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Artigo – Relato de Experiência
Revista ACRED - ISSN 2237-5643 v. 7, n. 13 (2017)
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Implantação da gestão de risco e disseminação da cultura de segurança do
paciente: desafios de um hospital público
Implantation of risk management and dissemination of patient safety culture:
challenges of a public hospital
Lisiane Valdez Gaspary1
Gisele de Oliveira Morgado2
Adriana Pires Santos3
1Enfermeira. Especialista em Administração Hospitalar e de Sistemas de Saúde pela Fundação
Getúlio Vargas. Gestão da Qualidade pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert
Einstein e Qualidade em Saúde e Segurança do Paciente pela Fundação Oswaldo Cruz.
Mestranda em Gestão de Tecnologia e Inovação em Saúde. Gerente de Qualidade e Segurança
do HGIS. Itapecerica da Serra. Brasil. E-mail: [email protected] 2Enfermeira. Especialista em Gestão da Qualidade pelo Instituto Israelita de Ensino e
Pesquisa Albert Einstein. Coordenadora da Qualidade do HGIS. Itapecerica da Serra. Brasil.
E-mail: [email protected] 3Enfermeira. Especialista em Gestão da Qualidade pelo Instituto Israelita de Ensino e
Pesquisa Albert Einstein. Supervisora do Risco do HGIS. Itapecerica da Serra. Brasil. E-mail:
RESUMO
Este artigo é um relato de experiência com o objetivo de descrever o processo de implantação
da gestão de risco e da cultura de segurança do paciente em um hospital público da grande
São Paulo. Trata-se de um estudo de caso descritivo, desenvolvido no período de 2005 a 2015
no Hospital Geral de Itapecerica da Serra - HGIS. Alinhado as políticas públicas nacionais o
HGIS se preocupa com a segurança dos seus pacientes, com esta definição clara nos seus
princípios organizacionais, instituindo desde 2005 a Comissão de Gerenciamento de Risco, o
Serviço de Vigilância de Risco em 2008 e a Gerência de Risco em 2010. Muitos processos
foram implantados neste período, assim como avaliações externas, que fortaleceram a cultura
de segurança na instituição. Com a publicação da Portaria nº 529 e da Resolução da Diretoria
Colegiada - RDC nº 36, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária em 2013, o hospital
necessitou rever os seus processos e aprimorar o processo de qualidade e segurança,
baseando-se nas melhores práticas e nas exigências nacionais e internacionais, como
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acreditações internacionais. Como resultados, conquistou a acreditação pela Organização
Nacional de Acreditação - ONA em 2009 e a Joint Commission International - JCI em 2012;
estimulou o número de notificações de incidentes alcançando mais de 9000 notificações em
2015 e reduzindo a taxa de eventos com dano de 13,5% em 2012 para 10,8% em 2015; e
melhorou seus resultados como a taxa de adesão a correta identificação do paciente de 59,6%
em 2012 para 81,3% em 2015 e taxa de adesão à higienização das mãos de 47,9% em 2012
para 67,4% em 2015. Muitos desafios existiram neste percurso de implantação da gestão de
risco no HGIS, foram necessárias estratégias de educação com a utilização de metodologias
tradicionais, lúdicas e-learning e a definição de indicadores de processo e resultado para o
monitoramento dos indicadores de segurança do paciente. A disseminação da cultura em
todos os níveis em prol do cuidado seguro foi de suma importância no incentivo e adesão a as
práticas mais seguras, sendo possível visualizar resultados efetivos e sustentáveis.
Palavras-chave: Segurança do Paciente. Cultura de Segurança. Qualidade.
