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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Gilse Cabrera Rissi HIPERTEXTO E ESTRATÉGIAS DE LEITURA Mestrado em Língua Portuguesa São Paulo 2009

HIPERTEXTO E ESTRATÉGIAS DE LEITURA Cabrera... · da Antiguidade à era digital, II) A leitura do hipertexto em perspectiva sociocognitivo- interacional, III) A prática da leitura

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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Gilse Cabrera Rissi

HIPERTEXTO E ESTRATÉGIAS DE LEITURA

Mestrado em Língua Portuguesa

São Paulo 2009

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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Gilse Cabrera Rissi

HIPERTEXTO E ESTRATÉGIAS DE LEITURA

São 20

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Língua Portuguesa, sob a orientação da Professora Dra. Vanda Maria da Silva Elias.

Paulo 09

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BANCA EXAMINADORA

_______________________________

_______________________________

_______________________________

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Dedico este trabalho aos meus dois

amores: Celso e Bruna, pela paciência e

pelo apoio incondicional.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por me permitir iniciar e finalizar este trabalho com êxito.

À minha família, pelo apoio incondicional. Sem eles, esta pesquisa não seria

possível.

À CAPES, pela concessão da bolsa de estudos através do Programa de Pós-

graduação em Língua Portuguesa da PUC/SP.

À minha orientadora, professora doutora Vanda M. da Silva Elias, pela valiosa

orientação, pelas observações seguras, pelo incentivo e por toda dedicação.

Às professoras doutoras Anna Maria Marques Cintra e Nílvia Pantaleoni pelas

contribuições valiosas para o aprimoramento do trabalho no exame de qualificação.

À amiga Flávia Serralvo, pelo grande incentivo e apoio, que foram importantíssimos

na minha tomada de decisão para enfrentar este desafio.

Ao amigo Ernani Terra, pela leitura atenciosa do trabalho e pelas pertinentes

observações, pelas conversas fecundas e, principalmente, pelo exemplo de ser

humano que se revelou durante os anos que estudamos juntos.

Aos mestres do Programa de Língua Portuguesa, pelo muito que me ensinaram em

suas aulas.

Aos colegas da PUC/SP que muito contribuíram para o meu crescimento.

Aos participantes da pesquisa, alunos e professores (Aparecida Moraes de Farias,

Cristiane Menezes, Elisabeth Rizzi e Maria Paula Del Bianco), pela cooperação na

coleta dos dados.

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RESUMO

Esta dissertação, inserida na linha de pesquisa Leitura, Escrita e Ensino de

Língua Portuguesa, fundamenta-se em estudos do texto na perspectiva

sociocognitivo-interacional e tem o propósito de contribuir para o ensino de leitura

em contexto digital.

Para o desenvolvimento do estudo, foi realizada uma pesquisa de campo com

alunos de ensino médio de escolas da rede pública e privada, a fim de conhecer e

identificar o perfil dos hiperleitores e as estratégias por eles utilizadas na leitura do

hipertexto.

Os resultados indicam que muitas são as estratégias requeridas na leitura do

hipertexto, dentre as quais merecem destaque: a manutenção de objetivo, o uso de

predição, a ativação de conhecimentos prévios, o uso de inferências etc. Observa-

se também que os hiperleitores utilizam estratégias adequadas à leitura do texto

em contexto digital, graças a conhecimentos que possuem sobre características da

escrita hipertextual, formas de localização e acesso no espaço propiciado pela

internet.

De modo geral, os dados levantados na pesquisa apontam para a importância

de se trabalhar o hipertexto em sala de aula, partindo do conhecimento adquirido,

fora da escola, pelos alunos como navegadores e exploradores dos “oceanos da

internet”.

PALAVRAS-CHAVE: Leitura, internet; hipertexto; estratégias.

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ABSTRACT

This dissertation, inserted in the Reading, Writing and Portuguese Language

Teaching research field, is based on studies of the text in the socio-cognitive-

interactional perspective and has as its purpose to contribute with the teaching of

reading in digital context.

To develop this study, a research was conducted with public and private high school

students, in order to identify the hyper-readers’ profile and their strategies to read

hypertexts.

The results show that there are many strategies present on the hypertext reading,

and among these we highlight: the maintenance of the objective, the use of

prediction, the activation of previous knowledge, the use of inferences etc. It was also

possible to realize that hyper-readers use adequate strategies to read texts in digital

contexts, thanks to the knowledge they have about the hypertextual writing, ways of

locating and accessing in the space provided by the internet.

On the whole, the research data reveal the importance of working with hypertext

during classes, starting from the previous knowledge students already have about

navigating and exploring the “internet oceans”.

KEY WORDS: Reading; Internet; Hypertext; Strategies.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................................................................

10

CAPÍTULO I – UM PANORAMA DA LEITURA: DA ANTIGUIDADE À ERA DIGITAL.................................................................................................................... 13

1.1 A leitura na Antiguidade..................................................................................... 15

1.2 O surgimento do códice...................................................................................... 16

1.3 A leitura na Idade Média..................................................................................... 18

1.4 A Idade Moderna e a popularização da leitura................................................... 20

1.5 A leitura na contemporaneidade......................................................................... 23

1.5.1 A leitura na era digital................................................................................... 25

1.5.2 O hipertexto.................................................................................................. 26

1.5.2.1 A definição de hipertexto....................................................................... 28

1.5.2.2 As características do hipertexto............................................................ 29

1.6 Os hiperleitores.................................................................................................. 33

1.6.1 O leitor errante............................................................................................. 37

1.6.2 O leitor detetive............................................................................................ 38

1.6.3 O leitor previdente........................................................................................ 38

CAPÍTULO II - A LEITURA DO HIPERTEXTO EM PERSPECTIVA SOCIOCOGNITIVO- INTERACIONAL..................................................................... 412.1 Uma perspectiva para o estudo da prática de leitura......................................... 42

2.2 O conceito de leitura sob a ótica sociocognitiva-interacionista.......................... 44

2.3 Modelos de leitura.............................................................................................. 45

2.4 As estratégias de compreensão leitora.............................................................. 49

2.4.1 Pré-leitura: objetivos.................................................................................... 54

2.4.2 Uso de previsões......................................................................................... 55

2.4.3 Ativação do conhecimento prévio................................................................ 56

2.4.4 Uso de inferências....................................................................................... 56

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2.4.5 Estratégia de resumo................................................................................... 58

2.5 Algumas estratégias para a leitura do texto digital............................................ 59

CAPÍTULO III – A PRÁTICA DA LEITURA NA INTERNET.....................................

63

3.1 Metodologia....................................................................................................... 63

3.2 Descrição do instrumento e do contexto da pesquisa....................................... 64

3.3 Os sujeitos da pesquisa..................................................................................... 68

3.4 Descrição e análise dos dados.......................................................................... 68

3.4.1 O perfil social dos informantes.................................................................... 69

3.4.2 O perfil de uso da internet pelos informantes............................................. 71

3.4.3 As práticas de leitura na internet................................................................ 73

3.4.4 Análise das estratégias off-line e on-line.................................................... 75

3.4.5 O perfil do hiperleitor.................................................................................. 89

CAPÍTULO IV – A LEITURA DO HIPERTEXTO NO CONTEXTO ESCOLAR....... 95

4.1 Lendo hipertexto em tela.................................................................................... 99

4.1.1 Particularidades da leitura em tela............................................................... 100

4.1.2 Alinhando os recursos.................................................................................. 101

4.1.3 Estratégias de pré-leitura............................................................................. 102

4.1.4 Estratégias para durante a leitura................................................................ 105

4.1.5 Estratégias de pós-leitura............................................................................. 108

CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho está inserido na linha de pesquisa Leitura, Escrita e

Ensino de Língua Portuguesa e se desenvolve em torno das seguintes questões: 1)

qual o perfil dos jovens leitores de textos na internet? 2) que estratégias são

utilizadas por eles durante a leitura em tela? Ao darmos conta dessas questões,

esperamos contribuir para o ensino de Língua Portuguesa, especificamente no

tocante à leitura de textos em ambiente virtual.

É um fato que a internet, nos últimos anos, tornou-se um grande recurso de

entretenimento e diversão, bem como transformou-se em uma importante referência

no processo de ensino-aprendizagem e de construção do conhecimento para

públicos variados. Também é verdade que a internet exige do leitor um novo modo

de leitura devido às características do texto digital, aqui trabalhado como hipertexto,

uma vez que essa produção escrita possui características que a diferenciam daquela

produzida em papel, dentre elas, a não linearidade, a acessibilidade ilimitada e a

conectividade.

Pesquisas têm apontado grande interesse dos jovens pela leitura do texto

digital, conforme índices disponibilizados pelo CGI (Comitê Gestor da Internet no

Brasil). Em uma dessas pesquisas sobre o uso das tecnologias da informação e da

comunicação no Brasil, os jovens de Ensino Médio ocupam o segundo lugar em

maior número de acesso à internet.

Levando em conta esses dados, definimos como objetivos desta pesquisa

conhecer o perfil de leitores de hipertexto do ensino médio e identificar estratégias

utilizadas por eles. Além disso, objetivamos contribuir para o ensino da leitura em

contexto digital, tendo como ponto de partida o conhecimento do aluno constituído

empiricamente sobre o modo de constituição e de leitura de textos na internet.

Para o desenvolvimento da pesquisa, respaldamo-nos em estudos sobre o

texto e o seu processamento estratégico, sob a ótica de Solé (1998); Kleiman

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(1989, 1998, 2008); Van Dijk (2004); Koch (2005, 2006, 2007); Koch & Cunha-Lima

(2005) e Koch & Elias (2006), bem como em estudos sobre o texto e a prática da

leitura em contexto digital, principalmente, aqueles realizados por Lévy (1999),

Leão (2001), Rosenberg (2002), Santaella (2004); Marcuschi (2000, 2007) e Xavier

(2002, 2005).

A fim de atingir os nossos objetivos, estabelecemos os seguintes

procedimentos metodológicos:

1. revisão de literatura sobre leitura, texto e seu processamento estratégico, bem

como sobre escrita/leitura hipertextual;

2. realização de uma pesquisa de campo utilizando a técnica de aplicação de

questionários;

3. tabulação e análise dos dados;

4. exemplificação do modo de leitura solicitada pelo hipertexto com a finalidade de

contribuir para o aprimoramento da prática de leitura do hiperleitor e,

consequentemente, para o ensino de leitura em contexto digital.

Organizamos a dissertação em quatro capítulos: I) Um panorama da leitura

da Antiguidade à era digital, II) A leitura do hipertexto em perspectiva sociocognitivo-

interacional, III) A prática da leitura na internet e IV) A leitura do hipertexto no

contexto escolar.

- No primeiro capítulo, inicialmente, apresentamos um panorama da história

da leitura focando a mudança de suportes e dos modos de leitura até chegar à

escrita/leitura hipertextual. Em seguida, tratamos especificamente do hipertexto,

destacando suas características e implicações trazidas para formação do hiperleitor.

- No segundo capítulo, tratamos especificamente da leitura e de estratégias

de leitura. Para tanto, fundamentamo-nos em estudos do texto situados

preponderantemente no campo da Linguística Textual, chamando a atenção para

uma concepção de leitura que pressupõe a atuação de um sujeito leitor

“estrategista”.

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- No terceiro capítulo, expomos a metodologia adotada, explicamos o

processo de formação de nosso corpus e apresentamos a descrição e análise dos

resultados obtidos na pesquisa.

- No quarto capítulo, exemplificamos como o modo de leitura solicitado pela

escrita hipertextual pode ser objeto de reflexão no ensino de Língua Portuguesa.

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Capítulo 1

Capítulo I

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Capítulo 1

UM PANORAMA DA LEITURA: DA ANTIGUIDADE À ERA DIGITAL

A leitura desafia, capacita, encanta e enriquece. Pequenas marcas pretas sobre a folha branca ou caracteres na tela do computador pessoal são capazes de nos levar ao pranto, abrir nossa mente a novas ideias e entendimentos, inspirar, organizar nossa existência e nos conectar ao universo. (FISCHER, 2006, p.7)

A leitura, na atualidade, é vista como uma prática social (BOURDIEU, 2001)

que permite a participação e discussão de acontecimentos que estão à nossa volta.

Também podemos dizer que a leitura é vista como fundamental e parte integrante da

vida em sociedade, porque amplia e diversifica nossas visões e interpretações sobre

o mundo e da vida como um todo. Segundo Manguel (1997, p.20) “lemos para

compreender, ou para começar a compreender. Não podemos deixar de ler. Ler, é

quase como respirar, é nossa função essencial”.

Entretanto, nem sempre a prática de leitura foi vista dessa maneira, visto

que, durante muito tempo, o ato de ler foi um hábito exclusivo das classes

privilegiadas. O domínio da leitura era prerrogativa de poucos alfabetizados e,

geralmente, esses eram pertencentes à elite ou pessoas que serviam a ela. Assim, a

prática de leitura era considerada como característica de uma sociedade culta. No

entanto, com o passar do tempo, a prática da leitura sofreu modificações, resultado

das transformações da vida do homem.

Neste capítulo, faremos uma breve exposição da história da leitura

focalizando as mudanças de suportes e dos modos de leitura. Objetivamos

apresentar um panorama das mudanças ocorridas nas práticas de leitura até chegar

à leitura no meio digital, mais precisamente na leitura hipertextual. Para isso,

dividimos o capítulo em duas partes: a primeira discorre sobre a história dos

suportes e dos modos de leitura e apresenta as transformações no perfil do leitor no

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Capítulo 1

15

decorrer dos tempos. Já a segunda trata do hipertexto digital e do leitor de

hipertexto, doravante hiperleitor, que são os focos de nossa pesquisa.

1.1 A leitura na Antiguidade

Como relata Cavallo (2002), na Antiguidade um dos suportes mais comuns

para o texto era o papiro - material extraído da planta aquática Cyperus Papyrus.

Como o processo de produção era bastante cuidadoso e a planta só era encontrada

às margens do rio Nilo, nas águas do rio Eufrates e no lago de Tiberíades, na Síria,

o papiro era um material de custo muito elevado. O “livro" de papiro era constituído

por várias folhas unidas para formar um rolo, também chamado de volumen.

Para ler o volumen era necessário segurá-lo com uma das mãos e ir

desenrolando-o progressivamente com a outra, a qual segurava a parte já lida

(CAVALLO, 2002). O texto normalmente era escrito em colunas, podendo ter apenas

uma ou várias e o comprimento total de um volumen, geralmente, era de seis a sete

metros e quando enrolado seu diâmetro chegava até seis centímetros. O leitor,

diante desse suporte, encontrava limitações, pois, como mantinha as mãos

ocupadas, era lhe impossível fazer anotações.

Nessa época, conforme aponta Chartier (1999, p.98), o modo de ler mais

frequente era o da leitura em voz alta e podia ocorrer na presença de um auditório

ou de forma mais reservada. Esse modo de leitura subsistia por uma convenção

cultural que “associava fortemente o texto e a voz, a leitura, a declamação e a

escuta”. Todavia, Cavallo (2002) ressalta que, durante esse período, também ocorria

a prática da leitura de forma silenciosa, no entanto, essa modalidade não indicava

uma capacidade mais refinada em relação a uma hábil leitura em voz alta. Tratava-

se de uma escolha para a qual influíam fatores ou condições particulares, como o

estado de espírito do leitor.

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Capítulo 1

Esse quadro perdurou até os séculos X e XI d.C, até que o papiro, por sua

escassez e pelo custo elevado gerado pelas limitações geográficas do plantio, foi

gradativamente sendo substituído pelo pergaminho - pele de animal (cabra, carneiro,

ovelha ou cordeiro) preparada para escrever.

Figura 1 – Pergaminho em rolo

A novidade apresentada por esse novo suporte é que a sua estrutura

permitia a escrita em ambos os lados. Além disso, o seu manuseio também era

facilitado, por não ser tão delicado como o papiro. No entanto, o incômodo para a

prática da leitura permanecia, visto que para encontrar uma determinada passagem

no meio de uma obra, era preciso desenrolá-lo até achar o trecho e depois enrolá-lo

novamente.

Outro fator que desfavorecia a leitura em rolo é que, em muitos casos, um

único rolo não era suficiente para o conteúdo integral de uma obra, o que gerava

subdivisões, em dois ou mais livros (rolos). Um bom exemplo disso pode ser o livro

Ilíada, de Homero, que abrangia 24 rolos separados. Em razão dessas limitações,

era comum encontrar leitores que não liam as obras integralmente, uma vez que não

entravam em contato com todos os rolos (livros) que constituíam uma obra. Por esse

motivo, Fischer (2006) pontua que, muitas vezes, a leitura naquela época ocorria de

forma incompleta.

1.2 O surgimento do códice

Somente por volta do século III d.C. (período sem confirmação pelos

historiadores) foi criado um novo suporte para escrita e, consequentemente, para a

16

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Capítulo 1

prática de leitura: o códice - grupo de folhas de pergaminho manuscritas, unidas em

tábulas retangulares de madeira, revestidas de cera e unidas por cordões ou anéis.

O códice adquire a feição do livro e passa a ser formado por vários cadernos que

constavam de uma quantidade variável de in-fólios (folhas escritas dos dois lados).

Outra característica inovadora, decorrente da alteração do suporte, é que o leitor

ficava com uma mão livre, podendo segurar o códice com apenas uma delas, fato

que lhe possibilitava fazer, enquanto lia, anotações e comentários nas margens do

texto ou em outros materiais.

Figura 2 – Códice confeccionado com papiro.

Cavallo (2002) comenta que o códice instituiu uma nova maneira de ler os

textos, já que o leitor não lia mais de forma panorâmica como no rolo, levando em

conta que diante do volumen o olhar passava instantaneamente de uma coluna à

outra. De acordo com o autor, no códice, ocorria o contrário, devido a parte escrita

que era oferecida ao leitor ser predeterminada pelo tamanho da página fechada, isto

é, a parte escrita só podia ocupar o tamanho da folha dobrada que poderia ser em

duas, quatro ou oito partes, o que impedia uma visão contínua do conjunto. Esse

fato propiciava uma leitura fracionada, feita página por página e, automaticamente,

segmentada.

Para Fischer (2006) o novo formato, também, provocou inovações na

organização da literatura, uma vez que os capítulos tinham subdivisões e as

coleções, também chamadas de antologias, se concentravam dentro de uma só

capa. Desse modo, a ideia de leitura completa, concebida como conteúdo inteiro de

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Capítulo 1

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um códice, foi fortalecida. Aos leitores era possível ler as obras integralmente e,

além disso, a própria noção de leitura completa passou a definir-se como a leitura de

um códice do começo ao fim, podemos compreender melhor nas palavras de

Cavallo (2002, p.94)

o códice, reunindo num único suporte-livro uma série de unidades textuais

orgânicas (uma ou mais obras de um mesmo autor, um conjunto de escritos

de mesma natureza) ou não-orgânicas (obras diversas, a ponto de formar a

que foi chamada uma “biblioteca sem biblioteca”), determinava uma

profunda transformação na noção de livro e de leitura completa, visto que a

primeira, não mais imediatamente associável à ideia de uma obra, vinha a

coincidir com um objeto-livro no qual era possível colocar escritos; quanto à noção de leitura completa, esta passou a compreender, desde então, o conteúdo inteiro de um códice, mesmo que este, como era habitual,

contivesse várias obras (grifo nosso).

O autor relata ainda que a propagação do códice não alterou inicialmente as

estratégias e as modalidades de leitura em conjunto, já que os leitores continuavam

a mover-se no sulco tradicional. Somente na Idade Média, o novo suporte para

escrita foi se popularizando e com isso a prática de leitura sofreu mudanças, dentre

elas, a exaltação da leitura silenciosa, prática que perdura até hoje.

1.3 A leitura na Idade Média

A Idade Média apresentou dois momentos importantes para a prática da

leitura. O primeiro foi denominado período monástico, que perdurou do século V ao

século XI. Conforme Simões (2008), durante esse período, os livros (códices) eram

restritos às bibliotecas dos mosteiros, porque os textos, em sua grande maioria,

eram religiosos. Assim, não eram feitos para circular entre a população em geral.

Ainda nesse momento, como a prática de leitura era tida como uma forma de

conhecer Deus e para salvação da alma (CAVALLO, 2002), a leitura silenciosa ou

murmurada era obrigatória.

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Capítulo 1

19

O segundo momento importante ocorreu do final do século XI até o século

XIV, período conhecido como escolástico. Conforme Cavallo (2002), nesse

momento, ocorre uma revolução na história da leitura, pois renascem as cidades e

junto com elas as escolas que passam ser os lugares dos livros. Consecutivamente,

a alfabetização se desenvolve, a escrita e a leitura progridem em todos os níveis, os

usos dos livros se diversificam e com isso a prática de leitura tem uma evolução.

