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História do Rádio Clube Português (1)
Posted on 11/01/2012 by Rogério Santos
A revista Antena (1965-1969), propriedade do Rádio Clube Português
(RCP), a estação de rádio privada portuguesa mais importante na
década de 1960, publicou em quase vinte números a história da
emissora, em especial as primeiras décadas. Maior ênfase seria
colocada na participação da estação quanto ao apoio aos sublevados
de Francisco Franco na guerra civil de Espanha (1936-1939),
tomando nítido partido por um dos lados do conflito. Essa história do
RCP começaria no número 4, de 15 de abril de 1965, de que aqui
deixo reproduzidas as quatro páginas (pp. 41-44) (vou procurar
editar todos os artigos como foram publicados na revista ao longo
dos próximos tempos).
História do Rádio Clube Português (2)
Posted on 15/01/2012 by Rogério Santos
No número 5 de 1 de maio de 1965, a revista Antena publicava o
segundo artigo sobre a história do Rádio Clube Português. Os anos
de 1934 e 1935 da vida da estação eram analisados. A questão da
publicidade (em 1934, as autoridades tinham proibido a publicidade
no RCP, assim como nas outras emissoras privadas, o que gerou um
movimento favorável às estações, com a criação de uma liga de
associados do RCP, voltando a emissora a ter publicidade nos seus
programas no ano de 1936), a inauguração do emissor em onda
curta, a nova programação (que incluia reportagens de eventos como
o casamento real inglês) e espetáculos no estúdio da estação são os
principais elementos recordados no texto, que ocupa três páginas.
História do Rádio Clube Português (3)
Posted on 21/01/2012 by Rogério Santos
O número de 15 de maio de 1965 da revista Antena inseria o terceiro
capítulo da história do Rádio Clube Português. Dois assuntos
tratados: a visita de Salazar à estação e o incêndio que deflagrou nas
instalações em 14 de setembro de 1935. A visita do primeiro-ministro
teve um tratamento específico, prova da relação próxima dos
responsáveis da estação com Salazar. Lê-se no texto: “Cerca das
10,30 desse dia [17 de março de 1935], um automóvel estacionara
junto ao portão do Clube. Alguém, metido num fato preto, saira da
viatura e, de mãos enfiadas nos bolsos, ficara alguns momentos
parado, olhando o edifício e a cerca. Os que se encontravam dentro
do edifício verificaram, com surpresa, tratar-se do sr. Prof. Dr.
Oliveira Salazar. Houve como que uma corrida aos telefones, a fim
de chamar os directores da emissora que mais perto residiam, pois
nada fazia antever tal visita. A presença do ilustre Chefe do Governo
Português, nas instalações do Rádio Clube, foi breve mas minuciosa.
Inúmeros foram os esclarecimentos e prontamente dados. Nada ficou
por ver. [...] a visita terminou com esta dedicatória escrita pelo
próprio Prof. Dr. Oliveira Salazar no livro de honra do Clube: «O
Estado deve aproveitar os ensinamentos da concorrência
particular»”.
A visita de Salazar precisa de ser contextualizada. Por um lado, a
Emissora Nacional, a estação do Estado, estava a emitir ainda
experimentalmente. O presidente da comissão instaladora da
estação, António Joyce, seria substituído pelo capitão Henrique
Galvão, em junho de 1935. Salazar sabia já da necessidade de
colocar um homem de grande confiança no poder da Emissora
Nacional (Galvão viria a rebelar-se contra ele em 1961 com o desvio
do paquete Santa Maria). Por outro lado, o Rádio Clube Português,
liderado pelo capitão Botelho Moniz, fazia a apologia do governo e do
poder de Salazar, com um discurso nacionalista e patriótico, através
de conferências de propaganda nacional organizadas pela própria
estação durante 1935. Em 1936, Botelho Moniz participou em
comícios anticomunistas no Campo Pequeno (Lisboa) e Coliseu
(Porto), apoiou a constituição da Legião Portuguesa e envolveu-se na
Guerra Civil de Espanha, dando notícias favoráveis a Franco (ver
Rogério Santos, 2005, As vozes da rádio, 1924-1939). Os capítulos 6,
7, 8, 9 (onde se relataria a destruição das instalações da Rádio
causada pelo rebentamento de uma bomba, relacionada com a sua
ligação a um dos lados da guerra espanhola), 11, 13 e 14 da história
da estação contariam alguns episódios desta relação com a Falange
espanhola.
