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Gestão da Inovação Tecnológica
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Sumário
ABERTURA DA DISCIPLINA
Carta ao Aluno
Currículo resumido do professor-autor
Introdução
Objetivos
Diretrizes Pedagógicas
MÓDULO 1: Dados, informação e conhecimento
Unidade 1: Ciclo evolutivo: dos dados ao conhecimento
Unidade 2: Mineração de dados e conhecimento
Unidade 3: Tecnologia e pesquisa
Unidade 4: Capital intelectual e aprendizado organizacional
Resumo
MÓDULO 2: Inovação e sociedade
Unidade 1: Adoção da inovação
Unidade 2: Tipos de inovação
Unidade 3: Inovação e mudança no ambiente organizacional
Resumo
MÓDULO 3: Gestão do conhecimento e da inovação
Unidade 1: Alguns conceitos de apoio à gestão
Unidade 2: Conhecimento organizacional: caminho para a inovação
Unidade 3: Modelo espiral de criação do conhecimento
Unidade 4: Fatores e ferramentas relacionados à promoção do conhecimento e inovação
Resumo
MÓDULO 4: Gestão de novas tecnologias na organização
Unidade 1: Inovação e inteligência competitiva – análise de redes
Unidade 2: Design de projetos de inovação
Unidade 3: Perspectivas para gestão da inovação tecnológica nas organizações
Resumo
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
3
ABERTURA DA DISCIPLINA
Carta ao Aluno
Caro(a) aluno(a),
O termo “inovação” está banalizado, virou slogan comum das empresas a fim de promover
vendas de produtos ou serviços de qualquer espécie. Junto a uma marca, a palavra parece
funcionar bem para criar a imagem de algo positivo, moderno e bem aceito. Mas ainda sabemos
pouco sobre inovação e temos muito o que aprender sobre esse conceito. Necessitamos saber,
por exemplo, como as inovações podem nos ajudar a vencer, no menor tempo possível, uma
série de questões urgentes relacionadas a sustentabilidade, saúde e educação.
As nações mais desenvolvidas do planeta estão profundamente atentas às práticas de inovação
porque sabem que, além de prover soluções, as iniciativas de inovação são as principais
responsáveis por manter suas economias em posições dominantes. Na esfera das empresas, há
consenso de que a inovação permite sobreviver à concorrência, baixar custos e conquistar
novos mercados. Por outro lado, como gerir a inovação de forma apropriada ainda permanece
um tema em aberto.
Apesar da reconhecida importância, as empresas raramente possuem uma área dedicada
especificamente à inovação. Confunde-se, por exemplo, inovação com tecnologia e, por isso,
muitas vezes o assunto recai sobre os profissionais de TI. Ocorre que a inovação tecnológica
ultrapassa as fronteiras do uso e instalação de novos sistemas de informação como acontecia
em um passado recente.
Inovação tecnológica é, agora, uma inteligência nova capaz de apontar falhas e gargalos, de
gerar oportunidades, de elevar a qualidade de tudo o que se produz para os clientes em uma
escala sem precedentes. Mais ainda, a inovação tecnológica é capaz de revolucionar o modelo
de funcionamento das organizações ou de criar modelos novos para que novas empresas sejam
criadas, ou mesmo revolucionar setores inteiros da economia. Por tudo isso, seja bem-vindo(a) à
disciplina Gestão da Inovação Tecnológica !
Bons estudos!
Equipe Ibmec online
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Currículo resumido do professor-autor
Ronaldo Barbosa
Doutor em Ciências pela Universidade Estadual de Campinas (2013), mestre em Ensino e
Historia da Ciência pela mesma universidade (2003), especialista em Jornalismo Científico pelo
LabJor/Unicamp (2004). Possui graduação em Engenharia de Computação pela Universidade
Estadual de Campinas (1996). Atualmente, é professor nas Faculdades Metrocamp / Ibmec em
Campinas, São Paulo. Tem experiência profissional na área de novas tecnologias educacionais,
divulgação científica, gestão educacional, educação a distância, produção de material didático e
tecnologia assistiva e novas tecnologias para educação.
Introdução
A tecnologia e a inovação agora fazem parte da vida de todas as pessoas. Para o profissional de
TI, em especial, desenvolver soluções novas é tão importante quanto saber escolher soluções
que já existem ou ainda criar as condições para que a utilização da inovação tecnológica seja a
5
mais bem sucedida possível. Assim, o enfoque desta disciplina é prover conceitos e ferramentas
que facilitem criar, disseminar e incorporar à rotina das organizações a inovação combinada à
tecnologia.
Nosso conteúdo permitirá uma introdução interdisciplinar ao tema, oscilando entre as áreas de
gestão, tecnologia e inovação. Abordaremos a inovação tecnológica em quatro módulos. No
primeiro, tratamos de conceitos e exemplos gerais. No segundo, da inovação sob diversos
ângulos: definições, motivações, tipos de inovação. Introduziremos também o tema da mudança
e dos estímulos à inovação.
Já o terceiro módulo abordará a gestão do conhecimento – conjunto de mecanismos que
apontam como gerar conhecimento novo nas organizações e que fatores podem promover ou
retardar essa criação. Apresentaremos também algumas ferramentas estratégicas essenciais,
ligadas primariamente à gestão. Por fim, o quarto módulo abordará ferramentas e modelos que
apoiam situações possíveis de serem vivenciadas por quem lida com a gestão da inovação
tecnológica.
O objetivo central desta disciplina é apresentar diferentes visões sobre como promover a
inovação tecnológica nas organizações, competência indispensável para os mais capacitados
profissionais da área de TI.
Objetivos
Após concluir o estudo da disciplina Gestão da Inovação Tecnológica, você será capaz
de:
Entender diferentes perspectivas da gestão da inovação tecnológica e seus
desdobramentos.
Resolver alguns problemas referentes à inovação no campo tecnológico.
Analisar os fatores relacionados ao sucesso e ao insucesso das inovações.
6
Lidar com situações oriundas da instalação e criação de tecnologias inovadoras.
Diretrizes Pedagógicas
Tenha sempre em mente que você é o principal agente de sua aprendizagem!
Para um estudo eficaz, siga estas dicas:
Organize o seu tempo e escolha os melhores dias e horários para você estudar.
Consulte a bibliografia e o material de apoio caso tenha alguma dúvida.
Releia o conteúdo sempre que achar necessário.
Leia as indicações de textos complementares, faça os exercícios de feedback automático
e participe dos fóruns com o seu professor e colegas de turma.
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MÓDULO 1:
Dados, informação e conhecimento
Introdução
Para começar a trilhar o caminho da “gestão da inovação tecnológica” é interessante pensar nas
diversas formas de gestão que existem nas empresas, nos muitos significados para inovação e
também no que a tecnologia pode significar para as organizações.
Começando pela gestão, em linguagem simples, gerir uma empresa é coordenar ações para
que os objetivos da empresa sejam atingidos: elevar ganhos e produtividade, promover o
crescimento com solidez. Para contemplar objetivos tão desafiadores, dentro da gestão existem
diversas outras “gestões” nas empresas – gestão de projetos, qualidade, pessoas, custos,
investimentos...
8
A gestão da inovação raramente aparece de maneira formalizada, a menos, talvez, que a
empresa tenha como missão a própria inovação em alguma área específica. Por esse motivo,
muitas vezes a gestão da inovação acaba caindo nas mãos dos profissionais de TI, e espera-se
destes profissionais que promovam alinhamento entre TI e o negócio, aumento de qualidade de
serviços e produtos, redução de custos, conformidade com aspectos legais e regulatórios, entre
outros.
Neste módulo abordamos algumas noções iniciais indispensáveis para uma introdução à gestão
da inovação tecnológica. Procuramos diferenciar dados de informações e conhecimento,
descrevemos algumas transformações da informação por meio de sistemas e possíveis relações
entre pesquisa científica e tecnologia. Não há intenção de esgotar os assuntos, mas de construir
uma estrutura que esclareça algumas das bases que formam a inovação tecnológica.
Objetivos
Ao completar este módulo de estudo, você estará apto a:
Diferenciar dados, informação e conhecimento.
Compreender algumas dimensões do conhecimento nas empresas: capital intelectual e
conhecimento organizacional.
Conhecer algumas ferramentas de TI para gerar conhecimento a partir de grandes bases
de dados.
Compreender um dos processos que leva à inovação tecnológica.
Estrutura do Módulo
Para melhor compreensão das questões que envolvem o tema da gestão estratégica da
inovação este módulo está dividido em:
Unidade 1 – Ciclo evolutivo: dos dados ao conhecimento
Unidade 2 – Mineração de dados e conhecimento
Unidade 3 – Tecnologia e pesquisa
Unidade 4 – Capital intelectual e aprendizado organizacional
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UNIDADE 1: CICLO EVOLUTIVO: DOS DADOS AO CONHECIMENTO
Na gestão de qualquer área aparecem termos do “jargão da gestão”, como produtividade,
eficiência, eficácia, estratégia, qualidade, mudança e muitos outros. Na área de tecnologia,
palavras como dados e informação também aparecem frequentemente e são confundidos tanto
na linguagem do dia a dia quanto na linguagem técnica. Vamos diferenciar dados, informação e
conhecimento sem entrar em definições muito rigorosas ou abrangentes, que estariam fora do
alcance desta disciplina.
Dados são afirmações sobre a realidade ou sobre outros aspectos quantificáveis. São
representações do mundo – físico, social, psicológico, organizacional ou qualquer outra forma de
realidade. Como exemplo, considere símbolos, letras ou números soltos e descontextualizados.
Mesmo palavras não interpretadas podem ser dados, porque são informações fora de um
contexto, em estado bruto.
Já informações são dados organizados de acordo com algum critério; portanto, adquirem sentido
e relevância. Possíveis exemplos são um dicionário ou catálogo telefônico: estão repletos de
dados hierarquizados, seus números e palavras fazem todo sentido para quem sabe consultá-
los. Por outro lado, se não sabemos consultar, temos apenas dados e não informações. Do
mesmo modo, uma biblioteca inteira pode não passar de um amontoado de dados se você não
encontrar o livro de que precisa ou se não tem uma ideia de como as obras estão organizadas
para viabilizar a sua busca.
O conhecimento, por sua vez, depende de uma interação humana capaz de absorver e
relacionar informações, é algo integrado à pessoa como parte de um sistema de crenças
pessoais. Por exemplo, consultando o catálogo telefônico de uma cidade, com base nas
referências a escolas e bibliotecas e até mesmo em anúncios comerciais, pode-se concluir algo
sobre o nível de escolaridade ou o padrão do sistema educacional daquele município. Esse
conhecimento, incorporado à mente de um empreendedor, pode se traduzir na decisão de abrir
um novo negócio como uma livraria especializada, organizar atividades culturais, criar políticas
de incentivo à leitura etc.
Assim, o conhecimento é a máxima utilização de informações e dados pelas pessoas e está
relacionado às competências, ideias, intuições, compromissos e motivações de cada um. Não
há conhecimento do “lado de fora” das pessoas – “do lado de dentro” de computadores e livros
só pode haver dados e informações, não conhecimento. Por esse motivo, a internet produz e
torna acessível em seus sistemas de busca uma massa incrível de dados e informações, mas
não propriamente de conhecimento!
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Na figura abaixo, vemos resumidos estes conceitos de maneira simples: observamos a realidade
para extrair dados, depois transformamos e contextualizamos os dados para gerar informações
em um contexto e, finalmente, criamos um conhecimento que é capaz de nos levar à ação ou a
uma nova visão de mundo.
Figura 1.1 Dados, informação e conhecimento permitem interagir com o mundo.
Exemplos de transformação de dados em informações
As empresas de TI dependem da capacidade de transformar dados e informações em
informações valiosas, às vezes chamadas também de “conhecimento”. Por exemplo, existem
técnicas para se conhecer as reais necessidades dos clientes quando se planeja o
desenvolvimento de um novo sistema.
Nesse caso, chamamos as necessidades dos clientes de “requisitos” de um sistema. Eles
podem ser funcionais (por exemplo, cadastrar clientes, cadastrar materiais, conferir
disponibilidade na base de estoques) e não funcionais (por exemplo, rodar no sistema Linux,
proteger a base de dados por senha etc.). O processo de extração de requisitos é uma típica
tarefa de obtenção e refinamento de dados e informações para gerar o “conhecimento”
necessário ao desenvolvimento de um novo sistema.
Observe um caso de extração e análise de requisitos seguindo a sequência lógica das etapas de
um dos modelos de ciclo de vida de desenvolvimento de software:
[A1] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
12
Inicialmente, as ideias do que o cliente necessita estão em sua própria mente. Os
desenvolvedores delimitam o escopo do sistema (os limites dentro dos quais o sistema deverá
operar). Depois, inicia-se um processo de obtenção das reais necessidades do cliente, que é o
processo de extração e análise de requisitos. Para isso, ocorrem reuniões e entrevistas que
levam a novas questões e a novos esclarecimentos em uma espécie de loop. As necessidades
são, então, especificadas em uma representação mais formal e validadas pelo cliente. Mas o
processo pode ser percorrido de muitas formas, dependendo das mudanças que ocorrem pelo
caminho.
Ao final, espera-se obter um documento que estipule os requisitos selando uma espécie de
acordo entre as partes: “quem contrata o que e quem desenvolve o que”.
Figura 1.2 Processo geral de extração de requisitos. Adaptado de Sommerville, 2003.
Como dissemos, o processo prevê mudanças, idas e vindas de quem pergunta e de quem
responde, porque a extração de requisitos é um processo comunicacional complexo, ou,
segundo Pressman (1995), um “processo social”.
Imagine que o cliente diga que necessita de um sistema para controlar prontuários médicos em
uma clínica. Quando perguntado sobre o sistema, no primeiro encontro, o cliente afirma que
tudo será offline, apenas para uso interno. No encontro seguinte, quando questionado sobre
como será o fluxo de controle de resultados de exames, o cliente diz que “pensou melhor e que
[A2] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
13
gostaria muito que os pacientes pudessem consultar os resultados de exames pela internet”.
Este exemplo simples dá uma ideia das mudanças de requisitos que podem acontecer no
processo.
Reiteramos aqui um ponto importante: na área de TI, em muitos contextos, conhecimento
corresponde a informações valiosas necessárias para planejar ou executar um projeto ou ainda
para elevar a capacidade competitiva de uma organização em relação à concorrência.
Conhecimento organizacional é um tema relevante para a inovação, e será retomado no módulo
2.
SAIBA MAIS
O consagrado escritor italiano Umberto Eco em entrevista para o jornal alemão Der Spiegel: “O Google é uma tragedia para os jovens” http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=119398&id_secao=11
O escritor Nicholas Carr afirma: “Precisamos olhar criticamente a tecnologia”. Veja a entrevista
para o jornal O Globo: http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2012/02/11/nicholas-carr-
precisamos-olhar-criticamente-tecnologia-431040.asp
14
UNIDADE 2: MINERAÇÃO DE DADOS E CONHECIMENTO
Exemplos de transformações de dados em informações valiosas ocorrem em sistemas de
informações gerenciais (SIG), gênero de sistema utilizado para prover informações de que a
administração de uma organização necessita.
Um bom SIG proporciona informações e não dados. Entre os sistemas de informação gerenciais
mais comuns está o ERP (sigla para a expressão em inglês Enterprise Resource Planning, ou
“planejamento do recurso da empresa”, em tradução livre), um software em que os produtos de
grandes empresas estão fundamentados. Trata-se de uma espécie de espinhal dorsal das
informações corporativas, administrando funções de contabilidade, manufatura e até logística.
Pode ser visto, também, como uma grande base de dados que disponibiliza informações
confiáveis.
A instalação de um sistema ERP envolve software, hardware, serviços, pessoal interno para
instalar, mais um bom tempo de suporte pós-instalação. Todo o processo de implantação pode
levar muitos meses e até anos.
Quando o sistema de informação visa conhecer melhor o cliente, abastecer o marketing ou
equipe de vendas, temos um sistema de CRM (Client Relationship Management, ou “gestão do
relacionamento do cliente”), um tipo de sistema similar ao ERP, mas que busca obter o máximo
de informação sobre quem são os clientes. Em outras palavras, sistemas CRM armazenam
montanhas de dados sobre as interações diretas com o cliente.
Nas empresas, os grandes sistemas de informação, sejam ERP ou CRM, apoiam as decisões
que são tomadas. Por isso, às vezes são chamados também de sistemas geradores de
conhecimento.
Recentemente, estão surgindo novas ferramentas que procuram responder não apenas quem
são os clientes e o que fazem, mas também quem podem vir a ser os clientes, como se
comportam e o que desejam consumir. Essas novas ferramentas não cabem perfeitamente nas
funcionalidades de um ERP ou CRM – por exemplo, o comportamento e os desejos dos clientes
são pesquisados por meio do que fazem na internet, quanto tempo permanecem conectados,
que sites visitam, o que buscam, o que adquirem e até o que escrevem ou com quem se
comunicam.
A busca por padrões de comportamento e interesses com base no comportamento um tanto
“livre” dos clientes na internet é uma área nova, que utiliza de forma mais aberta modelos
estatísticos e algoritmos sofisticados. Técnicas avançadas permitem detecção de padrões de
informação em grandes bancos de dados externos às empresas. Essas novas ferramentas
derivam da necessidade de que as organizações tenham que lidar com montanhas de dados em
15
bases de dados que não foram criadas por elas, por exemplo, aquelas relacionadas a operações
comerciais online que são produzidas ininterruptamente e hospedadas em diferentes servidores.
Big data
O “comportamento informacional” das pessoas mudou muito com as novas tecnologias. Até
cerca de duas décadas atrás, as pessoas em geral lidavam com poucas fontes de informações,
usavam a memória primária natural (o cérebro) ou uma memória secundária em papel. As
informações que recebiam estavam limitadas a fontes como jornais, revistas, livros, rádio,
televisão ou mesmo conversas com outras pessoas – no trabalho ou na vida pessoal,
habitávamos um mundo talvez mais simples, que podemos rotular de low data (poucos dados).
Com a internet, todos esses canais de troca de informações se mantiveram, mas muitos outros
apareceram. O volume de troca e o acúmulo de informações multiplicaram-se
exponencialmente. As tecnologias produziram ondas gigantescas de dados e informações que
atingiram a todos e, agora, as empresas também têm de lidar com grandes quantidades de
dados. Em resumo, fomos arremessados ao universo big data.
A expressão big data corresponde a volumes inusitadamente grandes de dados, ainda que nem
sempre estruturados, englobando imagens, sons, diagramas etc. Ela interessa muito às
empresas porque é considerada a próxima fronteira para a inovação, a competição e a
produtividade.
Existem muitos exemplos de big data, bem próximos de nós. Adaptamos algumas ideias
contidas em Davenport (2014) para listar exemplos:
Os usuários do YouTube veem mais de 2 bilhões de vídeos por dia.
Em 2008, a quantidade de dispositivos ligados à internet ultrapassou o número de
pessoas no planeta.
A empresa de jogos sociais Zynga processa mais de 1 petabyte de dados de
jogos por dia.
O sistema Google tem cerca de 1 bilhão de acessos por dia.
O volume de dados que as pessoas já têm acumulado em seus computadores
pessoais é cerca 4 mil vezes o volume de dados acumulado na Biblioteca do
Congresso Americano1.
A necessidade de representar tamanho volume de dados fez aumentar a tabela de grandezas
relacionadas às unidades de armazenamento em bytes.
1 A Biblioteca do Congresso Americano é a instituição cultural mais antiga dos Estados Unidos e possui em seu
acervo mais de 155 milhões de itens em 470 idiomas.
16
Tome Nota
Figura 1.3 Unidades de armazenamento em bits e bytes.
Pense no que pode significar estarmos imersos em um volume tão imenso de dados e
informações! Por exemplo, como encontrar o que nos interessa e tem valor real em uma
montanha de dados e informações? Como não se sentir perdido em meio a tanta informação?
