20
i,i : t \- trnrnsm-roe cltórrcl nn pntnopot ts nçsr{rtro on rnoroçrA. rnoson.q, n crÊNcrÂs HUNTANas cLTso DE EXTENSÃO, nrsroRrA Do cnTrcrsMo C-{RGA sonÁnre, en PROFESSOR: SERGIO DE SOUZA SALLES HISTORIA DO CE,TICISMO

História do Ceticismo

  • Upload
    pedro-h

  • View
    44

  • Download
    1

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: História do Ceticismo

i,i : t

\-

trnrnsm-roe cltórrcl nn pntnopot ts

nçsr{rtro on rnoroçrA. rnoson.q, n crÊNcrÂs HUNTANas

cLTso DE EXTENSÃO, nrsroRrA Do cnTrcrsMo

C-{RGA sonÁnre, en

PROFESSOR: SERGIO DE SOUZA SALLES

HISTORIA DO CE,TICISMO

Page 2: História do Ceticismo

I,\

L

II.

SLTN4ARIO

Introdução:

O Ceticismo Pirrônico:

2.1. O ceticismo de Pirro de Elis:

2.2. O ceticismo de Sexto Empírico.

0 Ceticismo Moderno:

3.1. Montaigne e o ceticismo fideísta:

3.2. Descartes e o ceticismo metódico.

Apêndice I: Hipotiposes Pirrônicas (I, 1-10).

Apêndice II: Quadro Sinótico e Cronológico.

Apêndice III: Esquema dos Tropos de Agripa.

ilr.

Page 3: História do Ceticismo

1. lntrodução:

O termo "ceticismo" é usado em diversos sentidos. Em geral, por "ceticismo"

entende-se uma corrente de pensamento que duvida da verdade, ou melhor, que nega a

possibilidade do homem alcançá-la. E assim que afirmamos ser "cético" alguem que nada

crê ou tudo põe em dúvida. Não obstante, "ceticismo" provém do grego sfrep.si.s que

significa literalmente "investigação" e "indagação". Comparada ao sentido que comumente

atribuimos ao termo "ceticismo", pode-se dizer que a skepsis grega nada têm de "cética"(em sentido hodierno) uma vez que o cético antigo é essencialmente aquele que investiga a

verdade. Reconstituir a história do ceticismo grego e as origens de nossa concepção

moderna de ceticismo é um dos objetivos de nossa apresentação.

A nossa principal fonte sobre o ceticismo antigo é a obra de Sexto Empíricol,filosofo e medico helenista, que por volta do segundo seculo da era cristã define o

ceticismo nos seguintes termos:

O resultado natural de qualquer investigação e que aquele que investiga ou bem

encontra aquilo que busca. ou bern nega que seia encontrável e confessa ser isto

rnaprcensivel, ou ainda. persiste em sua busca. O mesmo ocolre com as invcstigações

l:ïüi:::J":,1ï:"J:lffJJïiï.ï:",JïJ'si:"H.ffii:'.i,3:xl,ilïJbuscando. Aqueles que afirmam ter dey:oberto a verdade são os "dogmáticos". assim

são çhamados especialmente fu-istóteles, por exemplo, Ëpicuro, os estóicos e alguns

outros. Clitômaco, Cameades e outros acadêmicos consideram a verdade

lï3iï,ï:i;:ï:"ili.ïff iïi:ã:ï::Yï.i.:i,ïï'"';':ãJrïi;,illÏ::Pin'ônitn.s l.l)

Em primeiro lugar, Sexto estabelece que, em toda investigação, há três tipos de

resultados possíveis: 1) encontrar o que se busca; 2) afirmar ser isto impossivel de ser

encontrado; 3) continuar a busca. Partindo dessa constataçáo, Sexto conclui que há três

tipos de posturas filosóficas possiveis, a saber: 1) a postura dogmática; 2) a acadêmica:3) a

cética. A primeira afirma que encontrou a verdade, enquanto a segunda nega que a verdadepossa ser alcançada. Já a terceira postura, autenticamente cética, é descrita como aquela que

nem nega nem afirma que a verdade possa ser alcançada uma vez que o cético "continuabuscando". A originalidade do ceticismo consiste, portanto, na suspensão do juízo (époche)

ou na ausência de qualquer júzo assertórico sobre a realidade.O relato de Sexto parece indicar que nem mesmo entre os gregos existiu uma única

corrente ou tradição cética. O próprio Aristóteles se refere a uma vertente mais antiga dopensamento cético quando, no quarto livro da Metafisica, procura refutar aqueles que

negam os primeiros princípios, em especial o princípio de não-contradição. Em linhasgeiais, podãmos reconstituir a história do ceticismo grego a partir das seguintes etapas2:

l) proto-ceticismo'. é o ceticismo presente já na filosofia dos pré-socráticos( sec.VI a. C. ). Principal representante : Herác1 ito.

t No Apêndice I, o leitor enconhará a tradução dos dez primeiros capífilos do primeiro livro das llipo tiposes

Piwônica.ç cle Serto Empirico.I Confra tambern Âpênrlice IL

Page 4: História do Ceticismo

4

ceticismo de Piryo'. o ceticismo de Pirro de Elis (sec.IV a.C.) caracterrza-se pela compreensão da filosofia como um modo de vida que conduz àtranqüilidade, ou seja, a filosofia não é essencialmente uma buscateorética da verdade mas um modus vivendi. Assim como Sócrates" nãodeixou nenhuma obra escrita.ceficismo acadêmico: presente na Academia a partir do séc.Itr a.C., oceticismo acadêmico e motivado sobretudo pelos diálogos aporéticos dePlatão; caracteriza-se pela negação da possibilidade de alcançarmos averdade e a defesa da probabilidade como critério de juízo. Principaisrepresentantes: Arcesilau (31 5-Z4A a.C.) e Carnéades Q1 -2T9 a.C.\.pirronísmo ou ceÍicisnto pirrônìco: deve-se a Enesidemo de Cnossos(sec. I a.C.) a revitalização do ceticismo de Pirro. Não obstante, é aHipotiposes Pirrônicas de Sexto Empirico nossa principal fonte sobreessa vertente do ceticismo grego.

Pirro, conta-nos Sexto, dedicou-se ao ceticismo de modo mais completo e explícitoque seus antecessores. Por este motivo, convém tÍaçarmos um pancrama geral dopensamento deste autor a fim de compreenderïnos as origens do ceticismo grego.

2. O Ceticismo Pirrônico:

2.1.O ceticismo de Pirro de Elis (c. 360-27A a.C.\:

Em sua busca da verdade, Pirro parece ter se dedicado a Íês questões fundamentais:l) Qual atatvreza das coisas?; 2) Como devemos agir em relação à realidade que noscerca? 3) Quais as conseqüências dessa nossa atitude?. Em relação à primeira questão, Pirroconsidera que nem os sentidos nem a razão nos permitem conhecer a nattreza das coisas.Em relação à segunda, diz-nos que como nada conhecemos sobre analrtrezadas coisas, nãodevemos assumir posições acerca disso. Enfim, em relação à terceira, afirma que devemosmanter um distanciamento destas questões e, assim, viveremos tranqüilamente (ataraxíct).

