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1 Incursões históricas sobre o livro “Há Dois Mil Anos” – A erupção do Vesúvio – Parte 1 Marco Paulo Denucci Di Spirito Resumo: O presente trabalho tem por escopo a avaliação de dados históricos contidos no livro “Há Dois Mil Anos”, da psicografia de Francisco Cândido Xavier. Designadamente, propõe-se o estudo de um trecho da obra que trata da erupção do monte Vesúvio e da existência de vilas em Pompeia. Palavras-chave: Psicografia – mediunidade – história – erupção do Vesúvio – Pompeia – vilas romanas. Abstract: The scope of this paper is to review the historical data presented in the book “Two Thousand Years ago”, psychographed by Francisco Candido Xavier. In particular, it is proposed to study a book’s excerpt about the eruption of Mount Vesuvius and the existence of villas in Pompeii. Key-words: Psychographics - mediumship - history - eruption of Mount Vesuvius – roman villas. Sumário 1. Introdução; 2. A passagem selecionada; 3. O horário da erupção do Monte Vesúvio em 79 d.C.; 4. As vilas em Pompeia; 5. As fontes históricas disponíveis sobre os pontos destacados; 6. Conclusões parciais; 7. Referências bibliográficas. 1. Introdução Como tivemos a oportunidade de esclarecer no primeiro trabalho publicado na Revista Eletrônica Lei Divina 1 , damos sequência ao empreendimento de divulgar estudos voltados à avaliação dos dados históricos contidos no livro “Há Dois Mil Anos”, psicografado por Francisco Cândido Xavier, trazendo à lume pesquisas que temos realizado desde 2005. Sobre a proposta de exposição da pesquisa, remetemos o leitor ao aludido artigo, designadamente para sua introdução. Vale destacar, apenas, que não objetivamos tecer conclusões detidas sobre os dados em análise, senão apresentar ao estudioso interessado o contraponto destes com os registros historiográficos levantados. 1 http://www.revista.febnet.org.br.

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Incursões históricas sobre o livro “Há Dois Mil Anos” – A erupção do Vesúvio

– Parte 1

Marco Paulo Denucci Di Spirito

Resumo: O presente trabalho tem por escopo a avaliação de dados históricos

contidos no livro “Há Dois Mil Anos”, da psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Designadamente, propõe-se o estudo de um trecho da obra que trata da erupção do

monte Vesúvio e da existência de vilas em Pompeia.

Palavras-chave: Psicografia – mediunidade – história – erupção do Vesúvio –

Pompeia – vilas romanas.

Abstract: The scope of this paper is to review the historical data presented in the

book “Two Thousand Years ago”, psychographed by Francisco Candido Xavier. In

particular, it is proposed to study a book’s excerpt about the eruption of Mount

Vesuvius and the existence of villas in Pompeii.

Key-words: Psychographics - mediumship - history - eruption of Mount Vesuvius –

roman villas.

Sumário

1. Introdução; 2. A passagem selecionada; 3. O horário da erupção do Monte

Vesúvio em 79 d.C.; 4. As vilas em Pompeia; 5. As fontes históricas disponíveis

sobre os pontos destacados; 6. Conclusões parciais; 7. Referências bibliográficas.

1. Introdução

Como tivemos a oportunidade de esclarecer no primeiro trabalho

publicado na Revista Eletrônica Lei Divina1, damos sequência ao empreendimento

de divulgar estudos voltados à avaliação dos dados históricos contidos no livro “Há

Dois Mil Anos”, psicografado por Francisco Cândido Xavier, trazendo à lume

pesquisas que temos realizado desde 2005.

Sobre a proposta de exposição da pesquisa, remetemos o leitor ao

aludido artigo, designadamente para sua introdução. Vale destacar, apenas, que

não objetivamos tecer conclusões detidas sobre os dados em análise, senão

apresentar ao estudioso interessado o contraponto destes com os registros

historiográficos levantados.

1 http://www.revista.febnet.org.br.

2

A obra “Há Dois Mil Anos” certamente renderia um épico dos cinemas,

pois sua narrativa perpassa por marcantes fatos históricos tais como a Conspiração

de Catilina, os anos de glória da Roma Imperial, a presença de Jesus na Judéia, a

Revolução dos Judeus. E também transcorre em meio ao evento objeto do presente

trabalho: a erupção do Vesúvio no ano de 79 da nossa era.

A respeito da tragédia sobre a qual nos debruçaremos, o livro “Há Dois

Mil Anos” aduz inúmeras informações. Na verdade, são tantas que optamos por

estudá-las em partes. Este fracionamento será observado para outros temas

abordados na obra, tais como a Guerra dos Judeus, desde o seu início até a marcha

do triunfo de Tito e Vespasiano.

Assim, na esteira da metodologia proposta, cabe destacar a passagem

que será analisada, o que se fará no tópico seguinte.

2. A passagem selecionada

Nesta oportunidade optou-se por enfocar o seguinte trecho:

“Em radiosa manhã do ano de 79, toda a

Pompeia despertou em rumores festivos.

(...)

No séquito do questor ilustre vinha, igualmente,

Plínio Severus, em plenitude de maturidade, totalmente

regenerado e julgando-se agora redimido no conceito da

esposa e daquele que seu coração considerava como pai.

(...)

Nesse dia, enquanto Ana comandava,

verbalmente, as atividades domésticas nos preparativos da

recepção, mobilizando escravos e servos numerosos, Públio

e filha se abraçavam comovidos, em face da surpresa que o

destino lhes reservara, embora tardiamente. Avisados por

mensageiros da caravana de patrícios ilustres, davam larga

às emoções mais gratas do espírito, na doce perspectiva de

acolherem o filho pródigo, tantos anos distante de seus

braços amigos.

