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handout preparado para aula de literatura brasileira
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Alguém
(Gonçalves Crespo) Para alguém sou o lírio entre os abrolhos,E tenho as formas ideais do Cristo;Para alguém sou a vida e a luz dos olhos, E, se na terra existe, é porque existo. Esse alguém, que prefere ao namorado Cantar das aves minha rude voz,Não és tu, anjo meu idolatrado!Nem, meus amigos, é nenhum de vós! Quando, alta noite, me reclino e deito, Melancólico, triste e fatigado,Esse alguém abre as asas no meu leito, E o meu sono desliza perfumado. Chovam bênçãos de Deus sobre a que chora Por mim além dos mares! Esse alguémÉ de meus dias a esplendente aurora,Es tu, doce velhinha, oh minha mãe!
Carta de Gonçalves Crespo à Machado
“Coimbra, 6 de junho de 1871, Couraça de Lisboa, nº 93.
Exmo. Senhor Machado de Assis.
Enviei há 15 dias a V. Excia. meu primeiro livro. Não lhe escrevi então, o que agora faço. O livro teve aqui bom acolhimento, e foi saudado espontaneamente, o que me admira em extremo, porque eu não sou português e não andava envolvido nestas tricas de compadrios, que por aqui dizem as más línguas – abundam. Foram quatro os escritores meus patrícios a quem tive a honra de enviar o meu livro: V. Excia., P. Guimarães, Alencar e Macedo. Fui aconselhado pelo autor do Colombo, que desde a minha publicação me distinguiu com a sua amizade que eu fiz os tais oferecimentos. A V. Excia, já eu conhecia de nome há bastante tempo. De nome e por uma secreta simpatia que para si me levou quando
me disseram que era... de cor como eu. Será? Se o não é nem por isso me deixa de ser agradável travar conhecimento com V. Excia., e assinar-me aqui com toda a efusão de uma sincera simpatia e afetuoso respeito. De V. Excia. patrício e humilde respeitador. G. Crespo”.
Os Timbiras
(Gonçalves Dias)
(...)“São torpes os anuns que em bandos folgam, São maus os caitetus, que em varas pascem, Somente o sabiá geme sozinho, E sozinho o Condor aos céus remonta. Folga Jatir de só viver consigo: Em bem, que tens agora que dizer-lhe? Esmaga o seu tacape a quem vos prende, A quem vos dana, afoga entre os seus braços, E em quem vos acomete, emprega as setas. Fraco! não temes já que te não falte O primeiro entre vós, Jatir, meu filho?” Despeitoso Itajubá, ouvindo um nome. Embora o de Jatir, apregoado Melhor, maior que o seu, a testa enruga E diz severo aos dois qu’inda argumentam Mais respeito, mancebo, ao sábio velho, Qu’éramos nós crianças, manejava A seta e o arco em defensão dos nossos. Tu, velho, mais prudência. Entre nós todos O primeiro sou eu: Jatir, teu filho, E forte e bravo; porém novo. Eu mesmo Gabo-lhe o porte e a gentileza; e aos feitos Novéis aplaudo: bem maneja o arco, Vibra certeira a flecha; mas...(sorrindo Prossegue) afora dele inda há quem saiba Mover tão bem as armas, e nos braços Robustos, afogar fortes guerreiros. Jatir virá, senão... serei convosco. (Disse voltado para os seus, que o cercam)