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INSTITUTO COPPEAD UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ) GABRIELA BRANDT RIBEIRO DE OLIVEIRA RELATÓRIOS DE SUSTENTABILIDADE: transparência da relação entre gestão para sustentabilidade e criação de valor RIO DE JANEIRO 2017

INSTITUTO COPPEAD UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE … · análise, para a amostra total e as sub-amostras de empresas brasileiras e estrangeiras.....39 Tabela 7. Menor frequência

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INSTITUTO COPPEAD – UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ)

GABRIELA BRANDT RIBEIRO DE OLIVEIRA

RELATÓRIOS DE SUSTENTABILIDADE: transparência da relação entre gestão

para sustentabilidade e criação de valor

RIO DE JANEIRO

2017

GABRIELA BRANDT RIBEIRO DE OLIVEIRA

RELATÓRIOS DE SUSTENTABILIDADE: transparência da relação entre gestão

para sustentabilidade e criação de valor

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-graduação em Administração,

do Instituto COPPEAD de Administração,

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),

como parte dos requisitos necessários à

obtenção de título de Mestre em Administração

de Empresas.

ORIENTADOR: Celso Funcia Lemme

RIO DE JANEIRO

2017

GABRIELA BRANDT RIBEIRO DE OLIVEIRA

RELATÓRIOS DE SUSTENTABILIDADE: transparência da relação entre gestão

para sustentabilidade e criação de valor

Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto

COPPEAD de Administração, da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do título de

Mestre em Administração.

Aprovada por:

__________________________________________

Celso Funcia Lemme, D.Sc., COPPEAD/UFRJ

__________________________________________

José Antônio Puppim de Oliveira, PhD, EAESP/FGV

__________________________________________

Ronaldo Goulart Bicalho, PhD, /UFRJ

Rio de Janeiro

2017

DEDICATÓRIA

A todos que acreditam em um mundo melhor.

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, que me apoiaram em todos os passos da minha vida e da minha

carreira.

Aos meus irmãos, por serem meus eternos companheiros.

Aos meus amigos queridos, que entenderam minhas ausências durante o mestrado e

até minha necessidade de dissertar na praia.

À minha turma de mestrado, por 2 anos inesquecíveis.

Ao Du, pela ajuda em exatas.

Aos amigos de San Diego, pelo fantástico semestre.

Ao Isma e ao Fede, por terem sido minha família e por me cederem a única

escrivaninha de nossa casa em San Diego.

Ao Aldo, pela admiração e pelas palavras de incentivo.

Ao Celso, por todos os ensinamentos como professor e orientador, por sempre ter

tempo para mim e por me guiar em cada frase desta dissertação com dedicação e

paciência.

RESUMO

OLIVEIRA, Gabriela Brandt Ribeiro de. Sustentabilidade como estratégia corporativa: Busca de evidências de criação e proteção de valor nos relatórios de sustentabilidade de empresas que seguem o padrão GRI. 2017. 69f. Dissertação (Mestrado em Administração) - Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017. Esta pesquisa buscou examinar se os relatórios de sustentabilidade que seguem as especificações G4 da GRI relacionam a gestão para sustentabilidade com criação e proteção de valor pelas empresas. Para tanto, foram selecionadas empresas brasileiras e estrangeiras e desenvolveu-se uma matriz de análise de dados. Em linha com estudos recentes, constatou-se que as empresas ainda não possuem os mecanismos necessários para fazer a conexão entre sustentabilidade e retorno financeiro, seja por não entenderem a necessidade da sociedade, por faltarem diretrizes claras para a confecção de relatórios, pela carência de métricas adequadas ou mesmo por ausência de pressão dos investidores. Também em consonância com outros estudos, observou-se que ainda há confusão entre filantropia e sustentabilidade, e que governo e autoridade exercem papel fundamental para que as empresas se sintam compelidas a adotarem práticas sustentáveis. Não obstante, a pesquisa apresenta destaques qualitativos e um ranking, que podem servir de inspiração para empresas que desejam melhorar seus relatórios de sustentabilidade. Por fim, ressaltou-se a importância da união de diversos atores para que as empresas sejam capazes de aprimorar seus relatórios, além da recomendação de que as informações sejam divulgadas de forma clara e concisa, para que possam ser facilmente interpretadas pelos stakeholders e para que sirvam de instrumento de gestão pela própria empresa.

Palavras-chave: Sustentabilidade Corporativa. Relatórios de Sustentabilidade. GRI.

Desempenho Financeiro.

ABSTRACT

OLIVEIRA, Gabriela Brandt Ribeiro de. Sustentabilidade como estratégia corporativa: Busca de evidências de criação e proteção de valor nos relatórios de sustentabilidade de empresas que seguem o padrão GRI. 2017. 69f. Dissertação (Mestrado em Administração) - Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.

This research examines whether recent G4 standard GRI sustainable reports relate sustainable management with corporative value creation and protection. For this purpose, Brazilian and foreign companies were selected and a data analysis matrix was developed. The results coincide with results from recent articles showing that many companies do not have proper mechanisms to connect sustainability and financial outcomes. This may happen because companies are shortsighted regarding society’s demands, due to the absence of clear reporting guidelines and inadequate metrics, and because there isn’t enough pressure from investors. In consonance with previous researches, it was noticed that companies still mistake philanthropy with sustainability, and also that assertive authorities and effective regulation are crucial for companies to adopt sustainable practices. Nonetheless, this paper features qualitative highlights and a ranking that might inspire companies to improve their future sustainable reports. Finally, it was suggested that stakeholders join forces to help companies improve their sustainable reports, to encompass clear and concise information that are easy to interpret and that can be used as management tools by the reporting company. Key-words: Corporate Sustainability. Sustainable reports. GRI. Financial Performance.

LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 1. Setor de Atuação das Empresas Internacionais Pertencentes à Amostra...........................24

Quadro 2. Setor de Atuação das Empresas Brasileiras Pertencentes à Amostra.................................26

Quadro 3. Matriz para análise de dados................................................................................................30

Tabela 1. Resultados dos critérios do Business Case.........................................................................35

Tabela 2. Resultados do quesito inovação...........................................................................................36

Tabela 3. Resultado do critério indicadores financeiros.......................................................................37

Tabela 4. Resultado do item autodescrição.........................................................................................37

Tabela 5. Resultado do item volume....................................................................................................38

Tabela 6. Resultados dos testes estatísticos de proporções para os diversos quesitos da matriz de

análise, para a amostra total e as sub-amostras de empresas brasileiras e estrangeiras....................39

Tabela 7. Menor frequência relativa para a qual a hipótese nula não foi rejeitada, para a amostra total

e as sub-amostras de empresas brasileiras e estrangeiras..................................................................39

Tabela 8. Resultados dos testes estatísticos de diferenças de proporções nos diversos quesitos da

matriz, para as sub-amostras de empresas brasileiras e estrangeiras.................................................40

Quadro 4. Destaques qualitativos..........................................................................................................41

Tabela 9. Relação das dez empresas que melhor pontuaram na soma de todos os quesitos da matriz,

com a respectiva pontuação total..........................................................................................................44

Tabela 10. Pontuações da amostra total e sub-amostras, considerando todos os quesitos da matriz.45

Tabela 12. Empresas cujos relatórios obtiveram maior pontuação e números de páginas..................46

LISTA DE ABREVIATURAS

GRI - GLOBAL REPORTING INITIATIVE

IIRC – INTERNATIONAL INTEGRATED REPORTING COUNCIL

NAB – NATIONAL AUSTRALIAN BANK

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 11

1.1 Contexto e Relevância ................................................................................................................. 11

1.2 Objetivo ................................................................................................................................. 15

1.3 Delimitação do Tema .................................................................................................................. 16

2 REVISÃO DA LITERATURA .............................................................................................................. 17

2.1 Desempenho Socioambiental e Desempenho Financeiro ......................................................... 17

2.2 Sustentabilidade como Mecanismo de Estratégia e Gestão ....................................................... 20

2.3 Global Reporting Initiative (GRI) ................................................................................................. 23

3. METODOLOGIA .............................................................................................................................. 26

3.1 Universo e Amostra ..................................................................................................................... 26

3.2 Fontes e procedimento de coleta de dados ................................................................................ 31

3.3 Procedimento de análise de dados ............................................................................................. 32

3.4 Procedimento para análise de dados .................................................................................... 36

3.5 Limitações do estudo .................................................................................................................. 38

4. RESULTADOS ................................................................................................................................. 38

4.1 Distribuições de Frequências ...................................................................................................... 38

4.1.1 Business Case ....................................................................................................................... 39

4.1.2 Inovação ............................................................................................................................... 40

4.1.3 Indicadores Financeiros ........................................................................................................ 42

4.1.4 Autodescrição ....................................................................................................................... 42

4.1.5 Volume ................................................................................................................................. 43

4.2 Testes Estatísticos de Proporções ............................................................................................... 45

4.3 Destaques Qualitativos ............................................................................................................... 48

4.4 Ranking dos melhores relatórios ................................................................................................. 51

5. CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 54

REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 57

Apêndice 1. 54 empresas internacionais pertencentes a amostra, por país. ....................................... 61

Apêndice 2. 34 empresas brasileiras pertencentes à amostra. ............................................................ 63

Apêndice 3. Ano dos relatórios analisados de cada empresa (como consta em suas capas) ............... 65

Apêndice 4 ............................................................................................................................................. 68

11

1. INTRODUÇÃO

1.1 Contexto e Relevância

Nas últimas décadas, o debate acerca da importância da sustentabilidade

corporativa tornou-se relevante tanto no meio acadêmico como no setor de negócios.

Elkington (1998) define como Tripple Bottom Line a conjunção das esferas ambiental,

social e econômica como os pilares de um empreendimento sustentável. Todavia, o

autor destaca que a conciliação do resultado econômico com as questões

socioambientais é uma meta de longo prazo, pois objetiva atender às demandas

atuais, sem comprometer as das gerações futuras.

Para Hart e Milstein (2004), não há consenso entre os executivos quanto

aos motivos e implicações de práticas sustentáveis, observando que alguns

enxergam a sustentabilidade corporativa como um custo inexorável para empresas

que buscam legitimidade para funcionar. Batra (2012) defende que seu fundamento

é a capacidade que a empresa terá de converter uma obrigação inevitável em uma

oportunidade comercial de geração de lucros.

Nesses termos, Holliday (2001) salienta que a sustentabilidade deve ser

abordada como uma maneira de se fazer negócios que gera valor econômico e

apresenta novas oportunidades, ao mesmo tempo em que melhora a qualidade de

vida do planeta e protege o meio-ambiente. Segundo o autor, isso ocorre porque a

sustentabilidade possibilita o crescimento dos negócios, por meio da identificação de

novos mercados, produtos e parcerias.

Concordando com esse raciocínio, Lubin e Esty (2008) defendem que a

sustentabilidade modifica a forma como as empresas serão capazes de competir,

traduzida em inovação tecnológica ou em novas formas de se fazer negócio. Eles

acreditam que todas as tendências globais impõem aos líderes corporativos a

inescapável necessidade da adoção de transformações estratégicas. Nidumolu,

Prahalad e Rangaswani (2009) enxergam a sustentabilidade como base da

inovação, uma vez que não a julgam como ônus para as empresas, mas como

oportunidade de redução de custos e de aumento de receita. Preconizam que

somente terão vantagem competitiva as empresas que abordarem a sustentabilidade

dessa forma, não só ao repensar produtos, tecnologias e processos, mas ao

transformar todo o modelo de negócio.

12

Para que as empresas se sintam incentivadas a adotar práticas

sustentáveis, estas devem ser vistas como fontes de valor embutidas na estratégia

empresarial como parte do modelo de negócio. Dessa forma, Nascimento, Melo e

Wanderley (2014) assinalam que ações pontuais, que não estejam relacionadas à

atividade-fim da empresa, tornam-se insignificantes. Defendem, da mesma maneira,

que investimentos isolados não são suficientes. A metanálise conduzida por esses

autores conclui que a sustentabilidade não pode ser uma prática isolada dentro da

companhia, mas uma parte vital que envolve fatores e hábitos que devem ser

entendidos e geridos para serem integrados ao planejamento estratégico

organizacional. Apontam, portanto, que as companhias devem buscar uma mudança

na cultura empresarial, de forma que a sustentabilidade seja incorporada como

estratégia, para que as iniciativas não se percam facilmente diante de uma crise ou

mudança de gestão.

Um dos motivos indicados pela publicação Rumo à Credibilidade (2010)

para a falha por parte das empresas em conectarem sustentabilidade à geração de

valor resume as ideias acima:

“As empresas tratam a sustentabilidade como uma atividade complementar,

não essencial para o seu modelo de negócios e que, portanto, não gera

valor. Algumas empresas podem estar envolvidas em atividades de

filantropia e doações sociais, sem qualquer vínculo com a natureza dos seus

negócios ou a contribuição para o desenvolvimento sustentável (positiva ou

negativa). Tais organizações deveriam reestruturar totalmente a forma de

abordar o desenvolvimento sustentável e o valor estratégico para os

negócios da empresa. Se as iniciativas de sustentabilidade não são

relevantes para o negócio, não poderão produzir valor estratégico e,

consequentemente, não terão credibilidade no longo prazo”.

Outra perspectiva é a de prevenção. Empresas podem adotar atitudes

socialmente responsáveis para evitar multas ou ações judiciais que denigram sua

imagem. Sobre esse aspecto, Alperstedt et al. (2013) mencionam a legislação

brasileira e o próprio processo de globalização que, segundo os autores, levaram as

empresas por eles analisadas a adotarem melhores práticas, o que contribuiu para

manter sua competitividade. Souza e Pimmel (2013) depararam-se com resposta

semelhante, em que a adoção de ações sustentáveis pelas empresas ainda é

incipiente, pois motivada principalmente pelo cumprimento de obrigações legais.

13

Nessa linha, o estudo de Maçaneiro et al (2015) merece destaque, pois ressalta que

as organizações analisadas consideram a legislação ambiental como condutora de

estratégias positivas de ecoinovação, traduzida em uma oportunidade (em lugar de

um custo) que incentiva as empresas a melhorarem sua competitividade e

produtividade.

Soma-se a isso a crescente importância, destacada por Lima et. al.

