvidas por Hofstede (HSIEH; TSAI, 2009; IJOSE, 2010; JUNG; SU, 2008; LI; HARRISON, 2008; LUCAS, 2006, entre outros). Outrossim, Jing e Bing (2010, p. 54), em um ensaio, argumentam que a consciência sobre as possíveis di-ficuldades advindas do conflito entre culturas em um processo de internacionalizaçãoimplica a possibilidade de elaboração e implementação de “estratégias de gestão transculturais.”

Tais estratégias estendem-se desde a busca por uma forte integração entre culturas, passando pela manutenção de práticas organizacionais originais apenas no que tangem aos core business e indo até o transplante da cultura da matriz à subsidiária. Estudos sobre a eficácia de estratégias transculturais levam à possibilidade de minimizarem-se, de forma voluntária, os eventuais impactos negativos da diversidade cultural na internacionalização.

Ainda nesse sentido, Calza, Aliane e Cannavale (2010), em pesquisa sobre o impacto das diferenças culturais na internacionalização de firmas italianas na

Argélia, concluem que as firmas italianas de maior sucesso foram aquelas que

[...] se deram conta da importância da cultura local e preferiram envolver gestores locais a fim de evitar desentendimentos, mostrando respeito a costumes locais e sobrepujando barreiras linguísticas. (CALZA; ALIANE; CANNAVALE, 2010, p. 250)

Além disso, é possível identificar, a partir do estu-do de Lucian e Barbosa (2007), que em um contexto no qual as tecnologias de informação e comunicação agem como catalisadoras das possibilidades de inter-nacionalização, revelam-se coerentes os estudos das práticas que tomam lugar via internet. Esses autores apontam os websites de empresas internacionalizadas como incutidos de traços culturais de seus países de origem, e afirmam a necessidade de se investigar a existência (ou não) de uma substituição gradual das culturas nacionais por uma cultura global da Internet.

Dentro do escopo de pró-atividade da gestão transcultural na internacionalização de empresas, Budde-Sung (2011) salienta a pertinência da adapta-bilidade de métodos pedagógicos inerentes à educação corporativa da área de negócios a públicos de distintas origens culturais, a despeito de o conteúdo ministrado ser essencialmente semelhante.

A carência de estudos sobre internacionalização sob a ótica cultural, em especial no cenário brasileiro, ressalta aquilo que Miroshnick (2002, p. 527) refere-se como a “cegueira cultural” dos gestores, usualmente incapazes de reconhecer a diversidade de contextos. Para essa autora, quando a diversidade cultural não é reconhecida, os vários atores passam a ser “projeções de si mesmos”, limitando suas habilidades de gestão.

A partir do estudo sobre internacionalização de empresas, nas perspectivas teóricas econômica, comportamental e cultural, realizado neste ensaio, evidencia-se maior número de trabalhos na abordagem comportamental. Em especial nos textos brasileiros, identifica-se um número pouco expressivo de estudos culturais da internacionalização de empresas. A ques-tão central da relação entre cultura e internacionali-zação, por sua vez, encontra-se entre as práticas de gestão do país de origem da organização e as práticas locais do novo contexto. Na ótica econômica destaca-se lacuna de conhecimento sobre as práticas econômicas

Page 12: Internationalization of Enterprises: theoretical

114

das empresas que se internacionalizam em diferentes países. Na perspectiva comportamental, por sua vez, registra-se necessidade de maior conhecimento sobre as competências pessoais e organizacionais envolvidas no processo de internacionalização. Essas evidências fazem com que a seguir se apresente uma agenda para estudos futuros.

5 AGENDA DE PESQUISA

Apontam-se como proposições de estudos cen-trais na formação de uma agenda de pesquisa sobre a internacionalização de empresas os arrolados a seguir:

a) práticas econômicas das cadeias de suprimento das empresas que se internacionalizam em diferentes contextos nacionais;

b) estudo longitudinal sobre o impacto da evo-lução econômica do mercado brasileiro nos desempenhos econômicos de empresas na-cionais e internacionais concorrendo em uma mesma indústria;

c) estudo longitudinal do processo de internacio-nalização, com foco na taxa de progresso desse fenômeno (incremental/acelerada);

d) pesquisa sobre empresas em processo de expansão entre regiões com fortes distinções regionais, ainda que dentro de um mesmo país;

e) impacto da cultura do país hospedeiro na per-formance da organização durante o processo de internacionalização; e

f) eficácia de estratégias de gestão transculturais.