Imagine que você viaje em um fim de semana para outra cidade. Para isso, faz as reservas de
passagem e hotel pela internet. Vai de táxi ao aeroporto, toma um café na lanchonete, embarca,
depois desembarca. Pega novamente um táxi para ir ao hotel. Nos dias que se seguem, faz uma
série de passeios, sempre com o cartão de crédito no bolso. Próximo de retornar à sua cidade
de origem, aproveita para comprar algumas lembranças. Nos intervalos, usou a internet para
enviar fotos, vasculhar a rede para selecionar passeios, restaurantes, trocar impressões sobre o
que via etc.
É fato que as operações bancárias que você realizou e também o que você fez na rede
deixaram um rastro pelo caminho por onde você passou. A novidade é que esse “rastro” tornou-
[A3] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
17
se acessível a sistemas de informação que operam com grandes bases de dados externas.
Você não sabe, mas muitos sistemas acompanharam você na viagem e podem descrever
muitas de suas atividades!
Multiplique isso por milhares de pessoas que fizeram o mesmo que você e repetem isso a cada
final de semana. Muitos dados foram e estão sendo acumulados. Depois de filtrados, esses
dados dão uma ideia do tipo de perfil do visitante – onde vai, quanto gasta, em que pode gastar
da próxima vez, em que tipo de promoção pode estar interessado ao planejar a próxima
viagem... Não há limites. Bem-vindo ao mundo big data!
As empresas estão cada vez mais interessadas nesse tipo de rastreamento por razões óbvias:
quanto mais conhecerem o cliente atual ou potencial, maior a probabilidade de conquistá-lo ou
mantê-lo fiel. Alguns consideram essa prática invasão de privacidade, mas há quem a considere
um novo cenário que favorece um consumo mais facilitado e responsável.
Mineração de dados
Uma técnica associada ao big data é o conceito de data-mining ou mineração de dados. Ora, as
empresas dependem de produtos ou serviços e de clientes. Então, precisam estar preparadas
para responder perguntas como: Quem são clientes? Onde estão os clientes?
O data-mining pode ser pensado também como a tecnologia de software e aplicações que
transforma dados em informações. Em linguagem um pouco mais técnica, o data-mining permite
identificação automática ou semiautomática de padrões interessantes, até então desconhecidos,
em grandes massas de dados, por meio do uso de algoritmos de computação e de técnicas
estatísticas. No exemplo do viajante, imagine o que essas técnicas podem ser capazes de fazer
nas bases de dados de empresas de cartão de crédito!
Ao lado da mineração de dados está a mineração de textos, um processo de extrair padrões e
tendências de um texto, à semelhança da mineração de dados. Veja o exemplo abaixo, extraído
de Maex (2013, p. 82 ), de uma aplicação de mineração de dados em textos.
Texto publicado por um internauta em um fórum sobre o governo americano:
“Detesto a maneira como o presidente é constantemente atacado. Tudo bem que ele comete
erros gramaticais – grande coisa! As suas políticas de imigração são ok! Temos de estar
dispostos a tomar atitudes firmes. Mas acho maluquice a sua ideia de privatizar a previdência
social. Não sei se as tropas enviadas ao Iraque votariam nele novamente, mas elas estão
fazendo o que deve ser feito.
Autor: Bobstud 189”. Maex (2013, p. 82 ),
[A4] Comentário: Mesma observação: se for uma citação literal, colocar entre aspas (aqui não dá para saber onde começa e onde acaba a citação) e especificar a página.
18
Ao rodar um software de mineração de dados em textos em um trecho como este, obteve-se
como saída o seguinte relatório:
Sentimento Tópico
Positivo em relação a Bush; políticas de imigração
Negativo em relação a Privatizar a previdência social
Neutro em relação a Erros gramaticais
Figura 1.4 Exemplo de data-mining de textos. Adaptado de Maex (2013).
O uso do data-mining em situações como essa é capaz de fazer séria sondagem de opinião
sobre os governos e já ameaça os institutos de pesquisa tradicionais.
Às vezes, a mineração de dados é apresentada em um contexto de ferramentas gerenciais
denominadas business intelligence (inteligência de negócios, ou BI). O BI congrega uma série
de técnicas e tecnologias e, no campo da computação comercial, é palco de muitos
investimentos e inovações em TI, sempre buscando transformar com maior eficiência e eficácia2
dados e informações em “conhecimento” para apoiar decisões gerenciais.
SAIBA MAIS
“Intoxicados de Informação”, reportagem da revista Isto é, publicada em maio de 2013.
Disponível em: <http://www.istoe.com.br/reportagens/139296_INTOXICADOS+DE+INFORMACAO>.
Acesso em: 20/12/2013.
Um dos projetos da empresa IBM para lidar com o excesso de informação na internet. “Revolução visual:
Como a visualização de dados nos ajuda a entender melhor o excesso de informação”.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=DUV_oC_Rvy4>. Acesso em: 20/12/2013.
“Você realmente sabe o que é Big Data?” Texto de Cesar Taurion, publicado em abril de 2012. Disponível
em
<https://www.ibm.com/developerworks/community/blogs/ctaurion/entry/voce_realmente_sabe_o_que_e_bi
g_data?lang=en>. Acesso em: 03/05/2014.
2 Eficácia e eficiência são muitas vezes confundidas, mas não são sinônmos. Nas empresas, “eficácia” é cumprir o
objetivo, já “eficiência” é buscar o cumprimento do objetivo utilizando menos recursos.
[A5] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
19
UNIDADE 3: TECNOLOGIA E PESQUISA
Os termos tecnologia e pesquisa aparecem associados um ao outro e também a uma ideia de
inovação. A palavra tecnologia vem do grego “tekhne”, que significa “técnica, arte, oficio”;
somado ao sufixo “logia”, que significa “estudo”. O “estudo da técnica” corresponde a um
conjunto organizado de conhecimentos empregados na produção de bens e serviços.
É bom lembrar que tecnologias não necessariamente estão associadas a aparatos sofisticados.
Por exemplo, giz e lousa são tratados como “tecnologias educacionais”, da mesma forma que
computadores instalados em salas de aula e projetores.
Além disso, uma mesma tecnologia pode receber denominações diferentes, dependendo do
contexto de uso. Por exemplo, se o estudante usa o computador para estudar por conta própria,
talvez o equipamento possa ser chamado de “tecnologia de aprendizagem”. Já nas mãos do
professor em aula, seria “tecnologia de ensino”. E uma mesma denominação pode ter
significados diferentes de acordo com o contexto em que é aplicada: a expressão “tecnologia da
imagem” tem significados completamente diferentes na área médica e na publicidade.
As principais tecnologias do século XXI correspondem a um conjunto que denominamos
tecnologias de informação e comunicação (TICs ou simplesmente TI), relacionadas ao
desenvolvimento de computadores, internet e outros avanços. Elas estão ligadas diretamente a
sistemas que coletam, processam, analisam e distribuem informação.
Nem todas as tecnologias avançadas são TICs: existem, por exemplo, as tecnologias ligadas
aos sistemas de produção, como máquinas para armazenamento, embalagem, transporte. Há
décadas as empresas gastam mais com as TICs do que com as tecnologias ligadas à produção,
mas as tecnologias de qualquer espécie parecem querer convergir para alguma forma de TIC.
Veja o caso da robotização nas linhas de produção: chamamos isso de “convergência
tecnológica”. Cada vez mais, as tecnologias de produção vão sendo robotizadas, a indústria de
entretenimento converge fortemente para a internet, assim como as tecnologias embarcadas em
automóveis, equipamentos e eletrodomésticos. Há um forte poder de atração das TICs em
relação às demais tecnologias.
Um exemplo de convergência tecnológica está retratado na figura 5. Tecnologias de raios X e
tecnologias de computação são combinadas, produzindo uma terceira tecnologia –
escaneamento de imagens médicas –, fruto da convergência das duas primeiras.
20
Figura 1.5 Exemplo de tecnologia convergente. Adaptado de Day (2003).
Um dos motores principais que fazem avançar a tecnologia é a investigação científica em
laboratórios, universidades e grandes centros de pesquisa. Definimos aqui, de forma muito
simplificada, que ciência é um conjunto organizado de conhecimentos relacionados ao universo
e a fenômenos ambientais, naturais e comportamentais, e que visa ampliar o conhecimento
sobre a natureza.
Entendemos pesquisa científica como a pesquisa que se organiza segundo os preceitos do
método científico: rigor na coleta de dados, passos bem definidos, métodos e conclusões que se
seguidas por outros cientistas chegarão aos mesmos resultados etc. Quando a pesquisa resulta
em um artigo em uma publicação de renome, presume-se que ela tenha sido capaz de gerar
conhecimento novo e de fazer avançar aquela área da ciência. Em outras palavras, a pesquisa
científica é o que movimenta a ciência, o que amplia a visão da humanidade sobre o mundo.
Para explorarmos o tema da inovação, precisamos também ter uma noção de pesquisa básica e
de pesquisa aplicada.
A pesquisa básica não tem o compromisso da aplicação imediata. Por exemplo, a pesquisa
com as propriedades magnéticas de certo material em um laboratório de física pode significar o
desenvolvimento de uma nova liga metálica com propriedades muito interessantes, mas cuja
aplicação ainda não é totalmente clara. É possível que essa liga possa ser aproveitada para o
desenvolvimento de um novo tipo de aparato para armazenar dados digitais, por exemplo.
[A6] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
21
Talvez haja investimentos em novas pesquisas do mesmo material, mas, desta vez, voltadas
especificamente ao desenvolvimento de uma nova tecnologia de armazenamento em novos
tipos de hard-disks ou pen drives. Chamamos esse tipo de pesquisa de pesquisa aplicada, pois
o trabalho tem uma aplicação prática em vista.
Existe uma interpretação bastante disseminada de que a tecnologia é meramente uma aplicação
do conhecimento científico acumulado, o que é útil de se pensar, mas não totalmente verdadeiro
porque dá a entender que a ciência necessariamente sempre abre caminho para a tecnologia.
Há casos em que uma tecnologia existe sem que uma pesquisa científica a tenha precedido – a
historia da ciência é repleta de descrições de invenções e descobertas que são fruto do mero
acaso: descobertas como a penicilina, as propriedades de alguns elementos químicos, a força
do empuxo, os anestésicos e muitos outros. Segundo Mattos (2012), não há registro de
pesquisa científica que justifique a tecnologia de transporte por meio de containers em grandes
navios. A experiência e o uso moldaram essa tecnologia para o transporte, não a ciência.
O tema da inovação será abordado em vários momentos nesta disciplina, mas, antes de uma
formalização maior, podemos entender que uma inovação é o desenvolvimento de um
produto ou processo que chega ao mercado. Com isso, já somos capazes de entender a
representação a seguir, que reúne pesquisa, tecnologia e inovação em uma espécie de
processo evolutivo de inovação tecnológica:
Figura 1.6 Da experimentação à inovação tecnológica. Adaptado de Mattos (2012).
Vale observar que muitos caminhos levam à inovação – fluxo linear que o processo acima
sugere é apenas um dos caminhos possíveis. Veremos, nos estudos sobre gestão do
conhecimento apresentados no módulo 3, que, em uma organização, os colaboradores de
qualquer nível, mesmo que não ligados à área técnica, de marketing ou de engenharia, são
[A7] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
22
capazes de disparar processos de criação de conhecimento organizacional que leve ao
desenvolvimento de inovações.
Da criatividade à inovação nas organizações
Um elemento importante que não aparece na figura 6 é a criatividade. Muitas pessoas a
confundem com inovação ou invenção. Porém, consideramos aqui que a criatividade é a
capacidade de articular ideias de uma maneira única ou de fazer associações incomuns.
Para Robbins (2005), a criatividade permite a um tomador de decisão avaliar e entender mais
plenamente um problema e perceber questões que os demais não percebem. Já invenção é o
resultado de um processo criativo de pesquisa científica ou de experimentação. Um criterio de
sucesso de uma invenção é a sua originalidade, mas isso não basta para fazer da invenção uma
inovação.
Carbonell (2002) define inovação como um conjunto de intervenções, decisões e processos,
com certo grau de intencionalidade e sistematização, que tratam de modificar atitudes, ideias,
culturas, conteúdos, modelos e práticas. Pensando mais diretamente no assunto, inovação é o
resultado de um processo de desenvolvimento que conduz a novos produtos ou processos
comercializáveis. A inovação está ligada ao mercado.
Um criterio decisivo de sucesso de uma inovação é o desempenho comercial, e não a
“inventividade”. Segundo dados da US Patent & Trademark Office (http://www.uspto.gov/), nos
EUA, apenas 0,2% das invenções chegam ao mercado na forma de inovações.
Embora a criatividade não gere diretamente novos produtos ou novos processos, é bom lembrar
que, sem criatividade, é mais difícil inovar. A própria criatividade é um insumo para que se possa
inovar, ou seja, a inovação tem na criatividade uma de suas bases.
Insistimos que inovar significa também fazer algo melhor do que aquilo que já foi feito antes,
com o objetivo claro de atender a uma determinada necessidade. É possível ser inovador nas
tarefas menores e corriqueiras, em cada etapa de um processo. Qualquer ganho, por mínimo
que seja, pode ser resultado de uma forma de inovação.
A área de tecnologia está repleta de exemplos de conflitos entre criatividade, invenção e
inovação. Muitos produtos Microsoft e Apple atestam isso. Praticamente todos os produtos
lançados por Bill Gates na Microsoft foram adquiridos ou projetados sobre algo já existente. Da
mesma forma, o mouse e os ícones que fizeram o sucesso da Apple nos anos 1980 foram
criados originalmente pela Xerox. Steve Jobs viabilizou e potencializou em suas próprias
máquinas as novidades que outros inventaram (Domingos, 2009).
23
Saiba Mais
LIVRO: “De onde vêm as boas ideias?”
De Steven Johnson
Nesta obra, como o nome diz, Steven Johnson procura responder de onde vêm as boas ideias.
O autor descarta o senso comum de que criadores já nascem geniais e que, isolados em seus
estúdios ou laboratórios, concebem as grandes descobertas isoladamente. Disponível em: http://books.google.com.br/books?isbn=8537806846
UNIDADE 4: CAPITAL INTELECTUAL E APRENDIZADO ORGANIZACIONAL
Falar de conhecimento é falar de aprendizado, tanto para os indivíduos quanto para as
empresas – neste caso, estamos falando de aprendizado organizacional.
Segundo o escritor Arie de Geus (1998), as empresas podem ser consideradas “organismos
vivos” porque existem para além de sua própria sobrevivência e aperfeiçoamento. Seu objetivo
é, não só obter lucro, mas também realizar todo o seu potencial e se tornar tão grandes quanto
possível. A “empresa viva” se adapta de acordo com o ambiente e se confunde com o próprio
ambiente; aprende e se transforma com o que aprende, porque as decisões tomadas resultam
de um legítimo processo de aprendizado.
O conceito de aprendizagem organizacional deve muito também aos estudos de Peter Senge,
autor de A quinta disciplina – trabalho que adquiriu enorme repercussão sobre como construir
uma organização que aprende. A obra logo se tornou um livro quase obrigatório, fazendo de
Senge uma espécie de guru moderno da Administração. O autor sugere que tanto as empresas
quanto outros feitos humanos são sistemas e estão conectados por fios invisíveis de ações
interrelacionadas, que muitas vezes levam anos para manifestar seus efeitos uns sobre os
outros (SENGE, 2006). As organizações reagem como um sistema aberto, possuindo dentro
delas um conjunto de sistemas que possuem outros sistemas. Uma empresa qualquer faz parte
de sistemas maiores, como redes de empresas ou a própria sociedade.
Ainda segundo Senge, existem cinco componentes necessários para transformar uma
organização em uma organização que aprende. Procure pensar na criação da inovação
enquanto lê cada um deles (adaptado de Senge (2006)):
1 - Domínio pessoal: significa aprender a expandir as capacidades pessoais para obter os
resultados desejados e criar um ambiente empresarial que estimule todos os participantes a
alcançar as metas escolhidas.
[A8] Comentário: Checar com o autor se é uma citação literal; especificar a página; colocar entre aspas.
24
2 - Modelos mentais: padrões de pensamento que existem na organização; incluem
conhecimentos, hábitos e crenças que determinam a percepção do mundo; colaboradores
devem ser capazes de ajustar esses modelos à realidade.
3 - Visão compartilhada: importância do hábito da criação em grupo, em que as pessoas se
identificam com o todo, sentindo-se estimuladas e unidas na busca de ideais comuns.
4 - Aprendizado em equipe: estímulo ao diálogo e à discussão, à interação autêntica entre as
pessoas.
5 - Pensamento sistêmico: enxergar a organização como um sistema integrado e compreender
quais são as forças internas e quais são suas inter-relações. É esta quinta disciplina que
permite mudar os sistemas com maior eficácia e agir mais de acordo com os processos do
mundo natural e econômico.
Uma frase importante de Peter Senge que sintetiza o pensamento sistêmico é a seguinte: Dividir
um elefante ao meio não cria dois elefantes pequenos. Senge quer dizer com esta frase que o
"todo" apresenta propriedades e características próprias que não são encontradas em nenhum
dos elementos isoladamente.
Capital intelectual
Como dissemos antes e você verá repetidas vezes, a empresa deve saber transformar
informações (tanto aquelas que provêm do ambiente externo quanto as do ambiente interno) em
conhecimentos novos, isto é, deve ser capaz de aprender e se transformar para habitar um
mundo, ele próprio, em constante transformação.
Enquanto, nas pessoas, conhecimento é a utilização da informação e dos dados ajustada ao
potencial que possuem, suas competências, ideias, intuições, compromissos e motivações, nas
empresas o conhecimento se expressa na forma de “ativos”.
Ativos estão associados a bens de uma empresa, como estoques, caixa, equipamentos e
prédios (ativos tangíveis) e também a bens não físicos (neste caso, ativos intangíveis), como
patentes, capacidade de inovação e até capacidade de aprendizado. Os ativos intangíveis
formam o “capital intelectual” da empresa, que depende da capacidade de seus colaboradores
de transformar (mais uma vez!) informação em conhecimento. Assim, o conhecimento
organizacional está ligado diretamente ao conhecimento dos colaboradores!
Thomas Stewart é considerado a primeira autoridade do mundo em administração do
conhecimento e seus pontos de vista são valiosos para qualquer organização que queira
melhorar o retorno de seu “capital intelectual”. Segundo Stewart (2008), o capital das empresas
[A9] Comentário: Achei confusa esta ideia. Talvez o autor possa explicar melhor.
25
está deixando de ser visto exclusivamente em termos financeiros ou físicos, e passa cada vez
mais a incluir “capital intelectual“.
Segundo o autor, o capital intelectual está dividido em três áreas:
Capital humano3: conhecimento na cabeça dos empregados e que é relevante para os
objetivos da organização. Esse capital é mobilizado quando os colaboradores se
devotam a atividades intelectuais e de inovação.
Capital em clientes: representa o valor dos relacionamentos que a empresa mantém
com as pessoas e as organizações com as quais negocia. É medido em fatia de
mercado, índice de fidelização de clientes, lucro etc.
Capital estrutural: conhecimento retido dentro da organização. Pertence a todos,
portanto pode ser repartido entre os possuidores – fornecedores, clientes, financiadores
etc.
Stewart recomenda uma série de princípios para administrar o capital intelectual, entre os quais
destacamos: os três tipos de capital trabalham em conjunto, portanto não é suficiente investir em
separado em cada um deles; empresas deveriam se concentrar mais no fluxo de informações do
que no fluxo de materiais; o capital humano é criado em equipe e, por isso, deve-se estimular
formas sociais de aprendizado.
Estar atento ao capital humano transforma a organização em uma organização aprendiz e essa
é uma das bases para o sucesso da gestão das inovações, tema que aprofundaremos nos
módulos seguintes.
Um exemplo extraordinário sobre a importância do capital intelectual é citado por Valeriano
(2005) e provém da compra da Lotus pela IBM em 1995. O valor contábil da Lotus era de US$
250 milhões, mas a IBM pagou US$ 3,5 bilhões. A diferença ocorreu por conta da equipe que
iria desenvolver e aplicar “seu capital intelectual” em outros produtos, mas dali em diante, com a
marca da IBM.
