Hist%C3%B3ria Da m%C3%BAsica Ocidental Marco Cardoso

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    História da Música  Ocidental

     Marco Cardoso

      http://marcocardosoguitarra.blogspot.com/

      Pesquisa de internet  Marco Cardoso http://marcocardosoguitarra.blogspot.com/

      índiceINTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA MÚSICA 61 - Definição .....................................................................................................................6

    2 O som............................................................................................................................7

    3 - História da Música ....................................................................................................8

    A MÚSICA MEDIEVAL DO SÉCULO 7 AO 15101 Introdução .................................................................................................................10

    2 - Música religiosa medieval ......................................................................................10

      2.1 - Ars Antiqua - séculos 7 a 13 ......................................................................11  2.1.a Características ....................................................................................11  2.1.b Canto Gregoriano século 7 ......................................................11  2.1.c Organum séculos 9 a 13 ............................................................................12  2.1.d Outros gêneros religiosos .............................................................................14  2.2 - Ars Nova séculos 1415 ...................................................................................15  2.3 - A história da notação ........................................................

    ...............................16

    3 - Música profana Medieval .......................................................................................18

    A MÚSICA RENASCENTISTA (SÉCULOS 1516)201 - Introdução.................................................................................................................20

    2 - Características gerais..........................................................

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    .....................................21

    3 - Música vocal .............................................................................................................22  3.1 - Religiosa..............................................................................................................22  3.2 - Profana ................................................................................................................24

    4 - Música instrumental.................................................................................................24  4.1 - Erudita ................................................................................................................24  4.2 - Dança...................................................................................................................25  4.3 - Utilitária...............................................................................................................25

    5 - Vida musical..............................................................................................................25

      A MÚSICA BARROCA (DO FINAL DO SÉCULO 16 A  MEADOS DO SÉCULO 18)28

     Pág. 2

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    I Introdução .................................................................................................................28

    2Caracteristicas gerais ................................................................................................28

    3 Música vocal..........................................................................................................................................30  3.1 - Ópera  ......................................................................................................................................30  3.2 Oratório e paixão .................................................................................................34  3.3 Cantata ................................................................................................................35  3.4 Gêneros religiosos ...............................................................................................35  3.5 Outros gêneros menores .................................................

    .....................................35

    4 Música instrumental ................................................................................................35  4.1 Concerto grosso ...................................................................................................35  4.2 Concerto solo ......................................................................................................36  4.3 Trio sonata ...........................................................................................................37

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      4.4 Suíte  ......................................................................................................................................37  4.5 Fuga .....................................................................................................................39  4.6 Outros gêneros instrumentais  ......................................................................................................................................40

    5 Vida musical .............................................................................................................40

     ROCOCÓ : UM PERÍODO DE TRANSIÇÃO (MEADOSDO SÉCULO 18)42

      O CLASSICISMO (DA SEGUNDA METADE DOSÉCULO 18 ATÉ O INÍCIO DO SÉCULO 19) 431 Introdução .................................................................................................................43

    2 Características gerais ...............................................................................................44

    3 Forma ......................................................................

    ..................................................45  3.1 Formasonata ..........................................................

    .............................................45  3.2 Formacanção .....................................................................................................46  3.3 Formaromance ..................................................................................................46  3.4 Tema e variações ................................................................................................46  3.5 Forma minuetoetrio ..........................................................................................47  3.6 Forma rondó .......................................................................................................47

    4 Gêneros .....................................................................................................................48  4.1 Instrumental .......................................................................................................48  4.1.a Sonata e música de câmara ..........................................................................48  4.1.b Sinfonia ........................................................................................................49  4.1.c Concerto solo ...............................................................................................49  4.2 Vocal ..................................................................................................................50

     Pág. 3

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      4.2.a Ópera ...........................................................................................................50  4.2.b Outros gêneros .............................................................................................51

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      5 Vida musical .........................................................................................................51

    A MÚSICA DO SÉCULO XIX521 Introdução .................................................................................................................52

    2 Características gerais ...............................................................................................54

    3 Música instrumental ................................................................................................56  3.1 sinfonia, sinfonia de programa, poema sinfônico, abertura e música de câmara  ......................................................................................................................................56  3.2 Concerto solo.......................................................................................................58  3.3 Miniaturas musicais ............................................................................................59

    4 Música vocal .............................................................................................................60  4.1 Ópera ...................................................................................................................60

      4.2 Música vocal de câmara e música coral ..............................................................62  4.3 Gêneros religiosos ..............................................................................................62

    A MÚSICA DE TRANSIÇÃO ENTRE OS SÉCULOS XIX EXX63

    A MÚSICA DO SÉCULO XX - PARTE 1641 - Introdução.................................................................................................................64

    2 Características gerais .......................................................

    ........................................65

    3 Principais tendências e compositores .....................................................................67  3.1 CLAUDE DEBUSSY (1862/1918) ....................................................................67  3.2 ERIK SATIE (1866/1925) ..................................................................................68  3.3 ALEXANDER SKRIABIN (1872/1915) ............................................................68  3.4 IGOR STRAVINSKY (1882/1971).....................................................................68  3.5 NEOCLASSICISMO ........................................................

    ..................................69  3.6 - ATONALISMO E DODECAFONISMO ESCOLA DE VIENA ....................72  3.7 SERIALISMO INTEGRAL ...............................................................................76  3.8 FUTURISMO ......................................................................................................77  3.9 - MICROTONALISMO........................................................................................78

    A MÚSICA DO SÉCULO XX79

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      3.10 CHARLES IVES (1874/1954) .........................................................................79  3.11 EDGAR VARÈSE (1883/1965) ........................................................................79  3.12 OLIVIER MESSIAEN (1908/1992) .................................................................80  3.13 JOHN CAGE (1912/1992) ................................................................................81  3.14 ALEATÓRIA OU INDETERMINADA...........................................................82  3.15 PERFORMÁTICA E MULTIMÍDIA................................................................82

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     3.16 - CONCRETA.....................................................................................................83 3.17 ELETRÔNICA .................................................................................................83

     3.18 COMPUTADOR ...............................................................................................84 3.19 ELETROACÚSTICA ......................................................................................84 3.20 NEOEXPRESSIVIDADE ...............................................................................85 3.21 SONORISMO ...................................................................................................86 3.22 MINIMALISMO ..............................................................................................88 3.23 - POLITÉCNICA.................................................................................................89

    BIBLIOGRAFIA SELECIONADA92

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      CAPÍTULO I

      INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA MÚSICA1 - Definição

    A palavra MÚSICA é de origem grega e significa "A FORÇA DAS MUSAS". Estaseram as ninfas que ensinavam aos seres humanos as verdades dos deuses, semideuses eheróis, através da poesia, da dança, do canto lírico, do canto coral, do teatro etc. Toasestas manifestações eram acompanhadas por sons. Então MÚSICA, numa definição

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    mais precisa, seria a "ARTE DE ENSINAR".

    Até o século 15 ou 16, a atividade musical era exclusivamente utilitária: tinha funçãoritual (em todas as religiões de todos os povos de todo o mundo), tinha função decomunicação (os trovadores, os rapsodos que levavam notícias etc.), função de trabalho(marinheiros, soldados etc.), cotidiana (ninar, lavar roupa etc.), lazer (canções edança,música ambiente nas cortes, acompanhando poemas e peças teatrais) e outras atividadessócioartísticas (educação, medicina, militar, moda etc., propaganda comerciais,políticas, etc., hinos de todos os tipos etc.).

    A noção de ARTE DA MÚSICA, voltada exclusivamente para a criação ABSTRATAde obras que explorassem os parâmetros musicais, só surgiu no Renascimento europeu eem países como a França, a Itália, a Inglaterra e a Alemanha. É claro que encontramosnos padres medievais esta pesquisa ou mesmo na China, na Índia, na Grécia Antiga eentre os árabes, mas o alcance racionalista ocidental foi mais profundo, pois além dostratados teóricos, desenvolveuse toda uma grafia uniforme e precisa para registrar ossons (2 objetivos: fixação para execução, documentação e estudo e o desenvolvimentoda imprensa musical). Esta MÚSICA, denominada muitas vezes de ERUDITA (ouCLÁSSICA ou de CONCERTO) é um tipo de experimentação que não tem umautilidade prática e que serve somente para apreciação estética e destinada a um ambient

    designado pelo compositor.Assim, MÚSICA é a ARTE DA INTELIGÊNCIA HUMANA TRABALHAR COMSONS e tem por objetivo a universalidade, a abstração e a exploração técnica.

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    2 O som

    A matériaprima da música é o som, que é uma forma de energia que se propaga pelo ar,pela água e por outros meios, perturbandoos de alguma maneira, e é captada pelosouvidos. A ciência que estuda o som é a Acústica.

    O som, em Música, é definido por 6 parâmetros que se relacionam entre si:

    ALTURA (acústica: freqüência): é a nota ou o tom. Com ela definimos se o som é graveou agudo. Da relação entre os sons formamos a Melodia (a sucessão temporal de sons), aHarmonia (a simultaneidade de sons), a Textura (tecido da música ou quantidade deeventos em determinado momento de uma composição). Em contraposição temos oSILÊNCIO (em música: pausa). É de fundamental importância na estruturação musical.

    A Altura só foi fixada teoricamente a partir do século 9 d.C.

    DURAÇÃO (acústica: tempo cronológico): é a duração de emissão do som. Definimoscom a duração se o som é curto ou longo. A relação entre as durações forma os ritmos.Muitos destes ritmos foram extraídos da natureza ou do corpo humano ou são criaçõesabstratas. A duração só foi fixada a partir do século 13 d.C.

