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IMPACTOS DA PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA NA FORMAÇÃO DE JOVENS E NO
DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL NAS REGIÕES DE MORROS E LAGO
DO JUNCO - MA
Josenildo Cardoso de Araújo, [email protected]
AGERP-MA- Coordenador Estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural.
Regina Helena Bernardes, [email protected]
UFPEL- doutoranda bolsista FAPEMA, GEDMMA/UFMA - Pesquisadora.
João Antônio Motta Neto, [email protected]
IFNMG/Campus Araçuaí, Professor.
RESUMO
A Pedagogia da Alternância é considerada como um método de educação que preconiza a formação
participativa de jovens e sua integração com a família e a sociedade na busca de educá-los,
enquanto sujeitos de direitos e deveres cidadãos, a serem protagonistas de um processo de
transformação social. As Escolas Famílias Agrícolas (EFAs) desenvolvem seus processos
educativos referenciados pela Pedagogia da Alternância. Este trabalho foi realizado junto à EFA
Nossa Senhora do Rosário e EFA de Lago do Junco, respectivamente nos municípios de Morros e
Lago do Junco, estado do Maranhão. O principal objetivo foi analisar a formação dos jovens rurais
através da Pedagogia da Alternância e seus reflexos na sustentabilidade do desenvolvimento rural
na região de estudo. Os dados de campo foram coletados através de entrevistas semi-estruturadas e
aplicação de questionários semi-abertos direcionados, principalmente, para alunos e ex-alunos das
EFAs. Considerando as peculiaridades das duas EFAs e as diferenciações constatadas, aferem-se
positivamente os resultados alcançados na formação de jovens através da Pedagogia da Alternância,
apontando para uma perspectiva de mudança da atual realidade frente a um novo paradigma de
sustentabilidade do desenvolvimento rural.
Palavras-chave: Pedagogia da Alternância; Desenvolvimento Rural; Escolas Famílias Agrícolas
1 INTRODUÇÃO
O estado do Maranhão possui uma população de 6.574.789 habitantes, representando 3,4%
da população brasileira, ocupando o 10º lugar em termos de população no Brasil. É o estado da
Federação que concentra o maior índice populacional no meio rural (36,9%), muito superior à taxa
brasileira que é de 15,6% (IBGE, 2010).
Todavia, a população é marcada pelos altos índices de analfabetismo, sendo que na área
rural este índice atinge, principalmente, jovens e adultos nas faixas etárias de 14 a 60 anos. Em
relação à educação rural, as deficiências funcionais relativas a essa vão desde a falta de escolas até
as inferiores condições de seu funcionamento. Existem no Brasil 107.432 escolas rurais e 61.034
destes estabelecimentos encontram-se no nordeste. Mesmo representando aproximadamente 50%
das escolas, a grande maioria tem apenas uma sala de aula funcionando o ensino fundamental de 1ª
2
a 4ª série, muitas vezes em turmas multisseriadas contando apenas com um professor, de acordo
com os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (2002).
Neste contexto, destaca-se a luta da sociedade na busca de alternativas ao sistema formal
de ensino rural representada por organizações ligadas aos movimentos sociais do campo que, nas
últimas décadas, têm criado experiências exitosas de educação rural diferenciadas do ensino formal
ou mesmo em parceria com este. Assim, vem ocorrendo a implementação de um movimento
pedagógico e político do campo, através de iniciativas como as Escolas Famílias Agrícolas - EFAs
e as Casas Familiares Rurais -CFRs, coordenadas respectivamente pela União Nacional das Escolas
Famílias Agrícolas do Brasil -UNEFAB e Associação Regional das Casas Familiares Rurais -
ARCAFAR, além de outras experiências promovidas pelos representantes da agricultura familiar.
As EFAs e CFRs realizam a formação dos jovens rurais através da Pedagogia da
Alternância caracterizada por um processo de convivência e integração dos alunos com a escola, a
família e a comunidade. Este processo se dá através de um período de alternância onde os alunos
permanecem uma quinzena na escola e outra na família e na comunidade, interagindo com ambas.
Esta pesquisa tem como objetivo analisar a influência da Pedagogia da Alternância na
formação de jovens rurais e seus impactos no desenvolvimento rural sustentável, a partir das
experiências da Escola Família Agrícola Nossa Senhora do Rosário e Escola Família Agrícola de
Lago do Junco, respectivamente nos municípios de Morros e Lago do Junco, estado do Maranhão.
Além disto, tem como objetivos específicos: investigar ex-alunos do ensino
fundamental das EFAs dos municípios de Morros e Lago do Junco sobre a importância de sua
formação através da pedagogia da alternância e a aplicabilidade destes ensinamentos identificando
atividades desenvolvidas pelos jovens junto a sua família e na comunidade; verificar junto aos pais
de ex-alunos a sua visão sobre a importância da formação dos seus filhos através da pedagogia da
alternância desenvolvida por estas EFAs; analisar a influência da formação da EFA sobre os jovens
rurais em relação a sua permanência no campo e valorização do meio rural.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Educação do campo
A educação do campo no Brasil foi negligenciada ao longo de nossa história e só
recentemente, a partir da Constituição de 1934, que este tema começou a receber atenção (MEC,
2005). A falta de uma consciência sobre a importância da educação para formação da cidadania
aliada à falácia de que as técnicas rudimentares de cultivo não exigiam dos trabalhadores rurais
preparação nenhuma, nem mesmo alfabetização, foram usados durante muito tempo como pretexto
3
para que não se construísse uma proposta de educação escolar voltada aos interesses dos
camponeses e do desenvolvimento do campo.
“O campo é concebido como um espaço rico e diverso, ao mesmo tempo produto e produtor
de cultura. É essa capacidade produtora de cultura que constitui em espaço de criação do
novo e do criativo e não, quando reduzido meramente ao espaço da produção econômica,
como o lugar do atraso, da não-cultura. O campo é acima de tudo o espaço da cultura”.
(MEC, 2005)
Entretanto, como conseqüência desta omissão do Estado brasileiro no que se refere à
falta de uma política de educação para o campo, enormes distorções vem sendo geradas em relação
ao nível de escolarização entre o campo e a cidade (MEC, 2005).
A recente decisão do governo federal em formatar uma política nacional de educação do
campo, mesmo que tardia, é um importante momento histórico brasileiro e vem ao encontro dos
anseios da sociedade rural brasileira, especialmente o segmento da agricultura familiar que tem
sofrido o descaso e esquecimento dos governantes na implantação de políticas de educação do
campo. Todavia, a formação dos jovens rurais, além de ser uma questão que busca suprir a
deficiência educacional da população brasileira que vive no campo, deve ter como premissa a
implantação de políticas públicas de educação para superação do analfabetismo, a elevação do grau
de escolaridade, a melhoria das condições de vida e, consequentemente, do desenvolvimento rural.