Ressalta-se que o estudo da eficácia das estraté-gias de gestão transculturais guarda expressiva relevân-cia para a administração. Pesquisas sob essa linha serão capazes de revelar a possibilidade de minimizarem-se, de forma voluntária, os eventuais impactos negativos da diversidade cultural na internacionalização, cor-roborando para escolhas estratégicas de gestão mais acertadas.

REFERÊNCIAS

AHOKANGAS, P. Internationalization and Resources:

Analysis of Processes in Nordic SMEs. Acta Wasaensia,

Vaasa, n. 64, Universitas Wasaensis, 1998.

AMARAL, H. F.; COUTINHO, E. S. Abertura ao capital

estrangeiro e desempenho no setor bancário brasileiro no

período 2001/2005. RAE Eletrônica, v. 9, n. 1, 2010.

AMATUCCI, M.; AVRICHIR, I. Teorias de Negócios

Internacionais e a Entrada de Multinacionais no Brasil

de 1850 a 2007. Revista Brasileira de Gestão de

Negócios, São Paulo, v. 10, n. 28, p. 234-248, 2008.

ANDERSEN, O. Internationalization and

marketentrymode: a review of theories and conceptual

framework. Management International Review, Kiel,

v. 37, n. 2, p. 27-42, 1997.

ARBIX, G.; SALERNO, M. S.; DE NEGRI, J. A.The impact

of internationalization with a focus on technological

innovation and Brazilian companies’ exports. Dados

(online), v. 48, n. 2, p. 395-442, 2005.

ARMAGAN, S.; FERREIRA, M. P.The impact of political

culture on firm’s choice of exploitation-exploration

internationalization strategy. International Journal of

Cross Cultural Management (online), v. 5, n. 3, p.

275-291, 2005.

ATHREYE, S.; KAPUR, S. The internationalization of

Chinese and Indian Firms – trends, motivations and

strategy. Industrial and Corporate Change, Oxford:

Oxford University Press, v. 18, n. 2, p. 209-221, 2009.

AXINN, C. N.; MATTHYSSENS, P. Limits of

internationalization theories in an unlimited world.

International Marketing Review (online), v. 19, n. 5, p.

436-449, 2002.

BARRETO, A.; ROCHA, A. A expansão das fronteiras:

brasileiros no exterior. In: ROCHA, A. (Org.) As novas

fronteiras: a multinacionalização das empresas

brasileiras, 1. ed., Rio de Janeiro: Mauad, 2003.

BEAMISH, P. W. The internationalization process for

smaller Ontario firms: a research agenda. In: RUGMAN,

A. Research in Global Business Management,

Greenwich, v. 1. JAI Press: 1990.

BORINI, F. M. et al. A relevância de subsidiárias para as

multinacionais brasileiras. Revista de Administração

de Empresas, São Paulo, v. 49, n. 3, p. 253-265, 2009.

BUCKLEY, P.; CASSON, M. The future of the multinational

enterprise. London: The Macmillan Press, 1976.

Page 13: Internationalization of Enterprises: theoretical

115

BUCKLEY, P. J.; STRANGE, R. The Governance of the

Multinational Enterprise: Insights from Internalization

Theory. Journal of Management Studies, Blacwell

Publishing, Oxford and Malden, v. 48, n. 2, 2011.

BUDDE-SUNG, A. E. K. The increasing

internationalization of the international business

classroom: Cultural and general considerations. Business

Horizons, Indiana, v. 54, n. 4, p. 365-375, 2011.

CALOF, J.; BEAMISH, P. W. Adapting to Foreign Markets:

explaining internationalization. International Business

Review, London, v. 4, n. 2, p. 115-131, 1995.

CALZA, F.; ALIANE, N.; CANNAVALE, C. Cross-cultural

diferences and Italian firms’ internationalization in Algeria.

European Business Review (online), v. 22, n. 2, p.

246-272, 2010.

CANABAL, A.; WHITE III, G. O. Entry mode research:

past and future. International Business Review,

London, n. 17, p. 267-284, 2008.

CARLSON, S. How foreign is foreign trade: a problem

in international business research. Uppsala: Uppsala

University Press, 1975.

CARNEIRO, J.; DIB, L. A. Avaliação comparativa do

escopo descritivo e explanatório dos principais modelos

de internacionalização de empresas. Revista Eletrônica

de Negócios Internacionais da ESPM, São Paulo, v.