(2014), da transparência e da prestação de contas, que obrigam as companhias a

desenvolverem maneiras de comunicar suas melhorias aos stakeholders, inclusive

para demonstrar sua vantagem competitiva. De acordo com o CEC (2006), a

transparência melhora a eficiência do mercado, pois elimina as assimetrias entre

vendedores e potencial compradores. A publicidade dos resultados empresariais é

positiva para o desempenho de empresas e governo, ao reduzir a possibilidade de

erro da previsão de risco, geralmente ocultada pela omissão de divulgação de

informações. Dessa forma, a transparência promove a minimização de incertezas e

dos riscos estimados, o que reduz a volatilidade financeira e diminui os custos de

capital.

Conforme Martini Jr., Silva e Mattos (2014), a necessidade de transmissão

de informações a todos os envolvidos e interessados no processo produtivo fez com

que as empresas se preocupassem em coletar e medir seus investimentos

socioambientais e os rendimentos deles decorrentes. Nesse sentido, a Global

Reporting Initiative (GRI) define os relatórios de sustentabilidade como “uma

ferramenta que possibilita às organizações visualizarem seu comportamento

sustentável e analisarem riscos e oportunidades, ao mesmo tempo em que

aumentam sua transparência perante os stakeholders, pois são uma plataforma

crucial para a comunicação de desempenho sustentável e de seus impactos –

positivos e negativos”. (GRI, 2017) Por conseguinte, a publicação pode auxiliar as

companhias a aferirem, compreenderem e difundirem sua situação econômica,

ambiental, social e de governança corporativa e a definirem metas para

empreenderem mudanças mais eficientes.

A GRI é uma organização internacional independente, que busca orientar

e assessorar organizações a apresentarem o impacto de seus negócios. As

especificações da GRI para relatórios de sustentabilidade são as mais utilizadas

globalmente (em mais de 90 países), por empresas de todas as espécies, tamanhos

e setores. De acordo com a própria GRI, entre as 250 maiores companhias do

14

mundo, 93% relatam seu desempenho sustentável e, destas, 82% o fazem dentro

dos padrões estabelecidos pela GRI.

Em seu site, a Organização afirma que, com a finalidade de seguir

melhorando, as especificações da GRI têm evoluído ao longo dos anos, para se

estabelecerem como um efetivo instrumento de percepção e gestão de questões

referentes à sustentabilidade e para possibilitar a transparência acerca dos riscos e

oportunidades enfrentados pelas empresas. À época em que esta pesquisa foi

iniciada, o padrão máximo de transparência era o G4, que pode ser classificado em

“essencial” ou “abrangente”, a depender da quantidade de indicadores dos aspectos

materiais apresentados no relatório. No essencial, a companhia apresenta ao menos

um indicador para cada aspecto material. Para se adequar ao “abrangente”, a

empresa apresenta todos os indicadores dos aspectos de materialidade relatados.

Em outubro de 2016, a GRI lançou o Padrão GRI, que não foi adotado no presente

trabalho pois o prazo para as empresas se adaptarem a ele é 2018, o que mantém,

por ora, o G4 como padrão vigente.

A primeira representação nacional da GRI se instalou no Brasil em 2007.

Alojada no Instituto Ethos até 2010, atualmente o Hub Regional é hospedado pelo

IBCG – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. O objetivo da GRI ao

estabelecer um Hub Regional é aumentar a transparência das empresas e

incrementar o engajamento dos stakeholders e sua interação com a Organização.

Além disso, busca-se incentivar mais empresas a relatarem de acordo com as

normas estabelecidas pela GRI (atualmente, mais de 300 o fazem no Brasil).

Ainda consoante o site da GRI, desde novembro de 2015, a Organização

tem tomado iniciativas no sentido de lançar um novo parâmetro, denominado

“Standards”. Essa mudança, segundo a GRI, “envolve a melhoria na estrutura e no

conteúdo do G4. O propósito é facilitar o uso do GRI Standards, mantendo-o atual e

ainda mais viável como referência para relatos de iniciativas de práticas sustentáveis

globalmente. O GRI Standards incluirá os principais conceitos e mecanismos de

divulgação do G4, aperfeiçoado por uma estrutura mais flexível, requisitos mais

claros e linguagem simplificada. A transição tem como objetivo tornar os moldes da

GRI Standards mais acessíveis às organizações e aos legisladores, para encorajar

a confecção de relatórios mais consistentes e de maior qualidade, focados em

assuntos materiais”.

15

Martini Jr., Silva e Mattos (2014) destacam a possível ineficiência dos

relatórios de sustentabilidade, caso consistam em meros instrumentos de marketing

ou de defesa das empresas diante de críticas sociais, ou mesmo por sua

incompletude. Em sintonia com essa posição, Coelho, Godoi e Coelho (2015), que

estudaram o discurso sustentável em relatórios de sustentabilidade de empresas

espanholas publicados durante cinco anos, observaram que essa preleção pode ser

criticada como “propagandística, e, por vezes, falaciosa e banalizada”.

Além da iniciativa da própria GRI, cabe mencionar a posição de Lazzarotti

et al (2014), que ressaltam que as companhias têm se comprometido com a maior

eficiência da prestação de contas, transparência e boas práticas de governança

corporativa. No entanto, os estudos existentes se limitam a determinar se os

relatórios atendem aos requisitos da GRI e preenchem as demandas em sua

completude, mas não avaliam a relação de elementos dos relatórios com a

mensuração do desempenho econômico das empresas e tampouco com

mecanismos da estratégia empresarial.

É importante destacar o já mencionado trabalho vanguardista efetuado

pela SustainAbility e pela Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável

(FBDS), que efetuaram dois estudos denominados “Rumo à Credibilidade”,

publicados em 2008 (KUSZEWSKI, Judy, 2008) e em 2010 (RENAUT, Jean-Philippe

et. al., 2010). Essas pesquisas analisaram relatórios de sustentabilidade de

empresas brasileiras, com o objetivo de avaliar a qualidade dos relatórios no Brasil,

encorajar a melhoria e destacar o que as empresas internacionais podem aprender

com as brasileiras, em termos de melhores práticas e tendências globais. Os

resultados da primeira publicação sugeriram a adoção de metas e a divulgação dos

respectivos resultados; na de 2010, foi percebida a falta de vínculo da

sustentabilidade com a geração e proteção de valor, além da possível convergência

para a integração de relatórios de sustentabilidade aos financeiros.

1.2 Objetivo

O presente estudo buscou examinar se os relatórios de sustentabilidade

mais recentes relacionam a gestão para sustentabilidade com criação e proteção de

valor pelas empresas. Ou seja, buscou-se entender se os relatórios fazem a conexão

entre estratégia e gestão sustentável, o que contribui para o gerenciamento de riscos

16

e oportunidades. Para tanto, entendeu-se que o padrão G4 da GRI configura uma

base adequada para amostra de relatórios de empresas líderes em sustentabilidade.

Sob diferentes perspectivas, a pesquisa pode ser útil para a academia, comunidade

empresarial, investidores e entidades governamentais.

1.3 Delimitação do Tema

Este estudo foi realizado entre fevereiro de 2016 e fevereiro de 2017 e fez

uso apenas dos relatórios nível G4 publicados entre 2014 e 2016, com a intenção de

retratar unicamente o perfil de documentos atuais. Além disso, 2014 é o ano em que

o G4 foi criado, com prazo estipulado até 31 de dezembro de 2015 para que as

empresas passassem a relatar de acordo com esse novo sistema.

O restante deste trabalho está organizado em quatro capítulos: o segundo

capítulo discute a revisão de literatura; o terceiro trata do método de pesquisa; o

quarto analisa os resultados; por fim, o quinto expõe a conclusão e propostas para

pesquisas futuras.

17

2 REVISÃO DA LITERATURA

Este capítulo apresenta um resumo da base teórica que sustenta a

presente pesquisa. Nele procurou-se mapear o estado da arte do conhecimento para

que fosse possível: 1) identificar alguma contribuição relevante; 2) orientar o método

de pesquisa. Inicialmente, são mencionados artigos que tratam da relação entre

desempenho socioambiental e desempenho financeiro. Em seguida, a temática

abordada é a da sustentabilidade como estratégia. Por fim, são apresentados textos

que exploram especificamente relatórios do GRI.

2.1 Desempenho Socioambiental e Desempenho Financeiro

A conjugação do desempenho socioambiental ao desempenho financeiro

tem como objetivo a percepção, pela empresa, de que seus investimentos em

práticas sustentáveis são viáveis e geram retorno. Além disso, com a crescente

demanda por transparência, as empresas buscam mostrar aos stakeholders os

proventos obtidos. Não obstante, a literatura acadêmica ainda não logrou consolidar

o entendimento de que essa relação seja positiva ou negativa. Nesse sentido, Araújo,

Cohen e Silva (2014) ressaltam que apesar de a busca pela positividade dessa

relação ser tarefa árdua, e possivelmente inconclusiva, ela não deve ser

desmerecida.

Cipola, Nogueira e Ferreira (2008) apontam que nenhuma organização

consegue sobreviver comportando-se de maneira isolada e esquivando-se das

mudanças no meio corporativo e que por isso a incorporação da responsabilidade

social às práticas contábeis e financeiras das empresas tornou-se essencial. Além

desses autores, Nimudolu, Prahalad e Rangaswani (2009) assinalam que a

sustentabilidade está modificando a competitividade.

Entre os elementos motivadores das práticas sustentáveis, pode-se citar

o interesse pelo bem-estar social interna e externamente às companhias, aliado ao

respeito ao meio ambiente, simultaneamente ao propósito de constante melhoria no

desempenho nos negócios. Ashley (2002) agrega a essa perspectiva o potencial

acréscimo de valor à marca, o fortalecimento das relações comerciais e sociais da

empresa, o aumento de valor dos negócios e a consequente motivação dos

funcionários.

18

Os testes realizados por Silva et. al. (2013) revelaram que, assim como

nos bancos, a maior correlação com o aumento da receita líquida refere-se aos

indicadores sociais internos e externos. Outrossim, apesar de menor, a correlação

com indicadores ambientais também foi forte. Nesses testes, a Petrobrás costumava

apresentar incremento de seus investimentos em ações socialmente responsáveis à

medida que seu faturamento aumentava. Para averiguar a relação entre

desempenho resultante da responsabilidade social e o desempenho financeiro, os

autores compararam a receita líquida da empresa com os indicadores

socioambientais do Ibase.

Resultados interessantes foram encontrados por pesquisas que

abordaram diferentes indústrias. Palma et al (2014) evidenciam que práticas

sustentáveis contribuem substancialmente para o desempenho das exportações da

indústria de joias e pedras preciosas. O estudo de Kaveski, Martins e Hein (2014),

ao analisar os rankings de indicadores econômico-financeiros e socioambientais de

empresas distribuidoras de energia elétrica filiadas ao Operador Nacional do Sistema

Elétrico (ONS), concluiu que empresas com alto desempenho econômico-financeiro

são mais preocupadas com questões sociais e ambientais. Pletsch, Silva e Hein

(2015) encontraram evidências de que os investimentos ambientais no processo

produtivo da empresa Irani impactaram positivamente seu MVA (Valor de Mercado

Agregado) e EBTIDA (Lucros antes dos Impostos, Juros, Depreciação e

Amortizações), mesmo durante a crise financeira internacional.

Contudo, outros estudos indicam que a correlação entre desempenho

socioambiental e financeiro nem sempre é positiva. Costa Cardoso (2013) concluem

que, apesar de os investimentos sociais promoverem a criação de valor para os

bancos analisados, os investimentos ambientais acarretaram, em certa medida, sua

destruição. Vergini at. al. (2015) assinalam que o investimento social interno impacta

negativamente o desempenho econômico-financeiro das empresas pertencentes

ao Dow Jones Sustainability Index, além de apontar que os investimentos em meio

ambiente apresentaram relação expressiva somente com a rentabilidade do ativo

total (RAT).

Contrariamente, Pletsch, Silva e Hein (2013) observaram que o

desempenho econômico-financeiro das empresas influencia diretamente os

investimentos destinados ao público interno das organizações, para posterior

19

investimento em benefícios sociais externos destinados à sociedade, e que isso

provoca reciprocidade da própria sociedade.

Santana et al (2015) analisaram relatórios anuais como os de

sustentabilidade (consoante os parâmetros da GRI), formulários de referência,

estatutos sociais e demonstrações financeiras dos exercícios de 2012 e 2013 de 114

empresas não financeiras listadas na BM&F Bovespa e concluíram que há relação

direta entre transparência socioambiental e desempenho financeiro empresarial.

Em meio a esse debate, duas metanálises recentes procuraram entender

a relação entre desempenho socioambiental e desempenho financeiro. Na primeira,

Endrikat, Guenther e Hoppe (2014) investigaram 149 estudos e inferiram que a

relação de causalidade é positiva, parcialmente bidirecional e mais vigorosa quando

a estratégia sustentável da empresa é proativa ao invés de reativa. Ademais, os

autores perceberam indicações de que empresas com maior desempenho

socioambiental submetem-se a menores riscos financeiros, pois têm melhor

reputação, o que indica menor probabilidade de litígios, mais benefícios fiscais e

menor custo de capital.

Na segunda metanálise, Friede, Busch e Bassen (2015) alegam que,

diferentemente de estudos prévios, que se limitavam a analisar parte da literatura

sobre o tema, eles foram capazes de fazer uma varredura integral de todos os

estudos realizados desde 1970 que abordaram a relação entre desempenho

socioambiental e desempenho financeiro. Sua pesquisa combinou as descobertas

de 2200 estudos agregados a partir da análise de 60 trabalhos. Os autores

sustentam que existe justificativa de negócio para investimentos socioambientais, já

que 90% dos estudos analisados indicam uma relação não-negativa entre

desempenho financeiro e desempenho ambiental, enquanto a maioria encontrou

relação positiva entre os dois. Os autores destacam as oportunidades para negócios

sustentáveis na América do Norte, nos países em desenvolvimento e em categorias

de negócios que não têm ações negociáveis em bolsas de valores. Contudo, reiteram

a importância de negócios com objetivos de longo prazo para todos os investidores,

para que consigam cumprir seus deveres fiduciários e possam alinhar seus

interesses com os da sociedade.

Reunidos, os resultados das duas metanálises parecem indicar a

afinidade entre desempenho socioambiental e desempenho financeiro.