História do Rádio Clube Português (4)
Posted on 24/01/2012 by Rogério Santos
O incêndio nas instalações do Rádio Clube Português em 14 de
setembro de 1935 levou a uma onda de apoio, formando-se uma
comissão pró-rádio. O texto do número 7, de 1 de junho de 1965, de
Antena destacava quatro elementos na reanimação da estação. Uma
das atividades seria um espetáculo a 4 de novembro do mesmo ano,
com um concerto da Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional e da
Orquestra Aldrabófona de Lisboa (que atuaria depois em emissões
em direto do RCP). Depois, o número de sócios do RCP atingia 7200,
com apoios financeiros desses associados a somar a outros
donativos. Em terceiro lugar, CT1GL, designação do RCP, voltava a
transmitir, a 26 de novembro, dois anos depois da primeira emissão
experimental. O texto não identifica a “melodia fresca [que] saiu
daqueles escombros, levando já uma nova alma”. Finalmente, na
assembleia geral de 9 de fevereiro de 1936 anunciavam-se duas boas
novas: um emissor de 30 kW e a permissão para voltar a ter
publicidade na programação. A visita de Salazar ao RCP em 17 de
março de 1935 acelerara a resolução de um problema surgido algum
tempo antes. Como escrito acima, a Orquestra Aldrabófona tocaria
com frequência na rádio: formada por 26 músicos, “magros e gordos,
altos e baixos, morenos e rosados, carecas e com cabeleiras para
todos os gostos”, dirigida pelo maestro Aldrabowsky e com
instrumentos como “um piano, dois harmónios, umas quatro violas,
outras tantas guitarras, um pífaro, vários berimbaus e o resto
constava, quase na totalidade, de harmónicas de boca”.
História do Rádio Clube Português (5)
Posted on 31/01/2012 by Rogério Santos
O quinto episódio da história do Rádio Clube Português apareceu no
nº 8, de 15 de Junho de 1965, da revista Antena. O texto repartiu-se
em quatro elementos, cobrindo o ano de 1936: orquestra radiofónica
da estação, resolução do problema da publicidade, novos
colaboradores como Mary Tarrant (conhecida durante décadas
apenas como Mary), e campanha para o associado número dez mil.
Numa altura em que a indústria fonográfica ainda era pouco
importante no nosso país, as estações de rádio criaram as suas
orquestras amadoras que apoiavam as emissões em direto tocando
música variada, ligeira e de dança, como se lê no texto.
A orquestra seria dirigida por Samuel Miguens, professor em
Lourenço Marques (atual Maputo, capital de Moçambique), após
ensaios de dois meses. A orquestra tinha os seguintes músicos:
Elvira Borsatti, Irene Dinis, António Fernandes da Silva, António
Freire Garcia, Artur Esteves, Artur Santos, David Pio, Duarte
Ferreira Pestana, Joaquim da Costa Mendonça, José Semedo Velez,
Luís Pereira e Mário Santos. Podia crescer até mais sete músicos,
professores como escreveu o autor do texto, caso as necessidades
das composições a tocar.
História do Rádio Clube Português (6 a 8)
Posted on 16/02/2012 by Rogério Santos
A revista Antena de 1 e 15 de julho e 1 de agosto de 1965 continuou
a publicar a história do Rádio Clube Português (capítulos 6 a 8). São
três textos que ilustram a participação da estação ao lado das tropas
de Francisco Franco na Guerra Civil de Espanha (1936-1939), em
especial o seu fundador e presidente, capitão Jorge Botelho Moniz. O
texto explica a orientação política, embora a negando: “a Direção de
Rádio Clube Português resolveu, unanimente, aproveitar as
circunstâncias para realizar a primeira experiência internacional de
uma grande reportagem radiofónica de interesse público. Nunca, até
então, a rádio tivera oportunidade de efetuar coisa semelhante”.