ABSTRACT
This article is an experience report with the objective of describing the process of implanting
risk management and patient safety culture in a public hospital in Greater São Paulo. This is a
descriptive case study, developed from 2005 to 2015 at the General Hospital of Itapecerica da
Serra (HGIS). Aligned national public policies the Itapecerica General Hospital da Serra -
HGIS cares about the safety of your patients with this clear definition in their organizational
principles, so much so that since 2005 instituted the Commission of Risk Management, Risk
Surveillance Service in 2008 and Risk Management in 2010. Many processes have been
implemented in this period, as well as external evaluations, which strengthened the safety
culture in the institution. With the publication of Decree No. 529 and Resolution of the
Collegiate Board of Directors (RDC) No. 36, the National Health Surveillance Agency in
2013, the hospital needed to review their processes and improve the quality and safety
process, based on best practices and national requirements and international, and international
accreditations. As a result, it was accredited by the National Accreditation Organization
(ONA) in 2009 and Joint Commission International (JCI) in 2012; Has stimulated the number
of incident notifications reaching more than 9000 notifications in 2015 and reducing the event
rate with damage from 13.5% in 2012 to 10.8% in 2015; And improved its results such as
adherence rate to correct patient identification from 59.6% in 2012 to 81.3% in 2015 and hand
hygiene adherence rate from 47.9% in 2012 to 67.4% in 2015. Many challenges existed in this
course of risk management implementation at HGIS, educational strategies were required
using traditional, playful e-learning methodologies and the definition of process and outcome
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indicators for monitoring patient safety indicators. The dissemination of culture at all levels
in favor of safe care was of paramount importance in encouraging and adhering to safer
practices, and it was possible to visualize effective and sustainable results.
Keywords: Patient Safety. Safety Culture. Quality.
INTRODUÇÃO
A segurança é considerada uma das dimensões da qualidade (INSTITUTE OF
MEDICINE, 2001) e conforme Sousa (2014) só recentemente o assunto passou a ser estudado
com mais afinco no Brasil e no Mundo.
O grande marco foi à publicação do livro To Err is Human do Institute of Medicine -
IOM, em 2000 de Kohn, Corrigan e Donaldson, que abordou a ocorrência de mortes nos
Estados Unidos decorrentes de eventos adversos na prestação de cuidado. A partir daí, vários
outros relatórios, livros e artigos foram publicados analisando os eventos adversos e propondo
estratégias de melhoria deste cenário.
Em 2004, a Organização Mundial de Saúde - OMS, lançou o desafio da campanha
para a segurança do paciente Patient Safety com o objetivo de coordenar, disseminar e
promover a melhoria na segurança do paciente a nível mundial. Outras campanhas têm sido
lançadas desde então, como o “100 mil vidas” e “5 milhões de vidas” do Institute for
Healthcare Improvement - IHI (SOUSA; MENDES, 2014).
Em novembro de 2004, a OMS criou o Programa de Segurança do Paciente com o
objetivo de coordenar, disseminar e acelerar as melhorias relativas à segurança do paciente.
Entre inúmeras atividades desenvolvidas pelo programa destacam-se as iniciativas globais. Os
chamados Desafios Globais para a Segurança do Paciente, previstos na Aliança Mundial para
a Segurança do Paciente, orientam a identificação de ações que ajudem a evitar riscos para os
pacientes e ao mesmo tempo, norteiam os países que tenham interesse em implantá-los
(MINISTÉRIO DA SAÚDE(a), 2013).
Assim, a busca pela cultura da segurança do paciente como um fator que estimula um
cuidado de saúde mais seguro e passível de intervenções, tem se mostrado uma necessidade
crescente em função das ampliações do espaço democrático e da cidadania, da competição do
mercado, das exigências das certificações externas, legislações e da reflexão ética de uma
sociedade que incorpora novas tecnologias numa velocidade cada vez maior. Neste contexto,
a segurança na assistência à saúde é elemento indissociável da qualidade e o modelo de
organização para o melhor desempenho dos serviços de saúde que deve ser continuamente
buscado (SOUSA; MENDES, 2014).
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Contudo, é preciso entender, que a segurança em Saúde não é um valor que possa ser
mensurado exclusivamente por seus resultados e impactos. Seu alcance e benefícios
extrapolam o que podemos medir por instrumentos formais. Sua real natureza de valor está na
capacidade efetiva de não causar dano o que muitas vezes não é mensurável (COSTA
JUNIOR, 2015).