Antes do meio-dia, um deslumbramento de

viaturas, de cavalos ajaezados e de jóias faiscantes sobre

vestiduras reluzentes se deparava às portas da vila plácida e

graciosa, provocando a admiração e o interesse curioso das

3

vizinhanças. E, em seguida, foi um turbilhão de abraços,

carinhos, palavras confortadoras e generosas.

(...)

Públio Lentulus abraçou Plínio, demoradamente,

como se fizesse a um filho bem-amado, que voltasse de longe

e cuja ausência houvera sido excessivamente prolongada.

Experimentava no íntimo impulsos de extravasão de afeto,

que o seu coração dominou, para não provocar a admiração

injustificada dos circunstantes.

(...)

Insistentes chamados, porém, requeriam a

presença do questor e comitiva, no local dos festejos.

O circo fôra preparado a rigor e não se perdera

nenhuma oportunidade para a realização das menores

minudências próprias das grandes festividades romanas.

E ao mesmo tempo que todos se despediam do

senador e de sua filha, num deslumbramento de felicidade

mundana, Plínio Severus dirigia-se a Públio nestes termos,

depois de abraçar ternamente a companheira:

- Meu pai, levado pelas circunstâncias, sou

compelido a acompanhar o questor nas festividades

populares, mas estarei de regresso em breves horas, para

ficar convosco um mês, de modo a tratarmos do nosso

regresso a Roma.

Em pleno espetáculo, Plínio Severus, já no outono

da vida, arquitetava os planos de futuro. Procuraria resgatar

todas as faltas antigas, perante os seus parentes afetuosos e

queridos; assumiria a direção de todos os negócios do velho

pai pelo coração, aliviando-o de todas as angustiosas

preocupações da vida material.

De vez em quando, os aplausos da multidão lhe

interrompiam os devaneios. A maioria da população de

Pompeia ali estava em plena festa, ovacionando os

triunfadores. Gente de toda a redondeza e muito

particularmente de Herculanum, acorrera pressurosa ao

divertimento predileto daquelas épocas recuadas. De

permeio com os atletas e gladiadores, estavam os músicos,

os cantores e os dançarinos.

Tudo era um farfalhar de sedas, um delicioso

chocalhar de alegrias ruidosas, ao som de flautas e alaúdes.

(...)

4

Em dado instante, porém, a atenção geral foi

solicitada por um fato estranho e incompreensível. Do cimo

do Vesúvio elevava-se grossa pirâmide de fumo, sem que

ninguém atinasse com a causa do fenômeno insólito.

Continuavam os jogos animadamente, mas agora,

no seio da coluna fumarenta que se elevava em caprichosos

rolos para o alto, surgiam impressionantes labaredas...

Plínio Severus, como todos os presentes, se

surpreendia com o fenômeno estranho e inexplicável.

Em minutos breves, no entanto, estabeleciam-se

no anfiteatro a confusão e o terror.

(...)

Mergulhada em penumbra espessa e tomada de

terror indizível, Pompeia assistia aos seus últimos instantes,

numa aflição desesperada...

(...)

Na vila de Lentulus, os escravos perceberam

imediatamente o perigo próximo. Nos primeiros momentos,

os cavalos relinchavam estranhamente e as aves inquietas

fugiam em desespero.

Após a queda das primeiras colunas que

sustentavam o edifício, todos os servos do senador

abandonaram precipitadamente os postos, desejosos de

conservar noutra parte os bens preciosos da vida. Somente

Ana ficara junto dos amos, dando-lhes conhecimento dos

horrores do ambiente.

Os três, numa justificada inquietude, escutaram o

rumor horrível da inolvidável catástrofe do Império. A

própria vila estava já meio destruída, penetrando as cinzas

pelos desvãos abertos pela queda dos telhados e começando

a sua obra de lenta sufocação.”2

A passagem está contextualizada no dia da erupção do Monte Vesúvio,

no ano de 79. Nesta data, o protagonista Públio Lentulus, então domiciliado em

Pompeia, recebe seu genro Plínio Severus. Este evento é frisado uma vez que está

relacionado ao horário aproximado do início das atividades do vulcão, como se

verá adiante. Em seguida, o texto relata a destruição da casa do Senador Públio

Lentulus, curiosamente denominada de “vila de Lentulus”.

2 XAVIER, Francisco Cândido. Emmanuel (Espírito). Há Dois Mil Anos. Brasília: FEB, 2013, p. 341 e

ss.

5

Assim, cumpre averiguar a correspondência, com a história, dos

seguintes fatos relatados no trecho em tela: i) o horário aproximado da erupção do

Monte Vesúvio em 79; ii) a compreensão do que viria a ser uma vila estabelecida

na região de Pompeia.

É verdade que o texto acima transcrito apresenta outros pontos

históricos de relevo. Todavia, estes serão avaliados noutra oportunidade.

A partir dos tópicos seguintes será demonstrado que a obra apresenta,

no trecho selecionado, dados verossímeis quando comparados com registros

históricos.

3. O horário da erupção do Monte Vesúvio em 79 d.C.

A erupção do Monte Vesúvio sob análise realmente ocorreu em 79 d.C,

mais especificamente em 24 de agosto3. Há, todavia, quem situe o evento em

novembro.4

O ano em que se verificou tal tragédia é um dado que, se não é do

conhecimento geral, também não pode ser tido como de domínio exclusivo dos

especialistas.

Por outro lado, o mesmo não pode ser dito quanto ao horário específico

em que o vulcão iniciou suas atividades no dia em questão.

Afinal, tal informação é apresentada em apenas uma fonte histórica, que

consiste na carta de Plínio, o Jovem, enviada para Tácito, a respeito das

constatações de Plínio, o Ancião. O contexto deste registro histórico requer uma

avaliação detida.

