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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016
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Baixo Orçamento e Soluções: Relato de Produção Executiva no Filme “O Mistério das
Noites Brancas”1
Lucas Ferreira FERNANDES2
Valquíria Aparecida Passos KNEIPP 3
Universidade de São Paulo, São Paulo, SP
Resumo
Este trabalho procurou relatar o processo de produção executiva no filme de longa-
metragem potiguar “O Mistério das Noites Brancas”. Como parte dos objetivos, foi
realizado um levantamento conceitual sobre produção no âmbito cinematográfico com base
nos autores Giannasi (2007), Kamín (1999) e Johnson (2002), assim como uma delimitação
da função do produtor com base nos mesmos autores. Por fim, o presente relatório
apresenta soluções criativas para projetos de baixíssimo orçamento, e comprova que existe
viabilidade no cinema sem recursos quando o mesmo visa abordar, primordialmente,
temáticas de relevância social.
Palavras-chave: cinema; ficção de longa-metragem; o mistério das noites brancas;
audiovisual potiguar; produção executiva.
Introdução
Os avanços tecnológicos em conjunto com maiores facilidades existentes para
obtenção de equipamentos de audiovisual são - em uma vista superficial - fatores
importantes que podem ser observados nas análises referentes ao aumento do número de
produções audiovisuais no país. Outros fatores como: maior número de cursos de
capacitação (workshops, cursos técnicos e superiores e etc.) relacionados ao audiovisual,
Internet como plataforma para socialização de conteúdos, criação da lei 12.485/2011 que,
dentre outras coisas, prevê incentivos à produção audiovisual brasileira, são, também,
fatores de grande relevância para a ampliação do segmento no Brasil.
1 Trabalho apresentado na Divisão Temática Cinema e Audiovisual, da Intercom Júnior – XII Jornada de Iniciação
Científica em Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação
2 Estudante de Graduação, 9º período, no curso de Comunicação Social – Radialismo pela UFRN. Bolsista de iniciação
científica pelo DECOM-UFRN, e-mail: [email protected]
3 Orientador do trabalho. Jornalista graduada pela Unesp de Bauru, com mestrado e doutorado pela Eca/USP em Ciências
da Comunicação. Professora dos Cursos de Comunicação Social da UFRN e vice-coordenadora do Programa de Pós-
graduação em Estudos da Mídia, e-mail: [email protected]
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No estado do Rio Grande do Norte, o cenário audiovisual vem seguindo a tendência
nacional do aprimoramento e do aumento nas realizações. Ainda que sejam escassos os
documentos de referência sobre o crescimento do número das produções audiovisuais no
estado, em seu artigo, Lima (2013) faz uma análise desse segmento no estado no período de
2007 a 2012, mostrando as articulações e conquistas por parte dos realizadores e
veiculadores de audiovisual no estado, revelando, ainda que incipientemente, maior
efervescência no segmento a nível local. Em complemento a essa pesquisa, podemos
destacar a criação do curso de Produção Audiovisual da Universidade Potiguar em Natal,
no ano de 2015, e também a mudança do curso de Radialismo para Audiovisual na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (projeto em andamento) partindo de
demandas locais. Algo também importante a mencionar é a participação do curta-metragem
“Sêo Inácio” (2014) de Hélio Ronyvon na mostra competitiva do Festival de Gramado em
2015, sendo a primeira obra potiguar a competir no festival.
Todavia, algo muito comum entre essas produções locais reside na dupla (ou mais)
funcionalidade que os idealizadores assumem para conseguirem realizar suas obras.
Geralmente o roteirista é o diretor, que acaba por ser produtor e também produtor
executivo, podendo assumir ainda mais funções. Dentre essas funções, a parte de produção
executiva comumente não é priorizada, o que dificulta em demasia a viabilização das ideias.
Como hipótese para essa não priorização da produção executiva no estado, podemos elencar
a ausência de cursos de capacitação na área e até mesmo a incipiência dos cursos superiores
na área, o que supostamente poderia explicar a falta de produtores executivos de
audiovisual no estado.
Apesar do crescimento nas produções potiguares, é possível que a ausência de
produtores executivos combinada a um cenário de poucos incentivos políticos, configure
uma explicação para a não realização de filmes ficcionais de longa-metragem no estado,
sendo o filme “Boi de Prata” (1980), de Augusto Ribeiro Jr, considerado o primeiro filme
de longa-metragem ficcional produzido no Rio Grande do Norte4 e também considerado o
último (não encontramos registros de outras produções do tipo até então).