20

Cabe ainda destacar que, de acordo com Araújo, Cohen e Silva (2014),

independentemente da comprovação estatística de sua influência sobre o

desempenho financeiro, o aumento de investimentos em gestão ambiental pelas

empresas brasileiras nos últimos anos corrobora a percepção de que cresce a

importância dessas ações para o posicionamento estratégico, a reputação e o valor

de mercado das empresas. A seção seguinte apresentará trabalhos que discorrem

sobre esse tema.

2.2 Sustentabilidade como Mecanismo de Estratégia e Gestão

De acordo Lemme (2010), o conceito de sustentabilidade corporativa

considera a integração dos aspectos ambientais e sociais ao modelo de negócio da

empresa, inseridos na estratégia empresarial e na dinâmica operacional, o que

reflete em toda a cadeia de valor e em seus indicadores de desempenho. O autor

preconiza que “A integração entre desempenho corporativo e sustentabilidade

requer que esta seja vinculada ao modelo de negócios, situada na cadeia de valor,

e inserida no planejamento e na operação”.

Nesse contexto, Ribeiro e Carmo (2015) salientam que as empresas que

formalizam a sustentabilidade na missão empresarial possuem cinco vezes mais

chance de ser parte do ISE/BOVESPA do que as outras. Parisotto, Zilber e Souza

(2014) estudaram a empresa Natura e sua estratégia de inserção da sustentabilidade

no modelo de negócio e concluíram que essa medida aumentou as inovações nos

produtos da companhia, especialmente as relacionadas ao uso sustentável da

biodiversidade, o que levou à criação de uma matriz de materialidade para alinhar

as novas ações à estratégia empresarial.

Rosa et al (2014) assinalam que empresas brasileiras do setor mineral

têm investido em aspectos ambientais e na adição de tecnologias em seus produtos

e processos, visando à redução de efeitos no meio ambiente e à maior

competitividade. Segundo os autores, a escolha da melhor estratégia pela empresa

proporcionará avanços em suas práticas de gestão ambiental corporativa, reduzindo

os impactos provocados pela atividade industrial.

Uma das temáticas importantes no que diz respeito à estratégia com foco

em sustentabilidade é a perspectiva dos gestores. Apesar de a participação e

influência da gerência serem fundamentais nesse processo, diversas pesquisas

21

destacam a falta de empenho ou até mesmo de conhecimento por parte desses

profissionais nessa transformação. Brunstein e Rodrigues (2014) constataram que o

desenvolvimento dessas competências está em evolução, mas que ainda não há

clareza por parte das empresas do que seja sustentabilidade ou de que haja uma

demanda consensual, por parte da sociedade, de medidas socioambientais. Dessa

forma, os gestores se tornam competentes à medida que surgem demandas pontuais

e de pequeno alcance, o que não é suficiente. Esses autores afirmam, portanto, que

o desenvolvimento de gestores capazes é um desafio para as empresas.

Da mesma maneira, Barreto, Neto e Tanure (2013) argumentam que as

empresas não entendem o conceito de práticas globalmente responsáveis e que há

certa falta de interesse pelo assunto. Por isso, as lideranças são despreparadas para

praticar ações em contexto global, assim como para ressaltar os valores éticos de

suas ações e a decorrente valorização do ser humano, da sociedade e do meio

ambiente. Comprovando a importância do envolvimento dos gestores no processo

de desenvolvimento e aplicação de estratégias sustentáveis, o estudo de Maçaneiro

e Cunha (2015) mostra a existência de relação positiva entre apoio da alta

administração, competência tecnológica e formalização ambiental com a definição

de estratégias de ecoinovação proativas.

Entretanto, para Ribeiro, Puente-Palacios e Ferreira (2015), além da

participação da alta hierarquia das organizações, a gestão atenta à sustentabilidade

deve envolver todos os profissionais da companhia, para que haja real modificação

na mentalidade de todas as pessoas que ali trabalham. Com esse propósito, e tendo

em vista a dificuldade em se mensurar essa relação, esses autores buscaram

desenvolver uma medida que denotasse a conformidade entre as práticas

socioambientais adotadas pelas organizações e seu endosso pelos funcionários. Em

concordância, Padilha et al. (2015) observaram que mesmo com uma estrutura em

conformidade com a legislação ambiental, é necessário desenvolver mecanismos de

disseminação do conhecimento acerca de práticas sustentáveis entre gestores e

funcionários.

Na busca pela incorporação da sustentabilidade à estratégia empresarial,

Liboni e Cezarino (2014) defendem a abordagem sistêmica, a partir da percepção de

que o paradigma da sustentabilidade é complexo e envolve mudanças no sistema

de produção, nas organizações sociais e no uso de recursos naturais. Portanto, os

autores indicam a necessidade de uma modificação na maneira como as empresas

22

operam, para englobar as dimensões política, econômica, social, tecnológica e

ambiental. Ao mesmo tempo, Santos, Liboni, Pádua e Rebehy (2013) argumentam

a favor da adoção da gestão concentrada em processos (BPM, do inglês, Business

Process Management), como forma de otimização das operações para reduzir os

efeitos negativos da emissão de poluentes. Com a mesma convicção, Iratanni,

Pádua, Ottero e Jabour (2015) fizeram uma metanálise para verificar a relação, na

literatura, de Gerenciamento de Processo de Negócio (BPM) e sustentabilidade,

concluindo que há sinergia entre os dois temas. Ademais, identificaram como pontos

de integração a visibilidade ponta-a-ponta, a medição e avaliação do desempenho

sustentável e a estratégia e operacionalização dos negócios sustentáveis.

Para colocar em prática as ideias supracitadas, Epstein e Roy (2003)

sugerem que se deve estabelecer uma série de medidas para auxiliar as empresas

a entenderem seu comportamento financeiro (despesas e receitas) no que tange aos

investimentos socioambientais. Segundo eles, os gerentes precisam entender como

uma variável se conecta à outra, até que compreendam toda a formação do

demonstrativo financeiro corporativo. Nesse sentido, necessitam de métricas

concretas que permitam avaliar e monitorar os resultados parciais e totais para

cumprimento do propósito empresarial de melhorar seu desempenho, intermediário

e final, nos âmbitos social, ambiental e econômico.

Santos, Liboni, Pádua e Rebehy (2013) destacam que inovação e

estratégias de longo prazo são determinantes para a sustentabilidade empresarial.

No entanto, enfatizam que as organizações precisam de medidas de desempenho

ambiental (métricas) e sugerem que o BPM e a otimização das operações dele

resultante têm relação positiva com a inovação ambiental. Para medir o desempenho

das empresas que apresentam indicadores de diferentes iniciativas sustentáveis,

Avram e Avasilcai (2014) desenvolveram um modelo que utiliza o Balanced

Scorecard. Com ele, verificaram que a dimensão ambiental da responsabilidade

social influencia na estratégia das organizações.

Luz, Sellitto e Gomes (2006) complementam, com base em outros

autores, que existe pouca preocupação dos gestores em identificar os indicadores

mais adequados ou acurados para uma medição ideal de desempenho ambiental,

em face dos objetivos estratégicos e dos meios para alcançá-los. Essa lacuna é

ampliada devido à pouca divulgação das condições internas das organizações em

relação às suas práticas de gestão ambiental, de seus efetivos impactos no meio

23

ambiente e de suas ações para mitigá-los. Nesse contexto, a publicação de relatórios

de sustentabilidade que evidenciem essas questões tem se tornado uma importante

ferramenta da gestão ambiental, de monitoramento e de conhecimento, tanto para

as organizações como para a sociedade. Esse assunto é abordado na seção que se

segue.

2.3 Global Reporting Initiative (GRI)

A transparência socioambiental é a evidenciação das práticas e

estratégias de caráter sustentável pelas empresas. Machado et. al. (2012) alegam

que ela está diretamente relacionada com os stakeholders, pois estas passaram a

demandar a prestação de contas das empresas quanto às suas ações sustentáveis.

Assim, Fernandes (2013) defende que esse sinal gera credibilidade e possui

implicação no desempenho econômico-financeiro da empresa, bem como no seu

valor, pois reduz a assimetria informacional e os conflitos de interesses. Para Cipola,

Nogueira e Ferreira (2008), a sociedade tem exigido, de maneira crescente,

informações empresariais detalhadas sobre o relacionamento entre o meio

corporativo e os aspectos sociais e ambientais.

Gray, Owen e Adams (1996) indicam que até os acionistas minoritários

estão interessados nas prestações de contas ambientais e sociais, porque, entre

outros motivos, acreditam que as empresas devem se responsabilizar pelos

impactos provocados por sua atividade. Gray (2001) destaca que em um mundo

corporativo complexo e composto de empresas poderosas, é inevitável que grupos

na sociedade demandem uma prestação de contas que comprove que as

responsabilidades organizacionais são condizentes com o poder logrado. Reynolds

e Yuthas (2007) preconizam a existência de um contrato social entre a empresa e

os stakeholders, como se estes fossem parte integrante da empresa, podendo

postular questões relacionadas ao gerenciamento das organizações e ao processo

de comunicação. Lozano e Huisingh (2011) denotam que os relatórios de

sustentabilidade são uma evolução resultante do envolvimento das empresas com

as questões de sustentabilidade, juntamente com outras ferramentas de suporte,

como a avaliação do ciclo de vida e o sistema de gerenciamento ambiental.

Além das citadas razões, os relatórios de sustentabilidade são um

mecanismo de percepção da adição de valor resultante dos investimentos e retornos

24

auferidos pelas companhias, pois permitem sua visualização de maneira clara e

organizada. Nesse intuito, a GRI se propõe a oferecer um mecanismo de

transparência e prestação de contas aos stakeholders, por meio de um relatório que

agrega a comunicação das esferas social, ambiental e econômica das atividades

empresariais.

Apesar de sua relevância, as divulgações de práticas sustentáveis ainda

são pouco disseminadas no meio corporativo. Calixto (2013) observou que a maior

parte das empresas da América Latina não disponibilizam informações acerca de

seus impactos e de suas ações sociais e ambientais, mas constatou a diferenciação

de empresas brasileiras, que são as que mais o fazem, por meio de relatório anual

de sustentabilidade ou mesmo integrado (ao relatório financeiro).

Para Daub (2007), a GRI desenvolveu o modelo mais usado no mundo

como referência para o desenvolvimento dos procedimentos de elaboração de

Relatórios de Sustentabilidade. De acordo com o autor, a missão da GRI consiste

em: (a) fazer com que relatos de sustentabilidade corporativa tenham o mesmo nível

de qualidade e importância dos relatórios financeiros; (b) desenhar e melhorar

continuamente as diretrizes dessas publicações, refletindo três dimensões de

sustentabilidade: econômica, ambiental e social; e (c) construir uma instituição global

e permanente para administrar as diretrizes formuladas.

Entretanto, muitas vezes os relatórios são preenchidos de forma

ineficiente. Martini Jr., Silva e Mattos (2014) perceberam que todas as divulgações

feitas por empresas do setor hidroelétrico no Brasil apresentaram falhas de validação

das informações, fase prévia à elaboração da exposição escrita. Oliveira (2008)

observa que um mau relatório priva a liderança da empresa de informações

essenciais, o que se reflete na governança e no balanço patrimonial da empresa

corporação. O autor acrescenta que a responsabilidade social revela a qualidade da

governança corporativa de uma organização, pois é um instrumento de gestão

estratégica da empresa.

Críticas aos atuais parâmetros adotados pela GRI dizem respeito à

dificuldade de entendimento do modelo por parte das empresas, à ausência de

indicadores integrados e à carência de uma métrica efetiva para aferição dos

resultados. No primeiro caso, Ferreira-Quilice e Caldana (2015) sustentam que as

companhias por eles estudadas consideram o preceito da GRI complexo, ambíguo

e muito flexível, o que dificulta a uniformização e a comparação entre relatórios de

25

diferentes companhias. Por outro lado, Madalena et al. (2016) alegam que os

relatórios não promovem uma visão sistêmica, pois seus indicadores não se inter-

relacionam. Por fim, Campos, Santos e Martins (2013) defendem a necessidade de

uma métrica que permita aferir com precisão o grau de sustentabilidade das

empresas e do próprio planeta.

Corroborando o conceito da necessidade de mensuração dos efeitos de

medidas socioambientais, Lima et al. (2014) afirmam que uma série evolutiva de

indicadores de desempenho de estratégias operacionais pode endereçar a

performance sustentável de uma empresa, assim como orientá-la a alcançar melhor

desempenho por meio de metas preestabelecidas. A publicação Rumo à

Credibilidade: uma pesquisa de relatórios de sustentabilidade no Brasil (Kuszewsky,

2008) infere que “o uso de indicadores quantificáveis confere credibilidade [às

divulgações], possibilita a comparação e demonstra o comprometimento da

companhia com o desenvolvimento sustentável”.

Brunstein e Rodrigues (2014) revelam que, entre as medidas tomadas

pela educação executiva para promover a ação eficiente entre os gestores, está a

produção de relatórios de sustentabilidade, o que confirma a ideia de que esses

relatos podem ser ferramentas eficazes para a melhoria de gestão com foco em

sustentabilidade.

Santos (2008), Brito, Morganti e Brito (2009) e Hoji (2004) apud Lazzarotti

(2014) recomendam três medições do comportamento financeiro corporativo:

mercado (ex. preço por ação e EVA), crescimento (fatia do mercado e lucro líquido)

e lucratividade (ROA, ROI, ROE). Os indicadores econômicos devem ser observados

antes e depois da implantação de práticas sustentáveis e expressos numericamente.

Em resumo, relatórios de sustentabilidade são mecanismos de

transparência do comportamento sustentável das organizações. Contudo, resta

comprovar sua eficiência em retratar a dimensão da sustentabilidade dentro da

estratégia da empresa e se essa prática promove a relação entre desenvolvimento

sustentável e desempenho financeiro corporativo.

Percebe-se que as muitas facetas do tema deixam espaço para diferentes

abordagens. Ao mesmo tempo em que a relação entre sustentabilidade,

desempenho financeiro das empresas e aumento dos investimentos já foram

relativamente bem explorados, a forma como as empresas deixam transparecer suas

26

práticas a seus stakeholders, por meio de relatórios de sustentabilidade, é assunto

ainda incipiente.

Estudos sobre o tema não são recentes e muitas vezes dizem respeito a

padrões hoje pouco utilizados (ex. Puppim, 2004). Tendo em vista que diversos

trabalhos teóricos observaram que gestores ainda têm dificuldade em incorporar

sustentabilidade à estratégia das empresas, frequentemente por serem alheios às

métricas e indicadores, julgou-se necessário um trabalho que explorasse como as

empresas enxergam e relatam suas práticas sustentáveis. Buscou-se entender se

as empresas de fato percebem e apontam em seus relatórios de sustentabilidade a

relação entre criação e proteção de valor por meio de práticas sustentáveis e, se o

fazem, como transmitem essas informações a seus stakeholders.