Saiba Mais
Peter Senge explica, em entrevista para a revista HSM, o que são as cinco disciplinas de
aprendizagem das organizações: http://www.perspectivas.com.br/g13.htm LIVRO: A Nova Era Digital: como será o futuro das pessoas, das nações e dos negócios –
De Eric Schmidt e Jared Cohen.
3 Veremos no módulo 3 que o capital humano está relacionado a um tipo de conhecimento denominado “tácito”.
26
Disponível parcialmente em: <http://books.google.com.br/books?id=hT1rAAAAQBAJ&printsec=frontcover&dq=a+nova+era+digital&hl=pt-BR&sa=X&ei=q2uvUr6UMITxkQfi24H4BQ&ved=0CDoQ6AEwAA#v=onepage&q=a%20nova%20era%20digital&f=false>. Acesso em: 20/12/2013.
Resumo
Neste primeiro módulo, trilhamos alguns caminhos que diferenciam dados, informações e
conhecimento.
Diferentemente de dados, as informações operam em um contexto e podem ser aproveitáveis
para a tomada de decisão nas organizações. Quando as informações ampliam a visão de
mundo das pessoas, são incorporadas ao arsenal de conhecimentos anteriores. Por esse
motivo, o conhecimento está relacionado às pessoas e não armazenado em computadores,
embora computadores sejam instrumento valioso para que as pessoas criem conhecimento.
Apesar disso, frequentemente informações valiosas para a tomada de decisões são chamadas
de conhecimento nas empresas.
Sistemas de informação como ERP e CRM geram informações confiáveis e relevantes e operam
na transformação de dados em informações. Com o advento do big data, surgem novas
tecnologias capazes de detectar padrões comportamentais em bancos de dados externos.
Definimos simplificadamente inovação como um esforço ligado a um novo produto ou serviço
que chega ao mercado. Apresentamos um processo que associa ciência, pesquisa e tecnologia
para desembocar em inovações tecnológicas. A intensidade do fluxo desse processo dá a
medida da capacidade de inovação tecnológica existente na organização.
A valorização do conhecimento virou questão de sobrevivência e de competitividade para as
organizações e toma a forma de inovações. Isso ocorre com base na valorização do capital
intelectual (conhecimento dos funcionários) e no aprendizado organizacional (espécie de
capacidade evolutiva). Organizações que aprendem têm a capacidade de renovar, aprender e
inovar continuamente. Juntos, esses elementos compõem alicerces para as empresas
aproveitarem melhor também as inovações que adquirem ou com as quais têm que lidar.
Inovação nas empresas tornou-se fator essencial para que sobrevivam na “era da informação”,
na qual estamos todos mergulhados.
27
MÓDULO 2:
Inovação e sociedade
28
29
Introdução
Este módulo é dedicado ao tema da inovação e a seus desdobramentos em um sentido amplo.
Entendemos que uma visão geral sobre o assunto auxilie na compreensão do caráter profundo e
ao mesmo tempo provisório das inovações e forneça a base conceitual necessária para as
escolhas que possam surgir no exercício da gestão da inovação tecnológica.
Com esses objetivos, apresentamos brevemente o papel que as inovações exerceram ao longo
do tempo nas economias dos países e a repetição de padrões que permitem comparar
diferentes ciclos econômicos. Estudamos também o formato de onda característico da adoção
das inovações, bem como uma técnica para verificar se um processo de inovação será bem
sucedido a partir de seus primeiros resultados. Abordamos as características de alguns tipos de
inovação bastante conhecidos e buscamos exemplos na área de tecnologia e fora dela.
A inovação pode implicar profunda mudança na organização, gerando instabilidade,
desconfiança e ameaças à própria inovação. Sobre esse tema crucial para as empresas,
selecionamos alguns modelos consagrados que sugerem estratégias para lidar com a mudança,
não importa o que a tenha provocado.
Objetivos
Ao completar este módulo de estudo, você estará apto a:
Compreender diferentes significados para inovação.
Diferenciar os vários tipos de inovação.
Conhecer estratégias e modelos para lidar com a inovação e a mudança.
Conhecer um pouco da cultura inovadora de algumas empresas importantes.
Estrutura do Módulo
Para melhor compreensão das questões que envolvem o tema da gestão estratégica da
inovação este módulo está dividido em:
Unidade 1: Adoção da inovação
Unidade 2: Tipos de inovação
Unidade 3: Inovação e mudança no ambiente organizacional
UNIDADE 1: ADOÇÃO DA INOVAÇÃO
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Como já dissemos, a inovação se relaciona a um novo produto ou serviço que as pessoas ou
empresas possam adquirir ou contratar. Assim, mobilizam mercados e são atividades
estratégicas para movimentar a economia dos países.
Governos podem estimular inovações por meio de incentivos fiscais e apoio às pesquisas que
ocorrem em centros de pesquisa ou mesmo em grandes empresas. Aliás, inovação pode ser o
motor principal para a criação de novas empresas. Uma das formas de os governos apoiarem a
instalação de novas empresas (startups) é a criação de espaços em que as novas empresas se
instalam e desfrutam de uma estrutura mínima de apoio. Tais espaços são chamados
“incubadoras de empresas”.
Quando o tema inovação é tratado no âmbito de políticas de governo ou em grandes empresas,
utiliza-se frequentemente a expressão Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Porém, mesmo
pequenas empresas têm nas atividades de P&D uma medida do quanto a inovação está em
pauta. Por exemplo, o número de patentes4 registradas por uma empresa ou nação constitui um
importante indicador de P&D.
Para uma perspectiva histórica, basta olhar a relação entre os ambientes econômicos e as
inovações que caracterizaram cada período. Por exemplo, se você fosse um jovem de visão no
final do século XVIII, provavelmente estaria pensando em seguir carreira em algo ligado à
energia hidráulica, ou à indústria têxtil ou à indústria do ferro. Essa era a indústria inovadora da
época. Alguém buscando um emprego de prestígio a partir da segunda metade do século XIX já
pensaria em máquinas a vapor, estradas de ferro ou aço; na virada do século XIX para o XX as
promessas seriam eletricidade, indústria química ou motores a combustão. Cada ciclo de
inovação tem sua época e suas características.
O economista Joseph Schumpeter (1883-1850) fez estudos importantes ligando o capitalismo à
inovação. Um dos resultados interessantes que ele obteve é que muitos padrões de aceitação e
declínio de cada ciclo de inovação se repetem. Observe, no diagrama da figura 1, um conjunto
de ciclos de inovação em diferentes períodos históricos.
4 Uma patente é uma espécie de registro concedido pelo governo que visa dar o devido crédito aos desenvolvedores
de uma invenção, tecnologia ou inovação, conforme o caso. Isso evita cópias indevidas e garante os direitos do criador sobre sua obra.
31
Figura 2.1 Traduzido de The Economist, 20 Fev. 1999. Kondratiev Waves, conforme postulado por Joseph
Schumpeter.
Ao observar cada ciclo, note que as ondas têm formato semelhante (curva S, que veremos mais
adiante) e que os ciclos são cada vez mais curtos. Repare também que, segundo a lógica de
Schumpeter, estaríamos vivendo hoje a 5a onda – a mais curta de todas – e podemos supor que
a próxima onda será ainda mais curta.
O formato aproximado da onda “em S” é detectável na prática. Veja, na figura 2, a evolução das
tecnologias de comunicação entre as décadas de 1920 e 2000, com dados extraídos de padrões
de consumo de famílias americanas.
Figura 2.2 Índice de adoção de várias tecnologias de comunicação (DAY, 2003).
[A10] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
[A11] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
32
Curva S
A “onda-S” da inovação ou “Curva S” representa uma relação entre a adoção da inovação e a
passagem do tempo. Em uma sociedade, comunidade ou mesmo em uma organização, se
houver liberdade para a adoção de uma solução tecnológica, a adoção dessa inovação tem
comportamento semelhante.
Se a inovação “pegar”, será adotada no início lentamente, com o crescimento quase
imperceptível, depois passará a ter um crescimento suave, mas que se acentua. Mais tarde, a
inovação se estabelecerá com uma adoção cada vez mais acelerada – parece que irá crescer
indefinidamente. A partir de certo ponto no tempo, o crescimento começará a perder força:
menos pessoas ou organizações estarão interessadas em adotar aquela inovação, que vai
sendo trocada por outra para recomeçar o ciclo. Veja na figura 3 a Curva S de uma tecnologia
atual sendo substituída por uma tecnologia emergente.
Figura 2.3 Curva S: padrão de aceitação de uma inovação bem sucedida e a substituição de uma tecnologia
por outra.
Para entender melhor, pense em como seus colegas e parentes adquirem ou adquiriram
computadores. No início, poucas pessoas tinham computadores de mesa (desktops) em casa.
Cada vez mais, colegas e parentes foram adquirindo tais equipamentos, mas chegou um
momento em que o ritmo de compra reduziu-se. Aparentemente, porque a maioria já tinha
desktops, e os que não tinham não estavam mais tão interessados em ter um equipamento de
mesa. O que teria acontecido?
As pessoas começaram a se interessar por computadores portáteis em lugar dos de mesa.
Notebooks foram substituindo os desktops porque as pessoas já tinham computadores de mesa
[A12] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
33
ou talvez quisessem desistir deles, achando que estava na hora de trocar. Quem ainda não tinha
adquirido um desktop ia direto para um notebook, porque parecia mais interessante ter um
computador que você pudesse levar consigo para os lugares que frequentasse. E a história se
repete com a chegada dos tablets...
A Curva S é uma ferramenta valiosa para estudar o comportamento de como o mercado reage
frente a inovações: curvas S podem ser mais acentuadas ou mais suaves, e mas podem
simplesmente não existir se a inovação não se sustentar.
Substituição do velho pelo novo
A adoção de uma inovação pela sociedade é um processo complexo, não perfeitamente
diagnosticável. Se fosse diagnosticável, as inovações nunca falhariam. Assim, o que garante
que uma inovação vai “dar certo”?
Um artifício muito interessante para saber se as pessoas e organizações irão mesmo adotar a
inovação, substituindo outros utensílios ou processos que já possuam, também tem relação com
a Curva S.
Vamos imaginar que você criou uma solução tecnológica inovadora e está ansioso para saber o
que irá acontecer. No inicio do período de análise, você está na parte inicial da Curva S – na
verdade, nem sabe se há uma Curva S pela frente. Será que a inovação que você criou vai ser
bem aceita pelo mercado?
Por meio de um artifício matemático simples – operações de divisão –, você transforma os
dados iniciais da curva em pontos de um segundo gráfico. Simplificando bastante o processo,
basta dividir a porcentagem de pessoas ou empresas que aceitaram o “novo” pela porcentagem
de pessoas que permaneceram com o “velho” e, com isso, obter os pontos do eixo Y no novo
gráfico. É preciso fazer isso em vários pontos iniciais no tempo (pelo menos dez) e marcar no
segundo gráfico. Se os pontos estiverem mais ou menos alinhados... Parabéns! Sua inovação
tem fôlego para emplacar.
34
Figura 2.4. Quanto mais reta a curva do gráfico de substituição, mais evidente o sucesso da inovação.
No momento de uma escolha tecnológica, a Curva S pode ajudar a justificar o investimento ou a
desfazer a ideia de instalação de uma nova solução que se apresente como um “padrão” de
mercado, no presente ou no futuro. Perceba que o padrão da Curva S ajuda a distinguir uma
tendência real de um modismo passageiro.
Novas ondas de inovação tecnológica
Segundo a empresa de consultoria americana Global McKinsey
(http://www.mckinsey.com/insights/mgi/research/technology_and_innovation), vivemos nas
últimas décadas quatro ondas tecnológicas e estamos entrando na quinta onda.
A primeira onda, concluída na década de 1970, é composta pelos computadores do tipo
mainframe – grandes máquinas que pertenciam ao governo ou a grandes empresas. Cada
máquina possuía milhares de válvulas e chegava a ocupar uma sala inteira. Imaginava-se que o
processamento de dados estaria restrito a essas grandes máquinas dedicadas a aplicações
científicas ou aos interesses dos governos.
Em seguida, a segunda onda foi a dos computadores pessoais. A partir da década de 1980, a
utilização de computadores tornou-se possível para pequenas empresas e as pessoas
começaram a adquirir seus próprios computadores para uso individual.
Já a terceira onda, considerada aqui a própria internet, popularizou-se em meados da década de
1990, no início para troca de mensagens. Depois, com o aumento de velocidade e largura de
banda, passou a veicular cada vez melhor gráficos, fotos e filmes, inaugurando a Web 1.0.
[A13] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
35
A quarta onda, em que estamos atualmente, é a da tecnologia móvel, do uso de celulares e da
Web 2.0. Há enorme ganho de funcionalidades nos celulares, que se tornam computadores
móveis de múltiplas finalidades.
Por fim, a quinta onda de inovação tecnológica estaria ligada ao conceito de big data, que
abordamos rapidamente no módulo 1. É uma época de grandes oportunidades para as
empresas em termos de inovação, produtividade e competitividade, vislumbrando, por exemplo,
o uso compartilhado de recursos de armazenamento, licenciamento de softwares e aplicações,
num movimento sem volta rumo ao cloud computing no qual os principais fabricantes de
tecnologia se movimentam.
Se você pensa em empreender algo inovador dentro ou fora da organização em que atua,
considere ingressar no mundo big data, mesmo que seu trabalho não exija!
Saiba Mais
LIVRO: Gestão estratégica da tecnologia e da inovação: conceitos e soluções. De Robert Burgelman,
Clayton Christensen e Steven Wheelwright. Disponível em:
http://books.google.ca/books?isbn=8580550912. Acesso em 03/05/2014. ARTIGO: “Para prever a inovação tem que domar a curva S” http://colunas.revistaepocanegocios.globo.com/ideiaseinovacao/2009/06/30/para-prever-a-inovacaovoce-tem-que-domar-a-curva-s-2/ Acesso em 08/02/2014.
VÍDEO: Você sabe o que é “cloud computing”? http://www.youtube.com/watch?v=FDFejm-outl Acesso em 03/03/2014.
UNIDADE 2: TIPOS DE INOVAÇÃO
Quem lida com inovação e tecnologia pode estar vinculado a um novo produto, serviço ou
modelo de negócio. É importante lembrar sempre que o sentido geral da inovação é resolver
um problema, por isso o empreendedorismo inovador fomenta a abertura de novas empresas.
36
Podemos dar infinitos exemplos de inovação. Algumas vezes, a inovação na tecnologia se
transfere para produtos que alteram ou criam setores inteiramente novos na economia.
A inovação em produtos resulta de algo que é desenvolvido pela primeira vez, ou aprimorado.
Por exemplo, os aparelhos portáteis para ouvir música evoluíram muito nas últimas décadas,
dos walkman com fitas k-7 com inevitáveis chiados de fundo até o som limpo de minúsculos I-
Pods. Podemos interpretar dois saltos evolutivos principais nesse processo: o primeiro foi das
fitas k-7 para os compact disks, com tremendo ganho em termos de qualidade sonora. O
segundo grande salto foi em termos de quantidade – com a tecnologia MP3, foi possível
armazenar cerca de dez vezes mais música em um mesmo espaço de armazenamento.
Gravador portátil com fitas k-7, conceito de walkman
desenvolvido pela Sony (década de 1980).
Discman também
inventado pela Sony (década de 1990).
I-Pod
inventado pela Apple (década de 2000).
Novas gerações de I-Pods cada vez menores e de maior qualidade.
Figura 2.5 Comparação entre tecnologias de audição individual de música
Em um CD onde antes cabiam cerca de 60 minutos de música, passaram a caber 600 minutos.
Ao mesmo tempo, os arquivos digitais de música puderam ser armazenados como arquivos
digitais comuns, e um hardware portátil mais compacto de armazenamento foi desenvolvido,
dispensando a mídia CD-ROM.
É interessante notar que o produto inovador da Sony tinha um conceito vitorioso (escutar música
individualmente ou enquanto se faz outra coisa), mas sofreu drásticas evoluções, inclusive ou
sobretudo pela concorrência de outras empresas. A música digital inaugurou uma nova era e
alterou toda uma cadeia de produção e distribuição da indústria da música. Neste exemplo, a
inovação em produto propiciou inovações em serviços porque mobilizou inúmeros novos
negócios. Mais recentemente, nota-se que a inovação tecnológica pende cada vez mais
fortemente para processos e modelos de negócios.
[A14] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
37
Outro tipo de inovação é a inovação em modelo de negócios, que podemos ver em uma rede
de lanchonetes – aparentemente, é difícil conceber que uma lanchonete possa ser um
empreendimento inovador, mas veja a seguir.
Quando a rede McDonald’s teve sua primeira loja inaugurada, em 1940, foi tremendamente
inovadora: padronizou o produto, criou novos procedimentos culinários e valorizou o treinamento
dos funcionários. O produto passou a ser servido com rapidez, a um preço razoável, e a marca
criou um padrão de qualidade inconfundível que dá segurança aos consumidores em qualquer
parte do mundo. Em resumo, a inovação do McDonald’s foi criar uma nova categoria de
mercado.
Nos todos os casos apresentados acima, a inovação depende de soluções em sistemas que
também devem ser inovadores, seja no desenvolvimento de novos sistemas, seja na utilização
inovadora de sistemas preexistentes.
Inovações incrementais e inovações radicais
A forma mais comum de classificar as atividades de inovação é por meio das categorias
inovação incremental e inovação radical.
A inovação incremental é sustentadora de um sistema existente, por exemplo, produzindo
pequenas melhorias em seus produtos ou em seus processos de fabricação. Possui alta taxa de
sucesso e baixo risco. Por exemplo, um novo modelo de smartphone com maior resolução de
imagem ou mais memória, mas ainda em um mesmo sistema operacional.
Já a inovação radical abala, modifica ou substitui um sistema anterior. Altera os princípios de
funcionamento dos produtos e os processos de produção, podendo tornar obsoletas as
tecnologias anteriores. Envolve maiores riscos e incertezas sobre retorno. É o caso dos
“estragos” que empresas como Amazon e Netflix têm feito ao mercado do comércio varejista e
de entretenimento audiovisual, respectivamente. Você chamaria a Amazon de livraria e a Netflix
de locadora?
As inovações incrementais e radicais também podem aparecer em toda uma linha de produtos.
Conforme vimos na inovação de produtos anteriormente, a inovação radical foi a criação de um
conceito revolucionário pela Sony (walkman com fita k-7). As inovações incrementais estão
ligadas ao aperfeiçoamento dos produtos que se seguiram desse mesmo fabricante e dos
concorrentes menos agressivos.
Enquanto a Sony, aparentemente, buscou inovações incrementais em seus produtos, a
concorrência impôs outras inovações radicais, inaugurando o armazenamento da música em
arquivo digital e, mais tarde, a uma taxa de armazenamento de dados muito superior (tecnologia
MP3).
38
Mattos (2012) classifica a inovação incremental e radical em relação aos clientes, investimentos,
prazos, riscos, retorno, valor e melhoria. Observe, na figura 6, a comparação entre cada um
desses itens.
Figura 2.6 Quadro comparativo entre a inovação incremental e a inovação radical. Adaptado de Mattos (2012)
Observe que a inovação radical tem ambições maiores do que as inovações incrementais. Por
outro lado, as inovações incrementais são praticamente inevitáveis após o sucesso de uma
inovação radical (mais uma vez lembre-se do walkman da Sony).
Algumas questões importantes ao se considerar a gestão da inovação tecnológica nas
organizações têm relação direta com a discussão que tivemos até aqui:
_Que tipo de inovação a organização procura?
_A que tipo de inovação a tecnologia nova a ser instalada na organização se vincula?
A resposta a essas perguntas depende de escolhas, oportunidades e estratégias que a
organização permita empreender. O desenho dos cenários, estratégias e ferramentas para
empreender inovação é tema dos módulos 3 e 4.
Inovações disruptivas
Outra categoria de inovação bastante discutida atualmente é a inovação disruptiva ou de
ruptura. Ela vai muito além das inovações radicais, pois rompe padrões e traz um novo conjunto
de atributos.
