74
Mamíferos Aluna: Maria Clara Augusto Ratts Série: 6ª Fortaleza, 05 de Agosto de 2015 1

História Mamiferos

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Trabalho sobre os mamíferos

Citation preview

Page 1: História Mamiferos

Mamíferos

Aluna: Maria Clara Augusto RattsSérie: 6ªFortaleza, 05 de Agosto de 2015

1

Page 2: História Mamiferos

JUSTIFICATIVA DO TEMA

Este trabalho relata um grande número de informações sobre os mamíferos. Os mamíferos são um grande grupo de animais do qual o ser humano faz parte, por isso é importante saber e compreender as características que tais animais possuem.

Aqui destacaremos as principais características físicas que compõe este grupo de animais, bem como o desenvolvimento dessas características durante a evolução dos mamíferos.

Finalmente, destacamos como se deu a formação e evolução dos primeiros seres desse grupo na terra, salientando a ancestralidade e as características que foram herdadas pelos animais dos dias atuais.

2

Page 3: História Mamiferos

INDICE

1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................5

2. CARACTERÍSTICAS.............................................................................................................5

3. DIVERSIDADE....................................................................................................................8

4. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA.............................................................................................9

5. MORFOLOGIA E ANATOMIA...........................................................................................11

5.1 Sistema esquelético-muscular................................................................................11

5.2 Sistema cardiovascular...........................................................................................12

5.3 Sistema respiratório...............................................................................................13

5.4 Sistema nervoso e órgãos do sentido.....................................................................13

5.4.1 Cérebro...............................................................................................................13

5.4.2 Olfato..................................................................................................................14

5.4.3 Audição...............................................................................................................14

5.4.4 Visão...................................................................................................................15

5.5 Sistema integumentário.........................................................................................15

6. História evolutiva dos mamíferos...................................................................................16

6.1 Definição de "mamífero"........................................................................................18

6.2 Os ancestrais dos mamíferos..................................................................................19

6.2.1 Amniotas............................................................................................................19

6.2.2 Sinapsídeos.........................................................................................................20

6.2.3 Terapsídeos........................................................................................................20

Árvore genealógica terápsida.............................................................................................21

Biarmosuchia......................................................................................................................22

Dinocéfalos.........................................................................................................................22

Teriodontes.........................................................................................................................22

Cinodontes..........................................................................................................................23

6.3 Tomada de poder triássica: a ascensão dos sauropsídeos......................................23

6.4 Dos cinodontes aos verdadeiros mamíferos...........................................................25

6.4.1 Muitas incertezas...............................................................................................25

6.4.2 Mamíferos ou mamaliformes?...........................................................................26

6.4.3 Árvore genealógica - dos cinodontes aos mamíferos.........................................26

6.4.4 Multituberculados..............................................................................................27

6.4.5 Morganucodontidae...........................................................................................28

6.4.6 Docodontes........................................................................................................28

6.4.7 Hadrocodium......................................................................................................29

3

Page 4: História Mamiferos

6.5 Os mais antigos mamíferos verdadeiros.................................................................30

6.5.1 Árvore genealógica dos primeiros mamíferos....................................................31

6.5.2 Australosphenida e Ausktribosphenidae............................................................31

6.5.3 Monotremados...................................................................................................32

6.5.4 Theria..................................................................................................................33

6.5.5 Metatheria..........................................................................................................33

6.5.6 Eutheria..............................................................................................................35

6.6 Expansão dos nichos ecológicos no Mesozoico......................................................36

6.7 Evolução dos principais grupos de mamíferos atuais.............................................37

6.7.1 Árvore genealógica baseada em fósseis dos mamíferos placentários................38

6.7.2 Árvore genealógica dos mamíferos placentários de acordo com a filogenética molecular...........................................................................................................................39

6.7.3 Evolução placentária: quando começou?...........................................................41

6.8 Evolução das características dos mamíferos...........................................................41

6.8.1 Mandíbulas e ouvidos médios............................................................................41

6.8.2 Lactação..............................................................................................................42

6.8.3 Pêlos e pele.........................................................................................................42

6.8.4 Membros eretos.................................................................................................43

6.8.5 Sangue quente....................................................................................................43

7. CONCLUSÃO...................................................................................................................46

8. BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................47

9. ANEXOS..........................................................................................................................48

4

Page 5: História Mamiferos

1. INTRODUÇÃO

Os mamíferos (do latim científico Mammalia) constituem uma classe de animais vertebrados, que se caracterizam pela presença deglândulas mamárias que, nas fêmeas, produzem leite para alimentação dos filhotes (ou crias), presença de pelos ou cabelos, com exceção dos golfinhos e de algumas baleias, que somente na fase embrionária possuem pelos.

 São animais endotérmicos (com exceção do rato-toupeira-pelado), (ou seja, de temperatura constante, também conhecidos como "animais de sangue quente"). Océrebro controla a temperatura corporal e o sistema circulatório, incluindo o coração (com quatro câmaras). Os mamíferos incluem 5 416 espécies (incluindo os seres humanos), distribuídas em aproximadamente 1 200 gêneros, 152 famílias e até 46 ordens, de acordo com o compêndio publicado por Wilson e Reeder (2005). Entretanto novas espécies são descobertas a cada ano, aumentando esse número; e até o final de 2007, o número chegava a 5 558 espécies de mamíferos.

Acredita-se que os primeiros mamíferos surgiram no período Jurássico, entre 176 e 161 milhões de anos atrás, durante o reinado dosDinossauros. Novas evidências científicas, entretanto, sugerem que os precursores dos mamíferos podem ter surgido há pelo menos 208 milhões de anos, durante o período Triássico Superior.

2. CARACTERÍSTICAS

O marco inicial para o reconhecimento científico dos mamíferos como grupo foi a publicação por John Ray (1693) da obra "Synopsis methodica animalium quadrupedum et serpentini generis". Onde inclui uma divisão dos animais que possuem sangue, respiram porpulmão, apresentam

5

Page 6: História Mamiferos

dois ventrículos no coração e são vivíparos. Tal definição ainda hoje se mantém válida, lembrando-se que à época os monotremados não eram conhecidos. Carolus Linnaeus (1758) com a décima edição do Systema Naturae, cunha o termo Mammaliapara o qual a definição é essencialmente aquela apresentada por Ray.

E. R. Hall (1981) caracterizou a classe Mammalia como "sendo especialmente notáveis por possuírem glândulas mamárias que permitem à fêmea nutrir o filhote recém-nascido com leite; presença de pelos, embora confinados aos estágios iniciais de desenvolvimento na maioria dos cetáceos; ramo horizontal da mandíbula é composto por um único osso; a mandíbula se articula diretamente com o crâniosem intervenção do osso quadrado; dois côndilos occipitais; diferindo das aves e répteis por possuírem diafragma e por terem hemácias anucleadas; lembram as aves e diferem dos répteis por terem sangue quente, circulação diferenciada completa e quatro câmaras cardíacas; diferem dos anfíbios e peixes pela presença do âmnio e alantoide e pela ausência de guelras".

Muitas das características comuns aos mamíferos não aparecem nos outros animais. Algumas delas, porém, podem ser observadas nas aves – uma alta taxa metabólica e níveis de atividade ou complexidade de adaptações, como cuidado pós-natal avançado e vida social, aumento da capacidade sensorial, ou enorme versatilidade ecológica. Tais características semelhantes nas duas classes sugerem que tais adaptações são homoplasias, ou seja, se desenvolveram independentemente em ambos os grupos.

Outras características mamalianas são sinapomorfias dos amniotas, adaptações partilhadas por causa do ancestral comum. Os amniotas, grupo que inclui répteis, aves e mamíferos, são vertebrados terrestres cujo desenvolvimento embrionário acontece sobre proteção de membranas fetais

6

Page 7: História Mamiferos

(âmnio, cório e alantoide). Entres as características herdadas se encontram aumento do investimento no cuidado das crias, fertilização interna, derivados queratinizados da pele, rins metanefros com ureter específico, respiração pulmonar avançada, e o papel decisivo dos ossos dérmicos na morfologia do crânio. Ao mesmo tempo, os mamíferos compartilham grande número de características com todos os demais vertebrados, incluindo o plano corpóreo, esqueleto interno, e mecanismos homeostáticos (incluindo caminhos para regulação neural e hormonal).

Os mamíferos exibem também características exclusivas, chamadas de autapomorfias. Essas características únicas servem para distinguir e diagnosticar claramente um táxon. Entre as principais autapomorfias da classe Mammalia estão:

glândulas mamárias; lactação/amamentação;viviparidade obrigatória (exceto nos monotremados);presença de pelos; tegumento rico em várias glândulas;derivações integumantárias específicas

(garras, unhas, cascos, cornos, chifres, escamas, espinhos, placas dérmicas);

posição e função dos membros são modificados para suportar modos locomotores específicos;

cintura torácica simplificada;ossos pélvicos fundidos;diferenciação regional da coluna vertebral;crânio bicôndilo;caixa craniana aumentada;arcos zigomáticos maciços;cavidade nasal com labirinto nasoturbinado;

7

Page 8: História Mamiferos

presença de nariz/focinho;palato ósseo secundário;coração de quatro câmaras com o arco aórtico esquerdo persistente;eritrócitos bicôncavos e anucleados;pulmões com estrutura alveolar;diafragma muscular;órgão vocal na laringe; três ossículos na orelha média (estribo, bigorna e martelo);cóclea longa e espiralada (exceto nos monotremados);meato auditivo longo;aurículas externas (= orelhas) grandes e móveis;mandíbula composta por um único osso, o dentário; junção dentária-escamosal;presença de um ramo mandibular;dentes grandes variando em número, forma e função;heterodontes;presença de dentes molares;difiodontes;cérebro aumentado;maior atividade e alta versatilidade na função locomotora;diversidade de vida social;aumento do espectro de reações comportamentais e suas

interconecções com o aumento da capacidade de aprendizado social e individual e diferenciação interindividual;

crescimento limitado por fatores hormonais e estruturais;determinação sexual cromossômica (sistema XY)."topo" da cadeia evolutiva, possuindo todos os sistemas completos e

reprodução sexuada.fecundação interna

3. DIVERSIDADE

8

Page 9: História Mamiferos

Os mamíferos apresentam um número relativamente pequeno de espécies se comparado com as aves (9 600) ou com os peixes (35 000), e até insignificante se comparado com os moluscos (100 000) e os crustáceos e insetos (10 000 000). Seus números estão mais próximos aos répteis (6 000) e aos anfíbios (5 200). Entretanto, na diversidade corpórea, tipos locomotores, adaptação ao habitat, ou estratégias alimentares, os mamíferos excedem todas as demais classes.

