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Idade Contemporânea - O Século XX IDADE CONTEMPORÂNEA - SÉCULO XX 1999 No quadro internacional, a oposição entre capitalismo e socialismo foi levada ao extremo após 1945, numa bipolarização política, ideológica e militar que afetou todo o mundo contemporâneo. GUERRA FRIA A Guerra Fria foi uma disputa pela hegemonia mundial entre Estados Unidos e URSS (atual Federação Russa). Ë uma intensa guerra econômica, diplomática e tecnológica pela conquista de zonas de influência. Ela divide o mundo em dois blocos, com sistemas econômicos e ideológicos opostos: o mundo capitalista, liderado pelos EUA, e os socialistas, liderados pela URSS. Essa oposição divide o mundo, provocando uma corrida armamentista de 40 anos, onde o mundo fica sob ameaça de uma guerra nuclear. Após a II Guerra Mundial, os soviéticos controlam os países do Leste Europeu, e os norte-americanos tentam manter o resto da Europa sob sua influência. Através de investimentos de ambas as partes (EUA e URSS) em suas áreas de influência, eles iam conquistando cada vez mais adeptos. A Doutrina Truman Nessa corrida para conseguir mais aliados, os EUA tomaram consciência de seu poder e de sua responsabilidade de garantir a permanência e o funcionamento do capitalismo mundial. No início de 1947, os EUA suspenderam a desmobilização de suas tropas e começaram o rearmamento. Em 12 de março de 1947, o presidente Harry Truman discursou ante o Congresso Nacional, assumindo o compromisso de liderar o mundo capitalista contra o avanço socialista,

Guerra Fria, Bipolarização e Era Vargas (História)

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Idade Contemporânea - O Século XXIDADE CONTEMPORÂNEA - SÉCULO XX

1999

No quadro internacional, a oposição entre capitalismo e socialismo foi levada ao extremo após 1945, numa bipolarização política, ideológica e militar que afetou todo o mundo contemporâneo.

GUERRA FRIA

A Guerra Fria foi uma disputa pela hegemonia mundial entre Estados Unidos e URSS (atual Federação Russa). Ë uma intensa guerra econômica, diplomática e tecnológica pela conquista de zonas de influência. Ela divide o mundo em dois blocos, com sistemas econômicos e ideológicos opostos: o mundo capitalista, liderado pelos EUA, e os socialistas, liderados pela URSS. Essa oposição divide o mundo, provocando uma corrida armamentista de 40 anos, onde o mundo fica sob ameaça de uma guerra nuclear.

Após a II Guerra Mundial, os soviéticos controlam os países do Leste Europeu, e os norte-americanos tentam manter o resto da Europa sob sua influência. Através de investimentos de ambas as partes (EUA e URSS) em suas áreas de influência, eles iam conquistando cada vez mais adeptos.

A Doutrina Truman

Nessa corrida para conseguir mais aliados, os EUA tomaram consciência de seu poder e de sua responsabilidade de garantir a permanência e o funcionamento do capitalismo mundial. No início de 1947, os EUA suspenderam a desmobilização de suas tropas e começaram o rearmamento. Em 12 de março de 1947, o presidente Harry Truman discursou ante o Congresso Nacional, assumindo o compromisso de liderar o mundo capitalista contra o avanço socialista, originando a Doutrina Truman. Segundo o espírito da doutrina o secretário de Estado norte-americano, Marshall, anunciou a disposição dos Estados Unidos em ajudar a disposição dos Estados Unidos em ajudar financeiramente na reconstrução da Europa, originando o Plano Marshall, como objetivo de promover a restauração do capitalismo na Europa, tentendo impedir o avanço socialista. O Plano Marshall é praticamente um complemento da Doutrina Truman, pois esta visava a proteção do mundo capitalista, enquanto o Plano Marshall objetivava a ampliação do mundo capitalista.

Nos anos 50 e 60, a política norte-americana de contenção da expansão comunista leva à participação do país na Guerra da Coreia e na Guerra do Vietnã. A Guerra Fria repercute na própria política interna dos EUA, com o chamado macarthismo ( movimento iniciado nos EUA em 1951 pelo senador Joseph Macarthy, caracterizado pela perseguição a pessoas acusadas de serem simpatizantes do comunismo).

A Guerra Fria amplia-se a partir de 1949, quando os soviéticos explodem sua primeira bomba atômica e inauguram a corrida nuclear. Os EUA testam novas armas nucleares

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no Atol de Bikini, no Pacífico, e, em 1952, explodem a primeira bomba de hidrogênio. A URSS lança a sua em 1955. As superpotências criam blocos militares reunindo seus aliados, coma a OTAN, que agrega os anticomunistas, e o Pacto de Varsóvia do bloco socialista.

Com a descoberta da instalação de mísseis soviéticos em Cuba, em 1962, os EUA ameaçaram um ataque nuclear e abordam navios soviéticos no Caribe. A URSS recua e retira os mísseis. O perigo aumenta com a entrada do Reino Unido, França e China no rol dos detentores de armas nucleares. Há suspeitas de que outros países também tenham a bomba, como Índia, Paquistão e Israel. Em 1973, as superpotências concordam em desacelerar a corrida armamentista, fato conhecido como Política da Détente. Esse acordo dura até 1979, quando a URSS invade o Afeganistão.

Em 1985, com a subida ao poder do líder soviético Mikhail Gorbatchev, a tensão e a guerra ideológica entre as superpotências começam a diminuir. O símbolo da Guerra Fria é a queda do Muro de Berlim, em 1989. A Alemanha é reunificada, e aos poucos dissolvem-se os regimes comunistas do Leste Europeu. Com a desintegração da Própria URSS, em 1991 o confronto entre capitalismo e comunismo cede lugar às contradições existentes entre o hemisfério norte, que reúne os países desenvolvidos, e o hemisfério sul, onde está a maioria dos países subdesenvolvidos.

O fim da União Soviética

O governo Gorbatchev produziu uma verdadeira revolução no bloco socialista, afetando por completo as relações econômicas e políticas em um nível nacional e internacional.

NA URSS, Gorbatechev teve de enfrentar, por um lado, a passividade e a inércia burocráticas, desorganizando a já limitada produção econômica, e, por outro, as pressões dos grupos que desejavam reforma mais rápidas e profundas. Além disso, enfrentou uma crescente popularidade interna por causa de dois fatores: a grande questão do separatismo nacionalista no interior das fronteiras do pais, e o desabastecimento interno, com as filas e manifestações de desespero social, ampliado pelas elites burocráticas, contrárias às reformas, que dirigiam a economia soviética.

Em agosto de 1991, membros da burocracia conservadora afastaram Gorbatchev do poder, num golpe que procurava reverter o quadro polítivo-econômico da URSS, berando o controle. Bóris Yeltsin, presidente da principal república soviética, a Rússia, e líder dos ultra-perestroikistas, convocou uma greve geral e obteve o apoio de civis e militares que, derrotaram os golpistas.

Tal foi o prestígio obtido por Yeltsin pela vitória contra o golpe, que ele se transformou no principal líder político soviético, sobrepondo-se mesmo ao próprio Gorbatchev que, ao voltar ao poder viu-se obrigado a renunciar o cargo de secretário-geral do PUCS e dissolver o partido, que era acusado de ligação com os golpistas, ficando apenas com a presidência da enfraquecida União Soviética.

Em meio à velocidade dos acontecimentos, em setembro de 1991, depois das declarações unilaterais de independência da repúblicas bálticas (Estônia, Lituânia e Estônia) e sucessivos distúrbios e conflitos com tropas soviética, Gorbatchev

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reconheceu oficialmente a soberania dos três Estados, que, em seguida foram admitidos na ONU.

O golpe final contra Gorbatchev, deu-se em dezembro de 1991, quando a Rússia de Yeltsin, juntamente com a Ucrânia e Bielarus assinaram o acordo de Minsk (capital de Bielarus), proclamando o fim da União Soviética e a criação da Comunidade dos Estados Independentes (CEI) que, pouco depois, obteve a adesão de outras ex-repúblicas da URSS. Dias depois, em 25 de dezembro do mesmo ano, Gorbatchev renunciava ao cargo de presidente da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, país que já não existia mais.

SOCIALISMO NA CHINA E EM CUBA

Em 1949, Mao Tsé-tung liderou uma revolução popular que sepultou a velha condição de "quintal do mundo" que caracterizara a China desde o século XIX. A força do sentimento nacional e a atuação do Partido Comunista Chinês criaram uma via socialista independente, que se desgarrou do bloco monolítico soviético e até se rivalizou com ele. Os fundamentos da ideologia marxista indicavam que a revolução se faria baseada no operariado urbano; na China, a liderança foi da população rural, o que firmou sua singularidade política, em plena Guerra Fria.

A autonomia do socialismo chinês foi conseguida gradualmente, passando por acordos iniciais com a União Soviética e chegando aos atritos e rupturas do final dos anos 50 e início dos 60.

Quanto a Cuba, o socialismo foi estabelecido em meio à derrubada de uma ditadura apoiada pelos Estado Unidos, originando um Estado que ativou diversas políticas alinhadas com os soviéticos e o Leste europeu, mergulhando em dificuldades após o fim da Guerra Fria.

A China comunista

Vitorioso em 1949, o Partido Comunista Chinês, aproximou-se da União Soviética, assinando o Tratado de Amizade, Aliança e Ajuda com o presidente Stálin. No plano interno, o novo governo adotou medidas drásticas, como a nacionalização das indústrias e a reforma agrária, para enfrentar as dificuldades econômicas, que ressurgiram com a Guerra da Coréia (1950). O primeiro plano qüinqüenal, anunciado em 1935 por Chou En-lai, propunha uma nova linha geral de transição para o socialismo, priorizando a indústria pesada. Em 1955, a coletivização da agricultura acelerou-se com a organização de um milhão de cooperativas. Atingia-se, assim, o fim do capitalismo, implantando-se as três transformações socialistas básicas: expropriação da burguesia industrial, expropriação do comércio urbano e instalação do movimento cooperativo no campo.

Com as reformas, apesar de a produtividade industrial ter crescido 400% entre1949 e 59, os salários só aumentaram 52%. Mao Tse-tung, aos primeiros sintomas de que o desenvolvimento socialista estava aquém das exigências sociais e ameaçando o governo do Partido Comunista, proclamou uma liberalização interna. É de maio de 1956 sua frase: "que cem flores desabrochem, que cem escolas de pensamento rivalizem entre si".

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As críticas contra o governo cresceram, e o Movimento das Cem Flores se intensificou, levando o governo a reagir com uma grande campanha antidireitista que levou milhares de pessoas à prisão. Mao justificou-se dizendo que a Campanha das Cem Flores objetivava "fazer as serpentes saírem de suas tocas".

Iniciado como um processo de democratização, o Movimento das Cem Flores acabou reforçando o poder do Partido Comunista Chinês, que, em agosto de 1957, decidiu-se pelo programa de reformas chamado Grande Salto para a Frente. Esta, ao deslocar subsídios econômicos para a agricultura, confirmava o predomínio da base camponesa do socialismo chinês.

A mobilização da população foi geral, e até intelectuais e estudantes foram conclamados para trabalhar no campo. Entretanto, mesmo com um crescimento de 65% da produção rural, as dificuldades obrigaram correções de rumo. Na verdade, o projeto Grande Salto teve resultado limitados, uma vez que as relações sino soviéticas tornaram-se mais difíceis, intensificando a oposição interna ao PCC e as dissidências.

O conflito sino-soviético

As divergências entre os comunistas chineses e o Partido Comunista da União Soviética (PCUS) já existiam muito antes da vitória revolucionária de 1949. Após a revolução, elas se intensificaram, pois Mao Tsé-tung se posicionou pela autonomia política em relação à União Soviética, embora necessitasse de uma pequena ajuda material sua.

Em 1957, a União Soviética comprometera-se a fornecer armas nucleares à China, através de um tratado, que, no entanto, foi rompido em 1959 pelos soviéticos, envolvidos nos preparativos para um encontro com Eisonhower, dentro da política de coexistência pacífica. A atitude soviética recebeu severas críticas chinesas, para os quais o imperialismo norte-americano permanecia ameaçador. Em represália, a União Soviética retirou em 1960 seus conselheiros técnicos da China.

À política internacional de Kruschev somavam-se sua priorização da produção de bens de consumo e a desestalinização, as críticas ao culto da personalidade. Tal política distanciava a linha do PCUS e do PCC, pois os chineses buscavam desenvolver a indústria de base e Mao Tsé-tung era apresentado como grande guia chinês, tornando-se alvo da crítica ao culto da personalidade. As relações sino-soviéticas foram rompidas em 1962 quando o PCC acusou Kruschev e os PCUS de "revisionistas", estando os soviéticos alterando as teses marxistas originais.

A rivalidade desdobrou-se, em seguida, em conflitos de fronteiras, com soviéticos e chineses encarando-se com muito mais desconfiança do que ao seu inimigo comum- os imperialistas norte-americanos. Enquanto o monolitismo socialista se desestruturava, a China ia se aproximando diplomaticamente os EUA. Já nos anos 70, essa política lhe possibilitou o ingresso na ONU (1971) e a visita do presidente dos EUA Richard Nixon (1972). Com uma política autônoma, os chineses tornaram-se belicamente auto-suficientes, adquirindo também poderio nuclear. Explodiram sua primeira bomba atômica em 1964 e a de hidrogênio em 1967.

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Em 1969, as relações entre China e União Soviética haviam se deterteriorado tanto que entre os dois países só haviam modestas transações econômicas e diplomacia de rotina. Só em 1986 começaram uma reaproximação.

A Revolução cultural (1966-1976)

Buscando fortalecer-se pessoalmente, Mao Tsé-tung deu início, em 1966, a um movimento que visava a expurgação de opositores no governo- a Revolução Cultural- que envolveu toda a população chinesa.

Esse movimento, que começou tentando integrar o trabalho manual ao intelectual, ativou o fervor revolucionário, a participação popular, a produtividade e atacou a burocratização partidária e governamental. Logo desdobrou-se em críticas ao PCC, aos opositores de Mao (os pró-burguesia, Kruchevistas), atraindo a participação de toda a sociedade contra o inimigo capitalista. Os dazibaos, jornais-murais feito por populares espalham-se pelo país divulgando o movimento.

A Revolução Cultural logo transformou-se numa luta pelo poder, empreendida pelo grupo maoísta, sustentada pelo Exército Popular de Libertação, liderado por Lin Piao, contra o grupo de Liu Shaochi e Deng Xiaoping, opositores de Mao no PCC. Estes e seus seguidores foram forádos a fazer uma autocrítica pública. O movimento cresceu, multiplicando as organizações revolucionárias que se inspiravam no livro Pensamentos de Mao Tsé-Tung, conhecido como "Livro Vermelho", onde firmavam-se as idéias de reeducação socialista, críticas ao burocratismo, fidelidade a Mao e alerta contra o inimigo.

A esposa de Mao, Chiang Ching, comandava o Grupo Central da Revolução Cultural, que reprimiu não só os acusados de direitistas como também os ultra-esquerdistas, que pretendiam aprofundar mais as críticas e o andamento da Revolução. No final de 1967 e início de 1968, consolidou-se a autoridade de Mao que expurgou do partido seus opositores. Mao sobrepôs-se até ao PCC, transformando-se no líder máximo nacional, a quem chamavam de "o grande timoneiro"

Ampliando seu poder, Mao, em 1970, entrou em choque com Lin Piao, seu sucessor e chefe do Exército Popular. Lin é derrubado do comando militar e morre em 1971, quando tentava fugir para a URSS em um avião.

Em janeiro de 1976, morreu o primeiro ministro Chou En-lai, conciliador das tendências do PCC, e em setembro Mao Tsé-tung, com 83 anos, abrindo um novo caminho na disputa do poder na China.

A China que Mao deixou aos seus sucessores era bem diversa ad que herdarano início da revolução de 1949. Quando Mao assumiu o poder a população chinesa era de aproximadamente 540 milhões, com a redução da mortalidade infantil ela chegou aos 950 milhões no ano de sua morte. Além disso a expectativa de vida do chinês, 6 anos depois de sua morte era de 68 anos, quando em 1949 era de 35 anos. Mesmo sem eliminar o analfabetismo, conseguiu multiplicar por seis as matrículas nas escolas primárias chinesas.

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A China Pós-Mao

Em fins de 1976, Hua Kuofeng assumiu o governo chinês, imprimindo uma linha política de centro, tornando os partidários de Chiang Ching extrema esquerda e o grupo de Deng Xiaoping, direita. Em 1977 ocorre a reabilitação de Deng e, a à medida que se deu sua ascenção no PCC, o grupo de Chiang Ching foi marginalizado, culminando com sua prisão e julgamento em 1981.

Enquanto Chiang era condenada como responsável pelos excessos da Revolução Cultural, Deng Xiaoping, agora líder do governo chinês, iniciava o período de desmaoização do país, afastando seus adeptos do governo. A imagem de Mao perdera totalmente a força.

A prioridade do governo Deng era a modernização da agricultura, da indústria, da defesa e das áreas de conhecimento, isto é, as quatro modernizações. Essas medidas atraíram para a China uma imensa onda de investimentos externos, fazendo com que o país intensificasse o início da reversão agrária da época de Mao, passando na década de 1980 a ter uma população rural abaixo de 80%. Entre 1980 e 1995 a China atraiu muitos investimentos estrangeiros, chegando a superar 170 bilhões de dólares.