A proposta de Pirro tem um fim eminentemente prático, isto e, quanto mais ofilósofo se abstiver dos problemas teóricos, mais ele podera viver tranqüilamente. Paracaraçterizar a tranqüilidade (ataraxia) de Pirro, Diógenes Laércio, um dos pnmeiroshistoriadores da filosofia, recorre a duas tradições, a saber. A primeira, segunda a qual atranqüilidade seria uma ausência de sensação (apathia) e inação (apraxia); a segunda, emque a tranqüilidade nada mais é do que a conseqüência de uma vida moderada(rnetríopatheia\. Em conformidade com a primeira tradição, conta Diógenes, de formaanedótica, que Pirro precisava ser acompanhado por seus discípulos, pois, com suasdúvidas constantes, estava sujeito a toda sorte de perigos. Já a segunda tradição revela quePirro "tomou a vida por guia" enfatizando a necessidade da moderação e da tranqüilidadeno agir.

z)

3)

4)

Page 5: História do Ceticismo

2.2. O ceticismo de Sexto Empírico (c. 160-210 d.C.)

As poucas informações sobre o ceticismo antigo são relativamente compensadasgraças às obras de Sexlo Empírico: Hipotiposes Pirronicas e Coníra os Matemárrcos. Estas

duas obras sáo a sumnta do ceticismo antigo. Coma vimos, Sexto Empírico caracteriza ocético autêntico como aquele que continua buscando porque, devido à suspensão do juízo,nem afirma nem nega que a verdade possa ser alcançada. O cetico autêntico descobre,

assim, tanto a quietude intelectual quanto a necessidade de investigar continuamente a fimde evitar qualquer postura dogmática. O ceticismo pirrônico é conhecido também comozetético (devido a sua contínua busca), efético ou suspensivo (em função do estado mentalque resulta desta investigação) e aporetico ou dubitativo (graças ao hábito de duvidar do

não-evidente). Estas diversas habilidades movem o pinônico a opor argumentos

dogmáticos a fim de evitar aprecipitação e a presunção nos juízos. Para entendeÍïnos essas

dimensões do eeticismo pinônico e sua diferença em relação aos acadêmicos, imaginemosbrevemente a trajetória de um jovem que, buscando ser filósofo, tem a esperança de

alcançar defi nitivamente a verdade.Nosso jovem filósofo inicia sua busca (zétesis') consultando as diversas escolas a

fim de encontrar a verdade. Durante sua busca, ele descobÍe uma série de altemativasteóricas que são excludentes entre si (platônicosversus aristotélicos, p.ex.). A diversidade econtrariedade de opiniões e teorias parecem promover um conflito insuperável(diaphonia).Um tal conflito só existe na medida em que não há um critério absolutamente verdadeiro a

partir do qual ele possa julgar a verdade das alternativas teóricas propostas. Não resta ao

nosso jovem outra alternativa senão concluir que todas as posições teóricas são

equivalentes, ou melhor, possuem o mesmo valor ou peso (isosrlr enia) jâ que todas as

escolas filosóficas apresentam critérios que julgam sempre em causa própria. Há assim umaaporia ou impasse insuperável (apofia). A busca da verdade parece ser um sonho, umailusão, algo jamais alcançável definitivamente. É aqui que a proposta pinônica distingue-senitidamente da acadêmica. Enquanto os acadêmicos, negariam qualquer possibilidade dealcançarmos a verdade, os pirrônicos suspendem o juízo (epoche), ou melhor, nem afirmamnem negam que a verdade possa ser alcançada. Neste caso, ao suspender o juizo, nossojovem abandonaria as perturbações teóricas que o afligiam, encontrando enfim a

tranqüilidaóe (ataraxia). E na realização de uma vida moderada e tranquila que nossojovem" agora um cético pirrônico, almeja alcançar a felicidade (eudaimonia). Sendo a vidapirrônica uma continua busca da verdade, a suspensão do juízo não significa, portanto, oabandono de toda e qualquer investigação teórica, mas um estado da mente humana em quenão afirmamos nem negamos qualquer coisa. Esse estado suspensivo dará lugar à

investigação já que o pirrônico não pode abrir mão da busca da verdade sem se tornar umdogmático negativc, como os acadêmicos.

Essa breve descrição contém resumidamente o itinerário filosófico do céticopirrônico. Em termos esquemáticos obteriamos:

Zetesis -.-' Isosthenia ---' D'aphonìü -" Apofia -> Epoche -,,'Ataraxia -;'Eudaimonia

Page 6: História do Ceticismo

6

E preciso notar que, dentre todas as habilidades do cético pirrônico, a suspensão dojuízo é a mais original, pois, graças à mesma, o cético não fica permanentemente em dúvida(segundo a interpretação agostiniana), nem tampouco atinge uma dúvida universal sobre o

saber humano (conforme a versão cartesiana do ceticismo), mas sai do estado de dúvida e

inquietação, alcançando a tranqüilidade. A hesitação provocada pelo conflito existente entre

diferentes teses, argumentos e doutrinas filosófrcas leva, como que por acaso, ao estado

suspensivo da mente, que e precisamente não afirmarnem negarnada sobre o não-evidente.A suspensão do juízo não é, portanto, um juizo que se formula sobre a persuasividade,plausibilidade ou veracidade das teses, argumentos e doutrinas em litigio, mas um estado de

repouso e passividade da mente que nem afirma nem nega.

O itinerário filosófico de um cético pirrônico é motivado por uma série de

argumentos, denominados tropos, que formam um "arsenal" contra as pretensões

dogmáticas ao conhecimento da verdade, conduzindo à suspensão do juizo. O cético graças

aos tropos opõe a todo argumento um outro de igual persuasão, provocando o conflito de

opiniões e, como por um acaso, o Íepouso mental ou suspensão do juízo. E com o arsenal

argumentativo dos tropos que o cetico pretende evitar o mal dos dogmáticos, isto é, aprecipitação e a presunção no julgar sobre o não-evidente. Os tropos encontrados nas

Hipotiposes de Sexto são provenientes de Enesidemo e Agripa. Do primeiro, Sexto recolhedezoito tropos de natureza epistemológica divididos em dois grupos: o primeiro com dez(relativos à percepção em geral) e o segundo com oito argumentos (relativos à causalidade).De Agripa, Sexto retira cinco tropos de natureza lógica contrários a qualquer pretensão dejustificação ou demonstração da verdade de um juízo ou proposição. Os dez rropos deEnesidemo questionam: o sujeito que conhece (atraves das diferenças entre os animais, das

diferenças entre os seres humanos, das diferenças entre as constituições dos órgãos dossentidos e das circunstâncias que afetam o sujeito); o objeto conhecido (por meio das

circunstâncias que afetam o objeto, das combinações e das quantidades); a relação entreambos (graças à relatividade da percepção, à freqüência da percepção e aos costumes e àspersuasões). Em geral, os argumentos de Enesidemo possuem a seguinte forma estrutural:

(1) x aparece como F em,S;(2) x aparece como F'em S' (diaphonia entre I e 2')' (3) não podemos preferir S a ,S'ou vice-versa (isosthenia)(4) não podemos afirmar nem negar que x seja realmente F ou.F". (epoche)

Os oito *opos de Enesidemo versam sobre a ideia de causalidade e mostram que as

proposições etiológicas (causais) estão em conflito com as aparências (fenômenos) e com amultiplicidade de causas. Tendo em vista qüe as proposições causais partem do aparente(efeito) ao não-aparente (causa), ou vice-versa, conclui-se que nenhum juízo causal combase no não-aparente pode ser confirmado pelo aparente. Em outros termos, o aparente sópode confiÍïÌraÍ o aparente e o não-aparente o não-aparente. Deste modo, a pretensãodogmática de explicar o aparente pelo não-aparente e fadada ao frac.asso. As proposiçõesetiológicas não são mais do que hipóteses e conjecturas. Esquematicamente, obtemos:

Page 7: História do Ceticismo

Causa de X?