Quem escreveu isto foi o próprio Botelho Moniz, numa palestra lida
aos microfones em 18 de julho de 1957, e que o autor dos textos da
história da emissora transcreveu e que se prolongou nos dois
episódios seguintes (que ficam aqui em conjunto). Botelho Moniz
colocara-se, “quase desde a primeira hora, ao lado das tropas
nacionalistas”, com a estação a acompanhar “a par e passo as suas
progressões, os seus combates, os seus sacrifícios e os seus
triunfos”. A História fazia-se de um dos lados do combate.
História do Rádio Clube Português (9)
Posted on 26/02/2012 by Rogério Santos
O Rádio Clube Português sofreria um atentado à bomba na noite de
20 de janeiro de 1937. O envolvimento da estação na Guerra Civil de
Espanha acarretava inimigos. O emissor ficaria restabelecido no dia
seguinte.
Nesse ano, continua o texto publicado na revista Antena, de 15 de
Agosto de 1965, realizou-se uma festa por iniciativa da Casa de Entre
Douro e Minho dedicada à Telefonia Sem Fios (TSF). Numa alocução
proferida na altura, disse-se que a rádio era “um poderosíssimo
instrumento de expansão inteletual, cujo desenvolvimento constitui
índice no progresso de um país”. Participaram a totalidade ou quase
totalidade das estações de então: Emissora Nacional, Rádio Hertz,
Rádio Renascença, Rádio Luso, Rádio Peninsular, Rádio S. Mamede,
Clube Radiofónico de Portugal, Rádio Condes, Rádio Sonora, Rádio
Hertziana, Rádio Graça, Rádio Colonial e Rádio Clube Português.
História do Rádio Clube Português (10)
Posted on 26/03/2012 by Rogério Santos
Noticiário sobre automobilismo, espetáculos em direto de fados e
guitarradas e de uma cantora espanhola, recital de violino e piano –
assim se diversificava a programação do Rádio Clube Português em
1937 (Antena, 1 de setembro de 1965). Por outro lado, a estação
promovia subscrições, como durante as inundações no Ribatejo em
abril desse ano, e apelos para a campanha de dádiva de sangue.
Além disso, as suas emissões chegavam à Terra Nova onde
labutavam navios bacalhoeiros portugueses.
História do Rádio Clube Português (11)
Posted on 11/04/2012 by Rogério Santos
A revista Antena, propriedade do Rádio Clube Português, inseria o
episódio 11 no seu número de 15 de setembro de 1965. A história
cristalizaria na década de 1930, período de apoio a uma das fações
da guerra em Espanha por parte dos dirigentes da estação. Daí, o
tom nacionalista dos textos e a exaltação de feitos na recordação de
1937, como se pode retirar da leitura do texto abaixo reproduzido:
manobras de outono por parte do exército português, primeiro dia
desportivo da mulher (com a participação de equipas espanholas),
apelo ao apoio às populações do país vizinho. Mas lembrar-se-iam as
emissões de quarta-feiras a cargo da orquestra da rádio sob o
cuidado de Samuel Miguens. Música ligeira e jazz eram dois tipos de
música escutada na estação.
História do Rádio Clube Português (12)
Posted on 12/04/2012 by Rogério Santos
A 1 de outubro de 1965, a revista Antena publicava o artigo 12º da
história do Rádio Clube Português, ainda dedicado a 1937. Desta vez,
coube a honra à Orquestra Rádio, dirigida por René Bohet,
simultaneamente violinista e diretor da Orquestra do S. Luís-Cine.
Bohet introduziu uma nota de jazz numa das músicas tocadas pela
orquestra da estação. Mas o artigo deu igual destaque a uma nova
rubrica (fados e guitarradas), no sentido de atrair ouvintes de
estratos mais populares, e ao número de filiados na estação, num
total de 13500.