No final de 1995, enquanto a China apresentava uma população próxima de 1,2 bilhão de habitantes, o seu PIB alcançva os 2,8 bilhões de dólares, consolidando um crescimento econômico superior aos 10% anuais. Da mesma forma, as reservas de divisas do país alcançavam um volume recorde de 58 bilhões de dólares em 1995, confirmando o desempenho exportador.

Mesmo atraindo a atenção mundial para o seu progresso, nem tudo era estabilidade. A disparidade do desenvolvimento entre as províncias acrescia-se à inflação chinesa decorrente dos subsídios às empresas estatais, dominando a metade da economia e sugando quase 40% dos recursos do governo. O crescimento da inflação bateu os 25% em 1994 e, em meio às medidas saneadoras, buscava-se um decréscimo a ser alcançado nos anos seguintes. Somando-se às dificuldades financeiras, a ineficiência burocrática era acompanhada de corrupção e desperdícios, tornando-se o inimigo principal, oficialmente declarado pelo governo, à necessária estabilidade exigida para o desenvolvimento.

Por outro lado, ficavam duas incógnitas para a continuidade do desenvolvimento chinês: em primeiro lugar, a sucessão de Deng Xiaoping por novas lideranças, afinadas ou não com a continuidade da integração ao capitalismo globalizado; em segundo lugar, a inerente contradição entre a abertura econômica sem a correspondente abertura política, juntando-se aos efeitos de uma economia de mercado, que, mesmo socialista, ampliava as desigualdades sociais.

Confirmando tal tendência, as pressões pela liberação política na China foram bastante expressivas na década de 80, atingindo seu ápice em abril de 1989 com a ocupação da praça da Paz Celestial, em Pequim. Como um novo "assalto ao céu" (busca do paraíso socialista), exigia-se liberdade de manifestação e de imprensa, num movimento liderado por estudantes. Entretanto o governo sufocou o movimento à força.

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Nos anos 90, a China ampliou sua remodelação econômica iniciada no governo Deng Xiaoping, mas manteve sem alteração sua estrutura política, ou seja, a condição de "uma perestroika sem glasnost", fortalecendo a incógnita do rumo histórico chinês para o final do século XX e início do XXI.

A REVOLUÇÃO CUBANA – 1959

Cuba, cuja luta pela independência foi liderada pelo poeta José Martí, foi o último país latino-americano a conseguir libertar-se da Espanha, em 1898. Os EUA, então sob a política do Big Stick de Roosevelt, conseguiram incluir na Constituição cubana de 1901 a Emenda Platt, que admitia a possibilidade de uma invasão norte-americana, além de receber dos cubanos uma área 117 Km2 - a baía de Guantanamo, ainda hoje base norte-americana em Cuba. A partir da independência, a tutela político-econômica dos EUA foi garantida por governos locais ditatoriais, como o de Fulgêncio Batista de 1934 a 1958.

Na década de 50, a oposição à ditadura cresceu consideravelmente, surgindo movimentos guerrilheiros , sob a liderança de Fidel Castro, Camilo Cienfuengos e Ernesto "Che" Guevara, que a partir de 1956 obtiveram sucessivas vitóriias e ocuparam cidades e povoados. Em 31 de dezembro de 1958, Fulgêncio Batista, derrotado, fugiu para a Republica Dominicana.

O novo governo revolucionário, apartir de 1959, definiu uma política de mudanças que se chocava frontalmente com os tradicionais interesses dos EUA no país. A realização de reforma agrária e nacionalização das refinarias de açúcar, usinas e indústrias - maioria norte-americanas - levaram os EUA a suspender a importação do açúcar cubano. Sendo a venda do açúcar vital à economia cubana, um novo mercado precisaria surgir, e o país voltou-se para os soviéticos.

Num mundo bipolarizado, apesar da fase de coexistência pacífica, a ligação cubana aos soviéticos, bastou para o presidente John Kennedy tomar medidas radicais. Em janeiro de 1961, os EUA romperam relações diplomáticas com Cuba e, em abril, um grupo de soldados formado por exilados cubanos e mercenários norte-americanos desembarcou na Baía dos Porcos, recebendo apoia da força aérea numa tentativa de derrubar Fidel Castro.

A invasão norte-americana foi um completo fracasso, o que aumentou o prestígio de Fidel, que num discurso após a vitória, anunciou ao mundo que Cuba era socialista. Ao entrar para os socialistas, Cuba se tornaria um importante ponto estratégico para a União Soviética, que promoveu a tentativa de instalar mísseis na ilha. Esse fato desencadeou uma crise entre Kennedy e Kruschev, pondo em risco a paz mundial. Após rigoroso cerco e ameaça de desembarque, os soviéticos desistiram da idéia.

Ainda em 1962, Cuba foi expulsa da OEA sob a acusação de que disseminava a subversão pelo continente, embora contasse com aliados de peso na América. Simultaneamente, Kennedy lançou para a América a Aliança para o Progresso, um programa de ajuda econômica que veiculava ideais norte-americanos, numa tentativa de combater as influências da Revolução Cubana sobre outras regiões do continente.

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Aos poucos, estabeleceu-se um isolacionismo forçado sobre Cuba, levando o governo de Havana a apoiar os movimentos guerrilheiros que ocorriam em diversos pontos do continente, buscando subverter os poderes estabelecidos aliados aso EUA. Nesse processo, foi fundada, em 1967, a Organização Latino-Americana de Solidariedade (Olas), em Havana, em apoio às lutas armadas da América Latina, como na Bolívia, Colômbia e países centro-americanos onde atuava pessoalmente o líder da revolução cubana Che Guevara, que foi morto no mesmo ano na Bolívia. À atitude ofensiva cubana, os EUA responderam com uma política de apoio aos golpes militares do continente, implantando governos ditatoriais para afastar o comunismo.

No fim dos anos 60 e mais decididamente nos anos 70 e 80, governos progressistas (como Chile e Peru), decididos a escapar do alinhamento automático aos EUA, restabeleceram relações com Cuba. Reflexo das relações internacionais mais amenas, durante os governos de Jimmy Cartér e Gerald Ford, estabeleceram-se escritórios de representação de ambos os países em suas capitais. Todavia, diante da política internacional pendular, com o governo Reagan retornam-se as pressões e atritos. Os EUA militarizaram Honduras e El Salvador, como medida de pressão aos sandinistas da Nicarágua, apoiados pelos cubanos.

A nova política de enfrentamento transformou a América Central em uma região de guerra civil e crise nos anos 80. Em 1990, o apaziguamento internacional elaborado por George Bush e Mikhail Gorbatchev motivou uma pequena reversão desse quadro na região.

A Revolução cubana, na América Latina, foi uma via específica da solução aos problemas de miséria e ditadura produzidos pelo subdesenvolvimento, cujas soluções apontavam para o não-alinhamento com os EUA durante a Guerra Fria. Assim, após 25 anos de Revolução, o governo cubano pode proclamar que conseguira o fim do desemprego, da miséria e do analfabetismo.

No início dos anos 90, com as mudanças no Leste europeu e o fim da URSS, reforçram-se as pressões por reformas que eliminassem o monolitismo, obstáculo a uma abertura sintonizada com as transformações dos ex-socialistas e exigidas pelos países capitalistas.

Ao mesmo tempo em que as relações entre os ex-socialistas europeus enfraqueciam, os EUA intensificaram o bloqueio econômico iniciado em 1961, multiplicando as dificuldades de Cuba e do socialismo. Os efeitos têm sido tão negativos, que muitas conquistas sociais, econômicas e culurais até os anos 80, ou foram anuladas ou estão sob ameaça de reversão.

O colapso dos socialistas do Leste europeu e da URSS provocou uma retração econômica, próxima a 50% entre 1990 e 94.

Apesar disso, os dirigentes comunistas cubanos reafirmaram o lema revolucionário castrista "socialismo ou morte", passando, em meados da década de 90, a buscar um reformismo econômico e a aproximação com a comunidade internacional discordante do bloqueio norte-americano. Outro mecanismo adotado pelo governo cubano foi o incremento do turismo, sendo que 750 mil visitantes entraram no país em 1994, trazendo capital que ajudou a enfrentar o bloqueio econômico.

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Inúmeras pressões têm sido feitas em busca do fim do bloqueio norte-americano a Cuba, posição contrária aos que defendem que as conseqüências do mesmo culminará na queda de Fidel. Esta política é defendida pela população cubana estabelecida na Flórida, que possui peso nas eleições locais, e que influenciam na política externa dos EUA.

Já não são poucos os defensores de que as mudanças virão em seu ritmo e que o contato com o resto do mundo mudará a estrutura socialista cuban. A todo este quadro soma-se a questão da liderança e sucessão de Castro, com 70 anos de idade.

No início de 1996, devido à derrubada, pela Força Aérea cubana, de dois pequenos aviões norte-americanos pilotados por exilados cubanos anti-castro, a proposta Helms-Burton foi transformada em lei, determinando sanções às empresas e indivíduos de qualquer país que mantivesse relações com Cuba. A medida foi criticada por vários países, até por alguns parceiros comerciais dos EUA e tribunais internacionais, levantando as possibilidades de uma "guerra comercial" em época do crescimento do livre comércio no mundo.

Mesmo assim, enquanto os norte-americanos mantiam o bloqueio, o governo cubano anunciava o aumento da produção açucareira em mais de 30% em 1996, graças aos financiamentos externos, especialmente europeus.

A descolonização Afro-asiática

A ebulição política e social após a Segunda Guerra Mundial se estabeleceu também nas regiões em processo de descolonização, pois o fim da guerra fria demarcava, na pratica, ó fim dos impérios coloniais. A partir de 1945, o ideal de independência dos povos colonizados transformou-se num fenômeno de massas, com o surgimento de vários países politicamente livres, que, no entanto mergulharam na dependência econômica, determinando o subdesenvolvimento, o terceiro-mundismo.

Entre 1950 e 196, mais de quarenta países afro-asiáticos conseguiram sua independência, impulsionados pelo nacionalismo, pelo declínio do poderio europeu após a guerra e pelo apoio da Organização das Nações Unidas, que reconhecia seus direitos. Além disso, havia a posição favorável dos Estados Unidos e da União Soviética, que viam em tal processo um forma de ampliar suas áreas de influência.

No processo de descolonização firmaram-se duas opções: a libertação por meio da guerra, em geral, com a adoção do socialismo, ou independência gradual concebida pela metrópole, que passaria o poder político à elite local; esta articulada com o mundo capitalista, manteria a dependência econômica num regime neocolonialista.

Em 1955, a Conferência de Bandung, na Indonésia, debateu os problemas do Terceiro Mundo e a questão do não-alinhamento, reunindo vinte e nove nações afro-asiáticas, que declararam apoiar o anticolonialismo e combater o racismo e o imperialismo.

Bandung substituiu o conflito leste-oeste qntre capitalismo e socialismo pelo norte-sul entre os países industrializados ricos e os países pobre e exportadores de produtos primários. As nações reunidas definiram publicamente quatro objetivos básicos:

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ativar a cooperação e a boa vontade entre as nações afro-asiáticas e promover seus mútuos interesses;

estudar os problemas econômicos, sociais e culturais dos países participantes;

discutir a política de discriminação racial, o colonialismo e outros problemas que ameaçassem a soberania nacional;

definir a contribuição dos países afro-asiáticos na promoção da paz mundial e na cooperação internacional.

No fundo, a Conferência de Bandung firmava a existência de um bloco multinacional, não alinhado, o denominado Terceiro Mundo, sem definir uma política concreta para a superação do subdesenvolvimento e das heranças coloniais.

ÍNDIA

Mesmo antes do final da Segunda Guerra Mundial, o nacionalismo indiano e sua revolta contra os ingleses já eram notórios. O controle britânico sobre a Índia foi então foi sendo dificultado pelas campanhas de desobediência civil e não-violência promovidas por Mahatma Gandhi, o precursor do movimento de independência.

As lutas nacionalista contra a Inglaterra eram inicialmente lideradas pelo Partido do Congresso (ou Congresso Nacional Indiano), fundado em 1885, que representava a população hindu, e pela Liga Muçulmana, fundada em 1906, que representava a população Islâmica. Das greves e sabotagens, Mahatma Gandhi, na década de 20 dirigiu contra os ingleses sua resistência pacifica, ganhado a liderança nacional quando comandou o boicote ao consumo dos manufaturados ingleses, defendendo o uso dos tecidos rústicos de algodão produzidos manualmente na Índia.

Depois de preso e liberado pelas autoridades inglesas (1922 - 1924), Gandhi promoveu passeatas, o boicote ao sal vendido sob regime de monopólio pela administração inglesa, revelando a inviabilidade da presença colonialista tradicional. A Inglaterra, buscando evitar uma confrontação radical, adotou a estratégia de libertação gradual, para preservar, pelo menos, sua influencia econômica.

Os ingleses abandonaram amistosamente a Índia, mas as rivalidades étnicas e religiosas entre grupos muçulmanos e hinduístas, dividiram o pais em União Indiana, essencialmente hinduísta, sob o governo do primeiro ministro Nehru, o Paquistão, muçulmano, que por sua vez foi dividicdo em Paquistão Ocidental e Paquistão Oriental, sob governo de Ali Jinnah. No extremo sul da Índia, na ilha do Ceilão, formou-se, em 1948, o terceiro Estado autônomo, com o nome de Siri Lanka, de maioria budista.

A divisão da Índia provocou a migração de milhões de refugiados de um Estado para outro, o que resultou em conflitos, com mais de um milhão de mortos. Em 1948, em meio a um desses confrontos, Gandhi foi assassinado.

Em 1971, o Paquistão Oriental proclamou-se independente do Paquistão Ocidental, constituindo a Republica da Bangladesh, mais recente chamada de Republica Popular de Bengala.

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Em toda região, independência política não eliminou a condição de miséria da população, constituindo, no fim do séc. XX, um dos países mais pobres do mundo. Em contraste com o subdesenvolvimento, a Índia buscava instrumentos para firmar sua autonomia nas relações internacionais e lançou o domínio nuclear, explodindo sua bomba atômica em 1974, e desenvolvendo um complexo programa espacial.

De outro lado, agravado as inúmeras dificuldades nacionais, emergiram constantes e violentos conflitos étnicos, religiosos e políticos, desembocando no extremismo de grupos separatistas que tem instabilizado a região.

A possibilidade de irradiação desse extremismo por toda a Índia contava, especialmente com o declinante controle federal do Partido do Congresso, o qual envolveu o país numa ampla modernização liberal sem, contudo, conseguir reverter o quadro social de miséria e desigualdades que se agrava cada vez mais.

Apesar do crescimento econômico de 10% ao ano, na primeira metade da década de 90, a Índia chegou a apresentar 420 milhões de habitantes (de um total estimado de 920 milhões) vivendo abaixo do limite de pobreza, com uma parte significativa concentrada nas favelas ou nas ruas das cidades, além de 80% da população não possuir acesso à rede de esgotos e dois terços das crianças com idade inferior a 5 anos serem subnutridas.

A modernização indiana dos anos 90, atraiu empresas multinacionais, seus produtos e tecnologias, mas se mesclou com a sociedade tradicional e 25 mil sucatas.

SUDESTE ASIÁTIACO

A Indonésia, arquipélago formado pelas ilhas de Java e Sumatra e várias outras menores, foi desde o séc. XVII, colônia soa Países Baixos. Seu principal líder no processo de independência foi Ahmed Sukarno, reconhecido como governante em 1949. Durante o seu governo, em 1955, a Indonésia sediou a Conferência de Bandung, contra o colonialismo.

Sukarno instalou um sistema autoritário de governo, a "democracia dirigida" , e realizou uma aproximação com a China comunista em meio ao conflito sino-soviético. Em 1965, num golpe militar, o general Suharto tomou o poder sobre o pretexto de evitar a "penetração comunista", mantendo Sukarno nominalmente no governo. Em 1967, afastou-o e assumiu oficialmente a chefia do Estado até sua morte em 1970.

Em 1975, tropas de Suharto invadiram o Timor Leste (a sudeste do arquipélago), aproveitando-se da retirada de Portugal, transformando a região em uma nova província da Indonésia. Nem mesmo a condenação da ONU pela invasão removeu a ocupação, que enfrentou com violência a luta pela autonomia timorense, liderada pela Frente Revolucionária do Timor Leste, a Fretelin o que causou várias dezenas de milhares de mortos.

De outro lado, o governo de Suharto abandonou a política nacionalista de seu antecessor, integrando-se à economia capitalista globalizada, entregando, por exemplo, as companhias petrolíferas a corporações internacionais. Em meio á atração de investimentos estrangeiros e busca de crescimento econômico , nos anos 90, Suharto

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continuava no comando político da Indonésia , reelegendo-se desde 1993, pela sexta vez, à presidência do país.

A Indonésia, formado por Laos, Camboja e Vietnã, foi domínio francês desde Napoleão III (1860), com nome de União Indochinesa. Durante a Segunda Guerra Mundial foi ocupada pelos japoneses, e Ho Chi-minh, líder nacionalista, fundou a Liga Revolucionária Vietminh para libertação do Vietnã. Em 1945, após a derrota japonesa frente aos aliados, Ho Chi-minh proclamou a independência do Vietnã, enfrentando, no entanto, a região. Em 1954, os franceses foram totalmente derrotados na Batalha de Diem Dienphu, ao mesmo tempo que a opinião pública francesa pressionava o governo pela saída do Vietnã.