No Brasil o tema Segurança já era discutido e exigido pelas instituições acreditadoras,
que identificavam oportunidades de melhoria na qualidade dos cuidados prestados com a
redução dos riscos/eventos (JCI, 2011; ONA, 2011). Contudo, as campanhas e as avaliações
externas auxiliam, mas não transformam os serviços de saúde em organizações com uma
gestão voltada para a qualidade e segurança do paciente (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013).
Assim, em 1º de abril de 2013 foi publicada a Portaria nº 529 que instituía o Programa
Nacional de Segurança do Paciente – PNSP, pelo Ministério da Saúde (2013a), com objetivos
específicos, definições e estratégias de implementação do PNSP. E, a Resolução RDC nº 36
de 25 de julho de 2013 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que instituía ações para a
segurança do paciente em serviços de saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE(b)).
Segundo Lima e Dutra (2010), os objetivos de um bom gerenciamento de riscos são
melhorar a gestão de incidentes e reduzir perdas e custos com riscos, melhorar a identificação
de oportunidades de melhorias e das ameaças, ter uma base mais sólida e segura para a
tomada de decisão e planejamento, pró-atividade da gestão, melhorar o uso de alocação dos
recursos, melhorar a segurança e confiança das partes envolvidas, melhorar a conformidade
com a legislação pertinente e melhorar a gestão.
Estudos que avaliaram a implantação da gestão de risco citam como melhores práticas
no gerenciamento de risco e para a cultura de segurança ações de treinamento e capacitações
in loco e orientações à equipe, a comunicação e o registro dos eventos adversos e a existência
de um comitê de segurança do paciente (SOUZA; MENDES, 2014; COSTA; MEIRELLES;
ERDMANN, 2013; HINRICHSEN et al., 2011). Um estudo elaborado por Oliveira et al
(2014), apresenta como estratégias para promover a segurança do paciente a identificação
atenta dos riscos aos quais os pacientes estão sujeitos durante os cuidados de enfermagem, a
incorporação de boas práticas na assistência direta e/ou indireta e a identificação das barreiras
e oportunidades encontradas para promover a segurança do paciente.
O objetivo deste artigo é descrever a experiência de um hospital público da grande São
Paulo no processo de implantação da gestão de risco e da cultura de segurança do paciente.
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DESENVOLVIMENTO
Trata-se de um estudo de caso descritivo, desenvolvido no período de 2005 a 2015 no
Hospital Geral de Itapecerica da Serra.
Cenário - O Hospital
O Hospital Geral de Itapecerica da Serra - HGIS é uma entidade pública da Secretaria
de Estado da Saúde de São Paulo, inaugurado em 03 de março de 1999, administrada por uma
Organização Social de Saúde - OSS, o Seconci SP OSS – Serviço Social da Construção Civil
do Estado de São Paulo, conforme Lei complementar nº 846 de 04 de junho de 1998. É parte
integrante do Sistema Único de Saúde - SUS e atende exclusivamente a seus usuários dentro
dos princípios de universalidade, equidade, integralidade. É um hospital geral com 222 leitos
e cerca de 1300 colaboradores e é o único hospital de referência secundária para os
municípios de Itapecerica da Serra, Embu-Guaçu, Juquitiba e São Lourenço da Serra.
O processo de Implantação da Gestão de Risco e Cultura de Segurança
Em 2005 foi criada a Agência da Qualidade com a responsabilidade de identificar e
propor melhorias nos processos internos, elaborar planos, políticas e diretrizes para a
implementação, gerenciamento e monitoramento dos processos, dar suporte às lideranças na
avaliação técnica dos resultados, análise e acompanhamento das melhorias, propor
ferramentas da qualidade, mapear processos, entre outros; simultaneamente em 2005 iniciou a
composição da Comissão Multiprofissional de Gerenciamento de Risco de caráter
multiprofissional focado na gestão dos riscos sanitários; o hospital passou a integrar a Rede
Sentinela da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA como hospital colaborador
e, finalmente, obteve o título de Acreditado pela Organização Nacional de Acreditação -
ONA.