História do Rádio Clube Português (13)
Posted on 25/05/2012 by Rogério Santos
A revista Antena, propriedade do Rádio Clube Português, editava no
seu número 16, correspondente a 15 de outubro de 1965, o capítulo
13 da história daquela estação. Os anos revisitados eram 1937 e
1938, aliás tema de capítulos anteriores. O envolvimento direto na
cobertura da guerra civil de Espanha por um dos lados dos
contendores era um tópico central do texto. O último parágrafo
destacaria essa aposta, com a entrevista feita e radiodifundida à
fundadora de uma associação ligada aos falangistas (de Franco) e o
pano de fundo de apoio, a “consagração internacional do RCP”.
Aumento dos sócios da estação, entrada em funcionamento de um
novo emissor de 30 kW e alargamento do quadro de pessoal como
resposta a uma nova estrutura de programas – eis os outros
elementos principais do artigo.
História do Rádio Clube Português (14)
Posted on 22/06/2012 by Rogério Santos
1938 continuou no horizonte da história do Rádio Clube Português,
no décimo quarto capítulo publicado na revista Antena, de 1 de
novembro de 1965. No final do primeiro mês do ano, a Falange
visitou o Rádio Clube, retribuindo o apoio político dado ao grupo de
Franco. O articulado é objetivo, sem margem para dúvidas: “Rádio
Clube Português ao tomar lugar no conflito espanhol fê-lo não ao
serviço da Espanha, mas sim ao serviço de Portugal”. O diretor da
estação, o capitão na reserva Jorge Botelho Moniz, disse, ao receber
os espanhóis revoltosos: “Ganha a batalha da rádio, cabe agora a vez
aos soldados”. Na sua juventude, Moniz fora chefe de gabinete de
Sidónio Pais, o presidente da República rapidamente assassinado.
A programação da estação, então ainda a funcionar na Parede, muito
antes de se mudar para a rua de Sampaio e Pina, aqui em Lisboa,
mereceu também destaque: a transmissão de uma ópera, a Carmen
de Bizet, a que se seguiram Os Palhaços, de Ruggero Leoncavallo, e
Rigoletto, de Giuseppe Verdi. Havia leitura prévia dos libretos.
Troupe Gounot e Orquestra Rádio também operavam nessa estética
antiga, experiência que mudaria depressa, com a introdução da
música ligeira a partir do Centro de Preparação de Artistas da
Emissora Nacional, no final da década de 1940.
História do Rádio Clube Português (15)
Posted on 18/11/2012 by Rogério Santos
Como se fazia a atualização discográfica nas estações de rádio em
finais da década de 1930? Por dois processos habituais: a compra de
cópias por viajantes de avião a outros países, incluindo os
comissários de bordo dessas aeronaves; a aquisição em lojas da
especialidade em Lisboa e no Porto. O texto número 15 da história
do Rádio Clube Português (Antena, nº 18, 15 de novembro de 1965)
pormenoriza orquestras (casos de Paul Whiteman, Duke Ellington e
outras) e radialistas, como Luís Aranda, como os fornecedores de
nova música.
Em 1938, continua o mesmo artigo, começaram as palestras
(programas de duração de cinco minutos em média) de temas
agrícolas, em especial a campanha do trigo, que o governo de então
promoveu, no sentido de aumentar a produção cerealífera até
abastecer na totalidade o consumo interno, o que nunca conseguiu.
O artigo narra ainda dois acontecimentos: a festa da jovem Mimi
Extremadouro, artista dos programas infantis, e o começo de um
programa dominical sobre temas variados (arte, literatura e
desporto).
História do Rádio Clube Português (16)
Posted on 08/01/2013 by Rogério Santos
O texto 16 da história do Rádio Clube Português, de 1 de Dezembro
de 1965 (revista Antena, propriedade daquela estação de rádio),
manteve o foco no ano de 1938. Aí foram destacados os programas
religiosos, a transmissão de concerto de música de câmara do Teatro
da Trindade, feita por linha telefónica de Lisboa para a Parede, onde
estavam os estúdios da rádio, o teatro radiofónico com o entusiasmo
de Manuel Lereno.