Aparente Não-Aparente

Conflito(diaphonia)

:

V

----------=..-Aparente Não-Aparente

-----------.-Aparente Não-Aparente

-----'^----.\Aparente Não-Aparente

Regresso ao Infìnito

Suspensão do Juízo

Os cinco íropos de Agnpa3 são relativos às pretensões dogmáticas de demonstração

ou justificação, sendo ordenados da seguinte forma: 1) tropo do conflito ou disputa(diaphonia); 2) tropo da regressão ao infinito; 3) tropo da relatividade; 4) tropo das

hipóteses; 5) Íopo da reciprocidade ou circularidade (díallelon). O tropo do conflito é uma

conseqúência da equipolência ou igual (im)plausibilidade (iso:sthenia) das soluções

apresentadas pelos dogmáticos para uma dada questão. Diante da equipolência entre as

soluções dogmáticas dá-se um,conflito insuperável em que se toma impossivel decidir emfavor de uma das alternativas .ftropo da regressão ao infinito tem como pressuposto quequalquer evidência oferecida como prova da verdade de um juízo necessita tambem ela de

uma prova. Em outros termos, nada pode ser considerado verdadeiro exceto se fordemonstrado ou justificado enquanto tal. Já o tropo da relatividade retoma o tropo de

Enesidemo segundo c qual nada e apreendido a não ser em conqsã,qc_om as circunstânciasque afetam os objetos e os sujeitos do conhecimento. Distdâegue$l Oue nada pode sertomado como critério absoluto da verdade de um juízo ou proposição. Em seguida, o tropodas hipóteses constata que os dogmáticos, para evitarem os argumentos céticos, assumemque há juizos ou proposições que não necessitam de demonstraçãc ou justificativa porserem evidentes e verdadeiros por si mesmos. O dogmático diante da impossibilidade desuperaÍ o conflito pretende interromper a dispu'ta através do recurso à evidência de suaasserção. Neste momento, e forçoso reconhecer como hipotética toda pretensão de superaro conflito pcr meio da auto-evidência de qualquer coisa. Enfim, o último tropo, o dareciprocidade, exige que é uma má prova aquela que, ao tentar confirmar a verdade de umaproposição, deriva a sua verdade desta última que pretendia provar. Alem disso, há odialelo ou raciocínio circular quando a prova que visa confirmar uma proposição exige, elamesm4 como pÍova uma confirmação derivada daquilo que quer estabelecer. Em termosestruturais, teríamos :

I Confira Apêndice Iïl

Page 8: História do Ceticismo

Reciprocidade

Pr deriva de Pz.

Pz deriva de P1

Circuíaridade

Pt deriva de P2;

P: deriva de P-r;

P-r deriva de Pt.

Um dos principais argumentos contrâ os céticos pirrônicos diz respeito à

impossibilidade da ação que decorreria da suspensão do juízo. Este argumento, tambémconhecido como argumento óa apraxia (inação), pode ser resumido como se segue:

(l) Toda ação supõe necessariamente juízo(s) relativo(s) às condições da ação(objeto, finalidade, etc.);

(2) Ora" os céticos suspendem o juizo;(3) Portanto, os céticos não agem.

Este argumento dogmático e debatido por Sexto que, diante da impossibilidade deuma atitude assertiva em relação à verdadeira natuÍeza das coisas, confia aos phainesthai{as coisas tais como apaÍecem ou fenômenos) o critério do conhecimento e da açãohumana. O fenômeno e erigido, portanto, como referencial para a orientação do ceticopirrônico diante da vida. O fenômeno não deve ser entendido como critério de verdade, massim como criterio de ação, ou seja, ele serve tanto para guiar a vida ordinária quanto ainvestigação filosófica. Por isso, na vida ordinária o cético segue os costumes e a tradiçãotal como estas lhe aparecem. A adesão aos fenômenos impede que o cético permaneçainativo, demarcando concomitantemente os limites da concepção humana da realidade.Neste sentido, crê o cético viver de acordo com as noÍïnas da vida comum, de modo não-dogmático. Conforme explica Sexto:

Aderindo, portanto. ao que aparece. vivemos de acordo com as norÍnas da vidacomum (biotiken teresin), de modo não-do6rnático, já que não podemosp<lrÍnanecer totalmente uratiros. Essas práticas que regulam a vida comum parecemser dr: quatro tipos, consistindo primciro na orientação natural (hyphegeseiphyseos). depois no caráter necessário das sensações (ananke pathon')- em seguidanas leis e costumes da kadição Qtaradósei nomon te kaì ethon'), e por fim nainstrução nas aÍtes (didaskalia tekhnon).

O dominio do aparente comporta, deste modo, a orientação natural, o caráternecessário das sensações, as leis e os costumes da tradição, além da instrução nas artes.Nesta acepção, o cético pirrônico, que suspendeu o juízo sobre a verdade última e definitivados nossos juízos sobre o não-evidente, não está impossibilitado de ter juízos relativos aoque lhe aparece. A suspensão do juízo não e a ausência absoluta de quaisquerjuizos oucrenças, em sentido psicológico, mas dosjuízos e crenças sobre o que não aparece ou não éevidente. Por isso, o cetico pinônico não deve ser confundido com um inativo fiá que seinstrui e pratica as artes ou ciências), um apático fiá que segue as sensações), um ateu (namedida em que vive em conformidade com a tradição religiosa) ou mesmo um relativista(uma vez que o relativismo constitui uma postura dogmática acerca da verdade).

Page 9: História do Ceticismo

3. O Ceticismo Moderno:

3.1. Montaigne e o ceticismo fideísta

Michel de Montaigne (1533-1592) pode ser considerado um dos pioneiros na

redescoberta e no desenvolvimento do ceticismo antigo não só por apresentar e defender os

argumentos e principios do ceticismo pirrônico, mas também por introduzí-los no contexto

da disputa entre católicos e protestantes acerca da "regra da F".No contexto da ReformaProtestante , a "regrada fé" io,, seja, a ideia de que a fe ttaojíO necessária, mas suficiente /para a compreensão da revelação ela salvação do homem) levanta um dos clássicos

problemas do ceticismo antigo: o do criterio de verdade. Como justificar a verdade das

diversas interpretações biblicas? Qual critério de verdade pode evitar definitivamente o

canflito entre católicos e protestantes?