Finalizada a exposição do referencial teórico, o capítulo seguinte discorre

sobre o método de pesquisa utilizado.

3. METODOLOGIA

Este trabalho objetivou averiguar se os relatórios de sustentabilidade de

empresas que se enquadram no perfil G4 da GRI são instrumentos eficientes de

percepção de que práticas sustentáveis devem fazer parte da estratégia empresarial

como agregadoras de valor, dentro do modelo de negócio empresarial.

Neste capítulo, apresenta-se a metodologia utilizada no trabalho, em

quatro seções: (i) universo e amostra selecionada; (ii) fontes e procedimentos de

coleta de dados; (iii) procedimento para análise de dados (matriz e respectivos

subtópicos); e iv) limitações do método.

3.1 Universo e Amostra

Este trabalho pretendeu constituir uma amostra de empresas que têm

compromisso com a sustentabilidade. O universo foi composto de todas as empresas

que confeccionam relatórios de sustentabilidade nos moldes G4 da GRI, por ser o

mais disseminado globalmente, retirados do site dessa Organização. Contudo, a

amostra selecionada se ateve às empresas que publicaram relatórios entre 2014-

2016, aliada aos parâmetros a seguir apresentados.

Inicialmente, é preciso detalhar as já mencionadas opções “essencial” e

“abrangente” do padrão G4. O foco das duas é identificar aspectos materiais, ou seja,

27

aspectos que denotem impactos ambientais, sociais e econômicos relevantes

gerados por cada empresa, ou que influenciem substancialmente as análises e as

decisões dos stakeholders. A opção “essencial” contém os elementos essenciais de

um relatório de sustentabilidade, ou seja, a empresa comunica seus impactos

econômicos, ambientais e sociais e relata sua governança corporativa, em 34 itens.

Já a “abrangente” aumenta o número de itens para 58 e a empresa também deve

relatar as estratégias e análises da organização, assim como aspectos éticos e de

integridade. Outra diferença é que na opção “essencial” a empresa só tem que

apresentar um indicador relacionado a cada aspecto material identificado, ao passo

que na “abrangente” as organizações devem mostrar todos os indicadores

relacionados àqueles aspectos (GRI, 2016). Como a própria GRI destaca, a

diferença entre cada opção nada tem a ver com a qualidade do relatório ou com o

desempenho de cada empresa, mas somente com a observância das diretrizes da

GRI por cada empresa. Portanto, esse não foi um critério de seleção.

O site da GRI contém 16.310 relatórios publicados entre os anos de 2014

e 2016, referentes a 7.989 organizações. Não obstante, tendo em vista o escopo de

analisar relatórios de empresas comprometidas com a sustentabilidade, foi aplicada

uma série de filtros que reduziram esse número consideravelmente. Procurou-se

selecionar empresas que se empenharam em relatar consistentemente, além de

serem destaque em sustentabilidade local e globalmente.

Como critérios de contemporaneidade e de continuidade, selecionaram-

se empresas que tivessem ao menos dois relatórios subsequentes publicados entre

os anos de 2014 e 2016, sendo analisado apenas o mais atual. A necessidade de

mais de um relato foi concebida para fins de comparação, consistência e

comprometimento da empresa com a prestação de informações.

Em seguida, para as empresas internacionais, foi utilizada a lista “The

Global 100”, publicação da revista Corporate Knights, que se autodenomina uma

publicação acerca de “Capitalismo Limpo”. Para as empresas nacionais, o critério

adicional foi a presença em algum índice ou ranking que indicasse o

comprometimento com a sustentabilidade.

28

1° Filtro: Determinação das empresas internacionais:

Primeiramente, foi preciso selecionar os relatórios internacionais a serem

utilizados como parâmetro de comparação com os relatórios nacionais. Para tanto,

usaram-se dois critérios: o primeiro foi a observância da lista “The Global 100” de

2015, que classifica as empresas mais sustentáveis do ano. Esse levantamento

existe desde 2005 e é apresentado anualmente no Fórum Econômico Mundial, em

Davos, na Suíça, pela revista canadense The Corporate Knights, especializada em

responsabilidade social e desenvolvimento sustentável. Os onze indicadores

considerados são energia, emissão de carbono, consumo de água, resíduos sólidos,

capacidade de inovação, pagamentos de impostos, relação entre o salário médio do

CEO e o dos trabalhadores da companhia, planos de previdência oferecidos pela

empresa, segurança no trabalho, presença feminina nos cargos de gestão e o bônus

por desempenho. Em seguida, verificou-se a disponibilidade do relatório de

sustentabilidade de cada empresa consoante a G4 da GRI, nos critérios temporais

delineados no princípio desta seção.

No segundo momento, algumas empresas que não se enquadraram na

condição mínima requerida neste estudo foram retiradas da amostra, restando 60

das empresas listadas na “The Global 100”. Como 4 destes relatórios não estavam

disponíveis para visualização no site da GRI, sobraram 58. Finalmente, como 2

dessas empresas (Natura e Banco do Brasil) também faziam parte da seleção de

companhias brasileiras, a amostra internacional restringiu-se a 54 empresas.

Para verificar se a amostra era diversificada e, portanto, representativa do

mercado, as empresas foram classificadas em setores, baseando-se na

classificação setorial da BM&F Bovespa. Segundo esse critério, para determinar o

setor em que cada empresa atua, devem-se observar os produtos e serviços que

mais contribuem para a formação das receitas das companhias. Percebeu-se que

havia concentração das empresas selecionadas nos setores de consumo não-

cíclico, bens industriais e financeiro. Contudo, a diversidade é demonstrada no

Quadro 1, com a presença de 10 setores:

29

Quadro1. Setor de Atuação das Empresas Internacionais Pertencentes à Amostra.

Empresas Quantidade Setor

BT Group, StarHub, Telenor, TELUS 4 TELECOMUNICAÇÕES

Outotec, City Developments, Daimler, Renault

4 CONSTRUÇÃO E TRANSPORTE

Accenture, Adobe Systems, Lenovo Group, EMC Corporations, Nokia

5 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

Australia & New Zealand Banking Group, Danske, DNB, ING Group, National Australia

Bank, Westpac Banking, Capitaland, Prologis, StoreBrand, Insurance Australia

Brand

10 FINANCEIRO E OUTROS

POSCO, Teck Resources, Ecolab, UPM-Kymmene

2 MATERIAIS BÁSICOS

General Mills, Kesko, Nestlé, Reckitt Benckiser Group, L’Oreal, Coca-Cola

Enterprise, Diageo, Novartis, Sanofi, Takeda Pharmaceutical, Biogen, Agilent

Technologies

12 CONSUMO NÃO CÍCLICO

Iberdrola, Enagas 2 UTILIDADE PÚBLICA

ASML Holding, Atlas Copco, Celestica, Cisco Systems, General Electric, Intel, Samsung

Eletronics, Johnson Controls

8 BENS INDUSTRIAIS

Galp Energia, Neste Oil, Statoil, Enbridge, Eni

5 PETRÓLEO, GÁS E BIOCOMBUSTÍVEL

LG Electronics, Marks & Spencer 2 CONSUMO CÍCLICO

O Apêndice 1 relaciona as 54 empresas internacionais pertencentes à

amostra, em ordem alfabética.

2° Filtro: Universo das empresas brasileiras que reportaram de acordo

com o padrão GRI.

A primeira triagem das brasileiras limitou-se aos critérios básicos deste

trabalho: averiguou-se a existência de ao menos duas divulgações sucessivas nos

padrões G4 da GRI, publicadas de 2014 em diante. Selecionaram-se 74 empresas

segundo o critério temporal, mas foram mantidas somente 63 para análise, que

atendiam ao critério de continuidade mencionado anteriormente. Ressalte-se que só

foram analisados relatórios publicados a partir de 2014; os de 2013 somente foram

considerados para discernir o comprometimento da empresa com a divulgação de

relatórios nos moldes GRI, ou seja, se ela atendeu ao critério da continuidade ao

publicar relatórios em 2013 e 2014. Contudo, como alguns relatórios não estavam

disponíveis para visualização, a amostra foi reduzida a 54 empresas.

30

3° Filtro: Adoção de um critério adicional para empresas brasileiras

Além das exigências do G4 e da consistência de divulgação, examinou-

se a presença de ao menos outra indicação de que a companhia pudesse ser

considerada referência nacional em sustentabilidade corporativa. Dessa forma,

elegeu-se como requisito complementar o envolvimento em pelo menos um dos

seguintes índices ou rankings, como indicação de que a empresa apresenta

liderança em sustentabilidade: Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bolsa de

Valores de São Paulo (ISE/BM&FBovespa), Índice Dow Jones de Sustentabilidade,

Guia Exame de Sustentabilidade, Conselho Empresarial Brasileiro para o

Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e Carbon Disclosure Project (CDP),

brevemente descritos a seguir:

ISE/BM&FBovespa: carteira que reúne máximo de 40 companhias

comprometidas com a sustentabilidade corporativa, equidade, prestação de

contas e transparência, natureza do produto e mudanças climáticas;

Índice Dow Jones de Sustentabilidade: indicador das empresas líderes em

sustentabilidade listadas na Bolsa de Valores de Nova York;

Guia Exame de Sustentabilidade: listagem das empresas brasileiras que se

destacam em sustentabilidade nos seus setores, elaborada pela maior revista

de negócios do País (Revista Exame);

CEBDS: associação civil sem fins lucrativos que agrupa 70 empresas

interessadas em promover a sustentabilidade corporativa;

CDP: Banco de dados de compartilhamento e comparação de informações

empresariais acerca de emissões de GHG, de uso de água, e de estratégias

para a gestão dos riscos de desmatamento e das mudanças climáticas dentro

da cadeia de valores.

Com isso, visou-se determinar uma amostra de empresas que, além de

relatarem seus projetos sustentáveis, atuam consistentemente em iniciativas que

buscam trazer sustentabilidade para o meio empresarial, por meio da conexão da

sustentabilidade com sua estratégia, criação e proteção de valor e, finalmente, com

o próprio modelo de negócio da companhia. Ao fim, foram eleitas 36 empresas que

atendiam ao conjunto de preceitos estabelecidos.

Para classificar as empresas em setores, foi utilizado o mesmo critério da

BM&F Bovespa. Apesar de haver uma concentração nos setores financeiro e de

31

energia, há variedade nos subsetores das empresas cujos relatórios foram

analisados. O Quadro 2 retrata a existência de 10 setores distintos entre as 36

empresas.

Quadro 2. Setor de Atuação das Empresas Brasileiras Pertencentes à Amostra.

Empresas Quantidade Setor

Algar, Telefônica 2 TELECOMUNICAÇÕES

Even, Embraer, CCR, Ecofrotas, EcoRodovias

5 CONSTRUÇÃO E TRANSPORTE

B2W, Siemens Brasil 2 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco S/A, Santander, Sul América

5 FINANCEIRO E OUTROS

Ernst & Young Brasil, Lojas Renner 2 CONSUMO CÍCLICO

Anglo-American, Fibria, Duratex 3 MATERIAIS BÁSICOS

Brasil Kirim, BRF, Bunge Alimentos, Amaggi, Unilever Brasil, Grupo Boticário, Natura

7 CONSUMO NÃO CÍCLICO

COPEL, CPFL, EDP, ELEKTRO, Light, Tractebel, Renova

7 UTILIDADE PÚBLICA

Votorantim Industrial S/A 1 BENS INDUSTRIAIS

Braskem, Petrobrás 2 PETRÓLEO, GÁS E BIOCOMBUSTÍVEL

O Apêndice 2 apresenta a amostra das 36 empresas brasileiras em

ordem alfabética.

3.2 Fontes e procedimento de coleta de dados

Todos os dados analisados nesta pesquisa foram provenientes de fontes

secundárias, quais sejam, os relatórios de sustentabilidade publicados por cada

empresa. Esses relatórios foram coletados do site da própria GRI entre abril e

setembro de 2016. Relatórios não disponíveis no site da GRI, ou que não estavam

em inglês ou em português, foram eliminados da amostra. As fontes de dados foram

os últimos relatórios publicados pelas empresas à data em que o site da GRI foi

visitado. A coleta dos relatórios analisados foi feita entre fevereiro e setembro de

2016. O Apêndice 3 contém os anos dos relatórios consultados de cada empresa,

nacional e estrangeira, em ordem alfabética.

32

3.3 Procedimento de análise de dados

A análise dos dados envolveu quatro etapas: 1) a formulação da matriz de

registro de dados; 2) distribuição de frequências; 3) inferências estatísticas; 4)

destaques qualitativos.

Para que se determinassem quais relatórios faziam conexão entre gestão

sustentável e criação ou proteção de valor pelas empresas, definiu-se uma matriz

com cinco tópicos, baseados em referências na área de sustentabilidade e finanças,

em medidas consideradas importantes para a vinculação entre sustentabilidade e

valor. Para isso, os tópicos da matriz foram: 1) Business Case, 2) Inovação; 3)

Indicadores Financeiros; 4) Autodescrição; e 5) Volume, conforme detalhados a

seguir:

1) Business Case. Para a determinação da primeira etapa, este estudo

baseou-se na proposta metodológica de Epstein e Roy (2003). Os autores salientam

a importância de monetizar os impactos sociais e ambientais das empresas. No

entanto, afirmam que as empresas tendem a quantificar somente os custos

facilmente observáveis e mensuráveis, tanto por não acreditarem nos potenciais

benefícios de investimentos sociais, como por não saberem como avaliar esses

gastos e retornos. O business case é a justificativa de negócio, que torna

interessante o investimento em iniciativas sustentáveis por gerar retorno financeiro.

Para determinar se há percepção de justificativa de negócio, os autores

estabeleceram quatro níveis de classificação de divulgação de informações

socioambientais por empresas. Quando um relatório apresenta informações

puramente qualitativas, com caráter descritivo e sem referência a dados quantitativos

ou financeiros, enquadra-se no Nível 1. Se contém informações quantitativas, mas

os números são apenas operacionais, não conectados a resultados econômicos,

enquadra-se no Nível 2. Neste nível, também entraram informações monetizadas

que não se referem à atividade-fim ou que não apresentam possibilidade de retorno

direto para a empresa, como doações e filantropia.

