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História do Rádio Clube Português (1) Posted on 11/01/2012 by Rogério Santos A revista Antena (1965-1969), propriedade do Rádio Clube Português (RCP), a estação de rádio privada portuguesa mais importante na década de 1960, publicou em quase vinte números a história da emissora, em especial as primeiras décadas. Maior ênfase seria colocada na participação da estação quanto ao apoio aos sublevados de Francisco Franco na guerra civil de Espanha (1936-1939), tomando nítido partido por um dos lados do conflito. Essa história do RCP começaria no número 4, de 15 de abril de 1965, de que aqui deixo reproduzidas as quatro páginas (pp. 41-44) (vou procurar editar todos os artigos como foram publicados na revista ao longo dos próximos tempos).

História do rádio clube português

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Page 1: História do rádio clube português

História do Rádio Clube Português (1)

Posted on 11/01/2012 by Rogério Santos

A revista Antena (1965-1969), propriedade do Rádio Clube Português

(RCP), a estação de rádio privada portuguesa mais importante na

década de 1960, publicou em quase vinte números a história da

emissora, em especial as primeiras décadas. Maior ênfase seria

colocada na participação da estação quanto ao apoio aos sublevados

de Francisco Franco na guerra civil de Espanha (1936-1939),

tomando nítido partido por um dos lados do conflito. Essa história do

RCP começaria no número 4, de 15 de abril de 1965, de que aqui

deixo reproduzidas as quatro páginas (pp. 41-44) (vou procurar

editar todos os artigos como foram publicados na revista ao longo

dos próximos tempos).

Page 6: História do rádio clube português

História do Rádio Clube Português (2)

Posted on 15/01/2012 by Rogério Santos

No número 5 de 1 de maio de 1965, a revista Antena publicava o

segundo artigo sobre a história do Rádio Clube Português. Os anos

de 1934 e 1935 da vida da estação eram analisados. A questão da

publicidade (em 1934, as autoridades tinham proibido a publicidade

no RCP, assim como nas outras emissoras privadas, o que gerou um

movimento favorável às estações, com a criação de uma liga de

associados do RCP, voltando a emissora a ter publicidade nos seus

programas no ano de 1936), a inauguração do emissor em onda

curta, a nova programação (que incluia reportagens de eventos como

o casamento real inglês) e espetáculos no estúdio da estação são os

principais elementos recordados no texto, que ocupa três páginas.

Page 10: História do rádio clube português

História do Rádio Clube Português (3)

Posted on 21/01/2012 by Rogério Santos

O número de 15 de maio de 1965 da revista Antena inseria o terceiro

capítulo da história do Rádio Clube Português. Dois assuntos

tratados: a visita de Salazar à estação e o incêndio que deflagrou nas

instalações em 14 de setembro de 1935. A visita do primeiro-ministro

teve um tratamento específico, prova da relação próxima dos

responsáveis da estação com Salazar. Lê-se no texto: “Cerca das

10,30 desse dia [17 de março de 1935], um automóvel estacionara

junto ao portão do Clube. Alguém, metido num fato preto, saira da

viatura e, de mãos enfiadas nos bolsos, ficara alguns momentos

parado, olhando o edifício e a cerca. Os que se encontravam dentro

do edifício verificaram, com surpresa, tratar-se do sr. Prof. Dr.

Oliveira Salazar. Houve como que uma corrida aos telefones, a fim

de chamar os directores da emissora que mais perto residiam, pois

nada fazia antever tal visita. A presença do ilustre Chefe do Governo

Português, nas instalações do Rádio Clube, foi breve mas minuciosa.

Inúmeros foram os esclarecimentos e prontamente dados. Nada ficou

por ver. [...] a visita terminou com esta dedicatória escrita pelo

próprio Prof. Dr. Oliveira Salazar no livro de honra do Clube: «O

Estado deve aproveitar os ensinamentos da concorrência

particular»”.