Gaius Plinius Secundus, mais conhecido como Plínio, o Ancião foi um

distinto romano tido como um dos grandes enciclopedistas da história de seu povo,

que se notabilizou pela sua obra Naturalis Historiae, composta por trinta e sete

volumes5.

De acordo com os relatos de seu sobrinho e, posteriormente, filho

adotivo Gaius Plinius Caecilius Secundus, também conhecido por Plínio, o Jovem, no

3 HOWATSON, M. C. The Oxford Companion to Classical Literature. Oxford: Oxford University Press,

1989, p. 272. KELSEY, Francis W. Pompeii: Its Life and Art. New York: Macmillan, 1907, p. 19. 4 LAZER, Estelle. Resurrecting Pompeii. New York: Routledge, 2009, p. 80. 5 BUNSON, Matthew. Encyclopedia of the Roman Empire. New York: Infobase Publishing, 2002, p.

436.

6

dia dos fatos o ancião encontrava-se próximo ao vulcão, tendo tomado

apontamentos sobre os detalhes da erupção, incluindo o seu horário de início.

Em decorrência do desastre, Plínio, o Ancião acaba falecendo. Assim, o

famoso historiador romano Tácito solicita a seu amigo Plínio, o Jovem, que lhe

escreva uma carta consignando os detalhes que foram constatados pelo velho

Plínio, para que pudesse a utilizar como referência em seus escritos.6

Dessa forma, Plínio, o Jovem atende ao pedido de Tácito e lhe escreve a

carta, da qual se extrai o seguinte trecho relevante para o presente estudo:

“(...)

2. Erat Miseni classemque imperio praesens

regebat. Nonum kal. Septembres hora fere septima mater

mea indicat ei adparere nubem inusitata et magnitudine et

specie. Usus ille sole, mox frigida, gustaverat iacens

studebatque; poscit soleas, ascendit locum ex quo maxime

miraculum illud conspici poterat. (...)”7

O texto em latim é destacado com um propósito específico. Ocorre que

nele consta a referência do dia e do horário da erupção, de acordo com os

parâmetros romanos.

Muitas traduções desse texto foram providenciadas já com a conversão

dos parâmetros temporais para a nossa compreensão atual, como ocorre na

seguinte versão em inglês:

“(...)

6 “The most celebrated of the letters concerned with natural phenomena are those describing the

eruption of Vesuvius in August 79, which Pliny penned at the request of his friend Tacitus, who

used them as a source in a lost section of his Histories.” (WALSH, P. G. Pliny, the Younger - Complete

letters; translated with an introduction and notes by P. G. Walsh. Oxford: Oxford University Press,

2006, Introdução, p. xxiv). “Our chief source of information for the events of August 24- 26, 79, is a

couple of letters of the Younger Pliny to Tacitus, who purposed to make use of them in writing his

history. Pliny was staying at Misenum with his uncle, the Elder Pliny, who was in command of the

Roman fleet. In the first letter he tells of his uncle's fate. On the afternoon of the twenty-fourth, the

admiral Pliny set out with ships to rescue from impending danger the people at the foot of Vesuvius,

particularly in the vicinity” (KELSEY, Francis W. Pompeii: Its Life and Art. New York: Macmillan,

1907, p. 19). Umberto Eco, embora sem questionar a história em si – “As far as we know, the story

is true indeed” – tece críticas sobre a forma heroica com que Plínio, o Ancião, é apresentado por

Plínio, o Jovem. (ECO, Umberto. The Limits of Interpretation. Bloomington: Indiana University Press,

1994, p. 123 e ss.). 7 O texto em latim foi obtido da obra de Umberto Eco: ECO, Umberto. The Limits of Interpretation.

Bloomington: Indiana University Press, 1994, p. 125.

7

My uncle was at Misenum, where he held

command of the fleet in person. Just after midday on 24

August my mother pointed out to him the appearance of a

cloud of unusual size and appearance. He had relaxed in the

sun, had then taken a cold dip, had lunched lying down, and

was at his books. He asked for his sandals, and mounted to

the place from which that remarkable phenomenon could

best be observed. (...)”8

Todavia, uma tradução literal para o português permite aferir os

seguintes referenciais de tempo:

“(...)

Meu tio encontrava-se em Miseno, onde

comandava a frota. Era o nono dia antes das calendas de

setembro (24 de agosto), pela sétima hora (13 horas),

quando minha mãe lhe mostrou que se formava uma nuvem

volumosa e de forma incomum. Havia tomado seu banho de

sol, depois um banho frio, e, num leito, estudava. Levantou-

se e subiu a um lugar do qual podia ver melhor o fenômeno

(...)”9

O sistema de mensuração do tempo em Roma possuía como parâmetro

a luz do dia.10 Assim, os estudiosos da história romana esclarecem que a sétima

hora referida no texto diz respeito ao horário entre meio-dia e uma hora da

tarde11.

8 WALSH, P. G. Pliny, the Younger - Complete letters; translated with an introduction and notes by P. G.

Walsh. Oxford: Oxford University Press, 2006, p. 143. 9 FUNARI, Pedro Paulo A. Vida quotidiana na Roma Antiga. São Paulo: Annablume, 2003, p. 63. 10 BREASTED, James Henry. The Beginnings of Time-Measurement and the Origins of Our Calendar.