2, n. 1, p. 1-25, 2007.

CHANG, J. The early and rapid internationalization of

Asian emerging MNEs.Competitiveness Review: An

International Business Journal (online), v. 21, n. 2, 2011.

COASE, R. The Nature of the Firm. Economica,

London, v. 4, n. 4, p. 386-405, 1937.

COE, N. M.; HESS, M. The internationalization of

retailing: implications for supply network restructuring in

East Asia and Eastern Europe. Journal of Economic

Geography, Oxford University Press, v. 5, n. 4, p. 449-

473, 2005.

CUERVO-CAZURRA, A.; MALONEY, M. M.;

MANRAKHAN, S. Causes of the dificulties in

internationalization. Journal of International Business

Studies (online), v. 38, n. 5, p. 709-725, 2007.

DAL-SOTO, F.; PAIVA, E. L.; SOUZA, Y. S. Análise de

competências organizacionais na internacionalização

de empresas da cadeia coureiro-atacadista. Revista de

Administração de Empresas, São Paulo, v. 47, n. 3,

2007.

DE CLERCQ, D.; SAPIENZA, J.; CRIJINS, H. The

internationalization of small and medium-sizedfirms.

Small Business Economics (online), v. 24, n. 4, p.

409-419, 2005.

DUNNING, J. H. The Eclectic (OLI) Paradigm of

International Production: past, present and future.

International Journal of Economics and Business

(online), v. 8, n. 2, p. 173-190, 2001.

______. Theories and paradigms of international

business activity: the selected essays of John H.

Dunning. UK: Edward Elgar, 2002.

DUYSTERS, G. et al Internationalization and

technological catching up of emerging multinationals:

a comparative case study of China’s Haier group.

Industrial and Corporate Change, Oxford: Oxford

University Press, v. 18, n. 2, p. 325-349, 2009.

EDEN, L.; DAI, L. Rethinking the OLI/Eclectic Paradigm.

The Multinational Business Review (online), v. 18, n.

2, p. 13-34, 2010.

FAULCONBRIDGE, J. R. Negotiating cultures of work

in transnational law firms. Journal of Economic

Geography, Oxford: Oxford University Press, v. 8, p.

487-517, 2008.

FLORIANI, D. E.; BORINI, F. M.; FLEURY, M. T. L. O

Processo de Internacionalização como elemento gerador

de capacidades dinâmicas: o caso da WEG na Argentina e

na China. Revista Brasileira de Gestão de Negócios,

São Paulo, v. 11, n. 33, p. 367-382, 2009.

FORSGREN, M. The concept of learning in the Uppsala

Internationalization Process Model: a critical review.

International Business Review, London, v. 11, n. 3, p.

257-278, 2002.

FORSGREN, M.; HAGSTRÖM, P. Ignorant and

impatient internationalization? The Uppsala model and

internationalization patterns for Internet-related firms.

Critical perspectives on international business

(online), v. 3, n. 3, p. 291-305, 2007.

Page 14: Internationalization of Enterprises: theoretical

116

FORTANIER, F.; TULDER, R. V. Internationalization

trajectories – a cross-country comparison: are Chinese and

Indian companies different? Industrial and Corporate

Change, Oxford: Oxford University Press, v. 18, n. 2, p.

223-247, 2009.

FREITAS, M. A. M.; REZENDE, S. F. L.; CASTRO, J.

M. Mudanças pós-aquisição internacional na rede de

fornecedores adquirida. Revista de Administração

Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 811-

834, 2008.

GARCIA, R. Internacionalização comercial e produtiva

na indústria de cosméticos: desafios competitivos para

empresas brasileiras. Produção, São Paulo, v. 15, n. 2,

p. 158-171, 2005.

GRAHAM, E. M. The contributions of Stephen Hymer:

one view. Contributions to Political Economy,

Oxford, v. 21, p. 27-41, 2002.

GUEDES, A. L. Internacionalização de empresas

como política de desenvolvimento: uma abordagem

da diplomacia triangular. Revista de Administração

Pública (on-line), v. 40, n. 3, p. 335-356, 2006.

HE, X.; WEI, Y. Linking market orientation to international

market selection and international performance.

International Business Review, London, v. 20, n. 5,

p. 535-546, 2011.

HILAL, A.; HEMAIS, C. A. O processo de

internacionalização na ótica da Escola Nórdica:

evidências empíricas em empresas brasileiras. Revista de

Administração Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 7,

n. 1, p. 109-124, 2003.