“A educação como prática da liberdade” não é a transferência ou a transmissão do saber
nem da cultura; não é a extensão de conhecimentos técnicos; não é o ato de depositar
informes ou fatos nos educandos ; não é a “perpetuação dos valores de uma cultura dada”; não é o “esforço de adaptação do educando ao seu meio”. Para nós a “ educação como
prática da liberdade” é, sobretudo e antes de tudo verdadeiramente gnosiológica” (FREIRE,
1977).
2.2 Pedagogia da Alternância
A Pedagogia da Alternância significa a construção de um processo de aprendizagem
voltado ao desenvolvimento das relações entre os sujeitos através de integração entre a teoria e a
prática, buscando o empreender, o apreender, a ação e reflexão destes com base no seu cotidiano. É
uma forma de educação que propicia a juventude rural exercer o papel de protagonista do seu
próprio desenvolvimento respondendo às necessidades essenciais para os adolescentes evoluírem,
construírem a sua posição social e lançarem-se diante da vida enquanto um ser sócio-profissional e
cidadão de direito.
“A pedagogia da alternância se inscreve na lógica explicada por Jean Piaget na fórmula
“praticar e compreender”. Praticar quer dizer a ação, a experiência que temos das coisas, e
compreender significa a explicação, a teorização, a conceitualização e a abstração que se
pode extrair da prática ou que pode resultar dela.” (GIMONET, 1999).
4
2.3 Histórico da formação dos Centros Familiares de Formação por Alternância - CEFFAS
Os CEFFAS representam iniciativas de educação do campo desenvolvidas pelas Maison
Familiales Rurales (MFRs), Casas Familiares Rurais (CFRs) e Escolas Famílias Agrícolas (EFAs),
constituindo-se em um movimento educativo que utiliza a Pedagogia da Alternância no Brasil, que
por sua vez juntaram-se às organizações de outros países formando a Associação Internacional dos
Movimentos Familiares para a Formação Rural- AMIR.
Na França, em 1935, diante da falta de qualidade do ensino da escola rural oferecida pelo
estado associada à falta de perspectiva e viabilização para permanência dos jovens no meio rural,
um pároco e os agricultores familiares organizaram-se procurando criar uma nova forma de escola
que servisse como instrumento para atender a realidade da juventude rural e reverter a tendência da
saída desses para outras regiões urbanizadas (CALIARI, 2002). O êxito alcançado pelos pioneiros
estimulou outras famílias a enviarem seus filhos para ingressarem nesta experiência, sendo que os
resultados obtidos nos anos seguintes geraram um forte movimento de expansão das “Maisons
Familiales” na França e após dez anos de funcionamento se registrava a existência de 578 escolas
distribuídas nos 60 departamentos do território francês (PESSOTI, 1978, apud CALIARI, 2002).
Educar para o desenvolvimento é um desafio que as EFAs assumem quando se
propõem em formar o ser humano numa visão integradora e libertária. As EFAs, ao considerarem a
sustentabilidade do meio em que vivem os agricultores familiares, num processo dialógico de
desconstrução e reconstrução de saberes a partir de valores, culturas e elementos fundantes da
população rural, estão construindo uma proposta de desenvolvimento local.
2.4 A implantação das Escolas Famílias Agrícolas no Brasil
O movimento de implantação das EFAs no Brasil se deu a partir da década de 1960, com
início no Estado do Espírito Santo. Neste período, muitos agricultores familiares abandonaram suas
terras em busca de alternativas em outros locais, pois foram diretamente atingidos pela recessão
econômica que recaia sob o país e pela falta de uma política pública adequada a este segmento da
agricultura. Desta forma, surgiu a proposta de desenvolver projetos de formação dos jovens rurais
baseados na experiência de Escola Família Agrícola - EFA, já consolidada em países europeus,
especialmente na França.
Para o fortalecimento desta proposta e sob a coordenação do Padre Pietrogrande, foi
constituído o Movimento Educacional e Promocional do Espírito Santos - MEPES, no município de
Anchieta, em parceria com a Associação dos Amigos do Espírito Santo - AES, na Itália. Esta
Associação italiana, ligada à Igreja Católica, viabilizou apoios financeiros para implantação e
manutenção das Escolas Famílias Agrícolas no Estado do Espírito Santo.
5
A fase de expansão das EFAs no Brasil se deu no final da década de 1970 e início da
década de 1980, ampliando-se as EFAs do sul do Espírito Santo para a região norte do estado e
também para outros estados brasileiros como a Bahia em 1975, Minas Gerais em 1983 e em
seguida, para as demais regiões (SANTOS & PINHEIRO, 2005). No Maranhão, a implantação das
Escolas de Alternância iniciou-se a partir de 1984 com a fundação da EFA de Poção de Pedras. A
criação dessa EFA surgiu da iniciativa de diferentes comunidades que se inspiraram no modelo de
Escola Família Agrícola desenvolvido pelo MEPES no Espírito Santo, na Associação das Escolas
Comunidades Famílias Agrícolas da Bahia - AECOFABA e na Associação das EFAs de Rondônia-
AEFARO, dentre outras. A UAEFAMA -União das Associações das Escolas Famílias Agrícolas do
Maranhão, foi criada em 1997, na cidade de Lago da Pedra, funcionando hoje em Bacabal. Em
1996, em Imperatriz, criou-se a ARCAFAR- Associação Regional das Casas Familiares Rurais
Norte e Nordeste (UAEFAMA, 2011; DISOPBRASIL, 2011).
De acordo com informações da UAEFAMA e da ARCAFAR, atualmente estão em
funcionamento no Maranhão 41 unidades de Escolas Famílias Agrícolas e Casas Familiares Rurais,
abrangendo um universo de aproximadamente 2000 jovens rurais, com alunos de mais 100
municípios maranhenses utilizando a Pedagogia da Alternância como método de formação.
3. METODOLOGIA
3.1 Caracterização da área de estudo
A EFA Nossa Senhora do Rosário foi criada em 1999, através de uma iniciativa de um
grupo de religiosos católicos e párocos ligados à Diocese de São Luís - MA, tendo como principal
objetivo atender a educação dos filhos de agricultores familiares da região. Inicialmente, funcionava
no município de Rosário - MA e, somente em 2004, foi transferida para a área rural do município
de Morros - MA, instalada na comunidade Cajueiro, em virtude da conquista de uma área doada
pela Prefeitura Municipal para construção da sede própria.
O município de Morros compõe a Mesorregião Norte Maranhense, Microrregião de
Rosário e integra o Território Lençóis Maranhenses/Munim. Esta região é constituída por
municípios caracterizados por uma economia do setor primário, com predominância da agricultura
familiar baseada no extrativismo vegetal e pesca artesanal, culturas agroalimentares, turismo e
artesanato, principalmente utilizando a fibra da palmeira de buriti e uso da argila.
A EFA “ Nossa Senhora do Rosário” atende alunos das comunidades rurais de Morros,
bem como dos municípios de Icatu, Axixá, Cachoeira Grande, Presidente Juscelino, Bacabeira,
Humberto de Campos, Primeira Cruz e Santo Amaro do Maranhão (FIGURA 1). Representa uma
escola de referência em Pedagogia da Alternância para a região do Território da Cidadania Lençóis
6
Maranhenses/Munim, onde vem sendo desenvolvido um conjunto de atividades apoiadas pelo
Governo Federal, através do Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA e diversos parceiros
institucionais, formando um conjunto de instituições que visa promover o desenvolvimento rural
sustentável da região, através do protagonismo dos sujeitos locais.
Fonte: Wikipédia, 2011.
Figura 1- Localização do município de Morros- MA
A EFA de Lago do Junco - EFALJ, foi fundada em 1996, através da iniciativa de
agricultores e agricultoras familiares, assentados da reforma agrária, preocupados com a educação
dos seus filhos, articulados com a Associação de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da região. A
EFALJ é uma das escolas de referência que desenvolve a Pedagogia da Alternância no Estado do
Maranhão funcionando regularmente no processo de formação de jovens rurais no ensino
fundamental, sendo dirigida pela Associação da Escola Família Agrícola de Lago do Junco. A sua
sede situa-se na comunidade rural de São Manoel, município de Lago do Junco, estado do
Maranhão. A EFALJ foi uma das primeiras iniciativas em escolas de formação por alternância no
estado, atuando na região dos Cocais Maranhenses/ Médio Mearim, atendendo alunos de diversas
comunidades dos municípios de Lago do Junco, Lago da Pedra, Lago dos Rodrigues e Bacabal.
Fonte: Wikipédia, 2011.
Figura 2- Localização do município de Lago do Junco- MA
7
3.2 Procedimentos metodológicos
Este estudo foi realizado junto às famílias rurais das comunidades de abrangência da
EFA “Nossa Senhora do Rosário” e EFA de Lago do Junco, respectivamente nos municípios de
Morros e Lago do Junco, no estado do Maranhão. Trata-se de uma pesquisa com abordagem
qualitativa e quantitativa cujo universo amostral é composto por 26 entrevistados das duas EFAs,
distribuídos em três categorias: a) ex-alunos das EFAs; b) famílias de ex-alunos do ensino
fundamental dessas EFAs; c) famílias cujos filhos estudaram exclusivamente na rede pública de
ensino de nível fundamental.
As técnicas utilizadas para realização desta pesquisa referem-se às entrevistas semi-
estruturadas, aplicação de questionários semi-abertos de acordo com a categoria de análise
(TABELA 1), além de anotações complementares extraídas da caderneta de campo.
Tabela 1 - Número de famílias entrevistadas nas EFAs de Morros e Lago do Junco.
EFA Ex-alunos da EFA Pais de ex-alunos da
EFA
Famílias de alunos de
Escola Públicas
Total
Lago do Junco 06 06 02 14
Morros 06 05 01 12
Total geral 12 11 03 26
Os dados secundários foram obtidos junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), Associação Regional das Casas Familiares Rurais do Maranhão (ARCAFAR-
MA), União das Associações das Escolas Famílias Agrícolas do Maranhão (UAEFAMA),
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade - SECAD e Associação de Pais e
Alunos das respectivas EFAs. Inicialmente, foram realizados contatos e reuniões de sensibilização
com os gestores e monitores das EFAs, apresentando e discutindo os objetivos desta pesquisa, bem
como definindo o processo de trabalho para a execução das atividades de campo, realizadas no
período de setembro a dezembro de 2006.
A partir disto, foram realizadas as seguintes atividades: a) seleção das famílias
entrevistadas definidas em conjunto com os gestores e monitores das EFAs, de acordo com os
objetivos da pesquisa; b) realização das entrevistas semi-estruturadas aplicadas de forma individual
junto aos ex-alunos das duas EFAS, pais de ex-alunos das EFAS e de escola pública formal; c)
sistematização e análises dos dados utilizando as planilhas do Programa Excel.
Os dados coletados levantaram informações referentes aos aspectos socioeconômicos das
famílias; ao processo de formação e atuação dos jovens provenientes destas EFAs e de alunos do
ensino público de nível fundamental nas duas regiões; ao conhecimento das famílias sobre as EFAs;
a atuação dos ex-alunos das EFAs na unidade de produção familiar, na comunidade, nos sistemas de
8
produção e na comercialização dos produtos provenientes das atividades agropecuárias
desenvolvidas.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 EFA de Lago do Junco
4.1.1 Perfil socioeconômico dos entrevistados
A faixa etária dos entrevistados variou entre 21 a 60 anos de idade, apresentando a
média de idade de 52 anos. O tempo médio de moradia nas comunidades foi de 28,5 anos; a
escolaridade predominante foi o ensino fundamental incompleto e as famílias apresentaram uma
média de 05 filhos, variando entre os extremos de 1 a 10 filhos.
As famílias entrevistadas passaram por um intenso e conflituoso processo de luta pela
conquista da terra, enfrentando os latifundiários da região. Atualmente, todas as famílias fazem
parte de assentamentos em seu local de origem, pois as terras em disputas foram regularizadas
através do Programa de Regularização de Terras, desenvolvido pelo Instituto de Terras do Estado
do Maranhão – ITERMA.
São beneficiários de área coletiva e anualmente cultivam em média 1,5 ha. Desenvolvem
atividades voltadas para o autoconsumo, destacando-se as culturas agro-alimentares, sendo a
mandioca o principal cultivo, seguido do milho e feijão, além do extrativismo do babaçu. Os
sistemas produtivos são desenvolvidos por todo o conjunto das famílias e praticam atividades
baseadas em policultivos predominando o sistema de roças itinerantes, agroextrativismo e criação
de pequenos animais, utilizando tecnologias de baixo custo e que definem o modo de vida da
população rural da região.
A renda familiar situa-se entre 1,5 a 2,5 salários mínimos mensais, considerando a renda
monetária direta proveniente da produção agropecuária associada aos programas sociais do
Governo Federal, como Bolsa Família e de proventos previdenciários através de aposentadorias
rurais e pensões. Na renda da produção, esta se resume basicamente na comercialização da farinha
de mandioca, algumas hortaliças e aves, sendo grande parte da produção utilizada para o
autoconsumo.
A ausência de uma efetiva política da assessoria técnica governamental e de um
atendimento adequado através de programas específicos de reforma agrária resultou na busca dos
agricultores por outros parceiros para apoiá-los, destacando-se a Associação em Áreas de
Assentamento do Maranhão - ASSEMA. Esta instituição presta assessoria técnica e organizativa
aos agricultores familiares da região, desenvolvendo processos de produção pautados em sistemas
agroecológicos, visando a sustentabilidade socioambiental e melhoria da qualidade de vida das
9
famílias. Sobre a participação das famílias em organizações representativas da classe trabalhadora,
todos os entrevistados participavam de algumas das seguintes formas organizativas: Sindicato dos
Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais - STTR, Associação dos Produtores Rurais, Cooperativa de
Pequenos Produtores. Também participavam em grupos informais como Grupos de Jovens, Grupos
de Manifestações Culturais, Grupos Religiosos, além de Grupos de Coordenação dos Festejos de
Padroeiro, ressaltando que todos os entrevistados se declararam católicos.
4.1.2 – Percepção dos entrevistados sobre o processo educativo desenvolvido pela EFA de Lago do
Junco - EFALJ
A compreensão dos pais e alunos sobre a EFA de Lago do Junco basicamente se refere a
uma escola em que os pais buscaram uma educação diferente para seus filhos estudarem através de
Pedagogia da Alternância integrando a escola e a família, aprimorando o conhecimento dos jovens
para que possam permanecer e atuar no meio rural contribuindo e repassando os conhecimentos
adquiridos, conforme ilustra os depoimentos abaixo dos entrevistados:
“A EFA é uma escola com outra alternativa para o trabalhador rural, ideal para o filho de
trabalhador. É a preparação dos jovens do campo de uma forma diferente que é a pedagogia da
alternância, onde se vai mais além das matérias dadas na sala de aula...aprende também sobre os
animais, agricultura...aprende na prática e teoria.” (pai de aluno entrevistado)
“Trabalha a questão do conhecimento do local que a gente vive e a formação de jovens para
trabalhar no campo. Além da agricultura familiar, trabalha a questão do cooperativismo e
associativismo. Estamos preparando os jovens para continuar os nossos projetos”. (pai de aluno entrevistado)
Ao serem indagados sobre os motivos pelos quais os ex-alunos foram estudar na EFALJ,
pais e filhos responderam conforme demonstra a Figura 3, destacando a resposta (35%) que se
refere a EFA como um ensino de melhor qualidade quando comparado ao ensino formal.
35%
11%
21%11%
11%
11%
O ensino da EFA é melhor que o da escola formal
O pai era sócio fundador da EFA
O pai gostaria que o filho fosse estudar na EFA
Ouviu falar da EFA e gostou da metodologia
Vontade própria de aprender mais sobre agricultura e movimentos sociais
Criamos a EFA para os nossos filhos terem uma nova visão de mundo e sociedade e para administrar nossas organizações
Figura 3: Motivos que levaram os ex-alunos a estudarem na EFALJ
Quando perguntados sobre a forma como iniciou a EFALJ , os entrevistados se referiam
à luta e engajamento das famílias pioneiras que se envolveram diretamente neste processo de
1
0 criação da escola buscando apoio através das organizações que existiam na região, formando
comissões para divulgar a proposta desta Escola através de um trabalho árduo que possibilitou
chegar ao patamar que está hoje.
“A EFA nasceu da necessidade que a gente tinha de ver nossos filhos estudando e continuar na
comunidade. Na região não existia colégio depois da quarta série. A EFALJ foi articulada aqui
pelas lideranças e com muita luta, em 1996 fundaram a escola com uma área de 12 ha doada pela
comunidade São Manoel” (pai de entrevistado)
Em relação ao modo de funcionamento da EFA de Lago do Junco, os entrevistados
destacam, principalmente, o período de alternância em que os alunos passam 15 dias estudando na
escola e 15 dias nas suas casas onde realizam atividades temáticas específicas com as famílias na
comunidade. Esta atividade desenvolvida é denominada Plano de Pesquisa e é utilizado para
conhecer a realidade local. Na EFA são estudadas as disciplinas curriculares do ensino formal,
incluindo outras relativas ao meio rural, como agricultura, zootecnia, meio ambiente, organização
rural, associativismo, cooperativismo. Além disto, estimulam a socialização dos jovens ressaltando
os seus valores e a preparação para serem lideranças, desenvolvendo atividades em sala de aula e no
campo para proporcionar uma maior proximidade entre a teoria e prática, através da práxis do
“apreender a fazer, fazendo”.
A relação entre alunos, dirigentes, professores (denominados de monitores) e os pais é
vista pelos entrevistados como se estivessem estabelecendo uma nova relação familiar, um grupo de
amigos, onde as tarefas são divididas por equipe e todos aprendem a conviver com diferentes tipos
de pessoas. Há regras claras sobre os horários, os alunos aprendem a respeitar as diferenças e
conviver com os colegas, realizam as tarefas diárias, desenvolvem uma relação de respeito e
confiança com os professores, monitores e diretores. As assembléias representam o espaço
democrático para discutir as questões pertinentes à EFALJ, contando com a participação dos pais,
alunos, associados, monitores e gestores.
Na EFALJ, de acordo com os entrevistados, os alunos estudam e desenvolvem
atividades práticas baseadas na realidade do campo. Assim, partindo da realidade vivenciada,
colocam em prática alternativas que possam reequilibrar os sistemas de produção, como a produção
orgânica num sistema agroecológico utilizando técnicas adequadas e ambientalmente sustentáveis.
A produção que se obtém com as atividades práticas realizadas dentro da área da EFALJ são
utilizadas para a alimentação dos alunos na própria escola e para manutenção da mesma.
“O ensino da EFALJ é muito bom, o aluno pode tirar dúvidas quantas vezes for preciso. No
trabalho prático se aprende mesmo, o ensino é baseado na nossa realidade, usando o modo
participativo, cada um fala sobre seu Plano de Estudo chamado de “colocação comum” e as
aulas são trabalhadas a partir do Plano de Pesquisa. Na escola tem os monitores e aquele que
é responsável do dia passa 24 horas tomando conta da escola e dos alunos. De manhã e no
primeiro horário da tarde temos aula e depois fazemos as atividades práticas na horta, pomar,
caprinos, galinhas ...”. (ex-aluno da EFALJ)
1
1
Sobre a relação que ainda mantêm com a EFALJ, as respostas dos pais e ex-alunos se
apresentaram distribuídas percentualmente de forma muito similar, pois 28% não tiveram mais
contato com a EFA depois que o filho saiu de lá, 26% participam em assembléias e colaboram nos
trabalhos, 26% participam de modo mais frequente e 23% participam e ajudam quando precisa. Pais
e alunos ao responderem sobre a gestão da EFALJ, destaca-se que 46% desses disseram que a
diretoria administra junto com os pais e monitores, sendo que este percentual demonstra a forma
interativa de gestão. No entanto, 38% atribuem a administração somente através da associação de
pais e alunos e 16% não souberam responder.
Ao se referir sobre o funcionamento da EFALJ, o maior percentual (30%) das respostas de
pais e alunos entrevistados informaram que este ocorre através de uma dinâmica de participação e
integração das famílias, dirigentes, educadores, monitores, e de modo sinérgico estimulam a
juventude a tornarem-se lideranças e assumirem a função de seus pais no futuro.
Argumentados se existe alguma diferença entre o ensino da EFALJ e o ensino da escola
formal, todos os pais e alunos entrevistados afirmaram que existem muitas diferenças, destacando
que, especialmente na EFALJ, busca-se renovar o conhecimento do jovem, incentivando a sua
participação comunitária através de um aprendizado baseado na realidade.
“Na escola formal o professor só dá aula das matérias e muitas vezes não está preparado, não
tem a parte prática e o conteúdo já vem pronto, não tem relação com a realidade das famílias e às vezes os professores não conseguem transmitir o básico, os alunos não se interessam e os
que querem aprender se prejudicam”.(ex-aluna da EFALJ)
“A diferença é muito grande, o jovem que estuda na EFALJ é mais responsável, respeita mais
as pessoas e o seu comportamento é diferente, são mais participativos, solidários, ajudam na
igreja, nas associações, tem outros valores, são mais humanos. Os jovens da escola formal
são desobedientes, não respeitam nada, se sentem donos do mundo”. (mãe de ex-aluno da EFALJ)
“Na escola formal os nossos professores não tem muita preocupação de formar o aluno para a
vida. Na EFALJ há uma preocupação para que o aluno enxergue a realidade do mundo, seja
cidadão e cidadã, não fique preso só nas matérias ensinadas, busque conhecimento além das
aulas e seja preparado para revolucionar o futuro”. (pai de ex-aluno da EFALJ)
As principais transformações que ocorreram no comportamento dos alunos que
estudaram na EFALJ, de acordo com as respostas dos pais e ex-alunos, estão explicitadas na Figura
4 abaixo.
1
2
28%
22%
22%
28%
Melhorou a participação dos jovens nos movimentos e a na sua visão social
Melhorou o comportamento dos jovens e maior respeito as regras
O jovem aprendeu mais e se interessou pela leitura
Não responderam
Figura 4. Mudança comportamental dos ex-alunos que estudaram na EFALJ.
As atividades que os alunos realizaram nas unidades de produção familiar quando
estudavam na EFALJ, segundo as respostas de pais e alunos, estavam relacionadas com algumas
atividades práticas que buscavam desenvolver, destacando-se a implantação de hortas e a criação de
galinhas, bem como atuação nas organizações locais, especialmente nos Grupos de Jovens,
Associações e Cooperativa. Além disto, buscavam utilizar seus novos conhecimentos técnicos para
melhorarem a forma que seus pais trabalhavam e produziam na propriedade.
Estes demonstravam sua inquietação em relação à resistência dos pais às mudanças e
com isto buscavam introduzir novas alternativas para a melhoria dos sistemas de produção,
estimulando o processo de conscientização ambiental e ecológica. Estas ações eram voltadas
principalmente para a adoção de práticas conservacionistas como plantio orgânico, controle de
queimadas, implantação de “roças cruas” (roças sem o uso do fogo). Além disso, incentivavam a
participação nos movimentos sociais.
Em relação às melhorias relativas ao desenvolvimento da produção familiar após a
formação na EFALJ, todos os jovens afirmaram enfrentar dificuldades diante deste processo de
mudanças junto aos seus pais, encontrando resistência no sentido de modificar os modelos de
pensamento já estabelecidos. Contudo, alguns alunos conseguiram realizar inovações a partir de sua
formação na EFALJ, envolvendo suas famílias e contribuindo para uma nova concepção de vida e
desenvolvimento.
No entanto, grande parte das famílias ainda resiste às mudanças e continuam mantendo
formas de conduzir as atividades no sistema itinerante de corte e queima que se encontra em
processo de degradação devido ao aumento da pressão demográfica sob o uso dos recursos naturais
de modo mais intensivo, especialmente no uso do solo para atividades agrícolas. Apesar das
famílias manterem o modelo tradicional de produção, constatou-se entre a maioria dos entrevistados
que essas demonstram certo interesse em conhecer novas experiências. Neste sentido, a formação
dos jovens através da EFALJ é uma estratégia para a construção de um novo paradigma a médio e
longo prazo.
Os pais entrevistados foram unânimes em afirmar que o diálogo com os seus filhos
melhorou após esses ingressarem na EFALJ, tanto em relação à convivência e os valores em
1
3 família, como nos trabalhos das atividades da agricultura, havendo uma troca de conhecimentos
entre as experiências práticas dos agricultores e os conhecimentos adquiridos pelos jovens. Em
relação aos alunos, esses responderam que através dos novos ensinamentos adquiridos na EFA,
ensinaram a seus pais terem maior preocupação com a natureza, maior consciência ambiental e
participação em atividades sociais e comunitárias.
Os principais produtos comercializados pelas famílias são: mandioca, feijão, arroz,
milho, pequenos animais e coco babaçu. Estes produtos são entregues diretamente nas cantinas no
assentamento que são pontos de comercialização instalados na comunidade cuja gestão e
administração é realizada pela Cooperativa de Pequenos Produtores Agroextrativistas de Lago do
Junco - COPPALJ. Esta cooperativa foi fundada em 1991 para atender as necessidades dos
agricultores familiares da região de Lago do Junco e adjacências, tendo como objetivo melhorar a
renda das famílias através do beneficiamento do babaçu (Orbignya phalerata Mart.) e
comercialização do óleo que se apresenta como um produto mais ecológico, livre de contaminantes
intencionais e advindos da agricultura familiar. O babaçu representa 90% da renda monetária das
famílias na região e atualmente a COOPALJ exporta óleo para várias empresas estrangeiras
interessadas em adquirir óleo de babaçu, pois é um produto orgânico comercializado com selo de
garantia de qualidade.
A coleta do coco babaçu e a posterior extração manual de suas amêndoas é uma
atividade realizada principalmente pelas quebradeiras de coco. As amêndoas são o principal produto
do babaçu que é comercializada pelas famílias agroextravistas, sendo a produção entregue nas
cantinas nas comunidades e o pagamento é realizado de acordo com os valores já estabelecidos
pelos cooperados, podendo ser em dinheiro ou através de troca de produtos disponibilizados na
cantina. Em seguida, as amêndoas são transportadas pelo caminhão da COPALJ até a unidade de
beneficiamento e submetidas ao processo para a extração do óleo de babaçu que é comercializado
pela cooperativa em mercados locais, nacionais e internacionais.
4.2 EFA de Morros (EFA Nossa Senhora do Rosário)
4.2.1 Perfil socioeconômico dos entrevistados
Os pais e alunos pertencentes a EFA de Morros, que foram entrevistados, apresentaram
uma faixa etária entre 18 e 58 anos, com uma média de idade de 39 anos. O tempo médio de
moradia nas comunidades foi de 37 anos, apresentando a média de 08 filhos por família, variando
entre os extremos de 0 a 11 filhos, sendo que os pais apresentaram, de forma predominante, o
ensino fundamental completo.
1
4 Todas as famílias são assentadas da reforma agrária pelo Programa de Regularização de
Terras coordenado pelo Instituto de Terras do Estado do Maranhão - ITERMA. Desenvolvem
atividades voltadas para o autoconsumo destacando-se como principais culturas alimentares a
mandioca, milho e feijão, sendo também plantado em sistemas consorciados com algumas
hortaliças como: abóbora, quiabo, melancia, maxixe e a área média de cultivo anual é de 1,5 ha.
Deste modo, praticam uma agricultura de base familiar com destaque para os
policultivos, o extrativismo vegetal predominando a extração de juçara (Euterpe oleraceae Mart.),
os quintais associados às hortas caseiras, além da criação de aves, suínos e animais de serviços
(muares, equinos e asininos). Assim, apresentam uma produção diversificada baseada em sistemas
agrícolas tradicionais com utilização de mão-de-obra familiar. A renda monetária média das
famílias varia entre 1,5 a 2,5 salários mínimos mensais, considerando a renda proveniente da
produção agropecuária, dos programas sociais do Governo Federal como Bolsa Família, proventos
previdenciários de aposentados rurais e pensionistas. Além disto, o autoconsumo representa a renda
não monetária que deve ser considerada na composição total da renda familiar.
A venda de produtos resume-se, basicamente, na comercialização da farinha de
mandioca, algumas hortaliças e pequenos animais. No entanto, esta situação ocorre quando há
pequenos excedentes da produção ou em necessidades específicas para amenizar problemas
financeiros. As famílias não têm acesso aos serviços de extensão rural e assessoria técnica prestada
por órgãos governamentais, apesar de tratar-se de um projeto de assentamento da reforma agrária
onde existem programas específicos para este fim. Este fato tem contribuído sobremaneira para a
persistência dos níveis tecnológicos utilizados pelos agricultores, resultando em baixa produção e
produtividades das atividades agropecuárias desenvolvidas, dificultando a melhoria nos sistemas de
produção.
Quanto aos aspectos sócio-organizativos das famílias, todos os entrevistados
participavam de grupos formais ou informais como: Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras
Rurais - STTR, Associação dos Produtores Rurais, Grupos Religiosos, Grupos de Jovens, além de
Grupos de Coordenação dos Festejos de Padroeiro, bem como de outros grupos de coordenação de
manifestações culturais.
4.2.2 – Percepção dos entrevistados sobre o processo educativo desenvolvido pela EFA de Morros
A compreensão dos pais sobre a EFA de Morros é de uma escola que serve para educar
os filhos de agricultores, além de ensinar as disciplinas formais como português, matemática,
história e geografia, incluindo também a agricultura e zootecnia. Assim, os alunos adquirem novos
conhecimentos para praticar melhor as atividades no campo baseados em um processo de
convivência e diálogo com a família, conectando a teoria e a prática. Os motivos que levaram os
1
5 alunos a estudarem na EFA de Morros, de acordo com as respostas dos pais e filhos entrevistados,
são apresentados no Quadro1.
Quadro 1: Motivos que incentivaram os jovens a estudarem na EFA de Morros
Principais motivos que levaram os alunos a estudarem na EFA de Morros ( % )
Convites dos
gestores da EFA
Falta de escola de
ensino fundamental
na comunidade
Ensino da pedagogia
da alternância melhor
que o ensino publico
Vontade de aprender mais
e melhor em uma escola
próxima da comunidade
Informações
de terceiros
e colegas
15 28 17 25 15
Sobre o relacionamento que mantêm com a EFA de Morros depois que os alunos saíram
da escola, pais e filhos apresentaram respostas que variam de acordo com os laços de maior
aproximação ou distância que se estabeleceram com a escola no período em que estes jovens ali
estudavam (FIGURA 5).
Figura 5 – Relacionamento dos entrevistados com a EFA
A gestão da EFA é realizada através da Associação de Pais contando com a participação
das famílias, monitores, gestores e alunos contribuindo nas discussões e nas decisões em
assembléias, bem como colaborando em atividades de mutirões através da realização de serviços de
apoio ao bom funcionamento da escola. No entanto, os entrevistados ao comentarem como ocorre a
gestão da EFA de Morros apresentaram as seguintes respostas: 29% destes enfatizaram que a escola
é administrada pela associação de pais e alunos, 28% que é administrada pelos pais, monitores e
alunos, 18% que a EFA conta com o apoio dos pais, ajuda de alguns recursos de convênios com
entidades governamentais e outros parceiros e 25% não souberam responder.
A EFA, através da Associação de Pais a Alunos, busca estabelecer parcerias com
entidades governamentais e não governamentais visando apoios para o funcionamento e
manutenção da escola. Assim, constroem parcerias com entidades municipais, especialmente com
prefeituras, e também com parceiros em nível nacional e internacional, comprometidos com a causa
1
6 da educação do campo. Há também a contribuição mensal das famílias com alimentos básicos para
a manutenção dos filhos na escola.
Os pais e ex-alunos quando indagados em relação às principais diferenças entre o ensino da
EFA de Morros e a escola pública formal, ambos afirmaram que a EFA é uma escola voltada para
os filhos de agricultores, ensinando atividades a partir da realidade vivenciada no campo, sendo que
os alunos aprendem a desempenhar melhor as tarefas do cotidiano junto às famílias. Consideraram
também como diferença o comportamento dos alunos, pois estes passam a ser mais criativos e ter
maior envolvimento e compromisso social baseado nos valores de dignidade, justiça e cidadania
reforçados pela EFA. Sobre as transformações no comportamento dos ex-alunos da EFA, segundo
os entrevistados, são apresentadas na Figura 6.
58%
17%8%
17%
Comportamento dos alunos que passaram a ter mais iniciativas e interesses pelas atividades do campo
Aprendizagem dos alunos sobre agricultura e a forma de manejar as técnicas e plantar
Os alunos mudaram a maneira de ler, escrever e trabalhar
Não responderam
Figura 6. Mudança comportamental dos ex-alunos que estudaram na EFA.
Em relação a resposta dos entrevistadas com predominância da frequência de 58%
afirmando que os alunos passaram a ter mais iniciativas e compromisso com as atividades do
campo, isto reflete nas mudanças de atitude que os ex-alunos apresentaram nas relações com suas
famílias e na realização de atividades na unidade de produção, a partir do ensino da EFA de Morros.
As atividades desenvolvidas nas unidades familiares, segundo as respostas dos ex-alunos relativas
ao período que estes estudaram na EFA de Morros, referem-se, principalmente, às iniciativas de
melhoria nos sistemas de produção visando ajudar a família. As principais ações citadas foram:
implantação de pequenas hortas; iniciativas na criação de aves e outras atividades que buscavam
melhorar a alimentação da família, bem como apoiar os trabalho na unidade de produção familiar.
Os pais ao serem indagados sobre as melhorias ocorridas na unidade de produção
familiar a partir da formação dos filhos na EFA, não reconhecem mudanças significativas e
continuam com os mesmo tipos de atividades e práticas que faziam antes dos filhos irem estudar na
referida escola. O conflito entre a visão dos pais e dos filhos em relação as melhorias ocorridas a
partir do aprendizado dos alunos na EFA, transparece que as mudanças ainda são muito lentas e que
o ensino apenas de nível fundamental nas EFAs é insuficiente para gerar mudanças significativas no
conhecimento e qualidade de vida das famílias relacionadas ao aperfeiçoamentos de suas práticas
agrícolas e das atividades desenvolvidas na propriedade.
1
7 Entretanto, sobre o aprendizado que tiveram com os filhos, os pais responderam que
estes trouxeram alguns conhecimentos referindo-se à implantação de hortas e ao manejo do solo,
demonstrando que foram iniciativas pontuais. Por outro lado, ao responderem o que ensinaram aos
filhos, referiam-se aos valores, conselhos e orientações em relação à vida tendo como base o
respeito e diálogo com as outras pessoas, além das atividades de roça.
Quanto à forma de comercialização da produção, segundo os pais e ex-alunos, esta é
voltada para a venda de produtos básicos como farinha de mandioca, macaxeira, milho, galinhas e
algumas hortaliças. A venda é realizada diretamente ao consumidor, na própria comunidade em
pequenos comércios ou indiretamente na sede dos municípios próximos junto aos comerciantes
locais, principalmente no município de Morros.
4.3 Comparativo entre a EFA de Morros e a EFA de Lago do Junco
Esta pesquisa, através de seus resultados, identificou semelhanças entre a EFA de Morros e
a EFA de Lago do Junco, pois ambas estão inseridas no mesmo contexto da agricultura familiar
maranhense. Estas semelhanças evidenciaram-se em aspectos que vão desde as características dos
sistemas de produção, até mesmo às questões relativas às condições socioeconômicas das famílias.
Identificou-se, nitidamente, que a estratégia de educação através do ensino destas EFAs
busca alternativas para superar dificuldades básicas que estão comprometendo a qualidade de vida
das famílias rurais. Todavia, ao se fazer uma análise confrontando os resultados obtidos nas duas
EFAs, também é possível constatar diferenças que acentuam a influência do ensino através da
Pedagogia da Alternância na formação dos jovens para atuarem enquanto sujeitos no
desenvolvimento rural sustentável. As principais diferenças são apresentadas no Quadro 2 abaixo:
Quadro 2 - Comparativo entre a EFA de Morros e EFA de Lago do Junco.
Características
EFA de Morros
EFA de Lago do Junco
Processo de criação
da EFA
Iniciativa de religiosos que foram
os principais protagonistas no
processo de implantação da escola,
envolvendo lideranças locais
Iniciativa de lideranças locais que buscavam a
construção coletiva de uma escola
contextualizada com a realidade do campo para
os seus filhos estudarem
Compreensão sobre a Pedagogia da
Alternância
Dificuldade de entendimento mais amplo sobre a concepção da
Pedagogia da Alternância inserida
em um contexto maior de
desenvolvimento sustentável
Bom entendimento e percepção ampla sobre a Pedagogia da Alternância como estratégia para
o desenvolvimento sustentável
Percepção sobre a
EFA
Pouca percepção em relação ao
sentido de pertencimento e
identidade referente à escola
Maior sentido de pertencimento e identidade
em relação à escola
1
8
Características
EFA de Morros
EFA de Lago do Junco
Influência do
contexto histórico
vivenciado pelas
comunidades sob as
EFAs
Não houve um processo histórico
significativo de luta pela terra nesta
região que tenha influenciado
diretamente na criação e condução
da EFA
O processo de luta pela conquista da terra nesta
região reforçou o sentimento de identidade e
cidadania, influenciando na criação e condução
da EFA
Funcionamento e
gestão da EFA
Participação menos ativa das
famílias no processo de
funcionamento e gestão
As famílias participam mais ativamente nas
discussões e decisões sobre o funcionamento e
gestão
Nível organizacional da
Associação de Pais
e Alunos da EFA
A organização interna da Associação é mais frágil,
refletindo-se numa participação
menos efetiva na EFA
Bom nível organizacional que reflete no fortalecimento da Associação, demonstrando
maior força de representatividade junto à EFA
Sustentabilidade da
EFA
Não há um envolvimento mais
efetivo das famílias na participação
e contribuição para a
sustentabilidade da EFA
Devido ao maior grau de organização, as
famílias se envolvem com maior
comprometimento na participação e
contribuição para a sustentabilidade da EFA
Motivação dos
jovens para estudar
na EFA
Geralmente vão estudar
incentivados por convites de
religiosos e gestores da EFA
As famílias têm grande influência na
motivação de seus filhos para estudarem na
EFA, pois faz parte de uma ação estratégica
comunitária visando a melhoria da qualidade
de vida no campo
Mudanças dos
jovens a partir da formação recebida
na EFA
As principais mudanças referem-se
ao comportamento em relação aos valores familiares e relações sociais
Além das mudanças comportamentais,
reforçando os valores familiares e relações sociais, há uma vinculação na maioria dos
jovens ao projeto de desenvolvimento da
comunidade
Atuação dos ex-
alunos a partir da
formação pela EFA
Atuam mais direcionados à unidade
de produção familiar com algumas
iniciativas incipientes que ainda
não demonstram mudanças mais
efetivas nos sistemas de produção
Atuam mais ativamente na unidade de
produção familiar, fomentando um processo de
sustentabilidade da agricultura. Além disto,
estão envolvidos em ações coletivas que fazem
parte de um projeto regional de
desenvolvimento rural sustentável
Influência do ensino
da EFA na
juventude rural em
relação à sua permanência no
campo
São motivados a permanecer no
campo, porém não há um maior
vínculo com um projeto de
desenvolvimento rural, pois este ainda não está estrategicamente
definido
Motiva a permanência de jovens no campo
como protagonistas da consolidação do projeto
de desenvolvimento que leve às
transformações para a melhoria da qualidade de vida no meio rural
4.4 As EFAs de Morros e Lago do Junco como uma estratégia de apoio ao fortalecimento do
associativismo e do cooperativismo regional
Considerando as características socioeconômicas dos agricultores familiares que
enfrentam dificuldades de acesso a um sistema de educação voltado para a realidade rural, o ensino
da Pedagogia da Alternância desenvolvido pelas EFAs nas regiões de Morros e Lago do Junco
busca promover a formação dos jovens para elevação do capital sócio-organizacional nestas
regiões. Os esforços desprendidos pelas famílias para se organizarem resultam em uma ação
coletiva que se traduz em formas associativas como um instrumento para o avanço nas relações
sociais, cidadãs e democráticas.
1
9 O associativismo é uma perspectiva democrática, a qualidade e o caráter associativo que se
evidenciam ao redor de certas operações realizadas entre pessoas e/ou grupos explicitam o
modo de exercitar a cidadania, independente dos resultados alcançados ou da maneira
como os elementos estão agrupados ou associados, constituindo-se, assim, uma prática
democrática” (ALBUQUERQUE, 2003).
Os resultados desta pesquisa evidenciam que estas EFAs buscam desenvolver estratégias
para a formação dos jovens rurais, valorizando as diversas formas organizativas que visam
fortalecer e criar condições de inclusão para o desenvolvimento das famílias e da comunidade.
Especificamente, na EFALJ já foi possível constatar um avanço organizacional de relevância
representado pela ASSEMA e pela atuação da Cooperativa dos Pequenos Produtores
Agroextrativistas de Lago do Junco.
“O termo cooperação tem o significado semântico de ato de cooperar, ou operar simultaneamente, trabalhar em comum, colaborar, sinalizando, portanto, para um sentido de
ação e um sentido de movimento coletivo, sempre em oposição à perspectiva individual e
individualista”(JESUS & TIRIBA, 2003).
5. CONCLUSÕES
Diante das peculiaridades das duas EFAs pesquisadas, as diferenciações que se
apresentaram basicamente não estão associadas às questões referentes à metodologia, uma vez que
nestas escolas adota-se a Pedagogia da Alternância, buscando-se resguardar os princípios e valores
que traduzem a sua essência.
Na EFA de Lago do Junco as famílias demonstram uma maior relação de apego e
pertencimento à escola, comparada à situação analisada na EFA de Morros. Este fator deve estar
vinculado ao processo histórico de formação da EFALJ onde as famílias foram as protagonistas na
implantação da mesma, além de estar associado aos conflitos enfrentados na luta pela terra que,
provavelmente, desenvolveu nas famílias este sentimento de pertencimento mais aguçado ao seu
lugar de origem e na busca de seus ideais. Além do reflexo desse processo histórico favorecendo
um maior grau de conscientização das famílias sobre a importância desta escola como uma
estratégia de desenvolvimento rural, ressalta-se também como relevante o nível organizacional da
agricultura familiar na região onde está inserida a EFALJ, pois reforça e apoia a educação
contextualizada com a realidade do campo como alicerce aos processos de desenvolvimento
participativo na região.
Entretanto, na EFA de Morros quando comparada com a EFLAJ, observa-se que as
famílias envolvidas encontram-se em um processo de conscientização que possa levar efetivamente
à compreensão da EFA enquanto ferramenta estratégica na formação dos jovens para atuarem de
modo mais ativo na implementação de um projeto regional de desenvolvimento do rural.
2
0 Todavia, a influência da Pedagogia da Alternância na formação dos jovens rurais,
através da EFA de Morros e EFA de Lago do Junco frente aos impactos no desenvolvimento
regional se apresenta como um processo dinâmico e em construção. Ainda que na EFA de Lago do
Junco haja um maior avanço em relação a estes impactos, deve ser considerado que o investimento
na formação dos jovens através da Pedagogia da Alternância, em ambos os casos, apontam
positivamente para uma perspectiva de mudança da atual realidade diante da construção e atuação
participativa de um novo paradigma de sustentabilidade do desenvolvimento rural .
6. REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, P. P.; CATTANI, A. D. A outra Economia: Associativismo. Porto Alegre:
Veras Editores, 2003. 72 p.
MEC-MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade. Referências para uma política de educação do campo. Caderno de subsídios. 2ª. ed.
Brasília: MEC/ SECAD, 2005. 48 p.
CALIARI, R. O. A pedagogia da alternância e o desenvolvimento local. Lavras: UFLA, 2002.
237 p.
DISOPBRASIL. Disponível em http://www.disopbrasil.org.br/arcafar_ne.html. Acesso em
24/09/2011.
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. 150 p.
GIMONET, J. C. Nascimento e desenvolvimento de um movimento educativo: as Casas Familiares
Rurais de Educação e Orientação In: I Seminário Internacional sobre Pedagogia da Alternância/
Alternância e Desenvolvimento. Salvador: UNEFAB, 1999. 45 p .
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Demográfico do Brasil.
Rio de Janeiro: IBGE, 2010.
JESUS, P.; TIRIBA, L. A outra Economia: Cooperação. Porto Alegre: Veras Editores, 2003. 72 p.
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS ANÍSIO TEIXEIRA - INEP. 2002.
Disponível em http://portal.inep.gov.br/web/educacenso. Acesso em 23/09/ 2011.
SANTOS, I. F. dos ; PINHEIRO, J. E. L.. Revista da Formação por Alternância. União Nacional
das Escolas Famílias Agrícolas do Brasil. Ano I n.º 1. Brasília: UNEFAB, 2005. 23p.
UEAFAMA. Disponível em http://uaefama.webnode.com/sobre-nos/. Acesso em 24/09/2011.
WIKIPEDIA. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Maranhao_Municip_Morros.svg.
Acesso em 24/09/ 2011.