A visita de Salazar precisa de ser contextualizada. Por um lado, a

Emissora Nacional, a estação do Estado, estava a emitir ainda

experimentalmente. O presidente da comissão instaladora da

estação, António Joyce, seria substituído pelo capitão Henrique

Galvão, em junho de 1935. Salazar sabia já da necessidade de

colocar um homem de grande confiança no poder da Emissora

Nacional (Galvão viria a rebelar-se contra ele em 1961 com o desvio

do paquete Santa Maria). Por outro lado, o Rádio Clube Português,

liderado pelo capitão Botelho Moniz, fazia a apologia do governo e do

poder de Salazar, com um discurso nacionalista e patriótico, através

de conferências de propaganda nacional organizadas pela própria

estação durante 1935. Em 1936, Botelho Moniz participou em

comícios anticomunistas no Campo Pequeno (Lisboa) e Coliseu

(Porto), apoiou a constituição da Legião Portuguesa e envolveu-se na

Guerra Civil de Espanha, dando notícias favoráveis a Franco (ver

Page 11: História do rádio clube português

Rogério Santos, 2005, As vozes da rádio, 1924-1939). Os capítulos 6,

7, 8, 9 (onde se relataria a destruição das instalações da Rádio

causada pelo rebentamento de uma bomba, relacionada com a sua

ligação a um dos lados da guerra espanhola), 11, 13 e 14 da história

da estação contariam alguns episódios desta relação com a Falange

espanhola.

Page 14: História do rádio clube português

História do Rádio Clube Português (4)

Posted on 24/01/2012 by Rogério Santos

O incêndio nas instalações do Rádio Clube Português em 14 de

setembro de 1935 levou a uma onda de apoio, formando-se uma

comissão pró-rádio. O texto do número 7, de 1 de junho de 1965, de

Antena destacava quatro elementos na reanimação da estação. Uma

das atividades seria um espetáculo a 4 de novembro do mesmo ano,

com um concerto da Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional e da

Orquestra Aldrabófona de Lisboa (que atuaria depois em emissões

em direto do RCP). Depois, o número de sócios do RCP atingia 7200,

com apoios financeiros desses associados a somar a outros

donativos. Em terceiro lugar, CT1GL, designação do RCP, voltava a

transmitir, a 26 de novembro, dois anos depois da primeira emissão

experimental. O texto não identifica a “melodia fresca [que] saiu

daqueles escombros, levando já uma nova alma”. Finalmente, na

assembleia geral de 9 de fevereiro de 1936 anunciavam-se duas boas

novas: um emissor de 30 kW e a permissão para voltar a ter

publicidade na programação. A visita de Salazar ao RCP em 17 de

março de 1935 acelerara a resolução de um problema surgido algum

tempo antes. Como escrito acima, a Orquestra Aldrabófona tocaria

com frequência na rádio: formada por 26 músicos, “magros e gordos,

altos e baixos, morenos e rosados, carecas e com cabeleiras para

todos os gostos”, dirigida pelo maestro Aldrabowsky e com

instrumentos como “um piano, dois harmónios, umas quatro violas,

outras tantas guitarras, um pífaro, vários berimbaus e o resto

constava, quase na totalidade, de harmónicas de boca”.

Page 18: História do rádio clube português

História do Rádio Clube Português (5)

Posted on 31/01/2012 by Rogério Santos

O quinto episódio da história do Rádio Clube Português apareceu no

nº 8, de 15 de Junho de 1965, da revista Antena. O texto repartiu-se

em quatro elementos, cobrindo o ano de 1936: orquestra radiofónica

da estação, resolução do problema da publicidade, novos

colaboradores como Mary Tarrant (conhecida durante décadas

apenas como Mary), e campanha para o associado número dez mil.

Numa altura em que a indústria fonográfica ainda era pouco

importante no nosso país, as estações de rádio criaram as suas

orquestras amadoras que apoiavam as emissões em direto tocando

música variada, ligeira e de dança, como se lê no texto.

A orquestra seria dirigida por Samuel Miguens, professor em

Lourenço Marques (atual Maputo, capital de Moçambique), após

ensaios de dois meses. A orquestra tinha os seguintes músicos:

Elvira Borsatti, Irene Dinis, António Fernandes da Silva, António

Freire Garcia, Artur Esteves, Artur Santos, David Pio, Duarte

Ferreira Pestana, Joaquim da Costa Mendonça, José Semedo Velez,

Luís Pereira e Mário Santos. Podia crescer até mais sete músicos,

professores como escreveu o autor do texto, caso as necessidades

das composições a tocar.