O tamanho corpóreo dos mamíferos é altamente variável, sendo seus extremos a baleia-azul (Balaenoptera musculus) com 30 metros de comprimento e chegando a pesar 190 toneladas, o maior mamífero já existente; o elefante africano (Loxodonta africana) com 3,5 metros de altura (até os ombros) e 6,6 toneladas, o maior mamífero terrestre atual; e o musaranho-pigmeu (Suncus etruscus) e o morcego-nariz-de-porco-de-kitti (Craseonycteris thonglongyai) com cerca de 3-4 centímetros de comprimento e até 2 gramas de peso, os menores mamíferos até hoje descobertos.

4. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA

Os mamíferos estão distribuídos praticamente em todas as regiões do globo terrestre, incluindo a Antártida, onde focas são encontradas na sua zona costeira. No polo norte, têm sido encontrados ursos-polares (Ursus maritimus) até 88°N e focas-aneladas (Phoca hispida) têm alcançado as vizinhanças do Pólo Norte. Mamíferos são encontrados em todos os

9

Page 10: História Mamiferos

continentes remanescentes, em praticamente todas as ilhas, e em todos os mares e oceanos da Terra.

Mamíferos marinhos podem ser encontrados a uma profundidade de até 1000 metros, enquanto mamíferos terrestres podem ser vistos do nível do mar até elevações acima dos 6500 metros. Eles estão distribuídos em todos os biomas, incluindo tundra, desertos, savanase florestas. Espécies de várias famílias têm se adaptado ao modo de vida aquático em pântanos, lagos e rios. Eles estão presentes, tanto abaixo da superfície terrestre, no caso de animais subterrâneos e escavadores, quanto acima dela, nos galhos das árvores no caso dos animais arbóreos, ou nos céus, através do vôo, no caso dos morcegos.

A distribuição geográfica dos mamíferos é muito variada. A ordem Tubulidentata, cujo único representante é o porco-da-terra (Orycteropus afer) é endêmica da África. Osmonotremados (ornitorrinco e as equidnas) e quatro ordens de marsupiais (Dasyuromorphia, Notoryctemorphia, Peramelemorphia, Diprotodontia) estão confinados à região australiana. Duas ordens de marsupiais (Paucituberculata e Microbiotheria) são encontradas somente numa área restrita da América do Sul. As duas maiores ordens, Rodentiae Chiroptera, ocorrem naturalmente em todos os continentes, exceto Antártida, e foram os únicos a terem alcançado muitas ilhas oceânicas. Artiodátilos e carnívoros ocorrem em todos os continentes, exceto Antártida e Austrália, embora representantes de ambos tenham sido introduzidos na Austrália. Os cetáceos e os pinipédios são os grupos mais amplamente distribuídos pelo planeta.

Variação similar ocorre no nível de família e espécie. Nenhuma espécie de mamífero é naturalmente cosmopolita, ou seja, ocorra em todo o mundo, embora algumas espécies tenham uma ampla distribuição cobrindo vários continentes. O lobo (Canis lupus) e a raposa-vermelha (Vulpes vulpes) são os animais terrestres mais amplamente distribuídos cobrindo grande parte do Hemisfério Norte. No Novo Mundo, a onça-parda (Puma concolor) apresenta a maior distribuição, ocorrendo do Canadá ao Chile. No outro extremo, certas espécies possuem distribuição restrita, não passando de poucos quilômetros quadrados, como por exemplo, a toupeira-dourada da África do Sul.

10

Page 11: História Mamiferos

Outros mamíferos apresentam uma distribuição descontínua. Ela pode ser natural, como é o caso da lebre-da-eurásia (Lepus timidus) que habita as regiões polares e boreais da Eurásia, mas uma população é encontrada nos Alpes, uma relíquia da última era glacial. Ou pode ser um fenômeno induzido pelo homem, como no caso do leão (Panthera leo), que atualmente é encontrado em partes da leste e sul da África e na Índia, mas que já habitou o norte da África, Oriente Médio, sul da Europa e sul da Ásia, e até mesmo aAmérica do Norte, no final do Pleistoceno.

A diversidade e a riqueza da fauna mamífera são influenciadas por diversos fatores complexos combinados, entre eles, a história evolutiva, o grau de isolamento e a complexidade do habitat.

5. MORFOLOGIA E ANATOMIA

5.1 Sistema esquelético-muscular

No crânio dos mamíferos, os ossos dérmicos, originalmente formados na calota craniana, cresceram ao redor de todo o encéfalo, fechando completamente a caixa craniana. Osossos que formam a extremidade inferior da abertura temporal dos Synapsida são curvados até o arco zigomático.

A mandíbula dos mamíferos é formada por um único osso, o dentário, em contraste à mandíbula de ossos múltiplos dos demais vertebrados mandibulados. O dentário se articula diretamente com o osso esquamosal, um osso dérmico do crânio. A articulação mandibular dos demais vertebrados é formada pelo quadrado, no crânio, e pelo articular, na maxila inferior. Nos mamíferos, estes ossos se juntaram ao estribo, resultando em uma orelha média com três ossos, único a estes animais.

Os mamíferos são os únicos a possuírem músculos de expressão facial, os quais são derivados dos músculos do pescoço dos répteis e inervados pelo sétimo nervo craniano.

A dentição dos mamíferos é dividida em diversos tipos de dentes, ou seja são heterodontes: incisivos, caninos, pré-molares e molares. A maioria dos mamíferos possui dois conjuntos de dentições em suas vidas (difiodontia). O primeiro conjunto – os dentes de leite – consiste somente

11

Page 12: História Mamiferos

de incisivos, caninos e molares decíduos, embora a forma destes seja bem parecida com a dos molares permanentes no adulto. A dentição adulta permanente consiste do segundo conjunto de dentes originais, os permanentes, com erupção posterior. Os mamíferos são os únicos animais que mastigam e engolem um discreto bolo alimentar. Os térios possuem tipos únicos de molares, chamados de tribosfênicos.

Diferentemente da postura reptiliana, os mamíferos apresentam uma postura ereta, com os membros posicionados sob o corpo. Entretanto, a postura altamente ereta dos mamíferos familiares, tais como os gatos, cães e cavalos é derivada; o movimento de um animal como o gambá, provavelmente, representa a condição primitiva dos mamíferos.

Os mamíferos apresentam uma articulação do tornozelo diferenciada, cujo ponto de movimento está entre a tíbia e o astrágalo. Na cintura pélvica, o ílio tem forma de barra e é direcionado para frente, e o púbis e o ísquio são curtos; todos são fundidos num único osso, chamado de pelve. O fêmur apresenta um trocânter distinto sobre o lado lateral proximal, para a ligação dos músculos dos glúteos, que dão aos mamíferos extremidades arredondadas.

Com poucas exceções, todos os mamíferos possuem sete vértebras cervicais – peixe-boi (Trichechus spp.) e o bicho-preguiça-de-dois-dedos (Choloepus hoffmanni) possuem seis vértebras, e o bicho-preguiça-de-três-dedos (Bradypus variegatus), possui nove. Eles também apresentam um complexo atlas-áxis, único e especializado, nas duas primeiras vértebras cervicais. Podendo rodar suas cabeças de duas formas: na maneira tradicional, de cima para baixo, na articulação entre o crânio e o atlas; e de maneira mais derivada, de lado a lado, na articulação entre o atlas e o áxis.

Os mamíferos restringiram as costelas às vértebras mais craniais (torácicas) do tronco. As costelas lombares apresentam conexões zigapofiseais, as quais permitem a flexão dorso-ventral. A capacidade de mover a coluna vertebral de maneira dorso-ventral, nos mamíferos, pode estar relacionada com sua habilidade de deitar sobre o lado de seus corpos, algo que os demais vertebrados não conseguem realizar facilmente. Esta habilidade pode ter sido importante na evolução da amamentação, com mamilos posicionados ventralmente.

12

Page 13: História Mamiferos

5.2 Sistema cardiovascular

O coração dos mamíferos difere dos demais amniotas ectotérmicos por possuir um septo ventricular completo e somente um arco sistêmico, embora o arco duplo original seja aparente durante o desenvolvimento. Uma condição similar é observada nas aves, mas ela claramente surgiu convergentemente nos dois grupos, pois é o arco sistêmico esquerdo que é retido (como a aorta única) nos mamíferos, e o arco direito nas aves.

Os monotremados retêm um pequeno sino venoso como uma câmara distinta, os térios incorporaram esta estrutura ao átrio direito, como o nodo sinoatrial, o qual age como o marca-passo do coração.

Os mamíferos também diferem dos demais vertebrados quanto à forma de seus eritrócitos (glóbulos vermelhos ou hemácias), os quais não possuem núcleos na condição madura.

5.3 Sistema respiratório

Os mamíferos apresentam pulmões grandes e com lobos, de aparência esponjosa devida à presença de um sistema de ramificações delicadas dos bronquíolos em cadapulmão, terminando em câmaras fechadas de paredes finas (os pontos de trocas gasosas), chamadas de alvéolos.

A presença de uma estrutura muscular, o diafragma, exclusiva dos mamíferos, divide a cavidade peritoneal da cavidade pleural, além de auxiliar as costelas na inspiração.

5.4 Sistema nervoso e órgãos do sentido

Os mamíferos possuem encéfalos excepcionalmente grandes entre os vertebrados, os quais evoluíram em caminhos, de certa forma, independentes dos demais amniotas. Em seus sistemas sensoriais os mamíferos são mais dependentes da audição e da olfação do que a maioria dos tetrápodes, sendo menos dependentes da visão.

5.4.1 Cérebro

A porção aumentada dos hemisférios cerebrais dos mamíferos, o neocórtex, ou neopalio, é formada de forma única. A porção dorsal do córtex é aumentada para a formação do neopalio (enquanto os

13

Page 14: História Mamiferos

sauropsídeos aumentam a porção lateral), apresentando uma estrutura laminada complexa. Em mamíferos mais derivados, o neopálio domina todo o encéfalo rostral e se torna altamente invaginado, o que aumenta muito a área de superfície.

Outras características únicas do encéfalo mamaliano incluem lobos ópticos divididos na região mediana, um cerebelo não-invaginado, e uma grande representação da área para o sétimo nervo craniano, a qual está associada com o desenvolvimento da musculatura facial.

O cérebro dos mamíferos conta ainda com o sistema límbico, responsável pelas emoções e sentimentos.