A partir de tal constatação, os alunos do curso de Radialismo da Universidade
Federal do Rio Grande em Natal, Lucas Fernandes, Rebecca Pelágio e Valentina
Spanemberg organizaram o coletivo audiovisual Drone em Chamas no ano de 2014, que,
4 NATAL, Cineclube. Boi de Prata Genuinamente Potiguar. 2007. Disponível em:
<http://cineclubenatal.blogspot.com.br/2007/10/boi-de-prata-genuinamente-potiguar-por.html> Acesso em 12
de julho de 2016.
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visando o trabalho cooperativo e a junção de esforços, chegaram à ideia da produção do
filme de longa-metragem ficcional “O Mistério das Noites Brancas”, sendo o primeiro filme
dessa modalidade a ser realizado desde 1980 no estado do Rio Grande do Norte, apesar de
estarem inseridos em um contexto político desfavorável à produção de um trabalho
aparentemente caro.
Em linhas gerais, o filme conta a história do problemático aluno Iuri Araújo, que,
por contingências de sua faculdade, acaba sendo condicionado a passar pela orientação do
professor conservador de origem russa Alexander Vladmirovich. A relação entre aluno e
professor se desenvolve de forma conflituosa e é duramente afetada quando a melhor amiga
de Iuri, Suzane, enfrenta uma profunda depressão relacionada à sua sexualidade, fato que
traz à tona segredos do passado de Vladmirovich.
O presente trabalho tem como objetivo relatar pontos importantes do processo de
produção executiva no filme “O Mistério das Noites Brancas”. Ainda como parte dos
objetivos, pretende-se fazer uma reflexão sobre o conceito de produção executiva e sobre o
papel de um produtor executivo numa obra fílmica com base num levantamento conceitual
baseado em nos autores Giannasi (2007), Kamín (1999) e Johnson (2002), além de
apresentar possibilidades de viabilização.
Produção e Produtores
Ao falarmos em produção, inevitavelmente pensamos em todo o conjunto que
envolve o fazer de um filme. Numa busca por definição do conceito de produção, Giannasi
(2007, p. 13) citando Rodrigues (2002, p. 68) apresenta produção como: “tudo que envolve
fazer um filme, incluindo seu planejamento e capacitação de recursos”. Tal definição ainda
não consegue ser clara, já que a partir da mesma é possível inferir-se que produção é um
termo geral para todas as tarefas dentro e fora do filme.
Uma definição mais específica para produção pode ser abstraída do que coloca
Kamín (1999, p.1):
Producción cinematográfica significa una multiplicidad de tareas y funciones de
distintos niveles. Deberán tomarse resoluciones donde estarán en juego importantes
sumas de dinero pero, también, habrá que proveer los elementos materiales para
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que los técnicos puedan trabajar o contratar servicios que hagan fluido el
funcionamiento del grupo humano involucrado en la película.5
Com base nessa definição, podemos pensar produção como uma forma de gerir as
tarefas e funções numa equipe realizadora. Trata-se da administração dos recursos e da
provisão do que for necessário para que o filme aconteça. Pode ser pensado como a
organização para que tempo e recursos sejam otimizados e para que a equipe evite o maior
número de problemas possíveis.
Segundo Kamín (1999), a produção se divide em três áreas: empresarial, gerencial e
operacional. Em linhas gerais, no nível empresarial, podemos pensar o produtor que se
articular na busca por recursos e que se responsabiliza pelas burocracias relacionadas ao
filme. No nível gerencial, pensamos o produtor que tem experiência com gravações e que
consegue administrar todo o setting de gravações, e em proximidade ao produtor gerencial
está o operacional, que de certa forma auxilia o produtor gerencial em questões
burocráticas. Todavia, existe ainda muita confusão sobre essas funções, e como coloca
Johnson (2002, p. 57) citando Goldman (s.d., p. 60): “producers may be the least
understood figures in the industry”6.
Para Johnson (2002), esses títulos atribuídos à produção e a confusão que muitas
vezes surge em torno dessa função estão ligados ao fato de que uma série de habilidades é
atribuída aos produtores, incluindo habilidades criativas, de negócios, financeiras,
administrativas e interpessoais. Os produtores, nessa perspectiva, são as pessoas que guiam
o processo de realização do filme do começo ao fim. E como coloca Johnson (2002, p. 57):
“The first step in the process is the story, the concept, the idea. It may be the producer‟s
idea or it may come to him or her from a writer or a director or his or her cousin. The
producer is the person who decides to make it a film and begins to try and realize film7.”
Dentro dessa lógica, o produtor é uma peça-chave dentro do processo de realização. Sem
ele, o filme simplesmente não acontece.