Conforme Cavallo (2002, p.22), nessa época,

lê-se muito e de forma diferente. Não mais se trata de simplesmente

compreender a letra da escrita (littera): essa compreensão constitui apenas

o momento inicial, do qual é preciso passar ao significado (sensu) do texto

para atingir enfim a sentença (sententia), entendida como doutrina em toda

a sua profundidade.

De acordo com Hamesse (2002), essa transformação no ato da leitura

amplia o público leitor. Para a autora, a partir desse momento, assistiu-se ao

surgimento de um novo estatuto da leitura que converteu a prática de ler em

“exercício escolar, depois universitário, regido por leis que lhe são próprias. O

principal lugar onde se exercerá essa atividade será portanto a escola, seguida pela

universidade” (p.123).

Hamesse (2002) aponta que ocorre uma renovação radical da própria

concepção do ato de ler. Assim, os livros deixam de ter a finalidade apenas sagrada

e passam a ter a finalidade prática. Desse momento em diante, os livros passam a

ser vistos como fonte de onde se chega ao saber ou aos saberes, não sendo mais

apenas o depositário de um conhecimento a ser “ruminado” ou a ser simplesmente

conservado. (CAVALLO, 2002)

As mudanças que ocorrem nesse momento são, para Santaella (2004),

importantes, porque constroem o perfil do leitor da época. A autora o classifica como

contemplativo, meditativo, isto é, aquele que realiza a leitura sem pronunciar em voz

alta ou a meia-voz, “aquele que tem diante de si objetos e signos duráveis, imóveis,

localizáveis, manuseáveis: livros, pinturas, gravuras, mapas, partituras” (p.24). O

leitor contemplativo vê a leitura com encantamento, com admiração, se aprofunda

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Capítulo 1

20

em reflexão e medita sobre as suas possibilidades. Esse tipo de leitor não tem

pressa para realizar sua leitura cujo suporte é estático.

Entretanto, Fischer (2006) ressalta que, na leitura medieval, o ler e escutar

comunitário, dogmático, bidimensional, conservou-se presente em diversos locais

por um longo período.

1.4 A Idade Moderna e a popularização da leitura Há relatos de que o papel teria sido inventado pelos egípcios há 2.400 anos

antes de Cristo, entretanto, foram os chineses por volta de 105 d.C. os primeiros a

fabricarem o papel tal como existe atualmente, começando sua produção a partir de

fibras de bambu e de seda. Os chineses guardaram o segredo sobre a descoberta

por mais de 500 anos. A inovação só foi divulgada ao resto do mundo por volta de

795 d.C, quando se instalou em Bagdá (Iraque) uma fábrica de papel. Desse

momento - até o século XIII, as usinas de papel proliferaram de Bagdá a Espanha

que estava sob o domínio mouro.

Em meados do século XV, o papel já substituía o pergaminho quase que por

completo e se constituía em material perfeito para fixação dos textos. Os livros

manuscritos se multiplicavam, porém era muito trabalhoso copiar um exemplar. Além

disso, seu valor também era bastante elevado.

Enquanto isso, a Europa já conhecia o papel, a tinta e a matriz, mas faltava

uma ideia, por assim dizer, luminosa, que juntasse isso tudo num só equipamento.

Foi então que Gutenberg, por volta de 1450, inventou a prensa de parafuso, que

transformou radicalmente a difusão do conhecimento escrito.

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Capítulo 1

Figura 3 – A prensa de parafuso de Gutenberg

A partir disso, os livros impressos começaram a disseminar o hábito de ler e

escrever e começaram a deixar a cultura ao alcance dos novos segmentos da

sociedade, pois até esse momento era exclusivo da nobreza e configurava

propriedade intelectual, algo que só podia ser compartilhado por seus donos

(FISCHER, 2006).

Assim, o século XV marca a mudança na prática de leitura. Desse momento

em diante, o mundo passou a ter leitores cada vez mais ativos e, com a vasta

quantidade de títulos que eram disponibilizados com a técnica de impressão, um

crescente público podia ler o que lhe agradava. Fischer (2006) comenta que como a

palavra impressa era “barata”, pelo menos se comparada com a escrita à mão no

pergaminho, o livro impresso permitiu a reprodução de muitas cópias de um mesmo

exemplar.

A partir disso, o livro, as letras e os estilos foram passando por rápidas

transformações com objetivos de baixar custos e de incentivar a fluência da leitura.

Contudo, a leitura continuou durante séculos sendo privilégio de poucos. A

popularização da leitura, efetivamente, iniciou-se com a Revolução Industrial

ocorrida no século XVIII. Fischer (2006) aponta que a partir desse evento o conceito

de leitura foi modificado, pois a preocupação era o acesso a mais informações, para

isso, a leitura passa a ocupar papel fundamental nesse processo.

Chartier (1999) destaca que, na segunda metade do século XVIII, na

Europa, ocorre uma revolução no estilo da prática de leitura, pois a leitura “intensiva”

21

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Capítulo 1

22

é sucedida pela “extensiva”. Em outras palavras, o leitor intensivo, que tinha acesso

a um corpus limitado de textos, geralmente textos religiosos, que já tinham sido lidos

e relidos, memorizados, declamados e transmitidos de geração em geração, passa a

ser sucedido pelo leitor “extensivo”, que consome uma diversidade de textos

impressos e os lê com avidez e velocidade. Segundo Chartier (1999, p.100), o leitor

extensivo “exerce em seu lugar uma atividade crítica que não se omite frente a

qualquer domínio ou dúvida metodológica”.

No entanto, Chartier (1999) salienta que havia leitores extensivos em tempos

de leitura intensiva, assim como o inverso também ocorreu. Esse fato não invalidou

a revolução da leitura acima mencionada, uma vez que esse movimento foi bem

observado em alguns países da Europa (Inglaterra, França e Alemanha) em

decorrência do crescimento da produção do livro, da multiplicação e transformação

dos jornais, do sucesso dos pequenos formatos, da redução do preço dos livros

graças às cópias, da proliferação de sociedades de leitura (book-clubs – salas de

leitura) e de bibliotecas de empréstimos.

Apontamentos realizados por Simões (2008) relatam que, apesar do quadro

positivo da expansão da prática da leitura, o índice de analfabetismo, na Europa,

nessa época, ainda era alto e o preço do livro era bastante elevado. Assim as

classes menos favorecidas não tinham praticamente acesso ao livro.

Mais adiante, por volta do século XIX, a maioria das nações desenvolvidas já

via a palavra escrita como parte integrante do cotidiano, de modo que os iletrados

sentiam-se excluídos da sociedade. A leitura tomava conta da vida das pessoas, por

todo lado que se olhasse tinha algo para ser lido. Os livros nessa época eram mais

baratos e mais abundantes. Também, nessa fase, ocorreu a expansão dos gêneros

literários e o leitor não se limitava apenas à leitura do livro. O destaque dessa fase

foi o jornal com sua linguagem híbrida, que fascinava os leitores. Fischer (2006)

destaca que as leituras públicas das obras, feitas pelos próprios autores, ocorriam

com muita frequência, propagando o interesse popular pela leitura.

Para Santaella (2004) é nesse período que surge um novo perfil de leitor. A

autora o classifica como movente, fragmentado, ou seja, aquele que é fugaz,

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Capítulo 1

23

novidadeiro, de memória curta, pois sua leitura é efêmera. A autora defende que

esse leitor “aprende a transitar entre linguagens, passando dos objetos aos signos,

da imagem ao verbo, do som para a imagem com familiaridade imperceptível” (p.31).

Porém, é importante salientar, como o faz Santaella (2004), que o leitor

contemplativo não desaparece com o surgimento do leitor movente, pois o que

define o perfil assumido pelo leitor diante do texto são seus objetivos de leituras.

1.5 A leitura na contemporaneidade

A partir da metade do século XX, a leitura é vista como questão de

sobrevivência, principalmente nos grandes centros urbanos. O analfabetismo que,

no início do século, já era combatido nos países desenvolvidos, também passa a ser

combatido nos países subdesenvolvidos – e em desenvolvimento. Ler era preciso,

pois a revolução tecnológica trazia para o mundo a multiplicação do material escrito

e a diversificação dos suportes: jornais, revistas, letreiros, cartazes, cinema, TV,

computadores etc.

Decorrente dessa revolução, na contemporaneidade, Fischer (2006) revela

que surge a “cultura da leitura”, a qual passa a ter múltiplas funções: a) a leitura para

fins profissionais; b) a leitura informativa; c) a leitura como entretenimento; d) a

leitura religiosa; e) a leitura casual (o anúncio, o panfleto, as vitrines etc.).

De acordo com Simões (2008), com a cultura da prática da leitura, o ato de

ler passa a ser matéria obrigatória na formação escolar, ou seja, a formação, que

antes consistia na decifração de grafemas, começa a ganhar novas preocupações: o

sentido da leitura. Dessa forma, a leitura passiva, aquela de pura decodificação,

começa a perder espaço para uma nova prática: a leitura ativa. Essa nova prática de

leitura visa à ampliação dos conhecimentos do leitor e ao entendimento do texto, por

meio de um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto (FISCHER,

2006). Portanto, a prática da leitura passa a ser vista como atividade complexa.

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Capítulo 1

No século XX, a prática da leitura já é vista como parte integrante da vida

das pessoas, porém, é importante ressaltar que, ainda nesse período, existe uma

extraordinária parte da população mundial sem escolaridade e sem acesso a leitura.

Todavia, os privilegiados podiam ler aquilo que consideravam o melhor para si e

com diversas funções, como defende Rocco (1999, p.100) “lê-se para aumentar o

que sabe sobre o mundo histórico e factual; lê-se em busca de diversão e

desconcentração; lê-se para obter informações úteis e satisfazer curiosidades

diversas”.

Entretanto, a revolução da prática da leitura não parou nas modificações

acima descritas. O leitor não imaginava que a grande transformação no suporte da

leitura ainda estava por vir. Essa transformação seria, primeiramente, a invenção do

computador pessoal em 1981 pela International Business Machines (IBM) e, após

alguns anos, a criação de uma extraordinária rede de computadores interconectados

entre si. Esse advento ocorre no fim do século XX, com a criação da internet.

Figura 4- O primeiro computador com mouse e interface gráfica

A internet é o agrupamente de redes em escala mundial de milhões de

computadores interligados que permitem o acesso a informações e todo tipo de

transferência de dados. Normalmente, se pensa que a internet e a Word Wide Web

sejam sinônimos, mas, na verdade, a WWW corresponde à parte da internet,

construída a partir de princípios da hipermídia e do hipertexto.

No início, a rede era para uso apenas entre militares e acadêmicos, mas, a

partir de 1991, com a criação da Web, o acesso foi se expandindo. Lévy (1999) 24

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Capítulo 1

25

aponta que a Word Wide Web propagou-se como um rastilho de pólvora, levando as

pessoas a se adaptarem rapidamente à nova modalidade. Com isso, o número de

servidores conectados ao sistema cresceu a cada ano e, com tal expansão, a

internet ganhou milhões de usuários ao redor do mundo rapidamente, gerando,

assim, novas possibilidades de leituras. Os leitores podiam buscar na tela do

computador informações antes inacessíveis.

Segundo Chartier (1999), a transformação é radical, tendo em vista que os

usuários têm diante de si o texto digital que apresenta um novo suporte, novos

modos de organização, de estruturação e de consulta. O autor ainda ressalta que o

texto digital substitui a materialidade pela imaterialidade de textos sem lugar

específico.

1.5.1 A leitura na era digital

Como já foi comentado por Chartier (1999), a prática de leitura na era digital

sofre transformações, pois o suporte se altera e com isso o modo de leitura. A leitura

hipertextual digital pode ser citada como um exemplo de transformação, já que

possui uma estrutura não linear e um aparato paratextual na forma de referências,

gráficos, remissões, bancos informacionais, demandando uma ferramenta

tecnológica: a internet, cujo acionamento se faz ao simples clicar do mouse sobre

links (elos de conexões).

Contudo, é valido ressaltar que, antes do suporte tecnológico, já existia a

leitura hipertextual (não linear), noutros tipos de texto impressos mais familiares e

bem mais antigos, tais como: a Bíblia (com sua organização em capítulos e

versículos), a leitura de referências cruzadas em enciclopédias, citações e notas de

rodapé em obras acadêmicas e os nomes em ordem alfabética ligados a números

em listas telefônicas e assim por diante (MARCUSCHI, 2007). A tecnologia apenas

facilitou o processo e possibilitou maior velocidade de acesso a documentos

diversos.

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Capítulo 1

26

Outro aspecto que deve ser destacado sobre a leitura hipertextual é

apontado por Marcuschi (2000, p.3) que afirma que no hipertexto “não é importante

que todos os seus usuários sigam ou façam o mesmo caminho para que tenham um

rendimento cognitivo satisfatório”.

Sobre essa questão, Espéret (1996, p.152) comenta que o processo

cognitivo que leva a compreensão do texto ocorre de forma semelhante tanto no

texto impresso como no hipertexto. O pesquisador ressalta que

em ambos os casos, os leitores têm que alcançar unidades de informação

diferentes da memória a longo prazo e da mensagem linguística. Têm que

selecionar, fundir e transformar algumas das unidades para acumular uma

representação cognitiva coerente do domínio conceptual. (Tradução nossa)1

Portanto, fica destacado que o texto digital, aqui estudado como hipertexto,

possui definições e características próprias e complexas, as quais conheceremos

um pouco mais a seguir.

1.5.2 O hipertexto

Nos estudos que tratam da origem do hipertexto, Leão (2001) e Marcuschi

(2007) afirmam que a primeira ideia sobre o assunto se deu por volta de 1945 com

Vannevar Bush, físico e matemático, ao propor em seu artigo “As we may think” as

principais ideias sobre hipertexto, partindo do paradigma de que a mente humana

trabalha por associações. Nesse projeto, sistemas tradicionais de indexação,

organização e trocas de informação, por serem hierarquicamente constituídos, não

seriam muito eficientes. Por meio de um aparelho chamado Memex (Memory

Extension) que permitia armazenar dados de diferentes tipos e criar elos entre _______________ 1 Versão original da obra de Espéret (1996, p.152) “In both cases, readers have to access different information units from long term memory and the linguistic message. They have to select, merge, and transform some of the units so as to build up a coherent cognitive representation of the conceptual domain.”

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Capítulo 1

27

documentos distintos, Bush possibilitou ao usuário construir trajetos de leitura de

acordo com seus interesses, diferentemente das formas tradicionais de registro e

transmissão de informações e de acesso a elas.

Segundo Leão (2001), outro nome importante para a história do hipertexto

foi Douglas Engelbart, que desenvolveu uma série de inovações tecnológicas, tais

como: o processador de texto, a utilização de redes, a interface de janelas e o

mouse, recursos que facilitaram bastante o trabalho dos usuários e, posteriormente,

a prática de leitura em tela. Todavia, registra-se que o surgimento do termo

hipertexto só ocorreu em 1964, por Theodor Holm Nelson, estudante de graduação

em Harvard, em uma conferência nacional da Association for Computing Machinery,

ao se referir a uma escritura eletrônica não sequencial e não linear, que se divide e

permite ao leitor o acesso a um número ilimitado de outros textos.

Em 1970, Nelson publica Literary Machines, com orientações para produção

e leitura de hipertextos, mediadas por computador. O inventor do termo hipertexto

elaborou, também, o projeto Xanadu, uma espécie de “biblioteca universal”, na qual

as pessoas poderiam trocar imagens, sons, filmes, enfim informações em diferentes

formatos. Somente em 1972, Cal Daniels completou a primeira versão demonstrativa

do software Xanadu e, por volta de 1974, com o advento das redes de

computadores, Nelson aprimorou seus estudos sobre o Xanadu, trasformando-o em

uma fonte de informação centralizada, chamando-a depois de docuverse: um

“universo de documentos interconectados”. Todavia, seu projeto passou por vários

percalços e várias versões, até que, no final da década de 80, nasce a World Wide

Web. Ainda de forma restrita, nessa rede, a comunicação se dava via formato de

texto e era limitada ao campo dos militares e cientistas.

Como já foi dito, a grande expansão da WWW só aconteceu na década de

90, propiciando um extremo interesse comercial pela rede. Desse momento em

diante, o hipertexto se popularizou, ganhou novas dimensões e virou objeto de

estudo de vários estudiosos.

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Capítulo 1

28

1.5.2.1 A definição de hipertexto

São muitos os pesquisadores que definem o hipertexto, dentre eles, Lévy

(1999), Leão (2001), Xavier (2005a) e Marcuschi (2007).

Em sua definição de hipertexto, Lévy (1999, p. 27) afirma que ele é

um texto em formato digital, reconfigurável e fluido. Ele é composto por

blocos elementares ligados por links que podem ser explorados em tempo

real na tela. A noção de hiperdocumento generaliza, para todas as

categorias de signos (imagens, animações, sons etc.), o princípio da

mensagem em rede móvel que caracteriza o hipertexto.

Condizente com a definição de Lévy (1999) encontramos a de Álvarez

(2001, p.167) que define o hipertexto como “um documento eletrônico composto de

nodos ou unidades textuais interconectadas que formam uma rede de estrutura não

linear”. Conforme o pesquisador, as palavras que aparecem ressaltadas nestes

blocos textuais exercem a função de botões que conectam a outras fontes.

Além dessas definições, encontramos a de Leão (2001, p. 15) que conceitua

o hipertexto como “um documento digital composto por diferentes blocos de

informações interconectadas. Essas informações são amarradas por meio de elos

associativos, os links”. Para a autora, são os links que permitem ao usuário que ele

avance em sua leitura na ordem que desejar.

Os links ocupam papel de destaque na definição do hipertexto, deste modo,

Smith2 citado por Marcuschi (2007, p.84) afirma que os nós e os links como

elementos definidores do hipertexto. Para a autora, “são justamente as

possibilidades de interconectar porções textuais (os nós), mediante seleções feitas

com interconectores (links), que dão ao hipertexto sua especificidade”.

Ainda, sob o ponto de vista interativo, destacamos a definição de Xavier

(2005a, p.171) que entende o hipertexto como “uma forma híbrida, dinâmica e _________________ 2 Smith,C.F. (1994). Hypertextual Thinking. In. SELFE, C.L & HILLIGOSS,S (Eds). Citado por Marcuschi (2007).

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Capítulo 1

29

flexível de linguagem que dialoga com outras interfaces semióticas, adiciona e

acondiciona à superfície formas outras de textualidade”.

Observamos que muitas das definições propostas pelos pesquisadores

defendem que o hipertexto é um texto e o destacam por sua interatividade, por sua

composição não sequencial e fragmentada, permitindo ao leitor passar, quase

instantaneamente, de um texto a outro e ter acesso, quase que ilimitado, a uma

diversidade de textos (verbais ou não verbais) a partir de escolhas locais e

sucessivas em tempo real.

1.5.2.2 As características do hipertexto

A leitura hipertextual possui características próprias. Ler um texto em escrita

hipertextual requer do leitor atenção a um novo formato textual. Para isso é

necessário que se conheçam as principais características dessa “nova modalidade”.

Desta forma, apresentamos os estudos realizados por Koch (2005, 2006a) que

expõem as dez características3 do hipertexto:

1. Não linearidade na estrutura formal, trata-se de uma característica central do

hipertexto, que diz respeito a uma leitura não seqüenciada;

2. Volatilidade, característica que diz respeito à própria natureza do suporte, isto

é, que faz do hipertexto algo essencialmente virtual;

3. Espacialidade topográfica, característica associada ao fato da escritura/leitura

do hipertexto tratar de um espaço sem limites definidos, não hierárquico e nem

tópico;

_____________________

3 As características do hipertexto apresentadas por Koch (2005 e 2006a) foram apontadas nos estudos de diversos pesquisadores, tais como Bolter (1991), Nelson (1993), Lévy (1993), Bairon (1995), Landow (1997), Marcuschi (2001) e completadas pela autora.

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Capítulo 1

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4. Fragmentariedade, segundo Marcuschi (2001), característica também central,

que consiste na constante ligação de porções, em geral breves, com sempre

possíveis retornos ou fugas;

5. Multissemiose, característica que viabiliza a absorção, simultaneamente, das

linguagens verbal e não verbal (desenho, dança, sons, gestos, cores etc.), numa

mesma superfície de leitura;

6. Descentração ou multicentramento, característica apontada em virtude de um

deslocamento indefinido de tópicos, isto é, da inexistência de um foco dominante.

Contudo, como salienta Koch (2005), já que não se trata de um simples agregado

aleatório de fragmentos textuais, há autores que contestam essa característica,

preferindo falar em multicentramento, como é o caso, por exemplo, de Elias (2000,

2005);

7. Iteratividade, característica destacada em decorrência de sua natureza

intrinsecamente polifônica e intertextual;

8. Intertextualidade, característica que diz respeito à constituição do hipertexto

como um texto múltiplo, que incorpora e sobrepõe inúmeros textos que se tornam,

simultaneamente, acessíveis ao clicar do mouse. Koch (2006a) salienta que, para

Landow (1997), o hipertexto seria, essencialmente, um sistema intertextual. As

referências feitas a outros textos são potencializadas no hipertexto através do

recurso do link, que possibilita realizar as conexões entre os blocos de textos;

9. Conectividade, característica apontada por Leão (2001, p. 15) e Marcuschi

(2007, p.88), determinada pela conexão múltipla entre blocos de significado;

10. Virtualidade, outra característica vista como essencial do hipertexto, constitui-

se uma matriz de textos potenciais.