5.4.2 Olfato

O apurado senso de olfato da maioria dos mamíferos está, provavelmente, relacionado ao seu comportamento noturno. Os receptores olfatórios estão localizados em um epitélio especializado, sobre os ossos nasoturbinados no nariz. O bulbo olfatório é uma porção proeminente do encéfalo em muitos mamíferos, mas os primatas apresentam um bulbo pequeno e pouco sentido de olfação, provavelmente associado a seus hábitos diurnos. O senso de olfato também é reduzido, ou ausente, nos cetáceos, em associação com sua existência aquática.

5.4.3 Audição

Os mamíferos apresentam uma orelha média mais complexa do que a dos demais tetrápodes. Ela contém uma série de três ossos (estribo, martelo e bigorna), em vez de um único osso.

Diversas outras características dos mamíferos térios também contribuem para o aumento da acuidade auditiva. Estas incluem uma longa cóclea, capaz de uma discriminação maior de tons. Além disso, a orelha externa, ou aurícula, ajuda a determinar a direção do som. A orelha, em conjunto com o estreitamento do meato auditivo dos mamíferos, concentra sons oriundos de uma área relativamente grande. A maioria dos mamíferos é capaz de mover a aurícula para captar sons, embora os primatas antropoides não apresentam tal característica. A sensibilidade auditiva de um mamífero terrestre é reduzida se as aurículas são removidas. Mamíferos aquáticos utilizam sistemas inteiramente distintos para ouvir

14

Page 15: História Mamiferos

sob a água, tendo perdido ou reduzido suas orelhas externas. Os cetáceos, por exemplo, utilizam a maxila inferior para canalizar ondas sonoras a orelha interna.

5.4.4 Visão

Os mamíferos evoluíram como animais noturnos, para os quais a sensibilidade visual (formação de imagens sob pouca luz) era mais importante do que a acuidade (formação de imagens precisas). Os mamíferos possuem retinas compostas, primariamente, de células bastonetes, as quais apresentam uma grande sensibilidade à luz, mas são relativamente fracas para uma visão acurada.

A maioria dos mamíferos apresenta um tapetum lucidum bem desenvolvido, o qual constitui uma camada refletora por trás da retina, fornecendo uma segunda chance para que um fóton de luz estimule uma célula receptora. Este tapeto provoca o brilho nos olhos que você observa quando aponta uma lanterna em direção a um gato ou a um cão. O tapeto é mais desenvolvido em mamíferos noturnos, e foi perdido nos primatas antropoides diurnos, incluindo os humanos.

5.5 Sistema integumentário

Em muitos aspectos, a cobertura externa dos mamíferos é a chave para seu modo único de vida. A variedade de tegumentos dos mamíferos é enorme. Alguns roedores possuem uma epiderme delicada, com apenas algumas células de espessura. Já os elefantes têm diversas centenas de células de espessura. A textura da superfície externa da epiderme também varia, desde a lisa (cobertas ou não por pelos) até as rugosas, secas e enrugadas.

Apesar do tegumento mamífero se parecer com o dos demais vertebrados, quanto a sua forma, com camadas epidérmicas, dérmicas e hipodérmicas, há também componentes únicos. Ele apresenta pelos, glândulas sebáceas, glândulas apócrinas, glândulas sudoríparas, e estruturas derivadas da queratina, como unhas, garras e cornos.

Os pelos têm uma variedade de funções incluindo a camuflagem, a comunicação e a sensação (tato), por meio das vibrissas (bigodes). Entretanto, a função básica dos pelos é a proteção contra o calor e o frio.

15

Page 16: História Mamiferos

As estruturas secretoras da pele se desenvolvem a partir da epiderme. Há três tipo principais de glândulas de pele nos mamíferos: as sebáceas, as apócrinas e as écrinas. Exceto pelas écrinas, as glândulas da pele estão associadas aos folículos pilosos e a secreção em todas elas se dá sob o controle neural e hormonal.

As glândulas sudoríparas comuns dos humanos não parecem ser um traço mamífero primitivo, visto que a maioria dos mamíferos não termorregulam por meio da secreção de fluidos pela pele. As glândulas sebáceas são encontradas em toda a superfície do corpo. Elas produzem uma secreção oleosa que lubrifica e impermeabiliza o pelo e a pele. Glândulas apócrinas apresentam uma distribuição restrita na maioria dos mamíferos, e suas secreções parecem ser utilizadas na comunicação química.

Muitos mamíferos possuem glândulas de odor especializadas, as quais são modificações das sebáceas ou das apócrinas. A marcação por odor é usada para indicar a identidade do animal e para definir territórios. Glândulas de odor são posicionadas em áreas do corpo que permitem o contato fácil com os objetos, tais como a face, o queixo e os pés.

Glândulas écrinas produzem uma secreção aquosa com pouco conteúdo orgânico. Na maioria dos mamíferos, estão restritas às solas dos pés, às caudas preênseis e a outras áreas em contato com superfície do meio ambiente, nas quais elas melhoram a adesão ou a perceção táctil.

Glândulas mamárias possuem uma estrutura de ramificação mais complexa do que a das demais glândulas de pele. Elas possuem diversas características básicas em comum com as glândulas apócrinas e sebáceas, entretanto são altamente especializadas.

As estruturas queratinizadas da pele são variadas, algumas estão envolvidas na locomoção, nas ofensivas, na defesa e na apresentação, como as unhas, as garras e os cascos; outras na proteção, como as placas dérmicas; outras na alimentação, como o bico córneo do ornitorrinco.

6. História evolutiva dos mamíferos

16

Page 17: História Mamiferos

A evolução dos mamíferos a partir dos sinapsídeos (répteis ancestrais dos mamíferos) foi um processo gradual que levou aproximadamente 70 milhões de anos, do médio Permiano ao médio Jurássico. Na metade do Triássico, havia muitas espécies que se pareciam com mamíferos, e apenas no início do Jurássico aparecem os primeiros mamíferos verdadeiros. O primeiro marsupial conhecido, o Sinodelphys, apareceu há 125 milhões de anos, no início do Cretáceo; mais ou menos na mesma época se desenvolvem os Eutheria, e dois milhões de anos mais tarde surgiram os primeiros Monotremos. Na maciçaextinção do Cretáceo-Terciário desaparecem os dinossauros, restando as formas aviárias, e os mamíferos iniciam um processo de diversificação e ocupação dos nichos ecológicos vagos, até que no fim do Terciário todas as ordens modernas já se haviam estabelecido.

Do ponto de vista da nomenclatura filogênica, os mamíferos são os únicos sinapsídeos sobreviventes, uma linhagem que se distinguiu dos sauropsídeos, os répteis, no fim do Carbonífero,1 tornando-se os maiores e mais comuns vertebrados do período Permiano.2 O desenvolvimento de algumas características típicas dos mamíferos, como a endotermia, os pelos e o cérebro maior, pode ter sido estimulado pelo predomínio anterior dos dinossauros, que ocupavam os nichos ecológicos diurnos e forçaram os mamaliformes para os nichos noturnos.

As evidências dessa evolução se encontram principalmente nos fósseis. Durante um bom tempo fósseis dos mamíferos mesozoicos e seus antecessores imediatos eram escassos e fragmentários, mas o estudo se aprofundou quando na década de 1990 foram encontrados diversos achados importantes, especialmente na China. As novas técnicas científicas como afilogenética molecular também deram contribuição significativa, esclarecendo e fixando pontos de divergência evolutiva que levaram ao surgimento de espécies modernas. Embora as glândulas mamárias sejam a assinatura nos mamíferos modernos, pouco se conhece sobre sua evolução

17

Page 18: História Mamiferos

e sobre o processo de lactação, e menos ainda sobre o desenvolvimento do neocórtex, outro traço distintivo desse grupo. O estudo sobre a evolução dos mamíferos se concentra atualmente no desenvolvimento dos ossículos do ouvido médio a partir da articulação da mandíbula dos ancestrais amniotas, junto com a análise da evolução da postura ereta dos membros, do palato secundário, do pelo e do sangue quente.

6.1 Definição de "mamífero"

As espécies de mamíferos atuais podem ser identificadas pela presença nas fêmeas de glândulas mamárias que produzem leite.

Outras características são necessárias para classificar os fósseis, já que as glândulas mamárias e outros tecidos macios não estão disponíveis.

Os paleontólogos então usam uma característica distintiva que é compartilhada por todos os mamíferos viventes (inclusive osmonotremados), mas que não está presente em qualquer dos primeiros terapsídeos triássicos ("mamíferos semelhantes a répteis"): os mamíferos usam dois ossos para ouvir que todos os outros amniotas usam para comer. Os mais antigos amniotas tinham a articulação da mandíbula composta pelo osso articular (um pequeno osso na parte posterior da mandíbula inferior) e pelo osso quadratum (um pequeno osso na parte posterior da mandíbula superior). Todos os não mamíferos amniotas usam este sistema, inclusive os lagartos, os crocodilianos, os dinossauros (e seus descendentes, as aves) e os terapsídeos. Mas os mamíferos têm uma articulação da mandíbula diferente, composta apenas pelo osso da mandíbula inferior que carrega os dentes e pelo esquamosal (outro pequeno osso do crânio). E nos mamíferos, os ossos articular e quadratum se tornaram os ossos bigorna e martelo no ouvido médio.

Os mamíferos também possuem um par de côndilos occipitais - eles têm duas saliências na base do crânio que encaixam na vértebra superior do pescoço, enquanto os outros vertebrados possuem apenas um côndilo occipital.3 Mas os paleontólogos usam apenas a articulação da mandíbula e o ouvido médio como critérios para identificação de fósseis mamíferos, porque seria confuso se eles encontrassem um fóssil que possuísse uma característica, mas não a outra (por exemplo, uma mandíbula e um ouvido mamíferos, mas um côndilo occipital não-mamífero).

18

Page 19: História Mamiferos

Devido às mudanças incrementadas nos fósseis transicionais, afirma-se

Nós talvez façamos novamente a pergunta: "O que é um mamífero?" Onde nós estipulamos o limite entre réptil e mamífero não tem importância biológica. É puramente uma questão de conveniência. Há duas escolhas óbvias, e ambas imediatamente seguem um período de rápida evolução que torna definitiva a quebra que nós esperamos encontrar.5

6.2 Os ancestrais dos mamíferos

Aqui, uma "árvore genealógica" bastante simplificada. O texto abaixo descreve algumas das incertezas e áreas de

debate. 

6.2.1 Amniotas

Os primeiros vertebrados completamente terrestres eram amniotas - seus ovos tinham membranas internas que permitiam ao embrião desenvolvido respirar, mas deixavam que a água entrasse. Isto permitiu aos amniotas pôr seus ovos em terra firme, enquanto os anfíbios geralmente precisavam pôr seus ovos na água (alguns poucos anfíbios, como o sapo do Suriname, desenvolveram outros caminhos para contornar esta limitação).

Os primeiros amniotas aparentemente surgiram no final do Carbonífero a partir de reptiliomorfos ancestrais. Em poucos milhões de

19

Page 20: História Mamiferos

anos, duas importantes linhagens amniotas se tornaram distintas: os ancestrais sinapsídeos dos mamíferos e os sauropsídeos, dos quais lagartos, cobras, crocodilianos, dinossauros e aves são descendentes.

Os mais antigos fósseis conhecidos de todos estes grupos datam de cerca de 320 a 315 milhões de anos. Desafortunadamente, é difícil ter certeza sobre quando cada um deles evoluiu, visto que fósseis vertebrados do final do Carbonífero são muito raros, e dessa forma, as primeiras ocorrências reais de cada um destes tipos de animais devem ser consideravelmente anteriores.

6.2.2 Sinapsídeos

A estrutura original do crânio sinápsida tem uma abertura temporal atrás de cada olho, em uma posição claramente baixa no crânio (no lado direito inferior da imagem).

Os crânios sinápsidas são identificados pelo padrão distintivo das aberturas temporais atrás de cada olho. Estas aberturas tornam o crânio leve sem sacrificar a força, economizam energia por usar menos osso e provavelmente forneciam pontos de ligação para os músculos da mandíbula. Possuir pontos de ligação fora das mandíbulas tornou possível aos músculos serem mais compridos e então exercer uma forte influência sobre uma grande variedade de movimentos da mandíbula sem serem esticados ou contraídos além de seu melhor alcance.

Os fósseis terrestres do começo do Permiano indicam que um grupo sinápsida, os pelicossauros, foram os vertebrados terrestres mais comuns e incluíam os maiores animais terrestres de seu tempo.

6.2.3 Terapsídeos

Os terapsídeos evoluíram dos pelicossauros na metade do Permiano e tomaram sua posição como vertebrados terrestres dominantes. Eles diferiam dos pelicossauros em várias características do crânio e da mandíbula, incluindo grandes aberturas temporais e incisivos de mesmo tamanho.

20

Page 21: História Mamiferos

Os terapsídeos atravessaram vários estágios, começando como animais que eram muito parecidos com seus ancestrais pelicossauros e terminando como algo que poderia facilmente ser confundido com os mamíferos.

Desenvolvimento gradual de um osso secundário do palato duro: muitos livros e artigos interpretam isto como um pré-requisito para a evolução da alta taxa metabólica dos mamíferos, porque possibilita a estes animais comer e respirar ao mesmo tempo. Mas alguns cientistas assinalam que alguns animais ectotérmicos modernos usam uma palato secundário feito de carne para separar a boca das vias respiratórias, e que um palato ósseo fornece uma superfície na qual a língua pode manipular a comida, facilitando a mastigação e não a respiração. A interpretação do palato secundário ósseo como uma ajuda para a mastigação também sugere o desenvolvimento de um metabolismo rápido, desde que a mastigação torne possível digerir a comida mais rapidamente. Nos mamíferos, o palato é formado por dois ossos específicos, mas vários terapsídeos permianos tinham outras combinações de ossos nos lugares exatos para funcionarem como palatos.

O osso dentário gradualmente se tornou o principal osso da mandíbula inferior.

O progresso na direção de uma postura de membros eretos, o que aumentaria a força animal evitando a restrição de Carrier. Mas esse processo foi instável e muito lento - por exemplo: todos os terapsídeos herbívoros mantiveram membros não eretos (algumas formas posteriores devem ter tido membros traseiros semi-eretos); os terapsídeos carnívoros permianos possuíam membros dianteiros não eretos, e alguns outros do final do Permiano tinham membros traseiros semi-eretos. Na realidade, osmonotremados modernos ainda possuem membros semi-eretos.

No Triássico, avançaram na direção da mandíbula mamífera e do ouvido médio.

Há evidências plausíveis de pêlos nos terapsídeos do Triássico, mas não nos terapsídeos do Permiano.

Alguns cientistas argumentam que alguns terapsídeos do Triássico apresentam sinais de lactação.

Árvore genealógica terápsida

21

Page 22: História Mamiferos

Árvore genealógica terápsida; apenas com aqueles que são mais relevantes para a evolução dos mamíferos estão descritos abaixo. 

Apenas dicinodontes, terocéfalos e cinodontes eram sobreviventes no Triássico.

Biarmosuchia

Os Biarmosuchia eram os mais primitivos e parecidos com os pelicossauros dos terapsídeos.

Dinocéfalos

Os dinocéfalos ("cabeças terríveis") eram enormes, alguns tão grandes quanto um rinoceronte, e incluíam carnívoros e herbívoros. Alguns dos carnívoros tinham membros posteriores semi-eretos, mas todos os dinocéfalos possuíam membros dianteiros não eretos. Em muitas características, eles eram terapsídeos muito primitivos. Por exemplo, eles não possuíam um palato secundário e suas mandíbulas eram particularmente "reptilianas".

Teriodontes

22

Page 23: História Mamiferos

Os teriodontes e seus descendentes tinham articulações de mandíbulas nas quais o osso articular da mandíbula inferior estava fortemente ligado ao muito pequeno osso quadratum do crânio. Isto permitia uma grande abertura da boca, e um grupo, o dos carnívoros gorgonopsídeos, tirou vantagem disto para desenvolver "dentes de sabre". Mas a mandíbula dos teriodontes teve um significativo longo alcance - o tamanho muito reduzido do osso quadratum foi um passo importante no desenvolvimento da articulação da mandíbula dos mamíferos e do ouvido médio.

Os gorgonopsídeos ainda tinham algumas características primitivas: ausência de palato secundário ósseo (mas outros ossos nos lugares apropriados para executar as mesmas funções); membros dianteiros não eretos; membros traseiros que poderiam funcionar em posturas eretas e não eretas. Mas os terocefalídeos, que aparentemente surgiram aproximadamente ao mesmo tempo dos gorgonopsídeos, tinham características adicionais semelhantes aos mamíferos como, por exemplo, seus ossos dos dedos tinham o mesmo número de falanges dos primeiros mamíferos (e o mesmo número que os primatas têm, inclusive os humanos).

Cinodontes

Os cinodontes, um grupo teriodonte que também surgiu no final do Permiano, inclui os ancestrais de todos os mamíferos - um subgrupo, os tritelodontes, é amplamente considerado em conter provavelmente o ancestral dos mamíferos. As características semelhantes às dos mamíferos dos cinodontes incluem: redução posterior no número de ossos da mandíbula inferior; um palato ósseo secundário; molares com um complexo padrão nas coroas; o cérebro preenchendo a cavidade endocranial.

6.3 Tomada de poder triássica: a ascensão dos sauropsídeos

A catastrófica extinção em massa do Permiano-Triássico acabou com cerca de 70 por cento das espécies vertebradas terrestres, assim como a maioria das plantas.

Como resultado:

23

Page 24: História Mamiferos

Os ecossistemas e as cadeias alimentares desmoronaram, e a recuperação levou cerca de 6 milhões de anos.

Os sobreviventes recomeçaram a luta pelo domínio de seus antigos nichos ecológicos - até mesmo os cinodontes, que aparentemente estavam no caminho da dominação no final do Permiano.

Mas os cinodontes foram derrotados por um grupo antes obscuro de sauropsídeos, os arcossauros (que incluía os ancestrais dos crocodilianos, dos dinossauros e das aves). Esta mudança de sorte é frequentemente chamada de "tomada de poder triássica". Várias explicações têm sido propostas para ela, mas o mais provável é que o começo do Triássico foi predominantemente árido e então a capacidade de conservação de água superior dos arcossauros deu-lhes uma vantagem decisiva (todos os sauropsídeos conhecidos tinham peles sem glândulas e excretavam ácido úrico, que requeria menos água para mantê-lo suficientemente líquido, que a ureia que os mamíferos excretam e presumivelmente os terapsídeos excretavam). A tomada de poder triássica foi gradual - no começo do Triássico, os cinodontes eram os principais predadores e oslistrossauros os principais herbívoros, mas na metade do Triássico, os arcossauros dominaram todos os grandes nichos carnívoros e herbívoros.

Mas a tomada de poder triássica deve ter sido um fator vital na evolução dos cinodontes em mamíferos. Os descendentes dos cinodontes só foram capazes de sobreviver comoinsectívoros pequenos e principalmente noturnos. Como resultado:

A tendência terápsida em direção a dentes diferenciados com oclusão precisa se acelerou, por causa da necessidade de segurar os artrópodes capturados e esmagar seusexoesqueletos.

A vida noturna exigia avanços no isolamento térmico e na termorregulação para possibilitar aos ancestrais dos mamíferos serem ativos no frio da noite.

Sentidos acurados de audição e olfato se tornaram vitais.

Isto acelerou o desenvolvimento do ouvido médio mamífero, e então da mandíbula, visto que os ossos que tinham sido parte da articulação da mandíbula se tornaram parte do ouvido médio.

O aumento no tamanho dos lóbulos olfativo e auditivo do cérebro aumentou o peso cerebral percentualmente em relação ao peso do

24

Page 25: História Mamiferos

corpo. O tecido cerebral exige uma quantidade desproporcional de energia. A necessidade de mais comida para manter cérebros maiores aumentou a pressão por melhoras no isolamento térmico, termorregulação e alimentação.

Como um efeito colateral, a visão se tornou levemente menos importante, e isto se reflete no fato de que muitos mamíferos têm uma visão de cores pobre, incluindo osprosímios como os lêmures.

6.4 Dos cinodontes aos verdadeiros mamíferos

6.4.1 Muitas incertezas

Enquanto a tomada de poder triássica provavelmente acelerou a evolução dos mamíferos, ela tornou a vida mais difícil para os paleontólogos, porque bons fósseis do quase-mamíferos são extremamente raros, principalmente porque eles eram majoritariamente menores que ratos:

Eles estavam amplamente restritos aos ambientes que são menos capazes de fornecer bons fósseis. Os melhores ambientes terrestres para fossilização são as planícies alagadas, onde alagamentos sazonais rapidamente cobrem animais mortos com uma camada protetora de silte que depois é comprimida em uma rocha sedimentar. Mas as planícies alagadas são dominadas por animais médios e grandes, e os terapsídeos triássicos e os quase-mamíferos não poderiam competir com os arcossauros em tamanho.

Seus ossos delicados eram frágeis para serem destruídos antes que pudessem ser fossilizados - por comedores de animais mortos (incluindo os fungos e as bactérias) e por serem espalhados.

Pequenos fósseis são difíceis de localizar e mais vulneráveis a serem destruídos pela erosão e por outros fenômenos naturais antes de serem descobertos.

Na realidade, foi dito recentemente, na década de 1980, que todos os fósseis de mamíferos e quase-mamíferos do Mesozoico poderiam estar guardados em algumas caixas de sapatos - e eles eram principalmente dentes, que são os mais duráveis de todos os tecidos.

Como resultado:

25

Page 26: História Mamiferos

Em muitos casos, é difícil classificar um fóssil mamífero ou quase-mamífero mesozoico em um gênero.

Todos os fósseis disponíveis de um gênero raramente formam um esqueleto completo, e portanto a dificuldade em se decidir quais gêneros são mais parecidos uns com outros e então mais proximamente relacionados. Em outras palavras, torna-se muito difícil classificá-los através da cladística, que é o método mais confiável e menos subjetivo atualmente disponível.

Dessa forma, a evolução dos mamíferos no Mesozoico é repleta de incertezas, embora não haja espaço para a dúvida de que os mamíferos apareceram pela primeira vez no Mesozoico.

6.4.2 Mamíferos ou mamaliformes?

Um dos resultados destas incertezas foi uma mudança na definição de "mamífero" pelos paleontólogos. Durante muito tempo, um fóssil era considerado um mamífero se nele fosse encontrado o padrão mandíbula-ouvido médio (a articulação da mandíbula consistindo apenas do esquamosal e do dentário; e os ossos articular e quadratum tornando-se os ossos martelo e bigorna do ouvido médio). Mas mais recentemente, os paleontólogos têm geralmente definido "mamífero" como o último ancestral comum demonotremados, marsupiais e placentários e de todos os seus descendentes. E então eles tiveram que definir um outro clado, o dos mamaliformes, para acomodar todos os animais que são mais semelhantes a mamíferos que a cinodontes, mas menos aparentados com monotremados, marsupiais e placentários. Ainda que isto agora pareça ser a voz da maioria, alguns paleontólogos têm resistido, porque: a nova definição simplesmente move a maior parte dos problemas para o novo clado sem esclarecê-los; o clado dos mamaliformes inclui alguns animais com a articulação da mandíbula "mamífera" e outros com a articulação da mandíbula "reptiliana" (articular-quadratum); e a nova definição de "mamífero" e "mamaliformes" é dependente dos últimos ancestrais comuns de ambos os grupos, e que ainda não foram encontrados. Apesar destas objeções, este artigo segue a opinião dominante, e trata a maioria dos descendentes mesozoicos dos cinodontes como mamaliformes.

6.4.3 Árvore genealógica - dos cinodontes aos mamíferos

26

Page 27: História Mamiferos

(Baseada em Mammaliformes Palaeos) 

6.4.4 Multituberculados

Os multituberculados (assim chamados pelos múltiplos nódulos ou saliências - tubérculos - em seus "molares") são muitas vezes chamados de "roedores do Mesozoico", mas trata-se de um exemplo de convergência evolutiva e não significa que eles sejam aparentados com os roedores. À primeira vista eles se assemelham a mamíferos: suas articulações da mandíbula consistem apenas dos ossos dentário e esquamosal e os ossos articular e quadratum fazem parte do ouvido médio; seus dentes são diferenciados e têm cúspides semelhantes às dos mamíferos; eles têm um arco zigomático; a estrutura da pélvis sugere que eles davam à luz a filhotes indefesos muito pequenos, como os modernos marsupiais. Eles viveram por mais de 120 milhões de anos (do Jurássico médio, cerca de 160 milhões de anos atrás, até o começo do Oligoceno, cerca de 35 milhões de anos atrás), o que faria deles os mamíferos mais bem sucedidos de sempre. Mas uma olhada mais de perto mostra que eles eram muito diferentes dos mamíferos modernos:

27

Page 28: História Mamiferos

Seus "molares" têm duas filas paralelas de saliências, diferente dos molares tribofênicos (de três pontas) dos primeiros mamíferos.

O movimento de mastigação é completamente diferente. Os mamíferos mastigam com um movimento de trituração de lado a lado, o que significa que habitualmente os molares se fecham em apenas um lado ao mesmo tempo. As mandíbulas dos multituberculados eram incapazes do movimento de lado a lado e mastigavam arrastando os dentes inferiores para trás, contra os superiores conforme a mandíbula fechava.

A parte anterior do arco zigomático geralmente consiste do osso maxilar e não do jugal, que é um osso minúsculo numa pequena fenda na extensão do maxilar.

O esquamosal não faz parte do crânio.

O focinho é diferente do dos mamíferos. Na realidade, parece-se mais com o dos pelicossauros como o dimetrodonte. O focinho multituberculado é em forma de caixa, com a enorme e plana maxila formando os lados, o osso nasal acima e o exagerado pré-maxilar na frente.

6.4.5 Morganucodontidae

Os morganucodontes apareceram pela primeira vez no final do Triássico, cerca de 205 milhões de anos atrás. Eles são um excelente exemplo de fósseis transicionais, visto que possuem tanto articulações da mandibula dentário-esquamosal quanto articular-quadratum. Eles também foram um dos primeiros descobertos e mais perfeitamente estudados dos mamaliformes, por causa de um extraordinário grande número de fósseis morganucodontes encontrados.

6.4.6 Docodontes

O mais conhecido membro dos docodontes é o Castorocauda lutrasimilis, que viveu no médio Jurássico, cerca de 164 milhões de anos

28

Page 29: História Mamiferos

atrás e foi descoberto em 2004 e descrito em 2006. O Castorocauda ("cauda de castor") não foi um docodonte típico (a maioria era onívora) nem exatamente um mamífero, mas é extremamente importante no estudo da evolução dos mamíferos porque o primeiro esqueleto encontrado estava quase completo (um verdadeiro luxo na paleontologia) e quebra o estereótipo do "pequeno insetívoro noturno":

Ele era perceptivelmente maior em tamanho que a maioria dos fósseis semelhantes a mamíferos do Mesozoico - cerca de 43 centímetros do nariz à ponta de sua cauda de 13 centímetros, e provavelmente pesaria mais que 800 gramas.

Ele fornece a mais antiga evidência sem nenhuma dúvida de cabelos ou pêlos. Anteriormente, o mais antigo era o Eomaia scansoria, um mamífero verdadeiro de cerca de 125 milhões de anos atrás.

Ele tinha adaptações aquáticas que incluíam ossos achatados e restos de tecido macio entre os dedos dos pés traseiros sugerem que eles eram membranosos. Antes disso, os mais antigos animais semi-aquáticos semelhantes a mamíferos eram do Eoceno, cerca de 110 milhões de anos atrás.

Os poderosos membros diateiros do Castrocauda parecem adaptados para escavação. Esta característica e as esporas em seus tornozelos fazem-no lembrar o ornitorrinco, que também nada e escava.

Seus dentes parecem adaptados para comer peixe: os dois primeiros molares têm cúspides em linha reta, o que faz deles mais adequados para agarrar e cortar que para triturar; e estes molares são curvados para trás, para ajudar a capturar presas escorregadias.

6.4.7 Hadrocodium

A árvore genealógica simplificada acima mostra o Hadrocodium como um parente evolutivo mais distante dos mamíferos, enquanto os simetrodontes e os Kuehneotheriidae são mais proximamente relacionados com os verdadeiros mamíferos. Mas os fósseis de simetrodontes e Kuehneotheriidae são tão poucos e fragmentados que eles ainda são pouco conhecidos e talvez sejam parafiléticos. Por outro lado, há bons fósseis de Hadrocodium (de cerca de 195 milhões de anos atrás, do princípio do Jurássico) e eles possuem algumas características importantes:

29

Page 30: História Mamiferos

A articulação da mandíbula consiste apenas dos ossos dentário e esquamosal, e as mandíbulas não possuem pequenos ossos na parte de trás do dentário, diferente do modelo terápsida.

Nos terapsídeos e na maioria dos mamaliformes, o tímpano se estica sobre um canal na parte de trás da mandíbula inferior. Mas o Hadrocodium não tem tal canal, o que sugere que seu ouvido era parte do crânio, como nos mamíferos - e, portanto, que os antigos ossos articular e quadratum migraram para o ouvido médio e se transformaram nos ossos martelo e bigorna. Por outro lado, o dentário tinha uma "entrada" na parte posterior que os mamíferos não têm. Isto sugere que o osso dentário doHadrocodium manteve a mesma forma que ele teria se os ossos articular e quadratum permanecessem fazendo parte da articulação da mandíbula, e dessa forma, que oHadrocodium, ou um ancestral muito próximo, deve ter sido o primeiro a ter um ouvido médio completamente mamífero.

Os terapsídeos e os mamaliformes mais antigos tinham suas articulações da mandíbula em uma posição bastante recuada no crânio, parcialmente porque o ouvido ficava na extremidade posterior da mandíbula, mas também porque tinha que estar próximo do cérebro. Este arranjo limitava o tamanho da caixa craniana, porque forçava os músculos da mandíbula a ficar em torno e sobre ela. A caixa craniana e as mandíbulas do Hadrocodium não eram mais ligados um ao outro pela necessidade de sustentar o ouvido, e sua articulação da mandíbula era mais avançada. Nos seus descendentes ou naqueles animais com um arranjo similar, a cavidade cerebral estava livre para se expandir sem ser limitada pela mandíbula e a mandíbula estava livre para mudar sem ser limitada pela necessidade de manter o ouvido médio próximo do cérebro - em outras palavras, agora se tornava possível para os animais semelhantes a mamíferos desenvolver cérebros grandes e adaptar suas mandíbulas e dentes nas formas que fossem puramente especializadas para comer.

6.5 Os mais antigos mamíferos verdadeiros

Esta parte da história introduz novas complicações, visto que os mamíferos verdadeiros são o único grupo que ainda possui membros vivos:

Uma tem que distinguir grupos extintos daqueles que tem representantes viventes.

30

Page 31: História Mamiferos

Outra muitas vezes sente-se compelida a explicar a evolução de características que não aparecem nos fósseis. Este esforço às vezes envolve filogenética molecular, uma técnica que se tornou popular a partir da metade da década de 1980, mas é ainda controversa por causa de suas hipóteses, especialmente sobre a confiabiidade do relógio molecular.

6.5.1 Árvore genealógica dos primeiros mamíferos

(baseada em Mammalia: Overview - Palaeos) 

6.5.2 Australosphenida e Ausktribosphenidae

Ausktribosphenidae é um nome dado a um grupo de achados particularmente incompreensível que:

Parece ter molares tribosfênicos, um tipo de dente que é encontrado apenas nos placentários e nos marsupiais.

São originários de depósitos do Cretáceo médio na Austrália - mas a Austrália estava conectada apenas à Antártida, e os placentários se originaram no hemisfério norte e estiveram confinados a ele até a deriva continental formar pontes de terra entre a América do Norte e a América do Sul, entre a Ásia e a África e entre a Ásia e a Índia (o mapa do final do Cretáceo mostra como os continentes do sul estavam separados).

31

Page 32: História Mamiferos

São representados apenas por fragmentos de crânios e mandíbulas, o que não é de muita ajuda.

Australosphenida é um grupo que foi definido para incluir os Ausktribosphenidae e os monotremados. O Asfaltomylos (da metade para o fim do Jurássico), encontrado naPatagônia) é aparentemente um australosfenídeo basal (um animal que: tem características compartilhadas entre Ausktribosphenidae e monotremados; carece de características que são peculiares a Ausktribosphenidae ou monotremados; também não possui características que estão ausentes nos Ausktribosphenidae e monotremados) e mostra que os australosfenídeos eram amplamente disseminados por toda Gondwana (o antigo super-continente do hemisfério sul).

6.5.3 Monotremados

O mais antigo monotremado conhecido é o Teinolophos, que viveu cerca de 125 milhões de anos atrás na Austrália. Análises recentes sugerem que ele não era um monotremado ancestral, primitivo, mas um ornitorrinco completo, e então que as linhagens do ornitorrinco e do equidna divergiram consideravelmente antes e que os monotremados ancestrais eram anteriores.

Os monotremados têm algumas características que devem ter sido herdadas dos amniotas originais:

Eles usam o mesmo orifício para urinar, defecar e reproduzir-se ("monotremado" significa "orifício único") - da mesma forma que os lagartos e as aves.

Eles põem ovos com casca de couro, como aqueles de lagartos, tartarugas e crocodilos.

Diferente dos outros mamíferos, as fêmeas dos monotremados não possuem mamilos e alimentam seus filhotes por leite "suado" de glândulas de seus abdômens.

Naturalmente, estas características não são visíveis nos fósseis, e as principais características do ponto de vista dos paleontólogos são:

Um osso dentário delgado no qual o processo coronoide é mínimo ou inexistente.

32

Page 33: História Mamiferos

A abertura externa do ouvido situa-se na base posterior da mandíbula.

O osso jugal é pequeno ou inexistente.

Uma cintura escapular primitiva com fortes elementos ventrais: coracoides, clavículas e inter-clavicular (os mamíferos terianos não possuem interclavícula).

Membros dianteiros não eretos ou semi-eretos.

6.5.4 Theria

Theria ("bestas") é um nome aplicado ao grupo hipotético a partir do qual os grupos metatheria (que inclui os marsupiais) e eutheria (que inclui os placentários) descendem. Embora nenhum fóssil convincente de terianos básicos tenha sido encontrado (apenas uns poucos dentes e fragmentos da mandíbula são conhecidos), os grupos metatheria e eutheria compartilham algumas características que supostamente teriam sido herdadas de um grupo ancestral comum:

Não possuem inter-clavicular.

Ossos coracoides não existentes ou fundidos com os omoplatas para formar os processos coracoides.

Molares tribosfênicos.

Um tipo de tornozelo crurotarsal onde: a articulação principal está entre a tíbia e o tálus; o calcâneo não tem contato com a tíbia, mas forma um calcanhar ao qual os músculos podem se ligar. (O outro tipo bem conhecido de tornozelo crurotarsal é visto nos crocodilianos e funciona de maneira distinta - a maior parte da curva do tornozelo está entre o calcâneo e o tálus.

6.5.5 Metatheria

O grupo moderno metatheria inclui todos os marsupiais ("animais com bolsas"). Alguns gêneros, tais como o mongol do final do Cretáceo Asiatherium, podem ser marsupiais ou membros de algum outro grupo metatheriano.

O mais antigo marsupial conhecido é o Sinodelphys, encontrado em uma camada de xisto de 125 milhões de anos (começo do Cretáceo) na

33

Page 34: História Mamiferos

província de Liaoning, no nordeste da China. O fóssil está quase completo e inclui tufos de pêlos e impressões de tecidos macios.

Os didelfídeos (marsupiais comuns do hemisfério ocidental) apareceram pela primeira vez no final do Cretáceo e ainda têm representantes viventes, provavelmente porque eles são em sua maioria onívoros semi-arborícolas não especializados.

A característica melhor conhecida dos marsupiais é o seu método de reprodução:

A mãe desenvolve um tipo de saco gema em seu útero que fornece nutrientes ao embrião. Os embriões de bandicoots, coalas e vombates adicionalmente formam órgãos semelhantes a placentas que os conecta à parede uterina, embora estes órgãos sejam menores que nos mamíferos placentários e não há certeza de que eles transfiram nutrientes da mãe para o embrião.

A gestação é muito curta, tipicamente de quatro a cinco semanas. O embrião nasce precocemente, e é normalmente menor que cinco centímetros no nascimento. Sugere-se que a gestação curta é necessária para reduzir o risco de que o sistema imunológico da mãe ataque o embrião.

o marsupial recém-nascido usa seus membros dianteiros (com mãos relativamente fortes) para subir até um mamilo, que normalmente está numa bolsa no ventre da mãe. A mãe alimenta o bebê pela contração de músculos sobre suas glândulas mamárias, já que o bebê é muito fraco para sugar. A necessidade do marsupial recém-nascido de usar seus membros dianteiros na subida até o mamilo evitou que estes se desenvolvessem em remos ou asas e, dessa forma, evitou o surgimento de marsupiais aquáticos ou voadores verdadeiros (embora haja vários marsupiais planadores).

Embora alguns marsupiais sejam muito parecidos com alguns placentários (o tilacino é um bom exemplo), os esqueletos masuspiais possuem algumas características que os distinguem dos placentários:

Alguns, incluindo o tilacino, têm quatro molares. Nenhum placentário tem mais que três.

Todos têm um par de fenestras palatais, aberturas na parte inferior do crânio (além das pequenas aberturas das narinas).

34

Page 35: História Mamiferos

Os masuspiais também têm um par de ossos marsupiais (chamados às vezes de "ossos epipúbicos"), que sustentam a bolsa nas fêmeas. Mas estes não são exclusivos aos marsupiais, visto que eles foram encontrados em fósseis de multituberculados, monotremados e até mesmo de placentários - de modo que eles são provavelmente uma característica ancestral comum que desapareceu em algum momento depois que o ancestral dos mamíferos placentários modernos divergiu daquele dos marsupiais. Alguns pesquisadores acham que a função original dos ossos epipúbicos era ajudar na locomoção pela sustentação de alguns dos músculos que empurram a coxa para frente.

6.5.6 Eutheria

Os membros do grupo moderno eutheria ("bestas verdadeiras") são todos placentários. Mas o mais antigo eutheriano conhecido, o Eomaia scansoria, encontrado na China e datado de cerca de 125 milhões de anos atrás, possui algumas características que são mais parecidas com aquelas dos marsupiais (os metaterianos modernos):

Ossos epipúbicos prolongando-se adiante da pélvis, que não são encontrados em nenhum placentário moderno, mas são encontrados nos marsupiais, monotremados,mamaliformes e multituberculados. Em outras palavras, esses ossos aparentam ser uma característica ancestral que deve ter estado presente nos primeiros placentários.

Uma abertura pélvica estreita, o que indica que as crias eram muito pequenas ao nascer e dessa forma a gestação era curta, como nos marsupiais modernos. Isto sugere que a placenta foi um desenvolvimento posterior.

Cinco incisivos em cada lado da mandíbula superior. Este número é típico dos methaterianos, e o número máximo nos placentários modernos é três, com exceção dos homodontes como o tatu. Mas a razão molar-pré-molar do Eomaia (ele possuía mais pré-molares que molares) é típica dos eutherianos (placentários) e não é normal nos marsupiais.

O Eomaia também tinha um canal meckeliano, uma característica primitiva da mandíbula inferior que não é encontrada nos modernos mamíferos placentários.

35

Page 36: História Mamiferos

Estas características intermediárias são consistentes com as estimativas da filogenética molecular de que os placentários se diversificaram cerca de 110 milhões de anos atrás, 15 milhões de anos depois da datação do Eomaia fóssil.

O Eomaia também tinha muitas características que sugerem fortemente que ele era um escalador, incluindo: várias características dos pés e dedos dos pés; pontos de fixação bem desenvolvidos para os músculos que são bastante usados para escalar; e uma cauda que era duas vezes mais longa que o resto da espinha dorsal.

A característica placentária mais bem conhecida é seu método de reprodução:

O embrião se prende ao útero por uma grande placenta pela qual a mãe fornece alimento e oxigênio e remove os dejetos.

A gestação é relativamente longa e os bebês são bastante desenvolvidos ao nascer. Em algumas espécies (especialmente herbívoros que vivem nas planícies), o recém-nascido pode caminhar e até mesmo correr após uma hora do nascimento.

Propõe-se que a evolução da reprodução placentária só se tornou possível por causa dos retrovírus que:

Fazem a conexão entre a placenta e o útero num Syncytium, ou seja, uma fina camada de células com uma membrana externa compartilhada. Isto permite a passagem de oxigênio, nutrientes e de produtos indesejados, mas evita a passagem de sangue e outras células que causariam o ataque do sistema imunológico da mãe ao feto.

Reduz a agressividade do sistema imunológico da mãe (o que é bom para o feto, mas torna a mãe mais vulnerável a infecções).

De um ponto de vista paleontólogo, os eutherianos são principalmente diferenciados por várias características de seus dentes.

6.6 Expansão dos nichos ecológicos no Mesozoico

Ainda há algo de verdadeiro no estereótipo "insetívoros pequenos e noturnos", mas descobertas recentes, principalmente na China, mostram que alguns mamaliformes e mamíferos verdadeiros eram grandes e tinham estilos de vida variados. Por exemplo:

36

Page 37: História Mamiferos

O Castorocauda, que viveu no Jurássico médio, cerca de 164 milhões de anos atrás, tinha cerca de 43 centímetros de comprimento, pesava cerca de 800 gramas, tinha membros que eram adaptados para nadar e cavar e dentes adaptados para comer peixes.