Segundo Christensen (2009), pode-se pensar a inovação no sentido geral em termos de
“consumo” existente ou potencial. Onde houver “consumo cativo”, a inovação buscará analogia
ou adaptação em diferentes graus. A reforma será, então, absorvida, fazendo da inovação um
[A15] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
39
mero adereço para a conservação. É o que acontece nas inovações “sustentadoras”: trata-se
apenas de uma mudança superficial que não altera a essência do processo vigente. É o caso
das novas versões do sistema operacional de um computador – o objetivo da inovação
sustentadora é manter o sistema em funcionamento quando apresenta sinais de desgaste ou
tem que responder à concorrência. A tecnologia de adaptação não leva à ruptura.
Já a inovação disruptiva, por outro lado, tem a intenção de criar um novo mercado ou atingir os
“não consumidores”. Para uma mudança disruptiva se impor em qualquer área, ela deve
concorrer com o “não consumo”, lacuna ou demanda potencial ainda reprimida. No âmbito do
“não consumo” não há elementos prévios para adaptar ou substituir: prevalece a intuição do
inovador de que existe um potencial de interesse das pessoas pelo novo sistema. Esse
interesse aparece discretamente e leva a um desenvolvimento lento da inovação, que se
manifestará aos poucos, na forma de uma mudança gradual nas práticas e hábitos das pessoas.
No início, a qualidade de uma inovação disruptiva pode ser inclusive inferior à dos produtos
vigentes. Porém, é direcionada àqueles que até então não os consumiam. Em um primeiro
momento, as inovações disruptivas atendem às necessidades de um pequeno nicho de mercado
(low end), mas, com o seu desenvolvimento, passam a concorrer diretamente com as grandes
líderes do mercado principal (high end).
Sistema de inovação aberto e sistema de inovação fechado
Estudos de inovação sugerem também dois modelos gerais de inovação nas empresas: o
sistema de inovação fechado e o sistema de inovação aberto.
O modelo de inovação aberto prevê parcerias entre empresas para a criação de um novo
modelo de inovação, já o modelo de inovação fechado não prevê essa parceria – a inovação
fica restrita ao conhecimento gerado pela própria organização. Em outras palavras, no modelo
fechado o esforço pela inovação é individual e está restrito a uma empresa, no sistema aberto,
prevê-se parcerias entre empresas para a geração de inovações. Observe atentamente as
figuras 7 e 8.
40
Figura 2.7 Inovação aberta prevê parcerias para a inovação entre diferentes empresas.
Figura 2. 8 Inovação fechada prevê que a inovação se desenvolva individualmente por uma empresa.
No módulo 3 retomaremos esse tema, apresentando duas configurações que sugerem os
modelos de inovação aberto e fechado.
SAIBA MAIS
VIDEO Exemplos de inovação por modelo de negócios. Business Model Generation: Como inovar – Endeavor Brasil http://www.youtube.com/watch?v=9sH8TozjHy4
[A16] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
[A17] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
41
UNIDADE 3: INOVAÇÃO E MUDANÇA NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL
Ao estudar as ferramentas ao longo da história ou evolução da técnica na sociedade, uma série
de questões interessantes nos vêm à cabeça:
_O que define que uma inovação tecnológica seja superior às outras?
_Que grupos serão privilegiados ou prejudicados pelo uso de uma determinada inovação
tecnológica?
_Que problemas serão resolvidos e que outros problemas serão criados por conta de uma
inovação tecnológica?
Não há dúvidas de que a inovação tecnológica é um dos mais importantes agentes causadores
de mudanças nas organizações, em diferentes graus e de diversos tipos. No lado positivo,
inovação pode significar aumento da eficiência, elevação da qualidade dos produtos e processos
que o cliente adquire ou contrata, crescimento dos investimentos em infraestrutura, maior
capacitação dos colaboradores.
O lado negativo da mudança é que a inovação pode desestabilizar um ambiente de trabalho,
significar piora nas relações de trabalho e até mesmo desemprego. Schumpeter, autor que já
mencionamos antes, dizia de forma contundente que a inovação busca substituir o trabalho
humano pela tecnologia.
Ludismo
A história registra muitos casos de confrontações violentas quando novas tecnologias
ameaçaram aqueles que estavam empenhados em tecnologias tradicionais. No início do século
XIX, um movimento operário denominado ludismo era contra a mecanização do trabalho
proporcionado pela Revolução Industrial. Além do risco do desemprego causado pela adoção
crescente das máquinas, o movimento também protestava contra as péssimas condições de
trabalho dos operários naquela época.
42
Figura 2.9 Antiga gravura mostra ludistas destruindo máquina de tear em 1812.
Ainda hoje, as pessoas que se opõem às novas tecnologias às vezes são chamadas
pejorativamente de ludistas, luditas ou neoluditas.
Rushkoff (2012) afirma que a única forma de não ser dominado pelas ferramentas é dominá-las
antes. Sugere que as pessoas comuns, mesmo não sendo profissionais da área de computação,
elevem sua cultura técnica sobre computadores e aprendam, inclusive, linguagens de
programação.
Modelos para promoção das mudanças
a) Modelo de transições
A inovação pressupõe transição e mudança nos ambientes em que opera. Um dos erros
frequentes dos que pretendem provocar mudanças é acreditar que as pessoas necessariamente
estão prontas para a mudança ou que têm alguma espécie de culpa quando se opõem ao
processo, como se a mudança fosse “natural” (BALDWIN, 2008).
O autor sugere que o processo de implementação da mudança seja norteado por questões
como: O que está impedindo a mudança e por que ela ainda não aconteceu? Que ações
poderiam influenciar a mudança? Como a mudança pode ser sustentada?
No modelo de transições de William Bridges, a mudança organizacional só pode ser bem
sucedida se levar em conta aspectos pessoais, ligados ao que o autor chama de transições
internas. Segundo ele, as transições pessoais deveriam ser tão valorizadas quanto as
próprias mudanças em si. Por exemplo, a troca de um sistema ERP na empresa deveria
respeitar um processo de aceitação e resistência inicial dos usuários.
43
A mudança, segundo o modelo de transições de Bridges, possui duas etapas: a situação antiga
e a situação nova. Não importa muito qual é a natureza da mudança, o que interessa é observar
as transições entre elas.
Segundo o modelo de Bridges (BALDWIN, 2008), nas pessoas, as transições têm três fases:
Fase 1 - Finalização: a pessoa rompe com a maneira como as coisas eram na situação antiga.
Emoções associadas a esta fase: ansiedade, culpa, medo e choque.
Fase 2 - Zona neutra: é o período de passagem após a perda da identidade anterior.
Emoções associadas a essa fase: ansiedade, confusão e incerteza.
Fase 3 - Reinício: a pessoa passa a sentir-se novamente confortável e em equilíbrio com a nova
identidade baseada nas novas condições.
Emoções associadas a essa fase: integração e reinvenção de si mesmo.
b) Modelo descongelar-mudar-recongelar
Neste modelo, proposto por Kurt Lewin (em Baldwin(2008)), o primeiro estágio é descongelar e
envolve romper com a inércia e com os modelos de pensar existentes. É preciso certa boa
vontade para tomar essa atitude – Lewin percebeu que os agentes de mudança ansiosos e
animados muitas vezes mergulham diretamente na questão e tentam vender a mudança sem
antes diagnosticar e lidar com os fatores de resistência.
O segundo estágio, mudar, refere-se à fase em que a intervenção está em marcha. É uma
etapa de ansiedade e nervosismo, porque os modos antigos são contestados e a realidade de
um novo modelo é experimentada pela primeira vez. As chamadas “zonas de conforto” são
alteradas. Já o terceiro e último estágio é denominado recongelar: um novo padrão é
estabelecido e a mudança rende benefícios para a organização.
O modelo de Lewin converge para um importante conceito de análise de força. O status atual
é o status quo, que existe em função das forças propulsoras da mudança e das forças de
resistência à mudança.
[A18] Comentário: Referência?
44
Figura 2.10 Modelo de Lewin para enfrentar mudanças. Adaptado de Baldwin (2008)
Quando as forças impulsionadoras são maiores do que as forças de resistência, a tentativa de
mudança é bem sucedida e a mudança ocorre. Se as forças de resistência são maiores do que
as forças impulsoras, a tentativa de mudança é mal sucedida e a mudança não ocorre,
prevalecendo a velha situação.
Uma das ideias importantes do modelo de Lewin é que se deve antes enfraquecer as
forças de resistência para depois fortalecer as forças impulsoras. Para ele, aumentar as
forças impulsoras primeiro gera aumento das forças de resistência – em bom português, as
pessoas fincam pé e reagem ao contrário do que se espera.
c) Modelo de Kotter para mudança
Vimos que a inovação tecnológica implica mudança – quando a missão é inovar, precisamos de
uma abordagem voltada para a mudança e para a criação de conhecimento que suporte a
mudança. Na busca por um estilo de liderança que estimule a criação do conhecimento e a
inovação, chegamos aos estudos de John Kotter, pesquisador de renome na área de mudança
nas organizações.
A figura abaixo apresenta os fatores que o autor destaca para a mudança. Observe
particularmente os quatro primeiros fatores e note como lembram o modelo descongelar-mudar-
recongelar de Lewin.
[A19] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
[A20] Comentário: Deveria ser um item c)?
45
Figura 2.11 Oito estágios de mudança de Kotter. Baldwin (2008).
1. Criar um senso de urgência: Kotter argumenta que despertar um sentido de urgência é a
primeira e mais crítica etapa em mudanças bem sucedidas. Relatórios e planilhas não são
suficientes. Você precisa demonstrar ações que conscientizem as pessoas, até mesmo as
choquem ou surpreendam, para que elas entendam a necessidade da mudança que você
determinou. A meta é arrancar as pessoas de suas rotinas e zonas de conforto estabelecidas e
fazer com que fiquem prontas para mudar.
2. Organizar uma coalizão orientadora: Sozinho, o líder da mudança não chega a lugar algum.
Toda boa iniciativa de mudança precisa de um grupo de defensores influentes e efetivos. É
importante identificar as pessoas certas, que estão totalmente comprometidas com a iniciativa
de mudança. Em alguns casos, os melhores defensores da mudança são os considerados mais
céticos em relação à mudança no início ou que seriam vistos como cínicos ou difíceis de lidar.
3. Criar uma visão: Uma visão deixa clara a direção da mudança – as outras decisões devem
estar alinhadas à visão. A visão ajuda também a alinhar os indivíduos e a motivá-los de forma
eficaz.5
4. Comunicar uma visão de mudança: Kotter afirma que uma visão passa a ter significado real
somente quando é transmitida de maneira convincente, por isso é vital transmiti-la com
convicção.
5 O tema Visão é tratado no módulo 3.
[A21] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
46
5. Delegar autoridade aos funcionários: Esse fator está ligado ao treinamento, capacitação,
reorganização e remoção de barreiras estruturais que impeçam o time de avançar em direção à
visão.
6. Criar metas em curto prazo: Vitórias em curto prazo são essenciais, pois são visíveis e
mostram a todos que a mudança está dando resultado.
7. Consolidar ganhos: Uma vez transposta uma barreira, passa-se ao próximo obstáculo,
reorganizando e reunindo forças para as próxima etapas.
8. Ancorar a mudança em sua cultura: A etapa final do processo de Kotter se resume a
ancorar as novas abordagens na cultura corporativa. O novo comportamento deve se tornar a
norma e o ideal é que todos na organização tenham os novos valores compartilhados.
Note que, com estas ideias, Kotter parece estar orientando verdadeiros líderes para empreender
a inovação. O autor antecipa algumas ideias que iremos aprofundar no próximo módulo,
dedicado à gestão, à gestão do conhecimento e à criação de uma cultura de inovação nas
empresas.
SAIBA MAIS
Em entrevista ao portal EXAME.com, John Kotter fala sobre como uma empresa pode plantar a semente da mudança. Acompanhe analisando o conteúdo disponibilizado em: <http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/empresas-gigantes-nao-sao-boas-em-promover-mudancas-diz-john-kotter?page=1>. Acesso em: 13/01/2014. LIVRO O coração da mudança: transformando empresas com a força das emoções. De John P. Kotter e Dan Conhen. Disponível em http://books.google.com.br/books?id=1QwGAAAAQBAJ&printsec=frontcover&dq=O+cora%C3%A7%C3%A3o+da+mudan%C3%A7a:+transformando+empresas+com+a+for%C3%A7a+das+emo%C3%A7%C3%B5es&hl=pt-BR&sa=X&ei=Pj2XU7rYNafJsQSEvYBQ&ved=0CDYQ6AEwAA#v=onepage&q=O%20cora%C3%A7%C3%A3o%20da%20mudan%C3%A7a%3A%20transformando%20empresas%20com%20a%20for%C3%A7a%20das%20emo%C3%A7%C3%B5es&f=false <books.google.com.br> Acesso em 29/04/2014.
[A22] Comentário: Melhor inserir o link direto.
47
48
Resumo
Neste módulo, vimos que a inovação está vinculada a produtos, processos e serviços
comercializáveis.
A cada ciclo econômico ao longo da história, uma série de inovações podem ser detectadas e
identificam esse ciclo. No conjunto, há repetição de padrões de adoção das inovações, que vão
se tornando, cada uma, mais curta que a antecessora. A adoção de uma inovação obedece a
um formato de onda denominado Curva S, que apresenta a dinâmica de adoção da inovação ao
longo do tempo, a partir de seu lançamento. Uma curva é substituída por outra à medida que
uma tecnologia nova toma lugar da tecnologia vigente.
Existem várias formas de classificar as inovações. A classificação mais comum é aquela que
divide as inovações entre incrementais e radicais. A inovação incremental procura aperfeiçoar o
que já existe, aperfeiçoar um produto ou processo, por isso corre poucos riscos e demanda
relativamente poucos investimentos. A inovação radical, por outro lado, impõe riscos e
investimentos maiores. A inovação disruptiva, por sua vez, é mais profunda que a inovação
radical e considerada uma categoria de inovação à parte, pois abala a ordem vigente e
revoluciona todo um setor.
O sistema de inovação pode ser caracterizado em sistema aberto ou sistema fechado. Uma
organização que adote a inovação aberta está pronta para construir parcerias com outras
empresas para elaboração de novos produtos e processos, ao contrário das empresas que
operam no sistema fechado e preferem concentrar em si mesma todos os esforços para lançar
produtos exclusivos.
Um efeito óbvio da inovação é que ela impõe mudanças nas organizações que podem ser
difíceis de serem assimiladas por alguns dos envolvidos. O modelo de Kotter é um modelo
bastante conhecido para tratar de mudanças e é inspirado no modelo clássico descongelar-
mudar-recongelar de Lewin. O modelo de Kotter praticamente sugere um estilo de liderança em
prol da inovação.
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MÓDULO 3:
Gestão do conhecimento e da inovação
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51
Introdução
Iniciamos este módulo apresentando brevemente alguns conceitos essenciais para o exercício
de qualquer forma de gestão empresarial: missão, visão, cultura organizacional, estratégia,
processos, projetos, qualidade, eficiência e eficácia. Essa exposição preliminar é necessária
para compreendermos melhor as ferramentas da gestão da inovação ou até mesmo as
finalidades da própria gestão da inovação tecnológica.
No estudo da gestão da inovação, é comum encontrar temas relacionados à “gestão do
conhecimento” – conjunto de métodos e modelos que sugere caminhos para promover a criação
do conhecimento nas organizações. A criação do conhecimento organizacional é um dos
caminhos possíveis que conduzem à inovação, sugerindo que o conhecimento “prático”
internalizado dos colaboradores de qualquer nível hierárquico pode ser potencializado e
convertido em conhecimento para a organização, transformando-a.
Porém, o modelo de criação do conhecimento isoladamente é de pouca ajuda, porque os fatores
relacionados à sua aplicação prática são múltiplos e complexos, tanto no sentido de promoção
do conhecimento quanto na obstrução do processo. Por esse motivo, descrevemos diversos
desses fatores e buscamos conexões com a área tecnológica e a gestão da inovação.
Objetivos
Ao completar este módulo de estudo, você estará apto a:
Compreender novas relações entre conhecimento organizacional e inovação.
Conhecer e aplicar o modelo de criação do conhecimento organizacional.
Saber diferenciar conhecimento tácito de conhecimento explícito e as possibilidades de
relacionar essas formas de conhecimento para gerar inovação tecnológica.
Analisar e conhecer fatores estruturais e ferramentas relacionadas à promoção do
conhecimento organizacional.
Estrutura do Módulo
Para melhor compreensão das questões que envolvem o tema da gestão estratégica da
inovação este módulo está dividido em:
Unidade 1: Alguns conceitos de apoio à gestão
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Unidade 2: Conhecimento organizacional: caminho para a inovação
Unidade 3: Modelo espiral de criação do conhecimento
Unidade 4: Fatores e ferramentas relacionados à promoção do conhecimento e inovação
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UNIDADE 1: ALGUNS CONCEITOS E FERRAMENTAS GERAIS DE APOIO À GESTÃO
Gerir ou administrar uma empresa envolve muitas habilidades, recursos diversos e domínio de
processos. A ênfase da gestão deve estar relacionada ao desenvolvimento da empresa com
foco em lucratividade, competividade e solidez.
A gestão visa, em um sentido geral, a busca de eficiência e eficácia de processos para
melhoria da qualidade dos produtos. A gestão da inovação tecnológica aprofunda essa
perspectiva em termos de competitividade no mercado.
Rocha (2009, p.86) afirma que “uma organização inovadora insere na sua estratégia processos
de aprendizado e mudança, incorporando iniciativas de melhoria contínua no desenvolvimento
de produtos”. O conjunto de esforços de gestão, incluindo a gestão da inovação tecnológica,
exige planejamento e execução vinculadas a algum projeto.
Todas essas palavras em negrito servem à gestão e serão abordadas neste e no próximo
módulo.
Eficácia e eficiência
Eficácia significa atingir os resultados planejados, já eficiência significa alcançar a eficácia
gastando menos recursos. Por exemplo, suponha que uma empresa planeja elevar seu
faturamento em 10% nos próximos quatro meses. Passado esse prazo, a empresa cumpriu esse
objetivo, portanto foi eficaz. Agora, duas empresas A e B pretendem elevar em 10% o
faturamento em quatro meses. Passado o tempo, ambas conseguem, mas a empresa A gastou
metade do que a empresa B gastou em marketing. As duas empresas foram eficazes, porém a
empresa A foi mais eficiente do que a B.
Pensando em uma aplicação na área de TI, de modo geral, investir esforços ao projetar e
implementar um sistema para reduzir os custos de manutenção é uma opção mais eficaz em
termos de custos do que fazer ajustes depois do sistema pronto. Por outro lado, é menos
eficiente acrescentar funcionalidades depois de pronto e entregue, por conta da necessidade de
compreender o sistema existente e ter de analisar o impacto das mudanças no sistema.
Missão, visão e valores associados a uma organização
A missão de uma organização se refere ao que ela deve realizar, a razão de ser de sua criação:
compromissos e deveres a cumprir. As declarações estratégicas missão, visão e valores dão
uma ideia junto à sociedade de como uma marca se posiciona, o que visa e o que oferece.
[A23] Comentário: Especificar página.
[A24] Comentário: Está confuso. O autor poderia ajudar a reescrever?
54
Figura 3.1 Declarações estratégicas missão, visão e valores.
Exemplos de missões de alguns gigantes da tecnologia:
Missão da Microsoft: “Permitir às pessoas e empresas, em todo o mundo, a concretização do
seu potencial”.
Missão da Google: “A missão do Google é organizar as informações do mundo e torná-las
mundialmente acessíveis e úteis.”
Quando falamos de visão e valores, estamos falando de rumos que sinalizam o que a
organização deseja ser, uma espécie de síntese dos objetivos que pretende alcançar. São
projetadas expectativas em um determinado horizonte de tempo: aponta-se a distância que há
entre a situação atual e a desejada.
A visão e os valores de uma empresa refletem também o alvo a ser procurado pelos esforços
individuais, pelos esforços das equipes e pela alocação dos recursos. Note que a visão exige
revisão, deve ser clara, abrangente e detalhada, desafiadora e inspiradora, compartilhada,
motivadora e, ela própria, inovadora.