Além das dez características descritas acima, Marcuschi (2001; 2007) faz

referência a mais três:

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Capítulo 1

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1. Acessibilidade ilimitada, característica que permite ao leitor buscar informações

em sites (ou fontes), os mais variados possíveis, proporcionando ao leitor/navegador

ligações ilimitadas;

2. Interconectividade, característica que possibilita ligações ou nexos constituídos

por itens lexicais, sintagmas ou ícones por meio de interconectores (links). De

acordo com Marcuschi (2007) trata-se da alma do hipertexto;

3.Intratextualidade, característica que se refere às ligações internas estabelecidas

entre lexias dentro do mesmo sistema ou site.

Pensando nas características descritas acima, Xavier (2002) apresenta os

estudos de Joyce (1995)4 que concebe dois tipos de hipertexto: os exploratórios e os

construtivos. Os hipertextos exploratórios mantêm a autoria original e são formados

por conjuntos de informações conectadas em uma ampla rede de associações, por

exemplo, um site de notícias na internet (Folha on-line, UOL notícias etc.). Nesse

tipo de hipertexto o leitor/usuário não pode participar da construção ou da alteração

de todos os nós da rede. Em outras palavras, é possível apenas fazer a leitura das

informações, não sendo permitida ao leitor a alteração do conteúdo. Para Xavier

(2002), esse tipo de hipertexto é o mais apropriado para leitores flâneurs5, ou seja,

para aqueles que gostam de navegar sem objetivo claro de leitura.

Já os hipertextos construtivos permitem a alteração da autoria original, uma

vez que o leitor tornar-se um co-autor do texto. Esse tipo de hipertexto exige

participação ativa do leitor/usuário na construção do “texto” e possibilita a alteração

das informações/conteúdos dispostos. O leitor quando está diante desse tipo de

hipertexto estabelece conexões sempre considerando as anteriores, buscando _______________

4 JOYCE,M. (1995). Siren Shapes: exploratory and constructive hypertext. In. JOYCE,M. Of Two Minds: Hypertext Pedagogy and Poetics. Ann Arbor: University of Michigan Press. Citado por Xavier (2002). 5 O termo vem do verbo flâner em Francês, que significa "passear". Um flâneur é uma pessoa despreocupada, que vaga pelos lugares para experimentá-los.

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Capítulo 1

32

transformar a informação em conhecimento de acordo com seu objetivo de leitura -

um bom exemplo para esse tipo de hipertexto são os Muds6, ou seja, jogos de RPG,

normalmente, baseados apenas em textos.

Vale salientar, como faz Xavier (2002), que os dois tipos de hipertextos não

são totalmente opostos, pois o leitor pode utilizar construtivamente um hipertexto

inicialmente criado para uma leitura exploratória, a partir do momento que se

interessa por um assunto e sai clicando nos hiperlinks com intenções

predeterminadas. O inverso também pode ocorrer, ou seja, um hipertexto construtivo

criado para um leitor-construtor pode ser abordado apenas exploratoriamente por

um leitor sem compromisso ou sem propósito de leitura.

Também se baseando na distinção proposta por Joyce (1995), Marcuschi

(2007, p. 93) constata que há três formatos para os hipertextos digitais:

1. Hipertextos só de leitura – CD-Rom, e-books, enciclopédias etc. – apresentam

links intratextuais.

2. Hipertextos na WEB – home pages, sites de consultas etc. – apresentam

marcadamente links intertextuais que ligam a textos diversos.

3. Hipertextos participativos – jogos on-line; sites de compra etc. – apresentam

hiperlinks que ligam a conteúdos específicos aos objetivos do leitor/usuário.

Vale ressaltar que o primeiro formato apresentado por Marcuschi (2007) não

prevê, necessariamente, o uso da internet. No entanto, lembramos que também

existem hipertextos que só podem ser lidos dentro da rede, ou seja, on-line.

Tendo em vista as características descritas para o hipertexto, o pesquisador

Rosenberg (2002) introduz, em seu estudo, um novo paradigma para a discussão da

____________________

6 MUD (Multi-User Dimension) é um jogo de RPG. Todas as informações do jogo são apresentadas textualmente e todas as ações do jogador são executadas com comandos que vão desde palavras até frases completas. Para maiores informações consultar http://www.audiogamesbrasil.com/mud.php.

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Capítulo 1

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atividade hipertextual, descrito em três conceitos: actema, episódio e sessão. Para

o autor, o actema é a atividade essencial do hipertexto, tal como a ação de seguir

um link. Essa ação pode ocorrer por meio de um simples toque em um menu de links

ou por um clique em cima de uma imagem ou, ainda, pela simples ação de ir para

trás.

O segundo conceito é o do episódio, esse é visto pelo pesquisador como

um grupo de actemas que forma um todo coerente propiciando a coerência para o

leitor, ou ainda, é a junção da combinação de históricos do percurso do leitor no

hipertexto, das intenções e impressões que vão sendo construídas durante a

sessão. Para Simões (2008, p.173), “a leitura de um hipertexto pode ser descrita

como a busca de um episódio, na qual vários actemas são experimentados até que

um conjunto deles forme uma unidade coerente de informações”.

Por último, a sessão é definida como a totalidade da atividade contínua, isto

é, o período de tempo que o leitor dedica a explorar a estrutura hipertextual. A

sessão só é finalizada quando o leitor/usuário sai do sistema.

Conforme Rosenberg (2002), muitos são os motivos que podem levar o

leitor a finalizar uma sessão, tais como: o cansaço cognitivo, o cansaço visual que a

tela do computador possa provocar; o cansaço físico de permanecer diante da tela;

os fatores acidentais como falta de energia e, até mesmo, o fato do leitor julgar que

já encontrou a informação que procurava.

Considerando que a escrita hipertextual apresenta muitas mudanças,

evidenciamos que o leitor não fica inerte a essas mudanças, precisando adaptar-se

ao suporte (a tela do computador).

1.6 Os hiperleitores

Como vimos na exposição acima, a revolução da leitura foi marcada pela

transformação de suportes: o volumen (rolo) fora substituído pelo códice, e esse,

posteriormente feito em pergaminho, fora substituído pelo livro impresso em papel. A

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Capítulo 1

34

história aponta que em cada mudança de suporte ocorreu uma mudança no perfil do

leitor e, consequentemente, da prática de leitura. Com a era tecnológica não poderia

ser diferente, o suporte não é mais o papel e sim a tela do computador, o meio não é

mais somente a prensa ou a tinta, o leitor passa a ter na tela do computador

diversas linguagens misturadas: textos, gráficos, sons, imagens, animação etc. tudo

simultaneamente.

De acordo com Ramal (2000), o texto digital permite a visibilidade das janelas,

a abertura das múltiplas caixas de texto, além de recursos diversos. Para a autora,

essa maleabilidade muda a relação com o objeto: o texto não é mais algo palpável,

mas feito de bites que ocupam um espaço difícil de definir ou imaginar. Essas

informações digitais são provisórias e plásticas. Obedecem a um ritmo específico de

pertinência imediata e de obsolescência acelerada. A informatização instaura, como

prevê Lévy (1999), um novo regime de circulação e de metamorfose das

representações e dos conhecimentos.

Nesse cenário, temos um novo leitor, doravante hiperleitor, que ganha novas

habilidades e novos recursos. O leitor da era digital pode interagir com a máquina e

trilhar seu percurso, escolhendo seus caminhos por meio dos links escolhidos.

Almeida (2003, p.34) afirma que o hiperleitor não lê da mesma maneira que

o leitor de textos impressos, uma vez que “o leitor-navegador tem o mundo ao

alcance do clique do mouse. Basta o texto tornar-se monótono para que ele dirija-se

a outras páginas”. Para o pesquisador, “o excesso de informações disponíveis torna

os leitores extremamente seletivos quanto ao que leem ou aquilo a que devotam sua

atenção, mesmo que por alguns instantes apenas”. (p.97)

Por sua vez, Chartier (1999) destaca que o hiperleitor tem grandes poderes

diante do texto eletrônico, pode indexá-lo, anotá-lo e copiá-lo (em blocos de nota),

desmembrá-lo e recompô-lo, tornando, assim, seu co-autor, criando, desta forma,

um texto plural de várias vozes. Sobre essa característica, Nonato & Sales (2007)

comentam que se cria uma nova característica para a leitura a qual denominam

como hiperler. Para os pesquisadores o

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Capítulo 1

35

hiperler é um processo de co-autoria com recortes muito mais radicais do

que a leitura convencional, pois implica o diálogo leitor-autor, ou melhor,

leitor/autor/autores, já que a autoria hipertextual é sempre plural, para o

estabelecimento de uma trilha concreta, entre as tantas virtualmente

possíveis, a partir da qual os sentidos possam ser construídos. Deste ponto

de vista, hiperler é radicalmente diferente de ler. (Nonato & Sales, 2007,

p.2)

Certamente, o texto digital altera o modo de leitura, pois, dentre outras

características, substitui a materialidade do texto impresso pela imaterialidade de

textos sem lugar específico. Segundo Espéret (1996), a ordem real de

armazenamento das informações no hipertexto não está diretamente disponível ao

leitor, isto é, um computador cuida de recobrar e exibir as unidades de informação

desejada pelo leitor no momento que esse executa o comando na máquina,

propiciando assim uma mudança na maneira de ler.

Diante disso, muitos são os pesquisadores que buscam entender essas

mudanças. A pesquisadora Santaella (2004), por exemplo, aponta que, para esse

novo modo de ler, existe um novo perfil de leitor, o qual denomina de leitor imersivo,

virtual. Para a pesquisadora, esse novo modo de ler possui alguns traços de

semelhança em relação aos modos de leitura de épocas passadas.

Da Antiguidade, o novo modo de ler herda o texto vertical, pois assim como

o livro em rolo, o texto digital corre verticalmente, com a diferença de que não

precisa ser desenrolado manualmente, considerando que no computador a ação

ocorre ao se pressionar um botão. Já do texto impresso, o texto digital herda a forma

de organização linear das palavras nas sentenças, além da semelhança no nível do

parágrafo, em que algumas marcas linguísticas adicionais são usadas para

promover a coesão e a coerência (ESPÉRET, 1996).

Desta maneira, o hiperleitor se depara com um novo modo de ler, porém que

apresenta certa familiaridade em decorrência da preservação de algumas

características. Como evidencia Eco (2003) a ideia de que uma nova tecnologia

elimina uma tecnologia anterior é, sem dúvida, demasiadamente simplista, visto que

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Capítulo 1

36

na história da cultura, uma nova invenção sempre altera profundamente uma outra

mais antiga, provocando assim mudanças de postura e de visão de mundo, mas não

faz com que ela desapareça por completo.

Deste modo, o leitor imersivo possui algumas marcas características, tais

como: dinamismo; transformações sensórias, perceptivas e cognitivas que emergem

na leitura; visão multiativa para acompanhar a movimentação das animações e

mente distribuída, capaz de realizar ao mesmo tempo uma variedade de operações.

Em outras palavras, o leitor imersivo é capaz de ler, escutar e olhar tudo

simultaneamente. Santaella (2004, p.33) descreve o leitor imersivo como sendo um

leitor em estado de prontidão, “conectando-se entre nós e nexos, num roteiro

multilinear, multissequencial e labiríntico que ele próprio ajudou a construir ao

interagir com os nós entre palavras, imagens, documentação, músicas, vídeos etc.”

Nesse ponto, o perfil do hiperleitor não é tão simples de ser delineado,

porque sendo o texto digital um texto de múltiplas possibilidades, cada leitor também

tem uma forma de realizar a leitura. Diante disso, Santaella (2004) apresenta o

comportamento de usuários da internet diante da tela, com o objetivo maior de traçar

o perfil cognitivo desse novo leitor, isto é, sua proposta é esboçar que habilidades

motoras, perceptivas e mentais são atribuídas ao leitor imersivo.

A autora apresenta pesquisas teóricas e de campo (aplicação de

questionários e entrevistas realizadas com 45 informantes, todos com escolaridade

acima do ensino médio) e, com base nos dados obtidos, apresenta três categorias

de usuários:

1) o novato, aquele que não possui conhecimento sobre o uso e funcionamento da

rede, para ele tudo é novo;

2) o leigo, aquele que não é um conhecedor exímio da tecnologia, mas já domina

alguns trajetos e ferramentas; e

3) o experto, aquele que já está familiarizado com o computador e com a web, que

navega com segurança e não encontra obstáculos.

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Capítulo 1

37

Após ter formuladas as categorias acima e analisado suas características

cognitivas, Santaella (2004) propõe os seguintes perfis/estilos para o leitor imersivo:

o errante, o detetive e o previdente que conheceremos mais detalhadamente a

seguir.

1.6.1 O leitor errante O leitor errante, para Santaella (2004), é o usuário novato que vagueia como

um flâneur, ou seja, é aquele que navega orientado pelas inferências abdutivas. A

autora descreve que para esse tipo de hiperleitor, o ciberespaço7 “é um espaço de

escolhas guiadas pela lógica do plausível, de cujo jogo a desorientação semântica

faz parte” (p.103).

Outra característica desse tipo de leitor é a ausência do medo de errar. O

leitor errante explora aleatoriamente as possibilidades proporcionadas pela web, vai

aos poucos substituindo a perplexidade pelo entendimento e tendo insights. Em

outras palavras, vai encontrando a solução para suas dificuldades de navegação

pela súbita captação mental dos elementos.

Portanto, o leitor errante vai praticando a leitura diante do computador por

tentativa e erro, desta forma, vai adivinhando o que deve fazer. O processo de

adivinhação ganha destaque para o perfil do leitor errante, pois essas adivinhações,

quando bem-sucedidas, propiciam o encorajamento para processos subsequentes,

provendo confiança ao hiperleitor. Esse, quando adquire a confiança, inicia a

construção de um novo perfil: o detetive.

_______________

7 O ciberespaço é concebido por Santaella (2004) como o mundo virtual global, onde o usuário tem acesso a todo e qualquer espaço informacional multidimensional que permite a manipulação e a troca de informações por meio de uma conexão.

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Capítulo 1

38

1.6.2 O leitor detetive

O leitor detetive corresponde ao usuário leigo, aquele que tem o raciocínio

indutivo, ou seja, parte de dados particulares para elaborar princípios gerais ou

inferir uma conclusão. Como utiliza o processo de busca como um guia para suas

ações, suas estratégias são avanços, erros e autocorreções (SANTAELLA, 2004).

A pesquisadora descreve esse leitor como o disciplinado, isto é, aquele que

mantém objetividade e certa disciplina em suas escolhas, aprende com a

experiência e transforma todo seu aprendizado em adaptação, mesmo diante das

situações que o levam à dispersão. Essa é vista pela autora como normal, pois, em

qualquer nível de leitura, seja no texto impresso seja na web, a dispersão é possível,

tendo em vista a multipluralidade de possibilidades.

Contudo, a autora ressalta que, se o leitor não for tomado pelo papel do

flâneur, ele pode manter sua disciplina e seu método detetivesco, desenvolvendo

gradativamente habilidades de um leitor previdente.

1.6.3 O leitor previdente

O leitor previdente corresponde ao usuário experto, aquele que tem o

raciocínio dedutivo. Em outra palavra, que já possui o conhecimento e as estratégias

para uma boa navegação, que antecipa as consequências de cada um de seus

procedimentos porque já internalizou as regras do jogo (SANTAELLA, 2004).

O previdente conhece os procedimentos a adotar diante das situações

apresentadas pelo ciberespaço, porque já adquiriu uma variedade de esquemas de

navegação. A pesquisadora entende por esquema todas as informações que foram

internalizadas pelo usuário sobre a classe de procedimento a que o esquema se

aplica.

A navegação desse leitor geralmente segue um percurso rotineiro,

automático e, por isso, executa procedimentos apropriados. Em outras palavras,

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Capítulo 1

39

parece que já decifrou os segredos dos programas e consegue antecipar as

consequências de suas escolhas, por isso usa estratégias para não fugir de seu

objetivo.

Contudo, é importante ressaltar que, assim como já foi dito em relação ao

leitor detetive, o previdente também pode ser tomado pelo papel de flâneur diante de

uma informação inesperada, de maneira que executa os passos do errante e, em

seguida, coloca-se no processo de busca, assim como o detetive. Entretanto, por

sua experiência e internalização de esquemas, seu processo de errância e de busca

não ganha papel de destaque.

Em suma, Santaella (2004) apresenta que o leitor imersivo possui

características próprias, pois, no ciberespaço, não há mais tempo apenas para

contemplação ou para a simples movimentação. A autora defende que o perfil ideal

do leitor imersivo é aquele que mistura os três estilos de leitura imersiva: o errante, o

detetive e o previdente. A pesquisadora afirma ainda ser ideal que o hiperleitor “não

se entregue às rotinas sem imaginação do previdente, mas se abra para surpresas,

entregue-se às errâncias para poder voltar a vestir a roupagem do detetive,

farejando pistas”. (p.180)

Neste capítulo, tratamos dos modos de leitura constituídos ao longo do

tempo, com a finalidade de melhor compreender o modo de leitura atual propiciado

pelo hipertexto na tela do computador.

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Capítulo II

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Capítulo 2

A LEITURA DO HIPERTEXTO EM PERSPECTIVA SOCIOCOGNITIVO-INTERACIONAL

A leitura é um processo de seleção que se dá como um jogo com avanço de predições, recuos para correções, não se faz linearmente, progride em pequenos blocos ou fatias e não produz compreensões definitivas.

(Marcuschi, 1999, p.96)

Em nosso trabalho, até o momento, apresentamos um breve panorama das

transformações dos suportes e dos modos de leitura até chegar à leitura

hipertextual, a fim de entender um pouco mais sobre essa prática frequente hoje em

dia devido ao avanço tecnológico.

Destacamos, nesse percurso, que a prática de leitura apresentou mudanças

e que a mais recente é a leitura hipertextual. Evidenciamos que o hipertexto possui

características próprias, tais como: a não linearidade estrutural, a fragmentariedade,

a volatilidade do suporte, a multissemiose, a interatividade, a intertextualidade, a

acessibilidade ilimitada e, por fim, a interconectividade. Diante disso, esse modo de

leitura exige do leitor um novo perfil o qual apresentamos como leitor imersivo, com

base nos estudos de Santaella (2004).

O leitor imersivo, conforme já foi descrito no capítulo anterior, é dinâmico,

tem visão multiativa para acompanhar a movimentação das animações e possui

mente distribuída que é capaz de realizar ao mesmo tempo uma variedade de

operações (ler, escutar e olhar tudo simultaneamente) solicitadas frequentemente na

leitura hipertextual.

Dessa maneira, para se trabalhar a relação entre leitor e o hipertexto é

preciso, como ressalta Queiroz (2001), adotar um conceito de leitura amplo que

inclua a percepção de imagens, som, movimento, cores, além do verbalmente

constituído no plano da escrita.

41

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Capítulo 2

Assim, acreditamos que esse modo de leitura, pelas características aqui

demonstradas, não deva ser considerado apenas do ponto de vista do texto, por um

lado, ou do autor-leitor, por outro lado, mas, sim, em uma visão que contemple a

relação assentada no tripé texto-autor-leitor.

2.1 Uma perspectiva para o estudo da prática da leitura

Com a virada cognitivista, que ocorre a partir da década de 80, evidencia-se

uma nova dimensão nos estudos do texto. Nessa perspectiva, postula-se que “todo

fazer (ação) é necessariamente acompanhado de processos de ordem cognitiva, de

que quem age precisa dispor de modelos mentais de operações e tipos de

operações.” (KOCH, 2006b, p.21). O texto é resultado de processos de ordem

cognitiva no qual as pessoas estabelecem um sentido em decorrência dos diversos

saberes representados na memória e de como se dá o processamento das

informações.

A partir dessas evidências, a Linguística Textual passa a se dedicar à

investigação das operações mentais e aos modelos de diversos tipos de

conhecimento que atuam no processamento da ação comunicativa. Em decorrência

dessas investigações, constata-se que muitos dos nossos processos cognitivos têm

por base a percepção e a capacidade de atuação física no mundo (KOCH, 2006a).

Para Van Dijk (2004), uma teoria cognitiva considera como princípio básico

que o homem faz representações mentais que se desencadeiam por meio de

determinados processos de tratamento nas estruturas da mente, possibilitando

atividades cognitivas complexas de representações e processamento da informação,

por meio de estratégias de ativação de conhecimento dos indivíduos.