O giverno frances convocou então a Conferência de Genebra para negociar a paz e reconhecer a independência do Vietnã, Camboja e Laos, também em luta, além de determinar eleições para esses países dentro de um prazo máximo de dois anos. Na conferência de Genebra, que contou com a participação de grandes potências, como os Estados Unidos, União Soviética e China, decidiu-se que, até as eleições de 1956, o Vietnã seria dividido em Vietnã do Norte e Vietnã do Sul, na altura de do paralelo de 17ºN. O governo do Norte caberia a Ho Chi-minh e a capital seria Hanói, enquanto o Sul seria governado por B-Daí e a capital seria Saigon.

Ho Chi-minh, declaradamente comunista, obteve apoio dos guerrilheiros do Sul, os vietcongs, para a unificação nacional. Em meio à polarização do período da Guerra Fria e diante da possibilidade de vitória de Ho Chi-minh nas eleições gerais, o presidente norte-americano Dwight Eisenhower deu respaldo ao governo de Ngo Dinh Dien, sucessor de Ba-Daí, qu se transformou em ditador no Vietnã do Sul. Iniciou-se enytão uma luta que duraria mais de quinze anos e se destacaria pela desigualdade das forças militares anvolvidas.

O presidente Lyndon Johnson, valendo-se de uma autorização do Senado norte-americano, decidiu-se pela intervenção total no Vietnã do Sul, para onde enviou, de 1965 a 1968, mais de quinhentos mil soldados, além de bombardear o Vietnã do Norte. No Sul, Ngo Dinh Diem, morto em 1963, foi substituído por Nguyem Van-thieu e Cao Ky. Entretanto, a resistência dos vietminhs, o apoio dos vietcongs sulistas e a pressão da opinião publica mundial minaram a disposição de apoio dos Estado Unidos ao Vietnã do Sul.

Durante o governo de Nixon, adotou-se a política de "vietnamização de guerra", ou seja, retirada dos soldados norte-americanos da região, substituindo-os por americanos, entregues aos sul-vietnanitas. Para viabilizar a vietnamização, Nixon buscou debilitar as forças comunistas bombardeando o Vietnã do Norte, embora a investida norte-americana não tivesse o sucesso esperado. O caso Watergate e a conseqüente saída de Nixon do governo, juntamente com vários acordos falhos visando uma saída honrosa dos Estados Unidos da região, levaram as estratégias do governo norte-americano à derrota. Em 30 de abril de 1975, Saigon, capital do pais, caía nas mãos dos norte-vietnanitas e virtcongs, permitindo a reunificação do pais. No mesmo dia Saigon passou a se chamar Ho Chi-minh. A intervenção norte-americana levou à morte de 58 milhões de norte-americano e um número estimado de um a três milhões de indochineses, deixando o país quase completamente destruídocom os maciços bombardeiros da guerra.

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Com o fim da Guerra Fria, o Vietnã adotou a doi moi (renovação) em 1986, equivalente à perestroika soviética, abrindo seu mercado aos países capitalistas, especialmente o Japão. Mantendo o controle comunista no poder, o país tem se aproximado também da China, sua tradicional rival na região.

A normalização das relações entre Estados Unidos e República Socialista Soviética do Vietnã, no entanto, só aconteceu em 1995 em pleno processo de abertura econômica quando o país se transformava num dos mercados da Ásia e pretende à posição do novo "Tigre Asiático", jargão internacional referente às dinâmicas econômicas da região.

Quanto ao Camboja, a Conferência de Genebra de 1954 reconhecia a sua independência sob forma monárquica. O príncipe Norodom Sihanouk, pró-China, governou até 1970, quando foi derrubado pelo general Lon Nol, apoiado pelos Estados Unidos. Era a ditadura pró-Ocidente, a estratégia de Nixon para o Sudeste Asiático. A partir daí, instauraram-se governos instáveis e ditatoriais. Em 1975, o Khmer Vermelho (grupo de guerrilheiros apoiados pela China) derrubou Lon Nol, instalando a Republica Popular do Kampuchea, recolocando no poder Norondom Sihanouk. No ano seguinte, o lider da ala mais radical do Khemer Vermelho, Pol Pot, derrubou o presidente, implantando uma ditadura tão sangrenta que reduziu a população do país à metade.

Sob o comando do Khmer Vermelho, adotou-se a política de absoluta priorização da agricultura no Camboja, com transferência da população urbana para o campo. (A capital, Phnom Penh, que tinha algo próximo de três milhões de habitantes, acabou reduzida a pouco mais de vinte mil). Das outra medidas tomadas pelo governo de Pol Pot, sempre caracterizada pelo extremismo, destacaram-se a abolição da moeda nacional (riel), da religião e da unidade familiar. Nas perseguições generalizadas, fundadas na definição do "ano zero", ponto de partida de um Camboja que "nascesse de novo", suprimindo todos os vestígios da sociedade anterior, eliminaram-se todos aqueles que falassem alguma língua estrangeira, universitários, intelectuais, qualquer um que usasse óculos e pequenos proprietários, chegando segundo dados oficiais, o extermínio de 2,8 milhões de pessoas, além, de 570 mil desaparecidos.

Quanto ao Laos, após os acordos de Genebra de 1954, o grupo de esquerda Pathet Lao, dirigido pelo "príncipe vermelho" Tiao Souphanouvong, chegou ao governo, sendo derrubado pelos direitistas, ligados aos norte-americanos, em 1958. O Pathet Lao, a partir de uma base na selva, organizou-se a luta armada para recuperar o poder generalizando o conflito com a Indochina.

ARGÉLIA

De 1952 a 1956 desencadeou-se na África do Norte o terrorismo contra a ocupação francesa. Em 1954, as forças rebeldes da Frente de Libertação Nacional, estimuladas pela derrota francesa na Indochina e pelo apoio da opinião publica internacional, atacaram os franceses em setenta lugares diferentes em toda a Argélia. Num contra-ofensiva, que envolveu quinhetos mil soldados e após violenta repressão à população árabe, as forças metropolitanas desestruturaram a oreganização rebelde em Argel, a capital.

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A iminência de uma guerra civil na França levou o general De Gaulle a assumir o poder e colocar-se à frente do movimento militar, em maio de 1958. Controlando os extremistas, promulgou em outubro uma nova constituição, instituindo-se a Quinta Republica francesa, e decidiu-se pela negociação. Num plebiscito, em 1961, De Gaulle obteve carta branca para desenvolver conversões em busca de paz e da criação da Argélia livre. A ala conservadora do exército, contraria à independência da região, tentou um golpe de estado - fracassado - contra De Gaulle.

Estabelecendo acordos com os nacionalistas argelinos, a França reconhecia, em 1962, a independência da Argélia. Depois de dez anos de lutas e de aproximadamente um milhão de argelinos mortos, formava-se a Republica Democrática Argelina, presidiado Bem Bella, da Frente de Libertação Nascional.

Com a morte de Houari Boumediene, responsável por uma politica externa pró-União Soviética, em 1978a Argélia reformou sua política internacional, reaproximando-se da França, Estados Unidos e outros países ocidentais. Mais tarde, em 1989, foi a vez da abertura política interna, quando, em meio ao pluralismo partidário, ganhou força o grupo fundamentalista islâmico que pregava a reorganização do pais com base no Corão, que foi vitorioso nas eleições de 1991.

Nas eleições de 1995, num ensaio de normalização política interna, foi vitorioso o candidato preferido pelos militares, Liamine Zeroual, em grande parte devido ao afastamento do grande pleito dos radicais islâmicos do FIS e do boicote eleitoral por outras forças democráticas e socialistas.

O governo do presidente Zeroual, mesmo ampliando gestões para entendimentos nacionais, reforçou a incógnita quanto à real possibilidade de livrar a Argélia de seu conflito civil, cujo custo ultrapassou os 50 mil mortos, entre 1992 e 1995.

CONGO

Devastado pelo trafego de escravos do XIX, em 1985, após a Conferência de Berlin, o Congo passou a ser propriedade pessoal do Rei da Bélgica, Lopoldo II. De propriedade pessoal, em 1908, passou oficialmente à colônia belga, servindo a diversos interesses: pilhagem e exploração pelas companhias metropolitanas e estrangeiras, de diamante, ouro, cobre e estanho.

Em 1959, irromperam no país manifestações populares, chegou-se a incendiar Leopoldvile, a capital, o que obrigou a Bélgica a conceder a independência ao país. Em 1960, formava-se o Estado Livre do Congo, tendo como presidente Josph Kasavubu e como primeiro ministro, Patrice Lumumba. Embora oficialmente independente, a presença européia continuava gerando contínuas manifestações.

Soldados belgas e mercenários, financiados pela companhia belga Union Minière e comandados por Moisés Tshombe, declararam independente a província mineradora de Katanga. Lumumba e Kasavubu apelaram à ONU, que enviou emissários da paz a região, sem conseguir entretanto solucionar o impasse, entalando-se a guerra civil.

O presidente Kasavubu, apoiado pelos Estados Unidos, demitiu Lumumba, substituído pelo coronel Joseph Mobutu. Lumumba foi preso, mas, diante das manifestações

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populares pela sua libertação, acabou sendo entregue e mercenários de Katanga, onde foi assacinado.

Pela sua atuação à frente do Movimento Nacional Comgolês contra a Bélgica, Lumumba transformou-se em símbolo da independência africana, num congo dividido em várias facções rivais, em lutas crescentes, só contidas com a intervenção da ONU e com a entrega do cargo de primeiro-ministro a Tshmbe, em 1964, que assegurou a unidade do país.

Em 1965, Mobutu assumiu o governo, implantando uma ditadura pessoal. Em 1971, o Congo adotou o nome de Republica do Zaire, enfrentando crescentes pressões internas e externas contra a ditadura e o nacionalismo, intensificadas especialmente no final dos anos 80 e inicio dos 90, mergulhando o país em sucessivas crises políticas, greves e agravamento do seu quadro socioeconômico.

ÁFRICA PORTUGUESA

As colônias ultramarinas portuguesas foram as que mais tardiamente conquistaram sua independência, todas após 1970. Isso porque Portugal mantivera-se, desde a década de 30, sob ditadura de Antônio de Oliveira Salazar, que conservava o país por quarenta anos longe dos avanços econômicos, políticos e sociais do período. Quando em meados dos anos 70, ocorreram os movimentos de derrubada das ultimas ditaduras européias - Grécia, Portugal e Espanha -, as lutas coloniais de libertação ganharam força.

Em Angola, o Movimento Popular pela Libertação da Angola (MPLA), fundando em 1956 por Agostinho Neto, iniciou um movimento guerrilheiro contra o colonialismo salazarista, embora outras organizações de libertação surgissem, como a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), dirigida por Holden Roberto, e a União Nacional pela Independência Total de Angola (Unita), chefiada por Jonas Savimbi.

A revolução dos Craos (1974), que derrubou a ditadura fascista portuguesa, propiciou a assinatura do Acordo de Alvorn, marcando a, libertação angolana para 1975. Entretanto, FLNA, apoiada pelo Zaire, ocupou o norte angolano, enquanto a Unita, apoiada pela África do Sul, com respaldo dos Estados Unidos, dominava o sul de Angola.

Em 1986 e 1987, o presidente Ronald Reagan, dos Estados Unidos, e a primeira-ministra, Margareth Thatcher, da Inglaterra, reuniram-se com Jonas Savimbi, Subsidiando economicamente a Unita, na tentativa de desestabilizar o governo angolano. A FNLA, por sua vez, enfraquecida militarmente, encontrava-se em processo de extinção.

Foi só com distensão internacional do inicio dos anos 90 e o final da Guerra Fria que se aceleram acordos para a normalização do país, destacando-se os entendimentos entre o governo e a Unita.

Em Moçambique, a frente de Libertação do Moçambique (Frelimo), de inspiração socialista, fundada por Eduardo Mondlane, em 1962, iniciou a luta pela independência. Co m o assassinato de Mondlane por agentes portugueses, em 1969, Samora Machel assumiu o comando do movimento, ocupando gradativamente o território

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moçambicano. Com a revolução de 1974, Portugal acelerou as negociações para libertação dessa colônia, reconhecendo sua independência em 1975, como Samora Machel na presidência.

A África do Sul, governada por uma maioria branca a alinhada com o bloco norte-americano nos anos 80, procurou desestabilizar o governo socialista de Samora Machel, através de Resistência Nacional Moçambicana (Remano), e, apesar da assinatura, em 1984, do Acordo de nkomati, que estabeleceu a não-agressão com a África do Sul, os confrontos continuaram.

Somente na década de 90, após o país ter iniciado uma abertura política, buscou-se estabelecer acordos entre o governo e guerrilheiros para a solução da questão moçambicana. Em 1994, foram realizadas eleições multipartirias, vencendo o líder da Frelimo e sucessor de Machel, Joaquim Chissano. O novo governo definiu como propriedade a reconstrução de Moçambique, tendo em mãos um país arrasado por 14 anos de luta pela independência e seguida de mais 16 anos de guerra civil.

Na Guiné-Bissau e Cabo Verde, a rebelião contra o colonialismo começou em 1961, sob a liderança de Amílcar Cabral, do Partido Africano de Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que foi assassinado em 1973. Luiz Cabral assumiu então a liderança do movimento e proclamou a independência da Guiné-Bissau, que, embora imediatamente reconhecida pela ONU, só foi oficializada em 1974, depois da Revolução dos Cravos. Cabo Verde separou-se da GuinéBissau em 1980, embora não desaparecessem gestões para uma futura reunificação.

No final do anos 80 e início dos anos 90, os dois países integraram as transformações internacionais do final da Guerra Fria, tendo Cabo Verde, em 1990, adotado o pluripartidarismo e, nas eleições de 1991, ampliando as liberdades políticas e a abertura econômica. Da mesma forma o PAICG, de Guiné-Bissau, deu inicio à abertura política em 1989, pondo fim no sistema de pertido único. No inicio dos anos 90, apresentaram-se o impasse quanto à realização de eleições livres na Guiné, dado o radicalismo entre as várias facções políticas.

O domínio colonial e a turbulência política da descolonização africana deixou serios impasses sociopolíticos no continente: de um lado, o quadro de subdesenvolvimento e, de outro, a instabilidade industrial. No inicio dos anos 90, não foram raros os exemplos de crises, catástrofes sociais e políticas, a exemplo e Ruanda, em que grupos étnicos hutu (90% da população) e tutsis (10%) disputaram o poder, surprdimencionando heranças coloniais. O resultado parciaal foi mais de um milhão de mortos e mais de 2,5 milhões de refugiados.

Até mesmo as gigantescas adversidades africanas, contudo, não conseguiram enterrar transformações que, nas dinâmica histórica, guardaram algum potencial promissor na solução dos principais problemas continentais. Neste caso, é de exaltar a África do Sul onde, sob liderança de Nelson Mandela, a luta contra o apartheid (segregação racial) tornou-se vitoriosa depois de séculos de sujeição. Mandela tornou-se governante do país durante os anos 90 e, mesmo com fortes divergências de opositores e discordâncias quanto ao rumo do país, tornou-se um exemplo das potenciabilidades africanas.

ORIENTE MÉDIO

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Considerada uma das regiões mais tensas do pós-guerra, devido a conflitos religiosos e políticos, o Oriente Médio também se transformou-se em um palco de disputas entre as superpotências pela supremacia na região. Sua posição estratégica, aliada a presença de enormes reservas petrolíferas, caracterizaram historicamente a região como uma área sujeita a impasses e guerras. Os focos geradores desses impasses têm sido, principalmente, o conflito árabe-israelense, a guerra civil do Líbano e conflitos como o do Irã-Iraque e a invasão iraquiana sobre o Kuwait.

O conflito árabe-israelense

Um dos conflitos do Oriente Mádio tem sido o conflito árabe- israelense, cujas origens remontam ao período que segue à Primeira Guerra Mundial. Com a derrota dos turcos e a desintegração de seu império, a Liga das Nações aprovou, em, 1922, a Declaração Balfour, proposta em 1917 pelo chanceler inglês Lord Balfour, que colocou a palestina sob o governo da Inglaterra. Comprometendo-se a criar o Estado Nacional judeu na região, a tutela inglesa ativou a emigração judaica entre judeus e árabes.

Em 1947, no final da Segunda Guerra Mundial, diante dos crescentes conflitos entre judeus emigrantes e palestinos árabes, a ONU foi incitada a intervir, decidindo pela divisão da Palestina em duas áreas: a judaica , representando 57% de sua área e a palestina, com 43% da área, que provocou o protesto dos países vizinhos.

Com a retirada da Inglaterra e a criação em 1948, do Estado de Israel, aumentou a tensão na região. Os países da liga Árabe - Egito,, Iraque Transjordânia (atual Jordânea), Líbano e Síria - invadiram a região desencadenado a Primeira Guerra Árabe- Israelense (1948 - 1949), vencida por Israel, que ampliou seu domínio territorial sobre a Palestina. Como conseqüência, quase um milhão de palestinos fugiram ou foram expulsos da região, tendo a situação dos refugiados, que se instalaram em regiões vizinhas desencadeando a Questão Palestina, isto é, a luta dos árabes palestinos pela recuperação territorial. Em 1956, os crescentes atritos de fronteiras entre Egito e Israel e o reconhecimento do Canal de Suez como egípcio, desencadearam a Segunda Guerra Árabe- israelense, também conhecida como guerra de Suez. Apesar de o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser ter contado com com ajuda militar soviética, Israel, apoiado pela Inglaterra e França, saiu novamente vitorioso, conquistando a península do Sinai. Sob pressão dos Estados Unidos e da União Soviética, a ONU enviou à região forças de paz, que obrigaram Israel a abandonar o Sinai, restabelecendo as fronteiras de 1949.

Em 1967, a tensão na região culminou com a Guerra dos Seis Dias, a Terceira Guerra Árabe-Israelense, pois a recém-criada Organização para a Libertação da Palestina (OLP) tentava, desde 1964, recuperar o território ocupado por Israel por meio de guerrilhas. A situação agravou-se com a retirada das tropas da ONU e colocação de soldados egípcios na fronteira, bloqueando o acesso aos portos israelenses. A vitória israelense levou à ocupação de Gaza e Cisjordânea, ampliando o êxodo palestino, com mais de um milhão e seiscentos mil refulgidos.

Apesar da intervenção da ONU, Israel não acatou a decisão de retirada do territórios ocupados, tendo essa nova investida israelense provocando, em 1973, a Quarta Guerra Árabe-Israelense - a Guerra do Yom Kippur -, assim chamada por ter sido iniciada em um dia sagrado para os judeus, Dia do Perdão. O conflito inicio-se com o ataque

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simultâneo da Síria e do Egito contra Israel. Com a intervenção do presidente dos Estado Unidos, Richard Nixon , do secretário da União Soviética, Leonid Brejnev, a guerra terminou, com a assinatura de um acordo de paz de paz.

Em 1979, o presidente egípcio Anuar Sadat e o dirigente israelense Menahem Begin, num encontro promovido pelo presidente norte-americano Jimmy Carter, assinaram os acordos de Camp David, pelos quais o Egito recuperava o Sinai e inaugurava uma nova fase de relacionamentos e negociações.

A questão palestina, entretanto, sobrevivia, pois os refugiados seguiam lutando pela obtenção de um Estado palestino e pela devolução dos territórios da Cisjordânia e Gaza, ocupados por Israel.

Foi somente no início dos anos 90 que ganhou forças a via política diplomática, levando às negociações entre as partes nas região, substituído a confrontação militar constante. Em grande parte possível devido ao fim da Guerra Fria, à neutralização do Iraque e à pressão norte-americana contra o radicalismo israelense, os encontros diplomáticos proporcionaram o reconhecimento mútuo entre Israel e OLP e, em 1993, a assinatura da paz em Washington, entre os representantes de Israel, Yitzhak Rabin, e da Palestina, Yassser Arafat.

Outro foi a derrota eleitoral de Shimon Peres, em 1996, vencido por Likud de Benjamim, defensor de uma política externa com os vizinhos árabes.

Guerra do Libano

O Líbano que se libertou da França em 1945, é região do Oriente Médio sujeito a constantes conflitos. De um lado, estão os muçulmanos – sunitas e xiitas -, que correspondem à maioria da população, de outro, os vários grupos cristãos – maronitas, ortodoxo e armênios católicos e protestantes -, que controlam as atividades e detêm a hegemonia política. Agravando a situação acrescenta-se a interfer6encia de grupos estrangeiros apoiando cada uma das facções . Os palestinos, representados pela OLP, apoiavam os muçulmanos, e os israelenses alinhavam-se aos cristãos.

Apartir da década de 1970, os conflitos se agravaram por pressões político-religiosos dos muçulmanos, que exigiam maior representativa política, e também pela instalação de grupos palestinos no sul do Líbano.

Em 1976, a Síria interveio no norte do país, e em 1982, Israel ocupou o sul, expulsando os guerrilheiros da OLP. Em 1986, os sírios ocupam Beirute, a capital do Líbano, sem consequir uma efetiva composição política entre cristãos e muçulmanos.

Com inger6encia sírias, israelenses, dos extremistas xiitas do Hezbollah e outras facções estrangeiras, além dos próprios líbano , a incorporação de soluções políticas e diplomáticas, em substituição à confrontação violenta de duas décadas que devastou quase inteiramente o país, tem encontrado suficiente resistência para não se viabilizar completamente. Porém, para um país de quase 4 milhões de habitantes, com um saldo de 150 mil mortos nos conflitos e quase 500 mil pessoas desajoladas de suas residências, os continuados entendimentos, em meio à complexidade dos fatores

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envolvidos, permitem vislumbrar o fortalecimento do processo de pacificação do Líbano.

Conflito do Irã-Iraque

No Irã, a dinastia Pahlevi, no poder desde 1925, foi derrubada em 1979 pelos patidários do aiatolá Khomeini, líder muçulmano da seita radical xiita. Como o xá Reza Pahlevi tinha o apoio dos EUA, a vitória de Khomeini agravou as relacões com os EUA, e no mesmo ano, a embaixada norte-americana em Teerã, capital dos país, foi envadida por militares xiitas. Somente em 1932, após o entendimento com intermediação da Argélia, os 50 reféns norte-americanos foram libertados.

Em 1980, o Iraque aproveito-se da instabilidade do Irã, invadiu-o, trazendo a tona a tradicional luta pela dominação da região do Chatt-el-Arab, pequeno ria na conferencia dos rios Tigre e Eufrates, resultando o conflito em várias mortes para ambos os países.

Em 1988, a ONU, estabeleceu um cessar fogo na região, acelerando o fim do conflito. Assim o Iraque devido ao armamentismo desenvolvido durante a guerra, tornou-se um dos países mais poderosos militarmente do Oriente Médio, com Egito e Israel.

Guerra do Golfo

Em 1990, Saddam Hussein, governante do Iraque, invadiu o Kuwait, iniciando uma nova crise na área. Buscando projetar-se como grande líder das nações árabes, Hussein realizou a anexão sob o pretexto de que o Kuwait era uma ilusão, um Estado fundado pela Inglaterra, um protetorado das potências capitalistas.

Representados pela ONU, as grandes potências, liderados pelos EUA, exigiam a desocupação do Kwait e, não sendo atendidas, declararam guerra a Saddam Hussein. A Guerra do Golfo teve como peculiaridade a transmissão televisiva, que permitiu a divulgação das notícias autorizadas pelas forças militares norte-americanas.

A coalizão internacional liderada pelos EUA colocou no Iraque o maior aparato militar desde a Segunda Guerra Mundial, formando a chamada "Tempestade no Deserto" que jogou mais de 31 toneladas de bombas contra os 450 mil soldados do Iraque, destruindo à população civil com os bombardeios sobre Bagdá. O confronto terminou em 40 dias com a derrota do Iraque. Morreram pouco mais de 500 soldados aliados no conflito e de 100 1 300 mil iraquianos.

Terminada a guerra, a ONU estabeleceu sanções econômicas contra o Iraque, especialmente o embargo sobre suas exportações de petróleo, além de sujeitar o país a eliminar seus arsenais de armas nucleares, biológicas, químicas e os mísseis de longo alcance. Em 1994, Hussein voltou a concentrar tropas na fronteira com o Kwait, levando a nova mobilização norte-americana, seguida do recuo iraquiano.

Em meados da década de 90, continuava crescente o armamentismo dos vários países da região, contando com os imensos recursos advindos da exportação de petróleo e da oferta das potências em produtos sofisticados. Em 1994, o Oriente Médio liderava a compra internacional de armamentos, destacando-se, como exemplo, a Arábia Saudita,

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que encomendou aos EUA 72 aeronaves de combate F-15 de grande alcance, no valor de 5 bilhões de dólares.

A abundância de armamentos, as heranças coloniais, as ingerências estrangeiras, os inúmeros conflitos e as diversidades étnicas, religiosas, econômicas e sociais, têm servido de combustível para manter a região continuamente instável.

A América Latina e suas lutas sociais

Embora os países latinos sejam independentes desde o sec.XIX, eles ainda mantiveram laços de dependencia com os países capitalistas, iniciando com a Inglaterra e depois com osEUA.

Todas as forças estavam unidas: os reformistas e nacionalistas e também as de extrema esquerda. Eles queriam por completo a ordem reinante e assim se confrontaram com os grandes centros capitalistas, assim o anseio dos países latinos –americanos pela democratização e autonomia gerou pressões no sentido de reformular as estruturas vigentes, acontecendo as ditaduras militares, governos pro-libertação, movimentos reformistas , revolucionáriose guerrilheiros . Assim esta caracterizada a América Latina no sec.XX.

México

O México, após Agustín Itúbide ter declarado sua independêcia, em 1821, passou a viver um período de instabilidade política, sob a formação de ditaduras e de dependência econômica. As condições sociais se agravaram depois que o país saiu da guerra contra os EUA, em 1848, tendo perdido quase todo seu território. Além de sofrer intervenções estrangeiras sucessivas, inclusive dos franceses, de 1861 a 1867, tentaram estalar na região o governo Habsburgo de Maximiliano.

As lutas contra estrangeiros, que desorganizavam o país, e as condições que substituiam desde a época colonial proporcionaram a instalação da ditadura Pofírio Dias (1876- 1911). Durante o porfiriato deu-se uma intensa concentração fundiária e grande entrada de capital estrangeiro para a exploração e controle de recursos minerias e produção de artigos de exportação . Dessa forma o povo concentrado nas áreas rurais ficaram mais dependentes dos grandes senhores.

No início so sec.XX, esse quadro levou ao crescimento de insatisfação entre a população, o que provocou greves operárias nas cidades e revoltas nas zonas rural. Dessas lutas surgiram líderes populares como Emiliano Zapata ePancho Villa, que comandavam os camponeses na reivindicação de seus direitos, ao mesmo tempo parte da elíte comandada por Francisco Madero, se unsurgia contra a ditadura porfirista. Unido as for’ças os exércitos revolucionários depuseram Porfirio Dias, em maio de 1911.

Eleito presidente, o liberal Madero não implantou a esperada reforma agrária, esboçando tímidas medidas sociais. Em 1911, Madero foi assassinado e o general Victoriano Huerta reinstalou a ditadura, ligada aos interesses do EUA. Pancho Villa voltou a lutar contra as forças federais, enquanto Zapata liderava no sul a revolução

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camponesa pela reforma agrária. As pressões levaram Huerta a renunciar, em 1914, em favor de um governo constitucional liderado por Venustiano Caranza 1914-1915).

Em 1917, foi promulgada a nova constituição do país e Carranzo foi eleito presidente. Insatisfeito com o não –atendimento as suas reivindicações, especialmente a redivisão fundiária as forças populares continuaram em luta. Entretanto perderam forças, especialmente com o assassinato de Z apata em 1919 e o afastamento de Villa em 1920, sequido de seu assassinato em 1923.

Na década de 30, a reforma agrária motivou a revolução de 1910, ainda não fora realizada: mais de 80% das terras mexicanas estavam em mãos de pouco mais de dez mil mexicanos.As manifestações nacionalistas encontraram no presidente Lázaro Cárdenas (1934-1940) um representante que exprorpiou terras e compainhas estrangeiras, nacionalizou o petroleo e estimulou a formação de sindicatos camponeses. Com tais medidas o governo passou a chamar-se Partido da Revolução Mexicana, trasformado mais tarde em Partido Revolucionário Institucional (PRI) que controlou o país até 90.

Nestas décadas o latifúndio voltou a dominar a estrutura agrária do país, passando, a economia mexicana, a beira de colapso.

Diante da imensa divida externa e do grave quadro inflacionário do país, em 1990, o presidente Andres Salinas de Gortari boscou acordos internacionais que atraissem investimentos estrangeiros, especialmente dos EUA. A íntima vinculação ao bloco norte-americano, possibilitou a integração ao Nafta (Acordo norte-americano de livre comercio), oficializada a 1º de fevereiro de 1994, comemorando como uma passagem para o mundo desenvolvido.

A entrada do méxico no Nafta, foi imediatamente ofuscada pelo levante do exército zapatista de libertação nacional (EZLN), o qual tomou várias cidades no estado de Chipas, eles proclamavam a exigencia de pão, saúde, educação, autonomia e paz.

Os enfrentamentos e sucessivos acordos entre o governo de Adres e os camponeses revoltosos durante o ano 1994 contaram, com a turbulência eleitoral durante a campainha presidencial. Foram assassinados dois menbros do partido do governo (PRI), Luis Donaldo, candidato que estava a frente das pesquisas e José Francisco Massieu, secretári do partido.

Em meio ás acusações de envolvimento do governo nos assassinatos junto com escândalos de corrupção, a economia caiu na intabilidade, enquanto Ernesto Zedillo, venceu as eleições e assumi em 1994.

No ano sequinte os escândalos continuaram a crescer, sequidos do agravamento da questão social, do desemprego, da atuação zapatista, da amior instabilidade financeira do país e do desenquilíbrio do partido revolucionário. E novamente o país cai num verdadeiro caos economico, precisando da ajuda dos EUA.

Enquanto Zedillo creditava a crise ao seu antecessor, ficava patente o descompasso entre as soluções de uma economia demercado, tão defendida na globalização economica capitalista.

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Chile

Substituindo o governo de Eduardo Frei, do partido Democratico Cristão, foi eleito Salvador Allende, em 1970, da unidade popular, compostos pela aliança dos socialistas e comunistas . Sua vitória foi o resultado de um longo período de lutas populares no Chile, de uma elaborada política de união das forças de esquerda de do deliberamento do grupo conservadoe chileno.

A vitória socialista desencadeou uma mobilização social, com invasão de terras e ocupação de fábricas, presionando o governo a ir além de seus propósitos originais. O resultado foi a rearticulação das forças conservadoras, o que provocou sabotagens e instabilidade. Ao mesmo tempo, os EUA, governados por Richard Nixon, já contrários a um regime socialistas no continente , viram-se desafiados com a nacionalização de diversas empresas norte-americanas que atuavam no Chile. Sua resposta foi custear as campanhas que desencadearam a desestabilização do governo Allende, fortalecendo o desezo golpista da cúlpula militar chilena. De 1970 a 1973, as forças armadas chilenas, sob comando de Augusto Pinochet, bombardearam a sede do governo, o palácio presidencial de La Moneda, numa ação que levou Allende a resistir até a morte.

Ao assumir o governo, Pinochet estabeleceu uma das ditaduras mais violentas da América Latina. Na década de 80, as pressões populares e internacionais sob a ditadura chilena de Pinochet avolumaram-se e, de1987 a 1988, diante da distensão nas relações internacionais e do esgotamento político interno, as pressões pela democratização tornaram-se irrefreáveis.

No início de 1990, buscou-se no Chile uma transição pacífica para a democracia, por meio de eleições presidenciais, as quais foram vencidas por Patrício Aylwin zocar, candidato pela Frente Oposicionista Acordo pela . Democracia. Pinochet, no entanto, continuou no comando do exército chileno.

O presidente Aylwin foi sucedido, em 1994, por Eduardo Frei, enguanto Pinochet permaneceu à frente do poder militar chileno. Contudo, em 1995, emergiu uma séria crise política, quando a Corte Suprema determinou a prissão dos principais chefes da polícia secreta da ditadura.

Na economia desde a época da ditadura de Pinochet, o país assumiu as receitas neoliberais, crescendo num ritmo bastante rápido e continuou na mesma situação com os governos pós-Pinochet . Os avanços e a instabilidade financeira fizeram do Chile um dos países sempre citados como exemplo de sucesso no processo de abertura típica economica dos anos 90em economia capitalista globalizada. Com uma inflação que pulou dos 285 ao ano, em 1990, para os 8,3%, em 1994, além da média, em cinco anos seguidos, de crescimento do PIB de 6%, um terço dos chilenos continua vivendo na pobreza, ganhando menos de 100 dólares por mês.

América Central

Até a época da independência mexicana (1821), a região incluía o México e ,quando ele se separou, ela recebeu o nome de Províncias Unidas da América Central. Em 1838, os interesses das elites locais dos EUA e da Inglaterra, defensores do lema dividir para reinar, propiciaram a formação de diversos estados autônomos na região: Guatemala,

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Honduras, El Salvador, Nicarágua e Costa Rica, aliados as tradicionais potências capitalistas, especialmente EUA.

Para garantir seus interesses na região, os norte-americanos fizeram diversas intervenções armadas, como no Panamá, em 1903, garantindo o controle da zona do Canal, e outras que buscavam sufocar os movimentos guerrilheiros locais , como o líder camponês nicaragüense Augusto César Sandino, Além disso mantiveram a região sob seu controle por meios economicos e diplomáticos desprezando os princípios da ONU e OEA.

Apesar disso nos fins dos anos 70, os movimentos populares cresceram na América abalando a supremacia norte - americana . O principal exemplo dessa nova conjuração foi a Revolução Sandinista de 1979, na Nicarágua que derrubou a ditadura de Anastácio Somazo, também o Panamá consequiu acordos com o governo Carter na qual os EUA se comprometia a devolver o canal ,à soberania panamenha.

Entretanto a posição da força norte-americana nunca foi abandonada, e com apoio dos contra nicaragüenses os EUA conseguiram a desorganização internacional da Nicarágua. Nas eleições Daniel Ortega líder sandinista foi derrotado, cabendo a vitória a Violeta Chamorro, pró-EUA.

Durante sua presidência, ele aproximou-se dos sandinistas, apesar das pressões dos EUA, a ONU, em 1993 a ONU rompeu com o presidente, seguindo-se um agravamento político na Nicarágua.

Outra demonstração da diplomacia do canhão foi a invasão do Panamá em 1989, que derrubou o presidente Manuel Noruega, acusado de envolvimento com drogas, ele foi preso e levado para os EUA para julgamento.

Outra intervenção norte-americana aconteceu no Haiti em 91, dessa vez para reempossar o presidente democraticamente eleito Jean-Bertrand Aristide, deposto por uma junta militar. A operação contou com 20 mil soldados e garantiu seu mandato até emergirem provas do envolvimento da CIA com o governo anterior à democratização.