    DINÂMICA/INTENSIDADE (acústica: amplitude): é a força ou a suavidadeimprimida ao tocar um som. A dinâmica só começou a ser trabalhada a partir do século18.

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    TIMBRE (acústica: material do objeto sonoro): são as vozes, os instrumentos ouaqueles aparelhos que os compositores elegem para intermediar suas idéias musicais.Mesmo existindo por milhares de anos, os instrumentos musicais passaram a serexplorados em todos os seus recursos sistematicamente a partir do século 19.

    ARTICULAÇÃO (acústica: ataque): são os modos de produzir o som. São os tipos detoques, golpes e efeitos aplicados pelo executante na voz ou instrumento, modificando asua qualidade. Apesar de sempre existir por milhares de anos, só no século 17 é que foitratada teoricamente.

    ANDAMENTO (acústica: velocidade): é a velocidade de execução de um som. Até oséculo 17 era intuitivo, mas depois passou a ser estudado com objetividade. No século19, foi fixado matematicamente com o metrônomo e, no século 20, voltou a ser intuitivo.

    Dependendo do contexto histórico (cultura, política, ciência, religião, artes etc.) docompositor, a relação dele com estes elementos físicos/musicais é que engendram asformas, os gêneros e os estilos.

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    3 - História da Música

    A noção de História da Música é praticamente recente. Tem uns 150 a 200 anos nomáximo.

    Os primeiros historiadores da música (e da História Geral política, econômica, socialetc.) começaram a organizar tudo com o nacionalismo romântico no início do século 19.Tudo era narrado através de fatos bastante vagos e lendários e datações imprecisas earbitrárias.

    Na música isto se agravava porque muitos registros e até partituras desapareciamrapidamente. O repertório praticamente se constituía de estréias, porque a imensamaioria das peças era feita para uma única ocasião ou era tocada logo depois decomposta e, sem ser grosseiro, a música era considerada um artigo supérfluo edescartável, apesar da sua estreita colaboração nos rituais religiosos e em festaspolíticas.

    E esta história começava em Bach (recém descoberto) e terminava em Wagner no

    máximo. No século 20, ampliouse com a inclusão da música medieval (cantosgregorianos, danças e o repertório dos menestréis, trovadores etc.), os coralistasrenascentistas e a óperas do século 17, desde Monteverdi, Lully e outros e oscompositores do Modernismo (Debussy, Stravinsky, Bartók, etc.).

    Assim, a História da Música que estudamos é a História da Música da Europa Ocidental.Esta música não é a única, não é a mais importante e não é melhor do que a de outrospovos e civilizações. É aquela na qual estamos inseridos culturalmente e queaprendemos e trabalhamos todo o seu arcabouço teórico, tocamos os instrumentosinventados ou desenvolvidos por ela e elegemos os compositores daquele continent

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    ecomo nossos modelos. Além disto nós delimitamos seu estudo a partir da Idade Média,mais precisamente aquelas músicas registradas depois do século 7.

    As músicas dos períodos Primitivo e Antigüidade (civilizações egípcias, mesopotâmicas,gregas, romanas e de outros povos) e do início da Idade Média estão perdidas, apesar dotrabalho arqueomusicológico. O que nos resta são pinturas ou esculturas de músicos,referências literárias ou religiosas, instrumentos, algumas teorias musicais e supostas"partituras", tudo muito fragmentado, disperso e precário.

    De qualquer forma, o que influenciou a música européia foram as teorias gregas(modificadas pelos interesses dos teóricos medievais) e a contínua utilização de diverssinstrumentos daquelas civilizações antigas. A prática musical dos judeus influenciou oscânticos dos cristãos. As atividades musicais dos povos germânicos e dos árabesinfluenciaram toda a música profana medieval com seus instrumentos, formas, ritmos eestruturações harmônicas.

    As músicas chinesas, indianas e de outros povos asiáticos, possuem uma estruturadiferente e uma história independente, que pouco se relacionou com a da Europa, a

    nãoser em épocas mais próximas. As músicas dos africanos, dos ameríndios e dos oceânicossó agora estão merecendo pesquisas científicas etnomusicológicas mais profundas.

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    As divisões históricas em períodos estilísticos são recentes e estão sujeitas ainda a

    revisões. No caso da música, muitos períodos não têm sincronismo com os das outrasartes e nem se referem a algum detalhe específico musical. Muitos historiadores, parainserir a música num contexto sóciocultural, batizamna com tal ou qual nome, mas hámuita polêmica. Mantive as denominações para uma orientação básica, mas pode ser quetudo isto mude algum dia.

      Pág.9

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    com/

      CAPÍTULO II

      A MÚSICA MEDIEVAL do século 7 ao 151 Introdução

    O termo "medieval" vem da expressão latina "medium aevum" (época intermediária)dada pelos historiadores renascentistas ao período compreendido entre odesaparecimento do Império Romano e os novos interesses pela cultura grecoromana

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    noséculo 15. O regime sócioeconômico predominante foi o feudalismo, caracterizado pelaexploração da terra e por uma complexa hierarquia políticomilitar entre as pessoas. Esteregime dividiu a Europa em minúsculos territórios. O fator de coesão era a IgrejaCatólica que, de fato, decidia o destino de todos.

    É um engano qualificar este período como a "Idade das Trevas": ao contrário, a sua ricaprodução cultural sintetizou os conhecimentos grecoromanos, germânicos, árabes,judaicocristãos, bizantinos, etc., manifestouse em todas as áreas artísticas(arquitetura, marcenaria, artes visuais como pintura, escultura, vitrais, iluminuras etc.,literatura como canções de gesta, romances de cavalaria, baladas, fábulas etc.) econtinuou a investigar os princípios da ciência e da filosofia. Os seminários e conventosmantiveram gigantescas bibliotecas. Enfim, este período, mesmo com suas guerras,epidemias, fanatismos, misticismos, etc. preservou a civilização humana na suaintegridade. O campo musical nos dá uma pequena mostra da riqueza cultural doperíodo.

    2 - Música religiosa medieval

    As músicas mais antigas, que podemos executar com muita fidelidade, são os cantos

    gregorianos criados para o culto católico.Da música cristã primitiva só nos restam os poemas, mas, mesmo assim, ospesquisadores percebem que a origem dos cânticos era muito diversificada:

      · salmos e hinos religiosos dos judeus;

      · canções profanas de outras culturas (Grécia, Roma, entre outras) adaptadas ao  pensamento cristão

      · criações próprias cristãs

    Até o século 4, todos os fiéis participavam das várias cerimônias, cantando, batendo as

    mãos e os pés, dançando discretamente e até tocando instrumentos, tais como: harpa,saltério, órgão, trompete, sinos etc.

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    No século 5, a Igreja Católica, querendo uniformizar o seu culto em todos os lugares,tratou de desenvolver um estilo único e criar uma escritura musical exata. Parasuplementar isto fundou a "Schola Cantorum", em Roma, onde os padrescompositoresdeveriam estudar. A partir de então um coro profissional passou a exercer todas asfunções musicais nas cerimônias. Instrumentos não eram mais permitidos, pois foramconsiderados pelo clero, como terrenos ou demoníacos, enquanto a voz humana foivalorizada por ser uma criação divina. Mesmo assim, algum instrumento era utilizado,com ou sem autorização dos religiosos, para sustentar a correta afinação do coro. Depoi

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    de muitos debates, o canto gregoriano foi oficializado no início do século 7.

    2.1 - Ars Antiqua - séculos 7 a 13

    A música medieval denominada "Ars Antiqua" (arte antiga) é aquela que abrange desdeo canto gregoriano até a invenção do moteto, dos séculos 7 ao 13.

    2.1.a Características

    A música religiosa deste período é estreitamente ligada ao canto gregorian que serve debase para todas as composições. Sua sonoridade é muito diferente da nossa realidade,mas, também por causa disto, os cantos gregorianos nos envolvem, criando um climadetranqüilidade e as primeiras experimentações do organum nos aparecem comocuriosidades experimentais e ruidosas. Nesta época criaram a terminologia musical(incluindo o nome das notas), criaram a grafia e desenvolveram as primeiras teoriasmusicais ocidentais.

    2.1.b Canto Gregoriano século 7

    Gregório I, papa entre 590 a 604, e outros compilaram, compuseram eorganizaram vários poemas e canções, que foram reunidos nos livros:

    Graduale (cantos solos e corais para todas as festas católicas)

    Kyriale (cantos para as partes fixas das missas)

    Antiphonale (cantos, hinos e orações dos monges)

    Esta música tem as seguintes características:

    é o canto oficial da Igreja Católica;

    o texto é em latim;

    a importância é dada ao texto e não à música (objetivo é propagar a fé e não fazer  um recital);

    deve ser cantado, obrigatoriamente, só por homens (mas recentes pesquisas em  conventos, descobriram milhares de cânticos compostos e interpretados por  mulheres);

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    não pode ter acompanhamento instrumental de qualquer espécie;

    é prosódico (um tipo de canto falado);

    melodias simples com pouca mudança de notas e uma tessitura menor que uma  oitava;

    monofônico (uma única linha melódica);

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    diatônico (escalas sem alteração cromática ou microtonal);

    modal (escalas de sete sons, ligeiramente diferentes das nossas escalas);

    o ritmo depende das palavras, portanto é livre de fórmulas de compasso;

    não tem preocupação com a dinâmica;

    o andamento, geralmente, é lento;

    os compositores são anônimos, pertencentes ao clero.