Uma referência grande no texto foi dada ao novo emissor de 30 kW
(no texto, quilovátios) da CT1GL, o indicativo de então de Rádio
Clube Português. Lê-se no texto: “a mais perfeita sob o ponto de
vista técnico, a mais potente das emissoras peninsulares e uma das
mais potentes da Europa”. Custo: mil e duzentos contos, valor
elevado se atentarmos a que as rendas de casas em Lisboa andariam
entre cem e cento e vinte escudos, continua o texto. Os rendimentos
da estação provinham das quotas dos seus sócios (e também da
publicidade, que a estação já tinha sido autorizada a fazer
publicidade).
História do Rádio Clube Português (17)
Posted on 15/01/2013 by Rogério Santos
No nº 20, de 22 de Dezembro de 1965, a revista Antena publicava o
episódio 17 da história do Rádio Clube Português. Se, no texto
anterior, houve uma referência ligeira ao teatro radiofónico, neste
episódio a alusão ao teatro na rádio foi mais profunda. Nele,
enumeram-se os nomes de Ana Spranger, Meniche Lopes, Margarida
Franco, Artur Moura, Rui Furtado, Jaime Santos, António Cruz e
Azevedo Moreira, dirigidos por Manuel Lereno. O teatro radiofónico
alcançava um número elevado de ouvintes, mesmo que fosse
transmitido a horas tardias.
Outro tópico do texto era o das empresas editoras de discos e o das
lojas que os comercializavam. Lê-se no texto: “oferecer aos ouvintes
portugueses música de Portugal não era coisa fácil”. Mas, de norte
ao sul, o povo cantava e dançava um repertório de música folclórica
quase desconhecido dos outros, comenta o mesmo texto. Ainda em
1938, um ano de fortes memórias para o autor destes episódios da
história da emissora, o carro de som fez gravações de música
regional que animou, durante algum tempo, os programas da
estação.
O texto exalta a renovação desse tipo de música, com a formação de
novos ranchos folclóricos, como acção directa dos programas do
Rádio Clube Português. Esta era, contudo, uma emanação do poder
político, com as campanhas do Secretariado Nacional de Informação
sob a direcção de António Ferro. No centenário, comemorado em
1940, o esforço alargava-se à Emissora Nacional, de que se
notabilizou Armando Leça, já aqui lembrado.
História do Rádio Clube Português (18)
Posted on 21/03/2013 by Rogério Santos
No número 21 da revista Antena (1 de janeiro de 1966), era impresso
o 18º capítulo da história do Rádio Clube Português. Seria o último,
pois durante o resto da existência da publicação (até 15 de Outubro
de 1968) nunca mais saiu aquela rubrica.
O Rádio Clube Português vivia o ano de 1938. Então, na vizinha
Espanha, a guerra civil estava a chegar ao fim, mas uma igualmente
trágica guerra ia começar, agora abrangendo a Europa toda. Mas, o
autor do texto evitou referir-se ao acontecimento no país ao lado,
como o fez abundamente em anteriores episódios, e debruçou-se
sobre as questões económicas da estação.
Um défice de 48 contos seria inscrito no relatório de 1937, um valor
muito elevado na época (receitas: 398 contos; despesas: 446 contos).
Um novo emissor de 30 kW começava a trabalhar em Outubro de
1938 (1296 contos). As emissões ainda não eram diárias, mas, pelo
menos aos sábados, a voz da estação da Parede atingia toda (ou
quase toda) a Europa.
Um aspecto interessante: o arranque das retransmissões de música
de dança de uma sala do Casino do Estoril. Ali, diz o texto, actuava
um pianista excepcional de jazz, Jimmy Campbell. Na história da
rádio em Portugal, pelo menos até ao começo da década de 1960, era
normal as estações transmitirem directamente música de dança de
salas-concerto.
Rádio Clube Português – quase cem programas de rádio em 1968
Posted on 10/02/2012 by Rogério Santos
Em três números sucessivos, no início de 1968, a revista Plateia
mostrou as principais caras da programação do Rádio Clube
Português (para ler melhor, com ampliação, clicar em cima das
imagens). Na longa lista de programas, a maior parte deles deviam-
se a produtores independentes, que procuravam criar estilos
característicos e ter locutores próprios.