Page 21: História do rádio clube português

História do Rádio Clube Português (6 a 8)

Posted on 16/02/2012 by Rogério Santos

A revista Antena de 1 e 15 de julho e 1 de agosto de 1965 continuou

a publicar a história do Rádio Clube Português (capítulos 6 a 8). São

três textos que ilustram a participação da estação ao lado das tropas

de Francisco Franco na Guerra Civil de Espanha (1936-1939), em

especial o seu fundador e presidente, capitão Jorge Botelho Moniz. O

texto explica a orientação política, embora a negando: “a Direção de

Rádio Clube Português resolveu, unanimente, aproveitar as

circunstâncias para realizar a primeira experiência internacional de

uma grande reportagem radiofónica de interesse público. Nunca, até

então, a rádio tivera oportunidade de efetuar coisa semelhante”.

Quem escreveu isto foi o próprio Botelho Moniz, numa palestra lida

aos microfones em 18 de julho de 1957, e que o autor dos textos da

história da emissora transcreveu e que se prolongou nos dois

episódios seguintes (que ficam aqui em conjunto). Botelho Moniz

colocara-se, “quase desde a primeira hora, ao lado das tropas

nacionalistas”, com a estação a acompanhar “a par e passo as suas

progressões, os seus combates, os seus sacrifícios e os seus

triunfos”. A História fazia-se de um dos lados do combate.

Page 27: História do rádio clube português

História do Rádio Clube Português (9)

Posted on 26/02/2012 by Rogério Santos

O Rádio Clube Português sofreria um atentado à bomba na noite de

20 de janeiro de 1937. O envolvimento da estação na Guerra Civil de

Espanha acarretava inimigos. O emissor ficaria restabelecido no dia

seguinte.

Nesse ano, continua o texto publicado na revista Antena, de 15 de

Agosto de 1965, realizou-se uma festa por iniciativa da Casa de Entre

Douro e Minho dedicada à Telefonia Sem Fios (TSF). Numa alocução

proferida na altura, disse-se que a rádio era “um poderosíssimo

instrumento de expansão inteletual, cujo desenvolvimento constitui

índice no progresso de um país”. Participaram a totalidade ou quase

totalidade das estações de então: Emissora Nacional, Rádio Hertz,

Rádio Renascença, Rádio Luso, Rádio Peninsular, Rádio S. Mamede,

Clube Radiofónico de Portugal, Rádio Condes, Rádio Sonora, Rádio

Hertziana, Rádio Graça, Rádio Colonial e Rádio Clube Português.

Page 30: História do rádio clube português

História do Rádio Clube Português (10)

Posted on 26/03/2012 by Rogério Santos

Noticiário sobre automobilismo, espetáculos em direto de fados e

guitarradas e de uma cantora espanhola, recital de violino e piano –

assim se diversificava a programação do Rádio Clube Português em

1937 (Antena, 1 de setembro de 1965). Por outro lado, a estação

promovia subscrições, como durante as inundações no Ribatejo em

abril desse ano, e apelos para a campanha de dádiva de sangue.

Além disso, as suas emissões chegavam à Terra Nova onde

labutavam navios bacalhoeiros portugueses.

Page 31: História do rádio clube português

História do Rádio Clube Português (11)

Posted on 11/04/2012 by Rogério Santos

A revista Antena, propriedade do Rádio Clube Português, inseria o

episódio 11 no seu número de 15 de setembro de 1965. A história

cristalizaria na década de 1930, período de apoio a uma das fações

da guerra em Espanha por parte dos dirigentes da estação. Daí, o

Page 32: História do rádio clube português

tom nacionalista dos textos e a exaltação de feitos na recordação de

1937, como se pode retirar da leitura do texto abaixo reproduzido:

manobras de outono por parte do exército português, primeiro dia

desportivo da mulher (com a participação de equipas espanholas),

apelo ao apoio às populações do país vizinho. Mas lembrar-se-iam as

emissões de quarta-feiras a cargo da orquestra da rádio sob o

cuidado de Samuel Miguens. Música ligeira e jazz eram dois tipos de

música escutada na estação.

Page 33: História do rádio clube português

História do Rádio Clube Português (12)

Posted on 12/04/2012 by Rogério Santos

A 1 de outubro de 1965, a revista Antena publicava o artigo 12º da

história do Rádio Clube Português, ainda dedicado a 1937. Desta vez,

coube a honra à Orquestra Rádio, dirigida por René Bohet,

Page 34: História do rádio clube português

simultaneamente violinista e diretor da Orquestra do S. Luís-Cine.

Bohet introduziu uma nota de jazz numa das músicas tocadas pela

orquestra da estação. Mas o artigo deu igual destaque a uma nova

rubrica (fados e guitarradas), no sentido de atrair ouvintes de

estratos mais populares, e ao número de filiados na estação, num

total de 13500.

Page 36: História do rádio clube português

História do Rádio Clube Português (13)

Posted on 25/05/2012 by Rogério Santos

A revista Antena, propriedade do Rádio Clube Português, editava no

seu número 16, correspondente a 15 de outubro de 1965, o capítulo

13 da história daquela estação. Os anos revisitados eram 1937 e

1938, aliás tema de capítulos anteriores. O envolvimento direto na

cobertura da guerra civil de Espanha por um dos lados dos

contendores era um tópico central do texto. O último parágrafo

destacaria essa aposta, com a entrevista feita e radiodifundida à

fundadora de uma associação ligada aos falangistas (de Franco) e o

pano de fundo de apoio, a “consagração internacional do RCP”.

Aumento dos sócios da estação, entrada em funcionamento de um

novo emissor de 30 kW e alargamento do quadro de pessoal como

resposta a uma nova estrutura de programas – eis os outros

elementos principais do artigo.

Page 38: História do rádio clube português

História do Rádio Clube Português (14)

Posted on 22/06/2012 by Rogério Santos

1938 continuou no horizonte da história do Rádio Clube Português,

no décimo quarto capítulo publicado na revista Antena, de 1 de

novembro de 1965. No final do primeiro mês do ano, a Falange

visitou o Rádio Clube, retribuindo o apoio político dado ao grupo de

Franco. O articulado é objetivo, sem margem para dúvidas: “Rádio

Clube Português ao tomar lugar no conflito espanhol fê-lo não ao

serviço da Espanha, mas sim ao serviço de Portugal”. O diretor da

estação, o capitão na reserva Jorge Botelho Moniz, disse, ao receber

os espanhóis revoltosos: “Ganha a batalha da rádio, cabe agora a vez

aos soldados”. Na sua juventude, Moniz fora chefe de gabinete de

Sidónio Pais, o presidente da República rapidamente assassinado.

A programação da estação, então ainda a funcionar na Parede, muito

antes de se mudar para a rua de Sampaio e Pina, aqui em Lisboa,

mereceu também destaque: a transmissão de uma ópera, a Carmen

de Bizet, a que se seguiram Os Palhaços, de Ruggero Leoncavallo, e

Rigoletto, de Giuseppe Verdi. Havia leitura prévia dos libretos.

Troupe Gounot e Orquestra Rádio também operavam nessa estética

antiga, experiência que mudaria depressa, com a introdução da

música ligeira a partir do Centro de Preparação de Artistas da

Emissora Nacional, no final da década de 1940.

Page 40: História do rádio clube português

Como se fazia a atualização discográfica nas estações de rádio em

finais da década de 1930? Por dois processos habituais: a compra de

cópias por viajantes de avião a outros países, incluindo os

comissários de bordo dessas aeronaves; a aquisição em lojas da

especialidade em Lisboa e no Porto. O texto número 15 da história

do Rádio Clube Português (Antena, nº 18, 15 de novembro de 1965)

pormenoriza orquestras (casos de Paul Whiteman, Duke Ellington e

outras) e radialistas, como Luís Aranda, como os fornecedores de

nova música.

Page 42: História do rádio clube português

Em 1938, continua o mesmo artigo, começaram as palestras

(programas de duração de cinco minutos em média) de temas

agrícolas, em especial a campanha do trigo, que o governo de então

promoveu, no sentido de aumentar a produção cerealífera até

abastecer na totalidade o consumo interno, o que nunca conseguiu.

O artigo narra ainda dois acontecimentos: a festa da jovem Mimi

Extremadouro, artista dos programas infantis, e o começo de um

programa dominical sobre temas variados (arte, literatura e

desporto).

História do Rádio Clube Português (16)

Posted on 08/01/2013 by Rogério Santos

Page 44: História do rádio clube português

O texto 16 da história do Rádio Clube Português, de 1 de Dezembro

de 1965 (revista Antena, propriedade daquela estação de rádio),

manteve o foco no ano de 1938. Aí foram destacados os programas

religiosos, a transmissão de concerto de música de câmara do Teatro

da Trindade, feita por linha telefónica de Lisboa para a Parede, onde

estavam os estúdios da rádio, o teatro radiofónico com o entusiasmo

de Manuel Lereno.

Uma referência grande no texto foi dada ao novo emissor de 30 kW

(no texto, quilovátios) da CT1GL, o indicativo de então de Rádio

Clube Português. Lê-se no texto: “a mais perfeita sob o ponto de

vista técnico, a mais potente das emissoras peninsulares e uma das

mais potentes da Europa”. Custo: mil e duzentos contos, valor

elevado se atentarmos a que as rendas de casas em Lisboa andariam

entre cem e cento e vinte escudos, continua o texto. Os rendimentos

da estação provinham das quotas dos seus sócios (e também da

publicidade, que a estação já tinha sido autorizada a fazer

publicidade).

História do Rádio Clube Português (17)

Posted on 15/01/2013 by Rogério Santos

Page 45: História do rádio clube português

No nº 20, de 22 de Dezembro de 1965, a revista Antena publicava o

episódio 17 da história do Rádio Clube Português. Se, no texto

anterior, houve uma referência ligeira ao teatro radiofónico, neste

episódio a alusão ao teatro na rádio foi mais profunda. Nele,

enumeram-se os nomes de Ana Spranger, Meniche Lopes, Margarida

Franco, Artur Moura, Rui Furtado, Jaime Santos, António Cruz e

Azevedo Moreira, dirigidos por Manuel Lereno. O teatro radiofónico

alcançava um número elevado de ouvintes, mesmo que fosse

transmitido a horas tardias.

Outro tópico do texto era o das empresas editoras de discos e o das

lojas que os comercializavam. Lê-se no texto: “oferecer aos ouvintes

portugueses música de Portugal não era coisa fácil”. Mas, de norte

ao sul, o povo cantava e dançava um repertório de música folclórica

quase desconhecido dos outros, comenta o mesmo texto. Ainda em

1938, um ano de fortes memórias para o autor destes episódios da

história da emissora, o carro de som fez gravações de música

regional que animou, durante algum tempo, os programas da

estação.

O texto exalta a renovação desse tipo de música, com a formação de

novos ranchos folclóricos, como acção directa dos programas do

Rádio Clube Português. Esta era, contudo, uma emanação do poder

político, com as campanhas do Secretariado Nacional de Informação

sob a direcção de António Ferro. No centenário, comemorado em

1940, o esforço alargava-se à Emissora Nacional, de que se

notabilizou Armando Leça, já aqui lembrado.

História do Rádio Clube Português (18)

Posted on 21/03/2013 by Rogério Santos

No número 21 da revista Antena (1 de janeiro de 1966), era impresso

o 18º capítulo da história do Rádio Clube Português. Seria o último,

pois durante o resto da existência da publicação (até 15 de Outubro

de 1968) nunca mais saiu aquela rubrica.

Page 46: História do rádio clube português

O Rádio Clube Português vivia o ano de 1938. Então, na vizinha

Espanha, a guerra civil estava a chegar ao fim, mas uma igualmente

trágica guerra ia começar, agora abrangendo a Europa toda. Mas, o

autor do texto evitou referir-se ao acontecimento no país ao lado,

Page 47: História do rádio clube português

como o fez abundamente em anteriores episódios, e debruçou-se

sobre as questões económicas da estação.

Um défice de 48 contos seria inscrito no relatório de 1937, um valor

muito elevado na época (receitas: 398 contos; despesas: 446 contos).

Um novo emissor de 30 kW começava a trabalhar em Outubro de

1938 (1296 contos). As emissões ainda não eram diárias, mas, pelo

menos aos sábados, a voz da estação da Parede atingia toda (ou

quase toda) a Europa.

Um aspecto interessante: o arranque das retransmissões de música

de dança de uma sala do Casino do Estoril. Ali, diz o texto, actuava

um pianista excepcional de jazz, Jimmy Campbell. Na história da

rádio em Portugal, pelo menos até ao começo da década de 1960, era

normal as estações transmitirem directamente música de dança de

salas-concerto.