    A melodia do canto gregoriano depende da forma do poema e se desenvolve numa linhaquase que infinita, descendo e subindo por graus conjuntos e com raros saltosintervalares. Ela tem caráter sereno e é uniforme em suas nuances.

    Não havia um regente, apenas os ensaiadores ou professores de canto que regiam ogrupo com o rolo da partitura, apelidado de "solfa" (uma espécie de brincadeira com osnomes das notas e daí vem a palavra "solfejo", treino melódicorítmico). Escreviase amúsica com bico de pena de ponta quadrada e tinta em um rolo de pergaminho, de corbege.

    No século 19 esta música foi batizada, pelos monges de Solesmes (França), de "cantogregoriano", em homenagem àquele papa. Também recebeu o nome de "cantochão"("cantus planus" em latim) no século 13, para diferenciálo do "canto mensurado",quando inventaram as figuras rítmicas,

    2.1.c Organum séculos 9 a 13

    A origem mais provável desta palavra é grega e, talvez, signifique "voz". Outros optampor instrumento. Na Idade Média, entretanto, foi o nome que se deu aos primeirostrabalhos polifônicos, ou melhor, às primeiras manifestações documentadas deste tipo detextura musical. Há até pesquisadores demonstrando que era uma técnica não religiosa

    adotada pelos padres.

    Organum também recebeu o nome de diafonia ("conjunto de dois sons" em grego).Partindo do cantochão os compositores acrescentaram uma segunda voz. O cantochão,base desta música, recebeu a denominação de "vox principalis" ou "cantus firmus"("canto firme" em latim). A segunda voz foi chamada de "vox organalis" ou "discantus"("canto diferente" em latim). Para embelezar e reforçar a sonoridade, usavaminstrumentos.

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    Um tipo especial de organum é o "organum melismático". A palavra "melisma" emgrego significa "canção". Na técnica medieval de composição de organa, melismapassou a significar um fragmento melódico ou grupo de notas baseado numa sílaba. Emoutras palavras: a voz composta era trabalhada em pequenos fragmentos, fazendo váriosmovimentos livres com notas curtíssimas, tecendo uma espécie de bordadura em tornodas notas do cantochão, que foram transformadas em notas de durações longas.

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    Provavelmente esta técnica teve origem nas improvisações feitas pelos próprios cantoresdurante os rituais, além de alguma influência popular.

    A voz do cantochão passou a se chamar tenor ("sustentador" em latim) porquesustentava as notas longas. Este tipo de organum era cantado no final do ofício religioso,para tornálo mais solene, nobre e ou impressionante. A invenção deste tipo deornamentação causou muita polêmica entre os líderes religiosos, pois, muitas vezes,havia uma liberação para o seu uso, outras vezes era controlado e, em outras épocas, eratotalmente proibido.

    Neste começo passam a elaborar as regras de combinação de notas ou, em termosmusicais, principiam a desenvolver as técnicas do contraponto (puntum contra punctum "ponto contra ponto" em latim).

    Nos séculos 12 e 13, na Espanha e na França, padres pesquisavam um outro tipo deorganum, colocando mais vozes acima do canto gregoriano. Primeiro eles compunham ocantus firmus, de origem gregoriana ou de alguma melodia profana, mas deformadopelos melismas. Depois faziam a segunda voz, mais tarde, experimentavam uma terceiravoz e, ainda, uma quarta. A composição de cada voz deveria estar relacionada com o

    cantus firmus. Temos os nome de dois padrescompositores baseados em NotreDame:Leonin (c 1163/c 1201) e Perotin (início do século 13). Um outro nome que se preservoupara História foi o da abadessacompositora Hildegard de Bingen (1098/1179 Alemanha).

    Com várias vozes cantando simultaneamente, surgiu o problema rítmico: comoorganizar a escrita destas vozes para que cantem conjuntamente ,sem distorcer aintenção do compositor ?

    É claro que eles "sentiam" as durações, mas era preciso criar uma grafia coerente, queprocurasse abarcar todas as nuances e sutilezas rítmicas. Assim, no século 13, muitos

    sinais foram inventados, inclusive para os momentos em que não havia som.

    As notas eram escritas nas cores preto, vermelho ou azul conforme as combinaçõesrítmicas. As pausas eram sempre em preto. As figuram tomam as formas de quadrado,retângulo e diamante. Para distribuir no pergaminho todas as partes, os mongesescreviam o tenor na parte de baixo e, para as outras vozes, repartiam em colunas nasuperior. Nas últimas décadas do século 13, todos os organa desaparecem devido aoutras experimentações musicais.

     Pág. 13  Marco Cardoso http://marcocardosoguitarra.blogspot.com/

    2.1.d Outros gêneros religiosos

    Sempre houve, independente das ordens e contraordens papais, trechos durante as

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    cerimônias católicas (missas, procissões, ofícios dos monges etc.) em que se usavam ouse criavam tipos diferentes de músicas. Estilisticamente eram como os cantosgregorianos, mas com uma maior flexibilidade para se adaptar às funções ritualísticas opara a participação dos leigos.

    Exemplos:

    Aleluia (deformação da palavra jubilus "alegria" em latim): ornamentação na  melodia da palavra;

    Amém ("assim seja" em latim): ornamentação na melodia da palavra;

    Antífona: alternação de coros;

    Hino: canto de louvor para algum santo;

    Responsório: melodia para solo e coro;

    Salmodia: recitativo solo ou recitativo com solista e coro;

    Seqüência: melodia repetida para solista ou para coro;

    Tropo: interpolações melódicotextuais entre duas palavras ou frases de um cântico  qualquer.

    Surgiram novos gêneros:

    Clausula (século 12)

    Esta palavra significa "fechamento" em latim. Na parte final do organum, o compositorfazia o tenor melismático e as outras vozes eram mais ornamentadas. O cantus firmusoriginal é completamente destruído. Os compositores, muitas vezes, substituíam umaclausula por uma outra, mesmo se a anterior fosse de um outro compositor diferente. Aconseqüência da clausula é a destruição completa das melodias gregorianas. Assim os

    compositores procuram pensar em peças nas quais poderiam criar idéias originais.

    Conductus (século 12/13)

    É uma palavra latina que significa "condução". Era a música que acompanhava a entradado padre para a missa. O ritmo básico era o de marcha para acompanhar os andar daspessoas. Opcionalmente, havia introdução e poslúdio puramente instrumentais. Asmelodias não eram baseadas em nenhuma composição anterior, porque dependiam daforma do poema a ser musicado.

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    Moteto (Século 13)

    Moteto é uma palavra que vem do francês e significa "palavra pequena". Na História

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    encontramos muitas grafias diferentes assim como sinônimos: mutetus, motellus,mocteta, modulatio, modulus, cantio etc. Em música passou a significar música compalavras, ou, especificamente, melodia em que foi acrescentado um texto original.

    O moteto foi estruturado a partir de técnicas composicionais de vários gêneros: organumde NotreDame, conductus, clausula, canções profanas, danças e experimentaçõescontrapontísticas. No início, consistiu na substituição do texto religioso de um organupor um texto novo. Depois desenvolveuse com a superposição ou a criação de novostextos e melodias acima das vozes originais.

    Estas melodias, com o decorrer do tempo, passaram a ser mais elaboradas, influenciadaspela música nãoreligiosa da época. Ao serem compostas elas eram concatenadas com avoz do cantus firmus, não importando a relação intervalar com as outras vozes. Osidiomas dos textos adicionais eram de origens variadas, podendo ser cantadossimultaneamente em línguas diferentes. A forma do moteto era livre porque dependia dopoema. Instrumentos reforçavam ou substituíam as vozes humanas. O moteto assumiudiferentes feições com o passar dos séculos, dos estilos e dos propósitos de cadacompositor.

    Em todos estes tipos de músicas (dos organa até os motetos) ainda não havia o regente,

    apenas ensaiadores, que, no momento da execução, ficavam em algum instrumento,quando este era permitido.

    2.2 - Ars Nova séculos 1415

    A expressão Ars Nova (significa, em latim, "arte nova") é o título de um livro docompositor medieval Philip de Vitry, que analisava as novas técnicas composicionaisdeste período.

    A música da Ars Nova tem as seguintes características:

    a polifonia contrapontística domina todos os gêneros de composições religiosas;

    uso de melodia profana ou criada pelo compositor como cantus firmus;

    técnica do falso bordão (expressão derivada do francês medieval: fors bordon   literalmente "fora do grave"): é uma técnica de composição, harmonização e  improvisação oriunda da Inglaterra, que consiste em colocar o cantus firmus no  agudo e acrescentar duas linhas melódicas inferiores;

    acompanhamento instrumental dobrando e substituindo as vozes;

    como as músicas tornaramse mais complexas, foi necessário alguém para coordenar  todo o grupo: apareceu então a figura do mestre de capela (literalmente um professor

      de música de uma igreja) que dirigia com a solfa.

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    Principais compositores:

      · Philip de Vitry (1291/1361);

    Compositor e poeta francês. Foi bispo e funcionário público de vários reis franceses.Também foi diplomata. publicou um livro sobre a música da época e desenvolveu ateoria e a grafia sobre o ritmo. Só nos restam dele 12 motetos religiosos.

      · Guillaume de Machaut (c 1300/1377)

    Compositor francês. Também foi poeta. Serviu como padre e funcionário público avários membros importantes da corte francesa. Das suas obras temos motetos e missas,além de muitas canções profanas.