In: The Scientific Monthly , vol. 41, nº. 4, Out/1935; New York: American Association for the

Advancement of Science, p. 289-304. WRIGHT, M. T. Greek and Roman Portable Sundials: An Ancient

Essay in Approximation. In: Archive for History of Exact Sciences , Vol. 55, nº 2, Dez/2000. New York:

Springer, p. 177-187. SLOLEY, R. W. Primitive Methods of Measuring Time: With Special Reference to

Egypt. In: The Journal of Egyptian Archaeology vol. 17, nº 3/4, Nov., 1931, London: Egypt

Exploration Society, p. 166-178. 11 “Around or after 1:00 P.M.” (SIGURDSSON, H. The Eruption of Vesuvius in A. D. 79: Addendum. In:

American Journal of Archaeology , vol. 86, nº. 2; Abr/1982; Boston: Archaeological Institute of

America, pp. 315-316). “Na carta de Plínio, o Jovem, lemos que ocorreu perto da sétima hora depois

do nascer do sol (hora fere septima), em 24 de agosto, quando se observou a nuvem da erupção

sobre o Vesúvio, ou seja, por volta do meio-dia (Ep. 6.16.4)”, Tradução livre de: “In Pliny the

Younger’s letter we read that it was near the seventh hour after sunrise (hora fere septima) on

August 24, when they noted the eruption cloud over Vesuvius, i.e. about noon (Ep. 6.16.4).”

(DOBBINS, John J.; FOSS, Pedar W. The World of Pompeii. New York: Routledge, 2007, p. 52).

8

Exatamente por isso consta em algumas traduções a seguinte indicação

temporal:

“Ele estava naquele momento com a frota sob seu

comando em Misenum. No dia 24 de Agosto [nonum Calend.

Septembres], por volta de uma da tarde [Hora fere

Septima], minha mãe pediu-lhe que observasse uma nuvem

que apareceu de um tamanho e forma muito incomuns.”12

“Meu tio estava no Miseno, onde mantinha o

comando da frota em pessoa. Logo após o meio-dia, em 24

de agosto, minha mãe apontou-lhe o surgimento de uma

nuvem de tamanho e aparência incomuns.”13

O início da atividade do vulcão, logo após o meio-dia, confirma a

apresentação da cronologia dos fatos contidos no trecho destacado da obra “Há

Dois Mil Anos”.

Como visto, a passagem selecionada para avaliação afirma textualmente

que “antes do meio-dia” Públio Lentulus havia recebido o seu genro Plínio Severus.

O romance segue descrevendo o encontro dos personagens, que permaneceram

juntos apenas por algum tempo, uma vez que Plínio Severus tinha a incumbência

de acompanhar o questor nas festividades populares e, por isso, partiu. A obra

apresenta, na sequência, Plínio Severus no anfiteatro, diante das festividades que

marcaram aquele dia, quando presenciou os derradeiros minutos de Pompeia em

virtude da erupção do Vesúvio.

Recapitulando resumidamente tais fatos, o livro apresenta a seguinte

sequência: i) o encontro de Públio Lentulus com Plínio Severus, antes do meio-dia;

ii) a breve permanência de Plínio Severus na residência de Públio Lentulus; iii) a

saída apressada de Plínio Severus para acompanhar o questor ao local das

festividades; iv) a chegada de Plínio Severus ao anfiteatro; v) a erupção do Vesúvio.

12 “He was at that time with the fleet under his command at Misenum. On the 24th of August

[nonum calend. Septembres], about one in the afternoon [hora fere septima], my mother disired

him to observe a cloud which appeared of a very unusual size and shape.” (PHILLIPS, John. Vesuvius.

Oxford: Clarendon Press, 1869, p. 14). 13 Tradução livre de: “My uncle was at Misenum, where he held command of the fleet in person. Just

after midday on 24 August my mother pointed out to him the appearance of a cloud of unusual size

and appearance.” (WALSH, P. G. Pliny, the Younger - Complete letters; translated with an introduction

and notes by P. G. Walsh. Oxford: Oxford University Press, 2006, p. 143).

9

Percebe-se, pois, que a cronologia dos acontecimentos está em

consonância com o registro histórico que aponta o horário da erupção do Vesúvio,

ocorrida a partir do meio-dia.

Corrobora esta conclusão os estudos históricos que indicam a tradição

romana no sentido de encerrar as atividades na sexta hora para reativá-las a partir

da sétima hora.14

A obra “Há Dois Mil Anos”, em outras passagens, apresenta um contexto

de coerência com tais praxes:

“No palácio do Aventino, todos os domésticos

mais íntimos acreditavam na permanência de Lívia em casa

da filha; mas, um pouco antes do meio-dia, Flávia Lentúlia

veio ter com o pai, a fim de beijá-lo antes do triunfo.”15

“O senador sentiu o coração ferido de presságios

angustiosos, mas os escravos já se encontravam preparados

para conduzi-lo ao Senado, onde as primeiras cerimônias

teriam início depois do meio-dia, com a presença de

César.”16

Aliás, o cuidado para que o questor não se atrasasse em face da

retomada das festividades, que provavelmente aconteceria a partir da sétima hora,

explicaria o seguinte trecho da obra, também transcrito acima:

“Insistentes chamados, porém, requeriam a

presença do questor e comitiva, no local dos festejos.”17

O contexto geral, assim, aponta para a chegada de Plínio Severus à casa

de Públio Lentulus antes do meio-dia e para a chegada do primeiro ao anfiteatro de

Pompeia por volta de uma hora, momentos antes da erupção.

14 “Others may have worked from dawn to dusk with a break at midday (the sixth hour).”

(LAURENCE, Ray. Roman Pompeii: space and society. London: Routledge, 1996, p. 118).

“Significativamente, a sétima hora começou no mesmo ponto, em tempo real, no verão e no inverno.

