Igreja Corpo Vivo de Cristo - Ray C. Stedman

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    IGREJAIGREJA

    CORPO VIVO DE CRISTOCORPO VIVO DE CRISTO

    Ray C. Stedman

    Digitalizado por:Karmitta

    Revisado por : Levita Digital

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    Sumrio

    .....................................................................................................................................1

    Sumrio ........................................................................................................................2

    PREFCIO ..................................................................................................................3

    SOMOS UM ................................................................................................................4

    Nota do Editor .........................................................................................................7

    Captulo Um ................................................................................................................7A MAIS PODEROSA FORCA SOBRE A FACE DA TERRA .................................7

    Captulo Dois .............................................................................................................12

    PRIORIDADE MXIMA .........................................................................................12

    Captulo Trs .............................................................................................................22

    UNIO, NO UNIDADE! ..................................................................................22

    Captulo Quatro .........................................................................................................33NADA DE EXCEES ............................................................................................33

    Captulo Cinco ...........................................................................................................44

    COMPREENDENDO O SEU DOM .........................................................................44

    Captulo Seis ..............................................................................................................50

    DE ACORDO COM O PODER ................................................................................50

    Captulo Sete ..............................................................................................................57COMO FUNCIONA O CORPO ...............................................................................57

    Captulo Oito .............................................................................................................66

    PONDO OS SANTOS EM FORMA .........................................................................66

    Captulo Nove ............................................................................................................75

    A OBRA DO MINISTRIO .....................................................................................75

    Captulo Dez ..............................................................................................................85CUIDANDO DA SADE DO CORPO ....................................................................85

    Captulo Onze ............................................................................................................92

    A META A MATURIDADE .................................................................................92

    Captulo Doze ..........................................................................................................104

    IMPACTO ...............................................................................................................104

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    ALGUNS PROBLEMAS ENCONTRADOS .........................................................115

    PREFCIOFala-se muito, hoje em dia, sobre a pequena importncia dada

    igreja. Grande nmero de observadores do cenrio religioso deopinio que a igreja se tornou como que o "bode expiatrio" para amaioria dos males que h no mundo.

    Tudo depende, naturalmente, da definio de "Igreja". Em "A

    Igreja Corpo Vivo de Cristo", Ray C. Stedman usa a prpria forapropulsora da Palavra de Deus para no trazer de volta ao real sentidoda igreja e de sua misso. Com argumentos fortes e convincentes, elerevela os pontos' fracos da igreja institucional, chamando claramente anossa ateno para a fora inerente ao corpo de Cristo a verdadeiraIgreja.

    Este livro no s teoria e semntica. No dcimo - segundo

    captulo, o autor relata como a sua interpretao da Igreja superou aprova de fogo, que a experincia prtica. Ele nos convence de que adefinio neotestamentria da Igreja um resultado da atuao deCristo Jesus atravs do seu Corpo coletivo.

    A igreja em que ele trabalha, a "Pennsula Bible Church" (IgrejaBblica da Pennsula), comeou com apenas cinco leigos, quesentiram a necessidade de um testemunho cristo mais rico de

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    significado e efeito, alm de uma "koinonia" mais completa do queaquilo a que, antes, estavam acostumados. Essas cinco pessoas,convencidas de que a igreja se acomodava com demasiada freqnciaentre as suas paredes, levaram essa mesma igreja a trabalharefetivamente em favor do povo do seu bairro, com sinceridade,dedicao e eficincia. Hoje, ela se constitui num dos grupos maisdinmicos de evanglicos do litoral oeste dos Estados Unidos.

    Ray C. Stedman, ansioso por compartilhar as bnos da"Pennsula Bible Church" com outros grupos, escreveu-nos "A Igreja Corpo Vivo de Cristo", um livro que mostra como a igreja pode serelacionar com a vida de sua cidade, de um modo ricamentesignificativo, completo e redentivo.

    BILLY GRAHAM

    SOMOS UMNoite de domingo.Alguns minutos antes das sete.Uma jovem, trajando calas compridas verdes, blusa branca e

    sandlias marrons, pra o seu Volkswagen na rea de estacionamento j quase lotada da "Pennsula Bible Church", em Paio Alto,

    Califrnia, nos Estados Unidos. Ela pega a sua Bblia e se dirige parao edifcio de linhas sbrias da igreja, onde o culto chamado do "CorpoVivo", est prestes a se iniciar.

    Um jovem soldado, de farda, entra com o seu jipe no espao aolado do "Volkswagen". No pra-choque est escrito: "Se voc ama aJesus buzine!". Ouvem-se vrias buzinas. Ele salta do carro e acenaenquanto anda em direo igreja.

    Uma mulher grisalha estaciona cuidadosamente o seu"Cadillac", tranca-o, e caminha com elegncia em direo ao templo.

    Alguma coisa atrai para esse culto pessoas de todos os tipos.Mais de novecentas pessoas de todas as procedncias afluem para aPennsula Bible Church (PBC), a fim de participar do Culto do CorpoVivo.

    entrada, um jovem recepcionista d mulher grisalha uma

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    folha de papel contendo "Necessidades do Corpo Vivo Pedidos deOraes" Ela toma lugar ao lado de um estudante de barba e cabeloslongos e volta os olhos para a folha onde l: "Uma moa precisa deconduo para a cidade de So Jos. Um rapaz pede oraes pelo pai.Outra pessoa oferece mveis, doando-os a quem precisar, etc..."

    L na frente, um rapaz comea a tocar violo e cantar: "JesusPastor Amado, juntos eis-nos aqui. Concede que sejamos um Corpo sem Ti..." As novecentas pessoas do auditrio erguem juntas as suasvozes. Um sentimento de unidade e comunho permeia o ambiente.

    Depois dos cnticos de mais alguns hinos, um dos cincopastores da igreja dirige um breve estudo bblico. O soldado enche deanotaes em vermelho as margens de algumas pginas da sua Bblia.

    Chega, ento, a hora de compartilhar. Qualquer pessoa dafamlia pode levantar-se e mencionar uma necessidade sua ou pediroraes. a mesma "koinonia" da igreja primitiva, quando os cristosse reuniam com uma famlia, para compartilhar os fardos uns dosoutros, e animar-se mutuamente na f.

    A mulher grisalha se levanta. Um rapaz lhe traz um microfone.Ela tosse, limpando a garganta: "Meu filho", ela diz, "Meu filho est

    de volta, depois de oito anos longe de casa. Ele voltou viciado emdrogas e homossexual. Ns o levamos aos mdicos psiquiatras e jtentamos de tudo! Agora, queremos entregar esse assunto a Deus."

    Ela se assenta, enquanto um murmrio de interesse pelo seucaso se faz ouvir por toda a famlia.

    "Algum quer fazer a orao pelo filho dessa senhora?"pergunta o dirigente. Um jovem, que antes fora viciado em herona,

    faz uma orao em palavras muito simples em favor do filho daquelamulher.Em seguida, o microfone vai para um homem de meia idade,

    que conta, como algumas pessoas da PBC o foram encontrar em seuapartamento no bairro de Los Altos. "Ca numa bebedeira durantedezesseis dias, e por causa disso, perdi o emprego. Foi quando essesdois jovens entraram e disseram-me que calasse os sapatos para

    irmos igreja. A princpio, recusei-me, mas, no fundo, eu sabia queaquela era a minha ltima oportunidade. No caminho para a igreja,aceitei a Jesus como meu salvador pessoal, e desde ento, senti-meliberto do alcoolismo."

    Murmrios de apoio e algumas exclamaes discretas de"Louvado seja Deus!" ouvem-se pela igreja.

    Em seguida, uma missionria de Hong Kong, de visita igreja,

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    faz um breve relatrio do seu trabalho. "Quero agradecer a todosvocs", diz ela, "por toda a ajuda e pelo dinheiro que nos tm enviado.Nosso trabalho de educao crist vai indo bem."

    Logo que a missionria se assenta, todos cantam o hino"Maravilhosa Graa de Jesus". Toda a famlia sente que o culto estsendo dirigido por outras mos que no as humanas.

    , ento, anunciada a coleta. "D a sua oferta em proporo s bnos recebidas. Ou, se precisar de dinheiro, retire-o da salvaquando ela passar por voc. Se precisar de mais de dez dlares, venhaao escritrio da igreja para ser atendido."

    Trs estagirios se dirigem, ento, para a frente. Esto prestes adeixar a PBC. (Os estagirios so jovens crentes de grau universitrio

    que vm para a PBC oriundos de ambientes e lugares os maisdiferentes, a fim de serem treinados para o ministrio cristo prtico.Eles aprendem a confiar no poder da Ressurreio, o poder de umCristo ressurreto que neles se manifesta, no s para aprender os donsespirituais que operam no Corpo de Cristo bem como para reconhecera relao que deve existir entre a igreja e a sociedade ao seu redor,cheia de necessidades.

    Os trs estagirios ajoelham-se. Um deles ser pastor noCanad. Outro desempenhar o seu ministrio numa universidade. Oterceiro, voltar para o seminrio.

    O culto termina suavemente. O povo sai com calma pelas alasentre os bancos. Algumas pessoas permanecem no recintocompartilhando suas experincias.

    A jovem de calas compridas verdes, dobra a sua Folha de

    Necessidades e Oraes e volta para o seu Volkswagen. O soldado, jsentado no jipe, medita sobre o culto recm-terminado. Sente-seconfortado e encorajado. No consegue definir, mas ele sente que algoestranho est se passando no seu ntimo. Janice, sua irm caula,insistiu com ele para que fosse ao culto. E quando a gente constatacom os prprios olhos a transformao da irm, bom procurarconhecer a causa!

    Trs mocinhas atravessam a rua conversando: "No foimaravilhoso?", exclama a primeira, uma ginasiana. "Pois , diz aoutra, l estvamos ns naquela cidadezinha, para falar sobre Jesus!"

    "Bem, melhor nos apressarmos", acrescenta a terceira, "pois amame j deve estar preocupada, esperando."

    A PBC mantm um ministrio ativo exercido pelos jovens quevo s reas rurais do norte da Califrnia. Literalmente, centenas de

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    estudantes de ginsio e de colgio dessas pequenas comunidadesdescobrem o Senhor Jesus, como resultado do ministrio pessoal dosjovens da PBC.

    Numa poca em que muitas igrejas se preocupam com o nmerode membros, que cada vez menor, a PBC continua crescendo. Estecorpo de crentes est vivo, porque o poder do Senhor ressurreto seevidencia ali. A experincia feita pela PBC revela que, neste sculoXX, qualquer igreja pode se avivar e se encher de entusiasmo.

    JOYCE DUEKER Paio Alto, Califrnia

    Nota do Editor

    Joyce Dueker associou-se h pouco tempo ao corpo de crentesda PBC. A pedido do editor, escreveu esta viso introdutria de AIgreja Corpo Vivo de Cristo, a fim de nos transmitir aquilo que elaobservou e experimentou na comunho desta igreja de Paio Alto.

    Captulo Um

    A MAIS PODEROSA FORCA SOBRE A FACE

    DA TERRAEste livro trata da Igreja. No da igreja como ela

    freqentemente conhecida, mas como originalmente foi e pode ser sim, tem que ser novamente. A palavra "igreja" traz tona imagensmuito diferentes. Para alguns, a igreja no nada mais que um esnobeclube de campo religioso, com rituais tradicionais to sagrados como

    os de uma tradicional caa raposa. Para outros, a igreja um grupode ao poltica, um bloco de presso de fazedores do bem,batalhando contra os males da sociedade. Alguns vem a igreja comouma espcie de sala de espera, no-segregada racialmente, destinada apessoas que esto esperando o prximo nibus para o cu. Alguns avem como um tipo de sobremesa especial para regime, para aquelesque desejam algo de bonitinho, que no prejudique a sua imagem

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    junto ao pblico. Outros pensam dela como se fosse uma reuniocomum de fanticos religiosos, gozando seu transe de fim-de-semana.Para muitos a igreja uma espcie de tbua de salvao no jogo davida ou uma democracia religiosa, que quer legislar sobre moral parao resto do mundo.

    Sejamos bem honestos em admitir que a igreja tem sido todasestas coisas, em muitos lugares e ocasies. Tem justificadoamplamente todas as amargas acusaes contra ela levantadas. Apesarde suas numerosas fraquezas e de seus trgicos pecados, a igreja temsido atravs de todos os sculos, desde c seu incio, a mais poderosafora em prol do bem sobre a face da terra. Tem sido uma luz no meioda escurido to densa, que pode ser sentida. Ela tem sido sal dentro

    da sociedade, retardando o alastramento da corrupo moral e dandotempero e sabor vida humana.

    Como pode ser isto? Como que a mesma instituio pode ser,a uma s vez, uma fonte de mgoas, desiluso e desespero paramuitos, e uma fonte de alegria, vida e conforto sem fim para tantosoutros? A resposta que a Bblia nos d que aquilo que chamamos deigreja, na realidade, so duas igrejas. Ambas so religiosas, mas uma

    egosta, vida de poder, cruel e diablica. A outra forte e divina, queama e perdoa. Uma fomentou o dio e levou a sociedade a conflitossangrentos contnuos, tudo em nome de Deus e da religio. A outratem curado males humanos, quebrado barreiras raciais e de classes elivrado homens e mulheres, em todos os lugares, do medo, da culpa,da vergonha e da ignorncia. A ltima a igreja verdadeira, iniciadapor Jesus Cristo; ela que manifesta um cristianismo autntico. A

    outra uma igreja falsa, uma organizao satnica, um simulacro decristianismo.Foi o prprio Jesus que predisse esse estado de coisas. Em

    Mateus 13, numa srie impressionante de parbolas em que descreveuas condies que prevaleceriam no perodo entre sua primeira esegunda vindas (a poca em que vivemos), ele conta uma, que freqentemente chamada de parbola do trigo e do joio. Ali ele diz

    que, sendo o Filho do Homem, semearia trigo (cristos verdadeiros,que chamou de filhos do reino) no campo do mundo. Mas enquanto oshomens no se dessem conta, o diabo viria, a semear o joio (falsoscristos, chamados de filhos do maligno) no meio do trigo. Amboscresceriam juntos, sem que se os pudesse distinguir, de incio. Maslogo os homens notariam a incongruncia do joio com o trigo e viriama perguntar se no deveriam arrancar o joio. Sua resposta foi clara e

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    simplesmente: No! Se se tentasse isso, explicou ele, o trigo seriadestrudo junto com o joio. "Deixai-os crescer juntos at a colheita"(Mateus 13:30).

    A colheita, continuou explicando, seria no fim da era, em queele enviaria seus anjos (no homens) para o campo, a fim de separar o joio do trigo. O joio seria queimado no juzo, mas o trigo seriarecolhido no celeiro de seu pai. O trigo, ou os filhos do reino, soaqueles que experimentaram aquilo que a Bblia chama de novonascimento. Em outra passagem, Jesus diz claramente: Se algum nonascer de novo, no pode ver o reino de Deus (Joo 3:3).

    O apstolo Pedro mais tarde descreve a esses como sendoregenerados, no de semente corruptvel, mas de incorruptvel,

    mediante a palavra de Deus, a qual vive e permanente (I Pedro1:23). Os filhos do maligno so os falsos cristos, jamais nascidos denovo pelo poder do Esprito Santo atravs da f na Palavra de Deus,mas que pensam ser cristos porque passaram por um certo ritual,associaram-se igreja local ou se fiam em conduta moral exterior ounuma intensa preocupao social, para sua aceitao diante de Deus.Para eles mesmos e para muitos de fora da igreja, eles no se

    distinguem dos cristos verdadeiros.No de admirar, pois, que a igreja apresente ao mundo uma

    imagem to confusa. No deveria causar estranheza se ela se parece,s vezes, com o mdico, e outras vezes, com o monstro da conhecidahistria. (*) Quando a ilustrao bblica esquecida (como tantasvezes acontece), a igreja confunde at aqueles que a amam e procuramdefend-la. Hoje em dia a igreja parece ter perdido o seu sentido de

    identidade. Como algum que estivesse sofrendo de amnsia, ela estse perguntando: "Quem sou eu, e para que que estou aqui?" Atentativa de ver duas entidades completamente contraditrias comouma s igreja, produziu uma espcie de esquizofrenia eclesistica, queest deixando muitas pessoas confusas e aturdidas.

    Esse carter duplo da igreja tem sido freqentemente sentido pormuitos e, atravs dos sculos, tem-se tentado separar a igreja

    verdadeira da igreja falsa. Mas todas as tentativas falharam, porque seempreendeu a separao com base em fatores externos. Pureza dedoutrina, conduta moral, prtica ritual e nacionalidade tm sido algunsdos critrios pelos quais a verdadeira igreja foi procurada ereivindicada! Os catlicos romanos insistem em serem a igrejaverdadeira; os batistas tm refutado tal reivindicao, declarando queeles teriam o padro correto, ao passo que outros tm dito: "Fora com

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    aqueles dois! Ns outros que somos a igreja verdadeira". Assim asfaces vm se debatendo atravs dos sculos.

    A verdade , naturalmente, que nenhuma denominao ouorganizao religiosa ou pode ser a igreja verdadeira. A linhadivisria no bem definida. O cristianismo verdadeiro no pode serdistinguido tendo como base, grupos ou conjuntos de grupos. Aseparao no pode ser feita nem mesmo de indivduo para indivduo.A posio bblica que, falsos cristos s podem manifestar umcristianismo falsificado, mas, cristos verdadeiros podem apresentartanto o cristianismo verdadeiro como o falso, se bem que no aomesmo tempo. Sempre que cristos verdadeiros, por ignorncia oudesobedincia arbitrria, mostram um cristianismo falso e simulado

    em suas vidas, eles provocam tantos danos ao mundo ao seu redorcomo se fossem pagos irreligiosos, vivendo num extremo egosmo edesinteresse pelos outros.

    A triste e trgica verdade, porm, que perfeitamente possvelser um cristo verdadeiro sem manifestar verdadeiro cristianismo. Ailuso de ser-se um cristo sem viver uma vida crist, acontecefacilmente. A ironia disso est em que esse tipo de vivncia crist

    ainda , alm disso, apagado, estril e mortal. Mas igualmente fcil,no que diz respeito s atividades, levar uma vida verdadeiramentecrist, que sempre ativa, empolgante e atuante.

    O objetivo deste livro procurar nas Escrituras a natureza e ofuncionamento do verdadeiro cristianismo, recuperando assim aqualidade dinmica do cristianismo primitivo. Ainda que a vida dehoje em dia parea terrivelmente complicada, se a compararmos com

    a daquela poca, no h razo para que a igreja do sculo vinte noseja o que era no sculo primeiro. O verdadeiro cristianismo agoraopera exatamente nas mesmas bases em que ento operava. O mesmoimpacto dinmico, descrito no livro de Atos, possvel ainda hoje.

    O principal fator que impede que isso acontea a ignorncia. Amaioria dos cristos infelizmente no conhece o padro bblico para ofuncionamento da igreja. At os cristos verdadeiros ainda tentam em

    vo fazer aquilo que seu Mestre lhes proibiu (Mateus 13:24-30):separar o joio do trigo, no sentido fsico. Parece que eles nocompreendem que cristianismo falso e verdadeiro podem estarmesclados na mesma pessoa. Neste caso, a separao fsica no possvel. A destruio de um significaria a destruio do outro, comoJesus advertiu. No modelo bblico, o trigo (cristianismo verdadeiro)deveria tornar-se to saudvel e forte, que ele sobrepujaria e

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    enfraqueceria o joio, a tal ponto que este virtualmente perderia suacapacidade de executar sua inteno maligna.

    Jesus declarou que ele edificaria a sua igreja sobre uma rocha,um fundamento inabalvel. Esta rocha era o fato de sua messianidadee divindade, como o confessou, o apstolo Pedro (Mateus 16:16).Posteriormente, no dia de Pentecoste, essa igreja surgiu pelo poder doEsprito de Deus. No comeo no havia sinal algum da presena deum falso cristianismo. A verdadeira vida crist, como se mostrava,abalou toda a cidade de Jerusalm, espalhando-se logo para outrascidades e vilas. Ento, como predisse Jesus, as falsas sementes dasemeadura do diabo criaram razes e comearam a aparecer, noapenas na forma de membros batizados, porm, no regenerados, mas

    tambm na forma do mal presente nas vidas dos verdadeiros membrosda igreja (Atos 8, Simo o mgico; Atos 5, Ananias e Safira).

    Surgiu ento a tarefa dos apstolos de instruir os cristos emcomo reconhecer a falsa vivncia, que existia dentro deles ao lado daverdadeira; como repudiar a primeira, atravs do poder de um Senhorcrucificado, e como entregar-se inteiramente a Cristo atravs da f, demodo que pudessem apresentar a vida igualada do Senhor ressurreto e

    triunfante. Os apstolos receberam a misso de desenvolver emdetalhes o modelo de operao mencionado pelo Senhor para o seucorpo, a igreja. Esse modelo, quando fielmente seguido, faria da igrejaa mais poderosa fora na terra, em qualquer poca.

    O admirvel fato que as Escrituras afirmam claramente, mas quemilhares de cristos no observaram, que Deus destinou sua igreja aser uma espcie de governo na terra, que sustentasse os governos

    visveis. Isso possibilitaria um clima de legalidade ordem benevolentes, ura regime de justia e paz, e refrearia as forasindmitas da tirania, da anarquia e do derramamento de sangue. (VejaMateus 5:13-14; Filipenses 2:14-15; I Timteo 2:1-2). Todas as vezesque a igreja se aproximou desse modelo bblico, condies justascomearam a prevalecer. E quando ela se desviou desse padrodivino, para confiar em foras secundrias, ou se tornou orgulhosa,

    rica e tirnica, ou mundana, fraca e desprezada por todos.O que ns essencialmente precisamos , ento, redescobrir omodelo bblico. Como diz um dito moderno: Quando falham todas asoutras coisas, siga as instrues! Quando nos voltamos para asEscrituras, estamos nos voltando para a realidade. Ali deparamos como ponto central de qualquer questo, com a verdade bsica subjacente,a partir "da qual podemos nos desembaraar, aplicando em qualquer

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    rea da vida os princpios aprendidos.Se bem que todos os apstolos que escreveram o Novo

    Testamento nos do a verdade sobre a igreja; foi principalmente oapstolo Paulo quem escreveu a esse respeito. Ele dedica toda umacarta (Efsios) quase que exclusivamente Igreja, suas origens, suanatureza, sua funo e sua relao essencial com seu Senhor. Vamosolhar agora para essa carta, tratando especialmente dos primeirosdezesseis versculos do captulo quatro. Este trecho ser o nosso guiano caminho para a verdade sobre a igreja.

    Captulo Dois

    PRIORIDADE MXIMA

    Estamos numa era revolucionria. A ventania tempestuosa datransformao est soprando por todos os cantos O problema racial

    provoca inquietao e revolta desordenada. As naes se defrontamcom problemas estonteantes de injustia social, corrupo moral ecrueldade humana. Que devem fazer os cristos, numa hora dessas?Que posio a igreja deve tomar, diante de problemas to complicadose profundos? Estas so perguntas que muitos esto fazendo hoje

    Quando Paulo escreveu aos cristos na cidade de feso, na provncia romana da sia, eles estavam se defrontando com

    problemas surpreendentemente idnticos. Metade da populao doImprio era composta de escravos, rebaixados a uma servido tocompleta, que eram negociados e vendidos como se fossem gado.Com exceo de uma pequena classe de aristocratas e patrcios ricos,a outra metade da populao consistia de comerciantes e trabalhadoresque, a muito custo, levavam uma vida precria, no muito longe dapobreza. A corrupo moral de feso era legendria. L estava o

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    centro do culto deusa do sexo, a Diana dos Efsios. E quanto crueldade, as legies romanas estavam prontas para marchar aqualquer lugar, a fim de suprimir, sem d nem piedade, qualquer sinalde revolta contra a autoridade do imperador. E este imperador eraNero, cuja vida srdida e selvagem j constitua assunto de conversaem todo o imprio.

    Ao escrever, Paulo se encontrava em Roma, como prisioneiro deCsar, esperando a hora de ser apresentado a

    Nero. Tinha permisso de viver em sua prpria casa alugada,mas no podia andar livremente pela cidade. Dia e noite, ele estavaacorrentado a um soldado. Vendo ao seu redor a vida decadente dacidade, e sabendo das condies que prevaleciam na distante feso,

    que que o apstolo, ao lhes escrever, haveria de aconselhar aoscristos? A resposta surpreendente e oportuna:

    Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis demodo digno da vocao a que fostes chamados, com toda humildadee mansido, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros emamor, esforando-vos diligentemente por preservar a unidade doEsprito no vnculo da paz (Efsios 4:1-3).

    O que diz o apstolo igreja em feso, em face dasdesesperadas exigncias criadas pela necessidade humana? Qual asua resposta aos cidados oprimidos, que clamam por justia econforto, a quem ele escreve? Simplesmente isso: .Cumpri a vossavocao! No vos desvieis da estratgia divina. Obedecei s ordensque tendes recebido. Segui o vosso Cabea!

    Nesta admoestao, o apstolo reconhece claramente a

    verdadeira natureza e funo da igreja. Ela no uma instituio-humana. No deve projetar a sua prpria estratgia e estabelecer suasprprias metas. No uma organizao independente, que existe pelafora de seus nmeros. Ela , isto sim, um corpo chamado para umrelacionamento todo especial com Deus. Nesta carta aos Efsios, oapstola usa uma srie de figuras, que descrevem este relacionamento.A igreja, diz ele, um corpo sob a direo de sua cabea. Que

    tragdia no seria, se esse corpo se negasse a seguir as instrues desua cabea! A igreja tambm um templo destinado habitao e usoexclusivo de uma Pessoa que mora dentro dele e tem o direito de fazero que quiser com esse templo. A igreja um exrcito sob o comandode um rei. Um exrcito que no obedece a seu chefe, no serve comofora de combate. Por isso, diz Paulo igreja, obedecei s ordens esegui vosso Cabea.

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    O prprio Paulo um exemplo para eles. Depois de ficardefinhando por dois anos como prisioneiro na Palestina (Cesaria), elefoi mandado para Roma numa viagem martima muito perigosa, queacabou em naufrgio na ilha de Malta. Mas, afinal, ele chegou aRoma. Foi prisioneiro pessoal de Nero, mas nenhuma vez em suacarta ele faz referncia a si mesmo como sendo "o prisioneiro deCsar". Ele sempre diz, como aqui, "um prisioneiro no Senhor", ou "o prisioneiro do Senhor". Ele no se lamenta por estar na priso,acorrentado e confinado. Leia sua carta aos Filipenses, escrita tambmnesta priso, e ach-la- cheia de alegria, triunfo e de confiana emque tudo est bem. Para Paulo, atrs de Csar est Cristo. Ele no seconsidera um prisioneiro de Csar, porque, alm das correntes, do

    guarda e dos processos imperiais de justia, v a mo de Jesus,dirigindo.

    Em sua carta aos Corntios, Paulo diz: "no atentando ns nascousas que se vem, mas nas que se no vem"(II Corntios 4:18). Porqu? que l se acham as respostas ltimas. L se acha a verdadeltima e o poder ltimo. O prprio Jesus refletiu esta atitude, ao sercolocado perante Pncio Pilatos. Este lhe disse: "No sabes que tenho

    autoridade... para te crucificar?" Jesus replicou de imediato:"Nenhuma autoridade teria sobre mim, se de cima no te fosse dada"(Joo 19:10-11).

    Boa parte da explicao para a confuso to difundida na igrejade hoje, o fato de que os cristos tm olhado para as coisas visveis,em vez de olharem para as que no podem ser vistas. Vemos ummundo que sofre, com necessidades humanas bvias em toda parte.

    dio e fanatismo abundam; a injustia predomina, e a misria estpresente para onde quer que nos voltemos. A soluo bvia parece secoordenar todos os recursos humanos a fim de enfrentar estasnecessidades, Vamos trabalhar e fazer alguma coisa e logo! Pareceto lgico, to conseqente e prtico. Mas isto porque nosso pensamento humano limitado e superficial. Somente vemos ascoisas visveis. Nossa preocupao superficial com aspectos externos

    nos leva a tratar sintomas, e no causas. Aplicamos remdios viaexterna, que s funcionam no momento, se que funcionam, e depoisa situao pior que antes.

    Precisamos hoje, desesperadamente, dessa admoestao prticado apstolo: "Andai de modo digno da vocao a que fosteschamados"(Efsios 4:1). Aquele que nos chamou, v a vida de modomuito mais claro do que ns Preparou uma estratgia, que de fato

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    remover a causa das trevas e misria humanas. No perde seu tempo,tratando cncer com esparadrapo. Vai direto raiz. Quando a igreja semantm fiel sua vocao, ela se torna um fator teraputico nasociedade, capaz de levantar toda uma nao ou imprio a um nvelsuperior da vida sadia. Em sua monumental histria do mundo, AHistria da Civilizao, Will Durant compara as influncias de Csare de Cristo. Diz ele, de Jesus:

    "A revoluo que Ele procurou foi uma muito mais profunda,sem a qual as reformas s poderiam ser superficiais e transitrias. SeEle pudesse limpar o corao humano do desejo egosta, da crueldadee da luxria, a utopia viria por si mesma, e todas aquelas instituiesque provm da ambio e violncia humanas alm de conseqente

    necessidade de leis, desapareceriam. J que isto seria a mais profundade todas as revolues ao lado da qual todas as outras seriam merosgolpes de estado, de uma classe desalojando a outra e explorando-a por seu turno, Cristo foi, neste sentido espiritual, o maiorrevolucionrio da histria." l

    A verdadeira igreja est aqui, para levar a efeito aquelarevoluo; a falsa igreja est aqui, para se lhe opor. Mas, cristos

    verdadeiros esto de fato promovendo a causa do cristianismo falso,quando por ignorncia ou zelo equivocado, se desviam da estratgiade Deus e no obedecem sua vocao divina. Ns, simples sereshumanos, no podemos aperfeioar o programa divino. E ns tambmno fomos entregues dvida quanto natureza dessa vocao. Osprimeiros trs captulos de Efsios so dedicados sua descrio; eela se encontra em muitas outras passagens do Novo Testamento. Se

    os cristos querem obedecer com inteligncia ao seu Senhor, devemcolocar a prioridade mxima em compreender o que que Ele querque sejam e faam. Esta vocao divina est baseada sobre realidadesfundamentais e ltimas.

    Esta a glria do cristianismo: mostrar as coisas comorealmente so. A caracterstica das epstolas neotestamentrias queelas comeam com a verdade, que o que ns chamamos de doutrina.

    Ento, baseando-se no fundamento subjacente da verdade, o escritorprossegue, sugerindo certas aplicaes prticas. Quo tolo comearcom outra coisa, a no ser com a verdade! H uma certa gente hoje emdia nos dizendo que deveramos comear com algum tipo de sonho ouesperana idealizada. Construindo sobre essa iluso, elaboraramossolues prticas para nossos problemas. Mas os apstolos nuncafazem isso. Cada um comea seu escrito com a verdade, a verdade

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    como realmente , com as coisas como de fato se apresentam. Estesescritores nos chamam de volta realidade.

    Nos captulos iniciais de Efsios, Paulo faz uma srie deafirmaes sobre o propsito da igreja: no apenas o seu propsito para a eternidade algum dia, mas o seu propsito para o tempopresente. J que os cristos tm em Cristo muito mais do que tinhamem sua condio anterior, sob as trevas e as frustraes do reino deSatans, de bom augrio saber para que finalidade e sentido tudoisso est designado. Observemos algumas dessas afirmaes acerca danatureza e sentido da igreja:

    Ele nos escolheu nele [Cristo] antes da fundao do mundo [aigreja no fruto de nenhuma reflexo posterior de Deus. Ela foi

    planejada muito antes de o mundo ser criado], para sermos santos eirrepreensveis perante Ele (Efsios 1:4).

    A primeira preocupao de Deus no o que a igreja faz, massim o que ela . O ser sempre precede o fazer, pois o que fazemossempre ser determinado por aquilo que somos. Compreender ocarter moral do povo de Deus um ponto essencial, a fim deentendermos a natureza da igreja. Como cristos, devemos ser um

    exemplo moral para o mundo, refletindo o carter de Jesus Cristo.Recentemente, estive lendo sobre dois americanos que estavam

    andando de trem, na Inglaterra. (Os trens ingleses tmcompartimentos em que se podem sentar at seis pessoas.) No mesmocompartimento destes dois homens, estava sentado um senhor deaspecto muito distinto. Em voz baixa, os dois americanos estavamdiscutindo acerca deste senhor. Um deles disse bem baixinho:

    "Quanto quer apostar que ele o Arcebispo de Canturia?"Replicou o outro: "Pois eu acho que no. Eu topo a parada."O primeiro se dirigiu ao cavalheiro e disse: "Com licena, o

    senhor se importaria em nos dizer se o Arcebispo de Canturia?"O homem respondeu imediatamente: "V cuidar de sua prpria

    vida. Que que vocs tm a ver com isso?"Ento um dos americanos se voltou para o outro e disse:

    "Acabou-se a aposta! No h jeito de descobrir!"Essa estria apenas quer sugerir que os cristos deveriam serfacilmente identificveis pelo seu modo de falar e de viver, de agir ereagir. Ns, cristos, somos chamados a ser "santos e irrepreensveisperante ele". Este um dos propsitos da igreja.

    Paulo nos d uma outra finalidade da igreja, no primeirocaptulo de Efsios:

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    Em amor nos predestinou para ele, para a adoo de filhos, pormeio de Jesus Cristo, segundo o beneplcito de sua vontade, paralouvor da glria de sua graa (V. 4-6a).

    Ns, os que de antemo esperamos em Cristo, somos paralouvor da sua glria (V. 12).

    Pense nisso, um pouco! "Ns, que de antemo esperamos emCristo", significa: ns, que somos cristos, como sendo destinados edesignados (aqui est novamente a nossa vocao) a viver para olouvor de sua glria. A primeira tarefa da igreja no o bem-estar doshomens, por mais importante que isto seja, e mesmo considerando queeste ponto decididamente entre no quadro. Mas no a primeira tarefada igreja. O primeiro objetivo viver para o louvor e a glria de Deus.

    Como o declara uma outra traduo: "Ns deveramos fazer com quesua glria fosse louvada".

    Que a glria de Deus? o prprio Deus, a revelao do queDeus e faz. O problema deste mundo que ele no conhece Deus.No tem compreenso alguma d'Ele. Em todas as suas procuras e suasdivagaes, em seus esforos por descobrir a verdade, ele no sabenada de Deus. Mas a glria de Deus revelar-se a si mesmo, mostrar-

    se como . Encontramos outro auxlio para compreender isso em IICorntios:

    Porque Deus que disse: De trevas resplandecer luz , elemesmo resplandeceu em nossos coraes, para iluminao doconhecimento da glria de Deus na face de Cristo (II Corntios 4:6).

    Os homens podem ver a glria de Deus na face de Cristo, emseu carter, em seu ser. E essa glria se acha, como diz Paulo, em

    "nossos coraes". A vocao da igreja revelar ao mundo a glria docarter de Deus, como se acha na face de Jesus Cristo. Isto se encontranovamente no primeiro captulo de Efsios:

    E ps toda as cousas debaixo dos seus ps e, para ser o cabea sobre todas as cousas, o deu igreja, a qual o seu corpo, aplenitude daquele que a tudo enche em todas as cousas (Efsios 1:22-23).

    Esta uma tremenda afirmao. Declara que tudo que JesusCristo (sua plenitude) pode ser visto em seu corpo, que a igreja. Osegredo da igreja que Cristo vive nela, e a mensagem da igreja parao mundo declar-lo, falar de Jesus Cristo. Paulo descreve estesegredo da igreja verdadeira, novamente, no segundo captulo.

    Assim j no sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadosdos santos, e sois da famlia de Deus; edificados sobre o fundamento

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    dos apstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedraangular; no qual todo edifcio, bem ajustado, cresce para santuriodedicado ao Senhor, no qual tambm vs juntamente estais sendoedificados para habitao de Deus no Esprito (Efsios 2:19-22).

    A est o mistrio sagrado da igreja: ela a morada de Deus. Elevive em seu povo. Esta a grande vocao da igreja: tornar visvel oCristo invisvel. Paulo, como um cristo-modelo, descreve seu prprioministrio nos seguintes termos:

    Manifestar qual seja a dispensao do mistrio, desde ossculos oculto em Deus, que criou todas as cousas, para que, pelaigreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida agora dosprincipados e potestades nos lugares celestiais (Efsios 3:9-10).

    A est, de modo bem claro: a tarefa da igreja "tornarconhecida a multiforme sabedoria de Deus", torn-la conhecida nosomente aos homens, mas tambm aos anjos, que esto observando aigreja. Estes so "os principados e potestades nos lugares celestiais".H outros, alm dos homens, que esto observando a igreja e com elaaprendendo.

    Sem dvida os versos acima so suficientes para deixar uma

    coisa perfeitamente clara: a vocao da igreja est em declarar pelapalavra e demonstrar em atitude e ao o carter de Jesus Cristo, quevive dentro de seu povo. Devemos declarar a realidade de umencontro que muda a vida de um cristo e demonstrar esta mudanaatravs de uma vida altrusta e cheia de amor. At que o tenhamosfeito, no h nada que possamos fazer, que possa ser benfico. Esta a vocao da igreja, qual Paulo se refere ao dizer: Rogo-vos que

    andeis de modo digno da vocao a que fostes chamados.Observe como o prprio Senhor Jesus confirma isso, no captulode abertura do livro de Atos. Logo antes de ascender para o seu Pai,Ele disse a seus discpulos:

    "Recebereis poder, ao descer sobre vs o Esprito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalm, como em toda aJudia e Somaria, e at aos confins da terra"(Atos 1:8).

    A vocao por excelncia da igreja ser testemunha de Cristo.Uma testemunha algum que declara e demonstra. O apstolo Pedrodiz uma palavra magnfica sobre isso, em sua primeira carta:

    "Vs sois raa eleita, sacerdcio real, nao santa, povo depropriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudesdaquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" (IPedro 2:9).

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    Observe o esquema "Vs sois... a fim de". Essa a tarefaprimordial do cristo. Jesus mora nele, a fim de que possa demonstrara vida e o carter do que vive dentro dele. Todo cristo verdadeiro tema responsabilidade de realizar esta vocao da igreja. Todos sochamados; em todos habita o Esprito Santo, e se espera de todos querealizem sua vocao diante do mundo. Esta a nota clara que oapstolo faz soar atravs de toda a carta aos Efsios. A expresso dotestemunho da igreja, s vezes, pode ter um carter global, mas aresponsabilidade de o fazer sempre individual.

    Mas, aqui, surge novamente o problema de uma possvelfalsificao. fcil para a igreja (ou para o cristo, individualmente)falar sobre a demonstrao do carter de Cristo e ter grandes

    pretenses de faz-lo. No entanto como o sabe todo pagointeligente, que tem observado cristos de perto a imagem querealmente transparece no sempre a mesma do Jesus dosEvangelhos. Este o motivo pelo qual o apstolo Paulo muitometiculoso ao descrever esse carter em termos mais especficos.

    ...Com toda humildade e mansido, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforando-vos

    diligentemente por preservaro unidade do Esprito no vinculo da paz(Efsios 4:2-3).

    Humildade, pacincia, amor, unidade e paz estas so ascaractersticas reais de Jesus. Cristos no devem testemunhar comarrogncia e rudeza, nem com presuno de "sou-mais-santo-que-voc", nem com a soberba de um santarro, e com certeza, tambmno sobre o fundo de torpes brigas de igreja nem de asperezas entre si.

    A igreja no deve falar sobre si mesma. Ela deve ter uma mentalidademodesta, no se gabando orgulhosamente de seu poder ou procurandoaumentar o seu prestgio. A igreja no pode salvar o mundo; mas oSenhor da igreja, pode. No pela igreja que os cristos devemtrabalhar e empenhar suas vidas, mas pelo Senhor desta igreja. Aigreja no pode exaltar seu Senhor,, procurando exaltar-se a si mesma.A verdadeira igreja no procura ganhar poder aos olhos do mundo.

    Ela j tem todo o poder de que precisa, do Senhor que nela mora.Ainda mais, a igreja deve ser paciente e indulgente, sabendo queas sementes da verdade levam tempo para germinar, crescer eamadurecer. A igreja no deve fazer exigncias estridentes sociedade, de mudanas repentinas e violentas de estruturas sociais,que se estabeleceram h muito tempo. Antes, a igreja deve evitardecididamente a prtica de males sociais em- seu prprio meio,

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    implantando assim na sociedade sementes de verdade que, em ltimainstncia, ho de germinar.

    Um dos livros mais famosos de todos os tempos O Declnio eQueda do Imprio Romano, de Edward Gibbon. Ele mostra o queaconteceu quele poderoso imprio e como ele se desintegrou,primeiro, internamente. No livro h uma passagem que Sir WinstonChurchill decorou, porque a considerou admiravelmente caractersticae acurada. Ela fala da igreja dentro do imprio:

    "Enquanto o enorme Imprio romano foi invadido pela violnciaaberta e minado por uma lenta decadncia, uma religio pura emodesta se insinuou gentilmente nas mentes dos homens, cresceuobscura e silenciosamente, extraiu da oposio sofrida um novo vigor,

    erigindo finalmente a bandeira triunfante da Cruz sobre as runas doCapitlio." 1

    O maior sinal da vida de Jesus Cristo, dentro do cristo, naturalmente, o amor. Amor, que aceita os outros como eles so; que compassivo, que perdoa, e procura evitar que mal-entendidos ediferenas de opinio dividam os cristos entre si. Jesus disse: Nistoconhecero todos que sois meus discpulos, se tiverdes amor uns aos

    outros. (Joo 13:35). O amor nunca se manifesta pela rivalidade,ambio, ostentao, indiferena ou preconceitos. Ele exatamente ooposto de insultos, calnias e divises, devido a pontos de vistainflexveis. O amor se preocupa em manter a unidade, no em cri-la.A igreja nunca pode criar unidade, mas pode mant-la. Examinaremosesse assunto mais de perto, no prximo captulo.

    Mas tudo isso no nos ajuda a responder grande questo: Com

    que finalidade a igreja est aqui no mundo? Onde que vamoscomear com a tarefa de influenciar e mudar o mundo? Ondedevemos colocar nossa principal nfase? O Novo Testamento falamuito pouco sobre a participao do crente na poltica; sobreproblemas de habitao; sobre direitos civis, ou sobre disputas entreempregados e empregadores. Isto no significa que os cristos devamignorar essas questes. bvio que no podemos ter um corao

    cheio de amor por seres humanos, nossos irmos, sem nos preocuparmos com essas coisas. Mas o Novo Testamento dizrelativamente pouco sobre elas, porque Deus sabe que o nico modode enfrentar esses problemas a introduo de uma nova dinmica navida humana, a dinmica da vida de Jesus Cristo. disso que os

    1 Edward Gibbon, O Declnio e Queda do Imprio Romano, vol. I.

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    homens precisam. A correo do mal se seguir inevitavelmente introduo dessa vida. Certamente precisamos comear l, porque esta a vocao a que a igreja chamada.

    A "nova esquerda", e os assim chamados cristos radicais,evidentemente no compreendem o radicalismo espiritual do NovoTestamento. O evangelho germinou num ambiente social, sob vriosaspectos, muito semelhante ao nosso. Os primeiros cristos sedefrontaram com uma instituio que estava lutando por suasobrevivncia. Injustia, opresso e discriminao eram amplamentedifundidas.

    Mas aqueles que procuram textos bsicos, que justifiquem passeatas,, greves ou boicotes, tm problemas. Estes tentam

    solucionar os males da sociedade, lavando o copo pelo lado de fora,como disse Jesus. Uma verdadeira revoluo crist transforma aspessoas internamente. a que tantas igrejas se perdem. Cristo disseque, somente quando as pessoas so transformadas, recebem um novocorao, um novo esprito e uma nova orientao, haver uma novasociedade. necessrio que morram o ego e o egosmo; que haja umaradical mudana de direo, e um novo nascimento ou uma

    ressurreio. A palavra que o Senhor dirige a essas pessoas :Abenoai aos que vos perseguem. ... Tende o mesmo sentimento unspara com os outros. ... No torneis a ningum mal por mal. ... No tedeixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem. (Romanos 12:14-21).

    A igreja dever, nesta hora turbulenta da histria, abandonar amais notvel mensagem revolucionria de que o mundo j ouviu falar,

    uma mensagem que lhe foi especificamente confiada? Ela dever, emvez disso, contentar-se em fazer algo que qualquer organizaomundana pode fazer? Ela dever tornar-se nada mais do que outrogrupo de ao poltica? Ela dever sucumbir diante do sofisma de quea mudana, qualquer tipo de mudana, signifique progresso

    ? O que oapstolo Paulo deseja que atendamos ao nosso chamado de nostornar responsveis em contar A sociedade, essa boa nova sobre

    Jesus Cristo, que radical, \J revolucionria e capaz de transformarvidas. A igreja precisa invadir novamente a vida comercial eindustrial, a educao e o aprendizado, as artes e a vida da famlia, amoral e o governo com essa mensagem tremenda e inigualvel. UmSenhor Jesus Cristo ressurreto est disposio dos homens em todasas partes, para plantar dentro deles sua prpria vida, transformando-osassim em pessoas que amam, se interessam pelos outros e nelas

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    confiam, pessoas capazes de enfrentar quaisquer problemas que a vidalhes possa apresentar. Esta a vocao da igreja.

    Captulo Trs

    UNIO, NO UNIDADE!

    Em nossos dias h um grupo de vozes que dizem: "Voc estbem certo acerca da necessidade da igreja, de cumprir a sua vocao.Mas, fundamental para essa vocao, a unio de todos os cristos.Dificilmente podemos esperar que consigamos atingir o mundo,

    enquanto os cristos estiverem to fragmentados, to divididos. Emnossa desunio, real-mente nada temos a dizer ao mundo; e, por essarazo, a igreja vive sem poder, e desprezada pela sociedade. Porisso, precisamos, antes de tudo, unir-nos. Nos nmeros h poder, e, seconseguirmos reunir um nmero suficiente de cristos, poderemosinfluenciar a sociedade conforme a igreja estava destinada a faz-lo."

    Esta filosofia fez surgir o movimento ecumnico da ltima parte

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    do sculo vinte. Ecumnico quer dizer "universal", e a esperana e osonho de muitos, hoje em dia, apagar as diferenas entre os cristos,representados nas variadas denominaes, a fim de se conseguir umaigreja realmente ecumnica ou universal. Certos homens se devotaramtanto a esse ideal, que tm sido chamados de "ecumanacos",enquanto que outros desdenhosamente sugerem que o problema daigreja que ela est passando por sua "idade crtica"

    As palavras do apstolo Paulo, que estamos examinando, de fato parecem enfatizar a necessidade de unidade entre os cristos. Eleexorta os cristos de feso a esforar-se diligentemente por preservara unidade do Esprito no vnculo da paz (Efsios 3:4). H outrasescrituras que sublinham a necessidade de um acordo cristo. Os

    ecumenistas dizem que quando as igrejas se unirem em uma nicaorganizao, cumprir-se- a orao de Jesus:A fim de que todos sejamum; e como s tu, Pai, em mim e eu em ti, tambm sejam eles emns; para que o mundo creia que tu me enviaste (Joo 17:21). Elesdizem: "Por que no apoiar estes recentes esforos em prol dessaunidade? Com certeza, a unio de todos os cristos s poderfortalecer e ajudar a causa de Cristo!"

    Que faremos, dessa exortao de Paulo unidade? Uma coisanela est bem evidente: ela reconhece a existncia de atritos entre oscristos. Ele no instaria junto aos cristos, que mantivessem aunidade do Esprito, se no existissem dissenses entre eles. Aqui naigreja primitiva, obviamente, havia foras agindo no sentido de dividiro corpo cristo; entre eles havia presses, que ameaavam cindi-lo emgrupos menores. Em reao a essas presses, o apstolo insiste em

    que eles procurem manter a unidade. A palavra "procurar" um poucofraca, aqui. Procurar implica apenas numa disposio, mas a palavraoriginal no grego significa disposio da vontade e atividade portanto, fazer alguma coisa.

    No h dvida de que irreal fazer de conta que no hdivergncias entre eles. No h no mundo outro grupo togloriosamente heterogneo como a igreja. notvel o fato que ela se

    compe de diferentes tipos de pessoas. Na verdadeira igreja de Cristo,ricos e pobres se renem em p de igualdade, sem distino ecertamente sem favoritismo algum. Judeus ou gentios, homens oumulheres, negros, vermelhos, brancos ou amarelos no fazdiferena. verdade que esta no tem sido sempre a caracterstica daigreja, mas esta era a inteno original e ela pode ser assim. A igrejaatravessa todas as linhas divisrias erigidas pelos homens, bem como

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    todas as distines naturais, reunindo todos os povos, sem exceo,em um s corpo. No h outro corpo no mundo que tente unir pessoasde origens e procedncias to amplamente variadas.

    Mas no fcil ignorar essas linhas divisrias. Atritos surgemfreqentemente, por causa delas. A existncia de atritos nascomunidades crists do primeiro sculo, se evidencia em diversaspassagens da Escritura. Havia grande divergncia em torno da relaodos gentios com os judeus uma questo que levou ao grandeconcilio descrito em Atos 15. Na carta de Paulo aos Filipenses, somencionadas duas senhoras que tinham dificuldade em se entender.Seus nomes eram Evdia e Sntique. Pontos de vista divergentes epersonalidades diferentes so algumas das mesmas causas de atrito

    existentes igualmente na igreja do sculo vinte.L em cima vivamos, com santos que amamos,Isto sim que glria.Mas embaixo vivemos, com santos que vemos;Bem, outra estria!Alm das diferenas de pontos de vista e de personalidades, h

    as diferenas de talento dentro do corpo de Cristo. Todo cristo tem a

    tendncia de depreciar os talentos dos outros e de exaltar os prprios.Todos achamos que a nossa contribuio muito mais importante evaliosa do que aquilo que outros esto fazendo. (I Corntios 3 revela adiviso da igreja de Corinto devido tendncia humana de seidentificar com um mestre, opondo-se a um outro.) Deste modo se vque o cho frtil, para atritos que surgem a partir de divergncias edistines dentro da igreja.

    Mas um segundo fato tambm visvel na exortao doapstolo. Sob todas as diferenas entre os primeiros cristos, esttambm o fato de uma unidade bsica. O apstolo no manda essescristos se esforarem em produzir unidade, mas em conservar aquiloque j existe. Nunca se manda igreja que criou unidade. Umaunidade j existe, por fora da pura e simples existncia da igreja. Noh necessidade de cri-la; para dizer a verdade, os homens so

    incapazes de produzir a unidade, que essencial para a vida da igreja.Ela s pode ser produzida pelo Esprito de Deus; mas uma vezproduzida, responsabilidade dos cristos preserv-la.

    Este o problema do moderno movimento ecumnico. Aquelesque procuram alcanar a unio dos cristos, esto ignorando a unidadeque j existe, tentando criar uma outra. Para que ningum entenda mala natureza da unidade a que o apstolo se refere, ele prossegue,

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    descrevendo-a claramente: H somente um corpo e um Esprito, como tambm fostes

    chamados numa s esperana da vossa vocao; h um s Senhor,uma s f, um s batismo; um s Deus e Pai de todos, o qual sobretodos, age por meio de todos e est em todos (Efsios 4:4-6).

    Aqui est a verdadeira unidade do corpo de Cristo. Observe queela gira em torno das trs Pessoas da Trindade: Esprito, Filho e Pai.Ela um corpo habitado pelo Deus Trino. Isto claramente aresposta orao de Jesus: A fim de que todos sejam um; e como stu, Pai, em mim e eu em ti, tambm sejam eles em ns (Joo 17:21).A igreja no deve ser um conglomerado de indivduos que por acasoconcordam em certas idias. Ela est ligada como um organismo

    numa unidade corporal. verdade que um corpo uma organizao,mas muito mais que uma organizao. A essncia de um corpo estem que ele consiste de milhares de clulas, que compartilhammutuamente de uma vida...

    Ao contrrio do que diz o conto popular, no se produz umcorpo ajuntando-se componentes anatmicos, o osso do dedo ao ossodo tornozelo, este ao do p, e o osso do p ao osso do joelho etc. Um

    corpo formado pela extenso de uma clula original que cresce atse tornar um corpo maduro, em que cada clula faz parte da vidaoriginal. Este o segredo de um corpo: todas as suas partescompartilham da mesma vida.

    o compartilhar da vida que diferencia um corpo de umaorganizao. Uma organizao deriva seu poder da associao deindivduos, mas um corpo deriva seu poder compartilhando a vida.

    Diz o Dr. Bernard Ramm:"Quando os modernistas negam... uma conexo sobrenatural detodos os crentes atravs da unio mstica do Esprito Santo, destrema compreenso crist histrica e ortodoxa da Igreja... A Igreja se tornauma sociedade, uma comunidade religiosa natural, humana e nosobrenatural. Ela est ligada por laos puramente naturais, tais comouma herana em comum na Bblia, uma crena em comum numa

    espcie de exclusividade de Jesus, uma crena em comum nacontinuidade histrica dos cristos e uma tica de amor em comum.Agora a igreja uma sociedade. Mas isso secundrio, diante do fatode ela ser o corpo sobrenatural de Cristo."2

    Qualquer um que teve o privilgio de entrar em contato com

    2Bernard Ramm, "The Continental Divide in Contemporary Theology", ("ChristianityToday", 8 de outubro de 1965).

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    cristos, em algum lugar distante ao redor da terra, logo reconheceessa unidade fundamental, que j existe. Apesar das diferenasdenominacionais e das posies teolgicas amplamente variveis emmuitos pontos, sempre que houver uma vida em comum em Cristoisso logo se torna evidente. H um sentimento de se pertencer um aooutro. Essa unidade reconhecvel, at quando ela oficialmentenegada.

    Faz alguns anos eu me encontrei com um bispo catlico-romanono Mxico, e passei uma ou duas horas conversando com ele sobreCristo. Eu era protestante; ele, catlico, e se ns tivssemos entradoem questes doutrinrias, teramos nos deparado com muitasdiferenas de perspectiva. Mas, particularmente com esse bispo, eu

    senti logo uma unidade da qual tomvamos parte em Cristo. Como eu,ele conhecia a realidade de um Senhor vivo. Conversamos sobre Ele.Nossas organizaes no eram uma, mas ns ramos um, porqueexperimentramos a unidade do Esprito.

    Isso nos leva ao prximo elemento, na descrio que Paulo fazda igreja: um Esprito. Este a grande, eterna e invisvel Pessoa, queo verdadeiro poder da igreja. A fora da igreja nunca provm de seus

    nmeros. Os ecumenistas procuram criar uma unidade da carne, umaunidade organizacional, que deduz seu poder do nmero de corposque podem ser ajuntados, bem parte de convices e concordnciaespiritual. Algum descreveu tal unio, como uma tentativa deenterrar todos os cadveres em um s cemitrio, preparando-os assimpara a ressurreio. Mas isso no vai funcionar. O propsito da igreja ser um instrumento para a vida, e ajuntar corpos mortos no produz

    vida. O poder da igreja em influenciar a sociedade no est em seajuntar um numero suficiente de cristos, a fim de se conquistar votossuficientes para controlar uma legislatura.

    O profeta Zacarias se viu uma vez confrontado com umaenorme montanha, da qual Deus disse que se tornaria uma campina.Quando Zacarias comeou a olhar em volta para ver como isso sedaria, de onde viria o poder para aplainar aquela montanha e fazer

    dela uma campina, a palavra do Senhor veio a ele, dizendo: No por fora nem por poder, mas pelo meu Esprito, diz o Senhor dosExrcitos. (Zacarias 4:6). Tarefas sobre-humanas requerem podersobre-humano. J que o cumprimento do papel da igreja est muitoalm dos poderes do homem, torna-se essencial que ela confie nonico poder adequado que lhe acessvel. O Esprito o verdadeiropoder da igreja. S h um Esprito. Ele o mesmo em toda parte,

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    em Atos 4:12: ...abaixo do cu no existe nenhum outro nome, dadoentre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos. por isso queos primeiros cristos no podiam dizer "Csar Senhor", como seus perseguidores queriam for-los a dizer. por isso que cristosmodernos no podem dizer "Buda Senhor" ou que qualquer outrapessoa seja Senhor, seno Jesus. O mistrio e a maravilha de sua pessoa que o homem Jesus Cristo, que viveu, andou, amou,trabalhou e morreu entre os homens, cuja vida nos relatada nosEvangelhos, tambm Senhor do universo, o Ente Supremo, Senhorde todas as coisas, o Deus-homem. O apstolo Joo, em sua primeiracarta, diz que todo aquele que nega isso no um cristo, mas tem oesprito do anticristo (I Joo 2:22). E Paulo declara:Pelo que tambm

    Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que est acima detodo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos cus,na terra e debaixo da terra, e toda lngua confesse que Jesus Cristo Senhor, para glria de Deus Pai (Filipenses 2:9-11).

    Associado a este est o prximo elemento, uma f Isto umpouco mais difcil, mas parece claro que Paulo no se refere f deum modo geral, isto , a capacidade de crer, pois todos os homens a

    tm. s vezes, as pessoas dizem: "No posso acreditar." Mas issoclaramente no verdade, pois os homens esto acreditando o tempotodo. Toda ao vem de uma crena. Um ateu age a partir de umacrena, da mesma maneira que um cristo. Ambos acreditam emalguma coisa e agem de acordo com ela.

    Paulo tambm no quer dizer o ato de converso, quando umapessoa se declara de fora a fora para Cristo, que o passo inicial de

    acreditar e confiar nele, conhecido nos livros como "f salvadora".Mas, aqui, Paulo no est falando desses tipos de f. Ele tem em vistaaquilo que crido, isto , o corpo da verdade de que foi revelado. Sh uma f. A ela, Judas se refere em sua carta ao exortai1 os cristos abatalharem diligentemente pela f que uma vez por todas foi entregueaos santos (Judas 1:3).

    Esta uma f est associada com Jesus, o Senhor. Ela a verdade

    sobre Ele. Novamente pode haver divergncias quanto aos detalhes eao significado entre os cristos, mas em toda parte h concordnciaplena entre os verdadeiros cristos, em torno da afirmao de que sh um corpo da verdade sobre Jesus Cristo. Somente h um conjuntode fatos, uma f. Este corpo da verdade a Escritura. No h uma fpara os judeus e um outro conjunto de fatos para os gentios; h apenasuma f para todos os homens, em toda parte. Deus falou atravs dos

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    videntes, dos profetas e dos apstolos, mas tudo forma um quadrototal, que se articula e explica a si mesmo. No h, por isso, um Deusdo Velho Testamento contra um Deus do Novo Testamento, como svezes ouvimos. No podemos dizer, tambm, como alguns o fazem:"Bem, eu tenho o meu Cristo e voc tem o seu." No; h somente umCristo. H apenas um Jesus histrico. S h uma f.

    O elemento seguinte de unidade um batismo. Unidade emtorno do batismo? Nada poderia parecer "mais distante da realidade.Os diversos grupos de batistas dizem: "Esse um batismo certamente serefere ao batismo pela gua, que s por imerso." Os presbiterianosdizem: "No, os batistas so todos uns ensopados; a asperso a nicamaneira certa." Outros grupos insistem em que o batismo apenas

    para crianas, enquanto que outros dizem que ele deve ser ministradoapenas a adultos responsveis. Parece haver tudo, menos unidade emtorno da questo do batismo.

    Mas, apesar dessa divergncia bvia sobre o smbolo, h umbatismo reconhecido em toda parte e aceito pela igreja. Trata-se dobatismo do Esprito, o batismo real, do qual o batismo com gua umsmbolo. Atravs dele, todo verdadeiro crente em Jesus Cristo

    includo em seu corpo vivo, a igreja (I Corntios 12:13). Esse batismoaqui est ligado a Jesus" Cristo, o Senhor, porque um batismo deincluso em seu corpo. Romanos 6:3, coloca-o da seguinte maneira:todos... fomos batizados na sua morte. A idia central de que cadacrente, individualmente, feito um com Jesus Cristo, unido a ele emtodo o valor de sua morte e ressurreio.

    O apstolo nos d agora o ltimo dos sete elementos da unidade:

    Um s Deus e Pai de todos, o qual sobre todos, age por meio detodos e est em todos (Efsios 4:6). Aqui est o alvo de todos osoutros. Todo o restante existe, na formulao de Pedro, paraconduzir-vos a Deus (I Pedro 3:18). Ele a meta e o objetivo.

    O sinal de que o achamos que o reconhecemos como Pai, esentimos seu corao de Pai. Conhecemos a declarao de Paulo emRomanos 8: Recebestes o esprito de adoo, baseados no qual

    clamamos: Aba, Pai (Romanos 8:15). Em sua primeira carta, Jooescreve que a caracterstica infalvel do recm-nascido na famlia deDeus que ele imediatamente conhece seu pai e o chama de Pai (IJoo 2:13).

    Isto bem diferente dos conceitos de Deus que andam hoje pora. Ele chamado de Fundamento do Ser, a ltima Causa, A MenteInfinita etc. verdade que Deus todas essas coisas. Elas no esto

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    erradas, mas so muito inadequadas. Paulo tambm concorda em queDeus tudo em todos (Colossenses 3:11). Ele o fim e o comeo; ele o comeo e o fim. Todas as coisas existem por sua causa, e todas ascoisas tendem para Ele. Linguagem maravilhosa essa, e tudo verdade. Mas quando de fato se O conhece, s se pode cham-loadequadamente de Pai. Nenhum outro nome poder expressar a uniontima que um verdadeiro cristo sente em relao a Deus. por issoque Jesus ensinou a seus discpulos a dizer: "Pai nosso, que est nocu."

    Nestes sete elementos se acha a natureza da unidade crist. Nouma unio a ser alcanada, mas urna unidade que j existe. Eles noso, por isso, artigos de concordncia teolgica. Eles nunca deveriam

    ser includos num credo, como se a sua aceitao por parte de umapessoa, fizesse dela um cristo. No, o tornar-se cristo que leva apessoa aceitao desses pontos. Eles so reas de experincia emcomum. Eles so verdade experimentada, que se apropria de ns, eno verdades das quais devemos nos apropriar. Eles no podem serdebatidos. Se algum os pe em dvida ou deles discorda, estsimplesmente manifestando o fato de que ainda no um cristo.

    Quando se tornar um cristo, sentir e por isso compreender essascoisas. Ele talvez no seja capaz de formul-las claramente, mas asreconhecer quando forem descritas, pois elas so uma experinciaimediata de todos os que esto em Cristo. Por isso, a maneira de criarunidade simplesmente essa: levar homens e mulheres a Cristo, e aunidade do Espirito neles se produzir atravs do prprio Esprito. impossvel conseguir-se qualquer unio significativa e que faa

    sentido, parte dessa unidade produzida pelo Esprito.Em outras palavras, existem dois tipos de unidade:juma unidadeexterna, sem concordncia interior, e uma unidade interna queocasionalmente manifesta um desacordo externo. Ao primeiro,estamos chamando de unio. Por sua prpria natureza, controle edireo, na cpula desse tipo de grupo repousa um pequeno nmerode pessoas. Seu poder se mede pelo sucesso com que esto

    conseguindo fazer-se acompanhar pelo conglomerado.Lembro-me perfeitamente da primeira vez que eu me defronteicom o segundo tipo de unidade, a interior. Quando menino, eu tinhadois amigos que eram irmos, havendo entre eles, apenas um ano dediferena. Um dia, estvamos brincando ao ar livre, quando os doiscomearam a brigar. Achei que um deles foi um pouco sarcstico edesleal, de modo que intervim em favor do prejudicado. Para minha

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    surpresa, este no gostou de minha ajuda e voltou-se contra mim; seuirmo se associou a ele, e ambos pularam para cima de mim. Descobrique tinha feito um julgamento muito superficial. Eu achava que asdivergncias que estavam manifestando, representavam um desacordofundamental entre eles, mas me enganei! Sob a superfcie, havia umaunidade fundamental; e, no momento em que eu ataquei um deles, elase manifestou, e os dois se voltaram contra mim. Isso ilustra a unidadeda igreja: uma unidade interna, acompanhada de um eventualdesacordo exterior.

    Agora, h certas concluses prticas, que derivam de umapassagem como Efsios 4:4-6. Ao aplicarmos essa grande verdadecentral da unidade crist s reas externas de nossas vidas,

    especialmente no confronto dos problemas da existncia moderna, hcertas coisas que logo se tornam evidentes. Em primeiro lugar, estclaro que os cristos devem dirigir seus esforos no no sentido dealcanar uma unio exterior, mas de manter a paz dentro do corpo. isso que Paulo diz claramente: esforando-vos diligentemente porpreservar a unidade do Esprito no vnculo da paz (Efsios 4:3). extremamente importante que os cristos parem com as contendas,

    brigas, concorrncia mtua, alm do forte ressentimento e do dio.Uma igreja em que existem tais atitudes um corpo totalmenteineficaz dentro de sua comunidade. Uma igreja em que existe essetipo de agitao, no pode dizer coisa alguma que desperte a atenodo mundo.

    importante que, quando os cristos se renem, reconheamque so chamados a se entenderem mutuamente. Devem tolerar-se

    reciprocamente, orar uns pelos outros, perdoar-se mutuamente, ser benevolentes e de bom corao, sem guardar rancor, amargura,ressentimento ou dio entre si. Este o alvo do Esprito, quando eleentra em nosso meio. Ele age no sentido de sanar antigos rancores,profundos ressentimentos e speras hostilidades.

    Os cristos precisam fazer aquilo que o apstolo diz: manter aunidade do Esprito. A unidade j existe, ela s precisa fazer-se

    evidente. Precisamos entrar sob a superfcie, atrs das diferenas pordemais visveis, e ento a unidade fundamental se tornar evidente. Se que houve atuao da graa, a maravilhosa unidade fundamentalsubjacente despontar, deixando de lado todas as divergncias,expressando-se pelo Esprito de Jesus Cristo, no amor concedido ataos que no so amveis.

    Uma segunda concluso a que nos leva essa passagem a de

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    que no podemos classificar os cristos segundo organizaes. Nopodemos dizer que todos os catlicos so cristos ou que todos osbatistas o sejam. No podemos sustentar que todos os que pertencems Igrejas Fundamentalistas Independentes so cristos, enquanto queaqueles que fazem parte do Conselho Mundial de Igrejas no o so. OEsprito de Deus sempre ultrapassar divises humanas. A unidade doEsprito ser encontrada em pessoas de muitos grupos diferentes, ens temos que aceitar esse fato. Encontraremos verdadeiros cristos por toda parte, e nossa responsabilidade manter a unidade doEsprito com eles no vnculo da paz, onde quer que estejam. Como odiz Paulo, em Romanos 14:Acolhei ao que dbil na f, no, porm,para discutir opinies (Romanos 14:1). No devemos expuls-lo, mas

    receb-lo. Receb-lo, mesmo que ele no enxergue to bem como ns,e talvez no tenha se formado na escola correta. Apesar disso, vamosreceb-lo. Vamos reconhec-lo como irmo, se ele manifesta amorpor Jesus Cristo, seja qual for o seu rtulo.

    Uma terceira concluso prtica desse estudo a de que oscristos verdadeiros podem usar o fato da unidade interna bsica, paradeterminar a rea e o tipo de cooperao em que podem entrar com

    outros, sejam cristos ou no-cristos. Afinal de contas, mesmo se noformos um com todos os outros, como membros do corpo de Cristo,somos um, compartilhando da vida humana. Podemos nos associar aqualquer um, na assistncia ao sofrimento humano; noestabelecimento de um governo forte e justo; no trabalho da educao,e em muitos outros empreendimentos da vida. No devemos nosfechar a outros seres humanos, s porque eles no tm parte na mesma

    vida em Cristo.Mas h uma arearem que podemos cooperar com alguns cristosque compartilham da vida de Jesus Cristo, mas em que no nos podemos juntar a outros. Esta rea a proclamao da grande etransformadora mensagem da igreja, ao evangelizar o mundo. A razodisso que muitos que se consideram cristos compreendem oevangelho de maneira bem diferente da nossa. Aquilo que eles esto

    tentando fazer entre os homens completamente diferente daquilo queprocuramos realizar. Seguimos direes opostas. impossvel, claro,montar em dois cavalos que vo em direes opostas seriasobrecarregar nossa anatomia. Essa mesma verdade foi ensinada aosantigos israelitas, com a determinao de no juntar boi e jumento sobo mesmo jugo (Deuteronmio 22:10). Por que no? Porque elesandam em velocidades diferentes e tem altura diferente. Eles apenas

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    se esfolariam mutuamente o tempo todo. Junt-los seria umacrueldade. Esta a maneira simblica pela qual Deus ensina que hdiferenas fundamentais de passo e de direo entre as pessoas, e quedois no podem andar juntos, se no estiverem de acordo (Amos 3:3).

    Mas, algum poderia perguntar: "Podemos ns cultuar juntocom outros, que no tm parte na vida em Jesus Cristo?" A respostada Bblia clara: Sim. Deus manda que todos os homens em todaparte lhe prestem culto (Salmo 65:2; Filipenses 2:10-11). Onde querque haja algum prestando culto a Deus como supremo, e no comalgum conceito inferior d'Ele (como um dolo), os cristos podemassociar-se a esse culto. O caminho mais elementar para aaproximao de algum a Deus apontado em Hebreus 11:6: ...

    necessrio que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe eque se torna galardoador dos que o buscam. Cornlio, o centurioromano de Atos 10, um exemplo.

    Aps dizer estas coisas, no nos esqueamos do apelo que oapstolo faz igreja, de permanecer fiel a sua vocao. A igreja notem o direito de delinear seu prprio curso. Seu propsito e seuobjetivo j foram traados, e at sua funo j foi determinada por seu

    Senhor. No prximo trecho de Efsios 4, o apstolo se volta para umadescrio detalhada do equipamento providenciado pelo Senhor, paraque seu corpo funcione no mundo conforme a sua inteno.

    Captulo Quatro

    NADA DE EXCEES

    O programa que Deus fez para alcanar e transformar ummundo despedaado, sempre envolveu a encarnao. Quando Deusresolveu visitar esta terra para mostrar humanidade o novo tipo devida que Ele estava oferecendo, f-lo atravs de sua encarnao. Deusse fez carne e habitou entre ns. Jesus Cristo foi a encarnao deDeus: Deus em carne humana, aparecendo aos homens. Mas, este foiapenas o incio do processo de encarnao. Cometeramos um grandeengano, se pensssemos que a encarnao terminou com a vidaterrena de Jesus. A encarnao ainda continua. A vida de Jesus

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    continua manifesta entre os homens', mas agora no mais atravs deum corpo fsico individual limitado a um lugar na terra, mas atravsde um corpo complexo e orgnico, chamado a igreja.

    Abra-se o livro de Atos no Novo Testamento e se ver que o Dr.Lucas, seu autor, diz a um certo moo, chamado Tefilo, que ele tinhaanotado em seu primeiro relato (o Evangelho segundo Lucas) "todasas cousas que Jesus comeou a fazer e a ensinar". Em seu segundorelato (o livro de Atos), o Dr. Lucas continua a descrever a atuao deJesus entre a humanidade, mas desta vez atravs de seu novo corpo, aigreja. Por isso, quando a igreja vive em e atravs do Esprito, ela nodeve ser nada mais nada menos do que a extenso da vida de Jesus atodo o mundo, em qualquer poca.

    Esta uma concepo de enorme importncia. Aquilo queaconteceu em pequena escala na Judia e na Galilia, mil enovecentos anos atrs, est designado a acontecer hoje, em largaescala, em todo o mundo, permeando todos os nveis da sociedade etodos os aspectos da vida humana. Na medida em que os cristosdescobrem que isso uma possibilidade real, hoje, suas vidas setornam interessantes e poderosamente eficazes. provocante e

    estimulante a redescoberta do esquema delineado por Deus, pelo qualsua igreja deveria influenciar o mundo. Por outro lado, no h nadamais pattico e ilusrio do que uma igreja que no compreende estefascinante programa, em que opera o corpo de Cristo, substituindo-opor mtodos de trabalho, processos organizacionais e presso polticacomo meios de influenciar a sociedade.

    Vejamos ento este interessante esquema de operao, descrito

    pelo apstolo Paulo, como a maneira pela qual o corpo de Jesus Cristotoca e transforma o mundo. Paulo agora deixa a descrio da naturezada igreja, para se voltar providncia tomada pelo Esprito Santo paraa sua operao. Ele diz: E a graa foi concedida a cada um de nssegundo a proporo do dom de Cristo (Efsios 4:7).

    Esta frase to curta faz referncia a duas coisas tremendas: odom do Esprito Santo para o ministrio, concedido a todo cristo

    verdadeiro, sem exceo e o novo e notvel poder atravs do qual essedom pode ser posto em prtica. Precisamos observar cuidadosamenteambas as coisas' na devida ordem, mas comecemos com o dom doEsprito, que Paulo aqui chama uma "graa".

    A palavra em sua lngua original charis, da qual derivado oadjetivo "carismtico", no portugus. Esta "graa" uma capacidadede servir dada a todo verdadeiro cristo sem exceo e que ningum

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    possui antes de se tornar cristo. O prprio Paulo, no captulo 3,versculo 8 desta mesma carta, faz referncia a um dos dons que elepossua: A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graa.Que graa era esta? A de pregar aos gentios o evangelho dasinsondveis riquezas de Cristo. Um dos seus dons era claramente o de pregao, ou como chamado em outras passagens, o dom daprofecia. Quando Paulo escreve a seu jovem filho na f, Timteo, eleusa uma palavra muito semelhante, ao dizer-lhe:Por esta razo, pois,te admoesto que reavives o dom (charisma) de Deus que h em ti (IITimteo 1:6).

    Parece que h pouca dvida que era aqui onde a igreja primitivacomeava com novos convertidos. Sempre que algum, atravs da f

    em Jesus Cristo, passava do reino e do poder de Satans para o reinodo amor de Deus, ele era ensinado imediatamente que o Esprito Santode Deus no s lhe tinha comunicado a vida de Jesus Cristo, mastambm o dotara com um dom ou dons espirituais, os quais ele tinha aresponsabilidade de descobrir e pr em prtica. O apstolo Pedroescreve da seguinte maneira a certos cristos (I Pedro 4:10): Servi unsaos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons

    despenseiros da multiforme graa de Deus. Em I Corntios 12:7 Paulotambm escreve:A manifestao do Esprito concedida a cada um,visando um fim proveitoso. muito significativo que em todas aspassagens que descrevem os dons do Esprito, a nfase colocadasobre o fato de que cada cristo tem pelo menos um dom. Este podeestar adormecido, incipiente ou fora de uso. Ele talvez sejadesconhecido, mas est a; pois o Esprito Santo no faz excees

    quanto a esse equipamento bsico de todo crente. essencial que sedescubra o dom ou os dons que se possui, pois o valor da vida de umcristo determinado pelo uso que ele faz daquilo que Deus lhe deu.

    A passagem que fala mais detalhadamente dos dons do Esprito I Corntios 12. H uma outra lista mais resumida em Romanos 12 eoutra ainda mais breve em I Pedro 4. Nestas passagens alguns donstm mais de um nome. Comparando-as, parece evidente que h

    dezesseis ou dezessete dons bsicos e que estes podem serencontrados em variadas combinaes dentro do mesmo indivduo,sendo que todo conjunto de dons abre uma porta para um ministrioamplo e variado.

    Talvez a melhor maneira de se ficar conhecendo esses dons sejadeixarmos o apstolo Paulo nos ensin-los, a partir da grandeexplicao que ele d igreja em Corinto:

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    Ora, os dons so diversos, mas o Esprito o mesmo. E tambmh diversidade nos servios, mas o Senhor o mesmo. E hdiversidade nas realizaes, mas o mesmo Deus quem opera tudoem todos (I Corntios 12:4-6).

    Observe as trs divises do tema dos dons espirituais. H osdons, os ministrios (chamados aqui de "servios") e as realizaes(ou atuaes). Os dons esto ligados ao Esprito, os ministrios aoSenhor Jesus, e as realizaes esto ligadas a Deus, o Pai. Assim, emEfsios 4, Deus visto morando dentro de seu corpo, a igreja, com ofim especfico de ministrar a um mundo despedaado (Efsios 4:3-6).

    O dom, como ns j observamos, uma capacidade ou funoespecfica. O ministrio a esfera em que um dom exercido, dentro

    de um certo grupo de pessoas ou numa certa rea geogrfica. umaprerrogativa do Senhor Jesus designar uma esfera de servio para cadamembro de seu corpo. Pode-se v-lo exercendo esse direito nocaptulo 21 do Evangelho de Joo. Aps sua ressurreio, ele aparecea Pedro e lhe ordena trs vezes: "Apascente as minhas ovelhas." Estedevia ser o ministrio de Pedro. Ele devia ser um pastor (ou ancio)que alimentasse o rebanho de Deus. (Pedro faz referncia a si mesmo

    nessa capacidade, no quinto captulo de sua primeira carta.) QuandoPedro expressa curiosidade sobre o que o Senhor mandaria Joo fazer,o Senhor lhe respondeu: Que te importa? Quanto a ti, segue-me!(Joo 21:15-23). O Senhor ainda est exercendo esse direito hoje. Aalguns ele d a tarefa de ensinar aos cristos, outros ele envia paraministrar aos pagos. A alguns ele d a tarefa de treinar jovens, aoutros o ministrio junto aos velhos. Alguns trabalham com mulheres,

    outros com homens; uns se dirigem aos judeus, outros aos gentios.Pedro foi enviado aos circuncisos (os judeus), ao passo que Paulo foienviado aos incircuncisos (os gentios).

    Ambos tinham o mesmo dom, mas seu ministrio era diferente.H ento as realizaes, ou atuaes. Estas so da

    responsabilidade do Pai. O termo se refere ao grau de poder em queum dom se manifesta ou ministrado numa ocasio especfica. H

    diversidade nas realizaes, mas o mesmo Deus quem opera tudoem todos (I Corntios 12:6). Toda prtica de um dom espiritual noproduz o mesmo resultado de cada vez. A mesma mensagem dada emcircunstncias diferentes no produzir o mesmo efeito. Qual adiferena? A escolha de Deus. Ele no tenciona produzir os mesmosresultados de cada vez. Ele poderia, mas ele nem sempre deseja faz-lo. Ele quem determina o quanto se consegue em cada ministrio de

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    um dom. As Escrituras observam que Joo Batista no fez milagrealgum em todo o curso de seu ministrio. Mesmo assim, foi umgrande profeta de Deus, e Jesus dele afirmou que dentre os nascidosde mulher no apareceu homem algum maior que ele (Mateus 11:11).Existem hoje aqueles que sugerem que se no conseguimos fazermilagres, isso um sinal de fraqueza de f e de baixo poder espiritual.Mas Joo no fez milagres. Por que no? Porque existe diversidade derealizaes e no aprouve ao Pai agir desta maneira por intermdio deJoo.

    Em I Corntios 12, chegamos lista de dons espirituaisespecficos:

    A um dada, mediante o Esprito, a palavra da sabedoria; e a

    outro, segundo o mesmo Esprito, a palavra do conhecimento... (V.8).

    Aqui temos um par de dons: os dons da sabedoria e doconhecimento. Eles freqentemente aparecem juntos no mesmoindivduo, pois eles esto relacionados com a mesma funo, ou seja amanifestao, ou como est no original, a palavra. A ddiva dasabedoria a capacidade de perceber e sistematizar os grandes fatos

    que Deus encerra em sua palavra. Uma pessoa que pratica esse dom capaz de reconhecer, como um resultado de investigao, a chave e osfatos importantes da Escritura. O dom da sabedoria, por sua vez acapacidade de aplicar essas concluses a uma situao especfica. asabedoria que capaz de pr o conhecimento a funcionar. Repare noque acontece numa reunio em que discutido um problema, que noparece ter soluo ningum parece saber o que fazer ou qual seja a

    resposta. . Ento esta a ddiva da sabedoria sendo aplicada.Este dons gmeos de sabedoria e conhecimento tambm estorelacionados ao dom de ensinar, mencionado no fim do captulo 12. Oensino lida com a comunicao. a habilidade de transmitir fatos econcluses descobertos pelos dons da sabedoria e do conhecimento,de pass-los adiante para outros numa forma assimilvel. O homemou mulher que possuir todos esses trs dons uma pessoa realmente

    de grande valor para uma comunidade.Paulo ento menciona o dom da F . Essa f novamentediferente daquilo que discutimos no terceiro captulo. O que Pauloquer dizer aqui em essncia o que chamamos de viso. acapacidade de ver algo que precisa ser feito e crer que Deus , o far ,mesmo se parecer impossvel. Confiando nesse tipo de f, uma pessoaque tem esse dom se pe em ao e realiza o que necessrio em

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    nome de Deus. Todo grande empreendimento cristo foi iniciado porum homem ou uma mulher que possua o dom da f. Faz alguns anosna ilha de Taiwan, conheci uma mulher notvel chamada LilianDickson. Ela tem clara e indiscultivelmente o dom da f. Ao ver umanecessidade, ela v ou no um suprimento adequado de fundos ourecursos. Interessou-se por certos meninos pobres nas ruas de Taip,que no tinham casas. Eles so rfos ou largados ao lu por suasfamlias. Seu corao se condoeu deles, por causa das circunstanciasque os foram a uma vida criminosa. Porque ela tinha o dom da f ,fez algo por eles. Comeou uma organizao de socorro a essesmeninos, e pessoas de todo o mundo lhe enviam dinheiro para esse eoutros projetos que ela supervisiona. Este o dom da f em ao.

    O apstolo menciona ento "dons de curar", concedidos pelomesmo Esprito. No original grego a palavra se acha no plural:"curas". Eu entendo isso como cura em todos os nveis da necessidadehumana: corpo, emoes e esprito. Na igreja primitiva havia algunsque a praticavam no nvel corporal. No registro da histria da igrejasurgem ocasionalmente alguns que tinham o dom de curarfisicamente; mas hoje este um dom raro, dificilmente concedido. Eu

    pessoalmente nunca encontrei algum que tivesse hoje. improvvelque alguma das assim chamadas "curas pela f" de hoje provenham detal dom. Minhas investigaes neste campo mostram isto claramente.Eles no tm a capacidade de impor as mos sobre as pessoas e cur-las.'(Eles registram os casos em que aparentemente houve uma ajuda,mas no anotam os milhares que so despedidos sem qualquermelhora, desiludidos.

    Se algum pergunta: "Por que que esse dom to raramenteconcedido hoje em dia?", a resposta dada no versculo 11 de ICorntios 12: Um s e o mesmo Esprito realiza todas estas cousas,distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente. O domespiritual da cura fsica no visto com tanta freqncia hoje, porqueno da vontade do Esprito conced-lo agora to amplamente comoacontecia na igreja primitiva.

    O dom de curar, entretanto, freqentemente concedido hojenos planos emocional e espiritual. Muitos cristos, tanto leigos comoministros profissionais, so equipados pelo Esprito para ajudarpessoas com problemas emocionais ou espirituais, que esto doentesou perturbadas nessas reas. Eles so excelentes conselheiros, porqueso capazes de praticar a pacincia e a compaixo necessrias paraajudar essas almas feridas.

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    Nessa mesma linha se encontra o dom de milagres. Este constada habilidade de se atalhar os processos da natureza atravs de umaatividade sobrenatural, como o fez o Senhor ao transformar gua emvinho ou ao multiplicar pes e peixes. Alguns talvez ainda tenhamesse dom hoje. No duvido que ele possa ser dado; mas, mais umavez, nunca encontrei ningum que tivesse o dom de milagres, se bemque talvez alguns o tenham praticado s vezes na histria da igreja.

    Os dons da cura fsica, de milagres e lnguas so dados para aedificao inicial da f, como uma ponte que conduza os cristos dadependncia de coisas que eles podem ver,-para uma f em um Deusque pode agir e realizar muitas coisas quando nada parece estaracontecendo. A histria das misses pode evidenciar isso. Deus quer

    que andemos por f, no por vista.O apstolo continua mencionando o dom da profecia. Este o

    maior de todos os dons, como o demonstra Paulo ao dedicar todo umcaptulo (I Corntios 14) para a exaltao desse dom. Nsexaminaremos o dom da profecia mais detalhadamente quandovoltarmos a Efsios 4 e ao ministrio do profeta. Mas aqui noversculo 3 de I Corntios 14 o apstolo diz desta ddiva: Mas o que

    profetiza, fala aos homens, edificando, exortando e consolando. Este o efeito da ddiva da profecia. Quando um homem ou uma mulhertem este dom, ele edifica, estimula e encoraja aos outros. Este no um dom dos pregadores apenas. Todos os dons so concedidos semque importe a formao da pessoa. Muitos leigos tm o dom daprofecia e o deviam estar praticando.

    H ento o dom do discernimento de espritos. Esta a

    capacidade de distinguir entre o esprito do erro e o esprito daverdade, antes que a diferena seja manifesta a todos atravs dosresultados. Trata-se da habilidade de reconhecer um mentiroso antesque a sua mentira se torne evidente. Quando Ananias e Safira vierama Pedro, trazendo aquilo que eles diziam ser o preo integral de umaterra que tinham vendido, mas realmente reservaram uma parte para simesmos, Pedro exerceu o dom do discernimento ao dizer: Por que

    entrastes em acordo para tentar o Esprito do Senhor? No mentisteaos homens, mas a Deus. (Atos 5:9 e 4). Aqueles que tm esse dompodem ler um livro e perceber nele a sutileza de um erro ou ouvir umamensagem e apontar para aquilo que nela pode estar errado. degrande valor exercer este dom dentro da igreja.

    Outro par de dons est relacionado em seguida: lnguas e suainterpretao. Hoje h muitos que anunciam que este dom est sendo

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    amplamente concedido, mas a pergunta que sempre precisa serlevantada ao investigarmos tais pretenses se o fenmeno observado o mesmo que o dom de falar em lnguas do Novo Testamento. Athoje alguns garantem que se trata do mesmo dom, sem procurarcomparar esse fenmeno atual com o dom bblico.

    O dom bblico tinha quatro sinais caractersticos, claramentedescritos no Novo Testamento. Em primeiro lugar tratava-se de umalngua conhecida, falada em algum lugar na terra. A formulao"lngua desconhecida" apresentada pela verso inglesa "King James"no tem apoio no texto original. As lnguas do Novo Testamento noso uma torrente de slabas ao acaso, mas tm estrutura e sintaxe,como qualquer lngua terrena.

    Em segundo lugar o dom bblico constava de louvor eagradecimento dirigidos a Deus. Paulo diz: Quem fala em outralngua, no fala a homens, seno a Deus (I Corntios 14:2). O domdas lnguas geralmente no um meio de pregar o evangelho ou detransmitir mensagens a grupos ou a indivduos; como no dia dePentecoste, ele , isto sim, um meio de louvar a Deus por seus feitosmagnficos.

    A terceira caracterstica de que este dom era exercidopublic