Estudos desenvolvidos sobre esse assunto procuram descrever e explicar

como se efetua a produção de sentidos a partir dessas representações mentais que

os indivíduos constroem lendo um determinado texto. Pode-se assim dizer que essa

necessidade de explicação do nível textual propiciou uma visão social da cognição,

42

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Capítulo 2

já que logo se tornou claro que o processamento de textos envolve diversos

aspectos interacionais e conhecimentos sociais.

Koch (2006a, p.22) relata que a partir desse momento a Linguística Textual

passa a desenvolver modelos procedurais de descrição textual para dar conta dos

processos cognitivos que “permitem a integração dos diversos sistemas de

conhecimento dos parceiros da comunicação, na descrição e na descoberta de

procedimentos para atualização e tratamento das motivações e estratégias da

produção e compreensão de textos”. Assim, no interior do heterogêneo campo das

ciências cognitivas, passa-se a aceitar que não é possível estudar a mente de forma

separada do organismo em que se situa e, tampouco, é possível separá-la do meio

onde os processos acontecem.

É importante salientar que, em um primeiro momento, a perspectiva

cognitiva divide o mundo em duas entidades: a interior, do mundo mental, e a

exterior, do mundo físico-social. Essa separação passa a ser questionada, quando

as Ciências cognitivas passam a dialogar com outras ciências – Filosofia, Sociologia,

Antropologia, Neurologia, Ciência da Computação etc. – e propõem o deslocamento

do foco da representação do conhecimento para a construção do conhecimento de

forma situada.

Conforme Koch & Cunha-Lima (2005), vários fenômenos cognitivos não

podem ser efetivamente descritos sob uma perspectiva interna, já que existem

muitos deles que acontecem socialmente. Assim, um dos pontos fundamentais de

uma perspectiva sociocognitivista é explicar o processamento textual que abrange

atividades de compreensão, tais como a capacidade de identificar o tópico principal

de um texto, identificar seus temas principais, resumi-lo, fazer as inferências que

geram a coesão e a coerência global.

Dentro dessa perspectiva, os estudos sobre o texto ganham grande

importância, visto que os textos não são explícitos, não trazem em sua superfície

tudo o que é necessário para sua compreensão. Como aponta Koch & Cunha-Lima

(2005, p. 296), “todo texto requer uma atividade de ‘enriquecimento’ das formas que

estão na superfície, do emprego de conhecimentos prévios e de várias estratégias

interpretativas”. 43

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Capítulo 2

A partir disso, os estudos relacionados aos conhecimentos se sobressaem.

Dentre eles, dois merecem maior destaque: os procedurais (que são ligados às

capacidades perceptuais, motoras e a predisposição para agir) e os enciclopédicos

(que compreendem tanto conhecimentos de caráter geral como individuais). As

noções de modelos e de estratégias, como fatores fundamentais para o

processamento textual, também ganham destaque nessa fase (VAN DIJK, 2004).

2.2 O conceito de leitura sob a ótica sociocognitiva-interacionista

A leitura sob a ótica sociocognitiva-interacionista é vista como “uma

atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza

evidentemente com base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual

e na sua forma de organização” (KOCH & ELIAS, 2006, p.11).

As autoras salientam ainda que o processo de leitura requer a mobilização

de um vasto conjunto de saberes no interior do evento comunicativo e durante o

processo de leitura “espera-se que o leitor concorde ou não com as ideias do autor,

complete-as, adapte-as etc.” (KOCH & ELIAS, 2006, p.12), pressupondo, assim,

uma atitude responsiva do leitor (BAKHTIN, 2004).

Nesse sentido, para Kleiman (2008), se faz necessário, ao leitor, a utilização

do conhecimento prévio, pois somente mediante a interação de diversos níveis de

conhecimento (linguístico, textual, de mundo), o leitor pode construir sentido para o

texto.

Dessa forma, a prática de leitura é compreendida como uma interação entre

autor-texto-leitor, na qual autor e leitor são vistos como sujeitos ativos que

dialogicamente se constroem e são construídos no texto. A leitura, nessa

perspectiva, é vista como um ato construtivo, no qual o leitor constrói o significado

do texto. Kleiman (1998, p.151) afirma que se trata de um processo altamente

subjetivo, pois cada leitor, ao buscar a compreensão de um texto, “traz à tarefa sua

carga experiencial que determinará uma leitura para cada leitor num mesmo

momento e uma leitura diferente para o mesmo leitor, em momentos diversos”.

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Capítulo 2

Entretanto, é preciso ressaltar, como faz Solé (1998), que isso não significa

que o texto não tenha sentido/significado em si mesmo, mas que sob essa ótica o

texto não é um produto de pura decodificação e sim produto de construção de

sentido que envolve o texto, os conhecimentos prévios do leitor e seus objetivos na

leitura.

2.3 Modelos de leitura

As pesquisadoras (Solé, 1998; Colomer & Camps, 2002; Kato,1995; Kleiman

1989, 1998, 2008) expõem que a concepção tradicional de leitura se constitui em

torno dos modelos hierárquicos (ou de processamento) ascendente (buttom up) e

descendente (top down).

No modelo ascendente, o leitor começa pelas partes para chegar ao todo,

ou seja, dos níveis inferiores aos níveis superiores, realizando um percurso linear.

Em outras palavras, o leitor começa a leitura pelas letras (decodificação), passa para

as palavras, depois para frases e ao relacioná-las chega ao significado global.

Nesse modelo atribui-se grande importância às habilidades de

decodificação, porque se considera que o leitor pode compreender o texto por ser

capaz de decodificá-lo. Por isso, é visto como um modelo centrado no texto e, como

descreve Solé (1998, p.23), “não pode explicar fenômenos tão correntes como o fato

de que continuamente inferimos informações”.

No modelo descendente, temos o inverso do que ocorre no modelo

ascendente. O leitor aciona seus conhecimentos prévios (do contexto, de mundo,

lexical etc.) e seus recursos cognitivos para estabelecer antecipações. Colomer &

Camps (2002) destacam que esse modelo permite ao leitor resolver ambiguidades e

escolher uma interpretação do texto entre outras possíveis. As propostas de ensino

baseadas no modelo descendente enfatizam o reconhecimento de unidades de

significação e estas podem ser mais amplas que palavras, como as frase, por

exemplo.

45

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Capítulo 2

Partindo desses modelos (ascendente e descendente), Kato (1995); Moita

Lopes (1996); Solé (1998) e Colomer & Camps (2002) apontam como alternativa o

modelo de leitura interacional (ou interativo) que combina os dois modelos

anteriores. No modelo interacional, o leitor é considerado um sujeito ativo que

utiliza conhecimentos variados para obter a informação e reconstrói o significado ao

interpretá-lo.

Nesse modelo, o leitor pode partir de elementos do texto (letras, palavras,

frases etc.) para criar expectativas de níveis mais elevados (no nível

semântico/léxico/gramatical) que serão verificadas e recriadas constantemente

durante toda a leitura. Desta forma, o leitor recorre a ambos os modelos e utiliza

concomitantemente seu conhecimento de mundo, de texto e de língua para chegar à

compreensão do texto. (SOLÉ, 1998).

O modelo interacional de processamento de informação, conforme esclarece

Moita Lopes (1996), está apoiado em teorias de esquemas. Para essas teorias,

“esquemas são estruturas cognitivas armazenadas em unidades de informação na

memória a longo prazo - ou seja, constituem nosso pré-conhecimento - que são

empregadas no ato da compreensão” (p.139).

Para Kato (1995), o processamento interativo é mais utilizado pelo leitor

maduro, pois ele usa, de forma adequada e no momento apropriado, os dois

processos, ascendente e descendente, complementarmente. Entretanto, Solé (1998,

p.24) destaca que quando o leitor se situa diante do texto, “os elementos que o

compõem geram nele expectativas em diferentes níveis, de maneira que a

informação que se processa em cada um deles funciona como input para o nível

seguinte”.

É preciso esclarecer que, durante algum tempo, os estudos sobre modelos

ascendente e descendente apontavam a decifração como capacidade leitora. No

entanto, Colomer & Camps (2002) apontam que no modelo interacional a decifração

deixa de ser vista como capacidade leitora e passa a constituir um conjunto de

habilidades necessárias para entender um texto. As autoras ressaltam ainda os

estudos de Hall (1989), que assinalam que a leitura é um processo interativo e,

consequentemente, estratégico, uma vez que o leitor eficiente supervisiona sua 46

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Capítulo 2

própria compreensão ficando alerta às interrupções e é seletivo ao direcionar sua

atenção aos diferentes aspectos do texto.

Van Dijk (2004, p. 22), também, ao realizar estudos sobre o processamento

do discurso, assegura que operamos por um modelo estratégico, pois “a

compreensão de uma palavra em uma oração dependerá de sua estrutura funcional

enquanto um todo, tanto no nível sintático quanto no nível semântico”.

Ainda condizente com as ideias mencionadas, encontramos os estudos de

Kato (1995) que afirma que são as estratégias que auxiliam o leitor a extrair do

texto mais do que ele expressa linguisticamente. De acordo com a autora, para

compreendermos um texto é preciso que, em nossas estruturas internas, tenhamos

mais do que uma gramática e instruções para seu uso, é preciso ter conhecimento

estratégico.

Para consolidação da importância dos estudos sobre estratégias de leitura

para um trabalho ativo da compreensão de texto, destacamos o trecho a seguir dos

Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (1998) que apontam que

a leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de

compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu

conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a

linguagem etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra por

letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que

possibilita controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante

de dificuldades de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos e

validar no texto suposições feitas. (PCN, 1998, p.69 – grifo nosso)

Considerando a importância do estudo de estratégias para compreensão

leitora, buscamos levantar de onde surgiu esta noção e como é conceituada pelos

pesquisadores. De acordo com Van Dijk (2004), a noção foi proposta por Bever em

1970. A partir daí outros pesquisadores têm utilizado essa noção de diferentes

formas. No entanto, Kato (1995), que também faz remissão aos estudos de Bever,

relata que o pesquisador preferiu a terminologia estratégia à terminologia algoritmo,

47

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Capítulo 2

porque para o autor a sua aplicação não é infalível e pode apresentar variações

individuais.

Van Dijk (2004, p.23) ressalta que as estratégias são parte de nosso

conhecimento geral, “elas representam o conhecimento procedural que possuímos

sobre compreensão de discurso”. Salienta, ainda, que as estratégias necessitam

ser aprendidas e reaprendidas antes de se tornarem automatizadas e explica que

outras estratégias mais específicas, como as esquemáticas, podem requerer um

treinamento especial.

Outro destaque apresentado pelo pesquisador é que, em um processo

estratégico, não existem garantias de sucesso, pois as estratégias são aplicadas

como hipóteses operacionais eficazes sobre a estrutura, podendo ser

desconfirmadas em processos subsequentes.

Antes de trabalhar o termo estratégia, Solé (1998) diz que é essencial ter

bem definido os conceitos de: habilidade (qualidade de quem é hábil, capacidade de

fazer alguma coisa bem); destreza (aptidão; qualidade de quem é engenhoso);

técnica (procedimentos, destreza, habilidade especial para tratar detalhes ou usar

movimentos) e procedimento (modo de fazer alguma coisa; método, processo), para

assim, não confundi-los com estratégia.

Para conceituar estratégia, Solé (1998) apresenta os estudos de Valls

(1990), que considera que as estratégias têm em comum com todos os demais

conceitos (pontuados acima) sua utilidade para regular a atividade das pessoas, à

medida que sua aplicação permite selecionar, avaliar, persistir ou abandonar

determinadas ações. Desta forma acrescenta que

uma das características das estratégias é o fato de que não detalham nem

prescrevem totalmente o curso de uma ação; [...] as estratégias são

suspeitas inteligentes, embora arriscadas, sobre o caminho mais adequado

que devemos seguir. Sua potencialidade reside justamente nisso, no fato de

serem independentes de um âmbito particular e poderem se generalizar; em

contrapartida, sua aplicação correta exigirá sua contextualização para o

problema concreto. Um componente essencial das estratégias é o fato de

que envolvem autodireção – a existência de um objetivo e a consciência de

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Capítulo 2

que este objetivo existe – e autocontrole, isto é, a supervisão e avaliação

do próprio comportamento em função dos objetivos que o guiam e da

possibilidade de modificá-lo em caso de necessidade. (VALLS, 1990)8

Solé (1998, p.68) compartilha com Valls (1990) “a ideia que as estratégias se

situam no polo extremo de um contínuo, cujo polo oposto conteria os procedimentos

mais específicos, aqueles cuja realização é automática”. Conforme a pesquisadora,

trata-se de procedimentos inerentes que envolvem a presença de objetivos a serem

alcançados, juntamente com o planejamento das ações que se desencadeiam para

atingi-los.

A autora, também, salienta que, às vezes, estabelecer uma classificação

rígida para as estratégias parece um pouco artificial visto que elas aparecem

integradas no decorrer do processo de leitura.

2.4 As estratégias de compreensão leitora

São muitos os autores que abordam o assunto estratégias de leitura para o

texto impresso, porém poucos tratam especificamente do texto digital. No entanto,

como aponta Koch (2006b, p.33), em consequência do interesse pela dimensão

sociointeracional da linguagem, surge uma série de questões pertinentes para

“agenda de estudos da linguagem”, dentre elas, as questões ligadas ao hipertexto.

Aqui se situa nosso estudo que objetiva levantar estratégias de leitura utilizadas

pelo leitor do texto digital.

Para chegarmos ao nosso objetivo, primeiramente, realizamos, em vários

estudos, o levantamento dos tipos de estratégias de leitura apresentadas por ________________________

8 Valls,E. Ensenyança i aprenentatge de continguts procedimentals. Uma proposta referida a l’Àrea de La Història. Tese de Doutorado. Universidade de Barcelona, 1990 citado por SOLÉ, 1998, p.69.

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Capítulo 2

diferentes autores, tais como: Davies, 1995; Van Dijk, 2004; Kato, 1995;

Kleiman,1998;2008; Serra & Oller, 2003; Koch & Elias, 2006 que buscam

demonstrar como ocorre o processamento estratégico na leitura.

Van Dijk (2004) apresenta um modelo cognitivo de compreensão e postula a

existência de diferentes estratégias de processamento de discurso. Apresentaremos,

a seguir, algumas dessas estratégias por considerá-las relevantes a nossa pesquisa:

a) estratégias proposicionais: consistem em ativação de significado para uma

palavra, utilizando a memória semântica e estruturas sintáticas das orações;

b) estratégias de coerência local: consistem em procurar em uma proposição por

argumentos que co-referem a um dos argumentos da proposição anterior, isto é,

uso de correferência;

c) macroestratégias: consistem em estratégias flexíveis de caráter heurístico,

elas permitem que os leitores levantem previsões sobre o texto antes do término da

leitura;

d) estratégias esquemáticas: consistem na ativação dos conhecimentos do leitor

sobre superestrutura. Essa pode ser entendida como uma estrutura hierárquica de

categorias convencionais, isto é, estruturas esquemáticas culturalmente

convencionadas.

Por sua vez, Kato (1995) defende que o processo de leitura implica

utilização de um amplo esquema para obter, avaliar e utilizar informações que são

aplicadas para compreender um texto. Para a pesquisadora, esse esquema pode

ser entendido como estratégias que o leitor utiliza durante a leitura. Assim, a leitura

pode ser entendida como um conjunto de habilidades que envolve estratégias de

vários tipos, tais como:

Estabelecimento de um propósito para a leitura;

Uso de predição – baseadas tanto nas informações implícitas

como nas explícitas. O leitor faz a antecipação de qual será o significado

do texto; 50

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Capítulo 2

Uso de inferência – são utilizadas para preenchimento de

lacunas;

Estabelecimento de seleção – escolha, dentre todo o seu

conhecimento e de seus esquemas, de informações relevantes e

significativas para a compreensão do texto;

Confirmação de hipóteses – auto monitoração durante o

processo de leitura. O leitor controla sua própria leitura para garantir que

está produzindo sentido;

Correção – reconsideração das informações já possuídas e das

obtidas, no caso de não poderem ser confirmadas.

Ainda para a autora, todo processo estratégico é controlado pelo leitor que,

enquanto lê, constrói e reconstrói significados, num processo de acomodação de

novas informações e adaptação do sentido em formação que é constantemente

reavaliado e reconstruído com base em novas percepções.

Além dos estudos sobre estratégias apresentados por Van Dijk e por Kato,

encontramos os de Kleiman (2004) que, pensando nos aspectos cognitivos da

compreensão e leitura de textos, apresenta as estratégias de leitura em dois

grandes grupos:

1) cognitivas - estratégias automáticas, inconscientes que possibilitam a

leitura rápida com objetivo de construir a coerência local do texto. Está ligado a

essas estratégias o processo inferencial, que possui vários princípios que o

modulam, dentre eles estão: i) o princípio de economia ou parcimônia que engloba

as regras de recorrência e de continuidade temática; ii) o princípio de canonicidade

que engloba as regras de linearidade e regra de distância mínima; iii) o princípio de

coerência que engloba as regras de manutenção tópica e não contradição e, por

fim, iv) o princípio da relevância.

51

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Capítulo 2

2) metacognitivas – estratégias de natureza pragmática, ou seja, estratégias

conscientes que permitem o controle e regulamento do próprio conhecimento. Em

outras palavras, são acionadas quando o leitor sente alguma falha em sua

compreensão. Esse tipo de estratégia também é utilizada quando o leitor tem como

propósito a memorização e a aprendizagem.

Na acepção de Koch (2007), as estratégias cognitivas consistem em

estratégias de uso do conhecimento. Esse uso vai depender dos objetivos do leitor

(usuário), da quantidade de conhecimento disponível a partir do texto e do contexto,

das opiniões, crenças e atitudes que o leitor desperta no momento da

compreensão. Assim, para a autora, a análise estratégica depende não só de

características textuais, como também de características dos usuários da língua,

tais como seus objetivos, convicções e conhecimento de mundo.

Objetivando descrever o conjunto das estratégias mais utilizadas durante o

processo de leitura, Serra & Oller (2003, p.38) apresentam a relação a seguir:

1. Identificar sinais gráficos com fluidez;

2. Reler, avançar ou utilizar elementos de ajuda externa para

compreensão léxica;

3. Avaliar a consistência interna do conteúdo expressado pelo

texto e sua correspondência com os conhecimentos prévios e com o

que é ditado pelo senso comum;

4. Distinguir o que é fundamental do que é pouco relevante ou

pouco pertinente com relação aos objetivos de leitura;

5. Construir o significado global;

6. Elaborar e testar inferências de tipos diferentes, como

interpretações, hipóteses, previsões e conclusões;

7. Distinguir a estrutura textual facilita na ativação dos

conhecimentos prévios sobre uma organização retórica para

aprofundar-se em um determinado texto. (está associada ao

conhecimento genérico);

8. Ativar a atenção concentrada;

9. Conhecer os objetivos de leitura: O quê? Por quê? Para que

devo ler?;

10. Ativar conhecimentos prévios pertinentes;

52

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Capítulo 2

11. Avaliar e controlar se a compreensão do texto ocorre e

autorregula a atividade de leitura, partindo da revisão da própria

atividade e da recapitulação do que se leu;

12. Relacionar os conhecimentos prévios pertinentes com a

informação que o texto nos proporciona ao longo de toda leitura;

13. Avaliar e integrar a nova informação e reformular, se

necessário, as ideias iniciais.

Os autores deixam claro que esta lista não é uma regra tampouco uma

ordenação hierárquica, pois as estratégias são utilizadas de maneira aleatória e

muitas vezes simultânea.

Outro pesquisador que aborda o estudo sobre estratégias é Davies (1995).

Para o autor, as duas estratégias de leitura mais citadas pelos estudiosos em

relação ao ensino de línguas são: scanning (leitura rápida, folhear um livro,

catálogo, manual etc., para achar algo específico como uma data, um nome, um

número telefônico, um conceito, uma definição) e skimming (leitura rápida para

entender as ideias e conceitos principais). Para tanto, o leitor recorre ao título,

subtítulos, ilustrações, nome do autor, a fonte do texto, ao início e ao final dos

parágrafos, itálicos, sumários.

Conforme Davies (1995, p.150-151), a estratégia de skimming “envolve a

exploração, pelo estudante, dos aspectos afetivos da interação entre o escritor e o

leitor e a estratégia de scanning têm por objetivo a organização e estruturação do

processamento cognitivo do texto”. Ambas são estratégias associadas a leituras

rápidas e são muito semelhantes.

O que diferencia uma da outra é que, ao usar a estratégia de scanning, o

leitor sabe o que busca, ou seja, ele está procurando uma informação específica, ao

passo que, com a de skimming, o leitor está em busca do sentido geral do texto,

muitas vezes para decidir se vai ou não ler todo o texto de forma mais detalhada.

Ainda, de acordo com o autor, a utilização dessas estratégias depende do propósito

da leitura.