Isso foi essencial, porque era às sete horas que muitas atividades recomeçavam depois de uma hora

de descanso.” Tradução livre de: “Significantly, the seventh hour began at the same point in real

time summer and winter. This was essential, because it was at the seventh hour that many activities

recommenced after an hour of rest.” (LAURENCE, Ray. Roman Pompeii: space and society. London:

Routledge, 1996, p. 104). 15 XAVIER, Francisco Cândido. Emmanuel (Espírito). Há Dois Mil Anos. Brasília: FEB, 2013, p. 255. 16 XAVIER, Francisco Cândido. Emmanuel (Espírito). Há Dois Mil Anos. Brasília: FEB, 2013, p. 255. 17 XAVIER, Francisco Cândido. Emmanuel (Espírito). Há Dois Mil Anos. Brasília: FEB, 2013, p. 344.

10

O relato fático em tela é verossímil quando se considera que apresenta

uma sequência de eventos plenamente possível de ter ocorrido antes da erupção,

no dia 24 de agosto de 79 d.C.

Essa compatibilidade cronológica é relevante uma vez que o autor de

um romance histórico ou de um pasticho se depararia com grande margem de erro

caso tentasse descrever um evento tão comum quanto um encontro familiar na

Pompeia do dia 24 de agosto de 79 d.C. A afirmação de um fato desta natureza a

partir de uma hora da tarde seria considerada como muito pouco provável,

considerando-se a tragédia que assolou a região após este momento.

É igualmente instigante a constatação de que a informação sobre a hora

de início da erupção do Vesúvio requer não apenas um conhecimento muito

específico, porquanto registrada apenas na epístola de Plínio, o Jovem, destinada a

Tácito, mas também porque requer conhecimentos especiais da cultura romana

para decifrar que a referência à sétima hora diz respeito ao horário por volta de

13:00h.

Portanto, o trecho em destaque apresenta verossimilhança em cotejo

com os registros históricos e aduz informações específicas típicas daquelas

dominadas por especialistas.

4. As vilas em Pompeia

Ainda no contexto da erupção do Vesúvio, a obra “Há Dois Mil Anos”

apresenta a repercussão desse fenômeno no local que servia de residência para

Públio Lentulus, referido como “vila de Lentulus”.

O substantivo vila, tal como empregado, causa alguma estranheza, já

que comumente utilizado para referir-se à seguinte acepção prevista no Dicionário

Aurélio: “povoação de categoria superior à de aldeia ou arraial e inferior à de uma

cidade”.18

Considerando-se a Pedro Leopoldo de 1939, data de produção do livro,

e mesmo na atualidade, muito provavelmente se interpretaria a palavra vila de

acordo com o seu uso regional (brasileirismo), segundo indicado no mesmo

dicionário: “conjunto de pequenas habitações independentes, em geral idênticas, e

dispostas de modo que formem rua ou praça interior, por via de regra sem caráter

18 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Eletrônico Aurélio Século XXI. Rio de Janeiro:

Editora Nova Fronteira e Lexikon Informática, 1999. Versão 3.0. 1 CD-ROM.

11

de logradouro público”19. Ou de acordo com outro regionalismo apontado pelo

Dicionário Houaiss: “qualquer conjunto de casas agrupadas”20.

Os dicionários Aurélio e Houaiss indicam a etimologia da palavra,

originária do latim villa. Esta última obra também aduz o sentido que mais se

adéqua à cultura romana: “casa de campo ou de recreação nos arrabaldes das

cidades italianas.”21

Portanto, o que se entende por vila na realidade da Roma antiga é algo

significativamente diverso do que aprendemos pelo uso cotidiano no Brasil.

Para a nobreza romana a palavra vila correspondia a suntuosas casas de

veraneio22. Pode-se dizer que numa vila romana o edifício e sua arquitetura é que

se destacavam, não a extensão das terras. Conforme esclarece Roberto Schezen:

“Ao longo dos tempos imperiais, até final do

século IV, a vila foi o resort dos romanos próspreros.

(...)

A vila ou tinha que ser de fácil acesso à cidade ou,

de outra forma, equipada, como as de Plínio eram, para

acomodar os proprietários e seus convidados durante

19 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Eletrônico Aurélio Século XXI. Rio de Janeiro:

Editora Nova Fronteira e Lexikon Informática, 1999. Versão 3.0. 1 CD-ROM. 20 HOUAISS, Antonio, VILLAR, Mauro de Salles, FRACO, Francisco Manoel de Mello. Dicionário

eletrônico Houaiss da língua portuguesa . Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. Versão 1.0. 1 CD-ROM.

2001. 21 HOUAISS, Antonio, VILLAR, Mauro de Salles, FRACO, Francisco Manoel de Mello. Dicionário

eletrônico Houaiss da língua portuguesa . Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. Versão 1.0. 1 CD-ROM.

2001. 22 Arcisse de Caumont parece ter sido a primeira pessoa a estudar as vilas romanas como um classe

distinta do construção. (SMITH, J.T. Roman villas: a study in social structure. New York: Routledge,

1997, p. 6). “It has been generally assumed that villas owned by wealthy Roman citizens were

mostly used as summer resorts. (...) Strabo stated that the whole Bay of Naples appeared like a

continuous town as a result of the number of villas that lined the coastline.” (LAZER, Estelle.

Resurrecting Pompeii. New York: Routledge, 2009, p. 79). “Whenever the Roman could afford the

additional luxury of a home in the country, he maintained ‘villas’ as well as an urban residence.”

(NASH, Ernest. Roman Towns. New York: J. J. Augustin, 1994, p. 22). “At once both elegant

residences and units for production, villas were a typical feature of the Roman world. They were an

expression not only of a particular lifestyle, but also of Roman society in general; villas were

emblematic of membership to the upper class, or else of the aspiration to it.” (MARZANO, Annalisa.