O duradouro estado de guerra na América Central reforça a pobreza e a miséria comum a toda América Latina, ativando a ebulição política ideológica.

Para o conjunto de países latino-americanos o empobrecimento da maioria da população, tem exigido políticas inovadoras bancadas por partidos reformistas e de centro. Substituindo ditaduras, subiram ao poder presidentes eleitos diretamente em quase todos os países. As propostas liberais e reformistas dos partidos de centro e de direita ganharam corpo, desbancando as propostas da esquerda.

De acordo com a política neoliberal, busca-se o saneamento econômico interno, a abertura dos mercados nacionais ao capitalismo internacional e a diminuição do Estado exugando-o com a privatização de empresas do governo e da diminuição dos gastos públicos. O sucesso econômico não tem conseguido favorecer a maioria da população propiciando cada vez mais o aumento do poder das megaempresas nacionais ou multinacionais.

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O mais grave é a recente democratização conseguida em quase todo o continente, começou a apresentar baixas, como aconteceu no Peru em 1992, o presidente Alberto Fujimori fechou o congresso e concentrou todo o poder em suas mãos ignorando a constituição e anulando direitos, o principal sucesso do presidente foi ter diminuído a ação do grupo terrorista Sendero Luminoso, sem ter revertido o quadro social.

Certamente, é a ampliação da democracia dando voz e força à maioria da população latino-americana . Assim a política neoliberal e a globalização econômica que envolve os diversos governos latino-americanos, continua a quadrar o dilema da nova ordem internacional do pós- Guerra fria .

Refletindo os novos tempos, os muitos movimentos revolucionários nascidos no período da Guerra Fria estão em composição com os governos locais , outros em claro refluxo, alguns em extinção ou talvez até em drmência momentânea. Deles, tão destacados pela impresa internacional como representantes da turbulência ininterrupta continental, citavase o Unidade Revolucionária Nacional, da Guatemala e cidade do México da frça popular revolucionária Lorenzo Zelaya e outros, porém os mais significativos são:

Frente Farabunda Martí de Libertação Nacional : criado em 1980, em El Salvador e Honduras, buscava a implantação de um regime comunista tradicional como o soviético.

Movimento 19 de abril (m-19) : fundado em 1970 na Colômbia, combatia o governo defendendo a instalação de um regime popular nacional . No início dos anos 90 junto com outros grupos revolucionários buscou o fim da confrotação militar e a consolidação democrática.

Sendero Luminoso: fundado em 1969 no Peru com base na guerrilha rural, buscava a fundação de estado indígena soberano. Com forte inspiração maoísta chinesa, desde o início dos anos 90 tem sido a organização mais ativa de todo o continente.

Movimento Revolucionário Tupac-Amaru: fundado em 1984 no Peru, por estudantes universitários, seque os ideais marxistas sem a xenofobia dos senderistas, apresentando-se como seu rival no norte do país.

A NOVA ORDEM ECONÔMICA INTERNACIONAL

O fim da União Soviética formalizara o encerramento do período da Guerra Fria, que na prática já havia acontecido com a queda do Muro de Berlim em 1989, e ratificada pelos outros acontecimentos que acabaram com o bloco socialista.

A partir de então, instaurou-se um novo mundo, que não mais era baseado na divisão Leste-Oeste e no confronto ente socialismo/capitalismo. Apresentando novas características, destacadamente a hegemonia capitalista, e compondo a Nova Ordem Internacional.

A GLOBALIZAÇÃO CAPITALISTA

Desde antes dos anos 60, o capitalismo ingressara numa nova fase de desenvolvimento, baseada numa dinâmica produtiva com sofisticada tecnologia. As suas bases principais

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eram a microeletrônica (computação, comunicação, robótica), a biotecnologia e química fina.

Chamada de Terceira Revolução Industrial, a nova etapa produtiva passou a exigir mais investimentos nas pesquisas e implementação tecnológica, cuja viabilização passou a depender de grandes conglomerados empresariais, possuidores de enormes volumes de capitais. Em tal situação, acentuaram-se os processos de fusões, aquisições e parcerias de empresas, exigindo, em contrapartida, grande retorno de investimento, o que passou a ser garantido por lucros obtidos nos amplos mercados desprovidos de barreiras nacionais protecionistas.

Por exemplo, os EUA, líderes da dinâmica capitalista mundial, realizaram fusões de empresas, entre 1985 e 1995, que envolveram um total de 2,4 trilhões de dólares, sendo que só em 95 chegou a 866 bilhões de dólares envolvidos. No Japão, somente o maior acordo de fusão em 1995, o Mitsubishi Bank e o Bank of Tokyo, envolveu 33,8 bilhões de dólares.

Paralelamente ao processo típico de concentração de capitais, precedeu-se à irradiação dos negócios mundialmente, globalizando mercados.

Em meados dos anos 90, as 500 maiores empresas do mundo, controlavam 80% do comércio internacional, e as dez maiores de 1994 faturaram 1,4 trilhão de dólares, equivalente a soma do PIB de países como Brasil, México, Argentina, Chile, Colômbia, Peru, Uruguai e Venezuela.

O NEOLIBERALISMO E O "ESTADO MÍNIMO"

Com o dinamismo econômico de empresas ligadas a amplos mercados, a preocupação com a qualidade e os preços dos produtos, em meio a competitividade, passaram a ser garantia de lucratividade. Pouco a pouco, caíam as reservas de mercado, que tinham sido conseguidas como barreiras protecionistas favorecedoras de algumas empresas privilegiadas.

Num mundo de gigantes empresariais, grande parte das médias e pequenas empresas tiveram de orientar-se pelas estratégias das grandes multinacionais, numa subordinação de iniciativas, a exemplo das terceirizações e franquias. Baixar custos produtivos e adequar-se aos mercados passaram a ser prioridades das unidades produtivas na busca do sucesso econômico. Assim, transferir atividades de uma empresa a outra, fixando-se na área de atuação, terceirizando os serviços, passou a ser constante. Da mesma forma, o direito do uso de uma marca de produtos ou serviços consagrada no mercado também irradiou-se por quase todos os países e regiões.

A globalização estimulou a formação (principalmente nos anos 90) de blocos econômicos, associações regionais de livre mercado que derrubaram as barreiras protecionistas. À frente dessas organizações estão o Nafta (Acordo Norte-Americano de Livre Comércio) sob a liderança dos Estados Unidos e envolvendo Canadá e México, a UE (União Européia), tendo a economia alemã como mais forte, e o bloco do Pacífico, sob comando do Japão. Através do Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) e OMC (Organização Mundial de Comércio), a superação econômica das barreiras nacionais

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ganhou ada vez mais intensidade, abrindo caminhos para integrações até entre os próprios blocos econômicos regionais.

A principal força da dinâmica capitalista cabia ao G7 (EUA, Canadá, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Japão), grupo de países ricos, onde estavam as bases dos conglomerados econômicos do mundo. Na prática o G7 poderia ser G3 (EUA, Japão e Alemanha).

Às associações econômicas regionais, com diminuição dos protecionismos e atração de investimentos internacionais, acrescentou-se a limitação dos gastos governamentais, com a prevalência da economia de mercado e a busca de um "Estado mínimo", redirecionando sua atuação e tamanho, com privatizações.

A crescente força privada e a crise do Estado intervencionista deram impulso às pregações neoliberais, cujos principais defensores são o austríaco Friedrich Hayek, Prêmio Nobel de Economia em 1974, com suas idéias anti-keinesianas, seguidas pelos norte-americanos Milton Friedman, Nobel de Economia em 1976, e Robert Lucas, Nobel de Economia em 1995, e outros. Na política, as condições favoráveis ao neoliberalismo só se efetivaram com os governos de Margareth Thatcher (1979) no Reino Unido, Ronald Reagan (1980) EUA, e Helmut Kohl (1982) Alemanha, irradiando-se, em seguida, por todo o mundo.

Cumprindo a nova lógica do capitalismo globalizado, ganhou intensidade, em todos os países, as privatizações, ampliando os espaços econômicos empresariais e também a subordinação dos Estados minimizados à lógica do mercado internacionalizado.

O Estado mínimo envolveu ainda a redução dos gastos públicos (saúde, educação, previdência social, etc) significando, para os países desenvolvidos, o fim do Estado de bem-estar social, e para os países em desenvolvimento, o agravamento do quadro social. Esse fato acentuaria as fraturas sociais de desigualdades entre extremos de pobreza para a maioria e riqueza para um reduzido número de pessoas.

À ampliação da criminalidade, marginalidade e exclusão social, juntaram-se inúmeras manifestações populares contra os efeitos da política neoliberal em diversos países, destacando-se a da França, em que uma greve, no fim de 1995, quase paralisou o país.

Por outro lado, a "Terceira Revolução Industrial" troxe a questão do desemprego, como decorrência do uso de altas tecnologias produtivas, ou como resultado da reformulação e otimização produtiva empresarial, incluindo-se o remanejamento e demissão de funcionários e o enxugamento estatal. Segundo relatório de 1994 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) perto de 30% da população economicamente ativa do mundo, cerca de 820 milhões de pessoas, estavam desempregadas ou subempregadas, constituindo a pior crise global de emprego desde a depressão que se seguiu à crise de 1929.

Diferentemente da Primeira Revolução Industrial (fins do século XVIII), e da Segunda (século XIX), a época do capitalismo global encontrou boa parte dos movimentos trabalhistas e sindicais em refluxo e fragilizados. Além disso, a globalização abriu a possibilidade da escolha de mão-de-obra mais barata em todo o mundo, contando com grande oferta de trabalhadores e as reestruturações produtivas.

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A timidez das lutas trabalhistas e a fragilidade sindical ligavam-se às mudanças tecnológicas. Isto é, boa parte do trabalho em massa nas grandes indústrias passou a ser feito em intensivamente e com menos mão-de-obra, graças a alta tecnologia e a filiação de trabalhadores às organizações também declinou. Exemplo disso, a filiação sindical do setor privado nos EUA, que era de 30% nos anos 50, chegou a 10% nos anos 90. De certa forma, a força ideológica da sobrevalorização do mercado em lugar das políticas sociais também teve a sua contribuição, abrindo a fragilização trabalhista.

Assim, a redução do volume de trabalho causado pelas inovações tecnológicas anteriores - uso de máquinas a vapor, motor de explosão e a eletricidade (1a e 2a

Revolução Industrial)- acabou compensada em boa parte pelas conquistas trabalhistas, que impuseram leis para melhorar as condições do trabalho, acarretando o recuo do desemprego. No capitalismo globalizado, fundado na economia de mercado, até mesmo muitas das conquistas sociais já obtidas começaram a ser anuladas.

Quanto à incógnita da questão social-trabalhista, os neoliberais fincavam pé na prioridade da economia de mercado modernizada, enquato os antineoliberais reclamavam a emergência de medidas dirigidas para o alívio das dificuldades sociais, sustentadas no regulamento do Estado reformulado, dos sindicatos e das manifestações populares.

Seja como for, somente com uma democracia em contínuo aprimoramento é que se poderá garantir aos cidadãos uma maior participação nas decisões que lhe dizem respeito, possibilitando a eficiência do Estado, a promoção da justiça social e a garantia das liberdades individuais.

A ORDEM MONETÁRIA INTERNACIONAL

Outra importante questão decorrente da globalização capitalista, é a da ordem monetária. Para o comércio e as finanças nos blocos econômicos mundiais, tornou-se imprescindível um regime estável de taxa cambial e de uma moeda capaz de circular livremente pelos países, sem obstáculos criados por políticas particulares de cada Estado, segundo interesses nacionais. Entre as dificuldades enfrentadas pelos defensores da reformulação monetária estaria a questão de regular a emissão dessa moeda única internacional e quais seriam as taxas cambiais na conversão das atuais moedas para a nova.

Foi nesse quadro que as associações comerciais internacionais passaram a discutir a questão monetária e, no caso da UE, até se definiu a criação de uma moeda regional (Euro), assinando o Acordo de Maastricht (1992) e o Acorde de Madri (1995).

Outro sério problema para os Estados na economia globalizada é quanto ao volume gigantesco dos valores financeiros em circulação pelo mundo: tanto podem ativar a economia dos países x ou y, com imensos investimentos de capitais, quanto sufocá-la, com a saída dos capitais aplicados.

Nesse quadro, entre 1984 e 1992, o fluxo do comércio internacional de bens e serviços saltou de 3,5 para 7,5 trilhões de dólares anuais, enquanto que na aplicação de investidores em ações da bolsas em outros países cresceu 28% ao ano entre 1980 e 1990, passando de 120 bilhões para 1,4 trilhão de dólares ao ano.

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A abertura e a subordinação das economias nacionais, a vulnerabilidade das moedas controladas por estados cada vez mais minimizados e o maior fluxo comercial e monetário internacional, com propostas de mudanças, como foi o caso, do G24, grupo de 24 países das nações em desenvolvimento.Não sem adeptos em outras partes do mundo, o G24 defendeu um projeto de reformas e até de criação de um novo padrão monetário internacional, tendo como avaliador o FMI e baseado num valor médio de uma cesta composta das cinco principais moedas do mundo.

A gravidade apontada nas discussões pode ser melhor compreendida traçando-se um breve histórico da ordem monetária internacional ao longo do século XX, considerando que até meados dos anos 90 a economia mundial, em expansão, contou com várias ordens monetárias, cuja variação espelhou as transformações históricas do capitalismo.

Do século XIX a 1914, o mundo capitalista ocidental contou com um sistema monetário fundado no padrão-ouro, significando que todas as moedas nacionais eram convertidas em qualidades padronizadas de ouro, o que determinava as taxas cambiais nas relações comerciais e de fluxos de capitais entre as nações. Esta foi a época da predominância internacional da libra esterlina inglesa.

Com a Primeira Guerra Mundial, a conversibilidade foi abandonada em meio às emissões monetárias crescentes dos vários países, originando as taxas flexíveis da década de 20. Tal sistema definia a relação entre as moedas, obtida a partir de seus valores em 1914, multiplicados pelo diferencial de inflação entre elas. A ordem flexível permitiu amplos fluxos de capitais especulativos, provocando especulações que afetaram o intercâmbio internacional de mercadorias e de serviços e os próprios valores monetários. Ao mesmo tempo, deu-se a emergência da supremacia do dólar norte-americano, expressando a liderança dos EUA.

No final da Segunda Guerra Mundial, a ordem monetária internacional foi novamente reorganizada, pelo Acordo de Bretton Woods. Em New Hampshire (EUA), reuniram-se representantes de 44 países, e foi definido um regime de câmbio em que o ouro e o dólar eram transformados no eixo do sistema monetário internacional. Em suma, o dólar substituiu a libra esterlina.

Este sistema, começou a apresentar dificuldades pouco tempo depois, devido à emissão progressiva de dólar pelos EUA, para garantir recursos para financiar seus gastos públicos e a política externa. A emissão descontroladade dólares resultou em inflação para a economia mundial, atraindo, por um lado, os protestos de personalidades internacionais, e por outro, a troca das reservas em dólares da vários países por respectivas quantidades em ouro, colocando em risco as próprias reservas norte-americanas.

Em 1971, o presidente norte-americano Richard Nixon quebrou o acordo de Bretton Woods, suspendendo a conversibilidade do dólar ou do ouro, e depois desvalorizando o dólar e liberando o preço do dólar em relação ao ouro e outras moedas.

Em 1976, na reforma monetária da Jamaica, oficializou-se outra ordem monetária internacional que deixava livre a taxa cambial dos países. Era uma nova ordem inspirada nos monetaristas norte-americanos liderados por Milton Friedman, em que prevaleciam as taxas flutuantes das moedas, livremente determinadas pelos mercados.

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Foi dentro dessa ordem que, na década de 70, ocorreu uma acentuada desvalorização do dólar em relação a outras moedas como o iene e o marco, sendo revertida somente na década de 80, com o governo Reagan. Graças ao pagamento de altas taxas de juros aos investimentos feitos nos EUA dispensava a emissão de moeda e até servia para cobrir despesas. A partir de 1985, o governo norte-americano retornou passo a passo a normalização da taxa cambial do dólar, desvalorizando-o em relação ao iene e marco alemão, conservando a taxa cambial flutuante.

É em tal sistema de taxas flutuantes, bem parecido com o quadro monetário das décadas de 20 e 30, que se facilitam as idas e vindas do capital especulativo, resultando nas recentes oscilações das taxas cambiais nas nações.

Acrescenta-se que o capital internacional em circulação é gigantesco e em crescimento, contando com uma parte expressiva destinadas aos investimentos não produtivos, isto é, especulativo, um capital perseguidor de oportunidades locais, que, uma vez obtido o ganho, procura logo outras chances de rápida lucratividade.

Tal investimento especulativo, conhecido como hot-money, é estimado por alguns especialistas em cerca de 13 trilhões de dólares por dia (1995), circulando pela economia mundial em busca de rendimentos e fugindo de crises e perdas. É responsável, às vezes, pela criação de ambientes propícios ao reerguimento econômico de certas regiões e, em outras, por colapsos.

O exemplo recentemente de imensos investimentos e depois dos capitais especulativos aconteceu no México, em 1994-95, obrigando o governo daquele país a buscar ajuda financeira internacionais. O empenho norte-americano visou evitar uma completa quebradeira do México, cujas dificuldades, temia-se, poderiam irradiar-se para todo o Nafta. Para o México, a crise derrubou o PIB em mais de 7%, dobrou o desemprego e fez a inflação saltar de 7,1% (1994) para 48% (1995).

