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Incertezas de Medição Prof. Marcos Antonio Araujo Silva
Dep. de Física
"I can live with doubt and uncertainty and not knowing. I think
it is much more interesting to live not knowing than to have
answers that might be wrong."
Richard Feynman
Sumário Histórico
Importância de medidas
Incertezas nas medições:
Tipo A – Avaliação Estatística
Tipo B – Bom senso
Algarismos significativos
Propagação de Incertezas
Conclusões
Bibliografia
Agradecimentos
Histórico
Pela primeira vez na história de
humanidade alguém realizou medidas de
um fenômeno natural, ou seja, realizou
um experimento como é entendido hoje.
Foi Cláudio Ptolomeu (85 – 165) quem
realizou medidas e registrou numa tabela
os dados do ângulo de incidência e ângulo
de refração da luz ao passar pela interface
do ar para a água.
Resultado Experimental
de Ptolomeu Incidência no
Ar (graus)
Refração na
Água (graus)
10 8,0
20 15,5
30 22,5
40 29
50 35
60 40,5
70 45,5
80 50
Histórico
Hoje, sabemos que esse fenômeno é regido pela conhecida Lei de
Snell:
.
Em que ni é o índice de refração do meio pelo qual a luz incide com
ângulo θi e nr é o índice de refração do meio no qual a luz refrata
com ângulo θr.
Importância
Medidas: dão suporte a Teorias que podem prever resultados futuros.
Medir: é um processo experimental em que o valor de
uma grandeza é determinado em termos de uma unidade
estabelecida por um padrão.
Resultado da medida
deve conter: o valor
numérico da grandeza, a
incerteza da medição e uma
unidade.
No Brasil o sistema legal de unidades é o Sistema
Internacional (SI), e as regras para a expressão dos resultados e
das incertezas nas medições são definidas pela ABNT e pelo
INMETRO.
Toda MEDIDA está sujeita a incertezas!
Pois, medir é um processo experimental sujeito a erros que
causam incertezas que podem ser devidas:
• ao processo de medição,
• aos equipamentos utilizados,
• à influência de variáveis que não estão sendo medidas, e também,
• ao operador que realiza as medidas.
Os ERROS são de dois tipos:
• Aleatórios: aumentando o número de medidas pode ser
minimizado.
• Sistemáticos: têm que ser encontrados e eliminados.
Supomos que os erros grosseiros já foram evitados, tais como,
imperícia ou desatenção da pessoa que está medindo, ajustes
imperfeitos do aparelho, má leitura da escala, etc.
É importante expressar o resultado de uma medida de modo
que outras pessoas o entendam e saibam com que confiança o
resultado foi obtido.
Exemplo 1: Ao se fazer muitas medidas com uma régua
graduada em milímetros, obtem-se a distribuição de resultados
mostrados na figura a seguir.
Régua em graduada em milímetros
Exemplo 2: Ao se fazer muitas medidas com uma régua
graduada em meio (1/2) milímetro, obtem-se a distribuição de
resultados mostrados na figura a seguir.
Régua em graduada em 1/2 milímetro
Os observadores que realizam as medidas não são capazes de
afirmar com certeza o comprimento do objeto. As medidas se
distribuem aproximadamente em torno de um mesmo valor médio
para as duas réguas.
Observa-se que as medidas realizadas com a régua com divisões
de 1/2 milímetro apresenta uma maior dispersão.
O parâmetro associado ao resultado de uma medição, que
caracteriza a dispersão de valores atribuídos à grandeza sob
medição, é chamada de incerteza da medição.
O modo mais comum de se expressar o resultado de uma medição é:
(valor da grandeza ± incerteza da medição) [unidade]
Esta e outras formas também utilizadas:
(7,64 ± 0,02) mm | 7,64(2) mm | 7,64(0,02) mm
Como vimos, a incerteza no resultado de uma medição
caracteriza a dispersão das medidas em torno da média. São duas
categorias para essas incertezas, dependendo do método utilizado
para estimar seu valor:
Avaliação tipo A – a incerteza é avaliada por meio de uma
análise estatística.
Avaliação tipo B – a incerteza é avaliada por meios não
estatísticos, por não se dispor de medidas repetidas.
Avaliação tipo B
A incerteza é avaliada por meios não estatísticos, por não se
dispor de medidas repetidas.
Quando não é possível ou prático a realização de muitas medidas,
utiliza-se o bom senso para estimar a incerteza duma medição. É
uma avaliação bastante subjetiva.
Deve-se utilizar todas as informações disponíveis, tais como,
especificações do fabricante e dados de calibração do aparelho,
dados de medições anteriores, experiência prévia do executor da
medida sobre os instrumentos e materiais utilizados, etc.
A imprecisão de um instrumento é a metade da menor divisão
de sua escala.
Alguns exemplos a seguir.
Exemplo 3 – Tem-se uma balança cuja única informação é “erro
máximo = 4 g”, leu-se uma massa de 45 g. O resultado da medição
é (45 ± 4) g.
Exemplo 4 – Quando se tem apenas a informação que o valor da
medição é limitado pelo intervalo x+ e x-. Neste caso é aceitável
supor que x pode assumir qualquer valor no intervalo com igual
probabilidade. Assim, o valor mais provável da grandeza é dado por
e a incerteza padrão, estimada como o desvio padrão dessa
distribuição, é dada por
O fator “raiz de três” no denominador vem da distribuição
retangular de probabilidade.
Avaliação tipo B
Exemplo 5 – Numa medida de tensão alternada, o ponteiro do
voltímetro analógico oscilava aproximadamente entre 12,5 V e 14,0 V.
Usando-se esses valores como limites, como no exemplo anterior, obtém-
se
e
E o resultado dessa medição de voltagem é (13,3 ± 0,4) V.
Exemplo 6 – Numa medida de pH, o display do pHmetro digital oscilava
aproximadamente entre 4,9 e 5,0. Usando-se esses valores como limites,
como no exemplo anterior, obtém-se
e
E o resultado dessa medição de pH vale (4,95 ± 0,03).
Avaliação tipo B
Avaliação tipo A
Uma medida repetida n vezes nas mesmas condições.
Obtemos os resultados { x1, x2, ..., xn }.
A melhor estimativa para a medida é dada pela média
aritmética <x> dos valores obtidos:
e a incerteza padrão da medição é identificada como o desvio
padrão, u, da média dos resultados:
Observações
• As distribuições das medidas dos exemplos 1 e 2 são exemplos
de uma distribuição normal ou gaussiana. Ela é descrita pela
função
onde <x> é o valor central ou médio de x e u é o desvio padrão
da média da distribuição.
• Neste tipo de distribuição, aproximadamente 68% dos valores
encontram-se no intervalo (<x> ± u); cerca de 95% dos valores
estão dentro do intervalo (<x> ± 2u); e cerca de 99,7% estão
dentro do intervalo (<x> ± 3u). Esses intervalos são chamados de
intervalos de confiança.
Avaliação tipo A
Observações (cont.)
• Essa estimativa é confiável quando o número de medidas é muito
grande (n > 200). No caso de n pequeno, deve-se multiplicar o
desvio padrão por um fator de correção conhecido como
coeficiente t-Student, cujo valor depende do número de
medições e do intervalo de confiança desejado.
Avaliação tipo A
Exemplo 7 – Em um grupo de oito medidas de pH obteve-se
os resultados apresentados na tabela a seguir.
i pHi
1 11,31 0,10
2 11,09 0,12
3 11,10 0,11
4 11,27 0,06
5 11,18 0,03
6 11,32 0,11
7 11,24 0,03
8 11,15 0,06
<pH> =
11,21
O valor médio do pH é
A incerteza no pH como o
desvio padrão da média é dado
por
Portanto, o valor mais provável
do pH é
pH = (11,21 ± 0,03).
Algarismos Significativos
Ao expressar os resultados experimentais medidos é
importante escrever o número correto de algarismos
significativos.
Regras:
• os algarismos significativos de uma medida apresenta apenas o
último algarismo duvidoso;
• o algarismo duvidoso é o que é afetado pela incerteza da medição;
• zeros à esqueda não são significativos;
• zeros à direita do primeiro número não nulo são significativos;
• usar potência de 10 não altera o número de algarismos
significativos.
Algarismos Significativos
Comentários:
• Operações com algarismos significativos:
o adição ou subtração – observa-se a parcela com menor número
de casas decimais;
o Multiplicação ou divisão – observa-se a parcela mais pobre, com
menor número de algarismos significativos.
• Na medição do comprimento do objeto com uma régua graduada em
milímetros do exemplo 1 estimamos a incerteza do tipo A como (7,6 ±
0,1) cm. O seis é o algarismo duvidoso e temos corretamente 2
algarismos significativos.
• Seria errado expressar esse resultado como:
(7,6385 ± 0,1) cm ou (7 ± 0,1) cm ou (7,6385 ± 0,1178) cm.
• É importante observar que o número de algarismos significativos no
resultado é determinado apenas pela incerteza. A incerteza é inerente
ao processo de medição.
Propagação da Incerteza
Quase sempre medimos indiretamente uma grandeza.
Consideremos que uma grandeza Y que não pode ser medida
diretamente e que é uma função f de N outras grandezas X1, X2,
..., XN. Ou seja,
Y = f(X1, X2, ..., XN).
Sejam x1 ± u(x1), x2 ± u(x2), ..., xN ± u(xN) os resultados
independentes das medições das grandezas X1, X2, ..., XN.
O resultado y da medição da grandeza Y é dado por
y = f(x1, x2, ..., xN).
.
A incerteza padrão da medição de uma grandeza obtida
por meio de uma medição indireta é chamada de
incerteza padrão combinada, e é determinada pela
equação
Ou seja, a incerteza padrão combinada da variável y é
igual à raiz quadrada positiva da soma dos quadrados das
incertezas das medições das outras grandezas,
ponderadas pela derivada parcial ao quadrado,
.
Exemplo 8 – Deseja-se medir a potência elétrica P dissipada
por um chuveiro elétrico ligado à rede elétrica. São feitas
várias medições da resistência elétrica R do chuveiro e da
tensão elétrica V da rede. Determinou-se assim, os valores
médio e as incertezas padrão dessas grandezas. Os
resultados são
R = (2,5 ± 0,3) Ω e V = (127 ± 1) Volts.
A potência elétrica dissipada no resistor é dada por P = V2/R, ou seja, P =
1272/2,5 = 6451,6 Watt.
– Como as incertezas em R e em V afetam o resultado da
medição de P?
Vejamos, P = P(R, V) e a incerteza padrão combinada uc(P) da
potência é dada por
Avaliação tipo B
Como P = V2/R, então
, , e
levando os valores numéricos em uc(P)
uc(P) = 781 W.
Então, o resultado para a medição da potência é
P = (6,5 ± 0,8) x 103 W.
Princípio da Incerteza de Heisenberg
No mundo quântico o simples ato de olhar pode alterar
completamente o sistema sob observação. Por exemplo, se
quisermos determinar a posição e o momento (a componente
paralelo à posição) de um elétron, temos que vê-lo. E para vê-lo
precisamos interagir com ele através de fótons. Essa interação
altera o momento do elétron, de modo que você jamais
conseguirá determinar simultaneamente a posição e o momento
do elétrom.
Esse princípio foi elaborado por Heisenberg no final da década
de 20 do século passado, quando a mecânica quântica estava
sendo construída.
Bibliografia CAMPOS, A.A.G.; Alves, E.S.; Speziali, N.L., Física Experimental Básica na
Universidade, 2ª. Ed., Belo Horizonte, Editora UFMG, 2011. ISNB: 978-85-7041-663-6.
VUOLO, J.H. Fundamentos da Teoria dos Erros, 2ª. Ed., São Paulo, Editora Edgard
Blücher, 1996.
Incerteza de Medição, Professora Márcia Russman Gallas, IF-UFRGS,
http://www.if.ufrgs.br/~marcia/medidas.pdf. Acessado em 13/10/2014.
Obrigado!!