Roman Villas in Central Italy - A Social and Economic History. Leiden: Brill, 2007, p. 1.) Sobre a

aparência de tais casas romanas, inconfundíveis com propriedades rurais típicas do contexto

brasileiro, confira-se: NASH, Ernest. Roman Towns. New York: J. J. Augustin, 1994, p. 22; SCHEZEN,

Roberto. The Villa: From Ancient to Modern. New York: Abrams Books, 2000, p. 11. Ainda, vale

consultar a seguinte vídeo-aula: http://www.youtube.com/watch?v=aO8lvx--Hv0 .

12

semanas ou até meses. Romanos prósperos mantinham um

número de lugares favoritos – as colinas da Toscana e o

litoral, perto de Nápoles - que estavam todos repletos de

vilas, assim como as colinas do interior, ao sul de Roma, em

Tusculum, por exemplo, onde Cícero viveu, e onde ele

realizou os seus famosos debates filosóficos. Imperadores

construíram vilas para o entretenimento privado, como

Tibério fez sobre um promontório na ilha de Capri.”23

De acordo com Francis W. Kelsey:

“Duas classes de vilas eram distinguidas pelos romanos, - a

de grandes propriedades, villa pseudourbana, e a casa rural,

villa rustica. A primeira era uma casa de cidade, adaptada às

condições rurais; a organização das últimas eram

determinadas pelas exigências da vida na fazenda.

As grandes propriedades apresentavam maior diversidade

de planejamento do que as residências da cidade. Eles eram

relativamente maiores, contendo colunatas espaçosas e

jardins; como o proprietário se encontrava irrestrito em

relação ao espaço, não estando confinado sob os limites de

um lote, oportunidades mais completas eram oferecidas

para a exibição do gosto individual no arranjo dos quartos.

Podemos entender a partir das cartas de Plínio, o Jovem,

descrevendo suas duas moradias em Laurentum e Tifernum

Tiberinum (agora Città di Castello) e, a partir dos restos da

casa de Adriano em Tivoli, quão longe a individualidade

poderia firmar-se no planejamento e na construção de uma

casa de campo.”24

23 Tradução livre de: “Throughout Imperial times, until the late fourth century, the villa was the

resort of the prosperous Roman.

(...)

The villa either had to be within easy reach of town or of another type, equipped, as Pliny's were, to

accommodate the owners and their guests for weeks or even months. Prosperous Romans had a

number of favorite spots — the Tuscan hills and the seaside near Naples — which were all crowded

with villas, as were the hills inland just south of Rome, at Tusculum, for instance, where Cicero

lived, and where he held his famous philosophical disputations. Emperors built villas for private

entertainment, as Tiberius did on a promontory on the Isle of Capri.” (SCHEZEN, Roberto. The Villa:

From Ancient to Modern. New York: Abrams Books, 2000, p. 11). 24 Tradução livre de: “Two classes of villas were distinguished by the Romans, -- the country seat,

villa pseudourbana, and the farmhouse, villa rustica. The former was a city house, adapted to rural

conditions; the arrangements of the latter were determined by the requirements of farm life. The

country seats manifested a greater diversity of plan than the city residences. They were relatively

larger, containing spacious colonnades and gardens; as the proprietor was unrestricted in regard to

13

Interessante notar que as escavações em Pompeia revelaram a presença

de vilas romanas na região:

“Plínio e Vitruvius fornecem muitas informações

sobre como as vilas eram ocupadas, mas pouco se conhecia

sobre elas até dois séculos atrás, quando um feliz acidente

levou à descoberta das ruínas de Herculano e Pompeia, as

duas cidades que tinham sido as mais prósperas do interior

bem como resorts litorâneos e foram enterrados sob as

cinzas e lava produzidos pela grande e totalmente

inesperada explosão do Vesúvio, em 79 d.C., a mesma que

matou Plínio, o ancião. Como casa após casa foram

descobertas, muitas delas foram reconstruídas, e em

algumas suas mobílias, bem como objetos metálicos, e até

mesmo uma biblioteca inteira, como num caso específico,

foram recuperados. E, claro, em muitos deles uma grande

quantidade de decoração, algumas em relevo de gesso,

muitas delas pintadas, tinham sobrevivido.”25

“No total, os restos de quase 150 propriedades

foram descobertas no interior da cidade, mas o nosso

conhecimento sobre de que tipo de estabelecimento se

tratavam ou quem os possuía é muito nebuloso, pois só

raramente eles têm sido sistematicamente escavados. Alguns

eram certamente vilas prazeirosas para os ricos, mesmo

aqueles que vinham de tão longe como Roma: não era

apenas Cícero, que teve o seu ‘lugar de Pompeia’. Alguns

space, not being confined to the limits of a lot, fuller opportunity was afforded for the display of

individual taste in the arrangement of rooms. We can understand from the letters of Pliny the

Younger, describing his two villas at Laurentum and Tifernum Tiberinum (now Città di Castello),

and from the remains of the villa of Hadrian at Tivoli, how far individuality might assert itself in the

planning and building of a country home.” (KELSEY, Francis W. Pompeii: Its Life and Art. New York:

Macmillan, 1907, p. 355). 25 Tradução livre de: “Pliny and Vitruvius provide much information about how villas were

occupied, but little was actually known about them until two centuries ago, when a happy accident

led to the discovery of the ruins of Herculaneum and Pompeii, the two towns that had been

prosperous country towns as well as seaside resorts and were buried in the ash and lava produced

by the great and wholly unexpected explosion of Vesuvius in AD 79, the same one that killed Pliny

the Elder.As house after house was discovered, many of them were reconstructed, and in some

their furniture as well as metal objects, even a whole library, in one case, were recovered. And of

course in many of them a great deal of the decoration, some in plaster relief, and much of it painted,

had survived.” (SCHEZEN, Roberto. The Villa: From Ancient to Modern. New York: Abrams Books,

2000, p. 11).