Por mais relevante que seja a função do produtor, Johnson (2002, p. 57), se
referindo à capacitação na área destaca:
5 “Produção cinematográfica significa uma multiplicidade de tarefas e funções de níveis distintos. Soluções
deverão ser tomadas onde estarão em jogo importantes somas de dinheiro mas, também, haverá de prover os
elementos materiais para que os técnicos possam trabalhar ou contratar serviços que possibilite o
funcionamento fluido do pessoal envolvido no filme.” (Tradução livre). 6 “Produtores podem ser as figuras menos compreendidas na indústria.” (Tradução livre).
7 “O primeiro passo no processo é a história, o conceito, a ideia. Pode ser a ideia do produtor ou pode vir a ele
por meio do escritor ou diretor ou até do seu primo. O produtor é a pessoa quem decide tornar essa ideia um
filme e começa a tentar e a realizar o filme”. (Tradução livre).
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Fortunately or unfortunately, there is no particular producer school or diploma
course you can or have to take to say “I‟m now a qualified producer”. It‟s a rather
open door but there are numerous difficult often unseen hurdles to navigate to
actually get from “I have a great idea” to “come see my movie, it‟s in a theatre near
you”8.
Com base nessa colocação, é possível inferir que a capacitação na área de produção
se faz necessária, ainda que a mesma em si não seja suficientemente uma garantia de que
um profissional de produção com diploma esteja apto para encarar os desafios que
permeiam uma articulação cinematográfica, que não se resumem apenas ao contexto de
como organizar um setting de filmagem ou garantir que tudo saia como planejado pelo
diretor, a produção, à luz do pensamento de Johnson (2002) seria uma espécie de negócio
ou empreendimento, e a parte mais difícil nesse processo, principalmente nos primeiros
anos de experiência no cenário independente, seria como se manter financeiramente por
meio da produção (JOHNSON, 2002), e é nessa barreira onde muitos decidem parar.
Relato de Produção
Fugindo de uma lógica meramente mercadológica, os alunos de Radialismo da
UFRN que se propuseram a organizar o coletivo audiovisual Drone em Chamas, pensaram,
a princípio, a elaboração de um filme de longa-metragem de ficção como uma ideia de
alavancar o cenário cinematográfico potiguar. Como parte do projeto, os três alunos
idealizadores do coletivo utilizaram a proposta de atividade como trabalho de conclusão de
curso, e em socialização da ideia, outro alunos (e também professores) do curso de
Radialismo, assim como de Jornalismo, Publicidade, Design, Psicologia e Música também
se uniram ao projeto de forma voluntária, contribuindo de acordo com suas habilidades
profissionais.
Na formação do grupo, a função do filme enquanto dispositivo para discussões de
temas pertinentes à sociedade foi discutida. A ideia trabalhada em torno do cinema não foi a
de produção para mercado ou de entretenimento meramente, mas a ideia de que conteúdos
cinematográficos podem e devem carregar em si elementos reflexivos e que propiciem mais
8 “Felizmente ou infelizmente, não existe uma escola específica ou especialização em produção que você
possa cursar para dizer „Eu agora sou um produtor qualificado‟. Isso é uma porta aberta, mas existem
inúmeros obstáculos invisíveis para se navegar do „eu tenho uma ideia‟ até o „venha ver meu filme, ele está no
cinema mais próximo de você‟.”. (Tradução livre).
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do que uma experiência rasa de distração na audiência, por exemplo, mas que colaborem
com denúncias sociais e com a fomentação de debates. Esse ideal por parte do coletivo foi
uma peça-chave para atrair voluntários e colaboradores em todo o processo de produção do
filme.
Em seu argumento, o roteiro do filme “O Mistério das Noites Brancas” – escrito
pelo produtor Lucas Fernandes - se propõe, a partir de um recorte ficcional, debater,
segundo Fernandes (2016, p. 5):
[...] a lei antipropaganda gay da Rússia (assinada em junho de 2013 pelo presidente
Putin com a finalidade de punir disseminações de informações sobre
homoafetividade no país)9 com suas imposições que chegam até mesmo a ferir a
própria constituição local, solapando direitos humanos básicos como: liberdade de
expressão, liberdade de discurso e liberdade de informação.
O filme pretende também, a partir de sua trama, debater a questão do suicídio e das
tentativas de suicídio entre a população LGBT a nível global e em relação com o contexto
do Rio Grande do Norte, especificamente, já que segundo Fernandes (2016, p. 5) citando
Remafedi (1998):
[...] um estudo apresentado no periódico “Health and Human Rights Journal”
aponta que entre rapazes gays e bissexuais na faixa etária de 12 a 18 anos, o índice
de tentativa de suicídio (de pelo menos uma vez na vida) chega a 28%, e entre
rapazes heterossexuais da mesma faixa etária, esse índice cai para 4%10
.