Num dos seus mais extensos ensaios, a Apologict de Raymond Sebond, Montaignepropõe-se a defender a Teologia Nstural ou Livro das Criaruras do teólogo e medico

espanhol Raymond Sebond. Nesta obra, Sebond procura estabelecer racionalmente todos

os artigos dã fé catotica contÍa as pretensões protestantesa. Não obstante. qualquer leitoratento percebe que Montaigne abandona o espírito dogmático e apologetico quando, no

início da Apologia, reproduz literalmente as Hipotiposes ao relatar que quem pÍocura

alguma coisa acapa por declarar ou que a encontrou ou que não a pode descobrir ou que

continua a buscaÌartindo das considerações pirrônicas sobre o saber humano em geral,

Montaigne sugeÍe a suspensão do juízo sobre tudo o que não e evidente e aparente. Ora,

como a"regra da fé" pretende fundamentar um conhecimento de ordem sobrenatural, leia-

se não aparente, devemos suspender o juízo sobre a validade de uma única e absoluta "regra

da fé". Por esta razão, Montaigne acusa Sebond de "querer sustentar com argumentos

humanos uma crença que só se concebe pela fe e por intervenção particular da graça

divina". A adoção do pirronismo por Montaigne conduz ao fideísmo, por um lado, porque a

fé não pode ser baseada nos méritos da razáo e, por outro, porque dificilmente poderemos

definí-la em termos de conhecimento verdadeiro. O frdeísmo de Montaigne, porém, é

motivado e derivado de sua adesão aos principios do pirronismo, mas não o inverso. Numa

das passagens mais expressivas de sua filiação à escola de Pirro, Montaigne descreve os

apanágios do cetico pinônico:

Nessa filosolia pin'ôdca, o homem aparece nu e vazio, conscierÌte de sua lraquezanatural e suscetivel de receber de cima, aïe cetlo ponto- a tbrça de que carecc,

Estranho a todos os conhecimentos humanos, acha-se tanto mais preparado a se

tornar um domicilio para a ciência dir,ura, Ï'az abstração de sua propria inteligênciaa hm de dar maior espaço à fe. crê e não propõe nenhum dogma contrário às leis eaos costumes: humilde, obediente. disciphnado, estudioso, rnimigo declmado da

heresia. está porlanto livre dessas vãs opiniões contrárias à religião e introduzrdas

4 E importante considerar que o obje'.ivo ,le Sebond Í'oi considerado indeviilo pela Ìgrqa que o proibiu em seii

Inder (al. Copenhaver, B.P. e Schmitt, C.8., Renaig,sance Philosophy flistory of Westem Philosophy: 3) pg

252, 1992). Uma e.xplicação possível para sua condenação seja o fato de Sebond pretender com illa teologia

natural explicar todos os ertigos da fe e da religião cristã Ora, a teologia natural distingui-se da revelada porpartir de um conhecimeirto sohre o real (as criahrras). Logo, a teologia natural não pode por si só explicar os

arligos de fé que compreendem também verdades de ordern sohrenatural ou reveladas- que não são manifestas

ao homem pelo conha:imento da realidade.

Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Page 10: História do Ceticismo

l0

pela^s seitas dissidentes, é uma página em branco, prqrmada para receber tudo o que

apraz a Deus nela traçar.

O contraste entre pirrônicos e dogmáticos torna-se ainda mais forte quando

Montaigne descreve os dogmáticos como a "classe de homens que se amam a si mesmos",como "vaidosos e presunçosos" incapazes de reconhecerem seus limites e a necessidade de

receberem do "alto" a verdade. As virtudes morars e intelectuais de um pirrônico norteiama propria noção montaigniana de filosofia: "A filosofia nunca se me afigura mais certa doque quando combate nossa presunção e nossa vaidade, quando reconhece de boa fé sua

ignorância e fraquezd'. Os pirrônicos são fïdedignamente representados por Montaigneque, aliás, critica todas as caricaturas de Pirro que o apresentam como um inerte e inútil,rncapaz de tomar decisões e caminhar sozinho. "Pintar Pirro assim é exagerar", drz

Montaigne. Na verdade, Pirro teria renunciado e desprezado o direito de "decretar, ordenar

e administrar a verdade", mantendo um "espírito isento de preconceitos". A explícita e

irrestrita apologia dos compromissos práticos do ceticismo em Montaigne revela o grau de

importância do modus vivendi pirrônico para o humanismo renascentista do século

dezesseis.

3.2.Descartes e o ceticismo metódico:

Se Montaigne descreve de modo fidedigno e defende coerentemente a filosofiacética pirrônica, Descartes (1596-1650) é responsável pela moderna imagem do céticocomo aquele que duvida constantemente de todas as coisas. Esta imagem do cético está

intimamente vinculàda ao projeto filosófico cartesiano. Como bom racionalista que era,

Descartes acreditava que a verdade não era compartilhada por todos os homens por uma

mera deficiência no uso da razáo. Segundo Descartes, o cético, devido à experiência do

erro, teria se desesperado da verdade, duvidado de todas as coisas por um uso inadequado

de sua razão. O remédio paru a superação do erro e da dúvida cética torna-se justamente o

estabelecimento de regras corretas e simples para a direção da razão em sua busca da

verdade. Afinal, deve haver algum meio ou método çapaz de evitar os erros apontadospelos ceticos e garantir um fundamento, um "ponto arquimediano", a partir do qual possa

ser edificado o saber humano.A fim de encontrar um tal fundamento, Desçartes estabelece um conjunto de quatro

regras que revelam sua constante preocupação com o eÍro e a dúvida. Por este motivo, reza

a primeiríssima regra do Discurso do Método: 'Jamais aceitar uma coisa como verdadeiraque eu não soubesse ser evidentemente como tal". Esta regra tem como corolário que omenor motivo de dúvida bastará para rejeitar qualquer proposição ou juízo. A estrategiacartesiana contra os céticos consiste, portanto, em aprofundar e radicahzar a dúvida cética a

fim de alcançar uma certeza básica que resista a qualquer dúvida. E a aplicação desta regra

a partir de argumentos característicos dos céticos antigos que constitui o metodo da dúvidaou ceticismo metódico das Meditaçõe.s Metafisrcas. Não é por acaso que a PrimeiraMeditação, em que se encontram os argumentos céticos contra a possibilidade do

conhecimento, intitula-se ,Soóra as coisas que se podem colocar em dírvida. O ceticismometódico cartesiano caraçteriza-se, assim, por uma critica radical à suposta veracidade das

percepções sensíveis e intelectuais (argumento da ilusão dos sentidos), dos raciocinios(argumento do sonho) e do saber humano, em especial o saber matemático (argumento do

Deus enganador e do gênio maligno). Enquanto os dois primeiros argumentos (o da ilusão e

Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Page 11: História do Ceticismo

ll

o do sonho) estão presentes no ceticismo antigo, o terceiro argumento (sobre o Deus

enganador e o gênio maligno) constitui uma inovação da teologia medieval cristã emrelação aos argumentos céticos tradicionais5. Ao partir da hipótese de um Deus onipotente.Descartes supõe ter sido criado por um gênio maligno capaz de me enganar sobre todas as

coisas a qualquer tempo, levando a dúvida a seu ponto mais radical. Uma vez aceita a

hipótese de um deus onipotente e enganador, o que resta ao homem a não ser a constante e

angustiante incerteza de não saber quando está sendo enganado? Não restando o menorgrau de certezaao homem, deve-se suspender o juízo sobre todas as coisas, permanecendo

sempÍe na dúvida. Cabe ressaltaÍ que a suspensão, neste caso, é de natureza negativa etemum objeto universal.