14

eram trabalhadores rurais. Outros eram uma combinação

dos dois.”26

Pela ilustração abaixo, referente a sítios de escavação em Pompeia, é

possível identificar a localização de algumas vilas27:

De acordo com os especialistas, Pompeia era marcada pela presença de

inúmeras vilas luxuosas28, que se concentravam, na maior parte, fora dos muros da

cidade29.

26 Tradução livre de: “Altogether the remains of almost 150 properties have been discovered in the

hinterland of the city, but our knowledge of what kind of establishments they were or who owned

them is very hazy, for only rarely have they been systematically excavated. Some were certainly

pleasure villas for the rich, even those from as far away as Rome: it was not only Cicero who had his

‘Pompeian place ’. Some were working farms. Others were a combination of the two.” (BEARD,

Mary. Pompeii - The Life of a Roman Town. London: Profile Books, 2008, p. 155). 27 Legenda: 1 – Vila dos Mistérios; 2 – Vila de Diomedes; 3 – Vila dos Sepulcros; 4 – Vila de Giulia

Felice; 5 – Anfiteatro. 28 “However, before we begin to analyse the local patterns of production and consumption in

Pompeii, we must set the city of Pompeii in a wider economic perspective. Geographically, Pompeii

was the entrepôt for the Sarno river valley (Strabo 247C=5.4.8). It had good river connections with

the towns of this economic hinterland. Also, it formed part of an economy based upon the luxury

villas of the Bay of Naples and the wider Campanian economy, which was centred upon Puteoli

15

A história registra que conhecidas personalidades romanas possuíam

vilas destinadas aos momentos de repouso, como Popeia Sabina30, esposa de Nero,

Cícero31 ou Plínio, o Jovem.32

Dentre algumas das vilas descobertas na região, podem ser citadas a

vila de Giulia Felice33, a vila de Popeia (ou vila Oplontis)34, a vila de Diomedes35, a

vila de P. Fannius Synistor36, a vila de M. Fabius Rufus37, a vila Regina38, a vila dos

mistérios39, a vila dos papiros40, a vila das colunas mosaicas41.

(D’Arms 1970:116–67).” (LAURENCE, Ray. Roman Pompeii: space and society. London: Routledge,

1996, p. 47). 29 “Out-of-town Roman house, or ‘villa’.” (BEARD, Mary. Pompeii - The Life of a Roman Town.

London: Profile Books, 2008, p. 110). 30 “As has been often observed, Nero and Poppaea were especially popular at Pompeii, Poppaea

herself having very strong local connections, especially through her probable ownership of the

magnificent villa nearby at Oplontis.” (FRANKLIN JR, James L. Pompeis difficile est : studies in the

political life of imperial Pompeii. Ann Arbor: The University of Michigan Press, 2004, p. 119, 120). 31 “Not only Sullan veterans, however, but other Romans – notably Cicero –also came to acquire

property around Pompeii by the mid-first century BC (B17–22). Excavators in the eighteenth

century identified a villa on the outskirts, just beyond the Herculaneum Gate, as belonging to Cicero.

(...) His Pompeian villa served at times both as a retreat from the politically oppressive atmosphere

of Rome and as a potentially good location for a hasty escape by sea.” (COOLEY, Alison E.; COOLEY,

M.G.L. Pompeii: a sourcebook. New York: Routledge, 2004, p. 17, 24) 32 “Many of these villas were owned by Romans. For example, the Younger Pliny had six villas,

Cicero three, and it is thought, on the basis of evidence from inscriptions, that the Villa of Oplontis

near Pompeii may have at one time belonged to Nero’s wife, Poppaea.” (LAZER, Estelle.

Resurrecting Pompeii. New York: Routledge, 2009, p. 79). COOLEY, Alison E.; COOLEY, M.G.L.

Pompeii: a sourcebook. New York: Routledge, 2004, p. 41. 33 MAIURI, Amedeo. Pompei ed Ercolano: fra case e abitanti. Florença: Giunti Editore, 1998, p. 55.

Imagens podem ser acessadas pelo seguinte endereço eletrônico:

http://www.youtube.com/watch?v=xysIejmNylo . 34 Imagens podem ser acessadas pelos seguintes endereços eletrônicos:

http://www.youtube.com/watch?v=6i1zpbtW4A4 ;

http://www.youtube.com/watch?v=bTmwXYQZ9JY . 35 LAZER, Estelle. Resurrecting Pompeii. New York: Routledge, 2009, p. 19. Imagens podem ser

acessadas pelo seguinte endereço eletrônico: http://www.youtube.com/watch?v=G-1j8G1pRwg . 36 LAZER, Estelle. Resurrecting Pompeii. New York: Routledge, 2009, p. 53 37 LAZER, Estelle. Resurrecting Pompeii. New York: Routledge, 2009, p. 256. 38 BEARD, Mary. Pompeii - The Life of a Roman Town. London: Profile Books, 2008, p. 157 39 COOLEY, Alison E.; COOLEY, M.G.L. Pompeii: a sourcebook. New York: Routledge, 2004, p. 148.