Em 2006 a Agência da Qualidade iniciou o processo de gestão eletrônica de
documentos com a aquisição de um software de gestão da qualidade, que aprimorou a
interação na edição de documentos compartilhados, permitiu hiperlinks para acesso a
documentos relacionados, controle de registros de análise, além de garantir documentos
atualizados e padronizados a partir da parametrização do sistema, que visava o acesso de
todos os usuários a todos os documentos.
Em 2007 foi elaborado o Planejamento Estratégico do HGIS, que passou a utilizar a
metodologia Balanced Scorecard em seu planejamento. Essa ferramenta possibilitou a
tradução e o desenvolvimento da estratégia organizacional em objetivos claros para cada
perspectiva analisada por meio de um mapa estratégico, focando: a segurança dos processos;
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o desdobramento das estratégias através do planejamento das operações e a comunicação da
estratégia; a estruturação e monitoramento do sistema de medição da organização pelo painel
de indicadores; o alinhamento com a estratégia do negócio e o aprendizado estratégico,
propiciando o desenvolvimento das competências dos recursos humanos e um ambiente
organizacional para mudança. Neste ano concomitantemente a instituição foi acreditada Plena
pela ONA.
Em 2008 foi criado o Serviço de Vigilância de Risco - SVR, um núcleo executivo,
composto por um médico e um enfermeiro, com a responsabilidade de coordenar o sistema de
gerenciamento e vigilância de riscos, com base no modelo estabelecido nas diretrizes e
normas definidas pela Portaria nº 2616 do Ministério da Saúde de 1998 que rege as
Comissões de Controle de Infecção Hospitalar no Brasil (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1998).
Assim, o SVR passou a gerenciar as frentes de farmacovigilância, hemovigilância,
tecnovigilância, além da saúde ocupacional e segurança ambiental. Definiu as bases para
notificações de incidentes, mapeou riscos das atividades assistenciais e, utilizando
ferramentas de análise de perigos e riscos, definiu estratégias para estimular às notificações,
criando um sistema de fácil acesso às notificações. Utilizou ferramentas de qualidade para
mapeamento de processos e estudo retrospectivo de eventos adversos graves, além da
divulgação dos dados e indicadores em relatórios, boletins (imagem 1), campanhas, murais
(imagem 2) e eventos de gerenciamento de risco, disseminando a cultura de segurança.
Imagem 1 – Boletins de Gerenciamento de Risco, 2014.
Fonte: HOSPITAL GERAL DE ITAPERICA DA SERRA, 2014.
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Imagem 2 – Murais de Gestão nos corredores das unidades
Fonte: HOSPITAL GERAL DE ITAPERICA DA SERRA, S.d
Em 2009, o HGIS foi Acreditado com Excelência ONA e, consequentemente, as
manutenções e reacreditações aconteceram nos anos seguintes 2012 e 2015. O processo de
acreditação levou à concretização de rotinas diárias em torno da qualidade e segurança e ao
cumprimento de padrões preestabelecidos. Em suas três fases, o Hospital pôde se confrontar
com desafios de mudanças que envolveram todos os colaboradores em cada um de seus
setores.
Em 2010 foi criada a Gerência de Risco - GR, de caráter sistêmico e transversal dentro
do organograma institucional, em razão da priorização da segurança do paciente como
estratégia organizacional. Neste mesmo ano, iniciou-se o processo de implantação das Metas
Internacionais de Segurança do Paciente, com a elaboração e revisão de políticas, protocolos,
procedimentos operacionais-padrão e indicadores de processo e resultado. Também foram
realizadas Campanhas para disseminação dos respectivos documentos (imagem 3).
Imagem 3 – Campanhas das Metas Internacionais de Segurança do Paciente – 2013, 2014,
2015.
Fonte: HOSPITAL GERAL DE ITAPERICA DA SERRA, S.d
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Em novembro de 2012 o HGIS foi acreditado internacionalmente pela Joint Comission
International - JCI, reforçando o compromisso da instituição com os princípios de qualidade e
segurança, já que este processo de acreditação necessitou da implantação de melhorias de
processo, de acordo com o seu Manual (JCI, 2011). Dentre eles, destacam-se a elaboração e
revisão de documentos existentes como programas, manuais, protocolos e políticas
institucionais, revisão e elaboração de formulários, impressos ou eletrônicos, revisão de
fluxos e rotinas dentre outros (GASPARY, 2014).