      · Guillaume Dufay (c 1398/1474)

    Compositor francês. Era também padre. Trabalhou em Roma no coro papal e na corte deFerrara. Além de música religiosa (cerca de 100), compôs muitas canções profanas. Éconsiderado o maior compositor do século 15.

      · Gilles Binchois (c 1400/1460)

    Compositor e organista francobelga. Foi também padre em várias capelas pelo interiorbelga e norte francês. Também foi funcionário público da corte borgonhesa. Além decompor para a igreja, ele fez várias canções com temas profanas. Restamnos dele 150composições.

    Normalmente a carreira deles começava como meninocantor de coro da sua paróquia e,caso se ordenasse padre, iam mudando de cidade, conforme as funções eclesiásticas oexigissem, até atingir um alto cargo, freqüentemente num centro político importante, noqual era responsável por todo o tipo de música.

    2.3 - A história da notação

    Os povos antigos (gregos, romanos e hebreus) tentaram inventar um sistema de escritamusical, mas tudo se perdeu com o decorrer do tempo. Uma tentativa de assinalarasalturas ocorreu durante os séculos 4 e 5 com abreviações de expressões latinas paracantar a mesma altura, um tom acima, um tom abaixo etc.

    Uma notação mais elaborada, no princípio do século 7, consistiu em acrescentar, acimado texto a ser cantado, sinais derivados da gramática grega. Adotavamse três:

      /\^

    Esses sinais receberam o nome de neumas ("ar" em grego). Os neumas não indicavamcom precisão as notas, mas ajudavam os cantores, junto com o movimento das mãos dosensaiadores ou professores de canto, a lembrar da direção da melodia. Do século 9 ao13, os neumas se desenvolveram graficamente e ficaram assim:

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    om/

      Para ajudar a encontrar a altura exata,  começaram a escrever as letras do alfabeto  latino, entre os neumas e o texto,ao menos  na primeira nota. Um auxílio efetivo  ocorreu quando lançaram mão de uma  linha horizontal vermelha para indicar um  tom central, para o qual foi escolhido o fá  (abaixo do dó central), uma altura média e  confortável para a voz masculina. Mais  tarde colocaram uma outra, de cor amarela  ou verde, sobre a anterior para ind

    icar o dó  central.

    Guido d'Arezzo (c 991/c 1033; Itália), descreve o uso do "tetragrama", ou conjunto dequatro linhas, todas em vermelho, no século 10. As duas novas linhas eram colocadas doseguinte modo: uma entre as duas antigas e a outra, nova, acima ou abaixo das antigasconforme a extensão da melodia. O "pentagrama", as atuais cinco linhas, só foiinventado no século 12 para escrever as primeiras músicas polifônicas e canções e

    danças profanas. As linhas suplementares só surgiram no século 16.

    Ao inventarem uma quantidade maior de pautas, necessitouse usar as claves ("chaves"em latim) para entender e decifrar as alturas, evitandose também colorir cada linha comuma cor diferente. As claves são escritas no começo da música e sua linha variaconforme a tessitura do cântico. As duas claves usadas naquela época eram:

    A clave de sol, derivada da letra G, só apareceu em meados do século 14.

    Como cada monge, ao copiar a música, a escrevia com a sua própria caligrafia,modificava o desenho da letra das claves originais, até que, por volta do século 16, coma imprensa musical, estes símbolos padronizaramse.

    As notas musicais alcançadas pelos medievais religiosos eram as seguintes:

    (escala)

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    A letra G (gamma em grego) era a nota mais grave e passou, portanto, a ser sinônimo detessitura ou escala.

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    O nome das notas foi supostamente dado por Guido d'Arezzo, procurando facilitaramemorização das melodias. Pesquisando centenas de cânticos, deparou, num hino a sãoJoão Batista que cada verso começava com uma altura diferente e imediatamentesuperior ao anterior. Assim ele trocou as letras pelas sílabas:

      C Ut  D Re  E Mi  F Fa  G Sol  A La

    O nome da nota restante surgiu, no final do século 15, da contração do nome do santohomenageado: Sancte Ioannes (SI).

    Giovanni Battista Doni (1595/1647), compositor e teórico italiano. Para facilitarosolfejo no idioma do seu país, trocou o nome da nota ut pela primeira sílaba do seunomedo, adotado posteriormente por espanhóis e portugueses. Os franceses continuaram como nome da nota original. E os ingleses e os alemães continuam com as letras, mas,

    para osolfejo, adotaram os nomes com algumas modificações devido às suas pronúnciasnacionais.

    O nome dos acidentes também nasceu nesta época. Com a necessidade de rebaixar emmeio tom o B, a fim de evitar o trítono, eles o escreviam com a letra minúsculaarredondada, b , acima da pauta, chamandolhe de be molle ("b suave" , "b macio" ou "bmole" em latim) ou be rotundum ("b redondo"). E quando queriam o B natural,escreviamno de forma quadrada, b , chamandolhe de be quadratum ("b quadrado")ou be durum ("b duro"). Com os freqüentes rebaixamentos das outras notas e suasrespectivas voltas ao natural, estas expressões se universalizaram. Em portuguêstornaramse "bemol" e "bequadro". Na Alemanha, a letra B é si bemol e H é si natural

    ;isto porque os monges medievais daquele país não colocavam o traço inferior no "bquadrado".

    O sustenido ("elevado" em latim) surgiu da mesma necessidade em relação ao trítono,mas elevandose em meio tom a nota fá. Naquela época uma cruz era colocada acima danota. Depois, seguindo os passos do bemol, todas as outras notas puderam sersustenizadas. O uso sistemático dos acidentes só se deu no século 17. A grafia dasdurações ainda não era uma preocupação fundamental dos padres e só foi desenvolvida apartir do século 13, adaptada dos antigos neumas.

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    3 - Música profana Medieval

    A palavra profano significa, em grego, "o que está à frente do templo religioso" ou"forado prédio religioso" e, por extensão, aqueles assuntos que não são religiosos. A palavrnão induz a antireligiosidade, embora se use normalmente com este sentido.

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    A Igreja Católica, devido à confusão das invasões estrangeiras na Europa,principalmente nos séculos 3 a 6, procurou registrar a variedade de manifestaçõesculturais. Assim ela poderia conhecer a mentalidade do seu novo "rebanho", ao mesmotempo em que se utilizava de muitos de seus elementos para tecer sua própriasimbologia. Não podemos esquecer que muitos homens e muitas mulheres pertencentesao clero tinham origem destes povos e que, inconscientemente ou não, contribuíam comalgo diferente ao pensamento cristão.

    Assim, a partir do século 8, mais ou menos, os padres, que, a princípio, eram os únicosque sabiam grafar músicas, registraram milhares e milhares de canções de trabalho, deguerra, de marinheiros, de crianças, de ninar, de casamentos etc. Temos, também,preservadas as canções e danças tidas como simples lazer feitas pelos compositoresprofissionais. Nas canções, os assuntos variam entre o amor, a amizade, o escárnio e apornografia mais deslavada, passando pelas aventuras, guerras, sátiras políticas eacontecimentos cotidianos.

    Na sua maioria, eram peças monofônicas, mas existiam peças polifônicas eheterofônicas. O que nos resta são as melodias e poucas sobreviveram inteiras. O queouvimos delas são arranjos modernos, com raríssimos grupos musicais fazendo uma

    pesquisa profunda. As peças eram modais, com escalas de variados números de notas,incluindo de uma nota só até divisões microtonais, além do cruzamento frutífero com osmodos eclesiásticos oficiais.

    Os principais gêneros eram: lai, virelai, balada caccia, rondeau e madrigal, entre outros.Ao longo dos séculos, deram origem às principais formas instrumentais ocidentais. Oinstrumental era riquíssimo. Como conseqüência das invasões, misturaramseinstrumentos gregos, romanos, judeus, árabes, celtas, vikings, entre outros. Os conjuntoseram formados por uma gama variada de timbres, freqüentemente os que tinham emmãos naquele momento. Os arranjos dos grupos atuais são baseados em ilustrações enarrativas da época, mas há sempre uma intenção nossa de fazer combinações por

    família, jogo de timbres e mais outras "modernidades", distorcendo um pouco aoriginalidade medieval.

    Não conhecemos o nome da imensa maioria dos compositores destas canções e danças,mas, do que sabemos, muitas delas eram feitas por nobres, religiosos, camponeses e reis.Além deles temos os menestréis, trovadores, segréis, jograis, mestrescantores e outrosque, cruzando a Europa, divulgavam suas músicas e notícias em geral. Havia muitostorneios e desafios entre eles e muitas brigas sem música também.

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      CAPÍTULO III

      A MÚSICA RENASCENTISTA (séculos 1516)1 - Introdução

    O Renascimento foi um movimento cultural muito complexo, que nasceu na Itália, porvolta do século 14, e se espalhou pela Europa cem anos depois. Para o seu surgimentocontribuíram centenas de causas existenciais e comerciais. Entretanto, podemos levantaralgumas características gerais:

    o humanismo;

    o cientificismo e o início da tecnologia atual;

    a valorização da cultura grecoromana;

    a liberdade de circulação de idéias;

    a economia capitalista com todas as sua conseqüências: o incremento comercial, asprimeiras indústrias e o estabelecimento dos bancos, o ressurgimento das cidades e asolidificação das nações, o colonialismo, o imperialismo e a globalização, a suposta eimaginável supremacia européia cristãocidental, o pragmatismo político, as novaspesquisas científicas e a vitória do racionalismo na filosofia, a crítica religiosa e

    adiversidade de crenças, a fundação de universidades e a divulgação do saber pelaimprensa etc...