Os multituberculados, que sobreviveram por cerca de 120 milhões de anos (do Jurássico médio, cerca de 160 milhões de anos atrás, ao começo do Oligoceno, cerca de 35 milhões de anos atrás), são freqüentemente chamados de "roedores do Mesozoico", porque eles tinham incisivos de crescimento contínuo como os modernos roedores.

O Fruitafossor, do período final do Jurássico, cerca de 150 milhões de anos atrás, era quase do tamanho de uma tâmia e seus dentes, membros dianteiros e dorso sugerem que ele rompia ninhos de insetos sociais para capturá-los (provavelmente cupins, porque as formigas ainda não haviam surgido).

O Volaticotherium antiquus, da fronteira entre o final do Jurássico e o início do Cretáceo, cerca de 140-120 milhões de anos atrás, é o mais antigo mamífero planador conhecido e possuía uma membrana que se estendia entre seus membros, da mesma forma do moderno esquilo-voador. Isto também sugere que ele era ativo principalmente durante o dia.

O Repenomamus, do começo do Cretáceo, cerca de 139-128 milhões de anos atrás, era um predador troncudo, semelhante a umtexugo, que às vezes caçava pequenos dinossauros. Duas espécies foram reconhecidas, uma com mais de 1 metro de comprimento e pesando cerca de 12–14 kg, e a outra com menos de 0,5 metro de comprimento e pesando cerca de 4–6 kg.

6.7 Evolução dos principais grupos de mamíferos atuais

Há atualmente debates vigorosos entre os paleontólogos tradicionais ("caçadores de fósseis") e os filogeneticistas moleculares sobre como e quando os mamíferos verdadeiros se diversificaram, especialmente os

37

Page 38: História Mamiferos

placentários. Geralmente, os paleontólogos tradicionais datam o surgimento de um grupo particular pelo mais antigo fóssil conhecido cujas características fazem-no provavelmente ser um membro daquele grupo, enquanto os filogeneticistas sugerem que cada linhagem divergiu antes (geralmente no Cretáceo) e que os mais antigos membros de cada grupo eram anatomicamente muito similares aos primeiros membros dos outros grupos e diferiam apenas em seus genes. Estes debates se estendem à definição e à relação entre os principais grupos de placentários - a controvérsia sobre a Afrotheria é um bom exemplo.

6.7.1 Árvore genealógica baseada em fósseis dos mamíferos placentários

Aqui uma versão bastante simplificada de uma típica árvore genealógica baseada em fósseis, tendo como base Cladogram of Mammalia - Palaeos. Ela tenta mostrar o que existe do mais próximo atualmente de uma visão consensual, mas alguns paleontólogos têm pontos de vista bastantes diferentes, por exemplo:

O ponto de vista mais comum é de que os placentários se originaram no hemisfério sul, mas alguns paleontólogos argumentam que eles apareceram primeiramente naLaurásia (o antigo supercontinente que continha os modernos continentes da Ásia, América do Norte e Europa).

Os paleontólogos discordam sobre quando os primeiros placentários apareceram, com estimativas abrangendo de 20 milhões de anos antes do fim do Cretáceo até quase depois do fim do Cretáceo. E os biólogos moleculares afirmam que esta origem é muito anterior.

A maioria dos paleontólogos sugere que os placentários deveriam ser divididos em Xenarthra e o restante, mas poucos acreditam que estes animais divergiram depois.

Por segurança, brevidade e simplicidade, o diagrama omite alguns grupos extintos para dar foco à ancestralidade dos grupos modernos bem conhecidos de placentários. O diagrama também mostra:

A época do mais antigo fóssil conhecido em muitos grupos, visto que um dos principais debates entre os paleontólogos tradicionais e os filogeneticistas moleculares é sobre quando os vários grupos começaram a se tornar distintos.

38

Page 39: História Mamiferos

Os membros modernos mais conhecidos da maioria dos grupos.

Esta árvore genealógica contém algumas surpresas e quebra-cabeças. Por exemplo:

Os parentes vivos mais próximos dos cetáceos (baleias, golfinhos e botos) são artiodátilos, animais de cascos que são quase todos absolutamente vegetarianos.

Os morcegos são claramente parentes próximos dos primatas.

Os parentes vivos mais próximos dos elefantes são os sirénios aquáticos, e depois destes, os mais próximos são os hiraxes, que mais se parecem com os gordos porquinhos da Índia.

Há uma pequena correspondência entre a estrutura da família (quem é descendente de quem) e as datas dos mais antigos fósseis de cada grupo. Por exemplo, os mais antigos fósseis dos perissodáctilos (membros viventes: cavalos, rinocerontes e tapires) datam do final do Paleoceno, mas os mais antigos fósseis de seu "grupo irmão", o Tubulidentata, datam do começo do Mioceno, aproximadamente 50 milhões de anos depois. Os paleontólogos são bastante confiantes quanto a estas relações, que são baseadas em análises cladísticas, e acreditam que os fósseis dos ancestrais dos modernos aardvarks simplesmente ainda não foram encontrados.

6.7.2 Árvore genealógica dos mamíferos placentários de acordo com a filogenética molecular

A filogenética molecular usa características dos genes dos organismos para desenvolver árvores genealógicas da mesma forma que os paleontólogos fazem com as características dos fósseis - se genes de dois organismos são mais similares entre si que os de um terceiro organismo, os dois organismos são mais proximamente relacionados entre si que com o terceiro.

Os filogeneticistas moleculares propuseram uma árvore genealógica que é muito diferente daquela que os paleontólogos estão familiarizados. Como os paleontólogos, os filogeneticistas moleculares têm opiniões diferentes sobre vários detalhes, mas a árvore genealógica aqui apresentada é típica de acordo com os filogeneticistas moleculares. Note que o diagrama aqui mostrado omite os grupos extintos, porque não se pode extrair DNA de fósseis.

39

Page 40: História Mamiferos

As mais significativas das muitas diferenças entre esta árvore genealógica e a familiar aos paleontólogos são:

A divisão no mais alto nível é entre Atlantogenata e Boreoeutheria, no lugar de entre Xenarthra e o restante. Mas alguns filigeneticistas moleculares propõem uma divisão tríplice: Xenarthra, Afrotheria e Boreoeutheria.

Afrotheria contém vários grupos que são apenas relacionados distantemente de acordo com a versão dos paleontólogos: Afroinsectiphilia ("insetívoros africanos"), Tubulidentata (aardvarks, que os paleontólogos consideram como parentes mais próximos dos ungulados de cascos ímpares que outros membros da Afrotheria), Macroscelidea (musaranhos-elefantes, normalmente considerados como próximos de coelhos e roedores). Os únicos membros da Afrotheria que os paleontólogos considerariam como parentes próximos são: Hyracoidea (hiraxes), Proboscidea (elefantes) e Sirenia (peixes-boi, dugongos).

Os insetívoros estão divididos em três grupos: um faz parte do Afrotheria e os outros dois são sub-grupos distintos dentro do Boreoeutheria.

Os morcegos estão mais próximos dos carnívoros e dos ungulados de cascos ímpares que dos primatas e do Dermoptera (colugos).

Os perissodáctilos (ungulados de cascos ímpares) estão mais próximos dos carnívoros e morcegos que dos artiodáctilos (ungulados de cascos pares).

O agrupamento Afrotheria tem de certa forma justificativa geológica. Todos os membros sobreviventes do Afrotheria vivem na América do Sul ou (principalmente) na África, devido o supercontinente Pangea ter se separado dos outros continentes cerca de 150 milhões de anos atrás, e depois ter se dividido em América do Sul e África entre 100 e 80 milhões de anos atrás. O mais antigo mamífero euteriano conhecido é o Eomaia, de cerca de 125 milhões de anos atrás. Então, não seria surpreendente se os mais antigos imigrantes euterianos na África e na América do Sul ficaram isolados e se irradiaram para todos os nichos ecológicos disponíveis.

Todavia, estas proposições são controversas. Os paleontólogos naturalmente insistem que a evidência fóssil deve ter prioridade sobre as deduções de amostras de DNA de animais modernos. De maneira ainda

40

Page 41: História Mamiferos

mais surpreendente, estas novas árvores genealógicas têm sido criticadas por outros filogeneticistas moleculares, às vezes com bastante dureza:

A taxa de mutação do DNA mitocondrial nos mamíferos varia de região para região - algumas partes raramente mudam e outras mudam radicalmente depressa e até mesmo mostram grandes variações entre indivíduos dentro das mesma espécie.

O DNA mitocondrial mamífero modifica-se tão rapidamente que causa um problema chamado "saturação", onde as interferências aleatórias suprimem qualquer informação que talvez esteja presente. Se um pedaço particular de DNA mitocondrial se modifica aleatoriamente durante uns poucos milhões de anos, ele terá mudado várias vezes nos últimos 60 a 75 milhões de anos, quando os principais grupos de mamíferos placentários divergiram.

6.7.3 Evolução placentária: quando começou?

Estudos filogenéticos moleculares recentes sugerem que a maioria das ordens placentárias divergiram cerca de 100 a 80 milhões de anos atrás, mas as famílias modernas surgiram pela primeira vez no final do Eoceno e no começo do Mioceno.

Alguns paleontólogos objetam que nenhum fóssil placentário foi encontrado antes do fim do Cretáceo - por exemplo, o Maelestes gobiensis, de cerca de 75 milhões de anos atrás, é um euteriano, mas não um placentário verdadeiro.

Os fósseis dos mais antigos membros da maioria dos modernos grupos datam do Paleoceno, alguns são posteriores e pouquíssimos datam do Cretáceo, de antes da extinção dos dinossauros. Mas alguns paleontólogos, influenciados pelos estudos filogenéticos moleculares, usaram métodos estatísticos para extrapolar mais para o passado fósseis dos grupos modernos e concluíram que os primatas surgiram no final do Cretáceo.

6.8 Evolução das características dos mamíferos

6.8.1 Mandíbulas e ouvidos médios

41

Page 42: História Mamiferos

O Hadrocodium, cujos fósseis datam do começo do Jurássico, fornece a primeira evidência clara de articulação da mandíbula e ouvido médio completamente mamíferos, onde a articulação da mandíbula é formada pelos ossos dentário e esquamosal enquanto os ossos articular e quadratum se deslocaram para o ouvido médio, transformando-se nos ossos bigorna e martelo. Curiosamente, ele é normalmente classificado como um membro do grupo mamaliformes e não como um mamífero verdadeiro.