Informações divulgadas por empresas classificadas no Nível 3 e 4 são

atreladas a informações financeiras. No Nível 3, as informações são monetizadas,

mas apenas parcialmente conectadas ao desempenho financeiro da companhia,

refletindo os gastos (investimentos, custos e despesas) realizados nas iniciativas

sustentáveis diretamente relacionadas com a atividades-fim da empresa, mas sem

33

aferir os benefícios e resultados financeiros. No Nível 4, as divulgações os gastos ao

retorno financeiro das empresas.

Como ilustração, alguns exemplos dentro dos relatórios analisados são os

seguintes: nível 1) Menção pela Anglo-American, à página 57 do relatório, de que

realiza avaliação tri-anual de impactos ambientais por diversos comitês

responsáveis; 2) Apresentação, por grande parte das empresas analisadas, de

redução, em %, de emissão de GHG, de consumo de água etc; 3) Relato pela Copel,

à página 67 do relatório, de investimentos ambientais em 2014 no valor de R$

329.864,00; 4) Constatação pelo National Australian Bank, à página 26 do relatório,

de que investiu 22 milhões de dólares australianos em economia de energia, obtendo

como resultado a economia de 15 milhões de dólares australianos de custos com

energia em 2014. Doravante, a referência à página em que determinada informação

for encontrada em um relatório será antecedida pela abreviação “P.”.

Como a finalidade deste trabalho era perceber, por meio do relatório de

sustentabilidade, se a empresa era capaz de relacionar sua estratégia e gestão à

criação de valor, o que se averiguou foi se as empresas alcançam ao menos o Nível

3. A partir daí, a proposta dos relatórios é que elas evoluam de modo a chegar ao

Nível 4, para que possam correlacionar atividades socioambientais com

desempenho econômico-financeiro.

2) Inovação. A segunda etapa da análise foi baseada no procedimento

preconizado por Nidumolu, Prahalad e Rangaswami (2009). A ideia dos autores é a

de que existe um processo evolutivo dentro das organizações a partir do momento

em que decidem tornar-se socialmente responsáveis. O início do processo ocorre

quando a empresa transforma a conformidade com a legislação em oportunidade

para inovação. Na fase seguinte, uma empresa comprometida desenvolve a

sustentabilidade por toda a cadeia de valor compreendida em sua atividade, ou ao

menos se preocupa com seus fornecedores. Em seguida, preocupa-se com a criação

de produtos ou serviços sustentáveis. Por fim, a mudança definitiva ocorre quando

todo o seu modelo de negócio se torna sustentável, o que para os autores, não é

apenas repensar a proposta de valor e descobrir maneiras de ofertá-la ao cliente,

mas perceber novas maneiras de gerar receitas e de prestar serviços junto com

outras empresas. Com a adaptação adotada nessa pesquisa, as fases podem ser

resumidas da seguinte forma: fase 1) legislação; fase 2) cadeia de valor; fase 3)

produtos ou serviços sustentáveis; fase 4) modelo de negócio.

34

Contudo, os autores alegam que essa sequência de comportamento é

tão-somente sugestiva. Pode ocorrer, por exemplo, que uma empresa crie um

produto sustentável sem necessariamente adequar outros procedimentos internos à

legislação ambiental vigente. Apesar dessa constatação, procurou-se encontrar

empresas cujos relatórios indicassem que todo o seu modelo de negócio

incorporasse estratégias de gestão para adequação socioambiental de maneira

lucrativa.

Cabe ressaltar que este trabalho adaptou a escala de Nidumolu, Prahalad

e Rangaswami (2009), na medida em que se absteve de analisar a presença de um

quinto passo, que trata da criação de plataformas de novas práticas. Analisar se as

empresas estão adotando estratégias nesse sentido, no entanto, fugiu ao escopo do

presente trabalho, que teve por objetivo analisar apenas a habilidade de cada

empresa de relatar suas práticas sustentáveis e não indicar se estas empresas

estão, de fato, criando mecanismos que possibilitem a disseminação da

sustentabilidade futuramente.

3) Indicadores Financeiros. O terceiro passo da análise visou examinar se

o relatório de sustentabilidade da companhia apresentava métricas financeiras

conjugadas às informações de desempenho sustentável. Buscou-se observar se os

dados divulgados correlacionavam as ações sustentáveis a: a) Receita Total; b)

Resultado (lucro); e c) Investimento (CAPEX), indicadores usuais em avaliação de

empresas (KOLLER, GOEDHART e WESSELS, 2010).

4) Autodescrição. A quarta etapa objetivou averiguar como as empresas

se autodescreviam/avaliavam. Para tanto, formularam-se 3 perguntas:

1. A empresa se posiciona no setor? Nesse momento, verificou-se se no

curso do relatório a companhia contrapôs seus dados aos de seus

concorrentes setoriais;

2. A organização compara seus resultados atuais com metas traçadas?

Ao se dispor a entender, por meio dos relatórios, em que medida a

sustentabilidade está incorporada à estratégia empresarial, foi preciso

observar a fixação de metas pelas companhias e se há esforço para

que sejam atendidas;

3. O relatório traz uma série histórica dos resultados da companhia? A

resposta a essa pergunta visa verificar se a companhia acompanha

seu progresso em sustentabilidade ao longo do tempo. Para atender a

35

esse critério, a companhia deveria fazer a comparação entre, ao

menos, três anos de sua atuação.

5) Volume. A última etapa da análise disse respeito ao volume dos

relatórios, comparando o número de páginas relatadas por cada empresa. A ideia é

que os relatórios sejam eficientes dentro de um tamanho razoável de páginas,

capazes de fornecer informações de maneira concisa, clara e objetiva aos agentes

interessados em conhecer e acompanhar o comportamento sustentável daquela

empresa. As medidas utilizadas foram a média, a mediana, a moda, o desvio padrão,

máximo e mínimo de páginas dos relatórios.

Excluiu-se da análise do volume 3 relatórios que somente possuem

versão online, pela inviabilidade da contagem de suas páginas: Bunge Alimentos,

Kesko e Sul América. Além disso, o da ING foi retirado da mostra por ser considerado

discrepante, com 442 páginas. A tabela 5 contém os dados resultantes da análise

estatística do critério volume. O Quadro 3 sintetiza a matriz de análise de dados.

Quadro 3. Matriz para análise de dados.

Tópicos Critérios/Níveis SubCritérios

Qualificação das empresas

País

Setor

Nível G4 Essencial

Abrangente

Tipo do Relatório Sustentabilidade

Integrado

BUSINESS CASE

1. Informações Qualitativas -

2. Informações Quantitativas Ñão-financeiras

-

3. Informações em $ (Parcialmente Financeiras)

-

4. Conecta Sustentabilidade e Desempenho Econômico (100% Financeiro)

-

INOVAÇÃO

1. Lei e Reg. -

2. Cadeia de Valor

Toda

Só Fornecedores

3. Produtos e Serviços

4. Modelo de Negócio

INDICADORES FINANCEIROS

1. Receita Total

2. Resultado (lucro/prejuízo)

3. Investimento (CAPEX)

AUTODESCRIÇÃO

1. Se posiciona no setor?

2. Resultados X metas?

Metas

Resultados

3. Série Histórica

36

VOLUME Número de Páginas

Medidas estatísticas: Média, Mediana, DvP, Máx., Mín.

3.4 Procedimento para análise de dados

O tratamento dos dados foi desenvolvido em quatro etapas. Inicialmente,

determinou-se a frequência relativa de cada item na matriz. Foram examinados os

resultados das empresas brasileiras e estrangeiras, separadamente e em conjunto,

com o objetivo de identificar padrões e disparidades. Em seguida, com nível de

significância de 5%, foram realizados testes de hipóteses de proporções baseados

na distribuição binomial, pois para cada quesito examinado só existiam duas

possibilidades: estar ou não presente no relatório.

O primeiro grupo de testes visou examinar a significância estatística das

frequências relativas dos itens da matriz, na amostra total e nas sub-amostras,

separando-se empresas brasileiras e estrangeiras. Os valores críticos foram obtidos

diretamente da distribuição binomial e a função de probabilidade baseou-se no

modelo clássico dessa distribuição (FREUND, 2004), conforme a equação (1):

P(x) (equação 1)

Os testes foram unicaudais, considerando as seguintes hipóteses:

H0: p = 0

H1: p > 0

Para os quesitos da matriz em que houve rejeição da hipótese nula inicial,

foram feitos testes sequenciais, com as hipóteses nulas aumentando em intervalos

de 10% (ex: p = 10%, p = 20%, ..., p = 80%), até que houvesse rejeição, obtendo-se

indicação adicional da significância estatística das frequências relativas.

O segundo grupo de testes examinou a significância estatística das

diferenças de proporções dos itens da matriz entre as sub-amostras de empresas

brasileiras (p1) e estrangeiras (p2), baseando-se na aproximação da distribuição

binomial pela normal (FREUND, 2004), conforme a formulação usual das equações

(2) e (3):

37

𝑧 = 𝑥1

𝑛1−

𝑥2

𝑛2

√𝑝∗(1− 𝑝∗)(1

𝑛1+

1

𝑛2)) (equação 2)

sendo 𝑝∗ = 𝑥1+𝑥2

𝑛1+𝑛2 (equação 3)

Os testes foram bicaudais, com as seguintes hipóteses:

H0: p1 = p2

H1: p1 ≠ p2

Para maior segurança nos testes de diferenças de proporções,

considerando o tamanho das amostras e a inexistência de forma funcional

razoavelmente definida para a distribuição dos dados, eles foram repetidos

utilizando a estatística Qui-Quadrado, em sua formulação tradicional (FREUND,

2004), conforme a equação (4):

𝜒2 = ∑(o−e)2

e (equação 4)

sendo o – valores observados

e – valores esperados sob a hipótese nula

Como terceira etapa da análise, foi feita uma seleção de destaques

qualitativos, evidenciando aspectos de relatórios de diferentes empresas que

apresentaram, com boa qualidade, informações relevantes para a conexão das

iniciativas sustentáveis com criação e proteção de valor. Esses relatórios poderão

servir de exemplo para as empresas, contribuindo para o aperfeiçoamento das

atividades corporativas.

38

Finalmente, na última etapa foram destacados os dez relatórios de maior

pontuação. Para tanto, considerou-se o conjunto de quesitos da matriz, com os

seguintes critérios para atribuição dos pontos:

a) Business Case: pontuação igual ao nível da informação (ex: 2 pontos

para informação de nível 2 – “Informações Quantitativas Não-Financeiras”);

b) Inovação: pontuação idêntica ao estágio de inovação (ex: 3 pontos

para empresa que alcançou estágio 3 – “Inovação em Produtos e Serviços”);

c) Indicadores Financeiros: conferiu-se 1 ponto se a empresa menciona

investimentos, 2 para lucro e 3 se faz a relação entre os dois e apresenta a receita

total advinda de alguma prática sustentável;

d) Autodescrição: 1 ponto para cada informação fornecida.

Vale lembrar que o critério foi sempre se a empresa divulgou ou não

determinada informação e não quantas vezes apresentou determinado tipo de

informação no seu relatório.

3.5 Limitações do estudo

Como todo método de pesquisa, o adotado no presente trabalho

apresenta limitações, cabendo destacar dois pontos:

1) influência do julgamento do pesquisador no exame dos relatórios das

empresas e respectiva classificação das informações na matriz de análise;

2) fragilidade dos testes de hipóteses, tendo em vista que a amostra não

atendeu ao requisito de aleatoriedade, fazendo com que os resultados dos testes

representem sinalizações complementares que devem ser consideradas com

parcimônia.

4. RESULTADOS

4.1 Distribuições de Frequências

Para analisar as distribuições de frequências e simplificar compreensão

dos dados, foram separados os 5 parâmetros da matriz. Cabe destacar que o

método utilizado para determinar se uma empresa atendeu ou não a cada critério

39

foi que ao menos uma descrição que atendia aos requisitos aparecesse no relatório.

Essa exigência deveu-se à não uniformidade nos relatórios e porque foi entendido

que se a empresa expôs o item ao menos uma vez já seria o suficiente para que, se

adequadamente instruída, também o fizesse para outros parâmetros em seu

próximo relatório.

4.1.1 Business Case

A apresentação de informações qualitativas, primeira etapa do critério

denominado Business Case, foi observada por todas as empresas. Afinal, se não o

fosse, não seria possível caracterizar o relatório como de sustentabilidade. A

segunda etapa, a apresentação de informações quantitativas não financeiras,

também foi preenchida por todos os relatórios. Também era de se esperar que eles

alcançassem esse nível, pois a descrição de atividades e práticas sustentáveis

tende a ser apoiada por algum tipo de dado numérico.

No Nível 2 foram incluídas informações acerca de doações e

investimentos sociais. A grande quantidade de informações e de páginas utilizadas

para descrição desse tipo de gasto denota que as empresas ainda confundem

sustentabilidade e filantropia. A Brasil Kirim, por exemplo, dedica 3 páginas do seu

relatório para apresentar, brevemente, alguns projetos sociais em que está

envolvida. P. 41-43. Consoante Puppim (2004), tais investimentos devem ser

acompanhados de análise de resultados e contextualizados para que façam sentido

para os stakeholders. Outro exemplo é a Braskem, que detalha seus investimentos

socioambientais às P.140-147, mas não relata o retorno real que eles geram (apesar

da aparente relação com a atividade-fim da empresa), o que impossibilita a aferição

da real importância dos seus atos, tanto para a sociedade, como para a própria

empresa.

Em sequência, os Níveis 3 e 4 apresentaram menor adesão, assim como

discrepância entre empresas nacionais e internacionais. Constatou-se que 81% das

empresas brasileiras apresentaram dados parcialmente financeiros (nível 3), ao

passo que somente 48% das internacionais o fizeram. A maior parte das

companhias analisadas não fez conexão plena entre sustentabilidade e

desempenho financeiro (nível 4): somente 22% das brasileiras e 46% das

internacionais.

40

Como ilustração ao Nível 3, o Bradesco apresenta à P.93 seus gastos

com processos trabalhistas. Segundo Puppim (2005), é importante que empresas

também demonstrem aspectos negativos e prejuízos decorrentes da não

preocupação com a sustentabilidade (o cuidado com trabalhadores refere-se ao

aspecto social interno à empresa), para que os relatórios sirvam também como um

instrumento de autocrítica e de busca de soluções para os problemas descritos.