Ao nosso ver, esses tipos (scanning e skimming) de estratégias podem ser

utilizados em qualquer texto, principalmente na leitura hipertextual, uma vez que são

53

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Capítulo 2

associados a leituras rápidas que podem auxiliar o hiperleitor no reconhecimento do

texto e de suas informações. No entanto, não são somente estas estratégias que

podem ser utilizadas na leitura hipertextual, acreditamos que as estratégias que

serão apresentadas a seguir também possam ser utilizadas para o texto digital, por

serem estratégias de ordem sociocognitiva que se adaptam conforme a necessidade

do leitor.

2.4.1 Estratégias de pré-leitura: objetivos

Após levantarmos os estudos realizados pelos autores sobre estratégias de

leitura, observamos que o primeiro requisito apontado pelos estudiosos como

essencial para a prática de leitura é a busca de um objetivo. O leitor precisa saber o

“porquê” e o “para quê” ler um texto. Assim, como apontam Kato (1995), Serra &

Oller (2003) e Solé (1998) a definição de um objetivo, além de ser “uma condição”

para a prática da leitura também pode ser vista como uma estratégia.

De acordo com Solé (1998), os objetivos dos leitores podem ser muito

variados, tudo depende da situação e do momento, no entanto, a autora busca

exemplificar alguns tipos:

• Ler para obter uma informação precisa (É a leitura que

realizamos quando pretendemos localizar alguma informação

específica, isto é, uma leitura mais seletiva);

• Ler para seguir instruções (É a leitura com objetivo de “saber

como fazer...”);

• Ler para obter uma informação de caráter geral (É a leitura

rápida para entender as ideias e conceitos principais do texto, ou seja,

“saber de que trata” para ver se vale continuar lendo);

• Ler para aprender (É a leitura com propósito, isto é, para

ampliar conhecimento, estudar etc. No entanto, é valido ressaltar, como

o faz Solé (ibid) que naturalmente toda leitura que realizamos sempre

aprendemos algo.);

• Ler para revisar um escrito próprio (É a leitura como

instrumento de trabalho ou como autorrevisão);

54

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Capítulo 2

• Ler por prazer (É a leitura chamada de fruição, aquela que se

faz sem cobrança e está, em geral, relacionada ao texto literário);

• Ler para comunicar um texto a um auditório (É a leitura

própria de grupos de atividade restritos);

• Ler para praticar a leitura em voz alta (É a leitura, de certa

forma, escolarizada. Segundo Solé (1998) a leitura em voz alta é um

tipo de leitura que envolve algumas necessidades, objetivos e

finalidades específicas da prática de leitura.). (Adaptado de Solé, 1998,

p. 93-99)

Sobre essa questão, Kleiman (1998) acrescenta que os objetivos para a

leitura podem variar de acordo com o gênero textual, por exemplo, os objetivos para

leitura de uma bula de um remédio são bem específicos e limitados, enquanto que

os objetivos para a leitura de um romance podem atender um conjunto infinito de

propósitos.

2.4.2 Uso de previsões

Outra estratégia que apresenta destaque é a do uso de previsões no texto.

Essa estratégia muitas vezes é utilizada inconscientemente pelo leitor, porém é

muito importante para o processo de leitura, pois é por meio dela que o leitor faz a

eliminação do que não ler.

A previsão consiste em estabelecer hipóteses ajustadas e aceitáveis sobre

o que será encontrado no texto. Para Smith (1999, p.79) a previsão é a base da

compreensão, pois ela só é alcançada quando encontramos sentido naquilo que já

sabemos sobre o mundo, “fazendo uso da nossa teoria de mundo”.

Solé (1998), também, ressalta que a estratégia de previsão está associada

a formulação de perguntas, podendo ser:

Perguntas de resposta literal, isto é, perguntas cuja resposta se

encontra literal e diretamente no texto;

55

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Capítulo 2

Perguntas para pensar e buscar, isto é, perguntas cuja resposta

pode ser deduzida, mas que exige que o leitor relacione diversos

elementos do texto e realize algum tipo de inferência;

Perguntas de elaboração pessoal, isto é, perguntas que tomam

o texto como referencial, mas cuja resposta não pode ser deduzida do

mesmo; exigem a intervenção do conhecimento e/ou a opinião do leitor.

2.4.3 Ativação do conhecimento prévio

Como vimos, para chegarmos à compreensão de um texto utilizamos

conhecimentos prévios, isto é, o leitor no processo de leitura aciona os

conhecimentos armazenados na memória adquiridos ao longo de sua vida. Para

Kleiman (2008, p.25), a ativação do conhecimento prévio é essencial à

compreensão, “pois é o conhecimento que o leitor tem sobre o assunto que lhe

permite fazer as inferências necessárias para relacionar diferentes partes discretas

do texto num todo coerente”.

Por outro lado, Foltz (1996) ressalta que escritores (produtores de texto),

frequentemente, assumem que os leitores possuem conhecimentos prévios

adequados para produzirem inferências e, portanto, completarem as lacunas

deixadas no texto automaticamente. No entanto, se um leitor não tem um bom

conhecimento prévio, estas inferências consumirão recursos adicionais do leitor, o

que pode acarretar em baixa compreensão.

2.4.4 Uso de inferências

Koch (2007, p.36) afirma que as inferências constituem estratégias

cognitivas por meio das quais o leitor, “partindo da informação veiculada pelo texto e

levando em conta o contexto (em sentido amplo), constrói novas representações

mentais”, estabelecendo relações entre segmentos textuais das informações

explícita e implícitas do texto.

56

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Capítulo 2

Por sua vez, Marcuschi (1999) assinala que as inferências permitem ao

leitor construir novas proposições a partir de outras já dadas. O pesquisador

defende que a inferência é um dos fatores fundamentais para a compreensão de um

texto, pois está ligada ao conhecimento prévio do leitor, possibilitando o

preenchimento de lacunas no texto. Marcuschi (2003, p.245), ainda, define

inferência como “um ato de inserção num conjunto de relações (propositalmente

expressáveis) com finalidade de produzir sentido”. Para o autor, “é impossível não

inferir quando se quer produzir significações, ou seja, toda significação está ligada a

processos inferenciais”.

Em seu estudo sobre inferências, o pesquisador apresenta os seguintes

tipos:

• As lógicas – são as mais usadas, baseiam-se nas

relações lógicas, porém estão mais voltadas para um cálculo e

uma projeção de natureza sociocontextual do que para uma

operação lógica no sentido estrito.

• As analógico-semânticas – são baseadas sempre no

input e também no conhecimento de itens lexicais e relações

semânticas;

• As pragmático-culturais – são baseadas nos

conhecimentos, experiências, crenças, ideologias e axiologias

individuais.

[Adaptado de Marcuschi, 1999 (p.103 – 105); 2003 (p.246)]

Além dos estudos de Marcuschi sobre inferência, encontramos o de Abarca

& Rico (2003, p.144) que concebem a existência de dois tipos de inferências: i)

inferências de conexão textual (são aquelas que o leitor infere a relação entre as

ideias do texto que são sucessivas ou muito próximas. O objetivo desse tipo de

inferência é manter a progressão temática ou continuidade argumentativa entre os

diferentes ciclos de processamento), ii) as inferências extratextuais (são aquelas

que estabelecem relações entre ideias relativamente distantes, sendo mais

dependentes da ativação de conhecimentos prévios e de uma representação mental

mais global da situação explicada e descrita no texto). 57

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Capítulo 2

Ferreira & Dias (2004, p.443) citam os estudos de Kintsch (1998) que

diferencia as inferências dos processos de recuperação de conhecimento. Para o

autor, as inferências se caracterizam como “processos de resolução de problema,

favorecendo a geração de uma nova informação, enquanto os processos de

recuperação apenas recuperam na memória conhecimentos preexistentes”. As

inferências podem ser automáticas (inconscientes) ou controladas (geralmente

conscientes), como demonstra o quadro abaixo:

Recuperação Geração

Processo automático Inferências, pontes,

associações elaborativas.

Inferências transitivas em

um domínio familiar

Processo controlado Busca de conhecimentos

conectados

Inferência lógica

De acordo com os estudos realizados por Ferreira & Dias (2004, p. 441), a

atividade inferencial é um fator essencial no processo de comunicação e

compreensão em geral, podendo a mesma ser descrita como “um ato inteligente

que envolve raciocínio lógico e criativo, e que é levado a efeito através da junção de

informações novas e antigas, possibilitando o surgimento de novas intuições e

conclusões”.

Assim, os estudos apresentados demonstram que a operação inferencial é

importantíssima para produção de sentidos do texto. Além de favorecer a

organização das relações de significados dentro do texto, são as inferências que

possibilitam o leitor a completar as lacunas deixadas no texto, isto é, tornar explícito

o que se acha implícito, a partir de dados previamente existentes na memória do

interlocutor, os quais são ativados e relacionados às informações veiculadas pelo

texto (FERREIRA & DIAS, 2004).

2.4.5 Estratégia de resumo

58

Para comprovar se o texto foi compreendido, o leitor pode acionar a

estratégia de resumo, que consiste em expor sucintamente o que foi lido. Solé

(1998) comenta que essa estratégia permite que o leitor avalie seu processo de

leitura e ao mesmo tempo esclareça eventuais dúvidas sobre a leitura.

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Capítulo 2

De acordo com a autora, a elaboração de resumos está ligada às

estratégias que utilizamos para estabelecer o tema de um texto, identificar a ideia

principal e seus detalhes secundários. Segundo Solé (1998, p.147) “o resumo exige

a identificação das ideias principais e das relações que o leitor estabelece entre

elas, de acordo com seus objetivos de leitura e conhecimentos prévios”.

Para a produção de resumos, mesmo que mentais, podemos nos valer de

algumas regras. Solé (1998), para explicar como elas funcionam, apresenta os

estudos de Van Dijk (1983) que descrevem quatro regras:

Omissão: exclusão de detalhes ou explicações do texto, quando esses

não são relevantes para sua compreensão global, ou seja, facilmente

inferíveis a partir de nosso conhecimento de mundo;

Seleção: eliminação de todos os elementos que exprimem detalhes

óbvios e normais no contexto apresentado;

Generalização: substituição de alguns elementos por outros mais

gerais;

Construção ou integração: substituição de um conjunto de orações

por uma que a inclua, ou ainda, elabore uma nova informação que substitui a

anterior.

As regras acima são apenas um exemplo de como o leitor pode proceder

para verificar se tem o controle da compreensão do texto. A estratégia de resumo

não é uma obrigação para o leitor, mas pode ser utilizada como uma “técnica” de

correção de possíveis falhas no processo de leitura. Em outras palavras, se o leitor

não for capaz de sintetizar o que foi lido, evidencia-se que pode ter ocorrido a falta

de compreensão. Dessa forma, o leitor tem a possibilidade de retomar o texto e

esclarecer possíveis dúvidas.

2.5 Algumas estratégias para o texto digital

Segundo Rouet & Levonen (1996), poucos são os estudos que envolvem os

processos cognitivos da leitura de hipertexto. Para os autores é necessário que se

59

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Capítulo 2

desenvolvam estudos empíricos que abordem os processos cognitivos e as

estratégias acionadas durante a leitura digital.

No entanto, os autores tentam esboçar algumas estratégias para a leitura

hipertextual. A primeira está ligada à construção do hipertexto, pois acreditam que,

quando as representações hierárquicas são bem estabelecidas, podem ajudar o

hiperleitor a acumular mapas mentais da estrutura hipertextual, ou seja, as dicas

estruturais facilitam na navegação do hipertexto. A segunda está associada a ter um

objetivo e saber diferenciar se o hipertexto é simples ou complexo e, por fim,

apontam que a estratégia fundamental para uma leitura compreensiva é capacidade

do hiperleitor em saber decidir para onde ir.

Outro pesquisador que também aborda estratégias de leitura para o

hipertexto é Foltz (1996). Conforme o autor, as estratégias não só desempenham

um papel importante na compreensão do texto impresso, mas também para a

compreensão dos hipertextos.

Ao tratar das estratégias de leitura e compreensão para o hipertexto, Foltz

(1996) relata que, em sua pesquisa realizada em 1992 com seis universitários, seu

objetivo foi levantar as estratégias utilizadas para manter a coerência diante de um

sistema hierárquico de hipertexto. O pesquisador observou que os leitores utilizam

estratégias semelhantes a do texto impresso e verificou que: i) leitores com objetivos

específicos encontram menos dificuldade na navegação e compreensão do

hipertexto; ii) leitores que possuem conhecimento prévio sobre assunto encontram

mais facilidade na leitura hipertextual; e iii) leitores que se atêm a parte da hierarquia

do texto antes de avançar para outras partes estabelecem mais coerência na leitura

hipertextual.

O pesquisador ressalta que as estratégias de leitura podem variar de acordo

com os conhecimentos prévios do leitor e os objetivos. No entanto, chama atenção

para a importância da elaboração da estrutura do hipertexto e alerta, que mesmo o

leitor tendo a informação específica, porém sem o adequado antecedente

contextual, essa informação pode ser inútil. Em outras palavras, para Foltz (1996),

existe a necessidade de o hipertexto estar situado em um contexto apropriado, para

que assim o leitor possa compreendê-lo. 60

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Capítulo 2

De modo geral, vimos neste capítulo que a leitura é um processo bastante

complexo que pressupõe a interação autor-texto-leitor, envolvendo a mobilização de

um vasto conjunto de saberes e que o leitor para chegar à compreensão de um

texto precisa se valer de estratégias. Desse modo, nossa proposta para o próximo

capítulo, usando como escopo teórico os postulados apresentados até o momento,

é levantar as estratégias utilizadas pelos hiperleitores na leitura do texto digital.

Porém, antes disso apresentaremos a metodologia adotada em nossa pesquisa e,

em seguida, os dados coletados.

61

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Capítulo III

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Capítulo 3

A PRÁTICA DA LEITURA NA INTERNET

O computador será nós próximos anos uma necessidade tão fundamental como a geladeira, o fogão ou a escova dental.

(Marcuschi & Xavier, 2005)

Como já foi dito em nossa introdução, nosso objetivo principal é identificar as

estratégias utilizadas por alunos de Ensino Médio na leitura do texto digital. A

escolha do nosso público foi motivada pelos índices disponibilizados pelo CGI

(Comitê Gestor da Internet no Brasil) por meio da terceira pesquisa sobre o uso das

tecnologias da informação e da comunicação no Brasil publicada em 2008, que

detectou que os jovens do EM ocupam o segundo lugar em maior número de acesso

à internet. Diante desse quadro, surgiu o interesse de nossa pesquisa.

Neste capítulo apresentaremos a metodologia de pesquisa, o contexto de

onde os dados foram coletados, o instrumento de coleta e, em seguida, a análise

dos dados. Para isso, o capítulo foi subdividido em partes. Primeiramente, justifica-

se a escolha da metodologia. A seguir, é descrito o contexto e os sujeitos da

pesquisa e, por fim, é apresentada a descrição e análise dos dados.

3.1 Metodologia

A metodologia adotada em nossa análise é interpretativista, porém partimos

de dados quantitativos obtidos na tabulação de nosso questionário para se

estabelecer uma análise qualitativa.

De acordo com Lakatos & Marconi (2005), o presente estudo pode ser

classificado como sendo uma pesquisa de campo, mais precisamente um estudo

63

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Capítulo 3

64

exploratório-descritivo combinados. Para as pesquisadoras, os estudos exploratório-

descritivos são aqueles que têm por objetivo descrever determinado fenômeno ou,

por exemplo, uma unidade de comportamento. As descrições podem ser tanto em

forma quantitativa como qualitativa, uma vez que as descrições quantitativas

respondem à pergunta “quanto”?, e as qualitativas à pergunta “como”?

Köche (1997, p.126) salienta que a pesquisa exploratória é muito utilizada

para se identificar a natureza do fenômeno e suas características essenciais, já que

“não se trabalha com a relação entre variáveis, mas com o levantamento da

presença das variáveis e da sua caracterização quantitativa ou qualitativa”. A

combinação desse modelo com o modelo descritivo favorece que as informações ou

práticas existentes na realidade não sejam manipuladas, uma vez que na prática

desse último que é o referente, os dados são coletados sem alterações para serem

organizados e analisados.

3.2 Descrição do instrumento e do contexto da pesquisa

A fim de identificar o perfil de acesso, estratégias utilizadas e dificuldades

encontradas por alunos de Ensino Médio na prática da leitura em meio digital,

escolhemos a técnica de aplicação de questionário, pois, apesar de apresentar

certas limitações, é um instrumento que permite aos leitores/informantes

apresentarem suas opiniões sem exposição direta, já que foi garantido a eles o

anonimato.

Assim, elaboramos um questionário que tem uma parte introdutória na qual

os informantes apresentam seu perfil social (idade, sexo, se têm computador em

casa, se têm acesso à internet etc.) e a outra parte com questões referentes ao uso

da internet e à prática da leitura nesse contexto. Essa segunda parte é composta por

18 perguntas, sendo quinze tricotômicas (com as opções: sim, às vezes e não) e

três de múltipla escolha (com perguntas fechadas que tinham como objetivo delinear

o perfil do leitor). Para melhor compreensão do que foi dito, segue o questionário na

íntegra:

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Capítulo 3

65

1ª Parte Escola: ( ) Pública ( ) Particular/Privada Idade: ( ) 13 a 15 ( ) 16 a 17 ( ) Acima de 18 Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino

a) Você tem computador em casa?

( ) sim ( ) não

b) Tem acesso à internet em casa?

( ) sim ( ) não – caso negativo, onde acessa a internet?

( ) somente na escola

( ) lan house

( ) casa de amigos

( ) outros __________

c) Qual é a sua frequência de uso da internet?

( ) diariamente

( ) 2 a 3 vezes por semana

( ) 4 a 5 vezes por semana

( ) raramente

d) Você usa a internet com mais frequência para:

( ) pesquisas escolares

( ) jogos/brincadeiras

( ) bate papos

( ) compras

( ) outros _________________

e) Os textos que você busca na internet geralmente são para:

( ) aprofundar conhecimentos gerais (pesquisas específicas)

( ) Informativos (leituras de jornais on-line, resenhas de filmes etc.)

( ) lazer/entretenimento (livros on-line; blogs etc.)

2ª parte

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Capítulo 3

66

Questões Sim Às vezes Não

1. Ao começar uma leitura na internet você estipula um objetivo a alcançar?

2. Cria um roteiro de leitura? Isto é, algo que guie seu trajeto?

3. Desiste facilmente do conteúdo lido e busca outro?

4. Faz anotações paralelas em bloco de notas?

5. Consulta dicionários (on-line ou impresso) quando se depara com palavras que não conhece?

6.Distrai-se facilmente e tem dificuldade para manter a concentração ao ler o texto em tela?

7.Clica em todo hotword ou hiperlink que aparece no texto para verificar o que ele traz?

8. Após clicar em hiperlinks ou hotwords presentes no hipertexto você retorna para o texto-origem?

9. Ao realizar a ação de ir para trás, continua a leitura do ponto que parou?

10. Perde a concentração da leitura quando retorna ao texto-origem (ponto de partida)?

11. Ao retornar ao texto-origem, após ter navegado em um hiperlink, precisa reiniciar a leitura para poder compreendê-la?

12. Busca os links sugeridos apresentados no texto, a fim de aprofundar o conhecimento?

13. Ao concluir a leitura, copia para um editor de textos, apenas os trechos lidos que achou interessantes?

14. Faz a impressão dos textos selecionados para lê-los novamente?

15. Ao navegar pelas páginas da internet, utiliza alguma estratégia para não se perder no ciberespaço?

Caso a resposta acima seja afirmativa, qual (quais)?__________________________________

16. Para você a leitura de textos na internet é:

( ) Ótima, pois encontra motivação;

( ) Tranquila, não encontra dificuldades;

( ) Às vezes incômoda, pois cansa os olhos;

( ) Cansativa, por causa da posição.

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Capítulo 3

67

17. Quanto tempo você consegue ficar lendo diante da tela do computador/internet?

( ) menos de 30 minutos seguidos

( ) de uma a duas horas seguidas

( ) por mais de três horas seguidas

18. Se tivesse que classificar seu perfil como leitor de textos na internet você seria:

( ) Aquele que explora aleatoriamente as possibilidades proporcionadas pelos hiperlinks (caminhos da internet) sem medo de errar. Navega sem rumo fixo.

( ) Aquele que trilha os caminhos da internet com disciplina, é organizado e não foge muito do seu objetivo. Navega se adaptando com as dificuldades que os hiperlinks apresentam.

( ) Aquele que tem familiaridade com as artimanhas criadas pelo texto digital, que é capaz de prever as consequências de suas escolhas e que faz a navegação orientada. Navega sem fugir de seu objetivo.

Os questionários foram aplicados nas aulas de Língua Portuguesa por

quatro professoras por nós contatadas:

1. Aparecida Moraes de Farias (Colégio Novo Horizonte – São Miguel Paulista-

Zona Leste de São Paulo);

2. Cristiane Menezes (E. E. Professora Luciane do Espírito Santo –

Guaianazes - Zona Leste de São Paulo);

3. Maria Paula Del Bianco (Colégio Discere Laboratum - Tatuapé - Zona Leste

de São Paulo);

4. Elizabeth Rizzi (E.E. Paschoal Carlos Magno – Embu Guaçu – Grande São

Paulo).