O texto abaixo foi extraído do site da IBM (http://www.ibm.com) e dá uma ideia dos valores com
os quais a marca quer se associar:
Os IBMistas elegeram, juntos, os três valores que podem orientá-los em tudo o que fazem:
i) Dedicação ao sucesso de cada cliente;
ii) Inovação que faz a diferença – para nossa companhia e para o mundo;
iii) Confiança e responsabilidade pessoal em todos os relacionamentos.
Ainda sobre valores, peguemos o exemplo da Google, para se ter uma ideia da cultura de
inovação presente na empresa (CAPODAGLI, 2010): a inovação tecnológica é considerada
força vital, por isso, todos os engenheiros podem dedicar 20% do seu tempo (cerca de um dia
por semana) a qualquer projeto que escolherem. São lemas da empresa, entre outros: “Envolva-
se ativamente, você é Google”; “Conquiste o respeito e a lealdade dos clientes e usuários todos
os dias”; “Unindo o mundo, um usuário de cada vez”.
[A25] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
55
Estratégia e tática
Como já dissemos, o sucesso das organizações pressupõe aumento do faturamento,
crescimento e solidez. Para isso, é necessário que os gestores de inovação tenham
estratégia para cumprir suas missões.
Estratégia significa um caminho a ser seguido para se alcançar um objetivo. Trata-se de uma
ligação entre os objetivos da empresa e seus planos operacionais. Já tática corresponde a
um ou mais elementos que compõem a estratégia.
É possível adaptar ideias de estratégia e táticas utilizadas nas manobras militares a outras
áreas, porque envolvem a “arte de dispor e ordenar tropas para combate” com alguma
finalidade.
Embora não seja uma guerra, tanto no mundo dos negócios, quanto no esporte, por exemplo,
existem confrontos entre “guerreiros” em um campo de batalha.
Por exemplo, a disputa pelos clientes pode ser vista como uma espécie de “guerra” com as
empresas concorrentes. A conquista por novos clientes também pode significar vencer a guerra
com o “não consumo” de algum produto ou serviço. A instalação de uma nova tecnologia é uma
“batalha”, assim como a troca abrupta de uma tecnologia por outra.
Um ponto importante aparece quando unimos as palavras “gestão” e “estratégia”: a “gestão
estratégica” tem como ponto central o plano estratégico da organização, que deriva de sua
missão, seus valores e sua visão.
Figura 3.2 Plano estratégico derivado das declarações estratégicas missão, valores e visão. Fonte: 3GEN Gestão Estratégica (http://www.3gen.com.br).
É importante distinguir, também, estratégia de inovação e estratégia tecnológica. A primeira
está voltada ao mercado e às necessidades dos clientes, busca elucidar o papel da inovação
para execução da estratégia corporativa. Já a segunda vai buscar junto às inovações
tecnológicas as alternativas necessárias para atender as estratégias de inovação.
[A26] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
56
Matriz SWOT
O desenho de cenários é ferramenta estratégica bastante conhecida na área de gestão. Day
(2013) sugere que, no contexto de escolha de tecnologias emergentes, se desenhem cenários
para gerar opções estratégicas, estimar investimentos e avaliar a robustez das soluções. A
matriz SWOT é uma ferramenta estratégica famosa para aliar tanto o desenvolvimento quanto a
implantação de um ainovação.
No diagrama ou matriz SWOT, apontamos forças (Strenghts), fragilidades (Weakness),
oportunidades (Opportunities) e ameaças (Threats). Ao compor cenários para sua estratégia,
lembre-se de que oportunidades são situações favoráveis atuais ou potenciais que podem
favorecer sua capacidade de competir. Por outro lado, ameaças são situações desfavoráveis
atuais ou potenciais que podem prejudicar sua capacidade de competir. Mas ameaças e
oportunidades só se tornam reais de acordo com as condições internas da organização, ou seja,
com suas forças e fraquezas.
Forças são fatores internos que podem capitalizar oportunidades ou resistir às ameaças,
enquanto fraquezas são fatores internos que tornam a empresa menos apta a aproveitar as
oportunidades e mais vulnerável às ameaças. Lembre-se que forças e fraquezas devem ser
avaliadas comparativamente à concorrência e não de forma absoluta.
Vamos exercitar isso preenchendo uma matriz SWOT para uma grande produtora de software,
conforme a figura:
Figura 3.3 Do lado esquerdo, um desenho do diagrama para ser preenchido para estudo de cenários e estratégias. Do lado direito, como o diagrama poderia ser preenchido por uma grande empresa comercial de software.
[A27] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
57
Note como é possível listar diferentes fatores em cada dimensão da matriz. A vantagem, como
dissemos, é a clareza com que desenhamos diferentes cenários, o que nos permite pensar e
decidir melhor.
Processos
Dissemos anteriormente que a inovação pode estar em processos, de forma que reduza os
custos ou melhore a qualidade de um produto existente ou ainda quando são desenvolvidos
novos processos para produzir um novo produto. Nesse contexto, um processo é um grupo de
atividades que precisam ser executadas em uma sequência lógica para produzir um efeito
desejado.
Processos são de grande valor porque são eles que produzem o serviço ou produto que será
entregue ao cliente. Processos estão embutidos nos sistemas de informação, por exemplo, pois
fazem a ponte entre o negócio da empresa e a área de TI.
O mapeamento de processos possibilita que uma empresa enxergue melhor seus pontos fortes
e gargalos, onde está a complexidade da operação, risco de retrabalho, atividades redundantes
etc.
Existem muitas técnicas de mapeamento de processos que envolvem entrevistas, observações
e cruzamento de dados. Com a finalidade de estudar e documentar facilmente processos,
usamos ferramentas gráficas como fluxogramas.
Por exemplo, um dos processos mais importantes na relação entre cliente e empresa está na
avaliação do produto por parte do cliente. Isso pode ocorrer tanto no ato da compra quanto no
uso, durante a vida útil do produto. Vamos pensar nisso em termos de um processo.
Inicialmente, o cliente avalia um produto por observação ou consulta colegas sobre experiências
anteriores no uso daquele produto. O cliente compara o custo do produto com os recursos de
que ele dispõe para adquiri-lo. Se o custo superar os recursos de que ele dispõe, o cliente
desiste da compra; do contrário, adquire o produto. O cliente irá comentar com seus colegas a
experiência da compra ou da não compra. Veja essa situação esquematicamente por meio de
um diagrama de processo BPMN (Business Process Modeling Notation), uma ferramenta
comum para representar processos. Note os elementos gráficos simples para denotar inicio e
fim do processo, tarefas e decisão do tipo sim/não.
58
Figura 3.4 Exemplo de processo modelado usando o software gratuito Bizagi (http://www.bizagi.com).
Notou como o diagrama identifica que atividades compõem o processo e qual o encadeamento
lógico entre elas? Diagramas de processo como este permitem ainda identificar onde os
problemas podem ocorrer.
As empresas possuem centenas ou milhares de processos que podem estar formalizados,
mapeados ou não. A monitoração de processos é um conjunto de ações para acompanhar se
um processo está sendo seguido. O ideal seria que cada processo fosse monitorado por quem o
realiza, mas isso, na prática, é bem difícil de ser realizado. É papel da área de TI dar suporte ao
mapeamento de processos – se os processos são novos, estamos falando de gestão da
inovação.
É importante salientar também que os processos não devem ser “camisas de força” para a
inovação. Eles têm mais relação com a eficiência e a coordenação organizada do que com
procedimentos burocráticos e inflexíveis. Aliás, processos estão no cerne da gestão das
inovações desde a geração de ideias até a implantação das inovações.
Terra (2012) elenca as prerrogativas dos processos ligados à inovação, dos quais selecionamos
e adaptamos as seguintes:
Processos facilitam o alinhamento organizacional, são a base para definir a estratégia
da inovação.
Processos mostram o caminho para que todos os funcionários possam contribuir para
a inovação da empresa.
Processos podem estimular a criatividade.
Processos escapam da lógica e das barreiras departamentais.
[A28] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
[A29] Comentário: É citação literal? Caso seja, especificar página e colocar aspas.
59
Processos alavancam o conhecimento organizacional.
Processos trazem com eles métricas associadas.
O monitoramento e o aprimoramento de processos nos reporta ao tema da qualidade.
Qualidade
Este é um conceito difícil de definir. Geralmente, aparece associado à satisfação de clientes e à
conformidade às normas técnicas.
O estatístico americano pioneiro em estudos sobre qualidade William Edwards Deming (1900-
1993) desenvolveu muito claramente a ideia de metas6 de qualidade nas empresas, juntamente
com Joseph Juran (1904-2008). Para Deming, devemos considerar dois tipos de metas de
qualidade: metas para manutenção da qualidade e metas para melhoria da qualidade
(Baldwin, 2008).
Veja um exemplo de meta para manutenção da qualidade:
_Atender ao telefone sempre antes do terceiro sinal!
Agora, um exemplo de meta para melhoria da qualidade:
_Reduzir o desperdício de 100 unidades para 90 unidades em um mês ou, ainda, aumentar a
produtividade em 15% até dezembro.
Para conseguir atingir a meta, cria-se um procedimento operacional padrão que precisa ser
acompanhado o tempo todo para ver se está sendo cumprido. Dependendo de a meta estar
sendo ou não cumprida, o procedimento padrão precisa ser revisto.
Uma contribuição famosa de Deming é a popularização do ciclo de Deming, ou ciclo PDCA, que
tem por princípio tornar mais claros e ágeis os processos envolvidos na execução da gestão e
está dividido em quatro passos.
O ciclo começa pelo planejamento, isto é, definir onde se quer chegar e como faremos. Em
seguida vem a ação ou execução do conjunto das ações que foram planejadas no passo
anterior. Na sequência vem a checagem, para verificar se o que foi feito estava de acordo com
o que estava planejado. Finalmente, toma-se uma ação para corrigir a rota, isto é, minimizar
defeitos no produto ou na execução.
Visto de outra forma:
Plan (planejar): estabelecer missão e objetivos (metas), procedimentos e processos
(metodologias) necessários para atingir os resultados.
6 Metas e objetivos são coisas diferentes: metas são passos para se atingir um objetivo maior. Por exemplo, o
objetivo é desenvolver um novo sistema, as metas são programar os módulos do sistema.
60
Do (executar): executar o método.
Check (checar): monitorar e avaliar periodicamente os resultados, avaliar processos e
resultados, confrontando-os com o planejado, consolidando as informações, eventualmente
confeccionando relatórios.
Act (atuar): agir de acordo com o avaliado e de acordo com os relatórios, eventualmente
determinar e confeccionar novos planos de ação, de forma a melhorar a qualidade, eficiência
e eficácia, aprimorando a execução e corrigindo eventuais falhas.
Figura 3.5 Modelo PDCA de melhoria de qualidade
À medida que o ciclo avança, existe um ganho acumulado de qualidade, embora a qualidade
“total” seja impossível e o mais importante seja a “melhoria contínua da qualidade”.
Um exemplo de gestão da qualidade que remete diretamente à gestão da inovação tecnológica
é ligado às leis de mudança em um sistema de informação preexistente. Sommerville (2004)
relata que os pesquisadores Lehman e Belady examinaram o crescimento e a evolução de uma
série de grandes sistemas de software. As hipóteses ou leis a que chegaram são interessantes
porque podem ser empregadas a situações de inovação incremental e voltam-se para a área de
desenvolvimento do próprio software.
Pense na importância dessas leis quando a inovação passa por um período de utilização de um
sistema legado, sistema desenvolvido com tecnologia antiga ou que tenha envolvido
profissionais que não estão mais vinculados à empresa. As leis ajudam a entender também
como inovações são implementadas em um sistema preexistente. Vamos conhecer as três
primeiras leis, lembrando que estão relacionadas à evolução de um software:
[A30] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
61
1a. Lei: necessidade de melhoria contínua: uma tecnologia utilizada no mundo real tem que ser
modificada continuamente, sob o risco de se tornar menos útil com o passar do tempo.
2a. Lei: necessidade de aumento da complexidade: à medida que um sistema é modificado,
sua estrutura é degradada. Isso significa, por exemplo, que, em sistemas legados, é necessário
haver ação preventiva para melhorar a estrutura do software, sem necessariamente acrescentar
novas funções.
3a.Lei: evolução dos programas de grande porte: a introdução de modificações em sistemas
de grande porte gera muitos defeitos, por isso existe uma limitação a mudanças.
Cultura organizacional
A cultura organizacional se refere a um sistema de valores compartilhado pelos membros e
diferencia uma organização das outras – uma espécie de impressão digital da empresa. Esse
sistema é um conjunto de características-chave que a organização valoriza.
Segundo Robbins (2005), existem sete dimensões da cultura organizacional que, combinadas
em seu conjunto, capturam a essência de como é a cultura de uma organização:
1. Inovação e disposição para assumir riscos: grau em que os funcionários são estimulados
a inovar e assumir riscos.
2. Atenção aos detalhes: grau em que se espera que só funcionários demonstrem precisão,
análise e atenção aos detalhes.
3. Orientação para resultados: grau em que os dirigentes focam mais os resultados do que
as técnicas e os processos empregados.
4. Orientação para as pessoas: grau em que as decisões dos dirigentes levam em
consideração o efeito dos resultados sobre as pessoas.
5. Orientação para a equipe: grau em que as atividades são mais organizadas em termos
de equipes dos que em indivíduos.
6. Agressividade: grau em que as pessoas são competitivas e agressivas, em vez de dóceis
e acomodadas.
7. Estabilidade: grau em que as atividades enfatizam mais o status quo em contraste com o
crescimento.
Na apuração, cada uma dessas características vai de um grau baixo até um grau elevado. A
avaliação da organização em termos dessas sete características revela portanto, uma ilustração
de como é a cultura organizacional e qual sua abertura para a inovação (ROBBINS, 2005).
Todas as empresas que você conhece têm sua própria cultura organizacional, mas avaliar as
sete dimensões não é simples. A inovação prospera quando há uma cultura organizacional de
62
inovação que deve atingir todo o capital humano da empresa, congregando colaboradores de
todos os níveis.
Saiba mais
Exemplos de visão e missão de grandes empresas
http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/a-missao-das-grandes-das-mais-
conceituadas-empresas/55256/
UNIDADE 2: CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL: CAMINHO PARA A INOVAÇÃO
A gestão do conhecimento está relacionada à criação, disseminação e apropriação do
conhecimento novo nas organizações. Embora o conhecimento novo não corresponda
diretamente à inovação, a promoção do conhecimento novo é um dos caminhos que levam à
inovação. Robbins (2005) aponta três razões essenciais para a valorização do tema gestão do
conhecimento: 1) ativos intelectuais se tornaram tão importantes quanto ativos financeiros; 2) à
medida que colaboradores se aposentam ou se afastam, os conhecimentos que possuem são
perdidos; e 3) a gestão do conhecimento torna a empresa muito mais eficiente.
Não se conhece ainda uma “teoria da inovação” nas empresas, mas podemos considerar que o
modelo de criação do conhecimento organizacional seja um de seus componentes. O
conhecimento novo criado nas organizações não depende da pesquisa básica ou aplicada, mas
da experiência, das crenças e das intuições dos colaboradores. Esse “conhecimento oculto”
também é chave para inovar e está relacionado ao conceito de capital intelectual que vimos no
módulo 1.
Para entendermos melhor o papel do conhecimento na sociedade da informação em que
vivemos e como a valorização desse conhecimento pode promover inovações, estudamos as
teorias de empresas como organizações que aprendem porque valorizam o capital intelectual de
seus colaboradores.
O conhecimento novo pode significar uma inovação em si, mas pode ser também uma melhoria
que ocorra em um processo, fruto de uma boa ideia de um colaborador. Em outras palavras, não
necessariamente o conhecimento novo chegará a uma inovação, mas o estímulo a que os
colaboradores criem, disseminem e se apropriem de conhecimentos novos favorece o
desenvolvimento e o melhor aproveitamento das inovações.
63
A gestão do conhecimento se identifica com iniciativas em que os trabalhadores possam
colaborar e compartilhar. Por isso, está profundamente alinhada ao cenário tecnológico que
vivemos hoje na web 2.0 e, talvez em breve, na web 3.0.
Assim, encontramos na gestão das organizações um modelo que interpreta a inovação como
“criação do conhecimento” na forma de insights para criação e utilização otimizada de processos
e produtos. Com base nessa plataforma, o modelo propõe indiretamente mecanismos para
criação, difusão e interiorização da inovação nas organizações. Mas de onde vem o modelo?
Na década de 1990, em pesquisas sobre o que seria necessário para colocar as empresas no
caminho das inovações, pesquisadores japoneses propuseram um modelo em que a negociação
do par “conhecimento tácito-conhecimento explícito”, oriunda das teorias de Michael Polanyi7,
seria geradora da inovação, cabendo aos gestores das organizações impulsionar tais interações
a fim de enfrentar melhor os desafios do século XXI (NONAKA & TAKEUCHI, 2008).
O modelo menciona, por exemplo, que a capacidade de criação do conhecimento novo está
potencialmente presente em todas as pessoas em forma tácita (oculta), que não se pode
controlar o conhecimento novo e que somente a empresa capaz de criar conhecimento novo
pode ser uma empresa inovadora, habilitada a sobreviver no regime de altíssima concorrência
do século XXI. O modelo é uma espécie de apologia ao “aprender-fazendo” e ao
compartilhamento de experiências quando o que se busca aprender tem parcelas importantes
de conhecimento tácito.
Duas categorias fundamentais: conhecimento tácito e conhecimento explícito
Vamos considerar duas formas gerais de como o conhecimento é dividido nas pessoas e nas
empresas, segundo Nonaka e Takeuchi (1998).
Conhecimento explícito é o conhecimento facilmente comunicável, registrado em livros,
revistas, artigos e documentos de um modo geral. É fácil de articular, manipular e transmitir.
Esse foi o modo dominante de conhecimento na tradição ocidental. Um exemplo de
conhecimento explícito ocorre quando um analista pede explicações a um colega sobre como
operar um sistema ou quando consulta o manual de funcionamento desse sistema para
aprender a operá-lo.
Conhecimento tácito é o conhecimento que existe na cabeça das pessoas, obtido através da
experiência que cada uma adquiriu ao longo de sua vida. O conhecimento tácito é pessoal,
sensível ao contexto, por isso, difícil de formalizar e comunicar. É o conhecimento incorporado à
7 Michael Polanyi (1886-1964), filósofo e químico húngaro que desenvolveu teorias importantes sobre como se dá o
desenvolvimento da descoberta na ciência e que influenciou as pesquisas na área de inovação nas empresas.
64
experiência individual, envolvendo fatores intangíveis como crenças pessoais, intuições,
emoções e habilidades. O conhecimento tácito é considerado um importante fator de
competitividade entre as organizações. Ainda no exemplo do sistema, embora as explicações
sobre como operá-lo e o manual possam ser os mesmos, alguns técnicos mais experientes irão
operar o sistema de forma melhor do que outros – eles têm um conhecimento tácito acumulado.
O ponto importante do conhecimento tácito é que é difícil de expressar e independe da
tecnologia.
A interação entre as duas formas de conhecimento (tácito e explícito) compõe o modelo de
espiral do conhecimento: o conhecimento se origina na cabeça de um indivíduo, desenvolve-se,
dissemina-se, atingindo e podendo modificar toda a empresa. Várias conversões de
conhecimento tácito-explícito são previstas em um processo contínuo. Se você pensar na forma
como hoje em dia as informações e conhecimento se tornaram facilitadas pelas novas
tecnologias, entenderá melhor o desafio que é lidar com o conhecimento tácito.
Para as empresas, a valorização do conhecimento tácito é a chave para tornar a organização
inovadora, porque volta-se mais para o “conhecimento” do que para a “informação”. Uma ideia
inovadora nasce do conhecimento individual e se amplifica, atingindo grupos maiores, setores e
toda a organização.
Durante os processos de conversão de conhecimento tácito em conhecimento explícito ocorre
toda a cadeia de transformações desde o “insight criativo” de um indivíduo que cria um novo
conceito até a etapa final de um ciclo que pode se converter em uma inovação que chegou aos
mercados. Novos ciclos aprofundam o processo e geram novas inovações em escala não
controlável – não se pode prever totalmente o alcance das inovações.