Page 48: História do rádio clube português

Rádio Clube Português – quase cem programas de rádio em 1968

Posted on 10/02/2012 by Rogério Santos

Em três números sucessivos, no início de 1968, a revista Plateia

mostrou as principais caras da programação do Rádio Clube

Português (para ler melhor, com ampliação, clicar em cima das

imagens). Na longa lista de programas, a maior parte deles deviam-

se a produtores independentes, que procuravam criar estilos

característicos e ter locutores próprios.

Alguns dos programas marcaram a história da rádio em Portugal:

Onda do Otimismo, Talismã, Diário do Ar, Jornal dos Espetáculos,

Programa à Gô-Gô, Companheiros da Alegria, Clube do Disco, Clube

das Donas de Casa, Parodiantes de Lisboa, PBX, Encontro no Ar. O

que mais me marcou foi Em Órbita. Sonarte, Produções Gilberto

Cotta e Parodiantes de Lisboa eram alguns dos produtores dos

programas do Rádio Clube Português. Um dispositivo habitual da

época, em especial nos programas de ondas médias, era a existência

de um par de locutores por emissão, habitualmente um homem e

uma mulher. Vários dos apresentadores, já desaparecidos, chegaram

a vedetas na televisão (RTP): Fialho Gouveia, Gomes Ferreira, Jorge

Alves, Maria Helena d’Eça Leal, Fernando Curado Ribeiro.

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Teatro radiofónico em 1949

Posted on 29/04/2012 by Rogério Santos

Na véspera de Natal de 1949, a Rádio Peninsular (Lisboa) emitia um

programa de teatro radiofónico, de autoria de António Guedes de

Amorim (1901-1979). Nascido na Régua, passaria pelo Porto, como

empregado do comércio, e estabelecer-se-ia em Lisboa, como

jornalista de O Século e O Século Ilustrado, romancista,

nomeadamente de Aldeia das Águias (1939, prémio Ricardo

Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa) e Os Barcos descem

o Rio (1945), e biógrafo, caso do livro Francisco de Assis, Renovador

da Humanidade (1960). As curtas biografias que encontrei referem-

se à obra literária de António Guedes de Amorim como tendo dois

períodos, um com acento neo-realista ou marxista, sobre a pobreza, a

marginalidade e o real social e quotidiano do submundo (Press.net

do Douro), o outro com um pendor religioso, a partir de 1960.

Noite sem Pecado, emitido pela Rádio Peninsular, apresentou quatro

personagens: Maria Augusta, o filho Luís, a empregada Ricardina e a

vizinha Piedade. Maria Augusta estava doente (tuberculosa) e

esperava notícias do marido ausente em África para onde fora

ganhar a vida mas já há muito que não enviava cartas. O autor

mostra um quadro de miséria, que nem o emprego do filho num

banco consegue debelar. Não havia dinheiro, Maria Augusta tinha

dívidas na mercearia, no talho, etc., à empregada (criada), que

gastara todos os seus parcos bens na ajuda na casa, já se deviam

alguns meses de vencimento. Nessa véspera de Natal, Luís trazia

cinco contos (cinco mil escudos) que resultara de um engano em

depósito feito por um antigo sócio do seu pai. A mãe condenou o filho

e obrigou-o a devolver o dinheiro. Quase em simultâneo, o carteiro

trazia uma carta do marido de Maria Augusta, com um cheque de

dez contos e a dizer que a sua vida profissional estava melhor.

Uma das estações dos Emissores Associados de Lisboa, a Rádio

Peninsular, antecipava-se à própria Emissora Nacional a emitir

teatro radiofónico, que ensaiava nessa altura As Pupilas do Senhor

Reitor, de Júlio Dinis. No seu livro O Teatro Invisível (2006), Eduardo

Street refere-se a esta produção da Emissora Nacional como uma

superprodução. Se sabemos que a transmissão da Emissora foi um

Page 53: História do rádio clube português

êxito, não nos chegou uma informação tão precisa da transmissão da

Rádio Peninsular. Mas certamente que foi também um êxito, dado

que a peça de António Guedes de Amorim foi publicada na revista

Rádio Nacional, propriedade da Emissora Nacional, nas edições de

28 de janeiro e 4 e 18 de fevereiro de 1950. Não sei quem a

interpretou, mas imagino os sons: um violino a tocar Avé Maria, de

Schubert, uma campainha da porta, a tosse de Maria Augusta, o

caminhar das personagens dentro do quarto onde permanecia a

doente.