HOFSTEDE, G. et al. Comparing Regional Culture within

a Coutry: lessons from Brazil. Journal of Cross-Cultural

Psychology (online), v. 41, n. 3, p. 336-352, 2010.

HONÓRIO, L. C. Determinantes organizacionais e

estratégicos do grau de internacionalização de empresas

brasileiras. Revista de Administração de Empresas,

São Paulo, v. 49, n. 2, p. 162-175, 2009.

HSIEH, A. T.; TSAI, C. W.

Doesnationalculturereallymatter? Hotel service perceptions

by Taiwan and American tourists. International Journal

of Culture, Tourism and Hospitality Research,

(online), v. 3, n. 1, p. 54-69, 2009.

HYMER, S. H. The international Operations of

National Firms: a study of direct foreign investment.

Tese de doutorado. Cambridge: MIT Press, 1960.

(publicação póstuma em 1976)

IJOSE, O. Culture and the Adoption of Practices: An

Assessment of the U.S. Automotive Manufacturing

Sector. Journal of Business and Cultural Studies,

Academic and Business Research Institute, Florida,

v. 2, p. 1-16, feb. 2010.

JING, S.; BING, X. A Study on Transnational Enterprise

Faces Cultural Difference and Trans-Culture Management

Under Economic Globalization Background. Cross-

Cultural Communication (online), v. 6, n. 2, p. 48-56,

2010.

JOHANSON, J.; MATTSSON, L. Internationalization in

industrial systems: a network approach. In: HOOD, H.;

VAHLNE, J. (Ed.) Strategies in foreign competition.

London: Croom Helm, 1988.

JOHANSON, J.; VAHLNE, J. E. The internationalization

process of the firm: a model of knowledge development

and increasing foreign market commitment. Journal of

International Business Studies (online), v. 8, n. 1, p.

23-32, 1977.

______. The mechanism of internationalization.

International Marketing Review (online), v. 7, n. 4, p.

23-32, 1990.

______. Business Relationship Learning and Commitment

in the Internationalization Process. Journal of

International Entrepreneurship, Kluwer Academic

Publishers, The Netherlands, v. 1, n. 1, p. 83-101, 2003.

______. Commitment and Opportunity Development in

the Internationalization Process: a note on the uppsala

internationalization process model. Management

International Review, Kiel, v. 46, n. 2, p. 165-178,

2006.

JOHANSON, J.; WIEDERSHEIM-PAUL, F. The

internationalization of the firm: four Swedish cases.

Journal of Management Studies, Blacwell Publishing,

Oxford and Malden, v. 12, n. 3, p. 305-322, 1975.

Page 15: Internationalization of Enterprises: theoretical

117

JUNG, J.; SU, X. The effect of organizational culture

stemming from national culture towards quality

management deployment.The TQM Magazine (online),

v. 20, n. 6, 2008.

KYLÄHEIKO, K. et al. Innovation and internationalization

as growth strategies: the role of technological capabilities

and appropriability. International Business Review,

London, v. 20, n. 5, p. 508-520, 2011.

LI, J.; HARRISON, J. R. Corporate governance and

national culture: a multi-country study. Corporate

Governance (online), v. 8, n. 5, p. 607-621, 2008.

LUCAS, L. M. The role of culture on knowledge transfer:

the case of multinational corporation. The Learning

Organization, v. 13, n. 3, p. 257-275, 2006.

LUCIAN, R.; BARBOSA, G. L. Podem os Websites

Revelar a Cultura de um País? Um Estudo Multicultural

nas maiores empresas de Brasil, China e Índia. Revista

Brasileira de Gestão de Negócios, São Paulo, v. 9, n.

25, p. 26-38, 2007.

MASSOTE, C. G.; REZENDE, S. F. L.; VERSIANI, A. F. A

dinâmica de relacionamentos nacionais e internacionais

em processos de internacionalização: um estudo de

caso de uma agência norte-americana de publicidade

no mercado brasileiro. Revista de Administração

Contemporânea (online), v. 14, n. 1, p. 61-79, 2010.

MIROSHNICK, V. Culture and international management:

a review. Journal of Management Development

(online), v. 21, n. 7, p. 521-544, 2002.

NIOSE, J.; TSCHANG, F. T. The strategies of Chinese

and Indian software multinationals: implications for

internationalization theory. Industrial and Corporate

Change, Oxford: Oxford University Press, v. 18, n. 2, p.