Alguns dos programas marcaram a história da rádio em Portugal:
Onda do Otimismo, Talismã, Diário do Ar, Jornal dos Espetáculos,
Programa à Gô-Gô, Companheiros da Alegria, Clube do Disco, Clube
das Donas de Casa, Parodiantes de Lisboa, PBX, Encontro no Ar. O
que mais me marcou foi Em Órbita. Sonarte, Produções Gilberto
Cotta e Parodiantes de Lisboa eram alguns dos produtores dos
programas do Rádio Clube Português. Um dispositivo habitual da
época, em especial nos programas de ondas médias, era a existência
de um par de locutores por emissão, habitualmente um homem e
uma mulher. Vários dos apresentadores, já desaparecidos, chegaram
a vedetas na televisão (RTP): Fialho Gouveia, Gomes Ferreira, Jorge
Alves, Maria Helena d’Eça Leal, Fernando Curado Ribeiro.
Teatro radiofónico em 1949
Posted on 29/04/2012 by Rogério Santos
Na véspera de Natal de 1949, a Rádio Peninsular (Lisboa) emitia um
programa de teatro radiofónico, de autoria de António Guedes de
Amorim (1901-1979). Nascido na Régua, passaria pelo Porto, como
empregado do comércio, e estabelecer-se-ia em Lisboa, como
jornalista de O Século e O Século Ilustrado, romancista,
nomeadamente de Aldeia das Águias (1939, prémio Ricardo
Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa) e Os Barcos descem
o Rio (1945), e biógrafo, caso do livro Francisco de Assis, Renovador
da Humanidade (1960). As curtas biografias que encontrei referem-
se à obra literária de António Guedes de Amorim como tendo dois
períodos, um com acento neo-realista ou marxista, sobre a pobreza, a
marginalidade e o real social e quotidiano do submundo (Press.net
do Douro), o outro com um pendor religioso, a partir de 1960.
Noite sem Pecado, emitido pela Rádio Peninsular, apresentou quatro
personagens: Maria Augusta, o filho Luís, a empregada Ricardina e a
vizinha Piedade. Maria Augusta estava doente (tuberculosa) e
esperava notícias do marido ausente em África para onde fora
ganhar a vida mas já há muito que não enviava cartas. O autor
mostra um quadro de miséria, que nem o emprego do filho num
banco consegue debelar. Não havia dinheiro, Maria Augusta tinha
dívidas na mercearia, no talho, etc., à empregada (criada), que
gastara todos os seus parcos bens na ajuda na casa, já se deviam
alguns meses de vencimento. Nessa véspera de Natal, Luís trazia
cinco contos (cinco mil escudos) que resultara de um engano em
depósito feito por um antigo sócio do seu pai. A mãe condenou o filho
e obrigou-o a devolver o dinheiro. Quase em simultâneo, o carteiro
trazia uma carta do marido de Maria Augusta, com um cheque de
dez contos e a dizer que a sua vida profissional estava melhor.
Uma das estações dos Emissores Associados de Lisboa, a Rádio
Peninsular, antecipava-se à própria Emissora Nacional a emitir
teatro radiofónico, que ensaiava nessa altura As Pupilas do Senhor
Reitor, de Júlio Dinis. No seu livro O Teatro Invisível (2006), Eduardo
Street refere-se a esta produção da Emissora Nacional como uma
superprodução. Se sabemos que a transmissão da Emissora foi um
êxito, não nos chegou uma informação tão precisa da transmissão da
Rádio Peninsular. Mas certamente que foi também um êxito, dado
que a peça de António Guedes de Amorim foi publicada na revista
Rádio Nacional, propriedade da Emissora Nacional, nas edições de
28 de janeiro e 4 e 18 de fevereiro de 1950. Não sei quem a
interpretou, mas imagino os sons: um violino a tocar Avé Maria, de
Schubert, uma campainha da porta, a tosse de Maria Augusta, o
caminhar das personagens dentro do quarto onde permanecia a
doente.