    Esta época marca o início do mundo moderno.

    Por comodidade, adotamos esta denominação para a Música no período compreendidoentre 1450 e 1600, mas, nela mesma, não aconteceu uma transformação profunda, igualà ocorrida em outras áreas do conhecimento humano (comparemos, como exemplo, coma Literatura, a Geografia ou a Física). Pelo contrário, houve somente umdesenvolvimento de algumas técnicas explicadas adiante.

    Muitos historiadores justificam este rótulo dizendo que a Música "renasceu" durante

    oséculo 15, tendo, por pressuposto, desaparecido nos séculos anteriores. A atividademusical é inerente a todas as civilizações e nunca, em nenhum momento, deixou deexistir, seja em rituais, seja em trabalhos ou seja em festas. Vimos quantas músicas emestilos diversos apareceram na Idade Média e nunca houve uma pausa. Outros aindaargumentam que "a música ficou mais alegre", baseandose nos textos das cançõespopulares da época, mas muitas canções medievais e hinos religiosos medievais"expressam" alegria.

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    Por último, os músicos do século 16 não conseguiram resgatar a música grecoromana.Somente apareciam referências àquelas culturas nas citações ou textos literários emcanções e motetos ou em títulos de músicas instrumentais. A música mesma não é daGrécia e nem de Roma !

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    2 - Características gerais

    A música ainda era escrita nos modos medievais, mas com muitas modulações,transposições, alterações cromáticas e até microtonais, nos gêneros medievais e sob asupervisão da Igreja Católica, orientando os padrescompositores.

    A mudança mais interessante em relação à Ars Nova foi que o contraponto atingiu umalto grau de complexidade e sofisticação, com combinações intrincadas de até 64 vozes.Apesar do compositor fazer primeiro o cantus firmus, ele já começa a pensar nadimensão vertical da música, isto é, em harmonia, no movimento concatenado dasvozes. A partir de então todas as partes têm que combinar entre si e nada pode sercolocado por acaso. Os acordes de terças e sextas eram usados em tempos fortes, ma

    s osuníssonos, quartas, quintas e oitavas justas começavam e terminavam a música.

    A imitação de melodias inteiras ou trechos é mais freqüente entre as vozes. Surge asubdivisão binária, isto é, a notação métrica, e abandonam teorias de ritmos medievais.Surge a idéia da fórmula de compasso. Ritmos de danças eram aproveitados. As coresdas figuras tornamse brancas para as longas e pretas para as curtas. Isto porquecomeçaram a usar papel de cor branca, ao invés do pergaminho. (A palavra fusa vem dolatim e significa "fragmento")

      São feitas experiências acústicas como a  multiespacialidade (exemplo: distrib

    uição  do coro em vários lugares da igreja) e  efeitos vocais variados (gritos, resmungos  e sons de animais, entre outros).

      Há uma rica profusão de novos  instrumentos na Europa que foram  reunidos em famílias, chamadas consortes,  (talvez esta palavra tenha vindo de  concerto, "reunião" em latim), desejando

      extrair um som homogêneo da música.  Assim apareceram os consortes da flauta  doce, da viola da gamba, do cromorne,  etc... Na maioria das vezes, todos tocavam  em pé, costume que só acabou no final do  século 18.

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    A música religiosa ainda era regida pela solfa em lugares pequenos, mas outros regemdo órgão. Na música instrumental nos palácios, nos castelos e nas cortes surge a figurado "mestre da música", que, sendo primeiroinstrumentista do grupo, dirige todos no seuinstrumento (cravo, flauta doce, viola medieval. violino, alaúde etc.).

    As músicas eram escritas em pequenos cadernos chamados cartelas. Os compositores asescreviam a lápis e, depois de copiarem ou executarem as peças, apagavam tudo ecompunham outra por cima. E, como a escrita se complicou e aumentou o número devozes, escreviam todas as partes separadas.

      Pág. 21  Marco Cardoso http://marcocardosoguitarra.blogspot.com/

    Surge a imprensa musical. Muitas vezes as edições eram patrocinadas pelos reis ounobres querendo homenagear ou prestigiar um de seus empregadosmúsicos.

    3 - Música vocal3.1 - Religiosa

    Missas, hinos, motetos e outros cânticos eram compostos para suprir todas asnecessidades católicas. Dois gêneros de missas apareceram: a "missa paródia", na qualocompositor citava alguma melodia preexistente, e a "missa paráfrase", na qual um cantogregoriano, muito modificado, era ouvido.

    No final do século 16, os luteranos criaram para o seu culto uma música muito simples,

    feita para que todos os seus fiéis a cantassem, ao contrário da prática católica, muitoelaborada. Esta música para o serviço luterano recebeu o nome de "coral". Ela é ummovimento de acordes com melodias curtas, sem ornamentação e ritmos fáceis. Asorigens das melodias eram de temas folclóricos e cânticos católicos adaptados para anova religião e criações próprias.

    Então a Igreja Católica, descobrindo a vantagem deste estilo musical, procurousimplificar os seus próprios cantos. A alta cúpula eclesiástica, no espírito da ContraReforma, exigiu que os compositores evitassem toda a parafernália contrapontística efizessem peças homofônicas e sem experimentações rítmicas. Basicamente, a músicapassou a ser escrita para um coro pequeno, sem acompanhamento instrumental, surgindodaí a expressão "coro a capella". Somente eram admitidos homens para cantar este

    repertório. As vozes agudas eram feitas por meninos, contratenores e "castratti".

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      Nesta época as vozes tinham os nomes:

      Nome medieval Nome renascentista Significado e função Supremus ou Superius Soprano (italiano) Escrita na parte superior  da partitura, é a voz mais  (latim) aguda da música,  carregando, na maior parte  das vezes, a melodia  Altus (latim) Contralto (italiano) Escrita acima do tenor, é  voz mais grave que a  soprano, preenchendo a  parte intermediária da  trama polifônica  Contraltus (latim) Contratenor (italiano) Escrita na pauta abaixoda  altus é voz mais aguda que

      o tenor e preenche a parte  intermediária da trama  polifônica  Tenor (latim) Tenor Sua origem era a voz que  sustentava o cantus firmus,  ficando entre a voz agudas  e a grave e preenchia a  parte intermediária da  trama polifônica  Bassus (latim) Basso (italiano) Escrita abaixo de todas

    e na  parte inferior da partitura,  passando a ter a função de  tenor ou sustentar o cantoAlgumas vezes as vozes mais agudas ainda eram chamadas de "discantus" e "cantus",respectivamente.

    No final deste período, soprano e contralto passaram a designar também as vozesfemininas. Os termos para as vozes mezzo soprano ("soprano médio" em italiano) ebarítono ("som pesado" em grego) só surgiram no século 17.

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    3.2 - Profana

    Uma grande parte da documentação musical deste período é composta por músicasvocais profanas dos mais variados tipos, funções, estilos e origens: festas,comemorações, saudações, serenatas, reuniões em tavernas, teatro etc... E todo o tipo dgente a fazia: reis, princesas, bispos, músicos profissionais, bobos da corte e cantores derua anônimos, entre outros.

    A qualidade destas músicas era igual às canções do rádio e da televisão de hoje eramcompostas diariamente e logo caíam no esquecimento e entraram para a Históriaporque são exemplos da produção cultural do período.

    Entre os gêneros renascentistas podemos destacar:

    frótola ("frutinha" em italiano): canção estrófica de tema amoroso com  acompanhamento instrumental em uníssono ou ornamentado;

    villancico ("sertanejo" em castelhano): música com refrão e acompanhamento  instrumental de vihuela instrumento de cordas dedilhadas e outros instrumentos,  dobrando a melodia, fazendo figurações e marcando o ritmo;

    chanson ("canção" em francês): escrita para conjunto a três, quatro ou cinco vozes,  era trabalhada em contraponto notaanota; o canto era silábico, desenvolvendo  assim uma simplicidade harmônica e formal; os temas eram retirados de  acontecimentos cotidianos, políticos, amorosos, eróticos, pornográficos etc...;

    madrigal ("mãe" em italiano): tem esse nome porque era cantado em italiano enão  em latim; reuniu várias características da frótola, chanson e técnicas  contrapontísticas; o canto era muitas vezes silábico; tinha acompanhamento  instrumental; a forma dependia do poema; a temática era pastorilamorosa; os  compositores, querendo expressar o texto, fazem experimentações com a monodia   melodiaeacorde, com as dissonâncias e com os ritmos.

    4 - Música instrumental

    Podemos dividir a produção instrumental renascentista em três grandes grupos:

    4.1 - Erudita

    Dentro da música ocidental, começase a esboçar uma preocupação em trabalhar comtodos os parâmetros do som, em seus detalhes e nuances, além do seu nível de execução.Este tipo de procedimento pode ser chamado de música erudita. É uma denominaçãomuito pesada, rigorosa e enfadonha, mas é preferível a música "séria", música "culta",música "elevada", música "clássica", música de "ponta", música de "pesquisa", músicade "laboratório", música "experimental" etc...

    Até então quem buscava isto eram os padrescompositores, mas somente para afuncionalidade religiosa da música. Agora as peças começam, pela primeira vez, a

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    refletir a sua especificidade sonora, sem apoios literários, visuais ou funcionais, e até osseus nomes passam a ser dados segundo o seu aspecto estrutural.