Em 2013, a instituição implantou um sistema eletrônico de notificação de incidentes,
conforme apresentado na imagem 4, que antes era um processo manual, agilizando o
recebimento, análise, investigações e categorizações das notificações.
Imagem 4 – Sistema de Notificação do Risco na Intranet
Fonte: Intranet. HOSPITAL GERAL DE ITAPERICA DA SERRA, S.d
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A parametrização das notificações foi baseada nas terminologias da Classificação
Internacional de Segurança do Paciente da Organização Mundial da Saúde (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 2009), que define os incidentes em 13 tipos de incidentes:
administração clínica, documentação, infecção hospitalar, hemoderivados, nutrição,
comportamento, dentre outros. Foi necessária a adaptação de categorizações que
contemplassem o perfil das notificações institucionais, o desfecho do paciente. Após a
categorização dos incidentes, todas as informações são importadas para elaboração de
relatório.
O módulo notificador fica disponível por um link na página principal da intranet e foi
desenvolvido para que todo o colaborador tenha acesso, este possui alguns itens para
preenchimento: nome do notificante - item não obrigatório, ramal, unidade de ocorrência,
unidade notificante, data e hora da ocorrência, tipo de notificação, descrição do evento,
identificação do envolvido (paciente, colaborador, acompanhante etc.), e perguntas para
estimular uma reflexão e ação local, tais como: houve dano? Poderia haver dano? Se sim,
qual? A gestão local foi comunicada? Quem? Ação imediata? Ao final é gerado um código de
rastreabilidade para que o notificador acompanhe o status da notificação. Assim que um
incidente é notificado, o SVR recebe um e-mail de notificação, o que permite o conhecimento
imediato desta, permitindo que seja avaliada para a necessidade investigações e ações rápidas
tentando minimizar as consequências.
A partir da Portaria e da Resolução do Ministério da Saúde de 2013, passou a ser
obrigatório aos hospitais brasileiros identificar, analisar, avaliar, monitorar e comunicar os
riscos; integrar os diferentes processos de gestão de risco e implementar protocolos
estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Assim, processos já trabalhados e consolidados no
HGIS com a criação da CGR em 2005, foram continuamente aprimorados e consolidados ao
longo do tempo, de forma que pouco precisou ser modificado para adequação às novas
exigências. A Comissão Multiprofissional de Gerenciamento de Risco já existente passou a
exercer as atividades do Núcleo de Segurança do Paciente conforme permitido pela
legislação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Aprimorar, fortalecer e manter uma cultura organizacional consolidada tem sido um
dos objetivos perenes do HGIS. Para sustentar essa cultura, o hospital possui princípios
organizacionais como missão, visão e valores bem definidos e políticas que norteiam a cultura
da instituição sustentada por Programas, Planos, Protocolos Técnicos Assistenciais,
Procedimentos Operacionais Padrão – POP, entre outros.
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Assim, o HGIS foi evidenciando suas melhores práticas em documentos e indicadores
gerenciados e atualizados periodicamente, incorporando a cada ano as melhores evidências
científicas, tanto que em 2015 possuía 999 documentos vigentes, distribuídos em 13 tipos de
documentos (gráfico 1), e 235 indicadores.
Gráfico 1 – Número de documentos gerenciados.
Fonte: Sistema de Gestão de Documentos - docNix Blue / HGIS, dezembro 2015
Já as estratégias para disseminação das mudanças aprovadas envolveram: divulgação
em cartazes, murais, intranet, boletins - com 19 publicações até final de 2015, treinamentos e
campanhas, entre elas, 06 das Metas Internacionais de Segurança do Paciente.
Como resultado das diversas estratégias utilizadas para a disseminação da cultura de
segurança, em 2015 houve um aumento de 37% do número de notificações de incidentes
(gráfico 2), se comparado com 2014, com um aumento constante das notificações no decorrer
dos anos, o que reforça uma cultura de segurança disseminada e consolida.