O efeito da crise mexicana respingou por vários outros países latino-americanos, provocando saídas momentâneas de parte dos capitais investidos neste país, afetando a solidez econômica local.

Tal foi a importância da questão especulativa para a ordem monetária internacional que, em resposta, surgiram diversas propostas para algun controle sobre o hot-money, a exemplo de taxações sobre os capitais especulativos e uma reforma mais ampla que envolveria todo o sistema monetário internacional, como o plano sugerido pelo G24.

Longe de um equacionamento à altura da globalização capitalista, o sistema monetário internacional, em 1996, continuava possuído da força de seu gigantismo e de crescentes dificuldades, mantendo sempre presentes a possibilidade de sérias crises localizadas.

NORTE E SUL: DESIGUALDADES E EXCLUSÃO SOCIAL

Em meio à globalização econômica e à política neoliberal, a nova ordem internacional passou a ter como grandes marcas a dinamização produtiva e uma cada vez mais profunda desigualdade socioeconômica. Liderando o capitalismo, estavam os países dos três principais blocos econômicos (Nafta, UE bloco do Pacífico), realizando mais de 60% de todas as trocas comerciais do planeta. Em outro lado, estava o mundo pobre,

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com quase todos os países do hemisfério sul, vivendo um agravamento dos índices socioeconomicos, produzindo um quadro alarmante.

Comparando-se a distribuição da população da população mundial nas regiões ricas e pobres do planeta com o conjunto de seus bens e serviços produzidos (PNB), entre 1980 e 1994, observa-se um rápido distanciamento com possibilidade de ganhar velocidade maior.

Um indicador de gravidade no avanço das desigualdades socioeconômicas entre regiões e grupos sociais é que à população mundial, acrescentava-se a todo ano, 97 milhões de nascimentos, principalmente nas áreas pobres. É um dado que aponta um combustível histórico para turbulências político-sociaise impasses econômicos.

Em meados de 90, a situação era muito grave em certas regiões africanas e asiáticas, onde haviam milhões de indivíduos, sem condições básicas de vida. Ao mesmo tempo, tal quadro já estava várias cidades latino-americanas, onde até mesmo nos países desenvolvidos os índices de marginalidade, desemprego, etc, cresciam todos os anos, especialmente com o fim das garantias sociais, eliminadas pelo neoliberalismo.

Os imensos bolsões de pobreza dos países desenvolvidos agrupam, nos EUA, negros e imigrantes latino-americanos e, na UE, imigrantes das ex-colônias africanas e asiáticas das antigas potências (Reino Unido, França, Alemanha).

Tomando o caso norte-americano como exemplo, a taxa de pobreza das famílias negras de 30,6% em 1994, frente a 11,7% das famílias brancas . Isto sem se considerar os 10% da população norte-americana que é de origem hispânica, cuja condição social não fica muito acima da dos negros. O crescimento das desigualdades socioeconômicas indica que 20% das famílias mais ricas da sociedade detinham 49,1% da renda familiar nacional em 1994. Entre os norte-americanos mais abastados, os 1% mais ricos do país, em 1994, detinham quase 40% da riqueza nacional.

No conjunto mundial, segundo relatório da ONU de 1996, as riquezas de 358 pessoas era superior à renda anual de 45% de toda a população do planeta.

A continuação do agravamento da desigualdade e exclusão social certamente completará a substituição da tradicional distinção entre países de Primeiro e de Terceiro Mundo pela existência, em cada país, de bolsões de riqueza absoluta e de miséria absoluta, ou seja, de um primeiro e de um terceiro mundo em cada país.

Até mesmo a solução constantemente repetida para aliviar as dificuldades das regiões das regiões mais pobres e dos grupos marginalizados do mundo, como elevar a capacidade produtiva e conseqüentemente o consumo dos pobres excluídos, aproximando-os dos de classe média dos países ricos, esbarra em inúmeros limites. Entre eles estão a carência de capitais disponíveis para esses investimentos, a insegurança política, social e econômica dos países subdesenvolvidos, a sua deficiência tecnológica em contínuo distanciamento dos centros mais desenvolvidos, a falta de investimento em áreas de infra-estrutura, a educação em crise, e até a ação de elites privilegiadas e voltadas para seus interesses.

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Não bastando tantas barreiras estranguladoras, soma-se ainda a não menos grave questão ambiental, já que o crescimento das necessidades de matérias-primas e de energia e uma produção e consumo cada vez maiores esbarram nos limites físicos do planeta, podendo colocar em risco o que ainda resta do meio ambiente do planeta.

Uma conclusão plausível para o quadro histórico deste final de século é que tanto o socialismo quanto o capitalismo foram incapazes de de indicar diretrizes para a solução dos problemas socioeconômicos e políticos que afligem a humanidade nesta passagem para o terceiro milênio. O socialismo não conseguiu acompanhar a dinâmica capitalista dos países desenvolvidos e nem superar os seus crescentes entraves burocráticos, além de não oferecer as liberdades democráticas exigidas pela população. Do outro lado, o capitalismo globalizado também não conseguiu dar respostas à miséria da maioria da população mundial e às suas carências, exceto aos poucos bolsões de países desenvolvidos.

A nova ordem internacional manteve o quadro de miséria, guerras e sofrimento em todo o planta, e o que é pior, em crescente agravamento, sob a feição de um capitalismo vitorioso e globalizado.

BIBLIOGRAFIA

VICENTINO, Cláudio, História Geral, 4ª ed., Editora Scipione, 1997.

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Era VargasA ERA VARGAS

A chamada "Era Vargas" começa com a Revolução de 30 e termina com a deposição de Getúlio Vargas em 1945. É marcada pelo aumento gradual da intervenção do Estado na economia e na organização da sociedade e também pelo crescente autoritarismo e centralização do poder. Divide-se em três fases distintas: governo provisório, governo constitucional e Estado Novo.

GOVERNO PROVISÓRIO

Getúlio Vargas é conduzido ao poder em 3 de novembro de 1930 pela Junta Militar que depôs o presidente Washington Luís. Governa como chefe revolucionário até julho de 1934, quando é eleito presidente pela Assembléia Constituinte. O governo provisório é marcado por conflitos entre os grupos oligárquicos e os chamados tenentes que apóiam a Revolução de 30. Getúlio Vargas equilibra as duas forças: atende a algumas reivindicações das oligarquias regionais e nomeia representantes dos tenentes para as interventorias estaduais. O interventor em São Paulo é um veterano do movimento tenentista, João Alberto. Para o Rio Grande do Sul, nomeia Flores da Cunha e para os Estados do Norte-Nordeste e Espírito Santo é escolhido um supervisor, Juarez Távora, que fica conhecido como "vice-rei do Norte".

Agitações sociais – Em 1931 o PCB organiza no Rio de Janeiro uma manifestação contra a carestia, a Marcha contra a Fome, violentamente reprimida. Em vários Estados também pipocam greves e manifestações de oposição. Os setores oligárquicos afastados do poder se reorganizam, exigem a convocação de uma Assembléia Constituinte e o fim do governo provisório. São Paulo, principal centro econômico do país, lidera a oposição a Vargas.

REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA

Em 1932 as elites paulistas deflagram a Revolução Constitucionalista contra o governo federal. Uma frente entre o Partido Republicano Paulista, derrotado pela Revolução de 30, e o Partido Democrático lança a campanha pela imediata convocação de uma Assembléia Constituinte e o fim das intervenções nos Estados. O movimento tem o apoio das classes médias. Manifestações e comícios multiplicam-se na capital. Em um deles, dia 23 de maio de 1932, os manifestantes entram em conflito com o chefe de polícia Miguel Costa e quatro estudantes são mortos: Euclides Bueno Miragaia, Mário Martins de Almeida, Dráusio Marcondes de Souza e Antônio Américo Camargo de Andrade. Com as iniciais de seus nomes é composta a sigla MMDC (Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo), assumida como emblema do movimento rebelde. Em 9 de julho de 1932 estoura a rebelião armada. As forças paulistas comandadas pelo general Isidoro Dias Lopes ficam isoladas: não recebem ajuda dos outros Estados e a Marinha bloqueia o porto de Santos impedindo-as de comprar armas no exterior. Os paulistas se rendem em 3 de outubro, depois de quase três meses de luta.

CONSTITUIÇÃO DE 1934

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 As eleições são realizadas dia 3 de maio de 1933 e a Assembléia Constituinte é instalada em 15 de novembro. Pela primeira vez uma mulher é eleita deputada no país, a médica Carlota Pereira de Queiroz. Promulgada em 15 de julho de 1934, a Constituição mantém a república federativa, o presidencialismo, o regime representativo e institui o voto secreto. Amplia os poderes do Estado, que passa a ter autonomia para estabelecer monopólios e promover estatizações. Limita a atuação política do Senado, incumbindo-o da coordenação interna dos três poderes federais. Institui o Conselho de Segurança Nacional e prevê a criação das justiças Eleitoral e do Trabalho. Nas disposições transitórias, transforma a Assembléia Constituinte em Congresso e determina que o próximo presidente seja eleito indiretamente por um período de 4 anos.

GOVERNO CONSTITUCIONAL

Getúlio Vargas é eleito presidente pelo Congresso em julho de 1934 e exerce o mandato constitucional até o golpe do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937. Os três anos de legalidade são marcados por intensa agitação política, greves e o aprofundamento da crise econômica. Nesse quadro, ganham importância movimentos como a Ação Integralista Brasileira (AIB) e a Aliança Nacional Libertadora (ANL).

Ação Integralista Brasileira – As idéias fascistas chegam ao Brasil nos anos 20, propagam-se a partir do sul do país e dão origem a pequenos núcleos de militantes. Em 1928 é fundado o Partido Fascista Brasileiro. A organização mais representativa dos fascistas, porém, é a Ação Integralista Brasileira (AIB), fundada em 1932 pelo escritores Plínio Salgado e Gustavo Barroso. O movimento é apoiado por setores direitistas das classes médias, dos latifundiários e dos industriais. Recebe a adesão de representantes do clero católico, da polícia e das Forças Armadas. Defende um Estado autoritário e nacionalista que promova a "regeneração nacional", com base no lema "Deus, Pátria e Família".

Plínio Salgado (1895-1975) nasce em São Bento do Sapucaí, São Paulo, e estuda ciências humanas em Minas Gerais. Desde jovem dedica-se ao jornalismo. Elege-se deputado estadual em 1928 e, em 1932, funda a Ação Integralista Brasileira (AIB). Em menos de quatro anos, o movimento reúne mais de 300 mil adeptos em todo o país. De inspiração nazi-fascista, adota uma simbologia nacionalista, uma camisa verde como uniforme e, como saudação, a palavra anauê, uma interjeição da língua tupi. Apontado como líder do levante integralista de 1938, Plínio Salgado é preso na fortaleza de Santa Cruz, e depois exilado em Portugal. Volta ao Brasil em 1945, com o fim do Estado Novo, e funda o Partido da Representação Popular (PRP). Em 1955, concorre à Presidência da República e chega em último lugar. Elege-se deputado federal em 1958 e 1962 pelo PRP, e em 1966 e 1970 pela Arena. Membro da Academia Paulista de Letras, escreve romances, ensaios e obras políticas.

Plinio Salgado : líder do Integralismo Brasileiro

Aliança Nacional Libertadora – O agravamento das condições de vida das massas urbanas e rurais, e as tendências autoritárias de Vargas fornecem os ingredientes para formar a Aliança Nacional Libertadora (ANL), em março de 1935. A ANL é uma grande frente política formada por ex-tenentes, comunistas, socialistas, líderes sindicais e liberais alijados do poder. O capitão da Marinha Hercolino Cascardo, líder da revolta do couraçado São Paulo na Revolução Paulista de 1924, é escolhido para dirigi-la. Luís

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Carlos Prestes, ex-chefe da Coluna Prestes e já militante do Partido Comunista, é indicado seu presidente de honra. A ANL defende a suspensão definitiva do pagamento da dívida externa, ampliação das liberdades civis, proteção aos pequenos e médios proprietários de terra, reforma agrária nos latifúndios improdutivos, nacionalização das empresas estrangeiras e instauração de um governo popular.

Luis Carlos Prestes foi presidente de honra da ANL

Movimento nacional – Formada à semelhança das frentes populares antifascistas e antiimperialistas da Europa, a ANL é o primeiro movimento de massas de caráter nacional. Em apenas 3 meses forma 1.600 núcleos, principalmente nas grandes cidades. Só no Rio de Janeiro inscrevem-se mais de 50 mil pessoas. Congrega operários, estudantes, militares de baixa patente e membros da classe média. Seu rápido crescimento assusta as classes dominantes. Surgem campanhas contra a "ameaça comunista". Getúlio Vargas começa a reprimir os militantes e, em 11 de julho de 1935, decreta a ilegalidade da ANL e manda fechar suas sedes

INTENTONA COMUNISTA

Após o fechamento da ANL, o Partido Comunista começa a preparar uma insurreição armada. Em 23 de novembro de 1935 estoura em Natal um levante de militares ligados ao partido. No dia seguinte, o mesmo ocorre no Recife e, no dia 27, no Rio de Janeiro. A rebelião fica restrita aos muros dos quartéis, mas serve de argumento para o Congresso decretar estado de sítio. A polícia, dirigida por Filinto Müller, desencadeia violenta repressão aos comunistas.

GOLPE DE ESTADO

O estado de sítio aumenta o poder de Vargas e de alguns altos oficiais do Exército e da própria polícia. Crescem a repressão aos movimentos sociais e a conspiração para instaurar uma ditadura no país. É nesse clima que se inicia a campanha para as eleições presidenciais, previstas para janeiro de 1938.

Campanha eleitoral – Três candidatos são lançados à Presidência. O paulista Armando de Sales Oliveira é apoiado pelos partidos Constitucionalista (sucessor do Partido Democrático) e Republicano Mineiro, pelo governador gaúcho, José Antônio Flores da Cunha, e por facções liberais de outros Estados. O paraibano José Américo de Almeida é apoiado pelo Partido Libertador do Rio Grande do Sul, pelo governo de Minas e pela maioria das oligarquias nordestinas. O terceiro candidato é o integralista Plínio Salgado. Vargas declara seu apoio a José Américo, mas, ao mesmo tempo, encomenda secretamente ao jurista Francisco Campos, simpatizante do fascismo e futuro Ministro da Justiça, uma nova Constituição para o Estado autoritário que pretende estabelecer.

Plano Cohen – Em 30 de setembro de 1937 o general Góis Monteiro, chefe do Estado-maior do Exército, divulga à nação o "tenebroso" Plano Cohen: uma suposta manobra comunista para a tomada do poder através da luta armada, assassinatos e invasão de lares. O Plano não passa de uma fraude forjada por membros da Ação Integralista para justificar o golpe de estado. Frente à "ameaça vermelha", o governo pede ao Congresso a decretação de estado de guerra, concedido em 1o de outubro de 1937. É o início do golpe.

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O golpe – Com o golpe já em andamento, Getúlio reforça suas alianças com o governador de Minas, Benedito Valadares, e de vários Estados do Nordeste. Em 10 de novembro de 1937 as Forças Armadas cercam o Congresso Nacional e, à noite, Vargas anuncia em cadeia de rádio a outorga da nova Constituição da República, elaborada pelo jurista Francisco Campos. A quarta Constituição do país e terceira da República, conhecida como "a polaca" por inspirar-se na Constituição fascista da Polônia, institui a ditadura do Estado Novo.

Constituição de 1937 – A Constituição outorgada acaba com o princípio de harmonia e independência entre os três poderes. O Executivo é considerado "órgão supremo do Estado" e o presidente é a "autoridade suprema" do país: controla todos os poderes, os Estados da Federação e nomeia interventores para governá-los. Os partidos políticos são extintos e instala-se o regime corporativista, sob autoridade direta do presidente. A "polaca" institui a pena de morte e o estado de emergência, que permite ao presidente suspender as imunidades parlamentares, invadir domicílios, prender e exilar opositores

ESTADO NOVO

A ditadura Vargas, ou Estado Novo, dura oito anos. Começa com o golpe de 10 de novembro de 1937 e se estende até 29 de outubro de 1945, quando Getúlio é deposto pelos militares. O poder é centralizado no Executivo e cresce a ação intervencionista do Estado. As Forças Armadas passam a controlar as forças públicas estaduais, apoiadas pela polícia política de Filinto Müller. Prisões arbitrárias, tortura e assassinato de presos políticos e deportação de estrangeiros são constantes. Em 27 de dezembro de 1939 é criado o Departamento de Imprensa e Propaganda(DIP), responsável pela censura aos meios de comunicação, pela propaganda do governo e pela produção do programa Hora do Brasil.Propaganda de Vargas no dia do trabalho

As bases do regime – O Estado Novo é apoiado pelas classes médias e por amplos setores das burguesias agrária e industrial. Rapidamente Vargas amplia suas bases populares recorrendo à repressão e cooptação dos trabalhadores urbanos: intervém nos sindicatos, sistematiza e amplia a legislação trabalhista. Sua principal sustentação, porém, são as Forças Armadas. Durante o Estado Novo elas são reaparelhadas com modernos armamentos comprados no Exterior e começam a intervir em setores considerados fundamentais para a segurança nacional, como a siderurgia e o petróleo. A burocracia estatal é outro ponto de apoio: cresce rapidamente a abre empregos para a classe média. Em 1938, Vargas cria o Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp), encarregado de unificar e racionalizar o aparelho burocrático e organizar concursos para recrutar novos funcionários.