“The Villa of the Dionysiac Mysteries manifests the best state of preservation, among the country

houses thus far excavated. It is situated outside Pompeii on the road leading to Herculaneum. Since

the original entrance from that side has not yet been excavated, the building is approached and

entered from the rear. A large quadrangular basement supports a garden terrace surrounding the

western part of the one-story villa. A colonnaded portico on the south, west, and north sides

borders the garden. Entered from the rear, the house displays a tablinum opening upon an apsidal

exedra on one side and upon a spacious atrium on the other. Atrium and peristyle show the basic

characteristics of the Roman town house.” (NASH, Ernest. Roman Towns. New York: J. J. Augustin,

16

Como explica Roberto Schezen, tais escavações ainda persistem, pois

não foram esgotados os locais de pesquisa.42

Percebe-se, pois, que a obra “Há Dois Mil Anos” surpreende ao

empregar a palavra vila num enquadramento significativamente distinto de sua

acepção ordinária no cotidiano brasileiro. Pode-se mesmo afirmar que a maioria

dos leitores brasileiros não perceberá com propriedade o que está por detrás do

emprego desta palavra no contexto da obra, tão entranhado que está na nossa

cultura o seu uso para designar pequenas povoações ou conjunto de casas

agrupadas.

Contrariando o senso comum, a obra aponta precisão no uso da palavra

vila no panorama romano, para designar um casarão de uma notável

personalidade em Pompeia. Neste particular vale atentar para os estudos

especializados que explicam a numerosa presença de vilas na região em foco, que

serviam de pouso de descanço para romanos afortunados. Chame-se a atenção,

ainda, para o fato de que os registros históricos também confirmam o costume

romano de associar as vilas ao nome de seu proprietário, como é o caso das

conhecidas vila de Giulia Felice, a vila de Popeia, a vila de Diomedes, a vila de P.

Fannius Synistor ou a vila de M. Fabius Rufus, donde se constata a verossimilhança

da referência “vila de Lentulus” contida em “Há Dois Mil Anos”.

5. As fontes históricas disponíveis sobre os pontos destacados

Sobre os pontos selecionados foi possível identificar fontes primárias e

secundárias de pesquisa.

Quanto à questão do horário de erupção do Vesúvio, a única fonte

primária identificada consiste na epístola de Plínio, o Jovem, destinada a Tácito.

Foram encontradas, contudo, inúmeras fontes secundárias, referidas na

bibliografia, a maioria em língua inglesa.

1994, p. 23). Imagens podem ser acessadas pelos seguintes endereços eletrônicos:

http://www.youtube.com/watch?v=ueubFo1DoNI ;

http://pompeiiinpictures.com/pompeiiinpictures/RV/villa%20mysteries%20plan.htm . 40 ZARMAKOUPI, Mantha (coord). The Villa of the Papyri at Herculaneum : archaeology, reception,

and digital reconstruction. New York: Walter de Gruyter GmbH & Co, 2010. Imagens podem ser

acessadas pelo seguinte endereço eletrônico: http://www.youtube.com/watch?v=zxSgddcivHU . 41 BEARD, Mary. Pompeii - The Life of a Roman Town. London: Profile Books, 2008, p. 131. 42 “Excavations are certainly not exhausted (…)”(SCHEZEN, Roberto. The Villa: From Ancient to

Modern. New York: Abrams Books, 2000, p. 11).

17

Já no que toca ao conceito da vila romana, podem ser citadas como

fontes primárias as cartas de Plínio, o Jovem43 ou as escavações em sítios

arqueológicos tais como os de Pompeia, que puderam ser estudadas por meio das

várias fontes secundárias citadas ao longo deste trabalho, majoritariamente

escritas em outros idiomas.

Acerca de tais fontes, pode-se afirmar, em síntese, que se cuidam de

obras desconhecidas ou inacessíveis ao público comum, sobretudo ao brasileiro,

em razão da barreira linguística. São, também, obras que devem ser tidas por

específicas e especiais, ou seja, trabalhos acessados e estudados por experts.

A necessidade de habilidades ou conhecimentos especiais para o

domínio dos assuntos em tela pode ser aferida, por exemplo, pelo fato de que a

carta de Plínio, o Jovem, consiste na única fonte histórica que aduz o horário em

que o Vesúvio entrou em erupção. Note-se que se trata de um documento

originalmente escrito em latim e que apresenta padrões de tempo segundo as

convenções romanas. Como visto, somente por meio de estudos especializados é

possível constatar que a referência à “sétima hora”, contida na epístola em tela, diz

respeito ao horário entre meio-dia e uma hora da tarde.

Tal como esclarecemos no primeiro trabalho de pesquisa da obra “Há

Dois Mil Anos”, cumpre repisar que somente foi possível identificar as fontes

históricas estudadas graças às ferramentas disponíveis na Internet.

6. Conclusões parciais

Em continuidade ao trabalho de pesquisa do livro “Há Dois Mil Anos”,

da psicografia de Francisco Cândido Xavier, foi selecionado o trecho em destaque

que aduz informações relativas ao horário de erupção do Vesúvio e ao contexto da

vila romana na região de Pompeia.

Nosso objetivo é o de, num primeiro momento, apenas apresentar

dados históricos para comparação com a obra mediúnica. Ou seja, antes de

qualquer imersão a respeito dos pontos de partida epistemológicos, da

metodologia empregada ou das conclusões específicas que podem ser deduzidas,

realizaremos a exposição da pesquisa das inúmeras informações passíveis de

verificação histórica já levantadas no livro “Há Dois Mil Anos”.

43 LAZER, Estelle. Resurrecting Pompeii. New York: Routledge, 2009, p. 79. COOLEY, Alison E.;

COOLEY, M.G.L. Pompeii: a sourcebook. New York: Routledge, 2004, p. 41.

18

Assim, demonstrou-se que há correspondência do trecho selecionado

com registros históricos confiáveis.

Conclui-se, pois, que a conjugação de fatos apresentada na obra

demonstra o conhecimento detido de realidades históricas que somente podem ser

compreendidas mediante estudos especializados.

7. Referências bibliográficas

BEARD, Mary. Pompeii - The Life of a Roman Town. London: Profile Books, 2008;

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