Não obstante, se a Primeira Meditação estabelece uma dúvida hiperbolica sobre

tudo (corpo, sentidos, faculdades cognitivas, conhecimento matemático, etc.), a Segundrt

Medítação procuÍa estabelecer justamente o tal "ponto arquimediano" capaz de mover a

dúvida e a incerteza do conhecimento humano. A principal inflexão realizadaporDescartesem relação à Primeira Meditação consiste na consideração de que o deus enganador só

pode enganá-lo na medida em que ele existe e, portanto: "esta proposição 'eu sou, eu

existo' é necessariamente verdadeira todas as vezes que eu a enuncie ou a conceba em meu

espírito". Em outros termos, como a dúvida é um modo de pensamento, só duvida quem

pensa e, assim, a existência do sujeito pensante está imune à dúvida porque é umpressuposto desta última. Cogito, ergo wm'. eis a primeira certeza, o "ponto arquimediano"capaz de superar a dúvida cética. Neste sentido, o ceticismo de Descartes é meramente

metódico, ou seja, é somente um meio para atingir a verdade sobre o real fundamento doconhecimento humano. A utilização do "arsenal" argumentativo dos céticos contra os

próprios ceticos levou o Abade François Para du Phanjas a comentar que "Descartes

àntittou a seu tempo a arte de fazer o ceticismo dar nascimento à certeza filosófica"ó. Comoexplica o próprio Descartes em seu Discurso do Método'.

Não que eu realmente tivesse imitado cls ceticos. que rcmente dln'idampelo prazer de duvidm e iingem estar constantelnÈnte incefios. porque, ao

contrário. meu desejo era somente me pro\Ier de base para a certeza e

rejeitar a areia mor.qliça e a lama- a fim de encontrar a rocha ou a argila.

Em carta a Reneri, de abril de 1638, Descartes afirma que "apesar de os pirrônicosnão terem alcançado nenhuma conclusão certa a partir de suas dúvidas, não se segue queninguém possa". Não obstante, é preciso reconhecer que a identificação do ceticismo ao

metodo da dúvida universal implica numa restrição da filosofia cética tal como esta éapresentada na obra de Sexto. Em primeiro lugar, Descartes parece negligenciar: (1) ométodo cético revelado nos tropos; (2) a noção pirrônica de suspensão do júza e (3) ocaráter eminentemente prático da filosofia cética, marcada pela busca da ataraxia. Emrelaçã,o ao primeiro ponto, vimos que o ceticismo pirrônico é uma habilidade de oporargumentos dogmáticos. Com Descartes, porém, o método cetico converte-se na produçãode argumentos negativos (antíteses) em contraposição a argumentos positivos (teses). Alémdisso, enquanto no ceticismo pirrônico a dúvida é uma habilidade entre outras, em

Descartes a dúvida forma um único método cuja finalidade e fundamentar o conhecimentohumano. Em relação ao segundo, é preciso notar que, enquanto Descartes na Primeira

' Embora haja um argumento semelhante já em Cícero (lcademica 11,47).6 Cl Popkin. Historia do Ceticismo de Erasmo a Espìnosa.

Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Page 12: História do Ceticismo

t2

Meditação conclui negativamente:"eu nada sei", o cético pirrônico prefere expressar-se daseguinte forma: "nem...nem...". Disto resulta que, para dar sentido à investigação pirrônica,deveríamos expressá-la da seguinte forma. "sequer sei se sei ou nada sei" uma vez que a

suspensão do juízo não é um juízo negativo em relação àverdade do conhecimento humanonem tampouco o resultado de negações progressivas, mas uma conseqüência involuntariada incapacidade de julgar afirmativa ou negativamente a respeito de proposições ou juízoscom mesmo valor persuasivo (eqüipolentes). Alem disso, a suspensão do juízo no ceticismopirrônico é sempre pontual, ou seja, nada mais alheio ao cético pirrônico do que umadúvida universal. Em relação ao terceiro, é forçoso reconhecer que, ao identificar o

ceticismo com argumentos negativos contra a veracidade do conhecimento humano, oresultado natural destas dúvidas não pode ser a tranqüilidade, mas o desespero. Por estarazão, o ceticismo metódico é extremamente artificial, sem nenhum apelo existencial ouprático. O cetico pinônico não é aquele que começa a negar tadas as pretensões deconhecimento da verdade, mas aquele que, em sua busca da verdade, se depara com a igualplausibilidade de teses e doutrinas dogmáticas contrárias entre si e se vê incapaz dedeterminar a verdade de uma ou outra. Desta incapacidade lógica-epistemológica, resultano pirrônico a experiência involuntaria da suspensão do juizo, descrita como um repouso damente, que nem nega nem afirma nada acerca das coisas não-evidentes disputadas pelosdogmáticos.

Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Administrador
Resaltar
Page 13: História do Ceticismo

13

APÊNDICE I:7HIPOTIPOSES prRnôNrc,q.s8 $,L-Lz)

Capítulo I: Sobre a principal diferença entre os sistemas ÍilosóficosO resultado natural de qualquer investigação é que aquele que investiga ou bem encontra

aquiio que busca, ou bem nega que seja encontrável e confessa ser isto inapreensível, ou ainda,persiste em sua busca. O mesmo ocoÍïe conr as investigações fiiosóficas, e é provavelrnente por issoque alguns afirmaram ter descoberto a verdade, outros que a verdade não pode ser apreendida,enquanto outros continuam buscando, Aqueles que afirmam ter descoberto a verdade são os"dogmáticos", assim são chamados especialrnente Aristóteles, por exemplo, Epicuro, os estóicos eaiguns outros. Clitômaco, Carnéades e outros acadêmicos consideram a verdade inapreensível, e oscéticos continuam buscando. Portanto, paÍece razoâvel manter que há três tipos de filosofia: adogmática, a acadêmica e a cética. Sobre os dois primeiros sistemas deixemos que outros falem,nossa tarefa presentemente é descrever em lbhas gerais (hypotypotikos) a maneira cética defrlosofar (skeptikés agoges), esclarecendo iniciahnente que as nossas asserções futuras não devemser entendidas como afirrnando positivamente que as coisas são tais como dizemos, massimplesmente registramos como um cronista (historikos), cada coisa tal como nos aparece nomomento.

Capítulo II: Sobre os argumentos dos céticosNa filosofia cética há um tipo de argumentação, ou linha de exposição, geral e outra específica.

Na argumentação geral apresentamos as características próprias do ceticismo, seus propósitos eprincípiosr seus argumentos, seu critério e seus objetivos, assim como os "tropos" ou "modos" quelevam à suspensão do juízo (époche), o sentido em que adotamos as fónnulas céticas, bem como adistinção entre o ceticismo e as filosofias com que se reiaciona. Na argumentação específica,formuiamos objeções contra as diversas divisões da assim chamada frlosofia. Vamos, pois,

in: MARCONDES, Danilo (org.). O que nos faz pensar. Cademos do Departamento de Fiiosofia da PUC-RIO, Rio deJanerio, I 997.Nota do Tradutor: As Ilipotiposes Pirrônicas de Sexto Ernpírico (séc.IÌ) são nossa principal fonte de coúecimento