A Rádio Peninsular tornar-se-ia uma emissora reputada a emitir em
Lisboa. Em 1969, a Casa da Imprensa atribuiria ao programa 1-8-0,
de Aurélio Carlos Moreira e Paulo Medeiros, da Rádio Peninsular, o
prémio de melhor programa do ano. A estação, com todas as
estações dos Emissores Associados de Lisboa e também as estações
dos Emissores Norte Reunidos (Porto) e o Rádio Clube Português,
desapareceria com a nacionalização das rádios decidida
politicamente em março de 1975.
Observação (colocada em 1 de maio de 2012, pelas 15:28): ainda
antes de 1949, a Emissora Nacional e as estações privadas passaram
diálogos radiofónicos e folhetins radiofónicos, que queriam dizer
conversas a dois e episódios sucessivos de uma história,
respetivamente. A linguagem habitual na época não fazia uma
distinção fina de diálogo, de folhetim e, mesmo, de teatro
radiofónico. A separação defendida no texto acima dá conta de um
novo estilo, de uma nova roupagem, de um novo significado do
conceito de teatro radiofónico, na sequência de Eduardo Street.
Maria Carlota Álvares da Guerra
Posted on 13/05/2012 by Rogério Santos
“O jornal era a maior parte da vida de meu
pai” (Artur Portela, filho de Artur Portela). “Houve quem se
apaixonasse pela voz, outros pelo olhar. Em todos os horários
recebeu cartas de amor, ele que nos perdoe a inconfidência” (Miriam
Alves e Oriana Alves, filhas de Fernando Alves).
Jornalistas. Pais e Filhos, da editora Fronteira do Caos (2011), é um
livro em que os filhos jornalistas escrevem sobre os pais jornalistas,
proposta simples para escrever um livro. Contei 18 jornalistas
retratados, que incluem João Alves da Costa, Manuel Flórido, Silva
Costa, Appio Sottomayor, Fialho de Oliveira, Amadeu José de Freitas,
Rui Cunha Viana, Nuno Brás e outros.
Fico com o relato de João Paulo Guerra, que eu me habituei a ler e
ouvir, sobre a sua mãe: Maria Carlota Álvares da Guerra (1921-
2002), em texto intitulado “O Romance da Tua Vida Ainda por
Escrever” (pp. 33-39). Maria Carlota Álvares da Guerra – como
gostava que a chamassem, assim mesmo, pelo nome completo – era
professora primária (regente), divorciada, com dois filhos a criar
(João Paulo e Maria do Céu, atriz fundadora do teatro Barraca, aqui
em Lisboa). O dinheiro era escasso, pelo que ela se decidiu concorrer
a um lugar de chefe de redação da Crónica Feminina (1956). Esta
revista não era sufragista nem feminista, escreve o autor-jornalista,
mas pôs as mulheres das classes populares a ler histórias, casos e
segredos, ocupações e consultórios por um preço baixo, um escudo e
cinquenta centavos, o que a levou até aos 150 mil exemplares por
edição semanal. Quando a Agência Portuguesa de Revistas faliu, a
jornalista viu-se desempregada sem qualquer indemnização.
Maria Carlota Álvares da Guerra passou também pela rádio, caso da
Rádio Renascença, com o programa Nova Vaga, e do Rádio Clube
Português. O filho não escreve muito sobre esta longa ligação, pelo
que vale a pena tentarmos estabelecer uma curta biografia dela, a
partir de uma entrevista dada a Luís Garlito em 21 de março de 1995
(programa A Minha Amiga Rádio, Arquivo da RTP, AHC 2658):
“Resolvi fazer um programa na Rádio Renascença que se chamava A
Hora da Mulher. Era um programa semanal. Convidei o meu amigo
Joaquim Pedro para fazer o programa comigo. Tratava de tudo que
se relacionava com a mulher. [...] Depois, a minha saudosa amiga
Bertha Rosa Limpo, que tinha uns produtos de beleza, no tempo de O
Livro do Pantagruel, convidou-me para fazer um apontamento na 23ª
Hora. Aí é que foi o grande boom. Eu fiz uma coisa muito bonita e
ainda hoje penso que era muito bonita. Escrevia um apontamento,
dirigia em cada noite uma crónica a uma mulher que eu tinha na
cabeça, a uma senhora que estava em casa porque tinha torcido um
pé e estava muito aborrecida porque não sabia o que havia de fazer à
vida e eu falava com ela, uma senhora que tinha um filho em África
onde andava aos tiros e que andava muito triste, como também
estive em dada altura, uma senhora que não tinha emprego. Enfim,
fiz um trabalho que ainda hoje acho que valeu a pena fazer. [...]