Propaganda – No início dos anos 40 o Estado Novo alcança certa estabilidade. Os inimigos políticos já estão calados e as ações conciliatórias com os diversos setores da burguesia evitam oposições. Na época, o jornal O Estado de S. Paulo, sob controle direto do DIP, não cansa de publicar editoriais exaltando o espírito conciliador do ditador. Um deles, por exemplo, diz que Vargas é um "homem sem ódio e sem vaidade, dominado pela preocupação de fazer o bem e servido por um espírito de tolerância exemplar, sistematicamente devotado ao serviço da Pátria". Inúmeros folhetos de

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propaganda enaltecendo o caráter conciliador de Vargas e sua faceta de "pai dos pobres" são produzidos pelo DIP e distribuídos nos sindicatos, escolas e clubes.

REVOLTA INTEGRALISTA

Os integralistas apóiam o golpe de estado desde a primeira hora mas não conseguem participar do governo. Sentem-se logrados quando Vargas extingue a Ação Integralista Brasileira junto com os demais partidos. Formam então a Associação Brasileira de Cultura e passam a conspirar contra o ditador. Tentam um primeiro golpe em março de 1938, mas são prontamente reprimidos. Dois meses depois organizam a invasão do Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro, com o objetivo de assassinar Vargas. A guarda do Palácio resiste ao ataque até chegarem tropas do Exército. Vários integralistas são presos e alguns executados no próprio Palácio.

POLÍTICA EXTERNA NO ESTADO NOVO

Dois anos depois de instalada a ditadura Vargas começa a 2a Guerra Mundial. Apesar das afinidades do Estado Novo com o fascismo, o Brasil se mantém neutro nos três primeiros anos da guerra. Vargas aproveita-se das vantagens oferecidas pelas potências antagônicas e, sem romper relações diplomáticas com os países do Eixo – Alemanha, Itália, Japão –, consegue, por exemplo, que os Estados Unidos financiem a siderúrgica de Volta Redonda.

Rompimento com o Eixo – Com o ataque japonês à base americana de Pearl Harbour , no Havaí, em dezembro de 1941, aumentam as pressões para que o governo brasileiro rompa com o Eixo. Em fevereiro de 1942 Vargas permite que os EUA usem as bases militares de Belém, Natal, Salvador e Recife. Como retaliação, forças do Eixo atacam navios mercantes brasileiros ao longo da costa. Nos dias 18 e 19 de agosto de 1942, cinco deles – Araraquara, Baependi, Aníbal Benévolo, Itagiba e Arará – são torpedeados por submarinos alemães. Morrem 652 pessoas e Vargas declara guerra contra a Alemanha e a Itália.

Brasil na 2a Guerra – A Força Expedicionária Brasileira (FEB) é criada em 23 de novembro de 1943. Em 6 de dezembro, a Comissão Militar Brasileira vai à Itália acertar a participação do Brasil ao lado dos aliados. O primeiro contingente de soldados segue para Nápoles em 2 de julho de 1944 e entra em combate em 18 de setembro. Os pracinhas brasileiros atuam em várias batalhas no vale do rio Pó: tomam Monte Castelo em 21 de fevereiro de 1945, vencem em Castelnuovo em 5 de março e participam da tomada de Montese em 14 de abril. Ao todo são enviados cerca de 25 mil homens à guerra. Morrem 430 pracinhas, 13 oficiais do Exército e oito da Aeronáutica.

HEIL, HITLER!(Novos documentos contam a história do Partido Nazista no Brasil de Vargas)por Marcelo Carneiro

Em agosto de 1942, logo após o Brasil declarar apoio aos países aliados na guerra contra Hitler, o alemão Otto Braun foi levado para uma das celas do Departamento Especializado de Ordem Política e Social (Deops), em São Paulo. Permaneceu ali até fevereiro do ano seguinte, em regime de "rigorosa incomunicabilidade", nos termos do regime imposto pela feroz ditadura Vargas. Durante todo esse período, Braun não pôde

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falar com a família nem com amigos, mas o que disse aos agentes do Deops acaba de entrar para a história, mais de meio século após o fim da II Guerra Mundial. Ele entregou, nome a nome, todos os integrantes do Partido Nazista no Brasil, inclusive os que ocupavam cargos de direção. O depoimento de Otto Braun, que foi tesoureiro e membro da direção nacional do partido, só veio à luz agora. O documento é uma das preciosidades garimpadas pela historiadora paulista Ana Maria Dietrich, da Universidade de São Paulo (USP), entre os papéis do extinto Deops, atualmente sob a guarda do Arquivo do Estado de São Paulo. O esforço da pesquisadora, que passou seis anos escarafunchando uma montanha de dossiês e prontuários, resultou em uma tese de mestrado com 300 páginas. É o primeiro estudo a revelar, de maneira pormenorizada, como os nazistas estavam estruturados no Brasil, com direito até a uma organização partidária. "Trata-se de um trabalho inédito, não só pelas novas informações sobre o tema, mas pelos documentos que vieram a público", diz a professora Maria Luiza Tucci Carneiro, uma das maiores especialistas no período e orientadora da tese de Ana Maria Dietrich.

O papel de alemães como Otto Braun na disseminação das teses nazistas no Brasil é um capítulo importante na dissertação da historiadora. Morando no Brasil desde 1924, Otto Braun esteve no Deops por duas vezes, em 1942 e em 1944. Seus depoimentos não serviram apenas para desmantelar toda a estrutura do partido no país. A polícia também descobriu uma sofisticada operação de remessa ilegal de recursos do Brasil para o esforço de guerra do III Reich. Funcionário da filial brasileira do Banco Alemão Transatlântico, Otto Braun coordenava uma série de transações em câmbio negro. O dinheiro de alemães residentes no Brasil era enviado para cofres na Suíça e de lá chegava à Alemanha. Nesse período, o partido também estimulava a volta de alemães ao país natal. Nos dossiês do Deops, os policiais relatam que, durante as reuniões nazistas, os alemães se referiam ao Brasil como a gastland, ou terra de hospedagem.

Mas os relatórios dos agentes não são, nem de longe, os documentos mais importantes. O material fotográfico e de propaganda nazista, recolhido em apreensões nas residências dos alemães suspeitos. pode ser considerado relíquia. É praticamente o que resta da presença, no Brasil, do Partido Nazista. Apesar de nunca ter sido registrada oficialmente, a agremiação não só tinha estatuto e quadro de direção - nos níveis nacional, estadual e municipal - como era reconhecida pelo governo Vargas. Em 1938, quando o presidente vedou aos estrangeiros a participação política, entrou na clandestinidade. A Alemanha, por intermédio da embaixada, obrigou os dirigentes do partido a enviar ao país todo tipo de documento que pudesse revelar os planos de Hitler em relação ao Brasil. A determinação era clara: qualquer alemão que fosse preso no Brasil com material nazista não teria nenhum apoio do governo de seu país. A medida não impediu que a polícia política paulista apreendesse desde cartilhas da juventude hitlerista até órgãos oficiais do Partido Nazista no Brasil, como o jornal Deutscher Morgen, ou Aurora AIemã. Em Presidente Bernardes,. no interior de São Paulo, os policiais encontraram fotos do alemão Frederich Dierken em que crianças ensaiam a saudação nazista.

Até hoje, os historiadores que se debruçaram sobre o tema tinham certeza da existência de um Partido Nazista no Brasil, com forte atuação nas décadas de 30 e 40. Nada sabiam, porém. sobre seus dirigentes. Nos anos 30, o partido estava estruturado em alguns dos principais Estados brasileiros, como Minas Gerais e Rio Grande do Sul, e também no Rio de Janeiro, então capital federal. Mas quase 30% de seus filiados

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moravam em São Paulo. Isso permite supor que o material do Deops na capital paulista - a principal base de informações da tese de Ana Maria Dietrich - seja o mais completo sobre a presença do Partido Nazista no Brasil. Esses documentos estão entre as melhores fontes de pesquisa disponíveis sobre momentos históricos do país, como a era Vargas ou o regime militar pós-1964. No caso da historiadora, a opção foi estudar um período que se estendeu de 1937 a 1945, quando o governo de Getúlio Vargas teve uma política pendular em relação à Alemanha.

Hitler não era um adversário do Brasil até 1942. Muito pelo contrário. Em 1938, a Alemanha abocanhava uma fatia de 22% do comércio exterior brasileiro. Justamente nesse ano, Vargas editou uma série de decretos-lei restringindo a participação política de estrangeiros no país. As primeiras prisões, porém, só ocorreram a partir de 1942, quando finalmente o Brasil resolveu aliar-se aos Estados Unidos. Nos documentos do Deops fica clara a posição dúbia do governo. Para Ana Maria Dietrich, de 28 anos, o mergulho nos arquivos da polícia política da era Vargas foi também oportunidade de exorcizar alguns fantasmas. Seu avô, Erich Dietrich, um alemão que havia emigrado na década de 20 para o Brasil, retomou à Alemanha em 1938 e foi convocado para lutar no Exército hitlerista. Combateu na África, na Itália e na Rússia, onde acabou preso. No texto de apresentação da tese, Ana Maria confessa que nunca conseguiu falar sobre esse tema com avô, que morreu há três anos. "Preferi desvendar a história de outra maneira", conta a historiadora.

Fonte: Veja, São Paulo, 14 de novembro de 2001, p.81-82.

Cultura na Era Vargas

A revolução estética proposta pelo movimento modernista de 1922 consolida-se a partir da Revolução de 30. A tensão ideológica de toda a Era Vargas se faz presente na produção cultural. A literatura, por exemplo, é considerada um instrumento privilegiado de conhecimento do ser humano e de modificação da realidade.

Literatura – Poetas como Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade e romancistas como José Lins do Rego atingem a maturidade. Surgem novos escritores, como Érico Veríssimo, Jorge Amado e Graciliano Ramos. Na poesia, de linha intimista, sobressaem Cecília Meireles e Vinícius de Moraes. Mais para o final do Estado Novo destacam-se João Cabral de Melo Neto na poesia de temas regionais, Clarice Lispector, na prosa de ficção, e Guimarães Rosa, um dos mais importantes romancistas brasileiros.

Arquitetura e artes plásticas – Na arquitetura destacam-se Lúcio Costa, que projeta o prédio modernista do Ministério da Educação e Cultura (MEC) no Rio de Janeiro, e Oscar Niemeyer que, em 1942, planeja em Belo Horizonte o Conjunto da Pampulha. A obra inova nas linhas arquitetônicas e na decoração, feita com azulejos e painéis do pintor Cândido Portinari .

Música e teatro – No teatro, surge o dramaturgo Nélson Rodrigues. Em 1943 ele estréia no Rio de Janeiro a peça Vestido de noiva, que incorpora padrões teatrais revolucionários para a época. A música popular dá um salto de qualidade com o trabalho de compositores como Pixinguinha, Noel Rosa, Ary Barroso, Lamartine Babo, Ismael Silva e Ataulfo Alves. Na música erudita, Villa-Lobos compõe as Bachianas brasileiras, unindo Bach e a música folclórica nacional.

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Economia na Era Vargas

Em agosto de 1931, durante o governo provisório, Vargas suspende o pagamento da dívida externa. No mesmo ano, reinicia a política de valorização do café e cria o Conselho Nacional do Café. Em 1o de junho de 1933 cria também o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) para coordenar a agricultura canavieira, controlar a produção, comércio, exportação e preços do açúcar e do álcool de cana. Vargas desenvolve uma intensa política de promoção da indústria e intervém fortemente na economia.

CRISE DA ECONOMIA CAFEEIRA

A política de valorização do café é mantida durante toda a Era Vargas. Entre 1930 e 1945, o governo chega a comprar e destruir cerca de 80 milhões de sacas de café. A medida, no entanto, alimenta um círculo vicioso pois as repetidas supersafras continuam forçando a queda dos preços do produto no mercado internacional. A crise da cafeicultura estimula a exploração de novos produtos, como frutas, algodão, óleos vegetais e minérios, mas seus rendimentos não conseguem equilibrar o balanço de pagamentos do país. A 2a Guerra Mundial interrompe as vendas de algodão para o Japão e Alemanha, feitas em grandes volumes até 1939.

Crise no balanço de pagamentos – A redução das receitas com as exportações e o menor afluxo de capitais para o país devido à crise econômica que precede a guerra desequilibram o balanço de pagamentos entre 1931 e 1939. Para contornar o problema, Vargas promove sucessivas desvalorizações da moeda e adota medidas que desagradam aos investidores internacionais: reduz a margem de remessa de lucros, suspende os pagamentos dos juros da dívida externa e recusa-se a pagar parte substancial da dívida pública negociada com os bancos estrangeiros. A redução das divisas e da capacidade de importar favorecem o desenvolvimento da indústria.

DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL

Entre 1930 e 1945 o país passa por um surto de desenvolvimento industrial. Na década de 30 o crescimento da indústria é de 125% ao ano, em média, enquanto a agricultura cresce a uma taxa de 20%. Durante a 2a Guerra o crescimento industrial cai para 5,4% ao ano, mas o setor consegue avançar pela superutilização dos equipamentos já instalados. Nesse período, o Brasil chega a exportar tecidos para a América Latina, África do Sul e Estados Unidos. A expansão industrial continua no pós-guerra e, em meados da década de 50, a indústria supera a agricultura na composição do Produto Nacional Bruto.

Intervencionismo estatal – O governo getulista tem papel fundamental na expansão do parque industrial do país. Ele institui tarifas protecionistas, dá incentivos fiscais às indústrias, amplia o sistema de crédito, controla os preços e estabelece uma política de contenção salarial. O Estado também faz investimentos diretos na ampliação dos setores de energia, transportes e na indústria de base, como a siderúrgica – áreas que não interessam aos capitalistas nacionais porque têm um retorno lento e exigem grandes capitais. Em 1941, com dinheiro público e financiamento do Eximbank norte-americano, Vargas monta a Companhia Siderúrgica Nacional, que só começa a operar

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em 1946 com a inauguração da usina de Volta Redonda , no Rio de Janeiro. Em 1942 cria a Companhia Vale do Rio Doce para explorar minério de ferro. No mesmo ano baixa um plano de saneamento econômico, desvaloriza a moeda e substitui o mil-réis pelo cruzeiro.

Dependência externa – A expansão das atividades industriais não diminui a dependência da economia brasileira em relação ao exterior. A maior produção de bens de consumo exige mais importações de bens de capital, matérias-primas e combustíveis. Mantém-se o desequilíbrio do balanço de pagamentos. As emissões de moeda e os empréstimos externos são freqüentes. O resultado é uma inflação constante durante todo o governo Vargas.

Sociedade na Era Vargas

Com o aprofundamento da crise do café a partir de 1930 e a política industrializante de Vargas, a burguesia cafeeira passa a dividir o poder com a burguesia industrial em ascensão. As classes médias ampliam sua participação na vida política do país, inclusive com o surgimento do movimento estudantil. A classe operária cresce consideravelmente, mas é controlada pelo Estado por meio dos sindicatos, da legislação trabalhista e da repressão direta. Em 1930 é criado o Ministério da Educação e Saúde. A Constituição de 1934 torna o ensino primário obrigatório e propõe a expansão gradativa dessa obrigatoriedade aos outros níveis de ensino.

CONTROLE DOS SINDICATOS

Em 26 de novembro de 1930 é criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. No ano seguinte o Estado amplia o controle sobre os trabalhadores com a lei da sindicalização: a participação de estrangeiros na diretoria dos sindicatos é limitada, o mandato dos diretores sindicais é de apenas um ano, sem direito à reeleição. As entidades são proibidas de desenvolver qualquer atividade política e seus estatutos e contabilidade precisam ser aprovados pelo Ministério do Trabalho. Mesmo com essas restrições, o período é marcado por um grande número de greves lideradas por comunistas e socialistas.

Corporativismo – Em 1939, uma nova lei sindical inspirada na Carta del Lavoro da Itália fascista implanta o corporativismo nas entidades de trabalhadores. As organizações sindicais são entendidas como órgãos de colaboração de classe e base do poder do Estado. O governo cancela o registro dos sindicatos, dissolve as antigas diretorias e indica homens de sua confiança para as novas funções – os chamados "pelegos". Proíbe as greves e quaisquer atividades de protesto. Institui também o imposto sindical: cada trabalhador deve pagar por ano o valor correspondente a um dia de trabalho. Do total recolhido, 20% ficam com o governo e 80% com os sindicatos, sob controle do Ministério do Trabalho.

Conquistas trabalhistas – O governo Vargas atende a várias reivindicações operárias. Em 1932 a jornada de trabalho passa a ser oficialmente de oito horas e o trabalho da mulher e do menor é regulamentado. É estabelecido o princípio de salário igual para trabalho igual e as mulheres ganham o direito à licença-maternidade de dois meses. A lei de férias, criada em 1926, é regulamentada em 1933, mas apenas algumas categorias

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de trabalhadores urbanos gozam de tal direito. Ainda em 1933, a previdência social começa a ser organizada sob o controle do Estado e são criados os institutos de aposentadorias e pensões (IAPs). Eles praticamente eliminam as antigas entidades assistenciais dos trabalhadores e colaboram para aumentar a força do Estado com os imensos recursos recolhidos dos assalariados e das empresas.

CLT – Em 1940 é instituído o salário mínimo com o objetivo de reduzir a pauperização dos trabalhadores urbanos e ampliar o mercado para as indústrias de bens de consumo leve. Em 10 de novembro de 1943 entra em vigor a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que reúne todas as resoluções tomadas desde 1930 na área trabalhista, sempre apresentadas como uma "doação" do Estado e do próprio Getúlio.