do Ceticismo Pirrônico, e após sua tradução para o latirn (por H.Etienne) ern 1562 e subsequente divulgação, tiveram umainfluôncia marcante no desenvolvirnento do Pensarnento Moderno. Apresentamos aqui os doze primeiros capítulos doLivro I desta obra, que nos parecelr especialmente irnportantes por contereÍr urna caracterização de alguns dos conceitos-chave do Ceticisrno. Esta tradução baseia-se no texto grego da edição da Loeb Classical Library (Haward Univ.press,Cambridge, Mass., e Heinemann, London. 1976 [l"ed., 1933]), apresentado paralelamente, bem como nas traduções parao inglês de RG. Bury da edição Loeb, na de J.Annas e J.Barnes (OuUines of Scepticism, Cambridge, Univ.Press, 1994) ena mais recente de Benson Mates, The Skeptic Way, Sextus Empiricurs Outlines of Pyrrlnnisnt, Oxford Univ.press,1996.É significativo notar que após mais de-60 anos áe existência àa tradução de Bury pãra o inglês, surgiram mais duasnovas traduções para esta língua, o que atesta o interesse que a discussâo sobre o ceticismo van despertando na fi1osofiaultimamente. Optamos por manter o título original "Hipotiposes", embora Bury, Annas e Barnes e Mates o traduzarn por"outlines", e em espanhol se encontre frequentemente a tradução "bosquejos", sendo que ambos estes termos poderiarn sertraduzidos pot "esboços". Considerauros, entretanto, que o teÍïno "hipotipose" tem uÍl sentido bastante específico,designando um tipo de texto, de resto bastante cornum na época. Enesidemo (séc. I a.C.). fundador do movimento céticode que Sexto Errpírico foi um seguidor, escreveu tarnbém Hipotiposes, obra hoje perdida. O temo "hipotipose" designauma Íìgura de linguagon consistindo em uma descrição tão viüda de algo que é como se o tivessemos diante de nós (cf.V.J.Laurent, "La Notion d"'esquise" selon Sextus Ernpiricus", Revue Philosophique de la France et de l'étranger, n.4,Oct./Dec. 1993, págs.649-659). Esta é a definição que encontramos, por exemplo, na lnstitutio Oratoria deQuintiliano: "trata-se de uma representação dos fatos em tennos tão expressivos que cremos vê-los e não apenas ouví-los".E com base neta acepção de "hipotipose", bâstante distante de urn sirnples "esboço", que preferirros manter o termooriginal.

Page 14: História do Ceticismo

I4

considerar em primefo iugar a argumentação genérica, começaado nossa apresentação com osnomes dados ao ceticismo.

Capítulo III: Sobre as denominações do ceticismoA filosofia celica é denominada "zetética" devido à sua atividade de investigar (zetein) e

indagar (skeptestai); "efética", ou suspensiva, devido ao estado (pathos) produzido naquele queinvestiga após a sua busca; e "aporética", ou dubitativa, seja, segundo alguns, devido a seu hábito deduvidar (aporein) e de buscar (zetein), ou devido à sua indecisão quanto à afirmação ou negação; e

"Pirrônica", a parír do fato de que Pirro parece ter se dedicado ao ceticismo de forma maissignificativa do que seus predecessores.

Capítulo IV: O que é o Ceticismo?O ceticismo é uma habilidade (dynamis) que opõe as coisas que aparecem (phainomena) e que

são pensadas (noumena) de todos os modos possíveis, com o resultado de que devido à equipolêncianesta oposição tanto no que diz respeito aos objetos (pragmasí) quanto à expiicações (logoi), somosievados iniciaimente à suspensão (epoche) e depois à tranquilidade (ataraxia). Nós o denominamos"habilidade", não em um sentido especial, mas simplesmente no sentido de "ser hábil ou capaz dea1go". As coisas que aparecem (lthainomena) são entendidas neste contexto como objetos dapercepção sensível (aistheta), os quais constrastamos com objetos do pensarrento (noeta). Aexpressão "de todos os modos possíveis" pode ser relacionada seja com a palawa "habilidade", emseu sentido usual, como dissemos; ou pode serrelacionada com "opõe as coisas que aparecem e quesão pensadas", na medida em que opomos as coisas que aparecem a coisas que aparecem, coisaspensadas a coisas pensadas, coisas que aparecem a coisas pensadas e vice-versa, a expressão "detodos os modos possíveis" perrnitindo desipar todas estas diferentes formas de oposição. Ou ainda,podemos relacionar "de todos os modos possíveis" com "coisas que aparecem e que são pensadas",indicando que não temos que nos perguntar sobre como o que apaÍece aparece, ou como o que épensado é pensado, mas tomamos estes termos no sentido habitual. A expressão "explicações que seopõem" é tomada não na acepção de negação e aÍìrmação (apophasis kaí kataphasiru), mas na deexplicações conÍlitantes (maxotnenou,s). "Equipolência" (isosthenia) nós usamos no sentido deequivalência quanto a ser crível (pistin) ou não cnvel (apistian), indicando que nenhuma dasexpiicações em conflito é mais crível do que a outra. A suspensão (epoche) é um estado mental derepouso (slasls dianoias) no qual não afirrnamos nem negamos nada. Ataraxia e atranquilidade ouausênciadepeÍurbaçãodaaLna (psyches). Comoa ataraxia éobtidapormeio daépoche éalgodeque trataremos no capítulo sobre o objetivo do ceticismo [cap. )ili].

Capítulo V: Sobre o céticoNa definição do procedimento cético (skeptiké agogés) está incluída a do filósofo pirrônico:

trata-se daqueie que possui esta habilidade (dynamis).

Capítulo \lI: Sobre os princípios (archon) do CeticismoA motivação fundamental que leva ao ceticismo é seu objetivo de atingir a tranqüilidade

(ataraxia). Homens de talento, perturbados peias contradições nas coisas e en dúvida ,ôbre quealternativa adotar, foram levados a indagar sobre as coisas Qtragmasi) verdadeiras e sobre as fakãs,esperando encontrar a tranquilidade ao resoiver esta questão. O princípio básico (arche) doceticismo é o de opor (antikeisthai) a çada expiicação (togos) uma outra equivalente (logon ison),porque acreditam que assim deixarão de ter uma atitude dogmática (dogmatizein) -

Capítulo VII: O cético dogmatizz?Quando dizemos que o cético não dogmatiza, não usamos o termo "dogma" como alguns o

utilizam, no sentido generico de "dar aprovação a algo", pois o cético dá assentimento a sensaçõesque são o resultado necessário de impressões sensíveis, e eie não dirá, por exemplo, quando sente

Page 15: História do Ceticismo

15

calor ou frio, "Não creio estar com calor (ou frio)". Mas dizemos que o cético não dogmatizausando "dogma" no sentido, mantido por alguns, de "assentimentos a objetos não-evidentes dainvestigação cientíÍica", pois os pirrônicos não dão assentimento a nada que seja não-evidente(adelon). Nem sequer ao enunciar as fórmulas céticas sobre o não-evidente, tais como "Não maisfisso do que aquilo]", ou "Não determino nada", ou outras que discutiremos mais tarde [caps.XVIII-XXVIII], o cético dogmatiza. Pois enquanto que para o dogmático as coisas sobre as quaisconsidera-se que dogmatiza são realmente existentes, os céticos não empregam essas formulas demaneira dogmática, como se fossem reais. Isto porque assim como considera que a fórmula "Tudo éfalso" se aplica a si mesma além de a tudo mais (do mesmo modo que a fórmula "Nada éverdadeiro"), também a fórmula "Não mais", deve ser entendida como dizendo que ela própria nãoé mais isso do que aquilo, e portanto elimina a si mesma junto com o resto. E o mesmo dizemos dasoutras formulas. Portanto, o dogmático mantém serem reais as coisas sobre as quais tem crenças,mas o cético enuncia suas fórmulas de modo que elas próprias se auto-eliminam, e neste sentido nãopodem ser considerados como enunciando-as de forma dogmática. E o ponto principal é que aoenunciá-las ele diz aquilo que lhe aparece e relata o que sente (pathos) de forma não-dogmática,sem afirmar nada de positivo sobre o que existe na realidade externa (exothen hypokeimenon).

