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INSTRUIR E EVANGELIZAR: AS PRIMEIRAS ESCOLAS NORMAIS
CATÓLICAS EM ARACAJU (1937-1946)
DILSON GONZAGA SAMPAIO 1
LEYLA MENEZES DE SANTANA2
O presente artigo tem como objetivo principal apresentar as duas primeiras escolas
normais confessionais católicas: Colégios Nossa Senhora de Lourdes (1937) e o Colégio
Patrocínio de São José (1946). Ambas fundadas em Aracaju/Se por congregações
femininas de origem europeia no início do século XX. Dessa forma, teceremos algumas
considerações a respeito das contribuições do curso normal na profissionalização
feminina em Aracaju. A investigação tem como marco temporal o ano de fundação
desses cursos nessas instituições quando as mesmas já mantinham outras modalidades
de ensino. O aporte bibliográfico desta pesquisa ancorou-se nos escritos de Nosella e
Buffa (2009), Magalhães (2004) e Bourdieu, (2009); bem como na pesquisa documental
com o foco nos anúncios propagados pelos Colégios no Jornal A Cruzada, os
documentos institucionais e as atas dos inspetores de ensino. Ressaltamos que, para o
período investigado as instruções educativas estavam inseridas no projeto dogmático
católico, atrelado a uma formação moral de educar mulheres, pautada nos “bons”
costumes e no cumprimento de ser boa esposa e mãe.
PALAVRAS-CHAVE: Colégio Patrocínio de São José. Colégio Nossa Senhora de
Lourdes Curso normal. Formação das professoras.
INTRODUÇÃO
Ao Investigar os caminhos que nos levariam à História da Educação em Sergipe
e a conhecer as principais instituições educativas femininas, aprofundamos o estudo,
partimos para os arquivos, biblioteca e demais espaços de memória, buscamos conhecer
a história dos principais colégios católicos de Aracaju, identificamos que durante a
trajetória das instituições tiveram grande relevância no campo educacional.
Magalhães ressalta ainda que, “conhecer o processo histórico de uma
instituição educativa é analisar a genealogia da sua materialidade, organização,
1 Mestre em Educação pela Universidade Tiradentes e Professor de Educação Básica da Prefeitura Municipal de Socorro. [email protected] 2 Mestre em Educação pela Universidade Tiradentes e Professora dos Cursos de Pedagogia e História (Unit) [email protected]
funcionamento, quadros imagéticos e projetos, representações e projetos dos sujeitos na
relação com a realidade material e sociocultural de contexto” (2004, p. 58).
Para Magalhães (2004, p.54) “a educação é um constructo pessoal, fruto de
uma relação institucional e social (grupal), por participação dos sujeitos. No plano
pedagógico a relação entre o sujeito e a instituição é de natureza instituinte”. As escolas
são agências criadas pelo homem a fim de atender às necessidades da sociedade em
cada época, em um processo sincrônico, na formação de novos líderes e na educação
linear do seu povo.
Nessa perspectiva recorremos à História Cultural, conceituada por Chartier
(1990, p. 16) em que “o objeto da história cultural é, identificar o modo como em
diferentes lugares e momentos uma realidade social é construída, pensada, dada a ler”.
O nosso objetivo nesse trabalho não é realizar um estudo comparado entre os cursos
normais de cada colégio, mas identificar quais foram as práticas e as intenções em
instituir esse curso.
O curso normal surgiu na França e estava vinculado à formação de professoras
para o serviço publico. Com matrícula de maioria feminina, representava a possibilidade
de profissionalização e instrução de muitas moças da elite francesa, segundo
(ARAÚJO,2010, p. 35) “A lógica do Estado era a de formar professores revestidos do
ideal de ser “missionário” como a finalidade de regenerar moralmente as massas
incultas”.
Na busca desse entendimento, qual seja conhecer a história dos primeiros
cursos normais confessionais em Aracaju, encontramos diversos documentos oficiais e
institucionais, fotos e registros pessoais que travam desses cursos e as suas orientações.
Desse modo a igreja e o estado estavam juntos em um plano de civilizar e educar a
população pela instrução das massas.
Logo é preciso realizar as leituras, desmontar os documentos e analisar para
que e para quem se destinavam os cursos normais em Aracaju. A lupa dos historiadores
da história da educação é clareada por diversos autores da área. Um deles é Le Goff
quando afirma que “a leitura dos documentos não serviria, pois, para nada se fosse feita
com ideias preconcebidas” (2003, p. 527).
A realização desse estudo deu-se quando ainda iniciei uma investigação a
respeito dos colégios confessionais femininos católicos em Sergipe, Essas instituições
foram difundidas em diversas cidades do Estado e principalmente na capital aracajuana.