269-294, 2009.

PAGELL, M.; KATZ, J. P.; SHEU, C. The importance

of national culture in operations management research.

International Journal of Operations & Production

Management (online), v. 25, n. 4, p. 371-394, 2005.

PAPADOPOULOS, N.; MARTÍN, O. M. Toward a model

of the relationship between internationalization and export

performance. International Business Review, London,

v. 19, n. 4, p. 388-406, 2010.

PETERSEN, B.; PEDERSEN, T. Twenty years after:

support and critique of the Uppsala Internationalisation

Model. In: BJÖRKMAN, I.; FORSGREN, M. (Org.).

The Nature of the International Firm, Copenhagen

Business School Press, p. 117-134, 1997.

PITELIS, C. N.; TEECE, D. J. Cross-border market co-

creation, dynamic capabilities and the entrepreneurial

theory of the multinational enterprise. Industrial and

Corporate Change, Oxford: Oxford University Press, v.

19, n. 4, p. 1247-1270, 2010.

PLA-BARBER, J.; ESCRIBÁ-ESTEVE, A. Accelerated

internationalisation: evidence from a late investor country.

International Marketing Review (online), v. 23, n. 3, p.

255-278, 2006.

PRANGE, C.; VERDIER, S. Dynamic capabilities,

internationalization processes and performance. Journal

of World Business (online), 46, p. 126-133, 2011.

REZENDE, S. F. L. Multinationals and Interdependence

in Internationalisation Processes. Brazilian

Administration Review, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p.

9-31, 2006.

REZENDE, S. F. L.; VERSIANI, A. F. Revisitando a

pesquisa sobre exportação: a contribuição do enfoque

das trajetórias. Revista de Administração da

Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 44, n. 3,

2009.

RIALP, A.; RIALP, J.; KNIGHT, G. A. The phenomenon of

early internationalization firms: what do we know after a

decade (1993-2003) of scientific inquiry? International

Business Review, London, v. 14, n. 2, p. 147-166,

2005.

RIPPOLÉS, M.; BLESA, A.; MONFERRER, D. Factors

enhancing the choice of resource commitment entry

modes in international new ventures. International

Business Review, London, v. 21, n. 4, p. 648-666,

2012.

ROSA, P. R.; RHODEN, M. I. S. Internacionalização de

uma Empresa Brasileira: um estudo de caso. Revista

Eletrônica de Administração, Porto Alegre, ed. 57, v.

13, n. 3, 2007.

Page 16: Internationalization of Enterprises: theoretical

118

RUZZIER, M.; HISRICH, R. D.; ANTONCIC, B. SME

internationalization: past, present and future. Journal

of Small Business and Enterprise Development

(online), v. 13, n. 4, p. 476-497, 2006.

SCHMID, S.; KOTULLA, T. 50 years of research on

international standardization and adaption – from a

systematic literature analysis to a theoretical framework.

International Business Review, London, v. 20, n. 5, p.

491-507, 2011.

SINGH, D. A. Export performance of emerging market

firms. International Business Review, London, v. 18,

n. 4, p. 321-330, 2009.

WELCH, L. S.; LUOSTARINEN, R. Internationalization:

evolution of a concept. Journal of General

Management, Oxford, v. 14, n. 2, p. 34-55, 1988.

WILLIAMSON, O. E. Transaction-costs economics: the

Governance of Contractual Relations. Journal of Law

and Economics, v. 22, n. 2, p. 233-261, 1979.

WOOD, E. et al. Strategic Commitment and Timing of

Internationalization from Emerging Markets: evidence

from China, India, Mexico, and South Africa. Journal of

Small Business Management (online), v. 49, n. 2, p.

252-282, 2011.

YANG, X. et al. A comparative analysis of the

internationalization of Chinese and Japanese Firms. Asia

Pacific Journal of Management (online), 26, p. 141-

162, 2009.

YI, J.; WANG, C. The decision to export: firm

heterogeneity, sunk costs, and spatial concentration.

International Business Review, London, [epub ahead

of print], 2011.

ZAHRA, S. A. A theory of international new ventures: a

decade of research. Journal of International Business

Studies (online), v. 36, n. 1, p. 20-28, 2005.

ZAHRA, S. A.; KORRI, J. S.; YU, J. Cognition and

international entrepreneurship: implications for research

on international opportunity recognition and exploitation.

International Business Review, London, v. 14, n. 2, p.

129-146, 2005.