A aplicação ocorreu entre o fim do mês de julho e os primeiros quinze dias

do mês de agosto de 2008 e após o término da aplicação dos questionários

realizamos a tabulação dos dados obtidos para a realização da discussão dos

resultados.

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Capítulo 3

68

3.3 Os sujeitos da pesquisa

Os sujeitos da pesquisa são estudantes pertencentes ao nível médio de

ensino, sendo 52% do sexo feminino e 48% do sexo masculino, todos residentes em

São Paulo e, sendo 50% alunos da rede pública estadual e 50% alunos da rede

privada

Faixa etária Quantidade Percentual Total geral

Entre 13 e 15 99 32,1%

Entre 16 e 17 183 59,5%

Acima de 18 26 8,6%

308 alunos =

100%

Os alunos da rede privada são 70% de uma escola particular de classe

média9 e 30% de uma escola particular de classe média alta, ambas localizadas na

Zona Leste de São Paulo. Já 100% dos estudantes da rede pública são de classe

média baixa ou classe baixa. Das duas escolas públicas escolhidas, para aplicar o

questionário, uma fica localizada na Zona Leste de São Paulo e a outra fica

localizada na Grande São Paulo, mais precisamente, no centro de Embu-Guaçu.

3.4 Descrição e análise dos dados

Os dados tabulados serão apresentados de acordo com a numeração das

questões apresentadas no questionário. Apresentaremos os valores referenciais

sempre em forma percentual por meio de tabelas e gráficos para a facilitação da

visualização. Demonstraremos, também, os dados sempre em três posições: rede

privada, rede pública e total geral, pois acreditamos que, dessa forma,

transmitiremos maior clareza na obtenção dos dados.

____________ 9 A subdivisão das classes sociais adotada é a apresentada pelo site Brasil escola. Disponível em: www.brasilescola.com/sociologia/classe-social.htm. - Acesso em 08/10/2008.

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Capítulo 3

Durante a análise, apresentaremos o fragmento da pergunta, seguido pelos

dados tabulados e, na sequência, os comentários sobre a pergunta. É importante

ressaltar que, como toda pesquisa de opinião, os dados se baseiam na declaração

dos informantes em resposta às questões formuladas.

3.4.1 O perfil social dos informantes

Primeiramente, buscamos verificar se os informantes possuem computador

em casa, para isso perguntamos:

a) Você tem computador em casa?

( ) sim ( ) não

As respostas obtidas foram tabuladas a seguir:

GRÁFICO I PROPORÇÃO DE USUÁRIOS COM COMPUTADOR EM CASA

Os dados apresentados no gráfico revelam que a maioria (78%) dos

informantes possui computador em casa. No entanto, vale ressaltar a diferença de

40% existente entre os alunos das redes pública e privada.

69

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Capítulo 3

b) Tem acesso à internet em casa? ( ) sim ( ) não – caso negativo, onde acessa a internet? ( ) somente na escola ( ) lan house ( ) casa de amigos ( ) outros _________

As respostas obtidas foram:

GRÁFICO II PERFIL DE ACESSO À REDE EM DOMICÍLIO

Os dados acima demonstram que mais da metade dos informantes (69%) já

possui a tecnologia com acesso à rede mundial em casa. Todavia, nosso objetivo

com a pergunta era identificar o número total de acessos sendo eles em casa ou

não. Por isso, como demonstramos na pergunta [b], foi dado a possibilidade ao

aluno que não possui computador ou acesso à internet em casa, de explicitar onde

obtém acesso à rede. Em resposta a essa parte da pergunta, os dados obtidos

foram:

Escola Lan house Casa de amigos Outros

Pública 0% 49% 11% 6%

Privada 0% 2% 1% 1%

Total geral 0% 26% 5% 3%

70

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Capítulo 3

71

Primeiramente, é preciso ressaltar que o informante teve a opção de

assinalar mais de uma resposta, por isso o somatório do percentual é superior a

100%. Segundo, os alunos que assinalaram a opção “outros” tinham espaço para

identificar em que outros lugares acessavam a internet. As respostas mais

frequentes foram: trabalho, centro culturais, telecentros e cursos de informática.

No entanto, o que pôde ser observado com os dados obtidos na pergunta foi

o grande uso das lan houses como uma opção para o acesso à tecnologia. Assim,

como aponta a pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e da

comunicação no Brasil: TIC Domicílios, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no

Brasil e publicada em 2008, as lan houses passaram a desempenhar um importante

papel na imersão de jovens no espaço cibernético.

Pelas duas questões acima, levantamos que boa parte dos informantes

possui a tecnologia em casa e que aqueles que não possuem não deixam de utilizá-

la, pois, de certa maneira, encontram alternativas para acessar a rede. Assim,

levantamos que 96% do total dos alunos acessam a internet seja em casa, seja em

lan houses. Esses dados são importantes, porque confirmam a relevância de nossa

pesquisa, já que os alunos de Ensino Médio estão conectados à rede, precisamos

conhecer seu perfil e identificar que estratégias utilizam na leitura do texto digital.

3.4.2 O perfil de uso da internet pelos informantes

As questões que seguem estão relacionadas ao perfil de uso da internet

pelos alunos. Iniciamos perguntando sobre a frequência de uso

c) Qual é a sua frequência de uso da internet? ( ) diariamente ( ) 4 a 5 vezes por semana ( ) 2 a 3 vezes por semana ( ) raramente

E os dados obtidos foram:

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Capítulo 3

GRÁFICO III FREQUÊNCIA DE USO INDIVIDUAL DA INTERNET

Nosso objetivo com a pergunta foi levantar a frequência de uso da tecnologia

pelos alunos. Percebemos, por meio do total geral que mais da metade (54%) dos

informantes acessa a internet diariamente. Todavia, acreditamos que seja

importante, neste momento, ressaltar a desigualdade na frequência de uso, uma vez

que o dobro (77%) dos alunos da rede privada possui acesso à rede diariamente.

Outro dado que deve ser salientado, ainda em relação às diferenças, é que a rede

pública ainda apresenta um percentual relativamente alto de 27% de alunos que

raramente usam a internet.

Acreditamos que a maior ou a menor frequência de uso da internet, possa

interferir na estratégia de leitura adotada pelos hiperleitores, já que Perrenoud

(2000) defende que a habilidade é uma capacidade adquirida, que pressupõe um

elevado grau de adaptação entre meios e fins, seu desenvolvimento exige ação e

prática. Levando em consideração a afirmação do pesquisador e associando-a aos

dados da pesquisa, observamos que existe a possibilidade de os alunos da rede

pública encontrarem mais dificuldades na prática da leitura de hipertexto devido à

baixa frequência de uso da internet.

72

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Capítulo 3

73

3.4.3 As práticas de leitura na internet

A próxima pergunta foi formulada para levantar quais eram os objetivos dos

alunos ao utilizar a rede. O informante nesta pergunta poderia optar por mais de

uma alternativa. Todavia, aquele que achasse que as opções disponíveis não

expressavam seu emprego, poderia optar pela opção “outros”. Esse campo tinha um

espaço para escrita das atividades realizadas na internet, conforme demonstra o

fragmento da pergunta:

d) Você usa a internet com mais frequência para: ( ) pesquisas escolares ( ) jogos/brincadeiras ( ) bate-papos ( ) compras ( ) outros ___________________

Os dados obtidos foram:

Pesquisas escolares

Jogos/brincadeiras Bate-papos

Compras Outros

Pública 48,5% 10% 38% 0,5% 3%

Privada 32% 10% 50% 3% 5%

Total geral 40,25% 10% 44% 1,75% 4%

Os informantes que fizeram a opção pelo item “outros” revelaram utilizar a

internet com mais frequência para baixar músicas, ver vídeos, acessar blogs,

procurar emprego ou a trabalho (um informante).

É preciso salientar que, durante a aplicação do questionário, os alunos

receberam instruções para considerar a alternativa bate-papos como a

generalização de todos os sites que incluem troca de informações rápidas, o item

inclui: e-mails, messengers, sites de relacionamento etc. Diante disso, os dados

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Capítulo 3

revelam que o item, se considerarmos o total geral, obtém uma pequena vantagem

(3,75%) em relação ao item pesquisas escolares.

Outro dado que também pôde ser observado em nossa pesquisa e que

encontra consonância com os dados disponibilizados pela pesquisa TIC10 é em

relação à realização de pesquisas escolares. A pesquisa TIC revelou que 67% dos

alunos de EM, em 2007, já acessavam a internet para realizar pesquisas escolares.

Nossa pesquisa, em uma proporção menor, confirma que boa parte dos informantes

em 2008 ainda realiza tal prática.

Assim, para sermos mais precisos, em relação às práticas de leituras,

efetivamente, realizadas pelos informantes perguntamos:

e) Os textos que você busca na internet geralmente são para: ( ) aprofundar conhecimentos gerais (pesquisas específicas) ( ) informativos (leituras de jornais on-line, resenhas de filmes etc.) ( ) lazer/entretenimento (livros on-line; blogs etc.)

Os dados obtidos foram:

GRÁFICO IV TIPOS DE TEXTOS ACESSADOS NA INTERNET

_______________________

74

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Capítulo 3

75

10 Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil: TIC Domicílios, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil e publicada em 2008. Disponível em http://www.cetic.br/index.html.

A pergunta teve por objetivo identificar os motivos que levam os alunos a

realizarem atividade de leitura na internet. Permitimos que deixassem em branco a

resposta caso sua opinião não se enquadrasse em nenhuma das opções, contudo

não tivemos nenhum questionário em branco.

Foi permitido, também, que fosse assinalada mais de uma opção, pois

sendo a internet uma rede de informações tão ampla, dificilmente um usuário

consegue limitar-se apenas a um tipo de texto. Assim, observamos que 40% dos

informantes assinalaram duas opções: lazer/entretenimento e aprofundar

conhecimentos gerais.

Em ambas as opções assinaladas, notamos que é necessário leitura e uso

de estratégias para a compreensão do texto, quer em uma atividade de lazer como

ler blogs ou jogos, quer em uma pesquisa específica para aprofundar conhecimento.

O leitor sempre terá que ativar seus conhecimentos prévios, fazer inferências e

selecionar o que é de seu interesse.

3.4.4 Análise das estratégias off-line e on-line

As questões a seguir fazem parte da segunda parte da pesquisa. Pertencem

ao bloco da pesquisa que delineia o perfil de leitura e aponta as estratégias

utilizadas pelos alunos na prática de leitura de textos digitais.

• Pergunta 1

Ao começar uma leitura na internet você

estipula um objetivo a alcançar?

Sim Às vezes Não

As respostas obtidas foram:

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Capítulo 3

76

Sim Às vezes Não Em branco

Pública 44% 51% 5% 0%

Privada 37% 44% 18% 1%

Total geral 40,5% 47,5% 11,5% 0,5%

A pergunta teve como propósito levantar se os informantes utilizam a

estratégia essencial apontada pelos estudiosos, isto é, a leitura com objetivo. Os

dados revelam, se considerarmos que a resposta “às vezes” carrega consigo 50%

de intencionalidade de uma resposta afirmativa, que a maioria dos informantes vai

para frente da tela do computador com um objetivo já estipulado.

Dessa maneira, evidenciamos que os hiperleitores de Ensino Médio

cumprem o primeiro requisito postulado pelos pesquisadores Rouet & Levonen

(1996); Solé (1998); Koch & Elias (2006) dentre outros, que apontam que ter um

objetivo a ser alcançado é um ponto essencial das estratégias de leitura, visto que

envolve autodireção.

Koch (2007) ressalta ainda que os objetivos do leitor são importantíssimos e

ajudam a determinar o uso das estratégias cognitivas, mais precisamente das

estratégias de uso do conhecimento. Foltz (1996) ainda completa que leitores com

objetivos específicos, ao realizarem leituras de hipertextos, encontram menos

dificuldade ao transitar pelos nós presentes na hierarquia hipertextual.

• Pergunta 2

Cria um roteiro de leitura? Isto é, algo que guie seu trajeto?

Sim Às vezes Não

As respostas obtidas foram:

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Capítulo 3

77

Sim Às vezes Não

Pública 22% 44% 33%

Privada 21% 23% 55%

Total geral 21,4% 33,4% 44,2%

Com essa pergunta, pretendemos levantar se, além de ter um objetivo, o

leitor utiliza alguma estratégia para evitar a dispersão na leitura hipertextual –

embora essa não seja vista como característica exclusiva do hiperleitor. Serra &

Oller (2003) afirmam que os leitores devem ter uma direção de leitura, sabendo

determinadas consecuções e o que espera com relação às atividades propostas. Em

outras palavras, saber o que busca, por que busca e para que servirá sua leitura. No

entanto, analisamos os dados obtidos e observamos que, apesar de ter um objetivo

estabelecido, boa parte dos informantes (44,2%) não cria roteiros para leitura digital.

Considerando as respostas obtidas e as características do hipertexto,

dificilmente o leitor conseguiria manter-se dentro do roteiro. Assim, as estratégias de

leitura vão sendo acionadas conforme a necessidade apresentada pelo contexto,

pela complexidade do hipertexto e de acordo com os objetivos de leitura do

hiperleitor.

• Pergunta 3

Segundo Almeida (2003, p.100) na internet navegamos depressa, “visitamos

muitos lugares e raramente paramos muito tempo em algum lugar. A pressa e o

conhecimento da vastidão de informações ao nosso alcance força-nos a um

movimento cada vez mais rápido...”. Pensando no aspecto da rapidez exigida na

leitura digital e na característica de acessibilidade do hipertexto perguntamos aos

nossos informantes:

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Capítulo 3

78

Desiste facilmente do conteúdo lido e busca outro?

Sim Às vezes Não

Respostas obtidas:

Sim Às vezes Não

Pública 16% 53% 31%

Privada 19% 51% 29%

Total geral 17,9% 51,9% 30%

A resposta obtida é que 51,9% responderam “às vezes” e 17,9%

responderam que “sim”. Como apontam Davies (1995); Solé (1998); Koch & Elias

(2006) entre outros pesquisadores, o leitor levanta hipóteses e faz antecipações,

prediz sobre o que seja o texto consultado, entretanto, quando não estabelece

relações, desiste ou busca outro conteúdo. Os dados são indicadores de que na

leitura digital isso ocorre frequentemente pelo fato de o hiperleitor conhecer a

característica de acessibilidade ilimitada propiciada pela leitura hipertextual.

• Pergunta 4

Faz anotações paralelas em bloco de notas?

Sim Às vezes Não

As respostas obtidas foram:

Sim Às vezes Não Em branco

Pública 22% 31% 53% 3%

Privada 20% 22% 46% 3%

Total geral 21% 26,3% 49,7% 3%

Formulamos a pergunta para identificar se os informantes selecionam

informações ou conceitos que acreditam ser importantes, uma vez que Kato (1995)

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Capítulo 3

79

afirma que, ao processar a leitura, o leitor também desenvolve estratégias de

seleção. Para a pesquisadora, o texto fornece índices redundantes que não são

igualmente úteis, por isso o leitor deve selecionar aqueles mais eficazes, pois, se

assim não ocorresse, o leitor utilizaria todos os índices disponíveis do texto e o

aparelho perceptivo ficaria sobrecarregado com informações desnecessárias.

Assim sendo, o leitor deve eleger somente os índices mais produtivos, em

função de estratégias metacognitivas baseadas em esquemas que se desenvolvem

pelas características do texto e pelo significado das palavras convertidos em

conceitos. Por isso, resolvemos levantar se os alunos, no decorrer da leitura,

adotam tal estratégia. Os dados revelam que a maior parte (49,7%) dos informantes

não seleciona conteúdo por meio de anotações em bloco de notas ou em editor de

textos durante a leitura digital.

• Pergunta 5

Consulta dicionários (on-line ou impresso) quando se depara com palavras que não conhece?

Sim Às vezes Não

As respostas obtidas foram:

Sim Às vezes Não Em branco

Pública 27% 34% 38% 1%

Privada 36% 27% 36% 1%

Total geral 31,5% 30,5% 37% 1%

Como destaca Cintra (2008, p.43) “é indiscutível que o domínio do

vocabulário presente no texto facilita a compreensão de conceitos, a construção de

sentidos”. A pesquisadora salienta ainda que existem diferentes graus de

compreensão conceitual, que vão desde o total desconhecimento do sentido de

uma palavra, até a possibilidade de atribuição de sentido, graças ao próprio texto.

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Capítulo 3

80

Desta forma, para o preenchimento de lacunas do texto, normalmente o

leitor recorre à estratégia de inferência, mas, às vezes, essa estratégia não é

suficiente para o leitor sanar a incompreensão causada por algumas formas

linguísticas. Por essa razão, o leitor aciona estratégias que levam à interrupção da

leitura e à consulta a dicionários. No entanto, o hipertexto, por apresentar

características tais como interconectividade e acessibilidade, proporciona ao leitor

maior facilidade de consulta e consequentemente de ativação dessa estratégia.

Diante disso, perguntamos se os alunos consultam dicionários. As respostas

obtidas apresentaram certa proximidade nos percentuais. Levantamos, grosso

modo, que 50% consultam dicionários para sanar as eventuais dúvidas e 50% não.

Solé (1998) comenta que o acionamento dessa estratégia é negativo para a

prática de leitura, porque leva à interrupção da leitura. Quando ocorre a ativação da

estratégia o leitor perde o ritmo e precisa se concentrar novamente para reiniciar a

leitura. Contudo, a autora salienta que a estratégia de uso de dicionários deve ser

ativada quando o leitor se depara com uma palavra ou expressão desconhecida que

aparece repetidamente e que pode interferir na interpretação do texto.

• Pergunta 6

Distrai-se facilmente e tem dificuldade para manter a concentração ao ler o texto em tela?

Sim Às vezes Não

As respostas obtidas foram:

Sim Às vezes Não

Pública 23% 31% 46%

Privada 24% 42% 34%

Total geral 23,5% 36,5% 40%

Com a pergunta, visamos identificar se o leitor apresenta dificuldade para

manter a concentração quando realiza a leitura do hipertexto. Boa parte dos

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Capítulo 3

81

informantes disse não apresentar problemas de concentração diante do texto digital.

Nesse caso, podemos dizer que os hiperleitores ativam a estratégia “atenção

concentrada”, descrita por Serra & Oller (2003). Para os pesquisadores, essa

estratégia é fundamental para compreensão e para o processo de ensino-

aprendizagem.

Pensando sobre os elementos constitutivos do hipertexto, elaboramos

algumas questões que tratam, especificamente, das estratégias utilizadas por

hiperleitores. A primeira pergunta foi:

• Pergunta 7

Clica em todo hotword11 ou hiperlink que aparece no texto para verificar o que ele traz?

Sim Às vezes Não

As respostas obtidas foram:

Sim Às vezes Não

Pública 12% 38% 49%

Privada 6% 27% 66%

Total geral 9,4% 32,8% 56,8%

Tivemos dois propósitos ao elaborar a pergunta sete: o primeiro foi levantar

se os caracterizadores do hipertexto levam o leitor a se desviar de seu objetivo e, o

segundo, foi levantar o comportamento do leitor na rede com base nos estudos de

Santaella (2004).

Os dados apresentados revelam que grande parte dos informantes (56,8%)

não clica em todo hotword ou hiperlink que aparece no hipertexto,

consequentemente, não se desviam de seu objetivo. Os dados também são

indicadores de que os hiperleitores, quando possuem um objetivo, não adotam a

postura de flâneurs.

__________________________

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Capítulo 3

82

11 Hotword, como explica Leão (2001), tem a mesma função dos links, com a diferença de que, em geral, vem destacado no corpo do texto (como palavras) e é marcado por uma cor diferente.

Ainda pensando nos elementos constitutivos do hipertexto, elaboramos a

próxima pergunta com o propósito de identificar que estratégia o leitor aciona após

clicar em hiperlinks e hotwords.

• Pergunta 8

Após clicar em hiperlinks ou hotwords presentes no hipertexto você retorna para o texto-origem?

Sim Às vezes Não

As respostas obtidas foram:

Sim Às vezes Não Em branco

Pública 49% 23% 21% 7%

Privada 42% 23% 35% 0%

Total geral 45,7% 23% 28% 3,3

Identificamos que a maioria dos informantes retorna ao texto-origem

(45,7%). Os motivos que levam um leitor a retornar ao texto-origem podem ser

variados, dentre eles a ativação de um link infrutífero, o hábito da leitura linear (texto

impresso), o medo de se perder no labirinto virtual (Leão, 2001) entre outras

possibilidades.

• Pergunta 9

Ao realizar a ação de ir para trás, continua a leitura do ponto que parou?