No nível 4, pode-se mencionar o Banco do Brasil, que apontou economia

de R$ 5.9 milhões com água, atribuída ao uso consciente e à melhoria do seu

manejo. Apesar de a empresa ainda não destacar quanto foi investido, a percepção

de que a sustentabilidade pode trazer benefícios econômicos é um avanço que pode

ensejar sua prática e possibilitar relato futuro mais detalhado.

Dessa forma, com base na escala de Epstein e Roy (2003), somente 37%

do total das empresas analisadas enxergam (ou relatam) justificativa de negócio, ou

seja, a possibilidade de retorno financeiro para seus investimentos em iniciativas

sustentáveis. A Tabela 1 apresenta os resultados das análises do critério Business

Case.

Tabela 1. Resultados do critério Business Case

BUSINESS CASE

Nível Todas % Internacionais % Brasileiras %

90 54 36

1. Informações Qualitativas 90 100% 54 100% 36 100%

2. Informações Quantitativas Não-Financeiras

90 100% 54 100% 36 100%

3. Informações em $ (Parcialmente Financeiras)

55 61% 26 48% 29 81%

4. Conecta Sustentabilidade e Desempenho Econômico (100% Financeira)

33

37% 25 46% 8 22%

4.1.2 Inovação

A menção à obediência à legislação ambiental e social (ex. trabalhista)

vigente é similar entre empresas brasileiras (86%) e estrangeiras (81%). Quanto aos

cuidados com sustentabilidade na cadeia de valor, 78% das empresas brasileiras e

83% das estrangeiras se preocupam com toda a cadeia. Para determinar se a

41

preocupação se dá por toda a cadeia, analisou-se referências à análise de ciclo de

vida, reciclagem e manuseio de resíduos, controle de origem de matéria prima, entre

outros. A maior parte das empresas brasileiras (97%) e estrangeiras (89%)

mencionam cuidados com as práticas sustentáveis de seus fornecedores.

A terceira etapa da proposta de Nidumolu, Prahalad e Rangaswami

(2009) é o desenvolvimento de produtos ou serviços sustentáveis. Para os autores,

isso indica que não somente suas práticas são sustentáveis, mas que também a

sustentabilidade foi incorporada ao âmago de sua atividade econômica. Empresas

nacionais e internacionais obtiveram resultados uniformes: ao passo que 80%

destas relataram confeccionar algum tipo de produto ou serviço sustentável, 81%

daquelas também o fizeram. Para alcançarem esse nível, foram consideradas tanto

menções a produtos mais sustentáveis (biodegradáveis, que consomem menos

energia, menos poluentes) como melhorias nas embalagens (mais leves, utilizando

menos materiais, mais informativas).

Por fim, apenas 11% dos relatórios analisados referem-se a modelos de

negócios sustentáveis, sendo 13% das empresas internacionais e somente 8% das

nacionais. Esse resultado se relaciona diretamente com o do critério anterior, pois

os relatórios demonstram que as empresas ainda focam em filantropia, o que

significa que a preocupação socioambiental não faz parte do modelo de negócio da

empresa, mas de atividades extra corporativas que não fazem parte da atividade-

fim da companhia e que, portanto, não resultam em retorno financeiro. Exemplo de

modelo negócio sustentável pode ser encontrado no relatório da Posco Energy,

especialmente à P. 19, em que a empresa aponta como a sustentabilidade está

imbuída na estratégia da empresa, salientando diversos mecanismos para melhorar

a administração para sustentabilidade e internalizar seus preceitos.

Esses resultados podem ser observados na Tabela 2.

Tabela 2. Resultados do critério inovação. INOVAÇÃO

Nível Subnível Todas % Internacionais % Brasileiras %

90 54 36

1. Lei e Regulação

75 83% 44 81% 31 86%

2. Cadeia de valor

Toda 73 81% 45 83% 28 78%

Só Fornecedores 83 92% 48 89% 35 97%

42

3. Produtos e Serviços

72 80% 43 80% 29 81%

4. Modelo de Negócio

10 11% 7 13% 3 8%

4.1.3 Indicadores Financeiros

Este item se relaciona diretamente ao 4.1.1, mas detalha a forma como

as empresas enxergam a relação entre investimento em práticas sustentáveis, lucro

e receita. Do total de empresas pesquisadas, 60% relataram investimento em

atividades sustentáveis, ao passo que somente 36% apontaram lucro advindo de

tais atividades e 18% apresentaram relação entre investimento e lucro, o que foi

denominado de “Receita (lucro/prejuízo)”. Entre as empresas brasileiras, 75%

relataram investimento em atividades sustentáveis, ao passo que somente 22%

lucro e 14% receita advindos dessas atividades; já nas internacionais, somente 50%

relataram investimento, 44% lucro e 20% receita.

A tabela 3 apresenta a quantidade de empresas da amostra total que

relatou cada nível e as mesmas informações para as sub-amostras de empresas

brasileiras e internacionais:

Tabela 3. Resultado do critério “indicadores financeiros”.

INDICADORES FINANCEIROS

Nível Todas % Internacionais % Brasileiras %

90 54 36

1. Receita Total 16 18% 11 20% 5 14%

2. Resultado (lucro/prejuízo) 32 36% 24 44% 8 22%

3. Invest. (CAPEX) 54 60% 27 50% 27 75%

Fonte: matriz de análise de dados desenvolvida pela autora.

4.1.4 Autodescrição

Estes critérios foram analisados para se verificar como a empresa planeja

e percebe suas iniciativas sustentáveis. Com resultados similares, 28% das

empresas nacionais e 24% das internacionais comparam suas iniciativas

sustentáveis com as do setor. A Daimler, à P. 67, compara os salários de seus

funcionários com os salários típicos da indústria automotiva. No que diz respeito a

43

metas e resultados, empresas internacionais apresentam mais metas e resultados

que as nacionais, 83% e 63% daquelas contra 58% e 53% destas. Quanto às séries

históricas, apresentam resultados semelhantes: 89% das empresas nacionais e

93% das internacionais reportam a evolução de suas práticas sustentáveis ao longo

do tempo.

Os resultados do critério “autodescrição” estão presentes na Tabela 4.

Tabela 4. Resultado do critério “autodescrição”.

AUTODESCRIÇÃO

Nível Subnível Todas % Internacionais % Brasileiras %

1. Se posiciona no setor?

23 26% 13 24% 10 28%

2. Resultados X metas?

Metas 66 73% 45 83% 21 58%

Resultados 53 59% 34 63% 19 53%

3. Série Histórica 82 91% 50 93% 32 89%

4.1.5 Volume

Por fim, foram extraídos alguns resultados estatísticos do número de páginas

dos relatórios, com o objetivo de compreender se há um padrão e se há relação

entre a qualidade dos relatórios e seu volume.

Tabela 5. Resultado do critério volume.

Estatísticas Abrangência Nº de páginas

Média

Internacionais 107,4

Brasil 104,4

Total 106,2

Mínimo

Internacionais 8

Brasil 20

Total 8

Máximo

Internacionais 266

Brasil 244

Total 266

Desvio-padrão

Internacionais 53,1

Brasil 39,7

Total 47,5

Mediana Internacionais 92

Brasil 91,5

44

Total 95

As médias de páginas dos relatórios brasileiros e estrangeiros são muito

similares, aproximadamente 106 páginas, mas o desvio padrão das 2 sub-amostras

é muito alto, pois a diferença entre os totais do mínimo (8) e máximo (266) de

páginas é muito elevado.

Inicialmente tido como um critério de análise adicional, o Volume adquiriu

importância ao notar-se que essa média de número de páginas é muito alta se

comparada, por exemplo, com relatórios financeiros anuais. Além disso, observou-

se que muitos relatórios preenchem páginas inteiras com imagens e fotografias e se

valem de muitas informações qualitativas, ao invés de reportarem mais dados

quantitativos e objetivos.

Os resultados da matriz de análise de dados retratam que, apesar de os

relatórios apresentarem informações qualitativas relevantes, eles ainda não

alcançaram o patamar essencial para investidores e executivos, que é o de

relacionar investimentos sustentáveis com retornos financeiros. Isso pode ser

observado nos critérios “business case” e “indicadores financeiros”.

Outro aspecto que as empresas podem levar em consideração para

aferirem seu impacto ambiental é relatar a proporção entre seu crescimento e

aumento de suas atividades. Se a empresas cresceu mais que seu impacto, isso é

um bom sinal, pois demonstra que esse crescimento já se alinha com a ideia de

diminuição de impacto ambiental provocado por corporações. Ex. O Itaú estabeleceu

metas sustentáveis mesmo com previsão de crescimento em TI. (P. A175).

No critério “inovação”, apesar de a maioria das empresas relatarem

adesão à legislação vigente, preocupação com a sustentabilidade não só de seus

fornecedores, mas de toda a cadeia de valor, além do desenvolvimento de produtos

sustentáveis, poucas demonstram em seus relatórios que seus modelos de

negócios são sustentáveis. Isso pode dever-se a práticas sustentáveis isoladas, já

que bastava um indicador para que a empresa atingisse determinado nível ou que

a transformação para que a sustentabilidade faça parte da estratégia da empresa

ainda não se concretizou.

O relato de investimento trata-se de obediência ao parâmetro do G4

EN31 da GRI, que demanda o relato de investimento em práticas ambientais. Ainda

assim, metade das empresas internacionais não o fazem, o que evidencia que essas

45

empresas ainda não estão preparadas para descriminarem investimentos em

práticas sustentáveis ou não enxergam relevância de tal informação em um relatório

de sustentabilidade.

Além disso, empresas que relatam algum investimento, lucro ou receita

muitas vezes não fazem conexão entre eles, seja por somente relatarem um ou

outro, seja por não considerarem que aquele resultado é um retorno sobre um

investimento (ROI). Ex. A Petrobrás, à P.57 relata economia de energia, sem dizer

quanto gastou para obter tal resultado, mas em diferentes momentos do relatório

relata outros investimentos, sem apresentar as economias ou lucros atribuíveis a

eles.

O fato de a maior parte das empresas apresentarem uma série histórica,

comparando seu desempenho ao menos com o ano anterior também é positivo. Mas

seria mais eficiente se elas pudessem relacionar essa evolução com metas

estabelecidas e resultados alcançados ao longo dos anos, para perceberem se seus

propósitos são atingíveis e quais mecanismos são mais eficazes.

Uma empresa que busca ser sustentável deve estabelecer metas,

computar resultados e observar sua evolução ao longo dos anos (série histórica),

para aferir se suas práticas têm gerado resultados positivos. A diferença entre

empresas nacionais e estrangeiras pode dever-se à uma adaptação mais

desordenada daquelas, sem que a mentalidade sustentável tenha sido totalmente

incorporada à estratégia corporativa. Além disso, a baixa comparação de ambas as

categorias com outras empresas do setor pode indicar que as empresas ainda não

percebem a sustentabilidade como um diferencial de competitividade.

4.2 Testes Estatísticos de Proporções

Como procedimento complementar às distribuições de frequências, foram

realizados testes estatísticos de proporções, cujos resultados estão resumidos na

Tabela 6:

Tabela 6. Resultados dos testes estatísticos de proporções para os diversos quesitos da matriz de análise, para a amostra total e as sub-amostras de empresas brasileiras e estrangeiras.

Critério Amostra Total Brasileiras Estrangeiras

1) Business Case

*Nível 1 Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0

*Nível 2 Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0

*Nível 3 Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0

*Nivel 4 Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0

46

2) Inovação

*Estágio 1 Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0

*Estágio 2 Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0

*Estágio 3 Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0

*Estágio 4 Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0

3) Indicadores Financeiros

*Receita total Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0

*Lucro líquido Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0

*Investimento (CAPEX)

Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0

4) Autodescrição

*Setor Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0

*Metas Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0

*Resultados x metas Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0

*Série histórica Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0

Devido à esperada rejeição da hipótese nula inicial, em função dos

patamares das frequências relativas observadas, a Tabela 7 apresenta a menor

frequência para a qual a hipótese nula não foi rejeitada, para a amostra total e as

sub-amostras.

Tabela 7. Menor frequência relativa para a qual a hipótese nula não foi rejeitada, para a amostra total e as sub-amostras de empresas brasileiras e estrangeiras.

Critério Amostra Total Brasileiras Estrangeiras

1) Business Case

*Nível 1 ----- ----- -----

*Nível 2 ----- ----- -----

*Nível 3 70% 60% 60%

*Nivel 4 10% 10% 20%

2) Inovação

*Estágio 1 80% 70% 70%

*Estágio 2 70% 60% 70%

*Estágio 3 70% 60% 70%

*Estágio 4 20% 10% 20%

3) Indicadores Financeiros

*Receita total 20% 10% 10%

*Lucro líquido 30% 20% 40%

*Investimento (CAPEX) 50% 60% 40%

4) Autodescrição

*Setor 20% 20% 20%

*Metas 70% 50% 80%

*Resultados x metas 60% 50% 60%

*Série histórica 80% 70% 80%

47

As semelhanças observadas entre os patamares mínimos de não-rejeição

das empresas brasileiras e estrangeiras reforçaram o interesse pelos resultados dos

testes de diferenças de proporções, sintetizados na Tabela 8 e efetuados com as

duas abordagens mencionadas no capítulo 3: aproximação pela distribuição normal

(estatística Z) e estatística Qui-Quadrado.

Tabela 8. Resultados dos testes estatísticos de diferenças de proporções nos diversos quesitos da matriz, para as sub-amostras de empresas brasileiras e estrangeiras.

Ressalvada a fragilidade dos testes, esse conjunto de resultados sugere

que as empresas brasileiras líderes em sustentabilidade têm relatos de

sustentabilidade próximos dos padrões das empresas internacionais, embora ainda

um pouco defasadas. Adicionalmente, esses resultados destacam que tanto

empresas brasileiras como internacionais ainda estão distantes do desejável em

relação a quatro aspectos importantes:

a) adoção de novos modelos de negócios que incorporem as inovações sustentáveis;

b) integração das iniciativas sustentáveis com o desempenho financeiro corporativo;

c) associação das iniciativas sustentáveis com indicadores financeiros familiares a

investidores e analistas de negócios;

d) posicionamento setorial do seu desempenho na gestão para a sustentabilidade.