    Desenvolveramse vários gêneros:

    canzona da sonar ("canção para soar" em italiano): versão instrumental de peças  cantadas; as primeiras canzoni eram para teclado ou alaúde e depois foram escritas  para conjuntos instrumentais;

    fantasia in nomine: tema e variações baseadas num tema religioso para teclado ou  cordas;

    fantasia: peça livre contrapontística para teclado ou cordas;

    ricercare ("procurar" em italiano): peça com estilo imitativo para órgão ou alaúde;

    toccata ("tocar" em italiano): peça livre para teclado, com passagens virtuosísticas;

    sonata ("soar" em italiano): peça para instrumentos de cordas.

    Usamse os termos sinfonia ("reunião de sons" em grego) e concerto ("reunião" ou"ajuntamento" em latim) para designar peças para qualquer combinação instrumental evocal, tanto religiosas quanto profanas.

    4.2 - Dança

    A produção era enorme porque os compositores tinham que fornecer músicas para todasas festas do castelo, palácio ou corte onde trabalhavam. Temos que contar as quetambém foram compostas para as festas populares e tavernas. As mais comuns, entreoutras, eram a pavana, galharda, bransle, chacona e passacalha.

    4.3 - Utilitária

    Havia ainda composições específicas para algum serviço dentro do palácio. São marchasdiversas (militares, nupciais ou fúnebres), músicas para cerimônias políticas ouexecuções etc...

    5 - Vida musical

    Os músicos eram empregados das igrejas, das cortes ou das famílias ricas. A maior parteeram padrescompositores. Tinham contratos rigorosos e viviam sob ameaça constantede perda de emprego, sem falar nas rivalidades com outros músicos e empregados,agravadas ainda mais com as disputas e confusões políticas, religiosas, etc...

    Todos compunham nos gêneros e temáticas da época por obrigação ou por vontade

    própria. Assim vemos lado a lado música religiosa, danças, marchas militares, músicaerudita e canções pornográficas nos catálogos dos compositores.

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    Alguns centros musicais e seus mais destacados compositores foram:

    Holanda

    Heinrich Isaac (c1450/1517)

    Jacob Obrecht (c1450/1505)

    Jan Sweelink (1562/1621)

    Bélgica

    Adrian Willaert (c1490/1562)

    Cyprian de la Rore (?1515/1565)

    Jacob Clement (?1510/?1556)

    Johannes Ockenghem (c1410/?1497)

    Nicolas Gombert (c1495/c1560)

    Orlande de Lassus (?1530/1594)Pierre de la Rue (c1460/1518)

    França

    Clément Janequin (c1485/1558)

    Josquin Desprez (c1440/1521)

    Inglaterra

    William Byrd (?1543/1623)

    Thomas Morley (?1557/1602)

    John Dowland (?1563/1626)

    Orlando Gibbons (1583/1625)

      Pág. 26  Marco Cardoso http://marcocardosoguitarra.blogspot.com/

    Itália

    Gioseffo Zarlino (1517/1590)

    Andrea Gabrieli (1533/1585)

    Claudio Merulo (1533/1604)

    Giovanni Gabrieli (?1553/1612)

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    Giovanni Pierluigi da Palestrina (?1525/1594)

    Luca Marenzio (?1553/1599)

    Carlo Gesualdo (c1561/1613)

    Claudio Monteverdi (1567/1643)

    Adriano Banchieri (1568/1634)

    Espanha

    Juan del Encina (1468/?1530)

    Tomás de Victoria (1548/1611)

    A música deste período foi sendo descoberta em meados do século 19 e divulgadaatravés de estudos, edições , execuções e gravações. A herança musical do renascimentopara a composição atual consiste nas técnicas do contraponto e dos princípios dotonalismo.

      Pág.27  Marco Cardoso http://marcocardosoguitarra.blogspot.com/

      CAPÍTULO IV

     A MÚSICA BARROCA (do final do século 16 a  meados do século 18)

    I Introdução

    Os séculos 17 e 18 da história humana são caracterizados pelas grandes disputas nosmares entre Inglaterra, Espanha e Holanda, por causa das colônias americanas eafricanas, e pelas guerras religiosas entre católicos e protestantes na Europa. Na políticaa burguesia apóia os monarcas contra os senhores feudais.

    Nas ciências (medicina, astronomia, química etc.) e na filosofia há um contínuodesenvolvimento pela pesquisa: a razão passa a ser a primeira condição para a felicidadedo ser humano (mais tarde esta maneira de pensar desembocaria no Iluminismo).

    Os artistas refletiram, então, esta expansão, intensidade, contradição, exuberância ediversidade culturais, buscando expressar toda a infinitude do universo, a transitoriedadedo tempo e as contradições de visão de mundo.

    A palavra barroco vem da língua portuguesa e significa "pérola irregular". Foi adotadainternacionalmente para caracterizar um estilo sutil, ornamentado e pomposo nasArtes

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    Plásticas, na Arquitetura e na Literatura dos séculos 16 a 17. Na música, começa em findo século 16 e vai até meados do século 18. Na época era um termo pejorativo e tinha aconotação de grotesco. Os historiadores da Arte, a partir do século 19, recuperaramnocom um significado mais conceituado.

      2Caracteristicas gerais

    Os compositores abandonam a polifonia e a homofoniacoral e adotam a homofoniamelódica (melodia e acompanhamento) com a progressão de acordes tonais: IIVVI. Esta progressão constante de acordes, que sustenta a melodia, chamase baixocontínuo. Como estes acordes não eram escritos com todas as notas, os compositoresinventaram o sistema de baixo cifrado: números e símbolos para resumir e indicar aharmonia que seria realizada pelos intérpretes.

    Há uma valorização de ritmos de danças, que são utilizados para estruturar as peças.Desde o século 17, os valores se fixam, excluindo as mais longas. Os nomes das figurasforam adaptados conforme o país. Em português a seqüência fica: semibreve, mínima,semínima, colcheia, semicolcheia, fusa e semifusa (a palavra colcheia significa"gancho", do francês). Tomam a forma redonda. As figuras com bandeirolas começam aser unidas. A unidade básica se torna a semibreve. Inventase a barra de compasso, asfórmulas de compasso, as indicações de andamentos, o arco de ligadura, as quiálteras,

    os acentos e algumas expressões de dinâmica.

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    Há uma profusão de ornamentos, todos derivados de práticas antigas e populares. NoBarroco tinham uma dupla função: afirmar a harmonia e dar cor à pouca sonoridade dosinstrumentos. Os principais ornamentos são: trinado, grupeto, mordente, apojatura,glissando e floreio.

    Os compositores e teóricos elaboraram a Teoria dos Afetos, que consiste em associar astonalidades, os contornos melódicos, os padrões rítmicos, os timbres e as dinâmicas adeterminados sentimentos, humores, ações, idéias, pensamentos, histórias, paisagens etcCada músico tinha uma tabela para si, para cada ocasião ou para cada obra. E divergiammuito com a lista dos outros compositores.

    Com o crescente interesse pela música instrumental, os compositores resolveramdeterminar os timbres de modo claro e objetivo nas partituras. Só em obras paradiletantes havia uma maior liberdade para a escolha dos instrumentos.

    A orquestra começa a se formar no século 17. O grupo musical recebeu este nome

    porque os músicos ocupavam o lugar originalmente destinado aos dançarinos nos teatrosinternos, construídos nos palácios da nobreza nos séculos 15 e 16. A palavra orquestrasignifica lugar para a dança em grego. Num primeiro momento estas primitivasorquestras, que tocaram as primeiras óperas, balés e faziam músicas para peças teatraiseram conjuntos amorfos constituídos de flautasdoce, oboés, trompetes, trombones,harpas, cravos, alaúdes, tiorbas, violas medievais, entre outros um verdadeiro "violãogigante", como apelidaram na época. Na realidade era um grupo que se juntava, quando

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    da necessidade da produção do espetáculo.

    Com o desenvolvimento do tonalismo, os compositores procuraram um maior equilíbrioentre os timbres. Assim a orquestra padrão ficou formada pelas cordas (família dosviolinos) e por um instrumento que fizesse os acordes. As funções eram estas: a melodiasempre a cargo dos primeiros violinos, as notas intermediárias da harmonia a cargo dossegundos violinos e das violas, as notas graves para os violoncelos e contrabaixos e arealização dos acordes para o teclado (órgão ou cravo).

    Mais tarde começaram a se utilizar dos sopros de madeiras (oboé e fagote) e da trompa.No começo do século 18, acrescentaram a flauta transversal e, mais tarde, clarinetes,trompetes, trombones e percussão. Um ou outro instrumento diferente era utilizadoparaefeitos cênicos (trompetes e percussão para batalhas) ou para uma personagem: Orfeucom alaúde, Nero com harpa, entre outros.

    Para coordenar os conjuntos instrumentais e/ou corais, o maestro ("professor" emitaliano) normalmente o próprio compositor tocava o baixocontínuo virado de costas

    para o público ou usava um bastão para marcar a primeira batida (battuta em italiano) docompasso.

    Aparecem os primeiros virtuoses de instrumentos, que são músicos especializados emexecutar determinados instrumentos com habilidade e técnica perfeitas.

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    com/

    3 Música vocal

    3.1 - Ópera

    É uma abreviatura da expressão italiana opera in musica ou seja obra literária posta emmúsica. Na época surgiram também as denominações: favola in musica ("lenda

    musicada") ou dramma per musica ("teatro musicado"). Há muitos exemplos de artescênicas acompanhadas por música em todas as épocas anteriores, tanto no Ocidentequanto no Oriente, mas o processo que levou a criar este espetáculo foi, no mínimo,curioso.