Saiba mais
Leia a interessante abordagem para os estudos desta unidade no artigo:
O que entendemos exatamente por Conhecimento Tácito e Conhecimento Explícito
http://design.org.br/artigos_cientificos/o_20que_20entendemos_20por_20conhecimento_20t_c3_
a1cito_20e_20expl_c3_adcito.pdf
65
UNIDADE 3: MODELO ESPIRAL DE CRIAÇÃO DE CONHECIMENTO
As conversões de conhecimento explícito-tácito visam criar conhecimento novo, que é
combustível da geração da inovação. Classificam-se nas seguintes etapas, apresentadas em
espiral, nessa ordem, segundo o modelo de Nonaka & Takeuchi (2008):
S - Socialização: conversão de conhecimento tácito para tácito
É um processo de compartilhamento de experiências e, a partir daí, de criação do conhecimento
tácito, na forma de modelos mentais e habilidades técnicas compartilhadas. Um indivíduo pode
desenvolver conhecimento tácito diretamente de outros indivíduos, sem usar a linguagem. Os
aprendizes trabalham com seus mestres e aprendem sua arte sem depender da fala, mas por
meio da observação, imitação e prática. Portanto, a Socialização está associada a aprender pelo
exemplo e a aprender fazendo. Opera em um campo específico de interação, por exemplo, no
diálogo com o cliente, pela observação do cliente ou pela experiência compartilhada com o
cliente.
E – Externalização: conversão de conhecimento tácito para explícito
É um processo de articulação do conhecimento tácito em termos explícitos, que pode ser
definida também como um processo de criação do conceito novo. Pode ser considerada o
processo de conversão mais importante no modelo, porque está diretamente associado ao
aparecimento de um novo conceito, germe da inovação. Nesta fase emergem as hipóteses que
irão motivar diálogos e uma espécie de reflexão coletiva que ocorrerá na próxima etapa.
C - Combinação: conversão de conhecimento explícito para conhecimento explícito
Corresponde a um processo de sistematização de conceitos, face a um sistema de
conhecimento preexistente. Esse modo de conversão do conhecimento envolve a combinação
de conjuntos diferentes de conhecimento explícito. Os indivíduos trocam e combinam conceitos
por meio de documentos, reuniões, conversas diretas ou redes de comunicação. Há
reconfiguração das informações existentes por meio da classificação, do acréscimo, da
categorização do conhecimento explícito (como realizado em bancos de dados de
computadores). Na indústria, é constante a evolução e o aperfeiçoamento de produtos que
ocorrem por meio de discussões internas entre os departamentos. Esta é a etapa que mais
ênfase coloca na tecnologia.
I – Internalização: conversão de conhecimento explícito para tácito
66
Internalização é o processo de incorporação do conhecimento explícito, que se converte em
conhecimento tácito na forma de mudança de base de conhecimentos – uma espécie de
aprendizagem coletiva. Quando a maioria dos membros da organização compartilha um novo
modelo mental, o conhecimento tácito passa a fazer parte da cultura da organização. Exemplos
são o know-how técnico acumulado e a aplicação das melhores práticas para execução de
processos ou, ainda, uma inovação incorporada à cultura da empresa.
Figura 3.6 Modelo de criação de conhecimento. Adaptado de Nonaka e Takeuchi (2008)
O processo parte da Socialização e evolui para os processos de Externalização, Combinação e
Internalização, de forma contínua, cíclica e autoinclusiva. A criação do conhecimento
organizacional é uma interação dinâmica entre conhecimentos tácito e explícito e a expansão
desse ciclo ocorre na medida em que seu alcance é cada vez maior: do indivíduo para o grupo,
para a organização, para outras organizações, para um setor inteiro de atividades etc.
Dois modelos distintos de arranjos de inovação e gestão do conhecimento
Agora que já temos uma noção mais avançada sobre inovação e conhecimentos tácito e
explícito, podemos pensar na forma como o conhecimento se difunde e se modifica quando
opera em rede entre as empresas.
[A31] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
67
Um exemplo: a Toyota está sediada em uma cidade de mesmo nome no Japão – isso já dá uma
ideia da força do sentimento de identidade, cultura e valores da empresa com seus
fornecedores.
Vista da cidade de Toyota no Japão:
possui cerca de 500 mil habitantes
Vista de uma das plantas principais da fábrica Toyota, em Toyota no Japão.
Fonte: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Toyota_City_sky
line.jpg>. Acesso em: 14/02/2014.
Fonte: <http://www.toyota-
global.com/company/history_of_toyota/75years/data/automotive
_business/production/production/japan/general_status/toyota_mot
or_east_japan.html>. Acesso em: 14/02/2014. Figura 3.7 Imagens da Toyota e suas instalações no Japão.
A empresa compartilha com seus fornecedores não somente o desenvolvimento de novos
modelos de veículos, mas, sobretudo, os processos de fabricação e distribuição de produtos
durante o ciclo de vida do produto. A criação do conhecimento interorganizacional ocorre na
Toyota baseado em empresas fornecedoras, por meio da troca de pessoal em todos os níveis,
da história compartilhada, dos vínculos de propriedade e dos esforços para difundir cultura,
valores e conhecimento por associações formais de grupos de colaboradores.
O conhecimento tácito flui, por exemplo, na troca de pessoal entre as empresas afiliadas:
executivos da matriz atuam periodicamente nas empresas afiliadas e vice-versa. Assim, a
criação do conhecimento ocorre entre conjuntos relativamente fixos de empresas, vinculados
intimamente por meio de múltiplos laços.
Outro dado importante é que diversos fornecedores da “Toyota matriz” pertencem em parte ao
próprio grupo Toyota, que tem participação acionária em seus fornecedores principais. Em
resumo, a Toyota procura criar um sentimento forte de “identidade Toyota” entre seus
fornecedores e garantir compromisso constante entre eles. Para Nonaka e Takeuchi (2008), a
criação do conhecimento organizacional mais visível na Toyota não está exatamente na criação
de novos produtos, mas no aprimoramento de processos para redução de custos e elevação da
qualidade, produzindo inovações incrementais em um produto preexistente. A inovação, neste
68
caso, está identificada com um modelo de inovação incremental, conforme definimos no módulo
2.
Conhecimento interorganizacional ou inovação em rede: caso das empresas do Vale do
Silício
Neste caso, a inovação opera em uma região. Os vínculos entre as empresas do Vale do Silício,
nos Estados Unidos, são mais fluidos e variados, assim como a relação com as universidades e
os institutos de pesquisa. Este modelo de inovação está identificado com o modelo de inovação
aberta e radical.
Fonte: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Firmen_im_Silicon_Valley.jpg>. Acesso em: 14/02/2014.
Figura 3.8 Empresas do Vale do Silício, EUA.
O Vale do Silício usa diversas redes compartilhadas para acessar e combinar conhecimento, o
que também é uma tendência na indústria emergente da biotecnologia e em outras áreas novas
da indústria mundial. Nota-se, nesta configuração, um conjunto amplo de redes e uma cultura
compartilhada: projetos que fracassaram em uma empresa podem obter sucesso em outras;
soluções criadas por uma empresa procuram problemas e oportunidades que outras empresas
encontraram. A cultura não é propriamente das empresas, mas da própria região, baseando-se
na educação, experiências de trabalho, sucessos e insucessos... Isso ultrapassa completamente
a fronteira entre as empresas e permite fluir o conhecimento organizacional. É um sistema
aberto de inovação.
Comparação entre os modelos da Toyota e das empresas do Vale do Silício
O modelo da Toyota é eficiente para captar as inovações de processos criados nas empresas
afiliadas e difundi-las para as demais. Este modelo está mais identificado com a noção de
inovações incrementais, isto é, aperfeiçoamentos de produtos e processos existentes. Já o
[A32] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
69
modelo do Vale do Silício é mais efetivo na recombinação do conhecimento a partir de uma
ampla variedade de fontes, com vistas à criação de conhecimento completamente novo ou à
busca de novos usos para inovações preexistentes.
Na espiral de criação de conhecimento organizacional, o modelo da Toyota está relacionado à
transformação do conhecimento tácito em conhecimento explícito, enquanto o modelo do Vale
do Silício está mais concentrado na recombinação de conhecimentos explícitos. Pode ser difícil
passar de um modelo para outro, o que constitui um grande desafio, por exemplo, para a
inserção das empresas japonesas no mercado altamente competitivo de software do século XXI.
Os modelos de negócios e inovação da Toyota e das empresas do Vale do Silício são
exemplares de cada abordagem e altamente inspiradores. Grandes empresas desenvolvem
também suas próprias políticas de gestão do conhecimento e inovação em rede.
Saber Mais
VÍDEO
Vídeo que compara didaticamente a eficiência do modelo Toyota de Produção com o modelo
tradicional. Apresenta também como surgiu a empresa Toyota, a partir do aperfeiçoamento de
máquinas de tecelagem:
http://www.youtube.com/watch?v=SH8IItbvH_0
70
UNIDADE 4: FATORES E FERRAMENTAS RELACIONADAS À PROMOÇÃO DO
CONHECIMENTO E INOVAÇÃO
O modelo de criação do conhecimento, conforme proposto por Nonaka e Takeuchi (2008),
alcançou grande repercussão. Outros trabalhos se seguiram, procurando detalhar como
efetivamente aplicar o modelo.
Chegou-se a uma série de aspectos estruturais que podem ser correlacionados com a inovação,
conforme apresentamos a seguir. Veremos também os fatores conectados com a
implementação do modelo, usando os referencias de Terra (2012). Pense o tempo todo que
estamos estudando estratégias para conduzir a gestão da inovação tecnológica dentro das
empresas.
Fator: Intenção
Está relacionado mais diretamente à ideia de que, para haver inovação, há necessidade de uma
busca premeditada por inovar (DRUCKER, 2003). O fator Intenção está ligado a objetivos reais
e ao apoio necessário ao cumprimento desses objetivos – um apoio que deve vir de cima para
baixo, começando da alta administração. Se a inovação tecnológica não contar com esse apoio,
dificilmente irá prosperar. Uma forma de diagnosticar esse apoio, pode partir de respostas a
perguntas como:
_Existe orçamento específico para inovação?
_Como é a alocação de recursos?
Fator: Incutir uma visão de mudança & Mobilizar ativistas
O fator “Incutir & Mobilizar” é um dos passos iniciais quando se busca a inovação e está
relacionado à sensibilização para a necessidade de inovar; é a “visão” da mudança que moverá
“ativistas” a abrirem caminho e moverem os demais colegas. Incutir a visão de que esse cenário
pode mudar com o apoio das TICs passa pela ideia de que lidar com as novas tecnologias
impõe prática de pesquisa constante sobre os novos instrumentos e o alcance para as novas
possibilidades que eles condicionam. As seguintes perguntas estão relacionadas a uma visão de
mudança ou inovação que os ativistas da inovação deveriam se perguntar:
_Onde se encontram as grandes oportunidades de inovação no mercado de sua empresa?
_Os objetivos da inovação são claros e bem divulgados?
71
Fator: Autonomia
É peça-chave das iniciativas de inovação e está relacionado à liberdade e à percepção de que
ideias importantes emanam de colaboradores autônomos para então tornarem-se ideias
organizacionais, segundo o ciclo de criação do conhecimento, havendo um forte componente
motivacional nessa condição. Day (2013) sugere que autonomia esteja presente também na
adoção experimental de uma nova tecnologia. Para o autor, estabelecer uma unidade separada
para testes possibilita uma fronteira de proteção, pois o novo grupo passa a ser capaz de agir
diferentemente dentro de seus limites. O autor cita como exemplo o desenvolvimento do PC pela
IBM (sistema operacional IBM – PCDOS).
Fator: Flutuação & Caos Criativo
Duvidar de “verdades”, mergulhar na ambiguidade e procurar “ordem a partir do ruído” são
exemplos do que Nonaka e Takeuchi denominam “Flutuação”. Este fator está ligado ao
questionamento das premissas existentes em relação a uma situação com que se está
habituado. A pergunta: Por que sempre fazemos isso sempre dessa maneira? seria disparadora
da dúvida e da livre especulação, ferramentas para inovar. Note que a “Flutuação” somente
desencadeará e induzirá o “Caos criativo” se os indivíduos tiverem oportunidade de refletir sobre
sua prática; do contrário, haverá verdadeiro caos ou “caos destrutivo”.
Entendemos ser impossível também “inovar” sem estar “confuso”, daí a necessidade de
“Flutuação” (quebra de um certo status presente) seguida de “Caos” (tensão criativa e reflexão
para responder a esta quebra). Capodagli (2010) reitera que a inovação exige certo nível de
incerteza e “confusão”. Terra (2012) sugere os seguintes questionamentos capazes de auxiliar o
diagnóstico do potencial criativo para inovação:
- Há estímulo à geração de ideias?
- Há tolerância à diversidade?
Fator: Redundância & Variedade
O fator “Redundância” está associado à existência de informação “de sobra” que possa ir além
das necessidades operacionais imediatas do colaborador. Incentivar a Redundância passa por
combater a cultura presente em discursos como “Não preciso me preocupar com isso porque
esse assunto não é comigo”.
Uma técnica para incentivar a “Variedade” nas organizações é a rotação de colaboradores em
diferentes postos de trabalho, o que diversifica seus pontos de vista e requer o desenvolvimento
de habilidades diferentes. O fator “Variedade” está relacionado também ao acesso mais rápido e
72
direto a uma ampla variedade de informações, o que pode ser obtido mediante informações em
rede acessíveis a todos e a qualquer momento. “Redundância & Variedade” completam-se e
favorecem a compreensão da instituição como um todo. Desenvolver diferentes perspectivas
estimularia o compartilhamento do conhecimento tácito e da criatividade, favorecendo a própria
inovação. Capodagli (2010) reforça este ponto de vista afirmando que o sucesso de uma
inovação é diretamente proporcional à funcionalidade “cruzada” de uma equipe. Para Day
(2013), a análise das tecnologias deve estimular opiniões divergentes sobre soluções
tecnológicas, oportunidades de mercado e estrategias de participação, pois é a variedade de
opiniões que levará a soluções viáveis. Relacionado a este fator, Terra (2012), propõe:
- As pessoas são estimuladas a manterem contato com pessoas de diferentes origens?
- Pessoas de diferentes áreas de negócios e de outras áreas da empresa são convidadas
a apresentarem projetos ?
Fator: Gerir conversações
Está relacionado a colaboração e cooperação, criação de redes para facilitar o intercâmbio de
experiências e reflexão crítica em torno delas. A geração de novos conceitos funcionará melhor
se houver a preocupação sistemática com a comunicação. A capacidade de ventilar novas
ideias varia entre técnicos, gestores, e, eventualmente, pode incluir colaboradores externos.
Terra (2012) propõe os questionamentos que consideramos aderentes a este fator:
- A empresa tem clara a noção de quais são os conhecimentos críticos?
- Os temas colaboração, aprendizado em rede e compartilhamento do conhecimento são
importantes para a organização?
- Quem compartilha conhecimento é reconhecido?
Fator: Disseminar mudanças trazidas com a criação de um conhecimento novo
Nas organizações, este fator está relacionado à necessidade de se difundir o conhecimento no
sentido mais comum do termo: espalhar as novas práticas resultantes da inovação pela cadeia
produtiva em diferentes setores. Está relacionado também ao fato de que o conhecimento local
deveria ser disseminado às demais unidades de forma rápida e eficiente.
Assim, o fator “Disseminar mudanças” está relacionado à divulgação de boas experiências que
podem aflorar na forma de seminários, painéis ou relatórios a serem apresentados e discutidos
após a experiência isolada que, assim, passam a fazer parte do arsenal de todos os envolvidos.
Terra (2012) sugere os questionamentos:
- Existem grupos de discussão e aprendizagem que incluam participantes de pessoas de
diferentes áreas da empresa?
73
- A empresa utiliza mecanismos para receber ideias e projetos de fora?
- Existem foruns regulares de co-criação de soluções com os clientes?
- Há concursos de ideias?
Fator: Importância do contexto adequado para a inovação
O desenvolvimento de inovações depende de um ambiente adequado que valorize a troca de
ideias, a liberdade de pensar sem restrições e a superação do medo de errar. É o contexto que
condiciona o clima favorável para as inovações. Um contexto positivo para as interações
humanas e a criação do conhecimento, em que as pessoas possam divergir para promover
verdadeiro diálogo – os autores denominam tal contexto de ba. Um ba de criação do
conhecimento poderá ser tanto físico (como um escritório ou outros locais de trabalho) quanto
mental (experiências compartilhadas, ideias ou ideais) ou virtual (uso de recursos tecnológicos
como grupo de discussão na internet). Pode ser também uma combinação deles. O ba não
aparece por imposição nem é produzido pelo modelo da gerência tradicional; ao contrário, é
ajustado por atores dentro de um ambiente energizador que valorize o respeito às diferentes
opiniões. Ba é um ambiente ao mesmo tempo subjetivo e relacional, envolvendo os atores de
forma a minimizar conflitos comuns nos relacionamentos humanos, sobretudo quando se
discutem ideias novas que perturbam um ambiente preestabelecido (Nonaka & Takeuchi, 2008).
Terra (2012) sugere questionar:
- Há discussão de ideias e conceitos aparentemente impossíveis?
- A cultura organizacional estimula o empreendedorismo? O pensamento sistêmico?
Apresentamos a seguir um conjunto de ferramentas favorecedoras da gestão do conhecimento e
inovação.
Ferramenta: Banco de melhores práticas
O banco de melhores práticas é uma base de dados de fácil consulta e atualização, em que as
melhores práticas do dia a dia da organização estão armazenadas. É o compartilhamento do
conhecimento explícito que estudamos anteriormente.
Práticas testadas podem ser reproduzidas em outras áreas da organização, com menor esforço,
evitando a “reinvenção da roda”. As melhores práticas podem ser atualizadas por um grupo de
74
colaboradores ou pelo gestor do banco e podem estar relacionadas a uma ou mais atividades
específicas.
Bancos de melhores práticas são relativamente fáceis de implementar, mas não são
encontrados em muitas empresas. Isso porque exigem um investimento de tempo para catalogar
e sistematizar informações. Exigem também organização e, se não forem utilizados
regularmente, não ajudam em nada. Além disso, precisam ser atualizados regularmente para
estar “em fase” com as demandas internas da organização. Alguns consideram que por esses
bancos podem “vazar segredos” que enfraquecem alguns profissionais. Com isso, o que seria
uma simples e excelente ferramenta de gestão do conhecimento muitas vezes é deixado para
trás.
Ferramenta: Registro de lições aprendidas
É uma base de dados com interface amigável, derivada de projetos que a empresa desenvolveu.
As experiência vivenciadas em um projeto são muito ricas e podem interessar a outras áreas da
empresa. O registro de lições aprendidas tem o objetivo de mostrar os pontos positivos, além
dos os possíveis riscos a serem considerados se projetos semelhantes ocorrerem no futuro. O
objetivo aqui não é avaliar o andamento do projeto, mas obter o relato espontâneo das
experiências coletivas, por meio da difusão das informações para todos.
Podemos também proceder aos seguintes questionamentos que são geradores de reflexões
sobre lições aprendidas:
- O que deu certo?
- O que deu errado?
- O que faríamos novamente da mesma forma?
- O que faríamos de forma diferente?
- O que não sabíamos antes e agora sabemos?
Ferramenta: Comunidade de Prática
Designa um grupo de pessoas que se unem em torno de um mesmo tópico ou interesse. Essas
pessoas trabalham juntas para achar meios de melhorar o que fazem, na resolução de um
problema na comunidade ou no aprendizado diário, por meio da interação regular.
Pense em um grupo de analistas, gerentes e programadores que se reúne para discutir
problemas técnicos relacionados ao trabalho. As pessoas podem ter diferentes niveis
hierárquicos, exercerem até profissões diferentes, mas têm um propósito em comum. Elas
podem se reunir presencialmente para trocar ideias, receber treinamento, discutir soluções e
agilizar o processo de decisão ou ação. Com a internet, é possível reunir as pessoas que
estejam até em países diferentes, via comunidades virtuais ou fóruns.