Critério Resultado

1) Business Case

*Nível 1 Não rejeitar H0

*Nível 2 Não rejeitar H0

*Nível 3 Não rejeitar H0

*Nivel 4 Não rejeitar H0

2) Inovação

*Estágio 1 Não rejeitar H0

*Estágio 2 Não rejeitar H0

*Estágio 3 Não rejeitar H0

*Estágio 4 Não rejeitar H0

3) Indicadores Financeiros

*Receita total Não rejeitar H0

*Lucro líquido Rejeitar H0

*Investimento (CAPEX) Não rejeitar H0

4) Autodescrição

*Setor Não rejeitar H0

*Metas Rejeitar H0

*Resultados x metas Não rejeitar H0

*Série histórica Não rejeitar H0

48

4.3 Destaques Qualitativos

Esta seção foi incorporada ao estudo para destacar relatórios que

apresentaram de forma relevante e clara informações acerca da conexão entre

sustentabilidade e o desempenho econômico corporativo. A ideia é que esses

exemplos possam inspirar outras empresas a fazê-lo, ou ainda servir de base para

aquelas que não sabem como abordar ou mesmo apresentar tais informações.

Dos 90 relatórios analisados, apenas 16 fizeram conexão entre

investimento e retorno e pontuaram no nível “receita total”. Mesmo que a palavra

receita não tenha sido mencionada em todos esses relatórios, esse nível foi

alcançado pelas empresas que fizeram conexão entre investimento e resultado

dentro de um mesmo projeto sustentável (Tabela 6). O dobro delas, 32, logrou

informar lucro aferido de investimentos, apesar de a metade delas ter se furtado de

conectar o lucro a alguma forma de investimento.

O Quadro 4 apresenta uma seleção de 10 empresas que apresentaram

de forma satisfatória a percepção entre sustentabilidade e a geração e proteção de

valor.

Quadro 4. Destaques qualitativos

Empresa País Citação

Accenture Estados Unidos Descreve o estímulo a que seus funcionários pensassem

criativamente para diminuir emissões de viagens (aéreas ou terrestres). Em

4 anos, os resultados dessas 6 semanas por ano geraram economia

de voos em $9M.* P.34

Agilent Estados Unidos Mostra tabela com investimento ambiental por região, economia anual em $ e respectiva redução de kWh. P.37

Braskem Brasil Demonstra investimentos ambientais e retorno, em termos de custos evitados e economias. P.112-116. Projetos/investimentos (segurança no trabalho, meio ambiente, saúde e redução de emissão de GHG), expectativas e reduções de custos em gráfico e tabela. P.100-101.

Cisco Estados Unidos Apresenta GerenalOps, um programa de redução de consumo de energia no qual investirá $57M. Estima retorno simples em 4 anos e VPL de $69M. P. E9.

49

Intel Estados Unidos Em 2014, vinculou parte dos bônus dos funcionários a programas de eficiência energética, e alocaram $30M a esses programas. Apontam investimento de $118M em eficiência energética desde 2008 e economia acumulada de $249M até o final de 2014. Apresentam tabela com economia de energia e respectivos custos, 2010-2014. P.52,44.

Itaú Brasil Conta que em 2013, a redução do uso de energia em seus edifícios gerou economia de R$2.3M. Impressionados com o resultado, investiram R$4.1M em 2014 em projetos para modernizar equipamentos e para instalação de novas tecnologias. Apresenta tabela com iniciativa, economia me MhW e em R$, de 2M já no primeiro ano. P. A172-176

National Australian Bank Australia Aponta investimento de 22M (AUS$) em economia de energia na Australia desde 2006. Somente em 2014, economizou 15M com custo de energia e deixou de emitir 81Kton GHG. P.26

Novartis Suíça Expõe que investiu $25M no último ano em economia de energia, com expectativa de retorno em 2 a 3 anos. Desde 2008, criou projeto para incentivar economia de energia, que totalizou em economia de $70M entre 2008-2015. P.54

Statoil Noruega Informa que decidiu aplicar um custo adicional de $65 para cada tonelada de CO2 equivalente em decisões de investimentos em óleo e gás dentro da Noruega. Fora, o custo adicional que calculam é de $50. P. 11

Takeda Japão Apresenta tabela com investimentos e gastos ambientais entre 2014-2015, totalizando ¥4370, com economia de ¥290M.

*Apesar de não haver referência ao investimento, estima-se que tal medida tenha custo baixo.

Algumas empresas apresentam investimentos e resultados, mas

referentes a projetos distintos, a exemplo BT Group, ao apontar um investimento de

£16M em economia de energia e relatar economia de £17K em combustível, por

utilizar carros elétricos em 2014. P.47. Ou seja, apesar de a companhia mencionar

investimentos e economias, não relaciona um gasto a uma aferição de valor.

50

O relatório da General Mills merece menção, pois aponta o quanto espera

economizar e aumentar em vendas por meio de suas iniciativas sustentáveis, o que

demonstra que seu relatório sustentável pode estar servindo como instrumento de

cálculo e visualização de geração de valor por meio da sustentabilidade.

Ao se destacar as empresas que mostraram de forma satisfatória alguma

forma de receita, ou seja, uma demonstração quantitativa de que foi feito um

investimento e seu respectivo retorno, foi percebido que alguns relatórios, mesmo

não contendo informações totalmente financeiras, apresentam suas informações

acerca de práticas sustentáveis de maneira precisa, detalhada e organizada.

Como o objetivo desta pesquisa refere-se essencialmente ao conteúdo

dos relatórios e à forma como essas informações são apresentadas ao leitor julgou-

se interessante destacar alguns relatórios que o fizeram de maneira mais acessível

e completa.

Das empresas cujos relatórios contém destaques qualitativos Intel,

Takeda, Braskem, Itaú e Statoil, além de fazerem conexão entre sustentabilidade e

geração de valor, apresentam bons relatórios, com ênfase em informações

relevantes, uso de ferramentas visuais, como gráficos e tabelas. Entre essas,

destaca-se Itaú, cujo relatório possui menos de 41 páginas, ou seja, é conciso. Além

dessas, também apresentam relatórios adequados a já mencionada General Mills,

além das Neste Oil, Duratex, Petrobrás, Santander e Telefônica.

A importância de destacar empresas que logram apresentar informações

relevantes de maneira concisa se contrapõe à ideia de algumas companhias que

apontam que valores referentes a investimentos e resultados ambientais somente

podem ser encontrados em seus relatórios financeiros. Além de impor um esforço

adicional à parte interessada, que terá que recorrer a diversas fontes para obter

determinado dado, essa atitude transforma o relatório de sustentabilidade em um

relatório apenas socioambiental, pois o priva da sua premissa econômica.

Por fim, a relevância da citação do trecho do relatório da Statoil é sua

coerência com o postulado de Elkington (1998), de que as empresas devem

responsabilizar-se por suas externalidades e embutir o custo ambiental ao calcular

seus balanços. No caso apresentado, a Statoil incorporou custos aos seus produtos

referentes a multas ambientais, o que também ressalta a importância das

autoridades em aplicarem leis e sanções, monetizando as externalidades.

51

4.4 Ranking dos melhores relatórios

Ainda que a pesquisa não tivesse como objetivo principal classificar os

relatórios das empresas, pode ser útil identificar um conjunto de relatórios que se

destacaram na amostra total pelo critério de associação com criação e proteção de

valor. A identificação de benchmarks tem papel importante no aperfeiçoamento das

práticas de transparência e prestação de contas, que contribui para uma gestão mais

sustentável e para decisões de alocação de recursos mais eficazes por parte dos

investidores, além de auxiliar políticas públicas voltadas para o desenvolvimento

sustentável. A maior pontuação que poderia ser alcançada pelas empresas

corresponde a 30 pontos. A Tabela 9 relaciona as dez empresas cujos relatórios

mais se destacaram, com as respectivas pontuações:

Tabela 9. Relação das dez empresas cujos relatórios melhor pontuaram na soma de todos os

quesitos da matriz, com a respectiva pontuação total.

Empresa País Setor Pontuação

1ª General Mills EUA Materiais básicos 30

2ª Cisco Posco

EUA Coreia

Bens Industriais Utilidade Pública

29

3ª City Developments Singapura Construção e Transporte 27

ASML Telefônica Braskem

Holanda Brasil Brasil

Bens Industriais Telecomunicações Petróleo, Gás e Biocombustíveis

26

5ª Neste Oil Intel Takeda

Finlândia EUA Japão

Petróleo, Gás e Biocombustíveis Bens Industriais Consumo não-cíclico

25

Percebe-se que não houve um destaque setorial, mas que os Estados

Unidos têm forte representação no ranking, ao originar 30% das empresas nele

constantes, seguido pelo Brasil, com 20%. Também é interessante notar que setores

como petróleo, gás e biocombustíveis e bens industriais têm importante presença

nesse ranking, o que pode denotar crescente preocupação desses setores com seus

impactos ambientais e seus resultados nas finanças empresariais.

Além disso, das 10 empresas, 4 não definiram os tipos de seus relatórios,

4 o classificaram como essencial e 2 como abrangente, o que corrobora a declaração

da GRI de que o tipo de relatório não tem relação com a qualidade do que é relatado

(GRI, 2016).

O posicionamento dessas empresas fica mais evidente quando

confrontamos suas pontuações com as da amostra total e sub-amostras,

consolidadas na Tabela 10.

52

Tabela 10. Pontuações da amostra total e sub-amostras, considerando todos os quesitos da matriz.

Média Desvio-padrão Mediana Mínimo Máximo

Total 16,1 4,5 16 4 30

Brasileiras 15,6 3,9 16 5 26

Estrangeiras 16,4 4,9 16 4 30

Observa-se que a pontuação das empresas brasileiras e internacionais é

bastante similar. Apesar disso, o valor máximo das estrangeiras supera o das

brasileiras, o que também aparece nos resultados dos testes estatísticos de

proporções, apresentados na seção 4.2.

Um confronto interessante pode ser feito entre as pontuações e o tamanho

dos relatórios, em busca de alguma associação entre quantidade de páginas e

qualidade da informação. A Tabela 11 resume o porte dos relatórios examinados.

O relatório com menos pontos foi o da Insurance Australia Group (IAG),

que marcou 4 pontos e cujo relatório tem 24 páginas. O menor relatório, o da Adobe,

com 8 páginas, pontuou 8. A ING, cujo relatório foi considerado discrepante, com

442 páginas e, portanto, retirado da análise estatística de volume (item 5), obteve 16

pontos, e a Iberdrola, cujo relatório de 266 páginas foi considerado o maior para

efeitos dos cálculos estatísticos referentes a volume, alcançou 15. Ou seja, tanto

relatórios pequenos como grandes demais ficaram abaixo da média.

Apesar de parecer que relatórios com poucas páginas podem ser menos

eficientes, há exemplos como os do Itaú e do National Australian Bank (NAB), ambos

com 41 páginas, que pontuaram 21 e 24, respectivamente. A tabela 11 demonstra

os relatórios com maior pontuação e o número de páginas de cada um.

Tabela 11. Empresas cujos relatórios obtiveram maior pontuação e números de páginas.

Empresa Número de páginas

1ª General Mills 126

2ª Cisco Posco

162 72

3ª City Developments 104

ASML Telefônica Braskem

78 87 204

5ª Neste Oil Intel Takeda

103 116 91

Dos 10, somente 3 superam a média de páginas, enquanto 4 deles ficam

abaixo da mediana. A partir desse resultado, pode-se imaginar que as companhias

53

não devem apresentar relatórios curtos demais, para não correrem o risco de

omitirem dados importantes, mas tampouco devem exagerar, para que o relatório

não fique muito prolixo e perca seu foco ou ainda a atenção da parte interessada.

O Apêndice 4 relaciona todas as empresas analisadas com a pontuação

obtida e respectivos números de páginas, em ordem alfabética.

O Gráfico 1 relaciona as notas do ranking (eixo vertical) com os números

de páginas (eixo horizontal), ilustrando a fraca associação entre as duas variáveis.

Como mencionado, o relatório da ING foi discrepante, com 442 páginas.

Gráfico 1. Gráfico da relação entre a pontuação no ranking e o número de páginas.

0

5

10

15

20

25

30

35

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500

Ranking e Número de Páginas

54

5. CONCLUSÃO

Esta pesquisa buscou examinar se os relatórios de sustentabilidade mais

recentes relacionam a gestão para sustentabilidade com criação e proteção de valor

pelas empresas, contribuindo para o gerenciamento de riscos e oportunidades

empresariais. Por sua ampla utilização, percebeu-se que padrão G4 da GRI como

uma base adequada para amostra de relatórios de empresas líderes em

sustentabilidade. Sob diferentes perspectivas, a pesquisa pode ser útil para a

academia, comunidade empresarial, investidores e entidades governamentais.

O fato de poucas empresas terem alcançado os níveis 3 e 4 do critério

“business case” corrobora a percepção de Epstein e Roy (2003), Santos, Liboni,

Pádua e Rebehy (2013) e Campos, Santos e Martins (2013) acerca da necessidade

de métricas para que as empresas consigam compreender, avaliar e monitorar seu

comportamento financeiro com relação às iniciativas sustentáveis. Para evoluir do

nível 2, fortemente presente nos relatórios, para o 3 ou 4, basta que as empresas

atribuam custos e preços aos indicadores de nível 2. Para tanto, o GRI pode criar

direções mais precisas, possivelmente com auxílio de investidores e executivos que

apontem o que é mais relevante para eles, tanto com relação ao tipo como ao

formato dessas informações.

Quase todas as empresas informam cumprir a legislação para suas

práticas sustentáveis. Isso vai ao encontro das pesquisas de Alperstedt et al. (2013),

Souza e Pimmel (2013) e Maçaneiro (2015), que preconizam que a legislação é o

primeiro passo para as empresas se tornarem mais sustentáveis. Dessa forma,

percebe-se o importante papel dos legisladores e formuladores de políticas públicas

na confecção e imposição de políticas, regulamentos e leis que atendam aos

preceitos sustentáveis. Outro exemplo é que quase todas as empresas apontam

práticas socioambientais ao longo de toda a cadeia de valor, possível reflexo de

políticas de reciclagem e de destinação de resíduos.

As empresas brasileiras de primeira linha se mostraram próximas das

internacionais em relação às práticas sustentáveis, contudo os dois grupos ainda

precisam avançar na concepção e implantação de modelos de negócios mais

sustentáveis, desenvolvendo métricas, relatando a integração entre sustentabilidade

e desempenho financeiro corporativo e se posicionando em relação ao seu setor, em

busca de maior competitividade.