Sim Às vezes Não

As respostadas obtidas foram:

Sim Às vezes Não Em branco

Pública 44% 34% 20% 2%

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Capítulo 3

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Privada 55% 31% 12% 2%

Total geral 49,5% 32,5% 16% 2%

Perguntamos aos informantes se, ao realizar a ação de ir para trás (retornar

à página inicialmente visitada), após ter clicado em um link, continuam a leitura do

ponto que pararam. É preciso ressaltar que a expressão “ponto que pararam” está

associada ao hábito tradicional de leitura de um sistema linguístico, ou seja, a noção

de linearização das unidades linguísticas que não sofrem alteração na mudança de

suporte (MARCUSCHI, 2001).

Dessa maneira, levantamos que praticamente a metade dos informantes

(49,5%) respondeu que sim. Observamos, por meio dos dados, que a postura

apresentada pelos informantes diante do texto digital é muito semelhante à postura

adotada diante do texto impresso, corroborando com os apontamentos de Foltz

(1996) que observou que os hiperleitores utilizam as estratégias do texto impresso

na leitura do hipertexto.

A próxima pergunta aborda novamente o item concentração do leitor, no

entanto o foco agora é observar se o leitor perde a concentração ao retornar à

página inicialmente acessada, após ter realizado a navegação por meio de links.

Lembramos que a concentração está estritamente ligada à compreensão.

• Pergunta 10

Perde a concentração da leitura quando retorna ao texto-origem (ponto de partida)?

Sim Às vezes Não

As respostas apresentadas foram:

Sim Às vezes Não

Pública 23% 46% 30%

Privada 19% 38% 42%

Total geral 21% 42% 36%

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Capítulo 3

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Levantamos que boa parte dos informantes não perde a concentração da

leitura ao retornar ao texto-origem. Vale ressaltar mais uma vez que consideramos

boa parte, uma vez que 42% dos informantes responderam “às vezes”, sendo que

essa resposta carrega consigo 50% da intencionalidade de um sim e 50% de um

não.

Não temos como falar de leitura sem pensar na compreensão, pois, como

bem aponta Solé (1998), não adianta ler apenas para decodificar letras ou palavras,

o leitor precisa ir além da interpretação, precisa compreender o texto. Para isso, é

imprescindível que o leitor acione estratégias de leitura, algumas inconscientes e

outras dirigidas. Assim, pensando nesse aspecto, elaboramos a pergunta a seguir.

• Pergunta 11

Ao retornar ao texto-origem, após ter navegado em um hiperlink, precisa reiniciar a leitura para poder compreendê-la?

Sim Às vezes Não

As respostas obtidas foram:

Sim Às vezes Não Em branco

Pública 22% 38% 37% 3%

Privada 23% 31% 46% 0%

Total geral 22,5% 34,5% 41,5% 1,5%

Com a pergunta, pretendemos levantar o grau de concentração e

assimilação de leitura, pois, ao retornar para o texto-origem, o hiperleitor precisa

acionar, dentre tantos fatores, a memória de curto prazo, esquemas e os

conhecimentos para prosseguir na leitura.

Os dados obtidos revelaram que parte dos hiperleitores (41,5%) não precisa

reiniciar a leitura para poder compreendê-la. Todavia, a outra parte ainda apresenta

dificuldade necessitando reiniciar a leitura.

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Capítulo 3

85

• Pergunta 12

Aproveitando o eixo da compreensão, resolvemos questionar se os

informantes buscam o aprofundamento na leitura. Para tanto, perguntamos:

Busca os links sugeridos apresentados no texto, a fim de aprofundar o conhecimento?

Sim Às vezes Não

As respostas apresentadas foram:

Sim Às vezes Não

Pública 27% 44% 29%

Privada 26% 44% 30%

Total geral 26,5% 44% 29,5%

Identificamos que os hiperleitores quase se dividem na resposta acima, à

medida que consideramos que a resposta às vezes pode conter 50% de afirmação

e 50% não. Assim, de modo geral, podemos dizer que 49% dos informantes buscam

os links sugeridos para aprofundar o conhecimento e 51% não realizam tal prática.

A próxima pergunta retoma o uso de estratégia de seleção, mas, nesse

momento, focalizando o fim da sessão (Rosenberg, 2002).

• Pergunta 13

Ao concluir a leitura, copia para um editor de textos apenas os trechos lidos que achou interessantes?

Sim Às vezes Não

Respostas obtidas:

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Capítulo 3

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Sim Às vezes Não

Pública 26% 32% 41%

Privada 41% 29% 29%

Total geral 33,5% 30,5% 35%

Nosso propósito com a pergunta foi levantarmos se o leitor quando chega ao

fim da sessão de navegação utiliza a estratégia de seleção, uma vez que essa

estratégia é importante para leitura, pois permite que o leitor se atenha apenas ao

que é relevante (KATO, 1995). Os dados demonstraram certa homogeneização nas

respostas. Em outras palavras, podemos dizer que metade dos informantes copia

trechos para editores de texto e a outra metade não. Diante dos resultados,

deduzimos que as ações de selecionar e copiar estejam associadas ao propósito de

leitura de cada aluno, isto é, podem estar associadas com o objetivo de leitura, como

ressalta Solé (1998).

Já a pergunta a seguir teve como objetivo levantar se ocorre a prática da

impressão de textos selecionados na internet. Para tanto perguntamos aos

informantes:

• Pergunta 14

Faz a impressão dos textos selecionados para lê-los novamente?

Sim Às vezes Não

As respostas foram:

Sim Às vezes Não Em branco

Pública 24% 39% 32% 5%

Privada 15% 41% 44% 0%

Total geral 19,5% 40% 38% 2,5%

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Capítulo 3

87

Percebemos que a maior parte dos informantes não utiliza a impressão

como forma de seleção de conteúdo, uma vez que 38%, do total geral, responderam

a alternativa “não”. Entretanto, mais uma vez, salientamos que o fator social possa

ter contribuído para as respostas, já que levantamos um desnível de 12% nos

percentuais individuais das redes.

O aluno da rede pública faz mais impressão do que o aluno da rede

particular, talvez esse, por ter mais facilidade ao acesso ao computador/internet em

casa, não apresente as mesmas necessidades de consulta que os que não

possuem.

• Pergunta 15

Ao navegar pelas páginas da internet, utiliza alguma estratégia para não se perder no ciberespaço?

Sim Às vezes Não

Caso a resposta acima seja afirmativa, qual (quais)?

As respostas obtidas foram:

Sim Às vezes Não Em branco

Pública 15% 21% 62% 2%

Privada 20% 19% 58% 3%

Total geral 17,5% 20% 60% 2,5%

Levando em consideração que o ciberespaço é um espaço aberto pela

interconexão mundial dos computadores (LÉVY, 1999) que acondiciona o hipertexto

com todas suas características (não linearidade estrutural, interconectividade,

volatilidade, fragmentariedade, multissemiose, acessibilidade ilimitada etc.)

elaboramos a pergunta acima com objetivo de identificar as estratégias utilizadas

pelos hiperleitores para não se perderem no ciberespaço.

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Capítulo 3

88

Primeiramente, identificamos que mais da metade dos informantes declara

não usar nenhum tipo de estratégias de navegação e um pequeno número (17,5%)

afirma usar algum tipo de estratégia de leitura.

Os informantes que optaram pela resposta afirmativa tinham um campo para

expor a(s) estratégia(s) utilizada(s). Relacionamos abaixo as estratégias de

navegação declaradas pelos alunos, porém ressaltamos que pontuamos apenas

sete devido à repetição nas respostas dos informantes:

Uso de janelas em abas para manter a página inicial ativa:

Uso de janelas para trabalhar com vários conteúdos ativos;

Uso de bloco de notas ativo para copiar os links recomendados;

Uso da opção “adicionar favoritos” para guardar sites interessantes;

Uso de buscadores (mecanismos de busca que ajudam o leitor encontrar

“exatamente” o que procuram) para retornar a página inicial;

Uso de apenas uma janela para evitar desconcentração;

Uso do recurso de impressão para os textos que realmente interessam.

Tendo em vista as características do hipertexto, os dados apontam que os

informantes procuram de certa forma adaptar-se aos recursos disponibilizados pelos

navegadores12, transformando-os em estratégias de leitura. Os dados também

confirmam os postulados de Solé (1998, p.89), quando defende que “(...) muitas das

estratégias são passíveis de trocas, e outras estarão presentes antes, durante e

depois da leitura.” No ciberespaço a escolha de estratégias sempre estará associada

com o percurso escolhido pelo hiperleitor ao ativar um link.

_____________ 12 Os navegadores da internet são aplicativos de software que localizam e exibem as páginas da Internet. Um dos navegadores mais populares é o Microsoft Internet Explorer. É um navegador gráfico, o que significa que ele exibe gráficos bem como textos. Além disso, os navegadores mais modernos podem apresentar informações de multimídia, incluindo som e vídeo, embora eles exijam plug-ins para alguns formatos. O Internet Explorer não é o mesmo que o Windows Explorer, uma ferramenta de gerenciamento de arquivo para os usuários do Windows. Atualmente, os dois navegadores mais populares são Internet Explorer e Mozilla Firefox. Dados obtidos no site: https://itacademy.microsoftelearning.com/brasil/help/gsBrowserInformation.aspx. Consultado em 20 de março 2009.

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Capítulo 3

3.4.5 O perfil do hiperleitor

Com as questões a seguir, buscamos identificar as idéias que os

informantes possuem sobre a leitura hipertextual. Primeiramente, levantamos a

opinião sobre a leitura na internet.

• Pergunta 16

Para você a leitura de textos na internet é: ( ) Ótima, pois encontra motivação; ( ) Tranquila, não encontra dificuldades; ( ) Às vezes incômoda, pois cansa os olhos; ( ) Cansativa, por causa da posição.

As respostas foram:

GRÁFICO V

OPINIÃO DOS HIPERLEITORES EM RELAÇÃO À LEITURA EM TELA

As respostas obtidas nessa pergunta são reveladoras de um “divisor de

águas”, pois 41,5% dos informantes acham a leitura em tela tranquila, enquanto que

39,5% dos informantes a acha “às vezes” incômoda, pois cansa os olhos.

Realizando o somatório das respostas positivas chegamos a 50% enquanto que as

negativas somam 46,5%, o que nos permite identificar dois perfis de

leitores/usuários. Vale ressaltar que a formação dos perfis não está relacionada à

89

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Capítulo 3

diferença social, pois como podemos observar no gráfico acima os percentuais são

muito próximos nas duas redes.

• Pergunta 17

Quanto tempo você consegue ficar lendo diante da tela do computador/internet? * ( ) menos de 30 minutos seguidos ( ) de uma a duas horas seguidas ( ) por mais de três horas seguidas

As respostas foram colocadas no gráfico a seguir:

GRÁFICO VI

TEMPO DE LEITURA INDIVIDUAL DIANTE DA TELA DO COMPUTADOR

A pergunta teve por objetivo levantar o tempo dedicado à leitura na internet.

Acreditamos que seja importante salientar que a pergunta apenas focalizou o tempo

destinado à leitura de hipertextos, não se atendo ao tempo destinado pelos

informantes ao acesso de jogos, músicas, vídeos etc. Os dados obtidos em nossa

pesquisa demonstram que boa parte dos informantes (40%) não consegue ficar mais

90

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Capítulo 3

91

que 30 minutos seguidos diante da tela. No entanto, se unirmos o estrato de “uma a

duas horas seguidas” com o de “por mais de três horas seguidas” encontramos o

quadro invertido, ou seja, mais da metade dos informantes (60%) navegando por

mais de uma hora seguida.

Prosseguindo na análise dos resultados, identificamos nas respostas certa

convergência com a pergunta anterior, pois analisando alguns questionários mais

minuciosamente, observamos que os informantes que acham a leitura em tela

tranquila são os mesmos informantes que ficam mais tempo conectados à rede. Já

os que afirmam achá-la “às vezes” incômoda, muitas vezes são os informantes que

permanecem menos tempo diante da tela. Assim, podemos confirmar a ideia de dois

perfis de hiperleitores, os que gostam de ler textos em tela e os que não gostam.

• Pergunta 18

A última pergunta da pesquisa teve como objetivo levantar o perfil do

hiperleitor. Para isso perguntamos:

Se tivesse que classificar seu perfil como leitor de textos na internet você seria: ( ) Aquele que explora aleatoriamente as possibilidades proporcionadas pelos hiperlinks (caminhos da internet) sem medo de errar. Navega sem rumo fixo. ( ) Aquele que trilha os caminhos da internet com disciplina, é organizado e não foge muito do seu objetivo. Navega se adaptando com as dificuldades que os hiperlinks apresentam. ( ) Aquele que tem familiaridade com as artimanhas criadas pelo texto digital, que é capaz de prever as consequências de suas escolhas e que faz a navegação orientada. Navega sem fugir de seu objetivo.

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Capítulo 3

92

As respostas obtidas na pergunta foram:

Navega sem rumo fixo.

Navega se adaptando

Navega sem fugir do objetivo

Em branco

Pública 31% 29% 38% 2%

Privada 38% 21% 41% 0%

Total geral 34,5% 25% 39,5% 1%

Com base nos estudos de Santaella (2004), que apresenta três perfis para o

leitor imersivo: errante, detetive e previdente, pedimos aos informantes que

escolhessem a alternativa que apresentasse as características do perfil adotado, por

eles, na leitura digital. Porém, antes de demonstrarmos os dados obtidos,

nomearemos os perfis utilizados na pergunta.

Na primeira coluna, temos o perfil do leitor errante, aquele que navega sem

rumo fixo; na coluna do meio, o perfil do leitor detetive, aquele que se adapta com as

dificuldades do hipertexto e, por fim, na terceira, temos o perfil do leitor previdente,

aquele que já tem familiaridade com texto digital e navega sem fugir do seu objetivo.

Observamos por meio dos dados tabulados que temos entre os informantes:

34,5% que assinalaram a alternativa do hiperleitor errante, ou seja, que navegam

sem rumo fixo vagueando como um flâneur; 25% do hiperleitor detetive que

navegam se adaptando; e 39,5% do hiperleitor previdente, que possui o

conhecimento e as estratégias para uma boa navegação, que antecipa as

consequências de cada um de seus procedimentos porque já internalizou as regras

do jogo, assim, não foge de seu objetivo.

Neste capítulo, levantamos por meio dos dados do questionário que 96%

dos nossos informantes acessam a internet e que 54% desse percentual acessam a

rede diariamente. Identificamos também que os hiperleitores não buscam somente

sites de bate-papo, já que boa parte (40,25%) disse buscar sites para fazer

pesquisas escolares e ler textos para aprofundar seus conhecimentos gerais.

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Capítulo 3

93

Os dados demonstraram que mais da metade dos informantes estipula

objetivos a serem alcançados na leitura hipertextual e que os elementos

constitutivos do hipertexto não desviam o hiperleitor do seu caminho, visto que mais

da metade dos informantes respondeu que não clica em todo hotword ou hiperlink

presente no texto. De acordo com as respostas dadas pelos informantes,

levantamos que a concentração e a compreensão são mantidas por boa parte dos

hiperleitores, uma vez que 41,5% disseram não precisar reiniciar a leitura para poder

compreendê-la e 34,5% disseram “às vezes” adotar tal procedimento.

Quanto ao uso de estratégias de leitura, levantamos que os informantes

utilizam uma variedade delas, mas podemos destacar a manutenção de objetivo, o

uso de inferências e a ativação de conhecimentos prévios e estratégias de seleção,

entretanto, essa última é utilizada com menor frequência. Outro fator observado

pelos dados da pesquisa é que os hiperleitores adaptam os recursos propiciados

pelos navegadores da web como estratégias de leitura.

Por fim, por meio da pesquisa, foi possível identificar dois perfis de

hiperleitores de internet, os que gostam de ler na tela do computador (50%) e os que

não gostam (46,5%). Outro dado evidenciado pela pesquisa foi a identificação dos

perfis de leitura dos hiperleitores que detectou a presença de 34,5% de leitores

errantes, 25% de detetives e 39,5% de previdentes.

Destarte a análise dos resultados, verificamos que as estratégias de leitura

para o digital precisam ser ensinadas para os alunos, por isso a título de

exemplificação apresentamos, no próximo capítulo, algumas contribuições para

ensino da prática de leitura no ambiente digital.

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Capítulo IV

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Capítulo 4

A LEITURA DO HIPERTEXTO NO CONTEXTO ESCOLAR

“Aprender a aprender” é aprender a mudar sempre que necessário para sobreviver. (...) Quando um professor descobrir que não pode mais “dar aula” como vinha fazendo há centenas de anos, ele estará apto a aderir ao novo mundo, aprendendo a aprender.

(LIMA, 2000, p. 78)

Após termos realizado o levantamento do perfil dos hiperleitores e

identificado algumas estratégias utilizadas na leitura do texto digital, a título de

exemplificação, apresentaremos uma contribuição para a prática da leitura do

hipertexto em sala de aula com a finalidade de auxiliar na formação leitora do aluno.

Para tanto, ressaltamos que os Parâmetros Curriculares Nacionais para o

Ensino Médio (2000, p. 62-88) já abordam a importância de se aplicarem as

tecnologias da comunicação e da informação no ensino, como destaca o fragmento

É inegável que a escola precisa acompanhar a evolução tecnológica e tirar

o máximo de proveito dos benefícios que esta é capaz de proporcionar.

Longe de omitir-se em relação aos ganhos que a informática trouxe aos

sistemas de ensino ou de fanaticamente centrar seu ofício nos avanços

tecnológicos, o professor deve manter uma posição de equilíbrio...

E, ainda, salienta que

a escola pode se valer de tecnologias largamente utilizadas fora dela

visando promover passos metodológicos importantes para a sistematização

dos conhecimentos. Por exemplo:

• a navegação pela internet pode ser um procedimento sistemático na

formação de um leitor que domina os caminhos do hipertexto e da leitura

não linear.

Assim, como destacam os PCN, a leitura digital não pode ser deixada de

lado pelo educador, pois, na atualidade, já é parte integrante do cotidiano de nossos

95

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Capítulo 4

alunos. Levantamos por meio dos dados de nossa pesquisa, apresentados no

terceiro capítulo, que a tecnologia está presente na vida dos alunos, seja da rede

particular, seja da rede pública, sendo um dos fatores que difere o uso é a facilidade

do acesso em um e noutro contexto, visto que os alunos de rede particular (98%)

acessam em casa e os de rede pública se dividem entre o acesso em casa (44%) e

em lan houses (49%).

A presença da tecnologia na escola é uma realidade e seu uso já vem se

tornando um fato corriqueiro até mesmo nas escolas públicas do interior brasileiro13.

Entretanto, Silva (2003) diverge, parcialmente, das informações disponibilizadas pelo

MEC, uma vez que, ao discutir sobre a democratização do uso da tecnologia no

Brasil, revela que infelizmente o recurso não existe para todos. Para explicar seu

ponto de vista, utiliza-se da metáfora da leitura nos oceanos da internet:

“Metaforicamente falando, conforme a classe social do indivíduo e a região

onde ele habita, aqueles vastos e velozes oceanos transformam-se em

mares e vão se estreitando até se transformarem em rios, lagos, ribeirões,

riachos, fios d’águas, meras poças d’águas... ou então, o que vale para

determinadas regiões miseráveis brasileiras, como leitos secos onde não

existe ‘água’ informacional nenhuma, nem impressa e muito menos virtual”.

(SILVA, 2003, p.14)

No entanto, apesar da grande desigualdade social encontrada em algumas

regiões do Brasil, sabemos que temos aquelas em que o uso de computadores

cresce rapidamente, aumentando a rede de usuários a cada dia e, como relata Silva

(2003, p. 14), “impondo modos de aprendizagem, atualização e trabalho que não

eram conhecidos há poucos anos atrás”. Atualmente a exigência de manejo da

tecnologia é colocada como pré-requisito para uma significativa gama de empregos

e serviços nas grandes capitais.

Nossa pesquisa, em primeiro momento, visa a essa parcela de leitores que

possuem acesso à internet, levando em conta que não se trata de dar-lhes aula de _____________________

13 Salientamos que não estamos discutindo aqui a veracidade dessa informação, apenas nos respaldamos nas informações disponibilizadas pelo Ministério da Educação em seu portal http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=11548

96

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Capítulo 4

informática ensinando linguagens de programa como frequentemente ocorre em

algumas instituições de ensino pelo país. Um dos principais objetivos da escola é

ensinar-lhes estratégias de leitura para facilitar a compreensão do texto em tela.