Tem sido proposto que o ouvido médio tipicamente mamífero desenvolveu-se duas vezes independentemente, nos monotremados e nos mamíferos terianos, mas essa é uma opinião contestada.

6.8.2 Lactação

Sugere-se que a função original da lactação era manter os ovos úmidos. O argumento é baseado em grande parte nos monotremados (mamíferos que põem ovos):

Os monotremados não possuem mamilos, mas secretam leite por glândulas peludas em seus abdômens.

Durante a incubação, os ovos dos monotremados são cobertos por uma substância pegajosa cuja origem é desconhecida. Antes de os ovos serem postos, eles possuem uma casca com três camadas. Depois de postos, uma quarta camada aprece, e sua composição é diferente das três originais. A substância pegajosa e a quarta camada talvez sejam produzidas por glândulas mamárias.

Se é assim, isto talvez explique porque as glândulas das quais os monotremados secretam leite sejam peludas - é fácil espalhar umidade e outras substâncias sobre o ovo a partir de uma área ampla e peluda que de um mamilo pequeno e sem pelos.

6.8.3 Pêlos e pele

A primeira evidência clara de cabelos ou pêlos está nos fósseis do Castorocauda, de 164 milhões de anos atrás, no médio Jurássico.

De 1955 em diante, alguns cientistas interpretaram que as fendas (passagens) nos maxilares (mandíbulas superiores) e pré-maxilares (pequenos ossos na frente dos maxilares) dos cinodontes como canais que

42

Page 43: História Mamiferos

forneciam vasos sangüíneos e nervos para bigodes sensoriais (vibrissas), e sugeriram que isto era uma evidência de cabelos ou pêlos. Mas estas aberturas não necessariamente mostram que um animal possua vibrissas - por exemplo, o moderno lagarto Tupinambis possui aberturas que são quase idênticas àquelas encontradas no cinodonte não-mamífero Thrinaxodon.

6.8.4 Membros eretos

A evolução dos membros eretos nos mamíferos está incompleta - monotremados atuais e fósseis possuem membros não eretos. Na realidade, alguns cientistas acham que a postura parassagital (membros eretos) é uma sinapomorfia (característica diferenciada) do Boreosphenida, um grupo que contém o Theria e, portanto, inclui o último ancestral comum dos marsupiais e placentários modernos - e dessa forma, mostra que todos os primeiros mamíferos possuiam membros não eretos.

O Sinodelphys (o mais antigo marsupial conhecido) e o Eomaia (o mais antigo placentário conhecido) viveram cerca de 125 milhões de anos atrás, de modo que os membros eretos devem ter evoluído antes deles.

6.8.5 Sangue quente

"Sangue quente é um termo complexo e particularmente ambíguo, porque ele inclui alguns ou todos os termos abaixo:

Endotermia, ou seja, a capacidade de gerar calor internamente e não através de comportamentos tais como aquecer-se ao sol ou de atividade muscular.

Homeotermia, ou seja, a manutenção bastante constante da temperatura corporal.

Taquimetabolismo, ou seja, um tipo de termorregulação usada por criaturas que mantêm um alto metabolismo de descanso. Criaturas taquimetabólicas estão, essencialmente, "ligadas" o tempo todo. De qualquer forma, seus metabolismos de descanso são ainda muitas vezes mais lentos que seus metabolismos ativos. A diferença não é freqüentemente tão grande como a vista nas criaturas de sangue frio. As criaturas taquimetabólicas têm grande dificuldade de lidar com uma escassez de comida.

43

Page 44: História Mamiferos

Visto que nós não podemos saber muito sobre os mecanismos internos das criaturas extintas, a maioria das discussões se concentra na homeotermia e no taquimetabolismo.

Os monotremados modernos têm uma temperatura corporal baixa e taxa metabólica mais variável que os marsupiais e placentários. Então, a questão principal é quando um metabolismo monotremado evoluiu nos mamíferos. As evidências encontradas até agora sugerem que cinodontes triássicos devem ter tido taxas metabólicas bastante elevadas, mas isto não é conclusivo.

Concha nasal respiratória

Os mamíferos modernos têm conchas nasais respiratórias, estruturas convolutas de osso fino na cavidade nasal. Estas estão alinhadas com as mucosas que aquecem e umedecem o ar inalado e extraem calor e umidade do ar exalado. Um animal com conchas nasais respiratórias pode manter uma alta taxa de respiração sem o perigo de secar os seus pulmões, e assim poder ter um metabolismo acelerado. Por azar, estes ossos são muito delicados e dessa forma ainda não foram encontrados em fósseis. Mas, sulcos rudimentares como aqueles que sustentam as conchas nasais respiratórias foram encontradas em terápsidas triássicos como o Thrinaxodon e o Diademodon, o que sugere que eles talvez tivessem taxas metabólicas bastante elevadas.

Palato secundário ósseo

Os mamíferos possuem um palato secundário ósseo que separa a passagem respiratória da boca, permitindo que eles comam e respirem ao mesmo tempo. Palatos secundários ósseos foram encontrados nos cinodontes mais avançados e têm sido usados como evidência de taxas metabólicas elevadas. Mas alguns vertebrados de sangue frio possuem palatos secundários ósseos (crocodilianos e alguns lagartos), enquanto as aves, que são animais de sangue quente, não os possuem.

Diafragma

Um diafragma muscular ajuda os mamíferos a respirarem, especialmente durante atividades enérgicas. Para um diafragma funcionar, as costelas não devem restringir o abdômen, de forma que a expansão do tórax pode ser compensada pela redução no volume do abdômen e vice-versa. Os cinodontes mais avançados tinham caixas torácicas bastante

44

Page 45: História Mamiferos

semelhantes às dos mamíferos, com costelas lombares muito reduzidas. Isto sugere que estes animais tinham diafragmas, eram capazes de atividades extenuantes por períodos bastante longos e então tinham altas taxas metabólicas. Por outro lado, estas caixas torácicas semelhantes às dos mamíferos podem ter se desenvolvido para aumentar a agilidade. Mas este passo de terapsídeos mais avançados foi "como um carro de mão", com os membros traseiros fornecendo todo o impulso enquanto os membros dianteiros apenas guiando o animal, em outras palavras, estes terapsídeos avançados não eram tão ágeis quanto os mamíferos modernos ou os primeirosdinossauros. Então, a ideia de que a principal função destas cavidades torácicas semelhantes às dos mamíferos era de aumentar a agilidade é duvidável.

Postura dos membros

Os terapsídeos tinham os membros dianteiros estendidos e os traseiros semi-eretos. Isto sugere que a restrição de Carrier teria tornado para eles particularmente difícil se mover e respirar ao mesmo tempo, mas não tão difícil para animais como como os lagartos que têm membros completamente estendidos. Mas os cinodontes (terapsídeos avançados) tinham placas nas costelas que endureciam a cavidade torácica e assim possivelmente reduziam a flexão lateral do tronco enquanto se moviam, o que teria tornado um pouco mais fácil para eles respirar enquanto se moviam. Estes fatos sugerem que os terapsídeos avançados eram significativamente menos ativos que os mamíferos modernos de tamanho similar e dessa forma talvez tivessem metabolismos lentos.

Isolamento térmico (cabelos e pêlos)

O isolamento térmico é o caminho menos custoso para se manter a temperatura do corpo constante. Assim, possuir cabelos ou pêlos seria uma boa evidência de homeotermia, mas não tão forte quanto a evidência de uma alta taxa metabólica.

Vimos que: a primeira evidência clara de cabelos ou pêlos está em fósseis do Castorocauda, de 164 milhões de anos atrás, no médio Jurássico; os argumentos de que os terapsideos avançados tinham pêlos não são convincentes.

45

Page 46: História Mamiferos

7. CONCLUSÃO

Podemos concluir que:

O estudo dos mamíferos ajuda-nos a compreender não só a fisiologia de outros animais, mas também a entender melhor o funcionamento do corpo do ser humano.

Os mamíferos são parte integrante do Reino Animália, e por conta disso influenciam nas mais diversas interações entre os seres no nosso planeta.

Muitas características físicas dos mamíferos são comuns a quase todas as espécies desse reino, o que ajuda classificar e atender melhor o próprio ser humano.

A historia da evolução dos mamíferos nos ajuda a identificar padrões que poderão ocorrer na evolução dos seres humanos.

46

Page 47: História Mamiferos

8. BIBLIOGRAFIA

SIMPSON, G.G. (1945). The Principles of Classification and a Classification of Mammals, Bulletin of the American Museum of Natural History. New York. McKENNA, M. C., BELL, S. K. (1997). Classification of mammals above the species level. Columbia University Press, New York. NOVAK, R.M. (1999). Walker's Mammals of the World, Johns Hopkins University Press. Baltimore. WILSON, D.E., REEDER, D.M. (2005). Mammal Species of the World: A Taxonomic and Geographic Reference, 3ª edição. Johns Hopkins University Press, Baltimore, Maryland, 2.142 pp., 2 volumes. GRZIMEK, B., SCHLAGER, N., OLENDORF, D. (2003). Grzimek's Animal Life Encyclopedia, Thomson Gale. Detroit. POUGH, F.H., JANIS, C.M., HEISER, J.B. (2003). A Vida dos Vertebrados, Atheneu. São Paulo. Robert L. Carroll, Vertebrate Paleontology and Evolution, W. H. Freeman and Company, New York, 1988 ISBN 0-7167-1822-7. Do Capítulo XVII até o XXI. Nicholas Hotton III, Paul D. MacLean, Jan J. Roth, and E. Carol Roth, editors, The Ecology and Biology of Mammal-like Reptiles, Smithsonian Institution Press, Washington and London, 1986 ISBN 0-87474-524-1 T. S. Kemp, The Origin and Evolution of Mammals, Oxford University Press, New York, 2005 ISBN 0-19-850760-7 Zofia Kielan-Jaworowska, Richard L. Cifelli, and Zhe-Xi Luo, Mammals from the Age of Dinosaurs: Origins, Evolution, and Structure, Columbia University Press, New York, 2004 ISBN 0-231-11918-6. Cobertura abrangente dos primeiros mamíferos até a época da extinção em massa K-T. Zhe-Xi Luo, "Transformation and diversification in early mammal evolution", Nature volume 450 number 7172 (13 December 2007) pages 1011-1019. doi:10.1038/nature06277. Um artigo de perquisa com 98 referências para a literatura científica.

47

Page 48: História Mamiferos

9. ANEXOS

48

Page 49: História Mamiferos

49