Gráfico 2 – Série histórica de notificações de incidentes.
Fonte: Sistema de Notificações do Risco / HGIS, dezembro 2015.
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A queda das notificações em 2013, no gráfico 2, pode ser atribuída, conforme já
discutido, à mudança da sistemática de notificação para o sistema informatizado e
consequente adaptação das equipes ao novo modelo.
E, apesar do aumento do número de notificações de incidentes, observa-se uma
tendência de diminuição de eventos graves, o que sugere uma melhora da qualidade da
assistência prestada, com a redução da taxa de eventos com dano - soma do número de
eventos com dano menor, moderado, grave e morte, dividido pelo total de saídas hospitalares
vezes 100, de 13,5% ( 1.545 eventos com dano para 11.437 paciente-dia) em 2013 para 10,8%
(1.302 eventos com dano para 12.092 paciente-dia) em 2015.
Gráfico 3 – Série histórica de Taxa de eventos com dano - por 100 saídas hospitalares.
Fonte: SVR / HGIS, 2015
Em um estudo nacional a prevalência de eventos adversos foi de 18,7%, sendo a
prevalência dos eventos adversos estimada entre 15% e 21,9% no ambiente cirúrgico.
(PARANAGUÁ et al, 2013).
O HGIS conseguiu um resultado inferior ao da literatura, mas seus resultados incluem
também perfil obstétrico, pediátrico e clínico.
Outros dados já mostram uma melhora na adesão da equipe às diretrizes institucionais,
como as políticas das Metas Internacionais de Segurança do Paciente, por meio do
monitoramento de indicadores de processo e resultado, com repercussão das várias estratégias
implantadas de sensibilização (gráficos 4 e 5), com o aumento da taxa de adesão a correta
identificação do paciente (número de procedimentos com identificação correta do paciente
sobre o número de oportunidades observadas vezes 100) de 59,6% em 2012 (304
identificações corretas para 610 oportunidades) para 81,3% em 2015 (608 identificações
corretas para 748 oportunidades) e taxa de adesão à higienização das mãos (número de
oportunidades para higienização das mãos aproveitadas sobre o número de oportunidades
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observadas vezes 100) de 47,9% (235 oportunidades para 490 observações) em 2012 para
67,4% (607 oportunidades para 900 observações) em 2015.
Gráfico 4 – Série Histórica da Taxa de Adesão à Correta Identificação do Paciente
Fonte: SVR / HGIS
Em um estudo nacional (PORTO et al, 2011), foram realizadas observações quanto à
checagem da pulseira de identificação no processo de administração de medicações e fluidos,
sendo que em 63,7% os pacientes pediátricos foram identificados de alguma maneira.
Observa-se que o processo de checagem de pulseira antes da realização de
procedimentos é complexo, pois é necessário verificar se o paciente está com a pulseira, se os
identificadores padronizados estão presentes e estão corretos, se estão legíveis, ou seja, não é
suficiente o paciente estar com a pulseira, a checagem deve ser a última barreira na prevenção
de um evento adverso. Assim, conforme a tendência crescente dos resultados no gráfico 4, os
profissionais do HGIS estão se conscientizando da importância de processos seguros e da
implantação de melhores práticas.
Gráfico 5 – Série Histórica da Taxa de Adesão à Higienização das Mãos
Fonte: SVR / HGIS.
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Infelizmente, apesar de inúmeras evidências de que a Higiene das Mãos - HM é uma
medida importante para a redução da transmissão de microrganismos por meio das mãos, a
adesão a esta prática permanece baixa, com taxas que variam de 5% a 81%, sendo em média,
40% (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2012).
Comparativamente, o HGIS segue uma tendência crescente de melhoria dos seus
resultados refletida na adesão a taxa de HM, obtida a partir da sensibilização das suas equipes
quanto à importância do procedimento e das práticas seguras.
Procurando avaliar os 10 anos de implantação da gestão de risco no HGIS e a
evolução da cultura de segurança do paciente na instituição, em 2015 foi aplicada a 1ª
Pesquisa de Cultura de Segurança do Paciente para Hospitais, utilizando-se do instrumento
Hospital Survey on Patient Safety Culture – HSOPSC, criado pela Agency for Healthcare
Research and Quality - AHRQ e validado por Reis (2013), para conhecer os pontos fortes e
fracos da cultura segurança e permitir a elaboração de estratégias para o seu fortalecimento.