Para isso, precisamos repensar nossas práticas de ensino, porque se o

suporte muda, consequentemente o modo de leitura também. Para TAPSCOTT

(1999, p. 138-145), a mudança envolve a forma do aprendizado, que deve ser

interativa. Para tal, o autor prenuncia oito mudanças no sistema de aprendizado

“tradicional”. São elas:

1. Do aprendizado linear para a hipermídia (Utilização de hipertextos que

possuem como característica definidora a não linearidade);

2. Da instrução para construção e descoberta (Os ambientes de

aprendizagem passam a ser desenvolvidos em parceria e os alunos passam a

aprender fazendo, construindo e reconstruindo seus conhecimentos);

3. Da educação baseada no professor para educação baseada no aluno (A

nova mídia permite a centralização da experiência do aprendizado no indivíduo e

não no transmissor);

4. De assimilar o material para aprender a navegar e como aprender (O

aluno aprende a sintetizar, não apenas a analisar, isto é, o aluno passa a avaliar e a

construir sua aprendizagem);

5. Do aprendizado escolar ao aprendizado vitalício (Na aprendizagem

interativa/digital o aprendizado é um processo contínuo e permanente);

6. De um-tamanho-para-todos ao aprendizado individualizado (Essa

modalidade de aprendizagem permite que o aprendiz seja tratado de forma

individualizada, respeitando suas experiências, sua faixa etária, sua preferência

etc.);

7. Do aprendizado como tortura14 ao aprendizado como diversão (O ensino

deve ser visto também como entretenimento, para assim desenvolver no aprendiz

motivação, prazer e a responsabilidade pelo aprendizado);

_______________ 14 TAPSCOTT (1999) comenta que a palavra tortura é um exagero, mas acredita que o aprendizado transmitido seja pouco estimulante.

97

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Capítulo 4

8. Do professor como transmissor ao professor como facilitador (O

professor passa a ser facilitador do aprendizado social atuando como consultor,

conselheiro, orientador etc.).

As mudanças prenunciadas por TAPSCOTT (1999) estão em consonância

com as mudanças necessárias apontadas nos PCN, que defendem a importância da

escola acompanhar a evolução tecnológica e tirar o máximo proveito dos recursos

disponibilizados por ela. Dessa forma, o texto digital (hipertexto) vem ampliar e

facilitar a circulação de diferentes formas de informação e pensamento, tudo em um

só ambiente, numa só máquina. Entretanto, o aprendizado na rede requer

acompanhamento, pois a internet é uma espécie de labirinto digital (LEÃO, 2000).

A facilidade que a internet proporciona de acessar textos codificados em

diferentes linguagens torna-se um desafio para o hiperleitor, já que muitos são os

questionamentos que o aluno faz ao se deparar com a rede: Como chegar a algum

lugar nesse labirinto? Como estabelecer unidade nesse universo de conexões?

Como se apropriar de conhecimento nesse mar de informações? Como atingir o

objetivo proposto? Como reconhecer se o conteúdo acessado é de qualidade?

Algumas questões podem ser resolvidas quando o aluno possui boa

orientação tecnológica e sabe ativar estratégias de leitura para o estabelecimento da

compreensão. Todavia, observamos que, para essa orientação é necessário, certo

letramento digital (XAVIER, 2005b), isto é, o aluno/usuário precisa saber como

utilizar tecnologias digitais de forma significativa.

Para Xavier (2005b) o letramento digital não é a mesma coisa que

alfabetização, porque podemos ter na sociedade pessoas letradas que são

“analfabetas digitais”. Para ser um letrado digital é preciso assumir mudanças nos

modos de ler e escrever os códigos e sinais verbais e não verbais. Xavier (2005b,

p.4) afirma que para ser um letrado digital o sujeito precisa desenvolver novas

competências para realizar as atividades de leitura e de escrita, tais como:

_ saber controlar a velocidade do próprio ato de apreender, gerenciar e compartilhar

as informações;

98

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Capítulo 4

_ saber verificar on-line pela internet a autenticidade e a qualidade das informações

apresentadas nos sites, com condição de comprovar ou corrigir os dados expostos

virtualmente em um site da grande rede;

_ saber ampliar o dimensionamento da significação das palavras, imagens e sons

por onde chegam as informações a serem processadas na mente.

As competências descritas por Xavier (2005b), quando são ensinadas, podem

significar um avanço para a leitura digital do aluno, já que não se trata, apenas, de

uma mudança de suporte, mas de uma mudança cultural, educacional e social.

4.1 Lendo hipertextos em tela

Os dados da pesquisa indicaram que os hiperleitores possuem

conhecimentos empíricos sobre o texto e sua leitura em contexto digital. Contudo,

acreditamos que seja necessário, para o aluno, situar-se no ambiente proporcionado

pela rede. Bezerra (2007) aponta que há dois modos de leitura em tela: “o modo de

leitura” e “o modo de navegação”. O primeiro corresponde à leitura tradicional, ou

seja, de forma linear e o segundo, “modo de navegação”, consiste no caminho que o

hiperleitor percorre pelos sites, construindo o seu próprio caminho ao ativar os links.

De acordo com Fitzgibbons (2008), os gêneros desempenham um papel

importante no modo como lemos os hipertextos. Nesse sentido, o autor explica, por

exemplo, que os gêneros acadêmicos digitais são geralmente apresentados para

uma leitura tradicional e os poucos links existentes nessa produção estão

relacionados às referências bibliográficas. Já os gêneros jornalísticos devem ser

lidos pelo “modo de navegação”, pois, como possuem muitos links, os hiperleitores

vão fazendo suas escolhas, consequentemente conduzindo o rumo de sua leitura.

Em suma, os gêneros digitais determinam o modo de leitura e as estratégias que o

leitor deverá acionar na leitura.

Ainda sobre os gêneros do texto, Cintra (2008) destaca a importância de o

leitor dispor de conhecimentos sobre gêneros textuais, embora esse conhecimento 99

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Capítulo 4

nem sempre se dê de forma muito consciente. Para a autora, o fato do leitor saber

distinguir um gênero do outro, mesmo que intuitivamente, pode auxiliá-lo na

compreensão do texto.

4.1.1 Particularidades da leitura em tela

De acordo com estudos de Nielsen (2006), a leitura em tela é muito diferente

da leitura do texto impresso. A partir de estudos realizados através de uma

ferramenta chamada Eye Tracking, que possibilita o monitoramento do movimento

ocular de acordo com estímulos apresentados, foi possível observar os pontos de

visualização/fixação dos hiperleitores em tela. A pesquisa observou que a trilha

traçada pelo olhar do leitor estabelece um trajeto na forma de um F. Evidentemente,

este não é um padrão exato, mas foi percebido em alguns casos, como se pode ver

nas imagens abaixo:

Figura 5 - Imagens do mapa de calor em três telas diferentes, analisadas pelo pesquisador.

Fonte: http://www.useit.com/alertbox/reading_pattern.html

100

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Capítulo 4

Para Nielsen (2006), o foco visual dos usuários parece repetir-se,

independentemente dos websites consultados como demonstra a figura acima. O

pesquisador descreve esse processo de construção do F da seguinte forma:

Primeiramente, os leitores leem dentro de um movimento horizontal,

normalmente, através da parte superior da página. Essa etapa inicial dá forma à

barra superior do F.

Depois, os leitores movem a página ligeiramente para baixo e leem novamente

outra linha, realizando um segundo movimento horizontal que forma a barra inferior

do F.

Por fim, os leitores realizam uma leitura rápida (escaneio) em um movimento

vertical do lado esquerdo do conteúdo. Às vezes, esse escaneio ocorre de forma

lenta e sistemática que aparece como uma lista sólida no mapa de calor, formando a

haste do F.

Como podemos verificar pelas imagens e descrições de Nielsen (2006), a

leitura em tela demanda do hiperleitor um posicionamento diferente, que envolve,

dentre tantos os fatores, o uso de recursos técnicos e estratégias de leitura.

4.1.2 Alinhando os recursos técnicos

Identificamos em nossa pesquisa que 46,5% dos informantes acham

negativa a leitura em tela, primeiro por ser cansativa (por causa da posição física) e,

segundo por ser às vezes incômoda (pois cansa os olhos). Acreditamos que esses

fatores possam ser amenizados quando os hiperleitores são orientados a utilizar

alguns recursos, tais como:

Aumento do nível do zoom do monitor (o ideal é trabalhar com 140%) contribui

para que as vistas não fiquem cansadas;

A adequação (personalização) da cor do display (cor do fundo da tela) contribui

para que as vistas não fiquem cansadas;

Uso de assentos adequados ameniza o desconforto físico;

101

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Capítulo 4

Realização de pausas a cada 30 minutos de leitura contribuem para evitar o

desconforto físico.

4.1.3 Estratégias de pré-leitura Se o hiperleitor conhece as características do hipertexto, já possui certa

orientação para iniciar a busca por um objetivo. Isso é visto pelos pesquisadores,

Rouet & Levonen (1996); Folts (1996), Solé (1998) e por Koch & Elias (2006), como

o elemento fundamental para uma leitura mais proficiente, visto que envolve

autodireção.

Sendo assim, o hiperleitor quando possui um objetivo, inicia uma sessão de

navegação, isto é, da atividade a seu primeiro actema (Rosenberg, 2002). Nesse

momento, ativa a próxima estratégia de pré-leitura que é o uso da predição. O

hiperleitor precisa saber decidir para onde ir e, para isso, precisa acionar seus

conhecimentos prévios sobre o assunto realizando uma leitura escaneio (Nielsen,

2006). Observemos como esse escaneio ocorre em um site de busca:

Figura 6 – Tela retirada do site www.google.com.br

102

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Capítulo 4

O hiperleitor tem vários caminhos para escolher (hiperlinks), no entanto, ao

acionar a estratégia de leitura de predição, vai eliminando os links que não o levarão

a seu objetivo, pois, por meio de antecipações do conteúdo, prediz se aquele

caminho levará ou não ao seu objetivo.

No hipertexto, o processo de leitura ocorre por tentativa e erro. A cada

hiperlink acionado, o hiperleitor aciona a estratégia de scanning para achar algo que

o prenda ao texto. Quando encontra algo que lhe gere expectativa, ativa uma nova

estratégia, a de skimming buscando, entender as ideias e conceitos principais

apresentados no hipertexto. Para isso, recorre ao título, subtítulos, ilustrações,

autoria do texto e todos os índices que possam ser esclarecedores.

Figura 7 – Tela retirada do site http://prossiga.ibict.br/bibliotecas/

Como bem destaca Xavier (2005b), o hiperleitor precisa desen

competência de saber verificar on-line a autenticidade das info

apresentadas nos sites, com condição de comprovar ou corrigir os dados

virtualmente. Nesse momento, mais duas estratégias são a

Título

Sub-título

Ilustrações

Fonte

volver a

rmações

expostos

cionadas

103

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Capítulo 4

inconscientemente pelo leitor, a ativação dos conhecimentos prévios sobre o

assunto e o uso de inferências.

De acordo com Solé (1998), os conhecimentos prévios exercem uma

influência muito grande no processo de compreensão do texto. Além disso, são eles

que levam o leitor a criticar, utilizar, recomendar ou até rejeitar um texto.

104

Figura 8 – Telas retiradas dos sites: www.google.com.br - http://www.educacao.sp.gov.br/ -

http://portal.mec.gov.br/index.php

No processo de escolha, o hiperleitor vai ativando links até selecionar um

hipertexto que aborde seu objetivo de leitura. Nesse momento, ele dá início ao uso

das estratégias para “durante a leitura”, porém, isso não implica o abandono das

estratégias já ativadas na pré-leitura, uma vez que a leitura é um processo contínuo

de formulação e verificação de hipóteses (Solé, 1998).

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Capítulo 4

É preciso ressaltar que as estratégias aqui descritas não possuem uma

ordem sequencial, uma vez que podem ser acionadas de maneira concomitante por

estarem relacionadas aos objetivos de leitura do hiperleitor.

4.1.4 Estratégias para durante a leitura

A título de exemplificação, nos posicionamos como hiperleitores, a fim de

simuladamente tratarmos das estratégias utilizadas pelo hiperleitor durante a leitura

do hipertexto. Entretanto, ressaltamos que se trata de apenas uma possibilidade,

uma vez que na hiperleitura o leitor é livre para trilhar seu caminho.

Para realizarmos a demonstração, selecionamos a notícia “Professores são

unânimes: treino é o caminho seguro para uma boa redação”, escrita por Ana Okada

e Simone Harnik, disponibilizada pelo portal UOL no dia 24 de março de 2009.

Figura 9 – Tela retirada do site http://vestibular.uol.com.br/ultnot/2009/03/24/ult798u24720.jhtm

105

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Capítulo 4

Primeiramente, o hiperleitor se depara apenas com dois parágrafos da

notícia e a partir disso, faz previsões sobre o conteúdo do texto. Essas previsões

serão confirmadas ou rejeitadas no decorrer da leitura. Para tanto, o leitor levanta

hipóteses sobre o título da notícia, o meio de veiculação, sua organização, sua

autoria etc. Solé (1998) salienta que estas previsões/antecipações devem ser

confirmadas no texto, caso não sejam, devem ser reformuladas ou substituídas por

outras.

À medida que estabelece relação da informação dada com os seus

conhecimentos prévios sobre o assunto, o hiperleitor constrói uma interpretação

para o fragmento de texto atualizado. No entanto, na tela do computador, o

hiperleitor não tem a visão geral do texto. Para lê-lo, é necessário ir descendo a

barra de rolagem para aos poucos ir desvendando o conteúdo do texto.

Barra de rolagem

Segundo fragmento do texto

Figura 10 – Tela retirada do site http://vestibular.uol.com.br/ultnot/2009/03/24/ult798u24720.jhtm

É aconselhável que o hiperleitor mantenha o foco em seu objetivo durante a

hiperleitura, a fim de garantir a produção de um sentido global para os textos

atualizados. Cada vez que aciona a barra de rolagem, uma nova parte do texto é

desvendada e consequentemente várias estratégias são acionadas para o

estabelecimento de relações entre os conhecimentos anteriormente constituídos e 106

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Capítulo 4

as informações novas presentes no novo fragmento de texto. Dentre outras

estratégias, o hiperleitor ativo faz inferências e estabelece comparações (Koch &

Elias, 2006) para chegar à compreensão do texto.

Outro aspecto que requer atenção do hiperleitor são interconectores (links e

hotwords). Apesar de levantarmos em nossa pesquisa que mais da metade dos

informantes não clicam na maior parte dos hiperlinks presentes no hipertexto, o

hiperleitor precisa ter atenção a esses fatores, já que podem levá-lo a enveredar-se

por caminhos sem volta. As setas no hipertexto abaixo, mostram as possibilidades

de conexões:

Figura 11 – Tela retirada do site http://vestibular.uol.com.br/ultnot/2009/03/24/ult798u24720.jhtm

Tendo em vista que na leitura hipertextual o texto não se apresenta como

um “todo” que tem começo, meio e fim, espera-se do hiperleitor a exploração dos

links e a construção de conexões coerentes entre eles. Assim, afirmamos, com Koch

(2005), que as interconexões não são negativas para leitura e destacamos que

os links desempenham função coesiva por amarrarem as informações,

‘soldando’ peças esparsas de maneira coerente. Por essa razão, é

importante para o produtor atar os hiperlinks de acordo com certa ordem

semântico-discursiva, de modo a garantir ao hiperleitor a fluência de leitura

107

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Capítulo 4

e o encaminhamento da compreensão sem excessivas interrupções ou

rupturas cognitivas. [...] Os links funcionam, portanto, como portas de

entrada para outros espaços, visto que remetem o leitor a outros textos

virtuais que vão incrementar a leitura. (KOCH, 2005, p.2)

No entanto, o hiperleitor precisa ter um eixo norteador para suas ações, caso

contrário, como bem comenta Marcuschi (1999), pode fazer escolhas muitas vezes

inconsequentes e ligar-se a textos não correlacionados a seus objetivos de leitura,

gerando o que o autor denomina de stress cognitivo.

De modo geral, podemos dizer que, “durante” a leitura hipertextual ou em um

episódio (ROSENBERG, 2002), o leitor aciona várias estratégias praticamente de

forma simultânea ao longo da atividade de leitura. Conforme afirmam Serra e Oller

(2003), a ativação de determinada estratégia dependerá do tipo de texto e do

conhecimento prévio que o leitor obtém sobre o assunto.

4.1.5 Estratégias de pós-leitura

Segundo Solé (1998), após realizarmos a leitura de um texto, devemos

ativar estratégias de pós-leitura para verificarmos se ocorreu a compreensão da

leitura. Contudo, vale salientar que as estratégias que serão aqui mencionadas

podem ser ativadas em qualquer momento da leitura, já que “não é possível

estabelecer limites claros entre o que acontece antes, durante e depois da leitura”

(p.134)

Após a leitura podemos, primeiramente, ativar estratégias que nos levem à

identificação do tema e da ideia principal do texto. Para explicar como funciona essa

estratégia, Solé (1998) apresenta os estudos de Aulls (1990) que distingue o tema

da ideia principal. Para o autor, tema é aquilo que indica do que se trata o texto,

podendo ser expresso por uma palavra ou um sintagma. A fim de depreendê-lo, o

autor sugere a seguinte questão “De que trata este texto?”.

108

Para Aulls (1990), a ideia principal é o enunciado (ou enunciados) mais

importante utilizado para explicar o tema. Essa ideia pode aparecer explícita ou

implicitamente no texto. Para o autor, ideia principal é a resposta à seguinte

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Capítulo 4

pergunta “Qual é a ideia mais importante que o autor pretende explicar com relação

ao tema?”

É importante destacar que as respostas para questões sugeridas por Aulls

(1990) vão variar de acordo com os objetivos de leitura do leitor e de seus

conhecimentos prévios sobre o assunto.

O hiperleitor, após finalizar a leitura de um episódio (grupo de actemas

acionado pelo leitor para formar um todo coerente), busca depreender de sua leitura

o tema e a ideia principal do texto. Simultaneamente, o hiperleitor aciona outra

estratégia de leitura: a de elaboração de resumo. Para Solé (1998), a estratégia de

resumo está estreitamente ligada às estratégias necessárias para o reconhecimento

do tema e da ideia principal de um texto, já que a síntese se constrói no processo da

leitura e é produto da interação entre autor-texto-leitor.

Assim, a estratégia de resumo auxilia na compreensão da leitura, uma vez

que o hiperleitor extrai do texto informações e conceitos em função de seu (seus)

objetivo (objetivos).

Podemos, ainda, ressaltar a estratégia apontada por Oller & Serra (2003)

que diz respeito à avaliação e integração de nova informação e reformulação, se

necessário, das ideias iniciais. O objetivo dessa estratégia é fazer o hiperleitor refletir

sobre a informação recebida e avaliá-la com base em seus conhecimentos prévios.

Assim, como destacam os pesquisadores, o leitor completa o ciclo iniciado com a

interação do autor-texto-leitor.

109

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para melhor compreender a prática da leitura hipertextual, elaboramos

nosso estudo que teve como objetivo identificar as estratégias utilizadas por

alunos de ensino médio na leitura de hipertextos. Além disso, objetivamos

contribuir para o ensino da leitura em contexto digital, tendo como ponto de

partida o conhecimento prévio do aluno constituído empiricamente sobre o

modo de constituição e de leitura de textos na internet.

A fim de responder as questões: 1) qual o perfil do jovem leitor de

textos na internet? 2) que estratégias são utilizadas por eles durante a leitura

do hipertexto? elaboramos um questionário e aplicamos aos alunos.

Em relação à primeira questão, os dados obtidos apontaram que os

hiperleitores, aqui estudados como leitores imersivos, em sua grande maioria,

estão entre os previdentes e os errantes, seguidos pelos detetives, segundo

categorização proposta por Santaella (2004). Os dados indicaram também

que as características do leitor imersivo, tais como: dinamismo, visão

multiativa para acompanhar a movimentação das animações e mente

distribuída concedem ao hiperleitor as possibilidades de realizar ao mesmo

tempo uma variedade de operações (ler, escutar e olhar tudo

simultaneamente), aspecto esse que merece novas investigações em se

tratando da leitura hipertextual e de seus sentidos.

Quanto à segunda questão, os dados identificaram que os hiperleitores

utilizam estratégias de leitura como, por exemplo, a manutenção de objetivo, o

uso de predição, a ativação de conhecimentos prévios, o uso de inferências e

estratégias de seleção. Também notamos que os hiperleitores utilizam os

recursos propiciados pelos navegadores da web, demonstrando o

conhecimento que possuem sobre o mundo da internet.

110

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111

Os dados ainda revelaram que os elementos constitutivos do hipertexto

(hiperlinks) não atrapalham na concentração e na compreensão da leitura do

hiperleitor, desde que esse tenha um objetivo a seguir.

Por fim, o nosso trabalho aponta para a importância de se trabalhar

com o hipertexto em sala de aula, uma vez que os dados da pesquisa

comprovam que a maior parte dos informantes acessa a internet diariamente e

utiliza a ferramenta para realizar pesquisas escolares.

Além disso, é de conhecimento geral, o elevado crescimento da leitura

em contexto digital. Basta lembrar que no Estado de São Paulo uma nova

legislação educacional permite que escolas do Estado ofereçam até 20% da

carga horária do Ensino Médio na modalidade à distância, fato esse exige do

aluno capacidade leitora diante da tela do computador. Acreditamos que o

trabalho por ora concluído possa contribuir para se pensar o ensino da leitura

em contexto digital.

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Referências Bibliográficas

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