A Rádio Peninsular tornar-se-ia uma emissora reputada a emitir em

Lisboa. Em 1969, a Casa da Imprensa atribuiria ao programa 1-8-0,

de Aurélio Carlos Moreira e Paulo Medeiros, da Rádio Peninsular, o

prémio de melhor programa do ano. A estação, com todas as

estações dos Emissores Associados de Lisboa e também as estações

dos Emissores Norte Reunidos (Porto) e o Rádio Clube Português,

desapareceria com a nacionalização das rádios decidida

politicamente em março de 1975.

Page 60: História do rádio clube português

Observação (colocada em 1 de maio de 2012, pelas 15:28): ainda

antes de 1949, a Emissora Nacional e as estações privadas passaram

Page 61: História do rádio clube português

diálogos radiofónicos e folhetins radiofónicos, que queriam dizer

conversas a dois e episódios sucessivos de uma história,

respetivamente. A linguagem habitual na época não fazia uma

distinção fina de diálogo, de folhetim e, mesmo, de teatro

radiofónico. A separação defendida no texto acima dá conta de um

novo estilo, de uma nova roupagem, de um novo significado do

conceito de teatro radiofónico, na sequência de Eduardo Street.

Maria Carlota Álvares da Guerra

Posted on 13/05/2012 by Rogério Santos

“O jornal era a maior parte da vida de meu

pai” (Artur Portela, filho de Artur Portela). “Houve quem se

apaixonasse pela voz, outros pelo olhar. Em todos os horários

recebeu cartas de amor, ele que nos perdoe a inconfidência” (Miriam

Alves e Oriana Alves, filhas de Fernando Alves).

Jornalistas. Pais e Filhos, da editora Fronteira do Caos (2011), é um

livro em que os filhos jornalistas escrevem sobre os pais jornalistas,

proposta simples para escrever um livro. Contei 18 jornalistas

retratados, que incluem João Alves da Costa, Manuel Flórido, Silva

Costa, Appio Sottomayor, Fialho de Oliveira, Amadeu José de Freitas,

Rui Cunha Viana, Nuno Brás e outros.

Fico com o relato de João Paulo Guerra, que eu me habituei a ler e

ouvir, sobre a sua mãe: Maria Carlota Álvares da Guerra (1921-

2002), em texto intitulado “O Romance da Tua Vida Ainda por

Page 62: História do rádio clube português

Escrever” (pp. 33-39). Maria Carlota Álvares da Guerra – como

gostava que a chamassem, assim mesmo, pelo nome completo – era

professora primária (regente), divorciada, com dois filhos a criar

(João Paulo e Maria do Céu, atriz fundadora do teatro Barraca, aqui

em Lisboa). O dinheiro era escasso, pelo que ela se decidiu concorrer

a um lugar de chefe de redação da Crónica Feminina (1956). Esta

revista não era sufragista nem feminista, escreve o autor-jornalista,

mas pôs as mulheres das classes populares a ler histórias, casos e

segredos, ocupações e consultórios por um preço baixo, um escudo e

cinquenta centavos, o que a levou até aos 150 mil exemplares por

edição semanal. Quando a Agência Portuguesa de Revistas faliu, a

jornalista viu-se desempregada sem qualquer indemnização.

Maria Carlota Álvares da Guerra passou também pela rádio, caso da

Rádio Renascença, com o programa Nova Vaga, e do Rádio Clube

Português. O filho não escreve muito sobre esta longa ligação, pelo

que vale a pena tentarmos estabelecer uma curta biografia dela, a

partir de uma entrevista dada a Luís Garlito em 21 de março de 1995

(programa A Minha Amiga Rádio, Arquivo da RTP, AHC 2658):

Page 63: História do rádio clube português

“Resolvi fazer um programa na Rádio Renascença que se chamava A

Hora da Mulher. Era um programa semanal. Convidei o meu amigo

Joaquim Pedro para fazer o programa comigo. Tratava de tudo que

se relacionava com a mulher. [...] Depois, a minha saudosa amiga

Bertha Rosa Limpo, que tinha uns produtos de beleza, no tempo de O

Livro do Pantagruel, convidou-me para fazer um apontamento na 23ª

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Hora. Aí é que foi o grande boom. Eu fiz uma coisa muito bonita e

ainda hoje penso que era muito bonita. Escrevia um apontamento,

dirigia em cada noite uma crónica a uma mulher que eu tinha na

cabeça, a uma senhora que estava em casa porque tinha torcido um

pé e estava muito aborrecida porque não sabia o que havia de fazer à

vida e eu falava com ela, uma senhora que tinha um filho em África

onde andava aos tiros e que andava muito triste, como também

estive em dada altura, uma senhora que não tinha emprego. Enfim,

fiz um trabalho que ainda hoje acho que valeu a pena fazer. [...]