    Um grupo de intelectuais de Florença, os membros da Camerata Fiorentina, queriarecriar, dentro do espírito renascentista literário, as tragédias gregas, que eramacompanhadas por música. Só que ao traduzir uma expressão grega que significava"declamando", eles a traduziram por "cantando" (nas palavras italianas "per recitare

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    cantando"). De um erro de tradução, sem querer, criaram um novo gênero musical !

    Para efetivar o projeto, lançaram mão de uma novidade da época: a monodia (do grego"um som") ou melodia acompanhada, por entenderem que esta poderia expressar ossentimentos humanos convenientemente, segundo a estética deles. A música polifônica,de acordo com esta tese, seria inadequada.

    Após várias tentativas frustradas, a primeira ópera, que poderia receber estadenominação, seria La Dafne de 1597, com música de Jacopo Peri (1561/1633) e JacopoCorsi (1561/1602) e libreto de Ottavio Rinuccini (1562/1621), baseada na mitologiagrega, conforme o gosto renascentista. Infelizmente a música se perdeu.

    A primeira ópera completa que nos resta, com duas versões musicais, é Eurídice de Peri,versão de 1600, e Giulio Caccini (1545/1618), de 1602, e baseadas num libreto deRinuccini. Cada versão foi concebida para duas festas diferentes.

    Uma das mais antigas óperas La favola d"Orfeo, foi estreada em Mântua, no ano de1607. A música é de Claudio Monteverdi (1567/1643) e o libreto é de AlessandroStriggio (c1540/1592).

    Esta ópera rompeu com o padrão anterior, porque Monteverdi, queria que a músicaajudasse na expressão do texto (stilo concitato, "estilo excitado" em italiano) enão mera

    acompanhadora da palavra, conforme defendiam os florentinos (stilo recitativo ourapprasentativo). Além disto, as óperas de Monteverdi tinham mais canções e menosrecitatos. Foi o começo do belcanto.

    O compositor de ópera precisa de um libreto ("livrinho" em italiano), que é o poemaouo texto no qual se baseia para escrever a música. Pode ser do próprio compositor oupode encomendar a outros. Naquela época adoravam temas pastoris, lendas gregas,história romana e contos bíblicos. Em outros períodos escolhem conforme o estiloliterário e momento sóciopolítico.

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    Dois importantes libretistas deste período foram Apostolo Zeno (1668/1750) e PietroMestastasio (1698/1782), cujos textos foram colocados em música por muitoscompositores durante quase dois séculos. No início da História da Ópera, havia umequilíbrio entre texto e música, mas isto logo foi rompido por Monteverdi. Eis a razãopela qual lembramos o nome do compositor e não do libretista deste gênero deespetáculo.

    As partes de uma ópera variam conforme o estilo artístico vigente. O padrão geral seguemais ou menos assim: ABERTURA Uma peça instrumental de forma variada. Pode ser simples acordes,uma colcha de retalhos com temas da ópera ou mesmo uma música qualquer que ocompositor tenha à mão. Nos primeiros tempos, era para acalmar o tumulto que havianas platéias de teatro da época ou para anunciar a entrada de alguma autoridadeimportante (rei, cardeal, mecenas etc.). Durante o século 17 apareceram dois modelos: a

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    Abertura Italiana, que consiste em um andamento rápido, depois um lento e a voltadorápido, encadeados sem interrupção, e a Abertura Francesa, que começa com umamarcha solene e lenta e finaliza com um andamento rápido, também encadeados seminterrupção. Apesar dos modelos nacionalistas, os compositores escolhiam uma ou outraconforme a ocasião. Sinônimos de Abertura: sinfonia, prelúdio e protofonia.

     PRÓLOGO Muito comum nas óperas do século 17, normalmente com dois ou trêspersonagens introduzindo ou resumindo o enredo, agradecendo a presença do público oufazendo um elogio ao mecenas, patrocinador do espetáculo. Caiu em desuso com otempo.

     ATOS / CENAS / QUADROS São as divisões dramáticas do enredo e é mais umapreocupação do libretista do que do compositor.

     NÚMEROS O compositor e o libretista, para facilitar a composição e os ensaios,subdividem a ópera em pequenas unidades; os principais números são:

    Recitativo seco Número musical entre o canto e a fala, acompanhado apenas pelocravo contínuo (podendo ser um diálogo). Antecede uma canção ou um prólogo.

    Recitativo acompanhado Do mesmo jeito anterior, só que acompanhado pelaorquestra.

    Ária (do italiano aria, que significa "ar") É uma canção onde a personagem revela suapersonalidade, conta seus propósitos, declara seus pensamentos e expressa os seussentimentos mais íntimos. Existem vários modelos formais de árias, sendo que o modelomais importante é a ariadacapo ("ária da cabeça" ou "ária do começo" em italiano), naqual a primeira parte é repetida com ornamentações. Derivados da ária, surgem o arioso(ária curta e melodiosa) e a arietta ("pequena ária"). Entre uma estrofe ou outra havia oritornello ("retorno"), um tema musical instrumental.

    Conjunto Quando há dois ou mais cantores num mesmo trecho musical.

    Coral Música para coro.

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    Instrumental ou sinfonias ou, mesmo, ritornello Serve para diversas funções comoligar cenas, indicar passagem de tempo, dar algum efeito especial ou servir de interlúdioentre os atos etc... Também poderiam ser marchas e danças para balé.

    A ópera se espalhou rapidamente pelo resto da Itália e, pouco depois, conquistou aEuropa. As companhias italianas, junto com seus compositores, libretistas cantores,instrumentistas e cenógrafos, entre dezenas de outros, cruzavam todo o continente,apresentando o seu repertório e ensinando aos outros como fazêla. Por causa disto é quena música, a terminologia usada é de origem italiana. Por contraposição ou porinfluência da ópera italiana, surgiram vários gêneros nacionalistas: França: Tragedie lyrique; Vaudeville; Óperabailado

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     Alemanha: Singspiel Espanha: Zarzuela; Tonadilla Inglaterra: Masque

    No final do século 17, desenvolveuse a ópera napolitana, na qual a música dominoucompletamente o texto. Além disso ela atraía o público porque tinha uma profusão demelodias e uma trama simplificada. O seu principal compositor foi AlessandroScarlatti (1660/1725). Com o passar dos anos descambou para enredos rocambolescos epornográficos, estrelismo dos cantores, com músicas fora do contexto e encenaçõesridículas. Estes problemas foram superados somente na segunda metade do século 18com Gluck e Mozart.

    Junto com as encenações de óperas com assuntos lendários e históricos, apareceu ointermezzo ("intermediário" em italiano), que eram pequenas óperas apresentadas entreos atos do espetáculo principal. Seu enredo era cômico, satirizando situações cotidianae o roteiro simples, tendo poucas personagens (no máximo três). A música era muitomelodiosa. Dentro da produção operística, o intermezzo tinha a função de testar novosartistas (compositores, libretistas, cantores e outros), manter integrantes da companhiatrabalhando (quando não estavam na peça principal), segurar o público dentro do prédioteatral e, finalmente, abafar o barulho das máquinas trocando os cenários atrás dascortinas fechadas.

    Com o tempo, o público desinteressouse pela ópera principal e só assistia aointermezzo. Os empresários viram nisto uma nova forma de lucro e trocaram deinvestimento, criando casas de espetáculos somente para este tipo de obra que passou ase chamar opera buffa ("ópera com assunto grotesco" em italiano). Um dos principaiscompositores de óperas bufas é Giovanni Battista Pergolesi (1710/1736).

    Todos os tipos de óperas propiciaram o aparecimento do cantor solista de grandevirtuosidade. Normalmente o compositor treinava os seus solistas com muita rigidez. Eletambém tinha uma rede de informantes, para descobrir talentos em coros de pequenas

    igrejas, festas populares e espetáculos de saltimbancos.

    A cantora principal era apelidada de prima donna ("principal mulher" em italiano) oudiva ("deusa" em italiano), o cantor principal era o primo uomo ("principal homem" emitaliano) e o castrato ("castrado" em italiano) era o primo musico ("primeiro músico"em italiano).

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    A história deste último tipo de cantor é a seguinte: quando algum professor de músicapercebia que um menino tinha uma voz muito boa para o canto, convencia a sua famíliaa fazer uma operação no seu sexo a troco de dinheiro. Esta prática, segundo os registros,

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    já era feita pelos povos antigos, para suas músicas religiosas e de entretenimento.Importada pela Igreja Católica, durante a Idade Média, o castrato foi amplamenteaproveitado na ópera desde o seu início até o final do século 18. Ele se valorizava e svalorizou, recebendo vultosa quantia financeira e muito prestígio social. Era tambémvisto como uma monstruosidade ou aberração. Esta prática começou a ser proibida noséculo 18 e desapareceu por completo há cerca de cento e cinqüenta anos. Hoje ninguémsabe como soaria um castrato. Atualmente as personagens escritas para castrato,sãosubstituídas por homens ou mulheres, conforme a filosofia da montagem.

    O compositor coordenava a produção, ensaiava cada cantor e a orquestra, tocava o cravonos recitativos e dirigia o espetáculo todo. Os cantores nesta época encenavam com apartitura na mão. Só os mais capacitados a dispensavam, decorando a música e o texto.

    As encenações de qualquer estilo operístico tornaramse, com tempo, cheias de fausto(cenários e figurinos caros) e a maquinaria teatral para efeitos cênicos (terremotos,carros voadores, batalhas marítimas, por exemplo) era engenhosamente fabulosa.