Havia um poema nesse livro [Toi et Moi, de Paul Géraldy] que me
tocou particularmente. [...] Saiu-me [o título] Quando os Corações se
Encontram. As pessoas julgavam que eram os corações dos
namorados, mas eram os corações das pessoas umas com as outras.
[...] Foi título de livro e da crónica na 23ª Hora. O Joaquim Pedro
arranjou um indicativo musical que era um sonho, uma coisa do
Mantovani, e ele fazia questão de anunciar o título do apontamento,
da crónica. Aquilo que foi para o ar teve um grande êxito. Quando
chegou ao fim do contrato, a Bertha Rosa Limpo quis recomeçar.
Tive de fazer mais crónicas e tive muito gosto e felicidade. Tornou-se
um bocado difícil porque o João Martins quis um apontamento para o
programa dele, de manhã, que se chamou Passo a Passo, Dia a Dia
[...]. Tornava-se difícil fazer trinta crónicas mensais para a 23ª Hora
mais trinta para o Passo a Passo, Dia a Dia. E depois veio o senhor
Gilberto Cotta, do Talismã, que também quis crónicas. Eu disse: não
posso fazer mais do que dia sim dia não, porque fico sem graça
nenhuma”.
Maria Carlota Álvares da Guerra publicou as suas crónicas Quando
os Corações se Encontram (1965) e Lisboa Cada Dia (1967) e
traduziu muitas obras, incluindo Francesco Alberoni.
(recorte pertencente à revista Rádio e Televisão, 4 de maio de 1963)
A Força do Destino na Rádio Graça
Posted on 24/11/2012 by Rogério Santos
“Lembro-me de ir à loja de fazendas da minha avó materna e, por
cima da sua máquina de costura, onde fazia os arranjos necessários
às peças de vestuário das clientes, haver um calendário feito por ela,
a lápis, com os nomes dos folhetins, as horas e os postos que os
emitiam. Este fenómeno começara em 1955, com a emissão de um
folhetim na Rádio Graça e Rádio Clube Português, que tinha por
título A Força do Destino, mas que ficou popularmente conhecido
pelo folhetim da «coxinha» ou do Tide. O folhetim era de origem sul-
americana posteriormente adaptado à realidade portuguesa, por
haver falta de escritores nacionais que se dedicassem a este estilo. A
linha da narrativa passava pela história simples de Margarida, uma
jovem «coxinha» que andava de muletas, amorosa e triste,
apaixonada pelo médico Humberto Figueirola, casado com uma
mulher má, de nome Raquel e prima de Margarida. No final, após
inúmeras peripécias, Raquel morre e Margarida casa com o médico,
de quem tem uma filha, contribuindo assim para a reabilitação de
todas as «coxinhas» do país” (do blogue Cem Palavras, texto que
segue de muito perto o que escreveu Matos Maia no livro Telefonia).
“LG (Luís Garlito): Como é que vocês começaram a fazer teatro na
rádio?
“LSF (Lily Santos Frias): Era na Rádio Graça. Tínhamos a parte de
teatro radiofónico. Eu fiz vários teatros: eu fiz o Frei Luís de Sousa,
também.
“RI (Ricardo Isidro): Nasceu um dia a ideia de se fazer teatro porque
havia lá pessoas capazes de fazer com um bocadinho de habilidade.
“LG: Aí a Lily Santos e o Ricardo Isidro eram uns jovens…
“RI: Protagonizámos quase sempre. Fizemos…
“LSF: Eu comecei a trabalhar na rádio tinha nove anos. Comecei a
trabalhar… primeiro recitava, depois comecei a cantar” (Entrevista
com Lily Santos, Ricardo Isidro e Octávio Frias, por Luís Garlito, em
28 de setembro de 1993, Arquivo da RTP AHD 14919).