Com a fundação do Colégio Patrocínio de São José (1940) e o Colégio Nossa Senhora
de Lourdes (1903), dirigido por religiosas de origem europeia, é no século XX que se
criam novas condições para a presença católica no território brasileiro com os convites
feitos por Bispos de diversas arquidioceses.
Dessa forma segundo (Azzi, p 08, 2008) “o período de 1922 a 1962 é marcado
por um projeto específico, destinado à restauração da fé;”. Por tanto, umas das
principais estratégias do catolicismo brasileiro foi a difusão de novas instituições
educativas e instituições culturais a exemplo de jornais, associações e irmandades. Essa
tática tinha à frente um corpo de agentes preparados aos serviços educativos e pastorais
da igreja.
A sociedade brasileira do inicio do século XX primava por conceitos religiosos,
morais e de boa retidão, essas ideias passariam por canais culturais que segundo Azzi
A imprensa foi utilizada através de livros, revistas e folhetos, que
se destinava tanto às pessoas com instrução superior como, até
mesmo, às crianças valorizada a comunicação verbal, através de
sermões, conferências, confissões, orientação espiritual de
associações e grupos, retiros, além de programas radiofônicos.
Houve também um esforço para que a mensagem católica chegasse
a todos os rincões do país, inclusive aos sertões do Nordeste e do
Mato Grosso, bem como ás classes e grupos sociais. Ricos e
pobres, homens e mulheres, velhos e crianças, operários e
camponeses, políticos e empresários, bem como os diversos grupos
étnicos (AZZI, 2008, P. 19).
Dessa maneira a Igreja Católica do início do século XX, no Brasil, representou
uma das principais produtoras e difusoras de preceitos culturais e religiosos,
diretamente acompanhada pelo estado ao incentivar a incursão de novas escolas e a
escolarização dos jovens, passaria a atender meninos e meninas em Colégios femininos
e masculinos com internatos, externatos e semi-internato. De modo, essa ampliação
beneficiava segundo Azzi “os colégio se esforçavam por bilhar. Como eram quase
sempre os únicos nas pequenas cidades, localidades onde se situavam, sobressaíam
necessariamente. Os colégios das freiras eram sempre os mais organizados,
disciplinados, exigentes”. (AZZI, 2008, p.156).
No Brasil, as instituições educativas católicas de ensino normal surgiram depois
dos conventos, antes dedicados à vida de reclusão e sacralidade religiosa, visavam à
admissão de moças para a vida religiosa. Muitas das famílias de elite procuravam os
conventos no desejo de instruir com ensinamentos das prendas do lar, bons modos e
atividades manuais.
Dessa forma, a educação feminina foi por um período na sociedade brasileira,
tímida e com poucos avanços no plano de escolarização, algo que afetou a educação
mulheril, fazendo com que a formação feminina fosse prejudicada. Isto porque muitas
meninas cresciam analfabetas, sem acesso à instrução e permaneceriam assim até muitas
chegarem ao casamento.
Todas as congregações católicas que se instalaram no Brasil, do
século XIX em diante, empregaram o método jesuítico em sua
prática docente [...] essa atitude não era fortuita, mas parte da
estratégia católica em sua luta contra a modernidade. (NOSELLA
& BUFFA, 1996, p.56).
Portanto não diferente a outras capitais, Aracaju contava com uma Escola
Normal3 subsidiada pelo Estado, com matrícula em sua maioria feminina. Para todas
que passassem nos exames de admissão promovidos própria instituição segundo
FREITAS
O primário era oferecido em Aracaju, às meninas em escolas
isoladas em grupos escolares e escolas particulares. Estas
geralmente mantinham internatos e começaram a crescer e a se
multiplicar a partir do século XIX e nas primeiras décadas do
século XX. É o caso do Instituto América, dirigido por Norma
Reis, professora a Escola Normal, que funcionou de 1920 a 1935,
possuindo um corpo docente renomado. As ordens religiosas
também mantiveram colégios na cidade. O Colégio Nossa Senhora
de Lourdes, [...], as possibilidades educacionais femininas em
Aracaju, a partir de 1920, estavam vinculadas às seguintes
instituições: à Escola de Comércio Conselheiro Orlando e ao
Colégio Atheneu. (FREITAS, 2003, P.31).
3 A primeira Escola Normal criada em Aracaju, atendia prioritariamente o sexo masculino (1870), criada
pela lei Orgânica da Instrução Pública. Vinculada ao Atheneu, que nesse período era o único Colégio de
ensino publico. Essa foi a primeira instituição fundada para formação do magistério.