Esses dados representam uma constatação importante sobre a violação dos direitos
humanos contra minorias sexuais não somente no Brasil ou na Rússia, mas a nível global. E
o dispositivo fílmico serve como ferramenta de exploração da temática e para fomentação
de debates sociais, além de servir como um grande atrativo para que voluntários se juntem à
produção. E foi com base na conversa e na apresentação da relevância do conteúdo que
tudo começou.
9 De acordo com o portal de notícias The Guardian: “The law in effect makes it illegal to equate straight and
gay relationships, as well as the distribution of material on gay rights. It introduces fines for individuals and
media groups found guilty of breaking the law, as well as special fines for foreigners”. Acesso em 05 de maio
de 2016. 10
Cost of indulgence: Rise in violence and suicides among LGBT youth in Russia. Disponível em:
<http://www.hhrjournal.org/2013/12/18/cost-of-indulgence-rise-in-violence-and-suicides-among-lgbt-youth-
in-russia/>
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A primeira reunião de equipe para início da produção aconteceu no dia 22 de
dezembro de 2014. Na reunião que contou com a presença do diretor de fotografia, diretora
de arte, figurinista, demais produtores e editor, o roteiro foi discutido e também o
cronograma de articulações.
Em janeiro de 2015 começamos nossa busca por atores voluntários que se
encaixariam dentro dos perfis das personagens da trama: Alexander, um homem com traços
europeus e entre 45 e 60 anos de idade (Figura 1), Suzane, uma menina entre 18 e 25 anos
de idade (Figura 2), Valéria, uma menina com estilo despojado entre 18 e 25 anos de idade
(Figura 3), Elza, uma menina entre 18 e 25 anos com trejeitos masculinos (Figura 4),
Professora Tavares, uma mulher entre 45 e 60 anos de idade (Figura 5), e a personagem
Iuri, que por uma questão de logística e praticidade acabou sendo assumido pelo próprio
produtor Lucas Fernandes. O elenco foi selecionado através de uma pesquisa entre não
atores que potencialmente se encaixariam no perfil das personagens.
Figura 1 - Still Alexander
Fonte: TRINDADE (2015)
Figura 2 - Still Suzane
Fonte: TRINDADE (2015)
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Figura 3- Still Valéria
Fonte: TRINDADE (2015)
Figura 4 - Still Elza
Fonte: TRINDADE (2015)
Figura 5 - Professora Tavares
Fonte: TRINDADE (2015)
Entre as parcerias que fizemos no processo de gravação, conseguimos, por meio do
diálogo e da ideia de promoção dos estabelecimentos como apoiadores do filme, locações
importantes na cidade de Natal, RN que serviram como composição visual para cenas
importantes da trama, como: A boate, CasaNova Eco bar (Figura 6) e o café, Cafè Trieste
(Figura 7).
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Figura 6 - Still Boate
Fonte: TRINDADE (2015)
Figura 7 - Still Café
Fonte: TRINDADE (2015)
Ainda sobre as parcerias, conseguimos, para a composição dos objetos de cena na
locação que representava a casa da personagem Alexander, diversos artigos num antiquário
da cidade, como: quadros, tapetes, vasos, louça e etc. (Figura 8).
Figura 8 - Still Objetos de Alexander
Fonte: TRINDADE (2015)
No processo de filmagem do filme, organizamos a ordem dos dias de acordo com as
locações onde as cenas seriam gravadas, por uma questão de logística. Em um único dia,
muitas vezes, foi possível gravar todas as cenas que aconteciam em uma determinada
locação, como no apartamento de Alexander, onde das 8h às 20h de uma sábado
conseguimos gravar todas as 14 cenas que se passavam naquela locação. Como contávamos
com uma equipe de voluntários, os dias de gravação eram agendados de acordo com a
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disponibilidade da equipe, a Tabela 1 mostra o primeiro cronograma elaborado para os
primeiros dias de filmagem. Sobre a alimentação da equipe nos dias de filmagem mais
longas, o que prevaleceu foi o senso de compartilhamento. Geralmente realizávamos
lanches coletivos onde cada membro do grupo contribuía financeiramente ou com alimentos
previamente preparados.