Havia um poema nesse livro [Toi et Moi, de Paul Géraldy] que me

tocou particularmente. [...] Saiu-me [o título] Quando os Corações se

Encontram. As pessoas julgavam que eram os corações dos

namorados, mas eram os corações das pessoas umas com as outras.

[...] Foi título de livro e da crónica na 23ª Hora. O Joaquim Pedro

arranjou um indicativo musical que era um sonho, uma coisa do

Mantovani, e ele fazia questão de anunciar o título do apontamento,

da crónica. Aquilo que foi para o ar teve um grande êxito. Quando

chegou ao fim do contrato, a Bertha Rosa Limpo quis recomeçar.

Tive de fazer mais crónicas e tive muito gosto e felicidade. Tornou-se

um bocado difícil porque o João Martins quis um apontamento para o

programa dele, de manhã, que se chamou Passo a Passo, Dia a Dia

[...]. Tornava-se difícil fazer trinta crónicas mensais para a 23ª Hora

mais trinta para o Passo a Passo, Dia a Dia. E depois veio o senhor

Gilberto Cotta, do Talismã, que também quis crónicas. Eu disse: não

posso fazer mais do que dia sim dia não, porque fico sem graça

nenhuma”.

Maria Carlota Álvares da Guerra publicou as suas crónicas Quando

os Corações se Encontram (1965) e Lisboa Cada Dia (1967) e

traduziu muitas obras, incluindo Francesco Alberoni.

(recorte pertencente à revista Rádio e Televisão, 4 de maio de 1963)

A Força do Destino na Rádio Graça

Posted on 24/11/2012 by Rogério Santos

“Lembro-me de ir à loja de fazendas da minha avó materna e, por

cima da sua máquina de costura, onde fazia os arranjos necessários

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às peças de vestuário das clientes, haver um calendário feito por ela,

a lápis, com os nomes dos folhetins, as horas e os postos que os

emitiam. Este fenómeno começara em 1955, com a emissão de um

folhetim na Rádio Graça e Rádio Clube Português, que tinha por

título A Força do Destino, mas que ficou popularmente conhecido

pelo folhetim da «coxinha» ou do Tide. O folhetim era de origem sul-

americana posteriormente adaptado à realidade portuguesa, por

haver falta de escritores nacionais que se dedicassem a este estilo. A

linha da narrativa passava pela história simples de Margarida, uma

jovem «coxinha» que andava de muletas, amorosa e triste,

apaixonada pelo médico Humberto Figueirola, casado com uma

mulher má, de nome Raquel e prima de Margarida. No final, após

inúmeras peripécias, Raquel morre e Margarida casa com o médico,

de quem tem uma filha, contribuindo assim para a reabilitação de

todas as «coxinhas» do país” (do blogue Cem Palavras, texto que

segue de muito perto o que escreveu Matos Maia no livro Telefonia).

“LG (Luís Garlito): Como é que vocês começaram a fazer teatro na

rádio?

“LSF (Lily Santos Frias): Era na Rádio Graça. Tínhamos a parte de

teatro radiofónico. Eu fiz vários teatros: eu fiz o Frei Luís de Sousa,

também.

“RI (Ricardo Isidro): Nasceu um dia a ideia de se fazer teatro porque

havia lá pessoas capazes de fazer com um bocadinho de habilidade.

“LG: Aí a Lily Santos e o Ricardo Isidro eram uns jovens…

“RI: Protagonizámos quase sempre. Fizemos…

“LSF: Eu comecei a trabalhar na rádio tinha nove anos. Comecei a

trabalhar… primeiro recitava, depois comecei a cantar” (Entrevista

com Lily Santos, Ricardo Isidro e Octávio Frias, por Luís Garlito, em

28 de setembro de 1993, Arquivo da RTP AHD 14919).