“A CASA DO SABER DAS MOÇAS DA ELITE ARACAJUANA”
Dessa maneira o Colégio Nossa Senhora de Lourdes foi a primeira instituição
educativa confessional feminina em Aracaju, fundada em (1903), pela ordem religiosa,
das Irmãs Sacramentinas de origem francesa, voltada à educação feminina iniciou suas
atividades em um prédio localizado nas proximidades do centro da cidade, com um
ensino particular ofereceu os curso primários, secundários, de admissão e a escola
normal. Com internato, externato e semi-internato. Segundo (COSTA, 2003, p.37), “O
acesso à educação oferecido no internato era privilégio das moças ricas porque os custos
eram elevados”.
Essa instituição representou na época o primeiro Colégio implantado em
Aracaju, que de forma sistêmica mantinha em suas práticas educativas as principais
modalidades de ensino de acordo a legislação4 do período.
O Colégio Nossa Senhora de Lourdes, ganhou rápido notoriedade junto à
sociedade aracajuana devido a sua formação e disciplina aplica na sua instrução.
Credencia o trabalho das religiosas que se revezavam na ministração das disciplinas, a
instrução religiosa promovia na formação dos os homens e mulheres habilidades
diferenciadas uma vez com cursos de curta duração como corte e costura, piano,
desenho, e culinária.
Portanto no que concerne aos colégios para a formação de professoras,
instituições na sua grande maioria particulares, e que eram frequentadas por mulheres,
geralmente pertencentes às famílias mais favorecidas economicamente, ao adquirirem a
formação, necessariamente adquiriam o que é conceituado por Bourdieu
“O campo de produção simbólica é um microcosmos da luta
simbólica entre as classes: é ao servirem os seus interesses na luta
interna do campo de produção (e só nesta medida) que os
produtores servem os interesses dos grupos exteriores ao campo de
produção”. (BOURDIEU, 2002, p.12)
Assim, a formação feminina deu-se em um campo importante quando
analisamos a formação das religiosas boa parte delas com experiências na área de
4 De acordo com (COSTA, 2003, P.41) “Através do Decreto-Lei n. 55, de 22 de junho de 1931, ser
equipara à Escola Normal Rui Barbosa era uma exigência legal e uma demonstração do prestígio”.
educação e assistência. Transmitiram à suas alunas diversos ensinamentos importantes
para a formação da mulher nesse período. Haja vista as discentes transmitiriam o capital
absorvido na instituição e reconfigurando-se em novas práticas de conhecimento.
Nos colégios católicos de ensino normal, além das práticas pedagógicas, era
incentivado ativardes religiosas como construtoras também do saber cultura. Dessa
forma, o ensino normal atenderia a uma necessidade de mercado quando se necessitava
reorganizar o ensino primário as escolas normais foram importantes instâncias na
mediação da cultura, ou seja, espaços responsáveis pela divulgação do saber,
pedagógico, cultural, de saúde e religioso para a formação docente feminina.
Assim, o Colégio Nossa Senhora de Lourdes iniciou as atividades de formação
das professoras primárias, cabendo às Irmãs a tarefa de conduzir as jovens no seu
processo de formação. É o que nos elucida Costa.
A equiparação das escolas particulares à Escola Normal Rui
Barbosa foi uma das inovações introduzidas pelo Regulamento do
Ensino de 1931, com vistas a dotar os cursos de formação de
professores de um caráter mais técnico [...] o novo regulamento de
Ensino dispunha das condições para que as escolas. Particulares
fossem equiparadas. As mesmas deveriam possuir prédio
adequado, organizar o ensino de acordo com a Escola Normal
Oficial (COSTA, 2003, P.41).
O desejo do Estado era organizar o ensino normal, voltar a um único currículo,
que atendesse à necessidade da escola, e ao alunado era primordial afinar o discurso e as
práticas dessas instituições, fiscalizando-as e orientando-as nas conjecturas pedagógicas.
Essas normas foram seguidas pelas escolas normais do Colégio Patrocínio de São José e
o Colégio Nossa Senhora de Lourdes. Havendo também em comum nas três instituições
de ensino normal5.
A criação dos grupos escolares pautados em uma nova pedagogia, com
modernas instalações, exigia um corpo docente mais preparado a assumir as escolas na
capital e do interior do estado, ampliando o campo de atuação das normalistas.
O trabalho das religiosas pretendia que ao termino do ensino ginasial as alunas
ingressassem no ensino normal, assim prosseguiriam seus estudos na mesma instituição.