Capítulo VIfI: O cético pertence a uma escola?Seguimos a mesma liúa quanto à questão sobre se o cético pertence a uma escola. Pois se

entendemos que pertencer a uma escola significa aderir a um conjunto de dogmas que dependemuns dos outros bem como do que aparece, e se dizemos que "dogma" é assentimento a algo não-evidente, então consideramos que o cético não pertence a nenhuma escola. Mas se entendemos por"escola" um procedimento que, de acordo com o que aparece, segue uma certa linha argumentativamostrando como é possível viver corretamente ("corretamente" lorthos] entendido como se

referindo não apenas à virtude, mas em um sentido mais amplo e aplicando-se à habilidade de obtera suspensão), neste caso dizemos que o cético pertence a uma escola, uma vez que seguimos demodo coerente, de acordo com o que aparece, uma linha de raciocínio que nos indica uma forma devida em conformidade com as leis e os costumes tradicionais e com nossos próprios sentimentos(oikeia pathé).

Capítulo IX: O cético dedica-se às ciências naturais?Respondamos da mesma maneira ao examinaflnos a questão sobre se o cético dedica-se às

ciências naturais. Não estudamos as ciências naturais com o objetivo de proferir asserções comfirme convicção sobre os objetos destas ciências. Mas estudamos as ciências naturais de modo aserÍnos capazes de opor a cada explicação científìca uma outra explicação equivalente, e com oobjetivo de alcançar a tranqüilidade. E é também desta mesma maneira que nos relacionamos com alógica e a ética, os outros ramos da assim chamada "filosofia".

Capítulo X: Os céticos rejeitam o aparente?Aqueles que afirmam que o cético rejeita o aparente Qthainomena) não prestaram atenção ao

que dissemos. Pois, como dissemos antes, não rejeitamos as impressões sensíveis Qthantasiakataleptiken) que nos levam ao assentimento involuntário (abouletós) e estas impressões são oaparente Qthainomena). E quando investigamos se as coisas na realidade (hypokeimenon) são comoparecem ser, aceitamos o fato de que aparecem e o que investigamos não diz respeito à aparência,mas à explicação da aparência, e isto é diferente de uma investigação sobre o aparente ele próprio.Por exemplo, o mel nos parece doce (e aceitamos isto na medida em que temos uma percepçãosensível da doçura), porém se é doce em si mesmo é algo questionável, pois não se trata mais deuma aparência, mas de um juízo sobre o aparente. E mesmo se formulamos argumentos sobre oaparente, isto não se deve à intenção de rejeitarmos as aparências, mas apenas de mostramos aprecipitação do dogmático, pois se a razáo nos ilude de tal modo que nos Ítra ate mesmo o aparente

Page 16: História do Ceticismo

16

de debaixo de nossos olhos, então temos que tomar cuidado no caso das coisas não-evidentes(adelois) para não nos precipitaflnos ao seguí-la.

Capítulo XI: Sobre o critério do ceticismo

Que aderimos ao aparente é claro a partir do que é dito sobre o critério (kriterion) do

ceticismo. O termo "critério" é usado em dois sentidos: no primeiro, os critérios geram crenças

sobre a realidade ou não de algo (discutiremos estes critérios ao refutá-los fl-ivro II, 14-17]); e no

segundo, temos critérios de ação, de acordo com os quais em nossa vida cotidiana praticamos certos

atos e evitamos praticar outros, e é destes critérios que tratamos aqui. Dizemos então que para os

céticos o critério é a aparência, querendo dizer com isso as impressões sensíveis, uma vez que estas

consistem em sensações e afecções involuntárias e logo não estão sujeitas ao questionamento.

Portanto, presumivelmente ninguém discutirá se uma coisa existente (hypokeimenon) tem esta ou

aquela aparência, o que se discute é se de fato corresponde àquilo que aparece. Aderindo, portanto,

ao que aparece, vivemos de acordo com as nonnas da vida comum (biotikén teresin), de modo não-

dogrnático, já que não podemos peÍnanecer totalmente inativos. Essas práticas que regulam a vida

comum parecem ser de quatro tipos, consistindo primeiro na orientação natural (hyphegései

physeos), depois no caráter necessário das sensações (ananké pathon), em seguida nas leis e

costumes da tradição Qtaradósei nómon te kai ethon), e por fim na instrução nas artes (didaskalia

tekhnon). Pela orientação natural somos capazes de percepção e de pensamento; é devido ao çaráÍer

necessário das sensações que a fome nos leva à comida e a sede à bebida; dadas as leis e os

costumes da tradição consideramos em nossa vida cotidiana a piedade (eusebien) como um bem e a

irnpiedacle como algo de ruim; gÍaças à instrução nas artes não permanecemos inativos naquelas que

adotanos. E dizemos tudo isso de forma não-dogmática.

Capítulo XII: Qual a finalidade do ceticismo?Nossa próxirna questão será a finalidade do ceticismo. "Finalidade" (telos) é aquilo visando o

que todas as ações e raciocínios são realizados, enquanto que ela própria não existe como nenhumoutro objetivo; ou ainda, o Íìm último do que se deseja. Dizemos ainda que a finalidade do cético éa tranqüilidade em questões de opinião e a sensação moderada quanto ao inevitável. Pois o cético,tendo começado a filosofar com o objetivo de decidir acerca da verdade ou falsidade das impressões

sensíveis de modo a alcançar com isso a tranqüilidade, encontrou-se diante da equipolência nas

controvérsias, e sem poder decidir sobre isto, adotou a suspensão, e, em conseqüência da suspensão

seguiu-se, como que fortuitamente, a tranqüilidade em relação às questões de opinião. Pois aquelesque mantêm uma opinião sobre se algo é por natureza bom ou mau estão sempre perturbados.