Um total de 20,3% (274) profissionais respondeu por completo a pesquisa,
destacando-se: 88% dos respondentes no HGIS e 84% no AHRQ (AGENCY FOR
HEALTHCARE RESEARCH AND QUALITY, 2016) concordaram ou concordaram
totalmente que a instituição está fazendo coisas para melhorar a segurança do paciente e
81,8% HGIS e 76,0% AHRQ concordaram ou concordaram totalmente que as ações da
direção do hospital demonstram que a segurança do paciente é a principal prioridade.
Ou seja, para estes dois itens avaliados, o HGIS apresentou resultado melhor que a
média dos 680 hospitais que compararam os seus resultados no banco de dados do AHRQ.
Também como resultado importante da implantação da gestão de risco e da cultura de
segurança no HGIS, o relatório de monitoramento das atividades de Rede Sentinela que avalia
macrotemas como Identificação, análise e avaliação de risco, controle e monitoramento de
risco, comunicação do risco, minimização de risco, Programa Nacional de Segurança do
Paciente, dentre outros, mostrou evolução alcançada durante os ciclos de monitoramento,
sendo que o HGIS aumentou sua pontuação a cada nova avaliação, classificado na categoria A
(pontuação alcançada 27,9 a 37) no 2º semestre de 2013 com 29 pontos e no 2º semestre 2015
com 34,54 pontos, conforme apresentado no gráfico 6.
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Gráfico 6 – Pontuação obtida no monitoramento das atividades da Rede Sentinela
Fonte: AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA.
O HGIS, assim como outras instituições citadas por pesquisadores (SOUZA; SILVA,
2014; OLIVEIRA et al, 2014; COSTA, 2013; HINRICHSEN et al, 2011; LIMA; DUTRA,
2010), conseguiu implantar com sucesso as metas internacionais de segurança do paciente,
documentos padronizados (protocolos, procedimentos, manuais, rotinas, etc.), sistema de
notificação e monitoramento de incidentes, núcleos de segurança do paciente, além de realizar
campanhas e treinamentos com o objetivo de disseminar e fortalecer uma cultura de segurança
do paciente.
CONCLUSÃO
A busca pela cultura da segurança do paciente como um fator que estimula um
cuidado de saúde mais seguro e passível de intervenções, tem se mostrado uma necessidade
crescente em função das ampliações do espaço democrático e da cidadania, da competição do
mercado, das exigências das certificações externas e da reflexão ética de uma sociedade que
incorpora novas tecnologias numa velocidade cada vez maior.
Muitos desafios existiram neste percurso de implantação da gestão de risco no HGIS e
envolveram principalmente a disseminação da cultura de segurança do paciente para todos os
colaboradores da instituição, com a quebra de paradigmas, as capacitações e a construção de
um ambiente de promoção de responsabilidade e transparência, na qual os indivíduos se
sentissem a vontade para relatar desvios, as alterações organizacionais que incentivaram e
possibilitaram as práticas mais seguras e o incentivo à colaboração em todos os níveis em prol
da segurança do paciente, dados estes evidenciados com o aumento das notificações de
incidentes e a adesão às políticas institucionais.
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O processo colaborativo de construção do Programa e Plano de Melhoria da Qualidade
e Segurança do Paciente foi essencial para disseminação de práticas que contribuíram para a
melhoria da segurança do paciente no HGIS, assim como a integração da equipe, o
envolvimento de gestores e colaboradores em todos os processos relacionados à gestão de
riscos desde a identificação e notificação de riscos, investigações e implementação de
medidas mitigadoras, definição e padronização de protocolos e procedimentos, redesenho,
monitoramento dos processos e capacitações, fundamentais para a consolidação de uma
cultura sustentável.
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Recebido em: 21/05/2017.
Aceito em: 25/07/2017.
Publicado em: 25/08/2017.