Para o figurino dos atores, a equipe de arte e figurino realizou uma busca nos
guarda-roupas dos próprios membros da equipe e de pessoas conhecidas. Todo o figurino
do filme foi composto por peças emprestadas. Assim como o figurino emprestado, muitos
outros objetos também foram gentilmente cedidos para as gravações por meio de
voluntários que compacturam com a ideia do projeto, como a Kombi utilizada em algumas
das cenas da personagem Suzane (Figura 9).
Tabela 1 - Cronograma das primeiras filmagens
Elaborado pelo autor.
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Figura 9 – Still da cena na Kombi
Fonte: TRINDADE (2015)
Como suporte técnico, os equipamentos utilizados foram cedidos pela microempresa
local Jubarte Filmes, que se uniu ao coletivo Drone em Chamas para a articulação do filme.
A câmera utilizada majoritariamente foi uma Nikon D610 com lentes 50mm, 85mm e 24-
70mm. Para a captação de áudio utilizamos o gravador Tascam R-05 com microfone boom
direcional. Em algumas cenas forma utilizados tripé e equipamento de traveling. No
momento atual o material captado das gravações está sendo editado nas ilhas de edição do
Laboratório de Comunicação Social da UFRN, com disponibilidade de projeção e com
computadores da Apple.
Para a composição da trilha sonora do filme, buscamos nos compositores locais
independentes as canções que ajudam a construir a atmosfera do filme com todos os direitos
cedidos gratuitamente. Compondo a trilha contamos com bandas e artistas como: Plutão Já
Foi Planeta, Igapó de Almas, Lili Bélica e Mc Priguissa.
Considerações finais
O presente trabalho teve como objetivo relatar pontos importantes dentro do
processo de produção executiva no filme “O Mistério das Noites Brancas”. A partir desse
relato, possíveis soluções para filmes de baixo orçamento podem ser pensadas, mostrando
que existem possibilidades alternativas para se gravar um filme ainda que o mesmo não seja
contemplado por um edital ou lei de incentivo. Foi observado também, que as histórias
pensadas para cinema que abordam temáticas de relevância social podem, mais facilmente,
serem viabilizadas.
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Ainda como parte dos objetivos, foi possível debater o conceito de produção e suas
múltiplas características, além de pensar o papel do produtor (e especialmente o executivo)
como peça-chave na articulação e viabilização de filmes, e como essa função merece
destaque e incentivos de capacitação.
O trabalho da produção executiva no filme “O Mistério das Noites Brancas” teve
início em meados de junho de 2014 quando o roteiro do filme começou a ser redigido e as
primeiras filmagens foram realizadas em uma viagem do roteirista e produtor à Rússia. As
gravações oficiais em Natal, RN tiveram início no mês de fevereiro de 2015 e se
estenderam até setembro do mesmo ano.
Atualmente o filme se encontra na fase de montagem. A edição de áudio
especializada para cinema e o efeito de cor da finalização, ainda estão em negociação com o
Núcleo de Cultura e Arte da UFRN, que abraçou o projeto como tarefa de grande
contribuição para o curso de Radialismo, que em 2017 passará a se chamar Audiovisual.
Referências
FERNANDES, Lucas Ferreira: O Processo Criativo de Roteiro no Filme “O Mistério das
Noites Brancas”. Trabalho apresentado no IJ 04 – Comunicação Audiovisual do XVIII
Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste realizado de 07 a 09 de julho
de 2016.
GIANNASI, Ana Maria. O produtor e o processo de produção dos filmes de longa
metragem brasileiros. São Paulo, 2007. Dissertação (Mestrado em Ciências da
Comunicação) – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação – ECA,
Universidade de São Paulo, 2007.
JOHNSON, Kathy Avrich. Development and other challenges: a producer‟s handbook.
2002. Disponível em: <https://www.telefilm.ca/files/fonds_prog/producer-
handbook_0.pdf> Acesso em 12 de julho de 2016.
KAMÍN, Bebe. Introducción a la producción cinematográfica. Presupuesto – Plan
financiero: Bs.As., Centro de Investigación Cinematográfica, Cap. 3, pp. 20 – 29. Escuela
Regional Cuyo de Cine y Video Cátedra de Producción I, 1999.
LIMA, Érica Conceição Silva. Audiovisual Potiguar: Uma análise do cenário no período
de 2007 a 2012. Trabalho apresentado no DT04 – Comunicação Audiovisual do XV
Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste, realizado de 12 a 14 de junho
de 2013.
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NATAL, Cineclube. Boi de Prata Genuinamente Potiguar. 2007. Disponível em:
<http://cineclubenatal.blogspot.com.br/2007/10/boi-de-prata-genuinamente-potiguar-
por.html> Acesso em 12 de julho de 2016.