75
Para montagem de comunidades de prática virtuais, você pode utilizar blogs, fórum, redes
sociais e videoconferência, entre outros recursos.
Ferramenta: Story telling
O objetivo aqui é buscar nas histórias a motivação para avançar. É uma técnica que se baseia
no contar histórias, forma ancestral de aprendizado, anterior à escrita.
Uma historia bem contada pode transformar relatos técnicos em uma atrante maneira de
aprender.
Deve utilizar uma estrutura de narração tradicional, com argumento, definição de tempo, lugar,
personagens, desenvolvimento e conclusão. O objetivo é engajar o colaborador para o lado
sentimental e histórico das atividades realizadas. A técnica ajuda a preservar a história da
instituição, cria uma cultura organizacional e reforça os valores, a geração de ideias e a
disseminação do conhecimento.
Saiba Mais
“De onde vêm as boas ideias” – De Steven Johnson
Neste livro, o autor reúne 200 casos reais de companhias e pessoas que transformaram grandes
problemas nas melhores chances de suas vidas.
http://books.google.com.br/books?id=zQwi_U5qMp0C&lpg=PA1&dq=de%20onde%20vem%20as%20ideias&hl=pt-BR&pg=PA1#v=onepage&q=de%20onde%20vem%20as%20ideias&f=false
[A33] Comentário: Não é story telling?
76
Resumo
Neste módulo, demos passos importantes para compreender a gestão da inovação tecnológica.
Procuramos descrever conceitos diretamente ligados à área de gestão e com inevitável
repercussão na área de gestão de inovação tecnológica, como missão, valores, processos e
qualidade. Vimos duas ferramentas voltadas mais diretamente para qualidade e estratégia:
diagramas PDCA, que remetem à ideia de melhoria contínua, e diagrama SWOT, que facilita a
análise de cenários que possam embasar decisões ligadas à inovação tecnológica.
Conhecemos o modelo de criação do conhecimento organizacional, que é o coração de um
conjunto de teorias aplicadas a uma área denominada gestão do conhecimento. No modelo, a
criação do conhecimento se dá pelas interações entre dois tipos de conhecimento:
conhecimento tácito (baseado nas experiências e valores internos dos indivíduos) e
conhecimento explícito (forma de conhecimento que pode ser facilmente comunicada e
representada).
A essência do modelo é que a criação do conhecimento se dá por meio de quatro etapas de
conversão tácito-explícito (socialização, externalização, combinação, internalização). A etapa
mais importante e que nos remete mais diretamente à inovação é a etapa de externalização, que
opera por meio de analogias e metáforas.
Por fim, vimos um conjunto de fatores envolvidos com a implementação do modelo: intenção,
visão, autonomia, flutuação & caos, redundância & variedade, gerir conversações, disseminar
mudanças e contexto favorável à inovação (ambiente Ba).
77
MÓDULO 4:
GESTÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS NA ORGANIZAÇÃO
78
Introdução
Neste último módulo, introduzimos o conceito de inteligência competitiva, um dos motores da
inovação tecnológica nas empresas. Mostramos situações que demandam soluções
tecnológicas inovadoras e que se apresentam como oportunidades de empreendimento para os
gestores da inovação tecnológica.
Damos especial atenção à área de análise de redes e descrevemos resumidamente uma
metodologia de análise de redes para ajuste de uma organização à sua vocação inovadora ou
conservadora. Este modelo é importante mapeador de potenciais de inovação em qualquer
organização.
Reforçamos a ideia de que a gestão da inovação tecnológica se expressa por meio de projetos
e, por esse motivo, desenvolvemos um pouco uma noção básica de projetos.
Em contrapartida, como o excesso de planejamento e controle também pode inibir a inovação,
apresentamos uma forma não estruturada de pensar o desenvolvimento de inovação
denominada design thinking, curiosamente semelhante a um conhecido modelo da área de
desenvolvimento de sistemas. Vemos uma sugestão de roteiro para escolha de uma nova
solução tecnológica.
A cultura da organização deve superar obstáculos e favorecer a inovação, assim apresentamos
breves relatos de como as empresas Pixar e Apple conseguem ter a inovação na essência de
tudo que produzem.
Objetivos
Ao completar este módulo de estudo, você estará apto a:
Adquirir a noção de inteligência competitiva.
Criar um sentido geral de que lidar com a gestão da inovação tecnológica promove a
inteligência competitiva das empresas e vice-versa.
Compreender alguns pressupostos de uma metodologia de gerenciamento de projetos.
Conhecer um modelo de análise de redes sociais, tema promissor para novas aplicações
em tecnologia nos negócios.
Lidar melhor com a liderança e a cultura voltadas para a inovação tecnológica.
79
Estrutura do Módulo
Para melhor compreensão das questões que envolvem o tema da gestão estratégica da
inovação, este módulo está dividido em:
Unidade 1: Inovação e inteligência competitiva – análise de redes.
Unidade 2: Design de projetos de inovação.
Unidade 3: Perspectivas para gestão da inovação tecnológica nas organizações.
80
UNIDADE 1 - Inovação e inteligência competitiva – análise de redes
Um dos eixos principais que conectam o modelo de gestão do conhecimento e demais assuntos
tratados nos módulos anteriores com o tema da gestão da inovação tecnológica é a ideia de
inteligência competitiva (IC), uma ferramenta estratégica que permite aos tomadores de
decisão aumentarem a competitividade de suas organizações, mediante identificação das suas
forças chave e antecipação das direções do mercado para o futuro.
Figura 4.1 Dados, informação, conhecimento e, agora, ação.
Para que isso seja possível, são necessárias atividades como o acompanhamento das intenções
dos concorrentes e ocorrências imprevistas no mercado; a atenção constante à internet e outros
meios de comunicação em massa; e o contato com clientes, fornecedores, parceiros,
especialistas e outras fontes confiáveis. A inteligência competitiva passou a ser uma das
ferramentas para se enfrentar a concorrência entre as empresas.
Para compreender melhor, vejamos o exemplo da área de marketing. Imagine que um
profissional se perguntasse: Devemos investir 5% do faturamento em marketing – mas investir
onde? Ora, a internet se tornou espaço para rastrear as preferências dos usuários, que podem
ser pessoas ou outras empresas, o que configura uma espécie de nova gama de possibilidades
para ferramentas de inovação tecnológica. Para responder a pergunta do profissional de
marketing, pense nas ferramentas tecnológicas seguintes, além das mais óbvias, como bancos
de dados e CRM:
Pesquisa de mercado com base em monitoramento de sites: ao contrário das
pesquisas de mercado tradicionais baseadas em questionários, surgem novas formas de
[A34] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
81
pesquisa de mercado pela observação do comportamento do usuário; são mais diretas,
rápidas e baratas.
Análise de dados da internet: recentemente, surgiram empresas especializadas em
extrair dados da internet. Essas empresas automatizaram muitas das tarefas de
manipulação de dados que precisam ser executadas para criar a análise. Um exemplo
desse tipo de ferramenta é o Google Analytics, que faz rastreamento, por exemplo, de
um site e fornece diversos relatórios.
Análise de Redes Sociais: um número cada vez maior de interações está acontecendo
nas redes sociais. Softwares especializados monitoram não só o volume de conversas,
mas também o que as pessoas falam de uma marca. Existem muitas metodologias
sendo criadas para extrair dados de redes sociais e também de redes sociais presentes
no interior das organizações. Uma prática que começa a ganhar força é a “análise de
redes organizacionais”, também um dos recursos da inteligência competitiva e da gestão
do conhecimento. Para Terra (2012), a análise de redes sociais corresponde a um novo
conceito de inovação: “Inovação 2.0”.
Análise de Redes: horizonte para inovação tecnológica
Para entender um pouco mais os limites e possibilidades desse conceito que convida à inovação
tecnológica, vamos começar “do início”. Existem redes de relacionamento no interior de qualquer
empresa – algumas redes são muito claras, outras são ocultas. Veja, abaixo, um organograma
tradicional de uma empresa e o que ele pode significar para o fluxo de informações:
Figura 4.2 Organograma tradicional em uma organização (http://www.sedes.org.br/Departamentos/Psicodrama/sobre_o_dps.htm)
[A35] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
82
O organograma é a estrutura formal mais tradicional para representar hierarquia e poder em
uma organização. Embora não seja exatamente uma rede, determina como ocorrem muitos
fluxos de informação na companhia.
Por exemplo, alguém da área de comunicação talvez não possa delegar atividades ou ter
atividades delegadas por alguém da área científica, sem passar pela coordenação geral. Isso
necessitaria ser autorizado por alguém acima na hierarquia. Alguém da área científica, por sua
vez, não poderia trocar informações técnicas com alguém da área de relacionamento. O
organograma demonstra estabilidade mas também rigidez.
Na realidade, talvez ele não traduza os fluxos reais de informação na empresa: pode ser que
alguém da área de relacionamento já esteja trocando informações técnicas com alguém da área
científica e que a área científica já tenha delegado tarefas para alguém da área de comunicação,
tudo sem passar pela coordenação geral. Isso não só é possível como é provável na maioria das
organizações. Por esse motivo, o organograma rígido não “dá conta” dos fluxos reais de
informação e inibe a criação do conhecimento organizacional.
A visão dos colaboradores em rede convida a mudanças dessa percepção. Permite que as
organizações identifiquem oportunidades e desafios, coordenando respostas apropriadas em
cada caso e estimulando posturas inovadoras. Dependendo do projeto que a organização tem
pela frente, alguns subordinados podem alçar à posição de superiores em relação a seus
colegas, ou ter suas competências específicas melhor aproveitadas, pelo menos enquanto durar
o projeto.
Assim, começamos a enxergar melhor as redes nas empresas. Por meio delas podemos gerar
oportunidades para canalizar esforços das pessoas no sentido de elevar eficácia e eficiência na
realização de projetos.
Existem basicamente três tipos mais comuns de redes presentes em nossas vidas – eles são
independentes dos computadores, mas, claro, o conceito se aplica a eles também.
Rede Centralizada Rede Descentralizada Rede Distribuída
[A36] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
83
Figura 4.3 Diferentes configurações de rede: centralizada, descentralizada e distribuída.
Imagine que cada ponto da rede seja uma pessoa e que as ligações entre os pontos sejam
ligações entre as pessoas. Pessoas mais “ligadas” a pessoas ou grupos de pessoas têm mais
facilidades de interação.
O padrão de rede centralizada representa uma grande parcela das organizações que
conhecemos: igrejas, salas de aula, relações patrão-empregados. Se João tem que falar com
Luiza na rede centralizada, precisa antes falar com o chefe, que é o centro da rede, para só
então chegar a Luiza.
Já o padrão de rede descentralizada é diferente. Não significa que não existam centros – ao
contrário, existem vários centros na mesma rede. É o que acontece em escolas e empresas, por
exemplo: cada sala de aula é uma pequena rede, mas a escola como um todo é uma rede
descentralizada; cada departamento nas empresas possui sua própria rede centralizada, na
organização como um todo há vários centros.
O padrão de rede distribuído é relativamente novo na vida das pessoas e das relações entre
elas e é o que mais nos interessa. Agora, para João falar com Luiza, ele não precisa passar pelo
superior, pode contatar diretamente Luiza. Ao mesmo tempo, João pode participar de várias
redes, assim como a Luiza e o chefe de ambos. A tecnologia promoveu a rede distribuída.
Observe que com os mesmos nós da rede podemos ter redes completamente diferentes.
Na ilustração a seguir, figura 4, vemos que nos três padrões de rede temos os mesmos nós !
Figura 4.4 Observe que, com os mesmos nós, podemos ter redes completamente diferentes. Quando
apresentados apenas os nós sem os relacionamentos, as configurações são iguais.
É importante notar que, com as mesmas pessoas, podemos ter três organizações
completamente diferentes. Pense nisso em termos de potencial de inovação!
[A37] Comentário: Que quer dizer mais ligadas? Ligadas a um maior número de outras pessoas?
[A38] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
84
Se você “se enxergar” e “for enxergado” em uma rede distribuída, muita coisa muda. Uma
mudança importante é que, em alguns casos, quanto mais conexões você tiver em rede, mais
importante você será para a empresa ou para futuros empregadores. Se você for um instalador
de sistemas e tiver contato com muitos clientes internos e externos, tem um grande poder nas
mãos.
Figura 4.5 Rede de colaborações entre funcionários de uma empresa8
Na figura, os pontos vermelhos representam supervisores de venda, os pontos azuis são
vendedores, os pontos roxos são auditores, os pontos brancos e amarelos representam fiscais
de qualidade e os pontos amarelos, gestores do departamento. Note como alguns vendedores
são menos independentes de supervisão do que outros. A rede ilustra, por outro lado, o que
pode acontecer com a saída de supervisores de venda: quantos vendedores ficarão sem
supervisão.
Porém, dentro de uma empresa, um colaborador que está conectado a muitos outros
colaboradores pode ter uma produtividade menor justamente por ter excesso de conexões. Um
fato importante sobre a percepção de redes nas empresas é que a rede pode ser reconfigurada,
dependendo do projeto ou da rotina de trabalho daquele grupo na empresa.
Vamos conhecer aqui a solução de análise de redes encontrada em Cross e Thomas (2009).
Como dissemos, a análise de redes organizacionais pode ajudar a mapear o fluxo de
informações e de colaborações entre departamentos de uma empresa. Isso significa,
8 Consultar também Gonçalves (2014).
85
obviamente, que perceber tarefas em rede pode ser uma grande ferramenta para a criação do
conhecimento organizacional e abrir caminho para a inovação.
O processo de análise de redes organizacionais segundo esses autores baseia-se na tentativa
de responder a seguinte pergunta:
_A rede existente hoje na empresa está alinhada com os objetivos da empresa?
A resposta depende de um processo de análise de redes que dividimos em três passos:
1o. passo, inventário cultural: percepção dos valores e das atitudes dos funcionários em
diversas dimensões de como se enxergam em rede.
2o. passo, análise de rede organizacional: observar a projeção desses valores e dessas
atitudes em rede.
3o. passo, reconfigurar a rede com base nos objetivos da empresa.
Parece complicado, mas não é. Como dissemos antes, as pessoas já estão em rede e têm
valores expressos na rede atual em que participam. Se esses valores projetados em rede não
estão de acordo com a empresa, se eles não estão alinhados, a rede tem que ser reconfigurada
para que passem a estar. Note que o organograma visto no início não permitiria mudar a
configuração tão rapidamente e essa é a novidade.
Para completar, existem dois tipos gerais de rede: rede de resposta rotineira e rede de
resposta personalizada. Vamos a alguns exemplos simples para ilustrá-los. Imagine uma
empresa de seguros ou uma floricultura. Normalmente, uma empresa de seguros não precisa se
preocupar com muitas situações inusitadas, pois trabalha com riscos e previsões de riscos. Não
existem projetos muito diferentes, mas sim uma rotina diária de cálculos, análises, cobrança e
faturamento.
Uma central de atendimento ao cliente é outro exemplo de empresa desse tipo. Essa empresa
não precisa gerar conhecimento novo. Dizemos que esse tipo de empresa necessita de uma
rede de resposta rotineira, ou seja, a rede dela pode ser estável e é melhor que seja, pois
funcionários criativos ou inovadores não terão muito o que fazer. Se, após o processo de análise
de rede organizacional, for constatada uma rede de resposta rotineira nesse tipo de empresa,
tudo certo. A rede não precisa ser reconfigurada. A rede de resposta rotineira não enxerga as
tarefas operacionais em rede e não depende da geração de conhecimento novo.
Vamos pensar agora em outro tipo de organização. Uma empresa de consultoria em tecnologia
é o tipo de empresa que não sabe muito bem que projeto terá que enfrentar. O mesmo cabe a
bancos de investimentos ou uma empresa que desenvolva novos produtos: cada projeto pode
exigir habilidades específicas de certos funcionários e a necessidade de que certos funcionários
trabalhem com outros especificamente para uma dada tarefa. Aqui, parece claro que a rigidez do
organograma é restritiva. Chamamos esse tipo de rede de rede de resposta personalizada. A
86
rede é uma resposta específica para cada projeto, e a análise de rede ajudará a reconfigurar a
rede de colaboradores segundo as necessidades do projeto. Se a análise de redes detectar que
a rede atual da empresa é rígida, a empresa não está pronta para encarar projetos novos. O
próximo passo é mudar isso, reconfigurando a rede.
Podemos ir ainda mais longe. Uma empresa que necessite criar conhecimento novo ganharia
eficácia e eficiência se adaptasse a rede organizacional interna ao tipo de projeto que precisa
enfrentar. Talentos, comunicação, energia e esforços seriam melhor aproveitados em diversas
redes simultâneas, mas que necessitam ser mapeadas.
O assunto se aprofunda porque não há limites para algo tão novo e desafiador9. Como
dissemos antes, são conceitos novos, tema de pesquisas acadêmicas e até nas empresas, isto
é, puro combustível para a inovação.
Tudo o que vimos até aqui está relacionado a um novo contexto em que as empresas extraem
dados continuamente para formular decisões. São formas novas de lidar com o conhecimento
organizacional e de perceber a inovação tecnológica.
Saiba Mais
LIVRO: Redes Sociais: como empresários e executivos de vanguarda as utilizam para obtenção de
resultados. De Robert Cross e Rober Thomas.
http://books.google.com.br/books?hl=pt-
BR&lr=&id=USplDkfNjmcC&oi=fnd&pg=PR7&dq=robert+cross+an%C3%A1lise+de+redes+organizacionais
&ots=-AKNk01Ry_&sig=Jhp-
rdIkbEYqnGUwO5HVkmenlpY#v=onepage&q=robert%20cross%20an%C3%A1lise%20de%20redes%20or
ganizacionais&f=false
9 Lembre-se da ideia de big data que abordamos no módulo 1.
87
UNIDADE 2: DESIGN DE PROJETOS DE INOVAÇÃO
Projeto, de uma forma geral, “é um conjunto de ações, executadas de forma coordenada por
uma organização transitória, ao qual são alocados os insumos necessários para, em um dado
prazo, alcançar um objetivo determinado” (VALERIANO, 2005, p.9 ). Apesar de a definição
parecer clara, confunde-se frequentemente um projeto com operações continuadas.
Substituir um sistema ERP por outro sistema é um projeto, mas manter o novo sistema
funcionando adequadamente e atendendo às expectativas é uma operação continuada, não um
“projeto” cuja mobilização é temporária para desenvolver algo único. Em outras palavras,
enquanto um projeto tem a finalidade de “criar”, uma operação continuada tem a finalidade de
“reproduzir ou manter”; o primeiro é transitório e inovador, o segundo é permanente e
conservador. Aproveitando um dos conceitos que vimos nos módulos 2 e 3, um projeto visa a
eficácia, enquanto operações continuadas visam a eficiência.
Uma das vantagens da adoção de gerenciamento de projetos é a clareza e o controle sobre o
conjunto de processos envolvidos. Conduzir projetos de forma disciplinada permite que se reaja
melhor a riscos e a ameaças de qualquer natureza, que se avalie até mesmo se o melhor
caminho, no limite, não seria simplesmente abortar o projeto durante a execução, uma vez
detectado que, em função das mudanças não previstas, os objetivos inicialmente traçados não
poderão mais ser atingidos.
Por meio do gerenciamento de projetos, é mais simples responder questões como: Quais os
riscos de o projeto falhar? Como reagir a mudanças? O que podemos fazer para ir melhor da
próxima vez? Como medir e comparar uma metodologia utilizada em um projeto com outra
metodologia?
As ideias de regularidade, estabilidade, rastreabilidade e previsibilidade, tão importantes para o
sucesso dos projetos nas empresas, seguramente cabem em projetos na esfera da inovação.
Conforme Nonaka e Takeuchi (2008) defendem, a criação do conhecimento envolve processos
difíceis de prever e controlar, tornando a gestão da inovação em qualquer área um esforço
necessário e complexo, embora haja pouco controle sobre o conhecimento após a sua criação.