5 Escola Normal Rui Barbosa e no ano de (1946) Instituto de Educação Rui Barbosa, C colégio nossa
senhora de Lourdes e Colégio Patrocínio de São José.
Tática plicada tanto pelos Colégios patrocínio de São Jose e o Colégio Nossa Senhora
de Lourdes.
“AO SABER QUE PRODUZ BRILHO TANTO CURSO NORMAL DO
COLÉGIO PATROCÍNIO DE SÃO JOSÉ”
Na década de quarenta do século XX, funcionou no Colégio Patrocínio de São
José a escola normal de segundo 2º ciclo feminino, autorizado sobre o Decreto lei
Estadual n. 815057, de 31 de agosto de 1946, de acordo com a Lei Federal n. 8.530, de
dois de janeiro do mesmo ano. É equiparada a Escola Normal Rui Barbosa, sobre o
decreto lei n. 85 de 30 de julho de 19496. Foi a segunda escola normal confessional
criada em Aracaju7. O curso era voltado à formação de professores primários.
A instituição por nós estudada contribuiu para a feminização do magistério em
Sergipe, em tempo que esteve em consonância com os planos republicanos ao incentivar
a formação de mais professores primários até a metade do século. “A institucionalização
é uma fase, num processo evolutivo mais amplo, que corresponde ao constructo que
resulta da função instituinte e que se consolida na instituição” (Magalhães, 2004, p.47),
a complexidade de uma instituição, não é apenas os seus instrumentos educativos, más
as relações que são estabelecidas fora dos seus muros e como essas mensagens são
apropriadas por seus agentes educativos e transmitidas a outros.
Em nível nacional, em 1946, o curso normal recebeu uma ampla
regulamentação, através da Lei orgânica do Ensino Normal (8.560,
de 2/01/1946). Nos moldes desta legislação, foi elaborada a Lei
Estadual n°30 de 04 de dezembro de 1947 (Freitas, 2003, p.80).
Dessa forma a organização burocrática de uma instituição é composta de leis,
regulamentos, normas, inspeções, calendários, contabilidade, cronogramas de
avaliações, estatutos, regimes e outras normas que validem o seu poder instituinte. “As
instituições educativas, de forma particular e na sua dimensão sistêmica, são realidades
dentro de outra realidade” (Magalhães, 2004. p.67).
6 Fonte: Livro de registro de reuniões da Escola Normal (1950), acervo do arquivo do Colégio. 7 A primeira Escola normal confessional em Aracaju foi a do Colégio Nossa Senhora de Lourdes,
A ação educativa exercida pelos sujeitos na instrução é um organismo vivo pelo
qual os agentes apropriam-se das mensagens e normas, reproduzem o que foi aprendido
para novos sujeitos. “O capital cultural é um ter que se tornou ser, uma propriedade que
se fez corpo e tornou-se parte integrante da “pessoa,” um “habitus” (Nogueira e catani,
2014, p.65)”.
O gabinete de leitura do Colégio em 1948 contava com 1.124 obras
diversificadas por vários temas, assuntos e autores, a respeito dos manuais da escola
normal considerando as principais obras no campo do ensino normal que A apropriação
do conhecimento pedagógico é compreendida pelo que nos orienta (BOURDIEU, 2010,
p. 61) “o hábitus, como indica a palavra, é um conhecimento adquirido e também um
haver, um capital (de um sujeito transcendental na tradição idealista) o hábitus, a hexis,
indica a disposição incorporada, quase postural”. Reiterando o que já foi discorrido em
1952, o currículo da escolar normal tentava atender os conhecimentos pedagógicos, de
saúde e cívicos.
O curso ocorria em período matutino e vespertino. Ao notarmos pela
distribuição das disciplinas, os horários e o tempo de estudo de cada uma, podemos
compreender que o curso era dividido em eixos temáticos. O primeiro da base
pedagógica com as disciplinas (Pedagogia, Metodologia do Ensino Primário, Biologia
Educacional, Administração Escolar, Fundamentos Sociais da Educação, Prática de
Ensino e Psicologia Educacional). Essas disciplinas preparariam as normalistas para sua
vivência na sala de aula, por métodos estruturantes do saber conhecer e fazer.
O segundo eixo temático era das disciplinas voltadas para o campo do saber
médico (Puericultura e Educação Sanitária), as apropriações desse saber pelas
normalistas justifica-se pelos projetos de civilidade republicana e de higiene das
cidades. E por último as disciplinas (Ed. Física Recreação e Jogos, Desenho e Art.
Aplicada) esperava que a normalista fosse criativa nas suas atividades e as
desenvolvesse com brilhantismo. São disciplinas mais práticas e que desenvolviam a
criatividade das alunas.