MOVIMENTO ESTUDANTIL

Em 1932 estudantes secundaristas e universitários paulistas participam ativamente da Revolução Constitucionalista. Em 1939 é fundada aUnião Nacional dos Estudantes (UNE) que, em 4 de julho de 1942, comanda uma grande manifestação popular antifascista no Rio de Janeiro. Em 1o de dezembro de 1943, Hélio Mota, presidente do Diretório Acadêmico 11 de Agosto, da faculdade de direito da USP, é preso em São Paulo. Dez dias depois, uma passeata estudantil por sua libertação é reprimida. A polícia atira na multidão e dois estudantes morrem. O fato intensifica as manifestações estudantis pelo fim do Estado Novo.

BANDITISMO SOCIAL

O banditismo social é um fenômeno presente em vários países associado a um quadro de intensa miséria e injustiça social. No Brasil, desenvolve-se no sertão nordestino e é conhecido como cangaço. Suas origens remontam ao Império. Entre 1877 e 1879 grupos armados começam a assaltar fazendas e armazéns e a distribuir víveres aos flagelados da seca. O cangaço cresce alimentado pelas lutas de família no interior do Nordeste. Muitos "coronéis" contratam bandos de cangaceiros para eliminar seus inimigos ou defender suas propriedades. Entre os principais líderes destaca-se Antônio Silvino, que chega a ser conhecido como "governador do sertão". Até sua captura, em 1914, Silvino mobilizou as polícias do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, atacando cidades, fazendas e tropas do governo. O mais conhecido, porém, é Virgulino Ferreira, o Lampião, chamado de "o rei do cangaço", famoso mais pela truculência de seu bando do que por sua generosidade.

Virgulino Ferreira Lampião (1900-1938), o rei do cangaço, nasce em Vila Bela, atual Serra Talhada, em Pernambuco. Começa a atuar em 1916, quando seus pais são mortos por um "coronel". Com os irmãos, foge para o interior e junta-se a um grupo de "bandidos". Ganha o apelido de Lampião entre 1918 e 1919: nos enfrentamentos com a polícia – os "macacos" –, gaba-se que sua espingarda não pára de ter clarão, "tal qual um lampião". O grupo de Lampião é um dos mais violentos: cercam e invadem cidades, vilarejos e fazendas e seus assaltos são marcados por estupros, saques, incêndios e execuções sumárias. Na época da Coluna Prestes, é convidado por Floro Bartolomeu, chefe político ligado ao padre Cícero, para ajudar o governo no combate aos tenentes. Lampião teria aceito e com isso armado melhor seu bando. Seu quartel-general é o

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sertão de Sergipe e Bahia, mas o bando atua também de Alagoas ao Ceará. Em 1929 conhece Maria Bonita em Paulo Afonso, cidade baiana nas margens do rio São Francisco. Ela abandona o marido, um sapateiro, integra-se ao bando e tem uma filha com Lampião, Maria Expedita. Apesar de perseguidos e das várias tentativas de liquidá-los, os cangaceiros resistem até 1938. Em 8 de julho são surpreendidos e cercados por uma tropa volante na fazenda de Angicos, no sertão de Sergipe. Morrem 11 cangaceiros, inclusive Lampião e Maria Bonita. Suas cabeças são cortadas e, durante anos, conservadas no Museu da Faculdade de Medicina da Bahia. O ciclo do cangaço encerra-se definitivamente em 1940, com a morte de Corisco, último sobrevivente do grupo de Lampião.

A Moeda na Era Vargas

O movimento revolucionário que levou Getúlio Vargas ao poder – decorrente do desentendimento das elites oligárquicas que comandavam a política do "café com leite", somado ao descontentamento dos jovens oficiais que representavam os anseios da classe média – provocará um clima de instabilidade política, propício à condução do país a um estado de força.

O novo governante, que assumira o poder provisoriamente até que se procedesse à eleição de novo Presidente, acabou por dissolver o Congresso, prometendo nova Constituição. Os governantes estaduais foram substituídos por interventores designados pela Presidência, em geral participantes dos movimentos militares, com poderes discricionários que desagradavam os interesses locais. As eleições foram sendo proteladas e a falta de coesão entre os vitoriosos culminou na Revolução Constitucionalista de São Paulo, de 1932.O Estado passou a interferir fortemente na economia, controlando o câmbio, selecionando importações (o que favoreceu as indústrias instaladas no país) e sobretudo intervindo no comércio do café pela queima de estoques, destruição de plantações e incentivo a novos plantios. Entre 1930 e 1933, o Tesouro Público adquiriu mais de 49 milhões de sacas de café, das quais foram queimadas mais de 23 milhões.

Os ideais constitucionalistas vão se concretizar em 1934, quando Getúlio finalmente promulga a nova Carta, mas o Congresso escolhe novamente para ocupar a Presidência no quatriênio 1934-1938. Antes de terminar seu mandato, no entanto, em 1937, o Presidente fecha outra vez o Congresso e implanta no país um regime autoritário, batizado de Estado Novo, dentro dos figurinos ditatoriais que surgiam na Europa. Governando por meio de decretos-leis que abarcavam as atribuições dos três poderes, o Estado Novo, que se prolongou até 1945, articulou uma legislação trabalhista de grande alcance social e criou grandes empresas estatais geradoras de bens necessários à produção industrial.

Após a participação do Brasil na campanha da Itália, já ao fim da II Guerra Mundial, o Presidente foi deposto pelas Forças Armadas, descrentes de que ele viesse a redemocratizar o país.

As primeiras moedas do período Vargas foram as vicentinas, cunhadas em prata, cuproníquel e bronze-alumínio, assim chamadas por terem sido criadas em 1932, em comemoração dos 400 anos da fundação da Vila de São Vicente, a atual cidade de São Paulo. Entre 1935 e 1939, foi cunhada a série que se tornou conhecida como a dos

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brasileiros ilustres (com efígies de Regente Feijó, Padre Anchieta, Duque de Caxias, Tamandaré, Mauá, Carlos Gomes e Oswaldo Cruz, entre outros). Nesse período, foram criados os novos valores de 5.000 e de 300 réis. A última emissão metálica do padrão mil-réis ocorreu entre 1938 e 1942, para comemorar a Constituição de 1937, numa série de moedas de cuproníquel, com pesos e diâmetros reduzidos, tendo gravada a efígie do Presidente Getúlio Vargas.

O novo padrão monetário, o cruzeiro, planejado desde a criação da Caixa de Estabilização em 1926, só entrou definitivamente em circulação em 1942, com valor correspondente a 1.000 réis e subdivisão em centavos e simbolizado por Cr$. As moedas em bronze-alumínio traziam em uma das faces o mapa do Brasil e na outra o valor ladeado com ramos de café sobrepostos a uma barra longitudinal sob a qual aparecia o nome da moeda.No que tange ao papel-moeda, a última emissão do Tesouro Nacional com o padrão mil-réis ocorreu em 1936, nos valores de 200.000, 100.000 e 50.000. Aproveitaram-se, de início, as cédulas do Tesouro Nacional do antigo padrão, que receberam um carimbo com o respectivo valor em cruzeiros. Para atender às necessidade de troca, as antigas cédulas de 1.000 réis do Banco do Brasil foram utilizadas com o valor de 1 cruzeiro, sem aposição do carimbo. As emissões do Tesouro Nacional tiveram início em 1943 com cédulas fabricadas pela American Bank Note Company. Cédulas de 5.000 réis, com o retrato do Barão do Rio Branco, passaram a substituir as moedas desse mesmo valor devido à escassez de matéria-prima para a cunhagem de moedas durante o tempo da guerra (1943-1945). Em 1944, chegou-se a emitir até mesmo notas de 2 e 1 cruzeiro por falta de troc

O que representou a "última cartada" política?

O suicídio de Getúlio

O torpor tomou conta do Brasil a partir da edição extra do Repórter Esso. As escolas foram liberando os alunos, o comércio fechando e as fábricas desligando as máquinas. As pessoas caminhavam tontas pelas ruas. Os jipes desobedeciam os sinais à frente de comboios dos quais desembarcavam às pressas soldados para apontar metralhadoras contra locais de maior ajuntamento. Getúlio Vargas estava morto.

Era o desfecho sangrento do drama que o país acompanhava pelo rádio e diante das bancas de jornais. Impotentes para reagir, as multidões dispersas pelas ameaças voltavam a se formar a alguns metros adiante para chorar. Com o sacrifício de Getúlio Vargas - o povo sabia disso embora não pudesse fazer nada -, não desaparecia apenas um governante popular, eleito contra a vontade das elites que em vão, nas eleições de 3 de outubro de 1950, tentaram impingir os candidatos de seu agrado. Não era somente o presidente idolatrado que fora derrubado e, no desespero, se auto-imolou.

A auto-imolação do presidente impediu que os conspiradores da direita completassem o golpe mas não evitou que fosse preparando outro, mais eficaz, contra seu herdeiro, quando fosse a hora. Junto com Vargas, foi ferido de morte também um modelo de desenvolvimento que era o grande alvo das manobras de desestabilização de seu governo.

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Desenvolvimento autônomo, comprometido com a distribuição de renda e com a independência econômica do país. Empenhado em estancar a sangria das remessas abusivas de lucros ao exterior e em preservar a soberania nacional. 24 de agosto passou a ser data de luto popular e também dia nacional de conscientização para a luta de libertação do Brasil, profetizada pela Carta Testamento. A mensagem final de Vargas sinaliza os caminhos para o Brasil se reencontrar com seu destino de nação soberana, com desenvolvimento próprio e equilíbrio social.

O Brasil de antes, o Brasil pré-Revolução de 30 era um país agrícola, com um governo fraco, um Estado arcaico e um povo sem direitos individuais e sociais.

A República banira a monarquia 40 anos antes mas envelhecera precocemente, esgotada pelos apetites das oligarquias regionais. O presidente saía de um pacto entre os grandes Estados, para servir aos barões do latifúndio. O eleitor - as mulheres não votavam - não tinha outro direito senão o de assinar embaixo na chapa dos coronéis donos de currais políticos.

A primeira sacudida nas estruturas obsoletas da República Velha aconteceu nas greves de 1917, seguidas pelos levantes tenentistas. Getúlio Vargas, vindo do Rio Grande do Sul, que conseguira pacificar depois de décadas de lutas fraticidas, assume o governo com a

deposição de Washington Luiz. A fraude nas eleições de 1930 aguçara o grande descontentamento nacional que os revolucionários souberam canalizar. No poder, Vargas, o líder da Revolução, lança as bases de um programa de industrialização e reestrutura o serviço público.

Com ele, o Brasil entra realmente no século 20. Renegocia a dívida externa, impulsiona as economias regionais por meio de uma rede de institutos (café, cacau, açúcar, pinho) e superintendências (marinha mercante, borracha), implanta o sistema de departamentos (DNOS, DNOCS). Remodela o ensino público e institui a Previdência Social, que complementa com uma avançada legislação social. Regulamenta a jornada de 8 horas, cria o salário mínimo e a Justiça do Trabalho, paralela ao Ministério do Trabalho, para mediar os conflitos capital x trabalho.

É no governo Getúlio Vargas que vem à tona a consciência de cidadania, não mais como sentimento abstrato de vagos direitos individuais mas como percepção nítida de um lugar na sociedade.

Volta Redonda simboliza o suporte de toda a industrialização pesada que, nas décadas seguintes deslocará a economia do campo para a cidade.

As leis trabalhistas (CLT) são, na prática, a constituição que assegura o direito de ser alguém, com salário em carteira, horário para trabalhar, férias, médico e dentista e pensão na velhice. O acesso à cidadania por si só explica a popularidade.

Bate-se pela criação do monopólio do petróleo (Petrobrás) e pelo controle das remessas de lucros ao exterior. Sob constante ataque da reação, veio perdendo apoio, até ser encurralado no Catete.

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Getúlio foi, pelo tempo que governou (19 anos) e pela obra deixada (legislação trabalhista, montagem do Estado Nacional, indústria de base...), o principal estadista brasileiro. Getúlio Vargas, Pai dos Pobres, O Chefe, O Homem, nasceu em São Borja, no Rio Grande do Sul, no ano de 1883, numa família de estrangeiros, e matou-se em 1954. Sua carta-despedida, que dá suas razões para o gesto extremo. O quarto e a cama continuam como no dia da tragédia e expostos no Museu Getúlio Vargas.

Logo após a vitória na Revolução de 1930, estruturou o Governo Federal com seus companheiros de luta, como Oswaldo Aranha e Lindolfo Collor, aos quais se juntaram mais tarde Francisco Campos, Gustavo Capanema, Pedro Ernesto e outros.

Colocou no governo, também, seus aliados militares - Juarez Távora, João Alberto, Estilac Leal, Juracy Magalhães, entregando a eles, na qualidade de interventores, o governo de vários estados e importantes funções civis.

Só faltaram dois heróis do tenentismo: Luís Carlos Prestes, porque havia aderido, meses antes, ao marxismo soviético, e Siqueira Campos, que morreu num acidente durante a conspiração.

O Governo Revolucionário criou o Ministério da Educação e Saúde, entregue a Chico Campos, fundou a Universidade do Brasil e regulamentou o ensino médio, em bases que duraram décadas.

Criou, simultaneamente, o Ministério do Trabalho, entregue a Lindolfo Collor, que promulga, nos anos seguintes, a legislação trabalhista de base, unificada depois na CLT, até hoje vigente. O direito de sindicalizar-se e de fazer greve, o sindicato único e o imposto sindical que o manteria. As férias pagas. O salário mínimo. A indenização por tempo de serviço e a estabilidade no emprego. O sábado livre. A jornada de 8 horas. Igualdade de salários para ambos os sexos.

Getúlio inspirou-se, para tanto, no positivismo de Comte, que já orientava a política trabalhista dos gaúchos, do Uruguai e da Argentina.

Oswaldo Aranha, à frente do Ministério da Fazenda, reorganizou as finanças, revalorizou a moeda nacional e negociou a velha e onerosa dívida externa com os ingleses, em bases favoráveis ao Brasil.

Guerra de ideologias - Dois anos depois da revolução vitoriosa, Getúlio enfrentou e venceu a contra-revolução cartola, que estourou em São Paulo, defendendo a restauração da velha ordem em nome da democracia. (Revolução Constitucionalista de 32)

Em 1934, convocou e instalou uma Assembléia Constituinte que aprovou uma nova Constituição, inspirada na de Weimar. Com base nela, foi eleito Presidente Constitucional do Brasil. Getúlio teve que enfrentar, desde então, a projeção sobre o Brasil das ideologias que se digladiavam no mundo, preparando-se para se enfrentarem numa guerra total. De um lado, os fascistas de Mussolini, que se apoderaram da Itália, e os nazistas de Hitler, que reativaram a Alemanha, preparando-se para se espraiarem sobre o mundo. Do lado oposto, os comunistas, comandados desde a União Soviética, com iguais ambições. A direita se organizou aqui com o Partido Integralista, que

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cresceu e ganhou força nas classes médias, principalmente na jovem oficialidade das forças armadas.

Os comunistas começaram a atuar nos sindicatos, estendendo sua influência nos quartéis. Ampliaram rapidamente sua ação, através da Aliança Nacional Libertadora, que atraiu toda a esquerda democrática e antifascista. Os comunistas conseguiram de Moscou, que apoiava uma política de aliança com todos os antifascistas do mundo, que abrisse uma exceção para o Brasil, na crença de que aqui seria fácil conquistar o poder, em razão do imenso prestígio popular de Prestes .

Desencadearam a intentona, em 1935, que foi um desastre. Não só desarticulou e destroçou o Partido Comunista, mas também provocou imensa onda de repressão sobre todos os democratas, com prisões, torturas, exílios e assassinatos. O resultado principal da quartelada foi fortalecer enormemente os integralistas, abrindo-lhes amplas áreas de apoio em muitas camadas da população, o que lhes permitiu realizar grandes manifestações públicas, marchas de camisas verdes, apelando para toda sorte de propaganda, a fim de eleger Plínio Salgado Presidente da República. Getúlio terminou por dissolver o Partido Integralista, assumindo, ele próprio, o papel de Chefe de um Estado Novo, de natureza autoritária. Quebrou o separatismo isolacionista dos estados, centralizando o poder e ensejando o sentido de brasilidade.

Carta-testamento

"Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço de seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história."

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CONCLUSÃO

A Revolução de 1930 se constituiu num marco da historiografia brasileira. Quando o vendaval de paixões passar - o que parece que já está ocorrendo -, será possível ter uma idéia mais clara do conjunto de suas realizações, sua contribuição maior ou menor para o engradecimento do País.

Conclui-se que a Revolução de 1930 põe fim à hegemonia da burguesia do café, desenlace inscrito na própria forma de inserção do Brasil no sistema capitalista. No ataque ao predomínio da burguesia cafeeira, revelando traços específicos, que não podem ser reduzidos simplesmente ao protesto das classes médias.

Houve, naturalmente, algumas distorções na polícia trabalhista. Mas não se pode negar, por causa disso, o grande valor da legislação trabalhista, considerada, como todos sabem, "uma das mais avançadas do mundo". A legislação trabalhista de Vargas antecipou-se no tempo aos conflitos que iriam dar aos operários a consciência política de seu papel numa sociedade em processo de industrialização.

O lado negro "Era Vargas" foi, sem dúvida, o caráter fascista de sua administração durante o período em que agiu como ditador.