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Haicai, concisão e objetividade em dezessete sílabas poéticas Haicai é um micropoema de origem japonesa no qual a concisão, poder de síntese e objetividade são dispostos em dezessete sílabas poéticas em três versos. Originalmente corresponde a dezessete caracteres japoneses dispostos verticalmente, geralmente acompanhados de uma pintura (haiga), cada qual correspondendo a uma sílaba poética, sendo que em português os versos são dispostos horizontalmente, conforme a tradição da escrita ocidental da maneira seguinte: cinco sílabas no primeiro verso, sete no segundo e cinco no terceiro, geralmente sem rimas. Em geral os temas são fruto da observação da natureza, contendo quase sempre uma palavra que dê uma pista sobre a estação em que foi observada (kigo). Porém essa rigidez da métrica não é sempre seguida por determinados autores, limitando- se estes à composição dos três versos, principalmente devido à diferença de silabação entre a língua portuguesa e japonesa. No entanto, primo pela composição clássica de haicais que obeceçam fielmente à tradição japonesa das dezessete sílabas poéticas. Atribui-se a chegada do haicai no Brasil com os imigrantes que aportaram à bordo do navio Kasato Maru, em 1908, quando Hyôkotsu teria produzido o primeiro haicai: "A nau imigrante Chegando, vê-se do alto A cascata seca" Um dos maiores nomes do haicai japonês é Matsuo Bashô (1644-1694), autor do seguinte haicai, um dos mais famosos: "O velho tanque Uma rã mergulha Barulho de água" Ao ler esse poema transcendemos o escrito e podemos imaginar a cena descrita pelo poeta, sentir propriamente a atmosfera de calma, silêncio, umidade, quebrados pelo barulho da rã ao cair na água. Esse é o poder e o fascínio do haicai. Lúcio Torres

Haicai, concisão e objetividade em 17 sílabas poéticas

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Haicai, micropoema de origem japonesa.

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Haicai, concisão e objetividade em dezessete sílabas poéticas Haicai é um micropoema de origem japonesa no qual a concisão, poder de síntese e objetividade são dispostos em dezessete sílabas poéticas em três versos. Originalmente corresponde a dezessete caracteres japoneses dispostos verticalmente, geralmente acompanhados de uma pintura (haiga), cada qual correspondendo a uma sílaba poética, sendo que em português os versos são dispostos horizontalmente, conforme a tradição da escrita ocidental da maneira seguinte: cinco sílabas no primeiro verso, sete no segundo e cinco no terceiro, geralmente sem rimas. Em geral os temas são fruto da observação da natureza, contendo quase sempre uma palavra que dê uma pista sobre a estação em que foi observada (kigo). Porém essa rigidez da métrica não é sempre seguida por determinados autores, limitando-se estes à composição dos três versos, principalmente devido à diferença de silabação entre a língua portuguesa e japonesa. No entanto, primo pela composição clássica de haicais que obeceçam fielmente à tradição japonesa das dezessete sílabas poéticas. Atribui-se a chegada do haicai no Brasil com os imigrantes que aportaram à bordo do navio Kasato Maru, em 1908, quando Hyôkotsu teria produzido o primeiro haicai: "A nau imigrante Chegando, vê-se do alto A cascata seca" Um dos maiores nomes do haicai japonês é Matsuo Bashô (1644-1694), autor do seguinte haicai, um dos mais famosos: "O velho tanque Uma rã mergulha Barulho de água" Ao ler esse poema transcendemos o escrito e podemos imaginar a cena descrita pelo poeta, sentir propriamente a atmosfera de calma, silêncio, umidade, quebrados pelo barulho da rã ao cair na água. Esse é o poder e o fascínio do haicai. Lúcio Torres