A disciplina de ensino religioso não estava presente no currículo dos cursos,
embora não configurasse entre as disciplinas do curso normal, ela se constituía em uma
modalidade de ensino bastante valorizada na formação educacional das professorandas,
pois os seus ensinamentos eram ministrados por meio de um curso de formação de
catequistas, em que as alunas faziam a leitura da Bíblia e dos livros da vida dos santos.
Dessa forma, as normalistas também recebiam na escola uma forte preparação
de caráter moral e cívico, pois os ensinamentos transmitidos não visavam apenas
inculcar os preceitos do catolicismo e do conhecimento pedagógico, pretendia também
ensinar os valores cívicos e prescrever formas de comportamentos, inclusive essas
práticas se tornavam ainda mais valorizadas, pelo fato de ocorrer no encerramento do
ano escolar a distribuição dos prêmios de conduta, desfiles cívicos estudo e as
inscrições no livro de ouro das alunas exemplares.
Por tanto (Horta, 1994, p.04), nos apresenta a função da escola “O papel
desempenhado pela Igreja Católica no período em questão e acompanhamos os esforços
desenvolvidos pelo regime no sentido de utilizar-se da Igreja como instrumento de
legitimação política e inculcação moral”.
O estado esperava das normalistas que desempenhassem papeis importantes na
atividade do magistério, na formação de uma nova sociedade sobre preceitos cívicos e
patrióticos. Desse modo, o plano estava traçado entre a igreja e o governo quando na
ligação de uma política de restauração nacional.
Para tanto, a ação dos agentes educativos responsáveis pela criação dos cursos
normais em Aracaju favoreceu a inclusão dessas jovens e moças no campo profissional,
contribuindo para o desenvolvimento dos preceitos higiênicos quando as mesmas
difundiam práticas de saúde no ambiente escolar. Dessa forma, a normalista não era
apenas a professora responsável pelo ler, escrever e ensinar as principais operações
matemáticas, mas, cuidadora e observadora de certas enfermidades próprias do período
pueril.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto o trabalho acerca dos primeiros cursos normais em Aracaju, assim
também a respeito das instituições educativas e a formação de professoras primárias,
buscamos compreender algumas contribuições para a História da profissão docente,
História das Instituições Educativas, por acreditamos que para construção dessa história
algo que ocorre no inicio do século XX, diversos autores contribuíram na implantação
desse projeto de educação. O resultado da pesquisa revelou que tanto o Colégio
Patrocínio de São José quanto o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, foram importantes
espaços educativas na formação cultural, social e religioso de diversas jovens e moças
no modelo de educação feminina comum ao período investigado. A consequência
dessas práticas foi a formação da mulher-professora por sua natureza materna. Este era
o caminho único que se abria à possibilidade de uma ocupação para a mulher que não
fosse somente o lar.
O projeto de formação praticado nos Colégios estava classicamente também
imbuído do espírito patriótico, com diversos rituais cívicos. Por meio dos desfiles
cívicos, comemorações de feriados e premiações de competições. Assim diversos
conceitos nortearam a formação docente nas instituições confessionais católicas, as
mesmas contavam com o apoio do governo, quando autorizava e financiava com
determinas bolsas de estudos.
O desejo do Estado com a reorganização do ensino primário e a criação dos
grupos escolares, ao admitir agentes especializados, formados, resolveria o problema da
educação e a atuação de professores leigos em diversas escolas do país,
consequentemente contribui com a Igreja Católica, no desejo de ampliar seus fies e
seguidores.
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A CRUZADA. 1940 “A abertura das matrículas do Colégio Patrocínio de São
José”. Notícia publicada na edição de 12 de novembro de 1940.
A CRUZADA. 1940 “A aberturas das matrículas do internato do Patrocínio de São
José”. Notícia publicada na edição de 12 de dezembro de 1940.
A CRUZADA. 1940 “O estatuto do internato”. Notícia publicada na edição de 22 de
dezembro de1940.
A CRUZADA. 1941 “Visitas do governador do estado ao Colégio Patrocínio de São
José”. Notícia publicada na edição de 12 de março de 1941.
A CRUZADA. 1942 “Estatutos do Colégio”. Notícia publicada na edição de 04 de
janeiro de 1942
A CRUZADA. 1943 “Festas de formatura da primeira turma do magistério”. Notícia
publicada na edição de 12 de dezembro de 1943.
A CRUZADA. 1945 “Aberturas de matricula para turmas do magistério e exames
de admissão”. Noticia publicada na edição de 20 de janeiro de 1945.