    Com o crescente interesse pela ópera (dinheiro, fama e prestígio social), as rivalidadesentre artistas, companhias e nacionalidades não tardaram a surgir e a história está repleta

    de brigas intermináveis entre compositores, libretistas, cantores, castrati, instrumentistas,coreógrafos, cenógrafos, auxiliarestécnicos dos grupos, empresários, políticos,religiosos e até o público em geral !

    Alguns outros dos principais compositores de óperas do século 17 e início do 18 são: JeanBaptiste Lully (1632/1687 MarcAntoine Charpentier (1645?/1704) Henry Purcell (1659/1695) Antonio Vivaldi (1678/1741) JeanPhilippe Rameau (1683/1764) Georg Friedrich Haendel (1685/1759)

    A imensa maioria das óperas deste período desapareceu e das que nos restam só umamínima parcela tem condições de ser remontada hoje em dia, por causa da repetição deefeitos musicais e textos fracos.

    As Igrejas Católica e Protestante proibiram a produção de óperas em seus territórios.Elas censuravam o uso de temas pagãos e o tratamento pornográfico dado aos assuntos.Além disto, envolvia preconceitos sociais tremendos: mulheres trabalhando comoatrizes, a ambigüidade dos castrati, religiosos envolvidos nas montagens, confusõesebebedeiras na platéia, entre outras coisas. Assim muitos músicos migraram para outrascidades mais liberais ou as compunham às escondidas. Ou criaram um gênero híbrido: ooratório.

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    3.2 Oratório e paixão

    A palavra significa "sala de reza". O oratório nasceu da lauda spiritual ("louvaçãoespiritual" do latim), que eram músicas que narravam a vida e os milagres dos santos.Tais laudi eram apresentadas na sala do oratório da Congregação de São Felipe Neri emRoma.

    Os compositores, proibidos de compor óperas, desenvolveram as laudi, baseandose emhistórias do Velho Testamento e encenandoas As autoridades eclesiásticas, percebendoa manobra, proibiram a encenação de tais espetáculos e, daí em diante, só podiam serapresentados em forma de concerto, sem atuação, figurino e cenografia e somente emdias e lugares religiosos e cantadas em latim. E batizaram o novo gênero de oratório,em homenagem ao local de onde foi iniciado o movimento.

    O primeiro de que temos registro é La rappresentazione di Anima e di Corpo de EmilioCavalieri (c1550/1602) com libreto de Agostini Manni, apresentada em 1600 na cidadede Roma (alguns pesquisadores acham que esta peça é mais uma ópera do que um

    oratório !).Musicalmente falando, o gênero não se diferencia muito de uma ópera, excetuando atemática, a encenação e a exuberância virtuosística dos cantores. Tem árias, conjuntos,corais e trechos instrumentais. Devido ao dinheiro e ao prestígio que lhes rendiam,muitos compositores e libretistas de óperas fizeram oratórios também. Com o desenrolardos anos, os protestantes o adotaram, só que nos seus idiomas nacionais.

    Alguns compositores que trabalharam neste gênero: Heinrich Schütz (1585?/1672) Giacomo Carissimi (1605/167) Dietrich Buxtehude (c1637/1707)

     Alessandro Stradella (1644/1682) MarcAntoine Charpentier (1645?/1704) Johann Pachelbel (1653?/1706) Alessandro Scarlatti (1660/1725) Georg Friedrich Haendel (1685/1759) Johann Sebastian Bach (1685/1750)

    Peças deste gênero são compostas até hoje com temática, forma e idioma variados.Alguns diretores até encenam os oratórios antigos.

    Um gênero específico de oratório é a Paixão ("sofrimento" em latim). Desenvolvido apartir de modelos católicos medievais, a paixão é uma espécie de oratório específico,baseado nos Evangelhos. Um destaque é a presença do "narrador", que é o evangelista

    eleito pelo compositor, conduzindo a história. O idioma original era o latino, mas depoisliberouse. Peças deste gênero são compostas até hoje.

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    om/

    Compositores importantes: Heinrich Schütz (1585?/1672) Dietrich Buxtehude (c1637/1707) Johann Pachelbel (c1653/1706) Johann Sebastian Bach (1685/1750)

    3.3 Cantata

    Esta palavra significa música para ser "cantada". A cantata segue as mesmascaracterísticas musicais do período. A temática pode ser religiosa ou cotidiana. Compõese cantatas até os dias de hoje. Compositores importantes: Luigi Rossi (c1597/1653) Johann Sebastian Bach (1685/1750), entre outros.

    3.4 Gêneros religiosos

    As Igrejas Católica e Protestante encomendavam muitas obras musicais e uma grandequantidade de compositores, que eram padres ou pastores. Missas, hinos, ladainhas,corais, anthem (hino da igreja anglicana), saltérios (música calvinista baseada nossalmos), entre outros, além dos oratórios, paixões e cantatas, eram criados aos milhares

    semanalmente. Umas mais contidas, outras mais esfuziantes, todas tinham as mesmascaracterísticas estilísticas do período. A maior parte se perdeu, outras caíram noesquecimento e só uma parcela muito ínfima tem condições de ser ressuscitada hoje emdia.

    3.5 Outros gêneros menores

    Árias, canções, baladas, madrigais e outros gêneros eram cultivados por todos oscompositores, muitas vezes encomendadas, outra vezes para promover algum cantor,cantora ou castrato. Todas estas músicas seguem o estilo geral da época.

    4 Música instrumental

    4.1 Concerto grosso

    Esta expressão italiana significa "grande concerto". A palavra concerto é de origemcontrovertida, sendo que muitos musicólogos e historiadores defendem a tese de que aorigem é de consertare ("juntar" ou "arrumar" do latim) e não concertare ("rivalizar" dolatim). Assim, concerto seria juntar, num todo, instrumentos e vozes. Assim, noséculo16, davase o nome de concerto, indiferentemente, a motetos, cantatas e peçasinstrumentais diversas. (Mais tarde a palavra também tomou o significado de audição ourecital; há ainda o significado de acordo e combinação).

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    O concerto grosso é um gênero instrumental no qual solistas se contrapõem à massa

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    orquestral, ambos apoiados pelo baixo contínuo. Cada um destes grupos recebe umadenominação diferente e uma função específica: Nome Tradução do italiano Instrumento Função  Concertino Pequeno concerto Solistas, geralmente Fazem a melodia e  compostos de dois exibem  instrumentistas agudos virtuosidade  e um grave  Ripieno Pleno Orquestra formada Lançam os temas e  ou ou somente por preenchem a  Tutti Todos instrumentos de cordas harmonia na parte  intermediária  Basso Baixo frequente Várias opções. Para Faz o grave e os  contínuo produzir os acordes: acordes,  cravo, clavicembalo, preenchendo a  órgão, alaúde, harpa, harmonia  Para reforçar as notas  graves melodicamente:  violoncelo, contra  baixo, viola da gamba,  fagote, trombone, etc.

    É elaborado em vários andamentos (influência cruzada da suíte com a abertura daópera). Normalmente na seqüência lentorápidolentorápido.

    Quanto à forma de cada andamento, o compositor pesquisava diversos procedimentos.Oandamento lento inicial é uma marcha em estilo de abertura francesa, com notaspontuadas e de caráter solene, enquanto que, no intermediário, pode ser em forma de áriada capo, igual às melodias líricas das óperas ou em forma binária de dança ou, ainda, eestilo fugato. As opções eram variadas para os andamentos rápidos: estilizações dedanças, tema e variação; ritornello; rondó etc. Todos os andamentos tem a mesmatonalidade. Em muitos casos de tonalidade em menor, o último movimento termina narelativa maior ou na homônima maior.

    Não se sabe quem denominou este gênero assim, mas os historiadores dão preferência aocompositor italiano Archangelo Corelli (1653/1713). Principais compositores:

     Archangelo Corelli (1653/1713) Antonio Vivaldi (1678/1741) Georg Philipp Telemann (1681/1767) Georg Freidrich Haendel (1685/1759) Johann Sebastian Bach (1685/1750) etc.

    4.2 Concerto solo

    É derivado do concerto grosso, mas com somente um solista e em três andamentos, àmaneira da abertura italiana: rápidolentorápido. A formas de cada andamentonormalmente são as seguintes: o primeiro andamento em forma de imitação ouritormello, o segundo andamento em forma de ária e o terceiro andamento em forma de

    ritornello, dança ou rondó.

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    Principais compositores: Antonio Vivaldi (1678/1741) Georg Philipp Telemann (1681/1767) Georg Freidrich Haendel (1685/1759) Johann Sebastian Bach (1685/1750)

    4.3 Trio sonata

    Derivada da canzona da sonar e da sonata renascentista, a triosonata barroca, narealidade, era tocada por quatro instrumentistas: dois instrumentos solistas e o baixocontínuo, formado por um instrumento melódico (violoncelo, viola da gamba, fagote,entre outros) e um instrumento que pudesse dar acordes (cravo, clavicórdio, órgão,alaúde, etc.). Tinha vários andamentos, igual ao concerto ou à suíte.

    Compositores mais importantes: Archangelo Corelli (1653/1713) Georg Friedrich Haendel (1685/1759) Johann Sebastian Bach (1685/1750)

    No período barroco as sonatas para cordas renascentistas sobreviveram com dois tipos:

    sonata da câmara: para ser tocada nos saraus, com o cravo ou clavicórdio comocontínu