Carbonell (2002) lembra a necessidade de projetos de inovação terem objetivos claros, de se
estar atento às restrições do aparato de que se dispõe e ao fato de que um projeto é um ciclo
que termina e que precisa ser avaliado segundo critérios rigorosos e consensuais. É comum,
aponta o autor, que uma inovação fracasse porque o ciclo seguinte da inovação seguiu sem
apoio, os objetivos estavam confusos ou ainda devido a um mau diagnóstico inicial.
[A39] Comentário: Citar página.
88
Portanto, todas essas questões e ainda outras relacionadas à complexa realidade da inovação
tecnológica são valiosas quando a inovação é entendida como um projeto. Observe, na figura, a
descrição de um ciclo de vida de desenvolvimento de um produto e veja um exemplo de onde
entra a ideia de um produto.
Figura 4.6 Ciclo de vida do produto. Adaptado de Larson e Gobeli (1988).
Abordagem PMI e fases de um projeto
Sugerimos em diversos momentos desta disciplina que a gestão da inovação tecnológica se dê
por meio de projetos. Uma inovação tecnológica pode contemplar um ou mais projetos e um
projeto pode incluir mais de uma inovação. Consideramos importante mencionar neste módulo
um famoso modelo de gerenciamento de projetos adotado em empresas do mundo inteiro.
Conhecer o modelo apoia a gestão da inovação tecnológica.
Na concepção do PMI (Project Management Institute), um projeto se constitui de cinco grupos
de processos bem definidos: Iniciação, Planejamento, Execução, Controle e Encerramento. As
cinco fases estão no diagrama ª seguir.
[A40] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
[A41] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
89
Figura 4.7 Fases de um projeto segundo o PMI (2000)
Na fase de Iniciação, ocorrem processos que compreendem o estímulo à autorização do
projeto. Na fase de Planejamento, estabelece-se o que fazer: como, quando, por quem, por
quanto, em que condições etc. Na fase de Execução, realiza-se o que foi planejado. Na fase de
Controle, monitora-se a execução. Na fase de Encerramento, o projeto é formalmente
concluído.
Observe que Execução e Controle acontecem em grande parte paralelamente e a fase de
execução consome um nível maior de atividade do que as demais (VALERIANO, 2005).
Design e design thinking: abordagens inovadoras de desenvolvimento
Em uma fronteira entre produtos, indústria, inovação e arte, estamos falando do fascinante
mundo do “design”. Segundo Terra (2012), o design para inovação é um esforço criativo
relacionado à configuração, concepção, elaboração e especificação de um artefato,
normalmente orientado a uma intenção ou objetivo para solução de um problema. Graças ao
design diferenciado, por exemplo, os produtos da Apple são aceitos mundialmente, embora
sejam mais caros e não necessariamente melhores do que os produtos concorrentes.
Segundo Domingos (2009), desenhando produtos atraentes, Steve Jobs, da Apple, se
beneficiou de um aspecto da alma humana, que se sente seduzida por coisas belas, e
exatamente por causar prazer e admiração, parecem funcionar melhor.
No modelo de desenvolvimento de produtos, denominado Design Thinking, podemos identificar
diversas características da Gestão do Conhecimento, na abordagem que estudamos até aqui.
Curiosamente, o modelo se assemelha a um modelo bem conhecido da área de
desenvolvimento de sistemas, o modelo de prototipação, em que, por meio de seguidos
protótipos, os usuários podem experimentar e verificar o comportamento do sistema. Os
protótipos podem revelar erros e omissões nos requisitos e um sistema funcional pode ser
apresentado antecipadamente.
90
Figura 4.8. Modelo de desenvolvimento por prototipação. Sommerville (2003)
Terra (2012) descreve o design thinking da seguinte forma: desenvolvimento de soluções
estéticas com novas funcionalidades, novas experiências, valor e, principalmente, significado
para os consumidores (cidadãos). Para isso, o processo de inovação envolve o consumidor,
obtendo suas impressões sobre produtos, serviços e processos, decifrando em conjunto os
“futuros desejados” na forma de soluções. O método utiliza-se de prototipagens dos conceitos
gerados e testes com o usuário final, mesmo em fases prematuras de desenvolvimento. O
projeto deixa de ser linear e passa a ser um laço ou espiral, na qual os protótipos evoluem até
que algo se torne viável.
É uma estratégia que deixa de lado a abordagem clássica tão comum no mundo dos negócios
de estudar antes a viabilidade comercial, as probabilidades de retorno etc.
A figura abaixo apresenta uma interpretação de design thinking nos seguintes passos:
compreender o problema, observar o usuário, sintetizar alternativas, iniciar ciclo prototipar/iterar
com usuário e, finalmente, implementar.
[A42] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
91
Figura 4.9 Etapas em uma interpretação do modelo design thinking
http://agapedobrasil.com.br/blog/tag/design-thinking/ Acesso em 03/04/2014.
Barreiras e cultura para inovação nas organizações
Existem muitos estudos sobre tipos de liderança, desenvolvimento de liderança, criação de
novos líderes, liderança de equipes etc. Pode-se imaginar que a gestão dae inovação
tecnológica demande um exercício de liderança específico que possa lidar com a superação das
barreiras à inovação.
Capodagli (2010) afirma que o compromisso total, apaixonado e inabalável por uma cultura
inovadora deve incluir a todos, especialmente os novos contratados. Do contrário, seus
resultados de inovação estarão abaixo do esperado. A inovação como parte da cultura da
organização evita ou supera as barreiras.
Na teoria da gestão do conhecimento, consideram-se “barreiras” os fatores que atrapalham a
criação, disseminação e apropriação de ideias novas. Frente à inovação há duas categorias de
barreiras: as individuais e as organizacionais. Há forças de conservação que provêm da
burocracia, da tradição, de uma espécie de cartografia do poder dominante, e há forças de
avanço que dependem do ambiente favorável, da liberdade, da autonomia, das oportunidades e
até mesmo da disposição das pessoas.
Pode-se elencar uma série de fatores bloqueadores da criatividade dos colaboradores, tais
como barreiras emocionais, culturais, ambientais, de intelecto e de expressão, de percepção. Os
[A43] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
92
bloqueios emocionais estariam vinculados a um medo de rejeição ou fracasso e a uma
dificuldade de aceitar o novo ou mesmo a uma dificuldade de expressão.
Carbonell (2002) elenca entre os fatores que atrapalham a inovação a tensão vivida por muitos
colaboradores entre a mudança e a continuidade. Em alguns momentos, a inovação oscila entre
fases de convulsão, agitação e movimento para propiciar a mudança e, em seguida, necessita
de certa calmaria e continuidade para a sobrevivência da própria inovação.
Os autores Nonaka e Takeuchi (2008) citam pelo menos duas barreiras individuais importantes:
a acomodação e a autoimagem. A barreira autoimagem relaciona-se ao fato de o colaborador
não querer se arriscar, talvez pelo temor de não conseguir dominar as novas tecnologias (Não
sou capaz de dominar tão bem as TIC como meus subordinados, portanto não posso utilizar
essas ferramentas para fazê-los aprender). Já a barreira acomodação está associada a uma
baixa abertura para o aprendizado, talvez em virtude de um bloqueio emocional fruto de uma
atitude defensiva (Faço isto há muito tempo da mesma forma, por que teria que mudar agora?).
Sobre “acomodação”, apontamos também dificuldades relacionadas à formação dos
colaboradores ou a dificuldades de aprendizado.
Entre as barreiras organizacionais há histórias de fracasso ou frustração, capazes de inibir a
inovação, e também a presença de procedimentos
“Procedimentos” representam o “como fazer”, o que sabidamente “dá certo” e por isso é difícil de
questionar. Esses procedimentos de tão arraigados chegam a representar uma barreira,
embora, sob outro ponto de vista, possam ser de extrema importância para a qualidade dos
produtos e serviços oferecidos. Outra forte barreira organizacional para a inovação está
relacionada à cultura em vigor.
TOME NOTA:
Baldwin (2008) apresenta um conjunto de frases comuns em organizações. Divide as frases em
dois grupos: frases exterminadoras de ideias e frases germinadora de ideias:
Exterminadoras de ideias Germinadoras de ideias
Já tentamos isso antes.
Isso nunca funcionará.
Isso custaria muito.
Não é nosso trabalho.
Não podemos fazer isso aqui.
Como poderíamos melhorar?
Alguém tem algo a acrescentar?
De quantas maneiras poderíamos...?
Posso fazer uma pergunta?
Há algo que não percebemos?
93
Nossos clientes nunca concordariam com isso.
O que temos já está bom.
Pode ser que você esteja certo, mas....
Em time que está ganhando não se mexe.
Quem mais seria afetado?
O que aconteceria se...?
Figura 4.10 Frases comuns em organizações. Baldwin(2008).
Buscamos na indústria de entretenimento uma referência útil para a discussão da cultura
organizacional e dos papéis do líder para a promoção da inovação. Ora, aindústria de
entretenimento eletrônica é uma das mais promissoras da economia mundial e não para de
crescer. A empresa Pixar é um de seus expoentes maiores, pois conseguiu revolucionar o
cinema de animação aliando apuro e inovação técnica a boas histórias. Inovou na tecnologia, no
produto, no processo e no modelo de negócios, pois desenvolveu também novas formas de
licenciamento de produtos, de distribuição etc. É um exemplo de empresa que, mesmo sendo
continuamente imitada, segue seu caminho único, o que faz da Pixar referência mundial como
empresa de inovação.
Capodogli (2010) apresenta uma síntese do perfil de liderança voltada para a inovação da
empresa Pixar – o que a companhia recomenda:
1 - Comemore os fracassos com a mesma intensidade com que comemora o sucesso.
2 - Seja obstinado: por exemplo, um projeto pode ser testado em poucas semanas.
3 - Desenvolva equipes com alto grau de autonomia e desimpedidas de burocracia.
4 - Peça a cada membro da equipe que pense para o projeto em dez ideias incomuns, inéditas e
heterodoxas. Mesmo que essas ideias fracassem, tente outra vez.
5 - Muitas descobertas inovadoras vêm de tentar algo novo, aprendendo e tentando novamente.
6 - É certo planejar, mas um planejamento tem também que ser flexível.
7 - Crie uma “central de planejamento” para acompanhar os seus planos. Uma central de
planejamento é um lugar em que os planos, os protótipos e a equipe são visualmente exibidos e
acompanhados.
8 - Evite longas reuniões e os longos relatórios de planejamento. Uma visita à “central de
planejamento” deve dar aos membros da equipe e à gerência o status do projeto.
9 - É mais fácil pedir perdão do que permissão. Reveja e registre rapidamente as falhas, depois
tente de novo.
10 - Encontre um cliente ou fornecedor que seja tão ousado quanto a sua equipe para ajudar a
testar e refinar os seus produtos e ideias.
Domingos (2009) descreve exemplo equivalente, desta vez, da cultura de inovação reinante na
Apple. Para o autor, enquanto as outras marcas apresentam produtos novos, a empresa lança
[A44] Comentário: DG= APLICAR LAYOUT PADRÃO DE DIAGRAMAS/TABELAS.
94
revoluções: o IPod, o IPhone, o ITunes… Como a Apple e mais recentemente a Samsung
conseguem emplacar tantas novidades e sair sempre na frente? Abaixo, algumas revelações
que tentam responder isso:
Primeiro: obstinação em realizar o que foi planejado.
Segundo: prazos exíguos.
Propositadamente, Jobs e sucessores estabelecem prazos curtos para a equipe. Segundo ele,
prazos confortáveis permitem às pessoas se dispersarem em tocarem vários projetos ao mesmo
tempo. Já prazos apertados fazem todo mundo se concentrar, e as coisas progridem rápido. Foi
o que aconteceu com o iPod: um prazo razoável pra desenvolver um produto eletrônico desse
tipo, é de no mínimo, um ano e meio; o pessoal da Apple teve nove meses.
Terceiro: A missão da Apple parece ser difundir a beleza e simplicidade no setor de
eletrônicos. Num mundo em que os produtos se assemelham em eficiência e qualidade, um
Apple se destaca pelo design.
Saiba Mais
Alguns segredos do desenvolvimento do “produto ideal” revelados por um designer influente, Don Norman, defensor de produtos eletrônicos mais simples: http://veja.abril.com.br/especiais/tecnologia_natal_2007/p_098.html
UNIDADE 3: PERSPECTIVAS PARA GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NAS
ORGANIZAÇÕES
Conforme procuramos mostrar ao longo da disciplina, a gestão da inovação tecnológica é uma
área dinâmica em que, pela própria natureza da discussão, é difícil obter fórmulas prontas.
Vimos neste módulo a análise de redes sociais como uma espécie de “inovação 2.0” no dizer de
Terra (2012). Completamos o quadro com mais alguns cenários, sem a intenção de esgotar o
assunto. Ao contrário, queremos abrir o tema para que você possa prosseguir pesquisando e se
aprofundando nele.
Gamificação dos negócios
95
O uso de artifícios baseados em games em ambientes de trabalho não é propriamente uma
novidade. Troféus, níveis, quadro de melhores pontuações, presentes e moedas virtuais existem
há muito tempo nas empresas. Mas uma tendência relativamente recente vem crescendo no
mundo inteiro: utilizar jogos para atingir objetivos mais técnicos ou específicos das empresas.
Uma das tendências é o desenvolvimento de softwares em forma de jogo para desenvolver uma
situação de trabalho, é o que tem sido chamado de gamificação. Lidando com adversidades no
cenário controlado de um jogo, o colaborador aprende como deve agir quando a situação se
tornar real.
O “jogo sério” é definido como um software que inclui uma intenção treinadora, informativa,
comunicacional, de marketing ou até ideológica. Softwares podem servir para as empresas
testarem as capacidades de um candidato: tomada de risco, tempo de reação, capacidade em
gerenciar equipes, vontade de aditar uma posição de líder ou, ao inverso, de seguir um líder.
Simuland é um exemplo de “jogo sério” que transforma o jogador em líder de uma empresa
virtual. Ele deve, então, tomar decisões nas áreas de recursos humanos, investimento em
Pesquisa e Desenvolvimento, posicionamento estratégico de seus produtos, finanças etc.
SAIBA MAIS
Uma visão um pouco mais audaciosa sobre o papel crescente dos games na sociedade é
apresentada por Seth Priebbastch em palestra TED, nos Estados Unidos
(http://www.ted.com/talks/seth_priebatsch_the_game_layer_on_top_of_the_world.html). Para
Seth, cujo vídeo na Internet já teve quase 700.000 visualizações, a gamificação irá revolucionar
a internet nesta década, assim como as redes sociais revolucionaram a internet e a sociedade
nos últimos dez anos. Em lugar de redes sociais e conectividade entre as pessoas, estaríamos
caminhando para um cenário em que muitas das atividades cotidianas serão interpretadas como
jogos e o sucesso estará vinculado ao desempenho dos melhores jogadores.
Benchmarking
É um processo ou técnica de gestão em que as empresas avaliam o desempenho de seus
processos, sistemas e procedimentos, comparando-os com os melhores desempenhos de
outras organizações. Os seguintes passos podem compor uma ação de benchmarking, segundo
Baldwin (2008):
1 – Escolha da empresa que será referência e objetivos do benchmarking.
2 – Coleta de dados por análise de informações que são públicas ou estão disponíveis de
alguma outra forma.
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3 – Apontar diferenças e identificar fatores responsáveis pelos melhores resultados da
referência.
4 – Adaptação dos procedimentos atuais e melhoria.
É necessário ressaltar que benchmarking não é uma técnica para a pura imitação. Capodagli
(2010) classifica o benchmarking entre “burro” e “inteligente”: o benchmarking burro é passar um
ano estudando a empresa líder em um setor e três anos tentando ser como eles. Nesse meio
tempo, o líder do mercado já se afastou para fazer algo mais notável. Benchmarking inteligente
é o que você pode aprender de alguém totalmente fora de sua área.
O processo de avaliação de uma nova tecnologia
Para saber se uma tecnologia é bem sucedida, devemos saber se ela resolve um problema, se é
comercialmente viável e quanto tempo levará para que se torne uma prática aceita. Queremos
saber também como aumentar as possibilidades de que a escolha seja acertada. Terra (2012)
sugere uma série de questionamentos que podem ser deflagradores da gestão da inovação
tecnológica:
_Que rupturas tecnológicas podem gerar maior potencial de rápidas evoluções tecnológicas?
_Quais as tecnologias emergentes mais promissoras?
_Quais aquelas já disponíveis que poderiam ser integradas em um novo modelo de negócio?
_Que empresas emergentes detentoras de tecnologias, patentes ou pessoal com expertise
diferenciada deveriam ser comparadas?
Em Mylius (2004), encontramos uma descrição de roteiro voltada à aquisição de um novo
sistema de informação. A escolha de uma solução tecnológica deve obedecer desde o
mapeamento de necessidades até a escolha do fornecedor. É uma espécie de passo a passo
que pode ser aplicado para a busca de uma solução inovadora:
1 - Defina os objetivos: a missão principal do projeto, os objetivos específicos dos processos e
os benefícios desejados.
2 - Defina as exigência do negocio: para atingir os objetivos é preciso estabelecer ações e os
itens específicos que deve ser realizados antes de tudo.
3 – Defina quem são os usuários: estabeça quem estará envolido em atingir os objetivos do
negocio e que o patrocinará.
4 - 0 Definas as funcionalidades estableça as qu edevem obrigatoriamente ser fornecidas pela
solução a fim de atender as exigência e necessidades dos usuarios.
5 – Defina uma lista inicial de fornecedores: estabeleça os que mais se encaixam às
funcionalidades levantadas anteriormente.
97
6 – Estabeleça os criterios de tecnologia e do negocio: faça uma lista detalhada dos criterios
para seleçào de fornecedores e filtre a lista inicial.
7 – Selecione e avalie um fornecedor: estabeleça criterios e utilize uma prova de conceito de
produtos para avaliá-lo.
Saiba Mais
Visão da empresa de consultoria Accenture sobre o tema da gamificação “Por que gamificaçao é coisa séria”:
http://www.accenture.com/br-pt/outlook/Pages/outlook-journal-2013-why-gamification-is-serious-
business.aspx
Texto abrangente sobre o fenômeno da gamificação em diferentes ambientes:
http://aennova.com/arquivos/Conviction_and_Competence_trad.pdf
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Resumo
A estratégias de gestão cada vez mais apelam à inovação tecnológica, porque as antigas
soluções degradam rápido ou não atendem a novas situações. Vimos que uma das grandes
motivações para a gestão da inovação tecnológica nas empresas está no aprimoramento da
inteligência competitiva das organizações. Foi apresentada uma metodologia de análise de
redes sociais que identifica nas redes atuais das empresas uma configuração voltada para
atividades de rotina ou de inovação. A rede de resposta personalizada favorece a inovação e
pode ser obtida mediante uma espécie de gestão por redes, que oportuniza e é ao mesmo
tempo condicionada por inovações tecnológicas.
Um projeto possui restrições de prazo, recursos (mão de obra, equipamentos e materiais) e
escopo (descrição do limite entre o que deve ser realizado e o que não deve ser realizado), além
data para começar e terminar. Diferentemente de operações continuadas, o projeto busca um
desenvolvimento original. O gerenciamento de projetos, segundo uma conhecida metodologia,
congrega cinco fases de desenvolvimento com processos internos bem definidos: Iniciação,
Planejamento, Execução/Controle e, finalmente, Encerramento.
Embora planejar seja útil, o excesso de controle e planejamento de uma metodologia de projetos
pode inibir e empobrecer a inovação. Por isso, fazem-s necessárias outras abordagens. O
modelo de inovação denominado design thinking valoriza o acompanhamento do usuário em
relação ao projeto que está sendo desenvolvido. Assim, tem mais sintonia com a inovação
desejada, do ponto de vista do usuário.
Por fim, compreendemos que as barreiras à inovação tecnológica estão tanto no âmbito
individual quanto no âmbito organizacional. É importante que a empresa tenha uma liderança e
uma cultura voltadas para a inovação, de modo a gerir essas barreiras – os exemplos da cultura
organizacional da Apple e da Pixar são referências para isso. É apresentado, ao final, um
processo para escolha de uma solução tecnológica em uma espécie de roteiro passo a passo.
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