55

Espera-se que a transição para modelos de negócios mais sustentáveis

ocorra a partir da maior percepção do relacionamento entre investimentos em

iniciativas sustentáveis e retorno financeiro. Isso pode se tornar um elemento de

competitividade em cada setor, ratificando a análise de Endrikat, Guenther e Hoppe

(2014) de que empresas com melhor desempenho socioambiental apresentam

melhor reputação e menores riscos financeiros, o que significa menor probabilidade

de litígios, mais benefícios fiscais e menor custo de capital.

No que toca ao formato dos relatórios, apesar dos requisitos da G4 da

GRI não há uniformização na maneira como as empresas relatam. As empresas

devem se concentrar no essencial, pois apesar de o relato de histórias e uso de

imagens parecerem atraentes, o uso demasiado desses artifícios leva à perda de

objetividade. Ficou evidente a possibilidade de fazer um relatório bastante

informativo e claro sem se estender demasiado.

O enquadramento de gastos com filantropia no nível 2 do “business case”

se alinha com os resultados de Nascimento, Melo e Wanderley (2014), para os quais

ações que não se relacionem com a atividade-fim da empresa, não têm muita

relevância. A ênfase nesse tipo de informação pode ser um indicativo de que as

companhias ainda não têm uma visão clara de estratégia sustentável e da finalidade

dos relatos de sustentabilidade. Essa conclusão vai ao encontro dos resultados de

Brunstein e Rodrigues (2014), Barreto, Neto e Tanure (2013) e Luz, Sellitto e Gomes

(2006) no sentido da falta de clareza dos relatórios, pouco interesse por parte das

empresas e demanda limitada por parte da sociedade.

Um possível plano de ação conjunta pode envolver a GRI, que padece da

falta de diretrizes mais claras; investidores e executivos, que necessitam demandar

a publicação de informações que lhes pareçam relevantes; e a academia, que deve

aproximar os campos de sustentabilidade e finanças por meio do desenvolvimento

de linhas de pesquisas multidisciplinares.

Importante mencionar que o IIRC (International Integrated Reporting

Council) e o novo padrão GRI podem contribuir para a melhoria dos relatos de

sustentabilidade, cabendo, no entanto, registrar a preocupação com o fato de o novo

padrão ter desobrigado as empresas a relatarem seus investimentos. O atual

indicador G4 EN31 tornou-se apenas orientação, o que tende a desmotivar a

exposição dos investimentos, informação fundamental para a conexão entre

sustentabilidade e geração de valor.

56

A análise dos relatórios tornou claro que as empresas ainda não divulgam

de forma clara a relação entre suas práticas sustentáveis e algum retorno financeiro.

O escopo deste trabalho não foi entender se essa relação existe, mas sim se as

empresas são capazes de fazer essa conexão e torná-la transparente, de maneira

objetiva, a seus stakeholders. Talvez por dissociarem este tema de uma análise

financeira, as empresas ainda não se sintam confortáveis em utilizar indicadores

financeiros.

A pesquisa iniciou-se com a ideia de que haveria benchmarks

internacionais, mas os resultados demonstraram que empresas brasileiras e

estrangeiras relatam de maneira similar. Os dois aspectos que chamaram atenção

foram que uma proporção maior de empresas brasileiras apresentou informações

parcialmente financeiras (elas apresentam seus investimentos, o que é requisito do

G4 GRI, no EN 34), e que mais empresas estrangeiras mostraram seu lucro líquido

(ou seja, têm a percepção de que ser sustentável gera algum tipo de retorno) e metas

para se tornarem mais sustentáveis. Talvez, justamente essa visualização do lucro

faça com que essas empresas estabeleçam metas.

Seria interessante uma pesquisa exploratória para aprofundar: a) a

percepção da relação entre as empresas, sustentabilidade e seus resultados; b) a

compreensão dos motivos que levam as empresas a publicarem relatórios de

sustentabilidade; c) o entendimento sobre a expectativa em relação a esses

relatórios e, ainda, para entender porque empresas nacionais e estrangeiras diferem

com relação a esses assuntos.

Além disso, pesquisas futuras podem ser orientadas para estudos de

casos setoriais de sucesso na integração de modelos de negócios sustentáveis com

geração de valor e liderança empresarial. Outro caminho importante seria o

aperfeiçoamento de indicadores de desempenho socioambiental que pudessem ser

aplicados a diferentes setores, facilitando a associação com os indicadores de

desempenho financeiro corporativo, já mais bem estabelecidos na literatura

acadêmica e na prática empresarial.

57

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61

Apêndice 1. 54 empresas internacionais pertencentes a amostra, por país.

EMPRESAS PAÍS

1 Accenture Estados Unidos

2 Adobe Estados Unidos

3 Agilent Estados Unidos

4 ASML Holanda

5 Atlas Copco Inglaterra

6 Biogen Estados Unidos

7 BT Group Singapura

8 Capitaland Singapura

9 Celestica Canadá

10 Cisco Estados Unidos

11 City Developments (CDL) Singapura

12 Coca-Cola Enterprise Estados Unidos

13 Daimler Alemanha

14 Danske Bank Group Reino Unido

15 Diageo Reino Unido

16 DNB Noruega

17 Ecolab Suiça

18 Enagas Espanha

19 Enbridge Canadá

20 Eni Itália

21 Galp Energia Portugal

22 General Electrics Estados Unidos

23 General Mills Estados Unidos

24 Iberdrola Espanha

25 ING Holanda

26 Insurance Australia Group (IAG)

Austrália

27 Intel Estados Unidos

28 Johnsons Controls Estados Unidos

29 KESKO Finlândia

30 Lenovo Estados Unidos

31 LG Coreia

62

32 L'Oreal França

33 Marks & Spencer Inglaterra

34 National Australia Bank Austrália

35 Neste Oil Finlândia

36 Nestlé Suíça

37 Nokia Finlândia

38 Novartis Suíça

39 Outotec Finlândia

40 Posco Energy Coreia

41 Prologis Estados Unidos

42 Reckitt Benckiser Reino Unido

43 Renault França

44 Samsung Coreia

45 Sanofi Pharma França

46 StarHub Singapura

47 Statoil ASA Noruega

48 StoreBand Noruega

49 Takeda Japão

50 Teck Resources Canadá

51 Telenor Group Noruega

52 Telus Canadá

53 UPM-Kymmene Finlândia

54 Westpac Banking Corporation Austrália

63

Apêndice 2. 34 empresas brasileiras pertencentes à amostra.

BRASILEIRAS

1 B2W

2 Algar Telecom

3 Amaggi

4 Anglo American

5 Banco do Brasil

6 Bradesco

7 Brasil Kirin

8 Braskem

9 BRF

10 Bunge

11 Copel

12 CPFL

13 Duratex

14 Ecofrotas

15 EcoRodovias

16 EDP Energia

17 Elektro

18 Embraer

19 EMC

20 Ernst & Young

21 Even

22 Fibria

23 Grupo Boticário

24 Itaú

25 Light

26 Lojas Renner

27 Natura

28 Petrobrás

29 Renova

30 Santander

31 Siemens Brasil

64

32 SulAmérica

33 Telefônica

34 Tractebel Energia

35 Unilever

36 Votorantim

65

Apêndice 3. Ano dos relatórios analisados de cada empresa (como consta em

suas capas)

Empresa Ano País

Accenture 2014 EUA

Adobe 2014 EUA

Agilent 2014 EUA

Algar Telecom 2014 Brasil

Amaggi 2014 Brasil

Anglo American 2015 Brasil

ASML 2014 Holanda

Atlas Copco 2015 Inglaterra

B2W 2014 Brasil

Banco do Brasil 2014 Brasil

Biogen 2015 Estados Unidos

Bradesco 2014 Brasil

Brasil Kirin 2014 Brasil

Braskem 2014 Brasil

BRF 2014 Brasil

BT Group 2015/2016 Singapura

Bunge 20152 Brasil

Capitaland 2015 Singapura

Celestica 2015 Canadá

Cisco 2015 Estados Unidos

City Developments (CDL) 2016 Singapura

Coca-Cola Enterprise 2015/2016 EUA

Copel 2014 Brasil

CPFL 2015 Brasil

Daimler 2015 Alemanha

Danske Bank Group 2014 Reino Unido

Diageo 2015 Reino Unido

DNB 2015 Noruega

Duratex 2014 Brasil

Ecofrotas 2015 Brasil

66

Ecolab 2015 Switzerland

EcoRodovias 2014 Brasil

EDP Energia 2014 Brasil

Elektro 2014 Brasil

Embraer 2014 Brasil

EMC 2015 Brasil

Enagas 2014 Espanha

Enbridge 2015 Canadá

Eni 2014 Itália

Ernst & Young 2015 Brasil

Even 2015 Brasil

Fibria 2014 Brasil

Galp Energia 2014 Portugal

General Electrics 2014 Estados Unidos

General Mills 2016 Estados Unidos

Grupo Boticário 2014 Brasil

Iberdrola 2014 Espanha

ING 2015 Holanda

Insurance Australia Group (IAG) 2015 Austrália

Intel 2014 Estados Unidos

Itaú 2014 Brasil

Johnsons Controls 2014 EUA

KESKO 2015 Finlândia

Lenovo 2014/2015 Estados Unidos

LG 2014/2015 Coreia

Light 2015 Brasil

Lojas Renner 2014 Brasil

L'Oreal 2014 França

Marks & Spencer 2015 Inglaterra

National Australian Bank 2014 Austrália

Natura 2014 Brasil

Neste Oil 2015 Finlândia

Nestlé 2015 Suíça

67

Nokia 2015 Finlândia

Novartis 2015 Suíça

Outotec 2015 Finlândia

Petrobrás 2014 Brasil

Posco Energy 2014 Coreia

Prologis 2014 Estados Unidos

Reckitt Benckiser 2015 Reino Unido

Renault 2014 França

Renova 2014 Brasil

Samsung 2016 Coréia

Sanofi Pharma 2014 França

Santander 2015 Brasil

Siemens Brasil 2014 Brasil

StarHub 2015 Singapura

Statoil ASA 2014 Noruega

StoreBand 2015 Noruega

SulAmérica 2015 Brasil

Takeda 2015 Japão

Teck Resources 2015 Canadá

Telefônica 2015 Brasil

Telenor Group 2014 Noruega

Telus 2014 Canadá

Tractebel Energia 2014 Brasil

Unilever 2014 Brasil

UPM-Kymmene 2016 Finlândia

Votorantim 2014 Brasil

Westpac Banking Corporation 2015 Austrália

68

Apêndice 4. Relação de todas as empresas analisadas com a pontuação obtida e

respectivos números de páginas, em ordem alfabética.

Empresa País

Nº de páginas

Ranking

1 Accenture Estados Unidos 85 18

2 Adobe Estados Unidos 8 8

3 Agilent Estados Unidos 66 20

4 Algar Telecom Brasil 95 12

5 Amaggi Brasil 70 19

6 Anglo American Brasil 104 11

7 ASML Holanda 78 26

8 Atlas Copco Inglaterra 138 10

9 B2W Brasil 67 7

10 Banco do Brasil Brasil 198 21

11 Biogen Estados Unidos 70 16

12 Bradesco Brasil 113 14

13 Brasil Kirin Brasil 78 16

14 Braskem Brasil 204 26

15 BRF Brasil 117 19

16 BT Group Singapura 82 22

17 Bunge Brasil 0 16

18 Capitaland EUA 63 17

19 Celestica Canadá 104 8

20 Cisco Estados Unidos 162 29

21 City Developments (CDL) Singapura 104 27

22 Coca-Cola Enterprise EUA 68 15

23 Copel Brasil 85 17

24 CPFL Brasil 137 17

25 Daimler Alemanha 108 21

26 Danske Bank Group Reino Unido 32 9

27 Diageo Reino Unido 75 15

28 DNB Noruega 250 15

29 Duratex Brasil 86 16

30 Ecofrotas Brasil 134 16

31 Ecolab Switzerland 47 14

32 EcoRodovias Brasil 98 13

33 EDP Energia Brasil 160 16

34 Elektro Brasil 244 16

35 Embraer Brasil 85 15

36 EMC Brasil 40 10

37 Enagas Espanha 180 17

38 Enbridge Canadá 144 15

39 Eni Itália 102 13

69

40 Ernst & Young Brasil 70 5

41 Even Brasil 124 17

42 Fibria Brasil 152 21

43 Galp Energia Portugal 106 8

44 General Electrics Estados Unidos 256 6

45 General Mills Estados Unidos 126 30

46 Grupo Boticário Brasil 107 13

47 Iberdrola Espanha 266 15

48 ING Holanda 16

49 Insurance Australia Group (IAG) Austrália 24 4

50 Intel Estados Unidos 116 25

51 Itaú Brasil 41 21

52 Johnsons Controls EUA 36 17

53 KESKO Finlândia 8

54 Lenovo Estados Unidos 101 23

55 LG Coreia 92 13

56 Light Brasil 57 11

57 Lojas Renner Brasil 120 19

58 L'Oreal França 263 16

59 Marks & Spencer Inglaterra 48 13

60 National Australia Bank Austrália 41 24

61 Natura Brasil 35 10

62 Neste Oil Finlândia 103 25

63 Nestlé Suiça 41 17

64 Nokia Finlândia 130 18

65 Novartis Suiça 91 22

66 Outotec Finlândia 82 10

67 Petrobrás Brasil 81 21

68 Posco Energy Coreia 72 29

69 Prologis Estados Unidos 63 17

70 Reckitt Benckiser Reino Unido 24 18

71 Renault França 247 11

72 Renova Brasil 160 18

73 Samsung Coréia 214 16

74 Sanofi Pharma França 110 18

75 Santander Brasil Brasil 75 21

76 Siemens Brasil Brasil 64 8

77 StarHub Singapura 202 8

78 Statoil ASA Noruega 39 18

70

79 StoreBand Noruega 166 11

80 SulAmérica Brasil 10

81 Takeda Estados Unidos 91 25

82 Teck Resources Canadá 174 13

83 Telefônica Brasil 87 26

84 Telenor Group Noruega 17 6

85 Telus Canadá 167 22

86 Tractebel Energia Brasil 141 18

87 Unilever Brasil 20 10

88 UPM-Kymmene Finlândia 79 16

89 Votorantim Brasil 100 14

90 Westpac Banking Corporation Austrália 29 11