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Impeachment - Leitura
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O PROCESSO DE IMPEACHMENT
Introdução:
O recurso ao Impeachment (impedimento) origina-se do direito anglo-saxão e
foi utilizado na Inglaterra desde os tempos medievais, época em que os parlamentos
começaram a falar em nome do povo. Tornou-se um procedimento constitucional que
visa o afastamento de alguém de um alto cargo ou função executiva e que somente
pode vingar e ser operado numa cultura política onde existe uma razoável autonomia
da sociedade civil em relação a presença do Estado.
Impeachment no Brasil:
Apesar de já nos tempos do Primeiro Reinado do Brasil (1822-1831)
existirem leis que permitiam o afastamento e até a punição de funcionários
considerados irresponsáveis ou incompetentes para o exercício da função pública, o
Impeachment somente foi adotado depois da proclamação da República, em 15 de
novembro de 1889.
A Constituição republicana de 1891, seguindo os preceitos da norte-
americana, incorporou-o entre os seus artigos, obedecendo os mesmos princípios. O
Impeachment é um processo político, não criminal, que tem por objetivo apenas afastar
o presidente da república ou qualquer outra pessoa do executivo sem que por isso ele
seja condenado penalmente. Na atual Constituição de 1988, o artigo 85 especifica as
várias ocasiões em que o presidente pode vir a ser processado. Se ele cometer um
crime comum ele será julgado pelo Supremo Tribunal federal, se foi por um crime
considerado de responsabilidade (de falta de probidade administrativa, por exemplo) o
encaminhamento é outro.
O Mecanismo do Impeachment:
A abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) é o primeiro
passo a ser adotado pelo Congresso para apurar as denuncias feitas contra o Supremo
Mandatário da nação. Ela é quem acolhe as questões de interesse público ou dinheiro
público malversado. Ela tem um prazo para dar o seu parecer através de um relator.
A partir do momento em que o relatório da CPI torna-se público, sendo ele
acusatório qualquer cidadão pode solicitar junto à Mesa da Câmara a abertura de um
processo de impeachment baseado nas provas apresentadas pela CPI. Cabe então a
Mesa da Câmara colocar a questão na Ordem do Dia, isto é, se aprova ou não a
abertura de um inquérito a partir das conclusões do relatório e da denuncia acolhidas.
Se a decisão for aprovada por 2/3 do plenário ou simplesmente majoritário, o critério é o
do presidente da Câmara, abre-se caminho para a criação de uma Comissão Especial
para formar um libelo acusatório contra o presidente ou algum outro a quem se
pretende julgar.
O Impeachment de Fernando Collor de Melo:
Fernando Collor de Melo era um político jovem que gerava uma grande
expectativa na população por poder ser o primeiro presidente eleito após tantos anos
de ditadura, seu discurso prometia livrar o país da corrupção e “caçar os marajás”,
como denominava funcionários públicos fantasmas e os que faziam uso indevido do
dinheiro público. Envolto por tamanha mística renovadora, acabou eleito e tomando
posse em 1990.
Entretanto o governo de Fernando Collor de Melo foi cercado por escândalos
e corrupção. Collor lançou uma medida confiscando os depósitos em contas bancárias
com valor acima de Cr$ 50,000. Muitas pessoas e empresas faliram naquele momento
e a reprovação ao governo do presidente começou a aparecer. A mal planejada
abertura econômica, marcada por privatizações de empresas estatais e leilões de bens
públicos, teve reflexos também na vida da população por conta da alta inflação.
A sociedade já questionava o governo do presidente Collor quando estourou
o pior dos escândalos envolvendo diretamente o presidente. O irmão de Fernando
Collor, Pedro Collor, denunciou e comprovou um esquema de corrupção envolvendo o
presidente do Brasil. Tal esquema tinha participação fundamental do tesoureiro da
campanha presidencial de Collor, Paulo César Farias. O episódio ficou conhecido como
“esquema PC”.
Esse acontecimento foi decisivo para que a sociedade se organizasse e
protestasse contra o governo. A União Nacional dos Estudantes (UNE), a União
Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), DCE’s, centros acadêmicos, grêmios
livres se uniram para organizar um gigantesco protesto exigindo o impeachment de
Fernando Collor. Os estudantes saíam às ruas com as caras pintadas de verde e
amarelo para engrossar a campanha “Fora Collor” no ano de 1992.