Quando se encontram privados daquilo que consideram bom, sentem-se afligidos por algonaturalmente mau e passam a buscar aquilo que pensanÌ ser bom. E ao obter isso sentem-se aindamais perturbados, já que ficam contentes de forma irracional e imoderada e passam a recear que as

coisas rnudem e percam aquilo que pensanÌ ser bom. Mas, ao contúrio, aqueles que nãodeterminam serem as coisas naturalmente boas ou más, não as evitam nem as buscam avidamente,e, por isso, não se perturbam. Um fato que se conta sobre o pintor Apeles se aplica igualmente ao

cético. Certa vez, segundo se conta, Apeles estava pintando um cavalo e desejava representar a

espuna em sua boca, porérn, sem sucesso, desistiu disto e lançou contra atelaa esponja que usavapara limpar os pincéis, conseguindo com isto o efeito pretendido da espuma na boca do cavalo. Dolnesmo modo, os ceticos pretendiam alcançar a tranqüilidade decidindo sobre as anomalias emrelação às sensações e aos pensamentos, e incapazes de conseguir isto, suspenderam o juízo. Aotazê-lo, entretanto, descobriram que, como que por acaso, a tranqüilidade seguiu-se à suspensão,como uma sombra segue um corpo. Não supomos, contudo, que o cético não teúa perturbações,mas admitimos quo ele sofra as perturbações inevitáveis, pois ele sente frio e sede e váriassensações deste tipo. Mas, mesmo nestes casos, enquanto que as pessoas cornuns são afetadas de

Page 17: História do Ceticismo

t7

duas maneiras: primeiro pela afecção ela própria, e, além disso, igualmente, pela crença de que istoé ruim por natureza, os céticos, ao rejeitarem a crença adicional de que estas coisas são ruins porttatvreza, sofrem menos com isso. Portanto, dizemos çlue, em relação a questões de opinião afinalidade do cético é a tranqüilidade, e em relação ao inevitável uma forma moderada(metriopatheian) de sensação. Mas alguns céticos importantes acrescentaram como uma finalidadeadicional, a suspensão dojuízo em relação ao que se investiga.

Page 18: História do Ceticismo

t8

APENDI CE il

*tJAËlrng: stFü*r"tËü Ë çn*ttrçuóËrüü&sx$mnris Làmeu C€t*È*rx*l Ë,stwicisr,ns Ëpiaurisrr*c$*S n,*"ìS*red**,Sw par*ì3,4? n-ü, &dxsË*-#'Flxt&o,Nxrscãi<*r Frlrffi4$Fsresi*sp

d\*ççsi$aw *hwfixx,Àw$eradn$È$&-ã4Ï .n"C"! *$wrlpdlre swstï*:r*tã:

*gi**r* {3'd l*3ï ìã-#..)

3{}Sa,fl"Furdaç6*r drr.3Ãrrlilrr ertr "A.trrnss

*S*i[5 s-fl-Siìodem*" gS*$,$*-t" I*us*Scin

::Íi €sxles üÈd*rr,s...w.Aswd ie:!LÍ{i$$S--{5s e"t."}*:iü!{!}!*S{Ëi 6,rffi*l#Ì*ru:i*lí$ti{rs.{} {ffi{t *-d: -}

i:ii$'.iru & ü!Fti*.i*rxrü

irri

fiÈ

i:Ìl

i11rtffi*"tr. ÇÉr*r-rliw*mve *r**<rbie

tl:, *ryq&w$v* *e. .d*mdener*+r

i$$*xn*{}ü5*X?tl$*.$:

ixrnxr

33S n"ü.FunsïxrSf;x *Ìrr[-:ioxu pnr'&:r"i*t*5tsle*

3** rl. .. k{{mtçdq Â.r.i.r*ótrlcsrrmedidxr p**rTe*fns;tr,oìS? s-fi- l!{-$t**d*T*cl$h,srr,l:r****$r*&r prrrExt*a*u fli.{.r*ll*r.*etdc,Á-kn*ndrie)

5*rr*8rrrytri*o{e"30Sd.Ë-}: esras*r&mç rr cs*isignrr

ãçm*xrdc **t$re{}4d-?tÍfi *"ü-}

3üs**.Fundry:ãs'Ëa-ïl*cr.Psf**"fdenr .&teass{!3{}*â3ãs-Ç"}Clsg'nrse"srrssror:rd* &nüo

3S!*3ilI$ s-Ë"Crixip*l }idm *exe.nln es*3{*.etf*brsde ÌúSËse]

4e-C,-$5 rÌ-tSãns**5,&*tãs d"c"E#iülsi$r?$-$$$ d_*"l$*n:p Âtrt*lio

Page 19: História do Ceticismo

19

Apêndice III

Esquema dos Tropos de Agripa

Questiona-se: P?

-P XP

I

-PouPseriam auto-evidentes.indemosdráveis(isosthenia e diaphonia)

é auto-evidente. indemosntrável(diaphonia, conflito insuperável)

I

P

I

seriam hipóteses ", o;ff;:

arbitrárias

R1

é auto-evidente(diaphonia)

Rìé deduzido ou derivado

é deduzida ou derivada de R,

R1

é deduzida

é uma hipotese e- portanto.arbitrâna

RÌé uma hipótese

R,é uma hipótese

R2

e auto-evidente(diaphonia)

\é deduzido ou derivado

de R, (circularidade)

R"é deduzida

ou derivada de \

... diaphonia até o infinito

suspensão do juízo(epoche)

para se adotar P, é preciso umarazão ou prova, por exemplo, R

de R (circularidade) ou derivada de R,

... circularidade

Page 20: História do Ceticismo

I

20

BibliograÍia:

ANNAS, J. e BARNES, J. The Modes r,f Scepticisrr. Oxford Univ. Press., 1985.BROCHAR,Y. Les scepíiques grecs. Ed.Vrin, Paris, 1969.

CICERO. Academica eí De naíura deantm- Loeb Classics. Harvard Univ.Press.COPENHAVER, B. e SCHMITT, C., Renaissance Philosophy. A Hi.story of Western

Philosophy, vol. 3, Oxford lJniversiry* Press, 1992DESCARTES, René. Medftações Metafísícas. Col. Os Pensadores, Abrll S.A. Cultural e

Industrial, São Paulo, 1972.DESCARTES, René. Discurso do Método. Col. Os Pensadore.ç, Abril S.A. Cultural e

Industrial, São Paulo, 1972.

DIOGENES LAERCIO. Vida e doutrina dos.fitosofos ilusíres. Brasília, Ed.UnB. 1988.

DUMONT, Jean-Paul. Le Scepticisme eÍ le Phénornène. J.Vrin, Parrs,1972.EVA, L.A., Montaigne e o ceticisnrc na Apologia de Raymond Sebond. Dissertação de

Mestrado, São Paulo, 1993.HANKIIJSON. Zft e Sc e pti c s. Routledge, London,/Ì.{. Y., I 99 5.

LESSA, Renato. Veneno Pirrônico. Francisco Alves S.4., Rio de Janeiro, 1997.MAIA NETO, J.R., "De Montaigne à Pascal: do fideismo cetico à cristianização do

ceticismo". In: O que nos Jhz pensar, no 8, P{JC-Rio, Rio de Janeiro, 1994MARCONDES, D. "A concepção de filosofia na tradição cética." In: O que ë .filosofia?.Maria Clara Dias (o.g.), tFACruFOP,1996.MONTAIGNE, Michel. Ensaios. trad. Sergio Milliet, AbÍil S.A. Cultural e Industrial, São

Paulo,1972.POPKIN, R.H. ,4 Historia do Ceticisnto cle Erasmo a Spinoza. trad. Danilo Marcondes.Francisco Alves, 2000.SEXTO EMPIRICO. Works, 4vo1s., trad. G.Bury, Loeb Classics, Harvard Univ.Press,I983SEXTO EMPÍRICO. Outlines of Scepticism. trad. Annas, J. e Barnes, J., CambridgelJniversity Press, USA, 1994.VERDAN, André. "Plaidoyer pour un scepticisme fidéiste". In: Rewte de Theologie et dePhílosophíe. [], 1979, p. I 85-l 90.\aERDAN, Andre. "Scepticisme et Pideisme". In: Revue de Theologie et de Philosophie.vol. 73 , n"6, 197 3 , p.417 -425 .

i\: