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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CLIMA E AMBIENTE Variabilidade da ocorrência de deslizamentos de terra e sua relação com a precipitação na cidade de Manaus Rafael Gomes Barbosa Manaus 2017

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CLIMA E AMBIENTE

Variabilidade da ocorrência de deslizamentos de terra e sua relação com a precipitação na cidade de Manaus

Rafael Gomes Barbosa

Manaus 2017

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Rafael Gomes Barbosa

Variabilidade da ocorrência de deslizamentos de terra e sua relação com a precipitação na cidade de Manaus

Orientador: Dr. Rodrigo Augusto Ferreira de Souza Coorientadora: Dra. Maria Betânia Leal de Oliveira

Dissertação apresentada ao programa de Pós-graduação em Clima e Ambiente do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e da Universidade do Estado do Amazonas como requisito para obtenção do título de Mestre em Clima e Ambiente.

Manaus 2017

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Sinopse:

Estudo voltado à variabilidade espacial e temporal da ocorrência de

deslizamentos de terra em Manaus (AM) e sua relação com o regime local

de precipitação. Foram avaliadas as zonas mais suscetíveis bem como

montantes de chuva capazes de desencadear esse fenômeno.

Palavras-chave: Deslizamento, Precipitação, Manaus.

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Agradecimentos

Primeiramente, meus agradecimentos são ao Professor Dr. Rodrigo Augusto

Ferreira de Souza, que durante a pós-graduação foi meu orientador e, de forma

precisa, me orientou neste trabalho. Além disso, anteriormente esteve presente

durante boa parte da minha graduação, se tornando uma grande referência também

como pessoa e profissional.

À Professora Dra. Maria Betânia Leal de Oliveira pela coorientação, extrema

ajuda na organização, estruturação e construção do trabalho, o que é indispensável

para uma boa apresentação e compreensão do que foi pretendido neste estudo, além

de também ser uma grande referência profissional e pessoal.

À Professora Dra. Rita Andreoli que desde o início deste trabalho procurou

ajudar de todas as formas possíveis na elaboração e resolução de questões

levantadas pela pesquisa; e também ao Dr. Ivan Saraiva, que também não mediu

esforços para que este trabalho fosse desenvolvido e agiu prontamente

compartilhando os conhecimentos de sua área.

Aos meus pais, Maria Cícera Gomes de Lucas e Reinaldo Imbrozio Barbosa,

que de forma esplendida foram os precursores do cidadão que sou, sem medir

esforços para garantir a educação que tenho hoje. Também aos meus irmãos e

demais familiares que dispõem do meu carinho e compaixão.

Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e à Universidade do Estado

do Amazonas (UEA) que foram as instituições de ensino onde tive a oportunidade de

concluir o curso de Mestrado em Clima e Ambiente.

À Fundação CAPES, pelo incentivo e oportunidade de engrandecimento

profissional e acadêmico durante a pós-graduação, e ao Projeto Rede de Mudanças

Climáticas da Amazônia (REMCLAM) pelo suporte inigualável no desenvolvimento da

pesquisa.

Tenho muito a agradecer a professores, colegas de ensino, todos os que de

alguma forma significaram ou ainda têm significado na minha formação profissional e

como pessoa. Àqueles que por ventura não tiveram seus nomes citados também

considerem meu humilde muito obrigado.

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Resumo

A partir da criação da Zona Franca de Manaus a capital amazonense sofreu

crescimento populacional acentuado devido ao êxodo provocado pela geração de

atividades comerciais e agrárias, tendo o território urbano tomado conta das zonas

mais afastadas, sem infraestrutura básica. A cidade é caracterizada como uma região

plana seccionada por cursos de água (igarapés) com o nível topográfico aumentando

de acordo com a distância do rio da mesma maneira que a declividade. Desta forma,

a associação das características físicas do terreno às sociais formou zonas de risco

com 23 mil residências (Defesa Civil do Amazonas, 2013) sujeitas a fenômenos como

deslizamentos de terra, problema agravado pelo marcante regime local de

precipitação. Para explorar a ocorrência desses desastres naturais e sua relação com

as chuvas, foram utilizados registros de deslizamentos de terra da Defesa Civil de

Manaus, entre 2010 e 2015, juntamente com registros de precipitação de uma rede

de estações meteorológicas automáticas e estimativas de precipitação por Radar

meteorológico, além de imagens de satélite, dados de radiossondagens, Reanálise do

NCEP e analises sinóticas. As análises indicaram forte relação entre as variáveis, com

a sazonalidade das ocorrências acompanhando a da precipitação – maior (menor)

número de deslizamentos ocorrendo predominantemente nos meses mais chuvosos

(secos). De acordo com as observações de ocorrências de deslizamentos as zonas

norte e leste são as mais atingidas, e as zonas centro-sul e centro-oeste foram as que

menos apresentaram registros. Considerando acumulados de precipitação entre 24 e

96 h que antecederam os registros feitos pela Defesa Civil, foram observados

menores valores de precipitação relacionados a deslizamentos nas zonas norte e

leste, e para as demais zonas valores de precipitação mais altos para o

desencadeamento desses desastres. Os estudos de caso mostraram que os

deslizamentos ocorreram devido a precipitação acumulada em dias seguidos

(saturação gradual do solo) e a eventos de precipitação mais intensa em um único

dia. Diante dos resultados, tem-se que os deslizamentos não estão espacialmente

distribuídos na cidade sendo as zonas norte e leste as mais afetadas em razão das

características geográficas associadas à precipitação. Ainda, se faz necessário a

utilização de um período maior e diferentes fontes de dados para elucidar montantes

específicos de precipitação capazes de gerar os fenômenos naturais em questão.

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Abstract

Since the creation of the Manaus Free Trade Zone, the Amazonian capital experienced

a strong population growth due to the exodus caused by the generation of commercial

and agrarian activities, having in the urban territory taken account of outlying areas,

without basic infrastructure. The city is characterized as a flat region sectioned by

watercourses (igarapés) with the topographical level increasing according to the

distance of the Negro River in the same manner as the slope. In this way, the

association of the physical characteristics of the land with the social ones formed zones

of risk with 23 thousand residences (Civil Defense of Amazonas, 2013) subject to

phenomena such as landslides, a problem aggravated by the marked local

precipitation regime. To explore the occurrence of these natural disasters and its

relationship with rains, were used records of landslides of Manaus Civil Defense,

between 2010 and 2015, along with precipitation records from a network of automatic

weather stations and Weather Radar precipitation estimates, in addition to satellite

imagery, radio sounding data, NCEP Reanalysis and synoptic analysis. The analysis

indicated a strong relation between the variables, with the seasonality of occurrences

following the precipitation – greater (smaller) number of landslides occurring

predominantly in the wettest months (dry). Were found in the north and east zones

suffering the hardest hit, and the south central and midwest were the ones which

presented less records of landslides. Considering accumulated precipitation between

24 and 96 h preceding the records made by the Civil Defense, smaller values of

precipitation were observed related to landslides in the northern and eastern areas,

and the other areas had highest precipitation values for triggering these disasters. The

case studies revealed the landslides occurring due to cumulative precipitation on

consecutive days (gradual saturation of the soil) and to more intense precipitation

events in a single day. In front of the results, it is observed that the landslides are not

spatially distributed in the city being the northern and eastern areas most affected due

to geographical characteristics associated with precipitation. Still, it is necessary to use

a longer period and different data sources to elucidate specific amounts of precipitation

capable of generating natural phenomena in question.

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Sumário

Capítulo 1 ____________________________ ....................................................... 13

Introdução, Motivação e Objetivos ............................................................................ 13

Capítulo 2 ____________________________ ....................................................... 18

Revisão Bibliográfica ................................................................................................. 18

2.1. Manaus ........................................................................................................ 19

2.2. Sistemas meteorológicos que atuam na região Amazônica ......................... 20

2.3. Eventos de precipitação em Manaus ........................................................... 23

2.4. Desastres naturais ....................................................................................... 24

Capítulo 3 ____________________________ ....................................................... 27

Dados e Metodologia ................................................................................................ 27

3.1. Dados .............................................................................................................. 28

3.2. Metodologia..................................................................................................... 29

3.2.1. Estimativas de Precipitação por Radar meteorológico .............................. 32

Capítulo 4 ____________________________ ....................................................... 35

Resultados e Discussão ............................................................................................ 35

4.1. Deslizamentos ................................................................................................. 36

4.2. Relação: precipitação estimada e registrada .................................................. 42

4.3. Relação: precipitação e deslizamentos ........................................................... 47

4.4. Estudos de caso .............................................................................................. 55

4.4.1. Grupo 1 ..................................................................................................... 55

4.4.2. Grupo 2 ..................................................................................................... 66

Capítulo 5 ____________________________ ....................................................... 77

Conclusões................................................................................................................ 77

Capítulo 6 ____________________________ ....................................................... 81

Referências Bibliográficas ......................................................................................... 81

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Lista de Figuras

Figura 1. Imagens aéreas da zona urbana de Manaus em 1984 e 2017, em destaque

as zonas norte (azul) e leste (vermelho). .................................................................. 14

Figura 2. Deslizamentos em Manaus devido a ocorrência de precipitação que

causaram danos e prejuízos à população: a) Casa onde morava mãe e quatro filhos

na zona norte - 11/11/2012; b) Chuva provocou deslizamento de terra na zona leste -

22/04/2013. Fonte: http://g1.globo.com/amazonas/ .................................................. 16

Figura 3. Estado do Amazonas e, em destaque, região urbana de Manaus dividida por

bairros (contornos) e zonas (cores). Zona leste – vermelha; zona norte – azul; zona

oeste – amarela; zona centro-sul – verde; zona centro-oeste – rosa; e zona sul –

branca. ...................................................................................................................... 19

Figura 4. Diagrama esquemático representativo das etapas do estudo. ................... 30

Figura 5. Indicação do local onde se encontra instalado e foto do Radar meteorológico

de Manaus do SIPAM. .............................................................................................. 32

Figura 6. Esquema de captação do feixe do Radar (Fonte: Saraiva, 2010). ............. 33

Figura 7. Distribuição das estações virtuais em Manaus para estimativa da

precipitação: (a) pontos e (b) retângulos. .................................................................. 34

Figura 8. Distribuição percentual do total de ocorrências de deslizamentos de terra

registrados em Manaus, pela Defesa Civil do Município, para o período entre janeiro

de 2010 e março de 2015, classificados por zona da cidade. ................................... 36

Figura 9. Total mensal de precipitação (barras) referente ao período entre abril de

2010 e março de 2015 e total mensal da ocorrência de deslizamentos (linha) em

Manaus referente ao período entre janeiro de 2010 e março de 2015. ..................... 37

Figura 10. Mapa topográfico da zona urbana de Manaus (Fonte: Miranda, 2005). ... 39

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Lista de Figuras

Figura 11. Total mensal da ocorrência de deslizamentos para cada uma das seis

zonas de Manaus para o período entre janeiro de 2010 e março de 2015. .............. 40

Figura 12. Total anual da ocorrência de deslizamentos de terra em cada zona de

Manaus no período entre os anos de 2010 e 2014. .................................................. 42

Figura 13. Total diário de precipitação registrado pela estação EMBRAPA e totais

diários estimados através de dados do Radar meteorológico de Manaus sobre a

estação EMBRAPA utilizando os métodos 20p e 20me para o ano de 2014. ........... 43

Figura 14. Total diário de precipitação registrado pela estação IFAM e totais diários

estimados através de dados do Radar meteorológico de Manaus sobre a estação

IFAM utilizando os métodos 20p e 20me para o ano de 2014. ................................. 45

Figura 15. Precipitação nas estações EMBRAPA, EST e IFAM nas 24 h de dias com

eventos de deslizamentos nas zonas norte, sul, leste, oeste, centro-sul e centro-oeste.

.................................................................................................................................. 48

Figura 16. Precipitação nas estações EMBRAPA, EST e IFAM em 48 h antecedentes

à eventos de deslizamentos nas zonas norte, sul, leste, oeste, centro-sul e centro-

oeste. ........................................................................................................................ 50

Figura 17. Precipitação nas estações EMBRAPA, EST e IFAM em 72 h antecedentes

à eventos de deslizamentos nas zonas norte, sul, leste, oeste, centro-sul e centro-

oeste. ........................................................................................................................ 51

Figura 18. Precipitação nas estações EMBRAPA, EST e IFAM em 96 h antecedentes

à eventos de deslizamentos nas zonas norte, sul, leste, oeste, centro-sul e centro-

oeste. ........................................................................................................................ 53

Figura 19. Acumulado de precipitação (mm) e intensidade da precipitação (mm/h)

ocorrida entre os dias 06 e 09/02/2011. .................................................................... 56

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Lista de Figuras

Figura 20. Recortes de imagens do Satélite GOES-12 para 06/02/2011 08h15min,

07/02/2011 08h00min, 08/02/2011 13h00min e 09/02/2011 14h45min. .................... 57

Figura 21. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência

(1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 850 hPa para o dia 09/02/2011. ........... 59

Figura 22. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência

(1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 250 hPa para o dia 09/02/2011. ........... 59

Figura 23. Acumulado de precipitação (mm) e intensidade da precipitação (mm/h)

ocorrida entre os dias 26 e 29/04/2011. .................................................................... 60

Figura 24. Recortes de imagens do Satélite GOES-12 para 27/04/2011 01h00min e

29/04/2011 11h00min. ............................................................................................... 61

Figura 25. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência

(1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 850 hPa para o dia 29/04/2011. ........... 62

Figura 26. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência

(1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 250 hPa para o dia 29/04/2011. ........... 63

Figura 27. Acumulado de precipitação (mm) e intensidade da precipitação (mm/h)

ocorrida entre os dias 09 e 12/09/2011. .................................................................... 64

Figura 28. Recortes de imagens do Satélite GOES-13 para 11/09/2013 18h00min e

12/09/2013 20h00min. ............................................................................................... 65

Figura 29. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência

(1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 850 hPa para o dia 12/09/2013. ........... 66

Figura 30. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência

(1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 250 hPa para o dia 12/09/2013. ........... 66

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Lista de Figuras

Figura 31. Acumulado de precipitação (mm) e intensidade da precipitação (mm/h)

ocorrida entre os dias 17 e 20/12/2010. .................................................................... 67

Figura 32. Recortes de imagens do Satélite GOES-12 para 20/12/2010 13h00min e

14 h00min.................................................................................................................. 68

Figura 33. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência

(1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 850 hPa para o dia 20/12/2010. ........... 69

Figura 34. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência

(1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 250 hPa para o dia 20/12/2010. ........... 69

Figura 35. Acumulado de precipitação (mm) e intensidade da precipitação (mm/h)

ocorrida entre os dias 30/04 e 03/05/2011. ............................................................... 70

Figura 36. Recorte de imagem do Satélite GOES-12 para 03/05/2011, as 9 h. ........ 70

Figura 37. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência

(1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 850 hPa para o dia 03/05/2011. ........... 71

Figura 38. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência

(1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 250 hPa para o dia 03/05/2011. ........... 72

Figura 39. Acumulado de precipitação (mm) e intensidade da precipitação (mm/h)

ocorrida entre os dias 05 e 08/03/2014. .................................................................... 73

Figura 40. Recortes de imagens do Satélite GOES-13 para 07/03/2014 23 h,

08/03/2014 1 h e 08/03/2014 6 h. .............................................................................. 74

Figura 41. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência

(1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 850 hPa para o dia 08/03/2014. ........... 75

Figura 42. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência

(1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 250 hPa para o dia 08/03/2014. ........... 76

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Lista de Tabelas

Tabela 1. Tipos de ameaças e suas características. ................................................. 24

Tabela 2. Nome, localização geográfica, zonas onde as estações meteorológicas

automáticas estão instaladas e período de dados de cada estação. ........................ 29

Tabela 3. Número de deslizamentos, número de dias com chuva e anomalia de

precipitação (mm), referentes aos meses fevereiro e abril de 2011, abril de 2013 e

março de 2014. ......................................................................................................... 38

Tabela 4. Parâmetros estatísticos (desvio médio, desvio padrão e coeficiente de

correlação), calculados para a diferença entre os dados de precipitação registrados

na estação EMBRAPA e estimativas de precipitação (registrado-estimado) para

quatros níveis de altura (2,0, 2,5, 3,0 e 3,5 km), em mm, utilizando dois métodos de

extração da precipitação (p e me) para o mesmo local, e correlação entre os dados

observados e estimados............................................................................................ 44

Tabela 5. Parâmetros estatísticos (desvio médio, desvio padrão e coeficiente de

correlação), calculados para a diferença entre os dados de precipitação registrados

na estação IFAM e estimativas de precipitação (registrado-estimado) para quatros

níveis de altura (2,0, 2,5, 3,0 e 3,5 km) utilizando dois métodos de extração da

precipitação (p e me) para o mesmo local, e correlação entre os dados observados e

estimados. ................................................................................................................. 45

Tabela 6. Parâmetros estatísticos (média, mediana e desvio padrão) da precipitação

total estimada na estação EMBRAPA em 24, 48, 72 e 96 h anteriores aos eventos de

deslizamento de terra na zona norte. ........................................................................ 46

Tabela 7. Parâmetros estatísticos (média, mediana e desvio padrão) da precipitação

total estimada na estação IFAM em 24, 48, 72 e 96 h anteriores aos eventos de

deslizamento de terra na zona leste. ......................................................................... 47

Tabela 8. Parâmetros estatísticos da precipitação ocorrida nas estações EMBRAPA,

EST e IFAM nas 24 h dos dias de eventos de deslizamento de terra nas zonas norte,

sul, leste, oeste, centro-sul e centro-oeste. ............................................................... 49

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Lista de Tabelas

Tabela 9. Parâmetros estatísticos da precipitação ocorrida nas estações EMBRAPA,

EST e IFAM nas 48 h antecedentes à eventos de deslizamento de terra nas zonas

norte, sul, leste, oeste, centro-sul e centro-oeste. ..................................................... 50

Tabela 10. Parâmetros estatísticos da precipitação ocorrida nas estações EMBRAPA,

EST e IFAM nas 72 h antecedentes à eventos de deslizamento de terra nas zonas

norte, sul, leste, oeste, centro-sul e centro-oeste. ..................................................... 52

Tabela 11. Parâmetros estatísticos da precipitação ocorrida nas estações EMBRAPA,

EST e IFAM nas 96 h antecedentes à eventos de deslizamento de terra nas zonas

norte, sul, leste, oeste, centro-sul e centro-oeste. ..................................................... 54

Tabela 12. Índices de instabilidade e energia da atmosfera a partir de

radiossondagens em Manaus (SBMN) nos dias 06, 07, 08 e 09/02/2011. ................ 58

Tabela 13. Índices de instabilidade e energia da atmosfera a partir de

radiossondagens em Manaus (SBMN) nos dias 26, 27, 28 e 29/04/2011. ................ 62

Tabela 14. Índices de instabilidade e energia da atmosfera a partir de

radiossondagens em Manaus (SBMN) nos dias 11 e 12/09/2013. ............................ 65

Tabela 15. Índices de instabilidade e energia da atmosfera a partir de

radiossondagens em Manaus (SBMN) no dia 20/12/2010. ....................................... 68

Tabela 16. Índices de instabilidade e energia da atmosfera a partir de

radiossondagens em Manaus (SBMN) nos dias 02 e 03/05/2011. ............................ 71

Tabela 17. Índices de instabilidade e energia da atmosfera a partir de

radiossondagens em Manaus (SBMN) nos dias 07 e 08/03/2014. ............................ 75

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13

Capítulo 1 – Introdução, Motivação e Objetivos

Capítulo 1 ____________________________

Introdução, Motivação e Objetivos

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Capítulo 1 – Introdução, Motivação e Objetivos

A cidade de Manaus teve a expansão do seu perímetro urbano moldado de

acordo com a migração e ocupação de pessoas que buscavam oportunidades de

trabalho na capital amazonense (Marques e Pinheiro, 2010). A partir da implantação

do modelo econômico da Zona Franca de Manaus, ao final da década de 1960, muitas

indústrias fixaram suas bases na cidade desenvolvendo importantes atividades

comerciais e agrárias. Neste momento se deu origem um êxodo habitacional fazendo

com que a população local passasse de aproximadamente 300 mil habitantes em

1970 para mais de 1,8 milhão em 2010 (IBGE, 2017).

Figura 1. Imagens aéreas da zona urbana de Manaus em 1984 e 2017, em destaque as zonas norte (azul) e leste (vermelho).

Este engrandecimento populacional acarretou em um crescimento

desordenado ocupando bairros periféricos sem qualquer organização legal ou

infraestrutura básica, proliferando moradias na maioria das vezes em locais

impróprios, às margens de cursos de água e de encostas, contribuindo para a geração

de zonas de risco, atividade que continua até os dias de hoje (Tucci, 1999; Marques

e Pinheiro, 2010; Defesa Civil do Amazonas, 2013). À medida que as zonas mais

próximas ao rio já se encontravam consolidadas, a expansão abrupta do meio urbano

foi de forma desordenada e muitas vezes sem que houvesse um preparo mínimo do

terreno, como pavimentação e sistema de drenagem eficiente, para receber a

população (Nogueira et al., 2007; Marques e Pinheiro, 2010; Rodrigues e Costa, 2014;

Tucci, 1999). Dessa forma, as zonas norte e leste da cidade de Manaus são as que

apresentam maior número de pessoas que residem em áreas inadequadas e sem

acesso aos serviços urbanos, devido ao crescimento acentuado nos últimos anos

(Oliveira e Costa, 2007).

Dez-1984 Jun-2017

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15

Capítulo 1 – Introdução, Motivação e Objetivos

Segundo o Relatório de Riscos de Desastres Naturais em Manaus (Defesa Civil

do Amazonas, 2013), mais de 23 mil residências estão sujeitas a fenômenos como

alagamentos, enxurradas, desabamentos e deslizamentos de terra, das quais 45,9%

encontram-se na zona leste e 31,1% na zona norte. A ocupação irregular de áreas

suscetíveis à erosão e o efeito do desmatamento das encostas constituem as zonas

de risco, que se agravam devido à precipitação recorrente, característica da região.

Situada na Amazônia Central, Manaus apresenta uma variabilidade sazonal da

precipitação que reflete o deslocamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT)

na direção norte/sul, com precipitação mais abundante no trimestre de fevereiro a

abril, e precipitação reduzida no período de julho a setembro (INMET, 2009). O clima

local também é definido por fatores como altos índices de umidade, disponibilidade de

radiação solar, influência da densa floresta e os rios que circundam as zonas mais ao

sul de Manaus (Tanaka et al., 2014). O relevo local também contribui para a existência

das áreas de risco, sendo caracterizado como uma região plana seccionada em várias

partes por vales de cursos d’água, localmente conhecidos como igarapés, dos quais

a declividade aumenta, na direção norte, de acordo com a distância do rio (Rodrigues

e Costa, 2014).

A ocorrência de eventos intensos de precipitação nas áreas consideradas de

risco intensifica a ocorrência de danos à população, como por exemplo, os

apresentados na Figura 1. No caso de deslizamentos, estes são propícios a ocorrerem

em qualquer região que apresente alguma declividade, sofrendo influência direta de

eventos de altos índices pluviométricos (intensos ou prolongados), mesmo sem a

influência antrópica (Tominaga et al., 2012).

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Capítulo 1 – Introdução, Motivação e Objetivos

Figura 2. Deslizamentos em Manaus devido a ocorrência de precipitação que causaram danos e prejuízos à população: a) Casa onde morava mãe e quatro filhos na zona norte - 11/11/2012; b) Chuva provocou deslizamento de terra na zona leste - 22/04/2013. Fonte: http://g1.globo.com/amazonas/

Rodrigues e Costa (2014) e Aguiar (2015) estudaram a relação entre as áreas

de risco e o número de ocorrência de eventos de deslizamentos e identificaram que

as zonas norte e leste da cidade são àquelas que apresentam o maior número de

eventos de deslizamento. Agregado a isto, tem-se o fato da precipitação se mostrar

mais significativa na porção norte de Manaus, tanto em intensidade quanto na

frequência de eventos de precipitação (Barbosa, 2014; Espinoza, 2014).

Ainda, os desastres naturais vêm ganhando destaque nos últimos anos em

Manaus e se tornando um assunto cada vez mais presente no cotidiano da população

local. Isso porque o aumento na frequência e intensidade desses eventos tem gerado

impacto mais intenso em meio a danos e prejuízos à sociedade (CEPED, 2011; Santos

et al. 2012).

Dentro desse contexto, este trabalho foi direcionado ao estudo da variabilidade

dos eventos de deslizamentos na cidade de Manaus e sua relação com a precipitação

na área urbana. Além do interesse científico, este estudo visou dar suporte aos

diferentes setores da sociedade preocupados em mitigar os transtornos ocasionados

por esses desastres.

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Capítulo 1 – Introdução, Motivação e Objetivos

Assim sendo, o objetivo geral deste estudo foi analisar a variabilidade espacial

e temporal da ocorrência de deslizamentos em Manaus em relação aos eventos de

precipitação. Os objetivos específicos do estudo são:

- Caracterizar a variabilidade espacial e temporal da ocorrência de

deslizamentos em Manaus, identificando as zonas de maior risco;

- Avaliar a relação entre a precipitação estimada utilizando dados do Radar

meteorológico de Manaus e a precipitação registrada por uma rede de estações

meteorológicas automáticas;

- Relacionar a ocorrência de deslizamentos aos eventos de precipitação e

identificar os sistemas meteorológicos atuantes.

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

Capítulo 2 ____________________________

Revisão Bibliográfica

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

2.1. Manaus

Manaus, capital do estado do Amazonas (Brasil), apresentou população

estimada em mais de dois milhões de habitantes em 2015, residentes em 63 bairros

que estão divididos em seis zonas dentro de uma área urbana de mais de 11 mil km²

(Figura 2) (IBGE, 2017). Encontra-se na porção central da Amazônia, região de densa

floresta, que apresenta marcante ciclo hidrológico decorrente da alta disponibilidade

de radiação solar e altos índices de umidade (Fisch et al.,1998).

Figura 3. Estado do Amazonas e, em destaque, região urbana de Manaus dividida por bairros (contornos) e zonas (cores). Zona leste – vermelha; zona norte – azul; zona oeste – amarela; zona centro-sul – verde; zona centro-oeste – rosa; e zona sul – branca.

O acumulado anual médio de precipitação é da ordem de 2307,4 mm (INMET,

2009) com uma sazonalidade evidente revelando precipitação mais elevada nos

meses fevereiro, março e abril, quando o acumulado representa 40,6% do total anual

médio, enquanto julho, agosto e setembro são meses que apresentam baixos totais

pluviométricos, totalizando 206,4 mm. Esta variabilidade temporal é resultado da

atuação de sistemas meteorológicos que influenciam no regime de precipitação não

só de Manaus, mas da região Amazônica como um todo, em especial a atuação da

Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) (Uvo, 1989; De Souza e Rocha, 2006).

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

2.2. Sistemas meteorológicos que atuam na região Amazônica

A precipitação na região Amazônica é resultado da atuação de sistemas

meteorológicos de diferentes escalas espaciais: global, a Zona de Convergência

Intertropical (ZCIT) (Moura e Vitorino, 2012); sistemas de grande escala, como a Zona

de Convergência do Atlântico Sul, sistemas frontais, Alta da Bolívia (Reboita et al.,

2010 e 2012); atuação da circulação de mesoescala como Linhas de Instabilidade e

complexos convectivos de mesoescala (Fisch et al., 1998; Reboita et al., 2010 e 2012);

e de escala local como as brisas marítimas, terrestres e fluviais (Molion e Dallarosa,

1990; Fisch et al., 1998; Oliveira e Fitzjarrald, 1993).

A ZCIT caracteriza-se por uma faixa de nebulosidade que circunda o globo

próximo ao equador, a qual é formada pela confluência dos ventos alísios oriundos

dos hemisférios norte e sul (Mendes e Soares-Gomes, 2007). Moura e Vitorino (2012)

identificaram a ZCIT como responsável por 67,0% da precipitação total anual em

Belém, entre janeiro e maio de 2008. No norte da região tem-se precipitação durante

todo o ano, com os acumulados máximos mensais ocorrendo no inverno austral (Rao

e Hada, 1990), devido ao posicionamento da ZCIT mais ao norte (Reboita et al., 2012).

Na porção sul da Amazônia os máximos mensais ocorrem nos seis primeiros meses

do ano, principalmente durante o verão austral, podendo ultrapassar a marca de

2450,0 mm por ano na região a noroeste do estado do Amazonas, na fronteira entre

Brasil, Colômbia e Venezuela (Reboita et al., 2010; INMET, 2009; Fisch et al., 1998).

A convecção proveniente da Amazônia associada à entrada de sistemas

frontais oriundos da porção meridional do continente, juntamente à circulação da alta

da Bolívia, resulta na configuração da zona de convergência do Atlântico Sul (ZCAS)

(Cupolillo, 2008) a qual provoca altos índices pluviométricos durante o verão (Kodama,

1992). Uma ZCAS pode ser identificada através de imagens de satélite, bem

caracterizada nos meses de verão como sendo uma faixa de nebulosidade orientada

no sentido noroeste-sudeste que é associada à convergência em baixos níveis,

estendendo-se desde o sul da Amazônia até o Atlântico Sul-Central (Silva Dias e

Marengo, 2002).

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

Em direção a leste, os sistemas frontais provenientes do Pacífico sul adquirem

uma componente em direção ao equador, logo após atravessarem a Cordilheira dos

Andes (Andrade, 2007), desenvolvendo papel importante durante o verão austral no

regime de precipitação da região (Garreaud e Wallace, 1998) com maior influência

nas porções sul e sudoeste da Região Amazônica. Longo et al. (2004) constataram

precipitação intensa na dianteira de uma frente em estudo sobre a entrada de uma

frente fria na Amazônia, também conhecida popularmente como friagem, quando

houve aproximadamente 13,0 mm de chuva em uma hora, em Ouro Preto d’Oeste

(Rondônia), e queda brusca da temperatura.

A Alta da Bolívia (AB) é caracterizada como uma intensa circulação

anticiclônica que ocorre durante o período de verão na alta troposfera, centrada por

volta de 17,0° S e 65,0° O, associada à liberação de calor latente do platô boliviano

(Virji, 1981) e contribuindo para as chuvas no norte do Brasil (Gandu e Silva Dias,

1998), devido sua influência na manutenção e intensificação da convecção na

Amazônia (Mota e Nobre, 2006).

Dois sistemas convectivos de mesoescala são comuns na região: As Linhas de

Instabilidade (LI) podem se originar como células convectivas alinhadas e dispersas a

medida que novas células completam os vazios da linha, e também como linhas quase

contínuas diante da atuação de uma forçante linear como por exemplo uma frente fria.

Chegam a ser responsáveis por 40% da precipitação ocorrida em Manaus entre 1 de

abril e 14 de maio de 1987, como descrito por Greco et al. (1990). Braga e Cohen

(2004) descreveram a atuação de uma LI formada na costa do estado do Pará, no dia

21 de abril de 2002, a qual provocou precipitação superior a 9,0 mm em 10 minutos

em Caxiuanã (Pará) e seguiu continente adentro por aproximadamente 590,0 km, a

uma velocidade média de 11,6 m/s e 14 horas de duração. Já os Complexos

Convectivos de Mesoescala (CCM’s) causam chuva intensa no norte e sul do Brasil.

Também são formados por aglomerados convectivos dispostos dentro de uma região

circular. Na região tropical são mais comuns durante o período diurno nas estações

de verão e outono devido ao aquecimento radiativo da superfície (Reboita et al., 2010;

Nieto-Ferreira et al., 2003; Salio et al., 2007). Um CCM pode gerar acumulados de

precipitação de até 54,0 mm, em uma hora, conforme verificado em estudo para o

nordeste do Pará (Silva et al., 2000).

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

Dependendo da época do ano e, consequentemente da escala dimensional do

sistema atuante, é possível identificar ainda uma variabilidade espacial da

precipitação decorrente da atuação de sistemas locais. Em grandes centros urbanos

que estão localizados às margens de extensos rios, como é o caso de Belém e

Manaus, o contraste térmico das superfícies continentais com os rios gera uma

circulação de brisa fluvial.

Mota et al. (2009), em estudo sobre a precipitação registrada em Belém,

constataram variabilidade espacial da precipitação acentuada durante a época seca,

quando os efeitos do aquecimento da superfície propiciam a formação de chuvas

isoladas e sem grande quantidade de precipitação, e pequena variabilidade durante o

período chuvoso devido à atuação de sistemas de escala maior, como a Zona de

Convergência Intertropical.

Ao estudar a variação diurna da precipitação na região metropolitana de

Manaus, Tanaka et al. (2014) verificaram que os índices pluviométricos na área de

floresta ao norte de Manaus é 21,0% maior do que na área urbana. Além disso, este

mesmo trabalho indica circulação de brisa ao identificar precipitação mais frequente

em uma estação localizada em Manaus, próxima ao Rio Negro, entre 5 e 10 h, hora

local.

Em estudo desenvolvido por Molion e Dallarosa (1990), a precipitação em

Manaus se mostrou menos expressiva em uma ilha localizada no Rio Negro devido

ao efeito de brisa fluvial. Em outro caso, Barbosa e Cohen (2011) associaram as

chuvas ocorridas em Santarém (Pará), no período do dia de 12 a 21 UTC (Universal

Time Coordinated), à atuação da circulação de brisa fluvial do Rio Amazonas. Em

Macapá (Amapá) fatores de grande escala e a topografia deram suporte à circulação

de brisa para dar origem a uma tempestade a qual totalizou 16,0 mm de chuva em

uma hora (Souza et al., 2006).

Além disso, variações de grande escala espacial e temporal podem provocar

anomalias nos padrões de precipitação, como é o caso do El Niño – Oscilação Sul

(ENOS), que é um fenômeno de interação atmosfera-oceano, associado a mudanças

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

na temperatura da superfície do mar no Oceano Pacífico (Oliveira, 2001). Quando em

sua fase negativa (La Niña) favorece o aumento de precipitação na Região

Amazônica, porém na sua fase positiva é responsável pela redução de chuvas na

Amazônia (Andreoli et al., 2012). Outro exemplo é a Oscilação de Madden-Julian, que

se caracteriza por uma célula de circulação que se propaga na região tropical para

leste em um período de 40-50 dias (Madden e Julian, 1972 e 1994). Este sistema

provoca variações no campo de pressão atmosférica, e assim favorece a atividade

convectiva durante o seu período de atividade em determinada região resultando em

maiores acumulados de precipitação (Moura e Vitorino, 2012).

2.3. Eventos de precipitação em Manaus

A cidade de Manaus está suscetível à atuação de sistemas de menor escala,

atuantes localmente em algumas partes da cidade. Conforme estudos revelaram,

eventos de curta duração e elevada precipitação podem ocorrer devido à

disponibilidade de calor e umidade agregados à divergência (Figueira e Silva, 2011),

os quais também podem estar atribuídos à circulação de brisa fluvial (Molion e

Dallarosa, 1990), e também podem ser determinados por fatores como a floresta ao

redor da cidade, além da urbanização e do vento predominante (Tanaka et al., 2014).

Dallarosa et al. (2002) analisaram o comportamento da precipitação sobre a

cidade de Manaus para um período de 77 anos de dados de precipitação, do ponto

de vista da ocorrência de eventos de chuva que ultrapassaram os 20,0 mm. Eles

identificaram o evento de maior magnitude ocorrido em 1 de novembro de 2001,

quando os registros apontaram 218,4 mm de precipitação, associado à atuação da

ZCIT, ZCAS e possivelmente um fortalecimento da Alta da Bolívia. Ainda, em relação

à frequência desses eventos, os autores identificaram que a precipitação total diária

foi maior que 20,0 mm em um de cada cinco casos; que os eventos de maior

intensidade (maiores que 100,0 mm/dia) possuíam baixa frequência (2,0%); e que os

eventos intensos são ausentes nos meses secos (junho a setembro).

Em outro estudo, Ribeiro et al. (2010) associaram a atuação da ZCIT a sistemas

de diferentes escalas, além das condições atmosféricas favoráveis a convecção, para

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

um evento ocorrido em Manaus no dia 10 de fevereiro de 2010, no qual o acumulado

de chuva em 24 horas foi 66,0 mm no Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, e

124,4 mm no INMET local. Seus resultados mostraram que a agregação de sistemas

de escala global com sistemas de escala sinótica, mesoescala e escala local

provocaram convergência no nordeste do Amazonas, que aliados a condições

termodinâmicas favoráveis à convecção, como altos índices de instabilidade e energia

potencial convectiva disponível, proporcionaram instabilidade na baixa e média

troposfera provocando chuva intensa.

Eventos de precipitação são mais propícios a ocorrerem no período entre

setembro e abril, os quais, mesmo que de curta duração, podem ocasionar danos em

sua trajetória de atuação (Espinoza, 2014; Barbosa, 2014), principalmente à

população que reside em áreas de risco.

2.4. Desastres naturais

Amaral e Gutjahr (2011) relacionam desastres naturais a um fenômeno natural

capaz de modificar a superfície terrestre, atingindo áreas ou regiões habitadas,

causando danos à sociedade. Pode-se considerar que estes eventos requerem um

conjunto de fatores físicos e sociais para a constituição de fatores de riscos de

desastres, os quais somente são possíveis quando há ameaças, as quais estão

relacionadas às características físicas geradas pela própria dinâmica da natureza

(Tabela 1) (Tominaga et al., 2012).

Tabela 1. Tipos de ameaças e suas características.

Evento Características

Geológico ou geofísico o Erosão, movimentação de massa e deslizamentos resultantes de processos geológicos ou fenômenos geofísicos;

Meteorológico o Raios, ciclones tropicais e extratropicais, tornados e vendavais;

Hidrológico o Alagamentos, enchentes, inundações graduais e bruscas e movimentos de massa úmida (deslizamentos);

Climatológico o Estiagem e seca, queimadas e incêndios florestais, chuvas de granizo, geadas e ondas de frio e de calor.

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

No cenário nacional são observados inundações e deslizamentos de terra como

os desastres naturais mais frequentes, sendo 80% destes associados aos eventos

meteorológicos intensos, os quais também podem ser responsáveis pela ocorrência

de vendavais, granizos e tornados (Marcelino, 2008).

Estes desastres naturais, muitas vezes, são desencadeados pela ocupação

das áreas de riscos pela população. Manaus enfrentou nas últimas décadas aumento

populacional significativo e expansão territorial, aumentando em mais de um milhão

de habitantes entre os anos de 1978 e 2008, o que impactou diretamente na paisagem

com uma perda de cerca de 250,0 km² da área coberta por floresta (Marques e

Pinheiro, 2010). Esta ocupação de forma abrupta e desordenada tem como

consequência sérios problemas ambientais e sociais (Nogueira et al, 2007), desta

maneira, a formação de áreas que proporcionam risco à população, como no caso da

ocupação inadequada ou imprópria do terreno, é decorrente da própria formação

histórica de ocupação do espaço urbano (Rodrigues e Costa, 2014).

Como o nível topográfico em Manaus vai aumentando no sentido contrário ao

das margens do Rio Negro, a declividade do terreno urbano se torna mais significativa

nesta direção da mesma forma que o risco de escorregamentos e processos erosivos.

Desta forma, as áreas de risco se constituem na formação do espaço urbano sobre

estas áreas (Rodrigues e Costa, 2014). Andretta et al. (2013) identificaram 1325

moradias sob situação de risco, devido à alta potencialidade para processos de

erosão, escorregamento e inundação em apenas um bairro na zona leste de Manaus.

O risco aumenta nos períodos de maiores índices pluviométricos (Cassiano e

Costa, 2010), demonstrando que a precipitação geralmente é o fator que desencadeia

a instabilidade do terreno quando associado aos fatores biofísicos (Ascenso e Zêrere,

2013).

Aguiar (2015) constatou no ano de 2014 que 76,0% das ocorrências de

deslizamentos em Manaus foram registradas nas zonas norte e leste da cidade de

Manaus, as quais estão situadas em área de risco. Recentemente, em 26 de fevereiro

de 2016, a população de Manaus sofreu com vários prejuízos devido à um evento de

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

30,0 mm de precipitação (registrado no INMET local), que deu origem à alagamentos,

desabamentos de casas, formação de crateras em vias públicas e deslizamento de

um barranco, além de deixar vários moradores em situação de risco (Leal, 2016).

Neste contexto, é importante realizar estudos que integrem diferentes

plataformas de coleta de dados, como por exemplo radar meteorológico, com o

objetivo de melhorar o entendimento da ocorrência destes eventos em determinados

locais de Manaus, avaliando zonas de maior risco devido vulnerabilidade a maiores

índices de precipitação ou características físicas propícias a ocorrências desses

desastres naturais.

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Capítulo 3 – Dados e Metodologia

Capítulo 3 ____________________________

Dados e Metodologia

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Capítulo 3 – Dados e Metodologia

3.1. Dados

As informações de deslizamentos utilizadas neste estudo compreendem o

período de janeiro de 2010 a março de 2015 e fazem parte do banco de dados da

Defesa Civil do Município de Manaus, no qual consta a descrição da data, a zona

urbana, o bairro e o endereço de onde as ocorrências foram registradas.

As estimativas de precipitação para Manaus foram obtidas através de dados do

Radar meteorológico pertencente ao Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM),

para o período de 2 de janeiro de 2014 a 31 de dezembro de 2014. Tendo uma

varredura completa resolução temporal de 12 minutos, cobre um raio de 240 km com

resolução de 500 m, apresentando 17 elevações com abertura do feixe de 1,8°

(elevação inferior de 0,9° e elevação superior de 19,5°) (Saraiva, 2016).

Para este estudo foram também utilizadas as medidas de precipitação em sete

estações meteorológicas automáticas. Uma delas está localizada na Escola Superior

de Tecnologia (EST) da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), a qual foi

utilizada como sendo representativa das zonas sul, oeste, centro-oeste e centro-sul

da cidade. Esta estação utiliza um pluviômetro do modelo TB4, do fabricante

Hydrological Services e as medidas compreendem o período de abril de 2010 a

dezembro de 2015.

As demais estações meteorológicas automáticas foram instaladas a partir da

execução do Projeto Rede de Mudanças Climáticas da Amazônia

(REMCLAM/FINEP), da UEA, dentro e fora do perímetro urbano de Manaus e

equipadas com sensores para medidas de precipitação, temperatura, umidade

relativa, direção e velocidade do vento e pressão atmosférica. Cada uma delas foi

nomeada de acordo com o local onde foram instaladas. A Tabela 2 apresenta a

localização e período de dados de cada estação: Colégio Militar de Manaus (do

Exército) (CMM); campo experimental da Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária (EMBRAPA), no quilômetro 29 da rodovia AM-010; Campus Manaus

Zona Leste do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas

(IFAM); Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA); Museu da Amazônia

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Capítulo 3 – Dados e Metodologia

(MUSA); e Policlínica Odontológica da Universidade do Estado do Amazonas

(POLICLÍNICA). As estações EMBRAPA e IFAM foram utilizadas como

representativas das zonas norte e leste, respectivamente.

Tabela 2. Nome, localização geográfica, zonas onde as estações meteorológicas automáticas estão instaladas e período de dados de cada estação.

Além disso, foram utilizadas imagens de satélites disponibilizadas pelo Centro

de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais (CPTEC - INPE), dados de radiossondas lançadas no Aeroporto Ponta

Pelada (SBMN – 82332; 3° 8’ 56” S, 59° 59’ 29” O) e dados de Reanálise do NCEP

disponibilizados pela NOAA/OAR/ESRL PSD, Boulder, Colorado, EUA, adquiridos no

site http://www.esrl.noaa.gov/psd/, para estudos de caso relacionados a eventos de

deslizamentos ocorridos nos dias 20 de dezembro de 2010, 9 de fevereiro, 29 de abril

e 3 de maio de 2011, 12 de setembro de 2013 e 8 de março de 2014.

3.2. Metodologia

O trabalho seguiu as etapas de acordo com o diagrama esquemático

apresentado na Figura 3. Os deslizamentos foram contabilizados por dia, mês e ano,

para análise da variabilidade temporal e espacial. Para a análise espacial, as

ocorrências foram agrupadas por zona urbana da cidade. Numa primeira etapa, fez-

se uma distribuição percentual dos eventos de deslizamento por zonas da cidade. Em

Estação Latitude Longitude Zona Período de dados

CMM 3° 07’ 51” S 60° 01’ 36” O sul ago/13 - dez/15

EMBRAPA 2° 53’ 25” S 59° 58’ 06” O norte jul/13 - dez/15

EST 3° 05’ 32” S 60° 00’ 59” O centro-sul abr/10 - dez/15

IFAM 3° 04’ 46” S 59° 55’ 58” O leste jul/13 - dez/15

INPA 3° 05’ 49” S 59° 59’ 10” O centro-sul nov/13 - dez/15

MUSA 3° 00’ 24” S 59° 56’ 24” O norte set/13 - dez/13

POLICLÍNICA 3° 07’ 11” S 60° 00’ 25” O sul mai/13 - abr/14

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Capítulo 3 – Dados e Metodologia

seguida foram avaliados, qualitativamente, o comportamento sazonal, anual e

interanual do número de ocorrência de deslizamento e sua relação com a precipitação,

considerando todos os eventos na cidade de Manaus e para cada zona urbana

separadamente.

Figura 4. Diagrama esquemático representativo das etapas do estudo.

Na segunda etapa do estudo, os dados de precipitação estimados pelo Radar

foram comparados com aqueles medidos por estações meteorológicas. Para isso,

estes dados foram sincronizados a fim de se obter as séries de precipitação estimadas

e medidas na mesma resolução temporal. O procedimento utilizado nas estimativas

de precipitação é apresentado no item 3.2.1. A comparação entre as precipitações

estimadas e medidas foram feitas utilizando os parâmetros estatísticos como desvio

médio, desvio padrão e coeficiente de correlação (Wilks, 2006), para o local de cada

estação, em quatro planos constantes de 2,0, 2,5, 3,0 e 3,5 km de altura e para os

métodos de estimativa pontual e média em área. Níveis abaixo de 2,0 km não foram

considerados devido a presença de contaminações que ocorrem principalmente em

baixos níveis devido a perdas de sinal ou retro espalhamento do solo, intensificados

quando a refletividade é convertida para taxa de precipitação (Saraiva, 2016).

PrecipitaçãoDeslizamentos

Radar

Relação

estimativas X medidas

Defesa Civil

de Manaus

Distribuição

espaço-temporal

Precipitação X Deslizamentos

Acumulados

24, 48, 72 e 96 h

Estações

automáticas

Estudos de caso

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Capítulo 3 – Dados e Metodologia

Na terceira etapa, buscou-se a relação entre a precipitação e a ocorrência de

deslizamentos. Para isso foram utilizados acumulados de precipitação em 24, 48, 72

e 96 h, somente para os dias com ocorrência de deslizamentos. Segundo Tatizana et

al. (1987) eventos de deslizamentos mostraram relação mais significativa com

acumulados de precipitação para períodos de até 96 h que antecedem estes

desastres. Desta forma, inicialmente, diagramas de caixa (boxplot) foram calculados

considerando os acumulados de precipitação para 24, 48, 72 e 96 h, e para cada zona

da cidade separadamente. O diagrama de caixa tem a finalidade de fornecer

informações sobre as características de posição, dispersão, assimetria, comprimento

das caudas e valores extremos de um conjunto de dados (Bussab e Morettin, 2002).

Além disto, o diagrama de caixa é construído com base na mediana e nos quartis

associados ao conjunto de dados, o que o torna resistente a valores discrepantes

dentro das barreiras de valores extremos e, consequentemente, atraente em análise

exploratória de dados (Wilks, 2006). Assim, foi possível identificar qual o

comportamento da precipitação associada às ocorrências de deslizamentos.

Com base nessas análises, alguns estudos de caso foram realizados,

considerando os dias de acumulados de precipitação em 96 h, em que atingiram

valores em torno de 190,0 mm, e dias com grande número de ocorrência de

deslizamentos, chegando a 46 registros. Assim, foram selecionados seis dias de

ocorrência de deslizamentos, divididos em dois grupos: 1) o Grupo 1 refere-se a três

casos de precipitação acumulada em torno de 190,0 mm em até quatro dias, o que

produz o acumulo gradual de água no solo, resultando em deslizamentos. 2) o Grupo

2 está relacionado a três casos que apresentaram eventos de precipitação também

em torno de 190,0 mm no mesmo dia dos eventos de deslizamentos.

Para os eventos selecionados fez-se ainda uma descrição do estado

atmosférico, com base em índices de instabilidade atmosférica, os quais foram

calculados a partir de perfis atmosféricos (radiossondas), imagens de satélite (GOES-

12 e 13) e análises sinóticas.

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32

Capítulo 3 – Dados e Metodologia

3.2.1. Estimativas de Precipitação por Radar meteorológico

Radar (Radio Detection and Ranging) é uma ferramenta que utiliza pulsos

eletromagnéticos para detectar e localizar objetos dentro de uma determinada área

de alcance (Battan,1981). No caso da Meteorologia, é uma ferramenta utilizada para

a detecção de gotas de chuva e cristais de gelo. Ao emitir pulsos de ondas

eletromagnéticas à velocidade da luz (2,9108 m/s) o Radar capta a energia que é

parcialmente refletida por alvos que essas ondas possam encontrar em sua trajetória

(Battan,1981). Sendo assim, é possível identificar a posição do alvo e sua distância

em relação à antena.

Instalado no Aeroporto Ponta Pelada (3° 8’ 56” S, 59° 59’ 29” O e altura da

antena de 102,4 metros), o Radar meteorológico Doppler de Banda S de Manaus,

apresentado na Figura 4, opera em um comprimento de onda de 10,0 cm (frequência

entre 2,7 e 3,0 GHz), e diâmetro da antena de 4,2 m, possibilitando um feixe de

abertura de 1,8°. Esta ferramenta dispõe de parâmetros pré-estabelecidos que

possibilitam um raio de cobertura de 240,0 km, com cada pulso medindo 500,0 m

emitidos a uma taxa de 624,0 Hz.

Figura 5. Indicação do local onde se encontra instalado e foto do Radar meteorológico de Manaus do SIPAM.

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33

Capítulo 3 – Dados e Metodologia

Para análise da precipitação foram utilizados dados fixados a uma altura

constate denominados de CAPPIs (Constant Altitude Plan-Position Indicators),

elaborados a partir dos dados volumétricos, pelo método desenvolvido por

Anagnostou et al. (1998). O método denominado como 3D-box é baseado em um

esquema, onde somente são utilizados os volumes iluminados dentro de uma grade

fixa. Um cubo conceitual (3D-box) centrado no sítio do radar com extensão horizontal

de 240,0 km, variando entre os níveis verticais de 0,5 a 20,0 km delimita a área de

cobertura do radar. O 3D-box é divido em vários cubos de 2,0 x 2,0 km de extensão

horizontal, por 0,5 km de extensão vertical, conforme ilustrado na Figura 5. Desta

forma os volumes de dados, orientados por coordenadas polares, passaram para

coordenadas cartesianas. As amostras dos volumes iluminados foram normalizadas

por pesos relativos determinados pela fração do volume iluminado em relação ao

volume 3D-box (Saraiva, 2010).

Figura 6. Esquema de captação do feixe do Radar (Fonte: Saraiva, 2010).

A estimativa de precipitação do Radar foi realizada a partir de dois métodos: 1)

utilizando a refletividade verificada em um ponto específico de interesse, dentro das

zonas urbanas de Manaus (Figura 6a), e 2) utilizando a média da refletividade dentro

de uma região delimitada por uma área retangular (Figura 6b). Os pontos

apresentados na Figura 6 são onde as estações meteorológicas automáticas

(descritas no item 3.1) estão instaladas e, desta forma, os mesmos pontos foram

escolhidos como estações virtuais para averiguação da acurácia das estimativas de

precipitação por Radar. Na avaliação utilizando regiões retangulares os pontos

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34

Capítulo 3 – Dados e Metodologia

marcados, referentes às estações meteorológicas, estão no centro da forma

geométrica, constituindo uma estação virtual para estimar a precipitação média sobre

aquela área. Cada região possui arestas iguais a 0,054° de latitude e longitude, o que

corresponde a aproximadamente 6,0 km, cobrindo uma área em torno de 36,0 km2.

Figura 7. Distribuição das estações virtuais em Manaus para estimativa da precipitação: (a) pontos e (b) retângulos.

A partir dos dados detectados pelo Radar nos planos constantes de 2,0, 2,5,

3,0 e 3,5 km de altura, através da relação entre o fator refletividade (Z) e a taxa de

precipitação (R em mm/h) (Z = 315,0R1,2), extraída de Tokay e Short (1996), foi

estimada a precipitação. Devido a relação Z-R estimar a precipitação (P) constante

para o intervalo de uma hora, os resultados foram convertidos para mm/12min,

intervalo de uma varredura, a partir da relação P = 0,2R. A partir disso, foi possível

calcular os totais pluviométricos para os intervalos desejados (24, 48, 72 e 96 h), para

a análise da relação entre a precipitação e a ocorrência de deslizamentos de terra.

(a) (b)

Latitu

de

Longitude

Latitu

de

Longitude

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35

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Capítulo 4 ____________________________

Resultados e Discussão

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36

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

4.1. Deslizamentos

A Figura 7 apresenta a distribuição percentual do total de ocorrências de

deslizamento ao longo dos 63 meses avaliados nesse estudo, entre janeiro de 2010 e

março de 2015, distribuídos por regiões da cidade de Manaus. Do total de 1951

ocorrências, observou-se que o maior número de deslizamentos ocorreu nas zonas

norte (671; 34%) e leste (840; 43%) da cidade. As demais ocorrências de

deslizamentos (23%) dividiram-se entre as quatro zonas restantes: centro-sul (28

registros, 2% do total de ocorrências), sul (197; 10%), oeste (150; 8%) e centro-oeste

(67; 3%).

Figura 8. Distribuição percentual do total de ocorrências de deslizamentos de terra registrados em Manaus, pela Defesa Civil do Município, para o período entre janeiro de 2010 e março de 2015, classificados por zona da cidade.

A Figura 8 ilustra o total mensal dos registros de deslizamentos juntamente com

o total mensal da precipitação, obtido na estação meteorológica da EST. Nesta figura

é possível observar, para o período analisado, que a ocorrência de deslizamentos em

Manaus apresentou uma sazonalidade que acompanhou o ciclo sazonal da

precipitação, de forma que o maior (menor) número de deslizamentos ocorreu

predominantemente nos meses mais chuvosos (secos). Destaca-se ainda uma

variação interanual com maiores números de ocorrências em fevereiro de 2011,

quando foram registrados 277 deslizamentos e 482,4 mm de precipitação, e março de

2014 com 155 deslizamentos e um total de precipitação de 483,0 mm. Por outro lado,

para o ano de 2012, o número de ocorrências de deslizamento para o mês de janeiro

34%

10%

43%

8%

2%

3%Norte

Sul

Leste

Oeste

Centro-sul

Centro-oeste

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37

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

foi próximo de 100, com total de precipitação de 400,0 mm. No período menos

chuvoso, os meses que se destacaram foram julho e setembro de 2011, para os quais

não houve ocorrência de deslizamento e a precipitação foi em torno de 13,4 e

58,8 mm, nesta ordem, e os meses de junho de 2012 e agosto de 2014 com registros

de 1 deslizamento para cada mês e precipitação de 92,0 e 44,4 mm, respectivamente.

Figura 9. Total mensal de precipitação (barras) referente ao período entre abril de 2010 e março de 2015 e total mensal da ocorrência de deslizamentos (linha) em Manaus referente ao período entre janeiro de 2010 e março de 2015.

Analisando cada ano separadamente, tem-se que em 2010, o número de

deslizamentos variou entre 85 (fevereiro) e 3 casos (julho, agosto e setembro). Em

2011, houve o registro dos maiores totais mensais de ocorrências para o período

analisado, com um total de 277 deslizamentos em fevereiro e 117 em abril. Por outro

lado, não houve registro de deslizamentos nos meses de julho e setembro deste ano.

Para 2012, janeiro foi o mês com maior número de ocorrências (57 deslizamentos) e

em junho foi observado apenas um registro, menor total mensal do ano. Em 2013 o

total mensal da ocorrência de deslizamentos esteve entre 106 (abril) e dois

deslizamentos em junho. Em março de 2014 foram registrados 155 deslizamentos em

Manaus, o maior total mensal do ano, apesar disso, para os demais meses os totais

não ultrapassaram 37 ocorrências (abril) e em agosto daquele ano um registro foi

contabilizado, menor número para 2014. Os meses verificados em 2015 totalizaram

21, 9 e 27 ocorrências de deslizamentos em janeiro, fevereiro e março,

respectivamente.

0

50

100

150

200

250

300

0

100

200

300

400

500

600

jan/10 jul/10 jan/11 jul/11 jan/12 jul/12 jan/13 jul/13 jan/14 jul/14 jan/15

de d

esliz

am

ento

s

Pre

cip

itação (

mm

)

mês/ano

Precipitação (mm) Deslizamentos

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Em relação à variabilidade interanual, o aumento da ocorrência de

deslizamentos em 2011, concentrados nos meses entre fevereiro e abril, podem estar

relacionados ao aumento da precipitação em relação à climatologia do INMET (2009)

nesse período. Em fevereiro de 2011, por exemplo, a precipitação foi 222,2 mm acima

do esperado e 277 deslizamentos foram registrados. Já em 2012, o trimestre chuvoso

(FMA) apresentou 808,8 mm de chuva enquanto o esperado era de 936,1 mm

(INMET, 2009), resultando no ano com o menor número ocorrências para o período

analisado neste estudo.

Especificamente, para os meses fevereiro e abril de 2011, abril de 2013 e março

de 2014, foram registrados acima de 100 casos de deslizamentos em Manaus. Nestes

meses houve registro de precipitação em pelo menos 20 dias e precipitação acima do

esperado, conforme descrito na Tabela 3. Diante disso, o maior número de dias com

a ocorrência de precipitação nestes meses contribuiu para a ocorrência de um número

elevado de deslizamentos de terra, bem como anomalias de precipitação positivas.

Tabela 3. Número de deslizamentos, número de dias com chuva e anomalia de precipitação (mm), referentes aos meses fevereiro e abril de 2011, abril de 2013 e março de 2014.

Mês/ano Número de

deslizamentos

Número de dias

com chuva

Anomalia de

precipitação (mm)

Fevereiro/2011 277 25 192,9

Abril/2011 117 23 222,2

Abril/2013 106 21 34,8

Março/2014 155 24 147,6

Como vimos na Figura 8, os deslizamentos não ocorreram uniformemente em

Manaus, sendo as zonas leste e norte aquelas mais atingidas por este fenômeno. Isto

se deve, em grande parte, às características dos terrenos atingidos (Defesa Civil do

Amazonas, 2013). Manaus está situada em uma região plana, sem montanhas, porém

é observado um aumento na altitude e declividade das áreas que constituem as

porções norte e leste da cidade, conforme ilustrado no mapa topográfico da região

urbana de Manaus (Figura 9). Estas áreas, apesar de serem consideradas de risco,

são habitadas, gerando um número maior de ocorrências e danos à população em

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

relação a outras regiões da cidade quando submetidas a eventos semelhantes de

precipitação. Assim, uma estratificação dos eventos de deslizamento por zona é

realizada e discutida a seguir.

Figura 10. Mapa topográfico da zona urbana de Manaus (Fonte: Miranda, 2005).

A Figura 10 apresenta o total mensal da ocorrência de deslizamentos em

Manaus separados por zonas. De maneira geral, independente da zona analisada o

comportamento sazonal assemelha-se àquele quando se consideram todos os

eventos. Ainda, observam-se ocorrências acumuladas mensais de deslizamento em

todas as zonas simultaneamente, como nos meses de janeiro e novembro de 2010,

fevereiro e abril de 2011, janeiro de 2012, fevereiro de 2013, março de 2014 e janeiro

de 2015, destacando fevereiro de 2011, quando ocorreram 131 deslizamentos na

zona norte, 107 na zona sul, 15 na zona leste, 11 na zona oeste, 9 na zona centro-sul

e 4 na zona centro-oeste.

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Figura 11. Total mensal da ocorrência de deslizamentos para cada uma das seis zonas de Manaus para o período entre janeiro de 2010 e março de 2015.

No período de fevereiro a maio de 2011 ocorreram os maiores números

mensais de casos de deslizamentos na maioria das zonas, ultrapassando os 100

casos nas zonas norte e leste em fevereiro (131 e 107), chegando a 17 registros na

zona sul e 23 na zona oeste e 11 na zona centro-oeste em abril, e 9 na zona centro-

sul em fevereiro. Nos demais meses deste ano, o número de casos registrados não

ultrapassou 16 na zona leste em dezembro, 6 na zona norte em agosto e abaixo de 3

nas demais zonas urbanas, de forma que nos meses de julho e setembro não houve

registro em nenhuma das zonas da cidade.

Embora em abril de 2013 a precipitação tenha sido apenas 34,8 mm acima do

esperado (Tabela 3), o número de dias (21) com ocorrência de precipitação pode estar

associado ao elevado número de ocorrências de deslizamento. Do total das

ocorrências deste mês 59 foram registradas no período entre os dias 22 e 26 (cinco

dias), representando 55,7%, e 74 ocorreram apenas na zona leste, correspondendo a

69,8% do total de ocorrências registradas pela Defesa Civil neste mês. Por outro lado,

julho, agosto e setembro, de 2013 apresentaram um aumento dos registros levando

em consideração o valor médio para estes meses, quando ocorreram 8, 7 e 19

deslizamentos em Manaus, respectivamente, o que representa um aumento de

60,0%, 52,2%,179,4%. Para os meses julho e setembro, a precipitação foi 51,8 e

0

20

40

60

80

100

120

140

jan/10 jul/10 jan/11 jul/11 jan/12 jul/12 jan/13 jul/13 jan/14 jul/14 jan/15

de d

esliz

am

ento

s

mês/ano

Norte Sul Leste Oeste Centro-sul Centro-oeste

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

125,9 mm acima do esperado e em agosto 4,1 mm abaixo da média climatológica,

60,7%, 170,8% e -8,7%, nesta mesma ordem.

Considerando o total anual da ocorrência de deslizamentos em Manaus para o

período analisado, o maior número de registros foi em 2011, chegando a 594

ocorrências e menor em 2012, com 221 deslizamentos. Ao analisar o total anual por

zona (Figura 11) foi encontrado padrão similar, com o maior número de registros em

2011 e menor em 2012. Conforme apresentado anteriormente, as zonas mais

afetadas foram leste e norte, seguidas da zona sul, nas quais foram registrados entre

84 (2012) e 232 (2011) deslizamentos na zona leste, entre 82 (2012) e 208 (2011)

casos na zona norte e entre 26 (2012) e 67 (2011) na zona sul. A parte leste da cidade

de Manaus foi a zona urbana com maior número de deslizamentos na maioria dos

anos, porém, em 2014, foi observado maior número de casos na zona norte. As zonas

com menor número de ocorrências registradas foram as zonas oeste, entre 19 (2012)

e 51 (2011), centro-oeste, entre 8 (2012) e 25 (2011), e a centro-sul, entre 2 (2012) e

11 (2011). Essa distribuição espaço-temporal não está associada apenas à

quantidade de chuvas, mas também às características topográficas da região.

Estudos anteriores mostram que as características do relevo local apresentaram

influência sobre a ocorrência de deslizamentos de maneira que as zonas da cidade

que apresentaram maior número de deslizamentos dispõem de terreno mais

acidentado e com maiores inclinações (Rodrigues e Costa, 2014). Da mesma maneira,

a ocorrência de deslizamentos, propícios a ocorrerem em qualquer região que

apresente alguma declividade, sofre influência direta de eventos com altos índices

pluviométricos (intensos ou prolongados), mesmo sem a influência antrópica

(Tominaga et al., 2012). Nesse sentido, uma análise dos eventos de intensa

precipitação e sua relação com as ocorrências de deslizamento será apresentada a

seguir.

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Figura 12. Total anual da ocorrência de deslizamentos de terra em cada zona de Manaus no período entre os anos de 2010 e 2014.

4.2. Relação: precipitação estimada e registrada

A fim de avaliar a qualidade das estimativas de precipitação do Radar

meteorológico de Manaus, utilizando dados para o ano de 2014, buscou-se realizar

comparações entre essas estimativas e os totais horários de precipitação registrados

em sete estações meteorológicas automáticas da Universidade do Estado do

Amazonas (UEA). Todavia, como algumas das estações meteorológicas encontram-

se próximas do local onde o Radar está instalado, essa análise ficou prejudicada

devido à limitação do Radar em estimar a quantidade de chuvas nas proximidades de

seu local de instalação (ruído de terreno e cone cego), que é dentro da cidade de

Manaus para o radar do SIPAM. Sendo assim, a precipitação estimada por Radar foi

relacionada às estações da EMBRAPA e do IFAM, as quais estão mais distantes do

Radar e também possuem maior período de dados.

A Figura 12 apresenta os totais diários de precipitação registrados na estação

EMBRAPA e precipitação estimada pelo radar para um ponto (20p) e uma área

(20me), tomando como referência o nível de 2,0 km nas estimativas de radar. É

possível observar que existe boa concordância entre as estimativas e as medidas de

precipitação. As estimativas, de forma geral, subestimaram a precipitação registrada,

porém, se mostraram perfeitamente capazes de captar a ocorrência de chuva. As

demais estimativas de precipitação por radar, para diferentes altitudes, apresentaram

0

50

100

150

200

250

2010 2011 2012 2013 2014

de d

esliz

am

ento

s

ano

Norte Sul Leste Oeste Centro-sul Centro-oeste

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

comportamento similar (não apresentadas no gráfico), concordando com a

variabilidade dos registros de precipitação, mas subestimando-os.

Figura 13. Total diário de precipitação registrado pela estação EMBRAPA e totais diários estimados através de dados do Radar meteorológico de Manaus sobre a estação EMBRAPA utilizando os métodos 20p e 20me para o ano de 2014.

Para ter uma ideia quantitativa da relação entre as precipitações observadas e

estimadas, os parâmetros estatísticos desvio médio, desvio padrão e coeficiente de

correlação foram calculados considerando separadamente as observações das

estações (EMBRAPA e IFAM) e os diferentes níveis de altura e método utilizado para

as estimativas da precipitação por Radar. Para a estação da EMBRAPA (Tabela 4)

em relação ao desvio médio nota-se um aumento gradativo com relação ao nível de

altura e ao método. O desvio médio variou entre 4,91 mm, quando se relacionou com

uma estimativa de precipitação para o nível de 2,0 km, e 6,35 mm para o nível de

3,5 km, no caso das estimativas pontuais. Para as estimativas considerando a média

em área, o desvio médio foi de 6,66 mm para o nível de 2,0 km e 7,12 mm para 3,5 km.

O desvio padrão variou entre 10,43 mm e 12,46 mm para as estimativas pontuais de

precipitação e os níveis de 2,0 km e 3,5 km, respectivamente. Quando se analisa o

desvio padrão considerando a estimativa média em área, seus valores variam de

11,97 mm a 12,87 mm para os níveis de 2,0 km e 3,5 km, respectivamente.

0

40

80

120

3/1 13/1 23/1 2/2 8/3 19/3 5/4 5/5 26/6 20/11 16/12 30/12

Pre

cip

itação (

mm

)

dia/mês

EMBRAPA 20p 20me

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Tabela 4. Parâmetros estatísticos (desvio médio, desvio padrão e coeficiente de correlação), calculados para a diferença entre os dados de precipitação registrados na estação EMBRAPA e estimativas de precipitação (registrado-estimado) para quatros níveis de altura (2,0, 2,5, 3,0 e 3,5 km), em mm, utilizando dois métodos de extração da precipitação (p e me) para o mesmo local, e correlação entre os dados observados e estimados.

EMBRAPA Ponto Área

Altura (km) 2,0 2,5 3,0 3,5 2,0 2,5 3,0 3,5

Desvio médio 4,91 5,48 6,01 6,35 6,66 6,90 7,05 7,12

Desvio padrão 10,43 11,05 11,90 12,46 11,97 12,49 12,71 12,87

Correlação 0,83 0,80 0,77 0,75 0,90 0,88 0,86 0,81

A correlação entre os totais de precipitação registrados na EMBRAPA e

estimados variou de 0,75 a 0,90, para todos os métodos e alturas. Para cada método

de estimativa (ponto ou área) o nível de 2,0 km foi o que apresentou melhores valores

de correlação (0,83 para ponto e 0,90 para área). Por outro lado, as análises para as

maiores altitudes nas estimativas do radar foram as que apresentaram os menores

valores de correlação, sendo 0,75 para 35p e 0,81 para 35me.

As estimativas de precipitação diária (20p e 20me) para a estação IFAM

também apresentaram coerência com a precipitação registrada pelo pluviômetro

(Figura 13). De maneira geral, considerando os dois os métodos de estimativa (20p e

20me), foi observada subestimativa da precipitação, no entanto, o comportamento

temporal das estimativas apresenta boa concordância com os dados registrados pelas

estações em superfície, tendo captado as principais variações na precipitação.

Valores acima do observado são notados nos dias 07 e 27 de janeiro e 24 de março

para as estimativas pontuais.

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Figura 14. Total diário de precipitação registrado pela estação IFAM e totais diários estimados através de dados do Radar meteorológico de Manaus sobre a estação IFAM utilizando os métodos 20p e 20me para o ano de 2014.

A partir dos parâmetros estatísticos desvio médio, desvio padrão e coeficiente

de correlação obtido em relação à estação IFAM (Tabela 5) foi observado desvio

médio, utilizando estimativas pontuais, de 5,25 mm para o nível de 2,0 km até

8,74 mm para 3,0 km, enquanto que para as estimativas de área variou entre 4,40 mm

para 3,5 km e 7,94 mm para o nível de 3,0 km. O desvio padrão foi de 10,24 mm para

o nível de 2,0 km, chegando a 21,71 mm para o nível de 2,5 km, no caso das

estimativas pontuais, e para as estimativas de área variou entre 6,39 mm para o nível

de 3,5 km e 12,83 mm para 3,0 km. Neste caso, a correlação entre as duas séries de

dados foi melhor para as estimativas de área (me) na estação IFAM. As estimativas

pontuais apresentaram correlações entre 0,15, para o nível de 3,5 km, e 0,73, para o

nível de 2,0 km, e as estimativas por área resultaram em correlações entre 0,44 para

3,0 km de altitude e 0,90 para o nível de 2,0 km.

Tabela 5. Parâmetros estatísticos (desvio médio, desvio padrão e coeficiente de correlação), calculados para a diferença entre os dados de precipitação registrados na estação IFAM e estimativas de precipitação (registrado-estimado) para quatros níveis de altura (2,0, 2,5, 3,0 e 3,5 km) utilizando dois métodos de extração da precipitação (p e me) para o mesmo local, e correlação entre os dados observados e estimados.

IFAM Ponto Área

Altura (km) 2,0 2,5 3,0 3,5 2,0 2,5 3,0 3,5

Desvio médio 5,25 7,96 8,74 8,28 4,81 5,03 7,94 4,40

Desvio padrão 10,24 21,71 13,60 12,63 6,52 7,12 12,83 6,39

Correlação 0,73 0,49 0,17 0,15 0,90 0,85 0,44 0,86

0

20

40

60

3/1 10/1 17/1 24/1 31/1 27/2 10/3 18/3 29/3

Pre

cip

itação (

mm

)

dia/mês

IFAM 20p 20me

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Com base nos resultados apresentados, onde foi possível verificar uma boa

relação entre a precipitação estimada pelo radar meteorológico de Manaus e a

registrada por estações meteorológicas automáticas, a análise da relação entre

deslizamentos e o acumulado de precipitação foi feita utilizando-se a estimativa de

precipitação a partir do método que utiliza a média da refletividade dentro de uma área

em um plano constante a 2,0 km de altura (20me), em até 96 h anteriores às

ocorrências registradas pela Defesa Civil do Município. Os acumulados de

precipitação e os dias com ocorrência de deslizamentos foram organizados e, a partir

disso, calcularam-se os parâmetros estatísticos média, mediana e desvio padrão, dos

acumulados de precipitação apenas para dias com registros de deslizamentos.

A partir da Tabela 6 foi possível observar um aumento dos parâmetros

conforme o aumento da escala e tempo para as estimativas relacionadas aos

deslizamentos ocorridos na zona norte, com os menores valores para 24 h e os

maiores para 96 h. A média variou entre 4,8 e 22,3 mm e a mediana entre 1,7 e

15,2 mm. Já o desvio padrão esteve entre 7,6 e 18,2 mm.

Tabela 6. Parâmetros estatísticos (média, mediana e desvio padrão) da precipitação total estimada na estação EMBRAPA em 24, 48, 72 e 96 h anteriores aos eventos de deslizamento de terra na zona norte.

Zo

na n

ort

e

EMBRAPA

Radar 24 h 48 h 72 h 96 h

Média 4,8 12,5 16,7 22,3

Mediana 1,7 5,8 7,2 15,2

Desvio padrão 7,6 13,6 15,9 18,2

O mesmo procedimento foi adotado utilizando as estimativas de precipitação

sobre a estação IFAM, com até 96 h de antecedência aos eventos de deslizamentos

na zona leste (Tabela 7). Neste caso, os parâmetros também aumentaram de acordo

com a escala de tempo (de 24 a 96 h), com a média variando entre 5,4 e 17,0 mm, e

mediana entre 0,6 e 14,5 mm. O desvio padrão foi de 8,5 mm para 24 h até 15,2 mm

para 96 h.

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Tabela 7. Parâmetros estatísticos (média, mediana e desvio padrão) da precipitação total estimada na estação IFAM em 24, 48, 72 e 96 h anteriores aos eventos de deslizamento de terra na zona leste.

Zo

na l

es

te

IFAM

Radar 24 h 48 h 72 h 96 h

Média 5,4 11,2 13,3 17,0

Mediana 0,6 6,5 7,4 14,5

Desvio padrão 8,5 10,5 12,5 15,2

Ao analisar os parâmetros estatísticos dos totais de precipitação estimada para

24, 48, 72 e 96 h, anteriores aos eventos de deslizamentos, nas zonas norte e leste,

utilizando o método 20me sobre as estações EMBRAPA e IFAM, notou-se que

mediana variou de 0,6 mm a 14,5 mm e 1,7 mm a 15,2 mm, para as estações do IFAM

e Embrapa, respectivamente. Os baixos valores na mediana podem estar associados

à ocorrência de eventos extremos de chuva dentro do ano analisado e às

características do terreno das zonas leste e norte. Neste sentido, como foi utilizado

neste trabalho apenas um ano de dados de radar, recomenda-se que outros anos

sejam analisados para confirmar os resultados encontrados para o ano de 2014. E

desta forma, buscou-se avaliar a relação entre precipitação e deslizamentos de terra

em Manaus, a partir de três estações meteorológicas, como descrito a seguir.

4.3. Relação: precipitação e deslizamentos

A Figura 14 apresenta o diagrama de caixa (boxplot) dos dados de precipitação

correspondentes ao acumulado de 24 h nos dias de deslizamento, para as zonas

norte, sul, leste, oeste, centro-sul e centro-oeste. Para a zona norte, os valores de

precipitação para o primeiro e terceiro quartil correspondem a 1,5 mm e 17,5 mm, com

um intervalo interquartil em torno de 16,0 mm, enquanto que para a zona leste, nota-

se uma dispersão maior nos dados, com um intervalo interquartil na ordem de

30,0 mm. Com base nesses resultados foi possível notar que as zonas norte e leste

apresentaram menores intervalos de valores de precipitação acumulada para a

ocorrência de deslizamentos de forma que 1,5 mm (zona norte) de incremento de

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

precipitação nas últimas 24 h pode ser capaz de desencadear esse tipo de desastre,

desde que se tenha um evento de chuva prolongado (acumulado até 96 h de

antecedência). O maior intervalo interquartil foi encontrado para os acumulados para

a zona sul indicando maior dispersão dos valores, isto é, naquela zona os

deslizamentos ocorreram devido a totais de precipitação contidos em um maior

intervalo de valores. No caso da zona centro-sul, os limites do boxplot, inferior e

superior, foram os mais altos dentre todas as zonas. Desta forma, os deslizamentos

nesta zona foram desencadeados, principalmente, por eventos de chuva que

totalizaram desde 5,9 mm até 42,1 mm, nas últimas 24 h.

Figura 15. Precipitação nas estações EMBRAPA, EST e IFAM nas 24 h de dias com eventos de deslizamentos nas zonas norte, sul, leste, oeste, centro-sul e centro-oeste.

De acordo com os parâmetros para os acumulados de 24 h (Tabela 8) a média

dos totais de precipitação foi maior na zona centro-sul (30,2 mm) e menor na zona

norte (11,6 mm). Da mesma maneira, a mediana e o desvio padrão foram maiores

para a zona centro-sul (22,6 e 31,9 mm) e menores para a zona norte (6,4 e 13,9 mm).

Assim, os deslizamentos ocorridos na zona centro-sul estiveram associados aos

maiores acumulados de precipitação em 24 h e na zona norte os deslizamentos

ocorreram com menores valores de precipitação.

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Tabela 8. Parâmetros estatísticos da precipitação ocorrida nas estações EMBRAPA, EST e IFAM nas 24 h dos dias de eventos de deslizamento de terra nas zonas norte, sul, leste, oeste, centro-sul e centro-oeste.

24 h EMBRAPA

norte

EST

sul

IFAM

leste

EST

oeste

EST

centro-sul

EST

centro-oeste

Média 11,6 23,6 15,8 23,0 30,2 23,2

Mediana 6,4 14,4 10,2 17,4 22,6 9,2

Desvio padrão 13,9 28,8 19,5 25,9 31,9 29,9

Os diagramas de caixa (boxplots) da precipitação acumulada nas 48 h que

antecederam os eventos de deslizamentos (Figura 15) apresentaram valores entre

6,2 mm e 39,0 mm, na zona norte, e 8,2 mm e 38,1 mm na zona leste. Para as zonas

sul, oeste, centro-sul e centro-oeste os gráficos apresentaram limites inferiores de 6,1,

15,0, 31,3 e 15,5 mm, respectivamente, e os limites superiores de 56,1, 61,9, 78,8 e

67,0 mm, nessa ordem. Para os totais em 48 h observou-se um menor intervalo de

valores referentes ao total de precipitação que desencadeou deslizamentos para a

zona leste seguida da zona norte, onde o acumulado de precipitação de 6,2 mm em

48 h (zona norte) foi suficiente para a ocorrência de deslizamentos. Foi encontrado

maior intervalo interquartil para os acumulados de precipitação em 48 h para a zona

sul, reforçando que nesta zona a ocorrência de deslizamentos está relacionada aos

acumulados de precipitação mais dispersos, entre 6,1 mm e 56,1 mm. Para a zona

centro-sul, o intervalo dos limites do boxplot foi entre os totais de precipitação mais

altos para este caso, em comparação com as demais zonas, partindo de 31,3 mm e

chegando ao valor mais extremo de 78,8 mm.

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Figura 16. Precipitação nas estações EMBRAPA, EST e IFAM em 48 h antecedentes à eventos de deslizamentos nas zonas norte, sul, leste, oeste, centro-sul e centro-oeste.

Os parâmetros encontrados para os acumulados em 48 h (Tabela 9) foram

maiores para a zona centro-sul, dos quais a média, a mediana e o desvio padrão foram

57,1, 53,1 e 42,0 mm, respectivamente, indicando que nesta zona os deslizamentos

foram relacionados aos maiores acumulados de precipitação. Já para a zona norte a

média dos totais relacionados aos deslizamentos foi de 25,1 mm, mediana de

17,4 mm e desvio padrão de 22,2 mm, os menores parâmetros para acumulados em

48 h, indicando ser uma zona propícia a ocorrência de deslizamentos ligados a baixos

índices de precipitação, mesmo que ao longo de 48 h.

Tabela 9. Parâmetros estatísticos da precipitação ocorrida nas estações EMBRAPA, EST e IFAM nas 48 h antecedentes à eventos de deslizamento de terra nas zonas norte, sul, leste, oeste, centro-sul e centro-oeste.

48 h EMBRAPA

norte

EST

sul

IFAM

leste

EST

oeste

EST

centro-sul

EST

centro-oeste

Média 25,1 34,6 27,8 38,9 57,1 44,4

Mediana 17,4 22,6 19,5 26,6 53,1 40,3

Desvio padrão 22,2 35,6 28,4 33,7 42,0 35,8

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

De acordo com os diagramas de caixas para os acumulados de precipitação

em 72 h anteriores às ocorrências de deslizamentos (Figura 16), foi possível observar

valores entre 13,4 e 58,2 mm para a zona norte e entre 11,4 e 53,4 mm para a zona

leste. Para a zona sul os limites inferiores e superiores foram 9,0 e 74,3 mm, 20,4 e

79,3 mm para a zona oeste, 36,2 e 84,8 mm para a zona centro-sul e 46,9 e 105,0 mm

para a zona centro-oeste. Neste caso, os intervalos foram menores para as zonas

norte, leste e centro-sul, apontando menor dispersão dos totais de precipitação

propícios a ocorrência de deslizamentos. Porém, enquanto nas zonas norte e leste o

limite mínimo para desencadeamento desse tipo de desastre natural é baixo (13,4 e

11,4 mm), na zona centro-sul o limite de precipitação mínimo para a ocorrência do

fenômeno foi um dos mais elevados (36,2 mm). Para a zona sul também foi observado

maior amplitude do valor necessário para a ocorrência de deslizamentos, estando de

acordo com os totais calculados para 24 e 48 h. Para o caso do acumulado de

precipitação em 72 h, a zona que apresentou limiares mais elevados foi a

centro-oeste, na qual chuvas de 46,9 até 105,0 mm estiveram relacionadas aos

eventos de deslizamentos.

Figura 17. Precipitação nas estações EMBRAPA, EST e IFAM em 72 h antecedentes à eventos de deslizamentos nas zonas norte, sul, leste, oeste, centro-sul e centro-oeste.

A partir dos parâmetros extraídos dos totais de precipitação nas 72 h que

antecederam eventos de precipitação para cada zona de Manaus (Tabela 10), foi

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

encontrada média entre 35,3 mm (zona norte) e 68,8 mm (zona centro-sul) e a

mediana variando entre 25,8 mm (zona norte) e 46,8 mm (zona centro-sul). Da mesma

maneira, o desvio padrão foi menor para a zona norte (26,8 mm) e maior para a zona

centro-sul (46,8 mm). Os parâmetros para totais em 72 h sugerem e reafirmam que

os limiares de precipitação necessários para desencadeamento de deslizamentos

foram menores para a zona norte, ou seja, foi necessário um volume menor de chuva

para que ocorressem deslizamentos nessa zona, também para acumulado em 72 h.

Da mesma maneira, a zona leste apresenta parâmetros próximos aos encontrados na

zona norte, apontando maior vulnerabilidade dessas zonas em relação às demais

zonas urbanas. A zona centro-sul se mostrou menos suscetível a esse tipo de

desastre natural, dispondo de altos acumulados de precipitação para que ocorressem

deslizamentos de terra no local.

Tabela 10. Parâmetros estatísticos da precipitação ocorrida nas estações EMBRAPA, EST e IFAM nas 72 h antecedentes à eventos de deslizamento de terra nas zonas norte, sul, leste, oeste, centro-sul e centro-oeste.

72 h EMBRAPA

norte

EST

sul

IFAM

leste

EST

oeste

EST

centro-sul

EST

centro-oeste

Média 35,3 46,6 35,9 52,3 68,8 60,1

Mediana 25,8 36,6 26,2 39,2 65,5 54,6

Desvio padrão 26,8 42,9 32,2 40,9 46,8 42,7

Com relação aos acumulados em 96 h anteriores aos eventos de

deslizamentos (Figura 17), o limite inferior do boxplot referente à zona leste foi de

15,0 mm e o superior foi de 63,8 mm. Para as demais zonas o limite inferior foi

19,3 mm para a zona norte, 21,1 mm para a zona sul, 25,0 mm para a zona oeste,

46,9 mm para a zona centro-sul e 37,2 mm para a zona centro-oeste, e os limites

superiores foram de 73,7, 90,0, 92,4, 105,0 e 103,0 mm, na mesma ordem. No caso

dos acumulados de 96 h, a zona leste foi a que apresentou o menor intervalo de totais

de precipitação, apontando menor dispersão de acumulados de chuva que deram

origem a estes desastres em relação às demais zonas urbanas. Para as zonas sul,

oeste e centro-oeste, os intervalos que contém totais de precipitação relacionados aos

deslizamentos são similares, apesar de que para a zona centro-oeste os limites do

boxplot apresentam maiores valores. O gráfico do acumulado de precipitação 96 h

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

gerado para a zona centro-sul foi o que apresentou os limites inferior e superior mais

elevados, apontando maiores acumulados de precipitação capazes de dar origem aos

deslizamentos de terra.

Figura 18. Precipitação nas estações EMBRAPA, EST e IFAM em 96 h antecedentes à eventos de deslizamentos nas zonas norte, sul, leste, oeste, centro-sul e centro-oeste.

Ao analisar os parâmetros estatísticos relacionados aos acumulados de

precipitação nas 96 h, que antecederam os eventos de deslizamentos, foram

observados menores valores de média e mediana para a zona leste (46,0 e 37,2 mm),

e maiores valores para a zona centro-sul (81,3 e 79,3 mm). A zona norte apresentou

estes parâmetros próximos ao da zona leste, apontando menores índices de

precipitação capazes de desencadear deslizamentos nestas zonas. De maneira

inversa, a zona centro-sul esteve suscetível a deslizamentos relacionados aos totais

de precipitação em 96 h mais elevados. O desvio padrão foi menos acentuado para a

zona norte (30,6 mm), indicando menor dispersão dos valores de precipitação

relacionada à ocorrência de deslizamentos, e mais acentuado para a zona centro-

oeste (49,4 mm), apontando maior dispersão dos acumulados em 96 h.

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Tabela 11. Parâmetros estatísticos da precipitação ocorrida nas estações EMBRAPA, EST e IFAM nas 96 h antecedentes à eventos de deslizamento de terra nas zonas norte, sul, leste, oeste, centro-sul e centro-oeste.

96 h EMBRAPA

norte

EST

sul

IFAM

leste

EST

oeste

EST

centro-sul

EST

centro-oeste

Média 46,5 61,9 46,0 64,4 81,3 71,2

Mediana 44,3 54,4 37,2 60,8 79,3 59,0

Desvio padrão 30,6 48,3 37,0 46,6 48,5 49,4

A partir dos acumulados de precipitação em 24, 48, 72 e 96 h antecedentes aos

eventos de deslizamentos de terra, para cada uma das seis zonas de Manaus, foi

observado que a dispersão dos valores aumentou conforme a escala de tempo, assim

como os valores dos limites inferiores e superiores dos diagramas de caixa. Os casos

de deslizamento estiveram associados aos menores acumulados de precipitação nas

zonas norte e leste de Manaus, quando comparados com as demais zonas da cidade.

Isto indica que outros fatores além da precipitação podem contribuir para o maior

número de ocorrências de eventos de deslizamento, como por exemplo, a topografia.

Por outro lado, se deve levar em conta que os deslizamentos podem estar associados

ao acumulado de chuva nas últimas 96 h ou aos eventos severos de precipitação no

dia da ocorrência do deslizamento de terra.

As zonas centro-sul e centro-oeste foram as que se mostraram menos

suscetíveis aos deslizamentos, apresentando valores dos limites dos boxplots de

precipitação mais altos em relação às demais zonas, levando em consideração os

acumulados entre 24 e 96 h. Sendo assim, deslizamentos nestas zonas ocorreram

devido a precipitação mais intensa. A zona sul apresentou alta dispersão para todos

os acumulados de chuva relacionados aos deslizamentos nesta zona.

Para melhor discutir alguns cenários de deslizamentos de terra em Manaus,

alguns estudos de caso foram realizados, considerando os dias de ocorrência de

deslizamento em que a precipitação acumulada atingiu valores em torno de 190,0 mm.

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

4.4. Estudos de caso

Seis dias com eventos de deslizamento foram selecionados para os estudos de

caso. A seleção dos dias foi feita da seguinte maneira: para o Grupo 1 a precipitação

acumulada ao longo de quatro dias atinge valores da ordem de 190,0 mm,

promovendo o acúmulo de água no solo, e o número de ocorrências de deslizamento

é de pelo menos 10 ocorrências em um dia. Para o Grupo 2 a precipitação atinge

valores de até 192,2 mm, e os casos estão associados aos dias que contabilizaram

acima de 17 ocorrências de deslizamentos na área urbana.

4.4.1. Grupo 1

O primeiro dia a ser analisado é o dia 09/02/2011 (Figura 18). Neste dia foram

registrados 46 deslizamentos de terra pela Defesa Civil do Município de Manaus e a

precipitação totalizou 94,4 mm, uma vez que ocorreram alguns eventos de

precipitação, ao longo dos três dias antecedentes a este, com precipitações de

13,8 mm em 2 horas (dia 6, entre 8 e 9 h), 12,8 mm em 4 horas (dia 7, de 6 às 10 h),

17,6 mm em 2 horas (dia 8, de 11 às 13 h) e 32,0 mm em 5 horas (dia 9, de 14 às

19 h). Observa-se que o acumulado de precipitação teve um aumento gradativo e, ao

fim de cada dia, observou-se 14,4 mm, 27,6 mm, 62,0 mm e 94,4 mm, nos dias 6, 7,

8 e 9, nessa ordem. O total acumulado equivale a 32,6% da chuva esperada para o

mês de fevereiro, quando a média climatológica é de 289,5 mm (INMET, 2009).

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Figura 19. Acumulado de precipitação (mm) e intensidade da precipitação (mm/h) ocorrida entre os dias 06 e 09/02/2011.

A partir de imagens de satélite (Figura 21) foi possível identificar a atuação de

sistemas convectivos atuando sobre a cidade de Manaus (indicador circular

vermelho), onde é possível observar as temperaturas de brilho do topo de nuvem

variando de -50 a -70 °C, entre os dias 8 e 9 de fevereiro de 2011. Segundo Hanna et

al. (2008), temperaturas de brilho de topo de nuvem abaixo de -50 °C estão

associadas a eventos de precipitação intensa. No dia 6 o sistema que atuou sobre a

cidade e que provocou precipitação de 13,8 mm. Já no dia seguinte houve um evento

de 12,8 mm. Nos dias 8 e 9 a temperatura de brilho indicada nas imagens atingiu um

valor próximo a -70 °C, e a precipitação registrada nesses dias pela estação

meteorológica foi de 25,8 mm e 32,0 mm, respectivamente. Neste período foram

registrados 46 deslizamentos na cidade de Manaus.

06/02 07/02 08/02 09/02 10/02

0

50

100

150

200

0

10

20

30

40

50

60

70

00 06 12 18 00 06 12 18 00 06 12 18 00 06 12 18 00

dia

Acum

ula

do (

mm

)

Inte

nsid

ade (m

m/h

)

hora

09/02/2011 - 46 deslizamentos

intensidade 1h acumulado

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57

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Figura 20. Recortes de imagens do Satélite GOES-12 para 06/02/2011 08h15min, 07/02/2011 08h00min, 08/02/2011 13h00min e 09/02/2011 14h45min.

Além disso, fez-se uso de dados de radiossondagens para avaliar alguns

índices de instabilidade, as quais foram lançadas no aeroporto de Ponta Pelada em

Manaus. O índice K acima de 30,0 °C é considerado alto e indica tempestades

severas se for acima de 36,0 (George, 1960). Se ambos K e TT são altos a tendência

é ter chuvas torrenciais. Se K é baixo e TT é alto (>45,0) então a tendência é ter

tempestades severas (Silva Dias, 2000). Assim, de acordo com as radiossondagens

para os dias 06, 07, 08 e 09/02/2011 (Tabela 12), as condições atmosféricas eram

propícias para ocorrência de convecção local.

Mesmo com valores máximos de CAPE de 709,4 J/kg (dia 8 às 12 UTC), o

índice K esteve entre 29,1 e 37,0 °C, e o índice TT entre 40,4 e 43,5 Os valores de K

e TT no dia 8 indicaram chuvas torrenciais, sendo registrado o total de 34,4 mm de

precipitação na estação meteorológica da EST para este dia.

08/02/2011

13h00min

06/02/2011

08h15min

07/02/2011

08h00min

09/02/2011

14h45min

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Tabela 12. Índices de instabilidade e energia da atmosfera a partir de radiossondagens em Manaus (SBMN) nos dias 06, 07, 08 e 09/02/2011.

Dia Hora

(UTC)

CAPE

(J/kg)

K

(°C) TT

06 00 608,7 34,5 41,7

12 0,0 35,5 42,4

07 00 30,9 29,9 41,0

12 8,2 37,0 43,2

08 00 683,4 32,2 43,3

12 709,4 35,4 43,5

09 00 39,7 29,1 41,4

12 162,6 33,3 40,4

De maneira geral, os campos espaciais de direção e intensidade do vento,

divergência e omega para o nível de 850 hPa, para os dias 06, 07, 08 e 09/02/2011,

apresentaram características semelhantes. A Figura 20 apresenta os campos para o

dia 9 de fevereiro, representando as características que predominaram durante os

quatro dias analisados neste caso, onde foi possível observar escoamento

predominante de nordeste, transportando umidade do Oceano Atlântico para a região

de Manaus e convergência sobre toda a região amazônica, mais intensa sobre

Manaus (Figura 20a). Os campos de omega também indicavam o favorecimento da

convecção, apresentando valores negativos (movimentos ascendentes) sobre a

região como ilustrado na Figura 20b.

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59

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Figura 21. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência (1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 850 hPa para o dia 09/02/2011.

Para o nível de 250 hPa (Figura 21) foi observado forte divergência sobre o

Amazonas e a presença de um corredor de ventos mais intensos sobre o Brasil,

orientado de sudeste. Omega também se mostrou negativo sobre a região, com

movimentos ascendentes mais intensos predominantemente sobre o Amazonas e

parte do Pará.

Figura 22. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência (1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 250 hPa para o dia 09/02/2011.

Para o dia 29/04/2011 (Figura 22) foram registrados 24 deslizamentos em toda

a cidade e 123,6 mm de precipitação. Considerando também os três dias anteriores,

foram observados eventos de precipitação com 36,4 mm/h (dia 27, à 1 h) e 44,2 mm/h

(dia 29, às 11 h), com intervalo de 57 horas (aproximadamente 2,4 dias) entre eles.

Os eventos ocorridos neste caso foram de 67,2 mm em 5 horas (de 23 h do dia 26 às

4 h do dia 27), 12,0 mm em 5 horas (de 22 h do dia 28 às 3 h do dia 29) e 111,8 mm

(a) (b)

(a) (b)

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60

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

em 6 horas (dia 29, de 9 às 15 h). Em termos de acumulado de precipitação a cada

dia, os dias 27 e 29 foram os mais significativos para este caso. Para o primeiro dia

(26) foi registrado apenas 0,2 mm, já o segundo dia (27) terminou com total acumulado

de 67,2 mm e ao terceiro dia (28) 70,6 mm, totalizando ao quarto dia (29) 191,2 mm

de chuva.

Figura 23. Acumulado de precipitação (mm) e intensidade da precipitação (mm/h) ocorrida entre os dias 26 e 29/04/2011.

Nas imagens de satélite da Figura 23, foi possível observar a atuação destes

sistemas com temperatura de brilho de até -70 °C, nos dias e horários da precipitação

de maior intensidade, dia 27 à 1 h e dia 29 às 11 h. A interação entre diferentes

sistemas atmosféricos fez com que a região de Manaus estivesse sob condições

favoráveis para a ocorrência de chuvas intensas. Desta maneira foi observada

precipitação em dois dos quatro dias analisados com taxa de até 44,2 mm/h, ocorridos

em um intervalo maior que dois dias, provocando o registro de 24 casos de

deslizamentos na cidade de Manaus.

26/04 27/04 28/04 29/04 30/04

0

50

100

150

200

0

10

20

30

40

50

60

70

00 06 12 18 00 06 12 18 00 06 12 18 00 06 12 18 00

dia

Acum

ula

do (

mm

)

Inte

nsid

ade (m

m/h

)

hora

29/04/2011 - 24 deslizamentos

intensidade 1h acumulado

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61

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Figura 24. Recortes de imagens do Satélite GOES-12 para 27/04/2011 01h00min e 29/04/2011 11h00min.

As radiossondagens para os dias 26, 27, 28 e 29/04/2011 (Tabela 13)

indicavam possibilidade de convecção. Os valores de CAPE mostraram variação da

quantidade de energia acumulada na atmosfera entre 385,5 e 2628,6 J/kg. Os índices

K e TT apresentaram valores entre 34,9 e 37,2 °C e 43,1 e 45,0, respectivamente,

indicando condições propícias para ocorrência de precipitação intensa.

29/04/2011

11h00min

27/04/2011

01h00min

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62

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Tabela 13. Índices de instabilidade e energia da atmosfera a partir de radiossondagens em Manaus (SBMN) nos dias 26, 27, 28 e 29/04/2011.

Dia Hora

(UTC)

CAPE

(J/kg)

K

(°C) TT

26 00 2628,6 35,6 44,3

12 751,0 35,8 43,1

27 00 939,3 37,2 43,6

12 660,9 37,2 44,7

28 00 586,5 34,9 44,9

12 1180,7 36,9 45,0

29 00 838,1 36,6 44,6

12 385,5 36,7 43,8

De acordo com os campos de vento e divergência no nível de 850 hPa o

escoamento era de nordeste, transportando umidade do oceano e apresentando

convergência sobre a região de Manaus, como apresentado no exemplo para o dia 29

(Figura 24a). Omega (Figura 24b), apesar de ter apresentado valores baixos, era

negativo sobre Manaus, indicando movimento ascendente, propício à ocorrência de

convecção intensa na região.

Figura 25. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência (1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 850 hPa para o dia 29/04/2011.

(a) (b)

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63

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Para o nível de 250 hPa (Figura 25) foi notada difluência sobre a região de

estudo e omega ainda indicando movimentos ascendentes, ambos favorecendo a

convecção na região.

Figura 26. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência (1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 250 hPa para o dia 29/04/2011.

No dia 12/09/2013 (Figura 26) houve registro de 10 deslizamentos em Manaus,

embora seja o período menos chuvoso da região. Para este caso, foi observado um

evento com intensidade de 39,8 mm/h, no dia 11 às 18 h, porém, no dia 12 houve

registro de um evento com 6,0 mm/h às 20 h, com intervalo de tempo entre estes dois

eventos de 25 horas. Neste caso, foi observado eventos que totalizaram até 6,8 mm

em 3 horas (dia 9 de 7 às 10 h), 44,6 mm em 2 horas (dia 11 de 17 às 19 h) e 6,0 mm

em 1 hora (dia 12 de 19 às 20 h). O primeiro dia (9 de setembro) analisado para este

caso terminou com o total acumulado de 7,0 mm, já no segundo dia (10 de setembro)

não foi observada precipitação, terminando com o mesmo acumulado de 7,0 mm, no

fim do terceiro (11 de setembro), com o evento mais intenso, o acumulado foi de

51,8 mm e, ao final do quarto dia (12 de setembro), foi registrado o total de 57,8 mm

de precipitação.

(a) (b)

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Figura 27. Acumulado de precipitação (mm) e intensidade da precipitação (mm/h) ocorrida entre os dias 09 e 12/09/2011.

A Figura 27 apresenta as imagens de satélite para os dias 11 e 12 de setembro

de 2013. Através das imagens de satélite foi possível identificar aglomerados

convectivos atuando sobre a região de Manaus (indicador circular vermelho) com

temperaturas de brilho chegando a -70 °C, para o evento mais intenso, ocorrido no

dia 11 às 18 h, e -60 °C no dia 12 às 20 h. O acumulo de massa sobre a Amazônia no

período menos chuvoso da região formou o cenário favorável para a formação de

aglomerados convectivos nos dias deste caso. Estes aglomerados atingiram a cidade

provocando eventos de precipitação de até 44,6 mm, provocando deslizamentos na

cidade de Manaus (10 registros).

09/09 10/09 11/09 12/09 13/09

0

50

100

150

200

0

10

20

30

40

50

60

70

00 06 12 18 00 06 12 18 00 06 12 18 00 06 12 18 00

dia

Acum

ula

do (

mm

)

Inte

nsid

ade (m

m/h

)

hora

12/09/2013 - 10 deslizamentos

intensidade 1h acumulado

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Figura 28. Recortes de imagens do Satélite GOES-13 para 11/09/2013 18h00min e 12/09/2013 20h00min.

Os índices de instabilidade para os dois últimos dias deste caso (Tabela 14)

mostraram CAPE partindo de 8,8 J/kg e chegando a 711,3 J/kg. O índice K foi de 26,3

a 35,1 °C e o TT, nos dias 11 e 12, variou entre 42,0 e 45,2, indicando a possibilidade

de ocorrência de eventos severos de precipitação na região.

Tabela 14. Índices de instabilidade e energia da atmosfera a partir de radiossondagens em Manaus (SBMN) nos dias 11 e 12/09/2013.

Dia Hora

(UTC)

CAPE

(J/kg)

K

(°C) TT

11 00 285,9 29,2 44,7

12 284,4 26,3 44,2

12 00 8,8 35,1 45,2

12 711,3 32,4 42,0

Os campos de vento, divergência e omega no nível de 850 hPa, ilustrado pelo

dia 12 (Figura 28), apresentaram escoamento de leste, trazendo ar mais seco do

12/09/2013

20h00min

11/09/2013

18h00min

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66

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Nordeste brasileiro, com convergência de massa em baixos níveis sobre maior parte

da região amazônica, apresentando ainda favorecimento da convecção profunda, de

acordo com os movimentos verticais ascendentes indicados no campo de omega.

Figura 29. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência (1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 850 hPa para o dia 12/09/2013.

Em altos níveis, as condições atmosféricas favoreciam a convecção sobre a

Amazônia devido à divergência dos ventos e movimentos ascendentes, como

ilustrado na Figura 29.

Figura 30. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência (1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 250 hPa para o dia 12/09/2013.

4.4.2. Grupo 2

Os estudos de caso que serão apresentados a seguir são caracterizados pela

ocorrência de número elevado de deslizamentos de terra em Manaus, associados aos

(a) (b)

(a) (b)

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67

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

eventos de precipitação ocorridos nos mesmos dias dos registros de deslizamentos

de terra.

A Figura 30 apresenta o acumulado da precipitação para quatro dias

antecedentes ao dia 20/12/2010, quando houve registro de 17 deslizamentos de terra

em Manaus. Foi possível observar precipitação nos dias 17 e 18, com intensidade

máxima de 0,8 e 2,6 mm/h, respectivamente. Nenhum registro de precipitação no dia

19 foi observado. Para o período, foram registrados acumulados de 2,8 mm no

primeiro dia (17) e 5,6 mm no segundo (18) e terceiro (19) dia. Já o quarto dia (20) foi

marcado pela ocorrência de um evento de precipitação que totalizou 122,4 mm em

7 horas (entre 12 e 19 h), resultando em acumulado de 129,8 mm de precipitação, nos

quatro dias deste caso.

Figura 31. Acumulado de precipitação (mm) e intensidade da precipitação (mm/h) ocorrida entre os dias 17 e 20/12/2010.

Neste contexto, a partir da Figura 31, é possível observar intensa atividade

convectiva sobre o Amazonas no dia 20, com uma banda de nebulosidade mais

intensa configurada entre o sul de Roraima e o sudeste do estado do Amazonas. Esta

banda de nebulosidade atuou com temperaturas de brilho menores do que -70 °C

entre às 13 e 14 h, o qual foi intervalo de tempo no qual a precipitação registrada foi

mais intensa. Neste caso, a atuação de uma ZCOU durante os três primeiros dias

deste caso (CPTEC, 2010) auxiliou a intensificação da atividade convectiva sobre o

estado do Amazonas, o que deu origem a um evento de precipitação de 122,4 mm,

17/12 18/12 19/12 20/12 21/12

0

50

100

150

200

0

10

20

30

40

50

60

70

00 06 12 18 00 06 12 18 00 06 12 18 00 06 12 18 00

dia

Acum

ula

do (

mm

)

Inte

nsid

ade (m

m/h

)

hora

20/12/2010 - 17 deslizamentos

intensidade 1h acumulado

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68

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

em um intervalo de tempo de sete horas, com a ocorrência de 17 registros de

deslizamentos em Manaus.

Figura 32. Recortes de imagens do Satélite GOES-12 para 20/12/2010 13h00min e 14 h00min.

Para o dia 20/12/2010 (Tabela 15), a atmosfera apresentou valores de CAPE

entre 299,7 e 637,3 J/kg. Já os índices K e TT extraídos das radiossondagens

apresentaram altos valores nas duas leituras do dia 20, mostrando condições ideais

para a ocorrência de chuvas intensas na região.

Tabela 15. Índices de instabilidade e energia da atmosfera a partir de radiossondagens em Manaus (SBMN) no dia 20/12/2010.

Dia Hora

(UTC)

CAPE

(J/kg)

K

(°C) TT

20 00 637,3 37,9 45,8

12 299,7 37,2 44,0

No nível de 850hPa, os campos de vento e divergência (Figura 32a) para o dia

20/12/2010 mostram que havia escoamento de leste transportando umidade do

oceano Atlântico para a região e convergindo sobre o sul do Amazonas. Já o campo

20/12/2010

14h00min

20/12/2010

13h00min

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69

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

de omega (Figura 32b) mostrava movimento de ar ascendente sobre toda a Amazônia,

mais intenso sobre o Pará e Amazonas.

Figura 33. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência (1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 850 hPa para o dia 20/12/2010.

Para o nível de 250 hPa (Figura 33), notou-se divergência sobre a Amazônia

com um centro de maior intensidade sobre o estado do Amazonas. Da mesma forma,

o campo de omega apresentou movimentos ascendentes bastante intensos

concentrados sobre o Amazonas, indicando o favorecimento de convecção profunda

e precipitação intensa.

Figura 34. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência (1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 250 hPa para o dia 20/12/2010.

Com total de 21 deslizamentos ocorridos no dia 03/05/2011 (Figura 34), não

houve registro de precipitação desde o início do dia 30 de abril de 2011 até às 20 h

do dia 2 de maio, quando houve um evento de precipitação com intensidade de

8,6 mm/h. Desta forma, o acumulado de precipitação para os três primeiros dias deste

(a)

(a)

(b)

(b)

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70

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

caso (dia 30/04 e, 01 e 02/05) totalizou 8,8 mm. No dia 3 de maio, um único evento

produziu 81,8 mm de precipitação, em 5 horas (entre 6 e 11 h), com intensidade de

até 39,2 mm/h (9 h), fazendo com que o acumulado para os quatro dias chegasse a

90,6 mm de precipitação.

Figura 35. Acumulado de precipitação (mm) e intensidade da precipitação (mm/h) ocorrida entre os dias 30/04 e 03/05/2011.

Na imagem de satélite apresentada na Figura 35 é possível notar a atuação de

um sistema de precipitação orientado, na direção noroeste-sudeste, sobre a cidade

de Manaus, que apresentou temperatura de brilho de até -80 °C, na hora do registro

de maior intensidade para este estudo de caso (03/05/2011 às 9 h). Sem registros de

precipitação nos dois dias anteriores, um evento de 39,2 mm/h provocou o registro de

21 deslizamentos no dia 3 de maio em Manaus.

Figura 36. Recorte de imagem do Satélite GOES-12 para 03/05/2011, as 9 h.

30/04 01/05 02/05 03/05 04/05

0

50

100

150

200

0

10

20

30

40

50

60

70

00 06 12 18 00 06 12 18 00 06 12 18 00 06 12 18 00

dia

Acum

ula

do (

mm

)

Inte

nsid

ade (m

m/h

)

hora

03/05/2011 - 21 deslizamentos

intensidade 1h acumulado

03/05/2011

09h00min

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

As radiossondagens realizadas nos dias 02 e 03/05/2011 indicaram condições

propícias para a ocorrência de convecção (Tabela 16), com CAPE variando entre 99,4

e 1315,1 J/kg. Os índices K e TT também confirmaram a ocorrência de convecção,

com valores máximos de 40 °C e 45,3, respectivamente, para o dia 3 de maio de 2011.

Tabela 16. Índices de instabilidade e energia da atmosfera a partir de radiossondagens em Manaus (SBMN) nos dias 02 e 03/05/2011.

Dia Hora

(UTC)

CAPE

(J/kg)

K

(°C) TT

02 00 1315,1 33,0 42,5

12 887,3 38,4 46,2

03 00 99,4 36,5 45,3

12 544,6 40,0 45,3

Em altos níveis, os campos de vento, divergência e omega indicaram o

favorecimento da convecção na região de Manaus (Figura 36), com escoamento de

leste que trazia umidade do oceano e convergência. O omega apresentou valores

negativos sobre maior parte do Brasil, sugerindo movimentos de ar ascendentes, mais

intensos ao norte da região Norte.

Figura 37. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência (1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 850 hPa para o dia 03/05/2011.

(a) (b)

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72

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Em altos níveis para o mesmo dia (3 de maio), havia divergência sobre o norte

do Amazonas e Roraima, e omega apresentou um centro mais intenso com

movimentos ascendentes sobre a região e Manaus, indicando propensão a convecção

mais profunda (Figura 37).

Figura 38. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência (1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 250 hPa para o dia 03/05/2011.

No dia 08/03/2014 a Defesa Civil registrou 24 casos de deslizamentos em

Manaus. A Figura 38 mostra que no fim do dia 7, às 20 h, teve início um evento de

chuva intensa onde foi possível registrar 64,2 e 47,2 mm/h, às 23 h do dia 7 de março

e às 6 h do dia 8 de março, respectivamente. O evento durou até às 11 h do dia 08 de

março, chegando a um total de 185,0 mm de precipitação, em 15 horas de duração.

Ao fim do quarto dia o total acumulado para o período deste caso chegou a 192,2 mm

de precipitação.

(a) (b)

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Figura 39. Acumulado de precipitação (mm) e intensidade da precipitação (mm/h) ocorrida entre os dias 05 e 08/03/2014.

As imagens de satélite (Figura 39) mostram nuvens sobre a cidade de Manaus

com temperaturas de brilho inferiores a -70 °C (indicador circular vermelho), nos dias

7 (23 h) e 8 (1 e 6 h). O noticiário registrou vários relatos, dentre eles inúmeros

alagamentos, deslizamentos e desabamentos que ocasionaram duas mortes. (Jornal

Nacional, 8 mar. 2014). Para este caso, a atuação de vários fenômenos, como a ZCIT

e ZCOU (CPTEC, 2014), formou a condição necessária para eventos intensos de

precipitação, de forma que entre os dias 07 e 08/03/2014 foi registrado um evento de

precipitação que totalizou 185,0 mm. Além de 24 deslizamentos registrados pela

Defesa Civil de Manaus, este evento também provocou outros prejuízos à sociedade

local, devido sua intensidade.

05/03 06/03 07/03 08/03 09/03

0

50

100

150

200

0

10

20

30

40

50

60

70

00 06 12 18 00 06 12 18 00 06 12 18 00 06 12 18 00

dia

Acum

ula

do (

mm

)

Inte

nsid

ade (m

m/h

)

hora

08/03/2014 - 24 deslizamentos

intensidade 1h acumulado

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Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Figura 40. Recortes de imagens do Satélite GOES-13 para 07/03/2014 23 h, 08/03/2014 1 h e 08/03/2014 6 h.

As radiossondagens realizadas nos dias 7 e 8 mostram índice moderado de

CAPE no dia 8, às 00 UTC (1198,5 J/kg), e baixos índices para os demais registros.

Os índices K e TT estiveram elevados, estando acima de 35,2 °C e 41,9,

respectivamente (Tabela 17).

07/03/2014

23h00min

08/03/2014

01h00min

08/03/2014

06h00min

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75

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Tabela 17. Índices de instabilidade e energia da atmosfera a partir de radiossondagens em Manaus (SBMN) nos dias 07 e 08/03/2014.

Dia Hora

(UTC)

CAPE

(J/kg)

K

(°C) TT

07 00 301,7 35,3 43,2

12 76,27 35,2 41,9

08 00 1198,5 38,8 44,0

12 109,8 - -

Os campos de vento em 850 hPa, para o dia 8 de março de 2014, (Figura 40)

mostra o escoamento sobre a região analisada predominantemente de nordeste,

carregando umidade desde o oceano e apresentando um centro de forte convergência

sobre o sudoeste do Pará. Neste caso, omega apresenta valores positivos sobre a

região de Manaus que, mesmo sendo um valor baixo, indica supressão da convecção.

Figura 41. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência (1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 850 hPa para o dia 08/03/2014.

Em 250 hPa (Figura 41), foi observado um centro intenso de divergência sobre

a região Norte. Além disso, observam-se valores de omega negativo sobre a região

de Manaus, favorecendo a ocorrência de precipitação intensa na região.

(a) (b)

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76

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

Figura 42. Campos espaciais de direção e intensidade do vento (m/s) e divergência (1e-6 s) (a), e omega (Pa/s) (b) no nível de 250 hPa para o dia 08/03/2014.

A partir dos estudos de caso foi possível identificar a atuação de diferentes

sistemas atmosféricos sobre a região amazônica. Estes sistemas deram condições

para precipitação recorrente em dias seguidos e para eventos localizados de

precipitação intensa. Chuva durante dias seguidos possibilita a saturação gradual do

solo, instabilizando o terreno. Eventos de precipitação intensa sugerem escoamento

de grande volume de água sobre a superfície, retirando camadas de solo. Sistemas

meteorológicos de grande escala atuantes no período chuvoso local, como a ZCIT,

ZCAS e ZCOU, em geral, proporcionam eventos de precipitação que abrangem toda

a cidade podendo resultar em deslizamentos em todas as zonas. Já eventos de

precipitação localizada podem provocar deslizamentos localizados. Desta maneira, o

uso de uma densa rede de pluviômetros e um maior período de dados do Radar se

faz necessário, para a melhor compreensão da relação entre os fenômenos

meteorológicos e os deslizamentos de terra na cidade de Manaus.

(a) (b)

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Capítulo 5 – Conclusões

Capítulo 5 ____________________________

Conclusões

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Capítulo 5 – Conclusões

A capital do Amazonas é uma cidade com mais de 2 milhões de habitantes,

constantemente alvos de tragédias ocasionadas pela falta de infraestrutura

habitacional, como saneamento básico e sistema de drenagem, agregada aos altos

índices de precipitação provocando desastres naturais, como é o caso dos

deslizamentos de terra. Logo, este trabalho buscou fazer uma análise geral da

ocorrência de deslizamentos em Manaus a partir de registros feitos pela Defesa Civil

do município e, então, relacionar os deslizamentos ao regime local de precipitação e

eventos de chuva intensa. Além disso, buscou-se também avaliar as zonas de maior

risco à ocorrência desse fenômeno e acumulados de precipitação capazes de

desencadear os deslizamentos em cada zona da cidade.

Dessa forma, a variabilidade dos deslizamentos em Manaus acompanha o

regime de precipitação local com maior número de registros no período mais chuvoso

e menor no período menos chuvoso. A variabilidade intra anual também esteve

associada à precipitação de forma que 2011 foi o ano no qual houve maior número de

registros de deslizamentos e mais precipitação, e 2012 foi o que apresentou menor

número de ocorrências e menos precipitação.

Observou-se alta variabilidade espacial da ocorrência de deslizamentos, com

as zonas norte e leste sendo as mais atingidas por estes fenômenos, em seguida as

zonas sul e oeste, e por último as zonas centro-oeste e centro-sul, nesta ordem. Esta

característica se deve ao relevo local, que se torna mais acidentado e apresenta maior

declividade nas zonas norte e leste.

Tomando como base os dados volumétricos do Radar meteorológico de

Manaus, as estimativas de precipitação indicaram uma subestimativa em relação aos

dados registrados pelas estações EMBRAPA e IFAM. As estimativas apresentaram

boa correlação com os dados observados pelas estações meteorológicas do

REMCLAM. O método 20me, que considera a média da refletividade em uma área de

aproximadamente 36,0 km² a um nível de altura de 2,0 km, foi que melhor representou

a precipitação em superfície, chegando a um índice de correlação de 0,9.

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Capítulo 5 – Conclusões

A partir dos totais pluviométricos levando em consideração até 96 horas que

antecederam eventos de deslizamentos nas seis zonas de Manaus foi possível

concluir que o volume de precipitação necessário para desencadear deslizamentos é

diferente em para cada zona. As zonas norte e leste foram as que apresentaram maior

suscetibilidade aos deslizamentos, nas quais estiveram relacionados a precipitação

menos intensa para os acumulados em 24, 48, 72 e 96 h. Além disso, os totais de

chuva apresentaram pouca dispersão para estas zonas, significando que os

deslizamentos podem ocorrer devido a um curto intervalo de valores. Os

deslizamentos registrados nas zonas centro-sul e centro-oeste estiveram

relacionados a maiores acumulados de precipitação entre 24 e 96 h, indicando que

nesta zona os deslizamentos ocorrem em casos de altos acumulados de precipitação.

Nas zonas sul e oeste os deslizamentos apresentaram relação similar, com os totais

para a zona sul apresentando maior dispersão, ou seja, houveram deslizamentos

tanto em casos de elevados totais de precipitação quanto em casos de pouca chuva.

Os boxplots dos acumulados de precipitação relacionados a dias com

ocorrência de deslizamentos mostraram uma progressão em relação ao intervalo de

tempo levado em consideração para os acumulados. Sendo assim, os gráficos para

acumulados em 24 h apresentaram limites com valores mais baixos e para 96 h os

limites foram mais altos. Da mesma maneira, a dispersão dos acumulados foi menor

para 24 h e maior para 96 h para todas as zonas. Isto pode ser um indício de que

devido à saturação do solo, consequência de chuvas em dias seguidos, houve

deslizamentos de terra mesmo com baixos índices de precipitação no dia dos registros

destes desastres naturais.

A partir dos estudos de caso, conclui-se que o efeito tardio do acúmulo de

precipitação tende a propiciar maior chance de eventos de deslizamentos. Mesmo

assim, eventos mais intensos ocorridos em apenas um dia também mostraram

capacidade de desencadeamento de deslizamentos em Manaus.

Foram identificados sistemas como ZCIT, ZCAS, ZCOU, frentes frias e friagem,

e zona de alta pressão sobre o Atlântico Sul atuando sobre a região de Manaus e

América do Sul nos dias analisados nos estudos de caso. A formação de aglomerados

convectivos sobre Manaus foi resultado da atuação destes sistemas, interagindo entre

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Capítulo 5 – Conclusões

si ou não, provocando chuvas intermitentes ou concentradas em curto período de

tempo.

De forma geral, o trabalho identificou a ocorrência de deslizamentos em

Manaus de acordo com a variabilidade da precipitação local. Associada às

características locais do relevo e sociais, os deslizamentos ocorreram em maioria no

período mais chuvoso e as zonas mais afetadas foram aquelas onde o terreno

apresenta maior elevação e/ou declividade.

A utilização de ferramentas como o Radar Meteorológico facilita o entendimento

das características da precipitação e mesmo dos montantes que levam a ocorrência

de deslizamentos em Manaus. Para estudos futuros recomenda-se um período maior

de dados para que seja possível avaliar a relação entre a precipitação estimada e a

ocorrência de deslizamentos de forma minuciosa, uma vez que o Radar é capaz de

detectar a ocorrência de precipitação espacialmente.

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Capítulo 6 – Referências Bibliográficas

Capítulo 6 ____________________________

Referências Bibliográficas

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