Com tantas denúncias e evidências contra Fernando Collor de Melo, antes
ainda das manifestações de rua, a câmara dos deputados recebeu um pedido de
afastamento do presidente assinado pelo presidente da Associação Brasileira de
Imprensa (ABI), pelo presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), pelo
presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e pelo presidente da União
Nacional dos Estudantes (UNE). O Congresso deu início então a uma CPI para apurar
os acontecimentos.
No dia 29 de setembro de 1992 cerca de 100 mil pessoas acompanharam a
votação do impeachment de Collor em torno do Congresso, o qual foi aprovado tendo
441 votos favoráveis e apenas 38 contrários. Fernando Collor correu para renunciar e
não perder seus direitos políticos, mas era tarde. Mesmo renunciando, o presidente foi
caçado e impedido de concorrer em eleições por muitos anos. Era a conquista do
movimento Fora Collor que representou grande pressão exercida pela população em
todos os níveis. O juiz-forano e vice-presidente Itamar Franco assumiu a presidência e
terminou o mandato em vigor.
O Possível Impeachment de Dilma Rousseff:
Desde a reeleição da Presidente Dilma Rousseff, é crescente o movimento a
favor de impeachment da Presidente. Todavia, paira controversa sobre a possibilidade
ou não da retirada de Dilma da Presidência com base nos escândalos envolvendo o
seu partido.
Primeiramente, para que o pedido de abertura de impeachment tenha
consistência, devem existir provas de que o mandatário cometeu algum crime comum
(como homicídio ou roubo) ou crime de responsabilidade – que envolve desde
improbidade administrativa até atos que coloquem em risco a segurança do país,
explicitados na lei 1.079.
Qualquer pessoa pode encaminhar ao Congresso Nacional uma denúncia de
crime de responsabilidade, o que inclui políticos como parlamentares. No entanto, cabe
ao presidente da Câmara dos Deputados julgá-la procedente e abrir uma comissão
especial para analisar o pedido.
O pedido de impeachment é avaliado pelo presidente da Câmara dos
Deputados e, caso seja encaminhado aos parlamentares, precisa receber os votos de
dois terços dos 513 deputados da Casa para continuar. Depois o processo é levado
para julgamento no Senado, e também precisaria da adesão de dois terços dos 81
membros. Atualmente a presidente Dilma Rousseff conta com 304 deputados e 52
senadores em sua base aliada. A sessão é presidida pelo presidente do STF (Supremo
Tribunal Federal) e precisa ocorrer em até 180 dias depois que chega ao Senado,
período pelo qual o presidente fica afastado do cargo e o vice assume. Se o julgamento
não tiver sido concluído nesse prazo, o presidente volta às funções.
Além da necessidade de se provar que houve de fato crime de
responsabilidade, a possibilidade de impeachment está intimamente ligada ao prestígio
de que o presidente goza dentro da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
Afinal, antes de levar em consideração qualquer satisfação ou insatisfação
por parte da população, o impeachment é uma decisão política. Assim, a grande
pergunta agora é se o Congresso tem interesse nesse processo de impeachment.
Caso o processo de impeachment seja julgado procedente, segundo a Lei
1.079/50, quem assumirá a cadeira de Presidente da República será o Vice-Presidente,
no caso, Michel Temer (PMDB-SP), que permanece até o fim do mandato. Caso o vice
também seja afastado ainda durante a primeira metade do mandato, serão convocadas
novas eleições. Caso ele seja afastado a partir da segunda metade do mandato, as
eleições são indiretas, no caso, apenas os membros do Congresso Nacional podem
votar nos candidatos. Enquanto as eleições acontecem, quem assume é o terceiro na
linha sucessória, o presidente da Câmara dos Deputados, atualmente o peemedebista
Eduardo Cunha.
Conclusão:
Fica claro que o manifesto populacional é legítimo, tendo em vista a situação
em que se encontra o país, mas este está muito longe do processo real de
impeachment da Presidente, pois não se tratam apenas de manifestos na rua, mas sim
de uma articulação política de oito anos do governo Lula e mais quatro anos de governo
de Dilma, através de nomeações e indicações de aliados à cargos do alto escalão
pátrio.